LIVRO DE RECLAMAÇÕES

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LIVRO DE RECLAMAÇÕES



GlLAUCO MAT TOSOo

LIVRO DE RECLAMACOES

São Paulo Casa de Ferreiro 2020


Livro de reclamções Glauco Mattoso © Glauco Mattoso, 2020 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros _______________________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________________________________________

Mattoso, Glauco

LIVRO DE RECLAMAÇÕES/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2020 1116p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA

Sequencia natural das collectaneas CEM NOVIDADES, VICIO DE OFFICIO e MOLYSMOPHOBIA, este volume tambem collige uma centena de dissonnettos, termo que baptiza a variante sonnettistica estrophada em quattro quartettos. Todos os poemas foram compostos entre abril e maio de 2020, sob o impacto da pandemia ja thematizada em MOLYSMOPHOBIA, mas o contehudo não se limita a reflexões apocalypticas e abborda as mesmas questões “deshumanisticas” e “pornosianas” recorrentes na obra do poeta cego, que ja somma seis milhares, entre sonnettos e dissonnettos. Differentemente dos poemas de INFINITILHOS EXCOLHIDOS e de outros dissonnettos, nos quaes o “eu lyrico” dialoga abertamente com uma segunda “voz poetica”, os dissonnettos deste LIVRO DE RECLAMAÇÕES são frequentemente attribuidos a diversas “personas” que interpellam o auctor, cuja resposta fica meramente implicita nas palavras de cada “interlocutor”.



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KOSMICOS PÓS [6087]

Lembrar-te deves, homem, de que és pó e ao pó retornarás! Pensando bem, tu sempre foste pó, ja que ninguem siquer deixou de sel-o! Pensa só! Pó foi a tua mãe, a tua avó. Teus filhos pó serão, nettos tambem. Portanto, si noção ja todos teem, tractar-te doradvante vou sem dó! Irás lamber, humilde e rastejante, minusculas particulas, ao lado de grossos grãos de terra, no solado sulcado de xadrez do meu pisante! Saliva vae faltar-te, pois bastante chão sujo tu terás saboreado com essa lingua! Tenho mais pisado na lama do que em pó: sou trafficante.

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DISSONNETTO DESCHULEZADO [6088]

Não, Glauco! Não será porque estou nessa maldicta quarentena, que ficar irei tão chulepento, que meu par de meias federá na casa à bessa! Não, Glauco! Eu hygienico sou! Peça que eu guarde meu pisante que cheirar mais forte e, sem laval-o, com tal ar lhe faça bom presente dessa peça! Ahi você verá, digo, no cheiro terá certa noção de como tenho limpinhos os meus pés e que nem beiro o fetido padrão de punk engenho! Mas, caso o seu olfacto, tão certeiro, de longe desmentir o meu ferrenho empenho por asseio, ahi, parceiro, meu tennis fedidão a dar-lhe venho!


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DISSONNETTO DESCHULIZADO [6089]

Alguem ja me propoz: “Glauco, talvez lhe fosse favoravel um volume selecto de poemas onde fez você certo tributo ao bom costume...” Refere-se esse amigo ao bom burguez que curte, embora beba, jogue e fume, auctores que, no verso portuguez, evitam o calão. Terei mais lume? Bem, fossem pesquisar, sem palavrões, em tantos dissonnettos que ja fiz, veriam que, em centenas, fui feliz sem uso fazer dessas expressões. Portanto, respondi-lhe: Mil perdões eu peço ao meu leitor que sempre quiz me ver de bocca suja, mas sem vis vocabulos tambem sigo um Camões.

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FINO CONFINAMENTO [6090]

A pelle empipocou. Nervoso passa a velha dama chique, tempo faz, trancada na mansão. Nenhum rapaz, daquelles de programma, mais a abbraça. Allergica? Talvez. Assim de graça não pincta tanta bolha, algo que traz immenso malestar. Ja nem tem gaz, de tanto se coçar, essa devassa. Não, antes differente foi. Pagava bem para que michês mostrassem ora carinho, ora carão com a senhora às vezes fina, às vezes torpe escrava. Depois de estar soffrendo dessa brava coceira, a baroneza appenas ora, pedindo piedade. Em boa hora será attendida: a cova alguem lhe cava.


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LITORGIA [6091]

Faz tempo que não fallo com a bruxa. Agora a pego, calma, bem de jeito. Pergunto o que, commigo, ja suspeito. E a missa negra? A velha desembucha: {Ah, Glauco! Cê ja sabe disso, puxa! A gente colla a bocca alli, direito nas pregas. Passa a lingua, num effeito de lixa. Sim, de esponja. Até de bucha. Descrevo um movimento circular lingual. Algum volume está adherido às dobras. Que engolir eu nem duvido si tenho. Satan deixa sem limpar. As outras tambem querem o logar. Então eu cedo. Fico vendo. O ouvido sons capta, borbulhantes. Tá servido, Glauquinho? Faltou coisa a perguntar?}

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MEME DO BICCO LARGO [6092]

Barulho que moedas fazem. Isso me irrita. Mais ainda a canequinha do cego. Elle a chacoalha, me apporrinha e faz com que eu me torne irritadiço. Mas eu desforro, porra! Si me ouriço, eu chuto esse caneco! Ora, adivinha a cara do ceguinho, que ja tinha junctado tanto! Presto um desserviço? Magina! Acho bem feito! Quem mandou o cego me irritar? Um ponctapé e voa a canequinha! Ah, mas não é gozado? Dou meu troco ou não lhe dou? Precisa ver! Filmaram o meu show! A bota attinge em cheio! Pega até na cara do coitado! Seu bonné tambem cahiu! Riu muito quem filmou!


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MEMORIAS DO CARCERE [6093]

Lamber o chão? Fazer alguem usar a lingua nessa sordida funcção? No Orkut era commum alguem, na mão de sadicos, passar por tal azar. Nas redes é possivel encontrar imagens em que todo um sujo chão terá que ser lambido. Risos são ouvidos. As prisões são bom logar. Na nossa dictadura, diz Gabeira, assim se torturou. O preso tinha que limpo deixar onde se caminha com botas militares. Ha quem queira? Às vezes algemado, de colleira em volta do pescoço, foi a minha lembrança que excitou a punhetinha: Nas botas se lambeu, tambem, sujeira.

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MATTOSALEM [6094]

Disseram-me que muito viverei por ser considerado bruxo, mas ter mais longevidade não me faz nem principe dos lyricos, nem rei. Não sei si vou viver muito. Só sei que eterno compromisso o verso traz si for o nosso thema a Satanaz entregue e si seguirmos sua lei. Até que thematizo o Demo, sim, mas não com toda aquella gravidade. Por isso é que elle sempre persuade a bruxa ao “beijo negro”, não a mim. Provei, sim, seu chulé. Nem tão ruim achei, pois, affinal, sou fan de Sade. Mas, para alguem tão velho, Satan ha de convir que menos fede que um pé “teen”.


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SATYRESIAS [6095]

Facillima se faça a prophecia na bocca do ceguinho que propheta se torna si tambem for bom poeta. Componha pessimista a poesia! Si for hoje à de hontem bem facil o a mesma dor

peor nossa agonia comparada, se interpreta porvir: mais nos affecta um dia appós um dia.

Si fosse exactamente a mesma dor, nos accostumariamos ao mal. Da proxima vez, nunca a dor egual será, porem mais forte, é de suppor. Sinão, não tinha graça! Assim, si for auctor dalgum oraculo fatal, você exaggere muito o mau signal, ou não será das trevas portador.


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MEME DO ABRIL AZUL [6096]

Sabia, Glauco? Tenho, ó meu, tamanha repulsa da cegueira, que você nem pode imaginar! Até bebê ceguinho me dá raiva si faz manha! Sim, dou cacete em cego! O caso ganha contornos de comedia! Nada vê, mas age elle tal como si lhe dê vontade de dansar! Então, appanha! É como um João Bobo numa pista de dansa, feito um pendulo! Lhe batto, mas elle foge e volta ao meu contacto, querendo, na porrada, que eu insista! Só pode ser um cego masochista, Glaucão! Que nem você, que meu sapato adora lamber! Cegos, eu constato, são mixto dum tapete e dum... autista!


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MEME DO MAIO AMARELLO [6097]

Adoro provocar um accidente de transito, Glaucão! Quando, no Orkut, havia aquelles themas, Belzebuth nos dava as instrucções, a sangue quente! A gente attropelava, cara! A gente passava no signal! Mas quem dispute um racha ja não ha! Só se discute questão de “segurança”! Ha quem aguente? Um rico molecote, no volante, podia attropelar uma velhinha, um cego que cruzasse, em verde, a linha! Que sarro! Que tesão! Eu ri bastante! Em taes “communidades” foi, durante um tempo, uma delicia! A gente tinha total commodidade! Você minha vontade entende, certo? Não se expante!

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HASHTAG EU SOU DA LYRA [6098]

Si tantas as mulheres são que para si querem femininos termos, meu amigo Glauco, quero tambem eu ser uma “poetiza”, bem à clara! Até quem “presidenta” se declara exsiste! Quem “gerenta” não temeu chamar-se? Hem? “Estudanta” ja valeu usar, tambem! De pau não falta cara! Então! Si exsiste genero p’ra tudo, não quero ser “poeta” si mulher eu sou, Glauco! Serei ja, si quizer, a “barda”, a “menestrela”! Me desnudo! Hem? Tenho ou não razão? Sim, eu me escudo na lingua portugueza! Sim, qualquer confrade reconhesce, no mester poetico, quem peito tem grahudo!


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CRITICAS E SUGGESTÕES [6099]

Que merda, Glauco! Sempre que critico alguem, eis a resposta que me dão: “Você me censurou, mas você não devia assim metter no caso o bicco!” “Podia constructivo ser, mais rico de idéas, suggestivo, o seu sinão!” Mas, Glauco, si eu fizesse suggestão qualquer, iam dizer que mal me explico! Devemos criticar, sim! Você, não, é logico, pois, cego, não vê nada, não pode indicar cada coisa errada! Mas eu, que vejo, tenho opinião! Hem, Glauco? Não concorda? Bem, questão nem faço de saber si desaggrada a um cego o que fallei, porra! Me enfada ficar lhe perguntando! Ouviu, Glaucão?

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GENUINA DISCIPLINA [6100]

Bons tempos, Glauco, quando se podia punir com castração e com cegueira alguem que, na segunda, até primeira vez, tenha demonstrado rebeldia! Depois de cego, fica a autonomia do gajo reduzida a verdadeira prisão sem grade. Mesmo que elle queira fugir, não pode, noite sendo, ou dia. Você bem sabe, Glauco. Um prisioneiro cegado obedescer vae, sem direito a queixa, ao carcereiro. Me deleito com isso. Do que rolla bem me inteiro. É pena que não rolle em brazileiro presidio, mas, emfim, acho bem feito. Você não vae dizer que é preconceito, não é? Não fosse, Glauco, um punheteiro!


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HASHTAG INSPIRA CUIDADOS [6101]

Emquanto o dictador mais arrogante e sadico se interna, victimado por serio peripaque, está do lado do leito um corpo clinico constante. Paresce inconsciente. É preoccupante seu caso. Um enfermeiro o resultado confere dos exames. Revoltado se sente mas, discreto, se garante. Alguem que elle conhesce morto fora por ordem do tyranno. De repente, não ha mais gente juncto no ambiente, que rende, emfim, a chance temptadora. Sem tempo perder, nota que fedor a gorducha sola solta. Passa, rente aos dedos, sua lingua, que então sente um gosto de esperança promissora.

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QUEIXAS E RECLAMAÇÕES [6102]

Alô! Seu Glauco? É Martha, mãe do Orpheu! Aqui tudo legal! Tudo, obrigada! Ahi tambem? Sim? Optimo! De nada! Mas sabe o que é, seu Glauco? Orpheu morreu... Sim, ‘tava ja velhinho, sim, mas eu concordo c’o senhor. A cachorrada nos dá tanta alegria, né? Sim, cada bassê na nossa vida muita deu... Mas elle reclamava, pois agora não dava p’ra sahir! Elle sentia, sim, falta do senhor, que todo dia lhe dava alguma coisa... A gente chora... Não chore, não, seu Glauco! Orpheu embora ja foi, mas ‘inda tenho uma alegria! Chegou a nova filha! Sim, Sophia, bassê tambem! A gente commemora!


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PANDEMONIACA PANDEMIA [6103]

Em tudo o pandemonio ja se enfia. A vida até faz pausa, mas a penna não pode entrar em greve, em quarentena, nem pede demissão da poesia. Peor é quando o verso nos vicia a poncto de servir como uma antenna a tudo de imprudente que condemna a norma do pudor e da asepsia. Emquanto todos lavam bem a mão, se exquescem de lavar melhor o pé, que das preoccupações normaes não é motivo nem lembrança ao cidadão. Appenas ao ceguinho os chulés são ainda citações dignas de fé. Quem sabe, na punheta, alguem até se lembra de testar outro tesão...

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FODIDO E BEM PAGO [6104]

Por que você me pede que lhe explique as causas evidentes para a gente gozar um governante incompetente? Você entendeu? Então não sacrifique! Por que me questionou o gaz e o pique si sabe que um ceguinho puto sente tesão fazendo meme irreverente? Você entendeu? Então não sacrifique! Si quando satyrizo dama chique, cacique nu, politico que mente, dar nomes for, leitor ha que me aguente? Você entendeu? Então não sacrifique! Porem, si eu lhe pedir que justifique os fins por feios meios e consente você, no cu tomar va, simplesmente! Você entendeu? Então que se fornique!


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FODIDO E BEM LIDO [6105]

Alguem tem que ser cego, tem alguem que ser esse fodido nesta vida. Cegueira foi desgraça decidida de cyma, pelos deuses, vem do Alem. Alguem tem que ficar cego, mas nem por sonho serei eu. Ha quem decida cegar-se? Não, jamais! Um suicida faria bem melhor, pensando bem. Por isso me divirto com você, que sem visão ficou e me deleita no livro que estou lendo. Certa feita, sonhei que cegaria alguem que vê. Quiz muito ter a chance, mas cadê que posso me vingar de quem desfeita me fez? Então a gente se approveita dum cego que é poeta. A gente o lê.

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MEME DA LINGUA MORDIDA [6106]

Você fallou, Glaucão, que si eu tivesse razão você lambia a minha bota! Você me poz em duvida, chacota fez, como si de tudo ja soubesse! Mas Deus não attendeu à sua prece: cegou sua visão! Sim, quem arrocta palpite quebra a cara! Sua quota levou, se invalidou! Bem que meresce! Agora viu você quem tem razão! Pagou por sua lingua palpiteira! Pagar vae mais: alem dessa cegueira, vae ter que me lamber o burzegão! Eu vou me divertir! Comece, então! Comece salivando na biqueira! Depois va para a sola, mas não queira parar logo: prolongue meu tesão!


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MEME DA INJECÇÃO [6107]

Mas elle fallou! Elle é presidente! Aquillo que fallou elle garante! Fallou o que é melhor: desinfectante! Nem chloroquina serve: é caso urgente! Um medico negou? Pois esse mente! Quem sabe é o presidente! Elle é bastante sabido, não sabia? Doradvante eu acho uma injecção sufficiente! Não sabe, dona, como fazer? Ora, qualquer desinfectante! De privada, de chão, de rallo! Vale tudo ou nada mais pode valer contra a praga, agora! Porem, si não servir, minha senhora, ao menos seu cadaver será cada vez menos podre! Quanto mais piccada, maior a protecção de quem a chora!

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LICENÇA POETICA [6108] (para Danilo Dunas) Não, Mestre! Estás errado! Faz favor! As coisas não rollaram nessas datas! Chequei na Wikipedia! Tu retractas eventos duvidosos, trovador! Magina! Acceitar lendas? Só si for! Tu fallas numa praga de barattas, em monstros, lobishomens que, nas mattas, expalham entre todos o terror! Si formos percorrer esse caminho, nenhuma fonte serve mais, poeta! Só falta tu dizeres que Pateta exsiste, Pernalonga, Gasparzinho... Me mandas, menestrel, catar coquinho? Não percas teu humor! Sei que incorrecta foi tua citação, mas nada affecta o nosso colleguismo, o meu carinho!


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VAZIA PROPHECIA [6109]

Preciso dum conselho seu, querido! Estou preoccupadissimo com essa noticia de que a Atlantida attravessa a sua maior crise! Faz sentido? A Atlantida affundar vae? Eu duvido! Boatos ouço, Glauco, agora à bessa! Fallei com Orichalco, que promessa me fez de desmentir tal allarido! Tambem Timeu me disse que isso é lenda! Não vamos affundar, coisa nenhuma! Mas caso você, Glauco, algo presuma, me diga! Versões falsas não defenda! O reino durará? Na minha agenda só faltam dez millennios para alguma catastrophe! Entrementes, se accostuma a gente? Que você me recommenda?

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MEME DA MANIPULAÇÃO [6110]

Que porra de remedio vão agora dizer que faz effeito, Glauco? Urina na veia? Chlorophylla? Caffeina? Cebolla? Alho? Hortelan? Nossa Senhora! Ouvi que nicotina alguem de fora está recommendando! Se examina a possibilidade de que, fina, até certa farinha revigora! Por mim, pode tomar o que bem queira o povo mais humilde, que se informa tão mal e porcamente dessa norma pandemica! Paresce brincadeira! Não acha que tal panico ja beira um caso de nonsense? Dessa forma, melhor papel faria quem performa um medico vendendo ovo na feira!


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MEME DA BALLADA [6111]

“É na sola da bota”, a gente escuta. “É na palma da mão”, diz a canção dansante e sertaneja que o sallão anima. Ahi que um sadico desfructa. Si vale a bofetada para a puta, tambem vale ao escravo que, no chão, rasteja sob a bota do peão que um riso põe na cara, pisa e chuta. Questão será de como se interpreta a palma, a sola, a sadica risada. Ao sadomasochista não ha nada melhor que desviar da dansa a setta. Apponcte para a cara de pateta do servo ou duma puta a quem se brada: “De quattro! Rastejando!” Vez mais cada assanha-se este aqui, que se punheta.

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REGIME DISCIPLINAR DIFFERENCIADO [6112]

Até que se produza a tal vaccina, sahir da quarentena todos vão, excepto um sessentão ou septentão que, embora são, em casa se confina. Coitados dos edosos! Determina, em nome da sciencia, a norma, tão despotica, tão drastica, que não irão sahir! Que inepta medicina! Vaccinas levam annos para, em massa, livrarem do perigo os velhos. Antes, os jovens estarão, exfuziantes, sahindo, na vidinha achando graça. Vovôs irão pensar: “Não ha quem faça que eu fique aqui sozinho! Meus restantes domingos passarei sem visitantes? Melhor, então, morrer alli na praça!”


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FAKEPEDIA [6113]

Checada a Wikipedia, a razão dista dum dia mundial do livro, ja que tal coincidencia aqui nem ha com Shakespeare e Cervantes que resista. São datas que divergem? Não insista o burro consulente! Quem dará as ultimas palavras? Quem está errado? Qual palpite mais despista? Não é que elle exsistiu ou não exsista. O caso é que precisam exsistir rejuvenescimento de elixir, as magicas poções, e toda a lista. Vampiros, lobishomens, a sarrista figura de Satan, ou dum fakir em pregos pondo os bagos, a sorrir. Quem isso mais suppõe perdeu a vista.

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PHOTONOMASTICO [6114]

Luzia foi a sancta que perdeu os olhos para a sanha do romano. Tambem posso de Lucia, sem enganno, chamal-a, mas christão nunca fui eu. Não quero suggerir que seja atheu, nem, quanto aos céus, que a Lucifer me irmano. Appenas constatei que, si meu damno na vista me deu nome, esse rendeu. Não sou Glauco Mattoso, pois, à toa. Mas, por coincidencia, quem me adjuda postando meus archivos na grahuda estante virtual, tem visão boa. Por isso tem de Lucio tal pessoa o nome. Quem meu caso grave estuda concorda, crendo em Juppiter ou Buddha, que Lucio um som de luzes bem echoa.


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VIRUS VINGADOR [6115]

Emquanto, Glauco, um baile funk está rollando solto, como si nenhum contagio houvesse, penso no bebum, no joven drogaddicto, nessa pa... De dó pensa que eu morro, Glauco? Bah! Com esse povo nada, que em commum eu tenha, alguem encontra! Solto um pum, bananas dou e mando que elle va... Se junctam? Agglomeram-se? Que bom! Assim se contaminam mais depressa! Mais rapido morrer vão elles dessa virose, que é peor que aquelle som! Comtanto que eu não fique tambem com o virus, Glauco, faço uma promessa: Bem alto não rirei! Vou rir à bessa, mas quieto, aqui debaixo do edredom...

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SENSIVEL DESNIVEL [6116]

Você me criticou porque eu sorri? Tem gente, ja, a morrer que nem formiga? Que quer, meu caro Glauco, que eu lhe diga? Direi, então, appenas: E dahi? Emquanto cago ou faço o meu xixi, eu penso: tanta gente minha amiga nem é! Não sou do typo que se liga nos outros, nos extranhos! E dahi? Hem, Glauco? Lhe incommoda si eu sorrio? Mas, sendo um masochista, cê devia até commigo sua phantasia erotica ter, como eu desconfio! Caralho! Que foi isso? Um calafrio senti, Glauco, nas costas! Que seria? Dos mortos será mesmo que energia emana? Ah, mas que pappo doentio!


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NOVO NORMAL [6117]

Depois da pandemia, será como a nossa roptininha, Glauco? Tão normal quanto possivel? Ou ja não mais pode ser normal nem o que eu como? A mascara que, em tempos de rei Momo, usada foi por pura diversão, agora à força todos usarão? E quanto aos meus desejos? Como os domo? Terei que namorar só pela tela? Poder só vou trepar virtualmente? Churrascos não darei a tanta gente amiga? Nem irei mais à cappella? Não, Glauco! Bem peor se me revela a coisa! Mais até do que carente, serei um miseravel cujo dente mal morde, cariado, uma costella!

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BANDIDO MASCARADO [6118]

Sabia? Antigamente, si eu peidasse assim que nem eu peido, tão fedido, seria até xingado de bandido, teria que fingir risonha face! Pois é! No elevador, só quem tem classe não peida: se segura, constrangido! Mas nunca me seguro! Si decido peidar, eu peido, e prompto! Sem impasse! Proteja quem quizer a sua fuça, fallei aqui commigo, Glauco! Nem suppuz que mais bandido será quem, agora, face a face, expirre e tussa! Não seja, não, por isso! Sei tambem tossir! Sim, sei vestir a carapuça do lobo mascarado! Ficou ruça a scena, Glauco! Ouriça mais, porem!


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MICHETAGEM SEM IMAGEM [6119]

“Um cego entre inimigos...” Ja lhe disse alguem tal phrase, Glauco? Claro, né? Por SEM OLHOS EM GAZA tambem fé meresce um Aldous Huxley na mesmice. Hem? Pode-se esperar que alguem não risse dos medos dum cegado? Vão até rir delle caso um carro marcha à ré dê para assustar, para que se attice! Cachorros ja attiçaram em você, Glaucão? Ja lhe jogaram pedra, meu? Alguma coisa assim, ah, tambem eu queria lhe fazer, logo que dê! Mas, como perspectiva não se vê da volta à normal scena, você deu é sorte! Nem bancar o philisteu eu posso! Só por phone sou michê!

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HASHTAG VAE DAR TUDO CERTO [6120]

Ainda bem, Glaucão, que ficou cego! Em video nem precisa que eu convide você para assistir ao que a Covid provoca! De dizer-lhe me encarrego! Peor que ebola, dengue, si isso eu pego, me inflammo, Glauco! O virus nos aggride a todos, pelos ares! Quem decide não é mosquito, ou sexo, ou sujo prego! Qual tetano! Qual syphilis! Um ar qualquer si respirar, eu ja me fodo! O virus vae chegar ao corpo todo, do cerebro ou pulmão ao calcanhar! Desgraça quer maior? Quem se mactar ao menos abbrevia! Vae a rodo a gente se mactar, Glauco! Um engodo dizer que quem pegou vae se curar!


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FARINHA DO MESMO SACCO [6121]

O numero, olhe, Glauco, do sapato do Collor é quarenta e trez e meio. Bem, era, quando a ser eleito veiu. Ja pode ser maior, é o que constato. Está mais gordo, Glauco! Si pé chato tem elle, isso não sei. Eu acho feio ficar especulando, Glauco! Odeio fallar só do pé desses com mandato! “Aquillo roxo” tinha Collor, mas cannella Bolsonaro tem é fina! Será que com colhões isso combina? É thema quente para as linguas más... Não acho, não, Glaucão, que tanto faz! Detesto especular! Si elle termina ou não o seu mandato, com vaccina ou sem, quem vae dizer é Satanaz!

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HASHTAG VAMOS DANSAR [6122]

Estamos é fodidos! Um maldicto ja disse “E dahi?” para a freguezia que morre de montão na pandemia! Nós vamos nos foder, mesmo, bonito! Fodamo-nos, então, Glauco! Nem cito você, que tem fallado todo dia na merda! Cito toda a allegoria sagrada, apocalyptica! Haja mytho! Cocô somos! Cocô comamos, ora! De merda toda a Terra, dentro em breve, será feita! De fome fará greve quem merda não tragar, urina affora! Sim, mijo beberemos! Mas agora, emquanto tal destino não se escreve, podiamos dansar, Glauco! Sim, deve ser quasi meia-noite! Está na hora!


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FOFOCA DE MASOCA [6123]

Deixaram-me na salla. Foram para o quarto os dois, o mano com a minha menina desejada, que eu não tinha ainda nem beijado, cara a cara! Notei que, no tapete, ella deixara as botas. Mas soffrida punhetinha batti sentindo o cheiro de morrinha nos tennis que o moleque descalçara! Ah, Glauco! Que chulé forte, salgado! Soffri, claro, Glaucão! Foi humilhante, eu sei, mas accontesce que, durante o gozo, os dois gemiam bem ao lado! Tambem gemi, baixinho, revoltado com essa trahição da minha amante platonica, babando no pisante do cara! Ao odial-o, me degrado!

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HASHTAG TAMO JUNCTO [6124]

Você que va tomar, Glauco, no cu! Não ha quem, na cegueira, lhe soccorra a vida, desgraçado! Caso morra, ninguem vae se importar! Fallo bem cru! Não fosse, em de encontros, seria! De tão iria mastigar

quarentena, haver tabu você feito de cachorra grossa, a minha porra que nem sagu!

Na bocca quando o grosso creme exguicho, as putas quasi engasgam na asphyxia! Tambem você, Glaucão, engasgaria! Seria divertido pacas, bicho! Mas este nosso tempo muito micho está! Você tem sua poesia! Me resta, aqui, curtir sua agonia! Ao menos compartilho o meu capricho!


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HASHTAG VOCÊ ME PAGA [6125]

Você vive escrevendo, Glauco, um monte de versos para achar, na phantasia, theatros ao tesão e se sacia com isso! Mas é falsa a sua fonte! Faltava, audaz, um gajo que confronte a sua falsidade, Glauco! Um dia eu tinha que pinctar! Alguem teria que ser quem a verdade a todos conte! Aqui estou eu, Glaucão, para fallar que tudo não passou duma punheta! Você jamais achou quem se intrometta, ao vivo, com um cego tão vulgar! Mas deixe estar! Assim a chata quarentena, na si der, a sua bocca de eu faço, na real! Pode

que terminar veneta boceta esperar!


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EMPATHIA DUMA THIA [6126]

Não posso ver você nessa agonia! Sou muito protectora, maternal! Você nunca deu bolla a mim, mas qual! Não quero nem saber, Glauco! Sabia? Quer queira, quer não queira, sou a thia, a avó, mãe, professora, a sensual amante, sou a musa que, affinal, presente está na sua poesia! Não fuja de mim, Glauco! Não me venha dizer que em seus poemas não estão commigo o seu amor, o seu tesão! Peguei, nas entrelinhas, sua senha! Espere só! Depois que me entretenha aqui na quarentena, você não me excappa! Applacará minha paixão, ou digo que as mulheres cê desdenha!


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BUZINAS ASSASSINAS [6127]

Em frente ao hospital, a carreata bossal, bozonazista, asco provoca, mas logo attrahirá pragas que, em troca, serão inexoraveis, se constata. Emquanto da Covid alguem se macta ou morre sem soccorro, o bossal choca familias enluctadas com fofoca, com chistes -- E dahi? -- Mas chega a data! Na data da vingança, a praga pega avós e paes de cada bolsonazi que, quando terminaes estão ja quasi, escutam carreatas: Quem sossega? Ao som dos buzinaços, um collega dos nazis que, com berros, extravase sadismo rirá: “Fodam-se!” Na base irá tremer ao ver a mãe ja cega.

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50 GLAUCO MATTOSO

OBITUARIO COMMUNITARIO [6128]

Por ser Paraisopolis um mar de casas populares, sendo cada pequena para muitos, é levada ao leito de campanha a avó, sem ar. Semanas depois, chega a se salvar do virus, sem ter sido visitada siquer pelo marido. Ja sem nada sentir, alta recebe e volta ao lar. Nem entra no barraco. Dum vizinho escuta a má noticia. Todos ja morreram. Quem a veja san não ha. Chorou ja. Vae chorar mais um tantinho. Não tendo logar, acha algum carinho alli na vizinhança. Alguem lhe dá qualquer abrigo. Um tumulo será por ella visitado, bem pertinho.


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BALLA DE PRATTA [6129]

Não, medo de morrer não nos molesta! A gente tem é medo do momento agonico, de muito soffrimento rollar antes de, emfim, partirmos desta! Entende, Glauco? Quando alguem faz festa, não é por estar vivo! Appenas tento dizer que não queremos esse lento tormento no tempinho que nos resta! É simples, Glauco! Caso todo mundo certeza tenha duma morte bem suave e repentina, ja ninguem mais teme essa passagem dum segundo! Morrer dormindo, Glauco? Não confundo as coisas! De euthanasia fallo, sem rodeios, sem siquer estar alguem soffrendo ou velho? Ou acha que eu redundo?

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52 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG CALA A BOCCA JA MORREU [6130]

Vocês são uns reporteres de merda! Então não perceberam que enviado me faço? Como posso ser veado? Nenhum messias taes transtornos herda! Assim sempre fofoca alguem de esquerda! Só topo quem esteja do meu lado, pastores, generaes! Não sou pautado por gente que só trama a minha perda! Portanto, calem essa bocca suja! Ja basta aquelle cego desboccado que só com palavrões dá seu recado e em toda bota sordida babuja! Missão que nem a minha sobrepuja a pauta dessas midias de peccado repletas! Sou quem manda aqui! Frustrado só fico caso o povo de mim fuja!


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MEME DA CORRIDA A COMBINAR [6131]

Desculpe perguntar, mas o senhor é cego de nascença? Não? Caralho! Nem posso imaginar, nesse trabalho de taxi, que sou disso um portador! Nem oculos eu tenho! Nem suppor eu quero, porra! Ainda bem que eu calho bem para dirigir! Pego um attalho e estou, livre do transito, onde for! Tesão, diz o senhor? Ah, que engraçado! Pensei foi justamente nisso! Sinto bem isso por poder enxergar! Minto si digo que não sinto! Olho o meu lado! Sim, penso no senhor, que está ferrado, mas não cheguei a achar que chupou pincto na vida, ja! Bem, como disse, instincto não falta! Adoro mesmo ser chupado!

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54 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG CADÊ A GRAVAÇÃO [6132]

Conversa não Eu quero ver que tudo foi alguem vel-o

tem, Glauco! Quero prova! imagem! Você diz filmado quando quiz lamber ou levar sova!

Allega que lambeu bota, que nova nem era, mas bem suja; que gentis os gajos nunca foram; que infeliz foi nisso. Pois vejamos si comprova! E então? Que lhe dizia quem filmou? O filme não tem audio? Ora, Glaucão! Puzeram no logar uma canção com lettra que incentiva quem pisou? Assim não addeanta! Tambem dou risada de você, seu bobalhão! E todos gargalhadas mais darão si virem seu papel triste no show!


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NEGOCIAÇÃO AMIGAVEL [6133]

Onde é que ja se viu, Glauco, um cegueta querer de mim cobrar um aluguel que está attrazado? Chega aqui e papel fazer quer de mandão, causando treta! Fodeu-se! Foi bem feito! Quem se metta commigo uns trancos leva! Meu fiel e joven enteado foi cruel com elle... Mas quem manda ser ranheta? Eu mesmo comecei a dar porrada no velho, mas jogado foi ao chão por elle, esse moleque, tão machão que logo lhe deu bella botinada! O cego, que não pôde fazer nada, chutado foi, pisado foi, Glaucão! Você, que ja levou muito pisão, bem sabe como abusa a molecada!

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56 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MERRECA [6134]

É logico: o mercado financeiro não vive só por causa de quem senta em cyma de papeis, mas elle exquenta com base em quem investe. Isso é certeiro. Hem, Glauco? Vae valer nosso dinheiro zero mil, zerocentos e zerenta e zero? Qual mercado se sustenta sem juros, Glauco? Diga-me, parceiro! Si forem reduzir a renda a pergunto, Glauco: Para que Melhor, então, torrar alli a grana toda! Achou que eu

zero, poupar? no bar exaggero?

Dinheiro que é “de pinga” não é mero trocado, não concorda? Ah, quer tomar commigo umas, Glaucão? Hem? Quer um par comprar de tennis velhos que eu não quero?


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

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HASHTAG EMPATHIA CONTAGIA [6135]

Estou é te extranhando, que, embora tu satyrico mais triste tens ficado. politicas nem ris mais,

Glauco! Observo te digas, Dessas brigas e me ennervo.

Escravo não tens sido sempre e servo ja pouco tu te fazes, nem te instigas com scenas de sadismo. Que consigas deixar de rir, duvido. Me preservo. Mas noto que tu ficas bem tristonho com essa mortandade que mais gente edosa tem colhido. Certamente que fé nessa tristeza tambem ponho. Aquelle teu poema achei medonho, fallando da velhinha que se sente curada mas perdeu todos. Contente quem fica, si ninguem sonha bom sonho?


58 GLAUCO MATTOSO

VACCINA COMMUNITARIA [6136]

A coisa simples, Glauco, não paresce? Tu pegas, aos pouquinhos, o tal virus, tocando objectos varios, nesses gyros externos ou caseiros, sem estresse. Symptomas appresentas? Não? Exquesce, então, a paranoia! Tantos tiros viraes immunizar-te irão! Prefiro os contagios nessa carga à sancta prece! Vaccina não exsiste? Immunidade ganhemos em commum pelo contacto diario, collectivo! Sim, constato, Glaucão, que isso ja pensa a auctoridade! Si fores te testar, verás que grade em casa nem precisas ter! Exacto! Serás positivado, mas teu flato nem fede, si viraes ares invade!


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QUALIDADE DE MORTE [6137]

Nós temos protocollo, Glauco! Nós partimos do seguinte pensamento: Si formos excolher, attendimento daremos à afflicção menos atroz! Exacto! Quem chegar sem ar, appós um quadro ja gravissimo, nem tento salvar, pois morrerá num grau mais lento de dor, e mais cruel. Não sou algoz! Aquelle que nenhum respirador tiver, não vae morrer soffrendo tanto! Não, Glauco, não demonstre tal expanto, pois nós o sedaremos! Sim, senhor! Irá morrer dormindo! Sim, sem dor! Que foi? Se interessou por esse manto sereno? Pois descanse! Eu lhe garanto que disso não terá, quando se for!

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60 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG FIQUE EM CASA [6138]

Agora que eu não tomo, mesmo, um banho! Alem da quarentena, que incentiva a gente a ter funcção vegetativa, ainda vem o frio! Que é que eu ganho? Lavar para que, Glauco, si de extranho não ha nada no cheiro que deriva das partes, tão egual ao da gengiva que, sem escovação, ganha tamanho? Não, Glauco! De pyjama aqui, fedamos! Sou eu mesmo quem sente meu fedor! Quem mais vae desejar seu nariz pôr aqui neste sovaco? Convenhamos! Emquanto você, Glauco, seus reclamos em verso faz, querendo fungador ser duma suja picca, vou suppor que estou sendo chupado! Junctos vamos!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG PROPONHO UM CHURRASCO [6139]

Não quero ser sarcastico, Glaucão, mas acho que enterrar, em tão extrema tragedia, não devia ser um thema corrente, pois ja falta até caixão! Então pergunto, Glauco: Por que não cremar directo os mortos? Quem os crema evita todo typo de problema! Ja bastam esses tantos que ahi estão! Fallando em pandemia, vou propor fazermos, meus amigos e eu, agora no sabbado, um churrasco! Commemora a gente estarmos vivos e sem dor! Não acha, Glauco, massa? Ah, por favor! Não venha com escrupulos! Quem chora, si pode festejar? Quem não adora a carne tostadinha, aquella cor?

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62 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG PREFIRO BANANINHA [6140]

Querido, vou fallar-te com franqueza. Mulher não sou que enrolla, tu ja viste. Mas, contra as outras todas, eu nem triste fiquei ao conhescer o Pé de Mesa. A fama que elle tinha, com certeza fajuta se revela, pois consiste a rolla delle em thema mais de chiste que duma allegoria da macheza. Devias ver, querido! Uma bimbinha minuscula, mais flaccida que pincto de velho ou de bebê! Mas eu não sinto prazer com rolla grande! Estou na minha! Prefiro mesmo um pincto que definha, pois posso simular um labyrintho na minha bocetinha! Não, não minto! Sou summamente estreita, appertadinha!


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DESGRAÇA SEM GRAÇA [6141]

Chamado de “corona”, vae o raio do virus ja soffrendo mutações. E tu, Glauco? Tambem tu não lhe pões uns nomes differentes no balayo? Alguem “communavirus” disse e caio até na gargalhada, pois colhões não tem quem baptizou para nações maiores affrontar, ja que é lacaio. Até “bolsonavirus” eu ja li, Glaucão! Ora, achei esse mais ao gosto da gente, que faz verso de indisposto espirito! Fiquei com esse aqui! Gostaste mais dalgum? Não? Entendi... Preferes evitar um grande encosto, até nos appellidos! Em agosto indago novamente isso de ti!

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64 GLAUCO MATTOSO

FLATTEST FEET IN THE WORLD [6142]

Não tens pé chato, Glauco? Pois eu tenho! Pé chato, mesmo! Um arco tão cahido que mais paresce tabua! Até duvido que exsista alguem no mundo com tal lenho! Alem de chato, largo! O desempenho é falho para andar, si for comprido demais algum trajecto, ou si decido usar bota appertada, como venho! Hem, Glauco? Quanto calças? Isso, appenas? Trez numeros a mais é meu tamanho! Calculas por que botas eu me accanho de usar maiores? Opto por pequenas! E mesmo si pequenas, causam scenas ridiculas! Ah, Glauco! Um dia banho darás em mim, de lingua! Sim, me assanho com isso! Mas e tu? Não me condemnas?


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HASHTAG PROMPTO FALLEI [6143]

Não, Glauco! Jamais faço “lacração”! Nem uso o cellular para fofoca! Não sou do typo franco, que provoca mellindres, meramente! Não sou, não! Sou muito mais que simples “exemptão”! Eu fallo bem na latta! Si isso choca, tomar no cu ja mando! Na malloca chamaram de “barraco” o meu jeitão! Eu digo, mas não digo, simplesmente: affirmo, reaffirmo! Ouviu, amigo? Aquelle que quizer mythar commigo vae ver como sou firme e contundente! Sem nomes feios! Nada de indecente, porem! Não sou você, que de castigo ficou la no youtube! Esse perigo não corro! Que Satan me temptar tente!

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66 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG FICA A DICA [6144]

Paguei puta, mas Glauco, nem gozei! Fazia tempo -- Ouviu? -- que eu não sahia com essas de programma! Que seria? Você bem sabe, Glauco: não sou gay! A moça até fingiu gozar, mas sei (bobão não sou) que esteve toda fria! Agora descobri: pornographia foi muito melhor, sempre que exporrei! Masturbação é tara bem mais rica! A gente phantasia, nesse eschema, com todos os fetiches, sem problema! A boa bronha as coisas simplifica! De novo vive dura a minha picca! Não va dizer meu nome num poema, ouviu? Não é que linguas más eu tema, mas quero ser discreto... Fica a dica!


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HASHTAG EU ADVISEI [6145]

Estás a ver? Ficaste dando trella a toda a mulherada que te lia! Agora te paquera cada thia, em vez de debruçar-se na janella! Não não Não que

digas isso, Glauco! De cadella chamo cada qual que te assedia! achas, meu querido, todavia, para a putaria alguma appella?

Não basta teres dicto, ja, que és gay? Que querem as mulheres? Converter-te? Recebes, pelas redes, algum flerte, ao menos um por dia, que eu bem sei! Suppões que com ciumes estarei! Magina, Glauco! Quero só foder-te a bocca, não fazer-me de sollerte! Sim, só por amizade eu advisei!

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68 GLAUCO MATTOSO

SADOMATTOSISMO [6146]

Você, Glaucão, extremos concilia. Notei que, sendo sadomasochista, alem de ter perdido sua vista, bem tracta duma ou doutra tyrannia. De esquerda, de direita, você cria a scena mais cruel, emprega a lista das taras e manias, na fascista ou numa social democracia. A gregos e troianos, pois, aggrada, ou pode ser até que desaggrade a todos que a favor da liberdade se dizem, com a cara mais lavada. Leitor sou seu, Glaucão! Sim, de nós cada um curte dictadura, adora Sade, embora, na fingida sociedade, saibamos que interesses tem quem brada.


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DIRECTO AO PONCTO NO CONTO [6147]

Bollei um conto assim, Glaucão. Que tal? A victima de estupro, paciente de estresse posttraumatico, se sente tão mal que vae parar num hospital. Mas esse nosocomio tambem, mal interna taes mulheres, na corrente e em cella as mantem presas. Muita gente irá tractal-a como um animal. Appós ser estuprada, todo dia, por varios gajos sadicos, ja fica de perna aberta, a bocca aberta à picca, de quattro, de joelhos, a gurya. Emfim, ja accostumada, a mulher cria coragem, nojo perde e verifica que sente indifferença a quem fornica na marra a femea. Achou pornographia?

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70 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG TOMA CHOCOLATE PAGA LO QUE DEBES [6148]

Não, Glauco! Te conhesço! Tu preferes dar ordens! Tens character superior, mandão, auctoritario! Tua dor supera a das mais publicas mulheres! Emquanto ver podias, teus mesteres de sadico, seria de suppor, em outros exercias, com fervor orgastico! Confirma, si quizeres! Mas, como cego, nada que exigir tens mais! A contragosto, tu terás que em tudo subjeitar-te a algum rapaz, ou velho, ou molecote que surgir! Bem sabes disso, Glauco! Um elixir que tomes, ou poção, que tanto faz: precisas é dopar-te! Então capaz serás de supportar como um fakir!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

MEME DA BELLA EXCARRADELLA [6149]

Bem sabes, Glauco, como é que eu reajo! Sou sadico, sim, caso me provoque um trouxa que, submisso, der o toque! Assim accontesceu com esse gajo! Então quiz humilhar-se elle? Eu ultrajo o gajo, faço que elle se colloque, em publico, por baixo! Bello choque levou quando o fiz, Glauco, usar andrajo! Vestido de mendigo, foi commigo àquelle bar aonde tambem ias! Na frente de marmanjos e guryas, cuspi na cara delle! É o que te digo! Mandei que elle deixasse, por castigo, o cuspe excorrer, grosso! Tu ririas, Glaucão! Bem, relatei minhas manias... Que tal me versejares, si te instigo?

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72 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG FUI ESTUPRADA [6150]

Lhe juro, Glauco! O bebado de mim fez tudo o que lhe veiu na cabeça! Sim, tive que chupar! E não se exquesça: caralho de mendigo... Ui, si é ruim! Fiquei tão humilhada! Teve fim a foda só depois que elle, na advessa e rude posição, jorrou espessa golfada! A vomitar eu quasi vim! Meu trauma? Claro, Glauco, que isso guardo! Não posso me exquescer! Mas nem por isso evito lhe contar! Ja meu serviço me impede de expalhar tão triste fardo! Você, que nesses themas é bom bardo, capaz é de entender o tal mestiço! bem pode transformar, sem ser ommisso, meu drama num poema ao pobre pardo...


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG GUENTA AHI [6151]

Você não foi quem disse que eu cahi naquella temptação de ser fascista e numa dictadura achar a pista de todo o meu sadismo? Guenta ahi! Você não foi, Glaucão, quem meu xixi fallou que beberia? Agora mixta será sua porção, pois que consista farei tambem de merda! Guenta ahi! Você fallou tambem que eu nunca ri dum cego, só porque perdeu a vista meu pae! Mas caso nisso mais insista, rirei, e sem remorso! Guenta ahi! Que mais você fallou? Ah, que gury ainda sou, que minha tara dista da adulta decisão! Serei sarrista, então: meu pé lhe nego! Guenta ahi!

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74 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG FOI MAU [6152]

Foi sua maldicção, cego damnado! Agora que recluso totalmente ficou pela cegueira, você sente inveja dos que estão em bom estado! Por isso é que, Glaucão, me desaggrado com sua bruxaria! Pela frente eu vejo tudo, luzes, cores, crente na vida, no futuro, no passado! Você, não! Por estar ja mais baixo, dependente, rancores remoendo! Quer egual todos tenhamos, e

no degrau em casa fica que zica babau!

Quer todos affundando nessa nau comsigo! Sei que a Juppiter supplica por essa quarentena! Ah, Glauco! Picca tomar deve no rabo, ouviu! Foi mau!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG DEU RUIM [6153]

Não era para azar egual ao seu nós todos termos, Glauco, porra! Ah, va tomar no cu! Você, que cego está, saudade tem daquillo que perdeu! Mas eu, que me julguei ser philisteu em vez de ser Sansão, me vejo ca em casa confinado! Porra, dá mais raiva de quem vive no seu breu! A mim, que sempre achei ser mais experto que um misero ceguinho, tão chinfrim que mais paresce um bicho de mim perto, foi muito vergonhoso, pô! Foi, sim! A todos que teem olho bem aberto, não era para estar a coisa assim! Devia, sim, ter dado tudo certo! Sahiu bastante errado! Deu ruim!

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76 GLAUCO MATTOSO

CHORDAS SYMPATHICAS [6154]

Intriga-me esse evento que se entende como uma “vibração por sympathia”. Então alguma chorda poderia tocar sozinha? A coisa lendas rende! Alem dos casos mythicos, alem de contactos demoniacos, seria possivel uma simples melodia soar por mera acção dalgum duende? Me explicam que, tangida a chorda tal por dedo dalgum musico, um egual som brota de instrumento musical alheio que ninguem toque! É fatal! A simples vibração é replicada por magica, por onda, assim do nada? Então tambem eu posso ouvir, de cada leitor, a minha propria gargalhada!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG SOU MESMO [6155]

Sim, sou bolsonarista, Glauco! Quero usar arma, formar milicia! Adoro foder meus inimigos! Commemoro ao vel-os na agonia! Admiro Nero! “A sola do gabola” considero seu maximo poema! Até decoro! Espero ver suar por cada poro, de medo, os “exemptões”! Não exaggero! Você bem sabe, Glauco, como nós gostamos de pisar! Sim, humilhar aquelles que da bota militar teem nojo! Desses quero ser algoz! Hem, Glauco? Ja pensou? Virus nos pós adhere, não adhere? Quem passar a lingua no solado vae pegar! Cruel, não acha? Adoro ser atroz!

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78 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG PAGA LOGO [6156]

Hem, Glauco? Prometteu pagar? Agora terá, sim, que cumprir essa promessa! Tambem eu quererei receber essa parcella duma adjuda gratis, ora! Mas isso me putana, que dizendo ser ao gajo que

lembrou certa senhora a chupar nunca começa, preciso que ella peça se limpe, sem demora.

Primeiro, a puta allega que o cliente está com o pau sujo, que sebinho junctou demais, que falta algum carinho no asseio, que isso é muito repellente. Então, outras inventa. De repente, deseja, antes da foda, beber vinho, brindar a Zeus... Só mais um minutinho! Pagou ou não pagou? -- pergunta a gente.


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

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MEME DO NEGATIVISMO [6157]

Estamos é fodidos, Glauco! Nada se pode fazer para deter isso! Só perdem tempo, prestam desserviço aquelles que toparam a parada! Crear immunidade de manada nos resta, mas nem ella dá sumiço no virus que, mutante, ja mestiço será pelas nações, um para cada! Aos poucos, morreremos! Quem não for agora, Glauco, vae anno que vem! Mas, caso sobreviva, ainda, alguem, terá tanta sequela, tanta dor! Não! Pode perguntar Vão todos desistir! tentar uma vaccina! incréus, como você,

a algum doutor! Não irão nem São tambem que é perdedor!


80 GLAUCO MATTOSO

MEME DO NEGACIONISMO [6158]

Magina! Grippezinha à toa, cara! Preparo quem tiver, como o de athleta que tenho, nada sente! Nada affecta a quotação do dollar, que é ja cara! É só resfriadinho, coisa rara, difficil de pegar, Glauco! Um poeta sagaz como você vê que incorrecta é toda a fallação que nos azara! Não vê, Glauco? Bem, fallo da visão interna, cerebral, que todos teem! É claro, reconheço que ninguem quer cego ficar, bollas! Isso não! Mas mesmo um cego puto, um fodidão assim como você, tambem convem que estamos da desgraça bem aquem! Não acha, Glauco? Ou falta até tesão?


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

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HASHTAG CHRISTO SALVA [6159]

Hem, Glauco, quer dizer curando gay mas, quanto de cura? Que engraçado! pastor uma desculpa dá,

que tem egreja ao virus, nada Como cada que seja?

Então um pastor desses exbraveja só contra gays, mas delles a manada ninguem será capaz de ver curada? Faltava, a elles proprios, quem proteja! Não era Christo, Glauco, quem dizia que enxergam elles cisco no olho alheio e fingem que não viram, bem no meio do proprio, um travessão? Hem? Que ironia! Puzeram um adviso onde se lia: “Devido ao virus, hoje, com receio de encosto, não teremos templo cheio nem cura programmada.” Quem diria?


82 GLAUCO MATTOSO

MEME DA PATOTA REMOTA [6160]

Por teleconferencia, a reunião transcorre normalmente. De repente, alguem se escandaliza, mal se sente. Teria visto um gajo pelladão? Disseram “pelladão” mesmo, mas não se explica como o gajo, que dum quente banhinho ja sahia, poz-se em frente daquelle formalissimo telão. Demais participantes, constrangidos, fingiram nem notar que, sem toalha nas partes, esse typico canalha se expunha ante senhores bem vividos. Alguem cortou a tela, mas ouvidos attentos perceberam que se expalha um “Ah!” de decepção por essa falha de imagem. Só faltaram uns gemidos.


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG TÁ FODA [6161]

Tá foda pacas, meu! Sempre eu pedia um choppes, dois pastel, Glauco! Orra, meu! Sanduba na padoca tambem eu pedia! Fechou tudo, meu! Sabia? Tá foda, Glauco! Ouvindo todo dia estou que voltará logo o lyceu a abrir, mas pelo jeito se fodeu tambem essa escholar philosophia! Tá foda! Glauco, os grillos pinctam, bicho! Estou na maior neura, na maior deprê, na maior noia! Ja suor me brota frio! Sinto o pincto micho! Tá foda, bicho! Juro que capricho não é, Glauco! Você sabe de cor os nomes dos transtornos! O peor é ver que em casa, agora, tem mais lixo!

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84 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG VAE MELHORAR [6162]

Glaucão, vae melhorar para teu lado! Fiquei sabendo -- Puxa! -- que ja alguem inventa, para os cegos, o que vem trazer-lhes visão nova! Puta achado! No cerebro collocam, implantado, um troço leve, electrico! Sim, sem usar seu olho cego, o gajo tem imagem duma lettra! Foi testado! Não achas que esperança a coisa traz? Não ficas optimista, meu amigo? Ainda festejar eu vou comtigo! Percebo que animado agora estás! No seculo vindouro, tu serás vidente novamente! Teu castigo findou! Reencarnado, sem perigo dirás que ja não temes Satanaz!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG VAMOS À FORRA [6163]

Ja tenho o meu ORVIL, Glauco! Não fallo dum Orwell, não! ORVIL mesmo, o contrario de “livro”! Um detalhado promptuario dos methodos que pisam no seu callo! Surpreso ficará! Vou impactal-o! Você reparará, caso compare-o aos livros esquerdistas, que scenario diverso olhei: de Sade fui no emballo! Proponho torturar, no captiveiro, os nossos inimigos, com requincte maior de crueldade, tendo uns vinte carrascos para cada prisioneiro! Sim, typo lynchamento, Glauco! Pincte la, quando nós vencermos! Mas, primeiro, teremos que sahir deste atoleiro chamado “pandemia”! Ah, puta accincte!

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86 GLAUCO MATTOSO

MEME DA INCLUSÃO SOCIAL [6164]

Não, todo mundo em casa, assim não vale! Só tu, Glauco, ficar deves recluso! És cego! És perdedor! Deves abuso soffrer! A ti não ha por que me eguale! Precisas de castigo ficar, mal e mal indo ou vindo a passo! Me recuso a achar que estás ganhando, em verso luso, prestigio, ou que melhor de ti se falle! Não, Glauco! Nós, que vemos bem, à rua queriamos sahir e não ficar ca, nesta quarentena! Tal azar a ti deve caber, nessa cafua! A pena não é minha, porem tua! Por que devo soffrer este exemplar castigo? Acho que até podes gozar, punhetas a batter, si estás de lua!


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HASHTAG MULHER VOTA EM HOMEM [6165]

Fiquei damnada, Glauco! Minha amiga me disse que esses machos governistas estão, a cada passo, mais machistas, dispostos a comnosco comprar briga! Disseram que só para a gente liga quem nossos votos quer, que nós, nas listas de novas candidatas, só conquistas de cama somos, fora as da barriga! Um monte de bobagens diz, sem nexo, dos machos o guru, Glauco! Você precisa ver! Faltava alguem que dê porrada nesses bugres do outro sexo! É mesmo, Glauco! O caso nem complexo seria! Basta a sadica, à mercê da qual pés lamberão! Ou dum michê terão, em vez do concavo, o convexo!

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88 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG UM DIA ACCABA [6166]

Estás a te illudir! Tu não irás a parte alguma appós a pandemia! Recluso ficarás e, dia a dia, aos poucos, notarás que tanto faz. Nós todos, Glauco, somos dessas más noticias só refens! Quem é que iria sahir, si está deserta, si vazia está a cidade toda, meu rapaz? Não! Mesmo que pudessemos de novo andar pelas calçadas, passear com nosso bassezinho, ja qual ar teria a respirar um livre povo? Confias na atmosphera? Ah, não removo mais esta suja mascara! Ficar em casa para sempre, eis teu azar, Glaucão, e meu tambem... Pô, me commovo!


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HASHTAG PRAGA DE CEGO PEGA [6167]

Vivias a fallar, Glauco, que estavas no seculo dezoito ou dezenove, não só pela graphia que te move a verve em varias quadras ou oitavas... Agora as nações todas são escravas da tua praga! Até que se comprove haver cura que a vida nos renove, mandamos o futuro para as favas! Vivamos no passado! Ninguem mais viaja de avião! Para a doença não temos mais remedio! Resta a crença nas lendas e nos mythos ancestraes! Avós seremos, como nossos paes! Seremos saudosistas! Ninguem pensa no novo, só no velho! Recompensa terás, Glauco, mas caro sae, demais!

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90 GLAUCO MATTOSO

YOU LOOK LIKE A GIRL [6168]

Menino que tem cara de menina por causa do cabello bem comprido é caso que, em Barbarians, bem ouvido eu tinha, Glauco! O que você imagina? Em epocha de Beatles, a ferina linguinha do povão acha a libido suspeita si com gay é parescido qualquer moleque à toa alli na exquina. Agora ninguem liga si tem cara de fada -- até de puta -- algum pivete, pois quasi todo mundo faz boquette por gosto, ou quando a vida fica cara. Até você, Glaucão, que se compara ao torpe em cuja bocca alguem só mette caralho com sebinho, se remette a musicas mais sadicas na tara!


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MEME DO MARCIANO [6169]

Salgadas e geladas são -- secunda um genio da sciencia -- as aguas em planetas como Marte. Julga alguem que a vida, mesmo assim, nelles abunda? Mas nega a vida alli quem ja redunda nas mesmas conclusões de que ninguem habita taes planetas, que estão sem as minimas premissas! Não confunda! Não, Glauco! Não confunda as coisas! Só porque vivem, nos mares mais profundos, os monstros mais irados e iracundos, não vamos comparar, né? Tenha dó! Tambem ha sal e gelo la, mas, oh, querido, deseguaes são esses mundos! Bem, posso descrer disso si, em segundos, cahir um asteroide! Então é pó!

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92 GLAUCO MATTOSO

MEME DA COMIDA A DOMICILIO [6170]

Pedi cachorro quente, Glauco, por aquelle popular applicativo. Até na quarentena não me privo dum junkie food, egual ao meu doutor! Mas sabe o que occorreu? O entregador foi visto abrindo o lacre e, sem motivo algum, cuspiu no lanche! Ja não vivo pedindo o meu sanduba temptador! Bem, Glauco, na verdade não cuspira, appenas, na comida: antes, mordera com gosto, mastigara! Fosse pera, viria com buraco! Sem mentira! Entenda bem: tem gente que até pira de fome! Si juizo o boy perdera, é foda! Mas, Glaucão, não faço cera, cê sabe! Ja chupei-o! O mundo gyra!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

CARETA DE CARECA [6171]

Pô, Glauco! Ja não corto o meu cabello faz tempo, pô! Você devia ver a minha cara! Devo parescer um homem das cavernas! Haja pello! Pô, Glauco! Sei que é muito desmazello, mas... Sem barbeiro aberto, que fazer? Não fico tão hirsuto por prazer! Eu mesmo não consigo bem fazel-o! Pô, Glauco! Dependesse só de mim, careca ficaria, sem problema! Ainda que, aqui em casa, haja quem tema que eu tenha de skinhead a cara affim! Pô, Glauco! Não seria tão ruim virar um desses bugres! Mas sou thema ja dessas gozações, antes que eschema adopte tal! Brutal ja sou assim!

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94 GLAUCO MATTOSO

MEME DA TORCIDA ORGASMIZADA [6172]

Em vez de torcedores, vi bonecas inflaveis, Glauco, pela archibancada inteira! Sim, e cada qual pellada! Nem calças, nem camisas, nada, necas! Não pecco, Glauco! Tu tampouco peccas si fores punhetar-te emquanto cada boneca apparescer, patrocinada por rotulos eroticos sapecas! Sei, claro, que não sentes attracção por symbolos do typo! Mas me dás razão quando te digo que são más idéas como aquella promoção? Então estamos junctos, ja que não me excito com aquillo! Satanaz é nossa testemunha! Né, rapaz? Em campo vi quem pode dar tesão!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG MELHOR MORRER [6173]

Ouviste fallar, Glauco? Um tripulante mactou-se no navio de cruzeiro! Sentiu-se, em quarentena, prisioneiro, pois fim à reclusão ninguem garante! Não, Glauco! Minto! Foram trez, durante semanas confinados sob o cheiro do proprio chulé, nesse captiveiro! Espero que tal facto não te expante! Agora me inteirei de que trezentos mactaram-se, ja, Glauco! Não appenas naquelles transatlanticos! São scenas diarias, em urbanos apposentos! Peões, desempregados, sem sustentos nem chance de sahir das quarentenas, commettem suicidio! Tu os condemnas? Não, né? Maus cheiros chegam com os ventos...

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96 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG NOS EXFORCEMOS [6174]

Até para fazer cocô me fica difficil, Glauco, nesta quarentena! Só faço quantidade bem pequena e, mesmo assim, vem tarde essa titica! E tu? Ja descreveste, em tua zica de bardo preso em casa, aquella scena da atroz prisão de ventre, que condemna a gente a fazer força? Deste a dica? Sim! Como não lembrar? Tu, com extremos de verve e de lyrismo, foste cru nas tinctas e nos cheiros dum tabu que nunca, normalmente, descrevemos! Que seja! A ti me egualo! Viveremos daqui por deante em lucta com o cu que, em rasgos de hemorrhoidas, põe a nu a nossa audaz missão! Nos exforcemos!


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MEME DO GADO [6175]

No tempo dos anões, dum orçamento tirava-se uma verba com a mão. Depois foram surgindo o mensalão, o petrolão... e estou neste momento! No tempo dos anões, o que um jumento fallou dum coronel rendeu bordão -“Eu sou boi delle!” -- e entrou, televisão affora, pras kalendas que eu requento! Não é que agora, Glauco, chega alguem fallando, bem na latta, que ser gado o deixa ainda mais gratificado e até do capitão quer ser refem? Que seja sequestrado, porra! Sem direito de resgate! Ja me enfado de tanto puxasacco! Bem lembrado! Chamava a “presidenta” alguem, tambem!

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98 GLAUCO MATTOSO

BANCADAS THEMATICAS [6176]

Primeiro, uma bancada foi da balla. Depois, veiu mais uma, a tal da bolla. A coisa, pelo jeito, fez eschola. Bancada até da Biblia se propala. Talvez eu me confunda, Glauco! Falla si estou errado! Tens razão! Controla as Casas a do boi, tambem! Cartola não falta, alem da bolla, alli na salla! Caralho, Glauco! Quattro vezes “B”! Peor que Grande Irmão, ou coisa assim! Mais ‘inda ficará a Coisa Ruim si chega a do Cappeta na TV! Mas isso é bem Brazil, né? Faz michê quem dessa Sociedade esteja a fim de, bebado, tractar no botequim! Bebamos nós, tambem, mas ca no apê!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG JURO QUE VI [6177]

Tucanos sendo vistos por aqui? Só pode ser piada! Mas piada de gosto duvidoso, Glauco! Nada indica que proceda o que eu ouvi! Habitam elles mattas, do sacy, da mula sem cabeça, duma fada dos bosques são collegas! Mas que invada um bando delles justo o Morumby... Ahi ja é demais! Não é, Glaucão? Ja bastam bemtevis e sabiás, alem das maritacas! São as más linguinhas, que expalharam, do povão! Ja bastam os politicos! Razão tens tu! Mas convenhamos, meu rapaz: Não achas que figura melhor faz tucano que urubu, quando aves são?

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100 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG ME ADJUDA A TE ADJUDAR [6178]

Tentei te defender, Glauco, mas fazes questão de condemnar-te no que dizes! Affirmas que argumentos infelizes usei! Como fazer comtigo as pazes? Tu vives a fallar desses rapazes sujissimos da rua, que, em Perdizes ou em Paraisopolis, “deslises” commettem! Teus palpites não teem bases! “Deslises” nada, Glauco! No vulgar, são crimes o que estão a commetter! Attentam contra o publico poder! Assaltam! Mactam! Gostam de estuprar! Lambeste, do dedão ao calcanhar, o pé dum delles? Ora, nada a ver terei com isso, Glauco! Nem saber eu quero mais! Me adjuda a te adjudar!


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HASHTAG QUEM É DE ESQUERDA TOMA [6179]

Ué, Glauco! Só toma quem quizer! Quem não quizer não toma! Não me fodo! Si formos de direita, temos todo direito de propor droga qualquer! Tomemos! Nos curemos! Si não der, de facto, resultado, foi engodo? Magina, Glauco! Morre gente a rodo! A menos ou a mais, morre quem quer! Que tome guaraná quem for communa! Que tome tubaina, tome soda! Sou foda! Não concorda, pô? Sou foda! No chiste, nem preciso de tribuna! Não ha melhor piada que nos una! Não posso fazer nada, si incommoda a minha brincadeira! Minha roda curtiu! Não ha remorso que me puna!

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102 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG FESTEJEMOS O MONSTRO [6180]

Ainda bem, tão sabia, creou esse aos mythos

Glaucão, que a Natureza, tão bondosa, tão... humana monstrengo que se irmana que manteem a luz accesa!

Sim, Glauco! Doradvante, quem illesa achar a nossa raça vae? Bacchana achei esse tal virus, pois se damna o cego! Mas terá boa surpresa! Glaucão, nem sou quem falla! Diz o Lula que, emfim, terão os cegos enxergado! Emfim enxergarão no grande Estado a nossa solução, a nossa bulla! Tá vendo? Si a Natura ficou fula, nenhuma chloroquina resultado dará, Glauco! Você ficou chocado? Ué, por que? Não acha que eu engula?


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

MEME DO SINCERICIDIO DO BOZONARO [6181]

Estás sendo severo demais com o gajo, Glauco! É jeito delle, porra! Não creio que com esses chistes corra o risco de deslise no bom tom! O que? Sincericidio? Mas batom de sobra na cueca, alem da porra, foi visto ja, por causa da cachorra que tudo delatou em alto som! Depois de tanto escandalo, nem faz alguma differença a piadinha que diga alguem, não é? Nem excarninha achei aquella phrase, nem mordaz! Tu fazes umas satyras que em paz não deixam consciencias como a minha! Não achas que elle pode licencinha ter para de gracejos ser capaz?

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104 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG SORRIA NA PANDEMIA [6182]

Deviam inventar, Glauco, um modello de mascara que fosse transparente! Assim todos veriam este dente canino que implantei! Dá gosto vel-o! Veriam meu sorriso, que foi pelo meu gruppo tido como simplesmente terrivel, vampiresco! Muita gente iria delirar, ha que dizel-o! Gastei uma fortuna neste implante, Glaucão! Não vou deixar que pandemia nenhuma me prohiba que sorria! Concordas que é meu dente electrizante? Leitura labial tambem garante a mascara de plastico! Quem ia gostar é quem depende da alegria na bocca, como a tua num pisante!


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MEME DO COLLECTIVO SELECTIVO [6183]

Num omnibus lotado, o passageiro, sem mascara, primeiro pigarreia. Depois passa a tossir. A bocca cheia lhe fica. De cachaça tem mau cheiro. E tosse, tosse, tosse... O corpo inteiro saccode. Mais a coisa fica feia: A pique de excarrar, ja não refreia seu impeto. O catarrho sae certeiro. Aquella gosma verde gruda feito chiclette no cabello da senhora sentada à sua frente. Para fora ja querem empurrar o tal subjeito. “Não toquem em mim! Puro preconceito! Appenas porque tenho o virus? Ora!” Dalli todos excappam sem demora. Ouvi, mas que foi meme eu ca suspeito.

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106 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG PRACTIQUE AUTOABBRAÇO [6184]

Não, Glauco! O cotovello tão seguro não é para fazermos cumprimento com elle, em vez da mão! Eu não! Nem tento! É o meu muito ponctudo, muito duro! O virus bem que pode, pelo furo da manga, deslocar-se em cem por cento do braço e, mesmo sendo meio lento, chegar ao queixo, ao labio! Glauco, eu juro! Sim, morro de pavor! Nem um abbraço eu ouso dar siquer em mim! Crês nisso? Disseram que elle emprego tem massiço, porem de me abbraçar questão não faço! Não! Tenho caimbras, Glauco! O meu cagaço maior é de dor chronica! Enfermiço ja sendo, taes symptomas não attiço! Ah, claro! O meu cacete eu arregaço!


LIVRO DE RECLAMAÇÕES

HASHTAG FOI ELLE [6185]

Não fomos mundinho, Ainda que foi elle,

nós, aqui neste terceiro que inventamos essa peste! elle negue e que conteste, Glauco! Tudo por dinheiro!

Ainda que tu pau no teu trazeiro só tomes porque queiras, elle investe na tua sodomia, pois fizeste questão de não culpar um extrangeiro! Foi elle que estuprou esta nação! Alem da nossa, a delle ja se ferra! Podendo, foderia toda a Terra! Si fores ver, innumeras ja são! Si tu não accreditas, Glauco, não me importo! Mas o caso não se encerra naquillo que elle em tua glotte enterra! Tambem quem fez foi elle este bordão!

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108 GLAUCO MATTOSO

HASHTAG PAREI COMTIGO [6186]

Queremos reclamar, Glauco! Tu tens que pôr as nossas queixas em formato de verso, commentar bem cada facto que expomos, realçar nossos porens! Mas pouco caso fazes! São desdens as tuas attitudes! Só constato que quasi nem retornas o contacto que faço! A ninharias tu te attens! A compta ja perdi de quantos pares de tennis velhos dei-te de presente! Por que não retribues dignamente? Só dá para bobagens me fallares? Tá certo que apprecio umas vulgares e sujas anecdotas, mas mais mente a tua poesia que essa gente hypocrita, ao fallar dos lupanares!


SUMMARIO

KOSMICOS PÓS [6087]...................................9 DISSONNETTO DESCHULEZADO [6088]......................10 DISSONNETTO DESCHULIZADO [6089]......................11 FINO CONFINAMENTO [6090].............................12 LITORGIA [6091]......................................13 MEME DO BICCO LARGO [6092]...........................14 MEMORIAS DO CARCERE [6093]...........................15 MATTOSALEM [6094]....................................16 SATYRESIAS [6095]....................................17 MEME DO ABRIL AZUL [6096]............................18 MEME DO MAIO AMARELLO [6097].........................19 HASHTAG EU SOU DA LYRA [6098]........................20 CRITICAS E SUGGESTÕES [6099].........................21 GENUINA DISCIPLINA [6100]............................22 HASHTAG INSPIRA CUIDADOS [6101]......................23 QUEIXAS E RECLAMAÇÕES [6102].........................24 PANDEMONIACA PANDEMIA [6103].........................25 FODIDO E BEM PAGO [6104].............................26 FODIDO E BEM LIDO [6105].............................27 MEME DA LINGUA MORDIDA [6106]........................28 MEME DA INJECÇÃO [6107]..............................29 LICENÇA POETICA [6108]...............................30 VAZIA PROPHECIA [6109]...............................31 MEME DA MANIPULAÇÃO [6110]...........................32 MEME DA BALLADA [6111]...............................33 REGIME DISCIPLINAR DIFFERENCIADO [6112]..............34 FAKEPEDIA [6113].....................................35


PHOTONOMASTICO [6114]................................36 VIRUS VINGADOR [6115]................................37 SENSIVEL DESNIVEL [6116].............................38 NOVO NORMAL [6117]...................................39 BANDIDO MASCARADO [6118].............................40 MICHETAGEM SEM IMAGEM [6119].........................41 HASHTAG VAE DAR TUDO CERTO [6120]....................42 FARINHA DO MESMO SACCO [6121]........................43 HASHTAG VAMOS DANSAR [6122]..........................44 FOFOCA DE MASOCA [6123]..............................45 HASHTAG TAMO JUNCTO [6124]...........................46 HASHTAG VOCÊ ME PAGA [6125]..........................47 EMPATHIA DUMA THIA [6126]............................48 BUZINAS ASSASSINAS [6127]............................49 OBITUARIO COMMUNITARIO [6128]........................50 BALLA DE PRATTA [6129]...............................51 HASHTAG CALA A BOCCA JA MORREU [6130]................52 MEME DA CORRIDA A COMBINAR [6131]....................53 HASHTAG CADÊ A GRAVAÇÃO [6132].......................54 NEGOCIAÇÃO AMIGAVEL [6133]...........................55 MEME DA MERRECA [6134]...............................56 HASHTAG EMPATHIA CONTAGIA [6135].....................57 VACCINA COMMUNITARIA [6136]..........................58 QUALIDADE DE MORTE [6137]............................59 HASHTAG FIQUE EM CASA [6138].........................60 HASHTAG PROPONHO UM CHURRASCO [6139].................61 HASHTAG PREFIRO BANANINHA [6140].....................62 DESGRAÇA SEM GRAÇA [6141]............................63 FLATTEST FEET IN THE WORLD [6142]....................64 HASHTAG PROMPTO FALLEI [6143]........................65 HASHTAG FICA A DICA [6144]...........................66


HASHTAG EU ADVISEI [6145]............................67 SADOMATTOSISMO [6146]................................68 DIRECTO AO PONCTO NO CONTO [6147]....................69 HASHTAG TOMA CHOCOLATE PAGA LO QUE DEBES [6148]......70 MEME DA BELLA EXCARRADELLA [6149]....................71 HASHTAG FUI ESTUPRADA [6150].........................72 HASHTAG GUENTA AHI [6151]............................73 HASHTAG FOI MAU [6152]...............................74 HASHTAG DEU RUIM [6153]..............................75 CHORDAS SYMPATHICAS [6154]...........................76 HASHTAG SOU MESMO [6155].............................77 HASHTAG PAGA LOGO [6156].............................78 MEME DO NEGATIVISMO [6157]...........................79 MEME DO NEGACIONISMO [6158]..........................80 HASHTAG CHRISTO SALVA [6159].........................81 MEME DA PATOTA REMOTA [6160].........................82 HASHTAG TÁ FODA [6161]...............................83 HASHTAG VAE MELHORAR [6162]..........................84 HASHTAG VAMOS À FORRA [6163].........................85 MEME DA INCLUSÃO SOCIAL [6164].......................86 HASHTAG MULHER VOTA EM HOMEM [6165]..................87 HASHTAG UM DIA ACCABA [6166].........................88 HASHTAG PRAGA DE CEGO PEGA [6167]....................89 YOU LOOK LIKE A GIRL [6168]..........................90 MEME DO MARCIANO [6169]..............................91 MEME DA COMIDA A DOMICILIO [6170]....................92 CARETA DE CARECA [6171]..............................93 MEME DA TORCIDA ORGASMIZADA [6172]...................94 HASHTAG MELHOR MORRER [6173].........................95 HASHTAG NOS EXFORCEMOS [6174]........................96 MEME DO GADO [6175]..................................97


BANCADAS THEMATICAS [6176]...........................98 HASHTAG JURO QUE VI [6177]...........................99 HASHTAG ME ADJUDA A TE ADJUDAR [6178]...............100 HASHTAG QUEM É DE ESQUERDA TOMA [6179]..............101 HASHTAG FESTEJEMOS O MONSTRO [6180].................102 MEME DO SINCERICIDIO DO BOZONARO [6181].............103 HASHTAG SORRIA NA PANDEMIA [6182]...................104 MEME DO COLLECTIVO SELECTIVO [6183].................105 HASHTAG PRACTIQUE AUTOABBRAÇO [6184]................106 HASHTAG FOI ELLE [6185].............................107 HASHTAG PAREI COMTIGO [6186]........................108



São Paulo Casa de Ferreiro 2020




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