NOBEL DE MEDICINA

Page 1

NOBEL DE MEDICINA

NOBEL DE MEDICINA

São Paulo

Casa de Ferreiro

Glauco Mattoso

Nobel de medicina

© Glauco Mattoso, 2023

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

NOBEL DE MEDICINA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023

132p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Um premio não ganhei nem ganharei, mas, como todo bardo, dou palpite naquillo que me toca, si irmanado estou com opprimidos os mais varios, na cega condição em que me encontro. Versão abbreviada dum volume thematico que tracta da area medica, vem esta collectanea, como livro impresso ou digital, attender aos leitores que queriam folhear poemas allusivos a seus casos agudos, sinão chronicos, de dor de espirito de porco, ou esportivo. Allivio lhes desejo, ja que enxergam.

Coitado de quem teme ser obeso, pois vive se privando dum bom pratto, comendo só ração, porções de matto, escravo dos limites do seu peso! À estupida dieta o cara é preso. Magerrimo, paresce estar, de facto, num campo de exterminio, sob ingrato regime de castigos e desprezo.

Costellas tem à mostra, e ainda se acha saudavel! Si mulher, belleza pura, vaidosa duma assaz fina cinctura, do seu cholesterol medindo a taxa!

Babaca! Emquanto malha na tortura, comendo dietetica bollacha, seu sabio e nedio medico relaxa e vae se empanturrando de frictura!

9
DISSONNETTO MAGRO [0329]

DISSONNETTO TORRESMISTA [0426]

Diversas dictaduras nos farão pensar si temos, mesmo, ou não, razão.

Não basta a dictadura que ja dura e vem a dictadura antigordura! Pensei aqui commigo: Só fodi-me!

Sahimos do regime militar, cahimos no regime do regime. Censuram-nos até no paladar!

Trabalho, horario, imposto, compromisso.

Orgasmo não se tem como se quer. Só sobra o bom do garfo e da colher e os nazis nariz mettem até nisso.

Acaso bem comer seria crime?

Maldicta seja a midia, sempre a dar espaço à medicina que reprime!

Gestapo da “sahude” e “bemestar”! Não, medico nenhum me será tão fodão que imponha alguma restricção!

Resista! Coma! Abbaixo a dictadura!

A lucta tem um symbolo: FRICTURA!

10

IATROCRACIA [0426-B]

Só fica a classe medica a dictar ao mundo o que faz bem ou não faz bem e toda a auctoridade crê que tem, suppondo ter, de falla, algum logar. São uma minoria, que mandar pretende em toda a gente, mas alguem precisa levantar a voz e, sem reservas, ter coragem de fallar que medicalizar tudo na vida de immensas maiorias é, mais nada, appenas dictadura disfarsada, impondo-nos aquillo que decida a “sabia” minoria. Alguem duvida que coma algum doutor o que lhe aggrada? Ou acham que elle proprio segue cada dieta aos pacientes impingida?

11

DISSONNETTO PREGUICISTA [0427]

Diversas dictaduras, hoje em dia, nós temos que encarar, na correria.

Não basta a dictadura da injustiça e vem a dictadura do magriça! Ninguem mais tem direito de engordar!

Cahimos no regime do exercicio, egressos do regime militar. Censuram a poltrona como vicio!

Dever, serão, cobrança, obrigação.

Mal temos um tempinho de lazer e os nazis o nariz querem metter, impondo-nos esporte e malhação.

Não, nada disso! Quero descansar! O tempo é precioso! Desperdice-o! Sinão a gente ainda vae parar num eito, num presidio ou num hospicio! Quem antes prohibiu pornographia agora a minha folga, até, vigia?

Resista! Durma! Assuma esta premissa: A lucta tem um symbolo: PREGUIÇA!

12

DISSONNETTO DESARVORADO [0732]

Paresce que as molestias pulmonares voltaram numa escala assustadora. Pandemicas ja são, como si fora romantica a aridez dos nossos ares. Pulmões são, um por vez, nem sempre aos pares, os alvos das bronchites, da trahidora, fatal tuberculose, e assobiadora se torna a inspiração nos lupanares. A pleura dóe nas costas, e no peito reflecte a grossa tosse da trachéa. Si for com hemoptyse, fodeu, é a sangueira que encatarrha um cano estreito. Asthmatica e pneumonica, a plebéa manada arfa no denso (ou rarefeito) ar nosso. Quem na clinica acha um leito não morre na polluta Paulicéa.

13

DISSONNETTO DO DESMANCHA-PRAZERES [0777]

Tachada como “má alimentação”, a farta culinaria que é mais duca, da pizza até o leitão à pururuca aos medicos inspira a rejeição. São do cholesterol a legião de bravos patrulheiros, na maluca cruzada contra um bem que não caduca: a busca do prazer, do pau ao pão. Inutil tanta sanha castradora si a medicina tem no bemestar dos homens a razão mais promissora. Si priva-nos do livre-degustar, o medico desserve a causa e agoura em proprio detrimento, honrando o azar. Por isso minha pillula não doura nenhum doutor, só mesmo o paladar.

14

DISSONNETTO MEDICINAL [0877]

Advanços mais communs da medicina são para os cardiopathas, para os loucos, neuroticos, asthmaticos ou roucos, na cura ou no pregão que o mal previna. Não ha, porem, antidoto ou vaccina que livre da afflicção aquelles poucos que soffrem, cegos, mudos, mancos, moucos, no horror da invalidez que os contamina. Vergonha é o que a sciencia ‘inda não sente mas era p’ra sentir, sendo tão lerda no tracto do glaucoma e seu doente! Em vez de “irreversivel”, uma perda da vista será, pura e simplesmente, aquillo que foi sempre e é hoje: merda! Glaucoma quem tiver, perder aguente: direita agora; appós, tambem esquerda.

15

DISSONNETTO CHRONICO [1101]

Mal cago, mal respiro, durmo mal. Alem deste glaucoma que me cega, alguma outra molestia se encarrega de entrar no meu estado de “abnormal”. Ja quasi que não saio do hospital, nas mãos dum otorhino, e seu collega que cuida do intestino me sonega a cura para um petreo obrar fecal. Bronchite, laryngite, sinusite... Mais nada me faltava nesta vida soffrida, sem remedio que as evite! E como não bastasse a combalida sahude, a insomnia appenas me permitte no agudo verso achar contrapartida. Sinão, eu que dos demos sollicite nos olhos pressão menos dolorida.

16

DISSONNETTO DA DESOBESIDADE MORBIDA [1206]

Engordam as mulheres: na cinctura que foi de tanajura ja não cabe aquella calça justa, e alguem que babe por ellas não encontra quem procura. Na lipoadspiração um doutor jura que exsiste solução, mas ninguem sabe dos riscos: só tem credito quem gabe a magica que extrae toda a gordura. Mas, quando um intestino é perfurado e a chance de salvar-se é ja nenhuma, ou varias infecções mactam mais uma, se mostra a midia attenta ao “outro lado”.

Desistam, vaidosinhas! Quem se arrhuma soffrendo em traje superappertado, pensando na elegancia, tá ferrado! Só ganha quem com banha se accostuma!

17

DISSONNETTO DO HUMOR HOSPITALAR [1650]

Logar bem deshumano, um hospital! Alli convive, lado a lado, quem accaba de curar-se e quem seu mal ja não supporta mais e invoca o Alem. No mesmo corredor, diverso astral. Na maca, um paciente geme e nem consegue respirar. Ao lado, um tal barulho de risadas, que é desdem, é como uma canção rude, excarninha. Quem alta recebeu, faz piadinha dizendo que não teve, jamais tinha qualquer doença critica que advance, que tenha consequencia tão damninha. Aquelle que os escuta e se encaminha a alguma cirurgia, mais definha suppondo que não tem nenhuma chance.

18

DISSONNETTO DA INCONVENIENCIA [1706]

De manhan cedo, um bebado passeia em frente ao hospital. Cantando, grita:

“As aguas vão rollar! Garrafa cheia não quero ver sobrar...” A coisa irrita. La dentro, quem de dores experneia escuta aquillo e mais se debilita.

Mostrando estar, de facto, com a veia, o bebado é um tenor de voz bonita.

“Eu bebo, sim, e estou vivendo...”, canta. Paresce seu orgulho ser tremendo.

A voz ja lhe enrouquesce na garganta:

“Tem gente que não bebe e está morrendo...”

Foi retirado pela viatura.

Alem de dores chronicas soffrendo, no quarto um paciente agora attura o medico: {Não beba, eu recommendo...}

19

DISSONNETTO DO QUADRO CLINICO [1708]

Mediram-lhe a pressão: alta demais. Talvez hereditaria, mas o estresse na certa influe. Alem de olhar os paes, o cara do cachorro não se exquesce. Tanta preoccupação, como jamais na vida imaginara! Até padesce duma dor de cabeça que os normaes remedios ja não fazem com que cesse.

Começa a se tractar, mas ninguem deixa. Em breve, seu regime elle desleixa, ao ver que os paes e o cão comem de tudo.

Somente elle não pode ser sortudo?

Um dia, o cão lhe morre e, desgostoso, não tendo mais na vida nenhum gozo, fallesce de qualquer casinho agudo. Commentam que elle sempre foi marrudo.

20

DISSONNETTO PARA UMA GORDA GULOSA [1762]

Marcara uma consulta a gorda dama com seu cardiologista renomado. De novo a examinando, elle reclama que não tem seus conselhos accaptado. A gorda, exparramada sobre a cama do chique consultorio, com enfado reage à reprimenda e o doutor chama de “duro dictador” e “bitolado”.

Dalli sahindo, corre para a loja de finos chocolates e se arroja na caixa do bombom que mais convide a gula a degustar. Assim decide. Mais da metade come duma vez. Mas ja não contará, como antes fez, ao medico esse gesto de revide. E tome roupa nova no cabide!

21

DISSONNETTO PARA UM REGIMEN DICTATORIAL [1781]

“Ballança mentirosa!”, a gorda exclama. “Só pode estar desregulada, a joça!”

Amigas, condoidas de seu drama, lhe dão, para comer, o que ‘inda possa. Cortado o sal, ja quasi nada addoça.

Temperos reduziu e, a cada gramma a mais no pratto, alguem se expanta: “Nossa!” Patrulham a coitada até na cama.

Se queixa o namorado, outro gordão, que ja nem sobra espaço no colchão e que ella rhoncha feito uma leitoa. Se queixa, vejam, duma coisa à toa!

“Assim não dá! Me chamam de baleia e, emquanto não estão de pança cheia, mais alto é o rhoncho que, la dentro, echoa...

Ainda querem, mesmo, que eu me doa?”

22

DISSONNETTO PARA UMA PACIENTE NAS ULTIMAS [1867]

A thia, moribunda, está internada. Tem como herdeiro um unico sobrinho que, sempre a visital-a, attende a cada pedido da velhinha, com carinho. Traz flores, traz biscoitos... E a coitada, feliz e aggradescida, dá um beijinho molhado em sua mão, que ja lavada está, mal sae do quarto o rapazinho. Vocês ja vão saber do que se tracta... Na noite do appagão, o joven entra no quarto e, emquanto a velha se concentra na caixa de bombons, solta da latta a aranha! A aranha grande, enorme, ingrata, a gigantesca aranha, que caminha por cyma da coberta! Si a velhinha do susto excappa, qual veneno a macta?

23

DISSONNETTO PARA UM CHARDAPIO REMEDIADO [1917]

Appós uma consulta, a gorda explica à amiga a situação pela qual passa: “triglycerite aguda (diagnostica), doença provocada pela massa... Cortar meu maccarrão, foi essa a dica que o medico me deu... Ora, tem graça?”

A gorda se revolta: “É muita zica!”

Ficar sem a lasanha ha quem a faça?

Aquelle prattarrão de cannellone, de gnocchi ou de spaghetti, não tem clone saudavel que compense uma dieta, nem diva, nem actriz a mais esbelta.

Agora a gorda, practica, tem tido appenas um cuidado: o comprimido tornou-se a sobremesa predilecta.

Não, medico nenhum seu pratto veta!

24

DISSONNETTO PARA UM LEITÃO À PURURUCA [2050]

{O seu cholesterol está normal. Tambem sua glycose nada accusa.

Mas destes triglycerides é tal a taxa, que eu estou até confusa! Eu sei que o senhor come pouco sal e que tambem do assucar não abusa. Mas a prohibição vae ser total nas massas e nos doces! Pão, reduza!

Lhe digo o que fazer, senhor, primeiro. Remedios eu estou lhe receitando. Porem, si não fizer tudo que eu mando, perdemos nosso tempo e o seu dinheiro!}

-- Senti de interesseiros o mau cheiro! Pois sim! Essa doutora monologa si achar que me alimento de agua e droga! Si estou com fome, eu como um porco inteiro!

25

Aquella dor de dente, aquella crise de estomago ou pulmão que, volta e meia, retorna, sem que previamente advise, é tudo que este cego mais receia!

Costuma apparescer, feito reprise, na vespera da data em que passeia o medico, o dentista: quem precise de rapidos soccorros experneia!

Batata: é feriadão, ou sexta-feira à noite, quando, na cidade inteira, fecharam as pharmacias! Ai de mim!

Doente justo agora a ficar vim!

É claro que do Murphy, então, me lembro!

Quer seja Paschoa ou Septe de Septembro, Natal ou Carnaval, é sempre assim!

Em util dia, as dores terão fim!

26
DISSONNETTO PARA UMA DOR DE BARRIGA EMPURRADA [2173]

DISSONNETTO PARA UMA DOR DE CABEÇA EMBURRADA [2174]

Estomago, pulmão, cabeça, dente: symptomas são communs. Quando elles veem, [vêm] a gente, emfim, assume estar doente e marca uma consulta: urgencia tem. O facto de marcar ja nos faz bem, accalma a consciencia: o paciente se sente medicado, mesmo sem tomar nenhum remedio, só na mente. Não fica nisso a coisa, todavia. A dor retorna, e a gente não addia mais: tracta de correr ao hospital. Quem é que não faz disso um carnaval? De Murphy a lei funcciona nessas horas: na vespera, ja sinto umas melhoras; na frente do doutor, ja estou normal. Dum physico tal caso tem aval.

27

Si Murphy no hospital uma visita fizer, constatará que a lei vigora em toda a plenitude. A tal da fita usada em curativos corrobora: São dois esparadrappos, Millôr cita, os typos disponiveis alli: ora aquelle que não gruda, e agente evita, ora o que não desgruda, e a gente chora. Tal thema você pede que eu expanda?

As pillulas que o medico nos manda tomar antes do almosso e propaganda expalha dos effeitos, são fataes:

São justamente aquellas taes que mais estragam nosso amargo paladar e para sempre temos que tomar. Na physica se explica tal azar.

28
DISSONNETTO PARA UM APPROMPTUARIO MURPHOLOGICO [2254]

DISSONNETTOS PARA UMA PHYSIOTHERAPIA QUE ALLIVIA (1/2) [2341/2342]

(1)

O estresse se accumula entre o pescoço e os hombros: enrijesce e dolorido irá deixando o musculo. Um sentido mais physico, portanto, modo grosso. É sobre aquella especie de caroço que é feita uma massagem: tem rendido effeitos relaxantes, e eu convido os medicos a darem-lhes endosso. Meu caso, todavia, é um tanto extranho, pois desce todo o estresse para a bunda que, quando tensa, augmenta de tamanho e, em todos os seus musculos, abunda. Da coisa aqui fallar eu nem me accanho: Massagem é indicada, sim! Redunda em cura: si ella está dura, eu appanho palmadas therapeuticas, e affunda.

(2)

Fallaram que seria “saphadeza” da grossa que eu sentisse todo o estresse na bunda e que eu dissesse que ammollesce e affunda com massagem, quando tesa. Entendam bem: não é que seja obesa, mas, como ja não saio, ella padesce do tal “sedentarismo”, que enrijesce as nadegas, lhes dando essa dureza. Appenas com massagem ella cede e os musculos relaxa: um tractamento que addicionaes effeitos não impede. É nisso que reside meu alento.

As mãos dum therapeuta a bunda pede! Que culpa, pois, eu tenho si me sento demais? Caso a massagem arremede o erotico prazer, mais me contento!

29

DISSONNETTO SOBRE UM CU QUE NÃO TEM DONO [2980]

Quem sabe, sabe: como é divertido gostar de ver alguem enchendo a cara, cahindo pela rua ou indo para a clinica do vicio, arrependido! Um bebado me disse, e eu não duvido do gajo, que um bohemio se compara ao outro, por curtir bebida cara ou pelo quanto tenha consumido. Um delles se gabava da nobreza daquelle que não fica tão cambaio: “Você só bebe pinga? Que pobreza! Eu bebo só conhaque! Quando caio de bebado, vomito sobre a mesa! Não caio na calçada, nem me traio deixando o rabo à mostra, si indefesa é a bunda do bebum perante o raio!”

30

DISSONNETTO SOBRE A PLASTICIDADE FECAL [3028]

Si o medico me disse, eu accredito que tenho de educar meu intestino, fazel-o funccionar: desde menino foi elle preguiçoso e assaz constricto. Mas no que me foi dicto, a sós, medito: o cara ‘inda quer ver si eu elimino “cocô bonito”... E eu, sceptico, imagino que coisa vem a ser “cocô bonito”...

Será que o cagalhão esculptural, dourado, envernizado, ammollescido, pequeno, grande, solido, comprido, se enquadra em typo esthetico, affinal?

Olhando meu tolete, eu ca duvido que possa elle ser bello: cheira mal, tem porte indefinido, desegual, é duro, escuro, grosso e retorcido...

31

DISSONNETTO SOBRE UM ELEVADOR VAZIO [3060]

Lotado o elevador, fechada a porta, até chegar será lenta a subida.

Tão alto (uns trinta andares), que um suicida tem medo de pullar e o salto aborta. Alli pelo vigesimo, o que corta o ouvido dos presentes é a tossida roufenha, catarrhenta, que intimida a todos, ja que ha tanta gente morta. Da grippe que se allastra o allerta é tal que, ao minimo signal que alguem exponha de estar doente, ha panico, é fatal. Vigesimo primeiro. Da medonha doença fugitivos, todos, mal aberta a porta, saem, com vergonha. Melhor, muito melhor que esse grippal arzinho, era si fosse de maconha...

32

TERMINAL TERMINOLOGIA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDICADO [3188]

O “campo visual”, sob um glaucoma, vae sendo reduzido a cada exame. Formato de concentrico alvo toma e ao medico não compta que eu reclame. Lhes dar um panorama aqui procuro: Supponham ser tal alvo metralhado por tiros que o perfurem: cada furo seria um “poncto cego” addicionado. Affirmam oculistas que, primeiro, os furos se accumulam pela beira do campo; a ponctaria é mais certeira, mais tarde: attinge o centro e o campo inteiro, ou seja, é o termo technico inseguro e, como deu azar para o meu lado, mais cedo o central circulo no escuro ficou, abbreviando o resultado. Chamou cada buraco de “escotoma”, na terminologia do vexame, a mesma medicina que me embroma. Progresso? O que progride é o mal infame!

33

PHASE CRITICA [3253]

Coitado do “teenager”! Só lhe resta encher-se num “fastfood” ou numa festa, mas, nesta, faz figura vergonhosa si, como um babacão, de irado posa ou, quando ri demais, do mor bossal. Chamar de “abhorrescente” desaggrada ao medico hebiatra, para o qual faz parte dessa edade a pose irada. No espelho, elle é dentuço, narigudo, estrabico e rhachitico: a menina dirá às amigas que elle tem voz fina, que é fresco, frouxo, fracco... e falha em tudo. Emfim, ao molecão não dão aval. Em casa, ovelha negra; em gruppo, nada consegue; na gymnastica, vae mal. Descompta, então, no hamburger e na empada. Na cama, se masturba. Quando goza, suspira pela actriz mais adiposa. Não tarda, e um outro medico lhe attesta precoce obesidade... Eu, hem? Mais esta?

34

DIETETICA DIALECTICA DIABETICA [3279]

Repito o que foi dicto todo dia: “Não posso comer doce, você sabe!”, dirá mamãe, mas come até que accabe, emquanto doutros themas ja desvia. De exemplo não faltava algum gluttão: Papae, tambem notorio “formiguinha”, traz caixas de bombons, como si não soffresse a diabetica, tadinha!

“É muito chocolate! Vae sobrar!

Eu vou ser o-bri-ga-da a comer isso!”

E a velha põe de lado o compromisso com medicos, dá sopa para o azar. Occorre logo a mesma explicação: “É só para provar...”, diz, e exquadrinha a cheia caixa, excolhe, mette a mão, tirando varios: “Truffas! Esta é minha!” Dos doces, emfim, ella se sacia. Depois, diz rindo: “Chega! Ja não cabe mais nada!” E o lenço impede que ella babe. Comer como comeu é o que eu queria!

35

DOCE ILLUSÃO [3472]

“Que prefere? Me relate! Chocolate? Eu não me opponho! Então coma chocolate!”, diz o medico, risonho. “Mas bastante, amigo! Tracte de comer!” Paresce um sonho! E o doutor, rindo, me batte na bochecha. Eu me envergonho, pois temi que prohibisse qualquer doce... E elle me disse que comesse e até... bastante! Fiquei mesmo radiante. Depois venho a saber eu que meu medico morreu. Era alcoholatra e fumante. Paresceu decepcionante?

36

ANTES QUE ME ALMOSSES, TE JANTO! [3548]

Um amigo, que é gordão, decidiu: caso o doutor diagnostique que elle não dura muito, vae se impor. “Vou comer, seja o que for, à vontade! E comer tão fartamente que, sem dor, morrerei de indigestão!

Para o cancer, nem vae dar tempo habil: em logar de soffrer, me satisfaço!”

Isso mesmo! O meu abbraço!

Dou razão ao meu amigo: tambem como e pouco ligo si me empacha um prattarraço sem siquer, vago, um espaço!

37

O RESIDENTE E O PACIENTE [3556]

Ai, doutor! Eu sinto um peso bem aqui! Não, mais p’ra cyma!

Isso, ahi! Ficar obeso vae foder minha autoestima!

Não viu nada? Estou surpreso!

Me disseram que uma enzyma vae curar quem vive preso. É verdade? Isso me anima!

Arre! Estou sempre enfermiço!

Tá doendo aqui, tambem!

Mais attraz! Não posso nem me sentar, mal me expreguiço!

Nesse poncto é que eu me ouriço!

Que é que eu tenho, doutor? Diga!

Minha bunda até formiga!

Com frescura, eu? Que que é isso?

38

ETERNO RETORNO (1) [3561]

Um remedio caro eu pago para o muco do nariz, e o doutor, que é gordo e gago, receitar-me um novo quiz:

“Toda noite, engula um bago, para a dor nos seus quadris...”

{Mas por quanto tempo?}, indago. “Para sempre!”, elle me diz.

Quantas pillulas eu tomo?

Perco, mesmo, a compta! E como passa o medico mais uma?

Quem com isso se accostuma?

Da gagueira e da gordura elle proprio não se cura e outros pharmacos me arrhuma?!

Quem de raiva não espuma?

39

SOMNO SOLTO, PRATTO PROMPTO [3613]

Um amigo repetia: “Noite exsiste p’ra dormir!

P’ra comer exsiste o dia!”

Não cansou de repetir.

Desse cara alguem diria: {Não é mago nem fakir!}

Ao seu porte se associa o nababo ou mesmo o emir.

Rhoncha e baba quando dorme e, accordado, aquelle enorme barrigão mostra serviço, às dietas insubmisso.

Mas a phrase está perfeita: neste mundo se deleita, mesmo, a gente só com isso.

Pois que eu fique, então, rolliço!

40

HAPHEOPHOBIA [3864]

Mas que coisa mais maluca! Sendo eu cego, impressão tenho de que o mundo me cotuca todo o tempo! E franzo o cenho! Me perturba, funde a cuca! Perco todo o meu engenho, preoccupado: esta muvuca me appavora, si aqui venho! Tanta gente agglomerada!

E eu no meio aqui me appinho! E appalpar-me vão, em cada parte baixa, ja adivinho!

Si, no sonho, estou pellado e aos exames me encaminho o que temo é ser tocado por um clinico dedinho...

41

ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL [3935]

Mas foi uma jararaca, essa velha! Agora pena, desde o dia em que, na maca, foi levada... Triste scena!

Quem se vinga da velhaca paralytica é a pequena netta, a sós com ella: attacca a vovó sem dó nem pena! É cruel, essa creança?

Um descompto ainda eu dou. Não será sua vingança contra alguem que a maltractou?

Si, de rodas, na cadeira dando aquelle triste show eu a vejo, algo me cheira, mas julgal-a é que não vou!

42

O CAUTO CAUSO DO PROMPTO SOCCORRO [4139]

Soffreu ella um derrame e foi levada, às pressas, na ambulancia. Agora está deitada numa maca, mas não ha ninguem dando attenção, fazendo nada! Está bem consciente, mas, coitada, immovel totalmente ficou ja!

Na maca ao lado, esqualida, gagá, fallesce outra velhinha abbandonada!

Alli pelos edosos ha quem zele?

Chamar alguem quer ella, mas a voz não sae! Desesperada, vê que a pelle da outra ficou verde! É scena atroz!

Mais tensa ainda, treme e, antes que appelle ao sancto, a Christo, à Virgem... as vovós em volta o grito escutam que mais gele!

E nada escutarão mais, logo appós.

43

DO JEITO QUE O DIABO GOSTA [4406]

Um soropositivo está casado com soropositiva. Vão à festa os dois, onde não entra quem detesta a troca de casaes. Tudo é pensado. Rolleta russa fazem, pois o estado dos outros é normal. Quem pegar esta doença, vae passando e, assim, infesta, aos poucos, todo mundo, que nem gado. Os jovens do perigo teem noção diversa. Alguem mais velho não se arrisca, mettendo-se, qual bispo, com a bisca, deliberadamente agindo, não!

As nymphas, com seus satyros, são isca e o proprio Dionysio amphitryão, mas goza, no final, somente o Cão, que vibra a lingua, emquanto um olho pisca.

44

INGRATA DATA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDITADO [4448]

No Dia do Glaucoma, a midia illude o ouvinte e até o leitor, ao dizer: “Quem a cego ficar chega é quem não tem cuidado bem dum olho com sahude...”

Alguns advisam: “Desde a juventude a sua pressão meça e, quando vem signal de que augmentou, se tracte! É bem possivel evitar que a sorte mude...”

Mentira! Eu, de nascença, sei que tinha glaucoma! Meus paes, mesmo eu sendo gay, me amavam! Me tractei, collyrio usei a vida inteira! Acaso a culpa é minha? Fiz varias cirurgias! Não falhei em nada! Li das bullas cada linha mehuda! Segui tudo que a mesquinha sciencia disse! Ah! Tive azar, ja sei!

45

BRONCHICA BRONCA [4461]

Tem gente que expectora a catarrhada em placas verdolengas, numa tosse convulsa, num accesso, sem que addoce tal gosma o paladar de alguem, em nada. E muitos se lamentam, gemem, cada vez que entram numa crise: toma posse, se queixam, o Cappeta, sem que esboce nenhuma resistencia um camarada.

Commigo é differente! Sim, convulso eu tusso, mas a secco, em vão! Sem ar eu fico, mas na tosse nada expulso! Às vezes, o pulmão deixa excappar um naco borrachudo, um grão avulso: chiclette mastigado, a comparar. Ao medico queixei-me, mas nem pulso mais tenho para a cura lhe cobrar.

46

QUADRA CLINICA [4486]

Depois que o meu glaucoma fez estrago total e ja não temo ficar cego, preoccupam-me as doenças que ora pego, si quasi nem respiro ou mal eu cago. A prostata, a columna, alem do bago inchado, são as dores que carrego.

Jamais direi que durmo como um prego, nem livre estou das caries por ser mago.

Me assalta o medo: dellas, qual me macta?

Prefiro qual? Infarcto fulminante?

Derrame? Sopro? Um tiro que me abbatta?

Pegar tuberculose, alguem garante, ficou fora de moda a quem se tracta.

Terei, emfim, coragem de, no instante exacto, me mactar em dada data?

Mal penso nisso, exquesço... e sigo advante.

47

TOSSE SECCA [4551]

Padesce dessa tosse que não passa o cego, esse estressado! Elle que engrosse a voz esganniçada, se alvoroce tossindo e sossobrando na desgraça! Assim, passando susto, elle que faça exforços successivos quando a tosse subir, nos seus accessos, caso coce, em secco, a chorda sordida e devassa! Sim, desassossegado estou à bessa, sciente do que disso ouço, possesso: Que soffra! Que soccorro o cego peça ao sancto, si quizer, mas sem successo! Nos surtos dessa tosse que não cessa, não fosse essa fumaça que, confesso, só serve de consolo, a safra dessa soltura me assoprava pelo sesso!

48

INCONTINENCIA URINARIA [4576]

Em pleno shopping center, bem vestido senhor olha as vitrines. De repente, se dobra, se contorce: elle se sente mal. Sabe: não devia ter sahido. Não pode segurar mais! Prevenido não era: sente aquelle mijo quente jorrando! Que papel mais indecente alguem pode fazer? Tudo embebido, as calças, os sapatos... Encharcada, a fralda da camisa, para fora, gotteja! Esse mijão apprompta cada! Mais tarde, quem aquillo rememora?

Peor que tal vergonha não ha nada! Vexame enfrentou quando uma senhora passava e, ao vel-o assim, embasbacada ficou! Reconhesceu-o, claro! E agora?

49

PESADELLO SANITARIO [4678]

As moscas varejeiras fazem festa até nos hospitaes! Pousam em tudo: cocô, carniça, alguem com quadro agudo de febre, alli no leito... O enxame infesta! Peor, penso, seria, pela fresta das portas e janellas, um grahudo especime enfrentar qualquer escudo, entrando onde o soccorro, agil, se presta. Do pobre enfermo, penso, o que seria?

Pensei: caranguejeiras, caso invada um bando dellas uma enfermaria!

Supponho, preoccupado: Que enrascada!

Immovel, fracco, appós a cirurgia, o velho advista a aranha na beirada da cama, bem pertinho... Que agonia!

Inerme, elle não pode fazer nada!

50

AMARGO BOCHICHO [4730]

Molestia mysteriosa! Febre dá, symptomas appresenta, mas não batte com quadros conhescidos. Chocolate, affirmam, causa syndrome tão má. O gajo cae de cama e, logo, está febril, debilitado: elle se abbatte a cada dia. Caso não accapte seu medico, mais cedo à cova irá. Mentira? Bem que pode ser! Alguem que come e de comer não viu a hora querendo passar trote em quem adora comer bombons, recheios, com ou sem...

O quadro, ja expalharam, só peora si o cara a brigadeiros comer vem, si attacca algum quindão, dos grandões bem, ou quando um alfajor elle devora.

51

TRAGICA COMICHÃO [4745]

Coceira na cannella ella sentia, coitada da velhinha! Foi coçando, coçando, até que estava, eis sinão quando, aberta uma ferida na tithia!

A chaga não sarava e mais se abria!

Sangrava, em carne viva, e nada brando prurido ainda vinha provocando!

A velha se coçava: que agonia!

Em vez de cicatriz, a carne estava querendo appodrescer, virar carniça!

Coçar, não: ja queimava feito lava!

Até que lhe amputaram, enfermiça, a perna... De muletas, ella excava, agora, a perna boa... A mão se attiça! Depois, o que virá, que mais se aggrava?

Coceira até na nadega postiça?

52

IMPERTINENCIA URINARIA (1/2) [4749/4750]

(1)

Paresce ser da edade! A gente urina aos poucos, nunca tudo! Vae sahindo o jacto e, si pensamos estar findo, quer outro, ja, sahir! Jamais termina! Gotteja, para... Novas gottas... Signa ingrata! Terminou? Não! Ja vem vindo vontade novamente! Mas que lindo momento estou passando na latrina! Sentado, nem me animo a levantar! Passado um tempo, entendo que mijei tudinho e me levanto do logar.

Mas sei que não mijei tudinho, sei! Egual ao meu, mais gente tem azar? Depois que me vesti... Batata, é lei: molhada está a cueca! Salutar, não acham? Que mijão que eu me tornei!

(2)

Paresce uma torneira aberta: o jacto dum joven, quando mija, jorra grosso, barulho faz de ducha! Quem ja moço não é, que seu destino encare, ingrato! Commigo foi assim... O simples acto de estar em pé, mijando, de alvoroço não era nem motivo. Agora, endosso eu dou a quem se queixa, e não me jacto!

Nem quero que ninguem mijar me veja!

Em pé ja nem mais fico: na privada me sento, emquanto a rolla só gotteja, aos poucos, devagar, envergonhada. Às vezes, o final penso que enseja.

Mas, quando accreditei que ja mais nada está para sahir, a malfazeja urina volta... e sinto a mão molhada!

53

VEGETARYANISMO [4797]

Não pode comer isso. Nem pensar naquillo. Isto tambem não. Permittido, de facto, só legumes sem ter sido cozidos, sem tempero, sem frictar. Deixemos claro: em nada o paladar prazer pode sentir. Nosso partido quer tudo prohibir, quer que o sentido do gosto, emfim, se annulle, é bom fallar. Assim como o clitoris, que a mulher exstirpa à força, vamos impedir que façam dos “refris” um elixir, que todo mundo coma o que quizer. Gastronomo? Qual nada! Só fakir meresce vez! No garfo e na colher, sem molho, sem pigmenta, alho qualquer, só matto insosso! Hitler fez-se ouvir!

54

AMIGA DUMA FIGA [4799]

Agora commum é que a moça insista: chamar-se quer “nutrologa”! Não serve qualquer outro jargão que se reserve à mesma profissão: nutricionista. Um novo termo em nada a faz bemquista. Não deixa comer algo que se ferve ou fricta. Que em tempero se conserve a carne, ella não deixa, a moralista.

Paresce mais pastora puritana ou velha solteirona ante o tesão que technica nalguma profissão. Se damna quem seus codigos prophana.

Frictura? Prohibida! Doce? Não se deve comer! Carne? Nananana! Nem massas? Nada? Dar-lhe uma banana maçan, bem verdolenga, é o jeito, então!

55

O SONHO APPUNHALADO [4861]

Se expreguiça o gatto, sem sentir caimbras! Por que, então, eu as sinto, si nem bem accordei? Qual a razão? Sendo assim, não pode alguem nem fazer musculação! Uma perna estica e vem essa aguda dor? Ah, não! Mal accordo e desencolho o meu corpo, que de molho repousava, e a dor attacca! Hem? Atroz urucubaca!

É peor si vem, durante um bom sonho, semelhante dor e eu penso ser de faca quando estou, nu, numa maca.

56

TECHNOLOGIA DE PONCTA [4932]

Electroacupunctura! Ouviu fallar? Não? Cara, faz effeito mesmo! A gente se deita la, sem roupa, e um competente subjeito é quem virá nos applicar! Si sangra? Não, magina! No logar exacto é que elle espeta! A gente sente appenas a piccada e, de repente, paresce que nem quasi está sem ar! Ahi, vem choque electrico! À agulhinha está ligado um fio! Calma! Dê-me a chance de explicar! Sim, você treme todinho! Si é traumatico? Adivinha!

Mas pense nas vantagens! Você geme, se afflige, se debatte, uma vezinha ou duas, e se accalma! Mas quem tinha pequenas dores, grandes ja nem teme!

57

THERAPIA QUE ARREPIA [4933]

Ah, para, meu, com isso! Cê me aluga demais, ja! Vem fallar, de novo, nisso?

Será que não exsiste outro serviço?

Até paresce coisa de portuga!

Um bicho assim nojento, que se pluga na pelle? Nem pensar! Não desperdiço meu sangue! Sae daqui! Leva sumiço!

Não quero nem saber de sanguesuga!

Cae fora, cara! Deixa em paz meu braço!

Soccorro! Por favor! Alguem me accuda!

De novo, não, aquella dor aguda!

Não posso me mexer! O que é que eu faço?

Não! Tira esse negocio dahi! Gruda você, no seu trazeiro! Ai, que cansaço! Paresce que augmentou o meu inchaço!

Assim, vou desmaiar! Ninguem me adjuda?

58

LENTES INCORRECTIVAS [4942]

Os oculos cahiam toda hora!

Na sopa, no seu collo, até na pia!

Em casa, todo mundo della ria:

“Ammarra! Ja fallei para a senhora!”

Ganhava correntinhas. Mas escora alguma aquelles oculos? A thia usava uns muito grandes! Não seria o caso de trocar? Sim, sem demora!

Fallavam sem cessar, inutilmente.

Teimosa, a velha tudo recusava! {Não quero! Estes aqui teem boa lente! Um pouco pesadinhos, mas...}, fallava.

Até que demorou. Num dia quente, a velha se abbannou e... Agora, aggrava a lente de contacto o que ella sente e quer mandar, tambem, a lente à fava.

59

JURAMENTO HYPOCRITA [5010]

Pergunto-me o que um medico pretende com essa medicina que proroga indefinidamente, a tubo e droga, a “interminalidade” que se extende. Será que esse doutor não se arrepende de usar de tal tortura, agora em voga, fingindo appagar fogo, mas que joga mais lenha na fogueira e incendio accende?

Morrer de morte subita: assim era a forma, antigamente, de morrer alguem! Ah, si eu pudesse! Ah, quem me dera! Tivesse eu sobre o thema algum poder, não eram certos chas uma chimera! Suppunha eu ter um medico o dever de appenas melhorar a nossa espera por algo inevitavel, sem soffrer!

60

PROMPTO SOCCORRO [5017]

Doutor, dum analgesico eu preciso! Dóe muito este punhal no coração!

Receite-me um remedio, pois, sinão, não posso mais siquer dar um sorriso! Doutor, um anesthesico, a juizo seu, pode dar um jeito, não? Estão doendo os cotovellos, ambos! Dão ponctadas, si de amor me martyrizo!

Doutor, me dá tambem cada ponctada na testa! Tenho, às vezes, impressão de estar minha cabeça toda inchada!

Doutor, até nos olhos sensação eu tenho de dor! Cego estou, ja nada enxergo, mas anxeio ver, em vão! Doutor, é um ser humano quem lhe brada: Preciso me mactar! Tem injecção?

61

PATRULHA QUE EMPULHA [5065]

Não causa mais surpresa que alguem pose de medico e juiz do que se deve comer ou evitar. Num prazo breve, divergem as “pesquisas” sobre a dose. Assucar, por exemplo. Saccharose não basta condemnar: alguem se attreve até, sem medo, a achar que algo mais leve tambem meresça vetos, a fructose!

Si formos caminhar por tal caminho, melhor é prohibir que a gente coma! Que tal alimentarmo-nos de aroma? Talvez assim se evite o que é damninho!

“Comer faz mal!”, advisa o Papa em Roma e, nas Nações Unidas, um mesquinho e gordo diplomata. Eu não definho de fome, mas fatal foi meu glaucoma!

62

DENTE IMPERTINENTE [5098]

Sentado, do dentista, na cadeira, o velho sente aquella coceirinha gostosa na virilha, a tal que a linha perder faz qualquer um, queira ou não queira. Immovel, bocca aberta, elle ja beira seu poncto de controle: se encaminha o dedo, lentamente, à folgadinha cueca, no ropteiro da coceira.

Secreta, a mão prosegue caminhando. Vencida a larga cincta, segue o dedo por entre a pentelheira, vae chegando ao foco do prurido, ja sem medo.

Começa a coçar... Para justo quando a broca fura o dente! A dor tão cedo não deixa que se exquesça o velho, uivando! Não ha por que fazer disso um segredo.

63

FEDORENTO VAZAMENTO [5244]

Vocês ja repararam? Quando a gente accaba de sentar numa cadeira daquellas de dentista, a caganeira adviso envia e o cheiro a gente sente! Nem sempre é caganeira, certamente, mas gazes que precisam sahir, queira a gente ou não... Primeiro, uma ligeira pressão, depois o peido irrompe, urgente! A gente se remexe, o corpo adjeita no assento, disfarsar tentando, mas é claro que o dentista ja suspeita! Fedor, barulho, tudo aquillo faz perder a compostura. Exclamar “Eita!” não colla... “Está vazando, eu acho, o gaz...” Recorro a tal desculpa: alguem acceita? Acceite ou não acceite, estou em paz!

64

ACTIVIDADE PHYSICA [5251]

Que dia mais estupido e antipathico! Só tinha que ter sido aqui creado!

Paresce que São Paulo foi o estado que a data instituiu, com fim didactico. Agora é mundial! Eu, que sou practico, de “actividade physica” me evado!

Ja basta a caminhada! E caminhado eu tenho pela casa, sorumbatico!

Gymnastica? Exercicio? Malhação?

Não fosse eu me chamar Glauco Mattoso! Livrae-nos, Pae Sanctissimo e Bondoso! É coisa do Demonio! Obra do Cão!

Estou brincando, é claro! Fervoroso christão não sou, mas faço gozação com datas tão politicas e tão correctas, tão oppostas ao meu gozo...

65

VISITA QUE IRRITA [5283]

Bebês, quando chorões, trabalho dão, damnado, aos paes. Me contam o recente e comico episodio do doente em phase terminal no seu colchão. Nos outros quartos, todo mundo são está. Chega um casal e ja se sente melhor a visitada paciente. Nos braços da mãe, chora um bebezão. Os berros da creança echoam bem na porta do doente terminal, que accorda e se levanta, roupa sem. Paresce nem sentir-se, ja, tão mal! Dirige-se elle aonde está o nenen. Abrindo a porta, grita, em tom egual ao choro: “Cala a bocca! Não dá nem p’ra gente em paz morrer neste hospital?”

66

DISSONNETTO DUM ACCESSO NOCTURNO [5334]

Nem repousa à noite aquella solitaria velha: accorda mal dormida. O quarto gela. Liga o radio. A voz a abborda: “Vamos, ria...”, ao povo appella o programma. Dada a chorda, ella passa a rir. Ri della mesma: é tragico, concorda. Do seu peito toma posse e faz della prisioneira persistente tosse, e tosse a coitada a noite inteira.

Vae parar quando ammanhesce essa crise passageira. Si risada ella não desse, da loucura estava à beira.

67

“Caro Glauco, lhe pergunto si você vir poderia dar palestra sobre assumpto que conhesce e que apprecia. Tem alguem para vir juncto? Nós lhe damos estadia e passagens. Em conjuncto, nós fariamos follia, só programma que lhe aggrade!”

-- Meu carissimo confrade, conhescer sua cidade me seria prazeroso, mas não posso, nem que eu queira topar essa brincadeira. Mal estou, fora a cegueira. Abbração. Glauco Mattoso.

68
DISSONNETTO DUM CONVITE E DUMA BRONCHITE [5444]

DISSONNETTO DUM CONVITE E DUMA LABYRINTHITE [5445]

Lançamento na Argentina planejando estão. Que faço?

São gentis commigo: a fina professora manda abbraço. Ha quem, rindo, me previna: “Glauco, disso eu longe passo! De avião? Jamais! A signa é ficar neste pedaço!”

Buenos Aires, me relata um amigo, bem nos tracta, inclusive Mar del Plata. A viagem é que macta!

Eu, que morro, ja, de estresse e ao sanctinho faço a prece, penso: um cego até aggradesce si ficar aqui pudesse.

69

DISSONNETTO DUMAS BOLLINHAS THERAPEUTICAS [5451]

Quando a mente se detona sob estresse, tem quem acha que o problema soluciona com bollinhas de borracha. Varias dellas tenho. A zona pela casa até me tacha de maluco. E nem funcciona tal bollinha: não relaxa. Appalpal-as, dizem, tem o poder de fazer bem ao espirito e aos tendões dos machões mais grandalhões.

À loucura, nada vence-a, e a perdida paciencia eu queria nos colhões. Mas virão novas tensões.

70

FECHADOS CORPOS ABERTOS [5695]

{Ah, Glauco, olhe que lindo! O meu anxeio está a se realizar? Appendicite, renal calculo, cancer... Quem evite não ha! Mas ha politicos no meio! Comnosco rollaria qualquer feio prognostico do typo, mas permitte ja Juppiter que quem nos parasite tambem daquillo soffra! Ah, nelle eu creio! Politicos o corpo bem fechado tiveram sempre, emquanto nós aqui estavamos subjeitos ao que vi soffrerem meus amigos nesse estado!}

-- Emfim se faz justiça, sim. Cuidado, porem, com o “day after”. Ja sorri, curado, um senador... E bisturi não temos como tem um deputado...

71

LOUCURA SEM CURA [5720]

Me tractei na acupunctura e motivo para festa não vi. Dizem que ella cura... Xingo curas que nem esta. Me espetaram e foi dura a agonia. Quem attesta os effeitos da fé pura? A tractar-me quem se presta?

Recorri tambem à bruxa, que diziam ser honesta. Mas a bruxa disse: “Puxa!

Todo mago te detesta!”

Me fallou Satan, na bucha: “A afflicção que te molesta nem tem rhyma!” Foi a ducha d’agua fria. Que me resta?

72

ASSAZ INEFFICAZ [5738]

A sciencia quer que eu faça propaganda do oculista nestes versos, mas não passa sem que eu falle, pessimista: A doença que me embaça não tem cura! Quem a vista perdeu sabe e não vê graça em calar-se, nem despista. Não farei, porra nenhuma, homenagem ao subjeito que pretextos mil arrhuma para azar que não tem jeito. Ha ceguinho que presuma ser curavel seu defeito? Oculista que se assuma impotente eu, sim, ja acceito!

73

CLUB FOOT DISSONNET [5751]

Orthopedica mania! Eu aqui, que sou tarado, um pé torto só queria ter lambido ou ter chupado! Ah, com elle o que eu faria! Com a lingua os vãos invado dos artelhos! Atrophia não me deixa repugnado... Pé de gancho, pé expalhado, não importa, me seduz! Não, jamais me desaggrado si no rosto um delles puz! Mesmo sendo deformado, meu tesão não se reduz! Mas faltou, por outro lado, para vel-os, minha luz...

74

THEORIA DA HIPPOTHERAPIA [5781]

Fallam “equotherapia”, mas mixturam com latim.

Pouco importa, ja que a via não funcciona para mim. A cavallo? Montaria?

Não, ‘brigado! Estou a fim doutra coisa que faria mais effeito, a saber vim: Bem comer! Qual iguaria?

Ora, um bollo, ou um puddim! Generosa, uma fatia desestressa? Acho que sim! Dispensar a theoria é melhor, decide emfim quem não acha que seria natural comer capim.

75

MELHORIA EM IGUARIA [5814]

Edade, si é “terceira” ou si é “melhor”, importa pouco. “Merda” acho um bom nome. Só “velho” e “thio” escuto ao meu redor. Tomar no cu vou, onde for que eu tome. E, para que a velhice do peor se farte, quem “saudavel” é não come nem carne, nem frictura... Sei de cor a missa: velho deve passar fome! Estou de sacco cheio dessa chata conversa de nos darem qualidade de vida, de nos darem mais edade, mas mandam evitar fricta batata! E eu? Fico sem comer tudo o que macta a gente de desejo? Brevidade, brioche, bollo, torta... Desaggrade seu medico! Rirá quem não se tracta!

76

DENTE MAL CALÇADO [5816]

Só limpeza, polimento, delle eu quero, o mais banal. Broca, nada! Não aguento tractamento de canal!

Não me tracta cem por cento o dentista na actual data: vive outro momento neste mesmo mez fatal. Dor de dente, novamente? Neste mesmo mez estive no dentista! Porra, a gente tanto tracta e com dor vive!

Meu sapato tambem sente que o degrau e que o declive tanto o gastam pela frente quanto attraz, como os que eu tive...

77

MEME DO MARÇO AZUL MARINHO [5936]

Em março, o mau politico, ou melhor, o pessimo politico se borra de medo! Sim, aquelle que nos torra dindim e paciencia, em grau maior! O mez falla dum cancer, o peor possivel aos caciques, pois desforra o povo com a praga que lhes jorra em cyma e torna frio o seu suor! Se tracta do rectal cancer! Pois é! Nós todos, todo dia, aqui torcemos! Univocos, chamamos nossos demos e em todas as macumbas pomos fé!

Torçamos ja! Peçamos, da ralé si somos portavozes e fazemos legitima leitura! Sim, rezemos! Do cu teem que soffrer, morrer até!

78

PERPLEXO REFLEXO [5951]

Commum é desmaiar alguma dama. Coitada! Desmaiou, antes faceira, aquella, ao ver no espelho uma caveira! “Por todos os diabos!”, ella exclama. Si não está sentada numa cama ou, pelo menos, numa chan cadeira, a dama, com certeza, de maneira pathetica, por uma adjuda chama. Olhou-se. Penteava, distrahida, a longa cabelleira, e viu a cara ridente do eskeleto, a morte em vida! Depois, contou a todos: desmaiara de fome, não de medo! Sem comida não fica mais! Addeus, dieta avara! Por isso não critico quem duvida dos medicos. Por elles, ninguem sara.

79

MISCELLANEA HUMANITARIA [5991]

Bastante mal esteve esse subjeito. Prostatico, hypertenso, soffre ainda das “ites” e “oses”, uma gamma infinda. Ainda assim, alguem dirá: “Bem feito!” Primeiro, foi rhinite e foi bronchite. Depois, tuberculose e pneumonia, alem de outras viroses que alguem cite. Coitado do politico, si um dia for preso! Caso o medico o visite na cella, vê doente quem não via! Ja sei: seu advogado allegaria doenças repentinas, em soccorro do preso, cuja pena se allivia! Tambem ja sei: si solto, esse cachorro de novo vae levar vida sadia, emquanto eu de doenças reaes morro!

80

MEME DA NYMPHOMANIACA [6008]

Nas ruas não exsiste diplomata. Fallarem que é “furor” seu, “uterino”, revela pouco tacto e pouco tino, mas claro que a pau esse rumor macta. Não é de medicina que se tracta, mas sim de sacanagem. Qual menino não toca nesse assumpto fescennino no pappo com a turma, sobre a gatta?

Sim, fora do commum é o que ella tem, concordo, si em repouso a passarinha jamais está, si um fremito lhe vem. Mas faça-se justiça, coitadinha!

Evita sahir dando e só traz, bem la dentro, uma cenoura ou... abobrinha! Seria preferivel que ella zen ficasse, mas, coitada, se apporrinha!

81

HASHTAG INSPIRA CUIDADOS [6101]

Emquanto o dictador mais arrogante e sadico se interna, victimado por serio peripaque, está do lado do leito um corpo clinico constante. Paresce inconsciente. É preoccupante seu caso. Um enfermeiro o resultado confere dos exames. Revoltado se sente mas, discreto, se garante. Alguem que elle conhesce morto fora por ordem do tyranno. De repente, não ha mais gente juncto no ambiente, que rende, emfim, a chance temptadora. Sem tempo perder, nota que fedor a gorducha sola solta. Passa, rente aos dedos, sua lingua, que então sente um gosto de esperança promissora.

82

MEME DO NEGACIONISMO [6158]

Magina! Grippezinha à toa, cara! Preparo quem tiver, como o de athleta que tenho, nada sente! Nada affecta a quotação do dollar, que é ja cara! É só resfriadinho, coisa rara, difficil de pegar, Glauco! Um poeta sagaz como você vê que incorrecta é toda a fallação que nos azara!

Não vê, Glauco? Bem, fallo da visão interna, cerebral, que todos teem! É claro, reconhesço que ninguem quer cego ficar, bollas! Isso não!

Mas mesmo um cego puto, um fodidão assim como você, tambem convem que estamos da desgraça bem aquem!

Não acha, Glauco? Ou falta até tesão?

83

OZONIZANDO (2) [6403-B]

Você, que é diabetico, Glaucão, tem nova solução! Via rectal, irmão! Sim, com ozonio! Não faz mal nenhum! Até ceguinhos ver irão! O Lula assignou isso! Pois então! Effeito surtirá! Por hospital, por clinica, por fundo de quintal, que importa? Fé tenhamos, meu irmão!

Você tem retenção de gazes? Mas... Então irá se encher que nem bexiga, a poncto de extourar! Não, não me diga que força faz e pouco solta gaz!

Ahi, meu, nem siquer vae Satanaz dar jeito! Nem fazendo prece, figa ou pacto! O ozonio, para que consiga curar, Glaucão, precisa ser por traz!

84

FADA RENADEGADA [6479]

Não, Glauco, minha bunda antes não era tão grande! Precisei fazer implante! O medico, o Doutor Pompom, garante que estou, ja, parescendo uma panthera! Bem sei que ter taes bundas é chimera total da mulherada, mas, durante uns tempos, invejosa fui bastante daquellas que se implantam! Ah, pudera! Viu, Glauco? Descomptei! Colloquei tanto, mas tanto silicone, que o trazeiro tem cara até do Rio de Janeiro, com Urca e Pão de Assucar! Um expanto! Mas, sem exaggerar... Eu não encanto, na praia, a molecada por inteiro! Comtudo, ja sahi do captiveiro pandemico! Sou fada, por emquanto!

85

NUTRICHATO [6492]

Jamais chamei um gajo de “ecochato”, Glaucão, de “natureba” tambem não!

Ainda que pentelhos sejam, tão grosseiro não serei si delles tracto! Agora, chato mesmo (o que constato com maximo pesar) é o cidadão mettido a patrulhar a nutrição dos outros! Esse eu chamo “nutrichato”!

Não pode comer isto, mas aquillo ja pode si for pouco ou sem tempero! Aquillo outro só pode si exaggero ninguem fizer, sinão vae ganhar kilo!

Ah, va lamber sabão! Comer tranquillo o gajo não me deixa! Desespero ja tenho demais, porra, sem comer o que quero por ser caro conseguil-o!

86

INFINITO CONFINAMENTO [6508]

Chegar aos meus septenta parescia mais facil, si não fora a quarentena. Mas meu “gruppo de risco” me condemna à dura reclusão, dada a phobia. Meu medico ja disse: “Glauco, um dia talvez você consiga dar, em scena, as caras à platéa... Acho uma pena, mas não será tão cedo, não! Sabia?”

Pudera! Diabetico, de edade, soffrendo de rhinite e de bronchite allergicas, terei como limite da casa a porta, até da rua a grade. A nossa paranoia dissuade a gente de sahir. Nenhum convite me pode estimular, nem que me incite alguem a pés lamber, em liberdade.

87

MULHER MAGRA [6565]

(para a doutora Veronica)

Magerrima fiquei, Glauco! Nem queira saber! Sim, resolvi fazer dieta por causa do meu medico, um pateta completo, um alloprado, uma toupeira! A gente, em desespero, faz besteira, começa a comer pouco, tem por meta ficar esbelta, porte ter de athleta, modello... Mas virei uma caveira! Disseram de mim tudo: que era aidetica, que tinha cancer, syphilis, lombriga! Ninguem se conformava! A minha amiga mais intima tambem estava sceptica! Até que me toquei! Faltou foi ethica ao medico, que compra aquella briga babaca, a da dieta que castiga o corpo! Só questão é de genetica!

88

HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN? [6629]

Hem, Glauco? O tempo secco não está incommodo demais? Não chove faz semanas! Previsões seguem as más de sempre! Ninguem boas novas dá! Os meteorologistas dão é má noticia! Respiramos certo gaz bem toxico, que virus novos traz! Emfim, vae peorar, você verá!

Você, que tem rhinite, não se sente mal nessa longa falta de humidade? Melhor é nem andar pela cidade à tarde, nesse tempo, que é tão quente!

É mesmo! Você fica ahi, contente, na sua quarentena! Ninguem ha de negar que se isolou! Não, meu confrade! Prefiro o sol, ainda que inclemente!

89

WHO’LL STOP THE RAIN [6630]

Mas pode deixar, Glauco! Quando for momento de chover, ahi ninguem irá se conformar com o que vem prevendo quem entende do sector! Enchentes nos farão, é de suppor, sentir muita saudade desta bem sequinha primavera! Alguem que tem problemas de rhinite vae ter dor! Você tem tal problema? Bicho pega si chove e si não chove? Que infeliz nariz o seu! Alem do olho, o nariz lhe causa afflicção? Nunca que sossega? Não quero de qualquer pessoa cega estar no logar, porra! Nunca quiz! Mas muita gente soffre, nos Brazis affora! A chuva chega, meu collega!

90

OUTUBRO ROSA [6665]

Estou scismado, Glauco! De repente senti-me muito fragil e intranquillo, tocando ou appalpando o meu mammillo, com medo do que falla toda a gente!

Pensei: cancer de mamma a gente sente? Em homem é possivel prevenil-o?

Será que todo macho desse grillo padesce? E você, vate? É indifferente?

Achei que só mulheres desse mal pudessem soffrer, Glauco, mas agora percebo que doença de senhora a coisa não é! Panico geral!

Amigos meus, que drama sexual nem vivem, travestis nem sendo, bora olharem-se no espelho! Um até chora, temendo um descomforto vaginal!

91

NOVEMBRO AZUL [6792]

A prostata, Glaucão, é meu problema maior! Orgasmo quasi não me dá, mas dá dor de cabeça, a poncto ja de scisma me instigar no que eu mais tema! Sim, cancer! A doença que foi thema de tantos memes, contra quem está gozando do poder, é sempre má noticia caso eu seja quem mais gema!

Disseram ser benigno tal augmento, mas sempre estou na duvida, poeta! Meu riso, pelo menos, não affecta a glandula augmentada, no momento!

Pensar nos annos proximos nem tento, pois, nessa pandemia, Glauco, meta nem temos a cumprir! Mas nada veta que eu ria ao ver, dos cegos, o tormento!

92

CYNICO CLINICO [6846]

Fallei eu -- Não fallei? -- que grippezinha seria a pandemia que essa imprensa ahi vive dizendo ser immensa, terrivel ammeaça! Fofoquinha! Poeta, ja fallei que mariquinha é todo babacão ahi, que pensa ser magica a tal mascara, suspensa na cara dessa gente que se appinha! A mascara não serve para nada!

Pegar, quem for mais fracco sempre pega! Cansei de ver pegar algum collega! Eu não, que sou athleta da pesada! Nem grippe eu pego! Dou até risada de gente desgraçada, gente cega, doente, fracca, às drogas quem se entrega! De medicos eu tenho uma porrada!

93

CHORADEIRA COSTUMEIRA [6913]

Estou ja muito velho, Glauco, para fallar dos meus acchaques! Mas não são os velhos que mais fallam disso, não! Os jovens se lamentam muito, cara! Na fama de queixosos quem repara se exquesce de que temos um montão de males que ommittimos! Que dirão dum velho que, rheumatico, não sara?

Alguns de nós desistem dum gemido, sabendo que encarar vão como manha qualquer reclamação, por mais tamanha que seja a dor que temos, ja, sentido!

Você não compta, Glauco, pois libido encontra até fallando dessa extranha cegueira de que soffre! Quem se assanha com isso nem meresce ser ouvido!

94

PÉ DIABETICO [7086]

Ficando vae, aos poucos, insensivel o pé dum diabetico, Glaucão?

E quando umas lambidas dá, no vão dos dedos, alguem, elle acha que é crivel? E então? Elle accredita estar num nivel tão baixo quem lambeu, num nivel tão rasteiro, que na borda do dedão até sente prazer? Isso é possivel?

{Sim, isso coincide com aquillo que conta quem curtiu, num pé ja bem inchado, o que um podolatra fez, sem o minimo pudor, para servil-o!

A lingua do subjeito, sem vacillo, lambeu até ferida, das que veem a quasi gangrenar! Tem que ser zen quem lambe tantos velhos num asylo!}

95

PET THERAPIA [7095]

Glaucão, por que será que essas creanças doentes, no hospital, precisam tanto da vinda dum bichinho? Meu expanto é que ellas sempre guardam esperanças! Tu podes entendel-as, as alcanças nos sonhos que accalentam? Accalanto não ouvem, mas se accalmam sempre, emquanto tocarem orelhões, pattas ou panças!

Sim, quando um bassezinho chega alli no quarto, a creançada accorda, fica allerta, animadinha, ja sorri, ja brinca, appesar dessa triste zica! Por mais grave que seja, de per si, um cancer, o bassê se promptifica a ser o mais fofinho que um gury ja vira, antes da morte, é o que se explica...

96

MOTTE GLOSADO [7363]

Diabetico e sem bollo outro anninho commemoro.

Meu poema, vou compol-o hoje até mais infeliz, pois o azar do Alem me quiz diabetico e sem bollo. Não bastasse o desconsolo da cegueira, agora eu choro sem poder tudo que adoro mais comer e, amigos, nesta data triste, ja sem festa, outro anninho commemoro.

97

MOTTE GLOSADO [7364]

(proposto por um “Internauta Peralta”)

Por emquanto, só me falta ser aidetico ou leproso.

Do hospital si tiver alta duma coisa, outra eu ja pego. Quem me dera ser só cego! Por emquanto, só me falta (e o pavor me sobresalta) nesta vida não ter gozo com a musica, e queixoso me tornei na poesia. Si encurtasse, eu preferia ser “aidetico” ou “leproso”.

98

MOTTE GLOSADO [7370]

Quem cheirou chulé demais não extranhe a sinusite!

Si hoje soffro de infernaes crises bronchicas, me deu dica a vida, pois fui eu quem cheirou chulé demais... As razões destes meus ais nem caresce que eu as cite. São do skate e do graffitti os marmanjos que eu lambi. Si alguem gosta disso ahi não extranhe a sinusite!

99

MOTTE GLOSADO [7395]

Era “asthmatica” a bronchite que “asthma bronchica” será.

Quem for leigo que accredite no que o medico lhe advise! Quando eu tinha alguma crise era “asthmatica” a bronchite. Mas agora se permitte peorar noticia má!

Si attaccada a gente está duma tosse mais constante, o doutor ja nos garante que “asthma bronchica” será.

100

MOTTE GLOSADO [7544]

Ja peguei doença rara que me fez ficar de cama.

Uma syndrome de mim se appossou, a sonnettite. Não havia mais limite ao trabalho e ja no fim tive as forças. Foi ruim.

Sim, salvei-me! Mas se chama “rhymatite” a que reclama mais cuidados e me azara. Ja peguei doença rara que me fez ficar de cama.

101

MOTTE GLOSADO [7572]

Sem cigarro por um dia ninguem fica, só na marra.

Convidaram um fumante a largar do seu cigarro por um dia. Aqui lhes narro o resumo, pois, durante todo o tempo o meu pisante elle usou, fazendo farra, sobre a bocca. Quem lhes narra delle o tennis ja lambia... Sem cigarro por um dia ninguem fica, só na marra!

102

MOTTE GLOSADO [7574]

Sem cueca fica o macho mas o sacco mais se apperta.

Foi com epididymite que este cego resolveu:

“Não aguento mais ! Vou eu collocar nisto um limite!” Mas um methodo que evite a dor nunca alguem accerta. Fica a bolla descoberta mas ainda dóe si aggacho. Sem cueca fica o macho mas o sacco mais se apperta.

103

MOTTE GLOSADO [7597]

Me tractei com um cavallo, mas prefiro o meu cachorro.

“Bassetherapia”: assim eu defino o que me tracta. Não ha forma mais sensata de cuidar-me. Mais affim que um doutor ou que um mastim é o basset, ao qual recorro. Si eu preciso de soccorro affectivo, é só chamalo. Me tractei com um cavallo, mas prefiro o meu cachorro.

104

MOTTE GLOSADO (1/2) [7609]

Si o basset fica doente, com remedio não o curo.

(1)

Um mascotte às vezes fica indisposto, mas eu não levo ao medico o meu cão. Aos que querem, dou a dica: com carinho se medica um basset. O mais seguro é dar beijos. Sim, no duro! Beije mesmo! Experimente! Si o basset fica doente, com remedio não o curo.

(2)

Mais dengoso do que a gente é o cachorro. Quem tem um viu que a manha é mais commum si o basset fica doente. Mas remedios, caso eu tente lhe dar, elle corpo duro faz, recusa, e não atturo tanta manha! Um beijo dei e sarou! Agora eu sei: com remedio não o curo.

105

MOTTE GLOSADO [7632]

Do doutor medinho eu tenho, mas do monstro tenho não!

Si sahiu do seu engenho no meu olho a cirurgia, é normal sentir phobia: do doutor medinho eu tenho, fora um odio mais ferrenho. Mas si, em sonho, o grandalhão Frankenstein me surge, tão mau não é, si grande é o pé! Uns teem nojo de chulé, mas do monstro tenho não!

106

MOTTE GLOSADO [7636]

Rheumatismo a gente tem quando sente dor de tudo.

Dor de dente só se accalma quando a carie alguem obtura. De cabeça é uma tortura mas ha pillula na palma. Até mesmo de dor d’alma nos curamos, mas eu mudo de questão e não me illudo sobre a crise que me vem. Rheumatismo a gente tem quando sente dor de tudo.

107

MOTTE GLOSADO [7637]

Não quer carne, não quer leite, não quer nada que alimente.

Nem estoico ou espartano é tão chato quanto o “penta” que de nada se alimenta. Allegando ser “vegano”, elle implica si eu me uffano do torresmo e simplesmente diz que come só semente sem sal, alho nem azeite. Não quer carne, não quer leite, não quer nada que alimente.

108

MOTTE GLOSADO [7647]

O politico receia pegar cancer, si for praga.

Quando é cancer de garganta tem o cara alguma chance. Porem, caso o cancro alcance sua tripa, a dor é tanta que nem tenta crer na sancta. Não ha crença que lhe traga um consolo, si elle paga seus peccados na cadeia. O politico receia pegar cancer, si for praga.

109

MADRIGAL FINAL [7787]

Com asthma ou diabetes quem se vê às voltas commemora agora o que?

Exsiste, sim, um dia para quem doente ficou disso. Mas pergunto: Aquelle que sahude ja não tem precisa ser lembrado desse assumpto? Será que não se aggrava o mal de alguem si insistem que será, logo, um defuncto?

110

POEMANIFESTO DA ANTIGYMNASTICA PREGUICISTA [7873]

Não basta um “viva e deixe viver”! Tem que haver detalhamento do bordão!

Tambem um “coma e deixe comer” vem ao caso, quando o medico diz não! Talvez um “beba e deixe beber” bem se applique, quando alguem é beberrão!

Mais vale um “durma e deixe dormir”, sem barulho, quando o insomne tenta em vão!

Mas durma quem quizer e beba alguem aquillo que quizer! O comilão que coma, a gosto, quanto lhe convem! Si alguem quizer viver, mesmo que pão lhe falte, seu direito tem! Porem, mactar-se poderá ser sua opção! Emfim, ninguem por outrem vive, nem por outrem come ou obra o cagalhão! Aquillo que é saudavel ao recem formado doutorzinho, ao ancião talvez mais sacrificio imponha! Zen nem todo mundo almeja ser! O Cão nem sempre é o mais malvado alli no Alem! Em vez dum Zeus tyrannico e mandão, Prefere o satanista ser refem de alguem que sim lhe diga e mais razão encontra no peccado, ou mais obtem no vicio, que no medo ou no perdão! Um outro diz a Juppiter amen! Saudavel seja a mente em corpo são, mas quando alguem faz disso um nhenhenhen achando que sahude é malhação, um trouxa perde nisso algum vintem e ganha algum experto outro tostão! Portanto, um movimento, ou dez, ou cem, ja faço tendo um garfo em minha mão ou mesmo sem talheres, pois susteem

111

dois dedos da comida uma porção!

Ao coppo que levanto é que se attem a quota de exercicio à refeição! Não busco num bordel ou num harem o orgasmo que procura meu irmão! Jamais minha semente faz nenem, mas basta algum pezão ao meu tesão!

Appenas esta insomnia me mantem poeta e preguicista, sem visão...

112

PROTHESE POSSIVEL (1/2) [8050]

(1)

{Por que, Glauco, uma prothese não mettes na tua cavidade do olho mais inchado de glaucoma, que te causa tamanhas dores, essa sensação de teres muita areia alli por dentro? Tu tiras esse globo, outro collocas, de vidro verde, e prompto! Tuas dores terão final feliz, Glauco! Não temas!}

(2)

-- Tu pensas que isso é como cottonettes metter dentro do ouvido? Não, as taes de gude bollas cobram uma pausa na vida, a cirurgia não é tão banal assim! Não, quando me concentro no thema, sinto medo de taes trocas! Pergunta a algum pirata, quando fores com elle navegar, sobre esses themas!

113

CUIDADOS INSPIRADOS (1/3) [8069]

(1)

{Tarantulas soltou, o damnadinho, em pleno corredor dum hospital! Calculas, Glauco, o panico que cria um unico exemplar da cabelluda especie? Pois calcula varias dellas à solta, transitando pelas camas de cada enfermaria, cada quarto! Não achas que o menino se excedeu nas suas travessuras, Glauco? Diz!}

(2)

-- Sim, posso calcular. Eu ja adivinho o susto de quem soffra dalgum mal mais grave, preso ao leito, quando espia em torno. Ficará sua voz muda de expanto. Mal refeito das sequelas, da aranha não excappa. Me conclamas a dar algum palpite? Dum infarcto na certa morrerá quem ja soffreu daquillo. E quanto ao sadico pettiz?

(3)

{Ahi que está! Pegaram o damninho subjeito bem no flagra! Mas o tal moleque protecção tinha da thia ricaça! Ficou tudo em linguaruda fofoca, alguma morte em tagarellas intrigas! Abbafaram essas tramas e nada accontesceu! Eu não descharto que culpem um moleque mais plebeu por essa traquinagem infeliz...}

114

INFINITILHO DA VELHICE (1/2) [8117]

(1)

{Que coisa, Glauco! O mundo, para nós, que estamos na velhice enveredando, se torna mais difficil cada vez! As pernas de equilibrio sentem falta!

O braço mal se firma na bengala!

As costas, ja curvadas, sentem dor!

As dores pelo corpo não dão tregua!

O somno se interrompe com frequencia!

Chichi, cocô, ja tudo desregula! Somente, no meu caso, o pincto dá no couro, uma vez tendo o seu devido buraco disponivel, ‘inda bem!

Você, Glauco, percebe-se cansado?

Ainda tem tesão? Como se sente?}

(2)

-- Se exquesce de fallar você que a voz tambem vamos perdendo, que commando não temos sobre nossa sensatez na hora duma dose que, mais alta, nos deixa problematicos na salla, bom alvo prum dedinho accusador.

Ainda tem bem recta a sua regua?

Sortudo, você! Teime! Não dispense-a!

A minha anda ja molle e só me pulla si penso num pé sujo, o que não ha por perto sempre. Quando me decido a gozo dar-lhe, passo mesmo sem nenhum buraco. Sorte do meu lado!

E disso alem, bem passo sem o pente...

115

INFINITILHO DA BRAGUILHA (1/2) [8144]

(1)

-- Preciso lhe dizer, si você quer saber: minha cegueira não é só problema de visão, mas accarreta innumeros incommodos, tambem. Nem sei si com os outros cegos ha taes dramas. Equilibrio, por exemplo. Depois de tantos annos sem ver nada, paresce que perdendo vou o senso de estar em pé, de estar em terra firme. Me sinto sem appoio, como si suspenso num espaço sem limite em todos os sentidos. É terrivel, sabia? Dá tontura! Nem bengala dá compta da vertigem, porra, meu!

(2)

{Problema seu, Glaucão! Eu, si quizer, saltito qual sacy, nas pernas nó consigo dar! Eu planto (sou athleta) perfeita bananeira! Cê não tem nenhuma segurança quando está andando ou paradão? Chegue num templo subindo de joelhos pela escada! De quattro fique! Pense no que eu penso! Rasteje nos meus pés até subir-me de bocca pela perna p’ra chichi sentir nesta braguilha, a meu convite!

Sim, fique engattinhando, no seu nivel rasteiro! Sem siquer sahir da salla, você que em si se perca! Se fodeu!}

116

ODE AO KAKI CHOCOLATE [8165]

Ja tive que escutar o disparate do medico que, quando lhe pedi conselho, disse: {Glauco, você tracte de doces evitar! Ja prohibi você de se fartar de chocolate, se lembra?} Me lembrei e delle ri. Nenhum sabor será, nem que eu me macte, jamais banido desta bocca aqui!

Ainda respondi: “Doutor, me abbatte saber da situação, mas mimimi não faço! Exsistirá quem desaccapte tal ordem?” Mal da clinica sahi, entrei na doceria e pensei: “Latte o cão e a caravana passa!” Abri a caixa de bombons e, que um tomate maior, aquella truffa deglutti!

117

ODE AO VICIO (1/2) [8174]

(1)

O endocrinologista ainda diz aquillo que me falla ha annos: tenho que entrar numa dieta, abbandonar os doces, as fricturas e o sonnetto. Tambem neurologistas attenção me cobram. É preciso sahir dessas poeticas orgias. Si decido, porem, me apposentar, não m’o permitte a scena nacional, nem mesmo a vida. Assim me justifico quando alguem extranha a minha volta à poesia.

(2)

Sonnettos ja não faço. Foi feliz a hora em que parei, pois o ferrenho appego ao molde é vicio, deu azar. Succede que, em logar delle, me metto de novo a versejar em profusão, agora varios moldes, sempre às pressas, me pondo a practicar. Ja resolvido está: fricturas como sem limite e vinho bebo, orando a Baccho. Olvida um vate seu officio? Não! Refem tornei-me! Viva tudo o que vicia!

118

ODE AMBULATORIAL (1/23) [8189]

(para Loudon Wainwright, meu idolo no folk rock)

(1)

Ao medico vou. Elle diz: “Menino, quietinho fique, emquanto eu examino! Eu acho que não deve ser problema...”

(2)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu joven, coisinhas desse typo se removem! Não fique preoccupado! Não exprema!”

(3)

Ao medico vou. Elle diz: “Moleque, melhor é que tão duro não defeque, sinão vae complicar todo o systema!”

(4)

Ao medico vou. Elle diz: “Garoto, você não vae perder o seu escroto! Pensou que é fim do mundo um apostema?”

(5)

Ao medico vou. Elle diz: “Pirralho, você não vae perder o seu caralho, mas nunca mais o prenda com algema!”

(6)

Ao medico vou. Elle diz: “Rapaz, eu acho que você tem muito gaz ainda! Falta, aos poucos, mas não tema!”

119

(7)

Ao medico vou. Elle diz: “Seu moço, será bem reduzido o seu almosso! Retorne à minha clinica em Moema!”

(8)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu filho, vae tudo bem, não vejo um empecilho maior, mas volte, cuide desse edema!”

(9)

Ao medico vou. Elle diz: “Irmão, problemas de sahude communs são! Jamais desistir, sempre foi meu lemma!”

(10)

Ao medico vou. Elle diz: “Amigo, depois do seu exame é que eu me intrigo, mas jeito dá, não pense que é um dilemma!”

(11)

Ao medico vou. Elle diz: “Parceiro, seu drama até que é caso costumeiro! Nenhum mal faz o leite, nem a gemma!”

(12)

Ao medico vou. Elle diz: “Não, mano!

Tão serio não paresce ser o damno! P’ra tudo tem a gente estratagema!”

(13)

Ao medico vou. Elle diz: “Querido, Não creio que será tão dolorido!

Doendo, bastará um telephonema!”

120

(14)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu chapa, não tema, porque desta você excappa! Motivo não será para que trema!”

(15)

Ao medico vou. Elle diz: “Meu caro, olhando o seu exame é que eu reparo que pode ser mais grave esse emphysema!”

(16)

Ao medico vou. Elle diz: “Patrão, não fique no local passando a mão! Assim ninguem resolve um erythema!”

(17)

Ao medico vou. Elle diz: “Cumpade, do caso ja advisei da gravidade! Porem contra a corrente você rema!”

(18)

Ao medico vou. Elle diz: “Collega, é tanta anomalia que se pega! Nem queira saber dessa mais extrema!”

(19)

Ao medico vou. Elle diz: “Você ficou chocado? Credito não dê às coisas que você vê no cinema!”

(20)

Ao medico vou. Elle diz: “Senhor, provoca, sim, a droga alguma dor, mas nada que tão alto o senhor gema!”

121

(21)

Ao medico vou. Elle diz: “Não, thio, tão grave não será, pois eu confio que nada vae furar o meu eschema!”

(22)

Ao medico vou. Elle diz: “Poeta, percebo que você não faz dieta! Verdade é o que contou no seu poema?”

(23)

Ao medico vou. Elle diz: “Ceguinho, eu acho que não resta algum caminho mais facil neste nosso duro thema!”

(24)

Ao medico vou. Elle diz assim:

“Não chore! Tudo sempre tem um fim! Do corpo nada fica! A gente crema!”

122

INCONVINCENTE ESPECIALISMO (1/5) [8482]

(1)

Revolta-me esse pappo de quem dono se julga da verdade! Ja fallara um delles do glaucoma, em desabbono de quem “não se cuidou”. Está na cara que sempre me cuidei! Agora... o somno!

(2)

Criticam quem de insomnia soffre e vara lhe descem! Recommendam que abbandone seus habitos, horarios... Si elle para de olhar o cellular, menos insomne será! Preoccupações? Quem tem, se azara!

(3)

Depende só da gente si o smartphone ficou ligado! Insistem que da mente depende addormescer! Que solucione você mesmo o problema! Caso tente sem exito, um remedio ha que funccione!

(4)

Ninguem, porem, allude francamente ao cerne da questão! Mas quem combina com nossos maus vizinhos, com o urgente ruido dos allarmes, da buzina, emfim, com quem silencio não faz, gente?

(5)

O tal “especialista” só me opina naquillo que eu ja faço ou collecciono: tomar drogas! Ninguem que se previna não ha contra o barulho! Que esse throno dos medicos transforme-se em ruina!

123

SYNDROME DIABETICA [8513]

Soffrendo de rhinite e sinusite estive eu ja na vida qualquer dia. Tambem de laryngite e pharyngite algum dia ja disse que soffria. Ja de asthma accommettido, de bronchite, até tuberculose e pneumonia na vida fui qualquer dia, accredite. Demais paresce? O peito que me chia não basta, todavia. Sem limite, me attaccam as molestias: allergia, glaucoma, cataracta, gengivite, otite, aphtha, hemorrhoida, nevralgia, orchite, rheumatismo, dermatite, cystite, triglycerides, phobia da prostata inflammada, si ja admitte o medico “normal” ser, com voz fria. Emfim, o metabolico palpite suggere uma hepatite, que seria de menos, si a fatal pancreatite não fosse a mais sinistra theoria. Coitado do ceguinho! Nem convite lhe fazem para um bollo, uma fatia de pizza, de puddim, nem se permitte que encare um torresminho! Mas sacia, ainda assim, seu soffrego appetite. Não come tudo ao mesmo tempo. Addia, mas curte, aos poucos, cada dynamite daquellas. Affinal, tanta agonia não chega duma só vez. Assim, quite está com sua syndrome e iguaria não haja no chardapio que elle evite...

124

CUIDADO COM O RABO! [8517]

Ouvi do Ministerio da Sahude o “allerta nacional” que me horroriza: está de escorpiões, como ja pude notar, tudo infestado! Uma pesquisa revela que é na infancia e juventude que está a lethalidade mais precisa! Piccado um molequinho, a mãe se illude achando que um antidoto ameniza as dores e o veneno, mas que mude o drama não ha nada! Agora, à guisa de espirito de porco, eu digo: estude você si dum politico a mais lisa e branca pelle quebra esse tabu de piccada ser jamais! Quem indecisa noção tem a respeito? Ao attahude que fosse um delles, logo se immuniza a nobre clientela que ammehude não fica exposta ao bicho, e só se advisa à plebe que “se allerte”, mas no cu, de mactar, leve um ferrão que se eterniza...

125

NOBEL DE MEDICINA [8605]

Até que emfim premiam quem achou na cellula que exquenta com pigmenta a cura de hypotheticas molestias! Alem da sensação de calor ou daquella de pressão que sobre nós o mundo sempre exerce, ‘inda faltando está quem a coceira a analysar esteja. A comichão, ou o prurido, qual seja como chamem o problema, é coisa de importancia tão vital que coçam a cabeça as renomadas cabeças. Uma pulga attraz de cada orelha nos intriga. A dor tem sido bastante pesquisada. Agora chega o tempo de estudarmos a coceira! Mas rapido, sinão vou me rallar todinho usando um desses bambus, unica maneira, à japoneza, de chegar ao poncto que, nas costas, nos afflige!

126

DESQUALIDADE DE VIDA [9125]

Agora, quando morre de mal subito alguem, dizem os medicos: “Seria possivel evitar aquella morte, si exames se fizessem, si remedios tomasse essa pessoa, si exercicios constantes practicasse, si comesse appenas alimentos mais saudaveis...” E coisas mais do typo. Todavia, si mesmo tal regime ella seguindo à risca, fosse victima de subito collapso, um hospital a manteria soffrendo numa cama, toda cheia de tubos pelas ventas, na agonia.

Pergunto: Mas não era preferivel morrer de morte subita, depois de ter approveitado bem a vida, comendo o que é gostoso, não aquillo que sempre foi ruim para cachorro? Então! Antigamente se morria assim, sem tantos pharmacos e medicos.

127
SUMMARIO DISSONNETTO MAGRO [0329]......................... 9 DISSONNETTO TORRESMISTA [0426].................. 10 IATROCRACIA [0426-B]............................ 11 DISSONNETTO PREGUICISTA [0427].................. 12 DISSONNETTO DESARVORADO [0732].................. 13 DISSONNETTO DO DESMANCHA-PRAZERES [0777]........ 14 DISSONNETTO MEDICINAL [0877].................... 15 DISSONNETTO CHRONICO [1101]..................... 16 DISSONNETTO DA DESOBESIDADE MORBIDA [1206]...... 17 DISSONNETTO DO HUMOR HOSPITALAR [1650].......... 18 DISSONNETTO DA INCONVENIENCIA [1706]............ 19 DISSONNETTO DO QUADRO CLINICO [1708]............ 20 DISSONNETTO PARA UMA GORDA GULOSA [1762]........ 21 DISSONNETTO PARA UM REGIMEN DICTATORIAL [1781].. 22 DISSONNETTO PARA UMA PACIENTE NAS ULTIMAS [1867] 23 DISSONNETTO PARA UM CHARDAPIO REMEDIADO [1917].. 24 DISSONNETTO PARA UM LEITÃO À PURURUCA [2050].... 25 DISSONNETTO PARA UMA DOR DE BARRIGA EMPURRADA [2173]................................ 26 DISSONNETTO PARA UMA DOR DE CABEÇA EMBURRADA [2174]................................ 27 DISSONNETTO PARA UM APPROMPTUARIO MURPHOLOGICO [2254]............................. 28 DISSONNETTOS PARA UMA PHYSIOTHERAPIA QUE ALLIVIA (1/2) [2341/2342]....................... 29 DISSONNETTO SOBRE UM CU QUE NÃO TEM DONO [2980]. 30 DISSONNETTO SOBRE A PLASTICIDADE FECAL [3028]... 31 DISSONNETTO SOBRE UM ELEVADOR VAZIO [3060]...... 32 TERMINAL TERMINOLOGIA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDICADO [3188]........................ 33 PHASE CRITICA [3253]............................ 34 DIETETICA DIALECTICA DIABETICA [3279]........... 35 DOCE ILLUSÃO [3472]............................. 36 ANTES QUE ME ALMOSSES, TE JANTO! [3548]......... 37 O RESIDENTE E O PACIENTE [3556]................. 38 ETERNO RETORNO (1) [3561]....................... 39 SOMNO SOLTO, PRATTO PROMPTO [3613].............. 40
HAPHEOPHOBIA [3864]............................. 41 ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL [3935].............. 42 O CAUTO CAUSO DO PROMPTO SOCCORRO [4139]........ 43 DO JEITO QUE O DIABO GOSTA [4406]............... 44 INGRATA DATA ou DISSONNETTO DO GLAUCOMA MEDITADO [4448]................................. 45 BRONCHICA BRONCA [4461]......................... 46 QUADRA CLINICA [4486]........................... 47 TOSSE SECCA [4551].............................. 48 INCONTINENCIA URINARIA [4576]................... 49 PESADELLO SANITARIO [4678]...................... 50 AMARGO BOCHICHO [4730].......................... 51 TRAGICA COMICHÃO [4745]......................... 52 IMPERTINENCIA URINARIA (1/2) [4749/4750]........ 53 VEGETARYANISMO [4797]........................... 54 AMIGA DUMA FIGA [4799].......................... 55 O SONHO APPUNHALADO [4861]...................... 56 TECHNOLOGIA DE PONCTA [4932].................... 57 THERAPIA QUE ARREPIA [4933]..................... 58 LENTES INCORRECTIVAS [4942]..................... 59 JURAMENTO HYPOCRITA [5010]...................... 60 PROMPTO SOCCORRO [5017]......................... 61 PATRULHA QUE EMPULHA [5065]..................... 62 DENTE IMPERTINENTE [5098]....................... 63 FEDORENTO VAZAMENTO [5244]...................... 64 ACTIVIDADE PHYSICA [5251]....................... 65 VISITA QUE IRRITA [5283]........................ 66 DISSONNETTO DUM ACCESSO NOCTURNO [5334]......... 67 DISSONNETTO DUM CONVITE E DUMA BRONCHITE [5444]. 68 DISSONNETTO DUM CONVITE E DUMA LABYRINTHITE [5445]............................. 69 DISSONNETTO DUMAS BOLLINHAS THERAPEUTICAS [5451] 70 FECHADOS CORPOS ABERTOS [5695].................. 71 LOUCURA SEM CURA [5720]......................... 72 ASSAZ INEFFICAZ [5738].......................... 73 CLUB FOOT DISSONNET [5751]...................... 74 THEORIA DA HIPPOTHERAPIA [5781]................. 75 MELHORIA EM IGUARIA [5814]...................... 76 DENTE MAL CALÇADO [5816]........................ 77
MEME DO MARÇO AZUL MARINHO [5936]............... 78 PERPLEXO REFLEXO [5951]......................... 79 MISCELLANEA HUMANITARIA [5991].................. 80 MEME DA NYMPHOMANIACA [6008].................... 81 HASHTAG INSPIRA CUIDADOS [6101]................. 82 MEME DO NEGACIONISMO [6158]..................... 83 OZONIZANDO (2) [6403-B]......................... 84 FADA RENADEGADA [6479].......................... 85 NUTRICHATO [6492]............................... 86 INFINITO CONFINAMENTO [6508].................... 87 MULHER MAGRA [6565]............................. 88 HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN? [6629]............. 89 WHO’LL STOP THE RAIN [6630]..................... 90 OUTUBRO ROSA [6665]............................. 91 NOVEMBRO AZUL [6792]............................ 92 CYNICO CLINICO [6846]........................... 93 CHORADEIRA COSTUMEIRA [6913].................... 94 PÉ DIABETICO [7086]............................. 95 PET THERAPIA [7095]............................. 96 MOTTE GLOSADO [7363]............................ 97 MOTTE GLOSADO [7364]............................ 98 MOTTE GLOSADO [7370]............................ 99 MOTTE GLOSADO [7395]........................... 100 MOTTE GLOSADO [7544]........................... 101 MOTTE GLOSADO [7572]........................... 102 MOTTE GLOSADO [7574]........................... 103 MOTTE GLOSADO [7597]........................... 104 MOTTE GLOSADO (1/2) [7609]..................... 105 MOTTE GLOSADO [7632]........................... 106 MOTTE GLOSADO [7636]........................... 107 MOTTE GLOSADO [7637]........................... 108 MOTTE GLOSADO [7647]........................... 109 MADRIGAL FINAL [7787].......................... 110 POEMANIFESTO DA ANTIGYMNASTICA PREGUICISTA [7873]............................. 111 PROTHESE POSSIVEL (1/2) [8050]................. 113 CUIDADOS INSPIRADOS (1/3) [8069]............... 114 INFINITILHO DA VELHICE (1/2) [8117]............ 115 INFINITILHO DA BRAGUILHA (1/2) [8144].......... 116
ODE AO KAKI CHOCOLATE [8165]................... 117 ODE AO VICIO (1/2) [8174]...................... 118 ODE AMBULATORIAL (1/23) [8189]................. 119 INCONVINCENTE ESPECIALISMO (1/5) [8482]........ 123 SYNDROME DIABETICA [8513]...................... 124 CUIDADO COM O RABO! [8517]..................... 125 NOBEL DE MEDICINA [8605]....................... 126 DESQUALIDADE DE VIDA [9125].................... 127
São Paulo Casa de Ferreiro 2023

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.