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CAPÍTULO 4 – NEM SÓ COM A LAMA SE EXPRESSA O ‘ARTIVISTA’
from Trajetórias de uma lama litorânea: peças cerâmicas, arte educação ambiental e ações relacionais
by Duke Orleans
Capítulo 4 – Nem só com a lama se expressa o ‘artivista’
O ambiente em que trilhava revelava-se a cada dia uma nova experiência, o bioma deste lugar impregnado de histórias me fascinou com toda sua potência natural esquecida, mas que está ali disponível a percepções criativas e relacionais. Assim, o bambu se expressou como elemento potente para reverberar ainda mais as questões da transformação da lama e foi através dele que conquistei forças transversais à minha causa, seja na construção de espaços para ações de divulgação da pesquisa Sal cerâmica, seja para prática de oficinas, ou, para intervenções na paisagem, visando apresentar junto à comunidade uma diversidade de ações possíveis a partir de recursos básicos encontrados na região. As cúpulas geodésicas já vinham sendo provocadas como forma de envolver educadores ambientais a uma estrutura alternativa de baixo custo, espaços propositivos ao envolvimento ecosófico em Rio Grande e ao mesmo tempo em que já trazia na memória algumas ações do Coletivo Geodésica Cultural de Florianópolis. O amigo Samuel Autran Dourado e Souza, Oceanógrafo e Doutor em Educação Ambiental, foi a pessoa responsável por me inserir nesta dinâmica construtiva da consciência ecológica que partilhávamos. Nossas causas se fundiram e a partir de então juntos seguimos expressando nossos saberes em eventos, seminários, comunidades indígenas, projetos ambientais e comunitários.
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Aqui cabe ressaltar ainda que esta aproximação desapegada do egoísmo, mas responsável com a prática construtiva de expressão da causa, possibilitou que me dedicasse mais e mais ao estudo da forma de construir com a geometria, porém agora podendo intervir de forma explícita na paisagem. Assim, apropriado da técnica e tendo desenvolvido um método para este perfil de construção, surgiram as seguinteintervenções na paisagem: a Plastisfera7 , a GeoEDEAsica8, as pirâmides Takuapi9 e as cúpulas de
7 Projeto transdisciplinar em que tive a oportunidade de construir junto ao grupo envolvido uma cúpula geodésica, revestida com lixo marinho e com imagens ampliadas da vida microscópica existente nestes plásticos. Fonte: https://www.facebook.com/lixomarinhofurg/photos/pcb.337784866643602/337784219977000 . Acesso em 26/04/2021 8 Série de cúpulas que participaram como espaços alternativos de exposição e conversa sobre as temáticas ambientais em eventos como o EDEA e Simpósio sobre Educação Ambiental. https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=661399680696311&id=100004788544213 Acesso em 26/04/2021 9 Proposta de intervenção na paisagem com as pirâmides de referência da Integral Bambu, porém adaptadas às questões locais e que tinham como intuito dinamizar questões psicomotriciais e despertar o olhar para a riqueza deste insumo local, o bambu, bem como estimular a relação com o mesmo. https://www.facebook.com/photo?fbid=3174387769302349&set=br.AbpH2x18Jo_d2iE96IraTemX41kX
ocupação pluricultural na FURG, na Aldeia Goj Táhn, no horto municipal do Cassino e no Centro ECOS, junto ao depósito de inservíveis do Cassino.
Nas artes, e na arte-educação, a experiência estética é o canal de comunicação do ser com o mundo. Produzir, apreciar e refletir sobre a arte revela-nos uma possibilidade de existência e comunicação para além da realidade de fatos e das relações que habitualmente estabelecemos com o outro, ou seja, acrescenta a dimensão poética na nossa compreensão e ação no mundo. Para a educação ambiental, a relação eu-outro é chave para a transformação socioambiental. Entendese como fundamental que os seres humanos estabeleçam modos diferentes dos que habitualmente têm sido construídos na sua interação entre si, com os demais seres vivos e o ambiente em geral. (RACHE, 2016, p. 51)
A plastisfera teve como proposição principal a criação de um espaço de comunicação da pesquisa desenvolvida pelo Projeto Lixo Marinho (FURG). Da mesma forma que as cúpulas geodésicas configuraram espaços para ações de divulgação da pesquisa Sal cerâmica, esta foi desenvolvida com o intuito de discutir uma problemática a ela relacionada: a dos resíduos plásticos encontrados no Oceano. A cúpula construída no evento Encontros e diálogos sobre educação ambiental (EDEA) abrigou ações de comunicação da pesquisa Sal cerâmica e da pesquisa sobre o banheiro seco, constituindo-se como um espaço transversal de troca de saberes. Esta estrutura e esta prática relacional que traz à tona discussões socioambientais foi levada para a aldeia Goj Táhn, onde não apenas a construção da geodésica foi ensinada, mas também foi compartilhada a montagem do banheiro seco, bem como foi apresentada à comunidade desse local, a perspectiva da produção cerâmica a partir da lama da praia do Cassino, que poderia ser algo a ser desenvolvido posteriormente, num processo a longo prazo, caso houvesse perspectivas de ações públicas. As pirâmides Takuapi trazem uma forma lúdica de intervenção na paisagem e um modo de aproximação do público infantil. Em mais de uma ocasião, foi montada a exposição das peças cerâmicas resultantes da pesquisa Sal cerâmica ao lado das pirâmides, atraindo crianças e familiares para o convívio e o diálogo. Nessas ações relacionais, desenvolveu-se um processo de difusão da pesquisa, configurando-se como ações de extensão universitária em praças públicas.
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