BAMBOS DITHYRAMBOS

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BAMBOS DITHYRAMBOS

BAMBOS DITHYRAMBOS

Casa de Ferreiro

GLAUCO MATTOSO

Bambos dithyrambos

© Glauco Mattoso, 2022

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

BAMBOS DITHYRAMBOS

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022

188 p., 21 x 21cm

ISBN: 85-87515-02-0

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1

NOTA INTRODUCTORIA

Dando seguimento à proposta esthetica que adoptei nos volumes PRANTO EM PRETO E BRANCO e VENENOSAS FOFOCAS (ou seja, estrophes unicas, sem quantidade fixa de versos e sem rhymas, porem mantendo o rigor decasyllabico (thema, aliaz, do poema "Successo no processo"), approveitei o titulo dum antigo sonnettilho para baptizar esta ethylica lyrica, intrinsecamente descensurada e chronologicamente simultanea a VENENOSAS FOFOCAS, ja que foi composta entre fevereiro e março de 2022. A exemplo dos titulos anteriores, os cento e poucos poemas deste repertorio não serão incluidos em outras anthologias thematicas, como occorria com os milhares de sonnettos compostos ao longo de duas decadas. Tracta-se agora de considerar um novo criterio, coherente com meu actual rhythmo creativo, mais pausado e menos febril, ainda que apollineamente dionysiaco. Appenas accrescentei, a titulo de segunda parte, alguns poemas de recorte egualmente dithyrambico, a fim de celebrar, retrospectivamente, a fluidez que mais molha a garganta dos trovadores e menestreis.

PRIMEIRA PARTE

NOVA SAFRA

IN VINO VERITAS [8777]

Eu posso ser chamado de nazista, racista, appoiador de genocida, ou mesmo de cruel torturador!

Por outro lado, posso ser chamado de monstro, comedor de creancinhas, pedophilo, communa, defensor de sordidos bandidos, mafiosos e narcotrafficantes terroristas! Ahi nem estou, Glauco! Si disserem que xingo de macaco um negro ou xingo de subhumano um cego chupador, direi que interpretaram mal meu pappo e fora do contexto me editaram! Si velhos attropelo com meu carro, direi o que ja disse si nazista disseram que eu seria, agora mesmo: direi que estava bebado, poeta!

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VACCINADA [8778]

Eu, ebria? Mas Glauquinho, sou sozinha, maior e vaccinada! Si eu quizer beber até cahir, na minha casa estou cahindo, ou seja, meu cachorro, e não um viralatta alli da rua, é quem irá lamber a minha bocca! Glauquinho, meu querido, si tambem ja bebe Elizabeth, ella, a rainha, religiosamente seu Martini nas horas que precedem o cochilo, por que eu, porra, não posso uns trez ou quattro tomar, 'inda accordada, antes de, exhausta, pegar no somno vendo um filme? Hem? Diga! Você não dorme sempre emquanto ouvindo está seu futebol pelo radinho? Prefere que eu me irrite escutando outro discurso, pelas redes, do meu ex na Camara? Ah, Glauquinho! Tenha dó!

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GARRAFINHA THERMICA [8779]

Thio Glauco, o meu pae disse que, no tempo em que elle ia nas aulas do primario, ninguem ganhava nada, alli, de graça, nem livro, nem caderno, nem siquer o lanche, muito menos o uniforme! Foi tudo o meu avô quem lhe comprou!

Agora a gente ganha até transporte e todos da merenda ja reclamam!

Mas eu nunca reclamo, não, thio Glauco! De casa trago um trago todo dia na minha garrafinha! Tem birita de todo typo: whisky, rhum, tequila, canninha, vinho, vodka, até conhaque! Só faço uma resalva: com assucar!

Não tomo nada puro, não, thio Glauco! Mixturo com groselha, guaraná, garapa, mel, ou mesmo um xaropinho!

Papae? Não, elle quasi que nem liga! Somente levo bronca quando o velho ainda não tomou o seu absintho!

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LYRICA FAKETHYLICA [8780]

Só bebo, Glauco, quando vou trepar. Assim, não me pergunto com quem vou fazer ou não fazer algo na cama. Não penso duas vezes: tudo vale, diria Dylan, como digo sempre a quem commigo trepa appós beber commigo. Na manhan seguinte, nada precisa ser lembrado, ja que estavamos de porre. Não é mesmo, Glauco, como costuma-se dizer? Mas eu lhe digo: De porre totalmente nunca fico, nem fica quem commigo bebeu todas. É tudo uma desculpa para aquillo que menos foi gostoso que maluco. Podemos ambos nunca mais nos vermos ou mesmo todo dia nos cruzarmos, fingindo que exquescemos o que foi completo ou incompleto num momento.

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PILEQUE DE ARAQUE [8781]

Só bebo, Glauco, para me exquescer daquillo que rollou de bom emquanto estive com alguem e que era firme julguei. Ambos julgavamos, então. Ja tudo terminou, como costuma rollar nessas canções de cabaré. Mas vamos combinar, Glauco: ninguem se exquesce de ninguem, porra nenhuma! Si tudo o que rollou não foi na cama, appenas, que rollou, mas era affecto diario, duradouro, não nocturno ou mero, momentaneo porre, eu digo: Jamais me exquescerei, mesmo que tome um porre cada dia dos que restam.

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SENTIDO DO SENTIDO [8782]

Que graça tem, Glaucão, mandar alguem lamber o nosso rego, poncta a poncta, passar a lingua pelos pellos todos, mettel-a la no fundo o mais possivel, abrindo cada prega appertadinha, si estou de cu lavado? Me responda!

Que graça tem, Glaucão? Gostoso mesmo é quando nós sabemos que quem vae chupar aquillo tudo sentirá cheirinho de cocô, sabor de merda! Sinão, para que, Glauco, um cu lamber?

Então, beijar de lingua melhor é, trocar saliva à bessa, com sabor de mentha, dentifricio, ou de chiclette!

Fallando nisso, vale este lembrete: na minha bocca, bafo de cachaça sentiu quem me chupou o cu, poeta, assim como o senti, tambem, no beijo! É para que, depois, ninguem se queixe de, lucidos, nós termos feito tudo!

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CONVERSA DE BORZEGUIM [8783]

Não, Glauco! Não precisa dizer nada! Dizer, você ja disse que poetas preferem beber vinho, que cerveja é coisa de boteco onde só ficam jogando pappo fora aquelles gajos que entendem de ficção ou futebol. Mas acho que entendi por que você degusta vinho quando conversamos:

Apposto que imagina ainda serem as uvas admassadas pelos pés dos gregos rapagões que, certamente, teriam todos gregos dedões. Hem?

Não pode exsistir uma beberagem mais propria ao fetichista do seu typo!

Hem? Como? Mais completa a phantasia será si for bebido numa bota?

Nem ouso perguntar a qual pisante você se referiu. Sim, usei desses no tempo do serviço militar.

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CONVERSA DE BOTEQUIM [8784]

Você precisa, Glauco, vir mais vezes aqui, beber comnosco! O bar é tão sympathico, não acha? Agora mesmo estava alli no fundo uma morena famosa no pedaço! Sim, famosa! Não sabe? Ella consegue chupar um caralho da maneira mais gostosa possivel! Ninguem chupa assim, Glaucão! Sim, claro, você pouco se interessa por putas... Mas chupou e foi chupado! Entende do riscado! Por fallar no thema, convidal-o vou a dar aquella mammadinha num traçado... Aniz, logicamente! Em que pensou? Não, Glauco! Não me faça desviar o pappo! O que riscamos, nós traçamos!

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PAU D'AGUA [8785]

Você, que é meu vizinho mais chegado, está de prova: nunca fui bebum! Chamado de "pau d'agua" agora sou! E sabe por quem, Glauco? Dona Deborah, aquella fofoqueira com quem vae você tomar café todas as tardes!

Ah, faça alguma coisa, Glauco! Diga àquella linguaruda que não foi por causa da bebida que cahi na rua, alli passando o dia todo! Eu tenho que tomar alguns remedios que fazem um effeito meio forte e, quando tomo um unico coppinho de pinga com mel, caio onde estiver! Alguem do bar deixou-me na calçada, por isso paresceu que tombei la! Mas um coppinho, porra, só, não deixa ninguem assim tão bebado, Glaucão! Você, que bebe vinho, cae no somno tão facil? Serio? Ousou alguem chamar você de beberrão? Não? Sorte sua!

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PUDDIM DE PINGA (I) [8786]

Disseram que estou bebado, Glaucão, appenas porque, em pauta, alcei seu nome! Você fez mais de septe mil sonnettos, alem de madrigaes, mottes glosados, rhapsodias, odes, trovas e balladas... Ja contos e romances publicou, de versificação fez um tractado e mesmo um orthographico glossario... Mas nunca conseguiu na Academia assento ter! Siquer um Jaboty ganhou em primeirissimo logar!

Ao menos poderiam obra como a sua premiar com o devido trophéu pelo conjuncto do que fez! Da pauta fiz constar isso, mas mal seu nome levantei, um medalhão chamou-me de puddim de pinga, appenas!

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PUDDIM DE PINGA (II) [8787]

Conhesço-te, Glaucão! Tu passas todas as tardes a tomar café na casa daquella viuvinha, a dona Deborah, mas nunca me engannaste, pois sei bem qual é teu interesse na bondosa senhora: degustar o seu puddim, famoso ca no bairro ja faz tempo! Invejam-te, portanto, pois comeste mais desse manjar magico que todos nós junctos comeriamos na vida! Então o valor sabes dum puddim bem feito! Ora, não posso concordar que chamem de "puddim de pinga" alguem que bebe tão pouquinho quanto bebo! Puddim é coisa boa! Não admitto tal uso da palavra! Não me dás razão? Não? Pois então eu mesmo vou achar que elogioso foi o termo!

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LAMBRUSCO KIDS [8788]

Thio Glauco, uns menininhos comportados nós somos e jamais abusariamos dum cego, o senhor pode ter certeza!

Jamais barbarizar iremos, como costumam os moleques quando pegam de jeito o cego pela rua andando, pois, mesmo que elle implore de joelhos, terá que se foder, na bocca, até!

Não, nunca! Normalmente, não, thio Glauco! Somente si estivessemos de porre, entende? É que tomamos um frisante

barato, que nos deixa meio grogues!

Ahi, si, quando dermos um rollê, pegarmos o senhor... ahi, babau! Entende, então, thio Glauco? Si quizer pagar umas rodadas para a gente... Responsabilizar-me não vou, hem?

Depois não poderá nos accusar!

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SIDRA QUE VIDRA [8789]

Ah, Glauco, nós não temos, bem sei eu, motivo nenhum para achar que tudo é commemoração! Mas sou vidrada num desses espumantes e qualquer ensejo vale como occasião propicia para brindes e desejos! Que foi? Não entendeu? Desejos, ora! Bons votos! De sahude, bem estar, de grana, de successo, ou até fama! Você, sendo um poeta, não quer isso? Então! Vamos brindar! E por que não fallar tambem de erotico prazer? Não quer? Tá bem, não fico chateada! Brindemos à amizade, então, querido!

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PONCHE DE PONKAN [8790]

Glaucão, neste calor o que vae bem é ponche bem gelado! O meu amigo Saburo, um japonez que tem pendor poetico, prepara cada ponche incrivel, que você deliraria!

A gente passa a tarde toda alli na casa delle, enchendo nossa cara e dando gargalhada até ninguem poder se segurar! Ahi, ficamos fazendo uns poeminhas... Ah, que versos phantasticos, Glaucão! Mesmo o Saburo, que é timido, discreto, de pudores repleto, se revela abbestalhado adepto duma boa fellação!

É claro que não perco uma tal chance e faço nelle erotica mammada! Você não quer provar o ponche delle?

Ah, só si elle deixar chupar o pé?

Não sei... Elle não tira aquelle tennis e nunca conferi, mas deve ter chulé, sim! Caso certo não dê, vale ao menos versejar e rir bastante!

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QUENTÃO DE LIMÃO [8791]

Nem só si for hinverno dá vontade na gente de exquentar tudo por dentro, Glauquinho, meu amor! Sim, sou damnada de boa para armar uma rodinha em volta dum quentão que eu mesma faço!

Eu era, juro, frigida, querido!

Agora que inventei essa receita, ah, pego fogo, viro uma assanhada!

Você está convidado, Glauco! Venha!

Não ponho pinga, appenas, nem gengibre!

Não fica tão azedo, porque leva assucar, como numa limonada!

Depois de tomar umas, você vae querer até trepar com uma amiga do peito, tal qual esta que lhe falla!

Não topa? Nem que eu diga que tambem convido um molecote de pé grande?

Ah, prompto! Não fallei que essa parada é lance irresistivel, meu amigo?

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BATTIDA DE AMENDOIM [8792]

Ah, Glauco! Não me venha com figura! Você, sendo um poeta, não me enganna! Só pode ser metaphora a conversa do gosto que cê tem pelo puddim de leite condensado! O que cê curte, apposto, será a latta desse leite battida com cachaça, amendoim e, como si isso fosse refri, bem gelada num caneco! Vamos, Glauco! Confesse que cê gosta dessa bomba! Tambem eu gosto, cara! Ahi, si cê convida, até concordo que me faça massagem no pezão com sua lingua! Então, confessa? Agora sim! Lhe indico um optimo boteco onde elles fazem battidas... E, depois que ja malucos estamos, qualquer coisa rollar pode!

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BATTIDA DE COCO [8793]

Ah, Glauco! Não me venhas com tal peta! Tu fallas desse branco manjar, mas eu acho que puddim isso nem é!

Será, talvez, metaphora daquillo que excita realmente teu prazer! Confessa, menestrel! Qual manjar branco, qual nada! Na verdade, bebes leite de coco mixturado com conhaque ou vodka, assucarado na battida! Conhesço-te, poeta! Tambem sei que gostas de lamber um pé de macho, assim como o meu! Faço-te, então, este convite: tu me pagas um coppinho ou dois, ou trez, ou quattro, dessa bella mixtura... Ahi, depois que ja bem grogues nós ambos estivermos, nada mais impede que me tires a botina!

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PEPPERMINT [8794]

Você não vê mais nada, Glauco? Mas do peppermint eu acho que você se lembra: aquelle verde esmeraldino!

Vocês, os cegos, devem do sabor ainda ter mais nitida lembrança! Estou certo? Pergunto-lhe, poeta: Que gosto tinha aquelle licor tão verdinho? Opa! Desculpe, falha minha!

Então você tomando continua tal nectar? Não me diga! Convidado estou para tomar ahi? Mas claro que irei usando tennis! Por que indaga? Entendo... Não, problema não ha, não... Importa mesmo o nosso prazer! Si você se satisfaz assim, eu tomo licores e você lambe chulé...

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CURAÇAU [8795]

Um cego não se exquesce dum azul tão vivo, tão profundo, tão intenso, depois de tel-o visto, transparente, no coppo de crystal com curaçau! Estou isto dizendo por você, Glaucão, ja que você não me confirma que está saudoso dessas cores todas! Mas, vamos combinar, tem synesthesico poder desse licor um sabor tão... tão unico! Não acha, Glauco? Não lhe vem à mente, emquanto o toma, aquelle azul? Calma, não chore! Então brindemos ao facto de que estamos, 'inda, vivos! Fodeu! Perdão, Glaucão! O fiz chorar ainda mais! Que lastima! Perdão!

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PALADAR DISCIPLINADO [8796]

As scenas indianas que eu na rede costumo pesquisar, ah, me revoltam, Glaucão! Como tem cego nessa terra! E como são pauperrimos, sem pae nem mãe, desamparados, indefesos! Qualquer um, professor, policial, ou simples cidadão que enxergue bem, expanca como queira aquelles cegos, na rua, no collegio, no orphanato! Relatos tenho, Glauco, de que são forçados a chupar, como castigo, de forma a que conhesçam seu logar e plena disciplina alli demonstrem! Aquillo me revolta, Glauco! Não consigo tolerar isso, si estou de todo sobrio ou lucido! Só quando tomei ja varios calices de vinho do Porto, ou moscatel, é que taes scenas conseguem me fazer o pau subir!

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CYNAR OU CINZANO [8797]

Não, Glauco, não entendo por que está você tão viciado nas bebidas mais doces, inclusive diabetico sabendo-se que seja! Ah, não! Prefiro tomar uma champagne da viuva, daquella mais amarga, tão amarga que mais paresça a propria viuvez! Prefiro tomar vinho tincto secco, daquelles de travar nosso gogó, tal como o gogó travo desde quando fiquei, tambem, viuva! Glauco, pense commigo: que é que lucra você sendo mais uma formiguinha aqui no bar? Não bastam os puddins que você come na casa dessa tal viuva alegre, a dona Deborinha? Pense bem! Um cego não tem nada que tentar seus males addoçar! Mais realista devia ser você! Beber cynar, até, que é mais amargo, não brindar commigo com cinzano, como vem fazendo! Não recuso porque sou cortez, sou educada! Só por isso!

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CAYPYROSKA [8798]

Glaucão, vou lhe contar o que é que eu acho! Eu acho que elles querem deturpar a nossa caypyrinha! Acho bagunça aquillo que virou essa receita! Alem da caypyroska, ja se falla até de caypyrisky, caypyrila,... Por que não caypyraque e caypyrim? Tambem caypyrakê vale inventar!

Virou bagunça? Ahi que eu mais me exbaldo! Comtanto que mixturem com assucar, eu tomo, cara, até caypyrabsintho!

É claro! Me exquesci! Cê tem razão, Glaucão: sem o limão, nada tem gosto legal de limonada, aquelle toque que faz a caypyrinha ser melhor que soda! Ah, deu vontade! Cê me paga um trago? Sim, lamber deixo o meu pé, mas saiba que docinho não será!

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RABO DE GALLO [8799]

Quem disse que cinzano com cynar não podem se junctar? Eu tomo todas, Glaucão! Você não toma? Até cachaça eu posso mixturar nesse coppazio! No sexo ou no poema assim tambem eu faço! Ocê não faz? Ja fui casado com uma só mulher, ja tive filho, tambem um só, mas tudo desandou!

Peguei minha mulher com dois malandros, com outros ella teve varios filhos e toda a filharada acha que sou pae delles, Glauco! Fora a minha prole com outras que, depois de ser trahido, levei à minha cama! Agora bebo de tudo, nem que seja ao mesmo tempo! Poemas? Sim, versejo sem prender-me a regra alguma, assim como você!

Ah, segue 'inda você sua regrinha, ao menos uma metrica? Ah, só toma um trago differente por vez? Ora, não seja, não, por isso! Me convide e bebo com você cada rodada!

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CUBA LIBRE [8800]

Não quero nem saber, Glauco! Sou mesmo retrô! Sim, sou raiz até no coppo! Si rhum com coca-cola ja sahiu de moda, não estou nem ahi, Glauco! Você não faz sonnetto? Não se prende à rhyma, ao metro fixo? Não se prende ao vinho duma marca, aquelle tal Armario do Diabo, ou coisa assim?

Então! Meu coquetel é sempre egual!

Ah, varios outros generos practica agora? Ja licores toma varios?

Pois digo-lhe: não quero nem saber! Votar eu vou no mesmo candidato e tennis uso sempre este daqui!

Ah, que coincidencia! Vae votar tambem nelle? Então deixo 'ocê lamber!

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GEMMADA TURBINADA [8801]

Você ja me contou, Glaucão, que, quando pequeno, uma gemmada todo dia ganhava, mas com vinho, offerescida por seu mais que italiano bisavô. Então por que extranhar, meu caro, que eu mixture na cerveja a minha gemma?

Não é qualquer cerveja, veja bem! Cerveja preta, appenas! Sei de gente que joga tanta coisa na cerveja, Glaucão, que nem lhe conto... O que interessa é vermos nosso gosto satisfeito, não acha? Lhe contar vou, Glauco, um caso veridico de Minas: mergulharam um grande escorpião numa garrafa de pinga que, branquinha, foi ficando escura, allaranjada... Quem tomou aquillo diz que gosto tinha a bella cachaça de pigmenta amarga! Assim tambem não, né? Prefiro uma saudavel cerveja, com meu ovo! Ou não concorda? Melhor do que colhão de boi no vinho!

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TENNIS MENOS BRANCO [8802]

Fui muito ratto, Glauco, porem não dos de bibliotheca: aquillo que eu amava frequentar eram festivos locaes de eventos, desses culturaes, artisticos, auctores nos autographos, museus, exposições e vernissages.

E sabe por que? Pelo patê, sim, mas pelo vinho branco, o principal!

Beber vinho de graça... Ah, que delicia! Que pena que essas coisas accabaram por causa desse panico pandemico!

Mas resta a sua casa, Glauco! Ocê podia convidar a gente, né?

Servir bastante vinho com patê...

Motivo? Ora, Glaucão! Minha presença não basta? Ah, vou de tennis detonado, sem meia, num relaxo total! Topa?

Tá vendo? Ocê consegue convencer a gente, sempre, Glauco! Que legal!

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AGUARDENTE CONDIZENTE [8803]

Frequento o Bar dos Cornos, Glauco! Sabe? Ja fiz vasectomia. Pois é. Minha esposa sempre soube. Mas, depois duns annos, ella teve gemeos, cara! Não, nunca nós quizemos o divorcio. Virou um mor climão ficar em casa, ahi que me indicaram esse bar, aonde vou passar tempo bebendo e idéas permutando com aquelles collegas todos, Glauco... Quanta gente! Está sempre lotado o logar, cara! Quem vem pela primeira vez escuta um sino. Como o sino, sim, de egreja. Bebida? Ah, cê não sabe qual tomamos? Só pode ser a pinga Admansa Corno! Tem outra alli, Glaucão: Cura Veado, mas essa, acho, será para você...

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NOSTALGIA DA SANGRIA [8804]

Glaucão, si você curte vinho, ja tomou, quando pequeno, uma sangria. Estou certo? Não, minha meninice não teve disso. Davam-me cerveja, daquella doce paca, a "malzibia". Se lembra? A caracu, si você põe assucar, fica assim, feito um refri. Não, hoje ja não tomo um troço desse. Prefiro pôr assucar, mas sem agua, no vinho mais azedo que encontrar. Ah, fica a maior bomba! Dá vontade de encher a cara, Glauco! O que? Si topo de tennis ir ahi na sua casa? Mas claro! Por um vinho desses, com sabor addocicado, sou capaz até de lhe pedir que me descalce! A vida de momentos taes é feita!

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APPURADO PALADAR [8805]

Glaucão, me explica duma vez por todas: Os cegos paladar teem refinado a poncto de entenderem de bons vinhos?

Serão elles capazes de saber si estão tomando um chato ou um chatô?

Um optimo chianti dum chiante tu podes distinguir ao degustal-os?

Depende? Mas que queres dizer? Ah, agora comprehendo-te! Si estás ainda sobrio, quattro coppos 'inda não tendo tu seccado... Comprehendo!

Tambem eu sou assim. Depois que tomo a jarra toda, à mesa dum amigo chegado, como tu, perco o meu senso, até minha censura. Ahi permitto até que me descalcem e em meus pés saciem os podolatras a lingua!

Verdade? Me convidas? Quão gentil!

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SADIA COMPANHIA [8806]

Pegaram ja você na rua, Glauco? Levaram para aquelle barracão? É foda ser um cego, né, poeta?

Alem de levar tapa pelas fuças, ainda chupa rolla adjoelhado! Ficou sem sua grana, tambem? Porra! Aquelles marmanjões são uns covardes! Abusam dum ceguinho, mas não teem coragem de mactar uma baratta! Pois fique sossegado que, commigo, está você seguro. Os caras não se exbaldam com alguem accompanhado! Quer ir ao bar commigo, Glauco? Ocê me paga algumas cervas geladinhas, alem dumas porções de tiragosto, e juro que não faço com você aquillo que fizeram. Só me chupa gostoso si estiver a fim. Prometto que sarro não lhe tiro da cegueira!

Ah, posso zoar? Mesmo? Ora, melhor assim, claro! Tá prompto? Vamos nessa!

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TARADOS POR REFUGIADOS [8807]

Você tinha, Glaucão, que ver o povo em fila na fronteira, nem que fosse refugio procurar na Transylvania! Ah, cada molecão brancão, loirão, de enormes pés e tennis encardidos! Apposto que elles, como gente pobre, são faceis de pegar! Ah, meu, si eu fosse um guarda de fronteira, lhes daria abrigo, mas em troca quereria lamber-lhes o chulé! Você não, Glauco? Mas... como não? Peor faria aquelle babaca que elogia as minas pobres querendo lhes lamber o cu cagado! Não, Glauco! Só 'tou dando opinião! Politico nem quero ser! Si forem fazer reclamação de mim, direi que só fallei aquillo por estar de porre, embriagado, bebum, ebrio!

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BAR DOS PHARISEUS [8808]

Criticam-te, Glaucão, porque tu fallas, naquelles teus poemas fescenninos, das botas que lambeste, dos pés sujos, suados, malcheirosos, que chupaste! Disseram que tu queres ser capacho! Calcula, meu amigo, o que dirão de mim, que chupo os anus femininos, que sou papel hygienico das moças mais sadicas e estupidas que exsistem! Consola-te commigo, meu amigo! Bebamos e brindemos ao que excita! Aquelles machos todos, phariseus que sempre foram, fallam mal de nós, mas bebem neste mesmo bar, nos mesmos canecos e coppinhos, o que nós bebemos! E elles todos, Glauco, são das femeas absorventes! E se lambem, estallam suas linguas, se lambuzam nos menstruos que degustam loucamente! Não podem criticar-nos, não é mesmo?

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SEDUCTOR INFLUENCIADOR [8809]

Jornal? Televisão? Radio? Que nada, Glaucão! Nas redes tenho seguidores que ja me totalizam um milhão! Ja posso diffundir aquillo tudo que numa grande imprensa ninguem quer: dizer que jogo ou fumo nos faz bem, que carne e coisa fricta nada alteram em termos de sahude e bem estar, que esporte e que gymnastica mal fazem, que temos que votar em quem desmanda, prohibe tudo quanto for de esquerda, revende e expalha as armas por ahi! Emfim, contradictorio ou não, só quero famoso ficar, grana arrecadar! Você não me dá appoio, Glaucão? Ora, tambem digo que Baccho ou Dionyso poderes tem maiores do que Zeus e quem com vinho brinda aos céus aggrada! Agora convenceu-se? Então aos seus leitores recommende este canal!

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PEZÃO SUJO (I) [8810]

Ouvi na Transamerica, Glaucão, dum Bar do Cabeção a propaganda que faz o Gavião, commentarista da radio. Não estive nesse bar, mas perto la de casa ja fui num chamado Pezão Sujo. Glauco, os rotulos alli são tudo plagio dos famosos! O whisky Joãozinho Caminhante, o vinho Pratteleira do Diabo, alem das cervas Mozart, Bach e Brahms, são typicos exemplos do que digo... Mas nunca mal passei alli bebendo, nem mesmo uns salgadinhos degustando, poeta! Quer commigo um dia alli passar a tarde em hora de futiba? Não mesmo? Comprehendo... O seu regime taes gostos não permitte... Só si fosse puddim da dona Deborah comer na casa da viuva... Né, malandro?

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CARNAVALIDADE [8811]

Aquelle seu amigo, Glauco, o Bob Porcão, tambem commigo commentou aquillo que explodiu no carnaval: em publico o que estava confinado nos mezes mais pandemicos recentes. Um baita creoulão Bob hospedou, que para lhe servir de escravo veiu. O cara até cocô comeu, Glaucão! Levado na colleira, foi à rua com merda pela fuça toda, appós limpar do Bob a bunda com a lingua! No meio do povão, o mano foi zoado, mas apposto como muitas bichinhas invejaram o negão, louquinhas para a bunda limpar desse mandão impiedoso, um mestre eximio! Glaucão, fiquei pensando: si eu tomasse um litro de licor, daquelles bem docinhos, tambem era capaz disso, limpar com minha lingua a bunda dum subjeito que me imponha tal serviço! Que pensa você disso? Sendo cego, garanto que estaria hallucinado! É mesmo? Sente medo? Ora, melhor assim! Mais divertido o cara achava!

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CHERRY BRANDY [8812]

Glaucão, sou entendido! Não confundo o brandy com jerez, nem com conhaque! Mas elles fallam muito, só de cherry, embora tantas outras fructas sejam usadas nesse typo de bebida!

Estava ja na hora de inventarmos um typo que não seja de cereja, talvez de tamarindo ou genipappo!

Até em jaboticaba ja pensei!

Não, Glauco! Tem certeza? Ja pensaram no caso? Ora, attrazado paca andei!

Preciso urgentemente resgatar o tempo que perdi! Vamos tomar um coppo desses todos que citamos?

Você não me convida? Ao bar marchemos!

46 GLAUCO MATTOSO

EX-CORNO [8813]

Ninguem ficou sabendo por aqui, Glaucão. É segredinho, não expalhe. No tempo que passei no Piauhy, tornei-me corno. Um corno, por signal, mansissimo, humilhado pelo gajo que estava com a minha mulher, Glauco. Mas, desde que mudei para São Paulo, de novo me casei e ja não sou um corno: sou ex-corno, para ser exacto. Prova disso, Glaucão, dou naquillo que bebi mas ja não bebo. Bebi cerveja preta, choppe escuro, nos bares onde estive, em Therezina. Aqui, só bebo vinho. Vinho branco, questão agora faço de frisar. Que foi, Glaucão? Duvida dessa prova? Não posso fazer nada, alem de erguer um brinde, em nosso nome, nesta mesa.

BAMBOS DITHYRAMBOS 47

INCOMMUNICABILIDADE [8814]

Você vae me chamar de doido, Glauco, pois uso o cellular mesmo sem chipe e sem o zapezape. Mas é practico, sim: serve como radio, como banco, tambem despertador, emeio, bloco de notas, ou até calculadora. Me poupa, assim, das redes sociaes, a praga mais damninha desse treco.

Fallar commigo pode quem quizer, é só me visitar ou por emeio. Mas, quando quem convida a gente é cego, poeta, beberrão e serve vinho, a gente sae de casa numa boa... Não é mesmo, Glaucão? Responda ahi!

48 GLAUCO MATTOSO

CAMA NA VARANDA [8815]

Ai, Glauco, me chamar cê vae de doida, mas quero lhe contar: eu fiz a cama, tal como na canção, sim, na varanda! Nem foi do cobertor que me exquesci! Foi mesmo dum lençol ou duma colcha! Deu vento na roseira... Ai, meus peccados!

De petalas cobriu-me... Na manhan seguinte, peguei uma puta grippe!

Ahi foi que fiquei, mesmo, de cama! Confesso que tomei, sim, uns coppinhos de pinga... Mas da boa, Glauco! Ouviu?

A mesma que tomei quando grippada! Cê pode duvidar, mas me curei appenas com a pinga! Na varanda não faço mais a cama, mas garanto que dessa boa pinga jamais abro mão, Glauco! Diga agora: alguma vez dormiu, cara, ao relento? Não? Mas pinga daquella ja tomou... Ah, tambem não? Caralho! Perco o tempo lhe contando!

BAMBOS DITHYRAMBOS 49

CADA BARRACA [8816]

Glaucão, eu bebo, sim, e estou vivendo! Tem gente que não bebe e está morrendo! Você decerto ouviu, ja, na canção, mas quem compoz aquillo bebe pinga, canninha, que é bebida de sambista, cachaça, que é bebida de proleta, cerveja, que é bebida de estudante sem grana, pobretão, ou de escriptor mediocre, que imita adolescente de classe media, alli no bar da rua! Commigo, não, Glaucão! Sou radical, assim como você, que quer absintho! Mas... como? Não prefere? Mas... por que? Então só gosta agora de licor bem doce? Entendo, Glauco... Si você tem quadro diabetico, o melhor jeitinho de chutar o pau da sua barraca será mesmo um licor desses! Mas viva a rebeldia! Né, Glaucão?

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THEORIA DA RELATIVIDADE [8817]

A gente cada coisa faz, si está de porre... Né, Glaucão? Eu ja deitei no piso dum motel bem vagabundo, egual àquelle escroto pardieiro descripto por amigos, como o Bob Porcão. Quem me cagou na bocca nem ligou si estava molle demais seu cocô, Glaucão! Desceu o barro todo na minha aberta bocca de latrina! Difficil de engolir aquella massa fecal todinha, Glauco, que excorreu na lage do banheiro... Orra, poeta!

Só mesmo beberrões conseguem isso! Não acha? Ja pensou si eu fosse cego assim que nem você? Que desespero! Cagado ser assim, sem piedade!

Você não me diz nada? Ficou mudo?

Deixou para pensar em casa? Ahi, malandro! Um dia até que pego um cego e nelle desforrar aquillo quero!

BAMBOS DITHYRAMBOS 51

PILEQUE DE MOLEQUE (II) [8818]

Ué, não mixturaram rhum com Coca, com tonica não usam mixturar o gim? Então, poeta! Me criticam appenas porque ponho na cachaça qualquer refrigerante que me venha à mão, ou à cabeça! Guaraná, grapette, fanta, soda limonada, ou mesmo tubaina! Por que não? Porei, si duvidar, até kisucco! Você mixturaria qual bebida? Groselha? Porra, nisso não pensei! Que tal tomarmos uma com tequila? Prefere que sequemos um Cointreau? Belleza! Tamo juncto! Quer que eu va de tennis? Não será para beber aquelle licor dentro do pisante, né mesmo? OK, então ja combinados estamos: depressinha ahi vou eu!

52 GLAUCO MATTOSO

CONDIZENTE CONTINENTE [8819]

O calice faz toda a differença, Glaucão! Não são as taças que definem o modo como um vinho nós bebemos?

Então! Cada licor precisa ter o calice com elle condizente! Concorda, Glaucão? Ora, por que não? Ah, gosta dum Cointreau tomar no coppo do succo de laranja? Até que faz sentido, si laranjas são a base do typico licor, o mais famoso do mundo! Ja que estamos com franqueza fallando, confessar vou que tambem eu tomo caypyrinha num coppão daquellas limonadas de creança!

BAMBOS DITHYRAMBOS 53

DELIRIO TEMPORARIO [8820]

Thio Glauco, o meu pae pensa que eu só bebo groselha mixturada! Sim, com agua gazosa, mineral, typo um refri! Mas eu prefiro mesmo um vinho tincto com soda limonada! Quanto mais escuro, mais gostoso! O senhor não costuma mixturar? Ah, tá! Licor e vinho o senhor toma sempre puros...

Então o tithio toma amargo o vinho e doce si licor for... Não sae caro tomar essas bebidas todas puras?

Não tenho grana para tanto, mas sabemos -- Né, tithio? -- que nesta vida só vale este momento... Cada gole sorvemos como um ultimo suspiro... Extranha que eu esteja de philosopho posando, um molecote tão novinho? Effeito temporario deste vinho!

54 GLAUCO MATTOSO

TERCEIRA TERCEIRIZADA [8821]

A guerra nos affecta a todos, Glauco! É só no territorio ukraniano ainda, mas chamada de terceira ja pode ser, agora que inflaciona o preço do petroleo, pois accaba as taxas mais globaes terceirizando! Mas isso tudo passa, Glauco! O bom das guerras é que todas, bem ou mal, accabam accabando! Quando o dia chegar do cessar fogo, poderemos brindar! Sim, com champagne, das mais caras!

Emquanto tal momento não nos chega, brindamos, por tabella, por estarmos ainda vivos, Glauco! Nesse caso, abrir podemos uma dessas sidras baratas! Por cumprir tabella, appenas, vivemos a brindar à paz no mundo!

BAMBOS DITHYRAMBOS 55

Não sei si é Pezão Sujo ou Pé Sujão o nome do logar, mas me disseram que quem não quizer uma diarrhéa aquelles salgadinhos não engula! Coxinhas, empadinhas, croquettinhos, terriveis são, Glaucão, ao intestino mais fragil e sensivel a taes bombas! Appenas uma coisa me desperta

alguma temptação de visitar aquelle botequim: a pinga delles! Disseram que esse treco mixturado foi pela mão dum mago com secreto xarope e quem tomou viu estrellinhas de dia, coloridas, scintillantes... Alem disso, o tesão, segundo dizem, augmenta, a rolla augmenta de tamanho, emfim, mil maravilhas disso fallam. Então, topa commigo um pullo dar naquelle poncto, Glauco? Não? Por que?

Ja suas estrellinhas você vê dansando na cabeça, de memoria?

Mas toma alguma coisa? Ah, bom! Não, isso eu acho que esse bar não offeresce... Melhor, mesmo, poupar uma viagem!

Depois, então, lhe conto como foi o teste. Não estou muito optimista sobre essas multicores sensações.

56 GLAUCO MATTOSO
PEZÃO SUJO (II) [8822]

BOTTLE OF WINE [8823]

Não era, amigo Glauco, uma canção dum gruppo, os Fireballs, si não me enganno, que tinha lettra contra a bebedeira?

Queria da garrafa ficar longe, pedia que deixasse em paz alguem que estava só querendo para casa voltar, ou coisa assim... Pelo que entendo, o vinho uma admeaça parescia, um vicio que impedia alguem de ser feliz e livre... Estou eu engannado? Commigo não tem disso! Uma garrafa de vinho será sempre companhia amiga para aquelle que está só! Mas desde que não seja vinho fracco, docinho, de mulher, emfim... Não acha, Glaucão? Não mesmo? Vinho doce bebe você tambem? Mas tudo occasião tem, certo? O vinho tincto você bebe nas horas de maior meditação, naquella philosophica afflicção!

Agora accertei? Optimo, pois vejo que estamos nós concordes: discordamos appenas da canção dos Fireballs.

BAMBOS DITHYRAMBOS 57

RED RED WINE [8824]

Glaucão, numa canção ouvi Neil Diamond dizer que tem no vinho um bom amigo, aquella companhia ao solitario subjeito! Não quer elle ficar longe dum trago: quer, em summa, que esse vinho esteja sempre perto quando o gajo está desconsolado! Sou assim, poeta: adoro um vinho quando fico saudoso, deprimido ou desgostoso! Nas horas mais alegres? Sim, tambem costumo beber vinho! Você não?

Ah, cara! Affinidade, então, nós temos! Só falta combinarmos um encontro e pormos esse pappo molle em dia!

58 GLAUCO MATTOSO

DRINKING WINE SPO-DEE-O-DEE [8825]

Glaucão, eu, toda vez que escuto um som daquelles cincoentistas, com o Johnny Burnette, e elle tambem, Jerry Lee Lewis, me lembro da champagne que expouquei diversas vezes, para celebrar conquistas amorosas! Hoje em dia, me lembra appenas uma punhetinha que batto, solitario, no meu cantho, pensando nas meninas que comi! Você tambem punhetas batte, Glauco, pensando na champagne quando ja expulsa a rolha, como que exporrando? Então estamos junctos! Empathia, talvez telepathia, nem sei bem qual termo mais se encaixa na questão!

BAMBOS DITHYRAMBOS 59

Batata fricta fica bem com molho, ainda mais comida com amigos em volta duma mesa de boteco.

Alli varios rapazes contam suas vantagens com garotas que, difficeis ou faceis, ja comidas todas foram. Que falta para achar tal ambiente mais ludico e hedonista alguem, Glaucão?

Sim, para completar essa alegria, tomar elles preferem a cerveja mais typica naquelle pub inglez!

Você ja me explicou, Glauco, que não ficou nunca à vontade em tal rodinha... Mas pense na cerveja! Algum logar na certa sobraria para alguem que queira abrir o jogo, offerescer-se a algum desses marmanjos botinudos!

Percebo que você não se convence nem quero convencel-o. Não se exquesça, porem, que esses Macc Lads teem canção fallando que curtiram fellação, deixando-nos na duvida si foi a bocca de mulher ou masculina.

Ah, bom! Si fosse vinho, cê topava brindar com molecada assim? Entendo.

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BEER & SEX & CHIPS'N GRAVY [8826]

LEI SECCA (I) [8827]

Não sou mexeriqueira, Glauco, dessas que tu tanto criticas si defendes aquella viuvinha confeiteira! Mas quero discordar de ti, no caso dos bares, botequins e restaurantes!

Devia haver lei secca, que impedisse a venda dos alcoholicos teores, sim, nesses locaes todos, Glauco! Só num bingo, num casino ou num bordel, logar onde não entra creancinha! Sim, fico preoccupada, Glauco, com aquellas innocentes creaturas!

Darias tu cachaça ao teu bassê, no caso d'inda teres um? Então!

Ainda achas que estou equivocada?

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LEI SECCA (II) [8828]

A minha mãe é doida, Glaucão! Porra! Ella acha que devia haver lei secca! É doida! Tá ligado? Ou cê discorda?

Prohibe ella que eu tome, em casa, meu coppinho de cachaça! Até no quarto mamãe me perseguindo sempre vem!

Eu tomo uns cinco, uns seis, septe, escondido! Glaucão, cê que é fodão, porra, accredita que eu nunca puz meu pé num logar desses, de jogo ou putaria? Meu pezão cê pensa que estou onde, só, mettendo?

Ah, mano! Minha velha que va ver si estou alli por essas exquininhas ou ando frequentando o seu apê!

62 GLAUCO MATTOSO

CRISE DE ABSTINENCIA [8829]

Ouvindo o que você do seu vizinho fallou, Glauco, me lembro dum que tive. Surtava toda noite, si ficasse sem droga, sem remedio, sem consolo qualquer numa punheta ja brochada. Ahi vociferava contra as bichas, gritando que teriam de morrer. Queria que enterradas todas vivas as bichas fossem, que ellas padescessem. Porem ouvi, tambem, quando berrou que tinha, ja, comido uma bichinha, gozado numa bocca de veado...

Percebe, Glauco? O cara até ja teve mulher, filho, mas vive sem ninguem! Podia num bom vinho consolar-se, tal como você, quando ficou só. Mas bruxos não são muitos neste mundo...

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DURO NA QUEDA [8830]

Glaucão, vivem dizendo que foderam até ninguem poder mais, só por causa dum porre, duma louca bebedeira!

Ainda que se exquesçam, na manhan seguinte, todos dizem que foi uma noitada muito doida! A culpa? Claro, só della, da bebida, Glaucão, só! Até que eu gostaria de foder depois de ter bebido! Mas não posso! E sabe por que? Somno, só, me dá! Cerveja, vinho, whisky, não importa!

Si bebo um só coppinho, ja cappoto! Glaucão, como você faz? Bebe pouco? Repete? Secca tudo? Nunca appaga?

Dá tempo de foder antes do somno? Sortudo, você! Como? Ja faz tempo?

Entendo... Só sobrou, no caso, o vinho...

64 GLAUCO MATTOSO

POÇÃO MAGICA [8831]

Desculpa ahi, Glaucão, mas eu preciso saber de ti: Si és bruxo, não conhesces alguma poção magica que faça algum subjeito feio pegar uma mulher dessas lindissimas, com ella trepar dando umas quattro sem tirar de dentro, repetir todas as noites?

Entendo... Si exsistisse tal poção, tambem te impediria de perder a vista... Mas um philtro tu conhesces, capaz de me illudir por um momento, fazer-me crer que lindo sou! Não é?

Conhesces? Como? Um simples licor? Ah!

Licor da Bruxa? A gente dorme e sonha?

Preciso disso, cara! "Adonde" encontro?

É mesmo? Um italiano de mentira

é facil de encontrar? Gostei da dica!

Commigo tu não queres tomar umas?

Quem sabe me transmittes tu teus sonhos!

Melhor não? Tu que sabes... Mas valeu!

BAMBOS DITHYRAMBOS 65

BELLA PISCADELLA [8832]

Será que é para alguem lamber melhor? O otario depillou o proprio cu, filmou e poz nas redes, cara! Agora virou christão, politico, o babaca! Me diga, Glauco: Um trouxa desses mostra em scena como passa a gillettinha nos pellos do cuzinho... para que? Qual é, pergunto, o practico objectivo de estar bem depillado no seu rego? Mostrar-se? Conquistar anilinguistas? Ahi, sem attingir esse proposito, resolve criticar quem quer mammar, directo do gargalo, um garrafão de vinho! Ora, Glaucão, elle que va punheta batter para algum tithio! Na certa foi aquillo que faltou na sua meninice estudantil!

66 GLAUCO MATTOSO

SANGUE RUIM [8833]

Você soube, Glaucão? Num restaurante da moda, algum babaca bebeu vinho demais -- Quattro garrafas! -- e ficou xingando os occupantes duma mesa ao lado. Xinga, xinga, aggride, insulta -- verbal, antes; depois physicamente -até que retirado foi à força! O mais interessante é que, na mesa das victimas, bebeu-se muito vinho tambem! Todos alegres sempre estavam, ninguem xingou ninguem, Glaucão! E sabe por que? Gays eram estes, mas aquelle que insulta, alem de bebado, homophobico alli se revelou! Do vinho o rotulo identico nas duas mesas era! Viu só? Nenhum problema na bebida está, mas nas pessoas! Deduzi bem, Glauco! Ora, brindemos ao bom vinho!

BAMBOS DITHYRAMBOS 67

ESNOBES NO BAR [8834]

Você quer que eu lhe diga, meu amigo, o que differencia algum enologo dalgum sommelier? Ora, não sei! Não sei e simplesmente, Glauco, não estou interessado nessa porra! Só sei da differença aqui entre mim e todos esses typos tão vaidosos: Eu gosto dum bom vinho, não de estar appenas me exhibindo como um cara que "entende" do que querem que entendamos! Quem sabe beber nunca precisou de ensigno, nem ensigna a gente, porra! Concorda, Glauco? Mano, não estou nervoso, não! Você está certo: vamos erguer um brinde! Estamos bem felizes! Os chatos que se cansem de esnobar!

68 GLAUCO MATTOSO

MAGIC WORDS [8835]

Você ja ficou bebado, Glaucão, comendo bombons, desses recheados com certo licorzinho poderoso?

Não, Glauco, não estou fallando disso. Aquelle da viuva tem licor commum. Estou fallando dum licor poetico, Glaucão! Absintho, porra! Conhesço uma cigana que prepara bombons desses, poeticos à bessa! Hem, Glauco? Vou levar você la! Quer? Então levo os bombons ahi na sua tão commoda casinha! Ainda assim você não quer? É mesmo! Me exquesci! Um bruxo nunca come duma bruxa um doce que feitiço possa ter! As taes palavras magicas talvez sentidos contradigam! Accertei?

BAMBOS DITHYRAMBOS 69

MEDICOS DE CORTE [8836]

Eu acho que isto, Glauco, te contaram. O medico da Corte, dia desses, conselhos à Rainha deu: parar de, toda noite, encher aquelle calice de fino crystal, Glauco, com Martini! Mas pensa bem, Glaucão: Elizabeth viveu bastante, ja! Si toda noite wermuth ella tomou, si sempre dorme bem, sonha com os anjos, para que conselhos taes seguir? Tu, que viveste teus annos dependendo de remedios, agora liberdade tens que ter de, pelo menos, doces degustar, alem desses licores multicores, de cujas cores 'inda tu te lembras! Estou certo? Não chores, não, Glaucão! Ou antes: pois choremos, então, junctos, em volta dum verdinho peppermint!

70 GLAUCO MATTOSO

BACCHANTE INICIANTE [8837]

Pinguça! Me chamaram de pinguça, poeta! Ja lhe explico por que estou tão puta... Bebo pinga mixturada com soda limonada, guaraná, com agua mineral, tonica, tudo, até com tubaina, Glauco! Minha irman mais nova, ah, pode crer, aquella, sim, bebe pinga pura! Ahi, concordo que possa ser chamada de pinguça! Mas eu? Sou moderada, pego leve! Você ja foi chamado de pinguço?

Não mesmo? Quer dizer que quem escreve poemas, quando bebe, é rotulado de "bacchico"? Tambem "dionysiaco"?

Tambem de "dithyrambico"? Pois eu ja quero compor versos, porra, ser chamada, não de escrota cachaceira, mas duma poetiza "arlequinal", "momesca", "pierrotica"... Que mais?

Achou que estou brincando? Ocê não tá?

BAMBOS DITHYRAMBOS 71

CRIVO PREVENTIVO [8838]

Agora sei, Glaucão, por que você não gosta de ir a bares e prefere beber em casa mesmo! Ouvi fallar que, quando um cego chega, todo mundo alli no botequim risada dá, tramando uma maneira de engannal-o!

Commum é, divertindo-se, que joguem nojeiras na bebida delle, cuspam, assoem o nariz dentro do coppo...

Mas isso não é, Glauco, um bom motivo, não, para que você não saia à rua!

Ah, basta-lhe que saia accompanhado! Eu mesmo me convido! Si você me paga algum traguinho, nós podemos ir junctos! Ja pensou? Nós tomariamos la todas, toda noite! Que belleza!

Não topa? Ah, Glauco! Porra! Por que não?

Não seja tão espirito de porco!

72 GLAUCO MATTOSO

SUBJECTIVO INCENTIVO [8839]

Coragem eu creei, thio Glauco, para comer as menininhas que em edade estejam, mas só pude erguer meu pincto por causa da cachaça! Não extranhe, thio Glauco! Sou menino ja crescido, embora não denote! Todos acham que tenho, na apparencia, muito menos! Dahi minha famosa timidez, que deixa a mulherada appaixonada! Na cama, sim, o bicho pega, mas um coppo de cachaça adjuda paca!

Thio Glauco, o senhor trepa, ainda, muito? Precisa duns golinhos de incentivo? Gostei dessa resposta! Ja nem trepa mas goles não dispensa dum bom vinho! Tambem eu quereria trepar sem adjuda da bebida, mas beber em outras horas, para appreciar!

BAMBOS DITHYRAMBOS 73

MAIOR PEIXINHO [8840]

Glauquinho, meu amor! Sou sua fan! Fiquei appaixonada quando li seus versos mais podolatras! Agora que leio seus poemas dithyrambicos, fiquei bem mais ainda! Não, não pense que ir quero para a cama com você!

Não, nada disso! Quero que conhesça meu filho! O marmanjão só me enche, Glauco!

Não trampa, não estuda, não faz nada! Só sabe minha grana gastar com bebida, cellular e tennis caro!

Mas elle tem chulé, Glaucão, um baita chulé naquella lancha chata à bessa! Estou ja separada, não aguento tamanho perulão me enchendo o sacco! Suggiro que você chame elle para beber, lhe massageie esse pezão... e tudo se resolve! Elle é capaz até de se mudar para ahi, Glauco!

Não topa? Jura? Ah, ia ser tão facil! Mas tudo bem! Eu sigo sendo sua leitora, meu amor! Elle tambem!

74 GLAUCO MATTOSO

SUCCESSO NO PROCESSO [8841]

Glaucão, venho observando o seu processo recente de compor o decasyllabo. Notei que ja automatica paresce a sua livre escripta dum poema, sem rhymas, sem estrophes, sem comptagem de versos... Differente do sonnetto.

Porem essa apparente liberdade tem outra rigidez, pois abre mão você duma synerese entre termos, mas tem na synalepha a nova regra. Pergunto-lhe: Não acha que estaria na hora de livrar-se duma vez, até do decasyllabo, do metro, do rhythmo? Celebrar o verso livre?

Ainda não? Então vamos brindar à lyra num regime em progressão! Um vinho nem tão doce, nem tão secco! Sahude! Muitos annos pela frente!

BAMBOS DITHYRAMBOS 75

ASSISTENCIA SOCIAL [8842]

De rua moradores, Glauco, occupam a praça aqui na frente e estão tranquillos! Accampam, refeições fazem, urinam, defecam... E elles bebem, Glauco! Bebem, porem não só cachaça a corja bebe! Garrafas e garrafas de rhum, vodka, conhaque, vinho, whisky e licor, pasme! Não posso concordar com isso, Glauco! Eu, duro p'ra caralho, nem consigo comprar uma lattinha de cerveja e toda aquella malta a brindar com garrafas e garrafas de licor! Explica você tanta aberração? Alguem está doando? Duma adega o dono? Ora, peor ainda! Alguem doou vinho do Porto para mim? Não, Glauco! Não sossego! Só si for você quem me convida! Ahi, sim, posso emfim tranquillizar-me enchendo uns coppos!

76 GLAUCO MATTOSO

GENTE EXIGENTE [8843]

Não gosto de espumantes que imitar champagne só pretendem, Glauco, não! Me chamem de madame si quizerem! Me chamem de modello, cafetina, piranha, accompanhante... De bacchante, até, mas não acceito um espumante qualquer! E você, Glauco? Ousa acceitar? Ah, é? Si juncto servem um puddim de leite condensado, você topa tomar mesmo uma sidra artezanal? Caralho! Não admira que está sendo chamado de poeta "alternativo"!

BAMBOS DITHYRAMBOS 77

CYBERBEBERAGEM (I) [8844]

Ahi, Glaucão! Você não me conhesce! Meu nome é Ferdinando Maldonado, sou netto de hespanhol, tenho pé chato, dedão mais curto, cara de marrento e sou, mesmo, folgado, digo logo! Ficou, Glauco, ouriçado? Pois respondo: Commigo você nunca terá chance! Odeio, odeio, odeio veadagem!

Veado tem é, mesmo, que morrer! Mas, antes de morrer, tem de soffrer, ficar cego, comer merda, até ser, aos berros, enterrado vivo! Ouviu?

Não pense que, no pappo, me convence! Li toda a putaria que escreveu!

Dalli nada se salva! Tudo um lixo! Achou que ganharia companhia com versos desse typo? Pois se enganna!

E então? É como digo: solitario você vae accabar, seu veadão!

É mesmo? Se consola na bebida?

Que typo de bebida? Tem licor, tem vinho, tem wermuth e tem absintho?

Caralho, Glauco! Uau! Bebendo todas está! Não comeu todas, mas bebeu!

Porem não va pensando que me induz, com essa conversinha, a lhe pedir que, em breve, me convide para brindes no seu appartamento! Nada disso!

Hem? Serio? Me convida? Ah, vou pensar...

78 GLAUCO MATTOSO

CYBERBEBERAGEM (II) [8845]

Pensei, Glaucão, e... Nada feito! Ouviu? Sou macho! Não visito um veadão da sua laia! Ainda mais um cego! Um cego o que meresce é ser pisado, chutado, rastejar até morrer debaixo duma sola de botina!

Não deixo, não, que lamba meu pé chato! Um cego que se foda! Va affogar as magoas num licor! Por fallar nisso, que typo de licor vae tomar hoje? Caralho! Curaçau? Sei, um azul!

Sabor delicioso! Tesão puro!

Hem? Como? Convidado sou? De jeito nenhum, Glaucão! Na casa dum veado?

Não piso num apê desses, mas nem que seja para a bota metter nesse focinho de cegueta! Mas prometto pensar mais um pouquinho... Ouviu, Glaucão?

BAMBOS DITHYRAMBOS 79

CYBERBEBERAGEM (III) [8846]

Glaucão, entenda duma vez por todas: eu nunca comi bichas! Sou é macho! Me excita só comer uma loirona, daquellas perigosas! Si comi ou 'inda não comi, não interessa! É como ja fallou o Capitão: quem vota na direita não tem filho veado! Si tiver, lhe quebra a cara! Meu pae não tolerava veadagem e, caso precisasse, me battia! Por isso me tornei um direitista, machão, conservador e patriota! Bebida nacional? Sei que é cachaça, mas sempre preferi vinho ou licor! Ah, quando fico grogue é que eu odeio ainda mais as bichas! Não, um cego é muito peor, Glauco, que essas bichas de rua! Ahi me dá, mesmo, vontade de ver o desgraçado rastejar debaixo de pisão e ponctapé! Não, nada disso! Odeio quem convida a gente, com segundas intenções, só para beber vinho! Por fallar em vinho, qual é mesmo o seu, Glaucão?

80 GLAUCO MATTOSO

CYBERBEBERAGEM (IV) [8847]

Você virou veado por ser cego ou cego ficou pela veadagem?

Você perdeu a vista? Antes ainda um pouco ver podia? Ah, foi castigo! Jesus curava cegos que não fossem veados, mas você, que deu o cu, chupou rolla a valer, bem meresceu findar a sua vida na cegueira!

Agora, como dizem, "Chupa, cego!"

Confirma, Glauco, ou não, a minha these? Mais mamma na garrafa que na picca?

Só resta beber, mesmo! O que vae ser tomado hoje, Glaucão? Licor de mentha? Laranja? Não? Da Bruxa? Ah, não conhesço!

Dá mesmo uma tontura dessas boas?

Fiquei curioso... Nada de pensar, porem, que estou topando o seu convite!

BAMBOS DITHYRAMBOS 81

CYBERBEBERAGEM (V) [8848]

Veados não comi nunca, Glaucão! Mas nelles ja batti, com minha turma, diversas vezes! Sempre preferi batter em travesti! Sabe por que? Teem elles uma cara de mulher, um corpo feminino... Mas teem rolla!

Não posso concordar com isso, Glauco! Precisam appanhar, para apprender a serem mais mulheres, si quizerem, mas nunca ter aquillo pela frente! Você, que é masculino no seu porte, tambem precisa duma surra, para deixar de ser de rollas chupador!

Não vale dizer, Glauco, que esses cegos só chupam obrigados, quando são currados pela rua! Você, não!

Em casa fica! Assim mesmo, chupou!

Não vale, tambem, vinhos tomar, como si fosse só desculpa! Aliaz, qual garrafa vae abrir hoje? Caralho!

Fiquei com uma puta sede, seu veado do caralho! Puto! Odeio

veados que teem grana, que isso pagam!

82 GLAUCO MATTOSO

CYBERBEBERAGEM (VI) [8849]

Um dia, ainda pego um cego, Glauco! Com elle vou fazer o que quizer, ja que elle nem consegue reagir!

Ahi vou desforrar todo o meu odio de gente que meresce esse castigo!

Você ja pensou nisso, Glauco? Não?

Prefere beber vinho ou licor, sempre ahi trancado nesse seu apê?

Um dia ainda penso si decido um cego visitar, para lhe dar aquella licção que elle está pedindo!

Você não decidiu si me convida?

Estamos empattados, então, porra!

BAMBOS DITHYRAMBOS 83

CYBERBEBERAGEM (VII) [8850]

Mas deixe estar, seu cego duma figa! Depois das eleições, quando ganharmos, teremos mais poder e vocês todos, veados, travestis, tambem os cegos, em campos de trabalho confinados serão, Glaucão! Vae ser divertidissimo ver todos trabalhando sob o relho, forçados a ficar sem pão nem agua!

Ahi que eu vou querer ver você, Glauco, passar sem o seu vinho, o seu licor! Somente eu beberei, com meus amigos, curtindo sua fome e sua sede!

E então? Você mantem esse indeciso discurso de quem nunca me convida?

Eu acho, mesmo, bom que não convide! Assim eu me mantenho, no meu odio, bem firme contra tanta veadagem!

84 GLAUCO MATTOSO

SAHUDE! [8851]

Brindar quero! Sahude, Glauco! O meu marido ja morreu! Estou viuva!

Não é maravilhoso? O fallescido

bebia até cahir, mas não queria que eu, numas, tambem bebada ficasse!

Agora fiquei livre do bebum!

Você doutra viuva amigão não ficou? Da dona Deborah, a doceira?

Agora poderá ser meu amigo, tambem! Hem? Ambos bruxos vocês são?

Não seja, não, por isso, meu querido!

Que causa acha que está por traz da morte daquelle beberrão? Tambem sou bruxa!

Não, doces eu não faço, nem poemas!

Que pena! Mas brindemos, assim mesmo!

BAMBOS DITHYRAMBOS 85

SALUD! [8852]

Estive na Argentina. Alli brindei com vinho, quando soube que você, Glaucão, tinha ficado cego. O Borges me veiu, ja de cara, à mente, claro. Bah! Pouco me importei. Pensei: "Que seja famoso, um dia, como o Borges! Mas o que estou celebrando, meste meu momento de vingança, ah, tem que ser a sua fatal perda!" Agora, sim, desforro todo um odio que guardei, pois era hallucinada por você, que nunca me deu bolla! Agora brindo de novo, no Brazil, às suas trevas! Estou, emfim, vingada! Ah, não sou louca?

86 GLAUCO MATTOSO

SALUTE! [8853]

Você jamais na vida me viu, Glauco! Distante prima sua sou! Só quero brindar à sua lyrica cegueira e sua litteraria maldicção! De tudo sei e quero lhe contar, primão, si é que você disso não sabe! A sua avó materna jogou pragas satanicas em cyma de você por causa do maldicto casamento da sua mãe, fugida, com um pobre, ainda que italiano tambem fosse!

Nasceu você, portanto, ja marcado, emquanto Satanaz dava risada! Ja sabe que eu sabia, primo? Pois um vinho vou abrir agora! Ria commigo! Sou tambem bruxa, primão! Parentes ambos temos em Turim!

BAMBOS DITHYRAMBOS 87

SANTÉ! [8854]

Glaucão, ser é meu sonho uma franceza, daquellas taes madames que sallão manteem! Sim, litterario, onde vocês, poetas, appresentam seus poemas àquella selectissima platéa! Champagne questão faço de servir, alem dum opcional absintho, claro! Assim que receber a minha rica herança, abrirei esse sallão, Glauco! Viuva, sim, estou! O meu marido emfim desencarnou! Sim, kardecista foi elle! Então você tambem é? Porra! Estou de immortaes posthumos cercada!

88 GLAUCO MATTOSO

CHEERS! [8855]

Brindemos, Glauco! Vamos relembrar! Em Londres conhesci você! Sou sua fan desde então, Glaucão! Naquelle pub você bebeu cerveja com a gente! Sim, ella mesma! Aquella que casada estava com um typico skinhead! Morreu elle, coitado! Um torcedor rival o balleou! Sim, ao Brazil voltei logo depois! Mas exquesçamos o caso, pois agora brindar quero à sua poesia! Muitos annos de vida litteraria a você, Glauco! Pensemos no John Milton! Hem? Quem sabe você vire esse Milton brazileiro!

BAMBOS DITHYRAMBOS 89

PROST! [8856]

Estive na Allemanha, Glauco! Um frio da porra! Mas, na casa aonde fui, bebiam só cerveja! Adivinhou! Gelada! Geladissima! Até quiz eu, tola, perguntar si elles não tinham alguma coisa quente, bem mais forte, mas tive, constrangida, que tomar enormes canecões daquelle troço amargo! Um horror, Glauco! Ora, aqui, meu querido, faz sentido, no verão, seccar umas geladas! Até curto! No frio, não! Prefiro ouvir você me dando suas dicas de licor, de vinho... Menopausa minha à parte!

90 GLAUCO MATTOSO

KAMPAI! [8857]

Conhesço um japonez, Glaucão, que, quando está de bom humor, nos offeresce aquelle sakê quente p'ra caralho! Mas eu sou prevenida, bem que evito passar na casa delle no verão! Si está calor, num outro japonez eu passo, pois alli cerveja bebem adultos e creanças, geladinha!

O japa, aliaz, disse que deseja ser, logo que puder, appresentado ao cego que, no verso, se escraviza!

Então tá! Qualquer dia a gente leva o cara ahi... Você prefere qual bebida que levemos? Sakê? Cerva? Nenhuma? Absintho os japas desinhibe melhor? Você que sabe! Eu sou só leiga!

BAMBOS DITHYRAMBOS 91

RASTRO DUM ASTRO (II) [8858]

Glaucão, fui pesquisar, do João Gordo, naquella singular biographia. Diz elle que tem tara por um pé, mas sempre de mulher, desde menino. Você mesmo me disse que ficou sabendo do chulé do batterista dos Rattos de Porão por commentario do proprio Gordo, quando o repassou alguem para você. Pelo que entendo, o Gordo bem repara nessas coisas... Me disse ja você que, tambem, delle a propria namorada admarra a chanca, ja que elle mal consegue se curvar. Por que estou repisando taes detalhes? Confesso, Glauco: morro de tesão por esse pé gordinho do João! Mas para mim eu guardo o meu desejo, pois hetero sei que elle se declara. Que resta, Glauco? Um vinho lhe propor que, junctos, nós sequemos! Lhe lerei mais trechos dessa trilha que pisou o gordo mais podolatra da scena...

92 GLAUCO MATTOSO

ESPIRITO LYRICO [8859]

Não és tu diabetico, Glaucão, nem soffres de disturbio metabolico! És mesmo diabolico, poeta!

Não soffres occlusão, mas de exclusão! Estás em reclusão, mas conclusão não tiro de que estejas accabado!

Podolatra não és, siquer alcoholatra! Appenas dependente és dum espirito, assim como sou, Glauco! Ora, brindemos!

BAMBOS DITHYRAMBOS 93

MERENCORIAS HISTORIAS [8860]

Glaucão, eu não chorei quando meus paes morreram, mas por dentro me doeu. Tambem não chorei quando perdi minha mulher para alguem menos masculino. Tampouco chorei quando fiquei cego, tal como você, Glauco, mas agora frequento, tambem, este botequim. Aqui fico bebendo, ouvindo muitas historias, outras perdas, e não choro. Mas hontem escutei alguem chorando a perda de seu velho companheiro, seu cão, tambem vadio, um cão de rua, e então, Glaucão, chorei, chorei, chorei...

94 GLAUCO MATTOSO

DRINKING SONG [8861]

Aquelle escriptor cego, um que delira e falla duns absurdos, dumas taras bizarras, escabrosas, é você?

Caralho, meu! Você não se envergonha? Como ousa abbordar tanta morbidez?

Não basta a sua perda da visão?

Devia atter-se, porra, às causas nobres, christans, edificantes, patrioticas!

Mas onde tem você sua cabeça?

Você endoidou? Está ficando louco? Você bebeu? Bebeu? Bom, si bebeu, talvez eu leia aquillo que escreveu!

Um bardo folk, o Loudon Wainwright, é melhor quem definiu esta verdade: É facil a algum bebado dizer, do fundo do seu peito, o que é que sente.

Não sou entendedor de poesia, mas, pelo que disseram, é sincero aquelle que bebeu! Me louvo nisso!

BAMBOS DITHYRAMBOS 95

Você disse, Glaucão, que João Gordo fallara do chulé dum batterista dos Rattos de Porão, mas engannou-se!

O gajo que chulé tinha peor chamava-se Leandro, que Caverna usou como appellido. Diz João que quando o Leandrinho o pé battia, subia tal morrinha que era como si cor tivesse, escura, aquelle cheiro! Lembrei-me dum sonnetto seu, Glaucão, suppondo uma fumaça haver no peido!

Você cafungaria, Glauco, nesse fedido pé do gajo, sem siquer tomar antes um trago destillado? É mesmo? Offerescia ao Leandrinho o proprio destillado? Ora, talvez eu tenha algum chulé tão forte em meu pezão de quem só calça tennis podre...

96 GLAUCO MATTOSO
RASTRO DUM ASTRO (III) [8862]

DESAGGREGAÇÃO FAMILIAR [8863]

Thio Glauco, o meu pae disse que mamãe com elle não está mais se entendendo! Estão se separando! Orra, vou ter agora que morar com a mamãe, que vive só bebendo! O que é que eu faço? Sim, ella bebe todo o tempo, thio!

Está me convidando sempre para tomar umas com ella! Desconfio que esteja até com outras intenções! Não topo, não, thio Glauco! O que ella bebe é whisky e eu só costumo tomar vodka!

Papae ja me fallou que ella delira demais appós seccar uma garrafa! Papae só me convida para abrir um vinho licoroso mais suave! Mas muito bem conhesço um vinho desses!

Paresce que não sobe, mas é fogo!

Thio Glauco, o senhor mora com alguem? Prefere morar só? Saquei! Assim lhe sobra mais bebida! Ah, faz bem, thio!

BAMBOS DITHYRAMBOS 97

MAMMATA PARA VIRALATTA [8864]

Cantando "Vira, vira, vira...", alguem naquelle botequim armou a scena. Estive la, vi tudo, Glauco! Um monte de timidos moleques se mostrar quizeram! Começaram a beber até cahirem todos pelos canthos! Depois que foi fechado o bar, se via aquella turma alli, pela calçada cahida, a cochilar, como quem dorme na sua cama quente e comfortavel! Ahi rollou de tudo! Tinha gente de calças arriadas, cu de fora, sangrando... Tinha gente totalmente pellada, ja sem tennis, sem a roupa de griffe... Mas estou isso contando por causa dos cachorros! Elles iam lambendo, Glauco, o rosto dos moleques, a bocca, mas tambem o pé descalço! Que festa! Agora fica você com inveja até, Glaucão, dum viralatta?

98 GLAUCO MATTOSO

ADEGA EXCLUSIVA [8865]

Os rotulos daquella adega são só della, Glauco! Vamos dar um pullo la para abbastescer o nosso bar?

A gente experimenta, abrindo um vinho azedo, portuguez, outro docinho, francez, um mais amargo, da Allemanha, um quasi que salgado, paraguayo... Tem coisa nova à bessa nessa adega!

E então? Por que recusa a minha dica? Ah, sua propria adega você ja tem, Glauco? Ora, caralho! Mas por que não disse isso bem antes? Pois então prefiro com você beber ahi! Não pode ser à noite? Não? Mas vou cobrar, hem, Glauco? Porra! Ah, cobrar vou!

BAMBOS DITHYRAMBOS 99

RESPOSTA À VISTA [8866]

Hem? Quantos fugitivos duma guerra nós temos que sommar para alguem ver?

E quantos orphans, Glauco, precisamos comptar para alguem chance dar à paz?

Hem? Quantos mais precisam passar fome no mundo para menos guerra haver?

Hem, Glauco? Me responda! Alguem precisa appoio dar, moral, àquella gente!

Ao menos brindar vamos, Glauco, para que logo um cessar fogo occorra, amigo! Sahude! Ei, Glauco! O vinho hoje está pessimo!

Só pode ser effeito desse estado de coisas pelo mundo! Não concorda?

100 GLAUCO MATTOSO

O LEÃO E O ASNO [8867]

Glaucão, meu pae dizia: "Somos gente e gente é complicada de entender!"

Pois é, mamãe brigava com papae por causa do cigarro que elle nunca largava... Aquillo fede para burro!

Papae, pois é, brigava com mamãe por causa da garrafa de cachaça que nunca longe della se notava...

Aquillo um bafo deixa, de leão! Mas ambos me beijavam, e eu amava que, mesmo sem quererem um ao outro, ainda se portavam como gente...

Um dia separaram-se, Glaucão, e então entendi, meio que na marra, que gente é complicada de entender. Não fumo, mas eu bebo, o que talvez explique essa questão de entendimento...

BAMBOS DITHYRAMBOS 101

FORA DE EPOCHA [8868]

Por causa da covid, elles marcaram o nosso carnaval para abril, Glauco! As aguas vão rollar, ainda, mano!

Ainda temos tempo! Tá ligado?

Podemos beber tudo o que, durante aquella quarentena dos diabos, deixamos de beber pelos botecos da vida, amigo Glauco! Vamos nessa?

Não acha a chance boa? Ah, mas por que?

Então nunca deixou de beber, mano? Até bebeu, durante esse intervallo, mais vinho do que em tempos de convivio?

Pensando bem, tambem eu bebi mais... Mas, como não sou cego, vou brincar aquillo que, por annos, não brinquei!

102 GLAUCO MATTOSO

PYROTECHNICO ZELADOR [8869]

De esquerda não sou, Glauco, mas paresce razão ter quem fallou, ja, que nenhuma Ukrania, na real, aguentaria a guerra sem render-se, si quizesse mais mortes evitar! Portanto, um lider que, embora midiatico, teimoso se mostra, alem de vidas pôr em risco, bastante irresponsavel será com seu saldo biographico, ou historico! Estou fallando merda, Glauco? Não, não acho que esse Putin seja sancto, nem mesmo um villão typico, brilhante! Mas, sendo realista, a gente vê, depois de mais um gole deste vinho, Glaucão, que muitos 'inda vão morrer, à toa, para alguem ter holophote!

BAMBOS DITHYRAMBOS 103

GOSTO REFINADO (II) [8870]

Glaucão, o Henry Kissinger comia melleca do nariz! Photographaram! Tambem o treinador dessa Allemanha que deu de septe em nossa selecção! Me lembro disso, Glauco, pois conhesço um nobre deputado que seu monco degusta, sem nenhum pudor, em publico! Porem, eis que elle entende de bons vinhos, opina com segura competencia accerca duma safra, duma casta! Que posso concluir, Glaucão? Hem? Hem? Não, nada disso! Ommitto commentarios politicos! Concluo simplesmente que gosto não tem classe e vice versa!

104 GLAUCO MATTOSO

TYMBRE GRAVE [8871]

Eu sou experiente, eu sou maduro, mas minha voz pastosa só denota que estou é mesmo bebado, Glaucão!

Queriam que eu virasse locutor de textos jornalisticos. Mais tarde, quizeram meus recursos vocaes para fazer commerciaes de banco, usando aquelle tom que, funebre, suggere temor, insegurança do cliente, não uma confiança financeira. Ahi foi que pediram que eu narrasse uma audiodescripção de filme para ceguinhos fans de games violentos, adeptos de facções do narcotraffico. Notei que estava rouco, cada vez mais rouco, como mero mafioso! De tanto beber, Glauco, minha voz só presta, agora, para fazer filme mambembe de terror! Assim, me viro.

BAMBOS DITHYRAMBOS 105

MELHOR FAREJADOR [8872]

Ahi, Glaucão! Duvida de mim, mano? Tá achando o que, moleque? Eu bebo só cachaça de primeira, nunca aquella fajuta, "artezanal", dum alambique qualquer! Eu reconhesço uma canninha! Tentaram me engannar! Commigo não, malandro! Você, Glauco, reconhesce um vinho de primeira? Ah, sabe por costume, intuição, paladar ja treinado na cegueira? Não discuto, não, mano, pois tambem vou pelo faro de experto beberrão! O seu nariz, porem, nem sei, malandro, como pode cheirar bebida appós cheirar chulé!

106 GLAUCO MATTOSO

A FRIEND [8873]

Glaucão, como você, tenho um bassê! Poeta não sou, faço lettras para algum rockinho ou outro. O bassê fica uivando juncto, para accompanhar-me emquanto vou creando uma canção!

Não pode companhia fazer quando engulo o meu caneco de cerveja, é claro! Mas você tambem não dava seu vinho para aquelle bassê, Xixo, supponho... Sabe, Glauco? Bom seria podermos dar bebida aos nossos pets!

São elles que comnosco sempre estão! Ninguem mais vem, depois que fiquei meio ceguinho, visitar-me, eis que me egualo à sua condição, practicamente! Eu tenho, como Loudon bem diria, "my music and a basset for a friend"...

BAMBOS DITHYRAMBOS 107

SWEETER THAN WINE [8874]

Na Grecia antiga, nectar, ambrosia. Na Terra Promettida, leite, mel. Implicita a doçura, algo me diz que, nesses tempos, era amargo o vinho. Talvez, antigamente, elle ficasse mais duro de tragar, quanto mais velho...

Será que ja vinagre elle virava?

Você tambem não sabe dizer, Glauco?

Mas hoje eu acho, Glauco, que estão certas as lettras dos rockeiros quando fallam de vinhos mais docinhos do que mel!

Ao menos, aqui em casa, a adega só tem vinho desse typo, licoroso!

Na sua assim tambem é, não é? Não?

Pudera! Masochista sendo um cego, divide-se entre dores e prazeres...

108 GLAUCO MATTOSO

TOTAL TRANSPARENCIA [8875]

Ainda tem você, Glaucão, aquelles lindões decantadores de crystal todinhos lapidados em xadrez?

Eu tenho um amigão que sacanagem fez para disfarsar um vulgar whisky, do typo Joãozinho Caminhante ou mesmo um Joãozinho Jogador: O gajo uma garrafa dessas poz inteira numa linda licoreira e disse para amigos que era marca carissima, britannica, a melhor!

A turma se servia, achava que era authentica a bebida, appenas vendo a cor na transparencia crystallina!

Você ja fez tal coisa? Alguma vez poz vinho baratinho na garrafa de marca a fim de equivoco causar? Não? Nunca? Ah, meu, duvido! Mentiroso! Apposto que na sua casa ja tomei como licor um biotonico!

BAMBOS DITHYRAMBOS 109

SANGUE DE CHRISTO [8876]

Contar lhe vou, Glaucão, por que jamais gostei duma sangria: a coisa lembra a missa dos catholicos! Dizer que está no vinho o sangue de Jesus suggere vampirismo, para mim! Melhor é quando penso neste vinho barato, o popular Sangue de Bode, que dizem ser o vinho do Diabo! Occorre que distante de nós fica o céu, accyma até do nosso olhar! Por outro lado, o quincto dos infernos está mais perto, pouca coisa abbaixo do solo onde pisamos, Glauco, porra! Melhor tomar um vinho demoniaco que sangue beber, meio diluido, dum Christo perdidão nesse infinito!

110 GLAUCO MATTOSO

FEIRÃO DA PASCHOA [8877]

Um vinho, nesta Paschoa, Glauco, temos que pôr na mesa, abrir e... celebrar! Ao menos um chileno, um argentino!

Em casa sempre temos um guardado que esteja agguardando uma data assim! Mas tenho um amigão que guardou um extranho garrafão, velho, sem rotulo, herdado duma thia, que não abre de jeito nenhum, Glauco! O que me diz? Fallou elle que espera abrir um dia, mas teme pelo susto, na suspeita dum acido sabor! Você bebia?

Melhor um commum, mesmo (Né?), comprado na superpromoção do mercadinho!

BAMBOS DITHYRAMBOS 111

CORES MEMORAVEIS [8878]

Das cores você, Glauco, bem se lembra na hora de excolher uma bebida?

Azul, verde, vermelho ou amarello?

É mentha, curaçau, wermuth ou whisky?

Desculpe, eu inverti: curaçau, mentha...

E então? Qual excolheu? Tenho no bar os quattro! Curaçau? Vamos brindar!

Ah, nada como, um pouco, recordar!

Mas diga aqui: você, que é palmeirense, devia preferir um peppermint!

Ja foi do São Caetano torcedor?

Sahiu-se bem, malandro, desta vez!

112 GLAUCO MATTOSO

PIADINHAS (I) [8879]

Os universitarios, quando bebem em gruppo, de cantar gostam à bessa. Mas ficam facilmente bebuns, Glauco!

Ahi, quando dispersam, sempre resta algum retardatario, que 'inda canta, em tom desaffinado, uma ballada, sozinho na calçada, a tropeçar. Costumo seguir esse solitario bebum e, vendo que elle cae e dorme, lhe tiro os tennis, lambo o chulezão, até beijo na bocca, aquelle bafo sentindo de cerveja, alem do mais! Não, Glauco, não! Nem todos são tão faceis assim de desfructar, eu reconhesço! Appenas os normaes, diria Nelson Rodrigues, com perdão da piadinha!

BAMBOS DITHYRAMBOS 113

PIADINHAS (II) [8880]

Eu, bebada? Ah, Glaucão! Você não viu nadinha, ainda! A minha amiga Cynthia é que é pinguça à bessa! Aquella la desanda a cantar, quando umas a mais tomou da mais purinha das canninhas no Bar das Putas Pobres, meu querido! Conhesce esse boteco, Glauco? Pois alli se juncta toda a mulherada que encalha, alem das proprias separadas! A Cynthia, si bem alta ja ficou, costuma cantar trechos das marchinhas antigas, todas sobre bebedeira! Levar você vou, numa noite dessas, no Bar das Putas Pobres! Quer, Glaucão? Sim, homens vão tambem la beber, claro! Não, cegos nunca vejo... Tem razão, você de piadinhas um bom thema seria... Melhor mesmo não ir, Glauco!

114 GLAUCO MATTOSO

BAR DOS BARDOS [8881]

Ao Bar das Putas Pobres nunca foi você? Por que? Não gosta de mulher cantando, com voz bebada, as marchinhas antigas? Ah, no mundo bom humor nós temos que ter, Glauco, com aquellas cantoras amadoras, ora, vamos! Mas tudo bem, Glaucão! Ja que não curte a dica dum boteco desses, vou levar você, qualquer horinha, ao Bar dos Bardos, onde jovens goliardos declamam seus poemas à platéa que, bebada tambem, applaude tudo, siquer sem criticar algum quebrado pezinho, um verso frouxo, um erro crasso! E então? Agora topa? Ah, é? Não diga! Prefere ir ao boteco das cantoras?

BAMBOS DITHYRAMBOS 115

TRETAS ENTRE TRIBUS [8882]

Glaucão, você escreveu sobre skinheads, com elles umas cervas ja tomou, em Londres, e enxergava ainda a cara amiga, mesmo falsa, das pessoas! Por isso ja não bebe essa cerveja que traga alguma má recordação?

Confesse, Glauco! Um punk era amigão mais intimo, na sua vida toda, jamais um desses hooligans! Concorda? Você só desejou delles a bota lamber! Não é verdade? Então confesse!

OK, estamos quites! Ja podemos brindar com este vinho de segunda, do typo que nenhum punk enjeitou!

116 GLAUCO MATTOSO

THESE DISGUSTING THINGS [8883]

Glaucão, você escreveu sobre esses punks nojentos, bagunceiros, beberrões! Accabo de ler umas coisas suas, sujissimas, da vida desses caras! Ah, como conseguiu ser tão escroto, tão reles, Glauco? O tennis ou a bota dum delles acho coisa abominavel! Você quiz metter nisso o seu nariz? É louco! Nem bebendo um vinho podre alguem pode cheirar algo do typo! Agora, aqui entre nós, ninguem nos ouça: Aquelle chulezão era tão forte assim? Me dê detalhes, eu lhe peço!

BAMBOS DITHYRAMBOS 117

PESQUISA POR ADMOSTRAGEM [8884]

Estudos scientificos comprovam, Glaucão: consumir alcohol vae, aos poucos, do cerebro o tamanho reduzindo!

Você ja pensou nisso, Glauco? Ou ja nem pensa, si seu cerebro ficou menor faz muito tempo? Me responda! Caralho! Não pensei nisso! O poeta mais coisas a dizer tem com menor emprego de palavras! É questão de "menos é mais", nunca do contrario! Excesso, só na dose! Não é mesmo?

118 GLAUCO MATTOSO

O CARRO E OS BOIS [8885]

Glaucão, o que me intriga numa transa é gente, que "normal" se diz, ser contra um alcohol consumir antes do sexo! Mas elles tomam banho, Glaucão, antes da transa! Ja commigo sempre foi o opposto: tomo banho só depois, a fim de não perdermos nosso cheiro mais forte e natural! E sempre tomo um calice de vinho, dois ou trez, por vezes até quattro, preparando o clima para a transa! Sou, então, um cara abnormal, Glauco? Ufa! Que bom que nisso concordamos! É possivel que mesmo os taes "normaes" façam assim mas finjam que não agem como nós!

BAMBOS DITHYRAMBOS 119

DEVANEIO PELO MEIO [8886]

Você ja reparou que "liquor", "licker", dariam trocadilho, Glauco? Não lhe enseja a palavrinha algum poema?

Tambem ja reparei que, para "blues", exsiste em portuguez equivalente perfeito! Sim, "absintho"! Não suggere

poema, menestrel? Não estou sendo demais intromettido, por acaso...

Está bem: você pensa nessas dicas emquanto nós bebemos um coppinho não muito cheio, desse exverdeado!

Depois você responde, si puder...

120 GLAUCO MATTOSO

SYMBOLICO GOLE [8887]

Glaucão, eu, quando bebo, ouço umas vozes que em minha mente soam como um choro de gente ja defuncta! Juro! Pedem-me que reze pelas almas desses mortos! Eu rezo, mas de novo, quando bebo, as vozes me repetem o pedido! É mesmo? Solução você tem para o caso? Mas que devo fazer, Glauco? Jogar no chão algumas gottas antes de encher a cara? Claro, sem problema! Eu acho um desperdicio com pessoas que nunca foram sanctas, mas emfim... (Passado um tempo) Glauco, funccionou! As vozes sossegaram! Como foi que soube você disso? Bruxaria? Você tem feito o mesmo? Mas então... Ah, basta gottejar dos proprios labios, deixar excorrer pelo queixo um fio? Paresce meio punk esse negocio, mas, como você disse, importa mesmo um gesto de intenção! Cada qual tem no cerebro os defunctos que meresce...

BAMBOS DITHYRAMBOS 121

BRINDE QUE NÃO FINDE [8888]

Que effeito kabbalistico você vê, Glauco, quando chega a algum poema com tantos algarismos repetidos?

Tirando um seis seis seis, não vejo nada de magico, siquer de diabolico que marque esse momento do catalogo! Si fosse com oitavas a comptagem, teria a coisa algum significado!

Você tem razão, Glauco! Para que ficarmos viajando num supposto e mero symbolismo, si importante é mesmo celebrarmos uma marca qualquer, quantitativa? À nossa, amigo! Usemos o pretexto para mais um coppo deste vinho nós tomarmos!

122 GLAUCO MATTOSO

BARATO DADO [8889]

Eu era adolescente, Glauco, quando um padre convidou-me para a casa em que elle mora, attraz da grande egreja do bairro. La bebemos desse vinho barato, que elle exhibe em toda missa. Glaucão, eu lhe pergunto: O que será que poz o padre dentro desse vinho? Um vinho, por si só, não é capaz de tanto me deixar tonto, poeta! Não, nunca consegui recordar tudo aquillo que rollou! Isso me frustra, pois deve ter rollado chupação de rolla! Adoro, Glauco, ser chupado! Mas, si elle me chupou, nem saberei! Terei que de barato dar que tenha rollado tal barato, si me explico com toda a propriedade de expressão...

BAMBOS DITHYRAMBOS 123

EFFEITO SUSPEITO [8890]

Hem? Posso perguntar, thio Glauco, como fazer para accordado ficar quando bebemos algum vinho meio forte?

A turma me convida para à casa nós irmos do pastor! O pappo rolla, a gente se diverte, toma varios canecos desse Vinho do Diabo, famoso nas quebradas, mas, depois que fez aquelle effeito delirante, eu pego num somninho tão gostoso que nunca me recordo de mais nada!

Thio Glauco, o senhor bebe desse vinho? Consegue se manter accordadão? Que pena! Ah, bom seria si eu pudesse saber o que rollou, si foi suruba, de facto, ou só delirio dum moleque que vinho nem beber direito sabe!

124 GLAUCO MATTOSO

MACCLADMANIACOS [8891]

Você, Glaucão, que escreve tanta merda, na certa fan será daquella banda ingleza, que tem bocca suja à bessa! Sim, essa mesma! Alguem ja commentou que, numa latrinaria poesia, nem mesmo você, Glauco, conseguiu junctar tanto cocô num só banheiro, siquer nesses botecos onde estão os bebados cagando, vomitando, mijando ou exporrando todo o tempo! Concorda, menestrel? Então estamos nós quites e podemos tomar umas, sem risco de infectar nossa privada com esse incrivel nivel de cocô!

BAMBOS DITHYRAMBOS 125

PEORES OPIOIDES [8892]

Ah, Glauco, que perigo! Nos Esteites, mais forte que morphina, a turma toma um simples comprimido, o fentanyl, não só para a dorzinha de cabeça, mas para mixturar com outras drogas, maconha, cocaina... Depois botam a culpa na cerveja que tomaram, no whisky, no licor! Você mixtura um opio com um pouco de heroina, estica as cannellinhas, overdose divulgam que rollou, e vem alguem dizendo que culpado foi o coppo de vinho que tomou, 'inda por cyma? É muita sacanagem dessas midias fajutas, mentirosas, Glauco, porra! Por via dessas duvidas, só tomo, si estou com uma dor qualquer, aquelle manjado comprimido de Torpex, que todos conhescemos... Né, Glaucão?

126 GLAUCO MATTOSO

BLASPHEMIA OU HERESIA? [8893]

Um vinho numa latta de cerveja?

Não dá para atturar, Glaucão, tamanho peccado, ou sacrilegio, ou vilipendio!

Ainda que elles forcem nossa barra e tentem empurrar tal emballagem, nenhum poeta acceita tomar vinho a bocca collocando numa latta!

Não é, Glaucão? Até dá para a gente beber vinho mammando no gargalo! Melhor, porem, um calice encher com um tincto de primeira! Ah, fallar nisso, tomei hontem um branco, procedente dum Chile imaginario! Vomitei, sujei a mesa toda! Mas prefiro tomar algo suspeito na garrafa, não, numa latta, algum vinho de marca!

BAMBOS DITHYRAMBOS 127

LOBISMACHO [8894]

Ouvi fallar, Glaucão, dum corpulento subjeito que tem penis diminuto! Mas nelle, quando vira lobishomem, augmenta de tamanho o pau, a poncto de entrar rasgando o cu de qualquer macho!

Ahi, pensei... Em vez da propaganda dar outra solução para augmentar um penis, basta assim dizer, Glaucão: "É facil! Virem todos lobishomens!"

Mas, para conseguir isso, o coitado terá que ser por outrem enrabado!

Somente pelo semen um humano em lobo se transforma! Agora, sim, eu quero ver a cara dessa turma que vive se queixando, no boteco, da falta de tesão, enchendo o rabo de pinga, accreditando nessas lendas!

128 GLAUCO MATTOSO

GYMNASTICA PASSIVA [8895]

Regada a vinho tincto ou a cerveja, agora nem gymnastica passiva consegue seduzir-me nesta vida, Glaucão! Evoluimos! A sciencia emfim chegou àquillo que devia ter sido descoberto, ja, faz tempo: a pillula de estimulo! Sim, Glauco! Tomamos uma pillula diaria, ficamos musculosos, bem dispostos, saudaveis e tesudos! Sobra tempo, então, para bebermos nosso vinho ou nossa cervejinha, meu amigo! Não, isso não me consta, ainda, ter algum pesquisador patenteado! Não temos comprimido que reverta cegueira nem surdez, Glaucão! Ao menos você comnosco sempre beberá, assim como tem feito ultimamente!

BAMBOS DITHYRAMBOS 129

TOQUE AGRIDOCE [8896]

Sou bruxa, você sabe muito bem, querido Glauco! O vinho que lhe estou servindo por Satan foi baptizado!

Sim, isso mesmo, o Vinho do Diabo! Provou, ja? Puxa! Até pensei que não! E então? Ja reconhesce esse sabor? Disseram que paresce ser do mijo que Lucifer destilla, mas é peta!

O gosto mais me lembra aquella baba azeda, ao mesmo tempo doce, delle! Sabor incomparavel! Mas eu sei por que gosta você dessa bebida!

Satan não só seu pão admassa com as mãos: tambem as uvas com seus pés!

130 GLAUCO MATTOSO

ALVISSAREIRO ASTRAL [8897]

É chato recordar isto, Glaucão, mas sempre volta à mente que, em sessenta e quattro, um golpe impunha a dictadura!

Até pensei que estavamos ja livres daquelle pesadello, mas agora estão fallando nisso novamente!

Podiamos estar a tantas coisas brindando... Né, Glaucão? Mas este vinho paresce menos doce no momento!

Ei, tenho solução para a questão! Abramos um mais doce e licoroso!

Emquanto beberica a gente, em festa, a peste exconjuramos! Em outubro, teremos ja seccado quantos coppos?

BAMBOS DITHYRAMBOS 131

Estou preoccupadissima, querido Mattoso, meu poeta favorito!

Junctei minhas amigas para vermos aquillo que podemos fazer para livral-o desse vicio nos licores!

São doces demais para alguem que esteja na sua condição de diabetico!

Façamos um arranjo, meu querido!

Em troca do licor, que, sendo doce, tambem tem um alcoholico teor, nós vamos suggerir algum puddim!

Acceita si é de leite condensado?

É doce, nós sabemos, mas ao menos, alcoholico não sendo, prejudica seu sangue com menor intensidade! Conhesço uma doceira que faz um puddim maravilhoso: dona Deborah!

É mesmo? Della amigo se tornou?

Pois vamos! Approveite e largue ja do coppo de licor! Adopte então o pratto de puddim! Ué! Com ambos contenta-se você? Não tem mais jeito!

Noticia má darei para as amigas!

132 GLAUCO MATTOSO
LIGA DAS AMIGAS DO MATTOSO [8898]

A VOLTA DO CHECKUP [8899]

Senhor Mattoso, o medico sou eu, aqui! Vou lhe dizer sinceramente:

A sua glycemia alta demais

está! Seus triglycerides tambem!

Nem fallo desse mau cholesterol!

Mais digo-lhe: chequei hemoglobina glycada! Alta demais, senhor Mattoso!

Desculpe perguntar: O senhor bebe?

Que typo de bebida? Ah, licorosa?

E come sobremesa? Qual? Puddim?

Teremos que cortar tudo, senhor!

OK, senhor Mattoso! O senhor faz exames novos dentro de seis mezes e volta aqui! "Voltar", bem entendido, si vivo persistir! Caso contrario, nem venha assombrar este consultorio!

BAMBOS DITHYRAMBOS 133

ANTEVESPERA DOS PERUS [8900]

Você não teme, vate, entrar em coma alcoholico? Licores, seja absintho, ou seja algum mais fracco, poderão leval-o para a cova! Pelo menos dum coma diabetico o perigo exsiste, Glauco! Um vate do seu porte perder ninguem deseja, mas você precisa cooperar! Que tal fazermos assim? Vamos tomando, cada vez um pouco menos, nesses nossos brindes! Sim, calices menores! Poderemos, qualquer dia, abrir mão até dum simples golinho de espumante! Não concorda? Prefere morrer cedo? Quer saber? Tambem eu morrerei naquelle dia que esteja destinado! Tem razão!

134 GLAUCO MATTOSO

SEGUNDA PARTE ANTIGA ADEGA

DISSONNETTO AO FIM E AO CABO [0222]

Ao cabo de alguns annos bengalando, decoro cada pedra do caminho, o poncto onde alguns galhos com espinho exbarram-me na cara emquanto eu ando. Ao cabo de alguns mezes sonnettando, compor passa a processo comezinho, tal como encher o coppo com mais vinho sabendo, em plenas trevas, quanto e quando. A forma do sonnetto é o quarteirão ao qual, por annos, dando a volta vim trilhando o chão que sinto tão ruim, sem guia ou companhia de outro cão. Caminhos nunca mudam para mim. Só muda a caminhada, ja que não mais prendo-me aos quartettos. Assim vão mudando meus sonnettos. Chego ao fim.

BAMBOS DITHYRAMBOS 137

DISSONNETTO DA BELLA BEBADA [0753]

Cahiu. Quebrou-se toda. Varios pinos lhe foram collocados entre os ossos. Ficaram reduzidos a destroços seus planos, poucos delles pequeninos. Carreira, carro, caso... Outros destinos parescem mais dramaticos que os nossos.

Emquanto os azarados ganham grossos pepinos, os sortudos ganham finos.

Andar de novo quasi não consegue a pobre accidentada, que era estrella do palco e agora às traças vive entregue.

Quem é que iria amar 'inda querel-a?

Ninguem admarraria alli seu jegue! Commum é pelas ruas alguem vel-a mandar Deus ao diabo que o carregue, enchendo a cara que famosa fel-a.

138 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO DA EMBRIAGUEZ [0803]

Ninguem defende a serio a beberagem, mas todos nella exaltam os effeitos: animam-se e allardeiam grandes feitos os fraccos, que ja como fortes agem. "Uisque", rhum, tequila... a porcentagem alcoholica é o de menos. Os affeitos à pinga ou ao licor teem seus direitos, mas vinhos e cervejas mais vantagem. Na India a mulher lava os pés do esposo, depois tal agua bebe, salgadinha, costume que, no macho, augmenta o gozo. Prefiro a sopa quente, porem minha paixão solidariza-se ao calloso e liquido prazer da humana vinha. Ainda que não seja tão famoso, ja tenho seguidores nessa linha.

BAMBOS DITHYRAMBOS 139

DISSONNETTO DA CANNA DOCE [0849]

A dona do boteco é quem mais secca o estoque de garrafas de licor, battidas, vinhos, seja la o que for, comtanto que preencha uma caneca. Ao puro whisky a moça liga neca, mas quando, alem do alcoholico teor, mixtura-se um assucar, o sabor a dopa até que caia na somneca. "Não sou pinguça, não!" -- a moça brada, mas para repetir jamais embroma. Accyma dos wermuths não ha nada, excepto a caypyrinha, que ella toma no coppo destinado à limonada. Si bem que uns salgadinhos tambem coma, seu grande prejuizo é estar mammada e nem saber qual é o peão que a doma.

140 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO DITHYRAMBICO [1092]

Bastardos bardos, bebados de absintho, destillam seus delirios. Lhes delego meus proprios, pois por ora só me entrego ao porre e à porra, ao Pincto e ao vinho tincto. Meu sonho, no momento, é ver o Pincto alegre e de pau duro, emquanto eu, cego, usando bocca e lingua, me encarrego de ser seu fellador: assim me sinto. Aquillo que hallucina este cegueta, sabendo ser o Pincto tão gabola de sua ferramenta, é que eu prometta: Farei dos labios uma molle mola, suppondo que, ao bombar-lhe a chapelleta, controlo o gozo a alguem que me controla.

BAMBOS DITHYRAMBOS 141

DISSONNETTO DO COCHILO TRANQUILLO [1546]

Dormia no sofá seu thio, de porre. Chegando-se bem perto, sente o cheiro de pinga numa poncta, mas lhe occorre cheiral-o (Por que não?) no corpo inteiro. Na poncta opposta, pela sola corre seu avido nariz! Porem, primeiro terá que descalçar tudo que forre os pés do velho sujo e cachaceiro. O timido sobrinho só vê chance de ter aquella sola, grossa ja de tanto futebol, ao seu alcance na hora em que o tithio dormindo está. Sim, quando os outros saem, elle adora a scena costumeira: poderá olhar do beberrão o pé de fora, fedendo mais que a bocca de gambá.

142 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO DO CRIME FAMELICO [1594]

A camera indiscreta e patrulheira que ha no supermercado photographa os passos do moleque que se exgueira por entre as pratteleiras e as "abbafa". O joven ladrãozinho faz a feira: biscoitos, doces, ballas... A garrafa de whisky não lhe excappa à mão certeira! Minutos mais, e o joven ja se sapha! Detido na sahida, foi levado ao proximo districto. Ha quem confisque aquillo que roubou. É o delegado, que indaga: "Si é por fome, por que whisky?" O cynico ladrão nem titubeia, sciente de seu risco, caso pisque. Sabendo que não fica na cadeia, responde: "Só por pão, tem quem se arrisque?"

BAMBOS DITHYRAMBOS 143

DISSONNETTO DA INCONVENIENCIA [1706]

De manhan cedo, um bebado passeia em frente ao hospital. Cantando, grita:

"As aguas vão rollar! Garrafa cheia não quero ver sobrar..." A coisa irrita. La dentro, quem de dores experneia escuta aquillo e mais se debilita. Mostrando estar, de facto, com a veia, o bebado é um tenor de voz bonita.

"Eu bebo, sim, e estou vivendo...", canta. Paresce seu orgulho ser tremendo. A voz ja lhe enrouquesce na garganta:

"Tem gente que não bebe e está morrendo..." Foi retirado pela viatura. Alem de dores chronicas soffrendo, no quarto um paciente agora attura o medico: {Não beba, eu recommendo...}

144 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO PARA UMA MODA DE VIOLA [1738]

É preciso um sotaque bem caypyra: quem finge é bom que faça muito ensaio, a menos que à Ignezita eu me refira.

"Co'a marvada pinga é que eu me attrapaio!" Cachaça experimenta e della tira tal sarro, que no riso eu sempre caio si escuto aquella moda: de mentira ou não, ventila o thema e descontrae-o.

Fallar de alcoholismo na mulher é coisa mellindrosa a quem só quer usar um tom didactico ou pedante. Mas quando o verdadeiro sertanejo abborda essa materia, nella vejo só graça no sotaque de quem cante.

BAMBOS DITHYRAMBOS 145

DISSONNETTO PARA A MORINGA QUENTE [1758]

Cabeça, quando dóe, ninguem controla. Um chama de "enxaqueca", outro ja falla que a dor é "cephaléa"... Lembra bolla da pillula o formato: vou tomal-a. Quem disse que resolve? Ja me rolla p'ra la de meia horinha, e a dor estalla de forte! Lattejante, a veia é molla que pulsa, em sobe-e-desce, e que appunhala. Depois que uns analgesicos engulo, daquelles que qualquer medico dá, alem de constatar effeito nullo, vertigem é o symptoma que virá. Melhor é pensar logo si de vinho eu tomo mais um coppo, ja que está na hora de dormir, ou só um pouquinho, até que o somno venha e a dor se va.

146 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO ALLEMAN [1825]

Não sei si antigamente era melhor e a nostalgia vira um cacoethe, mas algo, dia a dia, está peor: cerveja tem sabor de sabonete! Quando morei no Rio e ao meu redor, entre um refresco, um succo ou um sorvete, tomava-se o bom choppe, era de cor que as marcas eu sabia num lembrete. Escura, clara, preta, amarga, doce, bebida de montão ou de pouquinho, conforme a companhia que me fosse possivel encontrar pelo caminho. Agora, acho, qualquer cervejaria, sem como concorrer com qualquer vinho, transforma em detergente o que seria bem chato, por si só, beber sozinho.

BAMBOS DITHYRAMBOS 147

SONNETTO PARA A VERDADE DO VINHO [2141]

O enologo perdeu o rebollado tentando responder ao que lhe indaga o ouvinte dum programma: é refinado o vinho si mais caro a gente o paga? E a rolha? O vinho fino, engarrafado, é bom appenas caso o vaso traga a dicta de cortiça? Si é vedado com plastico ou com latta, acaso, estraga?

"Cortiça tem mais charme...", justifica, mas sabe que os xodós da classe rica são marcas ja de tampa rosqueada.

Abbaixo a sacarolha? Abbaixo o exforço? Não quero mais sentir dores no dorso abrindo mais um, para outra rodada!

148 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO PARA A FERMENTAÇÃO DOS TERMOS [2291]

Não temos um contracto: a escravidão ao outro é natural, pois eu, enfermo, submetto-me a um rapaz que é rico e são, de quem sou "massagista" além do termo. Tambem de "fellador" o nome dão a um cego, si elle chupa: ha de caber-m'o, pois faço com a bocca uma porção de coisas si meu rosto alguem foder-m'o.

Declaro-me dum joven, por não ver, emquanto elle bem vê, "servo". O dever dum servo é trabalhar para servil-o.

E chupo. E massageio. E seus pés lambo.

E, emquanto elle me inspira um dithyrambo, desfructa, degustando um "Tempranillo".

BAMBOS DITHYRAMBOS 149

SONNETTO PARA A DIVINIZAÇÃO DO JOVEN [2314]

Não posso ser bacchante, pois, na minha pathetica cegueira, nem a isso me presto. Mas exige-me um serviço o joven: que eu o louve em cada linha. Me prostro ante um ephebo e, como a vinha é fonte inspiradora de seu viço (ou vicio), ao proprio Baccho este enfermiço cegueta um dithyrambo ora escrevinha. Sahudo seu prazer, si a vida vive do jeito que deseja, pois você jamais terá de estar onde eu estive! Bebamos! Você, vinho; quem não vê, lhe sorve, humilde, o semen e, inclusive, a urina que (Evohé!) você me dê!

150 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO PARA OUTRA VERDADE DO VINHO [2614]

"Mys-te-ri-o-so amor, tu me deixaste a bocca em braza..." E o Chico, bocca cheia, exalta essa mulher que, si na veia lhe fosse inoculada, era um contraste. Quem sabe nem passasse ella dum traste sem graça, ou duma bicha... Si tonteia um homem, ja, de bebado, não creia naquelle pappo, e delle bem se affaste! A "sombra vaporosa", eu a comparo àquelle venenoso menininho que o Ritchie, num barato, tornou caro e encheu, no seu rockinho, de carinho. Taes versos não illudem mais meu faro. Diziam ser menina, mas o anjinho da guarda me contou que não é raro trocar tudo, ao tomar um simples vinho.

BAMBOS DITHYRAMBOS 151

DISSONNETTO PARA QUEM NÃO PARA [2674]

Resaca e sacarolha estão na veia poetica de todo follião. Qualquer bobão será mau beberrão, porem o bom bebum jamais tonteia. As aguas vão rollar! Garrafa cheia não quero ver sobrar! Eu passo a mão na sacarolha, e bebo de montão! Resaca a gente cura na cadeia!

Depois de solto, eu volto à bebedeira!

Peor é quando o gajo, por tristeza, lembrando da mulher, enche a caveira!

Ahi nem vale a pena estar à mesa com gente desse typo! Só quem queira brincar deve beber, sem alma presa!

Jamais digo ao leitor que estou à beira do porre, p'ra deixal-o na incerteza...

152 GLAUCO MATTOSO

Estou triste, na triste noite fria, pois ella ja não volta para mim.

Fatal é, neste triste botequim, saudade transformar-se em agonia. Amigo, quer fazer-me companhia?

Não tenha accanhamento: eu aqui vim chorar, e ver você chorando assim nos torna companheiros, nos allia.

Não devo nem pensar em ser feliz! Me sinto derroptado, e é meu destino tomar mais alguns tragos deste aniz. Por isso outros tambem nem recrimino: Estamos sempre promptos a dar bis. Então? Beba commigo! Então, menino? Ja tem onde dormir? Por que não quiz dormir commigo? Eu sirvo, não domino.

BAMBOS DITHYRAMBOS 153
[2832]
DISSONNETTO SOBRE DOIS PERDIDOS NUMA "BOITE" SUJA

DISSONNETTO SOBRE UMA DOCE VINGANÇA [2845]

Por que tu bebes tanto assim, rapaz? Ja chega, ja passaste tu da compta! Por causa de mulher? Então me apponcta a dama que tamanho mal te faz!

Então é aquella la? Pois tu me dás, agora, uma razão mesmo de monta!

Aquella fulaninha é futil, tonta, não vale que tu percas tua paz!

Não xingues, não praguejes, em mandinga nem penses! Não rebaixes teu valor!

Melhor parar agora com a pinga!

Nenhuma dellas sabe dar amor!

Aquella muito menos! Vae! Te vinga! Suggiro que commigo vás te expor na frente da cadella: a gente ginga, rebolla, e ella que as coisas va suppor.

154 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO SOBRE A MINHA CANNINHA [2847]

"Marvada" mesmo, a pinga! Eu bebo e caio, de chofre, de maduro, de repente, mas quem dessa cachaça experimente cae juncto! E, p'ra levar, nós "dá trabaio"! Da branca, da amarella, eu dou meu "taio" na pinga aqui da casa. Bebo quente, gelada, mixturada... Essa aguardente egual não tem! A fama eu, della, "expaio"! Que fallem! Que commentem! Sou pinguço, não nego! Mas pudera! Da cachaça não ganha o americano nem o russo! Uisque, rhum, tequila... não teem graça! Producto "nacioná" me faz, de "bruço", cahir por ella! Então, levanto a taça!

BAMBOS DITHYRAMBOS 155

DISSONNETTO SOBRE UM ALCOHOLATRA AMARGURADO [2858]

Tornei-me um beberrão e, na bebida, procuro me exquescer daquella ingrata que amei. Mas a saudade me maltracta demais, e não tem jeito a minha vida... Primeiro, foi com vinho. Só quem lida com marcas consagradas sabe a data correcta duma safra. Só quem tracta da adega, como eu tracto, não duvida. Mas a separação me desleixou: passei a beber vinho de segunda, wermute, e até cachaça! E grogue estou! Si, ao menos, fosse aquella vagabunda tambem boa de coppo... Bem, não vou fazer mais conjectura que confunda, sinão o meu leitor, que chato achou, dirá que o menestrel bebe e redunda.

156 GLAUCO MATTOSO

Quem sabe, sabe: como é divertido gostar de ver alguem enchendo a cara, cahindo pela rua ou indo para a clinica do vicio, arrependido! Um bebado me disse, e eu não duvido do gajo, que um bohemio se compara ao outro, por curtir bebida cara ou pelo quanto tenha consumido.

Um delles se gabava da nobreza daquelle que não fica tão cambaio: "Você só bebe pinga? Que pobreza! Eu bebo só conhaque! Quando caio de bebado, vomito sobre a mesa! Não caio na calçada, nem me traio deixando o rabo à mostra, si indefesa é a bunda do bebum perante o raio!"

BAMBOS DITHYRAMBOS 157
DISSONNETTO SOBRE UM CU QUE NÃO TEM DONO [2980]

UMAS NUMAS [3120]

Que um "intellectual não vae à praia" diz, "intellectual bebe!", o phrasista. Melhor é quando um halterocoppista proclama "Eu bebo, sim!" sem levar vaia. Querer que um escriptor se descontraia bebendo ja virou, porem, a pista mais obvia do clichê. Quem nisso insista paresce que fugindo está da raia. Curtindo sempre estão certos indicios da moda, alguns chavões da geração. Pretexto é ler Bukowski, ouvir Vinicius, mas, vamos e venhamos, por que não sem pappas assumirmos nossos vicios? "Eu bebo porque gosto!" ou "Beberrão prefiro ser!" "Vocês seus exercicios do espirito practiquem! Meus não são!"

158 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO DA UVA E DO VINHO [3761]

Como assim? Não adivinho qual origem, nem qual nome poderá ter este vinho!

É você quem o consome! Beberrão, eu? Só um coppinho bebo agora! A gente come sem beber? Você mesquinho não será! Vergonha tome! Eu ja disse que não sou entendido disso! Como vou saber do assumpto? Estou só bebendo emquanto como! Mas você, sim, disso entende! Pode até fazer um tomo!

Toma todos... e se offende quando eu gosto do que tomo!?

BAMBOS DITHYRAMBOS 159

TINCTO DE QUINCTA [4753]

Que merda! Me accabou aquelle vinho gostoso, que eu tomei sem sentir dor nenhuma de cabeça! Quando eu for tomar outro, é paulada, ja adivinho! Só tenho deste aqui! Mas, coitadinho de mim! De solidão sou soffredor!

Preciso tomar umas! Si o sabor da pinga não me aggrada e estou sozinho...

Vae deste mesmo! Um brinde! Ao meu successo!

Talvez assim se affaste este fastio!

Que vinho horrivel, puta que o pariu!

Não quero saber! Agua é o que eu não peço!

Ai, minha cabecinha! Onde se viu beber dessa nojeira? Si attravesso tal crise, consequencias nunca meço, coitado de mim! Merda! Me subiu!

160 GLAUCO MATTOSO

BAMBO DITHYRAMBO [4830]

Me fallaram que, de Baccho, vão as uvas, para o vinho, ser pisadas! Eu destacco um detalhe, e ja adivinho. Neste poncto está meu fracco: quem as pisa tem pezinho de garoto! Qual velhaco quer na lingua tal gostinho? Saphadão, o Dionyso! Elle affirma que é preciso sob a sola as uvas pôr!

Diz que o vinho bom precisa desse joven pé que o pisa, pois melhora o seu sabor!

BAMBOS DITHYRAMBOS 161

COLORIDA LICOREIRA [5060]

No bar dum lar, é logico suppor: qualquer decantador, de crystallino feitio, lapidado em xadrez fino, costuma conter caro e bom licor. Mas não naquella casa. Muda a cor de cada garrafinha; o que imagino ser mentha ou curaçau, porem, termino notando que é remedio, e só si for!

Xarope, Biotonico... Combina, ainda que ninguem nisso o pé finque, com calice bebel-os? Feito drink, tomar Mellagrião, Maracugina?

Alguem me offeresceu... Fallei: "Não brinque! Remedio aos convidados se destina?"

Provei, porem... Agora, à vitamina ja faço, effervescente, o brinde e o link.

162 GLAUCO MATTOSO

PRECIOSO LIQUIDO [5068]

Mas isso é mesmo o cumulo! A frescura chegou ao poncto maximo! Eis que, agora, virou "sommelier" quem diz que adora sabor achar num coppo d'agua pura! Até "flavorizar" virou figura corrente de expressão e, sem demora, adhere à nova moda quem "decora" o liquido e attenção chamar procura! As aguas teem sabores, não sabia? Ninguem queira saber qual a receita! Alguns são tão subtis, que nem suspeita a gente si é de coco ou melancia! Exsiste uma, de petalas, perfeita às linguas delicadas! Quão macia a sua subtileza! Que seria das fraudes sem o otario que as acceita?

BAMBOS DITHYRAMBOS 163

IDÉA DE GERICO [5253]

Alguem que a carapuça facil vista talvez numa bobagem dessas caia: diz que "intellectual não vae à praia" e que "intellectual bebe" o phrasista! Que maxima imbecil! Poncto de vista egual Millor não tinha e dessa laia não era: bem jogava e jamais vaia levava o genial frescobollista! Sou intellectual e nunca vou à praia! Por acaso beber devo? Percebem que abobrinha o tal fallou?

Questão quem faz de, em phrases, ter relevo não fica dando trella (Eu nunca dou...) ao halterocoppismo! (...quando escrevo!)

Poetas bebem vinho, sim, estou sabendo. Mas a phrases não me attrevo.

164 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO DUNS ELIXIRES RELAXANTES [5483]

Coqueteis e drinques eu provei varios, do commum philtro magico ao plebeu vinho quente. Approvo algum? Mais ou menos. Whisky e rhum eu dispenso. Alguem me deu uns licores e bebum fiquei, quasi. Não valeu. Hoje abstenho-me de absintho e a tal poncto não descambo: ao tomal-o, eu só me sinto um auctor de dithyrambo. Si algo exsiste que me dope e por elle si me lambo, é um fortissimo xarope contra a insomnia: me põe bambo!

BAMBOS DITHYRAMBOS 165

PAPPO DE BEBADO [5709]

Quem bebeu razão não tem de fallar, mesmo que berre. Quem berrou acha que vem evitar que o pappo emperre. Bebo vinho, sim. Porem, caso o canone não erre, meus xarás de penna sem "mé" não passam, menos "cherry". Um absintho sei que alguem toma, um Pietro ou um Pierre. Si eu tomar, em vez de zen, tudo indica que eu me ferre. Não deduro aqui ninguem e, antes que esta estrophe encerre, lhes direi: bebo tambem qualquer succo dalgum "berry".

166 GLAUCO MATTOSO

POISON WHISKEY [6762]

Poeta, a gente vê tanta cachaça na praça, artezanal, uma amarella, às vezes branca, azul... Porem aquella vermelha de veneno, meu, não passa! Meu pae, que era briguento, um bom reaça que encrenca procurava, aquella bella cachaça tomou sempre e mattuschella ficou, até morrer! Uma desgraça!

Quiz elle que eu tomasse essa bebida mortal, a tal da pinga vermelhinha, mas sempre preservei, poeta, a minha cabeça bem pensante nesta vida! É verde meu absintho, Glauco! Olvida você que todo bardo, nessa linha maldicta dos francezes, não definha por causa duma dose bem servida?

BAMBOS DITHYRAMBOS 167

EGREJA DA BREJA [6851]

Cerveja no café da manhan? Veja, poeta, si dá para crer em gente capaz de ser tão credula, tão crente nos mysticos effeitos da cerveja! Blueseiros e rockeiros de bandeja esperam, como os Doors, que simplesmente abrir uma lattinha, mesmo quente, ja basta para astral ser quem almeja! Nem whisky, nem o vinho considera a turma beberagem de poeta bohemio ou estradeiro, que na recta do trecho uma carona sempre espera! Prefiro o vinho, Glauco! Quem me dera ter grana para aquelle de selecta e cara safra! A breja só completa o pratto num almosso, né? Pudera!

168 GLAUCO MATTOSO

CATERVA DA CERVA [6852]

Bebida de poeta, vate, é vinho! Mas sempre exsiste alguem gabando alguma virtude da cerveja! Faz espuma, somente, sem querer ser excarninho! Em torno da cerveja algum gruppinho alegre, sempre erguendo o coppo, fuma, conversa, joga, pela rua rhuma, de bar em bar, no tropego caminho! Não faço parte dessa turma, não, Glaucão! Sim, sou bohemio, sabes tu! Mas, seja si estou alto ou jururu, só bebo vinho, até de garrafão! Commigo, sei, nem todos hoje estão! Alguns preferem pinga, alguns o cu sem dono ja deixaram, mas tabu é, para mim, sem vinho, uma canção!

BAMBOS DITHYRAMBOS 169

QUEM CURTE QUEEN? [6905]

Estou ligeiramente maluquinho, Glaucão, nada de muito grave, não! Appenas, vez por outra, com a mão na testa, batto firme e me abbespinho! Commentam que eu, então, me endemoninho e passo a commetter esse montão de coisas descabidas... Mas estão errados! Só tomei, Glaucão, um vinho! Você tambem não toma? Qual poeta não bebe um vinhozinho, não commette loucuras litterarias? Pincto o septe tambem, ora! Ninguem um vinho veta! Às vezes, pelladão, na bicycleta eu saio pedalando, mas repete o povo que sou louco! Que interprete assim quem desejar! Nada me affecta!

170 GLAUCO MATTOSO

Ah, Glauco! Só porque fallo sozinho me chamam de maluco! Mas que mal ha nisso, vate? É muito natural fallarmos, nós comnosco, num canthinho! Peor é quando notam que de vinho tomei uma garrafa (nacional, daquelle forte) e faço um carnaval voltando para casa, no caminho! Ahi não fallo, calmo, só commigo: eu solto gargalhada, armo um barraco, profiro uns palavrões... Eu me destacco no meio da avenida, meu amigo! Por isso de mim fallam! Um perigo não sou à sociedade! Esse malaco que está no poder, esse, sim, é fracco de cerebro, do povo um inimigo!

BAMBOS DITHYRAMBOS 171
O INIMIGO DO POVO [6997]

DIPSOMANIA [7088]

Não, Glauco! Não sou bebado! Magina! Sou colleccionador! Sim, de licor! Excolho pela marca, pela cor, por cada detalhinho que se ensigna! De mentha, curaçau, de tangerina, do Porto, moscatel, seja qual for o typo ou procedencia... Ah, que sabor magnifico! Com algo um tal combina! Notei que tu preferes licoreiras de vidro ou de crystal, bem lapidadas, em vez do contehudo! Não te enfadas de tantas nessas tuas pratteleiras?

Não, Glauco! Não me causam bebedeiras pesadas os licores! Só folgadas me ficam as cuecas... E chupadas serão inevitaveis, caso queiras!

172 GLAUCO MATTOSO

TAÇA SUADAÇA (I a III) [7211/7213]

Cantores sertanejos cantam para um publico podolatra, sabia? Verdade, Glauco! O pé, que ja fedia, tirou alguem da bota! Ahi vem tara! No bute elle despeja a menos cara cachaça do pedaço! Uma gurya ao palco sobe e bebe -- Quem diria? -aquelle coquetel de especie rara!

Hem? Pinga com chulé, Glauco! Você bebia aquelle exotico licor na bota dum vaqueiro cantador?

Apposto que conhesce esse buquê! No tennis, caso um bebado lhe dê um gole, seja la que merda for aquillo, você toma? Fingidor de nojo nem será, logo se vê!

BAMBOS DITHYRAMBOS 173

Tomar até champanhe dentro duma suada bota appenas não será fetiche sertanejo, claro está, pois mesmo entre pilotos se costuma! A chance você logo, cara, arrhuma no podio, quando todos elles ja estão commemorando! Um delles dá um gole, a quem quizer, da tal espuma! Glaucão, você podia approveitar, si fosse da corrida animador! Em scena, até diria que sabor extranho degustou, fazendo um ar! Depois, se gabaria à bessa por ter tido o privilegio de invulgar chulé de quem pilota appreciar, embora seja mixto o tal odor!

174 GLAUCO MATTOSO

Um acchocolatado pé descalça a bota de borracha para nella cerveja ser servida, numa bella filmagem que não tem nada de falsa! Glaucão, você exporrar irá na calça!

O pé desse peão chulé revela, concreto, colorido! Forma aquella geléa, vista quando os dedos alça!

Appós aquelle pé mostrar-se em scena, dinheiro offerescido será a quem beber cerveja nessa bota bem curtida! A apposta achou que vale a pena? Entendo... no logar dessa pequena façanha, quer você lamber bem, sem nenhum nojo, o pezão do cara, alem das coisas que a censura ja condemna!

BAMBOS DITHYRAMBOS 175

MOTTE GLOSADO [7495]

Homem bebado é ja chato, mas mulher... Deus nos proteja!

Si se affasta de mim, grato eu lhe fico, pois por si, si elle falla, chora ou ri, homem bebado é ja chato. Mas o thema de que eu tracto peor é si, com cerveja, vinho ou pinga, juncto esteja qualquer dessas que incommoda. um borracho macho é foda, mas mulher... Deus nos proteja!

176 GLAUCO MATTOSO

VINHO NA BOTA [8085]

{Agora a gente encontra, Glauco, à venda um'agua assim, direi, "saborizada", purinha, sem assucar! Não é lindo?

A gente abre a garrafa, saboreia, degusta, até commenta sobre nota, resaibo, transparencia, marca, tudo! Não é lindo, Glaucão? E faz tão bem ao corpo! Da sahude cuida quem consome essa bebida assim moderna!}

-- Lindissimo, sem duvida. Ninguem da selecta sociedade exalta nada inutil nem superfluo. Sorrindo estou, veja você. Garrafa cheia nem quero ver sobrar. Quando na bota beberem, a brindar algum sortudo evento, fingirei ter nojo, nem pedir vou um golinho. Ora, quem tem visão va pedir agua na taverna!

BAMBOS DITHYRAMBOS 177

ODE AO VICIO [8174]

O endocrinologista ainda diz aquillo que me falla ha annos: tenho que entrar numa dieta, abbandonar os doces, as fricturas e o sonnetto. Tambem neurologistas attenção me cobram. É preciso sahir dessas poeticas orgias. Si decido, porem, me apposentar, não m'o permitte a scena nacional, nem mesmo a vida. Assim me justifico quando alguem extranha a minha volta à poesia.

Sonnettos ja não faço. Foi feliz a hora em que parei, pois o ferrenho appego ao molde é vicio, deu azar. Succede que, em logar delle, me metto de novo a versejar em profusão, agora varios moldes, sempre às pressas, me pondo a practicar. Ja resolvido está: fricturas como sem limite e vinho bebo, orando a Baccho. Olvida um vate seu officio? Não! Refem tornei-me! Viva tudo o que vicia!

178 GLAUCO MATTOSO
SUMMARIO PRIMEIRA PARTE: NOVA SAFRA .............................. 9 IN VINO VERITAS [8777] ................................. 11 VACCINADA [8778] ....................................... 12 GARRAFINHA THERMICA [8779] ............................. 13 LYRICA FAKETHYLICA [8780] .............................. 14 PILEQUE DE ARAQUE [8781] ............................... 15 SENTIDO DO SENTIDO [8782] .............................. 16 CONVERSA DE BORZEGUIM [8783] ........................... 17 CONVERSA DE BOTEQUIM [8784] ............................ 18 PAU D'AGUA [8785] ...................................... 19 PUDDIM DE PINGA (I) [8786] ............................. 20 PUDDIM DE PINGA (II) [8787] ............................ 21 LAMBRUSCO KIDS [8788] .................................. 22 SIDRA QUE VIDRA [8789] ................................. 23 PONCHE DE PONKAN [8790] ................................ 24 QUENTÃO DE LIMÃO [8791] ................................ 25 BATTIDA DE AMENDOIM [8792] ............................. 26 BATTIDA DE COCO [8793] ................................. 27 PEPPERMINT [8794] ...................................... 28 CURAÇAU [8795] ......................................... 29 PALADAR DISCIPLINADO [8796] ............................ 30 CYNAR OU CINZANO [8797] ................................ 31 CAYPYROSKA [8798] ...................................... 32 RABO DE GALLO [8799] ................................... 33 CUBA LIBRE [8800] ...................................... 34 GEMMADA TURBINADA [8801] ............................... 35
TENNIS MENOS BRANCO [8802] ............................. 36 AGUARDENTE CONDIZENTE [8803] ........................... 37 NOSTALGIA DA SANGRIA [8804] ............................ 38 APPURADO PALADAR [8805] ................................ 39 SADIA COMPANHIA [8806] ................................. 40 TARADOS POR REFUGIADOS [8807] .......................... 41 BAR DOS PHARISEUS [8808] ............................... 42 SEDUCTOR INFLUENCIADOR [8809] .......................... 43 PEZÃO SUJO (I) [8810] .................................. 44 CARNAVALIDADE [8811] ................................... 45 CHERRY BRANDY [8812] ................................... 46 EX-CORNO [8813] ........................................ 47 INCOMMUNICABILIDADE [8814] ............................. 48 CAMA NA VARANDA [8815] ................................. 49 CADA BARRACA [8816] .................................... 50 THEORIA DA RELATIVIDADE [8817] ......................... 51 PILEQUE DE MOLEQUE (II) [8818] ......................... 52 CONDIZENTE CONTINENTE [8819] ........................... 53 DELIRIO TEMPORARIO [8820] .............................. 54 TERCEIRA TERCEIRIZADA [8821] ........................... 55 PEZÃO SUJO (II) [8822] ................................. 56 BOTTLE OF WINE [8823] .................................. 57 RED RED WINE [8824] .................................... 58 DRINKING WINE SPO-DEE-O-DEE [8825] ..................... 59 BEER & SEX & CHIPS'N GRAVY [8826] ...................... 60 LEI SECCA (I) [8827] ................................... 61 LEI SECCA (II) [8828] .................................. 62 CRISE DE ABSTINENCIA [8829] ............................ 63 DURO NA QUEDA [8830] ................................... 64 POÇÃO MAGICA [8831] .................................... 65
BELLA PISCADELLA [8832] ................................ 66 SANGUE RUIM [8833] ..................................... 67 ESNOBES NO BAR [8834] .................................. 68 MAGIC WORDS [8835] ..................................... 69 MEDICOS DE CORTE [8836] ................................ 70 BACCHANTE INICIANTE [8837] ............................. 71 CRIVO PREVENTIVO [8838] ................................ 72 SUBJECTIVO INCENTIVO [8839] ............................ 73 MAIOR PEIXINHO [8840] .................................. 74 SUCCESSO NO PROCESSO [8841] ............................ 75 ASSISTENCIA SOCIAL [8842] .............................. 76 GENTE EXIGENTE [8843] .................................. 77 CYBERBEBERAGEM (I) [8844] .............................. 78 CYBERBEBERAGEM (II) [8845] ............................. 79 CYBERBEBERAGEM (III) [8846] ............................ 80 CYBERBEBERAGEM (IV) [8847] ............................. 81 CYBERBEBERAGEM (V) [8848] .............................. 82 CYBERBEBERAGEM (VI) [8849] ............................. 83 CYBERBEBERAGEM (VII) [8850] ............................ 84 SAHUDE! [8851] ......................................... 85 SALUD! [8852] .......................................... 86 SALUTE! [8853] ......................................... 87 SANTÉ! [8854] .......................................... 88 CHEERS! [8855] ......................................... 89 PROST! [8856] .......................................... 90 KAMPAI! [8857] ......................................... 91 RASTRO DUM ASTRO (II) [8858] ........................... 92 ESPIRITO LYRICO [8859] ................................. 93 MERENCORIAS HISTORIAS [8860] ........................... 94 DRINKING SONG [8861] ................................... 95
RASTRO DUM ASTRO (III) [8862] .......................... 96 DESAGGREGAÇÃO FAMILIAR [8863] .......................... 97 MAMMATA PARA VIRALATTA [8864] .......................... 98 ADEGA EXCLUSIVA [8865] ................................. 99 RESPOSTA À VISTA [8866] ............................... 100 O LEÃO E O ASNO [8867] ................................ 101 FORA DE EPOCHA [8868] ................................. 102 PYROTECHNICO ZELADOR [8869] ........................... 103 GOSTO REFINADO (II) [8870] ............................ 104 TYMBRE GRAVE [8871] ................................... 105 MELHOR FAREJADOR [8872] ............................... 106 A FRIEND [8873] ....................................... 107 SWEETER THAN WINE [8874] .............................. 108 TOTAL TRANSPARENCIA [8875] ............................ 109 SANGUE DE CHRISTO [8876] .............................. 110 FEIRÃO DA PASCHOA [8877] .............................. 111 CORES MEMORAVEIS [8878] ............................... 112 PIADINHAS (I) [8879] .................................. 113 PIADINHAS (II) [8880] ................................. 114 BAR DOS BARDOS [8881] ................................. 115 TRETAS ENTRE TRIBUS [8882] ............................ 116 THESE DISGUSTING THINGS [8883] ........................ 117 PESQUISA POR ADMOSTRAGEM [8884] ....................... 118 O CARRO E OS BOIS [8885] .............................. 119 DEVANEIO PELO MEIO [8886] ............................. 120 SYMBOLICO GOLE [8887] ................................. 121 BRINDE QUE NÃO FINDE [8888] ........................... 122 BARATO DADO [8889] .................................... 123 EFFEITO SUSPEITO [8890] ............................... 124 MACCLADMANIACOS [8891] ................................ 125
PEORES OPIOIDES [8892] ................................ 126 BLASPHEMIA OU HERESIA? [8893] ......................... 127 LOBISMACHO [8894] ..................................... 128 GYMNASTICA PASSIVA [8895] ............................. 129 TOQUE AGRIDOCE [8896] ................................. 130 ALVISSAREIRO ASTRAL [8897] ............................ 131 LIGA DAS AMIGAS DO MATTOSO [8898] ..................... 132 A VOLTA DO CHECKUP [8899] ............................. 133 ANTEVESPERA DOS PERUS [8900] .......................... 134 SEGUNDA PARTE: ANTIGA ADEGA ........................... 135 DISSONNETTO AO FIM E AO CABO [0222] ................... 137 DISSONNETTO DA BELLA BEBADA [0753] .................... 138 DISSONNETTO DA EMBRIAGUEZ [0803] ...................... 139 DISSONNETTO DA CANNA DOCE [0849] ...................... 140 SONNETTO DITHYRAMBICO [1092] .......................... 141 DISSONNETTO DO COCHILO TRANQUILLO [1546] .............. 142 DISSONNETTO DO CRIME FAMELICO [1594] .................. 143 DISSONNETTO DA INCONVENIENCIA [1706] .................. 144 SONNETTO PARA UMA MODA DE VIOLA [1738] ................ 145 DISSONNETTO PARA A MORINGA QUENTE [1758] .............. 146 DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO ALLEMAN [1825] ............ 147 SONNETTO PARA A VERDADE DO VINHO [2141] ............... 148 SONNETTO PARA A FERMENTAÇÃO DOS TERMOS [2291] ......... 149 SONNETTO PARA A DIVINIZAÇÃO DO JOVEN [2314] ........... 150 DISSONNETTO PARA OUTRA VERDADE DO VINHO [2614] ........ 151 DISSONNETTO PARA QUEM NÃO PARA [2674] ................. 152 DISSONNETTO SOBRE DOIS PERDIDOS NUMA "BOITE" SUJA [2832].. 153 DISSONNETTO SOBRE UMA DOCE VINGANÇA [2845] ............ 154
SONNETTO SOBRE A MINHA CANNINHA [2847] ................ 155 DISSONNETTO SOBRE UM ALCOHOLATRA AMARGURADO [2858] .... 156 DISSONNETTO SOBRE UM CU QUE NÃO TEM DONO [2980] ....... 157 UMAS NUMAS [3120] ..................................... 158 DISSONNETTO DA UVA E DO VINHO [3761] .................. 159 TINCTO DE QUINCTA [4753] .............................. 160 BAMBO DITHYRAMBO [4830] ............................... 161 COLORIDA LICOREIRA [5060] ............................. 162 PRECIOSO LIQUIDO [5068] ............................... 163 IDÉA DE GERICO [5253] ................................. 164 DISSONNETTO DUNS ELIXIRES RELAXANTES [5483] ........... 165 PAPPO DE BEBADO [5709] ................................ 166 POISON WHISKEY [6762] ................................. 167 EGREJA DA BREJA [6851] ................................ 168 CATERVA DA CERVA [6852] ............................... 169 QUEM CURTE QUEEN? [6905] .............................. 170 O INIMIGO DO POVO [6997] .............................. 171 DIPSOMANIA [7088] ..................................... 172 TAÇA SUADAÇA (I a III) [7211/7213] .................... 173 MOTTE GLOSADO [7495] .................................. 176 VINHO NA BOTA [8085] .................................. 177 ODE AO VICIO [8174] ................................... 178

Titulos publicados:

A PLANTA DA DONZELLA

ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS

INFINITILHOS EXCOLHIDOS

MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA

RHAPSODIAS HUMANAS

INDISSONNETTIZAVEIS

LIVRO DE RECLAMAÇÕES

VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS

MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES

GRAPHIA ENGARRAFADA

HISTORIA DA CEGUEIRA

INSPIRITISMO

MUSAS ABUSADAS

SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR

DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO

DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

SEMANTICA QUANTICA

INCONFESSIONARIO

DISSONNETTOS DESABRIDOS

SONNETTARIO SANITARIO

DISSONNETTOS DESBOCCADOS

RHYMAS DE HORROR

DISSONNETTOS DESCABELLADOS

NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES

A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO

MANIFESTOS E PROTESTOS

LYRA LATRINARIA

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES

O CINEPHILO ECLECTICO

A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM

SCENA PUNK

CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO

CANCIONEIRO CIRANDEIRO

SONNETTRIP

THANATOPHOBIA

DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO

INGOVERNABILIDADE

PEROLA DESVIADA

O POETA PORNOSIANO

BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA

CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS

RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA

PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS

PRANTO EM PRETO E BRANCO

GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

MADRIGAES TRAGICOMICOS

PANACÉA: SONNETTOS COLLATERAES

TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO

VENENOSAS FOFOCAS

São Paulo Casa de Ferreiro 2022

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