

MINGAU DAS ALMAS
Glauco Mattoso
MINGAU DAS ALMAS
Casa de Ferreiro
São Paulo
Mingau das almas
© Glauco Mattoso, 2025
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
Fotografia: Akira Nishimura
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
MINGAU DAS ALMAS / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2025
160 p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
Assim como no livro SUJOS, duma perfeita trilogia de selectas chamada FEIOS, SUJOS e MALVADOS, incluo, no presente voluminho, poemas que hygiene não contemplam, ou seja, alem das fezes, que são thema de varios outros livros, aqui tracto de innumeras sujeiras que ninguem assume practicar ou tolerar, quer seja do seu proprio corpo, ou mesmo de toda alheia sorte. Somos porcos, em summa, ha que convir. Não é, leitor?
DISSONNETTO NOJENTO (1) [0010]
Tem gente que censura meu fetiche: lamber pé masculino ou seu calçado. Mas, vendo em que é que o povo é mais chegado, não posso permittir que alguem me piche.
Onde é que ja se viu ter sanduiche de fructa, ou vegetal mal temperado? E pizza de banana, cha gelado? Fructos do mar? Rabada? Giló? Vixe!
Café sem addoçar? Pheijão sem sal? Ran? Cobra? Peixe cru? Lesma gigante? Lacraia torradinha, bem crocante? Farofa de uva passa? Acham normal?
Quem gosta disso tudo não se expante, siquer ouse nas redes fallar mal da minha preferencia sexual: lamber uns pés, o pó do seu pisante.
DISSONNETTO NOJENTO (2) [0016]
Si o pão dormido vira uma borracha, si o leite está repleto de bichinho, filé de bacalhau só tem espinho e surge uma perninha na bollacha;
Si um cheiro bom de açougue ninguem acha, si é mais fedido o lixo do vizinho, vinagre é o que devia ser bom vinho, patê de caviar paresce graxa;
Si a mayonnaise tem sabor suspeito, si o molho prompto é preto, e não vermelho, si cha tem ao cocô fedor parelho, si vem nervo demais no pratto feito;
Si até sopa de latta tem pentelho, si fede, em hospitaes, a mijo o leito, por que ninguem respeita meu direito de degustar chulé num vão de artelho?
DISSONNETTO EMPIPOCADO [0578]
Tal como um melanoma numa sarda enxerga o adolescente sua espinha no rosto, e faz daquella comezinha, banal intumescencia o que mais arda.
Olhar-se num espelho é o que accovarda o joven, que entra em panico e definha: Ha puz capaz, na bolha amarellinha, de encher uma bisnaga de mostarda!
Allergico, si a pelle lhe empipoca appenas com a idéa de que exprema seu tumido furunculo, elle toca até punheta a menos e, si a gemma/
/dum ovo fricto é molle, lhe provoca engulhos, ja que lembra um apostema! Mais tarde, vira punk e, em rock, enfoca feridas purulentas como thema.
DISSONNETTO BRONZEADO [0599]
Contrario da vaidade, não ha nada melhor que o natural. Cabello cae. Os dentes escurescem. Quem é pae um dia vira avô, baixando a espada.
Cerume se accumula. A amarellada remella pende. O cravo não se extrae. Da pelle do nariz tanto oleo sae que dá p’ra temperar uma salada.
Melleca nas narinas se pendura. Espinhas se appinhando vão nas costas. Panellas enche a banha da cinctura. Na scena cannibal tu não appostas?
Tens nojo? Pensa nesta gostosura: As nadegas dariam tantas postas que as indias cansariam da frictura, deixando assar no sol, ao qual tu tostas.
DISSONNETTO CAMUFLADO [0644]
A pelle, em erupções, murcha e macera. Furunculos pullulam pela cara. Ao grão de arroz um cravo se compara e, quando salta, deixa uma cratera.
As rugas se entrecruzam. Só supera taes dunas o relevo do Sahara. O espelho mostra aquillo em que repara na rua o povo: a cutis que ja era!
Mulheres, homens, jovens, velhos, nada importa, si os nivela o tempo e o clima. Com lupa quem se observa desanima. Illudem-nos um creme, uma pommada.
A decomposição, que se approxima e cedo ou tarde chega, dá risada da gente, por mantermos maquillada a casca que a carniça tem por cyma.
DISSONNETTO DA EMOÇÃO BARATA [0744]
Resiste à bomba atomica, a damnada, e vive no ambiente mais immundo. De costas é nojenta, mas de fundo é mais nojenta ainda, excarranchada.
Barattas comestiveis, não ha nada mais vomico, asqueroso e nauseabundo. Mais comico, portanto, e mais jocundo se torna vel-as, vivas, na dentada/
/dum cabra corajoso que, eu constato, jamais uma comeu à luz de vellas. Durante uma gymkana, o candidato ao premio engolir tenta a maior dellas/
/que, lepida, experneia sobre o pratto. Segura entre dois dedos, tolas telas exhibem-na aos naquinhos, no barato jantar que inspira engulho e cuspidellas.
DISSONNETTO DOS PESOS E MEDIDAS [0821]
Disseram-me que, à tarde, na TV exhibem-se programmas de mau gosto: nojento rango o povo está disposto a ver sendo comido por cachê.
Minhocas vivas? Lesmas? Qual o que! O nojo é mais embaixo: sobre o rosto do bravo voluntario vê-se exposto um vomito de carne “fesandê”.
Só isso? Não! Num pratto de spaghetti mixturam vermes molles e moventes e uns ovos de esturjão, p’ra que complete. Bollaram até coisas bem mais quentes…
E grandes emoções tudo promette: Barattas alguem trinca entre dois dentes e chupa a “mayonnaise”! E ‘inda ha quem vete as taras por chulé como “doentes”!
DISSONNETTO SUBSTANCIAL [0861]
No corpo tanta coisa é fabricada que quasi toda a industria alli se arrolla: o ouvido produz cera; o nariz, colla; a pelle produz oleo; o olho, pomada.
O couro cabelludo é uma advançada industria de sabão; de aroma, a sola; prepucio é queijaria; até a cachola se presta a crear coisa recyclada.
Guardando tudo em potes, dentro em breve teremos nosso proprio supprimento e comptas no commercio ninguem deve. Embora o rendimento seja lento…
Não ha risco de quebra nem de greve si as glandulas trabalham cem por cento. Risada dou si escuto que é mais leve um cheiro de chulé que de excremento…
DISSONNETTO VISCERAL [0972]
Mehudos causam nojo, e quem engole taes coisas raciocina: “Dá na mesma comer minhoca, arroz, pheijão ou lesma! Então tudo não é molhado e molle?”
Prefiro uma lasanha, um ravioli, mas gosto é indiscutivel! Si torresmo não come quem tem medo do tenesmo, commigo no intestino elle nem bolle!
Moelas ou miolos, polvo ou lula são prattos ideaes a quem não gosta de mastigar e rapido os engula! Alguem que vomitar irei apposta?
Melhor é si de thema você pulla! A mim ja basta o cheiro dessa bosta p’ra que um engulho corte toda a gula e minha pança sinta-se indisposta!
DISSONNETTO MELLEQUENTO [1004]
Hesito, titubeio, mas, emfim, depois de mil sonnettos, reconhesço: ainda não fallei, desde o começo, daquillo que mais nojo causa em mim.
Melleca do nariz: isso é o que vim em verso protelando. É mais travesso, porem, o impulso morbido, e obedesço sem vomito ou remorso. Antes assim!
Que fallem da melleca ha quem espere? Não, thema tão podrão ninguem estuda! O monco exverdeado, quando adhere ao dedo, é repulsivo e só desgruda/
/si alguma força liquida interfere. Na falta da torneira que me accuda, que a nausea das catotas eu tolere! Provei: é salgadinha a mais grahuda.
DISSONNETTO DAS ESPECIES REPULSIVAS [1171]
Diz tanto a moça simples quanto a culta: “Ter medo de baratta não é bem o caso: o que, de facto, a gente tem é nojo!” E nas mulheres isso advulta.
Quer numa menininha ou numa adulta, barattas causam asco, ao que ninguem direito tem de oppor qualquer porem: respondo o mesmo quando alguem consulta.
Si suja nos paresce quando vista de cyma, ella virada é mais nojenta ainda, mesmo ao frio scientista, que em sua mão sentil-a não aguenta.
Não, ella seu trajecto não despista! As pernas se mexendo, quando tenta livrar-se do pisão, provocam mixta noção: de algo que foge e que affugenta.
DISSONNETTO DAS COISAS VERGONHOSAS [1174]
Me lembro: o Henry Kissinger, flagrado tirando do nariz uma catota, na photo a leva à bocca, e a gente nota que o gajo delicia-se um boccado!
Tem gosto para tudo: quem chocado dirá que se sentiu vendo quem vota num sujo coronel? E um idiota acceita seu curral: “Delle eu sou gado!”
Dos males, o menor: antes a gente comer o proprio monco que na cara levar uma excarrada e estar contente! Verá quem taes hypotheses compara:
Das duas, qual será mais repellente? E quando ouço o eleitor que se declara um simples “boi” que serve ao presidente, mais nojo tenho que à mais suja tara!
DISSONNETTO DA GAFFE PRESIDENCIAL [1226]
Não ha como exquescer aquella vez: um certo presidente americano esteve no Japão e pelo cano entrou. Que papellão o cara fez!
Reserva-lhe o governo japonez a mesa num banquete e, por enganno, alguem lhe serve o fructo do oceano que nauseas causa ao nobre mais cortez.
O vomito, de um jacto, se projecta por sobre prattos, calices, talheres, e estraga o almosso à casta mais selecta daquelles generaes e chancelleres.
Das scenas coloridas se interpreta que o nojo é forte em homens e mulheres e, embora a reacção seja discreta, ninguem diz: “Come mais! Que tens? Não queres?”
DISSONNETTO DO DISCURSO INTERROMPIDO [1270]
Platéa attenta. Frente ao microphone está o conferencista. Elle arremacta aquella que, talvez, foi a mais chata palestra que um auctor nos proporcione.
Julgando não haver quem o desthrone nem mestre charismatico que o batta, o “mala” conhesceu, naquella data, o alcance da palavra de Cambronne.
A torta, que um penetra lhe advizinha da cara, por recheio tem um grosso purê, feito de fezes de gallinha. Descendo pela bocca, até o pescoço,/
/o creme fedorento faz cosquinha. Sem tempo de exquivar-se, aquelle poço de orgulho e de vaidade escuta a minha risada, em meio a gritos e alvoroço!
DISSONNETTO DO OUVIDO ENTUPIDO [1298]
Cerume é como chamam essa espessa materia amarellenta que convido vocês a procurar dentro do ouvido e ver com que é que a coisa se paresça:
Às vezes dura, escura, caso cresça seu solido volume, não duvido que vire rolha e tenha até impedido alguem de ouvir dum lado da cabeça!
Tem cheiro de cocô! Não é o que cheira, porem, no amargo creme, o que me intriga, e sim o soffrimento que me instiga, por causa da phrenetica coceira!
E nem ha cottonette que consiga me dar algum allivio: só, certeira, aquella prompta, practica maneira: do dedo duma figa a adjuda amiga!
DISSONNETTO DA ESPINHA MADURINHA [1300]
Espinhas pelas costas tenho à bessa de quando em quando, ou quando, talvez, coma torresmo em demasia: meu glaucoma não basta, ‘inda preciso aguentar essa!
Ainda que ao bondoso amigo eu peça que à menorzinha dellas drene o creme, ninguem dum tal calombo o puz expreme e tenho que alcançar, eu mesmo, a peça!
A poncta amarellinha se destacca no centro do vulcão advermelhado que está duma erupção approximado, ja prestes a lançar, num jacto, a caca!
Prensada entre dois dedos (Ai, coitado de mim!), expalha a gosma, que da vacca paresce a grossa natta e que é, na faca, manteiga a quem olhar, desadvisado!
DISSONNETTO DO PRATTO PRETO [1439]
Exsistem os carnivoros, e até quem coma a propria especie: o cannibal. Tambem como “anthropophago” alguem é chamado, mais preciso, por signal.
E quem só come insecto? De ralé alguns o chamariam, mas o tal subjeito é um “entomophago”! Filé de abelha ou de bezouro lhe é normal.
Mas… Ah! Tambem aranhas elle come! Contornos culturaes a questão ganha! Bundudas e macias, dão seu nome ao pratto que se chama “lasaranha”!
Baratta até dispensa quem proval-o! Cultura singular não vi tamanha! Ainda não provei, porem estallo a lingua ante iguaria tão extranha!
DISSONNETTO DO MIOLO MOLLE [1467]
Balcão da lanchonette. Em pleno pappo, se sentam dois bancarios. Do outro lado, almossa um punk, e suja guardanappo attraz de guardanappo, lambuzado.
Os dois o encaram como a quem é excappo directo da prisão: craneo raspado, na testa um encardido esparadrappo, rasgados jeans, cothurno detonado.
O punk, attento aos dois, os desaffia: sorri, depois mastiga uma fatia de pão, depois “gumita” a massa branca, fingindo uma feição alegre e franca.
Appara na colher, de novo engole e torna a vomitar a massa molle, até que a dupla saia e perca a “panca”. De novo o punk, então, a cara tranca.
DISSONNETTO DA REDONDILHA REDUNDANTE [1571]
Da nojeira e da melleca eu jamais me desvencilho. Mas fugir posso do deca e sujar o sonnettilho.
De quem mija e quem defeca a fallar sempre me pilho. Mas a fonte às vezes secca, perde a estrella o proprio brilho.
Mas por que não variar?
Por que não obrar num verso mais curtinho e num diverso molde estrophico cagar?
Ser eu posso mais vulgar. À sujeira não me furto: tambem, pois, farei do curto sonnettilho seu logar.
DISSONNETTO DAS ENTRANHAS EXTRANHAS [1574]
Quem tem nojo de mehudo e não pode ver moela nem buchada, a ver tem tudo com meu nó bem na goela.
Dobradinha é como aquella coisa branca que um estudo anatomico revela no interior dum cabeçudo.
Pode um thema assim ser arte? Tripas? Visceras? Que nada! Eu prefiro ter, de cada animal a nobre parte!
Basta aquillo que me farte! Só não causam-me asco ou damno secreções do corpo humano que, luxento, outrem descharte.
DISSONNETTO DO CHEIRO DO RALLO [1576]
Mutarelli bem relata sobre o cheiro que ha num rallo que, si não supera, empatta com aquelle do qual fallo.
Me refiro ao duma latta cujo lixo, ao mencional-o, ja me vem aquella chata sensação de agua em gargalo.
Até tenho pesadellos! Podres restos de comida fedem mais que a ennegrescida graxa feita de cabellos?
Não se excedem os meus zelos! Entre um rallo e uma lixeira, nenhum fede mais, nem cheira, que meus versos, ao relel-os.
DISSONNETTO DO APPETITE PERDIDO [1577]
Si comemos a comida que exfriou no nosso pratto e ha chulé que nos convida a cheirar nosso sapato…
Por que achar que nos aggrida um alheio cheiro? Chato considero quem duvida que eu evito tal contacto.
São taes nojos naturaes?
E por que do alheio resto temos nojo manifesto, si os dois prattos são eguaes?
Entender não vou jamais. Engraçado, né? Si alguem no meu pratto a colher vem pôr, direi: “Não como mais!”
DISSONNETTO DO CORPO TRINCHADO [1578]
Foi o medico treinado a cadaveres olhar com o maximo cuidado e seu nojo controlar.
Si o cascão do calcanhar é da cor do coagulado sangue que ha no pollegar no accidente mutilado…
Mais complica a porcaria:
Si o miolo para fora ja sahiu, e deteriora o que o bucho digeria…
“Não tem crise!”, eu fallaria. Sem problema! O necroterio o doutor jamais transfere-o para o bife que apprecia.
DISSONNETTO DA DECOMPOSIÇÃO [1579]
Urubu não tem por que sentir nojo da carniça. Bicho morto, mal o vê, e esse passaro se attiça.
Tal exemplo tem você quando seu olhar cobiça uma carne “fesandê” que ao abutre faz justiça.
É questão, porem, de gosto.
O gastronomo, indagado, diz que está appenas “passado” o phaisão ja decomposto.
Ha quem fique no seu posto? Come aquillo com deleite, mas razão a quem suspeite dá, ao franzir de nojo o rosto.
DISSONNETTO DOS POMBOS CARNICEIROS [1617]
Os pombos proliferam pela rua, infestam as calçadas! Sua bosta comprova, pelo cheiro, como sua sympathica apparencia é só supposta.
Velhinhas dão-lhes pão, mas na perua do açougue ou do dogueiro está a resposta cabal sobre o que comem: carne crua, salsicha ja vencida, farta posta.
Adeptos dessa putrida receita, alguns ficam tão gordos, que mal podem voar, como um lourinho ao qual se podem as asas, mas o povo nem suspeita.
Tornando uma calçada mais estreita, um dia, como os passaros da fita, tantos serão que, ja ninguem evita, em volta ficarão à nossa expreita.
DISSONNETTO DOS PALADARES EXOTICOS [1692]
Minhocas comestiveis? O Monteiro Lobato diz que aquella carne é como qualquer outra… Talvez… Mas vou, ligeiro, dizendo que minhoca… Ah, não! Não como!
Ouvi ja commentar que, no primeiro dos mundos, fabricaram novo pomo, mixtura de coqueiro e abacateiro, com gosto de banana e dando em gommo.
Quadradas, no Japão as melancias ficaram sem caroço! Mais macias, sabor teem de geléa de morango! Depois alguem reclama si eu me zango!
Vocês querem saber? Sou antiquado! Não venham com taes coisas pro meu lado! Presuncto sem melão ‘inda é meu rango, alem dumas coxinhas… só de frango!
DISSONNETTO DO ACCESSO DE TOSSE [1707]
Durante a refeição, accommettida de tosse foi a thia. Alguem lhe batte nas costas, dão-lhe um gole de bebida, mas nada aquelle accesso bem combatte.
Do pratto della expalha-se a comida por toda a mesa! O molho de tomate expirra nas pessoas! À tossida mais forte, um coppo entorna, em arremacte.
Retiram-na da mesa. Àquella altura, ninguem mais saboreia uma frictura, a sopa, o maccarrão: trava a garganta. Da mesa quem, então, não se levanta?
Ja quasi vomitando, a thia acceita um cha, que alguem receita, e ja se deita, mais calma: está dormindo como sancta. Si tudo reprisar, ninguem se expanta.
DISSONNETTO PARA O QUITUTE QUE ILLUDE [1724]
Indifferente às moscas que, do tecto ao piso, voejavam pelo bar, o punk acha o petisco predilecto sobrando, a lhe attiçar o paladar.
Num pratto, até escondido e bem discreto, advista um grosso kibbe de agua dar na bocca! O punk encosta e vae directo ao poncto: “Aquelle kibbe! Vou pappar!”
Melhor resposta não houve quem desse: {Que kibbe, amigo? Aquillo é uma coxinha!}, explica o balconista: é que se appinha por cyma tanta mosca, que paresce…
Pois é, tambem com elle isso accontesce… O punk, então, desiste do pedido. Se gaba de ser podre, mas tem tido azia ultimamente… Só aggradesce.
DISSONNETTO PARA UM PETISCO ARISCO [1774]
Está na lanchonette a gorda, impada em seus collares, brincos, roupa cara, saboreando aquella enorme empada que a casa em toda parte annunciara.
“Nossa especialidade!” Custa cada, accyma da azeitona, olhos da cara. Appenas ricas damas a elevada quantia gastam rindo… e olhando para…
Mal pode accreditar no que está vendo: no meio do recheio, aquelle horrendo pedaço de baratta, a perna, a antenna! Hem, gente? Que nojeira! Não! Que scena!
Vomita sobre a mesa a gorda: chama de todos a attenção! Depois reclama que a prova se perdeu por ser pequena. Ninguem, por causa disso, se envenena.
DISSONNETTO PARA UMA CARNE REJEITADA [2001]
Que nojo! Comer carne de cabrito é coisa a que jamais eu me subjeito! No livro de receitas vem descripto sem pejo o que motiva meu conceito:
“Da perna tire o nervo”, pois, repito, aquillo fede paca! Qual proveito se tira dum tal pratto? Acha bonito alguem “tirar a glandula”? É suspeito!
“De molho no vinagre, até que saia a gosma”… essa nojeira não me caia na frente, que eu não como, nem a pau! Cuspi só de pensar nesse mingau!
Ah, va lamber sabão! Alguem disposto está a da podridão provar o gosto, si é do cabrito o cheiro assim tão mau? Jamais eu me rebaixo nesse grau!
DISSONNETTO
PARA UM POLVO EXMAGADO [2002]
Quem vae comer sardinha ou bacalhau, si pode comer polvo? Na receita paresce muito simples: nada mau é o gosto a quem com isso se deleita.
“Battendo fortemente com um pau” se limpam as ventosas! Approveita e faz patê quem batte: basta o grau subir de violencia, e a pasta é feita.
O troço é ja nojento por si só, e alguem ainda espera que o gogó da gente engula a gosma sem enjoo? Depois alguem reclama si eu caçoo!
Molluscos e crustaceos são comida de bicho, não de gente! A quem duvida, que o pau lhe exmague o braço que exmagou-o! Ampute e aos bichos jogue la no zoo!
DISSONNETTO PARA UM PRATTO PREMIADO [2204]
Um gajo diz: “A coisa que eu odeio é achar algum espinho no filé de peixe!” Diz um outro: {Si, no meio da carne acho algum nervo, eu brigo, até!}
Não é que a lei de Murphy ja lhes veiu mostrar quem é que manda? No café de quem não quer assucar, um sorteio fatal joga um tablette a mais! Pois é!
Não ha quem, desse jeito, um prazer goze! No almosso, acharam todos bom o bife, excepto quem quiz carne com mais griffe, em cujo pratto surge a aponevrose!
Não ha quem de gastronomo, assim, pose! No pratto do “espinhophobo” cae tudo que os outros nem notaram! Bem ponctudo, um grande no gogó lhe para! É dose!
DISSONNETTO PARA UM DEDO NA GARGANTA [2327]
O vomito de comico não tem nenhum detalhe: a scena, que bonita não é, nem engraçada, a gente evita olhar, tal a repulsa que nos vem!
Conter um forte engulho pode alguem? Não pode! A gosma branca regurgita quem não resiste às nauseas, ou “gumita”, que é como diz o povo, e muito bem.
Convem tomar cuidado com o pratto! O verbo “gumitar” melhor expressa a massa azeda e molle que, de um jacto, lançamos caso o estomago nos peça.
De gente, de cachorro, e até de gatto, é tudo egual: o horror que temos dessa nojeira em outros versos eu relato. Cuidado ja tomei com a travessa!
DISSONNETTO PARA DOIS DEDOS NA GARGANTA [2328]
Peor coisa não ha que achar aquella nojenta cartilagem, ou gordura sebosa e malcheirosa, si lhe jura o chefe que era bife de panella.
“A carne é de primeira!” -- o mattuschella garante, mas, na lingua, ja a textura daquella aponevrose grossa e dura provoca a irreversivel cuspidella.
Cuspir não é, de facto, um gentil acto. Quem cospe não controla mais seu asco: succedem-se as cuspidas sobre o pratto, até que saia o resto do churrasco.
No pique, então, do vomito, desapto a transformar o pratto em vaso, e lasco de volta nelle a sola do sapato que, sabe-se la, veiu de que casco…
DISSONNETTO PARA TREZ DEDOS NA GARGANTA [2329]
Pensei que elle tossia. Mas não era nenhuma grippe: a tosse que eu escuto é vomito! O vizinho é um typo bruto e, quando passa mal, se desespera.
Mal sente algum enjoo, elle exaggera nos berros e gemidos. Fica puto si a dor não passa logo e, muito astuto que pensa ser, resmunga que nem fera.
Que pessima, que sordida figura! O dedo na garganta o besta mette e põe-se a vomitar. Acha que a cura virá si “devolver” todo o spaghetti.
Curvado na privada, elle procura cuspir tudo la dentro, nem que ejecte respingos pela propria catadura, alem de salpiccar toda a retrete.
DISSONNETTO PARA QUATTRO DEDOS NA GARGANTA [2330]
Mulher, quando vomita, é coisa feia demais para se olhar! Si na bebida passou da dose um pouco, ja duvida até que sobreviva, e titubeia.
“Me accuda! Eu vou morrer!” A pia cheia de vomito deixou, sem que decida si senta ou si levanta da encardida privada, cujo cheiro ja empesteia.
Que pessima, que sordida conducta! Ninguem se compromette a accompanhal-a até o prompto-soccorro? Ella relucta, dizendo que “Isso passa! Eu vou p’ra salla!”
Não tarda, no sofá a filha da puta vomita novamente, e ainda falla que aguenta até cachaça com cicuta! Aguenta quem, sem alça, aquella mala?
DISSONNETTO PARA UM PAU DE COLHER [2503]
Em vez de usar um grampo de cabello, um lapis, ou de phosphoro um palito, inventa o japonez o mais bonito e practico instrumento p’ra fazel-o.
Fazer o que? Coçar o ouvido! Pelo extremo mais espesso, tem o dicto pauzinho a propriedade de, no rito coçante, deslocar cerume ou pello.
Porem, por outro extremo, o pau tem como que o formato de torta colherinha que extrae a cera, e com a qual a como. Tem cor marron ou amarella a minha/
/cremosa ou secca cera, o amargo pomo que engulo, ao me vingar da coceirinha. À cor da cera, claro, sempre eu sommo aquelle fedor, uma atroz morrinha.
DISSONNETTO PARA UM FARELLO CAPILLAR [2507]
Me conta um velho amigo: “Antigamente, a caspa era uma escama muito fina e leve. Mas você nem imagina: virou grão de crystal, vista na lente!
Agora, quando passo escova ou pente no couro cabelludo, a minha signa é ver aquella areia crystallina cahindo que nem chuva! É surprehendente!”
Será coisa da edade? Eu, que nem tenho cabello muito basto, tambem cato uns granulos. Scismando até ja venho. Depois que no cabello dou um tracto/
/lavando com xampu, logo o desgrenho de novo, ao me coçar, e um grão constato! E coço! Como coço! Todo o empenho colloco num affan nojento e chato!
DISSONNETTO SOBRE O CERUME E MEU COSTUME [3006]
Com seu conhescimento millennar, o japa ja inventara a ferramenta mais certa para o ouvido que attormenta a gente, quando a cera accumular.
Fallei do tal pauzinho, onde, em logar da poncta, uma conchinha se appresenta: coçando, elle recolhe essa nojenta massinha, tão amarga ao paladar!
Ninguem a quantidade disso mede, porem a cera à merda ja se somma. Cerume não se explica por que fede: será para que a gente não o coma?
Mas como, nem que o estomago me azede! A cera tem da merda cor e aroma, mas gera tal coceira, que me pede, raivoso, que eu a masque como gomma!
PRESENÇA DE ESPIRITO DE PORCO [3260]
A poncto de expirrar, como é que eu faço à mesa, ja durante a refeição, si estou de bocca cheia e falta espaço? Direi agora como as coisas são.
Será que necessito ser mais chulo? Dá tempo de engolir? E si não der? Si falta mastigar, cadê que engulo? Devolvo o naco? Cuspo na colher?
Preciso pensar rapido: a coceira do expirro não espera! Nem consigo tomar a decisão, e o que mastigo explode, salpiccando a mesa inteira!
Do lado, alguem até sae, dando um pullo. Mais outro expirro eu solto, sem qualquer adviso ou direcção, deixando fulo commigo quem à mesa ‘inda estiver.
É typico o scenario: tem pedaço de carne exparramado, e uma porção de rango até no tecto, egual bagaço! Às favas meus escrupulos ja vão!
CARNE DE TERCEIRA [3387]
Não comem mais miolo de pão, milho, que nada! As avezinhas da paz são os pombos, e a comer salsicha os pilho! Agora appenas nojo elles me dão!
Aquella fama lyrica ja era! Qual praga proliferam e, na exquina do bar ou da padoca, estão à espera da carne deschartada, que os fascina.
No lixo, um bando achou da pizza a caixa contendo ‘inda a linguiça calabreza num resto de fatia: é sobremesa que o abutre a belliscar não se rebaixa.
Calcule-se o que um delles recupera! Do frango as sobras, nacos da suina costella, pelles, ossos… Qual quirera, qual nada! Os pombos querem pappa fina!
Não tarda, a mamãe pomba leva ao filho, no ninho, os curativos dum lixão, o molle carnegão dum andarilho, as crostas da ferida dalgum cão!
PRAZERES
ESTRAGADOS [3467]
O andarilho, “um parasita”, como dizem, se approxima do boteco, onde se fricta torresminho. O cheiro anima.
Mal entrou, elle vomita, debruçando-se por cyma do balcão: muita birita, com certeza. Exquenta o clima.
“Desgraçado! Porco!”, xinga um freguez. “Maldicta pinga!”, xinga um outro, em alto brado. Todos mostram desaggrado.
Enxotado, sae no tranco, mas nos prattos deixa um branco creme azedo salpiccado. Sim, deixou o seu recado.
DECOMPOSTO DESGOSTO [3490]
Exquesceu na geladeira o sanduba de presuncto, e eu entendo que alguem queira, por aqui, mudar de assumpto.
Mas insisto: o odor ja beira a carniça dum defuncto! Sentem nojo de caveira recemmorta? É o que pergunto/ /aos freguezes deste bar. Não bastou refrigerar: o fedor é tumular, sepulchral, de necroterio!
Não, a scena não é bella! Mas, na proxima, elle appella para um pão com mortadella que, até podre, a gente ingere-o.
ABSCESSO EM EXCESSO [3516]
A cabeça sempre tonta tem o pobre adolescente: elle ja perdeu a compta das espinhas pela frente.
Mal desperta, se defronta com mais uma: de repente, vê no espelho aquella poncta amarella, e a sente quente.
Seu dedão virou cutello! Expremel-a elle, depressa, quer: precisa ver-se dessa excrescencia livre e bello!
Mas pinctou o parallelo: No café, seu nojo cresce! o ovo fricto, lhe paresce, tem egual creme amarello!
NARIZ NO AR [3721]
Quem do lixo sente o cheiro ou sentiu, ja, da carniça comprehende por inteiro como o olfacto a nausea attiça.
Agua podre num boeiro, a descarga quando enguiça ou o lodo do chiqueiro… Ao fedor qual faz justiça?
Mais sensiveis ao estrume são alguns, do que ao chorume: Só depende do nariz, que é, no caso, o meu juiz.
Mas, na certa, mais exhala, quando a merda outrem cagal-a, que o cocô que eu mesmo fiz, pois meus cheiros são subtis.
MANIA DE PERSEGUIÇÃO [3841]
Sempre batto na baratta com a poncta do sapato. Mas, por mais que eu numa batta, a damnada nunca macto.
Ella finge que se acchata e que muda de formato. Perde pernas, solta natta, mas resurge no meu pratto.
Cada vez que vejo alguma da cumbuca alli no bojo, a saliva até me espuma, quer de raiva, quer de nojo.
Quando crente estou que a expanto, ella, inteira em seu arrojo, do meu pratto está no cantho, bem no meio do miojo.
EMETOPHOBIA [3861]
Basta ouvir o nome feio e eu a nausea não evito. A palavra que eu receio é a que o povo diz: “gumito”.
Si a coalhada tem no meio uns pedaços do bemdicto bolorzinho, eu não refreio a repulsa e aquillo imito.
Meu maior medo é soltar, como certo candidato, a golfada alimentar, devolvida, bem no pratto…
Lula? Polvo? Ostra? Marisco? Um churrasco grego? Um gatto? A cheirar eu nem me arrisco! De mudar de assumpto eu tracto!
MINHOCA NA CABEÇA [4452]
Lobato provocava! Elle dizia: “Minhoca? Ora, minhoca! Não tem nada de mais, comer minhoca! Preparada bem, pode se tornar uma iguaria!”
Olhando de maneira neutra e fria, é como qualquer carne, fricta, assada! Sabor terá que até nem desaggrada a alguem que, crua, a coma… Tão macia!
Eu fico ca a pensar em certo mal passado tiragosto que comi…
Carpaccio feito della… Hem? Hem? Que tal? Talvez fique melhor em sashimi!
Num kibbe cru seria natural! Comtudo, uma coisinha occorre, aqui commigo: dá Lobato seu aval por gosto, ou só da nossa cara ri?
HALITOSE EM DUPLA DOSE [4669]
Bellissima mulher! Quem imagina, de longe, que tal bafo sae, de fossa, daquella linda bocca? Minha nossa! Mau halito? Euphemismo! É fedentina!
Coitada! Fede assim desde menina! Seu medico fallou: “Não ha quem possa curar esse fedor!” Ella, que esboça um timido sorriso, se ammofina.
Pastilhas chupa, toma comprimido de tudo quanto é typo que se invente, faz tanto gargarejo, escova o dente com pasta perfumada… Assim tem sido!
Mas ella se casou, recentemente, com certo rapagão, tambem fedido de bocca… Porra! Agora é que eu duvido do caso! Quem mais forte cheiro sente?
ERUPÇÃO CUTANEA [4690]
Nas costas, uma mancha vermelhinha surgiu, discretamente. Passa um dia, dois passam. A manchinha ja se amplia, ja coça, se advoluma: agora é espinha.
Um pouco mais de tempo, e tenho minha maior preoccupação… Que mais seria, alem dum grande abscesso? Nada exfria aquelle calorão! Como apporrinha!
Consigo imaginar como um vulcão o rubro inchaço, em cujo topo bella cratera se arredonda. Falta, então… Exacto: aquella cupula amarella/
/se rompe, e della irrompe o carnegão, qual lava purulenta, que me mella! Ao menos me livrei da comichão!
Talvez nunca me livre da sequela…
INCERTO INSECTO [4700]
Ja myope, o “nerd” os oculos retira da cara: um sanduiche comer vae. Mal morde um naco, alguma coisa cae no pratto. São migalhas, acha. As mira.
Grãozinhos são de carne, pensa. Vira os olhos para o pão, quando, então, sae de dentro do hamburgão um bicho! Ai, ai, o “nerd” afflicto está… Caso confira…
Mas, porra, de qual bicho, então, se tracta? Baratta? Formigão? Bezouro? Aranha? O bicho ainda mexe um pouco a patta. O gosto elle, da carne, nem extranha.
Olhando para os lados, elle acchata com força o pão, mordendo com tamanha vontade, que… Se foda si é baratta! Moleque exquisitão jamais faz manha!
DESDOBRADINHA AO MOLHO BRANCO [4720]
No vomito dum bebado, que excorre calçada abbaixo, um pombo bicca, à cata de solidos pedaços: de batata, cenoura, até de carne, em que se forre.
Passeia o pombo em meio ao que, de porre, o gajo devolveu: espessa natta, cremosa, exbranquiçada… Uma sensata cabeça os pés não mette onde se borre.
Azeda, malcheirosa, aquella poça de succo em ninguem abre esse appetite que o pombo tem, pisando a gosma grossa. Que mais querem vocês que eu aqui cite?
Do pombo o que direi não será troça: Achou o que buscava, e me accredite quem queira: uma salsicha! Eis que a destroça seu bicco! E que banquete tem, de elite!
IMAGENS FORTES [4744]
Que a camera o filmava não sabia. Tranquillo, uma melleca elle cavoca no fundo da narina. Alguem se choca olhando aquillo. E o dedo o cara enfia!
Remexe, puxa, até que, feito enguia gosmenta, feito lesma, sae da toca o elastico de monco. E elle colloca aquillo em sua bocca! E se sacia!
Que scena mais nojenta! Quem assiste engulhos tem, tapando vae a cara! E o dedo o cara ainda exhibe, em riste! Será que desse gosto não se enfara?
Que nada! Disso o gajo não desiste! Nem tudo elle engoliu: alguem repara que um naco está grudado, que resiste aos dentes que o repuxam… Chega! Para!
NARIZ TORCIDO [4850]
Exquesceu na geladeira o presuncto. Uma semana passa e, quando feita a feira, vae abril-a. Ahi, se damna!
Que fedor! Aquillo cheira como exgotto! O odor que emana causa nausea! O bardo, à beira de ter vomito, se abbanna!
Tira aquillo, limpa tudo. Guarda, então, o mais thalludo dos chouriços na gaveta com a cara mais ranheta.
Nem percebe: faltou luz toda a noite, o que produz mais fedor! Nova careta!
Me contou que não é peta…
CAVERNA DO DIABO [4992]
Quer coisa mais nojenta do que um dente de carie carcomido? O buracão exhala um fedor typico e, na mão, bafeja o cariado, a ver si o sente.
Na poncta da linguinha, avidamente, sugando o garotinho vae o vão do dente exburacado. O sabor não enganna e o sangue putrido não mente.
Àquella podriqueira se mixtura o resto de comida, que fermenta, grudado na gengiva: o odor dedura. Sentil-o nossa logica nos tempta.
Emfim, em meio ao povo que murmura, pergunto aqui: quer coisa mais nojenta que um dente carcomido? Exsiste cura, mas… Broca de dentista, alguem aguenta?
GASTRONOMIA AMBULANTE [5023]
Comprou, na exquina, a espiga e, na calçada, emquanto os transeuntes passam, vae comendo o milho. O grão, quando não cae na roupa, é triturado na dentada…
Ou fica, entre dois dentes, preso. Em cada vão, juncta-se amarella massa e attrae a nossa attenção quando elle quer (Ai!) mostrar-se cordial, dando risada.
O gajo, que de eschola nem tem grau, exhibe uma dentuça onde se gruda, alem do milho, a manga e o bacalhau que resta do bollinho, em lan felpuda.
Fiappos fermentados dão, de mau odor, forte impressão nessa barbuda, risonha cara… Asseio? Nem a pau! No lenço se limpar? Ninguem se illuda!
MINGAU DAS ALMAS [5134]
Não é que delle a fama suja eu queira expor, mas é que o velho é porco, estou dizendo! Veja a cama onde deitou! Babou no travesseiro a noite inteira!
Si fosse appenas essa a podriqueira que o velho exterioriza, até me dou por porco, eu inclusive… Mas faltou dizer que seus fedores elle cheira!
Na poça que encharcou o travesseiro, formando um caldo grosso, em germes rico, fedendo a purulenta carie, ou chico de puta, elle cafunga e adspira o cheiro!
Contenta-se o babão? Não! Odorico (seu nome) pappa o creme, mas, primeiro, accende a luz, observa o seu chiqueiro, naquillo passa o dedo! Ah! Pasmo eu fico!
DICA QUE FICA [5139]
Ja desde adolescente está vez cada mais sujo o seu calção, na frente e attraz. Nenhuma lavadeira sumir faz a mancha na cueca, amarellada.
Daquillo que a nenhum homem aggrada mostrar, indifferentes ao rapaz são essas impressões, são essas más idéas feitas entre a molecada.
“É porco, esse Odorico!”, eis a fofoca que corre. “Tomar banho, elle não quer! A mão não lava, nem si a mãe quizer! De meia e de cueca, elle não troca!”
Paresce divertir-se e, si puder, de nojo as reacções elle provoca. Nem entre as baixas bichas tem fanzoca. E quanto à namorada, ou à mulher?
COLLA NA SOLA [5140]
O joven Odorico com mau jeito ou com cathegoria, de biccuda ou lettra, tracta a bolla. Mas não muda, descalço das chuteiras, seu defeito.
Não lava os pés! Suor juncta, do peito ao grosso calcanhar: tanto elle exsuda, que, quando anda descalço, no chão gruda a sola e deixa marca! Eu me deleito!
Escuto a mãe gritando: “Dodô, lava agora esse pé sujo! Mas que cheiro horrivel!” Odorico, que maneiro jamais foi, manda a pobre mãe à fava.
Pensando fico: {E quando esse bolleiro com sua mina trepa? Tem que escrava ser, para alli lambel-o! Ah, si eu ficava na vaga dessa escrava!} E o gozo eu beiro!
FEZES QUE SE PREZEM [5148]
No tempo recuando, um Odorico creança ainda achamos, que, mal faz cocô, quer contemplar tudo que jaz, formando caracol, no seu penico.
Contempla e, não contente, quer seu rico thesouro examinar. Encontra, attraz dum solido tolete, outro que traz grãozinhos incrustrados e faz bicco.
Os dedos Odorico mette nisso, appalpa, pega, pesa, vira, fura, desvira, apperta, ammassa, desfigura, distingue qual mais molle ou inteiriço.
Depois de analysar-lhes a textura, o cheiro quer provar, sem compromisso, mas, para completar esse serviço, accaba mordiscando a crosta dura.
DAMNINHA ESPINHA [5151]
Olhando-se no espelho, o rapazola se expanta: que caroço tão vermelho é esse? Elle illumina mais o espelho, comprova ser espinha e se desola.
Coitado do Odorico! Vae, na eschola, ser feito de palhaço! O rapazelho se afflige. Talvez seja bom conselho deixar quieto, mas logo elle se exfolla.
Primeiro, expreme a espinha, que lhe expirra no dedo o carnegão. Soffre outro tombo, pois, mesmo ja drenado, o tal calombo não some e do rapaz augmenta a birra.
Pensando nalgum ovo de Colombo, Dodô passa a gillette nelle… Hum! Irra! Fodeu! Seu nervosismo mais se accirra. Melhor de esparadrappo um bom biombo!
ADHERENTE E REPELLENTE [5164]
Não lava, ao levantar da cama, a sua narina, esse Odorico! O resultado é vermos, nos pellinhos pendurado, o monco exverdeado, à vista nua.
Ballança e não se solta! Não recua si o ranho elle cafunga! E, si assoado aquelle narigão, fica grudado nos pellos do bigode! E assim na rua.
Peor é que o Dodô todos encara com ar de desaffio! A turma espera, depois que fez careta aquella fera, a scena que deixou, ja, de ser rara.
Dodô pega a melleca, enrolla, altera a forma original e, olhando para os outros com arzinho, ja, de tara, engole, sorridente, a molle esphera!
GATTA QUE EMPATTA [5166]
Suando está, por tudo quanto é poro, o joven, que chamar seu nome espera a bella professora. Ouve a panthera chamar por Odorico Deodoro.
Levanta-se e declama: “Ah, como adoro o ardor primaveril, a primavera florida, que abre as asas à paquera! A folha, eu a desfolho; a flor, defloro!”
Sorrindo, a mestra explica que o poema, na forma, ficou certo. O resultado está bom, mas “paquera” appropriado não é nesse contexto e nesse thema.
Dodô se senta. Está todo exporrado nas calças, mas nem acha que é problema. “Caralho! Jesus Christo! (elle blasphema por dentro) Ai, si eu te pego! Onça, cuidado!”
QUEM SE PELLA POR REMELLA? [5168]
Nos olhos Odorico ja accumula remella de trez noites, sem lavar. Sentindo a coceirinha, devagar, o dedo passa nelles, ja com gula.
Sim, gula! Não me expanta que elle engula a gosma amarellenta! Paladar nenhum supera aquillo! Degustar tal creme ama o rapaz de expressão chula.
“Ai, puta que pariu! Que coceirinha gostosa! Ai! Vermelhão ficou meu olho? Ai, porra! Mal cotuco, ja me encolho! Ai, foda-se! Você nem adivinha!”
“Melhor é que a mostarda, ou outro molho! Supera até o creminho duma espinha! Provou sua remella? Eu como a minha e adoro! Nem bem juncta, eu ja recolho!”
OUVIDOS DE MERCADOR [5170]
Sim, claro que Odorico tem costume, alem de mais alguma secreção, de, appós ter dado allivio à comichão, tirar do ouvido um monte de cerume!
Será possivel que elle não arrhume qualquer outro petisco? Acaso não seria preferivel um torrão de assucar, um chiclette com perfume?
Que nada! Quer Dodô sentir amargo na bocca, appreciar todo o fedor que a merda eguala, sem tirar nem pôr! E a cera saboreia, sem embargo.
Eu mesmo ja provei desse amargor, appenas por provar, e ja não largo do vicio, mas provei por desencargo da minha consciencia… ha que depor!
DESAFFIO DENTAL [5171]
Eu tento controlar o riso. Rio, porem, quando me contam, toda vez. Controlem-se e não riam, que a vocês contar vou que Odorico adora um fio.
Pois é: fio dental. Sei que arredio à escovação dos dentes é, mas fez questão, sempre, do fio. O que, talvez, prazer lhe cause é o cheiro, ao que advalio.
Passada aquella linha pelo vão de cada fedidissimo molar e appós cada intersticio rechupar, Dodô leva ao nariz a aguada mão.
Nos dedos fica um caldo e, devagar, adspira aquelle aroma forte e tão azedo, fermentado, a requeijão rançoso, que até chega ao gozo, a arfar!
NO BOJO DO NOJO [5185]
A minha conclusão é que a attitude nojenta do Odorico não seria appenas passageira phantasia, capricho natural da juventude.
É tara, é perversão, pelo que pude notar. Mas o problema é que a mania do agora velho, tudo evidencia, occorre a muita gente! Alguem se illude?
Dodô chama a attenção por ser sincero, fazendo, excancarado, aquillo tudo. Talvez tenha razão em ser marrudo. Os outros dissimulam, dizer quero.
A propria urina bebe o mais sisudo guru! Porra deglutte a puta! Espero, à parte o olhar dum critico severo, ter sido conclusivo o meu estudo.
FESTA INDIGESTA (1/3) [5274/5276]
(1)
Foi uma pheijoada que… nem dá vontade de contar. No caldeirão, na mesa, apparentava-me ser tão gostosa, tão bem feita… Porem, ah!
No meio dos pertences, achei… Ja embrulha meu estomago! Um colhão, um sordido caralho, no pheijão boiando! Vomitei, quasi! Será?
Tentei me controlar. Coisa ruim exsiste egual? Talvez peor que um ratto… Ninguem tinha notado? Isso é que a mim causava especie! Punham caldo, o pratto/ /enchiam, se fartavam! Como assim?
Depois fiquei sabendo: foi um acto festivo de vingança. Teve fim, no bairro, um louco. Pode? Isso é sensato?
(2)
Cabal cannibalismo! Então occorre tal coisa em pleno seculo? Não posso crer nisso, que campeia neste nosso paiz tal ritual quando alguem morre!
Explicam-me que o louco era, de porre, terrivel assassino. Não endosso motivo semelhante. Aquelle troço no pratto… Ha quem com isso o bucho forre?
“Não, Glauco, é só symbolico! No caldo só serve p’ra dar gosto! Nem precisa comer, basta provar, ora! Eu me exbaldo!” Assim responde um joven à pesquisa/
/que faço sobre o thema. Acha respaldo em practicas indigenas, advisa. Pretexto me paresce ser o saldo daquillo, de vulgar folklore à guisa.
(3)
Symbolico? Tá doido! Desse jeito, calculo si quem morre, em vez dum cara qualquer, dum vagabundo, for quem, para nosoutros, odio inspira, ira, despeito.
Um typico politico, o prefeito, talvez, um deputado… Alguem que azara a nossa vida, impondo a taxa cara, sangrando o nosso bolso em seu proveito.
Eu fico ca pensando… Serve, então, de boia algum mandão lider bandalho? Si pegam seu cadaver, que farão taes bugres? Seus colhões e seu caralho/
/mixturam aos pertences do pheijão? Não basta! Sendo assim, a dica expalho: seu recto e seu cuzinho sabor dão de exotica rabada, em molho ao alho!
DEDOS E DENTES [5282]
Sandubas gordurosos, de pernil, de carne assada, bacon, ovo fricto… comidos são na rua! Fico afflicto, pensando no detalhe mais subtil.
E os dedos lambuzados? Si no vil metal ja nos sujamos, eu nem cito os oleos, os azeites, o maldicto exguicho de mostarda e molhos mil!
Emquanto apperta a fome, a gente advança num burger, num bauru, num mixto quente, ou mesmo num da moda que se invente, e só depois repara na lambança!
Mas tente resistir ao dogão, tente! Ouvindo ja rhonchar a sua pança, você relucta, pensa na ballança… e, fracco, na salsicha mette o dente!
SONNETTOS DUM CANAPÉ CANNIBAL (1/4) [5335/5338]
(1)
Carne humana? Tá brincando! Empadinhas? Ah, não creio! Mas que caso mais nefando me contaram, e mais feio!
Será mesmo? Desde quando gente morta foi recheio duma empada? Me contando vão que havia organs no meio!
Accontesce em Pernambuco: si o cadaver fica eunucho, se calcula o que moiam!
Mas não só colhões e paus dos recheios esses maus quituteiros dentro enfiam!
(2)
Que faz parte duma seita, se commenta, a quituteira. Seus comparsas, se suspeita, mactam putas com peixeira.
Depois, segue-se a receita: dos bumbuns tiram a beira e o miolo se approveita mais o braço e a perna inteira.
Bem moida, com piccanha se paresce. Nem extranha quem comer a carne: é gado!
Mesmo os labios da chochota, piccadinhos, ninguem nota no tempero dum salgado.
(3)
A empadinha foi vendida nos botecos da cidade. Que era boa só duvida quem comeu pela metade.
Nem reparam na comida os gulosos. Alguem ha de crer que gente perde a vida e que a empada um morto empade?
Só notaram que sumia uma puta ou outra. Um dia, descobriram, duma, a cova.
Outra puta exquartejada foi achada e, agora, a cada cova rasa, encontram nova.
(4)
Quem fazia o salgadinho está preso, mas ainda não prenderam o damninho bando todo, acção bemvinda.
Por emquanto, eu adivinho, a policia não deslinda si os bandidos novo ninho teem naquella terra linda.
Pode até ser que ja trampa a quadrilha aqui por Sampa e comamos sua empada.
Não demora que um puteiro, no centrão, do travesseiro tenha a fronha ensanguentada.
DISSONNETTO DUMA BOCCA VAPOROSA [5460]
As gengivas da donzella inflammadas estão paca. Não escova os dentes, ella, e mastiga feito vacca.
Si por si mesma não zela, dentição tem que ter fracca. Não será disso a sequela simplesmente o puz que a attacca.
Hem? Pudera! Que se espera?
Tem um halito, a panthera, que, si alguem não exaggera, macta um tigre só no bafo!
A gallera toda attesta:
Si lhe fogem, numa festa, os rapazes, só lhe resta achar uma fan de Sappho!
SONNETTOS DUMA ETHIQUETA PORRETA (1/10) [5471/5480]
(1)
Si entre amigos estiveres, informal até tu podes te mostrar. Mas, si tu queres ser cortez, não te accommodes.
Não cofies teus bigodes sobre os prattos e talheres. De cabritos ou de bodes os colhões tu não preferes?
Si constarem do antepasto, não te mostres muito casto: prova, ao menos, meio bago.
Si não gostas de miolo de macaco, finge pol-o sobre a lingua, em gesto vago.
(2)
Não te exquesças: cotovello não se appoia sobre a mesa. Si mantens, à mesa, o zelo, manterás a fama illesa.
Não te curves. O cabello não penteies. Mesmo accesa luz mais fracca, podem vel-o deitar caspas com clareza.
O nariz jamais cotuques com o dedo. Evita truques que disfarsem esse gesto.
Caso sirvam, como entrada, o recheio da buchada, não será tão indigesto.
(3)
Si tiveres um accesso, quer de expirro, quer de tosse, uma coisa, só, te peço: que ninguem teu ranho almosse.
Usa lenço. Eu não engesso os teus gestos, mas não coce o teu dedo esse confesso nó que toma de ti posse.
Esses nodulos te dão comichão? Evita a mão collocar sobre o caroço.
Si o fizeres, guardanappo usa, o mesmo que do pappo te recolhe o suor grosso.
(4)
Si na bocca collocares, por exemplo, uma formiga que, torrada, nesses bares é servida, faze figa.
Te controla. Mantem ares roptineiros. Que consiga tua lingua, sem botares tudo fora, ser amiga.
Engolir com elegancia tu precisas. Caso alcance a porcaria teu gogó…
Tapa a bocca com a mão. Si vomitas, a porção emporcalha-te, a ti, só.
(5)
Nunca alteres a receita.
Si pedires escargot, e servirem lesma, acceita, mastigando qual robô.
Não vomites. Calma. Deita essa gosma, o bollolô mastigado, ao chão. Si expreita o garçon, conta: “É cocô!”
Si offerescem dobradinha, não calcules o que tinha ruminado aquelle boi.
Si buchada for, não rezes nem te indagues si das fezes toda a tripa limpa foi.
Não te sirvas de bebidas.
O garçon cuidará disso. Si outras forem as servidas, não reclames do serviço.
Caso engasgues e decidas excarrar, gesto postiço empregar tenta. Polidas soluções não dão enguiço.
Puxa o lenço. Desdobrando vae com calma. Appenas quando desdobrado, nelle excarra.
Mas, si tempo não der, tenta cuspir logo a catarrhenta gosma… e pouco abre a boccarra.
Guardanappo tem que estar sobre as pernas. Si elle ao chão cahir, deixa no logar, mesmo enchendo de pisão.
Pede um outro. Vão te dar. Si alguem diz que não darão, então pega aquelle. Azar. Limpa a bocca pouco, então.
Não assoes o nariz nesse panno. Mal se diz de quem ranho nelle deita.
Não rebaixes o teu nivel gestual, pois é possivel que o garçon esteja à expreita.
Os garçons são patrulheiros de quem segue o protocollo. Serão elles os primeiros a ver, quando alli me enrollo.
Coppos, facas, paliteiros, guardanappos sobre o collo, tudo notam. Sentem cheiros e reparam si eu me ammolo.
Quando eu peido, algum escuta até bufa que da grutta sem nenhum barulho saia.
Si eu me queixo do serviço, elles juram vingar isso e ja ficam de tocaya.
Não me importo com garçons, mas suggiro que te importes, pois no faro elles são bons e detectam peidos fortes.
Mesmo quando os traques sons não fizerem, não abortes teu exforço. Caso os trons sobresaiam, não te cortes.
Pousa a faca sobre o pratto e simula que teu flato foi o rhoncho duma moto.
Ja que a malta motoqueira faz aquella barulheira, eu, ca, finjo que nem noto.
(10)
Emfim, pouco recommendo a ti, caso tu te sentes a jantar, ja pretendendo aggradar aos exigentes.
Importante é ter, comendo, as maneiras mais decentes. Mas rigor eu não entendo que te faça as costas quentes.
Si quizeres aggradar teu patrão, topa um jantar. Quem convide, riscos corra!
Vomitar, peidar, evita. Mas, si a tripa ja se agita, manda tudo à merda, porra!
GESTO INDIGESTO [5623]
Baratta voadora? Disso Zeus me livre! Caso desses, outro dia, na casa dum ceguinho uma agonia damnada provocou, amigos meus!
Contou-me esse coitado: deu addeus a todas as visitas, pois queria curtir a solidão, mas a alegria durou pouco, foi coisa de plebeus.
Entrou pela janella, a desgraçada, em tudo se chocando! Um cego não consegue, nesses casos, fazer nada! Na boba mão lhe exbarra a peste, então…
Na testa, nas orelhas, quasi em cada centimetro daquelle cabeção! Por sorte, elle, com uma só palmada, mactou-a! Mas na bocca accerta a mão!
MISCELLANEA GRIPPAL [5993]
De grippe ella padesce, coitadinha! Mantendo erguido o bello narizinho, a moça esboça um gesto comezinho. Ninguem adivinhou o que ella tinha?
Pequeno e arrebitado, sob o lenço finissimo, o nariz della despeja catarrho maturado, num immenso e infindo jorro! Ainda que proteja/ /do olhar alheio o ranho, eu me convenço, ouvindo-a se assoar, de como arqueja! Não quer ella deixar que ninguem veja o jacto catarrhento, mas de nada/
/addeanta usar o lenço, pois na egreja echoa a sua tuba e causa em cada devoto a sensação de que ja esteja o ranho quasi verde e ella grippada!
MEME DO COLLECTIVO SELECTIVO [6183]
Num omnibus lotado, o passageiro, sem mascara, primeiro pigarreia. Depois passa a tossir. A bocca cheia lhe fica. De cachaça tem mau cheiro.
E tosse, tosse, tosse… O corpo inteiro saccode. Mais a coisa fica feia: A pique de excarrar, ja não refreia seu impeto. O catarrho sae certeiro.
Aquella gosma verde gruda feito chiclette no cabello da senhora sentada à sua frente. Para fora ja querem empurrar o tal subjeito.
“Não toquem em mim! Puro preconceito! Appenas porque tenho o virus? Ora!” Dalli todos excappam sem demora. Ouvi, mas que foi meme eu ca suspeito.
SUSPENSE NOS PERTENCES [6663]
Almosso offeresci, poeta, para que as pazes se fizessem entre gente que estava se extranhando. O pratto quente foi uma pheijoada muito rara!
Sim, Glauco, só com partes (Hem, sem tara!) de bode: pau, colhão… Ah, ninguem tente dizer que não degusta a differente e rara culinaria, alem de cara!
É só não se importar com esse cheiro, com hervas facilmente disfarsado! Aquelle que estiver ‘inda brigado supera a desadvença, companheiro!
Bem, certo não deu muito, pois inteiro ninguem um pau comeu e meu guisado tambem não aggradou! O resultado foi vermos mais pigmenta no salseiro!
PERFUME DE GARDENIA [6943]
Aquella mulher linda, Glauco, tem encantos que nenhum de nós suspeita! De corpo, nos fascina, tão bem feita! De rosto, mais ainda! Vou alem!
A bocca, seductora, não, ninguem jamais beijou! Com ella ninguem deita! É, Glauco, descobri! Quem é que acceita um halito tão forte? Nunca! Nem!
Mas ella precisava conhescer um gajo que prefere esse fedor buccal como ninguem! É de suppor que goze com o beijo, pode ser!
Ouvi fallar do gajo: seu prazer é baba trocar, Glauco! Só si for! Você, que é do fedor conhescedor, talvez me explique… Encanto deve ter!
EPA! VIVA A XEPA! [6954]
Não, nesta pandemia ja ninguem negar vae que da feira se approveita um monte de verdura! Agora acceita a gente comer isso, ou nojo tem?
Mas nojo por que, Glauco, si tambem no lixo nós achamos insuspeita porção de coisa podre que, si feita alguma concessão, a servir vem?
Tomates estragados teem sabor não muito differente dum bonito que, cheio de agrotoxico, eu vomito depois de ter comido! Por favor!
Não sei si tanto nojo do fedor é livre e natural, ou só de mytho não passa! Nesta crise, eu accredito que xepa approveitar irão propor!
IMAGENS POLEMICAS [7038]
A artista performatica não tem nenhum pudor, nem nojo, não, Glaucão! Ceguinha tambem, come com a mão qualquer nojeira crua que lhe deem!
Num video (Removeram, Glauco, bem fizeram!), ella come esse colhão enorme que tiraram, no sertão, dum buffalo! Supporta aquillo quem?
A scena choca mesmo! Muita gente polemicas viu nella! A theoria suggere que ceguinhos alegria dão, nisso, para todo bom vidente!
Allegam que ella fora rudemente forçada a fazer isso, que seria normal usarem cegos… Mas iria você comer colhões? Como se sente?
MOTIVO RELATIVO [7093]
Foi pelo buracão da fechadura um gajo visto, louco, a degustar dum outro o cu, naquelle familiar hotel, da moral publica mais pura.
Depois disso, na hora do jantar, o gajo reclamou daquella dura especie de pellinho, de mixtura ao musculo, na sopa. Deu azar.
Indaga-lhe o garçon, meio offendido: “Ué, mas o senhor nojo não sente daquelle cu, chupado loucamente! Por que dum pello sente? Faz sentido?”
Responde o gajo: {Nojo certamente você teria caso, num lambido cuzinho, achasse, inteiro, um mal cozido pedaço de cebolla, ainda quente!}
MASTIGUINHA [7225]
Poeta, a “mastiguinha” acho que faz effeito bem nojento num novato! Eu era veterano e fui um chato! Dos bichos abusei sem dó, tenaz!
Comida mastigada a gente nas tigellas dos calouros ia, a jacto, cuspindo, Glauco! Os bichos que no pratto comiam tambem nunca tinham paz!
Cuspiamos no pratto, na tigella, até no chão! Calouro que ficasse com nojo sujaria a sua face ainda mais no piso! Scena bella!
Sentiam um apperto na goela, mas tinham que engolir! Até na classe lhes davamos a gosma! Recusasse alguem, levava chutes na cannella!
BOCHECHINHA [7228]
Tambem a “bochechinha”, Glaucão, era usada pela gente para dar bebida à calourada, cujo bar passava pela nossa bocca, à vera!
Glaucão, dos veteranos a gallera curtia à bessa! A gente que, em logar de liquidos tragar, só bochechar queria, ja a beber tudo os fizera!
Tomavam guaraná com baba, vinho com baba, até cachaça com a nossa saliva mixturada, numa grossa espuma catarrhada, sim, tudinho!
Calouro que recusa, mais damninho castigo vae soffrer, para que possa sentir do mijo o gosto: sob a troça, irá de bocca à rolla abrir caminho!
MOTTE GLOSADO (1/2) [7425]
A fartura alli foi tanta que ninguem mais comer quiz!
(1)
Satisfez-se quem bem janta. Se empachou quem bem almossa. Quanta coisa! Minha nossa!
A fartura alli foi tanta! Mas o dedo na garganta enfiou quem quiz um bis e seu vomito o nariz azedou de todo mundo!
Foi fedor tão nauseabundo que ninguem mais comer quiz!
(2)
Tudo estava bom no almosso quando a thia traz um pratto de mehudos, que eu nem tracto de explicar, p’ra não ser grosso. E ella diz, chupando um osso: “Fui eu mesma, aqui, que fiz!”
Todos tapam o nariz.
Do fartum, que o olfacto expanta, a fartura alli foi tanta que ninguem mais comer quiz!
MOTTE GLOSADO (1/2) [7429]
Agua agora se raciona até para tomar banho.
(1)
Lavar rolla, lavar conna, só no sabbado, e olhe la! Como a coisa feia está, agua agora se raciona. Ja pensou? Que porcalhona fica a gente! Nem me accanho mais si alguem vê monco ou ranho me excorrendo pela cara! Que fazer, si a aguinha é rara até para tomar banho?
(2)
Que legal! Vae ser cafona manter limpa a minha bunda! Mesmo a rolla estando immunda, agua agora se raciona! O fedor daquella zona corporal nada de extranho mais terá! Pretexto eu ganho si ter cheiro de gambá vou, pois agua faltará até para tomar banho!
MOTTE GLOSADO [7440]
Pé de porco ou caviar?
Dobradinha ou escargot?
As nojeiras do jantar ou do almosso não teem classe. Pobre ou rico, tem quem trace pé de porco ou caviar. Si você tem paladar refinado ou seu avô lhe ensignou que até “fedô” de chiqueiro é “naturá”, algum asco inspirará dobradinha ou escargot.
FINAS NARINAS [8255]
No melhor supermercado, cheira o açougue a carne crua. O fartum não é do aggrado de ninguem, nem se attenua. Pelo gancho pendurado, o cadaver que tem, nua, sua posta, é o que ennojado deixa aquelle que jejua. Vendo assim o morto gado, a madame tapa sua fina bocca, o nariz dado como lindo, e até recua.
“Ai, que nojo! (pensa) Aquella perna inteira…! Essa amarella… essa… cappa de gordura! Que nojeira! Eu não aguento!” Um bifão, molle e sangrento, pelo gancho se pendura e tal scena, que desista, faz o pobre ecologista de comprar sua verdura.
RHAPSODIA TEIXEIRIANA (1/2) [8404]
(1)
{Estou surpreso, Glauco! Não sabia que themas tão nojentos tambem eram do gosto dum auctor parnasiano! Quem fez esse sonnetto da baratta? Gustavo? De que mesmo? Sim, Teixeira! Gostei desse poeta! Pois não é que o gajo conseguiu thematizar aquelle insecto feio, repugnante, com toda a maestria? Fiquei fan!}
(2)
-- Pois é. De aranha temos poesia mais farta. Bardos outros consideram nojento demais esse bicho urbano. Meu verso raramente della tracta, mas, quando tracta, a pincta de maneira bem menos elegante. Fica até difficil fallar sobre um paladar capaz de degustar isso, mas, ante reaes factos, vi como tem tantan…
NO MOEDOR (1/2) [8459]
(1)
Burgueiros teem tambem seu dia, mas precisa um hamburgolatra cuidado tomar com o que moem, quer do gado, das aves ou da soja, pois se faz hamburguer de minhoca, até! Capaz que seja (Nossa!) algum de carne humana! Ouvi fallar que pagam boa grana por bundas de cadaveres obesos! Depois de mortos, putas, pobres, presos darão insumo àquelle que os prophana…
(2)
Quiçá conspiratoria, tal versão suppuz dos naturebas ser provinda. Denuncia circulou, mais grave ainda, vazando que os hamburgueres ja são sandubas de cocô! Que mais dirão? De minha parte, digo: tempo perde quem tenta convencer-me! Que me emmerde ja basta a vida chata! Ao paladar si aggrada, nada tenho que evitar e adepto dum burgão sou feito um nerd…
MERDA
CONFIDENTE MANICHEISMO [8496]
Contou-me um fallescido cozinheiro de ricos, José Cicero de Tal, que fora funccionario dum casal burguez, do peor typo brazileiro. Marido e mulher muito, ao que me inteiro, mettidos e arrogantes, sempre mal tractavam seu submisso serviçal, que até “cabeça chata” ouviu, cabreiro. Fez elle bom papel, pois qual carneiro portou-se deante delles e no sal jamais errou, com medo do fatal puxão de orelha, rispido e grosseiro. Vingou-se elle, comtudo. Fez, primeiro, um teste, addicionando ao trivial chardapio uma assoada do nasal catarrho, menos forte em gosto e cheiro. Depois, tornou-se franco punheteiro e, sobre sopas, molhos, seu signal deixava, temperando com egual sadismo ao do mais bruto carcereiro. Nos prattos exporrava prazenteiro exguicho e, não contente, seu fecal tolete se sommou ao natural queijinho dum prepucio sem chuveiro. Esnobes, seus patrões, que no chiqueiro secreto da cozinha nem mensal entrada costumavam fazer, tal menu saboreavam, bem caseiro. Feliz ao saber disso, no banheiro batti minha punheta com total orgasmo, consciente e social, tal como o nordestino justiceiro.
ACCACHAPANTE ESPORTISMO [8503]
Na vida quasi nada a gente extranha. Os videos flagram quando um treinador seu monco cata e come: é o da Allemanha. Durante a Coppa, aquillo é um dissabor. Mas elle só com isso não se accanha. Vocês não viram nada! Mais furor ainda causaria a quem o appanha na hora em que seu sacco coçar for! Seus cheiros e sabores a façanha não basta de provar. Esse senhor flagrado (dizem) fora quando à sanha cedia de “assear” um jogador! Pedindo a seus rapazes que da fanha narina algum catarrho com sabor salgado lhe excarrassem, de tamanha delicia se fartava, é de suppor! Exguichos engolindo, quem se banha em ranho, mijo ou porra causador não seja de extranheza, ja que ganha seus titulos o grande “professor”!
GOSTO REFINADO (2)
[8870]
Glaucão, o Henry Kissinger comia melleca do nariz! Photographaram! Tambem o treinador dessa Allemanha que deu de septe em nossa selecção! Me lembro disso, Glauco, pois conhesço um nobre deputado que seu monco degusta, sem nenhum pudor, em publico! Porem, eis que elle entende de bons vinhos, opina com segura competencia accerca duma safra, duma casta! Que posso concluir, Glaucão? Hem? Hem? Não, nada disso! Ommitto commentarios politicos! Concluo simplesmente que gosto não tem classe e vice versa!
NOJENTO MOMENTO [9226]
O caso do politico que esteve à mesa dum banquete, no Japão, gravou o que, em missão official, tambem é repugnante informalmente e nesse poeminha você estuda com toda a natural comicidade: no pratto vomitar alguma coisa nojenta alli servida de surpresa. Eu mesmo vomitei, Glauco, na casa da minha thia, quando percebi que tinha abboccanhado uma minhoca pensando ser um thallo mais comprido de exotica verdura, à moda della…
EMPIPOCADO? [9578]
Você ja teve espinhas quando joven, Glaucão? As expremia, alli na frente daquelle espelho bem illuminado? Sahia carnegão bem abundante? Na cara tinha muitas? Eram grandes? Desculpe, menestrel, mas é que tenho tesão pouco commum! Me excito com espinhas, carnegões que exguicham sobre espelhos! Eu os lambo, quando fica grudada aquella mancha amarellinha!
DIA DO PROTHETICO [10.220]
Você se lembra, Glauco, duma scena de filme em que, no coppo mergulhada, estava a dentadura? Alguem, do nada, bebeu, sem reparar, dalli! Deu pena!
Deu nojo, tambem, claro! Mas amena a scena me paresce, pois vi cada absurdo que, aos luxentos, não aggrada nadinha, mas aqui ninguem condemna…
Aqui na minha casa, todo mundo ja protheses tem! Ficam na gaveta, às vezes se confundem… Bem immundo!
Não ria de mim, Glauco, me prometta! Contou-me meu avô, com ar jocundo, que tinha a do thio gosto de boceta!
DIA DO TRIGO [10.238]
Está faltando trigo? Se colloca a basica questão: O que faremos? Propostas ja chegaram aos extremos: Um pão querem fazer de mandioca!
Magina! A tal farinha vão, em troca daquella que na pizza nós queremos, usar nas padarias? Com os demos! A gente, de escutar, até se choca!
Peor, muito peor (diz um doutor) seria haver farinha de cocô de pombo, como ousou alguem propor!
“Collegas deputados! O robô informa que esse estrume, si bem for tractado, nutre! É nectar em pó, pô!”
DIA DA SAHUDE AUDITIVA [10.239]
Ainda que eu não beba, que eu não fume, que vicios, outros, poucos delles tenha, sou desse extranho typo que se empenha num intimo, phrenetico costume…
Sim, Glauco! Ouso comer o meu cerume! Você tambem? Então nossa resenha mais facil fica! A nossa aberta senha a um medico preceito se resume…
Limpar o ouvido! Prompto! Uma resposta melhor não ha! Tiramos nossa rolha e… cada qual degusta como gosta!
Àquelles que criticam tal excolha, direi que, embora cheire que nem bosta, bem sabe! Ninguem deixo que me tolha!
DIA DA COLLECTA DE ALIMENTOS [10.250]
A coisa ja tão grave está, poeta, que fica mais difficil para a gente, que é pobre, conseguir algo decente que seja comestivel, na collecta!
Na falta dum ranguinho que sustente a nossa mais levissima dieta, achamos no lixão uma completa feirinha a céu aberto! Quem desmente?
No meio do chorume encontra quem procura até torresmo, rapadura, mehudos, hortaliças! Tudo tem!
Comida, vate, encontra quem procura! Somente não terá tal armazem puddim, porque é de leite e pouco dura!
DIA DA PESCA [10.336]
Os cheiros, no mercado, são mixtura do fresco com o podre. Não se queixe você dalgum peixeiro que desleixe si baixo preço for o que procura!
Sim, quanto mais podrão, melhor textura a carne tem, Glaucão, daquelle peixe vencido ja faz tempo! Não se deixe levar por hygienica frescura!
Depois de fricto, o forte cheiro some! Quem paga tão barato nem se toca com essas coisas putridas que come!
Relaxe, Glauco! Venha, na malloca, comer comnosco um peixe que nem nome terá, mas que por outro ninguem troca!
DIA DO FIO DENTAL [10.345]
Depois da gengivite, fica a gente allerta. Apprenderemos logo, sim, a passar fio dental. Apprendi minha licção de se limpar, de facto, o dente.
De inicio, uma limpeza mais frequente cheguei a practicar com essa linha difficil de enrollar nos dedos. Tinha que estar muito disposto, realmente.
Batata! Com o tempo, vou ficando cansado, preguiçoso. Em breve, quando accabo de comer, nem agua bebo.
Aquella podriqueira, fermentando, tem cheiro parescido com o sebo da picca, Glauco, facil eu percebo.
DIA DO CAFÉ [10.377]
Não, Glauco, o melhor mesmo nem “espresso” da machina mais cara será, nem aquelle que, coado, todos teem em casa, a fazer sempre esse successo!
Melhor, mesmo, foi um que, de regresso das terras africanas, tomei, sem saber, no aeroporto: o seu pó vem das fezes dum macaco, lhe confesso!
Exacto, Glauco: o mico come, caga e, desse cocozinho, um raro pó se extrae! Sim, todo mundo caro paga!
Mas pode ser de pombo, sim! Não só! Tambem de porco! Creio que tem vaga até para cocôs humanos, ó!
DIA DA COCEIRA NA CABEÇA [10.442]
Nós somos mesmo uns porcos, Glauco! Nossa cabeça produz caspa, vae formando escamas que se expalham! Isso, quando occorre, toda aquella pelle coça!
O pente não dá compta, Glauco! Possa a gente se coçar, ir se coçando com calma, devagar, sob o commando dum typo de escovinha, alguma joça!
Escovas de cabello, quem as ama, Glaucão, sou eu! Ja tive muitas, mas ainda aquella caspa alli se escama!
Careca ja fiquei! Sou, aliaz, charmoso desse jeito! Só reclama que sou “coco rallado” o meu rapaz!
DIA DA HYGIENE NASAL [10.451]
Não é só na torneira, nem no lenço, que pode ser lavado um narigão! Genet ja demonstrou (Não é, Glaucão?) aquillo que eu, que sou malvado, penso!
Sim, Glauco! Prazer sinto, muito intenso, si faço que me tirem um montão de monco com a lingua! Ah, mas é tão gostoso! Ocê commigo faz consenso?
A lingua dos novinhos a catota tirava dos mais velhos, no internato! E bota mais lambidas nisso, bota!
Não acha repulsivo, Glauco? O facto é que é por isso mesmo que se nota que fica algum masoca até mais grato!
DIA DA SUDORESE SUBAXILLAR [10.567]
Incrivel, Glauco! Um cheiro, que você nem curte tanto, um certo freguez meu adora! Sim, o proprio, o Dorotheu! É louco o gajo pelo meu cecê!
Lhe vendo camisetas que quem vê diria que estão pretas desse breu deixado pelo meu suor! Rendeu uns cobres essa roupa demodê!
Um dia, appenas, uso uma, Glaucão, mas fica tão suada no sovaco que nem vale lavar de novo, não!
Agora que encontrei quem tenha sacco e follego, lhe cobro bom tostão e compro outra, novinha! Assim, emplaco!
DIA DO VOMITO [10.640]
Horrivel é, Glaucão, vermos na rua os bebados, depois deste Natal, botando para fora a mais frugal das ceias, uma scena forte e crua!
Comeram e beberam mais que sua barriga comportava! Assim, fatal será que elles “gumitem” essa tal fartura de quem, antes, só jejua!
Ahi, pelas calçadas, o “gumito” paresce mayonnaise de palmito com nacos de presuncto piccadinho!
Os pombos se deleitam! Nem admitto olhar aquillo, Glauco! Mas evito pisar nessas nojeiras do caminho…
DIA DO CANUDINHO [10.686]
Beber de canudinho? Ora, poeta! Magina! Não tem graça alguma, não! Você beber consegue, vate, então, cerveja assim? É tactica correcta?
E vinho? Beberia assim? Affecta a quem essa mania, que noção de nojo quer passar? Não, o povão ja mette logo o beiço! Nada veta!
Notei ja quando um punk ia tomar refri de canudinho, salivando naquillo de proposito! Mau ar!
Com elle estava alli todo o seu bando e todos seu biquinho no logar puzeram! Hygiene? Como? Quando?
DIA DA PETUITA [10.809]
Melleca do nariz, Glaucão! Melleca! Não vejo outra nojeira tão nojenta! Catota, monco, muco… Quem aguenta tocar nesses assumptos? Ninguem! Neca!
É proxima demais a nossa venta da bocca, menestrel! Aquillo secca, desgruda da narina, que defeca aquella titiquinha azul-cinzenta!
É quasi que instinctivo que isso caia na lingua, que espichamos para fora, a fim de provar coisas dessa laia!
Cocô causa mais nojo? Sim! Agora me diga: Cocô cae na bocca? Vaia me querem dar? Creou-nos um Deus, ora!
DIA DO DERMATOLOGISTA [10.901]
De chagas e verrugas minhas costas estão todas cobertas, menestrel! Um dia, fui ao medico… Fiel a tudo que dizia, achei respostas!
Mas houve mais perguntas! Si tu gostas de historias escabrosas, qual pastel estava a minha pelle! De Miguel ainda se fez elle! São uns bostas!
A pelle empipocou, encaroçou, em bolhas extourou, soltando puz! Ainda assim, o gajo nem ligou!
Eu mesmo a medicar-me, então, me puz! Perdi meu cachorrinho, que empregou a lingua na podreira, mas fez jus!
DIA DA DOR DE DENTE
[10.916]
Meus dentes são sensiveis, Glauco! Basta comer alguma coisa, quente ou fria, que sinto fortes dores! A agonia só passa quando nada mais contrasta!
Disseram que era aiai de pederasta, frescura pura, Glauco! Mas um dia queixei-me e meu dentista, que queria productos empurrar, deu-me uma pasta!
Aquelle dentifricio mais fedia que, mesmo, uma titica de gallinha! Sabor tinha da mais azeda azia!
Não, Glauco! Quer saber? Prefiro a minha dorzinha regular a ver na pia a gosma que cuspi, podre e verdinha!
No meu tempo de infancia, a tal da balla de gomma a molecada, qual chiclette, mascava abrindo a bocca. Qual pivete não ia se exhibir ao mastigal-a?
Mamãe (ainda lembro) sempre falla: “Menino, fecha a bocca!” Mas derrete a balla na saliva, o que promette a scena mais nojenta, alli na salla.
Creanças gostam mesmo de chocar, peidando ou arroctando, quando não “mostrando” sua gomma de mascar.
Mas muito mais nogentas coisas hão os jovens de fazer… Eu, por azar, até bebi chichi de marmanjão…
DIA DA BALLA DE GOMMA [10.951]
DIA MUNDIAL DO HAMBURGER [11.134]
Com carne de minhoca? Você tem certeza? Ainda assim, acho que dou mais chances ao hamburger, porque sou carnivoro… Minhoca? Ah, não! Eu, hem?
Adoro um hamburgão com cheddar, bem forrado de cebolla, que ficou famoso no meu bairro, pois chegou fazendo concorrencia para alguem…
No mundo todo, sempre tem sanduba padrão, que entra na moda popular. Ouvi fallar que exsiste mesmo em Cuba…
Minhoca? Ah, não! Minhoca quem achar que ponham se fodeu! Ninguem derruba a fama dum burgão no paladar!
DIA DO INSECTO [11.145]
Qual bicho, menestrel, affora a aranha, lhe causa maior medo, ou asco, ou só vontade de mactar? Lhe causa dó mactar uma baratta? Causa sanha?
As moscas, os mosquitos, dão tamanha repulsa? Acho que não… Ja vi chodó alguem ter pela abelha, mas um nó ja deu, no meu gogó, comida extranha!
Formiga assada, Glauco! Ja provou? Nem queira! Aquillo causa tanto nojo que, só de mencionar, doente estou!
Nem posso um formigueiro olhar, no bojo do qual ellas se mexam! Glauco, sou sensivel! Vejo larvas no miojo!
DIA DA MINHOCA DOCE [11.197]
Exsiste gosto para tudo, não é mesmo? Ora, accontesce que, hoje em dia, mixturam os sabores, porcaria não acham a maçan no salpiccão.
Agora, chocolate com limão virou coisa normal. Uma fatia de fructa com presuncto ja seria bemvinda ao paladar do cidadão.
Si formos pela logica, mais nada, em breve, faltará. Logo, minhoca iremos comer, ora, addocicada…
Commigo, não! Meu gosto não se troca por sordidos modismos! Mais aggrada ao cego o maccarrão que me convoca!
DIA DO AGOSTO DOURADO [11.216]
O leite, si é materno, claro, deve ser “de ouro” um alimento. Nutrição merescem os bebês, ja que elles são as nossas esperanças, dentro em breve!
Porem um alimento que se inscreve a titulo de “essencia”, por questão ligada à proteina, me dirão que seja o gafanhoto, um rango leve!
Pensou nisso, Glaucão? Vae chegar anno no qual falte comida! Ahi a gente só come gafanhoto… Pensou, mano?
Puddim de gafanhoto! Achou insano? Salsichas naturaes! Quer provar? Tente! Peor não é que ceia de vegano!
DIA MUNDIAL DA ECONOMIA DOMESTICA [11.453]
Hem? Pão ammanhescido? Jogar fora? Magina! Approveitar eu quero tudo! Dinheiro sempre falta, até mehudo! Eu como o pão durinho, às vezes, ora!
Jogar a mortadella fora? Agora que está tão cara, Glauco? Não! Eu grudo no beiço um naco podre, mas não mudo meu modo de pensar! Nada melhora!
Difficil é sobrar, mas, quando sobra, no lixo nunca jogo uma fatia de queijo, que tão caro o bar me cobra!
Fedendo pode estar o que eu teria, às vezes, exquescido numa dobra da velha toalhinha… Mas sacia!
DIA NACIONAL DA FARTURA [11.465]
Glaucão, sou optimista! Bom motivo eu vejo, mesmo nessa carestia! Exsiste inflação? Sobe todo dia o preço da comida? Ah, bem me exquivo!
Me viro! Sou bastante creativo! Si falta bacon, minha theoria é simples: de banana as cascas ia jogar no lixo? Nunca! Sou é vivo!
As cascas, dependendo do que faço com ellas, frictas podem ser, Glaucão! Salgadas, ao tempero dão espaço!
Você nunca provou? Jamais excasso será tal rango! Podem ser ração, das fructas ja chupadas, o bagaço!
SONNETTO DO “HOME OFFICE” [11.688]
No gruppo de trabalho, um advogado, em teleconferencia, faz de casa a sua parte. Toda a these embasa com technica. Detalha cada dado.
Estão engravatados. Só o coitado destoa, de pyjama, pois se attraza e exhibe, ‘inda, remellas, ja que em braza os olhos tem. Paresce extremunhado.
Os outros, por emquanto, fingem nem notar, mas o causidico se sente em casa. Acha alguns cravos, de repente.
Expreme saliente espinha, sem o minimo pudor. Aquella gente formal emfim se coça. Ah, clima quente!
SONNETTO DA BELLA EXCARRADELLA [11.753]
Bem sabes, Glauco, como é que eu reajo! Sou sadico, sim, caso me provoque um trouxa que, submisso, der o toque! Assim accontesceu com esse gajo!
Então quiz humilhar-se elle? Eu ultrajo o gajo, faço que elle se colloque, em publico, por baixo! Bello choque levou quando o fiz, Glauco, usar andrajo!
Vestido de mendigo, foi commigo àquelle bar aonde tambem ias! Cuspi na cara delle! É o que te digo!
Mandei que elle deixasse, por castigo, o cuspe excorrer, grosso! Tu ririas? Que tal me versejares, si te instigo?
SONNETTO DA COMIDA A DOMICILIO [11.769]
Pedi cachorro quente, Glauco, por aquelle popular applicativo. Até na quarentena não me privo dum lindo lanche, egual ao meu doutor!
Mas sabe o que occorreu? O entregador foi visto abrindo o lacre e, sem motivo algum, cuspiu no rango! Ja não vivo pedindo o meu sanduba temptador!
Bem, Glauco, na verdade não cuspira no lanche, mas mordera! Fosse pera, viria com buraco! Sem mentira!
Entenda bem: tem gente que até pira de fome! Mas, Glaucão, não faço cera, cê sabe! Ja chupei-o! O mundo gyra!
SONNETTO DO COLLECTIVO SELECTIVO [11.805]
Num omnibus lotado, o passageiro, sem mascara, primeiro pigarreia. Depois passa a tossir. A bocca cheia lhe fica. De cachaça tem mau cheiro.
E tosse, tosse, tosse… O corpo inteiro saccode. Mais a coisa fica feia: A pique de excarrar, ja não refreia seu impeto. O catarrho sae certeiro.
Aquella gosma verde gruda feito chiclette no cabello da senhora sentada à frente. Gritam: “Para fora!”
{Não toquem em mim! Puro preconceito! Appenas porque tenho o virus? Ora!} Dalli todos excappam sem demora.
SONNETTO DA CANINA PROTEINA
[12.025]
Cachorros confiscados, na Koréa do Norte, são! Nenhum de estimação se pode ter por la! Dizem que cão é luxo de burguez, Glauco! Que idéa!
Será que de comida alli tal é a carencia que dos cães elles farão estoque? Produzir querem ração humana de cachorro, uma geléa?
Tu, Glauco, comerias mortadella à base de cachorro? Não? Eu fallo por feita ser de carne de cavallo…
Bem, pode ser mentira… Quem revela taes coisas dum producto vae no emballo, dizendo que não ha por que enjeital-o…
SONNETTO
DUM VEXAME VERDE-AMARELLO [12.054]
Fallei ja, Glauco, disso. Outra vez narro. Você sabe que um sadico duvida que todo masochista se decida, em publico, a motivo ser de sarro.
Conhesço um gajo sujo, cujo excarro corria pela cara ja fodida do escravo. Não bastava ser cuspida. Só tinha graça a placa de catarrho.
Na frente de nosoutros, o coitado ficava sem poder nem se limpar, depois da cusparada, alli no bar!
Aquella catarrhada que, dum lado, mais verde parescia, alguem achar podia, amarellada ja, no olhar…
SONNETTO DUM SUSPENSE NOS PERTENCES [12.188]
Almosso offeresci, poeta, para que as pazes se fizessem entre gente que estava se extranhando. O pratto quente foi uma pheijoada muito rara!
Sim, Glauco, só com partes (Hem, sem tara!) de bode: pau, colhão… Ah, ninguem tente dizer que não degusta a differente e rara culinaria, alem de cara!
É só não se importar com esse cheiro, com hervas facilmente disfarsado! Quem é que iria, alli, ficar brigado?
Bem, certo não deu muito, pois inteiro ninguem um pau comeu e meu guisado falhou, não aggradou! Mau resultado!
SONNETTO DUM EMPIRICO GENERICO [12.228]
Por que não pode, Glauco? Não tem gente vendendo pombo morto por galleto? Então eu tambem posso, neste espeto, vender escorpião, vender serpente!
Cortados direitinho, caso tente alguem saber que bicho lhe prometto vender, fica na duvida! Commetto algum crime, Glaucão? Não, certamente!
Você nem accredita! Ja vendi, em vez duma lagosta, a tal lacraia gigante! Na conversa tem quem caia!
Aqui não tem problema, pois aqui é terra da bagunça, Glauco! Saia quem fique incommodado, ou leva vaia!
SONNETTO DA CAGANEIRA NO CRUZEIRO [12.278]
Cruzeiros são romanticos, Glaucão? Você não acha, né? Porem tem gente que achava, até que esteve num! Quem sente doer sua barriga dá razão!
Tremenda caganeira a bordo não é caso para riso! De repente, mais outro caga molle e, finalmente, o surto se expalhou! Todos estão!
Privadas não dão compta ja de tanta fecal lama fedida! Arre! Imagina você como tal cheiro contamina!
Quem janta? Quem almossa? Na garganta a gente sente enjoo, que culmina no vomito! Que scena mais suina!
SONNETTO DUM PERFUME DE GARDENIA [12.483]
Aquella mulher linda, Glauco, tem encantos que nenhum de nós suspeita! De corpo, nos fascina, tão bem feita! De rosto, mais ainda! Vou alem!
A bocca, seductora, não, ninguem jamais beijou! Com ella ninguem deita! É, Glauco, descobri! Quem é que acceita um halito tão forte? Nunca! Nem!
Mas ella precisava conhescer um gajo que prefere esse fedor buccal como ninguem, é de suppor…
Ouvi fallar do gajo: seu prazer é baba trocar, Glauco! Só si for! Você, que é sabedor, que pode expor?
SONNETTO DA XEPA [12.494]
Não, nesta pandemia ja ninguem negar vae que da feira se approveita um monte de verdura! Agora acceita a gente comer isso, ou nojo tem?
Mas nojo por que, Glauco, si tambem no lixo nós achamos insuspeita porção de coisa podre que, si feita alguma concessão, a servir vem?
Tomates estragados teem sabor não muito differente dum bonito que, cheio de agrotoxico, eu vomito…
Não sei si tanto nojo do fedor é livre e natural, ou só de mytho não passa! Nesta crise eu accredito…
SONNETTO DAS IMAGENS POLEMICAS [12.579]
A artista performatica não tem nenhum pudor, nem nojo, não, Glaucão! Ceguinha tambem, come com a mão qualquer nojeira crua que lhe deem!
Num video (Removeram, Glauco, bem fizeram!), ella come esse colhão enorme que tiraram, no sertão, dum buffalo! Supporta aquillo quem?
Polemicas vêem nella! A theoria suggere que ceguinhos alegria dão, nisso, para todo bom vidente!
Forçada a fazer isso? Ora, seria normal usarem cegos… Mas iria você comer colhões? Como se sente?
SONNETTO DUM MOTIVO RELATIVO [12.619]
Foi pelo buracão da fechadura um gajo visto, louco, a degustar dum outro o cu, naquelle familiar hotel, da moral publica mais pura.
Depois disso, na hora do jantar, o gajo reclamou daquella dura especie de pellinho, de mixtura ao musculo, na sopa. Deu azar.
Indaga-lhe o garçon, meio offendido: “Ué, mas o senhor nojo não sente daquelle cu, chupado loucamente!”
Responde o gajo: {Nojo certamente você teria caso, num lambido cuzinho, achasse, inteiro, um grão cozido…}
SONNETTO DO CRYPTOCOCCO [12.646]
De pombo o cocô pode virar pó depois que se resecca! Respirar aquillo mactar pode, Glauco! Um ar mephitico, lethal, que vendo só!
Verdade! Minha thia, de quem dó nem tive tanto, milho vinha dar aos pombos que infestavam o logar! Morreu por causa desse seu chodó!
Ahi que eu me pergunto: por que não tambem cocô de gatto, de cachorro, alem da que se gruda no meu gorro?
Bah! Quem me lambe a sola tá bem são e nunca precisou dalgum soccorro! Portanto, não serei eu -- Né? -- que morro…
SONNETTO DO ALVO DAS AVES [12.712]
Não, vate! Essas mesinhas na calçada dos bares, lanchonettes, restaurantes, jamais me convenceram, jamais! Antes comer la dentro minha pheijoada!
Explico por que: Glauco, não ha nada peor do que cocô desses volantes monstrinhos, esses passaros, amantes que são duma animada revoada!
Eu sempre dava azar! No mixto quente, no kibbe, na lasagna, no dogão… Pingava sempre enorme cagalhão!
Por isso recommendo: nunca tente brincar com o destino! Os cegos não excappam! Nem só passaros virão…
SONNETTO DA MASTIGUINHA [12.737]
Poeta, a “mastiguinha” acho que faz effeito bem nojento num novato! Eu era veterano e fui um chato! Dos bichos abusei sem dó, tenaz!
Comida mastigada a gente nas tigellas dos calouros ia, a jacto, cuspindo, Glauco! Os bichos que no pratto comiam tambem nunca tinham paz!
Cuspiamos no pratto, na tigella, até no chão! Calouro que ficasse com nojo sujaria a sua face!
Sentiam um apperto na goela, mas tinham que engolir! Até na classe lhes davamos “gumito” que ennojasse…
SONNETTO DA BOCHECHINHA [12.738]
Tambem a “bochechinha”, Glaucão, era usada pela gente para dar bebida à calourada, cujo bar passava pela nossa bocca, à vera!
Glaucão, dos veteranos a gallera curtia à bessa! A gente que, em logar de liquidos tragar, só bochechar queria, ja a beber tudo os fizera!
Tomavam guaraná com baba, vinho com baba, até cachaça com a nossa saliva mixturada! Gosma grossa!
Calouro que recusa, mais damninho castigo vae soffrer, para que possa sentir do mijo o gosto, sob a troça…

São Paulo 2025
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