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1.1 -O ENCONTRO

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REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

levantamos a reflexão sobre a importância do projeto no âmbito de políticas ambientais e culturais locais e da atuação como agente cultural, enfatizando o pensamento sobre as singularidades locais, a promoção de diálogos e encontros, que implicam a escuta e a aprendizagem mediante práticas de nutrição mútua; a colocação da comunidade em contato com os recursos necessários para a prática da arte cerâmica; a sensibilização para a criação e o protagonismo dos indivíduos e coletivos envolvidos nos processos criativos; a busca de viabilidade e autonomia econômica, através do uso de matéria-prima de baixo custo; e o esforço por estruturar a visibilidade da produção em cerâmica, bem como as possibilidades de sua circulação.

1.1 - O Encontro

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No encontro com uma condição adversa na praia, percebe-se que, para além de uma areia compactada e das dunas, a praia do Cassino apresenta o fenômeno que consiste no acúmulo de matéria orgânica na encosta marinha, intensificado pelas dragagens realizadas pelas atividades portuárias na região. Longe de solucionar problemas ambientais, mas com a intenção de provocar pensar o que é esta lama que então passou a povoar em blocos a praia, e, principalmente, o que há na sua constituição, se existe argila e/ou se há presença de metais pesados, é que se desenvolveu a pesquisa Sal Cerâmica, com o intuito de analisar as possibilidades de desenvolvimento de pastas cerâmicas para o ensino, a criação artística e, eventualmente, utilitária, sem oferecer riscos à saúde daqueles que as manuseiem. As diversas indústrias do estuário da Lagoa dos Patos provocaram há muito tempo despejos, com certo controle pelos órgãos competentes, e existem estudos realizados dos sedimentos encontrados na praia que citam a presença de arsênio, cromo, cobre, mercúrio, níquel, chumbo e zinco, respectivamente, para os períodos anterior e posterior às dragagens, como descrito na dissertação do pós-graduando em engenharia oceânica, Luís Eduardo Torma Burgueño:

Este trabalho objetivou avaliar os níveis de contaminação dos sedimentos do canal de acesso ao Porto de Rio Grande – RS, com vistas à sua disposição em terra. Foram analisados os seguintes elementos: As, Cr, Cu, Hg, Ni, Pb, Zn, COT, N-Total e P-Total. Os dados utilizados foram obtidos do Programa de Monitoramento elaborado pela FURG, em 2006, para a SUPRG, para o licenciamento de dragagem de manutenção. Em contraste a estes dados foram utilizados, também, àqueles gerados pela MRS, em 2007, para o licenciamento

da obra de prolongamento dos molhes e aprofundamento do canal de acesso ao porto (de 40 para 60 pés). Todos os elementos ficaram abaixo dos limites estabelecidos na legislação em vigor para disposição em solo, comparados com a ocorrência de teores iguais ou inferiores a P= 0,99. Quanto à utilização dos sedimentos para uso como fertilizante, verifica-se que, a probabilidade dos elementos estudados causarem danos à saúde pública e ao ambiente natural é não significativa, quando se comparam os teores encontrados (P≤0,99) aos limites estabelecidos na legislação pertinente. (BURGUEÑO, 2009, p. 5 e 153)

Assim como este trabalho demonstra, outros vão comprovar que a lama tem os elementos químicos em questão, porém em um nível balanceado na escala aceitável. O estudo apresentado na dissertação de mestrado da Engenheira Laurita dos Santos Teixeira descreve a presença de manganês, cobre, zinco, ferro, níquel, cromo, cádmio, chumbo e mercúrio em sedimentos da dragagem do porto novo de Rio Grande, e afirma que:

As análises feitas comprovaram que o solo não se apresenta contaminado por metais, segundo valores de referência do CONAMA (resoluções 344/2004 e 375/2004) e da CETESB (resolução 39/2004), para lama de dragagem, e para disposição de lama em solos. (TEIXEIRA, 2009, p. 80)

Não haveria, então, riscos do uso do material como base para pastas cerâmicas. Em conversa informal com o Doutor em Geoquímica Marinha Paulo Baisch, este nos assegura a possibilidade de manuseio da lama da praia sem riscos para a saúde. Ao assumir esta possibilidade de manuseio, colocou-se o questionamento sobre um uso produtivo e criativo dos rejeitos das dragagens, que ocasionam impactos socioambientais. Nesse sentido, aponta-se a análise da dissertação de mestrado da Oceanógrafa Flavia Cristina Granato que destaca a conscientização dos portos sobre sua responsabilidade em preservar o ambiente em que estão inseridos:

A expansão das atividades portuárias geralmente requer significativas alterações no meio ambiente, seja através de dragagens e disposição de materiais (resíduos), assim como pelas próprias operações, que têm potencial de impactar a qualidade do ar, solo e recursos hídricos. Mais recentemente, os portos têm estado mais conscientes da sua responsabilidade em preservar, proteger e limpar o ambiente em que estão inseridos. Estão fazendo isto por razões econômicas, ecológicas, estéticas (paisagísticas) e de segurança, para melhorar a integração e a compatibilidade com a comunidade adjacente. (GRANATO, 2005, p. 6)

Poderia haver, então, interesse em investir em um projeto para o uso produtivo e criativo da lama da praia, com possibilidade ampliar o uso desta argila em dinâmicas de ensino, na geração de renda com o incentivo à produção cerâmica local?

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