Luís Amorim facebook.com/luisamorimeditions
TEMPO PARA A LIBERDADE Em casa estava como usual era na maior parte do seu tempo ao presente, sozinho, recostado no sofá, sossegado e distante face à enorme turbulência do tempo que o levou a uma extensa reclusão, assistindo pela televisão pública ao aniversário da revolução e aplaudindo novamente o triunfo da liberdade tal como no dia em que aliviado saíra da prisão junto com muitas outras pessoas, que como ele lutaram por uma das causas mais nobres. Sabia que as memórias dos anos em que estivera afastado da vida em comum teriam de ser iniciadas como documento essencial para o estudo e a compreensão de um período histórico do viver em sociedade, mas ainda não percebia por onde havia de lhes dar início. Com essa incerteza, regressou em pensamento ao dia um da sua liberdade, na qual junto com os seus pertences, levava igualmente da estreita cela para o saudável respirado e livre ar, os manuscritos de enorme criatividade em forma de preenchidos e sentidos diários, onde cada página era libertador espelho de um só dia com as suas imensas diárias reflexões, pensamentos, frases, um poema ou conto de natureza rápida. Tudo bem identificado com o respectivo dia em reclusão, começado no um e sem197