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3.2 –ARTEFATOS: HARMONIA ORGANICIDADE E MOVIMENTO

3.2 – Artefatos: Harmonia Organicidade e Movimento

A busca por referenciais para o fazer cerâmica me direcionaram ao encontro ancestral desta arte. Reconhecer os valores da cultura simbólica e técnica dos povos ameríndios que dominavam a arte cerâmica, que contaram nesta base histórias, ritos e construíram códigos gráficos que resistiram no tempo, soterrados. Agora, meu encontro estava à beira do mar, cercado pelo imenso horizonte oceânico, a cidade e seu porto de descarga atlântica, a restinga e seus gigantes cata-ventos, um cenário ao sul do real, SURREAL.

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A necessidade de provocar a consciência de envolvimento ambiental marulhou de Póntos, a entidade prima das águas, um código, símbolo da relação tríptica de harmonia, organicidade e movimento. Compus peças com a lamacom base na geometria sagrada, organizei os elementos e com os engobes colori o cinza escuro para refletir na cerâmica um contexto com causa ecosófica a ser reconhecida. (Figuras 27 e 28)

FIGURA 27: ARTEFATOS CONTEMPORÂNEOS COM O GRAFO TRIRELACIONAL: HARMONIA ORGANICIDADE MOVIMENTO. ARGILA DA LAMA E NEWS CASSINO, QUEIMA 1008ºC.

Fonte: Acervo do projeto de pesquisa Sal Cerâmica. 2017.

FIGURA 28: PRATOS E CUMBUCAS COM GRAFO TRIRELACIONAL, ARGILA DA LAMA, QUEIMA 1008ºC.

Fonte: Acervo do projeto de pesquisa Sal Cerâmica. 2017.

As peças foram elaboradas com argila da Lama e News Cassino, queimadas a 1080ºC, com acabamento em engobe e brunido. Além das peças gravadas com o símbolo tri-relacional, outros resultados foram inspirados no lúdico, no inesperado e fluíram em novas entidades fabulosas. Como o caso do saci da lama, o Mão pela Boca (Figura 29), que expressa na sua forma o que diz literalmente o nome. Ele é um ser pouco falante de muito fazer!

FIGURA 29: ESCULTURA EM CERÂMICA, SACI DA LAMA, O MÃO PELA BOCA. PEÇA EXIBIDA NA EXPOSIÇÃO ARTEFATOS, NA SALA MULTIUSO, PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO GRANDE. 2017.

Fonte: Acervo do projeto de pesquisa Sal Cerâmica. 2017.

Em 2017, essas peças e outros elementos da praia do Cassino, como galhos, ossos e os próprios nódulos da praia, ganharam espaço de exposição na Sala Multiuso da Prefeitura Municipal de Rio Grande (Figura 30). A exposição aconteceu no período de 3 a 22 de agosto de 2017, com o nome Artefatos, e proporcionou atividades educativas com alunos de escolas municipais. O texto de divulgação resume a proposta da exposição Artefatos:

Do vento do mar ao calor da queima, a lama da praia se transforma. Transfigura a cor, a textura, o som. Da matéria desconhecida explodem tons metálicos, da modelagem bruta restam fissuras, bolhas, contorções; do tato cuidado aflora a miudeza delicada. O inesperado é o resultado, a experiência é o limite. Mais do que a forma, o que se explora é a força do barro submetido à queima. Há uma inquietação que ressoa, uma pergunta sobre o escrito, sobre o que se quer escrever, sobre a memória do lugar. O que há na matéria? O que ela nos provoca? O que grafamos nela? A exposição Artefatos revela um trabalho em processo e se abre à continuidade experimental. (FRENKEL, material de divulgação da exposição, 2017)

FIGURA 30: BLOCOS SECOS DA LAMA, AREIA, OSSOS E CONCHAS, EXPOSTOS EM ARTEFATOS. SALA MULTIUSO. PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO GRANDE. 2017.

Fonte: Acervo do projeto de pesquisa Sal Cerâmica. 2017.

E esta continuidade experimental se expressa na peça Caos Celsius (Figura 31), que explode em muitos cacos, que revela bolhas não eclodidas, cavidades coloridas e a disposição de carregar um destes fragmentos. Qual é a intenção de tudo isso? Provocar o olhar, com uma ruptura estética do belo, propondo o olhar crítico para além dos objetos, mas para o ambiente de onde vieram. A exposição reverberou de bom aceite e proporcionou assumir os signos deste momento para ecoar a intenção ecosófica ao caminho do tempo. Tempo este que começou a ser trilhado em Rio Grande, mas que segue vivo até o presente.

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