DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES

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DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES

GLAUCO MATTOSO
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES

Dissonnettos dysfunccionaes

Glauco Mattoso

© Glauco Mattoso, 2021

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021

284p., 21 x 21cm

ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1

NOTA INTRODUCTORIA

Esta collectanea de saldos e retalhos juncta os ultimos dissonnettos compostos em 2021 a alguns ineditos de 2020, entre sonnettilhos e sonnettos que não entraram, por exemplo, no livro MOLYSMOPHOBIA (reformulando antigos casos do livro MADRIGAES

TRAGICOMICOS), excepto o ultimo, aqui repetido como fecho. Os sonnettilhos nada mais eram que reestrophações ampliadas das quadrinhas que compunham o abortado projecto do KALENDARIO MATTOSIANO, dahi as allusões a datas e ephemerides, mas podem ser lidos sem viés chronologico. Não são, nem os sonnettilhos "destrovados", nem os sonnettos "desmadrigalizados", propriamente deschartes de anthologias anteriores e sim um appanhado de tudo que estava disperso por varias collectaneas thematicas, para passar a regua na producção do genero, que se iniciou em 1999, ficou interrompida de 2012 a 2017 e se encerra em 2021, quiçá temporariamente. A apparente "deschartabilidade", em certos casos, pode funccionar como pretexto para algumas analyses enquadraveis na categoria das "obras primas exquescidas" ou "despercebidas", a depender da boa vontade dos olhares mais livres e dos juizos confiantes nas preciosidades despretensiosas.

DEU PAU [7201]

Findou, Glauco! O sonnetto não funcciona mais como o melhor molde para a lyra! Agora nem se tracta duma mira em outra estrophação menos cafona!

Mais baixo está o buraco! Nova zona exsiste na dicção, Glauco! Confira!

É tudo virtual! Quem não adhira ao novo linguajar está na lona!

"Você" virou "vc", "qualquer", "qq" e basta algum "translator" para termos immediatamente novos termos trendaveis no jargão! Sacou você?

É claro, gente exsiste que 'inda lê poemas, mas são poucos! Vão, enfermos, morrendo! Não, Glaucão, não basta crermos nas lettras, ou nas artes! Você crê?

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BEXIGA QUE CASTIGA [7202]

Não mijo bem, poeta! Sempre fica um pouco de xixi la dentro, um sacco! Alem disso, o factor que mais destacco é minha edade e a compta pouco rica!

Bem sei que um pappo assim não edifica, mas tenho que dizer, porra! Por Baccho! Adoro ser chupado e não emplaco mulher que bem engula a minha picca!

Vocês, cegos, eu acho, sim, que são perfeitos na chupeta de quem tem problemas urinarios! Mais ninguem supporta a mijadella assim, Glaucão!

O cego bebe mijo (Que tesão foder-lhe a bocca!) ainda quando, sem gozar, estou no "quasi"! Mas tambem irá beber depois, e de montão!

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SPUTNIK TUPYNIKIM [7203]

Não morra, Glauco! Caso você tussa, expirre, tenha febre, si estiver maior e vaccinado, ja qualquer grippinha à toa nunca affecta a fuça!

O virus mais se excita, mais aguça seu impeto damninho si puder pegal-o sem escudo! O que elle quer é gente que não toma a versão russa!

As outras duvidosas são, Glaucão! Quem toma alguma dellas jacaré se torna, si no Bozo tiver fé! Mas essa, a de Moscow, dá protecção!

Bem... Caso não funccione, você não precisa temer, Glauco! Pode até virar um urso! Um urso, porem, é mais fofo, mais mansinho, como o cão!

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PLACEBO QUE RECEBO [7204]

Eu não mactei ninguem! Só recommendo a todo cidadão que se previna e deixe de tomar a chloroquina, que nunca fez effeito, estamos vendo!

Sim, ja recommendei, mas um addendo que vem dos fabricantes elimina a chance de que seja da vaccina aquelle substituto que eu defendo!

Então, mudei de idéa! Me vaccino, mas quero receber, mesmo, um placebo, pois outro tractamento não concebo si temos que encarar nosso destino!

Prefiro um comprimido! Fui menino medroso de injecção! Appenas bebo refri! Nunca me drogo! Lavo o sebo do pau e contra abbraços me previno!

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DISSABORES COM SEGUIDORES [7205]

Você nem faz idéa, mas tem gente graphando pela forma antiga, à moda dos classicos, usada nessa roda de estudos philologicos, attente!

É muita gente, Glauco, que se sente tomada de influencia, se incommoda com essas questões, acha que se engoda demais quem nas reformas seja crente!

Estão seu diccionario utilizando tal como fonte biblica, Glaucão! Você nem percebeu, né? Você não consegue se enxergar -- Né? -- no commando!

Mas pense, vate! Em breve, immenso bando assim precisará dum capitão, dum mytho, dum guru, dum lider! Vão querer que charlatão va se tornando!

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SELVAGEM TIETAGEM [7206]

Duvidas tu, Glaucão? Mas é verdade! São muitos os moleques que te querem metter o pé na cara, que preferem foder-te bem na bocca, fans de Sade!

Sim, pensam no cegueta attraz de grade, mãos presas, algemado! Que exaggerem naquellas phantasias e se exmerem no sarro, ora! Teu verso os persuade!

Punhetas elles battem! Imagina qualquer delles que estás, sim, à mercê de todos os caprichos que lhe dê na telha ter, da forma mais suina!

Te querem ver de cara na latrina, comendo cocô, mijo no bidê lambendo! Mesmo sendo eu um michê, de graça attiçaria a tua signa!

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MUKBANG DE DELIVERY [7207]

Não para de rollar bastante entrega na casa da vizinha! A cada meia horinha, chega alguma caixa, cheia de coisas de comer, caro collega!

Eu fico com inveja, Glauco! Um mega serviço de delivery recreia a vida da fulana, que recheia seus dias confinados! Não sossega!

Mal traça algum hamburger, vem o cara, de moto, lhe trazendo um mixto quente, um frio, um X-salada! Ha quem aguente olhar tanta comida? Quem encara?

No maximo, consigo pedir para trazerem um pastel, sufficiente appenas para almosso! Ninguem sente mais fome, si de sexo não se enfara!

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O PARTO DO BARDO [7208]

Teu verso, si demoras para achar a forma que desejas, bem capaz é que elle de Jesus faça chartaz mas mostre do Tinhoso o calcanhar!

Talvez tenha, nas tonicas, um ar heroico de epopéa antiga, mas nas rhymas claramente fará más figuras, que vexame irão causar!

Te importas tu com isso, menestrel?

Não? Ora, que te fodas! Ja tu podes dar forma a teus poemas, ou de bodes satanicos, ou anjos, no papel!

Mas, mesmo que te faças de Miguel e escondas tua cara com bigodes e barbas, notarão que tu te fodes na hora de exhibires teu annel!

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LATENTES PATENTES [7209]

Glaucão, eu não fallei que capitão mandando em general não dava certo? Encheu de generaes esse que experto se achava no governo, eis a questão!

Nem cabo eleitoral, desses que estão em scena, quer ser reco, nem de perto! Sargento eleitoral, pois, eu allerto, só pode dar em baixa votação!

Mas, quando um capitão quer que fieis lhe sejam esses tantos generaes, terá que nomeal-os, mais e mais, a postos bem extranhos aos quarteis!

Até que, na bagunça das babeis, appoios perderá! Serão fataes os rachas e, em logar dos actuaes, refem se tornará dos coroneis!

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MAIOR VERGONHA [7210]

Você, Glaucão, só pode palmeirense ser, visto que não teve mundial! Fallando nisso, não me leve a mal, mas noutro patamar tambem não vence:

Tambem não tem coppinha! Não, não pense que quero fazer disso um carnaval, mas é que a musiquinha habitual, num pique de marchinha, me convence!

Aqui p'ra nós, Glaucão, e que ninguem nos ouça: Não será muito humilhante nem titulo que é menos importante siquer ter conquistado? Os outros teem!

Talvez um mundial se torne bem difficil, num paiz que ja gigante não seja, mas coppinha... Semelhante, não vejo uma vergonha para alguem!

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TAÇA SUADAÇA (I) [7211]

Cantores sertanejos cantam para um publico podolatra, sabia?

Verdade, Glauco! O pé, que ja fedia, tirou alguem da bota! Ahi vem tara!

No bute elle despeja a menos cara cachaça do pedaço! Uma gurya ao palco sobe e bebe -- Quem diria? -aquelle coquetel de especie rara!

Hem? Pinga com chulé, Glauco! Você bebia aquelle exotico licor na bota dum vaqueiro cantador? Apposto que conhesce esse buquê!

No tennis, caso um bebado lhe dê um gole, seja la que merda for aquillo, você toma? Fingidor de nojo nem será, logo se vê!

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TAÇA SUADAÇA (II) [7212]

Tomar até champanhe dentro duma suada bota appenas não será fetiche sertanejo, claro está, pois mesmo entre pilotos se costuma!

A chance você logo, cara, arrhuma no podio, quando todos elles ja estão commemorando! Um delles dá um gole, a quem quizer, da tal espuma!

Glaucão, você podia approveitar, si fosse da corrida animador! Em scena, até diria que sabor extranho degustou, fazendo um ar!

Depois, se gabaria à bessa por ter tido o privilegio de invulgar chulé de quem pilota appreciar, embora seja mixto o tal odor!

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TAÇA SUADAÇA (III) [7213]

Um acchocolatado pé descalça a bota de borracha para nella cerveja ser servida, numa bella filmagem que não tem nada de falsa!

Glaucão, você exporrar irá na calça! O pé desse peão chulé revela, concreto, colorido! Forma aquella geléa, vista quando os dedos alça!

Appós aquelle pé mostrar-se em scena, dinheiro offerescido será a quem beber cerveja nessa bota bem curtida! A apposta achou que vale a pena?

Entendo... no logar dessa pequena façanha, quer você lamber bem, sem nenhum nojo, o pezão do cara, alem das coisas que a censura ja condemna!

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GUSTATIVA PERSPECTIVA [7214]

É mytho, Glauco, mytho! Merda não tem gosto tão ruim! É mais o cheiro que causa asco tamanho! Hoje me inteiro daquillo que temi, sim, sem razão!

Sebinho tambem, Glauco! Um fedor tão nojento dá noção de verdadeiro supplicio, mas na lingua tem caseiro sabor de comestivel requeijão!

Cocô nos causa medo de provar, mas, quando num caralho ou num cu nós sentimos o sabor, menos atroz paresce esse exquisito paladar!

O olfacto nos illude, pois um ar mais grave e pessimista tem! Appós comer cocô, lamber sebinho, voz não faço mais, contraria, ao versejar!

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TRABALHOS FORÇADOS [7215]

Eu gosto de ver, vate, esse scenario de campo de trabalho, ou de prisão!

Eu gosto quando nunca dizer não alli me irá nenhum presidiario!

Adoro ver um homem (acho hilario) de quattro, rastejando pelo chão! Eu mando e, de joelhos, elle então me chupa, appós sentir gosto urinario!

Um homem, quando fica adjoelhado na minha frente e chupa, satisfaz as minhas taras, Glauco! Sou capaz de nelle descomptar meu lado sado!

Me excita que elle esteja condemnado, cumprindo pena! Até que você faz papel desse que nunca terá paz na vida, que lhe resta, de forçado!

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METAGRAMMATICA [7216]

A lingua, que se mette entre dois dentes e pode ser mordida, pronuncia, sem pappas, palavrões, orthographia corrige e, em verso, offende presidentes.

Sim, lambe sujas botas, mas silentes jamais seus ais serão na poesia dum cego menestrel que desaffia padrões bem comportados e decentes.

Um critico que estude este poeta na certa achará, sim, contradicção possivel entre verve e erudição, calão e forma culta mais correcta.

Mas acha a voz poetica que, inquieta, em vario linguajar vem dizer não ao cynico discurso dos que estão dictando, no poder, tudo o que veta.

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BLOGUEIRO MINEIRO [7217]

Eu, como cadeirante, vate, implico com todo "portador" dalgum defeito que tenha seu reverso preconceito perante esses "normaes"! Sim, abro o bicco!

São todos uns folgados, Glauco! Um mico! Ceguetas, surdos, mudos... Não acceito que tenham mil direitos! É bem feito que sejam maltractados! Puto fico!

São superprotegidos! Essa gente exige é privilegio, quer mammata! Um cego, por exemplo: quem o tracta mal passa por cruel ou inclemente!

Mas elle inferior mesmo ja se sente! Então, meu, que se foda! Gente chata! Deviam é chupar, funcção exacta dum cego! O fardo o offende? Engula! Aguente!

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IRREGULARES CELLULARES [7218]

Aquelle bombadinho deputado com cara de marrento fanfarrão metteu dois cellulares, na prisão, no proprio cu, de resto, ja arrombado!

Você talvez não saiba, mas eu ja do palhaço sou sciente do que estão fallando pelas redes! Elle não excappa de ser, Glauco, tão gozado!

Entende do riscado, pois, segundo as fontes, demonstrou como se pode levar no rabo, sem que lhe incommode, um phone para a cella: bem no fundo!

É claro que ficar vae -- Arre! -- immundo o tal apparelhinho e que se fode quem merda tem grudada no bigode emquanto o liga... Achei isso jocundo!

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MARRA DE QUEM NARRA [7219]

Vocês vão ver! Um dia, fecho tudo! Sou masculo! Sou foda! Sou machão!

Não levo cellular no rabo, não! Não fico na cadeia! Sou marrudo!

Ainda ver eu quero, sem escudo das instituições, esta nação! Marrudos no poder, nós, sim, Glaucão, regime implantaremos, sem velludo!

Irei pessoalmente torturar vocês, oppositores! Sou marrento! Os chistes que me fazem não aguento! Fofocam que não perco o cellular!

Fofocam que consigo transportar diversos no meu recto; que, no vento dos peidos, os expulso quando tento passar pelo machão mais exemplar!

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VERBALIZADA VENTOSIDADE [7220]

O verbo "flatular", si não exsiste, accabo de crear, pois ja cansei dum outro, que é "peidar", do qual ja sei que serve à gozação, ao chulo chiste!

Agora não mais digo que estou triste por causa desses flatos que esperei demais para soltar! Eu "flatulei", emfim, mesmo que o cheiro não despiste!

Fedores, Glauco, sempre são aquillo que está nosso nariz ja bem cansado de, putrido, sentir! Mas educado demais sou para às claras proferil-o!

Prefiro proferir, leve e tranquillo, um typico vocabulo, cunhado com base scientifica, mas, dado o adviso, peido mesmo, sem vacillo!

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O CEGO E OS CAPITÃES (I) [7221]

Está LOS OLVIDADOS numa minha banal filmographia da cegueira, pois acho natural que a gangue queira visar um pobre cego, que expezinha.

Tocar seu instrumento o cego vinha na praça. A molecada brincadeira fazia, perturbando a violeira performance, de resto bem fraquinha.

O cego reagia: de bengala em punho, golpeava às tontas, mas a gangue era peor que Satanaz. Difficil com taes golpes affastal-a.

Aquillo promettia. Si filmal-a eu fosse, esses pivetes de tão más tendencias pisariam, como faz commigo, bem no rosto, um Pedro Balla.

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PROBLEMA DO CARALHO [7222]

"Caralho" de "characulus" nos vem, poeta, mas você grapha "caralho"!

Devia ser "charalho", si eu não falho na analyse dos etymos! Eu, hem?

"H" todo vocabulo que tem problema dá, accarreta algum trabalho por parte dos orthographos! Não calho eu para taes analyses, porem!

Caralho, para franco ser, poeta, só pode ser problema na medida do proprio comprimento, si soffrida for sua acceitação no cu, completa!

Eu mesmo, com meu physico de athleta, que levo de durão fama na vida, não posso supportar, caso decida entrar com tudo um bode em minha recta!

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O CEGO E OS CAPITÃES (II) [7223]

Emquanto o cego pega na viola e canta, alli na praça, ja seu pote de esmollas vae se enchendo. Um molecote se chega por traz delle e rouba a esmolla.

O cego percebeu. O rapazola, porem, faz que foi outro quem o bote deu. Falla: "Ahi, ceguinho! Ocê que enxote melhor a molecada, quando colla!"

{Não posso fazer nada!}, diz, tentando render-se na moral. {Elles que estão por cyma, aqui por toda a região! Que faço, si estão elles no commando?}

"Tem mesmo que engolir! Aquelle bando é barra pesadissima!" Ja vão os outros rodeando o cego. Não se accanham, gargalhadas ja vão dando.

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O CEGO E OS CAPITÃES (III) [7224]

Cercado de moleques, elle implora: {Dó tenham do ceguinho! Dependente sou desse dinheirinho!} O delinquente mais velho delles diz: "Cego não chora!"

"Quem manda somos nós! A grana agora é nossa! Fica tudo para a gente! Você que esmolle, toque, cante, tente junctar! No fim do dia, a gente explora!"

{Mas como vou viver? Ja fome passo!}

"Lhe damos nosso resto! Ocê se vira! Apprenda a curtir sua ziquizira!"

A turma se diverte em riso lasso.

E, para confirmar o seu devasso intento, o lider para fora tira a rolla, mija nelle, que sentira, ja, cheiro dessa urina a cada passo.

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MASTIGUINHA [7225]

Poeta, a "mastiguinha" acho que faz effeito bem nojento num novato! Eu era veterano e fui um chato! Dos bichos abusei sem dó, tenaz!

Comida mastigada a gente nas tigellas dos calouros ia, a jacto, cuspindo, Glauco! Os bichos que no pratto comiam tambem nunca tinham paz!

Cuspiamos no pratto, na tigella, até no chão! Calouro que ficasse com nojo sujaria a sua face ainda mais no piso! Scena bella!

Sentiam um apperto na goela, mas tinham que engolir! Até na classe lhes davamos a gosma! Recusasse alguem, levava chutes na cannella!

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O CEGO E OS CAPITÃES (IV) [7226]

Depois disso, o ceguinho se submette àquillo que será sua roptina: cantar, pedir esmollas, da matina à tarde, e dar a grana a algum pivete.

Aos poucos, ja não ha pudor que vete as taras dos moleques: imagina um delles do refem fazer latrina; um outro o quer pagando bom boquette.

O quarto do coitado, no porão da casa de repouso, poncto vira da rude molecada. Minha lyra não basta para achar a descripção.

Do cego todos zoam, todos são algozes juvenis: um delles tira o tennis e, na sola que transpira, a lingua dum escravo tem funcção.

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O CEGO E OS CAPITÃES (V) [7227]

O lider dos pivetes tem estylo bem proprio de foder uma garganta: do cego a nucha appoia (Virgem Sancta!) na beira do colchão, para punil-o.

Vae fundo penetrando, sem vacillo, até que o pobre engasgue e, ja de tanta delicia, goza a jacto. Se levanta, feliz, da posição de crocodillo.

O cego, que irrumado foi sem dó, sem follego se deixa alli ficar, até que outro moleque queira dar tambem sua bimbada no bocó.

Aos jovens, os orgasmos são o "mó barato", mas ao cego tal azar confirma algum boato mais vulgar accerca do que rolla num mocó.

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BOCHECHINHA [7228]

Tambem a "bochechinha", Glaucão, era usada pela gente para dar bebida à calourada, cujo bar passava pela nossa bocca, à vera!

Glaucão, dos veteranos a gallera curtia à bessa! A gente que, em logar de liquidos tragar, só bochechar queria, ja a beber tudo os fizera!

Tomavam guaraná com baba, vinho com baba, até cachaça com a nossa saliva mixturada, numa grossa espuma catarrhada, sim, tudinho!

Calouro que recusa, mais damninho castigo vae soffrer, para que possa sentir do mijo o gosto: sob a troça, irá de bocca à rolla abrir caminho!

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O CEGO E OS CAPITÃES (VI) [7229]

Alguem, por fim, tem pena do ceguinho ao ver que elle, doente, ja definha emquanto pede esmolla. A ladainha que canta desaffina como o pinho.

Formar de voluntarios um gruppinho foi facil: quando querem, depressinha se forma. Aquella gente que se appinha expulsa a molecada de seu ninho.

Resgatam o ceguinho, ao hospital o levam. Sobrevive, emfim, o gajo. Depois de renovado o seu andrajo, um numero fará, mais musical.

Si fosse menestrel, a mim egual, em versos contaria, como eu ajo, aquillo que soffreu. Mas eu me engajo, por elle, num papel tão principal.

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PEDIGREE DE RIFIFI [7230]

Não tendo o que entregar, essa figura pathetica de joven cantorinha agora appella para a comezinha sessão de escandalinho! Quem attura?

Sim, Glauco! Tattuar-se quiz e fura o proprio cu, sem medo da damninha e grave consequencia, coitadinha! Fará que mais, a ver si a fama dura?

Ja sei! Vou suggerir que a moça faça sessões de "fistefuque" em video para postar nas redes! Ponha a sua cara tambem na fodelança mais devassa!

Se mostre sendo usada, em plena praça, por donos de cachorro, cuja tara cocôs é ver comidos! Quem ousara ser, como tal menina, dessa raça?

38 GLAUCO MATTOSO

MANSAS LEMBRANÇAS [7231]

Vez toda que perguntam si estou bem, vez toda que se lembram de mim, é só para confirmarem que eu, até agora, não morri: "Jesus amen!"

Por fora, saber querem si 'inda nem peguei um resfriado: "Tenha fé! Deus queira que você, Pedro José, não pegue essa covid!" E vão alem...

Desejam-me tranquilla quarentena, com muita producção de poesia. Por dentro, todos frustram-se: "Eu queria ver esse cego morto, orra, sem pena!"

Os mesmos que, com uma voz serena, me dizem que bem fique, essa alegria queriam ter, me vendo na asphyxia covidica, não numa vida amena.

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RELENDO GUIMARÃES JUNIOR (II) [7232]

Pés grandes, pés enormes, acchatados como uma plana prancha de madeira, si por meus olhos, antes da cegueira, olhados fossem, iam ser amados!

Agora delles soube eu, farejados appenas, pelo cheiro da frieira, alem do chulé basico, que beira aquelle dos cothurnos dos soldados!

Tocal-os tambem pude, pois quem tem taes pranchas me deixou massagear do grego pollegar ao calcanhar, sciente do que delles ja me vem:

Um ecstase, está claro! Mas, alem do orgastico prazer, vou dedicar ao dono desse intenso odor plantar, em verso, um chinellão que sirva bem!

40 GLAUCO MATTOSO

PREFERIVEIS PRAZERES (I) [7233]

Massagem é melhor, mas muito mais que sexo, Glauco! Fallo com total franqueza, pois sei como o pessoal disfarsa, faz que vive em bacchanaes!

Eu tinha, ja, notado que meus paes fallavam da massagem, mas eu mal sacava que era mesmo o principal e sexo o complemento, com seus ais!

Mamãe, para sentir dor de cabeça, ja basta convidal-a para a cama!

Papae que está com somno ja reclama si for para trepar que isso accontesça!

Mas, quando uma massagem rolla, advessa não fica mais a minha amada mamma!

Papae topa tambem! Assim quem ama carinhos troca, embora não paresça!

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RELENDO FLORBELLA ESPANCA [7234]

Disposta a se prostrar, falla a Florbella Espanca, num sonnetto, que beijava os passos de seu homem com escrava e louca bocca! Ah, digo que eu com ella!

Não digo que ella lingua de cadella teria, mas a minha sei que lava com baba até frieira, ah, mais aggrava a fama de quem sujos phallos fella!

Florbella feminiza a sua tara submissa com subtis versos, mas não evita a necessaria conclusão daquelle que em detalhes vis repara.

Um cego não disfarsa a sua cara si beija alguma coisa pelo chão, pois mostra a bocca suja dum taccão de bota masculina, aspera, amara...

42 GLAUCO MATTOSO

SOLITARIO PRIORITARIO [7235]

Agora que vovô foi vaccinado verá que cada filho, cada netto morrendo vae, covidico, directo, por falta de vaccina no mercado!

Inverte-se o problema, pois o lado mais fracco, o dos edosos, por completo está ja resolvido, mas repleto ficou o cemeterio do outro "gado"!

Nem cuido de politica, não, mas sou joven, Glauco, quero que meu pae commigo não se juncte com quem vae mais cedo se encontrar com Satanaz!

Si só vovô viver, será que faz questão de estar feliz, ou elle sae à rua só com velhos e seu ai será só de saudade de quem jaz?

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COCÔ NO PIPI DO VOVÔ [7236]

Chupei, sim, e depois de ser por traz fodida! Mas ganhei muito presente!

Ganhei um bumbum novo, um novo dente! Agora tenho muito mais chartaz!

Amigas ja me invejam, Glauco, mas mais velho não quizeram ter cliente!

Azar dellas! Rirei de quem invente fofocas! Zombarei das linguas más!

Concordo que engoli muito cocô grudado no caralho que chupei! Mas era a minha merda! Chuparei de novo o meu "papae"... ou meu "vovô"!

É minha a bocca, porra! Até pornô filminho fazer podem! Qualquer gay o mesmo faz bastante, isso bem sei!

Você ja fez tambem, que é cego, pô!

44 GLAUCO MATTOSO

GENOCIDA [7237]

Mas, vate, exsiste alguem que 'inda duvida que seja aquelle filho duma puta, maldicto, desgraçado, que conducta tem sordida, algum mero genocida?

Sei, Glauco, que elle implica com quem lida com nossas liberdades e disputa com elles na justiça, mas a lucta, que está só começando, é bem renhida!

Não, mero genocida, ah, não é, não! Jamais um genocida qualquer é quem causa tantas mortes, seja até por simples ommissão, numa nação!

É nisso que dá quando um capitão, um mero capitão, um Ninguem Zé, commanda generaes! Mas tenho fé, Glaucão, que se foder todos irão!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 45

PEKY ROIDO [7238]

Que feio! Que vergonha! Ah, bem peor deshonra, para aquelle que se julga um "mytho", um governante que promulga leis tantas, é ver isso a seu redor!

Ver isso em toda parte, na maior cidade, em "autidor", ver que divulga tal coisa até cachorro, ou sua pulga! Peor que o que sabemos, ja, de cor!

Peor que ser chamado de veado, de corno, de ladrão, de bandoleiro, de filho duma puta, de fuleiro capacho de malandro, ou de soldado!

Peor que genocida, que seu lado tem, claro, de verdade, dado o cheiro fedido de cadaver que elle inteiro tresanda, aquelle infame desgraçado!

46 GLAUCO MATTOSO

JACARÉ VACCINADO [7239]

Sim, pode me chamar de jacaré, até de crocodillo, si quizer!

Você, que é genocida, de qualquer calão me chamar pode, bicha, até!

Sim, sou um jacaré! Mas quem não é, depois de vaccinado? Uma mulher seria a jacarella! Si puder, será até crocodilla! Bote fé!

Melhor ser jacaré que genocida, não acham, não, vocês? Aquelle estrume nos chama desses bichos, mas resume o termo "genocida" a sua vida!

Um sadico, um fascista assim, convida a gente a criticar com azedume!

Melhor que esse excremento se accostume a ver a sua fama ser fodida!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 47

PRECARIA BINARIA [5704]

"Não binario" que sou crendo, assumir-me resolvi.

Percebi que não entendo porra alguma disso aqui.

Mas fingir está valendo?

É mulher um travesti?

Sobre o caso estava lendo eu e, louca, me vesti.

Puz peruca, quasi offendo meu espelho, fiz xixi sentadinha, mas horrendo na calçada me senti.

Papellão fiz. Me arrependo. A ninguem engannei! Xi!

Mas cricri sou, que só vendo!

Finjo cego ser... Quem ri?

48 GLAUCO MATTOSO

MICHO BICHO [5705]

É meu signo o caranguejo e nenhum o meu appreço, pois em junho é que festejo meus anninhos e envelhesço.

Esse bicho dá-me ensejo ao repudio mais advesso. Feito aranha é como o vejo: de pensar eu ja padesço.

Si pavor quem tem de aranha "arachnophobo" se chama, qual o nome, então, que ganha meu medinho de má fama?

Mas não posso fazer manha, pois visão, quem não tem, mamma sem chiar da alheia sanha. Quem é cego não reclama.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 49

LIGAÇÃO COM LIGAÇÃO [5706]

Quem quizer compartilhar com um cego o que na veia lhe cotuque, diz: "Um par quer da minha suja meia?"

Eu nem tenho cellular mas alguem disso proseia no apparelho que, em logar do portatil, tenho, creia!

Accredite! Quem ligar para o cego ouve esta feia voz chiada, ao perguntar si eu estou de bocca cheia.

Mas respondo que chupar é missão minha: tomei-a como dadiva do azar que a cegueira presenteia.

50 GLAUCO MATTOSO

LIVRO DO CEGO [5707]

Não! O "livro" que hoje é thema não tem braille, si meu for! É "do cego", sim, mas rema contra a norma do sector. Ja digito, com extrema rapidez, e sou auctor de dezenas, sem problema, num veloz computador!

Escriptor que cego seja ja do braille não depende como dantes, mas esteja certo: um thema muito rende:

Não é fé, não tem egreja meu enredo. Porem, quem de chupador me faz, enseja ao leitor o que elle entende.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 51

ERUDITA ESCRIPTA [5708]

Quem da casa preza a pratta tem auctor no pantheão. Quem as lettras melhor tracta foi elite, com razão.

Em qualquer paiz tal natta ser devia tradição! Mas na escripta a forma exacta nós perdemos faz tempão!

Quem estuda, ja constata que em Mattoso dois "T" são.

Escriptor que não combatta más reformas é cagão!

Eu combatto! Faço chata ou ingloria pregação?

Pouco importa! Eis minha errata: "feijão" leia-se "pheijão"!

52 GLAUCO MATTOSO

PAPPO DE BEBADO [5709]

Quem bebeu razão não tem de fallar, mesmo que berre. Quem berrou acha que vem evitar que o pappo emperre.

Bebo vinho, sim. Porem, caso o canone não erre, meus xarás de penna sem "mé" não passam, menos "cherry".

Um absintho sei que alguem toma, um Pietro ou um Pierre. Si eu tomar, em vez de zen, tudo indica que eu me ferre.

Não deduro aqui ninguem e, antes que esta estrophe encerre, lhes direi: bebo tambem qualquer succo dalgum "berry".

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 53

Cada fé seu deus festeja.

Eu festejo até na dor.

Grato, alguem que ja não veja

Oração faz ao Senhor:

"Pae, cegaste-me! Assim seja!

Um pedido só, si eu for Te pedir, é o que me enseja:

Olho tens? No cu vae pôr!"

No cu, sim, Senhor! O meu

Anda ja bem castigado!

Dou razão a quem fodeu A rosquinha dum veado!

Rogo a ti, Senhor! Atheu Eu não posso ser chamado!

Zeus tambem ja respondeu, Attochando-me o cajado!

54 GLAUCO MATTOSO
CEGO PUTO NADA REZA [5710]

DEVOTAS BOTAS [5711]

Um satanico não dista de quem tenha a mente pia. Todo mundo certa pista dá daquillo que o vicia.

Satisfaz o fetichista, todo dia, a phantasia. Quem perdeu, porem, a vista lambe em verso e se sacia.

Não paquera nem conquista nenhum sadico, mas cria taes scenarios que, na lista entra até, de algoz, seu guia.

Caso disso não desista, botas lambe, quem diria, não do punk ou do nazista, mas do crente... em poesia.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 55

KOSMICO COCÔ [5712]

Astronauta ter devia mais appreço, pois quem caga numa nave todo dia disputou aquella vaga.

Si tiver dysenteria é problema? (alguem indaga)

Responder me occorreria que faz parte dessa saga.

Faz na fralda ou na bacia?

Pouco importa, si lhe paga bem a NASA, lhe aggracia seu paiz e um ego affaga.

Mas o tempo não appaga o que fez e que faria quem pediu que alguem lhe traga papel, quando se allivia.

56 GLAUCO MATTOSO

OTARIOS HONORARIOS [5716]

Pago até consummação.

Não consummo e me consumo. Mal servido, sei que são vans as queixas. Levei fumo.

Ja dormido comprei pão. Me fodi, mas me accostumo a ser trouxa em eleição, si o paiz está sem rhumo.

Trouxas somos todos, mas são os cegos engannados com maior prazer, de más intenções estão cercados.

Eu, que estou com Satanaz de mãos dadas, ouço os brados zombeteiros, mesmo nas festas, entre os convidados.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 57

SAUDOSO MALCHEIROSO [5717]

Mas que noite infeliz! Eu, que mal durmo, não festejo. Quem nos braços de Morpheu cae, festeje neste ensejo.

Si não durmo, ja foi meu passatempo o malfazejo chulezão do Al Bundy e seu seriado cru, sem pejo.

Quando ainda ver podia, fan daquelle seriado eu fiquei. A nostalgia não sae nunca do meu lado.

Vi TV, mas, hoje em dia, virou coisa do passado no sofá appagar. Dormia bem a gente, nesse estado.

58 GLAUCO MATTOSO

CONVIVENCIA PACIFICA [5718]

Abolir a carne? Só pensa nisso o vil vegano!

Não commigo! Tenha dó! De comer bem eu me uffano!

Só verdura no gogó não me passa, mas enganno commetteu quem me deu nó! Tambem como folhas, mano!

Como carne com salada, mas questão faço de estar a piccanha bem passada e tempero não faltar!

Vegetaes? Não tenho nada contra, desde que em meu lar tambem tenha, defumada, a linguiça p'ra frictar!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 59

SALARIO LITTERARIO [5719]

Um concurso, toda vez, propaganda faz da lyra. Bella merda! Vão vocês crer que lucra quem delira?

Ser poeta todo mez não garante o pão, confira! Quer bembom? Quer ser burguez? aos poetas não adhira!

Si um garoto menção fez de ser vate e se sentira animado, foi freguez da mais ludica mentira.

Concluindo, descortez sei que sou, mas você pira si faz versos. O marquez que com garfo o cu lhe fira!

60 GLAUCO MATTOSO

LOUCURA SEM CURA [5720]

Me tractei na acupunctura e motivo para festa não vi. Dizem que ella cura...

Xingo curas que nem esta.

Me espetaram e foi dura a agonia. Quem attesta os effeitos da fé pura? A tractar-me quem se presta?

Recorri tambem à bruxa, que diziam ser honesta. Mas a bruxa disse: "Puxa!

Todo mago te detesta!"

Me fallou Satan, na bucha: "A afflicção que te molesta nem tem rhyma!" Foi a ducha d'agua fria. Que me resta?

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 61

INDUSTRIA PHARMACEUTICA [5721]

Não terá quem pela tosse vae morrer razão de rir. Caso a phthisica se apposse de alguem, falta um elixir.

Allergia? Que se coce quem tem isso! Vae surgir um remedio? Não endosse taes boatos de engruppir!

Não terão medicamento nossos males, não, jamais! Interesse no tormento teem as multinacionaes!

Mais meu caso ora lamento, pois, coitados, os meus paes dum ceguinho lazarento não previram estes ais...

62 GLAUCO MATTOSO

FESTIVAL INTERNACIONAL DO QUEIJO [5723]

Roquefort ou gorgonzola? Não importa! A festa attesta que a ephemeride extrapola as fronteiras e me arresta.

Si chulé tem, como a sola dum moleque, faço a festa mais ainda! Nem dou bolla a quem cheiros taes contesta!

Queijos fortes illusão me dão duma suja meia que tirei dalgum pezão tresandante e me tonteia!

Os lysergicos terão seus motivos, mas me creia você: dá maior tesão o chulé que pó na veia!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 63

INDUBITAVEL INCREDIBILIDADE [5724]

Um politico me disse que os politicos mentira todos fallam. Fez que eu risse. Foi sincero, ou ja delira?

Philosophica mesmice, a tirada não retira a verdade, até si um vice diz que nada tem em mira.

Da politica faz parte a mentira, mas tambem o poeta faz, com arte, seu papel de quem dor tem.

Aliaz, não se descharte quem ja teve e visão sem ficou, visto que reparte o delirio que lhe vem.

64 GLAUCO MATTOSO

LETTRINHAS E LETTRAÇAS [5725]

Às creanças sou auctor pornographico demais. Mesmo assim, pude compor versos meio angelicaes.

Deu a critica valor quando fallo de animaes. Fui feliz, si um basset for bom assumpto e encante os paes.

Mas os livros infantis não são mesmo minha praia. É, dos themas, infeliz sempre aquelle que me attraia.

Quem quizer ser bom juiz do que escrevo, que não caia na armadilha de meus vis detractores: Viva a vaia!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 65

CÃO-QUILATE [5726]

De cachorro, basta o cego quando aos sadicos se rende. Meu Chichorro, ao qual me appego, me accompanha e me defende.

Viralatta ja meu ego considero. Não me offende essa pecha que carrego pela vida, até the end.

Foi Chichorro o meu basset mais thematico. Não creio que outro cão mais themas dê entre tantos que releio.

Eu apposto que você, quando o seu leva a passeio, pensa como quem me lê: no papel, nenhum faz feio.

66 GLAUCO MATTOSO

GULA SEM BULLA [5727]

Em logar de chocolates, bollos, ballas ou cocadas, recebi de admostra gratis comprimidos e pommadas!

Vae à merda! Não me tractes como enfermo! Não invadas o cenaculo dos vates! Serve uns chas... mas com torradas!

Um remedio de presente não tem graça! Mas é bom si ganharmos o que tempte nossa gula: algum bombom!

Eu, rebelde paciente que sou, fico puto com um producto que, insistente, de curar não tem o dom!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 67

LASCIVO INCENTIVO [5728]

Não tem muito o que encoraje esta lyra ao joven bardo si meus versos são ultraje e me basto em ser bastardo.

Um herdeiro de Bocage e Gregorio aguenta o fardo fescennino e appenas age como quem attira dardo.

Dar ao joven escriptor um alento va que seja positivo. Mas si for incorrecto o que elle almeja.

O que posso lhe propor e dar, farto, de bandeja é poema com sabor sem pudor, que não se peja.

68 GLAUCO MATTOSO

BEIJOCA QUE SE TROCA [5729]

Jovens beijam-se, si está namorando algum casal. Não um cego. Elle que va beijar pé de alguem normal!

Mas somente um beijo dá no merdoso cu do tal Satanaz quem, no sabbath, tudo em nome faz do Mal.

O cachorro beija dando a lambida mais molhada.

Mas de Judas o nefando beijo pesa mais que espada.

O ceguinho beija quando recebeu a bofetada.

Lamberá, sob o commando dalgum sadico, pé cada.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 69

PEIXÃO DA PAIXÃO [5730]

Si em dois mil e dezesepte treze é quincta-feira sancta, peccadilho não commette quem beijar uns pés à janta.

Si será de algum pivete ou dum preso, não faz tanta differença, pois me mette sobre a cara a sua planta.

Mas em sonho, pois não sou padre, bispo ou cardeal. Mais eu lucro, porque dou lambidellas nesse sal.

É salgado, ja fallou disso o bardo, o pé do tal pivetão que celebrou semaninha tão paschal.

70 GLAUCO MATTOSO

CAIXÃO DA PAIXÃO [5731]

Sexta-feira da Paixão a semana pelo rallo ja rollou. O domingão? Ora, aos outros eu o egualo!

Data movel invenção de imbecis é, sempre eu fallo. Si num anno o dia não coincide, eu perco o emballo.

Em qualquer occasião cae a festa? Que intervallo samphonado! O troço é tão infeliz, que vou cortal-o!

Batto o prego no caixão desse thema que no callo me pisou faz um tempão. Mas irei eu olvidal-o?

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 71

ARREDONDANDO A RONDA [5732]

Quer civil, quer militar, da policia a gente falla. Mas que porra vou fallar eu aqui para exaltal-a?

Valerá, talvez, lembrar: não levei, dum tira, balla.

Da biqueira ao calcanhar o lambi, forante a "mala".

Bota e balla teem logar quando alludo ao que "metalla".

Vil metal tambem: pagar devo, sempre que um me empala.

Minha lingua se calar deve, sempre que ella ralla dando brilho no seu par que ficou feito um de gala.

72 GLAUCO MATTOSO

LIVROS PRODIGOS [5733]

Só de versos, fiz cincoenta. Vale o livro o que se diz. Escrevel-o quem não tenta teve um filho e dois ter quiz.

Plantou arvore, aos septenta, quem tentou, sem ser feliz. Filho ou arvore accrescenta quando o auctor não quiz dar bis.

Não me enquadro nessa scena de escriptor ou quem se arvore plantador, mas tenho pena de quem seja pae e chore.

Um papae serio condemna seu pimpolho, caso explore essa scena nada amena dos rockeiros mais hardcore.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 73

VEADO CORNEADO [5734]

Pode um cego da visão ter saudade sem chorar?

Pode um cego ao olho são de outro macho dar logar?

Tanto pode, que o tesão do tal "outro", por azar, não tem só satisfacção com a dona alli "do lar".

Conclusão: o cego é tão azarado, que chupar vae o pau do Ricardão!

Mais lhe amarga o paladar...

E segunda conclusão dou a quem me consultar: será corno quem visão não tem, quando tem seu par.

74 GLAUCO MATTOSO

ENTHUSIASTAS GYMNASTAS [5735]

Para cada practicante de exercicio, ja careca de saber, ha quem garante que seu tempo leva a breca.

Si uma lucta tão marcante exquescer, a gente pecca. Com a lingua em seu pisante, engraxei um karateka.

O goleiro que, durante todo o tempo na somneca estivera, do barbante quer a bolla longe, e neca!

O ceguinho caminhante tem cachorro que lhe breca o caminho: a cada instante, faz pausinhas e defeca.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 75

SUBMISSO SERVIÇO [5736]

À domestica acho justa a allusão. Com dó, sei duma cujo fardo mais lhe custa pelo apperto que ella arrhuma.

A cueca que lhe assusta lavar é de quem só fuma baseado e tem vetusta e sebosa mancha: em summa...

Pau que um cego, só, degusta. Nessa sunga o cara estruma um dejecto que se encrusta. E elle é grato? Coisa alguma!

O peor é que se adjusta a seu gosto o cego, c'uma mente porca, de robusta submissão, como nenhuma.

76 GLAUCO MATTOSO

CANÇÃO INSONORA [5737]

Lhe "furaro o zóio" e morto elle agora quasi está.

Não morreu, mas seu comforto reduziu-se ao ré-mi-fá.

Eu não canto mas, absorpto, chupo alguem que gozará.

Passarinho que, cegado, sirva appenas de cantor não differe do coitado dum ceguinho chupador.

Só differe o resultado da cegueira: é de suppor que elle chupe bem calado, sem ruido, o seu senhor.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 77
"Assum preto veve sorto", impedido de "avoá".

ASSAZ INEFFICAZ [5738]

A sciencia quer que eu faça propaganda do oculista nestes versos, mas não passa sem que eu falle, pessimista:

A doença que me embaça não tem cura! Quem a vista perdeu sabe e não vê graça em calar-se, nem despista.

Não farei, porra nenhuma, homenagem ao subjeito que pretextos mil arrhuma para azar que não tem jeito.

Ha ceguinho que presuma ser curavel seu defeito?

Oculista que se assuma impotente eu, sim, ja acceito!

78 GLAUCO MATTOSO

LOST SOCK MEMORIAL DISSONNET [5739]

O chulé que me tonteia (tão orgastico que eu acho) mais me attiça quando a meia localizo dalgum macho.

Si perdida estava, achei-a pelo faro e ja me aggacho com a bocca quasi cheia de saliva. Ah, quanto excracho!

Quando a meia foi perdida geralmente estava suja. Ha razão p'ra que eu decida encontral-a, de lambuja.

Mesmo limpa, se valida procurar a dicta cuja. La no fundo, nos convida a narina a ser sabuja.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 79

LIMERICKAL DISSONNET [5741]

Zé Limeira foi um craque do nonsense, claro fique. É por isso que aqui ha que se fallar em "limeirique".

Quando um rico tem acchaque cae de cama à moda chique: enfermeiro veste fraque quando attende alguem que enrique.

Que é perfume acha seu traque o enfermeiro, e seu chilique medicar vae com conhaque ou champanhe de alambique.

Ha motivo p'ra destaque de enfermeiros no debique?

Não, nenhum. Você que saque o chavão que eu communique.

80 GLAUCO MATTOSO

QUALQUER DIA DAS MÃES [5742]

A mamãe hoje tem festa, mas a minha está ja morta. Das lembranças o que resta é questão que mais importa:

Diabetica, o que nesta quadra lembro é duma torta superdoce e ella protesta: come toda e se comforta.

Mas tambem a mim molesta a doença: batte à porta a velhice, quem attesta é o doutor que me supporta.

Data movel, a contesta quem uns versos sempre aborta. Si num anno ja não presta a anterior, a gente os corta.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 81

FLOR DO AMOR [5743]

Uma rosa verdadeiro valor ganha numa rica poesia, mas tem cheiro proprio aquella que aqui fica:

Margarida! Seu primeiro servicinho é dar a dica de quem ama o jardineiro que a colheu e que a critica.

Flor nenhuma ninguem casa nem namoro arranja a cada que a desfolha toda, mas a margarida foi culpada.

Qual hypothese que embasa a amorosa flor? Mancada commetteu quem extravasa seu rancor e pragas brada.

82 GLAUCO MATTOSO

FEDORENTOS ALIMENTOS [5744]

No deserto, aranha comem certos povos. Nem commento. Mas será capaz um homem de comer seu excremento?

Ha paizes (Não me tomem por mendaz!) onde um nojento pratto jantam: la consomem do macaco o cocô... bento!

Sim, sagrado! Não critico nenhum typo de cultura, mas quem come no penico um dejecto se tortura!

Masochista até bem rico paga caro pela pura merda molle dalgum mico... Eu prefiro outra mixtura!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 83

GOLIARDA QUE ACCOVARDA [5745]

As aranhas de tamanho variando vão, conforme o meu medo: não me accanho de dizer: "Nossa! Que enorme!"

Mal lembrei e ja me assanho: na Amazonia, ninguem dorme si no sonho ellas teem ganho no tamanho, ja disforme.

Tantos versos à bichana eu fizera! Mas jamais é bastante, si se damna quem a vê nos mattagaes.

Pesadello que attazana terá aquelle que viu taes cabelludas na cabana onde esteve com seus paes.

84 GLAUCO MATTOSO

PROFISSÕES DE PONCTA [5746]

Si for India ou si for China, massagista alli não falta. Ao ceguinho o que se ensigna é manter a estima em alta.

Um cliente que o domina quem fez curso não descharta. Sua lingua, ou a narina, lhe dirá que a farra é farta.

Num pezão o cego fina syntonia tem: lhe basta lamber fundo, e se elimina qualquer fungo em sola gasta.

Profissão que não combina com um cego sem gravata: costureiro! Hem? Imagina! É de agulha que se tracta!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 85

VERSO LIVRE [5747]

Liberal ou libertario?

Eu prefiro o libertino, profissão que não tem pareo si o poeta é fescennino.

Não depende de salario o pornographo ferino. Dependesse, era um otario, como alguem que me defino.

Inda bem que por dinheiro nenhum faço o meu poema! Não preciso que, primeiro, a censura as dores gema.

O poeta punheteiro soffre, mesmo, dum problema: seu orgasmo passageiro é demais, e baixo o thema.

86 GLAUCO MATTOSO

PRAZERES ORAES [5748]

Do dogueiro ou do burgueiro bem eu fallo, pois nos dão um prazer breve e certeiro, ao contrario do tesão.

Um orgasmo tem, primeiro, que passar por um montão de quesitos, mas o cheiro dum burgão ja basta, ou não?

Para abrir meu appetite pouca coisa necessito. Mas, si invoco uma Aphrodite, só responde Exu, o maldicto.

Si não soffro de gastrite, rindo, os dentes eu palito. Não preciso que me cite ninguem tudo o que ja cito.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 87

CENSO SEM CONSENSO [5749]

Dez por cento de qualquer gruppo, dizem-me, são gays. Si for homem ou mulher, foi provado, appenas seis.

O restante, quem quizer que baptize. "Drag-reis"?

Transformistas? Até "bear" e "she-man" entram, vereis!

Hoje em dia, "trans" e "cis" ja pullulam pela scena. Desse jeito, os mais viris faltarão na minha arena...

De caceta bem pequena ou prepucio no nariz, ha de tudo, mas é pena que mal cheguem a dar bis...

88 GLAUCO MATTOSO

DECORAÇÃO DE CORAÇÃO [5750]

Caro custa! Decorar, affinal, quanto trabalho dá si, para ornar meu lar, bibelôs são pés, caralho!

Mil botinhas, par em par, colloquei neste serralho de podolatra. A faltar fica um tennis bem bandalho.

Decorei ja meu apê com retractos de pés nus ou calçados, mas você nem calcula quantos puz!

Fiquei cego e, então, cadê a funcção, que me seduz, desses quadros? Só quem vê saberá si fazem jus...

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 89

CLUB FOOT DISSONNET [5751]

Orthopedica mania!

Eu aqui, que sou tarado, um pé torto só queria ter lambido ou ter chupado!

Ah, com elle o que eu faria! Com a lingua os vãos invado dos artelhos! Atrophia não me deixa repugnado...

Pé de gancho, pé expalhado, não importa, me seduz!

Não, jamais me desaggrado si no rosto um delles puz!

Mesmo sendo deformado, meu tesão não se reduz!

Mas faltou, por outro lado, para vel-os, minha luz...

90 GLAUCO MATTOSO

DESENCALHANDO THEMAS [5752]

As solteiras eu disposto estou hoje a commentar. Os solteiros em agosto deixo para analysar.

Si ella busca e, a contragosto, não achou ainda um par, ou attrae algum encosto, ou é bruxa e deu azar.

Tantas coisas tenho posto num poema, que vae dar para o punk estar exposto de lambugem no bazar.

Pelladão eu nem proposto que elle fique tenho: a achar tenho só si, no meu rosto, appoiar seu calcanhar.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 91

AMBIENTANDO THEMAS [5753]

"Natureba" ou "ecochato"?

Ambos esses termos são

meio improprios, eu constato. É melhor dizer "bobão".

O babaca acha que em matto ninguem pode pôr a mão!

Carne evita, esse insensato! Quer comer, mas plantar, não!

Só verdura, a ser exacto, o papel não faz do pão. As florestas... Bem as tracto, sim, mas verbo perco, em vão.

A attitude que, de facto, eu adopto é não ser tão

radical: cerveja empatto com churrasco. E então, irmão?

92 GLAUCO MATTOSO

ALGO A MAIS [5754]

Não exsiste analgesia que me tracte da cegueira. Em mim, chora a poesia, mas, sem dor, ria quem queira!

Dor de dente, nevralgia, dor no sacco ou na caveira... Analgesico eu queria que interrompa a vida inteira!

Senti dores, ja, de todo typo, berros dei num ai mais poetico, que engodo alguns acham, e me trae.

Mas taes berros solta a rodo um poeta. A ficha cae dos leitores que me fodo de verdade... si me vae.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 93

DANSA DEMONIACA [5755]

Certos povos festa teem para a dansa do Diabo!

Não é para quem for zen este baile, pois me accabo!

Sei de gente que, porem, si não dansa fica brabo. Eu cholerico ja nem fico e, velho, accalmo o rabo.

Quando danso, ja me vem sensação de ter um nabo bem no cu, mas peido sem ceremonia... Até me gabo!

Cansadissimo, tambem por qualquer coisa desabo numa cama, mas alguem surge, erecto, e então... me enrabo!

94 GLAUCO MATTOSO

POLEMICO ACADEMICO [5756]

Fui eleito, em Canindé, para a ACLAME e se commenta que guardado um logar é meu na Casa dos Quarenta.

Para os cegos quota até ter devia na agourenta ABL e até do Zé a cadeira bem me assenta.

Mais polemico um ceguinho é que muito maldictão. Os poemas que escrevinho causariam sensação.

Conformado, meu caminho desviou do pantheão. Mas prefiro beber vinho do que cha, numa sessão.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 95

ERA DA BLOGOSPHERA [5757]

Alguem algo fez primeiro. Quem historia fez, commente. O blogueiro foi zineiro, escriptor independente.

Blogospheras, derradeiro, eu agora justamente commemoro. O pioneiro é que compta para a gente.

Tive site, tive blog, mas por outrem se mantinha a postagem. Quem prorogue ja não tenho minha linha.

O leitor que dialogue por email com a minha voz poetica que, grogue, continua a ladainha.

96 GLAUCO MATTOSO

SULPHUROSA INSPIRAÇÃO [5759]

Dia septe do mez septe tem seu magico condão. Novo livro me promette essa astral occasião.

Quando eu sento na retrete nesse dia, tudo é tão facil para que eu encepte a missão! Graças ao Cão!

Quando um cego bardo caga o cocô não sae sozinho. É fatal que elle me traga os versinhos que escrevinho.

Mas o bardo um preço paga pelo lyrico caminho que percorre: não tem vaga academica, tadinho!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 97

PÃO ACCORDADO [5760]

Por maior que seja o advanço da sciencia, segue o pão sendo o mesmo e não me canso de exaltar sua funcção.

Si a manteiga não tem ranço, vou passal-a de montão. Meu estomago eu admanso só depois da refeição.

diabetico, um ballanço ja fiz para ver si são ficaria. Sempre danso, pois comer é meu tesão.

À comida sempre lanço um olhar, digo, uma mão cobiçosa. Dedos tranço si não tenho occasião.

98 GLAUCO MATTOSO

PIZZA QUE SE BISA [5761]

Qual pedir? Napolitana?

Pepperoni? Calabreza?

Peço todas e se damna a dieta. Bella mesa!

Descendente que se uffana da peninsula certeza tem da festa e não se enganna. Mas que mesa! Che bellezza!

Pizza para mim é tudo de bom! Quasi nada resta dos prazeres e me escudo na boquinha, nessa festa!

Ja que nunca fui sortudo nem nas lettras, siquer nesta vida practica, me grudo numa pizza, até na testa!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 99

ALTERNATIVAS MEDICINAES [5762]

Ja de plantas soccorri-me quando ainda visão tinha. Mas fui victima dum crime e a cegueira foi damninha.

A sciencia não se exime de responsa, pois eu vinha me tractando com um time de bons medicos, na linha.

Mas nem faca, nem gottinha me salvaram: o regime do Destino é o que definha e a má sorte é o que deprime.

Encerrando a ladainha, não ha mal que desanime um ceguinho que escrevinha si elle mesmo se autoestime.

100 GLAUCO MATTOSO

FIRST JUNKIE FOOD DISSONNET [5763]

Tem o rock adeptos, mas sua historia ja accabou. Joven foi, annos attraz. Só vovôs, hoje, dão show.

Ja a batata fricta jaz immutavel! Della sou fan eterno, si ella faz do rockeiro o que sobrou.

Fricturinha com pauleira bem combina. Ainda bem!

Nossa velha alma rockeira paladar, ao menos, tem!

Um velhinho, na cegueira, se consola com alguem tambem velho, que lhe queira dar pisões, de tudo alem.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 101

REPROVAVEL TROVADOR [5764]

Para fora, ah, si vou pôr meus ais! Lyrico? Uma ova!

Direi merda! Trovador sou e porca faço a trova!

Nem veraz, nem fingidor, meu poema só desova a revolta. Vil si for, minha verve se renova.

Trovadores me dão compta de que estou no mau caminho, que cabeça tenho tonta por beber do peor vinho.

Mas sermão não me admedronta, pois o verso que, excarninho, faço, para a fama apponcta si durar um minutinho.

102 GLAUCO MATTOSO

AMIGUINHOS DO CEGUINHO [5765]

Amigão é sempre alguem que dum cego de babá posa e pisa-lhe, porem, na boccarra de gagá.

A Chiquinha diz que tem pirolito e não me dá. Quem faz annos bollo nem offeresce e comeu, ja.

Por ser cego, sei eu bem que meresço a sorte má. Os que enxergam sempre veem humilhar quem cego está.

Mas serei eu sempre zen. Minha fama não será exquescida por ninguem que pisões deu. Oxalá!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 103

SECOND JUNKIE FOOD DISSONNET [5766]

Junkie food eu reconhesço que meresce versos ter. Nem é tanto pelo preço mas é mesmo por prazer.

Dum hamburger não me exquesço que com frictas deve ser. Um dogão, como addereço, ter mostarda é mor dever.

Si ter isso ou ter aquillo esperamos da comida, é por ser bem mais tranquillo tal prazer termos na vida.

Si mil planos eu burilo, nada faço que decida minha sorte, mas um kilo no buffê me revalida.

104 GLAUCO MATTOSO

PODOLOGIA QUE SACIA [5767]

Sou podolatra mas acho no podologo uma via. Nada como um pé de macho si eu quizer podolatria.

Um ceguinho é bom capacho: facil nelle tripudia quem enxerga. Si me aggacho, logo alguem seu pé me enfia.

Massageio e dou relaxo practicando a theoria mais holistica. No excracho, porem, vira putaria.

Bem, assim, eu me despacho. Num bom thema, a poesia não trará cara de tacho ao poeta que em si fia.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 105

DIA DO SADOMASOCHISMO [5768]

Septe dias por semana, vinte e quattro horinhas: isso é o que explica tão bacchana data, à qual presto serviço.

Um ceguinho que se damna faz da vida compromisso natural com quem tem gana de mantel-o bem submisso.

Entre irmãos melhor se explana tal fetiche e tal feitiço: um com outro tem mundana relação. O meu, attiço-o.

Ja fui delle, esse sacana, masochista sem enguiço. Hoje em dia, até se uffana de ter feito nada disso...

106 GLAUCO MATTOSO

ROCKEIRO MOTOQUEIRO [5769]

A jaqueta que elle adopta ja comprei, de boy à guisa. Rockabilly, a gente bota na victrola e cantar visa.

A figura delle nota quem as ruas analysa. No meu sonho, é sua bota poeirenta que me pisa.

Quem verseja não exgotta taes assumptos, si precisa de poemas ter a quota que elle nunca minimiza.

O tesão sempre me brota si, em logar da poetiza, me colloco e não me enxota quem meus versos electriza.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 107

GOSMA DO ORGASMO [5771]

Ja fallei delle, e bastante disse em motte e em elegias. Um poeta que o não cante canta falsas utopias.

A mim, basta algum pisante chulepento: putarias me suggere e me garante novo orgasmo em noites frias.

O problema de quem pecca masturbando-se consiste numa mancha na cueca que não tem o que despiste.

Vae grudando uma melleca amarella, mas a triste condição jamais me breca um prazer que não desiste.

108 GLAUCO MATTOSO

UNDERWEAR DISSONNET [5772]

P'ra fazer panno de pratto talvez ella não servisse, mas se presta, disso eu tracto, à sexual semvergonhice.

Quando mancha (ja me disse um moleque), paga o pato quem a lava. Mas chulice mesmo é um facto mais ingrato:

Ao chupar um pau, eu batto de narina nella. Ri-se quem me obriga ao acto chato, mas o cego que se enguice!

Cabisbaixo e timorato um gaiato que me visse mandaria, nesse exacto tempo, que algo eu engolisse.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 109

PÉS EXPOSTOS [5773]

Pé na cara eu acho um bom thema à lyra, de maneira que feliz eu fico com um tributo à capoeira.

Berimbau optimo som tem, mas fallo da certeira cotucada dum marron pé descalço que se exgueira.

Outro pé que tem o dom de inspirar-me em obra arteira é o que em rock eleva o tom: do skatista... Ah, que pauleira!

Dos rockeiros, o do John é o que mais grego me cheira, pois supponho que edredom nenhum cobre a perna inteira.

110 GLAUCO MATTOSO

DIETAS IDIOTAS [5775]

Outras lyras fallam della mas convem que se repita: Das dietas a sequela é mais grave e não se evita.

Quem restringe o que a panella faz e corta o que se fricta fica, alem de magricella, preso ao medico, à marmita.

Para a droga alguem appella?

A pharmacia facilita. Mas salame e mortadella dão dieta mais bonita.

A verdade se revela implacavel e irrestricta: Ja que a vida não é bella, comer resta: ao menos, quita.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 111

WIGGLE YOUR TOES [5777]

{Meus artelhos, eu os mexo e um odor ao ar libero. Si provoco algum desfecho, com certeza não é mero.}

{A um podolatra, o desleixo dos meus pés tem tom sincero. Elle implora e eu, claro, deixo que me lamba, eis o que quero.}

Assim disse quem deixara que eu lambesse seu pezão chulepento. Se compara tal odor à podridão.

Mas o quero bem na cara e não posso dizer não para a chymica, nem para a magia do tesão.

112 GLAUCO MATTOSO

ANTIPRACTICAS E ANTIPATHICAS EMBALLAGENS [5779]

Ja passei raiva bastante com productos que não posso facilmente abrir. Pensante qual cabeça faz tal troço?

maccarrão, desodorante, cha, torrada, até o pão nosso... Si voltarmos ao barbante e aos cartuchos, eu endosso!

Ao ceguinho, mais perigo representa algo de embrulho tão difficil e me intrigo si productos taes vasculho.

Sem a adjuda dum amigo, eu em secco engulo, engulho.

Nem tesoura! Não consigo abrir... Perco o meu orgulho!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 113

CAE, CAE, BALLÃO! [5780]

Tive panico só quando viajei, mas... de avião! Tenho amigos viajando pelos ares... de ballão!

São malucos! Esse bando só soltava, mas então resolveram e, embarcando foi um delles... Veiu ao chão!

Não consigo nem suppor como pode entrar alguem num negocio desses! Por nada acceito o mesmo, nem...

Um collega aviador me contou que, qual nenen, caga molle si elle for voar nisso! Que mais, hem?

114 GLAUCO MATTOSO

THEORIA DA HIPPOTHERAPIA [5781]

Fallam "equotherapia", mas mixturam com latim.

Pouco importa, ja que a via não funcciona para mim.

A cavallo? Montaria?

Não, 'brigado! Estou a fim doutra coisa que faria mais effeito, a saber vim:

Bem comer! Qual iguaria?

Ora, um bollo, ou um puddim!

Generosa, uma fatia desestressa? Acho que sim!

Dispensar a theoria

é melhor, decide emfim quem não acha que seria natural comer capim.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 115

MISERICORDIA DA MISERIA [5782]

Protectores da pobreza muitos querem ser. Porem, o que sobra em sua mesa não repartem com ninguem.

Quem a vista tem illesa chocolates tem, tambem. Mas dirá, por malvadeza, que ao ceguinho não dá, nem...

Não fui nunca algum mendigo, mas bastante eu implorei que cegueira, por castigo, não constasse mais da Lei.

Lei divina, que commigo foi severa, bem ja sei. Não bastasse um inimigo a zoar dum cego gay.

116 GLAUCO MATTOSO

DEFENSOR DO GARÇON [5783]

Advogado de bandido não é digno do direito. Si o garçon do meu pedido se exquesceu, me foi bem feito.

Um causidico eu valido só si um justo for suspeito. Ao garçon, pelo appellido va que o chamem... mas com jeito.

Ha chicanas sem sentido quando um rabula tem peito. Num sanduba bem servido pão dormido eu não acceito.

Concluindo, me decido a levar alguem ao leito. Mas nenhum dos dois convido, pois desprezam meu defeito.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 117

BARDO INFELIZARDO [5784]

Quem tem sorte enxerga. Vel-o não consigo. Mal me escudo na cegueira, mas com gelo na voz elle é bem marrudo.

Azarado sou e pelo braço pega-me o sortudo. Quer que eu mude o tolo zelo que me escuda. Agora eu mudo.

Me pegou pelo cabello, pela orelha, e metteu tudo bocca addentro. Eis como fel-o quem eu fello, e me poz mudo.

Hoje em dia, pesadello ja não tenho com o rudo gajo cujo tornozello, num abbraço, lambo nudo.

118 GLAUCO MATTOSO

VIRTUAL DESUSUAL [5785]

Informatica não é coisa facil para mim. Não puz nunca muita fé num robot que faz plim-plim.

Meu teclado passa até sem ter mouse, mas, no fim, nunca cheiro, ao vivo, um pé! Só na rede eu sirvo a um "teen".

Hoje em dia, por email, mais ninguem se communica. Vou perdendo, pois, o meio pelo qual chupava picca.

Mas nem sempre faço feio. Os moleques acham rica fonte neste verso cheio de calão. Dou minha dica.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 119

RELIQUIA ROUBADA [5787]

Monumentos eu respeito e não tiro sarro disso. Mas tambem acho bem feito que não fosse um pau massiço.

Si o caralho está perfeito e um artista bom serviço esculpiu, com dó no peito eu lamento o seu sumiço.

Si sumiço um oco pau levou, foda-se essa falsa raridade! Eis que, babau, ja ninguem mais a realça!

Só lamento, por ser mau seu agouro, que, sem calça um anjinho, seu bilau ja dansado tenha a valsa.

120 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DOS TYPOS URBANOS [5788]

Dos actores não desfaço nem dos picaros. Se tracta dum character que, no traço de coragem, os empatta.

Bicycleta com palhaço bem combina à lyra grata. É por isso que eu abbraço quem pedala ou desaccapta.

O cyclista seu espaço ganha, licito ou pirata. O palhaço, que é devasso, vira vate e ri na latta.

Ambos causam embaraço si o municipe os maltracta, mas com elles eu me engraço pois tambem critico a natta.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 121

ADEPTO DO SEM-TECTO [5789]

Eu não tenho onde morar, si não moro onde desejo. Só reside em bom logar quem o vê, mas eu não vejo.

Pode um lar ser doce lar si ao comforto der ensejo, mas, si é para accommodar mal, a casa eu não festejo.

Si faltou habitação, falta tudo nesta vida. Só se sente cidadão quem tem casa, tem comida.

Por que fallo disso? O pão não me falta, nem devida moradia. Meu irmão é que, errante, me convida.

122 GLAUCO MATTOSO

STRANGE MUSIC DISSONNET [5790]

Quando alegre está o Diabo, fede delle muito o cu.

Lhe apparesce mais o rabo si o Diabo for Exu.

De entender disso me gabo e declaro, curto e cru:

Elle fica muito brabo si uma musica é tabu.

O Diabo dansarino quiz ser sempre, envaidescido. Mas se queixa do destino das canções que tem curtido.

Ellas saem, imagino, ja de moda. Meu ouvido musical, desde menino, eu treinei e não me olvido.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 123

MISCELLANEA DUMA AGENDA DE LEMBRETES [5791]

Homenagens ao soldado nesta agenda a gente annota. Mas o cego, que é tarado, mais prefere delle a bota.

Roupa usada ja annotado tenho ha mezes, mas si a nota está curta, sou forçado, nos brechós, a nova quota.

Quanto ao beijo, si brigado eu estive, me denota nova chance o namorado quando o ganha, e a magoa enxota.

Ao feirante, que me lota a saccola, sou levado a dizer que a bergamota mexerica virou, só, tá?

124 GLAUCO MATTOSO

MALEVOLENTE MALEMOLLENCIA [5792]

Ha perdão para um amigo que commetta algum deslise? Do bandido, o que é que eu digo? A questão quer que eu revise?

Ao lojista, que perigo corre (assaltos teem reprise), eu só digo: "Estou comtigo!" e a policia que analyse.

Perdoar? Não tem perdão para quasi tudo, mas é possivel dar a mão ao bandido contumaz.

Me imagino ja no chão, a seus pés. Intenções más não terá si seu tesão um ceguinho satisfaz.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 125

MISCELLANEA ESPONTANEA [5793]

Bom ouvinte sempre fui. Nas periphas, ahi não. A memoria substitue a actual e má canção.

Ouvir funk inspira? Ai! Ui!

Zeus me livre! Faço então um poema aqui que inclue a melhor comparação.

Um funkeiro prostitue a "novinha", que do cão é cadella; não se exclue disso o cego, puto tão.

Um nonsense não é mui evidente conclusão.

Mas qualquer um ja conclue que faltou inspiração.

126 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA SUCCEDANEA [5794]

O poeta que de dores falla, a todos se desnuda.

O poeta que só flores vende, muda a dor ja muda.

O poeta que aos actores se compara, que se illuda. O poeta que tu fores que dê terra àquella muda.

Mas, sem flores, meus amores pelo bacon teem carnuda refeição e, sem pudores, ao toucinho dou adjuda.

Tem o bacon seus pendores litterarios, si os estuda um poeta que sabores mais amou que Christo ou Buddha.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 127

MISCELLANEA DOS MEDINHOS [5795]

Quem estuda a cobra, a aranha, bem meresce ter phobia. Creatura mais extranha só se estuda em poesia.

Quando o guarda nos appanha defecando em plena via, não nos mulcta, pois se accanha ante lyrica tão pia.

Elle pensa: "A gente ganha muito pouco para aqui, a esta hora, ter a sanha de mulctar o que alguem cria!"

Dos meus medos, o meganha é o de menos. Arrepia meus pentelhos quem me lanha de chicote e se sacia.

128 GLAUCO MATTOSO

CARINHO ENTRE MANINHOS [5796]

Seja irmão em Christo, seja na familia, pouco importa si, ao sahirem duma egreja, um ao outro não supporta.

Quem na rua se comporta no cubiculo festeja. Uma vez fechada a porta, de foder-me não se peja.

Manos, para ser honesto, nesta lyra nem festejo, mas talvez algum incesto alimente meu desejo.

Hoje em dia, nem protesto contra aquillo que, sem pejo, me fez elle, pois me presto a mais coisas no varejo.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 129

BARBA POR FAZER [5797]

Raspo a barba e reconhesço importancia no barbeiro. Eu pagava qualquer preço para tel-o um anno inteiro.

Todo dia pelo advesso viro a pelle, prisioneiro do mau habito. Aggradesço que elle a raspe e lhe dê cheiro.

Não podendo ter quem corte esta barba no comforto do meu lar, eu que supporte mexer nisso, todo torto.

Ah, quizera ter a sorte de enxergar e, mesmo absorpto, ter o braço firme e forte sem sentir-me quasi morto!

130 GLAUCO MATTOSO

USO CORRENTE [5798]

Faço sexo punheteiro e não uso camisinha. Quem quizer ser putanheiro use a bocca, como a minha.

Do ceguinho ou da ceguinha a chupeta prazenteiro uso tem na comezinha voz oral do brazileiro.

O povão só diz "chupeta" ou "boquette". Fellação não é termo que commetta quem se liga no povão.

Ao ceguinho, não é tão importante essa questão, mas chupar o piccareta que, mais sadico, o submetta.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 131

PUBLICO PAPPALVO [5799]

Bellettrista, litterato, eu tambem me considero, mesmo cego, mas o facto que me importa é não ser mero.

Illettrados eu não tracto com desprezo ou tom severo. Elles pagam, creio, o pato si um mau bardo eu não venero.

Qualquer tolo lê poema mal escripto, sem dar bolla para aquillo, sem que tema a abobrinha que não colla.

Não o culpo, pois meu thema é difficil e, na eschola, nada fallam de quem rema contra as manhas do carola.

132 GLAUCO MATTOSO

CANÇÃO DO SALSICHÃO [5800]

Um hamburger celebrei, mas agora do dogão fallo mesmo. Sempre achei que é egualzinho elle ao meu cão.

Sim, basset tenho e bem sei como o fofo é comilão. Quer salsicha, latte, e é lei seu desejo, meu irmão!

Gordo está, qual Momo rei, mas não basta dar ração. Ao doutor eu ja contei que obedesço ao cão mandão.

Delle tanto ja fallei que caresce inspiração. Si diz "au" sei que diz "ei". Não consigo dizer "não".

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 133

MISCELLANEA DOS VICTIMADOS [5801]

Pelo amor de Zeus! Ninguem ha, só triste, que se macte! Suicidio razão tem si o commette um cego vate! Ao pedestre calha bem que "suicida" a gente tracte. Ja da esposa é melhor nem commentar si appanha ou batte.

Quem mactar-se quer, respeito me meresce, mas precisa ter motivo o tal subjeito para aquillo que elle visa.

Um ceguinho tem direito de pensar na coisa, à guisa de remedio, mas, no leito, tenho mente 'inda indecisa.

134 GLAUCO MATTOSO

NO AR A ZOAR [5802]

Locutores eu festejo nesta lyra, mas suppondo um que expresse, sem ter pejo, com voz grave um "cu" redondo.

Quanto à pinga, não desejo exaltal-a, mas respondo, si perguntam, que este ensejo approveito e não me escondo.

Quem bebeu tem o direito de fallar um palavrão.

Foi no radio? Foi bem feito si ganhou repercussão!

O poeta que tem peito nem precisa ter à mão o seu vinho sem conceito: Usa, sobrio, do calão.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 135

PERSIGNOU-SE E RESIGNOU-SE [5803]

Cruz carrego e della fallo, neste ensejo, com franqueza. Oxalá levasse um phallo, uma grossa rolla tesa!

Fiz signal ja, vou fallal-o, quando ainda a luz accesa ver podia, mas o callo me dóe hoje, e a merda presa.

Quiz fazer signal da cruz o ceguinho condemnado ao castigo que reduz quaesquer sonhos seus, coitado!

Pesadellos teve, Exus lhe espetaram o surrado trazeirão. Nem jus Jesus fez ao symbolo sagrado.

136 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA NEGOCIATA [5804]

Si o freguez der um chapéu vou chamar de caloteiro. Mas si compra um bom chapéu paga caro ao chapelleiro.

Si um cliente fica ao léu, com certeza é brazileiro. Mas la fora vira réu o lojista trappaceiro.

Democratico, o trophéu premiou o trambiqueiro.

O mandato appenas véu é no abuso do dinheiro.

Indo para o beleléu vae o cego que, primeiro, chupa aquelle que do céu não sentiu, jamais, o cheiro.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 137

SCENARIO RODOVIARIO [5805]

Do global acquescimento quem dirige caminhão ja bem sabe, no momento da coceira no colhão.

O calor augmenta, o vento mal soprou e a comichão faz no sacco um soffrimento. Larga ou não a direcção?

Me contou o travesti que chupou o conductor dum pesado, bem alli onde é torrido o calor.

O ceguinho fica, aqui, a suppor quanto suor não brotou como o xixi si chulé virando for.

138 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DOS DEVANEIOS [5806]

Oh, que lindo! Oh, que candura!

Almejar ninguem prohibe.

Você encontra o que procura.

Prelibar quer? Pois prelibe!

Quer achar a razão pura?

Pois critique quem se exhibe!

Comprehende a dictadura?

Botas lamba! Enrabe um kibbe!

Mas de novo o cego? Jura?

Quantas dores! Diatribe não farei, mas não tem cura a cegueira, nem se inhibe.

Só me resta, nesta agrura, o tesão. Nada cohibe que, na treva mais escura, eu me veja aos pés dum "pibe".

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 139

POMBOS E ROMBOS [5807]

Columbophilos os vão defender, mas que são praga, são, sem duvida que são! Que outro thema alguem me traga!

Os politicos são tão expertinhos, que lhes paga um injusto dinheirão quem os troca, abrindo a vaga.

Entre o pombo e o burocrata não exsiste differença, pois o povo bem os tracta por "titica", sem offensa.

Praga alguma ha que combatta nosso voto, ou a sentença dum juiz. Porem, debatta quem na crença ainda pensa.

140 GLAUCO MATTOSO

VELHO PROBLEMA (I) [5808]

Me propondo um vate está um assumpto que, espinhoso, mais polemica trará ao debatte caloroso.

Nem "caduco", nem "gagá".

Fallar tenho que é um "edoso".

À velhice chegará, si é politico, com gozo.

Si for arvore será, como a vejo, de frondoso porte e, espero, de dar ha, mesmo velha, fructo honroso.

Só duvido que, mal ja, muito viva algum Mattoso de má fama e sorte má, cego e bardo duvidoso.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 141

MISCELLANEA DA MIXTUREBA [5809]

Sacanagem! Mais depende do automovel quem tem boa forma physica! Se emende, alleijado! Chora à toa!

Va correr! Quem quer, defende algum clube! Só quem zoa um ceguinho não entende que é capaz qualquer pessoa!

Ter mau halito que, alem de ser nojento, é o que destoa de seu typo, quem se vende por michê, ninguem perdoa!

Não confunda "fim" com "end"! Não mixture pão com broa, nem um gnomo com duende, nem quem dá com quem se doa!

142 GLAUCO MATTOSO

PUNCTUATION DISSONNET [5810]

Mais da musica electronica que do heavy metal pode ficar surdo alguem, ironica conclusão que aqui me accode.

Ponctuar não é na tonica pôr accento, mas o bode põe na salla quem laconica phrase escreve e diz ser ode.

Quanto mais alguem ponctua ou mais virgulas colloca, mais errada sae a sua poesia. Alguem se toca?

Perderá quem senta a pua numa lettra bem boboca que, rockeira, alli na rua o povinho ouve, masoca.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 143

ONE HIT WONDER DISSONNET [5811]

Ouço radio e meu tributo dou a alguem que alli trabalha. Dou mau passo e fico puto si a calçada affunda e falha.

Quando, em casa, rock escuto nada em torno me attrapalha. Mas, na rua, pedras chuto e o sapato se excangalha.

Varias bandas que eu reputo boas passam e gentalha são do rock, esse reducto da canção fogo-de-palha.

Muitos themas eu permuto numa lyra que embaralha. Com tal molde mais eu lucto, mais farei obra que valha...

144 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA VELHA GUARDA [5812]

Homem canta bem? Mulher

é melhor? Nossa canção tem exemplos, mas não quer comparar, a Elis, João.

Num quartetto, quem quizer festejar um ancião tambem pode. Eu nem siquer accredito na inclusão.

Um edoso de colher come doces, pois não são só creanças, mas qualquer fan de Cosme e Damião.

Mixturei bem? Meu mester é fazer mais confusão!

Si nonsense nisto houver, não será surpresa, não!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 145

MISCELLANEA DO REPERTORIO [5813]

Novo e Belli traduzi mas um Joyce eu não traduzo.

Cruel, Sade de mim ri. Dum Masoch eu zombo e abuso.

Borges deu-me um Jaboty.

Dante deixa-me confuso.

De Bashô ja consegui ao haikai dar verso luso.

Mahomé ou Christo si satyrizo, não me accuso de blasphemo, pois não vi nenhum delles como muso.

Quem será que cabe aqui e não seja tão intruso?

Si não for um Angeli talvez seja algum Caruso.

146 GLAUCO MATTOSO

ANJO MARMANJO [5815]

Protegido estou appenas delle, porra! Que anjo, nada! Que me livrem das hyenas é o que eu quero, e da má fada!

Não sou victima de amenas situações, appenas! Cada qual que encontro quer ver scenas de tortura e me degrada!

Quem tiver anjo da guarda dependente delle fica. Elle falha, sempre tarda: não previne contra a zica.

Um ceguinho não agguarda melhor sorte que uma picca bocca addentro, de cor parda e bem grossa, tudo indica.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 147

DENTE MAL CALÇADO [5816]

Só limpeza, polimento, delle eu quero, o mais banal. Broca, nada! Não aguento tractamento de canal!

Não me tracta cem por cento o dentista na actual data: vive outro momento neste mesmo mez fatal.

Dor de dente, novamente? Neste mesmo mez estive no dentista! Porra, a gente tanto tracta e com dor vive!

Meu sapato tambem sente que o degrau e que o declive tanto o gastam pela frente quanto attraz, como os que eu tive...

148 GLAUCO MATTOSO

POETA LUXENTO [5817]

O cachorro do poeta bella synthese suggere. Um com outro se completa. mas nem todo cão, espere!

Este cego é chato e veta labrador, que alguem prefere. Minha raça predilecta é basset, pois considere:

Quando fica encabulado, o basset chacoalha a orelha. Disfarsando, olha do lado e depois olha de esguelha.

Por ter cara de coitado, o basset nos chantageia. Ja comeu, mas é saphado: quer, depois da janta, a ceia.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 149

PERSEGUIÇÃO À PROFISSÃO [5818]

Moralistas teem fajuta concepção duma senhora de quem todo fan desfructa bom prazer, e sem demora.

Alludindo estou à puta que exaltei, porem agora contra ella alguem relucta e um careta commemora.

Não commento essa disputa de poder, si xinga ou ora quem condemna-lhe a conducta. Desse pappo eu estou fora!

Si um michê que eu chupo e chuta minha cara estou, por hora, a pagar, sua labuta só da nossa compta é, ora!

150 GLAUCO MATTOSO

MINHOCA NA CABEÇA (II) [5819]

Um technologo que é tão engenhoso e que é capaz de inventar um maccarrão instantaneo, jus só faz!

Nossa gula do Japão devedora será, mas o spaghetti ainda não tem rival. Que gaste gaz!

Muito practico, o miojo bem soccorre quem tem pressa. Japonezes, com arrojo, que inventar tiveram essa.

Mas alguns acham, no bojo do seu pratto ou da travessa algo movel que dá nojo: imaginam coisa à bessa.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 151

MISCELLANEA DO SERTÃO [5821]

Nordestinos muitas datas dão ao nosso kalendario. Repentistas, nas bravatas versejadas, não teem pareo.

Si crescer nas alpercatas um comtigo, litterario, contra o cabra não combattas, pois rival não ha que encare-o!

Quanto às gravidas, sensatas são as que, antes do berçario, ja beijaram, cedo, as pattas dos filhotes nesse horario.

Si, primeiro, as mães novatas não as beijam, o vigario vae beijar as solas chatas dum bebê que sae do armario.

152 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DOS SUBESTIMADOS [5822]

Noutros versos, com clareza, eu do gordo dei a dica. A pessoa, sendo obesa, mais versinhos justifica.

Ponho as chartas sobre a mesa: quando um gordo deprê fica, que se espelhe em quem é presa da atrophia: aquillo é zica!

Versejei eu, em defesa do alleijado. Mais titica ventilar vou e tem vez a voz do vate que edifica.

Sei que alguem de rolla tesa fica quando verifica que entre os cegos a tristeza é maior si chupam picca.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 153

INCORRECTO RETROSPECTO [5823]

Meninice sempre inspira ao poeta alguma merda.

Fallo claro: minha lyra de ninguem bons modos herda.

Eu no callo (alguem confira) Só commento o que me apperta. Sobre infancia, mais mentira que verdade acho em offerta.

Si meus versos à creança não dirijo propriamente, é que ponho na ballança o que todo cego sente.

Um ceguinho que se lança nestas lettras pela frente encontrou foi a festança dos que riram do que invente.

154 GLAUCO MATTOSO

IMMISERICORDIOSA GLOSA [5824]

Celebrar Nossa Senhora é costume, a plebe endossa. Não exclama só quem ora, todavia, "Minha nossa!"

Quem exclama commemora quando advista a grana grossa numa mala, si assessora um politico e a mão coça.

Quem rezou pelo dinheiro attendido foi, talvez. Mas si alguem pensou primeiro na sahude, perdeu vez.

Eu fiquei foi prisioneiro da cegueira, que me fez ser da Sancta derradeiro devedor, como freguez.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 155

LAVAGENS E LAVAGENS [5825]

Mão lavada quem accaba de cagar tem como norma. Mas tem suja quem se gaba, no governo, da reforma.

Quanto mais é macho um "caba", mais em porco se transforma na politica e mais baba si as mãos suja, a midia informa.

Quem evita ser corrupto da politica se affasta. Quem com ella fica puto só será da baixa casta.

Na cegueira, até relucto em tornar-me pederasta, mas dum "caba" mais astuto lambo a sola, ja bem gasta.

156 GLAUCO MATTOSO

CARA VARA [5826]

Quanto ao braille, nada falla que eu lhe deva fazer brinde. Nem brindei. Quanto à bengala, della um cego não prescinde.

Não estou, comtudo, a fim de fazer media, pois pagal-a sahiu caro. Não que blinde quem portal-a: cae na valla.

Caminhei ja, pela rua, bengalando, mas bem mal me sahi. Quem não recua si topar um animal?

Os cachorros são de lua: dão, às vezes, bom signal. Mas eu temo que, em mim, sua raiva até seja fatal.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 157

DICTIONARY DISSONNET [5827]

Fallei disso em ode e não

dou molleza a pappo molle. Quem bem come só de "pão" jamais vive e mais engole.

Alguns passam privação?

Bem sabemos! Não me enrolle!

Si puder, quer o povão "ravioli" e "rocambole"!

Procurar um palavrão num Aurelio sempre bolle com a gente, mas em vão. Falta "merda" que console.

Um "sebinho" ou um "colhão" lexicographo que accolhe até temos, mas "tesão" feminino não é, olhe!

158 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CORPORATIVA E CORPORAL [5828]

Que meresce um chefe? O sacco ja lhe puxa alguem, caralho!

Quanto à bunda, o que eu destacco é que a minha quebra o galho.

Tem covinha, tem buraco, tem funcção... mas não me valho della como poncto fracco. Com a bocca é que eu trabalho.

Camiseta sem sovaco é relaxo, mas bandalho mesmo é vermos um macaco de cueca, em acto falho.

O ceguinho dum velhaco é masoca. No soalho, rastejando pelo tacco vae, sem prazo nem attalho.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 159

FISTING DISSONNET [5829]

Puta merda! Com o punho ser fodido é mesmo foda! Não darei meu testemunho pois não entro nessa roda!

Mesmo assim, jamais alcunho de tarado quem à moda adheriu e não rascunho versos contra a alheia coda.

Aguentar la dentro um braço o ceguinho não festeja. Sacrificio tal não faço, pois não rezo nessa egreja.

Masochista sou, mas traço meus limites. Quem deseja me foder, ja bem devasso, só na bocca me gotteja.

160 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DO CEGO GAGO [5830]

Po-po-porra! Que da-data sa-sacana! Fo-fodeu!

Não ba-basta esta in-gra-grata ga-gagueira, não, me-meu?

A memoria me relata, na cegueira, que este breu que ora vejo não empatta com um céu que admanhesceu.

Ga-ga-guejo, po-porem só na se-se-sexta-feira. Mas se-sempre estou se-sem a luz, nesta ce-cegueira.

A gagueira só me vem quando vejo uma caveira. A cegueira a gente tem que atturar a vida inteira.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 161

PRINT DISSONNET [5831]

Ja não posso ver um traço do que escrevo. Disso alem, um poema jamais passo sem compor, quando me vem.

Manuscriptos ja não faço. Dactylographo tambem ja não sou. Mas tenho espaço, como um bardo sempre tem.

Mesmo quando o espaço é excasso, ha disposto sempre alguem a fazer um calhamaço dos meus versos, por vintem.

Sendo assim, sigo devasso. Dos demonios sou refem.

Meu papel é de palhaço, mas impresso, notem bem!

162 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA PIZZARIA [5832]

Sim, adoro a boa pizza e a mais mordo outra fatia. Mas si penso nella, à guisa de eleitor, não me sacia.

Um politico precisa do meu voto, mas cabia que elle seja quem me pisa si faltar democracia.

Na verdade, eu não endosso que essa pizza tenha fama de corrupta, pois um troço tão gostoso oppõe-se à lama.

Suja a pizza achar não posso. Não pensar em qualquer trama dos politicos é nosso argumento: uma me chama.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 163

MISCELLANEA DA SOLIDÃO [5833]

Não sou astro e tambem não sou politico. O poeta pode ser um hermitão e a missão cumprir, completa.

Quem tem gatto e não tem cão these ignora que é correcta: Um ver outro como irmão é possivel! Ninguem veta!

Quando a gente está sozinha qualquer cão é companhia. Ao ceguinho que escrevinha elle inspira a poesia.

Mas, na falta dessa minha companhia, até seria bom um gatto, si caminha a meu lado e, ao me ouvir, mia.

164 GLAUCO MATTOSO

OBRA QUE SOBRA [5834]

Dediquei ao thema um monte de quadrinhas, e ja basta que em cincoenta os meus eu compte, só de versos, nesta pasta.

Vão, na nuvem, no horizonte, no excambau, formando a vasta poetheca que, defronte duma tela, não é casta.

Livros, livros, à mancheia, um ceguinho só produz si tiver aquella veia masochista, assaz de truz.

O leitor que mais o leia será sempre quem da luz bem desfructa e saboreia quando um cego se reduz.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 165

BEIJO ALVINEGRO [5835]

No sabbath, alguem oscula do Demonio o cu mais sujo e o coprophago tem gula venial. Disso não fujo.

Por fallar no dicto cujo, esta lyra não annulla as menções que um mago ou "brujo" a Deus faça, em furia fula.

Mas nem sempre quem do Demo é devoto odeia seu

Pae Eterno, Deus Supremo, tão cruel, que o concebeu.

É melhor, ja que eu o temo, não ser mesmo tão atheu.

Mas, si contra nunca remo, a Satan dou graças eu.

166 GLAUCO MATTOSO

ALLEGORIA DO COVEIRO [5836]

Fiz diversa allegoria do terror que se assenhora de nós, bardos. A agonia nosso verso só peora.

Nos lembramos, noite e dia, do coveiro, mas agora penso em gente que phobia tem de carne e se appavora.

O subjeito não comia quasi nada e, sem demora, definhou. Na cova fria foi parar e ninguem chora.

Seu coveiro (Que ironia!) commentava, bem na hora de enterral-o: "Faltaria rango ao verme que o devora..."

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 167

QUE UM DESFILE ME HORRIPILLE! [5837]

Sobre mortos eu só tenho

uma coisa a registrar: o perfeito desempenho dos zumbis, ao desfilar.

Esse evento tem logar noite affora e, com ferrenho vigor, fujo. Para azar, devagar a accordar venho.

Passeata de zumbi sempre passa à minha porta.

Protecção me falta aqui, mas o Demo nem se importa.

Nunca saio, mas ja vi zumbis varios. Não comforta que isso em sonho rolle: ri p'ra mim sua bocca torta!

168 GLAUCO MATTOSO

Quando o nivel que mais suba me pedirem nesta lyra, cantarei o meu sanduba e o bom gosto que o prefira.

Nunca a lyra alguem derruba si cantar lanches! Confira! Só quem falla de suruba um pudor faz que se fira.

Qual preferem? Mortadella, queijo, bacon ou salame?

Até carne de panella ha quem mais que frios ame!

Mortadella? Ah, gosto della com pigmenta, com pastrami... Mas a mesa acho mais bella si bom vinho houver que eu mamme.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 169
FALTA ASSUMPTO... OU PRESUNCTO [5839]

CASPAS ENTRE ASPAS [5840]

Nunca a lyra acho barata si celebra meu barbeiro

costumeiro ou si debatta dos kosmeticos o cheiro.

Penteados são a grata nostalgia dos que inteiro ja tiveram (Que mammata!) seu cabello de rockeiro.

Relembrar é coisa chata.

Tempos idos! Hoje eu beiro a calvicie e ninguem macta meus piolhos por dinheiro.

Um appello só, que empatta com o thema acho certeiro: a coceira, que maltracta nosso couro ou... o trazeiro.

170 GLAUCO MATTOSO

ASSEIO SEM ANXEIO [5842]

Inventei uma maneira de limpar, com classe, a bunda.

Recommendo a quem não queira ter mau jeito ou ser corcunda.

Sempre erecto, o braço exgueira você para traz e affunda o papel na racha inteira, sem deixar a mão immunda.

Errar pode na primeira, mas não erra na segunda. Com o tempo, costumeira, a tarefa se redunda.

Acham isso uma besteira?

Acham muito vagabunda esta lyra? Pois sujeira corporal, "ni nóis", abunda!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 171

MERITOS PERIPHERICOS [5843]

Houve phase em que a favella se chamou "communidade", mas em nada muda aquella expressão, nem persuade.

A noção que se tem della é dum cancro na cidade, mas quem nella mora appella mudo, caso alto não brade.

Na vulgar peripheria muitos moram e ninguem falla della que seria o melhor que lhes convem.

Mas orgulham-se, eu diria, com justiça, pois tambem talentosa cantoria alli surge e mil fans tem.

172 GLAUCO MATTOSO

TOALHA HYGIENICA [5844]

Em janeiro, vinte e septe, ja devi declaração dos direitos do meu "pet", mas farei reparação.

Transgressão sempre commette quem uns beijos no seu cão não dá nunca nem confetti joga quando elle é "pidão".

Aos bassês quem se derrete faz valer direitos, não "animaes" (nada que os vete), mas "humanos", ja que o são.

Bem fallar não compromette qualquer outra restricção. Quem quizer que, então, complete mal fallando dum cagão.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 173

MISCHIEF NIGHT DISSONNET [5846]

Si malefica a noitada, quem vagar na rua dansa, pois aquella molecada não tem nada de creança.

Quem puder fugir, se evada! Ao ceguinho, com voz mansa ninguem falla quando brada: "Lambe a bota! Ralla a pança!"

Por feliz elle se dá si ficar somente nisso, humilhante que ja tá, o sujissimo serviço.

Os pivetes até ja obrigaram um submisso alleijado a fazer "qua" na sargeta do cortiço.

174 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA LINGUISTICA [5847]

Eu à lingua sou attento quando faço poesia.

Mas às vezes não aguento: é preciso que se ria.

Zombei sempre, si commento o que, em verso, me occorria. A "cultura", no momento, me inspirou outra ironia:

Chamar merda de "excremento"

e cagaço de "phobia";

chamar preso de "detento"

e latrina de "bacia"...

Euphemismo é verbo ao vento ou "cultura" ser podia?

Responder aqui nem tento.

Mais me occupa o que vicia.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 175

MISCELLANEA SORRIDENTE [5848]

Qual poema bem compara as risadas que dá a gente?

Risadilha? Alguem notara que seria condizente.

Em sonnetto, gargalhara eu na lyra mais frequente. Hoje, em duvida, na cara um sorriso me desmente.

Rir, sorrir... é differente?

Quem os labios excancara não se sente tão contente?

A pensar nisso alguem para?

Concluindo, acho que, para nós sorrirmos, pela frente um espelho temos, tara narcisista, em mim ausente.

176 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA RADIOPHONICA [5849]

Ao ouvir, me dá preguiça quando o radio tempo gasta com politica que enguiça entre um posto e certa pasta.

Um ministro da justiça sae ou entra, não se affasta nem se pune e, nisso, a missa nunca accaba e só se arrasta.

Encheção, só, de linguiça dá preguiça. Minha vasta perspectiva só se attiça com um rock iconoclasta.

De politicos, ja basta a postura assaz submissa dum notorio pederasta que do "mytho" o pau cobiça.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 177

MISCELLANEA METALLEIRA [5850]

Heavy metal é pauleira!

Só no phone eu ouço, em nivel regulado, de maneira que o zumbido fica audivel.

Não estou ainda à beira da surdez, mas é possivel que haja alguma perda... Queira Zeus que seja reversivel!

Ouvir rock é complicado. Si baixinho, não tem graça. Estarei, porem, ferrado quando o nivel ultrapassa.

Ha canção do meu aggrado que, si branda, até que passa. Mas, si for metal, o brado dos vocaes não tem mordaça.

178 GLAUCO MATTOSO

NA PONCTA DOS CASCOS [5852]

Estressado logo o macho estará. Si não dei compta do recado, eu ja me aggacho e no lombo alguem me monta.

Sendo feito de capacho por alguem que em mim descompta, doem-me os hombros e, de tacho, minha cara o povo apponcta.

Homem, quando ja se estressa, perde toda a compostura.

Palavrões despeja à bessa.

Tal grossura quem attura?

Mas no cego lhe interessa descomptar a vida dura.

O coitado que lhe peça p'ra chupar, ou algo o fura!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 179

ALVISSAREIRA IMMEXIBILIDADE [5853]

Não mexi nem mexerei em poemas que não são importantes e da lei se desviam de montão.

Perder tempo vou, ja sei, si fizer a correcção dumas falhas que, direi, nem collegas notarão.

É possivel, todavia, que, mais tarde, esses vulgares versos tenham tal valia que paresçam exemplares.

Nem opino. Poesia não depende desses ares dum rigor que nos vicia pelo olhar dos nossos pares.

180 GLAUCO MATTOSO

CHAGA AZIAGA [5855]

Rezarás, quando tu fores rezar, isto: "Zeus proteja este crente dos tumores!", si ao temente exsiste egreja.

Quanto aos balsamos, senhores, só direi que se festeja justa lyra, sem favores de fazer que eu aqui seja.

Dor fortissima só passa com um balsamo potente. Masochismo não tem graça si padesce esse doente.

Cancerosos ha quem faça melhorarem? Quem consente que elles soffram? É trappaça um Senhor que puna a gente!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 181

EM CASA EM GAZA [5856]

Palestino e philistino dão na mesma: philisteu.

Hoje não os discrimino, mas Sansão nunca fui eu.

Mesmo assim, eu me imagino à mercê de quem o meu olho vaza e, em Gaza, um hymno fiz a quem me poz no breu.

Hoje em dia, a Palestina nem é sombra do que fora. Quem la vive se imagina sob a bota repressora.

O poeta que combina perdição com salvadora esperança, viu alli na terra a scena seductora.

182 GLAUCO MATTOSO

PROFISSÃO DE FÉ NO PÉ [5857]

Dos podologos vasculho a funcção, mas asseguro que tambem quer ter orgulho desse officio o pedicuro.

Pelo radio faz barulho, propaganda faz no muro, mas eu, cego, não empulho meus clientes, pois dou duro.

Sou callista, sou tambem massagista dum pezão. A calhar a lingua vem si não basta com a mão.

Sola grossa tem alguem?

Mais que lixa, que cascão?

Sim, senhor! O cego tem a maior dedicação!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 183

MISCELLANEA DO DUPLIPENSAR [5858]

Si com lapis ou canneta, não importa. Si gaiata a figura do cegueta, o pinctor a pau o macta.

Quando o cego faz careta o desenho que o retracta ja convida que alguem metta nelle a rolla. Festa grata!

Sua bocca de boceta ao caralho se formata.

Que o formato o comprometta! O leitor a rir desapta.

Mas tambem dalguma peta esta lyra faz bravata, pois alguem vê coisa preta e que é branca diz na latta.

184 GLAUCO MATTOSO

IRONICA CHRONICA (I) [5859]

Si na chronica esportiva vale aquillo que interpreta o reporter, creativa não será, jamais, a meta.

Se mantem repetitiva a "caixinha" si secreta.

"De surpresas", não se exquiva da mesmice e appuro affecta.

Futebol é diversão, mas tem gente que complica coisas simples. A questão se resume numa zica.

Quando um time é campeão, teve sorte, eis o que explica.

Perdedores, todos são azarados, eis a dica.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 185

CRISE EM REPRISE [5860]

Quanta crise! Estou confuso! Mesmo a rouca voz da rua protestando, todo o abuso dos corruptos continua!

O cavallo só tem uso carroceiro pela sua teimosia: "Me recuso a levar Godiva nua!"

O povão acha que ja se puniu algum culpado? Nada disso! Não será vencedor, jamais, um lado!

No momento, quem está no poder dá seu recado. Não demora, a lingua má o converte em accusado.

186 GLAUCO MATTOSO

OSCULOS NOS OCULOS [5861]

Fiz meus oculos com lente quando ainda as coisas via. Hoje quero que somente sejam pretos, todavia.

Quem um cego pela frente topa, ausente estando o guia, pelos oculos sciente fica que elle em Zeus confia.

Ja não saio, ultimamente, nem de noite, nem de dia, mas admitto que é prudente usar oculos na via.

Tanto os amo, que, carente dum carinho, uma mania eu ganhei e, de repente, só beijal-os me cabia.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 187

AO NADISMO, TUDO! [5862]

Si é preguiça ou si é mammata, os "nadistas" se importar não irão, pois o que macta é sahirmos do logar.

Fazer nada tempo empatta, mas o motte é singular, si um "nadista" até tem pratta mas preguiça de gastar.

A cegueira não tem data: vem chegando devagar. Mas depressa se constata: Deus no cego quiz cagar.

Nada tendo que combatta um ceguinho o seu azar, Nada faz elle: se tracta de masoca ser e estar.

188 GLAUCO MATTOSO

ORDEIRO PRISIONEIRO [5865]

Doador de corneas é o mais docil prisioneiro: obedesce bem e até lambe o pé do carcereiro.

Não doou de boa fé, mas na marra. Agora arteiro não será, nem durão, né? Chupará rollas, ordeiro!

Ja fallei delle bastante em sonnetto, em motte, em ode. Seu inferno nem o Dante concebeu, e ninguem pode.

Ja pensaram? Meliante sendo ou não, quem se incommode ja não ha si, doradvante, na prisão elle se fode.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 189

ACTOR AMADOR [5866]

Ionesco, com um gruppo amador, representava eu um dia. Agora chupo rolla, cego, e o mando à fava.

Mais absurda, me preoccupo que a cegueira seja e, escrava della, a minha alminha! Apupo de mim leva, vaia brava!

Bem, às vezes delle tenho a melhor recordação, ja que bello desempenho tive como canastrão.

Continuo, sim, ferrenho defensor da actuação theatral, mas ja não venho ver quem faça papellão.

190 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DO JOGO AO JUGO [5868]

Eu do jogo de xadrez nada sei, mas, diplomata, approveito a minha vez de fazer uma bravata.

Dominó, digo a vocês, é meu forte e o diz na latta um ceguinho que se fez campeão, sem quem o batta.

Mas, de facto, campeão sou da funda fellação, como os cegos todos são e o melhor de si darão.

Quem no cego um tapão dá pelas fuças o fará chupar como egual não ha bruxa alguma no sabbath.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 191

MISCELLANEA PACIFISTA [5869]

Ja tentei comprehender um protesto tão mordaz, mas duvido de que erguer viva à rolla a paz nos traz.

Que engraçado! Quer dizer que um "orgasmo pela paz" é signal de que o prazer differença alguma faz?

Si os soldados o dever trocam pela acção fodaz, a suruba tem poder de affastar intenções más?

Que bacchana! Pode ser que os podolatras, attraz duma bota, vão vencer pelo gozo! É bem capaz!

192 GLAUCO MATTOSO

CONSCIENCIA ECOLOGICA [5870]

Eu na lyra ja dei trella aos amantes da natura. Que fazer posso por ella mais que um bardo que dedura?

É o poeta quem mais zela pela flor, que lhe assegura bellos themas, si for bella uma rosa... sem frescura.

Mais amor tem pela flora um poeta que, talvez, o politico que adora trazer flores em buquês.

Ecochatos vão, agora, combatter o bom burguez. Mas quem sempre, em verso, chora mais por toda a Terra fez.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 193

MANSA VIZINHANÇA [5871]

Ao vizinho, com carinho, estes versos eu dedico, mesmo àquelle mais mesquinho que se gaba de ser rico.

Mesmo àquelle que, excarninho, quer que um cego pague mico e um "Bom dia!", no caminho, recebeu sem que abra o bicco.

Todo dia, pela rua, cumprimento os outros, mas meu thermometro recua si percebe intenções más.

Os vizinhos pensam: "Sua mãe que va tomar, rapaz, na boceta!" Prostitua sua mãe, si for capaz!

194 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA ORPHANDADE [5872]

Me engannei, mas não me enganno mais accerca do que vem do mais "alto" ou "sancto" plano. Não me cheira assim tão "zen".

Eu, que tive paes, me irmano aos que os perdem ou não teem. Mas a Deus, que me deu cano, pae não chamo e nego o "Amen!"

Não perdoo esse tyranno que da gente dó não tem. Em sonnetto ja dei panno para manga nesse trem.

Quem nos filhos causa damno não meresce ser do Alem o paezão, ja que meu mano muito cego acho, tambem.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 195

NATALICIO DE DIONYSIO (I) [5874]

Ao Papae Noel só peço suas botas no Natal. Dos vizinhos, eu confesso, roubo as meias no varal.

Ah, tambem Baccho? Perplexo, não sabia eu que esse tal deus orgiaco um successo ganha! Ah, boa bacchanal!

Quem christão não é, festeja Dionysio, ou Dionyso, como queiram. Assim seja. De mais deuses nem preciso.

Quem no sexo tem egreja tambem gosta de Narciso. Como Onan, elle que veja a si mesmo num sorriso.

196 GLAUCO MATTOSO

BOXING DISSONNET [5875]

É melhor nem ter lembrança si me lembro da visão. Logo, logo, o pau se cansa e me exquesço do tesão.

Quem tem pouco na poupança a agguardar liquidação sempre fica, porem dansa, ja que o preço não cae, não.

Tudo quanto se liquida perde, logico, o valor. Dum cegueta a propria vida liquidou-se, é de suppor.

No varejo, quem convida o freguez é chupador de caralho. Que decida desfructar quem vivo for!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 197

MISCELLANEA DO VAREJO [5876]

Fim de feira vae virando esta merda! Vale tudo!

Doces como, mas só quando de dieta canso ou mudo...

Quando os medicos eu mando se foderem, e um polpudo torresminho vou crocando... Um abbraço! Me desnudo!

Mixtureba boa fiz em quartettos, como os faço nestes dias. Fui feliz si logrei abrir espaço.

Mas convem parar de bis dar às troças. Um abbraço deixarei a quem me quiz ler. Honrou-me ser palhaço.

198 GLAUCO MATTOSO

TARDIA FUTUROLOGIA [5877]

Esperar sentado pode quem estréa a nova agenda: vae tirar da salla o bode só por ora, comprehenda.

Si quizer, que se accommode no sofá, mas não se offenda quando digo que se fode quem confia numa lenda.

Vinte, vinte: fica bem esse numero num anno. Tentarei vivel-o sem constatar que ja me enganno.

Meia nove farei em junho, quando cae o panno dos sessenta. Serei zen aos septenta? Ou mais insano?

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 199

PERPLEXO REFLEXO [5951]

Commum é desmaiar alguma dama. Coitada! Desmaiou, antes faceira, aquella, ao ver no espelho uma caveira! "Por todos os diabos!", ella exclama.

Si não está sentada numa cama ou, pelo menos, numa chan cadeira, a dama, com certeza, de maneira pathetica, por uma adjuda chama.

Olhou-se. Penteava, distrahida, a longa cabelleira, e viu a cara ridente do eskeleto, a morte em vida! Depois, contou a todos: desmaiara...

De fome, não de medo! Sem comida não fica mais! Addeus, dieta avara! Por isso não critico quem duvida dos medicos. Por elles, ninguem sara.

200 GLAUCO MATTOSO

PAPEL PRINCIPAL [5952]

A bunda, quem a limpa tem estylo. Sedoso, perfumado... O senador do rollo de papel excolhe a cor. Ninguem da midia pode perseguil-o.

Demais parlamentares, sem vacillo, appoiam tal excolha, pois o odor dos nossos excrementos oppressor é, como o dos velhinhos num asylo.

A coisa sae marron, às vezes preta, conforme seu espirito, mas era azul o papel, antes que commetta seu acto o senador, e nada altera...

Do voto o resultado ou, na gaveta, aquillo que, importante, esteja à espera dalguma providencia que prometta livrar dos desgovernos a gallera.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 201

PENSANDO E DESCOMPENSANDO [5954]

Analyse requer a medicina. De vida a qualidade é relação de custo-beneficio: dóe ou não? Mas facil esse thema não termina.

O gajo, diabetico, não tem symptomas, mas os teme a longo prazo. Tomar a "metformina" com ou sem appoio dum "fibrato"? Foi meu caso.

Passei a perder peso, mas tambem me veiu a myalgia... Aqui me embaso: Fiquei debilitado! De tão fracco, a chronica rhinite pneumonia...

Virou! O trouxa quasi foi pro sacco! Serviu-me de licção. Que é que sentia eu antes e depois do tal pharmaco? Prefiro o doce! O risco, a gente addia!

202 GLAUCO MATTOSO

PLUVIAL TRIVIAL [5955]

Ninguem razão consegue dar ao clima.

Si chove, allaga tudo e causa o chaos.

Si falta chuva, os niveis estão maus. Assumpto desse typo desanima.

Paresce a crise hydrica o dilemma do seculo: agua molle ou pedra dura?

Concreto ou varzea verde? A gente rema mais contra a correnteza ou a natura...

Nos pune com a secca? A pena extrema será bebermos mijo ou merda pura?

Não falta um palpiteiro que assegura: exgotto se approveita, si tractado!

Eu fico imaginando: que fartura de merda! Estamos salvos! Mero dado visivel e olfactivo é o da tinctura marron... Quanto ao sabor... será do aggrado!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 203

MISCELLANEA SENTIMENTAL [5956]

Não logro deschartar um sentimento. Passando dos sessenta, quem não ha de sentir da juventude uma saudade? Ainda mal lembrar da minha tento.

Memorias são falliveis. A contento não posso recordar do que me aggrade e sim de tudo quanto me degrade, mas hoje junctar ambos nem lamento.

Me lembro. Não do joven que infeliz vivia, mas do sonho e da esperança futura de algo achar que sempre quiz. Depois de tanto tempo, a gente cansa...

De ser esperançoso, e ja não diz que sente aquelle anxeio de creança. Appenas somos nós nosso juiz na hora de pesarmos na ballança.

204 GLAUCO MATTOSO

POLITI/COPRO/TESTO [5957]

Um thema nos retorna à poesia: As fezes são metaphora, na classe politica, de alguem que o povo casse. A lyra precisamos pôr em dia.

Politicos proferem baixaria em todos os discursos porque nasce das fezes o dilemma, nesse impasse da mais elementar philosophia.

Cagando e andando está quem foi flagrado na lista dos corruptos, mas deu, antes do escandalo, o escatophilo recado: {Fiz tudo para obrar, nas importantes...

Urgencias, com exforço, e evacuado não tenho a casa, oppondo-me aos farsantes!}

Será melhor pensar no resultado das obras sob effeito de laxantes.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 205

MISCELLANEA INTERGALACTICA [5959]

A lyra registrou, sim, tal assumpto. Poeta que ouve estrellas sabe bem aquillo que, do espaço até nós, vem. A todos os confrades eu me juncto.

Um disco voador signaes emitte que appenas os poetas teem o dom de ouvir. De appenas ver e dar palpite tem dom qualquer ufologo. Ouço com...

Certeza, pois sou cego, e meu limite é o fim do proprio kosmo, o escuro tom. Affirmo, pois, euphorico e de bom humor, que são verdinhos, sim, os taes...

Etês, ou marcianos, cujo som eu capto com clareza, ainda mais si rock estou ouvindo: um do Elton John transmitte (o do astronauta) alguns signaes.

206 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA FLORAL [5960]

As flores sempre deram thema à lyra. Poeta que na rosa acha seu thema não falta, mas ha quem tal thema tema. Tambem ha quem chrysanthemos prefira.

Conhesço um que tem petalas na mira: desfolha a margarida com extrema cautela, por receio de que gema em vão duma paixão, e ja delira.

Na cor vejo um problema. A rosa cor de rosa é redundante. A rosa branca não berra nem perfuma. Si ella for azul, verde ou vermelha, não desbanca...

Aquella que, amarella, por ser flor de poucos defensores, é mais franca. Mas nunca que um leitor ha de suppor que o bardo uma mulher com ella expanca.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 207

VELHO PROBLEMA (II) [5961]

No seio da familia brazileira, O velho patriarcha ainda dá as ordens, mas ninguem o escuta, ja. Não ligam nem que faça brincadeira.

Mas, mesmo que escutar, somente, queira, evitam que elle escute a lingua má que falla delle proprio, ja que está fazendo da cachaça a mammadeira.

De surdo se faz, quando lhe interessa, e em tudo se intromette, diz o netto. O filho ouvil-o finge, mas tem pressa e logo sae de perto. Sem affecto...

O avô só quer que alguem bençam lhe peça, mas todos são atheus, hoje, elle excepto. Sozinho ja a fallar elle começa, do quarto para a salla, no trajecto.

208 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA SENSORIAL [5962]

Cegueira tambem pode ser pretexto. O cego concretista appalpa o pé e lê, no amendoim, nonsense, até. A crosta dos pãesinhos lê no cesto.

Terá, logicamente, mais contexto no olfacto, si cheirar o seu chulé. Porem o que do bardo dizem é que está mais synesthesico no texto.

Ninguem é mais poeta nem concreto que o cego, que tacteia a dimensão da lettra na palavra, avulso objecto. Em cada grão palpavel, o olho são...

Não vê sentido algum, mas interpreto eu, sem a luz do dia, a cor do grão. Na mesa, até café com leite quieto não deixo, tacteando um duro pão.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 209

MISCELLANEA IMMIDIATICA [5963]

Tem dupla serventia a midia, ja. Nas redes sociaes você convoca a massa ou dissemina uma fofoca.

Qualquer opinião alguem ja dá.

Alguem quer provocar um bafafá?

É facil accusar de troca-troca um time vencedor ou achar coca, na mala dum doutor, a lingua má.

Dynamica, a internet está ligada às vozes populares e reflecte protestos ou boatos, hora a cada.

Decidem-se eleições, qualquer enquete...

É feita, mas, tambem, é tudo ou nada: censura obscura ou lucida manchette.

A bruxa tambem pode ser a fada.

Offensa às vezes pode ser confetti.

210 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA ASTROLOGICA [5964]

Não acho no zodiaco uma boa.

Que horror! Escorpião e caranguejo é tudo bicho feio, assim os vejo! Por isso dou azar! Não foi à toa!

Pretende ser feliz toda pessoa normal, mas a cegueira deu ensejo a negras previsões, e de sobejo. De mim qualquer astrologo caçoa.

Pavor de aranha tenho, mas meu signo é cancer, outro horrendo bicho! Alguem me disse com qual signo bem combino... Verdade? Escorpião? Será que tem...

Tal dica fundamento? Algum menino "escorpioniano" me quer bem?

Talvez de "escorpiano" o meu destino chamar vae quem me acceita em seu harem.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 211

MEME DA SOGRA [5965]

A sogra duma muito expertalhona menina confessou-se minha amiga. Contou-me sobre o filho que, se diga, otario foi, por causa duma conna.

A tal de dona Deborah detona:

"Um golpe do bahu quem não consiga dar, tente dar um golpe da barriga!"

Define assim a nora e o que ambiciona.

Chamar de interesseira é pouco! Agora, por causa da pensão, só casam para dar satyra, a sogrona corrobora! Os uteros viraram a mais cara...

Poupança, pois, emquanto o macho chora a perda, a mulher, rindo, se separa.

Assim dizia a perfida senhora que escuto quando as magoas excancara.

212 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA BAPTISMAL [5967]

Aos paes occorre sempre esta questão: Que nome dar devemos ao filhinho que craque, um dia, seja, canarinho? Resolvem com amor o problemão.

Em vez de ser Adão, Sebastião, Romão ou Elesbão, que tal Zezinho, Marinho, Romarinho ou Ronaldinho? Ha sempre bons homonymos à mão.

Que seja jogador de selecção queremos? Romarilson, com certeza, chamar-se deve, ou Neymarson, então. Não pode ter um nome que nos leve...

A ter delle o conceito dum João ou Zé Ninguem, peão, furando greve. Não sendo nem siquer um do Timão, talvez qualquer Zezão sinta firmeza.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 213

ESCRIPTA RESTRICTA [5968]

À practica do verso sei que calho, mas vejo muito auctor que na garrafa encontra inspiração e não se sapha de achar, entre dois goles, um attalho.

Aos poucos, vae mudando o seu trabalho. Jamais um escriptor dactylographa. Agora só digita, sem estaffa. Assim é que calculo quanto valho.

À machina saphei-me de escrever, e à mão, por me faltar calligraphia.

Ao menos de teclar tenho o dever. Mas acham os que fazem poesia...

Que sabem compor versos sem os ler alheios. Quem só tecla, a si plagia.

Ao cego, seu teclado dá poder de mago ou de quem faça bruxaria.

214 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969]

Funcciona a coisa publica assim, ó: Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum.

Exemplos vocês querem? Vejam só:

De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa... de tudo elles precisam, pois com vinho...

Barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho!

Declara um senador: "Eu encaminho aquella votação tão logo possa..."

"Exforço concentrado" é o excarninho synonymo da farsa que se esboça.

"Periculosidade", outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa...

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 215

CHAVE DE CADEIA [5970]

É sempre essencial o thesoureiro. Experto, leva à parte uma caixinha que engorda a sua compta e zera a minha. Por elle passa a scedula primeiro.

Aquelle thesoureiro ganha, a cada negocio em que se mette, a respectiva gorgeta e milhõesinhos arrecada. Mas, quando perguntado, elle se exquiva...

Dizendo que não leva nisso nada comptabil. Claro, embolsa a grana viva! Em nome do partido, elle se priva, coitado, de obstentar tanta riqueza!

Até chegar a hora decisiva. Flagrado, emfim, as chartas põe na mesa e conta o que na compta, ora inactiva, restou: os honorarios da defeza.

216 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA PHILOLOGICA [5971]

Preceito philologico não falha. Nenhuma lingua é "morta" emquanto alguem a falla. Orthographia, assim tambem. Com isso é que meu methodo trabalha.

Talvez, sem revisão, alguma gralha commetta quem ainda não tão bem esteja accostumado. Disso alem, algum poeta culto se attrapalha.

Vocabulo em "desuso" não exsiste. Exsiste uso restricto duma forma fallada, escripta, caso não conquiste maior acceitação. Nenhuma norma...

Chamada "official", de dedo em riste, impõe de antigas praxes a reforma. Não posso tolerar alguem que insiste na simplificação que desinforma.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 217

MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972]

Em anno eleitoral sempre se escuta: "Não voto num partido, mas acceito votar, pelo charisma, num subjeito." Assim encara o povo uma disputa.

Emquanto de ladrão, filho da puta e corno são xingados os que pleito disputam, eu aqui só me deleito ao ver como o povão taes nomes chuta.

Jamais o brazileiro explica a sua excolha incoherente de quem vota num gajo e quer que a rua o destitua. Quem pede ao militar que appoie a bota...

No rosto do governo sae à rua sabendo que, depois, seu ar se exgotta na tal "malversação", na falcatrua, alem da crueldade em alta quota.

218 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA AMBIENTAL [5973]

Mudanças, as climaticas me chocam. Enchente alli com secca aqui: que extranho phenomeno, tirando ou dando um banho! Poetas taes eventos pouco enfocam.

A cheia na Amazonia tem contraste com nossa falta d'agua, o que provoca piadas, impedindo-me que gaste no banho o que bebi, me dando, em troca...

Do mijo, mais um coppo... e, mais se arraste a crise, mais a gente em merda toca. Até nas classes altas a fofoca ja rolla: beberemos, não demora...

Exgotto recyclado ou, na malloca, directo da privada... Só peora si a secca perdurar, pois desembocca o corrego na valla, a bosta afflora!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 219

MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974]

Alem da beberagem e da droga, Difficil ao politico seria passar sem malversar por um só dia. Por isso o menestrel se desaffoga.

Motivos não lhe faltam, pois quem joga o jogo da banal democracia somente desviando se sacia, quer use terno, farda, jeans ou toga.

Poeta não malversa. Elle verseja, quebrando ou sem quebrar o pé, mas um politico o fará, caso se eleja. De quebra, quebrará, com seu bumbum...

Pesado, um banco solido, e você ja sentiu que é sempre fetido o seu pum com cheiro de cachaça, de cerveja, de whisky, de bom vinho ou de bom rhum.

220 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976]

Regimes, quem prefere qual, emfim?

Paiz ingovernavel, o Brazil suborna o militar como o civil. Não resta alternativa, para mim.

Uns acham este aqui menos ruim. Alguns preferem bota, dum fuzil se dizem defensores, mas ardil se encontra em todos: tudo por dindim.

Na practica, faz tanto um general corrupto quanto um rei ou presidente.

O termo "commissão" é litteral.

Será "parlamentar" emquanto a gente...

Se diga democratica. Na tal "democradura", vem gorgeta à mente, emquanto, num regime "social", mendigo ja se eguala ao indigente.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 221

MISCELLANEA JUDICIAL [5978]

Licção um velho adagio sempre dá. Juiz, como a mulher ou o bebê, faz feio, mas seu feito não revê. Quem é que, em poesia, reverá?

Satyricos, por certo, pois não ha quem boas gargalhadas ja não dê da vida alheia quando um fuzuê mais memes provocar que um bafafá.

Bebê tem no cuzinho o que? Não sei. Mulher tem na barriga tudo, excepto aquillo que ella espera ter: um rei. Juiz só faz suspense e augmenta o tecto...

Do seu salario, emquanto eu sempre dei sentença opposta à delle e ao seu dejecto. Mas não será por isso que farei questão de emphatizar um desaffecto.

222 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA MORALISTA [5979]

Aquella senhorinha não descansa. Catholica, faz liga com a amiga e cada puritana quer que a siga. Ponhamos argumentos na ballança.

Fundou, apposentada, a "Associação" que "das Serias Senhoras" se baptiza. Que faz a sua ASS? Age entre as que são "mulheres de má vida": a poetiza...

A actriz, a puta... Insiste na questão: "Mulher seria de sexo não precisa!" Extranha "seriedade", essa que é tão fingida quando em publico, pois faz...

Fofoca a vizinhança: à noite, não sossegam as amigas, nem em paz permittem que alguem durma! Gritam, dão risada, cantam... Gastam nisso o gaz?

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 223

MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980]

De exame calmo tudo, sim, depende. Um methodo illegal não é moral mas pode um immoral ser bem legal. Às vezes, quem mal age bem se vende.

Que tal? Você practica tudo aquillo que a midia diz ter branco o collarinho e, caso não for pego, está tranquillo. Mas, caso pego, estava no caminho...

Correcto, e prohibido o seu estylo não era... Fica o caso, então, certinho. Appenas isso basta? Me apporrinho com essa de "antiethica postura"!

Eu quero que meu crime de sanctinho me faça e todo aquelle que dedura entenda que o partido ao qual me allinho luctou contra a censura e a dictadura!

224 GLAUCO MATTOSO

MEME DO ADULTERIO [5981]

Casaes costumam cedo separar os corpos, pois idéas más consomem. Depois, será difficil que retomem a vida conjugal, a fé no lar.

Eu cito um argumento lapidar: Mulher de amigo meu p'ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Bobeiem, e tambem farei chupar!

Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico...

Estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico.

Meresce elle! Quem manda ser atheu? Alem de ser christão, sou bem mais rico!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 225

MISCELLANEA FELLACIONAL [5982]

Boquette é a quinctessencia do prazer. Orgasmo mais intenso eu só desfructo si a rolla me chupar um macho puto. Poder eu gosto sempre de exercer.

Por isso quero sempre meu poder testar sobre um rival com quem discuto politica, pois desses eu escuto offensas que preciso devolver.

Ja tive fellatrizes que meu pau fizeram exporrar com bom deleite, mas quero tal prazer em maior grau. Prefiro, agora, alguem que se subjeite...

Na marra, ou por dinheiro, a um pau de mau character que, amargoso, exguiche o leite.

O meu, que causa gritos dum "Uau!" de expanto, nunca appenas é de enfeite.

226 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA FICCIONISTICA [5984]

Não dá para ser breve em tal ficção. Laconico, succincto, resumido, conciso, telegraphico? Eu duvido! Romances não são curtos. Ou serão?

Mediocre si for, perder a mão é facil num enredo sem sentido, tal como os que, por ora, teem surgido na fracca safra nova da nação.

Não diga "Seja breve!" ao escriptor que, abrindo o seu romance, narra: "A tarde cahia modorrenta e, antes do pôr do sol, o allaranjado céu, com ar de...

Mormaço tropical, deu-me um torpor..." Prazer como leitor ninguem agguarde! Com tal cara de pau, aquelle auctor não pode ser chamado de covarde.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 227

MISCELLANEA BOATEIRA [5990]

Um gruppo os maus politicos commenta. Do velho deputado, que se amiga com joven prostituta, assumpta a Liga. Fofoca, nesse caso, mais se inventa.

A coisa vem à tonna, mais nojenta ainda do que certa bruxa diga. Nas redes sociaes sempre se instiga um caso que se forja ou que se exquenta.

A Liga das Senhoras Dignas tem razão ao criticar o "coroné" que, como orador, usa a lingua bem, mas mais indecoroso é ver que até...

Seus pares o defendem e ninguem duvida de que em Christo elle tem fé! Alguem me disse que elle tem, tambem, um fetido, fortissimo chulé.

228 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]

Bastante mal esteve esse subjeito. Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda. Ainda assim, alguem dirá: "Bem feito!"

Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia...

For preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via! Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro...

Do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 229

MISCELLANEA CANINA [5992]

Alguem tem dois cachorros? Quantos são?

O Chicho, o Chocho e o Chucho são os trez bassets que eu não terei, digo a vocês! Um só ja dá tremendo trabalhão!

Tem gente que não perde occasião de sarna arrhumar para ser freguez da typica coceira, mas talvez encontre, num só cão, mais comichão.

Um só ja dá trabalho, com as suas orelhas longas, pattas curtas, tão teimoso e tão dengoso! Que tal duas fofuras dessas, trez até? Serão...

Demais na mesma cama! E, pelas ruas, nós quattro? Chega! Basta-me um só cão! Linguiças, sejam frictas, sejam cruas, jamais, com um só cão, me sobrarão.

230 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA GRIPPAL [5993]

De grippe ella padesce, coitadinha! Mantendo erguido o bello narizinho, a moça esboça um gesto comezinho. Ninguem adivinhou o que ella tinha?

Pequeno e arrebitado, sob o lenço finissimo, o nariz della despeja catarrho maturado, num immenso e infindo jorro! Ainda que proteja...

Do olhar alheio o ranho, eu me convenço, ouvindo-a se assoar, de como arqueja! Não quer ella deixar que ninguem veja o jacto catarrhento, mas de nada...

Addeanta usar o lenço, pois na egreja echoa a sua tuba e causa em cada devoto a sensação de que ja esteja o ranho quasi verde e ella grippada!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 231

AL BUNDY QUE DESBUNDE! [5997]

São elles mui limpinhos, mas nem tanto. "Ninguem foi chulepento no cinema!", um critico affirmou, com teima extrema. Por isso o velho thema aqui levanto.

Desmente esse careta facilmente a serie de tevê na qual um Al, que pae é de familia, jamais sente vergonha do chulé que a mulher mal...

Consegue supportar, e até na frente de extranhos se descalça o pé fatal. Na loja de sapatos esse tal Al trampa e em toda parte essa allusão...

Podolatra apparesce, com aval total deste poeta sem visão.

Porem aquelle critico normal não acha e desmeresce a producção...

232 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DO SEXO FRAGIL [6003]

Mais della quer alguem qualquer virtude. "Muié", "mulé", "mulher", "mulherh", "mulhera"... Em cada cantho aos "ome" assumpto gera. Mas quem espera della mais se illude.

Pensar nella com gozo pouco pude, pois muito mais presente e futil era a typica figura da megera que encanta ou que enfeitiça a juventude.

Si for malvada, é vibora ou serpente.

Si facil, é gallinha ou é cadella.

Si temptadora, é gatta. Caso tempte demais, será panthera. Alguem por ella...

Suspira? É ja pombinha. A mãe da gente, porem, é só sanctinha, feia ou bella.

A alguma foi alguem indifferente, mas para a mãe a gente sempre appella.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 233

MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004]

Vergonha não sentiu nenhum saphado. O dicto ja diz, onde tem fumaça tem fogo, mas vergonha ninguem passa. Politico se sente envergonhado?

Magina! Sempre está alguem do seu lado! Alguem sempre tem pena dessa raça maldicta, que na midia quer mordaça e em tudo mette o dedo ou poda o dado!

O escandalo é commum: sempre o suspeito num caso de suborno ou de extorsão é o raio do politico! Direito ninguem entende como, soltos, vão...

Dribblando a accusação. Falta o subjeito mais sujo, por estar na situação. Eu mesmo raramente me deleito ao ver que um delles vae para a prisão.

234 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005]

Vão, claro, suggerir prorogação. Appenas um mandato não lhes basta si ainda a grana toda não foi gasta. Precisam de mais tempo! Não é, não?

A gente, quando gasta algum tostão, bem sabe como o tempo ca se arrasta até ganharmos outro. Mas contrasta o nosso com aquelle dinheirão.

Reforma na politica? Sim, claro!

Concordam elles todos ser urgente. Enganna-se, porem, o povo ignaro si achar que a reeleição do presidente...

Accaba! Em logar disso, eu ja comparo o cargo ao do Juvencio ou do Vicente! Mas logo um desses nomes será raro que esteja na lembrança aqui da gente.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 235

MISCELLANEA PROVINCIANA [6007]

Menina liberada, aquella tal! No radio, o gesto della ganha fama. Tambem sae nos jornaes e attenção chama. Ganhou notoriedade, mas local.

Talvez queira ser ella a nacional estrella mais famosa, com quem cama reparta astral politico que mamma nas tetas da venal midia global.

Virou celebridade essa menina rebelde, que anda nua pela rua! No clube e na parochia, se imagina que seja algum protesto. A puta actua...

Sozinha? A popular lingua ferina suppõe que a suja "midia externa" influa com essas más manias da suina vidinha depravada da gazua.

236 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MAMÃE [6015]

Quem vê, pensa ter ella coração. Chorosa, a dona Rosa se commove, embora a filharada a desapprove. Vejamos como rolla a situação.

Sim, lagrymas derrama. Como não? Disseram que seus filhos eram nove e varios ja morreram. Quem os sove paresce não haver. Quem tem razão?

Novellas vendo, chora. Tambem chora nas scenas de catastrophe e miseria, aqui por perto, ou longe, mundo affora. Sim, ella é molle, embora não tolere a...

Menor birra dos filhos. Si um demora naquillo que mandou, a surra é seria! É caso para meme essa senhora que vae virar motivo de pilheria.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 237

MEME DA FILHARADA [6016]

Prenderam Dona Rosa? Que injustiça! "Mãe batte em quattro filhos com chicote de couro", eis a manchette que dá motte. Fofoca tal a nossa lyra attiça.

Prenderam-na, accusada de tortura, alem de outros delictos. Sua prole ficou com a vizinha, que é mais dura ainda. Si é difficil o controle...

De taes pestinhas e ella não attura pirraça, acho que o relho não se abole. Si é caso de mão dura ou bunda molle não sei, mas nos jornaes choca a figura...

Do corpo da vizinha: o fogo engole a velha admordaçada, emquanto jura um delles innocencia, sem que colle, na cara do pivete, tal candura...

238 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CARCERARIA [6017]

Nas intimas visitas alguem crê?

As quer um criminoso na cadeia e quer que em tal paixão a gente creia. Bem, creia quem quizer. Descrê você?

Cadastram-se putinhas. Ha quem dê noticia duma duzia. Ao menos meia recebe um bandidão de cara feia.

Motivos disso tudo os ha? Cadê?

Chamou de "amor bandido" a mesma imprensa marron que do assassino fez a ficha e suas peripecias não condensa.

Tambem detalhes morbidos espicha...

No caso da menina, cuja extensa novella a compromette. Ella se lixa.

Circula nas fofocas uma crença no solido tamanho da salsicha.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 239

MISCELLANEA REGULAR [6018]

Nas taras, cada qual tem seu motivo. "Quem lambe uma boceta, si a mulher está de chico, oppõe-se ao que Deus quer." Assim não diz o frade, que é lascivo.

Eu mesmo, no meu gozo, não me privo das taras mais communs ao meu mester. Porem o frade espera seu affair passar, com a freirinha, pelo crivo.

A freira argumentou, negou, mas nada que allegue dissuade disso o frade, disposto a degustar-lhe a ensanguentada e fetida vagina! Que dirá de...

Um cego a freira, então, si o camarada degusta as hemorrhoidas de algum Sade? Por isso os bardos cantam: curta cada qual sua podre tara à saciedade.

240 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA OBSCENA [6019]

Se encontra, pelas lettras, pratto cheio. Frequentes são, à margem dum auctor maior, obras que o deixam, nu, se expor. Ja puz diversos classicos no meio.

Não temo putarias. Não receio topar, relendo um livro quando for, aquelle sonnettão de despudor repleto, que eruditos acham "feio".

Bocage alli, Rabello aqui, mas mais recente está Drummond, como Bandeira, guardando alguns poemas sensuaes. Achar e revelar resta, a quem queira...

Ser delles o biographo, os fataes e posthumos "ineditos" na feira. Os meus ninguem os "acha", pois jamais escondo os fescenninos: é carreira.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 241

ARACHNOPHILIA (I) [6021]

Circulam, sobre Gina, alguns bochichos. Tem medo de baratta, porem não de aranha, a moça. Cabe explicação? Phobia alguem não teve de taes bichos?

Sim, cabe. Ella cahiu, quando creança, num poço onde abundavam as barattas. Ficou traumatizada. A aranha mansa achou porque devora as insensatas...

Barattas que apparescem. Confiança demais? Sim, pois aranhas são ingratas. "Cuidado, dona Gina!", não se cansa o padre de advisar. "Aranha tem...

Veneno!" Mas na moça não advança aquella que ella cria, que lhe vem comer na mão! De moscas enche a pança, caçadas pela Gina! Simples, hem?

242 GLAUCO MATTOSO

ARACHNOPHILIA (II) [6023]

Tarantulas attingem grande porte. O padre ficou pasmo com tamanha bichana! Sim, pertence à Gina a aranha! Espera-se do padre que se importe.

Bunduda, cabelluda e preta, aquella aranha foi creada em captiveiro. Tem Gina confiança plena nella, que advança nas barattas, mas, primeiro...

Recebe uma ração de moscas. Bella mascotte! E por que o padre está cabreiro? Scismou elle que a aranha se revela, um dia, traiçoeira e attacca a Gina.

Visita a moça, insiste, mas sem trella ganhar da teimosinha! Que imagina o parocho? Será que appenas zela, sincero, pela vida da menina?

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 243

THEOLOGICAS CARAMINHOLAS [6024]

Theologos na cuca teem minhoca. Total revisionismo accaba dando na propria revisão dum Deus mais brando. Quem é que na cabeça as não colloca?

Sim, tudo evoluiu, passivel tudo agora é de reforma. Tambem Deus precisa accompanhar. Ou eu me illudo, ou Elle está mais duro com os Seus...

Modernos seguidores, mais trombudo, severo, e mais distante dos plebeus. Protege os poderosos, fortes, maus, não mais os justos, pobres, e a chamada...

Carente e crente gente. Quem os graus mais altos conquistou e só degrada os fraccos e vencidos, esse ao Chaos Divino ascende. Aos outros, resta nada.

244 GLAUCO MATTOSO

ARACHNOPHILIA (III) [6025]

Curiosos, os leitores saber querem. Perguntam-me si é Gina solteirona, bonita, s'inda é virgem sua conna... A todos elles, peço-lhes que esperem.

Não sejam indiscretos! Eu aqui fallando duma aranha, e o leitorado querendo ver si a Gina tem, ou si não tem seu cabacinho! Sou tarado?

Sou chulo? O que interessa é que não vi malicia nesse padre... Estou errado? Mas, quanto ao que appurei, ella tem dado sympathica accolhida ao sacerdote.

Sim, toma, com a aranha, mais cuidado. Só resta adveriguarmos si a mascotte não fica ciumenta, si é do aggrado da fofa que outro bicho a dona adopte...

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 245

MISCELLANEA FESTIVA [6026]

Vizinhos se incommodam com aquillo. Festeira, a dona Ritta varias dá e quer que a vizinhança ao demo va. Quem é que dormiria, alli, tranquillo?

Ninguem, no quarteirão, aguenta mais! Na casa della, a noite toda accesa, indica a luz, de longe, os musicaes saraus! Quem quer dormir ja tem certeza...

Alem da poesia, de que as taes festinhas são festins de rolla tesa! Intrigas? Serão mesmo bacchanaes? A musica dansante tanto assim...

Nem é! Mas, no compasso, occasionaes e agudos palavrões dão ao festim um tom de putaria! Ao filho os paes dirão da Ritta: "O sangue é que é ruim!"

246 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA ZOOLOGICA [6027]

Gallinha, não. Nem vacca dizem della. Talvez por ser "modello", ella se julga formosa, mas não passa duma... pulga. Ou seja: ninguem falla que é cadella.

Pernuda, grossas coxas, acha a miss que os ricos pagarão pelo seu joven corpinho saltitante e está feliz, embora as bem casadas lhe reprovem...

A má reputação. Ella só diz que curte a vida emquanto os homens chovem. Sangrou seus coroneis, pelos Brazis affora, foi tehuda e mantehuda.

Se exquesce de que a vida não dá bis nas chances para sempre. Que se illuda no espelho! Um senador ja não lhe quiz beijar a bocca, e a puta o chupa muda.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 247

RECEITUARIO DO INVENTARIO [6028]

Convem que nos lembremos dessa dona. Cansada dos pestinhas, dona Rosa emfim teve uma idéa luminosa que, emquanto são pequenos, bem funcciona.

Os filhos sempre fazem uma zona na casa, fica a gente em polvorosa. Não é que dona Rosa, pressurosa, lembrou-se da receita, a tal, da nonna?

Sim, filhos são terriveis, mas a boa senhora se lembrou de que elles são, tambem, louquinhos pela sua broa. Foi simples: na receita, um certo grão...

Dosou, que não constava. Não enjoa nem nada, mas accalma até leão!

Tambem eu quereria, não à toa, um mero pedacinho desse pão.

248 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MENINA BEIÇUDA [6029]

Meninas se conhescem por inteiro. Carminha descobriu que sua conna tem "labios" e por elles se appaixona, paixão que exige espirito fuleiro.

Tem ella aquillo tudo que, primeiro, desejos despertou na propria dona. Mas tem tambem aquillo que ambiciona qualquer abbestalhado punheteiro.

Queria era beijar-se, mas só pode fazer isso no espelho, chota a chota, ou labio a labio. A idéa que lhe accode é ver sua boneca, na qual bota...

A chota, dar-lhe os beijos. Quem se fode, mais tarde, é a cadellinha que ella adopta! Ninguem ha que com isso se incommode, excepto o moralista que me annota.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 249

MEME DO JARGÃO [6030]

Palavras em desuso boas são. Por ser conservadora, a minha avó usava só "loló", só "fiofó". Mas outras podem ter occasião.

Ninguem precisa achar que um trazeirão se chama "nadegaço". Meu xodó seria mesmo "lordo" ou "fricandó", appenas por dever de erudição.

É feio dizer "bunda". Usar "bumbum"

tambem não serve, é bunda de creança.

Qual termo usar, então? Exsiste algum? Jamais no cu tomou. Na sua usança...

Foi só "papae-mamãe", cujo jejum

durou. Mexer a bunda? Só quem dansa!

Relesse um termo celebre e incommum: de "sesso" usar Bocage não se cansa.

250 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CIPHRADA [6031]

Nos numeros está o estellionato. Aquella economista explica, experta, que "allarme" é um tanto forte e basta o "allerta". Mas tudo são só numeros, constato.

A bolsa jamais "cae", ella "despenca", e o dollar nunca "sobe", só "dispara". Mas, como a jornalista evita encrenca, adverte que não acha a acção tão cara.

E o cambio acha barato. Emquanto elencha problemas, eu, que os tenho, a mando para...

Está, sempre blasê, mui "preoccupada" com taxas de inflação, e tudo accerca...

Dos juros lhe "interessa". Que ella perca dinheiro, eu ca duvido. Perde nada!

Eu, sim, me fodo e "appenas" pago cerca de um puto p'ra mandar a desgraçada...

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 251

MISCELLANEA DA CEREMONIA [6032]

Si formos dar molleza, ahi fodeu!

A casa della a turma sempre invade.

Gentil, diz ella: "Estejam à vontade!"

Agora não dispõe mais do que é seu.

Amiga do povão, seu mais plebeu amigo depressinha a persuade a dar uma festinha. Haja amizade! Ja todo mundo sabe que ella deu.

Na salla, "A casa é sua!" ella repete. Mas, quando até a cozinha excappa, a dona Regina Elizabeth, appenas Bete aos intimos, depressa posiciona...

Vassoura attraz da porta, salta septe pullinhos, roga praga, raiva à tonna. Na proxima, de novo compromette seu tempo e sua casa vira zona.

252 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033]

Num mundo marketeiro, vale tudo. Na falta de demanda, faço ou não "offerta", "promoção", "liquidação"...? No falso annuncio, facil eu illudo.

Si eu vendo alguma coisa, posso dar descompto, parcellar, e até de graça ceder admostras, disso estou a par. Pois bem, conhesço gente que ja caça...

Freguez annunciando que, em logar do "artigo", a ser um brinde o corpo passa. Da bocca, da boceta, ha quem ja faça campanhas promovendo e dando, gratis...

Geral degustação em plena praça. Nem tenho que me oppor! Si é com tomates, cenouras, orificios, si é devassa ou não a freguezia, toca aos vates!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 253

MISCELLANEA ACADEMICA [6034]

Tem gente que com nada se contenta. Actriz famosa, é linda, mas precisa ainda se passar por poetiza. Na midia, fazem festa barulhenta.

Não basta estar na midia? Necessita a viva diva entrar p'ra Academia?

Não seja, então, por isso: alguem lhe edita um livro de poemas que, do dia...

P'ra noite, faz successo. Eis que a bonita auctora ganha a vaga que queria! Com isso, a poetiza que teria direito mais legitimo está fora.

Explica-se: ella é feia, para thia ficou... E quem prefere uma senhora à joven cortezan que se premia sozinha e por si só se condecora?

254 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA CONSTIPADA [6036]

Estresse influe no rhythmo do intestino. Cagava bem, a dona Dora. Agora faz força, alli sentada, mas demora. Não posso ter certeza, mas attino.

Batata! Si o cocô sae muito fino, signal é de prisão de ventre. Chora quem senta alli por mais de meia hora, e em seu logar até que me imagino.

Tomava no cu, quando seu marido ainda não brochava. Ultimamente se sente constipada. Não duvido que a causa seja a falta dum potente...

E audaz suppositorio. Faz sentido? Talvez, si outra resposta não se invente. Sentada na privada, só ruido escuta, tripa addentro, persistente.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 255

MISCELLANEA ROCKEIRA [6038]

Pensemos num historico momento. Foi anno musical, digo e não brinco: mil novecentos e sessenta e cinco. Eis como de alguns ponctos lembrar tento.

Concordo com aquella theoria segundo a qual as decadas que vão marcando a musical historia, via um poncto inaugural, comptadas são...

Ao meio, no anno quincto. A maioria dos factos nos sessenta cae. Ou não? Pautaram a maior revolução, dos Beatles, "Rubber soul"; de Dylan, "Like...

A rolling stone" e "Minha geração" do Who. Com "Satisfaction" outra cae, que importa, "California dreamin'". Dão respaldo os Drifters, Pickett, Otis, Ike...

256 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039]

Às vezes philosopho sem proveito. Circense bacchanal, essa em que accabo tomando, eu e milhões de eguaes, no rabo! Mas nunca que esses crapulas acceito!

Um unico politico me aggruppa, pellado e accorrentado, com os meus demais concidadãos, e nos "estrupa" agindo ou ommittindo! Nós, plebeus...

Siquer sem protestar, ouvimos "Chupa!" Rezamos mudos... menos os atheus! Chupamos o mais sordido dos paus e a porra que engolimos e nos tapa...

A bocca nos fodeu em varios graus semanticos! Agora, em nova etapa historica, poder menor os maus teem para nos impor unica chapa!

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 257

MEME DO BEBÊ [6040]

Testar, todos testamos. Quem contesta?

Eu mesmo faço o "teste do pezinho" e sei quando um bebê desencaminho. Ninguem um meninão jamais molesta.

Não! Elles mesmos querem fazer festa, brincando com as coisas que escrevinho, pedindo que eu lhes faça, no mindinho, aquillo que não faço em minha testa.

Si é dia de testar, tambem proponho meu teste: no pezinho dum bebê vintão eu passo a lingua, qual no sonho. Sorrindo elle de cocegas, se vê...

Que é macho indifferente; si langonho ficar, mais tracto oral quer que eu lhe dê. Bem, e si não quizer? Nem tão tristonho eu fico: outro moleque em mim ja crê.

258 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CONSENTANEA [6041]

Fofoca tambem pode inspirar lyras.

Bordão mexeriqueiro, esse "Eu augmento mas não invento!" applica-se ao tormento. Sim, vale versejar sobre mentiras.

"Mas Glauco, caso ao verso te refiras, dirás da poesia cem por cento!"

Sei disso, mas aqui somente tento unir-me a pescadores e caypyras.

Eu, sempre que versejo, de Pessoa invoco o tal pretexto da licença poetica, a doer-me do que doa.

Fiz drama da cegueira e numa immensa...

Comedia a transformei, visto que soa ridicula ao leitor, caso o convença.

O facto é que de mim elle caçoa e sei que isso faz boa differença.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 259

MISCELLANEA DA CHRONICA ESPORTIVA [6042]

O pappo, antes do jogo, não tem graça. Não quero enrollação, eu quero bolla rollando, sem mais pappo que não colla! Depois do jogo, sim, um quadro traça.

Achar que differença alguma faça encher linguiça serve a quem nos trolla com blefes e bravatas de gabola. Em campo está o que compta para a massa.

Agguardo pelo classico no estadio, mas, antes do começo da partida, é tanto fallatorio no meu radio que até prefiro ouvir, de quem decida...

Gritar, uns palavrões, caso mais brade o povão majoritario na torcida e, mesmo que o calão alli degrade o discurso, mais a scena é divertida.

260 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043]

Estar em seu logar às vezes sonho. A bella fellatriz compensa a sua cegueira si efficaz é quando actua. Mas só por un instante é que me ponho.

É tão appavorante, tão medonho ser cego, que escutei eu ja, na rua, alguem dizer, de forma nua e crua, que cego honrado é coisa de pamonha.

A puta ficou cega, mas tem rosto bonito e bocca grande. Entende agora que um logico serviço foi-lhe imposto: na fellatividade ella melhora...

A cada pau que chupa, mas o gosto na bocca amargo fica e mais demora. Até que inveja tenho do seu posto, mas só quando da bronha chega a hora.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 261

MISCELLANEA DAS PARADAS [6044]

O povo tem seus gostos, eu respeito.

Ray Charles vale Stevie Wonder? Damno tambem soffreu José Feliciano.

Não quero comparar nosso defeito.

Cantores cegos gozam de conceito um pouco differente. Si me irmano ao Zé, compositores não me uffano de estar subestimando, com effeito.

Trez cegos. Não discuto quem mais é famoso ou importante. Para mim, appenas por cantar, foi o José. Em "And the sun will shine" eu ouço o fim...

Da vida, ou da cegueira, tendo fé nalgum admanhescer menos ruim.

Emfim, as preferencias da ralé eu para contestar aqui não vim.

262 GLAUCO MATTOSO

MEME DO PANCADÃO GRATUITO [6045]

É tactica anarchista aquella festa. O gruppo "Preturbano" se appresenta com musica vulgar e barulhenta. Faltava, diz o povo, só mais esta!

Sossegos perturbar ninguem contesta que seja uma estrategia violenta. Occorre que esse gruppo, o que sustenta é que arte só produz quem nos molesta.

O carro de som delles estaciona, em plena madrugada, e o pancadão começa, infernizando toda a zona. De subito accordada, a velha não...

Consegue accreditar que tão cafona marchinha é funk e a lettra é palavrão. Ninguem melhor define do que dona Maria a "sabotagem" do negão.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 263

MEME DO DESASSEIO [6046]

Podia tambem eu fallar assim: "Tomei a decisão, e não me accanho: emquanto não cagar, não tomo banho!" Mas não fui eu quem isso disse e sim...

A dona Esther, que soffre, alem do rim, das tripas constipadas. Nem extranho a sua posição. Sei do tamanho que ganha o cagalhão, si sae, emfim.

Está sempre enfezada, a dona Esther! Disfarsa com perfume aquelle cheiro suado, faz trez dias, mas não quer lavar-se, por pirraça, sem primeiro...

Fazer o seu cocô! Dessa mulher tão grande é o mau humor quanto o trazeiro. Eu mesmo só consummo o meu mester de bardo si feliz sou no banheiro.

264 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA VENEREA [6047]

Quem tem mãe no puteiro, degenera. Tem filho "fididinho", como diz o povo, a respeitavel meretriz. Qualquer coincidencia não é mera.

A puta se perfuma, se produz, mas mãe é do mais sordido rapaz, um typo revoltado que, nos cus das bichas, vae à forra: foi capaz...

Depois de enrabar uma, tendo puz no pau, de entrar na bocca qual por traz. O docil masochista que, attravés dos labios, se infectou, teve de, appós...

Chupar puz com cocô, do chão ao rés prostrar-se e, sob as ordens duma voz chapada, lamber tudo que, nos pés fedidos, não lavou seu rude algoz.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 265

MEME DO CEGUINHO PUTO [6050]

Do cego uma senhora sente dó:

"Tadinho de você! Tão bonitinho, mas cego..." -- diz a velha, com carinho. Quaes phrases prende o cego no gogó?

O cego appella: -- Aqui! Dispenso o affago!

E então? E o que a senhora mais queria?

Que, alem de cego, eu fosse feio, gago, banguela e manquitola? Ora, tithia!

Pé chato me faltava? -- ainda indago --

Não basta esta cegueira? Que mania!

-- Nem tenho excappatoria! Sempre pago o mico de ser cego! Até meu guia...

Me goza e diz assim: {Porra! Me cago de medo de cegar! Bem que eu queria

não ter este pé chato... Mas o estrago é pouco, ja que enxergo! É o que allivia...}

266 GLAUCO MATTOSO

RASPA DO TACHO [6051]

Tentei approveitar uns madrigaes, mas, como dissonnetto, não funcciona la muito bem a coisa, pois a nona ou outra linha nexo pede mais.

Sim, claro, um decasyllabo jamais se perde em meio ao todo duma zona estrophica, mas, quando se ambiciona moldar, as exigencias são fataes.

Valeu. Experiencia sempre cabe. Alem do mais, terão melhor proveito aquelles madrigaes, aos quaes dou jeito de thema que se encaixe e bem accabe.

Não quero que, por isso, alguem me enrabe, mas, ao dissonnettal-os, eu suspeito que ganham, no final, maior effeito, ainda que eu do feito nem me gabe.

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES 267
SUMMARIO DEU PAU [7201]........................................9 BEXIGA QUE CASTIGA [7202]............................10 SPUTNIK TUPYNIKIM [7203].............................11 PLACEBO QUE RECEBO [7204]............................12 DISSABORES COM SEGUIDORES [7205].....................13 SELVAGEM TIETAGEM [7206].............................14 MUKBANG DE DELIVERY [7207]...........................15 O PARTO DO BARDO [7208]..............................16 LATENTES PATENTES [7209].............................17 MAIOR VERGONHA [7210]................................18 TAÇA SUADAÇA (I) [7211]..............................19 TAÇA SUADAÇA (II) [7212].............................20 TAÇA SUADAÇA (III) [7213]............................21 GUSTATIVA PERSPECTIVA [7214].........................22 TRABALHOS FORÇADOS [7215]............................23 METAGRAMMATICA [7216]................................24 BLOGUEIRO MINEIRO [7217].............................25 IRREGULARES CELLULARES [7218]........................26 MARRA DE QUEM NARRA [7219]...........................27 VERBALIZADA VENTOSIDADE [7220].......................28 O CEGO E OS CAPITÃES (I) [7221]......................29 PROBLEMA DO CARALHO [7222]...........................30 O CEGO E OS CAPITÃES (II) [7223].....................31 O CEGO E OS CAPITÃES (III) [7224]....................32 MASTIGUINHA [7225]...................................33 O CEGO E OS CAPITÃES (IV) [7226].....................34 O CEGO E OS CAPITÃES (V) [7227]......................35
BOCHECHINHA [7228]...................................36 O CEGO E OS CAPITÃES (VI) [7229].....................37 PEDIGREE DE RIFIFI [7230]............................38 MANSAS LEMBRANÇAS [7231].............................39 RELENDO GUIMARÃES JUNIOR (II) [7232].................40 PREFERIVEIS PRAZERES (I) [7233]......................41 RELENDO FLORBELLA ESPANCA [7234].....................42 SOLITARIO PRIORITARIO [7235].........................43 COCÔ NO PIPI DO VOVÔ [7236]..........................44 GENOCIDA [7237]......................................45 PEKY ROIDO [7238]....................................46 JACARÉ VACCINADO [7239]..............................47 PRECARIA BINARIA [5704]..............................48 MICHO BICHO [5705]...................................49 LIGAÇÃO COM LIGAÇÃO [5706]...........................50 LIVRO DO CEGO [5707].................................51 ERUDITA ESCRIPTA [5708]..............................52 PAPPO DE BEBADO [5709]...............................53 CEGO PUTO NADA REZA [5710]...........................54 DEVOTAS BOTAS [5711].................................55 KOSMICO COCÔ [5712]..................................56 OTARIOS HONORARIOS [5716]............................57 SAUDOSO MALCHEIROSO [5717]...........................58 CONVIVENCIA PACIFICA [5718]..........................59 SALARIO LITTERARIO [5719]............................60 LOUCURA SEM CURA [5720]..............................61 INDUSTRIA PHARMACEUTICA [5721].......................62 FESTIVAL INTERNACIONAL DO QUEIJO [5723]..............63 INDUBITAVEL INCREDIBILIDADE [5724]...................64
LETTRINHAS E LETTRAÇAS [5725]........................65 CÃO-QUILATE [5726]...................................66 GULA SEM BULLA [5727]................................67 LASCIVO INCENTIVO [5728].............................68 BEIJOCA QUE SE TROCA [5729]..........................69 PEIXÃO DA PAIXÃO [5730]..............................70 CAIXÃO DA PAIXÃO [5731]..............................71 ARREDONDANDO A RONDA [5732]..........................72 LIVROS PRODIGOS [5733]...............................73 VEADO CORNEADO [5734]................................74 ENTHUSIASTAS GYMNASTAS [5735]........................75 SUBMISSO SERVIÇO [5736]..............................76 CANÇÃO INSONORA [5737]...............................77 ASSAZ INEFFICAZ [5738]...............................78 LOST SOCK MEMORIAL DISSONNET [5739]..................79 LIMERICKAL DISSONNET [5741]..........................80 QUALQUER DIA DAS MÃES [5742].........................81 FLOR DO AMOR [5743]..................................82 FEDORENTOS ALIMENTOS [5744]..........................83 GOLIARDA QUE ACCOVARDA [5745]........................84 PROFISSÕES DE PONCTA [5746]..........................85 VERSO LIVRE [5747]...................................86 PRAZERES ORAES [5748]................................87 CENSO SEM CONSENSO [5749]............................88 DECORAÇÃO DE CORAÇÃO [5750]..........................89 CLUB FOOT DISSONNET [5751]...........................90 DESENCALHANDO THEMAS [5752]..........................91 AMBIENTANDO THEMAS [5753]............................92 ALGO A MAIS [5754]...................................93
DANSA DEMONIACA [5755]...............................94 POLEMICO ACADEMICO [5756]............................95 ERA DA BLOGOSPHERA [5757]............................96 SULPHUROSA INSPIRAÇÃO [5759].........................97 PÃO ACCORDADO [5760].................................98 PIZZA QUE SE BISA [5761]............................99 ALTERNATIVAS MEDICINAES [5762]......................100 FIRST JUNKIE FOOD DISSONNET [5763]..................101 REPROVAVEL TROVADOR [5764]..........................102 AMIGUINHOS DO CEGUINHO [5765].......................103 SECOND JUNKIE FOOD DISSONNET [5766].................104 PODOLOGIA QUE SACIA [5767]..........................105 DIA DO SADOMASOCHISMO [5768]........................106 ROCKEIRO MOTOQUEIRO [5769]..........................107 GOSMA DO ORGASMO [5771].............................108 UNDERWEAR DISSONNET [5772]..........................109 PÉS EXPOSTOS [5773].................................110 DIETAS IDIOTAS [5775]...............................111 WIGGLE YOUR TOES [5777].............................112 ANTIPRACTICAS E ANTIPATHICAS EMBALLAGENS [5779].....113 CAE, CAE, BALLÃO! [5780]............................114 THEORIA DA HIPPOTHERAPIA [5781].....................115 MISERICORDIA DA MISERIA [5782]......................116 DEFENSOR DO GARÇON [5783]...........................117 BARDO INFELIZARDO [5784]............................118 VIRTUAL DESUSUAL [5785].............................119 RELIQUIA ROUBADA [5787].............................120 MISCELLANEA DOS TYPOS URBANOS [5788]................121 ADEPTO DO SEM-TECTO [5789]..........................122
STRANGE MUSIC DISSONNET [5790]......................123 MISCELLANEA DUMA AGENDA DE LEMBRETES [5791].........124 MALEVOLENTE MALEMOLLENCIA [5792]....................125 MISCELLANEA ESPONTANEA [5793].......................126 MISCELLANEA SUCCEDANEA [5794].......................127 MISCELLANEA DOS MEDINHOS [5795].....................128 CARINHO ENTRE MANINHOS [5796].......................129 BARBA POR FAZER [5797]..............................130 USO CORRENTE [5798].................................131 PUBLICO PAPPALVO [5799].............................132 CANÇÃO DO SALSICHÃO [5800]..........................133 MISCELLANEA DOS VICTIMADOS [5801]...................134 NO AR A ZOAR [5802].................................135 PERSIGNOU-SE E RESIGNOU-SE [5803]...................136 MISCELLANEA DA NEGOCIATA [5804].....................137 SCENARIO RODOVIARIO [5805]..........................138 MISCELLANEA DOS DEVANEIOS [5806]....................139 POMBOS E ROMBOS [5807]..............................140 VELHO PROBLEMA (I) [5808]...........................141 MISCELLANEA DA MIXTUREBA [5809].....................142 PUNCTUATION DISSONNET [5810]........................143 ONE HIT WONDER DISSONNET [5811].....................144 MISCELLANEA DA VELHA GUARDA [5812]..................145 MISCELLANEA DO REPERTORIO [5813]....................146 ANJO MARMANJO [5815]................................147 DENTE MAL CALÇADO [5816]............................148 POETA LUXENTO [5817]................................149 PERSEGUIÇÃO À PROFISSÃO [5818]......................150 MINHOCA NA CABEÇA (II) [5819].......................151
MISCELLANEA DO SERTÃO [5821]........................152 MISCELLANEA DOS SUBESTIMADOS [5822].................153 INCORRECTO RETROSPECTO [5823].......................154 IMMISERICORDIOSA GLOSA [5824].......................155 LAVAGENS E LAVAGENS [5825]..........................156 CARA VARA [5826]....................................157 DICTIONARY DISSONNET [5827].........................158 MISCELLANEA CORPORATIVA E CORPORAL [5828]...........159 FISTING DISSONNET [5829]............................160 MISCELLANEA DO CEGO GAGO [5830].....................161 PRINT DISSONNET [5831]..............................162 MISCELLANEA DA PIZZARIA [5832]......................163 MISCELLANEA DA SOLIDÃO [5833].......................164 OBRA QUE SOBRA [5834]...............................165 BEIJO ALVINEGRO [5835]..............................166 ALLEGORIA DO COVEIRO [5836].........................167 QUE UM DESFILE ME HORRIPILLE! [5837]................168 FALTA ASSUMPTO... OU PRESUNCTO [5839]...............169 CASPAS ENTRE ASPAS [5840]...........................170 ASSEIO SEM ANXEIO [5842]............................171 MERITOS PERIPHERICOS [5843].........................172 TOALHA HYGIENICA [5844].............................173 MISCHIEF NIGHT DISSONNET [5846].....................174 MISCELLANEA LINGUISTICA [5847]......................175 MISCELLANEA SORRIDENTE [5848].......................176 MISCELLANEA RADIOPHONICA [5849].....................177 MISCELLANEA METALLEIRA [5850].......................178 NA PONCTA DOS CASCOS [5852].........................179 ALVISSAREIRA IMMEXIBILIDADE [5853]..................180
CHAGA AZIAGA [5855].................................181 EM CASA EM GAZA [5856]..............................182 PROFISSÃO DE FÉ NO PÉ [5857]........................183 MISCELLANEA DO DUPLIPENSAR [5858]...................184 IRONICA CHRONICA (I) [5859].........................185 CRISE EM REPRISE [5860].............................186 OSCULOS NOS OCULOS [5861]...........................187 AO NADISMO, TUDO! [5862]............................188 ORDEIRO PRISIONEIRO [5865]..........................189 ACTOR AMADOR [5866].................................190 MISCELLANEA DO JOGO AO JUGO [5868]..................191 MISCELLANEA PACIFISTA [5869]........................192 CONSCIENCIA ECOLOGICA [5870]........................193 MANSA VIZINHANÇA [5871].............................194 MISCELLANEA DA ORPHANDADE [5872]....................195 NATALICIO DE DIONYSIO (I) [5874]....................196 BOXING DISSONNET [5875].............................197 MISCELLANEA DO VAREJO [5876]........................198 TARDIA FUTUROLOGIA [5877]...........................199 PERPLEXO REFLEXO [5951].............................200 PAPEL PRINCIPAL [5952]..............................201 PENSANDO E DESCOMPENSANDO [5954]....................202 PLUVIAL TRIVIAL [5955]..............................203 MISCELLANEA SENTIMENTAL [5956]......................204 POLITI/COPRO/TESTO [5957]...........................205 MISCELLANEA INTERGALACTICA [5959]...................206 MISCELLANEA FLORAL [5960]...........................207 VELHO PROBLEMA (II) [5961]..........................208 MISCELLANEA SENSORIAL [5962]........................209
MISCELLANEA IMMIDIATICA [5963]......................210 MISCELLANEA ASTROLOGICA [5964]......................211 MEME DA SOGRA [5965]................................212 MISCELLANEA BAPTISMAL [5967]........................213 ESCRIPTA RESTRICTA [5968]...........................214 MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969]......................215 CHAVE DE CADEIA [5970]..............................216 MISCELLANEA PHILOLOGICA [5971]......................217 MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972]......................218 MISCELLANEA AMBIENTAL [5973]........................219 MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974]....................220 MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976]...................221 MISCELLANEA JUDICIAL [5978].........................222 MISCELLANEA MORALISTA [5979]........................223 MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980]..................224 MEME DO ADULTERIO [5981]............................225 MISCELLANEA FELLACIONAL [5982]......................226 MISCELLANEA FICCIONISTICA [5984]....................227 MISCELLANEA BOATEIRA [5990].........................228 MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]......................229 MISCELLANEA CANINA [5992]...........................230 MISCELLANEA GRIPPAL [5993]..........................231 AL BUNDY QUE DESBUNDE! [5997].......................232 MISCELLANEA DO SEXO FRAGIL [6003]...................233 MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004]....................234 MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005]......................235 MISCELLANEA PROVINCIANA [6007]......................236 MEME DA MAMÃE [6015]................................237 MEME DA FILHARADA [6016]............................238
MISCELLANEA CARCERARIA [6017].......................239 MISCELLANEA REGULAR [6018]..........................240 MISCELLANEA OBSCENA [6019]..........................241 ARACHNOPHILIA (I) [6021]............................242 ARACHNOPHILIA (II) [6023]...........................243 THEOLOGICAS CARAMINHOLAS [6024].....................244 ARACHNOPHILIA (III) [6025]..........................245 MISCELLANEA FESTIVA [6026]..........................246 MISCELLANEA ZOOLOGICA [6027]........................247 RECEITUARIO DO INVENTARIO [6028]....................248 MEME DA MENINA BEIÇUDA [6029].......................249 MEME DO JARGÃO [6030]...............................250 MISCELLANEA CIPHRADA [6031].........................251 MISCELLANEA DA CEREMONIA [6032].....................252 MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033].....................253 MISCELLANEA ACADEMICA [6034]........................254 MISCELLANEA DA CONSTIPADA [6036]....................255 MISCELLANEA ROCKEIRA [6038].........................256 MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039]..................257 MEME DO BEBÊ [6040].................................258 MISCELLANEA CONSENTANEA [6041]......................259 MISCELLANEA DA CHRONICA ESPORTIVA [6042]............260 MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043].................261 MISCELLANEA DAS PARADAS [6044]......................262 MEME DO PANCADÃO GRATUITO [6045]....................263 MEME DO DESASSEIO [6046]............................264 MISCELLANEA VENEREA [6047]..........................265 MEME DO CEGUINHO PUTO [6050]........................266 RASPA DO TACHO [6051]...............................267

Titulos publicados:

A PLANTA DA DONZELLA

ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS

INFINITILHOS EXCOLHIDOS

MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA

RHAPSODIAS HUMANAS

INDISSONNETTIZAVEIS

LIVRO DE RECLAMAÇÕES

VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS

MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES

GRAPHIA ENGARRAFADA

HISTORIA DA CEGUEIRA

INSPIRITISMO

MUSAS ABUSADAS

SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR

DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO

DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

SEMANTICA QUANTICA

INCONFESSIONARIO

DISSONNETTOS DESABRIDOS

SONNETTARIO SANITARIO

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RHYMAS DE HORROR

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NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES

A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO

MANIFESTOS E PROTESTOS

LYRA LATRINARIA

São Paulo Casa de Ferreiro 2021

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