MÁS CARAS

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MÁS CARAS

Glauco Mattoso MÁS CARAS

E OUTROS SONNETTOS

São Paulo

Casa de Ferreiro

Más caras

© Glauco Mattoso, 2024

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

MÁS CARAS E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024

214 p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.

Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.

O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.

Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.

SONNETTO DAS MÁS CARAS

A vida continua, Glauco! Um dia riremos disso tudo, meu amigo! Ainda quererei brindar comtigo ao termino da louca pandemia!

Mas outra coisa guardo, que eu queria comtigo dividir… Vejo um perigo na nova sociedade, que maldigo por tudo que promette e que annuncia!

Seremos obrigados, Glauco, para o resto desta nossa vida dura, a mascaras usar! Não é tortura?

Nem fallo dessa mascara na cara, de panno ou deschartavel! Minha agrura é sermos todos cegos… e sem cura!

SONNETTO DO NOVO NORMAL

Depois da pandemia, será como a nossa roptininha, Glauco? Tão normal quanto possivel? Ou ja não mais pode ser normal nem o que eu como?

A mascara que, em tempos de rei Momo, usada foi por pura diversão, agora à força todos usarão? E quanto aos meus desejos? Como os domo?

Terei que namorar só pela tela? Poder só vou trepar virtualmente? Churrascos não darei a tanta gente?

Não, Glauco! Bem peor se me revela a coisa! Mais até do que carente, serei um miseravel indigente!

SONNETTO DA QUARENTENA INTERMINAVEL

Estás a te illudir! Tu não irás a parte alguma appós a pandemia! Recluso ficarás e, dia a dia, aos poucos, notarás que tanto faz.

Nós todos, Glauco, somos dessas más noticias só refens! Quem é que iria sahir, si está deserta, si vazia está a cidade toda, meu rapaz?

Não! Mesmo que pudessemos de novo andar pelas calçadas, passear com nossos bassezinhos… Em qual ar?

Confias na atmosphera? Ah, não removo mais esta suja mascara! Ficar em casa para sempre, eis meu azar!

SONNETTO DO SORRISO NA PANDEMIA

Deviam inventar, Glauco, um modello de mascara que fosse transparente! Assim todos veriam este dente canino que implantei! Dá gosto vel-o!

Veriam meu sorriso, que foi pelo meu gruppo tido como simplesmente terrivel, vampiresco! Muita gente iria delirar, ha que dizel-o!

Gastei uma fortuna neste implante, Glaucão! Não vou deixar que pandemia nenhuma me prohiba que sorria!

Leitura labial tambem garante a mascara de plastico! Quem ia temer é quem só finge essa alegria!

SONNETTO DO COLLECTIVO SELECTIVO

Num omnibus lotado, o passageiro, sem mascara, primeiro pigarreia. Depois passa a tossir. A bocca cheia lhe fica. De cachaça tem mau cheiro.

E tosse, tosse, tosse… O corpo inteiro saccode. Mais a coisa fica feia: A pique de excarrar, ja não refreia seu impeto. O catarrho sae certeiro.

Aquella gosma verde gruda feito chiclette no cabello da senhora sentada à frente. Gritam: “Para fora!”

{Não toquem em mim! Puro preconceito! Appenas porque tenho o virus? Ora!} Dalli todos excappam sem demora.

SONNETTO AO JUPPITER JUNIOR

Ser filho dum deus, Glauco, não é molle!

Castigo leva, a cada peccadilho! Melhor é de politico ser filho, pois deste todo mundo um crime engole!

Tu, Glauco, punirias tua prole?

Si sou um deus e filho meu eu pilho roubando, com o dedo no gattilho ou como senador, perco o controle!

Imponho que não faça mais aquillo, que duma charteirada não se valha! Sinão, a divindade mal me calha!

Porem, si elle persiste no vacillo, terei que engolir tudo o que advaccalha e temo me assumir como um canalha!

SONNETTO AO LUCIFER JUNIOR

Eu acho que és tu filho do Diabo!

Só podes ser, caralho! Um cego tão pornô, tão bocca suja, nem Adão nem Christo por modello leva a cabo!

Si sou teu sancto Pae, eu não me gabo dum filho do teu typo, Glauco, não!

Dizer de mim, caralho, o que é que vão?

Na bocca do povão assim accabo!

Mas sou quem mais, no kosmo, lucifera e em ti me reconhesço, cego puto! Quem sae, caralho, aos seus não degenera!

És fera tu no verso? Ora, pudera!

Orgulho-me de ti! Ja nem discuto, pois, mesmo tão fodido, sim, és fera!

SONNETTO DA SERRA QUE FERRA

Te juro, Glauco! Mesmo que não queira ninguem accreditar, mesmo que rias de todas estas miseras phobias, te juro que essa achei na Canthareira!

Achei phenomenal caranguejeira, Glaucão! Appavorado ficarias! Na matta nem tem graça moradias haver! Vendi ja minha casa à beira!

Reserva florestal tive na minha varanda, Glauco, quando, um bello dia, aquella cabelluda vi na pia!

Me viu, a tal bichana que, damninha, persegue suas victimas! Eu ia fugir, mas não deu tempo! Uma agonia!

SONNETTO DO AGONISTA

Sardinhas todos puxam para o lado que querem, mas, Glaucão, exaggeraste! Sansão ja, no cinema, como um traste por Cecil B. De Mille é retractado!

Ainda nos quarenta, resultado pomposo o filme teve! Que te baste não fez o director grande contraste com esse millennar texto sagrado?

No filme, foi Sansão bem humilhado depois de cego, Glauco! Delle ria o povo philisteu, e mais queria!

Entendo… Tu querias que, coitado, o cego rastejasse, que lambia o chão saber querias! Que mania!

SONNETTO DA JUJUBA

É todo deputado uma jujuba: a gente, facil, compra alli na exquina! Assim sabemos como é que termina: ninguem um governante, aqui, derruba!

Às vezes, pelo preço dum sanduba, alguma votação alguem combina!

Passada a crise, fica na surdina! Capaz a approvação até que suba!

Fazer o que, Glaucão? Cê fica puto, mas penso, certamente, no meu lado! Né, porra? Fui eleito deputado!

Dizer que sou jujuba… Bem, reputo um tanto diffamante! Estou errado? Das minhas incumbencias não me evado!

SONNETTO DA GLOBALIZAÇÃO

Joelho no pescoço, Glauco! Mais cruel, só mesmo bota no pescoço! Ninguem assim pisado, velho ou moço, consegue respirar em horas taes!

Alheia ao mais agonico dos ais, a bota de solado rude e grosso suffoca quando pisa! Nem esboço siquer de reacção houve jamais!

Rollava no Vietnam: americanos pisavam no pescoço do inimigo num interrogatorio, ou por castigo!

Mas quando, Glauco, um desses negros manos pisado for assim, eu só lhe digo: Um dia alguem reage, eis o perigo…

SONNETTO DA CONVERTIDA

Soubeste, Glaucão? Essa militante ja fora prostituta! Mais ainda: tentou ser feminista! Mas não finda a coisa por ahi! Falta bastante!

Ouvi que namorou ella, durante um tempo, sem ser culta nem ser linda, com quem as vagabundas sempre guinda às altas posições! Não é intrigante?

Alem da assessoria no partido, a puta agora agita a molecada das redes sociaes! Hem? Que damnada!

Mas claro! Não pensei nisso! Libido varia! Differentes taras cada um curte! Nazis curtem até fada!

SONNETTO DAS

AGGLOMERAÇÕES

Ainda bem, Glaucão, que tu não vês algumas coisas! Sei dum cidadão que em seu collete escreve este bordão de effeito, pelas ruas, descortez:

“Sou infectado! Affastem-se!” Elle fez questão de precaver-se, embora não tivesse feito o teste! Diz, Glaucão: Não achas uma enorme estupidez?

Com isso, o social distanciamento por elle pretendido pode até manter alguem distante… Hem? Mas não é?

Lynchado ja foi, quasi, esse jumento! Alem do mais, quem nelle botou fé mandou prendel-o! O gajo foi à Sé!

SONNETTO DA AXILLA QUE SE VENTILA

Cecê, Glauco! Sabias que um sovaco estraga um casamento? Pois estraga! Perdi minha mulher porque essa praga de cheiro mais tresanda que o do sacco!

Chulé? Tambem por isso me destacco, mas ella nem se importa! Até que paga boquette em meu dedão, porem não traga da axilla a fedentina! Armou barraco!

Nem queiras saber, Glauco! Ultimamente, usei desodorante em não pequena dosagem! Mas perfume ella não sente!

Te peço que me digas: Quem aguente exsiste? E si cheirasses? Valha a pena, talvez, eu ter comtigo um caso, urgente!

SONNETTO DO BLACK BLOCK

Você não me entendeu, Glauco! Não quero appenas protestar! Quero quebrar! Ja fui anarchopunk! Agora, azar! Eu quero o pé metter! Chega de lero!

Me diga agora, Glauco, que sincero você tem sido: os homens, que vetar queriam nossas mascaras, logar darão aos que as permittem? É o que espero!

Nós vamos promover o quebra-quebra! Assim eu me divirto! Quem celebra a nossa pauta nunca almeja a paz!

Chulé? Não! Tomo banho! De Genebra eu sigo a convenção! Só quando zebra meu pé tem de pigmenta aquelle gaz!

SONNETTO DA LAMBEÇÃO (1)

Aldeia conquistada! Agora basta ao joven militar americano ter gozo, no Vietnam, com quem mais damno aguenta: a mulher, pouco ou muito casta.

Seu homem (não que seja pederasta) tambem aguentará, da sola ao cano, na lingua a bota delle que, ‘inda uffano, quer ver si um vietnamita mais se arrasta.

Emquanto a mulher chupa seu caralho com todo o conformismo oriental, massagem quererá, linguopedal…

O pé dum militar, Glauco (não falho si digo que é de morte), cheira mal! Você talvez, Glaucão, ache ideal…

SONNETTO DAS DORES DOS MORADORES

Accontesceu de novo! Pelo vento uma arvore tombada foi aqui no predio! Quebrou tudo! Ja assisti ao filme desse tragico momento!

As arvores podadas eu lamento, mas, quando nossa sorte não sorri, é cada qual cuidando só de si. Fiquei preso no proprio appartamento!

Sem força, sem chuveiro, elevador… Comida a se estragar na geladeira… Nenhum computador… Ah, que canseira!

Fallar quero, Glaucão, com o doutor prefeito, para vermos a maneira de todas cortar, queira alguem, não queira!

SONNETTO

DA LAMBEÇÃO (2)

Revista velha adjuda a relembrar. Rapaz americano, bem branquello, está sem farda. Calça só chinello, em vez daquella bota militar.

A photo do Vietnam, que eu ja congelo faz tempo na memoria, mostra o par de sujos chinellões a descalçar dos pés do outro um nativo nada bello.

O pobre vietnamita, na legenda, irá massagear o americano nas solas, com a lingua! Não me enganno!

Não basta ao fetichismo que dependa de historicos registros, pois o panno não passo: ao vietnamita ja me irmano…

SONNETTO DA ADJUDINHA

Que merda, Glauco, porra! A minha vida virou inferno! Sendo processado estou! A me foder, de todo lado, as dividas pipocam! Cê duvida?

Verdade! Caso alguem não se decida a dar-me uma adjudinha, estou ferrado! Das minhas posições eu não me evado, mas ellas teem polemica sahida!

Xinguei ja muita gente de appellido que acharam offensivo! Chamei um de “brocha”, outro de “bicha” e de “bebum”!

Agora me ver querem um fallido guru, Glauco! Um fanatico commum jamais será quem cheira meu bodum!

SONNETTO DOS TOSTÕES

Primeiro, o fanfarrão me condecora, me chama de guru, lambe meu pé! Em tudo o que fallei elle põe fé! Agora não me vale? Eu estou fora!

Se foda a tal medalha! Metta agora a porra no seu cu! Foder até eu posso o seu governo, si a ralé, bem antes de mim, não mandal-o embora!

Cercado está dum monte de cagões e nada de tomar a decisão! Tambem cagão é, falto de colhões!

Glaucão, e tu? Tambem tu não me pões nenhuma fé? Caralho! Vou, então, astrologo tentar ser, por tostões?

SONNETTO DO JUIZO

Mil mortos num só dia? Mas de jeito nenhum permittirei que isso accontesça! Tal numero quem tenha na cabeça juizo não está no seu perfeito!

Eu, como observador, não me subjeito àquellas estatisticas! Que cresça demais a mortandade é só travessa e grossa molecagem! Não acceito!

Daqui por deante, Glauco, só te digo: Divulgo quando os numeros estejam cahindo! Outros paizes ja festejam!

Duvidas, Glauco? O que é que está comtigo havendo? Que outros cegos nada vejam va la! Mas teus escrupulos te pejam?

SONNETTO

DA LAMBEÇÃO (3)

É photo conhescida a que, na guerra terrivel do Vietnam, se divulgava. Soldado garotão, não uma escrava, mas duas elle tinha, alli na terra!

As moças, na banheira, ninguem erra as vendo muito tristes, quando dava a dupla banho nelle, que nem brava feição exprime e os olhos semicerra!

Mas, noutra photo, o joven yankee fica descalço emquanto um homem se degrada lambendo. O gesto oral por si se explica!

Em ambas, eis o gajo que da zica dos pobres vietnamitas deu risada! Taes photos dão da guerra a melhor dica…

SONNETTO DO MALUCO DA CABEÇA

Um cego com poder de decisão?

Um cego que ‘inda autonomo paresça?

Estás mas é maluco da cabeça!

Um cego só tem uma posição:

Abbaixo de quem vê com olho são! Debaixo dos pés! Que elle não se exquesça!

Qualquer abuso oral que lhe accontesça tem elle que engolir, Glaucão! Ou não?

Tu sabes que estou sendo o mais sincero possivel, Glauco! Sabes o que passas si serves às vontades mais devassas!

Eu mesmo ja abusei dum cego! Quero em horas taes dizer, a rir, que graças a Zeus enxergo! Tu que preces faças!

SONNETTO DO VELHO NORMAL

O gringo, no Brazil, poder arrocta! Deixamol-o fazer tudo o que queira! Republica nós somos, bananeira! Não achas, Glauco? Ou és tu patriota?

Si fores, perdes tempo! Quem adopta criterios objectivos da maneira mais simples e normal disso se inteira! Nos resta, assim, Glaucão, fazer chacota!

Aquelles que se indignam com o facto de sermos viralattas são os mais soffridos, qual escravos sexuaes!

É como no meu caso, pois constato que, emquanto só chupei entre mil ais, soffri! Mas vi que factos são, normaes!

SONNETTO DO ADHESIVO

Um cego, bengalando, para à beira do largo calçadão. Quando o signal abrir, attravessar quer. Alguem, mal pensando, ja bollou a brincadeira.

Dispondo-se a adjudar no que elle queira, o gajo colla às costas do “mural” ceguinho um adhesivo que é fatal: o symbolo da faca na caveira.

Instados pela audaz provocação, os outros transeuntes olham para o cego com desdem, chutam-lhe a vara…

Jogado ja no chão, leva pisão o otario pelo corpo, pela cara… Escuta a rir a gente e vira arara…

SONNETTO DO FIM DE PAPPO

Por cyma da cueca: assim mandava chupar, para começo de conversa. A sua mente sempre foi perversa. Mulher elle tractava como escrava.

Em pouco, uma mandou o gajo à fava. O gajo arranjou outra, mas adversa ficou a relação. Segundo versa o povo, solitario logo estava.

Pensou numa ceguinha bem submissa. Faltando cega que essa putaria topasse, eis que um cegueta muda a missa.

Agora tem quem mamme em sua piça. Gostou da conclusão, Glaucão? Um dia aos versos meus você fará justiça!

SONNETTO DO COBERTOR

Tirei o cobertor, que ja guardado estava havia mezes. Que poeira! Allergico ja sendo, si isso cheira alguem, será peor o resultado.

Foi tiro e queda! Glauco, complicado fiquei! No meu logar você nem queira estar! Foi tanta tosse, chiadeira no peito, dores deste e doutro lado!

Peguei uma bronchite do diabo! Você tambem ja teve? Que foi? Dor no peito? Tosse? E então? Foi cobertor?

Errei? Bem, mas commigo você brabo não fique, Glauco! Diga, por favor: Ao menos dei-lhe motte! Hem, trovador?

SONNETTO DO INFERNO ASTRAL

Astral inferno, Glauco, o que será?

Será do anniversario o que, um mez antes, passamos em azares torturantes? Será cada ponctada que nos dá?

Será que nos darão noticia má a cada dia, até poucos instantes faltarem para alguns participantes cantarem parabens na hora “H”?

Será que trinta dias de infelizes eventos compensar vão um só dia de commemoração e de alegria?

Será que, anno appós anno, taes reprises se fazem necessarias? Que seria dos cynicos astrologos? Que fria!

SONNETTO DOS ANTICORPOS

Testei. Eu não queria, mas testei. Fiz tudo p’ra addiar a decisão. Julguei, um dia sim, um dia não, si tinha que saber o que ja sei.

Testei. Que me forçasse, não ha lei. Não houve, não, qualquer obrigação moral, nem social. Nada, Glaucão! Appenas hesitei e, emfim, julguei.

Testei. Deu positivo, o que me indica que estive exposto ao virus, Glauco! Certo? Não sou nesses assumptos tão experto.

No cu tenho levado tanta picca que pouca differença faz si perto ou longe estou da peste. Nem me allerto…

SONNETTO DUM EBOOK QUE EDUQUE

Não és, Glauco, uma fabrica, não! És usina, és Itaypu, para compor sonnettos! Fazer pausas si não for teu verso, em mais dez annos dás mil dez!

Electrica energia tal ao rés do chão não se transmitte! É de suppor que poucos a consumam! Sem favor nenhum, qual editor te chega aos pés?

Não, Glauco! No commercio, o maior sello que exsista não dá compta de editar teus livros! É dos outros tal azar!

Farás, tenho certeza do teu zelo, por compta propria aquillo que está a dar noção Lucio Medeiros, sem parar…

SONNETTO DA GARRAFA QUE GRAPHA

Mensagens na garrafa até ja as dera o punk, aquelle naufrago na scena rockeira: gesto grande em tão pequena escala. Mais será na actual era.

Do seculo gran coisa não se espera em termos de empathia, nem de plena acção humanitaria. Nos condemna o jogo do Systema à van chimera.

poetas e philosophos, iremos, em verve engarrafada, aos mais extremos canthinhos do oceano. Estamos sós?

Não creio. Nossa nave é, sem os remos nem bussola, a garrafa, que podemos lançar, uma appós outra, appós, appós…

SONNETTO DO ENGARRAFAMENTO

Mas, cara, agora a tudo só de carro se vae, até em testagem e cinema! Agora, quem de casa sahir tema só sae si for assim! Não é bizarro?

Sahindo, cara, a pé, sempre eu exbarro em agglomerações! Não, nesse eschema não dá p’ra ser feliz! Glauco, que thema legal para poema, né? Que sarro!

Você pode fazer, Glaucão, um monte de estrophes p’ra contar casos assim, de gente nesse transito sem fim…

Pensou, Glaucão, em algo? Quer que eu conte o caso da menina que p’ra mim olhou, sorriu da rua? Deu ruim…

SONNETTO DA PRESENÇA DE ESPIRITO

Meu pae dizia: “Christo vem ahi!” Viveu elle septenta annos, mas nem siquer sombra de Christo viu do Alem surgir! Nem eu, tampouco, sombra vi!

Ninguem que eu conhescesse e que não ri de tantas prophecias dizer vem que viu Christo chegar, Glauco, ninguem! Estou descrente, Glauco! E quanto a ti?

Quem sabe si elle esteve mesmo, mas ninguem o percebeu, ou ninguem deu ouvidos, ja que exsiste tanto atheu…

Até suspeito, Glauco, que, aliaz, eu seja Jesus, juro! Sim, pois meu recado ninguem leu, nem entendeu…

SONNETTO DO TALHE NO DETALHE

Gravura vi, Glaucão, que lhe interessa. Carrascos trez accabam de cegar um homem, cujo oval globo ocular tirado foi da cara, mas sem pressa.

Seu outro olho sahir tambem vae, nessa sessão de cegação. Falta passar a faca, que dum delles a brincar está na mão e quasi que a attravessa.

Detalhe interessante que, evidente, nos salta à vista: algozes de pau duro estão, fora das calças. Glauco, juro!

Mais um detalhe: rosto sorridente exhibem elles. Quasi ja no escuro total, o desgraçado passa appuro…

SONNETTO AO RÉS, AOS PÉS

Te quero descrever, Glaucão, a scena que vi numa veraz photographia. Foi n’Africa do Sul, quando valia o rigido regime em sua pena.

Do preso o queixo roça na terrena poeira. Até o pescoço la se enfia o corpo. Na cabeça, à luz do dia, o forte sol luz batte nada amena.

Dois jovens guardas pisam na cabeça, que está das sujas botas ao alcance. Teem elles, quanto queiram, boa chance:

Pisar, chutar, mijar, mandar a advessa e secca lingua achar que rolle e danse na sola das botinas… Rude lance!

SONNETTO DEFINITIVO

“Amar é…” Ja pensaste, Glauco, nessa questão? Ja completaste a reticencia? Qualquer menestrel classico que vence a pieguice encontrará resposta à bessa!

Só vale responder o que interessa a amantes, namorados: “paciencia”, “saber ouvir”, “lembrar não só na ausencia”, “fallar logo; pensar, porem, sem pressa”…

Tu, Glauco, que és poeta, certamente virás com um conceito breve e bello. Que tarde ‘inda, a ti nesta lyra appello!

Somente isso, Glaucão? Ficas contente com esta phrase nesse teu martello, “chulés compartilhar num só chinello”?

SONNETTO DA DERRADEIRA SAPATEIRA

Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez?

Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez?

Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas, olhos cegos?

Será que ‘inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n’a rasgado? Os pés, exfrego-os…

SONNETTO DO DELIVERY POR DROME

Pedi que me entregassem cannellone, salada, sobremesa, até bebida inclusa, mas jamais suppuz na vida que venha a tal entrega por um drone!

Foi foda, Glauco! Caso alguem accione errado, o troço chega, na descida, veloz, trombando em tudo! Quem decida paral-o mais verá que elle detone!

Entrou pela janella, Glauco! Veiu batter contra a parede! Foi a massa aos ares se expalhar! Quebrou a taça!

Glaucão, aquelle estrago foi bem feio! Jamais peço de novo que se faça a coisa! Accuso tudo pela praça!

SONNETTO DA MESMICE

Durante a quarentena, do pavê o thio ja não é fonte de problema. Mais proxima pessoa faz que tema a gente esta roptina de clichê.

Miojo todo dia! Acha você saudavel? Mas, Glaucão, mamãe só rema na mesma direcção! Ovo com gemma durinha, ja cozido, outro dilemma!

Domingo muda a coisa de figura! Alguem aquelle frango de padoca buscar vae, mesma mascara colloca…

E sempre se commenta: “Até mais dura roptina aguenta o povo da malloca!” A gente se consola, pois se toca…

SONNETTO DA COMMISERAÇÃO

Eu, toda vez que vejo um alleijado andando de muleta, me condoo, pensando no coitado que, no voo dum salto, nunca pode ir n’agua a nado!

E quando vejo um ‘inda mais ferrado, um desses cadeirantes, nem caçoo do gajo, pois até jaula de zoo tem bicho mais feliz, mais bem tractado!

Até, Glaucão, si vejo um surdomudo fazendo umas caretas de quem não entende porra alguma, dou razão…

Mas, quando vejo um cego, não o accudo nem delle sinto pena! Não, Glaucão! Me lembro de você, fan de Sansão…

SONNETTO DO CEGADO E CAGADO (1)

Bengala ainda nova, vem o cego battendo o troço deste e doutro lado. Alguem que se irritou, ja bengalado que fora, quer vingança: “Ah, ja te pego!”

Glaucão, que isso diverte, meu, não nego! Um trecho da sargeta está tomado de merda! Algum exgotto vazou! Dá, do fedor, enjoo! Penso nisso, offego!

Num tranco, o gajo obriga aquelle chato cegueta a mergulhar na cocozeira! Da valla, chafurdando, fica à beira…

Perdeu sua bengala! Até desapto a rir! Ninguem adjuda a quem mal cheira! Só ficam rindo dessa van cegueira…

SONNETTO DO CEGADO E CAGADO (2)

Não posso ver um cego de bengala que fico ja com raiva! Aquella vara o cara vae battendo, sempre para la, para ca! Que sacco! Me resvalla!

E mesmo que não pegue em mim! De olhal-a batter, ja me emputesço! Porra, cara! Meresce essa licção sahir bem cara! Lhe ensigno que a mim cego não se eguala!

Ah, Glauco, ja tomei a vara dum, joguei longe e fiquei alli, curtindo a sua reacção! Achei bem lindo!

Pisou bem no cocô, que é tão commum haver pela calçada! Foi bemvindo seu tombo! Se borrou! Glaucão, eu brindo!

SONNETTO DO CEGADO E CAGADO (3)

Ja devem ter descripto para ti o video. Pediu sopa, ao restaurante, o cego, mas um passaro, durante a pausa, passa e caga por alli.

Cocô cae noutra sopa, mas eu vi que, rapido, o garçon ja se garante. O pratto sujo passa, astuto, addeante e serve ao cego o caldo! Ah, como eu ri!

Ah, Glauco! Precisavas ver a cara de gosto do ceguinho! O desgraçado pensou que estava super temperado!

Um dia, satisfaço minha tara e enganno um cego assim! Mais eu me aggrado si a merda for a minha! Estou errado?

Glaucão, fiquei sabendo que, expirrado aos ares na descarga da privada, o virus, em gotticulas, entrada tem pela nossa cara! Achas-me errado?

Verdade, Glauco! O campo não invado dos nossos scientistas! Mas é cada noticia que nos trazem! Hem? Mais nada faltava! Até cocô contaminado!

Sim, Glauco! Não demora para alguem dizer que do cocô vem pelo cheiro um monte de microbios, ja me inteiro!

Sim, Glauco! Ja notei mesmo que vem, no cheiro, sensação de verdadeiro pavor, assim que saio do banheiro…

Escuta só, Glaucão, o que te digo! No Trump inspiradissimos, uns dez rapazes que desprezam as ralés sahiram e mijaram num mendigo!

Na cara, até na bocca, meu! Abrigo sem ter, na rua dorme! Mas aos pés ficou daquella turma de manés! Sem tecto, quasi fica sem jazigo!

Pisaram nelle, Glauco! Nem precisas pedir que eu te confirme! Interessante foi mesmo a reacção desse tractante:

“Coitados dos meninos! Foram lisas as suas intenções! Sim, são bastante fanaticos por mim! Sou tolerante!”

SONNETTO DO FARTUM NO CARTUM

Vae, abre teu sorriso, Glauco! Humor libera as endorphinas! Quem risada dá, para longe expulsa a malfadada noticia, a vibração ruim, a dor!

Humor só não funcciona si a favor é feito para alguem que não quer nada com criticas ou presta-se ao que aggrada ao lider de plantão, ao dictador.

Não sendo propaganda pamphletaria, na chronica, na satyra, na mera e simples charge, o riso vocifera!

Sim, quando, Glaucão, uma tão hilaria figura mais delira que lidera, só resta criticar! Ora, pudera!

SONNETTO DA CONTRACEPÇÃO

É facil não ter filhos, Glauco! Basta fechar as pernas, porra! Gravidez se evita! Né? Caralho! Só quem fez nenen foi a mulher que não é casta!

Um homem que não seja pederasta somente de putinhas é freguez!

A culpa não é delle, que michês não paga, mas com puta a grana gasta!

Sim, filhos só terá quem isso queira!

A puta, si negar que é chupeteira, que emprenhe! Que embarrigue, então, caralho!

Dispenso pharmaceutica tranqueira! Si for p’ra desistir duma rampeira, eu fodo um cego, mesmo! Quebro o galho!

Você ja se cagou, Glaucão, dormindo?

Eu ja, cara! Ah, foi foda aquillo, porra! Foi foda! Merda molle, caso excorra, effeito causa forte e nada lindo!

A gente só percebe quando findo foi tudo! No meu sonho, uma gangorra eu ia cavalgando, mas, na zorra total, a caganeira foi sahindo!

Senti, na bunda toda, a quenturinha molhada! Meu nariz da fedentina tomou conhescimento! Triste signa!

Glaucão, eu só lhe digo que damninha foi minha refeição, que não combina com hora de nanar! Assim termina!

SONNETTO DO SALDO DO CALDO

Glaucão, ja te cagaste emquanto o somno te dava bello sonho colorido? Commigo succedeu, e te convido a vires conferir o que menciono!

Cagar nos é normal quando, no throno, fazemos cocô duro ou diluido! Ja quando o creme fica ammollescido demais, nem reconhesce o cu seu dono!

Que estrago! Lençol molha, cobertor… Do somno despertei pelo fedor, passei a mão… que quasi esteve enxuta!

Espera que eu conclua! Vaes suppor que culpa foi daquelle bom sabor do caldo de pheijão? Arrisca! Chuta!

SONNETTO GOSTOSO

Você quer saber, Glauco, o que seria chupar “gostoso” um pincto? Ora, amigão, é facil de explicar! A posição da lingua condiciona a phantasia!

A lingua “saboreia”, se sacia de varios “paladares”! A micção vestigio deixa nitido, que, tão marcante quanto o “queijo”, o olfacto guia!

Emquanto você chupa, “saboreia”, dahi chupar “gostoso”! Mas tambem eu “gosto”, si chupado, nojo sem!

Mais longe vae você, que tira a meia appenas com a lingua, Glauco! Nem precisa perguntar o que lhe vem…

SONNETTO DO SERMÃO DA MONTANHA

Lembrae-vos de que o parto da montanha só deu à luz um misero rattinho! Lembrae-vos de que invertem o caminho aquelles que duvidam da façanha!

Sim, para Mahomé não foi extranha a vinda da montanha até pertinho de si, ja que elle nunca foi vizinho de rocha assim tão ingreme e tamanha!

Portanto, meus irmãos, não duvideis daquillo que vos digo! Não façaes de compta que desnudos não estaes!

No picco do vulcão vós podereis estar, mas não estaes livres dos ais! Nos vossos cus as lavas são lethaes!

SONNETTO DA CANTORA PRETERIDA

Glaucão, si eu não ganhar a primeirona, final collocação no festival, eu acho que me macto! Você mal calcula como a gente isso ambiciona!

Não canto, Glauco, como prima donna das operas, mas esse pessoal da bossa nem me chega aos pés! Normal, portanto, que eu não seja a sexta, a nona!

Fiquei sabendo, Glauco, que San Remo deu caso suicida! Alguem jamais venceu e, inconformado, foi ao Demo!

Não sei si chegarei a tal extremo, mas doutras bem accyma estou! Meus ais agudos são! Por isso perder temo!

SONNETTO MACHIAVELLICO

Tu queres cultuar a minha luz?

Mas lembra-te, ceguinho, de que eu não sou unico, mas uma legião!

Qualquer das minhas luzes te seduz?

Advirto-te que um preço ja te impuz a fim de que tu possas ter visão das coisas, mesmo sendo-te illusão: terás que me beijar em muitos cus!

Estás bem preparado? Os bruxos, sim, meu anus lambem! Lingua assim tens? Vem, então, te emporcalhar dentro de mim!

À toa Satanaz a ser não vim! Eu sou machiavellico, meu bem!

Terás que bom achar o que é ruim!

SONNETTO AO DAREDEVIL (1)

Ja viu superheroe cego você? Das artes marciaes é luctador! Aqui querem chamar Demolidor! Hem, Glauco? Cego lucta karatê?

Faltava só mais essa! Quem não vê vencendo os inimigos! Eu, si for batter num cego, batto onde mais dor provoque e que maior prazer me dê!

Excolho onde batter, Glaucão! Assim, divirto-me e ‘inda applico uma licção num gajo tão ridiculo! Né não?

Prefiro ler Tarzan ou ler Tintin, que menos mythologicos me são! Mas nesses eu não metto minha mão!

SONNETTO AO DAREDEVIL (2)

Paresce que esse heroe, Demolidor, ao padre confessou-se, ‘inda menino, depois de ficar cego. Ora, imagino que tenha lamentado sua dor!

Teria dicto: “Como um peccador serei? Um cego, pelo seu destino, não pode fazer nada! Não attino que possa, assim, peccar! Que vou suppor?”

Então mais innocente eu sou e fico tranquillo p’ra sentar a mão, o bicco da bota num babaca sem visão!

Nem sinto qualquer pena! Acho tão rico de estimulo um gibi no qual o Chico appanha do Francisco, ou batte, então!

SONNETTO DO BIQUINHO

Não sou eu contra aquelle que quer dar seu anus, seu biquinho de Asmodeu, annel de Belzebuth, seu rabo, seu “orificio rugoso infralombar”!

Não tenho preconceito! Tenho um ar blasê, desdem exhibo… Talvez meu defeito seja assim, pois eu plebeu jamais fui! Nada posso censurar!

Estão a disso obter notoriedade?

Não posso concordar que quem deu ha de querer allardear seu cu, porem!

Conhesces das bichonas a vaidade! É tara satanista! Retro vade!

Meu cu só no espelhinho olhei! Eu, hem?

SONNETTO DO DIPLOMA NA MOLDURA

Glaucão, estão dizendo que é fajuto todinho o meu curriculo! Magina! Fodão eu sou na minha disciplina! Si querem duvidar, eu fico puto!

Admitto que alguns titulos eu chuto que tenho, mais ou menos, que escrevi, na tal these, varios plagios, officina nenhuma dei nem tive esse instituto!

Mas isso todos fazem, Glaucão, ora! Implicam só commigo? Por que só commigo? Só porque virei xodó?

Até quem é rival me condecora! Causei muito despeito! No brechó fallaram que eu diploma comprei, ó!

SONNETTO DA RIVALIDADE NORDESTINA

Soubeste? Não, tu disto não soubeste, Glaucão! Um cantador, quando deseja mal para algum rival, quer que este esteja ceguinho, dentro em breve, no Nordeste!

Repente elle fará: “Cabra da peste, verei você, na porta alli da egreja, pedindo esmolla! A grana me sobeja e tenho vista boa que me reste!”

“Verei você, ja cego, sem um guia, emquanto, sem querer no seu logar estar, eu vejo clara a luz do dia!”

Te digo que taes termos usaria, tão ricos, desse experto linguajar usado por rivaes na cantoria!

SONNETTO

DO CANAL DA BACCHANAL

Ouviu fallar, Glaucão? Fazem orgia por teleconferencia! No jornal está que fazer podem bacchanal remota, pelas cameras! Sabia?

É tudo organizado: o horario, o dia… A gente se cadastra num canal de imagem e qualquer coisa “normal” será considerada, sem phobia!

Glaucão, até podolatras terão logar! Emquanto um mostra a sua sola, um outro mostra a lingua, passa, colla…

Só mesmo você, Glauco, solas não verá! Mas poderá pedir esmolla verbal! Abusos typo: “Deita! Rolla!”

SONNETTO DO ABSINTHO DE PINCTO

Prepare-se! Exquescer della jamais irá, quando proval-a você for: urina allaranjada, quasi cor de abobora, a formar até crystaes!

Meu mijo tem assucar, Glauco! Os taes crystaes teem sabor doce, é de suppor! Sou muito diabetico! Um licor você vae degustar e pedir mais!

Mas, mesmo que não peça, vou lhe dar na marra, ja que cego você está! Beber adjoelhado bom será?

Pudera! Bocca suja cavallar você ja demonstrou! Com lingua má verseja sobre tudo! Né, xará?

SONNETTO DA MAIORIDADE

Seu Glauco, o senhor pode ter certeza de como o meu chulé de maior é! Talvez seja menor este meu pé, que pouco mede menos que o da mesa!

Mas posso garantir: de rolla tesa não fico si um adulto cafuné fizer no meu pentelho! Bote fé, creança não serei tão indefesa!

Seu Glauco, o meu chulé não me envergonha, mas delle nem tampouco sinto orgulho! Farei anniversario, agora em julho!

Com novos tennis todo joven sonha! Darei, sim, ao senhor aquelle embrulho dos velhos, pois meu quarto ja vasculho!

SONNETTO SEM VASELINA

Glaucão, o conde Dracula fascina tambem quando o real delle se falla! Sim, por predilecção é que elle empala seus varios desaffectos! É roptina!

Glaucão, empalação é mesmo fina e linda tradição! Vale exaltal-a! Em vez de ter logar só numa salla fechada, arma na praça a grande gala!

A lança que enrabou o prisioneiro no solo desse espaço bem fincada está, para que o povo dê risada!

Até que o gajo morra, vae, primeiro, sangrar devagarinho, como cada veado que se enrabe na porrada!

SONNETTO DA AVENIDA

Tens, Glauco, uma noção do que seria um ratto na boceta, até no cu dum pobre prisioneiro que, ja nu, esteja aptado pela tyrannia?

Não, Glauco, o ratto, mesmo, só se enfia alli porque não teve outro menu! Cercado, sem passagem, sabes tu por onde tal bichinho ousar iria?

Si o ratto não tiver outra sahida, irá forçar, cavar caminho, mal podendo se mexer! Alguem duvida?

Coitada da abertura que decida fechar-se aos movimentos do animal, tractor tentando abrir uma avenida!

SONNETTO DO STRIPTEASE

Aptado pelos pulsos, mãos accyma da altura da cabeça, sem nenhuma cueca siquer, mesmo que elle assuma uns ares dignos, logo desanima.

Começa a sessão, nesse extremo clima de euphorico recreio. Se advoluma o publico na arena, à qual ja rhuma até molecadinha que se mima.

As habeis chibatadas dadas são nas partes. O punido os golpes sente arderem e rebolla na afflicção.

Provoca as gargalhadas do povão por causa dessa dansa que, indecente, nos lembra cabaré. Não é, Glaucão?

SONNETTO DO TEDIOSO GOZO

Levaram o teimoso bandoleiro, que nada confessara, à salla ao lado. Por ordem do orgulhoso delegado, o gajo foi queimado com isqueiro!

Sim, Glauco! Dei um google! Sim, me inteiro dos factos! Foi todinho chammuscado! Na poncta das orelhas, no suado pezão, no sacco roxo, no trazeiro…

Você ficou com pena do pezão, não é? Talvez você não o queimasse! Talvez nelle exfregasse sua face!

Mas delle não tiveram pena, não! Só deram gargalhadas! Si enxergasse, veria como goza aquella classe…

SONNETTO DA PAUSA PARA A CAUSA

Mulheres estupradas na prisão o foram com maior frequencia, vejo, com homens confrontadas. O desejo de posse e o de tortura primos são.

Concordas tu commigo, não, Glaucão? Reparo, todavia, que sem pejo alguns torturadores esse ensejo desfructam sobre machos mais à mão.

Fiquei sabendo, Glauco, por um tira agora apposentado: mais deleite ha caso o prisioneiro não acceite!

O preso se debatte, se revira, mas urra, penetrado sem azeite! Si topa a fellação, ora, approveite!

SONNETTO DAS FACEIS FACES

Martins Fontes nomeia como mestre Satan, Mephisto, Lucifer, e chama tambem de Belzebuth esse a quem ama accyma do parametro terrestre.

Sciente, eu ao Cappeta que me addextre pedi, durante as bronhas que na cama batti. Si illuminou-me sua chamma, terei que ser quem sobre elle palestre.

Até Melchisedech elle será, alem de Mephistopheles. É quem quizer, pois elle está mais para alem.

Tem cara de bebê, tem de gagá, de bruxa, de nympheta… Não é nem bellissimo, nem feio, rosto sem.

SONNETTO DA SUSPENSÃO

Seu Glauco, estão querendo me expulsar! Sim, do collegio, só porque eu fallei do negro, da mulher, até do gay, aquillo que merescem escutar!

Mulher tem que rallar e ser “do lar”! Ao negro não tem nada que ter lei de quotas, de racismo, la nem sei que mais, e gay precisa se curar!

Trez dias eu peguei de suspensão e querem me expulsar por causa disso! Com cegos nem meu tempo desperdiço!

Fallar nem vou, seu Glauco! Um cego não precisa que se falle! Elle é submisso à gente, que ver pode! Sem enguiço!

SONNETTO DO APOCALYPSE

Cyclone-bomba… Nuvem ja se vê até de gafanhoto, Glauco! Praga assim é para a gente ver si paga peccados nunca vistos na TV!

Peccaste muito, Glauco? Caso dê, me compta aquillo tudo que desbraga! Estava demorando um céu que traga castigos que na Biblia a gente lê!

Na data apocalyptica, verás até Nevar durante este verão! Calor fará que em junho nunca faz!

Chulé não acharás mais num rapaz! Botinas te darão menos tesão! Nos resta confiar em Satanaz!

SONNETTO DA ERRONEA SEDUCÇÃO

Praquelle clube entrei, Glaucão, mas nem suppunha que seria alli rendida! O clube nos seduz e nos convida, depois as garras mostra! Acceita alguem?

Até bem recebida fui! Porem, no mesmo dia quasi perco a vida! Prenderam-me em correntes e, em seguida, dum ogro me fizeram de refem!

Um ogro, sim, Glaucão! Um typo tão horrivel que dá nojo até num cego! As marcas de seus golpes eu carrego!

Comeu-me, em mim cagou, fez um montão de extremas porcarias! Com um prego por pouco não cegou-me! Errei, não nego!

SONNETTO

DO LOGRO POR UM OGRO

Entrei para tal clube, Glauco, por banal curiosidade. Nem capaz serás de imaginar do que um rapaz pacato possa alli ser soffredor!

Não podes, tu que és cego, nem suppor que rosto um ogro tinha! Nem te faz alguma differença! Suas más caretas dão pavor, seja a quem for!

Pois esse ogro offendeu o meu pudor! Prendeu-me numa jaula! Alli quem jaz appanha de chibata! Alegre estás?

Por que não te commoves? Fodedor foi elle em minha bocca! Não irás dizer que gostarias, hem? Não vás!

Quem é que um clube egual, com tradição no sadomasochismo, supporia por traz duma prosaica academia, daquellas de gymnastica, Glaucão?

Aquelles apparelhos, todos tão singellos e innocentes (Quem diria?) funccionam como machinas à fria e frivola tortura, ao cru tesão!

As victimas, aptadas a taes barras e pesos, torturadas são com todo requincte! Ja pensou si eu la me fodo?

Ouvi fallar: famosas são as farras orgiacas no clube! Eu nesse engodo não caio! Mas você, sim, curte lodo!

SONNETTO DO CEGO CORNO

Vantagem sei que levo, ao menos uma, casada por ser eu com um ceguinho. Não uma. Talvez duas. Lhe apporrinho, Glaucão? Então permitta que eu resuma.

Primeiro, acho perfeito que elle assuma: Jamais para a mulher dalgum vizinho olhar eu o verei. Mais excarninho será quando um amante a gente arrhuma.

Ahi vejo vantagem mais bacchana. Com outro poderei trahil-o, bem na frente delle. Basta achar alguem…

Né, Glauco? Quem é cego não se enganna assim tão facilmente! Tesão tem, mas cala-se, excolhendo ser refem…

SONNETTO DA AMIGA FRIORENTA

Não, Glauco, o meu chuveiro não exquenta! No frio, não ha meio! Resolvi! Não vou tomar mais banho! Só daqui a mezes, no verão! Dias? Noventa!

Que xinguem! Que me chamem de nojenta! Boceta ja só limpo si chichi accabo de fazer! Si piriry eu tive, limpo o rabo! Quem attenta?

Alguem presta attenção nas minhas partes pudendas, que não dispo p’ra ninguem? Alguem vae perceber que cheiro teem?

Não, Glauco! Si quizeres, que te fartes com partes masculinas! Minhas, nem pensar que tel-as visto possa alguem!

Cagar na tua bocca não vou, mas é só por descomforto meu! Porem vaes tu meu cu limpar bem limpo, sem as mãos, só com a lingua, si és capaz!

Accabo de cagar! Agora, faz aquillo que tu sabes! Lambe bem la dentro! Exfrega as pregas! Limpa, alem das pregas, os pellinhos! Limparás?

Exforça-te e consegues, cego! Oscula, primeiro, depois sente, com a poncta da lingua, aquelle gosto que ammedronta!

Não temas! Caso tua glotte engula um pouco de cocô, leva na compta de empenho por aquelle que em ti monta!

SONNETTO DAS SUSCEPTIBILIDADES

Seu Glauco, o meu papae disse que eu não devia conversar com um poeta maldicto, que influencia assim affecta a gente e nos perverte… Com razão!

Mas quero perverter-me e nelle, então, uns golpes appliquei que até se veta nas artes marciaes! Ja ficou quieta a lingua delle, espero, o babacão!

Sou calmo, sim, seu Glauco! Só si for o caso desço o braço no papae! Sossegue! Edade tenho, que não trae!

Passei por internatos, sim, mas por bem pouco tempo, claro! O senhor vae querer me questionar? Se toque, hem? Ai!

SONNETTO DOS MIMOS

Meu filho, Glauco, deixa-me maluca! Eu mimo, mimo, mimo, mas de nada addeanta! Quem controla a molecada dos dias actuaes? Bagunça a cuca!

A gente faz de tudo! Veste, educa, dá tennis, calça, às vezes dá palmada, descalça, calça a meia! Quando usada ja lava! Mas é tudo uma sinuca!

Si nego uma coisinha, ah, meu amigo! Irado o molecão logo me fica! Me chuta com o tennis, me dá bicca!

Si faço o que elle pede, ja perigo exsiste de querer griffe mais rica no tennis e nas roupas! Mas que zica!

SONNETTO DO DIABRETE

Ai, Glauco, tenho um filho de proveta! Precisa ver que praga, que pestinha! Ninguem excappa! A todos apporrinha! Eu, hem? Paresce filho do Cappeta!

Ainda que eu mamãe boa prometta ser, elle me excarnesce, endemoninha e surta, quer foder-me! Coitadinha da sua amiga, Glauco! Não é peta!

Que faço? Ouço você? Dou uma dura? Me livro do moleque? Não será tão facil! Prometteu que entregará!

Ai, Glauco! Tenho medo da tortura methodica que Junior sabe, ja, curtir! Não diga! Ahi quer que elle va?

SONNETTO DA DIABRURA

Um endemoninhado o meu menino só pode ser, Glaucão! Ora, accreditas tu que elle em paz não deixa as mais bonitas do bairro? Comeu todas, imagino!

Comtudo, na mão delle -- é o que eu opino -mais soffre certa gente que tu citas bastante em teus sonnettos. Ah, maldictas as victimas que cumprem tal destino!

Na filha da vizinha a diabrura mais sordida practica aquelle meu menino, pois visão ella perdeu!

Brincando, o diabrete della fura um olho, depois outro! Nesse breu horrivel, ella chupa! Ah, ninguem creu!

SONNETTO DO QUE VEM DA VENDA

Aquelle que baunilha aqui não for ja sabe que, de escrava, a gente venda os olhos. Isso leva a que ella attenda e cumpra as ordens, sempre com temor.

O medo que tem ella, sem que cor nem luz possa advistar, faz que dependa da gente. Sem defesa, chupa alguem, da cabeça ao sacco, soffrega ante o odor.

Mas ella, ao retirar a venda, fica ja livre desse medo, desse estresse. Ocê não fica, Glauco! Ocê padesce!

É foda, né? Confesso, minha picca, emquanto nocê penso, ô si enduresce! É pena! Ah, si cegar ocê eu pudesse!

SONNETTO DO HORROR DOMINADOR

Estás horrorizado, Glauco? Tanto melhor a mim, si estás! Eu, quando vendo uns olhos, tesão forte ja vou tendo! Pensando em quem ceguei, o pau levanto!

Que sarro! Que delicia! Sabes quanto eu curto o que enxergando vou! Horrendo eu acho o teu castigo! Não dependo dos outros, não te egualo o desencanto!

Tu vives, Glauco, para sempre nessa cegueira! Não dependes duma venda que, finda a sessão, outrem ja suspenda!

Não, Glauco! Seguirás cego! Confessa que estás horrorizado! Falla, a bem da verdade, que a cegueira achas horrenda!

SONNETTO DO PAROXYSMO NO BONDAGISMO

Com tanta ammarração, o gajo fica bem immobilizado. Nesse estado, subjeita-se à mercê de todo sado que queira abusar delle, erguida a picca.

O sado o pé lhe empurra, applica a bicca, açoita, dá risada do coitado. Mas este, que enxergando está, dum lado e doutro, ainda estoico, nem supplica.

Aguenta firme as chordas do “shibari”, mas logo o sado os olhos delle tapa. Appanha, sem que àquillo se prepare.

Mais medo passa, até que o sado pare de nelle desfructar em cada etapa. Não ha nó que à cegueira se compare!

SONNETTO DA FÉ REQUENTADA

Tu sabes que sou bruxa! Não me evado de causas, consequencias… Não, de nada! Respondo, Glauco, quando perguntada, que é Deus, mesmo, o Diabo disfarsado!

Jamais Deus exsistiu! O seu recado, suppostamente biblico, que enfada qualquer pensante cerebro, nem fada aguenta, muito menos quem é sado!

Satan, porem, permitte que a figura christan do Omnipotente seja crida, emquanto da gentalha azara a vida…

luxuria, perversão, vicios, usura… Virtudes são, satanicas! Incida alguem nalguma, e o pacto se valida!

SONNETTO AGOURENTO

Estão me censurando, Glauco, só porque eu fallei que quero que elle morra! Mas é verdade! Eu quero mesmo, porra! É muito bafafá! Bah! Tenha dó!

Não é de todo mundo que xodó é um filho duma puta! Caso occorra torcermos p’ra que a morte nos soccorra, por certo não será da minha avó!

No consequencialismo, vale o dicto: dos males, o menor! Glaucão, está torcendo o povo todo! Bom será!

Até vampiro morre! Nem lhe cito cayporas, nem sacys! Glauco, não ha ninguem que esteja livre! Tesão dá!

SONNETTO DO ROCKEIRO REVOLTADO

Usou o prisioneiro uma cangalha, que alguns estão chamando de gollilha. A argolla no pescoço mais humilha aquelle que incidiu em grave falha.

Num campo o condemnado ja trabalha forçado, sob açoite, e ja se pilha rebelde e rancoroso. Os dentes rilha de raiva a cada golpe que lhe valha.

“Tiraram de mim tudo! O meu orgulho, a minha dignidade! Fui forçado, debaixo das lambadas dum soldado!

Mas quero me vingar! Farei barulho, com minha banda, para que esse lado rockeiro ouvido seja, revoltado!

SONNETTO DO PASSEIO PUBLICO

Usar mascara, Glauco? Não! Sem essa! É coisa de veado! Use você, Glaucão, que é pederasta! Talvez dê até p’ra melhorar-lhe a cara à bessa!

Você, que alem de bambi é cego, peça que façam qualquer uma que se vê nas ruas, multicor, onde se lê “Sou mesmo!” Na calçada ande sem pressa!

A mascara as bichonas bem retracta! Dei uma a alguem que mascara não tinha, escripta assim: “Masoca sou! Me batta!”

Talvez nem gay o cego fosse! Chata ficou-lhe a situação! Levou tapinha das mãos, até dos pés! Gaiata data!

SONNETTO DO MICHÊ BOTINUDO

Meu pae me ensignou! Elle, que me fez dormir, ja, de cothurno, prompto para a guerra, fez tambem, na minha cara, vergonha que eu tivesse, essa altivez!

Mas, em compensação, vejam vocês, ganhei um chulezão que se compara ao cheiro dum gambá! Só quem tem tara podolatra se torna meu freguez!

A vida me ensignou a ser michê, na falta dum emprego mais decente. Mas sempre encontro, soffrego, um cliente.

Um cego masochista, que não vê faz tempo, tão sozinho ja se sente que minha visitinha quer, frequente.

SONNETTO DO SELECTO DEJECTO

Pegaram o ladrão. Pé de chinello, se nota pelo video. Por castigo fizeram-no comer merda. Me instigo com isso. Perguntei si o gajo é bello.

Disseram-me que é negro. Me revelo sympathico ao coitado, que perigo correu si não comesse, em calda, o figo. Aquella forte imagem eu congelo.

Si fosse no meu clube, comeria cocô na marra alguem mais rico: um branco, que engole, molle, atroz dysenteria.

Voltando ao caso, contam que fazia caretas ennojadas quem, no tranco, tragou o cagalhão da burguezia.

SONNETTO DO LINDO CASO

Tadinho do menino! Ouvi contar, num desses “lindos casos”, que elle tinha poderes mediunicos, mas minha urgencia foi dum lance estar a par.

Fizeram-no lamber, para curar, feridas que do filho da vizinha surgiram no pezinho! Que excarninha sessão! Que masochismo singular!

A fama do moleque percorria a villa. Lambeu muitos… Seu atheu papae sempre cobrou certa quantia…

Ha tempos me contaram, mas um dia mais disso saberei, pois serei eu, tambem, quem desse modo curaria…

SONNETTO DA INCOGNITA EXCEPÇÃO

De rua a moradora ja addormesce debaixo do rasgado cobertor. Ninguem mais passa. Pode-se suppor que tenha a velha feito sua prece.

A camera gravou. Eis que apparesce um carro, que estaciona. Alguem de cor mais branca salta. Seja la quem for, a midia adoraria si soubesse.

Jamais se soube. Em vez de ser nocivo, o gajo poz comida na sortida saccola, sob a manta. Sae, furtivo.

A velha accordará, sem ver ao vivo quem foi que lhe salvou, talvez, a vida. Anonymo, um se salva no meu crivo.

SONNETTO PIEGAS ÀS CEGAS

Vocês ironizaram quando, sem reservas, fiz poema de insuspeito teor e chorei quando um homem tem coragem de ser justo, sem proveito.

Não choro por ter feito alguem o bem. Eu choro por ninguem mais tel-o feito.

Não choro por estar na rua alguem. Eu choro si lhe falta, mesmo, um leito.

Alguem ser excepção, quando devia ser regra, me commove, mas talvez se deva às tristes scenas que eu ja via…

Talvez motivo seja a poesia deixar um bardo meio que freguez de ingenuas emoções, na phantasia.

SONNETTO DO CHEIRO CASEIRO

Ai, Glauco! Me escutar você precisa!

Visita recebi duma vizinha. Estava meu marido na cozinha. Occorre que elle estava sem camisa…

Na salla, só nós duas. Se reprisa a scena da banal e comezinha comedia de costumes. Fiz a minha melhor parte e, de dama, fui à guisa.

Café, claro, offeresço. Pois não é que minha amiga sente delle o cheiro? Percebe esse café, de longe, até!

Ai, Glauco! No que digo bote fé! Sem graça fiquei! Sente ella, primeiro, o odor dum sovaquinho da ralé!

SONNETTO DA PIZZA REMEMORADA

Mas, Glauco, o pepperoni não passava da nossa calabreza, appigmentada que sempre fora! Agora não tem nada da antiga! Ja mandei a nova à fava!

Tambem a portugueza não me dava noção da verdadeira! Que salada collocam nella! Aquillo não aggrada ninguem! Com a de atum a coisa aggrava!

Atum nunca foi, Glauco, nem aqui, tampouco la na China! A mozzarella usada longe está, tambem, daquella!

Não, Glauco! Não se salva nada! A ti, se salva alguma? Alguma se revela fiel à feliz epocha, tão bella?

SONNETTO DA DESNUDEZ

Fizeste meia nove? Que tu fazes na cama agora, Glauco? Ousaras tu, segundo o que supponho, do tabu zombar, mas taes luxurias são fugazes!

Sei como performavas, com rapazes sacanas, posições nas quaes o cu, seguindo os KAMA SUTRA, solta angu mais molle em plena bocca, affora os gazes!

Mil poses acrobaticas pudeste com elles practicar! Agora, não! Estás, Glaucão, ja quasi septentão!

Contesto-te! Nenhum cabra da peste consegue, septentão, ter o condão da foda contorcida! Nem anão!

SONNETTO DO COLLEGA DE COLLA

Alphonsus, na visão que tem de inferno, suggere que teria Satanaz mostrado num papyro o que elle traz escripto, o seu segredo mais interno.

Mas, hoje em dia, methodo moderno tem elle para, aos olhos dum rapaz fanatico, occultar intenções más nos minimos rabiscos dum caderno.

Satan traça signaes nas entrelinhas das nossas appostillas de estudante! Sim, Glauco! Reparei nisso bastante!

Foi colla! Assim mais altas foram minhas as notas do collegio! Quem garante que delle não vem tua voz vibrante?

SONNETTO DO TRASGO

No collo da mamãe, a bebezinha paresce innocentissima, coitada! Mas basta que mamãe fique occupada e a docil innocente está damninha!

Ja pelo chão a debil engattinha, aggarra, puxa tudo! Pega cada chordinha, cada cabo que lhe invada o campo visual ou da mãozinha!

Precisa ver, Glaucão, a quebradeira! Não sobra pedra sobre pedra, nem crystal com mais crystal, para a nenen!

Glaucão, cê quer saber? Isso me cheira a coisa do Cappeta! Não lhe vem à mente esse demonio? Quem mais? Hem?

SONNETTO DA PATERNIDADE

Si Victor Hugo cria a propria fada em forma de Esmeralda, a vê Satan e emprega, a conquistal-a, seu affan. Gonçalves Dias disso faz piada.

Sim, sempre essa cigana a alguem aggrada, por isso Satanaz virou seu fan. Mas eis que elle encontrou, certa manhan, alli na cathedral, outra alma amada…

Satan perdidamente enamorado ficou pelo Quasimodo! O corcunda virtude tinha tanta, que redunda…

O facto foi que, mesmo sem veado ser este, lhe comeu Satan a bunda! Parido um corcundinha, a lenda abunda…

SONNETTO POSTHUMAMENTE BANAL

Bandeira fez a foda alexandrina. Num unico sonnetto o bardo faz alguma concessão ao que o rapaz na moça applica, alem duma bolina.

Talvez, dodecasyllaba, mais fina e culta a foda fique, entendo, mas aquillo que interessa a Satanaz tambem Bandeira admitte, e bem culmina:

Anal penetração, com beijo e tudo, alem da fellação. Coito “normal”, appenas na boceta, foi fatal.

Perdido, tal sonnetto foi de estudo objecto. Que os biographos em tal achado se debrucem, tão banal!

SONNETTO DA PUNHETA LISBOETA

Poetas portuguezes queixa à bessa faziam do Demonio, que teria Lisboa mergulhado na follia das bichas, situação que lhe interessa.

O proprio Madragoa se confessa furioso com os gays, pois sodomia preferem à boceta. Que seria da femea sem seu macho, ora? Sem essa!

Occorre que Satan sempre incentiva punhetas, pois ha muita phantasia na mente do onanista, a mais lasciva.

E quanto ao cu, ninguem jamais se exquiva de nelle salivar, ja que essa via tributa ao “beijo negro” tal saliva.

SONNETTO DOS ARES CAVALLARES

Archanjos cavalgar querem, si fores dar credito ao que expoz Jorge de Lima. Eu mesma, que sou bruxa, vou em cyma daquillo que escreveram taes auctores.

Porem tu me perguntas si fedores maiores teem os peidos (e se estima que tenham) do cavallo de quem prima por cheiro ter de enxofre entre os odores.

Sim, Glauco! De Satan peida fedido o mystico corcel, egual à má fumaça delle proprio! Sim, querido!

Si queres saber, mesmo, te convido ao beijo que nós damos, no Sabbath! Que exsista aroma assim até duvido!

SONNETTO SADOMATTOSISTA

Você, Glaucão, extremos concilia. Notei que, sendo sadomasochista, alem de ter perdido sua vista, bem tracta duma ou doutra tyrannia.

De esquerda, de direita, você cria a scena mais cruel, emprega a lista das taras e manias, na fascista ou numa social democracia.

A gregos e troianos, pois, aggrada, ou pode ser até que desaggrade a todos que embandeiram liberdade.

Leitor sou seu, Glaucão! Sim, de nós cada um curte dictadura, adora Sade, embora cidadão, em sociedade.

SONNETTO DO ORVIL (1)

Ja tenho o meu ORVIL, Glauco! Não fallo dum Orwell, não! ORVIL mesmo, o contrario de “livro”! Um detalhado promptuario dos methodos que pisam no seu callo!

Surpreso ficará! Vou impactal-o! Você reparará, caso compare-o aos livros esquerdistas, que scenario diverso olhei: de Sade fui no emballo!

Proponho torturar, no captiveiro, os nossos inimigos, tendo uns vinte carrascos para cada prisioneiro!

Sim, typo lynchamento, Glauco! Pincte la, quando nós vencermos, meu parceiro! Será, de crueldade, mor requincte!

SONNETTO DO ORVIL (2)

No ORVIL, “livro” que lido foi de traz p’ra frente, militares negam tudo: que tenham torturado, que desnudo ficou o seu regime, ja sem gaz…

Accusam as esquerdas como más e perfidas, o povo como mudo refem do terrorismo que um estudo demanda p’ra voltar a patria à paz.

Discordo, cara! Affirmo que tortura rollou, sim, mas foi optimo que tenha rollado! Nossa força, assim, perdura!

Meu sonho, si vencermos nós, da pura moral (você não vale) é, com ferrenha vontade, implantar nova dictadura!

SONNETTO DO PAREDÃO

Duvido de você, quando me diz que exsiste boa gente em cada lado! Si sou de esquerda, quero fuzilado ver um dos “bons”! Assim serei feliz!

Aquelle que equilibre dois Brazis, por mais que seja bemintencionado, meresce simplesmente ser tractado com toda a cortezia que condiz:

Teremos boa balla, paredão tambem bom, para cada desses tão bomzinhos, mas de opposta posição!

Mas antes, Glauco, quero vel-os chão lambendo pelo pateo da prisão por terem sido neutros na questão!

SONNETTO DA POLARIZAÇÃO

Só vejo violencia, divisão e polarização! Ninguem mais dá bom dia, boa noite! Venha ca: O mundo ficou chato, Glauco! Não?

Ja não se dialoga! Todos são convictos, radicaes! Pappo não ha que seja cordial! Como será a nossa vida, assim? Diga, Glaucão!

Você ja bem lembrava: Não são só dois lados! Pelo menos num quadrado estamos, ou num cubo, typo um dado!

Extremos se provocam, mas o pó das botas todos lambem quando um gado desforra no rival mais desarmado!

SONNETTO DA CABIDEOLOGIA

Mas esses governistas não estão levando uma bandeira de Israel, alem da americana? Por que, então, no meio os neonazis teem papel?

É contrasenso, Glauco! É confusão mental! Então se pode ser, ao bel prazer, fan de Caim como de Abel, discipulo do russo ou do allemão?

Se pode ser de Stalin defensor, assim como de Gandhi? Ser de franco assim como de Lorca? Só si for!

Então, Glaucão, um Orwell eis que eu banco! Lhe informo que me faço dictador e imponho só tesão! Sinão… expanco!

SONNETTO AO IMMALDICTO

Responda-me, Glaucão: você se estima “maldicto” (ou “postmaldicto”, va que seja)? Por que? Só porque está fora de egreja qualquer, das litterarias, ou accyma?

Appenas por usar ‘inda a tal rhyma só feita por pouquissimos? Enseja seu estro um tractamento que verseja à moda premoderna, a crear clima!

Mas, Glauco, quem mandou você crear sonnettos, dissonnettos, madrigaes, emfim, a tralha toda? Alguem jamais?

Usar orthographia antiga, achar que tudo incorre em taras sexuaes? Mandei eu, por acaso? São meus ais?

SONNETTO AO IMMAGICO

Responde-me, Glaucão: por que te dizes um bruxo, um mago, um typico propheta? Appenas porque, cego, ja te affecta a perda dos momentos mais felizes?

Appenas porque exaltas os deslises daquelles que na merda mais completa chafurdam e por seres quem sonnetta accerca de immundicies que tu pises?

Mas, Glauco, quem mandou tu seres quem humilha a personagem dum ceguinho? Quem foi que te deixou seres mesquinho?

Foi elle? Foi Satan? Quem mais, alem de Lucifer, te inspira? Ah, não allinho meu codigo com esse mau caminho!

SONNETTO AO IMMARGINAL

Não, Glauco, porra! Aqui quem tá fallando sou eu, que marginal sou de verdade! Eu vivo na peripha! Attraz de grade estive varias vezes com meu bando!

Sim, parte ja tomei nalgum commando! Roubei, até estuprei! Não, ninguem ha de dizer que não practico uma maldade! Ainda vou mactar! Só não sei quando!

Você não, Glauco! Porra, você só faz versos! Não commette nenhum crime, em forma de poema, caso rhyme!

Assim, não! Marginal é sua avó! Meu caso, Glauco, muito mais sublime se torna, pois você não se redime!

SONNETTO DOS ESTELLARES ESTELLIONATARIOS

Na duvida, não sabe ninguem disto que somos nós, poetas: si seremos verdade, si mentira, ja que extremos junctamos, desde Christo até Mephisto.

Assim é que, Glaucão, eu sempre insisto na tecla demoniaca, pois demos e sanctos todos somos e fazemos papeis tão differentes, que eu nem listo.

Fallar de fake news, de fraude em tudo é moda. Peor, mesmo, só si for no campo da politica alguem pôr.

Eu, como tu, confesso, sim, que illudo o publico, que faço, sim, suppor um dubio, controverso, ambiguo auctor.

SONNETTO DA DOSIMETRIA

O peido do Diabo! Mas que thema phantastico, Glaucão! Si fazem chiste, que façam, ora! Achei que não exsiste questão mais seria que essa these extrema!

Si fede enxofre, deve ser problema do grau, da gradação… Acaso ouviste fallar da bruxa Alice? Ella bem triste está! Dirás si é justo que ella gema…

Punida por Satan, por ter seus gazes ousado recusar, Alice está sentindo delles muita falta, ja!

No proximo Sabbath, fazer as pazes Alice com o Demo poderá! Mas só si supportar a dose má…

SONNETTO DA ROUQUIDÃO

Regimes monarchistas não teem nada a ver com dictaduras, nem tampouco com esses direitistas! Está louco quem tenta confundir a molecada!

Tambem sou monarchista, Glauco! Cada qual, subdito da Corte, ficou rouco de tanto protestar, mas está mouco o ouvido dos que informam a manada!

Foi golpe esta republica, Glaucão! Foi, isto sim, regime militar duns meros marechaes, contra a nação!

Não foi dictatorial Dom Pedro, não! Até fora a nação parlamentar! Portanto, que não façam confusão!

SONNETTO

DO PAPPO POLIDO

Estão sentados frente a frente, mas é timida a conversa. Appoio ao pé buscando um delles, pisa à toa, até pisar no longo pé do outro rapaz.

Então este retira seu assaz comprido pé, mostrando que não é podolatra. Mas é. Por isso ré mal chega a dar. Hesita, à frente, attraz.

Ahi fica a criterio do primeiro de novo procurar onde é que pisa, conversa vae, conversa vem, à guisa.

Se rende, emfim, aquelle que parceiro quer ser mas é discreto. Suaviza seu peso, mas tambem pisa. Precisa?

SONNETTO DO NOVO TERROR

Horror, Glauco! Um horror é o que começa agora a accontescer! Se collecciona cadaver! Sim, aquelles do corona estão, como zumbis, à solta, à bessa!

Serão “coronavivos” e depressa virão taes mortos vivos dessa zona maldicta em que, na tumba, os abbandona até sua familia! Isso não cessa!

Em breve, invadirão toda a cidade! Quem é que não tem medo dum zumbi que nunca alguem ja vira por aqui?

Em vez de comer cerebros, um ha de querer nossos pulmões! Glaucão, cê ri? Pois saiba que esta noite eu, sim, os vi!

SONNETTO DOS CORONAVIVOS

Indagas-me, Glaucão, sobre essa lenda dos taes “coronavivos”, mas garanto que vejo com real e enorme expanto um facto ja bem facil que se entenda.

Suppõe-se que um zumbi normal dependa de cerebros fresquinhos. Para tanto, precisa devoral-os. Padre Sancto! Não teem nossos açougues isso à venda!

No caso dos coronas, do pulmão humano necessitam! Ja pensaste, Glaucão? Não ha pulmão mais que lhes baste!

Estás contente em casa? Pois então contenta-te e te tranca! Algum desgaste soffreste em reclusão, mas te salvaste!

SONNETTO DA MALDICTA VISITA

Aquelle senhorzinho num sobrado enorme está morando ja, sozinho, faz tempo. Toda noite elle, a caminho de casa, por um bosque passa, ao lado.

Não é que, do portão tendo passado, escuta attraz extranho barulhinho de passos? Ao voltar-se, ja adivinho que nada viu. Appressa-se, coitado.

Trancou-se. Está seguro? Não, jamais! Janellas vae fechando, cada porta chaveia. Nem na cama se comforta.

Tem, sob o travesseiro, uma das taes garruchas em desuso. Não importa, pois, dum zumbi, ja advista a bocca torta.

Em pleno desespero, um suicida attira-se, mas é do quarto andar. No pateo cae, mas passa a agonizar, pois pouca altura não lhe tira a vida.

Ao lado, no playground, a divertida turminha de creanças a brincar está, mas interrompe o salutar recreio ao ver a victima cahida.

Não toma algum adulto uma attitude. A turma vem lynchar quem está cada vez mais agonizante e não se illude.

Sem ter a protecção de quem adjude, recebe ponctapés. Ja quasi nada faltou para appressar a morte rude.

SONNETTO DA ZUMBIZAGEM

A cara dum “coronavivo”, ou antes, caveira não de todo descarnada assusta a todos quantos vejam cada detalhe das feições agonizantes.

Rasgada, a bocca abriu pelas cortantes tranqueiras invasivas na coitada. Os olhos, ja sem palpebras, que nada enxergam, nos observam, penetrantes.

Nariz é cavidade ensanguentada. Bochechas são muxibas, como são os labios, as orelhas. Que feição!

Mas, caso um monstro desses nos invada a casa, quererá nosso pulmão comer e compensar um ar, em vão…

SONNETTO DAS PROSTITUTAS DEGENERADAS

Agora chupam só com camisinha as putas, Glauco! Porra, chato paca! Caralho, sou do tempo da polaca! Melhor recordação tens que esta minha?

Lambia -- Ah, feliz epocha! -- todinha a rolla, dava banho, sim, a vacca! Nas bollas salivava, até! Que inhaca! Ficou molle esse trampo da gallinha!

Não, ellas não podiam ter do sebo qualquer nojo, Glaucão! De nenhum cheiro, nenhum gosto! Nenhuma, no puteiro!

Ficaram muito frescas, ja percebo! Deixei de ser, por isso, um putanheiro! Agora, a recordar, sou punheteiro!

SONNETTO DO CORONANISMO

Punhetas batto, Glauco, sempre digo, si a morte dum politico ouço ou vejo! Morreu algum? Ja duro de desejo meu pau fica! Na bronha, assim, me instigo!

Qualquer que seja, como um inimigo o tenho! Pode um delles dar ensejo a alguma punição por malfazejo ter sido… Mas excappam do castigo!

Só quando um morre, emfim, é que eu à forra irei, Glaucão! A pelle, então, da picca eu puxo que repuxo! Tesa fica!

Confesso: no seu caso, si lhe torra o sacco, da cegueira, a sua zica, tambem me punhetei! Gostou da dica?

SONNETTO DA PUBERDADE

Não leve a mal, seu Glauco! O meu pae não me deixa nem pensar em masturbar-me! Nem quando da menina aquelle charme me excita, admitte o velho o meu tesão!

Seu Glauco, sou grandão! Occupa a mão inteira meu peru, quando um allarme me dá, ficando duro! Só mellar-me resolve esta gostosa sensação!

Seu Glauco, vou fallar toda a verdade aqui para o senhor! Só de saber que está sem a visão, sinto um prazer!

Ahi que me punheto, cara, aggrade meu pae ou não aggrade! Que dever eu tenho de tão casto me manter?

SONNETTO DA EDUCAÇÃO REMOTA

Ah, Glauco! Mas que raiva que me dá! Alguem, no apê de cyma, tem a mais mimada filha, creia, que jamais na vida vi! Lembrei, me ennervo, ja!

A peste não diz “não”, diz “na”! Será por falta de insistencia que seus paes escutam a teimosa? Quaes normaes ouvidos a toleram? Alguem ha?

Diz “na, na, na, na, na!” mesmo si tem, nas aulas à distancia, que ficar na tela, de seu mestre para azar!

Não, Glauco! Uma vontade até me vem de estar, daquelle mestre, no logar, appenas para a peste expaventar!

SONNETTO DA NATURALIDADE

Preciso te contar, Glauco, o que minha filhinha fez! Num pacto com a filha da nossa faxineira, maravilha acharam si brincassem de casinha!

Achaste normal? Calma! A minha tinha chamado um molequinho que partilha das mesmas preferencias da quadrilha que gostas de louvar, cara! Adivinha!

Sim, sadomasochistas! Em edade tão tenra, ja triangulo formando! Foi elle quem ficou sob o commando!

Talvez o que fizeram não te aggrade, Glaucão, mas os pés dellas foi beijando o gajo! Que creanças, hem? Que bando!

SONNETTO DO CONSENSO

Mulher que tem mais curto o seu dedão do pé, dizem que manda no marido. Será verdade, Glauco? Te convido a dar um parescer nesta questão!

E quando o seu marido dedão tão mais curto tem tambem? Eu não duvido que troquem os papeis num divertido accordo, revezando a submissão!

Marido nella manda, caso tenha pé grego quando a esposa não o tem? No caso de dois machos, sim, tambem?

Responde-me, Glaucão! Quem desempenha papel dominador? Sabes? Me vem tesão de comparar-me com alguem…

SONNETTO DA AMMESTRADA

Me ensigna, vae, Glaucão, a ser mulher!

Me ensigna a dar um beijo que tesão desperte, essa vontade de estar tão fogosa, fazer tudo o que puder!

Me ensigna a ser saphada, num affair bem sadomasochista! Vae, Glaucão!

Me ensigna! Não importa si paixão me tenhas! Te serei uma qualquer!

Me ensigna a ser teu sordido capacho!

Me ensigna a te lamber a suja bota!

Me ensigna a ser humilde, ser devota!

Não queres me ensignar? Sabes? Eu acho que és fracco de character! Ja se nota que devo te ensignar a tua quota…

SONNETTO DO VACILLÃO

Você fica fallando que se exgotta de tanto versejar e dar recado explicito de escravo dedicado. Agora vae lamber a minha bota!

Você jura ser docil, mas adopta postura vacillante, sem ter dado um brilho de verdade em meu calçado. Agora vae lamber a minha bota!

Você reconhesceu sua derropta e fica a lamentar si está cegado. Agora vae lamber a minha bota!

Você escutou a Nancy, ja se nota, e não excappará de ser pisado. Sim, quero pisar, Glauco! Lamba a bota!

SONNETTO DO AMEN DO ALEM

É o cego um ser vendado, que não passa de escravo, si for util para scenas de sadomasochismo, onde elle appenas trabalha, a remoer sua desgraça!

Assim é que elle encarna, Glauco, a raça de todos que ahi pagam suas penas! Melhor considerar que te condemnas, na Terra, a só chupar quem te desfaça!

Dahi ja me livrei! Estou agora num plano superior, bem mais ameno! Na Terra purgarás! Que pagues, ora!

Sim, ora! Vae chamar Nossa Senhora, São Pedro, São Thomé! Nem te condemno por teres explorado o que se explora…

SONNETTO DA CARAPUÇA

Si pela rua alguem gritar, bem alto, “Oi, corno!”, todo macho vae olhar.

Tambem quando “Oi, veado!” outrem gritar, voltar-se vão os homens, eu resalto.

Si eu grito “Oi, puta!”, treme sobre o salto a mulherada toda do logar.

Paresce brincadeira! Quer tentar?

Funcciona mais que um firme “Isto é um assalto!”

Mas, quando você grita “Ai, coitadinho!”, ah, todos os bassês da vizinhança se voltam para quem tal phrase lança!

Eu proprio comprovei! Mesmo baixinho, si fallo “Coitadinho!” um ja ballança as longas orelhonas ou a pança…

SONNETTO DA DONDOCA DE MASOCA

No site elles exhibem à platéa a puta, que tem cara da Brunella. Mas, quando contractada ja foi, ella tem cara verdadeira: a da mocréa!

Só para você, Glauco, ter idéa da cara da putana, que é magrella, se enfoque na caolha mais banguela possivel numa typica plebéa!

Assim não dá, Glaucão, pois cobram caro! Quem uma puta paga ja não manda! As putas ja não fallam com voz branda!

Recusam-se a chupar! Acham amaro o gosto da piroca! Só lavanda exigem como odor! Assim, desanda!

SONNETTO DA PLENA DISCIPLINA

De julho o vinte e quattro boa data ao sadomasochismo, Glaucão, é, em cuja acceitação eu boto fé por ter explicação brilhante e exacta!

Quem serve, em septe dias cumpre e accapta as ordens que recebe, sob o pé de quem tenha poder de ser até mais forte que Satan e que lhe batta!

Alem de, na semana, todo dia servir, todas as horas servirá de cada dia. Ahi, pois, é que está!

Glaucão, sem servidão o que seria de mestres e de escravos? Que será das bruxas sem Satan, sem o sabbath?

SONNETTO DUM TROCA-TROCA DE MASOCA

Seu Glauco, sou menino ja grandinho! Não posso ser chamado de creança! Mas, como o desaffio o senhor lança, confesso, sim, ter sido um coitadinho!

A gente, nessa edade, em descaminho se mette e em fodelanças faz lambança!

Topando o troca-troca, não se cansa de estar por baixo, às ordens dum vizinho!

Me lembro dum vizinho que o senhor iria adorar! Era tão magrella, mas era tão mandão! Quem não o fella?

Hem? Veja la! Não tente nem suppor que sou masoca agora! Da janella si vejo uma menina… Ah, penso nella!

SONNETTO DA FUNESTA APPOSTA

Gabava-se de medo não ter, mas finou-se, Glauco! Feita foi a apposta. À noite elle, sozinho, ja se posta no gothico jazigo. O que elle traz?

Só traz o cellular, com o qual faz remota connexão. A turma gosta, no bar, de commentar como elle emposta, de empafia, a voz precoce de rapaz.

E ficam escutando, emquanto o cara reporta… “Aqui no tumulo, ninguem virá, querem saber?” -- elle declara.

De subito, um berreiro se excancara ao phone, que emmudesce! Não se tem noticia delle! Ir la? Ninguem ousara!

SONNETTO DA SCENA AGUDA

Os mortos-vivos cercam um sobrado que está de adolescentes bem repleto. Entrar os zumbis querem, pelo tecto, porão, saguão, por tudo quanto é lado.

Os jovens entram quasi que em estado de choque. Em desespero, vão directo aos quartos e se trancam. Me connecto com elles. Um passou-me este recado:

{Seu Glauco, ja pedimos uma adjuda e estamos agguardando… Um entrou! Mal entrou, ja devorou alguem! Accuda!}

{Depois da gritaria, ficou muda a scena… Só restei eu, affinal…} E nada mais ouvi. Que scena aguda!

SONNETTO DA ULTIMA VONTADE

“Eu quero ser cremado! Quem não crema seus mortos os quer vivos no postmortem! Depois os familiares que supportem as vindas do zumbi! Que ninguem gema!”

Assim o patriarcha seu dilemma expoz. Porem, por mais que nos exhortem, nós somos é teimosos. Se comfortem aquelles que fugiram do problema.

Agora o zumbi ronda, toda sexta à noite, a residencia da familia. Na rua ja ninguem. Ninguem é besta.

Appenas os rapazes da seresta ja viram o zumbi, que dentes rilha, sem palpebra. “Me cremem ja!”, protesta.

SONNETTO DA PUTINHA TRAQUEJADA

Seu Glauco, de menor eu era ainda nos annos em que puta me tornei! Mas, como o meu irmão era ja gay, me deu a maior força! Fui bemvinda!

Agora de maior eu sou, e linda, me dizem! Sim, trepei e treparei até meu cu fazer bicco! Ja dei p’ra todo typo! O jogo nunca finda!

Mas nunca amei um cego! O senhor ja amou alguma puta? Dezenove eu tenho! Si quizer que eu lhe comprove…

Que pena! Ja não transa? Que será que eu posso fazer para que renove commigo o seu tesão? Quer que eu o sove?

SONNETTO DO ENTROSAMENTO

Mattoso, minha filha virou puta! Não sei o que fazer! O senhor acha que eu devo lhe metter uma bollacha nas fuças? Devo usar a força bruta?

Ou acha que ella mesma, que desfructa da grana que embolsou, sabe da taxa que cobra, si encaresce, si relaxa, emfim, si compensou, na vida, a lucta?

Não, nunca a relação incestuosa foi, juro! Só chupei, nella, seu pé! Lindissimo, o pezinho! Não é prosa!

Então diz o senhor que jamais goza si for pé feminino, sem chulé? Hem? Chega a ser brochante? Não entrosa?

SONNETTO DO JUSTO FADO

Os seres portadores de defeito não podem egualdade pleitear, nem pena, nem respeito, Glauco! Olhar tal gente eu posso só si for dum jeito:

Si servem aos normaes para proveito carnal e diversão! Nesse logar, sim, podem nos servir, mas sem chiar, sem nojo, sem dizer “Não me subjeito!”

Eu mesmo, quando usei um alleijado ou cego, usei naquillo que normaes pessoas não se prestam, não, jamais!

Só mesmo um cara assim é que eu degrado do jeito que prefiro olhar seus ais! No sadomasochismo, são banaes!

SONNETTO DAS ULTIMAS CONDOLENCIAS

Estava no vellorio muita gente. Depois das dez, ainda havia quem chorasse por alli. Mas ja ninguem restava à meia-noite, excepto um ente…

Querido, mas nem tanto. Tal parente brigou com o defuncto, lhe foi bem hostil em vida. Agora, triste, tem remorso. Quer rezar e mal se sente.

De subito, o cadaver se levanta. Sentado no caixão, vira a cabeça. Ha raiva no seu rosto. O outro se expanta.

De medo, quer fugir. Ai, Virgem Sancta! Olhae por um devoto que padesça! O morto o segurou pela garganta…

SONNETTO DA RIGIDEZ CADAVERICA

Necrophilo, um veado conseguira emprego bom no Medico Legal. Serviço burocratico, mas, mal as costas vira alguem, a bicha pira!

Depressa, dos cadaveres retira o penis maiorzão, descommunal, que encontra! Tem buccal, até rectal proveito! Só chupando ja delira!

Nem sempre leva aquillo para casa. Às vezes, uma rolla nem amputa, appenas saboreia. Que conducta!

Flagrado, certa feita, a cara em braza ficou-lhe. Quem flagrou foi uma puta, tambem, vejam, necrophila, a biruta!

SONNETTO

DO PATRÃO BAIXINHO

Mandou que eu descalçasse e que lambesse. Emquanto os pés suados eu lambia, ligou a um funccionario. Com voz fria, deu ordens e ralhou. Mau patrão, esse.

Gostava de mandar. Seu interesse centrava-se em suppor podolatria nos proprios subalternos. Certo dia, chamou-me “estagiario”, quiz que eu lesse.

Sim, quiz que eu lesse em braille em sua sola, que eu lesse com a lingua. Fiz aquillo conforme disse, para divertil-o.

Chupei-o devagar. Elle rebolla emquanto minha bocca fode, estylo “garganta profundissima”, sem grillo.

SONNETTO DA CRENÇA QUE COMPENSA

Ouvindo um barulhinho no porão, rezei, Glauco, rezei ao padroeiro. Mas nada addeantou. O que primeiro baixinho foi, virou um barulhão.

Rezei, quando um phantasma fez clarão. Chamei Nossa Senhora. Aquelle cheiro de incenso senti. Nada mais certeiro. Agora fede enxofre a assombração.

Ainda rezei quando no meu pé tocou o poltergeist endiabrado. Chamei Jesus. Perdi todinha a fé.

Emfim, rezei a Lucifer. Pois é. Não vejo mais espiritos ao lado. Commigo o Demo mora, agora, até.

SONNETTO DOS PODERES

Seu Glauco, ja cresci! Não acho mais que, embaixo desta cama, viveria um monstro que não posso ver de dia mas que, durante a noite, dá signaes!

Não! Monstro não, senhor! Monstro jamais! Mas, em compensação, minha agonia agora vem de formas que eu não via e vejo, ja: são sobrenaturaes!

Duvida do que digo? Não? Que bom que crê tambem! Assim não fico com meu medo só: partilho o meu temor!

Que eu seja sensitivo, que meu dom se explique… Mas eu vejo, escuto o som e nada de “poderes”: só terror!

SONNETTO DA CONFIDENCIA DA CONFISSÃO

Egrejas reabertas, outro dia tractei de confessar-me. Glauco, sabe que foi que perguntou (veja si cabe) o padre? Si pequei na pandemia!

De tudo me indagou! Da putaria todinha: quem eu coma, quem enrabe, quem não, mas, de comer, caso me gabe, emfim, tudo onde entrou pornographia!

Será porque eu fallei que, em quarentena, a gente incrementou aquella scena na qual maior tesão, lembrando, sente?

Fallei do que lembrei e que me antenna! Faltou reconhescer que tive pena de não foder alguem tambem doente!

SONNETTO DOS SEPTENTÕES

Ouviste fallar, Glauco, do dictado que diz que pau de velho é lingua? Agora te conto o que o vovô poz para fora: dois palmos duma lingua de tarado!

Na minha conna a rolla dum cunhado ja tinha entrado fundo! Ninguem chora por isso: só de gozo se estertora! Mas, Glauco, mais o velho olhou meu lado!

Entrou com seu linguão tão fundo, tão gostoso, que suppuz ser uma cobra que estica, que colleia, que se dobra…

Tambem, como o vovô, tu septentão estás! A julgar pela tua obra, tens lingua de dois palmos, que te sobra!

SONNETTO PARA EXPANTAR PHANTASMAS

Ai, Glauco! Hontem morreu o meu vizinho por causa da covid! Elle morava sozinho! Ja puzeram uma trava na porta! Até lavaram, la, tudinho!

Mas ouço, la de dentro, um barulhinho extranho! Um caso, Glauco, que se aggrava agora à noite! E então? Si não estava ninguem no apê… Fiquei é com medinho!

Glaucão, você que é bruxo, como faz si for assombração? O morador talvez ainda seja soffredor…

Verdade, mesmo? Basta tocar jazz? Sim, claro! Tá, Glaucão, mas e si for alguma alma penada? Ai, que pavor!

SONNETTO DA QUEDA NOS INDICES

Não quero um macho ser noventa e nove e meio! Sou é cem por cento macho! Mulher eu faço mesmo de capacho! Que venha a que quizer que eu lhe comprove!

E ja que no molhado sou quem chove, direi que sou um macho e meio! Eu acho que bichas levar devem esculacho, precisam é de alguem que as surre e sove!

Eu ouço o Wilson Pickett, tá pensando o que, Glaucão? O soul é som de gente ligada na quebrada, abertamente!

Mas hoje quem mais julga aqui no bando são ellas, as mulheres! Ninguem tente barral-as! Ellas mandam! Quem não sente?

SONNETTO DAS DAMAS DO CRIME

No crime, tribunal tem é juiza, agora, Glauco! Ouviu fallar da Dama? Na hora de attender a quem reclama, a Dama as punições não suaviza!

Hem? Ouça a gravação de quem pesquisa e escuta as ordens della! A dama chama alguem ao cellular e, secca, trama a morte de quem numa bolla pisa:

“Aquelle você fura com facão! Mas fura bem aos poucos, tá ligado? Tem mais é que sangrar, ser demorado!”

“Num outro dei o tiro numa mão, depois na perna, até que foi furado todinho! Penou muito, o desgraçado!”

SONNETTO DOS REPTILIANOS

Glaucão, não é possivel que você não tenha ainda ouvido fallar nisso! Os taes reptilianos teem postiço perfil humano, cara de bebê!

São hybridos! A gente nem os vê direito! São demonios e submisso um homem querem ter! Sem compromisso, um pappo ja levei com tal ET!

Me disse que com elles sonha a gente! Trepamos nesse sonho! Nossa porra o Demo contamina, quando corra!

Assim nos procreamos! Quem doente ficar, mulher ou homem, se soccorra com medicos, mas vindos de Gomorrha!

SONNETTO DA MEIA-NOITE

Que nem o Wilson Pickett esperar eu vou a meia-noite, Glauco! Então vampiro virarei! Minha missão é transformar um outro no meu par!

Preciso de seu sangue! Jugular é o poncto onde meu dente finco, o vão por onde sugo o liquido, Glaucão! Mas outro poncto quero resaltar!

Aquelle que eu morder irá tambem virar vampiro! Sangue quererá sugar, e assim por deante! Claro está?

Não, Glauco! Vocação você não tem! Caralhos quer sugar! Assim não dá p’ra ser vampiro! O que é que engolirá?

SONNETTO DO CASO COVIDICO

Emquanto uma viuva, ao fundo, chora sozinha, à cova desce seu marido. Mas, si ella se preoccupa, faz sentido. Phantasmas são covidicos, agora.

À noite, ella não dorme. Cada hora que passa, augmenta a chance de que ouvido de novo seja aquelle egual grunhido ao rhoncho dum machão. Pobre senhora!

Morrera agonizante elle, sem ar, queixando-se de corno ter virado. Phleugmatica, a mulher, alli do lado…

Agora residir naquelle lar será quasi impossivel. Ja rosnado virou o tal grunhir dum corneado…

SONNETTO DA ALCATÉA PLEBÉA

Si dois milhões, Glaucão, soffreram della, nós temos, ao invés de lamentar, que examinar direito o patamar da praga, ponderando o que revela!

Até vinte milhões seria bella comptagem, eu direi! Nenhum azar eu vejo, ouviu? Melhor é si chegar a cem milhões, duzentos, a parcella!

Entende isso, Glaucão? Quanto mais gente pegar o virus, menos gente falta ficar doente! Todos vão ter alta!

Alguns morreram? Porra, a gente sente! Mas resta a maior parte, é o que resalta! Teimosa a nossa especie é, feito malta…

SONNETTO DA POSTURA HONROSA

Jurei, Glauco, jurei que ficaria pellado na avenida, na Paulista, si visse de verdade, com a vista que tenho, uma alma afflicta na agonia!

E boa visão tenho, não de dia, appenas, mas tambem quando despista, à noite, uma figura que se vista de dama sendo puta alli na via!

Mas juro que vi, Glauco! Vi de facto aquella pavorosa assombração, parada, alli do parque, no portão!

Não, puta não será! Sinão, me macto! Só pode ser phantasma! Ahi, Glaucão, paguei a apposta! Andei, sim, pelladão!

SONNETTO DOS BEBÊS DIABOS

Espiritos satanicos, Glaucão, estão a vigiar nossa trepada! Do Demo não excappa, mesmo, nada! Vigiam nosso pau, nosso colhão!

Sei disso porque, quando fellação practico num parceiro, vem salgada ou doce por demais sua golfada de porra! Taes indicios graves são!

Indicam que ja a porra do Cappeta à gosma mixturou-se! Quem punheta batter perceberá que muda a cor!

Quem for contaminado e na boceta pretenda ser quem, macho, o penis metta, será de Satanaz procreador!

SONNETTO DO JOGO PUERIL

Sem ter o que fazer que mais aggrade na tarde de domingo, vão brincar, no quarto de dormir da faculdade, aquelles estudantes, de pisar.

Pisar, sim! Vendam olhos. No logar que fora do tapete, um à vontade ficou. É feminino o calcanhar que está sobre seu queixo, ou não? Será de…

De macho, não! Fingindo que rejeita beijar um pé de macho, o meninão acceita quando sente esse dedão…

Pensando de menina ser, acceita lamber, até! Retira a venda. Então percebe ser do gajo mais bundão…

SONNETTO DAS SOVAS SEM PROVAS

Fallou Nelson Rodrigues que nem toda mulher quer appanhar: as normaes, só. Perguntem ao malandro si tem dó dalguma. Responder vae: “Que se foda!”

Pondé pondera: aquella que não for da familia das demais, goste dum nó, duns tapas, de lamber nas botas pó, um dia geme e exige grana gorda.

Por causa da patrulha, a scena sado será que ficaria tão “nutella” que ja ninguem mais pode batter nella?

Não creio. Sou masoca, me degrado, convicto de estar certo quem appella ao gesto bruto quando sou quem fella.

SONNETTO

Glaucão, me censuraram no twitter! Tambem no facebook! Eu fico puto! Allegam que torturas eu reputo que possam ser de praxe e que eu incite!

Disseram que eu sobre isso dou palpite, que methodo de estado, jogo bruto se torne, interrogando-se um astuto bandido, quando seu delicto ommitte!

Mentira! Não defendo que tortura se adopte como methodo de estado! Defendo o emprego della como sado!

Não quero dum bandido ser quem fura os olhos, só, Glaucão! Tambem degrado a puta, a sappho, o cego, o retardado!

SONNETTO PARA QUEM BATTE NA QUESTÃO

Mulheres torturadas, Glauco, são communs, bem mais communs do que se pensa! Sim, fallo dessas tantas que, na crença do povo, surra curtem, e pisão!

Mas contra sou batter nellas, Glaucão! Não batto na mulher que quer suspensa nas chordas ser, submissa à grande, immensa didactica que um mestre tem à mão!

Gostoso mesmo, Glauco, para mim, é sadico ser quando não quer ella, vingar-me da mulher agindo assim!

Ahi, Glaucão, eu curto! Quem ruim achou, mais sentirá cada sequela! Ja machos a tractar assim eu vim!

SONNETTO PARA QUEM VÊ CARA

Soffreu, quando menina, muito dum padrasto violento, que a currara com outros gajos, rindo-lhe da cara chorosa das creanças em jejum.

Agora quer vingança. Ja bebum, morreu seu malfeitor. Tem ella, para os homens em geral, severa vara, aquella de marmello, mais commum.

Tambem tem a chibata, tem a bolla, que serve de mordaça, tem a venda, que serve para que esse verme entenda…

Assim cada machão lambeu a sola daquella revoltada. A cara horrenda não chega a ter… Ninguem disso dependa!

SONNETTO DO MENINO LEPORINO

Beijei não! A menina nojo tinha, seu Glauco! Tenho o labio “leporinho”… Agora, corajoso, lhe escrevinho e tudo vou contar em cada linha.

Não ria, Glauco, dessa tara minha! Não posso ver um beiço vermelhinho, molhado, duplicado, cor de vinho rosado, que me encaixo na chotinha!

As putas deliciam-se, eu lhe juro! Relaxam, arreganham, abrem tudo! E eu, labio contra labio, lambo mudo…

Beijar na bocca, nunca, nem si escuro está! Mas o senhor tambem sortudo não é! Tem que beijar um bem thalludo…

SONNETTO DA BACCHANTE RELUCTANTE

Seu Glauco, eu em menina não battia! Mas ella me pediu para appanhar! Lasquei-lhe bofetadas, devagar, primeiro, mas depois com energia!

E foi accostumando, dia a dia… Até que me implorou para mijar na bocca! Que masoca mais vulgar! Bebeu todo o chichi que eu lhe fazia!

Enchi de chichi e porra a tal da puta! Um dia, appós cagar, ordeno que ella me limpe, em seu linguão, o que me mella…

Ahi batto com gosto! O senhor chuta a bocca duma puta? Ah, ja banguela deixei-a! Agora a rolla ja me fella…

SONNETTO DA BRUXA LUXENTA

Glaucão, eu amo Lucifer, sabia? Sou mesmo ouriçadissima por seu sorriso de malandro, de plebeu folgado que, em tesão, nos assedia!

Mas sabe, Glauco? É muita covardia que exija de nós todas, achei eu, o beijo no seu anus, que fedeu cocô recem cagado! Que mania!

Eu faço o que elle queira: chupo o phallo de bode fodedor, deixo na chota, no recto me comer… Menos tal quota!

Você talvez, Glaucão, que ja tem callo na lingua, achasse leve essa devota beijoca, mas não esta audaz velhota!

SONNETTO DO SERVIÇO DOMESTICO

Hem? Sabe do que eu gosto, Glauco? Obrigo a minha mulherzinha a ser escrava da nossa faxineira, a que nos lava os pisos e banheiros! Ah, me instigo!

Impõe nossa domestica castigo de sadica à patroa que, si estava a dar ordens, agora aguenta a brava licção da diarista! Ah, meu amigo!

Precisa ver a minha mulher quando rasteja aos pés da alegre empregadinha, levando ponctapé quando engattinha!

Depois lambe boceta, ao meu commando, e chupa no cuzinho o que eu ja tinha gozado, Glauco! Ouriça a punhetinha?

SONNETTO DO MAU COMPORTAMENTO

Fessora, não me venha com licção de casa, redacção nem sabbatina! Está tudo mudado! Disciplina é coisa para nota? Não é, não!

Magina! Só porque dei pescoção, tabefe e ponctapé noutra menina, agora acha a senhora que me ensigna a ser bem comportada? Que illusão!

Si perco o meu controle, eu na senhora applico um golpe baixo, uma rasteira e piso-lhe na cara, caso queira!

Duvida? Somos todas nós, embora pequenas, da pesada! La na feira um cego ja surrei, por brincadeira!

Glaucão, ja te contei que professor deixei de ser? Tá louco! Sim, na salla cheguei a ser pisado por quem falla mais grosso com a gente! Vou depor:

Terriveis jovens! Ordem eu quiz pôr na classe, mas quem tenta controlal-a vê logo que só falta alguem a balla ao mestre reagir, Glauco! Um horror!

Cercaram-me e jogaram-me no chão! Vi perto dos meus olhos cada tennis! Meninos teem impulsos tão infrenes!

Pensaste? Cara, atturo humilhação até de meretriz! Não me condemnes, porem, a tudo quanto, em verso, enscenes!

Ah, cego, ja fiz tanta cirurgia que nem sei mais qual é, mesmo, meu sexo! Me encaro, nu, no espelho: si perplexo eu fico, ou si perplexa, alguem diria?

Bigode e barba tenho, mas, macia e fina, minha voz faz desconnexo conjuncto com o resto! Que complexo corpinho que eu ganhei, cego! Não ria!

Chochota tenho. Pincto tenho. Seio tambem, mas sou pelludo! Cincturinha pensei de tanajura, até, que tinha!

Por ultimo, ceguinho, reservei o pezão. Si for calçar uma botinha, será quarenta e septe! Hem? Não convinha?

SONNETTO DUMA QUESTÃO DE GENERO

Nem sei si sou androgyno ou gynandro, Glaucão! Você daria algum palpite? Quem olha a minha cara se permitte chamar-me, quer de Sandra, quer de Sandro!

Pensei ja: si me vissem de escaphandro, sereio me diriam, no limite dum Hercules que, gemeo da Aphrodite, tem cara de vedette e de malandro!

Mas veja bem: só transo com mulher! Às vezes, uma lesbica assedia a gente, farejando putaria…

Você tambem, Glaucão! Si me vier com essa de indagar como seria meu pé, pode exquescer! Talvez um dia…

SONNETTO DO PRODUCTO PORNÔ PORCO

Fiquei sabendo, Glauco, que ja rolla até filme pornô voltado para pessoas cegas, visto terem tara ainda insatisfeita! Te consola?

Tem audiodescripção, conforme eschola testada por normaes, que se compara ao clima da chochota pela vara a fundo penetrada! Achas que colla?

Entendo… Faltará nesse mercado teu gosto masochista… Acho exquisito demais, aos meus padrões, teu requisito!

Terão que produzir um filme sado que tracte quem é cego no que evito fazer comtigo, quando me limito…

SONNETTO DO FESTIVO TRAVESTISMO

Que gloria, Glauco! Orgulho-me de estar amando um bolsominion! Um só, não! Muitissimos! Agora meu tesão é bolsosexual! Sou superstar!

Sou homem, sou mulher, conforme o par formado com um fan do capitão! Ai, Glauco! Lambo botas, lambo o chão, dou, como, occupo -- Oh, céus! -- qualquer logar!

As travas bolsophobicas não querem transar com os seus minions, pois teem dó de rabos arrombar! Sonhar preferem!

Eu não, Glaucão! Si os minions me quizerem, eu chupo um peru crente, eu lambo o pó, aguento até pisão! Que elles me esperem!

SONNETTO PARA QUEM OZONIZA

Ja Hemingway dizia: as putas vão tragando porra para se curar ou mesmo prevenir um malestar, até tuberculose! E então, Glaucão?

Rollou em Kansas City! Mas nós não ficamos attraz! Ouço ja fallar que vae Itajahy ser o logar perfeito para a cura do povão!

Com dez sessões diarias, só por via rectal, o ozonio -- Quem diria? -- vira antidoto covidico! Confira!

Sim, disse isso o prefeito! Ou só seria mais uma fakenews? A gente pira com tanto commentario para a lyra!

SONNETTO DA VISIBILIDADE LESBICA

Qual visibilidade poderá a lesbica ter, Glauco? Você não dirá que é simplesmente sapatão, aquelle estereotypo, dirá?

Sim, sadica sou, Glauco, fama má ganhei como carrasca de machão! Mas gosto duma “lady”, dessas tão gentis e femininas, digo ja!

Até cheguei a achar que a maioria das lesbicas seguissem o padrão! Teem menos de João que de Maria!

Sim, posso perceber! O que seria dos machos si soubessem que paixão teem ellas só por chana, sem phobia?

SONNETTO DO PERIGO NA VIA

Garanto que um enganno não commetto, pois juro que um cadaver desses vi e não é, não, o classico zumbi, mas sim o puro e simples eskeleto!

Você, Glauco, que escreve seu sonnetto, na certa pouco caso faz e ri, mas, sendo de mulher, de travesti ou homem, com caveira não me metto!

Difficil é saber, mas a caveira que vi me paresceu ser feminina, talvez pela risada aguda, fina…

Ver ossos chacoalhando ninguem queira! À noite, elles rebrilham na neblina! Quem queira andar de moto se previna!

SONNETTO DAS SCENAS ABJECTAS

Um caso bem curioso! Vejam só!

A guarda de dois filhos perde quem? A mãe, que no chartorio culpa tem. Os filhos são deixados com a avó.

A avó, que muita gente no forró conhesce, empresta a dupla para alguem que tem poucos escrupulos, tambem. São ambos estuprados, pois, sem dó!

Depois, os filmes rollam na secreta corrente de pedophilos. Emfim, alguem os denuncia, a saber vim.

A curra, na prisão, é predilecta dos sadicos: destino bem ruim aquelle estuprador tivera, sim.

SONNETTO DO DESEJO DE VINGANÇA

Não levo desafforo para casa! Soffri toda a desfeita alli na rua e, como não reajo, continua alguem me bullyingando, manda braza!

Mas, Glauco, me vingar vou! Sim, e praza a Lucifer que, quando vem a lua propicia, me transformo numa nua imagem de vampiro que bem casa!

De roupa nem preciso! Pelladão, irei rondar o quarto do moleque sarrista! Vou pinctar de supetão!

Calcule, Glauco, como me verão os olhos do menino, em meu espeque! Será, bem mais embaixo, o meu tesão!

SONNETTO DO MERCADO SADO

Mas, Glauco, você está muito exigente! Um cego pornofilmes nunca tinha com audiodescripção! A calhar vinha que tenha, agora, aquillo pela frente!

Porem, excolher algo differente da transa mais commum, ah, não convinha a quem vende productos nessa linha! Seu tempo perderá, Glauco! Nem tente!

Magina! Quer você pornographia de sadomasochismo com actor ja cego, no papel dum inferior?

Pensando bem, talvez a maioria dos normovisuaes veja, si for visada, com olhar consumidor…

SONNETTO DOS CORPINHOS NUS

Hem, Glauco? Ja pensou? Zumbi mirim! Vampiro mirim! Nunca lhe passou tal coisa na cabeça? Pois lhe dou a dica: são communs, exsistem, sim!

Creanças tambem morrem, e ruim seu genio fica quando nem rollou um mez e ja ninguem mais se lembrou de quem assim precoce teve fim!

Ha casos de vingança que pavor suscitam num atheu ou num christão! Parentes, paes, mães, thios, mordidos são!

São pegos de surpresa! Assim, quem for cagar ou tomar banho, pelladão, trancado, surprehende-se… E quem não?

SONNETTO DO CHEIRINHO DO PODER

Nos termos, o limite pactuado o sadico não ultrapassaria e, quando o masochista na agonia ficou bastante, disse: “Estou cansado!”

“Me solte! Desammarre!” Mas o sado, achando que cumprir nada devia, sorriu e disse: {Foda-se! Este dia será meu! Tem que estar do meu aggrado!}

Passou a torturar o mau masoca alem de tudo quanto se permitte num pacto que preveja algum limite.

Bem feito foi! O caso não me choca, Glaucão! Não haja abuso que se evite depois que se ammarrou quem fez convite!

SONNETTO DO DESABBAFO DUM AMIGO

Então, foi triste. Tive que chamar meu filho e lhe explicar que ja com sua mamãe a relação não continua. Edade elle terá para sacar.

Então, elle chorou. No meu logar, você, Glauco, diria que ella actua por mal? Pois seja assim! Me substitua por outro, mas… E nosso filho, o lar?

Então, não contei tudo. Só fallei que tudo pode errado dar. Appós o pappo, seguiremos pela lei.

Então, Glauco, não sei o que farei. Ficar vae o gury com os avós. Sim, devo confessar: tambem chorei.

A tua condição não me preoccupa, Mattoso! Meu pau sentes que ja pulla? Abbaixa a cabeçorra, cego! Oscula! Acceita teu destino, cego! Chupa!

Tu lias só com oculos? Com lupa? Agora não lês nada? Siquer bulla? Que pena, não é mesmo? Mas, que engula, a tua bocca quero, cego! Chupa!

Qual outra posição um cego occupa, si sua habilidade é quasi nulla? Concentra-te em chupar, ceguinho! Chupa!

Talvez tu te conformes, sim! Mas -- Upa! -agora vou gozar! Um pau de mula te engasga? Ah, que te fodas, cego! Chupa!

SONNETTO DO GESTO HUMILDE

Os olhos arregala, labios crispa a bispa, no sermão, e cada crente o pé lhe beija, appós pagar, contente, seu dizimo. Oh, quão bello o pé da bispa!

Mas, Glauco, reparei que ao templo chispa um bando de podolatras! Attente você para o pezinho que essa gente procura, a torcer para que se dispa!

Pezinho, não: pezão! E de quem é? Do guardacostas della! Agora attina você? Querem beijar uma botina!

Sabendo disso, o gajo ja seu pé por grana até concorda, até se inclina, na casa, a descalçar! Quem recrimina?

SONNETTO DOS QUADRINHOS PROPOSITAES

Você, que leu quadrinhos p’ra caralho, Mattoso, dos sobrinhos certamente se lembra! Hans e Fritz! Exactamente! Por que de fallar delles eu me valho?

Porque pregavam peças! Eu, que ralho com filhos, acho raro que se invente duplinha mais perversa! Quem não sente revolta contra abusos dum pirralho?

Occorre-me, então, Glauco: cê ja fez idéa do que faz uma creança si impune sempre está? Jamais se cansa!

Um cego é pratto cheio, toda vez me passa na cabeça! Ah, ja festança fizeram com você? Sou eu quem dansa!

SONNETTO DO ACCERTO DE CONTOS

Seu Glauco, o senhor sabe como faço, na cama, antes do somno? Batto bronha, é claro! Nada disso me envergonha! Ao menos nisso perco o meu cabaço!

Mas quero lhe contar meu passo a passo emquanto me punheto… Quem não sonha com uma namorada na qual ponha a rolla? Ja me achou meio devasso?

Espere só, seu Glauco, que eu lhe diga: Tambem tenho um prazer cruel, immenso, pensando num collega duma figa!

Sim, elle zoa! Ahi vem minha briga! Na bronha! Ahi me vingo! Nelle prenso a bota até que erguer-se não consiga!

SONNETTO ESCROTAL TOTAL

Não é que meu pau seja tão pequeno: meu sacco é que paresce meio grande! Glaucão, o meu testiculo se expande demais, é como a Lua quando em pleno!

Mas acho que exaggeram! Eu condemno boatos desse typo! Minha glande não perde para um grão de milho! Mande à merda quem disser! Quanto veneno!

As minhas bollas, Glauco, alguem compara às nadegas maiores que se possa ter! Pode? Quem aguenta tanta troça?

Nem batto mais punheta! Minha tara consiste nesse gesto de quem coça o sacco, mesmo! Crio pelle grossa!

SONNETTO DA MAGOA DA TABUA

Pois é, seu Glauco! Perna ja não tenho! Agora me tornei um cadeirante, mas, quando menorzinho, foi, durante um tempo, num pranchão meu desempenho!

Ah, tinha que ver, porra! Fui ferrenho athleta, ou parathleta! Quem garante é minha patotinha de estudante, por isso é que, seu Glauco, depor venho!

Sim, houve sarro! Ousei de jacaré andar: só com os braços, impellia a prancha! A turma toda de mim ria!

Um delles adorava pôr o pé na minha cara! Puta covardia! Pisava-me! Eu, de bruços, era enguia!

SONNETTO DUM ZOADO MAGOADO

Por que mais quer saber, seu Glauco, disso? Naquella minha prancha de rodinha a gente se excarrancha, bem na linha do piso! Dava aquillo grande enguiço!

Me vendo desse jeito, tão submisso, alguem sempre pisava, gosto tinha, sabendo que um perneta se abbespinha mas fica nisso: um verme irritadiço!

Um disse: “Nem tem perna! Nem tem pé! Não pode nem calçar a chanca, até! Ahi, não tem inveja, não, de mim?”

Ahi ja me chutou: “Você não é humilde? Quer levar um bello olé na bocca!” Fez beijar, lamber… Fez, sim!

SONNETTO DUMA PRISÃO E DUMA SOLTURA

Depois de ter jantado, ousei peidar. Occorre que era sopa que eu jantara…

Peidei… Borrei-me todo, tá na cara! Cocô de sopa, Glauco! Pô, que azar!

Problema meu, não posso reclamar. A gente, nessas horas, mais se azara si está na rua: ha sempre quem repara.

Não ha, para cagar, peor logar!

Peor ainda é sopa de cocô!

Ouviu fallar? Sim, Glauco, na prisão (Qual é? Guatemalteca?) a sopa dão!

Cocô nadando em mijo, Glauco, pô! (Ah, nortekoreana?) Scenas tão coprophilas só podem dar tesão!

SONNETTO DA VAGA ROTATIVA

Notei ja, Glauco, como é que costuma rollar. Quando a pessoa mais se appega às coisas materiaes, jamais sossega depois de morta. Ao poncto sempre rhuma.

Que poncto? O logar onde esteve numa casinha comfortavel, ou num brega e enorme casarão: lareira, adega, porão, sotam… Mansão de filme, em summa.

Na casa em que morou essa pessoa se escuta, à noite, escada accyma: echoa o passo do phantasma em cada andar!

No sotam, olha alguem. Olhou à toa. Mais tarde, é no porão. O dono doa a casa ao netto. Morre… e vem vagar!

SONNETTO DO PHANTASMA TOLERANTE

Entrei num casarão desses, Glaucão! Estava à venda. Assim, pude entrar em seus quartos todos. Logico, olhei bem em cada cantho, o sotam, o porão…

Na hora a gente nota a assombração! Está presente em todo poncto, sem fallar na torre, gothica tambem, assim como o restante da mansão.

Tão grande! Mas fallei com quem comprar aquillo quiz. Me disse que, no andar de baixo, ouvem-se passos e risada…

A farra come solta! Achar um par de extranhos alli dentro de extranhar não é, depois que finda a surubada…

SONNETTO DUM PAPPO DE SAPO

Te dar agua na bocca vou, Glaucão! Escuta só! Saquei que meu vizinho tambem era podolatra! Mesquinho fui, Glauco! Pedi grana! Fiz bem, não?

Devia ser emprestimo, mas tão maldoso fui, que desse dinheirinho o gajo se exquesceu! Aqui eu allinho aquillo que fallei! Aguenta a mão!

“Tirar posso o meu tennis? Meu chulé não vae te incommodar? Não? Então tira tu mesmo! Cheirar queres? Ah, te vira!”

“Te exbalda! Tira a meia! Cheirar pé é tua preferencia? Ha quem prefira mais coisas! Mas si curtes, ora, adspira!”

SONNETTO DOS PHANTASMAS PERTURBADORES

Mamãe tinha advisado, Glauco: minha herança, aquelle sitio, não devia ficar commigo. Ouvi, mas o queria! Então, não o vendi. Quem adivinha?

Estava assombradão! Sim, mamãezinha razão tinha! Bastou que moradia alli me fosse, e phantasmagoria passou a apparescer, da mais damninha!

Os trasgos começaram a fazer estragos pela casa, com ruidos altissimos, à noite, entre ais soffridos!

Glaucão, só mesmo o Demo tem poder sobre esse poltergeist e seus gemidos que echoam, cara, ainda em meus ouvidos!

SONNETTO DA GENITALIA ALIENIGENA

Um sonho revelou-me, Glauco: o virus não é deste planeta! Não, você bem sabe, ja que é bruxo! Um podre ET! Um monstro, um invasor livre dos tiros!

Estamos preoccupados com os gyros das naves estellares, mas não vê ninguem que o verdadeiro fuzuê quem causa à Terra andou pelos respiros!

Attacca, ahi se installa com total poder e efficiencia! Tanto mal nos causa só por sadico tesão!

Notou quantos paus duros tem o tal bichinho? Uma coroa sexual formada por perus em erecção!

SONNETTO DA PRAGA ESTRAGADA

Torci bastante para que ella morra, aquella jararaca desgraçada! Accusam-me de crime? Não fiz nada! Qual crime? Mau olhado é crime, porra?

Magina! Poder tenho que recorra à lei para prendel-a? Força armada não tenho! Não darei uma facada, nem tiro! Não irei para a masmorra!

Rogar-lhe pragas posso, Glauco, claro! Não ha lei que me impeça de invocar Mephisto ou Satanaz, para rogar!

Nenhum crime commetto si declaro que quero ver-lhe a cara descarnar tal qual uma caveira, devagar!

SONNETTO DA CAIXINHA DE TORPEZAS

Eu quero ver é gente se fodendo, na vida, na politica, nas artes, Glaucão! Antes que faças teus appartes, vou logo completar com um addendo:

Mais curto o futebol, onde pretendo torcer, não para alguma dessas partes maiores, mais “da massa”! Que deschartes os “grandes” eu suggiro e recommendo!

Só torço contra, Glauco! Torço para que percam, que nervosos fiquem! Quero ver choro, desespero! Um gol a zero…

Mas nada, na delicia, se compara ao jogo que se perde por um mero descuido, um só detalhe… Fui sincero?

SONNETTO DAS TYPICAS VICTIMAS

Mysterio! Uma suspeita tenho, meu querido bruxo Glauco! Só quem morre do virus é quem algo que concorre tiver para a doença, algo de seu!

Não basta ser de elite nem plebeu, nem ser gruppo de risco, nem de porre viver constantemente, ou quem soccorre ser publico ou privado, crente, atheu!

Sim, comptam taes factores, mas primeiro o gajo tem que estar na condição genetica que, ao virus, dê razão!

O virus, mal amado, um hospedeiro procura: quem lhe tenha coração aberto! Muito poucos o terão!

SONNETTO DO VALOR HISTORICO

Historia somos, Glauco! Cada photo ou video onde figura a nossa cara descreve e documenta a data rara num claro dia, atypico, do voto!

Da simples chuva ao quasi terremoto, estamos la, sorrindo, olhando para a camera maldosa: alguem repara na mancha de chichi que eu jamais noto!

Banaes portaretractos, com moldura de plastico, um historico valor terão para qualquer pesquisador…

Glaucão, até você, que tão obscura imagem tem na scena, vão suppor que fosse importantissimo escriptor…

SONNETTO

DA CORTE RACIAL

Que o gajo, por ser negro, parte faça de gruppo criminoso, uma juiza achou, Glauco, olhe só! O paiz precisa de gente tão racista? Que desgraça!

Então uma juiza acha que raça aggrava? Quer dizer que ella ameniza a pena si for branco quem mais lisa deixou alguma bolsa alli na praça?

Que cara de pau, Glauco! Um tribunal que pela pelle imputa, que condemna, será somente “corte racial”!

“Tem pelle escura? Ah, pode ter total certeza: rouba, macta!” À pena amena excappa algum golpista general!

SONNETTO EXFARRAPPADO E ROPTO

És tu de esquerda, Glauco! Não me negues! Tentaste disfarsar, mas eu não caio nas tuas armadilhas! No balayo dos gattos, passar neutro não consegues!

Canhoto foi teu olho! Nem os jegues deixaram de notar! Me parta um raio si não usavas oculos! Extraio o dado que informaste entre os entregues!

Sim, consta ser maior teu pé canhoto! Nós temos, todos nós, como constato, um pé maior! Não negues, meu garoto!

Teu cuspe, teu expirro, teu arrocto, teu vomito, teu halito, teu flato te egualam, nos farrappos, ao mais ropto!

SONNETTO DA DISCIPLINA CANINA

Tesão, Glauco, senti por um irmão da minha mãe. Cunhados, você saca, são typos parasitas, chatos paca! Meu pae o tolerou por um tempão!

Eu era adolescente. Senti tão salgado um chulezão, que gol de placa marquei na chanca delle! Vinha a inhaca das meias dentro della, alli no chão!

Pegou-me cafungando, o nariz nella mettido. Ouvi: “Bonito, né, sobrinho? Te babas por um forte chulezinho?”

Estava de chinello. Fungadella à bessa dei na sola do excarninho thiozão. Você tambem dava, adivinho!

SONNETTO DO LABREGO MORCEGO

Vampiros, Glauco, gostam de mordida dar numa descuidada jugular, ja disso você sabe. Mas fallar ouviu deste vampiro ja na vida?

Podolatra, accredita? Sim! Duvida? Lhe juro! O gajo chupa devagar, primeiro os dedos! Chega ao calcanhar e vae localizando uma ferida!

Achando a rachadura, a suga inteira, até que sangre, Glauco! Tambem suga um bello olho de peixe, uma frieira…

Conhesce tal vampiro? Não, nem queira saber! Você, que solas não refuga, tem bocca vampiresca, ama a sujeira!

SONNETTO DO HUMOR NEGRO

Tem gente extranha, Glauco, ora si tem! Um desses, meu avô! Dum negro humor gostava! Me fallava, assustador: “Alguem attraz da porta! Tem alguem!”

Elle ia ver, com medo, mas ninguem estava alli! Magina! Que pavor! Phantasma achei que fosse! Só si for! Prefiro não pensar, Glaucão! Eu, hem?

Mas tenho que lembrar! Sim, Glauco, um dia morreu o velho! Um homem brincalhão! Contava mil versões de assombração!

Attraz da porta achei que, emfim, havia alguem! Fui ver, porem de cu na mão! O velho estava alli, juro, Glaucão!

SONNETTO DO CHUTE NA CABEÇA

“Chutar o balde”, Glauco: uma expressão commum, não é verdade? Commum paca, tambem, outra expressão: “pau da barraca”! Quem é que não chutou? Não é, Glaucão?

Comtudo, o rock inglez me soa tão curioso! Toda hora alguem emplaca um chute na cabeça dum babaca! Querer “kick in the head” é diversão?

Fiquei pensando nisso, ca commigo! Queria, sim, chutar o meu rival, collega, até patrão, mor inimigo…

Você, Glaucão, na certa tem total fetiche em ser chutado, né? Não digo com força, pois é coisa de animal…

Casa de Ferreiro

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