GRAMMATICA CASTIÇA
Glauco Mattoso GRAMMATICA CASTIÇA
DA LINGUA PORTUGUEZA
São Paulo
Casa de Ferreiro
Grammatica castiça
© Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA
CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
GRAMMATICA CASTIÇA DA LINGUA PORTUGUEZA / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024
164p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
Seria “pornographica” a grammatica si fosse, em verso, obscena, à moda chula dos classicos satyricos da lingua? Talvez. Mas, com certeza, não será extranha à maioria dos fallantes locaes ou d’alemmar, ja que informal é todo palavrão, ainda quando atteste eruditismo. Si, em Bocage, a “porra” não é semen, mas “caralho”, “boceta” será “conna”, alem de “conno”, suppondo masculino um bocetão ou mesmo um bocetinho mais discreto. Emfim, cabe incluir, neste volume, um pouco do que tenho versejado em torno do calão, materia prima de grandes e pequenas obras primas da nossa mais canonica cultura, na qual, com a devida venia dada por muitos dos leitores que me seguem, me incluo, honrando todo um pantheão.
DISSONNETTO GALLICISTA [0037]
A França nos deu tanta coisa boa! “Sadismo” vem do nome do Marquez; De seu rival Rétif vem, por sua vez, o termo “retifismo”, e me acquinhoa.
Fanchette foi-lhe a musa, e não à toa: P’ra seu pé delicado Rétif fez um livro inteiro, e agora, em portuguez, como “podolatria” o termo soa.
Ja tinhamos “fetiche”, que é “feitiço” tomado ao portuguez e devolvido com mais connotação e mais sentido. P’ra sexo qual vocabulo é castiço? Ja posso rotular minha libido e, quanto mais a chamo, mais a attiço. Questão de termo? Não seja por isso: Sou retifista e sadico assumido.
DISSONNETTO LATINO [0040]
O Lacio, cuja flor se abriu no Olavo, nos deu palavras ricas de sentido. O verbo “supplantare”, definido, é pôr a sola em cyma dum escravo. “Pes, pedis” é um vocabulo que gravo na pedra da memoria, p’ra ser lido, relido, repetido e até lambido, pois lembra humilhação, offensa, aggravo. Exemplo extremo é quando o gladiador, pisando no pescoço do rival que irá mactar, comptar vae com aval: agguarda o pollegar do imperador. O publico faz disso um carnaval, gozando com vencido ou vencedor, e o Glauco aqui se faz de perdedor só p’ra suppor no rosto o pé fatal.
DISSONNETTO ELITISTA [0088]
Poetas teem mania de grandeza. Se julgam portadores do intellecto. Quem não lhes puxa o sacco é analphabeto. Zarolhos reis da lingua portugueza!
Parescem patrulheiros da nobreza, zelosos de seu vão poder de veto. Mas eu, maldictamente, sou correcto e faço uma limpeza na limpeza. A sophisticação que va pros quinctos! Não é tanto purismo o que eu exalto! Estou farto de todo esse salto alto e appello pelos mais baixos instinctos! Que digam que de bom gosto sou falto! Expulsem-me dos classicos recinctos!
Prefiro lamber botas, pés e pinctos, e nem siquer nas unhas eu me esmalto!
DISSONNETTO LICENCIOSO [0101]
Poetas teem licença p’ra mudar até certos preceitos de grammatica. Alteram nomes, factos, pondo em practica um proprio e omnipotente linguajar. Liberação assim vem compensar limitações de molde e de thematica. Porem a liberdade democratica não passa do direito de pensar. Agora, o que me intriga é a incoherencia daquelles que defendem o poeta do cynico censor que a voz lhe veta mas negam-lhe o prazer da preferencia. Condemnam minha tara predilecta, a cega devoção ao pé, na ausencia de musas mais eroticas, tendencia poupada si for “hétero” e discreta.
DISSONNETTO BIZARRO [0111]
Coprophilo é quem gosta de excremento. Pedophilo só trepa com creança. Defuncto fresco em paz jamais descansa nos braços do necrophilo sedento. Voyeur assiste a tudo, sempre attento ao exhibicionista, que até dansa. O fetichista transa até com trança, e o masochista adora soffrimento. Libido, pelo jeito, é mero lodo. A sensualidade faz sentido conforme a morbidez sob a qual fodo. O sexo quasi sempre é reprimido, mas, claro, não me privo o tempo todo. Não basta o pé, precisa ser fedido. Si tenho de excolher, pois, um appodo, serei um podosmophilo assumido.
DISSONNETTO SUSPEITO [0156]
Poetas sempre fallam a verdade e quem a falla não meresce pena. Chorar do crocodillo e rir da hyena: é assim que se interpreta a realidade. O vate dissimula (à) sua vontade e muda logo um angulo da scena. Tem odio ou adversão, mas finge pena.
Poetas nunca fallam a verdade. Machista, satyriza a bicha em si. Marxista, tece a these da direita. Espirita, a catholica ala acceita. Carnivoro, destrincha o abacaxi.
Meu caso é symptomatico: approveita a humilhação dos olhos que perdi, subjeita-se ao algoz, que lhe sorri, da lingua faz palmilha, e se deleita.
DISSONNETTO PHILOLOGICO [0179]
Latim é lingua mãe, da qual procede, de mater, madre, mère, e a nossa mamma. Um outro radical attenção chama: pes, pedis, que vem dar pé, pie, pied, piede. Quanto ao inglez, tem foot, termo que mede a sola dos sulistas no Alabama, o tennis dos britannicos na grama e a legua desta lingua, que lhe excede. Ja podo vem do grego, onde se cria o grosso do glossario da sciencia: philosopho suppõe alguem que pense-a; podolatra suppõe podolatria. Philologos não teem maledicencia. Linguistas tambem curtem poesia. Nenhum delles jamais me accusaria de pôr lingua no pé sem ter fluencia.
DISSONNETTO CLASSISTA [0186]
Differe um escriptor dum excretor. Um excretor se explica: só dejecta. Um escriptor appenas se punheta na penna, que virou computador. Depende um escriptor do seu leitor. Testado está que em terra analphabeta aquelle que sonnetta é bom poeta, aqui ou no exterior, seja onde for. Subtil, porem, é outra differença, que toca alguns mellindres e pudores: Emquanto se fabricam escriptores, alguns são escriptores de nascença. Resalva-se a cegueira, cujas dores augmentam quanto mais o cego pensa, usando de poetica licença, naquillo de que gozam seus leitores.
DISSONNETTO COMESTIVEL [0223]
Ha coisas que se comem por costume e algumas que são gosto pessoal. O queijo fedorento é natural, mas todos acham mau o odor do estrume. Ninguem nega nas fructas o azedume. Na conna, só o tarado acceita o sal.
“Cock-cheese” é o tal sebinho prepucial.
“Toe-jam” é o chulezinho com volume.
Só mesmo o americano p’ra dar nomes tão bons a um paladar desse quilate!
Embora alguns eu, cego, não accapte, ao menos satisfazem minhas fomes!
O nosso “guaraná com chocolate” é merda masochista, quanto aos comes, e mijo, quanto aos bebes. Que tu tomes, de todos, egual parte. Deu empatte.
DISSONNETTO POSOLOGICO [0224]
Alguns poetas querem fazer notas p’ra decodificar a poesia. Accabam produzindo theoria, chamando seus leitores de idiotas. Rastreiam referencias mais remotas e nunca se sustentam, todavia. Pôr bulla em poesia é má mania de gregos que se dizem polyglottas. Si são mesmo tão bons de explicação, por que não se dedicam ao ensaio?
Commentem os versinhos dum grandão e deixem de rodeios! Mas que raio! Aquelles que me leram saberão: mais vezes me traduzo, mais me traio. Poema com legenda é um palavrão. “Caralho” é um rodapé para “caraio”!
DISSONNETTO CONSTRUCTIVISTA [0260]
De fora quem lê versos não vê pleno. Percebe a rhyma, só que, antes da dicta, exsiste metro, accento e uma restricta cesura que censura meu veneno. As rhymas são as quinas do terreno.
O metro é cada lado, está na fita.
O accento é o torreão de quem recita e a pausa acha suspense em algo obsceno. Tijolo é toda lettra, toda nota.
O rhythmo se escandiu, de poncta a poncta. Vogal ou consoante, tudo compta e cada virgulinha ganha quota. Castello edificado, casa prompta. Nem tanta perfeição a gente arrocta, mas quando tem caralho, cu, chochota, a critica, que é vandala, o desmonta.
DISSONNETTO CACOEPICO [0343]
É má cacophonia “heroico brado”, que faz o nosso hymno ser por cada macaco no seu galho de piada motivo, mytho presto prophanado. Galhofo quando grapho “deputado”, um réu por cuja mãe a patria brada e cuja nota tem que amar mellada a puta que a recebe de ordenado. Por ti gela meu pincto, e por ti são meus bagos exmagados qual sardinha em latta, e eu mofo dessa ladainha, ó lingua de tão baixo palavrão! Dos cacos que cuspi, calou Caminha, que tracta só de expor raça à nação. A mim toca, comtudo, uma questão: Si ja Camões fez caca em “Alma minha”.
DISSONNETTO ESCULACHADO [0730]
Não “seje” “inguinorante”! Nunca foi “ansim” que algum plural se “prenunceia”! “Nós vae” não é syntaxe que se leia! Talvez “a gente vamos” melhor soe!
Você só faz poema que destoe!
Seu tennis pega mal calçar sem meia! Fallar de bocca cheia é coisa feia!
Não coma em casa alheia feito um boi! Silencio! Tenha modos! Mais respeito! Não vá roubar no troco nem no peso!
Se enxergue! Dobre a lingua! “Teje” preso! “Percure” seus “dereitos”! Dóe? Bem feito! E o “mano” escuta, attonito e indefeso, as cynicas razões do preconceito, razões para, si auctor, não ser acceito e, como cidadão, soffrer desprezo.
DISSONNETTO BABELICO [0851]
Mil modos de se dar a mesma pala: fallar, hablar, parler, parlare, é tudo egual à opposição ao ficar mudo.
Não, no, non nega e oppõe-se ao que se cala.
São linguas que equivalem a não dal-a o sanskrito, o aramaico, cujo estudo não traz mais eloquencia ao linguarudo nem latiniza o grego na senzala.
Gugu, dada é pappo que começa. Amen e tenho dicto é fim de pappo.
“As armas e os barões”: assim ingressa na gloria a bocca analoga à do sapo. Um “ciao” os oceanos attravessa. Boceta ou pau na lingua illustra o trappo.
Não ha calão que cale ou pé que impeça a bocca à qual não tapa o esparadrappo.
DISSONNETTO POLYPALATAVEL [0852]
A lingua experimenta a variedade, sabores reconhesce, como encargo, à guisa de agridoce ou salamargo, malgrado um dissabor que a desaggrade. O doce bem nos lembra a brevidade. Salgado faz no pratto o tempo largo. Azedo em quem critica causa embargo. Amargo é triste desde tenra edade. Papilla gustativa, na Babel do tacto, é dom que ao bardo cego explica a lagryma, o suor, o fel e o mel, a dar dos dissabores uma dica. É como um synesthesico farnel: café, canna, palmito, mexerica. Só não traduz um gosto no papel o som do cavaquinho e da cuhyca.
DISSONNETTO MULTITILLANTE [0853]
Lambidas pelo corpo vão mais longe que a mera zona erogena: seu campo, chimera do linguista, é ver o trampo chegar onde não chega o pé do monge. De tudo quanto em gozo a glande abrange até a sola do pé, que, estheta, encampo no acervo do fetiche, ‘inda destampo panella a quem piccante rango manje. A lagryma é salgada, a cera amarga, o sangue é doce e azedo o que se sua. Mais liquida é a saliva que a descarga do semen, sem que nada a substitua. Esmegma cheira a queijo, mas embarga seu typico sabor; a femea nua a peixe sabe, em parte, e até na ilharga degusto algo que a lingua retribua.
DISSONNETTO SEMITA [0854]
“Shalom!” traduz “Salam!”: todo opprimido é primo do oppressor, com quem apprende a lingua de quem compra e de quem vende petroleo ou arma, a seita ou o partido. Mais tempo a guerra aos bancos tem servido, mais rende, emquanto a morte não se rende à vida. Quando, emfim, alguem desvende o enigma, já estará tudo perdido. Salim e Salomão, Torah e Corão. Caim cahiu, e Abel é bellicista. Javeh propoz, shiitas disporão. Faltou o philtro oral dum alchimista. Faltou quem convertesse em ouro o pão. Na areia, cada gotta é uma conquista. Diluvios racionaram cada grão. Divisa é linha. A paz, poncto de vista.
DISSONNETTO CONGRESSUAL [0863]
Politicos não fallam coisa alguma que tenha nexo, credito ou franqueza. Emquanto as chartas ‘inda estão na mesa é facil que qualquer causa se assuma. Ao longo do debatte, de uma em uma, as metas perseguidas na incerteza mergulham: ja pau molle é rolla tesa, boceta é cu, Deus dá e fedor perfuma. Aquillo que ensignara a professora é pelo seu antonymo trocado.
“Talvez” é “com certeza” mas ja fora “coisissima nenhuma” o mez passado. Depende só da fonte pagadora. Um “não” é “sim”, um “foda-se”, “obrigado” da noite para o dia, e uma eleitora é puta ou a mamãe do deputado.
DISSONNETTO TERMINAL [0869]
Si o velho e retardado agora for “edoso” e “excepcional”, é mais precisa a forma que, hoje em dia, se euphemiza: “terceira edade”, “terceiro sector”. Si um cego é um “invidente”, é de suppor que, ja “deficiente”, exige, à guisa de addendo, um “visual”, e que precisa ainda do bordão de “portador”. De que? “Necessidades”, obviamente! Não basta? Inda tem mais: “especiaes”! Que idéa esses babacas teem na mente? Não é com euphemismos que se faz justiça ao “alleijado”! O que elle sente é a dor de ser da raça dos “mortaes”! Mudar palavras nunca muda a gente, pois somos o que fomos nós, la attraz.
DISSONNETTO ORIGINAL [0876]
Crear alguma coisa que não seja a pura e simples copia do que ja se viu ou leu não é problema la tão serio a quem, como eu, troça e graceja. Si querem, dou a dica de bandeja! É só trocar um termo: em vez de “Va tomar naquella parte!” alguem a dá, embora o verbo “dar” suspeito esteja. Comtudo, “dar o cu” pode ser lido de forma creativa si entendermos que eu baixo as calças quando ao pau revido. O cu mostrado aggride aos estafermos, que nelle enxergam nitido sentido e lê-se uma expressão por outros termos. Em summa, até fallarmos da libido offende si, em jejum, nós não fodermos.
DISSONNETTO TEMPORAL [0882]
Telegrapho, esperanto e symphonia teem campo universal, mas com os annos reduzem seu alcance entre os humanos e tendem à mudez, que só se addia. Emquanto a lingua morta ‘inda se ouvia, reinava um idioma, o dos romanos, de cuja “pax” se queixam os tyrannos da Iberica Peninsula à Turquia. Si “Graecum est, non legitur” faz tão pouco caso da cultura hellena, o inglez hoje não fica muito attraz. Não tarda, “English is dead!” e sae de scena, deixando de nutrir o rock e o jazz, tão logo cae o dollar… Não é pena? Quem sabe, até o jargão de Satanaz será no mundo, um dia, lingua plena?
DISSONNETTO CONTEXTUAL [0890]
Fallar dum “homem publico” é commum e nada de suspeito nos desperta, mas quando é “mulher publica” ja allerta olhares que se voltam ao bumbum. Que coisa! O mesmo termo traduz um sentido masculino que é, na certa, resquicio do machismo, emquanto apperta o cerco à femea, à falta de jejum! É puta sempre aquella que padesce no torpe linguajar que mais offenda. Então a prostituta não meresce do povo a confiança que lhe renda o voto que ao cacique se enderece? Quem jura que um politico não venda a propria mãe e ao demo sua prece não faça por um cargo na Fazenda?
DISSONNETTO BAPTISMAL [0911]
No manual de estylo está disposto que Peking é “Beijim” e extouro é “boom”. Bandido é “cidadão”, bunda é “bumbum”. Prostituta é “modello”, cara é “rosto”. Mas que mania estupida! Que gosto de achar que flatulencia ou peido é “pum”, que “alcoholico” é o alcoholatra ou bebum, como si trocar nome é trocar posto!
P’ra mim, “beijim” é o beijo do mineiro, “bumbum” é só bundinha de nenen e puta é puta mesmo, bem rasteiro!
A midia quer dictar o que convem, porem, no linguajar do brazileiro, não vem com veadagem, que não tem! Fiquei com raiva, agora que me inteiro de estar, em vez de “calmo”, muito “zen”!
DISSONNETTO SESQUIPEDAL [0989]
Um parallelepipedo mais pesa que minha consciencia quando penso que um termo pode ser menos extenso e excolho um que aos laconicos despreza. Palavra longa é boa até na reza: si, denso, balbucio, como o incenso, “misericordiosissima”, compenso o exforço ao digitar, que os nervos lesa. “Inconstitucionalissimamente” occupa todo o espaço duma linha e torna qualquer virgula impotente perante o decasyllabo, ‘tadinha! Mas ha pé mais concreto que me tempte! Um pé que meça tanto será minha eterna fixação, si condizente lhe fallo nesta lingua que o exquadrinha!
DISSONNETTO EXCOLHAMBADO [0995]
Mais se desmoraliza, mais provoca o verso do pornographo que, alheio a toda restricção, diz nome feio de toda gente, em tudo quanto toca. Assumpto prohibido ou só fofoca, não ha thema que não seja subjeito a ter seu poncto fracco ou seu defeito exposto em calão sadico ou masoca. Poeta fescennino que se preza jamais desprezaria occasião de enxovalhar quem macta, rouba e lesa o bolso do povão e da nação. As coisas na ballança a gente pesa. Por isso é que o politico ao ladrão se eguala: si assassino é quem mais reza, mais sancto é quem verseja em palavrão!
DISSONNETTO LINGUETEIRO [1022]
Palavras, dois sentidos teem: “chupeta”, alem desse innocente e leve objecto que adjuda o bebezinho a ficar quieto, é um acto, e cala a bocca mais ranheta. Proponho termo analogo: “lingueta”, aquella do sapato em seu correcto emprego, e eu, que sou lubrico, interpreto de modo a que a tal acto me submetta. Si faço uma chupeta quando mammo, farei uma lingueta quando lambo o pé da minha mestra ou do meu amo, quer ella seja Sappho ou elle Rambo. Implicito ficou que sou do ramo. Si chupo e lambo, um pouco mais descambo a lingua abbastardando, e nem reclamo si fallam que até verso eu excolhambo.
DISSONNETTO DA EXPRESSÃO IDIOMATICA [1098]
A lingua portugueza diz “pois não” si affirma e, quando nega, diz “pois sim”, subtis contradicções que, para mim, motivo do maior fascinio são.
“Jamais”, “siquer” são termos que não dão noção de negativa tanto assim, e às vezes o “soffrivel” é ruim ou algo supportavel -- bom, então. Emquanto “p’ra caralho” é tom que augmente, dizemos “o caralho” ou “uma ova”, alem de “paca” ou “duca” si for trova, e a coisa é “do caralho” si excellente.
“Caralho!” alguem exclama quando approva ou quando desapprova, e unicamente se nega a caralhar emquanto mente. Na mente é que a palavra é velha ou nova.
DISSONNETTO DO JARGÃO CONNIVENTE [1184]
Direito é mesmo um ambito curioso! No caso da prisão, se allega tudo: “aberta”, “provisoria”… e, aos de canudo, se chama “especial”, que é mais pomposo! Porem, algo bem menos rigoroso, que só beneficia algum grahudo, é o tal “relaxamento” que, desnudo, lhe cede a liberdade, o impune gozo!
Como é que se “relaxa” uma prisão? O termo ja advaccalha a auctoridade e exhibe-nos a força do ladrão!
Emquanto “relaxada” for a grade, está, neste paiz, o cidadão fodido: só o bandido é quem se evade. Por isso é que imagino um bandidão em casa, relaxando de verdade…
DISSONNETTO DO ACQUESCIMENTO GLOBAL [1199]
Fallar de “acquescimento” ja não faz appenas referencia ao jogador de bolla ou ao commercio: o divisor das aguas é o que exsiste por detraz. Agora de “emissão”, de “extupha” e “gaz” se falla. Antigamente, o defensor da Terra, em vez de guerra, fez amor, foi “hippie” e “ecologista”… Hoje, é mordaz: -- Bem feito! Não fallei? Vocês diziam que estavamos no mundo mais lunar! De ozonio agora passam a fallar! Ja disso se (tardou) penitenciam! Si esperam do planeta algum logar de vida e não de morte, si confiam ainda na sciencia, não me riam do rotulo: “Lar, agua doce lar”!
DISSONNETTO REPISADO [1210]
No inglez se chama “bullying”, mas aqui é o acto de “zoar”, verbo que inclue, alem da “zombaria”, algo que influe tambem physicamente no gury. A turma não appenas xinga e ri; diverte-se naquillo de que fui a victima ideal: collegas “mui amigos” me pisavam, e eu lambi. Lambi sola descalça, até calçada, conforme ja contei. Levado eu era ao matto, appós cahir numa emboscada. Lambi, mas me vinguei! Não virei fera, mas tudo devolvi, pois ponho em cada sonnetto um pé que nunca se supera e faço-me refem da molecada tal como sou poeta da gallera.
DISSONNETTO DO COROLARIO SOLITARIO [1215]
Agora andam dizendo que os eguaes, alem de procurarem-se, subjeitos estão a nova synthese de effeitos syntacticos, que exprimem muito mais: “Oppostos se distraem”, é o que faz notar que os que se oppõem teem seus proveitos; e, si os que se propõem são bem acceitos, “attraem-se os dispostos”: são de paz. Qualquer mentor será contestador si cada opinião for um protesto. Assim, quem é “do contra” a seu favor tem muitos, que concordam com seu gesto, politica formando cada cor. Eu proprio sou rebelde mais modesto: não digo que “só vou si você for”, é “sigo só por mim” meu manifesto.
DISSONNETTO DA PUNIÇÃO ADMINISTRATIVA [1222]
Não pode ser nem “ferias” nem “licença”, a fim de que não cheire a “impunidade”, mas, sempre que flagrada a “otoridade” na practica do crime, é o que se pensa. Chamando “affastamento” essa dispensa (o termo que concedem ao “cumpade”), evitam “demittil-o” e à sociedade se dá satisfacção!? Inutil crença! “Apposentadoria compulsoria”, no maximo, é o que um gajo desses pega si não o innocentarem dessa historia! E pensam que o salario alguem lhe nega? Que nada! Tudo é pago e, nessa escoria, não livra a cara um unico collega! Appenas ao honesto resta a gloria de ter mãos limpas: isso ja sossega…
DISSONNETTO TRANSSUBSTANCIAL [1223]
Rimbaud quer que a vogal tenha uma cor, mas vejo, na cegueira, que o logar das vocalizações é o paladar e busco, si as degusto, seu sabor. Tambem as consoantes podem pôr tempero na palavra e alimentar matizes nesse molho elementar que não tem só papel decorador.
“A” lembra “sal”, e o “L” lambe o labio.
“E” sabe a “mel”, e o “M” mella a mão.
O “Q” quer ser só “queijo”, mas pimpão.
“I” vê na “lima” o amargo, e a lingua sabe-o.
“O” tem sabor azedo, qual “limão”.
Um “S” é “sopa” e pede que alguem gabe-o.
“U” prova que o poeta, como um sabio, faz “uva” virar vinho, e verso, pão.
DISSONNETTO DO BALLÉ DA RALÉ [1229]
Boate, gafieira, cabaret, varia a clientela, a fauna é vasta. Dizer “casa nocturna” ja não basta. Ballada, discotheca, candomblé, forró, baile, inferninho… Vale até usar “danseteria”. Não se affasta dalli quem quer a dansa pouco casta, embora só rebolle e batta o pé.
Eu, como numa pista assim jamais dansei, não sentencio nada aqui. Outrora se abbraçavam os casaes; agora pulla cada qual por si.
Comtudo, hoje se trepa muito mais. O rhythmo até varia, aqui ou alli; mas, quando as posições são sexuaes, foi sempre fui-e-vim, tirei-metti.
DISSONNETTO SEM CONSERTO [1269]
Na lingua ingleza exsiste uma expressão perfeita para a gaffe, ou a mancada: é “pôr o pé na bocca”. Não ha nada capaz de reparar tal papellão. Em casa de enforcado, burros são aquelles que da chorda fallam. Cada besteira é, alli, fatal: uma piada, um simples trocadilho, um palavrão. Na cara, às vezes, delles eu exfrego verdades: meus leitores comprometto. Pensando nos proverbios, sempre pego exemplos: a cagada, a offensa ao preto, a casa do ferreiro, o peor cego… Às vezes, algum pé na bocca metto, mais sujo que o meu proprio, até, não nego. Sahiu peor a emenda que o sonnetto!
DISSONNETTO DO BOM ENTENDEDOR [1288]
“Accordam” e “accordão”: dois termos bem {acórdão} oppostos, um legal, outro immoral, escripto aquelle, ao passo que este oral. Um tem sustentação, outro não tem. Juizes se protegem, diz alguem; mas quando, em vez do douto tribunal, politicos na esphera federal a farra fazem, paga a compta quem?
Conchavo, cambalacho, conspirata: synonymos daquillo de que abusa quem vota, quem preside, quem relata. Ha termo, todavia, que traduza melhor a podriqueira de que tracta a Camara? “Accordão” é só o que se usa. Um grande, enorme tracto que, na latta, offende e de babacas nos accusa.
DISSONNETTO DO PAPPO FURADO [1289]
O “monstro” que excappara da FEBEM, embora estuprador, “gury”, “pettiz”, “menino” é como o chama alguem que diz: “Tadinho delle! É victima tambem!” “Creança”, “adolescente”… não ha quem o chame de “bandido” num paiz no qual puta é “modello”, “estrella”, “actriz”, excepto “prostituta” e nada alem! “Menor” é um euphemismo quando exprime, quer seja elle “carente” ou “infractor”, o grau de gravidade do seu crime. Si macta, é porque “errou”; o estuprador que enraba ou fode a bocca, p’ra que rhyme, appenas “attemptou contra o pudor”.
Poetico, o bandido mais sublime será quem olhos fura deste auctor.
DISSONNETTO DO GRITO NA GARGANTA [1309]
Partida decisiva. Ja se aggruppa a massa torcedora pela rua. No classico, o azarão joga na sua arena, cujo espaço o povo occupa. A cada contraattaque, a turba apupa os craques adversarios. Quem mais sua não quer que o treinador o substitua e chega ao gol. Das casas, gritam “Chupa!”
O termo expressa tudo: desabbafa, mandando seu rival engolir picca, emquanto este até quebra uma garrafa. O gosto de humilhar se justifica. Termina o jogo. Um khoro tudo abbafa, mas quem mandou chupar mais feliz fica.
O cego do scenario não se sapha, pois sempre é perdedor, na sua zica.
DISSONNETTO DO TRACTAMENTO APPROPRIADO [1315]
“Podologo” ou “callista”? Inda procuro um termo que defina quem nos tracta dos pés, sem resvallar naquella errata de ler-se “pedicure” ou “pedicuro”. Não ha, porem, vocabulo mais puro no caso, que nos dê noção exacta do artelho ao calcanhar, da sola chata, do peito ao tornozello, com appuro. Mycose, olho-de-peixe, pé-de-athleta, frieira, joannete, unha encravada, mindinho encavallado, má pisada, chulé, callosidade… a quem affecta? Callista, estheta, medico… Qual nada! Nenhum delles taes quadros interpreta! Os pés estão affectos ao poeta, mas só quando está cego e se degrada!
DISSONNETTO DOS TRAJES MENORES [1337]
Dizer “roupa de baixo”? Ora, ja era! Fallarmos de “cueca”, de “calcinha” em publico ou num texto? Nada altera! Agora é o que se falla e se escrevinha! Os homens madurões não usam mera “ceroula”, ou “minhocão”: isso ja tinha que estar ultrapassado a quem (Pudera!) achar “samba-canção” mais folgadinha!
Da sunga o que se quer é que o volume dos bagos e do pau se encaixe e arrhume mais alto, e não à esquerda ou à direita. Ja vale até passagem mais estreita. As bichas attenção prestam na “mala”; mulheres se limitam a encaral-a com cara de quem diz: “Tudo se adjeita!” Pequeno, um pau deixou de ser desfeita.
Me lembro: a molecada não chamava ninguem de “maconheiro”: o termo usado, naquelle tempo e bairro, só tornava folklorico o fumante e o baseado. Diziam “chibabeiro”! Não aggrava do traffico o problema. Mero dado linguistico, tampouco faz de oitava ou nona maravilha o que é fumado. Appenas são synonymos da planta que tanto fascinou e ainda encanta a minha geração, que é sessentista e suas preferencias não despista. Agora a droga é chymica e reserva problemas bem mais graves que os que a herva causava, ella que até faz bem à vista, comtanto que não seja falsa ou mixta.
DISSONNETTO DAS ACCEPÇÕES PEJORATIVAS [1404]
O termo “embananado” é uma injustiça que fazem à banana! Ja “pepino”, “batata”, “abacaxi” foram premissa dum senso vegetal não muito fino. Me rendo à explicação encontradiça si como “problematica” defino tal fructa: boa chance desperdiça quem não der à banana outro destino. A quem se mette numa “bananosa”, embora confusões quetaes não tema, mas pensa que esse termo bem lhe dosa o grau de envolvimento num problema. Direi que um outro termo, bem mais feio, cheirando a palavrão em seu morphema, resume a situação: “rebuceteio”, mas só quando a bagunça for extrema.
DISSONNETTO DA LINGUAGEM CIPHRADA [1409]
Faz bem a Ritta Lee, quando ella troca por “lesma lerda” a “mesma merda”: um dia foi isso necessario. O tempo evoca regimes de censura e tyrannia. “Sifu” foi “se foder”, como “masoca” seria o masochista. Se abbrevia em “paca” o “p’ra caralho”, e bronha toca si “expouca a silibrina” quem espia. “Cacilda” foi “cacete”, e “encher o sacco” virou “…a paciencia”. Do sovaco o cheiro era “cecê”. Porem do pé, um termo que la muito bom nem é, “chulé” nunca foi feio quando dicto, mas, hoje ainda, passa por “maldicto” quem põe chulé no verso, e “chulo”, até, si for o pé fedido um da ralé.
DISSONNETTO DO CONSENSO NO CONTRASENSO [1495]
Estava inspiradissimo e fallava o Lula de improviso: lembra o ratto, a enchente, a merda, a fedentina brava que enfrenta o miseravel… Mundo ingrato! Repete o termo “merda”: não achava synonymo mais culto. Mas o facto de estar perante um publico sem trava na lingua lhe auctoriza o desaccapto. Anima-se a platéa. Um mais bandalho concorda: “Mas que merda, meu! Caralho! Tá certo o presidente, mesmo, porra!” O pappo se transforma numa zorra. Os outros fazem khoro: “Porra, meu! Que merda! Pobre sempre se fodeu!” Que bom que ao mesmo termo se recorra! Tomara que esse espirito não morra!
DISSONNETTO DOS DESCUIDOS CHULOS [1496]
Palavras são palavras… Si Chicago é nome de cidade, sem fallar de Boston, Praga, Mérida, não cago si chamo um nome serio de vulgar. Si Bulhões de Carvalho eu baptizar a rua dum puteiro, nada vago será o sentido dado. Esse logar do Rio sempre teve o pato pago. Quem manda haver num nome som sacana? Comparam o cacophato à sargeta? Um gajo do Timor chama Xanana, não chama? E o mafioso era Buscetta! Depois querem que eu seja cuidadoso, que poupe do borrão minha canneta! Ou não me chamarei Glauco Mattoso, ou gaffes nada impede que eu commetta!
DISSONNETTO DO CALÃO PALACIANO [1541]
São elles contra nós: quem se reune naquelles gabinetes nos debocha. Ninguem mais se demitte nem se pune: seus cargos são mais solidos que rocha. Mas, entre nós, ninguem prosegue immune a arbitrios e prisões, e jamais brocha o gesto que a alguns dedos outros une, tal como o pau no cu se nos attocha. Não xingo como o povo nos esportes. Maldictos! Desgraçados! Quem me escuta, pergunta: por que não “filhos da puta”? Não quero os palavrões usar sem cortes. Ja foram muito gastos entre os caras, ja foram mais lethaes que brutas mortes, no pappo que elles levam… São mais raras as minhas palavrinhas, mas mais fortes.
DISSONNETTO DO ANGLICISMO NO RABO [1593]
Ha termos que a pronuncia apportugueza sem custo e sem exforço: “esporte”, “estresse”, “sinuca”, “futebol”… Mas o que pesa na falla portugueza aos olhos cresce. “Download” é um bom exemplo do que lesa a lingua, como um nó que se lhe desse. Mas não acceito quando alguem despreza a exacta traducção, como accontesce. “Sem fio”, equivalente ao tal “wireless”, algo impronunciavel attravés dos labios brazileiros, corrobora o que foi dicto aqui como la fora. Emquanto o advanço tira, em tudo, o fio, alguma coisa a cabo, desconfio, na contramão caminha e nos explora, tal como o que pagamos bem agora.
DISSONNETTO DA BURRICE IMMORTAL [1621]
A coisa mais estupida ja lida por mim ultimamente é o tal do “risco de morte”! Essa é “de morte”, mesmo! Lida com termos quem nos olhos tem um cisco!
Corro “risco de vida” si me arrisco a poncto de morrer, pois, claro, é a vida que está correndo o risco! Mas nem pisco meu olho até que alguem nisso reincida!
Trocar “morrer” por “morte” na expressão não é bom raciocinio, pois “de” não tem unica funcção neste idioma, nem para quem está, na cama, em coma. Não corre risco a morte: ella é fatal. “De morte” é o babacão que, no jornal, no radio ou na tevê, barriga coma! Errinhos desses nossa midia somma.
DISSONNETTO DA “INGUINORANÇA” NACIONAL [1622]
Si vivo fosse, o Ponte Preta iria de sobra abbastescer seu “festival”. Paresce até que está a democracia mais fertil em besteira que o normal. Em plena dictadura, o que se lia de falha e de erro crasso! Um general fallando ja bastava! Mas, um dia, soubemos que a burrice é universal! “Eu vou estar fazendo”, “appoiamento”, “peitar”, “risco de morte”, “chechelento”, “soffrivel”, “em funcção de”, “presidenta”, tal como o “putisgrilla” dos septenta… Si nomeado “ombudsman”, Sergio Porto teria, num collega, o descomforto de quem tal besteirol goza e commenta. Mas hoje todo mundo merda aguenta…
DISSONNETTO DA GRAPHIA POLITICAMENTE CORRECTA [1683]
Se escreve que é “veado” ou que é “viado”? Se escreve que é “boceta” ou que é “buceta”? Depende da intenção: si o bicho é dado por macho ou si a conducta o comprometta. Si o bicho é “bicha”, um “I” será graphado; si appenas bicho, um “E” faz a canneta. E quanto à chochotinha? Algum boccado de pecha está no pau que se lhe metta? O estojo de rapé ja está em desuso, no proprio territorio, o solo luso, e ja ninguem precisa desses termos. Importa-nos, na foda, gozo termos. Da vulva todo mundo necessita, até quem não adspira, traga ou pitta, pois della dependemos ao nascermos, que, vida affora, aos machos põe enfermos.
DISSONNETTO PARA UM BEBÊ CHORÃO [1747]
Emquanto o bebezinho dorme, os dois recemcasados trepam. De repente, no meio da chupeta, param, pois accorda o fofo e chora, descontente. Na hora o gajo brocha! P’ra depois ja fica aquella foda! A mãe se sente forçada a outra chupeta, e o nome aos bois convem que se lhes dê na voz corrente. Por codigo um calão não se permuta. “Chupeta” a gente “dá” para a creança, mas “faz” quando o chupado só descansa depois de ejacular, como um chicuta. Quem preza seu orgasmo não relucta. Si o gajo não gozou, tanto peor!
Agora o bebê sabe ja de cor os termos da expressão “filho da puta”.
DISSONNETTO PARA UMA CANTIGA DE RODA [1752]
Cantando que “Attirei o pau no gatto…” estavam as creanças, mas alguem achou que se empossava no mandato de moralizador, e ja nos vem com outra: “Não attire o pau no gatto…”! Será que alguem pretende ser tambem censor da tradição? Nenhum novato a historia “rectifica”, nem ninguem! Ja basta o que, em leitura, a gente grava! No livro “Oitenta e quattro” se mostrava que a civilização, agora escrava do totalitarismo, era subjeita a revisões historicas: o pau é que nos foi jogado pelo mau bichano, e nós miamos, desta feita. Será que ‘inda haverá quem merda acceita?
DISSONNETTO PARA UMA ESTRELLA MENESTRELA [1754]
“Poeta” ou “poetiza”? Ja a Cecilia Meirelles que “poesia não tem sexo” affirma… Que bobagem, minha filha! Não diga outro negocio tão sem nexo! Tem sexo o proprio verso! Na familia poetica, por macho me conhesço, mas mesmo a poesia a gente a pilha com cara de mulher ou rosto advesso.
Cesura femea, pés bem femininos, cuidados com a metrica precisa, comprovam que detalhes pequeninos distinguem, ja na forma, a poetiza. Não venha, Cecilinha, achar que é tudo a mesma coisa aquillo que se visa no officio, pois um verso caralhudo mais forte é que o pé macho que me pisa!
DISSONNETTO PARA UMA REFORMA ORTHOGRAPHICA [1803]
Vogal que, em Portugal, soa fechada, aqui se falla aberta, ou viceversa. Por isso, si abolido o accento, em nada a coisa nos adjuda, é these adversa. “atéia”, “ateia”, “véia”, “veia”… cada exemplo me convence que a conversa de unir orthographias é “roubada”: só presta desserviço e só dispersa! Si Esteites e Inglaterra ja conveem que o proprio inglez suas differenças tem na escripta e na pronuncia, que direi? Direi que, ja de cara, não gostei. Por mim, ja vou fallando: não concordo com tudo na reforma, e nunca a bordo de tal canoa, em verso, embarcarei. De esthetica, amigões, eu é que sei!
DISSONNETTO DA MORTE DE RÉTIF [1806]
Rétif é menos lido do que Sade, de quem fora rival. Nos deu, comtudo, o termo que define esta vontade que sinto de lamber um pé thalludo. O termo “retifismo”, na verdade, refere-se a um pezinho mais mehudo: aquelle da Fanchette, a tal beldade a quem dedica um livro que eu estudo. Qualquer alternativa alguem suggere. Aqui, “podolatria” é mais usado, mas termo nenhum tem significado exacto, quando ao cheiro se refere, ainda que noção nenhuma altere. Si “podosmophilia” suggeri, quem gosta de chulé disso até ri, ja que vulgar é o termo que prefere.
DISSONNETTO PARA UM TRACTAMENTO DESCABIDO [1834]
Si tracto alguem por “meu”, o que supponho é que lhe estou dizendo “meu amigo”, “meu caro”, “meu querido”… Nem por sonho direi a uma mulher isso que digo! Si a femea é “minha amiga”, me disponho a dar-lhe appenas “minha” si commigo quizer intimidade, pois medonho seria dizer “meu”, que não consigo! A menos que ella lesbica se diga, tractal-a como “meu” daria em briga si a moça se offendesse… Então me educo. Mas, quando ouço “meu”, claro que eu encuco. Portanto, quando escuto os namorados no mesmo tractamento, dos dois lados, calculo que ella é macha e elle um eunucho, ou todo mundo ja ficou maluco.
DISSONNETTO PARA QUEM FICA [1839]
Chamar de “amorizade” um sentimento ambiguo justifica essa attitude bem descompromissada em quem de vento tem sua cabecinha e alguem illude. Si appenas namorar é seu intento, precisa a inconsequente juventude de rotulos exactos? Nem aguento mais esperar que a giria actual mude. Fallou-se de “amizade colorida”, “ficagem”, “ficação”, e ha quem decida que o termo mais correcto é “ficarice”, mas não que vigarice eu nisso visse… Talvez eu seja muito rigoroso, mas, quanto mais precoce for o gozo, mais certo está quem disso aquillo disse, ainda que, de boa, a gente risse.
DISSONNETTO PARA A LUZ CORTADA [1861]
“Blecaute” ou “appagão”? Ninguem diria que um desses dois prefere, pois é triste a noite alguem passar sem energia e, sem gelo, a comida não resiste. Som desligado, banho de agua fria. Sem electricidade não exsiste tevê, computador, calor na pia nem vibrador que ponha o pau em riste. Si a pilha não resolve, com a vella se quebra um pouco o galho… Porem della não vamos depender por muitas horas e até nos arriscamos, dando uns foras. Peor, no espaço publico, é ficar a gente sem saber em que logar entrou, si no banheiro das senhoras ou onde os gallos perdem as esporas.
DISSONNETTO DA MORTE DE MASOCH [1895]
Si, antes de Sade, “sadico” era dicto “malvado”, “impiedoso” ou “sanguinario”, antes do Cavalheiro os termos cito: “estoico”, “penitente”, “voluntario”. Não ha sentido lato que equipare-o ao termo “masochista”, que maldicto deixou de ser faz tempo, ja que vario é seu emprego, que jamais evito. A gente facilmente o nome incute. O proprio Leopoldo, todavia, usava outra expressão, na qual havia sentidos que Deleuze hoje discute. Palavra sempre exsiste que permute: Foi “suprasensual” o Cavalheiro e, sob o pé de Wanda prisioneiro, até dum outro macho levou chute.
DISSONNETTO PARA UMA RECEITA DE POEMA [1903]
Amigo meu tem methodo advançado de compor um poema: elle me conta que aquillo é “dadaismo”! “Mas cuidado”, advisa, “não é coisa feita à tonta!” Abrindo o diccionario, tem deixado o dedo ir ao acaso e, quando apponcta para um aleatorio termo, o achado ao verso se incorpora e um todo monta. Tentei seguir, tambem, o tal processo, achando que com isso me repimpo, e às cegas excolhi, porem confesso que nunca fui feliz nesse garimpo. Rhymei “samba” com “tumulo” e “cocô” com “lyra”; “putaria” com “Olympo” ou “nitroglycerina”… Meu pornô poema reduziu-se a texto limpo.
DISSONNETTO PARA UM VOCABULARIO CONTROVERSO [1916]
Embora em Portugal eu tenha a avó, tal como no Brazil la não se falla: “garota” é la “chavala”, vejam só!
Por que não chamam logo de “cavalla”?
Aqui, diriam “egua”: é de dar dó!
Daqui a pouco, a uma “burra” ja se eguala!
Me ponho a imaginar na lingua o nó que dá a “boceta” a um luso, ao pronuncial-a!
La dizem “conna”, ou “conno”, um masculino! Calculem si um “boceto” adopto e ensigno que é certo e preferivel… Hem? Que excracho!
Iria assim fallar o populacho?
Teremos que dizer, então, “caralha”!
Será que bem ao phallo o termo calha?
Será que ‘inda dirão que “bicha” é macho? “De bunda” ja será a cara de tacho?
DISSONNETTO PARA UM IDIOMA DO CÃO [1946]
A gente mal consegue ter fluencia na nossa propria lingua, quanto mais em linguas extrangeiras! Paciencia eu logo perco e as deixo para traz. Por isso invejo quando a entenda e pense-a, a lingua ingleza, um cão, e agil se faz a tudo que lhe fallam, com urgencia ou não, em tons formaes ou informaes. Não acham humilhante? Vêem vocês? Até um cachorro bobo entende inglez! E a gente aqui pronunciando errado a lettra dum rockinho ja datado! Em vez de “Au! Au!”, só lattem, la, “Bow-wow!” e em portuguez não querem, nem a pau, ouvir miando um gatto no telhado! “Good boy!”: um cão entende esse recado!
DISSONNETTO PARA UMA VELHA PERGUNTA [2046]
Accerca do motivo por que escrevo perguntam-me outra vez… Respondo ja: si espero, na cegueira, ser longevo, para mactar o tempo não será.
Ganhar dinheiro? Fama? Não me attrevo a dar dessas respostas. Quem as dá até pode ser franco, mas relevo seu nome só na lapide terá.
Escrevo porque, cego, ja não leio.
Escrevo porque entendo o que me soa.
Si abuso, ao versejar, do nome feio, é para não fallar, na rua, à toa.
Escrevo e não me drogo, nem me macto. Escrevo em primeirissima pessoa.
Escrevo porque vivo, e fico grato ao verso, ja que a vida não é boa.
DISSONNETTO PARA A LINGUAGEM DESBOCCADA [2069]
Foi uma camonista quem me disse: “Vocês só valorizam de Bocage a face pornographica, a chulice, por serem brazileiros…” Que bobagem! Tambem os portuguezes à boccagem do Mestre dão valor! Contra a mesmice, poetas revoltados assim agem! Não fosse tal angustia o que eu sentisse! Não ha por que temer nosso calão! Bocage, como Kafka ou como Belli, fez como quem aos posteros appelle que rasguem seus escriptos, mas em vão! Ninguem, por ser mais chulo, é menos são, pois é na obscenidade que um auctor demonstra ser humano! Hoje um valor mais alto ao palavrão os homens dão.
DISSONNETTO PARA UM VERNACULO RIDICULO [2095]
Televisão “a cores”, uma entrega “a domicilio”, “a nivel de”: será que é tudo mesmo errado e que não pega la muito bem usar, no caso, um “a”?
Si alguem tractado “a beijos” mais se appega e “a bordo” não reclama quem está, tambem eu uso, “a exemplo de” um collega, a forma em “a”, “a despeito de” ser má. “Em domicilio”? “Em cores”? Fica horrivel! Recuso-me a dizer, tambem, “em nivel”! Não vive a lingua só de formas natas! Insistem nisso vozes muito chatas!
Si a culpa é do francez, viva o francez!
Prefiro affrancezar a ser freguez daquelle “internetez” dos informatas, pois esse é linguajar de quattro pattas!
DISSONNETTO PARA A FLEXIBILIDADE DA LINGUA [2096]
Uma trabalhadora pode ser ou não uma mulher trabalhadeira. Terão derivações taes o poder de dar um tom mais claro ao que se queira? Um homem attrahente pode ter valor pouco attractivo na charteira. Materias optativas por prazer cursei, com opcional lente extrangeira. Si alguem, por prevenção, commigo implica, inutil implicancia a mim dedica, e clara implicação disso deriva. Pois é, de taes opções ninguem se exquiva! Implica tanta birra em attestado de immexibilidade, pois, coitado, o gajo morre, emquanto a lingua é viva e sempre nos fará gastar saliva.
DISSONNETTO PARA O VOCABULARIO DUM SERVENTUARIO [2119]
“Industria” e “industriario” são o certo. Tambem “presidio” abriga o que é correcto: “presidiario”, é claro. Então, allerto: o termo “chartorario” tem meu veto. Será “chartoriario” o que mais perto das normas do idioma eu interpreto. Por que o Judiciario, tão experto nas leis, ante taes erros fica quieto?
Peor é “latrocida”, asneira pura, frequente da policia na mensagem, pois não é “latrocidio” a tal figura e sim o “latrocinio”, a ladroagem. “Mandado”, e não “mandato”, solta ou prende. Quem é que no vernaculo quer pagem?
“Mandato” é o prazo dado a quem pretende mil erros corrigir. Falta a coragem…
DISSONNETTO PARA A TUTELA DA CORRUPTELA [2401]
“Adéquo” ou “adeqúo”? Qual será a forma preferivel? Hem? O que? Mas como? Não exsiste, diz você? Pois digo-lhe que exsiste, desde ja. Teimoso, você, né? Não vê que está escripto logo accyma? Si alguem lê e sabe solettrar um abecê percebe que a palavra exsistirá. Que mais que “não exsiste”? “Mandatorio”? Só temos “mandatario”? Si no inglez exsiste, traduzir é obrigatorio! Diria alguem mais chato, desta vez: {Errado é “mercadinho”! O certo é “emporio”!} Ah, deixem de frescura, tá? Vocês, grammaticos, terão poder censorio, acaso? São babás? Somos bebês?
DISSONNETTO PARA UMA PALAVRA-OMNIBUS [2402]
Si “confa” é “confusão”, “cabeça” é “cuca”. O termo “rebulliço” deu “rebu”. Menor só não ficou pois curto é “cu”. De “movimentação” veiu “muvuca”. Quando a palavra “snooker” dá “sinuca”, paresce se allongar, mas si “sifu” resume um “se fodeu”, foi posto a nu que a giria a poupar lingua nos educa, pois temos, de fallar, muita preguiça e, em vez de “do caralho”, usamos “duca”.
Menor exforço, está nessa premissa fundada uma das regras do calão: o povo não diz “Cicera”, diz “Ciça”. “Padrinho” dá “padim”, e só “busão” ficou o tal vehiculo que enguiça no transito e o peão deixa na mão.
DISSONNETTO PARA UM VOCABULO MASCULO [2403]
Ha certos palavrões para os quaes não exsiste explicação, como “caralho”. Si “do caralho” é “duca” e “p’ra caralho” é “paca”, não será contradicção? Por que? Ora, por causa da noção que tem o povo de poupar trabalho: vive encurtando, p’ra quebrar o galho, buscando sempre a minima extensão. O povo é, minha gente, experto à bessa! Nem mesmo o analphabeto será mongo!
Si o termo encurta, aquillo que elle expressa é tanto mais viril quanto mais longo: o macho quer que um palmo o pau lhe meça. Quer mais, para ser franco… Eu não prolongo o caso porque nunca passa dessa medida a picca, excepto… la no Congo.
DISSONNETTO PARA QUEM CONJUGA E QUEM SUBJUGA [2404]
Suggiro que a grammatica renove algumas velhas regras, pois, na vida, apprende-se a fazer. Você duvida? Pois eu chovo, tu choves, elle chove. Eu chovo, sim! Você quer que eu comprove? Pois chovo-lhe meu mijo, e de bebida fará você o que urino! Só revida você si a superior não me promove. No sadomasochismo, si eu lhe urino na bocca, sou seu mestre! O que lhe ensigna a lingua é, sem grammatica, ouro fino! Ao sadico o calão se subordina! Mijar é, pois, um acto fescennino! O escravo se submette à disciplina bebendo o que lhe chovem: meu destino de cego é que me chovam, triste signa!
DISSONNETTO PARA UMA SÓ PALAVRA [2525]
A lusa poesia fez eschola cantando os septe mares, mas eu faço questão de terra firme, e meu pedaço de chão ninguem demarca nem controla. Mais amplo que a terrestre esphera, ou bolla menor que o proprio espaço do meu passo, o chão que um cego pisa, tão excasso e immenso, mais que um solo, é o termo “sola”. Assim, no feminino, a sola é minha lembrança da visão, quando o menino pisou na minha cara e eu nove tinha. Combino masculino e feminino. Combino o que pés lambe e o que expezinha. Si tenho de compor, portanto, um hymno ao maximo vocabulo, uma linha bastava: escrevo “sola” e aqui termino.
DISSONNETTO PARA UM GRAFFITE EROTICAMENTE INCORRECTO [2561]
“Brochar”, segundo o Lello, vem de “brocha”. Portanto, não se escreve isso com “X”. Aquelle, pois, que fica sem dar bis graphia tem rhymando com “galocha”. De “piche” vem “pichar”, e quem na rocha desenha, pincta, escreve o que se diz e até as impublicaveis coisas vis, faz muita “pichação” e a pedra attocha. Não falta algum bundão, de dedo em riste, tentando o “X” usar e ter razão. Não sei como é que alguem ainda insiste naquella tão “broxante pixação”, fazendo papel feio, pobre e triste!
Tambem eu perderia meu tesão si um “maxo” pretender que me conquiste um “xeiro” de “xulé” sem correcção!
DISSONNETTO PARA UMA ORGIA INGENUA [2571]
Na giria dos lettristas, era “orgia” palavra com sentido não tão baixo quanto o de “bacchanal”, e nem encaixo “suruba” nessa extensa putaria. “Orgia” era somente essa vadia vidinha do bohemio, cujo excracho consiste em mixturar-se ao populacho noctivago, indolente à luz do dia.
Amar sem ser amado é como a cruz! Por causa duma orgia, uma mulher despreza o mesmo macho que a seduz e fica com um novo que vier. Alheia a tantos gajos jururus, abrir sua janella ella nem quer ao pobre seresteiro, que faz jus à fama e em busca vae dum novo “affair”.
DISSONNETTO PARA UM MOTTE INCOMMENSURAVEL [2605]
No tempo da marchinha, ha quem invente de tudo como thema: Tyrol, China, touradas, mar, deserto… Mas a fina visão do Hervê tal fama não desmente. “Inconstitucionalissimamente”, palavra cuja lenda predomina na lingua, lhe serviu como supina tirada, o tom mantendo irreverente. Na bocca duma Carmen, é perfeita a historia da mulher que algum ingrato “deixou para semente” e ja a rejeita. Um caso bem frequente, é o que eu constato. Mas não com tal palavra, desta feita. Nenhum dos dissonnettos em que tracto do thema desamores approveita. Só mesmo o Cordovil apprompta o pratto!
DISSONNETTO PARA A ALPHABETIZAÇÃO DOS OPPRIMIDOS [2670]
“A-eme-e-i” quer dizer “amei”. “Esse-o-efe-erre-i” quer dizer “soffri”. Si um ama e soffre, e um outro goza e ri, da sadica chartilha impera a lei. Mas, nesse abecedario, eu nunca sei quando é que uma cedilha vae alli ou sae o accento agudo que ia aqui, ja tantas as reformas que adoptei. A alphabetização aqui, de meia tigella, nunca chega à vil ralé. Juju, que de chartilhas anda cheia, até ja escreve “assukar”, “çal”, “qafé”. Às vezes, ella ainda titubeia. Dez annos, e a coitada ‘inda tem fé que um dia apprenderá, para que leia, lambendo, um texto em braille no meu pé.
DISSONNETTO SOBRE UM TERRITORIO LIVRE [2763]
“Orgia” ja ganhou novo sentido, mas outra palavrinha está mudada. Rhymar “samba” com “bamba” não é nada: mais coisas o sambista havia sido. Curioso é o “desaccapto”, definido, no morro, como a fama desfructada por toda competente battucada bisada até, nas ruas, a pedido. A origem bem se explica: prohibida por perturbar a ordem ca do asphalto, no morro é que a follia tinha vida. Mas vinha o carnaval, e esse salto alto dos brancos se rendia, na avenida, ao negro, “de maneiras” dicto “falto”. Por isso minha lyrica revida as dores quando os negros eu exalto.
DISSONNETTO SOBRE O PALAVREADO PATRULHADO [2959]
Desmoralização: eis o que está, no samba, alguem tentando. Acham que soa pejorativamente uma pessoa chamar-se de “malandro”! Se viu ja?
Allegam que essa fama é muito má, que o samba só enaltesce a “vida boa”, “cabrochas” e “navalhas”, que appregoa o vicio, a vadiagem… Alto la!
Estão querendo o que? Samba-canção fallando só de amores cor-de-rosa, de flor e serenata no portão?
Malandro gosta mesmo é da fogosa cabrocha, que diz giria e palavrão, que samba e com a turma bem se entrosa, que, quando dos artelhos lambe o vão num “cabra macho”, o phallo delle goza!
DISSONNETTO SOBRE UMA PROFUNDA IGNORANCIA [3019]
Innumeras bobagens tenho ouvido accerca da camada mais profunda do leito petrolifero, onde abunda o raio do “ouro negro”, e aqui revido. O logico é “subsal”, mas sem sentido são termos que merescem minha tunda: “pré-sal” e “petro-sal”. Ninguem confunda o accerto com o estupido ruido!
Si a sonda vae descer, não é “pré-sal”! Quem é que tanto accincte assim attura?
Si o oleo com o sal não se mixtura, não pode alguem fallar em “petro-sal”! Ja temos, de petroleo, até fartura! Fizeram disso muito carnaval, mas falta intelligencia, e o mais bossal é quem nos vem propor nomenclatura!
DISSONNETTO SOBRE UMA VACCA PROPHANADA [3027]
Daquella secular orthographia, chamada “etymologica”, devoto me faço novamente e, agora, a adopto mais como reacção de rebeldia. Na França ou na Inglaterra não havia reformas como a nossa, e mais fé boto nas lettras geminadas, nas quaes noto signal de coherencia, em theoria. Escrevo, commummente, “chlorophylla”, “chrysanthemo”, “appellido” e, só depois de prompta, volto à escripta attento, pois faltar pode um modello a corrigil-a. Mais mexem, mais resisto, e os “TT” são dois em tudo quanto assigno. Em risco, oscilla um Sylva entre os Mattosos, mas scintilla meu nome litterario dado aos bois.
DISSONNETTO SOBRE UMA SACCOLA DE FEIRA [3064]
“Pepino”, “abacaxi”… Não se constranja fazendo dum legume ou duma fructa synonymo de “embrulho”: quem escuta alguem fallando assim, ja “saca” e “manja”. Difficil é saber como se arranja sentido que, applicado a uma conducta fallivel, mais sacana que a da puta, dá compta dum “banana” ou dum “laranja”. Não vamos prejulgar a fructa, à tonta. Verdade tem que ser a nua, a crua.
“Laranja” é um innocente, cuja compta usada é, de fachada, em falcatrua. Que a fructa tem com isso? Quem me conta?
“Banana” é o governante, que recua na hora de punir quem rouba e apprompta e assim, por ommissão, a culpa é sua.
NIVEL COMPATIVEL [3207]
“Disponibilizar” é palavrão?
E “inconstitucionalissimamente”?
E “desincompatibilização”?
Alguem ha que maior palavra invente?
Achou bons taes vocabulos alguem?
Só mesmo no Brazil! Será que aqui “competitividade” alguem diz bem?
Fallar sem titubeio eu nunca ouvi.
Não falta quem uns termos mais proponha capazes de travar a nossa lingua.
Mas eu, “masturbação”, que é longa, xingo-a, em claro portuguez, de simples “bronha”.
A serio não discursa, aqui, ninguem!
Quem é que, proferindo, não sorri ao ler “pirlimpimpim” ou “nhenhenhem”?
E ao gringo? É facil “Itamaraty”? “Compatibilidade” é, por si, tão difficil de fallar a toda gente!
Não basta? Por que, então, mais encheção?
Digamos, pois, “jeitinho”, simplesmente!
O MAIS MASCULO VOCABULO VERNACULO [3222]
Propoz Bocage em versos a adivinha: “É pau, e rei dos paus”, diz o poeta. Não rhyma nem com “teta” nem com “setta”, mas dicas deu o vate em cada linha.
Nem tudo, todavia, a lyra abbona.
Começa com “C” mesmo, e não com “P”. “Vagina”, em Portugal, se escreve “conna”.
La, “porra” não é “semen” p’ra quem lê.
Bocage lhe compara o termo a toda especie de madeira, às vezes rija, às vezes molle, pela qual se mija ou pela qual exporre alguem que foda.
Pequeno ou grande, fama tem na zona. Fedendo a bacalhau, salga o buquê.
É doce quando o chupa uma bichona e, para ser “carvalho”, falta o “V”. Cabeça tem careca, mais que a minha.
É aquillo que se mette na boceta: si alguem tardou a achar, no cu que o metta ou nelle faça a chula chupetinha!
O POLYGLOTTA QUE CONNOTA [3240]
Francophono ou anglophono, me viro. Cabeça não é teta, nem pescoço é cu! Garçon, si é velho, não é moço!
A qual vocabulario me refiro?
A logica, mandei-a logo aos demos. Si formos confundir gatto com cha (aquelle da chaleira), que diremos do bollo? Exsiste um gatto de fubá?
A culpa é do francez, que não nos soa fazendo, em portuguez, egual sentido.
No inglez, tambem, às vezes, eu collido com termos bem oppostos pela proa. Perante tal impasse, que faremos? Si digo a alguem que puxe, não será correcto fallar “push”? Outros extremos commette quem empurra um “pull” p’ra la?
A lingua que enrollei ja deu seu gyro.
Batata quente engulo e, com caroço, o angu, no francez fino e no inglez grosso. Mais uma traducção dessas, eu piro!
NATURAL CURIOSIDADE [3273]
Problema geographico outro vejo: Chamar devo quem nasce em Sancta Ritta do Passa Quattro como? E quem la habita?
Será a questão motivo de mottejo?
Será sanctarittense? E si não for?
Será passaquattrense? Esse problema maior é do que alguem possa suppor e pode nos levar a algum dilemma. Um caso interessante é Conceição do Matto Dentro. E o gajo que la nasce?
Queria que o gentilico o chamasse do que? Concepcionense? Ah, não? E então? Brazil affora, até governador ignora que alguem seja só “da gemma” si os paes da mesma terra teem a cor, não só por natural ser de Ipanema. E muitos outros casos eu quotejo… Campinas e Campina Grande: evita chamar-se campinense quem as cita? Chamar de campineiro tem ensejo?
COISA DE LOUCO [3353]
Importa alguma coisa que eu defina? A “coisa” estava prompta na cabeça. Preciso digital-a antes que exquesça, mas este trabalhinho não termina.
Fazemos, com a “coisa”, ceremonia. Durante o dia, faço “coisa” paca, mas nada substitue aquella insomnia, ja chronica, que ha decadas me attacca. O tempo entre um orgasmo e um pesadello é longo: não o occupa outra punheta, somente. É, pois, preciso que eu commetta a “coisa” e, então, consiga preenchel-o. Occorre ella à pessoa mais idonea. Assim euphemizei. Mas a velhaca é lucida! Jamais me occorre erronea palavra: é sempre “merda” ou “porra” a caca. É chula a “coisa”, torpe e fescennina.
À noite, a “coisa” é sempre mais travessa: a insomnia nunca a deixa que ammollesça, ainda que só saia, mesmo, urina.
INTENÇÃO SEM EXTENSÃO [3360]
Um poncto lhes explico desta minha escripta, que bom foro, la attraz, tinha. Accento, til, cedilha… a maldicção em bençam quasi tem transformação. Não é questão de muita sapiencia. O accento é dispensavel, seja agudo ou seja circumflexo: assim, “sciencia”, “chrysanthemo” e “psalmodia” (com “P” mudo).
Tambem o til, às vezes, se dispensa si escrevo “Estevam”, “orpham”, “orgam”, “sotam”, mas mesmo os que o systema antigo adoptam não podem, sem cedilha, escrever “bença”. Vejamos qual seria a consequencia. Tirei do termo “bençam” quasi tudo de inutil: til, accento… Mas quem vence a cedilha, si um “K” vira o “C” desnudo? Consigo “disfarsar”, “dansar”, mas não mixturo “paço” e “passo” na eleição. Emfim, depois da minha ladainha, ja sabem vocês como se escrevinha.
VOCALICA VOCAÇÃO [3366]
Questão mais alphabetica não ha: aberta é que a vogal idéa dá daquillo que na foda incluso está? Resposta promptamente tenho ja: A foda se contenta e cabe em si. Curriculo da puta e do michê, o erotico é, tambem, do travesti: chardapio de quem coma ou de quem dê. Exerce o mesmo officio, si é pornô, a lyra que um ephebo exhibe nu, comendo uma boceta, enchendo um cu de porra, ou qualquer bocca de cocô. No affan sadomasô, proponho aqui: chupar pau é dever de quem não vê, mas, antes, lambe um cego o que eu lambi: artelhos, si o chulé for seu buquê. Linguagem corporal jamais é má nem boa, appenas tactil beabá. Officio do orificio, a foda irá, fechando e abrindo, aonde a vogal va.
FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]
Fugir à temptação é tentativa inutil, si o peccado nos diz sim. Pudera! De Satan ninguem se exquiva!
Não ha mysterio nisso, para mim.
Malgrado um crucifixo, uma agua benta, Satan temptar-nos tenta, e elle consegue!
Quem tenta se exquivar, si o Demo o tempta, percebe onde ammarrou, ja tarde, o jegue!
Por mais que esteja attento ao attemptado mortal que nos expreita em todo cantho, não tarda e, da sereia, attende ao canto aquelle que exquivar-se tem tentado. Nenhuma norma sancta se sustenta! Um cego asceta, mesmo que renegue a tactil temptação, suja e nojenta, irá para o Diabo que o carregue!
Não ha, para quem pecca, alternativa: poupar-se de peccar é que é ruim!
Ou prova o que deprava, ou só se priva aquelle que prevê do mundo o fim.
ANTONYMO DE OMNIVORO [3393]
Na forma culta, como é que se chama quem come o popular pheijão co’arroz?
“Phaseoloryzophago”, ora pois!
Ninguem do eruditismo quer a fama. Bem, vamos seguir esse fino faro…
Quem passa a pão com agua, si “arto” é pão, seria um “hydrartophago”, está claro.
Carnivoro é o “creophago”, pois não?
Mas, caso o gajo coma carne crua, “omophago” será. Si for só leite, será, pois, “galactophago”. Que acceite appenas queijo: qual palavra a sua?
“Tyrophago”, sem duvida! O povão ignora taes vocabulos, ignaro.
Tomara ter no pratto o arroz-pheijão, que está, ja, por signal, bastante caro!
Sereis vós, pois, do typo que reclama?
Por serdes cannibal e nome aos bois vos dardes, “anthropophago” é o que sois, ainda que mostreis modos de dama.
NÃO CONFUNDA, NÃO CONTUNDA! [3397]
Linguagem é, no jogo, differente. Lesão, no futebol, sangrando ou não sangrando, não importa: é “contusão”. Da falta de cultura se resente.
Fractura, contractura… não importa, é tudo “contusão”. Si muscular ou ossea, não importa, é lettra morta. Até me accostumei ao linguajar. Do campo, quando o craque sae de maca directo para o proximo hospital, soffreu a “contusão”, jargão fatal que o mau commentarista bem destacca. La seja o que sentir, que o descomforta, só pode “contundido” o craque estar! “Contunde-se” na lingua, até, que é torta, quem queira de analysta aqui posar. Alguem ca me paresce incompetente.
Morreu de infarcto em campo? Ora, o jargão não falha: é “contusão” no coração! Mudar está faltando outro que tente.
CALÃO DE SALLÃO [3408]
Improprio sou, si “classico” pretenda que seja meu sonnetto. Propriedade terá si, porem, “crassico”, elle invade o campo fescennino e a baixa agenda. Nos olhos o Destino me poz venda e, assim, Masoch agora é quem foi Sade. Mas goza um preso, mesmo attraz de grade. Que offenda, pois, meu verso, em offerenda!
Não cortam “raios fulgidos” o preto futuro que me agguarda em tanto espaço, mas vingo-me e desforro no sonnetto e, como de brilhar questão não faço, peccado sem perdão eu não commetto nem é, si nelle incorro, erro tão crasso, tal como, numa guerra, haver no ghetto dos presos um espaço para abbraço.
AUTO PRO MOÇÃO [3409]
Meu coração por ti gela!
Meus affectos por ti são!
Ja que não posso amar ella, ja nella não penso, então!
Ja beijei a bocca della, que me disse: “Ja que tão pouca fé, depois, revela teu amor, tu me tens não!” Francamente, eu acho peta que uma mão não se prometta nesse pappo tão sincero!
Por que, então, ser tão severo?
Crê-me: ja passei por cada revés! Si excappei da amada, eu ca agora a ti, só, quero!
Vaes-me ja deixar de lero!
COBRANÇA QUE CANSA [3453]
Perguntaram ao poeta por que emprega palavrão. Respondeu elle: “Da recta eu não tiro o meu cu, não!”
Insistiram: {Quem se affecta, hoje em dia, com calão?}
E o poeta: “Essa selecta sociedade sem colhão!”
Quem os bardos só refuta não desiste: {É só o burguez que seu verso questão fez de aggredir, à força bruta?}
Mas o bardo da disputa está cheio: “Não, babaca!
É a mamãe, aquella vacca, que eu fodi, filho da puta!”
PRIMEIRAS LETTRAS [3525]
Na chartilha, que é pudica, não se diz “B” de “boceta”, “C” de “cu”, nem “P” de “picca”, nem de “pau”, nem de “punheta”. Numa eschola, bem não fica que na gatta o gatto metta nem contar que a dona Chica mostra a chota a algum cheireta. Um poeta que eu conhesço ja de cara o balde chuta: vira tudo pelo advesso e diz “Ivo viu a vulva”! Suppor cabe si a tal chana, si não for dalguma puta, é da avó, da mãe, da mana, e si a dona é ruiva ou fulva…
PEOR A EMENDA… [3563]
Nos septenta, eu escrevia poesia num fanzine pela antiga orthographia, que não ha quem hoje ensigne. Foi assim até que, um dia, um amigo me previne que era a nova a melhor via caso ao povo se destine. Fiz então a concessão e adoptei a accentuação mais phonetica de agora. Mas me emendo, não demora, pois voltei à velha escripta, mais correcta e mais bonita, que a reforma só peora. Não darei, não, outro fora!
JUMENTALIDADE [4001]
Mas é mesmo a maior anta quem bobagem tal sustenta: “Ja que exsiste a governanta, por que não a presidenta?”
Mais assusta e mais expanta haver anta que nos tenta convencer de que “estudanta” é normal, como “gerenta”!
Daqui a pouco, a governante, si é christan, tambem garante que ella é “crenta” algum jumento com logar no Parlamento!
Sendo assim, eu, que sou cego, e esta escura cruz carrego, que serei? Um “penitento”? Um “vidento”? Ah, não aguento!
SANS CONSCIENCIAS [4010]
Os orthographos se dão o direito, em seu affan auctoral, de usar ou não til agora, “N” ammanhan. Differença não farão ao irmão si tem “irman” e à “christã” si algum christão, christanmente, amar Satan. “Maçans” mordo e “maçãs” cago. “Romans” chupo e cuspo o bago. Livre excolha é minha fructa. Que ninguem, aqui, discuta! O que importa é que uma lei não fará do que graphei a burrice de quem chuta. Manterei esta conducta!
UM GRAMMA DE GRAMA [4184]
Si houver consummação, pode o consumo ficar muito mais caro em minha mesa. Si o pratto consumido é da franceza cozinha, me abhorresço e me consumo, pois facto consummado é que, si o rhumo for esse de evitar a pança obesa, porções sempre menores, com certeza, virão, e as refeições nunca eu consummo. Terei, portanto, o estomago vazio, quer seja o preço baixo ou elevado, ao fim de cada almosso onde o boccado não chega! E, quando passo fome, eu chio! O duro é pagar caro e, consummado o assalto ao bolso, sem nem dar um pio ao ver a compta, achar que me enfastio por só ter consumido um grão piccado!
HYPHENIZE SI QUIZER [4674]
Tem hyphen “meia-noite”? E “batteestacca”?
Eu ponho em “contramão”? E em “ponctapé”?
Si exsiste alguma regra aqui, qual é?
Alguem, sem “contratempo”, “contraattacca”?
É “couveflor” ou “couve-flor”? Quem saca?
Você decide! Um traço tecle até em “contra-attaque” ou “batte-estacca”, ué!
Ninguem de “prohibido” applica a placa!
Varia, mesmo, tudo, ultimamente e, quando grapho, um termo qualquer monto.
Vou ao “prompto soccorro”, sendo urgente!
Ou ao “prompto-soccorro”, si estou tonto?
Virou “logar commum” não ser “pé-quente”?
Excolho si é final, ou não, meu poncto e, desde que meu verso innove e invente, faz “chave de ouro” ou “chave-de-ouro”, e prompto!
COISAÇÃO
COISISTA
[4777]
Que coisa! Quando a coisa está coisada, ninguem acha que as coisas coisarão. Deixemos, pois, as coisas como estão, que é coisa de um tantinho assim, mais nada. Estou coisando tudo e, em breve, cada coisinha coisarei. Por isso, não preciso que me coisem. A questão é como descoisar a coisarada.
Melhor coisificarmos a coisinha que pormos a perder a coisa toda.
Eu mesmo não descoiso muito a minha, sinão ja vão dizer que a “cousa” é “douda”.
Bem antes que essa coisa toda exploda, descoiso o que coisei! Alguem ja tinha coisado coisa assim tão coisadinha? Coisissima nenhuma! Que se foda!
SIGNA FESCENNINA [4853]
Propuzeram ao poeta versejar sem palavrão. Respondeu-lhes: “Essa meta não condiz com meu colhão!” {Mas você não interpreta o que falla ao coração?}, insistiram. “Não! Me affecta só tesão!”, lhes disse, então. {Tantos themas ha que tracte! O talento você tem!
Poderá crear tambem outra coisa!}, alguem rebatte. “Toda foda ha quem empatte! Vão tomar no cu! Que merda! Quem de Sade os themas herda falla em foda!”, attesta o vate.
IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]
Ficou fodidamente emputescida, putissima ficou, vaginalmente fallando! E, si a mulher puta se sente, inexporradamente não revida!
Revida, pois, no exporro e, caso aggrida o macho, machucado elle, analmente, não fica inenrabavel! Sae da frente, portanto, quem com femeas lindas lida!
Aquella de quem fallo, a mais ferrenha das antiphallocraticas, não deixa barato e, emmachescida, desce a lenha, pois superpredicados mil enfeixa!
Não ha quem propudor com ella tenha! Si, immasculinamente, o homem se queixa, mettido a desmetter, depois não venha recaralhalizar, pois perde a gueixa!
DISSONNETTO DUM AROMA QUE NÃO EMBROMA (1) [5322]
Flatulencia é melhor jeito de dizer ventosidade, mas não é termo perfeito. Não tem outro que me aggrade? Gazes causam bello effeito, mas maior sinceridade tem quem usa um que eu acceito e que exbanja propriedade. O calão ja bem attende!
Digo peido e não dependo de mais nada como addendo. Todo mundo comprehende!
Algo cabe que eu emende: Traque ou bufa são appenas synonymias mais amenas para aquillo, emfim, que offende.
APOSTROPHANDO OS REVISORES [5542]
Detalhes orthographicos adopto por mera protecção da integridade do texto. Exemplo: fosse por vontade, apostropho eu não punha onde ora boto. Si “para” eu reduzi p’ra “pra”, meu voto é para que respeitem. Ninguem ha de suppor que me exquesci dum “a”! Verdade? Não, claro! Impaciente, ja me exgotto. Ser victima de gralhas? Não, tomara! Não sou auctor qualquer, um Ninguem Zé!
Si um fracco revisor meu “pra” p’ra “para” corrige, do meu verso quebra o pé. Não posso correr riscos, tá na cara! Si fosse “pro”, “praquelle”, pode até ficar assim, pois nisso não repara ninguem. Mas, num “pra”, nunca demais é.
VERGONHA ALHEIA [5567]
Me lembro: “gay” appenas, certa vez, calhou com mais leveza ao que “veado” e “bicha” tinham sido, em portuguez mettido a linguajar globalizado. Depois, “geeleesse”, que se fez ouvir, foi “boa” sigla. Não do aggrado meu, farto que fiquei de, todo mez, mudarem as palavras de algo “errado”. Mas “elegebetê” pensam vocês que basta aos imbecis? Não! Ja me enfado de tanta lettra nova! Alguem talvez tem “elegebetequemais” usado? Então vou suggerir, sem mais porquês, signaes de egual, arroba, sublinhado, cerquilha, porcentagem… Qual nudez terá a diversidade conquistado?
PRIMEIRA RHAPSODIA CAMONEANA [5571]
No verso da “Minh’alma que partira…” não era só cacophato o problema. Camões insuperavel foi na lyra, mas, clara, a voz nem sempre foi extrema. Ninguem vae “se partir”, salvo quem gema de dor ao “se quebrar”. Alguem que em mira tem ir-se, appenas “parte”. Nesse thema da fuga, quem pronome põe, delira. Alguem que “vae”, às vezes, sim, “se vae”. Mas não “se parte” alguem que só “partiu”, siquer si foi chamado pelo Pae ou ouve, de Satan, chamar um psiu. Eu mesmo “me fodi”, quando alguem riu dum cego que experneia e de seu ai. Porem jamais “fodi”, si num chibiu não metto. Vae que eu metto e elle não sae!
ALHEIA VERGONHA [5596]
Dercy Gonçalves disse: palavrão não é “foda”, “caralho”, “merda”, “porra”. É fome, guerra, abuso, corrupção e tudo que de males taes decorra. “Decreto” ou “portaria” mais calão traduz que “putaria”. Alguem que morra na fila do hospital é chulo, não casaes no frango assado ou na gangorra. Os juros, excorchantes, indecentes se tornam mais que curra numa bella donzella. Quando botam pannos quentes num crime escandaloso, mais se mella. Politico que emprega seus parentes no typico “cabide” mais sequela provoca que quem morde e exfrega os dentes na pelle do cacete emquanto o fella.
VERVE QUE FERVE [5632]
{Caralho, Glauco, porra! Vae tomar no cu! Gosto da tua poesia por causa do calão, da putaria! Mas andas a appurar teu linguajar! Não fallas tanta merda mais! Um ar de estylo meio nobre me entedia nas tuas coisas ultimas! Arria as calças novamente! Vae cagar! À puta que pariu tuas pesquisas estheticas! Eu quero mais chulice, mais foda, mais fedor! Glauco, precisas soltar-te mais! Te liga no que eu disse!} -- Talvez os vendavaes paresçam brisas, agora que estou perto da velhice, mas culpa tens tambem, pois não me pisas tal como outrora. Falta alguem que risse…
ERUDITA ESCRIPTA [5708]
Quem da casa preza a pratta tem auctor no pantheão. Quem as lettras melhor tracta foi elite, com razão. Em qualquer paiz tal natta ser devia tradição!
Mas na escripta a forma exacta nós perdemos faz tempão!
Quem estuda, ja constata que em Mattoso dois “T” são.
Escriptor que não combatta más reformas é cagão!
Eu combatto! Faço chata ou ingloria pregação?
Pouco importa! Eis minha errata: “feijão” leia-se “pheijão”!
USO CORRENTE [5798]
Faço sexo punheteiro e não uso camisinha. Quem quizer ser putanheiro use a bocca, como a minha. Do ceguinho ou da ceguinha a chupeta prazenteiro uso tem na comezinha voz oral do brazileiro. O povão só diz “chupeta” ou “boquette”. Fellação não é termo que commetta quem se liga no povão. Ao ceguinho, não é tão importante essa questão, mas chupar o piccareta que, mais sadico, o submetta.
DICTIONARY DISSONNET [5827]
Fallei disso em ode e não dou molleza a pappo molle. Quem bem come só de “pão” jamais vive e mais engole. Alguns passam privação?
Bem sabemos! Não me enrolle! Si puder, quer o povão “ravioli” e “rocambole”! Procurar um palavrão num Aurelio sempre bolle com a gente, mas em vão. Falta “merda” que console. Um “sebinho” ou um “colhão” lexicographo que accolhe até temos, mas “tesão” feminino não é, olhe!
MISCELLANEA LINGUISTICA [5847]
Eu à lingua sou attento quando faço poesia. Mas às vezes não aguento: é preciso que se ria. Zombei sempre, si commento o que, em verso, me occorria. A “cultura”, no momento, me inspirou outra ironia: Chamar merda de “excremento” e cagaço de “phobia”; chamar preso de “detento” e latrina de “bacia” euphemismo é verbo ao vento ou “cultura” ser podia? Responder aqui nem tento. Mais me occupa o que vicia.
MOLEQUES SALAMALEQUES [5851]
Senhor, por gentileza… Eu poderia pedir-lhe um favorzinho? Si não for incommodo, senhor… Eu só queria mandal-o se foder… Sim? Por favor! Perdão por insistir, senhor… Bom dia! Não quero interrompel-o, não, senhor! Desculpe-me qualquer descortezia, mas va tomar no rabo! Não, sem dor! Com toda a paciencia a gente insiste, mas noto que perdendo o tempo vou. Evito dirigir, de dedo em riste, offensas ao senhor, pois calmo sou. Mas, como o nosso pappo não consiste de formulas polidas, este show sentido ja perdeu. Ora, sem chiste: Ou vae tomar, ou eu o cu lhe dou!
MISCELLANEA PHILOLOGICA [5971]
Preceito philologico não falha. Nenhuma lingua é “morta” emquanto alguem a falla. Orthographia, assim tambem. Com isso é que meu methodo trabalha. Talvez, sem revisão, alguma gralha commetta quem ainda não tão bem esteja accostumado. Disso alem, algum poeta culto se attrapalha. Vocabulo em “desuso” não exsiste. Exsiste uso restricto duma forma fallada, escripta, caso não conquiste maior acceitação. Nenhuma norma chamada “official”, de dedo em riste, impõe de antigas praxes a reforma. Não posso tolerar alguem que insiste na simplificação que desinforma.
MEME DO VOCABULO CABULOSO [6009]
Encontram “anilingua” na pesquisa. Lamber o cu de alguem sempre é figura commum, mas de mau gosto, o mestre jura. De breve explicação alguem precisa. Indagam, mas o mestre tem bem lisa a lingua, que excorrega, nessa altura das liberalidades, e censura o pappo. Um euphemismo suaviza. Está no diccionario, elle garante. Na practica, porem… Nunca! Jamais!
Pergunto: e lamber bota? Ha quem se expante com solas sobre boccas e quetaes?
“Não, botas não expantam!”, diz o amante das lettras. Ja o cu… Fique entre animaes!
Alheio o pé descalço ou o pisante Prosegue dessas practicas carnaes.
MEME DO JARGÃO [6030]
Palavras em desuso boas são. Por ser conservadora, a minha avó usava só “loló”, só “fiofó”. Mas outras podem ter occasião. Ninguem precisa achar que um trazeirão se chama “nadegaço”. Meu xodó seria mesmo “lordo” ou “fricandó”, appenas por dever de erudição. É feio dizer “bunda”. Usar “bumbum” tambem não serve, é bunda de creança. Qual termo usar, então? Exsiste algum? Jamais no cu tomou. Na sua usança, foi só “papae-mamãe”, cujo jejum durou. Mexer a bunda? Só quem dansa! Relesse um termo celebre e incommum: de “sesso” usar Bocage não se cansa.
HASHTAG EU SOU DA LYRA [6098]
Si tantas as mulheres são que para si querem femininos termos, meu amigo Glauco, quero tambem eu ser uma “poetiza”, bem à clara! Até quem “presidenta” se declara exsiste! Quem “gerenta” não temeu chamar-se? Hem? “Estudanta” ja valeu usar, tambem! De pau não falta cara! Então! Si exsiste genero p’ra tudo, não quero ser “poeta” si mulher eu sou, Glauco! Serei ja, si quizer, a “barda”, a “menestrela”! Me desnudo! Hem? Tenho ou não razão? Sim, eu me escudo na lingua portugueza! Sim, qualquer confrade reconhesce, no mester poetico, quem peito tem grahudo!
COPROLALIA [6202]
Senhoras e senhores, esse bosta, perdão, esse carissimo collega que, nesta ceremonia, a bunda arrega, desculpem, que em dialogos apposta, me cabe exaltar sua descomposta bundona, digo, o merito dum mega poeta, de seu livro, um troço brega da porra, do qual toda a gente gosta! Errei quando o chamei, attraz, de filho da puta! Mil perdões! Dizer eu quiz que sua mãe nem era meretriz, porem foi-lhe imputado o peccadilho! Emfim, que elle se foda, si me pilho mandando, me corrijo desses vis cochilos! Lhe dirijo os mais gentis calores, com perdão do trocadilho!
MAL GRADUAL [6474]
Defines como o caso, seu Mattoso? Maldade tendo um gajo, qual será o typico vocabulo que dá idéa delle? Pode ser “maldoso”? Mas si elle malvadeza tem, bondoso demais será chamar alguem que ja tão mau é de “maldoso” só, pois ha sadismo intencional, ou seja, gozo! “Malvado” ou só “maldoso”? Mais perverso não é quem dá risada da agonia alheia? Achas que a gente chamaria appenas de “cruel”? Ou me disperso? Pergunto-te, Mattoso, pois teu verso mais tracta de quem só se delicia com tantos soffrimentos! Eu seria, então, alguem que em gozo vive immerso!
BIZARRA GARRA [6481]
Cocô, Glauco! Cocô, dejecto, caca! Titica, bosta, fezes, excremento! Em summa, merda! Digo-te e lamento que versos ‘inda faças com inhaca!
Dás voltas, Glauco, mas à fria vacca retornas, latrinario, cem por cento!
Um dia chegarás a teu momento fatal! Verás que a lyra ficou fracca!
Appenas uma chance te jubila: comer da merda ao vivo! Teu successo será total! Reservo o meu ingresso e, claro, vou querer primeira fila!
Te ver quero, Glaucão, a degluttil-a com gosto! Rirei desse teu excesso!
Em sendo assim, poeta, ja te peço que insistas! Quem tem garra não vacilla!
NUTRICHATO [6492]
Jamais chamei um gajo de “ecochato”, Glaucão, de “natureba” tambem não! Ainda que pentelhos sejam, tão grosseiro não serei si delles tracto! Agora, chato mesmo (o que constato com maximo pesar) é o cidadão mettido a patrulhar a nutrição dos outros! Esse eu chamo “nutrichato”!
Não pode comer isto, mas aquillo ja pode si for pouco ou sem tempero!
Aquillo outro só pode si exaggero ninguem fizer, sinão vae ganhar kilo! Ah, va lamber sabão! Comer tranquillo o gajo não me deixa! Desespero ja tenho demais, porra, sem comer o que quero por ser caro conseguil-o!
CERTIDÕES DE BAPTISMO [6521]
Terá nome ideal um veadão?
Cacophato não houve mais feliz: Jacintho Pincto Aquino Rego, diz quem queira baptizar pelo calão! Em sendo um alpinista, à mente vem o nome que estaria apprimorando a sua profissão: Caio Rollando da Rocha, campeão como ninguem! No martello, colloco o motorista condizente: Prudente Passos Dias Aguiar, que confirma as theorias mais fataes de quem vive pela pista. Si for decorador, pelo Natal, que cuide dos presepios, se deduz: Armando Nascimento de Jesus!
Glaucão, meu trocadilho ornou? Que tal?
VELHOTA PATRIOTA [6545]
Te posso corrigir, sim! Fui docente! Ouviste, Glauco? Nunca alguem colloca num verso os palavrões que na malloca se escutam! Entendeste? És indecente! Eu era professora dura! A gente, em classe, prohibia aquella troca de insultos, que envergonha, que nos choca!
Terei que ser censora novamente!
Sou dura, sim! Castigo bem severo meresce quem se vale, em portuguez, do linguajar mais torpe e descortez na hora de escrever! Punir-te quero!
Não vês que impatriotico o teu lero se torna? Amor à patria, cada vez mais, acho necessario! Tu não vês?
Terás que receber é nota zero!
DECREPITUDE QUE ILLUDE [6555]
Appenas era “velho” o termo usado, às vezes carinhoso, outra vez meio ironico. “Velhice” pratto cheio virou para as piadas dum brochado. Alguem ja reclamou. O resultado foi disso o termo “edoso”, menos feio. “Terceira edade”, então, ainda leio nas midias, mas nem tanto assim do aggrado. Depois, “melhor edade” foi correcto. Agora, “adulto mais” é o que designa aquelles “bem vividos”, cuja signa é nunca merescer maior affecto. Viagra não resolve, vou directo ao poncto, Glauco! O gajo uma menina deseja deflorar, ou só buzina no ouvido do seu filho ou do seu netto?
SCHOOL MEAL [6561]
Até que emfim chegou a minha vez! Tornei-me professor e ver si colla eu quero minha idéa: a duma eschola de inglez para bassês, vejam vocês! Um hound, que se chama Ralph, inglez ja sabe fallar, quando bem engrola o proprio nome! Hem? Outra boa bolla é Rudolph, um Rodolpho mais burguez! Si “sausage” é linguiça, da salsicha qual termo preferir, a “frankie”, a “wienie”? Talvez a traducção que mais combine ainda seja aquella que pasticha: “Dogão”, “cachorro quente”! Quem capricha na falla diz “hot dog”! Achou quem mime seu gordo salsichão? Não? Pois se anime! Na minha aulinha a boia nunca micha!
ORACULO DO VERNACULO [6606]
Sabemos, ó Propheta, que “caralho” é termo bem antigo, que deriva do classico “characulus”, exquiva origem dum vocabulo que expalho… Propheta, aqui pergunto: si não falho na analyse, esse termo, de offensiva e chula tradição, terá bem viva funcção, ‘inda quebrar vae muito galho! Prevê para “caralho” um bom futuro? Cahir vae no desuso, ou vae, um dia, virar elegantissima, até pia palavra de carinho, sem tom duro? Será, Propheta? Ai, gente! Eu mal seguro o riso! Na politica, a tithia eleita vae “caralha” ter mania de impor como synonymo de “furo”?
PREMIO CAMÕES [6752]
Foi Victor Aguiar e Sylva quem ganhou o premio maximo da nossa amada lingua. Dizem, não endossa a nova orthographia. Faz mui bem! Mas “Vítor” elle assigna, veja, alem de “Silva”! Concordar haja quem possa! Depois elles não querem que da troça ser victimas consigam! Graça tem! Você, que assigna Sylva no civil, Mattoso seu pseudonymo bem cria com duplo “T”! Portanto, orthographia defende, coherente, no Brazil! Por isso o não premiam! Ser subtil jamais foi o seu forte, Glauco! Um dia alguem perceberá que poesia tambem pode ser these, ‘inda que vil!
PORTABILIDADE E VIABILIDADE [6823]
Não posso consentir, Glauco, que queira alguem me coagir a dar o braço! Não uso cellular! Demais excasso é o raio do teclado, uma canseira! “Tambem” não é “tb”! Sem brincadeira! “Você” não é “vc”! Si exsiste espaço depois de cada virgula, sim, faço questão de digitar a phrase inteira! Por isso nem twitter tenho, nem whatsapp ou instagram! Meu facebook siquer nem monitoro, pois o muque emprego no serviço que convem: O trampo de escriptor! Como ninguem você, Glauco, conhesce nosso truque no tracto das palavras! Quem se encuque com isso estro não tem, por cento, cem!
MODERNO AMOR PATERNO [6883]
Glaucão, a minha filha agora deu, te juro, para andar uns palavrões fallando! Que me dizes? Que suppões que esteja accontescendo, amigo meu? Não achas linguajar muito plebeu e chulo para as moças? Si Camões ouvisse isso, diria: “Arre, colhões! Si falla a mulherada assim, fodeu!” Eu posso fallar, Glauco, pois sou macho, maior e vaccinado! Mas mulheres novinhas… Nunca dizem o que queres ouvir! Só palavrões, Glauco! Um excracho! Normal achas, poeta? Ah, não! Não acho! Maldizes a cegueira! Si preferes xingar, entender posso! Mas si deres razão à minha filha, te esculacho!
MODERNO AMOR MATERNO [6884]
Ai, Glauco! O meu filhinho bocca suja tem para conversar com as meninas! São moças de familia! Que imaginas que esteja havendo? Sou mamãe coruja! Sim, temo, menestrel, que delle fuja qualquer mulher decente! Moças finas não gostam de palavras fescenninas, eguaes às que elle diz da dicta cuja! Pois é, Glauco! O menino nunca diz “vagina”, “vulva”! Falla só “boceta”!
Não achas muito feio que commetta tal falta de pudor, termos tão vis? Tu podes fallar, vate! És infeliz, nas tuas trevas! Podes na punheta perder-te em mil delirios! Mas é peta si dizes ser normal! Ainda ris?
NOMES
IMPRONUNCIAVEIS [7043]
Não, Glauco, não devemos, mas de jeito nenhum, pronunciar aquellas más palavras! Só fallar disso ja traz azar, poeta! Assim, ó: dicto e feito! Meu pae morreu daquillo que, eu suspeito, a prostata augmentou! Isso me faz ter medo mais do termo que da assaz terrivel proporção desse defeito! De Deus a gente falla, mas da sua antithese jamais! Não posso nem lembrar, sem sentir panico, de quem, por traz, com seu tridente, nos accua! Escreves tu taes nomes, mas a tua maldicta poesia, Glauco, tem trazido perdição, te fez refem do chulo, do calão, da giria crua!
SAUDADES DA SAUDADE [7066]
Saudade, esse vocabulo de lusa feição, não se traduz por nostalgia, tampouco pelo termo que quem via e está, como hoje estou, nas trevas, usa. É muito mais e envolve, na reclusa vidinha solitaria, aquella thia solteira que ser freira não quiz, pia e crente no perdão pela recusa. Envolve, na viuva, a sensação da perda. Nos escravos, o lamento do banzo. Nos edosos, o momento que chega de partir, da prece em vão. Envolve, alem daquelles que se vão, cadernos, livros, photos… Quando tento das cores recordar, vem-me, cinzento e vago, um sentimento de illusão.
PODOSMOPHILIA [7143]
Tesão pelo chulé? Nome nem tinha um typo tão extranho de fetiche por pés ou por calçados, mas pastiche não era do francez a tara minha. Chamar-me de “podolatra” ammesquinha e faz que qualquer critico me fiche mais como um masochista, appenas -- piche commum aos fetichistas dessa linha. Porem, a dysodia dos pés não se pode confundir com outra tara qualquer por um fedor, pois minha cara não metto em mero lixo, como um cão. Não acho, na privada, cagalhão que feda como quero, nem da vara o odor de queijo podre se compara ao cheiro mau dum masculo pezão.
AROMA QUE NÃO EMBROMA (2) [7182]
Na lingua, flatulencia é melhor jeito, mais culto, de dizer ventosidade, mas esse não será termo perfeito. Será que não tem outro que me aggrade? É claro, gazes causam bello effeito, mas vejo uma maior sinceridade na falla de quem usa um que eu acceito, sem pappas, e que exbanja propriedade. O baixo calão sempre bem attende! Bem franco, digo peido e não dependo de mais nenhum conceito como addendo. O termo todo mundo comprehende! Mais algo cabe ainda que eu emende: O traque, como a bufa, mostra appenas que algumas synonymias são amenas e leves, para aquillo, emfim, que offende.
ARROGANTES IGNORANTES [7192]
Não tenho preconceito contra quem é “burro”, “uma toupeira”, “retardado”, ou outros xingamentos, no passado, correntes, que não pegam, hoje, bem!
Ja tenho prevenção total, porem, si alguem que é muito estupido votado for para cargo publico, blindado por praxe, immunidade e por desdem!
Problema não é ser um ignorante!
É o chucro, que acha certo “presidenta”, que estar contra a sciencia sempre tenta, ou “mytho” que se julga commandante!
Cagadas todos fazem (Quem garante que não?), mas, no poder, uma jumenta ou esse, que é gorilla à bessa, attenta mais contra a paz geral, antes reinante!
METAGRAMMATICA [7216]
A lingua, que se mette entre dois dentes e pode ser mordida, pronuncia, sem pappas, palavrões, orthographia corrige e, em verso, offende presidentes. Sim, lambe sujas botas, mas silentes jamais seus ais serão na poesia dum cego menestrel que desaffia padrões bem comportados e decentes. Um critico que estude este poeta na certa achará, sim, contradicção possivel entre verve e erudição, calão e forma culta mais correcta. Mas acha a voz poetica que, inquieta, em vario linguajar vem dizer não ao cynico discurso dos que estão dictando, no poder, tudo o que veta.
VERBALIZADA VENTOSIDADE [7220]
O verbo “flatular”, si não exsiste, accabo de crear, pois ja cansei dum outro, que é “peidar”, do qual ja sei que serve à gozação, ao chulo chiste! Agora não mais digo que estou triste por causa desses flatos que esperei demais para soltar! Eu “flatulei”, emfim, mesmo que o cheiro não despiste! Fedores, Glauco, sempre são aquillo que está nosso nariz ja bem cansado de, putrido, sentir! Mas educado demais sou para às claras proferil-o! Prefiro proferir, leve e tranquillo, um typico vocabulo, cunhado com base scientifica, mas, dado o adviso, peido mesmo, sem vacillo!
PROBLEMA DO CARALHO [7222]
“Caralho” de “characulus” nos vem, poeta, mas você grapha “caralho”! Devia ser “charalho”, si eu não falho na analyse dos etymos! Eu, hem? “H” todo vocabulo que tem problema dá, accarreta algum trabalho por parte dos orthographos! Não calho eu para taes analyses, porem! Caralho, para franco ser, poeta, só pode ser problema na medida do proprio comprimento, si soffrida for sua acceitação no cu, completa! Eu mesmo, com meu physico de athleta, que levo de durão fama na vida, não posso supportar, caso decida entrar com tudo um bode em minha recta!
MADRIGAL GRAMMATICAL [7761]
Tão só por ser mulher, a tola quer que seja feminino o seu mester.
Na rua, a “transeunta” feio faz. Do radio é fracca “ouvinta” e, por ser, pecca. Tirou, como “estudanta”, notas más. Frequenta a “circulanta” bibliotheca, mas, como “militanta”, fica attraz da nossa “presidenta”: saca neca.
MANIFESTO ELITISTA (1/2) [7931]
(1)
{Te cuida, Glauco! Deixa-te de tantas baixezas! Usas muitos palavrões e escreves sobre coisas asquerosas! Podias usar tua boa verve em optimos poemas de elevado teor, epicos, lyricos, mas não satyricos! Talvez tua cegueira não passe de castigo por usares a penna, como a lingua, de tão sujo e grosso modo, Glauco! Queima aquillo!}
(2)
-- Conhesces-me faz tempo. Si te expantas com esse linguajar, por que então pões os olhos no que escrevo? Por que gozas? Suggiro que teu fino senso observe que os themas de que tracto resultado são dessa sociedade que tu tão vanmente valorizas. De maneira nenhuma abdicarei dos meus logares de falla. De inimigos nunca fujo. Em tempo: teu pé, posso em mim sentil-o?
MANIFESTO MINIMALISTA (1/2) [7946]
(1)
{Sou curto e grosso mesmo, Glauco! Não me attenho às encheções dessa linguiça chamada poesia! Quando quero dizer anus, eu digo cu! Si digo que é pau, é porque penis ja seria demais! Si prostituta não fallei, se explica pela puta que pariu! Emfim, não vou ficar justificando aqui meu linguajar, sinão eu caio naquillo que pretendo contestar! Concorda, Glauco? Tenho sido claro?}
(2)
-- Concordo. Tambem uso o palavrão no verso, sem problema. Mas enguiça o pappo si pretendo ser severo com tudo que é prolixo, meu amigo. Em vez de pau, melhor não ficaria caralho ou caralhão? Talvez um gay prefira dizer mala… Você viu que tudo só depende de onde, quando e como usar um termo. O papagayo repete sem pensar o linguajar que ouviu. Eu ja separo e ja comparo…
MANIFESTO SOCIALISTA (1/2) [7956]
(1)
{Eu acho um desrespeito que se chame menor de “trombadinha”, de “pivete” ou mesmo de “infractor”! Só de “carente” acceito que se chame, Glauco! Ouviu você, na sua vida, alguem chamar maior de “trombadão”? Eu puta fico, pois, sendo uma assistente social, quero uma sociedade mais humana, mais justa, que não puna adolescentes com pena de prisão! Glauco, lhe digo com toda a minha practica no tracto com elles: muito triste é ver meninos reclusos, masturbando-se escondidos, com medo de exporrar do monitor na frente! Não lhe causam dó, tambem?}
(2)
-- Si causam! Sem alguem que o pau lhes mamme, que faça aquelle lubrico boquette, é mesmo um desperdicio de semente, né? Vamos combinar! Si quem pariu foi puta, não importa. Si tem lar christão ou não, tambem. Menino rico não vae para a prisão. Quanto a mim, mal num delles penso, sinto o que lhe emana dos tennis encardidos… Repellentes não acho uns pés daquelles, pois consigo cheirar tal chulezinho num pé chato, ainda que em imagem. Fescenninos poemas tenho feito, de bandidos tractando, mas você tem mais amor a dar-lhes, certamente. E fará bem.
MANIFESTO CLASSICISTA (1/2) [7989]
(1)
{Não faço concessões, Glauco, jamais! Valor não dou nenhum a quem não leu os classicos, não tem cultura alguma artistica! Mas querem ser poetas, contistas, romancistas, o caralho! Me encara assim por que, Glaucão, por que? Por causa do caralho que fallei?
Tambem caralho é classico, bem sabe você, que é fan de Sade e de Bocage! Ou nega as referencias que cê tem? Concorda ou não commigo quando digo que falta à geração maior leitura?}
(2)
-- Concordo, claro. Sei que nem jornaes direito os caras leem, porem eu descompto dou no caso de quem duma peripha brava chega sem directas e cultas referencias, mas trabalho e estylo me revela. Só quem lê
Genet saber irá, como ja sei, que pode erudição, por mais que gabe alguem, ser prescindivel. Quem reage com esse seu pernostico desdem paresce do calão ser inimigo, e não quem “pau” nos classicos procura…
EMPESSEGANDO (1/2) [8052]
(1)
Está propicio o tempo para achar-se motivo, que não falta, ao ja tardio, urgente impedimento do occupante do cargo de quem pega na canneta. La fora, a mesma coisa: cidadãos cansados dum estupido dão curso, com base em muitas provas, ao processo. Nas cappas das revistas, apparesce um pessego cahindo na cabeça do gajo, ou seja, taquem “peach” em cyma!
(2)
Tambem quero propor, nessa catharse que, espero, contamine nosso brio, o verbo “empessegar”, ja que bastante a lingua ingleza affecta a nossa peta politica, a tal lenda que, entre irmãos, causando vem rancor pelo discurso. Sim, gente! Empesseguemos, é o que peço, em nome de quem reza a mesma prece, pedindo um milagrinho que accontesça. Ao menos ja desfructa quem se anima…
SINGULARES PLURALISMOS (1/2) [8077]
(1)
{Não leve a mal, mas muito ja sambada estou, Glauco. Ja nada mais me choca. Você que escandaliza diz, mas eu estou accostumada a ver e ouvir dum “pig” ou doutro “scat”, alem dum “fist”, dos “water sports”, ou seja, “golden shower”. Ficou tudo banal, Glauco! Mas uma coisinha só me expanta: você escreve naquella antiga forma, ja bastante retrô, fake, em desuso, ultrapassada! Mas para que, querido? Para nada?}
(2)
-- Banal, sim, a nojeira, mas lettrada, poetica, ninguem a faz nem toca no thema algum auctor, siquer plebeu. Em termos orthographicos, servir irá meu verso para quem persiste na lucta contra aquillo que mais dava horror a um Alencar, Assis, em summa: Si delles se indagasse como deve alguem graphar “philosopho”, que expante não ha nada com “F”. Entende? Cada auctor é singular si desaggrada…
INFINITILHO DA PENTELHAÇÃO (1/2) [8131]
(1)
{Senhor Mattoso, venho-lhe, por meio da nossa virtual rede, pedir que deixe de servir-se de expressões tão chulas, indecentes, de teor improprio para todas as edades. Talento o senhor, duvida sem, tem. Então para que tanta aberração? Façamos o seguinte: doradvante, poemas o senhor fará só com palavras elevadas, instructivas, que exaltem devoção aos mais sublimes valores da christan communidade. Agindo dessa forma, não será por mim mais accusado de deboche, excracho, perversão ou sacrilegio. Não acha razoavel, meu senhor?}
(2)
-- Não só por esta rede, estou ja cheio de toques desse typo. Si mentir quizesse, eu lhe diria que Camões foi chulo tambem, como o professor que tive de Moral nas faculdades nas quaes maiores notas que eu ninguem obteve. Inda diria que mais não farei pornographia, que bastante estou arrependido, do bom tom, appenas, usarei e darei vivas à patria, a mais dureza nos regimes, à ordem, ao progresso. Mas verdade não quero que me falte. Então, que va catar coquinho peço, que lhe attoche la dentro uma cenoura, que lhe inveje o pauzão que encaro, como chupador.
ODE ORAL (1/4) [8167]
(1)
Pensar em “golden shower” só me traz à mente mais palavras que, em inglez, emprega quem “baunilha” não se diz. “Sonnetto comestivel” foi mordaz poema meu, que nosso oral marquez relia. Até pedia, feliz, bis.
(2)
Alli fiz referencia ao contumaz “cock-cheese” que se juncta toda vez debaixo dos prepucios juvenis. “Sebinho” dá noção que satisfaz a poucos, mas exsiste, em portuguez, algum “queijo de picca” a quem o quiz.
(3)
Tambem, quando o chulé só nos appraz viscoso ou cremosinho, mais cortez, eu acho que “toe-jam” calha ao nariz. Si queijo com geléa das mais más receitas não será, você talvez rejeite esta que enjoa aos mais gentis:
(4)
beber o guaraná dalgum rapaz, comer seu chocolate, é o que, ao freguez da civica moral, menos condiz. Banquete escatologico, que em paz não deixa aquelle cynico burguez, tal pratto ja provei, como os mais vis.
BREXITING AROUND [8548]
O verbo “brexitar”, fiquei sabendo, se torna vergonhoso na cultura britannica, por causa do que entendo por “faz que sae, mas nunca sae”. É pura e simples traducção que recommendo pras nossas phrases feitas, a quem jura ser practico mas sempre deixa addendo: “Não apta nem desapta!” “A rapadura não larga nem que esteja ja mordendo faz tempo, sem quebrar a dentadura!”
Alguns este refrão acham horrendo: “Não caga mas tambem não se adventura da moita a se evadir!” Deste eu dependo: “Não fode nem de cyma sae!” Attura quem queira alguem que fica lhe mettendo a picca sem que esteja a dicta dura…
LINGUAGEM NEUTRA [8656]
Amigos meus de esquerda ja propondo estão uma linguagem totalmente exempta de machismo ou preconceito de genero. Direita de “direite” estão chamando, ou chamam ja de “esquerde” o que era, antes, esquerda. A bicha fica melhor chamar de “biche”. Puto ou puta é tudo simplesmente “pute”, “todes” agora “mixturades”. Mas que porra! Ou, mais correctamente: Mas que porre! Pensei, então: Coitados dos petistas! Não podem mais chamar de “presidenta” a Dilma, agora só de presidente!