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3.1 –PERFORMANCE: COM A LAMA DAQUI, ME FAÇO MAIS DE TI
from Trajetórias de uma lama litorânea: peças cerâmicas, arte educação ambiental e ações relacionais
by Duke Orleans
e percussivos sonoros e, com isso, unimos forças para comunicar pesquisas e apontar possibilidades reais de transformação ambiental e social.
3.1 – Performance: Com a lama daqui, me faço mais de ti
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No ano de 2016, realizei uma performance intitulada “Com a lama daqui, me faço mais de ti”, que consistiu em mergulhar na lama da praia do Cassino e deixar que o corpo todo se envolvesse por ela, assumindo-a como parte e fazendo-me dela parte (Figura 23). A performance resultou em um ensaio fotográfico e foi repetida nas dependências do prédio das Artes, na FURG, durante um evento de recepção aos calouros, a Acolhida cidadã. Nessa ocasião, o público lia poemas previamente escritos sobre o tema da lama e a cada leitura, o performer realizava movimentações corporais. A performance foi realizada sobre uma estrutura recheada com grande volume de lama e, como cenário, foi montada uma instalação com cacos de peças cerâmicas e uma tela exibindo a videoperformance realizada na praia (Figura 24). Nessa instalação, se faziam presentes diversas fases da produção, desde o barro até as peças queimadas e quebradas, como fragmentos e restos de memória, ao passo que o corpo do artista também se fazia presente e parte constitutiva da mesma matéria. Como parte da programação do evento da Acolhida foi oferecida, após a performance (Figura 25), uma oficina de confecção de peças em argila (Figura 26), já utilizando a base da lama da praia, de modo que a oficina se constitui também como uma ação de arte educação ambiental, uma vez que toda a problemática da existência da lama, sua origem e as possibilidades abertas por ela se colocaram em pauta. A curiosidade primeira foi como envolver a temática ambiental que se encontrava em torno da lama da praia do Cassino. Para isso, pensei em uma forma de explicitar o distanciamento da causa mesmo que ela se fizesse tão presente na vida ambiental de Rio Grande. Escrevi poemas críticos à sua aparição, compus com palavras que ouvia quando questionava sua presença a moradores, cientistas e professores. Coletamos a lama, cravei a pá à beira mar do bairro Querência e, no buraco lamacento, mergulhei no ventre desta terra e, na ocasião, ouvi uma senhora que caminhava na praia, passando por detrás do caminhão da Guarda Ambiental, que atolara ao tentar nos ajudar com a coleta de lama: - Ui! Ele está no meio daquele esgoto! E foi aí que um dos guardas retrucou:
- Não Senhora, é lama! A mesma que a Senhora caminha sob seus pés!
Dias depois, enquanto alunos e visitantes circulavam no evento da Acolhida Cidadã, pelo prédio das Artes na FURG, os poemas eram lidos e ali tomado pela lama em meu corpo e sobre 200kg de lama, movimentava com gestos de provocação ao tato, ao envolvimento e a consciência ambiental de ser responsável por onde estou e não de onde sou!
FIGURA 23: PERFORMANCE “COM A LAMA DAQUI ME TORNO MAIS DE TI”, REALIZADA NO ATO DA COLHEITA DA LAMA. PRAIA DO CASSINO. 2016.
Fonte: Acervo pessoal do autor. 2016.
FIGURA 24: PARTE DA INSTALAÇÃO COM OS CACOS E VÍDEO PERFORMANCE, APRESENTADA NA ACOLHIDA CIDADÃ. ÁTRIO DO PRÉDIO DAS ARTES (FURG). 2016.
Fonte: Acervo pessoal do autor. 2016.
FIGURA 25: PERFORMANCE DE ESCULTURA VIVA DA LAMA. ACOLHIDA CIDADÃ, ÁTRIO DO PRÉDIO DAS ARTES (FURG), 2016.
Fonte: Acervo pessoal do autor. 2016.
FIGURA 26: PRIMEIRA OFICINA DE MANUSEIO DA LAMA DA PRAIA DO CASSINO. ACOLHIDA CIDADÃ. SALA DE TRIDIMENSIONALIDADE. TRID/ILA-FURG. 2016.
Fonte: Acervo pessoal do autor. 2016.