INSPIRITISMO

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INSPIRITISMO



Glauco Mattoso

INSPIRITISMO

São Paulo Casa de Ferreiro 2020


Inspiritismo Glauco Mattoso © Glauco Mattoso, 2020 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros _______________________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________________________________________

Mattoso, Glauco

INSPIRITISMO/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2020 116p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA

Na sequencia dos volumes de dissonnettos compostos em 2020, appós GRAPHIA ENGARRAFADA vem esta collectanea com nova centena (de 6287 a 6386) que, ainda sob o impacto da crise sanitaria, cuida entretanto de varios outros themas urgentes e cruciaes para o convivio social, sexual, politico e cultural. Muitos poemas, comtudo, partem duma perspectiva, não direi kardecista, mas exsistencialista ou mesmo buddhista, donde o titulo allusivo aos “lindos casos”, alguns baseados em sonnettos realmente psychographados por Chico Xavier no intrigante e monumental PARNASO DE ALEM TUMULO. Na forma mantenho-me fiel à nova estrophação adoptada, em quattro quartettos, desde que retomei, em 2017, a producção temporariamente interrompida no sonnetto 5555, em 2012. Tracta-se agora de publicar, ao lado das reedições reformatadas dos titulos antigos, esta nova serie de volumes em versão digital, para recuperar o tempo empattado desde a crise anterior -- resgate emfim possivel graças ao trabalho do editor virtual Lucio Medeiros à frente do sello Casa de Ferreiro.



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FESCENNINA SABBATINA [6287]

Cagar na tua bocca não vou, mas é só por descomforto meu! Porem vaes tu meu cu limpar bem limpo, sem as mãos, só com a lingua, si és capaz! Accabo de cagar! Agora, faz aquillo que tu sabes! Lambe bem la dentro! Exfrega as pregas! Limpa, alem das pregas, os pellinhos! Limparás? Exforça-te e consegues, cego! Oscula, primeiro, depois sente, com a poncta da lingua, aquelle gosto que admedronta o crente e de ninguem desperta a gula! Não temas! Caso tua glotte engula um pouco de cocô, leva na compta de infecto sacrificio, pois quem monta na tua cara adora a scena chula!

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ESTELLARES ESTELLIONATARIOS [6288]

Na duvida, não sabe ninguem disto que somos nós, poetas: si seremos verdade, si mentira, ja que extremos junctamos, desde Christo até Mephisto. Assim é que, Glaucão, eu sempre insisto na tecla demoniaca, pois demos e sanctos todos somos e fazemos papeis tão differentes, que eu nem listo. Fallar de fake news, de fraude em tudo é moda, mas mal, mesmo, só si for no campo da politica. Si por poetas feita, a lenda admitte estudo. Eu, como tu, confesso, sim, que illudo o publico, que faço, sim, suppor um dubio, controverso, ambiguo auctor de enredos. Só não vale ficar mudo.


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SUSCEPTIBILIDADES [6289]

Seu Glauco, o meu papae disse que eu não devia conversar com um poeta maldicto, que influencia assim affecta a gente e nos perverte... Com razão! Mas quero perverter-me e nelle, então, uns golpes appliquei que até se veta nas artes marciaes! Ja ficou quieta a lingua delle, espero, o babacão! Sou calmo, sim, seu Glauco! Só si for o caso desço o braço no papae! Sossegue! Edade tenho! O que me trae é minha cara feia de infractor! Passei por internatos, sim, mas por bem pouco tempo, claro! O senhor vae querer me questionar? Se toque, hem? Ai de quem leis de moral quizer me impor!

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MIMOS [6290]

Meu filho, Glauco, deixa-me maluca! Eu mimo, mimo, mimo, mas de nada addeanta! Quem controla a molecada dos dias actuaes? Bagunça a cuca! A gente faz de tudo! Veste, educa, dá tennis, calça, às vezes dá palmada, descalça, calça a meia! Quando usada ja lava! Mas é tudo uma sinuca! Si nego uma coisinha, ah, meu amigo! Irado o molecão logo me fica! Me chuta com o tennis, me dá bicca na cara, até! Magoa-se commigo! Si faço o que elle pede, ja perigo exsiste de querer griffe mais rica no tennis e nas roupas! Mas que zica! Ja adulto, elle ‘inda aqui quer ter abrigo!


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DIABRETE [6291]

Ai, Glauco, tenho um filho de proveta! Precisa ver que praga, que pestinha! Ninguem excappa! A todos apporrinha! Eu, hem? Paresce filho do Cappeta! Ainda que eu mamãe boa prometta ser, elle me excarnesce, endemoninha e surta, quer foder-me! Coitadinha da sua amiga, Glauco! Não é peta! Que faço? Ouço você? Dou uma dura? Me livro do moleque? Não será tão facil! Prometteu que contará tudinho pro papae! Sim, elle jura! Ai, Glauco! Tenho medo da tortura methodica que Junior sabe, ja, com jeito practicar! Quer que elle va ahi? Não brinque! É muita diabrura!

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DIABRURA [6292]

Um só tu do

endemoninhado o meu menino pode ser, Glaucão! Ora, accreditas que elle em paz não deixa as mais bonitas bairro? Comeu todas, imagino!

Comtudo, na mais soffre bastante em as victimas

mão delle -- é o que eu opino -certa gente que tu citas teus sonnettos. Ah, maldictas que cumprem tal destino!

Na filha da vizinha a diabrura mais sordida practica aquelle meu menino, o diabrete! Sim, perdeu, coitada, a visão -- scena rude e dura! Brincando, o diabrete della fura um olho, depois outro! Nesse breu horrivel, ella leva rolla! Atheu é elle! Esse menino não tem cura!


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VENDANDO, VEM DANDO [6293]

Aquelle que baunilha aqui não for ja sabe que, de escrava, a gente venda os olhos. Isso leva a que ella attenda e cumpra as ordens, sempre com temor. O medo que tem ella, sem que cor nem luz possa advistar, faz que dependa da gente. Sem defesa, chupa alguem, da cabeça ao sacco, soffrega ante o odor. Mas ella, ao retirar a venda, fica ja livre desse medo, desse estresse. Ocê não fica, Glauco! Ocê padesce o tempo todo, nessa sua zica. É foda, né? Confesso, minha picca, emquanto nocê penso, ô si enduresce! Mas foda-se! Si eu, sadico, pudesse cegar escravas, orra! Alguem critica?

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HORROR DOMINADOR [6294]

Estás horrorizado, Glauco? Tanto melhor a mim, si estás! Eu, quando vendo uns olhos, tesão forte ja vou tendo! Pensando em quem ceguei, o pau levanto! Que sarro! Que delicia! Sabes quanto eu curto o que enxergando vou! Horrendo eu acho o teu castigo! Não dependo dos outros, não te egualo o desencanto! Tu vives, Glauco, para sempre nessa cegueira! Não dependes duma venda que, finda a sessão, deixam que suspenda a treva algum olhar que mal se estressa! Não, Glauco! Seguirás cego! Confessa que estás horrorizado! Falla, a bem da verdade, que a cegueira achas horrenda! Assim tu me deleitas, cara, à bessa!


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PAROXYSMO NO BONDAGISMO [6295]

Com tanta admarração, o gajo fica bem immobilizado. Nesse estado, subjeita-se à mercê de todo sado que queira abusar delle, erguida a picca. O sado o pé lhe empurra, applica a bicca, açoita, dá risada do coitado. Mas este, que enxergando está, dum lado e doutro, ainda estoico, nem supplica. Aguenta firme as chordas do “shibari”, mas logo o sado os olhos delle tapa. Agora de surpresa leva um tapa, um chute, sem que àquillo se prepare. Mais medo passa, até que o sado pare de nelle desfructar em cada etapa do gozo. Glauco, disso não se excappa: Não ha nó que à cegueira se compare!

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FÉ REQUENTADA [6296]

Tu sabes que sou bruxa! Não me evado de causas, consequencias... Não, de nada! Respondo, Glauco, quando perguntada, que é Deus, mesmo, o Diabo disfarsado! Jamais Deus exsistiu! O seu recado, suppostamente biblico, que enfada qualquer pensante cerebro, nem fada aguenta, muito menos quem é sado! Satan, porem, permitte que a figura christan do Omnipotente seja crida, emquanto da gentalha azara a vida e desce dos politicos à altura! luxuria, perversão, vicios, usura, virtudes são, satanicas! Incida alguem nalguma dellas, e valida o pacto, mas sae cara a sua jura!


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DESEMPODERADO [6297]

Tardivo uma parabola assim Satan triste ficou por ver de Job a temptação, depois restava ao patriarcha alem

bolla: baldada que nada de esmolla.

Em merda seu trazeiro Job atola, mas, ‘inda a Deus fiel, não maldiz cada riqueza que lhe fora retirada. Fracasso de Satan, que se desola. Diego, então, suggere o que devia ter feito Satanaz, em vez de tudo de Job ter supprimido: mais grahudo lhe desse seu poder, e mais quantia. Assim envaidescido, Job um dia, com Deus rivalizando, ja raçudo, emfim praguejaria. Satan mudo ficou ante tão clara theoria.

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MORRA QUEM MORRER [6298]

Estão me censurando, Glauco, só porque eu fallei que quero que elle morra! Mas é verdade! Eu quero mesmo, porra! É muito bafafá! Bah! Tenha dó! Não é de todo mundo que xodó é um filho duma puta! Caso occorra torcermos p’ra que a morte nos soccorra, por certo não será da minha avó! No consequencialismo, vale o dicto: dos males, o menor! Glaucão, está torcendo o povo todo! Não será surpresa si morrer vae qualquer mytho! Até vampiro morre! Nem lhe cito cayporas, nem sacys! Glauco, não ha ninguem que esteja livre! Só me dá tesão por ser politico o maldicto!


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BRANDED [6299]

Usou o prisioneiro uma cangalha, que alguns estão chamando de gollilha. A argolla no pescoço mais humilha aquelle que incidiu em grave falha. Num campo o condemnado ja trabalha forçado, sob açoite, e ja se pilha rebelde e rancoroso. Os dentes rilha de raiva a cada golpe que lhe valha. “Tiraram de mim tudo! O meu orgulho, a minha dignidade! Fui forçado, debaixo de lambadas, o solado das botas a lamber! Ah, tive engulho!” “Mas quero me vingar! Farei barulho, com minha banda, para que esse lado rockeiro ouvido seja! Revoltado sou! Nunca a rir eu canto! Não empulho!”

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PASSEIO PUBLICO [6300]

Usar mascara, Glauco? Não! Sem essa! É coisa de veado! Use você, Glaucão, que é pederasta! Talvez dê até p’ra melhorar-lhe a cara à bessa! Você, que alem de bambi é cego, peça que façam qualquer uma que se vê nas ruas, multicor, onde se lê “Sou mesmo!” Na calçada ande sem pressa! A mascara as bichonas bem retracta! Um dia, appliquei puta pegadinha: dei uma a alguem que mascara não tinha, escripta assim: “Masoca sou! Me batta!” Talvez nem gay o cego fosse! Chata ficou-lhe a situação! Levou tapinha, tapão, chute, empurrão... Até da minha mão, claro, ou do meu pé! Gaiata data!


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GENETIANO [6301]

Meu pae me ensignou! Elle, que me fez dormir, ja, de cothurno, prompto para a guerra, fez tambem, na minha cara, vergonha que eu tivesse, essa altivez! Mas, em compensação, vejam vocês, ganhei um chulezão que se compara ao cheiro dum gambá! Só quem tem tara podolatra se torna meu freguez! A vida me ensignou a ser michê, na falta dum emprego mais decente. Mas sempre encontro, soffrego, um cliente disposto a pagar caro o meu buquê. Um cego masochista, que não vê faz tempo, tão sozinho ja se sente que minha visitinha mais frequente lhe faço. O cheiro lembra-lhe Genet.

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SELECTO DEJECTO [6302]

Pegaram o ladrão. Pé de chinello, se nota pelo video. Por castigo fizeram-no comer merda. Me instigo com isso. Perguntei si o gajo é bello. Disseram-me que é negro. Me revelo sympathico ao coitado, que perigo correu si não comesse, em calda, o figo. Aquella forte imagem eu congelo. Si fosse no meu clube, comeria cocô na marra alguem mais rico, um branco burguez que, mesmo quando o não expanco, engole, molle, atroz dysenteria. Voltando ao caso, contam que fazia caretas ennojadas quem, o tranco levando, põe na bocca com um franco desgosto o cagalhão da burguezia.


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LINDO CASO [6303]

Tadinho do menino! Ouvi contar, num desses “lindos casos”, que elle tinha poderes mediunicos, mas minha urgencia foi dum lance estar a par. Fizeram-no lamber, para curar, feridas que do filho da vizinha surgiram no pezinho! Que excarninha sessão! Que masochismo singular! A fama do moleque percorria o bairro. Varios pés elle lambeu, alem de pernas, braços... Seu atheu papae sempre cobrou certa quantia... Ha tempos me contaram, mas um dia ainda vou attraz desse plebeu e celebre episodio. Serei eu, tambem, quem desse modo curaria?

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INCOGNITA EXCEPÇÃO [6304]

De rua a moradora ja addormesce debaixo do rasgado cobertor. Ninguem mais passa. Pode-se suppor que tenha a velha feito sua prece. A camera gravou. Eis que apparesce um carro, que estaciona. Alguem de cor mais branca salta. Seja la quem for, a midia adoraria si soubesse. Jamais se soube. Em vez de ser nocivo, o gajo simplesmente põe comida, calçado, roupa limpa, na sortida saccola, sob a manta. Sae, furtivo. A velha accordará, sem ver ao vivo quem foi que lhe salvou, talvez, a vida. No radio ouvi. Chorei. Você duvida? Anonymo, um se salva no meu crivo.


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PIEGAS ÀS CEGAS [6305]

Vocês ironizaram quando, sem reservas, fiz poema de insuspeito teor e chorei quando um homem tem coragem de ser justo, sem proveito. Não choro por ter feito alguem o bem. Eu choro por ninguem mais tel-o feito. Não choro por estar na rua alguem. Eu choro si lhe falta, mesmo, um leito. Alguem ser excepção, quando devia ser regra, me commove, mas talvez se deva ao triste facto de que eu lia taes coisas, mas, ja cego, ouço vocês. Talvez motivo seja a poesia deixar um bardo meio que freguez de ingenuas emoções e phantasia fazer da redempção dalgum burguez.

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CHEIRO CASEIRO [6306]

Ai, Glauco! Me escutar você precisa! Visita recebi duma vizinha. Estava meu marido na cozinha. Occorre que elle estava sem camisa... Na salla, só nós duas. Se reprisa a scena da banal e comezinha comedia de costumes. Fiz a minha melhor parte e, de dama, fui à guisa. Café, claro, offeresço. Pois não é que minha amiga sente delle o cheiro? Diz ella que esse aroma prazenteiro percebe do café, de longe, até! Ai, Glauco! No que digo bote fé! Sem graça fiquei! Tudo o que primeiro sentiu ella foi mesmo o costumeiro fedor dum sovaquinho da ralé!


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DIA DA PIZZA [6307]

Mas, Glauco, o pepperoni não passava da nossa calabreza, appigmentada que sempre fora! Agora não tem nada da antiga! Ja mandei a nova à fava! Tambem a noção da collocam ninguem!

portugueza não me dava verdadeira! Que salada nella! Aquillo não aggrada Com a de atum a coisa aggrava!

Atum nunca foi, Glauco, nem aqui, tampouco la na China! A mozzarella usada longe está, tambem, daquella do tempo do vovô, que bem vivi! Não, Glauco! Não se salva nada! A ti, se salva alguma? Alguma se revela fiel à feliz epocha, tão bella, na qual em pé fazias teu xixi?

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DESNUDEZ [6308]

Fizeste na cama segundo zombar,

meia nove? Que tu fazes agora, Glauco? Ousaras tu, o que supponho, do tabu mas taes luxurias são fugazes!

Sei como performavas, com rapazes sacanas, posições nas quaes o cu, seguindo os KAMA SUTRA, solta angu mais molle em plena bocca, affora os gazes! Mil poses acrobaticas pudeste com elles practicar! Agora, não! Estás, Glaucão, ja quasi septentão! Ainda te contorces, inconteste? Contesto-te! Nenhum cabra da peste consegue, septentão, ter o condão da foda contorcida! Nem anão tem fama assim! Desiste, meu! Te veste!


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COLLEGA DE COLLA [6309]

Alphonsus, na visão que tem de inferno, suggere que teria Satanaz mostrado num papyro o que elle traz escripto, o seu segredo mais interno. Mas, hoje em dia, methodo moderno tem elle para, aos olhos dum rapaz fanatico, occultar intenções más nos minimos rabiscos dum caderno. Satan traça signaes nas entrelinhas das nossas appostillas de estudante! Sim, Glauco! Reparei nisso durante aquellas sabbatinas comezinhas! Foi colla! Assim mais altas foram minhas as notas do collegio! Quem garante que delle não virá tua vibrante poetica? Com elle não te allinhas?

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TRASGO [6310]

No collo da mamãe, a bebezinha paresce innocentissima, coitada! Mas basta que mamãe fique occupada e a docil innocente está damninha! Ja pelo chão a debil engattinha, aggarra, puxa tudo! Pega cada chordinha, cada cabo que lhe invada o campo visual ou da mãozinha! Precisa ver, Glaucão, a quebradeira! Não sobra pedra sobre pedra, nem crystal com mais crystal, pois a nenen a cacos reduz tudo que está à beira! Glaucão, cê quer saber? Isso me cheira a coisa do Cappeta! Não lhe vem à mente esse demonio que detem poderes maus e, por detraz, se exgueira?


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PATERNIDADE [6311]

Si Victor Hugo cria a propria fada em forma de Esmeralda, a vê Satan e emprega, a conquistal-a, seu affan. Gonçalves Dias disso faz piada. Sim, sempre essa cigana a alguem aggrada, por isso Satanaz virou seu fan. Mas eis que elle encontrou, certa manhan, alli na cathedral, outra alma amada... Satan perdidamente enamorado ficou pelo Quasimodo! O corcunda virtudes tinha tantas, que redunda cital-as: de pensar nisso me enfado! O facto foi que, mesmo sem veado ser este, lhe comeu Satan a bunda! Parido um corcundinha, a lenda abunda em dados, mas não colla nenhum dado...

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POSTHUMO [6312]

Bandeira fez a foda alexandrina. Num unico sonnetto o bardo faz alguma concessão ao que o rapaz na moça applica, alem duma bolina. Talvez, dodecasyllaba, mais fina e culta a foda fique, entendo, mas aquillo que interessa a Satanaz tambem Bandeira admitte, e bem culmina: Anal penetração, com beijo e tudo, alem da fellação. Coito “normal”, appenas na boceta, pega mal a quem quer ser pornographo grahudo. Perdido, tal sonnetto foi de estudo objecto. Que os biographos em tal achado se debrucem. Eu banal achei-o: sem pés sujos, elle é mudo.


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PUNHETA LISBOETA [6313]

Poetas portuguezes queixa à bessa faziam do Demonio, que teria Lisboa mergulhado na folia das bichas, situação que lhe interessa. O proprio Madragoa se confessa furioso com os gays, pois sodomia preferem à boceta. Que seria da femea sem seu macho, ora? Sem essa! Occorre que Satan sempre incentiva punhetas, ja que muita phantasia bem sadomasochista propicia a mente do onanista, a mais lasciva. E quanto ao cu, ninguem jamais se exquiva de nelle salivar, caso da via anal seja refem. A bruxaria tributa ao “beijo negro” tal saliva.

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ARES CAVALLARES [6314]

Archanjos cavalgar querem, si fores dar credito ao que expoz Jorge de Lima. Eu mesma, que sou bruxa, vou em cyma daquillo que escreveram taes auctores. Porem tu me perguntas si fedores maiores teem os peidos (e se estima que tenham) do cavallo de quem prima por cheiro ter de enxofre entre os odores. Sim, Glauco! De Satan peida fedido o mystico cavallo! Porem ha odor ‘inda peor: aquella má fumaça que Satan peida, querido! Si queres saber, mesmo, ao beijo que nós damos, naquelle trazeirão! Ah, Que exsista aroma assim

te convido no Sabbath, Glaucão! Ah! até duvido!


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DOSIMETRIA [6315]

O peido do Diabo! Mas que thema phantastico, Glaucão! Si fazem chiste, que façam, ora! Achei que não exsiste questão mais seria que essa these extrema! Si fede enxofre, deve ser problema do grau, da gradação... Acaso ouviste fallar da bruxa Alice? Ella bem triste está! Dirás si é justo que ella gema... Punida por Satan, por ter seus gazes ousado recusar, Alice está sentindo delles muita falta, ja! Terá mais chance, idéa tu ja fazes! No proximo Sabbath, fazer as pazes Alice com o Demo poderá! Mas só si supportar aquella má fragrancia! Augmenta a dose, nessas phases!

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ROUQUIDÃO [6316]

Regimes monarchistas não teem nada a ver com dictaduras, nem tampouco com esses direitistas! Está louco quem tenta confundir a molecada! Tambem sou monarchista, Glauco! Cada qual, subdito da Corte, ficou rouco de tanto protestar, mas está mouco o ouvido dos que informam a manada! Foi golpe esta republica, Glaucão! Foi, isto sim, regime militar despotico! Vieram governar uns meros marechaes, contra a nação! Não foi dictatorial Dom Pedro, não! Até fora a nação parlamentar! Quem dera alli pudessemos voltar! Portanto, que não façam confusão!


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PAPPO POLIDO [6317]

Estão sentados frente a frente, mas é timida a conversa. Appoio ao pé buscando um delles, pisa à toa, até pisar no longo pé do outro rapaz. Então este retira seu assaz comprido pé, mostrando que não é podolatra. Mas é. Por isso ré mal chega a dar. Hesita, à frente, attraz. Ahi fica a criterio do primeiro de novo procurar onde é que pisa. Conversa vae, conversa vem, à guisa de emballo, outro pisão se faz certeiro. Se rende, emfim, aquelle que parceiro quer ser mas é discreto. Suaviza seu peso, mas tambem pisa. Precisa ainda de conversa, cavalheiro?

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NOVO TERROR [6318]

Horror, Glauco! Um horror é o que começa agora a accontescer! Se collecciona cadaver! Sim, aquelles do corona estão, como zumbis, à solta, à bessa! Serão “coronavivos” e depressa virão taes mortos vivos dessa zona maldicta em que, na tumba, os abbandona até sua familia! Isso não cessa! Em breve, invadirão toda a cidade! Quem é que não tem medo dum zumbi que nunca alguem ja vira por aqui e, de repente, nosso lar invade? Em vez de comer cerebros, um ha de querer nossos pulmões! Glaucão, cê ri? Pois saiba que esta noite eu, sim, ja vi um delles la no parque, pela grade!


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CORONAVIVOS [6319]

Indagas-me, Glaucão, sobre essa lenda dos taes “coronavivos”, mas garanto que vejo com real e enorme expanto um facto ja bem facil que se entenda. Suppõe-se que um zumbi normal dependa de cerebros fresquinhos. Para tanto, precisa devoral-os. Padre Sancto! Não teem nossos açougues isso à venda! No caso dos coronas, do pulmão humano necessitam! Ja pensaste, Glaucão? Não ha pulmão mais que lhes baste! Os nossos fatalmente quererão! Estás contente em casa? Pois então contenta-te e te tranca! Algum desgaste soffremos, tão reclusos, mas salvaste a pelle si te tornas hermitão!

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MALDICTA VISITA [6320]

Aquelle senhorzinho num sobrado enorme está morando ja, sozinho, faz tempo. Toda noite elle, a caminho de casa, por um bosque passa, ao lado. Não é que, do escuta attraz de passos? Ao que nada viu.

portão tendo passado, extranho barulhinho voltar-se, ja adivinho Appressa-se, coitado.

Trancou-se. Está seguro? Não, jamais! Janellas vae fechando, cada porta chaveia. Nem na cama se comforta. Ouviu, vindos de baixo, roucos ais. Tem, sob o travesseiro, uma das taes garruchas em desuso. Não importa. Usada nem seria. A bocca torta sorriu-lhe, do zumbi! Dentes mortaes!


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ADJUDA MEHUDA [6321]

Em pleno desespero, um suicida attira-se, mas é do quarto andar. No pateo cae, mas passa a agonizar, pois pouca altura não lhe tira a vida. Ao lado, no playground, a divertida turminha de creanças a brincar está, mas interrompe o salutar recreio ao ver a victima cahida. Até que algum adulto uma attitude emfim tome, essa activa molecada se juncta ante o coitado, que está cada vez mais agonizante e não se illude. Sem ter a protecção de quem adjude, recebe ponctapé, pisão, solada na cara, até paulada. Quasi nada faltou para appressar a morte rude.

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ZUMBIZAGEM [6322]

A cara dum “coronavivo”, ou antes, caveira não de todo descarnada assusta a todos quantos vejam cada detalhe das feições agonizantes. Rasgada, a bocca abriu pelas cortantes tranqueiras invasivas na coitada. Os olhos, ja sem palpebras, que nada enxergam, nos observam, penetrantes. Nariz é cavidade ensanguentada. Bochechas são muxibas, como são os labios, as orelhas. A feição é mesmo dum zumbi: desfigurada. Mas, caso um monstro desses nos invada a casa, quererá nosso pulmão comer e compensar um ar que não lhe deu a apparelhagem entranhada.


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PSYCHOGRAPHANDO ALBERTO DE OLIVEIRA [6323]

Jesus invoca Alberto de Oliveira, depois de morto, para semear amor, louvar conducta que exemplar se diga, tolerante, irman, parceira. Não é que contestar o vate eu queira, mas isso dum christão a face dar a toda bofetada ja logar não pode ter, é cynica besteira! Alberto quer que evitem a vingança os vivos, que não paguem mal com mal! Mas como, caro Glauco, si normal é a gente se vingar, desde creança? Jamais da forra alguem aqui se cansa! Eu quero ver ferrado o meu rival! Só mesmo você, Glauco, não tem tal recurso! São os cegos gente mansa!

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INCONCEBIVEL [6324]

Agora chupam só com camisinha as putas, Glauco! Porra, chato paca! Caralho, sou do tempo da polaca! Melhor recordação tens que esta minha? Lambia -- Ah, feliz epocha! -- todinha a rolla, dava banho, sim, a vacca! Nas bollas salivava, até! Que inhaca! Ficou molle esse trampo da gallinha! Não, ellas não podiam ter do sebo qualquer nojo, Glaucão! De nenhum cheiro, nenhum gosto! Nenhuma, no puteiro, dizia não! Assim é que as concebo! Ficaram muito frescas, ja percebo! Deixei de ser, por isso, um putanheiro! Agora, a recordar, sou punheteiro! Bons tempos! À memoria delles bebo!


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PSYCHOGRAPHANDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS [6325]

Em vida, Alphonsus era mui adepto das practicas catholicas. Menciona ainda, agora morto, uma cafona imagem de clichês, que eu interpreto. Embora nada diga de concreto accerca dum caralho ou duma conna, o bardo symbolista posiciona seu dedo no detalhe predilecto. De “mysticos prazeres” falla, mas sabemos que, de Christo, Magdalena os pés lavou, beijou, e nada amena foi sua devoção mais pertinaz. Si puta foi, si dava a Satanaz a quota de serviço, sua pena cumpriu. Mas é prazer o que envenena o verso do que faça, fez e faz.

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PSYCHOGRAPHANDO ANTONIO TORRES [6326]

Antonio Torres disse que trocava, em vida, a fé por facil ironia e que sua razão lhe resumia o mundo. O resto ousou mandar à fava. Mas hoje (elle verseja) ja não trava a sua mente um sceptico ou vazio conceito. Sua crença adduz um pio motivo de comforto, que faltava. Até ahi, paresce tudo bem conforme com as theses de Kardec. Mas acho que, si falla algo que peque, será dizer que treva acclara a alguem. Não, trevas não acclaram! Não, ninguem me venha com bobagens de moleque! Ja basta que um moleque zombe e em xeque colloque esta cegueira! Ai, gente! Eu, hem?


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CORONANISMO [6327]

Punhetas batto, Glauco, sempre digo, si a morte dum politico ouço ou vejo! Morreu algum? Ja duro de desejo meu pau fica! Na bronha, assim, me instigo! Qualquer que seja, como um inimigo o tenho! Pode um delles dar ensejo a alguma punição por malfazejo ter sido... Mas excappam do castigo! Só quando um morre, emfim, é que eu à forra irei, Glaucão! A pelle, então, da picca eu puxo que repuxo, até que fica difficil prolongar e ella se exporra! Confesso: no seu caso, si lhe torra o sacco, da cegueira, a sua zica, tambem me punhetei, Glaucão! É dica que fica: dor alheia, a porra jorra!

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50 GLAUCO MATTOSO

QUESTÃO DE EDADE [6328]

Não leve a mal, seu Glauco! O meu pae não me deixa nem pensar em masturbar-me! Nem quando da menina aquelle charme me excita, admitte o velho o meu tesão! Seu Glauco, sou grandão! Occupa a mão inteira meu peru, quando um allarme me dá, ficando duro! Só mellar-me resolve esta gostosa sensação! Seu Glauco, vou fallar toda a verdade aqui para o senhor! Só de saber que está sem a visão, vem um prazer incrivel no meu pincto, que me invade! Ahi que me punheto, cara, aggrade meu pae ou não aggrade! Que dever eu tenho de tão casto me manter? Normal é ter tesão! Coisa de edade!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO ARTHUR AZEVEDO [6329]

Chronista social Arthur se faz, appós desencarnado, para azar das altas rodas, visto que quer dar noticias de seu vicio contumaz. Qual vicio? Ora, adulterio! Qual rapaz daquellas bellas epochas seu par procura num puteiro, si vulgar se mostra qualquer dama? Ah, linguas más! Alem das trahições, a putaria está sempre, em Arthur, subentendida. Suggere-se que, nessa altura, a vida na Corte pornographica seria. Por certo! Mas que coisa quereria Arthur recommendar? Que se decida viver mais castamente? Se invalida a sua tentativa! Haja quem ria!

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52 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO AUGUSTO DOS ANJOS [6330]

Estou chocado, Glauco! Como pode o Chico Xavier compor sozinho sonnettos que retractam direitinho o Augusto? Como lyra tal accode? Glaucão, é natural que se incommode a gente com o Alem! Eu, no caminho da vida, me fodi! Nem adivinho o jeito como um cego, então, se fode! Comtudo, bardo sceptico suppuz que seja Augusto! Occorre que não é! Depois de morto, obstenta a sua fé na these mais espirita, na luz! Sim, Glauco! Reconhesce elle Jesus! Você tambem podia, cara, até seguir do bardo os passos, sem do pé abrir mão! Pense, em Christo, nos pés nus!


INSPIRITISMO

EDUCAÇÃO REMOTA [6331]

Ah, Glauco! Mas que raiva que me dá! Alguem, no apê de cyma, tem a mais mimada filha, creia, que jamais na vida vi! Lembrei, me ennervo, ja! A peste não diz “não”, diz “na”! Será por falta de insistencia que seus paes escutam a teimosa? Quaes normaes ouvidos a toleram? Alguem ha? Diz “na, na, na, na, na!” mesmo si tem, nas aulas à distancia, que ficar na frente duma tela, para azar do pobre professor! Que nhenhenhem! Não, Glauco! Uma vontade até me vem de estar, daquelle mestre, no logar, appenas para a peste expaventar com meu carão da Bruxa de Salem!

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54 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO AUTA DE SOUZA [6332]

Tambem religiosa Auta de Souza se mostra appós partir, soffrida, desta. Partiu para melhor? Ella faz festa, dizendo-se liberta. Grande cousa! Estamos num exsilio, Glaucão, ousa dizer Auta. Você não a contesta? Concorda, então, com ella? Que funesta sentença, vate! Em quaes razões repousa? Citar “valle de lagrymas”, a mim, não colla! Você, cego, que se ralle! De lagrymas não vejo nenhum valle! Enxergo bem! Não tenho olho ruim! Não acho que pagar peccados vim aqui reencarnar! Você que falle em termos de “missão”! Quer que eu me eguale a tantos azarados? Bah! Pois sim!


INSPIRITISMO

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PSYCHOGRAPHANDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [6333]

De entrar no que segreda a cova fria então a fim estás, Glauco Mattoso? “Parnaso de Alem Tumulo”, o famoso livrão do Xavier, te influencia? Reler-me ja quizeste, quando, um dia, deitei-me no chão, para de escabroso proposito fallar. Não tive gozo nenhum quando fingi que ja morria. Mas fazes phantasia si vampiro suppões que eu seja, alem de teres sido. Verdade verdadeira aqui decido contar-te, caro Glauco, ou me retiro. Depois que morri, nunca me refiro às luzes dos espiritas! Cahido estive nos infernos! Sim, fedido é o cu de Satan! Cheira, te suggiro!


56 GLAUCO MATTOSO

JULHO VERDE [6334]

Um cancer, bem na lingua, na garganta, deviam pegar esses que da minha politica mal fallam, com mesquinha e perfida aggressão de guerra sancta! Mas para que tal odio? Por que tanta paixão contraria àquillo que eu ja vinha propondo desde sempre? Essa damninha campanha, persistente, é o que me expanta! Si contra mim demonstram sentimento tão baixo, me vingar tambem eu quero! Por isso, Glauco, devo ser sincero comtigo: disfarsar aqui nem tento! É cancer! Cancer mesmo! Me contento só quando todos peguem o severo mal nessas boccas sujas! Mas espero que entendas, ja que és cego, o meu lamento!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO ALVARES DE AZEVEDO [6335]

Sou elle, sim! Sou Alvares! Você andou me lendo, Glauco, de maneira sacana! Mas está certo quem queira fazel-o, si na telha a coisa dê! Nos contos da taverna, bem deprê estive e descrevi, sim, a caveira que expreita alli, da cova aberta à beira, a gente que em Jesus ‘inda não crê! Eu disse que morri, quando vivia! Agora que morri, sim, estou vivo! Não vejo mais com olho negativo a scena mortuaria à luz do dia! Você, Glaucão, ja soffre, todavia, e muito soffrerá! Pelo meu crivo, nas trevas seguirá seu afflictivo destino de guru da putaria!

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58 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO AMADEU AMARAL [6336]

Sonnetto ja compuz -- “Malassombrado” chamei-o -- onde minh’alma comparava à casa dos phantasmas! Glauco, grava bem tudo o que te digo, desgraçado! Tu, Glauco, o criticaste! Do teu lado jamais eu ficarei! Quem só deprava seus themas ousará mandar à fava alheios versos? Quero ser vingado! Vingar-me irei! Cegado seguirás directo aos infernaes dominios, cara! Satan te cagará a titica amara na bocca, nessa bocca assaz mordaz! Sim, para compensar as tuas más analyses poeticas, prepara a fuça, Glauco! O Demo tem a vara mais podre, e mais fedido tem o gaz!


INSPIRITISMO

NATURALIDADE [6337]

Preciso te contar, Glauco, o que minha filhinha fez! Num pacto com a filha da nossa faxineira, maravilha acharam si brincassem de casinha! Achaste normal? Calma! A minha tinha chamado um molequinho que partilha das mesmas preferencias da quadrilha que gostas de louvar, cara! Adivinha! Sim, sadomasochistas! Em edade tão tenra, ja triangulo formando! Mas foi o garotinho que ao commando cedeu de ser escravo, na verdade! Talvez o que fizeram não te aggrade, Glaucão, mas os pés dellas foi beijando o gajo! Tu querias, mesmo, um bando de machos, né? Te entendo, meu confrade!

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60 GLAUCO MATTOSO

CONSENSO [6338]

Mulher que tem mais curto o seu dedão do pé, dizem que manda no marido. Será verdade, Glauco? Te convido a dar um parescer nesta questão! E quando o seu marido dedão tão mais curto tem tambem? Eu não duvido que troquem os papeis num divertido accordo, revezando a submissão! Marido nella manda, caso tenha pé grego quando a esposa não o tem? No caso de dois machos, é tambem mantido o symbolismo dessa senha? Responde-me, Glaucão! Quem desempenha papel dominador? Sabes? Me vem tal duvida porque meu pé ninguem beijou, embora a ser bem grego venha!


INSPIRITISMO

TEACH ME MASTER [6339]

Me ensigna, vae, Glaucão, a ser mulher! Me ensigna a dar um beijo que tesão desperte, essa vontade de estar tão fogosa, fazer tudo o que puder! Me ensigna a ser saphada, num affair bem sadomasochista! Vae, Glaucão! Me ensigna! Não importa si paixão me tenhas! Te serei uma qualquer! Me Me Me Te

ensigna a ser teu sordido capacho! ensigna a te lamber a suja bota! ensigna a ser humilde, ser devota! peço! Supplicante é que me aggacho!

Não queres me ensignar? Sabes? Eu acho que és fracco de character, ja se nota! Me ensigna a ser mulher, ou tua quota te ensigno, ou te direi como ser macho!

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62 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO BAPTISTA CEPELLOS [6340]

Dest’outro plano quero demonstrar, Mattoso, tudo quanto ja soffri na Terra! P’ra caralho fui, ahi, a victima fatal dum puta azar! Mas nunca vou, Mattoso, comparar meu caso com você, que ja xixi bebeu, que comeu merda! Nunca vi masoca assim! Seu caso não tem par! Por isso ficou cego! Salutar exemplo dá você nesse planeta! A luz quem ver deseje, não se metta a ser seu seguidor! Não, nem pensar! Eu mesmo, que jamais em seu logar me puz, acho bem feito que um cegueta meresça ser quem tanto uma punheta me inspira, ainda, aqui no novo lar!


INSPIRITISMO

VACILLÃO [6341]

Você fica fallando que se exgotta de tanto versejar e dar recado explicito de escravo dedicado. Agora vae lamber a minha bota! Você jura ser docil, mas adopta postura vacillante, sem ter dado um brilho de verdade em meu calçado. Agora vae lamber a minha bota! Você reconhesceu sua derropta e fica a lamentar-se por cegado estar, mas sente medo si sou sado. Agora vae lamber a minha bota! Você escutou a Nancy, ja se nota, mas nunca excappará de ser pisado. Eu calço bota para que, saphado? É para pisar, Glauco! Lamba a bota!

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64 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO BASTOS TIGRE [6342]

Brinquei, Glauco, com esses themas tão vitaes e philosophicos, mas ja não brinco, pois minh’alma, leve, está em outra dimensão! Sim, dimensão! Repara no sonnetto! Olha, Glaucão! Eu fallo de pés nus! Isso te dá ensejos, não dá? Nota que dará ainda mais a luz, a da visão! Aqui, na dimensão onde estou bem, é tudo luminoso, tudo claro! Preferes tu, na treva, achar com faro canino os pés que cheiro forte teem? Ou queres vir commigo, para alem da Terra, aos ares deste mundo raro? Terás que decidir! Mas eu reparo que irás reencarnar ahi, porem!


INSPIRITISMO

AMEN DO ALEM [6343]

É o cego um ser vendado, que não passa de escravo, si for util para scenas de sadomasochismo, onde elle appenas trabalha, a remoer sua desgraça! Assim é que elle encarna, Glauco, a raça de todos que ahi pagam suas penas! Melhor considerar que te condemnas, na Terra, a só chupar quem te desfaça! Dahi ja me livrei! Estou agora num plano superior, bem mais ameno! Ainda purgarás o teu veneno em muitas outras vidas, Glaucão! Ora! Sim, ora! Vae chamar Nossa Senhora, São Pedro, São Thomé! Nem te condemno por teres feito versos de pequeno valor, o lado oral que pões p’ra fora!

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66 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO CRUZ E SOUZA [6344]

Sonnettos, os fiz muitos, sim, appós morrer ahi na Terra. Mas repara, Mattoso, que insisti nessa tão clara mensagem, nesta minha aberta voz! Ainda que da morte instante atroz não falte, encontrarás logo uma rara e bella dimensão, Mattoso, para livrar-te da cegueira, desses nós! A menos que prefiras retornar à Terra, aonde, cego, tu serás fiel às perversões que Satanaz te inspira! Queres sempre esse teu lar? Mas lembra-te! Terás que chafurdar no lodo onde pés sujos dum rapaz eterno ja affundaram! Ahi jaz a vida que desejas? Vaes pagar!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO CLAUDIO MANUEL DA COSTA [6345]

Compuz um epitaphio no formato exacto do sonnetto, Glauco, mas talvez sem ter descripto, dum rapaz que morre, a propria Morte, em tom exacto. Fallei de invejas, Glauco, pois constato que temos, nessa vida, linguas más. Fazemos o que, aqui, ninguem mais faz com nossos semelhantes, gatto ou ratto. Não somos superiores a nenhuma especie, nenhum genero, nem raça. Aqui ninguem admitte que se faça aos bichos mal nenhum. Só bem, em summa. Você, que é cego, vale que se assuma um bicho que, treinado na devassa cultura do sadismo, por cão passa. Aqui você melhor papel arrhuma.

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68 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO EMILIO DE MENEZES [6346]

Glaucão, ja viu você como é que o Chico transcreve Emilio? O gordo continua guloso, debochado, com a sua famosa verve em dia, verifico! Talvez esteja agora até mais rico, porem de immateriaes bens, pois na Lua, em Marte, em Venus, onde se situa depois da vida, a grana vale mico! O gordo continua a fallar bem da boa mesa, duma bebedeira, mas hoje recommenda a quem só queira taes gozos que se renda à voz do Alem! Você concorda? Achei que não, pois, sem visão, só lhe restou ficar à beira da mesa, a tactear tudo o que cheira gostoso, que sabor de carne tem!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO FRANCISCA JULIA [6347]

Ja commentaste, Glauco, um lindo della, fallando dum enterro, que transmitte das coisas materiaes tudo que incite a gente a meditar, emquanto vela. A morte tudo zera. A gente zela por posses transitorias. Quem habite um outro plano pode este convite fazer-nos, quando às almas vans appella: -- Exquesçam as riquezas materiaes! Valor nenhum tem uma moedinha de pratta nas espheras como a minha, aonde iremos todos nós, mortaes! Tu, Glauco, que visão ja não tens mais, talvez não tenhas mente tão mesquinha, mas battes ‘inda tua punhetinha por causa de maus cheiros corporaes!

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70 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO GILKA MACHADO [6348]

Em trevas (não as tuas) Gilka appella a Deus pelos prazeres desta vida ou doutras, pois a voz por dentro ouvida suggere encarnações e dor revela. Prazeres quaes? Desejos quaes tem ella? Paresce que da morte ella duvida! Paresce não estar bem convencida da nossa salvação, tão doce e bella! A ti, que te paresce, Glauco? Ficas em paz si vozes ouves de quem sinta a falta duma nona, duma quincta daquellas symphonias? Que me explicas? Riquezas financeiras são titicas num plano onde dinheiros não são trinta! Mas falta sentirás, não ha quem minta, das musicas, ao menos das mais ricas!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO GREGORIO DE MATTOS [6349]

{Gregorio um caso raro de oração deixou em vida, Glauco! Si voltasse, depois de morto, para a sua face mostrar, diria aquillo mesmo, ou não?} -- Eu acho que depende. Seu tesão ainda terá pela bella classe dos jogos de palavras. Isso nasce bem espontaneamente e vem à mão. Mas “emprestado estado” chama a vida e deixa aqui recado para ser pensado. Quem será que tem poder de emprestimos fazer? Cê que decida! Satan si for, nem mesmo um suicida excappa de pagar. Maior prazer tem elle no castigo, pois quer ver punido quem seus debitos liquida.

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72 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO HERMES FONTES [6350]

Dizer quer Hermes Fontes, ao voltar da morte, que viveu em soffrimento. Feliz ser procurou, e seu tormento resume-se na gloria secular. A duvida me surge, Glauco: olhar a fama como coisa de momento será conceituar direito? Tento ser frio nesse poncto singular. Você nem é famoso, mas se damna, soffrendo por egual! Qual o sentido? Quem celebre se torna tem soffrido o mesmo que soffreu o doidivana! É tudo soffrimento! O que attazana o pobre attinge o rico! Ora, decido então soffrer com grana! Mas fodido eu vivo, Glauco! Falta-me essa grana!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO JUDAS ISGOROGOTA [6351]

De Judas um sonnetto me impressiona por causa da agonia duma pobre mulher tuberculosa. Que se dobre a tosse faz, coitada, aquella dona. Mas della, que melhoras ambiciona sem chance de curar-se, é pouco nobre o caso, pois, da terra que lhe cobre, o fetido cadaver volta à tonna! Tornou-se, sim, zumbi! Quer se vingar daquelles que não deram attenção aos ultimos trejeitos duma mão que, supplice, quiz algo segurar! Preparem-se, pois! Breve, em algum lar, à porta batterá tal mão! Então, quem venha abrir terá a garganta tão unhada que morrer irá, sem ar!

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74 GLAUCO MATTOSO

CARAPUÇA [6352]

Si pela rua alguem gritar, bem alto, “Oi, corno!”, todo macho vae olhar. Tambem quando “Oi, veado!” outrem gritar, voltar-se vão os homens, eu resalto. Si eu grito “Oi, puta!”, treme sobre o salto a mulherada toda do logar. Paresce brincadeira! Quer tentar? Funcciona mais que um firme “Isto é um assalto!” Mas, quando você grita “Ai, coitadinho!”, ah, todos os bassês da vizinhança que estejam passeando olham quem lança aquella phrase grave em seu caminho! Eu proprio comprovei! Mesmo baixinho, si fallo “Coitadinho!” ja ballança as longas orelhonas ou a pança algum bassê, que empina seu focinho...


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO LUIZ GUIMARÃES JUNIOR [6353]

Será que la serei bem recebido? Será que meus amigos estarão la para me abbraçar, me dar a mão? Ou só com os extranhos eu collido? Preoccupa-me isso, Glauco! Faz sentido que, mortos, nós sintamos solidão! Ao menos os que morrem antes vão nos dar as boas vindas? Eu duvido! Luiz Guimarães Junior diz que sim, que somos recebidos com carinho, mas eu, que para a morte me encaminho, questiono-me: e si for outro o festim? Si for Satan quem olha para mim com olhos sorridentes e, excarninho, ordena-me que beije seu cuzinho? Glaucão, será que irei achar ruim?

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76 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO MANUEL BANDEIRA [6354]

Bandeira thematiza a dansarina em forma de epitaphio sonnettado. Seria peccadora, por ter dado prazer, com sua dansa, a tal menina? Glaucão, a these espirita me ensigna que aquella mulher deixa algum recado na Terra! Ja fallei: me persuado da culpa duma puta libertina! Tem ella que voltar, muito mais feia, aqui para sentir a rejeição de todos ante sua atroz feição! Percebes como a coisa se clareia? Bem sabes, porque és cego, que quem creia no fado facilmente da visão a falta comprehende! Mas eu não entendo que te venha della a veia!


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO MARTINS FONTES [6355]

Você ja reparou, Glauco, na luz que alguem exquesce accesa até de dia? Martins Fontes às luzes alludia, dizendo, destas, tudo o que suppuz. Que disse? (Tremedeira, até, Jesus, me dá!) Disse que a Morte nos vigia por meio dessas luzes! Que diria você? Que coisa disso ‘ocê deduz? Eu acho que não só na luz que fica accesa a Morte sempre nos expreita... Tambem nos cellulares de quem deita e deixa alli do lado... Isso se explica! Tambem computadores dão a dica si estão sempre ligados, Glaucão! Eita! Até me dá arrepio! Uma suspeita eu tenho: Satanaz se identifica!

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78 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO OLAVO BILAC [6356]

Tambem da Morte falla com expanto Bilac: a comparou com um phantasma! Quem é que não se expanta, que não pasma, à noite, meditando no seu cantho? E tu? Tambem meditas, Glauco? O manto nocturno nem percebes, não te orgasma os olhos a visão, mas algo plasma ainda a tua mente, tanto ou quanto! Terás phantasmagoricas visões? Dos livros que tu leste sahirão os seres que povoam teu tesão? Quaes seres, sem ser Milton ou Camões? Ja sei! De Satanaz aos pés te pões! Adoras o Diabo! Onde estarão os bardos que ja foram ao caixão? No limbo? Ou ja cumprindo outras missões?


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO DOM PEDRO II [6357]

Eu, sendo monarchista, sempre leio Dom Pedro, que, em exsilio, se lamenta até depois de morto. Nos noventa viveu elle em Paris e não mais veiu. Glaucão, posso dizer-te, sem receio de errar, que na republica quem tenta botar fé tem a mente ferrugenta! De termos bons governos não ha meio! Na Corte Imperial tudo tinha brilho! As lettras cultivadas eram, cara! Agora ninguem liga nada para quem faça, bem rhymado, um estribilho! Tu fazes teu sonnetto ou sonnettilho, mas quem te dá valor? Quem te compara ao Milton, ao Homero? Tua tara aggrada a Satanaz, e só, meu filho!

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80 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO RAYMUNDO CORREA [6358]

Raymundo sonnettiza ainda como em vida sonnettou, Glauco! Paresce aquelle que, de cyma, à Terra desce e nota a banda podre em cada pomo! Mas, Glauco, si me illudo, si não domo as minhas emoções (como si desse siquer para domal-as), uma prece não basta para “sapiens” ser um “homo”! Si fosse assim tão facil para nós mudarmos o destino, ora, minh’alma p’ra sempre viveria numa calma perfeita, sem os contras, só com prós! Comtudo, quando ouvimos, rouca, a voz de Lucifer, cahimos-lhe na palma da mão, para rhymar “calma” com “trauma”, “tesão” com “dor”, ou “anjo” com “algoz”...


INSPIRITISMO

PSYCHOGRAPHANDO RAUL DE LEONI [6359]

Leoni me impressiona, Glauco! Tem, bem sadico, um sonnetto, onde descreve o caso de dois homens, nada leve nem doce: appenas odio dahi vem! Mas, quando o leio, ja encontro um gajo preso conceito de fazermos o ser feito, de pagarmos

feliz no Alem, nesse breve que deve mal com bem!

Achei metamorphose demais para meu gosto, Glauco! Tudo se resume, na crença, num adviso de “Não fume!”, “Não beba!”, “Não odeie!”, “Evite a tara!” Terá compensação, de facto, o cara que esteja nesse plano, nesse cume astral? Bem faz você, que ja se assume satanico, ou que sadico se encara!

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82 GLAUCO MATTOSO

PSYCHOGRAPHANDO VINICIUS DE MORAES [6360]

Vinicius descreveu o morto gatto tal como o fim de tudo. Mas atheu foi elle! Não foi, Glauco? Se rendeu à these das esquerdas, eu constato. Atheu não fosse, tinha cheio pratto no gatto como thema, pensei eu. Em outra encarnação, o bicho seu papel transmittiria num relato. O gatto contaria ao poetinha que está muito melhor longe da Terra e, como voz de espirito não erra, diria que no céu não se engattinha. Nos ares todos voam! Só não tinha tal chance você, Glauco, que se ferra por causa da cegueira... Alguem lhe cerra as portas! Quem será? Quem adivinha?


INSPIRITISMO

ALEM DO AMEN [6361]

Alguem olha por mim, que ja não vejo com olhos desta Terra, mas presinto, em plena pandemia, por instincto vital, que me proteja no varejo. Alem da protecção astral, protejo meu corpo, para andar no labyrintho, no braço do parceiro por quem sinto amor, seja de espirito ou desejo. Do mundo dos espiritos Akira paresce-me enviado. Que seria dum cego nesta absurda pandemia na falta da alma gemea que me inspira? Ainda antes de estar, com minha lyra, na hora da afflictissima agonia, a Alguem eu aggradesço pelo guia que em vida me emprestou e não me tira.

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84 GLAUCO MATTOSO

DONDOCA DE MASOCA [6362]

No site elles exhibem à platéa a puta, que tem cara da Brunella. Mas, quando contractada ja foi, ella tem cara verdadeira: a da mocréa! Só para você, Glauco, ter idéa da cara da putana, que é magrella, se enfoque na caolha mais banguela possivel numa typica plebéa! Assim não dá, Glaucão, pois cobram caro! Quem uma puta paga ja não manda! As putas ja não fallam com voz branda e para nossos cheiros negam faro! Recusam-se a lamber! Acham amaro o gosto da piroca! Só lavanda exigem que fedamos! Ja desanda a foda! Eu, que sou sadico, me azaro!


INSPIRITISMO

PLENA DISCIPLINA [6363]

De julho o vinte e ao sadomasochismo, em cuja acceitação por ter explicação

quattro boa data Glaucão, é, eu boto fé brilhante e exacta!

Quem serve, em septe dias cumpre e accapta as ordens que recebe, sob o pé de quem tenha poder de ser até mais forte que Satan e que lhe batta! Alem de, na semana, todo dia servir, todas as horas servirá de cada dia. Ahi, pois, é que está a compta mathematica! Sabia? Glaucão, sem servidão o que seria de mestres e de escravos? Que será das bruxas sem Satan, sem o sabbath? Feliz foi essa astral chronologia!

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86 GLAUCO MATTOSO

TROCA-TROCA DE MASOCA [6364]

Seu Glauco, sou menino ja grandinho! Não posso ser chamado de creança! Mas, como o desaffio o senhor lança, confesso, sim, ter sido um coitadinho! A gente, nessa edade, em descaminho se mette e em fodelanças faz lambança! Topando o troca-troca, não se cansa de estar por baixo, às ordens dum vizinho! Me lembro dum vizinho que o senhor iria adorar! Era tão magrella, mas era tão mandão! Qualquer um fella alguem que se propõe dominador! Mas veja la! Não tente nem suppor que sou masoca agora! Da janella ao ver uma menina, na goela eu sonho o pau lhe pôr! Sou fodedor!


INSPIRITISMO

FUNESTA APPOSTA [6365]

Gabava-se de medo não ter, mas finou-se, Glauco! Feita foi a apposta. À noite elle, sozinho, ja se posta no gothico jazigo. O que elle traz? Só traz o cellular, com o qual faz remota connexão. A turma gosta, no bar, de commentar como elle emposta, de empafia, a voz precoce de rapaz. E ficam escutando, emquanto o cara reporta: “Aqui no tumulo, ninguem ainda assombrar veiu! Olhem, e nem virá, querem saber?” -- elle declara. De subito, um berreiro se excancara ao phone, que emmudesce! Ja não vem signal nenhum, Glaucão! Ja não se tem noticia delle! Ir la? Ninguem ousara!

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88 GLAUCO MATTOSO

SCENA AGUDA [6366]

Os mortos-vivos cercam um sobrado que está de adolescentes bem repleto. Entrar os zumbis querem, pelo tecto, porão, saguão, por tudo quanto é lado. Os jovens entram quasi que em estado de choque. Em desespero, vão directo aos quartos e se trancam. Me connecto com elles. Um passou-me este recado: {Seu Glauco, ja pedimos uma adjuda local, estadual ou federal e estamos agguardando... Um entrou! Mal entrou, ja devorou alguem! Accuda!} {Ouviu a gritaria? Agora muda ficou a scena... Agora cada qual comido foi... Restei eu, affinal...} E nada mais ouvi. Que scena aguda!


INSPIRITISMO

ULTIMA VONTADE [6367]

“Eu quero ser cremado! Quem não crema seus mortos os quer vivos no postmortem! Depois os familiares que supportem as vindas do zumbi! Que ninguem gema!” Assim o patriarcha seu dilemma expoz. Porem, por mais que nos exhortem, nós somos é teimosos. Se comfortem aquelles que fugiram do problema. Agora o zumbi ronda, toda sexta à noite, a residencia da familia. Ninguem na vizinhança mais se pilha na rua por alli. Ninguem é besta. Appenas os rapazes da seresta ja viram o zumbi, que dentes rilha e espuma pelo labio. O olho rebrilha, sem palpebra. “Me cremem ja!”, protesta.

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90 GLAUCO MATTOSO

TRAQUEJADA NADA [6368]

Seu Glauco, de menor eu era ainda nos annos em que puta me tornei! Mas, como o meu irmão era ja gay, me deu a maior força! Fui bemvinda! Agora de maior eu sou, e linda, me dizem! Sim, trepei e treparei até meu cu fazer bicco! Ja dei p’ra todo typo! O jogo nunca finda! Mas nunca amei um cego! O senhor ja amou alguma puta? Dezenove eu tenho! Si quizer que eu lhe comprove... Septenta, sim, é sexy e não gagá! Que pena! Ja não transa? Que será que eu posso fazer para que renove commigo o seu tesão? Quer que eu lhe sove a cara com o pé? Não, não... Não dá!


INSPIRITISMO

ENTROSAMENTO [6369]

Mattoso, minha filha virou puta! Não sei o que fazer! O senhor acha que eu devo lhe metter uma bollacha nas fuças? Devo usar a força bruta? Ou acha que ella mesma, que desfructa da grana que embolsou, sabe da taxa que cobra, si encaresce, si relaxa, emfim, si compensou, na vida, a lucta? Não, nunca a relação incestuosa foi, juro! Só chupei, nella, seu pé! Mattoso, precisava ver! Sim, é lindissimo o pezinho! Não é prosa! Então diz o senhor que jamais goza si for pé feminino, sem chulé? Mas isso ja passou de tara, até! Sim, chega a ser brochante! Não entrosa!

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92 GLAUCO MATTOSO

JUSTO FADO [6370]

Os seres portadores de defeito não podem egualdade pleitear, nem pena, nem respeito, Glauco! Olhar tal gente eu posso só si for dum jeito: Si servem aos normaes para proveito carnal e diversão! Nesse logar, sim, podem nos servir, mas sem chiar, sem nojo, sem dizer “Não me subjeito!” Eu mesmo, quando usei um alleijado ou cego, usei naquillo que normaes pessoas não se prestam, não, jamais a terem serventia ao meu aggrado! Só mesmo um cara assim é que eu degrado do jeito que prefiro olhar seus ais! No sadomasochismo são, sim, mais propicios ao abuso! Um justo fado!


INSPIRITISMO

ULTIMAS CONDOLENCIAS [6371]

Estava no velorio muita gente. Depois das dez, ainda havia quem chorasse por alli. Mas ja ninguem restava à meia-noite, excepto um ente... Querido, mas nem tanto. Tal parente brigou com o defuncto, lhe foi bem hostil em vida. Agora, triste, tem remorso. Quer rezar e mal se sente. De subito, Sentado no à volta do a raiva no

o cadaver se caixão, vira pescoço, até seu rosto. O

levanta. a cabeça que cresça outro se expanta.

De medo, quer fugir. Ai, Virgem Sancta! Olhae por um devoto que padesça! Mas, antes que dalli desapparesça, o morto o segurou pela garganta...

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94 GLAUCO MATTOSO

RIGIDEZ CADAVERICA [6372]

Necrophilo, um veado conseguira emprego bom no Medico Legal. Serviço burocratico, mas, mal as costas vira alguem, a bicha pira! Depressa, dos cadaveres retira o penis maiorzão, descommunal, que encontra! Tem buccal, até rectal proveito! Só chupando ja delira! Nem sempre leva aquillo para casa. Às vezes, uma rolla nem amputa, appenas saboreia. Da conducta ninguem desconfiou e nada vaza. Flagrado, certa feita, a cara em braza ficou-lhe. Quem flagrou foi uma puta, tambem, vejam, necrophila, a biruta! Segredo com segredo, a dois, se casa.


INSPIRITISMO

PATRÃO BAIXINHO [6373]

Mandou que eu descalçasse e que lambesse. Emquanto os pés suados eu lambia, ligou a um funccionario. Com voz fria, deu ordens e ralhou. Mau patrão, esse. Gostava de mandar. Seu interesse centrava-se em suppor podolatria nos proprios subalternos. Certo dia, chamou-me “estagiario”, quiz que eu lesse. Sim, quiz que eu lesse em braille em sua sola, que eu lesse com a lingua. Fiz aquillo conforme disse, para divertil-o. Depois quiz que eu lambesse cada bolla. Chupei-o devagar. Elle rebolla emquanto minha bocca fode, estylo “garganta profundissima”. Vacillo e, emfim, engulo tudo o que elle atola.

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96 GLAUCO MATTOSO

CRENÇA QUE COMPENSA [6374]

Ouvindo um barulhinho no porão, rezei, Glauco, rezei ao padroeiro. Mas nada addeantou. O que primeiro baixinho foi, virou um barulhão. Rezei, quando um phantasma fez clarão. Chamei Nossa Senhora. Aquelle cheiro de incenso senti. Nada mais certeiro. Agora fede enxofre a assombração. Ainda rezei quando no meu pé tocou o poltergeist endiabrado. Pedi para Jesus, mas o meu lado ninguem olhou. Perdi todinha a fé. Emfim, rezei a Lucifer. Pois é. Não vejo mais espiritos, coitado de mim. Mas peorou o resultado. Commigo o Demo mora, agora, até.


INSPIRITISMO

PODERES [6375]

Seu Glauco, ja cresci! Não acho mais que, embaixo desta cama, viveria um monstro que não posso ver de dia mas que, durante a noite, dá signaes! Não! Monstro não, senhor! Monstro jamais! Mas, em compensação, minha agonia agora vem de formas que eu não via e vejo, ja: são sobrenaturaes! Espiritos, phantasmas! O senhor duvida do que digo? Não? Que bom que crê tambem! Assim não fico com meu medo só: partilho o meu temor! Disseram que visões fazem suppor que eu seja sensitivo, que meu dom se explique... Mas eu vejo, escuto o som e nada de “poderes”: só terror!

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98 GLAUCO MATTOSO

CONFIDENCIA DA CONFISSÃO [6376]

Egrejas reabertas, outro dia tractei de confessar-me. Glauco, sabe que foi que perguntou (veja si cabe) o padre? Si pequei na pandemia! De tudo me indagou! Da putaria todinha: quem eu coma, quem enrabe, quem não, mas, de comer, caso me gabe, emfim, tudo onde entrou pornographia! Que chato, né, Glaucão? Padre insistente! Será porque eu fallei que, em quarentena, a gente incrementou aquella scena na qual maior tesão, lembrando, sente? Mas eu não confessei tudo! Somente aquillo que lembrei e que me antenna! Faltou reconhescer que tive pena de não foder alguem tambem doente!


INSPIRITISMO

SEPTENTÕES [6377]

Ouviste fallar, Glauco, do dictado que diz que pau de velho é lingua? Agora te conto o que o vovô poz para fora: dois palmos duma lingua de tarado! Na minha conna a rolla dum cunhado ja tinha entrado fundo! Ninguem chora por isso: só de gozo se estertora! Mas, Glauco, mais o velho olhou meu lado! Entrou com seu linguão tão fundo, tão gostoso, que suppuz ser uma cobra que estica, que colleia, que se dobra até quasi sahir pelo ladrão! Tambem, como o vovô, tu septentão estás! A julgar pela tua obra, tens lingua de dois palmos! Não te sobra um tempo para as connas, Glauco, não?

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100 GLAUCO MATTOSO

EXPANTA-PHANTASMA [6378]

Ai, Glauco! Hontem morreu o meu vizinho por causa da covid! Elle morava sozinho! Ja puzeram uma trava na porta! Até lavaram, la, tudinho! Mas ouço, la de dentro, um extranho! Um caso, Glauco, agora à noite! E então? Si ninguem no apê... Fiquei é

barulhinho que se aggrava não estava com medinho!

Glaucão, você que é bruxo, como faz si for assombração? O morador talvez ainda seja soffredor depois de morto, o pobre do rapaz! Ah, posso fazer isso? Sou capaz, é claro! Tá, Glaucão, mas e si for alguma alma penada? Ai, que pavor! Ah, basta affugentar tocando jazz?


INSPIRITISMO

QUEDA NOS INDICES [6379]

Não quero um macho ser noventa e nove e meio! Sou é cem por cento macho! Mulher eu faço mesmo de capacho! Que venha a que quizer que eu lhe comprove! E ja que no molhado sou quem chove, direi que sou um macho e meio! Eu acho que bichas levar devem esculacho, precisam é de alguem que as surre e sove! Eu ouço o Wilson Pickett, tá pensando o que, Glaucão? O soul é som de gente ligada na quebrada! Antigamente o povo obedescia ao meu commando! Mas hoje quem mais julga aqui no bando são ellas, as mulheres! Ninguem tente barral-as! Ellas mandam! Quem se sente menor sou eu: brochei, de vez em quando...

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102 GLAUCO MATTOSO

DAMAS DO CRIME [6380]

No crime, tribunal tem é juiza, agora, Glauco! Ouviu fallar da Dama? Na hora de attender a quem reclama, a Dama as punições não suaviza! Hem? Ouça a gravação de quem pesquisa e escuta as ordens della! A dama chama alguem ao cellular e, secca, trama a morte de quem numa bolla pisa: “Aquelle você fura com facão! Mas fura bem aos poucos, tá ligado? Tem mais é que sangrar! O resultado precisa demorar mesmo um tempão!” “Num outro dei o tiro numa mão, depois na perna, até que foi furado todinho! Penou muito, o desgraçado! No fim ‘inda na bocca dei pisão!”


INSPIRITISMO

REPTILIANOS [6381]

Glaucão, não é possivel que você não tenha ainda ouvido fallar nisso! Os taes reptilianos teem postiço perfil humano, cara de bebê! São hybridos! A gente nem os vê direito! São demonios e submisso um homem querem ter! Sem compromisso, um pappo ja levei com tal ET! Me disse que com elles sonha a gente! Trepamos nesse sonho! Nossa porra o Demo contamina! Quando corra vagina addentro, é magica a semente! Assim nos procreamos! Quem doente ficar, mulher ou homem, se soccorra com medicos, mas, vindos de Gomorrha, taes seres invenciveis são! Nem tente!

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104 GLAUCO MATTOSO

MIDNIGHT HOUR [6382]

Que nem o Wilson Pickett esperar eu vou a meia-noite, Glauco! Então vampiro virarei! Minha missão é transformar um outro no meu par! Preciso de seu sangue! Jugular é o poncto onde meu dente finco, o vão por onde sugo o liquido, Glaucão! Mas outro poncto quero resaltar! Aquelle que eu morder irá tambem virar vampiro! Sangue quererá sugar, e assim por deante! Você está sacando, Glauco? Ou não me explico bem? Não, Glauco! Vocação você não tem! Caralhos quer sugar! Assim não dá p’ra ser vampiro! O semen não será tão doce! Cada coisa que lhe vem!


INSPIRITISMO

COVIDICO [6383]

Emquanto uma viuva, ao fundo, chora sozinha, à cova desce seu marido. Mas, si ella se preoccupa, faz sentido. Phantasmas são covidicos, agora. À noite, ella não dorme. Cada hora que passa, augmenta a chance de que ouvido de novo seja aquelle egual grunhido ao rhoncho dum machão. Pobre senhora! Morrera agonizante elle, sem ar, queixando-se de corno ter virado. Phleugmatica, a mulher, alli do lado da cama, sem siquer amor jurar. Agora residir naquelle lar será quasi impossivel. Ja rosnado virou o tal grunhido. O corneado na certa vae gannir, ou mesmo uivar...

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106 GLAUCO MATTOSO

ALCATÉA PLEBÉA [6384]

Si dois milhões, Glaucão, soffreram della, nós temos, ao invés de lamentar, que examinar direito o patamar da praga, ponderando o que revela! Até vinte milhões seria bella comptagem, eu direi! Nenhum azar eu vejo, ouviu? Melhor é si chegar a cem milhões, duzentos, a parcella! Entende isso, Glaucão? Quanto mais gente pegar o virus, menos gente falta ficar doente! Em breve, vae ter alta o povo quasi todo, simplesmente! Alguns morreram? Porra, a gente sente! Mas resta a maior parte, é o que resalta! Teimoso, o ser humano, feito malta de lobos, sobrevive, é resistente!


INSPIRITISMO

POSTURA HONROSA [6385]

Jurei, Glauco, jurei que ficaria pellado na avenida, na Paulista, si visse de verdade, com a vista que tenho, uma alma afflicta na agonia! E boa visão tenho, não de dia, appenas, mas tambem quando despista, à noite, uma figura que se vista de dama sendo puta alli na via! Mas juro que vi, Glauco! Vi de facto aquella pavorosa assombração, que tanto commentaram, no portão do parque! Ella apparesce e entra no matto! Não, puta não será! Sinão, me macto! Só pode ser phantasma! Ahi, Glaucão, paguei a apposta! Andei, sim, pelladão! Até que rebollei! Honrei o pacto!

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108 GLAUCO MATTOSO

BEBÊS DIABOS [6386]

Espiritos satanicos, Glaucão, estão a vigiar nossa trepada! Do Demo não excappa, mesmo, nada! Vigiam nosso pau, nosso colhão! Sei disso porque, quando fellação practico num parceiro, vem salgada ou doce por demais sua golfada de porra! Taes indicios graves são! Indica, Glauco, o semen de sabor mudado que ja a porra do Cappeta à gosma mixturou-se! Quem punheta batter perceberá que muda a cor! O que isso significa? Ah, que quem for assim contaminado e na boceta pretenda ser quem, macho, o penis metta, será de Satanaz procreador!


SUMMARIO

FESCENNINA SABBATINA [6287]...................... 9 ESTELLARES ESTELLIONATARIOS [6288].............. 10 SUSCEPTIBILIDADES [6289]........................ 11 MIMOS [6290].................................... 12 DIABRETE [6291]................................. 13 DIABRURA [6292]................................. 14 VENDANDO, VEM DANDO [6293]...................... 15 HORROR DOMINADOR [6294]......................... 16 PAROXYSMO NO BONDAGISMO [6295].................. 17 FÉ REQUENTADA [6296]............................ 18 DESEMPODERADO [6297]............................ 19 MORRA QUEM MORRER [6298]........................ 20 BRANDED [6299].................................. 21 PASSEIO PUBLICO [6300].......................... 22 GENETIANO [6301]................................ 23 SELECTO DEJECTO [6302].......................... 24 LINDO CASO [6303]............................... 25 INCOGNITA EXCEPÇÃO [6304]....................... 26 PIEGAS ÀS CEGAS [6305].......................... 27 CHEIRO CASEIRO [6306]........................... 28 DIA DA PIZZA [6307]............................. 29 DESNUDEZ [6308]................................. 30 COLLEGA DE COLLA [6309]......................... 31 TRASGO [6310]................................... 32


PATERNIDADE [6311].............................. 33 POSTHUMO [6312]................................. 34 PUNHETA LISBOETA [6313]......................... 35 ARES CAVALLARES [6314].......................... 36 DOSIMETRIA [6315]............................... 37 ROUQUIDÃO [6316]................................ 38 PAPPO POLIDO [6317]............................. 39 NOVO TERROR [6318].............................. 40 CORONAVIVOS [6319].............................. 41 MALDICTA VISITA [6320].......................... 42 ADJUDA MEHUDA [6321]............................ 43 ZUMBIZAGEM [6322]............................... 44 PSYCHOGRAPHANDO ALBERTO DE OLIVEIRA [6323]...... 45 INCONCEBIVEL [6324]............................. 46 PSYCHOGRAPHANDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS [6325].. 47 PSYCHOGRAPHANDO ANTONIO TORRES [6326]........... 48 CORONANISMO [6327].............................. 49 QUESTÃO DE EDADE [6328]......................... 50 PSYCHOGRAPHANDO ARTHUR AZEVEDO [6329]........... 51 PSYCHOGRAPHANDO AUGUSTO DOS ANJOS [6330]........ 52 EDUCAÇÃO REMOTA [6331].......................... 53 PSYCHOGRAPHANDO AUTA DE SOUZA [6332]............ 54 PSYCHOGRAPHANDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [6333]......................... 55 JULHO VERDE [6334].............................. 56 PSYCHOGRAPHANDO ALVARES DE AZEVEDO [6335]....... 57 PSYCHOGRAPHANDO AMADEU AMARAL [6336]............ 58 NATURALIDADE [6337]............................. 59


CONSENSO [6338]................................. 60 TEACH ME MASTER [6339].......................... 61 PSYCHOGRAPHANDO BAPTISTA CEPELLOS [6340]........ 62 VACILLÃO [6341]................................. 63 PSYCHOGRAPHANDO BASTOS TIGRE [6342]............. 64 AMEN DO ALEM [6343]............................. 65 PSYCHOGRAPHANDO CRUZ E SOUZA [6344]............. 66 PSYCHOGRAPHANDO CLAUDIO MANUEL DA COSTA [6345].. 67 PSYCHOGRAPHANDO EMILIO DE MENEZES [6346]........ 68 PSYCHOGRAPHANDO FRANCISCA JULIA [6347].......... 69 PSYCHOGRAPHANDO GILKA MACHADO [6348]............ 70 PSYCHOGRAPHANDO GREGORIO DE MATTOS [6349]....... 71 PSYCHOGRAPHANDO HERMES FONTES [6350]............ 72 PSYCHOGRAPHANDO JUDAS ISGOROGOTA [6351]......... 73 CARAPUÇA [6352]................................. 74 PSYCHOGRAPHANDO LUIZ GUIMARÃES JUNIOR [6353].... 75 PSYCHOGRAPHANDO MANUEL BANDEIRA [6354].......... 76 PSYCHOGRAPHANDO MARTINS FONTES [6355]........... 77 PSYCHOGRAPHANDO OLAVO BILAC [6356].............. 78 PSYCHOGRAPHANDO DOM PEDRO II [6357]............. 79 PSYCHOGRAPHANDO RAYMUNDO CORREA [6358].......... 80 PSYCHOGRAPHANDO RAUL DE LEONI [6359]............ 81 PSYCHOGRAPHANDO VINICIUS DE MORAES [6360]....... 82 ALEM DO AMEN [6361]............................. 83 DONDOCA DE MASOCA [6362]........................ 84 PLENA DISCIPLINA [6363]......................... 85 TROCA-TROCA DE MASOCA [6364].................... 86 FUNESTA APPOSTA [6365].......................... 87


SCENA AGUDA [6366].............................. 88 ULTIMA VONTADE [6367]........................... 89 TRAQUEJADA NADA [6368].......................... 90 ENTROSAMENTO [6369]............................. 91 JUSTO FADO [6370]............................... 92 ULTIMAS CONDOLENCIAS [6371]..................... 93 RIGIDEZ CADAVERICA [6372]....................... 94 PATRÃO BAIXINHO [6373].......................... 95 CRENÇA QUE COMPENSA [6374]...................... 96 PODERES [6375].................................. 97 CONFIDENCIA DA CONFISSÃO [6376]................. 98 SEPTENTÕES [6377]............................... 99 EXPANTA-PHANTASMA [6378]....................... 100 QUEDA NOS INDICES [6379]....................... 101 DAMAS DO CRIME [6380].......................... 102 REPTILIANOS [6381]............................. 103 MIDNIGHT HOUR [6382]........................... 104 COVIDICO [6383]................................ 105 ALCATÉA PLEBÉA [6384].......................... 106 POSTURA HONROSA [6385]......................... 107



SĂŁo Paulo Casa de Ferreiro 2020




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