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1.2 -MASSAS TRI DAQUI

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

1.2 - Massas Tri daqui

Nas primeiras peças que foram modeladas, manualmente e na roda de oleiro, observei a presença de muitos nódulos, mas que ao serem pressionados, eram facilmente amassados, isso foi sugestionando uma viagem na vida da lama. Primeiro de tudo, a lama tem muita vida, ela rola do paredão acumulado a mais de 300m da costa, onde há uma depreciação do solo que a segura embolsada; muito desta matéria viscosa, densa e negra, traz no cheiro memórias e marulhos. Meu respeito ao mar vem de tempo. Reconhecendo o mar e seus mitos, me aproximo de Póntos2 para ouvir seus marulhos e modelar as placas feitas da lama, acrescidas do papel de jornal. Nesta placa, escrevi o método de preparo da argila news cassino, que segue hoje nos cacos:

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NEWS CASSINO Tua lua de intenção colhe a lama - 5 partes pica jornal - 5 partes hidrata e lava 3 ciclos depois unir as massas e escrever na pasta

O processo da pesquisa está diretamente ligado à forma de ensinar, é nela que a curiosidade ganha a materialidade necessária para promover o que se aprende, de modo simples na forma de comunicar, ela se completa no envolvimento comunitário e na relação artística/crítica e científica. Destaco a importância da percepção do espaço e das possibilidades de intervenção no mesmo, como aponta Schwall (2012, p. 31): “Os gestos da vida cotidiana, quando vistos como inexoravelmente conectados com um espaço, tem o potencial de criar, renovar e rejuvenescer os locais que vivemos”. Importante guia desta trilha foi Jorge Fernández Chiti, ceramologista argentino, que passei a conhecer e admirar na literatura, graças ao Mestreceramista e amigo Gustavo Tirelli. Em 2016, fui a Buenos Aires e conheci o Instituto Condorhuasi coordenado por Chiti e fiz o curso sobre conformação de pastas cerâmicas, aprendi mais sobre a construção de fornos e o manejo das queimas, mas o que me fascinou foi o pequenino

2 Ponto ou Póntos (em grego: Πόντος, transl.: Póntos, "alto-mar"), na mitologia grega, era a divindade do mar aberto, ou seja, das profundezas do mar. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponto_(mitologia). Acesso em: 26/04/2021

laboratório de análises. Com os elementos químicos certos, podiam-se analisar as argilas. Estava com amostras da lama do Cassino em pó, havia levado algumas na condição natural e lembro de suas palavras: “Esta é uma amostra do nosso amigo do Brasil, exemplo claro de humus, lama, dejeto, muito presente nas encostas de rios …”, “para o uso cerâmico não é um bom material”. Porém, ele mesmo me sugeriu que o uso do material para uma discussão socioambiental poderia ser válido. Chiti me intriga, então, a achar uma possibilidade de encontrar, nesta mínima parte de argila presente em tanto humus, alguma potência de transformação do ambiente em que o oleiro/ceramista consciente traduz no barro/lama sua sensibilidade de olhar à frente.

Provocado com a curiosidade de comprovação da lama como argila potente para o uso cerâmico, buscou-se na possibilidade dos testes de análise de argilas apresentados por Chiti em seu livro Análisis de Arcillas, Caolines y Materiales Cerámicos (2012). Assim, diante de outras possibilidades de métodos, aceitei por onde começar e seguimos as orientações para executar dois testes inicialmente, o Toluol e o Azul de Metileno (CHITI, 2012, p. 130 - 147). Para facilitar a visualização dos dados e provocado pela beleza das cores das amostras, elaborei um quadro demonstrativo que apresenta o motivo de cada fase dos testes. Neste quadro, apresento a análise feita a partir das amostras que apontam para o perfil da argila, nível de expansão dos grãos e o grau de argilominerais. Estes dados não são apontamentos finais, porém, fazem parte do processo de conhecimento técnicocientífico dessa pesquisa. Descobriu-se o porquê de certas fragilidades encontradas no caminho da modelagem, um olhar parcial da composição estrutural para responder às rachaduras e o encolhimento, além de dar clareza das mesclas dos materiais analisados que possam potencializar a lama em argila, e desta forma solucionar os anseios da pesquisa. As etapas que elaboramos para esta análise foram: o tempo de espera da secagem dos materiais, a trituração das bases, peneiragem e separação de porções iguais para separar parte natural e o restante desidratado a 100ºC e, depois, divididas em duas partes iguais, sendo que uma delas foi para calcinação (processo em que a amostra submetida à temperatura perde a água química presente e os compostos orgânicos) a 1000ºC. Com este processo, já fora possível analisar a perda de calcinação, isto quer dizer, que foi possível conhecer o percentual de encolhimento do material, que seguindo o processo de produção da cerâmica, influi diretamente no tamanho final que a peça alcança.

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