DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

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DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO



Glauco Mattoso

DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

São Paulo Casa de Ferreiro 2021


Desinfantilismo em dissonnetto Glauco Mattoso

© Glauco Mattoso, 2021

Revisão Lucio Medeiros

Projeto gráfico Lucio Medeiros

Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ______________________________________________________________________________

FICHA CATALOGRÁFICA

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Mattoso, Glauco

DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 116p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1


NOTA INTRODUCTORIA Esta anthologia retrospectiva faz um appanhado da perversão e da perversidade no sonnettismo mattosiano, mas recortando a selecção contra um panno de fundo adulta e adulteradamente infantojuvenil, para questionar uma supposta innocencia inimputavel no imaginario do leitor. A pornographia, nesse contexto, nada mais seria que a sexualidade como parte do universo ludico entre creanças que, tal como na infancia do auctor, manifestem precoce sadomasochismo. No tocante à autobiographia propriamente dicta, suggere-se a leitura do volume MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES. No tocante à poesia pornosiana, seu auctor tambem a collige nos volumes PORNOSIANISMO EM DISSONNETTO, CALLO REPISADO, SONNETTOS DE BOCCAGEM e POESIA VAGINAL, entre outros. A thematica mais escatologica está compilada nos livros SONNETTARIO SANITARIO e POLITITICA. A razão practica para revisitar, na presente versão, os casos mais pedagogicos, entre milhares de poemas, vem a ser a reestrophação do sonnetto em quattro ou cinco quartettos, formato baptizado como “dissonnetto”. Em todos cabe aquillo que o proprio Mattoso conceitua como “pornosianismo”: o appuro formal como supporte do impuro contehudo, ou, por outras palavras, a carnavalização do sonnetto camoneano, lapidado na forma e dilapidado no fundo. O sadomasochismo homo ou heterosexual, a escatologia ou eschatologia, physica ou metaphysica, o fetichismo podolatra, extensivo a theologia prophana e a philosophia alcoviteira, são themas devassados pelo poeta devasso e não se circumscrevem, obviamente, à sexualidade, na medida em que perpassam a critica de costumes e a satyra politica, como nos livros DESHUMANISMO EM DISSONNETTO, A MALDICÇÃO DO MAGO MARGINAL ou DYSANGELHO SATANISTA, para mencionar appenas collectaneas thematicas.



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DISSONNETTO DETURPADO [0590]

Creanças cada vez mais pequeninas farão pedophilia pelo advesso: são ellas que, no tranco e no tropeço, vão logo nos impor jogos traquinas. Requincte nas torturas e chacinas virá da idéa dellas. Me entristesço mas sei que o horror futuro tem por preço adultos a lamber mirins botinas. “Mamãe, você me leva a ver o preso comer cocô, beber xixi? Só quero ver elle sentir nojo!” E um indefeso detento é transformado logo em mero... Brinquedo ao molequinho, que faz peso pisando um cabeção raspado a zero! Mantem tal condição ainda acceso na mente este episodio o joven Nero.

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DISSONNETTO DO CARRASQUINHO [0761]

Creanças, no manejo da chibata, são mais encarniçadas que um adulto. De berço ou orpham, principe ou inculto, o infante, castigando, se arrebatta. Que a victima, admarrada, elle acha mais gostoso, e é o riso, gargalhado como na bocca do moleque que a

se debatta nada occulto insulto, maltracta.

Punido, alguem mais velho sente a offensa, alem da dor, emquanto o relho estalla. O joven que o maneja ao preso falla brincando, até que ao braço o exforço vença. A cada chibatada, quem vae dal-a aggrava muito mais a atroz sentença e algum desgosto futil ja compensa, pois ri, diz “Yeah!” e ainda chupa balla!


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DISSONNETTO DE TODAS AS VONTADES [0811]

Sentada no penico, a garotinha se exforça e faz careta. Excorre o ranho do lindo narizinho. E que tamanho e odor tem o cocô que ella retinha! “Coragem, meu amor!”, diz-lhe a madrinha, “Depois cê vae tomar aquelle banho!” - Só isso? - ella sorri - Que mais eu ganho? “Um beijo!” - Ah, quero um quarto e uma cozinha! Brinquedos tem de monte, mas não faz cocô todos os dias, a coitada. Appenas faz barulho e solta gaz, sonhando com a proxima cagada. Está ja dolorida por detraz e, quando no penico não tem nada, a infanta, em vez do beijo dum rapaz, supplica um cocozão à sua fada!

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DISSONNETTO INIMPUTAVEL [1065]

Um “monstro” da FEBEM, vulgo Champinha, impune por ser joven, zomba e ja se gaba do que fez e que fará com quem o humor lhe ouriça ou lhe apporrinha: Sorrindo, diz que femea é só gallinha e macho é veadinho: si não dá por bem, vae dar na marra! A mente má do cara até mais suja é do que a minha! “Eu faço me chupar e, si não chupa, arranco o zóio!” E solta outra maluca risada: “Que nem eu, ninguem estrupa!” À toa não será lelé da cuca! Si tempo algum commigo o gajo occupa, -- Si ja for cego? -- indago, e elle retruca: “Melhor! Ponho de quattro, eu na garuppa, me exbaldo, como o cu, fungo na nucha!”


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DISSONNETTO DA RECIPROCIDADE [1187]

A cincta estalla, rapida. Na hora, a bunda do menino se advermelha. Depois, o pae o pega pela orelha e dรก-lhe dois cascudos. Elle chora. Mas nunca se arrepende. Logo, fora do alcance dos adultos, dรก na telha do infante a forra: alheio ao que acconselha o pae, quer descomptar, sorrindo, agora. As moscas sรฃo as victimas: espeta na bunda duma dellas um espinho, accerta bem no centro, direitinho, emquanto outras torturas architecta. Arranca-lhe as perninhas, faz carinho naquella cabecinha que jaz, quieta, talvez ja na cegueira mais completa, agora separada do corpinho.

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DISSONNETTO DO GRITO LANCINANTE [1191]

A avó beija a nettinha. Tanto a mima, que fartas guloseimas lhe prepara. A linda menininha sempre amara aquella, entre outros doces, obra-prima: Puddim de chocolate, que, por cyma, molhado está de calda! Emquanto appara na bocca a colherada, nem repara a infanta que uma aranha se approxima! Si foi caranguejeira ou foi epeira, é duvida que, inutil, se elimina. Subindo pela perna da cadeira, a fera alcança a coxa da menina. O berro A calda Levaram sem que

echoa pela casa inteira! respingou! Haja faxina! a menina, mas se exgueira, ninguem a visse, essa assassina!


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DISSONNETTO DO ADOLESCENTE COMMEDIEVAL [1207]

Serei, de agora em deante, vosso rei, vassallo masochista! Eia, humilhae-vos! Perdei, de vosso orgulho, quaesquer laivos! Meus tennis descalçae, e os pés lambei! De agora em deante, vosso rei serei! A subdito meu serdes condemnae-vos! De orgulho, de quaesquer laivos livrae-vos! Lambei meus pés, que os tennis descalcei! Vós fostes cavalleiro, e agora sois forçado a me tractar como deveis! Portanto, seguireis as minhas leis! Augmenta a hierarchia entre nós dois! Tractar adolescentes como reis vos cabe! Mandarei agora, pois! Curvae-vos! Não deixeis para depois meu beijapés! Ja tenho dezeseis!

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DISSONNETTO DA DEVASSA VASSALLAGEM [1208]

Sim, joven, eu serei vosso vassallo! Tractar-vos-ei com maxima humildade! Sollicito, farei tudo que aggrade [solícito] ao vosso pé: calçal-o e descalçal-o! Lamber vossa frieira e vosso callo é minha obrigação! Vossa vontade farei até que, um dia, ella se enfade da lingua que na vossa sola rallo! Si tendes dezeseis, ao que mandaes terei de obedescer, pois sobre mim podeis bem mais que sobre vossos paes e nada poderei achar ruim! Podeis vós dar risada dos meus ais! Fui, hontem, cavalleiro e espadachim, mas hoje sou, dos jovens joviaes, o servo masochista que a ser vim!


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DISSONNETTO DO SACRIFICIO PATERNO [1314]

Do parque as grandes arvores permeia os galhos um curioso emmaranhado de fios pendurados: o assustado passante percebeu ser uma teia! Em torno, a creançada se recreia aos gritos, desfructando o novo achado: aranhas a pullar por todo lado! Creança a tal perigo é mesmo alheia! Cotucam, com varinha, uma bichana, até que ella os attaque! A correria se segue, e tudo aquillo acham bacchana! A aranha não gostou dessa alegria. Impune ficará quem a attazana? Furiosa, ella se vinga: piccaria quem vem buscar os filhos e se damna, soffrendo em logar delles! Que ironia!

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DISSONNETTO DA PSYCHOLOGIA INFANTIL [1354]

O filho se pendura na cortina, remexe nas revistas, rasga varias. Não para de gritar, nos azucrina a todos, sem as redeas ordinarias. Quem vê tanto escarcéu, logo imagina: palmadas se fariam necessarias. Porem a mãe, que é gente nada fina, descuida e seu filhinho é como os parias. Enjoa-se das coisas o moleque, que vale, elle sozinho, por um bando e, sem que alguem uns tapas lhe sapeque, agora nas pessoas vae trombando. Insistem os psychologos que nada daquillo justifica, mesmo quando passou de qualquer poncto, uma palmada. Razão perdem, si a mãe perde o commando.


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DISSONNETTO DA BARATTA EMBARAÇADA [1362]

Andavam, na calçada, mãe e filha. Sahida do boeiro, uma baratta nojenta, gigantesca, mal se pilha no pé da garotinha, a marcha engatta! Subindo pela perna, na armadilha das roupas fica presa! Muito ingrata, aquella situação: não desvencilha as pattas, nem que puxe e se debatta! A filha berra, pulla, em desespero! Não entra alguem em panico? Pudera! A mãe logo percebe que exaggero não era. Assim, tambem se desespera! Mas, quando a barattona, mais medo tendo feito do estava pelladinha, ja, a causando os commentarios

emfim, fugia, que fera, gurya, da gallera...

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DISSONNETTO DO BICHINHO QUE SE MEXE [1387]

Bebês, engattinhando, na tomada bem rapido collocam o dedinho. A poncta da toalha, si puxada, da mesa tudo arrasta, rapidinho. Um delles pelo chão anda e se enfada de coisa inanimada. No caminho, advista uma aranhona sob a escada e della se approxima, coitadinho. Com isso se impressiona até você? A aranha, lentamente, move as pattas, alheia às attitudes insensatas taes como as brincadeiras dum bebê. Então nenhum descompto você dê, pois, quando a creancinha aquillo aggarra, mamãe logo attenção presta na marra, os olhos desviando da tevê.


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DISSONNETTO DO SUMIÇO SUSPEITO [1446]

Sumiu a menininha! Não se explica como é que uma creança tão pequena assim desapparesce! A midia é rica em casos desse typo, e forte a scena. Hypotheses se adventam: a pudica sustenta que ella appenas se aliena na mente, emquanto a suja identifica pedophilos na acção que se condemna. Apponctam na policia Emfim, reapparesce a na casa duma thia e, de tragico occorreu,

muito attrazo. procurada ja que nada se exquesce o caso.

As coisas só dependem dum acaso. Assim, quando o cadaver é encontrado em decomposição, pôr num tarado a culpa é ramerrão rasteiro e raso.

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DISSONNETTO DO ESTUPRO SEM ESCRUPULO [1447]

Não dá para entender como é que alguem procura num bebê carnal prazer! Peor ainda é quando o cara, alem do estupro, tudo filma e quer rever! Depois, commercializa a quem tambem partilha sua tara: seu poder se exerce sobre aquelles que não teem defesa e nada podem entender. Alguma covardia achou você? Covarde, não ha duvida, é o subjeito e quando, emfim, o prendem, é bem feito si o lyncham os detentos no DP. A scena não exhibem na TV: Talvez, antes da morte, o gajo sinta no fundo da garganta o que são trinta centimetros de rolla num bebê.


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DISSONNETTO DA PORCELLANA INGLEZA [1448]

O pratto na parede fica lindo: de fina porcellana, traz, pinctado no fundo e em toda a volta, num bemvindo azul aos nossos olhos, delicado... Desenho: em meio a arbustos que, florindo, decoram vasto campo, vê-se, ao lado da estrada, um castellinho que, ruindo, preserva a torre e o gothico telhado. A bolla, que o moleque chuta, accerta em cheio, da janella vinda, aberta, a louça, que se expalha, estilhaçada, tal como alguns cascalhos na calçada. Silencio. A mãe accorda do cochilo e vê no chão o estrago. Bem tranquillo, addentra o filho, e diz que não fez nada. Ha quem tal argumento persuada?

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DISSONNETTO DO CORPO DISCENTE [1513]

Aquelle professor não dá bandeira, mas gosta de meninos. Mal na salla entrou, vê que se senta, na charteira da frente, um molecote cuja mala... Maior que a dum adulto! De maneira discreta, põe-se o mestre a contemplal-a. Ninguem evita, mesmo que não queira, olhar como advoluma-se e se entalla. Nas calças do garoto, o grande porte daquella adolescente e viva vara paresce até que augmenta! Firme e forte, aguenta o professor, que se sentara. Procura, entre as alumnas, qual attrae os olhos do moleque e sua tara, mas dellas foge o foco e, então, lhe cae a ficha: é o proprio mestre que elle encara!


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DISSONNETTO DO CORPO DOCENTE [1514]

Difficil situação! A classe inteira agguarda repetir-se aquella falla monotona do mestre. A brincadeira cessou: a turma toda ja se cala. Tentando desviar, o olhar se exgueira à mala do moleque, e se arregala. “Quem leu o que passei na sexta-feira?” Si veiu alli dar aula, o jeito é dal-a. {Eu li!}, diz o membrudo. {Entendi tudo!} Por pose mais formal que alguem fizesse, o mestre se perturba, mas o escudo é sua posição: “Então comece!” O alumno se levanta. Agora, sim! Si ainda tinha escrupulos... Exquesce! O penis salienta-se! {Ja vim sabendo o que o senhor quiz que eu fizesse...}

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DISSONNETTO DO INFERNO INFANTIL [1515]

Inferno da creança: em pesadello, estava o garotinho à mesa posta. Seu pratto era espinafre! Não comel-o implica outro castigo: comer bosta! Alem de fria estar, mais do que gelo, a verde refeição inclue a posta de peixe mais nojenta vista pelo menino! Nisso a bocca não encosta! Ninguem, durante o sonho, teve pressa. Então vem o peor: tiram-lhe o pratto que ousara recusar! De immediato, lhe trazem o cocô numa travessa! Agora, sim, entrou o que interessa! Toletes bem rolliços, cor de terra! Recua, nauseado! Não se encerra, porem, o pesadello! O horror não cessa!

GLAUCO MATTOSO


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DISSONNETTO DA FREGUEZIA MEHUDA [1640]

Quindins e queijadinhas não são tudo. Do coco se faz, antes de mais nada, a celebre cocada, que um cascudo da velha nos prohibe ser roubada! Mas somos uma experta molecada e, alem de estarmos pessimos no estudo, mais que optimos no roubo da cocada gabamo-nos de estar! Falta o canudo! Que pequem! Eu tambem por doces pecco! Assim, mal a doceira se distrae, algum de nós lhe furta o doce e sae, mais que furtivamente, do boteco. Comptado direitinho cada teco, reparte-se a cocada. Agora é a vez dum outro, que faz, como bom freguez, no mesmo taboleiro o repeteco.

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DISSONNETTO DO PAPEL DE DESTAQUE [1646]

A folha de papel, que se soltara da mão da menininha, foi pousar no pateo do outro predio, mas tomara que eu possa descrever seu “tour” pelo ar! Primeiro, ella voou directo para a frente e, de repente, ao seu logar de origem quiz voltar. Mas deu de cara com vento opposto, e poz-se a espiralar. Partiu do quincto andar, mas, até ter pousado sobre a lage, seu fluflu de tantos rodopios deu prazer a quem a accompanhasse a olho nu. A proxima folhinha ella ja ia soltar, para planar feito urubu nos céus, quando a mão rapida da thia lhe toma a grana e evita mais preju.


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DISSONNETTO DO PEPINO TORCIDO [1688]

“Meu filho é um damnadinho! Que moleque! Ninguem pode com elle! Quebra tudo!” Assim diz o papae, e põe em xeque a propria auctoridade, o cabeçudo. Chamar “demolidor”, em meio a um leque de termos tolerantes, é o escudo attraz do qual se esconde quem não breque os impetos dum filho ‘inda mehudo. Na cara alguem precisa que se exfregue. Depois de grande, sendo independente, que saia, si não quer ser residente da casa em que o pae manda e o pão consegue. Mais tarde, irá ao diabo que o carregue. Mas, si é pequeno, imponha-se ao menino o pae que deu o pão: lhe dê o ensigno, a menos que elle proprio seja um jegue.

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DISSONNETTO DO PEPINO DISTORCIDO [1691]

Ha casos em que o pae ensigna o filho, desde pequenininho, a ser ladrão. Treinada no manejo do gattilho o joven bandoleiro tem a mão. “Quer estuprar? Estupra!”, é o estribilho do velho... “Mas não macta!”, este o refrão. Em vez de viver pobre e maltrappilho, agora anda o garoto de carrão. Sim, elle de bandido tem o faro! Nem “de maior” ainda, ja assessora quem quer mactar os paes...E não demora irá mactar tambem o seu, é claro! É sempre nesse poncto que eu reparo. Pois é: quem sae aos seus não degenera. Filho de peixe não se regenera, excepto ao ser eleito... mas é raro!


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DISSONNETTO PARA UM BEBÊ CHORÃO [1747]

Emquanto o bebezinho dorme, os dois recemcasados trepam. De repente, no meio da chupeta, param, pois accorda o fofo e chora, descontente. Na hora o gajo brocha! P’ra depois ja fica aquella foda! A mãe se sente forçada a outra chupeta, e o nome aos bois convem que se lhes dê na voz corrente. Por codigo um calão não se permuta. “Chupeta” a gente “dá” para a creança, mas “faz” quando o chupado só descansa depois de ejacular, como um chicuta. Quem preza seu orgasmo não relucta. Si o gajo não gozou, tanto peor! Agora o bebê sabe ja de cor os termos da expressão “filho da puta”.

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DISSONNETTO PARA UMA MENINA DOENTE [1755]

Tem medo de injecção, essa menina que a mãe leva à pharmacia e necessita de longo tractamento. Nem vaccina supporta a pobrezinha! Ella está fricta! Lhe appalpa o pharmaceutico a suina bundinha, e manda ver! A pobre grita, debatte-se, urra e, só quando termina aquillo, volta à pose mais bonita. Então ninguem mais diz que uma syringa, da qual, sorrindo, o medico nos falla, lhe mette tanto medo, pois se vinga pedindo à mãe que compre doce e balla. Em casa, sente a bunda quando senta até numa almofada alli na salla e pensa na maneira violenta do gajo da pharmacia ao aggarral-a.


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DISSONNETTO PARA UM SABOR DIVIDIDO [1859]

“Sem bocca!”, advisa logo o molecote aos outros garotinhos. Isso evita pedidos para que divida em lote e compartilhe alguma coisa fricta. Si rouba aquelle doce que, no pote, aguça-lhe a cobiça, o que lhe excita o orgulho é não deixar que ninguem bote a mão nelle ou “Dá um teco!” alguem repita. Ninguem está ligando para a rhyma. “Fominha! Não reparte com a gente!”, reclama a molecada que, insistente, persegue o detentor da guloseima. Por fim a molecada desanima daquillo: o egoista come tudo sozinho! Mas si um gajo mais marrudo vier pedir, dá rapido e nem teima.

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DISSONNETTO PARA UMA CORREIA CORRECTIVA [1901]

O pae desapta a calça, tira a cincta e batte. Evita o choque da fivella, de modo que só dor o filho sinta: que surra memoravel foi aquella! “Si fosse sempre assim”, diz elle, “extincta estava a distorção que se revela em nossa sociedade: hoje, quem minta terá maior conceito e poder nella...” A pae nenhum jamais eu acconselho. Eu não generalizo, mas admitto que appenas um pedido, ou mesmo um pito, não chega a convencer nenhum fedelho. Emquanto vi, mirei-me num espelho. Si filhos eu tivesse, com certeza poria minha cincta sobre a mesa e, da segunda vez, descia o relho.


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DISSONNETTO PARA UMA OVELHINHA DESGARRADA [2035]

Mas que menina linda! Venha ca! Aqui, com o tithio! Qual é seu nome? Cadê sua mamãe? Vae voltar ja? Não fique preoccupada! Ella não some! Mamãe lhe dá presentes? Papae dá? E que mais quer ganhar? Quer balla? Tome! Alli vendem brinquedos! Vamos la? Tambem vendem pipoca! Está com fome? Que foi? Não é com força que eu aggarro! Me dê a mãozinha! Assim! Está com medo? Tithio não vae morder! Ainda é cedo! Que tal dar um passeio no meu carro? “Mamãe, foi assim mesmo como narro! Foi elle, sim, mamãe! Quiz me foder! Babaca! Accreditou que tem poder de seducção? Em velho eu não me admarro!”

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DISSONNETTO PARA O PRESENTINHO DO FILHO [2048]

Meu filho, olhe esse livro! Que bonito! Tem tanta figurinha! E si o papae comprar para você? Veja! Está escripto seu nome! Você vae querer, não vae? Ah, não! Cê não gostou? Não accredito! Repare nessa cappa! O bicho sae até de la de dentro! Não imito aqui, porque, si tenta, o papae cae! Então ja vou comprar seu exemplar! Assim, ja combinamos, né, filhão? Papae lhe dá bom livro, e você não insiste mais naquelle cellular! “Enfie isso naquelle seu logar! Não quero! Si não compra meu presente, eu roubo, eu macto, eu fico até doente! Eu subo no telhado e vou pullar!”


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DISSONNETTO PARA UM MOLEQUE TRAVESSO [2073]

Famoso, até demais, esse moleque! Nem cinco anninhos tem, e ja seu nome repete-se, gritando, até que seque nas boccas a saliva... Que renome! É “Lucas, vem aqui!”, “Lucas, não some!”, “Luquinhas, por favor!”... Quem lhe sapeque uns tapas gritará, com gosto, “Tome!”, alem dos palavrões que a lingua impreque. Alguem quer tal creança como sua? Traquinas, o menino desaffia qualquer auctoridade, e a gritaria de “Lucas!” e “Luquinhas!” continua. Surrar, quem ja tentou, hoje recua. Legal vae ser mais tarde, quando o cara, num carro ou numa moto, ja dispara, sem ver signal vermelho, pela rua.

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DISSONNETTO PARA QUEM ESCREVE CERTO POR LINHA RECTA [2078]

No andar de cyma, arrastam a cadeira, derrubam coisas, battem portas... Quem mais causa o pandemonio todo beira os dois ou trez anninhos... Vae e vem. E pulla, sapateia... Não ‘stão nem ahi seus jovens paes, cuja caveira quer ver quem mora embaixo e do nenen tem odio, odio mortal... Sem brincadeira! Um dia, a praga pega! Vê o pestinha que aberta está a janella... Algo lhe aguça a van curiosidade... Elle engattinha por cyma da poltrona e se debruça. Despenca que nem peixe na cascata, espectacularmente (dirá “Nussa Sinhura!” a velha russa) até que batta no pateo e se exborrache bem de fuça!


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DISSONNETTO PARA UM PARALYTICO VERIDICO (I) [2343]

Uma paralysia é tão damninha que incute na creança o sentimento masoca. No momento, estou attento ao caso do menino que engattinha. De quattro, não: de rastro! Que excarninha imagem! Quem perder o movimento nas pernas, só rasteja, como o Bento: em volta delle forma-se a rodinha. Diverte a molecada que no skate o timido garoto, com as mãos, se exforce, o corpo sobre a prancha deite e ralle seus bracinhos pelos vãos. Aquillo dos collegas é deleite. Na escada, a prancha micha mesmo! Os sãos moleques dão risada: elle que acceite sujar-se, entre os degraus, de pó nos grãos!

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DISSONNETTO PARA UM PARALYTICO VERIDICO (II) [2344]

Não basta tirar sarro: a molecada quer mesmo é que o Bentinho se degrade. Assim, cada moleque como Sade se sente, ao encontral-o alli na escada. “Tá sujo ahi, capacho?” Ao Bento nada humilha mais que estar, pouco à vontade, aos pés de quem não mostra piedade e gosta de chutar ou dar solada. “Tá forte o cheiro ahi?” E, emquanto a bicca cotuca sua bocca, um de chinello lhe exfrega o pé na cara e rindo fica, um pé que é tão fedido quão magrello. A scena, a mim, paresce ‘inda mais rica. Ao Bento, sem defesa, um parallelo commigo até que calha, e tiriryca tambem fiquei, mas hoje os gajos fello.


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DISSONNETTO PARA UM FOLGUEDO INFANTIL [2542]

Da infancia o que a memoria ainda grava, alem das brincadeiras que um estudo folklorico qualquer troca em mehudo, é um nada ingenuo jogo que rollava. Treinando uma creança a ser escrava na mão do mais travesso ou mais parrudo, o jogo era chamado, então, de “tudo que seu mestre mandar”. E elle mandava! Passei por outras coisas, mais pesadas, mas vi quando occorreu com um moleque menor, que executava as ordens dadas sem nada de immoral que o gozo breque. Que fique de joelhos nas calçadas! Que lave o pé do mestre, enxague e seque! Que enxugue e massageie! Das risadas me lembro: ‘inda a mão fazem que eu melleque.

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O PEIXINHO E O PATINHO [3445]

Junior sadico, sou filho do patrão, cujo sobrinho, que adoptou, é maltrappilho, de paes orpham e ceguinho. Desse invalido eu me pilho a abusar, rindo, excarninho. Me divirto emquanto o humilho, pondo pedra em seu caminho. Diz papae: “Fique à vontade, brinque mesmo, não se importe, se approveite delle!” E em Sade me transformo, por esporte. A ser bicho e a me chupar, ja que sou mais alto e forte, o ensignei, pois seu azar só reflecte a minha sorte.

GLAUCO MATTOSO


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PROTECÇÃO (SUPER) LEGAL [3446]

A creança ja podia aggredir os paes, que nada contra ella accontescia, mas a lei foi reformada. Filho, agora, até com fria intenção, e calculada, macta, estupra, sevicia, sem levar, siquer, palmada. Nenhum sancto mais accode. A mamãe diz “Não faz isso!” e o moleque o mau serviço mais completo fazer pode. Mais na salla vem o Antes, só surrava a hoje, é “puta” como e seu cu, na marra,

bode. mamma; a chama fode.

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MOTIVO COLLECTIVO [3449]

Dá risada a molecada que se juncta alli na rua. e a turminha agglomerada gargalhando continua! Mas não dá para ver nada de engraçado... Alguem actua? Que attracção! De todo lado ja não ha quem não afflua. Que será? Tambem eu quero accorrer e, sem tardança, ver si aquillo não é mero passatempo de creança. Me approximo e, emfim, consigo ver onde é que a vista alcança. É que delles o inimigo numa forca, nu, ballança!

GLAUCO MATTOSO


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PUTA DE RECRUTA [3450]

Foi suffoco, na Argentina, o regime militar! Torturou-se até menina bem novinha! Vou contar: Estudante, ella termina como puta em lupanar: admarrada, se destina a morrer e, antes, chupar! Que nem pense em ser experta! Ja tapado o seu nariz, a coitada ainda quiz respirar de bocca aberta. Bocca assim é como offerta! Um soldado, até a goela, mette a rolla, que ella fella. Si demora, a morte é certa!

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ABSCESSO EM EXCESSO [3516]

A cabeça sempre tonta tem o pobre adolescente: elle ja perdeu a compta das espinhas pela frente. Mal desperta, com mais uma: vê no espelho amarella, e a

se defronta de repente, aquella poncta sente quente.

Seu dedão virou cutello! Expremel-a elle, depressa, quer: precisa ver-se dessa excrescencia livre e bello! Mas pinctou o parallelo: No café, seu nojo cresce! o ovo fricto, lhe paresce, tem egual creme amarello!

GLAUCO MATTOSO


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SYLVINEY, O FORA DA LEI [3567]

Sylviney, menino feio, judas é da molecada. Leva um chute, bem no meio da gymnastica, por nada. Ja na classe, leva em cheio na cabeça a bofetada. Leva surra no recreio. Virou sacco de pancada. Quem conhesce ja repara. Os moleques, ao que sei, discriminam Sylviney pelo nome, mais que a cara. A razão paresce clara. Um se chama Dagoberto, outro Alberto, outro Roberto, e um com outro se compara.

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SYLVINILSON, SEM BOM TOM [3568]

Sylvinilson é moleque bonitinho, mas peralta. Vez não falta p’ra que peque. Aos deveres sempre falta. Quando fica de pileque, palavrões grita e se exalta. Não ha litro que não seque de cachaça, em meio à malta. Recolher-se é bom conselho. Foi-se embora, agora, a turma e, na praça, caso durma, corre risco o rapazelho. O tesão sempre Si outra turma e um bebum não lhe admanhesce

é parelho. o surprehende se defende, o cu vermelho.

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DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

MENINO MIMADO [3959]

Um moleque pede ao pae que lhe compre uma chibata. “Mas p’ra que? Que é que cê vae appromptar, hem?” É batata: {Vou batter! É o que me attrae!}, falla o filho ao pae, na latta. Quando a ficha, emfim, lhe cae, pede o pae: “Ai! Não me batta!” Mas sahiu-lhe de encommenda, pois é tarde: o filho applica nelle o relho, até que a picca enduresça, goze e penda! Lhe bastou? Que se arrependa! Bello methodo de ensigno, dar um latego ao menino, si o papae for quem apprenda!

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MENINA MIMADA [3960]

A filhinha à mãe pedia, insistente, uma boneca. A mamãe resiste, addia, mas, emfim, ja não diz “Neca!” A boneca, que queria a menina, até defeca! Peida, arrocta, o dedo enfia no nariz, tira melleca. Ja sumiu outra canneta! Bem que a mãe desconfiava: quer a filha ter a escrava que fiel ser lhe prometta. A canneta foi veneta: Por um lapis penetrada no cuzinho, a Barbie aggrada, com a lingua, outra boceta.

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LEGITIMA VICTIMA [4111]

“Não, Junior, por favor!”, a mãe supplica. Por lei, ella não pode nem a voz erguer para a creança, como nós sabemos, e o menino arteiro fica. A louça quebra toda, alem da rica garrafa de crystal e, logo appós, inventa diabrura mais atroz, capaz de até chocar a dona Chica. Trepando na cadeira, faz o gatto entrar no microondas! Fica vendo passar na “tela”, ao vivo, o assassinato! Quem é que impedirá mais esse addendo? Qual lei contemplar pode infantil acto? Não ouse a mãe punil-o pelo horrendo folguedo, que elle grita: “Agora eu macto você! Quer me batter? Eu me defendo!”

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PESTE INCONTESTE [4567]

“Eu acho “Adoro o “A minha “Não tem

o meu filhinho uma gracinha!” meu filhão, acho uma graça!” filha arrasa quando passa!” filha mais linda do que a minha!”

Ninguem chama seu filho de pestinha, nem ha mãe que da filha idéa faça ruim. Somente aos outros essa raça damninha mostra as garras e apporrinha. “Pestinha” bem define. Elles são praga do inferno, mesmo quando em berço nascem dourado: a mãe, mimando, é que os estraga, ainda quando os outros estragassem. Qual mãe mesmo um bandido não affaga? Si filhos tão queridos não bastassem, na rua alguns estão, cobrando a vaga, sem paes que na cabeça a mão lhes passem.


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MYSTICA EUPHEMISTICA [4683]

Agora, os bullyingueiros são, em classe, quem manda e quem desmanda. Ai do coitado que, sendo differente, foi visado por esses vandalinhos! Que mal passe! Sadismo é um sentimento que renasce a cada geração. Expezinhado, às vezes o mais fracco assume o lado masoca, aos pés se presta a dar a face. Me contam que, do typo, muitos são os casos. Os entendo, pois tambem fui victima, levei muito pisão, de sadicos moleques fui refem. Pisou no menininho o meninão. Appenas não chamavam “bullying”, nem achavam que “zoar” fosse assim tão damnoso... Era normal zombar de alguem.

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PUXAÇÃO DE SAQUINHO [4716]

Na porta das escholas, pipoqueiro é coisa que não falta. À noite, quando cursei eu o gymnasio, havia um bando em volta do carrinho o tempo inteiro. Faltava luz na rua, mas o cheiro gostoso da pipoca ia chamando a gente. Unico foco, illuminando o muro escuro... e estava eu sem dinheiro. Mamãe nem sempre dava-me um trocado. Então, apparescia algum collega mais velho, sempre attento, do meu lado. Alem de proteger-me na refrega... Com outros molecões, elle, abbonado, pagava-me um cartucho: o amor não nega nem isso, que é barato, nem negado me foi, mais tarde, um beijo em prompta entrega.


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PIPOCA QUE PROVOCA [4717]

Fallando em pipoqueiro, que bom era olhar o chafariz dessa pipoca, jorrando no carrinho! Até colloca a gente o narigão nessa paquera! No vidro illuminado, quem, à espera está do seu cartucho, o nariz toca: é como quem namora, a olhar, masoca, aquillo que fascina uma gallera! Explica-se: o tamanho do cartucho, pequeno, mehudinho, mal sacia a gente, nem preenche o nosso bucho! Por isso, mal findavamos um, ia... Alguem pôr o nariz, algum gorducho, de encontro ao vidro, olhando: era mania! Aquelle foi, de infancia, nosso luxo que, em plena adolescencia, mais seria.

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ANXEIO POR ASSEIO [4728]

“Mamãe, ja fiz! Me limpa a bunda?” E vem, correndo, a mãe limpar a suja bunda do filho mimadinho! Aquella immunda bundinha a mãe exfrega, limpa bem. Crescido, o cara ainda que é nenen se julga! Mal de merda o vaso inunda, ja chama a mãe, que accorre e nem segunda chamada agguarda: nisso prazer tem. Ficou até ridiculo: o filhão levanta da privada e a mãe lhe passa, no rego cabelludo, a fina mão que de fina champanhe empunha a taça. Cuidado sempre toma, alguns dirão. Papel, usa bastante, mas tem graça aquillo: sempre sujos ficarão seus dedos, caso molle o filho faça.


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ATMOSPHERA SATURADA [4747]

Não ha coisa melhor que pregar peça nos outros. Assim pensam os sobrinhos, nem só do Capitão, mas meus vizinhos, os filhos dum juiz... Aguentem essa! Pestinhas, elles fazem, rindo à bessa, miseria aqui no predio! Uns excarninhos gritinhos eu escuto, si os anjinhos estão brincando, e a queixa nunca cessa. Inutil reclamar, pois o juiz se julga, dos mortaes, um tanto accyma e um filho seu não erra, é o que elle diz, sem chance de esperarmos que os reprima. Appenas toleremos os gurys! Reclamem, pois! A raiva mais anima a dupla de pestinhas! Ser feliz, apprendem ambos, é fechar o clima.

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PRESENTES IMPORTADOS [4748]

Empunha uma espingarda de chumbinho o joven, que de media classe é filho. Sem pena, mette o dedo no gattilho e attinge, da janella, um garotinho. E accerta em outro, em outro... No caminho, quem entra, alvo se torna! Até me pilho com raiva, como aquelles que no milho fazel-o adjoelhar-se acham pouquinho! Pegal-o todos querem! Affinal, percebem de onde partem os disparos! Depois, sae a noticia no jornal, devida aos columnistas de bons faros. Ommitte-se, entretanto, o tal local. Lyncharam o rapaz! Não são tão raros taes factos... Alguns acham: foi fatal comprar, para o filhão, brinquedos caros.


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ASSISTENCIA TECHNICA [4767]

Voou, pela janella, uma boneca novinha, arremessada pela mão da linda menininha. Faz questão, não dessa, mas daquella, a tal sapeca! Quem mima uma menina é quem mais pecca naquelle appartamento: a mamãe não lhe nega nada! Agora, quantas são, jogadas, as bonecas? Alguem checa? Não passa uma semana e, da janella, mais uma voa! E cara, das de griffe! “Não quero mais! Não esta! Eu quero aquella!” Podia ser doada a alguem que rife... Podia ser um premio na favella... O astuto vendedor, esse patife, convence a garotinha: {Esta é mais bella!} Aos paes, nada garante, caso pife.

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CARA DE TACHO [4823]

A mamãe quer que o nenen a pappinha coma, insiste. O nenen paresce sem fome, e cara faz de triste. A colher na mão ja tem a mulher. De dedo em riste, admeaça: que ninguem, nem nenen, as mães despiste! Mas creança não appanha! Vira o rosto, chora, grita o garoto, mas a fita não convence, é pura manha. O desfecho não extranha. Affinal, da pappa o pratto, cheio ainda, desse ingrato a mãe pela cara ganha.

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ACCENOS DE VENUS [4831]

A menina, quando dorme, a mão bota na chochota. Algo appalpa que é disforme e de dentro della brota. Que algo nella se transforme o symptoma ja denota. Desponctou-lhe um grelo enorme! Si contar, fazem chacota. Às cantigas haja appello! Batatinha, quando nasce, é difficil que ultrapasse o tamanho desse grelo. Femeas ha que querem tel-o. Aos poetas, a menina rende a glosa fescennina que os consagra ao descrevel-o.

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VANDALO SEM ESCANDALO [4842]

A mãe delle sempre adverte: não brincar no elevador acconselha. Ha quem conserte um moleque malfeitor? Vendo todo mundo inerte, o menino ha de suppor ser impune. E se diverte nos botões, quando la for. Que delicia! Que emoção! Dos andares todos, sem titubeio, é o proprio quem appertou cada botão. Eguaes todos elles são. Quem subir ou quem descer saberá quanto prazer sente, nisso, o brincalhão.

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INNOCENTE RHYMA COM INCLEMENTE [4945]

Partiu bella fatia. A filha, olhando. Cruel, a mãe a admarra. Come, então, o bollo bem na frente della! O olhão da pobrezinha cresce, gottejando. Repete a mãe o bollo! Appenas quando se sente satisfeita, para. Em vão, a filha chora, implora, extende a mão. Não pode, accorrentada, estar gostando! Commentam os vizinhos que é castigo, por causa das terriveis diabruras da “peste”. Mas crer nisso eu não consigo! Quem é que pune impondo taes agruras? “Passar sem bollo!?” -- Penso, ca commigo... Alguem me deu noticias mais seguras: Foi victima de estupro, dum mendigo, aquella mãe... Vingar-se quer, faz juras.

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ANJOS DA VELHA GUARDA [4950]

Pagou e foi embora. No caminho, deixou cahir o troco. Viu alguem aquillo e foi correndo dizer “Tem dinheiro seu no chão!” ao molequinho. Voltou este e pegou seu trocadinho, sorrindo: {Ei, obrigado! Ainda bem, senhora, que viu tudo!} Mas tambem viu isso outro moleque, um mais damninho. Assim que se affastou a bemfeitora, brigaram os meninos! O segundo, roubando do primeiro o “ouro”, se fora. Assim sempre rollou tudo no mundo. Exsiste conclusão compensadora? Voltando ao bar a victima, do fundo do peito, exgoelou! A protectora mão dum bebum limpou seu ranho immundo.


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IRRA! QUE BIRRA! [4975]

Correndo, vem a filha. Corre e chora. Manhosa, qualquer coisa a faz chorar. Não sente dor: só tenta impressionar. Si a mãe lhe diz “Não chora!”, só peora. Vizinhas ja disseram: {A senhora precisa se impor! Quando ella levar castigo serio, pena que exemplar effeito tenha, a manha vae-se embora!} No entanto, a mãe relucta: tem receio de traumas provocar numa menina mimada que, a chorar, ao mundo veiu. Quem é que, em seu logar, a recrimina? De mães assim o inferno está ja cheio. Ou ella educa e, logo, disciplina a filha, ou, no futuro, nenhum freio terá sua coceira na vagina.

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PIMPOLHO OU TRAMBOLHO? [5055]

Do collo da mamãe o bebê passa aos braços da vizinha: “Que gracinha!” Começa a chorar. Rapido, a vizinha devolve à mãe o filho: accaba a graça. Os outros pegar querem. Caso faça cocô no collo alheio, ai, adivinha a scena! Não tem graça quem a tinha! Nos livre Deus que um filho nosso nasça! Na fralda, aquelle creme de abacate! Às trez da madrugada, a choradeira! Dor sente? O bebê berra e se debatte! De estresse total fica a gente à beira! Assumpto não tem sido, pois, do vate. De longe olhando, é facil que alguem queira pegar no collo, e photo que o retracte não falta, a rir, pedindo a mammadeira!


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NOVAS TURMAS [5069]

Entrou o professor na salla. Estava a classe na algazarra. Ouviu risada em grossa voz, zoando, e viu que cada marmanjo se attrazava alli, na oitava. Tentou se impor, fazendo cara brava, e nada: gargalhava a molecada. Zangou-se, admeaçou, como aula dada, cobrar toda a materia que lhes dava. Mas, antes que sahisse, uma rasteira prostrou-o. Viu os tennis ao redor da cara. Cafungou-lhes na biqueira. Sentiu, até, das meias o suor. Aos olhos notou que seria que da morte,

juvenis da classe inteira, um pé daquelles bem maior seu proprio. Esteve à beira aos pés dum bando “de menor”.

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CHORÃO SEM CHORDÃO [5086]

Vestindo fraldão branco, chupetão gigante pendurado no pescoço, ser finge bebezinho esse colosso de macho, convertido em folião. “Mamãe, não vem brincar no meu chordão?”, diz elle, no seu jeito chucro e grosso, às moças, que respondem: {Nossa, moço! Sae dessa! Não tem outra, moço, não?} Problema semelhante enfrenta quem, até no Carnaval, infantilista pretende ser, fazer-se de nenen. O gajo muito dá, mesmo, na vista. Quem é que emballa aquelle? Emballa alguem? Ainda que elle chore, peça, insista, mulher nenhuma encontra que, por bem, palmadas dê num orpham masochista.


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ATTRACÇÃO EXTRA [5100]

No parque disneylandico, o brinquedo mais alto e perigoso é o que mais tempta meninos e meninas. Uma senta na sua cadeirinha. Ri, sem medo. Se move a geringonça, um arremedo de torre e elevador. Depois da lenta subida, a tralha, em queda violenta, abbaixo vem. O publico está quedo. Bem vivos restariam todos, mas um corpo projectou-se e, exborrachado, vertendo muito sangue, no chão jaz, deixando todo mundo salpiccado. O riso da menina foi fugaz. “Não olha! Sae daqui!”, repete, ao lado da morta, um pae ao filho, que se faz de surdo e fica olhando, impressionado.

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TACTICA AQUATICA [5101]

Ao vel-o sentadinho, tendo, ao lado, da eschola o material, a mulherada apponcta, pois a todas elle aggrada: “Que lindo! Que menino comportado!” Paresce bom menino. É bem damnado, porem, e nadador! Ah, como nada bem, esse garotinho! Não ha nada no mundo tão bom como estar a nado! Ah, quando esse menino vê piscina, não pode se conter e doido fica, se assanha! Ao pullar n’agua, elle salpicca quem perto esteja, exhibe-se, fascina! Na sunga, se advoluma a sua picca, talvez por advistar uma menina nadando... Ou vendo as bichas, imagina a bicha fofoqueira, que fuxica.


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CILADA ASSUCARADA [5250]

A velha, envenenando uns brigadeiros, vingança planejou contra a vizinha. Na caixa ella os colloca, uma fitinha bonita admarra e, assim, dribbla os porteiros. À filha da vizinha, lisonjeiros presentes elles são. Nem adivinha que victima ella seja da mesquinha senhora... e os brigadeiros come, inteiros! Os damnos são certeiros: fica em coma e quasi morre a credula menina, mas (pasmo eu) resistiu! Alguem me embroma? Alguem coisas erradas imagina? Verdade! Por verdade é que se toma! Foi facto, me confirmam. Qual vaccina terá tanta tranqueira que ella coma, si fracco effeito adveiu da toxina?

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DISSONNETTO DUMA VINGANÇA DE CREANÇA [5309]

Não fiz nada, mamãe, juro! É exaggero da vizinha! Só deixei ficar no escuro o filhinho della! Eu tinha! O moleque pegou minha bicycleta! Não atturo isso! Então, com a ponctinha duma faca, fiz-lhe um furo! Foi pequeno o meu perigo! Foi num olho só! Mas, ja que ella disse que elle está totalmente cego, eu digo: Não se metta alguem commigo! Completei, mesmo, o serviço! Quem mandou fazerem disso um motivo de castigo?


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DISSONNETTO DUM TRAUMA QUE TRAVA [5351]

Professor, agora, appanha dos alumnos! Si um moleque nota baixa delle ganha, perde o medo e perde o breque! Não se inhibe nem se accanha: nada impede que sapeque nelle a surra que, tamanha, difficulta que defeque! Sociaes são as questões. Quando a surra é na peripha, o moleque ainda grypha ponctapés com palavrões! “Seu cuzão!” Tome pisões. “Seu veado!” Pé na cara. “Puto! Bicha!” Ninguem sara dum chutão em seus colhões.

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LEI DA PALMADA DE MURPHY [5589]

Mamãe, que seu filhinho não com todo o jeito pede. Mas, capricho, o filho grita com “Não quero, mãe! Não quero,

maltracta, por mero voz chata: mãe! Não quero!”

Fingindo não ouvir sua bravata, com toda a paciencia nesse lero insiste ella, mas ouve a phrase ingrata: “Não quero, mãe! Não quero, mãe! Não quero!” Papae, que julga aquillo ser mammata, quer ordem e intervem num tom severo. O filho, mais gritando, o pae destracta: “Não quero, pae! Não quero, pae! Não quero!” Si filho meu assim me desaccapta, sabendo que tal coisa não tolero, a chance de que nelle eu nunca batta será, naturalmente, egual a zero.


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TROCA-TROCA [5608]

Amigo meu, machão, me diz que evoca seus tempos, ja distantes, de creança e, rindo, um desaffio serio lança: -- Quem é que não brincou de troca-troca? Assumpto collegas da firma a phrase

mellindroso! Aquillo choca de trabalho. Um segurança de citar jamais se cansa do patrão que não se toca:

-- O cara até confessa que mais deu o cu do que comeu! Como que pode? Subjeito de respeito não se fode assim! Vergonha alheia vou ter eu? Mas, graça achando, o macho faz que seu rival mais ciumento se incommode, pois sabem quem fez barba, fez bigode, cabello quem fez. Sabem quem cedeu.

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TURMA DO MALÃO MAGICO [5662]

Ficou Justin grandinho demais para servir de bonequinho pros seus teens. Agora chega a Greta, que mirins anxeios representa com voz clara. A Barbie, superada, ja nem tara desperta, ja nem mancha jovens jeans. A nova bonequinha tem mais fins, mais meios, à Madonna se compara. À parte quem moral qualquer não tem por ser bolsonarista, acha a platéa babaca que faz Greta muito bem em seu papel, com manha, na Assembléa. Bonecos de ventriloquo, ninguem os pode condemnar. Bem peor é a massinha de manobra. À mente vem: “Bilu, bilu, bilu! Bilu, tetéa!”

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LETTRINHAS E LETTRAÇAS [5725]

Às creanças sou auctor pornographico demais. Mesmo assim, pude compor versos meio angelicaes. Deu a critica valor quando fallo de animaes. Fui feliz, si um basset for bom assumpto e encante os paes. Mas os livros infantis não são mesmo minha praia. É, dos themas, infeliz sempre aquelle que me attraia. Quem quizer ser bom juiz do que escrevo, que não caia na armadilha de meus vis detractores: Viva a vaia!

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INCORRECTO RETROSPECTO [5823]

Meninice sempre inspira ao poeta alguma merda. Fallo claro: minha lyra de ninguem bons modos herda. Eu no callo (alguem confira) Só commento o que me apperta. Sobre infancia, mais mentira que verdade acho em offerta. Si meus versos à creança não dirijo propriamente, é que ponho na ballança o que todo cego sente. Um ceguinho que se lança nestas lettras pela frente encontrou foi a festança dos que riram do que invente.

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MISCHIEF NIGHT DISSONNET [5846]

Si malefica a noitada, quem vagar na rua dansa, pois aquella molecada não tem nada de creança. Quem puder fugir, se Ao ceguinho, com voz ninguem falla quando “Lambe a bota! Ralla

evada! mansa brada: a pança!”

Por feliz elle se dá si ficar somente nisso, humilhante que ja tá, o sujissimo serviço. Os pivetes até ja obrigaram um submisso alleijado a fazer “qua” na sargeta do cortiço.

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EDUCAÇÃO À DISTANCIA [6075]

Ao vivo, o molecote estuda deante da tela de seu novo cellular. Remotamente, para leccionar com emphase, se exforça alguem bastante. O mestre, em attitude provocante, faz mimica, torcendo o maxillar, abrindo bem a bocca cavallar, a lingua a lhe espichar, egual bacchante. Assanha-se, de facto, o molecote, mas, nessa quarentena, a prole toda se juncta alli na salla. “Que se foda!”, decide-se em commum. Alguem que note! O joven quer mostrar, tambem, seu dote. Abbaixa as calças, tira a rolla, açoda a mão battendo bronha. Se incommoda a mãe. Ninguem notou o seu decote.


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HASHTAG GUENTA AHI [6151]

Você não foi quem disse que eu cahi naquella temptação de ser fascista e numa dictadura achar a pista de todo o meu sadismo? Guenta ahi! Você não foi, Glaucão, quem meu xixi fallou que beberia? Agora mixta será sua porção, pois que consista farei tambem de merda! Guenta ahi! Você fallou tambem que eu nunca ri dum cego, só porque perdeu a vista meu pae! Mas caso nisso mais insista, rirei, e sem remorso! Guenta ahi! Que mais você fallou? Ah, que gury ainda sou, que minha tara dista da adulta decisão! Serei sarrista, então: meu pé lhe nego! Guenta ahi!

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MENINOS [6194]

Jesus não foi appenas flagellado. Soffreu humilhações diversas. Para quem Anna Catharina leu, a cara sagrada do Senhor foi chão pisado. Pisaram-no os carrascos. O solado grosseiro das sandalias lhe exfregara os labios ja sangrentos. Gargalhara quem delle tinha feito um pão sovado. Meninos, sim, meninos tambem disso risada deram muita. Quem espinho junctou, para a coroa de excarninho proveito, foram elles. Que serviço! E, para não dizer que fui ommisso, Jesus lhes rastejou aos pés. Caminho fizeram com seu passo os do gruppinho no sancto rosto. Orgastico feitiço!

GLAUCO MATTOSO


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MAIORIDADE [6273]

Seu Glauco, o senhor pode ter certeza de como o meu chulé de maior é! Talvez seja menor este meu pé, que pouco mede menos que o da mesa! Mas posso garantir: de rolla tesa não fico si um adulto cafuné fizer no meu pentelho! Bote fé, creança não serei tão indefesa! Seu Glauco, o meu chulé não me envergonha, mas delle nem tampouco sinto orgulho! Farei anniversario, agora em julho! Ja apperta todo tennis meu que eu ponha! Com novos tennis todo joven sonha! Darei, sim, ao senhor aquelle embrulho de tennis velhos! Deixe, que eu vasculho meu quarto! Mas não vale batter bronha!

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SUSPENSO [6280]

Seu Glauco, estão querendo me expulsar! Sim, do collegio, só porque eu fallei do negro, da mulher, até do gay, aquillo que merescem escutar! Mulher tem que rallar e ser “do lar”! Ao negro não tem nada que ter lei de quotas, de racismo, la nem sei que mais, e gay precisa se curar! Trez dias eu peguei de suspensão e querem me expulsar por causa disso! Calcule si meu tempo desperdiço fallando o que dum cego penso, então! Fallar nem vou, seu Glauco! Um cego não precisa que se falle! Elle é submisso à gente, que ver pode! Mais enguiço ja tenho com quem pede punição!

GLAUCO MATTOSO


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SUSCEPTIBILIDADES [6289]

Seu Glauco, o meu papae disse que eu não devia conversar com um poeta maldicto, que influencia assim affecta a gente e nos perverte... Com razão! Mas quero perverter-me e nelle, então, uns golpes appliquei que até se veta nas artes marciaes! Ja ficou quieta a lingua delle, espero, o babacão! Sou calmo, sim, seu Glauco! Só si for o caso desço o braço no papae! Sossegue! Edade tenho! O que me trae é minha cara feia de infractor! Passei por internatos, sim, mas por bem pouco tempo, claro! O senhor vae querer me questionar? Se toque, hem? Ai de quem leis de moral quizer me impor!

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MIMOS [6290]

Meu filho, Glauco, deixa-me maluca! Eu mimo, mimo, mimo, mas de nada addeanta! Quem controla a molecada dos dias actuaes? Bagunça a cuca! A gente faz de tudo! Veste, educa, dá tennis, calça, às vezes dá palmada, descalça, calça a meia! Quando usada ja lava! Mas é tudo uma sinuca! Si nego uma coisinha, ah, meu amigo! Irado o molecão logo me fica! Me chuta com o tennis, me dá bicca na cara, até! Magoa-se commigo! Si faço o que elle pede, ja perigo exsiste de querer griffe mais rica no tennis e nas roupas! Mas que zica! Ja adulto, elle ‘inda aqui quer ter abrigo!


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DIABRETE [6291]

Ai, Glauco, tenho um filho de proveta! Precisa ver que praga, que pestinha! Ninguem excappa! A todos apporrinha! Eu, hem? Paresce filho do Cappeta! Ainda que eu mamãe boa prometta ser, elle me excarnesce, endemoninha e surta, quer foder-me! Coitadinha da sua amiga, Glauco! Não é peta! Que faço? Ouço você? Dou uma dura? Me livro do moleque? Não será tão facil! Prometteu que contará tudinho pro papae! Sim, elle jura! Ai, Glauco! Tenho medo da tortura methodica que Junior sabe, ja, com jeito practicar! Quer que elle va ahi? Não brinque! É muita diabrura!

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DIABRURA [6292]

Um só tu do

endemoninhado o meu menino pode ser, Glaucão! Ora, accreditas que elle em paz não deixa as mais bonitas bairro? Comeu todas, imagino!

Comtudo, na mais soffre bastante em as victimas

mão delle -- é o que eu opino -certa gente que tu citas teus sonnettos. Ah, maldictas que cumprem tal destino!

Na filha da vizinha a diabrura mais sordida practica aquelle meu menino, o diabrete! Sim, perdeu, coitada, a visão -- scena rude e dura! Brincando, o diabrete della fura um olho, depois outro! Nesse breu horrivel, ella leva rolla! Atheu é elle! Esse menino não tem cura!


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LINDO CASO [6303]

Tadinho do menino! Ouvi contar, num desses “lindos casos”, que elle tinha poderes mediunicos, mas minha urgencia foi dum lance estar a par. Fizeram-no lamber, para curar, feridas que do filho da vizinha surgiram no pezinho! Que excarninha sessão! Que masochismo singular! A fama do moleque percorria o bairro. Varios pés elle lambeu, alem de pernas, braços... Seu atheu papae sempre cobrou certa quantia... Ha tempos me contaram, mas um dia ainda vou attraz desse plebeu e celebre episodio. Serei eu, tambem, quem desse modo curaria?

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TRASGO [6310]

No collo da mamãe, a bebezinha paresce innocentissima, coitada! Mas basta que mamãe fique occupada e a docil innocente está damninha! Ja pelo chão a debil engattinha, aggarra, puxa tudo! Pega cada chordinha, cada cabo que lhe invada o campo visual ou da mãozinha! Precisa ver, Glaucão, a quebradeira! Não sobra pedra sobre pedra, nem crystal com mais crystal, pois a nenen a cacos reduz tudo que está à beira! Glaucão, cê quer saber? Isso me cheira a coisa do Cappeta! Não lhe vem à mente esse demonio que detem poderes maus e, por detraz, se exgueira?


DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

ADJUDA MEHUDA [6321]

Em pleno desespero, um suicida attira-se, mas é do quarto andar. No pateo cae, mas passa a agonizar, pois pouca altura não lhe tira a vida. Ao lado, no playground, a divertida turminha de creanças a brincar está, mas interrompe o salutar recreio ao ver a victima cahida. Até que algum adulto uma attitude emfim tome, essa activa molecada se juncta ante o coitado, que está cada vez mais agonizante e não se illude. Sem ter a protecção de quem adjude, recebe ponctapé, pisão, solada na cara, até paulada. Quasi nada faltou para appressar a morte rude.

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GLAUCO MATTOSO

QUESTÃO DE EDADE [6328]

Não leve a mal, seu Glauco! O meu pae não me deixa nem pensar em masturbar-me! Nem quando da menina aquelle charme me excita, admitte o velho o meu tesão! Seu Glauco, sou grandão! Occupa a mão inteira meu peru, quando um allarme me dá, ficando duro! Só mellar-me resolve esta gostosa sensação! Seu Glauco, vou fallar toda a verdade aqui para o senhor! Só de saber que está sem a visão, vem um prazer incrivel no meu pincto, que me invade! Ahi que me punheto, cara, aggrade meu pae ou não aggrade! Que dever eu tenho de tão casto me manter? Normal é ter tesão! Coisa de edade!


DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

EDUCAÇÃO REMOTA [6331]

Ah, Glauco! Mas que raiva que me dá! Alguem, no apê de cyma, tem a mais mimada filha, creia, que jamais na vida vi! Lembrei, me ennervo, ja! A peste não diz “não”, diz “na”! Será por falta de insistencia que seus paes escutam a teimosa? Quaes normaes ouvidos a toleram? Alguem ha? Diz “na, na, na, na, na!” mesmo si tem, nas aulas à distancia, que ficar na frente duma tela, para azar do pobre professor! Que nhenhenhem! Não, Glauco! Uma vontade até me vem de estar, daquelle mestre, no logar, appenas para a peste expaventar com meu carão da Bruxa de Salem!

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GLAUCO MATTOSO

NATURALIDADE [6337]

Preciso te contar, Glauco, o que minha filhinha fez! Num pacto com a filha da nossa faxineira, maravilha acharam si brincassem de casinha! Achaste normal? Calma! A minha tinha chamado um molequinho que partilha das mesmas preferencias da quadrilha que gostas de louvar, cara! Adivinha! Sim, sadomasochistas! Em edade tão tenra, ja triangulo formando! Mas foi o garotinho que ao commando cedeu de ser escravo, na verdade! Talvez o que fizeram não te aggrade, Glaucão, mas os pés dellas foi beijando o gajo! Tu querias, mesmo, um bando de machos, né? Te entendo, meu confrade!


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TROCA-TROCA DE MASOCA [6364]

Seu Glauco, sou menino ja grandinho! Não posso ser chamado de creança! Mas, como o desaffio o senhor lança, confesso, sim, ter sido um coitadinho! A gente, nessa edade, em descaminho se mette e em fodelanças faz lambança! Topando o troca-troca, não se cansa de estar por baixo, às ordens dum vizinho! Me lembro dum vizinho que o senhor iria adorar! Era tão magrella, mas era tão mandão! Qualquer um fella alguem que se propõe dominador! Mas veja la! Não tente nem suppor que sou masoca agora! Da janella ao ver uma menina, na goela eu sonho o pau lhe pôr! Sou fodedor!

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SCENA AGUDA [6366]

Os mortos-vivos cercam um sobrado que está de adolescentes bem repleto. Entrar os zumbis querem, pelo tecto, porão, saguão, por tudo quanto é lado. Os jovens entram quasi que em estado de choque. Em desespero, vão directo aos quartos e se trancam. Me connecto com elles. Um passou-me este recado: {Seu Glauco, ja pedimos uma adjuda local, estadual ou federal e estamos agguardando... Um entrou! Mal entrou, ja devorou alguem! Accuda!} {Ouviu a gritaria? Agora muda ficou a scena... Agora cada qual comido foi... Restei eu, affinal...} E nada mais ouvi. Que scena aguda!

GLAUCO MATTOSO


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TRAQUEJADA NADA [6368]

Seu Glauco, de menor eu era ainda nos annos em que puta me tornei! Mas, como o meu irmão era ja gay, me deu a maior força! Fui bemvinda! Agora de maior eu sou, e linda, me dizem! Sim, trepei e treparei até meu cu fazer bicco! Ja dei p’ra todo typo! O jogo nunca finda! Mas nunca amei um cego! O senhor ja amou alguma puta? Dezenove eu tenho! Si quizer que eu lhe comprove... Septenta, sim, é sexy e não gagá! Que pena! Ja não transa? Que será que eu posso fazer para que renove commigo o seu tesão? Quer que eu lhe sove a cara com o pé? Não, não... Não dá!

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GLAUCO MATTOSO

PODERES [6375]

Seu Glauco, ja cresci! Não acho mais que, embaixo desta cama, viveria um monstro que não posso ver de dia mas que, durante a noite, dá signaes! Não! Monstro não, senhor! Monstro jamais! Mas, em compensação, minha agonia agora vem de formas que eu não via e vejo, ja: são sobrenaturaes! Espiritos, phantasmas! O senhor duvida do que digo? Não? Que bom que crê tambem! Assim não fico com meu medo só: partilho o meu temor! Disseram que visões fazem suppor que eu seja sensitivo, que meu dom se explique... Mas eu vejo, escuto o som e nada de “poderes”: só terror!


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JOGO PUERIL [6387]

Sem ter o que fazer que mais aggrade na tarde de domingo, vão brincar, no quarto de dormir da faculdade, aquelles estudantes, de pisar. Pisar, sim! Vendam olhos. No logar que fora do tapete, um à vontade ficou. É feminino o calcanhar que está sobre seu queixo, ou não? Será de... De macho, não! Fingindo que rejeita beijar um pé de macho, o meninão acceita quando sente que o dedão na bocca tem a forma mais perfeita. Pensando de menina ser, acceita lamber, até! Retira a venda. Então percebe ser do gajo mais bundão e faz que se offendeu com a desfeita.

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QUEM VÊ CARA... [6391]

Soffreu, quando menina, muito dum padrasto violento, que a currara com outros gajos, rindo-lhe da cara chorosa das creanças em jejum. Agora quer vingança. Ja bebum, morreu seu malfeitor. Tem ella, para os homens em geral, severa vara, aquella de marmello, mais commum. Tambem tem a chibata, tem a bolla, que serve de mordaça, tem a venda, que serve para que esse verme entenda que deve ser quem, cego, ora rebolla. Assim cada machão lambeu a sola daquella revoltada. A cara horrenda não chega a ter, mas, caso só dependa de rosto, sua tactica não colla.

GLAUCO MATTOSO


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MENINO LEPORINO [6392]

Beijei não! A menina nojo tinha, seu Glauco! Tenho o labio “leporinho”... Agora, corajoso, lhe escrevinho e tudo vou contar em cada linha. Não ria, Glauco, dessa tara minha! Não posso ver um beiço vermelhinho, molhado, duplicado, cor de vinho rosado, que me encaixo na chotinha! As putas deliciam-se, eu lhe juro! Relaxam, arreganham, abrem tudo! E eu, labio contra labio, lambo mudo, degusto o succo, sorvo o mel mais puro! Beijar na bocca, nunca, nem si escuro está! Mas o senhor tambem sortudo não é! Tem que beijar, sem ver, o cu do bundão mais porco, ou ser-lhe pedicuro!

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ZERO EM COMPORTAMENTO [6396]

Fessora, não me venha com licção de casa, redacção nem sabbatina! Está tudo mudado! Disciplina é coisa para nota? Não é, não! Magina! Só porque dei pescoção, tabefe e ponctapé noutra menina, agora acha a senhora que me ensigna a ser bem comportada? Que illusão! Si perco o meu controle, eu na senhora applico um golpe baixo, uma rasteira e piso-lhe na cara, caso queira botar-me desta salla para fora! Duvida? Somos todas nós, embora pequenas, da pesada! Ja na feira battemos num ceguinho! Brincadeira é, para nós, surrar alguem que implora!

GLAUCO MATTOSO


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MARRUDA GRAHUDA [6397]

Glaucão, ja te contei que professor deixei de ser? Tá louco! Sim, na salla cheguei a ser pisado por quem falla mais grosso com a gente! Vou depor: Terriveis jovens! Ordem eu quiz pôr na classe, mas quem tenta controlal-a vê logo que só falta alguem a balla ao mestre reagir, Glauco! Um horror! Cercaram-me e jogaram-me no chão! Vi perto dos meus olhos cada tennis enorme! E era menina quem infrenes impulsos exhibia de aggressão! Pensaste? Cara, atturo humilhação até dum meninão! Não me condemnes, porem, si não te peço que me enscenes teus casos de pisões dum sapatão!

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SCENA ABJECTA [6407]

Um caso bem curioso! Veja só! A guarda de dois filhos perde quem? A mãe, que no chartorio culpa tem. Os filhos são deixados com a avó. A avó, que muita gente no forró conhesce, empresta a dupla para alguem que tem poucos escrupulos, tambem. São ambos estuprados, pois, sem dó! Depois, os filmes rollam na secreta corrente de pedophilos. Emfim, alguem os denuncia. A saber vim que tinha a clientela mais selecta. A curra, na prisão, é predilecta dos sadicos: destino bem ruim àquelle estuprador. Mas houve, sim, até juiz curtindo scena abjecta!

GLAUCO MATTOSO


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CORPINHOS NUS [6410]

Hem, Glauco? Ja pensou? Zumbi mirim! Vampiro mirim! Nunca lhe passou tal coisa na cabeça? Pois lhe dou a dica: são communs, exsistem, sim! Creanças tambem morrem, e ruim seu genio fica quando nem rollou um mez e ja ninguem mais se lembrou de quem assim precoce teve fim! Ha casos de vingança que pavor suscitam num atheu ou num christão! Parentes, paes, mães, thios, mordidos são e sangram devagar, em estertor! São pegos de surpresa! Assim, quem for cagar ou tomar banho, pelladão, trancado, surprehende-se (E quem não?) que esteja alli, nuzinho, um mordedor!

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DESABBAFO DE AMIGO [6412]

Então, foi triste. Tive que chamar meu filho e lhe explicar que ja com sua mamãe a relação não continua. Edade elle terá para sacar. Então, elle chorou. No meu logar, você, Glauco, diria que ella actua por mal? Pois seja assim! Me substitua por outro, mas... E nosso filho, o lar? Então, não contei tudo. Só fallei que nós somos humanos e entre nós nem sempre tudo corre bem. Appós o pappo, seguiremos pela lei. Então, Glauco, não sei o que farei. Ficar vae o gury com os avós. Tentei neutro manter meu tom de voz, mas devo confessar: tambem chorei.

GLAUCO MATTOSO


DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

VOLTANDO COM A PIPOCA [6417]

Você, que leu quadrinhos p’ra caralho, Mattoso, dos sobrinhos certamente se lembra! Hans e Fritz! Exactamente! Por que de fallar delles eu me valho? Porque pregavam peças! Eu, que ralho com filhos, acho raro que se invente duplinha mais perversa! Quem não sente revolta contra abusos dum pirralho? Occorre-me, então, Glauco: cê ja fez idéa do que faz uma creança si impune sempre está? Jamais se cansa de impor-se e ver no adulto o seu freguez! Um cego é pratto cheio, toda vez me passa na cabeça! Ah, ja festança fizeram com você? Sou eu quem dansa, então! Não foram dois? Ah, foram trez?

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GLAUCO MATTOSO

ACCERTO DE CONTOS [6418]

Seu Glauco, o senhor sabe como faço, na cama, antes do somno? Batto bronha, é claro! Nada disso me envergonha! Ao menos nisso perco o meu cabaço! Mas quero lhe contar meu passo a passo emquanto me punheto... Quem não sonha com uma namorada na qual ponha a rolla? Ja me achou meio devasso? Espere só, seu Glauco, até que eu diga que não é sempre em minas, não, que penso! Tambem tenho um prazer cruel, immenso, pensando num collega duma figa! Sim, elle me bullyinga! Minha briga com elle se resolve, pois compenso na bronha! Ahi me vingo! Nelle prenso a bota até que erguer-se não consiga!




SUMMARIO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO

DETURPADO [0590]................................9 DO CARRASQUINHO [0761].........................10 DE TODAS AS VONTADES [0811]....................11 INIMPUTAVEL [1065].............................12 DA RECIPROCIDADE [1187]........................13 DO GRITO LANCINANTE [1191].....................14 DO ADOLESCENTE COMMEDIEVAL [1207]..............15 DA DEVASSA VASSALLAGEM [1208]..................16 DO SACRIFICIO PATERNO [1314]...................17 DA PSYCHOLOGIA INFANTIL [1354].................18 DA BARATTA EMBARAÇADA [1362]...................19 DO BICHINHO QUE SE MEXE [1387].................20 DO SUMIÇO SUSPEITO [1446]......................21 DO ESTUPRO SEM ESCRUPULO [1447]................22 DA PORCELLANA INGLEZA [1448]...................23 DO CORPO DISCENTE [1513].......................24 DO CORPO DOCENTE [1514]........................25 DO INFERNO INFANTIL [1515].....................26 DA FREGUEZIA MEHUDA [1640].....................27 DO PAPEL DE DESTAQUE [1646]....................28 DO PEPINO TORCIDO [1688].......................29 DO PEPINO DISTORCIDO [1691]....................30 PARA UM BEBÊ CHORÃO [1747].....................31 PARA UMA MENINA DOENTE [1755]..................32 PARA UM SABOR DIVIDIDO [1859]..................33 PARA UMA CORREIA CORRECTIVA [1901].............34 PARA UMA OVELHINHA DESGARRADA [2035]...........35 PARA O PRESENTINHO DO FILHO [2048].............36


DISSONNETTO PARA UM MOLEQUE TRAVESSO [2073]................37 DISSONNETTO PARA QUEM ESCREVE CERTO POR LINHA RECTA [2078].38 DISSONNETTO PARA UM PARALYTICO VERIDICO (I) [2343].........39 DISSONNETTO PARA UM PARALYTICO VERIDICO (II) [2344]........40 DISSONNETTO PARA UM FOLGUEDO INFANTIL [2542]...............41 O PEIXINHO E O PATINHO [3445]..............................42 PROTECÇÃO (SUPER) LEGAL [3446].............................43 MOTIVO COLLECTIVO [3449]...................................44 PUTA DE RECRUTA [3450].....................................45 ABSCESSO EM EXCESSO [3516].................................46 SYLVINEY, O FORA DA LEI [3567].............................47 SYLVINILSON, SEM BOM TOM [3568]............................48 MENINO MIMADO [3959].......................................49 MENINA MIMADA [3960].......................................50 LEGITIMA VICTIMA [4111]....................................51 PESTE INCONTESTE [4567]....................................52 MYSTICA EUPHEMISTICA [4683]................................53 PUXAÇÃO DE SAQUINHO [4716].................................54 PIPOCA QUE PROVOCA [4717]..................................55 ANXEIO POR ASSEIO [4728]...................................56 ATMOSPHERA SATURADA [4747].................................57 PRESENTES IMPORTADOS [4748]................................58 ASSISTENCIA TECHNICA [4767]................................59 CARA DE TACHO [4823].......................................60 ACCENOS DE VENUS [4831]....................................61 VANDALO SEM ESCANDALO [4842]...............................62 INNOCENTE RHYMA COM INCLEMENTE [4945]......................63 ANJOS DA VELHA GUARDA [4950]...............................64 IRRA! QUE BIRRA! [4975]....................................65 PIMPOLHO OU TRAMBOLHO? [5055]..............................66


NOVAS TURMAS [5069]........................................67 CHORÃO SEM CHORDÃO [5086]..................................68 ATTRACÇÃO EXTRA [5100].....................................69 TACTICA AQUATICA [5101]....................................70 CILADA ASSUCARADA [5250]...................................71 DISSONNETTO DUMA VINGANÇA DE CREANÇA [5309]................72 DISSONNETTO DUM TRAUMA QUE TRAVA [5351]....................73 LEI DA PALMADA DE MURPHY [5589]............................74 TROCA-TROCA [5608].........................................75 TURMA DO MALÃO MAGICO [5662]...............................76 LETTRINHAS E LETTRAÇAS [5725]..............................77 INCORRECTO RETROSPECTO [5823]..............................78 MISCHIEF NIGHT DISSONNET [5846]............................79 EDUCAÇÃO À DISTANCIA [6075]................................80 HASHTAG GUENTA AHI [6151]..................................81 MENINOS [6194].............................................82 MAIORIDADE [6273]..........................................83 SUSPENSO [6280]............................................84 SUSCEPTIBILIDADES [6289]...................................85 MIMOS [6290]...............................................86 DIABRETE [6291]............................................87 DIABRURA [6292]............................................88 LINDO CASO [6303]..........................................89 TRASGO [6310]..............................................90 ADJUDA MEHUDA [6321].......................................91 QUESTÃO DE EDADE [6328]....................................92 EDUCAÇÃO REMOTA [6331].....................................93 NATURALIDADE [6337]........................................94 TROCA-TROCA DE MASOCA [6364]...............................95 SCENA AGUDA [6366].........................................96


TRAQUEJADA NADA [6368].....................................97 PODERES [6375].............................................98 JOGO PUERIL [6387].........................................99 QUEM VÊ CARA... [6391]....................................100 MENINO LEPORINO [6392]....................................101 ZERO EM COMPORTAMENTO [6396]..............................102 MARRUDA GRAHUDA [6397]....................................103 SCENA ABJECTA [6407]......................................104 CORPINHOS NUS [6410]......................................105 DESABBAFO DE AMIGO [6412].................................106 VOLTANDO COM A PIPOCA [6417]..............................107 ACCERTO DE CONTOS [6418]..................................108



SĂŁo Paulo Casa de Ferreiro 2021




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