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Evelyn Roberta Gasparetto
Evelyn Roberta Gasparetto, brasileira, advogada, 44 anos, residente em São Paulo/SP. https://www.facebook.com/gasparettoevelyn evelyn.gasparett@uol.com.br
O MEIO DA NOITE
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O meio da noite é estranho, para não dizer, esquisito. Ele causa para cada um de nós uma sensação diferente e particular, e o mais interessante, é que é um particular para cada dia; é como se fosse um ato personalíssimo de uma única vez, como se a cada noite você fosse uma pessoa diferente, que optasse, sem seguir um padrão, por um tipo de comportamento.
Em simples análise, temos que o meio da noite pode ser um sacrifício, uma pena, um nada, ou ainda, um alívio, dependendo daquilo que estiver passando pela cabeça sem consciência.
Em qualquer uma das situações, o que acontece é que seus olhos pouco se abrem, você se situa no local, levanta levemente da cama, coloca com pouquíssima destreza o chinelo e sai cambaleando pelo quarto, passando pela borda da cama, trombando com quase todos os móveis, até se deparar com a porta do banheiro.
Durante esse curto espaço de tempo, percorrendo esse breve trajeto, a cabeça gira até entender se o sonho era bom ou não, se foi uma pena ter acordado, ou se realmente foi um presente essa pausa na movimentação do inconsciente.
Tendo sido de pesar, pela interrupção de algo agradável, o retorno será breve, com a vontade de quero mais, de lamento por aquilo que parecia tão real ter acabado, passando a ser o meio da noite não só esquisito como desgostoso.
Há ainda o simples ir e voltar, sem que nada tenha vindo à memória, não havendo resquício de lembrança alguma, tornando o meio da noite somente estranho, pela pura falta de equilíbrio em algo tão comum como o andar, uma perna depois da outra. Como é difícil!
Existe ainda a interrupção de alívio, diante de um sonho ruim e agitado, fazendo com que o tempo de retorno à cama, possa ser maior do que o de costume, para justificar se foi um filme, um dia agitado, um telefonema inesperado ou uma leitura indesejada. Pode ainda ter sido uma mensagem mal falada ou, até mesmo, uma discussão dentro de casa.
O que se sabe é que não importa qual seja a justificativa para o caminhar noturno inesperado, de onde vier o despertar, o destino encontrará no roteiro desenhado e mais do que decorado pelo recém desperto, obstáculos pontiagudos e cruéis, que o farão bater em quase todas as madeiras e metais existentes pelo caminho, podendo deixar o meio da noite não só esquisito como também com bastante dor.