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FINTECH
O PAPEL DAS FINTECHS NA INCLUSÃO DO CONSUMIDOR
Não há dúvidas de que a inclusão financeira alavancou durante a pandemia da Covid-19. Segundo dados da Caixa Econômica Federal, aproximadamente 40% dos brasileiros que receberam o Auxílio Emergencial não tinham conta em banco antes do período e tiveram não só que se vincular a um banco como utilizar um aplicativo para tal.
Tivemos ainda um avanço significativo em novos produtos financeiros. O Pix chegou como uma revolução, somando hoje mais chaves cadastradas do que brasileiros, e se consolidando como o segundo meio de pagamento mais aceito no e-commerce. Além disso, o Open Finance avança para que, entre outros benefícios, os consumidores tenham acesso a um crédito mais justo e melhor embasado em seu histórico financeiro.
No entanto, pensando que o Brasil foi o quarto país com mais transações financeiras em tempo real em 2021 - 8,7 bilhões de operações, de acordo com relatório da ACI Worldwide -, é no mínimo curioso se deparar com o fato de que aproximadamente 16% da população brasileira ainda é desbancarizada, sem contar as pessoas que só têm conta em banco para receber o salário ou algum benefício.
Apesar dos avanços citados, sejam eles planejados ou consequências de condições impostas pela pandemia, é importante considerarmos que a inclusão financeira
MARCELO RAMALHO
CEO da Provu
também prevê absorver essas pessoas, antes “à sombra" do sistema bancário, como consumidoras. No cenário pandêmico, pudemos observar muitas delas sendo forçadas a migrar para o comércio eletrônico. Contudo, em muitos casos, elas não tinham acesso aos meios de pagamento predominantemente aceitos no e-commerce, principalmente para itens de maior ticket médio.
Ao encontro dessas condições estão soluções desenvolvidas por fintechs, regulamentadas em 2018 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e que exploram nichos muitas vezes desassistidos, introduzindo inovações através de tecnologia, desenvolvendo novos modelos de negócios e facilitando a vida de milhões de pessoas.
Quando falamos da inclusão dos brasileiros semibancarizados ou até desbancarizados na cadeia de consumo do e-commerce, o papel dessas financeiras é fundamental. Foram as fintechs, por exemplo, que trouxeram para o Brasil meios de pagamento como o Buy Now Pay Later (BNPL) - ou crediário digital - de forma pioneira, permitindo que pessoas sem cartão de crédito ou sem limite pudessem parcelar suas compras.
Na outra ponta, a solução inclui ainda varejistas de menor porte, que passam a oferecer novas formas de pagamento e a alcançar clientes aos quais antes não tinham acesso. Além disso, passam a desfrutar de um crediário, antes limitado a grandes redes, sem demandar operação própria ou pagar taxas. Oferecer crédito não é algo simples. Necessita-se de um nível de especialização para fazê-lo de forma eficiente, sustentável e com resultados, ou seja, não é viável para lojas de pequeno e médio porte escalarem essa oferta com baixos riscos. Por isso, aqui ainda ressalto a importância de fintechs autorizadas pelo Banco Central para fazer operações de crédito online e com recursos próprios. Empresas com esse "selo" são ainda mais confiáveis e criteriosas na seleção de tomadores de crédito, com alto grau de avaliação de risco.
Claro que essas inovações não seriam viabilizadas se o órgão regulador não adaptasse suas normas às demandas e às realidades diversas da sociedade brasileira. Quanto maior o acesso ao sistema financeiro, mais desenvolvida financeira e socialmente a população estará.
Dentro desse contexto, é importante que varejistas busquem compreender a necessidade desses consumidores e como as fintechs podem apoiá-los na inclusão dos brasileiros, o que vai além de uma inclusão puramente digital. Meios de pagamentos que se adequem à realidade dessa parcela da população são estratégicos para o negócio e têm impacto social e econômico relevante.
Marcelo Ramalho é CEO da Provu, fintech de meio de pagamento e empréstimo pessoal que atua no Brasil desde 2015. Antes da Provu, supervisionou a área de produtos de empréstimo do Nubank, na qual liderou o desenvolvimento e o lançamento de produtos tanto de cartão de crédito quanto de crédito ao consumidor, incluindo o lançamento do primeiro produto de empréstimo pessoal da empresa. Também atuou como fundador, Chief Operating Officer e Chief Technical Officer da AlôEmpresa e da 2Work, serviço de assistente virtual para pequenas e médias empresas e coworking que atende a centenas de empresas em todo o Brasil, respectivamente. Além disso, foi consultor de gestão, ajudando executivos de empresas multinacionais em projetos de recuperação e eficiência operacional em vários países.