ETARISMO
Glauco Mattoso
ETARISMO
São Paulo Casa de Ferreiro
Etarismo © Glauco Mattoso, 2023 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ____________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ____________________________________________________ Mattoso, Glauco ETARISMO/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023 74p., 14 x 21cm CDD: B896.1 - Poesia 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA Em GERONTOPHOBIA colligi poemas allusivos à velhice. Agora, sendo menos exhaustivo, aqui seleccionei alguns, visando possivel edição que, impressa, attenda àquelle leitor typico que busca um livro que se possa ter em pé na bella pratteleira, juncto com os classicos mais velhos. Bem, tomara que eu possa, ness’estante, equilibrar-me.
PRIMEIRA PARTE ETARISMO NO SADOMASOCHISMO Por “gerontophobia” a gente entende
o velho preconceito contra velhos de modo geral, seja no conflicto que exsiste, desde sempre, em gerações de nettos contra avós e filhos contra seus nem tão velhos paes, seja no campo do trampo, da cultura, da politica. Reciproco, convem dizer, si edosos tambem desaccreditam nos mais jovens, chamados de immaturos, de inseguros e de inexperientes em quaesquer funcções da vida practica. Razões exsistem dos dois lados, mas agora circula novo termo, que rotula, mormente no mercado de trabalho, a falta de inclusão de quem edade ja tenha accyma duma faixa tida por fertil, productiva, por capaz, emfim, por preferivel num emprego que exija dynamismo ou aptidão nas modas technologicas vigentes. O termo que surgiu foi “etarismo”, irmão dum outro, o tal “capacitismo”, assumpto dum ensaio que escrevi mais cedo nesta serie de pesquisas. De novo não ha nada, neste thema hostil contra a velhice e seus effeitos, pois basta adveriguarmos, nos sessenta, aquillo que diziam os hippongos e thema foi de versos meus, assim:
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DISSONNETTO PARA UMA HILARIA FAIXA ETARIA [2213] Edade, para os hippies, influia na adversão por alguem que a gente sinta. Foi principio de tal philosophia: “Não confie em ninguem com mais de trinta!” Persistem taes valores hoje em dia: que um az do futebol na edade minta faz parte do mercado. Alguem confia num “velho” que não marca e que não finta? “Vovô”, rotula a chronica quem passa dos trinta, trinta e cinco… Quem commenta chacota faz do craque. Eu acho graça, ja que estou a caminho dos septenta. “Canalhas envelhescem tambem!”, falla o povo, cuja lingua não aguenta ninguem. Eu me divirto. Manda balla o bandido “menor”, e se innocenta.
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NEVER TRUST ANYONE OVER THIRTY [5566] Segundo um lemma hippie dos sessenta, amor será canção, si bem cantada. Mas quando a lettra a gente apprender tenta, que é longa verifica a passo cada. Longuissima não é nossa jornada, porem essa versão, que se appresenta a titulo de amor e tanto aggrada aos jovens, é prolixa, muito lenta! Até que a decoremos, ja noventa teremos e qualquer pessoa amada ja morta ou ja gagá será! Cinzenta veremos, ja sem cores, a alvorada! Não quero parescer turrão, mas fada nenhuma nos garante que ‘inda aguenta erecto um membro appós tanta cantada negada, tanta musica agourenta…
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Amor, alem de sexo, foi factor
pouquissimo pensado nos sessenta, tal como si só jovens erecção pudessem ter, si só quem for saudavel meresça ser amado ou companhia meresça ter na vida, ao longo dessas mais derradeiras decadas viviveis. Sim, hoje tem respeito um pouco mais quem passa dos sessenta, por questão politica, correcta, até legal. Na practica, comtudo, o velho sente na pelle, fora as rugas, rejeição em todos os adspectos: familiares, civis, profissionaes, hospitalares. Fiquemos, todavia, no terreno erotico, onde velhos vistos são na compta de impotentes e infelizes, assumpto de sonnettos deste typo: SEPTENTÕES [6377] Ouviste fallar, Glauco, do dictado que diz que pau de velho é lingua? Agora te conto o que o vovô poz para fora: dois palmos duma lingua de tarado! Na minha conna a rolla dum cunhado ja tinha entrado fundo! Ninguem chora por isso: só de gozo se estertora! Mas, Glauco, mais o velho olhou meu lado! Entrou com seu linguão tão fundo, tão gostoso, que suppuz ser uma cobra que estica, que colleia, que se dobra até quasi sahir pelo ladrão! Tambem, como o vovô, tu septentão estás! A julgar pela tua obra, tens lingua de dois palmos! Não te sobra um tempo para as connas, Glauco, não?
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Folklorico, o problema do tesão
que falta aos velhos muitas anecdotas inspira aos humoristas e, de facto, ja muita cunnilingua certamente rollou onde caralhos ja não podem entrar. Mas a figura do velhote carente, dependente, dominado, aggrava-se em directa proporção si, juncto com etarias impotencias, quaesquer deficiencias se collocam em jogo, pois o velho se submette mais facil ao abuso de quem queira tirar algum proveito, ou financeiro, appenas, ou tambem se divertir às custas do coitado, um indefeso joguete em brincadeiras as mais sadicas. Por mim posso fallar, pois ja filmado fui pelos meus algozes, a lamber, chupar e degluttir, sob os commandos de quem me “dirigia” nessas scenas. Exemplos bons são estes dois sonnettos, veridicos, de como um cineasta propoz-me seu projecto, bem às claras, e como dei resposta, ao meu estylo: O SADISMO DO OLHO (1/2) [4523/4524] (1) Estou finalizando o meu ropteiro e quero que você, Glauco, confirme si está, mesmo, de accordo com meu firme proposito de expol-o por inteiro. Ao publico, o que é falso ou verdadeiro em duvida estará, mas divertir-me pretendo: em meu poder, você servir-me irá como cobaya, ao tacto, ao cheiro. Um cego, ao ser exposto, é masochista.
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Eu, como director, quero que sinta a minha auctoridade e não resista. Eu quero carregar, mesmo, na tincta. Que sua carapuça, agora, vista! Curioso é ver que alguem menos de trinta tem… que outro, de sessenta, sem a vista ficou e em cumprir ordens taes consinta. (2) Confirmo: estou de accordo. Ser exposto num filme, para um cego, é como estar na jaula dum zoologico, em logar do exotico animal, a contragosto. Mas, mesmo assim, concordo em pôr meu rosto na frente duma camera, em fallar aquillo que mandarem, em meu lar deixar que invadam, como foi proposto. Terei, ja sei, que usar a lingua, a mão, o corpo, em summa, como ferramenta do sadico capricho dum mandão que scenas degradantes sempre inventa. Ao publico, obviamente, é diversão. Calculo o que você, rapaz, intenta fazer commigo… As ordens me serão mais duras: sou mais velho, aos meus sessenta.
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Eu era quarentão, ja nos noventa,
mas, cego, subjeitei-me facilmente aos ludicos propositos dum gajo que filmes marginaes rodava às custas duns tantos voluntarios, nessa scena bem punk e submundana do contexto pornô, semipornô, como se queira chamar, na antiga bocca que “do lixo” ja fora, agora mera brincadeira que cerca as garagisticas bandinhas de ska, de rockabilly, de hardcore. Assim, pois, fui filmado, sob a trilha composta por mim mesmo, onde lambi a sola da botina, alem do pé descalço dum extranho que, em meu proprio apê, se divertiu com minha cara. O video se salvou, recuperado na forma digital, e está postado nas redes, clandestino, vez por outra, mas sempre visitado por quem curte o lixo dos registros fetichistas. Aqui vae o sonnetto onde descrevo aquella circumstancia pittoresca:
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GEMMAS DO CINEMA (1) [4033] Achou-se, emfim, o filme que commigo foi feito annos attraz: a scena pega, em close, minha lingua, que se exfrega na sola duma bota, e as ordens sigo. O actor, que a calça, entrou por ser amigo do proprio director e meu collega de penna, não de pena. A vista cega não tendo, elle relaxa e eu, só, me obrigo. A camera empunhando, o director exige: “Passa a lingua, Glauco, passa de novo! Agora! Assim! Sente o sabor!” E eu raspo, na borracha, esta devassa e grossa posta: aguento o azar, a dor, ao passo que os dois jovens acham graça. Ainda me recordo, com ardor febril, sem que brochar isso me faça.
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Com base nesse instante inexquescivel,
compuz outros poemas abbordando um velho cego usado por alguem que curte dominar, mas tambem curte filmar, photographar, registrar tudo que possa dar prazer usando um cego que, fragil e indefeso, nem se queixe daquillo que soffreu nas mãos, aos pés dum normovisual tão folgazão. Agora lhes demonstro como foi composto um dos poemas de que fallo: EM SCENA SEM PENA [6775] Assim! Agora fica assim, até que eu filme, nesse piso, o teu rastejo! Rasteja mais, ceguinho, pois, sem pejo, filmar-te quero! Beija, aqui, meu pé! Teu riso para a camera, sim, é ironico o bastante! Eu, que bem vejo, irei satisfazer o meu desejo de rir dum cego, nelle dar olé! Agora vaes comer esse cocô ahi, nessa tigella à tua frente! Rasteja! Pelo cheiro um cego sente que está ja bem pertinho delle, pô! Sentiste? Então performa teu pornô papel! Ora, abbocanha! A minha lente bem capta a porca scena de teu dente mordendo o meu cocô! Come, vovô!
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Fallando com total sinceridade,
recente nem é tanto um tal abuso de velhos com orgasticos intuitos, pois, desde que em contacto me mantenho com esse gay submundo dos Estados Unidos, informado sou que taes edosos preferidos são por jovens que querem ser chupados da maneira mais util, mais profunda, mais gostosa, bastando que esses velhos dentadura retirem duma bocca desdentada, tornando uma garganta mais macia, tornando umas gengivas mais suaves na pelle do caralho que bombeia sen sustos, a attritar contra só molles paredes na carnal penetração. Ha velhos felladores que, inclusive, ainda actualmente não implantam seus dentes e preferem dentaduras usar, para que possam retiral-as nas horas em que chupam seus rapazes, freguezes fidelissimos. Capaz que exsistam, entre edosos tão servis, alguns que sejam cegos. Imagino si eu fosse cidadão americano em lances desse typo, pois, segundo os videos que conhesço, uma boccarra tão funda alguem a fode ecstasiado. Mas, para concluirmos, nada como eguaes tractarmos sempre qual eguaes, ainda que nem sempre eguaes tão sejam. Eis como, neste infame infinitilho, um cego retractei que se submette, ja velho, sob o phallo d’outro velho, no caso um que enxergando bem está:
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INCORRECTA EDADE PROVECTA (1/2) [8057] (1) Eu vivo me queixando, reconhesço. Mas velho soffre mesmo dum montão de dores, de symptomas aggravantes, de males que, ja chronicos, são como um fardo que, coitados, carregamos. Mas claro que a você nem me comparo, ceguinho, pois está bem mais fodido quem perde seu sentido mais vital. Por isso vou tirar o meu proveito da sua condição que, sim, compensa um pouco dos problemas que eu enfrento. Você, que se subjeita a tal abuso, se empenhe e faça tudo o que me aggrada, sem nada discutir. Appenas faça. (2) Agora vae você pagar o preço da porra da cegueira. Meu tesão demora, aguente firme. Vae ter, antes da galla na garganta, que dum pomo maduro o mel sugar. Com calma, vamos! Appalpe com o labio. Ja seu faro notou que na cueca arde incontido fedor de mijo, certo? Menos mal que pouco chichizinho tenho feito nas calças. Va lambendo minha pensa piroca até que esteja no momento de, fora, algo pingar, pois ja confuso estou si mijo, semen, ou de cada um pouco. Que sabor o pau lhe passa?
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Assim um “etarismo” thematizo, sabendo que estarei desaggradando a gregos e troianos, ou a cegos e velhos, si insistirem em ser cynicos.
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SEGUNDA PARTE SEXAGENARIO REPERTORIO DISSONNETTO DESSEDENTADO [0738] O moço entregador da adega traz naquella bicycleta um peso immenso. Nalgum appartamento agguarda, tenso, alguem que encommendou agua com gaz. Gazosa é só pretexto. Do rapaz o velho quer aquillo em que ora penso: seu cheiro, seu suor que, em vez de lenço ou banho, duma lingua esponja faz. O tennis detonado que pedala defuma-se por dentro e não resecca jamais a larga sola. Da cueca que attrita no sellim, um ar trescala. Appós gratificado, na caneca o beiço do moleque um gole estalla e, imaginando o odor daquella “mala”, alli bebendo o velho se lambeca.
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DISSONNETTO DA LUXURIA [0832] Pensei que insaciavel era a puta que fode por prazer, mais que por grana! Que nada! Um velho ainda é mais sacana e nunca satisfaz a carne hirsuta! Na foda, pela lingua elle permuta a fragil erecção: o odor que emana da velha sem pudor na suja chana lhe dá mais appetite que uma tructa! Assanha-se o ancião quando a consorte tem cocegas por dentro! Então chupita o caldo que, excorrendo, fede forte! A velha, hallucinada, geme, grita! O velho se deleita nesse esporte! Qual sopa, cha, nem succo! Resuscita aquelle exhausto membro, em grande porte, o gosto da sardinha antes de fricta!
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DISSONNETTO DO PREÇO DA BANANA [1296] A aranha negra attacca novamente! Agora está na feira: não se sabe bem como alli chegou, e aqui nem cabe querer saber si aranha imita a gente! Num cacho de banana ella se sente segura e comfortavel: que desabe o mundo! Ella não sae até que accabe de, quieta, cochilar commodamente! Mas, quando um comprador leva a banana p’ra casa, surge a aranha bem na hora do almosso! O melhor disso vem agora! Batata! A vovozinha é quem se damna! Cae fructa, cae fructeira, a velha chora de dor e desespero! Da bichana pretona, cabelluda, tropicana, terá recordações essa senhora!
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DISSONNETTO DO COCHILO TRANQUILLO [1546] Dormia no sofá seu thio, de porre. Chegando-se bem perto, sente o cheiro de pinga numa poncta, mas lhe occorre cheiral-o (Por que não?) no corpo inteiro. Na poncta opposta, pela sola corre seu avido nariz! Porem, primeiro terá que descalçar tudo que forre os pés do velho sujo e cachaceiro. O timido sobrinho só vê chance de ter aquella sola, grossa ja de tanto futebol, ao seu alcance na hora em que o tithio dormindo está. Sim, quando os outros saem, elle adora a scena costumeira: poderá olhar do beberrão o pé de fora, fedendo mais que a bocca de gambá.
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DISSONNETTO DO PAPPO DE BAR [1606] Inteira, a vizinhança ja commenta o caso do viuvo com aquella mocinha que cuidou da rabugenta defuncta: “O velho entrou numa esparrella!” Fingindo se importar com quem oitenta ja tem e rejeitou a parentela, a moça o papparica e se sustenta às custas de apparente bagatella. O velho tem poupança, todavia, mas logo não será tão muquirana. Alem da magra apposentadoria, lhe toma a expertalhona toda a grana. Será tarde demais quando algum netto do typo que se illude e que se enganna achar que seja herdeiro predilecto dum velho que diziam ser sacana.
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DISSONNETTO PARA UNS ASSASSINOS MIRINS [1790] Mactaram a pauladas a velhinha. Os assassinos? Doze, treze anninhos. Disseram que era “p’ra roubar gallinha” e appenas lhe fizeram “uns carinhos”. Acharam-na ja morta em casa. Tinha os ossos affundados. Os vizinhos ouviram-na gritar, mas, como vinha da casa um som de radio, taes gritinhos… “P’ra mim a velha estava era cantando!” “Meninos tão pequenos…!” “São do bando que assalta fazendeiros por aqui…” “Tamanha crueldade nunca vi…” Enterra-se a coitada. A creançada, appós curta “passagem”, ja na estrada, com outra velha cruza, que sorri, sympathica, vaidosa até de si.
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DISSONNETTO PARA UMA PACIENTE NAS ULTIMAS [1867] A thia, moribunda, está internada. Tem como herdeiro um unico sobrinho que, sempre a visital-a, attende a cada pedido da velhinha, com carinho. Traz flores, traz biscoitos… E a coitada, feliz e aggradescida, dá um beijinho molhado em sua mão, que ja lavada está, mal sae do quarto o rapazinho. Vocês ja vão saber do que se tracta… Na noite do appagão, o joven entra no quarto e, emquanto a velha se concentra na caixa de bombons, solta da latta a aranha! A aranha grande, enorme, ingrata, a gigantesca aranha, que caminha por cyma da coberta! Si a velhinha do susto excappa, qual veneno a macta?
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DISSONNETTO PARA OS AMIGOS DO JOVEN [2029] Com fama de maluco: assim me pincta o joven aos amigos. Eu, que sinto saudades da visão agora exstincta, motivo sou de riso e baixo instincto. Rastejo, dos infernos ja no quincto, perante esses rapazes, aos quaes trinta anninhos são velhice. O labyrintho dum cego é diversão que se requincta! Commentam: “Cego otario!” E dão razão ao joven, que se gaba do tesão que goza ao ser meu mestre e meu juiz, curtindo si me sinto um infeliz. Foi Deus quem deu ao joven a chibata, dizendo: {É todo seu! Abuse, batta sem dó, pois ficou cego porque Eu quiz!} E escutam-se risadas juvenis.
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DISSONNETTO PARA UM PERIPAQUE SEM DESTAQUE [2099] No quarto do motel, o velho exhala um ultimo suspiro: o comprimido tomado foi demais para quem galla ja nem tem no colhão, que está rendido. A pobre prostituta ainda falla: “Vovô! Que foi? Accorda!” Addormescido, porem, elle jamais irá escutal-a, tampouco dar ouvidos a Cupido. Chamada a portaria, alguem accorre e encontra uma menina, ‘inda de porre, tentando despertar uma carcassa que dessa noite tragica não passa. Nenhum policial se surprehende com mais esta occorrencia, que não rende siquer noticia nova para a massa que curte nos jornaes qualquer desgraça.
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DISSONNETTO PARA UM ALLOPRADO APPOSENTADO [2682] Fui louco. Resolvi tomar juizo. A edade vem chegando, e ja não sou aquelle masochista que chupou caralhos e escutou do macho o riso. Pezões, desde o mais sordido ao mais liso e limpo, este ceguinho supportou na lingua. Si massagens hoje dou, é só porque o assumpto ‘inda pesquiso. Num mundo tão ingrato e tão cruel, eu fui, talvez, o cego mais masoca, e ja desempenhei o meu papel no circo, no presidio ou na malloca. Ja pude ser, das fodas, menestrel. Então, é natural que eu queira, em troca, um pouco de sossego, si o bordel da exquina ao meu dever não me convoca.
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DISSONNETTO SOBRE UMA VELHINHA CONSERVADA [2951] Duvido que você só tenha vinte anninhos! Mais paresce ter septenta! Olhando mais de perto, a gente tenta fazer idéa, e vinte é puro accincte! Eu, oculos? Menina, olhe, é o seguinte: você, mais um pouquinho, nem aguenta! As rugas, essa pelle macilenta… Não dá! Nem que use mascara, ou se pincte! Talvez phantasiada de vovó você conquiste alguem, minha menina. Mas acho que você vae ficar só. Irá mofar, parada alli na exquina. Quem quer você? Não, só si for bocó! Eu mesmo, sessentão, não me fascina mulher tão velha assim! Tenho até dó do ratto que explorar sua vagina!
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SEM DÓ DA VOVÓ [3531] Recebeu a violenta bofetada, que lhe estalla na bochecha, mas aguenta, pois se sente na senzala. Abboccanha a ferramenta do machão, para chupal-a, appesar de achar nojenta sua azeda e espessa galla. A mulher, que elle maltracta, ja nem pede que não batta: soffre, appenas; soffre e mamma. Do destino nem reclama. Vão-se os annos, e ella ao netto conta tudo. Este ouve, quieto, e depois goza na cama, a sonhar com essa trama.
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COMMUNIDADE DE ULTIMA GERAÇÃO [3551] Ao moleque, só interessa contemplar, para a punheta, o que a praia exhibe à bessa: madurões de sunga preta. Com a camera, attravessa toda a areia, a ver, cheireta, os senhores que essa peça vestem, ja sem camiseta. Photographa os mais grisalhos, do mais integro ao mais punga, e os carecas, seus caralhos gorduchinhos sob a sunga. No seu quarto, elle os desfructa: perde o follego, cafunga ante as photos e as permuta com quem desse olhar communga.
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CONFLICTO DE GERAÇÕES [3572] Um moleque sempre é mau e cruel quando se aggruppa. Si abusar puder, babau! Muito adulto se preoccupa. Quem ao ultimo degrau se rebaixa, a turma “estrupa”, e o ceguinho encara um pau: “Adjoelha, velho, e chupa!” Quando um cego está à mercê dum pivete que bem vê, vae sentir no labio um thallo que paresce de cavallo. E o garoto ainda ri: goza dentro e faz chichi, sem tirar, para zoal-o e curtir mais um regalo.
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A VOLTA DO MOTTE DO MARIMBONDO [3661] Marimbondo, vespa, abelha… a familia é variada, mas, num poncto, se assemelha: lamber coisa assucarada. A vovó, cuja vermelha chota coça, exparramada no sofá fica. Pentelha por alli quem não quer nada: Solitario, o pobre insecto se enredou naquelle nó: sem seu doce predilecto, de si mesmo sentiu dó. Sem nenhum pudor se expondo, se virou como elle só: “Foi morder o marimbondo a boceta da vovó.”
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ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL [3935] Mas foi uma jararaca, essa velha! Agora pena, desde o dia em que, na maca, foi levada… Triste scena! Quem se vinga da velhaca paralytica é a pequena netta, a sós com ella: attacca a vovó sem dó nem pena! É cruel, essa creança? Um descompto ainda eu dou. Não será sua vingança contra alguem que a maltractou? Si, de rodas, na cadeira dando aquelle triste show eu a vejo, algo me cheira, mas julgal-a é que não vou!
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O CAUTO CAUSO DO VELHO GAITEIRO [4145] O velho, de aggasalho Adidas justo demais, sae pelo shopping à procura das moças. Quer olhal-as, só, por pura, platonica paixão… Mas causa susto. Sim, susto: ellas se assustam, pois a custo tão grande rolla cabe alli, sem dura estar e, si enduresce, quasi fura a calça, quando o velho admira um busto. Curioso fica aquillo, dia cada, mas nada que se saiba, todavia. Ninguem pode impedil-o: não fez nada de errado. Mas commentam… Quem seria o cara? Aquillo intriga a mulherada. E gasta bem, nas compras, elle! Um dia, alguem o vê sahir, descendo a escada rollante, dum rapaz na companhia.
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O VIÇO DO VICIO [4197] Que posso eu esperar do meu caralho, si nunca tomar quero comprimido algum para erecção e me decido, sem falta, à mão direita dar trabalho? Nem quero imaginar! Sempre que eu falho, ja fico preoccupado! Que a libido às vezes diminue, eu sei, pois lido com lyra pornographica, à qual calho. Nas horas de impotencia, fica tão cahido, tão mollenga, este pingente, que temo não voltar mais meu tesão, ainda que, insistente, eu sempre tente. A coisa não funcciona só na mão, pois, quando um gorgonzola provo, urgente se torna meu desejo: o chulezão desperta logo o vicio novamente!
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SEM VIÇO NO SERVIÇO [4198] Caralho que, no punho, não viceja por causa dum estimulo, revela problema de erecção… si alguem appella à pillula, normal é que assim seja! Recuso-me, porem, a achar que esteja a picca tão cahida que algo nella não cause novamente aquella bella e viva rigidez que lhe sobeja! Bastante é que dum queijo eu prove o cheiro de mofo, que nos lembra a suja meia, e volta ao pau o viço costumeiro! De novo fica a picca na mão cheia! De novo o pincto sinto por inteiro! Portanto, está provado: o que tonteia alguns e os desaggrada, é prazenteiro estimulo que, noutros, vae na veia!
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PARAPHRASE DE SONNETTO SOBRE UM CONTO DE THIAGO BARBALHO [4531] Os velhos não teem tempo, mas nós temos. Teem medo, mas de skate, em turma, andamos bem rapido e não temos. Nós fallamos em giria e, tattuados, somos demos. Na bronha elles, frustrados, em extremos comnosco se imaginam: somos amos; escravos elles, nossos, e mandamos que chupem, no cu delles nem mettemos. Meu tennis mais gastei que um andarilho. Só temos dezesepte, elles septenta. No escuro, os olhos delles teem um brilho de cego que nos chupa e nos sustenta. Maldades commettemos: não me humilho, mas elle sim, na sola poeirenta do tennis, como um pae lambe o do filho. É nossa geração a mais marrenta.
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PARCERIA NA LAVANDERIA [4590] Dois velhos se lamentam. O primeiro, casado com mulher mais moça, chora: “Eu morro de ciume! Ella me adora, mas sempre eu desconfio… Sou cabreiro…” O amigo acha o contrario: {Até do cheiro da minha roupa está minha senhora pensando mal! Ciumes tem, agora, até do meu chapéu, do meu isqueiro!} Um diz: “Quanta canseira! Que diacho!” Diz outro: {Vae ficando complicado…} Estão de accordo: “Sabe o que é que eu acho? Melhor é nós tomarmos mais cuidado! As duas andam junctas… Falta um macho…” {Tambem acho! Só fico preoccupado que saibam, affinal, do nosso cacho… Nos falta mais mulher do nosso lado…}
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RAPIDO REPARO [4790] Está trocando a lampada, trepado num banco, o zelador. Quem o chamara lhe fica ao lado e perto chega a cara do tennis encardido e detonado. É um velho morador, que, alli do lado, disfarsa, finge estar olhando para a lampada. Podolatra, essa rara e breve chance curte, enthusiasmado. Fingindo se abbaixar para pegar alguma coisa, o velho quasi encosta a cara no pisante de que gosta demais da compta: a chanca cavallar. O cheiro que elle arrosta é duma posta de peixe podre! Pouco vê durar aquelle feliz jeito de alcançar seu ecstase: se accende a luz… Que bosta!
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MELHOR EDADE (1/10) [4811/4820] (1) Masochismo differente pode um cego supportar. Basta, em summa, que elle aguente um sadismo salutar. Como assim? É, certamente, o que irão me perguntar. Eu explico, vehemente, pois meu caso é um exemplar. É normal ter medo a gente de addentrar um ambiente onde alguem quer torturar. Mas prazer qualquer um sente si um ceguinho obediente, entre amigos, se mostrar. (2) Em familia, em sociedade, todo mundo ser amigo apparenta, ou ser confrade: de offender não ha perigo. Nesta sadica cidade, succedeu assim commigo. Tal theatro, nem a Sade occorreu, é o que lhes digo. O marquez extranharia que a tamanha putaria um ceguinho se prestasse. Coito oral se sophistica, hoje, e um cego chupa picca de quem dupla tem a face.
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(3) Um collega, ou mesmo um primo, um discreto e bom vizinho, são pessoas que eu estimo e me estimam, com carinho. São poetas com quem rhymo. Com taes homens bebo vinho. Delles ganho, ou algum mimo, ou algum riso excarninho. Só depende do momento. Si um extranho, mesmo attento, observar, não nota nada. Entre a gente, todavia, basta um gesto de ironia e entendi como ordem dada. (4) Tenho um pacto com quem queira desfructar da fellação que quem vive na cegueira fazer sabe em quem é são. Meu bom senso ja se inteira dessa sadica intenção si alguem chega e, de maneira reservada, abre a questão: “Então, Glauco, estou a fim de que um cego, para mim, sirva como chupador…” {Sim! Só peço que você, como a sorte é de quem vê, ironize a minha dor…}
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(5) {Verbalize, no momento em que eu chupo, seu prazer de poder ver, a contento, toda a scena, ao me foder…} “Com certeza, Glauco! Attento estarei si, em meu poder, estiver você! Não tento fingir dó! Como é bom ver!” Com franqueza dialogo e responde elle. Assim, logo em seguida, eu me adjoelho. Para fora da braguilha tira o penis, e me humilha, quem chegou, velho ou fedelho. (6) Ja chupei um velho, por varios mezes. Preferia minha bocca esse senhor por achal-a bem macia. Meio molle, é de suppor, tinha a rolla. Mas crescia si da lingua, ao seu dispor, eu mostrava a serventia. Um caralho que deixava na cueca a urina, escrava quer que a bocca de alguem seja. Eu, com calma, fiz que sou bom escravo, e elle provou que um velhote não se peja.
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(7) Tinha, alem de filho, netto e um vovô bem carinhoso parescia. Bem discreto foi, commigo, pois, seu gozo. Um fedor azedo, infecto, da cueca vinha. O edoso, sem ainda estar erecto, ria: “Chupa ahi, Mattoso!” De joelhos, a cabeça eu baixava… Que ammollesça um pau desses, normal é. Mas a bocca, quando é cega, de excital-o se encarrega e elle exporra, bisa, até. (8) Com ninguem mais o velhote gozo egual ter poderia. Mas, num cego, caso bote fundo, um velho se sacia. Si receia alguem que enxote seu tesão, recolhe e exfria o caralho. Nesse dote qual mulher beijos daria? A calhar, portanto, veiu um ceguinho que, no meio das visitas, nem se nota. Quando a salla dessa gente se exvazia, elle se sente à vontade e o pau me bota.
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(9) Outro dia, ao telephone, commentou elle: “Me sinto mais cansado…” E se addicione annos nisso, o quarto ou quincto. “Sabe, Glauco? Um panettone no Natal, um vinho tincto, nem, talvez, eu prove… Um clone eu queria ter no pincto… Mas ainda, quando penso que me chupa um cego, immenso prazer tenho… Isso se explica?” Eu respondo: {É natural! Quem visão tenha normal, sempre enxerga, erecta, a picca…} (10) E, animado, o velho diz: “Tem razão, Glauco! Ver bem deixa a gente mais feliz! Razão nisso você tem… Sabe, Glauco? Quando eu fiz me chupar, você, que, sem me ver, tudo fez que eu quiz, entendi o tesão que vem… Meus defeitos você não reparava, si a visão que lhe falta é mal mais grave… Foi por isso que eu fiquei de pau duro e, feito um rei, desfructei sem ter entrave…”
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FICHA CAHIDAÇA (1/3) [4898/4900] (1) Aos septenta, ella accredita que uns encantos ‘inda tem. Foi mulher muito bonita, mas agora… Pensar nem! Sae à rua, apprompta, agita, attenção chama de alguem. Mas retorna à casa, afflicta por sahir-se nada bem. Da mulher ninguem tem dó: foi chamada de vovó e até velho della ri. Affinal, como fez Hebe, que é senhora ella percebe e, sensata, cae em si. (2) Mais gagá, porem, está a mãe della, viva ainda. É difficil, mas… Será que tambem se julga linda? Não, é claro! A vovó ja se tocou. Mas é bemvinda si visita outro gagá, que paixão lhe exhibe, infinda. O viuvo continua com tesão, e sae à rua: assanhado, apprompta, agita. Quando encontra a velha, diz: “Quer sahir? Vamos!” Feliz, ella pede que repita.
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(3) Namorando os dois estão, a mãe della e esse senhor ja senil, mas com tesão de rapaz… Constrangedor! Ciumenta, com razão, fica a filha, é de suppor, si por esta todos dão nada, ao menos em favor. Chega, um dia, à mãe a filha e se queixa: “Si alguem pilha a senhora e elle, no flagra?” A velhinha, surda, falla: {Hem? Meu gatto? Elle tem mala sempre prompta! Usa Viagra!}
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ABBRAÇO SUADAÇO [5063] “Só quero um filho delle e que elle exporre bem rapido!”, a modello pensa, anxiosa, emquanto é penetrada. Quasi goza o velho astro rockeiro, ja de porre. A moça se preoccupa. “E si elle morre de tanto se exforçar?”, repensa. E posa de groupie, de tiete, de gostosa, banhada no suor que delle excorre. Fez tudo que podia: abboccanhou aquillo que ja fora dura tora, passou em volta a lingua. Ja chupou aquella rolla molle, que demora bastante a endurescer. Ja deu seu show. Agora a vez é delle. A hora, agora, é desse dinosauro, que suou no palco e, exhausto, a abbraça. Brocha e chora.
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TARA QUE REPARA [5272] Quem usa, cuida. Alguem que vive o dedo ponctudo dirigindo, em riste, para os outros, apponctando-lhes na cara seus podres, se incrimina, tarde ou cedo. Quem usa, cuida. Affirmo e nenhum medo de errar tenho. O velhote, cuja tara por bunda de mulher jamais foi rara, accusa, e assim revela seu segredo: “Detesto, mas não posso ser ommisso! Que escandalo! Esses moços, hoje em dia, só ficam de olho grande em cyma disso! Só querem ver bumbum! Que putaria! Eu acho isso um horror! Não desperdiço meu tempo com trazeiros! Não seria melhor olhar a cara? É o que eu cobiço, até porque bumbuns não beijaria!”
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DISSONNETTO DUMA SENHORA QUE MONITORA [5330] Uma velha afflicta fica quando, alli no predio, algum molequinho mostra a picca na janella, algo commum. Ella enxerga mal, mas rica collecção juncta, desde um telescopio a uma impudica, cara camera, com zoom! Accreditem, que eu não minto! Um moleque não se sapha quando a velha o photographa exhibindo o duro pincto! O desfecho ja presinto e uma coisa eu logo noto: a velhinha, olhando a photo, satisfaz o seu instincto.
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SONNETTOS DUMA LOIRONA QUE SE APPAIXONA (1/3) [5497/5499] (1) Dá licções a vida! A bella loira adora ver alguem dependendo della. Appella para o charme e se sae bem. Os rapazes da cadella são escravos. Ninguem tem peito para fazer della o que um velho a fazer vem. Quando a loira advista o cara que, tão myope, nem repara na belleza della, pira! Se appaixona, alli, na hora! E o velhote pulla fora! Não paresce, até, mentira? (2) Que será que viu a linda mulher nesse velho escroto? Ninguem tinha visto ainda tal paixão! Fosse um garoto… O subjeito acha bemvinda a attenção daquelle broto, mas nenhum rapaz deslinda o motivo: elle é canhoto! Tem a loira verdadeira obsessão por quem não queira usar sua mão direita. Da mulher a maior tara é levar tapa na cara com a esquerda… Que subjeita!
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(3) No começo, o velho nem reparava na coitada. Mas, agora, todos teem a certeza: elle a degrada! Masochista, a loira vem rastejando. O velho brada: “De joelhos! Muito bem!” E lhe lasca a bofetada! Depois disso, a loira chupa, mas ninguem la se preoccupa com a bocca da cadella. Todo mundo só commenta como a vida é pirracenta com quem tira sarro della.
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UM SATYRO SATYRIZADO [5508] Diz elle que comeu todas, um dia. Talvez tenha comido, mesmo. Agora, porem, bebendo todas, elle chora, saudoso dum orgasmo e duma orgia. Quem delle falla e os podres denuncia é sua ex-namorada, uma senhora lettrada e liberada, que namora, agora, um medalhão da academia. Ferina, a poetiza pincta o seu ex-caso como um typico gagá, que as calças emporcalha, um mau Romeu. Manchado de chichi, de facto, dá vexame o garanhão, que bem comeu mulheres como aquella bruxa má, na chota, na boccarra, por traz, eu certeza tenho, pelo que ouvi, ja.
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IMPOTENTE PREPOTENTE [5889] Quem quer uma abstinencia sexual impor a toda a turma adolescente, ainda que se diga casto ou crente, ser cynico precisa, sem egual. Não pode ser polygamo nem, mal se livra da terceira mulher, rente que nem pão quente, estar perdidamente cahido pela quarta, a mais fatal. Tampouco pode, quasi nos septenta, fazer vasectomia, a fim de dar aos outros impressão dum exemplar marido, pae, machão que ja se aguenta. Qualquer um que abstinente virar tenta no minimo terá que masturbar seu penis noite e dia, caso o azar não tenha de ser brocha, alem de penta.
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VIVA VOVÓ [5899] Achavam que ella, a Wilma, ja gagá estava. Pois onde é que ja se viu senhora tão gentil tornar-se vil e má com seus escravos? Alguem ja? Occorre que ella mestra foi, será de sadicos, masocas, de quem riu da dor alheia, como quem, servil, serviu alguem que duras ordens dá. Pessoalmente, Wilma nem paresce cruel dominadora. Na verdade, cultiva affectos, busca na amizade a mesma devoção da pia prece. Zeloso, torço para que não cesse de ser quem tantos homens persuade a serem bons discipulos de Sade. Tão magica vovó não envelhesce.
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MEME DA MÃE DO PUNK [6014] Madura. Ja passada ficará. Accorda. Sem kosmeticos, vermelho é o olho approximando-se do espelho. Irá se preoccupar. É para ja. Bem sabe que remedio ja não ha. De sua mãe nem segue mais conselho algum. Pensa no filho, um rapazelho gaiato, gozador da avó gagá. Sem cremes nem pinctura, ella se vê mais velha e se appavora com o seu cabello arrepiado. Mas cadê aquella formosura que ja deu? Deu motte aos sonnettistas. Caso o dê ao filho, um cantor punk, ahi fodeu! Moleque, em seu estylo bem plebeu, o gajo da mamãe faz um auê.
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MISCELLANEA DYSFUNCCIONAL [6035] Casaes escondem tudo num escudo bem simples e decente. Eu não me illudo. Nas rodas, só fofoca a mulherada accerca de, na cama, quem aggrada. Ao macho, não bastou ser caralhudo, pois delle espera a femea mais que tudo. Se queixa a mulher delle: o camarada, que duas dava, agora não dá nada. Damnada ficou ella. Se gabava, até para as vizinhas, do marido machão, que da mulher fazia escrava. Seu phallo de cavallo anda cahido. Pudera! A cara della, onde se aggrava a acção do tempo, é caso ja perdido! No macho, quando vejo cara brava, daquellas apparencias eu duvido.
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JUNHO VIOLETA [6097-B] Glaucão, eu sou mais velho que você, mas, como masochista, aguento cada offensa! Sou refem da molecada daqui! Sim, essa mesma, a do rollê! Hem? Gerontophobia? Não! Cadê que irei denunciar, si lhes aggrada zoar com gente edosa? Si porrada me derem, mammarei como um bebê! Appanho, sim, mas gozo na punheta, depois! Me exporro neste molle pincto! Entende então, Glaucão, como me sinto? Você mais gozará, caso se metta com elles! Zoarão com o cegueta! Apposto que, em seu pau, mesmo que exstincto o poncto de erecção, um quarto ou quincto orgasmo ‘ocê terá! Não, não é peta!
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PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682] Morrendo de desejo, um senhorzinho daquelles que dizemos “assanhado” chegou-se para o lado dum “sarado” rapaz que elle encontrou pelo caminho. O joven, que bebera muito vinho no coppo dum avô ja sepultado, até deu attenção, sem desaggrado, ao velho, que leval-o quiz ao ninho. Assim que percebeu as intenções eroticas do velho, o rapagão lhe disse que sentia, tesão não, mas pena, até por intimas razões. Ahi, pediu-lhe o velho: “Si tu pões teu pé nas minhas mãos, ellas serão suaves como o tennis teu no chão!” E então teve o rapaz novas licções.
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CORNOS CORONEIS [6695] Mas esses coroneis, poeta, não se emendam! São é cornos mesmo, mas insistem em mostrar qu’inda teem gaz e querem porque querem ter tesão! Tesão que, na verdade, exhibição appenas se revela, pois quem faz papel de macho é mesmo o tal rapaz, por nome Ricardão, sempre em questão! Mulheres de politicos são ja manjadas: as “modellos”, euphemismo de puta que, por cynico modismo, se “casam” com um corno marajah! Assim a banda toca, assim será por seculos e seculos! Mas scismo commigo que, no sadomasochismo, taes donas escravizam o gagá!
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BROCHA DE GALOCHA [6763] Um velho? De pau duro, mesmo? Mas… Não é possivel, Glauco, pois ninguem, depois de septentão, de facto tem tesão, como si fosse ‘inda rapaz! Os machos só se gabam, mas em paz deixaram seu caralho siquer sem tentar uma punheta, assim que vem a phase de impotencia mais tenaz! Na lenda sempre insistem! Aos septenta, ninguem mais enduresce seu caralho! Você não corrobora? Acha que eu falho na analyse e trepar ainda tenta? Você ficou tão chato! Quem aguenta um cego que quebrar o proprio galho consegue só lambendo o que, em frangalho, eu calço, cujo cheiro lhe enche a venta?
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EXAME DE FEZES [6916] Passei! Passei, Glaucão! Comi cocô na frente da platéa! Que vexame! Agora ja passei no meu exame de fezes! Sou maluco paca, pô! Difficil foi, sim! Filme bem pornô daria aquella scena! Até madame estava a assistir, Glauco! Não reclame quem queira ser doidão como o vovô! Ah, cara! Aquelle velho foi pirado! Eu, perto delle, viro um mero pincto! Ao menos, orgulhoso ja me sinto de estar no patamar desse cagado! Sim, elle de cabeça pendurado foi dentro da privada! Não, não minto! Um dia, cara, ainda mais requincto a scena! Numa fossa affundo, a nado!
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VEZEIRO CADEEIRO [7052] Sim, Glauco, o meu avô, que no papel usou Chico Coelho, foi chamado por seu diffamador, cabra saphado à bessa, de Chichi Cocô! Que fel! Mas isso não foi nada! De Miguel o velho nem se fez! De seu aggrado foi essa alcunha! Ah, não! Não me degrado assim, Glaucão! Sou muito mais rebel! Papae se envergonhava delle, creia! Sim, quando perguntado, respondia vovô que de jogar-se na bacia sentia até vontade! Coisa feia! Mas eu me divertia, pois ja cheia de merda a cara delle, certo dia, deixei, a seu pedido! Porcaria seu fracco sempre fora, na cadeia!
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PÉ DIABETICO [7086] Ficando vae, aos poucos, insensivel o pé dum diabetico, Glaucão? E quando umas lambidas dá, no vão dos dedos, alguem, elle acha que é crivel? E então? Elle accredita estar num nivel tão baixo quem lambeu, num nivel tão rasteiro, que na borda do dedão até sente prazer? Isso é possivel? {Sim, isso coincide com aquillo que conta quem curtiu, num pé ja bem inchado, o que um podolatra fez, sem o minimo pudor, para servil-o! A lingua do subjeito, sem vacillo, lambeu até ferida, das que veem a quasi gangrenar! Tem que ser zen quem lambe tantos velhos num asylo!}
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GERONTOPHILIA [7087] Entendo quem, Glaucão, jovens procura, um mytho cultivando da beldade, da porra adolescente! Não, quem ha de tal gosto questionar, a esta altura? Mas velhos eu prefiro! Na madura edade, não! Gagás! Com mais edade que o tal Mathusalem! Sim! Que me aggrade, só velhos bem caducos! Tara pura! Não posso fazer nada si prefiro rheumaticos, banguelas, carequinhas, pés todos deformados… São as minhas manias, Glauco! Fico louco! Piro! Por vezes, dá seu ultimo suspiro o velho si transamos, mas tu tinhas que ver as piccas molles que, justinhas, na minha bocca cabem! Eu deliro!
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COCÔ NO PIPI DO VOVÔ [7236] Chupei, sim, e depois de ser por traz fodida! Mas ganhei muito presente! Ganhei um bumbum novo, um novo dente! Agora tenho muito mais chartaz! Amigas ja me invejam, Glauco, mas mais velho não quizeram ter cliente! Azar dellas! Rirei de quem invente fofocas! Zombarei das linguas más! Concordo que engoli muito cocô grudado no caralho que chupei! Mas era a minha merda! Chuparei de novo o meu “papae”… ou meu “vovô”! É minha a bocca, porra! Até pornô filminho fazer podem! Qualquer gay o mesmo faz bastante, isso bem sei! Você ja fez tambem, que é cego, pô!
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MOTTE GLOSADO [7266] Potencia de velho accaba onde a do moço começa. Só mesmo o pagé, na taba, pode mais que um curumim! Em termos de pingolim, potencia de velho accaba! Differente, ‘inda mais braba, a zica do cego é peça pregada e, si elle tropeça, a moçada ri na exquina! Sua alegria termina onde a do moço começa!
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MICÇÃO CUMPRIDA (1/6) [8074] (1) Queixava-se o velhote de infecção nas vias urinarias. Se tractava fazia tempo. Nada, todavia, aquillo resolvia duma vez. (2) A todos lamentava-se. Razão lhe davam. “O problema mais se aggrava por causa dessa dor. Nada allivia!”, dizia. Da pharmacia era freguez. (3) Comtudo, o velho tinha diversão, fallava-se. Risada sempre dava em pappo occasional na padaria, no bar, com dois amigos ou com trez. (4) Foi visto conduzindo um cego. “Tão christão, tão charidoso!”, commentava o povo. Mas ninguem alli diria que fosse tão cruel na sordidez. (5) Do cego o velho usava, com tesão, na rolla porcalhona a bocca escrava. Fazia que chupasse puz, fazia que tudo elle engolisse, sem porquês. (6) Pergunta-se: por que o cegueta não pedia por soccorro, não chamava ninguem, nem a policia. A covardia se explica si masoca for, talvez…
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IMPOTENTE PLATONISMO [8499] Na praia, o senhorzinho fica olhando de longe a mulherada, todo dia. Nenhuma vae dizer que elle a assedia. Jamais dos machos juncta-se elle ao bando. O velho tem desejos. Porem, quando se sente incommodada quem p’ra thia ficou, elle cae fora. Não iria ser chato. Se tocou e foi andando. Não sou como esse velho. Não commando meus passos na cegueira. Só queria ver chatas, largas lanchas. Mas quem ia deixar-me vel-as? Fico desejando. Só vejo pelo tacto. Mas no brando exame dos meus dedos não confia ninguem que tenha chatos pés e fria tem sido a reacção delles, negando. Não quero lhes propor nenhum nefando peccado, ora! Appalpar eu não podia pezões taes? Não entendo tal phobia! Meresce um cego carcere quejando?
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SUMMARIO [1] ETARISMO NO SADOMASOCHISMO DISSONNETTO PARA UMA HILARIA FAIXA ETARIA [2213].....10 NEVER TRUST ANYONE OVER THIRTY [5566].......................... 11 SEPTENTÕES [6377]..........................................................................12 O SADISMO DO OLHO (1/2) [4523/4524]........................................13 GEMMAS DO CINEMA (1) [4033].....................................................16 EM SCENA SEM PENA [6775]..........................................................17 INCORRECTA EDADE PROVECTA (1/2) [8057]............................19 [2] SEXAGENARIO REPERTORIO DISSONNETTO DESSEDENTADO [0738].....................................21 DISSONNETTO DA LUXURIA [0832]............................................. 22 DISSONNETTO DO PREÇO DA BANANA [1296]......................... 23 DISSONNETTO DO COCHILO TRANQUILLO [1546]................ 24 DISSONNETTO DO PAPPO DE BAR [1606].................................. 25 DISSONNETTO PARA UNS ASSASSINOS MIRINS [1790]........... 26 DISSONNETTO PARA UMA PACIENTE NAS ULTIMAS [1867]... 27 DISSONNETTO PARA OS AMIGOS DO JOVEN [2029]................ 28 DISSONNETTO PARA UM PERIPAQUE SEM DESTAQUE [2099]............................................................................. 29 DISSONNETTO PARA UM ALLOPRADO APPOSENTADO [2682]..................................................................... 30 DISSONNETTO SOBRE UMA VELHINHA CONSERVADA [2951].........................................................................31 SEM DÓ DA VOVÓ [3531]................................................................. 32 COMMUNIDADE DE ULTIMA GERAÇÃO [3551]........................ 33 CONFLICTO DE GERAÇÕES [3572].............................................. 34 A VOLTA DO MOTTE DO MARIMBONDO [3661]....................... 35 ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL [3935]................................ 36 O CAUTO CAUSO DO VELHO GAITEIRO [4145]......................... 37 O VIÇO DO VICIO [4197].................................................................. 38 SEM VIÇO NO SERVIÇO [4198]....................................................... 39 PARAPHRASE DE SONNETTO SOBRE UM CONTO DE THIAGO BARBALHO [4531]............................................................ 40 PARCERIA NA LAVANDERIA [4590]...............................................41 RAPIDO REPARO [4790]................................................................... 42 MELHOR EDADE (1/10) [4811/4820]............................................... 43 FICHA CAHIDAÇA (1/3) [4898/4900].............................................. 48
ABBRAÇO SUADAÇO [5063]............................................................. 50 TARA QUE REPARA [5272]................................................................51 DISSONNETTO DUMA SENHORA QUE MONITORA [5330]... 52 SONNETTOS DUMA LOIRONA QUE SE APPAIXONA (1/3) [5497/5499]................................................................................. 53 UM SATYRO SATYRIZADO [5508].................................................. 55 IMPOTENTE PREPOTENTE [5889].............................................. 56 VIVA VOVÓ [5899].............................................................................. 57 MEME DA MÃE DO PUNK [6014]................................................... 58 MISCELLANEA DYSFUNCCIONAL [6035].................................... 59 JUNHO VIOLETA [6097-B]............................................................... 60 PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682].................................................61 CORNOS CORONEIS [6695]............................................................ 62 BROCHA DE GALOCHA [6763]....................................................... 63 EXAME DE FEZES [6916]................................................................. 64 VEZEIRO CADEEIRO [7052]........................................................... 65 PÉ DIABETICO [7086]...................................................................... 66 GERONTOPHILIA [7087]................................................................. 67 COCÔ NO PIPI DO VOVÔ [7236].................................................... 68 MOTTE GLOSADO [7266]................................................................ 69 MICÇÃO CUMPRIDA (1/6) [8074].................................................... 70 IMPOTENTE PLATONISMO [8499]................................................71
São Paulo Casa de Ferreiro 2023