Revista n 10

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Em forma de homenagem à Mulher/ Mãe, a nossa revista Ecos da Palavra decidiu dar voz aos escritores, Poetas e Poetisas, para que, neste mês de março, (início da primavera no hemisfério Norte), abril e maio sejam meses de celebração da vida feminina, dos rostos que marcaram a nossa infância, a nossa vida. Ao lado dessa figura única, amada, às vezes frágil ou dona de uma alma divina que acredita na mudança universal para a melhoria de qualidade de vida de todos. Possuidora de um coração único, com o qual podemos rir ou chorar, brincar, ficar sérios, imensas histórias para encantar ou compreender... Um grande obrigada a todas as mulheres e mães pelo seu poder e empoderamento, mesmo nas brumas de dias.

A direção geral Diretora editorial

Catarina Dinis Pinto Ecos da Palavra


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ENTREVISTA COM ADRIANA MAYRINK

Ecos da Palavra: Quem é a escritora Adriana Mayrink por Adriana Mayrink? Adriana: Com o olhar subjetivo do ser Mulher, traduz os conflitos e sutilezas de uma alma intensa, múltipla, errante e efêmera. Evidencia em frases, expressões e percepções uma alma inundada que transborda de encantos e desencantos sob o mundo e si mesma, um despertar de emoções, em diversas fases do tempo. Vivências, olhares, sentidos, símbolos, experiências, conflitos e percepções, no real e no imaginário são ferramentas que utiliza para deixar fluir o que sente


ou cria, nesse ir e vir por entrelinhas. In-Confidências, ecos, gritos silenciosos em um caminho de in-certezas, in-sensatez, in-coerências, in-quietações e impermanências. O i-material, que se revela, e desnuda o que tenta ocultar. Reflexos, sombras e luz. Nunca a escuridão total, apesar do abismo, do breu, do inperceptível. Conexão do efêmero e da casualidade, de uma mulher errante, serena na aparência e em redemoinhos no lado de dentro, que voa e recriar-se nas asas de um pássaro que a traduz e que usa como símbolo na busca incansável por abrigo, talvez, de si mesma, in-finita-mente. Acho que a Adriana Mayrinck tenta nas palavras ancorar e materializar esta efemeridade e a liberdade que tanto a caracterizam em seus textos e brinca com a dualidade das palavras e de si mesma. E faz um convite aos leitores: "Minhas palavras não são para ser lidas. São para ser sentidas."


Ecos da Palavra: Caso tivesse a oportunidade de escolher um escritor da Literatura Portuguesa, para juntos tomarem um café e conversarem por uma hora inteira, quem seria? E se fosse um escritor da Literatura Brasileira? Qual o motivo dessas escolhas? Onde aconteceriam esses encontros? Adriana: São muitos com quem eu gostaria de conversar, sou fascinada por literatura. Mas para escolher apenas dois nomes, acho que seriam: Escritor português, Fernando Pessoa, às margens do Tejo, em Lisboa. Tenho curiosidade sobre estas diversas facetas e personagens que ele criava em seus heterônimos e como se sentia em relação a cada um deles. Escritor brasileiro, Paulo Coelho, por todo o caminho que fez desde a época do Raul Seixas até os dias de hoje, no Forte de Copacabana. Ambos em um final de tarde, ao pôr do sol.


Ecos da Palavra: Quando você escreve, pensa no leitor? Ele chega a influenciar nos seus escritos?

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Adriana: Primeiro penso se está fazendo sentido para mim, se é apenas um desabafo criativo para ficar na gaveta ou se deve ser mais trabalhado, lapidado, sentido, revisto para ser partilhado. Quando assumimos que aquele escrito deve ser mostrado a alguém, temos que ter a consciência da imensa responsabilidade literária e também ter o desprendimento para a aceitação ou não do leitor. Não sou de me deixar influenciar, sou muito crítica e me cobro muito, se gostei e tive prazer em ler o que escrevi, fico estimulada em continuar a criar. Acho que escrever é muito pessoal e respeito demais a opinião e a liberdade do outro para gostar ou não do que escrevi. Não penso no leitor no momento criativo, penso nele depois que me permito publicar, se vai ser tocado, de alguma forma pelas minhas palavras.


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Ecos da Palavra: Suponha que você acabou de escrever um livro e gostaria muito que um grande artista fosse o autor da capa. Quem seria?

Adriana: Tem tanta gente boa! Nossa! Que difícil citar um nome... Amo arte! Vou responder pensando no inatingível, tá? Seria injusto com tantos artistas fantásticos que conheço. Sou apaixonada pela arte da Cristina Oiticica, a transformação que faz na própria criação, usando os elementos da natureza e do tempo, me identifico muito com ela e acho que seria quase que uma fusão entre a imagem e a palavra. Mas tem a Beatriz Milhazes, adoro as cores e formas abstratas e geométricas que usa e poderia dialogar bem com o "livro". Seria incrível e imensa honra ter uma exposição destas artistas agregadas ao lançamento de um livro meu.


Ecos da Palavra: Conte-nos um pouco sobre os projetos Mulherio das Letras e In-Finita Editora.

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Adriana: A In-Finita foi fundada em 2008 no Brasil para produção cultural e desde 2017, mudamos para Portugal, viramos uma marca registrada direcionada para edição de livros e eventos e segmentamos as atividades para a área literária lusófona. Fazemos um trabalho personalizado para divulgação do livro e do autor, sejam eles, através da edição de livros (sob demanda no Brasil e em Portugal), assessoria literária (desde mentoria até um circuito com diversas possibilidades de divulgação em Portugal, para autores de outras editoras ou que fazem livros conosco), projetos literários como o Mulherio das Letras Portugal, Conexões Atlânticas e Ecos do Nordeste, entre outros, prestação de serviços para organizadores, coordenadores e editoras, além de eventos, como saraus, tertúlias, apresentação e lançamentos de livros em diversos locais parceiros. www.in-finita.com infinita.lisboa@gmail.com


O Encontro Mulherio das Letras Portugal, em Lisboa, realizado desde 2019, anualmente e tem como prioridade despertar a atenção para a sororidade e para as vozes das mulheres na sociedade, em diversas áreas ligadas à língua portuguesa, sejam autoras, escritoras editoras, compositoras, articuladoras, professoras, agentes literárias, que participam de outros movimentos e coletivos literários que se seguiram em desdobramentos do pioneiro Mulherio das Letras, no Brasil, além de diversas academias e associações. Estamos todas unidas por uma única causa, que é enraizar a mulher como ser pró-ativo, pensante, criador e em igualdade. Durante todo o ano, a InFinita cria eventos para manter o movimento até o Encontro seguinte. Em 2022, o IV Encontro Mulherio das Letras Portugal, pretende dinamizar diversos espaços em Portugal, sendo eles: Espaço Arte, em Campo Maior (Alentejo) dia 21, na Biblioteca Municipal de Setúbal, dia 26, Museu João Mário (Alenquer) dia 28 e no Palácio Baldaya (Centro Cultural em Benfica – Lisboa) dia 29 de maio, além de dois dias virtuais para contemplar as participantes de outros países. Sobre os encontros anteriores: Em 2019 reunimos presencialmente mais de 100 mulheres, na Universidade Nova Lisboa e Palácio Baldaya, com a presença de Lídia Jorge, Ana Maria de Carvalho, Isabel do Carmo, Maria João Cantinho, Beatriz Helena Ramos do Amaral, entre outros nomes, com apoio de Beth


Olegário e equipe CHAM (Centro de Humanidades), em 2020, devido à pandemia e em modo virtual foram mais de 300 mulheres participantes em 4 dias de evento e em 2021 também em modo virtual mais de 200 mulheres, além das participantes das coletâneas de poesia, prosa e conto, realizadas a cada ano. São autoras que escrevem em língua portuguesa e participam de vários movimentos literários e sociais, que vivem em Portugal, Brasil, Bélgica, França, Suíça, Itália, Alemanha, Espanha, Londres, Grécia, Irlanda, Luxemburgo, Croácia, Dinamarca, Holanda, Cabo Verde, Angola, Moçambique e até Estados Unidos. Envolvemos centenas de mulheres lusófonas, de forma colaborativa e gratuita, do universo da escrita, que contribuem para o empoderamento feminino, causas sociais e o fortalecimento da literatura em língua portuguesa. O nosso objetivo é a interação e divulgação nestes dias intensos de muita conversa, apresentações musicais, tertúlias, oficinas, performances poéticas e saraus, o olhar para a força de realização da mulher e todos os assuntos que lhe são pertinentes. Nas edições anteriores fizemos homenagem às mulheres que destacaram-se na literatura e na cultura luso-brasileira, entre elas, Alice Vieira (portuguesa que celebrou 40 anos de vida profissional), Maria Valéria Rezende (escritora brasileira e idealizadora do Movimento Mulherio das Letras), a escritora Laura Areias,


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portuguesa erradicada em Recife, falecida em 2019, com mais de 45 livros publicados. E também, Clarice Lispector e Amália Rodrigues pelos seus 100 anos de nascimento, simultaneamente, comemorados em 2020. Houve um tributo à Olga Savary (escritora e poeta) falecida em 2020 e também uma homenagem às vítimas do coronavírus. Em 2021, o Encontro foi híbrido com uma parte presencial na Livraria Barata contando com a presença das escritoras Ana Paula Tavares, Maria João Cantinho e Maria Ferreira e algumas autoras participantes das coletâneas de poesia, prosa e contos. Este ano, não haverá escritoras selecionadas para homenagem, mas sim, um tributo a todas as mulheres ucranianas. O Mulherio das Letras Portugal é um movimento espontâneo vinculado pelo nome ao movimento Mulherio das Letras Nacional - Brasil, mas de carácter autônomo, independente e colaborativo. Administrado pela produtora cultural e editorial Adriana Mayrinck (In-Finita), começou em março de 2018, em Lisboa reúne autoras que escrevem em língua portuguesa, nascidas, residentes ou que visitam Portugal para divulgar a li-


teratura e a cultura lusófona. A nossa missão é promover e criar oportunidades de encontros e fortalecer o intercâmbio das autoras lusófonas espalhadas pelo mundo, em diversas ações promovidas com o apoio do Palácio Baldaya (Centro Cultural em Benfica - Lisboa), e demais parceiros, realizamos além do Encontro anual, lançamentos e apresentações de livros, coletâneas, oficinas, saraus, tertúlias, círculos de leituras e discussões, entre outras atividades. E mantemos vínculos também com o Brasil e demais países em todos os continentes com comunidades de língua portuguesa, promovendo ações de divulgação em parceria.


Adriana: Estamos ainda na incerteza se realmente a pandemia foi controlada e agora uma guerra tão próxima. Acredito que é um tempo de muita dificuldade, sacrifícios, renúncia, perdas emocionais e financeiras, mas acima de tudo, o despertar para o outro, tempo de mais solidariedade, aprendizagem e quebra de paradigmas. Todos, sem exceção, precisaram se adaptar, recriar e alterar a forma de estar no mundo e acho que de uma maneira ou de outra foi enriquecedor. Que possamos manter a resiliência e com esperança ajudar a renovar o mundo, para melhor. Agradeço a gentileza e o convite. Parabéns pelo profissionalismo e desejo sucesso! Como dizem os portugueses, Bem hajam!

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Ecos da Palavra: Muito obrigada pela entrevista. Gostaríamos que deixasse uma mensagem aos leitores da revista Ecos da Palavra e desejamos a você uma vida repleta de alegrias. Forte abraço.


SELECIONADOS Adenilda Silva Souza..............................................16 Alysson Reis .........................................................18 Amélia Luz..............................................................19 Ana Ely....................................................................22

Ana Roque...............................................................26 Augusto Filipe Gonçalves........................................31 Carmencita Barbosa Frederico.................................32 Cesar L. Theis..........................................................33

Claudevalda Souza – Claudia..................................34 Cristiane Ventre .......................................................36 Dilma Barrozo..........................................................38 Elizandra Sabino .....................................................40

Felipe Castro............................................................43 Iteuane Casagrande..................................................47 Jenny Rugeroni........................................................49 Jerson Lima de Brito................................................52

Joyce Nascimento Silva...........................................53 Karine Dias Oliveira................................................54 Luís Amorim............................................................55


Luís Lemos..........................................................58 Luisa Garbazza....................................................61 Manuela Matos....................................................63

Nazareth Ferrari...................................................65 Neide Oliveira.....................................................66 Neila Reis............................................................68 Otávio Patuço......................................................70

Paulo Tórtora.......................................................71 Regina Alonso.....................................................72 Rita de Cássia Zuim Lavoyer..............................74 Roberto Minadeo................................................77

Roque Aloisio Weschenfelder.............................81 Rosangela Mariano.............................................83 Salete Magalhães................................................85 Sandra Ramos.....................................................86

Sinval Farias.......................................................88 Suele Gomes Ribeiro..........................................90 Taís Curi.............................................................91 Valéria Pisauro...................................................92


A LUTA PARA SER EU Adenilda Silva Souza Às vezes, é difícil dizer o que é real ou mera expectativa que criamos sem avaliar os riscos da ilusão. Por vezes, sinto-me perdida e sem saber para onde ir. Reflito por algum tempo, escrevo e mudo de ideia, eu sempre estou mudando, isso porque não sei escrever se não estiver sentindo o que está em minhas linhas no papel ou tela. Uma garota assim pode receber vários títulos, creio que nenhum seja agradável, sou a que faz drama e ama demais, mas também admito, sufoco; não por maldade de querer fazer sofrer, eu espero muito de mim e de quem tenho apreço. Sei que há momentos que tenho a razão, talvez quase sempre, mas não dá para crucificar e matar quem anda comigo. Mesmo que ainda falte muito para o lugar em que me encontro ser acolhedor. Eu me despeço a cada dia de quem fui ontem, parece esquisito mas todo dia sou uma nova pessoa. Por vezes, olho-me no espelho tentando saber o que sou, porém isso me escapa. Quando penso nas pessoas com quem convivo chego a cogitar a ideia de que sou a errada, a que não apoia e dá suporte suficiente, no entanto, eu sei que não é verdade. Eu costumo exagerar, mas há verdade nesse excesso, há tudo nesse ser Eu fora de controle, parece 16


ruim e sei que não é a melhor versão de alguém. Só que necessitamos ser algo, só não é necessário um esforço para provar e mostrar tal fato para a sociedade. Mulheres amam demais! Mulheres são demais para caberem num lugar tão pequeno que as diminua. A liberdade é mais do que apenas poder ser o que quiser, é ser aquilo que é sem medo de julgamentos. Se não sou a perfeição que esperam por que devo pagar por tal atitude? Sou apenas Eu, um ser querendo mudança e saber quem realmente sou e o que posso fazer por mim. Desejo que todas possam comandar suas vidas sem a sombra da dúvida de ser uma péssima pessoa, pois é como sempre nos fazem sentir; independente do quanto se sacrifique sempre há um erro que os outros apontam para te definir. Mulheres merecem mais! A mudança é interna, se reconhecer por completa, somos mais que um rótulo. Não devo ser definida pelas coisas que tenho e faço, essas foram colocadas a meu serviço para viver a plenitude que ser Eu representa. Talvez nos digam para adiar a maternidade e não ser mãe, pois assim aproveitaremos mais, eu vejo diferente e cada pensamento merece respeito. Ter um filho não é problema, problema é não se conhecer antes de tais escolhas; isso é liberdade, liberdade que grito para que todas tenham, não menosprezem a voz interior de vocês. Ela é a sua verdade. Seja o que é, não espere por ajuda e reconhecimento, reconheça-se e seja sua fortaleza. 17


Eu me chamo Alysson Reis, tenho dezenove anos, moro em Recife, sou estudante de Políticas Públicas, ativista socioambiental, escritor e professor de inglês. Escrevo poemas, cordéis, contos, crônicas, ensaios e outros textos. E quero te convidar a me conhecer um pouco mais: @alyssonreisgb

EDNEUSA 07/11/2021 Um diagnóstico tão difícil de receber quanto ler a letra do médico. Uma nova rotina cheia dos mesmos sufixos: oncologia, quimioterapia, radioterapia, cirurgia, mastectomia, fisioterapia. Meus olhos assustados e minhas mãos trêmulas, mas a tua calma me convenceu, a tua força de mulher, a tua proteção de mãe. E o teu desejo infantil e belo por um radinho AM/FM, quando o meu desejo era apenas a tua cura. Eu reclamando pelos cantos, e tu agradecendo por cada momento. Uma notícia boa. Um embrulho que despertou teu sorriso. Aquele radinho foi um presente sensível de uma amiga das antigas - ela acertou o teu desejo de ouvir a Nova Brasil de manhã cedo. E ele toca, arrasta a tarde e a noite ao som da música popular. Ao teu lado, pela janela da cozinha, vejo a lua sorrindo a nos espiar. Rouba a cena com sua palidez e brilho. E você deita sobre o lençol amarelo, tenta revirar e não consegue, depois levanta e vai ao banheiro, depois me pede um favor, depois volta para o quarto, depois cochila. Sorrio de volta para a lua, peço ao seu criador que te deixe aqui comigo, que não te leve jamais. E desmorono sem querer. Percebo que eu te tenho hoje, e decido construir no presente a nossa eternidade. Te amo, Edneusa.

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Amélia Luz – nasceu em Pirapetinga/MG em 30 de março de 1945. Formou-se em Pedagogia – Administração Escolar e Magistério – Orientação Educacional – Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa com Pós Graduação em Psicopedagogia na Escola e Planejamento Educacional. Participou do Curso Ler e Contar – Contar e Ler – PROLER – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro/RJ. Exerceu a missão de professor– SEE/MG e SEE/RJ tendo como seu primeiro objetivo na Regência de Turma o de despertar em seus alunos o gosto e o interesse pela leitura e pela escrita. Com criatividade desenvolvia trabalhos variados buscando levar o aluno a ler, interpretar e produzir textos. •Sua obra foi objeto de estudo pela Mestra Professora Mônica da Silva Mota Pimenta – Mestrado em Letras – Stritu Sensu - Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora/MG – CES/JF – Dissertação de Mestrado - Trabalho: Memória e Literatura, o Arquivo Pessoal de Amélia Marcionila – Juiz de Fora – 2010. É Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências – Santo Antônio de Pádua/RJ, Membro Correspondente da Academia Rio – Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro, Membro Correspondente Friburguense de Letras,– da Academia Artes e Ciências do Brasil – Mariana/MG, da SBPA – Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas – Ex-AldraviLIBRIS – Patronesse de Flávia Rohdt Academia Internacional de Aldravias Andreia Donadon Leal -Mariana/MG, Membro do InBrasCi – Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais – Mariana/MG, Membro da Academia Brasileira de Poesia – Casa Raul de Leoni – Petrópolis/RJ, Membro da AFL – Academia Ferroviária de Letras – Rio de Janeiro/RJ, Membro Correspondente de APALA – Academia Pan Americana de Letras e Artes, Rio de Janeiro e outras associações literárias no Brasil e exterior. Trabalha a palavra todos os dias na sua oficina de versos. Ama a liberdade construindo textos em prosa e verso. Incansável garimpa no baú de Camões acreditando sempre no amanhã apostando na palavra viva.

MULHERES RIBEIRINHAS Mulheres ribeirinhas, mulheres rainhas. O rio é o caminho, o casco, o remo a canoa o burburinho das águas sagradas, rio acima ou rio abaixo. Tareando as canoas vão correndo atrás da pesca ou utilizando do transporte indo para o povoado, para as igrejas, para as escolas, para festas diversas de casamento aniversário ou batizado. 19


Domingo é dia diferente, óleo de coco nos cabelos lisos ou frisados, restos de esmaltes nas unhas cansadas do trabalho e um “batom” bem vermelho além das maçãs do rosto avermelhadas de “rouge” pela vaidade, com produtos caseiros vindos da mata. Mulheres índias, caboclas, mulheres da selva, mulheres corajosas do parto de cócoras, dos chás, dos remédios dos caciques e pajés, das macumbeiras, das ervas milagrosas das rezas benfazejas. Ribeirinhas, mulheres rainhas, a paisagem é bela, as correntezas, o verde das matas, as casas em palafitas aparecendo aqui e ali e as pontes rústicas de madeira para atracar os barcos e canoas. O Tocantins imponente que tudo lhes dá de presente vai levando todos os moradores no seu leito acolhedor. Crianças, moças, velhas, parteiras, benzedeiras a caminho do arraial. O padre, a professora vão também seguindo na mesma corrente numa vida missionária de doação aos necessitados da fé e das letras. A integração regional de um outro Brasil, de uma grande Amazônia de muitas riquezas desconhecidas exploradas por estrangeiros inescrupulosos que tudo levam diante de um povo humilde que se cala na ignorância. Brasil da floresta, bordado por seculares aninguais, aturiazeiros e imensas cajaranas nas novas terras da América Pindorama. Mulheres do trabalho 20


extraem da natureza o necessário para viverem perpetuando a natureza/mãe/útero/vida. As palmeiras, açaís, muritis, andirobas, mucubeiras, mangueiras, ameixeiras, goiabeiras, castanheiras e muita borracha nas seringueiras abundantes, entre jaborandis e babaçus. Ribeirinhas, mulheres rainhas, temerosas ao ouvirem as serras traiçoeiras ao longe e o gemer das árvores que caem alimentando de seiva pura a ganância do homem da cidade grande. Aterrorizando velozmente, vai engolindo a mata a cada palmo de terra, destruindo esse próprio homem chamado civilizado. Silenciosa e ameaçada, a floresta chora. O comércio ilegal devasta tudo na ambição, num gesto de maldade contra o homem, tomando o pulmão do mundo para jogar ali rebanhos de nelore trazidos para a engorda com a finalidade de saciar o mundo de carne bovina nos frigoríficos distantes a receber a carga da boiada no ponto de abate. Punição? Fiscalização? Preservação das áreas indígenas? Respeito às poucas comunidades que restaram? Só o futuro dirá! Os olhos cegos do Planalto preferem não enxergar tamanha agressão em terras de ninguém, sem leis, sem proteção. O que Deus nos deu de verdade precisa ser cuidado antes que a última árvore tombe e tudo vire um grande deserto, fruto do criminoso desmatamento. 21


Ana Ely é uma advogada gaúcha de 25 anos, amante do terror e do caricato. Seu humor seco e suas histórias de fantasmas são o que a definem, apesar da sua carreira jurídica consolidada. Seu hobby sempre foi inventar monstros e colocálos no papel para que outros possam os imaginar no meio da noite. Hoje escreve por lazer, intercalando a vida de empreendedora com uma dose de imaginação.

AS MULHERES E O TEMPO Não conheci dona Joana por muito tempo. Quando nasci, a velha já estava meio caduca, xingando qualquer pessoa que passasse em sua frente com termos racistas ou preconceituosos. Não aceitava ajuda e, por pouco, a família não a internou à força. Não deu tempo: a morte chegou antes para ela, como uma velha amiga – ou inimiga, já que não existia amizade para ela nesse mundo. Me contaram, anos depois de sua morte, como ela era em vida. Uma mulher rancorosa, que perdera o marido cedo, para bebida e droga. Mas minha bisavó já era ruim antes de ser viúva, me falaram. Não gostava de visita e queria a todo custo deixar seu dinheiro bem escondido. De tão sovina, não fez questão de ter plano de saúde ou de fazer visitas ao médico. Dizia aos filhos que estava bem e não iria sucumbir tão cedo, que não poderia apoiar um sistema de venda de remédio para quem não precisava tomar coisa alguma. Com 73 anos, a velha morre sozinha na própria casa, de uma doença no pulmão que ninguém sabia que ela tinha. Se foi sentada na poltrona da sala, de 22


frente a um relógio velho de parede, como se esperando o dia passar, sem um passatempo sequer para ocupar a mente. Seu velório foi pequeno e vazio, exceto pelas filhas, netas e eu, a única bisneta. Já minha avó Graça fazia jus ao nome – era um doce. Talvez por observar a mãe falar barbaridades e esperar fazer a diferença no mundo. Tentava abraçar o problema dos outros como se fosse seu e nunca dizia não. Lembro-me de ouvir sua voz ao telefone, concordando com uma visita para ajudar a limpar algo, ou costurar alguma coisa, ou ser o ombro amigo de alguém. De mãos calejadas e pés cansados, ela sempre fez o que pôde pela família. Meu avô não a tratava bem, mas não havia um momento sequer em que fosse possível ouvi-la reclamando. Era muito amada pelas filhas e eu posso dizer que aproveitei muito a sua companhia na minha vida. Até hoje posso sentir o aroma do bolo de laranja que assava sempre que ia passar um final de semana em sua casa. Logo após se mudar para a casa onde minha bisavó faleceu, ficamos sabendo que Graça estava com uma doença terminal. Em poucos meses, a vimos sumir cada vez um pouco mais na nossa frente. Essa semana, apesar de vários tratamentos e até curas espirituais que buscamos para salvá-la, minha avó amanheceu imóvel em sua cama; a face calma, como 23


de recepção ao seu destino. E desse jeito, nunca mais se levantou. Minha mãe, Raquel, era um mistério. Sempre foi muito fechada e não falava nada, exceto o básico para os outros, isso incluindo a mim mesma, sua única filha. Eu não sabia o que gostava de fazer ou o que queria para sua vida. Não me leve a mal, foi uma mulher amorosa como sabia, do seu próprio jeito. Mas além de saber seu nome e conhecer sua família, eu não poderia te contar algo interessante sobre ela que tivesse saído de sua boca. Minha avó enquanto viva contava histórias de seus filhos, o que fazia minha mãe corar e virar o rosto, constrangida de ter uma parte de si liberta ao mundo. Vez ou outra, a vi balançar levemente a cabeça ao som de bossa nova. Aí então decidi tocar violão perto dela e comprei um piano, esperando que fosse despertar interesse. Nunca a vi tocar, mas respirava aliviada ao ver seu sorriso nas noites de domingo, quando eu sentava e tocava algo suave para ela. E, bem, foi minha mãe que achou minha avó na cama naquele dia. Foi tonta à sala após medir o pulso já inexistente e pálido da velha, falou para meu avô que não se sentia bem e caiu ali mesmo no chão. Não conseguimos acordá-la e ninguém conseguiu nos informar o motivo. Como sua vida, a morte veio em mistério. 24


Hoje é o funeral das duas. O salão estava lotado, e eu não consigo pensar em meio aos pedidos de pêsames e abraços de estranhos. Agora, na casa de minha avó, as pessoas começam a se despedir, levando consigo os restos de comida que oferecemos. Sento-me na poltrona da sala, e, com olhos cansados e ainda cobertos pela névoa do luto, olho para o pequeno relógio na parede. Aquele relógio, que de tão fraco nem mais fazia barulho de tic-tac, matou três mulheres nessa casa. Parece me dizer que, de hora em hora, minuto em minuto, eu chego mais perto desse destino também. O tempo passa e esse relógio teve a certeza de me dizer isso.

NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.

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Ana Roque. Sou natural de Lisboa, tenho 64 anos. Formação inicial em Secretariado e Relações Pública,.aos cinquenta anos e por gostar de pessosas, tirei o Mestrado em Psicologia Clinica no ISPA. Trabalhei vinte cinco anos em moda, e doze em Turismo. Sempre gostei de escrever, e neste momento reformada por força da pandemia, dedico-me à leitura e à escrita. Frequentei o Curso de Escrita Criativa, de Analita Alves dos Santos, segui para o Livro em Ação, onde faço parte da coletânia de contos que neste momento está a ser terminada. Faço parte do Clube dos Writers onde participo em desafios de escrita assim como Masterclasses. anacom variados escritores. Sou apaixonada pela natureza, pelo mar e bem-estar fisico e mental, fiz desporto desde sempre. Acredito que com todas as histórias que tenho em mente e no papel, um dia irei escrever e publicar um livro. @ana.m.roque.73 (instagram) Ana Maria Roque (Facebook) Ana.costa.r@hotmail.com

Mulher e Mãe Joana era mãe de primeira viagem. Embora sempre tivesse sonhado com a gravidez, esta veio de surpresa. Casada há pouco mais de três anos, sabia que a sua relação já tivera melhores dias. Recordava o terceiro aniversário de casamento em que, empolgada, preparara um jantar romântico. José (marido) nem lhe tinha dado os parabéns e ligara perto da hora habitual de chegar a casa, a prevenir para não esperar por ele, pois tinha de trabalhar até mais tarde. Quando confrontado no dia seguinte com a situação, deu uma desculpa serôdia, nada abonando a seu favor e não assumindo a sua falha. Uns meses mais tarde e após várias discussões sobre o tema casamento/divórcio e sem chegarem a bom porto, Joana está esgotada e continua a não ter grande apoio da parte de José, vê-se a braços com o dar conta do seu esforço para ser mãe com um filho de quase um ano e o 26


seu emprego de responsabilidade. E é neste registo que resolve pôr ponto final no que já não faz sentido e resolve escrever uma carta ao marido: “ Olá José! Escrevo-te após o nosso impasse na relação e de me sentir sem coragem para sobreviver em vez de viver. Não estranhes a minha ausência quando chegares a casa, onde já me sentia sozinha, tendo apenas como motivação, o nosso filho. Estive a pensar em nós e nas vezes em que te abordei, no último episódio, o teu argumento no terceiro aniversário do nosso casamento, em que me disseste “só querias ver como eu reagia”, Nesse dia confesso que ri de nervos para evitar chorar, da tua desculpa preventiva. Pelo teu comportamento distante, percebo que não queres viver comigo, o teu esforço está a ser notório, nem sei se irás sentir falta do teu filho, julgo que o amas. Tenho-me esforçado para transcender possíveis choques emocionais, para que haja efeito pacificador de uma relação futura sincera e amistosa. De ti guardo a melhor recordação, o nosso Afonso, na verdade a culpa não é tua, é nossa. Agi de forma imatura quando me apaixonei por ti. Deixei que os teus atributos charmosos tolhessem as minhas capacidades perceptivas. Não vou para longe, por agora estarei em casa da minha irmã até me organizar. Podes estar com o teu 27


filho sempre que quiseres. Entretanto vamos tratar da parte burocrática do divórcio para que tudo se possa encaixar e cada um seguir a sua vida.” Joana *** Um novo desafio surge na vida de Joana, continuar a ser Mulher e Mãe, conciliar o seu trabalho, e conseguir vir a ter, um dia, uma casa para si e seu filho. O divórcio desenrolou-se normalmente, não deixando de haver dificuldades com o que ficava para quem. Joana encarou e assumiu o seu novo papel com coragem e amor, tinha por quem lutar. Apesar da certeza da decisão, a dor não deixava de ser inevitável, era um sensação de fracasso. Passava a ser a protagonista da sua própria vida. Reconhece ter algum medo, o primeiro passo tinha sido dado. José, depois de regulado o poder paternal, poderia ficar com o filho fins de semana de quinze em quinze dias e, durante a semana, sempre que quisesse poderia buscar o menino ao infantário, desde que avisasse a mãe. Tinha tudo para dar certo! Nos primeiros meses, todos os deveres eram cumpridos com algum normalidade, no entanto, com o passar do tempo, as visitas começaram a ser escassas e as desculpas tornaram-se realidade. Cada vez passava menos tempo com o filho, que questionava a mãe sobre o pai que não chegava. 28


Joana apenas podia contar com o apoio da mãe e da irmã e desdobrava-se em duas para conseguir que nada faltasse ao filho. A rotina diária, a jornada entre emprego, casa e cuidados com o seu pequeno não lhe deixavam muito tempo para “respirar”. Sabia que ser mãe era crescer e amadurecer, era entender o propósito de vida, do amor e do sentimento pelo filho. Conciliar o papel de mulher e mãe não lhe dava espaço para si, não se lembrava a última vez que tinha feito uma saída com amigas. Um dos dias deixou o Afonso com os pais para poder ir ao jantar de aniversário de uma amiga, mas não conseguiu afastar da cabeça o seu sentimento de culpa por não estar com o pequeno. A sua herança cultural e processos familiares vividos teimavam para que não fosse fácil. Aos poucos e com o passar do tempo, tudo começara a mudar e a seguir o rumo da normalidade. Afonso fazia cinco anos e Joana tinha começado a frequentar o ginásio e a seguir um plano de dieta, já tinha perdido cinco dos dez quilos que seriam o seu objetivo. Melhorar a sua autoestima fazia com que se sentisse feliz e isso notava-se tanto a nível familiar como no emprego. Entretanto José pedira transferência para Angola, onde a sua empresa também tinha negócios. Casara e soube 29


que vinha um filho a caminho. Só via Afonso nas escassas vindas a Portugal e as referências iam-se perdendo à medida que os anos passavam. Afonso parecia um menino feliz, cada vez estava mais ligado à mãe. Foi deixando de estranhar as ausências do pai, a mãe conversava bastante com ele, explicando que o pai estava a trabalhar longe. A cumplicidade era grande e, assim, foi crescendo alegre e saudável, rodeado de amor da família que o acolhia, mimava e educava. Hoje Joana se sente orgulhosa de tudo o que conseguiu, a sua casa pequena mas acolhedora, que comprou com a ajuda dos pais, o namorado atual e a aceitação e a amizade deste com o seu filho. A que absorvesse valores e que o levassem a ser um adulto íntegro. Ser mãe, mulher, esposa, ter emprego, dona de casa, filha… não é tarefa fácil, mas tudo se consegue. Aprendemos, evoluímos e acreditamos no nosso poder.

NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.

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Augusto Filipe Gonçalves, tem 37 anos, é jurista, licenciado em direito, pós graduado em ciências forenses, investigação criminal e comportamento desviante e mestre em ciências jurídicas, internacionais e europeias. Co autor em diversas em diversos números da revista web Ecos da Palavra, bem como em diversas antologias em Portugal e no Brasil.

MULHER E MÃE Mulher pode ser, Quem a natureza vier a querer, Mas mãe é diferente, É um ato bem mais exigente, É pressuposto, Que seja ato exigente, E quem o cumpra, Seja diligente, Bastante competente, Assuma o compromisso, Cumpra com orgulho e vaidade, Pois não é tarefa com facilidade, Daí ficar contente. Sim, mãe não é só biologia, Não é só ato de parto, Vai muito mais além, Tem um maior bem, É acompanhar, É seu testemunho, Com orgulho acompanhar, De forma constante e permanente, E dizer de cara alegre, presente. 31


Carmencita Barbosa Frederico barbosa157@hotmail.com

Facebook: Carmencita Galina Escrever é despir a alma sem a deixar nua.

Mulheres e Mães de A a Z Mulheres no amor e na arte Mães bonitas sem batom ou sem buquê Mulheres da cabana ou da cidade Mães divas do seu destino Mulheres com ou sem estudo Mães acima de tudo felizes Mulheres de gabarito e que não cabem numa gaiola Mães que fazem história Mulheres que inspiram Mães, nossas joias, nosso jardim Mulheres do Karaokê Mães da lida e do lar Mulheres, a mãe do mundo Mães, o ninho da natureza Mulheres ousadas Mães, poesia, prosa, ‘paus pra toda obra’ Mulheres de qualidade Mães de respeito Mulheres de sucesso, sal e sol Mães, o tesouro para lá do tempo Mulheres, o umbigo que une Mães, o valor da vida Mulheres? Waw! Mães? Xiuuuu! Mulheres: yin-yang Mães ou não: mulheres sem zigue-zagues!

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FENECER Cesar L. Theis

Ando ocasional, inconexo, efêmero, alheio ao mundo. Tantos “eus” em mim. Vazios do concreto. Vazios de abstrações. Ao que o mundo só produz metástases, e blasé, nada me comove. Persisto a fazer resumos, sínteses de dias cinzas. Enquanto insólito me horizontalizo no tempo. Mas, não se incomode com este meu esvaecer. Meus sussurros são percebidos pelo vento, e por ouvidos atentos. E sei, haverá um tempo futuro sem nenhum eu e também... sem você. 33


Assistente Social, Especialista em Gestão do Sistema Único de Assistência SocialSUAS, Pedagoga, reside em Francisco Morato/SP é funcionária pública efetiva da municipalidade - nordestina, parda, mãe, avó que carregava em seus sonhos o desejo de se expressar através da escrita. Ficou muitos anos sem escrever, a partir de uma circunstância, a vida apresentou a poesia como uma fonte de superação, apaixonada pela leitura, amante das letras ela agarrou-se a essa oportunidade e ousou reviver seus sonhos de infância. E no ano de 2021, iniciou esse feito com participações em algumas coletâneas/antologia. Cronista no Jornal Comercial de Francisco Morato e Região. Poetisa Camaquianista - Acadêmica Imortal/ABC – Patronesse Carolina Maria de Jesus - Cadeira 39 (29/10/21), bem como, membro efetivo da Academia de Literatura Brasil/ALB - Cadeira 50 (08/11/2021) - Patrono Machado de Assis. Primeiro livro solo - DO OUTRO LADO DA JANELA. Claudevalda Souza-Claudia E-mail: desouzaclaudia3@gmail.com Instagram: @claudevaldasouza Faaebook: Claudevalda Pereira de Souza

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UMA MULHER! Uma MULHER despertando-se para o agora, decidiu que deveria se olhar por completo e na beleza do momento: ela se enxergou. Não consegue descrever as sensações sentidas. Entretanto, ela tem conhecimento que foi uma viagem espetacular, de dentro para fora. Viajou por entre seus medos e decidiu dar nomes a todos eles. Com caneta e papel nas mãos posicionou-se diante do espelho e com encanto descobriu seu grande medo. Ela não tem medo de se enxergar, conhece sua sensibilidade. O que desperta nela inquietações é pensar que no movimento cotidiano, família, trabalho e afins ela se sinta insegura, sendo obrigada a ESQUECER de sua essência, ou seja, o quanto ela, a MULHER é completa, apesar da incompletude humana. Então maravilhada, descobriu! Que para prosseguir sua vida, dia após dia, livre de todos os fardos, inquietações e julgamentos. É necessário que você MULHER saiba que está pronta para tal feito, que …O MOMENTO É AGORA… De seguir adiante, de forma plena dentro da individualidade e completude da sua alma, essência e corpo de MULHER.

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Mulher Cristiane Ventre Eu sou a gota d’água nas folhas após a chuva Orvalho em pétalas de flores A semente que germina e brota em árvore e fruto Eu sou as mãos que se unem em oração e fé A delicadeza de todas as formas e esculturas Esperança que nasce todas as manhãs As cores todas que se formam no arco-íris Criação e criatura Humilde diante das maravilhas feitas pelo Criador Eu sou aquela que caminhou Pelas montanhas e desertos durante momentos difíceis Mas renasceu no amor e no sonho de dias melhores Sou o sorriso e o abraço que acolhe E o brilho de toda constelação O girassol e um campo de trigo Sou a leoa das savanas Sou toda a complexidade e maravilha de ser Mulher. 36


Cristiane Ventre

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Dilma Barrozo. Professora da rede pública e vive em Campo Grande, Rio de Janeiro, onde nasceu. Licenciada em Pedagogia e Letras pela UFRJ, com especialização em Literatura Brasileira pela FEUC, Cultura Africana pela UEZO, e Mediação de Leitura pela UFC. Não entende a vida sem poesia e acredita que a leitura é essencial ao aprimoramento do ser humano. É mãe e avó, escritora e poeta, autora de CONSENTIMENTO e TEMPORAL livros de poesias. Participou de várias antologias de contos e poemas. https://facebook.com/dilma.barrozo https://instagram.com/dilmabarrozodb

AH, MÃE... Tenho um arrependimento: talvez por hábito, prepotência, Egoísmo, imaturidade, ou vaidade nunca olhei mamãe lá no fundo, não sei... ficava tão encantada com a inteligência de papai que me acostumei com sua imagem doméstica e não cheguei a enxergá-la plenamente via a mãe, a dona de casa, não a mulher fiquei muito triste quando ela me disse um dia do desejo de ter estudado, de ser culta, de falar e escrever bem como acha que eu e papai fazemos 38


a surpresa da revelação me fez olhar pra trás e me deixou estupefata: me fez ver a renúncia, a submissão

a transferência do sonho, a realização através do marido e filhas me doeu muito... gostaria de ter entendido antes, de ter vislumbrado antes e de ter feito alguma coisa perdão, mãe, se eu subestimei você como pude ser tão cega e compreender tão pouco achando que você não compreendia nada!

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Elizandra Sabino nasceu em São Pedro de Turvo/SP e mora em Ourinhos/SP. É professora na Secretaria Estadual do Estado de São Paulo.

A CASA DE MINHA VÓ Quem passava de tardezinha pela estrada Via minha vó varrendo o terreiro inteiro Com vassoura de guanxuma que deixava Tudo limpo, depois da poeira assentada. - Boa tarde Dona Gilinha! - Vamos apiá pr’a tomá café! No terreiro de minha vó tinha um pinheiro Muito alto e cheio de cachopa de arapuá Tinha também muitas flores bonitas Rosas, mil cores, trombeta de anjo, sapateira, Onze-horas, bambuzinho, primavera E arruda semeada por todos os cantos Ali a gente brincava debaixo de sol Debaixo de chuva e também na enxurrada. - Meu anelzinho andou, andou, em que mão ficou! Como era lindo o terreiro da casa de minha vó. Minha vó abria as janelas de manhãzinha - Acorda e levanta menina, vem ajudar a vó! Enquanto eu penteava e trançava seus cabelos Ela ia contando causos antigos de sua mocidade Tinha sido moça grã-fina e bem-educada Aprendera a ler e a escrever Com a professora dentro de casa

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-Já aprendeu a matemática, menina? E me tomava a tabuada - Agora conta mais um causo vó! E de causo em causo, eu embarcava Na emoção de suas palavras “A menina da figueira” era o meu preferido Me fazia chorar aquela história tão triste

-Xô passarinho, xô passarinho da figueira do meu pai! -Xô passarinho, xô passarinho da figueira de meu pai! Minha vó fora moça muito faceira Aos domingos, se arrumava toda bonita Passava pó de arroz e batom carmim E com saia godê acima do joelho Escondida do pai, atravessava o cafezal Pr’a dançar a noite inteira no salão Minha avó se casou por obrigação Quando os irmãos chegaram com o noivo Ela tentou fugir do compromisso Mas não teve outro jeito Que vergonha seria uma solteirona na família Tinha que se conformar e cumprir sua sina Criar os filhos e cuidar do marido até o fim Quando ele caiu doente de cama Com aquela doença brava. - O que é doença brava, vó? - Fica quieta menina, dizia baixinho! Minha vó fazia todo o serviço de casa Bordava os lenções e toalhas de saco

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Torrava, moía e coava o café Fazia biscoito no forno de barro Cambuquira, serralha e quibebe E sabia até quando ia chover.

- O tempo está mudando menina, Recolhe a lenha e coloque a paia benta P´ra queima na taipa do fogão. Quando caía a noite Minha vó acendia o candeeiro Fechava as portas e as tramelas E em frente ao oratório rezava P’ra Nossa Senhora, São Benedito E pr’o Buda também Presente do seu Jorge japonês - Coloque água pr’o anjo da guarda E depois vá dormir, Menina! Eu via seus passos vagarosos O cigarro de palha em suas mãos E a fumaça desfiando no silêncio De seus quietos pensamentos. Como minha vó era bonita! Aquele terreiro florido Aquela casa Aquela mulher Aquela vida sentida Aquela sina aceita Teciam meus sonhos Teceram a minha vida.

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Felipe Castro. Escritor, 32 anos, que depois de sair de sua cidade natal (Rio de Janeiro), estudar no interior de São Paulo e trabalhar em Brasília, acordou um dia e percebeu que estar formado em administração de empresas e ter um trabalho estável como controlador de voo da Aeronáutica ainda estaria longe da estrada de seus verdadeiros sonhos. Por isso, quis mudar tudo. Começou pelo país, depois pelo trabalho, pelas línguas, pela rotina. Viveu na Irlanda por um ano, viajou por diferentes continentes e voltou a escrever todos os dias. Perdeu-se tanto pelo caminho que acabou por retomar a estrada de sonhos quase perdidos. Publicou o primeiro livro intitulado “Livro da despedida” em 2019, terminou a licenciatura em letras (Português e Alemão) na Universidade do Porto em Portugal, morou na Jordânia, Alemanha, França e atualmente em fases de completar o mestrado em literaturas comparadas pela Universidade aberta de Lisboa e um próximo livro de poesia a ser lançado em 2022. O que vem a seguir? Insta: @versosaquastricos @feaquastro

O ABISMO DOS SONHOS DE MINHA MÃE Certo dia, meu pai viajou e fiquei só eu e minha mãe em casa. Era um sábado que parecia domingo. Mais um desses domingos cinzentos e silenciosos de um quase inverno carioca. A temperatura era amena, muitos conterrâneos chamariam de frio, eu me recuso a falar frio aos 19 graus. E chovia uma chuva leve, por vezes, como se só chovesse para exalar o cheiro úmido das águas que encontravam o solo. A minha mãe seguia sua rotina empenhada de dona de casa. Cumpria com afinco todos os afazeres com um prazer genuíno e maternal. Talvez tenha sido com a minha mãe que aprendi o que era paixão logo cedo. A paixão em fazer algo com um entusiasmo calmo de quem não se preocupa com as dores da idade ou do coração. Simplesmente faz porque ama, porque busca a perfeição despretensiosa daquele cheirinho de comida caseira, das cores em harmonia de uma cama bem feita ou do sabor doce de uma torta de morango. Tudo feito com amor. Eu a observava passar, indo e vindo pelo corredor, totalmente atarefada. Eu sabia que estava bem porque o barulho de seus passos apressados se confundia com o cantarolar tranquilo da sua voz açucarada. Era um samba antigo, minha mãe gostava de alegria, a tristeza sempre a perturbou. Mesmo quando estava triste não gostava de se sentir assim.

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– Ai, filho, essa casa tá muito silenciosa, fala alguma coisa. Coloca alguma música. – Não aguento isso! Você e seu pai, cada um fica num canto, eu não tenho ninguém para conversar. Não aguento mais ficar nessa casa, quero sair um pouco, ver gente. Minha mãe nunca foi de silêncio. Mas também, como devia ser nascer em uma casa de dois quartos com mais 10 irmãs: 10 mulheres e minha avó. Conversas infinitas, verbos e mais verbos, palavras, adjetivos, interjeições. Por todos os cantos, todas as horas. A hora mais silenciosa devia ser a hora de dormir, ou melhor, a hora que não se tinha mais voz para ser falada e palavra para ser ouvida. O corpo precisaria descansar. Depois disso, acho difícil não confundir silêncio com tristeza. Eu confundiria, acho que não peguei isso dela porque meu pai tratou de me mostrar o contrário. Sendo assim, a minha mãe logo tratou de encher a casa. Sempre que podia tinha um barulho novo na casa, quer dizer, um filho novo, bem além daqueles que o seu ventre gerou, eu e o Bruno. Ela é especialista em cuidar, já perdi as contas de quantas crianças ela já cuidou. Outras nem tão crianças assim. Primo que se tornou irmão, filhos do meu pai que só se tornaram meus irmãos depois de seus cuidados, filhas adotivas e a lista só aumenta. E mesmo sabendo disso eu nunca tinha conversado com a minha mãe. Era mais como se falássemos palavras automáticas, ou que eu acabasse falando mais que ela, mesmo sendo eu tão quieto. Eu sempre fui de escrever, falar não era comigo, talvez meu irmão. Mas ela era boa ouvinte, ela queria barulho. Queria o som da minha voz que, apesar de ser externa, sempre vinha de dentro e ela tinha o dom de tirar esse íntimo de mim. Não até esse dia. Nesse dia chuvoso, estávamos só nós. Meu pai viajando. Meu irmão, apesar de estar sempre conosco, já não morava mais naquela casa (habitava tão somente a casa dos nossos corações saudosos). Éramos só nós. A minha mãe grita da cozinha: a comida estava pronta. Não precisava nem dizer, com todo aquele cheiro especial que conquistava todos os cômodos. Vou quase de imediato, mas ainda assim ela já

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estava gritando de novo, dizendo que eu demorava. Sentamo-nos os dois. Uma bela macarronada, típico de domingo que não o era. O silêncio invade a mesa. Comíamos. Estava delicioso como sempre. Minha mãe quebra o silêncio: – Acho que ficou um pouco sem sal – pergunta ela, sem perguntar. – Não, mãe, está ótimo. Uma delícia – respondo. E quando percebo, eu estava falando dos meus medos, da instabilidade que a minha vida está, dos planos A, B ou C. Falo de trabalho, do que eu quero, do que eu não quero. E mais medos, inseguranças. E falo de partir. Despedida sempre foi seu ponto fraco. Quase me arrependo ao ver seus olhos brilhando de águas. Águas que ela não deixava correr: onde já se viu chorar em meio a um almoço alegre? Nada de tristeza por hoje. Ela segurava aquela represa e continuava me deixando a falar. Ela não queria viver com o silêncio da minha ausência, nunca quis. Mas me conhecia, eu sempre partia, deixava a mudez do meu quarto de sentimentos e levava o meu barulho sossegado para algum outro canto distante. Então ela começa a falar. Começou por dialogar, queria entender a minha necessidade de ir. Necessidade, sonho ou medo? Ela soube, talvez mais que eu mesmo. Foi quando eu me calei. – Eu tinha uma professora de francês, eu entendia tudo o que ela falava. Ela entrava na aula já falando em outra língua. E eu queria falar também, gostava daquele som. Aquela música romântica que é o francês aos nossos ouvidos. Eu conseguia ver o brilho em seus olhos quando me contava isso, uma luz que surgia em seu rosto quando pronunciava perfeitamente alguns versos franceses que eu nunca teria conseguido dizer com tamanha beleza. Ela continua: – Eu ficava repetindo em casa. A professora era muito boa, Ana Claudia, o nome dela. Nunca vou esquecer. Naquele tempo, eu queria estudar francês, mas depois que tiraram essa classe da escola, eu não teria como. Os cursos seriam muito caros, o seu avô não tinha condição de alimentar tantas bocas e ainda bancar um curso desses. Não, não era pra mim.

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Eu ouvia quieto apesar de um aperto começar a me apertar. – Uma vez, seu avô me disse pra falar com meu padrinho. Talvez ele pudesse ajudar. Então fui passar um final de semana na casa dele. Gostava mesmo de estar por lá, de estar com sua filha. Então eu me preparei: depois do jantar, ia pedir. Pediria morrendo de vergonha, mas era o que eu queria. Mas aí ele começa a falar com sua filha, que teria gastos com isso com aquilo. E mesmo sabendo que ainda assim ele poderia me ajudar, eu me calei. Calei-me para sempre. Não pude aprender o francês. Aquelas últimas frases me cortavam a alma. A minha mãe também tinha seus próprios sonhos, tinha suas próprias dores, que ela levava infindamente calada. Sonhos partidos. Ela sonhava com meus sonhos, mas o quão injusto é não poder viver o próprio sonho? Naquele momento, eu queria chorar, mas eu não o fiz. Queria dizer: “Mãe, ainda dá tempo, você ainda pode sonhar, ainda pode viver o sonho. Eu faria tudo para realizar seus sonhos. Eu faria tudo para que não achasse que já é tarde, que o tempo se esgotou. Eu não deveria ser o único a sonhar. Mãe, eu quero sonhar contigo, os meus sonhos também se confundem com os seus. Eu nunca os sonharia se não fossem pelos seus. Eu não saberia nem sonhar.” Eu queria poder. Simplesmente poder, poder acordá-la para os sonhos. Fazê-la dormir também em silêncio, sem ruídos que a atrapalhassem de enxergar. Sem a máscara da realidade. Queria que ela vivesse um pouco essa quietude do irrealizável. E ela poderia tudo, até mesmo suportar o silêncio, a tristeza. Assim como todo pesar introvertido da sua vida. Nossas vidas, nossos sonhos. – Sonhe, minha mãezinha. Voe, assim como me ensinou a voar. Voe para onde quiser ir, mesmo que eu também esteja lá. Eu e meu irmão. Sonhe, sonhe um pouco mais. Mas eu nada falei, eu nunca falava, eu era bom de escrever, mesmo ela querendo ouvir. Hoje, eu a ouvi, não as palavras soltas que preenchem o vazio do espaço. Ela queria falar. Eu a ouvi, por dentro, eu conheci seus sonhos, pela primeira vez. Por hoje eu não ia tentar mais falar. E ela falou. E ela sonhou.

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Iteuane Casagrande. Escrevo desde a adolescência, é uma terapia falar e me expressar através das palavras. Tenho o intuito de publicar um livro, mas por enquanto divulgo numa página das redes sociais. Facebook: entrepalavraserimas e Instagram : @entrepalavraserima1

MULHER Mulher, um ser cheio de fascínio O universo masculino não acompanha seu raciocínio Tem garra, tem força, tem capacidade de domínio. A mulher faz tudo com tamanha intensidade Respira emoção e espontaneidade Ama demais, chora demais, ri demais, O que ela não faz é desistir dos seus ideais. A mulher muitas vezes parece não ser uma só Ela quer fazer tudo e do jeito melhor Abraça o mundo inteiro É de admirar a sua disposição, um dom verdadeiro. A mulher tem dentro de si várias capacidades É amiga, mãe, esposa e companheira É dona de casa, arruma a bagunça, é uma gata borralheira, Mas não perde a vaidade Quando quer, transforma-se numa rainha de verdade.

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A mulher também sabe ser independente Trabalha fora, faz tudo cuidadosamente Muitas vezes não é reconhecida Seu salário é menor geralmente, O machismo ainda reina nesse ambiente. A mulher também tem seus dias de fragilidade Tem medo, angústias e irritabilidade Por outro lado tem grande poder de superação Ela pensa demais com o coração, mas também saber fazer o uso da razão. Mulheres são seres incríveis Algumas duronas, outras um tanto sensíveis Mas todas elas são inesquecíveis.

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Jenny Rugeroni é bancária, formada em Comércio Exterior e mãe de dois filhos. Vive próximo à Serra da Mantiqueira, e está em constante sintonia com a natureza. É autora dos romances “A Herdeira do Silêncio”, “Um Céu de Estrelas Curiosas” e “O Ano em que não Choveu”, além de diversos contos e crônicas. Em sua escrita, apresenta um olhar lírico sobre o cotidiano, convidando à reflexão sobre a desigualdade social e os dilemas do mundo moderno. Instagram: @jennyrugeroni

Gabrielle Andersen, Rudyard Kipling e minha mãe Numa manhã de domingo, há algumas semanas, vi na televisão a maratonista suíça Gabrielle Andersen-Schiess, hoje com mais de setenta anos, relembrando sua marcante participação nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984. Através do relato carregado de emoção, fiquei sabendo de vários detalhes que não conhecíamos na época. O desespero do marido, procurando-a com o olhar, aflito porque ela demorava a chegar. A explicação médica do quadro grave de desidratação que causou na atleta dores lancinantes e confusão mental. E o seu depoimento, contando que no final da prova mal tinha consciência do que estava fazendo, mas sabia que precisava chegar de qualquer jeito. Recuando no tempo, me vi de novo com oito anos. Parece que foi ontem que assisti com assombro, ao lado de minha mãe, a atleta cambalear pelos últimos metros da corrida com o corpo retorcido pelas cãibras, e desabar exausta ao cruzar a linha de chegada. Se a televisão não mencionasse, eu nem me lembraria de que a vencedora da prova foi a americana Joan Benoit. Mas a imagem de Gabrielle continuou me assombrando, e me impressiona até hoje. Minha mãe havia sido bibliotecária, e foi dela que herdei a paixão pela literatura. Eu era uma garota séria e introvertida, com a cabeça cheia de citações e trechos de

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livros, mas com pouquíssimo conhecimento do “mundo lá fora”. Sendo filha de imigrantes, meu vocabulário em português era bem limitado quando entrei na escola, o que só fazia aumentar minha timidez. Na sala espaçosa da casa do sítio, apinhada de objetos antigos, minha mãe e eu passávamos horas conversando sobre coisas tão diversas como a possibilidade de uma terceira guerra mundial e as mudanças que aconteceriam em meu corpo num futuro próximo. Pela porta que se abria para a varanda, via-se a estrada e os bosques de eucaliptos. Na estante de madeira, entre os livros que eu conhecia e aqueles que era proibida de ler, havia um fichário preto cheio de poemas e textos que minha mãe copiara com sua letra cursiva perfeita, ilustrados com desenhos contornados com caneta hidrocor. Logo depois da transmissão da fatídica maratona, ela apanhou o fichário e leu um trecho do famoso poema “Se”, escrito no final do século XIX pelo britânico Rudyard Kipling, também criador de Mogli, o Menino Lobo. (Abaixo, o trecho na versão traduzida por Guilherme de Almeida. Para conservar o sentido do poema, a tradução sacrifica muito da musicalidade. Mas a versão original pode ser facilmente encontrada na Internet...) “Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida E perder, e ao perder, sem nunca dizer nada Resignado, tornar ao ponto de partida De forçar coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for que neles ainda existe E a persistir assim quando, exaustos, contudo Resta a vontade em ti que ainda ordena: Persiste!”

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- Está vendo? – disse minha mãe, emocionada – Foi isso que ela fez. Depois de tantos anos, em minha memória tudo se confunde. Recordo vários incidentes difusos, sem conseguir colocá-los em ordem cronológica. Naquela época, minha mãe ainda não sabia que estava com câncer. E eu não sabia que, em pouco tempo, não teria mais as tardes tranquilas em meio aos livros e às nossas intermináveis conversas. Assim como a atleta, minha mãe lutou até onde pôde. Lembro-me dela alguns meses depois, no início de 1985, pálida, fragilizada, com olheiras, dizendo em seu português limitado: a minha meta é conseguir ir a pé até o supermercado em julho. Dizia isso olhando pela janela para os eucaliptos na serra. Eram dias longos, com muito calor, sol e chuva. O sítio ficava a alguns quilômetros da cidade, e a caminhada morro acima para chegar ao supermercado mais próximo exigia bastante resistência. Não conseguiu. Em maio, quando as noites se tornaram longas e as geadas branqueavam as plantações, acabou cruzando outra linha de chegada. A maratona estava no final; sua missão fora cumprida. A ausência permanece com os netos que ela não conheceu, com as alegrias e tristezas que não pudemos compartilhar. Hoje, mais velha do que ela era na época, olho a mesma paisagem de uma janela diferente, e me pego imaginando quais seriam os assuntos de nossas conversas agora. Junto com a saudade, fica aquela perplexidade que se sente em relação às coisas que não podemos entender.

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Jerson Lima de Brito é natural de Porto Velho/RO, onde reside. É membro Fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho.

DOCE CORAGEM Relumbra nos jardins da humanidade,

Trazendo primavera e formosura, A nossa personagem que emoldura Cenários com sublime autoridade. O mundo desconhece criatura

Que tenha singular capacidade De unir à intrepidez docilidade Nas lides de qualquer envergadura. A força imperecível que apresenta Perante a caminhada turbulenta Merece arrebatada exaltação. Um dia conceder no calendário

Perturba, da justiça, o itinerário... Mulher, incontroversa perfeição! 52


Joyce Nascimento Silva é carioca, estudante de literatura e escritora. Publicou poesias em antologias, jornais e revistas. Em 2020, recebeu menção honrosa no XXXI Festival Nacional de Poesias Eunice Maria de Oliveira. Em 2021, ficou em 2° lugar no concurso artístico-cultural O Museu em Nós: Pontes e (des)dOBRAmentos, promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente, lê textos e realiza entrevistas no podcast Literatura já! https://www.instagram.com/literatura.ja/

FILHA E MÃE Nove meses de Acontecimentos Festas Risadas Comilança

Nove meses de Amor Carinho Espera Nove meses de Menina Mulher Mãe Nove meses de Mudanças Aprendizados Experiências Chegada de uma nova vida Partida de uma barriga Encontros diários Entre filha e mãe.

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Karine Dias Oliveira. Natural da cidade de Nova Friburgo/ Rio de Janeiro. Professora. Pós-graduada em: Gestão Escolar, Supervisão Escolar e Orientação Educacional; Psicopedagogia Institucional; Educação Ambiental. Escritora de histórias infantis (ilustrando-as), contos, microcontos, trovas, poesias, crônicas, etc., mas ainda não tenho livros publicados. Selecionada em inúmeras publicações, vencedora de Concursos Literários em diversos gêneros (além de menções honrosas e especiais).

SER VIBRANTE... Seu pulso vibra no ritmo da esperança Envolvendo-a além do seu ser E, desde o ventre, transforma-se em um só corpo Na união dos corações benditos aos olhos do Pai. Nessa caminhada de luz Recebe as bênçãos por ser vitoriosa na vida Por ter sentimentos puros e cegos Pois, não importam os laços... És tão gigante que abraça quem sorri à sua alma. Ela não precisa de manual Tão pouco seguir padrões Porque ser mulher é ultrapassar fronteiras diárias E ser mãe é ofertar o seu colo aconchegante e sem distinção. Recebe, agradece e contempla cada amanhecer Não esconde as suas angústias e sonhos Sabe que, se não lutar por si... De nada valerá os seus pés no chão!

Assim, o seu pulso vibra...

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Luís Amorim facebook.com/luisamorimeditions

MARÍLIA Marília toma conta do filho, cheio de problemas, mas ninguém se preocupa com essa atividade de cuidadora, apenas reparam quando o vêem pela rua, em como diferente ele se apresenta, notório ao caminhar. A mãe pinta a realidade por alternativa e conversa sabedoria a seu ouvinte especial vindo de longe, mas que não chega, o seu tão abrangente saber, ao interesse de sua vizinhança, apenas ao padre local, o qual no sermão dominical previamente escrito, nunca é ouvido com devida atenção, pois não há quem chegue perto ao devido efeito. Quase parece que as pessoas idosas nada têm de interessante para dizer, quando a solidão faz-lhes ver na clareza mais evidente que muito têm a partilhar com quem pretende aprender. Ouvidos atentos por senhora, até quando não está a pintar ou a cuidar do filho adulto, por vezes imensas seu pensar diz muito, imediatamente comprovado no seguinte dissertar sobre tantas pontuais ricas vivências do passado. O padre já soube disso e também ele, na sua interminável conformada solidão, recita outra celebração, à qual ninguém aparece à primeira vista, exceto Marília e seu dedicado amigo, nas vezes que 55


a distância residencial lhe permite, mesmo que no braço por envolvência conferido se avistem uns quantos adicionais, embora pouco empenhados no religioso acompanhar. O encontro é semanalmente agradável, sem excepções, por Marília e sua intermináveenciclopédia da vida, com mais uma imagem artística pronta, quase não se percebendo a solidão que outros menos atentos constantemente vislumbram. Com vidas aceleradas, muito se deixa para trás do caminhar, havendo sempre tempo disponível ao superficial que avança sem pedir sequer licença nem bênção paroquial. O solitário padre bem avisa e alerta sobre iminentes perigos da sociedade para com vida realmente saudável e purificadora, mas não há quem leve a sério o que ele l apregoa e alguns até caminham de longe para dizerem no imediato depois que o foram ouvir, talvez apenas por alguma estranha vaidade. Percebe-se que tudo fica escrito para memorizado ao futuro tempo, quando finalmente ele avista que há quem, sobre isso bem registe como duplamente fiel ouvinte, entendendo por fim que a solidão talvez possa valer a pena, sem haver demasiada preocupação quanto à eventual pena que outros possam ter. Mais uma semana a passar e o habitual sermão, apesar de parecido à impressão feita inicial, tem substanciais diferenças, ainda que apenas percebidas aos mais atentos. Os dias passados, no 56


entretanto, acrescentam que está na altura de ver, ouvir e pensar novamente com Marília, para mais sabedoria em partilha de grande valor, quando até uma nova pintura está solitariamente pronta, exceto para quem lhe dá o certo apreço. E ainda bem que esse privilégio tem veracidade autêntica para haver memória futura que muito bem irá registar, aplaudir e honrar em nobre tributo.

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Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu,2021.Email: luisc.lemos@hotmail.com Instagram: @professorluislemos Facebook: professorluislemos Twitter: @luisclsilva www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg?view_as=subscriberr

PEDAGOGIA DO AMOR Semana passada conheci dona Ana, uma mulher preta, sexagenária, que criou e educou sozinha sete filhos e que agora, por forças das circunstâncias, assumiu a missão de educar os netos. Há dias o estudante Kelvin vinha tendo problemas na escola. Ele não estava entregando as atividades escolares. Estava sonolento, disperso e relapso em sala de aula. É verdade que ele não perturbava os colegas, e as aulas seguiam normalmente. O problema foi essa mudança de comportamento brusco do Kelvin. — “Ninguém muda de uma hora para a outra, sem nenhum motivo” – repetia dona Ana. O que afligia aquele estudante? O professor mandou chamar seus responsáveis. Foi aí que dona Ana apareceu na escola. E ela chegou logo dizendo: - “Professor, esse aí não é meu filho não, ele é meu neto. O senhor sabe como é essa geração. A mãe dele não deu a educação que recebeu de mim, agora ele está aí, fazendo o que não deve”. Dona Ana lhe contou como fora a sua vida. Disse-lhe que ficou viúva muito jovem e que teve que trabalhar muito, trabalhou de babá e na construção civil para sustentar, vestir e educar os seus sete filhos pequenos.

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Depois de enxugar algumas lágrimas que escorriam pelo rosto, ela concluiu dizendo: — “Professor, eu não vim aqui falar de mim. Eu vim aqui porque o senhor mandou chamar os responsáveis do Kelvin. — Cadê a mãe do Kelvin? Por que ela não veio? O Kelvin mora com a senhora? — “Uma pergunta de cada vez, professor!” — pediu dona Ana. E ainda com os olhos cheios de lágrimas, continuou: — “A mãe do Kelvin, professor, conheceu um homem pela internet e abandonou tudo, assim, de repente, para viver essa paixão na terra natal do namoradinho. Até hoje não temos notícias dela. Não sabemos se ela está viva ou morta. Sei que os filhos dela, três no total, o Kelvin é o mais velho, estão sofrendo muito. A menorzinha, de 8 anos, nem come direito”. Diante daquele relato o professor ficou sem palavras, sem saber o que dizer para aquela senhora. E parecendo que ela lia os seus pensamentos, antecipou-se: — “Não se preocupe professor, diga-me o que o Kelvin fez com o senhor que eu vou colocar ele no eixo. Ele chamou algum palavrão para o senhor ou brigou na escola?” — Não. Nada disso, dona Ana – respondeu o professor. O Kelvin é um excelente aluno. Ele só não está entregando as atividades. — Que malandro!!! – disse dona Ana. — Ele não está entregando não só as minhas atividades, mas as atividades dos outros professores também! Semana passada ele até perdeu as provas – disse o professor.

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Quando ele ia terminando de falar, dona Ana disse-lhe: — “Professor, educar é tentar melhorar, todos os dias, com gotas homeopáticas de paciência”. — É isso mesmo, dona Ana, a senhora tem razão. “Educar é tentar melhorar, todos os dias, com gotas homeopáticas de paciência”. – disse o professor. — “Anote aí professor, o Kelvin vai melhorar na escola. Eu lhe prometo”. Dito e feito. Na outra aula o Kelvin voltou a ser o aluno que era antes: dedicado, responsável e estudioso! Se o professor já sabia da importância do diálogo na educação, a partir daquele dia ele intensificou-o ainda mais com seus alunos em sala de aula, e terminou dizendo: — Embora o diálogo e a paciência sejam, de fato, as duas qualidades mais importantes na educação, nem sempre é fácil praticá-las, mas é preciso manter a esperança e, consequentemente, um pouco de loucura, conforme apregoa o historiador e filósofo brasileiro Leandro Karnal.

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Luisa Maria Garbazza Andrade, mineira, da cidade de Bom Despacho, ama livros, poesia e literatura. Professora de Português, escritora de vários gêneros literários, participa de várias antologias e já publicou 5 livros, três dos quais de Literatura Infantil, pela qual se encanta. https://www.facebook.com/luisa.garbazza

FACE DE MULHER Na face da mulher, o sorriso de alegria, a carga de cada dia, que transporta com maestria, porque pode, porque sabe, porque quer. Na face da mulher, amor puro e verdadeiro de quem se doa por inteiro, seja por quem se encantou primeiro, pelos pais, pelos filhos ou por quem vier. Na face da mulher, as marcas da beleza real, da força, da garra, do essencial, da magia de quem é especial e transborda doçura e amor onde estiver. Na face da mulher, revolta ou paciência por ser alvo da violência de quem perdeu a decência, tratando-a como uma coisa qualquer. 61


Na face da mulher, do medo a cara estampada, por ser desprezada, amordaçada, maltratada, ameaçada, anulada, sem uma chance sequer. Na face da mulher, vontade de se sentir querida, festejar, abraçar a vida, ter sua decisão acolhida, seja bem-me-quer, seja malmequer.

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Manuela Matos reside em V. N. Gaia - Portugal e publicou dois livros de poesia: "PEDAÇOS DE LUA" 2010 e "AS CORES DO SILÊNCIO" em junho de 2015, pela editora Mosaico de Palavras, com 2a edição em dezembro do mesmo ano para colaborar com o projeto Konta Komigo que apoia os sem-abrigo. Ficou classificada 2o e 3o lugar, Edições Arnaldo Girão e selecionada para publicação do livro "Poesia-Poeta-Cidade" - Prémio Literário Valdeck Almeida de Jesus. Recebeu uma Menção Honrosa no II Concurso de Poesia Pablo Neruda. Obteve 1 Menção Honrosa em 2012 no XI Encontro de Poetas no Gerês. Recebeu ainda o Prémio Especial de Poesia em 2010, 2012 e 2013, atribuído pela J. F. S. Nicolau – Porto, e o 2o lugar no concurso ALAP em 2016, com a participação do Brasil e vários países da Europa. Convidada pelo Grupo ASAS DE POESIA - Maia em fevereiro de 2016. Participou em 22 Coletâneas; 2 em Prosa e 20 em Poesia e ainda em 2 Ebooks. Publica nos grupos Escritartes, Luso-Poemas e Solar de Poetas.

MÃE

Mãe Uma palavra pequenina Que ganha mais encanto Ao ser pronunciada Por quem amamos tanto! Ser mãe É gerar vida, É dar em medida Sem nada esperar! É embalar suavemente, Num doce afagar, E transmitir com ternura O aconchego do lar! É instruir com alegria, É renascer e sonhar Numa partilha diária De um eterno cuidar!

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Ser mãe é ser solicitada Sem hora marcada, É estar presente E saber ouvir Constantemente! Ser mãe é mais do que isso... É orar e interceder Numa prece contínua De bem querer! É mostrar o caminho Numa urgente missão De conduzir com carinho A um outro Ser! Enfim... Não há palavras Pra definir Qual seja este sentir Que uma mãe Poderá ter! Pois qual Jesus Que um dia deixou a luz, Pela humanidade Sofrer, Ser mãe, É dar e embalar Instruir e compartilhar, Orar e interceder! Ser mãe, É amar!...

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MÃE Nazareth Ferrari – Taubaté-SP Três letras apenas, Uma palavra pequena, Uma consoante, duas vogais No meio de um alfabeto inteiro, Três letras apenas Demostra o amor verdadeiro Que no peito tu o trás, Uma palavra criada, Talvez sem pretensão, Com três letras apenas, Tu és chamada Em qualquer ocasião. Talvez tão pequenina, Para facilitar a te chamar, Assim você ouve e vem rapidinho Sempre que eu de ti precisar. Mas quero também com três letras Uma homenagem te fazer, E dizer que muito te AMO, E com três letras apenas Meu sentimento escrever! 65


Neide Pereira de Oliveira, natural de Vitória – ES, fisioterapeuta e analista de sistemas possui poemas publicados em concursos e antologias nacionais, como, Mostra Literária Algures 2021 da Prefeitura Municipal de Curitiba, Sarau Brasil 2020 Vivara Editora, Poesia Agora Editora Trevo, Revista Entreverbo Edições nº 37, 38, 39 e 40, Revista Traço Cultural nº 2 e 3, Revista Ecos da Palavra nº 6, Voo Livre Revista Literária Ano 2 nº 13, Novo Decameron Selo Editorial Starling, Concurso Wellington Brandão de Poesia da Agenda Editora, e Concurso Nacional de Poesias da Revista Brasília. Concilia suas atividades profissionais com suas paixões que são a poesia, a fotografia, o esporte, a natureza e a cultura capixaba.

TALASSA Hoje lhe senti tão pequena Como se coubesse espaçosamente Em meus braços, Um dos mais frágeis poemas Escapava em palavras Soltas no ar. Senti por você um afeto Beirando ao infinito Uma vontade de lhe ninar No colo cantando cantigas Sem muito sentido. Lhe tranquilizando os sentidos Até esmaecer-se em paz Confiante em minha proteção, Me revelando os seus Mais escabrosos segredos, Sem dúvidas, sem medos. 66


Hoje lhe senti tão próxima Como se no mundo existe somente Você, eu e nenhum outro dilema. Em uma só mulher Todas as deusas, de Afrodite a Atena, Vinda da terra ou do mar. Pouco importa, basta lhe amar. Lhe senti no aconchego dos meus seios Sugada pelo meu querer Hoje me senti em você.

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Neila Reis da Silva. Enfermeira, fisioterapeuta, poetisa, escritora. Membro da academia de Letras Brasil- Suíça. enfermeiraneila@gmail.com instagram:@neilareiss

AMAZONA REAL São diferentes mulheres, Com diversas histórias, De diferentes classes, Mas guardam as mesmas memórias. São de todas as cores, Belas Luanas e lindas Marias, Com diferentes gostos e sabores Diversas realidades e fantasias. Do seio que alimenta a vida, Lágrimas escorrem de tristeza. São muitas vezes queridas, Outras são adornos pela beleza. Um canário sem asas, Ainda pode cantar, Se amor lhe apaga a brasa Já não pode mais voar.

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Princesa presa no castelo, Vê seu príncipe virar dragão. Quando o romance não é belo O ódio despedaça o coração. O conto de fadas feio e cruel. Onde o corpo vira propriedade. Maçã com gosto amargo de fel Se o mundo é só casa e maternidade.

Ornada apenas com rímel e batom, Sabe que nasceu para brilhar, Disposta a decidir o verdadeiro tom, Sabe que nasceu para rir e chorar.

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Otávio Patuço, nascido e residente em Pirajuí, estado de São Paulo. Nascido em 2 de outubro de 1960. Aposentado, amante dos pássaros e da natureza. Escrevo poemas concretos, Haicais, Aldravias, publico em grupos públicos nas redes sociais, sempre buscando na poesia um escape para a alma e a construção de seres humanos mais afetivos e criativos. E-mail: otaviopatuco@hotmail.com

MULHERES DA MINHA VIDA Minha mãe santa sofrida. Minha irmã herdou a dor. Minha mãe gerou a vida. Minha irmã pariu amor. Minha irmã doou carinho. Minha mãe me esperou. Mas o acaso me inspirou a escrever o meu caminho. Minha filha tão menina sorri um riso tão bonito, é minha alma feminina a fazer arte no infinito. Quando na vida tropeço é uma amiga que oferece muito mais do que mereço: ombro, conselho e aconchego.

O amor da minha vida um segredo tão profundo, mantenho bem escondida... a mulher mais linda do mundo. No entanto, foram tantas musas, deusas, foram santas as mulheres no dia-a-dia me cederam essa poesia.

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Paulo Cezar Tórtora nasceu na cidade serrana de Petrópolis (RJ). É engenheiro, professor, com premiação em vários concursos literários. É autor dos livros “Sonetos, Haicais e Outros Ais” (ed. Costelas Felinas, SP, 2017) e “Raio de Sol e Outras Centelhas Poéticas” (ed. Litteris, RJ, 2019). É membro efetivo do Círculo Literário do Clube Naval do RJ, da Casa Raul de Leoni (Petrópolis, RJ) e presidente da AML – Academia Madureirense de Letras (RJ).

TRÊS TROVAS PARA AS MÃES Tu és santa aqui na terra, Mãe, que padece e se doa. Quando o filho peca e erra, tu, mãe, a sorrir, perdoa.

Mãe, o verdadeiro exemplo do amor em um coração. És meu abrigo e meu templo, és a minha inspiração.

A mãe tem um coração puro na dualidade: ― sorrindo em paz na aflição, chora na felicidade.

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Regina Alonso escreve desde os 13 anos. Depois de se aposentar, publicou livros de prosa, poesia e literatura infantojuvenil, recebendo prêmios em conto, crônica, poesia e haicai. Alguns textos estão em jornais, revistas literárias e antologias. Desde a pandemia faz aquarelas. Coordena grupos literários em Santos: Café com Letra, Ambep e Leitura Dirigida e Haicai no Atami, ONG Tamtam. Membro das Academias Vicentina de Letras, Artes, Ofícios e Santista de Letras Casa de Martins Fontes.

O OUTRO SOU EU Regina Alonso O negativo das fotografias guardado a sete chaves. Até o dia em que esqueceu a gaveta aberta. O caçula adorava descobrir tesouros. À luz do sol adivinhava pessoas, lugares, datas e tudo voltava... A festa de aniversário, a morte da avó, o balanço na árvore, o teatro e a banda na escola, os piqueniques. Não entendia porque a mãe trancava à chave, afinal eram negativos de fotos da família. Até que achou o envelope azul. Fugiu para o quarto, trancou a porta e esparramou o conteúdo na cama. Ah, nenhum negativo, só postais e fotos! Um homem loiro, bem vestido, terno, gravata, a pontinha do lenço no bolso do paletó. Postais de Berlim, Estocolmo, Praga e a letra firme, caligrafia, que... meu Deus, lembrava a sua! Pegou um caderno e conferiu a 72


letra. Parecia que ele próprio fizera a dedicatória. E os cabelos loiros, em ondas largas... passou as mãos nos seus, olhando-se no espelho, imaginando-se homem feito e viu a imagem do outro. Largou tudo sobre a colcha e correu até a mãe, sempre na máquina de costura fazendo roupas para fora, além das suas. Abraçou-a pelas costas com força, fazendo-a interromper o trabalho, atônita com o gesto inesperado do filho. O caçula colocou tudo de volta na gaveta e passou a chave. Sorriu, quando escutou, A sopa está na mesa, Alberto! Não deixe esfriar! Desceu as escadas para jantar sem fazer qualquer comentário. Na fotografia o pai tinha rosto e nome assinado atrás, Alberto. Devagar, o filho tomou a sopa com alegria e gratidão.

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Rita de Cássia Zuim Lavoyer é de Araçatuba. Professora, escritora, poetisa, gastróloga. Possui 10 livros publicados.

PLANETA MULHER Mulher, se for natural, da sua nascente nascerão as sementes de vidas futuras. Dos seus mananciais, a vida correrá sem cessar. Estenda seus braços, oh, mulher! A sua fonte não pode secar. É o leito das criaturas, Mulher, é mineral, sacia a nossa sede de seres mortais. Se for encanada, tratada nos chega pra toda jornada. Mulher, se tem a bondade será água benta celebrando a trindade. Mulher, você é a fonte da vida! Abra seus braços, dedique-se ao mundo é a fonte da água, se faltar o planeta padecerá. Mulher, é a água do morro, é a água da jarra, é a água do lago que abastece a plantação. Mulher, lá do alto, é a cachoeira, mas também é a da cana pra fazer besteira. Está na placenta que fomenta a vida. Quando é da chuva, escorre no chão. Você move moinho, sustenta o pão que alimenta o homem pra toda missão. 74


Está presa, ergue-se em paredes, vira fortaleza em uma represa. Promove energias, mulher água-viva, para o mundo poder ouvi-la em canções. Chuá, mulher! Chuá na voz da oração. Mulher, é o recheio do coco, o soro do fraco ... É a água ardente, o ébrio do homem. Mulher, se você é a fonte, da água será as partículas, o oxigênio, o núcleo, o átomo. Mulher, gota de orvalho que molha a relva, que consola e acalma. Da água, mulher, você é a alma. É água da fruta, da pedra, do choro. É a água que desce e sobe o morro. Você forma um rio e corta cidades. Mulher, você cresce, fica grande, transforma-se em mar de trabalho, é o suor da humanidade. Mulher, água oceânica, é a água da boca, se joga no chão e limpa sujeiras, escorre nas faces, lava os olhos... É água de cheiro, de muitas facetas. É água de brilho que sai do seu seio e amamenta o filho, fruto do meio. Mulher, se for e não voltar, será água seca, gota faltante no centro do lar. Então, poluída, por onde passar abrirá feridas. 75


Mulher revolta é água tão forte, é a água da enchente, é a água da morte. Mata tanta gente... É da vergonha que escorre pelos dedos, foge pelo ladrão, estoura os caixas, uma e tantas vezes. É da urina, das fezes e de seus revezes. É água que embala e que compôs a bala - a perdida e a encontrada no peito, e acha bem feito da vermelha que escorre. Mulher, se praticar o mal cessará a vida no seu manancial. Se quiser será benfazeja estenda seus braços, abrace a paz seu fluxo se ramificará, encontrará muitas outras e, junto a outras, fará o que quiser. Por favor, fonte da água, seja do mundo a mãe, jorre amor e faça da Terra o Planeta Mulher.

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Roberto Minadeo. Estudou Administração de Empresas (USP), fez Mestrado em Administração (COPPEAD/UFRJ) e é PhD em Ciências da Engª de Produção (COPPE/UFRJ). Além de artigos e capítulos de livros técnicos sobre Ciências Políticas e Estratégias Empresariais, publicou: Petróleo – A Maior Indústria do Mundo? Rio de Janeiro: Editora Thex. 2002 Gestão de Marketing – Fundamentos e Aplicações. São Paulo: Atlas, 2008. Marketing para Serviços de Saúde. São Paulo: Campus, 2010. Fez revisões e traduções de obras técnicas sobre negócios (Ed. Campus, Nova Fronteira e LTC). Lançou a antologia onírica “Sonhos Fulgurantes” (Amazon, B088P8D8RK) e os romances “Na Casa da Avó” (Amazon, B09G1168MG) e “Duas Irmãs” (Amazon, B09SK38KNX). Participa de diversas revistas digitais e coletâneas. É membro da ANE – Associação Nacional de Escritores, criada em 1963, em Brasília.

A Mãe da Ciência Unicórnio Walter sempre fora fraco nos estudos. Professores já se conformavam em que seria um aluno medíocre, não iria à Universidade e trabalharia em tarefas mal remuneradas. A família fizera esforços hercúleos para reverter essa situação: anos com professores particulares. Enquanto seus colegas brilhavam em cursos extracurriculares de inglês e de informática, ele nunca saíra do básico nessas disciplinas. Ao início do Ensino Médio, porém, ele se começou a se animar com Física laboratorial. Abriram-se novos horizontes à sua vida. Contava em casa suas descobertas. Os professores, temerosa e prudentemente, foram se apercebendo do interesse do aluno tão fraco em todos os anos anteriores e em todas as demais disciplinas. Em pouco tempo, a sala dos professores ouvia as congratulações à ilustre professora, Ana Cristina, prestes a se aposentar. Ela já conhecia a fama do rapaz, mal ousava acreditar no que via. Também não queria julgar-se o motor dessa incrível transformação. Assim, a sua reação era

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justamente a mais cautelosa, pois sabia da habitual indisposição dos alunos para com sua matéria: os cumprimentos. O aluno, todavia, superou os mais céticos, pois ao final desse ano, na Feira de Ciências do colégio, apresentou um dispositivo tão bem-feito e simples, que foi o mais visitado e elogiado do evento: criou dispositivos baseados em canaletas que conduziam esferas de aço. Estas, pela gravidade, produziam incríveis efeitos-dominó. Ganhou todos os prêmios existentes e alguns outros que foram criados para a ocasião. Toda sua família foi assistir e ficou entusiasmada. O efeito foi incrível. Ele acelerou o ritmo dos estudos. Foi bem em Matemática e em Química sem ir ao Exames Finais. Até se safou nas Humanas, que sempre o aterrorizavam. Fez uma boa Redação sobre a amizade. Todos o ajudaram, e ele foi aprovado nos Exames Finais de todas as outras matérias. Começaram as férias. A diretora do Colégio, conhecida por ser bastante comedida em suas manifestações emocionais, quebrou todos os protocolos e, na festa de final de ano, cumprimentou efusivamente a professora Ana Cristina pelo feito histórico. Esta aceitou os elogios, agradeceu a oportunidade de ter transformado um aluno, embora continuasse sem entender que milagre ocorrera, e como. Os pais, tios e avós do Walter foram ao Colégio, presentearam a todos do colégio, do bedel à diretora, passando por todos os professores e secretárias. Veio o Natal. Ele nunca ganhou presentes tão caros e reluzentes. Parentes distantes, que costumavam evitá-lo por causa das vergonhas e fracassos escolares, compareceram com livros. Sua mãe lhe deu o tão esperado conjunto de experiências de química. Enquanto primos e primas foram à praia, Walter

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leu, estudou e praticou. Fez o impossível: uma redação por semana, corrigida por sua maior amiga. Ao início do Segundo Ano, suas notas não são mais apenas medianas: já estão bem acima da média. Em Física e Matemática consolidou-se na posição de melhor da turma. Humilde, começou a retribuir, ajudando colegas de sala com o que sabia. A Professora Ana Cristina se retirara. Walter sentia a sua ausência. O novo professor de práticas do laboratório de física era recém-doutor, sendo o melhor preparado de todos os professores das escolas da região. Porém, nunca lecionara. Ninguém percebeu que a falta de experiência poderia ser um perigo no laboratório. Um belo dia, o curso entrou nos temas ligados a calor, oxigênio e combustão. Walter chegou à casa e não teve dúvida. Foi logo se animando. Colocou uma vela na cristaleira da família, orgulho de sua mãe, que lá deixava tantos objetos queridos desde suas avós. De bibelôs a raros cristais importados, nem seu carro importado valia tanto. Vela acesa, porta fechada, o melhor aluno da turma se posta de joelhos para ver o oxigênio acabar e encerrar a festa do fogo. E nada. Maldita combustão, que parecia infinda! Ou maldito oxigênio, existente em profusão naqueles recônditos vítreos, que teimava em não se acabar! O moleque entrou em pânico, abriu a porta. A onda de calor frio se chocou violentamente à de calor fervendo que estava quase por consumir o oxigênio do armário, resultando na quebra das prateleiras de vidro. Caem cristais, bibelôs, quebra-se quase tudo, em um diabólico e malévolo trabalho, como que encomendado para destruir um trabalho secular de acumulação de lembranças

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familiares. De conjuntos caros de cristais a pequenos bibelôs cinquentenários, sobrou muito pouca coisa. Quase nada! Walter, em prantos, começa a berrar: – Como eu sou burro! – Como eu sou burro! – Como eu sou burro! A mãe ouve do distante terceiro andar da casa o que estava acontecendo. Desce correndo. O filho, com cara de culpado, preparado para apanhar, e até esperando a merecida surra, continua aos prantos, repetindo sua curta e sentida frase: – Como eu sou burro! Ela não consegue conter as lágrimas, e quebrou com estrépito o que sobrara, incluindo a porta de vidro do armário. Walter se assustou mais ainda, pensou que iria apanhar até morrer. Entretanto, sua mãe o abraçou fortemente e disse, aos berros: – Lugar de coleção é no museu! Isso tudo não valia nada. Já estava mesmo na hora de jogar toda essa trolha fora e colocar uma estante para uma nova TV, daquelas bem grandes! Olhou para o Walter, séria e carinhosa, berrando: – Cala a boca, filho meu não é burro! – Sempre apostei em você! Não permito que ninguém te chame assim, muito menos você mesmo! Walter, quase sem respirar, tão forte era o abraço que recebia, chorou mais caudalosamente, em silêncio, aprendendo de uma vez por todas que poderia faltar ou sobrar oxigênio ou cristais milenares, mas que jamais lhe faltaria o calor de sua mãe. Anos depois, já formado em Medicina, repetia essa história aos filhos e netos. NOTA: O texto original foi apresentado em 3 páginas, conforme o edital. No entanto, após a diagramação da revista, fez-se necessária a alteração em virtude do programa usado.

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Graduado em Letras, 72 anos, professor aposentado, multipremiado em concursos e projetos literários, autor de 16 livros solo, integrante de mais duas centenas de antologias. roquealoisio@yahoo.com.br www.facebook.com/roquealoisio.weschenfelder

MULHER, A MÃE

Ela lê a vida e o mundo, Ela chora a tristeza alheia, Ela vence a luta dos dias E sempre tem um beijo de sobra. Ela é mulher todos os dias, Capricha sempre no visual, Ela é mãe de toda a família Em todas as dificuldades. Mulher de nascimento, Mãe por vocação, Feminina de coração, Cheia de discernimento. Mulher, enfeite do lar, Mãe, digna de altar; Mulher, futuro da vida, Mãe, sempre na lida! 81


Em todos os lugares, A mulher tem influência. Em cada canto do céu A noite mostra estrelas. Mulheres são estrelas Sempre cadentes de amor. Elas brilham no universo, E nós devemos o louvor. Justiça às injustiçadas! Respeito às desrespeitadas! Amor para as mal-amadas! Vida longa às nossas fadas!

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Rosangela mariana. Poeta com diversas participações e premiações em Concursos Literários. É formada em Letras pela Unisinos-RS. Pela Editora Litteris, selo Quártica, RJ, são 10 livros publicados. Faz parte do site Artistas Gaúchos. A poesia Queimadas foi selecionada para a 2ª temporada da Antologia Poemas da Terra Webtv, março/2022.

UMA MÚSICA, UMA VIDA Uma menina simples, encantadora ou apenas uma sonhadora como tantas crianças de uma época marcada pelo sarcasmo e descrença? Os sonhos nem sempre acontecem, mas ela aconteceu. E cresceu. Quais seriam seus sonhos agora? Que pensaria a menina morena? Os caminhos da adolescência são muitas vezes frágeis quebram-se como cacos de porcelana (será chinesa)? Mas ela cresceu, passando por obstáculos e cruzando barreiras. Quantas vezes será que chorou? "As lágrimas têm gosto de sal e, nós, seres humanos, somos o sal da terra". . Será que nisso ela pensou? E isso a impulsionou? Mas ela batalha? Ainda batalha

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Embora a muralha do egoísmo talvez se erga entre ela e um mundo novo... A adolescente foi em frente. Quantas vezes amou? Talvez seja descrente ou até hoje carente no amor. Quando começou a gostar das letras vibrantes de uma canção musical? Aos 5, 15, 20, 25...? Quanto tempo levou para descobrir que os sons nos transportam a um mundo todo especial ou ao cosmo sideral? MENINA-ADOLESCENTE-MULHER Será a música sua bandeira? Bastará empunhá-la para se transformar em uma célebre cantora? Terá sido esse o sonho eterno da menina Marisa? Que representará a música em sua vida? Um efêmero momento de sucesso? Ou o ingresso no palco "dos astros"? Representará a luta fácil ou um momento apenas, o pedacinho de uma vida ou a vida inteira? Uma letra, uma vida que compõe todo o caminho MENINA-ADOLESCENTE-MULHER-MARISA MONTE.

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Salete Magalhães Alves, filha de Robinson Silva Alves e Marcella Magalhães nasceu no dia 31 de dezembro de 2006, residindo em Coaraci, iniciou seus estudos na Escolinha Casinha de Bambi, atualmente estuda na Escola Sagrada Família, onde cursa o nono ano Iniciou sua trajetória literária a partir dos 07 anos de idade, tem assim conseguido algumas premiações em concursos de poesia ao longo do tempo, Salete atualmente está com 14 anos de idade. Possui premiações em diversos concursos literários, tanto físicos como virtuais, entre livros, revistas e antologias.

MULHER Mulher é caminho Mulher é estrada Mulher é afeto Mulher é rara Mulher é começo Meio e fim Mulher é trabalhadeira A mulher não tá de brincadeira Mulher é o sol Mulher é a lua Eu nunca vi beleza tão pura E essa poesia Nunca chega ao fim Pois todo dia a Mulher Merece respeito Amor e carinho. 85


Sandra Ramos. Nascida em maio de 1976, em Portugal, é licenciada em Engenharia Química e mestre em Gestão da Qualidade. Desde abril do ano de 2020, tem vindo a participar em várias coletâneas, em programas de rádio e é cronista de uma revista portuguesa. Publicou o seu primeiro livro de poesia, “Memórias de um Tempo Enfermo e Infinito: Diário epidémico” com a chancela da Chiado editora, em outubro de 2020. Para a autora, escrever é encontrar um grito endurecido pela vida, um eco surdo, que ninguém escuta; é tentar encontrar um porto seguro, que se esvai no caminho da dor e da saudade.

MÃE, MULHER Brotas no sentimento (ir)revelado da nossa admiração (in) confessada, encontramos em ti, um brotar (in) decifrável de brandas planícies fustigadas, e em ti, regamos a ceifa sagrada da Luz respirada na (in) certeza do teu deserto ancorado! Cresce em ti, um poente ladeado de ouro liberto em míticas savanas, caminhos verdejantes purificados na madura natureza fundida na liberdade sagrada! És o eterno respirar de um poema fimbrio pincelado no teu colo fogoso, onde abençoas a terra húmida, e ocultas as flores proféticas esmagadas na tua tranquilidade! No teu respirar, vivemos a intempérie idílica da Liberdade de um sonho…! Graciosamente, acendes a tua graça divina espelhada na Mulher/Mãe, que dá à luz sem sofrer…!

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Na conjugação perfeita do teu ser, distraímos os nossos pensamentos, e no teu calor ardente, idolatramos a conjugação perfeita da tua Cor irrevelada em memórias quentes acesas…! Mãe, Mulher …! Deslizante e perfumada, de tons quentes alaranjados sobrenaturais, rainha da mestria da terra seca perfumada pelo Sol, regente do pulsar da paz suspensa do espaço resignante e infinito…! Na devoção da assimetria do teu esmero, és esculpida na tela rendilhada; onde o artista devota a tua essência balística na recriação da pele bronzeada de reflexos quentes…! Mãe, Mulher. Vocábulo da maresia, expressão da carruagem, oração bendita, sentença desdita...!

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Sinval Farias. Nasceu em Fortaleza. Graduado em Letras. Mestrando em Estudos da Linguagem. Professor de Língua Portuguesa do IFCE. Deu corpo a poemas, contos e crônicas, alguns dos quais premiados em concursos literários locais, nacionais e internacionais. Possui textos publicados em coletâneas e revistas espalhadas pelo mundo. Consta como autor dos livros Coisas de sala de aula e outras crônicas (crônica) e Depois de tudo a palavra (poesia). Instagram: @profsinvalfarias

POEMA À MINHA MÃE imagino-te plena de graças mas o sabor amarescente dos dias contamina a substância tua dor é corpórea como o é no corpo de toda mulher que se rarefaz

no ventre o cemitério de vultos a assentar faces no espelho do amor pouco conheces à exceção das novelas e das novenas do colo o cafuné desastrado e a descoberta tardia de tua humanidade 88


quando menina a inocência esquecida sob o baldio dos favores quando esposa o companheiro a estender promessas entre grades e cadeados quando mulher a porta da rua e o aceno aos passantes sem qualquer advertência o futuro arremessado no córrego das fatalidades e eu vinguei vieste ao baile excessivamente humana e teu desamparo é solidário ante o que não se cura não te avexes que tão somente por teus olhos a noite se alumia à cata de teu derradeiro filho

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Suele Gomes Ribeiro. Escritora, poetisa, cordelista e cristã. nasceu em Campo Maior. Morou um tempo no RJ, aprendendo o sotaque carioca e atualmente reside em Teresina. Participou como coautora da I Coletânea Piauí Poético, organizada por Alexandre César, Claucio Ciarlini e Wilson Maudonado através da parceria entre o Jornal O Piaguí, a Sociedade Piauiense de Poesia e a Editora Tremembé, em dezembro de 2021. Membra da Casa dos Poetas e da Poesia, possui várias produções expostas nas plataformas digitais Recanto das Letras, Meu Lado Poético e Pensador. Coautora nas Antologias Poemas ao Pôr do Sol e Poemas Marítimos, lançamentos da Revista Conexão Literatura; Antologia Poética “O Som da Chuva”, publicada pela Editora Tenha Livros e na 5ª Coletânea Poemas, Sonetos e Cordéis, organizada pelo Projeto Apparere (2022).

LEMBRANÇA DA CASA VELHA DO CANTEIRO Minha memória guarda uma história. Um passado de glória que os anos não trazem mais. Faltava luxo, mas sobrava amor... A casa antiga já se deteriorando, recoberta pelas palhas. A ruralidade de nossa vivência bem longe dos holofotes da cidade grande. A naturalidade das vestes de mãe Carmelita em seu assento costumeiro. O sorriso marcado pelos anos e o coro tão judiado pela vida não deixavam transparecer a forma simples e tão pura de me amar. Ainda lembro do seu tricotar diário que em uma de suas criações, nasceu a minha manta que carrego com tanta leveza. E eu ao seu lado direito eu descansava em paz, sempre ouvinte da sabedoria que me pregava. Contemplando carinho com seus cabelos brancos, o canteiro florado era sua maravilha diária. O verde intruso e vitorioso. Na cozinha da velha casa, minhas narinas se alegravam. O bolo de chocolate com calda de caramelo era sagrado em nosso humilde lar. Antes da degustação, uma oração em agradecimento por nossa morada em clima de paz. Eu bem queria continuar ali, mas o destino quis então me contrariar. E o olhar de mãe Carmelita eu deixei chorando a me abençoar.

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Taís Curi. Nascida em Santos (SP), jornalista, escritora e haicaísta, com livros publicados na área de Cultura. Integra os grupos O Zen do Haicai, Grêmio Haicai Sabiá, Grêmio Haicai Veredas e Grêmio Haicai Águas de Março. Tem participação em e-books, antologias e jornais de haicais. No ano de 2021 obteve o 2º lugar – nível nacional – no V Concurso de Haicai de Toledo “Kenzo Takemori”.

HAICAIS SEQUENCIAIS Mulher – Mãe O sorriso largo atrás do buquê de flores – Dia da Mulher

Diante da Virgem a oração de gratidão – Dia da Mulher Sem filho e marido a ucraniana chora – Dia da Mulher Ainda ouço histórias à sombra do abacateiro – É Dia das Mães O doce perfume do vasinho no jazigo – É Dia das Mães A lágrima escorre sob os óculos escuros – É Dia das Mães.

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Valéria Pisauro. Natural de Campinas-SP, formada em Letras e Teoria Literária pela UNICAMP-SP, em História da Arte pelo MAM-SP. Mestre em BRASIL/BRASIS: LITERATURA E PLURALIDADE CULTURAL-UNICAMP e professora de Literaturas da Língua Portuguesa e de Artes Visuais. Paralela à sua carreira de docente, é poeta, contista, roteirista e letrista musical. Possui vários trabalhos literários editados e poemas musicados por renomados compositores de todo o país. Participa de certames culturais, de idôneas antologias poéticas e de reconhecidos festivais de música. Premiada em diversos concursos literários e Festivais de MPB por todo o país. https://www.youtube.com/user/valiteratura https://www.facebook.com/valeriadecassia.lima/ https://www.instagram.com/valeriapisauro/

GUERREIRAS Sou menina pequena de sopro inocente, Sou colheita, semente, cravada nesse chão. Sou o galope dos ventos da verde colina, Sou mulher brasileira, laço a laço com a canção. Sou Maria de encantos, solitária e bela, Desejos ocultos de moça donzela. Sonho com o amor, que o desejo revela, Enfrento as armadilhas e suas mazelas. Sou mulher guerreira que tece vidas, À noite, amante; de dia, sou valentia. Sou luz companheira nas noites vazias, Sou a esperança que o poeta eterniza! Sou do ventre da terra, da seiva materna, Sou céu, sou terra, sou paz, sou guerra! Sou a que sofre e ri, humana e sagrada, Sossego da alma que sonha acordada. Sou esposa, sou mãe, sou hoje e o amanhã, Sou espinho, sou flor, singular sem fim, Sou mulher de luta, remanso e correnteza, Olhar sem filtro que sabe dizer não e sim.

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Tema livre

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