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2.1 SOBRE A NECESSIDADE DA QUEIMA / CONSTRUÇÃO DE FORNOS

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REFERÊNCIAS

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resultados provocantes. Porém, a possibilidade de trabalhar em atmosferas de queima variadas e eliminar o nível de fumaça nas queimas de biscoito no forno elétrico da sala de tridimensionalidade provocaram para que surgisse mais uma dinâmica de ensinoaprendizagem na trilha: construir um forno à lenha Condorhuasi, com amigos da FURG e, assim, começa a se estruturar a ideia da eco olaria, onde o manejo da lama e o preparo das argilas seguiu alimentando a produção cerâmica e as práticas de ensino, promovendo com seus resultados cerâmicos a potência do projeto. Destaca-se a intenção de percorrer os ciclos pesquisa-ensino-extensão, bem como produção-circulação-consumo, almejando a autonomia sustentável para a prática de futuros artífices ceramistas.

2.1 - Sobre a necessidade da queima / construção de fornos

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Los Hornos no se compran: se hacen (CHITI, 2013, p. 5)

À medida que os interesses eram multiplicados, a produção se estruturava e, além de minha produção, em 2018, já havia mais de 18 pessoas envolvidas, produzindo e buscando um lugar para queima de suas peças e propagação das mesmas. Assim, a necessidade de propor e provocar a autonomia destas pessoas foi crescendo e ganhando forma em alguns espaços e pequenos grupos com novas proposições. No Mercado Público Municipal de Rio Grande, com o grupo que se formou na primeira turma do Atelier Livre, resolvemos constituir o coletivo Panela d´expressão. Este grupo já havia tido o contato com a argila da Lama, porém, muitos apenas tinham aquele espaço para se dedicar ao fazer cerâmico, sem estruturas próprias para manter uma produção. Por isso, ao organizarmos o grupo, a intenção era provocar a municipalidade com o regresso produtivo de uma arte, expressa nos cacos arqueológicos em abundância no território Rio-grandino. No segundo ano de ação do grupo, o Professor Waldo Gouvea fora presenteado com um forno elétrico de pequeno porte, mas que possibilitou certa autonomia ao grupo; mesmo assim, a parceria que viria a acontecer mais tarde com a extensão do projeto Sal cerâmica trouxe maior conforto para os participantes quanto ao resultado de suas peças. A lama como base para a confecção das peças foi aceita por parte do grupo, porém, foram estes que mais se destacaram em condição de seguir de forma autônoma após o tempo dos cursos. Hoje, o grupo se dissolveu, mas algumas destas

pessoas não abandonaram o fazer cerâmico e seguiram passos distintos para sua estruturação pessoal. Na FURG, a sala de tridimensionalidade (TriD) é um espaço organizado para o envolvimento básico com a cerâmica. Com um forno elétrico e com os tornos elétricos, as dinâmicas de ensino e produção eram mais práticas e a teoria se envolvia no fazer de cada etapa. Fosse no preparo das argilas, na modelagem de bancada ou em torno, no uso do forno e nos acabamentos de engobes e esmaltes, tudo aconteceu organicamente. Talvez um ponto negativo e que valha atenção é um sistema de exaustão para os gases liberados durante a queima. Esse foi um ponto importante para tomar a decisão de construir um forno à lenha, para manter as queimas de biscoito em ambiente arejado, principalmente das peças feitas com a lama, pois a carga de matéria orgânica que ela apresenta volatiza com muitos gases, não avaliados se prejudiciais, mas independente de uma avaliação, era impossível a permanência no laboratório em razão do cheiro que exalava e a fumaça que concentrava no mesmo espaço. Um fator relevante nesta etapa do projeto era de que a produção deveria se restringir à exposição das peças e produção das práticas de ensino, não podendo atender a necessidades econômicas dos envolvidos e pensava, por que não podemos ter um “ateliê junior” (algo similar às empresas júnior dos cursos de exatas)? Ainda vislumbrando a possibilidade de conquistar apoios institucionais para desenvolvimento de tecnologias apropriadas para o manejo da lama, busquei a INOVATION, incubadora tecnológica da FURG, fiz uma apresentação, mostrando resultados alcançados, produtos elaborados, necessidade de amparo técnico específico em busca dos caminhos para a viabilidade econômica. Porém, as tecnologias da terra se distanciaram do interesse do grupo que formava a comissão avaliadora, mais interessados em APPs e projetos virtuais. A resposta que obtive, além de lindos elogios quanto ao projeto, é de que deveria procurar o NUDESE, Núcleo de Desenvolvimento Social e Econômico. Porém, não estava preparado para uma aplicação tão direta, ainda existiam etapas a serem completas para que isso viesse a acontecer. Diante das limitações dos fornos disponíveis no Atelier Livre do Mercado e na sala de tridimensionalidade, e com a necessidade de conquistar maior autonomia para o grupo de pessoas envolvidas com cerâmica em Rio Grande, naquela ocasião, mobilizei um pequeno grupo para a construção de um forno Condorhuasi, à lenha (Figura 11). Este forno está descrito no livro Curso Práctico de Cerámica, volume 2, bem como no livro Hornos Cerámicos, de Jorge Fernandez Chiti; foi feito em um latão de 200 litros, após a retirada da tampa superior, foram realizados os cortes do cinzeiro e fornalha, deixando

10cm na base para preencher com a massa isolante, depois se colocou um contramolde, feito com chapa galvanizada, deixando um vão entre as paredes entre 9 e 10cm. O preparo deste recheio refratário isolante das paredes do forno é feito com a mistura de caulim, chamote (material antiplástico), serragem e pouca água; sua textura fica como de uma farofa e com ela se vai pilando entre a parede externa e o contramolde do miolo até a superfície. Passaram 3 semanas para poder retirar o contramolde e mais uma semana para a primeira queima de secagem, a fim de estruturar o forno. Este modelo de forno é considerado de tiro direto, onde o calor provocado na fornalha e no braseiro do cinzeiro vai direto para a câmara de cocção, onde concentra-se entre as peças e as paredes que conservam a temperatura, e se dispersa na saída da tampa superior. Utiliza aproximadamente 20kg de lenha por queima e pode alcançar a temperatura de 1300ºC, porém, aferi em 3 anos de uso a temperatura máxima de 1100ºC. Ainda com este modelo de forno foi possível desempenhar queimas com variações atmosféricas: 1) redução, onde se provoca uma carga maior de fumaça para enegrecer as peças, ou, causar-lhes detalhes rajados enegrecidos; 2) oxidante, onde se permite uma fluidez maior com entrada de ar, ampliam-se as chamas e as peças podem apresentar na característica mais homogênea da coloração alguns rajados mais intensos do fogo; 3) neutra, onde há equilíbrio da queima, tendo na parte interna a força calórica já em equilíbrio de ar e dará às peças um característica mais limpa. Ao construir o forno, percebemos que seria possível adaptá-lo a outras estruturas de suporte, além do latão e até mesmo substituindo a massa refratária isolante por tijolos maciços, a fim de atender a pequenas demandas dos interesses sobre a autonomia de produção cerâmica. Assim, a questão do custo da queima começou a ser sanada com esta iniciativa que fortaleceu a atitude de outros colegas a realizarem seus projetos, amparados com nosso suporte técnico.

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