DIA DO ASTROLOGO
DIA DO ASTROLOGO
E OUTROS SONNETTOS
São Paulo
Casa de Ferreiro
Dia do astrologo
© Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
DIA DO ASTROLOGO E OUTROS SONNETTOS/Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024
112p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.
Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.
O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.
Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.
DIA DE LAZER PARA O DEFICIENTE PHYSICO
Levava a passear um cadeirante o sadico rapaz que, de repente, resolve fazer algo differente e, em vez de entrar no parque, segue addeante.
Protesta o cadeirante, mas, durante o resto do trajecto, sorridente, o moço nem indaga o que é que sente alguem sem movimentos, mal fallante.
Chegando, da ladeira, bem na beira, empurra aquelle moço uma cadeira de rodas com um corpo, um morto peso…
Magina! Não irá jamais inteira parar essa cadeira! Ninguem queira saber daquelle invalido indefeso!
DIA DE LUCTA CONTRA O CRIME ORGANIZADO
Juiz “canneta dura”, aquelle tal em carcere fechado ja mantinha faz tempo um cidadão que, pela minha fichinha, era terrivel marginal.
Chefão do crime, quiz sahir e, mal sahiu, quiz se vingar. Tinha damninha faminha, esse bandido de excarninha e sadica attitude, sem rival.
Na casa do juiz, entrou à noite e, quando fez refem o seu algoz, currou-o, com requinctes, sob açoite.
Ninguem siquer ouviu, do cara, a voz. Por isso digo: um gajo que se ammoite melhor, si for juiz dalgum de nós…
DIA DO PHONOAUDIOLOGO
Glaucão, o meu bassê sabe fallar direito, claramente! Em cada “au au”, ou antes, “eu eu”, não é nada mau o seu fallar lindão e singular!
Um phonoaudiologo, com ar pedante e impertinente, quiz dar grau zerado pro cachorro! Deu quinau por causa desse “eu eu”! Nem está a par!
Bassês lattem “eu eu” porque, de facto, são centro de attenções geraes! É justo que sejam egoistas! Sei que é chato!
Mas taes especialistas alto custo demandam, sem que entreguem, eu constato, algum saber! Não morro desse susto!
DIA DO PROFISSIONAL DA CULINARIA
Estou de sacco cheio, trovador! Os taes “culinaristas” nem pastel fazer sabem! Collocam, menestrel, até mellado para dar sabor!
Mixturam, no recheio, o que lhes for possivel encontrar, ao prazer bel, em termos de fructinhas e de mel, em choque com salgados! Um horror!
Com pera arroz, farofa de uva passa, abacaxi na carne e, com limão, um acchocolatado! Ora, tem graça?
Fallei ja tantas vezes, meu irmão, mas esse falso chefe que na praça está só tem um nome: charlatão!
DIA DO REPORTER ESPORTIVO
No campo ja fiquei, Glaucão, bem perto daquelle jogador que maior pé tem, desses gigantões! Maior até que desses basketeiros, fique certo!
Fallei, no vestiario (fui experto), com esse bem dotado! Sim, pois é! O gajo tem fetiche! Bote fé! Fetiche por chulé! Sim, jogo aberto!
Na sua propria chanca elle cafunga, pois falla que encontrou alguem com cheiro egual só nos discipulos do Dunga!
Glaucão, o que elle diz é verdadeiro! Reporter que se mostre meio punga não topa aquelle cheiro de chiqueiro!
DIA DA SEGURANÇA DOS PACIENTES
Um forte terremoto ora ammeaça levar bairros inteiros de roldão naquella capital. Como serão os proximos ha quem idéa faça?
Ja foi evacuada, pela praça affora, a mais local população. Somente esse hospital, aonde vão parar os desvalidos, terror passa.
Hem? Como transferir gente doente, immovel numa cama, sem siquer estar minimamente consciente?
Um salve-se, na vida, quem puder se expalha na cidade. De repente, ja treme tudo… Um grito de mulher…
DIA DA CONSCIENCIA POSTHUMA
Glaucão, tanto melhor! Si for a morte o fim da consciencia, tudo bem! Aqui não estaria mais ninguem ja morto que da cova se transporte!
Tambem nós, si morrermos, muita sorte teremos por não termos que ver, sem que vistos nós sejamos, quando alguem nos chama de escriptores por esporte!
Qualquer que seja a nossa sorte, nada teremos que temer! Ou descansamos ou damos, la do céu, muita risada!
Portanto, quando ouvirmos os reclamos dos mortos sem sossego nem morada, diremos que bananas nós lhes damos!
DIA DA CACOPHONIA
Cuspi ca gay sentença a você, Glauco, dizendo: “Deixo o par do meu chinello mais velho, pois topei, do que mais bello havia, do par novo! Me desfalco?”
“Jamais! Meu professor, doutor Vadauco, fallou que por meu corpo tão bem zelo que irei por cada poro rhymar! Mello si, fofo de suor, estou no palco!”
Depois desse nonsense, fui fallar das coisas de comer, da refeição que, em pouco, comerei com paladar!
Mas, como de tão baixo palavrão não paro de expor rapido radar, melhor deixar a vacca ganhar pão…
DIA DA BIBLIA
São tantas as versões do livro sancto que, quando as confrontei pela Vulgata, notei nem entender de que se tracta quem isso traduziu em cada cantho.
É tudo controverso nisso, tanto que mesmo uma graphia mais exacta (exemplo foi Mattheus) ninguem accapta: escrevem só “Matheus”! Que desencanto!
Si fosse só questão de escripta, ainda seria de somenos! A querella da apocrypha versão se extende, infinda!
Ainda assim, é bella, muito bella a Biblia. Até seria mais bemvinda, não fosse essa fanatica panella.
DIA DO CANTO KHORAL
Uivar, como os bassês em khoro, não é facil, menestrel! Eu tenho trez que, quando vão cantar, fazem freguez o bairro todo, louco de emoção!
Eu toco Handel, Glauco! Quando um cão escuta aquillo, chama mais bassês e entoam a halleluiah que vocês, ceguinhos, de cor sempre saberão!
Alguem até gravou bons albuns com um khoro de bassês, cantando Bach, Beethoven, Mozart, mesmo um local som!
Ouvi, ja, Villa Lobos, Glaucão! Ah, que vozes! Quantos uivos, sem do tom sahir! Alguem discorda, ainda? Bah!
OUTRO DIA DO CATADOR DE MATERIAES RECYCLAVEIS
Deschartam muitos tennis velhos por aqui, Glaucão! Sabia? Sim, motivo exsiste: um escholar centro esportivo bem perto se situa, trovador!
Mas eu os collecciono! Sim senhor! Chulés alguns conservam, um mais vivo, mais fracco um outro… Como compulsivo podolatra, provei cada sabor!
Achei de tudo: um Conga appodrescido, um fetido Rainha, até de Nike um unico pezão, tambem fedido!
Alguns foram usados p’ra, de bike, o joven pedalar… Até convido você para cheirar commigo… Vae que…
DIA DE COMBATTE À INTOLERANCIA RELIGIOSA
Estão discriminando, Glauco, cada fé, cada crença, cada religião! Assim não é possivel! Como vão rezar em paz os membros da bancada?
Os crentes só recebem porretada e exsiste preconceito de montão! Catholicos, buddhistas, tambem são motivo de inverdade e de piada!
Espiritas se queixam da campanha maldosa de evangelicos! Quem faz opção por ritos afros só pau ganha!
Mas mais intolerante é quem tem más vontades contra nós, com essa sanha maligna aos meus irmãos em Satanaz!
DIA DOS DIREITOS HUMANOS
(na voz dum ex-vigilante apposentado)
Humanos de direita teem direito, tambem, às suas crenças, menestrel! Ou só quem for de esquerda tem papel de peso na questão e tem proveito?
Não, Glauco! Desse jeito eu não acceito! Bandidos se concentram na fiel torcida, mas quem fica no quartel a todas as sancções está subjeito!
Eu sonho com o dia da vingança, poeta, quando formos vencedores! Ahi você verá quem é que dansa!
Nós, membros da direita, soffredores que somos, só mantemos vida mansa si impomos aos communas nossas dores!
DIA DA INCLUSÃO SOCIAL
Bobagem, vate? Eu, hem? Só de inclusão se falla, de inclusão e de inclusão! Mas cegos, como somos, não estão inclusos na conversa delles, não!
Você, que é testemunha da questão, bem sabe como fazem e farão aquelles que nos barram a ambição de sermos escriptores! Né, Glaucão?
Ha quotas para tudo! No trabalho, nas universidades, no direito ao pão, à moradia, ao quebragalho!
Mas, para cegos, nunca! Nada feito! Até de entrar na Casa do Caralho nós somos prohibidos! Não tem jeito!
DIA DO ECUMENISMO
Um dia, menestrel, nos chegará em que elles todos, esses que fé teem, irão, emfim, dizer que ja não vem ao caso divergirem, por Allah!
Por Christo! Por Javeh! Por Oxalá! Por Juppiter! Por Baccho! Por quem zen se julga no buddhismo! Por alguem, satanico que seja, desde ja!
Si forem ecumenicos, de facto, aquelles que professam egualdade de crenças, com Satan eu os empatto!
Não querem acceitar que eu desaggrade, com minhas bruxarias, o pacato systema? Va tomá no cu, cumpade!
DIA DA MULHER DO PASTOR
Casar-se todas podem, porra! Agora, por causa duma fé qualquer, a gente precisa se manter constantemente submissa ao pastor? Foda-se! Estou fora!
Mulher eu fui, fiel! Sim, fui senhora honrada, de respeito! De repente, Satan me convenceu e, quem se sente fodida, quer vingar-se, em boa hora!
Ah, Glauco! Descobri que meu marido curtia appanhar, putas contractava appenas p’ra dar pau nesse bandido!
Mandei as convenções todas à fava! Alem de meu marido ter trahido, passei a ser quem nelle surras dava!
DIA DO PALHAÇO
Lembrar-se da alegria de creança a gente sempre lembra. Piolin, Torresmo ou Arrelia, para mim, são nomes que a memoria ainda alcança.
Fuzarca, Carequinha… Na ballança nós pomos os momentos, por assim dizer, que são felizes. Só ruim ficou essa dramatica lembrança…
Palhaço dos palhaços, quem é mais? Só pode ser o cego que, na rua, é thema das piadas mais banaes.
Si eu passo, cada hyena faz a sua chacota… Nem garanto que jamais eu seja quem aos cães se prostitua.
DIA MUNDIAL DOS POVOS INDIGENAS
Indigenas do mundo todo, uni-vos! Fazei uma anarchia nas Nações Unidas! Conclamae as attenções do mundo quanto aos indios ‘inda vivos!
Dos poucos que restaram, pelos crivos da midia, alguns até que condições conseguem, favoraveis, si porções venderem de seus marcos exclusivos.
Reservas florestaes, olhae bem, são motivo da cobiça de quem queira madeiras extrahir, na grande mão!
Correis riscos diversos: a madeira perdeis, perdeis minerios e, si não cuidardes, vos sobrar irá a caveira!
DIA DO SOCIOLOGO
Glaucão, sou sociologo! Ocê tem noção do que isto seja? Lhe direi! Curriculos diversos eu junctei nas universidades, ouviu bem?
Accerca da miseria, sou eu quem palpites mais dará, pois eu só sei de tantas estatisticas e lei propuz para que um pobre seja alguem!
Entendo disso tudo como mais ninguem, caro poeta! Aliaz, sou da Academia membro, entre immortaes!
Você das minhas theses duvidou? Não acha que dos povos eu taes ais conhesço? Ora, mais trella não lhe dou!
DIA DA UNIVERSIDADE PUBLICA
Do trote não excappa, pobre ou rico, quem passe no geral vestibular. Em publico, na rua, vão rollar as scenas com as quaes me identifico.
Calouros são expostos a tal mico desnudos, de joelhos, a rallar a lingua nos pisantes de quem ar de sadico tem, como um typo Kiko.
Os jovens que, mimados, entram numa difficil faculdade, são os mais carrascos no poder. A cobra fuma!
Vi scenas de novatos, animaes perfeitos, humilhados. Quem assuma seus gostos tem papeis, alli, normaes.
DIA DA PRIORIDADE
Hem, Glauco? O que é que mais humilha a gente? Chupar antes de dar o cu? Ahi um pau lubrificamos… Ja senti menor, depois, a dor que a gente sente!
Mas dar o cu, primeiro, repellente se torna, pois chupar o que está alli grudado tem sabor que, de chichi não sendo, dá mais nojo, simplesmente!
Mais sadomasochista me paresce chupar um pau que esteja ammarronzado de merda, coisa que ninguem exquesce!
Eu proprio dum cocô me lembro… O sado sabia que eu comera, appós a prece, um peixe que estragou… Sacou meu lado?
DIA DE OUVIR COISAS
Glaucão, ouvi chamarem por mim, mas, assim que perguntei, disseram não! Só que isso se repete, meu irmão! Que faço? Devo orar a Satanaz?
Seriam vibrações daquellas más?
Seriam pegadinhas dos que estão querendo me envolver em gozação? E então? Impressionado não estás?
As vozes que me chamam eu, por vezes, achei que familiares eram! Só que sempre me parescem descortezes!
Me xingam, qual xingava a minha avó, faz tempo fallescida! Foi ha mezes, tambem, que fallesceu meu cão! Que dó!
DIA DO ARCHITECTO
Glaucão, os architectos, hoje em dia, são todos communistas! Não cultua ninguem mais os estylos que na rua se viam, europeus na theoria!
Mansardas ja recusam! Que mania! Antigos casarões, naquella sua feição monumental, trocam por nua fachada, sem requinctes, pobre e fria!
Só querem saber elles de morada commum e collectiva, para aquella gentalha das periphas, e mais nada!
Por isso desisti do curso! Bella visão da profissão! Só quem invada e occupe tem logar nessa panella!
DIA DO ENGENHEIRO
Glaucão, os engenheiros, hoje em dia, são todos distrahidos! Quem projecta um novo viaducto nem completa os calculos daquella porcaria!
Nas coxas fazem tudo! Ocê sabia que, quando cae a ponte, que nem recta estava, se descobre que incorrecta foi toda a construcção? E ninguem via!
Justiça lhe fazendo, um engenheiro nem pode segurar a culpa toda! O publico poder culpem primeiro!
Perguntem ao prefeito! “Que se foda!”, responde elle! Batata! Ja tem cheiro de money desviado! Certo, brother?
DIA DO CONTROLE DE PESO
Coitado de quem vive, na ballança, com medo de engordar, medindo o seu supposto peso certo! Quem perdeu na certa ganhará, maior, a pança!
Sou gordo desde sempre, Glaucão! Dansa bonito quem quizer ser magro, meu! Um dia me illudi! Que phariseu meu medico foi, tendo vida mansa!
Vivia me cobrando que perdesse mais peso, que comesse menos, esse patife! E elle comia até bem mais!
Mas, Glauco, não tardou que se fodesse! Morreu subitamente! Ninguem nesse pappinho caia desses radicaes!
DIA DO DIREITO À PRIVACIDADE
Escutas clandestinas ja são mais communs na actual era digital. Politicos diversos, hoje, mal disfarsam seus chavões colloquiaes.
{Caralho, porra! Aquelle estrume taes palavras de mim disse? Marginal de merda! Va tomar no cu! Total repudio vae ter elle nos jornaes!}
“Que filho duma puta! Assim o cara que exerce esse tão alto cargo falla do nosso lider? Elle que va para…”
{Alguem interceptou, aqui na salla, o nosso pappo? Oh, raios! Uma arara eu fico si ao panaca alguem me eguala!}
DIA DA MONTANHA
Um tunnel ja quizeram fazer para, por baixo da montanha, mais caminho cortar. Mas o destino foi damninho, pois tudo desabou. Quem duvidara?
Morreram operarios, mas tomara que tenham sido poucos. Excarninho demais foi um bossal engraçadinho que memes ja postou. Elle dispara:
“Bem feito! Quem mandou desaffiar os deuses da montanha? Agora vão, ainda mais abbaixo, o mal pagar!”
Imagens dum inferno o fanfarrão postou. Mas fica a dica, similar, aos homens do metrô, no tatuzão.
DIA DO TANGO
Tragedias a Argentina faz questão de sempre reviver, Glaucão! Agora, de novo, vem alguem dizer que chora por causa duma dollarização!
Tal filme ja assisti! Melhor, então: Tal tango ouvi bastante! Mas, embora os factos se repitam, quem adora taes dramas achará mais diversão!
O gajo mais maluco me paresce que todos os demais que, na Argentina, chutaram, Glauco, o balde! Quem meresce?
Amigos argentinos tenho! Opina um delles que é melhor nós, aqui, prece fazermos! Quem for vivo se previna!
DIA DO ESCORPIÃO GIGANTE
A atroz caranguejeira, a maioral de todas, é chamada de Golias. Nas mattas da Amazonia, levam dias os gajos para achal-a ao natural.
Mas esse escorpião, um animal mais raro, vive nestas cercanias. Verdade, menestrel! Tu não sabias? Um bicho que, em horror, não tem egual!
Chamado parabutho, tem a cor vermelha, até paresce um lagostim. Coitado si piccado um gajo for!
Estás appavorado? Para mim, não passa de mais uma aguda dor que aggrava a nossa vida, ja ruim…
DIA DO ADVALIADOR
Tu queres saber? Ora, a poesia que fazes não me vale grande cousa! Discordas? Então olha aqui na lousa! Teus versos são é grossa porcaria!
Sinão, vejamos: “beijo” rhymaria um bardo com “desejo”? Ora, quem ousa?
Mas meu quinau só nisso não repousa:
Rhymaste “doce” e “trouxe”! Que heresia!
Com “bocca” tu rhymaste “louca”! Viste? “Brazil” tu com “partiu” rhymaste! E pé quebrado tem teu verso, não resiste!
Então, como tu queres que eu dê fé naquillo que reputo horrivel? Chiste me queres fazer? Chamas-me Mané?
DIA DO DESEQUILIBRADO DESATTENTO
Não, Glauco! O meu filhão não é maluco! Appenas retardado! Mas é leve o nivel do transtorno! Quem descreve bem isso me accalmou! Eu nem encuco!
Mas sabe, vate? Eu tento, fallo, educo, porem elle me ignora! Acho que deve ser coisa de somenos! Elle, em breve, será maior de edade e eu, ja, caduco!
O tennis delle fica alli, largado, fedendo um chulezão da porra, cara! E então? Algo fallei do seu aggrado?
Você não quer, Glaucão, que eu diga para meu filho o visitar? Quem sabe sado se torne com você, lhe entenda a tara…
DIA DO MACHO ALPHA
Bom video vi, Glaucão, mas vou alem! Um macho diz amar o Capitão, amar tanto, mas tanto, que, de tão devoto, uma vontade firme tem:
O cu quer dar-lhe, Glauco! Falla bem assim: {Batto punheta de tesão por elle e minha esposa, até, questão farei de lhe ceder, dizendo Amen!}
Alem vou desse, Glauco, pois sou mais fanatico por nosso commandante! Lhe lambo as federaes pregas anaes!
De lingua limpo o pó do seu pisante e chupo o seu caralho! Os generaes de inveja terão verde seu semblante!
DIA DO CEGO
Sabiam? Todo cego tem seu dia! E como nós sabemos? Simples, ora! Si o cego sae sozinho, rua affora, é certo que é seu dia de agonia!
Aos jovens, será dia de follia, de farra, pois curral-o sem demora irão! Vejam vocês! A turma, agora, cercou o cego! O que se seguiria?
Sem sua bengalinha, ja chutada, o cego vae levar porrada até ficar adjoelhado na calçada!
Ahi vem o melhor! Lamber o pé de todos vae, chupar o pau de cada, sinão dia do cego esse não é!
DIA DO FORRÓ
Um dia do forró? Mas só si for forró raiz, aquelle pé de serra! Luiz Gonzaga, sim, na sua terra brilhou! Esse é porreta, sim senhor!
Mas hoje nem baião me faz suppor que seja algo curtivel, pois não erra quem acha que esse genero se encerra la attraz, sem que nos surja algum auctor!
Por “universitario” o que se entende?
Só coisa de estudante, sem valor nenhum, que por artistica se vende!
Emquanto não tivermos um cantor que tradições resgate, nada tem de bom nosso forró! Resta-nos a dor!
DIA DO LAPIDADOR
De joias é que estamos a fallar? De pedras preciosas? Meu pae era do ramo, menestrel! Ah, quem me dera voltarmos ao passado, no meu lar!
Papae tinha a missão peculiar de, para gente fina, ver, à vera si tal ou qual pedrinha ja tivera passado por bom tracto lapidar…
Às vezes, elle mesmo lapidava um bruto diamante para alguem do typo que dinheiro sujo lava!
Perigo, nesses casos, sempre tem, pois, quando cae a casa, mais se aggrava a vida de quem só trabalha bem…
DIA DO NORDESTINO
Um delles namorei, Glaucão! O cara orgulho tinha à bessa, com razão, da sua capital, Recife! Não conhesço outras, mas nisto se repara:
O trolleybus! Passava de la para ca, pelas pontes, dando uma impressão de rua paulistana! Tal busão sumiu do mappa, aqui! Não la, tomara!
Recife, qual Veneza brazileira, seduz pelos palacios, pela beira da praia, mas me dá medo, tambem!
Sim, pelos tubarões! Ah, ninguem queira mordido ser por elles! De maneira concreta! A figurada a gente nem…
DIA DO MARINHEIRO
Sonnetto ja compuz, no qual fallei do cheiro dos pés delle. Na verdade, jamais algum cheirei, mas ninguem ha de negar que chulé tenham… É de lei.
O gajo nem precisa ser um gay. Por mezes num navio, saciedade terá só na punheta? Não lhe invade um impeto, um desejo oral? Não sei.
Sentindo o chulezão do companheiro, talvez vontade tenha de provar tambem aquelle gosto prazenteiro…
Alguns, provavelmente, fazem ar de macho. Phantasiam que esse cheiro qualquer mulher terá… Vale sonhar.
DIA DO NADISTA
Ficar sem fazer nada, trovador, é meu maior desejo! Descobri que exsiste um movimento por ahi, tractando tal assumpto com rigor!
Pensando bem, poeta, ha de suppor você que esse “nadismo”, de per si, dispensa alguma these! Mas ja li ensaios de innegavel bom teor!
Estudos comprovaram: a preguiça induz ao bem estar a nossa mente!
Hem, Glauco? Quer testar essa premissa?
Eu mesmo ja testei! Experimente! Mas nunca abbandonar va sua piça, si dura, por preguiça! Ah, não! Nem tente!
DIA DO OPTICO
Glaucão, minha visão ja me preoccupa! Os oculos não servem mais! Agora alguem la na pharmacia disse, embora brincando, que eu preciso duma lupa!
Na rua ja me gritam, tambem: “Chupa, ceguinho!” Sei, Glaucão, que você chora ouvindo taes offensas, mas a tora de todos ja chupou, sem que se entupa!
Commigo, não! Ouvir “Chupa, ceguinho!” é coisa que me causa muita dor! Você escutou demais pelo caminho!
Eu, caso fique cego, si me for possivel, não serei desse excarninho gruppinho o mais submisso chupador!
DIA DO PEDREIRO
Final duma semana bem puxada.
Na frente desse predio em construcção, sentado quieto, olhando para o chão, descansa alli, na beira da calçada.
O pé desse peão, não é por nada, me chama, ao caminhar, toda a attenção. Tem elle bem mais curto o seu dedão e sola (Ai, meu Jesus!) bem acchatada.
Eu paro, disfarsando uma afflicção damnada, a contemplar aquelle pé exposto na sandalia do peão.
Vontade de lamber, chupar, até. Contenho o meu tesão, para que não precise confessar-lhe, emfim, qual é.
DIA DO SAMPHONEIRO
Luiz Gonzaga, Mario Zan tambem. Tambem de Dominguinhos tem a gente que, logico, fallar. Só não contente está quem me contar um causo vem.
“Glaucão, estou frustrado, porque nem siquer tocar direito uma decente samphona consegui! Sim, totalmente frustrado! No forró, não sou ninguem!”
Tentei eu consolar o meu amigo, dizendo: {Mas nem mesmo o Gonzagão achava que tocasse bem, Rodrigo!}
“Não, Glauco! Não precisa me ser tão ironico! O Gonzaga nem perigo corria duma vaia no sertão!”
DIA DO SORVETE
Em torno da local sorveteria, anima-se, a gritar, a creançada. Com tanto calor, claro, não ha nada melhor para accalmar a gritaria.
Aquella gostosura, doce e fria, descendo na garganta, ah, como aggrada e excita! Mais augmenta a gargalhada geral, de tanta gente em plena via.
No meio desse gruppo, um viralatta se exgueira. Approveitando uma brechinha, filou todo um tijolo de cassata.
Contaram-me e gostei do caso. Minha vontade era de ser, alli, quem macta a sede duns bichinhos em turminha.
DIA DO TESTE DO OLHINHO
Com olho nu se pôde ver que meu olhinho de recem nascido tinha glaucoma. Aquella inchada bollotinha estava destinada a ver só breu.
Quem nasce no universo do plebeu não pode protestar e se encaminha directo para a condição damninha dum cego que, entretanto, não cedeu.
Chorei, experneei e, toda vez que vinham me pingar pilocarpina, eu ammaldicçoava a lucidez.
A gente, quanto mais entende e opina, mais soffre e mais motivo dá a vocês, leitores, de exsecrar a medicina.
DIA DA GAVETA
Publicas tu, Glaucão, independente, teus livros todos. Vives teu momento, teu hoje. Eu os meus livros só lamento que estejam na gaveta, eternamente.
Ja tenho tantos, Glauco! Quem se sente que está num ammanhan sou eu, que tento viver meu hoje, inedito, num lento e inutil tempo, sempre mais descrente.
Será que minhas obras na gaveta resistem, menestrel, até que eu morra?
Ou antes, que suicidio ja commetta?
Me sinto, trovador, numa gangorra: si penso no futuro, sou cometa; si estou aqui, não saio da masmorra…
DIA DE COMBATTE À POBREZA
(na voz dum ex-assistente social convertido)
Combatte eu, sim, ferrenho dou, poeta, àquillo que se chama de pobreza!
Combatto quem não pode ter na mesa o minimo do minimo e se inquieta!
Combatto, Glauco, o pobre, esse proleta damninho, que experneia, na certeza de nunca permittir que fique illesa a nossa sociedade, que é correcta!
Os pobres são a praga deste mundo!
Deviam ser exstinctos! Quando digo taes coisas, sei que insisto e que redundo!
Um pobre, Glauco, nunca ser amigo da gente poderá! Carente, immundo, doente, só nos serve de castigo!
OUTRO DIA DO MACACO
Inveja, menestrel, sentimos nós, humanos, do mais reles chimpanzé! Concorda? Pois então, Glaucão! Pois é! Chupar-se elle consegue, e bem veloz!
Seu penis abboccanha, logo appós lambel-o qual si fora piccolé!
Glaucão, que inveja! Vou dizer até que sinto uma agonia aguda, atroz!
Engole depressinha a sua porra, exactamente como alguem faria com tudo que do proprio pau excorra!
Mas, como não podemos tal follia fazer, ja me contento que recorra à minha mão, ao dedo que se enfia…
DIA DO MINISTERIO PUBLICO
(na voz dum ex-promotor condemnado)
Não posso permittir, Glaucão, que possa alguem bem governar uma cidade! Uma administrativa improbidade qualquer eu acharei naquella joça!
Prefeitos são durões? A gente engrossa! Eu proprio, caso a todos desaggrade, questão faço de, como o grande Sade, gozar quando um prefeito mais se coça!
No ministerio publico, nós temos poder para foder qualquer gestão! Iremos, nesses casos, aos extremos!
Mas, caso um delles molhe minha mão, mais leve pegarei e -- Com os demos! -até que ser eu posso um amigão!
DIA DA OPERA
Aquelle cacarejo que essas divas das operas emittem ja me dá gastura, menestrel! Mas haverá motivos outros, para mais salivas!
Das operas tambem tu não te privas por propria decisão, meu camará?
Então deixar bem claro, desde ja, nos cumpre, entre pessoas assertivas!
Glaucão, o canto lyrico não passa dum falso theatrinho! Cantoria não basta! Mais queremos que se faça!
Exijo realismo! O que seria dos palcos só com essa atroz trappaça, com tanta gente em brega phantasia?
DIA DE COMBATTE AO CYBERBULLYING
Devia ser um crime, mesmo, usar um cego, pelas redes, para aquillo que chamam cyberbullying! Bem tranquillo me sinto, pois de falla é meu logar!
Usaram o ceguinho para dar idéa de quem chupa! Sim, eu fil-o, chupei bastante, sim, mas o sigillo deviam respeitar, não violar!
Glaucão, dos bullyingueiros eu sou boa e facil victiminha a ser gozada, mas delles poderá qualquer pessoa!
Sim, hoje é com o cego, mas será da mamãe a vez, depois! Quem hoje zoa talvez seja zoado, si isso aggrada!
OUTRO DIA DO URBANISTA
O parque que exsistia aqui na rua ficou completamente abbandonado, Glaucão! Posso notar, por todo lado, crescendo o matto! Si isso continua…
As arvores encobrem sol ou lua!
Está cada caminho ja tomado por moitas e mais moitas! Eu me evado dalli, pois o perigo nos accua!
Perigo… Você sabe muito bem do que é que estou fallando… duma aranha gigante, ja advistada por alguem!
Aquella maldicção nos accompanha! De tanto desmattarmos, mais alem, aqui pagar iremos essa sanha!
DIA DO ATTIRADOR ESPORTIVO
Glaucão, arma nenhuma registrei nem quero registrar! Entendeu bem? Pistolas eu ja tenho mais de cem! Revolveres ja quantos eu nem sei!
Só macto por esporte! Lei? Qual lei, qual nada! Quem entrar aqui, mas nem por sorte excappará! Ja quiz alguem entrar, mas de immediato o balleei!
Primeiro, lhe mirei as pernas! Isso impede que elles fujam! Em seguida, aos poucos completei esse serviço!
Dei tiros no bumbum, na bem fornida barriga, na cabeça… Glauco, ommisso não sou: tambem na rolla ammolescida!
DIA DO ESPERANTO
Querer que a mesma lingua toda a gente entenda não passou de phantasia, poeta! Nem siquer na theoria funcciona tão utopica semente!
Chamada de esperanto, se resente dum artificial teor! Iria alguem compor extensa poesia num idioma assim, inutilmente?
Hem, Glauco? Ja pensou? Um seu poema vertido nessa lingua? Alguem irá sacar os pormenores do seu thema?
Hem? Tanta sacanagem, camará, será que se traduz? Quem é que extrema malicia terá para tal sabbath?
DIA DO HEROE OBSCURO
Os donos allertou o cão, assim que as chammas percebeu. Foi por um triz. A casa desabou, mas foi feliz quem pôde se salvar. Deu sorte, emfim.
Mas, para aquelle cão, muito ruim foi essa circumstancia. Ja se diz que vidas salvou elle. Só não quiz poupal-o o seu azar. Egual a mim.
Acharam o cachorro morto, ja marron, carbonizado, nesse incendio que, como urbana lenda, ficará.
Poemas de chordel agora rende o historico episodio, mas não ha, em verso, um epitaphio bom que emende-o.
DIA DO JARDINEIRO
Lobato nos contou aquelle caso famoso do Timotheo. Para não dizerem que não tenho um caso tão dramatico, num desses eu me embaso.
O gajo numa praça, sem ter prazo, cuidava dos cantheiros. O povão dizia que elle estava da razão “doente”, pois beijava cada vaso.
Beijava as flores todas. Mas a aranha com isso nada tinha. Vae dahi que foi piccado. Coisa nada extranha.
Extranho foi aquillo que eu ouvi. Achado morto, nunca foi tamanha a marca dum “beijinho” por alli…
OUTRO DIA DO JORNALEIRO
Por ser um jornaleiro fofoqueiro trocava com a dona doutra banca os ultimos boatos. Ella, franca, fallava do vizinho barraqueiro.
Aquelle gajo rende costumeiro rumor, porque no verbo não se manca e nunca a bocca suja a tempo tranca. Seus gritos são conversa de puteiro.
Contava a jornaleira ao jornaleiro os podres do maluco. Mas me inteiro que delle disse coisas que não fez.
Assim são as noticias. Quem primeiro expalha até que falla com certeiro olhar. Quem as distorce? São vocês!
DIA DA ADVOGADA
(na voz duma ex-criminalista condemnada)
Glaucão, o meu cliente não fez nada! Appenas sequestrou essa menina que estava a namorar, alli na exquina, com esse marmanjão la da quebrada!
Levou-os para a matta, deu porrada no cara até mactar e, na vagina da moça, metteu lamina que fina não era! Mas a midia à toa brada!
Não vejo, Glauco, um unico motivo de escandalo, pois nada de peor podia accontescer a quem é vivo!
Na certa quererão ao meu redor, aos gritos, insistir! Mas não me privo de expor: esse moleque é de menor!
DIA DO POLICIAL MILITAR
Glaucão, fui abbordado, certa vez, por um PM imberbe, que queria se impor, ver si commigo conseguia tirar algum proveito dum burguez.
Tentei argumentar que, em cada mez, eu ganho o que ja ganha, num só dia, o joven trafficante que chefia a zona, mas foi elle descortez.
Meus bolsos revistou, achou aquella sacana anthologia que vocês, poetas, publicaram. Se riu della.
O livro deu pretexto. Questão fez que o pau eu lhe chupasse. Só quem fella dum “officer” o “cock” entende inglez.
DIA DA FESTA DA FIRMA
Collegas de trabalho que, no dia a dia, não se biccam vão à festa da firma. Nessas horas, não detesta ninguem o seu rival. Reina a alegria.
Comtudo, um colleguinha que bebia demais habitualmente vê que resta um pouco na garrafa, que se presta à bocca no gargalo. Um outro chia.
Começa a discussão. Um mais nojento reclama de quem feio fez. Agora a festa tem seu pessimo momento.
Ja todos collocando para fora seus podres estão. Logo, o truculento patrão chega. A rodinha commemora.
DIA DO AMIGO SECRETO
Parentes se detestam, mas, no fim dum anno conturbado, todo mundo tem pose fraternal. Clima jocundo na hora dos presentes, no jardim.
Risonho fallatorio. O mais affim alli faz a chamada. Quem profundo desgosto demonstrou, por um segundo, segura a sua bronca. Deu ruim.
Na cara jogam uns dos outros sua discordia reprimida. Aquillo vae virar um pandemonio. Quem recua?
Ninguem. Até que emfim chegou o pae e poz ordem na casa. Continua a troca dos presentes, sem um ai.
DIA DO PANETTONE DE CACHORRO
Ja tudo “de cachorro” hoje está à venda, Glaucão! O meu bassê sempre me cobra aquelle panettone que é, sim, obra de intensa propaganda, que se entenda!
Embora algum careta até se offenda, productos “de cachorro” vão, de sobra, enchendo pratteleiras! É manobra sagaz que, no commercio, augmenta a renda!
Precisa ver, Glaucão! O meu bassê adora panettone! Quem iria vetar esse prazer? Irá você?
Por isso, não duvido: qualquer dia começam a vender algo que dê aos bichos o sabor duma ambrosia!
DIA DE COMBATTE À CAIXA PRETA
Não pode, menestrel! Eu não consinto que empreguem a palavra “preta” assim! É grave preconceito! Para mim tal termo deveria ser exstincto!
Alguem diz “caixa branca”? Até me sinto, no caso, offendidissimo! Ruim pretendem que isso seja? A saber vim que tentam convencer-me, mas não minto!
Si querem um conceito que paresça alguma coisa feia, mysteriosa, occulta, tenham mente mais travessa!
Proponho “caixa cega”, que mais goza de má reputação! Eu na cabeça não ponho os termos duma chula prosa!
DIA DE COMBATTE AO CAMBIO NEGRO
Não pode, menestrel! Eu não permitto que empreguem a palavra “negro” com um senso negativo! De bom tom seria “cambio branco”? Não, repito!
Si querem um conceito que maldicto paresça, que ruim ou feio som nos passe, então não pensem no marron, no pardo, nem no preto, que eu evito!
Ao negro o preconceito se expalhado tem pela nossa lingua! Assim, nós temos, poeta, que pensar por outro lado!
Proponho “cambio cego”, ja que extremos queremos evitar! Não desaggrado ninguem e estou correcto! Com os demos!
DIA DA ARANHA VENENOSA
Alli no Butantan você verá, olhando os varios typos da bichana, qual é que tem veneno que mais damna e qual cuja piccada mais dor dá.
Aquella cabelluda alguem se uffana de ter na mão pegado muito, ja. Mas outra gigantesca assim não ha tal como uma Golias. Quem se enganna?
Portanto, leitor, fique sossegado. No maximo, uma aranha, quando picca, provoca algumas dores no coitado.
A menos que veneno tenha. Fica ahi bem mais explicito o recado: Melhor sahir de perto. Dada a dica.
DIA DO RESERVISTA
Serviço militar? Não! Estou fora! Ainda bem que dicas ja me deu você, Glaucão! Pois é, graças ao meu pé chato, do quartel irei embora!
Alem do mais, meus oculos agora teem septe de myopia! Percebeu que passo por um nerd, em meu plebeu perfil, Glaucão? Ninguem tal cara adora!
Excepto você mesmo, seu tarado! Mas, mais que em minha cara, é no meu pé chatissimo que está você vidrado!
No lucro fico, claro, pois quem é das armas dispensado tem aggrado maior quando micheta algum mané!
DIA DO THEATRO AMADOR
Você tambem fez parte duma trupe dramatica, Glaucão? Que vocação eu tenho percebi, dahi que não demora p’ra que um joven ja se aggruppe!
Não, Glauco! Minha trupe não engruppe ninguem com esse pappo de “intenção subtil” nem de “mensagem”! Nossa acção é crua, até cruel! Quem chia, chupe!
Glaucão, nós enscenamos só theatro do horror, do grand guignol, do gore, do mal! Que importa si teem ido uns trez ou quattro?
Creanças degollamos, coisa e tal, mas nosso personagem que é mais atro paresce com você, bem animal!
DIA DO DESODORANTE VENCIDO
Estou, Glaucão, na duvida si meu vulgar desodorante qualidade não tem, ou si meu cheiro, na verdade, é forte demais, mesmo num plebeu!
Usei diversas marcas, mas não deu nenhum jeito, Glaucão! Ora, quem ha de querer me contractar, nesta cidade, sabendo como fedo, meu? Fodeu!
Sim, claro, o meu chulé sei que você degusta com prazer! Mas os demais freguezes limpo querem um michê!
Talvez umas essencias naturaes resolvam meu problema, pois quem dê vintens por mim não vejo, ao cego eguaes…
DIA DA SUDORESE SUBAXILLAR
Incrivel, Glauco! Um cheiro, que você nem curte tanto, um certo freguez meu adora! Sim, o proprio, o Dorotheu! É louco o gajo pelo meu cecê!
Lhe vendo camisetas que quem vê diria que estão pretas desse breu deixado pelo meu suor! Rendeu uns cobres essa roupa demodê!
Um dia, appenas, uso uma, Glaucão, mas fica tão suada no sovaco que nem vale lavar de novo, não!
Agora que encontrei quem tenha sacco e follego, lhe cobro bom tostão e compro outra, novinha! Assim, emplaco!
DIA DA DYSODIA
Não, Glauco! O meu pé fede demais! Nem você supportaria cafungar nas minhas meias sujas! Mas um par eu guardo, lhe prometto, custo sem!
Só que estes tennis velhos, que ninguem por elles dava nada, vou cobrar bem caro de você, si quer ficar com essas porcarias! Ouviu bem?
Incrivel! Um tal vicio por chulé jamais eu encontrei noutro freguez! Só mesmo um cego tão sem brios é!
Paresce que o destino, Glauco, o fez assim tão masochista, qual um Zé Mané, pelos refugos dos michês!
DIA DO DESAGGRAVO
Você não ganhou nada, trovador! Segundo logar? Ora, não me faça rir, Glauco! Quem segundo for não passa do primeirão dos ultimos, si for!
Um “vice premiado” faz suppor “consolação” num premio, numa taça symbolica! Com lyra tão devassa, você meresceria algum louvor!
Não fallo dum louvor typo careta, tal como um Jaboty, como um Nobel, mas sim do que lhe tire da gaveta!
Chegar vae sua hora, menestrel!
Um pau, com mão battendo uma punheta, trophéu será, tal como o anal annel!
DIA DO PAPAE NOEL NEGRO
A barba branca, a roupa vermelhona, são symbolos historicos, Glaucão! Não, isso não se muda nunca, não! Qual rei, Papae Noel ninguem desthrona!
Mas acho razoavel, nesta zona mestiça, tropical, que ja questão os negros façam, mesmo, dum negão vestindo um traje typico que abbona!
A negra creançada vae, na certa, sentir-se irman no collo dum Papae Noel negão, idéa assaz experta!
Um cego? Não, Glaucão! Ahi não vae dar, vate! Está maluco? Porta aberta, tambem, na Academia? Ah, fora cae!
DIA DO COVEIRO
Glaucão, de profissão um meu collega cadaveres viola! Mas lhe narro taes coisas em sigillo, tá? Bizarro fetiche tem, pois só calçados pega!
Sapatos ‘inda novos, botas mega surradas, tennis podres… Meu, que sarro tirei ja delle, porra! Sei que exbarro em coisas delicadas… Ninguem nega!
Malucos somos todos! E mania secreta, quem alguma não terá? Mas esse com fedores se sacia!
Fedores bem peores, camará, que nosso chulezinho, dia a dia mais putrido nas velhas chancas, ja…
DIA DO ECOTURISTA
Em torno de Iguassu, daquellas tão famosas cachoeiras, Glaucão, ha um parque com oncinha, com gambá, com lindas aranhinhas, de montão!
Alli, bem preservadas, sempre estão especies quasi exstinctas! La vi, ja, um grande escorpião que, camará, causou-me uma fortissima impressão!
Centimetros tem trinta! Ja piccou dezenas de pessoas, mortalmente!
Não volto la, que trouxa aqui não sou!
Pois é, Glaucão! Mas sabe que tem gente que nunca assassinou, siquer tacou a bota nelle? Hem? Gente consciente!
DIA DO TRABALHADOR DO SEXO
Não gosto que me chamem de michê! Garoto de programma sou, Glaucão! Não faço qualquer coisa suja, não! Clientes não terei como você!
Jamais deixo que provem o buquê do meu pezão chatissimo, um tesão que todos os podolatras questão fizeram de pedir-me que eu lhes dê!
Mas como, nesta crise, estou tão duro, mudei de idéa, cego! Considero que pode ser você quem eu procuro!
Commigo ‘ocê ja teve chance zero, mas hoje, si deseja meu impuro chulé, nem altas granas mais eu quero!
DIA DO BABALU AYÊ
De tantos orixás que eu hoje invoco, talvez o Babalu, Glaucão, lhe possa allivio dar ao olho que lhe coça, alem das dores, nesse seu suffoco!
Doenças elle cura, mas nem toco na febre e inflammações quetaes da nossa sahude tão precaria, meu! É grossa tolice orar aos sanctos do pau oco!
Orar aos Babalus Ayês não é só coisa de cubanas canções, não! Os afros ritos nelles botam fé!
Eu mesmo, que perdia meu tesão, orei, fiz offerendas, e meu pé ja lambe essa affluente multidão!
DIA DO ORCHIDOPHILO
Das flores, as orchideas mais funcção tambem teem, urbanistica, você não acha, menestrel? Quer que eu lhe dê noção de quão queridas ellas são?
Nas arvores do nosso bairro, vão ficando penduradas, e quem vê aquellas cores todas, à mercê do tempo, pena sente, e compaixão!
Mas ellas sobrevivem e se expalham, poeta! Quem algumas collecciona affirma que, em belleza, nunca falham!
Peor seria, aqui por nossa zona, nos galhos essas teias que (Me valham os sanctos!) arma a typica aranhona!
DIA DAS PLANTAS MEDICINAES
O cha de chamomilla cura amor!
O cha de herva cidreira dá somneira!
O cha de boldo cura até frieira!
O cha de quebra-pedra accalma a dor!
Funccionam? Não funccionam? Quem suppor irá que estou mentindo? Só quem queira dum bruxo duvidar! Minha chaleira se indica para tudo quanto for!
Você tambem é bruxo, que eu sei, vate! Por que é que, em vez do quente chocolate, não toma meu chazinho curativo?
Não tenho uma plantinha que lhe tracte das dores oculares, mas dum matte amargo eu, masochista, não me privo!
DIA DA ROUPA AZUL CONTRA O BULLYING
Disseram ao ceguinho: “Si tu usares azul, evitarás que essa turminha de vandalos te imponha a chupetinha com modos e palavras cavallares!”
“Azul é cor que, em todos os logares, previne violencias! Que ser tinha assim, pois era tempo de, na linha mais logica, dos brutos te livrares!”
O cego foi na molle conversinha e roupas azues poz. Mas, quando vinha da rua, foi cercado. Facil fica…
Zoou bastante delle quem damninha acção quer practicar. Com excarninha risada, lhe disseram: “Chupa a picca!”
DIA DO GAROTO DE PROGRAMMA
Não gosto que “garoto de programma” me chamem, menestrel! Sou é michê, no torpe e escroto portuguez! Você não acha que estou certo? Ou ja reclama?
Mas, porra, faço tudo que na cama se possa fazer, Glauco! Quer que eu dê porrada? Dou! Sentir o meu buquê prefere? Meu chulé tem boa fama!
Até quem coma merda ja attendi! Nenhum garoto digo que sou, não! Tem gente que beber quer meu chichi!
Prefiro ser chamado de “mestrão” dos trouxas masochistas, pois ja vi ceguinho rastejar ao meu pezão!
DIA DO MOLEQUE TRAQUINAS
Glaucão, o meu filhinho não tem jeito! Cresceu, ficou grandão, um marmanjão, mas ter juizo, Glauco, não tem, não! Faz coisas que eu, coitada, não acceito!
Agora anda a fazer algo suspeito, que eu acho que é michê, pois garotão os gays o consideram! Bom tostão traz para casa, tira algum proveito!
Eu acho que elle esteja precisando dum acconselhamento! Ocê podia fazer isso por mim, de quando em quando!
Hem? Quanto calça? Ah, penso que seria cincoenta… Ah, você topa? No commando, será bomzinho, creia! Não, não ria!
DIA DO MOLEQUE DE RECADOS
Ah, mestre, succedeu algo curioso commigo! Um molecote me chegou trazendo uma encommenda… Ahi, lhe dou, por isso, uma gorgeta, respeitoso!
Formal fui, menestrel, mas o jeitoso garoto offeresceu-se, deu seu show de manha e de malicia! Eu, que não sou de ferro, me propuz a dar-lhe gozo!
Lhe digo: com inveja você, vate, ficava, pois o gajo tinha pé cincoenta, numa bota de combatte!
Hem? Quer encommendar um saccolé com elle? Não receia que o maltracte? Bomzinho com um cego ninguem é!
DIA DA BAILARINA
Eu bem dansava, mestre! Era magrinha, levinha, super agil, que só vendo! Agora, mestre, engordo! Não entendo! Estou perdendo toda a minha linha!
A bunda me cresceu, ficou fofinha, redonda demais, mestre! Estou perdendo aquella agilidade! Está crescendo tambem minha barriga! Antes não tinha!
Eu era bailarina, mestre, bem quotada nos theatros mundiaes! Hem, mestre? Que farei nos palcos? Hem?
Melhor não pensar nessas coisas mais? Serei o que? Drag queen? É mesmo! Quem diria? Accabarei com estes ais!
OUTRO DIA DO IMMIGRANTE
Os nossos nordestinos, Glauco, são malvindos no Sudeste? Não, não creio! Não! Pelo menos não no nosso meio! Aqui são elles vistos com tesão!
Eu mesmo contractei um rapagão machão, piauhyense, que receio não tem de me enrabar, com seu pau cheio de galla, que paresce requeijão!
Elle era duma banda de forró, mas biccos acceitava… Resultado: Gostou! E me enrabou, mesmo, sem dó!
Por isso, Glauco, digo: Faz errado conceito quem dos cabras pensa só no pobre peão! Pensem no outro lado!
DIA DO MERGULHADOR
Glaucão, fiquei sabendo! Um nadador que estava mergulhando dispensou aquelles pés de pato! Deu seu show appenas de pés nus! E fez furor!
Pés tinha tão immensos! Superior tamanho, com certeza, alguem fallou, ao proprio pé de pato! Mas lhe dou ainda um pormenor animador:
Chatissimos, seus pés o deixariam morrendo de tesão, Glaucão! Sim, creia! Mas, ‘inda assim, alguns delle se riam!
Preferem esses trouxas, da sereia, o canto temptador! Mas não seriam os mesmos que olham machos pela areia?
DIA DO MUSEOLOGO
Museu interessante visitei, Glaucão! Você na certa adoraria! Mostrava só calçados! Cada dia sapatos differentes! Delirei!
De escravo, de politico, de rei, de esportes, profissões e (Quem diria?) até de michetagem, putaria, ou seja, attractivissimos ao gay!
Notei que, dum michê, se exhibem tennis maiores que dum desses basketeiros! Seria propaganda do seu penis?
Nenhum museu preserva, porem, cheiros daquelles tennis todos! Aos infrenes instinctos, Glauco, só mesmo os puteiros!
OUTRO DIA DO ENXADRISTA
Glaucão, eu não entendo de xadrez mas acho uma gracinha aquellas peças que estão no tabuleiro! Numa dessas, eu compro um, só de enfeite, dois ou trez!
Aquelle castellinho… Tu não vês que imita direitinho? Caso meças estylos e desenhos, tu não cessas de, em cada peça, ver o que se fez!
Ja viste como o bello cavallinho daria, no dinheiro, grande effigie? Tambem a coroinha, direitinho!
Nas scedulas, é tudo que se exige, assim como no rotulo dum vinho! Fugi muito do thema, Glaucão? Vige!
DIA DO ATHLETA AMADOR
Ja vi, na São Sylvestre, esse velhinho que scisma de correr sem ter preparo, pois nessas bizarrices eu reparo e torço para que erre seu caminho.
Às vezes, erra mesmo! Um excarninho sorriso fui abrindo quando o caro pisante vi no pé do mais ignaro otario! Desta vez não me apporrinho!
O velho, que posava de exforçado athleta corredor, ja na primeira travessa se perdeu, desnorteado!
Sem follego, tonturas e canseira sentindo, vae sentar na via, ao lado dum ebrio que vomita a bebedeira…
DIA DA BONDADE
Aquella senhorinha fama goza de ser muito bondosa para com os pobres que na praça vão, ao som das modas de Natal, trocando prosa.
Fazendo jus à fama de bondosa, a velha distribue tudo de bom. Traz doce, traz biscoito, traz bombom e para cada gajo um pouco dosa.
Mas todos sempre notam que, no dia seguinte, muitos delles passam mal, vomitam, estertoram na agonia.
Ninguem accusa a velha. Natural que seja assim. Melhor, porem, seria que em casa alguem passasse seu Natal…
DIA DA SOLIDARIEDADE
Àquelles que teem vicios eu me sinto um mano solidario. Si pudesse, daria pós de graça. Mas se exquesce da gente quem só suppre seu instincto.
E, para vocês verem que não minto, dei coca, dei maconha, alem da prece a Baccho, para alguem que seu estresse me expoz, entre alguns calices de absintho.
Em troca, só pedi que em seu chulé deixasse que eu pudesse cafungar, pois esse vicio, sabe-se, meu é.
O gajo recusou, fez invulgar escandalo, chamou-me “bicha”, até “bebum”… Que conclusão devo tirar?
DIA DOS CAFFRES LIBERTADOS
De “escravo” qualquer negro foi chamado. Si fossemos colonia do francez, de “caffre” chamaria algum burguez o negro que lhe está, livre, do lado.
Offensas, hoje em dia, num Estado que seja democratico, vocês entendem ser puniveis. Quem as fez meresce, deste bardo, um obvio brado.
Comtudo, uns europeus ainda caffre o chama, diz que seu logar em Africas fica, que immigrantes são malvindos.
Difficil reverter o que esses afromestiços soffrem. Vejo, porem, aphrodisiacos perfis nelles. São lindos.
DIA DA JUVENTUDE CHRISTAN
Em nada a juventude christan, essa selecta juventude, se revela dos vandalos distincta. Pense nella você, que meu leitor a ser começa.
Dos jovens, mal do templo saem, cessa a livre consciencia duma bella virtude. Ja advistaram, na viella, um cego bengalando, sem ter pressa.
Immediatamente, essa turminha, cercando o cego, passa-lhe rasteira, dá chutes e lhe impõe a chupetinha.
Christão, caso você tornar-se queira, ja sabe que ninguem sua damninha pulsão reprovará: foi brincadeira.
DIA DO MECHANICO
Seu carro tem defeito? Que não seja por isso! Um bom mechanico dará, na certa, a solução! Defeitos ha, mas todos consertaveis, mano! Veja!
Aquella rebimboca, de bandeja, para a parafuseta parará de falhas provocar, meu camará! Você paga ao mechanico uma breja!
Mas, mesmo que defeito nenhum haja, o gajo um achará! Sinão, Maria, qual é sua vantagem, cara gaja?
Não sei das profissões o que seria sem essa embromação que não ultraja ninguem, mas no Brazil todos vicia…
DIA DA SANGRIA
Me lembro, de creança, da sangria. Um vinho mixturado com alguma aguinha, assucarado, que perfuma a nossa saborosa phantasia.
Familia de italianos, cada dia, na mesa se tem vinho, mas nenhuma creança beber pode. Então se arrhuma um jeito de embromar que nos sacia.
Porem, meu bisavô Luigi tinha mania de tomar sua gemada com vinho. Eis que um moleque elle encaminha:
“Pierin, veni qui!” Em breve, não ha nada melhor que vinho puro para a minha memoria de peralta, hallucinada.
DIA DE CANTAR ALEGREMENTE
Vizinha analphabeta, a mulher era, de facto, uma antipathica figura. Cantava, de proposito, com pura dicção estroppiada, aquella fera.
Mamãe, que se irritava com a mera presença della, achava: “Quem attura tamanha petulancia? A mulher jura que sabe cantar, gente! Que megera!”
Berrava as lettras todas sem nenhum accerto. Um vozeirão desaffinado, tal como ladainha de bebum.
Mas ella descomptava, de seu lado, um certo preconceito, bem commum, que esnoba alguem sem pose de lettrado.
DIA DOS ANTEPASSADOS
Glaucão, sou descendente de italiano, assim como você! Dos Canettieri não sou, e dum marquez ninguem espere que eu venha, mas sou boa gente, mano!
Tambem aos Torrezani não me irmano, mas acho que meu codigo se insere num sangue mafioso! “Recupere alguem essa linhagem!”, fallo, uffano.
Na genealogia, até parente ladrão ou assassino tenho, cara! É molle? Ou quer que uns nomes eu invente?
Pedi meu passaporte, Glaucão, para poder tentar, num outro continente, a vida que não seja assim tão cara…
DIA DO ATHLETA
Glaucão, és tu poeta, mas athleta sou eu, com todo o orgulho que me cabe! É justo, menestrel, que eu ca me gabe de, em tudo, manter ficha assaz completa!
Nas provas de gymnastica, da recta não fujo! Numa quadra, ninguem sabe jogar assim! Conhesço quem se babe de inveja, mas fofoca não me affecta!
Disseram que eu sou perna de pau! Pode? Affirmam que não venço nem torneio de eschola! Mas ninguem, Glaucão, me fode!
Tu queres ver? Appalpa aqui! Bem cheio não achas que sou? Algo que incommode tambem tu tens, no teu mesquinho meio!
DIA DA CREANÇA COM CANCER
O filho dum amigo ja não tinha mais chance de viver. Estava tão rhachitico, que ja tive impressão de ver um zumbizinho que definha.
Tambem me commovi com tão damninha doença. Algum sorriso, só si um cão viesse ao hospital. Mas os cães são uns anjos disfarsados. Um ja vinha.
Entrou no quarto um timido bassê, deixou-se tactear pelo menino. Hem? Pode imaginar isso você?
Eu posso. Ja sorrindo me imagino, depois de ter tocado num. Bem vê você que é bemfazejo um “Oi!” canino.
DIA DO HAMBURGER
Glaucão, por um sanduba acho que eu morro! Mas tenho um bassezinho que tambem adora tal delicia! Ao caso vem: Por que não dar hamburger ao cachorro?
Nenhum veterinario dar exporro me venha! Si o bichinho disso tem vontade, não podemos deixar sem comer alguem por falta de soccorro!
Com hypoglycemia meu bassê até finge que está, caso o sanduba não ganhe! Caso serio, né? Não vê?
Por mais que o peso delle, depois, suba, não ha como negar! Caso eu não dê, será minha a pressão que se derruba…
DIA DO ORGASMO PELA PAZ
Bollei uma maneira genial, poeta, de fazer o meu protesto formal contra essas causas que eu detesto, taes como nova guerra mundial!
É simples! O meu orgam genital, em publico, masturbo, que é, de resto, grossissimo! Porem, meu manifesto não fica nisso! Falta a acção final!
Irei, em praça publica, gozar na bocca dum ceguinho! Quem será o bravo voluntario do logar?
Bem pode ser você, meu camará! Se engaje, menestrel! Vamos luctar nós todos contra a guerra! Vamos la!
DIA DA AGUA MINERAL
Pedi com gaz. Comtudo, o meu garçon é sempre distrahido, eis que me traz, sem gaz, a minha aguinha. Mas não faz lambança appenas nisso quem tem dom.
Tem dom de confundir até marron glacê com chocolate, esse rapaz. Em vez do maccarrão, elle ja -- Zaz traz! -- traz, só com arroz, filé mignon.
Peor é quando traz uma cerveja sem gelo si pedi refrigerante. Depois, quer que eu com raiva não esteja?
Nem volto mais àquelle restaurante, depois que despejou sua bandeja por cyma -- Catrapuz! -- do meu pisante.
DIA DO ASTROLOGO
Do signo sou de cancer. Caranguejo, conforme esse symbolico legado. Cansei de versejar meu desaggrado com esse astral destino malfazejo.
Astrologos eu como uns trouxas vejo, pois deixam-se engannar, por outro lado, por falsas theorias dum datado tractado, que me inspira só bocejo.
Alvissaras um delles prometteu, mas minha atroz cegueira ja desmente as boas previsões do phariseu.
Das petas do zodiaco somente restou-me esse fatal appego ao meu poetico optimismo de invidente.