IATROPHOBIA
IATROPHOBIA
São Paulo
Casa de Ferreiro
Iatrophobia
© Glauco Mattoso, 2023
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
IATROPHOBIA/Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023
248p., 21 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
Alguns de meus ebooks levam titulos allusivos a themas appavorantes, verdadeiros panicos para muita gente, como THANATOPHOBIA ou MOLYSMOPHOBIA. Ja sahiu, impresso, um volume intitulado
ARACHNOPHOBIA, pela editora Merda na Mão. Tambem em papel, o livro GRAPHOPHOBIA, publicado em 2018 pela Patuá, inclue os sonnettilhos do cyclo "O medo a dedo", cada um tractando de determinada adversão, mais ou menos pavorosa. Não havia alli um poema dedicado aos medicos ou à medicina, mas, como ja versejei bastante sobre o thema, convem reunir num volume tal selecção, lembrando que, alem do termo "iatrophobia" (que designa o medo de ser paciente em qualquer therapia), outros medos podem ser enquadrados nessa casuistica, taes como a "nosocomiophobia" (hospitaes), a "odontologophobia" (dentistas), a "monopathophobia" (doenças incuraveis), a "dermatopathophobia" (doenças de pelle), a "pharmacophobia" (remedios), e assim por deante. Optei, portanto, pelo mais generico, a titulo de rotulo, ou a rotulo de titulo. Para uma abbordagem mais ampla, indico o livro ESTUDOS CLINICOS; para a thematica mais mental,
ESTUDOS PSYCHANALYTICOS; para a thematica mais espiritual
ESTUDOS PARAPSYCHOLOGICOS. Cabe notar ainda que, nesta edição, sonnettos e dissonnettos estão monostrophados, mas os demais generos se manteem nos mesmos moldes ja registrados em outras obras.
DISSONNETTO CURANDEIRO [0055]
Bernardo Guimarães fez do elixir o symbolo da força do pagé e o povo deposita sua fé em philtros e poções pro pau subir. Alguns querem remedio p'ra dormir. Ja os pós vão desde o rapido rapé, polvilhos p'ra frieira e p'ra chulé, até os taes saes que fazem surdo ouvir. Não sou pagé, mas tenho meu poder: o dom do cego bom, que se degrada. Quem usa minha bocca p'ra foder
desfructa dum prazer que não enfada. No pé quem quer tambem esse prazer e minha lingua applica, qual pomada, no meio dos artelhos, pode crer: Addeus mycose! (E goze uma mammada!)
DISSONNETTO PEÇONHENTO [0115]
Venenos são assumpto perigoso.
Cicuta? Ou estrychnina? Ou formicida?
É multipla a substancia prohibida!
Curare, cogumello, humor aquoso...
Ha quem prefira arsenico a ter gozo.
Ha quem com cyanureto se suicida.
Ha quem mixtura soda na comida.
Ha quem receia a lingua do Mattoso.
Por mais mithridatismo que se invente, as coisas estão feias, vez mais cada: ninguem se põe a salvo da piccada de aranha, escorpião, ou da serpente.
Mas a lingua do Glauco, tão fallada, mau thema à discussão de toda a gente, se torna inoffensiva e obediente, servindo de flanella na engraxada.
DISSONNETTO MAGRO [0329]
Coitado de quem teme ser obeso, pois vive se privando dum bom pratto, comendo só ração, porções de matto, escravo dos limites do seu peso!
À estupida dieta o cara é preso. Magerrimo, paresce estar, de facto, num campo de exterminio, sob ingrato regime de castigos e desprezo.
Costellas tem à mostra, e ainda se acha
saudavel! Si mulher, belleza pura, vaidosa duma assaz fina cinctura, do seu cholesterol medindo a taxa!
Babaca! Emquanto malha na tortura, comendo dietetica bollacha, seu sabio e nedio medico relaxa e vae se empanturrando de frictura!
SONNETTO TORRESMISTA [0426]
Não basta a dictadura que ja dura e vem a dictadura antigordura!
Sahimos do regime militar, cahimos no regime do regime.
Censuram-nos até no paladar!
Trabalho, horario, imposto, compromisso.
Orgasmo não se tem como se quer.
Só sobra o bom do garfo e da colher e os nazis nariz mettem até nisso.
Maldicta seja a midia, sempre a dar espaço à medicina que reprime!
Gestapo da "sahude" e "bemestar"!
Resista! Coma! Abbaixo a dictadura!
A lucta tem um symbolo: FRICTURA!
SONNETTO PREGUICISTA [0427]
Não basta a dictadura da injustiça e vem a dictadura do magriça!
Cahimos no regime do exercicio, egressos do regime militar.
Censuram a poltrona como vicio!
Dever, serão, cobrança, obrigação.
Mal temos um tempinho de lazer e os nazis o nariz querem metter, impondo-nos esporte e malhação.
O tempo é precioso. Desperdice-o!
Sinão a gente ainda vae parar
num eito, num presidio ou num hospicio!
Resista! Durma! Assuma esta premissa: A lucta tem um symbolo: PREGUIÇA!
DISSONNETTO ESCARAPHUNCHADO [0715]
Fallar de comichão ou de prurido ja dá vontade doida de usar tudo nas costas ou no couro cabelludo: escova, um garfo, um pau, vidro partido... Até com rallador é permittido coçar, si com as unhas não me adjudo!
Não ha nada de poncta nem rombudo, porem, contra a coceira em meu ouvido!
Alli, nem cottonette ou cotovello resolve, quando a cera se accumula formando rolha, o som quasi se annulla e os granulos penduram-se num pello. Fininho, o attrito deixa a gente fula da vida! Que terrivel pesadello! Somente com um phone e som detel-o consigo, si é pauleira e a cuca pulla!
DISSONNETTO DESARVORADO [0732]
Paresce que as molestias pulmonares voltaram numa escala assustadora. Pandemicas ja são, como si fora romantica a aridez dos nossos ares.
Pulmões são, um por vez, nem sempre aos pares, os alvos das bronchites, da trahidora, fatal tuberculose, e assobiadora se torna a inspiração nos lupanares. A pleura dóe nas costas, e no peito reflecte a grossa tosse da trachéa. Si for com hemoptyse, fodeu, é a sangueira que encatarrha um cano estreito. Asthmatica e pneumonica, a plebéa manada arfa no denso (ou rarefeito) ar nosso. Quem na clinica acha um leito não morre na polluta Paulicéa.
SONNETTO DA MONSTRUOSIDADE [0747]
Remedio adulterado ou falso é o caso mais typico da humana hediondez, pois, quando é contra o cancer, si não fez effeito, não se tira mais o attrazo.
São tantas as noticias, que me arraso e irmano ao desespero do freguez
descrente dum collyrio que talvez lhe cause uma cegueira a curto prazo.
Opera a cataracta e a gotta instilla o otario no seu olho, mal sabendo que aquillo é merda pura na pupilla.
Mengelico, o falsario ri do horrendo destino da cobaya, e outras na fila agguardam pelas trevas que estou vendo.
SONNETTO DO DESMANCHA-PRAZERES [0777]
Tachada como "má alimentação", a farta culinaria que é mais duca, da pizza até o leitão à pururuca aos medicos inspira a rejeição. São do cholesterol a legião de bravos patrulheiros, na maluca cruzada contra um bem que não caduca: a busca do prazer, do pau ao pão. Inutil tanta sanha castradora si a medicina tem no bemestar dos homens a razão mais promissora. Si priva-nos do livre-degustar, o medico desserve a causa e agoura em proprio detrimento, honrando o azar.
SONNETTO MEDICINAL [0877]
Advanços mais communs da medicina
são para os cardiopathas, para os loucos, neuroticos, asthmaticos ou roucos, na cura ou no pregão que o mal previna. Não ha, porem, antidoto ou vaccina que livre da afflicção aquelles poucos que soffrem, cegos, mudos, mancos, moucos, no horror da invalidez que os contamina.
Vergonha é o que a sciencia 'inda não sente mas era p'ra sentir, sendo tão lerda no tracto do glaucoma e seu doente!
Em vez de "irreversivel", uma perda da vista será, pura e simplesmente, aquillo que foi sempre e é hoje: merda!
SONNETTO AMBULATORIAL [0885]
O plano de sahude, investigado, irregularidades taes revela que a commissão fiscal, quando o interpella, perplexos deixa os membros do Senado. Um cancer tem papel de resfriado e lepra de allergia; erysipela
registra-se, mas quem portava aquella molestia usou remedio para o gado.
Vencida a validade, as drogas são aos velhos receitadas: quando o effeito differe do normal, foi "rejeição".
Quem tinha, no seu physico, perfeito estado e alli passou, ja não é são e caro, no hospital, lhe custa o leito.
SONNETTO LABORATORIAL [0886]
A lista dos remedios sem licença augmenta a cada dia: p'ra impotencia, gordura, pressão alta, flatulencia, lumbago, bago frouxo, bunda pensa, memoria fracca, cuca que não pensa, symptomas de suspeita p'ra quem pense-a, suspeita de symptomas... Tal prudencia não tem hypochondriaco que vença. No campo dos "genericos" ja se acha até um equivalente ao comprimido que sobe o pau e baixa a gorda taxa.
Somente p'ra cegueira está vencido o prazo que valida, e quem despacha a droga me indefere o requerido.
DISSONNETTO ILLEGAL [0916]
Num desses contrabandos de cigarro analyse fizeram: nicotina "accyma do padrão". Quem examina tambem acha alcatrão de encher o jarro. Ficou até gozado! Cheira a sarro dizer que ha no pirata uma assassina dosagem, "excessiva" e "clandestina", daquillo que é "normal" ja no catarrho!
Até paresce que o "saudavel" fumo está sendo fraudado e adulterado por bando criminoso ou scelerado e só cigarro falso é mau consumo! Assim é na politica: o accusado de roubo livra a cara aos que presumo tambem serem ladrões, que tomam rhumo de casa, si ninguem é condemnado.
SONNETTO CUTANEO VIA ORAL [0927]
Generico é o remedio que equivale, no seu principio activo, a algum de marca, porem cobra quantia bem mais parca, embora, pelo effeito, até se eguale. Talvez menos lacrado elle se emballe e esteja à venda em rede que, si abbarca um bairro, é muito, mas seu tento marca na historia dum negocio que não falle. [sic]
Tem droga alternativa para tudo: tesão de menos, banha demais, dor de corno, inchaço chronico ou agudo.
Espero que não surja, para o odor dos pés outro talquinho, ja que accudo com minha lingua, por menor valor.
SONNETTO CORPORAL [0975]
"Sarado" é como chamam o subjeito que "malha" e do seu physico se gaba, mas na musculação o pappo accaba, pois nada se accrescenta de proveito.
Cinctura fina, tornozello estreito, contrastam com os hombros, de ampla e braba figura; si a barriga não desaba, extupha-se, sem pellos, o seu peito.
Sorriso de imbecil, seu pé na cara de cada oppositor faz uma festa e, quanto mais machuca, mais dispara
certeiros ponctapés, e mais molesta! Mal sabe elle que a sola melhor "sara" si em minha lingua pisa, e não na testa!
SONNETTO CHRONICO [1101]
Mal cago, mal respiro, durmo mal.
Alem deste glaucoma que me cega, alguma outra molestia se encarrega de entrar no meu estado de "abnormal".
Ja quasi que não saio do hospital, nas mãos dum otorhino, e seu collega que cuida do intestino me sonega a cura para um petreo obrar fecal.
Bronchite, laryngite, sinusite...
Mais nada me faltava nesta vida soffrida, sem remedio que as evite! E como não bastasse a combalida sahude, a insomnia appenas me permitte no agudo verso achar contrapartida.
DISSONNETTO DO PURGANTE ELEGANTE [1108]
Fallei ja, num sonnetto, do problema:
"Em Roma se pagava p'ra cagar...", mas nunca imaginei que ia chegar, eu proprio, a providencia tão extrema, pois a constipação me faz que gema de dor quando me sento no logar e, agora, só consigo si pagar diaria taxação: o "imposto-enema".
Refiro-me ao remedio que ora tomo, dosagem laxativa que equivale ao preço de chardapio do que como, bastante p'ra que boccas sujas cale. Agora na pharmacia a compta sommo. Cagada chique, a minha! Ha quem a eguale à pillula do orgasmo, ao aureo pomo do amor... Mas cago, e a lingua má que falle!
DISSONNETTO DA SEGUNDA VIA ORAL [1114]
Frieiras vão e voltam, eu me ligo. mas cura, mesmo, nunca se consegue. Quem tenha seu "pé frio" e aquillo pegue convive com incommodo castigo. No hinverno, ellas retornam ao abrigo quentinho dum artelho, e fica entregue o cara a inuteis pós que nelle exfregue, ou creia, si quizer, no que lhe digo:
A todos recommendo minha lingua que, mais que a do cachorro, tem saliva bastante e nunca deixa alguem à mingua dalguma providencia lenitiva. Si o gajo dum ceguinho não se exquiva, verá que minha baba, quando pingo-a no vão dos dedos, cura a chaga viva. Assim minha visão perdida vingo-a.
DISSONNETTO DAS ESPECIES IRRITANTES [1172]
Insecto como a pulga não conhesço, capaz de tanto incommodo causar-me: a subita coceira dá o allarme e ao poncto preto o olhar afflicto desço! O poncto pulla e some! Pelo advesso reviro a roupa, perco todo o charme, na soffrega illusão de que, ao livrar-me daquillo que vestia, o drama exquesço!
Que nada! Pela pelle ja pullula a marca dos calombos! O prurido se torna insupportavel e accumula!
Não venço a comichão, e me intimido por ter perdido a pulga, cuja gula fará que logo volte, não duvido, e ja a coçar o sangue me circula! Assim perco tambem minha libido!
SONNETTO DA FLORA POSITIVA [1177]
Ponctadas nos dois olhos sinto, embora esteja cego ha tempos! Todavia, o medico não passa anesthesia nem pillulas, e a coisa só peora!
Pulmões ou intestinos, toda hora, me falham! Não meresço essa agonia!
E novos contratempos, todo dia, me chegam! Que será que vem agora?
Mais essa! De "racista" sou chamado por gente que não lê coisas que escrevo mas pensa que escrevi texto forjado!
Eu soffro o preconceito, e ainda devo levar isso na cara? Pro meu lado faltava mais arruda e falta um trevo!
DISSONNETTO DA DESOBESIDADE MORBIDA [1206]
Engordam as mulheres: na cinctura que foi de tanajura ja não cabe aquella calça justa, e alguem que babe por ellas não encontra quem procura. Na lipoadspiração um doutor jura que exsiste solução, mas ninguem sabe dos riscos: só tem credito quem gabe a magica que extrae toda a gordura. Mas, quando um intestino é perfurado e a chance de salvar-se é ja nenhuma, ou varias infecções mactam mais uma, se mostra a midia attenta ao "outro lado". Desistam, vaidosinhas! Quem se arrhuma soffrendo em traje superappertado, pensando na elegancia, tá ferrado! Só ganha quem com banha se accostuma!
DISSONNETTO DO SANCTO REMEDIO [1236]
O effeito é milagroso, e quem a toma recebe alguma graça, caso tenha bastante fé. Crendice assim ferrenha accaba dando certo e aggrada a Roma. Refiro-me à tal pillula, que somma nenhuma de dinheiro paga. A senha do bom funccionamento é que contenha a phrase: "Ó Mãe, livrae-me do glaucoma!"
Dei credito, engoli daquella grossa, capaz de até engasgar um avestruz, e appenas me tornei alvo da troça!
A toda piadinha ja fiz jus! Sim, quasi vomitei aquella joça!
Tossi, me arrependi de quando a puz na bocca, e não supplico mais a Nossa Senhora que devolva minha luz.
DISSONNETTO DO FUMANTE PASSIVO [1413]
Perguntam si me importo com fumaça no caso de fumarem-me na frente. Respondo que a impressão que isso me passa não é como a que eu tinha antigamente...
Cigarro, então, não era essa desgraça que pinctam: hoje em dia a gente sente fedor muito maior! Não ha o que faça aquillo ter um cheiro que se aguente!
Si é polvora, si é putrida, não sei. Tambem não sei que mais alguem lhe bota. Só lembro que jamais eu engasguei em epocha que até não é remota. Fumantes que se cuidem! Desconfio que estão é se mactando, pois se nota que fazem dos cigarros um pavio mais curto para a bomba que os derropta.
SONNETTO DA VELHA MESMICE [1432]
Edosos teem mania de doença: o velho, sem a pillula, desmaia; purgantes a velhinha não dispensa, ainda que o cocô facil lhe saia. Reclamam de symptomas, sem licença remedios pagam caro. Vão à praia, mas voltam depressinha: ha desadvença si o velho teme que a velhinha caia.
Os filhos e nettinhos nem visita mais fazem ao casal: logo se irrita alguem porque o vovô não ouve nada.
A velha só se queixa que exquescida ficou, que desgostosa está da vida. Mas, quando chega gente, dá risada.
SONNETTO DO HUMOR HOSPITALAR [1650]
Logar bem deshumano, um hospital!
Alli convive, lado a lado, quem accaba de curar-se e quem seu mal ja não supporta mais e invoca o Alem. No mesmo corredor, diverso astral. Na maca, um paciente geme e nem consegue respirar. Ao lado, um tal barulho de risadas, que é desdem!
Quem alta recebeu, faz piadinha dizendo que não teve, jamais tinha qualquer doença critica que advance.
Aquelle que os escuta e se encaminha a alguma cirurgia, mais definha suppondo que não tem nenhuma chance.
DISSONNETTO DA INCONVENIENCIA [1706]
De manhan cedo, um bebado passeia
em frente ao hospital. Cantando, grita:
"As aguas vão rollar! Garrafa cheia não quero ver sobrar..." A coisa irrita.
La dentro, quem de dores experneia escuta aquillo e mais se debilita.
Mostrando estar, de facto, com a veia, o bebado é um tenor de voz bonita.
"Eu bebo, sim, e estou vivendo...", canta.
Paresce seu orgulho ser tremendo.
A voz ja lhe enrouquesce na garganta:
"Tem gente que não bebe e está morrendo..."
Foi retirado pela viatura.
Alem de dores chronicas soffrendo, no quarto um paciente agora attura o medico: {Não beba, eu recommendo...}
SONNETTO DO QUADRO CLINICO [1708]
Mediram-lhe a pressão: alta demais. Talvez hereditaria, mas o estresse na certa influe. Alem de olhar os paes, o cara do cachorro não se exquesce.
Tanta preoccupação, como jamais na vida imaginara! Até padesce duma dor de cabeça que os normaes remedios ja não fazem com que cesse. Começa a se tractar, mas ninguem deixa. Em breve, seu regime elle desleixa, ao ver que os paes e o cão comem de tudo.
Um dia, o cão lhe morre e, desgostoso, não tendo mais na vida nenhum gozo, fallesce de qualquer casinho agudo.
SONNETTO PARA UMA CONGA [1733]
De tanto virar thema musical em scenas de comedia, essa dansante e saccudida moda ao Sonrisal foi logo associada, dalli em deante. Ao Sonrisal, ou algo semelhante, um Eno, um Alka-Seltzer, emfim um sal de fructas, antiacido a quem jante demais: é effervescente e não faz mal. Sem contraindicações, esse pó branco não é como a tal dansa em solavanco que lhe serviu de rhythmo commercial.
A conga embrulha o estomago, si for dansada no seu maximo vigor, mas quem é dado a pós acha normal.
SONNETTO PARA UMA CASTA SENHORA [1745]
O livro lhe chegou pelo correio, mandado pelo bruxo: um manual que ensigna a usar veneno sem receio de se exceder na dose e passar mal. Nesse mithridatismo a velha veiu a se especializar de modo tal que a feia aranha, o escorpião mais feio piccal-a podem, que ella acha normal. A velha agora cria a cabelluda tarantula, e seus habitos estuda a fim de descobrir por que ella picca. Chegou à conclusão de que a bichana, assim como ella propria, só se irmana àquellas que se guardam duma picca.
DISSONNETTO PARA UMA MENINA DOENTE [1755]
Tem medo de injecção, essa menina que a mãe leva à pharmacia e necessita de longo tractamento. Nem vaccina supporta a pobrezinha! Ella está fricta! Lhe appalpa o pharmaceutico a suina bundinha, e manda ver! A pobre grita, debatte-se, urra e, só quando termina aquillo, volta à pose mais bonita. Então ninguem mais diz que uma syringa, da qual, sorrindo, o medico nos falla, lhe mette tanto medo, pois se vinga pedindo à mãe que compre doce e balla. Em casa, sente a bunda quando senta até numa almofada alli na salla e pensa na maneira violenta do gajo da pharmacia ao aggarral-a.
SONNETTO PARA UM DENTE DOLORIDO [1756]
Dentistas deixam traumas de que a gente jamais vae libertar-se! O motor fundo cavoca, até que o cara não se aguente e encolha na cadeira, gemebundo. Sorrindo, o doutor pede ao paciente que abra a boquinha só mais um segundo e enfia a ferramenta! Aquelle dente paresce o que ha mais solido no mundo. Forçado o maxillar, depois que passa o effeito do anesthesico, uma taça de fel bebe o subjeito, e paga o preço. Da carie nem se lembra, pois a dor sentida agora é muito superior àquella supportada no começo.
DISSONNETTO PARA UM ESTADO GRIPPAL [1757]
Começa com expirro. Depois passa, demais, a excorrer ranho. Logo entope. Não ha o que desentupa, nem que faça com que não sobrevenha algo, a galope.
E a tosse é galopante! Enche uma taça o ranho, que mais lenços não ensope.
Bobagem, quando pouca, é uma desgraça, e causa somnolencia meu xarope.
Catarrho expectorando, cuspo a placa ja quasi exverdeada, amarellinha, talvez (Meio tom, isso!), quando attacca aquella tosse grossa, que apporrinha. Até que tudo accabe, corre tanto tempão nessa roufenha ladainha, que até falta a audição e, si levanto a voz, nem me paresce ser a minha.
DISSONNETTO PARA A MORINGA QUENTE [1758]
Cabeça, quando dóe, ninguem controla. Um chama de "enxaqueca", outro ja falla que a dor é "cephaléa"... Lembra bolla da pillula o formato: vou tomal-a. Quem disse que resolve? Ja me rolla p'ra la de meia horinha, e a dor estalla de forte! Lattejante, a veia é molla que pulsa, em sobe-e-desce, e que appunhala.
Depois que uns analgesicos engulo, daquelles que qualquer medico dá, alem de constatar effeito nullo, vertigem é o symptoma que virá. Melhor é pensar logo si de vinho eu tomo mais um coppo, ja que está na hora de dormir, ou só um pouquinho, até que o somno venha e a dor se va.
SONNETTO PARA UMA SYNDROME DE ABSTINENCIA [1759]
Um velho hypochondriaco é normal, mas, quando um cara joven só reclama de multiplos symptomas, num geral estado pathologico, eis o drama. De casa ja nem sae. Só de pyjama vestido permanesce. Um arsenal de frascos e chartellas se derrama de armarios e gavetas... Qual o mal?
Nenhum! De tudo come e nada enjeita o moço, embora tenha uma receita para cada molestia conhescida. Si chega uma visita, elle se deita e finge estar soffrendo, desta feita, de "accumulo"... ou punheta mal battida.
SONNETTO PARA UMA GORDA GULOSA [1762]
Marcara uma consulta a gorda dama com seu cardiologista renomado. De novo a examinando, elle reclama que não tem seus conselhos accaptado. A gorda, exparramada sobre a cama do chique consultorio, com enfado reage à reprimenda e o doutor chama de "duro dictador" e "bitolado".
Dalli sahindo, corre para a loja de finos chocolates, e se arroja na caixa do bombom que mais convide. Mais da metade come duma vez. Mas ja não contará, como antes fez, ao medico esse gesto de revide.
SONNETTO PARA UM REGIMEN DICTATORIAL [1781]
"Ballança mentirosa!", a gorda exclama.
"Só pode estar desregulada, a joça!"
Amigas, condoidas de seu drama, lhe dão, para comer, o que 'inda possa.
Cortado o sal, ja quasi nada addoça.
Temperos reduziu e, a cada gramma a mais no pratto, alguem se expanta: "Nossa!"
Patrulham a coitada até na cama.
Se queixa o namorado, outro gordão, que ja nem sobra espaço no colchão e que ella rhoncha feito uma leitoa.
"Assim não dá! Me chamam de baleia e, emquanto não estão de pança cheia, mais alto é o rhoncho que, la dentro, echoa..."
DISSONNETTO PARA UMA PACIENTE NAS ULTIMAS [1867]
A thia, moribunda, está internada. Tem como herdeiro um unico sobrinho que, sempre a visital-a, attende a cada pedido da velhinha, com carinho.
Traz flores, traz biscoitos... E a coitada, feliz e aggradescida, dá um beijinho
molhado em sua mão, que ja lavada está, mal sae do quarto o rapazinho.
Vocês ja vão saber do que se tracta...
Na noite do appagão, o joven entra no quarto e, emquanto a velha se concentra na caixa de bombons, solta da latta a aranha! A aranha grande, enorme, ingrata, a gigantesca aranha, que caminha por cyma da coberta! Si a velhinha do susto excappa, qual veneno a macta?
SONNETTO PARA UM CHARDAPIO REMEDIADO [1917]
Appós uma consulta, a gorda explica à amiga a situação pela qual passa: "triglycerite aguda...", diagnostica, "...doença provocada pela massa..."
"Cortar meu maccarrão, foi essa a dica que o medico me deu... Ora, tem graça?", a gorda se revolta, "É muita zica!"
Ficar sem a lasanha ha quem a faça?
Aquelle prattarrão de cannellone, de gnocchi ou de spaghetti, não tem clone saudavel que compense uma dieta.
Agora a gorda, practica, tem tido appenas um cuidado: o comprimido tornou-se a sobremesa predilecta.
DISSONNETTO PARA UM LEITÃO À PURURUCA [2050]
{O seu cholesterol está normal.
Tambem sua glycose nada accusa. Mas destes triglycerides é tal a taxa, que eu estou até confusa! Eu sei que o senhor come pouco sal e que tambem do assucar não abusa.
Mas a prohibição vae ser total nas massas e nos doces! Pão, reduza!
Lhe digo o que fazer, senhor, primeiro. Remedios eu estou lhe receitando. Porem, si não fizer tudo que eu mando, perdemos nosso tempo e o seu dinheiro!}
-- Senti de interesseiros o mau cheiro!
Pois sim! Essa doutora monologa si achar que me alimento de agua e droga! Si estou com fome, eu como um porco inteiro!
DISSONNETTO PARA UM PERIPAQUE SEM DESTAQUE [2099]
No quarto do motel, o velho exhala um ultimo suspiro: o comprimido tomado foi demais para quem galla ja nem tem no colhão, que está rendido. A pobre prostituta ainda falla: "Vovô! Que foi? Accorda!" Addormescido, porem, elle jamais irá escutal-a, tampouco dar ouvidos a Cupido.
Chamada a portaria, alguem accorre e encontra uma menina, 'inda de porre, tentando despertar uma carcassa que dessa noite tragica não passa. Nenhum policial se surprehende com mais esta occorrencia, que não rende siquer noticia nova para a massa que curte nos jornaes qualquer desgraça.
DISSONNETTO PARA UMA DOR DE BARRIGA EMPURRADA [2173]
Aquella dor de dente, aquella crise de estomago ou pulmão que, volta e meia, retorna, sem que previamente advise, é tudo que este cego mais receia!
Costuma apparescer, feito reprise, na vespera da data em que passeia o medico, o dentista: quem precise de rapidos soccorros experneia!
Batata: é feriadão, ou sexta-feira à noite, quando, na cidade inteira, fecharam as pharmacias! Ai de mim!
Doente justo agora a ficar vim! É claro que do Murphy, então, me lembro!
Quer seja Paschoa ou Septe de Septembro, Natal ou Carnaval, é sempre assim!
Em util dia, as dores terão fim!
DISSONNETTO PARA UMA PHYSIOTHERAPIA QUE ALLIVIA (1) [2341]
O estresse se accumula entre o pescoço e os hombros: enrijesce e dolorido irá deixando o musculo. Um sentido mais physico, portanto, modo grosso. É sobre aquella especie de caroço que é feita uma massagem: tem rendido effeitos relaxantes, e eu convido os medicos a darem-lhes endosso.
Meu caso, todavia, é um tanto extranho, pois desce todo o estresse para a bunda que, quando tensa, augmenta de tamanho e, em todos os seus musculos, abunda. Da coisa aqui fallar eu nem me accanho: Massagem é indicada, sim! Redunda em cura: si ella está dura, eu appanho palmadas therapeuticas, e affunda.
Fallaram que seria "saphadeza"
da grossa que eu sentisse todo o estresse na bunda e que eu dissesse que admollesce e affunda com massagem, quando tesa.
Entendam bem: não é que seja obesa, mas, como ja não saio, ella padesce do tal "sedentarismo", que enrijesce as nadegas, lhes dando essa dureza.
Appenas com massagem ella cede e os musculos relaxa: um tractamento que addicionaes effeitos não impede. É nisso que reside meu alento. As mãos dum therapeuta a bunda pede! Que culpa, pois, eu tenho si me sento demais? Caso a massagem arremede o erotico prazer, mais me contento!
DISSONNETTO PARA UM AGGRAVAMENTO DO QUADRO [2673]
Pelo costume de beber gelado, peguei um resfriado do caralho. Mas, para não gastar o meu cascalho, tentei ser, por mim mesmo, medicado.
Tendo experimentado eu um boccado de chas, poções, xaropes, ja me valho até das orações, mas é trabalho inutil, pois não tenho melhorado.
Demais eu acho até que não pedia ninguem, nenhum licor da juventude!
Quem sabe a tal vaccina que annuncia o nosso ministerio da sahude consiga prevenir essa endemia.
Mas pode ser, tambem, que nada mude, ou pode peorar: si eu só tossia, agora encommendei meu atahude.
DISSONNETTO SOBRE UM CU QUE NÃO TEM DONO [2980]
Quem sabe, sabe: como é divertido gostar de ver alguem enchendo a cara, cahindo pela rua ou indo para a clinica do vicio, arrependido!
Um bebado me disse, e eu não duvido do gajo, que um bohemio se compara ao outro, por curtir bebida cara ou pelo quanto tenha consumido.
Um delles se gabava da nobreza daquelle que não fica tão cambaio: "Você só bebe pinga? Que pobreza!
Eu bebo só conhaque! Quando caio de bebado, vomito sobre a mesa!
Não caio na calçada, nem me traio deixando o rabo à mostra, si indefesa é a bunda do bebum perante o raio!"
DISSONNETTO SOBRE A PLASTICIDADE FECAL [3028]
Si o medico me disse, eu accredito que tenho de educar meu intestino, fazel-o funccionar: desde menino foi elle preguiçoso e assaz constricto. Mas no que me foi dicto, a sós, medito: o cara 'inda quer ver si eu elimino
"cocô bonito"... E eu, sceptico, imagino que coisa vem a ser "cocô bonito"...
Será que o cagalhão esculptural, dourado, envernizado, admollescido, pequeno, grande, solido, comprido, se enquadra em typo esthetico, affinal?
Olhando meu tolete, eu ca duvido que possa elle ser bello: cheira mal, tem porte indefinido, desegual, é duro, escuro, grosso e retorcido...
SONNETTO SOBRE UM ELEVADOR VAZIO [3060]
Lotado o elevador, fechada a porta, até chegar será lenta a subida. Tão alto (uns trinta andares), que um suicida tem medo de pullar e o salto aborta. Alli pelo vigesimo, o que corta o ouvido dos presentes é a tossida roufenha, catarrhenta, que intimida a todos, ja que ha tanta gente morta.
Da grippe que se allastra o allerta é tal que, ao minimo signal que alguem exponha de estar doente, ha panico, é fatal.
Vigesimo primeiro. Da medonha doença fugitivos, todos, mal aberta a porta, saem, com vergonha.
IMPUNIDADE E CREDULIDADE [3149]
Durante a inhalação, que se demora por quasi meia hora, eu sempre penso em coisas engraçadas: assim, tenso não fico e ponho as broncas para fora.
Exemplo? O descomforto, que peora a cada dia: falta papel, lenço, sabão, pasta de dente... e me convenço que a cella do politico o appavora.
Pensando nisso, accabo gargalhando daquelle que está preso, emfim, por ter roubado emquanto estava no commando.
O riso augmenta o rhythmo e, com prazer, respiro mais a fundo. Logo, quando accaba, recobrei-me e volto a crer.
BRONCHIOS BRONQUEADOS [3172]
Mostrando ter espirito de equipe e muito senso civico obstentando, o edoso se vaccina contra a grippe e exemplo crê que está na vida dando. Vae logo percebendo que exaggera.
Pegara, outrora, appenas resfriado, de quando em quando. Nunca elle tivera na vida aquelle quadro complicado.
Depois de vaccinar-se, todavia, começa a dar expirros, a ter tosse constante, antecipando que lhe engrosse a placa de catarrho, dia a dia.
Depois de muita febre e grande espera, accaba expectorando, mas, coitado, a cada excarradella que libera, cuspiu typo um quindim ou bomboccado!
Agora, a quem pedir que participe de coisas que eu tambem dellas debando, o velho manda à merda que o constipe, assim como tambem eu sempre mando.
CHA DE FRIGIDEIRA [3177]
Tentando ver-se livre doutra droga, no cha de São Valeime elle se affoga. "Miragem", "miração" ou piração?
Perdido por perdido, elle procura a Egreja Valeimista e o cha lhe dão. Primeiro, sente nauseas e vomita; depois visualiza, juncto a Christo, Satan, Melchisedech e Trismegisto, prostrados ante um Baccho hermaphrodita. De todos ouve as vozes, que lhe são, de longe, sussurrantes: a loucura se torna uma vassoura, ou avião. Agora elle comsigo dialoga e o ego lhe suggere absintho ou yoga.
TERMINAL TERMINOLOGIA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDICADO [3188]
O "campo visual", sob um glaucoma, vae sendo reduzido a cada exame. Formato de concentrico alvo toma e ao medico não compta que eu reclame. Lhes dar um panorama aqui procuro: Supponham ser tal alvo metralhado por tiros que o perfurem: cada furo seria um "poncto cego" addicionado. Affirmam oculistas que, primeiro, os furos se accumulam pela beira do campo; a ponctaria é mais certeira, mais tarde: attinge o centro e o campo inteiro, ou seja, é o termo technico inseguro e, como deu azar para o meu lado, mais cedo o central circulo no escuro ficou, abbreviando o resultado.
Chamou cada buraco de "escotoma", na terminologia do vexame, a mesma medicina que me embroma.
Progresso? O que progride é o mal infame!
PHASE CRITICA [3253]
Coitado do "teenager"! Só lhe resta encher-se num "fastfood" ou numa festa. Chamar de "abhorrescente" desaggrada ao medico hebiatra, para o qual faz parte dessa edade a pose irada. No espelho, elle é dentuço, narigudo, estrabico e rhachitico: a menina dirá às amigas que elle tem voz fina, que é fresco, frouxo, fracco... e falha em tudo. Em casa, ovelha negra; em gruppo, nada consegue; na gymnastica, vae mal.
Descompta, então, no hamburger e na empada. Não tarda, e um outro medico lhe attesta precoce obesidade... Eu, hem? Mais esta?
DIETETICA DIALECTICA DIABETICA [3279]
Repito o que foi dicto todo dia:
"Não posso comer doce, você sabe!", dirá mamãe, mas come até que accabe, emquanto doutros themas ja desvia.
De exemplo não faltava algum gluttão: Papae, tambem notorio "formiguinha", traz caixas de bombons, como si não soffresse a diabetica, tadinha!
"É muito chocolate! Vae sobrar!
Eu vou ser o-bri-ga-da a comer isso!"
E a velha põe de lado o compromisso com medicos, dá sopa para o azar. Occorre logo a mesma explicação:
"É só para provar...", diz, e exquadrinha a cheia caixa, excolhe, mette a mão, tirando varios: "Truffas! Esta é minha!"
Dos doces, emfim, ella se sacia. Depois, diz rindo: "Chega! Ja não cabe mais nada!" E o lenço impede que ella babe. Comer como comeu é o que eu queria!
PONCTA QUE ADMEDRONTA [3351]
À fila da vaccina, uma velhinha
(ouvindo uma commadre intromettida), nervosa, a muito custo se encaminha.
De estar alli, coitada, até duvida.
Naquelle seu conceito pobre e raso, tem medo de injecção e até receia
effeitos secundarios que, em seu caso, molestia se tornassem, bem mais feia.
Alguem tenta accalmal-a: "Não, senhora, a coisa não dóe nada, eu lhe garanto!
É só uma piccadinha! P'ra que tanto receio? Nem bebê de collo chora!"
Aquillo só provoca mais attrazo.
Na hora da piccada, ella bambeia, temendo perfurarem-lhe algum vaso, mais fundo que uma agulha numa veia.
Por antecipação, soffre, definha, suppondo-se eskeletica, abbattida.
desmaia, tomba e morre... E nada tinha!
Buscando prevenção, perdeu a vida...
HERVA ESSENCIAL [3398]
Fizeram sacanagem, sim, commigo!
Ah, não! Não é possivel! Quem será que andou pondo veneno no meu cha?
Não, gente! Não meresço tal castigo! Explico ao meu leitor a situação. No meio da cegueira, tudo preto enxergo em pleno dia e, à noite, não descanso sem compor mais um sonnetto.
Mas, antes de deitar, si tomo o tal chazinho da vovó, cores começo a ver, kaleidoscopicas, e peço que aquillo nunca accabe! É tão legal! Agora sacar tudo vocês vão.
Não é que alguem trocou os potes? Metto num delles a colher, preparo e, então, percebo que tomei pó de graveto!
Alem de não saber disso o perigo, não vejo mais as cores! Só me dá vontade de mijar! Que sorte má!
Cuidado com os chas, é o que lhes digo!
DOCE ILLUSÃO [3472]
"Que prefere? Me relate!
Chocolate? Eu não me opponho! Então coma chocolate!", diz o medico, risonho.
"Mas bastante, amigo! Tracte de comer!" Paresce um sonho!
E o doutor, rindo, me batte na bochecha. Eu me envergonho.
Eu temi que prohibisse qualquer doce, e elle me disse que comesse e até... bastante!
Depois venho a saber eu que meu medico morreu.
Era alcoholatra e fumante.
SENSUAL COMMERCIAL (1) [3477]
Sabe, gente? Eu, appesar de charmosa e de bonita, demorava a evacuar!
Sim, verdade seja dicta!
Ja de dias mais de um par eu passei (Quem accredita?)
sem fazer! Tão devagar, o intestino! Estive afflicta!
Mas, tomando Cagarol, do qual sou, agora, fan, eu passei a ver o sol
com bons olhos, de manhan!
Nem preciso mais de enema!
Accredite, minha irman!
Hoje eu como, sem problema, a mais acida maçan!
ALLIVIO IMMEDIATO [3479]
Muito grande é o comprimido que o doutor mandou tomar, pois, appós tel-o engolido, não consigo nem fallar! Si elle houvesse supprimido essa dose cavallar, ja teria, eu não duvido, melhorado a dor lombar!
"Quer remedio? Eu lhe receito!
(disse o medico) Esse effeito você sente daqui a pouco..."
E, passado mais de um mez, a columna ja me fez de dor quasi ficar louco!
ANTES QUE ME ALMOSSES, TE JANTO! [3548]
Um amigo, que é gordão, decidiu: caso o doutor diagnostique que elle não dura muito, vae se impor.
"Vou comer, seja o que for, à vontade! E comer tão
fartamente que, sem dor, morrerei de indigestão!
Para o cancer, nem vae dar tempo habil: em logar de soffrer, me satisfaço!"
Dou razão ao meu amigo: tambem como e pouco ligo si me empacha um prattarraço!
O RESIDENTE E O PACIENTE [3556]
Ai, doutor! Eu sinto um peso
bem aqui! Não, mais p'ra cyma!
Isso, ahi! Ficar obeso
vae foder minha autoestima!
Não viu nada? Estou surpreso!
Me disseram que uma enzyma
vae curar quem vive preso.
É verdade? Isso me anima!
Arre! Estou sempre enfermiço!
Tá doendo aqui, tambem!
Mais attraz! Não posso nem me sentar, mal me expreguiço!
Nesse poncto é que eu me ouriço!
Que é que eu tenho, doutor? Diga!
Minha bunda até formiga!
Com frescura, eu? Que que é isso?
ETERNO RETORNO (1) [3561]
Um remedio caro eu pago para o muco do nariz, e o doutor, que é gordo e gago, receitar-me um novo quiz:
"Toda noite, engula um bago, para a dor nos seus quadris..."
{Mas por quanto tempo?}, indago. "Para sempre!", elle me diz.
Quantas pillulas eu tomo?
Perco, mesmo, a compta! E como passa o medico mais uma?
Da gagueira e da gordura elle proprio não se cura e outros pharmacos me arrhuma?!
NO FRIGIR DOS OVOS (1) [3586]
O doutor me passa um rol do que eu como ou não: vou mal de pressão, cholesterol, triglycerides, e tal. Não practico futebol, exaggero a mão no sal, não costumo tomar sol nem prefiro vegetal. Me diz: "Doce, nem com mel! Evitar kibbe e pastel quando a alguma festa for!"
Ao sahir, a mão lhe apperto e me expanto: sou, decerto, bem mais magro que o doutor!
NO FRIGIR DOS OVOS (2) [3587]
Si seu cheiro eu sinto, afflicto logo fico, de appetite. Me refiro ao ovo fricto, mas nem sempre ha quem m'o fricte. Cego estou, por isso evito frictar ovo e, a meu convite, uma amiga faz bonito na cozinha: a dona Edith.
Antes, era a dona Ruth quem fazia o meu quitute, mas com outro se casou.
Nem convido a Elizabeth, pois mal temo que interprete. Com Edith, então, estou.
A VOLTA DO MOTTE DO PEIDO [3598]
Eu, de ventre, uma prisão
tenho: peido, mas não cago!
Outros casos assim são?
É o que aos medicos indago.
Desta feita, é um mulherão quem preenche o cargo vago
no hospital: a nega não me dispensa muito affago!
A doutora me desnuda e me deixa jururu.
Me examina, e brinca: "Accuda!
Tá fedendo p'ra chuchu!"
Mas quem peida não sou eu!
No Nordeste foi tabu:
"o peido que a nega deu quasi não cabe no cu!"
SOMNO SOLTO, PRATTO PROMPTO [3613]
Um amigo repetia:
"Noite exsiste p'ra dormir!
P'ra comer exsiste o dia!"
Não cansou de repetir.
Desse cara alguem diria: {Não é mago nem fakir!}
Ao seu porte se associa o nababo ou mesmo o emir.
Rhoncha e baba quando dorme e, accordado, aquelle enorme barrigão mostra serviço.
Mas a phrase está perfeita: neste mundo se deleita, mesmo, a gente só com isso.
HAPHEOPHOBIA [3864]
Mas que coisa mais maluca!
Sendo eu cego, impressão tenho de que o mundo me cotuca todo o tempo! E franzo o cenho!
Me perturba, funde a cuca!
Perco todo o meu engenho, preoccupado: esta muvuca me appavora, si aqui venho!
Tanta gente agglomerada!
E eu no meio aqui me appinho!
E appalpar-me vão, em cada parte baixa, ja adivinho!
Si, no sonho, estou pellado e aos exames me encaminho o que temo é ser tocado por um clinico dedinho...
ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL [3935]
Mas foi uma jararaca, essa velha! Agora pena, desde o dia em que, na maca, foi levada... Triste scena!
Quem se vinga da velhaca paralytica é a pequena
netta, a sós com ella: attacca a vovó sem dó nem pena!
É cruel, essa creança?
Um descompto ainda eu dou. Não será sua vingança
contra alguem que a maltractou?
Si, de rodas, na cadeira dando aquelle triste show eu a vejo, algo me cheira, mas julgal-a é que não vou!
ERECÇÃO HOSPITALAR [3950]
Si um microbio nos infecta, o remedio é "tarja preta". Medicar-me ha lei que veta caso o accesso me accommetta!
Quer tirar o cu da recta o meu medico! E diz peta quem prohibe e quem decreta que é malefica a punheta!
Pathologica si for, si for antinatural a punheta, vou suppor que foder faz mal, mais mal! Si assim "sesse", que "foria" de quem pensa em bacchanal, de quem goza todo dia numa cama de hospital?
O PHANTASMA CAMARADA [4032]
Adviso eu a vocês! Si for preciso manter-me numa cama hospitalar, por muito ou pouco tempo, ou me operar, de appenas uma coisa eu os adviso: Não quero sentir dores! Desde o siso, que tive de extrahir, ao ocular martyrio do glaucoma, a supportar dor venho, vendo advesso o paraiso!
Alguma analgesia a medicina precisa offerescer! Sobre meu hombro não joguem dor maior! Quero morphina!
E então? Nenhum dos medicos opina? Não pode um velho cego ser excombro do orgasmo! Allivio exijo à aguda signa! Ou tantas dores algo as elimina, ou, morto, eu volto e juro que os assombro!
PLACEBO PARA MANCEBOS [4051]
Pesquisa scientifica insuspeita
mostrou toda a virtude da saliva humana: a propriedade curativa até na propria pelle se approveita.
Aos pés, principalmente, ella é perfeita na cura das mycoses: quem cultiva frieira nos artelhos é captiva e afflicta clientela, à minha expreita.
O cego é o lambedor ideal para taes casos, pois trabalha docilmente, não poupa a lingua emquanto um pé não sara de toda aquella crosta repellente.
Ao docil cão, lambendo, se compara.
Por horas é capaz (mesmo si sente chulé) de affundar numa sola a cara, deixando alliviado o paciente.
O CAUTO CAUSO DO PROMPTO SOCCORRO [4139]
Soffreu ella um derrame e foi levada, às pressas, na ambulancia. Agora está deitada numa maca, mas não ha ninguem dando attenção, fazendo nada!
Está bem consciente, mas, coitada, immovel totalmente ficou ja!
Na maca ao lado, esqualida, gagá, fallesce outra velhinha abbandonada!
Alli pelos edosos ha quem zele?
Chamar alguem quer ella, mas a voz não sae! Desesperada, vê que a pelle da outra ficou verde! É scena atroz!
Mais tensa ainda, treme e, antes que appelle ao sancto, a Christo, à Virgem... as vovós em volta o grito escutam que mais gele! E nada escutarão mais, logo appós.
DO JEITO QUE O DIABO GOSTA [4406]
Um soropositivo está casado com soropositiva. Vão à festa os dois, onde não entra quem detesta a troca de casaes. Tudo é pensado. Rolleta russa fazem, pois o estado dos outros é normal. Quem pegar esta doença, vae passando e, assim, infesta, aos poucos, todo mundo, que nem gado. Os jovens do perigo teem noção diversa. Alguem mais velho não se arrisca, mettendo-se, qual bispo, com a bisca, deliberadamente agindo, não! As nymphas, com seus satyros, são isca e o proprio Dionysio amphitryão, mas goza, no final, somente o Cão, que vibra a lingua, emquanto um olho pisca.
INGRATA DATA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDITADO [4448]
No Dia do Glaucoma, a midia illude o ouvinte e até o leitor, ao dizer: "Quem a cego ficar chega é quem não tem cuidado bem dum olho com sahude..."
Alguns advisam: "Desde a juventude a sua pressão meça e, quando vem signal de que augmentou, se tracte! É bem possivel evitar que a sorte mude..."
Mentira! Eu, de nascença, sei que tinha glaucoma! Meus paes, mesmo eu sendo gay, me amavam! Me tractei, collyrio usei a vida inteira! Acaso a culpa é minha? Fiz varias cirurgias! Não falhei em nada! Li das bullas cada linha mehuda! Segui tudo que a mesquinha sciencia disse! Ah! Tive azar, ja sei!
BRONCHICA BRONCA [4461]
Tem gente que expectora a catarrhada em placas verdolengas, numa tosse convulsa, num accesso, sem que addoce tal gosma o paladar de alguem, em nada. E muitos se lamentam, gemem, cada vez que entram numa crise: toma posse, se queixam, o Cappeta, sem que esboce nenhuma resistencia um camarada.
Commigo é differente! Sim, convulso eu tusso, mas a secco, em vão! Sem ar eu fico, mas na tosse nada expulso!
Às vezes, o pulmão deixa excappar um naco borrachudo, um grão avulso: chiclette mastigado, a comparar. Ao medico queixei-me, mas nem pulso mais tenho para a cura lhe cobrar.
QUADRA CLINICA [4486]
Depois que o meu glaucoma fez estrago total e ja não temo ficar cego, preoccupam-me as doenças que ora pego, si quasi nem respiro ou mal eu cago.
A prostata, a columna, alem do bago inchado, são as dores que carrego.
Jamais direi que durmo como um prego, nem livre estou das caries por ser mago.
Me assalta o medo: dellas, qual me macta?
Prefiro qual? Infarcto fulminante?
Derrame? Sopro? Um tiro que me abbatta?
Pegar tuberculose, alguem garante, ficou fora de moda a quem se tracta.
Terei, emfim, coragem de, no instante exacto, me mactar em dada data?
Mal penso nisso, exquesço... e sigo advante.
TOSSE SECCA [4551]
Padesce dessa tosse que não passa o cego, esse estressado! Elle que engrosse a voz esganniçada, se alvoroce tossindo e sossobrando na desgraça! Assim, passando susto, elle que faça exforços successivos quando a tosse subir, nos seus accessos, caso coce, em secco, a chorda sordida e devassa!
Sim, desassossegado estou à bessa, sciente do que disso ouço, possesso: Que soffra! Que soccorro o cego peça ao sancto, si quizer, mas sem successo! Nos surtos dessa tosse que não cessa, não fosse essa fumaça que, confesso, só serve de consolo, a safra dessa soltura me assoprava pelo sesso!
DOSE DUPLA (1) [4569]
Mais uma grippe! Agora duas são por anno! Ah, mas eu tenho ja sessenta, ja posso vaccinar-me! A catarrhenta molestia não me pega outra vez, não! Mas, como dou azar em situação qualquer, é bem capaz que seja lenta ou nulla essa efficacia e, frio venta, me grippo antes da proxima estação!
Nenhuma condição menos ruim conhesço, nem abysmo mais profundo! Vaccinas e remedios são assim:
funccionam, em geral, com todo mundo, excepto (como sempre foi) em mim!
E ainda me criticam si eu redundo, si insisto que o Destino tem por fim jogar-me, do meu poço, bem no fundo!
DOSE DUPLA (2) [4570]
E quando a cephaléa, de roldão, vem juncto com a grippe? Alguem aguenta? Alem de me entupir de ranho a venta, ainda dóe por dentro e faz pressão!
Aquelles comprimidos sempre à mão eu tenho... Que addeanta? A dor augmenta em vez de arrefescer! Si o tempo exquenta, dor sinto; quando exfria, mais, então!
Pensando bem, allivio a sentir vim appenas num minuto, ou num segundo, debaixo de anesthesico, isso sim!
Emquanto em depressão eu não affundo, não vejo a situação ruim assim.
Indagam-me si, às vezes, não desbundo nem piro... Um pó, talvez pirlimpimpim, dê somno em mim, mais longo e mais profundo.
INCONTINENCIA URINARIA [4576]
Em pleno shopping center, bem vestido senhor olha as vitrines. De repente, se dobra, se contorce: elle se sente mal. Sabe: não devia ter sahido.
Não pode segurar mais! Prevenido não era: sente aquelle mijo quente jorrando! Que papel mais indecente alguem pode fazer? Tudo embebido, as calças, os sapatos... Encharcada, a fralda da camisa, para fora, gotteja! Esse mijão apprompta cada!
Mais tarde, quem aquillo rememora?
Peor que tal vergonha não ha nada!
Vexame enfrentou quando uma senhora passava e, ao vel-o assim, embasbacada ficou! Reconhesceu-o, claro! E agora?
HALITOSE EM DUPLA DOSE [4669]
Bellissima mulher! Quem imagina, de longe, que tal bafo sae, de fossa, daquella linda bocca? Minha nossa! Mau halito? Euphemismo! É fedentina!
Coitada! Fede assim desde menina! Seu medico fallou: "Não ha quem possa curar esse fedor!" Ella, que esboça um timido sorriso, se admofina.
Pastilhas chupa, toma comprimido de tudo quanto é typo que se invente, faz tanto gargarejo, escova o dente com pasta perfumada... Assim tem sido! Mas ella se casou, recentemente, com certo rapagão, tambem fedido de bocca... Porra! Agora é que eu duvido do caso! Quem mais forte cheiro sente?
PESADELLO SANITARIO [4678]
As moscas varejeiras fazem festa até nos hospitaes! Pousam em tudo: cocô, carniça, alguem com quadro agudo de febre, alli no leito... O enxame infesta!
Peor, penso, seria, pela fresta das portas e janellas, um grahudo
especime enfrentar qualquer escudo, entrando onde o soccorro, agil, se presta.
Do pobre enfermo, penso, o que seria?
Pensei: caranguejeiras, caso invada um bando dellas uma enfermaria!
Supponho, preoccupado: Que enrascada! Immovel, fracco, appós a cirurgia, o velho advista a aranha na beirada da cama, bem pertinho... Que agonia! Inerme, elle não pode fazer nada!
AMARGO BOCHICHO [4730]
Molestia mysteriosa! Febre dá, symptomas appresenta, mas não batte com quadros conhescidos. Chocolate, affirmam, causa syndrome tão má.
O gajo cae de cama e, logo, está febril, debilitado: elle se abbatte a cada dia. Caso não accapte seu medico, mais cedo à cova irá. Mentira? Bem que pode ser! Alguem que come e de comer não viu a hora querendo passar trote em quem adora comer bombons, recheios, com ou sem... O quadro, ja expalharam, só peora si o cara a brigadeiros comer vem, si attacca algum quindão, dos grandões bem, ou quando um alfajor elle devora.
TRAGICA COMICHÃO [4745]
Coceira na cannella ella sentia, coitada da velhinha! Foi coçando, coçando, até que estava, eis sinão quando, aberta uma ferida na tithia!
A chaga não sarava e mais se abria! Sangrava, em carne viva, e nada brando prurido ainda vinha provocando!
A velha se coçava: que agonia!
Em vez de cicatriz, a carne estava querendo appodrescer, virar carniça! Coçar, não: ja queimava feito lava!
Até que lhe amputaram, enfermiça, a perna... De muletas, ella excava, agora, a perna boa... A mão se attiça! Depois, o que virá, que mais se aggrava? Coceira até na nadega postiça?
IMPERTINENCIA URINARIA (1) [4749]
Paresce ser da edade! A gente urina aos poucos, nunca tudo! Vae sahindo o jacto e, si pensamos estar findo, quer outro, ja, sahir! Jamais termina!
Gotteja, para... Novas gottas... Signa ingrata! Terminou? Não! Ja vem vindo
vontade novamente! Mas que lindo momento estou passando na latrina!
Sentado, nem me animo a levantar!
Passado um tempo, entendo que mijei tudinho e me levanto do logar.
Mas sei que não mijei tudinho, sei! Egual ao meu, mais gente tem azar?
Depois que me vesti... Batata, é lei: molhada está a cueca! Salutar, não acham? Que mijão que eu me tornei!
IMPERTINENCIA URINARIA (2) [4750]
Paresce uma torneira aberta: o jacto dum joven, quando mija, jorra grosso, barulho faz de ducha! Quem ja moço não é, que seu destino encare, ingrato!
Commigo foi assim... O simples acto de estar em pé, mijando, de alvoroço não era nem motivo. Agora, endosso eu dou a quem se queixa, e não me jacto!
Nem quero que ninguem mijar me veja!
Em pé ja nem mais fico: na privada me sento, emquanto a rolla só gotteja, aos poucos, devagar, envergonhada. Às vezes, o final penso que enseja. Mas, quando accreditei que ja mais nada está para sahir, a malfazeja urina volta... e sinto a mão molhada!
VICIO CIRCULAR [4762]
Quem dorme bem, reparo agora, faz cocô regularmente. Assim fazendo, os liquidos do corpo vae mantendo em fluxo. O do nariz não fica attraz.
Tambem o humor aquoso, auctor das más sequelas do meu olho, neste horrendo glaucoma que me cega... Que tremendo factor levado em compta a ser, rapaz!
É tudo consequente, eis que nefando...
Cegueira estressa. Assim, eu durmo mal. Dormindo mal, não cago. Não cagando, augmenta-me a pressão, sempre abnormal. Paresce não haver sahida! Quando no somno bem eu pego, até o nasal bloqueio da rhinite vae passando! Holistico, de comptas affinal...
VEGETARYANISMO [4797]
Não pode comer isso. Nem pensar naquillo. Isto tambem não. Permittido, de facto, só legumes sem ter sido cozidos, sem tempero, sem frictar.
Deixemos claro: em nada o paladar prazer pode sentir. Nosso partido quer tudo prohibir, quer que o sentido do gosto, emfim, se annulle, é bom fallar. Assim como o clitoris, que a mulher exstirpa à força, vamos impedir que façam dos "refris" um elixir, que todo mundo coma o que quizer.
Gastronomo? Qual nada! Só fakir meresce vez! No garfo e na colher, sem molho, sem pigmenta, alho qualquer, só matto insosso! Hitler fez-se ouvir!
RENDENDO GRAÇAS [4798]
Voltando do seu medico, o gorducho
deixou-se desabar numa poltrona: "Caralho! Que desanimo! Funcciona algum remedio? Nada! E eu encho o bucho!"
Queimou, assim, um ultimo cartucho: tentar emmagrescer com "putazona", "tripina", "penical"... Depois da nona caixinha, não aguenta elle o repuxo.
Jamais terá perfil mais leve e fino!
É tanto comprimido para nada!
Ser cada vez mais gordo é o que o destino
reserva a quem comer maccarronada!
Que seja! O obeso admitte: "Eu não domino meu peso e meu estomago, mas cada prattão de maccarrão acho divino!
Cortar não vou aquillo que me aggrada!"
AMIGA DUMA FIGA [4799]
Agora commum é que a moça insista: chamar-se quer "nutrologa"! Não serve qualquer outro jargão que se reserve à mesma profissão: nutricionista. Um novo termo em nada a faz bemquista. Não deixa comer algo que se ferve ou fricta. Que em tempero se conserve a carne, ella não deixa, a moralista.
Paresce mais pastora puritana ou velha solteirona ante o tesão que technica nalguma profissão.
Se damna quem seus codigos prophana.
Frictura? Prohibida! Doce? Não se deve comer! Carne? Nananana!
Nem massas? Nada? Dar-lhe uma banana maçan, bem verdolenga, é o jeito, então!
O SONHO APPUNHALADO [4861]
Se expreguiça o gatto, sem sentir caimbras! Por que, então, eu as sinto, si nem bem accordei? Qual a razão?
Sendo assim, não pode alguem nem fazer musculação!
Uma perna estica e vem essa aguda dor? Ah, não!
Mal accordo e desencolho
o meu corpo, que de molho repousava, e a dor attacca!
É peor si vem, durante um bom sonho, semelhante dor e eu penso ser de faca.
ORA, PILLULAS! [4890]
Comprimido para dor de cabeça, tem de sobra! Tanta droga faz suppor que o mercado se desdobra.
Illusão! Varia a cor, o tamanho, o que se cobra, mas, na chymica, o teor não varia! É só manobra!
"Cephaléa? Tome Atrox!"
Propaganda velha e chata!
Nem innovam nos enfoques:
"Enxaqueca? Atrox a tracta!"
Si eu tiver cephalalgia, hoje como em qualquer data, o que o radio me annuncia?
"Tome Atrox! Esse é batata!"
INNOCUA PRESCRIPÇÃO [4897]
A doutora me receita analgesico outra vez. Da pharmacia, desta feita, dum "Torpex" eu sou freguez.
"Você toma quando deita, todo dia..." Acham vocês que essa medica suspeita que uma noite durmo ao mez?
Minha insomnia ja attrapalha tudo e perco meus freguezes!
Hoje eu tiro alguma palha
só durante o dia, às vezes!
Si tomar o comprimido eu me livro das torquezes por emquanto e dolorido ficarei todos os mezes?
ONUS DO ANUS [4909]
Seus dentes se amarellam, cada vez mais! Quasi estão marrons! Mas nem café tomado tem! Não fuma! Então, qual é, pergunta, a razão disso? Agua, talvez?
Dentistas não resolvem: foi freguez de varios. Troca a pasta, escova até com cremes de sabor ruim... A fé perdendo vae em tudo que ja fez.
Em tantas soluções ja não insiste.
Nenhum branqueamento lhe devolve a cor original! Emfim, desiste:
só mesmo trocar tudo é que resolve. E troca! Soffre, paga... Fica triste, pois volta o tom, mysterio que se solve parando de comer cocô! Que chiste! Será que em outras practicas se envolve?
PHARMACOPÉA MILAGROSA [4915]
É "reconstituinte"! E assigna o "vinho" um tal Sylva Araujo! Quem será? O antigo pharmaceutico me dá as dicas, si eu as sigo direitinho. As "pillulas de vida" eu adivinho que effeito fazem! Morto o cara está ja quasi... um enfermeiro traz o cha da meia-noite... É foda, coitadinho!
Não tendo solução, embarcar deve... Mas, antes que elle o tome, chega alguem trazendo um comprimido! Dentro em breve, o gajo ja gargalha! Elle está bem!
Quem era o Doutor Ross? Como se attreve alguem a confrontar o que do Alem decide-se? Que droga! O Demo a leve! E para a cegueirinha? Droga tem?
MACHO INVOCADO [4928]
Azia? Mal estar? Indigestão?
Um sal de fructas pode, geralmente, allivio dar, e o gajo ja se sente capaz de exaggerar no maccarrão.
Mas fica, si pensarmos, a questão: De fructas? Mas quaes fructas? Que se invente um nome, mas que seja consistente! Salgada é qual? Maçan? Melão? Mammão?
Um termo tal me soa até gozado!
Si é para divagar, à mente vem o grito de "Meus saes!", desesperado, de alguem que, a desmaiar, vertigens tem. "Que saes são esses, porra? O resultado é mesmo positivo? Eu nunca, sem sentidos, precisei! Não sou veado! Não solto taes gritinhos, não! Eu, hem?"
TECHNOLOGIA DE PONCTA [4932]
Electroacupunctura! Ouviu fallar?
Não? Cara, faz effeito mesmo! A gente se deita la, sem roupa, e um competente subjeito é quem virá nos applicar! Si sangra? Não, magina! No logar exacto é que elle espeta! A gente sente appenas a piccada e, de repente, paresce que nem quasi está sem ar!
Ahi, vem choque electrico! À agulhinha está ligado um fio! Calma! Dê-me a chance de explicar! Sim, você treme todinho! Si é traumatico? Adivinha! Mas pense nas vantagens! Você geme, se afflige, se debatte, uma vezinha ou duas, e se accalma! Mas quem tinha pequenas dores, grandes ja nem teme!
THERAPIA QUE ARREPIA [4933]
Ah, para, meu, com isso! Cê me aluga
demais, ja! Vem fallar, de novo, nisso?
Será que não exsiste outro serviço?
Até paresce coisa de portuga!
Um bicho assim nojento, que se pluga na pelle? Nem pensar! Não desperdiço
meu sangue! Sae daqui! Leva sumiço!
Não quero nem saber de sanguesuga!
Cae fora, cara! Deixa em paz meu braço!
Soccorro! Por favor! Alguem me accuda!
De novo, não, aquella dor aguda!
Não posso me mexer! O que é que eu faço?
Não! Tira esse negocio dahi! Gruda
você, no seu trazeiro! Ai, que cansaço!
Paresce que augmentou o meu inchaço!
Assim, vou desmaiar! Ninguem me adjuda?
LENTES INCORRECTIVAS [4942]
Os oculos cahiam toda hora!
Na sopa, no seu collo, até na pia!
Em casa, todo mundo della ria:
"Admarra! Ja fallei para a senhora!"
Ganhava correntinhas. Mas escora
alguma aquelles oculos? A thia
usava uns muito grandes! Não seria o caso de trocar? Sim, sem demora!
Fallavam sem cessar, inutilmente.
Teimosa, a velha tudo recusava!
{Não quero! Estes aqui teem boa lente!
Um pouco pesadinhos, mas...}, fallava.
Até que demorou. Num dia quente, a velha se abbannou e... Agora, aggrava a lente de contacto o que ella sente e quer mandar, tambem, a lente à fava.
JURAMENTO HYPOCRITA [5010]
Pergunto-me o que um medico pretende com essa medicina que proroga indefinidamente, a tubo e droga, a "interminalidade" que se extende. Será que esse doutor não se arrepende de usar de tal tortura, agora em voga, fingindo appagar fogo, mas que joga mais lenha na fogueira e incendio accende?
Morrer de morte subita: assim era a forma, antigamente, de morrer alguem! Ah, si eu pudesse! Ah, quem me dera!
Tivesse eu sobre o thema algum poder, não eram certos chas uma chimera!
Suppunha eu ter um medico o dever de appenas melhorar a nossa espera por algo inevitavel, sem soffrer!
PROMPTO SOCCORRO [5017]
Doutor, dum analgesico eu preciso!
Dóe muito este punhal no coração!
Receite-me um remedio, pois, sinão, não posso mais siquer dar um sorriso!
Doutor, um anesthesico, a juizo seu, pode dar um jeito, não? Estão
doendo os cotovellos, ambos! Dão ponctadas, si de amor me martyrizo!
Doutor, me dá tambem cada ponctada na testa! Tenho, às vezes, impressão de estar minha cabeça toda inchada!
Doutor, até nos olhos sensação eu tenho de dor! Cego estou, ja nada enxergo, mas anxeio ver, em vão!
Doutor, é um ser humano quem lhe brada: Preciso me mactar! Tem injecção?
ALLARME CONTRA O CHARME [5019]
Carissimas ouvintes! Não questione nenhuma de vocês o que vem sendo fallado: é verdadeiro esse tremendo problema a quem implanta silicone!
Você quer pôr a prothese? Abbandone a tempo tal idéa! Sim, entendo, pretende embellezar-se, mas crescendo os numeros estão, ha quem abbone!
São casos e mais casos! Muita gente está pegando cancer! Sim, o implante francez foi prohibido urgentemente!
Entendo que alguem duvidas levante, mas pensem bem! Melhor é ter em mente que pode ser fatal! Ninguem garante!
OLHO CLINICO (1) [5026]
Pergunta-me um blogueiro como alguem se sente um escriptor, si exsiste um jeito seguro de saber. Eu não receito a formula, pois acho que não tem. Costumo comparar, e ao caso vem, as lettras à doença, o livro ao leito, pois, creio, cada caso é um caso: eu deito com febre; um outro deita mesmo sem. Não é como o mechanico, o engenheiro, que segue de instrucções um manual e faz como os demais, desde o primeiro, sem ser um paciente terminal. Sem medico, sem mesmo um enfermeiro, o facto é que não temos hospital poetico... Qual critico é certeiro? Nos automediquemos, pois, do mal!
BROCHANTES IMPLANTES [5037]
Difficil é dizer, nessa mulher, quaes bollas são maiores, si as do seio, si aquellas do bumbum... Mas o recheio occupa todo o espaço em que couber. Sim, tudo é silicone! A quem quizer tocal-a ou appalpal-a e, bem no meio, metter pretenda a rolla, com receio reage a boazuda, onde estiver:
"Cuidado! Não apperta, hem? Vae que fura, que rompe, e vaza tudo! Só de leve! Não pode pressionar, não! Não se deve!
Segura devagar, meu bem, segura!"
Os homens desanimam... Quem se attreve, no meio da bombada mais impura, a dar um belliscão nessa fofura de araque, si extourar vae ella em breve?
COLORIDA LICOREIRA [5060]
No bar dum lar, é logico suppor: qualquer decantador, de crystallino feitio, lapidado em xadrez fino, costuma conter caro e bom licor. Mas não naquella casa. Muda a cor de cada garrafinha; o que imagino ser mentha ou curaçau, porem, termino notando que é remedio, e só si for!
Xarope, Biotonico... Combina, ainda que ninguem nisso o pé finque, com calice bebel-os? Feito drink, tomar Mellagrião, Maracugina?
Alguem me offeresceu... Fallei: "Não brinque! Remedio aos convidados se destina?"
Provei, porem... Agora, à vitamina ja faço, effervescente, o brinde e o link.
PATRULHA QUE EMPULHA [5065]
Não causa mais surpresa que alguem pose de medico e juiz do que se deve comer ou evitar. Num prazo breve, divergem as "pesquisas" sobre a dose. Assucar, por exemplo. Saccharose não basta condemnar: alguem se attreve até, sem medo, a achar que algo mais leve tambem meresça vetos, a fructose!
Si formos caminhar por tal caminho, melhor é prohibir que a gente coma! Que tal alimentarmo-nos de aroma?
Talvez assim se evite o que é damninho! "Comer faz mal!", advisa o Papa em Roma e, nas Nações Unidas, um mesquinho e gordo diplomata. Eu não definho de fome, mas fatal foi meu glaucoma!
DENTE IMPERTINENTE [5098]
Sentado, do dentista, na cadeira, o velho sente aquella coceirinha gostosa na virilha, a tal que a linha perder faz qualquer um, queira ou não queira.
Immovel, bocca aberta, elle ja beira seu poncto de controle: se encaminha o dedo, lentamente, à folgadinha cueca, no ropteiro da coceira.
Secreta, a mão prosegue caminhando.
Vencida a larga cincta, segue o dedo por entre a pentelheira, vae chegando
ao foco do prurido, ja sem medo.
Começa a coçar... Para justo quando a broca fura o dente! A dor tão cedo
não deixa que se exquesça o velho, uivando!
Não ha por que fazer disso um segredo.
FEDORENTO VAZAMENTO [5244]
Vocês ja repararam? Quando a gente accaba de sentar numa cadeira daquellas de dentista, a caganeira adviso envia e o cheiro a gente sente!
Nem sempre é caganeira, certamente, mas gazes que precisam sahir, queira a gente ou não... Primeiro, uma ligeira pressão, depois o peido irrompe, urgente!
A gente se remexe, o corpo adjeita no assento, disfarsar tentando, mas é claro que o dentista ja suspeita!
Fedor, barulho, tudo aquillo faz perder a compostura. Exclamar "Eita!"
não colla... "Está vazando, eu acho, o gaz..." Recorro a tal desculpa: alguem acceita? Acceite ou não acceite, estou em paz!
ACTIVIDADE PHYSICA [5251]
Que dia mais estupido e antipathico!
Só tinha que ter sido aqui creado!
Paresce que São Paulo foi o estado que a data instituiu, com fim didactico.
Agora é mundial! Eu, que sou practico, de "actividade physica" me evado!
Ja basta a caminhada! E caminhado eu tenho pela casa, sorumbatico!
Gymnastica? Exercicio? Malhação?
Não fosse eu me chamar Glauco Mattoso! Livrae-nos, Pae Sanctissimo e Bondoso!
É coisa do Demonio! Obra do Cão!
Estou brincando, é claro! Fervoroso christão não sou, mas faço gozação com datas tão politicas e tão correctas, tão oppostas ao meu gozo...
VISITA QUE IRRITA [5283]
Bebês, quando chorões, trabalho dão, damnado, aos paes. Me contam o recente e comico episodio do doente em phase terminal no seu colchão. Nos outros quartos, todo mundo são está. Chega um casal e ja se sente melhor a visitada paciente. Nos braços da mãe, chora um bebezão.
Os berros da creança echoam bem na porta do doente terminal, que accorda e se levanta, roupa sem.
Paresce nem sentir-se, ja, tão mal! Dirige-se elle aonde está o nenen.
Abrindo a porta, grita, em tom egual ao choro: "Cala a bocca! Não dá nem p'ra gente em paz morrer neste hospital?"
BOCCA DO POVO [5290]
Duvido que ella seja bruxa. Só por causa dos chazinhos que ella faz?
Magina! Tanta gente intenções más disfarsa, sem fazer cha desse pó!
Affirmam que o pozinho da vovó é feito de substancias que, por traz da formula singella, dão aos chas poderes mysteriosos... Tenham dó!
Magina! Cada coisa teem fallado!
Coitada! Só quer ella allivio dar aos gazes, ao estomago embrulhado, à tosse, à rouquidão, à falta d'ar! Não creio que ella tenha collocado naquelles pós, moido, um tumular ossinho, ou carne humana em mau estado, tal como do governo ouvi fallar.
DISSONNETTO DUM ACCESSO NOCTURNO [5334]
Nem repousa à noite aquella
solitaria velha: accorda mal dormida. O quarto gela.
Liga o radio. A voz a abborda:
"Vamos, ria...", ao povo appella o programma. Dada a chorda, ella passa a rir. Ri della
mesma: é tragico, concorda.
Do seu peito toma posse
e faz della prisioneira
persistente tosse, e tosse
a coitada a noite inteira.
Vae parar quando admanhesce essa crise passageira.
Si risada ella não desse, da loucura estava à beira.
SONNETTO DUM CONVITE E DUMA BRONCHITE [5444]
"Caro Glauco, lhe pergunto si você vir poderia dar palestra sobre assumpto que conhesce e que apprecia. Tem alguem para vir juncto? Nós lhe damos estadia
e passagens. Em conjuncto, nós fariamos follia!"
-- Meu carissimo confrade, conhescer sua cidade me seria prazeroso, mas não posso, nem que eu queira. Mal estou, fora a cegueira. Abbração. Glauco Mattoso.
DISSONNETTO DUM CONVITE E DUMA LABYRINTHITE [5445]
Lançamento na Argentina
planejando estão. Que faço?
São gentis commigo: a fina professora manda abbraço.
Ha quem, rindo, me previna: "Glauco, disso eu longe passo!
De avião? Jamais! A signa é ficar neste pedaço!"
Buenos Aires, me relata um amigo, bem nos tracta, inclusive Mar del Plata.
A viagem é que macta!
Eu, que morro, ja, de estresse e ao sanctinho faço a prece, penso: um cego até aggradesce si ficar aqui pudesse.
SONNETTO DUMAS BOLLINHAS THERAPEUTICAS [5451]
Quando a mente se detona sob estresse, tem quem acha que o problema soluciona com bollinhas de borracha. Varias dellas tenho. A zona pela casa até me tacha de maluco. E nem funcciona tal bollinha: não relaxa.
Appalpal-as, dizem, tem o poder de fazer bem ao espirito e aos tendões.
À loucura, nada vence-a, e a perdida paciencia eu queria nos colhões.
DISSONNETTO DUNS CRYSTAES DE SAL GROSSO [5488]
Neste dia vinte e seis em alguem, com pena, eu penso. De quem fallo? Ora, direis, com certeza do hypertenso!
Elle come bem, mas eis que dum facto me convenço: entre os heteros ou gays ha doentes nesse censo.
Não excolhe edade ou cor, quem bem come ou quem se priva: si a pressão normal não for, vem a crise hypertensiva. Mas, si o sal não nos faz bem, sem comer não ha quem viva! Que o doutor se vire: tem que exsistir alternativa!
PHILTRO FILTRADO [5514]
Emquanto aos alchymistas, só, cabia da formula saber, esse elixir seria aphrodisiaco. Um fakir, até, ficava erecto e se rendia. Agora, a pharmaceutica mania pretende aquelle tonico impingir à guisa de poção a quem sentir a erectil dysfuncção, que empatta a orgia. Ha muita propaganda. Quem garante que pode tal remedio ser obtido em gottas ou num simples comprimido, em larga escala? É justo que eu me expante! Só pode ser synthetico? Duvido que impeça algum bumbum de ser brochante ou faça dum gagá fogoso amante! Barato assim, é falso ou diluido!
FUMO SEM RHUMO [5553]
Conhesço um cara assim: era fumante passivo, no começo. Aos poucos, ia fumando, elle tambem, até que, um dia, achou não ser cigarro, só, bastante. Quiz experimentar mais elegante maneira de fumar, e mais "sadia": partiu para o cachimbo. Pela via do aroma, da maconha viu-se amante.
Ninguem ha que desfecho tal não saque. Depois do baseado, a cocaina cheirou, depois cahiu fundo no crack.
Dalli não mais sahiu: alli termina.
Será que sou careta? Caso applaque meu vicio em sonnettismo, a fescennina mania perderei? Aguento o baque? Ou parto para alguma chloroquina?
DIA DO DIABETICO [5644]
{Cortei ja meu assucar todo! Nem café mais tomo, caso não esteja amargo! Diabetico tambem, você não ganha bollo nem cereja! Mas isso não tem graça, Glauco! Tem? A gente quasi nada mais festeja!
Será que solução inventa alguem praquelle que comer doces almeja?
Meu sonho é comer sonho, o proprio sonho, alem de chocolate, puddim, torta de leite condensado! Mas, tristonho, nenhuma real scena me comforta!}
-- Não quero nem saber! Si me disponho a doces comer, como! Que me importa morrer mais cedo ou tarde si, enfadonho, meu dia rolla sempre em hora morta?
JURURU COM PIRIRY [5652]
Um drama que nos rende estragos é a terrivel diarrhéa, alimentar disturbio que, depois dum mau jantar, fará que nos lembremos do filé! Ah! É molle, ou quer mais? Puta diarrhéa! Em agua transformou o que cagar iriamos mais solido! Vulgar, nomeia "caganeira" a voz plebéa.
Da cama, vou ao vaso. Vou do vaso de volta para a cama. Ja da cama de novo vou ao vaso. Me comprazo si nada para fora se derrama.
Trez dias o remedio deu de prazo. Na falta do cocô, meu cu reclama.
Bemvindo o peido, mesmo com attrazo, que tanto fez, em verso, minha fama!
MYSTICO DIAGNOSTICO [5653]
Os medicos attendem muita gente com queixas variadas. Ha quem pose de enfermo appenas para ter a dose dalgum medicamento entorpescente.
Porem, quando o queixoso paciente reclama vagamente, 'inda que goze de boas condições, diz que é "virose" quem tracta do "mysterio" que elle sente.
"Virose" virou termo para tudo aquillo que ficou mal enquadrado: cystite, diarrhéa, resfriado, dor, febre, caso chronico ou agudo. Mas eu, pessoalmente, não me illudo, pois, mesmo sem ter visto o resultado de exames quaesquer, digo, pelo lado mais obvio: o meu azar vem do Chifrudo.
FECHADOS CORPOS ABERTOS [5695]
{Ah, Glauco, olhe que lindo! O meu anxeio está a se realizar? Appendicite, renal calculo, cancer... Quem evite não ha! Mas ha politicos no meio! Comnosco rollaria qualquer feio prognostico do typo, mas permitte ja Juppiter que quem nos parasite tambem daquillo soffra! Ah, nelle eu creio!
Politicos o corpo bem fechado tiveram sempre, emquanto nós aqui estavamos subjeitos ao que vi soffrerem meus amigos nesse estado!}
-- Emfim se faz justiça, sim. Cuidado, porem, com o "day after". Ja sorri, curado, um senador... E bisturi não temos como tem um deputado...
LOUCURA SEM CURA [5720]
Me tractei na acupunctura e motivo para festa não vi. Dizem que ella cura...
Xingo curas que nem esta.
Me espetaram e foi dura a agonia. Quem attesta os effeitos da fé pura? A tractar-me quem se presta?
Recorri tambem à bruxa, que diziam ser honesta. Mas a bruxa disse: "Puxa!
Todo mago te detesta!"
Me fallou Satan, na bucha: "A afflicção que te molesta nem tem rhyma!" Foi a ducha d'agua fria. Que me resta?
INDUSTRIA PHARMACEUTICA [5721]
Não terá quem pela tosse vae morrer razão de rir. Caso a phthisica se apposse de alguem, falta um elixir.
Allergia? Que se coce quem tem isso! Vae surgir um remedio? Não endosse taes boatos de engruppir!
Não terão medicamento
nossos males, não, jamais!
Interesse no tormento
teem as multinacionaes!
Mais meu caso ora lamento, pois, coitados, os meus paes dum ceguinho lazarento não previram estes ais...
NARCISICA PHTHISICA [5722]
Quem é tuberculoso que se arrase numa autocompaixão, ou tire sarro das proprias afflicções! Sim, extravase com emphase! Eia! Narre como narro:
"Curei-me da doença, mas à base de muitas injecções. Tossi catarrho sangrento. Si me evoca a triste phase, a data da memoria logo varro."
Então tuberculose virou moda?
Que coisa mais romantica! Foi quando? No tempo dos poetas? Mas que bando de jovens insensatos! Não é foda?
A mim, porem, bastante me incommoda glaucoma ter, estar sob o commando de sadicos, ja cego, ou me tornando vaidoso da censura que me poda.
GULA SEM BULLA [5727]
Em logar de chocolates, bollos, ballas ou cocadas, recebi de admostra gratis comprimidos e pommadas!
Vae à merda! Não me tractes como enfermo! Não invadas o cenaculo dos vates!
Serve uns chas... mas com torradas!
Um remedio de presente não tem graça! Mas é bom si ganharmos o que tempte
nossa gula: algum bombom!
Eu, rebelde paciente que sou, fico puto com um producto que, insistente, de curar não tem o dom!
ASSAZ INEFFICAZ [5738]
A sciencia quer que eu faça propaganda do oculista nestes versos, mas não passa sem que eu falle, pessimista: A doença que me embaça não tem cura! Quem a vista perdeu sabe e não vê graça em calar-se, nem despista. Não farei, porra nenhuma, homenagem ao subjeito que pretextos mil arrhuma para azar que não tem jeito. Ha ceguinho que presuma ser curavel seu defeito? Oculista que se assuma impotente eu, sim, ja acceito!
CLUB FOOT DISSONNET [5751]
Orthopedica mania!
Eu aqui, que sou tarado, um pé torto só queria
ter lambido ou ter chupado!
Ah, com elle o que eu faria! Com a lingua os vãos invado
dos artelhos! Atrophia
não me deixa repugnado...
Pé de gancho, pé expalhado, não importa, me seduz!
Não, jamais me desaggrado
si no rosto um delles puz!
Mesmo sendo deformado, meu tesão não se reduz!
Mas faltou, por outro lado, para vel-os, minha luz...
ALGO A MAIS [5754]
Não exsiste analgesia que me tracte da cegueira. Em mim, chora a poesia, mas, sem dor, ria quem queira!
Dor de dente, nevralgia, dor no sacco ou na caveira...
Analgesico eu queria que interrompa a vida inteira!
Senti dores, ja, de todo typo, berros dei num ai mais poetico, que engodo
alguns acham, e me trae. Mas taes berros solta a rodo um poeta. A ficha cae dos leitores que me fodo de verdade... si me vae.
ALTERNATIVAS MEDICINAES [5762]
Ja de plantas soccorri-me quando ainda visão tinha. Mas fui victima dum crime e a cegueira foi damninha. A sciencia não se exime de responsa, pois eu vinha me tractando com um time de bons medicos, na linha. Mas nem faca, nem gottinha me salvaram: o regime do Destino é o que definha e a má sorte é o que deprime. Encerrando a ladainha, não ha mal que desanime um ceguinho que escrevinha si elle mesmo se autoestime.
DIETAS IDIOTAS [5775]
Outras lyras fallam della mas convem que se repita: Das dietas a sequela é mais grave e não se evita.
Quem restringe o que a panella faz e corta o que se fricta fica, alem de magricella, preso ao medico, à marmita.
Para a droga alguem appella?
A pharmacia facilita.
Mas salame e mortadella
dão dieta mais bonita.
A verdade se revela
implacavel e irrestricta:
Ja que a vida não é bella, comer resta: ao menos, quita.
THEORIA DA HIPPOTHERAPIA [5781]
Fallam "equotherapia", mas mixturam com latim.
Pouco importa, ja que a via não funcciona para mim.
A cavallo? Montaria?
Não, 'brigado! Estou a fim doutra coisa que faria mais effeito, a saber vim:
Bem comer! Qual iguaria?
Ora, um bollo, ou um puddim!
Generosa, uma fatia
desestressa? Acho que sim! Dispensar a theoria
é melhor, decide emfim quem não acha que seria natural comer capim.
MELHORIA EM IGUARIA [5814]
Edade, si é "terceira" ou si é "melhor", importa pouco. "Merda" acho um bom nome. Só "velho" e "thio" escuto ao meu redor. Tomar no cu vou, onde for que eu tome.
E, para que a velhice do peor se farte, quem "saudavel" é não come nem carne, nem frictura... Sei de cor a missa: velho deve passar fome!
Estou de sacco cheio dessa chata conversa de nos darem qualidade de vida, de nos darem mais edade, mas mandam evitar fricta batata!
E eu? Fico sem comer tudo o que macta a gente de desejo? Brevidade, brioche, bollo, torta... Desaggrade seu medico! Rirá quem não se tracta!
DENTE MAL CALÇADO [5816]
Só limpeza, polimento, delle eu quero, o mais banal. Broca, nada! Não aguento tractamento de canal!
Não me tracta cem por cento o dentista na actual data: vive outro momento neste mesmo mez fatal.
Dor de dente, novamente?
Neste mesmo mez estive no dentista! Porra, a gente tanto tracta e com dor vive!
Meu sapato tambem sente que o degrau e que o declive tanto o gastam pela frente quanto attraz, como os que eu tive...
CHAGA AZIAGA [5855]
Rezarás, quando tu fores rezar, isto: "Zeus proteja este crente dos tumores!", si ao temente exsiste egreja. Quanto aos balsamos, senhores, só direi que se festeja justa lyra, sem favores de fazer que eu aqui seja. Dor fortissima só passa com um balsamo potente.
Masochismo não tem graça si padesce esse doente.
Cancerosos ha quem faça melhorarem? Quem consente que elles soffram? É trappaça um Senhor que puna a gente!
MEME DO MARÇO AZUL MARINHO [5936]
Em março, o mau politico, ou melhor, o pessimo politico se borra de medo! Sim, aquelle que nos torra dindim e paciencia, em grau maior!
O mez falla dum cancer, o peor possivel aos caciques, pois desforra o povo com a praga que lhes jorra em cyma e torna frio o seu suor! Se tracta do rectal cancer! Pois é!
Nós todos, todo dia, aqui torcemos! Univocos, chamamos nossos demos e em todas as macumbas pomos fé!
Torçamos ja! Peçamos, da ralé si somos portavozes e fazemos legitima leitura! Sim, rezemos! Do cu teem que soffrer, morrer até!
PERPLEXO REFLEXO [5951]
Commum é desmaiar alguma dama. Coitada! Desmaiou, antes faceira, aquella, ao ver no espelho uma caveira! "Por todos os diabos!", ella exclama. Si não está sentada numa cama ou, pelo menos, numa chan cadeira, a dama, com certeza, de maneira pathetica, por uma adjuda chama.
Olhou-se. Penteava, distrahida, a longa cabelleira, e viu a cara ridente do eskeleto, a morte em vida!
Depois, contou a todos: desmaiara de fome, não de medo! Sem comida não fica mais! Addeus, dieta avara! Por isso não critico quem duvida dos medicos. Por elles, ninguem sara.
PENSANDO E DESCOMPENSANDO [5954]
Analyse requer a medicina. De vida a qualidade é relação de custo-beneficio: dóe ou não?
Mas facil esse thema não termina.
O gajo, diabetico, não tem symptomas, mas os teme a longo prazo.
Tomar a "metformina" com ou sem appoio dum "fibrato"? Foi meu caso.
Passei a perder peso, mas tambem me veiu a myalgia... Aqui me embaso: Fiquei debilitado! De tão fracco, a chronica rhinite pneumonia virou! O trouxa quasi foi pro sacco!
Serviu-me de licção. Que é que sentia eu antes e depois do tal pharmaco? Prefiro o doce! O risco, a gente addia!
MISCELLANEA BUCCAL [5986]
A bocca necessita de limpeza?
Palito, escovação, fio dental...
Pergunto: qual o methodo ideal?
Quem é que sua lingua tem illesa?
Seria, ao levantarmos nós da mesa, preciso que escovemos, com total cuidado, os nossos dentes? Ou normal será certa migalha num vão presa?
Tractando-se de alguem que bem conhesço, o menos hygienico nem mica os dentes, mais fraquinhos do que gesso, porem a lingua grossa, que se estica. Dobrada, quasi vira pelo advesso durante uma chupada em suja picca. Conhesço um chupador assim travesso, mas elle sem bochechos nunca fica.
MISCELLANEA CATARRHAL [5987]
É farta a verve em provas desse evento.
Catarrho o mais espesso da caveira nos enche as cavidades e mal cheira.
Em verso descrever um caso tento.
É foda a sinusite, meu amigo!
Entope tudo um muco que amarella por dentro das narinas, e não digo que seja perfumado! Tem sequela:
Dorzinha de cabeça! Traz comsigo a tosse! E quem livrar-se pode della?
Occorre que o catarrho na goela penetra quando excorre internamente e causa a coceirinha... Quem se pella de medo é o narigudo, o que mais sente, conforme a poesia, toda aquella interna fedentina putrescente!
MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]
Bastante mal esteve esse subjeito.
Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda.
Ainda assim, alguem dirá: "Bem feito!"
Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via! Ja sei: seu advogado allegaria
doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia!
Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!
MISCELLANEA GRIPPAL [5993]
De grippe ella padesce, coitadinha!
Mantendo erguido o bello narizinho, a moça esboça um gesto comezinho.
Ninguem adivinhou o que ella tinha?
Pequeno e arrebitado, sob o lenço finissimo, o nariz della despeja
catarrho maturado, num immenso e infindo jorro! Ainda que proteja do olhar alheio o ranho, eu me convenço, ouvindo-a se assoar, de como arqueja!
Não quer ella deixar que ninguem veja
o jacto catarrhento, mas de nada addeanta usar o lenço, pois na egreja echoa a sua tuba e causa em cada devoto a sensação de que ja esteja o ranho quasi verde e ella grippada!
MEME DA PEDREIRA [5995]
Não servem para tudo os dictos "saes".
Na casta consciencia peso sente e abusa do pozinho effervescente aquella que trampou, talvez, demais.
Fallei de castidade? Não, jamais devia ter fallado, pois decente seu trampo não tem sido, certamente.
Questão de vocações profissionaes.
Má vida? Má conducta? Sal de fructa não basta, si chupou muito caralho e galla engoliu muita aquella puta.
Pesou? Foi accidente de trabalho.
Agora bons conselhos ella escuta e toma, appós chupar, um cha com alho, mas nem por isso deixa de ir à lucta. Faz parte, emfim, do trampo tal cascalho.
MEME DA NYMPHOMANIACA [6008]
Nas ruas não exsiste diplomata.
Fallarem que é "furor" seu, "uterino", revela pouco tacto e pouco tino, mas claro que a pau esse rumor macta. Não é de medicina que se tracta, mas sim de sacanagem. Qual menino não toca nesse assumpto fescennino no pappo com a turma, sobre a gatta?
Sim, fora do commum é o que ella tem, concordo, si em repouso a passarinha jamais está, si um fremito lhe vem.
Mas faça-se justiça, coitadinha! Evita sahir dando e só traz, bem la dentro, uma cenoura ou... abobrinha!
Seria preferivel que ella zen ficasse, mas, coitada, se apporrinha!
MISCELLANEA DA CONSTIPADA [6036]
Estresse influe no rhythmo do intestino. Cagava bem, a dona Dora. Agora faz força, alli sentada, mas demora. Não posso ter certeza, mas attino.
Batata! Si o cocô sae muito fino, signal é de prisão de ventre. Chora quem senta alli por mais de meia hora, e em seu logar até que me imagino.
Tomava no cu, quando seu marido ainda não brochava. Ultimamente se sente constipada. Não duvido que a causa seja a falta dum potente e audaz suppositorio. Faz sentido?
Talvez, si outra resposta não se invente. Sentada na privada, só ruido escuta, tripa addentro, persistente.
HASHTAG INSPIRA CUIDADOS [6101]
Emquanto o dictador mais arrogante e sadico se interna, victimado por serio peripaque, está do lado do leito um corpo clinico constante. Paresce inconsciente. É preoccupante seu caso. Um enfermeiro o resultado confere dos exames. Revoltado se sente mas, discreto, se garante. Alguem que elle conhesce morto fora por ordem do tyranno. De repente, não ha mais gente juncto no ambiente, que rende, emfim, a chance temptadora. Sem tempo perder, nota que fedor a gorducha sola solta. Passa, rente aos dedos, sua lingua, que então sente um gosto de esperança promissora.
MEME DA INJECÇÃO [6107]
Mas elle fallou! Elle é presidente!
Aquillo que fallou elle garante!
Fallou o que é melhor: desinfectante!
Nem chloroquina serve: é caso urgente!
Um medico negou? Pois esse mente!
Quem sabe é o presidente! Elle é bastante sabido, não sabia? Doradvante eu acho uma injecção sufficiente!
Não sabe, dona, como fazer? Ora, qualquer desinfectante! De privada, de chão, de rallo! Vale tudo ou nada mais pode valer contra a praga, agora! Porem, si não servir, minha senhora, ao menos seu cadaver será cada vez menos podre! Quanto mais piccada, maior a protecção de quem a chora!
MEME DA MANIPULAÇÃO [6110]
Que porra de remedio vão agora dizer que faz effeito, Glauco? Urina na veia? Chlorophylla? Caffeina?
Cebolla? Alho? Hortelan? Nossa Senhora!
Ouvi que nicotina alguem de fora está recommendando! Se examina a possibilidade de que, fina, até certa farinha revigora!
Por mim, pode tomar o que bem queira o povo mais humilde, que se informa tão mal e porcamente dessa norma pandemica! Paresce brincadeira!
Não acha que tal panico ja beira um caso de nonsense? Dessa forma, melhor papel faria quem performa um medico vendendo ovo na feira!
MEME DO NEGACIONISMO [6158]
Magina! Grippezinha à toa, cara!
Preparo quem tiver, como o de athleta que tenho, nada sente! Nada affecta a quotação do dollar, que é ja cara!
É só resfriadinho, coisa rara, difficil de pegar, Glauco! Um poeta sagaz como você vê que incorrecta é toda a fallação que nos azara!
Não vê, Glauco? Bem, fallo da visão interna, cerebral, que todos teem! É claro, reconhesço que ninguem quer cego ficar, bollas! Isso não! Mas mesmo um cego puto, um fodidão assim como você, tambem convem que estamos da desgraça bem aquem! Não acha, Glauco? Ou falta até tesão?
HASHTAG QUEM É DE ESQUERDA TOMA [6179]
Ué, Glauco! Só toma quem quizer!
Quem não quizer não toma! Não me fodo!
Si formos de direita, temos todo direito de propor droga qualquer!
Tomemos! Nos curemos! Si não der, de facto, resultado, foi engodo?
Magina, Glauco! Morre gente a rodo!
A menos ou a mais, morre quem quer!
Que tome guaraná quem for communa!
Que tome tubaina, tome soda!
Sou foda! Não concorda, pô? Sou foda!
No chiste, nem preciso de tribuna!
Não ha melhor piada que nos una!
Não posso fazer nada, si incommoda a minha brincadeira! Minha roda curtiu! Não ha remorso que me puna!
HYDROXYCHLOROQUINA [6197]
Um grave effeito ouvi, collateral, da tal da chloroquina, Glauco! Ouviste fallar? Causa cegueira! Quer mais triste destino, quando alguem nem está mal?
Tomar por prevenção será fatal a quem nada pegou e bem resiste!
De quem se recupera farão chiste por ter sahido cego do hospital!
Pensaste, Glauco? O gajo nada tinha!
Siquer elle infectado fora, mas tomara a chloroquina! Agora, attraz dos oculos escuros, ja definha!
Ficou cego! Peor que tu, que minha risada despertou ja, tão mordaz!
Terá que implorar graça a Satanaz até para achar uma moedinha!
FUMANTE INCOMPASSIVO [6204]
Meu pae sempre fumou, Glauco! Tambem eu fumo! Nem grippinha siquer pego, nem elle! Na verdade, eu ja sossego faz tempo, pois me sinto muito bem!
Meu thio, pelo contrario, que tão zen se julga, que não fuma, tem mais prego na cruz que você, Glauco, que está cego, insomne e diabetico refem!
Fumante você nunca foi? De nada serviu ter evitado tanto o fumo!
Lhe digo com franqueza, pois me assumo sincero: de você só dou risada! Um cego p'ra que serve? Dar chupada na rolla dos normaes? Perdeu o rhumo quem bengalou sozinho! Não costumo zombar, mas dou, sorrindo, outra tragada!
COBERTOR [6233]
Tirei o cobertor, que ja guardado estava havia mezes. Que poeira! Allergico ja sendo, si isso cheira alguem, será peor o resultado.
Foi tiro e queda! Glauco, complicado fiquei! No meu logar você nem queira
ficar! Foi tanta tosse, chiadeira no peito, dores deste e doutro lado!
Peguei uma bronchite do diabo!
Você tambem ja teve? Sentiu dor no peito? Teve tosse? Cobertor
guardado, por suppor então accabo!
Errei? Bem, mas commigo você brabo não fique, Glauco! Diga, por favor: Ao menos versejei bem, si não for incommodo... Ou então va dar o rabo!
ANTICORPOS [6235]
Testei. Eu não queria, mas testei. Fiz tudo p'ra addiar a decisão. Julguei, um dia sim, um dia não, si tinha que saber o que ja sei.
Testei. Que me forçasse, não ha lei. Não houve, não, qualquer obrigação moral, nem social. Nada, Glaucão! Appenas hesitei e, emfim, julguei.
Testei. Deu positivo, o que me indica que estive exposto ao virus, Glauco! Certo? Não sou nesses assumptos tão experto, mas acho que isso em nada augmenta a zica. No cu tenho levado tanta picca que pouca differença faz si perto ou longe estou da peste. Só me allerto é quando outro michê doente fica...
CONTRACEPÇÃO [6258]
É facil não ter filhos, Glauco! Basta
fechar as pernas, porra! Gravidez se evita, né?, caralho! Só quem fez nenen foi a mulher que não é casta! Um homem que não seja pederasta somente de putinhas é freguez!
A culpa não é delle, que michês não paga, mas com puta a grana gasta!
Fui claro, Glauco? Ou achas que embaralho?
A puta poderá ser chupeteira, appenas, si quizer! Caso não queira, que emprenhe! Que embarrigue, então, caralho! Que pillulas, que nada! Não me valho jamais da pharmaceutica tranqueira! Si for p'ra desistir duma rampeira, eu fodo um cego, mesmo! Quebro o galho!
OZONIZANDO [6403]
Ja Hemingway dizia: as putas vão tragando porra para se curar ou mesmo prevenir um malestar, até tuberculose! E então, Glaucão? Rollou em Kansas City! Mas nós não ficamos attraz! Ouço ja fallar que vae Itajahy ser o logar perfeito para a cura do povão! Com dez sessões diarias, só por via rectal, o ozonio -- Quem diria? -- vira antidoto covidico! Confira, Glaucão! P'ra que vaccina? Ah, que alegria! Sim, disse isso o prefeito! Ou só seria mais uma fakenews? A gente pira com tanto commentario para a lyra! Só coisa assim occupa a poesia!
FADA RENADEGADA [6479]
Não, Glauco, minha bunda antes não era tão grande! Precisei fazer implante! O medico, o Doutor Pompom, garante que estou, ja, parescendo uma panthera! Bem sei que ter taes bundas é chimera total da mulherada, mas, durante uns tempos, invejosa fui bastante daquellas que se implantam! Ah, pudera!
Viu, Glauco? Descomptei! Colloquei tanto, mas tanto silicone, que o trazeiro tem cara até do Rio de Janeiro, com Urca e Pão de Assucar! Um expanto! Mas, sem exaggerar... Eu não encanto, na praia, a molecada por inteiro! Comtudo, ja sahi do captiveiro pandemico! Sou fada, por emquanto!
NUTRICHATO [6492]
Jamais chamei um gajo de "ecochato", Glaucão, de "natureba" tambem não!
Ainda que pentelhos sejam, tão grosseiro não serei si delles tracto!
Agora, chato mesmo (o que constato com maximo pesar) é o cidadão
mettido a patrulhar a nutrição dos outros! Esse eu chamo "nutrichato"!
Não pode comer isto, mas aquillo ja pode si for pouco ou sem tempero!
Aquillo outro só pode si exaggero
ninguem fizer, sinão vae ganhar kilo!
Ah, va lamber sabão! Comer tranquillo o gajo não me deixa! Desespero ja tenho demais, porra, sem comer o que quero por ser caro conseguil-o!
INFINITO CONFINAMENTO [6508]
Chegar aos meus septenta parescia mais facil, si não fora a quarentena. Mas meu "gruppo de risco" me condemna à dura reclusão, dada a phobia.
Meu medico ja disse: "Glauco, um dia talvez você consiga dar, em scena, as caras à platéa... Acho uma pena, mas não será tão cedo, não! Sabia?"
Pudera! Diabetico, de edade, soffrendo de rhinite e de bronchite allergicas, terei como limite da casa a porta, até da rua a grade. A nossa paranoia dissuade a gente de sahir. Nenhum convite me pode estimular, nem que me incite alguem a pés lamber, em liberdade.
SEDENTARIO VOLUNTARIO [6513]
Não saio, Glauco! Nunca mais eu saio de casa! Só depois que houver vaccina! Mas, mesmo assim, só para mim termina a longa quarentena com o raio!
O raio desse teste! Desde maio espero ser testado! Não, magina!
Ninguem veiu testar! Alli na exquina testavam, mas... Eu nessa ca não caio!
Hem? Como vou testar, si para tanto terei que sahir, Glauco? Como vou tomar vaccina, si 'inda não estou
seguro? Depender vou só do sancto?
Jamais! Não vou sahir! Assim, emquanto ninguem vier, ninguem me vaccinou, siquer testou! Que impasse! Venham, ou então, desta poltrona não levanto!
PRURIDO NA LIBIDO [6534]
Incrivel a coceira que se sente si somos diabeticos, Glaucão! Disseram que é do sangue, que é questão de assucar, simplesmente, na corrente! Mycose até paresce, pois a gente se coça, coça, coça... A comichão augmenta ainda mais si no verão estamos, neste clima, aqui, tão quente! Coceira, de bermuda e camiseta, resolvo com maior facilidade!
Peor é quando o frio, na cidade, às roupas faz que a gente se submetta! Difficil é coçar uma boceta, um sacco, o umbigo, quando nos invade aquella comichão! Glaucão, quem ha de batter, perto de zero, uma punheta?
MULHER MAGRA [6565]
(para a doutora Veronica)
Magerrima fiquei, Glauco! Nem queira saber! Sim, resolvi fazer dieta por causa do meu medico, um pateta completo, um alloprado, uma toupeira!
A gente, em desespero, faz besteira, começa a comer pouco, tem por meta ficar esbelta, porte ter de athleta, modello... Mas virei uma caveira!
Disseram de mim tudo: que era aidetica, que tinha cancer, syphilis, lombriga! Ninguem se conformava! A minha amiga mais intima tambem estava sceptica!
Até que me toquei! Faltou foi ethica ao medico, que compra aquella briga babaca, a da dieta que castiga o corpo! Só questão é de genetica!
HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN? [6629]
Hem, Glauco? O tempo secco não está incommodo demais? Não chove faz semanas! Previsões seguem as más de sempre! Ninguem boas novas dá! Os meteorologistas dão é má noticia! Respiramos certo gaz bem toxico, que virus novos traz!
Emfim, vae peorar, você verá!
Você, que tem rhinite, não se sente mal nessa longa falta de humidade?
Melhor é nem andar pela cidade
à tarde, nesse tempo, que é tão quente!
É mesmo! Você fica ahi, contente, na sua quarentena! Ninguem ha de negar que se isolou! Não, meu confrade! Prefiro o sol, ainda que inclemente!
WHO'LL STOP THE RAIN [6630]
Mas pode deixar, Glauco! Quando for momento de chover, ahi ninguem irá se conformar com o que vem prevendo quem entende do sector!
Enchentes nos farão, é de suppor, sentir muita saudade desta bem
sequinha primavera! Alguem que tem problemas de rhinite vae ter dor!
Você tem tal problema? Bicho pega si chove e si não chove? Que infeliz nariz o seu! Alem do olho, o nariz
lhe causa afflicção? Nunca que sossega?
Não quero de qualquer pessoa cega estar no logar, porra! Nunca quiz!
Mas muita gente soffre, nos Brazis affora! A chuva chega, meu collega!
OUTUBRO ROSA [6665]
Estou scismado, Glauco! De repente senti-me muito fragil e intranquillo, tocando ou appalpando o meu mammillo, com medo do que falla toda a gente!
Pensei: cancer de mamma a gente sente? Em homem é possivel prevenil-o?
Será que todo macho desse grillo padesce? E você, vate? É indifferente?
Achei que só mulheres desse mal pudessem soffrer, Glauco, mas agora percebo que doença de senhora a coisa não é! Panico geral!
Amigos meus, que drama sexual nem vivem, travestis nem sendo, bora olharem-se no espelho! Um até chora, temendo um descomforto vaginal!
INEFFICACIA DA PHARMACIA [6678]
Caralho, Glauco! Como saem falsas as formulas que vendem contra gazes retidos! Não, idéa tu nem fazes daquillo que retenho sob as calças! Estão tão distendidas minhas alças (aquellas do intestino), que capazes serão de explodir, caso os contumazes accumulos persistam nessas valsas!
Sim, valsas, Glauco! Os gazes dando vão voltinhas, para baixo, para cyma, e nada de sahirem! Não se anima a bufa a se soltar pelo sallão!
Não é prisão de ventre, Glauco, não! Cagar, até que cago! Mas não rhyma um flato com dejecto! Que comprima as tripas não ganhei peor tampão!
NITAZOXANIDA [6732]
Vermifugo funcciona, Glauco! Não lhe fallo? Sim, alem de na lombriga agir, evita tudo que castiga a gente, essas doenças! Tantas são! Funcciona na bronchite, rouquidão, cystite, cancer, pedra na bexiga, nos rins ou na vesicula! Ha quem diga que instiga, num gagá, novo tesão!
Pois é, Glauco! O governo ja comprova com graphicos e tudo! Não lhe fallo?
Agora só lhe resta, sim, tomal-o e sua visão volta! Boa nova!
Tomou? Não funccionou? Você reprova a droga? Até ja dose de cavallo usou? Não pisarei mais no seu callo! Se queixe, então, num motte, numa trova...
PROCEDIMENTO ESTHETICO [6741]
Morreu mais uma, Glauco! Foi bem feito! A prothese evitou, por ser mais cara, e poz um silicone porco para encher a bunda! Alli morreu, no leito!
Logar mais clandestino não acceito siquer imaginar! Nem se compara à clinica que interna, applica, ampara e pode soccorrer nalgum mau jeito!
Mas ella preferiu um silicone qualquer, industrial! Encheu daquillo os gluteos! Se fodeu! Estou tranquillo si xingo quem taes bundas ambicione! Bundudo não sou, Glauco, mas insomne não fico, não, por isso! Meu estylo é leve, longilineo! Quem curtil-o quizer, venha appalpar-me! Imito um clone!
MENSAGEM DA LINGUAGEM [6779]
Cigarro (Não sabias tu, poeta?)
faz bem para a sahude! Quem o nega visão tem do teu typo, sempre cega, alheia ao que, de facto, nos affecta!
Punheta, sim, problemas accarreta ao cerebro, pois, como o meu collega blogueiro nos ensigna, descarrega veneno que os neuronios desconnecta!
Portanto, tens, Glaucão, que levar fumo, tragar e suffocar-te, sem perigo! Si duvida tens disso que te digo, presume tal e qual como presumo! Em vez de punhetar-te, melhor rhumo será que tu me chupes e commigo convenhas que meresces tal castigo! Questão só de linguagem, em resumo!
JUSTO CUSTO BENEFICIO [6789]
Mamãe dizia, Glauco: "O que arde, cura; o que apperta, segura." Pois deriva dahi minha noção do que, na viva e velha medicina, acção tem, pura!
Effeito faz, entendo, o que traz dura e forte sensação, dicta "afflictiva", na pelle, nas mucosas, na gengiva, em tudo que se inflamma e nos tortura!
Nós temos que soffrer, de qualquer jeito! Remedio que não arde, que não faz queimar como uma chamma de fugaz momento, não produz nenhum effeito! Concorda, Glauco? Claro, né? Bem feito eu acho para alguem que Satanaz cultua, que nas trevas vive e nas atrozes punhetinhas que eu rejeito!
NOVEMBRO AZUL [6792]
A prostata, Glaucão, é meu problema maior! Orgasmo quasi não me dá, mas dá dor de cabeça, a poncto ja de scisma me instigar no que eu mais tema! Sim, cancer! A doença que foi thema de tantos memes, contra quem está gozando do poder, é sempre má noticia caso eu seja quem mais gema! Disseram ser benigno tal augmento, mas sempre estou na duvida, poeta! Meu riso, pelo menos, não affecta a glandula augmentada, no momento! Pensar nos annos proximos nem tento, pois, nessa pandemia, Glauco, meta nem temos a cumprir! Mas nada veta que eu ria ao ver, dos cegos, o tormento!
CYNICO CLINICO [6846]
Fallei eu -- Não fallei? -- que grippezinha seria a pandemia que essa imprensa ahi vive dizendo ser immensa, terrivel admeaça! Fofoquinha!
Poeta, ja fallei que mariquinha é todo babacão ahi, que pensa ser magica a tal mascara, suspensa na cara dessa gente que se appinha!
A mascara não serve para nada!
Pegar, quem for mais fracco sempre pega!
Cansei de ver pegar algum collega!
Eu não, que sou athleta da pesada!
Nem grippe eu pego! Dou até risada de gente desgraçada, gente cega, doente, fracca, às drogas quem se entrega! De medicos eu tenho uma porrada!
PREOCCUPANTE IMMUNIZANTE [6874]
Então obrigatoria a tal vaccina
será, Glauco? Não tomo! Só de birra! Si fosse livre excolha, ainda accirra os animos, quem toma, quem declina...
Não gosto de injecção! Quem examina meu braço, minha bunda, vê que myrrha a pelle no local onde eu fui -- Irra! -piccado por aquella agulha fina!
Tá louco! Ja fiquei empipocado demais por causa dessa piccadinha terrivel, dolorida, que na minha
bundinha recebi de cada lado!
Agora chega, Glauco! Sim, me evado si forem vaccinar quem mais se appinha nas ruas, nas balladas! Não convinha primeiro vaccinar, do "mytho", o "gado"?
QUEM NÃO FOR PRECOCE QUE SE COCE! [6887]
Precoce tractamento, Glauco! Basta tomarmos chloroquina, aquella pura, barata solução, e menos dura seria a damnação que nos devasta! Achando sempre estou que pederasta é quem fica a culpar a dictadura por tudo que (elles dizem) não tem cura! Bastava a sociedade ser mais casta!
Apposto, Glauco, que essa grippezinha virou um pandemonio porque tem neguinho por demais trepando, sem moral e sem costumes! Sempre tinha! É muita fodelança grossa! Ah, minha Mãe Sancta! Se salvar não vae ninguem, a menos que em mim creia, Glauco! Quem advisa amigo é! Macho não definha!
BENZA ZEUS! [6893]
Qualquer antipsychotico tem tanto, mas tanto desse effeito, ou seja, "adverso" que, quando me perguntam, desconverso! Não quero provocar maior expanto!
Ja desde quando, cedo, me levanto, de insomnia vou soffrendo, Glauco! Um verso ou outro faço, typo bem perverso e sadico, mas gozo por emquanto!
Passado o momentinho de tesão, de novo um comprimido tomar quero, a fim de dormitar! Lhe sou sincero,
Glaucão! Dormir, não durmo, mesmo, não! Mas gasto, no remedio, um dinheirão! Até ja desconfio que exaggero na dose e, desse effeito tão severo, accabo por ficar é mais doidão!
CHORADEIRA COSTUMEIRA [6913]
Estou ja muito velho, Glauco, para fallar dos meus acchaques! Mas não são os velhos que mais fallam disso, não! Os jovens se lamentam muito, cara!
Na fama de queixosos quem repara se exquesce de que temos um montão de males que ommittimos! Que dirão dum velho que, rheumatico, não sara?
Alguns de nós desistem dum gemido, sabendo que encarar vão como manha qualquer reclamação, por mais tamanha que seja a dor que temos, ja, sentido! Você não compta, Glauco, pois libido encontra até fallando dessa extranha cegueira de que soffre! Quem se assanha com isso nem meresce ser ouvido!
PICCADA COMMENTADA [6928]
Responsabilidade? Não, nenhuma assume quem fabrica a tal vaccina! Então vou tomar isso? Não, magina!
Só tomo caso alguem a coisa assuma!
Disseram que quem toma cospe espuma, delira de dor, tanto que se urina, se caga, se debatte e, em repentina e grave convulsão, à cova rhuma!
Melhor não vaccinar ninguem, assim!
Achou que exaggerei, é? Va você, então, dar a bundinha a quem lhe dê
aquella piccadinha, não em mim!
Não é na bunda, Glauco? Mas ruim, do mesmo jeito, fica! Cê não vê?
Tá louco! Nem vaccino o meu bassê!
Calcule, de tomar, si estou a fim!
EFFEITO PLACEBO [7063]
Do modo como os factos eu concebo, é tudo suggestão, Glaucão! Tomar remedio ou não tomar, no meu radar, causar vae um effeito de placebo! Si o gajo não souber, pode dar sebo de picca mixturado ao caviar que irá até dar um viva ao paladar! Si ignoro, qual groselha sangue eu bebo! Conhesço um camarada aqui na zona que como uma gazosa bebeu soda! Não, nada accontesceu, Glaucão! É foda!
A gente, na maior, se condiciona! Rollou assim no caso do corona! Neguinho mal tossiu, ja se incommoda, achando que pegou! Si está na moda, morrer irá, sentado na poltrona!
PÉ DIABETICO [7086]
Ficando vae, aos poucos, insensivel o pé dum diabetico, Glaucão?
E quando umas lambidas dá, no vão dos dedos, alguem, elle acha que é crivel?
E então? Elle accredita estar num nivel tão baixo quem lambeu, num nivel tão rasteiro, que na borda do dedão até sente prazer? Isso é possivel?
{Sim, isso coincide com aquillo que conta quem curtiu, num pé ja bem inchado, o que um podolatra fez, sem o minimo pudor, para servil-o!
A lingua do subjeito, sem vacillo, lambeu até ferida, das que veem a quasi gangrenar! Tem que ser zen quem lambe tantos velhos num asylo!}
PET THERAPIA [7095]
Glaucão, por que será que essas creanças doentes, no hospital, precisam tanto da vinda dum bichinho? Meu expanto é que ellas sempre guardam esperanças! Tu podes entendel-as, as alcanças nos sonhos que accalentam? Accalanto não ouvem, mas se accalmam sempre, emquanto tocarem orelhões, pattas ou panças!
Sim, quando um bassezinho chega alli no quarto, a creançada accorda, fica allerta, animadinha, ja sorri, ja brinca, appesar dessa triste zica! Por mais grave que seja, de per si, um cancer, o bassê se promptifica a ser o mais fofinho que um gury ja vira, antes da morte, é o que se explica...
CRYPTOCOCCO [7120]
De pombo o cocô pode virar pó depois que se resecca! Respirar aquillo mactar pode, Glauco! Um ar mephitico, lethal, que vendo só!
Verdade! Minha thia, de quem dó nem tive tanto, milho vinha dar aos pombos que infestavam o logar! Morreu por causa desse seu xodó!
Ahi que eu me pergunto: por que não tambem cocô de gatto, de cachorro?
Alem da que se gruda no meu gorro, a bosta que se expalha pelo chão?
Bah! Quem me lambe a sola tá bem são e nunca precisou dalgum soccorro!
Portanto, não serei eu -- Né? -- que morro appenas por cheirar um cagalhão!
OXYURO [7140]
Lombrigas? Você teve? Eu tive, juro, Glaucão, mas me curei e ja não tenho aquelle verme exotico, ferrenho, branquinho, que elles chamam "oxyuro"!
Coceira? Ah, como coça! Ah, quanto appuro passei! Mamãe catava, com engenho, os bichos do meu cu, mas eu convenho que pode isso causar um tesão puro!
Agora, quando cago, uma coceira eu sinto, parescida! Mas não são os vermes que provocam o tesão e sim a acção da propria caganeira! Depois, no banho, coço! O tesão beira o nivel do delirio! Sim, Glaucão!
Exporro loucamente! Você não? Mas fica a minha dica, caso queira!
SENSUAL COMMERCIAL (2) [7167]
Belleza? Sabe, gente? Eu, appesar de ser assim charmosa, assim bonita, soffria, demorava a evacuar!
Verdade! Sim, verdade seja dicta!
Eu juro! Ja de dias mais de um par, com colicas, passei (Quem accredita?) sem nada fazer! É tão devagar, às vezes, o intestino! Estive afflicta!
Mas vejam só! Tomando Cagarol, remedio do qual sou, agora, fan, passei, como vocês, a ver o sol de novo com bons olhos, de manhan!
Incrivel! Nem preciso mais de enema!
É magica! Accredite, minha irman!
Estou san! Hoje eu como, sem problema, de todas a mais acida maçan!
GORDURA OU SOLTURA [7188]
Você toma remedio que emmagresce, poeta? Não? Melhor é não tomar, sinão, alem de magro não ficar, cagar irá nas calças! Quem meresce?
Quem tem prisão de ventre faz a prece de praxe, vella accende num altar, mas nunca caga molle! Elementar, meu caro menestrel! Ou deu, ou... desse!
Um gajo que conhesço tomou certo remedio que indicaram e na moda esteve, trovador! Esse foi foda!
Borrava-se ao peidar! Por isso allerto! Commigo o jogo sempre foi aberto!
Prefiro ficar gordo! Não me engoda nenhuma propaganda! Se incommoda alguem? Quer ficar magro? Fique experto!
PLACEBO QUE RECEBO [7204]
Eu não mactei ninguem! Só recommendo a todo cidadão que se previna e deixe de tomar a chloroquina, que nunca fez effeito, estamos vendo! Sim, ja recommendei, mas um addendo que vem dos fabricantes elimina a chance de que seja da vaccina aquelle substituto que eu defendo! Então, mudei de idéa! Me vaccino, mas quero receber, mesmo, um placebo, pois outro tractamento não concebo si temos que encarar nosso destino! Prefiro um comprimido! Fui menino medroso de injecção! Appenas bebo refri! Nunca me drogo! Lavo o sebo do pau e contra abbraços me previno!
MOTTE GLOSADO [7363]
Diabetico e sem bollo outro anninho commemoro.
Meu poema, vou compol-o hoje até mais infeliz, pois o azar do Alem me quiz
diabetico e sem bollo. Não bastasse o desconsolo da cegueira, agora eu choro sem poder tudo que adoro mais comer e, amigos, nesta data triste, ja sem festa, outro anninho commemoro.
MOTTE GLOSADO [7364]
(proposto por um "Internauta Peralta")
Por emquanto, só me falta ser aidetico ou leproso.
Do hospital si tiver alta duma coisa, outra eu ja pego. Quem me dera ser só cego!
Por emquanto, só me falta (e o pavor me sobresalta) nesta vida não ter gozo com a musica, e queixoso me tornei na poesia.
Si encurtasse, eu preferia ser "aidetico" ou "leproso".
MOTTE GLOSADO [7370]
Quem cheirou chulé demais não extranhe a sinusite!
Si hoje soffro de infernaes crises bronchicas, me deu dica a vida, pois fui eu
quem cheirou chulé demais...
As razões destes meus ais
nem caresce que eu as cite.
São do skate e do graffitti os marmanjos que eu lambi.
Si alguem gosta disso ahi não extranhe a sinusite!
MOTTE GLOSADO [7395]
Era "asthmatica" a bronchite que "asthma bronchica" será.
Quem for leigo que accredite no que o medico lhe advise!
Quando eu tinha alguma crise era "asthmatica" a bronchite. Mas agora se permitte peorar noticia má!
Si attaccada a gente está duma tosse mais constante, o doutor ja nos garante que "asthma bronchica" será.
MOTTE GLOSADO [7544]
Ja peguei doença rara que me fez ficar de cama.
Uma syndrome de mim se appossou, a sonnettite. Não havia mais limite ao trabalho e ja no fim tive as forças. Foi ruim.
Sim, salvei-me! Mas se chama "rhymatite" a que reclama mais cuidados e me azara.
Ja peguei doença rara que me fez ficar de cama.
MOTTE GLOSADO [7572]
Sem cigarro por um dia ninguem fica, só na marra.
Convidaram um fumante a largar do seu cigarro por um dia. Aqui lhes narro o resumo, pois, durante todo o tempo o meu pisante elle usou, fazendo farra, sobre a bocca. Quem lhes narra delle o tennis ja lambia...
Sem cigarro por um dia ninguem fica, só na marra!
MOTTE GLOSADO [7574]
Sem cueca fica o macho mas o sacco mais se apperta.
Foi com epididymite que este cego resolveu:
"Não aguento mais ! Vou eu collocar nisto um limite!" Mas um methodo que evite a dor nunca alguem accerta. Fica a bolla descoberta mas ainda dóe si aggacho.
Sem cueca fica o macho mas o sacco mais se apperta.
MOTTE GLOSADO [7597]
Me tractei com um cavallo, mas prefiro o meu cachorro.
"Bassetherapia": assim eu defino o que me tracta. Não ha forma mais sensata de cuidar-me. Mais affim que um doutor ou que um mastim é o basset, ao qual recorro. Si eu preciso de soccorro affectivo, é só chamalo.
Me tractei com um cavallo, mas prefiro o meu cachorro.
MOTTE GLOSADO [7609]
Si o basset fica doente, com remedio não o curo.
Um mascotte às vezes fica indisposto, mas eu não levo ao medico o meu cão.
Aos que querem, dou a dica: com carinho se medica um basset. O mais seguro é dar beijos. Sim, no duro!
Beije mesmo! Experimente!
Si o basset fica doente, com remedio não o curo.
Mais dengoso do que a gente é o cachorro. Quem tem um viu que a manha é mais commum si o basset fica doente.
Mas remedios, caso eu tente
lhe dar, elle corpo duro
faz, recusa, e não atturo
tanta manha! Um beijo dei e sarou! Agora eu sei: com remedio não o curo.
MOTTE GLOSADO [7632]
Do doutor medinho eu tenho, mas do monstro tenho não!
Si sahiu do seu engenho no meu olho a cirurgia, é normal sentir phobia: do doutor medinho eu tenho, fora um odio mais ferrenho. Mas si, em sonho, o grandalhão Frankenstein me surge, tão mau não é, si grande é o pé!
Uns teem nojo de chulé, mas do monstro tenho não!
MOTTE GLOSADO [7636]
Rheumatismo a gente tem quando sente dor de tudo.
Dor de dente só se accalma quando a carie alguem obtura. De cabeça é uma tortura mas ha pillula na palma. Até mesmo de dor d'alma nos curamos, mas eu mudo de questão e não me illudo sobre a crise que me vem.
Rheumatismo a gente tem quando sente dor de tudo.
MOTTE GLOSADO [7637]
Não quer carne, não quer leite, não quer nada que alimente.
Nem estoico ou espartano é tão chato quanto o "penta" que de nada se alimenta.
Allegando ser "vegano", elle implica si eu me uffano do torresmo e simplesmente diz que come só semente sem sal, alho nem azeite.
Não quer carne, não quer leite, não quer nada que alimente.
MOTTE GLOSADO [7647]
O politico receia pegar cancer, si for praga.
Quando é cancer de garganta tem o cara alguma chance. Porem, caso o cancro alcance sua tripa, a dor é tanta que nem tenta crer na sancta. Não ha crença que lhe traga um consolo, si elle paga seus peccados na cadeia.
O politico receia pegar cancer, si for praga.
MADRIGAL FINAL [7787]
Com asthma ou diabetes quem se vê às voltas commemora agora o que?
Exsiste, sim, um dia para quem doente ficou disso. Mas pergunto: Aquelle que sahude ja não tem precisa ser lembrado desse assumpto? Será que não se aggrava o mal de alguem si insistem que será, logo, um defuncto?
MADRIGAL MENTAL [7791]
Conforme a regra a gente o jogo joga. Si um doce me prohibem, será droga. Soffrer de diabetes, para mim, foi uma descoberta! Ja sciente sou: um hallucinogeno festim nem sempre é só lysergico! Quem sente carencia dum bombom ou dum quindim e cede à temptação curte na mente o mesmo bom delirio de Aladdin perante o genio, o demo, ou qualquer ente...
Fiquei maravilhado! Emfim eu vim a ter essa noção de que, si a gente comer um manjar branco ou um puddim de leite condensado, de repente começa a ter visões! Pirlimpimpim é ficha perto desse efficiente chardapio psychodelico! Ruim é a syndrome, meu panico abstinente...
TROVAS NAS TREVAS [7822/7829]
Meu glaucoma, noite e dia, a mil males se compara.
Ficar cego, pois, me allia aos que teem doença rara.
Eu, gymnastica? Tá louco?
Sou é cego e sedentario!
Bengalando, falta pouco p'ra que eu saia do scenario!
Toda droga faz effeito, pois testadas todas são.
Mas de cego o meu defeito droga alguma cura, não.
Quem bem come bem se sente. Bem comer é pratto cheio.
Nos cuidemos, minha gente!
Bem comamos, mas sem freio!
"Engordou? É porque mente!", falla, rindo, quem accusa.
Ao filhão do presidente diz o medico: "Reduza!"
Si mentir engorda, como explicar que, de quem disse isso, o filho mais que Momo é pesado? Gulodice?
Addeanta alguma coisa combatter o que é lethal?
Perde tempo o bardo, pois a droga ou macta ou nem faz mal.
Dores sinto, mas de vaga causa. Faltam-me respostas. São do cu si a gente caga, mas variam pelas costas.
Si eu seguir à risca tudo que o doutor me recommenda serei chronico ou agudo comprador da droga à venda.
POEMANIFESTO DA ANTIGYMNASTICA PREGUICISTA [7873]
Não basta um "viva e deixe viver"! Tem que haver detalhamento do bordão!
Tambem um "coma e deixe comer" vem ao caso, quando o medico diz não!
Talvez um "beba e deixe beber" bem se applique, quando alguem é beberrão!
Mais vale um "durma e deixe dormir", sem barulho, quando o insomne tenta em vão!
Mas durma quem quizer e beba alguem aquillo que quizer! O comilão que coma, a gosto, quanto lhe convem!
Si alguem quizer viver, mesmo que pão lhe falte, seu direito tem! Porem, mactar-se poderá ser sua opção!
Emfim, ninguem por outrem vive, nem por outrem come ou obra o cagalhão!
Aquillo que é saudavel ao recem formado doutorzinho, ao ancião talvez mais sacrificio imponha! Zen
nem todo mundo almeja ser! O Cão nem sempre é o mais malvado alli no Alem!
Em vez dum Zeus tyrannico e mandão, Prefere o satanista ser refem de alguem que sim lhe diga e mais razão encontra no peccado, ou mais obtem no vicio, que no medo ou no perdão!
Um outro diz a Juppiter amen!
Saudavel seja a mente em corpo são, mas quando alguem faz disso um nhenhenhen achando que sahude é malhação, um trouxa perde nisso algum vintem e ganha algum experto outro tostão!
Portanto, um movimento, ou dez, ou cem, ja faço tendo um garfo em minha mão ou mesmo sem talheres, pois susteem dois dedos da comida uma porção! Ao coppo que levanto é que se attem a quota de exercicio à refeição!
Não busco num bordel ou num harem o orgasmo que procura meu irmão!
Jamais minha semente faz nenem, mas basta algum pezão ao meu tesão!
Appenas esta insomnia me mantem poeta e preguicista, sem visão...
AFFLICTO MOSQUITO [8033]
De dores oculares eu padesço. Perdi meu olho esquerdo, o que restava. Pendi para analgesicos, em vão. Pedi para meu medico o opioide. Pedi dum outro medico o opiaceo. Pedi de mais um medico morphina. Pedi dum outro ao menos codeina.
Disseram-me: {Magina! Você quer mactar o que não passa dum pequeno mosquito com um tiro de canhão!}
Difficil conseguir uma receita foi sempre, pois os medicos não dão à gente o que elles tomam quando a dor não querem supportar na propria pelle.
Paguei ja, por remedios, alto preço. Mandei ja, muitas vezes, tudo à fava.
Pensei: "Por que é que os medicos não são eguaes aos que, nas epochas do Freud, remedios davam para que passasse o effeito doutra droga que elimina symptomas que não passam duma fina cortina de fumaça?" Quem disser
{Magina! Quer você com um veneno curar quaesquer incommodos?} eu não acceito mais! Aguente quem acceita!
Agora, compto os dias que virão até que isso termine. Não, doutor, mactar-me irei, não tendo a quem appelle!
AUTOCOMPLACENTE PLACEBO [8034]
As drogas injectaveis são as mais potentes contra a chronica dor, essa que sinto no olho onde era ainda viva a restia de luzinha que perdi. Não gosto de injecção, mas raciocino na logica proposta por Diego Tardivo, opportunissima, no caso.
Usar continuamente essas lethaes dosagens macta cedo. Mas, à bessa soffrendo, o cara appella à lenitiva acção duma substancia. Até se ri de allivio. Vae morrer, mas é destino morrer, mais cedo ou tarde, e quer sossego alguem como eu, que os males extravaso.
Ao medico, convem que use jamais taes drogas o doente e lhe interessa vender novos placebos, pois me criva de innumeras receitas. Eu, aqui commigo, decidi: logo termino com isso me mactando, sem emprego de methodo sangrento, sem um prazo.
GASTRICA GASTURA [8036]
O velho tirar sangue vae, roptina à qual se accostumou, com tanto exame que os medicos lhe pedem. Nem está nervoso no momento da collecta. Mas, desta vez, inepto é o funccionario que fura a sua veia. Sem achal-a, o gajo faz da agulha sacarolha e, fura que refura que perfura, emfim faz a sangria. Alli, coitado, contorce-se o velhinho no repuxo dos nervos, vendo estrellas, tenso, afflicto. De subito, começa a passar mal, accaba desmaiando, dá trabalho até que se refaça, para casa consiga retornar, de braço tincto.
Agora, a qualquer hora se imagina naquella situação. A quem reclame não tendo, ganha azia, fica ja tremendo, sapateia, arfa, se inquieta, revê seu hemorrhagico scenario.
"Ja soffro, Glauco, tanto! (elle me falla) Me tracto das doenças, sem excolha, e ganho, de lambuja, a tal gastura de estomago! Ora, estou ou não ferrado?" Eu, só de imaginar, quasi extrebucho com elle na afflicção. Depois, medito accerca da sahida natural pro nosso descomforto. Não me valho, porem, da suicida voz que embasa as minhas theses. Fico mudo, ou minto.
DOPANTE INHALANTE [8045]
{Você precisa, Glauco, usar morphina! "Tylex" não dá mais compta? Tome então "Dimorph" e vae allivio ter total! Um texto do doutor Drauzio Varella demonstra que, nas dores fortes, nada resolve, só morphina! A droga não provoca dependencia, mas barata demais si comparada a drogas mais complexas, boycottada sempre está por parte do commercio da sahude! Ainda que receitas amarellas assaz burocratizem, você tem, Glaucão, que insistir nisso! Cobre, exija! Seu olho melhorar vae, Glauco, creia!}
-- Morphina a gente exige, sim, magina! Ja colica renal eu tive e tão aguda, que parar fui no hospital! Nem fundo dóe meu olho. O que flagella, na sensação de areia, na ponctada, no vidro que, em farello, sensação me causa, sempre e sempre, é que, sem data, agguardo os vazamentos naturaes nos casos de cegueira, como ja nest'outro olho occorreu. Quem não se illude sou eu, com tantas drogas. Antes dellas, emquanto me tornei da dor refem, refem sou eu tambem da rolla rija, cheirando um podre tennis, uma meia...
PROTHESE POSSIVEL [8050]
{Por que, Glauco, uma prothese não mettes na tua cavidade do olho mais inchado de glaucoma, que te causa tamanhas dores, essa sensação de teres muita areia alli por dentro? Tu tiras esse globo, outro collocas, de vidro verde, e prompto! Tuas dores terão final feliz, Glauco! Não temas!}
-- Tu pensas que isso é como cottonettes metter dentro do ouvido? Não, as taes de gude bollas cobram uma pausa na vida, a cirurgia não é tão banal assim! Não, quando me concentro no thema, sinto medo de taes trocas! Pergunta a algum pirata, quando fores com elle navegar, sobre esses themas!
USO ADULTO [8053]
{Caralho, Glauco! Onde é que tu ja viste industria pharmaceutica tão filha da puta? Meu, tu pedes a receita ao medico, daquellas amarellas, e pagas caro o raio do remedio! Mal tomas umas pillulas e guardas a caixa, mal transcorrem alguns mezes, e prompto! Vaes olhar da droga a data...
Vencida ja se encontra a porcaria! Assim não é possivel, Glauco! Tens que fora jogar tudo o que compraste! Que fazes nesses casos, Glauco? Tomas a pillula assim mesmo? Ou jogas fora?}
-- Ah, bem intencionada não exsiste industria alguma, amigo! Qual não pilha o nosso bolso? Tudo a gente adjeita, porem. E quanto às pillulas... Com ellas eu faço o que fiz sempre. Nada impede o effeito que fariam quando agguardas um pouco alem do prazo. Muitas vezes, suppondo que estão fraccas, a sensata medida adopto: dupla dose. Iria alguem dizer que perco os meus vintens?
Triplico, si preciso. Mas que eu gaste de novo um dinheirão, tamanhas sommas, ninguem fará! Mal nunca fez, por ora...
CUIDADOS INSPIRADOS [8069]
{Tarantulas soltou, o damnadinho, em pleno corredor dum hospital! Calculas, Glauco, o panico que cria um unico exemplar da cabelluda especie? Pois calcula varias dellas à solta, transitando pelas camas de cada enfermaria, cada quarto! Não achas que o menino se excedeu nas suas travessuras, Glauco? Diz!}
-- Sim, posso calcular. Eu ja adivinho o susto de quem soffra dalgum mal mais grave, preso ao leito, quando espia em torno. Ficará sua voz muda de expanto. Mal refeito das sequelas, da aranha não excappa. Me conclamas a dar algum palpite? Dum infarcto na certa morrerá quem ja soffreu daquillo. E quanto ao sadico pettiz?
{Ahi que está! Pegaram o damninho subjeito bem no flagra! Mas o tal moleque protecção tinha da thia ricaça! Ficou tudo em linguaruda fofoca, alguma morte em tagarellas intrigas! Abbafaram essas tramas e nada accontesceu! Eu não descharto que culpem um moleque mais plebeu por essa traquinagem infeliz...}
DESUSO CONTINUO [8087]
{Saber quer duma coisa, Glauco? Ligo bulhufas para a data na caixinha! Remedio tem que ter é validade total, illimitada! Aqui na minha gaveta guardo muitos! Tempo faz que não estou tomando um comprimido vencido, mas si tenho, de repente, algum symptoma, ah, tomo novamente! Alguns são tão antigos, que ja nem veem sendo fabricados! Eu suspeito que datam essas drogas para a gente comprar sempre, de novo, ora! Ninguem é trouxa! Não, commigo não tem disso!}
-- Concordo com você, mas mal consigo tomar remedio velho. Nem mesquinha achei sua attitude. Mas quem ha de saber si faz effeito uma antiguinha chartella dessas pillulas que, nas horinhas mais difficeis, revalido? Confesso que, num caso mais urgente, tomei um analgesico que frente não fez às minhas dores... Ah, tambem pudera! Como pode ter effeito aquillo, si dez annos, frio ou quente o clima, alli ficou? Melhor é, sem sentir nada, passarmos, né? Que enguiço!
INFINITILHO DA PASTILHA [8097]
Levado ao popular prompto soccorro, nem tive que esperar para attendido ser pelo plantonista, rapazelho ainda, que de duvidas me criva: "Tem febre? Sente enjoo? Vomitando está? Faz cocô molle? Tem sahido bem liquido? Faz tempo que você ficou assim? Que drogas tem tomado?"
Em vez de soro dar-me, elle me passa appenas uma pillula, que engulo depressa, com receio de cuspil-a, mas surte tal effeito, que dalli eu saio saltitante de alegria, sem minimos symptomas do que tive.
Mal posso accreditar! Eu quasi morro mas basta aquelle simples comprimido e ter daquelle medico o conselho, que espero uns annos mais para que viva sem medo doutro virus tão nefando!
Mas não me receitou, esse sabido doutor, o tal remedio, qual o que!
Segredo quer o gajo, por seu lado, manter? Ora, mas isso não tem graça!
Preciso descobrir si effeito nullo
teria tal placebo, ou si tranquilla será sua funcção. Ja percorri pharmacias, drogarias, mas um dia descubro por que disso o doutor vive.
TRABALHADORES DO SEXO [8104]
{Agora, Glauco, um soropositivo não mais transmitte a peste! Cê sabia? Fiquei sabendo: os medicos agora suggerem uma pillula que evita do virus transmissão pralgum parceiro. Disseram que é melhor a camisinha, mas sabe-se que poucos utilizam. Por isso, você, Glauco, que é sozinho, ja pode contractar o seu michê, que, como toda puta, todo trans, trabalha mais seguro. Ja pensou? Você não se enthusiasma, não celebra?}
-- Nem tanto. Tão sozinho ja não vivo nem tenho, sem visão, tanta phobia. Entendo por que tanto commemora a classe prostituta que cê cita. Mas nunca recorri, não, por dinheiro, a algum garoto, desses que, na linha villan, fazem programma. Não me pisam do jeito que eu queria. Nem me allinho à pillula, pois, como bem você conhesce, pés eu lambo. São, pois, vans p'ra mim taes discussões. Não, não estou ligando. O galho a gente sempre quebra.
INFINITILHO DA VELHICE [8117]
{Que coisa, Glauco! O mundo, para nós, que estamos na velhice enveredando, se torna mais difficil cada vez!
As pernas de equilibrio sentem falta!
O braço mal se firma na bengala!
As costas, ja curvadas, sentem dor!
As dores pelo corpo não dão tregua!
O somno se interrompe com frequencia!
Xixi, cocô, ja tudo desregula!
Somente, no meu caso, o pincto dá no couro, uma vez tendo o seu devido buraco disponivel, 'inda bem!
Você, Glauco, percebe-se cansado?
Ainda tem tesão? Como se sente?}
-- Se exquesce de fallar você que a voz tambem vamos perdendo, que commando não temos sobre nossa sensatez na hora duma dose que, mais alta, nos deixa problematicos na salla, bom alvo prum dedinho accusador.
Ainda tem bem recta a sua regua?
Sortudo, você! Teime! Não dispense-a!
A minha anda ja molle e só me pulla si penso num pé sujo, o que não ha por perto sempre. Quando me decido a gozo dar-lhe, passo mesmo sem nenhum buraco. Sorte do meu lado!
E disso alem, bem passo sem o pente...
INFINITILHO DA BRAGUILHA [8144]
-- Preciso lhe dizer, si você quer saber: minha cegueira não é só problema de visão, mas accarreta innumeros incommodos, tambem. Nem sei si com os outros cegos ha taes dramas. Equilibrio, por exemplo. Depois de tantos annos sem ver nada, paresce que perdendo vou o senso de estar em pé, de estar em terra firme.
Me sinto sem appoio, como si suspenso num espaço sem limite em todos os sentidos. É terrivel, sabia? Dá tontura! Nem bengala dá compta da vertigem, porra, meu!
{Problema seu, Glaucão! Eu, si quizer, saltito qual sacy, nas pernas nó consigo dar! Eu planto (sou athleta) perfeita bananeira! Cê não tem nenhuma segurança quando está andando ou paradão? Chegue num templo subindo de joelhos pela escada!
De quattro fique! Pense no que eu penso!
Rasteje nos meus pés até subir-me de bocca pela perna p'ra xixi sentir nesta braguilha, a meu convite!
Sim, fique engattinhando, no seu nivel rasteiro! Sem siquer sahir da salla, você que em si se perca! Se fodeu!}
INFINITILHO DO GATTILHO [8146]
{A coisa muito simples se affigura, Glaucão! Epidemia? Virus novo? Perigo social? É simples, mano! Que imponham um gattilho radical no plano collectivo: quem vier tossindo, perdigotos expirrando, nariz entupidão, mesmo um pigarro, seria promptamente eliminado! Recolhe-se esse gajo, uma lethal substancia se lhe injecta, alguem o crema... E então? Foi um a menos! Não concorda, poeta? Ah, ja sei! Isso lhe paresce cruel e deshumano! Não é mesmo?}
-- Paresce, sim. Um caso de tortura será considerado. Nenhum povo subjeita-se com esse deshumano recurso. Só seria natural tal coisa si quem soffra de qualquer doença assim for cego. Figurando estou um sanatorio bem bizarro no qual são confinados como gado os cegos com suspeita da grippal doença. Si excapparem do problema, serão approveitados pela horda nazista como servos. Quem fizesse boquette bem, vivia, mesmo a esmo...
ODE AO KAKI CHOCOLATE [8165]
Ja tive que escutar o disparate do medico que, quando lhe pedi conselho, disse: {Glauco, você tracte de doces evitar! Ja prohibi você de se fartar de chocolate, se lembra?} Me lembrei e delle ri.
Nenhum sabor será, nem que eu me macte, jamais banido desta bocca aqui!
Ainda respondi: "Doutor, me abbatte saber da situação, mas mimimi não faço! Exsistirá quem desaccapte tal ordem?" Mal da clinica sahi, entrei na doceria e pensei: "Latte o cão e a caravana passa!" Abri a caixa de bombons e, que um tomate maior, aquella truffa deglutti!
ODE AO VICIO [8174]
O endocrinologista ainda diz aquillo que me falla ha annos: tenho que entrar numa dieta, abbandonar os doces, as fricturas e o sonnetto. Tambem neurologistas attenção me cobram. É preciso sahir dessas poeticas orgias. Si decido, porem, me apposentar, não m'o permitte a scena nacional, nem mesmo a vida. Assim me justifico quando alguem extranha a minha volta à poesia.
Sonnettos ja não faço. Foi feliz a hora em que parei, pois o ferrenho appego ao molde é vicio, deu azar. Succede que, em logar delle, me metto de novo a versejar em profusão, agora varios moldes, sempre às pressas, me pondo a practicar. Ja resolvido está: fricturas como sem limite e vinho bebo, orando a Baccho. Olvida um vate seu officio? Não! Refem tornei-me! Viva tudo o que vicia!
ODE AO DIABETICO [8184]
Não basta a glycemia que tu meças. Tambem os triglycerides tu deves olhar. E medições do typo dessas.
Não basta dos assucares mais leves privar teu torturado paladar. De fome tu farás mil outras greves.
Não basta que tu fiques sem manjar de coco com ameixa preta. Vaes sem gnocchi com almondegas ficar.
Não basta que não bebas as banaes gazosas: sodas, cocas, guaranás. Nem vinho poderás beber jamais.
Não basta ja sem bollos que tu vas ficar. Sem pães tambem, nessa dieta, terás que ficar. Fome passarás.
Não basta que tu passes fome. Veta teu medico que peses o que ja pesaste e te imporá mais uma meta.
Não basta que teu musculo, si está ja fino, se dilua até sumir.
Remedio tomarás que dores dá.
Não basta que te tornes um fakir de magro. Que contraias pneumonia tambem tu necessitas assumir.
Não basta que te internes numa fria e pobre enfermaria. Tua sorte peor vae se tornando, dia a dia.
Não basta que ja proximo da morte estejas, pois dor outra vaes soffrer: a dor na consciencia, aguda, forte.
Não basta que te prives do prazer. Terás que concluir que inutil era aquillo que tomaste por dever.
Não basta concluir que essa severa dieta peorou a qualidade da tua vida. Assim, um pouco espera!
Não era preferivel, alguem ha de dizer, correres risco mas, às pressas, fartar-te de comer o que te aggrade?
ODE À INSOMNIA [8185]
Ao velho therapeuta alguem indaga:
"Doutor, estou sem somno! Que eu devia tomar para dar cabo dessa praga?"
Com riso de cabivel ironia, àquella debil, timida pergunta o Flavio Gikovate respondia:
"Não tome nada. Tanta coisa juncta ja temos, precisando duma droga... Ainda de mais uma a gente assumpta?"
"Nem droga, nem bebida, siquer yoga. Não dorme? Pois não durma! A gente pega no somno quando, exhausto, o corpo roga..."
Eu era preoccupado, na refrega travada contra a tragica vigilia, com essa privação, na phase cega.
Ouvindo o Gikovate, ja não pilha meus nervos o temor de, não em claro, porem no breu, soffrer nesta armadilha.
Agora, ja mais calmo, bem reparo que nunca de seis horas precisei, pois tiro meu cochilo, mesmo raro.
Depois do almosso, às vezes. Não é lei. Às vezes à tardinha. Posso até dormir na madrugada. Até sonhei.
Sonhei, quasi morgando, com um pé pisando em minha cara, de repente. Nem sempre nosso sonho tão mau é.
Sonhar que vejo cores é frequente. Difficil é voltar às trevas, quando accordo numa noite triste e quente.
Insomne, estou tranquillo. Vou levando a vida assim, usando o tempo para fallar dum outro thema, mais nefando.
Um somno mais profundo se compara à morte. Quando a lyra assim divaga, decide insomne e viva ser. Tomara!
ODE AMBULATORIAL [8189]
(para Loudon Wainwright, meu idolo no folk rock)
Ao medico vou. Elle diz: "Menino, quietinho fique, emquanto eu examino! Eu acho que não deve ser problema..."
Ao medico vou. Elle diz: "Meu joven, coisinhas desse typo se removem! Não fique preoccupado! Não exprema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Moleque, melhor é que tão duro não defeque, sinão vae complicar todo o systema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Garoto, você não vae perder o seu escroto! Pensou que é fim do mundo um apostema?"
Ao medico vou. Elle diz: "Pirralho, você não vae perder o seu caralho, mas nunca mais o prenda com algema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Rapaz, eu acho que você tem muito gaz ainda! Falta, aos poucos, mas não tema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Seu moço, será bem reduzido o seu almosso! Retorne à minha clinica em Moema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Meu filho, vae tudo bem, não vejo um empecilho maior, mas volte, cuide desse edema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Irmão, problemas de sahude communs são! Jamais desistir, sempre foi meu lemma!"
Ao medico vou. Elle diz: "Amigo, depois do seu exame é que eu me intrigo, mas jeito dá, não pense que é um dilemma!"
Ao medico vou. Elle diz: "Parceiro, seu drama até que é caso costumeiro! Nenhum mal faz o leite, nem a gemma!"
Ao medico vou. Elle diz: "Não, mano!
Tão serio não paresce ser o damno!
P'ra tudo tem a gente estratagema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Querido, Não creio que será tão dolorido!
Doendo, bastará um telephonema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Meu chapa, não tema, porque desta você excappa! Motivo não será para que trema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Meu caro, olhando o seu exame é que eu reparo que pode ser mais grave esse emphysema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Patrão, não fique no local passando a mão! Assim ninguem resolve um erythema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Cumpade, do caso ja advisei da gravidade! Porem contra a corrente você rema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Collega, é tanta anomalia que se pega! Nem queira saber dessa mais extrema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Você ficou chocado? Credito não dê às coisas que você vê no cinema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Senhor, provoca, sim, a droga alguma dor, mas nada que tão alto o senhor gema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Não, thio, tão grave não será, pois eu confio que nada vae furar o meu eschema!"
Ao medico vou. Elle diz: "Poeta, percebo que você não faz dieta! Verdade é o que contou no seu poema?"
Ao medico vou. Elle diz: "Ceguinho, eu acho que não resta algum caminho mais facil neste nosso duro thema!"
Ao medico vou. Elle diz assim: "Não chore! Tudo sempre tem um fim! Do corpo nada fica! A gente crema!"
RHAPSODIA TOSHIANA [8398]
{Ah, Glauco! Ja fallei! Sem brincadeira!
Cigarro, sim, faz mal! Mas a maconha faz bem, até glaucoma cura, cara!
Duvida? Canta Peter Tosh um hymno à legalização do baseado! Não fosse a concorrencia do mercado das drogas pharmaceuticas, a nossa benefica canabis poderia curar todos os males! Pelo menos é muito mais gostosa de cheirar!}
-- Chulé faz bem, tambem, para a cegueira dum gajo que jamais teve vergonha de, em verso, bem fallar da tara rara.
Tampouco duvidei que, dum menino de rua, a chulepenta sola achado será da medicina si provado ficar que meu prazer preencher possa. Quem sabe, mais podolatras, por via oral, nos seus pulmões teriam plenos effeitos? Não me canso de testar...
INCONVINCENTE ESPECIALISMO [8482]
Revolta-me esse pappo de quem dono se julga da verdade! Ja fallara um delles do glaucoma, em desabbono de quem "não se cuidou". Está na cara que sempre me cuidei! Agora... o somno!
Criticam quem de insomnia soffre e vara lhe descem! Recommendam que abbandone seus habitos, horarios... Si elle para de olhar o cellular, menos insomne será! Preoccupações? Quem tem, se azara!
Depende só da gente si o smartphone ficou ligado! Insistem que da mente depende addormescer! Que solucione você mesmo o problema! Caso tente sem exito, um remedio ha que funccione!
Ninguem, porem, allude francamente ao cerne da questão! Mas quem combina com nossos maus vizinhos, com o urgente ruido dos allarmes, da buzina, emfim, com quem silencio não faz, gente?
O tal "especialista" só me opina naquillo que eu ja faço ou collecciono: tomar drogas! Ninguem que se previna não ha contra o barulho! Que esse throno dos medicos transforme-se em ruina!
DECRESCENTE SAUDOSISMO [8487]
Terá dos comprimidos a chartella algum poder, alem daquelle effeito constante sobre a chronica sequela do quadro diabetico? Suspeito eu, credulo, que tenha. Vejo nella um practico chronometro e proveito tirando venho disso que revela.
Explica-se: a dosagem que eu acceito tomar diariamente é que me dá noção de como o tempo mais estreito ficando vae da vida que se está findando, e mais da morte perto o leito. Aos poucos, dia a dia, restará menor exspectativa de direito.
A menos uma pillula, no cha da tarde, no jantar, e menos bella percebo uma canção que, para la da porta, ao longe escuto ou, da janella, a viva cor das flores quando ja começa a primavera, pois me gela, ainda, a dor lombar da noite má.
SYNDROME DIABETICA [8513]
Soffrendo de rhinite e sinusite estive eu ja na vida qualquer dia. Tambem de laryngite e pharyngite algum dia ja disse que soffria. Ja de asthma accommettido, de bronchite, até tuberculose e pneumonia na vida fui qualquer dia, accredite. Demais paresce? O peito que me chia não basta, todavia. Sem limite, me attaccam as molestias: allergia, glaucoma, cataracta, gengivite, otite, aphtha, hemorrhoida, nevralgia, orchite, rheumatismo, dermatite, cystite, triglycerides, phobia da prostata inflammada, si ja admitte o medico "normal" ser, com voz fria. Emfim, o metabolico palpite suggere uma hepatite, que seria de menos, si a fatal pancreatite não fosse a mais sinistra theoria.
Coitado do ceguinho! Nem convite lhe fazem para um bollo, uma fatia de pizza, de puddim, nem se permitte que encare um torresminho! Mas sacia, ainda assim, seu soffrego appetite.
Não come tudo ao mesmo tempo. Addia, mas curte, aos poucos, cada dynamite
daquellas. Affinal, tanta agonia
não chega duma só vez. Assim, quite está com sua syndrome e iguaria
não haja no chardapio que elle evite...
CUIDADO COM O RABO! [8517]
Ouvi do Ministerio da Sahude o "allerta nacional" que me horroriza: está de escorpiões, como ja pude notar, tudo infestado! Uma pesquisa revela que é na infancia e juventude que está a lethalidade mais precisa! Piccado um molequinho, a mãe se illude achando que um antidoto ameniza as dores e o veneno, mas que mude o drama não ha nada! Agora, à guisa de espirito de porco, eu digo: estude você si dum politico a mais lisa e branca pelle quebra esse tabu de piccada ser jamais! Quem indecisa noção tem a respeito? Ao attahude que fosse um delles, logo se immuniza a nobre clientela que admehude não fica exposta ao bicho, e só se advisa à plebe que "se allerte", mas no cu, de mactar, leve um ferrão que se eterniza...