INGOVERNABILIDADE

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INGOVERNABILIDADE



GLAUCO MATTOSO

INGOVERNABILIDADE

São Paulo Casa de Ferreiro 2021


Ingovernabilidade ©Glauco Mattoso, 2021 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco INGOVERNABILIDADE/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 398p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA Entre os innumeros heteronymos que usei, se incluem alguns anagrammas para meu nome civil, Pedro José Ferreira da Sylva, a começar pelo mais antigo, José Sylveira da Pedra-Ferro. Para uma anthologia thematica que recyclasse o contehudo dos livros POETICA NA POLITICA, SONNETTOS DE BANDEIRA, SONNETTOS DE MORAES e POLITITICA, o heteronymo seria Vereador Faria, ou, por extenso, Vereador Jilder Posse Faria, mas accabei por deschartar identidades outras que não a de meu "eu lyrico" ja consagrado, Glauco Mattoso. Nesta collectanea, mais impessoal e menos datada, os antigos sonnettos foram, em sua maioria, reestrophados como dissonnettos (em quattro ou mais quartettos ou em duas oitavas) e outros poemas, em diversos formatos, foram accrescentados. A numeração, embora mixture cinco catalogações differentes (dos archivos SONNETTUDO, GLOSAS E AUTOMOTTES, MADRIGAES TRAGICOMICOS, ACERVO NOVO e SOBRAS COMPLETAS), obedesce a uma só sequencia, ja que quasi não occorrem coincidencias numericas entre dois poemas. Ao pesquisador suggiro tambem a leitura da collectanea NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES, cujo repertorio guarda ponctos de contacto thematico com a presente obra.



INGOVERNABILIDADE 9 POEMAS "PORTENHOES" (DE GARCIA LOCA) [1.28] El arte de gobernar consiste en el arte de malversar. El arte de escribir consiste en el arte de plagiar. De lo que se deduce que los políticos son poetas y los escritores son ladronzuelos. (1977)

Decir política equivale a decir ciencia de lo festivo de lo relativo y subversivo; ciencia sujeta en sus conclusiones prácticas al circo al palco al camarín. (1979)


10 GLAUCO MATTOSO El género humano y cualquiera de sus partes se divide en dos clases: unos empuñan el carajo y otros lo sufren en el culo. No hay lubrificación, ni desproporción, ni progreso muscular, ni testicular, que pueda impedir el que un hombre nacido o por nacer no sea de aquéllos o de éstos. No queda más que la homosexualidad para quien pueda gozarla. Verdad es que no todos pueden, ni quieren, ni siempre. Pero cuando uno de aquéllos o de éstos no goza, el otro goza dos veces. (1979) La política no es asunto propio ni de artistas ni de pederastas; la política es el arte de cambiar los carajos lo mínimo posible mientras permanecen siempre los mismos culos. Los artistas son inconvenientes por su afán de cambiar carajos y culos a tontas y a locas; los pederastas son sospechosos por aceptar pasivamente carajos antecesores y sucesores. (1980)


INGOVERNABILIDADE 11 Los poetas de verdad son los guardianes de la gravedad. Están siempre prontos a reírse de todo, pero dicen la verdad burla burlando. La mentira es propia de los políticos. Estos hablan para engañar y callan para encubrir. Cuando están con otros, lloran. Cuando están a solas, se ríen de la desgracia ajena. (1980)


12 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO ESQUEERDISTA [2.23] Confesso-me e professo a fé num "esqueerdismo" eschizo, no qual scismo que faço meu progresso: no verso, ja nem peço licença de ser dextro nem "gauche" e tenho um sestro politico a favor do lado "fingidor" que aos cegos eu sequestro. Por mais conservador que possa parescer, masoca é meu prazer de escravo aos pés da dor, mas, como bom actor, sou sadico: gracejo e zombo do desejo. Portanto, liberal me vejo e, como tal, engajo-me sem pejo.


INGOVERNABILIDADE 13 VEHEMENTE COMMUNISMO [2.50] Indagam si de esquerda sou. Admitto que seja, mas me exijo coherente! Me digo stalinista, sem conflicto, ou mesmo um maoista que se sente um tanto masochista... Tambem cito Fidel, mas no começo, quando a gente fallava em paredão para o delicto! Sim, chamo-me esquerdista: acho bonito o rosto do caudilho no vigente livrinho de proverbios! Acho o mytho da personalidade condizente! Mas acho mais bonito que haja um rito summario e o prisioneiro dissidente confine-se num campo e esteja afflicto! Que em publico se obrigue, sob o grito e o riso, a uma autocritica! Que tente mostrar-se arrependido! Sim, me excito com tal humilhação! Que o penitente não seja perdoado e que, proscripto, forçado a trabalhar no campo, aguente do algoz o gozo sadico e irrestricto! Que um unico partido, sem attrito, governe e o oppositor seja silente! Que a midia mal não falle e, por escripto, nenhum poeta seja irreverente! Que mesmo o cego ironico e maldicto não possa criticar o presidente que, sempre charismatico, eu ommitto!


14 GLAUCO MATTOSO ADSTRINGENTE PARLAMENTARISMO [2.77] Si tudo como dantes tem rollado no mais parlamentar quartel d'Abrantes, quer seja senador ou deputado o sujo personagem dos flagrantes, é sempre latrinario o resultado dos casos de quadrilhas e integrantes. Cagando e andando está quem foi flagrado na lista dos corruptos, mas deu, antes do escandalo, o escatophilo recado: "Fiz tudo para obrar, nas importantes urgencias, com exforço, e evacuado não tenho a casa, oppondo-me aos farsantes! Detesto as obstrucções! Por outro lado, forçoso é constatar os constipantes effeitos do projecto que tem dado trabalho aos intestinos e intrigantes serões de gabinete! Si approvado, o plano obrigará que os fabricantes dos rollos de papel que mais aggrado nos fazem ao trazeiro, deslisantes, os tornem grossos, asperos! Será do peor typo o que limpa, si laxantes tomarmos, o cocô que for cagado!"


INGOVERNABILIDADE 15 TROVAS NAS TREVAS [2.93] Quem é cego vê regime oppressor o tempo todo. Mas o nosso mais opprime, pois, nas trevas, mais me fodo. Você deve paciente ser com todos, menos com um politico na frente do seu carro. Sem fonfon! Não exsiste esse conceito dum "abuso de poder". O poder, que eu não acceito, ja abusivo vem a ser. Senador e deputado maior querem regalia? A politica tem dado tanta folga a quem vadia! Minha nossa! Dia assim commemora-se? O paiz nessa crise tão ruim e alguem pode estar feliz?


16 GLAUCO MATTOSO Quer você democracia? Pois tolere quem achar que o paiz melhor seria no regime militar! Si o politico corrupto se fodeu, foi praga minha. Si me dedam, fico puto quando pago uma caixinha. Diz que engorda quem mentir o politico magrella. Não tem corpo de fakir o seu filho, que protela. "Engordou? É porque mente!", falla, rindo, quem accusa. Ao filhão do presidente diz o medico: "Reduza!" No frigir dos ovos é que conhescemos a manteiga. Do politico moleque não funcciona a labia leiga.


INGOVERNABILIDADE 17 Quando eu grito, patriota não serei. Disso eu não tracto. Gritarei por uma bota não lamber, nem um sapato. Um politico, si atheu, não dará satisfacção nem ao povo, pois fodeu com os cofres da nação. O politico saphado nem se importa si for pego. P'ra adjudal-o um advogado garantido tem emprego. Quem quizer ser presidente da republica arte tem que ter para ar dar de gente preoccupada com... ninguem.


18 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL PRESIDENCIAL [0004] Excepto os puxasaccos, mais ninguem te chamou de "presidenta", presidente! Num poncto tens razão: saber quem tenta fazer bajulação é facil, né? Te basta ver quem falla "presidenta"! Que "chefa" digam, pode ser, até! Mas, quando alguem disser que és "competenta", é pura gozação! Não ponhas fé! MADRIGAL REGIMENTAL [0005] Sedoso, perfumado... O senador do rollo de papel excolhe a cor. A coisa sae marron, às vezes preta, conforme seu espirito, mas era azul o papel, antes que commetta seu acto o senador, e nada altera do voto o resultado ou, na gaveta, aquillo que, importante, esteja à espera.


INGOVERNABILIDADE 19 IN UMBRA IGITUR PUGNABIMUS [0009] Amigo meu pergunta si a direita preoccupa a poesia dum maldicto. Até pelo contrario: mais exquento a cuca, mais o verso sae feliz. Em outros maus momentos a nação esteve, e resistimos, eu no rol daquelles mais oppostos aos extremos. Talvez ja novamente necessario eu seja a um editor que, emfim, attente ao cego que a voz tenha nua e crua. Quem preza a maldicção jamais acceita censura moralista! Assim, pois, cito as duas phrases proprias ao momento politico reaça do paiz. Si as settas do inimigo tantas são a poncto de encobrir a luz do sol, aqui responderei: "Combatteremos à sombra!" A quem prefere o adagiario, respondo: "O prohibido aguça o dente!" Em summa, amigo, a lucta continua!


20 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SADICO [0017] Legal é ver politico morrendo de cancer, quer na prostata, no recto, e, p'ra que meu prazer seja completo, tendo um tumor na lingua como addendo. Si for ministro, então, não me arrependo de ser-lhe muito mais que um desaffecto, rogar-lhe morte egual à que um insecto na mão da molecada vae soffrendo. Mas o melhor de tudo é o presidente da nossa pobre patria advaccalhada ser desmoralizado na risada por quem faz poesia como a gente. Elle nos fode a cada cannetada, qual despota, arrogante, prepotente, mas eu, usando só o poder da mente, espeto-lhe o loló com minha espada!


INGOVERNABILIDADE 21 DISSONNETTO MASOCHISTA (I) [0018] Politico só quer nos ver morrendo na merda, ao deus-dará, sem voz, sem tecto. Divertem-se inventando outro projecto de imposto que lhes renda dividendo. São tão filhos da puta que só vendo, capazes de crear até decreto que obrigue o pobre, o cego, o analphabeto a dar mais do que vinha recebendo. Si a coisa continua nesse pé, ainda que de satyra se tracte, accabo transformado no engraxate dum senador qualquer, dum zé mané. Vou ser levado, a menos que me macte, alem do meu logar nesta ralé, à torpe obrigação de amar chulé, lamber feito cachorro que não latte.


22 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO POLITICO [0025] A esquerda quer mudança no regime: trocar todas as moscas sobre o troço; mais gente repartindo o mesmo almosso, p'ra ver si a humanidade se redime. Não quer a situação mexer no time: o jogo da direita é sempre um osso ao mesmo cão, e nada de alvoroço, mantendo o status quo que nos opprime. Eu, cego, sendo assim politizado, sabendo não ser tolo ou incapaz de boas discernir de intenções más e tendo que excolher qual é meu lado... P'ra mim, desde que seja dum rapaz o pé pelo qual quero ser pisado, descalço ou pesadão em seu calçado, direito como esquerdo, tanto faz.


INGOVERNABILIDADE 23 MADRIGAL ADDICIONAL [0027] Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum. De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa... de tudo elles precisam, pois com vinho barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho! Declara um senador: "Eu encaminho aquella votação tão logo possa..." "Exforço concentrado" é o excarninho synonymo da farsa que se esboça. "Periculosidade", outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa...


24 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL ELEITORAL [0031] Não voto num partido, mas acceito votar, pelo charisma, num subjeito. Assim o brazileiro explica a sua excolha incoherente de quem vota num cara e quer que a rua o destitua. Quem pede ao militar que appoie a bota no rosto do governo sae à rua sabendo que, depois, seu ar se exgotta. MADRIGAL HABITUAL [0034] Difficil ao politico seria passar sem malversar por um só dia. Poeta não malversa. Elle verseja, quebrando ou sem quebrar o pé, mas um politico o fará, caso se eleja. De quebra, quebrará, com seu bumbum pesado, um banco solido, e você ja sentiu que é sempre fetido o seu pum...


INGOVERNABILIDADE 25 MADRIGAL GOVERNAMENTAL [0036] Paiz ingovernavel, o Brazil suborna o militar como o civil. Na practica, faz tanto um general corrupto quanto um rei ou presidente. O termo "commissão" é litteral. Será "parlamentar" emquanto a gente se diga democratica. Na tal "democradura", vem gorgeta à mente. MADRIGAL LEGAL [0040] Um methodo illegal não é moral mas pode um immoral ser bem legal. Que tal? Você practica tudo aquillo que a midia diz ter branco o collarinho e, caso não for pego, está tranquillo. Mas, caso pego, estava no caminho correcto, e prohibido o seu estylo não era... Fica o caso, então, certinho. Appenas isso basta? Me apporrinho com essa de "antiethica postura"! Eu quero que meu crime de sanctinho me faça e todo aquelle que dedura entenda que o partido ao qual me allinho luctou contra a censura e a dictadura!


26 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL IMMORAL [0052] Do velho deputado, que se amiga com joven prostituta, assumpta a Liga. A Liga das Senhoras Dignas tem razão ao criticar o "coroné" que, como orador, usa a lingua bem, mas mais indecoroso é ver que até seus pares o defendem e ninguem duvida de que em Christo elle tem fé! MADRIGAL PRISIONAL [0053] Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda. Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via... Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!


INGOVERNABILIDADE 27 MADRIGAL RACIONAL [0065] O dicto ja diz, onde tem fumaça tem fogo, mas vergonha alguem não passa. O escandalo é commum: sempre o suspeito num caso de suborno ou de extorsão é o raio do politico! Direito ninguem entende como, entre os que são mandados à prisão, falta o subjeito mais sujo, por estar na situação! MADRIGAL QUADRIENNAL [0067] Appenas um mandato não lhes basta si ainda a grana toda não foi gasta. Reforma na politica? Sim, claro! Concordam elles todos ser urgente. Enganna-se, porem, o povo ignaro si achar que a reeleição do presidente accaba! Em logar disso, eu ja comparo o cargo ao do Juvencio ou do Vicente!


28 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO PACIFISTA [0068] "Marxismo? Communismo? Eu estou fora!" -fallou-me um anarchista, certa vez. "Governos? Sou é contra!" -- foi, na hora, aquillo que esperei ouvir, talvez. Mas disse que era contra o que vigora nos meios esquerdistas: o burguez deposto pelas armas, a "penhora" dos bens particulares e quem fez a tal "revolução" impondo, agora, poderes "proletarios", sem porquês. Então eu perguntei: -- Quem corrobora as theses anarchistas de vocês? "Um Gandhi, um cara assim, ninguem mais, ora!" Pensando bem, achei que elle é freguez, tal como eu, dum guru que a gente adora, melhor que um lider russo ou um chinez.


INGOVERNABILIDADE 29 MANIFESTO BOLSISTA [0079] "Não só Bolsa Familia, nesta terra, exijo que tenhamos! À direita, tambem por Bolsa Lar a gente berra! A Bolsa de Valores Moraes feita foi para nos valer na sancta guerra! Por Bolsa Educação a gente acceita somente aquella civica, que encerra principios e deveres! Foi eleita a gente pela causa! Ninguem erra e segue impune aqui na nossa seita!" Ouvindo o pappo, penso que me ferra o "novo tempo" e sinto à minha expreita estar alguem que a practicas se afferra mais antidemocraticas. Estreita ficando vae a estrada e o carro emperra. De bolsa em bolsa, um bolso se approveita...


30 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DEMAGOGICO [0095] O povo quer é grude e diversão. Caudilhos são biscoitos de polvilho. Papae passa o mandato para o filho e a massa passa à base de agua e pão. Mamãe põe no domingo o maccarrão. A filha do engenheiro expalha o brilho. A esquerda quer da polvora o rastilho e a puta faz da foda o ramerrão. A patria tem governo, que meresce, accyma até dos berros dos plebeus e o voto do eleitor é a voz de Deus, que, por signal, não ouve a nossa prece. Na salla dos ex-votos, boto os meus: dois olhos, onde tudo ja escuresce, sem chance de que, em sonho, eu estivesse debaixo de milhões de pés atheus.


INGOVERNABILIDADE 31 MADRIGAL CORRECCIONAL [0096] Ja disse eu, num sonnetto, como lyncha o povo um deputado ou seu cupincha. "Não tarda, e um pé mais agil se revela. Tropeça e cae, por fim, o desgraçado, e um chute logo accerta-lhe a costella. Ja chovem ponctapés de todo lado. Os dentes do politico esphacela o bicco dum sapato bem surrado." Não digo que só caiba ao deputado tão rude tractamento, que eu condemno, mas pode elle ser alvo bem mirado da torta de cocô, que é mais ameno castigo popular. Nunca me enfado dos versos que compuz nesse terreno: {Recheio de ovo choco e leite azedo virá, com cobertura gratinada, borrar quem excolhido foi a dedo. Em plena collectiva, ninguem, nada impede que um municipe sem medo nos vingue, emporcalhando outra "fachada".}


32 GLAUCO MATTOSO {Torcendo eu fico aqui para que alguem alveje com cocô qualquer prefeito suspeito de roubar um só vintem! Em publico, que a cara do subjeito attinja a torta em cheio! E que elle, sem ter lenço à mão, se borre e ouça: "Bem feito!"} {Suggiro que, ao corrupto, quem exhorta à ida a mau logar emprego faça daquelle forte symbolo: uma torta! Cremosa, recheada, tendo a massa bem podre e excrementicia, me comforta que attinja alguem na cara, por pirraça!}


INGOVERNABILIDADE 33 MADRIGAL GRUPPAL [0103] Circense bacchanal, essa em que accabo tomando, eu e milhões de eguaes, no rabo! Um unico politico me aggruppa, pellado e accorrentado, com os meus demais concidadãos, e nos "estrupa" agindo ou ommittindo! Nós, plebeus, siquer sem protestar, ouvimos "Chupa!" Rezamos mudos... menos os atheus! Chupamos o mais sordido dos paus e a porra que engolimos e nos tapa a bocca nos fodeu em varios graus semanticos! Agora, em nova etapa historica, poder menor os maus teem para nos impor unica chapa!


34 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO LAVAJACTISTA [0112] Vi tanta gente em briga por motivo louvavel quanto frivolo. Porem não brigo contra alguem com quem eu privo. De gente sei que briga porque tem um time, egreja, sigla, qualquer crivo de cores differentes, mas, si vem Natal, niver ou Paschoa, ja festivo se torna o familiar encontro, ou zen. Então aqui pergunto: Si me exquivo de briga por esporte ou por amen a um deus, por que caralho serei vivo e ferreo defensor, peor, refem dum "lider", dum politico? Ora, activo nem cego militante não sou, nem de Baccho, nem de Venus! Afflictivo alguem acha que fico, acha que sem cabellos ficarei por um nocivo caudilho? Ora, tomar vão no cu, bem no meio! Que se foda quem passivo for duma suspeição que se sustem!


INGOVERNABILIDADE 35 MADRIGAL PROCESSUAL [0134] Prenderam mais um delles e o povão na certa commemora quando vão seus cumplices em canna, de roldão. Aquelle meu amigo que punheta battia alegremente cada vez que algum sujo politico vendetta soffria do Systema, acham vocês que esteja se exporrando ou que commetta mais uma boa bronha todo mez? Qual nada! Todo dia! Na gazeta não para de sahir que a sordidez politica terá sua faceta de escandalo obstentada, como fez mais uma "lavajacto" de proveta! Foi outro presidente pro xadrez! Ligou-me elle, esse amigo, e disse: "Peta não é, Glauco! Outros presos, sem porquês, estão no chão cagando! Sem porquê, tá? Por isso me divirto! Rigidez não falta ao meu caralho que, qual teta, exguicha com deleite e languidez!"


36 GLAUCO MATTOSO Pensei commigo, attonito: Caceta! Directo ir p'ra cadeia, dum burguez apê, não é futuro que prometta comforto ou razoavel placidez! O gajo soffre mesmo! Quem lhe metta no cu não faltará! Será freguez! Depois, fico sabendo que a canneta juridica foi celere e desfez as ordens de prisão. Mas pensei: Eta! Nos resta, ao menos, esta lucidez: Bastou saber de alguem que se submetta a tal humilhação, a tal torquez, e faz essa alegria algum cagueta egual masturbação curtir, talvez...


INGOVERNABILIDADE 37 MANIFESTO PHRASISTA [0138] Fallar que "En politique, plus ça change, plus c'est la même chose" significa, na practica, admittir que, si em francez, as phrases bem se applicam ao Brazil. De Gaulle, por signal, teria dicto que este "n'est pas un pays sérieux". Disseram que não disse. Pouco importa, pois quanto mais polemica a auctoria, maior a propriedade de expressão. Suppor que, quanto menos alguem manje francez, mais accredita numa picca que mude, emquanto os cus, por sua vez, os mesmos permanesçam, é servil conceito que se faça do cabrito que, bom si for, não berra. Acha você que a phrase que alguem cite em lingua morta será mais verdadeira? Qual seria aquella mais plausivel à nação? Digamos, "Nihil novi...", mas arranje quem queira, para ver como é que fica, deixal-a como está, bom portuguez que faça da politica subtil noção de como pode ser bonito dos povos um proposito, que dê um fio de esperança! Não comforta ninguem saber que, em summa, a poesia capaz é de brincar com a questão.


38 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO REVOLTADO [0140] Os homens condemnam e mesmo o caudilhos

abominam tyrannias, dictaduras de direita socialismo não acceita que arremedam monarchias.

Torcendo por David contra Golias, dizendo não aos lideres de seita, assim a Humanidade desrespeita os mandos e desmandos dos maus guias. Mas mais cruel, covarde e prepotente, com sua psychopathica mania, é o Deus Omnipotente que nos cria a fim de judiar, unicamente. Foi Elle quem, à minha revellia, cegou-me e fez de mim um penitente que em planos infernaes sempre se sente e appenas desabbafa em poesia.


INGOVERNABILIDADE 39 DISSONNETTO CONFORMISTA [0141] Os homens auctorizam tyrannias, approvam dictaduras de direita e mesmo o socialismo não rejeita caudilhos que arremedam monarchias. Acclamam generaes os mais caxias, endeusam loucos lideres de seita. Assim a Humanidade se subjeita aos mandos e desmandos dos maus guias. Mas é o que tão

mais servil, covarde e supplicante gesto humano aos pés daquelle Deus tem a voz egual à dos plebeus, sancto, que não ha quem o supplante.

Castiga em nós os proprios erros Seus Aquelle que é meu Pae, meu semelhante, que traz tristeza egual no seu semblante e os olhos tem tão cegos quanto os meus.


40 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO REFORMISTA [0142] {Está tudo fodido, Glauco! Ousar a gente necessita para pôr no azul as nossas comptas novamente! Reformas radicaes a gente vae fazer na vida publica, ah, si vamos! Fiscal, eleitoral, da previdencia, bancaria, trabalhista, patronal... A deixa approveitando, Glauco, nós queremos nos costumes ver limite! Na China ter irmão é prohibido! Aqui prohibiremos o cachorro, assim a "bassear" ninguem mais leva basset nenhum! Livramos a calçada de tanto cocô! Chega, nos apês, daquella barulheira! Não concorda? Tal como foi alli, cães nunca mais!}


INGOVERNABILIDADE 41 -- Espere ahi! Votar quem vae? No lar dos proprios congressistas labrador ou cocker ha, não acha? Alem de quente, o thema não tem nada a ver e sae da pauta nacional e dos reclamos antigos do povão, que tem urgencia de eschola, de trabalho, coisa e tal... Pensou nisso? Na certa, logo appós cachorros prohibir, alguem palpite dará na nossa cama! Decidido será que ninguem pode, nem de Zorro, pôr mascara! De Adão, então, qual Eva irá phantasiar-se! Que mais cada um deixa de fazer? Que é que vocês esperam que resulte si essa chorda esticam? Diga! Alvissaras geraes?


42 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0143-A] Mais perdido está quem vota do que cego em tiroteio. "Preferivel era a bota do regime militar, que sabia governar! Mais perdido está quem vota, pois escuta só lorota e os eleitos fazem feio!" Isso ouvi fallar, no meio das pessoas com quem lido e calei-me, mais perdido do que cego em tiroteio. O caralho tem fedor de sebinho, mijo e porra. Sem ninguem que me soccorra, vou na bocca ter que pôr esse entrave e chupador me tornar! Quem, sem asseio, vem foder-me é quem me veiu pedir voto! Isso é chacota! Mais perdido está quem vota do que cego em tiroteio!


INGOVERNABILIDADE 43 MANIFESTO OPPOSICIONISTA [0143-B] {Reformas? Que reformas? Appoiar não vamos essa porra, não, senhor! Quem disse que reformas são urgente medida a ser tomada? A gente cae é numa bella merda, convenhamos! Aqui p'ra nós, Glaucão, a paciencia perdi com communistas! Elles mal se elegem, e ja querem grossa voz ter para assediar a nossa elite, impor hegemonia do partido de esquerda! Você sabe que eu não morro de amores por tal causa! Quem eleva, no pappo, o tom de egual pataccoada, eu corto logo, Glauco! Sou cortez, mas, quando tal assumpto alguem abborda, me irrito! Que se fodam taes bossaes!}


44 GLAUCO MATTOSO -- Refere-se você, talvez, ao mar de lama na politica, ao suppor que é só qualquer "communa" delinquente? Que tudo continue quer? Se trae você quando pretende ser dos amos amigo, si de escravos tem sciencia, ainda, no paiz! Ao capital accesso mal você tem! Seus avós são pobres immigrantes! Não se irrite, meu caro, mas fazer qualquer sentido não pode seu discurso! Vem do morro a sua parentela! Não! Qual é? Va! Que tal nos entendermos? Desfructada melhor seria a noite si eu, em vez de estar argumentando, meu melhor, da oral funcção, lhe faço, em horas taes!


INGOVERNABILIDADE 45 ODE AUTOCRITICA [0144] Puxar pela memoria requeria o facto. Eis que puxei o quanto pude. Requinctes de sadismo, no regime cubano, uns escriptores no detalhe relatam, como aquelle em que o subjeito, sabendo que irá, para trabalhar, ao campo de forçados, antes é levado frente ao publico risonho a fim de confessar o seu delicto: de idéas discordar. Reconhescendo seu "erro", pedirá perdão ao povo, que ri da sua cara, pois aquillo em nada reduzir vae sua pena. Então eu dou palpite que riria melhor a tal platéa si a attitude do preso, mais humilde, ante seu crime, tivesse que ser. Maximo acchincalhe seria que lambesse elle, no peito e até na sola, a bota popular de cada cidadão dessa ralé. Achando ser delirio o que supponho, appenas eu commento que me excito com esse panorama tão horrendo. É quando perguntar si me commovo alguem vae, pois me informam que, ao estylo daqui, sadicos entram mesmo em scena:


46 GLAUCO MATTOSO "Mas, Glauco, isso occorreu no dia a dia da nossa dictadura! Alguem se illude com falsas negativas? Todo um time bem craque em torturar (Mas não expalhe, sinão vae dar idéa!) tinha feito que cada prisioneiro, ao implorar perdão, lambesse os tennis ou o pé descalço dum cagueta cujo sonho ter era tal prazer! Acha bonito, Glaucão, tudo o que estava accontescendo?" Respondo que, bonito, não. De novo, porem, eu lhes affirmo que tranquillo me sinto. Ter tesão ninguem condemna.


INGOVERNABILIDADE 47 ODE AO DEDO DURO [0145] Relatam nossos proprios torturados detalhes do papel que desempenha o typico cagueta no odioso regime militar. Em livro, o preso nos conta que informante, no paiz, jamais faltava: algum discreto moço podia ser quem ia, ao "entregar" suspeitos, convidado ser por um agente do DOI-CODI a, si quizesse, sessões presenciar. Um delles deu resposta a tal pergunta nestes termos: -- Ahi, quer assistir? Quer ver um show legal de pau de arara? Foi você que o caso dedurou. Quer assistir? -- Uau, si quero! Posso mesmo? Uau!


48 GLAUCO MATTOSO Narrou o preso: Foram muito usados os methodos banaes nessa ferrenha usina de tortura. Tinha gozo maior que o dos carrascos um obeso baixote, delator dum infeliz vizinho communista. Num pau grosso ficou dependurado, com um par de fios connectados ao bumbum, ao sacco, ao penis, para rezar prece, o tal de "subversivo". Se fodeu bonito, como achou, si nós soffrermos a curra, tal gordinho, a quem eu sou egual ao torturado, que mal vê o pé que em suas fuças insistir irá, pisando como num degrau.


INGOVERNABILIDADE 49 MANIFESTO PARLAMENTARISTA [0150] {Entenda, Glauco: nossa solução será parlamentar! O presidente governa, só que não! Um chanceller modera monocraticos anxeios de cada mandatario! Assim, ninguem se torna dictador e, si preciso, depõe-se o chanceller! Não é perfeito?} -- Perfeito? Bem, depende. Algum mandão querer vae implantar a condizente versão à brazileira, si quizer: a tal "democradura"! Estamos cheios de formulas do typo! Só me vem à mente, decidido ou indeciso, algum "mytho" ou tucano... Não tem jeito!


50 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL FUNDAMENTAL [0162] Miguel diz que os politicos serão, sem erro, mentirosos. Miguelão tambem se diz politico. Ora, então... Miguel mente tambem? Mas, si assim for, não mentem os politicos. Assim, Miguel falla a verdade. Esse factor converte em falso circulo o ruim problema da mentira, a seu favor. Quem mente? Quem não mente? Não tem fim! Famoso, o tal sophisma vem propor questão bem brazileira. Para mim, só mentem quando fallam ao doutor juiz ou delegado. Outro latim promettem, em discurso, ao eleitor. Não faltam pão e circo no festim. Jamais elles mentiram quando a cor politica mudaram. Serão, sim, verbaes khamaleões. Si defensor algum for da direita, a saber vim que fora ja de esquerda seu louvor. Um lado sempre é doutro muito affim.


INGOVERNABILIDADE 51 MANIFESTO LEGALISTA [0165] "Senhoras e senhores! Desaccapto não faço às leis da patria! Respeitado por todos, o Congresso fará pacto geral! Legalidade é nosso brado! Com golpe nenhum posso ser cordato! Os meus concidadãos eu persuado a, livres, me appoiar! Sei que sou chato si insisto, mas... Ei, calma! Mais cuidado! Mal posso me mexer! Quasi me macto! Esperem! Não empurrem! Do meu lado eu quero segurança! Não! Que ingrato, você, né? Não! Soccorro! Um advogado eu peço, por favor! Sahir barato não vae! Vou me vingar! Sou deputado!" -- Recolham-no ao xadrez! Com esse ratto perdemos mesmo a calma! Não me evado nem medo tenho delle! Em lavajacto, appenas, eu confio! Dou recado bem rapido a vocês: não tenho tacto com este regimento! Mais aggrado faz outro regimento ao meu sensato juizo: o militar! Sou commandado por gente de valor! Não por um acto qualquer, legislativo! O resultado das urnas pouco importa! Facto é facto! Mandou o General, está mandado! Ninguem que foi votado tem mandato mais neste meu paiz! Caso encerrado!


52 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0170] O Brazil, bem definido, é o paiz do faz-de-compta. "Mais rigor" não faz sentido nem na pena alguem põe fé, pois burlesca nação é o Brazil, bem definido. Dos poderes eu duvido si só farsa é o que se apprompta. Quando a gente se defronta com tamanha impunidade vê que somos, na verdade, é o paiz do faz-de-compta. Quem nos fode a bocca diz que meresce o nosso voto. Quem se elege, logo eu noto, nos divide em dois Brazis, o dos vis e o dos servis. Quem no nosso lombo monta diz que soffre a nossa affronta. Si immoral sempre tem sido, o Brazil, bem definido, é o paiz do faz-de-compta.


INGOVERNABILIDADE 53 DISSONNETTO PHYSIOLOGICO [0171] Quem disse que a politica não fede? O exgotto do Congresso é prova disso. Parlamentar que quer mostrar serviço bem sabe donde a practica procede. Do vaso, e não das urnas, vem e mede tamanho e proporção dum trem rolliço. E quem quizer metter o dedo nisso esteja onde o governo tem a sede. Ministros e exercem no espaço Despacham

ja installaram gabinete patriotica missão mais propicio a tal funcção: no recesso da retrete.

Quem faz, por outro lado, opposição critica a fedentina do tolete e, em breve, novos ventos nos promette, propondo obrar com força e rectidão.


54 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO PRESIDENCIALISTA [0176] "De um lado, temos cada presidente que cruza a rua appenas para achar ensejo de pisar no cocozinho deixado por algum vadio cão! E, doutro lado, temos uma imprensa que, caso o presidente nos declare à dengue ser contrario, editorial fará a favor do pobre mosquitinho!" "Faz parte do seu jogo que elle enfrente problemas, mas precisa provocar alguns que nem teria no caminho? Dispensa, assim, qualquer opposição! Até podem dizer que elle dispensa de caso pensadissimo! Repare você, meu caro Glauco, que jornal nenhum descharta assumpto tão mesquinho!" -- Sei disso, mas, fallando francamente, estou é me lixando. Seu logar está quasi vacante, ja adivinho. Propheta nem preciso ser, então, si, como todo mundo, nutro crença nas moscas que se fazem revezar e na merda que não muda seu normal estado de jazente e sujo ninho.


INGOVERNABILIDADE 55 MOTTE GLOSADO [0177] Ora, deixa como está para ver como é que fica! Em politica, não ha melhor phrase que defina o que fica na latrina: "Ora, deixa como está!" Quem alli cagou não dá a descarga, mas dá dica de que egual acha a titica ao seu voto, a merda ao motte. No cagão você que vote para ver como é que fica! Ja na merda até o pescoço, fazes tu reclamação ao politico, que não vê perigo nesse fosso: -- Tu te adaptas! Guenta, moço! Si lamentas tua zica, o politico replica e risada ainda dá: -- Ora, deixa como está para ver como é que fica!


56 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0178] O eleitor attento escuta o que diz um candidato. "Ah, seu filho duma puta! Vae tomar no cu, caralho!" Mesmo sendo um acto falho, o eleitor attento escuta, concluindo que é fajuta toda a pose do insensato. E mais ouve - "Inda te macto, seu cuzão, seu merda!" - até ver que nunca inspira fé o que diz um candidato. "Eu prometto! Vou baixar..." (E eu entendo "...o nivel" nisso que elle chama "compromisso".) Só faltou fallar, no ar, "Vou foder, cagar e andar!" Nem precisa ouvir boato nem achar que eu desaccapto. Si tiver a mente arguta, o eleitor attento escuta o que diz um candidato.


INGOVERNABILIDADE 57 MOTTE GLOSADO [0179] Que mammata! A propaganda será paga por quem vota! Eleição sempre demanda muita grana. A solução é cobrarem do povão (Que mammata!) a propaganda. Caso a practica se expanda, fará farra, com a nota que recebe, essa patota marketeira, e ja se assanha! Na campanha, até champanha será paga por quem vota! Si os politicos appenas nos fornicam, qual será a campanha que tem ja seu horario? Quaes amenas discussões terão antennas? Fallarão em qual chochota, ou qual bocca, ou cu, se bota? Desse jeito o Brazil anda! Que mammata! A propaganda será paga por quem vota!


58 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0180] O inimigo a gente accusa de fazer o que fazemos. Confidencia faz, confusa, um politico, que diz: "De ter culpa do que eu fiz o inimigo a gente accusa." O eleitor, pois, que deduza si foi franco e com quaes demos fez taes pactos, que os extremos approximam. Frei Thomaz ja negou, mas é capaz de fazer o que fazemos. Na politica, só vale do povão tirar proveito! Como lider, eu receito: Quem protesta que se cale, ou negamos, caso falle! Lucraremos com extremos? Aos extremos nós iremos! Si alguem diz que a gente abusa, o inimigo a gente accusa de fazer o que fazemos!


INGOVERNABILIDADE 59 MOTTE GLOSADO [0181] Si correr, o bicho pega. Si ficar, o bicho come. Si protejo meu collega de partido, ou sou padrinho "physiologico", ou me "allinho". Si correr, o bicho pega. Si me "allinho", logo allega quem se oppõe que é tudo em nome do esquerdismo. Caso eu tome posição de que "allinhavo", vão dizer que é só conchavo. Si ficar, o bicho come. Eu nas urnas vou à lucta! Quem se oppõe sempre contesta, mas quem ganha faz a festa! Quem perdeu outra disputa do meu cargo não desfructa! Ou as obras teem meu nome, ou a verba toda some! Nunca fujo da refrega! Si correr, o bicho pega! Si ficar, o bicho come!


60 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0182] Os politicos teem tudo que eu jamais terei na vida! Teem carrão, saldo polpudo, caviar, champanhe, orgia, sinecura, mordomia... Os politicos teem tudo! Mas com isso não me illudo, pois o povo os appellida de "bundões" e uma soffrida praga aos fundos delles lança, qual um "cancer na poupança", que eu jamais terei na vida! Sem auxilio-moradia nem auxilio-paletó, vivo duro que dá dó! Ah, será que irei, um dia, me eleger? Que bom seria! Ter carrão, boa comida, palacete onde resida... Mas, emquanto eu me saccudo, os politicos teem tudo que eu jamais terei na vida!


INGOVERNABILIDADE 61 MOTTE GLOSADO [0184] Sem excolha, eu voto em branco! Bem pensando, eu voto é nullo! Quando o pleito banca um banco, ha racismo. Candidato não vi negro nem mulato. Sem excolha, eu voto em branco! Eleição, para ser franco, só dá raiva! Fico fulo e os discursos não engulo! Um politico que jura ser honesto não tem cura! Bem pensando, eu voto é nullo!


62 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0185] Me convocam, mas recuso! Não serei mais candidato! Não, jamais! Não farei uso do dinheiro do eleitor! Temptações, é de suppor, me convocam, mas recuso! Vou gastal-o só si incluso ja estiver, caro ou barato, no meu saldo, pois eu tracto de, primeiro, transferil-o! Si accabarem com aquillo, não serei mais candidato! Satisfiz tanto eleitor masochista que em mim vota! Fiz neguinho lamber bota, dar o cu, sentir sabor de cocô, supportar dor... Mas cansei! Parei! Não batto mais de relho! Ficou chato... Os que gostam desse abuso me convocam, mas recuso! Não serei mais candidato!


INGOVERNABILIDADE 63 MANIFESTO COMMUNISTA [0197] "Não quero que me chamem bolchevique, mas acho o socialismo muito vago. Prefiro communista, Glauco! E cago praquelles que duvidam do meu pique!" -- Magina! Não duvido. Mas não fica melhor ser progressista? Quanta chaga restou no communismo! Nada appaga aquillo que virou a nossa zica... "Que nada! Assumo mesmo! Claro fique: Eu quero dictadura! Quero estrago fazer na burguezia! Raiva trago commigo! Odeio o rico, odeio o chique!" -- Tambem nos pise, do sadico boquette?

odeio que essa classe rica nos humilhe... Mas a vaga quem pega? Quem lhe paga Quem na cara leva a bicca?

"Não seja, não, por isso, Glauco! Estique a lingua no meu bute, no meu bago! Sou sadico, tambem! Você, que é mago, bem sabe que é só troca de cacique!"


64 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO PROGRESSISTA [0208] {Appenas ser de esquerda, Glauco, não me basta! Agora quero mais e penso que estamos mais à frente! Esquerda velha, aquella que punia a minoria, que nunca mencionou "diversidade", não, essa não a quero mais! Espero que nossos novos lideres attraz não voltem, que evoluam! E você, Glaucão, tambem se sente progressista? Tambem acha que está no tempo certo de novos ideaes encampar essa tendencia? Ja me sinto, por signal, alem de libertario, libertino!} -- Melhor não confundir essa questão, amigo. Não exsiste esse consenso pacifico no meio da groselha. Tem gente só pensando numa fria manobra: cooptar-nos, liberdade propor e prometter, para severo regime, depois, sobre essa fugaz idéa, nos impor. Depois, cadê que vamos ter direito algum na pista de dansa, no sambodromo ou aberto desfile em nosso bloco? Só promessa não colla. Quero nosso carnaval brincar mais livre, em solo planaltino.


INGOVERNABILIDADE 65 MANIFESTO INCONFORMISTA [0211] {Sim, Glauco! Sou pacifico! Me adapto a tudo que é normal, que é justo ou certo! Appenas me rebello contra toda politica abusiva, auctoritaria! Agora, por exemplo, vejo bota por tudo quanto é lado, para la e para ca, querendo nos impor regrinhas de conducta! Mas nem quero saber! Gente de bota, para mim, é tudo a mesma coisa: militar! Governo militar é dictadura! Você gosta de bota, que eu sei, mas bem sabe que é synonymo de força, poder, auctoridade, Glauco! Onde é que fica a nossa livre excolha? Tudo virou quartel, agora, Glauco? Porra!}


66 GLAUCO MATTOSO -- De bota gosto. Nunca fui cordato com golpes e jamais estive perto de despotas, comtudo. Que se foda eu quero um dictador! Mas arbitraria é sua parca analyse. Quem vota aguente! Eu não votei, nem em Allah, nem Christo, nem Javeh! Nosso Senhor não acho ninguem! Logo, não venero quem cego me tornou! Bom ou ruim, divino ou não, recuso-me a pagar pedagio a tal fiscal da moral pura! As botas, em si mesmas, não são más. Calçadas são por gente má. Quem torça por uma livre excolha, algum chulé concorda que excolhi. Nunca me illudo com mythos, mas meu gozo que não morra!


INGOVERNABILIDADE 67 MANIFESTO MONARCHISTA [0221] {Não dizem, Glauco, que houve um golpe aqui, alli por meia quattro ou meia oito? Não dizem que, antes disso, o que exsistia vigente era a republica, a tal, essa que em quinze de novembro se celebra? Então! Pois tambem essa golpe foi! Tambem regime authentico não é! Foi golpe, sim, e golpe militar, com uma dictadura subsequente, aquillo que depoz a monarchia! Sim, esta democratica, pois era ja parlamentarista, com partidos e tudo! Glauco, estou inconformado com isso! Superamos o regime de meia quattro e nunca superamos a velha dictadura oitocentista? Eu quero a monarchia restaurada!}


68 GLAUCO MATTOSO -- Tambem quero. O direito eu exerci, votei num plebiscito, mas affoito demais foi tal evento. Bom seria fazer um novo, agora sem tal pressa e tendo uma campanha que, de quebra, informe e conscientize, nome ao boi dê mesmo. Ainda nisso boto fé. Mas outra coisa vale resaltar: Aquella orthographia então vigente, a mesma que practico, deveria vigir de novo. Sinto-me em tal era. Não sei si sou vanguarda ou tempos idos appenas revisito. Mas legado algum eu deixarei que alguem estime, ou Glauco não me chamo, ja que estamos fallando dum auctor que, sem a vista, se disse visionario. Valho nada?


INGOVERNABILIDADE 69 MANIFESTO GARANTISTA [0223] {Eu acho -- Sabe, Glauco? -- que ninguem ser preso poderá sem que se exgotte, no prazo derradeiro, seu recurso. Instancias trez são poucas. Eu proponho a quarta, a quincta, a sexta... Só depois de estar bem transitado, o condemnado será preso. Nem pode, por signal, alli ficar, ja velho como está. Prisão domiciliar, hospitalar, ou coisa assim irá cumprir, de facto...} -- Sim, posso concordar, caso tambem eu tenha tal direito. Quero um trote passar nalgum politico, ser urso amigo delle e, quando ja me bronho ao vel-o, preso, dando nome aos bois, immune quero estar ao advogado do cara, ao promotor, ao tribunal. Só quero fofocar, usar a má linguagem dos poetas, sem passar por risco de prisão pelo meu acto.


70 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO PUNITIVISTA [0224] {Prisão, Glauco, devia ser cumprida por simples, monocratica sentença dalgum juiz, instancia de primeira! Você batte punheta quando algum politico vae preso, não é mesmo? Pois muitas outras bronhas batterá si minha suggestão for accolhida! Calcule só, Glaucão! Basta a canneta dum duro magistrado, e mette em canna qualquer governador ou senador! Que gozo! Que erecção! Que ejaculada!} -- Talvez devesse, mesmo. Mas quem lida com versos fescenninos logo pensa no risco que se corre, pois quem queira prendel-o por louvar algum bodum pedal ou caralhal nenhum tenesmo terá de condemnar quem livre está. Prefiro recorrer a quem decida collegiadamente, antes que metta em canna este ceguinho algum bacchana mettido a auctoridade superior. De molho as barbas, antes de mais nada...


INGOVERNABILIDADE 71 MANIFESTO GOVERNISTA [0225] {Bem sei, Glauco, tu tocas uma bronha vez toda que um politico se ferra! Mas lembra-te daquillo que eu te disse: Nem todos os politicos são isso que pensas! Temos homens de valor, decentes, empenhados, que farão um rollo compressor nos opponentes! Sim, Glauco! Passaremos qual tractor por cyma desses merdas! Tu verás! Nem pedra sobre pedra sobrará!} -- Que medo! Nem duvido... Que eu supponha, até teremos homens, nesta terra, capazes de ser firmes, como o vice, mas numa coisa appenas eu me ouriço: saber quaes delles forte seu fedor terão nos pés. Em summa, chulezão! Quem tenha tal chulé tem condizentes quesitos preenchidos, sim senhor! Que importa quem seria mais veraz? Importa quem mais forte federá!


72 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO REDUCCIONISTA [0238] {Em these, é tudo a mesma coisa, sabe? Não passa de cocô toda essa bosta! Me deixa emputescido quem consente que estado bem differe de governo e patria de nação ou de paiz! Não somos brazileiros todos? Não fazemos o papel do viralatta? Bobagem, caro Glauco, pretendermos achar que merda pode ter perfume! Cocô fede a cocô! Paiz maior resume-se, é fatal, a um cocozão!} -- Até lhe dou razão. A mim me cabe, comtudo, ser poeta. Alguma apposta eu faço num Brazil independente. Talvez um presidente mais moderno nos seja dictador e quem se diz mau lider de estadista tenha mão. Mas algo nos restou, alem da matta ja quasi devastada. Meros termos não medem nosso lyrico costume de sermos utopistas. Nem major perdura num quartel, nem capitão...


INGOVERNABILIDADE 73 MANIFESTO IMPERIALISTA [0251] {Hem, Glauco? Ja pensaste? Poderias ser como, os portuguezes, nós, ja fomos! Tiveste ja a Provincia Cisplatina! Na guerra ja venceste o Paraguay! Compraste da Bolivia mais que um acre! Podias ter Guyanas, a Amazonia todinha, a peruana inclusa, tudo! Não achas que Dom Pedro bobeou? Mais mattas, mais accesso à pratta, ao ouro! Serias mais riquinho! Tu não achas?} -- Não acho, não. Melhores tive dias emquanto não pensei nos aureos pomos. Alem do mais, ser dono duma mina dizer não quer que rico fico, uai! Vocês ja nos pilharam, com massacre ou sem, tudo o que havia na colonia. Mais 'inda pilhariam! Seu entrudo foi tudo o que ficou e vicejou aqui, fora algum trote de calouro herdado de Coimbra. Thema aos rachas.


74 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO COLONIALISTA [0252] {Caralho, Glauco! Puta que pariu! Que chance nós perdemos! Foi azar ficar dos portuguezes o paiz na mão! Não acha, Glauco? Si Nassau ficasse em Pernambuco, si os inglezes, alem duma Guyana, conquistassem o Rio de Janeiro... Ah! Pense só! Recife ja seria Nova York! Aqui ja Saint Paul City ficaria! Fallavamos inglez! P'ra que Camões, si temos Shelley, Byron, Keats, alguem assim? Hem, Glauco? Milton cê seria! Que perda! Agora é tarde! Quanto attrazo!} -- Não sei, não, pois em Africa se viu aquillo que fizeram. Calabar exsiste em qualquer parte, si infeliz ou não. Mas nosso coco, ou o cacau, alem dumas pedrinhas, quantas vezes daqui nos levariam? Annos passem, seriamos Uganda, seu bocó! Não dorme quem a grana nos extorque, bobão! Por padroeira, nem Maria teriamos siquer... Nossos porões de presos se encheriam, com ou sem inglezes no commando. Poesia eu tenho, sem ser Milton e sem prazo.


INGOVERNABILIDADE 75 MANIFESTO FUTURISTA [0253] {Não falle assim commigo, Glauco! Não me chame de bocó! Você bem sabe que a Australia está, no mappa, bem melhor que nós e falla inglez! Alem do mais, ainda que possivel não nos fosse ser como outra britannica colonia, prefiro ver inglezes no commando, pois sabem governar! Eu lhes seria bem util, trabalhando de feitor, de algoz, de capataz! Você queria lamber minha botina? Pois então! Tal coisa fatalmente ia se dar! "Si queres uma photo do futuro, é a bota sobre um rosto humano, e só! Um mundo de pisar ou ser pisado!" -de accordo com George Orwell, que você citando vive e tanto que cultua! Ahi, Glaucão! Confesse! Torce, né?}


76 GLAUCO MATTOSO -- Lamber sua botina? Ah, meu patrão! Mas claro que torcendo estou que accabe a gente dos inglezes na mão! Mor barato, reconhesço! Si fataes nos fossem previsões taes, algo doce achava a minha lingua que lhe abbone a surrada sola grossa, justo quando pisasse num chiclette pela via... Mas pense bem, rapaz, em -- quando for chamado para trampos de vigia nos campos de trabalho -- qual funcção mais alta alcançará. Do calcanhar jamais desses inglezes, lhe asseguro, você proprio passava! Acha que dó teriam de você? Pobre coitado! Fallando serio, cara: cê não crê que tenha privilegios nessa sua utopica noção, né? Perca a fé!


INGOVERNABILIDADE 77 MANIFESTO SOCIALISTA [0258] {Eu acho um desrespeito que se chame menor de "trombadinha", de "pivete" ou mesmo de "infractor"! Só de "carente" acceito que se chame, Glauco! Ouviu você, na sua vida, alguem chamar maior de "trombadão"? Eu puta fico, pois, sendo uma assistente social, quero uma sociedade mais humana, mais justa, que não puna adolescentes com pena de prisão! Glauco, lhe digo com toda a minha practica no tracto com elles: muito triste é ver meninos reclusos, masturbando-se escondidos, com medo de exporrar do monitor na frente! Não lhe causam dó, tambem?} -- Si causam! Sem alguem que o pau lhes mamme, que faça a quelle lubrico boquette, é mesmo um desperdicio de semente, né? Vamos combinar! Si quem pariu foi puta, não importa. Si tem lar christão ou não, tambem. Menino rico não vae para a prisão. Quanto a mim, mal num delles penso, sinto o que lhe emana dos tennis encardidos... Repellentes não acho uns pés daquelles, pois consigo cheirar tal chulezinho num pé chato, ainda que em imagem. Fescenninos poemas tenho feito, de bandidos tractando, mas você tem mais amor a dar-lhes, certamente. E fará bem.


78 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO POPULISTA [0271] {Fundei um syndicato, Glauco! Agora, sim, posso ser aquella activa voz da minha tão soffrida, dessa tão fiel categoria dos que vivem sem trampo ou profissão! Ja lhes prometto a todos, todos, todos, Glauco, todos, que, em breve, terão todos um battente! Cobrar vou trez reaes, trezinhos só, por isso, mas garanto -- Ouviu? -- garanto que, ao menos, vou tentar! Que sou sincero tem duvida você, Glauco? Quem tem?} -- Eu, duvida? Magina! Fico fora da sua alçada, amigo. Como nós sabemos, sou invalido, funcção nenhuma tem um cego. Mas activem vocês a sua lucta, sim! Sonnetto nem faço mais, mas, livre dos engodos da classe, recommendo que 'inda tente fazel-os um novato. Caso o nó não aptem nem desaptem, nem ao sancto pedindo, lhes direi: Ganhei foi zero mas nunca peço um obolo a ninguem...


INGOVERNABILIDADE 79 MOTTE GLOSADO [0285] Eu não entro no Fla-Flu, pois meu time é de outra cor. "De que lado estarás tu no momento decisivo?" -me perguntam, mas me exquivo: eu não entro no Fla-Flu. Só não pensem que de cu na mão fico: tenho amor à camisa e torcedor sou fanatico, porem tal final não me convem, pois meu time é de outra cor. Um só classico não ha no paiz e contra "nós" não são "elles", quando a voz popular resposta dá ao jogão do blablablá. Paixão tenho, mas si for rubronegro ou tricolor um brazão, meu peito é nu. Eu não entro no Fla-Flu, pois meu time é de outra cor.


80 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312] Em Roma se pagava p'ra cagar, mas hoje a taxação tem melhor nivel. O imposto sobre a merda é deductivel do grosso que teremos de pagar. Não ande em contramão, va devagar. As mulctas são pesadas, coisa horrivel! Ja não se tracta mais de "causa civel": "tributaristas" temos que tragar! O Harrison ja disse que a receita lhe deixa um só, retendo dezenove. Sacou ou não sacou? Gostou, my love? Achou sua parcella muito estreita? Da sua grana a fonte então comprove, sinão a mão em tudo ella lhe deita! Não é, gajo, uma machina perfeita? Só falta tributarem quando chove!


INGOVERNABILIDADE 81 MANIFESTO PRAGMATISTA [0318] {Não dava. Não dará. Não deu. Não dá. Não vae dar nunca para a corrupção p'ra sempre combatter, nem totalmente, Glaucão! Sabias disso? Quem se elege com essa bandeirinha de campanha só pode, ja no cargo, de cinctura ter jogo, do contrario, ou renuncia, ou morre, ou é deposto! Si "impedido" ou "victima dum golpe", differença nenhuma faz, meu! Essa a realidade que lados extremistas nunca vão com ella conviver, meu cego bardo! Ou pensas differente, meu ceguinho?} -- Bem... Janio, Jango, Collor, Dilma... Ca p'ra nós, motivo deram para não chegarem ao final dum coherente mandato. Sim, a formula que rege as quedas é bandeira, mais façanha frustrada, combinadas com a pura e simples percepção, no dia-a-dia, de impopularidade, eis o sentido de tudo. Sei bem disso. Mas, na crença do povo, sempre espera a gente ca, de alguem mais messianico, missão de patrias vir salvar. Eu desse fardo fugi. Mais vale o rhumo que o caminho.


82 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO ESQUERDISTA [0321] Emquanto os verdadeiros esquerdistas appellam p'ra guerrilha e pro terror, os intellectuaes se dão valor appenas porque pensam nas conquistas. Cantores, professores, jornalistas, o actor, o padre, o musico, o doutor na feira das vaidades dão à cor vermelha varios tons, marchands marxistas. Prestigio tem aquelle que se diz das causas populares paladino, preposto do peão, do campezino. Na practica, porem, se contradiz. Annel, carro importado, vinho fino. Esquerda-caviar de má matriz. Ao cheiro do povão torce o nariz, mas brinda ao seu Guevara, ao seu Sandino.


INGOVERNABILIDADE 83 DISSONNETTO DIREITISTA [0323] Emquanto os verdadeiros direitistas dão golpes e se installam no poder, eunuchos patrulheiros do lazer censuram filmes, livros e revistas. Se julgam da moral especialistas, dictando o que devemos ou não ler. Masturbam-se, porem: nem podem ser, na practica, bons sadomasochistas. Fascismo pela imprensa é roptineiro desfile de bombasticos pudores. Civismo pretextando, educadores defendem a creança o tempo inteiro. Mal sabem os palhaços dictadores que os filhos não se trancam no banheiro que nem um delirante punheteiro e agora accessam tudo, ao vivo, em cores!


84 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO CENTRISTA [0324] "Extremos nunca! Não me comprometta!" Assim diz quem é neutro e não se allia à febre material da burguezia nem ao materialismo de canneta. "Nem a favor, nem contra!" É uma ampulheta parada, cuja areia entope a via e nunca sae do horario: meio-dia. Não caga nem levanta da retreta. "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra", diz. "Nem oito, nem oitenta", diz tambem o typico "exemptão" que só se abstem, alheio à divisão dos dois Brazis. É vacca de presepio e diz amen si chamam seus direitos de "civis", até que a voz das urnas ou fuzis lhe jogue em plena cara quem é quem.


INGOVERNABILIDADE 85 MANIFESTO CONSTITUCIONALISTA [0327] {Que coisa, Glauco! Onde é que a gente vae parar com essa clausula que dizem ser "petrea"? Não se pode mexer nisso? Magina! Como assim? Então si alguem puzer na Charta Magna que "veado" só pode ser chamado de "pessoa de livre orientação que optou por ter tendencia homoerotica", ninguem mais pode designal-o como "bicha"? Si assim for, eu prefiro que essa tal de "clausula" consagre que tem pena de morte no Brazil! E ja que querem chamar de "petrea", que essa morte seja por appedrejamento, Glauco, porra!} -- Espere ahi, que assim você se trae! Va la que sempre eu peço que me pisem, mas nunca vou prestar um desserviço dizendo que ninguem agora tem direito de exigir-se respeitado! Ainda que um careta a mais se doa, nós temos que incluir nosso prazer em termos de direito, mesmo sem babacas euphemismos. Nessa ficha cahida não está qualquer penal nem maxima sentença, nem condemna ninguem nenhum "peccado". Si puzerem aquillo que deseja alguma egreja, logar nenhum se chama mais Gomorrha...


86 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO NACIONALISTA [0330] {Paiz do faz-de-compta somos nós, segundo diz você, Glauco. Ou será paiz inexsistente, que esperando está pelo futuro, sempre e nunca? Ah, Glauco, quer saber? O brazileiro nem liga para aquillo que se chama orgulho patriotico! O problema está no nosso lemma: jamais pode ser "ordem e progresso" sendo o nosso povão tão desordeiro, ou sendo tão retrogrado o governo! Nosso attrazo e nosso carnaval, bagunça, digo, são marca registrada, que conflicta com essas palavrinhas sem sentido! Notou incoherencia, né, Glaucão?} -- Notei, naturalmente. Mas a voz poetica trabalha, como eu ja affirmo faz um tempo, pendulando por entre extremos. Somos espelunca do mundo; de repente, um artilheiro qualquer do futebol alcança a fama e então o mundo todo que nos tema! A gente só se queixa que se fode, mas gaba-se daquillo que não posso chamar de "ser alegre", pois sinão terei que "masochista" achar que é caso de rotulo servir, eis o perigo, a todo brazileiro. Si maldicta é minha voz masoca, até duvido si é sadico o restante da nação...


INGOVERNABILIDADE 87 CEGA BRONHA BREGA [0337] Si Carlos Alexandre quiz cadeia a alguem que amou bastante e, si festeja que sua trahidora, mulher feia, porem amada, presa agora seja, calcule-se, leitor, como recreia a minha lyra torpe e malfazeja que um typico politico se creia impune, inimputavel, mas esteja, não mais que de repente, numa cheia masmorra, juncto a presos que na egreja jamais se confessaram, que na veia se piccam, que são gente que fareja e fuma, que lavada não tem meia nem sunga, mas que ganha de bandeja a bocca a ser fodida, a bunda alheia, comivel à vontade! Quem calleja a mão de tanta bronha, assim que leia noticias da prisão de quem se eleja mentindo ou promettendo, sou eu, eia! Ainda que em tal cella não os veja, eu gozo quando o publico os cerceia.


88 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO COLLECTIVISTA [0340] {Nós somos altos, baixos, Glauco, mas si somos magros, gordos, mesmo si nós formos pobres, ricos, Glauco, faz alguma differença? Não! Aqui na Terra, até pessoas boas, más si formos, temos algo em commum! Li ja muito, Glauco, e ainda que me vás a these contestar, ja conclui que appenas em conjuncto pela paz podemos combatter, nunca por si luctando cada qual, como quem traz a braza ao proprio peixe! E quanto a ti?} -- Não quero parescer-te descortez nem quero da questão ser urubu, mas acho que em commum nunca se fez justiça nem governo bom. Bem nu e nu te digo: pode ser burguez o gruppo, ou operario, que tabu será sempre esse thema. Toda vez que varios eus convivem, um rebu se installa. Até si todos em inglez se entendem, não serei eu como tu naquillo que queremos. Como vês, sem paz todos irão tomar no cu.


INGOVERNABILIDADE 89 MANIFESTO BELLICISTA [0356] {Putissima fiquei, Glauco, mas puta demais, Glauco! Não posso tolerar que estados tão potentes, como são nações americanas e européas, não partam para a guerra contra quem assim as desaffia! Glauco, chega de tanto terrorismo viralatta! Alguem tem que fazer alguma coisa, jogar a bomba atomica, attaccar com força mesmo maxima, Glaucão! Magina! Aquella gente que nem tem logar para cahir, morta da sylva, querendo provocar uma potencia tão grande, nuclear e de mercado! Não, Glauco, fico puta, não consigo com isso conformar-me, não, jamais!}


90 GLAUCO MATTOSO -- Amiga, fique calma. Não discuta commigo, por emquanto. Vou jogar no coppo um pó tranquillo. Você tão calminha vae ficar, que taes idéas até vae exquescer. Sei que cê tem momentos mais instaveis, minha nega. Sim, vamos, beba tudo. Quem se tracta não fica assim, querida. Mas a dois a conversa se resolve e tem logar. Depois a gente pensa na nação dos outros. Nós tambem estamos sem logar para morrer. Não que o Brazil va entrar nalguma guerra, mas carencia não falta. A pessoal nosso cuidado requer e vou lhe dar meu hombro amigo. Dormiu? Que effeito fazem estes saes!


INGOVERNABILIDADE 91 DISSONNETTO INTEGRALISTA [0392] Encara a liberdade pelo advesso. Sahuda os camaradas no "Anauê!" O lider cujo livro a turma lê é o Plinio, e foi salgado no seu preço. Seu lastro cultural não desmeresço, mas tira do nazismo aquelle quê que, embora no Brazil em nada dê, repudio tem que ter desde o começo. Si resta algo talvez seja a na guerra, si Swastikas não

de bom que se approveite, licção do accontescido ser nazi eu não decido: servem nem de enfeite!

Integralismo agora faz sentido dum modo que de graça a gente acceite somente de manhan, no pão, no leite, regimes mais saudaveis que o partido.


92 GLAUCO MATTOSO MOTTE GLOSADO [0419] O politico receia pegar cancer, si for praga. Quando é cancer de garganta tem o cara alguma chance. Porem, caso o cancro alcance sua tripa, a dor é tanta que nem tenta crer na sancta. Não ha crença que lhe traga um consolo, si elle paga seus peccados na cadeia. O politico receia pegar cancer, si for praga. MOTTE GLOSADO [0426] É mais facil um corrupto confessar que ser punido. Na cadeia ninguem fica muito tempo nesta terra. Confessou que appenas "erra" quem foi pego ou quem se explica. Tem a compta bem mais rica, mais poder tem seu partido, mas impune está o bandido e estou cada vez mais puto. É mais facil um corrupto confessar que ser punido.


INGOVERNABILIDADE 93 EXEMPTÕES AOS MILHÕES [0444] {Você não é de esquerda, Glauco! Ou é? Não vale muretar, Glauco! Si for, tem logo que fallar! Eu ja adivinho aquillo que você vae allegar! Os outros vão achar que é de direita, a menos que confesse ser de esquerda!} -- Nas theses libertarias ponho fé, mas sigo o grande exemplo de Millor. Pensar livre não é pensar sozinho nem collectivamente. É só pensar. Mais perde liberdade quem tem seita. Livrei-me, mas me isolo. Menor perda. {Agora te peguei! Você confessa que tende a agir mais como um extremista! Se julga superior e, si pudesse, impunha a sua idéa a todo mundo! Ah, Glauco, quer saber? O seu logar é só o de cego! Va tomar no cu!} -- Nem perco a calma. Até ja fiz promessa de nunca revidar. Perder a vista não basta para alguem dirigir prece aos deuses, si com demos os confundo. Porem você só pode me tractar por "te" si o tractamento for em "tu".


94 GLAUCO MATTOSO EMPESSEGANDO [0458] Está propicio o tempo para achar-se motivo, que não falta, ao ja tardio, urgente impedimento do occupante do cargo de quem pega na canneta. La fora, a mesma coisa: cidadãos cansados dum estupido dão curso, com base em muitas provas, ao processo. Nas cappas das revistas, apparesce um pessego cahindo na cabeça do gajo, ou seja, taquem "peach" em cyma! Tambem quero propor, nessa catharse que, espero, contamine nosso brio, o verbo "empessegar", ja que bastante a lingua ingleza affecta a nossa peta politica, a tal lenda que, entre irmãos, causando vem rancor pelo discurso. Sim, gente! Empesseguemos, é o que peço, em nome de quem reza a mesma prece, pedindo um milagrinho que accontesça. Ao menos ja desfructa quem se anima...


INGOVERNABILIDADE 95 EXEMPTÃO DE CORAÇÃO [0461] {Não, Glauco! Ouço fallar, mas não! Commigo jamais! Nem por um pratto de comida eu vendo o meu bom senso! Não! Do joio o trigo que eu separo como boa idéa jamais custa a minha perna, meu braço, nem por ella meu cu fodo! Não sou voto comprado, minha fé nalguma boa causa, no poder vigente, na campanha dum rival, não tem tabellamento de milhões nem mesmo de migalhas! Meu modello tem sido você, Glauco, que, maldicto, por nada se vendeu! Quero seguil-o!} -- Tambem estou tranquillo, meu amigo. Eu nunca, veja, nunca nesta vida ganhei um só centavo para appoio dar, seja a algum politico em pessoa, a algum partido, ou mesmo a quem governa. Não, nunca recebi nada. Mas todo subjeito tem seu preço. O meu não é barato. Caso queira alguem saber, eu quero uma cadeira de immortal e, vindo de lambugem, um Camões. Mas, como ninguem paga tanto pelo appoio dum ceguinho, lhe repito que estou, mais do que nunca, bem tranquillo.


96 GLAUCO MATTOSO CHILENA CANTILENA [0466] {Paresce-me, Glaucão, ser opportuno fallarmos do que rolla alli no Chile. Não achas que isso lembra aquelles dias saudosos, anteriores ao estado milico, de excepção, la nos septenta? Refiro-me aos protestos, mesmo appós ter dado o Pinochet aquelle insano, sangrento golpe. E então? Te lembras quando o Victor Jara, preso num estadio no meio de centenas, protestou cantando? Que fizeram os milicos? Lesaram suas mãos, as mesmas mãos que tanto na guitarra dedilhavam! Mactaram-n'o, depois! Te lembras? Tudo por causa das canções que, por Allende, fez elle, incentivando um operario, um medico, um mineiro, um professor a serem mais participes do seu paiz, Glauco! Te lembras? Por signal, não era só no Chile: ca tambem soffremos repressão e sempre fora algum compositor mais censurado, embora sem perder as mãos, a vida...}


INGOVERNABILIDADE 97 -- Sim, claro que me lembro. Fui alumno, então, da USP e as lettras nem vacille você em pensar que nunca foram frias alli naquelle campus tão visado por nossa dictadura violenta. Mas quero recordar, ja que entre nós rockeiros são heroes, que esse paizano, o Jara, virou thema do nefando regime, na canção que, não no radio, mas sim num elepê, como num show, ouvi bastante, então. Nem nossos Chicos cantaram o que Guthrie a seus irmãos latinos bem cantou. Claro, cantavam tambem outros Caetanos, nenhum mudo ficou, nem Gil, nem Milton. Reaccende agora a atroz questão esse scenario chileno, ou argentino, ou de suppor que seja, brazileiro, ou europeu, até, si ja global se torna a tal questão dessa direita, alhures, em crescente expansão, sempre repressora. Esteve esse Arlo Guthrie mais do lado de baixo que de cyma. Alguem duvida?


98 GLAUCO MATTOSO DESIMMUNIDADE PARLAMENTAR [0526] {Você ficou sabendo, Glauco? Foi achado um monte enorme de... de... Minha Mãe Sancta! Escorpiões! La no Congresso! Accabo de saber, o radio deu! Não, Glauco! Ja pensou? No corredor, nos proprios gabinetes, no Senado, na Camara! Si eu fosse deputado, pedia p'ra sahir! Uma licença, qualquer motivo valido, mas ia ficar é fora, Glauco, desse tão horrivel antro! Bichos peçonhentos? Tá louco! Claro fique, eu sahiria de ferias, mas sem perda dos proventos! Parou p'ra pensar nisso, Glauco? Diga!} -- Nem mesmo do tamanho ser dum boi precisa para algum dessa damninha especie ter veneno. Nem lhe peço maior detalhe. Puta susto, meu! Por outro lado, posso bem suppor que piquem senadores, um damnado estrago causem, piquem o saphado ladrão, aquelle sordido, que pensa que pode se valer da mordomia, livrar-se de qualquer accusação. Sim, optimo seria seus lamentos ouvir de dor, ouvir dessa agonia soffrida pelo gajo. Taes momentos são lindos. Foi verdade? Faço figa.


INGOVERNABILIDADE 99 INFINITILHO DA EXCOLHAMBAÇÃO [0539] {Aquelle negro, sim, é corajoso! Com elle é que eu concordo inteiramente, Glaucão! O movimento negro nem devia, no Brazil, ter exsistido! Um negro foi quem disse, Glauco, pense bem nisso, meu! Racismo? Não! Aqui não houve nada assim tão violento, tal como la na America! Abolimos, sem guerra, a escravidão! Até benigna direi que foi a nossa! Cê não acha? Eu soube até de negros que, libertos, quizeram seguir sendo, para seus senhores, 'inda aquelles escravinhos que sempre foram, mais bem comportados e menos açoitados! É questão de vermos com bom senso, Glauco! Deixe que grite, que experneie essa chorona esquerda tropical! Concorda ou não?}


100 GLAUCO MATTOSO -- Discordo. Não serei Glauco Mattoso si disso for attraz. Você que tente sahir dizendo um troço que não tem nenhum embasamento! Mas duvido que disso quem fallou seja forense e douto portavoz. Mais vejo alli um certo masochismo, que não tento culpar, mas que em privado, só, curtimos. Um negro quer lamber uma botina de branco? Pois que lamba! Se esculacha um branco aos pés dum negro? Que elles certos estejam não duvido. Tambem meus são esses bons fetiches. Mas, maninhos, separem bem as coisas! Varios lados exsistem na questão. Os negros não teem nada a ver com esse podre peixe vendido pelos brancos, sempre à tonna, fedendo pelas aguas da nação.


INGOVERNABILIDADE 101 SCENAS DE PUGILLATO [0549] {Você, Glauco, teria gosto nisso! Contar-lhe vou aquillo que vi, nesta dignissima Assembléa: na tribuna discursa aquelle velho fanfarrão, chamando todo mundo para o pau, xingando, proferindo offensas varias, até que um trouxa veste a carapuça e parte para cyma do orador. Do deixa disso a turma logo cerca a dupla, mas é tarde. Sae porrada geral, distribuida, com direito a golpes de judô, de karatê, pernada, ponctapé, tudo que alguem assim como você ver quereria, Glaucão! Ficou você mais satisfeito?} -- Não. Quero mais ainda. Grande enguiço desejo no Congresso. Minha festa seria que, na base da borduna, appenas, não ficasse. Que na mão alguem saia, acho pouco. Maior grau espero de calor. Sim, latrinarias offensas que provoquem a dentuça partida por um coice, senador sacando seu revolver, quem alterca tombando balleado, da bancada o lider morto a faca, num perfeito desfecho cidadão, como você suggere. Mas tivemos, ja, tal, sem que nada resultasse. Quero, um dia, que morram de montão. Vae ser bem feito.


102 GLAUCO MATTOSO INFINITILHO EXPALHADO [0557] {Quem olha para o gajo não se enganna! Ja viste, Glauco, um typo mais escroto? Seus oculos escuros não são como os teus, que tens de cego face clara! São como os dum gambé, dum araponga! O gajo o dia passa a teclar fake news sobre todo mundo que critica aquella familicia ainda impune! Não, nada faz de bello ou productivo! Só quer saber de "guerra cultural", de "mytho", "lacração", tudo que ennoja! Não achas que esse typo nausea causa?} -- Foi visto usando, dizem, hawaiiana barata. Tambem dizem que o garoto tem pés largos, chatissimos, e sommo a tal characteristica a mais rara de todas: dedão curto, menos longa medida que a do dedo ao lado. Sei que tem gregos pés, emfim. Imagem rica, embora sendo um verme. Eis que reune, portanto, qualidades que, no crivo dum cego masochista, dão aval ao lodo onde esse cara ahi se expoja. O odeio, mas meu odio ora faz pausa.


INGOVERNABILIDADE 103 INFINITILHO DA INVEROSIMILHANÇA [0561] {Em nome do Partido, eu ca proponho tomar por homenagem a medida de gloria ao Dirigente Koreano do Norte, pelo exforço do seu povo, alem da liderança, tão suprema, tão maxima, tão bella, tão sublime, do Grande Timoneiro, digo, Grande Amigo, Companheiro, Camarada! Proponho que se inscreva nesta Casa o nome desse Lider como exemplo da nossa linda lucta popular! Estou representando o meu Partido!} -- Assim não dá. Por isso é que, tristonho, eu perco o meu respeito. Quem decida dizer-se libertario desenganno do typo não tolera. Me commovo por causas sociaes, pelo problema do nosso retrocesso. Mas fodi-me tentando crer na esquerda. Quem commande partidos esquerdistas não tem nada mais util a fazer? Quem extravasa tal pleito não meresce como templo um foro democratico. No bar, tampouco, valerá menor ouvido.


104 GLAUCO MATTOSO INFINITILHO DO RELHO [0564] Alguem que do governo toma as dores me disse que deviamos tomar medidas as mais drasticas, taes como na constituição fazer a limpa, voltar ao AI-5, fechar tudo, Congresso, tribunaes, imprensa, até controle de internet annunciar. Seria, como falla a "auctoridade", a "maxima delicia" a degustar, um "céu de brigadeiro", uma total aurora governista, ao seu estylo. Entendo tal tesão dos dictadores na pelle do cagueta mais vulgar. Quer elle descomptar, em cada assommo raivoso, de quem baixa a sua grimpa, lhe barra as pretensões. Seu odio mudo seria desforrado, de má fé, num intellectual, num superstar, na mais celebre estrella da cidade. Chicote quererá, sim, manejar. Seus pés quem lamberia, quando o mal que prega triumphasse? Eu nem vacillo...


INGOVERNABILIDADE 105 INFINITILHO DA PALHAÇADA [0587] {Cholerica fiquei, Glauco! Ja cada ministro um estandape está fazendo! Gracinha p'ra platéa, Glauco! Observas? Um planta bananeira para dar noção de que a politica, si innova, põe tudo de cabeça para baixo! Um outro joga ao povo chocolates e imita Sylvio Sanctos! Reparaste? Mais outro dos desenhos animados debocha, personagens gays apponcta! Um circo me paresce esse maldicto governo, gente! Estou inconformada!} -- Querida, não te irrites. Estressada si ficas, tempo perdes. Eu defendo que calmos nós fiquemos, que com hervas façamos um chazinho. O paladar melhora ao addoçarmos. Anda, prova! Mais tarde, nós riremos, e me encaixo na claque que rirá. Somos, nós, vates, prophetas, bem tu sabes. Que nos baste, prevemos ao governo tristes fados. Ministros dão risada, mas a compta chorando pagará quem eu nem cito. Que delle archiva a chronica? Bah! Nada!


106 GLAUCO MATTOSO INFINITILHO BISBILHOTEIRO [0589] {Mas, Glauco, como quebram o sigillo dum gajo que é politico, que tem totaes immunidades? O paiz virou casa da sogra, virou cu de Mãe Joana, Glauco! Um juizinho qualquer, de qualquer vara de interior, decide que se pode examinar as comptas dum honrado cidadão! Ninguem ser poderá tão abelhudo! Si duma auctoridade bisbilhotam bancarios movimentos, que dirá dalgum gajo commum? Não! Não consinto! Glaucão, isso precisa ter um fim!} -- De facto, tem um fim, si definil-o eu posso como tactica de quem tem tal finalidade. Esse juiz talvez tenha pensado: "Ora, tabu não vejo no sigillo do vizinho! Por que não dum cacique?" Do doutor juiz não está livre nem quem ar obstenta de major ou capitão! Pequenos magistrados podem tudo? Talvez. Alguns juizes calma adoptam, pois sabem que jeitinho sempre dá um caro defensor. Mas não me sinto em risco. Duro vivo, ora! Ai de mim!


INGOVERNABILIDADE 107 DISSONNETTO MENSURADO [0680] Pesquisa scientifica revela: chulé de adolescente grandalhão mais fetido é que o cheiro do colhão dum joven desnutrido de favella. Segundo uma estatistica, a panella vazia está cheiissima, e um milhão, si for bem calculado, o expertalhão embolsa e faz de compta que parcella. Um numero diz nada. Na punheta tem vinte ou mais centimetros a trolha. "Por cento" é abre-te-sesamo da peta. Qualquer besteira é um indice na folha. Cocô na praia é ciphra na prancheta. Miseria ou mesa farta, tudo é "bolha". Si crê no que um politico prometta ou checa nos jornaes, você que excolha!


108 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO ORGANIZADO [0681] Do crime uma facção ja se nomeia Congresso Brazileiro dos Bandidos, alem daquella antiga entre os partidos: Partido Communista da Cadeia. A tactica da mafia, ja apponctei-a em muitos dos sonnettos diffundidos na marginalidade: os opprimidos não podem reclamar de bocca cheia. Em todas as possiveis direcções as ordens veem dum lider prisioneiro. Aos membros da quadrilha as instrucções incluem o esculacho ao brazileiro, que engole porra e mijo hoje aos milhões. Os trez poderes, ja no captiveiro, terão nome mais proprio dos ladrões: Mandante, Executor e Justiceiro.


INGOVERNABILIDADE 109 DISSONNETTO POLITIZADO [0687] Politica foi arte. Hoje é sciencia exacta, com pesquisa de mercado e tudo. Quer negocio, como gado na bolsa, e não philosopho que pense-a. À esquerda ou à direita, uma tendencia ja não se posiciona. Um engajado num dollar ou num euro excolhe o lado conforme a quotação da consciencia. Em dollar, faz o jogo inflacionario e ao cambio negro comptas elle presta. Em euro, faz de compta que contesta o juro americano, o aval bancario. Si outrora as eleições ja foram festa dum povo em liberdade e libertario, agora o mesmo povo ha quem compare-o ao touro numa arena deshonesta.


110 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DAS TROUXAS DOS TROUXAS [0748] Um bando embandeirado dos sem-tecto occupa um edificio abbandonado. Installam-se as familias. Lado a lado, convivem rosto e pé, rango e dejecto. Cubiculos estão onde o selecto e vasto condominio foi lembrado. Até o momento ausente, agora o Estado se mexe, cerca o predio, afflicto, inquieto. Os novos moradores barricada constroem, se entrincheiram e resistem sem terem horizonte algum que advistem, até que o hostil bloqueio os dissuada. Por fim seus dados deixam que se allistem na fila das promessas vans, armada por lideres "pragmaticos", e cada sem-tecto sae sem rhumo. Outros assistem.


INGOVERNABILIDADE 111 SONNETTO DA XERECA XEROCADA [0762] No grampo ja flagraram cada pappo capaz de arruinar reputação das mais inattaccaveis, como são as do poder, que faz cara de guapo. Eu mesmo, si flagrado, não excappo de em lama chafurdar, pois meu tesão por pés, manipulado em qualquer mão, comprova ser-me a lingua um sujo trappo. "Quanto é que eu levo?" "Porra, que merreca!" (fallando em commissão chia um cacique politico, e 'inda contra a imprensa impreca) Primeira-dama alguma impa de chique emquanto, grampeada, diz: {Xereca como esta, não tem clone que duplique!}


112 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA CHUPETEIRA FEDERAL [0763] Chupar o pau do Clinton, é o que a alumna simula, estagiaria no Planalto. No Rio, nem no morro nem no asphalto ficava: ia p'ra Lapa, da Pavuna. Não era nem a Vera nem a Bruna, mas só se imaginava num salto alto. Seu lubrico patrão tambem é falto de dotes e não vê propria a lacuna. Resulta que a estudante chupa a rolla mambembe dum politico franzino pensando que não faz papel de tola. No fim, não ganha nada: seu destino é ser abbandonada e, p'ra repol-a, o chefe paga a bocca dum menino.


INGOVERNABILIDADE 113 DISSONNETTO DA MORTALIDADE [0766] Morreu mais um politico! Sim, este anno paresce que será de necrologio bem farto! Ainda bem! No meu relogio é hora de outro biltre ir pelo cano! Por mim, todos os dias, um fulano com cargo no poder, que a Morte arroje-o no quincto dos infernos e despoje-o de tudo que gozou do ouro mundano! Os seculos virados dão ensejo a taes limpezas: gente que não presta às pencas desinfecta! É o que desejo! Concorda a plebe toda, a midia attesta. Politicos abundam no varejo e ainda muito bicho escroto resta a salvo do exterminio, pois só vejo a Camara augmentar verba p'ra festa!


114 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE [0787] O gajo, cobiça, fascina vaidade

si é politico, é claro. Alem, alguns aquillo faz cosquinha:

o poder porem, da grana, que na humana alguem os ler.

A esses, escriptor não basta: crer a si mesmo "immortal" é o que os uffana. Entrar p'ra Academia acham bacchana. Que sexo! Usar fardão dá mais prazer! Não falta puxasacco que os eleja. Qualquer discurso vale como "a obra". Bastou, na votação, uma manobra e o cha lhes é servido de bandeja. Si a critica o talento a um delles cobra, o gajo, mellindrado, nem se peja: mediocre poesia ja despeja da mão dalgum "phantasma" que se dobra.


INGOVERNABILIDADE 115 INFINITILHO ADVACCALHADO [0788] {Eu acho engraçadissimo, Glaucão! A cada nova lei que se annuncia tentando cohibir velhas manias, a midia diz que aquelle que incidir na practica da coisa "poderá" ser preso, ser mulctado, ou ser fechado seu poncto de commercio. "Poderá"? Mas como "poderá"? Si é p'ra valer alguma lei, no minimo dirá que o gajo "será" preso, porra! Alguem respeita lei que nasce tão incerta? Ja basta que ser preso, no Brazil, não dá certeza alguma de que fica trancado! Si disserem que elle "pode" pagar pelo seu crime, então fodeu! "Aquelle que assassina alguem...", calcule você, Glauco, "talvez possa pagar alguns anninhos preso..." Brincadeira!}


116 GLAUCO MATTOSO -- Por isso ja disseram que este não é, nunca será, mesmo, uma sadia nação, um "paiz serio". O Zacharias morreu, mas carequinhas vão surgir usando uma peruca, que será ridicula, a qualquer momento. O dado mais comico o percebo no gagá politico que excappa do dever de comptas nos prestar, mas para ja propõe que todo mundo o dever tem de arcar com mais impostos. Gente experta ha tanta por aqui, que quem é vil paresce maioria, que quem mica só pode raro otario ser. Se fode aquelle que quizer ser europeu em terras brazileiras. Si seu bule tiver café sem palha, seu azar será menor e extranho odor me cheira.


INGOVERNABILIDADE 117 DISSONNETTO DO DECORO PARLAMENTAR [0795] "O illustre senador é um semvergonha!" {O que?! Vossa Excellencia é que é saphado!} E os dois parlamentares, no Senado, disputam palavrão que descomponha. Um grita que o collega usa maconha. Responde este que aquelle outro é veado. Até que alguem apparte, em alto brado anima-se a sessão que era enfadonha. Inutil tentativa, a da bancada, de a tempo separar o par briguento: aos tapas, se engalfinham por um nada. Torcendo outros estão pelo momento fatal da verdadeira punhalada. Imagem sem pudor do Parlamento, são ambos mais sinceros que quem brada: -- Da pecha de larappio me innocento!


118 GLAUCO MATTOSO INFINITILHO DA PALHA [0802] {Os homens que, de lettras, para ti importam, Glauco, como os classificas? Dum lado, os vejo como o typo ommisso: não move siquer uma palha para mostrar que descontente está, na vida politica da patria brazileira. E, doutro, os vejo como o futil typo: irá, por dá ca aquella palha, ter motivos de discordia para tudo. Nenhum delles, Mattoso, compromisso terá com importantes coisas, nem com nobres interesses. Achas tu que tenho opinião disparatada?} -- Magina! Achaste certo, pois aqui só cuidam do debatte de titicas, ou dizem que não teem nada com isso. De minha parte, nada mais me enfara que tempo jogar fora na perdida disputa de polemicas na feira vaidosa, a virtual. Sim, participo da scena, mas compondo. Meu dever é dar opinião, mas meu escudo e minha firme espada são -- e nisso insisto -- o proprio verso. Com ninguem debatto, que não seja pelo nu e cru verso rhymado,ou fallo nada.


INGOVERNABILIDADE 119 SONNETTO DA CUNNILINGUARUDA [0814] Se installa CPI que appuraria quem fundos desviou para a Suissa. Chamados a depor nessa "puliça", irados coroneis quasi dão cria. "Ondé que já se viu, Vige Maria, desconfiar de mim? Quero justiça!" Na midia a cobertura é ja massiça, mas nada se descobre e a coisa exfria. Até que uma tehuda e mantehuda confessa que um amante usava a compta chamada "Longue-Tongue", a mais polpuda. Archivo a ser queimado, a moça, tonta, ainda o nome explica e se desnuda: {É delle a lingua, e enfia fundo a poncta!}


120 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA IRA [0833] Putissimo fiquei depois de ter noticia de mais outro escandaloso desfalque que um politico "schifoso" perpetra, mal se pilha no poder! Que raiva! Dá vontade de fazer com elle o que o Bin Laden fez com gozo nas torres gemeas! Pôr-lhe um caloroso foguete bem no cu, que o faça arder! Mas isto só não basta! Uma vingança é feito um pratto frio, que se come não só com appetite, mas com fome, depois de muito tempo, e extupha a pança! Va la que nunca a grana alguem lhe tome de volta, mas ao menos não descansa nem dorme, com a dor que não se admansa, o vil ladrão, no cancer que o consome!


INGOVERNABILIDADE 121 DISSONNETTO ELEITORAL [0864] Fundar novo partido é coisa à toa: reune-se uma turma num boteco e, emquanto o choppe espuma no caneco, com muito palavrão o pappo echoa. Rascunha-se o estatuto, e assim que soa euphonica uma sigla, prompto o treco está. No editorial dum jornaleco se invocam os direitos da pessoa. "Obreiro", "Trabalhista" ou "Proletario", synonymo não falta quem defenda. Qualquer bobagem serve de legenda, comtanto que ache espaço no plenario. Na proxima campanha, caso renda mais votos, se colliga, algum otario lhe serve de "laranja", e aluga horario gratuito, 'inda que até ao rival se venda.


122 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO CONTEXTUAL [0890] Fallar dum "homem publico" é commum e nada de suspeito nos desperta, mas quando é "mulher publica" ja allerta olhares que se voltam ao bumbum. Que coisa! O mesmo termo traduz um sentido masculino que é, na certa, resquicio do machismo, emquanto apperta o cerco à femea, à falta de jejum! É puta sempre aquella que padesce no torpe linguajar que mais offenda. Então a prostituta não meresce do povo a confiança que lhe renda o voto que ao cacique se enderece? Quem jura que um politico não venda a propria mãe e ao demo sua prece não faça por um cargo na Fazenda?


INGOVERNABILIDADE 123 DISSONNETTO CORRECCIONAL [0893] Incauto, um deputado se encaminha a pé para a festinha da bancada. De subito, é cercado na calçada e está preso no centro da rodinha. Primeiro, um empurrão o desallinha. Um murro deixa a bocca ensanguentada. Tentando reagir, o cara é cada vez mais encurralado e só excoicinha. Não tarda, e um pé mais agil se revela. Tropeça e cae, por fim, o desgraçado, e um chute logo accerta-lhe a costella. Ainda reagir quer, allarmado. Mas, fracco, por soccorro, rouco, appella. Ja chovem ponctapés de todo lado. Os dentes do politico esphacela o bicco dum sapato bem surrado.


124 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO NÃO-GOVERNAMENTAL [0895] O que é, o que é? Responda antes que eu gongue! Tem cara, ou duma creche, ou de hospital, às vezes até banco, e o capital tem credito que encurte ou que se allongue. Nem nem nem Não

clube de gamão, nem pinguepongue, mutirão, nem multinacional, fundo de quintal, nem estatal! adivinha? É simplesmente a ONG!

Mais extraofficial é o combattivo estylo do Greenpeace ou dos anarchos, que, intrepidos, transgridem legaes marcos e enfrentam as potencias com motivo! Meu caso é bem atypico: com parcos recursos compto, e da visão me privo, excappo ao litterario e culto crivo, mas contra os baleeiros vão meus barcos!


INGOVERNABILIDADE 125 DISSONNETTO GOVERNAMENTAL [0903] Tamanho nepotismo se constata nos quadros do governo, que, bem breve, nenhum parente vivo fora deve ficar da mordomia e da mammata! O genro, a nora, a sogra mais ingrata, cunhados e sobrinhos, quem se attreve a demittil-os, mesmo quando em greve declaram-se ou trabalham sem gravata? Nenhum appaniguado que se preza acceita cargo abbaixo de chefia, gerencia, direcção, assessoria, chartilha em que a familia toda reza. Si alguem negociatas denuncia e apponcta quem promove ou quem reveza, chamado é de "invejoso", pois lhe pesa a culpa de occupar vaga da thia.


126 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO INCONDICIONAL (I) [0904] Estou estupefacto ante o boato de que tem engraxate no Congresso ganhando mais que um astro de successo, dolleiro ou director de syndicato! Por tal salario, engraxo dum perfido inimigo! Até licença de lambel-o e me escravo de seus pés, sob Si eu do no

até o sapato lhe peço confesso os quaes latto!

ao posto me nomeiam, ah, menino, chupo até o caralho do supplente vice-substituto do interino cargo de assessor dum assistente!

Não tendo um pistolão, ja me previno: na falta de padrinho, por contente me dou lambendo a sola do assassino daquelle funccionario incompetente.


INGOVERNABILIDADE 127 DISSONNETTO ILLEGAL [0916] Num desses contrabandos de cigarro analyse fizeram: nicotina "accyma do padrão". Quem examina tambem acha alcatrão de encher o jarro. Ficou até gozado! Cheira a sarro dizer que ha no pirata uma assassina dosagem, "excessiva" e "clandestina", daquillo que é "normal" ja no catarrho! Até paresce que o "saudavel" fumo está sendo fraudado e adulterado por bando criminoso ou scelerado e só cigarro falso é mau consumo! Assim é na politica: o accusado de roubo livra a cara aos que presumo tambem serem ladrões, que tomam rhumo de casa, si ninguem é condemnado.


128 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO ANTIGOVERNAMENTAL [0923] Estado organizado é como o Inferno! Assim acha quem vê no Executivo a synthese do abuso repressivo e o opposto a tudo quanto for moderno. Si no Legislativo um simples terno distingue o ladrão preso do electivo, Justiça é dos impunes um archivo. Quem contra elles está diz: "¿Hay gobierno?" Porem mais radical que um anarchista sou eu, que outro poder contesto e enfrento: o arbitrio que me fez perder a vista, da vida colorida todo o alento. De todos os seus crimes fiz a lista. A Elle, o mais tyranno e truculento, questiono e ponho em duvida que assista aos vivos como um Pae, já que é um sargento.


INGOVERNABILIDADE 129 RHAPSODIA LENNONIANA [0958] {Direito de fumar, Glauco, o comparo à propria liberdade de ir e vir! À livre excolha, até, de respirar! Assim fallou John Lennon quando quiz luctar por John Sinclair, que tinha sido culpado de fumar, ou de portar, ja nem me lembro, um par de baseados... Aquillo que de facto tem razão o Lennon de dizer é que ninguem ser preso pode pela sua plena e livre preferencia por um typo de gaz ou ar que queira pela venta sugar ou, como dizem, inspirar! Tem duvida você nessa questão?} -- Nenhuma. Mais exotico ou mais raro que seja qualquer habito (ou convir que seja vicio posso), nenhum ar, nem vento, nem vapor, esse infeliz poder da caretice conseguido terá nos prohibir de desfructar. O mesmo vale para alguns calçados fedidos, para as meias, o pezão que calça taes fetiches, si quem tem tesão por isso os quer na sua scena. Portanto, dizer devo: participo da causa, mas quem tanto se contenta com hervas tem tambem que tolerar a minha chulepenta devoção...


130 GLAUCO MATTOSO RHAPSODIA DYLANIANA [0961] A gente, quando joven, se devota à paz, ao amor. Trouxa, a gente apposta no vento das mudanças e, resposta achando que trará, fé nisso bota. Mais tarde, nota a gente que lorota foi tudo o que se disse e desencosta dos lideres, dos sonhos, dessa bosta. Achamos ser o vento um idiota. Accordo de manhan, não vejo nada. Accordo de manhan, só trevas vejo. Agora reduziu-se meu desejo à luz, inexsistente na alvorada. Virar vae a cegueira, vez mais cada, desgraça collectiva, no varejo. Ainda assim, não perco o meu ensejo de graça achar naquella gente errada.


INGOVERNABILIDADE 131 DISSONNETTO SENATORIAL [0964] Só serve um senador p'ra dar mais gasto aos cofres do paiz, ja que não vota em nada differente do que brota da Camara, um alcance pouco vasto. Tranquillo como boi solto no pasto, tem feria vitalicia e orgulho arrocta do Estado que lhe deu a justa quota de votos: tem padrinho, e não padrasto. Porem si militar for o regime, mais facil é chegar ao nobre posto: lhe basta ser "bionico" e que rhyme "legal" com "general", de quem preposto se torna, até que o dia se approxime das novas eleições, a contragosto. Jamais "eleitoral" será seu crime, pois oleo de peroba põe no rosto.


132 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO ENXOVALHADO (II) [0991] Si má reputação intimidasse algum ladrão politico ou seu vice, talvez um simples susto ja servisse p'ra dar uma licção em quem roubasse. Mas nada attemoriza aquella classe de gente, que 'inda ri do que se disse de seus procedimentos, na crendice do povo associados à má face. Si um pacto com o Demo é o que lhes dá certeza de que impunes ficarão, paresce que vigora ha tempo, ja. Não falha a velha crença do povão. Tampouco falha a velha fada má. Alguem dedura, mas, si ladra o cão, passeia a ladroeira e segue la pro quincto dos infernos de carrão!


INGOVERNABILIDADE 133 DISSONNETTO TRABALHADO [0993] Passou a vida inteira no battente o velho senador, coitado, e agora tem gente que defende, sem demora, um corte no que ganha de excedente! O "auxilio-paletó", o "abbono-ausente", "salario-amante" e "creditos-por-fora", a verba para o gruppo que assessora, é tudo ethico, justo e condizente! Correio, gazolina, almosso e cha são poucas regalias a quem presta serviço tal à patria e o sangue dá! Chamar de "mordomia" é só indigesta, ingrata má vontade, e "marajah" é a mãe de quem dedura e quem protesta! Só falta não quererem que elle va de carro official a alguma festa!


134 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO EXCOLHAMBADO [0995] Mais se desmoraliza, mais provoca o verso do pornographo que, alheio a toda restricção, diz nome feio de toda gente, em tudo quanto toca. Assumpto prohibido ou só fofoca, não ha thema que não seja subjeito a ter seu poncto fracco ou seu defeito exposto em calão sadico ou masoca. Poeta fescennino que se preza jamais desprezaria occasião de enxovalhar quem macta, rouba e lesa o bolso do povão e da nação. As coisas na ballança a gente pesa. Por isso é que o politico ao ladrão se eguala: si assassino é quem mais reza, mais sancto é quem verseja em palavrão!


INGOVERNABILIDADE 135 DISSONNETTO AGUILHOADO [0998] Aquillo que incommoda o detentor do mando é que contestem seu direito de tudo reverter em seu proveito e posse ter de quanto é de valor. Ao dictador ninguem pode se oppor, mas quando "democratico" é o subjeito e vê que seu discurso eu não acceito, reclama que sou critico e censor. Na practica, ninguem acceita nada que mexa em seu comforto ou no seu ego, que feche seu caixão com mais um prego e apponcte-lhe ter feito coisa errada. Mais duro ainda é quando um bardo cego commenta algo que attinge e desaggrada um mytho ou um mentor, a bruxa, a fada, que teem vicios eguaes aos que carrego.


136 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DESPOLLUTO [1025] "Preciso despachar no gabinete", assim se diz na hora de cagar. Si cada coisa é feita em seu logar, o cargo dum politico é retrete. Alem dessa metaphora, o tolete reflecte a perfeição dum lapidar poema, do qual pode idéa dar egual à da limpeza um sabonete. Aquillo que direi é bom motivo à verve e em nada a logica se fere. Comparo a poesia a um digestivo processo que, affinal, pouco differe da forma de prover cargo electivo. Nem tudo que se come se digere e o voto consciente é o melhor crivo que ao rio uma agua limpa recupere.


INGOVERNABILIDADE 137 SONNETTO EMBARGADO [1066] A cada refeição, mais me appercebo de que peora a carne brazileira: vae toda pro exterior, si é de primeira, e aqui só fica bucho, nervo e sebo. Na bronca é que as noticias eu recebo accerca do occupante da cadeira de chefe da nação, que à churrasqueira se farta e ainda bebe o que não bebo. Por isso é que eu odeio o presidente: passeia o tempo todo, não faz nada e nunca na muxiba mette o dente! Maldicto! Rogo praga p'ra que cada dentada e cada gole mais lhe augmente a chance de morrer numa engasgada!


138 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA DESCULPA EXFARRAPPADA [1132] Partido que affirmava ser melhor que os outros, mas que aos mesmos ja se eguala, na practica e nas petas que propala, revela-se, no fundo, até peor. Dos outros ja sabiamos de cor que a labia, a falcatrua, a grana em mala, junctavam todos numa mesma valla commum, desde os maiores ao menor. Mas quando companheiros de jornada utopica e ideologica se passam, sem pejo, para o lado da cambada, aggravam-se os motivos que os desgraçam! Si vis "fins" justificam "meios", nada nos resta! Só de bobos não nos façam!


INGOVERNABILIDADE 139 DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE MALCHEIROSA [1230] Na Casa dos Quarenta, entre os que são, de facto, bons auctores, sempre occorre alguma distorção e, assim que morre o proximo "immortal", ha votação. E quaes os candidatos? Um é tão famoso quanto mais meu sacco torre. Um outro foi politico, e concorre mais como "merdalhão" que "medalhão". Nenhum como escriptor pode ser tido, mas querem, porque querem, a cadeira, mais rara que as que almeja algum partido na Camara, a appromptar a bandalheira. Na minha "Academia Brazileira" a vaga não disputo nem divido, pois é "dos Exquescidos" e nem cheira, nem fede, como fedo, quando lido.


140 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA OPERAÇÃO "VENTILADOR" [1267] Policia Federal, "republicana" que sempre foi, com seja la quem for, algema e prende até governador, prefeito, deputado... e flagra a grana! Agora, até bicheiro vae em canna, excepto quem comprove não se oppor ao "nucleo duro" e entregue algum valor ao "caixa dois" do chefe, que se uffana. "Ninguem da lei accyma está!", proclama em publico o ministro justiceiro, achando que fez fama e faz a cama. Seria acconselhavel que, primeiro, prendesse quem nas tetas sempre mamma, ganhando mil perdões do "companheiro".


INGOVERNABILIDADE 141 SONNETTO DA NOVA LEGISLATURA [1275] Na Camara não vinga: a maioria da base governista quer barrar que installe commissão parlamentar o gruppo que appurar tudo queria. Agora, no Senado, se appropria da causa quem battalha seu logar na frente do holophote. Appós ganhar appoio dos collegas, desaffia: "Faremos a faxina nesta casa! Corruptos e ladrões serão punidos! Comnosco a coisa é fogo e ferro em braza!" Mas logo, sobre o cara, conhescidos os podres são, que a midia a turma vaza. Exfria o caso e archivam-se os pedidos.


142 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO RABO PRESO [1276] Conversa grampeada, ao cellular do nobre deputado, mostra o quanto depende elle da acção dum pae-de-sancto, a cuja protecção quer appellar: "Querido, você tem que me adjudar! Preciso dessa grana, cara!" E tanto insiste, que responde "Eu lhe garanto!" o bruxo do Congresso, ao desligar. Consegue o que queria o deputado: caixinha gorda está, ja, recebida. Embolsa a commissão, mas, em seguida, sentindo dor no cu, será internado. De cancer morrerá! Mais succedida foi minha maldicção! Ladrões, cuidado! Dum cego tal rancor dá resultado! Ganhar dinheiro sujo custa a vida!


INGOVERNABILIDADE 143 SONNETTO DO RAPÉ REPELLENTE [1281] Barrado na Assembléa, o punk allega que quer ver discursar um deputado. Si até mendigo entrou, elle, coitado, tambem tem o direito, ninguem nega! Extranham que algo tão maçante e brega mantenha um anarchista interessado, mas elle até se acchega e, emquanto ao lado não fica da tribuna, não sossega! Paresce ao orador bastante attento e, quando este termina sua falla, o punk accorre e esboça um cumprimento! A mão dá-lhe o "doutor": sem appertal-a, o joven da jaqueta um pó nojento retira, mira, assopra... e o odor exhala!


144 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA VERGONHA NA CARA [1282] Ministro, que no escandalo é flagrado, commette suicidio, se enforcando até numa colleira si, dum bando detido, é como cumplice accusado! Mas só la no Japão! Aqui, um saphado mantem amantes varias, sustentando a todas com seu cargo no commando da mesa, quer na Camara ou Senado! Tivesse este a vergonha que la teem, mactava-se empalado com um cabo de enxada ou de vassoura! E agia bem! Aqui, desviam, roubam, de nababo se fazem e, peitudo, não ha quem lhes metta uma vareta pelo rabo!


INGOVERNABILIDADE 145 SONNETTO DA SESSÃO SUSPENSA [1283] Bastante concorrida está a sessão da Camara: em plenario ja se vota projecto que destina gorda quota da verba aos alliados de plantão. Da mão do presidente cae, então, um maço de papeis, e ninguem nota que, sob a mesa e rente à sua bota, a grande aranha advança pelo chão! Emfim, um deputado apponcta a aranha e, a tempo, antes que suba em sua perna, o lider pulla! A Camara se assanha! Tumulto! Corre-corre! Não governa ninguem aquella merda, nem appanha as folhas, que se expalham na baderna!


146 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA CANALHICE NA VELHICE [1285] A gente com sessenta se apposenta, appós ter trabalhado p'ra caralho, ou quando está incapaz: eu, que não valho, só tenho esta pensão, que me sustenta. Politico differe: com sessenta começa na carreira. Seu trabalho, porem, é roubalheira, e de pirralho rotulam o ladrão que tem quarenta. Edade, pr'esses gajos, se equipara àquillo que, no joven, é prazer carnal, caralho grande, dura vara! Na falta da potencia, teem poder! Mas, quando o cancer chega, aquella cara de pau ja nem dá dó! Vão se foder! Que vivam muito tempo, mas, tomara, soffrendo numa cama até morrer!


INGOVERNABILIDADE 147 SONNETTO DO BOM ENTENDEDOR [1288] "Accordam" e "accordão": dois termos bem oppostos, um legal, outro immoral, escripto aquelle, ao passo que este oral. Um tem sustentação, outro não tem. Juizes se protegem, diz alguem; mas quando, em vez do douto tribunal, politicos na esphera federal a farra fazem, paga a compta quem? Conchavo, cambalacho, conspirata: synonymos daquillo de que abusa quem vota, quem preside, quem relata! Ha termo, todavia, que traduza melhor a podriqueira de que tracta a Camara? "Accordão" é só o que se usa.

[acórdão]


148 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO DENOMINADOR COMMUM [1292] Um punk e um hippie attritam p'ra ver qual dos dois mais firme lucta e tem seu thema mais rude e radical contra o Systema que, em ambos, despertou odio mortal. O hippie, pacifista e passional, allega que em maré contraria rema quem quer, a ferro e fogo, e com extrema conducta, combatter tão vil rival. O punk é mais directo: paz e amor não vingam; "flower power" não floresce, pois faz, de facto, o jogo do oppressor. O hippie suggeriu que se fizesse a guerra sem as armas. Só si for! Não chegam a consenso. Não exquesce nenhum dos dois, porem: diverge a cor, mas contra o mesmo Zeus se reza a prece.


INGOVERNABILIDADE 149 SONNETTO DOS LAÇOS DE FAMILIA [1327] Irmão ja dá problema, si é da gente e mette-se em encrenca, ou se endivida. Calcule então o irmão do presidente, o quanto complicar lhe pode a vida! O cara é trambiqueiro e não se sente nadinha constrangido quando lida com coisas de bandido e delinquente, fingindo ter poder de quem decida! Cunhado faz tambem papel de amigo, excepto si é cunhado de mendigo: podendo, sempre tira uma casquinha. Pernoita e come em casa do marido e, si este for eleito ou promovido, capaz é de casar com a sobrinha!


150 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DO MORTO DE VERGONHA [1334] Mactou-se mais um japa, só porque teria de depor sobre o desvio daquella bagatella! Mas o brio pesou, e se mactou, veja você! Si fosse no Brazil... Ah, qual o que! Teriam de mactar-se, a sangue frio, metade dos politicos! Eu rio si alguem me diz que nisso ainda crê! Metade? Nada disso: a maioria! Pensando bem, de novo rectifico: mactar-se devem todos, eu diria! Um delles menos pobre, outro mais rico, ninguem se salva! E, quando a gente chia, debocham da gentalha, como o Kiko!


INGOVERNABILIDADE 151 DISSONNETTO DO MARIDO TRAHIDO [1352] "Estamos separados!" É a sahida que encontra o ex-presidente corneado si a midia lhe flagrou a mui querida esposa dum playboy bonito ao lado. Assim é que o politico invalida as especulações do eleitorado accerca da ruina em sua vida privada e conjugal? Pobre coitado! Casou-se com bellissima ex-modello (dizer "ex-puta" intriga é do partido), achando que os reporteres, ao vel-o com ella, accreditassem que é marido. Palhaço! Agora tem que haver, de facto, a tal separação! Está fodido! Depois de tanto azar, só falta um chato reporter descobril-o travestido.


152 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA CADEIRA CAPTIVA [1359] Só mesmo no Brazil! Esse costume de quem, 'inda que quebre a dentadura, não larga a rapadura, é o do cardume de peixes no poder, e não tem cura! Bagrinho ou tubarão, quando elle assume um cargo na politica, inaugura a propria impunidade: paira estrume nos ares, mas, no fim, nada se appura! "Jamais renunciarei!", é o que se escuta. La fora, si qualquer filho da puta for pego, ou deixa o cargo, ou é cassado! Insiste que "A vontade era ficar..." a puta que, da pasta titular, trocou-a por cadeira no Senado.


INGOVERNABILIDADE 153 SONNETTO DA PIZZA PESADA [1361] "Faz tempo que uma raiva ja não tenho; o que me sobra é nojo!" O commentario do Neumanne, em politica, é o que venho fazendo, em meus sonnettos, de themario. Não é por fracassar no desempenho do cargo, ou por doutrina que compare-o a pulpito de esquerda, que desdenho dos caras, nem por vezo auctoritario. É pura e simplesmente pelo cheiro de pizza que, pairando o tempo inteiro nas instituições, ja nos enjoa! Adoro pizza, e a como com frequencia, mas, sempre que em politica se pense-a, jamais a digestão me será boa!


154 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO POSTO DO IMPOSTOR [1385] Peor dos mentirosos será quem? Algum publicitario? Um advogado? Politico? Marido? Não detem nenhum delles da peta o melhor grado. Politica é mentira, sabe bem qualquer dos eleitores. O mercado é cheio de productos muito aquem daquillo que no annuncio é propagado. Porem o defensor dum assassino, que emitte (data venia) um parescer, precisa ser tão cynico, imagino, a poncto de affirmar que é bom morrer. Talvez para um doente terminal, um lider affastado do poder, mas nunca para alguem que não vê mal na vida, e até soffrendo tem prazer.


INGOVERNABILIDADE 155 SONNETTO DA VOZ ROUCA DAS RUAS [1393] Convidam-me a adherir ao movimento contrario ao que, em politica, vigora: a fraude e a falcatrua. De momento, um tempo peço e os caras mando embora. Agora tudo é muito barulhento! Não fosse tanta polluição sonora, até que eu toparia! Não aguento berreiro e trio electrico! Estou fora! Depois que fiquei cego, meu ouvido está bem mais sensivel, e duvido que Gandhi acceitaria tanto grito. Protestos em silencio tambem teem effeito e, quando a torta accerta bem na cara dum saphado, tudo é dicto!


156 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA PAZ E DO RANCOR [1396] Sahidas, a hippie reside o verdades

em politica, só duas: e a punk. Appenas na primeira pacifismo, o amor, as nuas e vontades... Mas Zeus queira!

As coisas, na segunda, são mais cruas e, assim como o rockão é mais pauleira, tambem as reacções são, pelas ruas, mais proprias à pedrada, que é certeira! Em termos philosophicos, no plano geral e humanitario, tenho o brio pacato, coherente, e mais me irmano aos hippies, pois em armas não confio. Mas, quando o pessoal e o passional mais alto fallam, quasi não me allio aos hippies, pois me sinto ao punk egual e adjudo a pôr na polvora o pavio.


INGOVERNABILIDADE 157 DISSONNETTO DA PHANTASIA SEXUAL [1410] Perguntam-me si, perto dos septenta, na cama a gente ja a brochar começa. Respondo que a piroca ainda aguenta, mas, quando accaba, nunca recomeça. Mais liqüida a descarga se appresenta e noto estar gozando mais depressa. O tempo de intervallo agora augmenta. Não ha, porem, razão que o gozo impeça. Em duas situações, a picca dura me fica num instante, e assim perdura: si sonho ou si um politico se fode, ainda que a noticia só me engode. No e, na si

sonho, lambo pés e chupo picca, quando a vida delles se complica, bronha elles são cabras e eu sou bode for jocoso o gozo que me accode.


158 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DAS VIAS DE FACTO [1434] Dois tapas estallaram no plenario. Olhares se voltaram: se engalfinha o gruppo de politicos que o otario povão no parlamento posto tinha. É nisso que se vota? À mãe que pare-o, [sic] o filho é sempre sancto, mas à minha os filhos são da puta, pois summario conceito tinha delles a velhinha. Mamãe dizia sempre: "Essa cambada devia levar tiro! Ja que nada se pode fazer, elles que se mactem!" De facto: ja consola quando vejo que brigam! Satisfaço meu desejo si, ao menos, na porrada elles se battem.


INGOVERNABILIDADE 159 SONNETTO DA COLLECTIVIDADE SOBREVIVENTE [1490] Um delles pertenceu ao "collectivo" chamado "Libertario"; outro, ao chamado "Anarcho-Communista". Um bom motivo nem foi preciso: o rollo está formado. Paresce bem opposto cada lado: emquanto um tudo passa pelo crivo da esquerda, outro é espontaneo em seu recado, e cada punk assume ar vingativo. Ja prestes a brigar, os dois se tocam que a isso os inimigos os provocam: carecas, direitistas, a policia. Unidos, resistir é mais factivel, ainda que precario seja o nivel e mesmo si a alliança for ficticia.


160 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA BRAVATA ENGRAVATADA [1494] Discursa o deputado e não tem pappas na lingua: dum collega e da mulher diz cobras e lagartos! "Não me excappas, maldicto", o outro responde, "haja o que houver!" Ja prestes a chegar com elle aos tapas, contem-se a tempo, mas, assim que der, dirá delle tambem coisas farrappas: quem falla o que quer ouve o que não quer. O battebocca é como um pinguepongue: emquanto os linguarudos ninguem gongue, insultos trocarão ao microphone. Prefiro, em vez da merda ventilada, que saiam logo os dois na bofetada assim que a mãe dum delles se mencione.


INGOVERNABILIDADE 161 SONNETTO DA VAIA [1510] Bem feito! Foi vaiado em grande estylo! Pensou que era o maior, que nada batte seus indices de fama e que tranquillo seria, pela historia, seu resgate? Pois perca o rebollado! Rejubilome todo ao constatar que occorre empatte do cara com aquelle que, a aggredil-o, soffreu delle, outro dia, um xeque-macte. Agora ambos dividem o recorde de impopularidade, e ja se morde de raiva quem gozou seu opponente. A vida voltas dá! Daqui a pouquinho, engulo a lingua, ao ver com que carinho de novo o povo acclama o presidente.


162 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DO RESPEITAVEL PUBLICO [1613] Um delles diz: "Senhoras e senhores, illustres companheiros de jornada..." Politicos exquescem suas cores e applaudem a rhetorica ensaiada. Mas da solennidade os bastidores reflectem como o publico se enfada e falta com respeito aos oradores, chamados de, no minimo, "cambada". {Que filho duma puta! Empatta a foda por mais de meia hora!} Numa roda resume-se o desdem: {Va pro diabo!} {Só falta vir agora aquella bicha pedir para fallar! O puto espicha o verbo mais até do que seu rabo!}


INGOVERNABILIDADE 163 SONNETTO DA REFORMA MINISTERIAL [1614] Responde que "A vontade era ficar..." aquelle que está prestes a sahir dum posto de ministro. Em seu logar virá mais um disposto a só "servir". Excolhe-se qualquer parlamentar da base do governo. De fakir se finge o "voluntario", que vae dar de si tudo que possa... mas faz rir. Na pasta, o incompetente só passeia, dá festas, e os parentes só nomeia em cargo de "assessor", com mordomia. Assim que uma reforma se advizinha e seu nome está fora da listinha, o cara ainda diz que ficaria!


164 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA BRIGA QUE NÃO HOUVE [1619] Fallavam de politica. Quem tinha tendencias à direita preferia governo auctoritario. Quem não tinha queria, diz aquelle, era anarchia. Teimoso, o direitista falla: "Minha idéa não tolera quem desvia dinheiro, quem faz greve e quem se allinha com Cuba, com a China ou com a CIA!" Um esquerdista, reagindo, falla: {Odeio quem invade e tira, à balla, governos democraticos, odeio!} Separam-se, sem briga, os dois. Mas quem o pappo só escutava impressão tem de que nem houve um racha assim tão feio.


INGOVERNABILIDADE 165 DISSONNETTO DO THEATRO POBRE [1660] "Theatro do opprimido"? Explico ja! no palco, só improviso: velha latta, madeiras bem mambembes... Prompto! Está montado algum scenario e o que retracta: Miseria, exploração... Em scena, a má figura do oppressor a gente tracta em forma de clichê: burguez, gagá, despotico e avarento... Emfim, a natta. Contrario das elites é o proleta, jamais accommodado na poltrona, pinctado como heroe, como poeta utopico e guerreiro, que emociona. No fim, vence o mocinho e morre o vil villão capitalista alli da zona. Barbada! Entre a platéa estudantil successo faz a peça e se ovaciona!


166 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO EXERCICIO DE CIDADANIA [1719] Conhesço um gajo sadico, que adora ver preta dos politicos a vida. Si algum é investigado, commemora que caia e leve vaia da torcida. Attento quando um delles estertora, embora a scena possa ser fingida, o cara appenas tira o pau p'ra fora e batte uma punheta bem battida. Em frente da tevê, não perde a chance de ver uma carreira que ballance no abballo dum escandalo do dia, junctando quem se oppõe e quem se allia. Na tela, um senador diz que "Não saio!", mas, como vae sahir, eu também caio no riso, me masturbo de alegria, a porra jorra e o gozo me allivia.


INGOVERNABILIDADE 167 DISSONNETTO PARA UM IRMÃO EM CHRISTO [1743] O gajo rouba, estupra, macta e, então, não mais que de repente, arrependido está! Se converteu, e bom christão agora se tornou! Eu, hem? Duvido! Irmãos, compadescidos, do bandido teem pena illimitada: caso não se emende e reincida, teem ouvido mouquissimo à geral opinião. "Errou, sim, meus irmãos, mas elle acceita de novo o Salvador, e recomeça! Devemos perdoar! Ninguem suspeita nem pode suspeitar de quem confessa!" Si entrou para a politica... Ah, menino! Licença de roubar vae ter à bessa! Ahi que pode ser mesmo assassino, ladrão, estuprador... que excappa dessa!


168 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UM QUINZE DE NOVEMBRO [1889] Republica que foi na quartelada imposta é tão "legitima", de facto, quanto uma occupação que nos invada a casa appós a guerra: é mão de gatto. De gatto? Si, no roubo, é como o ratto, os bichos só se egualam, e ja nada importa si se oppõem no formal tracto, nem como nos discursa, por si, cada. Esquerda a vermos si temos fingindo

nem direita: nada adjuda o governo que suppomos, de manter a lingua muda, que republica ja somos.

De araque é que será a proclamação daquillo a que, frustrados, nos oppomos, si farsa é o que subjeita uma nação a ephemeros reinados de reis Momos.


INGOVERNABILIDADE 169 DISSONNETTO PARA A LUCTA DE CLASSES [1933] "Não tem patrão amigo de empregado!", diz o syndicalista. Si um peão ganhar na lotteria, por seu lado, dá logo uma banana a seu patrão. Autonomos se gabam de que não devem satisfacções a algum saphado e podem dar-se ferias, feriadão, ou greve sem descompto no ordenado. Assim que alguem prospera, ja a primeira medida a ser tomada (até que hilario resulta tal desfecho), caso queira manter-se, é contractar um funccionario. "O sonho do empregado é ser patrão!", diz delles o burguez de anecdotario. Ninguem contente fica. A conclusão é que pinctinho é gallo a quem compare-o.


170 GLAUCO MATTOSO SONNETTO PARA O BEM COMMUM [2044] Eu sei que você está na opposição, mas veja, meu querido, que se tracta do publico interesse e que a questão, accyma dos partidos, nos empatta. Preciso do seu voto, meu irmão! Passado está o momento da bravata, das velhas piccuinhas, ja que estão na mesa as chartas e bem perto a data. Você desfructará, tambem, daquillo que junctos approvarmos! Não vacillo, portanto, em lhe pedir a adjuda amiga. {Ah, é? Mammá na vacca cê não qué? Nessa conversa molle ponho fé no dia em que ella tussa e outra "Amen!" diga...}


INGOVERNABILIDADE 171 DISSONNETTO PARA A RESERVA DE MERCADO [2116] Será o Legislativo necessario? De facto, só governa o Executivo, a menos que o Poder Judiciario não mande uma demanda para archivo. E quanto ao Parlamento? Ha quem compare-o a mero valhacouto selectivo, e quem alli não seja réu primario será estellionatario compulsivo. Em sendo assim, melhor fechar a Casa, revelam as pesquisas, pois só vaza a imagem do desvio de dinheiro, alem do latrinario ou chulo cheiro. Si agora é do Mercado a dictadura, trez bons profissionaes estão à altura, nenhum sem no logar chegar primeiro: ladrão, publicitario e marketeiro.


172 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UM EMERGENTE ILHADO [2131] Brazil, juncto a Ruanda, Angola e Congo: um gruppo de paizes sem destaque. Do parto da montanha, um camundongo: iremos é passar de BRIC a BRAC. Futuro, pelo jeito, é tempo longo demais para um Brazil que só tem craque na bolla: na politica é só mongo, bebum, noia e pinel, affora a claque. Assim, não se "pogrede" e falha o lemma inscripto na bandeira: mais "pobrema" nas costas do cacique de plantão, ainda que mandão não seja tão. Si Russia, ou India, ou China, está no bloco dos grandes, nesse bloco eu não colloco o estado que é mais patria que nação, a patria que é piada ao seu povão.


INGOVERNABILIDADE 173 SONNETTO PARA UM CHARTÃO QUE NÃO É VERMELHO [2214] Chartões "corporativos"? Eu tambem desejo para mim essa mammata! Caramba! Ja pensou? A gente tem um saldo illimitado e alheia é a pratta! Gastamos, debitamos... e ninguem nos cobra, fiscaliza, nem delata! Salario é só fachada: o que mantem as comptas dum politico é pirata! De "plastico", o dinheiro, quando é nosso, nos custa, cada zero! Eu ca não posso gastal-o sem pagar juros ao banco. Um "alto funccionario", porem, saca no caixa, torra os zeros, e o babaca aqui sustenta a farra e aguenta o tranco!


174 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UM OTARIO HONORARIO [2331] Coitado de quem tenha algum parente politico ou milico, sendo honesto! O gajo não encontra nenhum gesto de amor ou sympathia pela frente! Alem de não lucrar da costa quente, enfrenta até do povo o manifesto cruel e irracional, que seu modesto padrão de vida chama de "emergente". Não pede nenhum cargo, nem propina recolhe trafficando uma influencia. Siquer das falcatruas tem sciencia, mas julgam que com roubo elle se affina. Embora não lhe pese a consciencia e seja quem dos podres se previna, é victima da satyra ferina do cego sonnettista! E ha quem dispense-a?


INGOVERNABILIDADE 175 DISSONNETTO PARA UMA JUSTIÇA SOCIALISTA [2577] Vandré nunca escondera uma intenção bem sadica, sahisse vencedora a tal revolução. Que vingadora justiça elle pretende ter à mão? Açoite! Exactamente! No patrão, no pae, no general... A assustadora desforra era a "madeira" que ja fora, talvez, "de dar em doido" na prisão. Provindo da aroeira, o tal cipó no lombo "vae descer até quebrar"! Geraldo quer surrar mesmo sem dó, sem mesmo disfarsar de algoz um ar! Que valvula ao sadismo, hem? Pensem só! Si, sob o communismo, algum logar do mundo fosse assim, desfeita em pó estava uma utopia secular!


176 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UM CAVALLO TIRADO DA CHUVA [2586] Confesso, não me empolgo nem me exbaldo naquelles festivaes. Não boto fé na esquerda musical: della não é, do nosso cancioneiro, o melhor saldo. Virou monotonia, mas Geraldo mostrou, só dessa vez, quem é Vandré: talvez não nos aggrade, mas até consegue ao socialismo dar respaldo. Prepare o coração, você que senta, folgado, na poltrona, e appenas vaia Roberto e applaude Chico, nos sessenta! Está ficando justa a sua saia! Audaz reviravolta ja nos venta! Dispara uma rajada, de tocaya, a allerta sentinella e, si alguem tenta montar, cae do cavallo! Ha quem não caia?


INGOVERNABILIDADE 177 DISSONNETTO SOBRE UM MASOCA SOB FOFOCA [2962] Eu quasi te contei um segredinho, mas, como me dedaste, essa segura fofoca foi cortada na censura e fico, no meu cantho, bem quietinho. Si queres me contar, eu adivinho aquillo que dirás, mas tudo é pura hypothese: a censura logo appura e barra o mexerico no caminho. Cuidado, meu amor, pois o serviço secreto detectou todo este pappo e estão checando o nosso compromisso que, pelo que suppuz, virou farrappo! Alguem cabreiro pode estar com isso! Melhor nós nem treparmos! Caso o sapo nos venha sapear, eu, tão submisso que sou, de ser flagrado não excappo!


178 GLAUCO MATTOSO TRANCOS FRANCOS [3100] Amigo meu, de esquerda, com rigor patrulha-me: {Não, Glauco, você diz que alguem é "communista", mas feliz não foi, si socialista o cara for!} Respondo: -- Socialista? Ah, por favor! Uma opportunidade eu ca não quiz perder de, numa lettra, dar um bis, graphando "communista", meu amor! {Amor? De "companheiro" cê me chame, mas não de "camarada", que não pega la muito bem! Sinão, vae dar vexame!} -- Meu lindo (digo então), nem de "collega" lhe chamo! Nem que, puto, cê reclame, chamar vou de "commadre" eu, bicha e cega!


INGOVERNABILIDADE 179 PROPOSTAS INDECOROSAS [3104] Carissimos collegas, eu suggiro que um jacto nós compremos! Um jactinho! Às bases, que não ficam tão pertinho, mais vezes poderemos dar um gyro. O que? Tenho a palavra! Não retiro proposta alguma! À mesa eu encaminho a minha suggestão! Como? Damninho? Damninho é... bem, é alguem que eu nem refiro! Ah, va! Dinheiro publico é p'ra isso, seu trouxa! Eu penso grande! Eu tenho classe! Mandato meu jamais ha quem o casse! Não sou que nem você! Mostro serviço! Repete! Ebrio é você! Va à merda! Va se foder!... Opa! Deixei de ser castiço! Perdão, perdão! Aqui virou cortiço por causa desse ahi! Que se calasse!


180 GLAUCO MATTOSO CULINARIA CARBONARIA [3129] Experto, a segurança elle despista, penetra no palacio e se prepara: pretende um pastellão jogar na cara daquelle que encabeça a suja lista. Foi punk; agora, appenas "anarchista" declara-se, e os politicos azara ainda: até o prefeito ja levara na cara a sua torta podre e mixta: Recheio de ovo choco e leite azedo virá, com cobertura gratinada, borrar quem excolhido foi a dedo. Em plena collectiva, ninguem, nada impede que um municipe sem medo nos vingue, emporcalhando outra "fachada".


INGOVERNABILIDADE 181 IMPUNIDADE E CREDULIDADE [3149] Durante a inhalação, que se demora por quasi meia hora, eu sempre penso em coisas engraçadas: assim, tenso não fico e ponho as broncas para fora. Exemplo? O descomforto, que peora a cada dia: falta papel, lenço, sabão, pasta de dente... e me convenço que a cella do politico o appavora. Pensando nisso, accabo gargalhando daquelle que está preso, emfim, por ter roubado emquanto estava no commando. O riso augmenta o rhythmo e, com prazer, respiro mais a fundo. Logo, quando accaba, recobrei-me e volto a crer.


182 GLAUCO MATTOSO MASTURBATORIO TRANSITORIO [3150] Flagrados, os politicos são scena de filme emquanto fazem a partilha da grana e, juncto ao sacco ou à virilha, a enfiam, rindo. Alguem, que os viu, condemna. Um outro, no poder, cae, com pequena mas forte comitiva, o genro, a filha, dum "solido" palanque, la em Brazilia, e os "puxas" todos fingem sentir pena. Emfim, come um terceiro, um senador, no fino restaurante e passa mal, vomita: nem degusta do licor. Talvez se recuperem. Mas fatal é minha punhetinha, com sabor risonho de vingança, ao ler jornal. Ao menos me restou o bom humor que gozos proporciona. Bom signal.


INGOVERNABILIDADE 183 PHANTASIA MASTURBATORIA [3151] Ouvindo que, hoje, até governador vae preso no exercicio do mandato e passa o carnaval sem ter contacto com rabulas, eu acho animador! Mais fico estimulado quando for ouvir que 'inda está preso. Então desapto a rir, abro a braguilha e, erecto, batto punheta, em logar delle a me suppor. Me vejo agora, longe do comforto do chique gabinete, numa cella minuscula, às escuras, triste e absorpto. Sou quem, de novo, aqui se refestela na bronha: um eleitor que, quasi morto de gozo, exporra delle na goela. O pau até ja tenho meio torto de tanto usado como manivella.


184 GLAUCO MATTOSO LUXENTOS DETENTOS [3165] Cadeia, por aqui, varia paca! A cella do politico não tem nem grade na janella! Enganna a quem? Teriamos nós cara de babaca? Ainda approveitando, o gajo chia! Poltrona, frigobar... e, no calor, tem ar refrigerado! Mordomia maior, só num hotel, hem, seu doutor? Si "privilegiado" for seu foro, o gajo, mesmo preso, não enfrenta a barra da masmorra violenta, que impede a mãe de ouvir do filho o choro. Theatro desses vemos todo dia! Que tente um defensor fazer suppor que soffre o seu cliente! Quem se fia na lagryma dum ex-governador? Nós somos, na comedia, a parte fracca: Emquanto um preso rico passa bem, o pobre, em these "livre", é seu refem. Vae sempre para o brejo a nossa vacca...


INGOVERNABILIDADE 185 JUSTIÇA POR PREMISSA [3248] A scena, na politica, alguem teme. Tentou se excafeder, mas foi, coitado, cercado pelo povo o deputado. Rendeu aquelle caso muito meme. É typico do povo brazileiro: Sahindo da butique, o reconhesce alguem que grita: "É elle, o mensaleiro!" E é como si na guerra elle estivesse. Primeiro, uns empurrões, daqui e dalli. Um murro elle revida, mas recebe ja muitos. Accossado pela plebe, bambeia e até nas calças faz xixi. E segue-se o ridiculo ropteiro: Emfim desequilibra-se: paresce um sacco sob o chute que, certeiro, um corte abre na bocca que faz prece. Nem grita mais. Nem chora mais. Nem geme. Lynchado a ponctapés, ninguem seu brado attende, por soccorro: "Era um saphado!" O corpo quer a Casa que se creme.


186 GLAUCO MATTOSO QUEDA DE POPULARIDADE [3259] Alguma zica as coisas sempre estraga. Em pleno shopping, desce o deputado do andar das lanchonettes, saciado, sorrindo. Mas seu riso ja se appaga. A boa digestão na certa azeda. Mal pousa o pé na escada, que é rollante, e se desequilibra: sua queda começa sem que, a tempo, se levante. Ninguem à sua frente alli descia, de modo que, de cara, ao piso veiu, rollando escada abbaixo, no experneio, até se extatellar na lage fria. Pagou elle, talvez, noutra moeda. Fracturas pelo corpo, doradvante, exigem muitos pinos. Nada seda a dor dos feios cortes no semblante. Verdade essa, que fere feito adaga: Foi lindo aos que assistiram. Ao saphado, é praga, aquelle azar, do eleitorado. Aqui se faz, aqui tambem se paga.


INGOVERNABILIDADE 187 ARTISTICA SCIENCIA [3511] Da politica alguem ja, definindo-a, deu a dica, quando "deixa como está para ver como é que fica". O povão a identifica como o rabo de quem dá, enrabado pela picca de quem fama tenha má. Não ha muito o que fallar: Por ser "arte de exercer sobre os outros o poder e manter-se popular", ella pode ser vulgar, pois nos leva à conclusão que masocas todos são e se deixam copular.


188 GLAUCO MATTOSO QUALQUER SEMELHANÇA... [3549] Ella fora guerrilheira, "terrorista", no dizer da direita. Agora beira as alturas do poder. Caso alguem recordar queira seu passado, ella, sem ver consequencias, a estribeira perde e manda se foder. No palanque, ao povo aggrada com palavra assessorada por um poncto, que ella escuta. Mas, si gritam "Terrorista!", ha decoro que resista? Ella estrilla: "Ah, vae p'ra puta...!"


INGOVERNABILIDADE 189 A FOME E A VONTADE DE COMER [3584] Para todos eu expalho meu desejo de que morra o politico bandalho que a qualquer cargo concorra. Puto estou porque só valho no momento vão da excolha. Quer meu voto? Não, caralho! Quer appoio? Nada, porra! Foi prefeito, foi ministro. Quer, agora, outro registro: candidato a senador! Va tomar no cu! Não larga do seu osso! E a sobrecarga de outro imposto quer me impor?!


190 GLAUCO MATTOSO A CHUVA ACIDA E A LAMA MOLHADA [3585] O politico saphado pleonasmo, aqui, se torna. Quer na Camara ou Senado, custa caro e nem adorna. Nem de enfeite: a cara é morna, quando não de cu cagado. Antes, elle nos suborna; depois, trampa subornado. Elle quebra a dentadura mas não larga a rapadura, como o dicto, rindo, diz. Queres voto? No teu cu! Typo sujo como tu só pollue este paiz!


INGOVERNABILIDADE 191 INDECISA PESQUISA [3595] Está crente a candidata de que vença, e ja annuncia quem nomeia e quem contracta na estatal burocracia. O adversario, que se jacta, mas jamais se dissocia das elites e da natta, diz que a dama é falsa e fria: "Ella é contra o negro e o gay! Não quer dar direito, eu sei, de expressão, de opção, de excolha!" O eleitor a tudo assiste sorridente e até faz chiste: {Nunca eu fallo ao DataFolha!}


192 GLAUCO MATTOSO A VOLTA DO MOTTE DA PONTE [3645] Situação e opposição dão problema si a disputa radical tornar-se, e dão panno à manga a quem discuta. Bem peor é quando não são unidas: quem desfructa do poder contra a facção alliada vive em lucta. Do outro lado, o mesmo pomo da discordia está defronte do opponente e cada Momo concorrente tem de monte. Fez bom motte este quem fez e um melhor alguem me apponcte: "Todo mundo, duma vez, ninguem cruza a estreita ponte."


INGOVERNABILIDADE 193 EXCITANTE ATTENUANTE [3707] Com amigos eu discuto sobre como o perfil é dum politico corrupto e elles dizem: "Gordo, ué!" Si lhes digo que estou puto, que um cacique ou que um pagé asco dá, delles escuto: "Esse deve ter chulé!" Por mais raiva que provoque um corrupto sob enfoque dos jornaes, fico indeciso. Com certeza é chulepento! E, a pensar nesse argumento, eu até que sympathizo.


194 GLAUCO MATTOSO CAMPANHA GANHA [3713] Deve estar, mesmo, bem puto quem votar no Tiriryca, a julgar pelo que escuto: "Do que está, peor não fica!" Esse poncto eu nem discuto. Nada, dizem, justifica candidato tão fajuto, mas é um symbolo e dá a dica: A politica está tão descarada e a corrupção tão flagrante, que eu me enfado! Ou eu voto num palhaço, ou peor ainda eu faço: empastello um deputado!


INGOVERNABILIDADE 195 ZONA ELECTRONICA [3811] Por incrivel que paresça, quem tem titulo não vota. Que teria na cabeça o juiz que a norma adopta? Pela photo, uma condessa tem charteira de idiota. Caso em casa a photo exquesça, o mesario a dama enxota. Ao votar, o cego tecla e erra o numero do assecla dum partido colligado. Nem percebe que, na tela, quem a photo lhe revela é o mais surdo deputado.


196 GLAUCO MATTOSO FAMILIAS UNIDAS LTDA [3812] Quer barrar um "ficha suja" toda a midia, a mil. Experto, o politico enferruja, mas não deixa o posto aberto. Sua esposa, a dicta cuja que das cortes está perto, é tambem mamãe coruja: quer um filho eleito, e é certo. Si o papae barrado for e a mamãe, por despudor, for no escandalo envolvida, sem problema! O Junior herda a cadeira, faz mais merda e o Congresso convalida!


INGOVERNABILIDADE 197 DICTADURA DA CANDIDATURA (I a III) [3883/3885] No horario obrigatorio, a escoria faz campanha eleitoral. No seu programma, um sujo candidato urra e reclama que é victima da elite contumaz: "Sou ex-presidiario! Fui capaz de tudo nesta vida! Quem me chama de negro e de bandido é quem só mamma nas tetas do poder! Eu sou de paz! Errei, mas ja paguei o que devia! Dei duro, trabalhei, e agora quero seu voto, contra a rica burguezia!" Achei cara de pau, mas fui severo demais, pois, affinal, democracia é isso: total farra e fome zero. Um outro candidato, tambem ficha sujissima, meu voto pede para "o astral ficar legal"! Mas não é cara de pau, esse rapaz? Esse capricha! Diz elle não querer nenhuma rixa com nada nem ninguem, e se declara appenas "um malandro" que sonhara junctar "seu pessoal", do bicho à bicha. Pensei: esse é sincero! Mais honesto que aquelles engajados num discurso fajuto de revolta e de protesto. Encaro as eleições como um concurso bem brega de calouros, pois, de resto, assim é que a nação segue seu curso.


198 GLAUCO MATTOSO E aquelle analphabeto que, risonho, nos diz que "a situação peor não fica que a merda que está ahi"? Se identifica o cara até commigo, é o que supponho. Si estou no seu logar, eu só proponho que o jogo seja aberto: a elite rica roubando e trafficando, a gorda picca no cu do magricella, o fim do sonho. Advanços? Utopias? Nada disso! É tudo propaganda, e da engannosa! Mais vale não fazermos compromisso! Que votem no palhaço! Assim, quem posa de serio tentará mostrar serviço, em vez de só fingir que não nos goza!


INGOVERNABILIDADE 199 RÉU PRIMARIO, RITO SUMMARIO (I e II) [3889/3890] Eleito, tomou posse. Mas, agora, está sendo envolvido o cara em cada escandalo, que fica até engraçada a historia e, dia a dia, só peora. Mais facil não seria, si vigora a lei da ficha limpa, ser barrada a sua pretensão? Agora, nada mais podem contra o cara fazer, ora! Paresce de proposito! Se acceita que os sujos candidatem-se e, depois, allegam que a lambança está ja feita! Suggiro que os mandatos de um ou dois cassados sejam, mesmo que a suspeita não dê para dar nome falso aos bois! Principio do direito é a presumpção, louvavel, da innocencia do accusado. Proponho que o principio esteja errado appenas neste poncto, em excepção: O caso dum politico! Este não terá tal beneficio! Não lhe é dado, na duvida, allegar que o resultado das investigações foi armação! Politico é ladrão, sempre, a priori! Que seja, então, lynchado moralmente! Não deve commover-nos caso chore! Pensando bem, não é sufficiente o latego moral: talvez melhore a lei si o flagellarmos, mesmo! Hem, gente?


200 GLAUCO MATTOSO COMICIO NO RODIZIO [3947] Voa coppo, voa pratto: é geral a quebradeira! Voa pizza, e paga o pato quem comer, appenas, queira. O culpado é o candidato que, fominha, fez a asneira de suppor que este era exacto local para se ir à feira. Quiz, aqui, ver si consegue voto: admarra mal seu jegue, pois levou torta na cara! Pizza, aqui, não é banana! Quem suppõe elle que enganna? Foda-se! Elle que va para...


INGOVERNABILIDADE 201 OSSOS DO OFFICIO (I) [3953] Radical fica a campanha e bem pode um candidato preparar-se, ja que ganha, cedo ou tarde, um sujo jacto. Em urina elle se banha, quando não de algo mais chato. Depois, resta fazer manha na tevê, contra o mau tracto: "Vocês viram? Nada fiz para serem tão hostis esses vandalos commigo!" Mas seria mais bem feito si o subjeito, appós eleito, recebesse egual castigo!


202 GLAUCO MATTOSO OSSOS DO OFFICIO (II) [3954] Quando appenas berra e xinga, o eleitor até que é brando. Perigoso é quem se vinga não somente reclamando. Do politico a mandinga é um escudo; porem, quando algo fetido respinga perto, o cara accaba urrando: "Vocês viram? Alguem fez contra mim a sordidez de jogar tal porcaria!" Lamentavel será quem jogou mijo não ter nem melhorado a ponctaria!


INGOVERNABILIDADE 203 ENTRE O TRIDENTE E O PRESIDENTE [3972] Achei graça quando alguem me indagou, num curto tiro: "Você vae votar em quem? É na bruxa ou no vampiro?" Respondi que não sei bem a quem, rindo, me refiro, mas meu voto não é nem para o Demo, a quem adhiro. Na verdade, eu nunca voto em quem saia bem na photo. Outro typo me interessa. O azarão, que ninguem nota: neste, sim, um cego vota, não num az, que votos peça.


204 GLAUCO MATTOSO PRESSÃO NA EXPRESSÃO [3974] Admeaça preoccupante no governo se architecta em silencio: impor um guante à noticia, eis sua meta. "Censurar? Jamais!", garante o partido, mas se veta tudo quanto abra e levante uma duvida "incorrecta". É "controle social sobre a midia" o que defendem. Descarado o nome ao qual recorrer elles pretendem! Ja não basta ser censura essa merda que nos vendem? O euphemismo lhe assegura intenções que "não offendem"!?


INGOVERNABILIDADE 205 QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (I) [3997] Na politica, o que estraga é o bandido que a povoa. Quanto às artes, só teem vaga para gente fina e boa. O evangelico é uma praga que a politica abbençoa. Quanto ao gay, o pato paga por ser optima pessoa. Que uma Camara a bancada evangelica encha e invada, da politica diz muito. Que gay quasi todo artista seja, diz das artes: dista o infernal do bom circuito.


206 GLAUCO MATTOSO QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (II) [3998] Mais ironico é que quem se diz "crente" os gays accusa de jamais serem do bem e a moral terem confusa. Justamente o opposto: nem o gay é quem mais abusa da moral, nem tem alguem, por ser "crente", a gloria inclusa. O que um "crente" mais temia era a lei da homophobia, que ao gay desse o desaggravo. Si uma offensa se indemniza, fica a rica egreja lisa, sem, do dizimo, um centavo.


INGOVERNABILIDADE 207 CLAMOR PUBLICO [4019] Mamãe do desperdicio não gostava com ovos; concordava, porem, com o gasto si o motivo fosse bom, em vez de só mandar alguem à fava. Politico é um exemplo, que se aggrava no caso brazileiro: é delle o dom de cofres assaltar sem fazer som de tiro ou explosão, sem quebrar trava. Gritemos "Ovo nelle!", ja que não ha jeito de prendel-o! Que se melle de gemma! Que emporcalhe o narigão! Gritemos e joguemos: "Ovo nelle!" Si podre for, melhor! Na nossa mão não fede a porcaria: é delle a pelle!


208 GLAUCO MATTOSO PROMOÇÃO SOCIAL [4055] Crear um ministerio a mais banal se torna num governo populista. Mas, para inflar de pastas uma lista, nos nomes tem que entrar um "Social". "Acção", "Integração", seja la qual o nome que se invente, essa conquista do povo é obrigatoria! Que se insista com "Desenvolvimento Social"! "Sahude Social"? Bem excolhido! "Fazenda Social"? Paresce justo! "Justiça Social"? Faz mais sentido! "Industria social"? Faz jus a um busto! "Commercio social"? Dá bom partido! "Cultura Social"? Tem menor custo! "Conducta Social"? Menos libido! "Columna Social"? Ja nem me assusto!


INGOVERNABILIDADE 209 FESTEJO SEM PEJO [4558] Formou-se um novo gruppo, o Agora Vae, que canta, emquanto, em publico, passeia: "Agora vae (dansando) p'ra cadeia! Não quero mais você..." E no samba cae. Da porta da prisão ninguem mais sae. Estão agglomerados alli. Cheia ficou a praça. Agguardam pela feia figura que foi "bom marido e pae". Cahiu, agora, a mascara! Sacana! Politico corrupto, foi flagrado, em photo e gravação, roubando a grana do povo, que tractava feito gado. No gruppo, as prostitutas gritam "Canna meresce! Canna nelle!" Eis que, algemado, o preso chega. Quasi alguem o exgana. Por pouco não rollou. É um deputado.


210 GLAUCO MATTOSO PALPAVEL POPULARIDADE [4668] Blindado tem seu carro. Muito embora, passeia a pé, tranquillo, o deputado. Caminha um segurança do seu lado. De subito, este some! Cahiu fora! Peor: reconhesceram-no! E agora? Está, por populares, ja cercado! "Ladrão! Cuzão! Maldicto! Desgraçado!" Que alguem lhe desça o braço não demora. Quem manda desdenhar dessas ralés? No empurra-empurra, applicam-lhe a rasteira. Cahido, vae levando ponctapés. Um chute accerta os dentes: que sangueira! Accorrem puxa-saccos. Os gambés accodem o politico. Na feira, dão zero ao deputado e, aos peões, dez, ainda que exaltal-o um "minion" queira.


INGOVERNABILIDADE 211 PASTELLÃO ELEGANTE [4695] Britannicos são mesmo cavalheiros! Até torta na cara com espuma de barba fazem! Poupam, assim, uma pessoa de sentir fedidos cheiros. Commigo não tem disso! Os brazileiros merescem, si politicos, alguma sujeira pelas fuças! Quem estruma a torta excolheu alvos bem certeiros. Embora saiba que isso não tem jeito, torcendo eu fico aqui para que alguem alveje com cocô qualquer prefeito suspeito de roubar um só vintem! Em publico, que a cara do subjeito attinja a torta em cheio! E que elle, sem ter lenço à mão, se borre e ouça: "Bem feito!" Não seja appenas sonho meu, porem!


212 GLAUCO MATTOSO RESPONSABILIDADE SOCIAL [4844] Quando a chicara tem leite e o café todinho expalho sem que nella a colher deite, o problema é meu, si eu falho! Quando a pizza pede azeite e eu derrubo a latta, o galho ninguem quebra: eu que me adjeite! O problema é meu, caralho! Quando eu choro e o povo todo se diverte, eu que me fodo! O problema é meu: sou cego! Si ladrão não ha que tema punição, aqui, o problema é daquelle a quem delego!


INGOVERNABILIDADE 213 MARCHA CONTRA A CORRUPÇÃO [4884] Corrupção não se contesta com palavras, mas com torta! Uma marcha faz a festa e o povão alguem exhorta: "Minha gente! Chega desta pizza! O symbolo que importa é uma torta, que molesta, suja a cara e descomforta!" Não se mostra mais a pizza: qualquer torta, agora, à guisa de pedrada, attinge o rosto! Os politicos receio teem que dellas o recheio seja merda! Oh, que mau gosto!


214 GLAUCO MATTOSO ENTREVISTA COLLECTIVA [4952] Tranquillo, o senador no centro está dum gruppo de reporteres. A imprensa indaga varias coisas. Ninguem pensa que o gajo nervosinho ficar va. Emquanto essa entrevista o gajo dá, um serio jornalista, sem licença pedida, uma pergunta faz que offensa paresce ao coronel, que se encherá. O velho cacicão das mãos lhe arranca o minigravador! Inda admeaça: "Você quer appanhar?" E bota banca: "Judeu! Vou accabar com sua raça!" É claro que o racista não expanca ninguem, mas tudo aquillo em branco passa, a menos que, sem medo de carranca, alguem no caso faça a tal "devassa".


INGOVERNABILIDADE 215 TROCA DE GENTILEZAS [4953] Da negra limusine o senador está sahindo, quando um jornalista, correndo, se approxima. É da revista mais seria e combattiva: "Faz favor..." {Pois não!}, o senador, de bom humor, responde. {Sempre attendo a uma entrevista! Ainda que o reporter chegue e insista naquillo, explicarei, seja o que for!} Anima-se o rapaz, então, e faz aquella perguntinha indecorosa que offende quem só tenha intenções más. Reage o velho: {Como? Você posa de dono da verdade? Deixe em paz meu caso, ou vae sentir a rebordosa!} Só finge intimidar-se, esse rapaz ousado, que no radio o tom não dosa.


216 GLAUCO MATTOSO PANELLAÇO NO CYBERESPAÇO [5061] Compadre, estou fodido! Antigamente não tinha essa internet, essa maldicta patrulha virtual, que cobra, incita à lucta os cidadãos e accusa a gente! A gente, então, roubava livremente, fraudava, desviava... Agora, agita a massa de eleitores uma escripta mensagem pela rede, de repente! Não, meu! Esse povão não suaviza! Invade a nossa vida, o povo, invade as comptas do governo, fiscaliza as verbas... Ja não temos liberdade! Deduram na internet e, na pesquisa, perdemos a eleição! Ah, meu confrade, é foda, como disse a poetiza que estava a nos pichar pela cidade!


INGOVERNABILIDADE 217 SONNETTO DUM COMEÇO SEM FIM [5318] Paciencia! O tempo passa e a verdade accaba, um dia, sendo dicta em plena praça. Salutar democracia! Congressistas acham graça si na midia se annuncia que outro escandalo ja grassa: chorará quem denuncia. Commissão parlamentar só se installa para dar ar de maximo rigor. Todo mundo as mãos lavando, nada appuram. Peor quando o pivô nem quer depor.


218 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUMA AUCTORITARIA MANDATARIA [5353] Em Brazilia se commenta que se irrita a presidente quando alguem de "presidenta" não a chama, obediente. Azar della! Fosse attenta ao correcto, toda a gente não diria que ella attempta contra a lingua aqui vigente! Pouco importa si ella quer, meramente por mulher ser, que a tractem como "chefa"! Não tivesse errado o crivo, algum tempo productivo lhe sobrava na tarefa!


INGOVERNABILIDADE 219 SONNETTO DUM DELINQUENTE INCONVENIENTE (I) [5359] Vão à merda! Estou é puto! Vão tomar no cu, caralho! Sim! De sacco cheio, escuto pelo radio e raiva expalho! Outro escandalo! Outro astuto mafioso quebra o galho dos politicos e, bruto, macta, extorque e desce o malho! Si interessa que elle fique livre, dizem que elle é chique demais para ficar preso! Mas, si appoia a opposição, na cadeia fica e não sahirá do caso illeso!


220 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUM DELINQUENTE INCONVENIENTE (II) [5360] Nos jornaes, alguem declara que com elle nada tinha a ver. Logo quebra a cara, pois grampeiam sua linha: "Alô! Chefe? Me separa um milhão para a caixinha dos partidos! Outro para o thesouro da rainha!" A linguagem é ciphrada, mas occulto não ha nada que o paiz ja não conhesça. Criam caso e commissão, mas jamais algo farão si não pegam "o" cabeça.


INGOVERNABILIDADE 221 SONNETTO DUMA DONA DO SEU NARIZ [5378] A mulher do deputado de grandeza tem mania. Mas ninguem, naquelle Estado, leva a serio o que annuncia. Tem festanças ella dado, exhibindo o que seria o maior rubi ja achado em qualquer joalheria. Mas a pedra ninguem nota num annel. Fazem chacota do seu dedo, que é disforme. Esse, sim, é mesmo grande! Tão comprido, que ella o brande no nariz, tambem enorme.


222 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUMA CAMPANHA QUE NÃO GANHA (I) [5407] Vandalismo é caso bem costumeiro em anno par. Eleições occorrem. Quem não percebe disso um ar? No metrô, como no trem, sabotagem vae causar quem vantagem menos tem na pesquisa popular. Mas o povo não é bobo. Que ninguem é sancto e probo todos sabem na cidade. Vandaliza? Não se queixe si vender menos seu peixe quando os votos arrecade!


INGOVERNABILIDADE 223 SONNETTO DUMA CAMPANHA QUE NÃO GANHA (II) [5408] Ja notei que o povo não vandaliza assim, de graça. Disso exsiste uma razão que nem sempre a midia passa. Ou é caso de explosão, de revolta em plena praça, ou, em anno de eleição, de quem planos graves faça. Geralmente, no partido que tem sido mais vencido, apparesce um alloprado. Mesmo quando o candidato não approva, esse insensato quer tramar um attemptado.


224 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DUM FERIADO DIFFERENCIADO [5412] Celebrarmos Tiradentes muita coisa significa. Deveriam ser as mentes allertadas. Dou a dica: Cidadãos mais conscientes saberiam que está rica a nação, si os costas-quentes não seccarem nossa bicca. Contra impostos é que a gente tem que estar, nesta nação. Entretanto, indifferente é quem goza o feriadão. Ao passar, andando, cagam: nem ahi elles estão. são aquelles que ao que pagam importancia menor dão.


INGOVERNABILIDADE 225 SONNETTO DUNS RABOS PRESOS (I) [5467] No Congresso, a commissão seus trabalhos inicia. A depor chamados são os que entraram numa fria. Todos fallam. Palavrão não lhes falta. Pela via democratica, elles dão a versão que denuncia: "Só cumpri minha tarefa! É o senhor, aqui, quem blefa! Va tomar no rabo, porra!" {Veja como falla! Aqui nós mandamos! Não pedi que esse oral boato corra!}


226 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUNS RABOS PRESOS (II) [5468] O auditorio ferve. Alguem se levanta e quer depor. É o pivô do caso e tem muitos podres para expor. "Eu me fodo, mas sou quem menos culpa tem, doutor! Ja tomei no cu, mas nem assim calo o meu rancor!" Lhe perguntam: {Dar nos pode o senhor quem é que fode mais seu rabo, thesoureiro?} E elle entrega: "Certamente! É da casa o presidente, que enche o rabo de dinheiro!"


INGOVERNABILIDADE 227 A APOTHEOSE QUE PASSOU DA DOSE [5518] De cyma do palanque, se prepara o cynico politico. Olha aquella immensa multidão e ao sancto appella, temendo fracassar logo de cara. Começa a discursar. Ninguem se enfara si aquillo demorar? Toda a favella à praça comparesce! Até cancella um show a gringa banda que o marcara! Depois de meia horinha, applaude o povo. Mais duas horas, palmas 'inda batte alguem. Mais trez, applaude alguem, de novo. O gajo pensa: "Ha quem me desaccapte? Só falta accreditar alguem que eu chovo!" Emphatico, o caudilho imita um vate e passa a declamar. Recebe um ovo na cara. Logo, accertam-lhe um tomate.


228 GLAUCO MATTOSO FORMALIDADES BUROCRATICAS [5524] Prometto completar o meu mandato! Até ja registrei um documento, firmado, no chartorio! Inda accrescento que juras fiz ao sancto a quem sou grato! Papel? Mas que papel? Não me retracto de nada! Eu assignei algum? O vento levou! Eu renuncio porque tento, de novo, me eleger! Sou candidato! Farão, sei, contra mim muita fofoca! Lançar-me eu evitei, mas bem vocês conhescem o partido! Me convoca o povo, o eleitorado! Perco a vez? Jamais! Eu estou prompto! Mas, em troca, terei que descumprir o que um burguez gruppinho me impingiu, alli na Mooca! Exquesçam o que eu disse no outro mez!


INGOVERNABILIDADE 229 LIBERDADE MUNDIAL DA IMPRENSA [5541] Imprensa livre? É muito relativo. Está, nas dictaduras, censurada e, nessas horas, une a lucta cada cabeça, cada penna, cada archivo. Mas, nas democracias, si me privo dum livro ou dum jornal, que não me aggrada, excolho um outro. A banca está lotada de titulos: por gosto eu me motivo. Occorre que, na pagina que opina e os aulicos de criticas os criva, nem sempre livremente opinativa tem sido a mão que apponcta, accusa e assigna. Vehiculo qualquer que sobreviva nas bandas desta America Latina depende do "quartel" que o patrocina, e a verde estampa banca o verde oliva.


230 GLAUCO MATTOSO DEGRADANTE TRABALHISMO [5563] Pois é, cagar no horario de trabalho direito é de qualquer trabalhador. Fallei ja, no DOBRABIL, e hoje expalho a phrase em outro jeito de compor. Com força de trabalho, algo só valho na pausa da cagada, si ella for tambem remunerada e si o cascalho tem do salario minimo o valor. No seculo passado, este meu galho quebrei, sem ter nenhum computador ainda, num fanzine bem bandalho, com phrases desse typo, gozador. Agora, a no thema de merda no nosso

sensação é de que eu calho mais que nunca, ja que odor tem aquillo que advaccalho trabalhismo explorador.


INGOVERNABILIDADE 231 PARTIDOS QUASI POPULISTAS [5569] As siglas partidarias caso são loquaz, mas byzantino, si com isso se importa quem observa. Compromisso nenhum o nome encerra com o pão. Exemplo: "Progressista". Que noção se tem de progressismo? O ja cediço lettreiro da bandeira causa enguiço si formos no "Ordemismo" ver razão. "OR" pode ter com "Organização" e "DEM" com "Democratica". Mas iço eu causa alguma que 'inda algum feitiço exerça sobre a mente do povão? Fedor de dictadura a ordenação implicita suggere, com sumiço de idéas e pessoas. Desserviço taes lemmas prestam, feito um circo vão.


232 GLAUCO MATTOSO MEMORIA NACIONAL [5574] Passou de general a general, de Ernesto Geisel para Figueiredo, o cargo -- num paiz sem parlamento nem voto popular -- de presidente. A midia ao novo "abrir" daria a

perguntou, como é normal, commandante que, mais cedo, nos promettera, si sustento affirmação tão surprehendente.

No seu malhumorado e pessoal estylo, o presidente a quem, sem medo, pergunta tal fizera, deu alento, mas sempre em tom mandão e prepotente: "Achou que, então, menti? Mil vezes tal resposta dei! Abrir é lei, não cedo! Quem não cumprir, eu prendo, eu arrebento! Alguem quer me testar? Quem quizer, tente!"


INGOVERNABILIDADE 233 CENSO SEM SENSO [5575] Castrense e anticastrista, ja na phase de liberalidade no regime que, "lenta e gradual", foi de "abertura" chamada, mellindrou-se um general. "Nem Cuba, nem cubismo!" -- fallou, quasi querendo com aquillo que isso rhyme. Dizia a classe media que a censura até que não fazia tanto mal... Nem tudo censurou-se. Foi na base do chute, sem valor algum que estime alguem sem compromisso com cultura. Jamais um censor passa de bossal. Agora ainda querem que não vaze siquer algum indicio que no crime implique outro politico! Não dura governo tão retrogrado, é fatal...


234 GLAUCO MATTOSO PHANTASIA DE PIRATA [5590] Estava accommodada a gente em terra de tantos carnavaes sem quarta-feira, mas, quando a quartelada à brazileira periga reprisar, a gente berra. Ja vimos esse filme. Quem se ferra na volta da moral e costumeira facção, é o cidadão, não só quem queira nas artes battalhar como na guerra. Nós somos defensores duma via pacifica de lucta, que não usa fuzil, canhão nem tanque, mas accusa, critica, satyriza, denuncia. Nós somos os que brincam na follia e disso não abrimos mão, traduza a coisa quem quizer. É nossa musa a vida. Munição, a poesia.


INGOVERNABILIDADE 235 SEM ENSEJO DE FESTEJO [5594] Estavam hackeando o cellular do vice, do ministro, do juiz... Flagraram muito pappo, p'ra mostrar que tudo fajutar a turma quiz. Foderam-se, porem. Appós pegar um delles, rastrearam os perfis de todos os demais. Deram azar e estão no xilindró, como se diz. Mas fica uma pergunta... Si tem tanto bandido, como hacker, invadindo os nossos cellulares, com expanto saber quero: o problema ja tá findo? Ou vão continuar, em cada cantho, roubando sem pudor nosso bemvindo salario de miseria, sei la quanto das comptas de milhões? Eu não, não brindo!


236 GLAUCO MATTOSO ALHEIA VERGONHA [5596] Dercy Gonçalves disse: palavrão não é "foda", "caralho", "merda", "porra". É fome, guerra, abuso, corrupção e tudo que de males taes decorra. "Decreto" ou "portaria" mais calão traduz que "putaria". Alguem que morra na fila do hospital é chulo, não casaes no frango assado ou na gangorra. Os juros, se tornam donzella. num crime

excorchantes, indecentes mais que curra numa bella Quando botam pannos quentes escandaloso, mais se mella.

Politico que emprega seus parentes no typico "cabide" mais sequela provoca que quem morde e exfrega os dentes na pelle do cacete emquanto o fella.


INGOVERNABILIDADE 237 MAUS FLUIDOS [5597] Agosto, na politica, tem fama de tragicos eventos. Ora, alguem duvida dum agouro que reclama cuidados? Quem do azar medo não tem? Batata! A deputada cae de cama e morre estertorando! De refem é feito um senador! Outra na trama corrupta, ao ser flagrada, a surtar vem! O proprio presidente não excappa dum surto, da renuncia, do processo de impeachment pelas coisas que, à soccappa, ja fez, fará, faria, réu confesso! Em meio ao pesadello, minha nappa, que entope, fedor sente! Emquanto peço soccorro, o ranho grosso que me tapa sae! Passa agosto, e ao somno ja regresso...


238 GLAUCO MATTOSO POLITICA QUANTICA [5602] Fallei ja, no DOBRABIL, que cagar é um acto, sim, politico, um humano direito, ou de mijar. Delles me uffano, tal como deste nosso linguajar. Cagando estou, aqui neste logar que chamam "solitario", mas me irmano a todos que cagando estão. Insano será quem pretender nos regular. Cagar, um dia sim, um dia não, não pode ser imposto por alguem que caga sempre e nunca lava a mão, que, porco, cagar regra ainda vem. Si duro me sahir o cagalhão não é porque poder sobre isso tem quem mande e sim por causa da prisão de ventre: em tal prisão cago, tambem.


INGOVERNABILIDADE 239 PAPPO DE LAVADEIRA [5643] {Glaucão, o Cyro Gomes tem razão! A constituição não é cueca, que a gente troca todo dia, não! Não, neca de emendar as regras, neca! Corruptos todos foram, todos são! Appenas porque errou ou porque pecca alguem, nós não podemos cagalhão ver molle cada vez que se defeca! Concorda, Glauco? O Cyro bem colloca as coisas, falla tudo claramente! Sim, claro que elle, muitas vezes, choca pessoas mais sensiveis, como a gente!} -- Quem disse que cueca a gente troca assim, diariamente? Quem aguente trez dias ou mais ha! Muito masoca por cyma della chupa, gosto sente!


240 GLAUCO MATTOSO IDEAL BIENNAL [5649] {Dizer que no Brazil democracia não vinga, Glauco, é cynico bordão! Nós somos o paiz onde se fia mais nesse ideal typo de nação! Hem? Qual paiz no mundo vae, por via do voto, um anno sim, um anno não, às urnas, excolher alguem que guia do povo os interesses? Hem, Glaucão? Não, Glauco, convenhamos! Não podia haver, por tantas vezes, eleição em patria alheia alguma! Si tardia chegou, essa jamais nos tirarão!} -- Quem disse que isso, só, dá garantia de termos nós menor a corrupção, a mafia, a falcatrua, a mordomia! Temptado, o militar volta, amigão!


INGOVERNABILIDADE 241 INDULTO NATALINO [5685] Os outros presidentes (escutei) indulto de Natal ao mais corrupto dar querem! Ao ouvir, eu fiquei puto! No meu governo, nunca! Não darei! Naquillo que permitte e manda a lei, perdão eu só darei àquelle bruto soldado, que mães muitas foi de lucto deixando, sem querer! Sim, deste eu sei! Sim, sei que é mesmo bruto, mas, coitado, mactava na melhor das intenções! Ja aquelle tal corrupto, que é veado, alem de dar o cu, roubou milhões! Não fosse veadão, talvez seu lado eu visse com mais neutras attenções! Mas, como desmunheca, que trancado bom tempo fique, em carcere e em grilhões!


242 GLAUCO MATTOSO MILICIA DA MALICIA [5689] Nenhum mandão poder tem de policia que enquadre a veia audaz dum humorista, cantor, poeta, actor, qualquer artista. nós somos a Milicia da Malicia! Não falta algo de comico que attice a satyrica funcção de quem persista na critica à patrulha moralista e espete quem se gaba da sevicia. Não, contra a gargalhada não ha nada que faça quem, pretextos allegando, a graça barrar queira, mesmo quando graceja da figura mais sagrada! Mais vale, em livro, ousar poeta cada que numas sujas botas ir babando daquelle que, em seu tempo de commando, não fica. Ficará nossa risada.


INGOVERNABILIDADE 243 INDUBITAVEL INCREDIBILIDADE [5724] Um politico me disse que os politicos mentira todos fallam. Fez que eu risse. Foi sincero, ou ja delira? Philosophica mesmice, a tirada não retira a verdade, até si um vice diz que nada tem em mira. Da politica faz parte a mentira, mas tambem o poeta faz, com arte, seu papel de quem dor tem. Aliaz, não se descharte quem ja teve e visão sem ficou, visto que reparte o delirio que lhe vem.


244 GLAUCO MATTOSO ARREDONDANDO A RONDA [5732] Quer civil, quer militar, da policia a gente falla. Mas que porra vou fallar eu aqui para exaltal-a? Valerá, talvez, lembrar: não levei, dum tira, balla. Da biqueira ao calcanhar o lambi, forante a "mala". Bota e balla teem logar quando alludo ao que "metalla". Vil metal tambem: pagar devo, sempre que um me empala. Minha lingua se calar deve, sempre que ella ralla dando brilho no seu par que ficou feito um de gala.


INGOVERNABILIDADE 245 ADEPTO DO SEM-TECTO [5789] Eu não tenho onde morar, si não moro onde desejo. Só reside em bom logar quem o vê, mas eu não vejo. Pode um lar ser doce lar si ao comforto der ensejo, mas, si é para accommodar mal, a casa eu não festejo. Si faltou habitação, falta tudo nesta vida. Só se sente cidadão quem tem casa, tem comida. Por que fallo disso? O pão não me falta, nem devida moradia. Meu irmão é que, errante, me convida.


246 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA DA PIZZARIA [5832] Sim, adoro a boa pizza e a mais mordo outra fatia. Mas si penso nella, à guisa de eleitor, não me sacia. Um politico precisa do meu voto, mas cabia que elle seja quem me pisa si faltar democracia. Na verdade, eu não endosso que essa pizza tenha fama de corrupta, pois um troço tão gostoso oppõe-se à lama. Suja a pizza achar não posso. Não pensar em qualquer trama dos politicos é nosso argumento: uma me chama.


INGOVERNABILIDADE 247 MERITOS PERIPHERICOS [5843] Houve phase em que a favella se chamou "communidade", mas em nada muda aquella expressão, nem persuade. A noção que se tem della é dum cancro na cidade, mas quem nella mora appella mudo, caso alto não brade. Na vulgar peripheria muitos moram e ninguem falla della que seria o melhor que lhes convem. Mas orgulham-se, eu diria, com justiça, pois tambem talentosa cantoria alli surge e mil fans tem.


248 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA RADIOPHONICA [5849] Ao ouvir, me dá preguiça quando o radio tempo gasta com politica que enguiça entre um posto e certa pasta. Um ministro da justiça sae ou entra, não se affasta nem se pune e, nisso, a missa nunca accaba e só se arrasta. Encheção, só, de linguiça dá preguiça. Minha vasta perspectiva só se attiça com um rock iconoclasta. De politicos, ja basta a postura assaz submissa dum notorio pederasta que do "mytho" o pau cobiça.


INGOVERNABILIDADE 249 CRISE EM REPRISE [5860] Quanta crise! Estou confuso! Mesmo a rouca voz da rua protestando, todo o abuso dos corruptos continua! O cavallo só tem uso carroceiro pela sua teimosia: "Me recuso a levar Godiva nua!" O povão acha que ja se puniu algum culpado? Nada disso! Não será vencedor, jamais, um lado! No momento, quem está no poder dá seu recado. Não demora, a lingua má o converte em accusado.


250 GLAUCO MATTOSO ABBAIXO A POLARIZAÇÃO! [5882] Na porta do palacio, o presidente rampeiro communica-se com uma pequena multidão e encrenca arrhuma com gente dissidente e independente. Querendo seguidores ter, somente, conclama alguns fanaticos na bruma, dos quaes quem puxasacco não assuma ser passa a pau levar da turba crente. Mambembe resultado! Si metade daquella multidão que se agglomera na porta acha machão quem a lidera, metade berra "Bicha!", quasi invade. A midia não faz media: na verdade, pondera que elle é "bi". Toda a gallera a accusa de "golpista". Futil era, a nossa! Falta alguem que "Brocha!" brade.


INGOVERNABILIDADE 251 MEME DO FANFARRÃO [5904] Diz Mas que com

elle: "Vae haver logo o revide! só que não será com a facada iremos desforrar, não! Quem aggride arma branca perde de virada!"

Pergunto o que fará si elle decide nas urnas disputar. "Maldicto!", brada o gajo. Caso a um brinde me convide, direi que ja nem bebo limonada. Insiste: "Degollar não addeanta! Nós temos que explodir essa cabeça de vibora! Facada na garganta capaz é de curar-se! Não, exquesça!" Pergunto-lhe por que cultiva tanta vingança só por causa duma advessa politica. "Magina! Até me expanta você me contestar que elle meresça!"


252 GLAUCO MATTOSO MEME DO DISCURSO [5925] Mas quanta baixaria ja se falla accerca dum fulano tão vulgar num cargo que precisa de exemplar conducta mas cahiu na commum valla! O gajo quer familia, alli na salla, ouvindo o seu sermão, mas, em logar daquellas platitudes, vem fallar da foda alheia, alem da alheia "mala"! Assim não é possivel que pretenda exemplo dar de civica virtude! Ninguem com tal conversa mais se illude! Que tal chamar, então, o Homem Legenda? O gajo diz: "Ja tenho uma tremenda tarefa! Por vocês topal-a pude!" Mas leia-se: "Preciso que me escude quem faça, no Congresso, compra e venda!"


INGOVERNABILIDADE 253 VINHO NACIONAL [5934] Pensemos no velhissimo bordão: "Restaure-se a total moralidade ou nos locupletemos todos!" Não podemos abrir mão dessa verdade! Ja que ethica nenhuma nos farão seguir, façamos só o que nos aggrade! Accusam-nos? Fallemos palavrão! Será parlamentar immunidade! Aquillo que melhor nos locupleta se chama, nas más linguas, "mordomia", "mammata", "começão" ou, hoje em dia, ainda a "rachadinha", mais discreta. Ninguem irá tirar o cu da recta. Nós vamos só pedir que, em poesia, um cego não nos jogue, d'agua fria, o jacto da descarga na retreta.


254 GLAUCO MATTOSO OPHIDIO SEM OFFICIO (II) [5943] É gente que não tem o que entregar. Só ficam diffundindo uma fofoca. Na rede um imbecil sempre colloca boatos velhos sobre novo azar. Maconha ja será vendida em bar. A falsa, pois da boa nem ha coca. Poderes brigam? Falta quem convoca? Preparam outro golpe militar. O virus cem milhões ja contamina. Pessoas pelas ruas vão cahindo, cadaveres ao sol dum dia lindo. Ninguem logrou achar uma vaccina. Qualquer resto de viveres termina. Quem não morrer de fome em sua toca na certa morrerá, sem ser masoca, da grippe, menos elle, esse que opina.


INGOVERNABILIDADE 255 CHINEZA SEM DEFESA [5946] A grippe foi chamada de hespanhola, depois de koreana. Agora a gente devia de "chineza", simplesmente, chamal-a, si enxergarmos o que rolla. Não sou quem a bobagens vae dar bolla, taes como que na China ha quem invente um virus que causar ao concorrente irá grande preju. Tal lei não colla. Mas, quando uma fechada dictadura esconde informação e prende quem expõe o serio risco que isso tem, a gente é trouxa quando não dedura. Portanto, não tractemos com ternura os pobres chinezinhos, pois alguem de la tem toda a culpa nesse trem que irá mactar milhões e não tem cura.


256 GLAUCO MATTOSO PAPEL PRINCIPAL [5952] A bunda, quem a limpa tem estylo. Sedoso, perfumado... O senador do rollo de papel excolhe a cor. Ninguem da midia pode perseguil-o. Demais parlamentares, sem vacillo, appoiam tal excolha, pois o odor dos nossos excrementos oppressor é, como o dos velhinhos num asylo. A coisa sae marron, às vezes preta, conforme seu espirito, mas era azul o papel, antes que commetta seu acto o senador, e nada altera do voto o resultado ou, na gaveta, aquillo que, importante, esteja à espera dalguma providencia que prometta livrar dos desgovernos a gallera.


INGOVERNABILIDADE 257 HILARIO PLENARIO [5953] Tem methodo o jargão parlamentar. Debatte de alto nivel bem transcorre na Camara, mas, caso alguem desforre, bem pouca coisa pode se salvar. Alguem pede palavra para dar palpite sobre thema que ja morre por falta de quem grana nisso torre, mas, mesmo assim, papel faz exemplar. -- O nobre deputado se equivoca! {Jamais! Vossa Excellencia não sabia?} -- Sei muito bem! Não vivo de fofoca! {Mas vive de mammata e mordomia!} -- Não falle assim commigo, seu boboca! {Ah, foda-se, Excellencia! Chupa! Enfia!} -- Commigo ninguem nesse assumpto toca! {Si toco! Não tolero baixaria!}


258 GLAUCO MATTOSO POLITI/COPRO/TESTO [5957] Um thema nos retorna à poesia: As fezes são metaphora, na classe politica, de alguem que o povo casse. A lyra precisamos pôr em dia. Politicos proferem baixaria em todos os discursos porque nasce das fezes o dilemma, nesse impasse da mais elementar philosophia. Cagando e andando está quem foi flagrado na lista dos corruptos, mas deu, antes do escandalo, o escatophilo recado: {Fiz tudo para obrar, nas importantes urgencias, com exforço, e evacuado não tenho a casa, oppondo-me aos farsantes!} Será melhor pensar no resultado das obras sob effeito de laxantes.


INGOVERNABILIDADE 259 MISCELLANEA MONARCHISTA [5958] Pensaram? Bem melhor tudo seria suppondo que Dom Pedro nos eduque na base, não do murro, não do muque, mas duma nobiliarchica mania. Sim, meritos tivera a monarchia. Barão, visconde, conde, marquez, duque... Um titulo não quero que me encuque. Talvez um delles ganhe eu, certo dia. Barão paresce grande, mas é baixo. Visconde não é vice que me aggrade e conde condecora, mas me encaixo melhor no de marquez, que lembra Sade. De duque ou de archiduque não me enfaixo si a faixa não me espelha a crueldade. Appenas à pobreza me rebaixo si um sadico plebeu me persuade.


260 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA TROPICAL [5966] As cores nacionaes dão trella à bessa. Banana e papagayo da bandeira teem cor verde-amarella, à brazileira. Como é que um vate experto se sae dessa? Talvez thematizando uma promessa que faça algum cacique quando queira fazer-nos de freguez da bananeira, alem dum fallatorio que não cessa. Banana symboliza a impunidade dos nossos criminosos, pela falta de empenho para os pôr attraz de grade. E quanto ao papagayo, esse peralta? Biccudo e linguarudo, persuade a gente a sustentar, eleita, a malta. Da nossa tropical diversidade são ambos a metaphora mais alta.


INGOVERNABILIDADE 261 MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969] Funcciona a coisa publica assim, ó: Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum. Exemplos vocês querem? Vejam só: De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa... de tudo elles precisam, pois com vinho barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho! Declara um senador: "Eu encaminho aquella votação tão logo possa..." "Exforço concentrado" é o excarninho synonymo da farsa que se esboça. "Periculosidade", outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa...


262 GLAUCO MATTOSO CHAVE DE CADEIA [5970] É sempre essencial o thesoureiro. Experto, leva à parte uma caixinha que engorda a sua compta e zera a minha. Por elle passa a scedula primeiro. Aquelle thesoureiro ganha, a cada negocio em que se mette, a respectiva gorgeta e milhõesinhos arrecada. Mas, quando perguntado, elle se exquiva, dizendo que não leva nisso nada comptabil. Claro, embolsa a grana viva! Em nome do partido, elle se priva, coitado, de obstentar tanta riqueza! Até chegar a hora decisiva. Flagrado, emfim, as chartas põe na mesa e conta o que na compta, ora inactiva, restou: os honorarios da defeza.


INGOVERNABILIDADE 263 MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972] Em anno eleitoral sempre se escuta: "Não voto num partido, mas acceito votar, pelo charisma, num subjeito." Assim encara o povo uma disputa. Emquanto de ladrão, filho da puta e corno são xingados os que pleito disputam, eu aqui só me deleito ao ver como o povão taes nomes chuta. Jamais o brazileiro explica a sua excolha incoherente de quem vota num gajo e quer que a rua o destitua. Quem pede ao militar que appoie a bota no rosto do governo sae à rua sabendo que, depois, seu ar se exgotta na tal "malversação", na falcatrua, alem da crueldade em alta quota.


264 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974] Alem da beberagem e da droga, Difficil ao politico seria passar sem malversar por um só dia. Por isso o menestrel se desaffoga. Motivos não lhe faltam, pois quem joga o jogo da banal democracia somente desviando se sacia, quer use terno, farda, jeans ou toga. Poeta não malversa. Elle verseja, quebrando ou sem quebrar o pé, mas um politico o fará, caso se eleja. De quebra, quebrará, com seu bumbum pesado, um banco solido, e você ja sentiu que é sempre fetido o seu pum com cheiro de cachaça, de cerveja, de whisky, de bom vinho ou de bom rhum.


INGOVERNABILIDADE 265 MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976] Regimes, quem prefere qual, emfim? Paiz ingovernavel, o Brazil suborna o militar como o civil. Não resta alternativa, para mim. Uns acham este aqui menos ruim. Alguns preferem bota, dum fuzil se dizem defensores, mas ardil se encontra em todos: tudo por dindim. Na practica, faz tanto um general corrupto quanto um rei ou presidente. O termo "commissão" é litteral. Será "parlamentar" emquanto a gente se diga democratica. Na tal "democradura", vem gorgeta à mente, emquanto, num regime "social", mendigo ja se eguala ao indigente.


266 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980] De exame calmo tudo, sim, depende. Um methodo illegal não é moral mas pode um immoral ser bem legal. Às vezes, quem mal age bem se vende. Que tal? Você practica tudo aquillo que a midia diz ter branco o collarinho e, caso não for pego, está tranquillo. Mas, caso pego, estava no caminho correcto, e prohibido o seu estylo não era... Fica o caso, então, certinho. Appenas isso basta? Me apporrinho com essa de "antiethica postura"! Eu quero que meu crime de sanctinho me faça e todo aquelle que dedura entenda que o partido ao qual me allinho luctou contra a censura e a dictadura!


INGOVERNABILIDADE 267 MISCELLANEA HUMANITARIA [5991] Bastante mal esteve esse subjeito. Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda. Ainda assim, alguem dirá: "Bem feito!" Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via! Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!


268 GLAUCO MATTOSO JUSTIFICANDO OS MEIOS [5998] E as provas? Onde estão as provas? Hem? Ninguem recibo passa do dinheiro roubado ou desviado ao "companheiro". Emfim, da porra a culpa ninguem tem. Com cara do maior buddhista zen, o gajo diz que nunca fez primeiro aquillo que fizeram por inteiro mais tarde. Elle innocente está, porem. Si alguem for dedurado e assignatura acharem num contracto, o cara allega jamais ter conhescido quem dedura, embora amigo fosse do "collega". -- Fui victima! Assignei sem ler! -- nos jura aquelle que no pullo a gente pega. São esses que defendem a censura na midia. Perguntado, o gajo nega.


INGOVERNABILIDADE 269 MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004] Vergonha não sentiu nenhum saphado. O dicto ja diz, onde tem fumaça tem fogo, mas vergonha ninguem passa. Politico se sente envergonhado? Magina! Sempre está alguem do seu lado! Alguem sempre tem pena dessa raça maldicta, que na midia quer mordaça e em tudo mette o dedo ou poda o dado! O escandalo é commum: sempre o suspeito num caso de suborno ou de extorsão é o raio do politico! Direito ninguem entende como, soltos, vão dribblando a accusação. Falta o subjeito mais sujo, por estar na situação. Eu mesmo raramente me deleito ao ver que um delles vae para a prisão.


270 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005] Vão, claro, suggerir prorogação. Appenas um mandato não lhes basta si ainda a grana toda não foi gasta. Precisam de mais tempo! Não é, não? A gente, quando gasta algum tostão, bem sabe como o tempo ca se arrasta até ganharmos outro. Mas contrasta o nosso com aquelle dinheirão. Reforma na politica? Sim, claro! Concordam elles todos ser urgente. Enganna-se, porem, o povo ignaro si achar que a reeleição do presidente accaba! Em logar disso, eu ja comparo o cargo ao do Juvencio ou do Vicente! Mas logo um desses nomes será raro que esteja na lembrança aqui da gente.


INGOVERNABILIDADE 271 MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039] Às vezes philosopho sem proveito. Circense bacchanal, essa em que accabo tomando, eu e milhões de eguaes, no rabo! Mas nunca que esses crapulas acceito! Um unico politico me aggruppa, pellado e accorrentado, com os meus demais concidadãos, e nos "estrupa" agindo ou ommittindo! Nós, plebeus, siquer sem protestar, ouvimos "Chupa!" Rezamos mudos... menos os atheus! Chupamos o mais sordido dos paus e a porra que engolimos e nos tapa a bocca nos fodeu em varios graus semanticos! Agora, em nova etapa historica, poder menor os maus teem para nos impor unica chapa!


272 GLAUCO MATTOSO PLENA QUARENTENA [6064] {Tá certo o dictador das Philippinas, Glaucão! Tem que attirar para mactar quem, nessa quarentena, no seu lar não fica! Tu commigo não opinas? Não acho que essas ballas assassinas ser possam! Tu concordas? Não, logar a rua não será de passear, tampouco de parar pelas exquinas! Senhoras, senhoritas ou meninas, ninguem excappa à balla, si tentar sahir, entrar num posto ou similar, siquer para achar umas chloroquinas!} -- Estás é louco! Porra, não attinas? Mactar vão teus escravos! Vaes ficar sem gajos no teu grosso calcanhar! Quem é que irá lamber tuas botinas?


INGOVERNABILIDADE 273 PERO NO MUCHO [6067] Sou contra! Não approvo! Não insista! Não vê que tomo opposta decisão aos actos do governo? Não vê não? Entenda duma vez: sou anarchista! Mas veja bem: qualquer poncto de vista se pode rever, claro! Todos são capazes de mudar de opinião! Aos tempos não ha força que resista! Si tempo for dinheiro, meu amigo, ahi que estou revendo o meu conceito! É claro que vender-me não acceito! Comtudo, fui directo no que digo! Acceito conversar si, sem perigo de nisso ser corrupto, surte effeito a somma do que eu disse, em meu proveito, custar uma assistencia a algum mendigo...


274 GLAUCO MATTOSO EMPATHIA COM QUEM CHIA [6079] {Emquanto a classe media fica ahi fazendo a quarentena de motivo appenas de diario, eu, que convivo com gente da peripha, sou cricri! Não, Glauco, pense bem! Quem é que ri brincando com um drama collectivo, com tanto desemprego? Não! Passivo não fico! Não é mero mimimi! Tem gente sem comida! Ja não é questão só de ficar entediado! Não é como chiar porque o calçado produz, num pé estressado, mais chulé!} -- Concordo. No povão pensei, até. Mas esse seu exemplo foi forçado demais! Por que citar o pé estressado? Da cuca alguem ficou, tambem, lelé.


INGOVERNABILIDADE 275 FODIDO E BEM PAGO [6104] Por que você me pede que lhe explique as causas evidentes para a gente gozar um governante incompetente? Você entendeu? Então não sacrifique! Por que me questionou o gaz e o pique si sabe que um ceguinho puto sente tesão fazendo meme irreverente? Você entendeu? Então não sacrifique! Si quando satyrizo dama chique, cacique nu, politico que mente, dar nomes for, leitor ha que me aguente? Você entendeu? Então não sacrifique! Porem, si eu lhe pedir que justifique os fins por feios meios e consente você, no cu tomar va, simplesmente! Você entendeu? Então que se fornique!


276 GLAUCO MATTOSO MEME DA INJECÇÃO [6107] Mas elle fallou! Elle é presidente! Aquillo que fallou elle garante! Fallou o que é melhor: desinfectante! Nem chloroquina serve: é caso urgente! Um medico negou? Pois esse mente! Quem sabe é o presidente! Elle é bastante sabido, não sabia? Doradvante eu acho uma injecção sufficiente! Não sabe, dona, como fazer? Ora, qualquer desinfectante! De privada, de chão, de rallo! Vale tudo ou nada mais pode valer contra a praga, agora! Porem, si não servir, minha senhora, ao menos seu cadaver será cada vez menos podre! Quanto mais piccada, maior a protecção de quem a chora!


INGOVERNABILIDADE 277 HASHTAG CALA A BOCCA JA MORREU [6130] Vocês são uns reporteres de merda! Então não perceberam que enviado me faço? Como posso ser veado? Nenhum messias taes transtornos herda! Assim sempre fofoca alguem de esquerda! Só topo quem esteja do meu lado, pastores, generaes! Não sou pautado por gente que só trama a minha perda! Portanto, calem essa bocca suja! Ja basta aquelle cego desboccado que só com palavrões dá seu recado e em toda bota sordida babuja! Missão que nem a minha sobrepuja a pauta dessas midias de peccado repletas! Sou quem manda aqui! Frustrado só fico caso o povo de mim fuja!


278 GLAUCO MATTOSO HASHTAG VAMOS À FORRA [6163] Ja tenho o meu ORVIL, Glauco! Não fallo dum Orwell, não! ORVIL mesmo, o contrario de "livro"! Um detalhado promptuario dos methodos que pisam no seu callo! Surpreso ficará! Vou impactal-o! Você reparará, caso compare-o aos livros esquerdistas, que scenario diverso olhei: de Sade fui no emballo! Proponho torturar, no captiveiro, os nossos inimigos, com requincte maior de crueldade, tendo uns vinte carrascos para cada prisioneiro! Sim, typo lynchamento, Glauco! Pincte la, quando nós vencermos! Mas, primeiro, teremos que sahir deste atoleiro chamado "pandemia"! Ah, puta accincte!


INGOVERNABILIDADE 279 HASHTAG MULHER VOTA EM HOMEM [6165] Fiquei damnada, Glauco! Minha amiga me disse que esses machos governistas estão, a cada passo, mais machistas, dispostos a comnosco comprar briga! Disseram que só para a gente liga quem nossos votos quer, que nós, nas listas de novas candidatas, só conquistas de cama somos, fora as da barriga! Um monte de bobagens diz, sem nexo, dos machos o guru, Glauco! Você precisa ver! Faltava alguem que dê porrada nesses bugres do outro sexo! É mesmo, Glauco! O caso nem complexo seria! Basta a sadica, à mercê da qual pés lamberão! Ou dum michê terão, em vez do concavo, o convexo!


280 GLAUCO MATTOSO BANCADAS THEMATICAS [6176] Primeiro, uma bancada foi da balla. Depois, veiu mais uma, a tal da bolla. A coisa, pelo jeito, fez eschola. Bancada até da Biblia se propala. Talvez eu me confunda, Glauco! Falla si estou errado! Tens razão! Controla as Casas a do boi, tambem! Cartola não falta, alem da bolla, alli na salla! Caralho, Glauco! Quattro vezes "B"! Peor que Grande Irmão, ou coisa assim! Mais 'inda ficará a Coisa Ruim si chega a do Cappeta na TV! Mas isso é bem Brazil, né? Faz michê quem dessa Sociedade esteja a fim de, bebado, tractar no botequim! Bebamos nós, tambem, mas ca no apê!


INGOVERNABILIDADE 281 HASHTAG QUEM É DE ESQUERDA TOMA [6179] Ué, Glauco! Só toma quem quizer! Quem não quizer não toma! Não me fodo! Si formos de direita, temos todo direito de propor droga qualquer! Tomemos! Nos curemos! Si não der, de facto, resultado, foi engodo? Magina, Glauco! Morre gente a rodo! A menos ou a mais, morre quem quer! Que tome guaraná quem for communa! Que tome tubaina, tome soda! Sou foda! Não concorda, pô? Sou foda! No chiste, nem preciso de tribuna! Não ha melhor piada que nos una! Não posso fazer nada, si incommoda a minha brincadeira! Minha roda curtiu! Não ha remorso que me puna!


282 GLAUCO MATTOSO VAGABUNDOS [6195] Confesso: ca por mim, prendia meia centena de juizes, jornalistas, poetas e escriptores communistas! Logar de vagabundo é na cadeia! Si falla alguem que a gente lhes cerceia a satyra, a palavra, que conquistas do povo desdenhamos, dou as pistas: Logar de vagabundo é na cadeia! Si dizem que esta aqui sempre foi cheia cidade de ladrões, que só dão festas com publico dinheiro, tu contestas? Logar de vagabundo é na cadeia! Não achas que está, Glauco, ja bem feia a minha situação? São deshonestas as minhas intenções? Tambem detestas meus methodos? Logar tens na cadeia!


INGOVERNABILIDADE 283 DISCORDIA [6205] No ORVIL, "livro" que lido foi de traz p'ra frente, militares negam tudo: que tenham torturado, que desnudo ficou o seu regime, ja sem gaz... Accusam as esquerdas como más e perfidas, o povo como mudo refem do terrorismo que um estudo demanda p'ra voltar a patria à paz. Discordo, cara! Affirmo que tortura rollou, sim, mas foi optimo que tenha rollado, Glauco! Assim se desempenha a força, a auctoridade que perdura! Meu sonho, si vencermos nós, da pura moral (você não vale) é, com ferrenha vontade, torturar quem não me venha lamber as botas numa dictadura!


284 GLAUCO MATTOSO PAREDÃO [6207] Duvido de você, quando me diz que exsiste boa gente em cada lado! Si sou de esquerda, quero fuzilado ver um dos "bons"! Assim serei feliz! Aquelle que equilibre dois Brazis, por mais que seja bemintencionado, meresce simplesmente ser tractado com toda a cortezia que condiz: Teremos boa balla, paredão tambem bom, para cada desses tão bomzinhos, porem cuja posição se opponha ao socialismo de plantão! Mas antes, Glauco, quero vel-os chão lambendo pelo pateo da prisão! Rirei quando pedirem meu perdão por terem sido neutros na questão!


INGOVERNABILIDADE 285 COMPAIXÃO [6212] Só vejo violencia, divisão e polarização! Ninguem mais dá bom dia, boa noite! Venha ca: O mundo ficou chato, Glauco! Não? Ja não se dialoga! Todos são convictos, radicaes! Pappo não ha que seja cordial! Como será a nossa vida, assim? Diga, Glaucão! Você ja bem lembrava: Não são só dois lados! Pelo menos num quadrado estamos, ou num cubo, typo um dado! Eu multifacetado vejo o nó! Extremos se provocam, mas o pó das botas todos lambem quando um gado desforra no rival! Desanimado eu fico! Você delles não tem dó?


286 GLAUCO MATTOSO JUJUBA [6215] É todo deputado uma jujuba: a gente, facil, compra alli na exquina! Assim sabemos como é que termina: ninguem um governante, aqui, derruba! Às vezes, pelo preço dum sanduba, alguma votação alguem combina! Passada a crise, fica na surdina! Capaz a approvação até que suba! Fazer o que, Glaucão? Cê fica puto, mas penso, certamente, no meu lado! Né, porra? Fui eleito deputado! É pela minha classe, então, que eu lucto! Dizer que sou jujuba... Bem, reputo um tanto diffamante! Estou errado? Das minhas incumbencias não me evado! Vesti preto, Glaucão! Estou de lucto!


INGOVERNABILIDADE 287 GLOBALIZAÇÃO [6216] Joelho no pescoço, Glauco! Mais cruel, só mesmo bota no pescoço! Ninguem assim pisado, velho ou moço, consegue respirar em horas taes! Alheia ao mais agonico dos ais, a bota de solado rude e grosso suffoca quando pisa! Nem esboço siquer de reacção houve jamais! Rollava no Vietnam: americanos pisavam no pescoço do inimigo num interrogatorio, ou por castigo, appenas! Diversão sem previos planos! Mas quando, Glauco, um desses negros manos pisado for assim, eu só lhe digo: Um dia alguem reage e esse perigo crescendo vae! Globaes serão os damnos!


288 GLAUCO MATTOSO CONVERTIDA [6217] Soubeste, Glaucão? Essa militante ja fora prostituta! Mais ainda: tentou ser feminista! Mas não finda a coisa por ahi! Falta bastante! Ouvi que namorou ella, durante um tempo, sem ser culta nem ser linda, com quem as vagabundas sempre guinda às altas posições! Não é intrigante? Alem da assessoria no partido, a puta agora agita a molecada das redes sociaes! Mas que damnada! Hem, Glauco? Tu julgaste merescido? Mas claro! Não pensei nisso! Libido varia! Differentes taras cada um curte! Pode ser que ella tarada tambem seja por nazi travestido!


INGOVERNABILIDADE 289 BLACK BLOCK [6220] Você não me entendeu, Glauco! Não quero appenas protestar! Quero quebrar! Ja fui anarchopunk! Agora, azar! Eu quero o pé metter! Chega de lero! Me diga agora, Glauco, que sincero você tem sido: os homens que vetar queriam nossas mascaras logar darão aos que as permittem? É o que espero! Permittam, não permittam, tanto faz! Nós vamos promover o quebra-quebra! Assim eu me divirto! Quem celebra a nossa pauta nunca almeja a paz! Mas, Glauco, que pergunta! Sou rapaz limpinho! Tomo banho! De Genebra eu sigo a convenção! Só quando zebra meu pé tem de pigmenta aquelle gaz!


290 GLAUCO MATTOSO CABIDEOLOGIA [6221] Mas esses governistas não estão levando uma bandeira de Israel, alem da americana? Por que, então, no meio os neonazis teem papel? É contrasenso, Glauco! É confusão mental! Então se pode ser, ao bel prazer, fan de Caim como de Abel, discipulo do russo ou do allemão? Se pode ser de Stalin defensor, assim como de Gandhi? Ser de franco assim como de Lorca? Até quem for de Luther King appoia a Klan do branco? Então, Glaucão, um Orwell eis que eu banco! Lhe informo que me faço dictador e imponho só tesão, nenhuma dor! Na marra quem não goze eu... Hem? Expanco!


INGOVERNABILIDADE 291 TOSTÕES [6226] Primeiro, o fanfarrão me condecora, me chama de guru, lambe meu pé! Em tudo o que fallei elle põe fé! Agora não me vale? Eu estou fora! Se foda a tal medalha! Metta agora a porra no seu cu! Foder até eu posso o seu governo, si a ralé, bem antes de mim, não mandal-o embora! Cercado está dum monte de cagões e nada de tomar a decisão de, em publico, dizer que elle cagão tambem virou, que é falto de colhões! Glaucão, e tu? Tambem tu não me pões nenhuma fé? Caralho! Não me dão qualquer alternativa! Vou, então, astrologo tentar ser, por tostões?


292 GLAUCO MATTOSO VELHO NORMAL [6230] O gringo, no Brazil, poder arrocta! Deixamol-o fazer tudo o que queira! Republica nós somos, bananeira! Não achas, Glauco? Ou és tu patriota? Si fores, perdes tempo! Quem adopta criterios objectivos da maneira mais simples e normal disso se inteira! Nos resta, assim, Glaucão, fazer chacota! Aquelles que se indignam com o facto de sermos viralattas são os mais soffridos, qual escravos sexuaes que engulham quando lambem um sapato! É como no meu caso, pois constato que, emquanto só chupei entre mil ais, soffri! Quando suppuz serem normaes abusos desse typo, não foi chato!


INGOVERNABILIDADE 293 GARRAFA QUE GRAPHA [6237] Mensagens na garrafa até ja as dera o punk, aquelle naufrago na scena rockeira: gesto grande em tão pequena escala. Mais será na actual era. Do seculo gran coisa não se espera em termos de empathia, nem de plena acção humanitaria. Nos condemna o jogo do Systema à van chimera. Utopicos, ou loucos, somos nós, poetas e philosophos, que iremos, em verve engarrafada, aos mais extremos canthinhos do oceano. Estamos sós? Não creio. Por mais tragico ou atroz que seja nosso barco, sem os remos nem bussola, a garrafa nós podemos lançar, uma appós outra, appós, appós...


294 GLAUCO MATTOSO FARTUM NO CARTUM [6256] Vae, abre teu sorriso, Glauco! Humor libera as endorphinas! Quem risada dá, para longe expulsa a malfadada noticia, a vibração ruim, a dor! Humor só não funcciona si a favor é feito para alguem que não quer nada com criticas ou presta-se ao que aggrada ao lider de plantão, ao dictador. Não sendo propaganda pamphletaria, da chronica, da satyra ou da mera e simples charge nunca vocifera ninguem de intelligencia mais primaria. Mas quando, Glaucão, uma tão hilaria figura mais delira que lidera, ahi não tem mais jeito! Quem nos dera chargistas mais ousados contra um pariah!


INGOVERNABILIDADE 295 MORRA QUEM MORRER [6298] Estão me censurando, Glauco, só porque eu fallei que quero que elle morra! Mas é verdade! Eu quero mesmo, porra! É muito bafafá! Bah! Tenha dó! Não é de todo mundo que xodó é um filho duma puta! Caso occorra torcermos p'ra que a morte nos soccorra, por certo não será da minha avó! No consequencialismo, vale o dicto: dos males, o menor! Glaucão, está torcendo o povo todo! Não será surpresa si morrer vae qualquer mytho! Até vampiro morre! Nem lhe cito cayporas, nem sacys! Glauco, não ha ninguem que esteja livre! Só me dá tesão por ser politico o maldicto!


296 GLAUCO MATTOSO ROUQUIDÃO [6316] Regimes monarchistas não teem nada a ver com dictaduras, nem tampouco com esses direitistas! Está louco quem tenta confundir a molecada! Tambem sou monarchista, Glauco! Cada qual, subdito da Corte, ficou rouco de tanto protestar, mas está mouco o ouvido dos que informam a manada! Foi golpe esta republica, Glaucão! Foi, isto sim, regime militar despotico! Vieram governar uns meros marechaes, contra a nação! Não foi dictatorial Dom Pedro, não! Até fora a nação parlamentar! Quem dera alli pudessemos voltar! Portanto, que não façam confusão!


INGOVERNABILIDADE 297 CORTE RACIAL [6434] Que o gajo, por ser negro, parte faça de gruppo criminoso, uma juiza achou, Glauco, olhe só! O paiz precisa de gente tão racista? Que desgraça! Então uma juiza acha que raça aggrava? Quer dizer que ella ameniza a pena si for branco quem mais lisa deixou alguma bolsa alli na praça? Que cara de pau, Glauco! Um tribunal que encontra fundamento ou que condemna alguem e pela pelle impõe a pena será somente "corte racial"! "Tem pelle escura? Ah, pode ter total certeza: rouba, macta!" Aquella amena sentença ao branco chama à minha penna qualquer caso de impune general!


298 GLAUCO MATTOSO EXFARRAPPADO E ROPTO [6435] És tu de esquerda, Glauco! Não me negues! Tentaste disfarsar, mas eu não caio nas tuas armadilhas! No balayo dos gattos, passar neutro não consegues! Canhoto foi teu olho! deixaram de notar! Me si não usavas oculos! o dado que informaste

Nem os jegues parta um raio Extraio entre os entregues!

Sim, consta que tambem teu pé canhoto maior é que o direito! Ou não é facto? Nós temos, todos nós, como constato, um pé maior! Não negues, meu garoto! Teu cuspe, teu expirro, teu arrocto, teu vomito, teu halito, teu flato são provas de esquerdismo que, no tracto, te egualam, nos farrappos, ao mais ropto!


INGOVERNABILIDADE 299 ARTISTA ARRIVISTA (II) [6446] Eu, como pinctor, quero ser inscripto, dos grandes, na famosa galleria! Nem ligo si ninguem mais me elogia! Desdenho quando escuto um mero grito! Protestam contra aquillo que eu, bonito, achei que desenhava? Que ironia! Os mesmos são que estavam, outro dia, achando que magias eu transmitto! É o publico voluvel, Glauco! Um sacco! Num dia, compram tudo que eu expuz! Num outro, quebram tudo! Que deduz você? Quer ver tambem minh'obra em caco? Entenda, cara! Appenas me destacco por ser opportunista! Pincto os cus fedidos dos politicos! Mais luz lancei! Qual o problema? Acha-me fracco?


300 GLAUCO MATTOSO CONTEXTUALIZANDO [6451] Eu, como cidadão, quero o respeito do rico pelo pobre de cor parda, mas, quando vejo um branco usando farda, desejo ser escravo do subjeito... Difficil de entender! Eu não acceito offensas dessa classe felizarda do branco! Um mano nunca se accovarda na lucta contra todo preconceito! Ahi complica, Glauco! O companheiro me cobra que linguagem use, dura! Na cama, a minha lingua molle jura amor ao pé dum branco zombeteiro! Você ja reparou, Glauco, que cheiro mais forte de chulé tem quem censura ou xinga, quem na rua nos dedura ou prende, num contexto verdadeiro?


INGOVERNABILIDADE 301 CANINA PROTEINA [6463] Cachorros confiscados, na Koréa do Norte, são! Nenhum de estimação se pode ter por la! Dizem que cão é luxo de burguez, Glauco! Que idéa! Será que de comida alli tal é a carencia que dos cães elles farão estoque? Produzir querem ração humana de cachorro, uma geléa? Tu, Glauco, comerias mortadella à base de cachorro? Não? Eu fallo por feita ser de carne de cavallo em terras italianas, dizem della! Bem, pode ser mentira... Quem revela taes coisas pelas redes vae no emballo, dizendo que não ha por que enjeital-o: Por annos o producto se congela!


302 GLAUCO MATTOSO CONDUCTA (RE)PROVAVEL [6473] Viu, Glauco? Um jornalista que conhesço partiu para as taes "vias", insultado que foi pelo covarde entrevistado causão, que o provocou desde o começo! Bem sei que todo gajo tem seu preço, mas ambos se excederam! Eu chocado fiquei, Glauco! Jamais me desaggrado com fallas, mas ver murros não meresço! Podiam os dois todo o xingamento possivel ter trocado, mas jamais na radio se pegarem! Ouvir ais com uis no meio, Glauco, é o que eu lamento! Si fosse isso occorrer no Parlamento, ahi, sim, são desejos naturaes de todos nós que, como uns animaes ferozes, usem esse tractamento!


INGOVERNABILIDADE 303 BLUE EARTH [6484] (para Luiz Roberto Guedes) Os orphans de John Lennon e Raul vagueiam, como mulas sem cabeça, ainda accreditando que accontesça na Terra algo que a faça mais azul. Porem, nos hemispherios, Norte e Sul, alguns terraplanistas que mais cresça a treva vão fazendo, mais espessa a nuvem que as idéas dum pitbull. Aquella Sociedade Alternativa que todo saudosista antecipava paresce mais distante, sob a clava dum novo Brucutu com voz activa. Não morrem, todavia, Lennon, Piva, Camões nem Raul Seixas. Uma oitava heroica, por si só, mais desaggrava a gente que, de senso, o Ogro nos priva.


304 GLAUCO MATTOSO GEMEBUNDOS E IRACUNDOS [6485] P'ra mim todo reporter é bundão! Vocês ahi são todos uns bundões! Ouviram bem? Bundões! Sim, seus patrões, seus chefes e editores, tambem são! Estão me perseguindo! Vocês não teem mais o que fazer? Vejam, razões não faltam! Investiguem os bilhões dos padres, dos gurus da opposição! Coitados, meus gurus cobram tão pouco, bem menos do que aquelle pechuleco na minha compta, a qual o jornaleco dedou como "lavagem", pô! Tá louco! Mas chorem! Berrem! Vae ficar é rouco quem vive dedurando onde é que eu pecco! Sim, para taes bundões é que eu defeco, pois faço, ao jornalismo, ouvido mouco!


INGOVERNABILIDADE 305 OMMISSO COMPROMISSO [6487] Será que não terei nada com isso? Appenas porque fallo mais do sujo sapato dos politicos, sabujo não posso ser chamado, nem submisso. Dos dramas do suburbio ou do cortiço tambem ninguem dirá que sempre fujo, tampouco que me torno um caramujo ou durmo, como bardo, no serviço. Poetas thematizam, de maneira diversa, a mesma coisa: muita gente abborda a propria coisa, simplesmente; alguns a localizam na sujeira. Talvez com sacanagem alguem queira a coisa mixturar, ja que se sente participe dum mundo onde evidente é o gozo de quem fede, si não cheira.


306 GLAUCO MATTOSO CHARTA INDESCHARTAVEL [6488] A culpa não é minha, Glauco! Quem approva a escravidão é o proprio Marx, segundo o qual, sem esses desembarques do negro trafficado, o pão não vem! Sem negros, o commercio fica sem os braços, fica a industria sem seus parques! Portanto, pelas redes, caso marques um thema, a negritude implica alguem! Ja sei que os communistas vão chiar, dizendo que o Karlão não fallou isso, mas uma charta delle desserviço causou àquella causa, por azar! Eu, como nada tenho o que allegar accerca do problema, só cobiço a rolla dum negão, Glauco! Submisso não és, tambem, ao thema mais vulgar?


INGOVERNABILIDADE 307 COUSA COM CAUSA [6489] Chamados, nós poetas, de causões ja fomos tantas vezes, que nem sei si foi porque luctamos contra a lei ou della a favor, raios e trovões! Luctamos, desde tempos de Camões, por causa alguma: amigo ou não do rei, amor à natureza, pauta gay, de cor, de corpo, credos ou facções. Alguma cousa causa a nós, poetas, as dores que tomamos, da velhinha, do cego, do doente que definha, daquelle que votar quer nas directas... Talvez seja por ti, que nem te affectas com themas da politica mesquinha e suja, que luctamos, mas na linha satyrica dos bobos e patetas.


308 GLAUCO MATTOSO PRESTAÇÕES DE COMPTA [6490] Vontade tenho, Glauco, quando alguem pergunta do dinheiro numa compta conjuncta, de ir às vias contra a affronta! Indagam sobre o saldo que ella tem! Depositos fizeram, mais de cem mil, para a minha esposa? Quanto monta, ao certo? La sei eu! Não me admedronta que fiquem a fuçar cada vintem! Glaucão, eu quero encher, sim, de porrada a bocca do reporter que me fez pergunta tão incommoda! Cortez terei que ser, caralho? Não, qual nada! Si eu fosse presidente... Ahi, sim, cada centavo ommittiria duma vez! Ninguem pode saber quanto, por mez, ganhou quem ser honesto sempre brada!


INGOVERNABILIDADE 309 MYTHOMANIA [6491] Aquelles puxa-saccos que de "mytho" chamando vivem esse de plantão em nada differentes, Glauco, são dos outros, cujos nomes eu nem cito! Diziam "presidenta", até bonito achavam commetter violação às normas da grammatica, Glaucão! Mas com o tal do "mytho" mais me irrito! Chamamos de "mythomano" quem mente por vicio, ou seja, mythos são mentiras, são lendas! Tu, Glaucão, nas tuas lyras, alludes aos monstrengos como um crente! Mas és poeta! Podes, simplesmente, fingir que embarcas, caso te refiras aos monstros, na canoa! Tu deliras, mas esse gado orgasma, tesão sente!


310 GLAUCO MATTOSO CRISE SUBJUGAL [6499] Aquelle vagabundo! Foi somente por causa delle, porra, que fui preso! Um typo repulsivo! Meu desprezo meresce! Hem? Quanta raiva a gente sente! Fiz delle secretario! Quem attente aos factos notará que muito peso tem sua actuação, que todo o vezo corrupto lhe subira, porra, à mente! Assim que foi detido, dedar quiz a minha pessoinha, amigo Glauco! Fallou aos jornalistas que eu desfalco as comptas, o thesouro do paiz! Aquelle verme! Euzinho aqui não fiz nadinha! Até fallou que nelle eu calco a sola, que não passo siquer talco no pé! Mas ja commigo foi feliz!


INGOVERNABILIDADE 311 CLIENTE INCONSEQUENTE [6501] Transmitta, Glauco, minha despedida a todos no Brazil. Fui condemnado à morte, pois aqui nem advogado nos livra. Vou pagar com minha vida... Aqui será maluco quem decida mactar alguem somente por chamado ter sido, pelo gajo, de veado. Por isso me fodi, Glauco... Duvida? Estou no corredor da morte e espero que, em breve, me executem duma vez! Cuidado recommendo que vocês, ahi no Brazil, tenham! Sou sincero! Não, para ca não venham! É severo o codigo daqui! Qualquer burguez que macte qualquer bicha, si freguez foi della, de excappar tem chance zero!


312 GLAUCO MATTOSO QANONYMATO [6505] Hem, Glauco? Não fallei que era verdade aquillo que diziam dos communas? Sim, comem creancinhas! São fortunas que investem os immundos fans de Sade! Conspiram, todos elles! E quem ha de luctar contra canhões só com bordunas? A midia não preenche taes lacunas e só com fake news nos persuade! Dos mythos precisamos! São heroes aquelles que, excolhidos, salvarão o mundo dos communas, Glauco! São mocinhos, são xerifes, são cowboys! As normas da sciencia são anzoes que querem nos fisgar! Não passarão! Não crês que exsistirá conspiração? Não vês que, em tuas trevas, te destroes?


INGOVERNABILIDADE 313 INCONSPIRACIONISMO [6506] O conspiracionismo, Glauco, vem crescendo! Não percebes? Na verdade, o proprio obscurantismo persuade os trouxas de que sempre trama alguem! Apponctam adjuda da o Papa! A as nossas

communistas, com ou sem Kabbala! Apponctam Sade, midia, dizem ja, que invade consciencias! Vão alem!

Extranho paradoxo, não é não? Fallavam que internet era terreno que democratizava! Até pequeno zineiro confrontou o Grande Irmão! Foi era technologica? A licção que eu tiro me confirma que é veneno o que era tão tranquillo, tão sereno advanço cultural! Que decepção!


314 GLAUCO MATTOSO VESPERA DA DESTRUIÇÃO [6515] Ainda a bomba atomica perigo será! Sempre será, Glauco! Mas eu tentando dizer sigo, ao europeu, ao russo ou ao chinez: Não, meu amigo! O clima maior bomba será, sigo dizendo, Glauco! O mundo ja perdeu a chance de evitar o sujo breu que irá nos polluir! Bello castigo! Não poupo, no Occidente, quem protesto lançou pela canção! Americanos tambem são responsaveis pelos damnos causados ao planeta com seu gesto! Só fingem protestar! Meu manifesto é contra, justamente, esses insanos abutres consumistas! Poucos annos nos restam, Glauco! O resto será resto!


INGOVERNABILIDADE 315 MICHÊS QUE EMPICHAM [6520] Não tenho nenhum medo de empichado ser, Glauco! Tenho appoio, tenho base bem solida! A denuncia nem na phase final chega! Garanto o resultado! Mas é dinheiro vivo que arrecado, pois teve que ser mala, sempre quasi bem cheia, a que paguei p'ra que não vaze nadinha do que faço neste Estado! Por isso commemoro que essa nota mais nova, a de duzentos, logo corra! Menor me fica aquella mala, porra! Percebes, Glauco, como rolla a quota? Não fosse essa chantagem, a patota vazava como jorra a minha porra nas typicas surubas de Gomorrha com tantos michetões que calçam bota!


316 GLAUCO MATTOSO LIBERALOIDE [6522] Dois annos attraz, Glauco, eu fui, eu era de esquerda, ma non troppo! Sacumé? Depois que um rapazinho li, nem fé mais tenho na direita, não! Pudera! Não é que o tal rapaz, na blogosphera, se diz, pero no mucho, da ralé e em cada canoinha tem um pé? Vidrado estou e, delle, na paquera! Você, que "esquerdireita" considera que caiba àquelle typico "exemptão", não acha que o blogueiro nem é tão original assim? Que delle espera? Ja sei: sou vacillão! Né, Glauco? Fera de idéas, só Caetano, ou Gil, então, ou Chico, ou Odair José! Ja não paquero ninguem! Meu tesão ja era!


INGOVERNABILIDADE 317 BAÇA VIDRAÇA [6530] Vou me candidatar à prefeitura, amigo Glauco! Ocê, que é meu amigo, irá me dar appoio, né? Comsigo eu quero contar! Sua verve é dura! Ocê, meu amigão, que tem cultura poetica, consegue impor castigo aos outros concorrentes! Eu nem ligo, mas chiste muita gente não attura! Ocê podia à lyra serventia politica dar, Glauco! Ja pensou? Aquelles epigrammas bello show dariam duma satyra que chia! Amigo, ocê na penna attingiria a todos, não a mim, que exempto sou de manchas! Vae adjuda me dar, ou tambem alvo serei da poesia?


318 GLAUCO MATTOSO INFINITA TRISTEZA [6531] Glaucão, a cada chance eu me promovo! Estive preso, claro, mas sem provas! Emfim quero trazer-te boas novas: eu à disposição estou do povo! Pretendo concorrer, Glaucão, de novo! Sim, dou certeza: applico bellas sovas, nas urnas, aos bundões que tu reprovas, aos que do capitão só babam ovo! Não achas tu, Glaucão, muito humilhante ficarmos nós à America submissos? Pois é! Nesse governo, os compromissos deixaram o Brazil menos gigante! Mas quero resgatar, Glaucão, durante meu proximo mandato, esses massiços recursos da nação! Não dou serviços pauperrimos aos pobres! Dou bastante!


INGOVERNABILIDADE 319 RAPAZ AUDAZ [6532] Glaucão, eu sou fodão! Eu sou cruel! Eu sou um socialista à moda antiga! Eu brigo, nessa guerra, a boa briga! Eu sou que nem o Jones Manoel! Em vez de mais um golpe do quartel, proponho dictadura que consiga punir os direitistas duma figa com canna dura, ao nosso prazer bel! Defendo violenta repressão àquelles que discordem do regime do proletariado, o mais sublime, capaz de converter um exemptão! Até Caetano ouviu o meu refrão! Então, quem pense egual que se approxime! Si não fizerem parte do meu time, vocês estão jurados! Morrerão!


320 GLAUCO MATTOSO ARREDIA REBELDIA [6533] Não sei por que, Glaucão, tanto se expande a lenda pacifista! Que utopia! Na India, em paz o povo ja vivia submisso, antes de lider ser o Gandhi! A desobediencia civil grande conflicto sempre gera! Mais o guia causou de violento! Quem diria? Augmenta a repressão de quem commande! Passivo quem domina nunca fica perante quem se nega a accaptar quieto as ordens, as sentenças, um decreto, ainda que lhe imponham chupar picca! Aos sadicos, a teima justifica mais gosto em castigar quem rompe um veto! Eu mesmo, Glauco, tracto como objecto aquelle em quem pisei ou dei a bicca!


INGOVERNABILIDADE 321 CONFUSOS ABUSOS [6538] Glaucão, meu advogado teve sua mansão pela policia revistada! Levaram quasi tudo, olharam cada papel! A dictadura continua! Agentes tambem foram para a rua fazer apprehensões, embora nada achassem, na mansão duma advogada da minha fellatriz, flagrada nua! Si fosse para buscas dar na casa daquelles advogados que a serviço estão dos meus rivaes... Sim, e eu com isso? É gente que só minha vida attraza! Mas volta a dictadura quando vaza a midia a minha vida! Compromisso eu tenho com quem manda! Nunca attiço qualquer operação que não se embasa!


322 GLAUCO MATTOSO RANCORES DE ELEITORES [6540] Não posso votar, Glauco! Você não entende? Estou no gruppo que se chama "de risco"! Só desloco-me da cama à mesa, da privada ao box, irmão! Você tambem não vota, pois visão não tem! Não é? Se livra da azafama que sempre nos obriga! Nem reclama si está, ja, dispensado da eleição! Ah, mesmo sendo cego, você vota? Mas, desta vez, somente, não irá às urnas... Entendi! Quasi tem, ja, septenta? Puxa, Glauco, nem se nota! Mas eu não votarei mais! Minha quota ja dei! Breve, estarei, tambem, gagá! Meu voto differença nem fará, pois todos vão lamber, de alguem, a bota!


INGOVERNABILIDADE 323 CANDIDATA DA NATTA [6551] É claro que será perseguição! Eu sou candidatissima! Se explica por que dizem ser minha mansão rica demais e me perseguem, sim, Glaucão! Pretendo ser prefeita desta tão charmosa capital! Jogam titica, por isso, sobre mim! Mas esta zica irá passar! As coisas mudarão! Forjaram tudo para me envolver em toda a corrupção que sempre grassa em toda parte, em toda sancta praça aqui desta nação! Ah, mas vão ver! Ah, Glauco, vão ver só! Terei poder, em breve, si o povão me der a graça de eleita ser! Vingar-me vou! Da caça às bruxas, eu excappo com prazer!


324 GLAUCO MATTOSO CREDITO EM COMPTA [6562] Mentira, Glauco! Tudo mentirinha commum, inoffensiva, que esses filhas da puta transformaram em cerquilhas no twitter e se expalham, linha a linha! Não! Só porque eu fallei que essa damninha questão da correcção tem armadilhas bastante inflacionarias, ja as mattilhas lattiam, ja a patrulha attirar vinha! Appenas eu propuz que se congele qualquer salario, bonus ou pensão! Congelem tudo! Chega de inflação! A velha apposentada a Deus appelle! Quem ganha aquelle minimo ja a pelle não livra, mesmo, dessa crise tão pandemica, caralho! Por que estão chorando? Só de inveja da Michelle?


INGOVERNABILIDADE 325 JOGADA ENSAIADA [6571] É tudo fingimento, um ensaiado theatro! Vem primeiro o da fazenda dizendo ser preciso que se entenda: "Teremos que tirar do apposentado!" "Sinão, não tem reforma..." Desaggrado geral, naturalmente. "Então, de renda, teremos novo imposto..." Quem defenda tal coisa não ha, fica combinado. Ahi, o presidente ja admeaça: {Assim não poderemos implantar a adjuda de emergencia! Por azar, não temos grana para dar de graça...} Ha farsa até na Camara: "Não passa nenhuma lei que venha tributar bancarias transacções!" Por nada dar em nada, dizem: {Nada ha que se faça!}


326 GLAUCO MATTOSO QUEM NÃO ESTUDA, CALUDA! [6573] Então não sabes tu que desse gozo pedophilo os communas são adeptos? São todos elles porcos! São abjectos! Não vês? Vae estudar, Glauco Mattoso! Vem vindo um movimento monstruoso para legalizar, sem quaesquer vetos, o estupro de menores! Nem discretos estão! Vae estudar, Glauco Mattoso! Si fores estudar essa questão, Mattoso, notarás como os communas adoram estuprar! Tuas lacunas mentaes largas demais, Glauco, ja são! Ouvi fallar até que um exemptão devora creancinhas! Ah, não unas teus versos a taes bugres, taes Jurunas, sinão de ti meus versos mal dirão!


INGOVERNABILIDADE 327 STALINDISSIMO [6583] Si Stalin não foi Lucifer, então um Hitler não seria Satanaz! Tyrannos são tyrannos, tanto faz o lado, os fins, o lemma, a posição! Si for por preferencia, ahi, Glaucão, eu acho bem fataes, bem vis, bem más as obras do Marquez! Tu, Glauco, dás tambem tal importancia! Não dás, não? Bonito por bonito, nem tem cara um russo, nem siquer um allemão! De Sade ninguem sabe qual feição teria, si retracto não restara! Mas, Glauco, mesmo assim nem se compara a cara limpa delle e o bigodão dum lider extremista! Dizer vão que pellos pelo rosto occultam tara?


328 GLAUCO MATTOSO BRANQUITUDE NA ATTITUDE [6584] Ah, Glauco! Não aguento mais! A nossa local litteratura ja só falla dos negros! Tudo bem que não se eguala a penna à realidade, nem a endossa! Mas falta a falla ao branco! Caso possa fallar, elle dirá que na senzala não vive, mas tambem só leva balla e rolla, no cortiço ou la na roça! Não é porque sou branco que não faço eu parte da mais infima camada da nossa sociedade elitizada! Tambem nas lettras busco o meu espaço! Você, que é um fodidão cego devasso, se sente injustiçado ou não? A cada momento não ouviu uma risada de branco ou negro quando perde o passo?


INGOVERNABILIDADE 329 COMPORTAMENTO REPROVAVEL [6585] Glaucão, faço questão de ser causão! É foda appromptar! Gosto dum excracho! Alguem se incommodou? O bicco eu racho! Não achas divertido, Glauco, não? De chato ser, Glaucão, não abro mão! Não quero nem saber si o pato é macho! Eu quero é ovo, ouviste bem? Eu acho um sarro quando causo sensação! Na moto, de proposito, accelero, dou susto na velhinha, passo rente ao cego na calçada! Quem aguente meu jeito não exsiste, nem meu lero! Mas, Glauco, te serei muito sincero! Si fosse do Brazil o presidente, eu ia foder toda aquella gente que ja me deu, nas provas, nota zero!


330 GLAUCO MATTOSO AGOURO NO THESOURO [6608] Poeta, adivinhaste! Elle foi la, de facto discursou sobre essa tal moeda alternativa do real! Mas sabe-se la quanto valerá! Na nota de mil mangos, Glaucão, ha effigie do famoso general que fora, na gestão dictatorial, carrasco orgulhosissimo! Será? Ninguem ainda viu a nova nota! Disseram que ella paga, não demora, appenas do operario simples hora num dia de trabalho! Parca quota! Poeta, que prevês? Ja se denota tal hyperinflação? A gente chora sentada, ja sabendo que vigora, em breve e ja de volta, a lei da bota!


INGOVERNABILIDADE 331 VADE RETRO, ESPECTRO! [6614] Glaucão, notei que appenas interessa a poucos esse pappo, ja bem chato, de "polarização"! O que eu constato é gente indifferente, sim, à bessa! Ninguem quer nem saber quem é que nessa tem foro, ou tem naquella! Si, de facto, de esquerda, de direita, alguem é, ratto não sendo, ja lucramos: é promessa... Allegam que "exemptão" é quem não liga nem para taes extremos, nem siquer lhes presta attenção! Um dos dois só quer é gente ver dizendo-se inimiga! Mais temos que fazer! Quem queira, siga taes lideres! Se salve quem puder! Importa ter um garfo, uma colher, que arroz com o pheijão nunca deu briga!


332 GLAUCO MATTOSO AGGRESSIVAS NARRATIVAS [6615] Imagens de satellite não são "versões contradictorias", Glauco, nada! Mas elles ficam nessa palhaçada, dizendo que "Queimada não ha, não!" Satellites não mentem! Né, Glaucão? Insiste esse governo na saphada fricção de "narrativas", onde cada extremo quer na marra ter razão! Razão não se disputa assim, na marra! Razão requer exame consciente, à luz de dados serios! Essa gente paresce com creança que se excarra! Cuspindo cuspindo cuspido, dos dois

um vae daqui; vae, na algazarra, outro dalli! Ninguem se sente mas, na cara, a baba quente excorre e troca de boccarra!


INGOVERNABILIDADE 333 EFFIGY [6646] Será sufficiente exsecrar, em effigie, Glauco? Um simples meme basta? Chamar um dictador de pederasta em publico nos vinga? Força tem? Bastante é por alguem sentir desdem? Não creio, Glauco! Sou iconoclasta demais e meu proposito contrasta com outras suggestões que muitos deem! Você mesmo ja disse que uma torta na cara dum politico funcciona bem contra quem poderes ambiciona às custas, affinal, de gente morta! Eu sou mais radical! Só me comforta ver delles a caveira, mas na zona concreta, sem figura da persona num Judas, si, depois, ninguem se importa!


334 GLAUCO MATTOSO REPETECO DO TRECO [6658] Eu era adolescente e dezesepte anninhos tinha. Ainda não veria de perto a tal battalha da Maria Antonia, que não fora de confetti. Mas tudo, de repente, se repete. Mackenzie, CCC, são -- Quem diria? -ainda actuaes. Má democracia redunda nisso, caso nos affecte. Aquelle que não fosse indifferente aos "ismos" da politica acharia reaças, progressistas, noite e dia, de novo confrontando unha com dente. Passado meio seculo, somente ingenuos affirmam que seria a tal conspiratoria theoria appenas illusão da nossa mente.


INGOVERNABILIDADE 335 OUTUBRO QUE REDESCUBRO, DEZEMBRO QUE RELEMBRO [6659] Ainda lembrar disso me commove. Ouvindo que estudantes balleados morreram, vi que havia, sim, dois lados em lucta, ao desponctar sessenta e nove. Ouvi fallar das bombas Molotov, ainda novidade, e resultados damnosos dellas vi, si incendiados os predios ser podiam. Ha quem prove. De novo os attemptados teem logar, por compta de fanaticos sem farda, mas que se desmascarem, ah, não tarda, num palco que é ja quasi militar! Teremos que escutar, de novo, um par de botas a marchar? Ja se accovarda alguem que militara na vanguarda da lucta democratica... Ah, que azar!


336 GLAUCO MATTOSO PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662] Mas Glauco, precisamos dum programma de renda, alguma bolsa "cidadan", capaz de soccorrer uma christan familia, pois Jesus a todos ama! Dinheiro falta? Ah, temos uma gamma de fontes p'ra bancar! Acho uma van e falsa discussão, pois admanhan resolve-se esse rombo! Quem reclama? Si dermos "pedalada", allegarei: Sim, demos! E dahi? Bah! Quem não dá? Melhor é gastar logo, gastar ja! Mais tarde, é só mudar alguma lei! Então, Glaucão? Fallei? Justifiquei? Você se convenceu? Não? Tá gagá! Tá cego! Tá por fora! Venha ca: Você de nada sabe! Eu é que sei!


INGOVERNABILIDADE 337 COISA SEM COISA [6675] Eu acho que deviam accabar com essa malfadada Lavajacto, Glaucão! Tornou-se inutil, eu constato, agora que está tudo no logar! Não achas que um regime militar seria ainda menos dado a um acto banal de corrupção? Eu acho! Tracto, portanto, de taes forças appoiar! Eu, antidemocratico? Ora, dizes que estou é commettendo um mero crime appenas porque exalto tal regime? Mas Glauco! Nós seriamos felizes! Si és sadomasochista, que me pises espero, ou que eu te pise! Mais sublime scenario não ha, pois, que nos anime! Discordas? Arre! Então não te escravizes!


338 GLAUCO MATTOSO HUMOR NEGRO (II) [6677] Eu vi pousar a mosca bem na testa daquelle insano, Glauco! Todo mundo viu, cameras flagraram! Um segundo? Não! Foram dois minutos! Uma festa! A mosca divertiu a todos nesta solenne transmissão! Não me confundo! Sim, mosca varejeira! Aquelle immundo politico uma fama tem, funesta! Disseram que é necrophilo, poeta! Será maledicencia? Alguem fumaça notou, haverá fogo! Uma desgraça seria si elle vence e nos affecta! Zumbis nomeará para a selecta equipe de governo! Que elle faça de tudo um cemeterio não lhe passa ja pela mente, Glauco? Que interpreta?


INGOVERNABILIDADE 339 MAIS UMA VEZ [6683] Si eu fora algum politico, Glaucão, garanto p'ra você que eu promettia não mais engannar, como antes fazia, o povo que em mim crera! Só que não! Diria assim: "Amigos, ja sou tão vivido, callejado, que não ia dizer o que é que faço todo dia, embora alguns duvidem da intenção!" Quem sabe si eleitor algum verá qualquer sincericidio nesta minha admostra do que encaro como linha de minima conducta! Claro está? Ninguem pode accusar-me de ter má vontade, Glauco! Pode de excarninha linguagem, mas ahi vou depressinha dizendo que engannei alguem, sim, ja!


340 GLAUCO MATTOSO THEORIA DA ASSESSORIA [6686] Hem, mestre? Eu coço o sacco todo dia! Mas coço de verdade! É tão gostoso! Não achas, caro mestre, mui curioso ver como tal coceira principia? Passando vou a mão, ainda fria, nos pellos escrotaes, bem preguiçoso... Aos poucos, vou coçando, vem um gozo crescente, vae virando uma agonia! Mais coço, mais os pellos o prurido provocam! Impossivel é parar! Não é como coçar o calcanhar, a testa, as costas... Passa a ser libido! Concordas? Caro mestre, não duvido que estejas a pensar: "Quem do logar a bunda não levanta quer coçar o sacco..." Mas entrei, sim, pr'um partido!


INGOVERNABILIDADE 341 SUFFRAGIO DO SEXO FRAGIL [6687] Carissimo confrade! Te imagino um gajo mui sensato no pensar! Pergunto-te si irás considerar legitimo o tal "voto feminino"! Não fallo só daquellas que um menino galante elegem pelo simples ar gentil e seductor, mas das que estar desejam no poder, eu te previno! Não, mestre! Essas mulheres, caso nós votemos nellas, podem nos impor total humilhação! Nenhum doutor irá mais levantar a sua voz! Juiz ou promotor, seja quem for, terá que desistir de seu algoz no sadomasochismo! Sua atroz senhora lhe imporia, agora, a dor!


342 GLAUCO MATTOSO CORNOS CORONEIS [6695] Mas esses coroneis, poeta, não se emendam! São é cornos mesmo, mas insistem em mostrar qu'inda teem gaz e querem porque querem ter tesão! Tesão que, na verdade, exhibição appenas se revela, pois quem faz papel de macho é mesmo o tal rapaz, por nome Ricardão, sempre em questão! Mulheres de politicos são ja manjadas: as "modellos", euphemismo de puta que, por cynico modismo, se "casam" com um corno marajah! Assim a banda toca, assim será por seculos e seculos! Mas scismo commigo que, no sadomasochismo, taes donas escravizam o gagá!


INGOVERNABILIDADE 343 DINHEIRO SUJO [6707] Dinheiro na cueca foi motivo de escandalo! Te lembras, Glaucão? Ora, dez annos se passaram! Pois agora no proprio cu se põe dinheiro vivo! Verdade, Glauco! Disso não me exquivo e tenho que contar-te! Para fora botou um senador (Que infeliz hora!) as scedulas das quaes eu ca me privo! Hem? Trinta mil reaes, informa a fonte, estavam "entre as nadegas" do tal politico! Em estado de total nudez, que se aggachar teve! Que monte! Mal pude crer! Mas queres que eu te conte o resto? Não? Ja basta, né? Banal se torna tal funcção policial: ficar dum pelladão senhor defronte!


344 GLAUCO MATTOSO INGRATAS CANDIDATAS [6708] Não voto em mulher, Glauco! Onde é que ja se viu ser governado por mulher? Si deixo que ella faça o que quizer, virar vae algo como um marajah! Si machos calcule o politico, tem com o

na gestão a fazem má, que fará, nesse mester uma dessas que um affair coronel que é mais gagá!

Não, Glauco! Na mulher eu jamais voto! Não quero confundir o meu desejo com outros mais valores que eu almejo na vida, nos quaes pouca fé ja boto! Ja basta a cidadan de quem devoto fiquei, que sua bota põe, sem pejo, na minha cara, a quem 'inda cortejo e cujo rosto beijo numa photo!


INGOVERNABILIDADE 345 IMPOSTO DE MERDA [6709] De merda sei que imposto qualquer é! Proponho, todavia, sobre a bosta cobrar a taxação! Sei que não gosta o rico disso, ué! Nem a ralé! O rico come mais! Come filé mignon, Glaucão! O pobre, quando tosta alguma aponevrose, achou a posta divina! Até melhor de porco um pé! Quem caga mais, mais taxa pagaria! Não acha justo, Glauco? O mais gordão juiz ou senador, que do povão debocha, tem que ser quem financia! Proverbio bem lembrado! Caso, um dia, cocô seja dinheiro, o pobre, então, nascer irá sem cu! Mas pagarão os pobres, sim! Num rico quem confia?


346 GLAUCO MATTOSO PREFEITA PERFEITA [6712] Votavas em mim tu, si candidata eu fosse, meu poeta, à prefeitura? Garanto que eu seria, sim, a pura imagem da mulher a mais sensata! Quem Quem Quem Quem

é é é é

que que que que

uma mandona não accapta? à bonitona amor não jura? ordens não cumpre si eu for dura? evita, mesmo si eu for chata?

Assim eu poderia adjudar, sem problema, aquellas putas todas la da rua, que battalham, que estão ja cansadas de quem dellas dó não tem! E então? Do meu programma desfaz quem? Desfazes tu, poeta? Achaste má a minha adjuda àquella que te irá cuidar quando estiveres sem ninguem?


INGOVERNABILIDADE 347 COMEDIA DA MEDIA [6737] Saber quer, cego? Ousei e nada temo! Meu nome encaminhei e me proponho a ser sabbatinado por um sonho: Eu quero ser ministro do Supremo! Curriculo não tenho, com extremo escrupulo, que seja tão medonho, terrivel ou sectario... Me envergonho, até, de não ter pacto com o Demo! Mas, Glauco, quem curriculo não tem inflado, bricollado, turbinado? Importa que eu, nas theses, um aggrado a todos faça, armando um nhenhenhem! Direi, na sabbatina, que ninguem ser preso pode, sendo deputado, juiz ou senador! Por outro lado, os pobres teem direitos, sim, tambem!


348 GLAUCO MATTOSO PUXAÇÃO EM DISCUSSÃO [6739] Naquella radio o publico procura motivos para riso. O locutor, um "puxa" assaz fanatico, propor quer uma approvação da dictadura. Debatte elle com outro que ja jura ser fan do capitão, cujo fedor sentiu, dos pés, de perto. Oh! Louco por seu lider mais ficou. Devoção pura. Terceiro dá no pappo o seu palpite: do lider lamberia a suja bota. Um quarto, ouvinte lucido, ja adopta um tom mais moderado no que emitte: Propõe somente, em scena, que se cite a cara de galan desse idiota. Assim na puxação tem cada quota os astros dum vehiculo de elite.


INGOVERNABILIDADE 349 BROCHANTE GOVERNANTE [6740] Você ficou maluco, Glauco? O povo approva as dictaduras! Cidadão nenhum quer presidente que questão não faz da auctoridade e não tem ovo! Eu nunca por frescuras me commovo do typo mil direitos, eleição directa, liberdades aos que não respeitam leis! Do circulo os removo! Não, Glauco, ora! Bandido não meresce direitos, muito menos os "humanos"! Dum lider precisamos, cujos planos contemplem, em essencia, a nossa prece! Appenas um regime que tivesse total intolerancia com os "manos" que tocam o terror, esses maganos damninhos, tal tesão fará que cesse!


350 GLAUCO MATTOSO PROPOSTAS DE CAMPANHA [6744] Prometto pelos cegos trabalhar, senhor Mattoso! Os cegos sabem que eu origem tenho simples, de plebeu, e posso, sim, de falla ter logar! Enxergo bem, mas uso, sim, meu par de bellos olhos vendo os que no breu estão! Sou candidato que perdeu, ja, varias eleições, mas vou voltar! Preciso, seu Mattoso, do De todos os ceguinhos eu Hem? Como? O senhor acha usal-os e sahir, lindão,

seu voto! preciso! que só viso na photo?

Mas... Como descobriu qual manha adopto? Ah, é? Tem dom masoca? Acha que eu piso e curto dominar? Ah, faz juizo assim de mim? Vidente é, sim, eu noto!


INGOVERNABILIDADE 351 DEPOSITO DE PROPOSITO [6778] Graphava que "o Brazil é de quem USA e quem USA sou EEUU" a pichação dos annos sessentistas! Hem, Glaucão, você se lembra della? Achou confusa? Ainda de "colonia" alguem accusa as nossas relações com a nação de cyma... De você, Glauco, que é tão sensato, pedirei que mais adduza! Então acha você que era mais grave que simples influencia cultural? Maior risco corremos? Sim? Mas qual? Virarmos um appenso, um grande enclave? Virarmos plataforma duma nave atomica qualquer, espacial? Virarmos um immenso bananal? Lixeira? Ah, Glauco, seja mais suave!


352 GLAUCO MATTOSO CONSELHO MATERNO [6781] Não, Glauco! Si ganhar meu opponente, accuso de ser fraude eleitoral a coisa como um todo! Só normal eu acho si em mim vota muita gente! Não, Glauco! Perdedor não ha que aguente perder sem reagir! Ao tribunal irei eu recorrer! Quero ver qual juiz dum fraudador cheiro não sente! Si, mesmo assim, ninguem de vencedor chamar-me, Glauco, então que mais me resta? Só ver o meu rival fazer a festa? Jamais! Eu não supporto tanta dor! Mamãe dizia: "Quando você for queixar-se, siga aquelle que protesta: as calças tire e pise em cyma desta roupinha de bundão, cause furor!"


INGOVERNABILIDADE 353 URUBUZADA [6795] Ja viste, caro bardo, coisa assim? Reporteres não passam de urubus, abutres que, nas coisas que eu propuz, defeitos ficam vendo! Ficam, sim! Nem tudo que eu propuz é tão ruim, mas elles torcem para que nos cus do povo um pau durissimo, de puz coberto, se introduza até seu fim! Sim, Glauco! Gonorrhéa appostam ter o cu dos pobretões! Acaso viste alguem com puz no recto? Sim, consiste num caso gonorrheico! Um desprazer! Ah, Glauco! Si eu tivesse esse poder, fodia todos elles! Ficas triste por elles ou por ti, que com um fist bem sonhas, ja que nada podes ver?


354 GLAUCO MATTOSO CABO DE GUARDACHUVA [6799] Fodeu, Glauco! Prenderam meu guru! Agora que venceu seu opponente, ficou impracticavel, de repente, mandar qualquer rival tomar no cu! Aquelles robôs todos -- Por Exu! -serão inuteis, Glauco! Quem sustente, nas redes, a fofoca, se desmente! Meu mytho vae virar mais um tabu! Que faço, porra? Alguem tem que mimar meu ego! Onde estará, Glauco, meu gado? Ladrões de gado o levam pr'outro lado? Passaram a boiada? Ah, puta azar! Podia ter vencido, no logar daquelle fraudador, meu alliado! É tarde! Fiquei mal accostumado! Faz falta algum regime militar!


INGOVERNABILIDADE 355 LINGUA DESDOBRADA [6805] "Palhaço da Alvorada"! Assim chamado foi nosso presidente, Glauco! Um puta insulto, um desrespeito! Quem escuta tal coisa fica mesmo revoltado! Não faço parte, Glauco, desse "gado" que appoia a auctoridade! Essa conducta não tenho, mas é muito mais fajuta a lingua que expalhou tão bruto brado! E sabe duma coisa? Acho que está quem falla assim morrendo de vontade de emprego dar à lingua, na verdade, nas botas de quem ordens aqui dá! Não acha, Glauco? Duvida não ha! Desdenha quem comprar quer! E quem ha de negar que militares fans de Sade serão e irão vingar-se de quem brade?


356 GLAUCO MATTOSO VOU, VOTO, VOLTO [6806] Em dia de eleição, Glauco, precisa ver como o povo soffre! E toca a gente formando fila, andando de pingente nos omnibus! E chuva não é brisa! Na hora de votar, você reprisa aquelle ritual: indifferente ao cerco militante, enfrenta a quente salleta, appós livrar-se da pesquisa! Você, Glauco, tacteia, a tecla apperta, escuta a campainha -- Pipipi! -e prompto! Se livrou do abacaxi! Será que excolheu mesmo gente certa? Si ganha quem você quiz, fica aberta a chance de trahil-o! Si não, ri da sua cara aquelle vil zumbi que sempre volta, a armar a fraude experta!


INGOVERNABILIDADE 357 ELEIÇÕES MUNICIPAES [6807] Accabo de saber, Glaucão, que la na minha pequenissima cidade ganhou como prefeito quem da grade sahiu recentemente e livre está! Assim não é possivel! Não, não dá! O gajo rouba, macta, aggride, invade e pode concorrer! Quem desaggrade um typo desses para a frente irá? Fiquei sabendo, Glauco, que quem diz que irá denunciar a falcatrua accaba assassinado bem na rua, à vista dos adultos e gurys! Peor! Não são, Glaucão, nada gentis os modos dum moleque! Elle usa a sua chuteira na carcassa que jaz, nua, no meio da avenida, bem feliz!


358 GLAUCO MATTOSO LINHA POLPOTISTA [6808] Sim, Glauco! Ser de esquerda a gente entende que é justo, democratico, um direito de excolha de qualquer livre subjeito! É coisa natural que eu recommende! Mas vejo um esquerdista que defende sangrentas dictaduras, Stalin, feito fanatico, Koréa... Ah, não acceito que tal estupidez se referende! Si for para chutar, Glaucão, o pau de todas as barracas, vou tambem chutar! Vou defender um que ninguem defende! Sim, Pol Pot! Esse era mau! Sim, Glauco: o Vermelhão! Ahi, babau! Sejamos cambojanos! E não tem nenhum Jello Biafra a cantar, nem qualquer punk anarchista, nada! Tchau!


INGOVERNABILIDADE 359 RECEITA DESFEITA [6809] Hem, sabe o que se passa, Glauco? Vão dizer que sempre exsiste fraude nas diversas eleições! Noticias más se expalham por questão de percepção! Si tem quem accredite num bundão que "capta" as intenções de Satanaz das nossas votações todas por traz, não posso fazer nada, Glauco, não! Disseram que quem vota na direita terá, na appuração, forjada a perda! Disseram que si for voto de esquerda um desses direitistas approveita! Das urnas a razão ninguem acceita! Que vamos nós fazer, Glaucão? Que merda! Si solidos principios alguem herda, dirão que da ração muda a receita!


360 GLAUCO MATTOSO VOTO UTIL [6814] Quem vota no bassê vota na pizza, no bife, na linguiça! Dean nos grava e, em camera anthologica, tem brava performance, na frente da pesquisa! Promette que em escadas ja não pisa quem nelle votar! Conta que estudava, que tinha boas notas, que jogava baskete e melhorar a vida visa! Bassê que em eleições se candidata as discriminações combatterá! Cansados todos elles estão ja de serem prohibidos! Coisa chata! Sim! Nos supermercados será grata a vinda dos bassês! Quem voto dá a um delles deixará que elle entrar va em casa, na cozinha ponha a patta!


INGOVERNABILIDADE 361 DELIRANTE POSTULANTE [6848] Por muito pouco, Glauco! Quasi que eu consigo me eleger! Hem? Ja pensaste? Poder nenhum exsiste que me baste! Miserias eu faria, amigo meu! Eu acho que qualquer outro plebeu, gastando sem limites o que gaste, seria dictador, até que affaste a bunda da cadeira! Mas não deu! O povo não deixou que eu exhibisse aquella minha tara, a tyrannia insana do poder! Ah, mas seria divino, uma aggradavel maluquice! Tambem de ti, Glaucão, nunca se disse que fosses candidato? O que faria um cego no governo? Mais sadia gestão que essas dahi, de má sandice!


362 GLAUCO MATTOSO TOURO SENTADO [6853] Glaucão, ja colloquei na prefeitura aquelle que excolhi pelo meu voto! Quem quero ver eleito, vate, eu boto! Poder maior exsiste? Exsiste? Jura? É mesmo? Na affamada dictadura o cargo era dum "puxa", dum devoto appenas nomeado? Vate, eu noto que pode ser melhor, mas não perdura! Entendo: o general, que é presidente, nomeia quem governa cada estado. Por um governador é nomeado prefeito quem obstenta a costa quente... Assim se economiza a grana, a gente se livra de votar, o resultado sae logo... Mas será, por outro lado, difficil ter poder quem la se sente!


INGOVERNABILIDADE 363 BANDA DA BUNDA [6855] Sahi, sim, pelladão! Paguei a apposta! Na nadega direita, sim, pinctei que, embora direitista, sim, sou gay! Mas era mentirinha, viu? Que bosta! Ah, fico puto quando alguem me encosta o dedo, ou ja me enfia! Sim, eu sei que macho sou, que nunca, jamais dei, mas muita fofoquinha a turma posta! Ja tive que pagar apposta para um bando de esquerdistas, Glauco! Um sacco! Puzeram o dedão no meu buraco! Na nadega alludi, dos gays, à tara! Esquerda, sim, a nadega! Appostara que macho sou! Perdi, porem destacco que pego na suruba fui, a Baccho ligada, por intriga do outro cara!


364 GLAUCO MATTOSO CAPACHISMO [6881] O Quercia se encontrou, lembro-me bem, com Collor, presidente este, em Brazilia. Aquillo que, Glaucão, me maravilha é terem estatura a mesma, alem... Será que não me enganno? Os dois, sim, teem pezão quarenta e quattro! Uma armadilha a todo fetichista da familia daquelles bons pornographos! Eu, hem? Sim, Glauco, sei que Quercia ja morreu! Mas fallo no presente porque está ainda na memoria algo que, la nos idos, delle falla algum plebeu: "Ah, delle engraxaria as botas eu!" Tremendo puxa-sacco, né? Mas dá p'ra gente imaginar como será o pé de quem pisou num babão seu!


INGOVERNABILIDADE 365 PALACIANA SAPATEIRA [6882] Sim, Glauco! Uns institutos teem de tudo accerca de quem mande e quem se sente naquelle poltronão de presidente, do mais pé-de-chinello ao botinudo! Calçados que calçaram, um estudo revela, vão do tennis displicente àquelle cothurnão pesado, quente, que deixa a meia podre e o pé cascudo! Sapato social ha nesse tão exotico museu, é claro, mas maior attenção chamam essas más figuras de pisantes taes, Glaucão! Podolatras, por certo, la farão visitas que você, Glauco, não faz, agora que está cego, porem as taes peças inspiral-o vão... Não vão?


366 GLAUCO MATTOSO CLIENTELISMO [6888] Fiquei sabendo, Glauco, que successo podologos ja fazem, a tractar de cada cascudão parlamentar que exerce seu mandato no Congresso! Ainda mais eu soube! Tem ingresso, ao lado do callista, alguem que dar irá suas lambidas nesse par de solas que eu lamber ja quiz, confesso! Favores quer pedir um puxa-sacco ao nobre deputado ou senador? Então, de pedicuro quando for fazer-se, emprega a lingua que eu bem saco: Comprida, salivosa, no velhaco politico um serviço de sabor salgado lhe compete, é de suppor! Glaucão, é tal tesão meu poncto fracco!


INGOVERNABILIDADE 367 ELEITOR FINGIDOR [6912] Não quero que o damnado se retracte, que peça perdão pelo que tem feito! Só quero me vingar desse subjeito! Aqui se faz, aqui se paga, vate! Politicos na bocca, nos pisa, despreza,

são foda! Algum nos batte no nariz, no pé, no peito, nosso physico defeito mas tem medo que eu o macte!

De nada addeantar vae tanto medo, Glaucão! A morte delle ja planejo! Faltar não vae jamais algum ensejo! De jeito o pego, Glauco, ou tarde, ou cedo! Emquanto não me vingo, vate, eu cedo a todos os pisões e seu desejo a custo satisfaço! Sim, rastejo! Mas é de masochismo um arremedo!


368 GLAUCO MATTOSO COLORAÇÃO POLITICA [6929] Ainda que este pappo meu não colle, será pela cagada que se sente aquillo que comeu cada supplente. De tudo se recheia rocambole! Politico de centro caga molle, pois come muita coisa differente, entrada, pratto frio, pratto quente... Fazendo media, até espinafre engole! Politico de esquerda, claro, caga sangrando, um bem vermelho cagalhão. Pudera! Faz exforço, sempre em vão, e nada de, nos votos, abrir vaga! Comtudo, o de direita a Satan paga tributo: faz bem duro, soffre e não perdura no poder, pois os que vão comer são elles mesmos sua praga.


INGOVERNABILIDADE 369 COMEDIA DO ASSEDIO [6942] Aquelle deputado que se droga costuma appalpar cada deputada que encontra pela frente! Esta aqui brada, irada, aquella alli ja pragas roga! Agora que abbraçal-as está, caso o politico a tempo, pensarão que alem de mero jogo que

sempre em voga se evada não foi nada se joga!

Mas elle não abbraça, simplesmente: aggarra, prende, encoxa, no cangote cafunga, dá chupão, mesmo que enxote seus gestos a collega, fugir tente! Alguem presenciou... Só pela frente, comtudo, o gajo nellas dá seu bote! No quarto, dos rapazes vae o dote medir, no cu levar, todo contente!


370 GLAUCO MATTOSO MANDATORIO MANDATARIO [6948] Não, Glauco, quem governa não governa! É falso um estadista qualquer, seja civil ou militar, membro de egreja ou lider syndical, templo ou caserna... A coisa nem antiga nem moderna será: do governante que se eleja até quem, por um golpe, "eterno" esteja, é typica dum homem da caverna! O gajo que se engaja na campanha, que falla à multidão, que leis assigna, não passa de fantoche! Se imagina que exerça astral missão, cumpra a façanha! Mas elle cocô come que lasanha na bocca doutro fora, bebe urina que vinho fora numa bocca fina! É rego que cagou e nem se banha!


INGOVERNABILIDADE 371 POLITICA MEPHITICA [6985] Politica, a defino, resoluto... É que nem merda: quanto mais se mexe, mais fede! Caso a Camara alguem feche, um falso democrata finge lucto! Me deixa gente assim mais e mais puto! Em vez de entregar casa, eschola, creche, o gajo, sem que, ao minimo, se vexe, se mette num escandalo, o corrupto! Usei "polititica" ao descrever, assim como outros usam, a maldicta e suja profissão de quem credita na propria compta as verbas do poder! Comtudo, quando um desses for morrer com cancer de intestino, que bonita punheta batto, Glauco! Não imita você minha attitude de prazer?


372 GLAUCO MATTOSO POLITICA ANALYTICA [6987] Politica, a defino, bem convicto... É coisa para velho barrigudo, careca, sem cultura, sem estudo, que, feio p'ra damnar, se vê bonito! O porco coronel nem segue o rito normal de quem cagou! Nem bem fez tudo, levanta da privada sem seu cu do tolete se limpar! Mais delle eu cito! Por vezes, elle caga lendo um maço de folhas de papel tymbrado, com o sello do Congresso! Não faz bom emprego dessas folhas, o devasso! Com ellas faz aquillo que não faço: agora, sim, limpou esse marron borrão da sua bunda! Antes, bombom comeu, que não comi, pois fome passo!


INGOVERNABILIDADE 373 NOVECENTO [7024] Por que fazendo tambem, provoca

extranhar, hem, vate? Elles estão no governo o que se faz, no futebol, quando algum az seu rival! Não é, Glaucão?

Os caras são marrentos, Glauco! Ou não? A sola mostra alguem! Ninguem quer paz, só guerra! "Lamba aqui!", falla, mordaz! Azar de quem está na opposição! Exempto jornalista, caso opine, será zoado, como um "exemptão"! Os puxa-saccos lambem, typo um cão, as botas de quem, ora, a face empine! Um dia a coisa vira! Mussolini cahiu e foi chutado, ja no chão! À forra quando forem, meu irmão, talvez em NOVECENTO vire cine!


374 GLAUCO MATTOSO CELLULAR DE PARLAMENTAR [7114] Não, vate, elles jamais vão me calar! Aquelle cellular foi hackeado! Nas photos, não sou eu que estou do lado dum bugre, dum marmanjo tão vulgar! O cu que se excancara alli, com ar de fenda arrombadaça, sem cuidado nenhum com a limpeza... Não, culpado não sou de estar naquelle cellular! Será que elles não notam que tal "nude" não pode ser por minha mão tirada? Jamais, poeta! Pô, não tenho nada com isso! Uma atrocissima attitude! Mas sabe por que o publico se illude? Por causa da famosa deputada que vive se filmando, que pellada se exhibe! Eu, não! Sou crente! Nunca pude!


INGOVERNABILIDADE 375 CESTINHO VAZIO [7118] Ouvi fallar que nunca limpa a bunda ninguem que, na politica, carreira construa, vate! É serio que não queira limpar-se quem a bunda tem immunda? Mas, Glauco, todo dia a gente affunda a mão no proprio rego, da maneira mais practica, commum e roptineira! Ninguem ha que, na hora, se confunda! Só mesmo um deputado ou senador não sabe do papel servir-se bem! Nem sei si é mesmo nojo o que elle tem, mas cheira, appós, nos dedos, o fedor! E, como mãos não lava, quando for papeis examinar, sente tambem fedor no documento que lhe vem trazer qualquer collega appoiador!


376 GLAUCO MATTOSO ARROGANTES IGNORANTES [7192] Não tenho preconceito contra quem é "burro", "uma toupeira", "retardado", ou outros xingamentos, no passado, correntes, que não pegam, hoje, bem! Ja tenho prevenção total, porem, si alguem que é muito estupido votado for para cargo publico, blindado por praxe, immunidade e por desdem! Problema não é ser um ignorante! É o chucro, que acha certo "presidenta", que estar contra a sciencia sempre tenta, ou "mytho" que se julga commandante! Cagadas todos fazem (Quem garante que não?), mas, no poder, uma jumenta ou esse, que é gorilla à bessa, attenta mais contra a paz geral, antes reinante!


INGOVERNABILIDADE 377 CONHESCENDO O DESCONHESCIMENTO [7193] Em termos de ignorancia, nem se tracta de nivel social. Nada garante que um rico bem se informe, que ignorante não seja dum evento ou duma data. Questão de intelligencia, sim, empatta a foda, pois cagada faz bastante quem nunca foi capaz dum importante controle que requeira a lente exacta. Problema, mesmo, occorre quando, a tanta burrice e incompetencia, 'inda se allia, num cargo de importancia, a teimosia, a typica arrogancia, a da garganta. Mais asno, mais toupeira, até mais anta é o dono do poder, que tyrannia exerce sobre lucidos. Um dia se vae, mas ter chegado é o que me expanta.


378 GLAUCO MATTOSO MATERIAL REUTILIZAVEL [7194] Acharam, no cestinho do banheiro da Camara, a caseira papellada, projectos e discursos, admassada e suja de cocô, soltando cheiro. Palavras proferidas, com inteiro teor protocollar, não valem nada, agora, recobertas da camada de merda que borrou o brazileiro. Seria deputado ou deputada quem deu à papellada tal destino? Disseram que o banheiro feminino confirma-se. Isso ouriça a molecada. Correu entre escravinhos que quiz cada moleque resgatar, do papel fino, a sua folha, para ser usada, sim, como um guardanappo bem suino.


INGOVERNABILIDADE 379 LATENTES PATENTES [7209] Glaucão, eu não fallei que capitão mandando em general não dava certo? Encheu de generaes esse que experto se achava no governo, eis a questão! Nem cabo eleitoral, desses que estão em scena, quer ser reco, nem de perto! Sargento eleitoral, pois, eu allerto, só pode dar em baixa votação! Mas, quando um capitão quer que fieis lhe sejam esses tantos generaes, terá que nomeal-os, mais e mais, a postos bem extranhos aos quarteis! Até que, na bagunça das babeis, appoios perderá! Serão fataes os rachas e, em logar dos actuaes, refem se tornará dos coroneis!


380 GLAUCO MATTOSO IRREGULARES CELLULARES [7218] Aquelle bombadinho deputado com cara de marrento fanfarrão metteu dois cellulares, na prisão, no proprio cu, de resto, ja arrombado! Você talvez não saiba, mas eu ja do palhaço sou sciente do que estão fallando pelas redes! Elle não excappa de ser, Glauco, tão gozado! Entende do riscado, pois, segundo as fontes, demonstrou como se pode levar no rabo, sem que lhe incommode, um phone para a cella: bem no fundo! É claro que ficar vae -- Arre! -- immundo o tal apparelhinho e que se fode quem merda tem grudada no bigode emquanto o liga... Achei isso jocundo!




SUMMARIO POEMAS "PORTENHOES" (DE GARCIA LOCA) [1.28]................9 MANIFESTO ESQUEERDISTA [2.23].............................12 VEHEMENTE COMMUNISMO [2.50]...............................13 ADSTRINGENTE PARLAMENTARISMO [2.77].......................14 TROVAS NAS TREVAS [2.93]..................................15 MADRIGAL PRESIDENCIAL [0004]..............................18 MADRIGAL REGIMENTAL [0005]................................18 IN UMBRA IGITUR PUGNABIMUS [0009].........................19 DISSONNETTO SADICO [0017].................................20 DISSONNETTO MASOCHISTA (I) [0018].........................21 DISSONNETTO POLITICO [0025]...............................22 MADRIGAL ADDICIONAL [0027]................................23 MADRIGAL ELEITORAL [0031].................................24 MADRIGAL HABITUAL [0034]..................................24 MADRIGAL GOVERNAMENTAL [0036].............................25 MADRIGAL LEGAL [0040].....................................25 MADRIGAL IMMORAL [0052]...................................26 MADRIGAL PRISIONAL [0053].................................26 MADRIGAL RACIONAL [0065]..................................27 MADRIGAL QUADRIENNAL [0067]...............................27 MANIFESTO PACIFISTA [0068]................................28 MANIFESTO BOLSISTA [0079].................................29 DISSONNETTO DEMAGOGICO [0095].............................30 MADRIGAL CORRECCIONAL [0096]..............................31 MADRIGAL GRUPPAL [0103]...................................33 MANIFESTO LAVAJACTISTA [0112].............................34 MADRIGAL PROCESSUAL [0134]................................35 MANIFESTO PHRASISTA [0138]................................37 DISSONNETTO REVOLTADO [0140]..............................38


DISSONNETTO CONFORMISTA [0141]............................39 MANIFESTO REFORMISTA [0142]...............................40 MOTTE GLOSADO [Mais perdido está quem vota] [0143-A]......42 MANIFESTO OPPOSICIONISTA [0143-B].........................43 ODE AUTOCRITICA [0144]....................................45 ODE AO DEDO DURO [0145]...................................47 MANIFESTO PARLAMENTARISTA [0150]..........................49 MADRIGAL FUNDAMENTAL [0162]...............................50 MANIFESTO LEGALISTA [0165]................................51 MOTTE GLOSADO [Mais perdido está quem vota] [0170]........52 DISSONNETTO PHYSIOLOGICO [0171]...........................53 MANIFESTO PRESIDENCIALISTA [0176].........................54 MOTTE GLOSADO [Ora, deixa como está] [0177]...............55 MOTTE GLOSADO [O eleitor attento escuta] [0178]...........56 MOTTE GLOSADO [Que mammata!] [0179].......................57 MOTTE GLOSADO [O inimigo a gente accusa] [0180]...........58 MOTTE GLOSADO [Si correr, o bicho pega] [0181]............59 MOTTE GLOSADO [Os politicos teem tudo] [0182].............60 MOTTE GLOSADO [Sem excolha, eu voto em branco] [0184].....61 MOTTE GLOSADO [Me convocam, mas recuso] [0185]............62 MANIFESTO COMMUNISTA [0197]...............................63 MANIFESTO PROGRESSISTA [0208].............................64 MANIFESTO INCONFORMISTA [0211]............................65 MANIFESTO MONARCHISTA [0221]..............................67 MANIFESTO GARANTISTA [0223]...............................69 MANIFESTO PUNITIVISTA [0224]..............................70 MANIFESTO GOVERNISTA [0225]...............................71 MANIFESTO REDUCCIONISTA [0238]............................72 MANIFESTO IMPERIALISTA [0251].............................73 MANIFESTO COLONIALISTA [0252].............................74 MANIFESTO FUTURISTA [0253]................................75 MANIFESTO SOCIALISTA [0258]...............................77


MANIFESTO POPULISTA [0271]................................78 MOTTE GLOSADO [Eu não entro no Fla-Flu] [0285]............79 DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312].............................80 MANIFESTO PRAGMATISTA [0318]..............................81 DISSONNETTO ESQUERDISTA [0321]............................82 DISSONNETTO DIREITISTA [0323].............................83 DISSONNETTO CENTRISTA [0324]..............................84 MANIFESTO CONSTITUCIONALISTA [0327].......................85 MANIFESTO NACIONALISTA [0330].............................86 CEGA BRONHA BREGA [0337]..................................87 MANIFESTO COLLECTIVISTA [0340]............................88 MANIFESTO BELLICISTA [0356]...............................89 DISSONNETTO INTEGRALISTA [0392]...........................91 MOTTE GLOSADO [O politico receia] [0419]..................92 MOTTE GLOSADO [É mais facil um corrupto] [0426]...........92 EXEMPTÕES AOS MILHÕES [0444]..............................93 EMPESSEGANDO [0458].......................................94 EXEMPTÃO DE CORAÇÃO [0461]................................95 CHILENA CANTILENA [0466]..................................96 DESIMMUNIDADE PARLAMENTAR [0526]..........................98 INFINITILHO DA EXCOLHAMBAÇÃO [0539].......................99 SCENAS DE PUGILLATO [0549]...............................101 INFINITILHO EXPALHADO [0557].............................102 INFINITILHO DA INVEROSIMILHANÇA [0561]...................103 INFINITILHO DO RELHO [0564]..............................104 INFINITILHO DA PALHAÇADA [0587]..........................105 INFINITILHO BISBILHOTEIRO [0589].........................106 DISSONNETTO MENSURADO [0680].............................107 DISSONNETTO ORGANIZADO [0681]............................108 DISSONNETTO POLITIZADO [0687]............................109 DISSONNETTO DAS TROUXAS DOS TROUXAS [0748]...............110 SONNETTO DA XERECA XEROCADA [0762].......................111


SONNETTO DA CHUPETEIRA FEDERAL [0763]....................112 DISSONNETTO DA MORTALIDADE [0766]........................113 DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE [0787]......................114 INFINITILHO ADVACCALHADO [0788]..........................115 DISSONNETTO DO DECORO PARLAMENTAR [0795].................117 INFINITILHO DA PALHA [0802]..............................118 SONNETTO DA CUNNILINGUARUDA [0814].......................119 DISSONNETTO DA IRA [0833]................................120 DISSONNETTO ELEITORAL [0864].............................121 DISSONNETTO CONTEXTUAL [0890]............................122 DISSONNETTO CORRECCIONAL [0893]..........................123 DISSONNETTO NÃO-GOVERNAMENTAL [0895].....................124 DISSONNETTO GOVERNAMENTAL [0903].........................125 DISSONNETTO INCONDICIONAL (I) [0904].....................126 DISSONNETTO ILLEGAL [0916]...............................127 DISSONNETTO ANTIGOVERNAMENTAL [0923].....................128 RHAPSODIA LENNONIANA [0958]..............................129 RHAPSODIA DYLANIANA [0961]...............................130 DISSONNETTO SENATORIAL [0964]............................131 DISSONNETTO ENXOVALHADO (II) [0991]......................132 DISSONNETTO TRABALHADO [0993]............................133 DISSONNETTO EXCOLHAMBADO [0995]..........................134 DISSONNETTO AGUILHOADO [0998]............................135 DISSONNETTO DESPOLLUTO [1025]............................136 SONNETTO EMBARGADO [1066]................................137 SONNETTO DA DESCULPA EXFARRAPPADA [1132].................138 DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE MALCHEIROSA [1230]..........139 SONNETTO DA OPERAÇÃO "VENTILADOR" [1267].................140 SONNETTO DA NOVA LEGISLATURA [1275]......................141 DISSONNETTO DO RABO PRESO [1276].........................142 SONNETTO DO RAPÉ REPELLENTE [1281].......................143 SONNETTO DA VERGONHA NA CARA [1282]......................144


SONNETTO DA SESSÃO SUSPENSA [1283].......................145 DISSONNETTO DA CANALHICE NA VELHICE [1285]...............146 SONNETTO DO BOM ENTENDEDOR [1288]........................147 DISSONNETTO DO DENOMINADOR COMMUM [1292].................148 SONNETTO DOS LAÇOS DE FAMILIA [1327].....................149 SONNETTO DO MORTO DE VERGONHA [1334].....................150 DISSONNETTO DO MARIDO TRAHIDO [1352].....................151 SONNETTO DA CADEIRA CAPTIVA [1359].......................152 SONNETTO DA PIZZA PESADA [1361]..........................153 DISSONNETTO DO POSTO DO IMPOSTOR [1385]..................154 SONNETTO DA VOZ ROUCA DAS RUAS [1393]....................155 DISSONNETTO DA PAZ E DO RANCOR [1396]....................156 DISSONNETTO DA PHANTASIA SEXUAL [1410]...................157 SONNETTO DAS VIAS DE FACTO [1434]........................158 SONNETTO DA COLLECTIVIDADE SOBREVIVENTE [1490]...........159 SONNETTO DA BRAVATA ENGRAVATADA [1494]...................160 SONNETTO DA VAIA [1510]..................................161 SONNETTO DO RESPEITAVEL PUBLICO [1613]...................162 SONNETTO DA REFORMA MINISTERIAL [1614]...................163 SONNETTO DA BRIGA QUE NÃO HOUVE [1619]...................164 DISSONNETTO DO THEATRO POBRE [1660]......................165 DISSONNETTO DO EXERCICIO DE CIDADANIA [1719].............166 DISSONNETTO PARA UM IRMÃO EM CHRISTO [1743]..............167 DISSONNETTO PARA UM QUINZE DE NOVEMBRO [1889]............168 DISSONNETTO PARA A LUCTA DE CLASSES [1933]...............169 SONNETTO PARA O BEM COMMUM [2044]........................170 DISSONNETTO PARA A RESERVA DE MERCADO [2116].............171 DISSONNETTO PARA UM EMERGENTE ILHADO [2131]..............172 SONNETTO PARA UM CHARTÃO QUE NÃO É VERMELHO [2214].......173 DISSONNETTO PARA UM OTARIO HONORARIO [2331]..............174 DISSONNETTO PARA UMA JUSTIÇA SOCIALISTA [2577]...........175 DISSONNETTO PARA UM CAVALLO TIRADO DA CHUVA [2586].......176


DISSONNETTO SOBRE UM MASOCA SOB FOFOCA [2962]............177 TRANCOS FRANCOS [3100]...................................178 PROPOSTAS INDECOROSAS [3104].............................179 CULINARIA CARBONARIA [3129]..............................180 IMPUNIDADE E CREDULIDADE [3149]..........................181 MASTURBATORIO TRANSITORIO [3150].........................182 PHANTASIA MASTURBATORIA [3151]...........................183 LUXENTOS DETENTOS [3165].................................184 JUSTIÇA POR PREMISSA [3248]..............................185 QUEDA DE POPULARIDADE [3259].............................186 ARTISTICA SCIENCIA [3511]................................187 QUALQUER SEMELHANÇA... [3549]............................188 A FOME E A VONTADE DE COMER [3584].......................189 A CHUVA ACIDA E A LAMA MOLHADA [3585]....................190 INDECISA PESQUISA [3595].................................191 A VOLTA DO MOTTE DA PONTE [3645].........................192 EXCITANTE ATTENUANTE [3707]..............................193 CAMPANHA GANHA [3713]....................................194 ZONA ELECTRONICA [3811]..................................195 FAMILIAS UNIDAS LTDA [3812]..............................196 DICTADURA DA CANDIDATURA (I a III) [3883/3885]...........197 RÉU PRIMARIO, RITO SUMMARIO (I e II) [3889/3890].........199 COMICIO NO RODIZIO [3947]................................200 OSSOS DO OFFICIO (I) [3953]..............................201 OSSOS DO OFFICIO (II) [3954].............................202 ENTRE O TRIDENTE E O PRESIDENTE [3972]...................203 PRESSÃO NA EXPRESSÃO [3974]..............................204 QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (I) [3997]....................205 QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (II) [3998]...................206 CLAMOR PUBLICO [4019]....................................207 PROMOÇÃO SOCIAL [4055]...................................208 FESTEJO SEM PEJO [4558]..................................209


PALPAVEL POPULARIDADE [4668].............................210 PASTELLÃO ELEGANTE [4695]................................211 RESPONSABILIDADE SOCIAL [4844]...........................212 MARCHA CONTRA A CORRUPÇÃO [4884].........................213 ENTREVISTA COLLECTIVA [4952].............................214 TROCA DE GENTILEZAS [4953]...............................215 PANELLAÇO NO CYBERESPAÇO [5061]..........................216 SONNETTO DUM COMEÇO SEM FIM [5318].......................217 SONNETTO DUMA AUCTORITARIA MANDATARIA [5353].............218 SONNETTO DUM DELINQUENTE INCONVENIENTE (I) [5359]........219 SONNETTO DUM DELINQUENTE INCONVENIENTE (II) [5360].......220 SONNETTO DUMA DONA DO SEU NARIZ [5378]...................221 SONNETTO DUMA CAMPANHA QUE NÃO GANHA (I) [5407]..........222 SONNETTO DUMA CAMPANHA QUE NÃO GANHA (II) [5408].........223 DISSONNETTO DUM FERIADO DIFFERENCIADO [5412].............224 SONNETTO DUNS RABOS PRESOS (I) [5467]....................225 SONNETTO DUNS RABOS PRESOS (II) [5468]...................226 A APOTHEOSE QUE PASSOU DA DOSE [5518]....................227 FORMALIDADES BUROCRATICAS [5524].........................228 LIBERDADE MUNDIAL DA IMPRENSA [5541].....................229 DEGRADANTE TRABALHISMO [5563]............................230 PARTIDOS QUASI POPULISTAS [5569].........................231 MEMORIA NACIONAL [5574]..................................232 CENSO SEM SENSO [5575]...................................233 PHANTASIA DE PIRATA [5590]...............................234 SEM ENSEJO DE FESTEJO [5594].............................235 ALHEIA VERGONHA [5596]...................................236 MAUS FLUIDOS [5597]......................................237 POLITICA QUANTICA [5602].................................238 PAPPO DE LAVADEIRA [5643]................................239 IDEAL BIENNAL [5649].....................................240 INDULTO NATALINO [5685]..................................241


MILICIA DA MALICIA [5689]................................242 INDUBITAVEL INCREDIBILIDADE [5724].......................243 ARREDONDANDO A RONDA [5732]..............................244 ADEPTO DO SEM-TECTO [5789]...............................245 MISCELLANEA DA PIZZARIA [5832]...........................246 MERITOS PERIPHERICOS [5843]..............................247 MISCELLANEA RADIOPHONICA [5849]..........................248 CRISE EM REPRISE [5860]..................................249 ABBAIXO A POLARIZAÇÃO! [5882]............................250 MEME DO FANFARRÃO [5904].................................251 MEME DO DISCURSO [5925]..................................252 VINHO NACIONAL [5934]....................................253 OPHIDIO SEM OFFICIO (II) [5943]..........................254 CHINEZA SEM DEFESA [5946]................................255 PAPEL PRINCIPAL [5952]...................................256 HILARIO PLENARIO [5953]..................................257 POLITI/COPRO/TESTO [5957]................................258 MISCELLANEA MONARCHISTA [5958]...........................259 MISCELLANEA TROPICAL [5966]..............................260 MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969]...........................261 CHAVE DE CADEIA [5970]...................................262 MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972]...........................263 MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974].........................264 MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976]........................265 MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980].......................266 MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]...........................267 JUSTIFICANDO OS MEIOS [5998].............................268 MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004].........................269 MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005]...........................270 MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039].......................271 PLENA QUARENTENA [6064]..................................272 PERO NO MUCHO [6067].....................................273


EMPATHIA COM QUEM CHIA [6079]............................274 FODIDO E BEM PAGO [6104].................................275 MEME DA INJECÇÃO [6107]..................................276 HASHTAG CALA A BOCCA JA MORREU [6130]....................277 HASHTAG VAMOS À FORRA [6163].............................278 HASHTAG MULHER VOTA EM HOMEM [6165]......................279 BANCADAS THEMATICAS [6176]...............................280 HASHTAG QUEM É DE ESQUERDA TOMA [6179]...................281 VAGABUNDOS [6195]........................................282 DISCORDIA [6205].........................................283 PAREDÃO [6207]...........................................284 COMPAIXÃO [6212..........................................285 JUJUBA [6215]............................................286 GLOBALIZAÇÃO [6216]......................................287 CONVERTIDA [6217]........................................288 BLACK BLOCK [6220].......................................289 CABIDEOLOGIA [6221]......................................290 TOSTÕES [6226]...........................................291 VELHO NORMAL [6230]......................................292 GARRAFA QUE GRAPHA [6237]................................293 FARTUM NO CARTUM [6256]..................................294 MORRA QUEM MORRER [6298].................................295 ROUQUIDÃO [6316].........................................296 CORTE RACIAL [6434]......................................297 EXFARRAPPADO E ROPTO [6435]..............................298 ARTISTA ARRIVISTA (II) [6446]............................299 CONTEXTUALIZANDO [6451]..................................300 CANINA PROTEINA [6463]...................................301 CONDUCTA (RE)PROVAVEL [6473].............................302 BLUE EARTH [6484]........................................303 GEMEBUNDOS E IRACUNDOS [6485]............................304 OMMISSO COMPROMISSO [6487]...............................305


CHARTA INDESCHARTAVEL [6488].............................306 COUSA COM CAUSA [6489]...................................307 PRESTAÇÕES DE COMPTA [6490]..............................308 MYTHOMANIA [6491]........................................309 CRISE SUBJUGAL [6499]....................................310 CLIENTE INCONSEQUENTE [6501].............................311 QANONYMATO [6505]........................................312 INCONSPIRACIONISMO [6506]................................313 VESPERA DA DESTRUIÇÃO [6515].............................314 MICHÊS QUE EMPICHAM [6520]...............................315 LIBERALOIDE [6522].......................................316 BAÇA VIDRAÇA [6530]......................................317 INFINITA TRISTEZA [6531].................................318 RAPAZ AUDAZ [6532].......................................319 ARREDIA REBELDIA [6533]..................................320 CONFUSOS ABUSOS [6538]...................................321 RANCORES DE ELEITORES [6540].............................322 CANDIDATA DA NATTA [6551]................................323 CREDITO EM COMPTA [6562].................................324 JOGADA ENSAIADA [6571]...................................325 QUEM NÃO ESTUDA, CALUDA! [6573]..........................326 STALINDISSIMO [6583].....................................327 BRANQUITUDE NA ATTITUDE [6584]...........................328 COMPORTAMENTO REPROVAVEL [6585]..........................329 AGOURO NO THESOURO [6608]................................330 VADE RETRO, ESPECTRO! [6614].............................331 AGGRESSIVAS NARRATIVAS [6615]............................332 EFFIGY [6646]............................................333 REPETECO DO TRECO [6658].................................334 OUTUBRO QUE REDESCUBRO, DEZEMBRO QUE RELEMBRO [6659].....335 PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662]............................336 COISA SEM COISA [6675]...................................337


HUMOR NEGRO (II) [6677]..................................338 MAIS UMA VEZ [6683]......................................339 THEORIA DA ASSESSORIA [6686].............................340 SUFFRAGIO DO SEXO FRAGIL [6687]..........................341 CORNOS CORONEIS [6695]...................................342 DINHEIRO SUJO [6707].....................................343 INGRATAS CANDIDATAS [6708]...............................344 IMPOSTO DE MERDA [6709]..................................345 PREFEITA PERFEITA [6712].................................346 COMEDIA DA MEDIA [6737]..................................347 PUXAÇÃO EM DISCUSSÃO [6739]..............................348 BROCHANTE GOVERNANTE [6740]..............................349 PROPOSTAS DE CAMPANHA [6744].............................350 DEPOSITO DE PROPOSITO [6778].............................351 CONSELHO MATERNO [6781]..................................352 URUBUZADA [6795].........................................353 CABO DE GUARDACHUVA [6799]...............................354 LINGUA DESDOBRADA [6805].................................355 VOU, VOTO, VOLTO [6806]..................................356 ELEIÇÕES MUNICIPAES [6807]...............................357 LINHA POLPOTISTA [6808]..................................358 RECEITA DESFEITA [6809]..................................359 VOTO UTIL [6814].........................................360 DELIRANTE POSTULANTE [6848]..............................361 TOURO SENTADO [6853].....................................362 BANDA DA BUNDA [6855]....................................363 CAPACHISMO [6881]........................................364 PALACIANA SAPATEIRA [6882]...............................365 CLIENTELISMO [6888]......................................366 ELEITOR FINGIDOR [6912]..................................367 COLORAÇÃO POLITICA [6929]................................368 COMEDIA DO ASSEDIO [6942]................................369


MANDATORIO MANDATARIO [6948].............................370 POLITICA MEPHITICA [6985]................................371 POLITICA ANALYTICA [6987]................................372 NOVECENTO [7024].........................................373 CELLULAR DE PARLAMENTAR [7114]...........................374 CESTINHO VAZIO [7118]....................................375 ARROGANTES IGNORANTES [7192].............................376 CONHESCENDO O DESCONHESCIMENTO [7193]....................377 MATERIAL REUTILIZAVEL [7194].............................378 LATENTES PATENTES [7209].................................379 IRREGULARES CELLULARES [7218]............................380


Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO


São Paulo Casa de Ferreiro 2021




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