GRAPHIA ENGARRAFADA

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São Paulo Casa de Ferreiro 2020


Graphia engarrafada Glauco Mattoso © Glauco Mattoso, 2020 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros _______________________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________________________________________

Mattoso, Glauco

GRAPHIA ENGARRAFADA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2020 116p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


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NOTA INTRODUCTORIA

Na sequencia dos volumes de dissonnettos compostos em 2020, appós o LIVRO DE RECLAMAÇÕES vem esta collectanea com nova centena (de 6187 a 6286) que, ainda sob o impacto da crise sanitaria, cuida entretanto de varios outros themas urgentes e cruciaes para o convivio social, sexual, politico e cultural. Na forma mantenho-me fiel à nova estrophação adoptada, em quattro quartettos, desde que retomei, em 2017, a producção temporariamente interrompida no sonnetto 5555, em 2012. Tracta-se, agora, de publicar, ao lado das reedições reformatadas dos titulos antigos, esta nova serie de volumes em versão digital, para recuperar o tempo empattado desde a crise anterior -resgate emfim possivel graças ao trabalho do editor virtual Lucio Medeiros à frente do sello Casa de Ferreiro.



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MÁS CARAS [6187]

A vida continua, Glauco! Um dia riremos disso tudo, meu amigo! Ainda quererei brindar comtigo ao termino da louca pandemia! Mas outra coisa guardo, que eu queria comtigo dividir... Vejo um perigo na nova sociedade, que maldigo por tudo que promette e que annuncia! Seremos obrigados, Glauco, para o resto desta nossa vida dura, a mascaras usar! Não é tortura? Não achas que isso à guerra se compara? Nem fallo dessa mascara na cara, de panno ou deschartavel! Minha agrura está numa certeza que perdura: Seremos cegos, surdos, mudos, cara!

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SLEEPING GIANTS [6188]

Vocês, que me chamaram de moleque, teem vinte e quattro longas horas para voltar a annunciar na minha cara columna de fofoca! Agguardo o cheque! Tem mais: exigirei salamaleque, excusa, rogo, supplica! Com tara eu quero que rastejem! Minha vara irão chupar, comer o que eu defeque! Ja não me patrocinam? Eu, que caro lhes cobro si na bunda dei um chute da corja communista? Quem discute melhor contra os que malham Bolsonaro? Exijo um desaggravo! Quero o faro de cada nariz desses no meu bute, a lingua pela sola! Que eu desfructe é certo, ou esquerdista me declaro!


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CHINELLO [6189]

Bassê espoletta, aquelle, que a farello reduz a licoreira de crystal! A sua agilidade em tudo é tal que deve merescer... O que? Chinello! Bassê, que não prefere caramello, mas mortadella! À falta, não faz mal, pois rouba qualquer doce, nacional ou importado! Pede o que? Chinello! Bassê, que nem com vara de marmello lhe battem! Não se batte em animal! Ainda mais num doce e divinal bichinho que... Meresce o que? Chinello! Chinello, que por elle eu tanto zelo, tão fofo e comfortavel, por signal! Como este, meu bassê não tem egual! Fazer o que? Roeu o meu chinello!

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JEITÃO BRAZILEIRO [6190]

Tu sabes! Não fui nunca quem apposta no chaos, no pandemonio, Glauco! Não! Accusam-me de usar só palavrão, mas fallo, sim, por culpa dessa bosta! Hem, porra? Dás razão a quem não gosta do meu jeitão? Mas, Glauco, o meu jeitão é como o teu! Não dizes bosta tão egual àquella que essa gente posta? A bosta de jornal que me critica só falla sacanagem, putaria! Estão é me fodendo! Quero, um dia, foder tambem, vingar-me da titica! Teus versos fallam bosta até mais rica, mais lyrica! Tu fazes poesia! Mas lembra-te! Qualquer democracia eu acho tambem bosta! Fica a dica!


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PROCTOLOGISMO [6191]

As minhas hemorrhoidas, Glauco, são, acaso, de interesse popular? A midia quer saber dellas, mostrar ao povo como sangram, faz questão! Mas, Glauco, como pode? Cagalhão, si grosso, faz qualquer bulbo sangrar, sabemos disso! Querem no logar metter ainda algum porrete, irmão? Assim eu não aguento! Toda vez que sento na privada, soffro paca! A bosta fica presa, adhere, empaca e, quando sae, machuca qual torquez! A todos perguntei, Glauco: Vocês não ficam satisfeitos? Minha caca não basta? Que mais querem? Quem me attacca tambem no cu levou pau do burguez!

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MORAL (II) [6192]

Familia christan, porra! Jesus, porra! Valores moraes, porra! Religião, caralho! Deus, caralho! Você não entende que eu a nomes taes recorra? Chamar Nossa Senhora de cachorra jamais irei! No funk é que elles vão fazer isso, caralho! O palavrão quem usa assim eu quero que elle morra! Que bosta! Aquella bosta de jornal fodeu minha familia, porra! Sou christão, tenho principios, e não vou xingar tal como xingam, affinal! Não sou como você, Glauco, que mal emprega a nossa lingua! Não dou show de exporro, de barraco! Quem fallou besteira foi você, que é sem moral!


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ESTRUME [6193]

De bosta tu não passas, Glauco, mas conhesço muita gente que de estrume não passa! Tens no verso o mau costume, mas outros, nas acções, intenções más! Exsiste differença, sim! Dirás que não, que são synonymos! Espume de raiva quem quizer, mas ha chorume e lixo! Differença alguma faz! De estrume chamo o gajo que me encheu o sacco, porem antes era amigo. De bosta chamo o gajo que commigo foi sempre o mesmo, um sceptico, um atheu. Surpresa não me causas, não, pois eu sou foda, sou fodão! Glauco, te digo: De alguem me derrubar não ha perigo! Eu mesmo me fodi, ninguem fodeu!

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MENINOS [6194]

Jesus não foi appenas flagellado. Soffreu humilhações diversas. Para quem Anna Catharina leu, a cara sagrada do Senhor foi chão pisado. Pisaram-no os carrascos. O solado grosseiro das sandalias lhe exfregara os labios ja sangrentos. Gargalhara quem delle tinha feito um pão sovado. Meninos, sim, meninos tambem disso risada deram muita. Quem espinho junctou, para a coroa de excarninho proveito, foram elles. Que serviço! E, para não dizer que fui ommisso, Jesus lhes rastejou aos pés. Caminho fizeram com seu passo os do gruppinho no sancto rosto. Orgastico feitiço!


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VAGABUNDOS [6195]

Confesso: ca por mim, prendia meia centena de juizes, jornalistas, poetas e escriptores communistas! Logar de vagabundo é na cadeia! Si falla alguem que a gente lhes cerceia a satyra, a palavra, que conquistas do povo desdenhamos, dou as pistas: Logar de vagabundo é na cadeia! Si dizem que esta aqui sempre foi cheia cidade de ladrões, que só dão festas com publico dinheiro, tu contestas? Logar de vagabundo é na cadeia! Não achas que está, Glauco, ja bem feia a minha situação? São deshonestas as minhas intenções? Tambem detestas meus methodos? Logar tens na cadeia!

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COVARDIA [6196]

Batter num cego muito facil é! Fazer o que quizermos elle irá sem mesmo ser surrado, mas que dá vontade de batter, dá! Muita, até! Batti ja num, Glaucão, só com o pé! Mandei que rastejasse, fosse la e para ca voltasse! Kakaká! Morri de rir, meu caro! Bote fé! Até que nem chutei muito! Pisão levou, porem, bastante! Elle pedia que eu fosse mais clemente e covardia achava aquillo tudo, olhe, Glaucão! Covarde, eu? Só sorrindo! Você não achou gozado? Um desses eu fodia na bocca só depois que rebeldia mostrasse! Esse é que é mesmo o meu tesão!


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HYDROXYCHLOROQUINA [6197]

Um grave effeito ouvi, collateral, da tal da chloroquina, Glauco! Ouviste fallar? Causa cegueira! Quer mais triste destino, quando alguem nem está mal? Tomar por prevenção a quem nada pegou e De quem se recupera por ter sahido cego

será fatal bem resiste! farão chiste do hospital!

Pensaste, Glauco? O gajo nada tinha! Siquer elle infectado fora, mas tomara a chloroquina! Agora, attraz dos oculos escuros, ja definha! Ficou cego! Peor que tu, que minha risada despertou ja, tão mordaz! Terá que implorar graça a Satanaz até para achar uma moedinha!

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UTENSILIO TERMINAL INUTIL [6198]

De cada dez que entubam por corona no maximo trez vivos sahirão! Os leitos intensivos são, então, inuteis, Glauco! Para que essa zona? De guerra zona fazem! Ambiciona alguem importar tralha de montão, os taes respiradores! Mas em vão um tempo ganham! Tudo vem à tonna! Que vale ter mais vagas, si quem vae parar num hospital tem chance zero? Si estou com uns symptomas, eu nem quero saber de nada! A ficha ja me cae! Melhor morrer em casa, Glauco, uai! Meu medico jamais foi tão sincero! Appenas lava as mãos, mas considero um senso figurado que se trae...


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PHILANTHROPIA [6199]

O quadro “Lingua”, authentica aquarella de Dennis Azambuja, leiloado foi para angariar algum trocado e dar adjuda a quem por pão appella. No meio de tal crise, eis que essa tela até que conseguiu bom resultado, Glaucão! Fallando franco, desaggrado me causa, mas a ti seria bella. Irias te encantar com a figura bem nitida dum typico solado de bute, emborrachado, ja rallado na rua suburbana da amargura! Em close, essa linguona que procura lamber o pó da sola tem causado comparações comtigo! Mas cuidado! A bota symboliza a dictadura!

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NECROLOGIO [6200]

Eu todo dia agora ja confiro a lista, pelas midias, de quem morre por causa do corona, Glauco! Um porre eu acho, porque falta a Dilma, o Cyro... Mais gente sempre morre só de tiro, facada, má gestão de quem soccorre os pobres, tal e coisa! Que eu desforre espero, cara! A isso me refiro! Espero ver famosos nessa lista! Cardoso, Collor, Lula, Bolsonaro, Sarney, Cabral, Teixeira... Pô, meu caro! Será que exsiste um sancto que os assista? Talvez Satan, Glaucão! Sou pessimista, si for assim! Só morre (e só me azaro) quem cuida, quem é medico! Um avaro se tranca, mais lucrando no que invista!


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COVIDÃO [6201]

Tu viste isso? Depois do mensalão, depois do petrolão, que mais podia surgir que escandalize? Eis que, no dia seguinte, ja se falla em “covidão”! Sabiamos nós todos, de antemão, que iria dar naquella putaria o novo protocollo! O povo chia, mas crimes conhescidos todos são! Em phase de emergencia, quanto mais flexiveis as leis ficam, mais se pode foder quem normalmente ja se fode com taes desegualdades sociaes! “Fractura exposta”, alguem disse dos taes contrastes, mas não ha quem se incommode com pobres, Glauco! Digo-te: pagode fará disso quem canta, a rir, seus ais!

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COPROLALIA [6202]

Senhoras e senhores, esse bosta, perdão, esse carissimo collega que, nesta ceremonia, a bunda arrega, desculpem, que em dialogos apposta... Me cabe exaltar sua descomposta bundona, digo, o merito dum mega poeta, de seu livro, um troço brega da porra, do qual toda a gente gosta! Errei quando o chamei, attraz, de filho da puta! Mil perdões! Dizer eu quiz que sua mãe nem era meretriz, porem foi-lhe imputado o peccadilho! Emfim, que elle se foda, si me pilho mandando, me corrijo desses vis cochilos! Lhe dirijo os mais gentis calores, com perdão do trocadilho!


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RASTEIRO BANDOLEIRO [6203]

Verdade, Glauco! Um simples cadeirante tentou assaltar uma loja rica! Sem pernas, sua acção restricta fica aos braços, mas sem força ter bastante... Armou-se dum revolver semelhante àquelle de verdade e deu a dica: “A grana! Passa a grana!” Sua zica estava assegurada nesse instante... Chamaram a policia. Conduzido à cella, la ficou sem a cadeira de rodas. Rastejar vae, caso queira as coisas alcançar, esse bandido! Os outros se divertem! A libido da turma alguem precisa, de maneira qualquer, satisfazer... Hem? Não lhe cheira, Glaucão, a chupação e pé lambido?

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FUMANTE INCOMPASSIVO [6204]

Meu pae sempre fumou, Glauco! Tambem eu fumo! Nem grippinha siquer pego, nem elle! Na verdade, eu ja sossego faz tempo, pois me sinto muito bem! Meu thio, pelo contrario, que tão zen se julga, que não fuma, tem mais prego na cruz que você, Glauco, que está cego, insomne e diabetico refem! Fumante você nunca foi? De nada serviu ter evitado tanto o fumo! Lhe digo com franqueza, pois me assumo sincero: de você só dou risada! Um cego p’ra que serve? Dar chupada na rolla dos normaes? Perdeu o rhumo quem bengalou sozinho! Não costumo zombar, mas dou, sorrindo, outra tragada!


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DISCORDIA [6205]

No ORVIL, “livro” que lido foi de traz p’ra frente, militares negam tudo: que tenham torturado, que desnudo ficou o seu regime, ja sem gaz... Accusam as esquerdas como más e perfidas, o povo como mudo refem do terrorismo que um estudo demanda p’ra voltar a patria à paz. Discordo, cara! Affirmo que tortura rollou, sim, mas foi optimo que tenha rollado, Glauco! Assim se desempenha a força, a auctoridade que perdura! Meu sonho, si vencermos nós, da pura moral (você não vale) é, com ferrenha vontade, torturar quem não me venha lamber as botas numa dictadura!

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CASAMENTO [6206]

Não, Glauco! Casamento, para mim, precisa ser até que Deus decida chamar! Tem que durar até que a vida, feliz ou infeliz, tenha seu fim! Alguem enviuvou? Bem, ahi sim! Ahi vou mesmo, quando me convida quem casa novamente! E que a devida festança seja, emfim, outro festim! Não, Glauco! O que eu affirmo e que sustento é ser indissoluvel, permanente o vinculo! Nem mesmo o presidente podia desfazer um casamento! Não fica bem, Glaucão, que num momento a dama a gente encare e, de repente, esteja no logar outra, que a gente na zona conhesceu, mudado o vento!


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PAREDÃO [6207]

Duvido de você, quando me diz que exsiste boa gente em cada lado! Si sou de esquerda, quero fuzilado ver um dos “bons”! Assim serei feliz! Aquelle que equilibre dois Brazis, por mais que seja bemintencionado, meresce simplesmente ser tractado com toda a cortezia que condiz: Teremos boa balla, paredão tambem bom, para cada desses tão bomzinhos, porem cuja posição se opponha ao socialismo de plantão! Mas antes, Glauco, quero vel-os chão lambendo pelo pateo da prisão! Rirei quando pedirem meu perdão por terem sido neutros na questão!

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BACALHAU [6208]

As partes, tanto em homens ou mulheres, fedendo a bacalhau nos são descriptas e tu tambem tal cheiro nellas citas. Explica-me isso, Glauco, si puderes! Então, caralho ou conna, dizer queres que tudo tem odor egual? Evitas fazer a differença? Que repitas te peço, Glaucão, isso que suggeres! Achar que a conna feda bacalhau eu acho, mas somente si está suja. Tambem a rolla, caso a dicta cuja sebinho juncte, exhala cheiro mau. Suggeres tu, portanto, que no pau ninguem se lave? Então machão babuja em conna sem lavar? Ninguem que fuja exsiste da sujeira? Ahi, babau!


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AUTOPROCLAMADO [6209]

Pensaste nisso, Glauco? Ainda bem que nunca foste um “autoproclamado” cegueta, fellador, masoca, sado, podolatra, propheta, bardo ou zen! O Olavo, pelas redes, jamais tem la muito positivo resultado si for nas wikipedias pesquisado! Não gostam muito delle, Glaucão! Hem? Quem de “influenciador digital” é chamado, bom curriculo não fez! No maximo, um babaca de freguez consegue, que lhe ponha alguma fé! Te seguem outros bardos! Tens até leitores que te zoam, uma vez que estás, do proletario ou do burguez, a postos para amar o sujo pé!

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JUPPITER JUNIOR [6210]

Ser filho dum deus, Glauco, não é molle! Castigo leva, a cada peccadilho! Melhor é de politico ser filho, pois deste todo mundo um crime engole! Tu, Glauco, punirias tua prole? Si sou um deus e filho meu eu pilho roubando, com o dedo no gattilho ou como senador, perco o controle! Imponho que não faça mais aquillo, que duma charteirada não se valha! Sinão, a divindade que me calha rebaixa-se bastante e perde estylo! Porem, si elle persiste no vacillo, terei que engolir tudo o que advaccalha e temo que, assumindo-se canalha, questão nem siquer faça de sigillo!


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LUCIFER JUNIOR [6211]

Eu acho que és tu filho do Diabo! Só podes ser, caralho! Um cego tão pornô, tão bocca suja, nem Adão nem Christo por modello leva a cabo! Si sou teu sancto Pae, eu não me gabo dum filho do teu typo, Glauco, não! Dizer de mim, caralho, o que é que vão? Na bocca do povão assim accabo! Mas sou quem mais, no kosmo, lucifera e em ti me reconhesço, cego puto, poeta que satanico reputo! Quem sae, caralho, aos seus não degenera! És fera tu no verso? Ora, pudera! Orgulho-me de ti! Ja nem discuto si posso ser comtigo um tanto bruto, pois, mesmo tão fodido, sim, és fera!

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COMPAIXÃO [6212]

Só vejo violencia, divisão e polarização! Ninguem mais dá bom dia, boa noite! Venha ca: O mundo ficou chato, Glauco! Não? Ja não se dialoga! Todos são convictos, radicaes! Pappo não ha que seja cordial! Como será a nossa vida, assim? Diga, Glaucão! Você ja bem lembrava: Não são só dois lados! Pelo menos num quadrado estamos, ou num cubo, typo um dado! Eu multifacetado vejo o nó! Extremos se provocam, mas o pó das botas todos lambem quando um gado desforra no rival! Desanimado eu fico! Você delles não tem dó?


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SERRA QUE FERRA [6213]

Te juro, Glauco! Mesmo que não queira ninguem accreditar, mesmo que rias de todas estas miseras phobias, te juro que essa achei na Canthareira! Achei phenomenal caranguejeira, Glaucão! Appavorado ficarias! Na matta nem tem graça moradias haver! Vendi ja minha casa à beira! Reserva florestal tive na minha varanda, Glauco, quando, um bello dia, aquella cabelluda vi na pia andando, como um gatto que caminha! Me viu, a tal bichana que, damninha, persegue suas victimas! Eu ia fugir, mas não deu tempo! Uma agonia guardei: não foi de nada a piccadinha!

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AGONISTA [6214]

Sardinhas todos puxam para o lado que querem, mas, Glaucão, exaggeraste! Sansão ja, no cinema, como um traste por Cecil B. De Mille é retractado! Ainda nos quarenta, resultado pomposo o filme teve! Que te baste não fez o director grande contraste com esse millennar texto sagrado? No filme, foi Sansão bem humilhado depois de cego, Glauco! Delle ria o povo philisteu! Que mais queria o publico? Não foi de teu aggrado? Entendo... Tu querias que, coitado, o cego rastejasse, que lambia o chão saber querias! Agonia tamanha, nem em Milton! És damnado!


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JUJUBA [6215]

É todo deputado uma jujuba: a gente, facil, compra alli na exquina! Assim sabemos como é que termina: ninguem um governante, aqui, derruba! Às vezes, pelo preço dum sanduba, alguma votação alguem combina! Passada a crise, fica na surdina! Capaz a approvação até que suba! Fazer o que, Glaucão? Cê fica puto, mas penso, certamente, no meu lado! Né, porra? Fui eleito deputado! É pela minha classe, então, que eu lucto! Dizer que sou jujuba... Bem, reputo um tanto diffamante! Estou errado? Das minhas incumbencias não me evado! Vesti preto, Glaucão! Estou de lucto!

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GLOBALIZAÇÃO [6216]

Joelho no pescoço, Glauco! Mais cruel, só mesmo bota no pescoço! Ninguem assim pisado, velho ou moço, consegue respirar em horas taes! Alheia ao mais agonico dos ais, a bota de solado rude e grosso suffoca quando pisa! Nem esboço siquer de reacção houve jamais! Rollava no Vietnam: americanos pisavam no pescoço do inimigo num interrogatorio, ou por castigo, appenas! Diversão sem previos planos! Mas quando, Glauco, um desses negros manos pisado for assim, eu só lhe digo: Um dia alguem reage e esse perigo crescendo vae! Globaes serão os damnos!


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CONVERTIDA [6217]

Soubeste, Glaucão? Essa militante ja fora prostituta! Mais ainda: tentou ser feminista! Mas não finda a coisa por ahi! Falta bastante! Ouvi que namorou ella, durante um tempo, sem ser culta nem ser linda, com quem as vagabundas sempre guinda às altas posições! Não é intrigante? Alem da assessoria no partido, a puta agora agita a molecada das redes sociaes! Mas que damnada! Hem, Glauco? Tu julgaste merescido? Mas claro! Não pensei nisso! Libido varia! Differentes taras cada um curte! Pode ser que ella tarada tambem seja por nazi travestido!

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AGGLOMERAÇÕES [6218]

Ainda bem, Glaucão, que tu não vês algumas coisas! Sei dum cidadão que em seu collete escreve este bordão de effeito, pelas ruas, descortez: “Sou infectado! Affastem-se!” Elle fez questão de precaver-se, embora não tivesse feito o teste! Diz, Glaucão: Não achas uma enorme estupidez? Com isso, o social distanciamento por elle pretendido pode até manter alguem distante, mas não é um methodo efficaz, Glauco, lamento! Lynchado ja foi, quasi, esse jumento! Alem do mais, quem nelle botou fé mandou prendel-o! O gajo foi na Sé abrir alas! Naquelle movimento!


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AXILLA QUE SE VENTILA [6219]

Cecê, Glauco! Sabias que um sovaco estraga um casamento? Pois estraga! Perdi minha mulher porque essa praga de cheiro mais tresanda que o do sacco! Chulé? Tambem por isso me destacco, mas ella nem se importa! Até que paga boquette em meu dedão, porem não traga da axilla a fedentina! Armou barraco! Nem queiras saber, Glauco! Ultimamente, por causa da maldicta quarentena, usei desodorante em não pequena dosagem! Mas perfume ella não sente! Te peço que me digas: Quem aguente não ha? Si me cheirasses, uma scena daquella tu farias? Valha a pena, talvez, eu ter comtigo um caso, urgente!

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BLACK BLOCK [6220]

Você não me entendeu, Glauco! Não quero appenas protestar! Quero quebrar! Ja fui anarchopunk! Agora, azar! Eu quero o pé metter! Chega de lero! Me diga agora, Glauco, que sincero você tem sido: os homens que vetar queriam nossas mascaras logar darão aos que as permittem? É o que espero! Permittam, não permittam, tanto faz! Nós vamos promover o quebra-quebra! Assim eu me divirto! Quem celebra a nossa pauta nunca almeja a paz! Mas, Glauco, que pergunta! Sou rapaz limpinho! Tomo banho! De Genebra eu sigo a convenção! Só quando zebra meu pé tem de pigmenta aquelle gaz!


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CABIDEOLOGIA [6221]

Mas esses governistas não estão levando uma bandeira de Israel, alem da americana? Por que, então, no meio os neonazis teem papel? É contrasenso, Glauco! É confusão mental! Então se pode ser, ao bel prazer, fan de Caim como de Abel, discipulo do russo ou do allemão? Se pode ser de Stalin defensor, assim como de Gandhi? Ser de franco assim como de Lorca? Até quem for de Luther King appoia a Klan do branco? Então, Glaucão, um Orwell eis que eu banco! Lhe informo que me faço dictador e imponho só tesão, nenhuma dor! Na marra quem não goze eu... Hem? Expanco!

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BOOTLICKING AND FOOTLICKING [6222]

Aldeia conquistada! Agora basta ao joven militar americano ter gozo, no Vietnam, com quem mais damno aguenta: a mulher, pouco ou muito casta. Seu homem (não que seja pederasta) tambem aguentará, da sola ao cano, na lingua a bota delle que, ‘inda uffano, quer ver si um vietnamita mais se arrasta. Emquanto com todo massagem agora ja

a mulher chupa seu caralho o conformismo oriental, quererá, linguopedal, descalço, o boy bandalho.

O pé dum militar, Glauco (não falho si digo que é de morte), cheira mal! Você talvez, Glaucão, ache ideal, mas, para alguem com brios, dá trabalho!


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MORADOR [6223]

Accontesceu de novo! Pelo vento uma arvore tombada foi aqui no predio! Quebrou tudo! Ja assisti ao filme desse tragico momento! As arvores podadas eu lamento, mas, quando nossa sorte não sorri, é cada qual cuidando só de si. Fiquei preso no proprio appartamento! Sem força, sem chuveiro, elevador... Comida a se estragar na geladeira... Nenhum computador... Ah, que canseira! Nem venha quem da flora adepto for! Fallar quero, Glaucão, com o doutor prefeito, para vermos a maneira mais rapida de todas cortar, queira ou não quem nem daqui for morador!

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FEETISHISM [6224]

Revista velha adjuda a relembrar. Rapaz americano, bem branquello, está sem farda. Calça só chinello, em vez daquella bota militar. A photo do Vietnam, que eu ja congelo faz tempo na memoria, mostra o par de sujos chinellões a descalçar dos pés do outro um nativo nada bello. O pobre vietnamita, na legenda, irá massagear o americano nas solas, com a lingua! Não me enganno! Assim diz a revista, ainda à venda! Não basta ao fetichismo que dependa de historicos registros, pois o panno não passo: ao vietnamita ja me irmano e passo minha lingua. Ha quem entenda...


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ADJUDINHA [6225]

Que merda, Glauco, porra! A minha vida virou inferno! Sendo processado estou! A me foder, de todo lado, as dividas pipocam! Cê duvida? Verdade! Caso alguem não se decida a dar-me uma adjudinha, estou ferrado! Das minhas posições eu não me evado, mas ellas teem polemica sahida! Xinguei ja muita gente de appellido que acharam offensivo! Chamei um de “brocha”, outro de “bicha” e de “bebum”! Um outro de “cagão”! Bem merescido! Agora me ver querem um fallido guru, Glauco! Um fanatico commum jamais serei! Quem cheira meu bodum que fique indifferente eu... Hem? Duvido!

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TOSTÕES [6226]

Primeiro, o fanfarrão me condecora, me chama de guru, lambe meu pé! Em tudo o que fallei elle põe fé! Agora não me vale? Eu estou fora! Se foda a tal medalha! Metta agora a porra no seu cu! Foder até eu posso o seu governo, si a ralé, bem antes de mim, não mandal-o embora! Cercado está dum monte de cagões e nada de tomar a decisão de, em publico, dizer que elle cagão tambem virou, que é falto de colhões! Glaucão, e tu? Tambem tu não me pões nenhuma fé? Caralho! Não me dão qualquer alternativa! Vou, então, astrologo tentar ser, por tostões?


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JUIZO [6227]

Mil mortos num só dia? Mas de jeito nenhum permittirei que isso accontesça! Tal numero quem tenha na cabeça juizo não está no seu perfeito! Eu, como àquellas demais a e grossa

observador, não me subjeito estatisticas! Que cresça mortandade é só travessa molecagem! Não acceito!

Daqui por deante, Glauco, só te digo: Divulgo quando os numeros estejam cahindo! Outros paizes ja festejam o fim da pandemia, meu amigo! Duvidas, Glauco? O que é que está comtigo havendo? Que outros cegos nada vejam va la! Mas teus escrupulos te pejam? Então aos teus te juncta no jazigo!

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BONITAS VIETNAMITAS [6228]

É photo conhescida a terrivel do Vietnam, Soldado garotão, não mas duas elle tinha,

que, na guerra se divulgava. uma escrava, alli na terra!

As moças, na banheira, ninguem erra as vendo muito tristes, quando dava a dupla banho nelle, que nem brava feição exprime e os olhos semicerra! Mas, noutra photo, o joven yankee fica olhando sorridente, emquanto cada pezão descalço um homem se degrada lambendo. O gesto oral por si se explica! Em ambas, eis o gajo que da zica dos pobres vietnamitas deu risada! Ainda não me lembro de mais nada tão nitido que dê da guerra a dica!


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MALUCO DA CABEÇA [6229]

Um cego com poder de decisão? Um cego que ‘inda autonomo paresça? Estás mas é maluco da cabeça! Um cego só tem uma posição: Abbaixo de quem vê com olho são! Debaixo dos pés! Que elle não se exquesça! Qualquer abuso oral que lhe accontesça tem elle que engolir, Glaucão! Ou não? Tu sabes que estou sendo o mais sincero possivel, Glauco! Sabes o que passas si ficas à mercê dumas devassas vontades, dum castigo mais severo! Eu mesmo ja abusei dum cego! Quero em horas taes dizer, a rir, que graças a Zeus eu bem enxergo! Tu que faças teus versos, mas que chupes, sem mais lero!

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VELHO NORMAL [6230]

O gringo, no Brazil, poder arrocta! Deixamol-o fazer tudo o que queira! Republica nós somos, bananeira! Não achas, Glauco? Ou és tu patriota? Si fores, perdes tempo! Quem adopta criterios objectivos da maneira mais simples e normal disso se inteira! Nos resta, assim, Glaucão, fazer chacota! Aquelles que se indignam com o facto de sermos viralattas são os mais soffridos, qual escravos sexuaes que engulham quando lambem um sapato! É como no meu caso, pois constato que, emquanto só chupei entre mil ais, soffri! Quando suppuz serem normaes abusos desse typo, não foi chato!


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ADHESIVO [6231]

Um cego, bengalando, para à beira do largo calçadão. Quando o signal abrir, attravessar quer. Alguem, mal pensando, ja bollou a brincadeira. Dispondo-se a adjudar no que elle queira, o gajo colla às costas do “mural” ceguinho um adhesivo que é fatal: o symbolo da faca na caveira. Instados pela audaz provocação, os outros transeuntes olham para o cego com desdem, chutam-lhe a vara, dão trancos, logo o jogam -- Ora! -- ao chão. Sem tempo de se erguer, leva pisão o otario pelo corpo, pela cara, até compta se dar de que esperara por isso quem bollara a reacção.

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JUSTIÇA [6232]

Por cyma da cueca: assim mandava chupar, para começo de conversa. A sua mente sempre foi perversa. Mulher elle tractava como escrava. Em pouco, uma mandou o gajo à fava. O gajo arranjou outra, mas adversa ficou a relação. Segundo versa o povo, solitario logo estava. Pensou numa ceguinha que, submissa, sem queixa a sua rolla chuparia. Faltando cega que essa putaria topasse, eis que um cegueta muda a missa. Agora tem quem mamme em sua piça. O cego só obedesce, nunca chia. Gostou da conclusão, Glaucão? Um dia aos versos meus você fará justiça!


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COBERTOR [6233]

Tirei o cobertor, que ja guardado estava havia mezes. Que poeira! Allergico ja sendo, si isso cheira alguem, será peor o resultado. Foi tiro e queda! Glauco, complicado fiquei! No meu logar você nem queira ficar! Foi tanta tosse, chiadeira no peito, dores deste e doutro lado! Peguei uma bronchite do diabo! Você tambem ja teve? Sentiu dor no peito? Teve tosse? Cobertor guardado, por suppor então accabo! Errei? Bem, mas commigo você brabo não fique, Glauco! Diga, por favor: Ao menos versejei bem, si não for incommodo... Ou então va dar o rabo!

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RACIOCINIO [6234]

Astral inferno, Glauco, o que será? Será do anniversario o que, um mez antes, passamos em azares torturantes? Será cada ponctada que nos dá? Será que nos darão noticia má a cada dia, até poucos instantes faltarem para alguns participantes cantarem parabens na hora “H”? Será que trinta dias de infelizes eventos compensar vão um só dia de commemoração e de alegria? Vantagem haverá, Glauco? O que dizes? Será que, anno appós anno, taes reprises se fazem necessarias? Que seria dos cynicos astrologos si a fria razão não permittir que brindes bises?


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ANTICORPOS [6235]

Testei. Eu não queria, mas testei. Fiz tudo p’ra addiar a decisão. Julguei, um dia sim, um dia não, si tinha que saber o que ja sei. Testei. Que me forçasse, não ha lei. Não houve, não, qualquer obrigação moral, nem social. Nada, Glaucão! Appenas hesitei e, emfim, julguei. Testei. Deu positivo, o que me indica que estive exposto ao virus, Glauco! Certo? Não sou nesses assumptos tão experto, mas acho que isso em nada augmenta a zica. No cu tenho levado tanta picca que pouca differença faz si perto ou longe estou da peste. Só me allerto é quando outro michê doente fica...

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EBOOK QUE EDUQUE [6236]

Não és, Glauco, uma fabrica, não! És usina, és Itaypu, para compor sonnettos! Fazer pausas si não for teu verso, em mais dez annos dás mil dez! Electrica energia tal ao rés do chão não se transmitte! É de suppor que poucos a consumam! Sem favor nenhum, qual editor te chega aos pés? Não, Glauco! No commercio, o maior sello de livros não dá compta de editar centenas dessas obras! Ora, azar dos nossos editores! Vaes fazel-o! Farás, tenho certeza do teu zelo, por compta propria aquillo que está a dar noção Lucio Medeiros: nesse mar os livros em garrafa são modello!


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GARRAFA QUE GRAPHA [6237]

Mensagens na garrafa até ja as dera o punk, aquelle naufrago na scena rockeira: gesto grande em tão pequena escala. Mais será na actual era. Do seculo gran coisa não se espera em termos de empathia, nem de plena acção humanitaria. Nos condemna o jogo do Systema à van chimera. Utopicos, ou loucos, somos nós, poetas e philosophos, que iremos, em verve engarrafada, aos mais extremos canthinhos do oceano. Estamos sós? Não creio. Por mais tragico ou atroz que seja nosso barco, sem os remos nem bussola, a garrafa nós podemos lançar, uma appós outra, appós, appós...

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ENGARRAFAMENTO [6238]

Mas, cara, agora a tudo só de carro se vae, até em testagem e cinema! Agora, quem de casa sahir tema só sae si for assim! Não é bizarro? Sahindo, cara, a pé, sempre eu exbarro em agglomerações! Não, nesse eschema não dá p’ra ser feliz! Glauco, que thema legal para poema, né? Que sarro! Você pode fazer, Glaucão, um monte de estrophes p’ra contar casos assim, de gente nesse transito, sem fim nem rhumo, na avenida, numa ponte... Pensou, Glaucão, o caso da menina olhou, sorriu da guiando, mas, em

em algo? Quer que eu conte que p’ra mim rua? Sou ruim lances taes, sou fonte!


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PRESENÇA DE ESPIRITO [6239]

Meu pae dizia: “Christo vem ahi!” Viveu elle septenta annos, mas nem siquer sombra de Christo viu do Alem surgir! Nem eu, tampouco, sombra vi! Ninguem que eu conhescesse e que não ri de tantas prophecias dizer vem que viu Christo chegar, Glauco, ninguem! Estou descrente, Glauco! E quanto a ti? Quem sabe si elle esteve mesmo, mas ninguem o percebeu, ou ninguem deu ouvidos, ja que encontra a gente atheu por todo lado, ouvindo um Satanaz... Até suspeito, Glauco, que, aliaz, eu seja Jesus, juro! Sim, pois meu recado ninguem ouve! Me entendeu errado o povo! Tantas mentes más!

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TALHE NO DETALHE [6240]

Gravura vi, Glaucão, que lhe interessa. Carrascos trez accabam de cegar um homem, cujo oval globo ocular tirado foi da cara, mas sem pressa. Seu outro olho sahir tambem vae, nessa sessão de cegação. Falta passar a faca, que dum delles a brincar está na mão e quasi que a attravessa. Detalhe interessante que, evidente, nos salta à vista: algozes de pau duro estão, fora das calças. Glauco, juro! Aquillo mexe mesmo com a gente! Mais um detalhe: rosto sorridente exhibem elles. Quasi ja no escuro total, o desgraçado mostra puro terror no olhar que resta. A gente sente.


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AO RÉS, AOS PÉS [6241]

Te quero descrever, Glaucão, a scena que vi numa veraz photographia. Foi n’Africa do Sul, quando valia o rigido regime em sua pena. Do preso o queixo roça na terrena poeira. Até o pescoço la se enfia o corpo. Na cabeça, à luz do dia, o forte sol luz batte nada amena. Dois jovens guardas pisam na cabeça, que está das sujas botas ao alcance. Teem elles, quanto queiram, boa chance de tudo fazer nella que envilesça. Pisar, chutar, mijar, mandar a advessa e secca lingua achar que rolle e danse na sola das botinas. De relance, notar pude. Suppuz que o pau lhes cresça...

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PARES [6242]

“Amar é...” Ja pensaste, Glauco, nessa questão? Ja completaste a reticencia? Qualquer menestrel classico que vence a pieguice encontrará resposta à bessa! Só vale responder o que interessa a amantes, namorados: “paciencia”, “saber ouvir”, “lembrar não só na ausencia”, “fallar logo; pensar, porem, sem pressa”... Tu, Glauco, que és poeta, certamente virás com um conceito breve e bello. Que tarde ‘inda, a ti nesta lyra appello: Não deixes de brindar, com graça, a gente! Somente isso, Glaucão? Ficas contente com outra phrase nesse teu martello: “chulés compartilhar num só chinello”? Mas como? Quantos pares tens em mente?


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DERRADEIRA SAPATEIRA [6243]

Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez? Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez? Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas com teus cegos carinhos e teus humidos beições? Será que ‘inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n’a rasgado? Ora, te entrego os meus velhos -- e de velhos -- chinellões!

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VERY DELIVERY [6244]

Pedi que me entregassem cannellone, salada, sobremesa, até bebida inclusa, mas jamais suppuz na vida que venha a tal entrega por um drone! Foi foda, Glauco! Caso alguem accione errado, o troço chega, na descida, veloz, trombando em tudo! Quem decida paral-o mais verá que elle detone! Entrou pela janella, Glauco! Veiu batter contra a parede! Foi a massa aos ares se expalhando! Minha taça quebrou-se, de crystal, partida ao meio! Glaucão, aquelle estrago foi bem feio! Jamais peço de novo que se faça a coisa! Agora a fama pela praça divulgo desse troço! Reprovei-o!


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MESMICE [6245]

Durante a quarentena, do pavê o thio ja não é fonte de problema. Mais proxima pessoa faz que tema a gente esta roptina de clichê. Miojo todo dia! Acha você saudavel? Mas, Glaucão, mamãe só rema na mesma direcção! Ovo com gemma durinha, ja cozido, outro dilemma! Domingo muda a coisa de figura! Emfim, aquelle frango de padoca! Alguem a mesma mascara colloca e sae para buscar! Que gostosura! E sempre se commenta: “Até mais dura roptina aguenta o povo da malloca!” A gente se consola, pois se toca que para até mesmice exsiste cura...

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JACULATORIAS [6246]

Glaucão, o Padre Sade ja me disse que fosse devagar com a punheta. Então prolongo, sempre que commetta aquella natural semvergonhice. Tambem Padre Feijó fez que eu seguisse a practica christan mais obsoleta: Queria que eu evite dizer peta! Então fallei-lhe logo que é crendice. Glaucão, tambem fallou o que é feio ser discipulo que pecca quem falseia a Então fallei: quem morre

Padre Serra de Onan, fé christan. não mais erra.

Tambem tu, Glauco, dizes que na Terra pó somos e qualquer vaidade é van. Então não vou deixar para admanhan meu gozo, si o tesão logo se encerra.


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IMMALDICTO [6247]

Responda-me, Glaucão: você se estima “maldicto” (ou “postmaldicto”, va que seja)? Por que? Só porque está fora de egreja qualquer, das litterarias, ou accyma? Appenas por usar ‘inda a tal rhyma só feita por pouquissimos? Enseja seu estro um tractamento que verseja à moda premoderna, a crear clima! Mas, Glauco, quem mandou você crear sonnettos, dissonnettos, madrigaes, emfim, a tralha toda que jamais creava aqui quem tenha linguajar? Usar orthographia antiga, achar que tudo incorre em taras sexuaes? Mandei eu, por acaso? Ora, seus ais accabam me doendo, em seu logar!

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IMMAGICO [6248]

Responde-me, Glaucão: por que te dizes um bruxo, um mago, um typico propheta? Appenas porque, cego, ja te affecta a perda dos momentos mais felizes? Appenas porque exaltas os deslises daquelles que na merda mais completa chafurdam e por seres quem sonnetta accerca de immundicies que tu pises? Mas, Glauco, quem mandou tu seres quem humilha a personagem dum ceguinho? Quem foi que permittiu-te esse mesquinho direito de, em “missão”, seres refem? Foi elle? Foi Satan? Quem mais, alem de Lucifer, te inspira? Ah, não allinho meu codigo comtigo! Meu caminho me leva ao céu! Te cuida, Glaucão, hem?


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IMMARGINAL [6249]

Não, Glauco, porra! Aqui quem tá fallando sou eu, que marginal sou de verdade! Eu vivo na peripha! Attraz de grade estive varias vezes com meu bando! Sim, parte ja tomei nalgum commando! Roubei, até estuprei! Não, ninguem ha de dizer que não practico uma maldade! Ainda vou mactar! Só não sei quando! Você não, Glauco! Porra, você só faz versos! Não commette nenhum crime! Agora vae dizer que, caso rhyme “cocô” com “pornô”, offende? Tenha dó! Assim, não! Marginal é sua avó! Meu caso, Glauco, muito mais sublime se torna, pois você só se redime si sobre mim crear o seu rondó!

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COMMISERAÇÃO [6250]

Eu, toda vez que vejo um alleijado andando de muleta, me condoo, pensando no coitado que, no voo dum salto, nunca pode ir n’agua a nado! E quando vejo um ‘inda mais ferrado, um desses cadeirantes, nem caçoo do gajo, pois até jaula de zoo tem bicho mais feliz, mais bem tractado! Até, Glaucão, si vejo um surdomudo fazendo umas caretas de quem não entende porra alguma, dou razão àquelles que o problema acham agudo! Mas, quando vejo um cego, não o accudo nem delle sinto pena! Não, Glaucão! Me lembro de você, que de Sansão é fan! Meu pau se entesa! Me desnudo!


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CEGADO E CAGADO (I) [6251]

Bengala ainda nova, vem o cego battendo o troço deste e doutro lado. Alguem que se irritou, ja bengalado que fora, quer vingança: “Ah, ja te pego!” Glaucão, que isso diverte, meu, não nego! Um trecho da sargeta está tomado de merda! Algum exgotto vazou! Dá, do fedor, enjoo! Penso nisso, offego! Num tranco, o gajo obriga aquelle chato cegueta a mergulhar na cocozeira! Depois de chafurdar, elle está à beira da valla, procurando pelo tacto! Perdeu sua bengala! Até desapto a rir! Ninguem adjuda a quem mal cheira! Só ficam rindo! Glauco, não me queira mal, ja que de empurral-o foi meu acto!

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CEGADO E CAGADO (II) [6252]

Não posso ver um cego de bengala que fico ja com raiva! Aquella vara o cara vae battendo, sempre para la, para ca! Que sacco! Me resvalla! E mesmo que não pegue em mim! De olhal-a batter, ja me emputesço! Porra, cara! Meresce essa licção sahir bem cara! Lhe ensigno que a mim cego não se eguala! Ah, Glauco, ja tomei a vara dum, joguei longe e fiquei alli, curtindo a sua reacção! Achei que lindo foi disso o resultado! Foi pa, pum! Pisou bem no cocô, que é tão commum haver pela calçada! Foi bemvindo seu tombo! Se borrou! Glaucão, eu brindo à dor dum cego! Sem problema algum!


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CEGADO E CAGADO (III) [6253]

Ja devem ter descripto para ti o video. Pediu sopa, ao restaurante, o cego, mas um passaro, durante a pausa, passa e caga por alli. Cocô cae noutra sopa, mas eu vi que, rapido, o garçon ja se garante. O pratto sujo passa, astuto, addeante e serve ao cego o caldo! Ah, como eu ri! Ah, Glauco! Precisavas ver a cara de gosto do ceguinho! O desgraçado pensou que estava super temperado o liquido cocô que degustara! Um dia, satisfaço minha tara e enganno um cego assim! Mais eu me aggrado si a merda for a minha! Estou errado? Magina! Adoro quando alguem se azara!

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AMARGA DESCARGA [6254]

Glaucão, aos ares o virus, tem pela

fiquei sabendo que, expirrado na descarga da privada, em gotticulas, entrada nossa cara! Achas-me errado?

Verdade, Glauco! O campo não invado dos nossos scientistas! Mas é cada noticia que nos trazem! Hem? Mais nada faltava! Até cocô contaminado! Não, Glauco! Não demora para alguem dizer que do cocô vem pelo cheiro um monte de microbios! Ja me inteiro de que esse thema armou um nhenhenhem! Não, Glauco! Só observei mesmo que vem, no cheiro, sensação de verdadeiro enjoo! Sempre deixo o meu banheiro limpinho! Mesmo assim fede, porem!


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TRUMPISTAS [6255]

Escuta só, Glaucão, o que te digo! No Trump inspiradissimos, uns dez rapazes que desprezam as ralés sahiram e mijaram num mendigo! Na cara, até na bocca, meu! Abrigo sem ter, na rua dorme! Mas aos pés ficou daquella turma de manés! Sem tecto, quasi fica sem jazigo! Pisaram nelle, Glauco! Nem precisas pedir que eu te confirme! Interessante foi mesmo a reacção do Trump, hem? Deante da midia, teve queda nas pesquisas: “Coitados dos meninos! Foram lisas as suas intenções! Sim, são bastante fanaticos por mim!” És tolerante com isso? Não? Ainda bem que frisas!

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FARTUM NO CARTUM [6256]

Vae, abre teu sorriso, Glauco! Humor libera as endorphinas! Quem risada dá, para longe expulsa a malfadada noticia, a vibração ruim, a dor! Humor só não funcciona si a favor é feito para alguem que não quer nada com criticas ou presta-se ao que aggrada ao lider de plantão, ao dictador. Não sendo propaganda pamphletaria, da chronica, da satyra ou da mera e simples charge nunca vocifera ninguem de intelligencia mais primaria. Mas quando, Glaucão, uma tão hilaria figura mais delira que lidera, ahi não tem mais jeito! Quem nos dera chargistas mais ousados contra um pariah!


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CONTRASTES [6257]

O Rio capital não é de estado: estado, sim, de espirito será. Não é de quem la mora ou quem está appenas de passagem, para aggrado. Não achas, Glauco? Sempre que me enfado das faceis allusões, vejo ser la que está -- meu coração não, pois não ha paixão nisto -- o logar mais almejado. Não fallo da cidade em que moraste, tampouco da natal terra de alguem, porem de quem, nem sendo de la, nem a tendo visitado, vê contraste. Contraste entre quem ganhe e quem só gaste, quem tem boa visão e quem não tem, quem della pense em termos de arte e quem só pense em, como tu, no que te baste.

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CONTRACEPÇÃO [6258]

É facil não ter filhos, Glauco! Basta fechar as pernas, porra! Gravidez se evita, né?, caralho! Só quem fez nenen foi a mulher que não é casta! Um homem que não seja pederasta somente de putinhas é freguez! A culpa não é delle, que michês não paga, mas com puta a grana gasta! Fui claro, Glauco? Ou achas que embaralho? A puta poderá ser chupeteira, appenas, si quizer? Caso não queira, que emprenhe! Que embarrigue, então, caralho! Que pillulas, que nada! Não me valho jamais da pharmaceutica tranqueira! Si for p’ra desistir duma rampeira, eu fodo um cego, mesmo! Quebro o galho!


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GANGORRA [6259]

Você ja se cagou, Glaucão, dormindo? Eu ja, cara! Ah, foi foda aquillo, porra! Foi foda! Merda molle, caso excorra, effeito causa forte e nada lindo! A gente só percebe quando findo foi tudo! No meu sonho, uma gangorra eu ia cavalgando, mas, na zorra total, a caganeira foi sahindo! Senti, na bunda toda, a quenturinha molhada! Meu nariz da fedentina tomou conhescimento! Uma narina não falha, muito menos esta minha! Glaucão, eu só lhe digo que damninha foi minha refeição, que não combina com hora de nanar! Assim termina meu caso! Si curtiu, você escrevinha!

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SALDO DO CALDO [6260]

Glaucão, ja te cagaste emquanto o somno te dava bello sonho colorido? Commigo succedeu, e te convido a vires conferir o que menciono! Cagar nos é normal quando, no throno, fazemos cocô duro ou diluido! Ja quando o creme fica admollescido demais, nem reconhesce o cu seu dono! Na cama, estrago, Do somno passei a

a merda molle faz um puta lençol molha, cobertor... despertei pelo fedor, mão... que quasi esteve enxuta!

Tirei a tempo, Glauco! Ouve, me escuta até que eu te conclua! Vaes suppor que culpa foi daquelle bom sabor do caldo de pheijão? Arrisca! Chuta!


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GOSTOSO [6261]

Você quer saber, Glauco, o que seria chupar “gostoso” um pincto? Ora, amigão, é facil de explicar! A posição da lingua condiciona a phantasia! A lingua “saboreia”, se sacia de varios “paladares”! A micção vestigio deixa nitido, que, tão marcante quanto o “queijo”, o olfacto guia! Emquanto você chupa, “saboreia”, dahi chupar “gostoso”! Mas tambem eu “gosto”, si chupado por alguem que saiba manter sua bocca cheia! Mais longe vae você, que tira a meia appenas com a lingua, Glauco! Nem precisa perguntar o que, convem dizer, ja sempre soube... e que allardeia!

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SERMÃO DA MONTANHA [6262]

Lembrae-vos de que o parto da montanha só deu à luz um misero rattinho! Lembrae-vos de que invertem o caminho aquelles que duvidam da façanha! Sim, para Mahomé não foi extranha a vinda da montanha até pertinho de si, ja que elle nunca foi vizinho de rocha assim tão ingreme e tamanha! Portanto, meus irmãos, daquillo que vos digo! de compta que desnudos perante o tridentão do

não duvideis Não façaes não estaes Seis Seis Seis!

No picco da montanha vós podeis estar, mas não estaes livres dos ais si as lavas do vulcão forem lethaes a vossos cus, por cuja dor temeis!


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DYSANGELICO [6263]

Assim como “utopia” corruptela seria de “eutopia”, cujo opposto seria a “dystopia”, neste posto colloco theologica querella. Se tracta de “evangelho”, que revela tambem um “eu” corrupto, que disposto estou a perverter com meu mau gosto de sempre e que a nenhum Jesus appella. Portanto, “dysangelho” me paresce perfeita, astral antithese daquillo que indica a divindade: sem vacillo, indico Satanaz, a quem fiz prece. Talvez não um Satan que nos fizesse maleficas propostas, porem fil-o ironico, mordaz, ja que tranquillo jamais deixo um leitor que me conhesce.

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PRETERIDA [6264]

Glaucão, si eu não ganhar a primeirona, final collocação no festival, eu acho que me macto! Você mal calcula como a gente isso ambiciona! Não canto, Glauco, como prima donna das operas, mas esse pessoal da bossa nem me chega aos pés! Normal, portanto, que eu não seja a sexta, a nona! Fiquei sabendo, Glauco, que San Remo, aquelle festival dos festivaes, ja teve suicida, que jamais venceu e, inconformada, foi ao Demo! Não sei si chegarei a tal extremo, mas, Glauco, convenhamos! Das banaes cantoras bem accyma estou! Meus ais agudos são! Por isso perder temo!


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MACHIAVELLICO [6265]

Tu queres cultuar a minha luz? Mas lembra-te, ceguinho, de que eu não sou unico, mas uma legião! Qualquer das minhas luzes te seduz? Advirto-te que um preço ja te impuz a fim de que tu possas ter visão das coisas, mesmo sendo-te illusão: terás que me beijar em muitos cus! Estás bem preparado? Os bruxos, sim, estão e lingua longa affundam em meu anus! Tens tal lingua, cego? Vem, então, te emporcalhar dentro de mim! À toa Satanaz a ser não vim! Eu sou machiavellico, meu bem! A lingua que me excita nojo tem? Terá que bom achar o que é ruim!

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DAREDEVIL [6266]

Ja viu superheroe cego você? Das artes marciaes é luctador! Aqui querem chamar Demolidor! Hem, Glauco? Cego lucta karatê? Faltava só mais essa! Quem não vê vencendo os inimigos! Eu, si for batter num cego, batto onde mais dor provoque e que maior prazer me dê! Excolho onde batter, Glaucão! Assim, divirto-me e ‘inda applico uma licção num gajo tão ridiculo que não meresce piedade para mim! Prefiro ler Tarzan ou ler Tintin, que menos mythologicos me são! Ainda assim, eu nelles minha mão mettia sem dó, caso esteja a fim!


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ESTIMULO [6267]

Paresce que esse heroe, Demolidor, ao padre confessou-se, ‘inda menino, depois de ficar cego. Ora, imagino que tenha lamentado sua dor! Teria dicto: “Como um peccador serei? Um cego, pelo seu destino, não pode fazer nada! Não attino que possa, assim, peccar! Que vou suppor?” Que bella deducção! Não é, Glaucão? Então mais innocente eu sou e fico tranquillo p’ra sentar a mão, o bicco da bota num babaca sem visão! Ah, Glauco! Desse heroe cegueta não senti misericordia! Acho tão rico de estimulo um gibi no qual o Chico appanha do Francisco, ou batte, então!

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BIQUINHO [6268]

Não sou eu contra aquelle que quer dar seu anus, seu biquinho de Asmodeu, annel de Belzebuth, seu rabo, seu “orificio rugoso infralombar”! Não tenho preconceito! Tenho um ar blasê, desdem exhibo... Talvez meu defeito seja assim, pois eu plebeu jamais fui! Nada posso censurar! Mas, Glauco, quem quizer dar nada tem que estar a disso obter notoriedade! Não posso concordar que quem deu ha de querer allardear seu cu, tambem! Hem, Glauco? Que tu pensas? Sei que bem conhesces das bichonas a vaidade! É tara satanista! Retro vade! Meu cu só no espelhinho olhei! Eu, hem?


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MOLDURA [6269]

Glaucão, estão dizendo que é fajuto todinho o meu curriculo! Magina! Fodão eu sou na minha disciplina! Si querem duvidar, eu fico puto! Admitto que alguns titulos eu chuto que tenho, mais ou menos, que escrevi, na tal these, varios plagios, officina nenhuma dei nem tive esse instituto! Mas isso Implicam commigo? maior de

todos fazem, Glaucão, ora! só commigo? Por que só Só porque virei xodó todo lobby que vigora?

Até quem é rival me condecora! Causei muito despeito! No brechó fallaram que eu comprei meu rococó diploma na moldura! Ah, meu! Sae fora!

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RIVALIDADE [6270]

Soubeste? Não, tu disto não soubeste, Glaucão! Um cantador, quando deseja mal para algum rival, quer que este esteja ceguinho, dentro em breve, no Nordeste! Repente elle fará: “Cabra da peste, verei você, na porta alli da egreja, pedindo esmolla! A grana me sobeja e tenho vista boa que me reste!” “Verei você, ja cego, sem seu guia, com cara de infeliz, a bengalar, emquanto, sem querer no seu logar estar, eu vejo clara a luz do dia!” Não digo que taes termos usaria, mas algo parescido, mais vulgar, tão rico desse experto linguajar usado por rivaes na cantoria!


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CANAL DA BACCHANAL [6271]

Ouviu fallar, Glaucão? Fazem orgia por teleconferencia! No jornal está que fazer podem bacchanal remota, pelas cameras! Sabia? É tudo organizado: o horario, o dia... A gente se cadastra num canal de imagem e qualquer coisa “normal” será considerada, sem phobia! Glaucão, até podolatras terão logar! Emquanto um mostra a sua sola, um outro mostra a lingua, passa, colla na camera, a cobrir toda a visão! Só mesmo você, Glauco, solas não verá! Mas poderá pedir esmolla verbal! Abusos typo: “Deita! Rolla no chão! Rasteja! Lambe!” Hem? Que tesão!

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ABSINTHO DE PINCTO [6272]

Prepare-se! Exquescer della jamais irá, quando proval-a você for: urina allaranjada, quasi cor de abobora, a formar até crystaes! Meu mijo tem assucar, Glauco! Os taes crystaes teem sabor doce, é de suppor! Sou muito diabetico! Um licor você vae degustar e pedir mais! Mas, mesmo que não peça, vou lhe dar na marra, ja que cego você está! Beber adjoelhado não será surpresa para alguem que é tão vulgar! Pudera! você ja verseja Meresce

Bocca suja cavallar demonstrou! Com lingua má sobre tudo! Né, xará? meu xixi! Serei seu bar!


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MAIORIDADE [6273]

Seu Glauco, o senhor pode ter certeza de como o meu chulé de maior é! Talvez seja menor este meu pé, que pouco mede menos que o da mesa! Mas posso garantir: de rolla tesa não fico si um adulto cafuné fizer no meu pentelho! Bote fé, creança não serei tão indefesa! Seu Glauco, o meu chulé não me envergonha, mas delle nem tampouco sinto orgulho! Farei anniversario, agora em julho! Ja apperta todo tennis meu que eu ponha! Com novos tennis todo joven sonha! Darei, sim, ao senhor aquelle embrulho de tennis velhos! Deixe, que eu vasculho meu quarto! Mas não vale batter bronha!

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SEM VASELINA [6274]

Glaucão, o conde Dracula fascina tambem quando o real delle se falla! Sim, por predilecção é que elle empala seus varios desaffectos! É roptina! Glaucão, empalação é mesmo fina e linda tradição! Vale exaltal-a! Em vez de ter logar só numa salla fechada, arma na praça a grande gala! A lança que enrabou o prisioneiro no solo desse espaço bem fincada está, para que o povo dê risada das suas contorções o tempo inteiro! Até que o gajo morra, vae, primeiro, sangrar devagarinho, como cada veado que se enrabe, caso nada viscoso lubrifique seu trazeiro!


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AVENIDA [6275]

Tens, Glauco, uma noção do que seria um ratto na boceta, até no cu dum pobre prisioneiro que, ja nu, esteja aptado pela tyrannia? Não, Glauco, o ratto, mesmo, só se enfia alli porque não teve outro menu! Cercado, sem passagem, sabes tu por onde tal bichinho ousar iria? Si o ratto não tiver outra sahida excepto um orificio natural, irá forçar, cavar caminho, mal podendo se mexer! Alguem duvida? Coitada da abertura que decida fechar-se aos movimentos do animal! Será bem dolorido, Glauco, o tal tractor tentando abrir uma avenida!

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STRIPTEASE [6276]

Aptado pelos pulsos, mãos accyma da altura da cabeça, sem nenhuma cueca siquer, mesmo que elle assuma uns ares dignos, logo desanima. Começa a sessão, nesse extremo clima de euphorico recreio. Se advoluma o publico na arena, à qual ja rhuma até molecadinha que se mima. As habeis chibatadas dadas são nas nadegas, nas coxas, não somente nas costas. O punido os golpes sente arderem e rebolla na afflicção. Provoca as gargalhadas do povão por causa dessa dansa que, indecente, paresce “estripetise” e faz a gente pensar num cabaré. Não é, Glaucão?


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TEDIOSO GOZO [6277]

Levaram o teimoso bandoleiro, que nada confessara, à salla ao lado. Por ordem do orgulhoso delegado, o gajo foi queimado com isqueiro! Sim, Glauco! Dei um google! Sim, me inteiro dos factos! Foi todinho chammuscado! Na poncta das orelhas, no suado pezão, no sacco roxo, no trazeiro... Você ficou com pena do pezão, não é? Talvez você não o queimasse! Talvez nelle exfregasse sua face, apposto, pois conhesço o seu tesão! Mas delle não tiveram pena, não! Só deram gargalhadas! Si enxergasse, veria você como goza a classe dos tiras, que teem tedio no plantão!

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PAUSA PARA A CAUSA [6278]

Mulheres estupradas na prisão o foram com maior frequencia, vejo, com homens confrontadas. O desejo de posse e o de tortura primos são. Concordas tu commigo, não, Glaucão? Reparo, todavia, que sem pejo alguns torturadores esse ensejo desfructam sobre machos mais à mão. Fiquei sabendo, Glauco, por um tira agora apposentado, que deleite immenso se tem, caso não acceite chupar, nem dar a bunda alguem prefira. O preso se debatte, se revira, mas urra, penetrado sem azeite! Si topa a fellação, ora, approveite (fallou o tira) a deixa: à “causa” adhira!


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FACEIS FACES [6279]

Martins Fontes nomeia como mestre Satan, Mephisto, Lucifer, e chama tambem de Belzebuth esse a quem ama accyma do parametro terrestre. Sciente, eu ao Cappeta que me addextre pedi, durante as bronhas que na cama batti. Si illuminou-me sua chamma, terei que ser quem sobre elle palestre. Até Melchisedech elle será, alem de Mephistopheles. É quem quizer, pois elle reina para alem de Juppiter, de Baccho ou Jehovah. Tem cara de bebê, tem de gagá, de bruxa, de nympheta... Não é nem bellissimo, nem feio, pois eu, sem visão, nem sei que rosto teve, ja.

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SUSPENSO [6280]

Seu Glauco, estão querendo me expulsar! Sim, do collegio, só porque eu fallei do negro, da mulher, até do gay, aquillo que merescem escutar! Mulher tem que rallar e ser “do lar”! Ao negro não tem nada que ter lei de quotas, de racismo, la nem sei que mais, e gay precisa se curar! Trez dias eu peguei de suspensão e querem me expulsar por causa disso! Calcule si meu tempo desperdiço fallando o que dum cego penso, então! Fallar nem vou, seu Glauco! Um cego não precisa que se falle! Elle é submisso à gente, que ver pode! Mais enguiço ja tenho com quem pede punição!


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APOCALYPSE [6281]

Cyclone bomba... Nuvem ja se vê até de gafanhoto, Glauco! Praga assim é para a gente ver si paga peccados nunca vistos na TV! Peccaste muito, Glauco? Caso dê, me compta aquillo tudo que desbraga! Estava demorando um céu que traga castigos que na Biblia a gente lê! Na data apocalyptica, verás catastrophes ineditas, Glaucão! Nevar irá durante este verão! Calor fará que em junho nunca faz! Chulé não acharás mais num rapaz! Botinas te darão menos tesão! Comptados nossos dias hoje estão! Nos resta confiar em Satanaz!

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SEDUCÇÃO [6282]

Praquelle clube entrei, Glaucão, mas nem suppunha que seria alli rendida! O clube nos seduz e nos convida, depois as garras mostra! Acceita alguem? Até bem recebida fui! Porem, no mesmo dia quasi perco a vida! Prenderam-me em correntes e, em seguida, dum ogro me fizeram de refem! Um ogro, sim, Glaucão! Um typo tão horrivel que dá nojo até num cego! As marcas de seus golpes eu carrego! Na bocca me fodeu sem ouvir não! Comeu-me, em mim cagou, fez um montão de extremas porcarias! Com um prego por pouco não cegou-me! Mas, não nego, você teria alli, talvez, tesão!


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OUTRO LOGRO POR UM OGRO [6283]

Entrei para tal clube, Glauco, por banal curiosidade. Nem capaz serás de imaginar do que um rapaz pacato possa alli ser soffredor! Não podes, tu que és cego, nem suppor que rosto um ogro tinha! Nem te faz alguma differença! Suas más caretas dão pavor, seja a quem for! Pois esse ogro offendeu o meu pudor! Prendeu-me numa jaula! Alli quem jaz appanha de chicote! Não estás, ainda, afflicto pelo meu terror? Por que não te commoves? Fodedor foi elle em minha bocca! Não irás dizer que gostarias! Não me vás gozar da cara, Glauco! Não, senhor!

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ACADEMIA [6284]

Quem é que um clube egual, com tradição no sadomasochismo, supporia por traz duma prosaica academia, daquellas de gymnastica, Glaucão? Aquelles apparelhos, todos tão singellos e innocentes (Quem diria?) funccionam como machinas à fria e frivola tortura, ao cru tesão! As victimas, aptadas a taes barras e pesos, torturadas são com todo requincte! Ja pensou si eu la me fodo fazendo um “exercicio” nessas garras? Ouvi fallar: famosas são as farras orgiacas no clube! Eu nesse engodo não caio! Mas você, sim, pelo lodo rollava, né? Cê topa acções bizarras!


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CEGO CORNO [6285]

Vantagem sei que levo, ao menos uma, casada por ser eu com um ceguinho. Não uma. Talvez duas. Lhe apporrinho, Glaucão? Então permitta que eu resuma. Primeiro, acho perfeito que elle assuma: Jamais para a mulher dalgum vizinho olhar eu o verei. Mais excarninho será quando um amante a gente arrhuma. Ahi vejo vantagem mais bacchana. Com outro poderei trahil-o, bem na frente delle. Basta que ninguem mais alto va gemer. Acha sacana? Né, Glauco? Quem é cego não se enganna assim tão facilmente! Tesão tem, mas cala-se, provando ser, alem de corno, um masochista. Cê se irmana?

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108 GLAUCO MATTOSO

FRIORENTA [6286]

Não, Glauco, o meu chuveiro não exquenta! No frio, não ha meio! Resolvi! Não vou tomar mais banho! Só daqui a mezes, no verão! Dias? Noventa! Que xinguem! Que me chamem de nojenta! Boceta ja só limpo si xixi accabo de fazer! Si piriry eu tive, limpo o rabo! Quem attenta? Alguem presta attenção nas minhas partes pudendas, que não dispo p’ra ninguem? Alguem vae perceber que cheiro tem aquillo que escondi de immoraes artes? Não, Glauco! Si quizeres, que te fartes com partes masculinas! Minhas, nem pensar que tel-as visto possa alguem! Banhar-me? Não, jamais! Tu que deschartes!


SUMMARIO MÁS CARAS [6187].......................................... 9 SLEEPING GIANTS [6188]................................... 10 CHINELLO [6189].......................................... 11 JEITÃO BRAZILEIRO [6190]................................. 12 PROCTOLOGISMO [6191]..................................... 13 MORAL (II) [6192]........................................ 14 ESTRUME [6193]........................................... 15 MENINOS [6194]........................................... 16 VAGABUNDOS [6195]........................................ 17 COVARDIA [6196].......................................... 18 HYDROXYCHLOROQUINA [6197]................................ 19 UTENSILIO TERMINAL INUTIL [6198]......................... 20 PHILANTHROPIA [6199]..................................... 21 NECROLOGIO [6200]........................................ 22 COVIDÃO [6201]........................................... 23 COPROLALIA [6202]........................................ 24 RASTEIRO BANDOLEIRO [6203]............................... 25 FUMANTE INCOMPASSIVO [6204].............................. 26 DISCORDIA [6205]......................................... 27 CASAMENTO [6206]......................................... 28 PAREDÃO [6207]........................................... 29 BACALHAU [6208].......................................... 30 AUTOPROCLAMADO [6209].................................... 31 JUPPITER JUNIOR [6210]................................... 32


LUCIFER JUNIOR [6211].................................... 33 COMPAIXÃO [6212]......................................... 34 SERRA QUE FERRA [6213]................................... 35 AGONISTA [6214].......................................... 36 JUJUBA [6215]............................................ 37 GLOBALIZAÇÃO [6216]...................................... 38 CONVERTIDA [6217]........................................ 39 AGGLOMERAÇÕES [6218]..................................... 40 AXILLA QUE SE VENTILA [6219]............................. 41 BLACK BLOCK [6220]....................................... 42 CABIDEOLOGIA [6221]...................................... 43 BOOTLICKING AND FOOTLICKING [6222]....................... 44 MORADOR [6223]........................................... 45 FEETISHISM [6224]........................................ 46 ADJUDINHA [6225]......................................... 47 TOSTÕES [6226]........................................... 48 JUIZO [6227]............................................. 49 BONITAS VIETNAMITAS [6228]............................... 50 MALUCO DA CABEÇA [6229].................................. 51 VELHO NORMAL [6230]...................................... 52 ADHESIVO [6231].......................................... 53 JUSTIÇA [6232]........................................... 54 COBERTOR [6233].......................................... 55 RACIOCINIO [6234]........................................ 56 ANTICORPOS [6235]........................................ 57 EBOOK QUE EDUQUE [6236].................................. 58


GARRAFA QUE GRAPHA [6237]................................ 59 ENGARRAFAMENTO [6238].................................... 60 PRESENÇA DE ESPIRITO [6239].............................. 61 TALHE NO DETALHE [6240].................................. 62 AO RÉS, AOS PÉS [6241]................................... 63 PARES [6242]............................................. 64 DERRADEIRA SAPATEIRA [6243].............................. 65 VERY DELIVERY [6244]..................................... 66 MESMICE [6245]........................................... 67 JACULATORIAS [6246]...................................... 68 IMMALDICTO [6247]........................................ 69 IMMAGICO [6248].......................................... 70 IMMARGINAL [6249]........................................ 71 COMMISERAÇÃO [6250]...................................... 72 CEGADO E CAGADO (I) [6251]............................... 73 CEGADO E CAGADO (II) [6252].............................. 74 CEGADO E CAGADO (III) [6253]............................. 75 AMARGA DESCARGA [6254]................................... 76 TRUMPISTAS [6255]........................................ 77 FARTUM NO CARTUM [6256].................................. 78 CONTRASTES [6257]........................................ 79 CONTRACEPÇÃO [6258]...................................... 80 GANGORRA [6259].......................................... 81 SALDO DO CALDO [6260].................................... 82 GOSTOSO [6261]........................................... 83 SERMÃO DA MONTANHA [6262]................................ 84


DYSANGELICO [6263]....................................... 85 PRETERIDA [6264]......................................... 86 MACHIAVELLICO [6265]..................................... 87 DAREDEVIL [6266]......................................... 88 ESTIMULO [6267].......................................... 89 BIQUINHO [6268].......................................... 90 MOLDURA [6269]........................................... 91 RIVALIDADE [6270]........................................ 92 CANAL DA BACCHANAL [6271]................................ 93 ABSINTHO DE PINCTO [6272]................................ 94 MAIORIDADE [6273]........................................ 95 SEM VASELINA [6274]...................................... 96 AVENIDA [6275]........................................... 97 STRIPTEASE [6276]........................................ 98 TEDIOSO GOZO [6277]...................................... 99 PAUSA PARA A CAUSA [6278]............................... 100 FACEIS FACES [6279]..................................... 101 SUSPENSO [6280]......................................... 102 APOCALYPSE [6281]....................................... 103 SEDUCÇÃO [6282]......................................... 104 OUTRO LOGRO POR UM OGRO [6283].......................... 105 ACADEMIA [6284]......................................... 106 CEGO CORNO [6285]....................................... 107 FRIORENTA [6286]........................................ 108



SĂŁo Paulo Casa de Ferreiro 2020




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