Quando iniciei o projeto da Revista Ecos da Palavra, acreditei na mudança, na transição, no crescimento e, a cada número, uma descoberta sensacional de novos autores, fotógrafos, artistas plásticos. A revista em si também evoluiu e agora temos ao nosso lado uma parceria maravilhosa com a escritora Sigridi Borges que tem nos demonstrando, no último número, a oportunidade de crescer ainda um pouco mais este nosso projeto que, na verdade, é de todos e do mundo. Que tempos de serenidade e de inspiração sejam o nosso sol da sabedoria. Neste número encontramos o encanto das palavras tal como um sol que projeta toda a luz, imensa reflexão, sonhos poéticos, histórias de encantar ou reais. Felicitamos a cada um dos nossos participantes pela excelência do trabalho!!!... E os esperamos para o próximo.
Catarina Dinis Pinto Ecos da Palavra
ENTREVISTA COM RODRIGO PALADINO Aos 15 anos participou de um concurso de artes inspirado nas animações “Wallace & Gromit” da “Aardman Animations”, estúdio Britânico, ganhando premiação e certificado assinado por “Nick Park”. Aprofundou-se nos estudos de História da Arte, que se tornou uma paixão imediata. Hoje, com 21 anos, se prepara para estar em Paris expondo sua arte no Museu do Louvre em abril de 2022.
Ecos da Palavra: Para começar fale um pouco sobre si? E o seu percurso de artista? Rodrigo: Acho que sou artista desde criança, adorava brincar com massa de modelar e ficava horas modelando os personagens que assistia em desenhos animados, criava personagens e histórias o tempo inteiro. Isso contribuiu muito pro meu desenvolvimento criativo nos dias de hoje, a arte talvez seja isso, manter a nossa criança viva todos os dias como uma frase de Pablo Picasso "Toda criança é um artista. O problema é o como manterse artista depois de crescido."
Ecos da Palavra: Quando descobriu/desapontou o gosto e interesse pela arte / designer? Assim como a criar os seus próprios trabalhos?
Rodrigo: Apesar de ter consciência do potencial criativo na infância e adolescência, foi só na faculdade que tive uma visão mais profissional do assunto, pude conhecer grandes artistas que inspiraram toda a metodologia criativa que conhecemos e como aplicamos em diversas áreas, isso contribuiu pra organizar minhas influências e meu repertório e desenvolver meu próprio estilo e linguagem.
Ecos da Palavra: A arte / designer é como uma forma de ver o mundo ou o imaginário? Rodrigo: Vejo a arte como uma forma de dizer algo sem o uso de palavras e ver coisas sem precisar enxergá-las de fato... Arte é interpretação, é algo que em cada pessoa vai despertar um sentimento e uma visão diferente... Já o Design é algo mais direto, tem muito a ver com comunicação literal mas pode ter muito teor artístico também.
Ecos da Palavra: Quando cria pensa no público? E influencia no seu trabalho? Rodrigo: Existem muitos métodos criativos utilizados por diversos artistas, no meu caso, quando me sinto inspirado a criar algo, a criação diz muito mais sobre mim, sobre a minha realidade e a minha visão da vida e de mundo... O meu público acaba se atraindo por identificação, sobre o que ressoa com os universos particulares de cada espectador.
Ecos da Palavra: Tem alguns artistas de preferência? Qual o que o marcou mais e por quê?
Rodrigo: São muitos os artistas dos quais sou fascinado pela vida e pela obra, me sentiria injusto de citar apenas um deles, mas de todos eles admiro a força da resistência de alguns que em suas épocas não tiveram tantos privilégios e tantas possibilidades de fazer grandes coisas, mas mesmo assim eternizaram seus trabalhos ao longo dos séculos como é o caso de Van Gogh.
Ecos da Palavra: Quais seus planos a longo prazo? Rodrigo: Não costumo planejar muita coisa, isso sempre me protegeu de frustrações, gosto de me surpreender! Mas tenho sonhos, adoraria produzir um filme de animação, gravar um álbum musical, escrever um livro, aprender piano e violoncelo. Ecos da Palavra: Além da arte tem outros interesses? Rodrigo: Acredito que quase todas as áreas das quais me atraio, seja por hobby ou por ambição profissional, são de todas as formas, artísticas! Embora eu goste muito de áreas relacionadas à ciência, sou fascinado por astronomia!
Ecos da Palavra: Obrigada pela maravilhosa entrevista, permitindo que nos deixe conhecer um pouco mais sobre o artista/artesão Rodrigo Paladino e gostaríamos que deixasse uma mensagem aos leitores da revista Ecos da Palavra. Rodrigo: Agradeço pela oportunidade, para mim é imenso prazer compartilhar um pouco de quem eu sou e inspirar pessoas! Gostaria de aconselhar a todas as almas que se comovem com a arte, exercitem isso! Vá ao museu local perto de você e se permita entrar em contato com a arte, mantenha sua criança viva! Desenhe, pinte, cante mesmo que esteja desafinado, a vida é extraordinária demais pra não ser vivida da maneira certa, deixo uma frase que considero ser minha favorita, de Friedrich Nietzsche: "É preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante."
@paladinoemparis @paladino.art
SELECIONADOS Aline Bischoff ............................................... 14 Adenilda Silva Souza.....................................16 Agnes Izumi Nagashima ................................19 Agostinha Monteiro........................................20 Alexandra Maria Duarte.................................21 Ana F. Pinheiro...............................................23 Augusto Filipe Gonçalves...............................29 Carlos Vilarinho..............................................30 Cristiane Ventre Porcini..................................31 Elisandra Corrêa de Campos...........................35 Elizandra Sabino Marques..............................36 Fernando Manuel Bunga.................................37 Gisela Peçanha................................................38 Hélio Guedes...................................................40 Iraci José Marin...............................................41 Juliana Leão.....................................................45 Juliana Moroni.................................................46 Karine Dias Oliveira........................................48
Kryssia Ettel..................................................50 Lara Machado de Oliveira Santos.................54 Luciano (Simônica Nottar)............................55 Luís Amorim..................................................57 Marcos Pontal................................................59 Margarida Correia..........................................60 Mônica Monerrat...........................................61 Raquel Lopes.................................................63 Reinaldo Fernandes.......................................64 Roque Aloisio Weschenfelder.......................68 Rubem Marques............................................71 Sergio Couto.................................................72 Thais Bovo....................................................75 Thais Sousa...................................................78 Vera Maria Barbosa......................................79
Aline Bischoff é uma artista paulista independente que atua em múltiplas linguagens artísticas, tais como: literatura, música, teatro, artes plásticas e visuais. Na literatura a sua preferência é pela poesia. Possui obras publicadas no Brasil e exterior, através de blogs, revistas, jornais, coletâneas, antologias, veiculadas por emissoras de rádio/TV e transformadas em letras de música. Participa ativamente de concursos e festivais, tendo recebido diversas premiações. É embaixadora da Rima Jotabé no Brasil, forma poética criada pelo espanhol Juan Benito Rodríguez Manzanares e colaboradora oficial do blog de produção textual Escrita Cafeína. Facebook: https://www.facebook.com/AlineBischoffArtes E-mail: aline.b.bischof@gmail.com
A SINERGIA DAS MADRUGADAS Das remotas estratosferas nos seus confins, Da plenitude imortal dos eternos silêncios, Nos observam extasiadas, as madrugadas! Elas se questionam, perplexas e admiradas: - Como podem ainda não estarem cônscios, Dos laços que ligam, esses dois seres afins. Elas recolhem em valiosos e silvos cântaros, Segredos somente a elas por eles olvidados E os depositam em alguma estrela mágica, 14
Que brilhará especial, numa ação sinérgica Quando as janelas abrirem os enamorados, Para fitarem o seu luzir sobre os píncaros. O vento oeste tocará levemente o teu rosto E nesse doce instante tu recordarás de mim.
A madrugada, cúmplice, satisfeita irá sorrir E de volta o seu amor me entregará, a fluir. Companheira dessa presença etérea, enfim, Fidedignas aliadas de um amor transposto.
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ILUSÃO DE VIVER Adenilda Silva Souza Quando se é criança pensa-se e sonha muita coisa, acha-se que o mundo é todo nosso e tudo será bom para nós se fizermos a nossa parte, mas é pura balela. Já ouviu certas palavras, olhares, frases e o que mais for que lhe cortaram profundamente? Talvez não tenha passado por isso, pois é diferente para você, desde cedo vivendo com “sorte”. Quero que meus filhos, se um dia eu os tiver, me perguntem sobre as coisas dessa vida, os sentimentos, acontecimentos e o dia a dia nesse mundo. Não para os ensinar, porque eu nunca poderia fazer isso, mas para falar sobre os aprendizados que tive. Se eles me perguntarem: mãe, posso confiar nas pessoas? Direi: depende, que confiança é essa? É preciso dar um voto de “confiança” para as pessoas, mas não seja cego e obcecado, todos cometemos erros o segredo está em pesar se eles foram feitos com o único objetivo de lhe atingir e magoar ou um mero incidente e deslize, que nossas falhas dão oportunidade. Não exija uma completa perfeição em seres completamente imperfeitos. Então devo aceitar e relevar tudo? Não. É bom que se entenda os problemas e dificuldades de cada um, mas lembre-se de que você já existia antes de alguém chegar, não é preciso deixar que eles te adestrem para aceitar, concordar e relevar tudo o que 16
façam contigo. E os sonhos? Vale tudo para alcançálos? Não, não vale, mas o ideal dos sonhos não é, como dizem, o conquistar porque quem sonha sempre tem um novo objetivo em mente, mesmo depois da conquista, o que vale no sonho é descobrir quem está disposto a sonhar com você. Quem andaria contigo, ainda que precisasse deixar um sonho pessoal mais de lado naquele momento. A parte mágica do sonho são aqueles que acreditam junto com a gente. E quero que perguntem ainda mais… Mãe, por que viver se doe tanto?! Onde encontrar a felicidade?! O amor existe?! Para coisas complexas eu sempre busco o mais simples argumento, resposta ou explicação e não é por preguiça de responder é, simplesmente, porque também não sei. Como vou dizer para que não acreditem em algo que já acreditei ou não busquem ser racionais, se eu mesmo tentei? Quero que saibam no futuro se lerem essas linhas o meu pensamento ao menos nesse momento sobre essas perguntas! Temos muitos momentos na vida e, para a maioria, eles serão mais tristes do que bons, a vida não é sobre aprender com a felicidade, dessa a gente aproveita porque é momentânea, é sobre conviver com a dor desde o nascimento até a morte. Dor essa que muda para cada ser, dor essa que nos permite 17
gritar e chorar; vivemos para sermos sobreviventes a cada dia, arriscando ser cada segundo o nosso último para nos tornarmos menos obcecados pela perfeição, mas estamos fracassando. A felicidade está no mesmo lugar que a tristeza, você não as encontra elas que encontram você. Se você quer muito alguma coisa ela acaba te prendendo em seu mundo de uma maneira que já não consegue enxergar mais nada. A felicidade não quer ser serva nem submissa a ninguém, ela busca os que a deixam livre. Não sei o que realmente existe, se for pensar apenas pelo que vejo com meus olhos, preciso considerar muitas coisas para responder se o amor existe, não é fácil e rápido, mas sei que sim. Sim, há amor, mas não da maneira que se idealiza e lê nos papéis, esses amores são minorias e, às vezes, de apenas uma parte. O que existe é “amor humilhado’, ou seja, o amor que é chato para a maioria pois não liberta, não faz alcançar coisas incríveis nem causa inveja nas pessoas, ele é simples, na verdade, ele nem se importa em ser nada porque ele não precisa transbordar para lugar nenhum além do seu. Se acaso eles me fizerem ou pensarem nessas perguntas, eis aí minhas respostas, para que possam ler e reler e depois decidirem se concordam, discordam ou acrescentam coisas que ainda não percebi, vivi e nem sei sobre a ilusão de viver. 18
Agnes Izumi Nagashima - Londrina/PR. Paranaense e apaixonada por livros. Escreve contos e poemas e publicou em revistas literárias e em coletâneas, com algumas premiações. Já participou de comissão avaliadora de concursos literários. Participa do grupo de escrita Contopeia, da CAL (Comissão de Autores Literários) da WebTv, da UBT (União Brasileira de Trovadores) Londrina e é acadêmica correspondente da Academia Internacional da União Cultural.
AO MEU LADO (LUNA) A cada passo, seu olhar me seguia. Os olhos delineados, nele mergulho, uma imensidão, da cor do mar. Tento me desprender, em vão. Perco no meu roteiro, na minha caminhada. Minhas mãos acariciam seus pelos, da cor da lua. Minhas mãos tremem, um ronronar. Melodia que alegra. A tristeza desaparece feito pôr do sol que se desmancha no horizonte, para na escuridão da noite, brilhar. O gato e eu, eu e o gato. dois corações, uma sintonia e amor, ao meu lado, para sempre juntos. 19
Agostinha Monteiro é natural de Aguiar da Beira, mas reside desde 1996 em Vila Nova de Gaia. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pela Universidade de Coimbra, e Mestre em Educação, pela Universidade do Minho, reparte a sua atividade profissional pela docência, formação, tradução e escrita. Publicou Aprender a Escrever, mecanismos de estruturação textual (2010), Lendas e Histórias de Aguiar da Beira (2011), Contos de Esperança (2012) e Dedilhando Poesia (2021) e participou em várias coletâneas em Portugal, no Brasil, na Argentina e em São Tomé e Príncipe, tendo sido distinguida com alguns prémios, menções e destaques literários.
LIGAÇÃO PARA A VIDA No relógio do tempo, cada segundo passa indiferente aos sentimentos que nos enlaçam. Neste palco da vida desfilam freneticamente Decisões! Tomadas no fulgor da crédula juventude que volvidos tantos anos ainda nos amordaçam por criarem ilusões e se transformarem em Desilusões. Mas vencemos os dissabores da vida enfrentando-os juntos de cabeça erguida pois nada é mais importante do que as nossas Conexões! 20
LUZ Alexandra Maria Duarte
Era habitual fazer a ronda naquele bairro. Um pouco problemático, com algumas famílias disfuncionais, ainda assim, um bairro familiar. Não era estranha a chamada para a polícia; discussões familiares, com álcool pelo meio, pais negligentes, algum jovem rebelde envolvido em negócios mais ou menos ilícitos. Era cedo, ainda, quando o guarda Santos passava pela Rua da Junqueira, nº45. Uma pequena casa de aspecto descuidado, jardim de ervas secas, com alguns brinquedos velhos espalhados pela terra. Apenas uma luz, um sinal de esperança, se encontrava nos grandes olhos castanhos de Lisete, a pequena da casa, que de cara e mãos coladas ao vidro da janela, todos os dias presenteava o guarda com um aceno de mão. Não recordava a primeira vez que a vira, mas, facto é que não havia dia que ele passasse sem que Lisete estivesse do outro lado da janela. Dirse-ia que o esperava. Ele devolvia-lhe sempre o adeus e ela abria um enorme sorriso. Às vezes comia umas bolachas, talvez um pequeno-almoço mal amanhado. Se passasse 15mn mais tarde, já ela estaria a caminho da escola. Mas naquele dia não passou 15mn mais tarde, por isso estranhou o vazio na janela. Abrandou o passo, mas depois continuou, afinal, ela podia estar 21
a acabar de se vestir, a por os livros na mochila, qualquer coisa. Mas uma inquietude, ou talvez o instinto de polícia, fê-lo parar e voltar atrás. “Não custa nada, só ver se a pequena está bem.” Tocou à campainha, uma vez e outra. Sem resposta. Espreitou pela janela e, após habituar os olhos à pouca luz interior, vislumbrou uma mulher caída no chão e a pequena Lisete sentada junto dela. Porta arrombada e chegada dos paramédicos. Overdose. Disseram que mais uns minutos e teria sido tarde demais. O guarda Santos olhou a pequena, “não te preocupes, vai tudo ficar bem.”
Nota – o presente texto não segue a grafia do novo Acordo Ortográfico
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Ana F. Pinheiro, nasceu em 1985, em Almancil, Loulé. Casada, mãe de dois rapazes, licenciou-se em Educação Social; atualmente exerce funções de Diretora Técnica numa IPSS. Apaixonada pela leitura, descobriu o prazer da escrita com a participação no Concurso de Escrita Criativa Poeta António Aleixo. Permitiu-se soltar as suas palavras, participando na iniciativa “Escrita em Ação”, dinamizada por Analita Alves dos Santos e percebeu que é a escrever que se sente completa, feliz e realizada. Como primeira experiência no mundo literário, participa como autora na coletânea de contos “Não vão os lobos voltar”, já à venda. Também é uma das novas vozes que integra a revista literária PALAVRAR – Ler e Escrever é resistir, recentemente lançada para o mercado literário. Determinada em desbravar caminho no mundo da escrita e dos livros, tem tentado a sua sorte com a participação em vários concursos literários. Planeia lançar em breve um blog onde possa partilhar com o mundo as suas palavras. Tem na mãe, filhos e marido, o maior suporte, força e foco para lutar pelos seus sonhos.
MARIANA E O ESPÍRITO DE NATAL
Na altura do Natal, andam todos tão atarefados. As crianças pensam nas férias e nos presentes que vão receber. Os pais desdobram-se entre o trabalho, as compras de última hora e os preparativos para a noite da Consoada. O mundo inteiro anda tão ocupado que ninguém tem tempo para parar, pensar e perguntar: Afinal, o que é o espírito de Natal? O verdadeiro espírito de Natal? — Mamã, amanhã é Natal. Já compraste o meu presente? Não te esqueças que eu quero aquele Iphone de última geração. Todas as minhas amigas o têm, é uma vergonha se eu não o tiver. — Querida, agora não posso. Trata, mas é de encomendar isso ao teu pai. Ele que peça à secretária para comprar, se não puder. Agora preciso de terminar de me arranjar. Tenho mil e uma coisas a tratar e ainda vou tomar chá com as minhas amigas.
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A mãe sai, batendo com a porta, deixando para trás a chorosa Mariana, que se refugia no quarto. Telefona para a empresa do pai. Está em reunião. Mais uma. O Natal celebra-se no dia seguinte e Mariana sente-me mais sozinha que nunca. É nestas alturas que pensa como seria bom ter um irmão com quem desabafar as suas mágoas, dividir as suas angústias e, sobretudo, uma companhia nas horas mais solitárias, em que fica entregue à empregada da casa. Nem esta hoje lhe pode valer, de tanta tarefa que a mãe a encarregou. Todos os anos a mesma coisa. A festa que a mãe gosta de dar, aquelas suas amigas todas peneirentas, sempre prontas a dar mais um beijinho e um afago, de tal forma que às vezes parece que a vão sufocar. Mariana detesta essa festa, sente-se pouco àvontade na sua própria casa. Sobretudo, sente falta de algo, mas não consegue explicar o quê. A mãe, sempre de volta das amigas, passa os dias entre o salão de beleza, os lanches nas melhores confeitarias e as compras no shopping, onde esbanja todo o dinheiro que o pai lhe dá. O pai, todos os dias enfiado na empresa. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Vale-lhe a secretária, que lhe compra os presentes de Natal. Afinal, de que serve o Natal se não for para ganhar presentes? 24
Afogada num choro descontrolado, Mariana acaba por adormecer. O sono transporta-a para um lugar que não reconhece. É de noite, só se vislumbra o céu estrelado e um arrepio revolve-lhe os cabelos. Uma luz, ao fundo, leva Mariana a caminhar, na tentativa de descobrir do que se trata. — Este é o início de uma história de salvação e amor. Uma história que mudou o destino de milhões de almas — diz-lhe uma voz desconhecida. Mariana sobressalta-se: — Quem está aí? Quem és tu? — Nada temas, Mariana! Venho por bem. Sou o anjo do Senhor. — Anjo do Senhor!? — Mariana fita, arregalada, um anjo branco e luminoso que a guia pela mão. O anjo logo lhe fala: — Há mais de dois mil anos, nasceu um menino, mas não um menino qualquer, Ele era o filho de Deus. Um anjo chamado Gabriel apareceu a Maria, dizendo que ela teria um filho, e que este filho seria o Salvador da humanidade e seu nome seria Jesus. Diz na Bíblia, no evangelho de S. Lucas, que “Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Subiu também José, da Galileia, da cidade de Nazaré, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve 25
o filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou na manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”. Estamos em Belém, Mariana, no dia do nascimento de Jesus. O dia de Natal. — Mas por que me trazes para aqui? O que viemos aqui fazer? — pergunta Mariana, que continua sem perceber o que faz naquele lugar. — Mariana, quero que saibas que todos ficaram muito felizes com a chegada do filho de Deus. E que é por isso que devemos celebrar o Natal. Pelo Nascimento de Jesus, que um dia andou pela Terra, curando e falando de amor, mas foi preso e entregou a sua vida numa cruz, por todos nós, para nos salvar. Sem se aperceber, lágrimas soltam-se pelo rosto de Mariana: — Ah, então é por isso que se celebra o Natal… não conhecia esta história, os meus pais nunca me contaram… Também, eles nunca têm tempo para nada, quanto mais para contar histórias. Eu acho que os meus pais são muito egoístas. O anjo conforta-a: — Não penses assim Mariana. Todas as pessoas têm, e os teus pais também, bondade no coração, nem que seja lá num cantinho, há sempre um pouco de bondade que espreita. Muitas das vezes, o que acontece é que as pessoas passam a vida numa verdadeira correria, nem têm tempo para o mais importante. E muitos há que só param para pensar no que os rodeia quando algo de mal lhes acontece, então aí o mundo desaba nas suas cabeças e é quando se 26
apercebem que tudo está errado no mundo em que vivem. Será que as pessoas modernas e inteligentes de hoje em dia já não se lembram do Natal de Jesus? Será que preferem presentes e outras coisas materiais? Mariana começa a encontrar sentido nas palavras do anjo: — Então isso quer dizer que somos muito materialistas. Eu também sou, anjo, peço perdão. Valorizo mais os presentes e a festa, embora me aborreça demasiado a festa que a mãe e o pai oferecem aos amigos no Natal… Mas, de certeza que os meus pais conhecem a história, que sabem o que é o Natal! — De que adianta saber o que é o Natal? De que adianta saber que 25 de dezembro é Natal se Jesus ainda não nasceu no coração dos homens e tornou suas atitudes verdadeiramente cristãs? Atitudes de amor, paz, tolerância e respeito. O significado do Natal é simples, Mariana. E quem não entende quem foi e o que ensinou Jesus, vive um Natal vazio. Nunca te esqueças Mariana. Não vires as costas a Jesus. Consagra a tua vida a Ele. — Mas, e os meus pais, anjo? O que faço com eles? Como faço para que eles se voltem para Jesus? Para que entendam, e vivam, o verdadeiro espírito de Natal? — pergunta Mariana, aflita. O anjo sorri: — Basta que peças isso de presente a Jesus. Pede a Ele que este Natal aconteça um milagre na tua casa, na tua família e todos se unam e possam ter o melhor Natal da vossa vida. 27
— Como é que eu posso pedir a Jesus? Eu nem o conheço… — É simples, querida Mariana. Pede em oração e Ele te ouvirá. A oração é como se conversasses com os teus pais, mas conversas com Jesus… Mariana interrompe-o: — Só espero que Jesus me oiça mesmo, porque às vezes os meus pais… O anjo não a deixa continuar: — Não, Mariana. Jesus vai te ouvir. Queres orar comigo? Mariana aperta fortemente a mão do anjo e oram juntos: — Senhor, que na Noite de Natal, Jesus possa nascer nos corações dos que ainda não o conhecem de facto. Que as pessoas possam olhar para dentro dos seus corações e verificar se Jesus realmente nasceu no seu interior. Que andem com Ele e nunca O abandonem. Obrigada Jesus, porque nasceu e nos trouxe a esperança. Obrigada Jesus, pelo seu grande amor. Obrigada Jesus, pois sabemos o que é o Natal. Relembra a Sua vinda para nos salvar. Obrigada Jesus, nosso Salvador, Deus de Amor Maravilhoso.
NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.
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Augusto Filipe Gonçalves, de trinta e sete anos de idade. Natural e residente em Penafiel. Licenciado em Direito, Pós Graduado em Ciências Forenses, Investigação Criminal e Comportamento Desviante e Mestre em Ciências Jurídicas, Internacionais e Europeias. Jurista de profissão. Tem várias formações a nível de escrita criativa bem como a nível de guião e argumento. Autor do livro: Sofia, A Visão Poética Filosófica Coautor de diversas antologias e revistas web em Portugal e no Brasil.
SILÊNCIO, ESTOU-ME A INSPIRAR Silêncio, estou-me a inspirar, Sim, assim consigo sentir, Minha alma fluir, E inspiração encontrar. Oh tanta tranquilidade, Que soberba e saborosa, Assim a delicio de forma vagarosa, Sim, chamo-lhe felicidade.
Felicidade porque me inspira, A escrever, melhor a poetizar, Nada nem ninguém este momento me tira, Para me conseguir elevar. Sim, é importante, Por vezes ficar distante, Do mundo em movimento, Para aproveitar, Conseguir encontrar, Tão doce e imenso sentimento. 29
Carlos Vilarinho. Advogado e poeta. Pai do Ícaro, do Martim, da Ana Clara e do Théo. Reside em Palmeira das Missões – RS. - Coletânea 501 Poetrix para ler antes do amanhecer. - Coletânea Fagulhas Poéticas, vol. II. - Antologia Poetrix 5. – Livros individuais: Meia-lua, ed. Viseu/2018, e Sentimentos Indecifráveis (2008 – Ingrapal). – Coluna “Poesia do Vila” no jornal A Madrugada de Palmeira das Missões /RS. - Publicações no site Recanto das Letras – recantodasletras.com.br/autores/vila; no Twitter (@chevilarinho), no Instagram e no Facebook.
PARA OS QUE FORAM DORMIR MAIS CEDO A madrugada se anunciava quando saímos de um baile, ou de uma festa. Insisti que era cedo, dava para encontrar alguma coisa aberta. Estava cansado e foi para casa dormir. Caminhei um tempo, a deambular. Quando notei, amanhecera, um céu oprimido, tão próximo, tão concentrado e restrito, cansado, e ainda, ao que parecia, longe de casa, pensei – a esta hora deve estar dormindo tranquilo e eu aqui numa rua infinda, invulgar, num relance desconhecida. Tive um fio de inveja. Mas continuei a andar. Pela manhã avisaram que João havia falecido, naquela madrugada, após dias de luta no leito cândido da solidão asseada e alheia do hospital em Passo Fundo.
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A VIAGEM Cristiane Ventre Porcini
Naqueles tempos, viajávamos em família. Havia uma cidadezinha que gostávamos de ir para comer peixe a beira de um rio. O café da manhã, no pequeno hotel, tinha o sabor da alegria. A mesa era longa e nela serviam: bolos, frutas, sucos, tortas, coalhada – e ficávamos ali planejando os passeios para mais tarde. Aquela cidade tinha um quê de especial. A terra avermelhada tingia a sola de nossos sapatos, e nas águas agitadas do rio às vezes conseguíamos ver os peixes pulando – era a piracema, o período de reprodução dos peixes. A palavra piracema vem do tupi e significa “subida dos peixes”. Eles se deslocam às vezes para regiões dos rios com ervas para desovar. À noite, caminhávamos na pracinha central, onde havia um pequeno coreto. Lá, encontrávamos um incrível sorvete de milho verde ou um delicioso doce para saborear. Os restaurantes que serviam maravilhosos peixes assados no espeto eram bem disputados. Às vezes, formava-se fila para esperar vaga em uma mesa. O peixe servido vinha de outra região, e eram acompanhados por uma crocante polenta frita. Passávamos bons momentos lá. 31
Havia um museu onde podíamos ver vários bichos embalsamados – embora eu preferisse vê-los vivos. Mas, o passeio no museu tinha lá algum encanto. Talvez no setor em que podíamos ver grande diversidade de espécies de borboletas. Em uma tarde, passeando próximo ao rio, fiquei encantada ao ver um rapaz que pintava para vender belíssimas paisagens no azulejo. A tarde seguia tranquila e nos esquecíamos das horas olhando para as águas agitadas daquele rio. Elas corriam, seguiam firmes, contínuas, precisas em seu curso. Tirávamos fotografias que depois pareciam idênticas, mas registrar aquele imenso rio e aqueles momentos fazia-se necessário. Como é maravilhoso olhar depois as fotos de uma viagem, de um passeio e lembrar de momentos tão bem aproveitados. As viagens, sejam elas para o interior ou praia, sempre trazem recordações que levamos para a vida inteira. Conheci pessoas que viajaram o mundo inteiro, e uma que morreu sem realizar o desejo de conhecer o Rio de Janeiro. Meu pai gostava de pegar estrada. Algumas cidades por onde passamos subíamos serras, às vezes cheias de curvas, mas ele dizia que era uma oportunidade para encher os pulmões de ar puro. 32
Sim, nas serras, às vezes, sentíamos o perfume dos eucaliptos, avistávamos pinheiros, montanhas, e nossos olhos descansavam no verde da paisagem. Certa vez, fui visitar uma cidade litorânea do sul do Brasil e quando pus meus olhos na imensidão do mar fiquei emocionada com as nuances de azul. O poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) escreveu “O mar é a religião da natureza”. Hotel, mala, passagem, ônibus de viagem, carro de passeio, máquina fotográfica ou celular, roupas, chapéu, óculos de sol, protetor solar, carteira, biquini e disposição para ser feliz talvez sejam ingredientes para uma lista de viagem. Não sei se a vida é curta demais ou ainda haja tempo, mas os bons momentos em família sustentam a nossa existência, elevam nossos pensamentos, confortam nossos dias. Cora Coralina escreveu lindamente sobre a colcha de retalhos, e eu concordo com a escritora, pois o que vivi me acrescentou: as recordações dos lugares, das pessoas, das comidas como uma colcha de pequeninos pedaços.
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Cristiane Ventre Porcini Moça com turbante
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A CASINHA DE MARIA Elisandra Corrêa de Campos É uma casa simples Uma casinha de boneca Colorida por fora e muita doçura por dentro Decorada de rosa, alguns tons em cinza Assim é sua cozinha Não entende de cores, mas combina tudo com a alma Que alma rica! Assim é Maria Sempre com biscoitos na latinha Para servir quem a visita Vaidosa e sempre arrumada, Maria e também sua casa. Flores na entrada e rosas... Ah! Essas de todas as cores! O perfume natural da entrada aos fundos Lá no quintal uma horta e também seus temperos Podemos dizer que ali tem a saúde em um pequeno mundo Em cima do muro um gato, lindo de olhos azuis como o céu Do outro lado um cão, tão dócil como Maria Ambos apareceram em sua porta lhe pedindo pousada Entraram e nunca mais saíram... Por que será? Não é difícil imaginar... Onde encontra amor não existe partida Assim é Maria 35
Elizandra Sabino nasceu em São Pedro de Turvo/SP e mora em Ourinhos/SP. É professora na Secretaria Estadual do Estado de São Paulo. Cursou Letras/Inglês nas Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO) e Pedagogia na Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Concluiu PósGraduação, especializando-se em Estudos Linguísticos e Literários pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e Gestão Escolar pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE).
TARDE DE DOMINGO Final de tarde de domingo Preenchida pelas crianças Conectadas a tudo a sua volta Os portões que abrem As janelas que se fecham Quem chega Quem sai E quem sempre fica As mãos velhas que acendem E apagam a última luz Que sobe E sobe
Reunidas na calçada Falam ao mesmo tempo E confabulam isso e aquilo E compartilham segredos E inventam histórias E riem na maior alegria E correm todas juntas Atrás da pipa colorida Feita de papel imaginário
E sobe Rabiola p’ra lá e pr’a cá Enchendo a rua inteira De fantasia de criança.
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Fernando Manuel Bunga é um haicaísta angolano, nascido aos 04 de outubro de 1997 na Província de Uíge, Município de Bungo. Dedica-se ao estudo e a prática do haicai tradicional; tem muitos dos seus haicais e haibuns publicados em revistas, jornais e antologias. Fernandobunga8@gmail.com
HAIBUN Tarde do dia tépido. Após ter feito os deveres de casa, vai ao sofá, em frente do televisor, vai assistindo "La Casa de Papel". No lugar das pipocas, esbalda-se na jinguba* torrada, em cada bago na boca, vai desfrutando do momento. Surge a irmã mais velha com um pedido especial: - vou sair, mas não demoro! Fique atento ao bebê, deixei-o a dormir. Momento publicitário, levanta do sofá, vai ao quarto dar uma vista de olho ao bebê. Já no quarto e ao pé do berço, surge um largo sorriso no seu rosto, de queixo caído e com as duas mãos cruzadas no lado esquerdo do peito, dá um oh! contínuo diante do que vê...
Sesta no dia tépido O bebê de punho cerrado coça o seu nariz *Amendoim.
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Gisela Lopes Peçanha é natural de Niterói, RJ. Escritora, cantora. Premiada em diversos concursos literários de Universidades Federais Brasileiras, a citar: Universidade Metodista de Piracicaba, SP (1º Lugar, em 2015 e 2016); Universidade do Pampa, RS; Universidade de Brasília (menção honrosa, 2020); Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (2º Lugar, 2018); Finalista: UNIFEBE, SC; UNICAMP, SP; UERJ, RJ - 2020. Prêmio Rubem Alves - 1º Lugar - Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto SP, 2015. Prêmio Machado de Assis - Menção Honrosa - Concurso Internacional Confraria Brasil – Portugal, 2015. Terceiro Lugar – Concurso Literário Internacional Castro Alves – Academia Rio-Grandina de Letras – 2021 (RioGrande, RS). Conquistou mais de 115 prêmios literários. Publicou em 65 antologias, a nível nacional. Membro da CAL - Comissão de Autores Literários – 2021. Acadêmica efetiva - Titular da cadeira de número 36 RJ Patrona: Hilda Hilst - Academia Internacional da União Cultural. Contato: giselamusik@yahoo.com.br Facebook: Gisela Peçanha
ANIMA Eu sou um homem, mas tenho os olhos úmidos; Quando vejo um pássaro azul, enxergo liberdade Se encontro uma foto amarela, me dói saudade. Sou assim: um homem de barba de ferro, e coração de casca. O mundo me açoitou e me expulsou da arena Eu não era um cavaleiro nem um samurai, ou um cangaceiro Preferia poemas, e vinho branco derramando sobre a seda. Me sentia, um cume final, no escuro do planeta.
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E, por ser assim, homem terminal Vaguei pelo meu mundo, olhando para tudo Buscando a mim mesmo, descortinando espelho Sem encontrar quem morava em mim.
Minha alma... Uma ninfa, uma dama, água viva bailando No oceano bravio, Procurando pérolas em espumas macias Nadando, voando, percorrendo léguas de mar! Na ribalta iluminada, aonde bebi o meu luar. Minha couraça não é de sal, é de mármore; Minha casca, hóstia rasgada pelo anzol E eu, sou um peixe que vaga Ou apenas, uma mulher que se guarda: Água doce em meus sonhos e veias Dentro da moça que me mora dentro — Vestida com as joias do reino. Morada na água, canto de amor refinado Solitária, em sua vida de aquário E eu, submergindo por ela: Ora sem rumo, ora encontrado. Partindo correntes, soltando meus mastros! Sem coturnos, botas ou arreios Sem pernas a caminhar nas areias... Serei-a? 39
Hélio Guedes de Oliveira: Membro e Diretor da Academia Brasileira de Poesia (ABP). Membro Efetivo da Academia Internacional da União Cultural, Membro Titular da Academia Madureirense de Letras (AML). Poemas, contos e crônicas publicados em várias antologias, revistas e blogs especializados no Brasil e no exterior, redator e responsável pela consolidação do conteúdo de duas edições do Dicionário do Petróleo em Língua Portuguesa (Brasil, Portugal, Angola e Moçambique) pela PUC-Rio / Editora Lexikon. e-mail: falecomhelioguedes@gmail.com
Que espeta a árvore, Que agarra o ar, Que abraça as folhas, Que acariciam a flor, Que guarda a fruta, Que beija a semente, Que bebe da terra, Que se lança à chuva, Que explode nos veios, Que alimentam a raiz,
A RAIZ Que agarra a árvore, Que espeta o ar, Que acaricia as folhas, Que abraçam a flor, Que beija a fruta, Que guarda a semente, Que se lança à terra, Que bebe da chuva, Que alimenta os veios, Que explodem em raiz,
Que acolhe a árvore, Que enternece o ar, Que sopra as folhas, Que acalentam a flor, Que protege a fruta, Que embala a semente, Que busca a terra, Que enamora da chuva, Que caminha nos veios, Que se tornam raiz. 40
IRACI JOSÉ MARIN é professor aposentado (RS) e advogado em Caxias do Sul. Publicou contos em diversas Revistas e obras de ficção, bem como artigos e obras de pesquisa sobre a etnia polonesa. Acaba de lançar HISTÓRIAS DE ONTEM, com textos curtos para o mundo infantil e juvenil.
APRENDIZ Seu João era ferreiro. A ferraria ficava ao lado da casa onde morava e ambas eram de madeira, sem pintura. Era uma das poucas casas de um vilarejo perdido entre morros, na beira de um riacho. O ferreiro era uma pessoa valorizada entre os habitantes do lugar porque fazia instrumentos para o trabalho na lavoura: facões, enxadas, arados, foices e até ferradura para cavalos. Mais tarde, descobri que sua importância ia além disso. Inúmeras vezes eu observava o trabalho dele. Às vezes, ajudava. Quando percebia o vento saindo do fole que puxava, fazendo o carvão ficar brasa, eu sentia uma espécie de triunfo e vibrava. Seu João colocava o ferro no braseiro e esperava avermelhar, depois batia com força nele, em cima da bigorna, dando-lhe forma. Dali saía um facão, uma enxada, uma foice. Às vezes, ele ia bem cedo até um pequeno bosque próximo ao riacho para fazer carvão. Certa manhã eu fui ver como ele fazia. Abria um buraco na terra, comprido e pouco fundo, e enchia de galhos de árvores e tronco de arbustos. Depois, cobria tudo com a mesma terra do buraco. Colocava fogo nos gravetos 41
secos esparramados sobre a lenha verde. Levantavase e ficava olhando. Logo começava a sair fumaça pela terra e ele sorria, fumando tranquilo um palheiro. Retornava para a ferraria e, no final da tarde, ia ver o resultado. Eu ficava intrigado porque saía fumaça da terra... Depois de várias vezes observando o seu trabalho, um dia perguntei: - Por que tem fumaça e não tem fogo, seu João? - O fogo fica lá dentro, secando a madeira – e apontou para o monte de terra. - Ah... – eu fiz, talvez sem entender. E seu João continuou: - Pra fazer carvão não tem que queimar a lenha. Se ela queima, desaparece toda e não dá carvão. - Ah... - Depois que esfria, eu tiro a terra de cima e recolho o carvão. Você já viu como eu faço. Era verdade. Mas eu precisava entender tudo. Então perguntei: - Como o senhor aprendeu a fazer isto? - Meu pai fazia assim e ele aprendeu com o pai dele. Seu João olhou para ver o que fazia e eu não tirava os olhos do monte de terra de onde saía uma fumaça escura com cheiro de terra queimada. E passei a pensar o que estava aprendendo com meu pai. 42
Depois de um breve tempo, ele disse: - Vivendo e aprendendo. Era o que meu pai sempre falava e é só assim que a gente aprende como se faz e como as coisas são. Olhei para o homem, depois para o monte de terra. Então me abaixei e peguei um punhado, mas logo atirei de volta, sacudindo a mão: - Está quente. Seu João riu. O seu riso me contagiou e eu ri também. Ele levava o carvão para sua ferraria num carrinho de mão com roda de madeira e a cada volta a roda rangia como um estranho instrumento de percussão. Eu o acompanhava com passos curtos e rápidos; às vezes, olhava para ele, que caminhava concentrado, pensativo. Acho que eu não pensava em nada, apenas acompanhava um homem que sabia muitas coisas. Seu João conhecia as estações do ano, as fases da lua e as voltas da terra. Ele não só sabia, mas explicava também. Eu compreendia pouco ou nada, mas gostava de ouvi-lo falar sobre as coisas do mundo e de como ele lhes dava explicação e sentido. Era um homem sabido. Sabia, por exemplo, quando chovia ou fazia sol. Dizia que, se o céu amanhecia avermelhado, ia chover; se anoitecia avermelhado, ia fazer tempo bom. Conhecia as nuvens e sabia se ia chover, bastante ou pouco, ou se não chovia. 43
Daí eu passei a observar o céu de manhã e de noite. Mas por pouco tempo. Meu interesse logo migrou para as ocupações da infância. Num outro dia, ele já estava fazendo carvão quando cheguei. Eu sabia como aquilo funcionava e não era sobre o carvão que eu queria saber. Olhei para ele com olhar de dúvida e ele percebeu. Mas fez que não viu e ficou um instante observando qualquer coisa distante. Em seguida me fitou e disse: - A vida é muito simples, viu? E a gente não precisa inventá-la. É só viver como ela vem, um dia depois do outro, do mesmo jeito que a gente caminha, agora põe um pé, depois outro, e assim vamos. Não compreendi o que ele queria dizer - e continuei ali, olhando para o que ele fazia. E era sempre assim. Ele falava, eu ouvia. Eu perguntava, ele explicava. E eu ouvia. Foi desta forma que, mesmo sem me dar conta, comecei a entender o mundo.
NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.
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A PARTIDA Juliana Leão Quando as vidas se vão a saudade é tão grande transborda e não tem contenção Só dando vazão ao choro e a dor que habitam esse coração O sentimento oceânico de vazio e solidão começam a tomar forma de um novo continente povoado por muita emoção O acalento vem aos poucos em forma de lembranças risadas, lágrimas e esperanças Misturadas à gratidão pelo legado deixado de muito amor e devoção.
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Juliana Moroni nasceu em São Carlos, Estado de São Paulo, Brasil. Doutora em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Professora, pesquisadora, poeta e contista. Publicou artigos e capítulos de livros com temática em pesquisa filosófica, bem como poemas e contos em revistas literárias, coletânea e blogs. Blog: https://fragmentosilusoes.blogspot.com/
CHEIRO DE FELICIDADE À Vanessa Lábios com contorno da lua, olhar abstraído pelo infinito, perdido na saudade de histórias delineadas pelo acaso. Simplicidade no sorriso cálido, mãos que desenham sentimentos em toques suaves feito pétalas de rosas. Corpo feito água de cachoeira, delicadamente forte como o jorrar das águas, exalando o frescor peculiar de natureza sutil, a fluir intensamente no vibrar da vida, marcando caminhos e encantando destinos com a sua inigualável presença. Alma sensível que pressente ausências ainda não anunciadas, coração que veleja em mares calmos e tempestuosos, à procura de abrigo em noites de chuva, exalando o perfume da alegria em dias de sol. 46
Cheiro de felicidade ao amanhecer, aroma da sensualidade ao cair da noite, luz que se atreve a roubar o protagonismo das estrelas em noites de luar, esperança de amor eterno suplicado nos sussurros de vozes em preces solitárias. Essência de amor transmutado em murmúrios que se misturam ao som de harpas celestiais, voz que afaga corações desesperados, aflitos e desencontrados em destinos áridos, de sonhos abandonados. Olhar de nuvem que risca histórias no céu azulsonhado, cantiga divina a ninar esperanças construídas por mãos entrelaçadas.
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Karine Dias Oliveira. Nova Friburgo/ Rio de Janeiro. Natural da cidade de Nova Friburgo/ Rio de Janeiro. Professora. Pós-graduada em: Gestão Escolar, Supervisão Escolar e Orientação Educacional; Psicopedagogia Institucional; Educação Ambiental. Escritora de histórias infantis (ilustrando-as), contos, microcontos, trovas, poesias, crônicas, etc., mas ainda não tenho livros publicados. Selecionada em inúmeras publicações, vencedora de Concursos Literários (além de menções honrosas e especiais).
PASSAGEM AOS MUNDOS
Liberdade que se preze Não precisa de passaporte Tão pouco, autorização alheia Pois, a vontade tem que ser sublime e subjetiva No provimento do fazer-se bem... Onde os ícones desse renascer Ambiciona apenas a “feliz idade”... felicidade Sem as incoerências e inconveniências do quem és tu... Quem sou eu... Quanto tempo pra isso ou aquilo À espera do porvir!
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Deslocar sentimentos É ser resiliente em Nova Era Nos desacertos e contratempos de um bom vinho Entre visitas nos mundos e contos reais Sem limites para saborear a vida Nos afetos de acolher sem desejar nada em troca Ao oferecer um ombro na escuridão Ao fortalecer o respeito Ao amar sem medidas Quando Deus proverá as bênçãos Na infinita teimosia de libertar-se ao dobrar os joelhos Ou acomodar-se, confortavelmente, na poltrona que lhe convir!
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A TERRA SOMOS NÓS. Ettel https://www.facebook.com/kryssia.ettel/ É no hoje e no antigamente que, às margens da Rio Santos, encontra-se essa gente que vive como em uma falha (no melhor sentido possível) de tempo. São os membros das 150 famílias do Quilombo Campinho da Independência, situado nas bordas do Rio Carapitanga. Quem sabe pelo costume de chutar as amarguras e driblar as adversidades- além do natural entusiasmo de muitos dali pelo futebol- há, no centro do Quilombo, um grande campo gramado. Tal peculiaridade faz com que, atualmente, o local seja conhecido simplesmente por Quilombo do Campinho. Circundados pelas fartas águas de rio e abrangidos pela mata atlântica do sudeste brasileiro, são cortados em dois pela Estrada Rio Santos. As casas simples, em ruas de terra batida e chão coberto de flores em muitos trechos estão há apenas 20km de Paraty, cidade agitada e muito turística, de indiscutível importância cultural e histórica para o país, mas trazendo em seu bojo, paradoxalmente, todo o ônus e o bônus de sua fama. Quem tem a oportunidade de ir ao Centro Histórico de Paraty e ao Quilombo em um mesmo dia nota a diferença dos ritmos e dos valores para o que esses dois grupos de pessoas consideram, vamos dizer assim, o bem viver. 50
Cada núcleo familiar possui sua casa de farinha, suas árvores frutíferas, ervas, galinhas e porcos. São muitas as espécies de pássaros; são variados os tipos de banana e palmeiras... Uma pessoa de cidade fica surpresa em ver como os sentidos podem ser todos aguçados de uma forma tão genuína, estimulados pelos sabores da terra e colorido natural. E a apenas uns 15 passos do centro do Quilombo está a via expressa com os ônibus, carros de passeio e caminhões ruidosos. Nada disso atrapalha o caminhar de seus habitantes. Pelo contrário: convivem bastante bem com o turismo frequente em seu restaurante e suas festas tradicionais. O Seu Dico e a Dona Dica são figuras fáceis de serem encontradas por ali, bem próximo ao campo. Casados há uns 50 anos, residem naquela terra “toda uma vida inteira”- (o sentido é esse mesmo, o de imensidão). Ele agricultor e ela artesã e dançarina de Jongo- a idade não a impede de seguir com sua paixão por mover-se com destreza. Enquanto fala, trança fios de palha, criando cestos e tapetes e flores, cada qual com seu ponto, seu nó, tudo tirado de sua ampla experiência de vida e talento. Outros ilustres habitantes são Dona Dilma e Paulo, artesãos e filhos de uma notável parteira local. Possuem sua loja de artes- que alguns chamam artesanato- e produzem tudo ali mesmo, com a ampla gama de matérias que a natureza ostenta. São tantas 51
luminárias, esculturas, bolsas e acessórios que em um dia seria impossível catalogar toda aquela quantidade de itens singulares. Dona Arlete tem seu bar e restaurante. Comida simples, galinha caipira com coentro do quintal, conversa mansa, um pouco de timidez e muita inteligência para fazer prosperar o negócio de sua família. Até um camping ela organizou para receber os visitantes em dias de festejo. Na última comemoração do Dia da Consciência Negra, ainda antes da Pandemia, apareceu por lá um sujeito malicioso. Em meio ao Tambor de Crioula, ao encontro de jongueiros, ao cortejo de maracatu, à apresentação de Passinho, ao desfile de beleza, ao bloco Afro Quilombo, ao Baile Black, à capoeira angola (o evento é muito amplo, tenhamos paciência com a enumeração, leitor), ao samba de roda, à Campanha pela libertação do Rafael Braga e, finalmente, ao show de Reaggae, o sujeito tentou se destacar. Bebeu mais caipirinhas de Jussara do que o corpo supunha processar, subiu no palco atrapalhando os artistas e bradou, enquanto tirava o microfone das mãos do Presidente da Associação de Moradores: “tudo isso aqui é meu, e eu vou expulsar cada um que toma banho no meu rio”. Os quilombolas e visitantes não deram palanque aos delírios do ingrato visitante. Apenas o guiaram até 52
seu carro, que estava do outro lado da pista, e o deixaram lá, dormindo com as portas fechadas para não morrer comido por muriçocas. “Vira e mexe aparece gente assim, deslocada da realidade”, disse uma senhora funcionária do Restaurante do Quilombo. “É só a gente seguir com a nossa vida e ignorar. Deixa ele passar essa vergonha sem holofote”, seguiu ela. Entre muito trabalho, tradições, amor aos seus e frescor de mata atlântica eles seguem. Passam o conhecimento ancestral, dão valor à educação formal- essa de livros escolares mesmo- e avançam, com os olhos bem abertos para o futuro, e mais abertos ainda para o passado, que os fez ser quem hoje, orgulhosamente, são. Combativos e atentos às más línguas de quem não os respeita e os reconhece, eles resistem. E vivem. Afinal, essa terra não pode ser de mais ninguém, senão deles. Porque, muito além do conceito de propriedade, eles são a terra, verdadeiramente. E disso eles bem sabem.
NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.
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Lara Machado de Oliveira Santos. Lara Machado é uma escritora iniciante apaixonada pela arte de espalhar palavras para quem quiser ler. Instagram: @laramachado345
ANO NOVO É SOBRE Ano novo é sobre renovação Ano novo é sobre metas Ano novo é sobre objetivos Ano novo é sobre novas experiências Ano novo é sobre mudanças
Em 2022 vamos realizar sonhos Em 2022 vamos mudar para melhor Em 2022 vamos ter disciplina Em 2022 vamos exalar mais amor Que esse novo ano seja marcante Marcado de felicidade e conquistas Leve como a brisa da manhã Agitado como o mar em lua cheia Brilhante como o sol do meio-dia Pleno como a humanidade em paz
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VERDADEIRO SIGNIFICADO DO AMOR Simônica Nottar
Você surgiu como suave melodia trazida pela brisa; dilatou-se no Silêncio de minha alma e fezse moldura em meu viver. Isso chama-se Ventura... Há algo em você que transparece num olhar, como estrela no Céu, atapetado de Astros e exterioriza-se num sorriso como canção tocada na harpa dos ventos. Isso chama-se Ternura... Sem olhar, você me percebe, sem falar você me diz, sem me tocar você me abraça... Isso chama-se sensibilidade... Quando me perco em labirintos escuros você me mostra o caminho de volta. Quando exponho meus tantos defeitos você faz de conta que não nota. Se enlouqueço , você me devolve a razão. Isso chama-se Compaixão. Nos dias em as horas passam lentas , sem graça e sem luz, nos seus braços eu encontro alento. Quando os dias alegres de verão partem e em seu lugar chegar o outono , cobrindo o chão com folhas secas e o verde exuberante cede lugar ao cinza, nos seus braços encontro Harmonia. 55
Isso chama-se Aconchego... Quando você esta longe, no espelho da saudade eu vejo refletida a certeza do reencontro. Nas noites sem estrelas quando a escuridão envolve tudo em seu manto negro, você me aponta a carruagem da madrugada, que vem despertar o dia com suas carícias de Luz... Isso chama-se Esperança... Quando as marés dos problemas parecem tragar em suas ondas as minhas forças, em seus braços encontro reconforto. Se as amarguras pairam sobre os meus dias, trazendo desgosto e dor, sua Presença me traz tranquilidade. Você é um Raio de Sol nos dias escuros... É um falcão e águia que enfeita a amplidão azul... Você é alma e é coração. Um poema e uma canção... É Ternura e Dedicação... Nada impõe, tudo compreende, tudo perdoa... Sua companhia é doce melodia, é convite de viver... ... E tudo isso chama-se Amor! Surge depois que as nuvens ilusórias da paixão se desvanecem. Que a alma se mostra nua, sem enfeites, sem fantasias, sem máscaras... O amor e esse sentimento que brota todos os dias, como uma rosa que explode de um botão ao mais sutil beijo do sol... Isso, sim, chama-se Amor! 56
ALMA DE PARTIDO Luís Amorim facebook.com/luisamorimeditions Uma das maiores partidas Que se podem ver sorridas Têm origens sortidas Nas agremiações concorridas Por numerosa gente A querer subir diferente Na vida rapidamente À conta do escolhido Político, isso mesmo, partido. Para seu desejo válido Até dá seu rosto pálido Ou que preciso seja De modo que se veja Em alta pelo grupo Sem político apupo Havendo possibilidade De o aceitar na verdade Desde que haja qualidade Na sua posta existência Dispensando coerência Conquanto haja mais Dos belos lucros ideais. Na subida ao firmamento Sem contrário vento 57
Anseios de seu partido Serão o maior pedido Que poderá ser feito Em singular a preceito Acedendo desde a palma Até profunda alma Unida ao seu partido Com sede de poder A ser no agrado, bebido Tudo a bom valer Ao final desiderato ter Nem que alma venda Mediante certa venda Que lhe tape olhos E convicções aos molhos Fazendo as listas Com todas as pistas Se preciso for, às vistas De tantas cristas Escondendo pessoa Em plural que não voa E criando outras à toa Como gente boa Que nunca destoa. Tudo pelo partido Com orgulho dorido Mas em frente calma Como obediente alma. 58
Marcos Pontal. Em setembro de 2020, o escritor ganhou o concurso literário internacional “Poesia solidária”, concurso esse, que foi realizado por um morador do país “São Tomé e Príncipe”, em março de 2021, foi finalista do Festival Internacional de Cinema Cristão na categoria "Melhor roteiro não produzido". Site: www.velivros.visaoespiritual.com.br
FRONTEIRAS
As fronteiras são onde nossos ancestrais, atravessaram de formas legais ou ilegais. Essas pessoas compõem o Brasil nos tempos atuais, trazendo diversidade no interior e nas capitais.
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CARTOGRAMA Margarida Correia
Mostra-lhe para que lado tomba o teu coração, quando, na histeria da espera, te fugiram os olhos e ataste as mãos à nuvem que por ali passava. Foi na estação entre os son(h)os e nem sabes onde colocaste a caneta ou a folha onde sempre lhe escreveste. Mais vale morder-lhe os pés atear-lhe fogos na pele soprar o vento de mansinho, o arrepio em cada poro, ou criar remoinhos para o seguir do que ficar a lançar baldes de água às ausências das feridas, na ânsia de permanecer inteiro.
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Mônica Monnerat, professora de Língua Portuguesa, residente em Santos, possui especializações em Educação de Jovens e Adultos, Gestão Escolar e Educação a Distância. Com a pandemia, começou a escrever gêneros textuais diversos.
TRÊS HAIBUNS ZÉ CACHAÇA Zé Cachaça levava uma vidinha difícil naquela terrinha esquecida por Deus. Ia à missa aos domingos, e roubava as moedinhas na sacristia. Depois ia no boteco do Nhô Chicão e gastava os trocados com pinga, daquela bem ardida. À noite vagava sob a luz das estrelas com seu cão. Dormia na calçada de barro, coberto com a manta furada doada por dona Veva. Um dia, alguém lhe disse pra tentar a vida na cidade grande, pois teria mais oportunidades. Zé Cachaça partiu. Em São Paulo passava fome, não conseguia serviço... Dez anos depois, encontrou um conhecido da terrinha. Ele lhe contou que sua cidade estava muito bonita, moderna... E Zé Cachaça voltou. Estava de fato, muito bonita sua cidade... A igrejinha era agora um shopping center. O boteco virou uma Smart Fit da vida. E nas ruas asfaltadas, dezenas de carros... Zé Cachaça sentou no gramado da praça e chorou. - Diabo leve quem deixou bonita a minha terra!!! Sobre o capim novo, o afago inesperado O seu velho cão.
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METAMORFOSE A irmã mais velha chega da escola. Durante o almoço, conta o que aprendeu na aula de Ciências: "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Surpreende- se com os pais, que não sabiam da existência de Lavoisier... mas a irmã menor, ah... a garotinha olhava com olhos de encantamento... Após a refeição vai ao jardim. Leve borboleta Vira, vira, vira, flor Flor em meu cabelo.
PRIMEIRO AMOR A boneca é largada sobre o sofá. Na tarde ensolarada, aquele vestido esvoaçante cairia muito melhor. Já vestida, percebe que o modelo fica grande demais e, ao colocar uma faixa branca na cintura, fica satisfeita. Um batom rosinha é a única maquiagem, para não dar na vista. A sandália de salto, apesar de grande, está já acostumada a seus treinos furtivos. Pega o elevador. Ao sair, o porteiro avisa que vai ligar para sua mãe. Ela dá meia volta. Tarde de primavera A menina sonhadora só tem sete anos... 62
BARROCO VIOLINO Raquel Lopes @mundopoeticodaquel A terra molhada remete a arte ancestralidade.
A terra diurna remete a fuga estrada escusa. A terra à noite luz do que foi ontem repica o sino. Delicado amigo *Concerto para violino.
*Antonio Lucio Vivaldi (1678 - 1741) Concerto for violin, strings & basso continuo in G minor, RV331
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Reinaldo Fernandes, pai de uma filha e um filho, é professor de rede pública, editor do Jornal de fato, autor dos livros “Trilhas”, “Sob Suspeita” e “Minha Vida é Reticências”. Acredita nas pessoas, nas montanhas, no mar e em lua cheia. Gosta de ler, escrever, fotografar, bater papo, colher salsinha, amora e milho verde em seu quintal. Já plantou uma árvore. https://www.facebook.com/reinaldo.13.fernandes/
GALÃ DE HOLLYWOOD Hoje tive que ir a uma agência bancária. Detesto banco, detesto passar naquelas portas giratórias que nunca querem deixar eu entrar, detesto fila. Detesto esperar. E detesto aquelas atendentes loiras, lindas, bem vestidas, maquiadas e supersimpáticas. De cara, Janaína Jaqueline dos P. Silva (vi seu nome no crachá impecável) se revelou: - Boa tarde, Rei!, com aquele sorriso branco de propaganda de creme dental na TV. “Rei” como assim? Era uma intimidade sem limites (“como o cartão Bradesco”, me diria ela mais tarde), intimidade sem limites para quem conversara uma única vez comigo. E pelo telefone! Naquele dia em que me ligou para tentar me convencer de que seu banco era minha melhor opção, que me isentaria de taxa de manutenção da conta, daria tantos dias no cheque especial sem pagamento de juros, blá, blá, blá. Posso contar nos dedos quem me chama de “Rei”: Natalina, amiga desde a infância; Gabriel, meu filho (um gozador de 12 anos, só para imitar meu irmão Shakespeare me chamando assim); minhas irmãs 64
- menos uma delas - e irmãos - menos um deles; o Padre Renê (que não sei por que já que não tenho lá muita intimidade com ele); e alguns colegas do trabalho, amigos mais íntimos. E Jana, aquela loira linda que se apresentou assim. ___ Boa tarde!, repetiu, ao perceber que eu estava “viajando” – enquanto pensava nas pessoas que me tratavam pelas iniciais de meu nome. ___ Boa tarde! Vim para abrir a conta. ___ Eu estava esperando o senhor, disse lentamente, ao mesmo tempo em que mordia levemente o lábio inferior, dando continuidade ao seu jogo de sedução. Durante todo o atendimento, esbanjou simpatia. Quanto mais demorava a conclusão da abertura de minha conta, por lentidão do sistema do computador, por inúmeros comandos que ela tinha que dar, pelas informações que ela me pedia e tinha que digitar (endereço, identidade, CPF, nome do cônjuge, nome dos filhos, escolaridade, endereço comercial, nome e telefone de uma pessoa que pudesse servir de referência, e-mail, telefone celular e operadora, telefone residencial, profissão da esposa, a quanto tempo eu trabalhava na empresa, se isso, se aquilo...), quanto mais demorava mais ela falava comigo. Perguntou pela família, qual disciplina eu lecionava na escola, a idade das crianças. Ao ver o livro que eu levava comigo, perguntou se eu gostava de ler, 65
o que eu estava lendo (era um Dostoiévski), se já tinha lido outras obras dele (não tinha mas queria ler “Crime e Castigo”). Me falou de taxa Selic, de juros bancários, que bancos eram todos iguais mesmo os públicos como a Caixa e falou até de filosofia quando citei Nietzsche: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.” “Quero ler ‘Elogio da Loucura’ do Erasmo de Roterdã”, disse. No momento em que elogiava minha cidade, que era muito bonita, aconchegante, tranquila etc, olhou a tela do computador e anunciou: - Terminamos! Vou imprimir o contrato para o senhor assinar. O que levou mais bons dez minutos. Quando me ergui da cadeira para sair do banco, ela abriu novamente aquele sorriso, correu a mão direita pelos cabelos, jogando-os para trás e deu a facada final, o tiro de misericórdia: “Só mais uma coisa: você disse que seu filho se parece com um galã de Hollywood. Acho que ele puxou ao pai: você também é muito bonito.” Não bastasse a desfaçatez de substituir o pronome de tratamento formal pelo “você”, ainda falava uma mentira deslavada: de pouco mais de metro e meio de altura, cabelos pixaim, embora cortados curtos, pele escura, nariz nada adunco, eu estava mais para Grande Otelo do que para Brad Pitt. 66
Saí do banco pensando no que não se faz para ter um cliente. Cheguei em casa, rindo da simpatia e das mentiras da gerente. Depois disso, quase não fui à agência, fazia tudo pelo celular. Fui, que eu me lembre, em janeiro de 2018, mais de três anos depois da abertura da conta, para avalizar um empréstimo de um amigo. Não vi a gerente, acho que já não ocupava mais o cargo. Encontrei Janaína anos depois, por acaso, num shopping center de Belo Horizonte. Quando me viu, sorriu – aquele mesmo sorriso de anos atrás: ___ Senhor Reimundo... Cândido Lopes! Como você está? Estava boquiaberto! Admirado por ela se lembrar de mim e até de meu nome completo. Sorri também, perguntei como ela estava, se ainda estava no banco (“noutra agência”), se tinha lido Roterdã. Ela lembrou-se de minha filha, perguntou se ela tinha concluído o curso de jornalismo, sobre meu filho “galã de Hollywood”, se eu tinha terminado “Os irmãos Karamazov” e até dos meus alunos, se ainda estavam me dando muito trabalho. Depois de uns cinco minutos de bate papo, ela mandou um abraço para minha esposa, desejou “um feliz natal”, estendeu sua mão e apertei. NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.
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Roque Aloisio Weschenfelder. Graduado em Letras, 72 anos, professor aposentado, multipremiado em concursos e projetos literários, autor de 16 livros solo, integrante de mais duas centenas de antologias. roquealoisio@yahoo.com.br www.facebook.com/roquealoisio.weschenfelder
TRÂMITES Em todos os trâmites, tramita sempre uma ideia em busca de adesões no meio em que foi colocada. Enquanto os planetas tramitam em volta do sol, as estrelas fazem seu percurso na sua galáxia. O professor tinha dito isso na primeira aula dele. Os alunos estavam prestes a sentirem a trama envolvelos, quando foram despertados de seus devaneios pela colega mais jovem. Ela disse que o professor tinha muito charme para dizer tudo isso sobre os trâmites de tudo que está condenado a tramitar. Ela quase se revoltou por causa dos risos de praticamente todos os presentes. – A propósito, professor, quando um processo tramita numa vara da justiça, ele precisa estar bem alimentado para aguentar as caminhadas pelos vários setores, pelas mãos dos advogados até, finalmente, ter o resultado de seu esforço promulgado pelo juiz – falou o colega de mais idade, já com os cabelos ameaçando grisalhar. Exatamente os cabelos passaram a distrair aquela colega bem gordinha que não deveria ter menos de trinta e cinco anos. Ela pensava o que o homem já 68
devia ter vivido, quantos amores tivera, filhos criados ou a quem precisava pagar pensão. Também lhe passava pela cabeça de que ele deveria ter o mesmo propósito dela: demonstrar que alunos com mais idade ainda podem tramitar em curso de direito, até para dar exemplo aos mais jovens de como é importante persistir e se dedicar com denodo aos estudos. O professor respondeu, olhando por cima da turma toda: – os trâmites na justiça são sempre demorados por vários motivos, sendo um deles a necessidade de o juiz ter elementos suficientes para poder julgar a causa demandada por alguém incomodado ou pelo Ministério Público. Além disso, no caso do Brasil, há muitas leis que precisam ser todas levadas em conta antes de ser dado um veredito. Em seguida ele retomou o fio interrompido com as duas observações dos colegas. Todos os alunos estavam olhando nele, fazendo conjeturas de como ele deveria agir com relação às cobranças de trabalhos, de como o descreveram para os amigos quando estivessem tramitando numa festa na boate, ou esperando os trâmites de um rodízio de pizzas. “Ah, as pizzas” imaginou a colega que trazia a maior bolsa de todas as mulheres da sala, “que dizem virar muitas causas, principalmente quando os trâmites ocorrem no poder legislativo!” Vereditos! Algo muito grave, demorado demais, quase sempre, para quem espera o devido castigo por 69
um crime cometido contra alguma pessoa muito cara. Tantas vezes, toda uma coletividade espera pelo veredito sobre alguma autoridade, que, no uso de sua atividade, política, ou não, com um crime contra o erário causou prejuízos incalculáveis aos cidadãos por dificultar o devido funcionamento dos serviços públicos. São trâmites demais para conseguir fazer uma cirurgia a quem teve diagnosticado um mal, para vir a verba necessária na construção e manutenção de um prédio escolar, para feito o asfaltamento ou a recuperação de uma estrada cheia de buracos. O professor de direito constitucional encerra a fala e recomenda a leitura de um artigo de 30 páginas num PDF que ele disponibiliza na rede. Os trâmites da aula de hoje terminaram. O assunto tramitará nos pensamentos dos estudantes, pelo menos até amanhã, quando outros dois professores levarão ideias a tramitar na turma. Depois de vários anos, finalmente, um diploma de advogado será o veredito de todos os trâmites do curso de direito, e, então, começará um novo trâmite para todos eles: a prova da OAB, que garantirá, se o candidato conseguir aprovação, que ele seja um agente de muitos trâmites na justiça brasileira.
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INVERNO Rubem Marques A promessa atinge a concretização Com o adensar de um beijo gélido, Quando nos apercebemos de nós próprios, Já nos vemos envolvidos na sua circunstância. Vem-nos tocando discretamente, Com as mãos feitas de dias cinzentos, Até o cerco do vento Apertar o abraço frio. A partir daí, não há volta a dar, Chegará a chuva que encharca o mundo inteiro E obriga ao refúgio. Dias cinzentos, Dias de todos os lamentos, De jogos enredados em perguntas e respostas, Sob o desígnio de uma lentidão Suficiente para investigarmos o que somos. Se me sentir triste Com esses dias de Inverno, Não me importo. A Primavera nunca seria Tão bem-vinda sem eles. Só é verdadeiramente feliz Quem já foi verdadeiramente triste. 71
Sergio Couto. Diplomata. Publicações: -As coisas não são o que parecem ser – romance – Editora Giostri; -Listen to your soul- Image poetry – fotos/textos – em colaboração com o fotógrafo Kees Cornelis – página no FB e auto publicação no site BLURB.
ESTÓRIAS MÍNIMAS NAS DOBRAS DO TEMPO Ela sente-se deslocada neste mundo. A realidade contemporânea, tecnológica, digital, mastigada, analisada, processada e pasteurizada, não é seu lugar. O mistério, em sua mente, permanece o sentimento mais belo do universo. Deseja se perder entre as dobras do tempo, onde as surpresas espreitam. De dia veste seus mais puros vestidos. A brisa brinca entre as pregas, os bordados, as fitas e acaricia sua pele. É assim que se sente mais viva. Caminha entre os majestosos edifícios de uma época de ouro, com seus orgulhosos e ricos adornos de volutas impossíveis, caprichosas torres de pontas absurdas, arabescos, guirlandas, abóbadas, altos-relevos, átrios, balaústres, colunas, fustes e capitéis, lunetas, mosaicos, pérgolas, terraços e treliças, todos completa e deliciosamente inúteis. Nas margens do lago os cisnes deslizam impassíveis sobre os picos nevados espelhados sobre as águas calmas, enquanto andorinhas aperfeiçoam suas vertiginosas piruetas aéreas. Em algum lugar do passado ou do futuro, ela habita as mansões airosas de 72
janelas escancaradas por onde a brisa e o sol penetram, movendo as cortinas de voile e iluminando os espaços secretos. Perdidamente romântica, no entanto foi incapaz de reter um amor, provavelmente por excesso de idealização. Lutou contra si mesma e contra o mundo. Por fim encontrou a paz na solidão, em seus sonhos, na tristeza. O que é o amor, ela sempre pergunta, você sabe o que é o amor? Eu não sei mais. Antes eu sabia, repete – um jogo sutil de olhares e palavras, esperanças e desejos e coisas desse tipo. Hoje ninguém mais sabe o que é nada. Nesta nossa querida, amada e ensolarada aldeia global, ironiza, quem ainda sabe o que é arte, o que é música, o que é bom ou ruim, certo ou errado? Antes tudo parecia tão claro. A arte de amar. A busca de harmonia e beleza. Mas já não existem certezas, somente discussões intermináveis e estéreis sobre forma, espaço e estilo. Talvez fosse melhor deixar tudo de lado e recomeçar do zero, sentencia. Surpreendentemente, num belo dia de outono perdido no tempo, quando já não lhe restavam esperanças, seu único e verdadeiro amor finalmente voltou. Terminaram seus dias juntos, à beira-mar. Cada manhã suas pegadas ainda podem ser vistas sobre a areia de toda e qualquer praia, lado a lado, para relembrar aos viventes que a vida é efêmera, porém 73
eterna, repetida, repetida e repetida, incansavelmente, como uma peça de teatro itinerante, mambembe, que nunca sai de cartaz e cujos atores e atrizes errantes, ao longo dos anos, vão sendo sucedidos por novas gerações de artistas.
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TRÊS FOTOGRAFIAS DE THAIS BOVO
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Thais Sousa, moradora da cidade de São Paulo, técnica e bacharela em Administração com pós-graduação em Psicologia Organizacional e MBA em Gestão Estratégica de negócios. E pelas leis do universo viajante da vida em desenvolvimento, devoradora de livros, apaixonada pela escrita e apreciadora de um bom vinho.
UM BEM Bem-visto
Benquisto
Bem-amado
Bem me quer
Quero meu bem
Amém! 78
AMOR E PAIXÃO Vera Maria Barbosa -Amor e paixão não se confundem. -Amor é criação divina, e existe para irmanar todas as criaturas; paixão é necessidade instintiva dos homens, para suprir suas carências e manter unidos os apaixonados aos seus objetos de paixão. -Amor é sentimento da alma, o mais sublime, o mais completo, o mais desinteressado. Paixão é sensação do corpo, flamejante e fugaz. -O amor dá sem esperar recompensa, e quanto mais divide, mais aumenta, espalhando bondade, compreensão e esperança por onde passa. A paixão exige sempre retribuição, e termina quando não recebe o que deseja. -A paixão pede a aproximação física; o ser apaixonado sente-se incompleto sem a presença do outro. O amor deseja a felicidade do outro, onde quer que ele esteja, pois quem ama sente-se pleno, inteiro, unido a toda a criação. -O amor é silencioso, se dá sem alarde, sem necessidade de provas. A paixão é egoísta, avassaladora, e exige constantes provas e declarações. 79
-O amor proporciona paz, enlevo, completude e desejo de doação. A paixão produz ansiedade, ciúmes, insegurança e medo de perder o objeto amado. -Quem é apaixonado tem um objeto de paixão, e vive para ele; quem ama verdadeiramente ama de maneira indistinta a tudo e a todos, irradiando o sentimento do centro de seu ser em todas as direções. -A paixão implica em monopólio, em direito exclusivo sobre outrem; o amor é liberdade, é deixar o outro seguir seu caminho à procura de outros amores. -A paixão sempre termina com o tempo, porque acontece no tempo e seu objeto é externo; o amor nunca acaba, porque faz parte da essência do ser que ama, que é atemporal e eterno. -Amor é como a luz do sol, sempre constante, dividindo-se igualmente a todos, e não se extingue, quanto mais dá, mais se multiplica; a paixão é como fogos de artifício: ora brilha em explosões multicores, ora se apaga, deixando o ser imerso nas trevas da carência. -A paixão subsiste na Terra. O Amor reina em todo o Universo. 80
Tema do próximo número:
“Mãe, mulher."
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