NOBEL DE ECONOMIA

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NOBEL DE ECONOMIA

NOBEL DE ECONOMIA

São Paulo

Casa de Ferreiro

Glauco Mattoso

Nobel de economia

© Glauco Mattoso, 2023

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

NOBEL DE ECONOMIA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023

174p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Um premio não ganhei nem ganharei, mas, como todo bardo, dou palpite naquillo que me toca, si irmanado estou com opprimidos os mais varios, na cega condição em que me encontro. Versão abbreviada dum volume que tracta duns assumptos economicos, vem esta collectanea, como livro impresso ou digital, attender aos leitores que queriam folhear poemas allusivos a seus bolsos vazios, ao contrario dos alheios, mormente dos politicos, ou seja, à compta social, que nunca fecha. A todos que estão duros, mais que eu proprio, fortuna lhes desejo, ja que enxergam.

DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312]

Em Roma se pagava p’ra cagar, mas hoje a taxação tem melhor nivel. O imposto sobre a merda é deductivel do grosso que teremos de pagar.

Não ande em contramão, va devagar. As mulctas são pesadas, coisa horrivel! Ja não se tracta mais de “causa civel”:

“tributaristas” temos que tragar!

O Harrison ja disse que a receita lhe deixa um só, retendo dezenove.

Sacou ou não sacou? Gostou, my love?

Achou sua parcella muito estreita? Da sua grana a fonte então comprove, sinão a mão em tudo ella lhe deita!

Não é, gajo, uma machina perfeita? Só falta tributarem quando chove!

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DISSONNETTO DA COMPTA CONJUNCTA [0805]

Flagraram em Paris um ex-cacique politico, ‘inda chefe em sua base. Num banco elle tentava sacar quasi milhão e meio, dando uma de chique. Da grana a origem querem que elle explique, mas pouca informação deixam que vaze. Allegam que ‘inda está o processo em phase primaria, sem que pechas justifique. Caramba! O cara affana ha tempo paca e nada alguem consegue que se prove?

Si esperam mais um pouco, vae a vacca pro brejo, ja que faz noventa e nove anninhos o larappio: a herdeira saca o saldo, e no molhado a historia chove, pois temos mesmo cara de babaca e cremos que termine em “peace and love”.

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DISSONNETTO DA UTOPIA FISCAL [0813]

Bollaram um imposto interessante na enesima reforma tributaria que iria reduzir a “necessaria” e enorme carga em cyma do elephante. Assim como ja exsiste um excorchante “imposto sobre o solo”, uma arbitraria cabeça inventa a nova taxa e pare-a [sic] de “imposto sobre o ar”, por mais que expante! Si polluido está, a desculpa dada é que é p’ra melhorar a qualidade e, quando puro, vira marmellada! Quem respirar demais paga a metade de quem menos consome, e em quasi nada incide o que mais alto se arrecade. Babaca cada qual de nós é, cada detento tambem, porra, attraz de grade!

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DISSONNETTO DIGITAL [0865]

Defende-se quem pode! O estellionato agora é cybernetico: annuncia na China um bom negocio alguem que espia seu micro emquanto um sitio attrae o ratto. Sem firma, sem recibo e sem contracto, você vae se foder! Segunda via nem tente reclamar! Ou quer que ria na sua cara quem o fez de pato?

Peor é quando a compta alguem lhe invade e saca todo o saldo pela rede!

Queixar-se a quem? Ao bispo? Ao padre? Ao frade? Portanto, si o vigario lhe diz “Crede!”, não creia, ja que a probabilidade é o demo ter ouvidos na parede.

Fodeu-se em virtual realidade quem quiz “monetizar” com muita sede.

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DISSONNETTO INFERNAL (2) [0894]

Pegou fogo na casa dum banqueiro e o gajo estava dentro! Juncta gente que forma uma platéa bem na frente do poncto onde esse incendio é mais ligeiro. Emquanto tarda o carro de bombeiro, o povo se diverte! Mais contente ainda fica quando, de repente, o gajo pede adjuda, num berreiro! Gargalham e assobiam ante a scena das chammas envolvendo o velho avaro que grita e, da sacada, afflicto, accena! Até que o chão desaba e engole o caro roupão, com velho e tudo, e da terrena vidinha leva um demo sem preparo. Applausos da calçada, agora plena de gente, esse povinho mais ignaro.

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DISSONNETTO INDUSTRIAL [0896]

O gajo é muito rico, mas tão rico que nem sabe direito quanto tem, si as fabricas são mil ou mil e cem, si é polvora ou comida seu fabrico! Nem com calculadora multiplico a grana do subjeito, e muito alem da compta é o patrimonio: até um harem mantém o billionario rei do picco! Do picco, sim, pois mais que o “honesto” ramo só pode ser a droga seu negocio, do qual não me sustento e onde não mammo. Não digo entorpescente, mas que endosse o mercado de remedios. Só reclamo que, pobre, da pharmacia não sou socio. Ao menos dizer posso que, sim, amo curtir o meu somninho, um sonho, um ocio.

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DISSONNETTO COMMERCIAL [0897]

Naquelle shopping center tem de tudo: revolver imitando os de verdade, carrinho-miniatura, annel que aggrade ao dedo mais grahudo e ao mais mehudo. Sofá forrado em couro ou com velludo, vitrines exhibindo, em variedade, o tennis do rapaz cujo pae nade em grana e que não gaste só no estudo. Da praça das comidas sobe um cheiro moderno, irresistivel, de batata assada ou fricta, alem do pipoqueiro. Dos oculos escuros, ha o que batta no preço dum diamante verdadeiro, mas meu bolso com elles não empatta. Alli sou eu appenas um rasteiro freguez da lanchonette mais barata.

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DISSONNETTO VEGETAL [0899]

A safra foi recorde novamente, sei la quantos milhões de tonneladas, comida que alimenta até manadas humanas, pois tambem o gado é gente! No entanto, uma parcella mais carente do povo nunca come essas saladas lindissimas e tão bem temperadas que nem parescem vindas da semente! Vermelhos, os tomates são fartura enchendo nossos olhos pela feira, ao lado das montanhas de verdura! Não fosse achar na xepa alguma inteira cenoura ou mandioca, o pobre jura que a farta agricultura é brincadeira appenas de creança, travessura egual à de quem planta bananeira.

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DISSONNETTO CAPITAL [0920]

Peguei no pullo quando a nota fria passava em plena feira um piccareta: comprou elle um saccão de ameixa preta e quasi um caminhão de melancia. Pagou e pediu troco; até queria moedas excolher numa gaveta da banca de pigmenta malagueta na qual tem o feirante parceria. O dono da barraca desconfia e a scedula rabisca com canneta p’ra ver si a tincta expalha ou cores cria. Prevendo que o papel mais se derreta, ja troca na local pastellaria e guarda um maço falso na maleta o typico punguista que, da guia, jogou um cego dentro da sargeta.

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DISSONNETTO RESIDUAL [0921]

No banco, uma velhinha tenta, em vão, a apposentadoria ver em dia: a machina outra senha lhe pedia por causa de infeliz digitação.

A velha insiste, tecla, e o caixa não libera a grana, como si a quantia passasse duma parca economia e o numero excedesse algum milhão.

Ja prestes a sahir dalli sem nada, de subito ella vê que seu extracto accusa-lhe no saldo uma bollada!

Teria sido aquillo um mau contacto? Talvez, mas a velhinha dá risada.

Acciona o caçanickeis e este, no acto, lhe embolsa uma fortuna! Na calçada, porem, lhe toma a bolsa um moço ingrato!

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DISSONNETTO PREJUDICIAL [0929]

Na bolsa de valores se baseia um animo excessivo e uma “euphoria”, chamada de “optimismo”, que irradia tentaculos na mais global aldeia. Mas quando alguem descobre que bambeia o fragil castellão de nota fria, o panico se installa e, mal o dia desponcta, está vazia a que era cheia. Fortunas se evaporam que nem fumo e solidas empresas pro buraco la vão, p’ra dar da crise só o resumo. Foi hontem, mas paresce ser tão fracco na mente esse episodio, que eu espumo de raiva, tanto o assumpto me enche o sacco! Nas casas appostar o proprio Summo Pontifice vae, outro que é velhaco.

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DISSONNETTO SOCIAL [0977]

“Repercutindo” a festa de Madame, commenta o badalado columnista que tal ou qual dondoca fora vista vestindo um costureiro que bem chame. Fulano ou Fulaninho deu vexame trajando algo que entrou para uma lista dos dez deselegantes da revista de modas e fofocas mais infame. Só nisso pensa o rico: ser notado por todos como alguem que bem ja nasce, qual ratto que jamais se mixturasse ao ratto e boi que brilhe em meio ao gado. A merda que elle caga tem mais classe: num tom menos marron, mais azulado, não desce, gruda em tudo, mostra o lado humano e de seu dono obstenta a face.

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DISSONNETTO DIALECTICO-DIETETICO [1016]

Attraz do restaurante, rente ao muro do becco, em lattões altos se accumula o lixo e, alli por perto, perambula um velho, a revirar cada monturo. Emquanto alguem, la dentro, o azeite puro derrama na salada e cede à gula, na latta um fructo agguarda quem o engula e ha muito está passado de maduro. A scena, que alguns acham tão nojenta, não causa, alli, pudores indigestos. Por entre insectos move-se a cinzenta e gorda rattazana, e fartos restos mixturam-se, da almondega à polenta. Ninguem diz, nem nos lares mais modestos, que mal e porcamente se alimenta, malgrado os esquerdistas manifestos.

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DISSONNETTO DO MEIO CIRCULANTE [1188]

No carro do assessor, no gabinete, na casa do politico: por onde se queira procurar, alguem esconde dinheiro vivo, grana p’ra cacete! No fundo falso, embaixo do tapete, no cofre attraz do quadro do Visconde, no sotam, no porão… Quem não responde que achou a nota, a scedula, o bilhete? São maços e mais maços, uns com cincta, os outros com elastico, e verdinha é como mais se estampa a cor da tincta! Excepto aqui: nas malas onde eu tinha guardado algum valor, não restam trinta moedas, muito menos a abobrinha! E então? Como é que esperam que eu me sinta? Com cara de palhaço ou de bundinha?

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DISSONNETTO DA PROPAGANDA ENGANNOSA [1344]

Producto “maquillado” nos enganna bem facil: no biscoito e no papel hygienico, se perde nossa grana mais vezes que com vento no pastel!

O assucar empedrado era de canna, mas “puro” informa o rotulo do mel!

E quanto menos chique a zona urbana, maior o readjuste no aluguel! Está o consumidor mais que fodido, pois paga bem mas toma o comprimido pensando ser remedio, e não placebo!

E come, em vez de carne, podre sebo! No voto, a mesma coisa: o candidato se elege mas, emquanto não o macto, só delle uma banana é o que eu recebo! Nem mesmo uma luzinha mais percebo!

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DISSONNETTO DOS URBANISTAS COMMUNISTAS [1351]

Favellas incommodam! Se commenta que, para eradical-as, dão a cada familia o equivalente, hoje, a quarenta mil! Optima essa offerta, hem, camarada?

Não acha nada certo a rabugenta patota de urbanistas: quem invada terrenos quer ficar onde se assenta e não ceder espaço à burguezada. Si o publico poder não indemniza, a propria constructora, que indecisa não é, tracta de arcar com a mudança. Ponhamos, ora, as coisas na ballança! Não quer saber o pobre favellado si os intellectuaes olham seu lado ou pensam que elle pensa com a pança. Quem é que, no final, bonito dansa?

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DISSONNETTO DA HYPERINFLAÇÃO HISTORICA [1437]

O dollar é verdinho. Ja o cruzeiro primeiro foi azul, na menor nota. Depois foi o dinheiro brazileiro se desvalorizando, e era chacota. “Cabral” ou “abobrinha”, este o fuleiro nominho que o povão então adopta à scedula de mil, antes que, inteiro, perdesse o monetario nome a quota.

Virou “barão” a scedula, devido ao gordo Rio Branco: quem a visse achava que valia. Até duvido que algum dia seu titulo cahisse. Mas veiu, appós o “novo”, um tal “cruzado”. Effigie, então, valeu até de vice. Cortou-se tanto zero que, coitado, dizer que vale nada é gabolice.

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DISSONNETTO DA GRANA A GRANEL [1498]

Em vez de numa loja ser vendido, ja compro até no banco o chocolate, tão alta a quotação, que tem subido accyma do que vale outro quilate.

Ballança em que, antes, ouro era medido, agora é mais commum que cuide e tracte dum ouro comestivel, preferido quer do capitalista, quer do vate. Minusculos tablettes custam tanto (em euro ou libra, dollar ou cruzado, conforme o cambio), para meu expanto, quanto um lingote solido e dourado.

“Dinheiro ou chocolate?”, o caixa indaga, si tenho algum em compta creditado e, ja que assim prefiro, elle me paga em trez bombons metade do ordenado.

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DISSONNETTO DO VIL METAL [1548]

A prosa é como a nota: egual valor terá que uma moeda, si ella for daquelle mesmo numero. Suppor que a pratta do papel ganha é favor. Moeda é poesia, por comptar com mais peso e relevo, e dar logar ao verbo resumido. Comparar a nota à prosa é facil, nesse olhar. A scedula ao detalhe dá poder maior, faz mais espaço o texto ter, e grandes importancias faz valer, mas logo o portador fica a dever. O nickel brilha mais e, por tinnir, barulho faz tambem, pois seu porvir prevê que ao vil papel vae subsistir, tal como o prego aguenta algum fakir.

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Ganhou o appostador na lotteria e quiz mudar de vida: implanta dente, faz plastica, suppondo que teria mais chance si ellas acham-no attrahente. Casou-se, mas a esposa só queria a grana, e envenenou-o… Quem se sente vingado é quem gastou essa quantia da apposta em tiragosto ou aguardente. Pergunta-se o chocolatra: addeanta ficar sem chocolate e pagar tanta fezinha? Compensou ser um sortudo? Não é qualquer trocado tão mehudo! Da vida o que se leva é o que se vive: quem quer approveitar, que não se prive do pouco pela apposta em ganhar tudo. Prefiro uns brigadeiros. Não me illudo.

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DISSONNETTO DO HOMEM PREDESTINADO [1558]

DISSONNETTO DO CRIME FAMELICO [1594]

A camera indiscreta e patrulheira que ha no supermercado photographa os passos do moleque que se exgueira por entre as pratteleiras e as “abbafa”. O joven ladrãozinho faz a feira: biscoitos, doces, ballas… A garrafa de whisky não lhe excappa à mão certeira!

Minutos mais, e o joven ja se sapha! Detido na sahida, foi levado ao proximo districto. Ha quem confisque aquillo que roubou. É o delegado, que indaga: “Si é por fome, por que whisky?” O cynico ladrão nem titubeia, sciente de seu risco, caso pisque. Sabendo que não fica na cadeia, responde: “Só por pão, tem quem se arrisque?”

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DISSONNETTO DA CAMA FEITA [1628]

Uma saccola plastica demora cem annos (é o que dizem) para, emfim, deixar de polluir tudo que, agora, pollue! É muito tempo, para mim! Em casa, aquelle lixo para fora jogamos sem pensar! Não sendo assim, o plastico accumula e, alguma hora, terá que lhe ser dado qualquer fim. Exsiste solução? Alguem tem peito? Saccolas recyclaveis solução sensata me parescem, porem não entende assim qualquer governo estreito. Dos taes “especialistas” eu suspeito. Que querem? Quando não houver logar nenhum mais para o plastico jogar, com elle forraremos nosso… leito!

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DISSONNETTO DO EQUIVOCOMBUSTIVEL [1630]

Si somos, das potencias, o quintal, e tudo fornescemos, por que não tornarmo-nos, tambem, cannavial a fim de produzir-lhes combustão? De canna um mar, e nada mais… Que tal?

Petroleo ja não basta: agora são testados combustiveis com aval dos maus ecologistas de plantão!

Alcoholico quer ser o carro gringo e, quando não nos reste mais um pingo, em outras fontes elles vão mammar, brindando alegremente em cada bar! O amargo gosto fica em quem se priva da canna doce, para que bem viva quem só desertifica o que era mar e sobre nossos lixos quer lucrar!

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DISSONNETTO DO PAPEL DE DESTAQUE [1646]

A folha de papel, que se soltara da mão da menininha, foi pousar no pateo do outro predio, mas tomara que eu possa descrever seu “tour” pelo ar! Primeiro, ella voou directo para a frente e, de repente, ao seu logar de origem quiz voltar. Mas deu de cara com vento opposto, e poz-se a espiralar. Partiu do quincto andar, mas, até ter pousado sobre a lage, seu fluflu de tantos rodopios deu prazer a quem a accompanhasse a olho nu. A proxima folhinha ella ja ia soltar, para planar feito urubu nos céus, quando a mão rapida da thia lhe toma a grana e evita mais preju.

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DISSONNETTO DA REUNIÃO DE DIRECTORIA [1655]

Si alguma escuta houvesse, alli na salla que toma as decisões da companhia, a gente iria ouvir, e condemnal-a, a mais bandida e suja theoria.

“Como é que se produz, em larga escala, productos fajutados que, no diaa-dia do consumo, em nossa mala de grana, roubem mais à freguezia?”

Em termos mais ou menos parescidos os donos das empresas, reunidos, decidem como assaltam o povão otario, que lhes compra a producção. Si os phones lhes grampeia a lei, verá que differença alguma ja não ha entre os que formam mafia e “honestos” são, alem dos que governam a nação.

33

DISSONNETTO DO PEDINTE PEDANTE [1712]

Entrou na padaria um andarilho pedindo que lhe dessem de comer. Ao vel-o, maltractado e maltrappilho, acharam que não tinha o que excolher. Lhe deram uns pãesinhos: “Tó, meu filho!” Suppõe-se que sorriu foi de prazer. {Só pão ammanhescido? Não me humilho assim!}, é o que seus labios dão-me a ler. Palavras que, em canção, se recuperam. Estava eu certo. Saio da padoca e vejo que, la addeante, elle colloca no lixo o grande sacco que lhe deram. Burguezes conclusões vis asseveram. Ainda pelo chão umas bisnagas restavam. Por não terem sido pagas, não mactam fome, como elles esperam.

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DISSONNETTO PARA UM ESPECULADOR [1742]

Mercado financeiro é estellionato: uns expertinhos montam o casino e chamam: “Gente, apposte, que o destino será mui promissor!” Quem paga o pato?

O pobre poupador, é claro! O facto é que quem manipula faro fino tem para a “oscillação”! Eu me previno e taes “investidores” não accapto!

Qual bolsa, quaes acções, fundos, qual nada! “Productos” desses roubam-nos a nota!

É tudo grande, immensa marmellada que só beneficia algum agiota! Debaixo do colchão guardo meu rico tostão, ‘inda que magra seja a quota! Si cada vez mais pobre e puto fico, é mesmo azar, não é que eu seja idiota!

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DISSONNETTO PARA A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [1746]

Bandidos, ao fugir, depois do assalto, são perseguidos pela viatura e escondem-se num predio. “Mãos ao alto!”, lhes grita o tira, ao vel-os la na altura. {Não vamos nos render!}, é o que assegura um delles, que de escrupulos é falto. E como os policiaes teem ja postura de attaque, a grana joga em pleno asphalto. As scedulas despencam, em cascata, da mais alta janella! O povo cata aquillo, e se engalfinha ao pé do predio! Não venha reclamar ninguem de assedio! Tamanha a confusão, que os guardas não conseguem controlar! O bando, então, se sapha em meio ao povo… E quem impede-o? Alguem mostra aos gambés o dedo medio.

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Debentures, apolices… papeis deixou o fallescido. Mas é tudo do tempo do cruzeiro e dos mil reis, não deve ser valor la tão polpudo. Herdeiros ja fizeram um estudo e um titulo que achavam valer dez só vale meio, ou menos… Tem escudo, peseta, lira, e granas mais chués. Accabam concordando que em logar nenhum se acceitará o que o titular daquella papellada queira nella, excepto uma risivel bagatella. As lettras, coloridas, com dinheiro até que se parescem, mas inteiro o maço é ja brinquedo na favella. Deu muita figurinha chique e bella.

37
DISSONNETTO PARA UNS PAPEIS DADOS DE GRAÇA [1780]

DISSONNETTO PARA A LUCTA DE CLASSES [1933]

“Não tem patrão amigo de empregado!”, diz o syndicalista. Si um peão ganhar na lotteria, por seu lado, dá logo uma banana a seu patrão. Autonomos se gabam de que não devem satisfacções a algum saphado e podem dar-se ferias, feriadão, ou greve sem descompto no ordenado. Assim que alguem prospera, ja a primeira medida a ser tomada (até que hilario resulta tal desfecho), caso queira manter-se, é contractar um funccionario. “O sonho do empregado é ser patrão!”, diz delles o burguez de anecdotario. Ninguem contente fica. A conclusão é que pinctinho é gallo a quem compare-o.

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Si a greve se decide, quem a fura meresce ser barrado. O pensamento que move os piqueteiros assegura um vale-tudo e dá-lhes mais alento. Na porta das empresas, pouco dura aquella empolgação, pois cem por cento dessa categoria tem é pura paixão pelos patrões, pelo que advento. [avento] Não vi ninguem mais vacca-de-presepio que a classe desse cara! Quem estrepe-o ainda ganha delle uma chupeta! Depois, fará que rolle na sargeta. Será que anda o mercado tão excasso que tem do desemprego um tal cagaço a poncto de que nada o comprometta, aquelle “puxa”, aquelle vil cagueta?

39
DISSONNETTO PARA UMA PARALYSAÇÃO ABORTADA [1947]

DISSONNETTO PARA A HARMONIA COMPTABIL [2012]

A coisa é mathematica: si alguem lucrou, outrem perdeu. Quando um centavo no bolso entrou-me, alguem, que o tinha, sem o dicto agora está, mas as mãos lavo. E quando alguem gargalha, outrem mais bravo ou triste o contraponcto fará: vem ao caso assignalar que todo escravo trabalha emquanto folga o amo que o tem. Assim, para que o orgasmo um homem goze e satisfaça a sua phantasia, um outro de agonia a mesma dose terá de supportar: eis a harmonia. O sadomasochismo, pois, se explica. Um soffre, emquanto um outro se sacia. O cu se sacrifica, emquanto a picca penetra, arromba, rasga e se ecstasia.

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DISSONNETTO PARA UM VALOR INESTIMAVEL [2072]

Sumiço dum Van Gogh e dum Picasso, carissimos, dá susto no mercado. Será que algum museu, que algum ricaço, sem culpa, compraria algo roubado?

“Não quero nem saber! Tudo que faço é appenas compra e venda!”, por seu lado allega quem recepta. “Eu só repasso as telas e facturo algum trocado…”

Duvida quem? Terceiro Mundo nem devia ter museus: as obras bem melhor, alli na Europa, vão ficar.

Alli sim, é das artes um bom lar! Ainda que não chegue ao Louvre, a tela será bem exhibida, como aquella dum colleccionador particular que queira Abaporus multiplicar.

41

Si peida o presidente americano, o mundo repercute pela imprensa. Maior repercussão, porem, é o damno causado pela Bolsa, quando tensa. Confirma-se uma crise como panno de fundo, e algum banqueiro nos dispensa seu caro minutinho para um plano propor… com audiencia em rede, immensa. Qualquer um quer vender um bom conselho. Si um especulador falla em “cautela”, a midia ja lê “panico” e arrepella nos homens de negocio até o pentelho. Mas eu não me reflicto em tal espelho. Si fallam “Tá fedendo!”, em vez dum pum, o mundo inteiro entende que o tal “boom” da Bolsa, antes azul, ficou vermelho.

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DISSONNETTO PARA UM PRONUNCIAMENTO FEDORENTO [2100]

DISSONNETTO PARA UM EMERGENTE ILHADO [2131]

Brazil, juncto a Ruanda, Angola e Congo: um gruppo de paizes sem destaque. Do parto da montanha, um camundongo: iremos é passar de BRIC a BRAC. Futuro, pelo jeito, é tempo longo demais para um Brazil que só tem craque na bolla: na politica é só mongo, bebum, noia e pinel, affora a claque. Assim, não se “pogrede” e falha o lemma inscripto na bandeira: mais “pobrema” nas costas do cacique de plantão, ainda que mandão não seja tão. Si Russia, ou India, ou China, está no bloco dos grandes, nesse bloco eu não colloco o estado que é mais patria que nação, a patria que é piada ao seu povão.

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“Jamais eu entraria (disse o Groucho) num clube que me acceite como socio”. Tambem na lei de Murphy nada frouxo paresce esse argumento, nem beocio. Millôr pode ser quem melhor esboce-o em termos allusivos ao arrocho no credito bancario. É o tal negocio: mais leva quem ja está com olho roxo. Você consegue a grana caso prove que della não precisa. Não commove ninguem no banco o appello dum fallido. Na physica a lei sempre faz sentido. Do pobre todo emprestimo é cobrado. O banco offertará valor dobrado só para algum politico… ou bandido. Si estou fallido, nunca me endivido.

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DISSONNETTO PARA QUEM SAE NA CHUVA [2177]

Errar no troco é coisa que accontesce nas boas e melhores padarias. Por que será, porem, que o caixa exquesce de dar-nos um tostão todos os dias? Vem sempre troco a menos, reconhesce o proprio funccionario, o Malachias. Um troco a mais, jamais, nem que uma prece eu faça àquelle Murphy, que é Messias. Assim, de falha em falha, o Manoel que, claro, é proprietario brazileiro de estirpe lusitana, faz papel mais de banqueiro que dalgum padeiro. Quem é que não se lembra dos centavos que o banco “arredondava” com inteiro e solido consenso? Jamais bravos ficavamos, tão pouco era o dinheiro…

45
DISSONNETTO PARA DOIS VINTENS EXCAMMOTEADOS [2210]

Chartões “corporativos”? Eu tambem desejo para mim essa mammata!

Caramba! Ja pensou? A gente tem um saldo illimitado e alheia é a pratta! Gastamos, debitamos… e ninguem nos cobra, fiscaliza, nem delata! Salario é só fachada: o que mantem as comptas dum politico é pirata! De “plastico”, o dinheiro, quando é nosso, nos custa, cada zero! Eu ca não posso gastal-o sem pagar juros ao banco. Eu, para ser bem franco, um trouxa banco! Um “alto funccionario”, porem, saca no caixa, torra os zeros, e o babaca aqui sustenta a farra e aguenta o tranco! Que tal isso chamar de “cambio branco”?

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DISSONNETTO PARA UM CHARTÃO QUE NÃO É VERMELHO [2214]

DISSONNETTO PARA UM LIQUIDO EM LIQUIDAÇÃO [2219]

Está na lei de Murphy: a gente faz mais compras do que pode consumir. Banana, por exemplo: o preço assaz barato não nos deixa resistir. Si vemos “em offerta” um elixir do somno, ou capillar, caro, aliaz, achamos que é vantagem. Si subir o preço, ninguem dorme mais em paz. Então sobra a banana, que appodresce ao lado de laranjas ou mammões.

Cabello não terá queda que cesse por causa de elixires ou poções. O somno, como a merda, só vem quando quizer, não quando eu quero. Taes licções jamais apprenderei e, agora, mando à puta que pariu as promoções!

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DISSONNETTO PARA UMA MOEDA MEHUDA [2269]

Na quotação do dollar, Murphy deita e rolla: quem viaja ao exterior não pode pechinchar que não acceita comprar quando é mais alto seu valor. Na volta, quer vender e, desta feita, encontra o cambio em baixa. Quando for de novo viajar, outra desfeita dos factos: ja subiu… Nunca a favor! Da physica a lei logo se colloca: Si, para variar, Godinho troca, com muita antecedencia, a massaroca de notas que guardou, e lucra nisso, verá que é Murphy cumplice de Sade!

Na certa nem terá opportunidade de usar esse dinheiro, pois lhe invade a casa o “amigo” e nelle dá sumiço.

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DISSONNETTO PARA A PRESUNCTADA INDUSTRIALIZADA [2316]

Principio da bollacha: si é “maria”, “maizena” ou qualquer outra, só depende da forma e da emballagem. Quem a vende appenas engambella a freguezia. É “tender”? Calabreza? Ou só seria a padronização que se pretende em todos os productos? Bem mais rende ao rico fabricante que a maquia. O sonho dessa industria de comida é ver a humanidade consumindo um cubo de ração descolorida, sem cheiro, sem sabor, sem esse lindo frescor da natureza: que progrida a industria, pois robot vou me sentindo! Um dia, tal porção será servida a bordo duma nave, em rhumo infindo…

49

DISSONNETTO PARA A BATTALHA DA GENTALHA [2359]

Daquella vez, estava eu mesmo duro, durão, na pindahyba, sem um puto! Que foi que eu fiz? Pensei num jeito astuto de dar um golpe e me livrar do appuro. Quebrei minha moringa! Não censuro quem usa desse truque: o que eu escuto é que sempre dá certo! Num minuto, sahi, na mão um caco, bem seguro. No parque, offeresci a reliquia a um gringo que, vendo a “antiguidade” artezanal, me deu por ella um dollar, no domingo. Agora, na segunda, ja estou mal de grana novamente, mas me vingo: mais cacos guardo, de valor egual! Por isso quem trambica nunca xingo: não roubo, não sou como um marginal!

50

DISSONNETTO PARA UMA EXPLOSÃO NAS VENDAS [2407]

Explode a batteria e, que nem molla, ao longe é arremessada. Um cellular virou bomba-relogio, sem marcar, comtudo, qual a hora em que decolla. Tá louco! O fabricante não controla aquillo que fabrica?! Vae fallar alguem ao telephone e, no logar da voz, escuta o extrondo, que o degolla! A casa incendiada, o prejuizo na roupa extorricada, quando não um novo passageiro ao paraiso! Será que um apparelho novo é tão urgente e necessario? Eu não preciso pagar tanto, si quero uma explosão! Me basta a bexiguinha, de improviso, em festa de creanças, no sallão…

51

DISSONNETTO PARA O CONSUMIDOR INDEFESO [2408]

O leite ja na caixa vem azedo e azeda mais ainda na panella? A minha geladeira é que não gela, allega o vendedor, e eu retrocedo. Contem veneno a tincta do brinquedo, mas, só depois que a midia nos revela o risco, é que o governo intima aquella industria a recolher o que dá medo.

Vivemos como a typica cobaya dum louco scientista: emquanto nada peor accontesceu, que o leite saia! Morreu uma creança envenenada?

Melhor, antes que o lucro delles caia, lançar outra boneca addocicada, ou outro “protector”: depois da praia, a moça que, então, arda, assim tostada!

52

Quem queira, suba o morro e venha ver a nossa informalissima maneira de se sobreviver! E, caso queira junctar-se a nós, topamos, com prazer!

Trouxinhas, papellotes, a saber, productos desta industria tão caseira; tijolos, saccolés: para quem cheira

ou fuma, nada falta, podem crer!

Trabalho registrado? Eu, hem? Que nada!

Salario de miseria não compensa!

Prefiro esta bagunça organizada!

Otario é quem trabalha nessa immensa cadeia productiva controlada!

Bonde São Januario? Dá licença, doutor! Mas que conversa mais fiada! Ninguem ja no trabalho tem tal crença!

53
DISSONNETTO PARA OUTRO TYPO DE BONDE [2677]

DISSONNETTO SOBRE A FARINHA POUCA [2780]

Mas isso é exactamente o que se chama comptar com ovo dentro da gallinha!

Na crise de alimentos, um fominha irá lucrar, e o povo só reclama!

Mercado que é “futuro” enseja a trama malefica: uma safra ‘inda nem tinha sementes a plantar, e a Bolsa vinha

dizer quanto valia o kilo, o gramma!

Na cara está que o que se negocia dez vezes representa o que se planta!

Importa a quotação, si ella levanta!

Portanto, vae faltar comida, um dia! Ou vae faltar dinheiro! Assim, quem janta é aquelle que, expertinho, uma fatia daquillo que maior valor valia tirou primeiro, si não temos tanta.

54

Faz tempo que eu trabalho feito um louco, ficando alem da hora, dando um duro damnado, e continuo neste appuro! Estou, mesmo, ganhando muito pouco!

O meu syndicalista está ja rouco de tanto protestar, mas eu procuro ficar fora da greve. Eu sei, atturo

demais, mas a champanhe, um dia, expouco! Duvidam? No momento, falta um zero na ciphra do que eu ganho, tudo bem.

Acaso bom salario ganha alguem?

Mas rico é meu patrão, e escravo o quero! Achei o seu segredo: elle me tem tesão pelo pezão! Vou ser severo, mostrar que ser pisado não tolero por elle, escravizal-o, e augmento vem!

55
DISSONNETTO SOBRE UM PEÃO E SEU PEZÃO [2837]

Prevejo: a solidão vae accabar commigo! É muito estupido quem queira viver nessa esperança a vida inteira! Desisto, e ja nem saio deste bar! Amigo é coisa facil de encontrar, não sendo uma amizade verdadeira.

Tambem de achar amante uma maneira bem simples é pagar, num lupanar. Eu quero, todavia, algo sincero: que seja alguma lagryma, que seja ao menos um sorriso… Isso é o que eu quero! Será que este coitado muito almeja?

Será que minhas magoas exaggero? Será pedir demais? Si alguem deseja morrer menos sozinho, juncte zero, mas não à esquerda: o amor vem de bandeja!

56
DISSONNETTO SOBRE AS BOAS COMPANHIAS E SUAS ACÇÕES [2850]

DISSONNETTO SOBRE O UFFANISMO E O AFFANISMO [2911]

Perguntam ao poeta: “Donde vens? Que tem o teu paiz? Onde é que está?” Responde elle dizendo que não ha logar melhor no mundo, ou com mais bens. Não valem nossas minas só vintens, nem mares, nem florestas valem, ca, centavos ou tostões. Quem menos dá por nosso solo, extrae-lhe uranio em trens. Pedreiro, garimpeiro, jangadeiro, vaqueiro, boiadeiro, estes jamais verão o que foi feito do dinheiro de leve mencionado nos jornaes. Dos tempos de merreis e de cruzeiro, os poucos pinheiraes e syringaes, e os parcos palmeiraes do brazileiro mal valem bananaes dos mais banaes.

57

DISSONNETTO SOBRE UM PRIVILEGIADO DESPREVENIDO [2924]

“Eu tenho uma casinha la na praia, só vendo que belleza! A trepadeira floresce na estação e fica inteira de brinco-de-princeza cheia…” (Vaia)

“Por que vocês me vaiam? Caso saia do Rio, ha carioca que não queira morar assim? A casa fica à beira dum coqueiral…” (Tomates e mais vaia)

“Esperem! O que eu digo é tão sensato!

Esperem mais um pouco, até que eu diga como é que, nos cantheiros, dei um tracto…”

(Mais vaia, gritaria nada amiga)

“Entendo! Vocês moram, que nem ratto, no exgotto! Então, exquesçam a cantiga!”

(Agora attiram faca, garfo, pratto vazio, quasi partem para a briga)

58

DISSONNETTO SOBRE UM MARTELLO BATTIDO [2987]

Na hora do leilão, o leiloeiro loteia tudo quanto está no prego: “Mulata, violão, samba… Eu entrego trez terços do thesouro brazileiro!”

Seguindo seu exemplo, eu, por dinheiro, penhoro aqui a fortuna que carrego. Do cofre dum podolatra que é cego, trez peças todo mundo quer primeiro: A bota dum soldado que ‘inda serve nas forças do sertão e do cerrado. Nem dou mais pormenor: só pelo estado da sola, se vê como o pé lhe ferve! A meia do soldado, sujo o lado de fora e ‘inda, por dentro (Que conserve o cheiro, bom seria!), alguem observe, suada! E o proprio pé, tambem suado!

59

Cabreiro, em caso assim, me posiciono: banqueiro é sempre um cara bem sacana. Nem sei como tem gente que se enganna, ou deixa-se engannar, que nem um mono!

Você, que está cagando no seu throno, responda ao que o jornal jamais explana: quem é que deposita sua grana num banco sem fachada e que tem “dono”?

Um banco tem gerentes, presidente, agencias, accionistas… Não é “Marca” nem “Opportunidade” que se invente! Si alguem abre uma compta e nessa embarca, sustenta quem não é nem seu parente! Que amargue esses prejus com os quaes arca! Mais vale, então, deixar a nota quente debaixo do colchão, ‘inda que parca.

60
DISSONNETTO SOBRE UM FUNDO SEM SACCO [3013]

DISSONNETTO SOBRE UMA IMPRESSÃO PASSAGEIRA [3022]

Manhattan, uma sola de sapato, dos negros tem o bairro la no salto, mas onde o arranhacéu fica mais alto é aqui no bicco, e apperta o meu pé chato. Ja fui às torres gemeas. Me engravato, agora e, appós pisar sangue no asphalto, me agguarda um compromisso ao qual não falto, no predio onde o que é caro sae barato. Alheio ao chaos, dos riscos me previno. Souzandrade antevira aqui um inferno, mas calço meu lustroso bicco fino. Bilac a achou mui moça e mui moderno seu porte. Eu, callejado, vaticino que a traça entrou na meia e quer meu terno. Pensando bem, prefiro o meu junino, sem neve, bem mais leve, meu hinverno.

61

FAJUTOS PRODUCTOS [3102]

A midia, que devia comprar briga, não compra. O radio, eu acho, que receia perder um patrocinio, titubeia. E pros consumidores ninguem liga. Eu mesmo testemunho: duma figa são essas emballagens! Quem tacteia torradas, ou queijinho, soffre, creia, emquanto desembrulha! E você? Diga! Depois que, emfim, consigo abrir a bosta daquelle pacotinho que detono, foi tudo esphacelado! E me questiono: será que o fabricante disso gosta? Mas pode interessar ao proprio dono da fabrica que a gente, por resposta, se enchendo a paciencia do que a tosta, suggira de seu rotulo o abbandono!

62

ELITISMO VERSUS PROSELYTISMO [3159]

Convicto, um visionario sentencia: só exsiste um mal no mundo: a economia. Até que tem razão, que combinar nós temos. Mas convem ir devagar. O cara, às precauções indifferente, fundou a Antimammonica, uma seita que visa queimar grana e, incrivelmente, encontra quem àquillo se subjeita. De inicio, pede appenas donativo; mais tarde, ao roubo appella e, clandestina, divulga na internet o que um sovina mais teme: ver a arder dinheiro vivo! Depois de tostar muita nota quente, depois de tocar fogo na receita total dum grande premio, um dissidente do lider, emfim, flagra o que suspeita: A grana incinerada é nota fria e um fundo a verdadeira financia. Assim é sempre. Cabe resalvar: com furos eu, de meias, tenho um par.

63

MÁ THEMATICA [3162]

É sempre aquelle mesmo ramerrão.

“Cahiu a producção industrial…”

“E as vendas no commercio…” E coisa e tal. Noticias essas sempre encher me vão.

Só sendo, ouvindo os dados, bem masoca!

Por cento a mais p’ra la, por cento a menos p’ra ca… Mas essa midia não se toca que a gente quer saber de outros terrenos?

Por numeros somente se interessa quem seja economista ou empresario!

Ao publico normal, noticiario, de facto, são os factos, ora essa!

Si eu pago, uma leitura quero, em troca!

Eu quero assumptos, grandes ou pequenos, e não essa estatistica! Me choca o escandalo! Amo o crime, os nus obscenos!

As comptas no preju sempre me estão!

Da tela, emfim, do radio, ou do jornal, espero o que é banal: sensacional materia de geral repercussão!

64

BANANA POR PESO [3170]

Perdemos sempre, emquanto passa a vida. Milhão foi, numa scedula, bastante. Não compra, ja, siquer refrigerante a nota que ficou diminuida.

Comprando, vez mais cada aqui me privo. Nas hyperinflações, papel-moeda com muitos zeros perde o acquisitivo poder rapidamente, e o vinho azeda. Mas entra sempre em scena o numismata, que, à guisa de alchymista, em metal nobre transforma até cocô… Mesmo que eu dobre a offerta, por merreca elle a arremacta. Ja nada ser mais pode um lenitivo.

Eu tive em mãos a nota, mas, na queda, a zero foi. Comprou-a, muito vivo, o mago: hoje ouro puro ella arremeda!

Aquella que por mim foi possuida vendi. Me arrependi. Tambem garante valer meu verso um troco outro tractante. Mas este não o vendo! Alguem duvida?

65

EM DIA COM A VIDA [3247]

Mas como? Um cellular, você não tem?

Não tem chartão de credito, tambem?

Nem camera, nem banda larga, nem um plano de sahude? É um Zé Ninguem!

Não vê que a informação se padroniza?

Ainda nem comprou computador?

Não posso accreditar! Você precisa plugar, se connectar, a par se pôr!

Pamonhas são “caseiras”, ouça: “Venha provar, minha senhora, é uma delicia!”

É a chance à sua porta! Desperdice-a e alguem, no seu logar, lhe ganha a senha! Se priva quem tostões economiza!

Jamais se exquesça, quando você for à feira, da banana! Uma pesquisa revela que ella cura e tira a dor!

Fallando em cura, nova versão vem da pillula do cancer, do recem lançado xaropinho do nenen, do “cha da meia-noite” ao “pó do Alem”!

66

AGOURENTO OFFERESCIMENTO [3470]

De “theatro” ha quem o chame e eu com “circo” o identifico. Mas não chamem de “reclame” nem de “annuncio” o appoio rico. “Patrocinio” é o nome infame do negocio, que, no picco da audiencia, rende o “arame”, mas, na baixa, vira mico. Não tem jeito de excappar: futebol, corrida, nada disso evita a marmellada, ou no podio, ou no placar. É bastante elementar: na victoria, ninguem cobra. Na derropta, foi “manobra” e é preciso “investigar”.

67

HORARIO PUBLICITARIO [3478]

“Até ja! Dentro de instantes, voltarei, tá? Fique ahi! Vae ser rapido! Mas, antes, o intervallo, hem? Ja sahi!”

Promoções, refrigerantes, bancos, lojas… Eu ja vi esse filme! Que tractantes! Pois irei fazer chichi! Dá até tempo de cagar, de limpar bem cada banda e voltar ao meu logar, que não finda a propaganda! O subjeito, mal voltou, para fora, às pressas, anda! Interrompe, rindo, o show e outra pausa ja commanda!

68

PROPAGANDA QUE DEBANDA [3547]

Descobrir uma obviedade é frequente pela imprensa. Que o barulho desaggrade pesquisarmos se dispensa.

Pois achar publicidade

barulhenta nem compensa: todo annuncio que me invade pela tela é sem licença. No intervallo, sempre o som amplificam! Que agonia!

Si o negocio fosse bom, eu da salla não sahia!

Tecla “mudo” no controle é p’ra isso: me allivia por um tempo. Quem engole gritaria da Bahia?

69

PATRIMONIO CULTURAL [3816]

Papeis velhos, livros, tudo empilhado. De poeira tudo está coberto e, mudo, jaz o radio de madeira. Na poltrona de velludo, bem ao lado da lareira, exquescido, aquelle estudo manuscripto a mofo cheira. Ninguem entra alli faz annos! Si soubessem os insanos filhos, nettos, os herdeiros, dos valores verdadeiros! Quotação incalculavel teem taes notas… Mais provavel é que as levem os lixeiros ou entupam os boeiros.

70

DINHEIRO SUADO [3929]

Tentando despistar algum ladrão (e algum policial), elle colloca dinheiro na cueca: a nota toca o sacco, adhere à dobra do colhão. Cem dollares, reaes… As notas não são muitas: cabem, pois, naquella toca insolita, ao contacto da piroca mijada e dos pentelhos do mijão. Não sendo revistado, tira o cara, emfim, de dentro a grana ammarrotada, papel que ao da privada se compara, mas volta a circular na madrugada. O gajo, mesmo tendo mão avara, mais tarde paga alguem com isso, e cada coitado que recebe nem repara na scedula, ja secca, antes mellada.

71

PECCADO CAPITAL [3962]

Capital, mesmo, só vejo um peccado: o da avareza. Este, sim, é malfazejo, não o orgasmo e a rolla tesa!

Quem dinheiro tem, sobejo, mas não quer fazer despesa, este é cego, pois, sem pejo, poupa até na luz accesa!

Nem conhesço outro peccado.

Quem bem come ou bem fornica

não peccou: appenas fica mal, depois de saciado.

Tambem vale este recado: Quem seu gosto satisfaz, com mulher ou com rapaz, a mais sempre dá um trocado.

72

PAPEL SEDOSO (1) [3971]

Eu sou mesmo muito rico, muito mesmo, mesmo muito. Quanto mais eu multiplico, tanto mais é meu intuito.

Appesar de estar no picco dos que brilham no circuito social, me mortifico por motivo o mais fortuito:

Tambem cago, como os pobres!

Tambem fedo ao soltar flato!

Mesmo todos os meus cobres não me livram de tal acto!

Toda a grana não impede, nesse instante sujo e chato, que o papel se empappe! E fede minha mão, ao seu contacto!

73

Si houver consummação, pode o consumo ficar muito mais caro em minha mesa. Si o pratto consumido é da franceza cozinha, me abhorresço e me consumo, pois facto consummado é que, si o rhumo for esse de evitar a pança obesa, porções sempre menores, com certeza, virão, e as refeições nunca eu consummo. Terei, portanto, o estomago vazio, quer seja o preço baixo ou elevado, ao fim de cada almosso onde o boccado não chega! E, quando passo fome, eu chio! O duro é pagar caro e, consummado o assalto ao bolso, sem nem dar um pio ao ver a compta, achar que me enfastio por só ter consumido um grão piccado!

74
UM GRAMMA DE GRAMA [4184]

EMPREHENDEDORISMO CREATIVO [4405]

Que boa idéa eu tive para abrir a minha empresa! Quero fabricar sabão feito de lixo! Em cada lar terei materia-prima a conseguir! Emquanto um charlatão vende elixir rejuvenescedor e o patamar se eleva da inflação, baratear eu posso o nosso asseio, sem fingir! Verdade é que o sabão não tem odor assim tão aggradavel, mas fazer o que? Bem sei que a barra nem prazer nos causa, visual, por sua cor… Calumnia, todavia, é me dizer alguem que elle não limpa e que, si for ver bem, até mais suja! Ah! Por favor, assim ja é demais! Vão se foder!

75

CRIME COMPENSADO [4579]

O cheque, predatado, preenchido estava com lettrinha desenhada, bonita. Mas, no verso, uma enxurrada de traços e carimbos sem sentido. Sem fundos, circulava, recebido por este e por aquelle, sem que cada credor nelle appostasse um puto, nada: “Alguem vae acceitar isso? Duvido!” Azul, com listas verdes, o papel, bancando o tal valor, nem tão de monta, mostrava-se rasgado numa poncta, por grampos dum bolleto de aluguel. Collado com durex, em sua compta tem saldo negativo, ja rebel a toda carimbada. Alguem, ao bel prazer, sem ter, gastou: cabeça tonta!

76

CONTRIBUIÇÃO POR FEIÇÃO [4691]

Cahiu como uma bomba a preoccupante noticia: novo imposto se prepara, que pode tributar quem tenha cara mais feia e descuidada, doradvante. Não ha mais dura regra que se implante! Mulher ou homem, quem não se compara a algum galan famoso, a alguma rara beldade feminina, é mau semblante! Noticia assim é pessima à ralé! Imposto tal, é claro que tributa a grande maioria! Attinge até o gordo, o cego, o pobre, a velha, a puta… Quem pode fazer plastica, quem é mais rico, ainda as rugas recauchuta. O resto… que mais pobre fique, ué! Ninguem nos tribunaes isso discuta!

77

DAMNAÇÕES UNIDAS [4713]

Questão controvertida! A Palestina estado quer tornar-se. Tem direito, é claro. Um bom accordo estava acceito entre arabe e judeu, não fosse a mina. A mina, subterranea, sibyllina, symbolica, que impede esse perfeito accordo, é o interesse do subjeito que está, não la, nem perto, nem na China. Bem longe está, por certo, de Israel. Quem mella qualquer chance de fronteira commum haver alli, tem seu quartel num banco americano, é o que me cheira. Não só: tambem está botando fel nas aguas, no petroleo, e vae à feira vender metralhadora ao coronel, em cujo broche exhibe-se a caveira.

78

GREVE POUCO BREVE (1/2) [4735/4736]

(1)

Na greve dos bancarios, muita briga occorre, é o que me contam. Bem na frente da agencia piquetada, está o gerente travando discussão nadinha amiga. Algum syndicalista que se liga a gruppos radicaes o clima quente adjuda a effervescer: põe, de repente, na cara dum o braço e instiga a intriga. Em breve, para o brejo vae a vacca. Em meio à multidão que se agglomera na praça, um par briguento ao chão se attraca, rollando na poeira… Ora, pudera! Um velho quer pagar a compta: a placa advisa que não pode. Vira fera! Só ganha, mesmo, um soco, e nada saca! Peor é quando a compta alguem lhe zera!

(2)

Não chega nem bolleto mais, devido à greve do correio. Si, attrazado, chegar, nem addeanta, pois ao lado ficou desse grevista um outro, unido. Bancarios tambem param, e tem sido assim sempre, em septembro, desaggrado causando em todo aquelle que, coitado, tem comptas a pagar, tudo vencido.

Quem quer, de luz cortada, a escuridão?

Por isso, eu nem extranho que, na porta da agencia onde os grevistas, cedo, estão, alguem se pegue a tapa… Quem se importa?

Depois que algum marmanjo mette a mão num velho apposentado, gente morta sahiu, pois leva um tiro o valentão. Mas luz, si não for paga, alguem a corta…

79

RESERVA DE MERCADO [4845]

Si na crise a Europa está, vaticina o economista: “Temo muito! As bolsas ja signalizam uma pista…”

Si a noticia é, tambem, má nos “Esteites”, nem invista, pois o cara ja nos dá o recado pessimista.

Mesmo quando a situação é normal, o cara não perde o foco: “É preoccupante…”

Crise inventa a todo instante!

Conclusão: não é sciencia, mas só ganha elle audiencia si maus ventos nos garante. Ora, alguem lucrou bastante!

80

COMMERCIO DA FÉ [4849]

Na basilica tem fila para tudo: comprar vella, confessar-se, consumil-a, gastar grana dentro della.

Pequenina foi a villa. Hoje, a egreja se revela tão turistica, que à argilla do riacho ja se appella.

“Esta lama maravilhas faz! Milagres, minhas filhas!”, diz um padre, e cobra ingresso. O local faz um successo! Me previno e sou seguro: visitar eu nem procuro sanctuarios, quando peço, pois peccados nem confesso.

81

OBSOLESCENCIA PROGRAMMADA [4870]

Funccionario antigo, o cara despedido sem motivo foi. Jamais imaginara que o cortasse um novo crivo. Nas empresas, se declara que manter o antigo archivo mais despesa gera, e cara. Demittir é “proactivo”. Competente é, mas funcção mais nenhuma tem, de tão dephasado e “obissoleto”. Na questão eu nem me metto. Isso occorre em poesia, pois paresce o que, hoje em dia, muitos pensam do sonnetto que, insistente, ‘inda commetto.

82

ATTENDIMENTO PREFERENCIAL [4922]

Senhor! Por gentileza, venha por aqui. Fique à vontade, senhor. Queira sentar-se. Prompto! Estou à sua inteira, total disposição… Pois não, senhor!

Deseja reclamar? Seja o que for, resolvo ja! Difficil? De maneira nenhuma! Com a nossa costumeira presteza, ficarei ao seu dispor!

Tractamos o cliente como gente! Então, de que se tracta? Qual serviço deixamos de prestar devidamente?

Repita, por favor! Então é isso?

Ah, tenha paciencia! Logar quente é a cama! Va chorar la, meu! Que enguiço!

Sem chance! Eu, perder tempo? Não! Nem tente, siquer, vir me accusar de ser ommisso!

83

ESPIRITO DESPRENDIDO [4935]

Senhora Zilda Sylva! Queira entrar!

Aqui, sente-se aqui! Fique à vontade! Excolha algum docinho que lhe aggrade, café, refresco… Um drinque, quer tomar?

Eu tenho um bom licor alli no bar. Não mesmo? Como queira. Na verdade, sabiamos da sua intimidade com elle, desse affair particular. Sim, vamos resolver a coisa, agora! Agora que está morto, por que não abrirmos logo o jogo? O que a senhora deseja? O barco? Os quadros? A mansão? Não? Nada? Tem certeza? Por que chora, senhora? Como assim? Que maldicção?

Bobagem! São crendices, lendas, ora! Deixemos os phantasmas onde estão!

84

SCENA COLORIDA [4976]

Foi dollar sobre dollar, uma nota em cyma d’outra. Forma-se uma pilha de scedulas verdinhas. Engattilha um delles seu revolver. Outro arrocta. Emquanto elles calculam qual a quota que cabe a cada assecla, da quadrilha a pista ja rastreiam. A partilha termina. Alguem foi feito de idiota. Um pappo cordial ninguem agguarda. Reage o que se sente mais lesado. Discutem. Desentendem-se. Não tarda, disparos trocarão, de cada lado. Cahidos varios, mortos, um de farda excappa com a grana. Um desarmado comparsa o vê fugir, mas se accovarda. Ninguem na midia accusa o deputado.

85

VENDA DESCASADA [4983]

Sem premio, sem concurso, sem sorteio. Promette o vendedor que você ganha appenas por comprar. Levar na manha seu rico dinheirinho: eis ao que veiu. Você, depois, se toca. Perdeu feio na compra. Tudo aquillo que accompanha o raio do producto tem extranha e falsa procedencia, ao fisco alheio.

Descreu que um golpe desses fosse infame!

Queixar-se? A quem? Ao bispo? Este, mais cedo, tractou de excafeder-se! Então reclame no radio, nos jornaes! Não tenha medo!

Direito tem você! Si até a madame reclama! Eu, si lhe vendo, me excafedo! Que fique ahi você, dando vexame! Adjude a fomentar o pobre enredo!

86

EDICTAL DE ILLICITAÇÃO [5108]

Não somos um paiz dicto “emergente”?

Então! Nesse conceito é que eu me escudo! Pois “emergencial” que seja tudo!

P’ra que “licitação”, si é tudo urgente?

“Desburocratizar”: por isso a gente luctando vem faz tempo! Um novo estudo mostrou: “custo Brazil”, eis nosso agudo problema, que encarar temos de frente! Licitação só serve para mais attrazo! O vencedor, ora barato, querer vae “revisões contractuaes”!

Depois, tudo se “embarga”! Só constato serviços mal prestados, os fataes “augmentos de tarifa”, e eu pago o pato! Por que não assumirmos, addemais, que está dentro do queijo o proprio ratto?

87

GERENTE COMPETENTE [5247]

Lamento lhe dizer, minha senhora, mas sua caderneta de poupança zerou… Estou dizendo! Ninguem lança aqui, faz tempo, uns creditos! E agora? Não chore, por favor! Eu, quando chora alguem na minha frente, ja ballança meu fragil coração! Mas a cobrança, no banco, é deshumana e tudo ignora!

Aqui, no meu trabalho, sou sincero. Então não sacou nada? Não me venha dizer isso, senhora! O saldo é zero! Será que alguem roubou a sua senha? Ah, sinto muito, mesmo! Olhe, não quero ser chato, mas… Que posso fazer? Tenha melhor sorte, na proxima. Eu espero que entenda como a gente aqui se empenha.

88

SAQUE SEM SAQUE [5266]

Dinheiro no colchão a velha tinha junctado. Não appenas no colchão: nos potes, nas gavetas… Tantos são os moveis e utensilios da velhinha!

Moedas, notas… maços… A mesquinha deixava de comer, mas um tostão gastar nem cogitava. O dinheirão junctado, porem, falta, e ella definha. Seu caso renderá themas de estudo. Sozinha, morrerá. Depois de morta, saqueiam-lhe a mobilia, levam tudo que possa ter valor, janella, porta. A grana, dephasada, como o escudo e o franco, de brinquedo serve. Importa bem menos que o cofrinho mais mehudo à midia que metteu a colher torta.

89

VOLATILIDADE DO DOLLAR [5289]

Disparam pela rua. Vem attraz, de terno, um assaltado executivo. Na frente, um malandrinho muito vivo, levando-lhe a valise: tem mais gaz. Berrando, o executivo ao povo faz pedidos de soccorro: “O fugitivo meus dollares roubou! Eu não me privo tão facil delles! Peguem o rapaz!”

É claro que euphemistico ser tento. Não disse nesses termos. Disse appenas “Soccorro! Fui roubado!” O povo, attento à grana, sempre accorre nessas scenas. Attraz do ladrão correm quando, ao vento aberta, a mala mostra que pequenas as notas não são: voam, cento a cento… Parescem de gallinhas umas pennas.

90

Vocês viram? A velhinha de rogada não se fez! Foi entrando na cozinha e checando até patês!

Restaurante, si é francez, é mettido: não se appinha nelle o povo, só freguez que tem classe e que tem linha! Mas a velha não quiz nem saber: queijo achou que tem validade ultrapassada! Não é mesmo uma damnada? Delatou? Não, mas agora todos tractam a senhora por madame! Pagou? Nada! Quem achou que esteve errada?

91 DISSONNETTO
DUMA CONSUMIDORA ENTENDEDORA [5302]

DISSONNETTO DUMA CONFERENCIA SEM CONSEQUENCIA [5316]

Um congresso mundial sobre o verde se prepara. Ja virou data banal, que enche o sacco e nos enfara. Presidentes chegam; mal discursaram, mal a cara deram, fogem. Verde? Qual!

Sae a compta muito cara! Debandou, ja, todo o bando! Dar ouvido a um “ecochato” elles fingem, mas, de facto, continuam desmattando.

Assim, tudo vão levando. Só se espera a ecologia respeitada caso, um dia, haja um “chato” no commando.

92

DISSONNETTO DUMA ACCUSADORA CONSUMIDORA [5410]

Ella achou meio ammassada mas levou do longa-vida a caixinha. Agora nada mais fará que reincida. De licção serviu: de cada uma, agora, ella duvida. Comprar coisa que estragada vendem, acto é suicida!

Longa vida não dará a ninguem o que está ja estragado na caixinha!

Qualquer anta ja adivinha! Está tendo é vida curta o producto que nos furta, por ganancia, a moedinha!

Qualquer anta noção tinha!

93

DISSONNETTO DUM FORMULARIO SUMMARIO [5422]

Recebi pelo correio um extenso questionario. Pacientemente o leio e respondo ao que é primario.

Branco? Negro? Bello? Feio?

É patrão? É funccionario?

Fica em casa? Dá passeio?

Quanto ganha de salario?

É casado? Pae? Solteiro?

Tem chartão? Usa dinheiro?

Compra à vista? Compra a prazo?

Paga logo ou com attrazo?

Percebi que isso não era censo algum e sim paquera de mercado, e nem fiz caso. Sou otario, por acaso?

94

Da receita federal um programma baixar tento. Quem accessa acha, affinal, o voraz recolhimento.

Tudo inutil. Nada egual ao que quero está, a contento, explicado. O principal não se informa: o xiz por cento.

Elles querem que eu sonegue?

Imprimir não se consegue um bolleto: quem navegue

acha appenas arapucas!

Nem por Cesar! Nem por Christo!

Nem por Buddha! Assim, desisto!

Tudo quanto encontro nisto me são formulas malucas!

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DISSONNETTO DUM IMPOSTO INDEVIDO [5449]

DISSONNETTO DUMA LOGICA APPLICADA [5450]

Só verá burocracia quem deseja ser honesto. Tudo facil eu teria si dissesse que não presto! Quem trabalha todo dia e os impostos paga, attesto eu, só come porcaria e vomita algo indigesto! Para casa a gente leva desafforo e, ja na treva, soffre cortes de energia, banho toma d’agua fria! Si ser logico eu pudesse e meu voto fosse prece, Satanaz eu elegia p’ra gerir esta anarchia!

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O problema da saccola deschartavel ja se aggrava. A desculpa que não colla do mercado, eu mando à fava!

Proteger a bella bolla planetaria? Tem quem lava suas mãos doando esmolla a quem lucro maior cava?

Eu tambem vou dar pittaco!

Si quizessem, mesmo, um meio ambiente menos feio, davam gratis outro sacco!

É commum o que eu destacco!

Que exemplar supermercado! Quer cobrar pelo que dado sempre fora! Que velhaco!

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DISSONNETTO DUNS PHARISAICOS AMBIENTALISTAS [5455]

DISSONNETTO DUM CAPITALISTA DESCALÇO [5458]

Ja faz tempo, mas a gente não se exquesce. Estava a meia dum banqueiro presidente com buracos! Coisa feia!

Sim, furada! Bem na frente, no dedão! Fosse na alheia, na dum pobre, é condizente!

Mas a bolsa delle é cheia!

Si do Banco Mundial o patrão exhibe tal rombo, é como, a dum bancario?

Tem estado mais precario? Chulepenta tem que estar!

Para fora, o calcanhar excancara o mau salario desse inglorio funccionario!

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DISSONNETTO DUNS YUPPIES SEM BRILHANTINA [5459]

Ja vi muito executivo appoiando os pés na mesa. Passa a moda pelo crivo dos yuppies, com certeza.

Esses jovens que eu, lascivo, cobicei com rolla tesa, teem perfil bastante exquivo: deixam sempre a luz accesa. Cabellinho penteado, pés na mesa, bem cortado teem seu terno… e meia cara!

Sim, por elles tenho tara! Mas, si appago a luz, eu sinto, da braguilha fora, um pincto e um pé nu na minha cara! Sonhar posso, né? Tomara!

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DISSONNETTO DUMA FURADA BOLSA DE FUTUROS [5469]

Ja disseram que a sardinha estaria em exstincção, mas, na feira, a mehudinha nem se encontra mais! E então?

Si estivesse, ja nem tinha da grahuda! As versões são conflictantes. Tenho a minha: só varia a quotação. Das commodities, a mais valiosa, que os jornaes “exstinguiram”, é a banana. Quem entende não se enganna. Nunca falta a fructa “exstincta”!

Si especula quem a pincta como excassa, tenho gana de chamal-o de sacana.

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LYRA NÃO VALE LIRA [5505]

Ouvi fallar dum caso singular. Drummond ja teve minima edição dum livro seu. Até ahi, nós não teremos que extranhar. Facto vulgar. Poetas fazem disso: encommendar tiragens reduzidas. A questão, no caso, é que foi grande a reducção: appenas fez-se um unico exemplar! Mais raro que a mais rara negra rosa! Será verdade? Eu soube que essa rara obrinha foi parar na valiosa estante do empresario que a comprara. O colleccionador tem tambem prosa, segundo me contaram, mas compara os generos e a lyra em libra dosa. Quem é que isso roubar ja não sonhara?

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MONOPOLIO DO ESPOLIO (1/2) [5519/5520]

(1)

Mal toma posse, o novo presidente confisca do povão toda a poupança. Confia em seu charisma. Liderança suppõe ter ante toda aquella gente. Mas pede que um ministro o represente na hora de informar quem é que dansa nas garras do confisco. Com voz mansa, discursa o titular da pasta quente.

Pomposo, pigarreia até, primeiro. “Senhoras e senhores! Communico, em nome do governo, que o dinheiro é nosso. Mais ninguem deve ser rico…”

Surpresa! Extarrescido, o brazileiro debatte-se, experneia. Eu puto fico, mas pouco perco. O tempo é justiceiro. Um dia, alguem, sim, fica com o mico.

(2)

Passadas duas decadas, está provado que o phantasma não foi bem expulso do paiz. Ja surge alguem disposto a reviver o bafafá.

Mexer na caderneta um ladrão ja propõe, e o poupador vira refem dos especuladores. Falta quem, na latta, diga aonde os mandará.

Sahir não pode a coisa, assim, de graça! Suggiro que, ao ministro, quem exhorta à ida a tal logar emprego faça

daquelle forte symbolo: uma torta! Cremosa, recheada, tendo a massa bem podre e excrementicia, me comforta que attinja a cara delle, por pirraça!

Alguem precisa abrir, da bronca, a porta!

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DEGRADANTE TRABALHISMO [5563]

Pois é, cagar no horario de trabalho direito é de qualquer trabalhador. Fallei ja, no DOBRABIL, e hoje expalho a phrase em outro jeito de compor. Com força de trabalho, algo só valho na pausa da cagada, si ella for tambem remunerada e si o cascalho tem do salario minimo o valor. No seculo passado, este meu galho quebrei, sem ter nenhum computador ainda, num fanzine bem bandalho, com phrases desse typo, gozador. Agora, a sensação é de que eu calho no thema mais que nunca, ja que odor de merda tem aquillo que advaccalho no nosso trabalhismo explorador.

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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [5668]

Faz como o Sylvio Sanctos. Si lhe sobra “cascalho”, o gajo, rindo, quer jogar a grana numa praça, por milhar, as scedulas novinhas e sem dobra.

Pessoas chegam. Sabem: jamais obra será de charidade. Gargalhar quer elle, divertir-se, ver um mar de gente, mera massa de manobra.

A cada nota que elle lança ao ar, levada pelo vento em ziguezague, o povo se engalfinha, faz que estrague a roupa, a grana a pique de rasgar. O cara, appós zoar, retorna ao lar, mas, quando comptas pedem que elle pague, responde com desdem, fazendo blague: “Dinheiro se inventou p’ra não gastar!”

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OTARIOS HONORARIOS [5716]

Pago até consummação. Não consummo e me consumo. Mal servido, sei que são vans as queixas. Levei fumo. Ja dormido comprei pão. Me fodi, mas me accostumo a ser trouxa em eleição, si o paiz está sem rhumo. Trouxas somos todos, mas são os cegos engannados com maior prazer, de más intenções estão cercados. Eu, que estou com Satanaz de mãos dadas, ouço os brados zombeteiros, mesmo nas festas, entre os convidados.

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BOXING DISSONNET [5875]

É melhor nem ter lembrança si me lembro da visão. Logo, logo, o pau se cansa e me exquesço do tesão.

Quem tem pouco na poupança a agguardar liquidação sempre fica, porem dansa, ja que o preço não cae, não. Tudo quanto se liquida perde, logico, o valor.

Dum cegueta a propria vida liquidou-se, é de suppor. No varejo, quem convida o freguez é chupador de caralho. Que decida desfructar quem vivo for!

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MEME DO CAMBIO [5915]

{O dollar está caro? Ora, melhor assim! Não acha, Glauco? Para mim, devia augmentar mais! Quem sabe, emfim, accaba a farra, a pandega maior! Do mundo viajar vão ao redor bem menos, doradvante! Essa chinfrim domestica, a vovó do botequim, terão que fazer comptas, ja, de cor! Viajem para as praias daqui, porra! Conhesçam as bellezas do paiz! Sae muito mais barato! Olhe, eu não quiz chamar a faxineira de cachorra!}

-- Magina! Quem dirá que nos occorra pensar mal de você! Mas ser juiz da vida alheia, alem desse infeliz conceito, vae fazer que rumor corra…

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MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969]

Funcciona a coisa publica assim, ó: Precisam os politicos de algum estimulo, só pelo bem commum.

Exemplos vocês querem? Vejam só: De auxilio-paletó, de auxilio-calça, auxilio-meia, auxilio-collarinho, gravata, ou fino chromo para a valsa… de tudo elles precisam, pois com vinho barato, café fracco ou seda falsa ninguem trabalha pelo zé-povinho!

Declara um senador: “Eu encaminho aquella votação tão logo possa…”

“Exforço concentrado” é o excarninho synonymo da farsa que se esboça.

“Periculosidade”, outro jeitinho verbal que bem define a raiva nossa…

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CHAVE DE CADEIA [5970]

É sempre essencial o thesoureiro. Experto, leva à parte uma caixinha que engorda a sua compta e zera a minha. Por elle passa a scedula primeiro.

Aquelle thesoureiro ganha, a cada negocio em que se mette, a respectiva gorgeta e milhõesinhos arrecada.

Mas, quando perguntado, elle se exquiva, dizendo que não leva nisso nada comptabil. Claro, embolsa a grana viva!

Em nome do partido, elle se priva, coitado, de obstentar tanta riqueza!

Até chegar a hora decisiva.

Flagrado, emfim, as chartas põe na mesa e conta o que na compta, ora inactiva, restou: os honorarios da defeza.

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MISCELLANEA CIPHRADA [6031]

Nos numeros está o estellionato. Aquella economista explica, experta, que “allarme” é um tanto forte e basta o “allerta”. Mas tudo são só numeros, constato. A bolsa jamais “cae”, ella “despenca”, e o dollar nunca “sobe”, só “dispara”. Mas, como a jornalista evita encrenca, adverte que não acha a acção tão cara e o cambio acha barato. Emquanto elencha problemas, eu, que os tenho, a mando para… Está, sempre blasê, mui “preoccupada” com taxas de inflação, e tudo accerca dos juros lhe “interessa”. Que ella perca dinheiro, eu ca duvido. Perde nada! Eu, sim, me fodo e “appenas” pago cerca de um puto p’ra mandar a desgraçada…

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MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033]

Num mundo marketeiro, vale tudo.

Na falta de demanda, faço ou não “offerta”, “promoção”, “liquidação”…?

No falso annuncio, facil eu illudo.

Si eu vendo alguma coisa, posso dar descompto, parcellar, e até de graça ceder ammostras, disso estou a par.

Pois bem, conhesço gente que ja caça freguez annunciando que, em logar do “artigo”, a ser um brinde o corpo passa. Da bocca, da boceta, ha quem ja faça campanhas promovendo e dando, gratis, geral degustação em plena praça.

Nem tenho que me oppor! Si é com tomates, cenouras, orificios, si é devassa ou não a freguezia, toca aos vates!

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MEME DA MERRECA [6134]

É logico: o mercado financeiro não vive só por causa de quem senta em cyma de papeis, mas elle exquenta com base em quem investe. Isso é certeiro. Hem, Glauco? Vae valer nosso dinheiro zero mil, zerocentos e zerenta e zero? Qual mercado se sustenta sem juros, Glauco? Diga-me, parceiro! Si forem reduzir a renda a zero, pergunto, Glauco: Para que poupar?

Melhor, então, torrar alli no bar a grana toda! Achou que eu exaggero? Dinheiro que é “de pinga” não é mero trocado, não concorda? Ah, quer tomar commigo umas, Glaucão? Hem? Quer um par comprar de tennis velhos que eu não quero?

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PRESTAÇÕES DE COMPTA [6490]

Vontade tenho, Glauco, quando alguem pergunta do dinheiro numa compta conjuncta, de ir às vias contra a affronta! Indagam sobre o saldo que ella tem! Depositos fizeram, mais de cem mil, para a minha esposa? Quanto monta, ao certo? La sei eu! Não me ammedronta que fiquem a fuçar cada vintem! Glaucão, eu quero encher, sim, de porrada a bocca do reporter que me fez pergunta tão incommoda! Cortez terei que ser, caralho? Não, qual nada! Si eu fosse presidente… Ahi, sim, cada centavo ommittiria duma vez! Ninguem pode saber quanto, por mez, ganhou quem ser honesto sempre brada!

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RESUMO DO CONSUMO [6528]

Cahiram, Glauco, as vendas ja, durante os mezes dessa aguda pandemia, dos itens de hygiene! Quem diria que menos se vendeu desodorante?

Hem? Isso não fará que cê se expante? Por que, Glaucão? Então quem passa dia e noite em casa abbraça a porcaria sem pejo dum cheirinho tresandante?

Pensando bem, cecê creei, tambem! Meu corpo ja tem cheiro de café daquelles preferidos da ralé, fortissimos, que eu tomo assucar sem! Que foi isso, Glaucão? Que você tem?

Ah, quer saber do odor que tem meu pé? É forte, sim, admitto, mas não é chulé para assanhar, assim, ninguem!

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CREDITO EM COMPTA [6562]

Mentira, Glauco! Tudo mentirinha commum, inoffensiva, que esses filhas da puta transformaram em cerquilhas no twitter e se expalham, linha a linha!

Não! Só porque eu fallei que essa damninha questão da correcção tem armadilhas bastante inflacionarias, ja as mattilhas lattiam, ja a patrulha attirar vinha!

Appenas eu propuz que se congele qualquer salario, bonus ou pensão!

Congelem tudo! Chega de inflação!

A velha apposentada a Deus appelle! Quem ganha aquelle minimo ja a pelle não livra, mesmo, dessa crise tão pandemica, caralho! Por que estão chorando? Só de inveja da Michelle?

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JOGADA ENSAIADA [6571]

É tudo fingimento, um ensaiado theatro! Vem primeiro o da fazenda dizendo ser preciso que se entenda: “Teremos que tirar do apposentado! Sinão, não tem reforma…” Desaggrado geral, naturalmente. “Então, de renda, teremos novo imposto…” Quem defenda tal coisa não ha, fica combinado. Ahi, o presidente ja ammeaça: {Assim não poderemos implantar a adjuda de emergencia! Por azar, não temos grana para dar de graça…} Ha farsa até na Camara: “Não passa nenhuma lei que venha tributar bancarias transacções!” Por nada dar em nada, dizem: {Nada ha que se faça!}

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AGOURO NO THESOURO [6608]

Poeta, adivinhaste! Elle foi la, de facto discursou sobre essa tal moeda alternativa do real! Mas sabe-se la quanto valerá!

Na nota de mil mangos, Glaucão, ha effigie do famoso general que fora, na gestão dictatorial, carrasco orgulhosissimo! Será? Ninguem ainda viu a nova nota! Disseram que ella paga, não demora, appenas do operario simples hora num dia de trabalho! Parca quota! Poeta, que prevês? Ja se denota tal hyperinflação? A gente chora sentada, ja sabendo que vigora, em breve e ja de volta, a lei da bota!

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PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662]

Mas Glauco, precisamos dum programma de renda, alguma bolsa “cidadan”, capaz de soccorrer uma christan familia, pois Jesus a todos ama!

Dinheiro falta? Ah, temos uma gamma de fontes p’ra bancar! Acho uma van e falsa discussão, pois ammanhan

resolve-se esse rombo! Quem reclama?

Si dermos “pedalada”, allegarei: Sim, demos! E dahi? Bah! Quem não dá?

Melhor é gastar logo, gastar ja!

Mais tarde, é só mudar alguma lei!

Então, Glaucão? Fallei? Justifiquei?

Você se convenceu? Não? Tá gagá!

Tá cego! Tá por fora! Venha ca:

Você de nada sabe! Eu é que sei!

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DINHEIRO SUJO [6707]

Dinheiro na cueca foi motivo de escandalo! Te lembras, Glaucão? Ora, dez annos se passaram! Pois agora no proprio cu se põe dinheiro vivo! Verdade, Glauco! Disso não me exquivo e tenho que contar-te! Para fora botou um senador (Que infeliz hora!) as scedulas das quaes eu ca me privo! Hem? Trinta mil reaes, informa a fonte, estavam “entre as nadegas” do tal politico! Em estado de total nudez, que se aggachar teve! Que monte! Mal pude crer! Mas queres que eu te conte o resto? Não? Ja basta, né? Banal se torna tal funcção policial: ficar dum pelladão senhor defronte!

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IMPOSTO DE MERDA [6709]

De merda sei que imposto qualquer é! Proponho, todavia, sobre a bosta cobrar a taxação! Sei que não gosta o rico disso, ué! Nem a ralé! O rico come mais! Come filé mignon, Glaucão! O pobre, quando tosta alguma aponevrose, achou a posta divina! Até melhor de porco um pé! Quem caga mais, mais taxa pagaria! Não acha justo, Glauco? O mais gordão juiz ou senador, que do povão debocha, tem que ser quem financia! Proverbio bem lembrado! Caso, um dia, cocô seja dinheiro, o pobre, então, nascer irá sem cu! Mas pagarão os pobres, sim! Num rico quem confia?

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GOSTO DE POUCO [6715]

Bombom de café, Glauco! Ja pudeste provar? Eu ja provei! Era suisso! Até salivo quando penso nisso! Tem gente em chocolate, só, que investe! Sim, cada bombom vale (Não soubeste?) a nota de mais peso! Ouro massiço! Em bancos tal bombom encontradiço appenas é! Mas fiz meu proprio teste!

Peguei um chocolate bem barato, fiz nelle um buraquinho, o qual enchi com pó de café, desses por ahi achaveis baratinhos! Bem… foi chato!

Não fica tão egual, vate, eu constato, mas posso, pelo menos, piriry ter, tanto que comi, Glauco! Ocê ri? Por que, si me fartei? Seja sensato!

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FASHIONISTA

PAGA À VISTA [6719]

Sabia, Glauco? Quando você for comprar a sua roupa nova, agora é só por internet e, sem demora, excolhe seu padrão, numero ou cor!

Depois recebe em casa! Pode impor seu gosto ou preferencia! Simples, ora!

Hem? Como? Quer você ver si vigora num tennis, que terá typico odor?

Entendo! Quer um tennis com chulé! Em summa, quer calçado bem usado, surrado, detonado! Do seu lado estou! Seu consumismo sei qual é!

Então eu mesmo posso do meu pé tirar e lhe vender o meu calçado! De tennis novo o preço a ser cobrado será! Lhe vendo meia velha, até!

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MY WALKING SHOES [6748]

Meu tennis não me serve mais, Glaucão! De tanto caminhar, ficou meu pé inchado demais! Logico, não é? Terei que comprar outro, meu irmão! Eu era magro, Glauco! Nunca tão gordinho fiquei! Acho que eu até andei comendo menos! A ralé mais come do que eu, nessa condição! A crise não tá facil, cego! Ja que tem você fetiche por pisante usado, um que chulé guarde bastante, que tal de mim compral-o, meu? Não dá? Você me paga um novo! Então terá motivo para achar que se garante por muitas punhetinhas que, durante a sua quarentena, são mannah!

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DOURADAS DENTADURAS [6821]

Não é daquelles habitos antigos nem moda poderá ser hoje em dia. Virou, em certos circulos, mania: doar dinheiro vivo para amigos! Em vez de edificar ricos jazigos, que tal ser quem os vivos auxilia? Em vez duma expansão na companhia, que tal prover os pobres duns abrigos? Actores ja famosos, chique gente da musica, das lettras, dos esportes estão ficando velhos e taes cortes nas comptas serão baque indifferente! Hem, Glauco? Nada veta que cê tente pedir uma graninha aos que teem sortes melhores, pois, appós as suas mortes, daqui não levarão ouro no dente!

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VOVÓS A SÓS [6885]

Chegando o Natal, vinha a senhorinha olhando umas vitrines na calçada, pensando na nettinha que, coitada, presentes não ganhava nessa linha.

A velha decidiu que dar, sim, tinha algum presente desses. Mas si cada custava assim tão caro, que será da poupança da vovó, que é merrequinha?

Pediu ao funccionario: “Ponha a minha pequena senha aqui, pois mal eu leio!”

Na boa fé, mostrou-lhe, sem receio, a senha do chartão. Mas não convinha… Depois que foi roubada, a ladainha de sempre ella ao gerente contar veiu. Frustrada, consolou-se. Natal meio amargo, pois chorou, quando sozinha…

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POR PREÇO DE BANANA [6886]

Glaucão, sou optimista! Bom motivo eu vejo, mesmo nessa carestia! Exsiste inflação? Sobe todo dia o preço da comida? Ah, bem me exquivo! Me viro! Sou bastante creativo! Si falta bacon, minha theoria é simples: de banana as cascas ia jogar no lixo? Nunca! Sou é vivo! As cascas, dependendo do que faço com ellas, frictas podem ser, Glaucão!

Serão tiras de bacon, quando são salgadas, ao tempero dando espaço! Você nunca provou? Jamais excasso será tal alimento! Tambem não estão em falta, podem ser ração, das fructas ja chupadas, o bagaço!

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RECOMEÇAR [6934]

Alguem fallou, Glaucão, que um recomeço depende só da gente, não importa o poncto em que paramos. Recomforta sabermos disso, ou tudo tem seu preço? Ah, va lamber sabão! Eu pelo advesso entendo o palavrorio, lettra morta que sempre foi! Nos abrem uma porta, mas não porque battemos, reconhesço… Não é recomeçar appenas uma vontade pessoal e intransferivel! Depende do buraco, do desnivel da gente em relação aonde rhuma! Na vida não consegue coisa alguma quem fique sem padrinho, si possivel padrinho bem riquinho ou compativel com gente que charutos caros fuma!

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DESABBASTESCIMENTO [6940]

Perdeu-se paciencia com aquella maluca, que tocar fogo queria na grande e frequentada padaria por causa duma simples mortadella.

Pedira a mortadella, mas sem ella estava a padaria. A louca, fria, tentou incendial-a. A freguezia, furiosa, reagiu. Quem não appella?

Perdeu a paciencia aquella gente pacata. Quasi lyncham a maluca. Somente controlou toda a muvuca um membro da milicia, alli presente. A louca, todavia, novamente tentar irá, por causa duma cuca, tocar fogo na casa. Ah, não cotuca a falta de comida que ella sente?

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EPA! VIVA A XEPA! [6954]

Não, nesta pandemia ja ninguem negar vae que da feira se approveita um monte de verdura! Agora acceita a gente comer isso, ou nojo tem?

Mas nojo por que, Glauco, si tambem no lixo nós achamos insuspeita porção de coisa podre que, si feita alguma concessão, a servir vem?

Tomates estragados teem sabor não muito differente dum bonito que, cheio de agrotoxico, eu vomito depois de ter comido! Por favor! Não sei si tanto nojo do fedor é livre e natural, ou só de mytho não passa! Nesta crise, eu accredito que xepa approveitar irão propor!

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DEBITO E CREDITO [6965]

Canecas de cerveja, não acceito que sejam de metal! Sabes por que? Eu gosto de quebral-as, bem se vê! Concordas -- Né? -- commigo que é bem feito! As quebro si o salario do prefeito augmenta, caso o meu p’ra nada dê! As quebro si meu time cae da “B” p’ra “C”, depois dum penalty suspeito! Algumas são quebradas ‘inda cheias, os cacos pelo chão todo molhado!

Preju sei que terei, Glaucão, tomado, mas vale: tu tambem não te refreias! Tens sangue de baratta? Não, nas veias ainda algum humano tens! Meu lado, tu sabes, é o dos fraccos, sim, malgrado meus creditos e embora tu não creias!

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BARATO BARATO [7078]

Que foi? Tá me extranhando? O meu perfume achou forte demais? Agora cheiro gostoso tambem causa verdadeiro incommodo? Outra bronca cê que arrhume!

Paguei barato, claro! O que resume essencias taes é “cheiro bom”! Nem beiro o nivel social e financeiro daquelles, de gastar, que teem costume! Da minha agua de cheiro você não gostou? Que preferia? Meu cecê?

Meu sebo? Meu chulé? Que quer você? Que eu feda, abertamente, no sallão? Prefere que eu disfarse? Pois então!

Não fique me cobrando, pô, não dê desculpa deslavada! Ah, meu, não vê que tenho o mesmo cheiro do povão?

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COPYLEFT [7091]

Si temos “copyright”, hem, por que não alguem ter “copyleft”? Tahi, poeta! A nossa liberdade ninguem veta de termos um mercado livre, irmão!

Mas nossos cellulares todos são chipados, grampeados! É completa a rede de espiões que nos affecta, fuçando, rastreando, como estão! Até quando transamos nos espia um typo voyeurista de robot, capaz de detectar o mais pornô signal da trivial podolatria! Sabendo qual chulé você lambia, vão elles lhe vender o que Rimbaud usou: meias eguaes às do vovô! Sim, Glauco, um vendedor nos teleguia!

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CAGADA MONITORADA [7101]

O nosso cellular nos espiona, poeta! Sabe tudo sobre nós o proprio fabricante, pela voz, a cara, a roupa, joven ou cafona!

Mas não appenas quando telephona a gente! Elle controla nossos prós e contras, até quando, logo appós fodermos, fica a gente mais cagona!

Sim! Como nós levamos ao banheiro aquelle apparelhinho, saber vão quem menos é, quem mais será cagão, si limpo ou sujo temos o trazeiro! si duro ou molle faço o que primeiro sae, isso só me importa a mim, Glaucão! Por isso um cellular não quero, não! Não quero que elles sintam o meu cheiro!

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA [7134]

Si merda fosse grana, ja se disse, o pobre nasceria sem o cu! Mas merda não é grana, Glauco, tu conhesces de sobejo tal mesmice! Ha povos que cultuam a crendice, porem, de que cocô, si dum guru for, pode ser comido, mesmo cru, que sorte nos dará! Nem que eu me risse! Consegues pensar nisso? Um gajo faz poupança, mas ja sabe que essa grana irá render bastante si elle empana e fricta as fezes dum guru sagaz! Mais ‘inda renderá si cruas as comer! Mas o guru, que é bem sacana, as vende! Irás pagar por tal banana, Glaucão, ou papparás outros pappás?

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PAPEL SEDOSO (2) [7174]

Assumo que sou mesmo muito rico, mas muito, muito mesmo, mesmo muito! As comptas, quanto mais eu multiplico, não fecham, tanto mais é meu intuito!

Porem eu, appesar de estar no picco daquelles que mais brilham no circuito das rodas sociaes, me mortifico à bessa, por motivo o mais fortuito: Tambem cago! Sim, cago, como os pobres! Tambem fedo demais ao soltar flato!

Malgrado mesmo todos os meus cobres, jamais eu fico livre de tal acto! Não, toda a minha grana não impede -- Que merda! -- nesse instante torpe e chato, que um rollo de papel se empappe! E fede a minha fina mão, ao seu contacto!

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MOTTE GLOSADO (1/2) [7416]

Que mammata! A propaganda será paga por quem vota!

(1) Eleição sempre demanda muita grana. A solução é cobrarem do povão (Que mammata!) a propaganda. Caso a practica se expanda, fará farra, com a nota que recebe, essa patota marketeira, e ja se assanha! Na campanha, até champanha será paga por quem vota!

(2) Si os politicos appenas nos fornicam, qual será a campanha que tem ja seu horario? Quaes amenas discussões terão antennas? Fallarão em qual chochota, ou qual bocca, ou cu, se bota?

Desse jeito o Brazil anda! Que mammata! A propaganda será paga por quem vota!

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MOTTE GLOSADO (1/2) [7419]

Os politicos teem tudo que eu jamais terei na vida!

(1)

Teem carrão, saldo polpudo, caviar, champanhe, orgia, sinecura, mordomia…

Os politicos teem tudo! Mas com isso não me illudo, pois o povo os appellida de “bundões” e uma soffrida praga aos fundos delles lança, qual um “cancer na poupança”, que eu jamais terei na vida!

(2)

Sem auxilio-moradia nem auxilio-paletó, vivo duro que dá dó! Ah, será que irei, um dia, me eleger? Que bom seria! Ter carrão, boa comida, palacete onde resida… Mas, emquanto eu me saccudo, os politicos teem tudo que eu jamais terei na vida!

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MOTTE GLOSADO [7432]

Um escandalo é fedido, mas dinheiro não tem cheiro.

Que se punam eu duvido os auctores dum malfeito e, por terem só proveito, um escandalo é fedido. Mas na bocca si fodido eu for quando meu parceiro me cobrar, ou no trazeiro, pouco importa um pau que fede. Cada puto um preço pede, mas dinheiro não tem cheiro.

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MOTTE GLOSADO [7539]

Rio, sim, mas não sou rico. Fico rico porque rio.

Fica rico quem, na vida, juncta grana, mas tambem é feliz com o que tem. Não ha cego cuja lida grana dê, caso decida versejar, mas eu confio no meu verso: nelle o cio satisfaço e feliz fico.

Rio, sim, mas não sou rico. Fico rico porque rio.

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MOTTE GLOSADO (1/2) [7547]

Desemprego leva a gente a alugar o cu na rua.

(1) Demittida, a mulher crente deixa a crença e vende o furo, pois a tanto este inseguro desemprego leva a gente. Mas o amante intelligente nem se apperta e continua empregado, si tem sua profissão terceirizada. Elle obriga a bicha amada a alugar o cu na rua.

(2) O machão desempregado, sem remorso, se dispoz a alugar a propria esposa, bem quotada no mercado. Mas, depois que do seu lado a mulher não continua, elle expõe a bunda nua, ja que a rolla tem cliente. Desemprego leva a gente a alugar o cu na rua.

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MOTTE GLOSADO [7596]

O dinheiro, si é verdinho, vae guardado na cueca.

Mala cheia de dinheiro, na politica, é normal. Mas tambem não pega mal levar dollar no trazeiro, na boceta, no primeiro logarzinho onde se pecca. Si alguem molle não defeca, juncto ao recto é bom caminho. O dinheiro, si é verdinho, vae guardado na cueca.

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MOTTE GLOSADO [7631]

Sem carimbo e assignatura, formularios valem nada.

No chartorio, reconhesço minha propria firma, em quente, burocratico ambiente.

Guichês, filas, sempre um preço a pagar, ao qual advesso sou, de cara que ammarrada outros mostram ja na entrada.

Abolir isso alguem jura?

Sem carimbo e assignatura, formularios valem nada!

142

MOTTE GLOSADO [7659]

Vende pouco porque é caro ou é caro vice-versa?

Não terá muita sahida

livro aqui vendido? Ou é o contrario? Falla até o livreiro que duvida da estatistica battida.

Sebo é banco? Que conversa molle, hem, meu? Tapete persa não é livro, si eu comparo!

Vende pouco porque é caro ou é caro vice-versa?

143

MADRIGAL CAMBIAL [7688]

O nivel das represas não devia na midia ser quotado todo dia.

Não basta a quotação, que me enche o sacco, na bolsa de valores, como aquella celeuma sobre um dollar forte ou fracco? Quando agua entre as commodities se attrella, banana, que é comida de macaco, ao preço dos manjares se nivela!

144

MADRIGAL INTERNACIONAL [7784]

Até refugiados teem seu dia!

Só resta ver si alguem os auxilia…

Da fome alguns excappam, ou da guerra.

Alguns são perseguidos pela fé dos outros, si não delles, mas quem berra mais alto nem vem sempre da ralé.

Mais ganha protecção, em qualquer terra, aquelle que tão pobre assim nem é.

145

MADRIGAL BIFOCAL (1/3) [7788]

(1) Alguem que escuta annuncio mal proposto duvida que quem compra tem desgosto?

(2) Não seja trouxa, amigo! Não se deixe jamais engannar pela fraudulenta offerta que lhe fazem desse peixe! Si nessa você embarca, só requenta o tal bordão: Fodeu-se? Não se queixe! Melhor se prevenir! Quem saca, attenta!

(3) Enganne-se somente com a caixa, tão linda, de surpresas que eu lhe vendo! Producto tão fajuto, nessa faixa de preço, ninguem pode estar vendendo sinão a um paspalhão que se rebaixa, comprando um novo velho com remendo!

146

MANIFESTO BOLSISTA [7880]

“Não só Bolsa Familia, nesta terra, exijo que tenhamos! À direita, tambem por Bolsa Lar a gente berra! A Bolsa de Valores Moraes feita foi para nos valer na sancta guerra! Por Bolsa Educação a gente acceita somente aquella civica, que encerra principios e deveres! Foi eleita a gente pela causa! Ninguem erra e segue impune aqui na nossa seita!”

Ouvindo o pappo, penso que me ferra o “novo tempo” e sinto à minha expreita estar alguem que a practicas se afferra mais antidemocraticas. Estreita ficando vae a estrada e o carro emperra. De bolsa em bolsa, um bolso se approveita…

147

MANIFESTO QUOTISTA [7882]

Tem quota para tudo no momento. Os negros conseguiram achar uma nas universidades. A contento conseguem outra quando vaga arrhuma alguem num gabinete. Dez por cento de gays, na sociedade, teem alguma funcção remunerada. Mais augmento consegue de salario quem não fuma, ainda mais mulher si for. Detento que varias engravida, caso assuma um cargo na prisão, engulo e aguento mais essa. Cadeirante, até, vae numa qualquer repartição ter seu sustento. O cego, não! Nem quando elle perfuma seu cu, na Academia tem assento! Calcule então aquelle que se estruma!

148

MANIFESTO CATASTROPHISTA [7883]

“Magina, Glauco! Nunca a gente illesa está! Calcule só si, de repente, se rompe essa velhissima represa que todos attestavam resistente manter-se, e somos pegos de surpresa!

Caralho! Ja pensou? Vae morrer gente!”

-- Talvez. Mas cê concorda que quem fez a barragem não foi muito intelligente?

Bastava poupar menos a despesa e nada construir alli tão rente!

Sahia mais barato pruma empresa tão grande enxergar lucro mais à frente!

“Bobagem! Como podem ter certeza?

É foda! Qualquer coisa que se tente errado dá! Você põe sobre a mesa um monte de papeis, inutilmente!

Si não for a represa, vae talvez a mor chuva provocar alguma enchente!”

149

MANIFESTO TRABALHISTA [7891]

Ja quasi, de entrevista, não acceito convites, mas, abrindo uma excepção, gravei para a TV. Sempre foi feito assim: elles preenchem, mesmo à mão, um termo que assignamos. Eu suspeito que seja a necessaria permissão de usar a nossa imagem. O mau jeito se deu quando exquesceram a questão e, estando eu ja de volta, eis que a respeito contactam-me. Depois do trabalhão num leva-e-traz, está meu imperfeito e rustico rabisco, um jamegão, apposto ao documento. Me subjeito ao tosco protocollo, mas, turrão, indago: Que proposito ou proveito tem isso para alguem ja sem visão? Podiam dispensar-me, si direito de imagem eu não tenho! Claro ou não?

150

MANIFESTO COITADISTA (1/2) [7903]

(1)

{Não, Glauco! Você nunca ouviu fallar na “logica do assalto”? Quem assalta é “victima”, no caso! Um assaltado “auctor” é desse crime! Culpa tem o proprio capital! Sim! Quem mandou alguem ter algo de util que o “ladrão”, dizer quero, o “coitado” necessita? Não fosse o consumismo, talvez nem daquillo o coitadinho precisasse! Mas ja que precisou, tem o direito de, claro, appropriar-se, Glauco! Vê você como é bem logico? O subjeito só rouba si não tinha aquillo, saca? Quem tinha não devia ter, é claro! Entende como é logico o clichê?}

(2)

-- Entendo. Quem não tenha, ainda, um lar a casa alheia invade! Só lhe falta a cama? Numa loja, o resultado do assalto foi a cama! Ja ninguem tem duvida: boceta, si faltou, compensa-se estuprando! Pode, então, quem “logica” adventou dizer que a dicta funcciona caso sua casa alguem occupe e seu cuzinho coma! A classe se inverte facilmente! Ammanhan, feito bem faz quem foi roubado em seu apê e rouba do vizinho! O mais perfeito joguinho de “justiça”! Algum babaca crê nisso? Caso creia, me declaro “carente” e requisito o seu bassê…

151

MANIFESTO CAPITALISTA [7909]

Oi, gente! Estou aqui, toda lindinha, feliz e loira, para lhes contar que, graças a Jesus, ja fiz a minha fortuna! Sim, milhões! Qualquer milhar eu, linda, multiplico! Nessa linha, embolso eu um milhão! Tal patamar attinjo rapidinho! Ahá! Adivinha!

Pyramides? Acções? Jogos de azar? Youtube? Nada disso! Eu, expertinha que sou, virei pastora! Vem um mar de gente no meu templo! Cincoentinha eu cobro de quem chega p’ra beijar meu pé! Sim, fazem fila! Quem caminha na trilha do Senhor, pode esperar! Terá seu pé beijado! Uma sobrinha que tenho, a bispa Zilda, a caminhar assim eu ensignei! Mas, coitadinha, junctou-se, na milicia, com Oscar, aquelle cafetão, um cappetinha que, orando quando rouba um cellular, dá graças pela sorte que expezinha! Euzinha aqui, não quero me levar por essa temptação, pois quem se appinha aqui na minha porta quer pagar, de boa, pela simples bitoquinha!

Prefiro que me beijem, em logar de darem queixa! Assim, sem ser mesquinha, eu prego! E o Glauco, uns versos vae me dar?

152

MANIFESTO MONETARISTA (1/2) [7936]

(1)

“Paresce incrivel, Glauco, mas tem gente otaria nesta terra, a poncto tal num golpe de cahir: cryptomoeda! Commigo pense, Glauco: Quem emitte moeda? Quem fabrica cada nota do meio circulante? Só paizes, governos ou thesouros estataes, correcto? Si qualquer um for fazer dinheiro em casa, sabe o que elle é, né?

Falsario, claro! Então como é que alguem “minera” quanto queira, pelo seu caseiro micro, um dollar virtual?

Onde é que fica a mina? La na China? Ah, vão tomar no cu! Quem caia nessa meresce se foder, Glauco! Não acha?”

(2)

-- Sim, acho. Mas tambem exsiste crente capaz de pagar dizimo. Natal não é tempo que as trevas arremeda, tal como as “blequefraudes”? Quem admitte que voto ser trocado pela bota é jogo democratico e felizes

nós somos si elegemos generaes, só pode estar brincando de “poder directo” ou la que porra for, ué! Ha tanto vigarista que ninguem extranha mais o pappo phariseu

dum desses guardiões duma moral fallida. Ninguem liga mais, magina!

Politicos não fazem só promessa?

Não cobram mais imposto, juro ou taxa?

153

MANIFESTO MATERIALISTA (1/2) [7953]

(1)

“Eu, como uma analysta financeira quotada que sou, digo-lhe, Glauquinho: Da vida não se leva nada! Nada! Entende, queridinho? É justamente por isso que eu a todos recommendo gastar, sem culpa, a grana, viajar, comer bem, badalar, curtir o luxo possivel e pagavel! Mas p’ra tanto, fofinho meu, nós temos que saber bem como o nosso rico dinheirinho se investe e multiplica, certo? O meio mais rapido e rentavel não é nem poupar na caderneta, que dá pouco, nem bolsa de valores, cujo risco é grande, e sim na rede virtual! Exacto! No cryptouro! Ouviu fallar, Glauquinho? Quer que explique isso melhor?”

154

(2)

-- Magina! Não precisa! Da maneira emphatica que falla, com carinho, prometto, pensarei nessa jogada! Qual mesmo? Cyberouro? Que se invente não falta, ja, mais nada, ‘tou sabendo, p’ra gente especular… ou applicar, tal como diz você. Ja que sou bruxo, não saco desses saques, mas garanto que sei como ganhar, no bolso ter o tal philosophal poder. Bom vinho e boa pastasciutta ja bem cheio me deixam, minha amiga. Aqui, porem, confesso que me deixa mesmo louco um vicio que não custa, nem petisco algum vale em sabor: o sensual prazer da poesia. Paladar nenhum deu-me o que a lyra dá de cor.

155

MANIFESTO POPULISTA (1/2) [7962]

(1)

“Fundei um syndicato, Glauco! Agora, sim, posso ser aquella activa voz da minha tão soffrida, dessa tão fiel categoria dos que vivem sem trampo ou profissão! Ja lhes prometto a todos, todos, todos, Glauco, todos, que, em breve, terão todos um battente! Cobrar vou trez reaes, trezinhos só, por isso, mas garanto -- Ouviu? -- garanto que, ao menos, vou tentar! Que sou sincero tem duvida você, Glauco? Quem tem?”

(2)

-- Eu, duvida? Magina! Fico fora da sua alçada, amigo. Como nós sabemos, sou invalido, funcção nenhuma tem um cego. Mas activem vocês a sua lucta, sim! Sonnetto nem faço mais, mas, livre dos engodos da classe, recommendo que ‘inda tente fazel-os um novato. Caso o nó não aptem nem desaptem, nem ao sancto pedindo, lhes direi: Ganhei foi zero mas nunca peço um obolo a ninguem…

156

MANIFESTO DESASSISTENCIALISTA (1/2) [7978]

(1)

“Não acho justo, Glauco, que alguem ganhe sem nada dar em troca! Quem chancella tal coisa é trouxa! Cego não tem nada que estar nos exigindo um tractamento melhor, mais attenção, nem mais direito que aquelle que trabalha normalmente, que rende e que produz, Glauco! Ora, bollas! Agora, porque é cego, o gajo vae querendo se exemptar de tudo quanto é duro ou é difficil? Que se foda! Se vire com o braille! Estude! Exforço demonstre, porra! Apprenda a ler na marra naquella porcaria de systema primario, ponctilhado, ou que se ralle!”

(2)

-- Magina, amigo! Quando a sua mãe ficar cega, você diz isso a ella, seu filho duma pura desgraçada! Que muitos assim pensem, nem lamento, pois vivo ouvindo alguem dizer: “Bem feito!”

“Castigo meresceu!” “Você que aguente!”

Ja vi, ja trabalhei, e das esmollas, por sorte, não dependo, mas quem sae na rua a mendigar, ou que do manto depende do governo, terá toda a minha solidaria these! Eu torço por elle, mesmo quando alguem me excarra na cara porque eu quero, alguem é thema da minha chupetinha… Tudo vale!

157

ENTENDA A LEGENDA! (1/2) [8004]

(1)

Remedio contra a queda de cabello ou para emmagrescer faz propaganda que entendo por piada prompta, visto tractar-se de producto ja suspeito de cara! Deante deste annuncio, alguem tem duvida? “Não creiam em qualquer offerta falsa dessas por ahi!” Só falta accrescentar: “Confiem só na nossa falsa offerta!” Até sincera me soa, pois você perfeitamente, por autosuggestão, pode ter cura usando algum placebo, não é mesmo?

(2)

Pensando bem, a phrase dicta pelo politico flagrado tambem anda por esse bom caminho: “Não sei disto nadinha! Fui trahido! Si um malfeito fizeram, quem fez pague!” Entendam bem o espirito da coisa: “Quem fizer malfeitos, de esconder tracte! Escondi mal? Esse foi meu erro!” Sente dó de gente desse typo só quem era louquinho para estar entre essa gente capaz de desfructar da sinecura tirando o cu da recta sem tenesmo…

158

EXEMPTÃO DE CORAÇÃO (1/2) [8055]

(1)

{Não, Glauco! Ouço fallar, mas não! Commigo jamais! Nem por um pratto de comida eu vendo o meu bom senso! Não! Do joio o trigo que eu separo como boa idéa jamais custa a minha perna, meu braço, nem por ella meu cu fodo!

Não sou voto comprado, minha fé nalguma boa causa, no poder vigente, na campanha dum rival, não tem tabellamento de milhões nem mesmo de migalhas! Meu modello tem sido você, Glauco, que, maldicto, por nada se vendeu! Quero seguil-o!}

(2)

-- Tambem estou tranquillo, meu amigo. Eu nunca, veja, nunca nesta vida ganhei um só centavo para appoio dar, seja a algum politico em pessoa, a algum partido, ou mesmo a quem governa. Não, nunca recebi nada. Mas todo subjeito tem seu preço. O meu não é barato. Caso queira alguem saber, eu quero uma cadeira de immortal e, vindo de lambugem, um Camões. Mas, como ninguem paga tanto pelo appoio dum ceguinho, lhe repito que estou, mais do que nunca, bem tranquillo.

159

PODRE DE RICO (1/2) [8084]

(1)

{Ai, Glauco! Os ricos, muito ricos, são malucos! O dinheiro os enlouquesce!

Sabia que Bill Gates inventou… Sim, isso! Uma ecologica privada, capaz de transformar as nossas fezes em agua! Sim, em agua, em agua limpa!

Fefito perguntou: “Você bebia tal agua, recyclada do cocô?”

Pois é, nosso querido cocozinho

virando uma purissima bebida, fresquinha, transparente… Ou não. Talvez um pouco marromzinha, parescendo café com leite… Hem, Glauco? O que você me diz? Hem? Tomaria aquella aguinha?}

(2)

-- Ué, mas ja bebemos, amigão, tal agua! Nada vejo, mas paresce que sae ja da torneira como entrou, barrenta, cor de terra, amarellada. Por isso vou ficar fazendo theses

assim conspiratorias? Minha grimpa nem coço. Sem comptar que bem podia a nossa ser cocô, porem… Hem, pô?

Nem mesmo recyclada! Ja adivinho aquillo que você, que se intimida com isso, me dirá, por sua vez.

Não sente o coração o que não vendo estão os nossos olhos. Quem não vê perguntas não fará. Quem adivinha?

160

INFINITILHO DO BRILHO (1/2) [8133]

(1)

{Eu tenho competencia no mercado, Mattoso! O meu dindim tá garantido! Por isso não dependo de estataes, que são uns cabidões de emprego e vão, de mim si depender, privatizadas todinhas ser, Mattoso! Para a rua ir devem todos esses parasitas chamados “funccionarios”! Desemprego? Mendiguem, ora! Peçam que eu lhes deixe no meu sapato um brilho dar, que eu pago, talvez, um trocadinho! Sou bem franco, Mattoso! Só meresce emprego quem tem tino, tem cabeça! A maioria que fique na sargeta, que mendigue, que engraxe meu sapato! Não concorda?}

(2)

-- Tractando de sapatos, não me evado e digo que lhe engraxo, no devido capricho, o borzeguim. Em tudo o mais, discordo de você. Nem todas são cabides e nem todas ser fechadas deviam. O governo continua gastando muito nellas, mas maldictas não podem ser chamadas. O sossego de muitos servidores que eu me queixe faz, claro. Mas não vejo tal estrago nas comptas, affinal. Aqui não banco o typico “perito”, mas alguem que entende de engraxada. Ah, si eu queria um brilho dar, de lingua, nesse big tamanho de sapato, seu calhorda!

161

(1)

Qualquer trabalhador da construcção em frente ao edificio onde morei ficava, nos domingos, sentadinho na porta do tapume, vendo a rua, sem nada que fazer. Eu, certa vez, voltando do passeio, o olho batti nos dedos de seu pé, numa sandalia daquellas hawaiianas, ja bem gasta.

(2) Fiquei maravilhado! Seu dedão, alem de ter um largo vão, notei que curto era demais, quasi ao mindinho egual em comprimento, emquanto sua bem chata sola punha-me freguez daquelle esculptural lanchão, alli no meio da calçada, que me calha no porte e do meu olho não se affasta!

(3) Em casa, masturbei-me e meu tesão se inflamma. Ja assumindo que sou gay, à rua desço. Usando de jeitinho, explico ao operario que elle actua na pelle de quem manda no burguez e obriga que eu lhe lamba, qual gury currado pela gangue mais bandalha, seu grego pé, funcção dum pederasta.

162
ODE CLASSISTA (1/4) [8169]

(4) Authentico michê de occasião, um bicco aqui lhe arranjo e lhe paguei não só pelo pezão: pelo sebinho da rolla que chupei. Como elle sua na sola! Como fede! E como fez beber, as ordens dando, o seu chichi, aquelle rapazelho que “gentalha” será si, ao Chaves, Kiko oppõe-lhe a casta!

163

FOLLOW THE MONEY (1/2) [8526]

(1)

Mais de uma capital ninguem extranha que varias nações tenham. Maravilha tem uma; outra tem grana; nem se accanha aquella onde o dinheiro mais se pilha. Dinheiro é o que em São Paulo mais se ganha, no Rio o que se gasta e que em Brazilia se rouba. A proporção é que é tamanha.

(2)

Não só por ser São Paulo natal minha cidade e ser no Rio que trabalha o Glauco quando joven, mas eu tinha inveja de Brazilia, a mais bandalha. Um dia, a bandalheira mais mesquinha percebo ser geral e que algo valha ter grana ja não creio, ao fim da linha.

164

ADVISO AOS NAVEGANTES [8532]

É sempre assim! Gratuito se appresenta algum sitio na nuvem e você la posta seus archivos. Ja noventa pastinhas fez subirem, quando vê, attonito, um adviso! Essa avarenta empresa a dez limita o que se lê na tela! Alem da quota, você enfrenta a taxa que cobrarem, ou… Cadê seu lindo repertorio? Quem o tenta baixar ja nada accessa! Seu basset, nas photos, deletaram! Sua attenta agenda, seus poemas, o erregê, até, que escaneou! Sumiu? Aguenta! Se ferra quem na rede gratis crê! Mas tudo pifará, mesmo! Mais lenta será a velocidade, até que dê total panne e voltamos aos oitenta!

165

POSTHUMOS OCULOS [8545]

Eu tenho uma vizinha que brechós frequenta, a ver si encontra a mais barata camisa, calça, tunica que, appós morrer o portador, medida exacta nem tenha, mas que sirva, ja que nós, eternos pobretões, temos à cata de roupas que sahir. Mas minha voz embarga-se de nausea quando tracta alguem de conseguir coisa que avós deixaram para nettos, sem que batta na gente a passarinha sobre o coz da calça que emmerdou, sobre insensata que seja a percepção de mortem post naquelle mar de pannos que a baratta lambeu, traças comeram, paletós manchados de suor, virus de ingrata doença infecciosa que de atroz febrão mactou em proxima, até, data! Meus oculos de cego, quando a sós medito, quererei que muita pratta não valham, ou que gerem quiproquós?

166

NOBEL DE ECONOMIA [8610]

Quem ganha algum Nobel de economia appenas manipula as estatisticas a fim de demonstrar que mão barata ainda barateia mais si for num braço de immigrante. Eu, ca commigo, que vivo num paiz bem informal, de estudos economicos nem faço questão de mão lançar para affirmar que, quanto mais escrava a mão que trampa, maior o desemprego dos que estão attraz das garantias duma lei. Mas disso os academicos ja são scientes, nem precisam dum Nobel nas midias a bombar. Aqui em São Paulo, as ruas estão cheias de exemplares historias que, dum minimo salario, ao largo passarão e em cada praça accampam, num verão qual num hinverno.

167

PLANO DE CARREIRA [9014]

-- Você está folgadão demais! Precisa de estudo, dum diploma! {Ah, para que?}

-- Ué, para vencer na vida! Para, depois de estar formado, trabalhar, ter uma profissão! {Mas para que?}

-- Junctar dinheiro, porra, até poder, um dia, apposentar-se! {E para que?}

-- Caralho, para a vida approveitar! Poder se expreguiçar, sem fazer nada, emquanto for servido por alguem!

{Mas disso ja desfructo, pois folgado você mesmo percebe que ja sou!}

-- Porem não ficou rico! Quem está servindo-lhe de escravo ou subalterno?

{Você não percebeu? Exploro um cego, que esmollas me repassa, alem de ser eximio fellador! Isso não basta?}

168
SUMMARIO DISSONNETTO TRIBUTARIO [0312].................. 9 DISSONNETTO DA COMPTA CONJUNCTA [0805]........ 10 DISSONNETTO DA UTOPIA FISCAL [0813]........... 11 DISSONNETTO DIGITAL [0865].................... 12 DISSONNETTO INFERNAL (2) [0894]............... 13 DISSONNETTO INDUSTRIAL [0896]................. 14 DISSONNETTO COMMERCIAL [0897]................. 15 DISSONNETTO VEGETAL [0899].................... 16 DISSONNETTO CAPITAL [0920].................... 17 DISSONNETTO RESIDUAL [0921]................... 18 DISSONNETTO PREJUDICIAL [0929]................ 19 DISSONNETTO SOCIAL [0977]..................... 20 DISSONNETTO DIALECTICO-DIETETICO [1016]....... 21 DISSONNETTO DO MEIO CIRCULANTE [1188]......... 22 DISSONNETTO DA PROPAGANDA ENGANNOSA [1344].... 23 DISSONNETTO DOS URBANISTAS COMMUNISTAS [1351]. 24 DISSONNETTO DA HYPERINFLAÇÃO HISTORICA [1437]. 25 DISSONNETTO DA GRANA A GRANEL [1498].......... 26 DISSONNETTO DO VIL METAL [1548]............... 27 DISSONNETTO DO HOMEM PREDESTINADO [1558]...... 28 DISSONNETTO DO CRIME FAMELICO [1594].......... 29 DISSONNETTO DA CAMA FEITA [1628].............. 30 DISSONNETTO DO EQUIVOCOMBUSTIVEL [1630]....... 31 DISSONNETTO DO PAPEL DE DESTAQUE [1646]....... 32 DISSONNETTO DA REUNIÃO DE DIRECTORIA [1655]... 33 DISSONNETTO DO PEDINTE PEDANTE [1712]......... 34 DISSONNETTO PARA UM ESPECULADOR [1742]........ 35 DISSONNETTO PARA A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [1746]..36 DISSONNETTO PARA UNS PAPEIS DADOS DE GRAÇA ... 37 DISSONNETTO PARA A LUCTA DE CLASSES [1933].... 38 DISSONNETTO PARA UMA PARALYSAÇÃO ABORTADA..... 39 DISSONNETTO PARA A HARMONIA COMPTABIL [2012].. 40 DISSONNETTO PARA UM VALOR INESTIMAVEL [2072].. 41
DISSONNETTO PARA UM PRONUNCIAMENTO FEDORENTO.. 42 DISSONNETTO PARA UM EMERGENTE ILHADO [2131]... 43 DISSONNETTO PARA QUEM SAE NA CHUVA [2177]..... 44 DISSONNETTO PARA DOIS VINTENS EXCAMMOTEADOS... 45 DISSONNETTO PARA UM CHARTÃO QUE NÃO É VERMELHO 46 DISSONNETTO PARA UM LIQUIDO EM LIQUIDAÇÃO [2219].47 DISSONNETTO PARA UMA MOEDA MEHUDA [2269]...... 48 DISSONNETTO PARA A PRESUNCTADA INDUSTRIALIZADA .... 49 DISSONNETTO PARA A BATTALHA DA GENTALHA [2359] 50 DISSONNETTO PARA UMA EXPLOSÃO NAS VENDAS [2407]51 DISSONNETTO PARA O CONSUMIDOR INDEFESO [2408]. 52 DISSONNETTO PARA OUTRO TYPO DE BONDE [2677]... 53 DISSONNETTO SOBRE A FARINHA POUCA [2780]...... 54 DISSONNETTO SOBRE UM PEÃO E SEU PEZÃO [2837].. 55 DISSONNETTO SOBRE AS BOAS COMPANHIAS E SUAS... 56 DISSONNETTO SOBRE O UFFANISMO E O AFFANISMO... 57 DISSONNETTO SOBRE UM PRIVILEGIADO DESPREVENIDO 58 DISSONNETTO SOBRE UM MARTELLO BATTIDO [2987].. 59 DISSONNETTO SOBRE UM FUNDO SEM SACCO [3013]... 60 DISSONNETTO SOBRE UMA IMPRESSÃO PASSAGEIRA ... 61 FAJUTOS PRODUCTOS [3102]...................... 62 ELITISMO VERSUS PROSELYTISMO [3159]........... 63 MÁ THEMATICA [3162]........................... 64 BANANA POR PESO [3170]........................ 65 EM DIA COM A VIDA [3247]...................... 66 AGOURENTO OFFERESCIMENTO [3470]............... 67 HORARIO PUBLICITARIO [3478]................... 68 PROPAGANDA QUE DEBANDA [3547]................. 69 PATRIMONIO CULTURAL [3816].................... 70 DINHEIRO SUADO [3929]......................... 71 PECCADO CAPITAL [3962]........................ 72 PAPEL SEDOSO (1) [3971]....................... 73 UM GRAMMA DE GRAMA [4184]..................... 74 EMPREHENDEDORISMO CREATIVO [4405]............. 75 CRIME COMPENSADO [4579]....................... 76
CONTRIBUIÇÃO POR FEIÇÃO [4691]................ 77 DAMNAÇÕES UNIDAS [4713]....................... 78 GREVE POUCO BREVE (1/2) [4735/4736]........... 79 RESERVA DE MERCADO [4845]..................... 80 COMMERCIO DA FÉ [4849]........................ 81 OBSOLESCENCIA PROGRAMMADA [4870].............. 82 ATTENDIMENTO PREFERENCIAL [4922].............. 83 ESPIRITO DESPRENDIDO [4935]................... 84 SCENA COLORIDA [4976]......................... 85 VENDA DESCASADA [4983]........................ 86 EDICTAL DE ILLICITAÇÃO [5108]................. 87 GERENTE COMPETENTE [5247]..................... 88 SAQUE SEM SAQUE [5266]........................ 89 VOLATILIDADE DO DOLLAR [5289]................. 90 DISSONNETTO DUMA CONSUMIDORA ENTENDEDORA [5302].. 91 DISSONNETTO DUMA CONFERENCIA SEM CONSEQUENCIA .... 92 DISSONNETTO DUMA ACCUSADORA CONSUMIDORA [5410] 93 DISSONNETTO DUM FORMULARIO SUMMARIO [5422].... 94 DISSONNETTO DUM IMPOSTO INDEVIDO [5449]....... 95 DISSONNETTO DUMA LOGICA APPLICADA [5450]...... 96 DISSONNETTO DUNS PHARISAICOS AMBIENTALISTAS... 97 DISSONNETTO DUM CAPITALISTA DESCALÇO [5458]... 98 DISSONNETTO DUNS YUPPIES SEM BRILHANTINA [5459]..99 DISSONNETTO DUMA FURADA BOLSA DE FUTUROS [5469]. 100 LYRA NÃO VALE LIRA [5505].................... 101 MONOPOLIO DO ESPOLIO (1/2) [5519/5520]....... 102 DEGRADANTE TRABALHISMO [5563]................ 103 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [5668]................. 104 OTARIOS HONORARIOS [5716].................... 105 BOXING DISSONNET [5875]...................... 106 MEME DO CAMBIO [5915]........................ 107 MISCELLANEA DA MORDOMIA [5969]............... 108 CHAVE DE CADEIA [5970]....................... 109 MISCELLANEA CIPHRADA [6031].................. 110 MISCELLANEA PUBLICITARIA [6033].............. 111
MEME DA MERRECA [6134]....................... 112 PRESTAÇÕES DE COMPTA [6490].................. 113 RESUMO DO CONSUMO [6528]..................... 114 CREDITO EM COMPTA [6562]..................... 115 JOGADA ENSAIADA [6571]....................... 116 AGOURO NO THESOURO [6608].................... 117 PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662]................ 118 DINHEIRO SUJO [6707]......................... 119 IMPOSTO DE MERDA [6709]...................... 120 GOSTO DE POUCO [6715]........................ 121 FASHIONISTA PAGA À VISTA [6719].............. 122 MY WALKING SHOES [6748]...................... 123 DOURADAS DENTADURAS [6821]................... 124 VOVÓS A SÓS [6885]........................... 125 POR PREÇO DE BANANA [6886]................... 126 RECOMEÇAR [6934]............................. 127 DESABBASTESCIMENTO [6940].................... 128 EPA! VIVA A XEPA! [6954]..................... 129 DEBITO E CREDITO [6965]...................... 130 BARATO BARATO [7078]......................... 131 COPYLEFT [7091].............................. 132 CAGADA MONITORADA [7101]..................... 133 EDUCAÇÃO FINANCEIRA [7134]................... 134 PAPEL SEDOSO (2) [7174]...................... 135 MOTTE GLOSADO (1/2) [7416]................... 136 MOTTE GLOSADO (1/2) [7419]................... 137 MOTTE GLOSADO [7432]......................... 138 MOTTE GLOSADO [7539]......................... 139 MOTTE GLOSADO (1/2) [7547]................... 140 MOTTE GLOSADO [7596]......................... 141 MOTTE GLOSADO [7631]......................... 142 MOTTE GLOSADO [7659]......................... 143 MADRIGAL CAMBIAL [7688]...................... 144 MADRIGAL INTERNACIONAL [7784]................ 145 MADRIGAL BIFOCAL (1/3) [7788]................ 146 MANIFESTO BOLSISTA [7880].................... 147
MANIFESTO QUOTISTA [7882].................... 148 MANIFESTO CATASTROPHISTA [7883].............. 149 MANIFESTO TRABALHISTA [7891]................. 150 MANIFESTO COITADISTA (1/2) [7903]............ 151 MANIFESTO CAPITALISTA [7909]................. 152 MANIFESTO MONETARISTA (1/2) [7936]........... 153 MANIFESTO MATERIALISTA (1/2) [7953].......... 154 MANIFESTO POPULISTA (1/2) [7962]............. 156 MANIFESTO DESASSISTENCIALISTA (1/2) [7978]... 157 ENTENDA A LEGENDA! (1/2) [8004].............. 158 EXEMPTÃO DE CORAÇÃO (1/2) [8055]............. 159 PODRE DE RICO (1/2) [8084]................... 160 INFINITILHO DO BRILHO (1/2) [8133]........... 161 ODE CLASSISTA (1/4) [8169]................... 162 FOLLOW THE MONEY (1/2) [8526]................ 164 ADVISO AOS NAVEGANTES [8532]................. 165 POSTHUMOS OCULOS [8545]...................... 166 NOBEL DE ECONOMIA [8610]..................... 167 PLANO DE CARREIRA [9014]..................... 168
São Paulo Casa de Ferreiro 2023

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