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CONSIDERAÇÕES DA TRILHA CRIATIVA CONSCIENTE
from Trajetórias de uma lama litorânea: peças cerâmicas, arte educação ambiental e ações relacionais
by Duke Orleans
Considerações da TRILHA CRIATIVA CONSCIENTE
A trilha continua...
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A arte cumpre sua função social quando permite ao indivíduo exercer sua possibilidade de crítica e de escolha; quando amplia, ao incomodar, as formas de ver a realidade; quando educa para a necessidade de olhar cuidadosamente (tão importante em um mundo de signos e símbolos); também quando desencadeia vivências prazerosas (embora estas não devam ser consideradas como único padrão de julgamento: por vezes não é essa a intencionalidade do artista). Quando cumpre esses papéis, a arte extravasa sua existência para além da manifestação em si. (MELO Apud OLIVEIRA, 2016, p. 48)
E o ensino aprendizado segue acontecendo, não há espaço definido para que isso ocorra, o que existe é a intenção de um arte educador, disposto a dissipar conhecimento, envolto de saberes adquiridos e em busca de novos fazeres. A escrita dessa pedagogia viva segue no ciclo das leituras, releituras e é constantemente reescrita para adaptar as necessidades de cada meio em que se envolva. Sigo nesta trilha, alimentado de arte e ciência e lanço as utopias para o universo. Alinhado à causa ambiental, percebi o grau de importância como educador de estar realmente envolvido com os locais de nova ocupação, “uma desterritorialização suave pode fazer evoluir os Agenciamentos de um modo processual construtivo. É aí que se encontra o coração de toda práxis ecológica” (Guatarri, 1990, p. 28). Pois é, deixar a zona de conforto e conviver com outras pessoas, encontrar e formar novas associações, descobrir novas causas, alinhar-se a demandas sociais e culturais, faz e fez com que emergissem ações práticas dispostas ao ensino, à pesquisa e à produção artística e utilitária. “A arte contemporânea realmente desenvolve um projeto político quando se empenha em investir e problematizar a esfera das relações". (BOURRIAUD, 2009, p.23) Considerando que a arte contemporânea desloca o objeto para assumir o processo como protagonista da percepção, atento para as respostas encontradas a partir do projeto de pesquisa Sal Cerâmica, na forma como foi conduzido com intuito de ampliar e manter o fazer cerâmico em Rio Grande, alimentamos a esperança de autonomia, conformando massas cerâmicas, demonstrando métodos de manejo, ensinando e aprendendo novas formas de expressar a criatividade nas peças cerâmicas, aproximamos pessoas e construímos relações que possam fortalecer políticas culturais e ambientais. A lama me capturou como aliada neste tempo em Rio Grande, devo muito a ela pelo crescimento acadêmico que ela me proporcionou, mas tenho certeza que ela mesma se apropriou de
mim, para falar por ela mesma, sobre o quão destrutiva e gananciosa pode ser a espécie humana.
O ser Terráqueo, o sujeito ecológico, aquele que percebe a amplitude das relações no cosmos, que se envolve com questões de ordem natural, propondo harmonia, de forma orgânica, orientando caminhos ecológicos para a vida, disposto a encontrar nas contradições, nos conflitos, o papel de agente cultural, professor e artista para assumir responsabilidades e expressar diante dos ambientes de negociações diárias. Sim, este dispositivo expressivo segue em ação.
Ao tentar alinhar seus posicionamentos políticos, opções individuais e atitudes pessoais e interpessoais com os ideais de um sujeito ecológico, o educador ambiental assume o desejo e o compromisso de certa consonância entre sua vida e sua causa, tornando sua vida pessoal uma espécie de laboratório de aprendizagem que antecipa a utopia de sociedade ecológica. (CARVALHO, 2010, p. 4)
Não há como se dissociar das coisas que nos trazem sentido, a lama trazia-me algum sentido de possibilidade e foi além, me envolveu a outros saberes, a outras matérias, a outros grupos, a novas formas de conduzir o interesse de professorar. Ao encontro fortuito de amigos, projetos conjuntos nos fortalecem para o tempo conjugado no futuro. Conseguimos em algumas ocasiões romper o pensamento de Galeano, quando adverte que a utopia é aquilo que se encontra no horizonte sempre a dez passos de distância da gente. Porém, devo confessar que sinto ter vivido lado a lado com muitas de minhas utopias. A lama, a itinerância do fazer cerâmico tradicional, a estruturação de espaços autônomos para ensino de saberes e fazeres, o construto da arte educação ambiental atestando o caminho para as proposições crítico pedagógica que foram retalhadas, demonstrando que o caminho parece longo e inalcançável, porém descobri que nele sigo trilhando. Estou convicto que entrei neste tempo com a utopia da possibilidade e, pelo que vejo, ainda sigo. O que devemos pensar para ter esta certeza é que o tempo se torna relativo, quando em nossos planos, as metas são flexíveis, os resultados se encontram nos processos e aquilo que se quer conformar encontra-se em atos conectivos.
Diferente do que é coletivo, o que conceituo como conectivo é aquilo que se integra, pelo tempo que necessitar, mas não tem a necessidade de ser parte fundamental, pode se desapegar e seguir novos horizontes. A interação conectiva, portanto, se faz com relação às intersubjetividades, que se alimentam das práxis dispostas, confluindo em um tempo de proposições, intermediação de conflitos e a execução do intuito utópico. As
conexões provocadas com a lama, assim como as artes, estenderam-se a outras formas de envolver a educação, de promover a transformação cultural e de expressar a causa ambiental.
A degradação socioambiental se traduz na perda dos saberes práxicos que sustentavam as relações de mútuo pertencimento entre o humano e o seu meio. O pescador perde o conhecimento rico e profundo do mar e a sua perícia; o caçador perde a arte estratégica e sutil de ler os indícios e vestígios, o agricultor perde a ligação com o planeta, o cosmos, o ecossistema. (MOURÃO, 2005, p.247)
Por isso,me fiz pertencer a Rio Grande, conheci sua história, encontrei fragmentos arqueológicos na cultura e me motivei a agrupar. Agrupar pessoas interessadas, dispostas a partilhar experiências, construir novos modos de envolvimento, comprometidas com a sociedade, a cultura e a educação.
Aquilo que foi feito, feito está. Mas de tudo que foi praticado, ainda ficam vontades para partilhar como intuito utópico. Que as receitas elaboradas com a lama perpetuem como base para o fazer cerâmico, que as cúpulas geodésicas continuem a modificar a paisagem proporcionando espaços educativos autônomos, que as escolas incorporem ao seu espaço pedagógico a prática do ateliê, o envolvimento com o meio ambiente e que venham a ser o epicentro deinterações educativas e culturais. Aeducação, assim como a escola, é um tema de constante adaptação, pois ela é o jardim de semeadura, e nesta agrofloresta de espécies distintas,é necessário muito amor para saber onde colocar as que precisam mais de sol, onde regar com mais frequência, onde adubar e fertilizar com profundidade e não deixar que pragas e intempéries interrompam seu crescimento.
Jardineiros do saber. Avante que há muita gente para alimentar e cada uma destas sementes que crescem, florescem e dão frutos, serão elas a fonte para sanar tanta fome de justiça. A educação é a base para formação de uma sociedade. Estamos atrelados a este modelo de vida capitalista, estamos ancorados às telas publicitárias, flertamos com a informação e diariamente ouvimos opinião, opinião e opinião. Quando haverá disposição para ouvir, as pesquisas científicas, as propostas pedagógicas acadêmicas, e compreender a de onde vem a sua causa e seu efeito?
Não quero acabar com respostas. Prefiro seguir provocando questionamentos, para manter dinâmica e provocante a continuidade de vida. Por tanto, como vai ser após entregar este trabalho? Lá vai ele completar como novo arquivo o repositório e se tornar
esquecido até que...? Até que surja um vírus, comprometa nossas vidas para então pensarmos, puxa vida, e a plastisfera? A estrutura anunciava a possibilidade de patogêneses habitando os plásticos na praia do Cassino e no Mar Atlântico, e se amanhã surgir a gripe plastiaria? Opa! Alguém lavou as mãos pelo descaso? E os recursos prometidos, as possibilidades de ampliar as forças com o espaço ECOS, a Eco Olaria e o valor da cultura indígena sendo reconhecido e valorizado? Quando vamos esquecer a bandeira do verde e amarelo, para acordar para o nome que significa o vermelho?
Como arte educador, provocando que “o olhar ensina um pensar generoso que, entrando em si, sai de si pelo pensamento de outrem que o apanha e o prossegue. O olhar, identidade do sair e do entrar em si, é a definição mesma do espírito.” (CHAUÍ, 1988, p.61) E é com este espírito de generosidade que espero ter contribuído com este lugar do qual me fiz pertencer, com as pessoas com quem aprendi, que se dispuseram a se envolver e que creditaram seu tempo e esforços para se fazerem dinâmicos e tornar ainda mais viva a cultura ecossocialista.
Questões que alimentam e alimentaram o desejo pelo caminho trilhado, hoje, assumem outro contexto na pandemia da Covid 19. Ainda aprendendo e disposto a continuar pensando e praticando formas de ensinar, me deparei com as adversidades em meio ao estágio obrigatório para o Curso de artes Visuais - Licenciatura. Rememorei o tempo em que atuava com a publicidade. E confesso, o cyber espaço é um condicionante ao distanciamento social. Será e tem sido um grande desafio ajustá-lo a acentuar o valor das práxis. O envolvimento remoto não nos tira as dores nas costas, os olhos cansados e esgotados, o corpo travando, ele pode e deve ser propositivo na mobilização de dinâmicas que, mesmo distantes, possamos levar adiante, usufruindo dos mesmos recursos, para editar e compartilhar resultados do processo crítico educativo nas redes de acesso público. O desafio está em compilar ambientes com conteúdo salutar a uma vida mesmo isolada, coletiva e disposta a mudar a realidade Terráquea. Não há como pensar em um todo, se não nos percebemos dentro da esfera terrestre. Espero ainda que as vacinas venham e que o Sr. Excelentíssimo Pequi Roído seja destituído do poder, afinal este se tornou o principal inimigo para os princípios apontados até aqui. COM ELE NÃO DÁ.