DIA DE NATAL E OUTROS SONNETTOS
São Paulo
Casa de Ferreiro
Dia de natal
© Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
DIA DE NATAL E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024 112p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.
Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.
O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.
Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.
DIA DO ECOLOGISTA
Faltou-lhe educação ambiental, Glaucão, ja que no lixo você joga as pilhas do radinho ou, duma droga, o frasco ja vencido! Ocê faz mal!
Devia separar cada lethal producto deschartado! Dialoga comnosco o nosso meio! Pragas roga quem zomba da Natura, que é global!
Nem minhas meias velhas jogo fora, pois ellas servirão, na podridão que eu fedo, para alguem que meia adora!
Hem, Glauco? Não é mesmo, meu irmão? Por isso que eu defendo, vida affora, a nossa Natureza, na questão!
DIA DO PERDÃO
É facil perdoar cada bandido, mas desde que não seja quem mactou alguem que conhesçamos! Sei que sou cricri, Glaucão, mas com justiça lido!
Lidando com bandidos, eu convido um delles, toda vez, a dar seu show de bolla, confessando o que faltou fazer com sua victima, assumido.
Confessa sempre cada bandidão que iria torturar mais longamente aquelle que morreu na sua mão!
E então, Glaucão? Quem é que pena sente? Quem é que lhes daria algum perdão?
Conversa molle! Chega, minha gente!
DIA DO POVO DA FLORESTA
Os povos da floresta não são só humanos, ou indigenas, poeta! A todos o problema nos affecta, pois temos, dos bichinhos, que ter dó!
Vão desde esses que pegam no cipó até bichos rasteiros, que da recta não fogem, si ninguem deixar bem quieta a fauna florestal, que é meu xodó!
Aranhas na Amazonia, por exemplo! Deixemol-as tranquillas, nesse seu perfeito sanctuario, Glauco, ou templo!
Si ficam estressadas, ahi, meu, perigos aos humanos eu contemplo, que nunca vae suppor um europeu!
DIA DA POLITITICA COMPETITIVA
Glaucão, nós approvamos cada lei que chega la da Camara! Ninguem mais pode pentelhar que estamos sem vontade de entregar! Prompto, fallei!
Aqui, nós, senadores, eu ja sei que estamos trabalhando para o bem do nosso Brazilzão! Você não tem direito de exigir mais do que dei!
A midia attiça, Glauco, só questiona quem é que mais produz leis nesta Casa, mas digo que não somos uma zona!
Alguem se pega a tapa, alguem attraza o lado, empatta a foda, mas, mandona, a nossa presidencia manda braza!
DIA DO CASAMENTO GAY ABBENÇOADO
Glaucão, ouvi fallar que, doradvante, os padres darão bençam aos casaes gays, sendo obrigatorio, por papaes dictames, ter amor a tal amante!
Agora, a fé catholica garante que todos os arranjos são normaes! Não temos mais receios, não, nem mais temores duns infernos typo Dante!
Hem, Glauco? Meu esposo satanista teria accolhimento, tal qual eu, catholico que sou! Puta conquista!
Ja posso ter amante herege, atheu, pagão, que mesmo assim o padre vista bem grossa fará! Claro, lhe rendeu!
DIA DA PERGUNTA INDISCRETA
Lhe peço que perguntas não me faça, assim eu não lhe digo uma mentira.
Lhe peço que com ferro não me fira, assim eu não lhe faço uma trappaça.
Não seja, que nem bicho, quem me caça, pois tanjo, que nem gente, minha lyra.
Não seja quem, com armas, em mim mira, pois posso, pelo voto, ser quem cassa.
Não faça affirmação que me incrimine, pois tudo o que disser de mim lhe affecta.
Não tente me impedir de ter fanzine.
Não seja quem censura nem quem veta, pois posso fallar tudo, caso opine.
Não queira me impedir de ser poeta.
DIA DA CASA CAHIDA
Que chato, né, Glaucão? Aquella eschola de samba, tão famosa, ser flagrada, dizendo que com isso não tem nada, mas tendo ligações com o que rolla!
Com crime organizado, com a bolla da vez entre bandidos da quebrada, Glaucão! Uma quadrilha que, infiltrada, fez coisa que, na midia, até extrapola!
Agora, a advogada vem fallar que tudo não passou de confusão, que cede esse sambista seu logar!
Magina! Todos sabem ja quem são aquelles alliados dos que par perfeito são do samba: pé no chão!
DIA DA SUJEIRA
Um influenciador (Hem? Que vergonha!), milhões de seguidores tendo, vae depor ao delegado! Depois sae dizendo que com ares novos sonha!
Ainda quer gozar, quer batter bronha curtindo com a cara do papae aqui, me’rmão? Será que não lhe cae a ficha? Sujou, cara! Seu pamonha!
Será que não percebe que sujou? Com traffico de drogas envolvido, achando que panaca, agora, sou!
Terá que se foder, esse bandido! Salvar reputação? Salvar seu show? Salvar aquelle mytho? Ora, duvido!
DIA DO CHIP DA BELLEZA
Glaucão, veja que incrivel novidade estão annunciando! Um leve implante de effeitos hormonaes! Daqui por deante ninguem mais passará necessidade!
Pressão? Obesidade? Estresse? Edade de perda sexual? Elle garante tesão e massa magra! Doradvante, nem pelle alguem terá que desaggrade!
Tambem para a cegueira, Glauco, o tal do chip indica allivio! Sei de gente que enxerga agora, quando via mal!
Você não accredita? Até se sente raivoso com um jeito genial de cura? Haja quem sua bronca aguente!
DIA DE “BASSEAR”
Calor, hem? Inda assim, meu cão não passa sem, pela tarde, ir dando uma voltinha aqui no quarteirão! Ja se encaminha correndo para a “sua” bella praça!
Alguem que piquenique nella faça não passa sem lhe dar uma coxinha, um peito ou uma asinha de gallinha! Glaucão, é o meu bassê mesmo uma graça!
Vou dando um pouco d’agua… “Bassear” se torna algo curtivel, mesmo num tamanho calorão neste logar!
Ah, todos elogiam o bumbum gordão, as orelhonas, esse par de tortas pattas… Nada de incommum!
DIA DO TAPA NA CARA
Plenario cheio, quando o tapa soa na cara dum collega deputado. Ja nem me escandalizo. Uma pessoa normal acha tal facto só gozado.
Mas, nisso, os dois se pegam, e quem zoa dos podres do Congresso mais aggrado terá quando souber que, não à toa, a coisa se repete no Senado.
Plenario cheio soa redundancia. Tambem redunda, caso não advance, a reforma que devia ser votada.
Mas outra redundancia fica cada vez mais obvia: as briguinhas da bancada causando, delles, nossa repugnancia.
DIA DO PALMEIRAS SEM MUNDIAL
A cada mundial, se lembrará o nosso torcedor da musiquinha: “Palmeiras não tem…” Temos só coppinha! Hem, Glauco? Que desgraça, camará!
Dodecacampeão? Sim, mas não ha qualquer comparação, meu, nessa linha dos titulos de peso! Ja adivinha você que gozação alguem fará!
O Sanctos, o Corinthians, o São Paulo teem coppas desse typo! Pelo rallo se foram nossas chances, menestrel!
As regras vão mudar e, no gargalo, jamais nós venceremos! Nosso callo p’ra sempre pisarão! É tão cruel!
DIA DO PRODUCTOR MUSICAL INCOMPETENTE
O filho da cantora, ja que não consegue entender nada sobre nada em termos de canção, mais desaggrada por ser um babacão na profissão.
Scismou que é productor, mas faz questão de muito mal fallar da mais amada das bandas: “Esses Beatles, a cambada que minha mãe odeia de montão!”
Até que essa cantora tem valor, mas, por razões politicas, odeia os Beatles, “esse eschema explorador”.
O joven, que talento de mão cheia jamais terá, siquer sabe compor, mas acha qu’inda tem alguma veia.
DIA OFFICIAL DO VERÃO
Ha mezes, estivemos em La Niña. Fazia, no Natal, um friozinho. Agora que estaremos em El Niño ja faz um calorão. Ai, nossa minha!
Ai, minha nossa! A gente se encaminha depressa para aquelle anno damninho dos piccos de canicula! Adivinho catastrophes extremas nessa linha…
No plano pessoal, o soffrimento maior, alem das crises de pressão, será muito suor! E eu ja lamento!
O lado positivo do verão é, nesses molecões, o chulepento pezão que, nos chinellos, dá tesão…
DIA DO CARRO VOADOR NACIONAL
Mixtura de helicoptero com carro, o rapido vehiculo não tem motor a gazolina, mas, alem de electrico, não pesa, como narro!
Não pesa nem no bolso, esse bizarro carrinho, menestrel! Só custa cem mil pillas! Hem? Quem é que isso não vem gastando com licor ou com cigarro?
Em breve, estará sobre esta cidade um monte desses carros voadores, poeta! Resistir-lhes, hem, quem ha de?
Sim, pelos ares podes, si tu fores ao medico, ganhar velocidade! Ou queres ter, recluso, os estertores?
DIA DA UNIÃO POLYAFFECTIVA
Estão de brincadeira! Ja não basta que possam registrar-se esses trisaes de bichas ou de lesbicas? Que mais pretende essa gentalha menos casta?
É tudo sodomita, pederasta! Bastardos dos infernos! Infernaes castigos vos agguardam! Nós, normaes, achamos que esse enredo ja se arrasta!
Teremos que intervir! Sinão, em breve até nossos parentes poderão fazer, eguaes às putas, uma greve!
Sinão, ja sem sigillo, o meu irmão, a minha cunhadinha até, se attreve à livre fodelança! À merda vão!
DIA DA CHARTEIRA DE MOTORISTA
Charteira? Para que, si é do meu pae o carro, Glauco? Para accelerar preciso ser treinado, porra? Azar daquelle que estiver alli e não sae!
Pessoas na calçada? Nenhum ai por ellas! Que se fodam! Do logar que fujam, ou irei attropelar sem pena! À merda mando, o gajo vae!
O carro do papae é mesmo caro! Sim, posso cappotar, mas ‘inda assim excappo! Mactei varios, eu reparo!
Hem? Teste do bafometro? De mim eu quero longe! Sou menor, declaro, não soffro, logo, nada de ruim!
DIA DO INVESTIGADOR DE POLICIA
Não, Glauco! Detective não serei, jamais, particular, aquelle cara que dramas conjugaes rastreia para uns casos de divorcio dalgum gay!
Rastreio crimes, Glauco! Sou da lei! Sim, crimes passionaes tambem! Tomara que sejam poucas mortes, mas da tara que exsiste nos submundos eu bem sei!
Sim, cada caso barbaro! Você noção nem tem, Glaucão! Eis uma ammostra: Um cego morto foi por seu michê!
Fallou o garotão: “Quem não se prostra nem cumpre minhas ordens, caso dê na telha, ah, macto! Foda-se essa jostra!”
DIA DO VIZINHO
Em cyma tenho um, Glauco, que só surta à noite, quando todos, neste meu maluco condominio, gozam seu momento de repouso, horinha curta!
A tudo que perturbe não se furta o gajo, um verdadeiro philisteu do cego que lhe falla, que no breu ficou ha pouco! Ora, haja quem o curta!
Uns acham divertido que um subjeito doidão mais pesadellos ao ceguinho provoque, mas eu isso não acceito!
O gajo que se tracte! Esse excarninho vizinho, quando goza, faz no leito um louco barulhão, depois dum vinho!
DIA DO COMPRADOR DE ULTIMA HORA
Comprei, correndo, um tennis, pois estava a loja ja fechando, menestrel! De tolo, convenhamos, fiz papel, pois muito appertadão elle ficava!
Em vez de mandar esse par à fava, tentei calçar, usar, dar um miguel, fingindo que não tenho um tão revel pezão, cujo tamanho o drama aggrava!
Meu numero, no minimo cincoenta, não cabe nessa fôrma appequenada que nossa pobre industria vender tenta!
No lixo, pois, joguei a malfadada lanchona! Foi bem feito! Quem aguenta as compras de Natal? Quem não se enfada?
DIA DO ORPHAM
Aquelle que perdeu os paes, si for ceguinho, os seus cuidados que redobre, ainda mais si for um cara pobre, morando na peripha, trovador!
Foi esse meu problema, ha de suppor você! Ja lhe narrei tudo que encobre um caso deste typo! Que não sobre um desses a você, pois causa dor!
Na rua a bengalar, sempre cercado eu era por pivetes que teem paes bandidos que nem elles do seu lado!
Zoavam e curravam-me! Meus ais ninguem escutaria, para aggrado de todos que familias teem normaes…
OUTRO DIA DO PERDÃO
Zombei eu, ja, de todos! Perdoar ninguem me quererá, neste momento atroz em que estou, cego, quando tento ainda reerguer-me! Puta azar!
Agora, de mim todos a zoar estão! Pedir perdão? Mas meu tormento os deixa divertidos! Meu lamento lhes causa riso! Como supplicar?
Pedir irei perdão por ter eu sido ironico, mordaz, irreverente? Irão dizer que estou mais divertido!
Hem? Como faz você? Como se sente, Glaucão? Mais masochista? Pois duvido que possa perdoar essa má gente!
DIA DA RHABANADA
Na vespera, appetesce comer tudo, castanhas, nozes, passas, panettone, mas peço que, Glaucão, se posicione você sobre este thema cabeçudo:
Aquella rhabanada! Ah, mas não mudo a minha posição! Ora, abbandone a boa digestão quem bocca abbone do velho portuguez mais bigodudo!
É muito gordurosa, aquella porra! Comer uminha só ja basta para que ao sal de fructas, rapido, eu recorra!
Quaes coisas mais, na ceia, alguem encara depois de trez ou quattro dessas? Morra quem dumas rhabanadas não se enfara!
DIA DA CEIA DOS DESESPERADOS
Agora não dá tempo! Que é que eu faço? Está tudo fechado! Não dá para comprar uns comes bons, que tenham cara dum minimo Natal, num curto espaço!
Vejamos… Inda resta este pedaço de bollo, um vinho aberto… Se prepara alguma coisa boa (Alguem repara?) com sobras deste frango, tão excasso!
Achei esta vencida mortadella alli na geladeira! Conservada que esteja acho! Provar ja quero della!
Emfim, fome não passo, na affobada noitinha de quem triste se revela, sozinho na cozinha, ja appertada.
DIA DE NATAL
Ainda pequenino, crer ousei nalgum Papae Noel, um que me desse ao menos uns brinquedos. Minha prece jamais seria acceita, agora sei.
Ainda adolescente, achei que lei divina havia. Vivo si estivesse, suppuz ser um adulto que pudesse ver, mesmo peccador, descrente e gay.
Ainda algo comptando, não extranho que em casa não receba a minha quota de brindes, mesmo minimo o tamanho.
Mas hoje, que não creio na remota promessa de visão, delle nem ganho siquer aquella podre e escrota bota.
DIA DUM NATAL AFFECTIVO
Não é Papae Noel que me motiva lembranças vivas duma meninice peor do que seria si eu o visse, porem outra lembrança, ainda viva:
A ceia de Natal! Só quem conviva com uma classe media que se disse baixissima conhesce essa meiguice que exsiste na familia que se priva…
Compensa-se, na ceia de Natal, o tanto que, num anno, não comia ninguem: pernil, ainda que sem sal.
Comia bem a avó, tambem a thia… Por uma noite, quem se queira mal ficar de bem iria, alem do dia.
DIA DUM NATAL DEPRESSIVO
Mactar-se planejou, pois o Natal é muito depressivo para quem está sozinho, sem familia, sem amigos, sem motivos, affinal.
Até deixou bilhete, escripto mal, perdão nelle pedindo por, alem de estar dando trabalho para alguem, ter feito pouco pela Casa Astral.
A Casa Astral, no caso, foi o templo em que elle revisita a sua vida preterita, a servir de bom exemplo.
Mas, antes que mactar-se, emfim, decida, na rua acha a cadella que eu contemplo, sozinha. Ao vel-a, não se suicida.
DIA DO PERU DURO
Eu sempre preferi pernil, Glaucão! Mas era tradição, na minha casa, assar, pelo Natal, peru! Dephasa, emfim, a malfadada tradição!
A carne do peru, tão dura, tão insossa, não aggrada! Mais se casa com nosso paladar aquella rasa travessa do pernil, fatiadão!
Você ja me contou que de imbecil foi feito, pois lhe deram uma sobra appenas do peru, não do pernil…
Foi logica, poeta, a má manobra! Comeram o pernil e, de gentil, alguem que se fingiu lhe fez tal obra…
DIA DO NASCIMENTO DE DIONYSIO
É data só symbolica! Me lembro de varios outros nomes que tambem lembrados deverão ser (Né, meu bem?) no dia vinte e cinco de dezembro!
De seitas occultistas eu sou membro, Glauquinho! Se exquesceu? Quem é que tem poder para deixar bebum alguem? Somente Baccho, vate, eu lhe relembro!
Si festas nós fazemos, nada mais propicio que brindar com um bom vinho! São mera consequencia as bacchanaes!
Por isso o meu Natal nunca sozinho eu passo! Quer passar commigo? Os ais deixemos para traz, caro Glauquinho!
DIA DO NASCIMENTO DE KRISHNA
Hindus tambem celebram, a seu jeito, a data mais christan. Dizem até que toda a christandade, Glaucão, é um plagio delles, these que eu respeito.
Me importa, simplesmente, que proveito tenhamos nos festejos, que a ralé melhor comida tenha, algum filé mais tenro ou, de peru, macio peito…
Hindus appigmentadas coisas comem. Podemos imital-os tambem nisso, até nos fortes liquidos que tomem…
Não vejo, menestrel, nenhum enguiço em sermos nós devotos só dum homem, de varios, ou dum mystico mestiço…
DIA DE OXALÁ
Qualquer mythologia nos dará um ente em quem possamos botar fé?
Duvido! Omnipotente ninguem é! Por isso sempre invoco um orixá!
No caso, estou fallando de Oxalá, Glaucão, um orixá que faz até chover, e me fará beijar seu pé, sciente de que em mim de olhão está!
A Zeus equivalente, elle poder tem mesmo superior ao dos demais, por isso de louvar tenho o dever!
Tomara que elle escute estes meus ais! Zeus queira! Hem? Oxalá! Mas fazer ver de novo, ninguem, Glauco, faz jamais!
DIA DE NATAL NO PRESIDIO
Um preso ja ammestrado normal acha lamber o chão, passar a lingua nessa poeira accumulada, que interessa appenas aos solados de borracha.
A fim de evitar surras, se despacha na hora, ao ouvir ordens e, depressa, de quattro se colloca. Ahi, começa ouvindo bem que alguem o bicco racha.
Risonho, o carcereiro cospe e pisa em cyma desse excarro que elle mesmo soltara alli na lage pouco lisa.
O preso sua lingua passa, a esmo, no cuspe empoeirado, um extra, à guisa do gosto de farofa com torresmo.
DIA DE NATAL NO CORTIÇO
Mamãe ganhou do primo um panettone. O primo, um italiano à moda antiga, assava panettones e, se diga, horriveis eram. Nada que os abbone…
Mas ella, charidosa, ao telephone chamou quem appoiava alguma amiga campanha natalina. Aquella liga doou o panettone ao seu Leoni.
Leoni, voluntario que era, deu o troço para a turma do cortiço, que tinha appenas mesa de plebeu.
Não é que elles gostaram? Pensei nisso por causa dos parametros, pois meu luxento gosto odeia aquelle enguiço.
DIA DE NATAL NO ASYLO DOS BASSÊS
Um delles adoptado foi. Na hora de virem retiral-o os novos paes, os outros ja velhinhos animaes começam a uivar. Ah, quem não chora?
Mas elle se despede e, sem demora, sae para não voltar alli jamais. Assim que sae, começam os seus ais de novo os outros todos. Gente, e agora?
É providencial, pois, a chegada daquella senhorinha que lhes traz biscoitos de cachorro, um para cada.
Um só, não: trez ou quattro. Volta a paz normal ao orphanato. Não ha nada melhor. Mas ammanhan… Que é que se faz?
DIA DO HOMONYMO
Hem, Glauco? Veja só que coisa rara! As duas são Rosangelas, poeta! Você, que tantas coisas interpreta, não acha fatalismo demais, cara?
Eu vejo um symbolismo nisso, para fallar sinceramente! Nada affecta melhor a nossa vida que a dilecta esposa que, no nome, se compara!
Esposas até podem ser xarás! Será que isso se explica? Só duvido que sejam ambas boas, ambas más!
Ja vejo differença no marido… Emquanto um paga a quota a Satanaz, ao outro ser do bem faz mais sentido.
DIA DO BANHO NO CACHORRO
Cadê meu campeão? Cadê meu craque, meu idolo, meu astro, meu galan, meu bamba, meu heroe, meu bambambam, meu principe valente, meu destaque?
Cadê meu cachorrão? Outro não ha que mais seja guardião, mais tenha affan de estar allerta sempre, de manhan, de tarde e pela noite, impondo um “nhaque”!
O “nhaque” elle dá mesmo é no seu cookie! Mas, quando o chamo para dar um banho, depressa foge! Sempre tem um truque!
Appenas um detalhe é que eu extranho… Na chuva, sae de boa! Nem encuque quem tenha algum bassê desse tamanho!
DIA DO INTERNAUTA
Leitores teus, Glaucão, acho que muito crueis e desalmados, mesmo, são! Não são como o leitor de occasião, curioso, de interesse mais fortuito!
Aquelles internautas teem intuito satanico, cumprindo uma missão, ou seja, a de exhibir ao cego quão pathetico é seu rosto no circuito!
São fans das tuas obras, não duvido, mas, antes de mais nada, querem ver-te por baixo, humilhadissimo: um fodido!
Tu queres isso mesmo? O obscuro flerte com gente possuida, Glauco? Ouvido eu tenho que, à distancia, vão foder-te!
DIA DA LEMBRANÇA
Memoria visual tu tens, poeta? Ainda tu das cores a lembrança terás inteiramente? Não se cansa a mente dessa dadiva indirecta?
Verdade, menestrel? Duma completa nuance tu te lembras? Confiança consegues ter nas scenas de creança, que teu criterio critico não veta?
Um parque, nos teus sonhos, permanesce verdinho, dumas arvores mantendo bem nitidas as coppas? Que accontesce?
Eu dessas coisas, Glauco, não entendo! Appenas não me exquesço duma prece que, em minhas frustrações, vou revivendo…
BOXING DAY
Faziam, aqui, só liquidação, só saldo, promoção, offerta… Agora virou mania! A gente commemora um dia de corrida às compras, vão!
Eu acho que ficamos é na mão, pois todos os annuncios estão fora daquillo que eu preciso, numa hora de extrema agitação! Não acha, não?
Reflicta aqui commigo, Glauco! Quem irá comprar aquillo que, de facto, usar vae? Não, na practica, ninguem!
Nem mesmo o tennis novo que, eu constato, meu numero não tem, me serve bem!
Ficamos sem cachorro, pois, no matto!
DIA DO VOMITO
Horrivel é, Glaucão, vermos na rua os bebados, depois deste Natal, botando para fora a mais frugal das ceias, uma scena forte e crua!
Comeram e beberam mais que sua barriga comportava! Assim, fatal será que elles “gumitem” essa tal fartura de quem, antes, só jejua!
Ahi, pelas calçadas, o “gumito” paresce mayonnaise de palmito com nacos de presuncto piccadinho!
Os pombos se deleitam! Nem admitto olhar aquillo,Glauco! Mas evito pisar nessas nojeiras do caminho…
DIA DE PETER PAN
Adulto não pretendo ser, Glaucão! É muita caretice estar com essa idéa na cabeça! Tanta pressa, pergunto, para que, si estou novão?
Sim, moro com meus paes, com meu irmão mais velho, menestrel! Ahi, começa alguem a questionar, cobrar à bessa, tentando me impor essa condição!
Me chamam de “nem nem”, de vagabundo, pois acham que eu edade tenho para trabalho procurar! Não me confundo!
Sei muito bem aquillo que sou, cara! Sim, caro cobro! O meu pezão immundo attiça dos podolatras a tara!
DIA DO LIVREIRO
Está mais rara, cada vez, aquella antiga livraria na cidade, Glaucão! Mas questionar quero: Quem ha de ler tudo, pelas redes, numa tela?
O livro nos empolga, nos revela detalhes materiaes de raridade, de zelo pelo objecto! Persuade a gente de que exsiste, sim, quem zela!
Deleite em folhear, Glaucão, não tem você? Bom, eu entendo que não tenha… Mas eu sou bibliophilo, meu bem!
Não basta, menestrel, ler só resenha, ouvir um audiolivro! Um armazem eu quero, onde incessante seja a senha!
DIA DO ESQUADRÃO DA MORTE
Ser membro de esquadrão da morte é dar valor a quem meresce, Glauco, ou seja, àquelle cidadão que não esteja zombando da policia militar!
Dos outros, dos bandidos, o logar mais certo dessa corja malfazeja é a cova num terreno qualquer! Breja abrimos para cada a assassinar!
Glaucão, entenda a coisa! Quem não é bandido não precisa sentir medo da gente! Só quem seja lé com lé!
Quem seja cré com cré não vae tão cedo morrer, nem nessa cova tem um pé quem, para adjudar, duro tem o dedo!
DIA DO GRUPPO DE EXTERMINIO
Um gruppo de exterminio não é, nem foi nunca, menestrel, isso que estão fallando! Não mactamos bandidão famoso! Só mactamos Zé Ninguem!
Peão nós não mactamos, si for quem honesto seja! Faço só questão de que elle eleitor seja de quem não proteja bandidinhos! Ouviu bem?
Não temos nada contra alguem que ja ganhou reputação de perigoso chefão e que chegou, affinal, la!
Não, Glauco! Com politico famoso a gente nunca mexe, pois será um delles quem garante nosso gozo!
DIA DO MILICIANO
Foi preso um renomado chefe, mas os membros da milicia não estão nadinha preoccupados, não, Glaucão! Só prestam comptas, cara, a Satanaz!
Que importa si, na midia, as linguas más apponctam esse celebre ladrão ja como responsavel, na nação, por tudo que de sordido se faz?
Sabemos todos, Glauco, pois redunda fallar disso, que nunca algum cacique politico limpou a propria bunda!
Quem limpa abbaixo fica, claro fique! Mas, quando for um preso, ja se inunda a midia com fofocas! É mais chique!
DIA MUNDIAL DO CINEMA
Não sendo brazileiro, o bom cinema exsiste, sim, Glaucão! Só não acceito aquellas mambembices dum subjeito que tenta parescer quem contra rema!
Qualquer “independente” que não tema se expor acha que tudo faz bem feito, que “innova”, que bagunça algum conceito, mas quero que elle tenha forte eschema!
Exijo um orçamento que permitta a boa producção, o bom ropteiro, actores convincentes numa fita!
Mas esse pobre cine brazileiro nos enche de vergonha, porra! Admitta, Glaucão, pois de pobrezas eu me inteiro!
DIA DO ESPERANÇOSO
Um anno, quando chega ao fim, nos leva a alguma porta aberta. Não se cansa a gente de encontrar uma esperança que possa motivar, em meio à treva.
Aqui, Papae Noel não vem. Não neva, não temos chaminé. Ninguem de pança redonda nem vermelhas roupas lança presentes la de cyma. Aqui se freva.
Aqui se samba, aqui bem se rebolla, se dansa sem querer dansar, diria a Ritta Lee, que sempre fez eschola.
Mas vamos combinar que, neste dia de festa, até que vale ter cachola que, ingenua, antecipa a phantasia…
DIA DO OTARIO
Dos trouxas, dos otarios, está cheia a nossa assaz vulgar população, poeta! Não concorda? Charlatão nenhum bem se daria numa aldeia!
Mas, numa megalopole, essa teia de extensa falcatrua tem acção logistica perfeita! Algum ladrão que queira ser experto ja allardeia:
“Invista aqui! Garanto um rendimento accyma até da bolsa, accyma até dos fundos, das pyramides, por cento!”
No fundo, o que elle falla appenas é verdade para si mesmo! Lamento? Magina! Quem mandou botarem fé?
DIA DO BARALHO
Ninguem ouço fallar que ja de dama dormiu, siquer de rei. E você, ja? Mas dorme de valete e dormirá quem, preso na FEBEM, tem curta a cama.
FEBEM não mais exsiste? Ja se chama Fundação Casa? Certo, mas está trancado la quem fez e quem fará miseria, si ninguem disso reclama.
Naquelle dormitorio, de valete dois ficam num colchão e pé na cara um noutro põe, alem do que se mette…
Talvez joguem baralho, mas encara quem perde esse pé sujo. Do boquette nem fallo, pois por obvia fica a tara.
DIA DO PETROCHYMICO
Não, Glauco! Nada tenho a ver com isso! Appenas eu trabalho numa empresa que explora algum subsolo! Uma surpresa foi esse terremoto! Um grande enguiço!
Por causa do terreno allagadiço, nenhuma area de praia fica illesa! Affunda tudo, pode ter certeza! Mas outras conclusões eu não attiço!
Somente com petroleo é que eu me envolvo! Não venha me imputar algum problema, achando que taes coisas eu resolvo!
Mas, que paresce coisa de cinema, paresce! Esses tentaculos dum polvo gigante sobre a Terra! Ha quem não tema?
DIA DO GUARDAVIDAS
Aquelle guardavidas é saphado, poeta! Si for joven e bonito quem possa se affogar, esse maldicto se presta a soccorrel-o com cuidado!
Mas, sendo uma mocréa, proutro lado vae logo olhando! Vate, eu não evito notar que esse sacana (nem lhe cito o nome) tem até funcções de estado!
Tambem é guardacostas dalgum vice, dalgum aspone, pode ter certeza! É raro que na praia alguem o visse!
Mas veja como é sabia a Natureza! Salvou o garotão, mas ja se disse que, frente ao tubarão, é facil presa!
DIA DA CYBERSEGURANÇA
Um hacker invadiu o cellular da amante do ministro que investiga as photos pornographicas da amiga do velho cacicão parlamentar.
Aquillo que jamais pode vazar vazou. Viralizou que quem instiga mais odio pelas redes tem antiga historia que, cagão, quer occultar.
Exacto: o general, que se dizia um typico machão alpha, chupava sargentos. Não faltou photographia.
Agora, ja sabendo que se grava e exhibe tudo, querem (Que ironia!) propor leis para achar alguma trava…
DIA DA CYBERPORNOGRAPHIA
Poeta, agora mesmo ouvi no meu radinho que investigam a quadrilha que está chantageando uma familia inteira, aliaz duas! Ih, fodeu!
Ja foram trez ou quattro! O que rendeu fofoca venenosa foi a trilha deixada pelas redes! Quem a pilha desnuda, em pello, cada phariseu!
Até governador foi pego nessa chantagem pornographica, temendo seu nome ser exposto! Mau à bessa!
Quem manda accessar tanto obsceno, horrendo e porco contehudo? Quem confessa, agora, que gravou o que estão vendo?
DIA DO ESTUDO DE COHORTE
Alguns pesquisadores, affinal, puderam concluir que, mesmo só, quem possa conviver com seu totó irá sentir-se, mesmo, menos mal.
A polvora descobrem. Na actual vidinha, ja não temos a vovó, a propria mãe por perto. Quem tem dó da gente, si não for um animal?
Do nosso cachorrinho, só, teremos aquella companhia mais amiga que entenda aquillo tudo que queremos.
Não, esses scientistas, que se diga, estão attrazadissimos! Sabemos, mais que elles, como o nosso cão se liga…
DIA DA DIVERSIDADE BIOLOGICA
É sabia, menestrel, a Natureza! Ao lado da pombinha, da gattinha, da linda borboleta, tambem tinha que bichos haver, feios, com certeza!
Não fica alguma raça sempre illesa às outras! Sempre pincta a mais damninha, que estupra, que exfaqueia, que expezinha (si for mais deshumana) uma indefesa!
O bello passarinho, pois, convive com essa aranha gorda, monstruosa, que pode devorar um, inclusive!
A fructa venenosa com a rosa convive! Eu mesmo, Glauco, hontem estive colhendo uma plantinha milagrosa!
DIA DA COMPTAGEM REGRESSIVA
Dez… Nove… Calma, vate! Está com pressa? Um anno, por peor que seja, accaba logo! Oito… Septe… Invejo quem se gaba de nunca achar que tudo recomeça!
Nem curto tal comptagem, Glaucão! Essa mania a gente pega com a braba gallera das corridas! Quem me enraba quer tudo devagar, curtindo à bessa!
Seis… Cinco… Ora, varar a madrugada iremos! Affinal, ultimo dia nem é! Quattro… Trez… Vamos na toada!
Aos poucos (Dois… Um…), nossa phantasia se exvae! Si recomptarmos, Glauco, cada segundo, dum orgasmo, o que seria?
DIA DO ABBRAÇO
Nem sempre esse negocio de dar um abbraço significa algum affecto! Concorda, menestrel? Eu vou directo ao poncto: nos abbraça até bebum!
Entendo que isso seja bem commum, que exprima as amizades… Um dilecto amigo me confessa que seu recto se estreita, appertadinho, no bumbum!
Mas, quando um inimigo nos abbraça, o nosso recto queima feito braza! Aquella dor, poeta, nunca passa!
Prefiro que me venham, aqui em casa, provar deste licor! Uma só taça resolve, e nosso orgasmo se extravasa!
DIA DO BACON
Você ja reparou, poeta? Agora está sem sal o bacon, sem sabor nenhum, sem gordurinhas! Um horror! A cada dia, a coisa só peora!
Meu medico, um cricri de merda, adora ficar me enchendo o sacco! Ora, si eu for ligar para a sciencia, perdedor serei dos paladares, toda hora!
Com bacon, como uns ovos, um filé mignon no medalhão, ou o burgão mais typico no gosto da ralé!
Sem essa de evitar o sal! Eu não embarco na conversa de quem é vegano só de bocca, a dar licção!
DIA DO SAL DE FRUCTAS
Não fosse esse pozinho effervescente, poeta, meu estomago seria demais prejudicado pela azia, depois dum rango forte e differente!
Nas festas natalinas, fica a gente refem das rhabanadas, da fatia de chester, de peru, da maioria dos molhos e temperos que se invente!
Mas, quando o sal de fructas eu depressa mixturo, um arroctão daquelles sae de dentro, barulhento, cara, à bessa!
Que importa si me olhou feio o papae, a thia solteirona, que não cessa de encher a paciencia? Ah, porra, vae…
DIA DO ADJUSTE DE COMPTAS
Agora virou moda, trovador! Chefão duma facção, um candidato qualquer à prefeitura dum pacato e pobre municipio, ou quem la for!
Bastou quem quer que seja à midia expor os podres de quem tenha algum mandato, e morre executado! Nem é facto que cause expanto ao telespectador!
Ainda bem, Glaucão, que você não entrou para a politica! Sinão, a septe palmos ia repousar!
Mas, como não se expõe, nenhuma mão amiga carregar vae seu caixão na hora do buraco tumular!
DIA DOS RITUAES DE ANNO NOVO
Ouvi que, si eu vestir cor amarella, terei optima sorte financeira, Glaucão! Achei legal a brincadeira, pois tenho uma cueca e vou com ella!
Mas dizem que a cor branca é que revela mais sorte e, por mais crente que eu me queira, não tenho roupa branca! A sapateira só guarda um tennis velho! Que esparrella!
O tennis ja foi branco um dia, mas agora encardidissimo, nem dá idéa de pureza, mais, rapaz!
Ué, Glaucão! Você me diz que está bastante interessado? O que? Me faz offerta pelo tennis? Topo ja!
DIA DA COMIDA DA VIRADA
Não pode ser peru nem ser gallinha! São bichos dos que pisam para traz! Prefira bacalhau! Sim, meu rapaz! Vovó sabedoria nisso tinha!
Quer uma opinião? Lhe dou a minha! Vovó tinha razão, é claro, mas não é por causa disso que dou gaz à posta do peixão! Não adivinha?
Glaucão, bacalhoada não é só gostosa, mas, salgada, nos dará mais sede! Não foi dicto por vovó!
Eu mesmo concluí que bebi ja mais lattas de cerveja! Não dá dó? Bom anno novo, Glauco! KKK!
DIA DA CHAMPANHE
Aquella da viuva, aquella tal, franceza que, carissima, amargosa, abriram no Natal, é pavorosa, Glaucão! Até, confesso, me fez mal!
Prefiro um espumante mais banal, docinho! Não embarco nessa prosa esnobe de quem gosta da famosa, da cara, da azedinha, no Natal!
Até taça de plastico eu acceito! Me importo só com essa agua com gaz que, dentro da garrafa, faz effeito!
Mamãe aquelle escandalo ja faz no lance de extourar a rolha! Jeito o povo tem, não só nas horas más!
DIA DO RÉVEILLON DO CEGO RECLUSO
Reclamas, menestrel, demais da compta! Appenas porque estás, durante as festas, sozinho nesse apê, tu te molestas? A mim a solidão não ammedronta!
Te queixas de que ja não ha, na poncta da linha, mais ninguem que, por honestas quantias, attender queira? Protestas si tens vizinha negligente e tonta?
Adjuda não terás, não, de ninguem! Que comas tudo frio, teu dormido pão, logico será! Que é que isso tem?
Si soffres um infarcto, não duvido que fique teu cadaver, para alem do mez, a appodrescer, ahi cahido!
DIA DA DEVOLUÇÃO
Ganhei, Glaucão, um par de tennis, mas não servem nos meus pés, é de suppor! Nem quero devolver, pois acho por demais deselegante, meu rapaz!
Não quer ficar com elles, Glauco? Faz um tempo que não vejo ‘ocê se expor, pedindo de presente, quando for alguem jogal-o fora, algum com gaz!
É claro que chulé não vae você achar num par novinho… Mas podia usal-o… No seu pé, quem sabe dê…
Entendo que não queira… Mas um dia um velho meu lhe dou, com meu buquê fedendo o meu melhor da dysodia!
DIA DA VIRADA SATANICA
Poeta, a Satan faço o ritual! Vestido de vermelho, virarei um anno em que foi elle, mesmo, o rei da crise e da catastrophe geral!
Ukrania, Palestina… Quem o Mal melhor representou? Putin? Não sei! Bibi? Biden? Maduro? Orbán? Milei? Um pouco deu palpite, cada qual!
Aqui, Glaucão, melhor quem representa? Talvez quem tenha nome de enviado de Lucifer, que insiste e que ‘inda tenta…
Mas faço minha parte, endividado que estou a Satanaz… Nem aos sessenta e seis eu sei si chego, ja alquebrado…
DIA DA MEDITAÇÃO PELA PAZ
Estive ca pensando, menestrel… “Caminho para a paz” li na manchette, fallando de Israel, que se repete nas midias, no sentido mais fiel!
Emquanto, numa guerra sem quartel, o couro come solto, na retrete me sento… Fallam duma nova enquete agora, no jornal que é meu papel…
Então, a rir começo! Gargalhada gostosa, pois “caminho para a paz” só pode ser piada (Né?), mais nada!
A bunda limpo. Ainda me rir faz aquella do “caminho”! Que engraçada maneira de dizer! Hem, meu rapaz?
DIA DA RESOLUÇÃO DE ANNO NOVO
Agora ja não digo que estarei promptinho para deste sonnettismo livrar-me desde logo. Ja não scismo que possa me impor uma nova lei.
Não faço mais promessas, pois bem sei que vicios são dum poço, dum abysmo, o fundo mais sem fundo, que exorcismo nenhum evitará. Sim, ja tentei.
Tentei parar. Falhei, quebrei a cara, perdi meu rebollado, me fodi bonito. Se convence quem repara.
Um anno novo serve, si cricri quizer eu ser commigo mesmo, para chegar aos onze mil, ou por ahi…
DIA DO CANDOMBLÉ
Não é no candomblé que berimbau se toca? Adoro, vate, esse instrumento! É pena que não toco bem, mas tento não ser, em outra coisa, assim tão mau!
Tambem na capoeira vejo -- Uau! -aquelles pés morenos no momento do golpe mais bonito! Só lamento que minha cara alli não leve pau!
Ah, Glauco, que fascinio tenho pelos taes ritos africanos! Fico tão vidrado, que me livro dos meus zelos!
Um dia, ainda chupo o tal negão que vi no candomblé! Que tornozellos! Que solas! Que pés lindos! Que tesão!
DIA DA CORRIDA DE SÃO SYLVESTRE
Ei, tive idéa boa, trovador! Você na São Sylvestre! Hem? Genial! Sim, cegos tambem correm! Hem? Que tal? Eu fico do seu lado, quando for!
Está com medo? Pensa que se expor irá para as platéas nessa tal corrida de infelizes, que geral seria a gargalhada? Ah, por favor!
Seus versos ao ridiculo ja tanto se prestam! Elles querem ver você suando, não trancado no seu cantho!
Ficar sempre escondido para que? Ah, vamos! Que se foda! Nem me expanto si, numas, até rapa alguem lhe dê!
DIA DE YEMANJÁ
Qualquer mythologia nos dará um ente em quem possamos botar fé?
Duvido! Omnipotente ninguem é! Por isso sempre invoco um orixá!
No caso, estou fallando de Yemanjá, rainha que é das aguas, da maré, daquelles pescadores, ou até dos cegos! Você não concordará?
Você mesmo contou que, em Sanctos, quasi morreu, quando o jogaram no canal! Foi grato a Yemanjá, naquella phase!
Não digo que pretendo me dar mal, mas, caso me impuzerem que eu me case, a ella pedirei melhor astral!
DIA DO CHROMOTHERAPEUTA
Dois mil e vinte e quattro terá cor laranja, menestrel, pois ella attrae melhores energias! E lhe cae bem, cara! Pense nisso, por favor!
Lhe lembra aquelle filme? Irá suppor você que estou fallando porque vae ser ultraviolento? Não, meu! Ai! Magina! Anno de muita flor, sem dor!
Glaucão, não se preoccupe! Não arranja nenhum problema, mestre, em vinte e quattro!
É só não se exquescer de usar laranja!
Seu fado de ceguinho nem tão atro será, ja que em sonnetto ‘ocê, que exbanja talento, vae ver nelle bom theatro!
DIA DO NUMEROLOGO
Dois mil e vinte e quattro, Glaucão, si sommarmos algarismos, que é que dá? Sim, oito! Ora, pergunto, camará: Qual cor achei num oito? Diga ahi!
Laranja? Quem fallou isso? Não vi laranja! Vi foi rosa! Sim, está clarissimo! Você, pois, usará só rosa! Tudo rosa! Você ri?
Se lembra dalgum filme? Exactamente! Aquelle do John Waters! Tem lambida à bessa nos pezinhos! Filme quente!
Glaucão, prefira rosa! A sua vida será melhor! Cegueira, quem aguente não ha, bem sei… Mas pense e, emfim, decida!
DIA DA CIRCUMCISÃO DE JESUS
Que tudo de Jesus se immortaliza sabemos, menestrel. Porem, me intriga que fallem muito pouco dessa viga sagrada, desse phallo, na pesquisa…
Ja as fontes consultei, mas nada advisa nenhuma sobre rollas! Ninguem liga, notei, para um detalhe que me instiga: Que é feito do prepucio? Ninguem diz? Ah!
Deviam cultuar, mui christanmente, a pelle que, cortada, conservara, talvez, um boccadinho da semente!
Deviam cultuar aquella rara porção de esmegma joven, que somente Jesus sagrou! Não amam sua vara?
DIA DO DESFILE DE SALTIMBANCOS
Que scena, amigos! Quero versejal-a! Em meio aos saltimbancos que na rua faziam, sem pudor, aquella sua devassa passeata, mandei balla!
Despi-me, me pinctei, como se falla, “montei-me” e, como quem se prostitua em pleno carnaval, qual bicha nua e louca, vi-me em tal traje de gala!
Sahimos a dansar e saltitar, emquanto a turbamulta, divertida, gritava: “Ah, la vae elle tropeçar!”
De facto, me rallei pela avenida, soltei-me totalmente, em meu azar. Foi sonho, mas resume minha vida.
DIA DA IMPRENSA ESPIRITA
No meu fanzine espirita, Glaucão, publico só mensagens de quem ja está desencarnado, quem está num plano superior de evolução!
Bom… tento publicar… Mas, quando são provindos de inferior logar, não ha maneira de evitar que eu proprio va virar mero refem da maldicção!
Os textos são terriveis! Fazem uma daquellas ammeaças de invadir a Terra algum zumbi que vil se assuma!
Nem sempre se confirma, ha que convir meu publico leitor, mas, si elle espuma de raiva, todos temos que intervir!
DIA DOS NUMEROS KABBALISTICOS
Não, Glauco, nem precisa ser um anno certinho, como foi dois mil e vinte, em dois de fevereiro, num requincte, de facto, palindromico! Não, mano!
Ja basta que estejamos num uffano primeiro de janeiro, pois seguinte se torna mez e dia, sem accincte, egual nessa comptagem! Sem enganno!
São numeros que, quando coincide de serem kabbalisticos, nós temos que bruxos ser, pois somos quem decide!
Proveito tire, Glauco! Com os demos! Componha alguns sonnettos que, em revide, compensem todos esses seus extremos!
DIA MUNDIAL DA PAZ
Hem, Glauco? Paz? Mas, porra, que paz ha no mundo real, nesta actual era de guerras insoluveis? É chimera pensar que pacifismos haverá!
Ukrania ou Gaza, Glauco, bastará lembrarmos para vermos! Que se espera que façam esses lideres que mera conversa nem conseguem manter, ja?
Prevejo, não aquella paz que seja utopica, mas uma meia paz, propicia aos governantes, de bandeja!
Banqueiros sabem bem como se faz! É como no boteco: uma cerveja, num pappo de inimigos, tregua traz!
DIA DA RESACA
Tomei todas, Glaucão! Todas comi, tambem! Ou, pelo menos, eu suppuz! Agora que, de novo, sob a luz do dia à rua saio, reflecti!
Será que comi mesmo? Vou aqui pensando… Todo mundo dando os cus, chupando… Quem será que mais seduz aquella mulherada? Você ri?
De facto, mulherada nem havia naquelle pardieiro de rapazes que, bebados, entravam na follia!
Pois é, Glaucão! Agora fiz as pazes com minha consciencia! A putaria se perde na memoria, como as phrases!
DIA DA SYMPATHIA DA SAPATEIRA
Garanto-te, poeta, que funcciona! Tu pegas um sapato velho, mas bem velho mesmo, desses que ja faz uns annos que não usas, bem cafona!
Tu lambes essa sola ja podrona, mofada, de borracha gasta, assaz em ecstase! Depois, adspiras gaz fedido que, de dentro, vem à tonna!
Ahi, te lembrarás de que esse enorme sapato nem teu era, pois pagaste por elle ao teu michê, que em paz ja dorme…
Suppondo que esse gesto ja te baste, direi que é ritual sacro! O disforme pisante impedirá que um teu se gaste!
DIA DO JANEIRO BRANCO
Janeiro branco, Glauco? Por que branco? Por causa da sahude mental? Vós pensaes nisso por antes ou appós? Achaes que num hospicio ja me tranco?
Não, Glauco, não acheis! Para ser franco, malucos somos todos! Viva nós! Si todos escutarmos nossa voz, seremos todos ricos la no banco!
Sim, mestre, estaes maluco por vós serdes poeta! Mas tambem eu sou da lyra! Não vedes? Vossos olhos são ja verdes?
Azues ja se tornaram? Quem delira aqui? Mais que eu maluco si estiverdes, mais branco o vosso olhar dirá quem pira!
DIA DA FICÇÃO SCIENTIFICA
Os seres que, galacticos, estão querendo dominar nosso planeta feição não teem, Glaucão, que comprometta a sua verdadeira pretensão!
Pessoas são, normaes, por vezes tão sympathicas! Lhes dando na veneta, até podem causar alguma treta, mas isso, ora, não passa de excepção!
Um dia, descobri qual é, de facto, a cara natural dum marciano, sem mascara: ah, terrivel, eu constato!
Verdão, pelle escamada, ar dum insano dragão, todo corcunda, pés de pato, detalhe que, aliaz, tornou-o uffano…
DIA DO INTROVERTIDO
Dos quattro criminosos que estão ja attraz duma segura, grossa grade, appenas um não teve identidade de monstro sanguinario… Mas terá.
Um timido rapaz! Alguem que va dizer que ja mactara, na verdade, centenas de pessoas, não será de acharmos facilmente, camará!
Mas elle tem, Glaucão, uma mania extranha: fica quieto, só fallando comsigo! Ora, com quem mais fallaria?
Promette se vingar, Glaucão! E quando sahir dalli, mais dia, menos dia, irá formar, de monstros, todo um bando!
DIA DO QUEIJO SUISSO
Um queijo sem buracos? Ora, amigo! Não pode ser, então, queijo suisso! Luxento sou com queijos e, por isso, um outro não acceito, logo digo!
Mas, como que por sadico castigo, alguem falsificou, sem compromisso, meu typo predilecto, um rebulliço causando-me! Dormir ja nem consigo!
No rotulo, “gruyère” está graphado em lettras garrafaes! Isso ja dá idéa de que exsista algo de errado!
Si for do genuino, Glaucão, ja notei, lettras minusculas, ao lado dum maximo precinho obstentará!
DIA DO AUSTERICIDA
Não podem gastar tanto! Vocês querem quebrar meu orçamento? Não ha grana, ou antes, “no hay plata” para a gana dos pobres desvalidos! Cês que esperem!
Proponham! Peçam tudo que quizerem, mas pensem no meu lado, pois sacana não sou! Sou responsavel, pô! Se enganna quem queira que meus cofres todos zerem!
A chave do thesouro quem tem? Quem? Quem é que deve dar satisfacção depois que não sobrar nenhum vintem?
Chamar de “austericidio” não vae, não, mexer com os meus nervos! Quem me vem pedir dinheiro cobre do povão!
DIA DO CANUDINHO
Beber de canudinho? Ora, poeta! Magina! Não tem graça alguma, não! Você beber consegue, vate, então, cerveja assim? É tactica correcta?
E vinho? Beberia assim? Affecta a quem essa mania, que noção de nojo quer passar? Não, o povão ja mette logo o beiço! Nada veta!
Notei ja quando um punk ia tomar refri de canudinho, salivando naquillo de proposito! Mau ar!
Com elle estava alli todo o seu bando e todos seu biquinho no logar puzeram! Hygiene? Como? Quando?
DIA DO FUSCA
Os ricos emergentes obstentar desejam loucamente, trovador! Comprar querem, de griffe, superior pisante, fora aquelle cellular!
Que importa si teriam de ficar na fila dos ingressos, seu suor na cara lhe excorrendo? Si é cantor da moda, caro gostam de pagar!
Mas, quando um empresario billionario à rua sae, de fusca dirigindo sozinho vae, qualquer que seja o horario!
Seu terno não tem nada, nem de lindo, tampouco de elegante! Funccionario commum paresce, como que fingindo!
HUMILIATION DAY
Quando um americano, numa guerra, se rende ao inimigo do terceiro mundinho miseravel, eu me inteiro daquillo que esse gesto humilde encerra.
Seu sadico captor de exstase berra, sabendo que será seu carcereiro e delle poderá fazer, primeiro, um simples animal que fuça a terra.
O joven fuzileiro, que rasteja aos pés do guerrilheiro, lambe bota, pisão leva na cara. Alguem o veja!
E logo, pelas redes, bem se nota que passa por pessoa bemfazeja, refem dum malfeitor… mas patriota.
DIA DO JUIZ DE MENORES
Não, Glauco! O meninão nadinha fez! Não vês que inimputavel é, poeta? Não posso condemnal-o, nem directa nem indirectamente! Tu não vês?
A ficha delle está, sim, cada vez maior! Elle estuprou, impoz completa tortura àquella moça! A lei não veta, comtudo, sua acção, com outros trez!
A curra não aggrava tal delicto, poeta! A molecada tudo pode fazer, segundo o codigo que eu cito!
Exacto, menestrel! Quem se incommode não vejo, pois, às vezes, nem bonito achei quem as mocinhas lindas fode!
DIA DO SOMNO
Glaucão, ja accostumado estou àquillo que com você tambem rolla: passar a noite sem dormir! No seu logar tambem estou, Glaucão! Fique tranquillo!
De insomnia nós soffremos! Referil-o me soa redundante, pois azar tivemos de deixarmos de enxergar faz tempo! Nem é caso de sigillo!
Mas quero lhe contar um segredinho… Um methodo occorreu-me, Glauco, para pegar firme no somno, rapidinho!
Ouvirmos futebol! Não falha, cara! Estamos em tal varzea, que meu vinho barato ja nem tomo! Precisara?
DIA DA DOAÇÃO DE CORNEAS
Fallei ja disso, Glauco. Nos Estados Unidos, propuzeram que quem seja às grades condemnado, de bandeja ja doe suas corneas: são cegados.
Vantagens haverá, de varios lados. As corneas servirão a quem esteja daquillo precisando. Uma cereja no bollo é que estarão disciplinados.
Um cego prisioneiro não consegue fugir. Não se rebella contra nada. Em summa, não ha coisa à qual se negue.
É commodo ordenar que dê chupada e engula sem chiar. Alguem que cegue nem pode dedurar quem o degrada…
DIA DO BRAILLE
Cansei ja de fallar! Essa mania que todos os que enxergam teem me cansa, pois acham que mais pesa na ballança dum cego si elle em braille se vicia!
Àquelle que ja viu e que ja lia nas lettras normaes, é desesperança total que, nuns ponctinhos, haja mansa leitura pelo tacto! Nem podia!
Ponctinhos appalpar é como ousar ler algo por um pão com gergelim ou, por um brigadeiro, solettrar!
Prefiro, pois, comel-os! Para mim, programmas de informatica logar tomaram desse braille tão ruim!
DIA DA FUTILIDADE
Magina! Musiquinha de verão? Roupinha de verão? Até modello estão propondo para algum cabello exotico! Tão futil, né, Glaucão?
Verão é, por acaso, occasião propicia para tudo? Ora, meu zelo me impõe a compostura de quem, pelo contrario, não se deixa levar, não!
Agora a gente escuta que sorvete estão vendendo, Glauco, de pheijão com molho de pigmenta! Ai, meu cacete!
Se dansa aquelle funk “illicitão” que impera nas favellas! Um porrete meresce essa cambada! Ai, meu colhão!
DIA DO HEMOPHILICO
Henfil e seu irmão soffriam disso, poeta, si engannado não estou! Aquillo foi horrivel, pois rollou o panico da SIDA! Foi enguiço!
Eu era adolescente e, tão submisso que estava me sentindo, dei meu show de sadomasochismo! Me enrabou até meu colleguinha de serviço!
Depois, um puta medo me invadia de estar contaminado, mas eu não queria me testar! Tinha phobia!
Jamais eu precisei de transfusão, mas nunca ninguem sabe! Posso, um dia, morrer só de pensar, na depressão!
DIA DO HYPNOTISMO
Te lembras do Mandrake, menestrel? Um simples gesto delle era chamado de “hypnotico”! Babau, o desalmado bandido ja fazia mau papel!
Eu mesmo, menestrel, ja fui fiel discipulo dum magico! De gado o gajo nos fazia, sem ter dado um unico gritinho no bordel!
O mestre era maestro! Nos regia qual fossemos orchestra! Aquelle bando de bichas em total hierarchia!
Emquanto o mestre esteve no commando, nós eramos automatos! Um dia, cedeu e seu annel accabou dando…
DIA DO SPAGHETTI
Desisto, menestrel! Ora, ninguem consegue, com o garfo, pappar um prattaço de spaghetti, tão commum jeitinho de italianos! Não, mas nem…!
Vovô comia assim! Rodava, bem certinho, devagar, o garfo, num preciso movimento! Não, nenhum nettinho conseguiu! Segredo tem!
Nem sei o que fazer! Uso colher? Não para nada nella, muito menos no garfo! Sou bobão nesse mester!
Mas, para alliviar os meus accenos, um jeito descobriu minha mulher: Prepara maccarrões desses pequenos!
DIA DA LINGUIÇA
Devemos ter em mente esta premissa: Você quer aggradar algum bassê? Então é muito simples! Tem você que estar sempre disposto a dar linguiça!
Nenhum outro petisco mais attiça a fome dum bassê! Ninguem que dê excappa dum lambeijo! Ja se vê que, para almossar, deixa de preguiça…
Na hora de comer ou do passeio, anima-se esse fofo salsichudo, mas sempre com cochilos de permeio…
Psychologos fizeram um estudo accerca dos bassês, mas eu não creio que muda alguma coisa. É gula, eis tudo!
DIA DA ROUPA USADA
No bairro descobri certo brechó, poeta, que cuecas até tem, baratas, baratissimas, alem daquelles chinellinhos da vovó!
Comtudo, o que me importa, veja só, é que esse brechó vende, Glauco, sem lavar, meias suadas! São de quem? Dos jovens que as deschartam sem ter dó!
Sim, pelos vestiarios dum collegio jogadas ellas ficam! As collecta alguem que nos concede o privilegio!
A gente, nessas meias, tem completa noção do chulezinho que bem rege o tesão que a nós, podolatras, affecta!
CUDDLE UP DAY
Eu era bem ranzinza, seu Mattoso! Um dia, resolvi pedir arrego. Agora, não dispenso o meu chamego e posso ja dizer que sou dengoso…
E sabe por que? Nunca tive gozo emquanto não tirasse do sossego alguem de quem tivesse desappego. Mas isso foi por compta do Tinhoso!
Satan desencostou de mim, um dia, e pude ver amor numa attitude christan, de charidade e de empathia…
Sim, hoje carinhoso sou! Não pude, ainda, desistir dessa agonia que causo nos peões! Ahi, sou rude!
DIA DO ACROSTICHO
Qualquer um que christão se diz na vida
Um penis não chupou, nem chupará!
Eu mesmo não chupei, ja que não ha Maneira de engolir coisa fedida!
Quem gosta de ter nojo que decida
Usar a bocca para aquella má
E porca acção! Eu, nunca! Sae p’ra la!
Razão não tenho, porra? Alguem duvida?
Mas gosto de fazer alguem chupar!
Então deixo o meu penis ensebado!
Uau! Você que tenha paladar!
Pau sujo tem de queijo o cheiro… Um dado
Adjuda a perceber em que logar
Um trouxa se colloca: adjoelhado!