MAIO 2016
ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
FICHA TÉCNICA
DINÂMICAS | MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTO PUBLICAÇÃO ANUAL COORDENAÇÃO: ARTUR GONÇALVES, MICAELA REIS COLABORAÇÃO NESTA EDIÇÃO ALBERTO TEIXEIRA, ALEXANDRE FERREIRA, CARLOS RAMOS, JOSÉ MELO, LAURINDA BRANCO, MICAELA REIS, OLINDA MARTINS, ORLANDO FALCÃO, RAQUEL J. ANTUNES, SOFIA DE CARVALHO E OS ALUNOS BEATRIZ MARTO, DANIEL LEAL, DÉBORA SILVA, GONÇALO CAMBOA, HELENA RAEYMAEKER, HUGO ALBUQUERQUE, INÊS LOPES, INÊS SILVA, JOSUA FONSECA, KATERYNA MAKEYEVA, MARIA MEDEIROS, MIGUEL VARZIM, RITA CARNEIRO, RUTE SOUSA, TERESA AMARO, TOMÁS ALMEIDA, VASCO MARCOLIN. PRODUÇÃO GRÁFICA/ EDIÇÃO DIGITAL: MICAELA REIS CONTATO EDITORIAL: dinamicas@essr.net PROPRIEDADE: ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS RUA MAJOR DAVID MAGNO, 139 | 4000-191 PORTO TEL. +351 22 537 10 10
CARLOS RAMOS
EX-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
FILHO DE UM TRANSVERSO SER Imagine-se duas linhas retas paralelas, espaçadas entre si de forma a permitir que se caminhe por elas com cada pé, com cada perna nossa, nelas assentes. Cada linha representando uma ideia, uma filosofia de vida, um provir, um desejar, um trabalho, uma criação, independentes uma da outra. Diz-nos a ciência que, como são paralelas, as linhas, elas nunca se encontrarão, só podendo tal acontecer no infinito. Teremos que chegar ao infinito para descobrir, ora veja-se, que cada pé, cada perna, assentes em cada um das linhas, é pertença do mesmo corpo? E o que acontece se, por exemplo, em cada linha segue uma filosofia de vida, um desejo, uma qualquer criação, distintas uma da outra? Teremos de chegar ao infinito para nos deslumbrarmos com o “amor” da nossa vida? Teremos de atingir o infinito para ficarmos a saber que ao nosso lado se encontrava aquele ser que, em certa sintonia de ideais, complementares dos nossos, caminhava, como nós, isolado, na esperança de encontrar quem o entendesse e o compreendessem. E quanto àquela criação que nem ata nem desata, aquele texto, aquela pintura, aquele protótipo que não sai da “cepa torta”, que fica por ali, em cima da linha, a massacrar-nos a mente e, por vezes, o coração, o que se lhe faz? Fácil. Cria-se o transverso ser. Aquela pessoa, aquela ideia, aquela filosofia que é oblíqua. Aquela criação que, rasgando obliquamente o espaço, atravessa-se no caminho das linhas, fazendo surgir os pontos comuns, os complementos para que cada uma delas se cumpra mais enriquecedoramente. Fazendo sempre assim, criando seres transversos, quando dermos por ela, verificamos que a nossa existência está cheia de transversalidades. E que tem isto a ver com o Design, com o ser que é Designer? O Designer é um ser, consequência do encontro de dois outros seres que caminham em paralelo com um ser transverso. Se tivermos arte e criação caminhando em paralelo, necessitamos de criar um ser transverso de caráter técnico (talvez técnico-científico). Se tivermos arte e carácter técnico em paralelo, aí tem de aparecer o ser criativo e, por último, se tivermos o técnico e o criativo lado a lado, nada funcionará se não existir a oblíqua arte. E assim o Design, o Designer é filho de um transverso ser. Deixo-vos em meditação, com: ““Os seres vivendo em paralelo só poderão conhecer o belo se, sem medos, forem atravessados por seres que por eles são amados.””
T RA NS V E RS A L I D A D E S
ALBERTO TEIXEIRA
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Haverá provavelmente uma confusão generalizada entre o conceito de transversalidade e transdisciplinaridade. O caso não é para menos, estão intimamente relacionados mesmo que não sejam equivalentes. Interdisciplinaridade pressupõe disciplinas, uma divisão quue se atravessa, o termo transversalidade é mais geral, não exige uma estrutura organizada. Se eu disser que o medo é transversal ao ser humano, percebe-se. Provavelmente dizer que o medo é interdisciplinar a todo o ser humano não teria o menor significado. Se o medo é transversal é porque todos temos medo, o medo faz parte de nós. Mas, alto aí, o medo não é necessariamente mau. Ter medo pode ser uma proteção. Que teria sido do ser humano se nunca, durante a sua evolução, tivesesse sentido algo de parecido com o medo. Teria desaparecido na primeira catrástofe. teria enfrentado qualquer animal feroz completamente desarmado. Quem fala em medo acaba por falar em matemática. esta disciplina que é transversal à sociedade em todo o seu explendor, dimensão e característica. Ou ejaa, a matemática é interdisciplinar a todo o corpo social estruturado e não estruturado. Melhor ainda, a matemática aparece em todo o lado e nada poderemos fazer para evitar esse facto. Eu poderia dar alguns exemplos simpáticos, mas tinha que falar de números. Os números são transversais a qualquer assunto de que se fale. Seja lá que conversa se tenh,a mais tarde ou mais cedo a palavra número lá aparece e nem sempre está relacionado com custos monetários. Para a maioria números e contas vêm de mãos dadas. Não há um sem o outro. Por acaso até há e não é preciso ir ao baú da numerologia pitagória para mostrar isso. Sobre contas eu sei demais, ou de menos já que não consigo acertar uma, sobretudo as de dividir. Isso tem uma explicação. Tudo tem na vida! O meu pai achava que contas eram tarnsversais e interdisciplinares, apareciam em todo o lado e propósito de tudo. Diagamos que acreditava que todo o homem culto deveria saber dividir
números grandes por números grandes e com muitas vírgulas à mistura. Foram longos verões à volta do “e vai um” que é transversal a todas as contas de multiplicar, pelo menos quando as fazemos com o nosso algoritmo habitual. Ora aqui havia um padrão no meu comportamento, eu esquecia-me sempre do “e vai um”. Padrão, ora aí está mais um conceito transversal. Muito mais simpático e sem a carga negativa que outros foram acumulando. Como chorei nessas longas tardes de verão, eu e o “e vai um”! Um choro transversal a tantos alunos que, em sala de aula, levavam reguadas sem fim até saberem de cor a letra da tabuada porque a música todos a sabiamos, ré menor, nhenhee é nhinhii i....Tudo porque a tabuada é um conceito interdisciplinar. Cresci e o erro cresceu comigo, partilhamos juntos longas aulas com os alunos a gritar “o stôr enganou-se doze vezes sete são oitenta e quatro e não setenta e quatro”... e o “e vai um2 a rir-se à socapa. Sempre o mesmo padrão, transversal aos meus dias letivos. Aprendi a conviver com o erro e hoje se sou mais sabedor é devido ao erro. Não se aprende sem errar. Na verdade hoje tudo mudou, a mudança é mesmo um conceito transversal. Não há situação que não exija mudança e quando não se consegue ou pode mudar faz-se um re. Redesenha-se os grandes mestres, revisitam-se teorias já gastas e o redesign é um must. O padrão de comportamento é o re. De tanto se padronizar a matemática tornou-se a ciência dos padrões. Tudo graças em boa verdade ao Penrose que transversalmente arrasou com tudo e com todos. Arrasou, bem, vá lá abanou interdisciplinarmente as coisas. Meteu a mecânica quântica com a mente e na senda dos padrões arranjou uma bela embrulhada. Foi aqui que mais uma vez a matemática se encontrou com a arte. Tomaram uns o padrão na vertente repetitiva duma simetria e espalharam umas belas imagens pela internet enquanto outros encararam o padrão como algo holístico onde a soma das partes não dá o todo. Há uma espécie de transcendência ou emanação que ultrapassa a definição vulgar de padrão. Uma vez aqui chegados não havia alternativa que não ser usada a transitividade dos conceitos. Se o padrão é transversal à matemática e esta transversal à vida, então o padrão é transversal á vida.
ED I TO RI A L
https://viralcontagion.wordpress.com/2012/10/28/recent-talks-on-virality-part-one/
LAURINDA BRANCO MICAELA REIS
PROFESSORAS PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
PENSAMENTOS Uma árvore começa sempre numa pequena e por vezes disforme semente, que em nada traduz aquilo em que se tornará. Lançada à terra, germinará, procurará a água que necessita com sinuosas raízes que, no escuro, se alongarão até onde necessário, que se interligarão incessantemente, enquanto outras linhas se aventurarão na procura da luz, numa aventura longa e quase eterna. Um tecido não existe sem uma inteligente mistura de teia e trama por mais simples que seja. Teia e trama, isoladamente, são apenas fios, que apenas a inter-relação entre eles constrói o pano que nos cobre e protege. Curiosamente, à estrutura de uma cidade, chamamos malha urbana ou tecido urbano, também ela construída por linhas e pontos de convergência que crescem com sentidos diferentes, ditados pelos tempos e pensamentos. Diz-nos o dicionário que transversalidade é o que é transversal, que atravessa, que cruza, que corta, mas que prossegue. Quando dizemos que a rua A é uma transversal da rua B, queremos dizer que as ruas A e B se cruzam nalgum ponto e que dão continuidade a um caminho que se percorre. Lemos em diversos autores que somos o somatório do que vemos, do que ouvimos, do que lemos do que viajamos e por aí fora… Em suma, somos a semente que germina. O vocábulo “transversalidade” é recorrente na linguagem da pedagogia e orientadora na elaboração de currículos académicos. Mas será efectivamente um conceito entendido pelos actores desta companhia? Ontem, em jeito de anedota, uma médica contava que uma doente, numa tentativa de chamar a atenção, tomara uma caixa de comprimidos. Quando questionada quantos comprimidos efectivamente tomara, a doente respondeu que não sabia, que só tinha o 9º ano e que reprovara a Matemática!... Quantos de nós, professores, já nos confrontámos com respostas semelhantes?!... são nestes momentos, que percebemos o quanto a escola, enquanto instituição, segmenta os saberes e, em simultâneo (e talvez por consequência), a urgência de transversalizar o pensamento, eliminando as barreiras... fazendo-o brotar e crescer como um rizoma. Um pensamento divergente, que não corrobora com uma linearidade, que não nos permite unir de forma inesperada e por vezes aparentemente aleatória, diferentes saberes, momentos, vivências,...Reafirmamos agora, que nós somos um somatório de vivências e saberes, que em diferentes momentos, de um modo significativo, nos constroem enquanto seres reflexivos e críticos. Deixemos então que as raízes dos nossos pensamentos, se expandam e encontrem novos pontos de convergência e divergência necessários para acedermos a um devir, já mais pensado, onde não isolámos os conhecimentos, mas os interligamos e os fundimos, em novos conhecimentos... uma contínua (re)construção do eu - do pensamento e da [re]ação que este nos incita, levando-nos para um espaço de [des]conforto, de inquietude, de questionamento e reflexão. Este, pode ser um dos inúmeros caminhos que o pensamento pode percorrer... um caminho que nos ensina que todos os trilhos podem ser válidos, desde que se traduzam de algum modo, para cada um de nós, como significativos. Assim, se aprende a pensar... assim, se projeta em design. É nesta transversalidade, que nos formámos e nos projetamos, num processo constante de [re]flexão/ação. “Pensar é como escalar montanhas. Um alpinista recusaria o caminho rápido e seguro de chegar ao topo da montanha via helicóptero. O que ele deseja são os medos, os calafrios, os desafios da montanha” Rubem Alves, in Livro sem fim Agora, colocámos, reticências e convidamos para o interior desta conversa a várias vozes, outros pensamentos ainda não pensados, que nos permitam percorrer outros caminhos...
ÍN DI CE
ÍNDICE 3
FILHO DE UM TRANSVERSO SER - CARLOS RAMOS
4-5
TRANSVERSALIDADES - ALBERTO TEIXEIRA
6-7
EDITORIAL - LAURINDA BRANCO/ MICAELA REIS
8-9
INDICE
PERCURSOS
10-11
TRANSVERSALIDADES/ INTERCULTURALIDADES - JOSÉ MELO
12-15
O PARAÍSO EXISTE E É MESMO NA OUTRA ESQUINA - ORLANDO FALCÃO
16-17
O MEU PERCURSO - ALEXANDRE FERREIRA
18-19
TRÊS DE CENTO E TRINTA - WJOSUA FONSECA
20-21
JOSÉ ESPINHO - SOFIA DE CARVALHO
REFLEXÃO
22-27
TRANVERSALIDADES | UM LINK PARA A GESTÃO DE DESIGN - RAQUEL J. ANTUNES
28-35
A TIPOGRAFIA DO LUGAR - OLINDA MARTINS
PROJETO
36-37
LEGOFUNCTION - MARIA MEDEIROS
38-39
CARRINHO DE BONECAS - INÊS LOPES
40-41
BOTÕES DE PUNHO - VASCO MARCOLIN
42-43
EILLEN GRAY - GONÇALO CAMBOA
44-45
U615 - GONÇALO CAMBOA
46-47
EQUILIBRIO - RITA CARNEIRO
48-51
EQUIPAMENTO PARA O HABITAR - DANIEL LEAL
52-53
MEMÓRIA E PROJETO - TERESA AMARO
54-55
CÚPULA - JOSUA FONSECA
PROJETO
56-57
BRACARA - DÉBORA SILVA
58-59
TOPO DO BOLO - TERESA AMARO
60-63
GRELHEIRO - HUGO ALBUQUERQUE
64-65
[DES]CONSTRUÇÃO - JOSUA FONSECA
66-67
COSMOS - BEATRIZ MARTO
68-69
CASA COM ALMA(DA)- HELENA RAEYMAEKER
70-71
MIA - KATERYNA MAKEYEVA
72-73
CUBESTRUCTURES - MIGUEL VARZIM
74-75
METAMORFOSE - RUTE SOUSA
76-77
ANEXO - DANIEL LEAL
78-79
FOLIO - TOMÁS ALMEIDA
80-81
ESTÓRIAS - DÉBORA SILVA
82-83
DOTES - INÊS SILVA
PER CURS O S
tranversalidades interculturalidades ou O modo especialmente único de ser
Orlando Falcão
Uma foto especialmente oferecida por Orlando Falcão – Ilha da Boavista – Cabo Verde
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JOSÉ MELO
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
« Luz del alma, luz divina, Faro, antorcha, estrella, sol… Un hombre a tientas camina; Lleva a la espalda un farol.» (António Machado – Poesías Completas)
Agora que te transformaste definitivamente num rio de mágoas que desagua no grande Oceano, onde só cabe a Infinitude, devemos lembrar-nos daquela passagem do Evangelho de S. João, que diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.” (XIV-2). Lá estarás seguramente à porta, meneando a franja do cabelo nesse teu jeito de ser. Tal qual essas “Cidades Invisíveis” de Italo Calvino de que tanto gostavas de falar e onde se misturavam os aromas com as cores, as danças com as pedras, os desertos com os seus oásis, os dromedários e as rainhas de Sabá mais as suas especiarias, as suas danças ao som de instrumentos exóticos que só Jordi Savall poderia tanger, com motetes e timbales oferecidos a poetas orientais sequestrados em palácios de sultões a transbordar de cor e luz, sempre a luz! Com tempo e com espaço, nos desertos que seguramente amavas, porque eras um sonhador e um solitário. Como o “disseste” ao partir… Agora és, acima de tudo, um peregrino dessa Luz, companheiro de Mnemósine, a deusa grega da Memória, filha de Urano (Céu) e de Gaya (Terra), mãe das nove musas que inspiram as Artes aos homens e assim (talvez só assim) os libertam das mil cargas da escravidão animal! Fala-lhes muito da Soares, e da necessidade que todos temos de nos afirmarmos criadores, criativos e sempre abertos à luz dos projectos do Presente e do Futuro. Tal e qual como tu, caro Amigo Eterno! José Melo - Maio de 2016
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PER CURS O S
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1956 | 2016
ORLANDO FALCÃO
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
e é mesmo na outra esquina [ Orlando Falcão ]
Vlad
Um dos meus melhores amigos é polaco e chama-se Wlodzimierz. Com um nome destes, rapidamente passou a Vladimir, nome com outras ressonâncias, e a Vlad para os mais intímos. Há anos foi para a cidade da Praia, em Cabo Verde, leccionar na Universidade Piaget. É amante do mar e dos desertos. Todos os anos passa algum tempo no Mali, na Mauritânia ou no Niger, junto dos seus amigos Tuaregs. “Para limpara a alma”, diz ele. Quando lhe chamamos a atenção para os riscos dessas expedições, responde calmamente: “qui nada” ... Nos tempos livres vai para o mar caçar tubarões, actividade que já tive o prazer de partilhar com ele. É em casa do Vlad, da Rosa e da Cláudia, filha de ambos, que tenho passado alguns Natais e passagens de ano. A Rosa é caboverdiana do Norte, da ilha de Santo Antão. São a minha família africana. Diria mais: toda a família do Vlad e da Rosa são a minha família africana.
Perpétua A irmã de Rosa, Perpétua, que vive lá para os lados da Terra Branca, também me acolhe como se de família se tratasse. Adepta fervorosa do F.C. do Porto, nunca se esquece de me pedir para dar cumprimentos ao marroquino Tarik, à época meu vizinho e amigo. O mais velho dos três filhos de Perpétua, Helton, fica tempo sem fim a ouvir no meu i-pod a música de que mais gosta: “rap” e “hip-hop”, que lá coloco de propósito para esse efeito. E sonha com a América. Quando vou a casa de Perpétua, fico tempos infinitos a olhar para uma fotografia do seu pai, pendurada na parede. É uma fotografia antiga, com as cores a desbotarem a cada ano que passa, e não sei o que mais me fascina: se a fotografia em si mesma, ou a estranha semelhança com a fotografia de um velho na capa de um dos discos de jazz de que mais gosto:”Song for Father”, de Horace Silver, também ele descendente de caboverdianos. O homem da capa é o pai de Horace Silver. Perpétua gosta de viver numa festa permanente. Nesse fim de ano de 2009 a festa não parou: a Cláudia fez anos no dia de Natal, e dois dias depois casou a sobreinha de Perpétua, vinda expressamente do Canadá para o efeito. O noivo, de nome Belo, tem uma característica peculiar: deve ser o único caboverdiano que não sabe dançar. Esse facto ia-lhe custando o casamento logo no dia em que casou. Mas isso seria outra história.
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PER CURS O S
Quim, o pescador Na tarde do último dia do ano, depois de irmos ao mar, tínhamos passado por casa de Quim, o pescador, e de Zula, a sua mulher, que cuidava do bebé nascido poucos dias antes. A sua casa situa-se na encosta da montanha que protege Porto Mosquito, pequena localidade perto da Cidade Velha. O pescador Quim tem uma deusa: chama-se Carolina, é branca e loira, de olhos azuis, e é do Porto. Conheceu-a numa ida ao mar a fazer mergulho com o Vlad. Quim diz com frequência: “Vlad, arranja-me uma mulher branca que eu arranjo-te tubarão”. Quando Quim soube que sou do Porto, insistiu em enviar um beijo para Carolina. Quando mo pediu pela última vez, à despedida, batendo no vidro do jipe, pensei na forma como Quim pensaria que local é o Porto. Eu não conhecia Carolina nenhuma. Ou melhor, conhecia várias, mas não a Carolina, deusa do Quim. No entanto, e como a vida por vezes é surpreendente, mais do que qualquer ficcão, não passaram mais de quinze dias depois da minha chegada para ter oportunidade de conhecer a dita Carolina. E foi numa circunstância peculiar: num funeral. E não era uma deusa.
Konstantin, o alemão Konstantin Richter é o vizinho mais próximo e colega do Vlad. Brinco com ele ao chamar-lhe a atenção para o seu apelido: o mesmo de Miroslav, o músico, de Gherard, o pintor. Que linhagem! Faz um trabalho de levantamento arqueológico na Cidade Velha. E tem como episódio mais significativo da sua vida uma viagem à volta do Mundo na “Sagres”. Como contrapartida, teve de realizar um diário gráfico, trabalho que desenvolveu comentusiasmo e algum talento. Tem saudades de Portugal e do tempo em que foi colega do Herman José no Colégio Alemão de Lisboa, onde o seu pai foi director. Na sua pequena casa (a mais desorganizada e confusa que vi em dias da minha vida) tem um piano vertical que toca de forma divina. Não esquecerei a noite em que, emocionado, tocou para mim Liszt, Chopin e Shubert, enquanto lá fora, o grande jacarandá que quase tapa a janela, filtrava o luar e o vento. A companheira de Konstantin, Isabel, nasceu em Alcácer do Sal e cresceu em Havana e Moscovo. Tinha voltado recentemente do Egipto, onde, dizia, tinha entrado sozinha numa das grandes pirâmides e tivera um encontro com Cleópatra. Na última noite do ano, à hora do jantar, bateu à porta de Vlad. Só. E perguntou se podia recitar poesia. Pegou num dos livros da estante e leu poemas de Emily Dickinson. Ela sabia que é uma das escritoras de que mais gosto. No fim, deu-me um pequeno frasco com uma essência forte, quase insuportável. Explicou-me que era o perfume de Cleópatra. O pequeno frasco era tipicamente árabe, de gargalo muito alto, e a servir de tampa tinha um pouco de estanho de um maço de tabaco. Não tinha como transporta-lo. Caíra a noite profunda, pesada (também dentro da alma da Isabel. Estava doente). O pequeno frasco acabou num descampado onde os únicos habitantes eram uma cadela e os seus quatro cachorrinhos.
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ORLANDO FALCÃO
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Fim de ano [o Paraíso na outra esquina] Em Cabo Verde as pessoas são amáveis e calorosas. Pelas festas de Natal e fim de ano, em qualquer lugar que se entre e seja qual for a ilha onde se esteja, a “banda sonora” é sempre a mesma: Luiz Morais, grande músico já falecido, formado na vizinha Dakar, tocando o seu clarinete. Um som dolente e melancólico. Nessa passagem de ano, resolvemos ir a um bar com música ao vivo, coisa frequente em Cabo Verde. Depois do jantar, dirigimo-nos em transporte público (para bebermos à vontade, dizíamos) para a cidade - o Vlad e família vivem na periferia. Rapidamente anoiteceu, e soprava um vento leste, fresco e com cheiro a sal, vindo do deserto ali tão próximo. E o inesperado aconteceu: andamos tempos infinitos a pé, revezando-nos a levar a Cláudia ao colo. Éramos um grupo peculiar: um polaco branco e loiro (mas que se diz preto por dentro), uma caboverdiana, e um português, mais uma criança loira de feições africanas... E não encontrávamos um local com música ao vivo ... parecia impossível! Passou muito tempo. Já a hora ia tardia, e nós à deriva pelos bairros cidade. Chegamos a um largo de terra batida. Surgidos da noite e da poeira que o vento constante levanta, de forma inesperada e silenciosa, passam rapidamente por nós três homens de camisa branca, em passo apressado, transportando instrumentos de sopro: um saxofone, uma trompete e um clarinete. Brilhavam na escuridão. Nem tivemos tempo de lhes perguntar para onde iam. Sumiram do outro lado da praça. Perguntamos a uma menina que dava banho ao irmãozinho à porta de casa, para onde poderiam ter ido os músicos. Respondeu-nos em hesitar: foram para o outro lado, para o “Paraíso”. Atravessamos a praça, cada vez com mais vento, cada vez com mais poeira. Era verdade. Na outra esquina lá estava o néon, brilhando com uma luz verde e baça, anunciando o Bar Paraíso. Entrámos. Num espaço iluminado como no Natal em qualquer lugar do mundo, os presentes conversavem calmamente enquanto se ouviam lânguidas mornas. Ao fundo, um palco vazio. Com o aproximar da meia-noite e com a contagem decrescente dos últimos segundos entoada em coro, os foguetes anunciaram a passagem de ano, e a lentidão das mornas deu lugar ao ritmo frenético do funáná. Orlando Falcão Texto gentilmente cedido por José Melo.
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PER CURS O S
transversal O impulso natural, aquando do gentil convite para escrever acerca do meu percurso na revista Dinamicas, com o conceito de transversalidade como denominador comum, foi o de discorrer de forma linear a minha experiência desde a Soares dos Reis, passando por Espanha e Islandia, até ao presente, onde para além de trabalhar como Arquitecto, também exerço, por força de um particular alinhamento cósmico, o cargo de Vice-Presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitectos. Nesse plano inicial, tentaria pelo meio conectar alguns pontos
As mudanças nos modelos e meios de produção, económicos
do meu percurso de forma a que durante a enumeração
e
fastidiosa dos factos que compõe a minha vida se conseguisse
de forma vertiginosa nos últimos anos e contêm em si uma
vislumbrar algo que pudesse ressoar a transversalidade.
carga de imprevisibilidade que se reflecte nas direcções que
Porém, ao segundo segundo de reflexão constatei da óbvia
tomam, que transformam qualquer relato de experiência com
inutilidade de escrever um texto nestes moldes, tanto a
mais de uma década de intervalo temporal em algo obsoleto
nível pessoal, pois nao estaria a transmitir o que me parece
ou quanto muito com o valor de um mero registo histórico.
significativo, mas sobretudo para os alunos da EASR, que
Ainda me senti tentado a traçar cenários futuros, mas o risco
presumo que sejam a maioria dos leitores desta publicação e
de fazer um exercicio inócuo de futurologia pareceu-me ser
aos quais dedico este texto.
francamente elevado.
de divulgação, apesar de identificadas, têm acelerado
Esta severa avaliaçao decorre da noção clara de que o meu percurso ou o de qualquer outro colega da minha geração
Perante a decisão de não abordar caminhos passados ou
dificilmente poderá servir de exemplo para quem neste
futuros, debrucei-me então na questao da transversalidade e
momento se encontra a frequentar o ensino artistico na
de que forma este conceito poderá auxiliar, na minha opiniao,
Soares dos Reis e perspectiva num futuro próximo encetar
à adaptação a um contexto em permamente redefinicão.
uma carreira profissional ligada às Artes.
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ALEXANDRE FERREIRA
EXALUNO DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS 1995.98 ARQUITETO | VICE PRESIDENTE DA OASRN
A nocão, lata, de transversalidade que aqui partilho, contorna aquela ideia clássica de vasos comunicantes entre varias áreas profissionais, pois acredito que muitos de vós a farão naturalmente e que inclusive o tempo encarregar-se-à de esbater novamente as fronteiras entre a Arquitectura, o Design e as Artes Plasticas, apesar das tentativas
mediáticas nem sempre independentes, a indução a tendências às quais esperam a nossa adesão sem reflexão nos possíveis impactos das mesmas e por fim, a discussão de matérias decisivas para o nosso futuro individual e colectivo, efectuada de forma opaca e distante, das quais ingenuamente nos temos abstido e entregue a indivíduos com ar muito sério, compõem esta realidade nubelosa que importa enfrentar. A este manto entorpecedor que cobre toda a sociedade,
nas ultimas décadas, sobretudo ao nivel do ensino
vocês, futuros artistas, designers ou arquitectos, terão de
universitário, de as transformar em disciplinas
romper ainda mais uma camada, aquela que vos tenta reduzir
estanques.
a um estereótipo - o criativo - ser peculiar, enclausurado no
Esta antes incide na necessidade imperiosa de cada um
de índole artistica ou similares.
seu mundo, que se abstrai de qualquer questao que não seja
de vós focar a sua a acção e interesse para lá do campo estritamente profissional e dos afazeres pessoais quotidianos, atraves de uma intervenção cívica e política intensa e de uma permanente atitude crítica, sem receio do debate ou da eventualidade de não se inscreverem na opiniao maioritária. A pertinência desta ideia ganha força num Presente onde nos submergem numa uniformização travestida de multiplicidade e singularidade - olhem à vossa volta – no qual somos reduzidos a meros segmentos de mercado, tanto no papel de consumidor ou de produtor.
Construções e narrativas
Antes de me retirar e de agradecer a paciência a quem até aqui chegou, só gostaria de deixar uma palavra de alento para quem se arriscar a incorporar esta ideia, muito antiga, a que por comodidade chamei de transversalidade. A maçada e o empenho que a mesma poderá exigir será recompensada tanto no campo profissional, pela relevância e densidade que poderá emprestar ao pensamento criativo, como no vosso percurso pessoal, independentemente do rumo que este tome, pois ao serem plenamente conscientes do que vos rodeia, estarão sempre preparados para um qualquer futuro.
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PER CURS O S
três de cento e trinta... São 130 Anos de Ensino Artístico Especializado, para mim foram 3, mas valeram por muito mais dos 15 que vivi antes da Soares…
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Nesta escola aprendi design, história e cultura das artes, filosofia, matemática… mas o mais importante foi ter aprendido a ser, ter desenvolvido uma outra forma de estar na sociedade, mudei a minha forma de ver o mundo… mudei as minhas filosofias de vida. São muitas as histórias com que fico para contar, mas a de hoje é a do meu último projeto na Soares do Reis. A história da PAA começa logo no 10º ano com todos os professores a dizerem o quão importante esta prova seria e como tudo o que faríamos durante os próximos 3 anos seriam em prol da Prova de Aptidão Artística. Até agora essas palavras ficaram cravadas na memória, o terror que a PAA fica nas mentes dos alunos… e durante muito tempo que estes avisos significavam que teria talvez de começar a pensar e a trabalhar na prova logo no início do 10º ano. Mas por
JOSUA FONSECA
EXALUNO DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS 2012.15
volta do 12º percebi o que esse aviso queria realmente dizer. O trabalho da PAA começa no 10º e perdura os 3 anos na medida em que vamos acumulando conhecimento que vai ser todo ele utilizado, de forma direta ou não, no nosso trabalho. Aprendi que nenhuma disciplina está isolada, estão todas interligadas, todas são um seguimento e um complemento das outras. Estão todas conectadas para criar não alunos, mas sim cidadãos ativos, seres racionais, que pensam por si mesmo, que formulam raciocínios e capazes de se questionar. Demorou a perceber, mas acredito que o maior objetivo de um professor deve, não só ser ensinar a sua disciplina, mas sim fazer com que o aluno, pelos próprios pés, chegue a esta conclusão de que todas as disciplinas estão ligadas. E em Projeto e Tecnologias conseguia perceber-me disso, e quem
diz disciplinas diz áreas do design, e consegui nesta proposta conciliar o design gráfico ao design de produto, o que deixou em mim uma enorme sensação de preenchimento, sinto que ao cooperar com os meus colegas atingi o objetivo máximo do design, que é esta troca de ideias e trabalho de equipa. Este banco é o resultado de toda a experiencia que acumulei na minha vida, dentro e fora da Soares. Realizei o projeto e cheguei a um objeto que a meu ver segue os ideais de um bom design segundo Dieter Rams. O que tenho para mostrar nesta Prova de Aptidão Artística não é só um banco, é um método, é uma aprendizagem, vivências… Em História aprendi de onde vieram as ideias… Em Filosofia aprendi a refuta-las e criar as minhas… Em Projeto aprendi a defende-las…Em Português elaborei o discurso… E agora hoje apresentei-o!
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PER CURS O S
José Espinho José Adelino Espinho. 1915-1973. Acabou no passado mês de maio a primeira grande exposição no MUDE sobre a obra que este designer criou enquanto trabalhou nas empresas de mobiliário Olaio e Sousa Marques. Esta exposição intitulada “José Espinho, Vida e Obra” veio trazer reconhecimento sobre um pioneiro do design de mobiliário e de interiores. Quem é José Espinho? O seu nome é praticamente desconhecido, embora o seu trabalho nos seja muito familiar. Este alentejano de Beringel começou a trabalhar cedo na sua vida como ajudante de loja. Já nessa altura a criação estava presente na sua vida e na sua maneira de ser. Nas horas livres caricaturava quem por lá passava. No seu percurso escolar foi um bom aluno, tendo por exemplo arrecadado média de 20 valores na sua passagem pela escola António Arroyo. O seu trajecto profissional começa na Câmara Municipal de Lisboa, trabalhando como ilustrador. Hoje o seu trabalho seria designado por designer gráfico. Nos anos 40, trabalha no atelier do arquitecto Keil do Amaral. Foi nesta altura que começa a criar peças de design. Além da colaboração com Keil do Amaral, colaborou com uma série de outros arquitectos e designers da sua época. Os seus trabalhos mais reconhecidos estão associados ao mobiliário. O trabalho na Fábrica de Móveis Olaio, desde os anos 40 até à sua morte em 1973, foi talvez o mais frutífero. Permitiu-lhe grande experimentação enquanto consultor de estética industrial. Cadeira modelo Caravela; Aparador e Estante produzidos em mogno, pela fábrica Móveis Olaio, séc.- XX (anos 60)
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SOFIA DE CARVALHO
PROFESSORA DE PROJETO E TECNOLOGIAS | EASR
Grande Hotel da Figueira da Foz
José Espinho desenhou espaços interiores para vários espaços públicos, como teatros e hotéis, fruto da mudança e evolução do país, do aumento do poder de compra e do aumento do turismo, o que promoveu a necessidade da produção de mobiliário em larga escala e da renovação e construção de mais espaços públicos. O seu percurso no design surgiu influenciado pelas suas origens rústicas, mas rumou progressivamente a uma linguagem depurada dirigindo-se a uma estética mais moderna já patente nos países do norte da Europa. As viagens que fazia para visitar exposições no estrangeiro certamente o influenciaram, de tal modo que se tornou numa figura importante na modernização da indústria de mobiliário, ao implementar linhas rectas e aspectos funcionais nos seus projectos, o que agradava ao público e facilitava o fabrico das peças. Nas palavras de Graça Pedroso, historiadora, “José Espinho é um criador, desde o projecto até à produção da obra.” Conhecendo este designer, vemos claramente a ligação importante entre os mobiliários das nossas escolas, as cadeiras de espaços públicos, os quartos da classe média dos anos 60 e o design de interiores de muitos espaços públicos que hoje já só existem na memória e em fotografias. Em suma, José Espinho foi um incontornável pioneiro do design, que ajudou a modelar a estética de Portugal sob várias formas de design.
PEDROSO, Graça - “José Espinho - A Diversidade no Fazer”. Lisboa: Galeria Bessa Pereira / Uzina Books, 2013
cervejaria solmar
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R EFLE X Ã O
UM LINK PARA A GESTÃO DE O texto faz uma reflexão ao conceito de gestão de design relacionando o design, a micro gestão do design e a macro gestão do design. Aborda-se a temática de forma transversal para um entendimento do processo da gestão do design no contexto empresarial e na atividade do designer. A consciencialização destes conteúdos por parte dos designers desafia-os a adoptarem boas práticas de gestão design, a serem mediadores e a proporcionarem o espaço necessário, para que a integração desta disciplina, possa ser transversal no seu trabalho.
Design (link) Design não tem uma definição simplista, cada autor trata o assunto com visões peculiares, tanto os estudiosos em estratégia e gestão de design em contexto empresarial (Bruce e Bessant, kathryn Best, Mozota, Kotler e Rath, Cooper e Press, Rachel Cooper, Hollanders e Cruysen) como outros especialistas no tema (Lia Krucken, Dijon Moraes, Erlhoff e Marshall e Ezio Manzini) mas apresentam pontos em comum. O entendimento que se apurou para a definição de design (Antunes, 2012), segundo a interpretação da autora e baseado nos autores acima referidos, está ilustrado na figura1. O design
Performance Aparência Durabilidade Custos ...
revela-se como um processo (desenvolvimento de atividade contínua, de exploração e de escolhas) para gerar novas ideias (criatividade e inovação) e transformá-las, baseado em critérios como a performance, aparência, custos, etc. O projeto deverá ter foco – objectivo e propósito. O design não está isolado no mundo, está embebido numa cultura, inserido num território, com pesquisa saberes e universos visuais (inputs) que se traduzem em objetos de design que podem tomar várias formas (produtos, serviços, ambientes, marcas, etc.) – outputs.
PROCESSO CRIATIVIDADE
Atividade contínua Exploração/ Escolha
INOVAÇÃO INPUTS Cultura / Território Identidade e Imagem Empresarial Tecnologia Mercado / Clientes Mundo e Tendências
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OUTPUTS OBJECTIVO/ PROPÓSITO - Satisfazer as necessidades dos clientes - Resolver problemas (encontrar soluções) - Melhorar a imagem de marca - Aumentar a rentabilidade - Aumentar as vendas (...)
Material / Produtos Serviços / Sistemas Ambientes Edifícios Marca
RAQUEL J.ANTUNES
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO EM DESIGN, MEDIA E CULTURA (ID+) FACULDADE DE ARQUITETURA E ARTES, DA UNIVERSIDADE LUSÍADA - NORTE (PORTO) ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO - INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
Gestão do design (link) Sublinha-se, portanto, que design, enquanto processo não vive sozinho, está linkado e relacionado com inúmeras áreas e saberes e é condicionado por estas. A temática que trata a gestão do design é ainda mais transversal – linka-se com uma panóplia de disciplinas e sectores empresariais. Erlhoff e Marshall (2008, 119) apresentam as perspectivas macro e micro da gestão do design, sendo esta última nomeada por Best (2006, 17) como design operacional. O nível operacional traduz-se como a “gestão de projetos de design, pagos por um cliente, negócio ou organização e levados a cabo por um designer, equipa ou agência de design”. Mas algumas tarefas do âmbito da micro gestão do design cruzam-se em ambos os níveis, mas em diferentes escalas hierárquicas. Esta perspectiva operacional inclui o processo de desenvolvimento de um produto em empresa. Metodologias tão conhecidas como as de Munari (1981), Mozota (2002), Bonsiepi (1992), Best (Ibid.) ou Ulrich e Eppinger (2008) não contemplam todas as fases consideradas aqui importantes para o desenvolvimento de produto em empresa. Já as metodologias de Erlnoff e Marshall, Tim Brown, Cooper e
ESLHOFF E MARSHALL
PESQUISA DESENVOLVIMENTO CONCEPTUAL DETALHE DO DESIGN
TIM BROWN
INSPIRAÇÃO
IDEALIZAÇÃO
Sob este ponto de vista operacional (figura 2) uma metodologia engloba: i) a pesquisa de todo o universo essencial para o projeto (também denominada de inspiração, pesquisa de mercado ou de descobrir); ii) o desenvolvimento conceptual que se traduz por analisar a pesquisa em ideias, incluindo a idealização, o planeamento e a definição do projeto; iii) o detalhe do design que refina a idealização, procura o design estrutural e mecânico, desenvolve e específica as técnicas finais podendo incluir o protótipo; iv) a produção que pode significar a criação do produto final em unidades múltiplas para serem vendidas ou utilizadas; v) a comercialização, considerada a última fase da metodologia, contendo estratégias de implementação, marketing e distribuição no processo. De notar que o processo de desenvolvimento de produto, apesar de aparentar ser linear, pode ter recuos e avanços, por considerações inerentes aos projetos a desenvolver.
COOPER E PRESS
DOUBLE DIAMANT
PESQUISA DE MERCADO
DESCOBRIR
PLANEAMENTO DESIGN ESTRUTURAL E MECÂNICO PROTÓTIPO
PRODUÇÃO COMERCIALIZAÇÃO
Press e a Double Diamant (esta última desenvolvida pelo Design Council) incluem todas as etapas que foram julgadas importantes para esta abordagem (figura 2).
IMPLEMENTAÇÃO
PRODUÇÃO MARKETING
DEFINIR
DESENVOLVER DESTRIBUIR
Figura 2: Processos de desenvolvimento de produto segundo vários autores Fonte: Adaptado de Erlhoff e Marshall (2008, 311-2), Tim Brown (2008, 4), Cooper e Press (1999, 126-7) e Design Council (2007)
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Na gestão do design, analisado sob a perspetiva macro da gestão do design, a autora Best (Ibid. 17) divide-o nos níveis estratégico e tático (figura 3): • O nível estratégico “engloba as políticas, missões e agendas (ordem do dia) e é nas agendas que o design pode ligar-se”. O design pode expressar a “visão, os valores e as crenças da empresa, por exemplo, na sua identidade corporativa”; • O nível tático compreende que “as equipas, os processos e os sistemas de negócio ou funções específicas assumem o principal papel” e o design é usado taticamente para ajudar a atingir os objetivos da unidade de negócio. Por exemplo “a empresa pode conduzir uma auditoria de design quando entra em novos mercados, para comparar a concorrência”.
DESIGN ESTRATÉGICO
Design ao nível de estratégia, política e missão
DESIGN TÁTICO
Design ao nível das táticas, sistemas e processos
DESIGN OPERACIONAL
Design ao nível das operações, tangíveis e físicas
Figura 3: O Papel do design nos três níveis da empresa Fonte: Best (2006, 17)
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Linkando esta temática para um caso prático de entendimento fácil utiliza-se como exemplo uma Equipa de Futebol. Neste caso a estratégia do Clube poderá ser a de ganhar o campeonato: nesse sentido o treinador define uma tática para cada jogo (defensiva, ofensiva, construtiva, etc.) que pode ser operada pelos jogadores através de esquemas de jogos (4-2-4, 4-4-2, 3-4-3, etc.). A estratégia também poderá estar condicionada por factores externos ao jogo (espaço, clima, terreno, bola, adversários) e a fatores que o treinador ou presidente do clube não dominem. Neste contexto Best (Ibid., 16) acrescenta que a gestão do design está presente “na comunicação da marca, do produto e/ou do serviço de design, nos edifícios corporativos, ambientes de venda, websites e campanhas de publicidade de cada empresa” e que a gestão do design pode ser uma resposta a pressões externas da empresa (como normas, regulamentos, políticas governamentais e ambientais). A autora sublinha que os projetos e processos de design dão “mais força à marca, dão valor e criam vantagem competitiva que, inevitavelmente, recebem suporte na empresa”. O fim de um projeto de design pode resultar numa saída (output) que dá sentido à forma da estratégia da empresa, onde o design funciona como processo de resolver o problema. Relacionando com o exemplo da Equipa de Futebol a “gestão do design” estaria presente na comunicação da marca pelos equipamentos dos jogadores, material de merchandising edifícios, forma de estar e de jogar, comportamento antes, durante e após jogo, comportamento da claque, músicas da claque, outdoors e televisões, utilizações da mascote, lonas promocionais, etc. Basicamente o design deveria estar incluído e embrenhado em todas os níveis (operacional, táctico e estratégico) e, respectivamente, na abordagens micro e macro da gestão do design.
RAQUEL J.ANTUNES
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO EM DESIGN, MEDIA E CULTURA (ID+) FACULDADE DE ARQUITETURA E ARTES, DA UNIVERSIDADE LUSÍADA - NORTE (PORTO) ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO - INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
Estratégias do design (link) Abrindo um pouco mais o leque da gestão do design, os autores Bruce e Bessant (2002, 8) defendem quatro estratégias de design: valor, imagem, processo e produção (figura 4) e são estabelecidas analogias com o exemplo prático: 1. Na estratégia de valor pretende-se que os objetivos da empresa sejam “oferecer valor ao consumidor e melhorar a reputação da empresa”. As características de design devem ser baseadas no “estilo do produto, estética, qualidade, padrão e valor acrescentado”; > Link com equipa de futebol: ganhar o campeonato para melhorar a posição do clube em termos nacionais e internacionais. 2. Na estratégia de imagem, o objetivo da empresa é melhorar a “estratégia de imagem da empresa” e as características de design devem ser baseadas na “diferenciação e diversificação do produto, identidade do produto, identidade da marca e criação da marca”; > Link com equipa de futebol: melhorar a imagem, por exemplo no desenvolvimento de uma nova mascote ou no entendimento
[ IMAGEM ]
[ VALOR ]
[
da identidade global dos suportes de comunicação. 3. Na estratégia de processo, os objetivos da empresa passam pela “cultura de novas ideias, criatividade e inovação” e as premissas de design são “gerar novas ideias, comunicar e interpretar ideias, integrar ideias e promover produtos”; > Link com equipa de futebol: por exemplo desenvolver um gorro impermeável (para utilizar pelos adeptos nos dias de chuva no estádio) com os símbolos de merchanding do jogo ou criar um kit para os adeptos com sinaléticas várias para animar os encontros de futebol, etc. 4. Na estratégia de produção os objetivos da empresa são “melhorias e redução de tempos para o mercado” e as características de design abrangem “reduzir a complexidade, usar novas tecnologias / materiais e reduzir o tempo de produção”. > Link com equipa de futebol: vender um jogador, que apesar de bom avançado não possui muita resistência durante o jogo para contratar dois jogadores jovens para a equipa.
[ PROCESSO ]
]
ESTRATÉGIAS DE DESIGN
[ PRODUÇÃO ]
Figura 4: As várias estratégias de design Fonte: Adaptado de Bruce e Bessant (2002, 8)
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Ideias finais (link) Depois desta reflexão sintética sobre um tema tão abrangente como a gestão do design, apuram-se as ideias finais, em tom de conclusão. A figura 5 aborda um problema de design aliado a uma estratégia empresarial – o de lançar um novo serviço de catering para a 1ª classe da companhia aérea Portugália Airlines. Observando as figuras 1 e 5 e linkandos-a com a gestão do design, pode dizer-se que: - O objectivo empresarial pode ser visto como a estratégia (gerida com o design) para atingir um ou mais propósitos e lançar desafios; - A tática a adoptar para atingir esses propósitos pode ser definida pelos vários departamentos empresariais (marketing, recursos humanos, finanças, produção, etc.) com os vários processos / caminhos onde o design, para além de funcionar como parceiro, deve estar integrado; - A metodologia que o designer utiliza, como resposta à
tática e à estratégia da gestão do design, deverá incluir as abordagens das figuras 1 e 2; - Acrescenta-se que todos os fatores externos (cultura, território, concorrência, ambiente social, político e económico, etc.) influenciam de alguma forma a macro gestão do design, que por sua vez está linkada à micro; - Nesse sentido essa influência (inputs) também se interfere nos próprios outputs / resultados da estratégia, da tática e da operacionalidade do design. A solução projetual apresentada (figura 5) defende a utilização de produto nacional (cortiça) que, para além de funcionar como isolador de temperatura, proporciona segurança pelo encaixe das peças. A utilização da porcelana com friso a ouro faz jus ao público-alvo e os motivos (lua e sol) alusão às viagens aéreas. Sublinha-se que este resultado apresentado, em termos de tempo despendido, compreendeu 3/4 de pesquisa e 1/4 de projeto.
Figura 5: link gestão do design – caso prático de design Fonte: Projeto da autora em parceria com a Portugália Airlines no âmbito
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da licenciatura de Design na ESAD.CR do Instituto Politécnico de Leiria
RAQUEL J.ANTUNES
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO EM DESIGN, MEDIA E CULTURA (ID+) FACULDADE DE ARQUITETURA E ARTES, DA UNIVERSIDADE LUSÍADA - NORTE (PORTO) ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO - INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
O designer deverá ter a capacidade de se deixar integrar na empresa e sair da sua zona de conforto: “fazer o conhecido, desconhecido; tornar o confortável, desconfortável e o desconfortável, confortável” (Norman, 2007, 82). Necessitará de procurar elos de ligação, táticas e estratégias que possam servir de fio condutor do design na empresa. Acrescentase que existem muitos outros autores de referência que abordam esta temática e salienta-se que todos eles têm algo em comum – o design – a integração – e a gestão do design. A todos os interessados e curiosos em explorar este tema, fica o link para o seguirem: design management.
Notas da autora: A aceitação do convite por parte da Escola Artística de Soares dos Reis de redigir um artigo, direcionado a estudantes do ensino secundário e profissional da área de Artes, levou-me a tecer considerações mais simplistas de um tema aprofundado na tese doutoral de Design, defendida na Universidade de Aveiro, no ano de 2012. Com a procura de exemplos de trabalhos que pudessem ser enquadrados no âmbito do público-alvo, tomei consciência que a preocupação de integração, adequação e mercado foram uma necessidade inerente na minha evolução como designer e no meu desenvolvimento projetual. Constato que passados 13 anos partilho um projeto e uma visão de design que são partes integrantes do que sou hoje. Obrigada EASR por este desafio ☺
:)
Referências Bibliográficas Antunes Raquel. 2012. Práticas de gestão do design para o subsetor nacional de cerâmica utilitária e decorativa. Tese de doutoramento em design. Universidade de Aveiro: Departamento de Comunicação e Arte. Best Kathryn. 2006. Design management: managing design strategy, process and implementation. UK: Ava Publicising. Brown Tim. 2008. Design thinking, Harvard Business Review: 1‐11. Bruce Margaret e Bessant John. 2002. Design in business: strategic innovation through design. England: Design Council. Cooper Rachel e Press Mike. 1999. The design agenda: a guide to successful design management. England: Wiley Editora. Erlhoff Michael e Marshall Timothy. 2008. Design Dictionary. Germany: Birkhäuser. Design Council 2007. Eleven lessons: managing design in eleven global brands. London: Design Council. Norman Richard. 2007. Reframing business: when the map changes the landscape. England: John Wiley & Sons, Ltd.
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A tipografia do lugar
Figura 1 – Bíblia de 42 linhas, impressa por Gutenberg em 1455
Figura 2 – Primeiro livro impresso em Subiaco por Sweynheym e Pannartz.
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Num movimento oposto ao da globalização, as culturas locais procuram fortalecer a sua identidade como meio de se destacarem e manterem o sentimento de pertença a uma determinada comunidade, perpetuando e reforçando assim a sua identidade. Nesse sentido, a tipografia surge como uma das manifestações mais antigas deste fenómeno, aparecendo como uma representação natural da língua (idioma) que ao longo dos séculos foi refletindo um somatório de expressões diferenciadoras entre culturas, encerrando por si só um número de significados próprios e inconfundíveis. No que diz respeito a questões mais ligadas à representação gráfica, e sendo a tipografia a manifestação visual da linguagem, ela serviu umas vezes para construir uma ideia de identidade nacional (utilizada por muitos países como ferramenta de exaltação) e outras para romper com essa identidade instituída. Historicamente, a escolha da caligrafia e, posteriormente, da tipografia, estiveram muitas vezes ligadas a preferências regionais e à natureza dos documentos editados, sendo criado, desta forma, uma espécie de mapa virtual de regiões que se distinguiam pelas preferências tipográficas usadas nas respetivas publicações. No Norte da Europa, as góticas eram as prediletas; no Sul, as humanistas. Gutenberg, na impressão da Bíblia de 42 linhas (Figura 1), utilizou caracteres tipográficos que mimetizavam a caligrafia mais apreciada na região do Mainz, a Textura (variação regional da letra gótica, muito usada na Alemanha), optando por imprimir um livro esteticamente familiar aos leitores de manuscritos. Alguns anos mais tarde, durante o período de expansão da imprensa pela Europa, assistimos à criação de várias oficinas de impressão, cujo trabalho é de igual forma um reflexo das preferências regionais em que estão inseridas. Conrad Sweynheym e Arnold Pannartz, os primeiros tipógrafos a instalarem-se em Itália, fundiram tipos, tal como Gutenberg, concordantes com a estética local (Figura 2). Desta vez, foi a caligrafia humanista a ser revisitada e transposta para tipografia. Em alguns dos primeiros livros editados por estes dois impressores de origem germânica, era ainda possível detetar, nos tipos romanos utilizados, reminiscências das letras góticas alemãs, sendo visível o reflexo da herança cultural dos autores, que transparecia no desenho de letras humanistas. Em trabalhos mais tardios, depois de alguns anos a conviver pessoalmente com a cultura italiana, essas referências góticas deixam de existir. Nos quinhentos e cinquenta anos que nos separam desde o início da impressão com tipos móveis, são vários os exemplos em que esta relação tipografia versus cultural local se verifica. Um outro exemplo mais recente foi o ressurgir das letras góticas na Alemanha nazi, numa clara alusão ao imperialismo e grandeza da cultura germânica passada (Figura 3).
OLINDA MARTINS
DESIGNER DE COMUNICAÇÃO PROFESSORA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
No contexto português contemporâneo, podemos também encontrar vários exemplos de exaltação da nossa identidade cultural através da criação de fontes tipográficas que tiveram a sua origem em manifestações culturais lusas, não tanto com o propósito de ir ao encontro de uma estética estabelecida, mas sim de criar referências e contribuir para o fomento de uma ideia de identidade cultural própria. Os exemplos que a seguir se apresentam fazem parte de um conjunto de fontes portuguesas criadas a partir de manifestações culturais específicas (gráficas, arquiteturais, religiosas, entre outras) e que através da interpretação individual de cada autor deram origem a resultados muito diversos. De salientar que uma parte importante desta questão da identidade centra-se precisamente na identidade do sujeito (autor), cujas vivências e percurso pessoal contagiam o processo, adicionando dessa forma novas camadas identitárias. Cada autor acrescenta estratos distintos, que refletem, por um lado, a sua interpretação individual relativamente ao tema de estudo e, por outro, a sua própria constituição enquanto sujeitos descentrados compostos por vários “eu”.
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Lisboa / Ricardo Santos | 2000-2005 Inicialmente desenhada para responder a questões de legibilidade em tamanhos reduzidos, a Lisboa é atualmente uma extensa família que conta com vários estilos e pesos (Figuras 4, 5 e 6). (Santos, n.d.) Ricardo Santos esclarece que esta fonte não é mais do que a sua interpretação local e nacional dos modelos portugueses; isso é particularmente visível nos Dingbats (Figura 7), fortemente influenciados pelos sinais e símbolos espalhados pela cidade, onde encontramos por um lado “interpretações reais de referências concretas (Setas, Cruz de Cristo)” (Planche, 2007) e por outro lado extrapolações pessoais de elementos visuais e gráficos (Breaks, Setas e a nova versão Oceano).
Figuras 4,5 e 6 – Páginas do espécime da fonte Lisboa.
Figura 7 – Página do espécime da fonte Lisboa (Dingbats).
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OLINDA MARTINS
DESIGNER DE COMUNICAÇÃO PROFESSORA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Bazar Medium / Olinda Martins | 2008 O desenho da fonte Bazar teve como ponto de partida uma seleção de letreiros comerciais da cidade do Porto, eleitos como um dos elementos gráficos mais presentes e enraizados na memória coletiva da cidade e recolhidos num percurso estabelecido pelo plano urbanístico levado a cabo no século XVIII por João de Almada e Melo. Baseado nas características selecionadas dos espécimes recolhidos (Figuras 8, 9, 10 e 11), foram então estabelecidos os critérios fundamentais para o desenho da fonte. Pretendia-se a construção de uma tipografia display apenas com Caixa Alta, condensada, geométrica e sem serifa. O objetivo era desenhar uma fonte inédita e não uma cópia de um letreiro em particular, devendo ser uma reinterpretação pessoal do universo imagético presente nos objetos recolhidos (Figura 12 e 13).
Figura 8, 9, 10 e 11 – Páginas do livro Bazar Medium.
Figura 12 e 13 – Páginas do espécime da fonte Bazar Medium
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Figura 14 – Página do espécime da fonte Catacumba Pro.
Catacumba Pro / Rui Abreu | 2009 Segundo a referência no espécime da Catacumba (Abreu, n.d.), esta é uma fonte composta por seis pesos e inspirada em inscrições pintadas existentes na Igreja de São Francisco de Assis no Porto (Figura 14). Com formas claramente influenciadas pelo estilo vitoriano, o seu desenho conta também com a inconfundível herança francesa, tudo isto transmitido através de uma sensibilidade marcadamente portuguesa. A Catacumba é composta por dois estilos decorativos basilares, a Excelsa e a Moderata, dos quais derivam outros quatro: a Text Regular, a Text Italic, a Text Bold e a Text Bold Italic (Figuras 15 e 16). Neste caso, o autor partiu de uma manifestação gráfica concreta e a partir daí reinterpretou um tipo de letra que integra a essência do espécime original, ainda que através de um desenho completamente inédito.
Figura 15 e 16 – Página do espécime da fonte Catacumba Pro.
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OLINDA MARTINS
DESIGNER DE COMUNICAÇÃO PROFESSORA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Catorze27 Style 1 / Fábio Duarte Martins | 2011
17 e 18 – Recolha fotográfica efetuada pelo autor da fonte.
Sendo o ferro forjado amplamente utilizado na arquitetura portuguesa, a fonte Catrorze27 Style 1 (Martins, n.d.) teve a sua origem conceptual numa recolha fotográfica de letterings modernistas em cidades do Norte de Portugal. Foi a partir dessa recolha (Figuras 17 e 18) que o autor transpôs para um novo desenho tipográfico a sua interpretação desta herança cultural, sendo o resultado uma família composta por sete pesos – Thin, Light, Book, Medium, Semi Bold, Bold e Black (Figura19).
Figura 19 – Imagens do espécime da fonte Catorze27.
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Figura 20 – Imagem do processo de desenvolvimento da fonte 1914.
1914/ Miguel Palmeiro e Emídio Cardeira | 2011 Partindo da necessidade da criação da futura identidade visual do Mercado do Bolhão no Porto e utilizando a arquitetura desta cidade como ponto de referência, a fonte 1914 (Palmeiro, n.d.) foi desenvolvida explorando a metáfora das águas dos telhados, manifestação comum na Invicta (Figura 20). Aproveitando a riqueza imagética dos cartazes e anúncios existentes na zona comercial onde o mercado está inserido (Figura 21) esta fonte, segundo os seus autores, pertence à “tipologia de fontes decorativas ou ornamentais muito comuns nos séculos XIX e inícios do século XX” (Palmeiro & Cardeira, 2012), precisamente a época de que são datados esses espécimes já existentes. O resultado foi uma fonte que se relaciona perfeitamente com a identidade local da Baixa da cidade, contribuindo para o reforço dessa herança numa perspetiva contemporânea. A 1914 conta com três estilos distintos (Figuras 22 e 23) e um outro adicional composto por “pictogramas funcionais e iconografia visual temática”(Palmeiro & Cardeira, 2012) (Figura 24).
Figura 21 – Imagens do meio envolvente ao Mercado do Bolhão.
Figuras 22 e 23 – Imagens da fonte 1914.
Figura 24 – Pictograma da fonte 1914.
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OLINDA MARTINS
DESIGNER DE COMUNICAÇÃO PROFESSORA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Em contextos específicos, cada autor, sujeito carregado de vivências singulares, seleciona um conjunto de elementos e trabalha-os de forma a criar um conteúdo tipográfico novo, apresentando-o como reflexo desse contexto e da sua vivência pessoal e social. Estas fontes, desenhadas para perpetuar e reforçar manifestações identitárias, acabam muitas vezes por serem utilizadas em contextos distantes dessas realidades, deixando de ter qualquer associação com a herança cultural que lhes deu origem. Este texto é uma versão resumida e alterada de um artigo editado no IV Encontro de Tipografia em 2013
Imagens da fonte Bazar em uso. Referências Abreu, R. (n.d.). FTN_Catacumba.pdf. Retrieved February 2, 2016, from http://www.fountaintype.com/specimens/64/original/FTN_Catacumba.pdf Martins, F. D. (n.d.). MYFONTS - Catorze27. Retrieved February 2, 2016, from http://www.myfonts.com/fonts/scannerlicker/catorze27-style1/ Palmeiro, M. (n.d.). MIGUEL PALMEIRO DESIGNER. Retrieved February 2, 2016, from http://www.miguelpalmeiro.com/trabalhos.php?cod=40 Palmeiro, M., & Cardeira, E. (2012). 1914 Typeface. In V. Quelhas, H. T. Marque, & R. Mendonça (Eds.), III Encontro de Tipografia (pp. 294–297). Porto: http://issuu.com/iiiet/docs/livro. Retrieved from 978-989-20-3439-3 Planche, J. (2007). Ricardo Santos – Interview | Type for you. Retrieved February 2, 2016, from http://www.typeforyou.org/2007/10/10/ricardo-santosinterview/ Santos, R. (n.d.). Lisboa | Fountain. Retrieved February 2, 2016, from http://www.fountaintype.com/typefaces/lisboa/about
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2014.15
Legofunction PORTA-CHAVES
Não sei onde pousei as minhas chaves outra vez!!” “Esqueci-me de fazer uma pergunta do questionário exploratório de filosofia!” “O meu guarda-joias não tem espaço suficiente para os meus colares! Que ultraje!”
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MARIA MEDEIROS
Mas afinal, o que é o Legofunction? E como contribui ele para o seu utilizador e para o ambiente? Com o sistema de encaixe Lego está tudo resolvido! O plástico pode durar mais de 100 anos! A Lego tem diminuído o seu desperdício até 90% estando perto do desperdício 0, com a reutilização do Legofunction estamos a ajudar! A moldura do Legofunction foi feita a partir da reutilização de restos de madeira desnecessários. Não é algo que se estrague com facilidade, podendo ser usado por vários anos
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2014.15
CARRINHO DE BONECAS ECO DESIGN E DESIGN SUSTENTÁVEL
“Com pouco trabalho e pouco dinheiro investido construí um novo objeto com uma nova função, sendo que o objeto original estava em fim de vida.”
Depois de muito rabiscar e fazer vários esboços, surgui a ideia de um carrinho de
bonecas, são um dos brinquedos mais procurados pelas crianças. E é por isso que têm tido muita presença ao longo da história dos brinquedos.
Este objeto nasceu de um objeto em fim de vida e de muitas vivencias da minha infancia. Pois eram sem sombra de dúvida um dos meus brinquedos preferidos!
Os carrinhos de bonecas são uma perfeita brincadeira de simulação: permitem recriar histórias e espaços, deixando rédea solta à imaginação dos mais pequenos, e não só!
Espero que desfrutem…
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INÊS LOPES
LARGURA, 25.20 CM. ALTURA, 27.00 CM. COMPRIMENTO, 41.45 CM MATERIAIS: TERMOPLÁSTICOS E PINHO
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2014.15
Botões de Punho [USA E RE-USA]
" Este projeto consistiu em dar uma nova utilização a objetos em fim de vida. A partir das chaves para dar corda a um despertador, rebuscado no sotão da avó, foram criados uns botões de punho." Para criar este objeto, foi necessário criar uma rosca que entrasse dentro desta chave, para que o botão tivesse uma forma de se dividir em duas partes para entrar e sair do buraco de uma camisa. Depois de criar a rosca para os dois botões, foi necessário criar uma peça que impedisse ao botão de punho de sair do buraco da camisa. Estas peças tomaram a forma de um retângulo pequeno arredondadamente do tamanho da outra parte dos botões.
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VASCO MARCOLIN
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2014_15
[eillen gray] "From lacquer artist, to cutting edge designer, to modernist architect - an independent talent who influenced many, but never fitted in." - Design Museum De artista de lacados, a designer de ponta, a arquiteta modernista - um talento independente que influenciou muitos mas nunca se encaixou.
Brick Screen_ 1922
Lou Perou _ 1926
Day Bed _ 1925
MESA E1027 EILEEN GRAY 1927
Desenhada e criada para a casa E1027, a mesa individual ajustável de Eileen Gray foi pensada para que a sua irmã que gostava de tomar o pequenoalmoço na cama o pudesse fazer da forma mais confortável.
Feita de tubos de aço cromado - base, braço da mesa e moldura do tampo da mesa; e vidro - tampo da mesa (com 51 cm de diâmetro) (neste momento já existem versões noutros materiais e cores).
Através de um sistema de furos na parte lateral da mesa, esta é ajustável
em altura (podendo variar entre 65cm e 100cm de altura) o que a permite adaptar-se a ambientes e usos diferentes.
Esta mesa apresenta formas simples e geométricas - o círculo do tampo da mesa; o retângulo criado pelos tubos do braço; o arco da base - que são conjugadas de forma inovadora, agradável e útil.
Devido as suas caraterísticas, dada a situação da época, esta é considerada um dos ícones do design do século XX.
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GONÇALO CAMBOA
Nascida em 1878, na Irlanda e filha de pais já eles artistas,
Eileen Gray foi uma das primeiras mulheres a entrar na Slade
School of Fine Art, em Pintura. Após a morte do seu pai, mudou-se para Paris onde continuou os estudos na Académie Julian e na École Colarossi.
Mais tarde regressou a Londres, onde começou a trabalhar numa oficina de reparação de objetos com acabamento em
laca. Ao longo do tempo tornou-se obcecada por trabalhos
em laca e começou a aprender ainda mais acerca disso, com um artista japonês. Nos anos 20, Gray estava já a viver em Paris outra vez, e virou-se para o design interior e arquitetura.
Entre 1926 a 1929, Gray e o seu amante Jean Badovici desenharam e construíram uma villa para a qual Eileen Gray
desenhou o seu interior. Esta chamava-se E1027. «E» de Eileen; «10» de J (10ª letra do alfabeto) de Jean; «2» de B de
“A house is not a machine to live in. It is the shell of man - his extension, his release, his spiritual emanation..” Eileen Gray Já que para Eileen, o conceito de casa tinha tanta importância, ela empenhou-se bastante na sua elaboração. Após a sua separação de Jean, Gray deixou a villa e
apenas levou consigo a famosa Mesa Ajustável E1027. Em
1972, foi-lhe atribuído o título de Royal Designer for Industry pela Royal Society of Arts.
*Eileen Gray concedeu os direitos de fabrico e venda dos
seus projetos à Aram Designs Ltd. Mais tarde a Aram Designs Ltd concedeu esses mesmo direitos à ClassiCon.
Badovici; «7» de G de Gray.
Occasional Table _ 1927
Tube Light_ 1927
Satellite _ 1927
“This is perhaps the classic among the classics.”- ClassiCon
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2014.15
Eillen Gray Satellite (espelhos), 1927
U615 PENDENTE_EMBALAGEM
[MERCADO DE RUA AO SÁBADO DE MANHÃ]
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GONÇALO CAMBOA
Pendente U615 O U615 é um pendente, constiuído por duas calotes de latão oxidado com 25 mm de diâmetro e uma contra-calote de prata, na parte superior, com 11 mm de diâmetro. Como auxiliar tem três ligações com cerca de 1 mm de altura entre as duas calotes principais, criando espaços onde se pode passar o fio do colar. O pendente tem 25 mm de diâmetro e 6 mm de altura. Tal como Eillen Gray (com o nome da casa E1027), o nome U615 está ‘’encriptado’’: U de Unidentified; 6 (6ª letra do alfabeto - F) de Flying; 15 (15ª letra do alfabeto - O) de Object. Ou seja, UFO (OVNI) já que a sua forma é semelhante à representação tradicional de um OVNI.
Embalagem U615 A embalagem é constiuída por duas calotes de madeira de mogno com 9 cm de diâmetro, unidas através de um eixo que permite uma rotação de 360º graus. Como auxiliar, tem dois ímans embutidos nas duas superfícies que entram em contacto, para as manter fixas quando fechado. A calote superior tem uma depressão onde se pousa o pulgar para assim se abrir a embalagem. No conjunto das duas calotes, a peça tem 4.1 cm de altura No seguimento do nome do pendente, ao U615 (UFO) é adicionado um P de Package (embalagem).
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO_ EASR | 2014.15 DESIGN E O HOMEM - ESPAÇO DE AFIRMAÇÃO
EQUILIBRIO A maneira como as pessoas escolhem viver é uma forma de arte. Certamente uma forma pura de expressão da própria mente. O quarto é a expressão máxima desta arte.
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Estudo da luz natural no espaço do quarto
A forma de vida de uma pessoa é diretamente influenciada pela arte. A maneira como mobilamos e decoramos um quarto vai influenciar o nosso estado de espírito. É por esta razão que alguns locais apelam de uma forma positiva aos nossos sentidos, da mesma maneira que há outros que não nos cativam: explorar estas sensações é como reviver memórias, cores, formas e sensações íntimas. Os lugares são de certa forma uma evocação de uma determinada forma de ser e de viver, sendo por isso deveras importante a maneira como organizamos os nossos espaços pessoais. O Design é, assim, um plano que pretende arranjar elementos que satisfaçam as necessidades particulares de cada pessoa. O principal conceito do projeto incide sobre Equilíbrio. Este conceito surgiu a partir da letra de uma música da banda “Tool”. A noção de equilíbrio no Design remete-me para vários conceitos, como simetria, contraste, quantidade e sustentabilidade. A sustentabilidade no Design é um dos fatores que mais preocupa, e está relacionada com o Ecodesign ou Design Sustentável, que é a integração sistemática de considerações ambientais no processo de design de produtos. O principal objetivo do Ecodesign é desenvolver produtos que contribuem para a sustentabilidade, através da redução do seu impacto ambiental ao longo do ciclo de vida. Este foi um dos fatores que se valorizou no projeto de reorganização do quarto, pensando os objetos como uma resposta a necessidades e atividades utilizando apenas recursos essenciais. A cama é deveras simples e moderna, de formas retangulares. Contém incorporada na estrutura um estrado onde assenta um colchão. A mesinha de cabeceira é também bastante simples, e possui espaço para os objetos básicos. A secretária é composta por apenas uma placa de vidro, e por bases retangulares de metal, estando uma das bases laterais apoiada no aparador. A cadeira de secretária é almofadada e confortável, e dá para ajustar consoante a altura pretendida, a sua base possui rodas para uma fácil movimentação. Por fim, o aparador é também simples e de formas retangulares, polifuncional, com uma grande área para arrumação e possui um sofá, que é uma mais-valia para receber visitas no quarto e para ler/descansar. Para além destes objetos incluiu-se ainda no quarto uma parede pintada com tinta de efeito magnético, de tom de ardósia. Esta tinta permite obter uma superfície onde é possível
Esboços de alternativas de organização do espaço
Esboço da solução desenvolvida
RITA CARNEIRO
Quadro de conceitos, atividades e objetos
aderir ímanes. Esta parede é uma vantagem para uma pessoa muito esquecida, pois poder-se-á colocar papel na parede (segurado por ímanes) e tomar notas, desenhar, etc., provocando no quarto um efeito visual apelativo e original. O quarto contém ainda um véu, envolvendo a cama atribuindo um efeito visual de aconchego, e, nas noites de verão serve também de proteção contra os insectos. O projeto corresponde ao conceito, o equilíbrio, devido à simetria do espaço, notória na parede onde se encontra a cama, visto que está centrada; às formas retangulares e simples; à amplitude do espaço e poucos constituintes do mesmo; e, por fim, à paleta cromática suave e contrastante, em tons de branco e com apenas uma parede pintada de verde-escuro/preto, tom de ardósia. Maqueta do projeto de rorganização do espaço do quarto em MDF, à escala 1:15
Esboço da solução desenvolvida
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _ EASR | 2014.15 DESIGN E O HOMEM | EQUIPAMENTO PARA O HABITAR
No âmbito da disciplina de Projeto e Tecnologias foi proposta a abordagem a problemática “Design e o Homem” através do tema “O ser humano como modelo criador produtor e utilizador de objetos”. Pretendiase desenvolver o projeto "Equipamento para o Habitar", criando um objeto a inserir no espaço. Este objeto deveria responder a um ou vários problemas detetados na fase de Levantamento no quarto atual. Deveria, também, estar inserido nos conceitos que presidiram ao desenvolvimento e reorganização do quarto de sonho, contendo também influências em termos de design, isto é, espelhando caraterísticas de doutrinas de design ou designers em específico. Decidiu-se que o espaço deveria privilegiar o trabalho, deixando, no entanto, espaço livre para a prática desportiva conseguido através do encaixe de volumes, conseguindo-se também uma estética mais limpa e simples, ao jeito minimalista. O objeto a inserir no espaço foi uma mesa de trabalho, que foi projetada de raiz. Esta mesa procurava conter dois espaços distintos: um espaço de mesa de luz e um espaço para a utilização simultânea do computador portátil. Assim, procurou desenvolver -se um objeto simples, adepto da estética redutiva minimalista e com soluções simplificadas, apelando redução de material. A mesa tem cerca de 90 centímetros de largura, 140 centímetros de comprimento e cerca de 4 centímetros de espessura. A altura ao chão é de cerca de 73,5 centímetros. Segue, assim, algumas das regras estandardizadas para este tipo de peça, no entanto, tem alguma liberdade nesse aspeto porque pretende resolver um problema de falta ou inexistência de um espaço de trabalho para formatos de maior dimensão como A2 ou A1. A sua volumetria segue a geometria da linha de design "Fronzoni '64". Esta mesa tem uma dupla função no espaço: uma vez que é rebatível em relação ao móvel único do quarto, funciona também, como porta desse mesmo móvel, permitindo a libertação do espaço livre do quarto, destinado à atividade física. Todas estas caraterísticas decidiram-se como forma de inserção do objeto na corrente minimalista, associada à ergonomia. De
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DANIEL LEAL
facto a as linhas puras e geométricas da peça permitem um eficaz encaixe de volumes, purificando a estética do espaço (o que traz proveitos a nível de concentração), mas permitem simultaneamente o uso correto e confortável em termos ergonómicos. A evolução e desenvolvimento do objeto levaram ao questionamento sobre os processos e técnicas de construção do mesmo. Todos os pormenores desde as ferragens aos acabamentos deveriam ser desenvolvidos e pensados tendo em conta as caraterísticas dos materiais e a funcionalidade da peça. Pode dividir-se esta mesa em 4 grandes partes: o tampo principal, a zona da mesa de luz e seus componentes, a
perna que sustenta a mesa e as ferragens e ligamentos ao móvel único. O tampo principal da mesa consiste numa placa de contraplacado laminado com cerca de 4 centímetros de espessura. Este tampo tem alguns baixos-relevos que contemplam a inserção e encaixe de volumes (como a perna da mesa quando rebatida) e por isso a utilização deste material justifica-se uma vez que facilita a produção em peças desta natureza (este tampo realizar-se-ia com duas placas de contraplacado de 2 centímetros com os devidos recortes, coladas). Para além disso o material é muito resistente e leve o que é importante devido ao esforço necessário para o rebatimento. Usando este material leve.
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _ EASR | 2014.15 DESIGN E O HOMEM | EQUIPAMENTO PARA O HABITAR
e resistente o rebatimento revela-se um processo simples de realizar. Quanto aos acabamentos e revestimentos, o tampo pretende-se folheado a madeira de faia. Escolheuse este material pois as cores claras eram as pretendidas no espaço. Procurava-se a imitação da madeira como nos outros equipamentos do espaço Despois de folheado, o tampo pretendia-se envernizado com um efeito mate, tudo por questões estéticas. No perímetro do tampo há uma ora, um acabamento que garante a robustez e durabilidade da peça. Quanto à zona da mesa de luz, o tampo principal contempla um baixo-relevo de 1 centímetro. Este baixo-relevo é destinado à colocação de LEDS que iluminam o acrílico (polimetil-metacrilato) branco translúcido de 3 mm que o
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encima. Existe uma espécie de batente no interior do baixorelevo que permite a colocação do acrílico (85cm x 8Scm x 3mm) sem que haja diferença de planos na superfície do tampo. Há ainda um baixo-relevo à direita, com cerca de 2 centímetros de espessura, adicionando ao centímetro já existente e com cerca de 5 centímetros de largura, que se destina a colocação dos componentes elétricos dos LEDs, bem como o transformador da energia fornecida pelas pilhas. A perna da peça é realizada em aço inox lacado ou pintado de preto. É como que uma estrutura tubular quadrangular que, estando unida ao tampo principal se rebate e fixa através da utilização de ímanes e dobradiças. A estrutura é composta por tubos quadrangulares de 2 centímetros. A sua altura é cerca de 75,5 centímetros e a sua largura cerca de
DANIEL LEAL
86 centímetros. É uma estrutura muito simples e visualmente apelativa uma vez que espelha a estética minimalista, quer na volumetria, quer na cor neutra. Quando rebatida, a perna encaixa num baixo-relevo do tampo principal, permitindo novamente o encaixe volumétrico eficaz. Escolheu-se este material uma vez que o mesmo se revela muito resistente e inoxidável, facto importante num espaço algo húmido. A lacagem ou pintura prende-se com questões estéticas. O efeito pretendido é o mate, novamente por questões estéticas. Chamou-se “S14” ao objeto numa clara alegoria à Simplicidade minimalista e ao ano decorrente de 14.
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TÊXTEIS_ EASR | 2014.15 O DESIGN E O HOMEM - VESTIR O ESPAÇO DE AFIRMAÇÃO
e
A remodelação do quarto como pretexto para a craição de uma coleção de tecidos estampados onde as raízes transmontanas se projetam para o futuro
O conceito definido para o projeto foi: “Para onde quer que vás, nunca te esqueças de onde vens”, visto que as origens, as vivências de cada um são fatores que moldam a sua personalidade e modo de agir, neste caso, a cultura e a paisagem de Trás-osMontes. Não nos podemos esquecer daquilo que fez de nós o que somos, se queremos atingir qualquer tipo de objetivo futuro. O quarto é como que um abrigo, que transmite calma, harmonia, equilíbrio, um Microcosmos dentro do Macrocosmos. Esse Microcosmos deve respeitar um aspeto essencial, a versatilidade. O espaço deve ser polivalente, ou seja ser fácil alterar de modo a que não se torne estático e monótono. Este projeto integra uma nova organização do espaço bem como uma coleção de têxtil-lar. Esta nova organização baseia-se essencialmente na versatilidade e polivalência. Um elemento importante do projeto é a cortina para as janelas. Visto que tenho duas janelas relativamente perto na mesma parede decidi colocar uma cortina com pregas que cobrisse toda a parede de modo a unificar o espaço e a tornar o quarto mais acolhedor. O recanto que dá acesso ao quarto será pintado num tom cinzentoescuro e o resto do quarto a branco com o objetivo de transmitir uma ideia de caminho, um túnel a partir do qual procuramos chegar à luz, ao futuro, “para onde quer que vás (...)”. A coleção de estamparia de têxtil-lar para quarto é baseada no mesmo conceito. Esta coleção é composta por elementos relacionados com as origens, as memórias, bem como a partir de formas que remetem para ideia de futuro, aplicando
Pantorra - Variedade rara e muito apreciada de cogumelos da região de Mogadouro
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Esboços do processo de desenvolvimento do módulo e padrão, baseado nos cogumelos
Módulo e padrão "Pantorra" para estamparia têxtil
Módulo, raport e padrão "Setas" para estamparia Têxtil
TERESA AMARO
Estudos da reorganização do espaço do quarto
a paleta cromática adaptada. Essa paleta cromática vai do preto, cinzento e branco cores que associadas à ideia de futuro “Para onde quer que vás (…)”, até ao turquesa e “bordeaux”, cores que associei a Trás-os-Montes, “(…) nunca te esqueças de onde vens.” São elementos como flores e motivos vegetais, provenientes de formas encontradas em trabalhos de artesanato feitos em burel e a partir das formas de um cogumelo muito raro, a pantorra (este cogumelo é um dos símbolos de Mogadouro pois esta é considerada a Capital do Cogumelo). A aparência deste cogumelo é completamente diferente daquilo que é costume, pois apresenta diversas irregularidades, e concavidades que fazem por si só deste cogumelo algo de único. Estas irregularidades associadas ao conceito
Representação virtual do espaço com a aplicação do tecido estampado "Setas" na colcha da cama
refletem um pouco a ideia de futuro, pois o futuro é visto como que um caminho, uma sequência de linhas irregulares que se cruzam entre si, tal como as formas da pantorra. Por fim, relacionada com a ideia de futuro, foi criado um estampado composto por setas que se sobrepõem, um símbolo que indica o caminho para o futuro no contexto do projeto. Estes padrões serão aplicados em almofadas, estofos, cortinados, estores dos armários e édredons. No caso das almofadas e do édredon seriam aplicados padrões diferentes nas faces tanto da almofada como nos lados do édredon, para demonstrar a ideia de versatilidade, pois o facto de tanto o édredon como as almofadas terem dois lados diferentes permite fazer diferentes tipos de conjugações e deste modo variar o aspeto do quarto.
Representação virtual do equipamento do quarto com a aplicação de tecidos estampados das coleções "Setas" e "Pantorra"
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO_ EASR | 2014.15 FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO | ESCOVARIA DE BELOMONTE
cúpula Para uma parceria com a Escovaria de Belmonte, parti dos seguintes parâmetros: Porto, Belomonte vs. Belmonte, tradicional vs. tecnológico, velhas técnicas vs. novos conceitos de produtos. A Escovaria de Belomonte oferece valores tradicionais numa sociedade que se abastece na alta tecnologia, mas não procura a competição, antes quer uma coexistência, num espaço protegido na sociedade contemporânea. Eclosão, proteção e preservação, foram os pontos de partida para o desenvolvimento de uma pequena escova de roupa.
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JOSUA FONSECA
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA_ EASR | 2014.15 FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO | EUGÉNIO CAMPOS
[BRACARA]
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DÉBORA SILVA
Para o distrito de Braga, rico em cultura e tradição, foi-me lançado o desafio da produção de um objeto de Joalharia que o caracterizasse. O “sangrinho de Barcelos”, um misto de cestaria e tecelagem, duas das atividades representativas do artesanato local, foi o ponto de partida para o desenvolvimento de um par de brincos, a que dei o nome de BRACARA. Com prevalência da forma, os brincos incluem a estrutura do Sangrinho, fundamental à aplicação da filigrana, ela própria linguagem relevante no distrito de Braga.
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TÊXTEIS_ EASR | 2014.15 FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO
bolo
do
Coleção de tecidos estampados para os “abat-jours” de um Hotel na Serra de Bornes, baseada num dos produtos mais prestigiados da região - a cereja! A coleção de tecidos estampados aqui apresentada foi idealizada para ser aplicada no Hotel e Spa Alfandega da Fé. O conceito da coleção é “A Cultura e Tradições da região de Alfandega da Fé”. A “ideia está no sítio” como diria Alvar Aalto, nada melhor que utilizar a cultura desta belíssima região para a criação do projeto. Sendo esta uma zona conhecida pelos valores naturais, nomeadamente Serra de Bornes, e pela cereja, escolhi como paleta cromática dois grupos distintos. Um conjunto de cores relacionado com as corres da serra, que se enquadra com a decoração do salão do hotel. Estas cores são: bege, castanho, vermelho e verde. O outro conjunto incorpora o vermelho por ser a cor da cereja (símbolo por excelência de Alfandega da Fé), em união com o cinzento, preto e branco, cores neutras que permitem criar contrastes e efeitos mais evidentes de luz e sombra. Este seria para aplicar no restaurante do hotel. Sendo a cereja um dos símbolos principais de Alfandega da Fé, esta foi a forma base para a criação da coleção intitulada “TopodoBolo”. A escala escolhida para os padrões, realizados segundo a
"Abat-jour" com tecido estampado e contextualização
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Hotel e Spa Alfândega da Fé
tecnologia de estamparia por transfer, foi selecionada de modo a que a uma distância média seja possível ver com clareza o motivo apresentado no padrão. Assim, a escala do padrão foi ajustada para ser legível tanto ao perto como à distância. Os pormenores escolhidos resultam da sobreposição das linhas de contorno da cereja e, quando recortados, acabam por deixar apenas a linha de contorno visível. Estes recortes encontram-se à mesma escala que os padrões feitos em estamparia. Tanto os tecidos estampados como a opção de conjugar o burel com a organza, foram idealizados para aplicar num abat-jour cilíndrico com as seguintes dimensões: 390mm de altura por 590mm de diâmetro do cilindro. Caso a superfície a cobrir for diferente devem ser realizados ajustes na escala. Tal foi o que se sucedeu na aplicação dos padrões no ultimo elemento da coleção, o abat-jour resultante da repetição radial de perfis com a forma da cereja. Este abat-jour é composto por uma estrutura interior cilíndrica em polímero, revestida com organza, à qual são presas 16 peças que funcionam refletoras da luz, pois são feitas a
Esboços de "abat-jour" criado numa composição radial tridimensional
TERESA AMARO
Painel ambiente - "A ideia está no sítio"
Coleção de padrões estampados tendo como motivo a cereja
partir de uma estrutura metálica preenchida por um tecido estampado, opaco. Todas as peças são diferentes, o que em conjunto cria uma forma orgânica semelhante à forma de uma cereja. O cilindro interior apresenta 150mm de diâmetro por 250mm de altura, o diâmetro total da peça é aproximadamente 450mmm, por aproximadamente 350mm de altura. Em suma, a coleção “TopodoBolo”, é composta por um uma coleção de tecidos estampados para aplicar em abatjours, composta por três opções de padrão e duas palestas cromáticas; um abat-jour que relaciona Tradição e Tendência feito em burel e organza; e por fim um abat-jour que reme-te para a forma de uma cereja que pode ser aplicado em dois pés diferentes, caso se queira um candeeiro de pé, ou como candeeiro de teto. O nome da coleção deriva do facto de esta estar diretamente relacionada com a cereja, pois este é o símbolo por excelência de alfandega da Fé. E sendo uma coleção criada para o Hotel e Spa Alfandega da Fé, esta seria, como se costuma dizer, “a cereja no topo do bolo”, no ambiente do hotel. Foi desta expressão popular que surgiu o nome da coleção.
Representação 3D do "abat-jour" de perfis radiais
Paleta comática e outros desenvolvimentos da coleção
Contextualização do objeto num espaço social do hotel.
Relação antropométrica
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES_BRINQUEDOS DE ARQUITETURA
[grelheiro] No âmbito da Prova de Aptidão Artística foi proposto elaboração de uma ou várias peças de valor simbólico que remetessem para a ideia de lúdico, podendo este tema ser dividido em inúmeras categorias. O projeto “Grelheiro”, nome que provém da junção das palavras: Grelhador e Fogareiro, aborda a ideia de lúdico enquanto momento de convívio, momento de partilha, de interação, de contato e de alegria. Abandonando um pouco a ideia, dita mais comum, do Lúdico – a brincadeira e os seus objetos. Inserindo este projeto no subtema do Lazer, o seu autor queria algo que estivesse diretamente ligado ás raízes portuenses, à grande cidade Invicta, isto é, representar nos objetos concebidos símbolos da cidade, tornando o projeto numa propaganda ao Porto. Todavia, faltava simbologia para o projeto. Assim, selecionouse o tema da refeição. E, de facto, este tema é o que marca o projeto: A gastronomia portuense.
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É à refeição que as pessoas se tornam mais participativas e acolhedoras. O tema da refeição foi escolhido por essa razão, pois é um período do nosso quotidiano no qual podemos simplesmente relaxar, esquecer as adversidades do mundo do trabalho e podemos desfrutar de uma boa companhia com uma boa refeição. Tal como foi referido, outro dos tópicos é a tradição gastronómica. “O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.” Sophia de Mello Breyner Sendo assim, o projeto consiste na elaboração de uma série de objetos (ligados entre si), sendo estes destinados primordialmente a zonas onde o consumo de enchidos e suas variantes seja bastante amplo e abundante (restaurantes/ tascas que se inserem na famosa rota dos enchidos/tapas – evento que tem lugar nas cidades do Porto e Gaia, e conta com a participação de mais de 30 estabelecimentos, decorrendo de 21 de Maio a 6 de Junho – e em locais onde a
HUGO ALBUQUERQUE
Movida portuense seja bastante frequentada). Tendo em conta esta vertente gastronómica, o projeto conta ainda com uma vertente citadina, usufruindo de certos símbolos que nos remetem automaticamente para esta cidade tripeira, nomeadamente os arcos das sete pontes principais, o formato dos telhados e a ortogonalidade dos mesmos e por fim mas não menos importante, o formato do esplêndido rio Douro. Mas não é tudo. O design nórdico/escandinavo ocupa também um lugar de destaque na motivação para a elaboração do projeto. Sendo a inspiração baseada no tipo de traçado, na escolha cromática, e na estética bela, simples mas funcional. Além disso o círculo, por sua vez, foi também fulcral no bom desenvolvimento do projeto, uma vez que este foi esta a forma base escolhida para a generalidade das peças. Sendo assim, decidiu-se elaborar um conjunto de objetos mais direcionados para o confecionamento de enchidos e para a apresentação dos mesmos no restaurante/tasca/ instalação que adquirisse o conjunto, ou até num domicílio. Deste modo, optou-se por idealizar um assador que servisse de substituto do assador típico que conhecemos, em barro vermelho, sendo este criado com as referidas características nórdicas e portuenses. Mas faltava algo para complementar o assador, uma vez que este era para inserir num restaurante, de certo que os clientes não iriam alimentar-se apenas de um ou dois enchidos.
Partiu-se então para a idealização de algo que pudesse levar molhos, saladas, complementos para criar uma boa e consistente refeição acompanhada de um bom enchido. Finalmente, chegou-se à ideia de criar uma tábua que sustentasse as referidas taças para os suplementos alimentares (molhos, aperitivos e saladas). Porém, era necessário que os clientes consumissem a refeição em algum suporte, fosse este uma tigela, um prato, uma travessa. Assim, optou-se também pela realização de um prato para servir, cortar e consumir os enchidos. Estavam portanto definidos os objetos a realizar: • Assador de Enchidos; • Prato para servir/consumir; • Tábua para taças e complementos da refeição; • Taças para essa tábua de Complementos. O assador, tem o tamanho de um prato regular (27cm de diâmetro) para que se possa usufruir da versatilidade (pode ser usado como assador ou como prato), e uma altura de 5cm para que tenha margem suficiente para colocação de combustível (aguardente, álcool ou brasas). Sendo a sua forma circular, os 27cm permitem que se possa assar vários enchidos ao mesmo tempo. A sua espessura tem necessariamente de ser variável , uma vez que a base tem de ser mais espessa para aguentar as fortes inconstâncias térmicas.
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES_BRINQUEDOS DE ARQUITETURA
A grelha, feita em ferro ou em aço inox, assenta dentro do assador, mas num ponto com 0,3cm de profundidade a contar da periferia de abertura do mesmo, para que tenha uma margem de segurança entre a peça metálica e o assador, não deixando o enchido flamejante cair para a mesa ou noutro tipo de suporte. Esta grelha tem quatro pontos de apoio no seu perfil para diminuir o contacto da peça com o assador, para que quando este estiver a exercer a sua função, a peça cerâmica não rebente, uma vez que o metal é um material que se expande por ação do calor e do fogo. Esta grelha tem ainda sete perfurações nas suas faces, contrariamente aos assadores típicos que apenas têm 3 a 4 barras para o enchido assentar. Estas sete perfurações têm 2cm de largura e os seus comprimentos variam entre 9 e 21cm. O espaçamento
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existente entre elas tem cerca de 1,20cm. Passando então para o prato de consumir, ou prato pequeno, este é basicamente o assador invertido, mudando somente a sua altura, sendo esta cerca de 3cm. A base fica então com 27cm enquanto que a abertura fica somente com 24cm. A espessura da base fica com 1,5cm, para que os outros 1,5cm possam ser utilizados para colocação dos enchidos, da salada ou de outros complementos de refeição. Na base do prato tem também um alto relevo que se inicia no mesmo eixo onde começa a depressão para a curvatura da peça, de maneira a fazer com que esta seja de fácil empilhamento, característica desejada em domicílios e em restaurantes. Esta peça é feita em Nogueira, já que é um dos melhores tipos de madeira para a criação de curvas, baixos relevos e
HUGO ALBUQUERQUE
altos relevos. Para além do lado estético desta madeira, que contém tons castanhos verdadeiramente apaixonantes. Todo este processo terminou com uma visita a restaurantes da Ribeira do Porto, de modo a saber se de facto as peças seriam uma mais valia se chegassem a ser comercializadas, sabendo que o propósito destas é serem inseridas em tascas e restaurantes típicos. Foram obtidas as seguintes respostas: “Seriam muito bem vindas! Os clientes gostam de ver o chouriço a ser assado e também nos tirava trabalho de cima! Uma das peças que dava mais jeito era a tábua com as tacinhas para por os aperitivos, já que os turistas por vezes vêm cá só mesmo para uma comida rápida.” Restaurante A Canastra “São peças muito bonitas e podiam muito bem substituir o assador típico. Acho interessante o conjunto do grelhador. Tem um toque refinado e de facto não aparenta ser um assador (no bom sentido).” Restaurante Ângulos e Latitudes
“São de facto peças atraentes. O facto de o assador ser quase todo coberto ajuda para podermos levá-lo para o exterior. Com os assadores normais não é possível porque o vento apaga a chama e por vezes ela chega mesmo a tocar nos clientes. Penso que é um conjunto bem pensado e com hipóteses no mercado.” Restaurante Taberna Filha da Mãe Preta “Nós não somos um restaurante, mas as taças e a tábua maior serviam perfeitamente para por as azeitonas e os tremoços para os turistas petiscarem. Mas acho o conjunto muito muito agradável e assentaria otimamente em qualquer estabelecimento.” Azeitoneira do Porto “São peças que encaixam em qualquer restaurante seja ele uma tasca ou um restaurante chique. Quando olho para o assador nem sei bem o que é e acho que isso é que tem piada nas peças todas, podem servir para qualquer coisa, há uma versatilidade imensa, ajudando os proprietários e os empregados!” Restaurante Peza Arroz
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[DES]
“Brincar é algo que o corpo não é obrigado a fazer” Mark Twain Vou (des)construir! O quê? Tenho de pensar que tipologia de objeto quero trabalhar! Quero fazer um brinquedo? Não! O que quero então fazer? Quero fazer mobiliário? Quero! São estas perguntas que me faço que me levam a escolher o tipo de objeto que vou trabalhar, o banco. Se me perguntarem o porquê de escolher um banco não sei responder… mas sei que quero brincar com ele! Quero desconstruir o banco quero voltar a construí-lo e assim sucessivamente até chegar a um novo. Quero brincar com os materiais, não me quero cingir aos materiais “mainstream” os mais utilizados… quero arriscar! Quais os materiais que poderei usar?... Plástico, madeira e metal não quero, já são bastante utilizados. Cartão? Cartão!!! É isso, vou fazer um banco de cartão! Vou começar então por examinar o banco! O que é, para que serve, quais os problemas que encontramos num banco?
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES
para além
Um conceito fundamentado na “Obra Aberta” de Umberto Eco (as infinitas e diferentes leituras que é possível fazer sobre a arte contemporânea), os 4’33” minutos de silêncio de John Cage (música composta apenas por silêncios que permite inúmeras possibilidades de leitura sobre ela) e na “Forma Aberta” de Oskar Hansen cujo manifesto lida com ideias de processo, interatividade, o repensar da hierarquia entre artista e público e o desejo de libertar a subjetividade de cada um. A forma aberta é assim toda a forma que é suscetível de infinitas interpretações (para além do visível).
“A criança não é um recipiente que devemos encher, mas um fogo que é preciso atear.” Montaigne
No universo lúdico existe uma relação/interação entre o objeto/ espaço (aquilo que diverte) e o Homem (aquele que se diverte) que proporciona divertimento, prazer e abstração. Essa relação/interação é estabelecida através dos sentidos que, pela associação de ideias, ajuda a estimular a criatividade e a imaginação.
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BEATRIZ MARTO
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PR O J E TO
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Casa com Alma(da) Construir e brincar com um modelo das casas tradicionais da Rua do Almada, como experiência de descoberta das regras e das potencialidades da arquitetura civil do Porto do século XVIII
Vista aérea da Rua do Almada, no Porto
Conjunto de edifícios da tipologia arquitetónica dominante
O brinquedo de arquitetura transmite às crianças as noções de espaço, estrutura e luz. A arquitetura presente na cidade do Porto foi o ponto de partida para a criação de um conceito e de um tipo de brinquedo que pode demonstrar à criança o sistema a partir do qual se constrói a cidade. Uma das mais emblemáticas expressões da arquitetura do Porto é a que está patente na Rua do Almada. O conceito do brinquedo aqui apresentado foi aí fundamentado. Trata-se de um arruamento traçado no século XVIII, o primeiro em linha reta da cidade, localizado fora do recinto envolvido pela Muralha Fernandina. As características originais dos edifícios mantêm-se nos dias de hoje, o que permite sensibilizar os mais novos para os cuidados a ter nas dinâmicas de renovação do edificado que estão em curso no presente. O brinquedo coloca em evidência as características tipológicas originais dos edifícios, nomeadamente a sua estrutura, os seus acessos, percursos e espaços.
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Análise dos elementos contrutivos
A “Casa com Alma(da)”, nome dado à coleção de elementos que constitui o brinquedo, é um conjunto coordenado de placas, às escala 1:24. Os elementos formam os pisos que representam as diversas combinações de pisos e de fachadas predominantes na rua, e podem ser sobrepostos atingindo os 4 ou 5 níveis. A construção de um piso é feita através do encaixe de saliências em ranhuras existentes nas diversas peças. Para adicionar um novo piso basta construí-lo separadamente e sobrepô-lo aos inferiores, fixando-o por cavilhas. A escala 1:24 permite a combinação desta “casa” com um vasto universo de brinquedos e “heróis” existentes no mercado, dimensionados nessa mesma escala. Realizado em painéis de madeira contraplacada, que conferem um aspeto natural, amigável e duradouro. É um material renovável, de produção com um baixo impacto ambiental. O público-alvo do brinquedo é o das crianças dos 5 aos 10 anos de idade
HELENA RAEYMAEKER
Estudo de sequência e montagem da “Casa com Alma(da)”
Instruções gráficas de montagem do brinquedo
Maqueta/protótipo de um piso Desenho técnico digital de painéis de piso, parede e escadas
Dimensões:
Frente. 250 mm
Profundidade: 740 mm Altura: 140 mm Materiais:
Contraplacado de choupo
Representação virtual de uma variante com dois pisos
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Estudo de cor e de composição das peças do brinquedo
Um “ABC da arquitetura”, na forma de blocos modulares de construção, para criar infinitas combinações, explorando os princípios básicos de composição do espaço arquitetónico.
Estudo de cor e de composição das peças do brinquedo
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A arquitetura, independentemente da corrente ou época, focaliza a sua atenção e poder criativo em quatro elementos fundamentais, sendo eles: A PAREDE - é o elemento arquitetónico cuja função é a divisão dos espaços, podendo também um importante elemento estrutural. É o limite e o corte de determinado espaço. A PORTA - é a ligação entre os diferentes espaços, age como o “interruptor” destes - aberta permite a passagem, fechada é apenas um elemento da parede. A JANELA - na sua origem linguística latina é apenas uma pequena porta, porém agora é mais compreendida como uma abertura num elemento de vedação arquitetónica, como uma parede. Para além desta primeira ideia muito racional de janela, existe a ideia lírica de janela, como uma ideia de vazio, positivo ou negativo. Existem também outras definições de janela dependendo do campo onde é aplicada.
Caixa de apresentação e embalagem em cartão
KATERYNA MAKEYEVA
Relação de escala entre o brinquedo e a criança
O ARCO - vence o vão entre paredes cobrindo o espaço, desempenhando o papel de abrigo. Em termos simbólicos é a representação da abóboda celeste. O projeto consistiu na criação de um brinquedo de arquitetura que, em termos de tipologia, se enquadra no grupo dos blocos de construção, blocos estes que pretendem simbolizar os elementos essenciais da linguagem da arquitetura. Foram considerados quatro tipos de blocos: a janela, a porta, a parede, e o arco. O utilizador pode optar por seguir esta simbologia ou não. Estes elementos básicos de construção são associados criando estruturas tridimensionais que, de acordo com o interesse do utilizador podem garantir a representação da essência da construção arquitetónica, e que são estabilizadas por ímanes posicionados nos vértices de todos os planos. As peças são de contraplacado de faia e têm todas medidas iguais, formando um quadrado de 70 mm por 70 mm, com 10 mm de espessura, menos o arco que resulta da subdivisão
de um cubo de 70 mm de aresta, o ímanes 4 milímetros de diâmetro. O público-alvo abrange as idades entre os 8 e os 14, pois nestas idades a criança já está apta para desenvolver a sua sensibilidade arquitetónica, e para os interessados e curiosos de todas as idades. Como se trata de um brinquedo, foi aplicado um acabamento às madeiras que permite manter à vista os veios da madeira. Porém, acrescentou-se uma velatura de cor. Neste sentido foi atribuída uma relação de cor às faces de cada peça baseada nas regras da complementaridade das cores, com o objetivo conferir maior sentido lúdico, e associar um conteúdo de aprendizagem sobre a teoria da cor. O nome atribuído a este projeto, MIA, surge da utilização da primeira sílaba da palavra minimal e da inicial de arquitetura, o “A”. Isto porque todo o trabalho roda em volta dos elementos base da arquitetura, e a arquitetura minimal é a que mais os valoriza, pois não os ofusca com decoração.
Dimensões: Bloco modular tipo: 70mm x 70 mm x 10 mm Materiais: Contraplacado de faia
Desenho técnico cotado
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Imaginação à solta na ciação de estruturas espaciais.
Evolução da ideia de estrutura
Desenho técnico cotado de três tipos de módulos de ligação
Ensaio de cores nos módulos de ligação
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O conceito de diversão, associado ao universo lúdico, convoca uma pluralidade de experiências que não pára de crescer. Os objetos lúdicos, como por exemplo os brinquedos, tem vindo a construir uma ponte entre as atividades lúdicas e as pedagógicas. Agora o lúdico começa a ser um meio de aprendizagem e de desenvolvimento de campos como a oralidade, a coordenação e o raciocínio, entre muitos outros. Desta forma, os brinquedos começam a integrar-se nas escolas, universidades e em outras instituições, uma vez que não só os mais pequenos, como os mais graúdos, podem retirar experiências enriquecedoras das atividades lúdicas. CUBESTRUCTURES é o nome do brinquedo, palavra que remete para o objetivo do mesmo, que é levar o utilizador a imaginar e construir estruturas tridimensionais, através da junção de varetas e de peças cúbicas, e não só. O público-alvo para este brinquedo está compreendido entre os 6 e os 13 anos.
Ensaio de montagem de estrutura com relação de escala relativa a outro brinquedo / Representaç
MIGUEL VARZIM
O brinquedo é constituído por varetas em latão com 3 comprimentos diferentes e por peças de ligação cúbicas e triangulares. Também faz parte do brinquedo uma terceira peça, semelhante às duas anteriores, mas esta apenas serve para rematar as estruturas finais, escondendo os extremos de vareta salientes. As varetas manteriam a cor de origem do latão, dourado, já as peças de ligação teriam variadas cores para disponibilizar ao consumidor várias hipóteses de personalização. Estas estruturas, pela forma como as peças encaixam ao serem montadas, ganham variadas formas que podem apresentar-se como um simples cubo, ou então, como estruturas mais complexas como uma casa ou até um hangar. A partir dos testes realizados, chegou-se à conclusão de que brinquedo CUBESTRUCTURES, tem potencial para coexistir com outros brinquedos, fazendo parte de uma fantasia mais ampla. Os resultados finais, dos CUBESTRUCTURES, aparentam-se aos edifícios da Arquitetura do ferro e vidro, pois partilham os grandes espaços abertos e esqueleto em metal, o que transmite uma sensação de leveza esteticamente interessante. As peças de ligação resultaram da exploração das potencialidades das ferramentas de prototipagem, como é o caso da impressora 3D, pois é uma forma fácil e rápida de produzir peças e porque, em caso de comercialização, as peças do brinquedo poderiam ser feitas em impressoras 3D profissionais. Produção de módulos de ligação em ABS numa impressora 3D
ção virtual de uma “CUBESTRUTURE” complexa
Dimensões: Peças de ligação 25 x 25 x 25 mm Varetas: 209 x 3 mm de diâmetro 109 x 3 mm de diâmetro 61 x 3 mm de diâmetro Materiais: ABS e latão
Relação de escala criança/brinquedo
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[
Descobrir e apreciar a estrutura
e a forma ousada da Casa da Música do Porto, e dar rédea solta às ideias,
]
interagindo com um puzzle tridimensional
O conceito do brinquedo “Metamorfose” integra-se numa ideia mais vasta de “Puzzles no Porto”, pois foi uma junção entre duas vertentes distintas, ou seja, os puzzles/ quebra- cabeças e as obras mais icónicas de arquitetura da cidade do Porto. O edifício escolhido para a primeira concretização da ideia foi a Casa da Música, pela sua ousadia e por ser um exemplo contemporâneo. A Casa da Música é a principal sala de concertos da cidade do Porto. Foi projetada pelo Arquiteto holandês Rem Kool-
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Desenho técnico cotado
A Casa da Música do Porto no seu contexto urbano
haas, como parte do evento “Porto - Capital Europeia da Cultura, 2001”. No entanto, a sua construção prolongou-se no tempo, tendo sido concluída apenas em 2005. O processo de construção deste edifício colocou novos desafios à engenharia para que se concretizasse a forma geométrica ímpar que o edifício tem como a sua principal característica. É precisamente esta forma geométrica ímpar e complexa que constitui o desafio central do brinquedo de arquitetura criado neste projeto. O brinquedo resulta de uma simplificação da forma, mimetizando o processo criativo do arquiteto Rem Koolhaas, e, por via da redução da escala, chega-se à forma de um objeto lúdico. Partindo de um cubo e fazendo vários cortes, podemos ter uma representação da obra. Ao subtrair certos prismas
Representação digital 3D de todas as peças do puzzle
RUTE SOUSA
Representação analógica de uma simplificação da volumetria
Exploração da ideia num bloco de polistireno expandido
chegamos a um sólido, visualmente apelativo de remete para a Casa da Música. Em termos de jogo, o objeto está pensado para ser um puzzle tridimensional que reserva surpresas para o utilizador no processo de subtração de peças, e na complementar adição de peças. Para que além de representar a Casa da Música, é possível construir outras formas e assim explorar a criatividade. As peças do brinquedo são em madeira de carvalho envernizada, à semelhança da utilizada no edifício de Rem Kollhass, e a junção tridimensional das peças é assegurada por discos de íman. Este brinquedo tem o nome de “Metamorfose” pois esta palavra tem como significado a mudança de um estado para o outro, o que, no fundo, é o que acontece com o brinquedo. Protótipo do puzzle tridimensional em madeira durante a montagem
Pormenor do volume que representa o edifício da Casa da Música
Puzzle na caixa de acrílico transparente
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES_BRINQUEDOS DE ARQUITETURA
Anexo No âmbito da Prova de Aptidão Artística do ano letivo de 2014-15, realizada no horário letivo da disciplina de Projeto e Tecnologias, no curso de Design de Produto, na especialização de Equipamento, da Escola Artística de Soares dos Reis, foi proposta a execução de uma linha de artefactos sob o tema O Valor dos Objetos – Ludicidades. A linha de artefactos desenvolvida foi nomeada “Anexo.”. “Anexo.” é um brinquedo de construção livre e dinâmica, que rompe com a normalidade regular dos brinquedos tradicionais. “Anexo.” é constituído por blocos de madeira e planos acrílicos diretamente ligados com a teoria da forma e cor de Wassily Kandinsky. Em termos concetuais, o objeto faz uma conexão entre diversos movimentos artísticos modernos, bem como entre teorias e correntes ideológicas diversificadas, que sustentam a sua complexidade. O subtema escolhido, Brinquedo Inútil, embora se apresente uma sonoridade facilitadora, revela, no entanto, uma complexidade concetual muito difícil de sustentar.
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Esta escolha é motivada por uma pesquisa no universo da criança, o grupo etário que privilegia o lúdico por excelência. Deve referir-se, contudo, que apesar de a pesquisa ser direcionada para o universo infantil, o objeto é destinado a todas as faixas etárias, pela crença de que, no ato lúdico, todas as idades se aproximam da condição infantil. O conjunto é composto por dois blocos e por três planos, de cada exemplar, que correspondem a cada uma das formas da teoria de Kandinsky. Os blocos desenvolvidos são feitos de madeira de faia com 5 milímetros de espessura e uma membrana exterior de borracha líquida com cerca de 1 milímetro de espessura. Desenvolveram-se três sólidos distintos, que partem das formas básicas da teoria já referida. Criou-se uma pirâmide com uma estrutura de madeira interior de base triangular equilátera com 7.5 centímetros de lado, a que se acrescenta a espessura exterior da referida membrana. A utilização da membrana exterior prende-se com a necessidade de fixar os planos,
DANIEL LEAL
criando atrito nos mesmos. Os cortes foram quase que aleatórios, tal como Daniel Libeskind transporta para a sua arquitetura. O segundo sólido, o cubo, tem uma forma base de madeira de faia com 5 milímetros de espessura, tal como na pirâmide, tendo a membrana exterior, também, 1 milímetro de espessura. Foram inseridos três cortes na pirâmide e no cubo, tentando que todas as faces tivessem pelo menos um corte. A esfera foi desenvolvida nos mesmos padrões, tendo 5 milímetros de espessura de madeira de faia e 1 milímetro de espessura de borracha liquida. Foram feitos quatro cortes na esfera por questões de diversificação das ligações. As ligações entre os blocos de cor opaca e os planos de cor translúcida permitem a obtenção de um jogo de cores que nos transporta para a mistura de cores da teoria da forma e cor. Deve referir-se que o projeto assenta sobre moldes inéditos que necessitaram de uma enorme pesquisa e conexão de conceitos. No final, o subtema revelou-se extremamente difícil de resolver, tendo, no entanto, sido resolvido com a criatividade própria do universo lúdico.
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA_ EASR | 2014.15 FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO | FENABEL – INDÚSTRIA DE MOBILIÁRIO, LDA
Fólio
O problema proposto, no âmbito desta Formação em Contexto de Trabalho, incide na criação de uma família de cadeiras: uma cadeira empilhável, uma cadeira de braços e uma cadeira de balcão/bar, para a empresa parceira “Fenabel – Indústria de Mobiliário, Lda.”. Neste projeto, as mais importantes e constantes influências vagueiam em redor da estética nórdica e daqueles que a empregam no seu trabalho. No domínio do Design português, destacam-se o renomeado Daciano da Costa e o incontornável arquiteto Álvaro Siza. Numa pequena reflexão, o arquiteto Siza Vieira diz: “O desenho de um móvel não pode ser senão definitivo. Não há referências fixas de escala, de ambiente, de necessidade. Existe o corpo, que se transforma tão lentamente que pode usar cadeira egípcia. Despidos os objetos, existe a história de meia dúzia de formas. A imaginação voa entre essas formas, a baixa altura, se descontarmos aprendizes impacientes.” É precisamente este voo a “baixa altura” em redor das formas
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TOMÁS ALMEIDA
simples e puras que se pretendeu explorar neste trabalho, conjugando-o com o contraste Plano/Linha, tão característico do Design Sueco O projeto “Fólio” é uma família de cadeiras composta por 3 cadeiras principais: cadeira empilhável, cadeira de braços e cadeira de bar ou balcão. A família pretende não só conciliar a pureza e simplicidade das formas com a praticalidade e funcionalidade, mas também conceder ao objecto um certo plano lúdico de interação com o homem. O nome “Fólio” provém do Latim e significa “folha”, “livro”. Relaciona-se com a finura das peças, com a forma das cadeiras que se assemelha a um livro aberto e também com a capacidade da peça de armazenar papéis, jornais, livros, etc. Incute leveza no objecto e musicalidade, tornando-o mais orgânico. O nome, tal como a família de cadeiras tem uma vertente lúdica, dado que se assemelha à palavra “folia”, isto é, loucura, brincadeira, maluquice, que representa a decisão de acrescentar uma função à cadeira. Naoto Fukasawa diz que ”o Design precisa de estar ligado ao comportamento humano. O Design dissolve-se no comportamento”. É exatamente esta dimensão de cooperação Objecto/Homem que o conjunto procura. “Fólio” propõe uma maior fluidez na mais vulgar ida a um café, leitura em casa ou espera
num consultório. Em vez de pousar a mala, carteira, livro ou mochila, no chão ou no colo, o utilizador pode colocar esses objetos sob o assento. O factor lúdico manifesta-se também na possibilidade de alterar as almofadas da cadeira conforme o gosto necessidade ou vontade. As três cadeiras partem de uma estrutura semelhante. Entre si, partilham a estrutura de madeiras, constituída por 5 peças de contraplacado de bétula: Encosto, Assento e 3 peças para o compartimento. Todas as peças, à exceção do encosto, são unidas por meio de cavilhas de madeira e cola. O encosto, sendo a peça mais importante, precisa de uma pequena tira de madeira que se encaixa e cola numa cavidade do encosto e posteriormente se cola ao resto da estrutura. É claro que, antes da colagem, são feitas as aberturas par a pega e para a almofada. Depois é necessário colocar as pernas. Nesta fase, apesar das peças se dividirem em cadeira normal, de braços e de bar, são essencialmente montadas do mesmo modo. Todas elas utilizam 6 peças metálicas para prender as pernas à madeira. Em termos de acabamentos, a madeira deva ser lixada, brunida, e tratada com tapa poros. O aço deve ser cromado e às pontas das pernas deve ser acrescentada uma pequena peça em polímero, para suavizar o contacto entre apeça e o chão.
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES
Se admitirmos a experiência como aquisição de conhecimento, ou seja, de um ponto de vista empírico ou até apriorista, as ludicidades têm realmente um carácter didático: desenvolvem não só capacidades mentais, como capacidades motoras. Então, a forma como exercemos o lúdico ou como utilizamos a imaginação depende da nossa experiencia, da nossa História, de gerações e culturas. Aqui estabeleço uma ligação com a minha infância – era quase inevitável não relacionar o lúdico com as idades em que o lúdico desempenha um tão importante papel. “O Homem nasce como se fosse uma folha em branco onde a experiência escreve.” John Locke O papel foi sempre o meu brinquedo preferido – é um guarda-memórias, um suporte para estórias e Histórias, é um palco onde atuam personagens. A Estória é uma narrativa de ficção: relata acontecimentos fictícios; a narrativa é uma sequência de interligações que resultam num enredo segundo uma ordem. Quando há uma narrativa, há um narrador que narra, ou seja, dá a conhecer. O narrador é sempre um participante porque dota a narrativa de características emocionais suas. E o papel, como o meu brinquedo de infância, carrega o que é a base do meu “eu”, as primeiras camadas da minha história e tantas vezes suporte das minhas estórias: carrega experiências e memórias.
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DÉBORA SILVA
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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TÊXTEIS_ EASR | 2014.15 PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | LUDICIDADES_BRINQUEDOS DE ARQUITETURA
dotes
Um jogo interativo que visa desenvolver a perceção espacial e a sensibilidade à forma e cor, pela montagem de estruturas simples ligadas por esferas de croché.
Froebel, pedagogo alemão da primeira metade do séc. XIX, reconheceu que uma bola é muitas vezes o primeiro brinquedo favorito das crianças, por ser leve e fácil de se manusear. O seu objetivo era, a partir das bolas, ajudar a criança a ter noções de forma, cor e movimento, distinguindo-as. O brinquedo “Dotes”, que aqui se apresenta, acaba então por ser constituído por aquilo que Froebel considerava a forma mais pura, as bolas. Sendo realizadas em croché, tornam-se também macias e maleáveis. As diferentes cores (amarelo, azul, laranja, lilás. verde e vermelho) irão automaticamente fazer com que a criança compare a bola a outros objetos esféricos com a mesma cor. Outra particularidade destas bolas é o facto de terem um laço de fio. Este laço permite dar movimento às bolas, lançando-as ou balançando-as e, para além disso, cria a possibilidade de interligação das bolas, umas nas outras, criando formas bidimensionais. Com o “Dotes” procura-se desenvolver as capacidades cognitivas e operativas das crianças, a vários níveis, sendo os principais o da forma, da cor e do movimento.
Sequência da realização das esferas de croché
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Há a destacar a passagem do bi, para o tridimensional”. A ideia consiste na passagem das Yarn Balls para o universo tridimensional, alargando assim o leque das capacidades desenvolvidas pelas crianças, durante a utilização do brinquedo. Envolveria os mesmos raciocínios do jogo de Froebel, mas também a perceção espacial tridimensional, que se adapta ao desenvolvimento de construções arquitetónicas. Assim sendo, as esferas em croché funcionam como elemento de ligação, sendo utilizadas varetas de madeira, com diferentes comprimentos, ao invés dos laços de fio, de modo a possibilitar a construção por estruturas. A criança poderia avançar das formas mais simples, para as mais complexas, utilizando a sua criatividade, enquanto ganha competências essências, divertindo-se. As esferas têm 3cm de diâmetro e, as varetas, 3mm de espessura e 10cm, 14cm e 18cm de comprimento. Estabeleceu-se ainda, um número de peças, sendo um total de 36 esferas e 36 varetas (6 de 10cm, 12 de 14cm e 18 de 18cm).
Estudo de cor e do número de peças do brinquedo
Conjunto mínimo de componentes do brinquedo “DOTES”
INÊS SILVA
Explorações técnológicas para desenvolvimento da solução
Relação de escala do brinquedo com a criança
Estudos para coleção de tecidos estampados explorando o conceito do brinquedo Representação virtual da aplicação dos tecidos estampados em revestimento de estofos
Caixa em madeira e saco de arrumação das esferas
Logótipo do brinquedo
Propõe-se também a embalagem do brinquedo. Esta será uma caixa de madeira, com divisórias, que separam as bolas e os diversos tamanhos de varetas. Para além disso, as bolas são guardadas numa pequena bolsa em tecido estampado, com um padrão baseado numa composição que recria as formas e as cores do próprio brinquedo. O padrão criado tem potencial de aplicação em produtos de têxtil-lar e em revestimento de estofos, dedicados a um público-alvo infantil. Para além de tudo isto, á ainda disponibilizado um folheto de informações básicas, como regras e segurança e instruções, para se garantir a boa utilização do brinquedo.
As idades definidas para a utilização do mesmo, rondam entre os 6 e os 10 anos, pois tem algumas peças que, manuseadas incorretamente, poderão causar danos físicos. Dimensões: Esferas - 3 cm de diâmetro Varetas comprimentos de 10 cm, 14 cm e 18 cm e 3 mm de diâmetro
Materiais: Esferas - Fio de algodão e algodão em rama Varetas e caixa - Madeira de pinho
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dinamicas @ essr.net
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