MADRIGAES TRAGICOMICOS

Page 1



MADRIGAES TRAGICOMICOS



GLAUCO MATTOSO

MADRIGAES TRAGICOMICOS

Casa de Ferreiro São Paulo


Madrigaes tragicomicos © Glauco Mattoso, 2022 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco MADRIGAES TRAGICOMICOS/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022 294 p., 21 x 21cm ISBN: 85-87515-02-0 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA Publicada originalmente em 2016 pelo sello Lumme, esta obra colligia cento e vinte poemas compostos no anno anterior, aos quaes se accrescentam trinta compostos em 2019 nesta segunda edição, affora as versões "dissonnettizadas" para cada madrigal vertido. A numeração dos poemas segue o criterio definitivo adoptado na consolidação do archivo OPERA INSOMNIA, onde todos os madrigaes estão entre 7668 e 7817. Quanto aos dissonnettos, foram quasi todos monostrophados e teem numeração mais antiga, devida à catalogação do archivo OPERA INSOMNIA. Quanto à composição, os novos madrigaes admittem mais versos no motte, que deixa de ser sempre disticho, e maior variação nas estrophes, mantido, comtudo, o decasyllabo como padrão metrico, e mantida a thematica characteristica da lyra mattosiana, satyrica e fescennina. O asterisco indica os casos em que o madrigal foi reformulado como dissonnetto ou approveitou estrophes de antigos sonnettos. Por ultimo, appenas o dissonnetto "Raspa do tacho" não corresponde a nenhum madrigal especifico, servindo só como epilogo.



MADRIGAES TRAGICOMICOS 9

MADRIGAL INTERFORMAL [7668] Em verso decasyllabo, qual é a feição que em madrigal transforme a idéa? Bem simples: duma oitava, appenas passo o disticho final para o começo, compondo uns epigrammas... e um abbraço! Os themas vão do drastico ao travesso e, si o leitor julgar que bom palhaço um cego permanesce, eu ganho appreço.


10 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PRETEXTUAL [7669] Bilac achava futil fosse o thema tractado como chave dum problema. Mas, como motte e glosa, caso eu queira compor meu madrigal, que mal ha nisso? A dama que desmaia ao ver caveira é um optimo motivo! Eu me enfeitiço com mottes desse typo e dou inteira razão aos que destrincham tal enguiço! Não posso restringir meu compromisso poetico à politica, ao amor ou à philosophia, nem cediço eu acho thema algum, seja qual for o estylo, livre ou fixo. O mais ommisso dos bardos é o que finge a "melhor" dor.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 11

MADRIGAL SEPULCHRAL [7670] (*) Coitada! Desmaiou, antes faceira, a dama, ao ver no espelho uma caveira! Olhou-se. Penteava, distrahida, a longa cabelleira, e viu a cara ridente do eskeleto, a morte em vida! Depois, contou a todos: desmaiara de fome, não de medo, e sem comida não fica mais! Addeus, dieta avara!


12 GLAUCO MATTOSO

PERPLEXO REFLEXO [5951] Commum é desmaiar alguma dama. Coitada! Desmaiou, antes faceira, aquella, ao ver no espelho uma caveira! "Por todos os diabos!", ella exclama. Si não está sentada numa cama ou, pelo menos, numa chan cadeira, a dama, com certeza, de maneira pathetica, por uma adjuda chama. Olhou-se. Penteava, distrahida, a longa cabelleira, e viu a cara ridente do eskeleto, a morte em vida! Depois, contou a todos: desmaiara de fome, não de medo! Sem comida não fica mais! Addeus, dieta avara! Por isso não critico quem duvida dos medicos. Por elles, ninguem sara.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 13

MADRIGAL PRESIDENCIAL [7671] Excepto os puxasaccos, mais ninguem te chamou de "presidenta", presidente! Num poncto tens razão: saber quem tenta fazer bajulação é facil, né? Te basta ver quem falla "presidenta"! Que "chefa" digam, pode ser, até! Mas, quando alguem disser que és "competenta", é pura gozação! Não ponhas fé!


14 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL REGIMENTAL [7672] (*) Sedoso, perfumado... O senador do rollo de papel excolhe a cor. A coisa sae marron, às vezes preta, conforme seu espirito, mas era azul o papel, antes que commetta seu acto o senador, e nada altera do voto o resultado ou, na gaveta, aquillo que, importante, esteja à espera.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 15

PAPEL PRINCIPAL [5952] A bunda, quem a limpa tem estylo. Sedoso, perfumado... O senador do rollo de papel excolhe a cor. Ninguem da midia pode perseguil-o. Demais parlamentares, sem vacillo, appoiam tal excolha, pois o odor dos nossos excrementos oppressor é, como o dos velhinhos num asylo. A coisa sae marron, às vezes preta, conforme seu espirito, mas era azul o papel, antes que commetta seu acto o senador, e nada altera do voto o resultado ou, na gaveta, aquillo que, importante, esteja à espera dalguma providencia que prometta livrar dos desgovernos a gallera.


16 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL COLLOQUIAL [7673] (*) Debatte de alto nivel bem transcorre na Camara, mas, caso alguem desforre... -------

O nobre deputado se equivoca! Jamais! Vossa Excellencia não sabia? Sei muito bem! Não vivo de fofoca! Mas vive de mammata e mordomia! Não falle assim commigo, seu boboca! Ah, foda-se, Excellencia! Chupa! Enfia!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 17

HILARIO PLENARIO [5953] Tem methodo o jargão parlamentar. Debatte de alto nivel bem transcorre na Camara, mas, caso alguem desforre, bem pouca coisa pode se salvar. Alguem pede palavra para dar palpite sobre thema que ja morre por falta de quem grana nisso torre, mas, mesmo assim, papel faz exemplar. -- O nobre deputado se equivoca! {Jamais! Vossa Excellencia não sabia?} -- Sei muito bem! Não vivo de fofoca! {Mas vive de mammata e mordomia!} -- Não falle assim commigo, seu boboca! {Ah, foda-se, Excellencia! Chupa! Enfia!} -- Commigo ninguem nesse assumpto toca! {Si toco! Não tolero baixaria!}


18 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL MEDICINAL [7674] (*) De vida a qualidade é relação de custo-beneficio: dóe ou não? O cara é diabetico e não tem symptomas, mas os teme a longo prazo. Tomar a "metformina" com ou sem appoio dum "fibrato"? Foi meu caso. Passei a perder peso, mas tambem me veiu a myalgia... Aqui me embaso: Fiquei debilitado! De tão fracco, a chronica rhinite pneumonia virou! O trouxa quasi foi pro sacco! Serviu-me de licção. Que é que sentia eu antes e depois do tal pharmaco? Prefiro o doce! O risco, a gente addia!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 19

PENSANDO E DESCOMPENSANDO [5954] Analyse requer a medicina. De vida a qualidade é relação de custo-beneficio: dóe ou não? Mas facil esse thema não termina. O gajo, diabetico, não tem symptomas, mas os teme a longo prazo. Tomar a "metformina" com ou sem appoio dum "fibrato"? Foi meu caso. Passei a perder peso, mas tambem me veiu a myalgia... Aqui me embaso: Fiquei debilitado! De tão fracco, a chronica rhinite pneumonia virou! O trouxa quasi foi pro sacco! Serviu-me de licção. Que é que sentia eu antes e depois do tal pharmaco? Prefiro o doce! O risco, a gente addia!


20 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PLUVIAL [7675] (*) Si chove, allaga tudo e causa o chaos. Si falta chuva, os niveis estão maus. Paresce a crise hydrica o dilemma do seculo: agua molle ou pedra dura? Concreto ou varzea verde? A gente rema mais contra a correnteza ou a natura nos pune com a secca? A pena extrema será bebermos mijo ou merda pura? Não falta um palpiteiro que assegura: exgotto se approveita, si tractado! Eu fico imaginando: que fartura de merda! Estamos salvos! Mero dado visivel e olfactivo é o da tinctura marron... Quanto ao sabor... será do aggrado!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 21

PLUVIAL TRIVIAL [5955] Ninguem razão consegue dar ao clima. Si chove, allaga tudo e causa o chaos. Si falta chuva, os niveis estão maus. Assumpto desse typo desanima. Paresce a crise hydrica o dilemma do seculo: agua molle ou pedra dura? Concreto ou varzea verde? A gente rema mais contra a correnteza ou a natura nos pune com a secca? A pena extrema será bebermos mijo ou merda pura? Não falta um palpiteiro que assegura: exgotto se approveita, si tractado! Eu fico imaginando: que fartura de merda! Estamos salvos! Mero dado visivel e olfactivo é o da tinctura marron... Quanto ao sabor... será do aggrado!


22 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ANIMAL [7676] Chegou a sua hora, seu baixote! Ouviu? Va ja nanar no seu caixote! Teimoso, o meu basset fará de tudo, disposto a não sahir do seu logar na salla, um tapetão grosso e felpudo. Mas passa ja das onze, me deitar eu vou e, no meu quarto, um salsichudo não dorme, pois não quero accostumar. Ja foi, durante o dia, "bassear" e poz, esse orelhudo, pelo apê todinho a sua torta e modellar pattola. Agora chega. Qual bebê, terá que addormescer. E elle a sonhar está, si o dono, insomne, nisso crê. Assim é meu cachorro, mas você se illude quando extranha essa attitude humana que elle assume, pois não vê que, deante da fofura, será rude tractar como "animal" esse basset tão typico na sua "bassetude"...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 23

MADRIGAL SENTIMENTAL [7677] (*) Passando dos sessenta, quem não ha de sentir da juventude uma saudade? Sim, sinto. Não do joven vivia, mas do sonho e da futura de algo achar que Depois de tanto tempo, a de ser esperançoso, e ja que sente aquelle anxeio

que infeliz esperança sempre quiz. gente cansa não diz de creança.


24 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA SENTIMENTAL [5956] Não logro deschartar um sentimento. Passando dos sessenta, quem não ha de sentir da juventude uma saudade? Ainda mal lembrar da minha tento. Memorias são falliveis. A contento não posso recordar do que me aggrade e sim de tudo quanto me degrade, mas hoje junctar ambos nem lamento. Me lembro. Não do joven que infeliz vivia, mas do sonho e da esperança futura de algo achar que sempre quiz. Depois de tanto tempo, a gente cansa de ser esperançoso, e ja não diz que sente aquelle anxeio de creança. Appenas somos nós nosso juiz na hora de pesarmos na ballança.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 25

MADRIGAL FECAL [7678] (*) As fezes são metaphora, na classe politica, de alguem que o povo casse. Cagando e andando está quem foi flagrado na lista dos corruptos, mas deu, antes do escandalo, o escatophilo recado: "Fiz tudo para obrar, nas importantes urgencias, com exforço, e evacuado não tenho a casa, oppondo-me aos farsantes!"


26 GLAUCO MATTOSO

POLITI/COPRO/TESTO [5957] Um thema nos retorna à poesia: As fezes são metaphora, na classe politica, de alguem que o povo casse. A lyra precisamos pôr em dia. Politicos proferem baixaria em todos os discursos porque nasce das fezes o dilemma, nesse impasse da mais elementar philosophia. Cagando e andando está quem foi flagrado na lista dos corruptos, mas deu, antes do escandalo, o escatophilo recado: {Fiz tudo para obrar, nas importantes urgencias, com exforço, e evacuado não tenho a casa, oppondo-me aos farsantes!} Será melhor pensar no resultado das obras sob effeito de laxantes.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 27

MADRIGAL MEDIEVAL [7679] Talvez, si do islamophobo a cabeça cortar, o Estado Islamico apparesça. Um gay, uma mulher, um extrangeiro... Em publico, o carrasco os decapita, sorrindo, e a scena filmam por inteiro! Mas outros "infieis" estão, na fita, morrendo... E os torturou todos, primeiro, o sadico e fanatico sunnita! Alguns crucificados... Alguem grita, de penis amputado... Um outro, sem os olhos, erra às tontas... A desdicta das virgens menininhas vae alem da atroz escravidão, jamais descripta nas midias: mais chiqueiro do que harem! Um xeique exclaresceu: a mulher tem total obrigação de dar prazer ao homem. Assim, tracta-se, tambem, de sexo oral: a bocca ante o dever de sujos paus chupar! Portanto, quem cegou, cappou, mactou... fará valer!


28 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL IMPERIAL [7680] (*) Barão, visconde, conde, marquez, duque... Um titulo não quero que me encuque. Barão paresce grande, mas é baixo. Visconde não é vice que me aggrade e conde condecora, mas me encaixo melhor no de marquez, que lembra Sade. De duque ou de archiduque não me enfaixo si a faixa não me espelha a crueldade.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 29

MISCELLANEA MONARCHISTA [5958] Pensaram? Bem melhor tudo seria suppondo que Dom Pedro nos eduque na base, não do murro, não do muque, mas duma nobiliarchica mania. Sim, meritos tivera a monarchia. Barão, visconde, conde, marquez, duque... Um titulo não quero que me encuque. Talvez um delles ganhe eu, certo dia. Barão paresce grande, mas é baixo. Visconde não é vice que me aggrade e conde condecora, mas me encaixo melhor no de marquez, que lembra Sade. De duque ou de archiduque não me enfaixo si a faixa não me espelha a crueldade. Appenas à pobreza me rebaixo si um sadico plebeu me persuade.


30 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ORAL [7681] (*) A bocca, feminina ou masculina, rebaixa-se ao fellar, é o que se ensigna. Ensigna-se a primeira conclusão: "O esperma ejaculado na garganta destino certo tem... degluttição! Segunda conclusão: de nada addeanta negar que a bocca soffra humilhação, pois, só de pensar nisso, o pau levanta." A tara, em meus sonnettos, ja foi tanta por esse gozo oral, que até se sonda si o mesmo em madrigal tanto me encanta. E, para que meu estro não se esconda repito uma sextilha que de sancta nadinha tem, emquanto a bomba extronda: "A bocca se deforma, se arredonda; o rosto os traços crispa, os olhos cerra; da barba excorre a baba, a nausea ronda o fundo da garganta, onde se enterra a glande! E, sem dar chance que responda, gargalha e goza quem ganhou a guerra!"


MADRIGAES TRAGICOMICOS 31

MADRIGAL PREPUCIAL [7682] (*) Na practica, é "sebinho", essa materia que "esmegma" tem por nome em phrase seria. "Terror do rabbinato e da hygiene hypocrita, por dentro do prepucio se forma e se accumula, immundo e infrene. E, ainda que seu medico condemne, o moço o prova, quando, a sós, aguce-o um morbido tesão, nelle perenne." Assim ja versejei, expondo um pene com "bicco de chaleira" a alguem que fuce a camada de sebinho e um acto enscene de suja fellação, que muita argucia não pede a quem me leia, nem solenne nariz torto ante um phallo de pellucia.


32 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL SIDERAL [7683] (*) Poeta que ouve estrellas sabe bem aquillo que, do espaço até nós, vem. Um disco voador signaes emitte que appenas os poetas teem o dom de ouvir. De appenas ver e dar palpite tem dom qualquer ufologo. Ouço com certeza, pois sou cego, e meu limite é o fim do proprio kosmo, o escuro tom. Affirmo, pois, euphorico e de bom humor, que são verdinhos, sim, os taes etês, ou marcianos, cujo som eu capto com clareza, ainda mais si rock estou ouvindo: um do Elton John transmitte (o do astronauta) alguns signaes.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 33

MISCELLANEA INTERGALACTICA [5959] A lyra registrou, sim, tal assumpto. Poeta que ouve estrellas sabe bem aquillo que, do espaço até nós, vem. A todos os confrades eu me juncto. Um disco voador signaes emitte que appenas os poetas teem o dom de ouvir. De appenas ver e dar palpite tem dom qualquer ufologo. Ouço com certeza, pois sou cego, e meu limite é o fim do proprio kosmo, o escuro tom. Affirmo, pois, euphorico e de bom humor, que são verdinhos, sim, os taes etês, ou marcianos, cujo som eu capto com clareza, ainda mais si rock estou ouvindo: um do Elton John transmitte (o do astronauta) alguns signaes.


34 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL FLORAL [7684] (*) Poeta que na rosa acha seu thema não falta, mas ha quem tal thema tema. Na cor está o problema. A rosa cor de rosa é redundante. A rosa branca não berra nem perfuma. Si ella for azul, verde ou vermelha, não desbanca aquella que, amarella, por ser flor de poucos defensores, é mais franca.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 35

MISCELLANEA FLORAL [5960] As flores sempre deram thema à lyra. Poeta que na rosa acha seu thema não falta, mas ha quem tal thema tema. Tambem ha quem chrysanthemos prefira. Conhesço um que tem petalas na mira: desfolha a margarida com extrema cautela, por receio de que gema em vão duma paixão, e ja delira. Na cor vejo um problema. A rosa cor de rosa é redundante. A rosa branca não berra nem perfuma. Si ella for azul, verde ou vermelha, não desbanca aquella que, amarella, por ser flor de poucos defensores, é mais franca. Mas nunca que um leitor ha de suppor que o bardo uma mulher com ella expanca.


36 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PATRIARCHAL [7685] (*) O velho patriarcha ainda dá as ordens, mas ninguem o escuta, ja. De surdo se faz, quando lhe interessa, e em tudo se intromette, diz o netto. O filho ouvil-o finge, mas tem pressa e logo sae de perto. Sem affecto, o avô só quer que alguem bençam lhe peça, mas todos são atheus, hoje, elle excepto.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 37

VELHO PROBLEMA (II) [5961] No seio da familia brazileira, O velho patriarcha ainda dá as ordens, mas ninguem o escuta, ja. Não ligam nem que faça brincadeira. Mas, mesmo que escutar, somente, queira, evitam que elle escute a lingua má que falla delle proprio, ja que está fazendo da cachaça a mammadeira. De surdo se faz, quando lhe interessa, e em tudo se intromette, diz o netto. O filho ouvil-o finge, mas tem pressa e logo sae de perto. Sem affecto, o avô só quer que alguem bençam lhe peça, mas todos são atheus, hoje, elle excepto. Sozinho ja a fallar elle começa, do quarto para a salla, no trajecto.


38 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL VISUAL [7686] (*) O cego concretista appalpa o pé e lê, no amendoim, nonsense, até. Ninguem é mais poeta nem concreto que o cego, que tacteia a dimensão da lettra na palavra, avulso objecto. Em cada grão palpavel, o olho são não vê sentido algum, mas interpreto eu, sem a luz do dia, a cor do grão.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 39

MISCELLANEA SENSORIAL [5962] Cegueira tambem pode ser pretexto. O cego concretista appalpa o pé e lê, no amendoim, nonsense, até. A crosta dos pãesinhos lê no cesto. Terá, logicamente, mais contexto no olfacto, si cheirar o seu chulé. Porem o que do bardo dizem é que está mais synesthesico no texto. Ninguem é mais poeta nem concreto que o cego, que tacteia a dimensão da lettra na palavra, avulso objecto. Em cada grão palpavel, o olho são não vê sentido algum, mas interpreto eu, sem a luz do dia, a cor do grão. Na mesa, até café com leite quieto não deixo, tacteando um duro pão.


40 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL VIRTUAL [7687] (*) Nas redes sociaes ja se convoca a massa ou se diffunde uma fofoca. Dynamica, a internet está ligada às vozes populares e reflecte protestos ou boatos, hora a cada. Decidem-se eleições, qualquer enquete é feita, mas, tambem, é tudo ou nada: censura obscura ou lucida manchette.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 41

MISCELLANEA IMMIDIATICA [5963] Tem dupla serventia a midia, ja. Nas redes sociaes você convoca a massa ou dissemina uma fofoca. Qualquer opinião alguem ja dá. Alguem quer provocar um bafafá? É facil accusar de troca-troca um time vencedor ou achar coca, na mala dum doutor, a lingua má. Dynamica, a internet está ligada às vozes populares e reflecte protestos ou boatos, hora a cada. Decidem-se eleições, qualquer enquete é feita, mas, tambem, é tudo ou nada: censura obscura ou lucida manchette. A bruxa tambem pode ser a fada. Offensa às vezes pode ser confetti.


42 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL CAMBIAL [7688] O nivel das represas não devia na midia ser quotado todo dia. Não basta a quotação, que me enche o sacco, na bolsa de valores, como aquella celeuma sobre um dollar forte ou fracco? Quando agua entre as commodities se attrella, banana, que é comida de macaco, ao preço dos manjares se nivela!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 43

MADRIGAL ZODIACAL [7689] (*) Que horror! Escorpião e caranguejo é tudo bicho feio, assim os vejo! Pavor de aranha tenho, mas meu signo é cancer, outro horrendo bicho! Alguem me disse com qual signo bem combino... Verdade? Escorpião? Será que tem tal dica fundamento? Algum menino escorpioniano me quer bem?


44 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA ASTROLOGICA [5964] Não acho no zodiaco uma boa. Que horror! Escorpião e caranguejo é tudo bicho feio, assim os vejo! Por isso dou azar! Não foi à toa! Pretende ser feliz toda pessoa normal, mas a cegueira deu ensejo a negras previsões, e de sobejo. De mim qualquer astrologo caçoa. Pavor de aranha tenho, mas meu signo é cancer, outro horrendo bicho! Alguem me disse com qual signo bem combino... Verdade? Escorpião? Será que tem tal dica fundamento? Algum menino "escorpioniano" me quer bem? Talvez de "escorpiano" o meu destino chamar vae quem me acceita em seu harem.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 45

MADRIGAL MARITAL [7690] (*) Um golpe do bahu quem não consiga dar, tente dar um golpe da barriga! Chamar de interesseira é pouco! Agora, por causa da pensão, só casam para dar satyra, Quintana corrobora! Os uteros viraram a mais cara poupança, pois, emquanto o macho chora a perda, a mulher, rindo, se separa.


46 GLAUCO MATTOSO

MEME DA SOGRA [5965] A sogra duma muito expertalhona menina confessou-se minha amiga. Contou-me sobre o filho que, se diga, otario foi, por causa duma conna. A tal de dona Deborah detona: "Um golpe do bahu quem não consiga dar, tente dar um golpe da barriga!" Define assim a nora e o que ambiciona. Chamar de interesseira é pouco! Agora, por causa da pensão, só casam para dar satyra, a sogrona corrobora! Os uteros viraram a mais cara poupança, pois, emquanto o macho chora a perda, a mulher, rindo, se separa. Assim dizia a perfida senhora que escuto quando as magoas excancara.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 47

MADRIGAL TROPICAL [7691] (*) Banana e papagayo da bandeira teem cor verde-amarella, à brazileira. Banana symboliza a impunidade dos nossos criminosos, pela falta de empenho para os pôr attraz de grade. E quanto ao papagayo, esse peralta biccudo e linguarudo? Persuade a gente a sustentar, eleita, a malta.


48 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA TROPICAL [5966] As cores nacionaes dão trella à bessa. Banana e papagayo da bandeira teem cor verde-amarella, à brazileira. Como é que um vate experto se sae dessa? Talvez thematizando uma promessa que faça algum cacique quando queira fazer-nos de freguez da bananeira, alem dum fallatorio que não cessa. Banana symboliza a impunidade dos nossos criminosos, pela falta de empenho para os pôr attraz de grade. E quanto ao papagayo, esse peralta? Biccudo e linguarudo, persuade a gente a sustentar, eleita, a malta. Da nossa tropical diversidade são ambos a metaphora mais alta.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 49

MADRIGAL BAPTISMAL [7692] (*) Que nome dar devemos ao filhinho que craque, um dia, seja, canarinho? Que seja jogador de selecção queremos? Romarilson, com certeza, chamar-se deve, ou Neymarson, então. Não pode ter um nome que nos leve a ter delle o conceito dum João ou Zé Ninguem, peão, furando greve.


50 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA BAPTISMAL [5967] Aos paes occorre sempre esta questão: Que nome dar devemos ao filhinho que craque, um dia, seja, canarinho? Resolvem com amor o problemão. Em vez de ser Adão, Sebastião, Romão ou Elesbão, que tal Zezinho, Marinho, Romarinho ou Ronaldinho? Ha sempre bons homonymos à mão. Que seja jogador de selecção queremos? Romarilson, com certeza, chamar-se deve, ou Neymarson, então. Não pode ter um nome que nos leve a ter delle o conceito dum João ou Zé Ninguem, peão, furando greve. Não sendo nem siquer um do Timão, talvez qualquer Zezão sinta firmeza.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 51

MADRIGAL DIGITAL [7693] (*) Jamais um escriptor dactylographa. Agora só digita, sem estaffa. À machina saphou-se de escrever, e à mão, por lhe faltar calligraphia. Ao menos de teclar tem o dever, mas acha, caso faça poesia, que sabe compor versos sem os ler alheios. Quem só tecla, a si plagia.


52 GLAUCO MATTOSO

ESCRIPTA RESTRICTA [5968] À practica do verso sei que calho, mas vejo muito auctor que na garrafa encontra inspiração e não se sapha de achar, entre dois goles, um attalho. Aos poucos, vae mudando o seu trabalho. Jamais um escriptor dactylographa. Agora só digita, sem estaffa. Assim é que calculo quanto valho. À machina saphei-me de escrever, e à mão, por me faltar calligraphia. Ao menos de teclar tenho o dever. Mas acham os que fazem poesia que sabem compor versos sem os ler alheios. Quem só tecla, a si plagia. Ao cego, seu teclado dá poder de mago ou de quem faça bruxaria.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 53

MADRIGAL ADDICIONAL [7694] (*) Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum. De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa... de tudo elles precisam, pois com vinho barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho! Declara um senador: "Eu encaminho aquella votação tão logo possa..." "Exforço concentrado" é o excarninho synonymo da farsa que se esboça. "Periculosidade", outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa...


54 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969] Funcciona a coisa publica assim, ó: Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum. Exemplos vocês querem? Vejam só: De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa... de tudo elles precisam, pois com vinho barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho! Declara um senador: "Eu encaminho aquella votação tão logo possa..." "Exforço concentrado" é o excarninho synonymo da farsa que se esboça. "Periculosidade", outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 55

MADRIGAL PERENNAL [7695] (*) Poema escatologico, o mais claro recado entre o fedor e o fino faro. É tanto incompetente appadrinhado fazendo merda e sendo promovido que, quando comecei o apprendizado, pensei: "Que seja proprio o seu sentido, porque ja me ennojei do figurado!" E então fui rei da merda com que aggrido. Ja fiz, com estes versos, conhescido sonnetto, mas o thema ainda incita a lyra fescennina, e tenho ouvido nas ruas o bordão de quem se irrita com tanta bandalheira. Assim, decido manter minha thematica maldicta...


56 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PHILOSOPHAL [7696] (*) Experto, leva sempre uma caixinha que engorda a sua compta e zera a minha. Aquelle thesoureiro ganha, a cada negocio em que se mette, a respectiva gorgeta e milhõesinhos arrecada. Mas, quando perguntado, elle se exquiva dizendo que não leva nisso nada comptabil. Claro, embolsa a grana viva! Em nome do partido, elle se priva, coitado, de obstentar tanta riqueza, até chegar a hora decisiva. Flagrado, emfim, as chartas põe na mesa e conta o que na compta, ora inactiva, restou: os honorarios da defeza.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 57

CHAVE DE CADEIA [5970] É sempre essencial o thesoureiro. Experto, leva à parte uma caixinha que engorda a sua compta e zera a minha. Por elle passa a scedula primeiro. Aquelle thesoureiro ganha, a cada negocio em que se mette, a respectiva gorgeta e milhõesinhos arrecada. Mas, quando perguntado, elle se exquiva, dizendo que não leva nisso nada comptabil. Claro, embolsa a grana viva! Em nome do partido, elle se priva, coitado, de obstentar tanta riqueza, até chegar a hora decisiva. Flagrado, emfim, as chartas põe na mesa e conta o que na compta, ora inactiva, restou: os honorarios da defeza.


58 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL USUAL [7697] (*) Nenhuma lingua é "morta" emquanto alguem a falla. Orthographia, assim tambem. Vocabulo em "desuso" não exsiste. Exsiste uso restricto duma forma fallada, escripta, caso não conquiste maior acceitação. Nenhuma norma chamada "official", de dedo em riste, impõe de antigas praxes a reforma.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 59

MISCELLANEA PHILOLOGICA [5971] Preceito philologico não falha. Nenhuma lingua é "morta" emquanto alguem a falla. Orthographia, assim tambem. Com isso é que meu methodo trabalha. Talvez, sem revisão, alguma gralha commetta quem ainda não tão bem esteja accostumado. Disso alem, algum poeta culto se attrapalha. Vocabulo em "desuso" não exsiste. Exsiste uso restricto duma forma fallada, escripta, caso não conquiste maior acceitação. Nenhuma norma chamada "official", de dedo em riste, impõe de antigas praxes a reforma. Não posso tolerar alguem que insiste na simplificação que desinforma.


60 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ELEITORAL [7698] (*) Não voto num partido, mas acceito votar, pelo charisma, num subjeito. Assim o brazileiro explica a sua excolha incoherente de quem vota num cara e quer que a rua o destitua. Quem pede ao militar que appoie a bota no rosto do governo sae à rua sabendo que, depois, seu ar se exgotta.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 61

MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972] Em anno eleitoral sempre se escuta: "Não voto num partido, mas acceito votar, pelo charisma, num subjeito." Assim encara o povo uma disputa. Emquanto de ladrão, filho da puta e corno são xingados os que pleito disputam, eu aqui só me deleito ao ver como o povão taes nomes chuta. Jamais o brazileiro explica a sua excolha incoherente de quem vota num gajo e quer que a rua o destitua. Quem pede ao militar que appoie a bota no rosto do governo sae à rua sabendo que, depois, seu ar se exgotta na tal "malversação", na falcatrua, alem da crueldade em alta quota.


62 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ACCIDENTAL [7699] Que pena! A dama erguia tanto o seu nariz, que o rebollado até perdeu! Andava pela rua desattenta, perdida entre a vitrine e o cellular, até que, contra um poste, se arrebenta! Cahiu, gritou, xingou, poz-se a chorar... Ninguem a soccorreu, pois ella enfrenta a sorte de se achar menos vulgar. No chão extatellada, agora tenta, aos poucos, levantar-se. Toda suja, alem de machucada, ja se senta na beira da calçada. A plebe, cuja baixeza ella despreza, tem pigmenta na lingua: da fofoca haja quem fuja! -- Cês viram? Se fodeu, essa luxenta! -- Ficou emporcalhada! Foi bem feito! Na feira, a mulherada ja commenta o tombo da madame que, no leito, repousa do hospital, curando a venta quebrada, alem da aguda dor no peito...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 63

MADRIGAL PHENOMENAL [7700] (*) Enchente alli com secca aqui: que extranho phenomeno, tirando ou dando um banho! A cheia na Amazonia tem contraste com nossa falta d'agua, o que provoca piadas, impedindo-me que gaste no banho o que bebi, me dando, em troca do mijo, mais um coppo... e, mais se arraste a crise, mais a gente em merda toca... Até nas classes altas a fofoca ja rolla: beberemos, não demora, exgotto recyclado ou, na malloca, directo da privada... Só peora si a secca perdurar, pois desembocca o corrego na valla, a bosta afflora!


64 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA AMBIENTAL [5973] Mudanças, as climaticas me chocam. Enchente alli com secca aqui: que extranho phenomeno, tirando ou dando um banho! Poetas taes eventos pouco enfocam. A cheia na Amazonia tem contraste com nossa falta d'agua, o que provoca piadas, impedindo-me que gaste no banho o que bebi, me dando, em troca do mijo, mais um coppo... e, mais se arraste a crise, mais a gente em merda toca. Até nas classes altas a fofoca ja rolla: beberemos, não demora, exgotto recyclado ou, na malloca, directo da privada... Só peora si a secca perdurar, pois desembocca o corrego na valla, a bosta afflora!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 65

MADRIGAL HABITUAL [7701] (*) Difficil ao politico seria passar sem malversar por um só dia. Poeta não malversa. Elle verseja, quebrando ou sem quebrar o pé, mas um politico o fará, caso se eleja. De quebra, quebrará, com seu bumbum pesado, um banco solido, e você ja sentiu que é sempre fetido o seu pum...


66 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974] Alem da beberagem e da droga, Difficil ao politico seria passar sem malversar por um só dia. Por isso o menestrel se desaffoga. Motivos não lhe faltam, pois quem joga o jogo da banal democracia somente desviando se sacia, quer use terno, farda, jeans ou toga. Poeta não malversa. Elle verseja, quebrando ou sem quebrar o pé, mas um politico o fará, caso se eleja. De quebra, quebrará, com seu bumbum pesado, um banco solido, e você ja sentiu que é sempre fetido o seu pum com cheiro de cachaça, de cerveja, de whisky, de bom vinho ou de bom rhum.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 67

MADRIGAL OPERACIONAL [7702] (*) Um penis de cadaver se transplanta num homem vivo, graças à mão sancta. Noticia foi na midia: quem precisa de rolla nova agora excolhe cor, grossura, comprimento, pelle lisa ou aspera, conforme o doador! Caralhos mortos podem ter, à guisa de vivos, erecção, fazer amor! Fallou desse milagre seu auctor, um medico cubano, ou haitiano, ao certo não sei: "Sente alguma dor, depois, o paciente, eu não enganno ninguem, mas lhes garanto, seu sabor ainda, a quem chupal-o, é phallo humano!"


68 GLAUCO MATTOSO

MEME DO PAU DOADO [5975] Transplantes ja communs são, hoje em dia. Um penis de cadaver se transplanta num homem vivo, graças à mão sancta dum bom cirurgião da anatomia. Noticia foi na midia: quem precisa de rolla nova agora excolhe cor, grossura, comprimento, pelle lisa ou aspera, conforme o doador! Caralhos mortos podem ter, à guisa de vivos, erecção, fazer amor! Fallou desse milagre seu auctor, um medico cubano, ou haitiano. Diz elle, franco: "Sente alguma dor, depois, o paciente, eu não enganno ninguem, mas lhes garanto, seu sabor ainda, a quem chupal-o, é phallo humano!"


MADRIGAES TRAGICOMICOS 69

MADRIGAL GOVERNAMENTAL [7703] (*) Paiz ingovernavel, o Brazil suborna o militar como o civil. Na practica, faz tanto um general corrupto quanto um rei ou presidente. O termo "commissão" é litteral. Será "parlamentar" emquanto a gente se diga democratica. Na tal "democradura", vem gorgeta à mente.


70 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976] Regimes, quem prefere qual, emfim? Paiz ingovernavel, o Brazil suborna o militar como o civil. Não resta alternativa, para mim. Uns acham este aqui menos ruim. Alguns preferem bota, dum fuzil se dizem defensores, mas ardil se encontra em todos: tudo por dindim. Na practica, faz tanto um general corrupto quanto um rei ou presidente. O termo "commissão" é litteral. Será "parlamentar" emquanto a gente se diga democratica. Na tal "democradura", vem gorgeta à mente, emquanto, num regime "social", mendigo ja se eguala ao indigente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 71

MADRIGAL MATINAL [7704] (*) Mulheres são princezas, quando não rainhas, para um homem... ou um cão. Nariz ella levanta, vira a cara, de chofre, para o lado, e solta um "Hum!" de pouco caso. A quem, só, se compara? A alguma bassezinha, claro! A algum basset, mais raramente. A gente para na frente, e ella nos vira seu bumbum! Com versos deste typo ja fiz um sonnetto dedicado a certa dama, mas, para mim, o orgulho é mais commum nas proprias cadellinhas, e quem ama bassets bem sabe como outro nenhum cachorro mais a nossa attenção chama. Dirceu cantou Marilia, mas a fama de musa merescia, mesmo, aquella pretinha dachshunda que, na cama, lamber nos vem a bocca si a janella clareia de manhan, e que reclama carinho, com presuncto ou mortadella...


72 GLAUCO MATTOSO

Declaro o meu amor, assim, por ella e eis como a salsichuda dachshunda captiva um cego bardo, este que appella a um novo madrigal e que approfunda o amor pelos bassets, nesta singella cantiga à torta patta e à branca bunda...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 73

MADRIGAL JUDICIAL [7705] (*) Juiz, como a mulher ou o bebê, faz feio, mas seu feito não revê. Bebê tem no cuzinho o que? Não sei. Mulher tem na barriga tudo, excepto aquillo que ella espera ter: um rei. Juiz só faz suspense e augmenta o tecto do seu salario, emquanto eu sempre dei sentença opposta à delle e ao seu dejecto.


74 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA JUDICIAL [5978] Licção um velho adagio sempre dá. Juiz, como a mulher ou o bebê, faz feio, mas seu feito não revê. Quem é que, em poesia, reverá? Satyricos, por certo, pois não ha quem boas gargalhadas ja não dê da vida alheia quando um fuzuê mais memes provocar que um bafafá. Bebê tem no cuzinho o que? Não sei. Mulher tem na barriga tudo, excepto aquillo que ella espera ter: um rei. Juiz só faz suspense e augmenta o tecto do seu salario, emquanto eu sempre dei sentença opposta à delle e ao seu dejecto. Mas não será por isso que farei questão de emphatizar um desaffecto.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 75

MADRIGAL SOCIAL [7706] (*) Catholica, faz liga com a amiga e cada puritana quer que a siga. Fundou, apposentada, a "Associação" que "das Serias Senhoras" se baptiza. Que faz a sua ASS? Age entre as que são "mulheres de má vida": a poetiza, a actriz, a puta... Insiste na questão: "Mulher seria de sexo não precisa!" Extranha "seriedade", essa que é tão fingida quando em publico, pois faz fofoca a vizinhança: à noite, não sossegam as amigas, nem em paz permittem que alguem durma! Gritam, dão risada, cantam... Gastam nisso o gaz?


76 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA MORALISTA [5979] Aquella senhorinha não descansa. Catholica, faz liga com a amiga e cada puritana quer que a siga. Ponhamos argumentos na ballança. Fundou, apposentada, a "Associação" que "das Serias Senhoras" se baptiza. Que faz a sua ASS? Age entre as que são "mulheres de má vida": a poetiza, a actriz, a puta... Insiste na questão: "Mulher seria de sexo não precisa!" Extranha "seriedade", essa que é tão fingida quando em publico, pois faz fofoca a vizinhança: à noite, não sossegam as amigas, nem em paz permittem que alguem durma! Gritam, dão risada, cantam... Gastam nisso o gaz?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 77

MADRIGAL LEGAL [7707] (*) Um methodo illegal não é moral mas pode um immoral ser bem legal. Que tal? Você practica tudo aquillo que a midia diz ter branco o collarinho e, caso não for pego, está tranquillo. Mas, caso pego, estava no caminho correcto, e prohibido o seu estylo não era... Fica o caso, então, certinho. Appenas isso basta? Me apporrinho com essa de "antiethica postura"! Eu quero que meu crime de sanctinho me faça e todo aquelle que dedura entenda que o partido ao qual me allinho luctou contra a censura e a dictadura!


78 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980] De exame calmo tudo, sim, depende. Um methodo illegal não é moral mas pode um immoral ser bem legal. Às vezes, quem mal age bem se vende. Que tal? Você practica tudo aquillo que a midia diz ter branco o collarinho e, caso não for pego, está tranquillo. Mas, caso pego, estava no caminho correcto, e prohibido o seu estylo não era... Fica o caso, então, certinho. Appenas isso basta? Me apporrinho com essa de "antiethica postura"! Eu quero que meu crime de sanctinho me faça e todo aquelle que dedura entenda que o partido ao qual me allinho luctou contra a censura e a dictadura!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 79

MADRIGAL NUPCIAL [7708] (*) Mulher de amigo meu p'ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico.


80 GLAUCO MATTOSO

MEME DO ADULTERIO [5981] Casaes costumam cedo separar os corpos, pois idéas más consomem. Depois, será difficil que retomem a vida conjugal, a fé no lar. Eu cito um argumento lapidar: Mulher de amigo meu p'ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Bobeiem, e tambem farei chupar! Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico. Meresce elle! Quem manda ser atheu? Alem de ser christão, sou bem mais rico!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 81

MADRIGAL QUINCTESSENCIAL [7709] (*) Orgasmo mais intenso eu só desfructo si a rolla me chupar um macho puto. Ja tive fellatrizes que meu pau fizeram exporrar com bom deleite, mas quero tal prazer em maior grau. Prefiro, agora, alguem que se subjeite na marra, ou por dinheiro, a um pau de mau character que, amargoso, exguiche o leite.


82 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA FELLACIONAL [5982] Boquette é a quinctessencia do prazer. Orgasmo mais intenso eu só desfructo si a rolla me chupar um macho puto. Poder eu gosto sempre de exercer. Por isso quero sempre meu poder testar sobre um rival com quem discuto politica, pois desses eu escuto offensas que preciso devolver. Ja tive fellatrizes que meu pau fizeram exporrar com bom deleite, mas quero tal prazer em maior grau. Prefiro, agora, alguem que se subjeite na marra, ou por dinheiro, a um pau de mau character que, amargoso, exguiche o leite. O meu, que causa gritos dum "Uau!" de expanto, nunca appenas é de enfeite.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 83

MADRIGAL THEATRAL [7710] Não veja, quem imagem quer amena, Paschoal da Conceição cagando em scena. Actor mais visceral, sem ser pornô vulgar, eu não conhesço, que, com tal virtude intestinal consagra a Artaud a merda dadaista, surreal, sublime eucharistia do cocô, metaphora ontologica e carnal! Quem foi macunahymico e, do mal, encarna um personagem infantil accyma está do absurdo: é natural, completo, humano, e poucos, no Brazil, capazes são de empenho e entrega egual! Global ou theatral, actua a mil! Zé Celso, sempre bacchico, subtil se torna, ontologia e onthologia fundindo, ser e merda, o sacro ao vil. Com elle está Paschoal, na audaz orgia tribal, anthropophagica, febril, no lucido delirio que ecstasia!


84 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PRINCIPAL [7711] Mantendo a "resonancia nacional", é o Rio a verdadeira capital. Diz Gil que "continua sendo" e, sim, será sempre a metropole mais nossa, não só pela Olympiada, em seu fim, mas pela vocação, que o mundo endossa, de centro cultural tupynikim, mais que um "chartão postal" opposto à roça! Será tupynikim, sim, sempre, e possa ser tão kosmopolita, mesmo assim, que seja anthropophagica, na bossa novissima e perenne, para mim fusão de rock e samba, ao som que empossa um proximo monarcha curumim! Que a urbe carioca seja, emfim, de novo a capital, visto que engrossa o khoro dos que querem que o jardim da praia, montanhoso, onde se esboça a cara do Brazil, sendo o PASQUIM diario official, reverta a troça!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 85

MADRIGAL VERBIVOCOVISUAL [7712] (*) Um "O" debaixo de outro, de outro abbaixo e accyma, em vertical eixo os encaixo. Quem os dactylographa, ou os digita, é um cego concretista, que na mente ainda guarda as lettras e cogita si em caixa baixa estão, visualmente dispostas e allinhadas na restricta medida do papel, sem luz nem lente.


86 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA VERBIVOCOVISUAL [5983] Dispostas no papel as lettras são. Um "O" debaixo de outro, de outro abbaixo e accyma, em vertical eixo os encaixo. Nem sempre no papel, porem, estão. Primeiro, na cabeça algumas vão surgindo. Quando proprias eu as acho, decido que terão, no meu despacho de cego, utilidade na canção. Quem as dactylographa, ou as digita, é um cego concretista, que na mente ainda guarda as fontes e cogita si em caixa baixa estão, visualmente. Dispostas, allinhadas na restricta medida do papel, sem luz nem lente, nem é, pois, necessario que repita mais vezes a leitura diligente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 87

MADRIGAL TEXTUAL [7713] (*) Laconico, succincto, resumido, conciso, telegraphico? Eu duvido! Não diga "Seja breve!" ao escriptor que, abrindo o seu romance, narra: "A tarde cahia modorrenta e, antes do pôr do sol, o allaranjado céu, com ar de mormaço tropical, deu-me um torpor..." Prazer como leitor ninguem agguarde!


88 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA FICCIONISTICA [5984] Não dá para ser breve em tal ficção. Laconico, succincto, resumido, conciso, telegraphico? Eu duvido! Romances não são curtos. Ou serão? Mediocre si for, perder a mão é facil num enredo sem sentido, tal como os que, por ora, teem surgido na fracca safra nova da nação. Não diga "Seja breve!" ao escriptor que, abrindo o seu romance, narra: "A tarde cahia modorrenta e, antes do pôr do sol, o allaranjado céu, com ar de mormaço tropical, deu-me um torpor..." Prazer como leitor ninguem agguarde! Com tal cara de pau, aquelle auctor não pode ser chamado de covarde.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 89

MADRIGAL ANAL [7714] (*) Que fezes ja comeu ninguem confessa, mas quem faz anilingua sabe dessa. Não ha como negar: quem lambe um anus dejectos põe na bocca e seu sabor conhesce, alem do odor e de outros damnos. Quem sente esse fedor pode suppor qual seja o paladar, mas, entre humanos, são poucos os que o provam, como o auctor.


90 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA COPROPHILICA [5985] Pensei em verosimil narrativa. Que fezes ja comeu ninguem confessa, mas quem faz anilingua sabe dessa. Masoca de verdade não se priva. Nem colhe da privada. Ja a saliva excorre quando caga nova peça aquelle comilão que nunca cessa na mesa, mas postura tem lasciva. Não ha como negar: quem lambe um anus dejectos põe na bocca e seu sabor conhesce, alem do odor e de outros damnos. Quem sente esse fedor pode suppor. Suppõe-se um paladar, mas, entre humanos, são poucos os que provam, como o auctor de livros debochados e mundanos, veridicos, garante. Só si for!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 91

MADRIGAL INTENCIONAL [7715] Meu dono diz a todos que sou manso e beijos dou na bocca, quando a alcanço. Não é que eu seja facil ou devasso, mas todos os meus beijos são assim, de lingua, sem pudor nem embaraço. Me chamam de "salsicha": para mim, estão elogiando, pois não passo sem duma demonstrar que estou a fim... Não posso de "baixinho" achar ruim que alguem me chame, desde que um beijinho me deixe dar na bocca, pois não vim da selva, sou domestico, e carinho não nego, mas só quero o meu tiquim de almondega, linguiça, salaminho... Ração, si eu não comer, ao passarinho advisa que a dará meu dono, e eu fico com raiva desse intruso! Aqui, sozinho, eu reino e ave nenhuma mette o bicco! Com outro "salsichinha" me engalfinho, até, si disputar commigo um tico!


92 GLAUCO MATTOSO

Não sou, para o meu dono, nenhum mico, portanto, si em seu rosto a lingua espicho! Sei que elle sabe disso, e me dedico a ouvir, nas orelhonas, o cochicho que faz quando me aggarra e é meu mais rico presente: "Ah, meu basset! Dá um beijo, Chicho!"


MADRIGAES TRAGICOMICOS 93

MADRIGAL BUCCAL [7716] (*) Palito, escovação, fio dental... Pergunto: qual o methodo ideal? Tractando-se de alguem que bem conhesço, o menos hygienico nem fica nos dentes, mais fraquinhos do que gesso, porem na lingua grossa, que se estica, se dobra, quasi vira pelo advesso durante uma chupada em suja picca...


94 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA BUCCAL [5986] A bocca necessita de limpeza? Palito, escovação, fio dental... Pergunto: qual o methodo ideal? Quem é que sua lingua tem illesa? Seria, ao levantarmos nós da mesa, preciso que escovemos, com total cuidado, os nossos dentes? Ou normal será certa migalha num vão presa? Tractando-se de alguem que bem conhesço, o menos hygienico nem mica os dentes, mais fraquinhos do que gesso, porem a lingua grossa, que se estica. Dobrada, quasi vira pelo advesso durante uma chupada em suja picca. Conhesço um chupador assim travesso, mas elle sem bochechos nunca fica.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 95

MADRIGAL NASAL [7717] (*) Catarrho o mais espesso da caveira nos enche as cavidades e mal cheira. É foda a sinusite, meu amigo! Entope tudo um muco que amarella por dentro das narinas, e não digo que seja perfumado! Alem da bella dorzinha de cabeça, traz comsigo a tosse! E quem livrar-se pode della? Occorre que o catarrho na goela penetra quando excorre internamente e causa a coceirinha... Quem se pella de medo é o narigudo, o que mais sente, conforme a poesia, toda aquella interna fedentina putrescente!


96 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CATARRHAL [5987] É farta a verve em provas desse evento. Catarrho o mais espesso da caveira nos enche as cavidades e mal cheira. Em verso descrever um caso tento. É foda a sinusite, meu amigo! Entope tudo um muco que amarella por dentro das narinas, e não digo que seja perfumado! Tem sequela: Dorzinha de cabeça! Traz comsigo a tosse! E quem livrar-se pode della? Occorre que o catarrho na goela penetra quando excorre internamente e causa a coceirinha... Quem se pella de medo é o narigudo, o que mais sente, conforme a poesia, toda aquella interna fedentina putrescente!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 97

MADRIGAL IMMORTAL [7718] (*) Alguem precisa estar por traz de tudo que pode accontescer si eu não me adjudo. Não posso responder pelo que quero mas nunca realizo, ou por aquillo que evito mas occorre. O risco zero jamais exsiste, como o mar tranquillo. Si penso no poder dum deus severo, eu temo; si não penso, me horripillo.


98 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA THEOLOGICA [5989] Quem é que responsavel foi por isto? Alguem precisa estar por traz de tudo que pode accontescer si eu não me adjudo. Mas nem por isso um deus será bemquisto. Appenas por ser Pae, que foi de Christo, não acho omnipotente esse marrudo Senhor que nos opprime. Não me illudo. Em seitas doutrinarias não invisto. Não posso responder pelo que quero mas nunca realizo, ou por aquillo que evito mas occorre. O risco zero jamais exsiste, como o mar tranquillo. Si penso eu temo; Si fallo mas algo

no poder dum deus severo, si não penso, me horripillo. como bardo, sou sincero, eu exaggero, ao meu estylo.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 99

MADRIGAL IMMORAL [7719] (*) Do velho deputado, que se amiga com joven prostituta, assumpta a Liga. A Liga das Senhoras Dignas tem razão ao criticar o "coroné" que, como orador, usa a lingua bem, mas mais indecoroso é ver que até seus pares o defendem e ninguem duvida de que em Christo elle tem fé!


100 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA BOATEIRA [5990] Um gruppo os maus politicos commenta. Do velho deputado, que se amiga com joven prostituta, assumpta a Liga. Fofoca, nesse caso, mais se inventa. A coisa vem à tonna, mais nojenta ainda do que certa bruxa diga. Nas redes sociaes sempre se instiga um caso que se forja ou que se exquenta. A Liga das Senhoras Dignas tem razão ao criticar o "coroné" que, como orador, usa a lingua bem, mas mais indecoroso é ver que até seus pares o defendem e ninguem duvida de que em Christo elle tem fé! Alguem me disse que elle tem, tambem, um fetido, fortissimo chulé.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 101

MADRIGAL PRISIONAL [7720] (*) Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda. Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via... Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!


102 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA HUMANITARIA [5991] Bastante mal esteve esse subjeito. Prostatico, hypertenso, soffre ainda das "ites" e "oses", uma gamma infinda. Ainda assim, alguem dirá: "Bem feito!" Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via! Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 103

MADRIGAL PROVERBIAL [7721] (*) O Chicho, o Chocho e o Chucho são os trez bassets que eu não terei, digo a vocês! Um só ja dá trabalho, com as suas orelhas longas, pattas curtas, tão teimoso e tão dengoso! Que tal duas fofuras dessas, trez até? Serão demais na mesma cama! E, pelas ruas, nós quattro? Chega! Basta-me um só cão!


104 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CANINA [5992] Alguem tem dois cachorros? Quantos são? O Chicho, o Chocho e o Chucho são os trez bassets que eu não terei, digo a vocês! Um só ja dá tremendo trabalhão! Tem gente que não perde occasião de sarna arrhumar para ser freguez da typica coceira, mas talvez encontre, num só cão, mais comichão. Um só ja dá trabalho, com as suas orelhas longas, pattas curtas, tão teimoso e tão dengoso! Que tal duas fofuras dessas, trez até? Serão demais na mesma cama! E, pelas ruas, nós quattro? Chega! Basta-me um só cão! Linguiças, sejam frictas, sejam cruas, jamais, com um só cão, me sobrarão.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 105

MADRIGAL CATARRHAL [7722] (*) Mantendo erguido o bello narizinho, a moça esboça um gesto comezinho. Pequeno e arrebitado, sob o lenço finissimo, o nariz della despeja catarrho maturado, num immenso e infindo jorro! Ainda que proteja do olhar alheio o ranho, eu me convenço, ouvindo-a se assoar, de como arqueja! Não quer ella deixar que ninguem veja o jacto catarrhento, mas de nada addeanta usar o lenço, pois na egreja echoa a sua tuba e causa em cada devoto a sensação de que ja esteja o ranho quasi verde e ella grippada!


106 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA GRIPPAL [5993] De grippe ella padesce, coitadinha! Mantendo erguido o bello narizinho, a moça esboça um gesto comezinho. Ninguem adivinhou o que ella tinha? Pequeno e arrebitado, sob o lenço finissimo, o nariz della despeja catarrho maturado, num immenso e infindo jorro! Ainda que proteja do olhar alheio o ranho, eu me convenço, ouvindo-a se assoar, de como arqueja! Não quer ella deixar que ninguem veja o jacto catarrhento, mas de nada addeanta usar o lenço, pois na egreja echoa a sua tuba e causa em cada devoto a sensação de que ja esteja o ranho quasi verde e ella grippada!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 107

MADRIGAL CONJUGAL [7723] (*) Casada está, mas acha que o marido por ella não demonstra ter libido. Perdeu a virgindade, certamente, mas outra idéa tinha do que rolla na cama de casal, pois seu potente esposo para o sexo nem dá bolla. Emquanto trepam, elle fuma, o dente palita, pigarreia, cantarola...


108 GLAUCO MATTOSO

MEME DO ASSOBIO [5994] Mulheres infelizes, quantas são! Casada está, mas acha que o marido por ella não demonstra ter libido. A amiga diz da falta de tesão: "Preciso lhe contar isso, Glaucão! Não quero ser vulgar quando decido fallar, mas meu amigo cê tem sido... Escute então a minha confissão!" Perdeu a virgindade, certamente, mas outra idéa tinha do que rolla na cama de casal, pois seu potente esposo para o sexo nem dá bolla. Emquanto trepam, elle fuma, o dente palita, pigarreia, cantarola... Só falta assobiar, com eloquente ruido, um samba proprio de viola.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 109

MADRIGAL ESTOMACHAL [7724] (*) Na casta consciencia peso sente e abusa do pozinho effervescente. Má vida? Má conducta? Sal de fructa não basta, si chupou muito caralho e galla engoliu muita aquella puta. Pesou? Foi accidente de trabalho. Agora bons conselhos ella escuta e toma, appós chupar, um cha com alho.


110 GLAUCO MATTOSO

MEME DA PEDREIRA [5995] Não servem para tudo os dictos "saes". Na casta consciencia peso sente e abusa do pozinho effervescente aquella que trampou, talvez, demais. Fallei de castidade? Não, jamais devia ter fallado, pois decente seu trampo não tem sido, certamente. Questão de vocações profissionaes. Má vida? Má conducta? Sal de fructa não basta, si chupou muito caralho e galla engoliu muita aquella puta. Pesou? Foi accidente de trabalho. Agora bons conselhos ella escuta e toma, appós chupar, um cha com alho, mas nem por isso deixa de ir à lucta. Faz parte, emfim, do trampo tal cascalho.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 111

MADRIGAL COLONIAL [7725] (*) Aquelle simples lanche sahiu caro. A culpa foi da ameixa preta, claro. A moça está gordinha, mas não fica immune à mesa farta: tem quindim, curau, doce de abobora, cangica, arroz doce, sagu, pavê, puddim... Depois da indigestão, se justifica: "A calda do manjar branco, foi sim!"


112 GLAUCO MATTOSO

MEME DA DESCONVERSA [5996] Arrhuma algum pretexto quem quizer. Aquelle simples lanche sahiu caro. A culpa foi da ameixa preta, claro. Assim allega a frivola mulher. Comer, a moça come o que puder. Mas para ser comida, ja reparo, mais facil é, pois ella tem bom faro até p'ra achar, na feira, novo affair. A moça está gordinha, mas não fica immune à mesa farta: tem quindim, curau, doce de abobora, cangica, arroz doce, sagu, pavê, puddim... Depois da indigestão, se justifica: "A calda do manjar branco, foi sim!" Bem outra ser podia aquella dica: A porra tem sabor meio ruim.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 113

MADRIGAL MUSICAL [7726] Olê, olá... Lari, larai... Oi, oi... Quem foi peor na musica, quem foi? Parada de successos todo mundo a sua tem. Agora eu lhes pergunto: Quaes são as antipathicas, segundo vocês, as detestaveis? Nesse assumpto a midia nunca toca, mas, no fundo, até com raiva a gente canta juncto... "Detalhes" do Roberto? Si ao bestunto dou tractos, outra lembro: "Fuscão preto". Mais outra: "Samarina"... Ou, do defuncto Tim Maya, "Vale tudo". Noutro ghetto, "Morena tropicana" faz conjuncto com tantas mais emendas ao sonnetto... Fallar vão que injustiças eu commetto si ommitto algum Teló, si algum forró menciono, ou si me exquesço do quartetto mais chato do Brazil, mas estou só brincando com os gostos! Lhes prometto contar qual delles canto e é meu xodó.


114 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL EXCEPCIONAL [7727] (*) Ninguem foi chulepento no cinema, um critico affirmou, com teima extrema. Desmente esse careta facilmente a serie de tevê na qual um Al, que pae é de familia, jamais sente vergonha do chulé que a mulher mal consegue supportar, e até na frente de extranhos se descalça o pé fatal... Na loja de sapatos esse tal Al trampa e em toda parte essa allusão podolatra apparesce, com aval total deste poeta sem visão. Porem aquelle critico normal não acha e desmeresce a producção...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 115

AL BUNDY QUE DESBUNDE! [5997] São elles mui limpinhos, mas nem tanto. "Ninguem foi chulepento no cinema!", um critico affirmou, com teima extrema. Por isso o velho thema aqui levanto. Desmente esse careta facilmente a serie de tevê na qual um Al, que pae é de familia, jamais sente vergonha do chulé que a mulher mal consegue supportar, e até na frente de extranhos se descalça o pé fatal. Na loja de sapatos esse tal Al trampa e em toda parte essa allusão podolatra apparesce, com aval total deste poeta sem visão. Porem aquelle critico normal não acha e desmeresce a producção...


116 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL FUNCCIONAL [7728] (*) Ninguem recibo passa do dinheiro roubado ou desviado ao "companheiro". Si alguem for dedurado e assignatura acharem num contracto, o cara allega jamais ter conhescido quem dedura, embora amigo fosse do "collega". -- Fui victima! Assignei sem ler! -- nos jura aquelle que no pullo a gente pega.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 117

JUSTIFICANDO OS MEIOS [5998] E as provas? Onde estão as provas? Hem? Ninguem recibo passa do dinheiro roubado ou desviado ao "companheiro". Emfim, da porra a culpa ninguem tem. Com cara do maior buddhista zen, o gajo diz que nunca fez primeiro aquillo que fizeram por inteiro mais tarde. Elle innocente está, porem. Si alguem for dedurado e assignatura acharem num contracto, o cara allega jamais ter conhescido quem dedura, embora amigo fosse do "collega". -- Fui victima! Assignei sem ler! -- nos jura aquelle que no pullo a gente pega. São esses que defendem a censura na midia. Perguntado, o gajo nega.


118 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL HORMONAL [7729] (*) Na Terra vida eterna si não temos, ao menos desfructemos como os demos! O anxeio de imitar Mathusalem nos leva a muitos calculos erroneos. Na practica, o segredo é manter bem activos os hormonios e os neuronios. São velhos e saudaveis os que teem fodido e versejado, qual demonios.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 119

MISCELLANEA SOBREHUMANA [6001] Poderes, todos querem ter a mais. Na Terra vida eterna si não temos, ao menos desfructemos como os demos, ou como os outros meros animaes! Exsistem mais sentidos? Sim? Mas quaes? Não somos, mesmo, deuses, mas queremos levar nossos instinctos aos extremos. No maximo, causamos alguns ais. O anxeio de imitar Mathusalem nos leva a muitos calculos erroneos. Na practica, o segredo é manter bem activos os hormonios e os neuronios. São velhos e saudaveis os que teem fodido e versejado, qual demonios. A mim ainda facil tudo vem à mente. Deixo ao corpo os meus hormonios.


120 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL UNIVERSAL [7730] (*) Exsiste uma belleza feminina em toda parte, ou algo não combina? Careca, desdentada, nariguda, orelha grande, olhar de peixe morto, ponctuda sobrancelha... O que é que muda na cara da mulher? Um queixo torto é feio? E quando a dona se desnuda? De corpo inteiro causa descomforto? Ninguem quer na mulher barba comprida? Bochecha pendurada? Sarda farta? Talvez alguem, algures, se decida a ver com olhos livres, numa Esparta longinqua, sua musa preferida com tal feição, que um bardo aqui descharta...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 121

MISCELLANEA DA APPARENCIA [6002] As bellas me desculpem: não o são. Exsiste uma belleza feminina em toda parte, ou algo não combina? A mim é discutivel tal questão. Careca, desdentada, nariguda, orelha grande, olhar de peixe morto, ponctuda sobrancelha... O que é que muda na cara da mulher? Um queixo torto? Tá louco! E quando a dona se desnuda? De corpo inteiro causa descomforto? Ninguem quer na mulher barba comprida? Bochecha pendurada? Sarda farta? Talvez alguem, algures, se decida a ver com olhos livres, numa Esparta longinqua, sua musa preferida com tal feição, que um bardo aqui descharta...


122 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL DIALECTAL [7731] (*) "Muié", "mulé", "mulher", "mulherh", "mulhera"... Em cada cantho aos "ome" assumpto gera. Si for malvada, é vibora ou serpente. Si facil, é gallinha ou é cadella. Si temptadora, é gatta. Caso tempte demais, será panthera. Alguem por ella suspira? É ja pombinha. A mãe da gente, porem, é só sanctinha, feia ou bella.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 123

MISCELLANEA DO SEXO FRAGIL [6003] Mais della quer alguem qualquer virtude. "Muié", "mulé", "mulher", "mulherh", "mulhera"... Em cada cantho aos "ome" assumpto gera. Mas quem espera della mais se illude. Pensar nella com gozo pouco pude, pois muito mais presente e futil era a typica figura da megera que encanta ou que enfeitiça a juventude. Si for malvada, é vibora ou serpente. Si facil, é gallinha ou é cadella. Si temptadora, é gatta. Caso tempte demais, será panthera. Alguem por ella suspira? É ja pombinha. A mãe da gente, porem, é só sanctinha, feia ou bella. A alguma foi alguem indifferente, mas para a mãe a gente sempre appella.


124 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL RACIONAL [7732] (*) O dicto ja diz, onde tem fumaça tem fogo, mas vergonha alguem não passa. O escandalo é commum: sempre o suspeito num caso de suborno ou de extorsão é o raio do politico! Direito ninguem entende como, entre os que são mandados à prisão, falta o subjeito mais sujo, por estar na situação!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 125

MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004] Vergonha não sentiu nenhum saphado. O dicto ja diz, onde tem fumaça tem fogo, mas vergonha ninguem passa. Politico se sente envergonhado? Magina! Sempre está alguem do seu lado! Alguem sempre tem pena dessa raça maldicta, que na midia quer mordaça e em tudo mette o dedo ou poda o dado! O escandalo é commum: sempre o suspeito num caso de suborno ou de extorsão é o raio do politico! Direito ninguem entende como, soltos, vão dribblando a accusação. Falta o subjeito mais sujo, por estar na situação. Eu mesmo raramente me deleito ao ver que um delles vae para a prisão.


126 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL MORTAL [7733] Tal motte ao madrigal deu-me um amigo: "Carrego a minha morte (aqui) commigo". Lembramo-nos do nosso nascimento só pela certidão e pelos paes. Da nossa morte temos o momento pendente e, por hypothese, elle é mais concreto a cada dia. Mas nem tento datal-o, pois é como os carnavaes... Exacto: é data movel! Cada dia morremos um pouquinho e está o cinzento mais negro a cada hora que annuncia a noite. A quarta-feira, com seu lento e claro despertar, jamais seria de cinzas, si levadas pelo vento...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 127

MADRIGAL QUADRIENNAL [7734] (*) Appenas um mandato não lhes basta si ainda a grana toda não foi gasta. Reforma na politica? Sim, claro! Concordam elles todos ser urgente. Enganna-se, porem, o povo ignaro si achar que a reeleição do presidente accaba! Em logar disso, eu ja comparo o cargo ao do Juvencio ou do Vicente!


128 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005] Vão, claro, suggerir prorogação. Appenas um mandato não lhes basta si ainda a grana toda não foi gasta. Precisam de mais tempo! Não é, não? A gente, quando gasta algum tostão, bem sabe como o tempo ca se arrasta até ganharmos outro. Mas contrasta o nosso com aquelle dinheirão. Reforma na politica? Sim, claro! Concordam elles todos ser urgente. Enganna-se, porem, o povo ignaro si achar que a reeleição do presidente accaba! Em logar disso, eu ja comparo o cargo ao do Juvencio ou do Vicente! Mas logo um desses nomes será raro que esteja na lembrança aqui da gente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 129

MADRIGAL JOVIAL [7735] (*) Ephemera, a belleza feminina se appaga, mas o riso se illumina. Mulher bonita, aquella nunca fora, porem foi sempre alegre! Seu marido, por outro lado, achava peccadora aquella que ri muito... Foi trahido? Não sei, mas ja morreu, e sua dor a viuva esconde, tanto que tem rido!


130 GLAUCO MATTOSO

MEME DA RISADA [6006] Viuvas, joviaes nem sempre são. Ephemera, a belleza feminina se appaga, mas o riso se illumina. Algumas, certamente, mais rirão. Ja vi chorar, em frente do caixão, aquella que maldiz a sua signa, mas, quando chega a festa, si junina, celebra com quentão e com rojão. Mulher bonita, aquella nunca fora, porem foi sempre alegre! Seu marido, por outro lado, achava peccadora aquella que ri muito... Foi trahido? Não sei, mas ja morreu, e sua dor a viuva esconde, tanto que tem rido! Não quero ter a bocca accusadora, mas riso, neste caso, faz sentido.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 131

MADRIGAL LOCAL [7736] (*) No radio, o gesto della ganha fama. Tambem sae nos jornaes e attenção chama. Virou celebridade essa menina rebelde, que anda nua pela rua! No clube e na parochia, se imagina que seja algum protesto. A puta actua sozinha? A popular lingua ferina suppõe que a suja "midia externa" influa...


132 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA PROVINCIANA [6007] Menina liberada, aquella tal! No radio, o gesto della ganha fama. Tambem sae nos jornaes e attenção chama. Ganhou notoriedade, mas local. Talvez queira ser ella a nacional estrella mais famosa, com quem cama reparta astral politico que mamma nas tetas da venal midia global. Virou celebridade essa menina rebelde, que anda nua pela rua! No clube e na parochia, se imagina que seja algum protesto. A puta actua sozinha? A popular lingua ferina suppõe que a suja "midia externa" influa com essas más manias da suina vidinha depravada da gazua.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 133

MADRIGAL ABNORMAL [7737] (*) Fallarem que é "furor" ou que é "uterino" revela pouco tacto e pouco tino. Sim, fora do commum é o que ella tem, concordo, si em repouso a passarinha jamais está, si um fremito lhe vem... Mas faça-se justiça, coitadinha! Evita sahir dando e só traz, bem la dentro, uma cenoura ou... abobrinha!


134 GLAUCO MATTOSO

MEME DA NYMPHOMANIACA [6008] Nas ruas não exsiste diplomata. Fallarem que é "furor" seu, "uterino", revela pouco tacto e pouco tino, mas claro que a pau esse rumor macta. Não é de medicina que se tracta, mas sim de sacanagem. Qual menino não toca nesse assumpto fescennino no pappo com a turma, sobre a gatta? Sim, fora do commum é o que ella tem, concordo, si em repouso a passarinha jamais está, si um fremito lhe vem. Mas faça-se justiça, coitadinha! Evita sahir dando e só traz, bem la dentro, uma cenoura ou... abobrinha! Seria preferivel que ella zen ficasse, mas, coitada, se apporrinha!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 135

MADRIGAL LITTERAL [7738] (*) Lamber o cu de alguem sempre é figura commum, mas de mau gosto, o mestre jura. Está no diccionario, elle garante. Na practica, porem... Nunca! Jamais! Pergunto: e lamber bota? Ha quem se expante com solas sobre boccas e quetaes imagens? Não, por certo, diz o amante das lettras. Ja o cu... Fique entre animaes!


136 GLAUCO MATTOSO

MEME DO VOCABULO CABULOSO [6009] Encontram "anilingua" na pesquisa. Lamber o cu de alguem sempre é figura commum, mas de mau gosto, o mestre jura. De breve explicação alguem precisa. Indagam, mas o mestre tem bem lisa a lingua, que excorrega, nessa altura das liberalidades, e censura o pappo. Um euphemismo suaviza. Está no diccionario, elle garante. Na practica, porem... Nunca! Jamais! Pergunto: e lamber bota? Ha quem se expante com solas sobre boccas e quetaes? "Não, botas não expantam!", diz o amante das lettras. Ja o cu... Fique entre animaes! Alheio o pé descalço ou o pisante Prosegue dessas practicas carnaes.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 137

MADRIGAL RESIDENCIAL [7739] (*) Bastava eu ter ficado, certo dia, no Rio, e meu conceito outro seria. Morei por pouco tempo la. Fatal foi ter voltado a Sampa, porque aqui é sempre um escriptor tractado mal. Ganhei alguma chance e um Jaboty, porem maior valor, na capital, teria um justo premio ao que escrevi.


138 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA IRRESIDENTE [6010] A gente meio nomade é na vida. Bastava eu ter ficado, certo dia, no Rio, e meu conceito outro seria. Mas sempre nós estamos de partida. Partimos porque a vida nos convida a novos ares, como quem confia no tacco, procurar. A poesia nos leva ao Pão de Assucar, suicida. Morei por pouco tempo la. Fatal foi ter voltado a Sampa, porque aqui é sempre um escriptor tractado mal. Ganhei alguma chance e um Jaboty. Porem maior valor, na capital, teria um justo premio ao que escrevi. Foi algo que perdi, mas não faz mal. Amigos eu conservo por alli.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 139

MADRIGAL TEMPORAL [7740] (*) Pensando no Neil Diamond, tambem faço a minha lista branca neste espaço. Lamarca, Lampeão, Senna, Tancredo, Chacrinha, Tiradentes, Golbery, Golias, Calabar, Noel, Loredo, Dolores, Irman Dulce, Hebe, Dercy, Millor, Filinto Müller, Azevedo, Elis, Nara, Raul, Satan, Fleury... Getulio, Janio, Plinio, Figueiredo, Garrincha, Ary, Vavá, Jobim, Didi, Cazuza, Padim Ciço... cada, a dedo listado, de passagem por aqui, seu prazo consummou, mais tarde ou cedo. Inglorio ou não, meu tempo não perdi.


140 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA PASSAGEM [6012] Na Terra a gente passa. Alguem se salva? Pensando no Neil Diamond, tambem faço a minha lista branca neste espaço. Mas fica a Terra, fica a Estrella d'Alva. Lamarca, Lampeão, Senna, Tancredo, Chacrinha, Tiradentes, Golbery, Golias, Calabar, Noel, Loredo, Dolores, Irman Dulce, Hebe, Dercy. Millor, Filinto Müller, Azevedo, Elis, Nara, Raul, Satan, Fleury, Getulio, Janio, Plinio, Figueiredo, Garrincha, Ary, Vavá, Jobim, Didi. Cazuza, Padim Ciço... cada, a dedo listado, de passagem por aqui, seu prazo consummou, mais tarde ou cedo. Inglorio ou não, meu tempo não perdi.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 141

MADRIGAL CULTURAL [7741] (*) Caminha olhando para qualquer poncto, excepto para a frente, aquelle tonto. Carrega a saccolinha do mercado, observa a cor das nuvens, a imprudencia dos motoboys, um omnibus lotado... Attento ao cellular, com violencia exbarra na velhinha andando ao lado e a xinga, caso contra um poste prense-a.


142 GLAUCO MATTOSO

TURBA DA DESURBANIDADE [6013] Nas ruas o convivio bem se estima. Caminha olhando para qualquer poncto, excepto para a frente, aquelle tonto. Em vez de olhar p'ra baixo, olha p'ra cyma. No meio da calçada, desanima e fica alli parado. Olha um descompto na loja? Nada! Delle mais lhes conto no proximo quartetto, noutra rhyma. Carrega a saccolinha do mercado, observa a cor das nuvens, a imprudencia dos motoboys, um omnibus lotado. Attento ao cellular, não tem urgencia. Exbarra na velhinha andando ao lado e a xinga, caso contra um poste prense-a. Ha muito cara assim, despreparado na vida para tanta convivencia.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 143

MADRIGAL NATURAL [7742] (*) Accorda. Sem kosmeticos, vermelho é o olho approximando-se do espelho. Sem cremes nem pinctura, ella se vê mais velha e se appavora com o seu cabello arrepiado. Mas cadê aquella formosura que ja deu motivo aos sonnettistas? Caso o dê ao filho, um cantor punk, ahi fodeu!


144 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MÃE DO PUNK [6014] Madura. Ja passada ficará. Accorda. Sem kosmeticos, vermelho é o olho approximando-se do espelho. Irá se preoccupar. É para ja. Bem sabe que remedio ja não ha. De sua mãe nem segue mais conselho algum. Pensa no filho, um rapazelho gaiato, gozador da avó gagá. Sem cremes nem pinctura, ella se vê mais velha e se appavora com o seu cabello arrepiado. Mas cadê aquella formosura que ja deu? Deu motte aos sonnettistas. Caso o dê ao filho, um cantor punk, ahi fodeu! Moleque, em seu estylo bem plebeu, o gajo da mamãe faz um auê.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 145

MADRIGAL EMOCIONAL [7743] (*) Chorosa, a dona Rosa se commove, embora a filharada a desapprove. Novellas vendo, chora. Tambem chora nas scenas de catastrophe e miseria, aqui por perto, ou longe, mundo affora. Sim, ella é molle, embora não tolere a menor birra dos filhos. Si um demora naquillo que mandou, a surra é seria!


146 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MAMÃE [6015] Quem vê, pensa ter ella coração. Chorosa, a dona Rosa se commove, embora a filharada a desapprove. Vejamos como rolla a situação. Sim, lagrymas derrama. Como não? Disseram que seus filhos eram nove e varios ja morreram. Quem os sove paresce não haver. Quem tem razão? Novellas vendo, chora. Tambem chora nas scenas de catastrophe e miseria, aqui por perto, ou longe, mundo affora. Sim, ella é molle, embora não tolere a menor birra dos filhos. Si um demora naquillo que mandou, a surra é seria! É caso para meme essa senhora que vae virar motivo de pilheria.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 147

MADRIGAL SENSUAL [7744] À noite, os pescadores de aguas turvas procuram nas sereias lindas curvas. Nocturnos navegantes, elles querem no corpo das mulheres a mais pura belleza natural. Elles que esperem! Achar, algo acharão, mas a frescura androgyna se inverte e, si elles derem molleza, levarão é picca dura!


148 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL SENSACIONAL [7745] (*) "Mãe batte em quattro filhos com chicote de couro", eis a manchette que dá motte. Prenderam-na, accusada de tortura, alem de outros delictos. Sua prole ficou com a vizinha, que é mais dura ainda. Si é difficil o controle de taes pestinhas e ella não attura pirraça, acho que o relho não se abole... Si é caso de mão dura ou bunda molle não sei, mas nos jornaes choca a figura do corpo da vizinha: o fogo engole a velha admordaçada, emquanto jura um delles innocencia, sem que colle, na cara do pivete, tal candura...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 149

MEME DA FILHARADA [6016] Prenderam Dona Rosa? Que injustiça! "Mãe batte em quattro filhos com chicote de couro", eis a manchette que dá motte. Fofoca tal a nossa lyra attiça. Prenderam-na, accusada de tortura, alem de outros delictos. Sua prole ficou com a vizinha, que é mais dura ainda. Si é difficil o controle de taes pestinhas e ella não attura pirraça, acho que o relho não se abole. Si é caso de mão dura ou bunda molle não sei, mas nos jornaes choca a figura do corpo da vizinha: o fogo engole a velha admordaçada, emquanto jura um delles innocencia, sem que colle, na cara do pivete, tal candura...


150 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PASSIONAL [7746] (*) Visita o criminoso na cadeia e quer que em tal paixão a gente creia. Chamou de "amor bandido" a mesma imprensa marron que do assassino fez a ficha e suas peripecias não condensa. Tambem detalhes morbidos espicha no caso da menina, cuja extensa novella a compromette. Ella se lixa.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 151

MISCELLANEA CARCERARIA [6017] Nas intimas visitas alguem crê? As quer um criminoso na cadeia e quer que em tal paixão a gente creia. Bem, creia quem quizer. Descrê você? Cadastram-se putinhas. Ha quem dê noticia duma duzia. Ao menos meia recebe um bandidão de cara feia. Motivos disso tudo os ha? Cadê? Chamou de "amor bandido" a mesma imprensa marron que do assassino fez a ficha e suas peripecias não condensa. Tambem detalhes morbidos espicha no caso da menina, cuja extensa novella a compromette. Ella se lixa. Circula nas fofocas uma crença no solido tamanho da salsicha.


152 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL MENSTRUAL [7747] (*) Quem lambe uma boceta, si a mulher está de chico, oppõe-se ao que Deus quer. A freira argumentou assim, mas nada que allegue dissuade disso o frade, disposto a degustar-lhe a ensanguentada e fetida vagina! Que dirá de um cego a freira, então, si o camarada degusta as hemorrhoidas de algum Sade?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 153

MISCELLANEA REGULAR [6018] Nas taras, cada qual tem seu motivo. "Quem lambe uma boceta, si a mulher está de chico, oppõe-se ao que Deus quer." Assim não diz o frade, que é lascivo. Eu mesmo, no meu gozo, não me privo das taras mais communs ao meu mester. Porem o frade espera seu affair passar, com a freirinha, pelo crivo. A freira argumentou, negou, mas nada que allegue dissuade disso o frade, disposto a degustar-lhe a ensanguentada e fetida vagina! Que dirá de um cego a freira, então, si o camarada degusta as hemorrhoidas de algum Sade? Por isso os bardos cantam: curta cada qual sua podre tara à saciedade.


154 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL SENSORIAL [7748] (*) A cega, quando chupa rolla, sente comsigo que a missão é condizente. Em sordidos sonnettos descrevi as uteis serventias do sentido oral e manual, cabendo aqui reler alguns tercettos que decido às cegas applicar, emquanto ri dos bardos o leitor exclarescido: No tacto, poderá massagear, usando as mãos, um masculo pezão. No olfacto, o odor mais forte irá cheirar. Ouvir mais duras ordens a audição irá... Por fim, será seu paladar mais nitido ao lamber, dum dedo, o vão. O tacto sente aquillo que cresceu; o olfacto sente o sebo, o mijo, a porra, e tenta accostumar-se ao pau no breu. Chupando, reconhesce e, assim que excorra o liquido na lingua, ella excolheu si é bom chupar ou si é melhor que morra.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 155

MADRIGAL MARGINAL [7749] (*) Frequentes são, à margem dum auctor maior, obras que o deixam, nu, se expor. Bocage alli, Rabello aqui, mas mais recente está Drummond, como Bandeira, guardando alguns poemas sensuaes. Achar e revelar resta, a quem queira ser delles o biographo, os fataes e posthumos "ineditos" na feira.


156 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA OBSCENA [6019] Se encontra, pelas lettras, pratto cheio. Frequentes são, à margem dum auctor maior, obras que o deixam, nu, se expor. Ja puz diversos classicos no meio. Não temo putarias. Não receio topar, relendo um livro quando for, aquelle sonnettão de despudor repleto, que eruditos acham "feio". Bocage alli, Rabello aqui, mas mais recente está Drummond, como Bandeira, guardando alguns poemas sensuaes. Achar e revelar resta, a quem queira ser delles o biographo, os fataes e posthumos "ineditos" na feira. Os meus ninguem os "acha", pois jamais escondo os fescenninos: é carreira.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 157

MADRIGAL IRRACIONAL [7750] (*) Tem medo de baratta, porem não de aranha, a moça. Cabe explicação? Sim, cabe. Ella cahiu, quando creança, num poço onde abundavam as barattas. Ficou traumatizada. A aranha mansa achou porque devora as insensatas barattas que apparescem. Confiança demais? Sim, pois aranhas são ingratas... "Cuidado, dona Gina!", não se cansa o padre de advisar. "Aranha tem veneno!" Mas na moça não advança aquella que ella cria, que lhe vem comer na mão! De moscas enche a pança, caçadas pela Gina! Simples, hem?


158 GLAUCO MATTOSO

ARACHNOPHILIA (I) [6021] Circulam, sobre Gina, alguns bochichos. Tem medo de baratta, porem não de aranha, a moça. Cabe explicação? Phobia alguem não teve de taes bichos? Sim, cabe. Ella cahiu, quando creança, num poço onde abundavam as barattas. Ficou traumatizada. A aranha mansa achou porque devora as insensatas barattas que apparescem. Confiança demais? Sim, pois aranhas são ingratas. "Cuidado, dona Gina!", não se cansa o padre de advisar. "Aranha tem veneno!" Mas na moça não advança aquella que ella cria, que lhe vem comer na mão! De moscas enche a pança, caçadas pela Gina! Simples, hem?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 159

MADRIGAL PAROCHIAL [7751] (*) O padre ficou pasmo com tamanha bichana! Sim, pertence à Gina a aranha! Bunduda, cabelluda e preta, aquella aranha foi creada em captiveiro. Tem Gina confiança plena nella, que advança nas barattas, mas, primeiro, recebe uma ração de moscas. Bella mascotte! E por que o padre está cabreiro? Scismou elle que a aranha se revela, um dia, traiçoeira e attacca a Gina. Visita a moça, insiste, mas sem trella ganhar da teimosinha! Que imagina o parocho? Será que appenas zela, sincero, pela vida da menina?


160 GLAUCO MATTOSO

ARACHNOPHILIA (II) [6023] Tarantulas attingem grande porte. O padre ficou pasmo com tamanha bichana! Sim, pertence à Gina a aranha! Espera-se do padre que se importe. Bunduda, cabelluda e preta, aquella aranha foi creada em captiveiro. Tem Gina confiança plena nella, que advança nas barattas, mas, primeiro, recebe uma ração de moscas. Bella mascotte! E por que o padre está cabreiro? Scismou elle que a aranha se revela, um dia, traiçoeira e attacca a Gina. Visita a moça, insiste, mas sem trella ganhar da teimosinha! Que imagina o parocho? Será que appenas zela, sincero, pela vida da menina?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 161

MADRIGAL VIRGINAL [7752] (*) Perguntam-me si é Gina solteirona, bonita, s'inda é virgem sua conna... Não sejam indiscretos! Eu aqui fallando duma aranha, e o leitorado querendo ver si a Gina tem, ou si não tem seu cabacinho! Sou tarado, acaso? O que interessa é que não vi malicia nesse padre... Estou errado? Mas, quanto ao que appurei, ella tem dado sympathica accolhida ao sacerdote, tomando, com a aranha, mais cuidado. Só resta adveriguarmos si a mascotte não fica ciumenta, si é do aggrado da fofa que outro bicho a dona adopte...


162 GLAUCO MATTOSO

ARACHNOPHILIA (III) [6025] Curiosos, os leitores saber querem. Perguntam-me si é Gina solteirona, bonita, s'inda é virgem sua conna... A todos elles, peço-lhes que esperem. Não sejam indiscretos! Eu aqui fallando duma aranha, e o leitorado querendo ver si a Gina tem, ou si não tem seu cabacinho! Sou tarado? Sou chulo? O que interessa é que não vi malicia nesse padre... Estou errado? Mas, quanto ao que appurei, ella tem dado sympathica accolhida ao sacerdote. Sim, toma, com a aranha, mais cuidado. Só resta adveriguarmos si a mascotte não fica ciumenta, si é do aggrado da fofa que outro bicho a dona adopte...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 163

MADRIGAL CELESTIAL [7753] (*) Total revisionismo accaba dando na propria revisão dum Deus mais brando. Sim, tudo evoluiu, passivel tudo agora é de reforma. Tambem Deus precisa accompanhar. Ou eu me illudo, ou Elle está mais duro com os Seus modernos seguidores, mais trombudo, severo, e mais distante dos plebeus. Protege os poderosos, fortes, maus, não mais os justos, pobres, e a chamada carente e crente gente. Quem os graus mais altos conquistou e só degrada os fraccos e vencidos, esse ao Chaos Divino ascende. Aos outros, resta nada.


164 GLAUCO MATTOSO

THEOLOGICAS CARAMINHOLAS [6024] Theologos na cuca teem minhoca. Total revisionismo accaba dando na propria revisão dum Deus mais brando. Quem é que na cabeça as não colloca? Sim, tudo evoluiu, passivel tudo agora é de reforma. Tambem Deus precisa accompanhar. Ou eu me illudo, ou Elle está mais duro com os Seus modernos seguidores, mais trombudo, severo, e mais distante dos plebeus. Protege os poderosos, fortes, maus, não mais os justos, pobres, e a chamada carente e crente gente. Quem os graus mais altos conquistou e só degrada os fraccos e vencidos, esse ao Chaos Divino ascende. Aos outros, resta nada.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 165

MADRIGAL INFERNAL [7754] (*) Festeira, a dona Ritta varias dá e quer que a vizinhança ao demo va... Ninguem, no quarteirão, aguenta mais! Na casa della, a noite toda accesa, indica a luz, de longe, os musicaes saraus! Quem quer dormir ja tem certeza, alem da poesia, de que as taes festinhas são festins de rolla tesa! Intrigas? Serão mesmo bacchanaes? A musica dansante tanto assim nem é! Mas, no compasso, occasionaes e agudos palavrões dão ao festim um tom de putaria! Ao filho os paes dirão da Ritta: "O sangue é que é ruim!"


166 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA FESTIVA [6026] Vizinhos se incommodam com aquillo. Festeira, a dona Ritta varias dá e quer que a vizinhança ao demo va. Quem é que dormiria, alli, tranquillo? Ninguem, no quarteirão, aguenta mais! Na casa della, a noite toda accesa, indica a luz, de longe, os musicaes saraus! Quem quer dormir ja tem certeza, alem da poesia, de que as taes festinhas são festins de rolla tesa! Intrigas? Serão mesmo bacchanaes? A musica dansante tanto assim nem é! Mas, no compasso, occasionaes e agudos palavrões dão ao festim um tom de putaria! Ao filho os paes dirão da Ritta: "O sangue é que é ruim!"


MADRIGAES TRAGICOMICOS 167

MADRIGAL ESCULPTURAL [7755] (*) Talvez por ser "modello", ella se julga formosa, mas não passa duma... pulga. Pernuda, grossas coxas, acha a miss que os ricos pagarão pelo seu joven corpinho saltitante e está feliz, embora as bem casadas lhe reprovem a má reputação. Ella só diz que curte a vida emquanto os homens chovem... Sangrou seus coroneis, pelos Brazis affora, foi tehuda e mantehuda. Se exquesce de que a vida não dá bis nas chances para sempre. Que se illuda no espelho! Um senador ja não lhe quiz beijar a bocca, e a puta o chupa muda...


168 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA ZOOLOGICA [6027] Gallinha, não. Nem vacca dizem della. Talvez por ser "modello", ella se julga formosa, mas não passa duma... pulga. Ou seja: ninguem falla que é cadella. Pernuda, grossas coxas, acha a miss que os ricos pagarão pelo seu joven corpinho saltitante e está feliz, embora as bem casadas lhe reprovem a má reputação. Ella só diz que curte a vida emquanto os homens chovem. Sangrou seus coroneis, pelos Brazis affora, foi tehuda e mantehuda. Se exquesce de que a vida não dá bis nas chances para sempre. Que se illuda no espelho! Um senador ja não lhe quiz beijar a bocca, e a puta o chupa muda.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 169

MADRIGAL GENIAL [7756] (*) Cansada dos pestinhas, dona Rosa emfim teve uma idéa luminosa. Seus filhos são terriveis, mas a boa senhora se lembrou de que elles são, tambem, louquinhos pela sua broa. Foi simples: na receita, um certo grão dosou, que não constava. Não enjoa nem nada, mas accalma até leão!


170 GLAUCO MATTOSO

RECEITUARIO DO INVENTARIO [6028] Convem que nos lembremos dessa dona. Cansada dos pestinhas, dona Rosa emfim teve uma idéa luminosa que, emquanto são pequenos, bem funcciona. Os filhos sempre fazem uma zona na casa, fica a gente em polvorosa. Não é que dona Rosa, pressurosa, lembrou-se da receita, a tal, da nonna? Sim, filhos são terriveis, mas a boa senhora se lembrou de que elles são, tambem, louquinhos pela sua broa. Foi simples: na receita, um certo grão dosou, que não constava. Não enjoa nem nada, mas accalma até leão! Tambem eu quereria, não à toa, um mero pedacinho desse pão.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 171

MADRIGAL GENITAL [7757] (*) Carminha descobriu que sua conna tem "labios" e por elles se appaixona. Queria era beijal-os, mas só pode fazer isso no espelho, chota a chota, ou labio a labio. A idéa que lhe accode é ver sua boneca, na qual bota a chota, dar-lhe os beijos. Quem se fode, mais tarde, é a cadellinha que ella adopta!


172 GLAUCO MATTOSO

MEME DA MENINA BEIÇUDA [6029] Meninas se conhescem por inteiro. Carminha descobriu que sua conna tem "labios" e por elles se appaixona, paixão que exige espirito fuleiro. Tem ella aquillo tudo que, primeiro, desejos despertou na propria dona. Mas tem tambem aquillo que ambiciona qualquer abbestalhado punheteiro. Queria era beijar-se, mas só pode fazer isso no espelho, chota a chota, ou labio a labio. A idéa que lhe accode é ver sua boneca, na qual bota a chota, dar-lhe os beijos. Quem se fode, mais tarde, é a cadellinha que ella adopta! Ninguem ha que com isso se incommode, excepto o moralista que me annota.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 173

MADRIGAL TRADICIONAL [7758] (*) Por ser conservadora, a minha avó usava só "loló", só "fiofó". É feio dizer "bunda". Usar "bumbum" tambem não serve, é bunda de creança. Qual termo usar, então? Exsiste algum? Jamais no cu tomou. Na sua usança, foi só "papae-mamãe", cujo jejum durou. Mexer a bunda? Só quem dansa!


174 GLAUCO MATTOSO

MEME DO JARGÃO [6030] Palavras em desuso boas são. Por ser conservadora, a minha avó usava só "loló", só "fiofó". Mas outras podem ter occasião. Ninguem precisa achar que um trazeirão se chama "nadegaço". Meu xodó seria mesmo "lordo" ou "fricandó", appenas por dever de erudição. É feio dizer "bunda". Usar "bumbum" tambem não serve, é bunda de creança. Qual termo usar, então? Exsiste algum? Jamais no cu tomou. Na sua usança foi só "papae-mamãe", cujo jejum durou. Mexer a bunda? Só quem dansa! Relesse um termo celebre e incommum: de "sesso" usar Bocage não se cansa.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 175

MADRIGAL ABYSSAL [7759] (*) Aquella economista explica, experta, que "allarme" é um tanto forte e basta o "allerta". A bolsa jamais "cae", ella "despenca", e o dollar nunca "sobe", só "dispara". Mas, como a jornalista evita encrenca, adverte que não acha a acção tão cara e o cambio acha barato. Emquanto elencha problemas, eu, que os tenho, a mando para... Está, sempre blasê, mui "preoccupada" com taxas de inflação, e tudo accerca dos juros lhe "interessa". Que ella perca dinheiro, eu ca duvido. Perde nada! Eu, sim, me fodo e "appenas" pago cerca de um puto p'ra mandar a desgraçada...


176 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CIPHRADA [6031] Nos numeros está o estellionato. Aquella economista explica, experta, que "allarme" é um tanto forte e basta o "allerta". Mas tudo são só numeros, constato. A bolsa jamais "cae", ella "despenca", e o dollar nunca "sobe", só "dispara". Mas, como a jornalista evita encrenca, adverte que não acha a acção tão cara e o cambio acha barato. Emquanto elencha problemas, eu, que os tenho, a mando para... Está, sempre blasê, mui "preoccupada" com taxas de inflação, e tudo accerca dos juros lhe "interessa". Que ella perca dinheiro, eu ca duvido. Perde nada! Eu, sim, me fodo e "appenas" pago cerca de um puto p'ra mandar a desgraçada...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 177

MADRIGAL CEREMONIAL [7760] (*) A casa della a turma sempre invade. Gentil, diz ella: "Estejam à vontade!" Na salla, "A casa é sua!" ella repete. Mas, quando até a cozinha excappa, a dona Regina Elizabeth, appenas Bete aos intimos, depressa posiciona vassoura attraz da porta, salta septe pullinhos, roga praga, raiva à tonna.


178 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA CEREMONIA [6032] Si formos dar molleza, ahi fodeu! A casa della a turma sempre invade. Gentil, diz ella: "Estejam à vontade!" Agora não dispõe mais do que é seu. Amiga do povão, seu mais plebeu amigo depressinha a persuade a dar uma festinha. Haja amizade! Ja todo mundo sabe que ella deu. Na salla, "A casa é sua!" ella repete. Mas, quando até a cozinha excappa, a dona Regina Elizabeth, appenas Bete aos intimos, depressa posiciona vassoura attraz da porta, salta septe pullinhos, roga praga, raiva à tonna. Na proxima, de novo compromette seu tempo e sua casa vira zona.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 179

MADRIGAL GRAMMATICAL [7761] Tão só por ser mulher, a tola quer que seja feminino o seu mester. Na rua, a "transeunta" feio faz. Do radio é fracca "ouvinta" e, por ser, pecca. Tirou, como "estudanta", notas más. Frequenta a "circulanta" bibliotheca, mas, como "militanta", fica attraz da nossa "presidenta": saca neca.


180 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL COMMERCIAL [7762] (*) Na falta de demanda, faço ou não "offerta", "promoção", "liquidação"...? Si eu vendo alguma coisa, posso dar descompto, parcellar, e até de graça ceder admostras, disso estou a par. Pois bem, conhesço gente que ja caça freguez annunciando que, em logar do "artigo", a ser um brinde o corpo passa... Da bocca, da boceta, ha quem ja faça campanhas promovendo e dando, gratis, geral degustação em plena praça. Nem tenho que me oppor! Si é com tomates, cenouras, orificios, si é devassa ou não a freguezia, toca aos vates!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 181

MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033] Num mundo marketeiro, vale tudo. Na falta de demanda, faço ou não "offerta", "promoção", "liquidação"...? No falso annuncio, facil eu illudo. Si eu vendo alguma coisa, posso dar descompto, parcellar, e até de graça ceder admostras, disso estou a par. Pois bem, conhesço gente que ja caça freguez annunciando que, em logar do "artigo", a ser um brinde o corpo passa. Da bocca, da boceta, ha quem ja faça campanhas promovendo e dando, gratis, geral degustação em plena praça. Nem tenho que me oppor! Si é com tomates, cenouras, orificios, si é devassa ou não a freguezia, toca aos vates!


182 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL CORRECCIONAL [7763] (*) Ja disse eu, num sonnetto, como lyncha o povo um deputado ou seu cupincha. "Não tarda, e um pé mais agil se revela. Tropeça e cae, por fim, o desgraçado, e um chute logo accerta-lhe a costella. Ja chovem ponctapés de todo lado. Os dentes do politico esphacela o bicco dum sapato bem surrado." Não digo que só caiba ao deputado tão rude tractamento, que eu condemno, mas pode elle ser alvo bem mirado da torta de cocô, que é mais ameno castigo popular. Nunca me enfado dos versos que compuz nesse terreno: {Recheio de ovo choco e leite azedo virá, com cobertura gratinada, borrar quem excolhido foi a dedo. Em plena collectiva, ninguem, nada impede que um municipe sem medo nos vingue, emporcalhando outra "fachada".}


MADRIGAES TRAGICOMICOS 183

{Torcendo eu fico aqui para que alguem alveje com cocô qualquer prefeito suspeito de roubar um só vintem! Em publico, que a cara do subjeito attinja a torta em cheio! E que elle, sem ter lenço à mão, se borre e ouça: "Bem feito!"} {Suggiro que, ao corrupto, quem exhorta à ida a mau logar emprego faça daquelle forte symbolo: uma torta! Cremosa, recheada, tendo a massa bem podre e excrementicia, me comforta que attinja alguem na cara, por pirraça!}


184 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ASTRAL [7764] (*) Actriz famosa, é linda, mas precisa ainda se passar por poetiza. Não basta estar na midia? Necessita a viva diva entrar p'ra Academia? Não seja, então, por isso: alguem lhe edita um livro de poemas que, do dia p'ra noite, faz successo. Eis que a bonita auctora ganha a vaga que queria! Com isso, a poetiza que teria direito mais legitimo está fora. Explica-se: ella é feia, para thia ficou... E quem prefere uma senhora à joven cortezan que se premia sozinha e por si só se condecora?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 185

MISCELLANEA ACADEMICA [6034] Tem gente que com nada se contenta. Actriz famosa, é linda, mas precisa ainda se passar por poetiza. Na midia, fazem festa barulhenta. Não basta estar na midia? Necessita a viva diva entrar p'ra Academia? Não seja, então, por isso: alguem lhe edita um livro de poemas que, do dia p'ra noite, faz successo. Eis que a bonita auctora ganha a vaga que queria! Com isso, a poetiza que teria direito mais legitimo está fora. Explica-se: ella é feia, para thia ficou... E quem prefere uma senhora à joven cortezan que se premia sozinha e por si só se condecora?


186 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL DYSFUNCCIONAL [7765] (*) Se queixa a mulher delle: o camarada, que duas dava, agora não dá nada. Damnada ficou ella. Se gabava, até para as vizinhas, do marido machão, que da mulher fazia escrava. Seu phallo de cavallo anda cahido. Pudera! A cara della, onde se aggrava a acção do tempo, é caso ja perdido!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 187

MISCELLANEA DYSFUNCCIONAL [6035] Casaes escondem tudo num escudo bem simples e decente. Eu não me illudo. Nas rodas, só fofoca a mulherada accerca de, na cama, quem aggrada. Ao macho, não bastou ser caralhudo, pois delle espera a femea mais que tudo. Se queixa a mulher delle: o camarada, que duas dava, agora não dá nada. Damnada ficou ella. Se até para as vizinhas, machão, que da mulher Seu phallo de cavallo

gabava, do marido fazia escrava. anda cahido.

Pudera! A cara della, onde se aggrava a acção do tempo, é caso ja perdido! No macho, quando vejo cara brava, daquellas apparencias eu duvido.


188 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL SYNDICAL [7766] Si o cara é bom de cama, de repente não brocha, só si invalido se sente. Temendo a demissão, elle ja passa semanas sem trepar. A mulher acha que é mera dysfuncção. Mas a desgraça accaba accontescendo: augmenta a taxa do nosso desemprego. Si reaça não for, elle se engaja, armando um racha...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 189

MADRIGAL INTESTINAL [7767] (*) Cagava bem, a dona Dora. Agora faz força, alli sentada, mas demora. Tomava no cu, quando seu marido ainda não brochava. Ultimamente se sente constipada. Não duvido que a causa seja a falta dum potente e audaz suppositorio. Faz sentido? Talvez, si outra resposta não se invente.


190 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA CONSTIPADA [6036] Estresse influe no rhythmo do intestino. Cagava bem, a dona Dora. Agora faz força, alli sentada, mas demora. Não posso ter certeza, mas attino. Batata! Si o cocô sae muito fino, signal é de prisão de ventre. Chora quem senta alli por mais de meia hora, e em seu logar até que me imagino. Tomava no cu, quando seu marido ainda não brochava. Ultimamente se sente constipada. Não duvido que a causa seja a falta dum potente e audaz suppositorio. Faz sentido? Talvez, si outra resposta não se invente. Sentada na privada, só ruido escuta, tripa addentro, persistente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 191

MADRIGAL PROFISSIONAL [7768] (*) Ja foi "Mulher Aranha", "Mulher Mosca"... Agora é "Mulher Pulga" e está mais tosca. "Modello é profissão? Bem, eu não acho. Appenas euphemismo é para a puta, que encarna mero insecto ao chucro macho. Só "Chupa, vagabunda!" a puta escuta, affeita, emfim, à vida de capacho, depois de ser chupada, ex-"Mulher Fructa".


192 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA EUPHEMINISTA [6037] A certas putas, rotulos bons são. Ja foi "Mulher Aranha", "Mulher Mosca"... Agora é "Mulher Pulga" e está mais tosca. A bichos quem gostou duma allusão? A bicha acha mais facil. Seu cuzão, queimado na funcção, ja virou "rosca". À bella seu espelho mostra fosca a cara, na verdade, dum canhão. Modello é profissão? Bem, eu não acho. Appenas euphemismo é para a puta, que encarna mero insecto ao chucro macho. Só "Chupa, vagabunda!" a puta escuta. Affeita, emfim, à vida de capacho, depois de ser chupada, ex-"Mulher Fructa", accaba desistindo, por relaxo, dum termo que por outro se permuta.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 193

MADRIGAL PRIMORDIAL [7769] (*) Foi anno musical, digo e não brinco: mil novecentos e sessenta e cinco. Concordo com aquella theoria segundo a qual as decadas que vão marcando a musical historia, via um poncto inaugural, comptadas são ao meio, no anno quincto. A maioria dos factos nos sessenta cae. Ou não? Pautaram a maior revolução, dos Beatles, "Rubber soul"; de Dylan, "Like a rolling stone" e "Minha geração" do Who. Com "Satisfaction" outra cae, que importa, "California dreamin'". Dão respaldo os Drifters, Pickett, Otis, Ike...


194 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA ROCKEIRA [6038] Pensemos num historico momento. Foi anno musical, digo e não brinco: mil novecentos e sessenta e cinco. Eis como de alguns ponctos lembrar tento. Concordo com aquella theoria segundo a qual as decadas que vão marcando a musical historia, via um poncto inaugural, comptadas são ao meio, no anno quincto. A maioria dos factos nos sessenta cae. Ou não? Pautaram a maior revolução, dos Beatles, "Rubber soul"; de Dylan, "Like a rolling stone" e "Minha geração" do Who. Com "Satisfaction" outra cae, que importa, "California dreamin'". Dão respaldo os Drifters, Pickett, Otis, Ike...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 195

MADRIGAL GRUPPAL [7770] (*) Circense bacchanal, essa em que accabo tomando, eu e milhões de eguaes, no rabo! Um unico politico me aggruppa, pellado e accorrentado, com os meus demais concidadãos, e nos "estrupa" agindo ou ommittindo! Nós, plebeus, siquer sem protestar, ouvimos "Chupa!" Rezamos mudos... menos os atheus! Chupamos o mais sordido dos paus e a porra que engolimos e nos tapa a bocca nos fodeu em varios graus semanticos! Agora, em nova etapa historica, poder menor os maus teem para nos impor unica chapa!


196 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039] Às vezes philosopho sem proveito. Circense bacchanal, essa em que accabo tomando, eu e milhões de eguaes, no rabo! Mas nunca que esses crapulas acceito! Um unico politico me aggruppa, pellado e accorrentado, com os meus demais concidadãos, e nos "estrupa" agindo ou ommittindo! Nós, plebeus, siquer sem protestar, ouvimos "Chupa!" Rezamos mudos... menos os atheus! Chupamos o mais sordido dos paus e a porra que engolimos e nos tapa a bocca nos fodeu em varios graus semanticos! Agora, em nova etapa historica, poder menor os maus teem para nos impor unica chapa!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 197

MADRIGAL LINGUOPEDAL [7771] (*) Eu mesmo faço o "teste do pezinho" e sei quando um bebê desencaminho. Si é dia de testar, tambem proponho meu teste: no pezinho dum bebê vintão eu passo a lingua, qual no sonho. Sorrindo elle de cocegas, se vê que é macho indifferente; si langonho ficar, mais tracto oral quer que eu lhe dê.


198 GLAUCO MATTOSO

MEME DO BEBÊ [6040] Testar, todos testamos. Quem contesta? Eu mesmo faço o "teste do pezinho" e sei quando um bebê desencaminho. Ninguem um meninão jamais molesta. Não! Elles mesmos querem fazer festa, brincando com as coisas que escrevinho, pedindo que eu lhes faça, no mindinho, aquillo que não faço em minha testa. Si é dia de testar, tambem proponho meu teste: no pezinho dum bebê vintão eu passo a lingua, qual no sonho. Sorrindo elle de cocegas, se vê que é macho indifferente; si langonho ficar, mais tracto oral quer que eu lhe dê. Bem, e si não quizer? Nem tão tristonho eu fico: outro moleque em mim ja crê.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 199

MADRIGAL PROPORCIONAL [7772] (*) Bordão mexeriqueiro, esse "Eu augmento mas não invento!" applica-se ao tormento. Eu, sempre que versejo, de Pessoa invoco o tal pretexto da licença poetica, a doer-me do que doa. Fiz drama da cegueira e numa immensa comedia a transformei, visto que soa ridicula ao leitor, caso o convença.


200 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA CONSENTANEA [6041] Fofoca tambem pode inspirar lyras. Bordão mexeriqueiro, esse "Eu augmento mas não invento!" applica-se ao tormento. Sim, vale versejar sobre mentiras. "Mas Glauco, caso ao verso te refiras, dirás da poesia cem por cento!" Sei disso, mas aqui somente tento unir-me a pescadores e caypyras. Eu, sempre que versejo, de Pessoa invoco o tal pretexto da licença poetica, a doer-me do que doa. Fiz drama da cegueira e numa immensa comedia a transformei, visto que soa ridicula ao leitor, caso o convença. O facto é que de mim elle caçoa e sei que isso faz boa differença.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 201

MADRIGAL DOMINICAL [7773] (*) Não quero enrollação, eu quero bolla rollando, sem mais pappo que não colla! Agguardo pelo classico no estadio, mas, antes do começo da partida, é tanto fallatorio no meu radio que até prefiro ouvir, de quem decida gritar, uns palavrões, caso mais brade o povão majoritario na torcida.


202 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA CHRONICA ESPORTIVA [6042] O pappo, antes do jogo, não tem graça. Não quero enrollação, eu quero bolla rollando, sem mais pappo que não colla! Depois do jogo, sim, um quadro traça. Achar que differença alguma faça encher linguiça serve a quem nos trolla com blefes e bravatas de gabola. Em campo está o que compta para a massa. Agguardo pelo classico no estadio, mas, antes do começo da partida, é tanto fallatorio no meu radio que até prefiro ouvir, de quem decida gritar, uns palavrões, caso mais brade o povão majoritario na torcida e, mesmo que o calão alli degrade o discurso, mais a scena é divertida.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 203

MADRIGAL SERVIÇAL [7774] (*) A bella fellatriz compensa a sua cegueira si efficaz é quando actua. A puta ficou cega, mas tem rosto bonito e bocca grande. Entende agora que um logico serviço foi-lhe imposto: na fellatividade ella melhora a cada pau que chupa, mas o gosto na bocca amargo fica e mais demora.


204 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043] Estar em seu logar às vezes sonho. A bella fellatriz compensa a sua cegueira si efficaz é quando actua. Mas só por un instante é que me ponho. É tão appavorante, tão medonho ser cego, que escutei eu ja, na rua, alguem dizer, de forma nua e crua, que cego honrado é coisa de pamonha. A puta ficou cega, mas tem rosto bonito e bocca grande. Entende agora que um logico serviço foi-lhe imposto: na fellatividade ella melhora a cada pau que chupa, mas o gosto na bocca amargo fica e mais demora. Até que inveja tenho do seu posto, mas só quando da bronha chega a hora.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 205

MADRIGAL PREFERENCIAL [7775] (*) Ray Charles vale Stevie Wonder? Damno tambem soffreu José Feliciano. Trez cegos. Não discuto quem mais é famoso ou importante. Para mim, appenas por cantar, foi o José. Em "And the sun will shine" eu ouço o fim da vida, ou da cegueira, tendo fé nalgum admanhescer menos ruim.


206 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DAS PARADAS [6044] O povo tem seus gostos, eu respeito. Ray Charles vale Stevie Wonder? Damno tambem soffreu José Feliciano. Não quero comparar nosso defeito. Cantores cegos gozam de conceito um pouco differente. Si me irmano ao Zé, compositores não me uffano de estar subestimando, com effeito. Trez cegos. Não discuto quem mais é famoso ou importante. Para mim, appenas por cantar, foi o José. Em "And the sun will shine" eu ouço o fim da vida, ou da cegueira, tendo fé nalgum admanhescer menos ruim. Emfim, as preferencias da ralé eu para contestar aqui não vim.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 207

MADRIGAL DESVIRTUAL [7776] (*) O gruppo "Preturbano" se appresenta com musica vulgar e barulhenta. O carro de som delles estaciona, em plena madrugada, e o pancadão começa, infernizando toda a zona. De subito accordada, a velha não consegue accreditar que tão cafona marchinha é funk e a lettra é palavrão.


208 GLAUCO MATTOSO

MEME DO PANCADÃO GRATUITO [6045] É tactica anarchista aquella festa. O gruppo "Preturbano" se appresenta com musica vulgar e barulhenta. Faltava, diz o povo, só mais esta! Sossegos perturbar ninguem contesta que seja uma estrategia violenta. Occorre que esse gruppo, o que sustenta é que arte só produz quem nos molesta. O carro de som delles estaciona, em plena madrugada, e o pancadão começa, infernizando toda a zona. De subito accordada, a velha não consegue accreditar que tão cafona marchinha é funk e a lettra é palavrão. Ninguem melhor define do que dona Maria a "sabotagem" do negão.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 209

MADRIGAL CORPORAL [7777] (*) Tomei a decisão, e não me accanho: emquanto não cagar, não tomo banho! Está sempre enfezada, a dona Esther! Disfarsa com perfume aquelle cheiro suado, faz trez dias, mas não quer lavar-se, por pirraça, sem primeiro fazer o seu cocô! Dessa mulher tão grande é o mau humor quanto o trazeiro...


210 GLAUCO MATTOSO

MEME DO DESASSEIO [6046] Podia tambem eu fallar assim: "Tomei a decisão, e não me accanho: emquanto não cagar, não tomo banho!" Mas não fui eu quem isso disse e sim a dona Esther, que soffre, alem do rim, das tripas constipadas. Nem extranho a sua posição. Sei do tamanho que ganha o cagalhão, si sae, emfim. Está sempre enfezada, a dona Esther! Disfarsa com perfume aquelle cheiro suado, faz trez dias, mas não quer lavar-se, por pirraça, sem primeiro fazer o seu cocô! Dessa mulher tão grande é o mau humor quanto o trazeiro. Eu mesmo só consummo o meu mester de bardo si feliz sou no banheiro.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 211

MADRIGAL INTRABUCCAL [7778] (*) Tem filho "fididinho", como diz o povo, a respeitavel meretriz. A puta se perfuma, se produz, mas mãe é do mais sordido rapaz, um typo revoltado que, nos cus das bichas, vae à forra: foi capaz, depois de enrabar uma, tendo puz no pau, de entrar na bocca qual por traz. O docil masochista que, attravés dos labios, se infectou, teve de, appós chupar puz com cocô, do chão ao rés prostrar-se e, sob as ordens duma voz chapada, lamber tudo que, nos pés fedidos, não lavou seu rude algoz.


212 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA VENEREA [6047] Quem tem mãe no puteiro, degenera. Tem filho "fididinho", como diz o povo, a respeitavel meretriz. Qualquer coincidencia não é mera. A puta se perfuma, se produz, mas mãe é do mais sordido rapaz, um typo revoltado que, nos cus das bichas, vae à forra: foi capaz, depois de enrabar uma, tendo puz no pau, de entrar na bocca qual por traz. O docil masochista que, attravés dos labios, se infectou, teve de, appós chupar puz com cocô, do chão ao rés prostrar-se e, sob as ordens duma voz chapada, lamber tudo que, nos pés fedidos, não lavou seu rude algoz.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 213

MADRIGAL PROVIDENCIAL [7779] (*) Si está faltando assumpto, na novella, no templo, na campanha, a quem se appella? Ao gay, que em tudo expalha seu aroma! Um padre, ou um pastor, com elle sonha. Seu beijo, na tevê, mais ponctos somma. Por elle os candidatos battem bronha. Tem fama, seja em Roma ou em Sodoma, tamanha, que o Demonio se envergonha...


214 GLAUCO MATTOSO

MEME DA BICHA MACONHEIRA [6048] Qualquer coincidencia não é mera. Si está faltando assumpto, na novella, no templo, na campanha, a quem se appella? Aos homosexuaes! Tambem, pudera! Quem Quem Quem Quem

é é é é

que a propaganda mais paquera? que deixa a bunda na janella? que, em Portugal, usa a panella? que, travesti, vira panthera?

É o gay, que em tudo expalha seu aroma! Um padre, ou um pastor, com elle sonha. Seu beijo, na tevê, mais ponctos somma. Por elle os candidatos battem bronha. Tem fama, seja em Roma ou em Sodoma, tamanha, que o Demonio se envergonha. Alguem deseja até que o cu lhe coma a bicha mais adepta da maconha.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 215

MADRIGAL ESSENCIAL [7780] (*) No meu computador, archivo tudo em "obras", ou em "sobras", e me adjudo. Eu tinha divisões diversas, pastas infindas, galhos de arvore no outomno, das classes mais carnaes às castas castas, mas tudo alli perdi que collecciono. Agora diz o micro: "Tu te bastas com duas? Nem conhesço mais meu dono!"


216 GLAUCO MATTOSO

MISCELLANEA DA INFORMATICA [6049] Um No em na

cego de informatica precisa. meu computador, archivo tudo "obras", ou em "sobras", e me adjudo hora de escrever ou da pesquisa.

Quem usa duas pastas suaviza o trampo. Quem tem muitas, mais ossudo encontra seu officio. Sim, sahudo quem seu computador bem organiza. Eu tinha divisões diversas, pastas infindas, galhos de arvore no outomno, das classes mais carnaes às castas castas, mas tudo alli perdi que collecciono. Agora diz o micro: "Tu te bastas com duas? Nem conhesço mais meu dono!" Quem tem opiniões iconoclastas nem sempre ao desmazello deu abbono.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 217

MADRIGAL NACIONAL [7781] Alguem por "unidade nacional" entende o que? Fallarmos lingua egual? Datinha mais inutil! Não ha nada que seja festejavel num paiz tão grande e desunido, quando em cada estado ou região se pensa ou diz de forma tão diversa, e quem evada divisas gaste em dollar em Paris!


218 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL DESPROPOSITAL [7782] (*) "Tadinho de você! Tão bonitinho, mas cego..." -- diz a velha, com carinho. O cego appella: -- Aqui! Dispenso o affago! E então? E o que a senhora mais queria? Que, alem de cego, eu fosse feio, gago, banguela e manquitola? Ora, tithia! Pé chato me faltava? -- ainda indago -Não basta esta cegueira? Que mania! -- Nem tenho excappatoria! Sempre pago o mico de ser cego! Até meu guia me goza e diz assim: "Porra! Me cago de medo de cegar! Bem que eu queria não ter este pé chato... Mas o estrago é pouco, ja que enxergo! É o que allivia..."


MADRIGAES TRAGICOMICOS 219

MEME DO CEGUINHO PUTO [6050] Do cego uma senhora sente dó: "Tadinho de você! Tão bonitinho, mas cego..." -- diz a velha, com carinho. Quaes phrases prende o cego no gogó? O cego appella: -- Aqui! Dispenso o affago! E então? E o que a senhora mais queria? Que, alem de cego, eu fosse feio, gago, banguela e manquitola? Ora, tithia! Pé chato me faltava? -- ainda indago -Não basta esta cegueira? Que mania! -- Nem tenho excappatoria! Sempre pago o mico de ser cego! Até meu guia me goza e diz assim: {Porra! Me cago de medo de cegar! Bem que eu queria não ter este pé chato... Mas o estrago é pouco, ja que enxergo! É o que allivia...}


220 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL CONVENCIONAL [7783] Cinema brazileiro por acaso tem dia? Mas festeja o que? O attrazo? Dialogos, scenario, sem fallar nos pessimos actores... A chanchada jamais de ser deixou essa vulgar cultura da miseria camuflada de chique e, "na cabeça", vae ao ar em forma de novella, dia cada.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 221

MADRIGAL INTERNACIONAL [7784] Até refugiados teem seu dia! Só resta ver si alguem os auxilia... Da fome alguns excappam, ou da guerra. Alguns são perseguidos pela fé dos outros, si não delles, mas quem berra mais alto nem vem sempre da ralé. Mais ganha protecção, em qualquer terra, aquelle que tão pobre assim nem é.


222 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL ESPACIAL [7785] Os discos voadores, sim senhor, teem data a celebrar, seja onde for! Um dia mundial? Universal? Talvez intergalactico, si os taes etês viajam tanto. Nenhum mal na commemoração posso ver mais, si estão entre os humanos e normal é o verde entre mil cores raciaes.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 223

MADRIGAL ESPECIAL [7786] Que tem de especial a viuvez si dellas tambem chega, um dia, a vez? Viuvas são, sim, dignas do respeito mais fundo, mas a data nos suscita alguma reflexão. Si, emfim, no leito de morte seus maridos da maldicta vidinha se despedem, eu suspeito que exsulta quem ficou. Alguem reflicta...


224 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL FINAL [7787] Com asthma ou diabetes quem se vê às voltas commemora agora o que? Exsiste, sim, um dia para quem doente ficou disso. Mas pergunto: Aquelle que sahude ja não tem precisa ser lembrado desse assumpto? Será que não se aggrava o mal de alguem si insistem que será, logo, um defuncto?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 225

MADRIGAL BIFOCAL [7788] Alguem que escuta annuncio mal proposto duvida que quem compra tem desgosto? Não seja trouxa, amigo! Não se deixe jamais engannar pela fraudulenta offerta que lhe fazem desse peixe! Si nessa você embarca, só requenta o tal bordão: Fodeu-se? Não se queixe! Melhor se prevenir! Quem saca, attenta! Enganne-se somente com a caixa, tão linda, de surpresas que eu lhe vendo! Producto tão fajuto, nessa faixa de preço, ninguem pode estar vendendo sinão a um paspalhão que se rebaixa, comprando um novo velho com remendo!


226 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL AMBIENTAL [7789] Um indio tem "pé gracil"? Alencar tal coisa de Pery quiz affirmar! Tem logica a supposta theoria dum pé bem torneado num heroe romantico? Pé chato, só, se via nas photos do Xingu! Ninguem se dóe por causa dessa casca que se cria na sola do cacique, nem do boy chamado "curumim"! Eu só queria in loco conferir o que remóe a minha delirante phantasia! Talvez eu ache "gracil" o que põe mais lenha na fogueira do meu cio! Pé "bello" ser não pode um pé de boi? Appenas si pensar me delicio na lancha expalhadissima que foi descripta num guerreiro desse rio famoso da Amazonia! Alguem suppõe que deva ao pedicure ter o brio tal indio de estar indo? Ninguem zoe!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 227

MADRIGAL PLURAL [7790] A sigla augmenta as lettras todo dia, mas bem que ser synthetica podia. "Geeleesse" fora, mas agora nem "Elegebetê" ser mais lhe basta. Ser "Elegebetequemais" melhora a lista de incluidos nessa casta? Não, claro! O que proponho não é fora deixar, do sodomita ao pederasta... Proponho um simples "G" que, "gay" embora, tambem designa "genero" e tem vasta idéa de plural. Mais corrobora, talvez, si for "Gemais", que não se affasta siquer do fetichista, alguem que adora nariz, dedão, pentelho ou trança rasta...


228 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL MENTAL [7791] Conforme a regra a gente o jogo joga. Si um doce me prohibem, será droga. Soffrer de diabetes, para mim, foi uma descoberta! Ja sciente sou: um hallucinogeno festim nem sempre é só lysergico! Quem sente carencia dum bombom ou dum quindim e cede à temptação curte na mente o mesmo bom delirio de Aladdin perante o genio, o demo, ou qualquer ente... Fiquei maravilhado! Emfim eu vim a ter essa noção de que, si a gente comer um manjar branco ou um puddim de leite condensado, de repente começa a ter visões! Pirlimpimpim é ficha perto desse efficiente chardapio psychodelico! Ruim é a syndrome, meu panico abstinente...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 229

MADRIGAL SUPRACONSENSUAL [7792] Si for para "lacrar", então eu "lacro"! O sexo não é sancto nem é sacro! Si pecco, assumo: odeio o simulacro! Sim, sempre questionado sou accerca dum pacto que se quer "consensual" no sadomasochismo. Que "seguro" e "adulto" o tal "accordo" ser precisa, e porra e tal... Caralho! Mas que raio de jogo ou de brinquedo acham que estão fingindo performar? Vão se foder! "Seguro" contra que? Contra algum "crime"? É nojo da sujeira, algum resguardo da lingua contra as coisas mais immundas? "Adulto" por que, si era eu um menino emquanto me curravam os da minha edade? Isso é que guardo e que me fez masoca, que podolatra me faz!


230 GLAUCO MATTOSO

Agora vão querer que masochista eu seja como o auctor da linda Wanda, que "suprasensual" qualificava seu acto de humildade ante a "belleza"? Ah, fodam-se! De Sade é que sou fan e quero que a tal ethica, ou esthetica, se foda! Sade exalta a feia, a suja, a crua, a cruel cara de quem tem poder de dominar! Escravo não excolhe seu algoz! Por isso é bom vendal-o, até cegal-o, pois assim mais facil um abuso é commettido! Ao menos na punheta assim eu gozo, sabendo que veridico foi tudo! Ao sadico é melhor que o servo perca de facto a visão, vendas sendo, em tal hypothese, sem uso! Quando atturo alguem que assim me zoa, sou, à guisa de misero Sansão, fodido e caio do fragil philisteu, facil, na mão! Assim vejo do sadico o prazer! Que graça tem um acto que reprime qualquer delirio orgastico do bardo? Que graça teem na lingua as limpas bundas? Sem merda alli grudada, fescennino poema nem exsiste! Me expezinha alguem sem violencia? Alguem cortez espera seja a bota dum rapaz?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 231

"Politico" e "correcto", quem insista na porra desse "pacto", pense! Expanda limites, seja escravo ou seja escrava, assuma-se indefeso ou indefesa! Um cego será sempre aquella van figura, sempre fragil e pathetica, tal como si menino fora, cuja cegueira servirá de sarro a alguem! Por isso o masochismo em mim é tão intrinseco e me empresta a verve, o dom poetico, que humano faz de mim no corpo, mas a mente não duvido que seja demoniaca! Não poso nem brinco de escravinho: não me illudo!


232 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL INNACIONAL [7793] Censura agora muito mais subtil desbota pouco a pouco, num ardil daltonico, a bandeira do Brazil. Mamãe via novella em branco e preto. Da nova que adaptavam era auctor Rochester: "A Vingança do Judeu". Censura e dictadura dão duetto: trocaram da novella o nome por "Somos Todos Irmãos"! Quem entendeu? Mamãe via novella em preto e branco. O actor Sergio Cardoso de olho azul ficou usando lentes de contacto. Fiquei cego e meu pae sempre foi manco. Mas nunca mudarão, de norte a sul, as cores dum paiz que eu não retracto. Agora é só novella colorida. Ninguem mais teme a volta da censura, mas ella se disfarsa de "correcta". Que volte a dictadura alguem duvida, mas quem puder do povo os olhos fura. Aos cegos, a censura nada veta.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 233

MADRIGAL EXTRACONJUGAL [7794] Estando sem assucar um casal, accaba que um cunhado, bem ou mal, azeda tudo ou... bota mais um sal. Contou-me um rapaz hetero, casado, sem ser do masochismo practicante, enchendo-me de inveja, que o cunhado seu fracco farejou e, insinuante, fallou que exigiria ser chupado si a irman lhe revelasse que bastante viril não é na cama. Confrontado, o esposo vacillou, o algoz perante. Bem sadico, o cunhado, triumphante, o fez adjoelhar e o resultado foi scena a mais pornô, rollando, advante e attraz, garganta addentro, um pau mijado, fedendo a sebo e porra que, durante uns dias, ficou sujo. "Glauco, o lado masoca me afflorou!" Ninguem garante veridico que seja, mas eu brado:


234 GLAUCO MATTOSO

"Me conte mais!" Diz elle que o saphado chulé tinha, terrivel! "Mas amante não sou desse fetiche, Glauco!" O sado saber nem quiz: mandou que a degradante sessão se consummasse e o pé suado lambido fosse pelo esposo arfante! Inveja confessei e não me evado: no mundo não ha nada que me expante.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 235

MADRIGAL KHORAL [7795] Qualquer que seja o canto de sereia, eu sempre me deparo, volta e meia, com algo que me pede que não creia. Entrei na cathedral accompanhado, mas, desde que vazia estava, quiz andar sem ter ninguem mais do meu lado. Siquer de bengalar questão não fiz. Um khoro se escutava e eu, enlevado, quiz ir ao seu encontro. Sempre um bis na musica se dava. A mim, recado aquillo paresceu... dum som feliz. Andando pela nave, fui barrado por multipla columna, que o matiz das notas reflectia. Contornado o obstaculo, segui pelos subtis signaes sonoros, rhumo ao ensaiado khoral, mas não cahi foi por um triz. Da crypta a escadaria meu mau fado lembrou e... "me toquei", como se diz.


236 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL FRUGAL [7796] Um mero arroz-pheijão, carne e salada, sem frictas, sem farofa, sem mais nada, não pode causar, molle, essa cagada! Durante o feriadão, si não havia melhor logar, comi na lanchonette mais proxima, a da exquina. A padaria deixei de frequentar, porque commette horrores, virou bella porcaria. Até maçan puzeram no spaghetti! Porem, na lanchonette, estava fria a carne, o arroz sem sal! Quem se submette a tanta barbeiragem? Promettia eu mesmo a mim: "Jamais a garçonette daqui me vê de novo!" Triste dia! Até ter lei devia que isto vete! Mas deixe estar! A gente nisto enfia tempero! Eu na pigmenta pincto o septe! Tasquei tabasco! Então este seria motivo dum cocô que se derrete? Punido por cruel dysenteria, agora aqui me accabo na retrete!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 237

MADRIGAL ABUSUAL [7797] Na rua, quem checar o cellular cahir pode deixar, pode molhar, alem de ser roubado, por azar. Achei bem feito! O cara, bem no meio se posta da calçada, attrapalhando o fluxo de pedestres! Ja topei-o, andando eu de bengala! Não foi brando seu gesto, ao encontrão: de nome feio xingou-me e me ferrei, ao seu commando! Achei bem feito! Praga lhe joguei, o subjeito se fodeu bonito, quando cahiu-lhe o cellular! Serviu de freio à queda algum cantheiro, mas um bando chegou e, no arrastão, frustrou-lhe o anxeio de sorte num momento tão nefando! Achei bem feito! Toda vez que creio ser mais civilizada a rua, eu ando no rhumo dum cavallo desses, cheio de empafia, no apparelho digitando! Tomara que quem usa a porra, alheio a tudo, no cuzinho vá tomando!


238 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL CARICATURAL [7798] Fascinam, na cultura mussulmana, as vestes das mulheres, mas se enganna quem pensa na belleza mais mundana. Bellissima mulher ella apparenta ser, pelos verdes olhos, mesmo sem pinctura, mas o resto se accrescenta somente imaginando o que está bem occulto sob a funebre e cinzenta roupagem mussulmana. Aguenta alguem? Ninguem! Si retirasse o que sustenta seu mystico suspense, ella, porem, um susto nos daria, pois obstenta nariz adunco, bocca torta, alem de dentes estragados! Cada venta tem pellos, muitos pellos ella tem! Emfim, só bellos olhos, numa attenta e fria conclusão, não podem nem siquer nos illudir, ja que azarenta foi ella ao perder tudo o que conteem os olhos: a visão! Agora, lenta, caminha, ao lado de outras, num harem...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 239

Imagem peccadora que nos tempta, a face da mulher pode tambem servir como piada a quem commenta islamicos pudores, si nos vem da França algum cartum que só requenta clichês e estereotypos. Eu, hem?


240 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL PROCESSUAL [7799] Prenderam mais um delles e o povão na certa commemora quando vão seus cumplices em canna, de roldão. Aquelle meu amigo que punheta battia alegremente cada vez que algum sujo politico vendetta soffria do Systema, acham vocês que esteja se exporrando ou que commetta mais uma boa bronha todo mez? Qual nada! Todo dia! Na gazeta não para de sahir que a sordidez politica terá sua faceta de escandalo obstentada, como fez mais uma "lavajacto" de proveta! Foi outro presidente pro xadrez! Ligou-me elle, esse amigo, e disse: "Peta não é, Glauco! Outros presos, sem porquês, estão no chão cagando! Sem porquê, tá? Por isso me divirto! Rigidez não falta ao meu caralho que, qual teta, exguicha com deleite e languidez!"


MADRIGAES TRAGICOMICOS 241

Pensei commigo, attonito: Caceta! Directo ir p'ra cadeia, dum burguez apê, não é futuro que prometta comforto ou razoavel placidez! O cara soffre mesmo! Quem lhe metta no cu não faltará! Será freguez! Depois, fico sabendo que a canneta juridica foi celere e desfez as ordens de prisão. Mas pensei: Eta! Nos resta, ao menos, esta lucidez: Bastou saber de alguem que se submetta a tal humilhação, a tal torquez, e faz essa alegria algum cagueta egual masturbação curtir, talvez...


242 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL FUNDAMENTAL [7800] Miguel diz que os politicos serão, sem erro, mentirosos. Miguelão tambem se diz politico. Ora, então... Miguel mente tambem? Mas, si assim for, não mentem os politicos. Assim, Miguel falla a verdade. Esse factor converte em falso circulo o ruim problema da mentira, a seu favor. Quem mente? Quem não mente? Não tem fim! Famoso, o tal sophisma vem propor questão bem brazileira. Para mim, só mentem quando fallam ao doutor juiz ou delegado. Outro latim promettem, em discurso, ao eleitor. Não faltam pão e circo no festim. Jamais elles mentiram quando a cor politica mudaram. Serão, sim, verbaes khamaleões. Si defensor algum for da direita, a saber vim que fora ja de esquerda seu louvor. Um lado sempre é doutro muito affim.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 243

MADRIGAL COLLEGIAL [7801] Si todos que soffressem bullying nas escholas se vingassem, Satanaz seu pau não deixaria nunca em paz. Verdade é que punhetas elle batte por tudo que é tragedia, mas não ia sobrar tempo nem porra si, num chat da funda rede, cada alumno fria vingança architectasse! Elle que tracte de estar, pois, preparado para a orgia! Agora virou moda. Quem só latte não morde, mas a victima que, um dia, currada foi por jovens do quilate daquelles que exporraram na macia boquinha deste cego, caso macte uns dez, expanto ja não causaria. Seu tempo perde aquelle que combatte o bullying. Si nalguma academia ainda ha trote, sempre eu, como vate, do thema tractarei, mas poesia nenhuma será como o disparate de quem achou que a coisa accabaria.


244 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL LABIAL [7802] Beijar o annel do Papa ja não é catholico costume, nem o pé! Vae como o bom christão exhibir fé? Não quer mais ter o Papa seu annel beijado por fieis? Ouvi fallar. Despreza a tradição? Caso um fiel lhe chegue a bocca perto, joga ao ar a mão, para fugir ao beijo! O mel dos labios lhe é nojento? Que allegar? O proximo a beijar se contamina na baba do anterior? Assim si for, dizer o que do pé duma divina pastora que aos fieis se faz suppor a propria encarnação, numa menina, das unhas de Jesus? Haja fervor! Si for por hygiene, que dizer da bolla que é beijada por qualquer que batta falta ou penalty? Prazer exsiste no gostinho que elle quer sentir de tantos pés? Vou entender que eguala a bolla ao pé duma mulher?


MADRIGAES TRAGICOMICOS 245

MADRIGAL TRIUMPHAL [7803] Um normovisual, por mais reaça que seja, pouco caso da desgraça não faz como pretendo que elle faça. Na clinica, freguez sou de invidente collega que, sentado, massageia meus pés. Eu numa maca deito. À frente da sua cara, a minha sola. A meia descalça-me elle, humilde e efficiente. Commigo, confidente, elle pappeia. Assim, fico sabendo que cliente é delle um militar de bocca cheia, rapaz bozonazista que se sente feliz e victorioso. Na cadeia quer este ver quem seja dissidente. Do drama dos ceguinhos só se alheia. Combino com o cego: "Você mente, fingindo estar ausente e, nessa meia horinha, seu logar eu tomo! Invente que sou bom nisso! Espero que elle creia!" Chegando o sargentinho, servilmente me exponho, nem que faça cara feia.


246 GLAUCO MATTOSO

O cara acceita minha competente tarefa de allisar-lhe cada veia do dorso, cada callo que, bem rente à minha cara, quasi me tonteia por causa do chulé que, sorridente, percebe que senti. Nem se chateia. "Ahi, ceguinho! Aguente firme! Tente ser util, superar os traumas! Eia!" Ironico, o subjeito! Si a tenente chegar, como, sem duvida, elle anxeia, mais sadico será, naturalmente! Mas sua sola, em minhas mãos usei-a!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 247

MADRIGAL AUDIOVISUAL [7804] Em video, dois actores recital fizeram de meus versos, mas geral impacto, ao vivo, causam: é fatal. Vinicius Guedes, normovisual, na peça com meu nome, contrascena com outro actor mineiro, Dudu Mello, um cego que me encarna, tal e qual. Daquelles meus sonnettos, nada amena ficou essa atmosphera de duello. Sim, elles vão às vias, mas a mal não levam a disputa. Vale a pena trocar pisões ou chutes, quando fello, na marra, algum dedão mandão, egual àquelle dos moleques que, sem pena, curravam-me. Eis um thema, aos palcos, bello. A peça, que em Belzonte faz total successo no radar de quem se antenna, mixtura corpo, lingua, Aurelio, Lello, Camões, Bocage e Sade. Meu aval dei quando, da platéa, para a arena senti-me transportado, lhes revelo.


248 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL AUCTORAL [7805] O filme sobre um cego não será real si não deixar impressão má daquillo que passou e passará. Si eu fosse director do filme, assim o titulo seria, certamente: "Não volto, não, sozinho!" Para mim, um bullying não será sufficiente. O drama dum ceguinho não tem fim, por mais empoderado que elle tente suppor que seja. A sorte é tão ruim que annulla seus intentos de ser gente. Ha casos similares, dos quaes vim a ouvir a descripção: o cego sente na pelle, não appenas no latim, o que é ser, na cegueira, adolescente. O cara soffre mesmo! Por tintim contei, nos meus sonnettos, sobre a mente de quem o curra, como um tal Pedrim currado foi. Mas falta-lhe uma lente. Proponho que alguem filme tudo, emfim, que aqui, em peripheria tão carente, se passa. Não somente quando "Sim!" lhe diz o namorado, outro innocente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 249

MADRIGAL FATAL [7806] (*) Famosos tambem morrem. Aliaz, ja morrem quando saem de chartaz, embora os fans não achem que "aqui jaz". Rockeiros morrem cedo! Alguem explica? Nem sempre é pela droga: um accidente, doenças, suicidios... De repente, "milhões de fans são orphans", se publica. Jim Morrison, a Janis... Lista rica! Tem Elvis... Tambem Hendrix se accrescente, alem de Buddy e Valens... Quanta gente que victima virou da mesma zica! Si Marley, Russo ou Mercury se vão, Cazuza, George e John são companhia citada na fatal chronologia, até que chegue a vez do Tremendão... Talvez o Raulzito até se ria la em cyma, ou si for outra a posição, em baixo, ao ver que agora nem rockão nem mesmo um rockzinho é som do dia.


250 GLAUCO MATTOSO

Dos idolos exsiste a maldicção: a fama os leva à morte prematura ou para um hospital, para a prisão, ou à velhice e, nella, a desventura. Elvis e Michael Jackson: os dois são exemplos de que a vida, quando dura, decae de tal maneira que ja não importa si é penuria ou si é fartura. Elis, Carmen Miranda... tanto pique, tamanho empenho, tanto gaz e gozo, manteem-se só si alguem dopado fique? Então nem vale a pena ser famoso! Peor é quando um Valens, um Sampaio, um desses que jamais vemos edoso, nem chega ao estrellato, e os colhe o raio na ropta do destino caprichoso.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 251

MADRIGAL DESCEREMONIAL [7807] (*) Na nossa Academia são quarenta os membros. Trinta e nove, pois mal senta um "novo", outro levanta e ja se ausenta. Em video registraram a lambança que fez um "immortal" da Academia na hora do chazinho: elle comia enchendo mais os dedos do que a pança! Brioches, brevidades... Não se cansa emquanto sua gula não sacia, farellos derramando da macia fatia que nos labios lhe ballança! Gagás, outros auctores tambem comem aos trancos e barrancos, num assommo, babando e lambuzando os beiços, como aquelle porcalhão, de lettras homem! Trajados de fardão, nem o rei Momo lhes rouba o carnaval! Como consomem! Que gula! Que banquete! Elles que tomem seu cha com bollo! O amargo pomo eu como!


252 GLAUCO MATTOSO

A lenha, às vezes, desço, e com razão, na nossa Academia, mas não é por ella ser a casa dos que estão morrendo, mas não morrem... bons, até! Desdenho é dos penetras, que só dão "ibope" na politica e o bonné não pedem quando perdem eleição. Nos outros, como auctores, boto fé! Collegas, desde sempre, os considero, assim como qualquer homem lettrado, e tenho mesmo, para ser sincero, vontade de sentar delles ao lado. Em termos de cha faço, caso eleito, questão de tudo estar do meu aggrado: geléa nas torradas eu acceito, alem do biscoitinho admanteigado!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 253

MADRIGAL PROFESSORAL [7808] (*) O corpo, si docente ou si discente, resente-se de alguem que experimente dizer o que lhe venha, cru, à mente. Aquelle professor não dá bandeira, mas gosta de meninos. Mal na salla entrou, vê que se senta, na charteira da frente, um molecote cuja mala... Maior que a dum adulto! De maneira discreta, põe-se o mestre a contemplal-a. Ninguem evita, mesmo que não queira, olhar como advoluma-se e se entalla. Nas calças do moleque, o grande porte daquella adolescente e viva vara paresce até que augmenta! Firme e forte, aguenta o professor, que se sentara. Procura, entre as alumnas, qual attrae os olhos do garoto e sua tara, mas dellas foge o foco e, então, lhe cae a ficha: é o proprio mestre que elle encara!


254 GLAUCO MATTOSO

Difficil situação! A classe inteira agguarda repetir-se aquella falla monotona do mestre. A brincadeira cessou: a turma toda ja se cala. Tentando desviar, o olhar se exgueira à mala do moleque, e se arregala. "Quem leu o que passei na sexta-feira?" Si veiu alli dar aula, o jeito é dal-a. "Eu li!", diz o membrudo. "Entendi tudo!" Por pose mais formal que alguem fizesse, o mestre se perturba, mas o escudo é sua posição: "Então comece!" O alumno se levanta. Agora, sim! Si ainda tinha escrupulos... Exquesce! O penis salienta-se! "Ja vim sabendo o que o senhor quiz que eu fizesse..."


MADRIGAES TRAGICOMICOS 255

MADRIGAL DESPROPORCIONAL [7809] (*) Razões e proporções discute quem? Em termos de tesão, não falta alguem que tenha algo maior que o que se tem. Pé grande num gigante não expanta, mas roda de tractor num simples carro ja faz a differença: isso é o que encanta meu faro de podolatra e meu sarro. Adoro ver um gajo cuja planta paresce nadadeira: esse bizarro contraste é que me excita e o pau levanta: é na desproporção que mais me admarro! Num que não meu

astro do baskete, um pé cincoenta, em meio ao jogo quasi ninguem note, é tão attrahente, mas augmenta ecstase si o gajo for baixote.

É como, num anão, um caralhão ou mesmo o pau adulto num pexote: chupal-o me dá muito mais tesão que achar nalgum gigante esse bom dote.


256 GLAUCO MATTOSO

Entendam: pé cincoenta não me tempta num gajo de dois metros de estatura, pois tudo, neste caso, se affigura normal, si ao equilibrio a gente attenta. Eu gosto é da impressão mais violenta! Alguem de pés enormes mas de altura pequena ou mediana: isso assegura contraste e meu tesão, assim, sustenta! No desproporcional reside a graça, o appello irresistivel do fetiche! Disforme o pé paresce? Que se lixe! Que fique a phantasia mais devassa! Me de de na

vejo, ao punhetar-me, num baixo e peço ao outro que bobo: elle, de cyma, o pé cara e eu lambo até que a

beliche me faça me passa porra exguiche!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 257

MADRIGAL NADEGAL [7810] (*) Si excesso de importancia deu a gente à parte, por detraz, mais saliente, indaga-se si o thema ainda é quente. Quadrada no gordinho ou no bebê, na moça é redondinha. Seu tamanho, porem, varia muito, e não se vê direito, excepto quando estão no banho. No espelho, o proprio dono quer que dê para se contemplar, mas acha extranho aquillo que está vendo: é como um "T" inverso, tudo recto, feito um lanho! Os gluteos callipygios, na esculptura, teem solido parametro. Aliaz, parescem bem communs... Mas quem mensura parametros à moça ou ao rapaz? Na practica, o que importa é quando senta alguem que vae fazer o que se faz na tabua de cagar: la representa papel vero o que temos por detraz.


258 GLAUCO MATTOSO

Rebolla pelas ruas, a damnada, com sua bunda nova! Applicou nella uns chymicos recheios, e a mais bella bundona acha que obstenta na calçada! A bunda, saliente, mais aggrada aos machos porque a calça, que revela as formas rechonchudas, tem chancella de griffe vagabunda, vale nada! Mas como ella rebolla! Como ginga! Adora assim chamar nossa attenção! De casa à padaria, do sallão à feira, à academia... Alguem a xinga: "Promiscua! Vadia! Temptação do demo!" E a velha puta que, na pinga, affoga as magoas, joga-lhe a mandinga, despeito expalha, cospe a maldicção!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 259

MADRIGAL EXPERIMENTAL [7811] (*) Fazer experiencias é processo commum em poesia, mas tropeço nos ismos e aos parametros regresso. Amigo meu tem methodo advançado de achar novo poema: elle me conta que aquillo é "dadaismo"! "Mas cuidado", advisa, "não é coisa feita à tonta!" Abrindo o diccionario, tem deixado o dedo ir ao acaso e, quando apponcta pralgum aleatorio termo, o achado ao verso se incorpora e um todo monta. Tentei seguir, tambem, o tal processo, achando que com isso me repimpo, e às cegas excolhi, porem confesso que nunca fui feliz nesse garimpo. Rhymei "samba" com "tumulo" e "cocô" com "lyra"; "putaria" com "Olympo" ou "nitroglycerina"... Meu pornô poema reduziu-se a texto limpo.


260 GLAUCO MATTOSO

Vejamos: si o concreto segue um eixo poetico que desce a vertical e espaça cada syllaba, que tal si um filho original parir me deixo? Talvez eu faça assim: no centro enfeixo as syllabas em "I"; na marginal esquerda, em "A"; na proporção egual, em "U" na dextra, à parte algum desleixo. Belleza! Até que o quadro fica ao gosto do artista visual mais exigente! Alguem o irá chamar de "intelligente" e pode numa mostra ser exposto! Que titulo darei? Visto de frente, paresce "intelligivel", bem composto, tal como o que poz deante do meu rosto o medico que mede minha lente.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 261

MADRIGAL VOCACIONAL [7812] (*) No mundo ninguem fica sem trabalho, nem mesmo o cego: o officio ao qual eu calho consiste em bem chupar qualquer caralho. Paizes asiaticos manteem o que seu ancestral ja practicava: do pão em troca, um pobre cego é quem mais duro com a vida a lucta trava. É a mão do cego escrava, a bocca escrava: defesa ou assistencia de ninguem recebe quem não vê, que tracta e lava os pés de quem o mundo enxerga bem. Só tem habilidade nisso: então que empregue efficazmente sua mão e a sola massageie do homem são que nunca o tractará como a um irmão. Na bocca, elle accommoda o penis: faça bem feito, e não reclame si acha graça o gajo do vexame que elle passa, ainda que se passe em plena praça.


262 GLAUCO MATTOSO

Me contam que, na India, ainda agora, quem é de baixa casta se subjeita a trampos bem humildes e não chora nem acha que a desdicta é uma desfeita. Barbeiro e manicure é o cara, affora o officio de callista... Mas acceita tambem quando o freguez põe para fora o pau, manda chupar, e rolla e deita. Até nos "Kama Sutra" está prescripto que o cego, em baixa casta, mais se azara e o penis chupará, num normal rito, aquelle que está abbaixo de outro cara. É sabia a tradição! Quem sabe um dia sigamos tal costume e se equipara a praxe occidental à hierarchia hindu, que a minha bocca se excancara! Agora me confirmam que na China, ou India, não me lembro, o cego tem trabalho duro. Chupa o pau de quem enxerga; massageia o pé, bolina... Pensando que alguem sente dó? Magina! O povo se diverte! E chupa bem, o cego, no capricho! Sinão, sem perdão, fazem até beber urina!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 263

Ouvi fallar que, emquanto, no barbeiro, alguem corta cabello, o cego fica, qual baixo serviçal de gente rica, seus pés massageando o tempo inteiro. Depois, si o freguez manda, a suja picca lhe chupa: sente o gosto, sente o cheiro, provoca nelle o orgasmo prazenteiro, sem nada reclamar da sua zica! Na India, ficou celebre o fakir que dorme numa cama toda feita de pregos, sem que possa se ferir, e nem siquer de fraude se suspeita. Tambem o encantador, a se exhibir, mantem uma serpente satisfeita appenas com a musica, a servir de publico espectaculo subjeita. Mas pouco se commenta no Occidente, por mais que esteja alguem bem informado, accerca do que um cego ao seu cliente dispõe-se a offerescer por um trocado. Alem de lhe tractar da dor nos pés emquanto o barbeado está sentado, permitte que seu penis, attravés dos labios, lhe ejacule, ao ser mammado.


264 GLAUCO MATTOSO

MADRIGAL CONJUNCTURAL [7813] Importa a circumstancia ou a constancia? Melhor é ser constante e, numa chance, a fortuna abboccanhar, sem maior anxia. Eu, como outros podolatras, vivia tentando variar conforme o pacto. Às vezes a botina preferia, o tennis, o chinello ou o sapato. Lambendo sola suja, na agonia ficava pela bosta dalgum ratto. Até que fiquei cego... Ninguem chia na minha condição. Sendo sensato, tractei de conformar-me, pois não ia surgir quem eu quizesse, por barato ou caro preço. Até meu proprio guia zombava, ao bel prazer, dum cego chato. Assim, uma licção apprenderia quem ia, para sempre, no maltracto viver como masoca. A gente expia o tempo todo neste valle ingrato, mas pode ser pisado, um bello dia, por velho ou joven, branco, indio ou mulato...


MADRIGAES TRAGICOMICOS 265

MADRIGAL ININTELLECTUAL [7814] Será que necessito ser doutor em algo para a alguem tanto me impor a poncto de provar o meu valor? Depende. Professor si eu quizer ser terei que graduar-me num assumpto, a menos que eu leccione poesia. Querendo scientista ser, dever terei de muitos tractos ao bestunto dar para a coisa, a menos que eu sorria. Si for economista, meu poder só vale quando muita grana adjuncto, a menos que eu só falle em theoria. Si padre eu for, meu verbo vae valer depois que reparei nalgum defuncto sorrindo da fugaz theologia. Politico si for, me defender irei caso responda ao que pergunto eu mesmo da mendaz democracia.


266 GLAUCO MATTOSO

Gastronomo que seja, vou comer sanduba só de queijo com presuncto suppondo não ser simples iguaria. Poeta sendo, sinto ja não ver que estou aqui sozinho, tendo juncto commigo todo mundo, todo dia.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 267

MADRIGAL SUPRALEGAL [7815] (*) Fallando dum azar elementar, compuz muitos sonnettos, mas rezar só chama quem virá nos assombrar. É lei: o pão do pobre sempre cae co'o lado da manteiga para baixo. Nós disso ja sabiamos, mas ai de quem se queixa, e nisso eu ca me encaixo! Bem sei que algum leitor fallar ja vae na tal da "lei de Murphy", mas eu acho que sempre foi assim: a coisa sae errada porque o Demo quer, diacho? A roupa que do advesso a gente veste, a acção que em alta estava e cae a zero, roubando o que na Bolsa a gente investe, o taxi que passou quando eu não quero... A o o O

chuva que só cae si estou na rua, radio quando o ligo e só tem lero, pau que brocha quando ella está nua... azar sempre tem sorte! Acaso mero?


268 GLAUCO MATTOSO

Com muitas variantes se enuncia a velha lei de Murphy: "Si haver pode a probabilidade, uma fatia que seja, de foder, a coisa fode." Por outras palavrinhas: "Quem se fia na chance de dar certo, tire o bode da chuva, ou o cavallo!" Ja dizia o calvo: "Quem faz barba, faz bigode!" Inutil discutir: o pão do pobre, excasso ja na mesa dum christão, do lado da manteiga que o recobre, na certa cahirá, voltado ao chão! Duvidam? Quantas vezes for jogado, ainda que se inverta a posição, de novo vae cahir do mesmo lado e a Murphy accabará dando razão!


MADRIGAES TRAGICOMICOS 269

MADRIGAL IMPROVIDENCIAL [7816] (*) O cego nunca sabe a quem appella. A fim de não cahir numa esparrella, evita com dois sanctos ter querella. Mudar de roupa é sempre um troço chato. Seria bem melhor andar pellado! Mas mesmo quem é cego tem recapto, ainda que vivendo enclausurado. Pois bem: abro a gaveta e, pelo tacto, procuro meu pyjama, ja lavado, que eu mesmo alli guardei... Então constato a falta delle e fico appavorado. Mas como? Onde estará? Tenho certeza que estava la! Será? Procurei tanto! Que faço, então? Perdido na indefesa cegueira, a Murphy rezo, como ao sancto. Na machina? No tanque? No varal? Do armario a pratteleira até levanto. Mas nada? Na gaveta ao lado? Em qual logar? Melhor procuro... Acho... e me expanto!


270 GLAUCO MATTOSO

Agora ja nem rezo a São Longuinho! Recorro, curto e grosso, ao padroeiro da lei que mais vigora no caminho dum cego: o proprio Murphy, um sancto arteiro. Nem Pedro Malasartes, que, adivinho, ja foi canonizado, é tão herdeiro do machiavellismo comezinho por entre cujas pedras eu me exgueiro. Portanto, para Murphy agora eu rezo, sim, quando em desamparo mais extremo, pedindo piedade... Não desprezo, comtudo, a intercessão do proprio Demo! Estou tão escholado, appós a vista perder, que contra as ondas ja não remo. Me guardo e, mesmo sendo masochista, não subestimo um Murphy, a quem mais temo.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 271

MADRIGAL JURISDICCIONAL [7817] (*) Peccados são, no dia do juizo final, punidos, menos o sorriso do proprio Zeus, gozando qual Narciso. Anjinhos lindos sopram as trombettas e vão annunciando um dia feio. Convocam todo mundo: quem punhetas batteu, quem deu o cu, quem poz no alheio... Da tumba emergem ossos: em bocetas e rollas se transformam, de permeio a bundas, saccos masculos e tetas... Até ter visto boccas alli creio. Um anjo mais mandão separa e aggruppa aquella carne toda e se perturba a turma peccadora: quem só chupa, quem dá, quem come, e quem só se masturba. Ao Céu os punheteiros vão. No Inferno irá parar o resto, que suburba necropoles à bessa. Ao fogo eterno excappa a bocca, em toda aquella turba.


272 GLAUCO MATTOSO

Tem gente que annuncia e que garante, p'ra breve, o fim do mundo. Foi assim que accontesceu no morro. Para mim foi chance de levar a tara advante. Naquelle valetudo, fiz, durante uns dias, tudo quanto a guardar vim de porco e de nojento. Foi ruim só quando terminou aquelle instante. Deixei que me mijassem, no cocô fartei-me e me expojei, lambi sebinho da picca do malandro mais mesquinho, fui puto, performei filme pornô. Agora, desmentido o fim, me allinho de novo na roptina, no tarot voltei a trabalhar e meu chatô vem sendo um centro espirita ao povinho.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 273

RASPA DO TACHO [6051] Tentei approveitar uns madrigaes, mas, como dissonnetto, não funcciona la muito bem a coisa, pois a nona ou outra linha nexo pede mais. Sim, claro, um decasyllabo jamais se perde em meio ao todo duma zona estrophica, mas, quando se ambiciona moldar, as exigencias são fataes. Valeu. Experiencia sempre cabe. Alem do mais, terão melhor proveito aquelles madrigaes, aos quaes dou jeito de thema que se encaixe e bem accabe. Não quero que, por isso, alguem me enrabe, mas, ao dissonnettal-os, eu suspeito que ganham, no final, maior effeito, ainda que eu do feito nem me gabe.



MADRIGAES TRAGICOMICOS 275 [NOTAS] (7669/7670) No tractado estichologico que assigna com Guimarães Passos, commenta Bilac: "O madrigal, de que os poetas classicos abusaram consideravelmente, ficou um tanto desmoralizado por esse abuso. Em Portugal, no seculo XVII, a futilidade litteraria transformou esse genero lyrico em uma intoleravel exhibição de tolice e semsaboria. A Academia dos Singulares de Lisboa chegou, uma vez, a pôr em concurso, entre os seus associados, os seguintes themas de madrigal: uma dama que, expedindo da bocca uma folha de rosa, se lhe poz em uma face; uma dama que, lendo a uma luz um papel do seu amante, queimou parte do seu cabello; uma dama que chorou tanto sobre o retracto do seu amante que lhe appagou a pinctura; uma dama que, tendo no peito um Cupido de azeviche, lhe estallou aos raios do sol; [...] uma dama desmaiada de uma sangria; uma dama comptando as estrellas; uma dama que desmaiou de ver uma caveira... Como se vê, não é possivel imaginar mayor insipidez, nem mayor tolice..." (7690) A proposito da phrase de Mario Quintana no livro DA PREGUIÇA COMO METHODO DE TRABALHO: "No fim das comptas, as satyras que a gente faz contra as mulheres são uma especie de madrigal às advessas." (7710) A proposito da peça "P'ra dar um fim no juizo de Deus" de Antonin Artaud, sob direcção de José Celso


276 GLAUCO MATTOSO Martinez Correa, cujo elencho inclue Paschoal da Conceição, com quem GM fez theatro amador na decada de 1970, pelo gruppo Somma, que montava peças absurdistas de Beckett e Ionesco, entre outros. (7727) Tracta-se do seriado americano typo "sitcom" MARRIED WITH CHILDREN, exhibido na televisão brazileira sob o titulo UM AMOR DE FAMILIA, considerado de mau gosto pelo contehudo politicamente incorrecto. Em commentario informal de 2006, GM registra suas impressões da audiodescripção: {É daquellas comedias que ja veem ridas (p'ra que o telespectador não tenha o trabalho, ou o sacrificio, de rir), cujo personagemchave é um pae de familia do typo babaca, que ganha a vida como vendedor de sapatos. Só aqui ja teriamos ingrediente prum scenario podolatra, mas a coisa não fica nisso: o cara tem uns pezões que apparescem a todo momento descalços (ao contrario da maioria dos filmes americanos, muito pudicos nessa parte do corpo), e o mais incrivel é que elle tem um chulé do cão! Isso é realmente atypico na TV americana, levando-se em compta a mania que elles teem pela asepsia e pelos productos de limpeza e hygiene pessoal. Então surgem situações absolutamente indisfarsaveis em termos de podolatria declarada, o que explica a rejeição de parte do publico ao programma: uma familia amiga se hospeda na casa do cara e, no improviso, a mulher tem que dormir perto do pé da cama onde os pezões se destaccam fedendo, e ella protesta indignada. Em outro episodio, o cara está com a mulher na cama de casal, mas inverteu a posição p'ra


MADRIGAES TRAGICOMICOS 277 que uma luz da rua que vem pela janella não lhe batta na cara. Sem perceber, a mulher lhe beija o pé p'ra dar boa noite, achando que lhe beijou a face. Em outro episodio, uma vizinha cheira a meia do marido p'ra mostrar que sente saudade, mas, ao perceber que a meia fora usada pelo nosso chulepento, tosse de nojo. Em outro episodio, o cara tira os sapatos no avião e immediatamente caem as mascaras de oxygenio. Em outro episodio, o cara quer ensignar o cachorro a trazer seus chinellos (que são motivo de reclamação na casa: "Por incrivel que paresça, esse chinello consegue ser mais fedido que o pé delle!") e, p'ra que o cão apprenda, o cara fica de quattro, se abbaixa e pega seu proprio sapato com a bocca, erguendo-o e mantendo-o seguro. Nesse momento alguem entra e pega o cara na posição compromettedora e com aquillo na bocca! É molle? O nome do protagonista é Al Bundy. Quero ser um mico de circo (ou um cachorro de familia americana) si o productor dessa sitcom não teve a intenção de provocar os podolatras!} (7733) Motte proposto por Luiz Roberto Guedes em enneasyllabo e madrigalmente glosado como decasyllabo. (7740) Allusivo à canção "Done too soon", de Neil Diamond, e ao fallescimento do humorista Jorge Loredo, creador do personagem Zé Bonitinho. (7805) Allusão ao filme "Hoje eu quero voltar sozinho", sobre homosexualidade e cegueira na adolescencia, cujas leves scenas de bullying são aqui linkadas. https://www.youtube.com/watch?v=bVjX8yzoKvw


278 GLAUCO MATTOSO (7806) Revisitando os sonnettos "Mortal" e "Da fama e da maldicção". (7807) Revisitando os sonnettos "Do cha sem ceremonia" e "Do cha de cadeira". (7808) Revisitando os sonnettos "Do corpo discente" e "Do corpo docente". (7809) Revisitando os sonnettos "Do pezão e do tesão" e "Um todo harmonico". (7810) Revisitando os sonnettos "Para a anatomia da bunda" e "A praga da desnadegada". (7811) Revisitando os sonnettos "Para uma receita de poema" e "Experimental". (7812) Revisitando os sonnettos "Para um deficiente no Oriente", "Para a tradição hindu", "Si alguem sonda, ha quem responda (VIII)" e "Das aptidões humanas". (7814) Poema que abre o livro ININTELLECTUAES, publicado em edição impressa pelo sello Lumme. (7815) Revisitando os sonnettos "Para um azar elementar" e "Para um enunciado admanteigado", publicados no livro A LEI DE MURPHY SEGUNDO GM.


MADRIGAES TRAGICOMICOS 279 (7816) Revisitando os sonnettos "Para uma cobra que não mordeu" e "Para a mystica murphologica", publicados no livro A LEI DE MURPHY SEGUNDO GM. (7817) Revisitando os sonnettos "Para o dia do juizo" e "Sobre uma admeaça apocalyptica", publicados originalmente nos livros MALCREADOS RECREADOS (traduzindo Giuseppe Belli) e CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO (alludindo à canção "E o mundo não se accabou" de Assis Valente), respectivamente.



[INDICE DOS MADRIGAES E DISSONNETTOS] MADRIGAL INTERFORMAL [7668]........................ 9 MADRIGAL PRETEXTUAL [7669]........................ 10 MADRIGAL SEPULCHRAL [7670] (*).................... 11 PERPLEXO REFLEXO [5951]........................... 12 MADRIGAL PRESIDENCIAL [7671]...................... 13 MADRIGAL REGIMENTAL [7672] (*).................... 14 PAPEL PRINCIPAL [5952]............................ 15 MADRIGAL COLLOQUIAL [7673] (*).................... 16 HILARIO PLENARIO [5953]........................... 17 MADRIGAL MEDICINAL [7674] (*)..................... 18 PENSANDO E DESCOMPENSANDO [5954].................. 19 MADRIGAL PLUVIAL [7675] (*)....................... 20 PLUVIAL TRIVIAL [5955]............................ 21 MADRIGAL ANIMAL [7676]............................ 22 MADRIGAL SENTIMENTAL [7677] (*)................... 23 MISCELLANEA SENTIMENTAL [5956].................... 24 MADRIGAL FECAL [7678] (*)......................... 25 POLITI/COPRO/TESTO [5957]......................... 26 MADRIGAL MEDIEVAL [7679].......................... 27 MADRIGAL IMPERIAL [7680] (*)...................... 28 MISCELLANEA MONARCHISTA [5958].................... 29 MADRIGAL ORAL [7681] (*).......................... 30 MADRIGAL PREPUCIAL [7682] (*)..................... 31 MADRIGAL SIDERAL [7683] (*)....................... 32 MISCELLANEA INTERGALACTICA [5959]................. 33


MADRIGAL FLORAL [7684] (*)........................ MISCELLANEA FLORAL [5960]......................... MADRIGAL PATRIARCHAL [7685] (*)................... VELHO PROBLEMA (II) [5961]........................ MADRIGAL VISUAL [7686] (*)........................ MISCELLANEA SENSORIAL [5962]...................... MADRIGAL VIRTUAL [7687] (*)....................... MISCELLANEA IMMIDIATICA [5963].................... MADRIGAL CAMBIAL [7688]........................... MADRIGAL ZODIACAL [7689] (*)...................... MISCELLANEA ASTROLOGICA [5964].................... MADRIGAL MARITAL [7690] (*)....................... MEME DA SOGRA [5965].............................. MADRIGAL TROPICAL [7691] (*)...................... MISCELLANEA TROPICAL [5966]....................... MADRIGAL BAPTISMAL [7692] (*)..................... MISCELLANEA BAPTISMAL [5967]...................... MADRIGAL DIGITAL [7693] (*)....................... ESCRIPTA RESTRICTA [5968]......................... MADRIGAL ADDICIONAL [7694] (*).................... MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969].................... MADRIGAL PERENNAL [7695] (*)...................... MADRIGAL PHILOSOPHAL [7696] (*)................... CHAVE DE CADEIA [5970]............................ MADRIGAL USUAL [7697] (*)......................... MISCELLANEA PHILOLOGICA [5971].................... MADRIGAL ELEITORAL [7698] (*)..................... MISCELLANEA DEMOCRATICA [5972]....................

34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61


MADRIGAL ACCIDENTAL [7699]........................ MADRIGAL PHENOMENAL [7700] (*).................... MISCELLANEA AMBIENTAL [5973]...................... MADRIGAL HABITUAL [7701] (*)...................... MISCELLANEA DA HAPPY HOUR [5974].................. MADRIGAL OPERACIONAL [7702] (*)................... MEME DO PAU DOADO [5975].......................... MADRIGAL GOVERNAMENTAL [7703] (*)................. MISCELLANEA DA DEMOCRADURA [5976]................. MADRIGAL MATINAL [7704] (*)....................... MADRIGAL JUDICIAL [7705] (*)...................... MISCELLANEA JUDICIAL [5978]....................... MADRIGAL SOCIAL [7706] (*)........................ MISCELLANEA MORALISTA [5979]...................... MADRIGAL LEGAL [7707] (*)......................... MISCELLANEA DA RELATIVIDADE [5980]................ MADRIGAL NUPCIAL [7708] (*)....................... MEME DO ADULTERIO [5981].......................... MADRIGAL QUINCTESSENCIAL [7709] (*)............... MISCELLANEA FELLACIONAL [5982].................... MADRIGAL THEATRAL [7710].......................... MADRIGAL PRINCIPAL [7711]......................... MADRIGAL VERBIVOCOVISUAL [7712] (*)............... MISCELLANEA VERBIVOCOVISUAL [5983]................ MADRIGAL TEXTUAL [7713] (*)....................... MISCELLANEA FICCIONISTICA [5984].................. MADRIGAL ANAL [7714] (*).......................... MISCELLANEA COPROPHILICA [5985]...................

62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90


MADRIGAL INTENCIONAL [7715]....................... 91 MADRIGAL BUCCAL [7716] (*)........................ 93 MISCELLANEA BUCCAL [5986]......................... 94 MADRIGAL NASAL [7717] (*)......................... 95 MISCELLANEA CATARRHAL [5987]...................... 96 MADRIGAL IMMORTAL [7718] (*)...................... 97 MISCELLANEA THEOLOGICA [5989]..................... 98 MADRIGAL IMMORAL [7719] (*)....................... 99 MISCELLANEA BOATEIRA [5990]...................... 100 MADRIGAL PRISIONAL [7720] (*).................... 101 MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]................... 102 MADRIGAL PROVERBIAL [7721] (*)................... 103 MISCELLANEA CANINA [5992]........................ 104 MADRIGAL CATARRHAL [7722] (*).................... 105 MISCELLANEA GRIPPAL [5993]....................... 106 MADRIGAL CONJUGAL [7723] (*)..................... 107 MEME DO ASSOBIO [5994]........................... 108 MADRIGAL ESTOMACHAL [7724] (*)................... 109 MEME DA PEDREIRA [5995].......................... 110 MADRIGAL COLONIAL [7725] (*)..................... 111 MEME DA DESCONVERSA [5996]....................... 112 MADRIGAL MUSICAL [7726].......................... 113 MADRIGAL EXCEPCIONAL [7727] (*).................. 114 AL BUNDY QUE DESBUNDE! [5997].................... 115 MADRIGAL FUNCCIONAL [7728] (*)................... 116 JUSTIFICANDO OS MEIOS [5998]..................... 117 MADRIGAL HORMONAL [7729] (*)..................... 118 MISCELLANEA SOBREHUMANA [6001]................... 119


MADRIGAL UNIVERSAL [7730] (*).................... MISCELLANEA DA APPARENCIA [6002]................. MADRIGAL DIALECTAL [7731] (*).................... MISCELLANEA DO SEXO FRAGIL [6003]................ MADRIGAL RACIONAL [7732] (*)..................... MISCELLANEA DA IMPUNIDADE [6004]................. MADRIGAL MORTAL [7733]........................... MADRIGAL QUADRIENNAL [7734] (*).................. MISCELLANEA DA GASTANÇA [6005]................... MADRIGAL JOVIAL [7735] (*)....................... MEME DA RISADA [6006]............................ MADRIGAL LOCAL [7736] (*)........................ MISCELLANEA PROVINCIANA [6007]................... MADRIGAL ABNORMAL [7737] (*)..................... MEME DA NYMPHOMANIACA [6008]..................... MADRIGAL LITTERAL [7738] (*)..................... MEME DO VOCABULO CABULOSO [6009]................. MADRIGAL RESIDENCIAL [7739] (*).................. MISCELLANEA IRRESIDENTE [6010]................... MADRIGAL TEMPORAL [7740] (*)..................... MISCELLANEA DA PASSAGEM [6012]................... MADRIGAL CULTURAL [7741] (*)..................... TURBA DA DESURBANIDADE [6013].................... MADRIGAL NATURAL [7742] (*)...................... MEME DA MÃE DO PUNK [6014]....................... MADRIGAL EMOCIONAL [7743] (*).................... MEME DA MAMÃE [6015]............................. MADRIGAL SENSUAL [7744]..........................

120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147


MADRIGAL SENSACIONAL [7745] (*).................. MEME DA FILHARADA [6016]......................... MADRIGAL PASSIONAL [7746] (*).................... MISCELLANEA CARCERARIA [6017].................... MADRIGAL MENSTRUAL [7747] (*).................... MISCELLANEA REGULAR [6018]....................... MADRIGAL SENSORIAL [7748] (*).................... MADRIGAL MARGINAL [7749] (*)..................... MISCELLANEA OBSCENA [6019]....................... MADRIGAL IRRACIONAL [7750] (*)................... ARACHNOPHILIA (I) [6021]......................... MADRIGAL PAROCHIAL [7751] (*).................... ARACHNOPHILIA (II) [6023]........................ MADRIGAL VIRGINAL [7752] (*)..................... ARACHNOPHILIA (III) [6025]....................... MADRIGAL CELESTIAL [7753] (*).................... THEOLOGICAS CARAMINHOLAS [6024].................. MADRIGAL INFERNAL [7754] (*)..................... MISCELLANEA FESTIVA [6026]....................... MADRIGAL ESCULPTURAL [7755] (*).................. MISCELLANEA ZOOLOGICA [6027]..................... MADRIGAL GENIAL [7756] (*)....................... RECEITUARIO DO INVENTARIO [6028]................. MADRIGAL GENITAL [7757] (*)...................... MEME DA MENINA BEIÇUDA [6029].................... MADRIGAL TRADICIONAL [7758] (*).................. MEME DO JARGÃO [6030]............................ MADRIGAL ABYSSAL [7759] (*)......................

148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175


MISCELLANEA CIPHRADA [6031]...................... MADRIGAL CEREMONIAL [7760] (*)................... MISCELLANEA DA CEREMONIA [6032].................. MADRIGAL GRAMMATICAL [7761]...................... MADRIGAL COMMERCIAL [7762] (*)................... MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033].................. MADRIGAL CORRECCIONAL [7763] (*)................. MADRIGAL ASTRAL [7764] (*)....................... MISCELLANEA ACADEMICA [6034]..................... MADRIGAL DYSFUNCCIONAL [7765] (*)................ MISCELLANEA DYSFUNCCIONAL [6035]................. MADRIGAL SYNDICAL [7766]......................... MADRIGAL INTESTINAL [7767] (*)................... MISCELLANEA DA CONSTIPADA [6036]................. MADRIGAL PROFISSIONAL [7768] (*)................. MISCELLANEA EUPHEMINISTA [6037].................. MADRIGAL PRIMORDIAL [7769] (*)................... MISCELLANEA ROCKEIRA [6038]...................... MADRIGAL GRUPPAL [7770] (*)...................... MISCELLANEA DA DESCIDADANIA [6039]............... MADRIGAL LINGUOPEDAL [7771] (*).................. MEME DO BEBÊ [6040].............................. MADRIGAL PROPORCIONAL [7772] (*)................. MISCELLANEA CONSENTANEA [6041]................... MADRIGAL DOMINICAL [7773] (*).................... MISCELLANEA DA CHRONICA ESPORTIVA [6042]......... MADRIGAL SERVIÇAL [7774] (*)..................... MISCELLANEA DA FELLATIVIDADE [6043]..............

176 177 178 179 180 181 182 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204


MADRIGAL PREFERENCIAL [7775] (*)................. MISCELLANEA DAS PARADAS [6044]................... MADRIGAL DESVIRTUAL [7776] (*)................... MEME DO PANCADÃO GRATUITO [6045]................. MADRIGAL CORPORAL [7777] (*)..................... MEME DO DESASSEIO [6046]......................... MADRIGAL INTRABUCCAL [7778] (*).................. MISCELLANEA VENEREA [6047]....................... MADRIGAL PROVIDENCIAL [7779] (*)................. MEME DA BICHA MACONHEIRA [6048].................. MADRIGAL ESSENCIAL [7780] (*).................... MISCELLANEA DA INFORMATICA [6049]................ MADRIGAL NACIONAL [7781]......................... MADRIGAL DESPROPOSITAL [7782] (*)................ MEME DO CEGUINHO PUTO [6050]..................... MADRIGAL CONVENCIONAL [7783]..................... MADRIGAL INTERNACIONAL [7784].................... MADRIGAL ESPACIAL [7785]......................... MADRIGAL ESPECIAL [7786]......................... MADRIGAL FINAL [7787]............................ MADRIGAL BIFOCAL [7788].......................... MADRIGAL AMBIENTAL [7789]........................ MADRIGAL PLURAL [7790]........................... MADRIGAL MENTAL [7791]........................... MADRIGAL SUPRACONSENSUAL [7792].................. MADRIGAL INNACIONAL [7793]....................... MADRIGAL EXTRACONJUGAL [7794].................... MADRIGAL KHORAL [7795]...........................

205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 232 233 235


MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL MADRIGAL RASPA DO

FRUGAL [7796]........................... ABUSUAL [7797].......................... CARICATURAL [7798]...................... PROCESSUAL [7799]....................... FUNDAMENTAL [7800]...................... COLLEGIAL [7801]........................ LABIAL [7802]........................... TRIUMPHAL [7803]........................ AUDIOVISUAL [7804]...................... AUCTORAL [7805]......................... FATAL [7806] (*)........................ DESCEREMONIAL [7807] (*)................ PROFESSORAL [7808] (*).................. DESPROPORCIONAL [7809] (*).............. NADEGAL [7810] (*)...................... EXPERIMENTAL [7811] (*)................. VOCACIONAL [7812] (*)................... CONJUNCTURAL [7813]..................... ININTELLECTUAL [7814]................... SUPRALEGAL [7815] (*)................... IMPROVIDENCIAL [7816] (*)............... JURISDICCIONAL [7817] (*)............... TACHO [6051]............................

236 237 238 240 242 243 244 245 247 248 249 251 253 255 257 259 261 264 265 267 269 271 273


Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR


DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO INGOVERNABILIDADE PEROLA DESVIADA O POETA PORNOSIANO BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS PRANTO EM PRETO E BRANCO GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS


São Paulo Casa de Ferreiro 2022




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.