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Luís Amorim

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Wagner Gomes

Wagner Gomes

Luís Amorim facebook.com/luisamorimeditions

TEMPO PARA A LIBERDADE

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Em casa estava como usual era na maior parte do seu tempo ao presente, sozinho, recostado no sofá, sossegado e distante face à enorme turbulência do tempo que o levou a uma extensa reclusão, assistindo pela televisão pública ao aniversário da revolução e aplaudindo novamente o triunfo da liberdade tal como no dia em que aliviado saíra da prisão junto com muitas outras pessoas, que como ele lutaram por uma das causas mais nobres. Sabia que as memórias dos anos em que estivera afastado da vida em comum teriam de ser iniciadas como documento essencial para o estudo e a compreensão de um período histórico do viver em sociedade, mas ainda não percebia por onde havia de lhes dar início. Com essa incerteza, regressou em pensamento ao dia um da sua liberdade, na qual junto com os seus pertences, levava igualmente da estreita cela para o saudável respirado e livre ar, os manuscritos de enorme criatividade em forma de preenchidos e sentidos diários, onde cada página era libertador espelho de um só dia com as suas imensas diárias reflexões, pensamentos, frases, um poema ou conto de natureza rápida. Tudo bem identificado com o respectivo dia em reclusão, começado no um e sem-

pre em crescimento até incógnito desfecho pois que desconhecia quando iria sair. Mas uma vez nesse instante recordado ao rumar para fora da prisão, anteviu que bastar-lhe-ia consultar a última página para saber quantos dias estivera cheio de privações e bastante distanciado de uma vida livre e partilhada com os seus e demais sociais entes. Desse modo, o regresso ao presente fez-se necessário para enfim poder iniciar escrita, uma vez que já entendia como iria redigir as suas memórias, então vividas em tempo de reclusão. Retrocedendo ao dia primeiro quando fora apartado da sociedade apenas por lutar de forma pacífica pela liberdade, transcreveria no imediato todo o conteúdo escrito no dia em concreto para memória futura, não por uma paciente soma diária, mas sim numa libertadora contagem decrescente, indicando sempre a cada momento, quanto tempo em dias faltariam para ser colocado finalmente em liberdade.

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