GELÉA DE ROCOCÓ

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GELÉA DE ROCOCÓ SONNETTOS BARROCOS



GLAUCO MATTOSO

GELÉA DE ROCOCÓ SONNETTOS BARROCOS


Geléa de rococó: sonnettos barrocos © Glauco Mattoso, 2022 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022 142 p., 21 x 21cm ISBN: 85-87515-02-0 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA Originalmente publicado em 1999, este foi o terceiro volume da trilogia iniciada naquelle anno pelo livro CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS, seguido por PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS. Todos sahiram pela collecção "Livros do Cão" do sello Sciencia do Accidente, editado por Joca Reiners Terron. A trilogia inaugurava a producção poetica de Mattoso na phase cega, que comprehende milhares de sonnettos e centenas de mottes glosados, alem de madrigaes, limeiriques, trovas, haikais e outras estrophações. Neste volume os sonnettos eram numerados de 223 a 333, como apparescem na catalogação geral do archivo OPERA INSOMNIA. Commentarios mais detalhados estão no final desta edição. A numeração das notas corresponde à dos sonnettos. Outro adspecto peculiar desta edição reside na reestrophação de muitos sonnettos, com dois versos addicionaes e tercettos transformados em quartettos, processo que justifica a designação de "dissonnetto". Aquelles que não foram dissonnettizados tiveram seus quattorze versos compactados numa unica estrophe.



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DISSONNETTO COMESTIVEL [0223] Ha coisas que se comem por costume e algumas que são gosto pessoal. O queijo fedorento é natural, mas todos acham mau o odor do estrume. Ninguem nega nas fructas o azedume. Na conna, só o tarado acceita o sal. "Cock-cheese" é o tal sebinho prepucial. "Toe-jam" é o chulezinho com volume. Só mesmo o americano p'ra dar nomes tão bons a um paladar desse quilate! Embora alguns eu, cego, não accapte, ao menos satisfazem minhas fomes! O nosso "guaraná com chocolate" é merda masochista, quanto aos comes, e mijo, quanto aos bebes. Que tu tomes, de todos, egual parte. Deu empatte.

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DISSONNETTO POSOLOGICO [0224] Alguns poetas querem fazer notas p'ra decodificar a poesia. Accabam produzindo theoria, chamando seus leitores de idiotas. Rastreiam referencias mais remotas e nunca se sustentam, todavia. Pôr bulla em poesia é má mania de gregos que se dizem polyglottas. Si são mesmo tão bons de explicação, por que não se dedicam ao ensaio? Commentem os versinhos dum grandão e deixem de rodeios! Mas que raio! Aquelles que me leram saberão: mais vezes me traduzo, mais me traio. Poema com legenda é um palavrão. "Caralho" é um rodapé para "caraio"!


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DISSONNETTO INEXORAVEL [0225] Belleza na mulher chega a ser chata, de tão obrigatoria que se faz. Perfidia não lhe fica nada attraz, pois quanto mais bonita mais ingrata. O joven julga a perfida uma gatta, mas ella acha um cachorro o seu rapaz. Comtudo, o tempo nunca a deixa em paz e a face da velhice ja tem data. Ser feio é mais vantagem. Quem o é ja fica como todos vão ficar, com todo o cacoethe, todo o esgar: a cara, velha ou não, do jacaré. A bella, si tiver nariz no ar, um dia vê no espelho o rosto até mais feio que o do bruxo ou do pagé. Só resta a vassourinha p'ra voar.

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DISSONNETTO A WILMA AZEVEDO [0226] A thia da Thiazinha é dona Wilma, que é vil e má no typo que creou, mas boa, quasi casta, como sou no olhar do Cineasta que nos filma. Foi e o não mas

ella personagem de charisma sadomasochismo inaugurou, como actriz pornô, de "X" ou show, nesta infensa imprensa, um outro prisma.

Virou dominadora e foi madrinha de todas as libidos sem baptismo, de todas as feições do fetichismo, da dor à adoração, inclusa a minha. A seducção do sadomasochismo tornou-a consultora, a fez rainha daquillo que resumo numa linha: victoria do tesão sobre o cynismo.


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SONNETTO ALTISONANTE [0227] Barulho é o que se faz na poesia, de dentro para fora do poema. Si não for ruidoso o proprio thema, a forma desaffina a melodia. Si um atonal virou monotonia, resolve-se na critica o problema. É só polemizar, com tincta extrema, si a pança deve estar ou não vazia. A fome, ultima instancia do organismo, define o decibel do bello artistico, que vae de zero a dez em activismo. A coisa se resume neste disticho: Mais pinctam de fatidico um abysmo, maior seu interesse e grau turistico.

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SONNETTO METALINGUISTICO [0228] Um causo na memoria se me grava. Collega meu na eschola era um gordito branquello e carequinha, mas bonito. Pyrolitho Salgado se chamava. Seu nome quer dizer pedra de lava, mas pode ser tambem meteorito. "Pirólito", mas nunca "pirolito", sinão o cara ja mandava à fava. Um dia, a sós com elle, perguntei si o pae era um astronomo erudito. "Que nada! Delegado! Elle é da lei!" Então improvisamos um districto, fingi ser um detento e lhe chupei o pincto auctoritario até o palito.


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SONNETTO INCONSUTIL [0229] Si alguem 'inda rejeita metro e rhyma, ou crê na obsolescencia do sonnetto, ao vate alagoano é que o remetto: ninguem menos que o meu Jorge de Lima. Aos treze sonnettava, tudo em cyma. Ao modernismo adhere de pamphleto. Mas, decadas depois, como commetto, de novo dos quattorze se approxima. O caso é que o sonnetto permanesce accyma das marés, que veem e vão, [vêm] tal como si no céu sempre estivesse. É um poncto que illumina a escuridão, e não, como o cometa, algo que desce ou passa, vanguardando a occasião.

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SONNETTO "TÉQUINICO" (I) [0230] Reflecte a inflexão do "X" no verso, comptada como syllaba. Assim quiz. Portanto, o som dum "ex" vale "equis" no rhythmo brazileiro em que converso. Da mesma forma, é "rítimo adiverso", mas nunca "rimo averso" que se diz. Si for no meio termo, como fiz, às vezes um "submerso" é "subimerso". A decisão é minha, soberano que sou do meu sonnetto, como um rei. Aqui não dicta o critico Fulano. Aqui nunca confesso quando errei. Appenas justifico meu enganno, pois quanto mais practico, menos sei.


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SONNETTO MAJORITARIO [0231] Mengão ou Coringão, qual a torcida mais roxa e numerosa do paiz? Do verde o que seria, assim se diz, si fosse do amarello a preferida? Governo, opposição, qual a medida que vae quantificar tantos brazis? A voz que vem das urnas contradiz a popularidade reduzida. Por mais que façam fé nos fans uffanos, o facto é que a torcida corinthiana não é maior que os anticorinthianos. Quanto ao poder, o povo não se enganna. Errado vota até por muitos annos. Um dia, o sacco cheio vence a grana.

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SONNETTO SELECTIVO [0232] Trez partes são mais sujas nos humanos: o rabo, a rolla e o pé. Sinão, vejamos: O rabo fede aquillo que cagamos. A rolla mija, exporra e mancha os pannos. Abboccanhar um pau, lamber um anus é coisa porca e chan, reconhesçamos. Porem o pé tresanda o que suamos, na terra pisa e causa varios damnos. Na cara do inimigo é desafforo. Na lingua dum escravo é punição. Seu cheiro fere o aseptico decoro. Impõe-se a machiavellica licção: Mais faz da humilhação humana o foro o pé. Depois, cunnette e fellação.


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SONNETTO SONNETTADO [0233] Ja li Lope de Vega e li Gregorio, pois ambos sonnettaram do sonnetto, seara na qual minha foice metto, tentando fazer algo meritorio. Não quero usar o mesmo palavrorio, mas pilho-me, no meio do quartetto, montando a anatomia do eskeleto. No oitavo verso, o allivio é provisorio. Comptagem regressiva: faltam cinco. Mais quattro, e fico livre do problema. Agora faltam trez... Deus, dae-me affinco! Com dois accabo a porra do poema. Caralho! Só mais um! Até ja brinco! Gozei! Mactei a pau! Que puta thema!

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DISSONNETTO CONFESSIONAL [0234] Amar, amei. Não sei si fui amado, si amor jurei a alguem que eu odiara e a quem amei jamais mostrei a cara, de medo de me ver posto de lado. Odeio si tambem sou odiado. Devolvo o que se jura e se declara, mas quem amei não volta, e a dor não sara. Não sobra nem a crença no passado. Palavra voa, escripto permanesce, ou "Verba volant...": era certo, emfim, aquelle adagio vindo do latim. Escripto é que nem odio, só envelhesce. Si serve de consolo, seja assim: ainda que odiar eu mais quizesse, amor nunca se exquesce, é que nem prece. Tomara, pois, que alguem reze por mim...


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SONNETTO CONVICTO [0235] Não pensem que pretendo renegar aquillo que em sonnetto tenho escripto. Posar de arrependido, de contrito, é poncto a que jamais quero chegar. Bocage e Kafka occupam seu logar ainda que "Me rasguem!" tenham dicto. O meu logar, minusculo, restricto, ficou 'inda menor appós cegar. Portanto, palmo a palmo, é meu terreno, do qual não abro mão nem na agonia, malgrado todo o torpe e todo o obsceno. Palmilham-no outros pés, minha mania. No verso pode ter metro pequeno. Na lingua, não se exgotta nem se expia.

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SONNETTO DEGENERADO [0236] No verso sapphico, Delphino é dez: "Da fronte à curva dos teus pés gentis". Faz no Parnaso o mesmo que hoje fiz, "Beijando as curvas dos teus lindos pés". Prefiro o heroico, sem grilhões, galés, mas sou forçado à punição feliz de rebaixar estes meus labios vis a pés mais reles, nas crueis ralés. "Achar na cova dos teus pés a cova", diz o Poeta, entre dois ais coitados. Mas sua musa é moça linda e nova: "Os seus pés nus, os seus dois pés nevados"; Ja meu escopo é quando a lingua escova o pó do couro em borzeguins surrados.


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DISSONNETTO INSUBORDINADO [0237] Assucar, oleo e sal não va comendo! Reduza! Vote! Pague! Não se attraze! Não falle palavrão! Não erre a crase! Assigne! Ligue ja! Venha correndo! Aos medicos meu gosto nunca prendo. Não chego a ser do contra, mas sou quasi. Colloco algo vulgar em cada phrase. Ao preço do commercio não me vendo. A desobediencia é uma sciencia, mixtura de coragem e de medo, de força de vontade e de arremedo: exige livre arbitrio e paciencia. Às vezes é melhor fingir que cedo. Mas trepo, mesmo em phase de impotencia, inverto os papeis, só por persistencia, e, quando a foda é longa, gozo cedo.

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SONNETTO COMMENSAL [0238] Fiscaes sophisticados acham chique usar proparoxytono na prosa. Chiquerrimo no verso, como a rosa, o accento é espinho e espera-se que pique. Semiramis, rainha em nome fique. Persepolis, cidade fabulosa. Penelope,uma esposa esperançosa. Podolatra, não ha tropo que explique. Quem faz do verso heroico uma muralha bem sabe que na torre está o segredo: na sexta o accento tonico não falha. Comtudo, o que dá graça ao meu brinquedo é pôr uma penninha que attrapalha: cenaculo regado a vinho azedo.


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SONNETTO CONCENTRADO [0239] Nas travas da chuteira ja rallei a lingua torcedora e retorcida depois duma dramatica partida de varzea, onde um Pelé pellejou rei. Suburbio é futebol de futil lei: "vantagem" é seu nome, e se appellida "do cão", porque não latte, e sua mordida castiga o perdedor menos Diney. A bolla antigamente era de meia, mas hoje é uma cabeça deceppada. Cappar, outra jogada que campeia. Comtudo, o estuprador não perde nada. Aquelle que escreveu, agora leia! Na cella ganha e leva na pellada.

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SONNETTO BARROCONCRETO [0240] Sylvicolas cultivam terra aguada. Ar puro, mar azul, fartura quente. O verde accolhe os olhos e, silente, desdobra-se na syllaba molhada. A matta a vaga allaga, e la se nada. Na grotta sobra a luz sobrevivente. Da guerra brota a cruz da nossa gente. Brazil, assim a missa sella e brada. Semeia o grão, a prole, até a colheita. Rebanhos cria, accorda proletario. Saqueia, pilha e dorme. Come e deita. Nascente, um affluente, um tributario. O rio polluido, a paz suspeita. O traço de Brazilia, agreste aquario.


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DISSONNETTO ENSAISTICO [0241] Chamemol-a de phase iconoclasta, à minha poesia antes de cego. Pinctei, bordei. Porem não a renego. Forçou-me a invalidez a dar um basta. A nova não é casta, nem contrasta com velhas anarchias. Só me entrego ao pé, onde em sonnetto a lingua exfrego. Chamemol-a de phase podorasta. Mas nem por isso é menos transgressiva, siquer certezas traz a quem duvida. Impõe-se um paradoxo na medida da forma e da thematica obsessiva: Na universalidade presumida, ainda quando o thema não captiva, egualo-me a Bocage, Botto e Piva. Ao cego, o feio é bello, e a dor é vida.

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SONNETTO GLAUCOMATOSO [0242] Barroco é uma charada cuja chave depende da veneta do freguez. Vendendo alguma dose de talvez, compõe a pauta toda só com clave. Glaucoma é uma ocular molestia grave, vendetta original de Quem nos fez. Queimar ou torturar com a torquez ao morbo comparado, é mais suave. Requincte é uma palavra que bem calha a Góngora, Quevedo ou Torquemada, na formula forjada na fornalha. Bem antes que a visão se torne um nada, as cores do arco-iris formam malha concentrica na noite illuminada.


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SONNETTO PHOTOGENICO [0243] Na photo, os pés augmentam de tamanho. Melhor que o close, está o primeiro plano. Da bota a sola, o salto, o bicco, o cano paresce familiar, e o rosto, extranho. Desmaiam-se, amarellam-se as de antanho, posadas, retocadas, e o decano, no centro do seu clan, juncto ao piano, empina seu nariz e prende o ranho. Do anonymo ao escandalo, é um instante. Ja fui petrificado pelo clique de lingua num solado, no flagrante. Mas Janio, mais famoso, talvez fique (um pé p'ra traz mas outro para deante) num album dos devotos do alambique.

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DISSONNETTO PRODIGIOSO [0244] Quem sabe o maior merito de Homero foi ter feito o que fez sem ter visão. Si Borges, Adheraldo ou Lampeão fizeram, vou fazer tambem, espero. Zarolho ou cego, não quero ser mero passivo espectador da occasião. Verei o que videntes não verão. Si sabios não souberam, eu supero. Beethoven era surdo, e foi maior! O grande esculptor nosso era sem mãos! São genios tantos mudos cidadãos! Perder não é dos males o menor! Abbaixo estou de todos meus irmãos. As pechas que meresço sei de cor. Que o mais peccaminoso sou peor. Meu trumpho é só não ter dois olhos sãos.

[trunfo]


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SONNETTO PENITENTE (I) [0245] Em Africa, o regime do xadrez obriga o prisioneiro à fellação. Segundo a fonte escripta, a allegação é ver privado um homem da honradez. No carcere angolano ou sudanez chupada dá direito a refeição. Se alegra o carcereiro de plantão e diz que adjoelhar um macho fez. Bandido perigoso engasga e sente o gosto da justiça na saliva. Engole, revoltado, o exguicho quente. De volta à rua, caso sobreviva, descompta sobre a victima innocente. Perdura assim a signa vingativa.

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SONNETTO INCONTINENTE [0246] Sonnetto é o mundo inteiro em pouco espaço, mas, para os mais laconicos, prolixo. O gosto é variado; o metro, fixo e amante deste oxymoro me faço. A prosa pesa, empilha um calhamaço. Concisas poesias são prefixo. Somente no sonnetto gravo e mixo começo, meio e fim, no exacto laço. Qualquer historia, fabula ou idéa comporta enunciado num sonnetto, da simples anecdota a uma epopéa. Appenas dois assumptos, eu prometto, não cabem no sonnetto: a diarrhéa e o pé, mas porque sobram, não por veto.


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SONNETTO CONJUGAL [0247] Aqui só vae ser eu quem manda e gosta! Você, que é menos macho, accapte ou morra! A sua esposa engole a minha porra! Você bebe meu mijo e come a bosta! Ninguem mandou você perder a apposta! Agora pague o pato, acceite a zorra! Mulher p'ra mim não passa de cachorra! O macho cae de quattro ou cae de costa! Commigo não tem dó nem piedade! Aquelle que não faz o que eu exijo ou morre ou appodresce attraz da grade! Não sou da lei, mas meu regime é rijo! Casal é puta e corno, meu cumpade! A femea engole a galla e o macho o mijo!

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SONNETTO CONJUGADO [0248] Não faça isso commigo, por favor! Honrado sempre fui, mas não de briga! A minha esposa vae chupar sua viga, mas eu não sou mictorio ou cagador! Perdi porque não sou bom jogador! Não basta a sorte má que me castiga? Agora 'inda sou victima da intriga que aquella doida faz de mim, Doutor! É pelo amor de Deus que lhe supplico! Fazer um cara honrado beber mijo, sabendo que a mulher ja paga o mico, é dose! De pensar eu ja me afflijo! Lhe imploro, não me faça de penico, pois ella lhe dará mais regozijo!


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SONNETTO CONJUGE [0249] Estou desesperada, mas, no fundo, aquillo ja esperava accontescer. Marido como o meu tinha que ser, um dia, lambe-cu de vagabundo. Perdeu, e me tornou mulher do mundo na mão dum parasita do poder que, agora, minha bocca vai foder e a delle encher com algo mais immundo. Bem feito para mim, peor pro corno. Vou ter que chupar rolla de folgado, mas meu marido soffre mais transtorno: Na bocca elle é mijado, até cagado, e ainda vae pagar um bom suborno p'ra não cahir na mão do delegado!

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DISSONNETTO ILLUMINISTA [0250] Voltaire disse que nunca concordava com nada que você queira dizer, mas que defenderia até morrer o seu direito ao uso da palavra. Emquanto a Inquisição fere, excalavra e queima vivo quem ousa descrer, defende o bom sacrilego o prazer do livre-pensador, labuta brava. Ironico destino esse que pega na teia de argumentos racionaes saphados peccadores, sobre os quaes recae missão egual à de quem prega! Feliz fatalidade essa que faz da duvida a certeza de quem nega, da lucida polemica a fé cega de que as opiniões são deseguaes!


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SONNETTO QUANTITATIVO [0251] Centenas de sonnettos são legado de nomes tidos como monumentos. Appenas de Camões, mais de duzentos, registro que é por poucos superado. Não fossem os Lusiadas o dado que faz delle o primeiro entre os portentos, ainda assim Camões marca outros tentos e, entre outros tantos, este é consagrado: "Septe annos de pastor", o vinte e nove, que, si não for mais bello, é o mais perfeito, a menos que em contrario alguem me prove. Mas, como dois é dom, trez é defeito, tambem um "Alma minha", o dezenove, occupa egual logar no meu conceito.

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SONNETTO QUALITATIVO [0252] Repito que um é dote, dois é dom, mas trez ja é defeito, tenha dó! Camões fez "Alma minha" e o do Jacob: Terceiro é mui difficil ser tão bom. A tanto 'inda accrescento, alto e bom som: Fallar de sentimento, por si só, não faz de nenhum verso um pão-de-ló, nem themas de bom tom são só bombom. Fazer sonnetto às pencas, outrosim, não dá patente maxima a ninguem, nem livra alguem do nivel do ruim. Fiquemos no bom senso, que mantem a media de dois bons, até p'ra mim, que, perto de Camões, sou muito aquem.


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SONNETTO A RENATO RUSSO [0253] Embora original, genio, perito, do nosso rock um raro uyrapuru, vivia ensimesmado e jururu, talvez por não ser grego nem bonito. Entendo a sua angustia e o seu conflicto, meu idolo, meu martyr, meu guru! Causou você, primeiro, um sururu; depois, tristeza, e então calou seu grito. Respeito quem é triste, ou apparenta. Os outros grandes brincam: Raul, Ritta, ou cospem mera raiva barulhenta. Cazuza tambem brinca, mas medita. Arnaldo Antunes testa, experimenta. Renato faz da dor a dor: maldicta!

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SONNETTO ENDEREÇADO (AO REMETTENTE E AO DESTINATARIO) [0254] Respostas são melhores que perguntas. Exemplo: "De pensar morreu um burro!"; Algumas teem mais força do que um murro. Bom mesmo é dar as duas coisas junctas. Pessoas imprudentes são defunctas mais cedo. Quando posso, adjudo e empurro cova addentro. Me chamem de casmurro, mas não tolero criticas bestuntas. Quem me chamar daquillo que não sou vae ter! Disse o que quiz? Agora escuta! Bem feito! Ficou puto? Quem mandou? "Bichona", eu digo, é o verme cuja grutta é o cu da sua mãe, e que passou p'ra sua lingua, seu filho da puta!


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SONNETTO RECORDISTA [0255] Duzentas e cincoenta e cinco peças é producção em serie, mas appenas um "quasi", comparado a trez centenas, comtanto que em sonnetto, só, me meças. Refiro-me ao auctor do molde dessas trezentas dedicadas, não a Hellenas, Marilias, Beatrizes ou morenas anonymas, amadas meio às pressas, porem à tal de Laura! Que feições seriam tão divinas, si ella abbarca tamanho patrimonio de paixões? Persigo, só no numero, essa marca. Depois de superar a de Camões, terei que superar a de Petrarcha!

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SONNETTO ENGAIOLADO [0256] Os passaros povoam a visão idyllica dos bardos inspirados: pardaes e sabiás resabiados; o melro, o rouxinol, canoro ou não. Algumas outras aves tambem são tetéas dos poetas nestes lados: jandayas, assuns pretos, que, furados seus olhos, mais bonito cantarão. Arrulhos e trinados e gorgeios povoam os ouvidos dos poetas. Os não sentimentaes estão é cheios! A mim, são preferiveis as discretas: coruja, por exemplo, ou uns mais feios: um pato, um urubu: pé chato e infectas.


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SONNETTO "TÉQUINICO" (II) [0257] Castilho e Said Ali ficam na moita: Dalli não sae coelho nem licença. Que bem me importa! Sou quem mais dispensa a bençam de quem me acha a penna affoita. Exemplo disso é a metrica mais douta, que vê no "até uma" até uma grave offensa, regrando que "é" com "u" não se condensa e que macho com macho não pernoita. Pois sabem duma coisa? Si preciso, eu viro a mesa e faço do meu verso o pé com que na lingua chuto e piso! Levei ja em compta o "b" de "submerso"; No caso das vogaes, o som é liso: Por isso, em vez do hiato, fiz o inverso.

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SONNETTO DESFRUCTADO [0258] Viuvas são mulheres sem caroço, maduras, descascadas, ja servidas, promptinhas para serem degluttidas na farta sobremesa dum almosso. Eximias cozinheiras, nada insosso lhes passa pela mão de tantas lidas. São optimas nas optimas comidas e pegam no pesado, do mais grosso. As uvas estão verdes, mas as peras, maçans, bananas, mangas e laranjas, no poncto, ja transbordam das fructeiras. Portanto, nymphetinha, tu que exbanjas teu joven charme, nem de longe queiras chegar aos pés de quem me faz as canjas!


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DISSONNETTO A AMELIA E EMILIA [0259] Amelia era mulher, das de verdade: estoica, seu rapaz jamais trahira. Escrava do malandro e até do tira, não tinha, na canção, qualquer vaidade. Emilia era boneca com vontade: bem viva, embora fosse de mentira. O elencho todo em torno della gyra. No conto só se passa o que lhe aggrade. As duas são figuras caricatas, mas muito verdadeiras pelas zonas, ainda quando bregas ou cafonas: Amelias são princezas viralattas. Emilias, ordinarias mas Nem ouso usar de blefes Commigo todas ellas são Não ganho nem as manhas

mandonas. ou bravatas. ingratas: nem as connas.

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DISSONNETTO CONSTRUCTIVISTA [0260] De fora quem lê versos não vê pleno. Percebe a rhyma, só que, antes da dicta, exsiste metro, accento e uma restricta cesura que censura meu veneno. As rhymas O metro é O accento e a pausa

são as quinas do terreno. cada lado, está na fita. é o torreão de quem recita acha suspense em algo obsceno.

Tijolo é toda lettra, toda nota. O rhythmo se escandiu, de poncta a poncta. Vogal ou consoante, tudo compta e cada virgulinha ganha quota. Castello edificado, casa prompta. Nem tanta perfeição a gente arrocta, mas quando tem caralho, cu, chochota, a critica, que é vandala, o desmonta.


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SONNETTO MEXERIQUEIRO [0261] Velhinhas são terriveis quando em gruppo. Cochicham, fallam mal da vida alheia. Na mesa, antes do cha, depois da ceia, partilham seu muxoxo e seu apupo. Mas quando ellas gargalham, me preoccupo, pois sei que um ar em volta se empesteia. Allegam "solfejar", porem se leia "peidar"; e trocam "causos" sobre "estrupo". São todas de familia de italiano, por isso cantarolam tarantellas. Seus peidos teem fedor de gaz butano. Creança ainda, eu tinha medo dellas. Gagás, agora causam maior damno: É que solfejam rindo, as tagarellas!

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SONNETTO A LAURINDO RABELLO [0262] "Poeta Lagartixa", a alcunha dada ao typo magricella, grande herdeiro de Gregorio, Bocage, e pioneiro da glosa fescennina hoje cantada. "Um jumento pariu! (Pobre coitada!) Tem do Mattoso o rosto traiçoeiro..." Assim Laurindo põe Pedro Primeiro gerando outro bastardo, na piada. O motte "No cu porra não é festa!" glosou com anecdota de fanchono. O bardo é mesmo um "caba da mulesta"! O nome do Mattoso é de outro dono: Eusebio. Mas Laurindo um favor presta ao Glauco, que é seu fan. Bença, Patrono!


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SONNETTO A MAMA CASS [0263] Si magra é minha Sandra carioca, gordona foi Cassandra, outro tesão das minhas phantasias, que hoje são lembranças si a victrola, ao fundo, toca. Mulher o meu desejo só provoca si for ou varapau ou ballofão: oitenta ou oito; o meio termo não. Por isso a Mama Cass, morta, me choca. Um simples sanduiche nos privava, fatidico, entallado na garganta, daquella voz famosa, que não grava mais coisas como aquillo que me encanta: "Palavras de amor". Cass, você foi brava! Nenhum peso mais alto se allevanta!

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DISSONNETTO CORRIQUEIRO [0264] Andando de bengala na calçada, o cego passa em frente duma eschola na hora em que um inquieto rapazola tropeça-lhe na vara e esta é largada. O joven cavallão se desaggrada: na vara pisa, e o cego, como esmolla, que tracte de abbaixar-se onde está a sola, emquanto outros moleques dão risada. O cego appalpa o tennis do estudante. Só falta pôr a bocca sobre o couro. Offega e sente o cheiro do pisante. Que peso, o do vexame e do desdouro! Lhe passa pela mente nesse instante: Ja velho, tem seu dia de calouro. Não foi no Bandeirantes nem no Dante, mas vale o mau exemplo, o mau agouro.


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SONNETTO CURVILINEO [0265] Volutas, cornucopias, arabescos, broqueis e filigranas de ouropeis torneiam e emmolduram tons pasteis em circumvoluções, croquis momescos! Os capiteis corinthios e os affrescos não cabem mais na poncta dos pinceis, nem servem de parametro aos cinzeis as porcas dos miolos desses frescos! É muita veadagem pro meu gosto! O estylo flamboyant tem seu valor, va la um capitonado num encosto! Mas tudo em caracol? Faça o favor! Recuso-me a partir do presupposto que Deus é bicha, esculpe, ou é pinctor!

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52 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO RECTILINEO [0266] O verso decasyllabo é perfeito exemplo geometrico da linha que vae de poncto a poncto, esticadinha no trilho, como um rio em recto leito. Assim, tambem o cego está subjeito à bussola instinctiva, que adivinha a justa direcção em que caminha, qual gatto equilibrado em parapeito. Character e excreção tambem são rectos. A honra leva o honrado ao suicidio, mas pode ser herdada por seus nettos. No caso do intestino, lembra o ophidio. Estica-se ou se dobra, e seus dejectos são obra, como a cobra, do dissidio.


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SONNETTO SANDUBA [0267] Anonymo famoso, o trovador do sonnetto inventor só se equipara ao Lord Sandwich, que bollara recheio entre fatias, pão com cor. Variam no formato e no sabor: verduras, carnes, molhos, gemma, clara. Depende do pendor de quem prepara. São optimos no frio ou no calor. Hamburger, submarino, "xis", bauru, beyruth, americano, hot-dog, salame, mortadella, queijo cru. Você que se embebede ou que se drogue! Meu vicio, alem do pé, tesão tabu, é "sandubamania"! Catalogue!

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54 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO TRAMBIQUEIRO [0268] Bandido, scelerado, meliante, pirata, buccaneiro, bandoleiro, corsario, flibusteiro, pistoleiro, falsario, plagiario, actor, farsante, mentor, capanga, cumplice, mandante, ladrão, sequaz, comparsa, quadrilheiro, facinora, assaltante, thesoureiro, banqueiro, vigarista e tutti quanti. Prefeito, magistrado, malfeitor. Jagunço, deputado, edil, supplente. Um estellionatario, um senador. O vice, o candidato, o pretendente. O correligionario, o estuprador. O Papa, o dictador, o presidente.


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SONNETTO A SAPPHO [0269] Poeta, poetiza, actor, actriz. Em Lesbos, Parahyba masculina, verbera do amor grego a voz divina na musa, semideusa, irman, matriz. Depois de mares, seculos, brazis, Paraguassu, Bartyra, Leopoldina, a Xica, a dona Bêja, a nordestina, Florbella Espanca, ca como em Paris. As que não desejaram, desejadas, scientes ou então à revellia, se tornam fadas, dadas, camaradas. Na terra da ancestral philosophia rarissimas poetas são sapphadas. Milhares de mulheres, hoje em dia.

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SONNETTO A DERCY GONÇALVES [0270] Recusa-se a morrer. Não morrerá. Talvez caricatura, a sua vida, vestal, velha vedette travestida, inverte o que o pariu p'ra puta va. Vae ser a cybernetica babá de toda meninice reprimida. Ninguem faz saturnal si não convida a nossa sideral gueixa gagá. Mostrou a perereca da vizinha appenas p'ra alegrar a garotada. Com ella é pau no cu da carochinha! Poz cada palavrão numa piada. Passou. Não passará. Brilha sozinha. Estrella d'Alva, salva da alvorada.


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SONNETTO ELECTROMNIBUS [0271] O trollebus antigo me encantava. Creança, via nelle a magestade. Silencio no motor. Velocidade. No fio, o chifre é agulha que allinhava. De frente, parescia cara brava. No parabrisa, o olhar: severidade. A porta samphonada: o povo invade. Cappota arredondada: calvo estava. De traz, a janellinha eram narinas no meio do focinho dum leitão: symmetricas, estreitas, pequeninas. Ja não exsiste mais o tal busão. Os trollebus de agora são vitrinas quadradas num caixote de lattão.

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SONNETTO A FERNANDA MONTENEGRO [0272] Millôr fallava della com respeito. Passei a respeital-a de antemão. Millôr fallou, é lei, preste attenção. Fernanda se supera no perfeito. Foi, desde "A fallescida", em meu conceito subindo, polymorphica ascensão. Até na machinal televisão solenne e natural, seu proprio jeito. Fui vel-a no theatro. É verdadeira. Inspira carinhosa intimidade. Paresce a mãe, a thia, uma enfermeira, aquella professora... Que saudade! A grande dama é nossa, brazileira. Que bom! Que "Bravo!" seu Brazil lhe brade!


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SONNETTO BELLICO [0273] As armas, munições, armazenadas são muitas vezes mais sufficientes para extinguir da Terra seus viventes e continuam sendo fabricadas. Revolveres, canhões, fuzis, granadas, torpedos, misseis mis, bombas potentes, [sic] festim, ballas Dum Dum, cartuchos, pentes, martellos, foices, paus, facões, enxadas. Romanos, que eram bons de guerra e paz, disseram: "Si vis pacem, para bellum." Paresce que os modernos vão attraz. Não quero exaggerar no parallelo, mas quanto menos ronda a bota faz, mais folga obstentará o pé de chinello.

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SONNETTO PACIFISTA [0274] Appellos pela paz são commoventes. Paresce até que toda a raça humana ou quasi toda, unanime, se irmana na firme opposição aos combattentes. Campanhas e cruzadas e correntes envolvem muita midia e muita grana, mas nada se compara à força insana do genio armamentista em poucas mentes. Pombinhas, flores, nada disso importa na hora da parada militar, si acharmos que o perigo batte à porta. A fim de protegermos nosso lar, deixamos que haja tanta gente morta, mas não aqui: só la, noutro logar.


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SONNETTO PRISIONEIRO [0275] Um odio entre dois povos ancestraes levou à guerra. Agora estão em paz. Conservam, todavia, algum rapaz servindo, em captiveiro de animaes. Eunucho, olhos furados e, addemais, os dentes extrahidos, elle faz fellatio como só elle é capaz, chupando do inimigo os genitaes. Gengivas que masturbam sem tracção. A lingua ja treinada em titillar. Garganta que supporta a irrumação. Conhescem algum caso similar? Dispenso-me de dar confirmação, mas quasi penso em mim, sem vacillar.

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SONNETTO OBSCURO [0276] Nuances do purpureo no crepusculo. O musgo suaviza o duro muro. Profundo tom de céu, do azul mais puro, logar vae dando ao lume nu, minusculo. Recluso, illustra o bruxo seu opusculo, um lugubre resumo do monturo de tudo que ha de sujo, de perjuro, e, lubrico, vê tumido seu musculo. Masturba-se no escuro do cubiculo e grunhe, guttural, quando ejacula. Ablue, meticuloso, o cu ridiculo. Procura, em vão, do unguento alguma bulla. Consulta, somnolento, num fasciculo a formula da pillula que engula.


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DISSONNETTO DA CHUPETA [0277] Bandido, quando nasce, ninguem vê escripto na testinha o que será. Baptizam-no, aliaz, como xará de Ruy, Ravel, Rimbaud, Rambo, René. Descartes, deschartado, ninguem lê. Rambinho exsiste, logo pensará. Assado, ganha um tapa da babá: Talquinho na bundinha do nenê! Gugu! Dadá! Cadê papae? Fugiu! Appanha do padrasto. Leva vara. Appanha dos moleques, si vae para a rua. Vae p'ra puta que o pariu. A Lampeão, larappio, se compara. Na mão da bandidagem ja cahiu. Mactou. Foi p'ra prisão. Mammou pipiu. Marmanjo, chora. Pau no cu do cara!

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SONNETTO A SALVADOR DALI [0278] P'ra mim, Picasso perto delle é pincto. Qual cubo nem Guernica! O catalão poz fogo na giraffa, e dá licção de como você pincta como eu pincto. Relogios derreteu, deu ao recincto bagunça formidavel de illusão. Bigodes retorceu, e a posição do Christo subverteu: estylo extincto. Talvez, fez na pinctura o que Gaudi ergueu, phenomenal, na architectura: delirio, porem nitido. Não vi no seculo actual maior textura que o fructo da extranheza de Dali, o genio do ocular na cor. Loucura!


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DISSONNETTO A LEILA MÍCCOLIS [0279] Que tem de pequenina, tem de terna. Concentra em si um pouquinho da maneira de cada mulher brava brazileira: Pagu, Tarsila, Annita. Ella é moderna. Por decadas de lucta, ja governa o mundo alternativo, farta feira. Faz arte, em vibrações de feiticeira: Assim é Leila Míccolis, eterna. Respeito a seus direitos ella cobra, tremenda dramaturga, actriz travessa. Ao bom comportamento é sempre advessa. À facil caretice não se dobra. A phrase lapidar dessa cabeça que lyrico talento tem de sobra é verso que resume uma grande obra: "Eu fallo do obvio, antes que me exquesça."

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SONNETTO A RAMOS DE AZEVEDO [0280] Não é do Martinelli seu desenho, mas fez duma cidade a felizarda: São Paulo deve a elle ter mansarda. Por isso aqui render tributo venho. Palacios e mansões do seu engenho sahiram. No seu tempo foi vanguarda, embora alguns sustentem que retarda da vaga modernista o desempenho. Faz da Casa das Rosas a revista, a synthese daquella architectura, franceza, neoclassica, paulista. Talvez alguma dose de mixtura, mas não ha forma pura que resista à miscigenação, nossa feitura.


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SONNETTO HILARIO [0281] O gaz paralysante entendo e explico. O gaz lacrymogeneo faz sentido. Porem o que me deixa extarrescido é o gaz hilariante e o pó de mico. Producto duma industria de milico, a cocega e a coceira teem servido ao dom de especialistas do prurido, e cresce, mais e mais, o seu fabrico. P'ra mim, é um desperdicio, pois dispenso maiores artificios pro meu riso. Basta descontrahir quando estou tenso. Peidar é tudo aquillo que preciso: me faz dar gargalhadas, porque penso na paz do olfacto alheio, que infernizo.

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SONNETTO POETICONOGRAPHICO [0282] A "poeticidade" decomposta "depoe da citi", ou seja, da cidade, coisa que Augusto fez com propriedade, pois é do cru concreto o que mais gosta. Meu bloco aqui colloco só em resposta ao Jomard, de Recife, esse confrade que vê na sua Veneza o bruto jade rajado, que craveja a nossa costa. Bebi do concretismo a poesia, que é liquida e se esconde attraz da pedra qual agua no sertão: Cabral sabia! A poeticidade jamais medra si não citar tambem cidadania, concreta qualidade: a mais paredra!


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SONNETTO COMICO-ICONICO [0283] Gibi tem poesia, mas poemas difficilmente cabem nos quadrinhos, debaixo dos ballões, como os anjinhos que, dentro das aureolas, põem morphemas. No "Fim", superheroes vencem. Não temas! "Emquanto isso..." os monstrinhos mais mesquinhos estupram as mocinhas dos mocinhos e tractam [Continua...] de outros themas. Hergé, Disney, Pichard, Crumb e Crepax. Doré, Goya, Debret e Percy Lau. Gaulezes versus Lex: Romana Pax. Panthera, Pernalonga, Piccapau. Medusas, Minotauros e outros craques. Mais dia, menos dia, vence o mau.

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SONNETTO VIRTUAL [0284] Installe. Accesse. Clique. Tecle. Agguarde. Dê. Mova. Chova. Salve. Seleccione. Carregue. Faça sol. Digite o phone. Visite o site. Não seja covarde. Você ja connectou, agora é tarde. Cahiu em meu poder. Sou Al Capone, de volta, virtual, icone, clone. É bom obedescer! Não faça allarde! Preste attenção, vou dar as instrucções: No tempo faça attraz uma jornada. Procure em Portugal um tal Camões. Prive com elle e traga deciphrada a formula do deca em diapasões. Quero patenteal-a formatada.


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SONNETTO MISERAVEL [0285] Discordo dos Titans quando elles cantam que é misera a miseria em qualquer cantho e a riqueza differe, um tanto ou quanto, conforme a fome e as mudas que se plantam. Pelo contrario, os ricos todos jantam champanhe e caviar, emquanto o pranto do pobre sempre encontra melhor manto em terras onde as vozes se levantam. "Ser pobre no Brazil é bem peor!", fallou a socialite illuminada, resposta ao presidente, o bundão mor. Tentando ser sympathico à camada mais baixa, o trapalhão jura de cor que ser rico é saccal, não tá com nada.

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SONNETTO ARGENTINO (I) [0286] Durante a dictadura de Videla, patota sequestrava o cidadão, mantido, clandestino, num porão. Alli, menina virgem é cadella. "Picana" ou fellação? A excolha é della. Pudica, excolhe o choque, mas em vão: seu corpo não resiste a uma sessão. Accaba supplicando o pau na goela. Quando ella chupa, ri o torturador e xinga a moça até de "pelotuda" porque prefere a picca em vez da dor. A porra jorra sobre a voz mehuda da pobre adolescente, cuja cor paresce 'inda mais branca, assim desnuda.


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DISSONNETTO UTOPICO [0287] No fundo, o grande sonho masculino é conseguir chupar a propria tora, coisa que o chimpanzé faz toda hora, e um homem tenta, em vão, desde menino. Seja porque seu membro é pequenino, ou porque o corpanzil não collabora, o facto é que o machão lamenta e chora o ironico, anatomico destino. A simples utopia, nua e crua, concentra na cabeça a acção que não é mais que soffrega autofellação, quem sabe a autophagia, que jejua. O jeito vem a ser masturbação. A mão eguala a bocca, a propria, a sua, e o sonho sensual se perpetua, emquanto a mulher crê que dá tesão.

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SONNETTO ARGENTINO (II) [0288] Alguem pensou que a timida mocinha manteve a virgindade? Nada disso! Depois de ser currada por mestiço (o "cabecita negra"), ella é gallinha. Escrava da patota, a loira "niña" se presta a todo typo de serviço: entrega a chota e o cu, chupa o linguiço, engraxa a bota e trampa na cozinha. Um dia, outra menina cae na cella e vira carne nova no pedaço. A loira ja não serve de cadella. Na nucha leva um unico "balazo". Assim a dictadura de Videla quebrou, de cabo a rabo, outro cabaço.


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SONNETTO SENSACIONALISTA [0289] Noticia de TV. Foi la no Ohio que o parta que o terror teve logar. A eschola de ceguinho, em vez de lar, virou, mais que prisão, tubo de ensaio. Menino alli transforma-se em lacaio. Appanha, come o rango sem usar a mão, e sem perdão tem de chupar dos sujos monitores o caraio. "Eu fui forçado ao sexo oral...", depõe um joven, quando o caso vem à tonna. A logica questão logo se impõe: Será que é só naquella eschola a zona? Que tal ver si um ceguinho aqui se expõe ao risco de virar uma bichona?

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SONNETTO TRIANGULAR [0290] O irmão da sua esposa é delicado mas timido, pois teme a lingua alheia. O macho, que é sacana, não bobeia: na ausencia da mulher, fode o coitado. Deitado no sofá, meio de lado, bombeia-lhe o caralho a bocca cheia. Depois, cochila, o pé ja sem a meia, molhado das lambidas do cunhado. Chegando do trabalho, a mulher acha o languido marido resomnando, TV ligada, e um cheiro cru de graxa. "Você tá ahi? Fazendo o que, Fernando?", pergunta ao mano, e este se despacha: {É a bota do Pezão. Só tô engraxando...}


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DISSONNETTO PERDULARIO [0291] O O O O Ao Ao Ao Ao

rei rei rei rei rei rei rei rei

de de de de de de de de

ouros explora garimpeiro. coppas cala-se, não falla. espadas pensa que me empala. paus é um grande punheteiro. ouros, eu roubo-lhe o dinheiro. coppas, meu saber se eguala. espadas, eu mactei a balla. paus, penetro-lhe o trazeiro.

O jogo de caralho é uma chartada certeira: quem errar segura o mico. Por elle é que mais pobre sempre fico. Nem sorte nem lisura valem nada. Não, nunca no casino fiquei rico. Appenas concretizo uma noitada. Embora seja um az da mão fechada, priapos crupiês eu gratifico.

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SONNETTO QUADRANGULAR [0292] Zezão Pezão foi mau na juventude. Agora sossegou, está casado. Ja era, garotinho, bem levado, affeito a estylingar bolla de gude. Crescido, se tornou cruel e rude. Calçou cothurno e, appós um "baptizado", da gangue dos Carecas foi soldado, fascista e intolerante na attitude. Quadrado é pouco para descrevel-o. Seu sonho é ver as bichas no trabalho forçado, revivendo o pesadello. A vida traz, porem, seu quebragalho: O irmão da sua mulher quebrou-lhe o gelo, e agora é fellador do seu caralho.


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DISSONNETTO POLACO [0293] Jerzy Kosinski conta sobre o jeito com que um bronco paizano pune o cara que sua linda esposa cobiçara: tirando fora os olhos do subjeito. Colher é o instrumento mais perfeito: nas orbitas cavoca, e assim separa os globos oculares duma cara. A vida sem visão não tem proveito. Kosinski diz que o cego, então, vagueia jogado pelos canthos, sem alento, de todos palhação, todo o momento, à sadica mercê dos maus da aldeia. Faltou dizer que alguem mais pachorrento, disposto a approveitar a cruel veia, resolve pôr o gajo na correia e usar-lhe a bocca em coito longo e lento.

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SONNETTO CIRCULAR [0294] Regina é céu em forma de menina: uma meiguice só, esbelta, experta. Ao conhescer Zezão, é coisa certa: será dum gigolô qual concubina. Com nome de casada ja se assigna. Na praça mantem firme a firma aberta. Em casa é puta, e tudo se accoberta. Zezão Pezão achou de ouro uma mina! Viver desempregado não é feio, si tem mulher dynamica no lar. Assim pensa Zezão, dando um passeio. Na cama, põe Regina em seu logar: de quattro, dando o cu, levando "reio" e usando a linda bocca p'ra sugar.


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SONNETTO A ERNESTO NAZARETH, ou SONNETTO DE UMA NOTA SÓ [0295] Paulinho da Viola, Pixinguinha: Por mais que os exaltemos, como eu vinha (são symbolos supremos do sambinha), forçoso é recuar até Chiquinha. No tempo em que a mulher, do lar rainha, transita entre a parochia e uma cozinha, Gonzaga quiz compor samba e marchinha e deu ao povo aquillo que não tinha. Porem é Nazareth quem se advizinha do genio pioneiro dessa linha e faz de seus maxixes campainha. O rico tinha a polka ou a valsinha. O pobre battucava, não convinha. Mas Nazareth refina a má farinha!


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SONNETTO RECTANGULAR [0296] Mulher independente é caso serio. Conflictos, frustrações, logo extravasa. Vae procurar amor fora de casa, na torta geometria do adulterio. Regina encontra o timido Rogerio, opposto do Zezão, de cuca rasa. Com elle sae. Na volta, ja se attraza. Marido ciumento... Tem mysterio. Desculpa facil, logica, é o trabalho. Zezão se despreoccupa. Quer Regina arreganhando a chota ao seu caralho. Regina faz papel de concubina. Rogerio é o namorado quebragalho. Zezão é tesão bruto, de botina.


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SONNETTO LATRINARIO [0297] Confesso-lhes que minha phantasia mais sadica e tambem mais excitante é pôr um inimigo na humilhante "prisão privada": a cara na bacia. Que tal? O vencedor se delicia sentado um palmo accyma do semblante daquelle que chafurda em tresandante tolete do intestino que exvazia! Alem de receber cocô na cara, que excorre-lhe nariz e bocca addentro, a victima está sob a minha vara. O vão entre seus labios vira o centro dum alvo que o xixi jamais sonhara! Mas gozo, e na cagada me concentro.

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SONNETTO PRESUFFRAGIO [0298] Veneza affundará? Grande questão! E Pisa? Cae? Não cae? Outra pergunta que às questões metaphysicas se juncta, levando o sonnettista à suggestão: Que tal chamar o povo à votação p'ra ver de que maneira a plebe assumpta um vasto questionario, em voz conjuncta, fazendo do futuro a previsão? Decide-se o porvir na maioria! Exemplo: o mundo inteiro delibera si accaba a americana hegemonia. Seria o limiar da Nova Era! O fim das incertezas, da agonia, principio da Utopia e da Chimera!


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SONNETTO PHALLOCRATICO [0299] Amigo meu quer ver a propria esposa transando com rivaes mais masculinos, mesma curiosidade dos meninos: um quer transar com outro, mas não ousa. O mesmo amigo usava pôr na lousa da classe e no banheiro uns fescenninos poemas e desenhos de pepinos, cenouras, mandiocas, tanta cousa! Perguntam-me quem era o tal amigo. São tantos! Não vou dar nome dum boi no meio da boiada... Então, não digo. O tempo de menino ja se foi, mas duvidas eguaes trago commigo: Por que moleques andam sempre a dois?

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DISSONNETTO BUROCRATICO [0300] Chartorios ja são feudo em mãos das filhas do escriba, do escrevente, do escrivão. Escravas dos archivos, ellas vão provendo de papeis polpudas pilhas. Carimbos, protocollos, estampilhas. Caixinhas no guichê jeitinho dão. Padrinho patrocina a certidão. Herdeiro perde parte da partilha. A quem interessar possa: o presente sonnetto, para todos os effeitos, tornou-se dissonnetto. Seus conceitos tramitam rubricados como "urgente". A mil emolumentos são subjeitos os criticos de voz maledicente que, nada mais havendo a tractar, mente. Sem mais. Dou fé. Reservam-se os direitos.


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SONNETTO DEMOCRATICO [0301] Você pode engannar a toda gente durante mezes, annos, certo prazo. Você pode engannar, num outro caso, um gruppo limitado, eternamente. O que não se permitte nem consente é alguem manter no mais completo attrazo, cagando em cyma, usando como vaso, populações de todo um continente. Paizes democraticos depuram, ou pelo menos devem depurar as falsas plataformas dos que juram. Obstenta a temptação de inaugurar a laia perdularia. Não perduram. Será? Mas ninguem pode assegurar.

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88 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO MARITIMO [0302] Viagem de Pessoa numa ode o leva a desejar-se prisioneiro na mão duma porção de marinheiro. A mente delirante tudo pode. Desculpe-me o leitor, não se incommode, mas vou mais longe, attraz do canoeiro que vive no archipelago, guerreiro que tem a satyriase dum bode. A tribu desse cara cata vivo, depois duma battalha, um inimigo. Tortura lenta é o fim do tal captivo. Pros vis gurys da aldeia, seu castigo vae ser divertimento primitivo. Soffrer isso em pessoa é o que persigo.


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SONNETTO TERRESTRE [0303] Extranha essa mania de quem macta a fome degluttindo terra crua! Não ha predilecção que a substitua nem previa providencia que a combatta. Chamou-se geophagia essa insensata tendencia primitiva, que recua ao tempo das cavernas, quando a lua pedia ao lobishomem serenata. Não chego a ser geophago, nem morro de amores pelo gosto da poeira. Tambem não fico uivando sobre o morro. Appenas me subjeito, na cegueira, a ser mais maltractado que cachorro, lambendo o pó dos pés da terra inteira.

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SONNETTO CELESTE [0304] O kosmo não me inspira qualquer pasmo, qualquer perplexidade ou maravilha. Até pelo contrario, é uma armadilha: tão rara a luz, e as trevas pleonasmo. Ja sei que vão chamar de iconoclasmo, mas minha voz de cego só estribilha que nada resplandesce nem rebrilha. Não ha no céu motivo p'ra enthusiasmo. Silencio, solidão, escuridão. A fim de ter a prova disso, basta sahir da Terra, esphera de illusão. Quem deste nosso fracco Sol se affasta me dá logo carradas de razão: A farsa do universo está ja gasta.


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DISSONNETTO ANGELICAL [0305] Não tive anjo da guarda, mas, emfim, só sou cego, não mongo ou surdomudo. Nem tudo vae tão mal assim... Nem tudo. Dos males o menor... Pobre de mim! Qual Gabriel nem Lucifer! Só vim ao mundo para esparro dum parrudo. Um cego não meresce como escudo siquer um cherubim ou seraphim! Tem Tem Tem Mas

gente que faz pacto com o Demo. gente que prefere ser do Pae. gente que qualquer um delles trae. eu não fico em duvida nem temo.

Quem tá por cyma um dia ainda cae. Quem tá por baixo irá ao opposto extremo. Me pisam, mas supporto e ja nem gemo. Com anjo ou sem, o cego em frente vae.

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DISSONNETTO PUTANHEIRO [0306] Putana, prostituta, marafona, rameira, pistoleira, meretriz... Alem do que o synonymo nos diz, exsiste uma perita em cada zona. Nem tudo na mulher é mera conna. Ha a bunda, o seio, a rotula, o nariz... Cliente mais exotico, feliz, a velha zona erogena abbandona. É o caso do podolatra, que quer o pé della na bocca, no seu phallo, qual fosse mesmo o casco dum cavallo, ou pôr seu pé na bocca da mulher. Do fetichista cego ja nem fallo, pois seu desejo não é pé qualquer e, ja que lambeção é seu mester, requer um com chulé, frieira e callo.


GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

DISSONNETTO PUNHETEIRO [0307] Si "circle jerk" é roda de punheta, ja fica desde logo demonstrado: brinquedo de gury não é quadrado. A mente dum adulto é que é careta. Pensando nos peitinhos, na boceta, mas vendo os colleguinhas lado a lado, menino com libido é complicado: bedelho mette em tudo, esse cheireta! Pentelho 'inda não tem, e ja maneja direito o prepucinho o tal pivete. Demonstra habilidade em seu cacete, expondo a cabecinha de cereja. Lembrar do pirolito e do sorvete é quasi que automatico. Que esteja promptinha a turma, ha duvida? Fraqueja um delles, e nos outros faz boquette.

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DISSONNETTO CHUPETEIRO [0308] A bocca que colloca a voz e o canto é a mesma que perpetra o mais nojento e torpe gesto humano, que eu enfrento nas trevas, entre o estupro e o proprio pranto. Tal acto é a fellação. Sabe Deus quanto um homem desce ao poncto onde me aguento! O penis me penetra cem por cento e ja nem sei si chupo ou si garganto! Paresço mentiroso, mas não minto e nunca tal versão facil desmonto. Embora a contragosto, vivo prompto a dar buccal prazer a qualquer pincto. Si julgam que é mentira, dou descompto e disso com vergonha nem me sinto: até o prepucio, sou eu que consinto; dalli ao coito fundo, augmento um poncto.


GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

DISSONNETTO BOCETEIRO [0309] Pequenos, grandes labios, um clitoris. Pentelhos. Secreção. Quentura molle, que envolve meu caralho e que o engole. Não saio até gozar, nem que me implores. Diana. Dinorath. Das Dores. Doris. Aranha. Taturana. Ovelha Dolly. Pelluda, cabelluda, ella nos bolle na rolla, das pequenas às maiores. Boceta exsiste só para aguçar a fome dos caralhos em jejum. Não, isso não é para qualquer um! Eu quero bedelhar, fuçar, buçar! Agora não me fallem do bumbum, siquer de gorduchões seios dum par, dos pés tampouco! Vou despucellar o buço dum cabaço, acto incommum!

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96 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO VANDALO [0310] Emquanto um engraxate, a contragosto, prepara-se p'ra mais uma engraxada, o gajo tira o pé da caixa usada e appoia-lhe o solado sobre o rosto. As costas tem de encontro ao tosco encosto do banco o commodista camarada. Ja a cara do engraxate está pisada. Só falta a lingua, então, sentir o gosto. O vandalo isso exige, pois o pobre, humilde serviçal enxerga mal e a vida ingrata obriga a que se dobre. A lingua faz serviço de animal até que nenhum grão de terra sobre. Mais vale ser um cão que maior mal.


GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

DISSONNETTO TANTALO [0311] Tormentos são momentos. Dor eterna é tão insupportavel quanto o gozo que nunca terminasse, caudaloso lençol abbastescendo uma cisterna. Não ha mal que não finde, nem interna pressão total do humor glaucomatoso. Um parto não é sempre doloroso. Nem sempre uma gangrena amputa a perna. A dor, como um orgasmo, é passageira. Não fosse assim, o corpo accostumava. O ferro em braza não fede nem cheira, a menos que se eguale à propria lava. Não sendo, pois, theatro ou brincadeira, sem duvida a tortura é nossa escrava, excepto em se tractando de cegueira, que, quanto mais perdura, mais se aggrava.

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98 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312] Em Roma se pagava p'ra cagar, mas hoje a taxação tem melhor nivel. O imposto sobre a merda é deductivel do grosso que teremos de pagar. Não ande em contramão, va devagar. As mulctas são pesadas, coisa horrivel! Ja não se tracta mais de "causa civel": "tributaristas" temos que tragar! O Harrison ja disse que a receita lhe deixa um só, retendo dezenove. Sacou ou não sacou? Gostou, my love? Achou sua parcella muito estreita? Da sua grana a fonte então comprove, sinão a mão em tudo ella lhe deita! Não é, gajo, uma machina perfeita? Só falta tributarem quando chove!


GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

DISSONNETTO TRAVESTI [0313] Chamar de "transformista" não explica. Chamar de "drag queen" nunca falla exacto. A explicação se encontra alli, bem no acto, pois no logar da conna está uma picca. Hormonios, silicone, tudo indica a feminilidade no seu tracto. Talvez algo maior seja o sapato, mas no conjuncto pouco modifica. À noite pesa a barra do traveco que faz a viração pela calçada à cata dum bandido, um tira, um reco. Encontra amor ou odio sempre em cada. Cantada, pappo rispido ou chaveco, na fria solidão da madrugada. Às vezes o prazer vae ter seu echo: Um grito. Um corpo. Um tiro. Uma facada.

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100 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO EDULCORADO [0314] De commentar uns doces não excappo. Baba-de-moça dá-me agua na bocca. Olho-de-sogra crê que a gula é pouca. O pappo-de-anjo é pouco, e fim de pappo. Dos fios d'ovos não sobra fiappo. A casca do crocante nunca é oca. Recheio em chocolate é coisa louca. Pé-de-moleque exige guardanappo. Em verso o que abbordei só revalida a sorte de tamanha gostosura. Assucares alegram nossa vida e adjudam a exquescer uma amargura. Mas só por um momento, uma lambida. Mais duro que a mais dura rapadura é não poder ver cores na sortida vitrine da doceira que inaugura.


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DISSONNETTO SALGADINHO [0315] Qual Laura, Beatriz, Ignez, qual nada! Não vou ficar bancando o menestrel! Prefiro umas fricturas no papel em vez de enaltescer a namorada! O gosto dum croquette ou duma empada, dum kibbe, duma esfiha ou dum pastel, do fino canapé no coquetel, melhor é que a melhor foda sonhada! Não ha comido Não ha Se faz

o que se compare ao torresminho a tiragosto, qual quitute! quem um no pratto não dispute! do bacalhau o bom bollinho!

Quem preferir chamegos que permute! Não troco o paladar pelo carinho, porem pelas fricturas me engalfinho! Prazer de solteirão não se discute!

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102 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO BRAZILIANISTA (I) [0316] A historia do Brazil, vista de fora, tem cara de chacina suburbana. Paiz continental, caldo de canna, amargos episodios commemora. Palmares e Canudos, quem deplora? Mascates, Guararapes, quem se uffana? Farrappos da policia alagoana são dividas de sangue sem penhora. Insistem que o paiz foi incruento, o opposto de outros ponctos do barril de polvora, um planeta de sargento. Mentira deslavada! Esse Brazil não passa dum quintal sanguinolento, avicola da paz, guerra civil!


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SONNETTO BRAZILIANISTA (II) [0317] Brazil é uma união de nações lusas. Na America hespanhola se separam. Aqui pensamos ser o que contaram. Frustradas tentativas são occlusas. A Inconfidencia em Minas tem suas musas. Paulista em trinta e dois, nos suffocaram. O grito Farroupilha, nos calaram. Razões do Contestado são confusas. A Confederação foi do Equador. Diversos Uruguays tentamos ser, mas somos Paraguays com mais calor. P'ra la de Tordesilhas p'ra valer, separatismo aqui não tem valor. Confraternização para inglez ver!

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104 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO CANINO [0318] O mais fiel amigo e companheiro, do cego o guia ou agil caçador, tem raças variadas, desde o amor até a ferocidade do açougueiro. O dalmata, o pastor, o perdigueiro, o fila, o pekinez, o labrador... Conhescem nossos pés pelo sabor. Nossas cabeças sacam pelo cheiro. Mais longa que do cocker uma orelha é a forma do basset: uma salsicha. Nenhuma raça em graça lhe é parelha. A patta é curta e torta, o corpo espicha. O olhar ao da tristeza se assemelha. Sim, perto do basset fofura é ficha!


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SONNETTO PHILIPPINO [0319] Imelda Marcos foi famosa dama por possuir milhares de sapatos, emquanto mil denuncias de maus tractos faziam do regime triste fama. Um professor foi preso de pyjama, tirado da sua cama pelos rattos. Levou pelo nariz nojentos jactos de fetida agua suja em meio a lama. Andando de joelhos, percorria um trecho sobre braza de churrasco, e seu torturador, folgado, ria. O filho adolescente do carrasco surrava o professor numa follia, gozando seu vexame e seu fiasco.

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106 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO A BO DIDDLEY [0320] Bo Diddley, personagem de si mesmo, o rock não creou, mas derivou. O radical creoulo dava um show à parte, sem fazer pesquisa a esmo. Do porco fez seu proprio e bom torresmo, battida que da rumba elle roubou. Seu fan numero um sei que não sou; Contento-me si for mesmo o millesimo. [sic] Estones, Byrdos, Troggos, Animaes, imitam elles todos a quadrada guitarra do negão, e 'inda tem mais: Machista p'ra caralho, a mulherada faz fila p'ra sahir com o rapaz que agora é MAN, palavra solettrada.


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DISSONNETTO ESQUERDISTA [0321] Emquanto os verdadeiros esquerdistas appellam p'ra guerrilha e pro terror, os intellectuaes se dão valor appenas porque pensam nas conquistas. Cantores, professores, jornalistas, o actor, o padre, o musico, o doutor na feira das vaidades dão à cor vermelha varios tons, marchands marxistas. Prestigio tem aquelle que se diz das causas populares paladino, preposto do peão, do campezino. Na practica, porem, se contradiz. Annel, carro importado, vinho fino. Esquerda-caviar de má matriz. Ao cheiro do povão torce o nariz, mas brinda ao seu Guevara, ao seu Sandino.

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108 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO HOLOCAUSTICO [0322] Pegaram um tarado que mexia no matto com a filha do pedreiro. Lyncharam-no alli mesmo, qual vespeiro. Correu a farra até o final do dia. Moleques tinham parte na follia. Flambaram o coitado com isqueiro. Seus olhos attulharam com argueiro e a bocca da privada foi bacia. No fim, queimaram vivo o desgraçado p'ra vel-o debatter-se em soffrimento. Achavam o espectaculo engraçado. Me lembro de seu choro e seu lamento, a cara sob a sola do calçado de gente egual a tão mau elemento.


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DISSONNETTO DIREITISTA [0323] Emquanto os verdadeiros direitistas dão golpes e se installam no poder, eunuchos patrulheiros do lazer censuram filmes, livros e revistas. Se julgam da moral especialistas, dictando o que devemos ou não ler. Masturbam-se, porem: nem podem ser, na practica, bons sadomasochistas. Fascismo pela imprensa é roptineiro desfile de bombasticos pudores. Civismo pretextando, educadores defendem a creança o tempo inteiro. Mal sabem os palhaços dictadores que os filhos não se trancam no banheiro que nem um delirante punheteiro e agora accessam tudo, ao vivo, em cores!

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110 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO CENTRISTA [0324] "Extremos nunca! Não me comprometta!" Assim diz quem é neutro e não se allia à febre material da burguezia nem ao materialismo de canneta. "Nem a favor, nem contra!" É uma ampulheta parada, cuja areia entope a via e nunca sae do horario: meio-dia. Não caga nem levanta da retreta. "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra", diz. "Nem oito, nem oitenta", diz tambem o typico "exemptão" que só se abstem, alheio à divisão dos dois Brazis. É vacca de presepio e diz amen si chamam seus direitos de "civis", até que a voz das urnas ou fuzis lhe jogue em plena cara quem é quem.


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SONNETTO MATERNAL [0325] Xodó como o de mãe não tem egual. Tem dó do filho mesmo si elle for um Chico Estrella ou Jack, o Extripador. Beijinhos dá no monstro mais brutal. Da mãe mamma e desmamma um animal. Um filho não quer só dever favor: quer vir a ser do amor merescedor, ainda que se incline para o mal. Algumas mães são casca de ferida, peores do que o filho que lhes puxa. Herdar pendor materno é lei da vida. O gordo é procedente da gorducha. Politico é rebento da bandida. O mago é primogenito da bruxa.

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112 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO PATERNAL [0326] Por que Deus nunca é mãe? Por ser severo? O ser humano anxeia a auctoridade. Só ama a quem receia, essa é a verdade. Por isso amava um Pae, temia um clero. Não é o rigor paterno que venero, mas sim a sapiencia duma edade que ja conhesce Christo, Buddha e Sade, Homero e Judas, Socrates e Nero. Camões na poesia eu sirvo, eu amo, "mas não servia ao pae, servia a ella", pois sou filho bastardo desse ramo. Em meio a numerosa parentela, me sinto até caçula quando chamo Bocage de tithio, mana a Florbella.


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SONNETTO FRATERNAL [0327] Irmãos são nobre exemplo de união, peccado abominavel sendo o incesto, assumpto sobre o qual me manifesto de modo favoravel, de antemão. Caim mactou Abel, mas varios são os casos do bem claro e carnal gesto de amor, mais acceitavel que o funesto extremo do homicidio entre os de Adão. Os Corsos, os Metralha, os trez do Groucho dependem uns dos outros na labuta, no crime, na adventura ou riso frouxo. É logico que os filhos duma puta fornicam entre si, sem um muxoxo, siquer uma resalva diminuta.

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114 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO GORDO [0328] Emilio de Menezes approveita a lenda de seu porte arredondado. Com brilho, trocadilhos tem bollado e às vezes os limites não respeita. De bonde viajando, certa feita, sentou no mesmo banco, lado a lado com outro typo gordo advantajado, mas tanto peso o assento não acceita. "Primeira vez que vejo", disse, "um banco quebrando, não por falta, por excesso de fundos!", no seu tom jocundo e franco. Que gordo! Como gordo, foi confesso! Tão critico desdem eu Sem duvida, o segredo do gordo é não deixar a chance de gozar seu

não desbanco! do successo passar em branco proprio sesso.


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DISSONNETTO MAGRO [0329] Coitado de quem teme ser obeso, pois vive se privando dum bom pratto, comendo só ração, porções de matto, escravo dos limites do seu peso. À estupida dieta o cara é preso. Magerrimo, paresce estar, de facto, num campo de exterminio, sob ingrato regime de castigos e desprezo. Costellas tem à mostra, e ainda se acha saudavel! Si mulher, belleza pura, vaidosa duma assaz fina cinctura, do seu cholesterol medindo a taxa! Babaca! Emquanto malha na tortura, comendo dietetica bollacha, seu sabio e nedio medico relaxa e vae se empanturrando de frictura!

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116 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO ALTO [0330] Nos apices, nos pincaros da gloria, nos cumulos, pinnaculos, cymeiras, nos cumes, cymos, topos, cumeeiras, nas cupulas, nos domos da memoria. É la que todos querem ver notoria sua obra, biographia, suas asneiras, ainda que não passem de toupeiras nascidas por fortuna compulsoria. Mais crassa a estupidez do troglodyta, maior o posto ao qual quer fazer jus. "Só sei que nada sei!", o sabio cita. É por essas e outras que me puz aos pés do mais folgado parasita: Maior meu brilho, mais me falta a luz.


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SONNETTO BAIXO [0331] Baixo calão, baixeza, baixaria. O baixo meretricio braziliense. Baixo Leblon. Baixada Fluminense. Que mais? Cidade Baixa na Bahia. O Baixo Clero, a Camara vazia. Maré, caixa, estação. Falso nonsense. O appello vão da magica circense. Recurso ao palavrão na poesia. A escala de valores é uma escada. La no alto fica a fama e está a fortuna. No chão está o motivo da piada: o cego impertinente que importuna. Pisar-me a cara rende uma risada, degradante degrau. Pise! Me puna!

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118 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO CHROMATOLOGICO [0332] O branco é sommatoria; o preto, ausencia. O verde é o tom de azul com amarello. O cinza é um preto e branco menos bello. Violeta é um desaffio p'ra sciencia. Marron e creme é mera consequencia. Abobora e laranja não pincello. Magenta e seppia exsistem só no prelo. Vermelho é communista ou emergencia. Mania do pinctor, como do vate, as cores são constantes citações: carmim, rosado, purpura, escarlate. Nuances, sangue em manchas e borrões fizeram do meu olho este tomate e só guardei da cor recordações.


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SONNETTO CHRONOLOGICO [0333] Noventa e nove. Fim dos novecentos. Appós ter sonnettado com motivo, ou seja, da cegueira ao transgressivo fetiche oral do pé, dos mais nojentos, appós revisitar tantos eventos a fim de demonstrar que 'inda estou vivo, constato que a fruição de que me privo não foi sinão ephemeros momentos. Desilludido, nada mais espero, alem da assiduidade do meu membro, que volta, appós o gozo, à estacca zero. Fallei de tudo aquillo que relembro. Agora um merescido tempo quero. São Paulo, dezesepte de dezembro.

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[NOTAS] [0233] Allusivo aos seguintes sonnettos de Lope de Vega e Gregorio de Mattos, respectivamente. EL SONETO Un soneto me manda hacer Violante, que en mi vida me he visto en tal aprieto: catorce versos dicen que es soneto, burla burlando, van los tres delante. Yo pensé que no hallara consonante, y estoy en la mitad de otro cuarteto; mas, si me veo en el primer terceto, no hay cosa en los cuartetos que me espante. Por el primer terceto voy entrando, y aun parece que entré con pie derecho, pues fin con este verso le voy dando. Ya estoy en el segundo, y aun sospecho que estoy los trece versos acabando: contad si son catorce, y está hecho.


O SONNETTO Um sonnetto começo em vosso gabo: comptemos esta regra por primeira, ja la vão duas e esta é a terceira, ja este quartettinho está no cabo. Na quincta torce agora a porca o rabo; a sexta vae tambem desta maneira: na septima entro ja com gran canseira, e saio dos quartettos muito brabo. Agora nos tercettos que direi? Direi que vós, Senhor, a mim me honraes gabando-vos a vós, e eu fico um rei. Nesta vida um sonnetto ja dictei; si desta agora excappo, nunca mais; louvado seja Deus, que o accabei.


[0236] Allusivo aos seguintes sonnettos de Luiz Delphino, incluidos na anthologia PODOLATRIA NA POESIA, organizada por GM. O AMOR CEGO Quando sobre uma pelle de panthera Mais negra do que a noite mais escura, Via-te nua e branca, ó formosura, Como a estrella na sombra pela esphera Se destacca melhor, tem luz mais pura, Sei la dizer-te, angelica chimera, Si mesmo, o que eu sentia, era ventura, Si dentro em mim cousa melhor não era. Sei só que enchia o valle dos teus seios De beijos; -- eram beijos e gorgeios Da fronte à curva dos teus pés gentis. Sentia o amor, que vive, e se abbandona, Não o de Michelangelo e Colonna, Petrarcha e Laura, Dante e Beatriz...


INTUS ET IN CUTE Desde manhan, e mesmo desde a aurora, Havia ja uma expantosa admeaça: Nuvens à beira do horizonte em massa; Um calor que augmentava d'hora em hora... Realiza-se tudo, Hellena, agora: Ouves o vento, que exbraveja e passa, Ouves batter a chuva na vidraça, E zagueando o raio vês la fora. Eu vejo tudo por um outro espelho: Eu vejo o espaço azul, o sol vermelho, Vejo cheios de flores os vergeis. De verdes luzes coalham-se as collinas, Beijando os céus de tuas mãos divinas, Beijando as curvas dos teus lindos pés...


SOB A MADONNA Hellena, eu hontem serio te dizia, (Quando estou serio e triste estou contente) Que todo o céu, e o que elle tem, queria Para elles encher-te o chão somente, Como a Virgem fazer nos quadros via, Entre estrellas e a lua no crescente, À luz de um riso, que em teus olhos via... Disseste: -- Vê, exquesce-lhe a serpente... Pois sim: quero ser ella um só instante, E entre soes e os clarões do teu semblante Ver que em ti a Madonna se renova: Pouco e pouco ir perdendo os meus sentidos, E entre o aroma subtil dos teus vestidos, Achar na cova dos teus pés a cova...


PERNAS E PÉS Estas pedras inclinam-se, formando Uma caverna, um antro quasi obscuro: As moscas negras zumbem dentro em bando; Das fendas desce um fio d'agua puro. Arroio é ja: gazeia addeante, e andando Abre na relva verde um branco furo: Ja extende-se; é lago: -- em vão murmuro... -- Caes, Hellena, no lago -- eu vou gritando... Cae. -- Bello é ver-lhe as pernas na corrente, Blocos vivos de um marmore explendente: São duas hastes, que susteem com graça Os seus pés nus, os seus dois pés nevados, Claros, como dois lirios inclinados À beira d'agua, que os oscula e passa...


[0251, 0252 e 0326] Allusivos ao seguinte sonnetto de Camões. SONNETTO 29 Septe annos de pastor Jacob servia Labão, pae de Rachel, serrana bella: Mas não servia ao pae, servia a ella, Que a ella só por premio pretendia. Os dias na esperança de um só dia Passava, contentando-se com vel-a: Porem o pae, usando de cautela, Em logar de Rachel lhe deu a Lia. Vendo o triste pastor que com engannos Assim lhe era negada a sua pastora, Como si a não tivera merescida; Começou a servir outros septe annos, Dizendo: Mais servira, si não fora Para tão longo amor tão curta a vida.


[0254] A referencia a um "remettente" e um "destinatario" se deve à correspondencia trocada entre os poetas Paulo Leminski e Regis Bonvicino, reunida em livro por este sob o titulo UMA CHARTA UMA BRAZA ATTRAVÉS: CHARTAS A REGIS BONVICINO (1976-1981) [São Paulo: Illuminuras, 1992]; numa das chartas (10/07/1979, p. 114), Leminski allude a GM nestes termos, citando o conterraneo Reynoldo Atem, alem de Augusto de Campos e Decio Pignatari: "vem ca, v. saca esse tal de glauco mattoso, do jornal dobrabil? augusto deu meu endereço a elle, recebi o jornal mimeographado delle, mandei catatau, elle publicou trechos, diz q vae publicar mais. o cara, me disse o reynoldo, é uma bichona mesmo. mas paresce por dentro de muitas coisas, inglez, francez, latim. aliaz, elle cita meu latim catatauesco no jd ultimo, num trecho q é um pastiche habil de um certo emballo de certos trechos do catatau. não sei o q v. acha. o cara é ahi de s paulo. emfim... paresce q decio gosta."


[0262] Allusivo aos seguintes poemas de Laurindo Rabello. SONNETTO A femea capixaba deu entrada No seu leito ao monarcha brazileiro, Que nos gozos de amor, habil, matreiro, A subjeita deixou logo emprenhada. Um jumento pariu! (Pobre coitada!) Tem do Mattoso o rosto traiçoeiro, Do Monte Alegre as pattas, e o trazeiro É a cara do Olinda retractada. Tem do Torres a força intelligente, Do Manoel Felizardo a prenda brava, Com que raivoso vinga-se da gente. Quando Jobim, parteiro, o appresentava Todo o povo dizia geralmente Que de tal pae, tal filho se esperava.


MOTTE Porra no cu não é festa. GLOSA Em noite do Espirito Sancto Comia certo fanchono Um sacana de alto abbono De uma barraca no cantho; Ja lhe tinha um tanto ou quanto Entrado do cu na fresta; Troam foguetes... "E esta?" (Diz o puto em repiquetes) "A que veem estes foguetes? PORRA NO CU NÃO É FESTA!"


DE DENTRO DO PORÃO, SEM LUZ OU RIMA (por Nelson de Oliveira) {Glauco Mattoso volta num "tour de force" com três coletâneas de sonetos} Tirem as crianças da sala. Depois de dez anos de silêncio, Glauco Mattoso está de volta. Que é que devemos fazer com o gajo? O sujeito insiste em roubar o fogo dos deuses e nadar contra as correntes que prendem a poesia ao prosaísmo do verso bem-comportado. Isso, mesmo após ter sido fulminado com uma cegueira sem meios-tons os olhos como pedras de sal - punição perfeita aos que insistem em se manter voltados para Sodoma e Nagasaki. Glauco Mattoso está de volta, após sucessivas cirurgias oculares que não o impediram de se filiar, contra sua vontade, ao clube de Homero e Borges. Tudo bem... Já que não podemos eliminá-lo, deixemos o rapaz sentar-se. O pior é que, mesmo alijado das dores da visão, mesmo qüinquagenário, Glauco insiste em não se comportar como um ceguinho de 50 anos. Distante da luz, julga-se mais próximo da lucidez do que nunca. Continua a meter a língua "na vida alheia, na língua alheia, na obra alheia, na dor alheia e na própria dor", como disse dele Cacaso.


Haikais, poemas concretos, limeiriques, letras de rock? Nada disso. Glauco está de volta com novo tour de force sobre seus temas prediletos: o fetiche pelos pés e o sadomasoquismo. Até aí, tudo bem... Glauco Mattoso, pés, escatologia, que se há de fazer? O problema é que o impertinente elegeu, como forma ideal para seu elogio desabusado, nada mais nada menos do que o soneto. Quer coisa mais passadista do que o soneto? Para Glauco, todavia, as formas literárias não guardam nenhuma semelhança com os organismos vivos: elas não nascem, amadurecem e definham depois de algum tempo de vida. Ao invés disso, simplesmente hibernam sob as próprias cinzas para renascer mais tarde, quando o taedium litterae se fizer novamente presente. "Poeta exuma o soneto e lhe dá uma nova vida" Os três novos livros de poemas de Glauco, lançados simultaneamente, enfeixam mais de três centenas de sonetos fetichistas, cujos leitmotivs são ora a exploração libidinosa do pé ora da metrópole paulistana. Pobre e vilipendiada forma, o soneto. Sua história é a de boa parcela da literatura ocidental. Forma fixa, cronométrica, serviu de arcabouço a todo o tipo de conteúdo. Criado por volta do século XII, louvou o Senhor e sua obra, renasceu renascentista e a favor do homem, embrenhou-se pelas circunvoluções espelhadas do barroco, romantizou-se a ponto de trocar Deus pela


Natureza, virou música nas mãos dos simbolistas, adentrou o século XX na forma parnasiana e pós-modernizouse, a ponto de se autoparodiar. Ao exumar o cadáver do soneto - "Lázaro, levanta-te!" - e remover-lhe as bandagens, Glauco agiu como dublê de alquimista. Qual não foi a surpresa dos presentes ao ver surgir, quando esperavam um leproso já decomposto, um ser viril e imberbe! Todas as possibilidades temáticas estão esmiuçadas nesses trezentos e tantos sonetos. Há o "Soneto sádico" e o "Soneto masoquista"; o "Soneto efêmero" e o "Soneto perpétuo"; o "Soneto lúcido" e o "Soneto lúdico"; o "Soneto demagógico" e o "Soneto pedagógico". Sansão fescenino, cego, de cabeça raspada, Glauco Mattoso não deixa pedra sobre pedra: demole o templo da poesia a fim de tecer-lhe o elogio. Esses sonetos, de versos heróicos (decassilábicos, camonianos), expressam grande desconforto, em relação à tradição. Tal desconforto, por sua vez, coloca a poesia em constante duelo consigo mesma. Ao parodiar a tradição, o autor não a exclui; ao invés, reelabora-lhe o legado, usa-a como matéria-prima, glorifica-a. É do choque dos contrários que Glauco retira sua força: ao fundir e confundir Sade e Masoch, Apolo e Dioniso, o cego torna-se o grão-vizir da tribo. Mais do que visionário, Glauco é, em verdade, humorista. O humor glauquiano é gregoriano, oswaldiano, millorfernandiano; nasce do oxímoro e do paradoxo, pororoca intra-craniana que os estetas chamam de dialética. Dono de memória prodigiosa e saber enciclopédico, Glauco prefere pôr seu arsenal


poético a serviço do nojo. Ou da crítica social, ou do repúdio ao atual sistema carcerário - que, de qualquer forma, não passam de variações sobre o mesmo nojo. "Nos livros, um longo e único poema" Glauco está de volta, e, ao que parece, numa grande enrascada. Resolveu cutucar com vara curta Dante e Camões. Ao decidir trazer à luz sonetos, autocondenouse a medir forças com os maiores criadores da literatura ocidental. Petrarca e Shakespeare, invictos há séculos, também aguardam a vez de subir no ringue. Mas CENTOPÉIA, PAULISSÉIA ILHADA e GELÉIA DE ROCOCÓ também podem ser vistos como um único e longo poema, daí a parcial aparição do termo "epopéia" no título do primeiro livro, e de "ulisséia", no do segundo. Por promover a mestiçagem entre o nobre (forma) e o podre (tema), podem ser vistos ainda como uma coleção mais de anti-sonetos do que de sonetos - o melhor modo de entender os três livros. O austero vê-se, dessa maneira, desafiado pelo jocoso, a matéria pela antimatéria e a arte pela antiarte. [Resenha da trilogia no jornal O GLOBO, Rio de Janeiro, 19/02/2000, incluida no livro de Nelson de Oliveira O SECULO OCCULTO E OUTROS SONHOS PROVOCADOS (São Paulo: Escripturas, 2002. p. 93-96.), aqui transcripta na orthographia original.]


SUMMARIO DISSONNETTO COMESTIVEL [0223].......................................9 DISSONNETTO POSOLOGICO [0224]......................................10 DISSONNETTO INEXORAVEL [0225]......................................11 DISSONNETTO A WILMA AZEVEDO [0226].................................12 SONNETTO ALTISONANTE [0227]........................................13 SONNETTO METALINGUISTICO [0228]....................................14 SONNETTO INCONSUTIL [0229].........................................15 SONNETTO "TÉQUINICO" (I) [0230]....................................16 SONNETTO MAJORITARIO [0231]........................................17 SONNETTO SELECTIVO [0232]..........................................18 SONNETTO SONNETTADO [0233].........................................19 DISSONNETTO CONFESSIONAL [0234]....................................20 SONNETTO CONVICTO [0235]...........................................21 SONNETTO DEGENERADO [0236].........................................22 DISSONNETTO INSUBORDINADO [0237]...................................23 SONNETTO COMMENSAL [0238]..........................................24 SONNETTO CONCENTRADO [0239]........................................25 SONNETTO BARROCONCRETO [0240]......................................26 DISSONNETTO ENSAISTICO [0241]......................................27 SONNETTO GLAUCOMATOSO [0242].......................................28 SONNETTO PHOTOGENICO [0243]........................................29 DISSONNETTO PRODIGIOSO [0244]......................................30 SONNETTO PENITENTE (I) [0245]......................................31 SONNETTO INCONTINENTE [0246].......................................32 SONNETTO CONJUGAL [0247]...........................................33 SONNETTO CONJUGADO [0248]..........................................34 SONNETTO CONJUGE [0249]............................................35 DISSONNETTO ILLUMINISTA [0250].....................................36 SONNETTO QUANTITATIVO [0251].......................................37 SONNETTO QUALITATIVO [0252]........................................38 SONNETTO A RENATO RUSSO [0253].....................................39


SONNETTO ENDEREÇADO (AO REMETTENTE E AO DESTINATARIO) [0254].......40 SONNETTO RECORDISTA [0255].........................................41 SONNETTO ENGAIOLADO [0256].........................................42 SONNETTO "TÉQUINICO" (II) [0257]...................................43 SONNETTO DESFRUCTADO [0258]........................................44 DISSONNETTO A AMELIA E EMILIA [0259]...............................45 DISSONNETTO CONSTRUCTIVISTA [0260].................................46 SONNETTO MEXERIQUEIRO [0261].......................................47 SONNETTO A LAURINDO RABELLO [0262].................................48 SONNETTO A MAMA CASS [0263]........................................49 DISSONNETTO CORRIQUEIRO [0264].....................................50 SONNETTO CURVILINEO [0265].........................................51 SONNETTO RECTILINEO [0266].........................................52 SONNETTO SANDUBA [0267]............................................53 SONNETTO TRAMBIQUEIRO [0268].......................................54 SONNETTO A SAPPHO [0269]...........................................55 SONNETTO A DERCY GONÇALVES [0270]..................................56 SONNETTO ELECTROMNIBUS [0271]......................................57 SONNETTO A FERNANDA MONTENEGRO [0272]..............................58 SONNETTO BELLICO [0273]............................................59 SONNETTO PACIFISTA [0274]..........................................60 SONNETTO PRISIONEIRO [0275]........................................61 SONNETTO OBSCURO [0276]............................................62 DISSONNETTO DA CHUPETA [0277]......................................63 SONNETTO A SALVADOR DALI [0278]....................................64 DISSONNETTO A LEILA MÍCCOLIS [0279]................................65 SONNETTO A RAMOS DE AZEVEDO [0280].................................66 SONNETTO HILARIO [0281]............................................67 SONNETTO POETICONOGRAPHICO [0282]..................................68 SONNETTO COMICO-ICONICO [0283].....................................69 SONNETTO VIRTUAL [0284]............................................70 SONNETTO MISERAVEL [0285]..........................................71 SONNETTO ARGENTINO (I) [0286]......................................72


DISSONNETTO UTOPICO [0287].........................................73 SONNETTO ARGENTINO (II) [0288].....................................74 SONNETTO SENSACIONALISTA [0289]....................................75 SONNETTO TRIANGULAR [0290].........................................76 DISSONNETTO PERDULARIO [0291]......................................77 SONNETTO QUADRANGULAR [0292].......................................78 DISSONNETTO POLACO [0293]..........................................79 SONNETTO CIRCULAR [0294]...........................................80 SONNETTO A ERNESTO NAZARETH, ou SONNETTO DE UMA NOTA SÓ [0295]....81 SONNETTO RECTANGULAR [0296]........................................82 SONNETTO LATRINARIO [0297].........................................83 SONNETTO PRESUFFRAGIO [0298].......................................84 SONNETTO PHALLOCRATICO [0299]......................................85 DISSONNETTO BUROCRATICO [0300].....................................86 SONNETTO DEMOCRATICO [0301]........................................87 SONNETTO MARITIMO [0302]...........................................88 SONNETTO TERRESTRE [0303]..........................................89 SONNETTO CELESTE [0304]............................................90 DISSONNETTO ANGELICAL [0305].......................................91 DISSONNETTO PUTANHEIRO [0306]......................................92 DISSONNETTO PUNHETEIRO [0307]......................................93 DISSONNETTO CHUPETEIRO [0308]......................................94 DISSONNETTO BOCETEIRO [0309].......................................95 SONNETTO VANDALO [0310]............................................96 DISSONNETTO TANTALO [0311].........................................97 DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312]......................................98 DISSONNETTO TRAVESTI [0313]........................................99 DISSONNETTO EDULCORADO [0314].....................................100 DISSONNETTO SALGADINHO [0315].....................................101 SONNETTO BRAZILIANISTA (I) [0316].................................102 SONNETTO BRAZILIANISTA (II) [0317]................................103 SONNETTO CANINO [0318]............................................104 SONNETTO PHILIPPINO [0319]........................................105


SONNETTO A BO DIDDLEY [0320]......................................106 DISSONNETTO ESQUERDISTA [0321]....................................107 SONNETTO HOLOCAUSTICO [0322]......................................108 DISSONNETTO DIREITISTA [0323].....................................109 DISSONNETTO CENTRISTA [0324]......................................110 SONNETTO MATERNAL [0325]..........................................111 SONNETTO PATERNAL [0326]..........................................112 SONNETTO FRATERNAL [0327].........................................113 DISSONNETTO GORDO [0328]..........................................114 DISSONNETTO MAGRO [0329]..........................................115 SONNETTO ALTO [0330]..............................................116 SONNETTO BAIXO [0331].............................................117 SONNETTO CHROMATOLOGICO [0332]....................................118 SONNETTO CHRONOLOGICO [0333]......................................119 [NOTAS]...........................................................121 DE DENTRO DO PORÃO, SEM LUZ OU RIMA (por Nelson de Oliveira)......131


Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO INGOVERNABILIDADE PEROLA DESVIADA O POETA PORNOSIANO BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA


São Paulo Casa de Ferreiro 2022




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