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NOS BASTIDORES DO E-COMMERCE
Executive Director of Growth at ADVENTURES.INC
NÔMADES DIGITAIS E A NATUREZA DO E-COMMERCE
No final de 2020, a revista britânica The Economist, uma das mais importantes do mundo, proclamou a "morte dos escritórios". Não é novidade para ninguém que o isolamento social imposto pela pandemia impulsionou não só a transformação digital, mas, mais importante do que isso, o comportamento digital de modo significativo.
Especialistas estimam que as mudanças suscitadas nesse período adiantaram os processos de digitalização em até uma década no que se refere a todas as esferas sociais, incluindo o mercado de trabalho. Como é o caso do e-commerce, os modelos de negócio nativos desse universo se beneficiaram de forma especialmente positiva. Em todo o mundo, a economia digital registrou crescimento exponencial nos últimos anos, ditando tendências não só em rentabilidade, logística e ESG, como também na gestão de pessoas, na maioria das vezes, à distância.
Se antes trabalhar de qualquer lugar do mundo era uma realidade distante para grande parte dos trabalhadores, hoje as novas formas de trabalho já fazem parte das possibilidades em todos os níveis de carreira. Até há um termo para isso: são os nômades digitais, profissionais de qualquer idade que não têm mesa, escritório e nem cidade fixa para trabalhar. Mais do que uma transformação de estilo de vida, a modalidade já soma mais de 35 milhões de adeptos, de acordo com o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022, desenvolvido pela Fragomen, empresa multinacional especializada em migrações. A perspectiva de crescimento é ainda maior, estimando-se que exista aproximadamente um bilhão de nômades digitais até 2035, trabalhando de forma autônoma ou vinculada a organizações com sede em qualquer lugar.
Inclusive, há mais de 20 países que já adotaram vistos específicos para os nômades digitais, antecipando-se na regulamentação e tentativa de atrair esses talentos globais. Recentemente, o Brasil entrou para a lista ao lado de, entre outros, Islândia, Tailândia, Emirados Árabes, Costa Rica, Grécia e Argentina.
O The Conference Board, uma organização americana, realizou um levantamento e constatou que apenas 8% dos postos de trabalho eram prioritariamente remotos nos Estados Unidos antes de 2020. No cenário atual, as estimativas apontam que de 20% a 50% das vagas têm esse perfil.
No Brasil, a estatística não é diferente. A Revelo, startup de recrutamento e seleção,
Atuando desde 2010 com mercado digital, e-commerce e omnichannel, Pedro Padis é Diretor Executive de Growth na Adventures.INC. Com histórico de head de e-commerce do Grupo Aste, coordenou grandes operações de marcas globais como New Balance, Kipling e Diesel. Ainda traz denso background em varejo, tendo passagens pelo Dia e Walmart.
que conta com 1,5 milhão de candidatos cadastrados em sua base, produziu um levantamento que revela não existirem praticamente buscas por vagas presenciais. Em um dos estudos recentes da empresa, 78% dos profissionais disseram considerar trocar de emprego caso não haja flexibilidade em permanecer trabalhando fora do escritório. Outro estudo realizado pelo instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que o trabalho remoto pode atingir 22,7% da população brasileira, o que equivale a mais de 20 milhões de pessoas.
Do lado das empresas, a preferência está em consonância com a dos trabalhadores. Uma pesquisa da Robert Half, consultoria global de recursos humanos, publicada no início do ano, mostra que o modelo híbrido é adotado em 48% das organizações. A prática não apenas reduz custos de operação como permite o intercâmbio de talentos e tecnologias para além das paredes do escritório.
Para os empreendedores do e-commerce, o nomadismo digital não é só tendência, mas a oportunidade de experimentar um estilo de vida totalmente distinto. Para as médias e grandes empresas, uma premissa que a estratégia de negócio não pode ignorar. A Cranberry Panda, uma agência de recrutamento com base no Reino Unido e especializada em e-commerce, divulgou recentemente seu relatório anual sobre o setor. O documento revela que o benefício de “trabalhar em casa” - ou em qualquer lugar do mundo para os nômades digitais - foi eleito o segundo fator mais importante para a força de trabalho dessa indústria, revelando a conexão entre a natureza do negócio, o perfil de profissionais e cultura organizacional esperada. De grandes varejistas a startups, a estimativa é de que mais da metade dos funcionários do e-commerce trabalhem de forma 100% remota atualmente - quase a totalidade.
Os demais 42% estão no modelo híbrido, com até dois dias no escritório, deixando apenas 7% para o trabalho presencial. E a rejeição é quase integral: 92% repensariam uma oferta de trabalho que não contemplasse o benefício.
Da mesma forma que em outros aspectos do e-commerce, como logística e experiência do cliente, a transformação digital evidenciou uma demanda urgente - dessa vez, de quem constrói e contribui para o negócio. Ao passo em que as pessoas apontam para qual caminho seguir, também olham para as empresas nativas digitais em busca da cristalização de uma realidade que apenas a tecnologia pode proporcionar - até agora.