DEEPFAKE
Glauco Mattoso DEEPFAKE
E OUTROS SONNETTOS
São Paulo
Casa de Ferreiro
Deepfake © Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
DEEPFAKE E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024
214 p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.
Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.
O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.
Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.
DIA MUNDIAL DA DEEPFAKE
Um video vi, com toda a nitidez mostrando sua cara, menestrel, à sua voz, tambem, muito fiel, dizendo coisas que você não fez!
Você falla que nunca foi freguez da rhyma nem do metro, que um Nobel jamais acceitaria, que do fel das trevas até gosta, sem porquês!
No video, você falla que tesão por pés jamais sentiu e que não é tarado por chulé! Que é que dirão?
Será que todos podem botar fé em provas desse typo? Ou é questão appenas de dar uma de migué?
DIA MUNDIAL DO AMIGO
Glaucão, sou amicissimo teu, mas amigo mesmo, cara! Aqui te digo: Preciso, sem reservas, ser comtigo sincero! Sim, sincero, meu rapaz!
Por que é que, nesses olhos, tu não dás um jeito? São horriveis! Nem consigo olhal-os! Umas protheses, amigo, até que não seriam -- Hem? -- tão más!
Inuteis, os teus globos poderias por protheses de lentes transparentes trocar! Teem ellas boas garantias!
Até que, dessas dores que tu sentes, podias te livrar! Melhores dias terias! Negar isso tu nem tentes!
DIA MUNICIPAL DO CARIOCA
Não sendo um carioca que da gemma se diga, alli morei e dizer posso que o Rio de Janeiro será nosso motivo dum candente e eterno thema.
Alguem ha, na cidade, que não tema alguma violencia? Não engrosso, por isso, um khoro hostil, e sempre endosso si for “maravilhosa” aquelle lemma.
A sua paizagem, que não vejo mais, vi de la de cyma, num momento em que foi suicidio o meu desejo.
Porem, do Pão de Assucar ja não tento pullar, nem sinto medo do festejo satanico. Não ha melhor logar.
DIA NACIONAL DO DEMITTIDO
Eu tinha, sim, funcção remunerada, mas fui, sem justa causa, demittido! Glaucão, quaes os motivos eu duvido que entenda, pois, de mal, nunca fiz nada!
Appenas por ter dado uma porrada na cara desse velho? Ora, querido!
O cara me pediu! Foi divertido batter nelle! Rendeu muita risada!
O velho me chupava, não sem, antes, lamber meus pés suados, que eu tirava daquelles pesadissimos pisantes!
Pagava mal, por isso é que eu lhe dava porradas, que iam sendo mais constantes depois que elle fazia cara brava!
Amigos e eu, zombando dum ceguinho, trocamos nosso cumplice sorriso ao vel-o tropeçando nesse piso terrivel que elle encontra no caminho.
Um cego tão teimoso eu expezinho com gosto, mesmo! O cara algum adviso ja tinha recebido, mas juizo não teve e se fodeu bem bonitinho!
Tentar, só de bengala, caminhar, illeso, nesse typo de calçada, é grande insensatez, em vez de azar!
Fodeu-se! Exborrachou-se! Dei risada, é claro! Meus amigos tambem! Ar fizemos de ironia: nos aggrada!
DIA “D” NACIONAL CONTRA A DENGUE
Ja, neste calorão, tanto mosquito nos picca, que qual seja a pernilonga ninguem sabe. Comtudo, se prolonga o picco da doença, aquelle mytho.
Aguinhas empoçadas? Sim, evito deixal-as. Mas vaccinas, sem delonga, que venham, ora! Chega de milonga! Ou acham a coceira algo bonito?
Quer seja asymptomatica, quer seja febril e dolorosa, a dengue não exclue a comichão que me sobeja.
Ja sendo diabetico, questão vital é tal prurido. De bandeja, acceito uns repellentes, si me dão…
DIA MUNDIAL DO SCIENTISTA
Confio na sciencia cegamente, meu caro Glauco! Quando, pois, lhe digo que estamos, como humanos, em perigo, baseio-me em estudo competente!
Por isso digo: Vamos, certamente, bonito nos foder si, meu amigo, alguma aranha grande eu ja consigo medir, maior que um gatto, de repente!
No dia em que tivermos uma aranha tão grande, risco corre a humanidade, pois nunca se viu coisa assim tamanha!
Hem? Como? Uma gigante dessas ja, de montão, la na Amazonia, alguem appanha? Ja podem decretar calamidade!
DIA MUNDIAL DO ANTIQUARIO
Na feira alli do MASP eu, certa vez, achei um pé de pedra, aquelle exacto modello grego, um chato pé de pato, primor de precisão no que se fez.
Mais curto, o seu dedão, de embriaguez esthetica, attiçou-me. Fiz contacto com esse expositor e ja constato que fui, de facto, o seu melhor freguez.
Ja muitos pés de porte esculptural comprei do singular antiquario. Um dia, aquillo teve seu final.
Me leram seu modesto obituario achado num jornal local. Tal qual um fan, chorei. Sou delle tributario.
DIA MUNDIAL DA MINIATURA
No Macy’s, magazine la de fora, achei, de dois andares, um busão lindão, em miniatura. Por que não guardal-o? Sim, o tenho até agora.
Um omnibus londrino, que decora aquelle meu armario onde estão, tão junctinhos, tantos livros que me são mais caros. Uns duzentos são, por ora.
Um cego vulneravel fica. Ja tentaram me roubar a miniatura, mas ella se salvou. Se salvará.
Em Londres nem circula mais? Mas dura, commigo, tal brinquedo, pois está na mão duma amorosa creatura.
DIA NACIONAL DA CHATICE
Hem? Veja, menestrel, que insensatez!
Bem fallam delle! Eu sempre, então, rebatto, pois acho “presidente” um cargo chato, mais chato que pezão de punk inglez!
O gajo manda, manda, mas, em vez de ser obedescido, paga o pato! Por tudo, Glauco, o culpam e, de facto, não ganha nem presente dum freguez!
Depois do seu curtissimo mandato, não sendo reeleito, vae, talvez, até para a prisão! Não sae barato!
Melhor é “dictador” ser! Dos porquês não tem que prestar comptas e cordato jamais será com gente descortez!
DIA NACIONAL DO METEOROLOGISTA
Glaucão, não accredito mais naquella mulher que faz do tempo a previsão, pois ella prevê frio no verão e, quando for hinverno, uma panella!
Prefiro, quando abrir for a janella, ter uma surpresinha, ja que estão marcando meus poncteiros estação mais quente e meu pezão quasi congela!
Si for para do tempo duvidar, irei ouvir você, que é mau propheta e nem do seu futuro tem radar!
Assim, quando você calor projecta, ja sei que fará frio! Si fallar que exfria, pelladão fico! Quem veta?
DIA MUNDIAL DO OTORHINOLARYNGOLOGISTA
Amygdalas tirei, Glaucão, mas não deu certo, pois dor sinto na garganta si chupo um piccolé! Nada addeanta, nem cha, nem as pastilhas que me dão!
O medico fallou que, em estação mais fria, até rouqueja quem bem canta! Ainda mais depois de fazer tanta chupeta no mais sujo caralhão!
Eu soffro de rhinite, sinusite, bronchite, pharyngite e, dependendo daquillo que chupei, mais ha que eu cite!
Não, dessas coisas, Glauco, não entendo, mas posso dar, sem erro, o meu palpite: Tem cada vez mais gente se fodendo!
DIA MUNDIAL DA VIDA SELVAGEM
Hem, Glauco? Ja pensou? Que emocionante! No meio da Amazonia ter a casa em cyma dumas arvores! Se embasa a minha these, e a practica a garante!
Testaram e deu certo! Foi bastante difficil, mas depois que a gente casa a these com a practica mais rasa, ja nada restará que nos expante!
Selvagens animaes não são problema maior para quem riscos taes não tema, excepto si soffrer duma phobia!
Aranhas, por exemplo… Quem não queira topar com a feroz caranguejeira, na selva que não tenha a moradia!
DIA NACIONAL DO POETA ARTEZANAL
Na decada mais dura, a dos septenta, nós eramos aquelles marginaes que, em termos litterarios, ja não mais se encontram. Imitar-nos alguem tenta.
Meu raro poezine teve lenta mas franca acceitação. Outros jornaes surgiram, com propostas informaes, mas nada mais anarcho outrem inventa.
Repito os lemmas, para que não fuja da mente que luctamos uma brava battalha, sem ter della havido fuga:
JORNAL DOBRABIL: Quando caga, suja.
JORNAL DOBRABIL: Quando mija, lava.
JORNAL DOBRABIL: Quando peida, enxuga.
OUTRO DIA MUNDIAL DA ORAÇÃO
Glaucão, não addeanta alguem rezar appenas para Juppiter ou Baccho! Daquillo que nos enche mais o sacco somente Satan pode nos livrar!
Quem foi que nos causou maior azar na vida? Quem violas poz em caco? A chorda arrebentou do lado fracco por culpa de quem? Delle! Elementar!
Hem, Glauco? Ora, si tudo que nos vem a vida infernizar delle depende, teremos que rezar a quem? Hem? Quem?
Rezemos! “Ó Satan! Quem é que rende mais graças a vós? Nós, fodidos, sem perdão! Vós, que fodeis, de nós dó tende!”
DIA MUNDIAL DE LUCTA CONTRA A EXPLORAÇÃO SEXUAL
Pessoas exploradas sempre são, à bessa, pelo mundo! Ora, sabemos que ja passamos todos os extremos em termos de total exploração!
Adultos, desde os tempos de Sansão, cegados foram para -- Com os demos! -escravos se tornarem! Hoje, vemos ceguinhos exercendo tal funcção!
Sim, cegos mirins, Glauco! Você bem conhesce esse scenario, pois chupando faz tempo os philisteus, na vida, vem!
Emquanto houver reaças no commando, a Terra assistirá à cegueira, sem escrupulos nem pena, se ferrando!
DIA NACIONAL DO ANTIPALMEIRENSE
Bah! Todos torcem contra, no jornal, no radio, na TV, meu time, vate! São antipalmeirenses! Dão combatte total, si vamos bem ou vamos mal!
Durante a transmissão, não dão egual valor ao que succede nesse embatte! Si eu venço, não foi justo! Si houve empatte, vencer meresceria meu rival!
Soffremos nós um gol? O narrador mais berra do que quando nós marcamos! Um penalty não vale a meu favor!
Só contra! Ahi, valeu! São os reclamos appenas mimimi si o treinador for nosso! Ora, antiverdes, convenhamos!
DIA NACIONAL DE ABBRAÇAR UM MILITAR
Glaucão, você não acha? Todos nós devemos abbraçar um militar, conforme demonstrou esse exemplar povão americano, que tem voz!
Nós temos delles pena logo appós a guerra, quando voltam ao logar de origem, sem poderem nem andar, ja todos mutilados… Scena atroz!
Mas temos que ver nelles o papel daquelle que em nós pisa com a bota dum sadico regime, menestrel!
E então? Não dá vontade de uma quota lhes darmos de carinho? Sou, ao bel prazer dum michê reco, quem o adopta!
DIA MUNDIAL DA CURA DE DENTRO PARA FORA
Glaucão, você precisa se curar da sua atroz cegueira, mas não digo por obra de Satan, que esse castigo lhe impoz! Fallo dum gesto elementar!
De dentro para fora: deve estar ahi, pela vontade, meu amigo, a nossa propria cura! Não consigo pensar doutra maneira, em seu logar!
Querer é poder, Glauco! Vamos la! Concentre-se! Fé tenha! Peor cego é quem não quer ver! Certo, camará?
Si sou você, Glaucão, eu não sossego emquanto não voltar, e para ja, a ver onde é que piso e que excorrego!
DIA MUNDIAL DE DANSAR VALSA
Você sabe dansar, poeta? Não? Precisa apprender, mesmo que não veja! Dansar faz bem ao corpo, pois enseja diversos movimentos no sallão!
Na valsa, por exemplo, os pares vão rodando, vão rodando… Quem esteja bobeira dando, cae! E não se peja ninguem de, em sua cara, dar pisão!
Você, si está treinado, não precisa soffrer, como soffreu Delphino um dia! A cara lhe pisaram! E quem pisa?
A amada, que com outro dansa, fria e sadica! Você, Glaucão, à guisa de estoico, si cahir, nem siquer chia!
DIA MUNDIAL DOS FILHOS
Jamais acceitarei que filho meu deponha na policia! Não, jamais! É sangue do meu sangue! Ja meus paes diziam que eu não era algum plebeu!
Meu filho qualquer crime commetteu? Ainda que verdades sejam taes denuncias, direi sempre que são ais injustos! Quem garante isso sou eu!
Ja disse esse proverbio que “quem sae aos seus não degenera”, pois “tal pae, tal filho”… Não é mesmo, menestrel?
Quem mexe com meu filho, Glauco, vae ver só! Si não tolero quem me trae, não topo quem aos meus não é fiel!
DIA NACIONAL DA MUSICA CLASSICA
Não curto Villa Lobos, não! Tambem não curto Carlos Gomes! Não, não é a minha praia, Glauco! Nazareth sim, esse a ver commigo muito tem!
Naquelle seu piano vejo, sem temor de errar, que longe da ralé jamais elle ficou, pois foi até do samba precursor como ninguem!
Mas foi elle erudito! Sim, compoz suaves partituras! Nada fica devendo ao europeu pheijão co’ arroz!
É como você, Glauco, que tem rica e pura lyra, ainda que pornôs seus themas sejam! Bem se justifica!
DIA NACIONAL DO REPENTISTA
Pelleja aquelle cego cantador com outro repentista de excellente renome. Eis que esse sadico opponente decide expezinhar quem sente dor.
Nos versos de improviso, faz suppor que todo cego chupa, que quem sente a angustia da cegueira tem na mente noção da vocação de fellador.
O cego, respondão que é de mão cheia, até que, de repente, titubeia e, em versos, inferior ja se confessa.
Vencida a tal pelleja, se recreia o sadico opponente, cuja veia satyrica fodeu, oral, mais essa.
DIA MUNDIAL DA MULTIPLA PERSONALIDADE
Glaucão, posso ser sadico ou masoca, conforme cada caso, pois não tenho um unico character! Meu empenho em todos os scenarios se colloca!
Por vezes, eu commetto o que mais choca a publica attenção e sou ferrenho carrasco dos mais fraccos! Mas engenho eu tenho para a boa acção, em troca!
Um dia passo dando grana para os pobres, refeições pagando, com a cara mais lavada, a quem tem fome…
Um dia appós, exerço minha tara mais sadica, sahindo do bom tom, e quem for meu escravo merda come…
DIA MUNDIAL DA METEOROLOGIA PROPHETICA
Glaucão, não sou oraculo do clima, appenas! Não prevejo “o tempo”, mas “os tempos”! Comprehende? Sou capaz de ver o que, nos ares, se approxima!
Bons ares ou maus ares? O que estima você que irá rollar? Si Satanaz o nosso pão ammassa, phases más iremos passar! Isso não anima!
A Terra augmentará seu calorão e muitos dictadores, Glaucão, hão de, em breve, governar cada nação!
Bom ar condicionado elles terão, mas nós nos foderemos, porque não teremos siquer agua, meu irmão!
DIA NACIONAL DO GOLPINHO FLOPADO
Mas Glauco, que é que addeanta? Aqui, sozinho, planejo dar um golpe e collocar o meu querido lider no logar devido, mas com outros não me allinho!
Os outros generaes são, ja adivinho, um bando de cagões! Não vão topar manter nosso regime militar unido! Que povinho mais mesquinho!
Não fosse esse cagão que, trahidor da patria abbotinada, nos deixou na mão, tudo podiamos impor!
Mas isso assim não fica, não! Si sou o lider, eu virava dictador na boa, de tortura dava show!
DIA MUNDIAL DA COMIDA CONGELADA
Disseram que eu podia congelar qualquer comida, Glauco, mas não era verdade! Hem? Mas que pena! Quem me dera que desse! Eu garantia meu jantar!
Só não tentei guardar um caviar porque não tenho, Glauco! Ora, pudera!
Só puz pastel, coxinha, puz a mera pizzinha que sobrou… Mas dei azar!
Faltava força a noite inteira! Ahi as coisas estragavam! Addemais, mudavam de sabor! Não consegui!
Conselhos que nem esses eu não mais acceito! Nem siquer o meu refri congelo! Vira pedra! Ah, quantos ais!
DIA MUNDIAL DO DESEMPREGADO
Nós temos que fazer algo, Glaucão, por nosso cidadão trabalhador que perde seu emprego! Vou propor aquillo que pensei ser solução!
Proponho, por exemplo, que um peão sem trampo seu caralho possa pôr na bocca dum burguez, mas só si for bem pago, obvio! Mais caro cobrarão!
Você tambem, Glaucão, collaborar podia! Do peão o velho par de tennis compraria! Que tal, hem?
Um joven que precisa trabalhar não fica à toa, caso seu logar encontre no mercado! Pensei bem?
Horror, Glauco! Um horror! No radio ouvi que as chuvas allagaram totalmente o nosso cemeterio, que imponente ja fora! Ha só ruina por alli!
O caso horrorizou tambem a ti? Um corpo ou outro boia, ainda quente, ao lado de eskeletos mil! Alguem te contou que essa caveira até sorri?
Sim, essa sepulchral cara amarella que todas as ossadas symboliza, alli, depois da chuva! Scena bella!
À noite, esses zumbis vão, como diz a crendice, interpellar alguem que zela mal pelas tumbas! Tudo se reprisa!
DIA NACIONAL DOS FORAGIDOS
Não conte p’ra ninguem, Glaucão, mas eu abrigo dei àquelles dois bandidos que estão, ha vinte dias, foragidos da solida prisão! Verdade, meu!
Coitados! Teem a sorte do plebeu que errinhos commetteu! Foram mantidos em rudes condições! São opprimidos demais pelo Systema! Ah, dó me deu!
Estavam maltrappilhos, suarentos, famintos! Dei-lhes roupa, boia, affecto! Lambi seus pés, chupei seus paus sebentos!
Faz tempo que não gozam! Vou directo ao poncto: Precisamos dos detentos ter pena, menestrel! Mas fique quieto!
DIA MUNICIPAL DA DESTILLARIA
Aqui na Brazilandia andei, Glaucão, ha tempo trabalhando numa adega de whisky clandestino! Meu collega chegou a visitar uma prisão!
Os homens o levaram, porem não pegaram muita coisa! Quem nos pega? Mudamos de endereço, mas a entrega prosegue normalmente, meu irmão!
No lance da abbordagem, esse meu collega até quebrou o cellular e nada declarou! Não se rendeu!
Agora a gente entrega, alli no bar, absintho de primeira, que europeu até paresce, irmão! Venha provar!
DIA NACIONAL DO “QUEDES”
Nas redes, para a photo duma cappa, a marca pesquisei daquelle par antigo, vintageiro, que tem ar surrado: fixação que não me excappa.
Moleque, eu desejei metter a nappa (tambem a lingua) nesse elementar pisante dos playboys, mas recordar appenas posso de ter dado um tapa.
Naquella Zona Leste cincoentista pouquissimos moleques tinham quedes. Mal pude salivar, de longe, num.
Na cappa do meu livro, o que me pedes, leitor, é que eu recorde esse commum desejo, o primeirão da longa lista.
DIA NACIONAL DO FREGUEZ SEM RAZÃO
Cyclista, aquelle joven peão tinha deixado um hamburgão na portaria. Porem o morador delle exigia que fosse para a porta da cozinha.
Desceu o morador, que se abbespinha por pouco, e fez escandalo. Se via que estava alteradão. O joven chia, mas leva balla: assim a morrer vinha.
A midia, que audiencia ja fareja, explora a má noticia. Ja adivinha você qual é, no bollo, uma cereja.
Exacto: o morador fama damninha ja tinha, sendo um tira. Você veja que nada muda nesta patriazinha.
DIA MUNDIAL DO TERMO “INADEQUADO”
(para Sergio Rodrigues)
Que royalties me paguem pelo grego vocabulo “holocausto”! Ora, “chacina”, “massacre”, “execução”, “carnificina” não cobram copyright em seu emprego?
Si digo que não perco o meu sossego na pelle de quem muitos extermina alli na Palestina, quem designa aquillo que eu commetto sem ser pego?
Prohibo que me chamem “genocida” e prompto! Por “improprio”, o termo impugno e livro minha cara de sahida!
Não sendo um lider “barbaro”, nem “hunno”, ainda quando tiro alguma vida, direi que é me accusar “inopportuno”!
DIA NACIONAL DO LIVRO “INADEQUADO”
Um livro si escrevesse, Pedro sendo e negro, cobraria alto o meu preço, tal como faz o Jefferson n’O ADVESSO DA PELLE, ja que é justo o que lhes vendo.
Por certos palavrões bem que me entendo, sim, como censurado, mas conhesço auctores muitos, desde seu começo, que estão ‘inda pendentes dum addendo.
Por traz duma censura ao linguajar obsceno, o que está em jogo, mesmo, preto no branco, é quem occupa qual logar.
Os negros, como os cegos, neste ghetto das lettras, que não cessem de invocar leitores! Mais sonnettos lhes prometto.
DIA MUNICIPAL DA NAVEGABILIDADE
Aquatico transporte, Glauco! Não sabia? Sim, Pinheiros, Tietê, represas… Navegaveis são! Você precisa se informar melhor, Glaucão!
Os barcos mais modernos estarão cruzando, para allivio de quem vê, as aguas ja limpissimas! Cadê que estavam polluidas, meu irmão?
Appenas é preciso ter cuidado, a fim de que não caia n’agua alguem que medo tenha dum selvagem lado…
Piranhas, jacarés, aos montes, teem taes aguas, ja potaveis, povoado e podem belliscar você, tambem!
NACIONAL DO OLHO NO OLHO
Olhando bem olhado, Glaucão, vejo seus olhos differentes entre si, um delles bem maior! Porra, não vi um rosto mais horrivel, nem desejo!
Pupillas ja você nem tem e ensejo me dá para dizer que, si daqui observo bem, seus tons marrons perdi de vista: azul, só, noto, de sobejo!
Azul exverdeado, mais exacto fallando, mas opaco, horrendo, um tom frequente nas cegueiras, eu constato!
Por que você não tira, Glauco, com um bom especialista, esse olho ingrato? De vidro um novo ponha, bem marron!
DIA MUNDIAL DO NOME DECIPHRADO
Dos nomes o sentido original ha tempos eu pesquiso. Sei que quer dizer pedra meu Pedro, que qualquer José mais um será no rol geral.
E Glauco? Que dizer quer, affinal? É verde? Exverdeado? Si me der na telha, será cego de mester poetico, que está sempre de mal.
Sou verde, sim, de inveja dos que teem visão normal, e sou exverdeado por causa dum azul que tambem vem.
Aquelle azul leitoso, que tem dado motivo para muito nhenhenhem, pois minha cara causa desaggrado.
DIA NACIONAL DO NÓ CEGO
É pedra no sapato, você! Dó não sinto, pois um cego que, na lyra, a todos incommoda, que delira em loucas phantasias, nos é nó!
Não, Glauco! Você falla que no pó da nossa bota passa a lingua, vira e mexe, rollas chupa! Ora, quem fira o bom tom bem meresce ficar só!
Você podia a todos aggradar tocando num assumpto mais sublime, mas teima nessa lyrica vulgar!
Verseje sobre o pé que nos opprime, a bota do oppressor, do militar, daquelle que practica, mesmo, o crime!
DIA MUNDIAL DO ALLARMISMO
Em panico ouvi, Glauco, o que naquella rodinha commentavam! Um dizia que, em breve, faltaria a luz do dia até para quem olha da janella!
O sol não nasceria! Na panella comida não teriamos! Na pia, no banho, tambem agua faltaria! Emfim, um chaos total se nos revela!
Alguem pergunta: “A gente se arrepia por compta de qual fonte? Quem fallou que tal apocalypse ja tem via?”
Respondem: {Circulou nas redes! Ou é tudo um allarmismo, uma phobia, ou vamos, de hecatombe, dar um show!}
DIA MUNDIAL DA CANINIDADE
De tanto que versejo o mundo sujo daquelles que pó lambem numa bota, um motte essencial a gente nota: em outra encarnação fui um sabujo.
Da pecha de podolatra não fujo, porem, como tampouco da chacota que envolve, entre os ceguetas, nossa quota circense. Mas a todos sobrepujo.
Supero qualquer cão que se submetta aos chutes do seu dono, pois, na lyra, chafurdo sempre em fetida sargeta.
Talvez haja poeta que prefira a lyrica mentira, a pura peta, embora a lamentar a ziquizira.
DIA NACIONAL DE COMBATTE AO SEDENTARISMO
Quem disse que não mexo o meu trazeiro, daqui desta poltrona, num domingo chuvoso? Quem disser eu logo xingo! A fim de exercitar sou o primeiro!
Si vejo o futebol, eu surto, beiro a raiva mais hysterica! Me vingo jogando uma garrafa! Nem um pingo excappa da parede: fui certeiro!
Alem desse exercicio, eu me levanto daqui para mijar, para almossar, até para sentar-me noutro cantho!
Portanto, não direi que do logar não saio! Sedentario? Ora, nem tanto! Me mexo, sim, até para peidar!
DIA NACIONAL DE DORMIR COM O CACHORRO
À noite não consigo descansar. De insomnia soffro, mas, durante o dia, eu durmo piccadinho, uma alegria. Convido o meu bassê: “Vamos nanar?”
Bom somno não tem hora nem logar. Commigo o bassê nana, na macia caminha, no sofá, na lage fria, até, quando o calor nos faz suar.
Dormir com o cachorro não é tão tranquillo: elle se coça, empurra a gente da cama para fora, folgadão.
Mas elle sempre acceita, alegremente, si para nanar eu, que dormir não consigo, o convidei, na cama quente.
DIA MUNDIAL DO SONNETTO RECYCLASSICO
Qual molde mais sublime, em versos, ha que possa meu amor expor, com fé nos classicos, àquella que mais é amada loucamente, embora má?
Somente no sonnetto me será possivel expressar na forma, até no fundo, um sentimento que -- Evohé! -não orna a quem beber appenas cha.
Por Baccho! O vinho tincto que bebi me trouxe inspiração! Porem, sem dó, a minha amada disse: “Inepto és tu!”
Ouvindo taes palavras de quem ri da lyra alheia, penso mesmo só na phrase exacta: {Vae tomar no cu!}
OUTRO DIA NACIONAL DO “QUEDES”
O tennis que não tive e não terei te seduz, leitor? A mim sempre seduz. Por isso, hoje podendo, é que me puz aqui pensando em tel-o. Que deleite!
Mas, como ja não uso um que se adjeite no pé só com cadarços, uma luz accesa fica: posso, de pés nus, deixal-o pela salla, como enfeite.
Os Keds são dictos “quedes” ca na nossa linguagem popular, mas seu formato ninguem exquesce, com aquella bossa.
Cor preta, partes brancas, num pé chato ou cavo, uma ambição elle alvoroça ainda a qualquer pobre, em senso lato.
Um livro para cegos não precisa ter sido por um delles feito, claro. Mas, si elle for, eu logo me declaro um typico, de portavoz à guisa.
Os cegos não admittem, teem a lisa mania de exquivarem-se. É, pois, raro que alguem se inferiorize e que preparo allegue p’ra capacho onde se pisa.
Meus livros são “do cego”, mas não são a todos indicados, ja que irão, de facto, mellindrar quem mais se offenda.
É certa appenas uma coisa: não me escondo dos leitores, que tesão terão, ja que nos olhos não teem venda.
DIA NACIONAL DO LIVRO DESPREMIADO
Estou, tenho de estar, sempre do lado de gente como o Ayrton. Me emociono num caso destes, pois o seu OUTOMNO DE CARNE EXTRANHA foi despremiado.
Cahiu mais um auctor no desaggrado dum typico reaça, que quer dono ser destas lettras tortas, cujo throno esteve e está, porem, desoccupado.
Machado, que era negro, ja barrava, na sua Academia, algum bohemio pornô, pois repassava a moral trava.
Um seculo passado, tal despremio de facto se eterniza. Mas à fava mandemos o reaça! Alguem algeme-o!
DIA NACIONAL DAS REGRAS DO JOGO
Paiz do faz de compta foi, à tonta, o nosso, só? Não, claro. O mundo inteiro conhesce esse exercicio costumeiro das instituições no faz de compta:
Que exsiste bandidão que se ammedronta; que cada cidadão é um “companheiro”; que sempre se fabrica algum dinheiro; que todos fé porão no que se conta.
Governo, opposição, brincam de estar brincando de exercer o seu papel de, em cada posição, ter seu logar.
Mas todos nós sabemos que fiel ninguem é, nem siquer no proprio lar, no templo, no trabalho ou no miguel.
DIA MUNICIPAL DO ESCHIZOPHRENICO
Glaucão, vou te contar… Aqui na minha cidade, um paciente delirante quiz uma endoscopia, pois garante que um chipe lhe puzeram. Adivinha!
O medico negou, mas elle tinha certeza de que estava, ja, bastante seguido por remota via. Deante daquella negativa, se abbespinha.
Voltou ao consultorio, convencido de que seu gastro tinha (faz sentido) algum envolvimento nessa trama.
Mactou o gastro, Glauco! Não duvido que estava em seu estomago o temido chipinho que nos flagra até na cama!
DIA ESTADUAL DO ESCHIZOPHRENICO
Aqui no meu estado, Glauco, são muitissimos os casos de doentes que são eschizophrenicos, pendentes dalguma regular medicação.
Num delles, o subjeito uma illusão mantinha de poder desses urgentes remedios se livrar, pois seus parentes assim diziam. Era tudo em vão.
Durante uma pericia de roptina, disseram-lhe: “Seu mal não se elimina jamais! Essa doença não tem cura!”
O gajo, que esperou da medicina um dia se salvar da sua signa, mactou-se… Se curar? Quem assegura?
DIA NACIONAL DA DIREITA DIRECTA
Estou decepcionado com a nossa esquerda, pois defendo uma tortura politica, penal, como a que fura os olhos, usa açoite, emfim, da grossa!
Caracas ou Havana sempre endossa tal practica! Aqui, toda a gente jura que é feio torturar! Ninguem segura, assim, as dissidencias! Ha quem possa?
Agora, da direita sou adepto, pois ella aqui tortura como la nas outras dictaduras, sem ter veto!
Commigo você, Glauco, não está de accordo? Ora, devia ja, directo, ter ido cortar canna, camará!
DIA MUNDIAL DOS PROTECTORES DE OUVIDO
Por causa do barulho no vizinho, tentei no ouvido pôr um algodão, mas isso não funcciona muito, não, pois tudo ouvi fallarem, direitinho!
Sae cada palavrão! Nem adivinho quem é que está xingando: o cafetão, as travas, os veados, ou o tão fallado putanheiro! Que inferninho!
Sim, musica, Glaucão, toca bastante, mas altas, bem mais altas, são as vozes das putas e do joven trafficante!
Não, Glauco! Mesmo appós algumas doses tomar, não durmo, ouvindo o que, durante a noite, berram sadicos algozes!
DIA MUNDIAL DA ECONOMIA DOMESTICA
Hem? Pão ammanhescido? Jogar fora? Magina! Approveitar eu quero tudo! Dinheiro sempre falta, até mehudo! Eu como o pão durinho, às vezes, ora!
Jogar a mortadella fora? Agora que está tão cara, Glauco? Não! Eu grudo no beiço um naco podre, mas não mudo meu modo de pensar! Nada melhora!
Difficil é sobrar, mas, quando sobra, no lixo nunca jogo uma fatia de queijo, que tão caro o bar me cobra!
Fedendo pode estar o que eu teria, às vezes, exquescido numa dobra da velha toalhinha… Mas sacia!
DIA CONTINENTAL DO INCONTINENTE
Eu fedo mijo, Glauco, o tempo inteiro! Pois é, não me contenho e chichi faço nas calças! Me dá nojo, dá cansaço! Paresce que estou sempre num chiqueiro!
Tambem meu pae fedia aquelle cheiro damnado de mictorio molhadaço! Mas elle estava velho, ora! Não passo dos trinta, menestrel! Estou cabreiro!
Verdade? Exsiste gente que tem tara por mijo, que encharcando vae a nossa fedida roupa? Serio mesmo, cara?
De facto… Por que não? Coisa mais grossa alguem faz: comer bosta! Quem compara até que esse fetiche leve endossa!
DIA NACIONAL DA PIADA SURRADA
Ao gynecologista o cego indaga: “Doutor, qual o tamanho dum clitoris?” Responde este: {Variam, dos menores àquelles mais compridos que uma adaga…}
O medico brincou, mas regras caga: {De dois a trez centimetros…} Peores momentos passa o cego: “Não me gores a vida! Me fodi, porra! Que praga!”
{Por que? Qual o problema?}, quer saber o medico. “Chupei um pau, então!”, o cego confessou seu desprazer.
Embora a piadinha seja tão simploria, assaz reflecte esse poder que impõe quem bem enxerga ao sem visão.
DIA NACIONAL DO BANHO DIARIO
Trez banhos num só dia, Glaucão? Ora, por mais calor que faça, mal consigo tomar um banho breve! E mais lhe digo: No frio, só de sabbado! Quem chora?
Você mesmo não falla, meu, que adora pé sujo, chulepento, que castigo não acha si estiver, aqui commigo, lambendo o meu suor? Que diz agora?
Nos dias de verão, eu no banheiro só fico rapidinho, para dar refresco, mas não lavo o corpo inteiro!
Portanto, si quizerem me chupar, que sintam o bodum mais costumeiro aqui neste quentissimo logar!
DIA NACIONAL DA COLONIA PENAL
Fallar não vou num campo de “trabalho forçado”. Nem dizer “concentração” eu quero, Glaucão! Acho uma noção de morte, de exterminio: um acto falho.
Aos presos condemnados eu me valho dum termo de geral applicação: “colonia penal”. Prompto! Todos vão penar, cada macaco no seu galho!
Irão, sim, trabalhar, mas cada qual na sua vocação. Quem sem visão está, ser pode escravo sexual…
Proponho que elle cumpra a fellação nos proprios carcereiros, ja que egual chupeta taes agentes não terão…
DIA NACIONAL DO REPELLENTE
Agora não me lavo mais, irmão! Não posso tomar banho, porque puz no corpo um repellente que me induz a achar que durará, Glauco, um tempão!
Sae caro o tal creminho! Por que, então, irei me lavar delle? Nos seus cus, maldictos pernilongos! Ja que nus ficamos no calor, elles virão!
Piccado sou, irmão, até nos pés, soffrendo uma coceira desgraçada! Talvez você me livre do revés…
Dispenso o repellente, e você cada pé lambe, meu, até que esses manés mosquitos fujam dessa baba aguada!
DIA MUNDIAL DO MEIO TERMO
A gente nunca para totalmente nem pode se manter em dez por dia. Sonnetto não é coisa que se cria na marra, nem que chega de repente.
O verso si está bom a gente sente de prompto, mas às vezes agonia se torna retocar, na forma fria, o thema ainda quente em nossa mente.
Bilac estava certo: o nosso ommisso formato decasyllabo não basta si muito nós quizermos metter nisso.
Façamos o seguinte: iconoclasta thematica, mas tendo o compromisso de nunca achar que esteja a forma gasta.
DIA NACIONAL DA LAMBEÇÃO DE CHÃO
Na marra, aquelle inerme prisioneiro começa a rallamber o sujo piso interno do presidio, sob o riso do joven carcereiro, sobranceiro.
A lingua, rente ao tennis por inteiro filmado na sessão, faz indeciso e exquivo movimento. Tambem fiz o serviço, recolhendo cada argueiro.
Os ciscos adherindo vão à minha rallada lingua. A baba molha a lage pisada pelo tennis, que é Rainha.
Embora degradado pelo ultraje, não deixo de exbarrar, em recta linha, num tennis que combina com o traje.
DIA NACIONAL DA BOTA BATTIDA
Sahi tarde da zona de comforto materna, mas entrei cedo na zona de guerra, litteral ou brincalhona, a mesma do maior poeta morto.
Com outro me irmanei, deixei o porto em busca de emoção: peguei carona no barco que, em taes ondas, ambiciona chegar onde chegou o vate morto.
Em annos cariocas, eu absorpto fiquei como o mineiro que desthrona o luso menestrel, tambem ja morto.
Deitei-me em muitas camas. Com pé torto entrei no sonho, como quem resomna no tumulo de todo bardo morto.
DIA MUNDIAL DO ALEM
Alguem olha por mim, que ja não vejo com olhos desta Terra, mas presinto, depois da pandemia, por instincto vital, que me proteja no varejo.
Alem da protecção astral, protejo meu corpo, para andar no labyrintho, no braço do parceiro por quem sinto amor, seja de espirito ou desejo.
Do mundo dos espiritos Akira paresce-me enviado. O que eu faria na falta da alma gemea que me inspira?
Ainda antes de estar, com minha lyra, na beira da agonia, louvo o guia que a vida me emprestou e não me tira.
DIA MUNICIPAL DOS CONTRASTES
O Rio capital não é de estado: estado, sim, de espirito será. Não é de quem la mora ou quem está appenas de passagem, para aggrado.
Não achas, Glauco? Sempre que me enfado das faceis allusões, vejo ser la que está -- meu coração não, pois não ha paixão nisto -- o logar mais almejado.
Não fallo da cidade em que moraste, porem de quem, nem sendo de la, nem a tendo visitado, vê contraste.
Contraste entre quem ganhe e quem só gaste, quem della pense em termos de arte e quem só pense em, como tu, no que te baste.
DIA NACIONAL DA HYPERHYDROSE PLANTAR
Glaucão, suppuz na minha sola a sua linguona! No verão, o meu pisante pesado me transmitte um excaldante calor e toda a minha sola sua!
Ah, como sua! Caso eu substitua a meia, encharco todas! Não se expante si digo que verti suor bastante até para allagar alguma rua!
Achou que estou contando uma piada? Então venha lamber a minha sola e veja como fica assaz molhada!
Chamou de hyperhydrose plantar? Colla bem esse termo culto, do qual nada fallavam quando estive numa eschola!
DIA NACIONAL DA FARTURA
Glaucão, sou optimista! Bom motivo eu vejo, mesmo nessa carestia! Exsiste inflação? Sobe todo dia o preço da comida? Ah, bem me exquivo!
Me viro! Sou bastante creativo! Si falta bacon, minha theoria é simples: de banana as cascas ia jogar no lixo? Nunca! Sou é vivo!
As cascas, dependendo do que faço com ellas, frictas podem ser, Glaucão! Salgadas, ao tempero dão espaço!
Você nunca provou? Jamais excasso será tal rango! Podem ser ração, das fructas ja chupadas, o bagaço!
DIA NACIONAL DAS JOIAS DE FAMILIA
Aquella solteirona foi da avó a netta predilecta. Não é bella nem faz questão de ser, da parentela, querida. Rabugenta, vive só.
A avó, por sua vez, não tinha dó das filhas nem das nettas. Dizem della que, extremamente chata, só naquella nettinha achar podia seu xodó.
A velha ja morreu, mas a nettinha, edosa, sempre exhibe uma alliança herdada da vovó, que valor tinha.
Com todos fora a velha tão mesquinha! Com uma só pessoa quiz ser mansa? Se nota, a cada agulha, sua linha.
DIA MUNDIAL DAS CHORDAS SYMPATHICAS
Intriga-me esse evento que se entende como uma “vibração por sympathia”. Então alguma chorda poderia tocar sozinha? A coisa lendas rende!
Alem dos casos mythicos, alem de contactos demoniacos, seria possivel uma simples melodia soar por mera acção dalgum duende?
Me explicam que, tangida a chorda tal por dedo dalgum musico, um egual som brota doutras chordas! É fatal!
A simples vibração é replicada? Então tambem eu posso ouvir, de cada leitor, a minha propria gargalhada!
DIA MUNDIAL DA SUPPLICA
Accuda Zeus quem anda pela rua à noite, sem ter casa nem comida!
Accuda Zeus quem batte, quem revida, quem outras raças pune e salva a sua!
Accuda Zeus quem come, quem jejua, quem tenta se mactar, quem ama a vida!
Accuda Zeus quem fia, quem duvida, quem segue ensignamentos mas recua!
Accuda Zeus as rosas numa guerra!
Accuda Zeus quem faz duma nação appenas “um affecto que se encerra”!
Accuda Zeus quem sente dor e berra, quem mudo fica, ja sem a visão, mas rei não tem, caolho, nesta terra!
DIA MUNDIAL DA AMBIÇÃO
Aqui, quer ser um homem capitão. Alli, quer ser um homem general. Alem, quer ser um homem, affinal, o rei no seu castello, uma ambição.
Diz Loudon, bardo folk, esse que não é muito conhescido, mas é tal qual Dylan, que nós somos, em geral, fragillimos. Pouquissimos não são.
Mas quer um capitão ver seu navio singrar. Um general, na violenta battalha, jamais quer perder o brio.
Si estou no meu castello, sim, confio que estou seguro. Mas, si dos oitenta passei, ja tenho medo, sinto frio.
DIA NACIONAL DAS POMBAS
Voando vae a pomba, appavorada. Mais uma, duas, voam. Todo o bando levanta voo. O panico vem quando, correndo, o bassê chega na calçada.
Mas ellas são malandras. Uma cada de volta vem, depois que esse nefando cachorro baixotinho foi fuçando em tudo, sem deixar excappar nada.
Assim sempre rollou. Marrenta, a pomba advista aquelle cão pelo caminho e graça quer fazer: delle ella zomba.
Um dia, vae voar e rir, mas tromba no muro. No chão tomba. Rapidinho, é caça ao caçador. A rede bomba.
DIA INTERNACIONAL DA LIBERDADE CONDICIONAL
Ahi, mano! Você estuprou aquella Maria Chuteirette? Pois fez bem! Putinhas desse typo, meu, só teem vontade de posar como cadella!
Você foi preso? Serio? Numa cella está a agguardar quem venha pagar cem mil euros de fiança? Amigo, sem problema! Faço parte da panella!
Adjudo você, claro! Mas me entenda! Na proxima, ao Brazil fuja depressa, sinão lhe faltará quem o defenda!
Aqui fica mais facil sahir dessa! Cê pode practicar a mais horrenda sevicia, que terá comparsa à bessa!
DIA UNIVERSAL DO PERFECCIONISMO NO EVOLUCIONISMO
Glaucão, o Creador bollou o cão depois de se inspirar numa figura mais proxima: a do lobo, cuja dura feição de ser feroz deu impressão!
Depois pensou melhor… A cara tão feroz ter poderia mais ternura! Assim o labrador creou, fofura que todos reconhescem no portão!
Mas era muito grande e não cabia nas camas, nos sofás… Eis que elle edita o cocker, cuja orelha se elogia!
Ainda descontente, Deus, um dia, consegue superar-se: abbaixa a dicta “salsicha”! Assim, perfeito, o basset cria!
Eu grito quando estou sentindo dor. Mas pode este meu grito dar logar ao verso, ferramenta de esculptor. Com arte tambem posso reclamar.
Eu grito quando os outros luz e cor enxergam e ‘inda curtem meu azar. Não é que da dor seja fingidor. Dor sinto ouvindo um outro gargalhar.
Eu grito por perder esse prazer de ver, mas tambem grito por quem grita. Meu verso não sou eu só quem recita.
Eu grito por não ter tanto poder de berro quanto um outro que se irrita. Mas como o que elle come na marmita.
DIA NACIONAL DAS SAUDADES DA SAUDADE
Saudade, esse vocabulo de lusa feição, não se traduz por nostalgia, tampouco pelo termo que quem via e está, como hoje estou, nas trevas, usa.
É muito mais e envolve, na reclusa vidinha solitaria, aquella thia solteira que ser freira não quiz, pia e crente no perdão pela recusa.
Envolve, na viuva, a sensação da perda. Nos escravos, o lamento. Nos velhos, a partida, a prece em vão.
Envolve, alem daquelles que se vão, cadernos, livros, photos… Um cinzento e vago sentimento de illusão.
DIA NACIONAL DA BISADA BIZARRIA
Que estás pensando? Cego tu ficaste! Direito tu não tens de exigir nada! Tens nojo? Que te fodas! Cheira! Aggrada a ti? Não? Quem dó sente? És mesmo um traste!
Fedor sentes? Cafunga! Não te baste cheirar! Tens que lamber! Vae, lambe cada centimetro! Tens lingua bem molhada! Sentiste dos sabores o contraste?
Vae, lambe, infeliz, lambe! Eu sempre quiz gabar-me da visão boa que tenho, emquanto um cego lambe! Entendes? Diz!
Agora chupa! Vamos, infeliz!
Vae, abre mais a bocca! Ah! Ja me venho! Engole, infeliz! Logo terás bis!
DIA MUNDIAL DO BACALHAU
As partes, tanto em homens ou mulheres, fedendo a bacalhau nos são descriptas e tu tambem tal cheiro nellas citas. Explica-me isso, Glauco, si puderes!
Então, caralho ou conna, dizer queres que tudo tem odor egual? Evitas fazer a differença? Que repitas te peço, Glaucão, isso que suggeres!
Achar que a conna feda bacalhau eu acho, como a rolla, si está suja! Sebinho juncte, exhala cheiro mau!
Suggeres tu, portanto, que no pau ninguem se lave? Então machão babuja em conna sem lavar? Ahi, babau!
DIA NACIONAL DO VICIO DE OFFICIO
Sonnetto lembra amor, a musa, a lyra, que lembra alguem que toca com o dedo, que lembra quando o enfio, ou seja: fedo. Feder lembra sovaco que transspira.
Cecê lembra que vence (Eu que confira!) aquella compta, cada vez mais cedo, da luz, do telephone, neste enredo battido, que me lembra ziquizira.
Azar lembra que treze é sexta-feira, que lembra lobishomem, gatto preto, que lembra atrozes versos que eu commetto.
Atrozes themas lembram a sujeira que nunca achei ser topico obsoleto num genero tão limpo: o do sonnetto.
DIA NACIONAL DO VICIO DE HOSPICIO
Sonnetto lembra amor, a lyra, a musa, que lembram exaggero na dor, casos que lembram finaes rapidos e prazos curtissimos, que lembram voz confusa.
Tamanha confusão lembra quem blusa colloca pelo advesso, quem em rasos prattinhos toma sopa, quem em vasos de plantas faz chichi e lelé se accusa.
Loucura lembra andar pellado; o nu ja lembra Adão, que ouviu do Senhor: “Tu terás que trabalhar, eu te prometto!”
Trabalho, no caroço, lembra angu, que lembra a dura quebra dum tabu, que lembra a louca audacia dum sonnetto.
DIA NACIONAL DA COPROPROSOPOPÉA
Cocô, quem te cagou? Tem tripas finas?
Alguma dama rica, joven, bella? Será talvez algum gury traquinas, um reles rapazelho magricella?
Cocô, que teu formato tu definas não peço, ora cylindrico, ora aquella lodosa massa que enche essas latrinas do povo de cortiço ou de favella!
Cocô, qual cu cagou-te? De meninas ou velhas? De vadias ou donzellas? Daquelles agiotas mais sovinas?
De todas as toxinas que eliminas, aquella que, nos ares, mais mazellas nos causa contamina as vis propinas!
DIA NACIONAL DA RHAPSODIA MACHADIANA
Coitado do sapato social!
Está, sempre engraxado, quasi sem ter uso, e pensa: “A bota, sim, mantem mais cheiro, mais battida que é!” Que tal?
Que inveja boba, né? Pois desse mal a bota tambem soffre: “Que desdem de mim tem o cothurno! Oh! Delle vem fortissimo chulé! Sim, sou banal!”
Por sua vez, o sujo cothurnão inveja tem do tennis encardido, que exhala. “Aquelle, sim, pisou mais chão!”
O tennis se lamenta: “Muitos são contrarios ao meu cheiro, não duvido! Pudesse eu ser sapato chique, então!”
DIA NACIONAL DO ESCRIPTOR INVEJOSO
Bobagem! Invejoso, eu? Imagine! Inveja nunca tenho, de ninguem! Mas, para ser veraz, pensando bem, só tenho da Renata Pallottini…
Talvez do Antonio Cicero, tambem, a ter uma ponctinha até me incline, pois, desde os velhos tempos de fanzine, eu ja me questionava: Quem não tem?
Qualquer auctor que entrou p’ra Academia Paulista ou Brazileira me provoca inveja, si tal vaga lhe cabia.
Rancor só sinto quando se colloca la dentro algum politico ou mau guia. Cadeira de immortal não é baldroca!
DIA MUNDIAL DO INDULGENTE CYNISMO
Mais cynico quem era? Moysés? Christo? Babelico é o discurso? Ou evangelico? Jus bellico se torna aristotelico ou é o machiavellico o bemquisto?
Vejamos… É melhor dizer que eu visto aquella carapuça ou ser angelico?
Direi que delirei, mais psychodelico, ou digo que da logica desisto?
De duas uma seja a tal resposta: ou bem negar aquillo que se accusa, ou bem reconhescer que alguem fez bosta.
Os “fins” justificar de quem apposta nos “meios” é besteira, diz a musa, sabendo que o leitor disso não gosta.
DIA NACIONAL DA PERSEVERANÇA
Finissimo perfume em meu cuzinho passando vou durante o banho, quando de espuma as suas pregas vão ficando cobertas, com cuidado, com carinho.
Gastando sabonete, eu exquadrinho o rego e meus escrupulos expando do rabo ao sacco, em toque lento e brando, até lavar as partes direitinho.
Os dedos, do mindinho ao pollegar, eu ponho a trabalhar! Não sou verdugo que exfolle! Metto os dedos devagar!
Depois que aquelle sordido logar ficou cheiroso e limpo, ja me enxugo… e sinto outra vontade de cagar!
DIA MUNICIPAL DA LANCHONETTE
De culpa aquelle extranho sentimento eu tive, mas, emfim, me decidi. Quebrando uma dieta, fui, alli na praça, à lanchonette que frequento.
Saudade então mactei dum succulento hamburger, dumas frictas, dum refri, dum bollo recheado, que comi com gula… Ah, que peccado! Que momento!
Sim, da nutricionista me lembrei, do medico tambem, que me cortara prazeres taes. Errei, falhei, eu sei.
Mas eis que, na sahida, minha cara quebrei, pois la advistei os dois, que lei impõem aos outros… Tinham minha tara!
OUTRO DIA DA DYSODIA (1)
Rimbaud tinha chulé forte e sentia orgulho disso, reza testemunho escripto. Mas Verlaine, em proprio punho, tambem dar testemunho poderia.
Nem mesmo a mais vulgar pornographia tão morbido e tão sordido tem cunho. Por isso tal bandeira é que eu empunho ao dar minha versão da dysodia.
Sim, Sade o thema abborda. Em poesia, comtudo, é que “podolatra” me alcunho na tara fetichista que eu vivia.
Talvez todo esse affan possa, algum dia, ser obra a celebrar. Só me accabrunho por outro ser o odor na cova fria.
OUTRO DIA DA DYSODIA (2)
Si credito nós dermos ao que vem do proprio, chulé tinha aquelle vate tão joven, genial como ninguem foi nessa breve edade em tal quilate.
Chulé todo francez, por certo, tem, embora assumpto seja de debatte. Rimbaud, porem, confessa que tem, sem pudor, chulé de mezes. Disparate?
Não era, si pensarmos que ruim a meia cheira quando longa data passou e está calçada. Aggrada a mim.
Sim, delle ser eu quero o cherubim que irá recepcional-o, si se tracta de entrar no Paraiso. Ui! Ja me vim!
DIA NACIONAL DO ALLIVIO
Diz elle que tem duro calcanhar, causando uma tenaz callosidade que exige lixamento. Mas quem ha de lixar, sinão o proprio? Um baita azar.
Diz isso, claro, para provocar um cego fetichista, que terá de lixar com sua lingua, até que enfade, aquella casca grossa, seu logar.
Logar de cego, falla com enfado o normovisual, é como lixa usar a lingua. Fica registrado.
O cego, ouriçadão, se assume: espicha a lingua salivosa. Alliviado se sente seu algoz por não ser bicha.
DIA NACIONAL DO CAPITAL
Pois é, cagar no horario de trabalho direito é de qualquer trabalhador. Fallei ja, no DOBRABIL, e hoje expalho a phrase em outro jeito de compor.
Com força de trabalho, algo só valho na pausa da cagada, si ella for tambem remunerada e si o cascalho tem do salario minimo o valor.
No seculo passado, este meu galho quebrei, sem ter nenhum computador, com phrases desse typo, gozador.
Agora, a sensação é de que eu calho no thema mais que nunca, ja que odor mau tem o capital explorador.
DIA SOBRENATURAL DA CARNALIDADE
Foi sadico! Foi tetrico! Foi tão erotico, grottesco! Foi funesto! Peor que um fratricidio, que um incesto! Foi hallucinação! Foi possessão!
Delirio. Pesadello. Uma sessão espirita. No leito, o mortal resto fodendo-se, fedendo de indigesto banquete diabolico, ou pagão.
Erecto cajadão. Funebre foice. Carnal, lubrico, lugubre caixão. Sepulchro. Tumba. Cova. Alcova. Alcoice.
Um corpo. Um corno. Um caso. Um casco. Um coice. Um ai! Um eia! Um murro. Um urro. Um não. Me venho! Vou gozar! Finou-se! Foi-se!
DIA OCCIDENTAL DA LONGEVIDADE
Segundo um lemma hippie dos sessenta, amor será canção, si bem cantada. Mas quando a lettra a gente apprender tenta, que é longa verifica a passo cada.
Longuissima não é nossa jornada, porem essa versão, que se appresenta a titulo de amor e tanto aggrada aos jovens, é prolixa, muito lenta!
Até que a decoremos, ja noventa teremos e qualquer pessoa amada, ja morta ou ja gagá, de nós se ausenta.
Não quero parescer turrão, mas fada nenhuma nos garante que ‘inda aguenta erecto um membro appós tanta noitada.
Affirma a deputada governista que está mentindo o cynico collega, emquanto o oppositor collega allega ser essa deputada communista.
Um outro deputado põe na lista dos feitos do governo o que este entrega em tempos de emergencia. Aquelle nega que seja a governista acção bem vista.
Fazendo uma total opposição aos actos do governo, o deputado emprega, ao critical-o, um palavrão.
Retruca a deputada que, em estado de choque, foi xingada, que ja não tolera mais ter algo penetrado.
DIA PESSOAL DA QUEDA LIVRE
Em sonho, estou do abysmo sempre à beira, arranhacéu, penhasco, torre, ponte, ja quasi… Ninguem peça que eu lhe conte que medo é o de morrer! Ah, ninguem queira!
Vislumbro até o sorriso da caveira! Penduro-me, me aggarro… Estou defronte à restia de esperança no horizonte… Ja a salvo, viro o rosto à ribanceira!
Repete o pesadello tal roptina, até que, numa noite, estou curvado, olhando para baixo, sem cuidado.
Mas, desta vez, eu mesmo minha signa decido… e pullo! Nesse instante, o lado humano compta… e temo! Ou sou ninado?
DIA NACIONAL DO PUPPY PLAY
Cãesinhos ammestrados a brincar de, estão muitos rapazes que, na scena do sadomasochismo, chegam tarde e pensam ser a coisa mais amena.
Otarios! A pigmenta não lhes arde nos olhos e nenhum desses “cães” crê na vidinha de cachorro quando, à tarde, passeia com seu “dono”, praça em plena…
Vivesse na Argentina, quando allarde faziam do “canil” os que, sem pena, mandavam, qualquer um era covarde!
Não sou jamais do typo que condemna a practica, mas nunca foi com ar de modismo que cão cego fui na arena.
DIA MUNDIAL DA RHAPSODIA GENETIANA
Na França, gorgonzola “roquefort” ficou sendo. O chulé, por outro lado, ficou, quando fortissimo, chamado de cheiro desse queijo, de tal sorte.
Porem, reconhescendo ser bem forte o cheiro de seus pés, teve cuidado Genet de que o chulé mais comparado seria a um “port-salut” que a gente importe.
Talvez Ruth Escobar tenha mais arte e esteja, ao escrever, mais informada accerca desses cheiros, nausea à parte.
De minha parte, nada que me farte exsiste mais que a meia mais suada, mais digna de que a lyra não descharte.
DIA NACIONAL DA LEI DA PALMADA
Mamãe, que seu filhinho não maltracta, com todo o jeito pede. Mas, por mero capricho, o filho grita com voz chata: “Não quero, mãe! Não quero, mãe! Não quero!”
Fingindo não ouvir sua bravata, com toda a paciencia nesse lero insiste ella, mas ouve a phrase ingrata: “Não quero, mãe! Não quero, mãe! Não quero!”
Papae só julga aquillo ser mammata. O filho, mais gritando, o pae destracta: “Não quero, pae! Não quero, pae! Não quero!”
Si filho meu assim me desaccapta, a chance de que nelle eu nunca batta será, naturalmente, egual a zero.
DIA NACIONAL DA PHANTASIA DE PIRATA
Estava accommodada a gente em terra de tantos carnavaes sem quarta-feira, mas, quando a quartelada à brazileira periga reprisar, a gente berra.
Ja vimos esse filme. Quem se ferra na volta da moral e costumeira facção, é o cidadão, não só quem queira nas artes battalhar como na guerra.
Nós todos defendemos quem conduza, pacifica, a battalha que não usa fuzil, canhão nem tanque, mas accusa.
Nós somos os que brincam na follia e temos uma musa que nos guia, a vida. Munição? A poesia.
DIA UNIVERSAL DO QUEIJO LUNAR
Nós tinhamos cabeça ja na Lua. Puzemos o pé nella, ja, tambem. Ninguem, porem, conhesce bem a sua occulta face. E então? O que la tem?
Ainda a van sciencia continua fallando em marcianos. Falta alguem fallar nos selenitas. Attribua ao bicho você tudo o que lhe vem…
Verdinhos? Teem trez olhos? Teem antennas? Teriam estaturas tão pequenas que mal ultrapassassem nosso dedo?
Nem penso nessas coisas! Penso appenas que tenham pés enormes! Vejo scenas podolatras! Chulé terão? Azedo?
DIA NACIONAL DO OGRE
Descrevem-me um subjeito duns quarenta e poucos, relaxado, negligente, que decadas a mais ter apparenta. Aos olhos, lembra tudo que affugente.
Que é feio, não dirão. Que tem nojenta figura, não, tampouco. Falla a gente que monstro é, nojentissimo, que obstenta no rosto o que um gorilla tem de frente.
Peor. Tem bocca torta, larga venta, beiçola arreganhada, podre dente, pé torto. Lixa, a sola chulepenta.
Somente si for cego um cara aguenta chupar alguem tão rude e repellente. Sou eu tal cego, logo se accrescenta.
DIA NACIONAL DO EXERCICIO ESPIRITUAL
Me deixe imaginar que imaginava você que minha lingua salivosa lhe lambe, lenta, as solas e lhe lava os callos, que com isso você goza!
Me deixe imaginar, suave escrava, suave como petala de rosa, a lingua, que a cegueira mais deprava, causando sensação deliciosa!
Assim imaginando, você bota um cego no devido logar, onde rasteja quando, rispido, responde!
Emvolta de pés rudes que elle ronde e, para que o castigo se arredonde, a lingua lavará, tambem, a bota!
DIA NACIONAL SEM ENSEJO DE FESTEJO
Estavam hackeando o cellular do vice, do ministro, do juiz… Flagraram muito pappo, p’ra mostrar que tudo fajutar a turma quiz.
Foderam-se, porem. Appós pegar um delles, rastrearam os perfis de todos os demais. Deram azar e estão no xilindró, como se diz.
Mas fica uma pergunta… Si tem tanto bandido, como hacker, invadindo, saber quero: o problema está ja findo?
Ou vão continuar, em cada cantho, roubando sem pudor nosso bemvindo salario de peões? Eu não, não brindo!
DIA NACIONAL DA VERGONHA ALHEIA
Dercy Gonçalves disse: palavrão não é “foda”, “caralho”, “merda”, “porra”. É fome, guerra, abuso, corrupção e tudo que de males taes decorra.
“Decreto” ou “portaria” mais calão traduz que “putaria”. Alguem que morra na fila do hospital é chulo, não casaes no frango assado ou na gangorra.
Os juros, excorchantes, indecentes se tornam mais que curra na donzella, ainda que se ponham pannos quentes.
Politicos corruptos mais sequela provocam que quem morde e exfrega os dentes na pelle do cacete emquanto o fella.
DIA NACIONAL DA LICÇÃO DE CASA
De novo o bullyingueiro me provoca e exige que imagine scena assim: o cego respondão levou, em troca, castigo de encommenda para mim.
Nem posso reagir. Elle colloca o pé na minha cara, pois ja vim aqui me rebaixando, bem masoca. Nem falla nada, disso nem a fim.
Está bem à vontade. De repente, tirou da minha lingua a sua sola. Do nada, dá risada que me trolla.
Então, com seu pau batte, prepotente, na cara do cegueta que, de esmolla, chupando rolla, appenas “sim” engrola.
DIA NACIONAL DOS MAUS FLUIDOS
Agosto, na politica, tem fama de tragicos eventos. Ora, alguem duvida dum agouro que reclama cuidados? Quem do azar medo não tem?
Batata! A deputada cae de cama e morre estertorando! De refem é feito um senador! Outra na trama corrupta, ao ser flagrada, a surtar vem!
O proprio presidente não excappa dum surto, da renuncia, do processo, pois fez, fará, faria, réu confesso!
Em meio ao pesadello, minha nappa, que entope, fedor sente! Emquanto peço adjuda, agosto chega, de regresso…
DIA NACIONAL DAS LINHAS TORTAS
Está Sancta Thereza, volta e meia, de novo na berlinda. Morei la em annos septentistas, quando ja creava alguma coisa que se leia.
O bonde ainda sobe, serpenteia por ruas imperiaes e voltas dá na beira dos abysmos, mas eu ca commigo indago: “Em bondes ha quem creia?”
Sim, penso que o bondinho representa aquillo que é possivel preservar de magico, ou nonsense, nos septenta.
Em plena dictadura, a gente attenta estava ao pacifismo, num lunar mundinho, que a memoria só requenta.
DIA MUNDIAL DA PERDA
Pergunta-se José que, triste, está perdendo o seu amor, tal qual me vi: “E agora, José?” Como ficará? “Hey Joe, tell me now what you’re gonna do!”
Depois que, mais maduro, ficou ja da vida desprendido, “Let it be!” comsigo pensa, cada vez que va perder mais um amor, feito um tabu.
Na vida mais amores José vê perdidos. Se entristesce, mas sorri, e pensa: “Solitário serás tu!”
Ja velho, se appaixona. Agora crê que exsiste sentimento: “Ora, perdi amor demais! Oh, Lord, I’m feeling blue!”
DIA PESSOAL DA CELLA ESPACIAL
Eu moro, vejam, numa verdadeira caixinha! Sim, de phosphoro! Os apês de classe media, aqui, de quem os fez reflectem a cabeça de toupeira!
É tão pequeno o apê que, caso eu queira vestir um paletó, dou, toda vez, com minha mão no tecto ou, vão vocês rir mesmo, na parede! É brincadeira?
Me expremo, entre as poltronas e o sofá, si quero pela salla deslocar-me, suppondo numa cella agora achar-me!
Nem caio mais da cama, pois não ha um vão tão largo assim! Não sei quem charme viu nisto, mas logrou, sim, engannar-me!
DIA MUNDIAL DA COMPENSAÇÃO
Judiam da ruivinha, Glauco! Nella penetram, mas na bocca! A rolla affunda até que se suffoque! Em sua bunda bastante battem! Zoam a cadella!
Sim, chega a vomitar, pois na goela a rolla bomba à toda! Bem immunda e bruta a scena fica! Bella tunda lhe deram, Glauco! Como a puta fella!
Os videos desse typo ja são bem communs! Você, que é cego, é quem se priva de scena tão explicita e lasciva!
Mas resta-lhe um consolo, ja que sem visão quem fica a mente tem bem viva: Se veja no logar dessa captiva!
DIA NACIONAL DA POLITICA QUANTICA
Fallei ja, no DOBRABIL, que cagar é um acto, sim, politico, um humano direito, ou de mijar. Delles me uffano, tal como deste nosso linguajar.
Cagando estou, aqui neste logar que chamam “solitario”, mas me irmano a todos que cagando estão. Insano será quem pretender nos regular.
Cagar, um dia sim, um dia não, não pode ser imposto por alguem que caga sempre e nunca lava a mão.
Si duro me sahir o cagalhão não é porque poder sobre isso tem quem mande e sim por causa da prisão.
DIA PESSOAL DE COMBATTE À AMNESIA
Poetas perguntados sempre são accerca das razões, do que os motiva a tanto versejar e manter viva a lyra, a voz poetica, a canção.
Eu sempre respondia que a razão estava na revolta vingativa que nutro contra a pena que me priva dum basico sentido, o da visão.
Tambem ja respondi que escrevo, não por grana, fama: só pela afflictiva mania, typo um vicio, ou compulsão.
Ja velho, me dei compta: a verve é tão vital! Sinão, a gente desactiva neuronios que, babau, à morte irão!
DIA MUNDIAL DA CLAUSULA TESTAMENTARIA
Tractado tenho sido como mero ceguinho que verseja, mas confio, tranquillo, no meu tacco, tenho brio. Resisto, creio, ao crivo mais severo.
Por isso deixo claro: chance zero terá quem, só depois que eu desça ao frio sepulchro, homenageie-me, eu que chio: -- Não quero premios posthumos, não quero!
Recuse meu herdeiro, não permitta qualquer typo de evento onde alguem queira louvar a minha mystica maldicta!
Alguem em mim achou qualquer certeira visão da poesia? Alguem me cita? Meu rosto observe, e não minha caveira!
DIA NACIONAL DO POETA MULHERENGO
Contou-me um vate: “Eu tenho uma mulher no centro da cidade. Ella tem sido legal commigo. Tudo o que eu decido que faça, me faz ella, si puder…”
Pensei commigo: Tudo o que eu quizer não faz siquer a puta, nem libido alguma satisfaz o mais bandido michê, si for masoca meu mester.
A coisa me paresce plagio raso de lettra dum rockão la dos cincoenta, imagem contumaz que se requenta.
Alguem ja commentou que tira attrazo o dicto menestrel com a sedenta tithia que seus habitos sustenta…
DIA MUNDIAL DA BEATLEMANIA (1)
Tem gente que divide a Beatle era em duas phases, muito differente a “boa” (aquella cujo som a gente curtiu e mais dansante considera).
Até sessenta e cinco o padrão era, nas lettras, só paquera adolescente em rhythmo ora mais lento, ora mais quente, e nisso o nosso gruppo foi, sim, fera.
Depois de RUBBER SOUL, é controverso. Uns acham que a notar a banda tarda de Dylan o discurso, o tom do verso.
Alguns em SGT. PEPPER’S ja disperso acharam todo o clima, feia a farda. Foi frouxo em “Revolution”? Foi o inverso?
DIA MUNDIAL DA BEATLEMANIA (2)
Depois de meia cinco, os Beatles não notaram que, nas lettras, o que vinga é Dylan, Pete Seeger ou folksinger do genero, o “protesto” de plantão.
Ficaram no “Te adoro, coração!”, “Te amei mas ja não amo!”, “Nessa ginga a gente vae dansar!”, mas ninguem xinga os donos do poder. Perdem a mão.
Talvez por isso os Byrds são, a partir de então, mais antennados. Vermos basta que gravam antevendo o bom devir.
Si veiu ou si não veiu, decidir só cabe a quem viveu aquella gasta visão, da juventude um elixir.
DIA NACIONAL DO TROCA-TROCA
Amigo meu, machão, me diz que evoca seus tempos, ja distantes, de creança e, rindo, um desaffio serio lança: -- Quem é que não brincou de troca-troca?
Assumpto mellindroso! Aquillo choca collegas de trabalho. Um segurança da firma de citar jamais se cansa a phrase do patrão que não se toca:
-- O cara até confessa que mais deu o cu do que comeu! Como que pode? Subjeito de respeito não se fode!
Mas, graça achando, o macho fez que seu rival mais ciumento se incommode, cabello, pois, fez, barba fez, bigode…
DIA PESSOAL DA COCEIRA NA SOBRANCELHA
Ainda sou dos olhos soffredor. Um globo vem doendo muito, mas demais mesmo. Nem posso mais, em paz, coçar a sobrancelha, que dá dor.
O outro olho ja murchou e de suppor seria que me desse tregua. Faz que quieto fica agora, mas la attraz ardia. Ammanhan, torna a arder… Que horror!
Suppuz que, consummado o seu estrago, cegando-me, faz tempo, por completo, a chaga me deixava, agora, quieto.
Não basta nos cegar, commigo trago a dura conclusão. Do que interpreto me resta a bruxaria, de concreto.
DIA PESSOAL DOS TORPES LABÉUS
Chamaram-me do que era maldicção chamar, pois disso nada nos protege: satanico, prophano, bruxo, herege, sacrilego, blasphemo, atheu, pagão…
Disseram que pornô sou e que não accapto uma moral, essa que rege os versos, e valores bons elege… Disseram que só fallo palavrão.
Resalvo que, comtudo, um porem ha naquillo que me accusam de fazer. O furo mais abbaixo um pouco está…
Meu sonho usar a lingua, sim, será, mas não para fallar e sim lamber! Sim, minha bocca aos outros prazer dá!
DIA PESSOAL DO IDYLLICO COLLYRIO
Que bello pesadello, gente, eu tive! Paresce paradoxo, mas explico: sonhei que eu enxergava bem e rico de cores era o bosque em que eu estive.
De verdes, tons diversos, inclusive nas aguas da lagoa, verifico que tingem esse parque. Perto, um picco rochoso o delimita, no declive.
Não quero despertar, pois si desperto percebo que estou cego de verdade. Mactar-me quero. Quem me dissuade?
De novo ja addormesço. Ja bem perto estou de libertar-me desta grade de trevas. Permittir isso? Quem ha de?
DIA MUNDIAL DO ASSEIO DOS FEIOS
Frieira? Pé de athleta? Callo? Odor? Pé chato? Olho de peixe? Rachadura na sola? A solução vou lhe propor: Saliva de mulher bonita cura!
Mijado pau? Prepucio queijador? Biquinho de chaleira que segura a porra? Sei dum jeito ao seu dispor: Saliva de mulher nessa mixtura!
Você seu cu limpou appós cagar? Não? Acha trabalhoso demais para ser feito? Ora, a mulher lambe! Tomara!
Saquei! Quem se disponha a salivar em falta está? Mulher de bella cara tambem? Que tal um cego? Lhe calhara!
DIA MUNDIAL DO MARRENTO CEM POR CENTO
Adeptos dum accordo que, por bem, no sadomasochismo tenha base, practicam tudo aquillo que essa phrase “Só mando quando pedem!” de mau tem.
Bem sadico precisa ser alguem que queira ter prazer completo, ou quasi, embora ninguem haja que extravase de facto seus desejos num refem.
Com outrem si eu fizer tudo, talvez ninguem mais sobreviva, pois vocês noção teem dum mandão ou dum marrudo!
Pudessem me cegar, como o marquez de Sade diz em these, em tempos trez eu era, alem de cego, surdo-mudo!
DIA MUNDIAL DO SEMBLANTE RADIANTE
Aquelle marmanjão que o pé me punha descalço, chulepento, sobre a face, queria que eu lambesse, que eu chupasse sem pressa, sola, dorso, dedão, unha.
Tambem do meu azar ser testemunha queria. Sim, queria que eu chorasse, que lagrymas vertesse, rir da classe de gente que entristesce e se accabrunha.
Emquanto eu lhe lambia a pelle grossa, rachada, do encardido calcanhar, queria ver-me, em prantos, soluçar.
“Vae, lambe essa frieira, a que mais coça! Não quero, meu, estar no teu logar!” -dizia, sorridente em seu olhar.
DIA NACIONAL DA REHABILITAÇÃO FUNCCIONAL
Em vez de passar creme ou passar oleo, em vez de mergulhar em agua quente, em vez de empregar pedra que lhe exfolle o pezão de solão grosso, opta o cliente.
O caso não provoca mais imbroglio a pedicure algum que a pelle tente, em vão, ammaciar em quem não molhe o seu aspero, cascudo pé carente.
Sim, basta no cascão usar saliva! Sim, basta a alguma lingua dar funcção de creme emolliente! Por que não?
Ao prestimo um podologo se exquiva? Não seja mais por isso, pois sou tão submisso no serviço dum pezão!
DIA PESSOAL DO OBSCURO PEDICURO
Quem sempre está descalço uma aspereza na sola accumulando vae que, cada vez mais, paresce lixa, allaranjada de terra, às comichões jamais illesa.
Um gajo que conhesço sobre a mesa appoia seus pezões! Ah, não ha nada mais rude e desleixado! Dão risada? Pudesse eu no cascão fazer limpeza!
Quizesse elle, em logar duma agua quente, usava a minha lingua, que faria papel, direi, dum creme emolliente!
Os cegos servirão, seguramente, à guisa de podologos, um dia… Não passo dum que, em sonho, util se sente…
DIA NACIONAL DA RHAPSODIA DELPHINIANA
Em termos femininos, Alencar concorda com Delphino quanto ao bello formato dum pezinho Cinderello: bem curvo, alto no peito e arco plantar.
Não fazem concessão os que tractar do lindo objecto querem: no chinello, na bota, no sapato, o seu singello contorno deixa a marca modellar.
“O pé tem que ser cavo!” -- me dizia um gay que no do macho mette a fuça. “Precisa me lembrar montanha russa!”
E, emquanto gays ou heteros phobia dum chato pé confessam, ja me aguça a tara a plana prancha, não a buça.
DIA PESSOAL DO GOSTO
Na certa ao carioca não é tão extranha moda aquella que mais arda nos brios dum paulista: a aberração horrenda de na pizza pôr mostarda.
Tambem o paulistano papellão faria la no Rio usando farda de punk em plena praia, cothurnão na areia, branca pelle em vez de parda.
É tudo relativo. O meu puddim (melhor do que o de pão) de mandioca no Rio vão chamar puddim de “aypim”.
Não curto qualquer gosto. Para mim hamburger não é carne de minhoca. Mas zombam, de chulé si estou a fim…
DIA GERAL DA ZOMBARIA
Não basta ficar cego! Você tem bastante que soffrer! Vae sentir dor, ainda, para sempre! Por mais zen que seja, será sempre soffredor!
Ha duas longas decadas ja sem visão, cê não fallou que ver a cor podia de memoria? Pois tambem da dor se lembrará si sonhar for!
Bem feito, Glauco! Ou acha que irá alguem dizer “Coitado!”? Ommitte-se o doutor que tracta do seu caso? Legal, hem?
Pois é, meu caro: foda-se! Estou nem ahi para você! Lhe fallo por nós todos, que enxergamos muito bem!
DIA MUNDIAL DO ODOR ADOLESCENTE
Peralta adolescente, elle me narra, tomado de justissimo, orgulhoso fervor, que tem chulé tão malcheiroso a poncto de excitar qualquer boccarra.
Diz elle que, descalço, mal exbarra a sola no soalho, o pegajoso suor deixa pegadas. Tenho gozo suppondo que lhe lambo o pé na marra.
Respondo que esse odor adolescente me enleva, a levitar nesse nirvana, me dopa, mas que eu lamba não consente.
Sarrista, só permitte que eu me sente aqui para cantar sua sacana mania de trollar quem mal se sente.
DIA MUNDIAL DA INSOLUBILIDADE
Não quero opinião dar sobre a morte nem quero ouvir a alheia. Opinião do typo é como sobre a vida: são diversas: cada qual com sua sorte.
Não quero opinião que me comforte. Não quero nem saber quem dá razão à minha opinião ou quem ja não achou pesado o fardo que eu supporte.
Ja basta a divergencia que na vida nós todos temos, dando ou não em briga, cansados de empurrar com a barriga.
Ja accuso o que comemos de comida sem gosto, o que cagamos de lombriga por causa do que a gente não consiga.
DIA GERAL DO NOVO DIA
Não nasce o sol por minha causa, não scintillam as estrellas pelo canto dalgum poeta à sua amada. Não percebo si da noite cae o manto.
A chuva não cahiu por mim só, não. Cahiu porque rezou para algum sancto o pobre lavrador. Porem eu não me importo caso caia, nem me expanto.
O clima, ao trovador, varia appenas conforme seus humores. Chove, emfim, porque elle dores sente. Tristes scenas.
As coisas não são grandes ou pequenas só quando o sol raiou. São, isso sim, pequenas alegrias, grandes penas.
DIA GERAL DO GESTO INDIGESTO
Baratta voadora? Disso Zeus me livre! Caso desses, outro dia, na casa dum ceguinho uma agonia damnada provocou, amigos meus!
Contou-me esse coitado: deu addeus a todas as visitas, pois queria curtir a solidão, mas a alegria durou pouco, foi coisa de plebeus.
Entrou pela janella, a desgraçada, em tudo se chocando! Um cego não consegue, nesses casos, fazer nada!
Na testa, nas orelhas, batte em cada centimetro daquelle cabeção! Sim, deu na propria bocca a bofetada!
DIA NACIONAL DO VESTIARIO HILARIO
Ouviram do Pelé, num tom hilario, que Zito bom motivo dava ao lado sarrista desse elencho, que não vi jogar, mas figurou no pantheão.
Pelé disse que Zito não tem pareo em termos de chulé. Mais eu me aggrado sabendo que elle “é serio mas sorri si alguem tapa o nariz, abbanna a mão…”
Não é maravilhoso? O vestiario inteiro fumegando o defumado chulé do jogador, todos alli!
Melhor, em vez do Zito, si o Romario tivesse esse pé fetido, humilhado que fosse todo o time… Hem? Que cricri!
DIA MUNDIAL DA CALLIGRAPHIA DISCURSIVA
Usei espherographica, tambem, alem duma a tincteiro preenchida, mas nunca mais usei penna na vida. Um cego o que pensar tem, isso sem.
“Canneta azul, azul canneta…” alguem está cantando, ouvindo repetida e triste ladainha, mas convida a musica a pensarmos num porem.
Ja a charta não escreve mais ninguem. Leem tela, teem teclado. Ha quem decida trocal-a por um audio ou algo alem.
Epistolar é genero, hoje? Nem! A phrase lapidar dum suicida é “Fui!”, que evita muito nhenhenhem.
DIA PESSOAL DA MENINISCENCIA
Nos annos oitentistas, duma sola mandaram-me o contorno, com canneta, traçado no papel. Aquella colla não peço mais a alguem que me remetta.
Depois que fiquei cego, me consola appenas uma scena na punheta: lembrar-me do pé chato que, de eschola, collegas tinham, sola suja, preta.
Um delles me pisou e, como balla, chupei-lhe o dedão grego. Não se eguala tal sola à que é, nos classicos, descripta.
Pés chatos, expalhados, vão na valla commum ser exquescidos. Mas me emballa, no sonho, a phantasia mais bonita.
DIA PESSOAL DO NOJENTO CORRIMENTO
Chupei, ja cego, um gajo que, de idéa, bem sadico seria, que me fez tragar um pau que tinha gonorrhéa corrente. Dessa rolla fui freguez.
Houvesse me filmado, da platéa infantojuvenil hoje talvez eu fosse epico meme. Que geléa corria! Que patê! Que sordidez!
Emquanto me fodia, ainda ria, mandando que engolisse esse seu puz com gosto de manteiga, de ambrosia.
Provei que, quando orgastica a agonia, um cego se degrada, se reduz a furo onde uma rolla atroz se enfia.
DIA GERAL DA DIARRHÉA COM PLATÉA
A minha mente suja sempre indaga, emquanto escuto um jogo, como faz, sentindo caganeira, algum rapaz em campo. No calção mesmo se caga?
Paresce que sim! Roga alguma praga, naquelle mau momento, xinga, mas não pode segurar o que, por traz, a marca deixa, feito um pé da zaga.
Sim, fica “carimbado” o seu calção e logo sae de campo o centroadvante, a fim de se trocar. Canta o povão:
“Cagou nas calças! Não é molle, não!” Comtudo, uma torcida delirante bem sabe como molle é um cagalhão…
DIA PESSOAL DOS BONS DONS
{Pertences, Glauco, a alguma dessas seitas? Que tu te julgas bruxo ou mago, ja fallaste disso muito. Mas vem ca, responde então: Por que não te approveitas?}
{Protege-te! Te vinga das desfeitas! Te cura da cegueira, que tão má tornou a tua vida! Jeito dá na cama que te cabe e em que te deitas!}
{A fama que meresces, por que não a crias? Por que editas sempre por pequenas editoras? Hem, Glaucão?}
-- É facil explicar. Minha visão perdida compensar vou no que for compondo. Qual Sansão, eu ja sou são.
DIA MUNDIAL DA VERVE QUE FERVE
{Caralho, Glauco, porra! Vae tomar no cu! Gosto da tua poesia por causa do calão, da putaria! Mas andas a appurar teu linguajar!}
{Não fallas tanta merda mais! Um ar de estylo meio nobre me entedia nas tuas coisas ultimas! Arria as calças novamente! Vae cagar!}
{À puta que pariu tuas pesquisas estheticas! Eu quero mais chulice, mais foda, mais fedor! Cagar precisas!}
-- Talvez os vendavaes paresçam brisas, agora que estou perto da velhice, mas culpa tens tambem, pois não me pisas.
DIA PESSOAL DA ENTREGA CEGA
{Faz tempo que, sarrista, não domino alguem que a mim, de quattro, dê e, vendado, se deixe castigar. Mas um menino achei que se subjeita de bom grado.}
{Alheio olho cegar, do meu aggrado, é practica frequente: eu determino que, sem me conhescer, algum veado masoca a venda ponha. Ahi, lhe brado:}
{“De quattro! De joelho!” Olho o fulano sem follego, offegante, ja fodido na bocca, a se engasgar. Assim decido!}
-- Cegueira temporaria, pelo panno da venda, dá tesão, mas mais soffrido meu caso é, pela perda do sentido.
DIA TRADICIONAL DA PIZZONA DA NONNA
{A pizza brazileira, Glauco, não tem nada da legitima, a de la! Recheios tem demais e não está correcta, ja que é má alimentação!}
{Alem de não saudavel, a questão é que ella desrespeita aquella ja tão typica, a de Napoles, que ca pouquissimos conhescem! Não, Glaucão!}
{Não! “Menos é mais”, Glauco! Comer pizza não pode ser mactar a fome, e só! Você tem que saber, Glauco, precisa!}
-- Nem vale a pena a replica concisa, mas posso lhe dizer que meu xodó está na da avozinha, a que se bisa!
DIA MUNDIAL DA PROLIXA FIXAÇÃO
{Prezado Glauco, quem lhe escreve estuda a sua poesia a fim de, em summa, razões verificar da sua aguda neurose na cegueira. Ha, sim, alguma!}
{Psychose mais profunda? Inda que muda, pretendo rastrear, ou talvez uma mais grave depressão, que ja só muda de mal para peor e ao auge rhuma…}
{Emfim, sua cegueira acho que está mental, eschizophrenica, alem, claro, dos traços paranoicos, fortes, ja…}
-- É mesmo? Que barato! Não será difficil encontrar tambem um raro fetiche no delirio dum gagá…
DIA SOBRENATURAL DO PACTO INEXACTO
{Carissimo Glaucão, aqui quem falla leitor é dos seus versos! Eu defendo, na minha these, que você se eguala ao caso de John Milton, caso horrendo!}
{Mas elle se salvou, naquella falla devota, pela acção divina! Vendo tal caso, constatei que sua valla cavou o proprio Demo, como entendo!}
{Pretendo demonstrar que foi Satan quem pacto lhe propoz, no qual compensa as trevas com a lyrica malsan…}
-- Não é sua pesquisa assim tão van, mas este pormenor dispensa a crença: Satan nada propoz, sendo meu fan.
DIA NACIONAL DAS REGRAS DESCAGADAS
{Glaucão, estou ha tempos intrigada accerca da sciencia! Tem pesquisa mudando sempre! Passa por piada qualquer que dum “perigo” nos advisa!}
{Assucar, ovo… Nada pode, nada! Ja pode, de repente, tudo, à guisa de novas provas medicas! Damnada da vida fico! Sinto-me indecisa!}
{Paresce, no Brazil, esse Supremo que, num momento, toma a decisão e, noutro, ja “destoma”, mais extremo!}
-- Querida, regras medicas não temo. No caso das leis, cumpro as que me são affectas, mas razão… só dou ao Demo!
DIA GERAL DA IDÉA DE GERICO
{Glaucão, te considero o meu guru, accyma de qualquer outro! Consentes que eu tenha tal noção, Glauco? Sim, tu, somente, tem idéas coherentes!}
{Não, Glauco! Olavo, Plinio, são tabu, agora, para mim! Só tu não mentes! Lamarca, Marighella, até Dudu, Carlucho, todos são inconsequentes!}
{Dispenso Hitler, Franco, Mussolini! Nem leio mais Kardec ou Sartre, meu guru! Teu verso tudo ja define!}
-- Ainda que em mil casos eu opine, bobagem é seguir-me. Você deu bobeira. Mas doutrino que me urine…
DIA PESSOAL DA AZEDA TANGERINA
Urina allaranjada, muito forte seu cheiro. De proposito, o subjeito não dá a descarga, deixa alli. “Bem feito!”, commenta. Alguem exsiste que o supporte?
Exsiste, sim. Um cego, cuja sorte virou thema de chiste: “Eu me deleito sabendo que não tenho o seu defeito nos olhos!” O mijão não é de morte?
Sarrista que só elle, quer que tenha para algo utilidade a bocca muda do cego. Tem a sanha mais ferrenha.
O cego que obedesça. Assim, se empenha a custo, ouvindo: “Invalido! Caluda! Se exforce! Ja mijei! Meu pau saccuda!”
OUTRO DIA DO DIABETICO
{Cortei ja meu assucar todo! Nem café mais tomo, caso não esteja amargo! Diabetico tambem, você não ganha bollo nem cereja!}
{Mas isso não tem graça, Glauco! Tem? A gente quasi nada mais festeja! Será que solução inventa alguem praquelle que comer doces almeja?}
{Meu sonho é comer sonho, o proprio sonho, alem de chocolate, puddim, torta, manjar branco! Me sinto tão tristonho!}
-- Não quero nem saber! Si me disponho a doces comer, como! Que me importa morrer mais cedo ou tarde? Que enfadonho!
Photographos dos Beatles, eu ja pude ver isso, registraram uma lucta dos quattro, sem judô nem força bruta, mas sim de travesseiros. Nada rude.
Aquillo me ouriçou, na juventude, pois vi seus pés descalços, quando um chuta, empurra, pisa, puxa, na disputa de espaço, numa comica attitude.
Simulam ser creanças. Eu simulo commigo quem teria seu pé posto na cara do collega a tal disposto.
Poder de reacção seu sendo nullo, do Lennon leva a sola bem no rosto, tal como ja levei. Beijei com gosto.
DIA LATINOAMERICANO DO ATTIRADOR DE ELITE
{Mal posso crer, Glaucão! Ouvi fallar que cegos ja ficaram muitos, em chilenas ruas! Todos, por azar, nos olhos balleados! Graça tem?}
{São ballas de borracha, no logar daquellas que, de chumbo, leva quem guerreia por ahi, mas vão cegar uns olhos si pegarem nelles bem!}
{Não, Glauco! Ja pensou? Que legião de cegos repentinos! Como vão fazer? Como voltar ao dia a dia?}
-- Lamento, sim, mas tanta compaixão commigo ninguem teve. Mais irmão quem fosse masochista meu seria.
DIA
NACIONAL DO COPPO MEIO CHEIO
De tanto ver vencendo o mau subjeito; de tanto ver que fama a gangue goza; de tanto ver citado o Ruy Barbosa; de tanto ver um crime ser perfeito…
Ver tanto um activismo no direito; ver minima a sentença que se dosa, restricta a poesia a mera prosa, me vexa pelo pouco que approveito.
De tanto ouvir o povo brazileiro que os fins se justificam pelo meio e os meios maus se tornam por inteiro…
Accaba concluindo que fuleiro é tudo de decente em que ‘inda creio. Mais creio num pé sujo ou no seu cheiro.
DIA PESSOAL DOS PANNOS QUENTES
{Por cyma da cueca de trez dias quiz elle ser chupado, como disse teu verso, Glauco! O gajo quiz que visse nadinha quem chupasse por taes vias!}
{Sim, Glauco, o chupador usou seus guias nas trevas: as narinas! Cheirou “piss” e mais “cheese”, esse escravinho! Que chatice, não achas? Que mau gosto! O que dirias?}
-- Te digo que chatice, propriamente, não foi quando chupei um pau por cyma da sunga ja mijada, de repente.
Difficil foi chupar a repellente cueca appós o gozo, pois, no clima, me engasgo com o creme em panno quente…
DIA NACIONAL DA IDEAL BIENNAL
{Dizer que no Brazil democracia não vinga, Glauco, é cynico bordão! Nós somos o paiz onde se fia mais nesse ideal typo de nação!}
{Hem? Qual paiz no mundo vae, por via do voto, um anno sim, um anno não, às urnas, excolher alguem que guia do povo os interesses? Hem, Glaucão?}
{Não, Glauco, convenhamos! Não podia haver, por tantas vezes, eleição em outro paiz! Nisso pense, irmão!}
-- Quem disse que isso, só, dá garantia de termos nós menor a corrupção? Temptado, o militar volta, amigão!
DIA PESSOAL DO SEXO ORAL
Meu pau, quem o chupar quero que esteja sciente de que enxergo muito bem, emquanto quem me chupa ja não tem visão nenhuma, aos nossos pés rasteja.
Meu pau, quem o chupar irá cereja lamber, fazer de compta que não vem sentindo o que elle fede. Chupa sem repulsa a queijaria que sobeja.
Meu pau, quem o chupar nada festeja. Appenas eu festejo, mais ninguem. Quem chupa, só, tem bocca bemfazeja.
O pau quem me chupar não tem egreja nem prece. Só dirá, depois, amen a bocca que ridicula mais seja.
DIA GERAL DO PIRIRY
Um drama que nos rende estragos é a terrivel diarrhéa, alimentar disturbio que, depois dum mau jantar, fará que nos lembremos do filé! Ah!
É molle, ou quer mais? Puta diarrhéa! Em agua transformou o que cagar iriamos mais solido! Vulgar, nomeia “caganeira” a voz plebéa.
Da cama, vou ao vaso. Vou do vaso de volta para a cama. Me comprazo si nada para fora se derrama.
Trez dias o remedio deu de prazo. Vem secco o peido, mesmo com attrazo, que tanto fez, em verso, minha fama!
PESSOAL DO MYSTICO DIAGNOSTICO
Os medicos attendem muita gente com queixas variadas. Ha quem pose de enfermo appenas para ter a dose dalgum medicamento entorpescente.
Porem, quando o queixoso paciente reclama vagamente, ‘inda que goze de boas condições, diz que é “virose” quem tracta do “mysterio” que elle sente.
“Virose” virou termo para tudo: cystite, diarrhéa, resfriado, dor, febre, caso chronico ou agudo.
Mas eu, pessoalmente, não me illudo e digo, sem ter visto o resultado dos testes: meu azar vem do Chifrudo.
DIA GERAL DO DELIVERY
Me intriga aquelle apê do tango. Tem victrola, telephone, bibelô de gatto, meia luz, clima pornô… Mas e quando, faminto, chega alguem?
A musica não falla si tambem tem coppa, tem cozinha, si um bistrô funcciona alli no terreo, si um alô ja basta, si esse lanche logo vem.
Emquanto ninguem chega, tempo dá de sobra a uma gazosa, a um sandubinha do typo basicão. Que bom será!
Passou da hora? Basta, de fubá, um bollo. Quando chega alguem, nadinha sobrou. Estou dormindo. O coito? Bah!
DIA MUNICIPAL DOS JARDINS SUSPENSOS
Passaram elles decadas trocando appenas o seu nome. Minhocão o povo preferiu. Agora não dá tempo, pois um parque vae virando.
Mas não porque quizessem. Leve e brando, um verde foi brotando pelo vão rachado no concreto. Ja grandão, o tronco ramifica, arborizando.
Na nossa Babylonia paulistana, um bosque só se forma si for pelo processo natural, sem um modello.
Emquanto a prefeitura, que se uffana das obras, não suspende esse novello selvagem, a cidade pode vel-o.
DIA PESSOAL DE NATAL
Não nego um interesse pessoal na velha tradição. Ninguem contesta, na tal data christan, que exsista festa global, commercial e cultural.
Mas… meias penduradas? Dão aval a algum fetiche, claro! Só me resta suppor que estejam fetidas e, desta maneira, phantasio o meu Natal:
Fazendo o meu papel, Papae Noel as troca por novinhas e cheirosas, mas leva as que não cheiram como rosas.
Em casa, as cheira até que, no papel do typico podolatra, gostosas punhetas batta, ao motte como glosas.
DIA MUNDIAL DO MILAGRE PREVISIVEL
Magrella, abbandonado, o bassê está no agguardo da adopção. Mas é ja quasi Natal e ninguem pensa, nessa phase phrenetica, nos bichos sem pappá.
Será? Pois este aqui deu sorte e ja achou quem o quizesse. Vae, em paz e sossego, bem comer, nem que extravase xodós quem tanta boia ao bassê dá.
Ja muitos commentaram: “Boa sorte, hem, teve esse bassê!” Mas a questão não é que um cão, mimado, se comforte.
Presente, quem ganhou mesmo, que importe frisar, foi a familia que esse cão adopta. Ha melhor anjo desse porte?
DIA UNIVERSAL DO TERRAPLANISMO
Você, terraplanista? Não consigo crer nisso! Não consigo crer que alguem consiga crer num troço assim tão sem sentido! Falla serio, meu amigo?
{Sim, fallo. Por que não? Não dão abrigo vocês ao lobishomem, ao “alem sepulchro” dos zumbis, aos monges zen buddhistas, ao vampiro? Ouça o que digo!}
Mas pense ca! Depois daquelle Antigo Mundinho, o pensamento ficou bem mais culto! Uma noção melhor se tem!
{Na physica, ja “quantica”, me instigo a ver como illusão tudo que vem do olhar mais scientifico, porem.}
DIA MUNDIAL DA LENDA URBANA (1)
{Você, caso um cigarro accenda (cito a bomba alli do posto), lhe asseguro: seja alcohol, gazolina, não é mytho: vae tudo pelos ares, Glauco, juro!}
Jurar nem é preciso. Eu accredito. Tambem um cellular pode, no duro, causar uma explosão. Sei dum perito que, nisso, não ficou em nenhum muro.
{É mesmo? Que lhe disse esse senhor? Citou “carregador”? Diz que, si for deixado na tomada, macta alguem!}
Sim, elle confirmou. Sinto terror si estou perto dum posto. Vou compor agora mesmo uns versos, falta sem.
DIA MUNDIAL DA LENDA URBANA (2)
{Cigarros electronicos tambem mactar podem! Sabia, Glauco? Ouvi fallar que ja morreram, por aqui, milhares! Mas se importa, affinal, quem?}
{Disseram que maconha alguns ja teem na formula! Calcule si um sacy fumasse o cachimbinho que ja vi fumar um lobishomem, muito zen!}
{Voltando aos accidentes, se commenta que explode, com cigarros, a cabeça dum gajo, qual ballão que se arrebenta!}
-- Verdade? Solta fogo pela venta a mula sem cabeça… Não se exquesça: Mais pecca quem virtudes mais obstenta.
DIA MUNDIAL DA DURA ADVENTURA
Eu quero um alpinista ver cahindo do picco do Everest, em toda data. Eu gozo quando o touro chifra e macta o celebre toureiro, um galan lindo.
Eu quero um trapezista de la vindo e quero se fodendo um acrobata. Aquelle dos ballões ja nem se tracta dum “padre voador”, ao céu bemvindo.
Damnou-se, desviado para o mar, comido pelos peixes. Foi bem feito! Se foda quem do risco caçoar!
Ja basta a nossa vida, tão vulgar! Luctamos dia a dia! Não respeito quem queira de coragem licções dar!
DIA NACIONAL DA SCENA TERRENA
{As aguas sobem tanto, quando vem a chuva de verão, que sae do carro quem vinha dirigindo! O que lhe narro occorre muito, Glauco! Veja bem!}
{Ao tecto do vehiculo elle tem que, rapido, subir! Mas é bizarro o caso, pois as aguas, mais o barro, não param de subir! Aguenta quem?}
{Até que, excorregando, o gajo cae naquellas aguas, vendo todo mundo! Seu corpo, ja não visto, longe vae!}
-- Sei disso. Ouço no radio. Caro sae e exime-se o politico. Eu redundo si indago: “Quem perdeu crerá no Pae?”
PESSOAL DO SONHO SUICIDA
Mactar-me? De pensar nisto desisto. Não quero mais problemas na cabeça. Ja bastam tantos outros. Quem conhesça meus versos a allusão deve ter visto.
Idéa de morrer é como um kysto que fica alli, crescendo, sem que cresça alem dos sonhos. Antes que me exquesça, sonhei de novo, nisso sempre insisto.
A vida todo dia me convida a pelo lado olhar menos ruim as dores que soffrendo tanto vim.
Passei ja muito tempo nesta vida ouvindo o que Torquato para mim dizia: “A vida finda antes do fim…”
DIA NACIONAL DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Faz como o Sylvio Sanctos. Si lhe sobra “cascalho”, o gajo, rindo, quer jogar a grana numa praça, por milhar, as scedulas novinhas e sem dobra.
Pessoas chegam. Sabem: jamais obra será de charidade. Gargalhar quer elle, divertir-se, ver um mar de gente, mera massa de manobra.
As notas vão ao vento, em ziguezague. O povo se engalfinha, faz que estrague a roupa, a grana a pique de rasgar.
Mas, quando comptas pedem que elle pague, responde com desdem, fazendo blague: “Dinheiro se inventou p’ra não gastar!”
DIA REGIONAL DA PUTEAÇÃO
Palavras tambem andam na garuppa das outras, num sentido que culmina melhor, como na falla nordestina que varios sons semanticos aggruppa.
Assim, quando escutei que alguem “estrupa”, entendo que se “extripa”, si a menina sangrou naquelle estupro. Mesma signa virá quando se xinga alguem que chupa.
Chamar “feladaputa”, numa só palavra, alguem que posa de cadella, suggere que esse alguem um phallo fella.
Xingar de “filha” dá, no caso, um nó na lingua, si for elle e não for ella o xiz da xingação de quem appella.
DIA MUNDIAL DO NOME FEIO
Mulher, que feiticeira seja, leva um nome que nos soa meio feio na lingua portugueza. Aqui nomeio Gertrudes, Hermengarda, Genoveva…
Commum nesses paizes onde neva, tal nome, quando o citam, ja receio a praga, a maldicção, o manuseio de philtros e venenos, temo a treva.
Mas tudo mais bonito nos paresce si o nome Geneviève está em francez. A bruxa agora até rejuvenesce…
Sim, caso eu faça ao Demo minha prece na sexta-feira, treze, todo mez de agosto, uma mulher me reconhesce.
Pesei-me e me assustei! Si perco um kilo por dia, meu corpinho ja definha a poncto de eskeleto virar minha figura! De pensar, eu me horripillo!
Ah, foi porque caguei! Fico tranquillo agora, ao constatar que muito tinha perdido, mas de troço foi todinha aquella differença! Quanto fil-o!
Cocô pesa bastante, mas a gente repõe tudo, comendo de montão. Da boia alguma nausea a gente sente.
Tomando um comprimido, ha quem aguente enjoos. Nem me ennojo si impressão de troço uma linguiça traz à mente.
DIA PESSOAL DA EGUALITARIA DESEGUALDADE
Que somos differentes, eu entendo, mas não no plano physico. Sem nós mentaes, os homens vejo, todos sós na sua solidão. Sim, condescendo.
Não vendo os olhos cegos e, não vendo, os olhos mais enxergam pela voz dos outros, que me contam como nós eguaes a todos somos, vamos sendo.
Ao cego, não exsiste preto ou branco. Exsiste um tom vocal que, falso ou franco, traduz o que, em commum, entende o povo.
Não posso ser racista. Quando banco o vate intolerante, topo um tranco levar e, excarmentado, me commovo.
DIA GERAL DA FAMILIA
Separa, casa. Casa, ja separa de novo. Raramente se recasa. Alguem que tenha a mente menos rasa talvez reconsidere. Coisa rara.
Tem filhos? Que se fodam! Está para creanças nem ahi quem dalli vaza, deixando tudo. Vida que se attraza não anda, pois ainda sae mais cara.
Ciumes só complicam. No limite, se joga da janella algum menino de collo, se reputa ao mau destino.
Tragedias familiares, quem as cite tentando versejar, eu imagino que perca seu latim, e me previno.
DIA HISTORICO DE LIVERPOOL VERSUS FLAMENGO
Eu, desde adolescente, na torcida estou por quattro jovens que meu som fizeram. Esse tempo foi tão bom que nunca delle exquesço mais na vida.
Agora descobri que me convida tambem o futebol a vel-o com mais livres olhos. Torço ja por John, Paul, George e Ringo em jogo que decida.
Sim, quero que elles vençam sempre, em casa, qualquer que seja o povo ou continente que enfrentem, nesse esporte que me abbraza!
Vencer, vencer, vencer! Jamais dephasa o credo! Ora, quem disse que somente no samba a gente, em ecstase, extravasa?
DIA SOBRENATURAL DO JUBILO DE JUPPITER
A Zeus eu rezo, um dia appós um dia, emquanto, ainda lucido, me deito (mas ja sem ver nenhuma luz) no leito e peço que me macte. É o que eu queria.
Me macte ‘inda dormindo, Zeus! Podia ser desse modo magico. Meu pleito não é tão descabido: tinham feito os deuses coisa assim, sem agonia.
Fallar ouço dum gajo que se deita sem nada sentir, mesmo sem a dor da chaga, sem de cancer a suspeita.
E morre elle, feliz! Si Zeus acceita a minha prece, eu juro: “Meu Senhor, sou teu! Ja de Satan não sou da seita!”
DIA NACIONAL DA IMAGEM NEGATIVA
Jornaes noticiaram que, num “pega” (ou “racha”), aquelle joven mactou mais de dez outros anjinhos, cujos paes accusam-n’o de tudo. O joven nega.
Do perfido politico um collega vazou que recebera dez mensaes parcellas de suborno, para as quaes usou as empreiteiras. Elle nega.
Do proprio presidente quem navega nas redes sociaes diz que elle faz no leito o que dos gays diz. Elle nega.
Na cara dum sacana alguem exfrega as provas de que explora cegos nas esmollas, mas, impune, elle nem nega.
DIA PESSOAL DOS MALDICTOS MYTHOS
Emquanto ouvidos davam ao vovô eu delle duvidava, jururu.
Emquanto prohibiam o pornô eu ria, a tactear meu corpo nu.
Emquanto crença punham no tarot eu duvida não tinha do tabu.
Emquanto davam glorias a Xangô eu ia me entendendo com Exu.
Em Juppiter emquanto punham fé eu, cego, orando a Lucifer me vi e, delirante, em mim mesmo, só, cri.
Emquanto de Drummond citam José eu, Pedro, sou tambem Podre e Pourri, alem de ser José, pois me fodi.
DIA NACIONAL DOS RETRACTOS DOS MAUS TRACTOS
Mulheres expancadas, muitas são e foram, mas agora moda vira fazer imagem disso. Quem adhira não falta: cellulares teem à mão.
De cara deformada, até, de tão surrada, choram, pedem a quem mira a scena que gravaram, que confira o nivel troglodyta do machão.
Nariz quebrado, cortes pela testa, inchada bochechona, sem da frente os dentes, numa bocca que não mente.
Appenas um detalhe citar resta: O macho, mesmo visto que innocente não seja, sahirá mais sorridente.
DIA INTERPESSOAL DUM NATAL MENTAL
Extranho… Um bom amigo, com quem privo ha tempos, bloqueou minha mensagem, fazer não quer contactos. Assim agem os haters, no universo vingativo.
Amigos, não. Eclectico, convivo com todos, os que fallam só bobagem e muitos que manteem sua coragem de ver com um olhar mais creativo.
Mas, quando um amigão meu me bloqueia, percebo que, gagá, bolla não dá à verve dum poema, à velha veia.
Que pena! Melancholico, receia? Não quero mais julgal-o, só que va passar bem seu Natal, ter boa ceia.
DIA NACIONAL DO CEREMONIAL
{Contaram-lhe, ja, Glauco, quem foi pôr a cara na chuteira do cracaço do jogo? O mais vulgar governador!} -- Verdade? De saber eu questão faço!
{Sim, elle foi beijar! É de suppor que tenha até lambido! Que palhaço! Nas redes, teve muito gozador!} -- Eu quero chance assim de ser devasso!
{Mas elle auctoridade tem, valor devia dar ao posto seu no paço!} -- Ao menos dum fetiche exhibiu traço…
{Pois é… Só não desdenho si quem for beijar se chame Glauco, nem desfaço!} -- Concordo. Vou ao thema dar espaço.
DIA MUSICAL DO FIM DO MUNDO
Demis Roussos cantava que queria levar ao fim do mundo o namorado ainda muito joven, sem do lado tambem papae, mamãe, vovó, tithia.
Queria appresental-o, qualquer dia, a amigos solteirões que do riscado com elle se entendiam, mas cuidado tomava, pois nem tudo se entendia.
Vontade de gritar elle revela e grita, sem conter-se, assim, do nada, talvez porque o moleque se rebella.
Terei bem entendido sua bella canção, tão bem chorada, bem cantada? Vocês tambem que soltem a goela!
DIA NACIONAL DO PESQUISADOR DE FEDOR
Commum é, nos mercados actuaes, o technico. Um que emerge é, de mão cheia, de dados analysta, que rastreia e cruza varios indices fecaes.
O gajo de cocô conhesce mais que muitos escatologos: passeia por todas as latrinas e nem feia careta faz ao cesto de jornaes.
Procura appenas cestos onde não usaram hygienico papel. Saber quer o que leu esse povão.
Ha duvidas accerca da questão. Será que leu alguem algum painel de themas economicos, em vão?
DIA NACIONAL DA MILICIA DA MALICIA
Nenhum mandão poder tem de policia que enquadre a veia audaz dum humorista, cantor, poeta, actor, qualquer artista. nós somos a Milicia da Malicia!
Não falta algo de comico que attice a satyrica funcção de quem persista na critica à patrulha moralista e espete quem se gaba da sevicia.
Não, contra a gargalhada não ha nada que faça quem, pretextos allegando, moraes, queira barrar a molecada!
Mais vale, em livro, ousar poeta cada que sacco puxar desse que commando exerça. Restará nossa risada.
Ao lado do doente terminal, quem cego na prisão ficasse iria direito ter à proxima amnistia vigente, o tal “indulto de Natal”.
Sciente disso, um chucro marginal, cumprindo pena até distante dia, cegou-se de proposito! Queria dalli sahir bem antes do final…
Soltura conseguiu, mas não será tão facil a missão do nosso amigo. Alguem ficou sabendo que é mendigo.
Agora abusam delle. Quem lhe dá porrada acha que vale esse castigo. Na cella ja corria tal perigo…
DIA MUNDIAL DO ROCKEIRO NOSTALGICO
Mamãe queria tudo direitinho. À minha, não, nenhuma se compara! Me lembro della quando, olhando para mim, dava seu conselho comezinho:
“Evite enveredar no mau caminho, com moça que só valha levar vara! Evite dar cuspida bem na cara do cego e cahir fora, meu bemzinho!”
Não fiz o que dizia, si com puta rampeira me envolvi. Porem não só, pois surra dou na quenga que discuta.
Não só cuspi no cego: força bruta usei quando metti no seu gogó. Até meu pé lambeu, pois sou quem chuta.
DIA PESSOAL DO CEGO EMMUDESCIDO
(ao Fabio, que bem soube me tractar)
Você não vê nadinha mesmo, cara?
Então va pelo cheiro! Ahi! Tá forte?
Não lavo o pau, ceguinho! Que supporte você! Cego qualquer perfume encara!
Regace devagar! Ahi! Deu para sentir o queijo, cego? Um roquefort com grãos de parmezão, hem? Não entorte o seu nariz, não! Cego não se enfara!
Não, cego não excolhe! Com a sua babosa lingua, quero que dê banho bem dado! Tá assustado c’o tamanho?
Ahi! Mais fundo! Cego não recua!
De novo! Mais depressa! Ah! Quando ganho chupeta assim, exporro bem! Tá fanho?
DIA GERAL DE IR DIRECTO AO PONCTO
“Desculpe perguntar, mas… é feliz?”
{Por que quer saber disso, companheiro?}
“Por nada. Pouca coisa você diz.”
{Ninguem me instou. Você foi o primeiro.}
“Mas… é feliz? Casar, você não quiz?”
{Não sou, mas é melhor ficar solteiro.}
“É virgem? Ou fez tudo o que ja fiz?”
{Aqui você ficou bisbilhoteiro.}
“Desculpe si demais metto o nariz.”
{Magina. Fui até bem putanheiro.}
“Parou por que? Foi dando menos bis?”
{Não. Juro-lhe que um satyro ja beiro.}
“Que falta, si seus dotes são viris?” {Mulheres masochistas por inteiro.}
DIA GERAL DAS TARADAS ENCALHADAS
“Furor” dicto “uterino” uma mulher teria, antigamente, e se dizia que ser “nymphomaniaca” podia, si fosse dada ao sexo, uma “qualquer”.
Aquella que conhesço, si puder, assume qualquer rotulo. Só “thia” não gosta que empregar queira a “vadia” que fama ter de puta tambem quer.
As duas são vizinhas, mas aquella que tudo me contou diz que isso faz melhor: só não trepou com Satanaz.
Rival, a “vagabunda” appenas della inveja tem, pois nunca foi capaz daquillo. São actrizes, sim, e más.
DIA NACIONAL DO CORPO FECHADO
{Ah, Glauco, olhe que lindo! O meu anxeio está a se realizar? Appendicite, renal calculo, cancer… Quem evite não ha! Mas ha politicos no meio!}
{Comnosco rollaria qualquer feio prognostico do typo, mas permitte ja Juppiter que quem nos parasite tambem daquillo soffra! Ah, nelle eu creio!}
{Politicos o corpo bem fechado tiveram sempre, emquanto nós aqui soffremos! Tenho amigos nesse estado!}
-- Emfim se faz justiça, sim. Cuidado, porem, com o “day after”. Ja sorri, curado, um senador ou deputado…
DIA MUNDIAL DO IMPACIENTE IMPACIFISMO
{Irak e Iran não deixam, nunca, a scena de guerra exmorescer! Estou aqui torcendo, Glauco, para vermos si se pauta a nova pagina terrena!}
{Eu quero ver é sangue, Glauco! Pena que pouca gente morre! Inda não vi cadaveres em penca! Ja nem ri Satan, ja ninguem tanto odio condemna!}
{A coisa tá perdendo, Glauco, a graça! Da guerra precisamos muito, para a zica compensar, que nos azara!}
-- Meu caro, não se illuda. A nossa raça humana não se exstingue. Quem sonhara? Mas, ‘inda assim, tambem digo: Tomara!
DIA MUNDIAL DAS MEDIDAS DOS PÉS
Não dei tanta attenção antes, mas eis que pés medir me vale mais affinco. Embora não exsistam disso leis exactas, às da America me linko.
Medi, de brazileiro, um trinta e seis. De gringo ja medi quarenta e cinco. Mas, quando os pés medidos são de gays, tambem paus meço e até com elles brinco.
Tamanho documento não é, mas dum pé cincoenta e cinco me impressiona o tennis, quer de couro, quer de lona.
Dezenas recolhi, muitos em más e feias condições. Nenhum desthrona, não, esse tennisão que se detona…
Nem fama nem proveito me dá gozo, mas acham que do canone eu à beira estou. Tantos eus lyricos vaidoso me deixam, mas não fede isso, nem cheira.
Fallar em heteronymos, famoso não fico por ser Pedro nem Ferreira, mas desde que excolhi Glauco Mattoso não viro Zé da Sylva alli na feira.
Fui Pedra-Ferro, Pedro, o Podre e fui até Padre Feijó, xará dum Sade. Nas lettras rolla tudo o que me inclue.
Ganhou muitas personas quem foi mui pornographo? Pesquise-me e se enfade dos rotulos, pois generis fui sui!
DIA MUNDIAL DAS HORRENDAS LENDAS
Eu tenho meu basset. Gatto, um amigo. Mas ha quem tenha aranha cabelluda! Mascottes que nos lambem eu consigo beijar! Caranguejeiras… Não! Accuda!
Fallar ouço que exsiste quem abrigo dá para a centopéa, que lhe gruda no braço, no pescoço, mas commigo apposto que isso é peta, da grahuda!
Nas redes sociaes ha quem garanta que cobras e morcegos dão mansinha e terna companhia a quem definha!
Talvez queiram dizer que se addeanta, assim, o passamento, o fim da linha dum caso terminal… Senhora Minha!
DIA PESSOAL DO CHORO HUMORISTICO
“Não chora! Si chorar é que peora! Acceita, que dóe menos teu castigo!”, disseram ao me verem cego. Agora os chupo e “Sim, Senhor!” ainda digo.
Quem disse taes verdades commemora o facto de enxergar bem e commigo poder zoar. Humilde é quem só chora calado e chupa. Aos poucos, eu consigo.
Depois de certo tempo, me convenço: Alguns mais se divertem quando tento chorar, lacrymejar, usar o lenço.
Me dizem esses, rindo, que eu immenso prazer lhes proporciono si lamento meu drama. Desse humor terão mais senso.
DIA PESSOAL DA GUSTATIVA IMPUDICICIA
Diz “Abra a bocca e feche os olhos!” quem convida alguem que estima a ganhar balla ou doce que deleita. Mas se cala o cego que entendeu nisso um porem.
Quem ganha de surpresa, qual nenen, aquelle pirolito que regala, idéa nem esboça do que eguala um cego ao mais ridiculo refem.
Seus olhos nem precisam se fechar emquanto sua bocca aberta fica exposta, dum mandão, à dura picca.
Ao maximo terá seu maxillar os dentes affastado. Mais se estica a lingua sob a glande… Hem? Que impudica!
DIA GERAL DA AUTOFLAGELLAÇÃO
Punir-se é masochismo? Então estude quem queira tal phenomeno! Se sinta quem peque sujo bicho! Uma attitude mais practica é levar surra de cincta!
Um cego ja maduro à juventude dos normovisuaes se humilha: trinta ainda elles nem teem! Eu mesmo pude seus pinctos engolir, caso não minta!
A gente se machuca, geralmente, por simples accidente, mas ha quem se cause ferimentos, pena sem…
São cortes, arranhões, de ferro quente profundas queimaduras… Disso eu nem cogito. Um cego pena de si tem…
O cego do Deep Purple, quando chora, dá dica de ter sido abbandonado, fechado no seu quarto, mas tal fado envolve o que meu caso corrobora.
Um gajo, que era amigo, foi embora, mas fez com elle coisas que me enfado, até, de repetir, tendo versado bastante sobre alguem que rememora.
Tambem, no chão jogado, rastejei aos pés dalgum “amigo” gozador que fez chacota sobre minha dor…
Um cego só será feito de gay, devendo ser de rollas chupador, si tudo correr como normal for…
DIA GERAL DO ROCKEIRO PICCADEIRO
Em vez de se mactar, quem para fora põe suas amarguras quer brincar: “Addeus, mundo cruel! Eu vou entrar pro circo! Vou virar palhaço, agora!”
Palhaço? Ora, palhaço tambem chora! Mas muito mais num circo tem logar trapezio, chorda bamba, malabar, leão que cabecinhas não devora…
Que mais? Illusionismo, claro. Quem performa não se macta, alli, no duro, appenas se degolla, sangue sem.
Si for um bardo cego, para alem da morte, engole rolla: com appuro, faz comico papel, como convem.
DIA GERAL DA CAFETEIRA
Me foi recommendada a cafeteira legitima, italiana. Mesmo assim, alguem viu pelas redes que ruim aquella alternativa se nos cheira.
Perigo de explosão? Ah, ninguem queira testar! Um só relato, ca por mim, ja basta p’ra assustar! A saber vim que pelos ares fora a casa inteira!
Talvez exaggeraram, mas si entope a porra dessa valvula, sei la, não basta algum café que nos ensope…
As machinas da moda, por mais pop que seja a propaganda, vão, ja ja, flopar… Coado resta algo que eu tope.
DIA NACIONAL DA RHAPSODIA AZEVEDIANA
Os jovens actuaes, eu os reputo perdidos pelo vicio. Um batte bronha. Um outro jamais passa sem maconha. Terceiro fuma, bebado, o charuto.
Num quarto uma mulher tem jogo bruto. Um quincto dos infernos tudo sonha. Um sexto dos sentidos tem vergonha e sexo chama “affan de prostituto”.
O septimo peccar ousa de sobra. O oitavo drogas toma de injecção. Ao nono o rock é doutra geração.
O decimo pornô quer fazer obra. Si delles Azevedo tanto cobra que deixem-n’o fumar, por que é que não?
DIA CULTURAL DA CUECA SUJA
{Hem, Glauco? Ja pensou o que seria lavar cueca suja? A lavadeira encontra alli que typo de sujeira? Bom thema, Glauco! Verta a poesia!}
-- Está bem. Ja pensei. Eu acharia mais facil esse thema, caso queira você fallar de meia suja. Cheira chulé, fedor que nunca me sacia.
Mas cheiro de cueca ja mixtura chichi com porra, sebo com cocô, alem do que “cecê” chamou vovô.
A mancha amarellada fica dura, até, depois duns dias. Nem pornô poeta canta aquillo. Nem Rimbaud.
DIA MUSICAL DA BUNDUDA
{Sabias, Glauco? A turma agora fez um meme bem fiel à situação presente! Dizem “Brota no bailão!” P’ra que? “P’ra desespero do seu ex!”}
{E mostram a figura, toda vez, da typica bunduda, alli no chão das pistas, aggachada! Ah, como são vulgares! Hem, Glaucão? Como tu vês?}
-- Nem vejo. Só commento. P’ra causar ciumes fazem isso? Só te digo: Si sou hetero, macho, não consigo.
Perder tal vagabunda traz um ar de lucro, de victoria. A algum amigo desejo uma melhor que tal castigo.
DIA CULTURAL DO “COLIGLAMA”
Não, não é “calligramma”, mas se tracta dum novo collectivo litterario, creado com meu nome, em honorario padrão de antigo “gremio”. Menção grata!
Estou gratificado, sim, mas ratta não faço si, lembrando-me do Mario, do Oswald, e sem perder o tom hilario, suggiro-lhes um jogo que se empatta.
Empattam os dois lados da questão que não é coimbran, mas paulistana. Dois lados, mas tenhamos um padrão!
Aos membros, recommendo o palavrão ao lado do cultismo mais sacana, unindo o que se inverte: insano e são.
DIA NACIONAL DO BORDÃO RADIOPHONICO
Bordão do narrador de futebol no radio diz da vida: “colorida, gostosa…”, em conclusão, “de ser vivida”. Só falta algo fallar da luz do sol!
Tá certo, Maciel! Depois dum rol de phrases animadas, quem convida o ouvinte, suggerindo que decida ver coisas positivas, lança anzol.
Entenda quem quizer. Eu comprehendo o termo “colorida” da maneira mais clara: não é cego quem ver queira.
Alegre-se quem vê, pois eu defendo seu maximo tesão. Minha cegueira só fica alegre quando ouço zoeira.
DIA GERAL DO DESODORANTE
Francezes, me disseram, teem mania de banho não tomar. Aquelle cheiro disfarsam com perfume. Mas me inteiro de casos brazileiros… Quem diria?
Conhesço um cujo penis desaffia qualquer masoca amante de chiqueiro. Pentelhos, sacco, tudo um verdadeiro aroma de carniça à rolla allia.
Perfume elle não usa, mas expirra naquillo um popular desodorante. “Melhora p’ra cacete!”, elle garante.
Ja pude comprovar, amigos. Irra! Mixture peixe podre com bastante assucar quem saber quer. Não se expante.
São Paulo