S E T E M B R O. 2 0 1 9
E S C O L A A RT Í S T I C A D E S OA R E S D O S R E I S
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FICHA TÉCNICA
DINÂMICAS | MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTO PUBLICAÇÃO ANUAL COORDENAÇÃO: ARTUR GONÇALVES, MICAELA CARDOSO PRODUÇÃO GRÁFICA/ EDIÇÃO DIGITAL: MICAELA CARDOSO CONTATO EDITORIAL: dinamicas@easr.pt PROPRIEDADE: ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS RUA MAJOR DAVID MAGNO, 139 | 4000-191 PORTO TEL. +351 22 537 10 10
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CARLOS SOUSA RAMOS
EX-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
DER IDEENBLOCK Andei semanas senão meses para escrever sobre “e se….?” Tinha um grande receio, “e se” perante o papel em branco à espera do afagar do lápis, me dava uma “branca”? Por fim, já bem longe de casa, chegou o dia em que, com coragem e vagarosa iniciativa, pedi algo onde escrever, já que lápis tenho quase sempre. Chegou até mim um bloco de papel quadriculado onde, no cabeçalho de cada folha, se encontrava impresso “DER IDEENBLOCK” (o Bloco de Ideias). Disse cá para comigo, é hoje, é agora que, com tal mensagem sublimar, não me vai faltar inspiração. Qual quê, a branca não era branca, era tão transparente que eu, olhando pela janela de onde me encontrava, só tinha pensamentos sobre os pássaros que à minha frente esvoaçavam e chilreavam entre as copas das árvores do jardim estrategicamente e esteticamente colocado no meio dos edifícios onde, num deles, momentaneamente o meu corpo habita. E o tempo que tinha definido para o fazer, galopando sem rédea pela pradaria da musa, a consumir-se a grande velocidade. Até que veio ao de cima a racionalidade e disse para comigo: começa a escrever qualquer coisa, no fim, se não gostares ou concluíres que poderias utilizar o velho princípio do “e se…?”, aplica-o, melhora o texto, reescreve-o, muda de sentido, de mensagem. E assim o fiz, porque também sempre defendi que o acto de criação artístico, pintura, escultura, cinema, vídeo, teatro, escrita, e por aí fora, nunca deve ficar refém de uma “branca”, em especial o acto de criação por solicitação/projecto. Aqui, no acto de criação/projecto, aplico algumas vezes o método PERT/CPM (Program Evaluation and Review Technique / Critical Path Method), aprendido nos tempos idos da minha juventude. Tem-me ajudado ao longo dos tempos. Este método aplica-se muito bem, por exemplo, na escrita, em produção de filmes e pesquisa e desenvolvimento de um produto. Eis porque vos falei nele. Não foi o caso para este texto, falei no método PERT/CPM porque penso que é um bom método de ajuda ao “e se”. Para este texto o “e se…?” apareceu-me várias vezes, utilizei-o amiúde, mudando até a mensagem do mesmo. Falta-me agora terminá-lo, E, oh! não, nova branca, não sei como o acabar. Não, é mentira, brincadeira do “e se”; porque já tinha definido como E assim, aqui vai: apliquem-no quando necessário, não fiquem só pelo campo da dúvida, metódica ou não, em todas as solicitações da vida. Até um dia destes, bem hajam. Carlos Sousa Ramos (02.08.2019 em Kaiserlautern, Alemanha)
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E SE . . .
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A mente é como um guarda-chuva. É mais útil quando aberta. Walter Gropius -5-
ED I TO RI A L
E se…? Esta é uma expressão interessante!
Segundo o Priberam, “se” pode ser um símbolo de orientação, um símbolo químico, uma sigla, uma conjugação, um pronome indefinido, um pronome pessoal de dois géneros e se acentuado pode ser um substantivo feminino. Tudo antecedido de uma conjunção coordenativa.
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LAURINDA BRANCO
PROFESSORA PROJETO E TECNOLOGIAS CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | EASR
E se …
Qualquer coisa pode a ela ser acrescentada. Ela pressupõe sempre uma alternativa, uma outra possibilidade, um outro pensamento. Usase individual ou coletivamente, no silêncio dos nossos pensamentos ou quando, em conjunto com outros, preparamos qualquer coisa. Pressupõe uma construção, uma experimentação. Mas também alguma insatisfação. Ela agrega-se facilmente a um processo, a um método de trabalho. Ela é um princípio para uma metodologia dinâmica e evolutiva, dialética e sem fim anunciado.
Usar esta expressão como tema para provas de aptidão artística foi a garantia de uma diversidade de pensamentos, de formas e de caminhos, do respeito do individual no coletivo, e como processo construtivo, não fechando portas ao sentido crítico. Conjugação perfeita que antecipou orientações para mudanças no sistema de ensino – uma escola que se quer, agora mais do que nunca, participada e participativa, centrada na promoção da autonomia do estudante como indivíduo, cidadão consciente do espaço mundo em que vive. Um estudante que não pode mais ser apenas o recetáculo de cardápios de saberes organizados, em pretensa sequência lógica, por alguém que nunca o conhecerá ou conversará com ele. Ele será parceiro de viajem e ator principal na mudança.
E se … não perdêssemos mais tempo e embarcássemos nesta viajem?
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ÍN DI CE
ÍNDICE 3
DER IDEENBLOCK - CARLOS SOUSA RAMOS
4-5
W. GROPIUS
6-7
EDITORIAL - LAURINDA BRANCO
8-9
INDICE
REFLEXÃO
10-13
E SE... - ALBERTO TEIXEIRA
14-15
E SE...? POSSIBIIDADE EM ABERTO - ISABEL LOPES
16-17
E SE... A Vida se encarrega de nos arrepiar? - MADALENA MENESES
18-27
E SE...Nos Libertarmos? - MARIANA GUEDES DOS SANTOS
28-41
PROJECTO FACS - ESAD IDEA
HISTÓRIA DAS COISAS
42-43
O LÁPIS - MARIA ESTELITA MENDONÇA
PROJETO
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44-45
A CIDADE E AS MARCAS DO TEMPO | OBJETO - TURMA 11ºC3
46-47
A CIDADE E AS MARCAS DO TEMPO - INÊS FERREIRA
48-49
A CIDADE E AS MARCAS DO TEMPO | OBJETO - TIAGO MALHEIRO
50-51
ECO DESIGN E DESIGN SUSTENTÁVEL - ANA RITA | GONÇALO MOREIRA
52-53
USA & REUSA - INÊS PINTO
54-55
ROOT - MIGUEL PINTO
56-57
MERCADO DE RUA AO SÁBADO DE MANHÃ | TALHERES - TURMA 11ºC3
58-61
PICAQUIPICALI - ALBERTO MARTINS
62-63
TABULEIRO TÓ ‘ZÉU’- TATIANA PINTO
PROJETO
64-67
PERSONALIDADE E INTIMIDADE - VALÉRIA FERREIRA
68-71
POR3 - ISABEL LOPES E DELFIM FERREIRA
72-75
ESCOVA DE MESA - BEATRIZ OLIVEIRA
76-79
ELO VÍTREO - ANA CASTANHEIRA
80-81
PALÍNDROMO - ANA TEIXEIRA
82-85
RAÍZES - ALBERTO TAVARES
86-89
PENSADOURO - ANA CARVALHO
90-93
LAÇOS - ANA TERESA MEIRELES
94-97
MEMÓRIAS À MESA - ANDRÉ GOMES
98-101
ESPIGUEIRO EM KIT - GABRIELA SOUSA
102-105
SABER SENTADO - ISABEL LOPES
106-109
FRUTEIRA DE FOLHAS - MARIA INÊS FAUSTINO
110-113
[DES]CONTRUÇÃO - ANA JORGE
114-117
PÉ DE MEIA - MARIANA GUEDES DOS SANTOS
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E SE . . .
E se... Quando me contactaram para escrever algo para a revista “DINÂMICAS” pensei logo “e se eu me fizesse esquecido?”. Pensamento imediatamente abandonado pela epifania que se seguiu ao ler a entrevista de José Pacheco no jornal on-line Observador do dia 26 de agosto. Apesar dos 70 anos o seu cérebro ferve ainda com insinuações paradoxais que nos abalam as certezas de tantas reformas e decretos-lei. Depois de muito ter desafiado a paciência da tutela até esta se render em absoluto (ou fingir que se rendeu), José Pacheco ousa dizer que as turmas são coisas da pré-história da educação. Não dei um salto no sofá porque um problema lombar mo impede, mas senti um calafrio percorrer-me a espinha dorsal. E se o homem tiver mesmo razão?
E se for mesmo possível organizar o ensino sem turmas, sem ciclos, sem currículos? Onde é que tudo isto irá parar?
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ALBERTO TEIXEIRA
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
Foi então que me lembrei duma situação semelhante
todas elas com aplicações à Física. Ninguém morreu,
que ocorreu na matemática. Durante anos andaram
não foi o fim do mundo nem se instalou o caos. Estou
às voltas com o famoso axioma das paralelas sem
para dizer que se aplicarmos o mesmo princípio do “e
nada de concreto se conseguir. Como parecia estar-
se?” à questão das turmas e outras certezas de cátedra
se num beco sem saída alguém (de facto foram
também não será o caos pedagógico nem as criancinhas
várias pessoas em alturas distintas) resolveu negar
vão deixar de aprender. Com toda a certeza aprenderão
esse axioma. E se não fosse assim ? Disseram essas
melhor. Em vez dum modelo de ensino passaremos a ter
pessoas na esperança que fosse o caos. Mas não foi.
outro. Da mesma forma que a geometria euclidiana não
Coisas novas nasceram. Explicando melhor, Euclides
faz transvazes para as outras geometrias também os
na sua obra “Os Elementos” afirmou que se tivermos
modelos de ensino o não devem fazer. São paradigmas
uma recta, e um ponto exterior a essa recta, existe
distintos.
apenas uma paralela à recta dada a passar por esse ponto. Não parecendo óbvio para figurar como axioma
A turma teve o seu papel crucial e foi importante porque
os matemáticos tentaram, em vão, demonstrar essa
foi a forma mais expedita de ensinar o mesmo a muitos
afirmação à custa dos outros axiomas. Em vão mesmo!
ao mesmo tempo. A era industrial beneficiou com isso.
Foi então que uns “desordeiros” da matemática, Gauss,
A uniformidade foi determinante para fazer chegar a
Lobatchvsky, Bolay, Riemann, resolveram dar asas à
educação, o conforto, a saúde às grandes massas.
imaginação negando a proposição. Uns diziam que
Nesse sentido houve até um certo avanço em direção
não passava uma única recta, os outros diziam que
à igualdade, ou assim se pensou. O problema é que a
passava uma infinidade delas. A intenção era tentar a
nossa era é uma era pós-industrial onde a uniformidade e
prova por absurdo, negando haveria de se chegar a
a massificação são obstáculos à evolução. Tornaram-se
uma contradição. Porém nada disso aconteceu. A par
forças conservadoras. Daí o surgimento do paradigma
da geometria dita Euclidiana nasceram duas outras
oposto, a individualização, a diversificação. Nesta
geometrias: a hiperbólica e a elíptica. Em vez de uma
mudança de paradigmas o ensino terá igualmente que
passaram a existir três geometrias e curiosamente
mudar. Muito terá que ser abandonado, sacrificado.
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E SE . . .
[ continuação ]
O conceito de turma, como um coletivo homogéneo,
fizermos? Teremos outras “geometrias pedagógicas”?
como corpo de resposta única e coesa tem que ser
Possivelmente! Ou será o descalabro do edifício
posto de lado. Os alunos não são uma massa uniforme, cada aluno é único e tem direito à sua unicidade e ao
pedagógico? E se a inclusão passar a ser o primeiro mandamento duma escola, vertido no seu projeto
seu percurso próprio por ele criado e por ele gerido.
educativo? Teremos uma “Babel pedagógica”? Ou
Olhando à nossa volta podemos constatar que dentro da
comunidade de aprendizagem que cimenta professores
nossa escola já se plantou um embrião dessa mudança.
antes uma cartografia de espaços agregados numa e alunos?
Entre o que era proposto na Escola Industrial Faria Guimarães (Arte Aplicada) e o que é agora proposto na Escola Artística Soares dos Reis pode-se perceber um salto qualitativo. Não se faltará à verdade se se disser que esse salto ocorreu em todas as disciplinas, ou seja, no currículo. Todavia a disciplina onde isso se tornou mais evidente foi na disciplina “core” da escola e que agora dá pelo nome de Projeto e Tecnologias. Onde a Escola Faria Guimarães instruía o aluno para a reprodução fiel a Escola Soares dos Reis educa o aluno para a interpretação e para a criação. Se este novo conceito de educação se alargar, da mesma forma, a todas as disciplinas será que não vamos esbarrar com o espartilho da turma e forçosamente ter que o abolir? E se o fizermos? Como vai ser? Será possível construir um currículo individualizado? E se o
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E se os “muros” e as “barreiras” e as “portas” que se abrem e fecham forem abolidas teremos forçosamente uma “anarquia pedagógica” ingovernável ou uma perfeita comunidade responsável e autónoma em busca ela própria dum percurso formativo esgravatando aqui e ali o conhecimento?
ALBERTO TEIXEIRA
PROFESSOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS
E se um dia o que hoje é ilusão e utopia amanhã se transformar na maior das banalidades aceite por todos? Será que isso vai conduzir a uma sociedade mais sã onde todos se aceitem como são e cooperem para um bem comum e para a defesa da vida? E se gastássemos algum do nosso tempo a pensar nestas coisas? Será isso valeria apena? E se os professores deixassem de ter medo porque não há papões nem homens do saco?
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‘Vocês são os jovens do séc. XXI, são vocês que têm na mão a chance de mudar o mundo por completo.’
e se…? [ Colocamos agora a tónica na possibilidade em aberto.]
‘Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isso que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive.’ (Florbela Espanca) Mas no final de que serve iludirme que sou e sei mais, se estou bem mais perdida por pensar do que qualquer outro que digo que não o faz?! Se há aqui alguém tolo, sou eu! A achar que mudo o mundo.
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ISABEL LOPES
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | EQUIPAMENTO
E assim me mostro e reconheço: a querer tudo, sem querer nada e fazendo ainda menos. Quem me dera, “Ah, poder ser tu sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, E a consciência disso!” (Fernando Pessoa) Sinto agora a verdadeira dor de pensar. O paradoxo de querer viver, sem realmente o fazer. Há erros, falhas! Problemáticas urgentes! Que estão e partem de mim (Tenho de descobrir quem sou) Têm de mudar em mim (E eu posso mudar! Este é o início da mudança.) E a mudança pode transformar o mundo. Afinal, é o sonho que comanda a vida!
As dúvidas permanecem e o fracasso vaisempre existir Mas ninguém me pode impedir de mudar o traço, virar tudo do avesso. Ter consciência que não se pode desistir Temos de correr, arriscar e voltar a tentar Pensar, refletir, ponderar, agir, fazer, atuar.
Esta é a mensagem que quero passar:
No final, valemos por quem somos, pelo que pensamos e fazemos!
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R EFLE X Ã O
Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te. - William Shakespeare -
E se…
A vida se encarrega de nos arrepiar… E se, …a experiência de cancro num elemento da família, faz de nós frágeis e impotentes…
…rapidamente, é suscetível de desencadear mudanças drásticas de papéis… …provoca, inevitavelmente, a alteração de atitudes e comportamentos… …a procura de estratégias para enfrentar os problemas e a adaptação a essas mudanças se torna uma tarefa penosa… …os sentimentos e emoções centrados na família, necessitam do meu apoio permanente… …o impacto desta situação nos meus 3 filhos; altera aos mais diversos níveis, perspetivas atuais e futuras… …a oscilação entre o sentimento de perda eminente e a valorização da vida estão numa amalgama de difícil digestão … …a dor e o medo instalam-se incessantemente… …o isolamento das atividades sociais e a colocação das nossas prioridades e projetos passam para segundo plano em favor das necessidades do “meu” doente e da família… …de repente, deixamos de ter a garra necessária para abarcar tudo e todos… E se… E se… E se…
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MADALENA MENESES
PROFESSORA PROJETO E TECNOLOGIAS CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | EASR
… Toda esta etapa de vida provoca, ainda hoje, um grande impacto emocional no “meu” doente e respetivamente na minha família. É (ainda) tempo e lugar de expressão de sentimentos, de análises, de conclusões, de encerrar de ciclos, etc., por esse motivo é momento de alguma intimidade e tranquilidade. Depois de “aguentar o barco” durante 2 anos, o cansaço instala-se e a depressão é-me diagnosticada. E foi aqui, que, por um ano letivo (2017/2018) estive ausente da escola e não só… E se… Não tivesse sido assim, eu não teria tido o tempo necessário para realizar um exercício de reflexão, sobre a importância do meu papel na família, no trabalho, na sociedade e na comunidade educativa da Escola Artística Soares dos Reis, enquanto professora da área da ourivesaria/joalharia no curso design de produto. Ou seja, foi um tempo de introspeção, sobre as minhas práticas e posturas quer com os meus pares pedagógicos, quer com os meus alunos. Foi Bom! Foi Importante! É sempre bom refletir! E se… esta minha chegada, no início deste ano letivo, tão acolhedora e muito agradável fez de mim um ser mais “saudável” … E se… da minha parte, estando desprovida de ideais e preconceitos, resultou em excelentes experiências, dedicações e entregas… E se…esta ânsia por voltar a trabalhar/ensinar, com a paixão que me é intrínseca, garantidamente, me fez sentir, novamente, feliz … E se… não fosse esta minha abertura, descomplexada, que me permitiu participar numa diferenciação pedagógica que se impõe como resposta à massificação da escola e à vontade de levar todos os alunos à aquisição de uma base comum de conhecimentos e de competências… E se… a partilha desta pedagogia, entenda-se, metodologia diferenciada, realizada em equipa pedagógica no 11ºC3, elevou a autonomia e (co)responsabilização dos alunos… E se… potenciou a forma como penso a educação: que sendo uma filosofia que subentende a adoção de certos valores e atitudes, me fez repensar na VIDA e em tudo o que a reveste…
E se …assim foi, foi um processo construtivo, inigualável… Obrigada Soares dos Reis!
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R EFLE X Ã O
Ilustração de Eneko
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MARIANA GUEDES DOS SANTOS
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA
E se…
nos libertarmos? O que faz falta é dar poder à malta! Sociedade Consumista
campanhas publicitárias.
O último século, caracteriza-se, pelo desenvolvimento tecnológico,
associado
a
um
crescimento
sem
precedentes na produção e pela formação de uma sociedade fortemente estimulada pelo consumo de mercadorias e serviços. Este consumismo, surge na sequencia lógica da revolução industrial. As empresas começaram a criar bens, muito além das necessidades das aldeias ou cidades, por esse motivo houve a necessidade de encontrar novos mercados e por outro lado, fazer com que as pessoas desejassem adquirir os bens produzidos, embora sempre tenha existido. O estilo de vida conhecido por “American way of life”, surgiu mais tarde, quando as classes médias e dos trabalhadores começaram a consumir produtos desnecessariamente originando assim, o consumismo como fenómenos de marcas. A sociedade de consumo é então, por definição uma sociedade em que surgem constantes necessidades e
grupos
sociais
insatisfeitos,
uma
sociedade
que se manifesta pelo consumo massificado de bens normalizados de curta duração e acessível à generalidade da população. Esta sociedade incute-nos, um modelo de consumo, onde os produtos são apresentados com ruidosas
É imposto o gosto pelo consumo, e pelas tendências para realizar gastos supérfluos e acima do poder real de compra, que leva por vezes ao endividamento das famílias. Tornamo-nos
inconscientemente
prisioneiros
do
consumo. Deixando de comprar para ter, mas sim para ser, ou seja, em vez de comprar-mos bens e serviços essenciais à vida, passamos a comprar coisas supérfluas introduzida por ações publicitárias como, roupas novas porque deixou de estar na moda, ou telemóvel porque saiu um modelo novo da marca x. Tudo isto para nos sentirmos superiores aos outros. As orientações sobre o que está “correto” e “errado” divergem numa sociedade onde falta tempo, sobram responsabilidades e a rotina de trabalho é cada vez mais exaustiva. O conceito de futilidade está diretamente associado a algo que não tem interesse e consequentemente não possuí algum valor. A sociedade atual esta apegada ao que deve ser encarado como fútil, e ironicamente futilizando o que é realmente útil, como a felicidade. É espantoso o número de pessoas que se iludem quando são lançados novos modelos de telemóveis, ou o novo par de sapatilhas que toda a gente usa. Todo o esforço que as pessoas
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R EFLE X Ã O
realizam para obter estes materiais é inútil, pois,
faz lavagem cerebral em gastos desnecessários. Outros
passado um mês, foram substituídos por novos e mais
no entanto, discordam, dizendo que a publicidade não
modernos modelos, e reaparece a ganância de querer
pode vender qualquer produto, só pode ajudar a vender
esses modelos, originando um ciclo vicioso.
um produto que as pessoas queiram comprar. Contudo, a publicidade é capaz de alterar condutas,
Publicidade
"A publicidade é a arte de Fazer as pessoas comprarem o que não precisam, com o dinheiro que não tem, num momento que não percebem, para parecerem ser o que não são diante das pessoas que não gostam” - Daniel Spencer O sucesso do consumo em grande escala, teve como fator essencial o uso massivo dos meios de comunicação de massa: O primeiro anuncio publicitário “moderno”, ou seja, publicado num meio de comunicação, é de 1630, mas apenas no séc. XX é que a publicidade entra na vida das pessoas de forma significativa. A publicidade é uma forma eficaz de vender os produtos, e muitas pessoas argumentam que a sua eficácia nos
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criar mercados e avançar a economia. A publicidade ilícita, procura enganar o consumidor. Isto acontece, porque a nossa atenção se divide entre ruído que é imposto através do marketing e a publicidade, por isso, devemos tentar encontrar no meio da enorme quantidade de produtos os que não nos servem e os que nos podem servir. Optando por um método não de escolha desesperada, mas por um exercício intelectual e racional que não se deixa afetar por marcas. O indivíduo é controlado e manipulado pelas imagens produzidas
pela
publicidade
(muitas
vezes
não
correspondentes á realidade), onde são apresentados produtos, bens e/ou serviços “imprescindíveis”, que levam a consumir exageradamente. Principalmente, desde o surgimento da televisão, as empresas vêm a criar formas, cada vez mais, sofisticadas de incutir na mente dos consumidores a necessidade de utilização de seus produtos. Vemos
claramente,
que
nasceu
uma
grande
preocupação para alcançar a forma ideal do corpo e da mente para compreender de onde surge a necessidade de estar sempre jovem, belo e interessante, basta olhar para o objeto que mais cativa a nossa atenção no conforto do lar, a televisão. O público é diariamente bombardeado com imagens, anúncios de produtos de emagrecimento, tratamentos de beleza e cirurgias negativas para as crianças e jovens prejudicando o seu desenvolvimento físico, mental e/ou
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA
moral. Em que pode surgir transtornos como anorexia.
média para a Idade Moderna, a partir da decadência
Existe notícias de publicidade enganosa a que devemos
do sistema feudal e do nascimento de uma nova classe
estar atentos e não nos deixar influenciar por essas
social: a Burguesia. Ocorreram diversas modificações
imagens e informações.
na economia que obrigaram o sistema capitalista como
Estamos perante uma sociedade consumista, ou seja,
o progresso, da urbanização e novas técnicas de
uma sociedade “viciada em produtos”.
produção. O capitalismo teve três fases: o capitalismo
Geram-se diariamente indivíduos que se deixam
comercial, industrial e financeiro.
manipular pelas técnicas de marketing, que criam falsas
O capitalismo comercial nos séc. XV até XVIII, baseia-
necessidades e prazeres pelo mero consumo por si só,
se na acumulação de capitais, exploração de bens,
e não por uma necessidade real do produto.
sempre com o intuito de enriquecer.
Os objetos sem qualquer anuncio são normalmente
O capitalismo industrial, surgiu com a revolução
os “bons produtos”, sem enriquecimento marketing.
industrial, no séc. XVIII. Os produtos começaram a
Por exemplo, o pão, ninguém faz publicidade ao pão
ser fabricados em grande escala abandonando o
porque é um bem-essencial, e deslocamo-nos de
artesanato.
propositadamente á loja para o comprar. E porque razão
E por fim, o capitalismo financeiro, surgiu no séc. XX,
o pão está em sacos castanhos baços? E as batatas
mais precisamente após a segunda guerra mundial.
fritas em pacotes coloridos? Na verdade, isto acontece
Com a globalização, sustenta-se e é controlado pelos
para nos chamar atenção, porque não são essenciais.
bancos e pelas grandes empresas. Este funciona
No caso dos congelados, estes estão no fim da loja
devido aos meios tecnológicos e sociais que garantem
porque são essenciais e desta forma, uma vez que os
o consumo e acumulação de capitais.
pretendemos adquirir, deslocámo-nos até eles, para isso temos de percorrer toda a loja lidando com produtos
A característica materialista no ser humano e que advém
apetecíveis, que gritam das prateleiras, acabando
do crescimento económico dos “loucos anos 20”, nos
por comprar mais do que realmente queríamos e/ou
Estados unidos da América, após a primeira guerra
precisávamos.
mundial, está presente desde antiguidade.
Capitalismo
O materialismo valoriza as coisas físicas, ou seja, palpáveis, bens materiais. Como por exemplo, o
O capitalismo é um sistema económico e social
dinheiro, carros e relógios de ouro.
baseado na acumulação de capital. Caracteriza-se pelo
A sociedade atual é materialista, por isso preocupa-
lucro, acumulação de riqueza, relações de poder, e o
se com a compra de produtos de marca. Possuem o
crescimento económico.
armário repleto de roupas e sapatos que não precisam
Este conceito nasceu no séc. XV, na passagem da Idade
e que muitas vezes nem deram uso, além disso, trocam
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R EFLE X Ã O
de telemóveis ou computadores a cada modelo novo
que nos fará mais fortes, mais sábios, ou mais atraentes,
que é lançado vivendo desta forma rodeados de coisas
nem introduzidos por um qualquer capricho passageiro
supérfluas.
ou pelos sussurros dos publicitários.
Contudo, o ideal para a sociedade seria valorizar o que lhes é essencial, o que não se pode descartar para ter uma vida confortável, como por exemplo, uma
2.
Poderei comprar em segunda mão? Atualmente,
boa alimentação e aquisição de remédios realmente
os produtores fazem as coisas de modo a não serem
necessários.
usadas para sempre. E como tal, devemos comprar e vender objetos ainda funcionais, e muitas vezes novas,
Victor Papanek (1927-1999), foi designer e educador.
em lojas de segunda mão que estão espalhadas pelo
Foi o primeiro designer a questionar a relação do design
país.
com o meio ambiente tornando-o por isso, nos anos 70, um homem a frente do seu tempo, mas foi ridicularizado pelos colegas de profissão por suas posturas radicais e
3.
Poderei comprar em promoção? Obvio que sim,
exageradas.
haverá um artigo que tem mesmo de se comprar e que
Victor desaprovava os produtos manufaturados, que
envolve tecnologia relativamente nova. Se a tecnologia
eram inseguros, vistosos, mal adaptados, ou inúteis. Os
for eletrónica é difícil detetar avarias, um computador
seus produtos, textos e palestras foram considerados
por exemplo, há sempre a possibilidade de comprar
um exemplo e estímulo por muitos designers. No seu
através de uma loja de desconto, uma unidade que tenha
livro “Arquitetura e design” apresentou as:
sobrado do ano anterior, ou um modelo que deixou de ser fabricado. Contudo, através de revendedores, também
_ 10 perguntas que devemos fazer antes de comprar:
1.
É realmente necessário? Ou será que fui persuadido
a comprar porque oferece de facto vantagens comparado com o artigo que utilizo atualmente, ou porque me vai ajudar na minha aprendizagem, no meu trabalho ou no lazer? No entanto, devemos que precisamos do objeto e não que o estamos a comprar na esperança vã de
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podem ser adquiridos muitos aparelhos técnicos com reparações de fábrica, muitas vezes com certificado de garantia.
4.
Poderei pedir emprestado? Se o objeto de que
necessita vai ser usado poucas vezes, o melhor é pedir emprestado.
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA
5.
Poderei alugar? Alugar é ficar a um passo da posse
assumida. Devemos alugar rotineiramente algumas coisas, por exemplo, numa viagem de negócios, alugar um carro no aeroporto para chegarmos ao nosso destino, usarmos a biblioteca local para por a leitura em dia, ou mesmo alugar uma bicicleta para dar um passeio.
9.
Poderei construir eu próprio? O individuo comum,
em qualquer parte do mundo, está melhor informado e mais consciente das suas necessidades do que qualquer designer. Portanto, é bastante obvio que as necessidades criativas da maioria das pessoas serão melhor supridas através de uma colaboração entre os utilizadores e o designer. O próximo passo a sugerir que
6.
Poderei arrendar? Em muitos países, os telefones
são alugados e não comprados, sendo que, a
as pessoas deveriam ser incentivadas a criar as suas próprias soluções para as suas necessidades.
cada vez mais, por particulares que reconhecem que,
10.
no mundo real, nunca chegam deveras a possuir o
inacabada, porque o fabricante poupa dessa forma em
manutenção, reparação, seguro e substituição cabem ao individuo. Carros são alugados por empresas e
seu carro, já que tendem a trocá-lo por um modelo novo pouco depois de efetuar o pagamento da ultima prestação.
PODEREI COMPRAR UM KIT? Os artigos que
compramos em kit chegam-nos às mãos de uma forma portes de envio. Por outro lado, montar um kit ajuda à melhor perceção do objeto comprado.
Com as mudanças tecnológicas, cada vez mais rápidas na área da informática, e a obsolescência dos sistemas de hardware num espaço de alguns anos e não décadas, é obvio que alugar um computador é uma ideia melhor do que comprar.
7 e 8.
Poderei partilhar? E em grupo? Partilhar para
reduzir o desperdício, para tornar as coisas mais baratas ou apenas para diminuir a quantidade de matéria-prima gasta em produtos, poderá ser uma ótima opção.
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R EFLE X Ã O
O crescimento da desigualdade social teve inicio devido
miséria, mortalidade infantil, desemprego, aumento
ao surgimento do capitalismo, acumulação de capital,
de criminalidade, surgimento de diferentes classes
propriedades privadas e sobretudo a globalização.
sociais, atraso no desenvolvimento da economia no
A economia é distribuída de forma heterogénea pela
país, dificuldade de acessos aos serviços básicos com
sociedade, e por isso os indivíduos que são detentores
saúde, transporte publico e saneamento básico.
de muitos bens, por vezes até supérfluos, enquanto
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outros vivem na miséria sem os seus bens essenciais.
Estas dificuldades em Portugal foram combatidas por
Desta problemática, originam problemas como a
exemplo, com o projeto SAAL.
ausência de estímulos para o consumo.
SAAL foi um projeto politico interventivo e arquitetóni-
A desigualdade social é um fenómeno que ocorre em
co criado após o 25 de abril de 1974, o seu objetivo
quase todos os países. Nestes países não há equilíbrio
era diminuir as carências habitacionais das populações
na vida dos habitantes, quer seja, no âmbito económico,
desfavorecidas, numa aproximação da arquitetura às
escolar, profissional ou de gênero, mas principalmente
necessidades reais de habitação.
marcado pela desigualdade económica.
Vivia-se numa época de ditadura, em que uma grande
Esta desigualdade económica, deve-se a renda que
parte da população vivia com escassos recursos e em
é distribuída desigualmente na sociedade, sendo uns
condições habitacionais precárias.
proprietários de muitos bens
O Serviço Ambulatório de Apoio Local foi criado por
, enquanto outros vivem na extrema miséria e a falta
despacho do arquiteto Nuno Portas, secretário de esta-
de investimentos em politicas sociais. Em relação
do da habitação e Urbanismo, em conjunto com arquite-
á desigualdade social, forma-se devido á falta de
tos como Távora, Siza, Hestnes Ferreira, Gonçalo Byrne,
educação básica de qualidade, poucas oportunidades
entre outros.
de emprego, ausência de estímulos para o consumo de
Este projeto foi executado “na rua” com equipas mul-
bens culturais, ou seja, idas ao cinema, museus, teatros
tidisciplinares, coordenadas por arquitetos e com a
(centros de cultura).
participação direta dos futuros moradores dos bairros
Surge historicamente com o capitalismo, que fazia
sociais.
uma divisão de classes entre os trabalhadores e os
Este projeto dividia-se em três grandes grupos: Norte,
empresários, com diferentes rendimentos económicos,
Centro—Sul e Algarve. Tinham adaptações às carac-
ou seja, o poder económico concentrou-se nos mais
terísticas regionais existindo duas situações paradig-
ricos que ficaram cada vez mais ricos, enquanto que os
máticas, Lisboa e Porto. As intervenções no Porto incid-
pobres ficaram ainda mais pobres.
iram no centro urbano, onde predominavam as “ilhas” e
Consequentemente, surgem vários problemas sociais
os bairros degradados. Em Lisboa as principais oper-
que afetam a sociedade como: os bairros, a fome,
ações decorreram em zonas de subúrbio. Nos arredores
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA
da cidade cresciam “bairros de lata” onde morava uma
er de forma simples, sem dinheiro ou bens materiais,
população vinda do campo atraída para a cidade pela
procurando realizar o sonho de conhecer o Alaska.
indústria.
A principal ideia é procurar simplificar a vida de modo a
Alguns exemplos, deste projeto foram o bairro da bouça
preocupar-se menos e aproveitar mais a vida e o tempo
no porto.
que se tem. O consumismo, gerou uma sociedade viciada em pro-
É possível viver sem consumir?
dutos maior parte das vezes sem necessidades reais.
O estilo de vida minimalista demonstra que é possível
Para produzir os produtos desejados pela sociedade é
viver apenas com o necessário. Refuta o acumular de
necessária a extração de recursos naturais para obter
objetos, e organiza a rotina, de maneira a ter mais tempo
matéria prima, e consequentemente despejo de resídu-
para fazer aquilo que gosta e estar com quem ama. O
os na sua produção no mar o que prejudica o meio am-
minimalismo procura viver com o essencial. É uma sim-
biente.
plicidade que surge de forma voluntária e que não tem
Contudo, a publicidade apresenta-nos produtos alega-
a ver com falta de dinheiro.
damente ecológicos, e convida-nos a substituir os arti-
A perceção de que não é preciso de muito para viver
gos, ainda operacionais, por eles. Durante este proces-
feliz, motiva muitas pessoas. Estas sentem-se livres de
so poucas vezes é questionada a validade da troca, se
bugigangas e têm mais liberdade.
realmente se trata de uma ideologia sustentável ou se é
O lema do minimalista é “não acumular e consumir de
somente uma manobra de marketing ditada pela socie-
forma consciente”.
dade de consumo.
O minimalismo defende que deve existir um question-
Toneladas de CO2 que um carro ainda operacional, não
amento diário sobre o que vai comprar e consumir, re-
hibrido, imitirá durante o seu tempo de vida útil poderão
fletindo sobre a real importância e valor de uso de cada
ser inferiores ás toneladas de CO2 envolvidas na pro-
coisa a ser adquirida. O desejo é algo que aprisiona
dução de um carro “mais ecológico”. Este é apenas um
muitas pessoas que sofrem com o consumismo compul-
dos exemplos, de como as vezes nos iludimos um pou-
sivo, onde mesmo tendo uma mala, por exemplo, pas-
co com a possibilidade e de como facilmente trocamos
sam a adquirir um verdadeiro estoque deste acessório,
um produto por outro sem nos questionarmos sobre os
e muitas vezes não retira partido.
motivos que nos levaram a faze-lo.
O estilo de vida minimalista não se resume apenas à
Quase todos nós fomos arrastados para o ciclo da pop-
redução de compra de bens materiais, mas sim em ter
ulação: consumo-deitar fora. Contudo, o fabrico e a dis-
uma vida simples. Esse tipo de ideologia reflete-se no
tribuição de produtos desperdiçam recursos e energia
filme “Na natureza selvagem”, uma história verídica do
e são catastróficos para o ambiente.
jovem Chistopher, que deixa todo o conforto para viv-
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R EFLE X Ã O
A escolha dos materiais: A escolha de materiais, tanto pelo designer como pelo fabricante, é crucial. A poluição atmosférica e a destruição da camada de ozono processam-se desde a extração mineira, para os mais variados fins, consumindo combustíveis e gastando recursos naturais que não podem ser renovados, até ao designer que decide utilizar plásticos esponjosos para fabricar embalagens descartáveis para alimentos O produto acabado: São demasiadas as diferentes versões do mesmo artigo. Como o fabrico da maior parte dos produtos industriais e de consumo gasta matériasprimas insubstituíveis, a profusão de objetos existentes
Como produzir sem Poluir? Victor papaneck
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no mercado constitui uma profunda ameaça ecológica. Por exemplo, na Europa Ocidental, Canadá, Japão e EUA, existem no mercado mais de 250 camaras de vídeo diferentes, as diferenças são mínimas- em alguns casos são idênticas, à exceção do nome da marca. A escolha de bens de consumo é altamente artificial no Ocidente. Outros produtos ameaçam o equilíbrio ecológico de uma forma ainda mais direta. Os veículos da neve, muito vendidos como equipamento de. desportos de inverno e recreio, são tão turbulentos que, quando saem dos caminhos com neve, destroem as zonas onde se reproduzem as plantas e os habitats. Os processos de fabrico: As questões que se deparam ao designer em relação ao processo de fabrico são: “existe algo no processo de fabrico que possa pôr em perigo o local de trabalho ou os operários, como fumos tóxicos ou materiais radioativos? Saem poluentes atmosféricos das chaminés das fabricas, como os gases que provocam
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
ALUNA CURSO DE DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA
a chuva acida? Os resíduos líquidos da fabrica estão a infiltrar-se no solo e a destruir as terras aráveis ou pior ainda a penetrar no sistema de abastecimento. Transportar o produto: O transporte de materiais e produtos contribui também para a poluição, uma vez que, consome combustíveis fósseis e cria a necessidade de um grande conjunto de estradas, vias férreas, aeroportos e armazéns. Como exemplo: há que transportar o trigo para o moleiro, do moinho para a panificadora, desta para o centro de distribuição, daqui para as lojas ou, eventualmente, para o consumidor. Embalagem do produto: O designer tem pela frente diversas opções ecológicas quando cria a embalagem em que o produto é transportado, comercializado e distribuído. Os plásticos esponjosos causam problemas graves ao equilíbrio ecológico, são usados pelos designers para proteção dos produtos frágeis Contudo, sabe-se que os gases propulsores (como os CFC) usados em aerossóis e outros produtos são fatais para a camada de ozono. É então muito importante que o designer tenha em conta a ecologia ao considerar os materiais e os métodos na fase da embalagem. Lixo: Muitos produtos podem ter consequências
Calcula-se que uma família média nos Países tecnologicamente desenvolvidos deite fora anualmente várias toneladas de lixo e desperdícios. Constitui não só uma ameaça para o ambiente, mas também um enorme esbanjamento de materiais que poderiam ser perfeitamente reciclados.
negativas depois de terminada a sua utilidade. Em muitos países, basta olhar para os enormes cemitérios de automóveis, para compreendermos que estas imensas quantidades de metal a enferrujar, tintas e vernizes a cair, artigos de plástico a deteriorar-se, óleo e combustível que vertem diretamente para o solo, envenenando o abastecimento de água e a vida animal, além de destruir a paisagem em termos visuais.
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REFLE X Ã O
O projecto FACS; Future Automotive Cockpit & Storage, inovação e criatividade O “FACS - Future Automotive Cockpit
Introdução
objetivo conceber e desenvolver uma
Em 2017, a ESAD.IDEA foi convidada pelo Grupo Simoldes para desenvolver estudos de criatividade e de design no âmbito do projeto FACS (Future Automotive Cockpit & Storage). Assim, vários investigadores e estudantes do mestrado em Design de Produto da Escola Superior de Artes e Design (ESAD) estiveram envolvidos na fase inicial do projeto, tendo desenvolvido tarefas de planeamento de briefings, investigação, pesquisas, entrevistas, sessões de criatividade, workshops, desenvolvimento de propostas de design, modelação 2D e 3D, realização de desenhos assistidos por computador e assistência técnica aos participantes do Grupo Simoldes e do CEIIA. O papel do Grupo PSA era de avaliação e validação dos resultados.
& Storage” é um projeto que tem como nova arquitetura do interior (habitáculo) de
veículos comerciais ligeiros, considerando possíveis perspetivas de condução
autónoma no futuro. O projeto envolveu investigadores de diversas áreas do
conhecimento científico (Gestão, Engenharia e Design) e foi coordenado pela empresa SIMOLDES GROUP, Plastics Division
(simoldes.com), em parceria com o Grupo
PSA (groupe-psa.com), CEIIA - Engenharia
e Desenvolvimento de Produtos (ceiia.com) e ESAD.IDEA - Investigação em Design &
Arte (esadidea.pt), tendo sido co-financiado pelo programa Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Figura 01 Entidades envolvidas no projeto FACS (desenho de Aston, J. H.).
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O objetivo de encontrar formas inovadoras de conceção e desenvolvimento do interior do automóvel foi altamente desafiador e envolveu, como foi referido, muitos investigadores experientes, alguns académicos, designers profissionais e estudantes de mestrado. O estudo foi realizado tendo como elemento de projeto o habitáculo dos veículos Peugeot Boxer e Citroen Jumper. Este artigo está unicamente centrado na investigação e nos métodos criativos utilizados na fase inicial do projecto, que se ilustra com uma selecção de elementos inovadores gerados com esta experiência: ideias, conceitos e imagens que resultaram dos workshops criativos realizados. O trabalho e estudos foram sempre articulados com os investigadores/ engenheiros do Grupo Simoldes, do Grupo PSA e do CEIIA, viabilizando as propostas/soluções dadas como exequíveis para o desenvolvimento da fase da engenharia (figura 01).
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Fases do projeto O projeto foi supervisionado e avaliado continuamente pelo Grupo Simoldes, Grupo PSA e CEIIA, que têm como responsabilidade materializar as propostas de design em protótipos estéticos e funcionais. O projeto foi organizado de forma que todos os participantes tivessem a perceção visual, sem ambiguidades, das propostas da ESAD-IDEA, avaliando sempre o trabalho e os estudos em progresso, pelo facto de participaram nas sessões de briefing e nos workshops criativos. Esta forma de trabalhar permitiu uma maior transparência entre os participantes, instituições e estimulava a interação entre todos de modo a obter conclusões sobre elementos estéticos e funcionais consentâneos. As tarefas dos investigadores da ESAD-IDEA, nesta fase, foram:
Para o propósito deste artigo e como objetivo de ilustrar o processo de inovação, este foca somente as fases dos estudos iniciais e do processo criativo, cujos resultados foram os “responsáveis” pela trajetória do projeto, designadamente o processo de engenharia desenvolvido pelos outros parceiros, particularmente o CEIIA para o fabrico de protótipos. As tarefas de design foram atribuídas à equipa da ESADIDEA de acordo com as competências e experiência dos seus participantes (designers profissionais e estudantes de design de produto). Na figura 02 ilustrase as tarefas principais e as tarefas secundárias desenvolvidas.
(a) - Estudos iniciais (pesquisa); (b) - Criatividade (ideias e conceitos); (c) - Design (foco); (d) - Desenvolvimento (realização).
Figura 02 - Tarefas principais e secundárias da responsabilidade da ESAD-IDEA (desenho de Aston, J. H.).
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R EFLE X Ã O
Estudos Iniciais _ Pesquisa e investigação A pesquisa inicial foi determinante para o prosseguimento das tarefas seguintes, já que os seus resultados tinham importância decisiva nas soluções a desenvolver. Foi, assim, neste sentido, que se identificou diversas restrições adequadas de modo a não comprometer o projeto de engenharia e estudou-se diferentes aspetos do panorama automóvel, no que diz respeito às suas tendências, e realizou-se tarefas de benchmarking, fundamentais para tomadas de decisões conclusivas e finais.
Figura 03 – Elementos analisados na análise de tendências (desenho de Aston, J. H.).
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_ Tendências e estado de arte No âmbito desta tarefa foram estudadas as tendências, numa perspetiva de futuro e de potencial de inovação, inspiradas na indústria automóvel do passado, presente e futuro, nos principais stake-holders e suas influências no meio. Nesta tarefa, e como ilustrado na figura 03, foram vários os elementos identificadas como importantes vias de pesquisa na área automóvel, mas também noutras áreas de inspiração, incluindo outras formas de mobilidade.
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PSA e seus ícones históricos A primeira tarefa consistiu em familiarizarmo-nos com a história, a experiência, a dimensão e visão do futuro do parceiro PSA. Desde a década de 1880, a PSA (Peugeot) teve muitos momentos icónicos associados a inovações tecnológicas, estéticas e de revolução na mobilidade. O grupo PSA, hoje, é detentor das marcas de automóveis Peugeot, Citroen, os automóveis DS, a Opel e a Vauxhall Motors. Era relevante perceber a evolução da marca e os seus momentos mais importantes, uma vez que o projeto tinha como base de partida os seus veículos. Inovações tecnológicas Existem milhares de referências de investigação com mais de 130 anos do desenvolvimento automóvel. Inclui, entre muitas áreas, a energia limpa, combinações inteligentes de potência, autonomia, programas colaborativos de investigação e desenvolvimento, fusão de negócios, marcas e parcerias, materiais mais resistentes e mais leves, serviços integrados, etc.
Motoristas e perfis de utilizadores No briefing inicial, a PSA identificou vários perfis de utilizadores. Normalmente os veículos comerciais ligeiros são usados para fins pessoais, de empresa, cooperativos e institucionais. Deste modo, um dos objetivos foi analisar essa variedade de utilizadores e sugerir possíveis atividades que possam ser realizados num veículo de tecnologia de navegação autónoma. Os resultados das três principais tarefas referidas foram altamente influentes na estratégia do projeto, na compreensão e valorização do cenário presente e futuro próximo do automóvel. No entanto, nem todos os caminhos estavam diretamente relacionados com a área automóvel. Outras áreas associadas à mobilidade, como os interiores compactos, os espaços confinados, a arquitetura, os comboios, os barcos ou aeronaves foram sugeridos com alguma ligação lógica com a experiência no interior do automóvel, e foram essenciais para descobrir outras influências colaterais e procurar a inovação noutros mercados.
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R EFLE X Ã O
Avaliação comparativa (benchmarking) Esta tarefa consistiu numa abordagem mensurável na fase inicial de estudos, realizada através de ensaios, avaliação e comparação. O principal objetivo constitui em obter informações atualizadas e originais em exposições internacionais de automóveis, entrevistas com motoristas, comparações entre marca/modelo de veículos comerciais ligeiros, opiniões de utilizadores jovens, estudar níveis de assistência autónoma, realizar questionários online e obter referências e dados científicos. A intenção era dividir este processo de investigação em várias tarefas, que depois se fundiram em dois métodos eficientes de obtenção e análise de dados (figura 04) (via online e trabalho de campo).
Figura 04 – Diversas formas de benchmarking realizadas (desenho de Aston, J. H.).
-32-
Parte da investigação consistiu em realizar entrevistas a utilizadores (maioria condutores) de veículo comerciais ligeiros e de diferentes profissões. Houve uma abordagem comum para cada um dos entrevistados através de uma lista de perguntas que permitia ao mesmo toda a liberdade para apresentar e discutir as suas respostas. Esta experiência foi gravada (filmada e fotografada), e em alguns casos resultou em cenários originais que um questionário online estático não permite.
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No processo das entrevistas, foram também realizadas entrevistas a indivíduos, empresas e escolas para testemunhar as suas experiências e estórias de viagens. Os resultados foram, de certa forma, surpreendentes e diversos cenários comuns foram referidos, como os problemas com objetos pontiagudos “flutuantes”, equipamento e roupas molhadas, caixas pesadas e dificuldades dos motoristas em encontrarem uma posição confortável para dormir entre turnos de viagens (veja-se exemplo na figura 05). O questionário estático foi realizado através de um endereço de internet composto por 18 questões com múltiplas respostas quantitativas (https://goo.gl/forms/ XmaGSUNuvN16CNc13), preferências dos utilizadores e sugestões. Esta foi uma ferramenta importante para conhecer melhor a relação entre o utilizador e o veículo comercial ligeiro, identificando os tipos de veículos mais populares, para fazer o quê, para onde costumam viajar
e como interagem com o espaço do habitáculo durante as suas rotinas diárias habituais e/ou em ocasiões especiais. Depois de vários meses em que o questionário esteve online, os dados foram analisados, quantificados e apresentados graficamente para avaliar a pertinência da informação. Curiosamente, descobriu-se que todos os utilizadores levavam vários dispositivos eletrónicos, bastante roupa e bolsas (carteiras), e quase 80% dos motoristas transportavam as refeições, normalmente almoços empacotados ou refeições leves. Toda a informação referente às tendências e benchmarking foi compilada e apresentada aos parceiros do projeto. Em consequência dos resultados, muitos dos resultados foram considerados originais e validados, o que permitiu definir a direção do projeto para a fase seguinte, ajustado o briefing e utilizada uma ferramenta introdutória para a fase criativa.
Figura 05 – Cenários típicos referidos nas entrevistas (cortesia de Loyens, D.).
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R EFLE X Ã O
Workshops de criatividade Os workshops de criatividade foram importantes para racionalizar e fundir resultados dos estudos iniciais, em concordância com os requisitos originais definidos pelo parceiro PSA, tendo como objetivo gerar novas ideias e conceitos para um novo habitáculo de um veículo comercial ligeiro. As atividades foram desenvolvidas ao
longo de alguns dias (figura 06), convidando designers, engenheiros, profissionais e académicos para as sessões (eram realizados esquissos, ilustrações e descrições escritas), mas tendo em consideração as seguintes condições:
Figura 06 – Sessões de criatividade (cortesia de CEIIA).
(a) - Avaliar a tipologia dos veículos comerciais ligeiros X250, Peugeot Boxer e Citroen Jumper do grupo PSA; (b) - Focar na área do habitáculo, mais concretamente no painel frontal, teto, porta e assento (banco); (c) - Considerar a modularidade e versatilidade para diferentes perfis de utilizadores; (d) - Acomodar tecnologia de condução autónoma de nível 3 para nível 4; (e) - Sugerir atividades no habitáculo, como trabalhar, descansar, refrescar-se ou de entretenimento; (f) – Considerar, dentro de um ambiente móvel, as questões de segurança do motorista/passageiro; (g) - Melhorar o conforto do motorista e dos passageiros; (h) - Combinar durabilidade com estilo; (i) - Considerar mudanças de caixa manual ou automática; -34-
(j) - Manter 2 a 3 bancos para motorista e passageiro(s); (k) - Considerar diferentes profissões de utilizadores e tendências culturais; (l) - Compreender as tendências atuais da indústria automóvel e outras áreas satélite que possam ser inspiradoras; (m) - Ouvir os utilizadores nos testemunhos referentes a diferentes cenários de habitáculo. Em resultado do workshop, muitas ideias (sob a forma de esquissos) foram desenhadas e afixadas no espaço da sala utilizada, o que permitiu estimular a discussão entre todos os participantes nesta fase de desenvolvimento de conceitos. Para facilitar a apresentação e análise deste material, o trabalho foi organizado por funções (painel frontal, teto, porta e assento).
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Painel frontal Dos produtos a desenvolver, pela sua tipologia e funcionalidades, era o mais complexo dentro da área do habitáculo, incorporando a maioria dos elementos de controlo do motorista, interface e instalação em uma única peça visualmente dominante (figura 07). Vários formalismos estéticos foram desenvolvidos, incluindo
uma abordagem modular com vários compartimentos de plug-ins para diferentes necessidades dos utilizadores (figura 08). Figura 07 – Esq
Figura 07 – Esquissos exploratórios para o painel frontal (cortesia Aston, J. H.).
Figura 08 – Esquissos para plug-ins para o painel frontal (desenho de Aston, J. H.).
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R EFLE X Ã O
Teto Relevante na forma e volume em alguns automóveis comerciais ligeiros recentes, o que permite uma maior capacidade de armazenamento. Muitas ideias e conceitos sobre compartimentos expansíveis foram desenvolvidos. Estes podem ser colocados sobre o para-brisas frontal, em suportes no teto entre o motorista e os passageiros e em bolsas nas partes laterais do habitáculo (figura 09). Um dos conceitos incluía uma ideia inovadora para obter mais espaço ao dobrar o punho na cavidade do telhado (figura10).
Figura 09 – Esquissos exploratórios para colocação de compartimentos dentro do habitáculo (cortesia de Aston, J. H.).
Figura 10 – Esquissos de conceito para obter mais espaço ao dobrar o punho na cavidade do teto (desenho de Aston, J. H.).
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Porta A acessibilidade restrita ao painel da porta interior, quando a porta está fechada, foi um fator importante e influenciou as ideias desenvolvidas (figura 11). Entre muitas propostas, sugeriu-se incorporar um colchão expansível para unificar a área de assento e melhorar as condições de descanso do motorista (figura 12).
Figura 11 – Esquissos exploratórios para o painel interior das portas (cortesia de Aston, J. H.).
Figura 12 – Proposta de colchão extensível para descanso do motorista (desenho de Aston, J. H.).
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REFLE X Ã O
Assento Para esta função, não se consideraram questões ergonómicas nem de segurança. O objetivo era otimizar o seu volume e sugerir transformações alternativas para acomodar funções secundárias (figura 13). Alguns conceitos propunham cavidades dentro da forma dos assentos para armazenar coletes e outros elementos, como roupas molhadas (figura 14).
Figura 13 – Esquissos exploratórios para o assento (cortesia de Aston, J. H.).
Figura 14 – Formas de alojar objetos na parte posterior do banco (desenho de Aston, J. H.).
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Representação Digital de Conceitos As ideias (sob a forma de esquissos exploratórios) desenvolvidas foram posteriormente apresentadas aos parceiros do projeto. A discussão, o brainstorming, com todos os intervenientes no projeto e em torno das diversas propostas, permitiu selecionar os conceitos que foram desenvolvidos em representações mais rigorosas visualmente e através de renderings (fotorealismos) realizados com marcadores. Esses elementos permitiram avaliar as necessidades subsequentes do projeto, identificavam soluções inovadoras relativamente a questões de funcionalidade, utilidade, modularidade e estilo.
No que se refere à utilidade, quase todas as ideias geradas no workshop criativo apresentavam conceitos práticos de habitabilidade centrados em torno das necessidades do utilizador e de requisitos diários referidos nos inquéritos. O renderings de conceito incluíam uma estética de habitáculo durável, um painel frontal assimétrico, uma grande área de apoio para os pés para caixas de carga e um design otimizado para o armazenamento no teto (figura 15).
Figura 15 – Renderização de conceito (desenho de Aston, J. H.).
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REFLE X Ã O
Modularidade. Foi um fator comum considerado em todo o projeto. A figura 16 ilustra uma imagem com compartimentos e módulos (bolsas, suportes e superfícies) que podem, potencialmente, ser inseridos no interior do habitáculo (figura 16).
Figura 16 – Rendering de conceito (desenho de Ornelas, J.).
Estilo. No que se refere ao estilo, os vários esquissos apresentam componentes que estão graficamente ligados ao interior do habitáculo, ligando os assentos, portas, painel e áreas do teto com cor e forma. A figura 17 ilustra uma tendência de estilo futurista que pode ser incorporada nos automóveis comerciais ligeiros da próxima geração (figura 17).
Figura 17 – Renderização de conceito (desenho de Fabris, B.).
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Figura 18 – Proposta de design interior de habitáculo de futuros veículos comerciais ligeiros do grupo PSA (desenho de Ornelas, J.).
Conclusões A inovação numa das maiores indústrias de incorporação de tecnologias é, certamente, uma tarefa complexa, mas desafiadora aos designers. A ESAD.IDEA foi responsável pelo desenvolvimento da pesquisa e, em conjunto com os restantes parceiros, gerou uma “infinidade” de caminhos projetuais inovadores. À medida que as ideias iam sendo desenvolvidas e apresentadas, os conceitos e a qualidade da sua comunicação visual refinada, a empresa PSA conseguiu propor com mais eficácia informações pertinentes para o trabalho seguinte. Na verdade, o trabalho criativo foi objeto de triagem comercial e técnica. Juntamente com os investigadores do Grupo Simoldes e do CEIIA Engineering, identificou-se as inovações com maior potencial para serem incorporadas nos veículos comerciais ligeiros da PSA, em próxima geração de automóveis desta tipologia (figura 18).
Participantes do projeto
Referências bibliográficas e webgrafia
Leader), Pinheiro S. (Project Manager), Ferreira J. L. (Project
(2017).
Manager), Freire R. P (Project Assistant), Loyens D., Sarmento T.,
2. Eliot L. B.: Self-Driving Cars: The Mother of All AI Projects (2017).
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4. Dragt A.: How to Research Trends Workbook (2019).
Marinho R., Bola P., Chaves F., Domingues A., Gomes M..
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6. Peugeot history (https://www.peugeot.ph/brand-and-technology/history/) (March 2019).
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7. X250 Peugeot Boxer (https://www.peugeot.pt/showroom/boxer/furgao/?gclid=EAIaIQobC
3. CEIIA: Ribeiro B. (R+D Manager), Silva J. (Head of Design &
hMI8OfnjNSb4QIVhIXVCh1DuQBUEAAYASAAEgIwVfD_BwE&gclsrc=aw.ds) (March 2019).
Advanced Concepts), Figueiredo J. F..
8. PSA Group MANGUALDE (https://site.groupe-psa.com/mangualde/pt-pt/) (March 2019).
1. ESAD Idea: Simões J. A. (ESAD Director), Aston J. H. (Project
1. Jamthe S.: 2030 the Driverless World; Business Transformation from Autonomous Vehicles
4. PSA/PSA Mangualde: Dutot C., Carballido R..
-41-
H I STÓ RI A D A S C O I S A S
o lápis A primeira descrição do lápis, ral como hoje
entendemos este objecto, data do século XVI,
altura em que o naturalista alemão Conrad Gesner fala de "certo instrumento de escrita que consiste
numa peça de chumbo encerrada num invólucro de madeira".
Coincidindo com a descoberta da grafice, o lápis foi inventado cerca de 1565, na região ingh:sa de Cumberland. No entanto e como este mineral composto de carvão cristalizado e ferro servia para a fundição de canhões, a grafice passou a ser um mineral estratégico do Exército inglês, pelo que a sua exploração estava rigorosamente vigiada, de tal forma que os próprios mineiros que trabalhavam na sua extracção eram cuidadosamente revistados, depois de saírem da mina, sendo severamente castigados, até com a forca, se ousassem subtrair a mais pequena parte do valioso mineral. Esta infeliz circunstância fez com que fosse necessário procurar substâncias alternativas. Quando, no século XVIII, ficaram suspensas as relações comerciais entre a Inglaterra e a França, após a eclosão da Revolução de 1789, tornou-se mais necessário do que nunca encontrar um substituto da grafite ou plumbagina, que até então só se explorava no Reino Unido. Assim, o francês Jacques Nicholas Concé e o austrfaco Joseph Hardtmuth, após investigações independentes, inventaram simultaneamente o mesmo objecro: o lápis, de um sucedâneo de grafice e argila, que meteram dentro de um invólucro de madeira de cedro, para facilitar o seu manuseamento. Aquele novo produto fez descer os preços, já que as minas de mis lápis era mais fáceis de obter do que as de grafite, material escasso, estratégico, de importação problemática.
-42-
MARIA ESTELITA MENDONÇA
PROFESSORA HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES | EASR
Depois das inovações introduzidas no produto, a procura
os traços da grafite, o lápis popularizou-se ainda mais,
subiu cm flecha e difundiu-se por todo o Ocidente. Os
para grande: frustração dos vendedores de penas de
lápis do francês Conté e do austríaco Hardtmurh eram
ganso, que viam feridos de morte todo o seu negócio e a
muito mais bem conseguidos do que os produzidos
indústria da escrita. O lápis era, além disso, um objecto
pda família Fabcr, na Alemanha, iniciadora da linha de
limpo, podia trazer-se sem problemas, sem se correr o
fabricantes }itber-Guull, com cerca de dois séculos de
risco de que tingisse e manchasse a roupa. Em breve
antiguidade.
todos ficaram entusiasmados com ele e alguns até de uma maneira superlativa; foi o caso do compositor
Os Faber utilizavam para os seus produtos grafice
Francisco Alonso, o imortal granadino autor da polca
procedente d,ts minas de Nuremberga, na Baviera.
alemã Pichi, do pasodoble Los Nart!os, e da passacalhe
O seu fundador, J .L. von Faber, juntamente com
de La Calesera e tantas zarzuelas castiças, cuja acção
os seus sócios, introduziu importantes melhorias no
decorria em Madrid. O mestre coleccionava lápis e era
l:ípis, mas, mesmo assim, continuava a falhar: os hipis
proprietário de uma colecção muito curiosa, possuindo
eram demasiado duros, cm virtude de as suas minas
exemplares cão exóticos como um lápis-garfo, de que
sen:m de gr.ifite pura, enquanto Conté e Hardcmuth
se servia para escrever música e comer as batatas
empregavam na sua elaboração urna subsüncia mais
fritas ao mesmo tempo, lápis que recomendava aos
mole e gordurosa, devido à mistura utilizada.
jornalistas que deviam assistir a pequenos-almoços ou
O processo de fabrico do lápis francês e austríaco era
almoços de trabalho; dispunha também de um estranho
simples: a grafite moída e à argila formavam uma pasta,
exemplar de lápis-cachimbo; um lápis-desatarraxador;
que se dispunha em barrinhas finas - as minas-· e que,
um lápis-batuta; outro lápis que também era relógio; um
em seguida, se cozia num forno; tal processo manteve-
lápis-garrafinha e outro lápis-bengala. E centenas de
se em vigor até há pouco tempo.
outros lápis que o bom mestre guardava, como precioso tesouro que eram, na caixa-estojo do seu violino favorito.
No século XIX, fabricava-se já lápis de todos os tipos e de todas as cores, graças à aplicação, a partir da
Em 1915, inventou-se a lapiseira de minas, o famoso
segunda metade do século, das tintas de anilina,
ever sharp pencil, que passou a constituir, juncamente
substância contida no alcatrão e que é a origem dos
com a esferográfica, a maneira perfeita de escrever.
modernos lápis dos olhos e do rímcl para as pestanas. Dado que, por aquela altura, já se: inventara a borracha, quando o químico inglês J .Pricscley descobriu que a seiva da hévea ou «leite de árvore, servia para eliminar
Pancracio Celdrán - “História das Coisas”- Editorial Notícias. 2000
-43-
PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2017.18
e as marcas do tempo base para copos A Cidade e as marcas do tempo e A Cidade e o Objeto são os dois primeiros módulos do 11º ano de design de produto. A opção este ano letivo foi a de os juntar numa proposta única e com objetivos muito específicos: Ser capaz de uma observação crítica sobre os materiais (do ponto de vista físico e emocional) e a sua participação na construção do nosso quotidiano; Alargar o conhecimento sobre os materiais correntes com os quais se constrói a cultura material; Adquirir conhecimentos da história do design, desde as suas condicionantes à sua necessidade bem como os conceitos que deram origem às problemáticas contemporâneas.
JOANA VIEIRA
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Cinzeiro Fernando Brízio
e o objeto A partir de um objeto paradigmático da história do design, os alunos foram convidados a realizar vários exercícios. Esta proposta de trabalho, que seria materializada num conjunto de bases para copos, permitiu aos alunos adquirir conhecimentos na história do design e competências nas áreas do desenho, da representação, dos materiais e técnicas ligadas às áreas tecnológicas das madeiras, metais e ourivesaria.
MARIANA DIAS
Cadeira Wiggel Joe Colombo
TURMA 11ºC3
INÊS SILVA
DANIELA NUNES
Cadeira Wiggel Frank O’Gehry
Poltrona Moser Koloman Moser
SIMÃO LIPUSCEK
MARIANA COSTA PINTO
Cinzeiro Marianne Brandt
Banco Tam Tam Henry Massonnet
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
[ a cidade e as marcas do tempo ] Nesta unidade de trabalho, foi pedido aos alunos que, após realizarem um levantamento fotográfico dos elementos arquitectónicos e equipamentos urbanos mais relevantes da Rua das Flores e Rua Mouzinho da Silveira, selecionassem três pormenores que originassem a criação de módulos de revestimento, de 10 por 10 cm, nas três áreas tecnológicas em estudo (madeiras, metais e cerâmica).
-46-
Para a área de cerâmica, o pormenor escolhido para o seu módulo encontrava-se num candeeiro de rua em ferro fundido, assim, após a realização, em projeto, de vários estudos e do esboço cotado do estudo escolhido, passamos para a oficina de cerâmica onde aexecutamos o módulo escolhido através da definição de planos com sobreposição de várias lastras de grés fino. Seguidamente, passou-se para a concretização do módulo de madeiras na oficina - o pormenor que lhe deu origem foi retirado dum gradeamento de ferro fundido. Para isso, utilizou-se uma base de MDF de 10 por 10 cm,
INÊS FERREIRA
que posteriormente foi talhada com a forma selecionada e onde se acrescentaram duas peças folheadas. Ainda na área de equipamento realizou-se um módulo em metais, que surgiu do pormenor de um edifício da área visitada. O processo foi iniciado com o corte e dobragem de uma placa de alumínio de 11 por 11 cm, para se obter uma base de 10 por 10 cm com 1 cm de atura, posteriormente cortaram-se e limaram-se 3 formas geométricas (latão, cobre e alumínio) que foram coladas à base, sendo um quarto elemento (resultante da junção por soldagem de três pequenos tubos de latão de
diâmetros diferentes) também colado à composição final deste módulo. Em representação digital foram desenhados vectorialmente, no software Inkscape, os 3 módulo escolhidos, respeitando as medidas e materiais definidos. Posteriormente, passou-se à realização de estudos digitais de padrões, através de rotação e/ou translação dos módulos. Por fim, utilizando o software GIMP, colocaramse os 3 padrões selecionados (um por tecnologia) em contextos adequados às suas características.
-47-
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
A cidade e as marcas do tempo
Diferentes tecnologias marcam a identidade dos produtos ao longo dos tempos. Diferentes materiais conduziram a diferentes abordagens aos produtos.
Parte do exercício/proposta de trabalho, consistia na criação de módulos de revestimento a partir do levantamento fotográfico efetuado na aula dada fora da escola, selecionando 3 pormenores e elaborando a partir deles, propostas através de esboços cotados, para a criação de módulos de revestimento de 10 x 10 cm (devendo também para o efeito usar maquetas de exploração).
_ MÓDULO | VARIAÇÕES DE COR
_ PADRÕES | VARIAÇÕES
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_ ESTUDOS
TIAGO MALHEIRO
_ MÓDULO
_ MAQUETA
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
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‘A Bó’ | Suporte para WC
_ Ana Rita
Suporte para comandos
_ Gonçalo Moreira
EcoDesign
ANA RITA GONÇALO MOREIRA
Os objetos ou materiais sem valor comercial na nossa sociedade. Os limites da sua funcionalidade e o seu reaproveitamento. O objetivo desta proposta é adquirir consciência de que os recursos naturais são finitos; familiarizar-se com a noção de impacto ambiental e as suas implicações; despertar para a consciência social do design; entender a problemática da sustentabilidade no espaço urbano e nos artefactos do dia a dia; compreender a importância dos novos caminhos para o desenvolvimento e povoamento humano.
Cada aluno teve que proceder a uma recolha de objetos utilitários em fim de vida de acordo com os exemplos apresentados em aula. Estes foram analisados e estudados de forma a permitir a possível produção de novos artefactos para servir novos usos. Foi solicitado a aplicação da metodologia projetual, num processo que combinou com a exploração gráfica a nível do esquisso e do desenho técnico, com a realização de maquetas de estudo. Resposta dada pelos alunos
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
ecodesign e design sustentável Após a recolha de alguns objetos em fim de vida ou sem utilidade tentei dar-lhes uma nova função, contruíndo a partir destes novos objetos. Os objetos que recolhi foram cassetes e cachimbos.
objetos em fim de vida
uma nova vida
A partir das roldanas de uma cassete criei um par de brincos. Estes como sua estrutura tem como base argolas. Cada brinco tem um aro maior (um cor 3cm de diâmetro e outro com 2.5cm diâmetro) e outro mais pequeno circulares (1.9cm de diâmetro) onde entram à pressão as roldanas, e como elemento de ligação tem duas pequenas argolas (com 4mm de diâmetro). Na roldana mais pequena tem uma pequena abertura onde passa o espeque, constituído por um granito e um fio (com 1,5cm comprimento) . Estes brincos são de latão e plastico. -52-
INÊS PINTO
A partir de duas boquilhas de dois cachimbos elaborei uns talheres de salada. Estes talheres são constituídos cada um por uma boquilha um cilindro e um pedaço de contraplacado um pouco curvado em forma de talher (colher e garfo). Estes talheres são de plástico, latão e madeira.
puxador de porta
talheres de salada
A partir de um cachimbo elaborei um puxador de porta. Este é constituído por um cachimbo sem boquilha, um tubo cilíndrico oco e um maciço soldado ao outro fazendo de maçaneta e um círculo em uma cavilha soldada no seu centro, como elemento de ligação entre as três partes usei colacontacto. O puxador é de latão e madeira. -53-
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
root Concretamente neste trabalho, ao desenhar os primeiros esboços e contruir as primeiras maquetes foram detetados certos problemas de construção e equilíbrio, por isso foi aconselhada a realização de um Mindmap (“Mapa Mental”) para que fosse possível arranjar uma melhor solução. O objetivo da realização deste Mindmap era encontrar as desvantagens e vantagens de cada objeto recolhido para este trabalho, chegando à conclusão de que o “Root” era a melhor solução. O “Root”, é um objeto com a função de armazenar acessórios de café, tendo sido realizado a partir da reutilização dos vasos, caixas de vinho, colheres e um cabo de guarda chuva A realização da peça foi iniciada na oficina de Madeiras pela construção da base e da zona de encaixe dos vasos. Esta fase, neste trabalho em concreto, começou pela desconstrução das caixas de vinho sendo possível a criação de uma circunferência como base. Para realizar a zona de encaixe do vaso na base foi utilizada uma ferramenta denominada de tupia, esta tem a função
[ OBJETOS COLECTADOS ] -54-
ecodesign e design sustentável de realizar ranhuras com uma medida previamente estipulada pelo utilizador, neste caso, o objetivo era de realizar uma ranhura para que o vaso encaixasse com precisão. A segunda e última fase na oficina de Madeiras consistiu na construção de outra zona de encaixe, mas desta vez para os vasos pequenos. Durante esta construção foi detetado um problema de resistência que tornava mais fácil o quebramento da peça. Para resolver este problema foi necessário realizar vários estudos com outras caixas de vinho com a mesma espessura e material das utilizadas neste projeto. A partir destes foi possível chegar à conclusão de que se teria que alterar as distâncias entre cada vaso para aumentar a sua resistência. Após resolver o problema encontrado foi permitido o avanço para a construção desta nova zona de encaixe. Dado como concluído o trabalho na oficina de Madeiras, este projeto foi avançado para a oficina de Cerâmica. Devido ao bom estado dos objetos que poderiam ter que ser trabalhados/manipulados nesta oficina, o
MIGUEL PINTO
trabalho a ter que ser realizado aqui foi muito reduzido, tendo apenas que efetuar um furo num dos vasos para que o cabo do guarda chuva consiga encaixar, este foi realizado com um ponteiro retificador com ponta de esmeril e fresa com ponta cónica. Perante a conclusão do furo feito no vaso, em Cerâmica, o projeto foi avançado para a oficina de Metais. Os esboços anteriormente feitos, serviram como inspiração para a realização do suporte para as chávenas de café tendo como objetivo reutilizar as colheres e cabo de guarda chuva recolhidos. O trabalho na oficina foi avançado pela verificação de que o cabo do guarda chuva tinha estabilidade suficiente que suporte as colheres e chávenas nelas suportadas. Foi então detetado que era necessário realizar umas pregas no cabo dando-lhe
mais estabilidade e resistência. Concretamente neste trabalho, as colheres foram soldadas ao cabo do guarda chuva, estas já deformadas de maneira a criarem uma formar mais interessante, semelhante à da planta do café. Numa fase posterior, depois de estar tudo soldado e com os acabamentos bem conseguidos pode inserirse a peça reproduzida em Metais no vaso de Cerâmica. Ao conjugar todas as fases efetuadas nas oficinas deuse como acabado o processo de realização da peça. Após se discutir e de se fazer uma reflexão acerca do nome dado à peça, foi realizada uma pesquisa sobre a história do café. Desta pesquisa foi retirado de que o café foi descoberto na Etiópia dai o novo nome para a peça, “Root”, que significa “Raiz” em Amárico, língua falada na Etiópia.
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2017.18
Mercado de rua ao sábado de manhã é um módulo teórico-prático integrador dos saberes tratados ao longo do 11º ano. A motivação para este módulo fez-se a partir de um objeto escolhido pelo aluno, com a exigência que integrasse a obra do autor da peça que lhe tinha sido entregue na primeira proposta do ano.
talheres e embalagem
_ INÊS PINTO
Cadeira Follia Giuseppe Terragni -56-
A partir do objeto selecionado o aluno teria de realizar dois projetos complementares: um conjunto de talher de sobremesa(colher, garfo e faca) e respectiva embalagem/expositor.
_ FRANCISCO CLARO
Cadeira Hillhouse Charles Mackintosh
_ LEONOR PEREIRA
Cocktail Shaker Sylvia Stave
TURMA 11ºC3
_ SIMÃO LIPUSCEK
_ FRANCISCA MAGALHÃES
Cinzeiro Marianne Brandt
Cadeira N371 Josef Hoffman -57-
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2017.18
OS ARTEFACTOS E O SEU CONSUMO NA SOCIEDADE ATUAL
KIT PARA ALIMENTOS
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No âmbito da quarta unidade de trabalho da disciplina de Projeto e Tecnologias, do curso de Design de Produto, na Escola Artística de Soares dos Reis, intitulada de “Os Artefactos e o seu Consumo na Sociedade Atual”, foi projetado o kit para alimentos sólidos e líquidos de dose individual “Picaquipicali”. Esta unidade tinha dois objetivos finais em vista: criar uma nova forma de fornecer alimentos, através de materiais não descartáveis, com base em conceitos como street food, finger food, truck food, bike food e combater a produção e uso de embalagens descartáveis que, por sua vez, revelam ter uma enorme pegada ecológica no nosso planeta. Optei por conceber o meu objeto a partir do conceito de street food, que consiste no facto da comida ser vendida na rua, em locais públicos, como
feiras ou mercados, normalmente a partir de uma banca instalada temporariamente; este conceito pretende que o cliente consiga comer em pé, possibilitando que este coma enquanto anda, por exemplo, economizando algum tempo. Consequentemente, este conceito limita o tipo de comida vendido a refeições mais ligeiras, como por exemplo, sanduíches, cachorros quentes, saladas, isto é, refeições volante. Definido o conceitochave, deu-se início ao processo criativo com a realização de esboços que ajudassem a representar graficamente as ideias que surgiam, permitindo, assim, visionar o produto de um modo rápido e simples. Inicialmente, decidiu-se que o kit seria composto por um compartimento principal, para os alimentos sólidos, e por uma caneca, para os líquidos. Nesta fase, várias
ALBERTO MARTINS
foram as ideias que, a uma primeira vista, pareciam resultar, mas que funcionalmente não sucediam. Uma das primeiras ideias foi um tabuleiro capaz de aumentar a sua superfície pelas laterais e que se pudesse segurar sem as mãos, com a ajuda de uma fita que passaria pelo pescoço do utilizador. Esta ideia revelou-se impraticável, pois não seria fácil comer com algo que ultrapassa-se a nossa largura e que isso interrompesse, constantemente, os nossos movimentos. Esta ideia evolui para uma caixa, também expansível, mas seria um objeto demasiado grande e pesado para se carregar numa só mão. A ideia voltou à forma de tabuleiro, desta vez dobrado em forma de “U” deitado. Esboços depois, uma nova condicionante surgiu, que veio alterar por completo a ideia: O “U”, agora estaria em pé e permitiria
ao utilizador segurar nesta nova forma, do mesmo modo como se segura num cachorro quente ou numa sanduíche: a mão aberta, com a barriga do “U” assente na palma da mão que se encontra virada para cima. Esta condicionante não só trouxe novas possibilidades de acondicionamento dos alimentos, mas também ofereceu ergonomia ao objeto. A partir daqui, a ideia ramificou-se, tendo-se verificado várias possibilidades de desenvolvimento da peça em torno da forma anteriormente referida. A ideia que vigorou foi a seguinte: o “U” passou a ter uma forma ainda mais ergonómica e prática, alargando-se as laterais; as extremidades da peça foram delimitadas por placas da sua altura, impossibilitando, deste modo, a queda de alimentos nesta última colocados. Ao objeto foi-lhe adicionado uma
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PR O J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2017.18
tampa que fecharia através de um sistema de ímans. Quando o objeto estivesse aberto, a tampa serviria de mini tabuleiro que, com duas semicircunferências perpendiculares à mesma, mas paralelas entre si e ainda uma reentrância retangular permitiriam o arrumar de alimentos, libertando as mãos do utilizador o mais possível. Aquando a abertura da caixa (pois agora existe uma tampa) a caneca localizar-se-ia numa das suas extremidades, segura por um pequeno gancho. Após a utilização, a caneca seria colocada dentro do objeto. Um dos aros, em forma de semicircunferência, travaria a caneca no interior da peça, impedindo-a de se partir, independentemente de qualquer circunstância de maior instabilidade (aqui já supondo que a caneca seria realizado na tecnologia de cerâmica). Todo este sistema de fecho do objeto e disposição de alimentos, -60-
que a tampa permitiria, apenas seria possível com a presença de uma dobradiça a todo o comprimento da peça que teria como uma das suas funções apoiar a tampa, de modo que esta permanecesse paralela à base da peça, oferecendo, assim, uma superfície plana mesmo quando estivesse aberta. A própria caneca e sua posição no conjunto também sofreram algumas alterações, sempre acompanhando a evolução dos esboços. Para além destes, também as maquetes foram fundamentais para o evoluir da peça, na medida em que, proporcionaram um olhar diferente sobre o projeto, ajudando a reconhecer com maior facilidade alguns dos seus erros. O projeto final da caneca apresenta, nesta última, um desnível na sua parede lateral, para que o gancho a consiga segurar à restante parte do kit e a não existência de uma asa por motivos estéticos
ALBERTO MARTINS
e funcionais, já que esta não deixaria que a caneca coubesse dentro da caixa quando fechada. O projeto final de todo o conjunto acabou por ir de encontro ao que era pretendido: um objeto relativamente pequeno, leve, de simples utilização, confortável, versátil, de fácil transporte e acomodação e com o mínimo de componentes, neste caso, apenas dois – a caixa e a caneca. Na etapa seguinte, decorreu a escolha das medidas e dos materiais que se iriam aplicar, posteriormente, numa fase de materialização do produto. As medidas não poderiam ser, nem muito grandes, nem muito pequenas, pois, ou o produto deixaria de ter a sua ergonomia, ou não seria suficientemente grande para albergar uma dose individual de comida ligeira, respetivamente. Decididas as medidas exteriores (23
cm x 9 cm x 9,4 cm) e interiores, a escolha de materiais foi atribuída da seguinte forma: o contentor da caixa, a dobradiça, o gancho e os aros seriam em metal (latão) por questões de gestão do tempo disponível, de lógica e de acabamentos que só o metal pode oferecer; a tampa ficaria em madeira e a caneca em cerâmica. Foi produzida uma maquete final e, a seguir, realizou-se os esboços cotados do kit projetado, que resumiam todas as informações acerca deste, anteriormente referidas, num só desenho, fundamental para a sua materialização. Posteriormente, foi iniciada a materialização do projeto nas oficinas das diferentes tecnologias. Embora não tendo sido terminada, a materialização do objeto permitiu fazer um aval final global de todo o processo criativo que é sempre suscetível de melhorias.
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11º ANO_ EASR | 2016.17
Tabuleiro TÓ”ZEU” “Os artefactos e o seu consumo da sociedade atual” - Trabalho teórico-prático adaptável às várias áreas tecnológicas -
Os alimentos são geralmente consumidos em refeições, mais ou menos formais: almoços; lanches; jantares; ceias; petiscos; etc.. Degustam-se a sós, em família, com amigos. Imagine-se num concerto de verão ou num outro evento ao ar livre, onde encontra novas tendências gastronómicas e novos conceitos associados ao modo de fornecer alimentos prontos a comer, (street food finger food - truck food - bike food).
-62-
Desenvolver a partir do contexto definido, um kit de utilização individual que contemple alimentos líquidos e sólidos, composto por dois objetos para uma refeição ligeira, era este o desafio! O kit pretende ser uma alternativa ecológica ao desperdício de embalagens que habitualmente são disponibilizadas com os produtos alimentares consumidos, contribuindo assim para a sustentabilidade do nosso planeta.
eições rápidas, nstituído por m tabuleiro e s copos, pirado no tival Sumol mmer Fest.
TATIANA PINTO
100 72 52
mensão cm de metro
120
e é um objeto ncebido para nsumir eições de fast od com um sign inspirado vista de cima uma lata de “O método projetual não é mais do que uma série de mol. Ø2
60
80 Ø2
ESCOLA ARTISTICA SOARES DOS REIS CURSO DE DESIGN DE PRODUTO
U4- ARTEFACTOS E O SEU CONSUMO NA SO
VISTAS ORTAGONAIS DA PEÇA DE MADEIRAS
operações necessárias, dispostas por ordem lógica,
cm ditada pela28experiência. O seu objetivo é o de atingir-se
o melhor resultado com o menor esforço”. - Bruno Munari -
aterial adeira e latão
a Pinto (Tap) -63-
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO | PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | E SE... LABORATÓRIO DO QUE FAZ FALTA!
“Brainstrom” sobre o tema “Toca do Lobo”
personalidade intimidade
Maqueta à escala 1:17
-64-
VALÉRIA FERREIRA
Esboços de desenvolvimento de soluções alternativas
Para o projeto de remodelação do espaço do quarto,
A amplitude do espaço e a liberdade de movimen-
Lobo”. Tal tema está ligado ao facto de o quarto ser o
deste projeto, tendo-se procurado uma utilização
na adolescência.
laxar e vestir/arranjar.
expressar-se, sem dar satisfações a ninguém, é o
Os equipamentos foram realizados e pensados de
ou até mesmo um local para pensar em como
utilização e funcionalidade. Foram também tidas em
marca de identidade.
personalizado e feito á minha escala.
em equipa, escolheu-se o tema geral: “Toca do
to no interior do quarto foram as balizas principais
espaço mais íntimo de um indivíduo, especialmente
versátil das áreas de dormir/descansar, estudar/re-
É no quarto que o adolescente tende realmente a
local onde pode esquecer todos os seus problemas,
maneira a serem simples, geométricos e de fácil
resolvê-los. É simplesmente algo de único, uma
conta as minhas medidas, já que o quarto foi todo
Detalhes da maqueta
-65-
PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO | O DESIGN E O HOMEM
Desenho técnico do espaço do quarto
A cama é funcional, com medidas de cama de solteiro,
como sapateiro e, com almofadas em cima, como um
um gavetão ao nível do chão para incluir mais uma
assento ou local para pousar mochilas e outros objetos
cama, e uma estrutura adossada para colocar sapatos
logo á chegada. O espaldar, na décima vareta (de ca-
ao fundo do equipamento. Foi também incluída uma es-
torze), tem pequenas varetas que permitem funcionar
trutura semelhante a um espaldar de ginástica que se
como cabides.
prolonga desde a cota da cama até ao teto falso desen-
O outro equipamento criado foi a secretária, que se pro-
volvido por cima da cama.
longa até uma cómoda, suspensa e adossada á pare-
Esta cama está situada em frente á porta, ou seja, o es-
de. A secretária é muito simples, um volume com cerca
paldar é a primeira coisa que se vê ao entrar no espaço,
de três centímetros de espessura colocada em cima
causando um efeito “wow” logo á primeira impressão.
de quatro pernas cilíndricas: geométrico, funcional. Já
O propósito deste espaldar foi, para além de elemento
a cómoda foi pensada para satisfazer várias necessi-
surpresa, colocar e pendurar objetos em conjunto com
dades, sendo a principal, arrumação de material esco-
a estrutura ao fundo da cama: esta estrutura funciona
lar e maquilhagem
Dimensões máximas do quarto 3607 mm x 3006 mm Materiais: Madeira de Faia Cimento Aço inoxidável
Paleta cromática
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Imagem virtual da zona de estudo e lazer
VALÉRIA FERREIRA
Quanto aos materiais utilizados na remodelação do
nesta categoria, foi o cimento. Este material foi utiliza-
quarto:
do nos candeeiros por cima da secretária e no tampo
- Decidi optar por madeira para a maioria do espaço,
da secretária (com uma placa de vidro a proteger) O
sendo que esta deveria ser de tom claro e bastante re-
cimento foi utilizado para trazer o estilo industrial ao pro-
sistente. Por estas razões, escolhi faia como o material
jeto e também para mostrar que um material tão frio e
adequado para a cama e toda a sua estrutura (incluindo
“cru” como este pode ser utilizado em design de interi-
as varetas verticais do espaldar), chão, rodapé e moldu-
ores e conferir um look sofisticado.
ras, cómoda e prateleiras
As cores foram também escolhidas ao pormenor: utili-
- Para certos pormenores (varetas horizontais do espal-
zei uma paleta cromática muto inspirada na noite e no
dar, pernas da secretária e estrutura da janela), optei
pelo do Lobo, ou seja, cinzentos, castanhos e beges.
por aço inoxidável, por ser muito resistente.
Na minha opinião, dentro da “Toca do Lobo”, o que mais
- Os espelhos serviram para aumentar o quarto em ter-
me confere conforto e calor, é o pelo do lobo. Apesar
mos de propagação de luz e para criar a ilusão de ótica
do cinzento ser um cor que prima por causar uma sen-
de que o quarto é maior do que é na realidade. De noite,
sação de frio, acho que na remodelação funcionou bem
o espelho reflete a luz da lua e confere misticidade ao
como elemento de aconchego por causa da adição do
espaço, uma característica que associo á Toca do Lobo.
teto falso. Este teto percorre a entrada do espaço e co-
- Finalmente, e na minha opinião, o mais importante
bre a cama inteira e parte de cima da janela.
Imagens virtuais da solução
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA E EQUIPAMENTO | FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO
A linha de objetos de mesa POR3 é inspirada na combinação 3 de formas geométricas e orgânicas num conjunto que segue a noção de puzzle e representa a identidade gastronómica portuguesa em que se enquadra pela alusão cromática ao mar, azeite e vinho. Destinada à utilização num contexto de refeição leve e informal para servir petiscos, snacks e finger food, é composta por nove objetos em grés fino e madeira de pinho. O nome “ POR3 “ remete, por um lado, para o número 3, o número chave deste conjunto pelas peças principais peça 1, peça 2 e peça 3 e, por outro lado, para Portugal pela utilização da primeira sílaba da palavra.
-68-
ISABEL LOPES DELFIM REIS
A GEOMETRIA COMO BASE Utilizando a geometria como ponto de partida do
Definidas as formas das peças 1 (taça), 2 (taça, prato e
processo, o hexágono (construído a partir de 6 triângulos
tábua de madeira), 3 (taça, prato e tábua de madeira) e
equiláteros e inscrito numa circunferência) transforma-
6 (prato), passou-se para a projeção do tabuleiro, que
se no elemento base da linha. Esta figura, por sua vez,
a nível formal dá continuidade ao ritmo dos restantes
é composta e deformada uniformemente para criar 3
elementos da linha e a nível funcional serve como
novas formas orgânicas - a primeira que parte apenas
objeto de transporte dos contentores, mas também de
de um dos triângulos, a segunda que se trata da junção
“prato marcador” numa mesa. O tabuleiro assume uma
de dois triângulos e por último a terceira que são os
forma orgânica e de superfície lisa (sem os orifícios
restantes três triângulos que constituem o hexágono.
inicialmente pensados).
Conjugadas as três formas obtém-se uma quarta que
Foi a partir do estudo das dimensões e da realização das
dá origem ao prato circular. É neste sentido que se
maquetes que se aperfeiçoaram as formas e se tomou
desenvolvem as noções de interatividade e do módulo
verdadeira consciência da volumetria das mesmas,
padrão que quando transformado se complementa.
permitindo a definição das formas e medidas finais.
PEÇA 1
PEÇA 2
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA E EQUIPAMENTO | FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO
DECORAÇÃO
PEÇA 3
TABULEIRO
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Tendo como base as 3 peças principais da linha (peça 1, peça 2 e peça 3) foi feita a divisão da gastronomia portuguesa em 3 elementos essenciais: o mar, a azeitona e o vinho. Estes definem o conceito, pois são transformados em três paletas de cores que quando aplicadas na linha conferem o valor simbólico da gastronomia portuguesa aos objetos. A paleta alusiva ao mar apresenta tonalidades de azuis, a alusiva à azeitona/ azeite apresenta tonalidades de verdes e por último a paleta alusiva aos vinhos com bordeaux.
ISABEL LOPES DELFIM REIS
CORES E APLICAÇÃO Definida a decoração da linha (utilização apenas da cor) foi necessário estudar as paletas de cor e a sua aplicação. Cada paleta é constituída por 3 tonalidades diferentes de azul, verde e bordeaux, sendo a tonalidade mais escura aplicada no exterior das taças, a tonalidade intermédia no interior dos pratos das peças 2 e 3 e a tonalidade mais claro no interior da peça 6.
A inclusão de diferentes tonalidades da mesma cor e a aplicação nas diferentes peças contribuem para as noções de ritmo e dinâmica, simbólicas da variedade da gastronomia portuguesa e da liberdade para combinar peças, cores e identidade na mesma linha (o jogo/ puzzle)
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO OURIVESARIA | PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | E SE... LABORATÓRIO DO QUE FAZ FALTA!
escova de mesa
Na Formação em Contexto de Trabalho, em parceria com a Escovaria de Belomonte, foi-nos proposto o desenvolvimento de uma escova. Esta podia ser abordada segundo diferentes valores: simbólico: representativo da história e tradição artesanal da empresa e/ou uma escova de cabelo para bébés e crianças.
O que é uma escova? Uma escova é um instrumento de limpeza que dispõe de um cabo e de uma base com cerdas ou pelos, estes permitem a remoção de impurezas e da sujidade. Existem diferentes tipos de escova conforme o uso. Um dos mais populares é a escova que se utiliza para varrer o chão. Em geral, é usada juntamente com uma pá para recolher o pó e as restantes partículas que se acumulam a varrer. -72-
Começando com uma pesquisa formal e tecnológica vasta, o aluno/formando terá que produzir uma peça que deverá reunir referências aos valores culturais e simbólicos de forma a responder a objetivos funcionais e de representação que considere propício para o público alvo do seu projeto. Para a concretização do mesmo, os materiais a utilizar deverão ser, preferencialmente, a madeira que será eventualmente conjugada com outros componentes como a cerda e/ou sintéticos habitualmente usados no
BEATRIZ OLIVEIRA
A escovaria de belomonte existe desde 1927, sendo uma das 37 lojas históricas protegidas pela câmara do porto. à cerca de 67 anos passou a ter localização na Rua de Belomonte, 34, situada no centro histórico do porto. neste momento tem como proprietário principal Rui Rodrigues (genro do antigo proprietário), A Escovaria Belomonte é considerada uma empresa de pequena dimensão a termos de espaço. utliza principalmente suportes de madeira na produção das suas escovas, sendo que estas são todas artesanais. o tipo de pelo varia de escova para escova podendo ser produzida
com crina de cavalo, rabo de cavalo, cerda de porco, pelo de javali, pelo de texugo, pelo de cabra, etc. A escovaria é única da península ibérica a utilizar este método, porém algumas escovas demoram em média 24 minutos a ser produzidas, tendo ao fim do dia um total de 24 a 26 peças concluídas. existe uma vasta variedade de escovas, entre as quais: para barba, polimento de sapatos, limpeza de casacos, coçar gatos, para banho, para lavar legumes, pentear, etc.
Procurei um tipo de letra que fosse parecido com a textura e cor da mina do lápis. Optei por escrever a frase “USA E REUSA” para induzir as pessoas a reutilizar a folha depois de a usar. -73-
PRO J E TO
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Ao longo da fase de idealização considerei executar uma escova de mesa. Esta iria ser composta por um cabo de madeira e, visto que seria para varrer uma mesa tive que escolher o tipo de pelo indicado para a função dela. Assim sendo escolhi rabo de cavalo. Como seria uma escova de mesa, seria necessário um apanhador para apanhar o lixo que a escova iria varrer. Sendo assim comecei a pensar numa forma para o apanhador. Queria algo criativo, simples e humorístico. Então pensei na hipótese de o apanhador ser uma folha de papel, criar um bloco que fizesse parte da escova.
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As pessoas utilizavam a folha para apontar pequenos recados, lista de compras, etc. Quando a folha estivesse toda preenchida ou quando a pessoa quisesse utilizar, retirava do bloco e com os cortes que a folha tem unia e utilizava-a como apanhador e de seguida era só colocála ao lixo. As furacões para a colocação do pelo tiveram que ser feitas com medidas mais pequenas do que é habitual na empresa para permitir utilizar o lápis como suporte, caso contrário, se utiliza-se as furacões normais poderia danificar o lápis. Estas furacões também permitiram que o pelo ficasse mais junto o que faria com que respondesse melhor à função para que o objeto foi produzido.
BEATRIZ OLIVEIRA
USA E REUSA _ ESCOVA
DE MESA
BLOCO Formato A5 (14,8 largura, 21altura) Parte superior, 2cm de espessura e leva um íman comprido para apoiar a escova e serve para agarrar por exemplo a um frigorifico. Os cortes têm 4cm de comprimento, fazem um angulo de 40º e no lado esquerdo faz um semicírculo com 2 de raio. Corte no meio da folha com um comprimento de 5cm. Corte esquerdo passa por de trás do direito e o semicírculo encaixa no corte reto. Tem uma pequena frase “USA E REUSA” para induzir as pessoas a reutilizar a folha depois de a usar. Contem 11 linhas com 13cm de comprimento e 8mm de espaço entre elas.
ESCOVA Utilização de um lápis carpinteiro da marca Viarco Lápis: 17,5 comprimento, 1cm de largura, 7mm de espessura. Mina: 2mm altura, 5mm de largura, 17,5 comprimento Furações: 14 furos, maiores com 6,19mm e menores com 2mm. Pelo: 3cm comprimento, rabo de cavalo.
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PRO J E TO
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vítreo
A proposta apresentada consiste na realização de um projeto para a criação de artefactos de design de ourivesaria a desenvolver com a participação da empresa Liliana Guerreiro, que, em termos de simulação, se institui como
Na execução deste trabalho, partindo de uma pesquisa
editora.
- Escova de cabelo para bebés/crianças.
Na execução deste trabalho, partindo de uma pesquisa formal e tecnológica, foi importante integrar referências aos valores culturais e simbólicos de forma a responder a objetivos funcionais e de representação objetiva ao público-alvo. A proposta apresentada consiste na realização de um projeto para a criação de artefactos de design de ourivesaria a desenvolver com a participação da empresa Liliana Guerreiro, que, em termos de simulação, se institui como editora.
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formal e tecnológica, foi importante integrar referências aos valores culturais e simbólicos de forma a responder a objetivos funcionais e de representação objetiva ao públicoalvo. Na tipologia do objeto a projetar, foi dada a opção de escolha: - Objeto simbólico e lúdico para presentear recém-nascidos ( aplicação de um guizo) ;
ANA CASTANHEIRA
Desenvolvimento infantil e atividades motoras Os brinquedos, como a brincadeira em si, servem a propósitos múltiplos em seres humanos e animais. Oferecem entretenimento ao mesmo tempo cumprindo um papel educativo. Estes aumentam o comportamento cognitivo e estimulam a criatividade. Auxiliam no desenvolvimento das habilidades físicas e mentais que são necessárias mais tarde na vida.
Atividades motoras: Trocas: Passar da manipulação de um brinquedo para a manipulação de outro. Agarrar: Agarrar dois brinquedos ao mesmo tempo, segurando ambos nas mãos. Agitar: Com o brinquedo em uma das mãos, agitálo para cima e para baixo, para a direita ou para a esquerda. Manusear o brinquedo: Manusear o brinquedo em uma das mãos, percorrer a superfície do mesmo, com a mão livre. Empurrar: Com o brinquedo apoiado no chão, empurrá-lo para a frente e para trás, para o lado direito ou para o lado esquerdo.
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PRO J E TO
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Com esta peça tenho como objetivo ajudar os recém-nascidos no crescimento dos seus primeiros dentes. A peça é constituída por 3 partes: 1ªParte A finalidade dos fios é a ajuda no rasgo da gengiva e é executada em silicone.
2ªParte A esfera transparente e executada em silicone. Tem como função a ajuda na união dos fios e proteger o que contem no seu interior.
3ªParte O guizo, feito em prata, emite som para cativar e entreter o bebé. No decorrer deste trabalho, tive sempre em conta a sua simbologia e a sua fácil compreensão, é fundamental causar impacto no público-alvo. Toda a peça à exceção do guizo que se encontra no interior, é feita em silicone.
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ANA CASTANHEIRA
Elo Vítreo,
representa o elo dos tubos, a união afetiva que deu a vinda de um novo ser, a transparência de um ser limpo, brilhante, uma luz nova para os que o rodeiam.
SIMBOLOGIA Como ponto forte para as crianças, a aplicação de cor na peça foi fundamental para dar sentido à sua função. Estes tubos servem para o bebé facilitar o crescimento dos seus dentes, podendo assim, morder toas as superfícies facilitando a abertura das suas gengivas. O entrelace dos tubos é uma das parte mais chamativas da peça. A posição em que se encontram os tubos fazem com que o bebé mostre curiosidade em explorar todo o objeto. No fundo da peça os fios estão aplicados separadamente e no topo criam um nó que simboliza a união da família.
A esfera transparente que contem um guizo de prata no seu interior, é pensada com a mesma função da bolsa amniótica, proteger o seu interior. A bolsa amniótica permite que o embrião se desenvolva num ambiente úmido. Como esta peça se destina a bebés recém nascidos, a bola encontra-se oca contendo um guizo onde o som emitido expressa de forma clara de que o bebe nasceu, fruto de uma união afetiva.
Como já foi referido, o guizo que se encontra no interior é feito em prata e contem um elemento simbólico. Para que seja possível a propagação de som, a esfera tem que tem uma abertura, neste caso tem a forma de um embrião. -79-
PRO J E TO
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We learned about gratitude and humility - that so many people had a hand in
our success, from the teachers who
inspired us to the janitors who kept our school clean... and we were taught to
value everyone’s contribution and treat everyone with respect. - Michelle Obama -
“E SE...?” é efetivamente o ponto de partida para o estudo de uma qualquer ideia, que conjetura o saber, a curiosidade, a alternativa, a experimentação, a ousadia, tudo componentes que considero essenciais para o desenvolvimento de um projeto. Esta opção de trabalho, é toda uma suposição que se estabelece, uma exploração de conceitos, caminhos, possibilidades e ideias, que se opõe ao preconceito e aos modelos dominantes, sendo assim a ferramenta essencial para a criação de algo original e verdadeiramente ousado e surpreendente. O Design é a idealização, criação, progresso, conceção, elaboração e especificação, tendo como base a interrogação, a resolução de problemas, e é nesse âmbito, através de um projeto, que procuro intervir num processo de procura e contentamento das necessidades, chegando a conclusão de “O que faz falta”. De uma forma muito geral para a criação desta peça tive como base o ovo, que representa o momento de criação, a possibilidade rotativa, representa a rotação da própria Terra e tudo que nos rege, e sendo uma peça aberta permite a observação através de vários pontos de vista, tendo como identidade o Respeito.
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ANA TEIXEIRA
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PRO J E TO
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RAÍZES Nasci e cresci numa zona rural, onde o trabalho no campo é uma característica de peso bruto na realidade das pessoas que lá habitam. Uma terra muito pequena e serena, onde todos se conhecem e se relacionam regularmente, na rua, nos terrenos, em suas casas… nada de formalidades. O trabalho torna-se sério e muito árduo, existe a necessidade de assim o ser. Tanto por gosto como por necessidade, os novos e os velhos juntam-se para trabalhar naquilo em que sempre viveram para - a lavoura. De roupas sujas, corpos calejados, rostos cansados e queimados pelo sol… O dia aparenta passar lentamente, desde o nascer do sol por detrás dos campos, até se deitar no repouso do horizonte quando a lua já espreita, procurando se erguer, anunciando a hora de descanso.
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O método da semente é já antigo. Demorou mais um dia ou dois desde o aparecimento do Homem, para que se descobrisse as potencialidades da semente que provem do alimento. Visto que a inspiração para o desenvolvimento deste projeto final foi o trabalho no campo, passei algum dos meus tempos livres a observar e a conversar com as pessoas que aí trabalham, não desconhecidos, amigos que me conhecem desde pequeno, e de diferentes idades. Desta maneira conseguiria aperceber-me daquilo que apesar do hábito, se continua a tornar maçador para este tipo de trabalho. Num ato de reflexão, senti que aquilo que aprendi em primeiro ponto relativamente á metodologia de Design não vai de encontro apenas a nós, mas sim a um todo.
ALBERTO TAVARES
O designer deve procurar atingir o maior número de pessoas, observar o que o rodeia, e ter a capacidade de perceber o que está mal, melhorando-o. Não poderia criar algo completamente inovador e que resolvesse um problema, se não existisse nada a melhorar. A observação e procura pela funcionalidade tornam-se os principais influenciadores de todo o meu projeto. Talvez um pequeno O projeto RAÍZES é inspirado no método tradicional de cultivo, desenvolvido com o objetivo de facilitar o transporte das ferramentas de trabalho até aos campos, assim como em manter as refeições até lá transportadas a uma temperatura razoável, evitando extremos devido às condições climáticas adversas. Desenvolvido tendo em conta a ergonomia, simplicidade e maximização da
função, esta representa a identidade rural tipicamente portuguesa, onde não se introduz nada de novo mas no entanto, existe a procura por um alívio capaz de melhorar o dia do trabalhador agrícola. Destinado ao trabalho a que se sujeita, o projeto concebe características capazes de responder positivamente às necessidades apresentadas. Tendo sempre em conta os materiais a utilizar, e quais os que melhor se enquadram à função a exercer.
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PR O J E TO
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O cesto é então composto por três contentores como já foi referido. O contentor central e as bases das laterais são construidas com uma chapa prefurada em circulo por uma simples razão. O trabalho no campo implica sujidade... Ora, utilizando uma chapa prefurada permite uma lavagem rápida do produto, onde a sujidade saí facilmente pelos pequenos orificios do material, limpando toda a terra existente no seu interior. Outra razão para a utilização deste material, é permitir que os esticadores passem facilmente de fora para dentro e vice-versa, facilitando o método tradicional para o cesto ficar adoçado à bicicleta. Permitindo vários pontos de nó ao longo do mesmo.
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ALBERTO TAVARES
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PRO J E TO
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E se ...
olhássemos mais para o que está à nossa volta ? ‘Não me interessam os objetos ou os espaços. Interessam-me os laços, as relações que se estabelecem no espaço. É a vida que me interessa.’
- Matali Crasset A minha marca gráfica partiu daquele que é o seu formato retangular do meu objeto. Com o desenvolver de ideias, prolonguei duas das linhas de estrutura fazendo um “L”, fazendo desta forma alusão à sua nomeação “Laços”.
acabei por me focar na problemática do excesso dos jogos virtuais. Optei por esta problemática pelo facto de ser algo sobre o qual já tinha uma opinião bem formada e sobre a qual considerei ser necessária uma intervenção rapidamente. Algo que para mim foi percetivel como sendo uma das consequências desta problemática, foi a substituição dos tempos livres passados com a familia, por
A nomeação de “Laços”, centra-
parte de crianças e adolescentes, por jogos eletrónicos, culminando desta
se no objetivo principal que defini
forma num individualismo e isolamento. Foi então, que enveredei pelo caminho
que queria cumprir com o meu objeto, ser um eixo de ligação entre gerações tentando promover uma maior interação entre os laços familiares.
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Partindo da premissa “E se .. Olhássemos mais para o que está à nossa volta?”
de reavivar os jogos tradicionais com o principal objetivo de através deles criar um eixo de ligação entre as várias gerações, duas das coisas que se foram perdendo com a era das tecnologias invadindo abruptamente o nosso dia a dia.
ANA TERESA MEIRELES
Para a definição do objeto que iria realizar foquei-me
Visto os jogos serem algo que acompanha os jovens
naquela que é a consequência mais visível, a perda
diariamente,
da interação por parte de crianças e jovens com os
computadores ou consolas portáteis, defini para o meu
familiares. Este foi o objetivo principal que quis cumprir.
objeto que seria portátil, pensando na possibilidade de
Após isso, refleti a cerca da fácil acessibilidade que
um saco desdobrável no qual poderia estampar alguns
temos ou podemos ter aos jogos virtuais, motivo pelo
tabuleiros, sempre com a preocupação de procurar
qual se torna perigoso se não for tido cuidado no tempo
jogos que fossem em termos de peças exequível e
que lhes é dedicado. Pensando na oposição aos jogos
funcional.
virtuais, optei pela possibilidade de reavivar os jogos
Fiz a seleção do jogo do galo, o tabuleiro de xadrez que
tradicionais de tabuleiro dado que são do conhecimento
dá também para jogar damas, e o jogo da trilha.
acessados
através
de
telemóveis,
das gerações mais antigas.
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PRO J E TO
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O saco desdobrável que concebi tem um formato retangular, havendo três hipóteses possíveis de tecido a utilizar: microfibra, Quicksand Mat e Tyvek. É constituído por mais 4 tiras, sendo que numa delas está presente uma pequena bolsa em plástico, por uma corda e por 2 fechos. O saco quando fechado tem 40cm de altura x 35cm de comprimento x 2cm de largura, quando é aberto fica com 1,20m de comprimento x 1,05m de largura. As dobras que ficam após o saco aberto são utilizadas como separação dos tabuleiros. Estes possuem um formato quadrangular de 30cm centrados cada um em cada coluna. Nas suas laterais estão 4 tiras cozidas, com um formato retângular, com um total de 26,5cm. Ao longo do seu comprimento vão sendo cozidas algumas vezes ao saco de forma a que, nos dois espaços que não estão cozidos passe uma corda. A corda é o último elemento e consiste nas alças do saco com 3,4m com a finalidade de saltar à corda. As peças dos jogos defini como sendo a madeira de mogno para representar as peças pretas do xadrez, e o contraplacado de faia para representar as peças brancas. São 32 peças no final, porém muito leves e finais, com 3cm de diâmetro e 0,5cm de altura. O desenho das peças é gravado a laser com uma margem de 2,5cm desde a extremidade. Conjuguei o desenho das peças aproveitando as duas faces, de forma a diminuir bastante no número de peças que seriam necessárias.
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Elegi como sendo o meu contexto a praia. Devido à azafama do dia a dia, torna-se complicado haver algum tempo para se estar em família a jogar, a brincar e a fortalecer ou criar laços. O espaço praia é um lugar propício a muitas brincadeiras e ao convívio, sendo por esse motivo que considerei um lugar pertinente para puder colocar jogos de tabuleiro. Tendo em conta este contexto, para a escolha da paleta de cores do meu objeto, optei por eleger cores que me recordassem e remetessem para sensações de praia. Selecionei vários tons de azul – simbolizando o céu e o mar, o amarelo – que simboliza a areia, e o laranja – que simboliza o sol. Desta forma, iria conseguir não só relacionar a sua cor com o contexto em que se iria inserir mas, também permitir a conjugação de várias cores nos elementos que o constituem e dando uma estética bastante divertida e alegre.
ANA TERESA MEIRELES
As peças dos jogos defini como sendo a madeira de mogno para representar as peças pretas do xadrez, e o contraplacado de faia para representar as peças brancas. São 32 peças no final, porém muito leves e finais, com 3cm de diâmetro e 0,5cm de altura. O desenho das peças é gravado a laser com uma margem de 2,5cm desde a extremidade. Conjuguei o desenho das peças aproveitando as duas faces, de forma a diminuir bastante no número de peças que seriam necessárias.
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Uma forma especial de se recordar e homenagear à mesa uma das peças mais rica do património da cidade do Porto.
memórias à mesa Palácio da Bolsa do Porto
Pórtico de entrada no edifício
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ANDRÉ GOMES
Esboços do processo criativo
Estudos de simplificação das colunas das ordens clássicas
Este projeto desenvolveu-se a partir da interrogação: “E
Esta coleção seria então alusiva à cidade do Porto,
se enquanto comemos pudéssemos recordar os locais
representada através do Palácio da Bolsa,
visitados?”, com o propósito de criar uma coleção de
Uma vez que o Palácio da Bolsa é do estilo Neoclássico,
talheres inspirados nas zonas turísticas de Portugal,
pretendi seguir os aspetos formais do edifício para uma
começando no Porto.
coleção de talheres clássicos.
Esta interrogação surge pela forma como recordamos
Esta coleção é composta por duas linhas, a TOSCANA
os locais visitados, ou seja, através de memórias
e a COMPÓSITA, inspirada nas colunas da fachada do
fotográficas. Assim, pensando nas recordações que
edifício e das que sustentam a claraboia do Pátio das
os turistas levam da zona do Porto, desenvolvi uma
Nações, respetivamente.
coleção composta por duas linhas, para as pessoas
A forma de ambas as linhas surge pela simplificação
que os comprarem, poderem recordar a cidade do Porto
da respetiva coluna, para que as duas linhas fossem
enquanto fazem uma simples refeição, criando uma
identificadas como pertencendo a uma só coleção. A
recordação espontânea e inesperada.
primeira linha, a TOSCANA, por possuir um carácter
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PRO J E TO
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mais robusto que a segunda linha, a COMPÓSITA,
medidas correspondem às do garfo diferenciando a
toma a forma de um talher mais forte e mais resistente
largura da concha. Para as medidas dos talheres de
ao contrário da segunda que, por possuir um carácter
sobremesa existe uma redução de 83% das medidas
mais gracioso, tomou uma forma mais elegante que a
anteriores.
primeira.
As duas linhas da coleção PALÁCIO DA BOLSA,
Para além de reavivar as ordens da antiguidade clássica,
possuem dois pormenores: um no capitel do talher
estes talheres possuem o princípio das medidas
e o outro na base. O comprador desta coleção terá a
“perfeitas” como base para o seu desenvolvimento,
opção de escolher a cor do seu talher, uma vez que,
isto é, partem das medidas da coleção respeitando a
há alternativas de cor para ambas as linhas e elas vão
proporção áurea.
desde todo o talher ser prateado com pormenores a
Para que as duas linhas se relacionassem, usei algumas
preto, dourado ou prateado a o talher ser todo cinza
medidas para ambas, ou seja, o tamanho dos dentes é
com os pormenores a preto, dourado e prateado. A cor
o mesmo para as duas linhas, tendo apenas alterado a
prateada representa uma aproximação mais real da
largura do cabo, tornado a linha TOSCANA mais grossa
coluna, sendo o oposto da cor preta que corresponde
devido ao seu caráter robusto e a linhas COMPÓSITA
à oposição da cor real, tornando o talher nulo. A cor
mais fina devido ao seu carácter elegante. Em ambas
dourada é uma referência a uma outra zona do edifício,
as linhas o garfo mede 194 mm de altura e 20 mm de
onde a cor predominante é o dourado, o Salão Árabe,
largura dos dentes; as facas medem ambas 207 mm
um dos seus mais belos espaços.
de altura, 15 mm de largura da lâmina; e na colher as
Desenvolvimento da ideia do projeto
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Estudos de forma do talher
Maquetas de estudo
ANDRÉ GOMES
Para além de reavivar as ordens da antiguidade clássica, estes talheres possuem o princípio das medidas “perfeitas” como base para o seu desenvolvimento, isto é, partem das medidas da coleção respeitando a proporção áurea.
Dimensões máximas Comprimento: 207 mm Largura: 15 mm Materiais Aço inoxidável
Desenho técnico digital
Imagem virtual do talher da linha “Toscana” Imagem virtual conjunto e detalhes da linha “Compósita”
Contextualização com maquetes finais do talher
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PRO J E TO
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es.pi.guei.ro Vista aérea da aldeia de Lindoso e da área envolvente
Fachada frontal de um espigueiro
A questão que se coloca à sociedade com o projeto “ESPIGA” é: E se valorizássemos verdadeiramente o património?
Ilustração e mapa conceptual do projeto “Espiga”
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GABRIELA SOUSA
Esboços do processo de desenvolvimento do projeto
Uma das características mais interessantes da aldeia do Lindoso relaciona-se com o fato ter sido uma aldeia
Essas construções mais representativas e de maior
comunitária, ou seja, muitos aspetos da atividade
significado na organização espacial do lugar estão
económica e social eram partilhados por todos,
localizadas como se se tratassem da “porta da entrada”
existindo uma entreajuda e uma corresponsabilização
da aldeia.
da comunidade no desenvolvimento dos trabalhos de subsistência, que assentavam na agricultura e na pecuária. Ao longo do declive do morro onde se ergue o castelo, elevado em relação ao aglomerado populacional e ao Rio Lima, em torno de uma eira coletiva e entre grandes afloramentos rochosos, encontram-se construídos 67 espigueiros, sendo essa última tipologia de construção a que será tratada de forma mais aprofundada mais à frente.
Desenho técnico digital do objeto montado
O público-alvo deste projeto é o público mais jovem, as crianças, a partir da faixa etária dos 8 anos. A escolha deste público proveio da necessida-de de melhorar a sociedade no futuro e são as crianças as únicas que a podem mudar.
Desenho técnico digital de peças do “kit”
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PRO J E TO
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Exemplos de peças que integram o “kit”
Imagens virtuais do “Kit” de espigueiro
ainda é constituído por um manual de instruções com Este projeto consiste então num jogo para as crianças,
tamanho A5, por um folheto com a história do Lindoso
com o intuito de consciencializá-las da importância de
para crianças e por uma embalagem para guardar
valorizar e preservar o nosso património. Para tal, o jogo
as peças com cerca de 21 centímetros da largura, 30
baseia-se num espigueiro para montar, com a utilização
centímetros de comprimento e 7,5 centímetros de altura.
de peças de mdf que encaixam umas nas outras.
O produto é intitulado de “Espiga”. A escolha deste
Portanto, para além do objetivo principal de promover
nome deve-se ao facto de o espigueiro ter como função
a cultura, também tem preocupações pedagógicas e
secar o milho através da passagem do ar pelas fissuras
didáticas, dado que procura sensibilizar as crianças
laterais. Assim, o espigueiro constituí um celeiro onde
duma forma divertida e criativa.
se guardam as espigas de milho. Este nome é, portanto,
O espigueiro montado tem cerca de 27 centímetros de
de grande importância, uma vez que as espigas de
comprimento, 19 centímetros de altura e 10 centímetros
milho eram uma das fontes para a sobrevivência da
de largura. É constituído por 126 peças, com 25 tipos de
comunidade.
peças distintas. Para além do objeto principal, o projeto
-100-
GABRIELA SOUSA
Dimensões e Materiais: Altura: 190 mm (aprox) Comprimento: 270 mm Largura: 10 mm Peças em MDF de 3 mm de espessura Caixa em cartolina
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PRO J E TO
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E tudo o que sucede tem uma ordem. Tudo começa pelo princípio e depois chega ao fim. Este é o início de um fim. O fim de um ciclo, de mais uma etapa, que agora se resume em segundos, num único instante. O momento! [este é o meu momento!]
O cidadão português deve saber quem é enquanto herdeiro da cultura do país. Como cidadã digo que não pode haver ignorância sobre a minha verdadeira identidade, a identidade portuguesa. Este povo que sente e vive a “saudade”, muitas das vezes acaba por seguir o “velho do Restelo”, que fica sentado e não arrisca, quer por medo quer por falta de vontade e descrença. Mas afinal onde está o ilustre povo lusitano que Camões decidiu cantar? Que é feito do país nos dias em que vivemos?
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ISABEL LOPES
Os ditados populares são uma tipologia de linguagem popular, constituindo uma importante fonte de tradição, transmissão de cultura, e ensinamentos, sendo um ponto de partida para a reflexão. Pela forte herança cultural popular dos provérbios, decidi utilizá-los como primeiro passo para desenvolver um objeto de design. “Se o velho pudesse e o novo soubesse, não havia nada que não se fizesse.” Seguindo esta linha de pensamento, surge a ideia de projetar uma cadeira. Em primeiro lugar, porque é um objeto indispensável na vida de qualquer Homem, velho ou novo, e dá resposta à necessidade do velho “que não pode”. Pelos materiais, formas, cores e elementos decorativos, representará a cultura portuguesa, suscitando no novo “que não sabe” o desejo de descobrir e conhecer.
Este conjunto de grande valor simbólico será composto por quatro “cadeiras ditados“, sendo pela utilização de técnicas, materiais e outros elementos nacionais e, simultaneamente, simbólicos do dizer popular em questão que se pretende despertar o desejo de descobrir e conhecer a cultura num jogo sensorial que se assemelha às adivinhas e cujo objetivo será identificar o ditado feito na cadeira. A linha de nome Saber Sentado, alusivo ao conhecimento (oposto da ignorância) que neste caso se encontra numa cadeira, apresenta 4 elementos e, por isso, 4 ditados. A escolha do número quatro está associada à imagem simbólica da solidez e do “objetivo tangível” do mesmo. Para além disso é um número que, associado à cruz e ao quadrado, representa estabilidade e é uma constante referência no dia à dia popular os quatro pontos cardeais, as quatro estações do ano, os quatro elementos, etc.
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PR O J E TO
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cadeira ditado#1
‘O SABER NÃO OCUPA LUGAR.’
MATERIALIZAÇÃO DO PROVÉRBIO Distinção entre o saber da esfera espiritual – o ato de refletir e pensar - com o saber da esfera material – conhecimentos científicos, tecnológicos e culturais. O primeiro “saber” encontra-se materializado em acrílico transparente – transparência como símbolo do espiritual - e o segundo na madeira. Jogo de palavras e formas – o saber que provém do ato de pensar dos Homens está aplicado pelo acrílico no assento e encosto da cadeira, não ocupando, simbolicamente, o lugar. Este está livre para quem deseja conhecer mais. As restantes partes da cadeira apresentam diferentes elementos: os apoios de braços serão trabalhados pela técnica de entalhamento da madeira e numa das pernas da cadeira será colocada uma chapa metálica revestida com placas elétricas, alusivos ao conhecimento da esfera material que o ser humano, ao longo da História, construiu, em duas vertentes distintas: a manualidade e a tecnologia, ou seja, a tradição com o progresso. A união destas duas partes ilustra a relação essencial do mundo físico no ato mental de pensar e vice-versa.
cadeira ditado#2
‘AS APARÊNCIAS ILUDEM’
MATERIALIZAÇÃO DO PROVÉRBIO A materialização do ditado coloca a tónica no contraste cromático e de texturas. Observando o exterior, percecionamos uma cadeira “bruta”, com uma textura rugosa da casca da cortiça, mas o interior é totalmente revestido por um almofadado de veludo roxo de textura suave e agradável ao toque por oposição à textura exterior da cadeira. À cadeira base são acrescentadas as laterais, também em madeira, que são revestidas por um exemplar de “tapeçaria” de retalhos de vários tecidos e linhas, mas principalmente a lã, sendo rica em texturas e de predominância cromática do roxo e amarelo. É utilizado o roxo por representar a mudança e a espiritualidade, e o amarelo por ser a cor da felicidade e luz – j ogo das cores complementares. Há, por último, uma referência direta com o artesanato português pela cortiça e tecelagem.
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ISABEL LOPES
cadeira ditado#3
‘A UNIÃO FAZ A FORÇA’
MATERIALIZAÇÃO DO PROVÉRBIO Transformação de duas cadeiras bases numa nova cadeira “dupla”. É retirada uma das estruturas laterias de cada cadeira, de modo a estas se juntarem e criarem um assento “duplo”, continuando, no entanto, a serem duas peças distintas. As duas cadeiras são de duas madeiras diferentes, simbolizando a “diferença” que agora se mostra em união, tanto pelos encaixes, como por um elemento de chapa metálica. Este último, que é colocado nas duas pernas da cadeira dupla, funciona como um anel (símbolo da união), ao qual está preso um cordel vermelho que reforça a união das duas pernas. É utilizada a cor vermelha por simbolizar “força”, “coragem” e “revolução”.
cadeira ditado#4
‘PARA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA’
MATERIALIZAÇÃO DO PROVÉRBIO Se o objetivo é mostrar a redução ao essencial, a cadeira transforma-se num banco. De inspiração no banco mocho, mas seguindo a forma da parte inferior da cadeira base, as dimensões são reduzidas de modo a conseguir-se colocar o banco por baixo de qualquer outra das cadeiras. No tampo do banco existe um orifício com a forma de uma semicircunferência, que representa a metade (“meia”). Duas das pernas do banco e uma faixa do assento são pintadas com acrílico branco ou numa das três cores primárias (azul ciano, magete e amarelo), por serem as cores essenciais.
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PRO J E TO
CURSO DESIGN DE PRODUTO | 12º ANO_ EASR | 2017.18 ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO | PROVA DE APTIDÃO ARTÍSTICA | E SE... LABORATÓRIO DO QUE FAZ FALTA!
O “Chef” Ferran Adrià
Sobremesa de melancia e menta por Ferran Adrià
A área de intervenção do presente projeto é a promoção do consumo e a comercialização da fruta (negócio da família da autora), visando o objetivo de a encarar como um alimento mais sofisticado e valorizado pelas pessoas, que se enquadra na mesa como uma sobremesa/lanche apetecível e saudável para as diversas gerações de uma família.
Estudos de forma e cor de frutas
Maquetas de estudo em plasticina e alumínio
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Estudos de simplificação da forma da forma de videira
MARIA INÊS FAUSTINO
Imagem do interior de uma frutaria
Para
abrir
novas
perspetivas
Conjunto “Origami de cerâmica” de Ann van Hoey
de
preparação
e
uma forma mais interessante. O mesmo aconteceu com
consumo da fruta um dos caminhos será a realização
folhas das respetivas plantas e árvores. Esta última foi a
de workshops em espaços comerciais ou outros nos
via eleita para o desenvolvimento do projeto.
quais se demonstrem procedimentos inovadores de
Juntando a ideia dos workshops e a exploração das
preparação e combinação de aromas e sabores de
formas das folhas, surgiu a ideia de realizar taças
fruta, tais como os desenvolvidos por “chefs” famosos
inspiradas nas folhas de árvores de fruta e que
como Ferran Adrià
servissem de apoio ao workshop para que, no final de cada demonstração, os preparados fossem colocados
Assim, o objeto desenvolvido é uma fruteira que pode
nas devidas taças para serem dados a provar à plateia,
ser decomposta em taças para utilização individual.
sendo que as taças ficariam para o cliente. O objetivo
Como ponto de partida, realizaram-se desenhos de
é o cliente colecionar cinco taças, cada uma inspirada
vários tipos de fruta estudando as suas formas e cores,
numa folha diferente, uma vez que seriam cinco dias
para melhor as conhecer e perceber o seu potencial
de workshop em cada loja. Caso o cliente conseguisse
estético e simbólico aliado a um uso como taça. As frutas
colecionar as cinco taças poderia, juntamente com um
selecionadas foram as mais comuns e as que tinham
pequeno suporte, montar uma fruteira em casa.
Esboços relativos à base e suporte da fruteira
Componentes do molde de estampagem de metal para o protótipo
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Imagens virtuais
As folhas das plantas fruteiras foram do morangueiro, da
maior ou menor quantidade de taças.
videira, da pereira, etc..
Desta forma, percebemos que a realização das cinco
Podemos
verificar
que
as
taças
são
bastante
taças foi uma espécie de produção em serie.
ergonómicas e adaptáveis a qualquer mão, desde as
O que diferencia cada uma das cinco taças são os
mãos maiores dos adultos até às mãos mais pequenas
recortes num ponto da periferia que cada uma contém.
das crianças.
Além disso, todas elas têm um pequeno rasgo que será
O processo de realização do protótipo passou por
para encaixar na base e suporte.
estampar as taças em latão, material base deste objeto. Numa produção industrial as taças e restantes A estampagem de metal envolve um molde macho e
componentes
um fêmea, neste caso realizados em madeira e uma
inoxidável uma vez que estas iriam estar diretamente em
prensa para metais. Conforme a qualidade do molde e
contacto com alimentos e teriam de ser corretamente
da prensa poderemos ter uma produção em série de
lavadas, de forma a não enferrujarem.
Dimensões máximas da fruteira Diâmetro: 325 mm
Materiais: Aço inoxidável Madeira de mogno
Diferentes taças com os respetivos detalhes
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metálicos
Protótipo da fruteira
seriam
produzidos
em
MARIA INÊS FAUSTINO
Contextualização da utilização das taças individuais
Para além das cinco taças o objeto é também constituído por uma base e suporte dividido em duas partes: uma parte metálica, do mesmo material das taças e outra parte em madeira de mogno.
Contextualização da fruteira
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PRO J E TO
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des
Após a apresentação da temática geral, comecei por me questionar acerca de um problema atual que se poderia solucionar através do design. Desde logo, decidi que queria desenvolver um projeto no âmbito do design sustentável e que remetesse para a valorização de uma consciência e atitudes ecológicas. Pretendo provocar um “choque” entre um produto admirado por uma sociedade consumista, visto como “valioso” (ouro, prata), e outro ao qual não atribuem valor monetário. O meu objetivo é desconstruir o conceito de beleza e valor atribuído aos objetos do quotidiano (por exemplo, ouro) e construir a ideia de que outros objetos podem ter o mesmo valor. Surgiu-me a ideia de retirar um objeto comum utilitário e sem valor estético do seu contexto original e colocá-lo num novo contexto com o estatuto de peça de adorno. Partindo daqui, a minha escolha foi utilizar a natureza de forma “crua”. Os elementos naturais farão parte do meu produto.
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ANA JORGE
A peça foi pensada de modo a transmitir algo mais que
A função prática está presente pois pensei num brinco e
pura função, ou seja, tem uma elevada carga simbólica.
este será utilitário e funcional; A função estética sugere o
Esta peça representa o contraste/”choque” entre o luxo
uso do produto por meio dos sentidos e, com a presença
que “alimenta a alma” de uma sociedade consumista e o
de um alimento, a minha peça provoca de imediato uma
alimento que é o que a alimenta realmente. O ser humano
curiosidade no observador de lhe tocar e de a cheirar
não atribui valor estético aos alimentos e, perante isto,
e, por ser comida, ativa as papilas gustativas. Este
utilizando alimentos desidratados, pretendo, com a
conjunto de sensações retiram-nos a ideia comum de
minha peça, provocar uma impacto (quer positivo, quer
jóia.
negativo) no observador. Empatia essa que não existiria se o alimento estivesse no seu contexto original (por
A minha peça foi pensada como uma desconstrução de
exemplo, guardado numa fruteira). Bernd Lobach diz
várias ideias. Desconstrução da ideia habitual de como é
que as funções práticas, estéticas e simbólicas podem
um brinco (construção de um brinco ao contrário, aperta
estar presentes no mesmo produto, porém, uma delas
em baixo e não atrás), assim como a desconstrução da
sobrepõe-se sempre às outras. O conceito da minha
ideia habitual do que é uma jóia. Inevitavelmente, quando
peça vai ao encontro desta afirmação pois ela reúne as
desconstruímos uma ideia, estamos automaticamente a
três funções mas a função simbólica sobrepõe-se às
construir outra. Ou seja, o conceito da minha peça não
restantes. É a função simbólica que fundamenta e dá
passa só pela oposição e desconstrução de ideias,
sentido à minha peça.
passa também pela construção de outras. -111-
PR O J E TO
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Na conceção do projecto optou-se por
vistos como opostos, visões postas em
desenvolver uma peça perfeitamente
choque.
funcional com um forte e carregado aspeto
A
simbólico que remete para a importância
desconstrução da ideia habitual de como
que o ser humano dá a coisas fúteis.
é um brinco. Este brinco fecha à frente
O objetivo foi conseguir que a peça
em baixo e não atrás “escondido”, como
manifestasse o “choque” entre o “luxo” e
habitualmente.
forma
foi
concebida
como
uma
o “pobre”.
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Por um lado, temos uma peça que
Assim como a desconstrução da ideia
representa o “luxo” que nos alimenta a
habitual do que é uma jóia. Optei por
alma, materiais caros (ouro, prata). Por
escolher para adicionar à outra peça a
outro lado, o “pobre” que representa o
natureza na sua forma “crua”.
que nos alimenta realmente, a comida.
Um dos aspetos com o qual tive especial
O material natural junto ao artificial sugere
atenção foi com a leveza presente na
a união de processos de fabricação. Este
minha peça. A leveza deve estar presente
aparente “choque” entre os materiais pode
em todas as peças de adorno mas,
sugerir uma reflexão sobre a tecnologia, a
sobretudo, nos brincos para não ferir a
partir da fusão de processos, geralmente
orelha do usuário.
ANA JORGE
Esta peça propõe-se a manifestar o ”choque” entre o luxo e o banal. Posto isto, os materiais escolhidos foram o latão que mais tarde seria banhado a ouro para se aproximar à ideia original que seria uma peça em ouro e, por outro lado, o outro material é um alimento desidratado. -113-
PRO J E TO
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E se… nos libertarmos?
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Refletindo o tema, executou-se o processo de criação
Aqui, a sociedade atual, passa a ter um papel
com o registo de uma linha de pensamento.
fundamental no trabalho e principalmente a forma como
Este processo consiste, no registo de todo o pensamento,
esta se comporta. Antes de investigar a sociedade,
ideias e conceitos, seguindo numa ordem mental,
procurou-se interagir e confronta-la com “o que faz
procurando responder a todas as questões levantadas.
falta?”. As respostas foram “Nada” ou “Dinheiro”, como
A partir, da sugestão “E se… Laboratório do que faz
se estivessem pré-definidas. Trata-se, portanto, de uma
falta”, associei a música de Zeca Afonso “O que faz
sociedade que apenas valoriza o dinheiro que acha
falta”, onde se responde á questão apresentada com
que tem tudo ao seu redor, tratando-se assim, de uma
os verbos: “Avisar”, “Animar”, “Empurrar”, “Acordar”,
sociedade consumista e materialista.
“Agitar” e “Libertar” referentes à malta, como método
Questiono-me:Que sociedade é a nossa? Quais os
para dar PODER á malta. E comecei a questionar-
princípios, O que nos torna amorfos? O que nos move?
me: Como poderia dar poder á malta? Qual o meu
O que nos prende? Será que a origem está na falta de
poder enquanto designer? Como pode construir uma
estímulos, ou nos estímulos a mais? E estes estímulos
sociedade ativa?
são mesmo estímulos, então porque não nos estimulam?
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
De que se trata afinal? Vamos construir uma sociedade ativa, consciente, reflexiva, atenta e alerta. E se… nos libertarmos? O que faz falta é dar poder à malta! Utilizando o sentido literal do conceito de “pé de meia” foram realizadas diferentes experimentações usando meias. As meias foram recolhidas diante a turma, sendo que já tinham sido usadas e estavam a servir quase como elemento decorativo na gaveta. Durante este processo, foi posto em causa o material, o tipo de ligação, os tipos de cortes, o número de uniões, tipos de costuras e o tamanho colocando mais ou menos meias. Durante este processo foi sempre pertinente a
O Pé de Meia preserva o que é essencial para o individuo, por esse motivo é um objeto que provoca e põe em causa o que é essencial. Permite o uso de algo pessoal e comum a toda a comunidade, as meias, que muitas vezes vão para o lixo e ainda têm potencial enquanto material, sendo desta forma reaproveitadas.
pergunta “E se´…?” -115-
PRO J E TO
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O objetivo é armazenar o que faz falta, e como tal é
também da secção quadrada, que vai contra a ideia do
necessário que este feche. Aplicando o principio da
tradicional fio metálico.
dobradiça, este projeto cumpre a sua função partindo de: uma peça estagnada que forma uma charneira e
Embora a peça permita abrir e fechar o suporte (as
uma peça rotativa de onde saem duas hastes, que se
meias) com facilidade, dificulta a entrada da mão pelo
juntam usando o método de antigos porta-moedas. A
orifício criado, uma vez que o pé de meia consiste no
alusão ao antigo parte do uso de esferas que quando
armazenamento e se “guardo, logo não consumo”,
unidas mantêm celada a peça.
originando uma alusão aos mealheiros, que apenas se
Aleados a estas hastes, estão outros menores que
abre partindo.
permitem a penetração no tecido, proporcionando a adaptação da peça a várias meias, ou seja, cada pessoa
O material eleito é aço, aproveitando as suas
poderá usar a sua própria meia, independentemente do
características: grande durabilidade e resistência para
tamanho, ou tecido, tornando-se uma peça universal.
suportar o peso O objeto tem 5 mm de largura, 74 mm
O objeto procura ser minimalista e funcionalista,
de comprimento e ainda 12 mm de altura.
preocupando-se principalmente com a função. De
O projeto foi essencialmente um trabalho de reflexão,
forma a modificar a sua morfologia, tomei partido da
que me fez crer que o que faz falta depende
geometrização que cria o contraste regular/ irregular,
essencialmente dos sítios por onde passamos e das
objeto industrial/ objeto artesanal. Em simultâneo,
nossas circunstancias, se estamos privados ou se nos
procurou-se manter apenas o que era essencial para a
privaram, pois quando não temos algo, aí sim sentimos
função. Quis dar as pessoas uma peça elegante, e essa
a verdadeira falta.
elegância advém da “quebra” de uma das hastes, mas
-116-
MARIANA GUEDES DOS SANTOS
Termino este trabalho com mais questões do que respostas, sem saber o que faz falta, mas a saber que não se trata de algo material, que não são malas, nem telemóveis, ou computadores (por acaso preciso). Porém, de uma coisa tenho a certeza, o que faz falta à malta é uma atitude critica e reflexiva que nos permite intervir no mundo. Com este trabalho, sei que não o vou mudar, mas posso contribuir para que este possa tornar-se melhor, numa máxima utópica… posso ambicionar e criar uma epidemia. Esta é a minha vontade, uma vontade epidémica que faz-me mover e fazer mover. O que faz falta? É dar poder á malta!
-117-
e a s r. p t
-118-