O CINEPHILO ECLECTICO
GLAUCO MATTOSO
O CINEPHILO ECLECTICO
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
O Cinephilo eclectico Glauco Mattoso © Glauco Mattoso, 2021 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros __________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA __________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco O CINEPHILO ECLECTICO/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 106p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
B869.1
NOTA INTRODUCTORIA
Originalmente publicado (2012) em edição impressa numa plaquette distribuida gratuitamente pelo Centro Cultural da prefeitura paulistana, este cyclo de vinte sonnettos reapparesce em "segunda exhibição" -- tambem disponivel de forma gratuita mas desta feita em livro digital -accrescido de outros cyclos thematicamente analogos. Ao lado de sonnettos originaes escriptos antes de 2012, o cyclo que dá titulo ao volume foi reestrophado e cada poema, agora composto de quattro ou mais quartettos, passa a ser designado como "dissonnetto", formato no qual o auctor compoz, mais recentemente, outros poemas aqui incluidos, todos com foco na thematica cinematographica. Alem de sonnettos e dissonnettos, a collectanea inclue outras estrophações, mantendo, comtudo, metro e rhyma, seja no decasyllabo, seja na redondilha. Estes versos characterizam uma das mais angustiantes impressões da cegueira progressiva que victimou o auctor: a memoria visual, materia-prima da hallucinação poetica mais palpavel e verosimil.
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[1] CYCLO "O CINEPHILO ECLECTICO" [1.1] DISSONNETTO DO FILME DE SUSPENSE A camera passeia pela parte dos fundos da mansão e se approxima da porta da varanda... Tem tal arte na scena o director, que cria um clima. A salla está vazia. A lente parte, então, na direcção do quarto... Em cyma da cama, uma mulher, que teve enfarte, repousa e, devagar, se reanima. Mas "Cruzes!" quem assiste, em transe, exclama. É quando ella percebe que anda alguem, ou algo, lhe rondando o quarto, e vem chegando quasi à porta, quasi à cama. À flor da pelle chega aquella trama. De susto, a mulher grita! Mas quem ouve demora para ir ver que raios houve e, quando chega, está sumida a dama.
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[1.2] DISSONNETTO DO FILME DE ACÇÃO O carro dos bandidos sae em alta velocidade, logo perseguido por uma viatura. Pouco falta para que se emparelhem... Ha um rangido. Extoura um pneu, e o carro aos ares salta! A camera repete o produzido momento em que cappota! Mas a malta excappa illesa e foge a pé? Duvido! Não é possivel Incrivel! Vale maluca! Quanto maior a chance
terem tanta sorte! tudo na corrida mais se arrisca a vida, de dribblar a morte!
Paresce tudo feito por esporte! E quando, frente a frente, ambos os lados se postam, varios angulos usados vão sendo: a cada golpe, pisca um corte.
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[1.3] DISSONNETTO DO FILME DE COMEDIA Si for em preto e branco, melhor fica, mas pode ser em cores... Cada torta que voa em direcção à dama rica, em vez de lhe accertar, accerta a porta! Ao ver que a ponctaria quem joga tanta torta, mais a bella madame, e que pode até sorrir...
pouco applica nem se importa tudo indica A scena corta.
Um close pega a torta em pleno voo, tal como um avião que vinha vindo, jogada pelo Larry ou pelo Moe, e volta a apparescer a mulher rindo. É quando a torta accerta, bem em cheio, na cara da coitada! Meu infindo prazer mais se alimenta! Até experneio de tanto rir! Aquillo é muito lindo!
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[1.4] DISSONNETTO DO FILME DE FICÇÃO SCIENTIFICA O cara accorda. Escuta que, la fora, augmenta o tal zumbido. Vae la ver. A luz que vem de cyma faz, agora, um circulo onde a nave vae descer. O matto em volta queima. Cada tora reduz-se a cinzas rapido. O poder daquelle foco muda a cor da flora e faz todo animal se entorpescer. O gajo quer fugir, mas não consegue: congela-se essa scena illuminada! Aquella luz, ainda que não cegue, immobiliza o passo a quem se evada! Por fim, um tripulante à terra desce: alem de ter trez mãos e um dedo em cada, é verde, e tudo em torno reverdesce, excepto a lingua rubra e bifurcada.
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[1.5] DISSONNETTO DO FILME ROMANTICO O trem, na plataforma, ja está quasi partindo. Vem correndo um passageiro bem joven, attrazado. Ouve-se a phrase: "Depressa, 'inda dá tempo!" Elle é ligeiro. Num dos wagões, sentada, a moça, à base dalgum tranquillizante, o derradeiro adviso ouve soar, sem que extravase o choro... E para traz deixa o parceiro. A coisa assim não finda por um fio. Então surge o rapaz, exbaforido, e senta-se a seu lado, arrependido, pegando-lhe na mão, em desvario. Ninguem mais se preoccupa com um brio. A moça quer fallar, mas seu gemido se cala com um beijo. Emmudescido, no banco o par se aggarra... E o trem vazio.
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[1.6] DISSONNETTO DO FILME DE TERROR Discutem dois amigos. Um, que jura ter visto se mexer um dos defunctos, jamais o outro convence. Àquella altura, é tarde para a fuga. Ficam junctos. Aberta tinha sido a sepultura e o corpo alli jazia... Quaes assumptos iriam desviar o pappo? E dura aquella noite inteira, entre os presunctos. Que porre! Não é mesmo forte inhaca? Um uivo ao longe e pulla, de repente, da mesa o tal cadaver! Um crescente grunhido solta e, arfando, aos dois se attraca! Terror de sobra! Berros altos paca! Um delles excappou, mas outro fica nas mãos do morto-vivo! Tudo indica que o filme volta ao zero, àquella estacca.
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[1.7] DISSONNETTO DO FILME DE ARTE Sentado à mesa, falla o figurante por mais de dez minutos, e repete palavras desconnexas. Nem durante a tarde um filme assim algo promette. Depois, dois velhos trocam, "tête-à-tête", offensas em voz baixa. Quem garante que iriam se attracar? Um canivete repousa sobre a mesa, inoperante. Aguento esse senhor e essa senhora? Não sae jamais do poncto o enquadramento, excepto quando gyra, cem por cento, a camera, no escuro appartamento. Hem, porra? Que será que vem agora? Silencio, só. Cadê trilha sonora? Si alguem ainda aguenta meia hora, não sei... O director acha que aguento.
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[1.8] DISSONNETTO DO FILME DE ARTES MARCIAES "Dragão" é sempre "o ultimo": um velhinho que fora luctador, mas hoje está bem quieto no seu cantho... Seu sobrinho, porem, foi aggredido, e pincta la. Insiste. Quer vingança. Num restinho de escrupulo, retorna à scena um ja refeito campeão, que invade o ninho dos ninjas aggressores. Vencerá! Os ninjas, esses nunca vencerão. A lucta, propriamente, é só ballé: ninguem nalguma cara encosta o pé e, quando encosta, escuta-se um trovão. Será que os fans da coisa acceitar vão porrada sonoplastica? Não morre quem leva umas cem dessas, e transcorre o filme, em mais um "ultimo dragão".
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[1.9] DISSONNETTO DO FILME HISTORICO No campo de battalha, mais de cem guerreiros agguardando seu commando. E surge o general, em quem ninguem mais punha alguma fé... Vem cavalgando. Postado frente às tropas, elle tem coragem de bradar: "Eu não debando!" Em khoro, a soldadesca o acclama, e nem vacilla em attaccar, se motivando. Cadaveres em penca restarão. Na lucta, os dois exercitos em sangue se banham... Nada faz com que se zangue o general, que sae sem arranhão. De facto, o commandante valentão venceu e convenceu. Mas, até la, o grandioso "longa" ja terá trez horas, até mais, de duração.
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[1.10] DISSONNETTO DO FILME MUSICAL Si fosse um "Hair" ou "Tommy", tudo bem. Peor é quando o gajo sapateia na poça d'agua e ainda chega quem diz que dansa bem: isso é que chateia! Aquellas operettas não são nem theatro de revista, nem teem veia bem comica, ficando muito aquem do genero dos mestres de mão cheia. Tal typo de cinema persuade? O rock é que lhe deu mais interesse, fazendo com que tudo accontescesse com mais irreverencia e liberdade. Si sempre exsiste fan que "Bravo!" brade, si até num "Jesus Christ" exsiste brilho, não é por como um hippie ser Deus Filho: é por cantar canção que não enfade.
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[1.11] DISSONNETTO DO FILME DOCUMENTARIO Os indios xixixys teem maus costumes, affirmam anthropologos da ONU. Liberam-se, appesar de alguns ciumes da BBC de Londres, verba e abbono. A equipe vae filmar o que os tapumes escondem nessa aldeia: nem menciono os fetidos montões verdes de estrumes, mas sim especiaes typos de throno. Difficil ser quem isso filmar tente! Cocô, que elles manteem a céu aberto, conserva-se fedendo, sem que, ao certo, se saibam os motivos dessa gente. Emfim, ha Depois de os indios no vaso o
contehudo consistente! filmar tudo, a equipe paga com cocô: senta-se e caga director, mais o assistente.
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[1.12] DISSONNETTO DO FILME IMPRESSIONISTA Um illuminador deu seu palpite e fica o director na discussão com toda a equipe, sem que nada evite o attrazo nas filmagens que virão. "Não pode ser directa! Não se irrite, mas luz é minha praia!", da funcção affirma o maior astro, ora! A convite do gajo, todos dão opinião. A nada tal dialogo conduz e ninguem chega a accordo... Se suspende, no estudio, tudo, emquanto não se entende o gruppo de trabalho sobre a luz. Ja ficam todos elles jururus. O filme, orçado caro, está esperando que o sol tarde se ponha para, quando bom angulo surgir, lhe façam jus.
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[1.13] DISSONNETTO DO FILME EXPRESSIONISTA "Não! Nada disso! Corta!" O director se irrita. E com razão: a bella actriz recusa-se a sorrir! Acha que a dor daquella personagem melhor diz. Não pode alguem doente estar feliz, allega, seria, a estrella: é de suppor que exhiba, ao menos, leves e subtis signaes de apprehensão ou de torpor. "Quem é que manda aqui, caralho? Quem? Quem manda aqui sou eu! Ou você ri, ou, immediatamente, sae daqui e está fora do filme! Entendeu bem?" Com cara de quem segue a actriz, serenamente, mas, duma mão, um dedo que apponcta para cyma
sendo zen, não responde, não esconde e expressão tem.
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[1.14] DISSONNETTO DO FILME POLICIAL Si não for o mordomo, não tem graça. Porem, antes de acharmos o culpado, convem perdermos tempo: e o tempo passa, emquanto outro suspeito é deschartado. Primaria, si a policia vae à caça de pistas improvaveis, por seu lado o experto detective ja entrelaça a trama, e encerra o caso investigado. Na hora de entregar-se, está o suspeito bem perto da janella e se detem alli sem ser notado. O parapeito é baixo. Adivinharam? Muito bem! Assim, ninguem vae preso. Resta um poncto a ser exclarescido, que nos vem à mente de repente: estava tonto ou elle se jogou? Arrisca alguem?
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[1.15] DISSONNETTO DO FILME PORNÔ Ninguem exporra dentro! Trepa a puta em tudo quanto é pose e posição: deitada; de joelho; à força bruta boquettes paga; engole um caralhão. Coqueiro e frango-assado ella executa com rara habilidade, e a direcção do filme, amadoristica e fajuta, repete aquillo a poncto de exhaustão. Maior repetição, e mais peora. Porem jamais o penis ejacula emquanto a puta o tenha dentro, engula ou cubra com a mão: tem que ser fora. De forma cansativa algo se A porra é branca, espessa, que faz a cobertura, sobre como o glacê no bollo, que
explora. e tanto abunda a bunda, o decora.
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[1.16] DISSONNETTO DO FILME GAY Ou narra-se uma historia commovente de alguem que, solitario, perde o amigo mais proximo e, ja velho e até doente, nos faz chorar o nosso desabrigo... Ou se caricatura o inconsequente mundinho das balladas que, comsigo, traz só futilidade e appenas mente accerca da bichice e do perigo. Exsiste, nessas artes, uma lei. São poucos que combinam bom humor com drama ou com denuncia: seu auctor precisa ter vivido o que é ser gay. Maiores restricções eu não farei. Si, alem das scenas homos, se pretenda mostrar que as exclusões não são só lenda, consultem-me, pois, cego, eu é que sei.
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[1.17] DISSONNETTO DO FILME MARGINAL Si a camera na mão e, na cabeça, a idéa ja bastavam, alguem falla que ao filme é necessario se empobresça ao maximo o scenario: só uma salla. De facto, pouco importa o que accontesça, si o thema hoje será o "crime da mala", ou o da "luz vermelha", pois advessa à realidade é a forma de tractal-a. Alguem está ligando? Uma pinoia! Importa mesmo é dar-nos a impressão de estar mal todo mundo, chapadão, deprê, de porre, em neura, em transe, em noia. Mas elles nem disfarsam a tramoia. A scena, em preto e branco, só varia si o gajo vae de casa à drogaria comprar mais coisa, e tudo fica joia.
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[1.18] DISSONNETTO DO FILME MUDO Talvez a maior graça fosse o facto de andar tudo mais rapido. Um bondinho que normalmente é lento, vae a jacto e o povo nem se tromba no caminho! Os carros são antigos, mas o chato é vermos que mais correm que um novinho em folha dos de agora! Eis o insensato choffer daquella epocha inteirinho! Nem quero de debattes fazer mesa. Palavras se dispensam: uma imagem, ainda que corrida, de passagem, nos falla muito mais, tem mais riqueza. Sim, muito pouca gente sae illesa pois, quando as tortas voam, só melhora aquillo que era bom, si uma senhora as leva em plena cara, de surpresa!
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[1.19] DISSONNETTO DO FILME PUBLICITARIO Si cada vez demora mais, tornal-o bem mais interessante se acconselha. Refiro-me ao chatissimo intervallo commercial que tanto nos pentelha. Às vezes, alguem cria um bom, e fallo bem delle aos meus amigos, o que espelha melhor publicidade que um cavallo berrando promoções na minha orelha. Em vez de tantos gestos, gritos, guizos, em vez de "Ligue ja! Venha correndo!", "Somente até este sabbado eu lhe vendo!", melhor é mostrar cores, flores, risos. Estão os creadores indecisos. Barulho e gritaria só reflectem a loja que os pagou, aos que interpretem o annuncio com criterios mais precisos.
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[1.20] DISSONNETTO DO FILME DE ANIMAÇÃO Melhor do que um desenho, só dois! Lindo é vermos como extoura, em plena cara, a bomba e, mesmo assim, segue sorrindo, appenas chammuscado, quem levara. O corpo até se estica, pois infindo é seu limite physico. Si o vara, a balla faz buraco, mas abrindo contorno redondinho onde accertara. É tudo nisso, ouçamos, engraçado. A musica, por si, ja tem humor, mas, si à caricatura a somma for bem feita, a falla até deixo de lado. Neste tocante estou determinado: prefiro os mais antigos, cujo traço mais movel era. Agora duro e excasso, o movimento é quasi inanimado.
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[2] CYCLO "GEMMAS DO CINEMA" Achou-se, emfim, o filme que commigo foi feito annos attraz: a scena pega, em close, minha lingua, que se exfrega na sola duma bota, e as ordens sigo. O actor, que a calça, entrou por ser amigo do proprio director e meu collega de penna, não de pena. A vista cega não tendo, elle relaxa e eu, só, me obrigo. A camera empunhando, o director exige: "Passa a lingua, Glauco, passa de novo! Agora! Assim! Sente o sabor!" E eu raspo, na borracha, esta devassa e grossa posta: aguento o azar, a dor, ao passo que os dois jovens acham graça. Caseiro foi, commigo, o filme, mas a scena, ao menos, certo tempo dura. Memoria tenho della e, nesta escura cegueira, outros à mente o archivo traz. Si tal filmographia me compraz lembrar, porem, a causa se affigura bem nitida: é que o pé que se procura não é de moça, é o pé, só, dum rapaz. Alguns commentarei sem tel-os visto, appenas por ouvir o que me conta o amigo que assistiu. Mas eu insisto: São poucas, muito poucas, são a poncta visivel dum iceberg as scenas disto que, ao cego, o sexo excita e, ao justo, affronta.
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A scena culminante, em close, é aquella de Kubrick, em que o joven delinquente que fora, outrora, algoz de tanta gente, agora, na prisão, supplica e appella. Será disciplinado: sae da cella directo para um palco, onde consente, na marra, que um subjeito o aggrida e tente fazel-o reagir. Que occupa a tela? Cahido, Alex, de cara para cyma, é visto de perfil, emquanto a sola lhe cobre a bocca: ha pé que mais opprima? Com ordem de lamber, Alex exfolla a lingua, que se dobra e se approxima dum humido capacho: humilde eschola! Si, em Kubrick, o rapaz lambe um sapato por baixo e suja a lingua no solado, Chabrol põe a mulher, por outro lado, lambendo o pé dum macho chucro e chato. Posar de liberal quer, mas, de facto, o cara é ciumento. Inconformado ao ver que sua esposa tem passado algum tempinho fora, diz: "Te macto!" Da cama a joga ao chão. Descalço, manda que lamba seu pé branco. Si ella hesita, ordena o gajo: "Lambe, mulher, anda!" No dorso a scena mostra uma bonita actriz passando a lingua. Menos branda será, depois, na sola, tal desdicta.
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Tambem Gainsbourg achou que uma mulher, embora seja androgyna, meresce jogada ser da cama, si se exquesce de ter respeito ao macho, ao que elle quer. Si não lhe obedescer, si não lhe der o cu, seu garotão ja se emputesce. Chamal-o de "pedê", qual si dissesse "Brochou por que?", gorar-lhes vae o affair. No chão, ainda o xinga. Elle lhe cala a bocca com o pé, com o pezão na cara, aquella lancha a admordaçal-a. Depois, o cu lhe come: ella ja não contesta. Admordaçada, ella se eguala, na practica, ao pedal dum caminhão. Ken Russell, ao contrario do francez, colloca o joven macho em posição mais fragil, e quem lambe o seu pezão é China Blue, a puta. Eis os porquês: De dia, seria e sobria, o mais burguez dos circulos frequenta. À noite, não será jamais a mesma: seu tesão está na perversão, na sordidez. Transforma-se em tarada e, si um rapaz careta a procurar, ella seu pé descalça e no dedão boquette faz. O gajo mal consegue botar fé naquillo que está vendo: é Satanaz em forma de mulher, ella, não é?
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Descalço é o pé que Stephen Frears grava, em close, sobre a cara do ladino rapaz pakistanez que, em Londres, tino demonstra si, por grana, roupas lava. O primo é quem o pisa, si uma escrava não tem na propria esposa. Esse menino pisado, por signal, tem um londrino punkinho como caso, se notava. Do pae cortava as unhas do pezão e, agora, o primo pisa em sua cara com força, com despeito e com tesão. Paresce que normal ja se tornara, naquelles que proveem do Pakistão, ter pelos pés algum typo de tara. Ainda de Ken Russell é a versão de "Tommy" para as telas. Nella, o cego, que nada diz nem ouve, aguenta o prego da cruz aos pés dum primo folgadão. Deixaram-n'o os adultos bem na mão de Kevin, o priminho que tem ego de sadico e nazista: "Agora eu pego você! Vamos brincar! Que diversão!" E o primo se approveita da cegueira de Tommy: o faz de gatto e de sapato, practica nelle tudo quanto queira. A scena mostra a cara do cordato ceguinho entre dois pés que a costumeira botina calçam: close em poncto exacto.
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Nas series de tevê, quem lambe, por exemplo, a bota nazi é um estudante de curso superior, que se vê deante do joven hitlerista delator. No caso, o proprio Hitler oppressor nem é: o extraterrestre é quem garante poder de mando ao joven que, arrogante, se exhibe e aos estudantes quer se impor. Não tendo elle instrucção, quer desforrar e, em "V, the Final Battle", obrigará alguem mais instruido a se humilhar. Prostrado e rastejante, o alumno dá lambidas, "limpa" a bota: eis o logar daquelle que se curva à raça má. Em "Oz", tambem nazista foi a bota lambida: na prisão-modello, quem lidera uma das gangues ganas tem de ser aryanista, a gente nota. Quer elle judiar dum idiota recemchegado ao carcere. Nem bem se enturma, o otario cede: agora, vem lambendo e ouvindo, em publico, a chacota. Descalço, os pés descansa, até, no collo do escravo bobalhão, que lava a meia do mestre auctoritario e diz: "Me exfollo!" Suppõe-se que o babaca massageia um pé fedido e escuta: "Eu que controlo você, bobo! Inferior é quem bobeia!"
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Divine é um travesti? Drag queen? O que? De facto, pouco importa, si pornô o filme, propriamente, nem é, pô! Talvez "escatologico", alguem crê. John Waters anarchiza, vae você notar, si for attento! Algum pivô na trama é o de somenos, pois cocô comeu, mesmo, ella em scena, a gente vê! Nojenta não foi ella, appenas: seus rivaes são um casal, que lambe tudo, do chão aos proprios pés! São dois sandeus! Sessenta e nove fazem, mas grahudo é o pé delle na bocca della! Oh, Deus! Nenhum filme é tão sujo e cabelludo! Agora, no circuito mais mundano (Será que tambem chega ao brazileiro?), dum filme atroz, terrivel, eu me inteiro e o longa para manga nos dá panno. De medico e de monstro é o caso insano, pois liga-se uma bocca num trazeiro, unindo trez humanos nesse inteiro "lacraio": assim Tom Six expoz seu plano. No chão come o primeiro e, pelo anal canal come o segundo! Recagada a merda é no terceiro, mais fecal! De quattro, a "centopéa" se degrada, rasteja, morde a bota do infernal doutor, que a tracta a chute e chibatada!
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[3] CYCLO "SUCCO BUCCOCOMESTIVEL" Será possivel? Cada filme extranho estão fazendo agora! Até me accanho! Me contam que sahiu recentemente um bem escatologico, no qual a "humana centopéa" choca a gente. Um louco scientista, em siamezes versado, os apparelhos interliga de trez pessoas. Justo é que se diga: num tubo digestivo passam fezes. No cu dum homem colla-se, sem dente, a bocca doutro, e doutro, e esse animal, de quattro, falla só pelo da frente. Os outros comem merda, emittem fanho ruido e um nojo exhibem sem tamanho! Unidos os trez homens num só bicho, dará bello espectaculo o capricho. Expõe o scientista a sua obra num circo adulto, e lota-se a platéa, gozando essa "lacraia", ou essa "cobra". Em doze "pés", ou "pattas", não se appruma um rosto humano intacto, um corpo nu, ao qual está collada, pelo cu, a bocca doutro, em cujo cu mais uma. Caminham só de quattro e, mal se dobra aquelle em que começa a diarrhéa, engolirá o seguinte a sua sobra. Um delles falla e come; outros o exguicho "cocomem", mudos, sempre no rabicho.
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Paresça ou não ficção, tal filme accusa, bem claro, o que ha detraz da scena obtusa. Humanas creaturas, quando estão privadas da normal anatomia, despertam não appenas compaixão. Tambem suscitam asco e, num segundo momento, hilaridade ou mesmo gozo, pois acha alguem "perfeito" prazeroso zombar de quem do poço está no fundo. Um homem sem seus membros, sem visão ou sem os movimentos só sacia instinctos que, admittamos, normaes são. Portanto, quem dum "monstro" cego abusa será, deste poeta, a melhor musa. Consegue essa "lacraia" a sobrevida por quanto tempo, appós ter sido urdida? Depende. Alimentada com cuidado, por annos sobrevive. É o que commenta um medico, a respeito consultado. Trez corpos engattados vão poder nutrir-se si o primeiro, pela bocca, ingere o que lhe derem. É, pois, oca a bocca, a um cu collada, do outro ser. Mas, quando um digeriu, o que é excretado excoa noutra bocca essa nojenta panqueca nutritiva, esse guisado. A coisa, no terceiro, é repetida: engole este a pappinha diluida.
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Aos poucos, mais noticias um amigo me envia sobre o filme que eu persigo. De facto, a "centopéa humana" fora formada por um homem ao qual duas mulheres teem funcção sempre excretora. O macho é japonez, ou apparenta, e pode alimentar-se normalmente, ou quasi, pois, de quattro, elle se sente um cão: no chão, ração é mais nojenta. As femeas foram lindas, mas, agora, estão desfiguradas, porque suas boquinhas são canal que a bosta escora. Do triplo bicho eu sonho que interligo meu beiço ao cu: tambem sorvo o castigo. Mais coisas sobre o filme estou sabendo e mais me maravilha o caso horrendo. Severo, o scientista tracta aquella domestica "lacraia" como sua mascotte, mas aos chutes a interpella. Exige que caminhe e, para isso, faz uso do chicote! Chega até, segundo alguns, a nella pôr o pé, mandando o japonez lamber, submisso! No piso põe o medico a gamella com restos de comida, carne crua, e assiste emquanto o japa pappa nella! Não sei, ainda, como se entendendo estão, si o que alguem falla eu não entendo.
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Na communicação paresce estar um temperinho a mais ao paladar. O caso é que as cobayas, que serão num bicho transformadas, são turistas de fora, que, em inglez, mal dizem "não". O medico, que mora num local deserto, tambem falla com sotaque extranho: é, pois, difficil que elle saque palavras duma lingua de animal. Augmenta mais, supponho, a humilhação do bicho resultante das nazistas pesquisas scientificas, então: A cada ponctapé que leva, o esgar do japa exprime a dor do seu olhar. O filme, duma serie, é só o primeiro. Dos proximos, comtudo, eu ja me inteiro. Planeja encadear, o tal doutor, até doze pessoas num lacrau humano compridissimo! Hem? Que horror! Preciso adveriguar como termina o caso da primeira centopéa, si attraz foi enrabada ou gonorrhéa pegou o japonez mammando urina. Bastava um filme... Seja como for, si em outros o doutor tambem é mau, mais taras auctoriza-me a suppor. Importa é não ser video tão caseiro e fracco quanto um filme brazileiro.
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Agora sei os nomes: o doutor é Heiter, e um nazista faz suppor. As moças, Jenny e Lindsay, e Katsuro se chama o japonez. O interessante é estar, de inicio, Heiter inseguro. Em cães a experiencia ja fizera, mas elles fallesceram, coitadinhos! Portanto, não serão gentis carinhos do medico que o trio agora espera. Emquanto ainda humanos, não é duro com elles o doutor: diz, captivante, como é que um pão resulta em cocô puro. Sem chance de fugir, é com pavor que as victimas lhe imploram: "Por favor!" Tão logo a cirurgia os trez num só transforma, os tracta Heiter ja sem dó. Katsuro, unica bocca que consegue comer e, mal e mal, se communica, relucta em ver-se a tal azar entregue. Mas Heiter delle exige que se porte, agora, como um bicho obediente, não mais como alguem certo de ser gente. Na marra apprenderá quem é mais forte. Começa o treinamento. "Vamos, pegue!" E Heiter ao chão joga uma nannica banana, uma salsicha, um figo, um "egg". "Assim, não! Sem as mãos! Vamos, totó!" E o japa um nó ja sente no gogó.
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Irá locomover-se a centopéa com muito sacrificio, faço idéa. Emquanto o japonez tem liberdade maior de movimentos, às meninas de traz não ha licção que mais degrade. "Andando! Meia volta! Mais depressa!" E o japa, engattinhando, puxa a fila. Às duas, não será nada tranquilla aquella caminhada que começa. Suando, gemebundas, vendo nadegas pela frente, appenas pequeninas passadas dão, si o relho as persuade. Aos poucos, superando a dura estréa, passeia, até... E a fome? E a diarrhéa? Agora é que são ellas! Quando o japa defeca é que a faminta Lindsay pappa. Nos olhos a menina dá a resposta afflicta: quer comer, mas não aquillo! Faz força o japonez, e solta a bosta! É solido o tolete que, primeiro, por sobre a lingua advança, abre caminho. Grunhindo, ella o mastiga rapidinho. Com nojo, engole, e arrocta no trazeiro. O arrocto encontra um peido. Logo, encosta na lingua outro tolete e, ao degluttil-o, percebe ser mais molle aquella posta. Mais molle ainda é o proximo que excappa, até que vem só creme, egual garapa.
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Chegada a vez da Jenny, se repete a scena desse insolito cunnette. Na bunda da amiguinha com quem fora por Heiter capturada, ella se entrega à soffrega ingestão duma cenoura. Cenoura, mandioquinha, betterraba, qualquer legume serve, até moido! O medico, assistindo, ouve o ruido dum cu que mais ninguem na vida enraba! Tem Jenny uma expressão mais soffredora no olhar, ao pum de allivio da collega, seguido doutro peido que esta extoura. E Heiter, rindo, indaga si um boquette lhe faz Katsuro ou elle em Jenny mette.
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[4] CYCLO "BULLYINGUEIROS DA CEGUEIRA"
Rolla peça bem pregada contra os cegos no Youtube. Para o riso, não ha nada como o tranco que os derrube. Como o poço na calçada: que algum caia e la se entube! Como o esporte: a molecada com os cegos forma um clube! Cada scena causa riso! Nisso penso e, em gozo, offego! Pouco importa si improviso haja, ou não, onde eu navego! Quem assiste à pegadinha tambem falla "Ah, si eu te pego!", ao ver como se expezinha e se zoa alguem que é cego! Gargalhada se ouve ao fundo quando um cego pela rua, bengalando, vem: o immundo lixo fede e elle recua.
O CINEPHILO ECLECTICO
Mas no comico eu redundo quando digo que na sua cara gritam: "Vagabundo! Corre! Attraz vem a perua!" Se ouve, então, uma buzina, que bem perto tocar veiu, e um motor, que elle imagina ser dum carro sem o freio. Ao correr, o cego tromba, entre os trastes do passeio, na lixeira e dentro tomba desse monte podre e feio! Noutro caso, o cego escuta, por detraz, lattindo, um cão. Em seguida, alguem lhe chuta a bengala para o chão. Do cachorro a raiva bruta rosna perto! O cego não tem excolha: ou foge, ou lucta! Tropeçando, corre, então! Mas, à frente, uma sargeta fede, funda! Ah, que bonita! Na corrida, que elle metta nella o pé, ninguem evita!
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Ao pisar, elle excorrega! Pirueta faz na fita e mergulha! Sua cega sorte, ao povo, o riso incita! Ja se sabe: o cego passa sempre alli, pela ladeira. Quem lhe apprompta uma trappaça quer filmar a scena inteira. Forma a lama molle massa dum boeiro quasi à beira. Do ceguinho fazer graça nada impede que alguem queira. Dicto e feito! Caminhando no passeio costumeiro, excorrega o cego e, quando quer appoio, acha o boeiro! Mostra a camera, chocado e encharcado por inteiro de agua suja, esse coitado. Só não mostra o podre cheiro. Outro quadro numa quadra esportiva tem logar: nesta, a camera, que enquadra os ceguinhos, quer zoar!
O CINEPHILO ECLECTICO
Cão nenhum, agora, ladra para susto nelles dar: basta, aqui, que a perna ladra venha a bolla lhes roubar! Mesmo a bolla tendo guizo, como nesses jogos ha, ser roubada, sem adviso, facilmente poderá. Os ceguinhos formam time que vez cada mais está divertido! Que se anime quem risada delles dá! Todo o gruppo é de novato nesse jogo, mas, no meio dos ceguinhos, um gaiato ha que enxerga e zoar veiu. A platéa quer, de facto, ver um cego fazer feio na "partida", e os faz de gatto e sapato alli, sem freio. Para quem enxerga, a vida é prazer e cheia está de brincadeira divertida, como sempre, nessa edade.
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Muito experta, a molecada, encarnando o proprio Sade, ri: de errado não vê nada que um ceguinho se degrade. Cada cego, alli, se sente convencido de que é tudo espectaculo innocente e "esportivo" é soffrer mudo. Participa docilmente das jogadas, mas sortudo só tem mesmo um, que, na frente delles, entra, botinudo. Rouba a bolla, dá rasteira, sem remorso, sem entrave, sem juiz algum que queira cohibir a falta grave. Quando um cego cae, alguem cujo pé não é suave chega logo e pisa bem no seu rosto, si ha quem grave. Quem gravando está maneja bem a camera e, na scena do pisão, faz com que seja lindo o close e a visão plena.
O CINEPHILO ECLECTICO
Vê-se o cego, que rasteja, contorcendo-se, na arena e a solada malfazeja duma chanca até pequena. Vê-se o tennis do moleque pressionando rapidinho, como quem seu carro breque, sobre a bocca do ceguinho. Este leva um tempo até, sob o tennis excarninho, perceber que nelle um pé vae brincando de carrinho. Duma entrada traiçoeira nenhum cego, em jogo, excappa. Não ha nego que não queira dar-lhe um chute, um soco, um tapa. Si cahiu, sente a biqueira duma perfida chulapa bem na cara, e a zombeteira vaia escuta a cada rapa. Que não era treino e não dava premio, nem um par de tennis novo, os cegos vão percebendo, mas é tarde.
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A filmagem ja rollou e uma bocca em dores arde. "Um barato" foi o show que um "careta" achou covarde. Faz o video, assim, eschola, rindo às custas da cegueira. Pelo jeito, até com bolla rende um cego brincadeira. Não demora e um rapazola bollará nova maneira de filmar quem pede esmolla ou, bengala à mão, se exgueira. Ao attento cineasta que tal gozo experimente registrar, por si, não basta: é preciso ir mais à frente. Elle, então, faz de cobaya por esporte, meramente, quem na firme mão lhe caia, sendo ou não deficiente.
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[5] CYCLO "CEGADINHAS PEGADINHAS" Os videos na internet estão: a malha de assumptos não se exgotta e acceita tudo, do estupro mais sangrento e cabelludo ao beijo mais do aggrado da gentalha. Emquanto um locutor brega gargalha, as scenas se succedem: vão do mudo cinema à pegadinha... Eu não desgrudo de alguem que accesse aquillo que me calha. "Procure gozações ao cego! Quero saber si elles collocam scenas barra pesada ou ficam só no lero-lero..." Suggiro, e quem navega logo exbarra em typicos flagrantes dum severo sadismo: é que a cegueira instiga a farra. "Achei!", me advisam. Berros eu escuto, em meio às gargalhadas da supposta platéa. Alguem commenta: "Quem não gosta de ver humilhações vae ficar puto..." É tudo, alli, incorrecto: o jeito bruto do povo em relação ao cego, a bosta que nelle jogam, rindo, o pé que encosta na cara delle, o chute, o viaducto... Gravados no Brazil não foram taes flagrantes, mas, vivido, eu não duvido que aqui logo alguem faça uns mais brutaes. Não falta personagem divertido por estas bandas, digo eu, que nas mais sarristas armações tenho cahido.
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Nem sempre interessantes, para mim, são esses videos curtos e caseiros, alguns tão innocentes que eu inteiros nem posso ouvir, embora estando a fim. Mas outros são pesados, como vim a achar tão logo em topicos certeiros foi feita a busca: alguns dos mais arteiros se passam juncto a um banco de jardim. O parque, que é passagem roptineira de cegos, cadeirantes e quejandos, dá bella "locação" à brincadeira. Que seja de mau gosto... E dahi? Bandos se formam, sempre à expreita de quem queira sahir, se expondo a abusos e desmandos. Num quadro, o cego, andando de bengala, alcança o banco e senta-se. Um rapaz se chega, à frente delle gestos faz e quasi a mão na cara lhe resvalla! Ao ver que é mesmo um cego, o outro lhe estalla o tapa e sae correndo! O cego attraz não corre, é claro: appenas xinga e jaz inerte. O rapaz volta e ao cego falla: "Eu vi que aquelle cara lhe batteu! Que filho duma puta, hem? Não respeita ninguem, nem quem na vida se fodeu!" O cego se constrange, mas acceita o pappo: {Até Sansão do philisteu levou porrada! É victima perfeita!}
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Passando-se por justo, o rapaz quer saber como um invalido se sente e, credulo, o chorão deficiente lhe conta o que padesce: era choffer... Depois dum accidente, até a mulher deixou-o, blablabla... O rapaz, contente da vida, diz ter pena, finge, mente, propõe que adjudará no que puder: "Pois fique sossegado aqui, que eu fico attento, alli de longe e, si esse filho da puta voltar, juro, um pau lhe applico!" O cego, aggradescido, diz: {Me humilho demais, moço, na rua pago um mico damnado! Deus lhe pague pelo auxilio!} E affasta-se o rapaz, quando se escuta a rir quem, com a camera, até grava as lagrymas do cego. Este ja estava tranquillo, e volta o tal filho da puta! Agora, o outro lhe cospe e, appós, lhe chuta, com botas, a cannella! O cego trava um grito na garganta e manda à fava seu sadico aggressor de alma fajuta. De novo se approxima o mesmo algoz, fingindo perseguir alguem que corre, depois dirige ao cego a mansa voz: "Diabo! Me excappou! Por que não morre um chato desses, né? Mas, ca p'ra nós, fodido é quem só tome e não desforre!"
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O otario, cujo rosto pelo excarro está todo mellado, puxa o lenço e limpa a bocca, os oculos. O senso de humor o outro não perde, e tira sarro: "O chato expectorou todo o catarrho em cyma de você, né? Sabe? Eu penso que seja um psychopatha!" O cego, tenso, confessa: {É sempre nesses que eu exbarro!} "Agora eu vou ficar mais vigilante, prometto!" E outra vez, sapha-se o rapaz, piscando para a camera possante. Sentado permanesce o cego, mas receia que, de novo, alguem lhe plante um tapa, um chute, ou trame acções mais más. Sarcastico, o aggressor posa bem deante da camera, mijando num coppinho de plastico. Em seguida, de mansinho, do cego se approxima, triumphante. De novo o seu pesado e atroz pisante accerta na cannella do ceguinho, que, abrindo a bocca, leva, em vez de vinho, urina dumas "cervas", espumante. De dor e nojo o cego engasga, tosse e cospe o mijo sobre a propria calça, até que o rapaz grite e a voz engrosse: "Saphado! Volte aqui!" Segue-se a falsa corrida attraz de alguem... Quem quizer, troce e zombe de quem dansa sem ser valsa!
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Retorna o gozador, se desculpando, ainda uma vez, pelo seu fracasso: "Caralho! Aquelle chato tem o passo mais rapido e fugiu-me justo quando..." O cego, impaciente, mas com brando discurso, se levanta e diz: {Não faço questão de passear aqui! O cansaço passou da compta! Addeus! Ja vou andando...} "Não! Pode ficar! Sente-se aqui! Juro que, agora, tambem fico aqui sentado! Você, juncto commigo, está seguro!" O trouxa se convence e, lado a lado, se senta novamente. O pappo é puro deleite para um sadico folgado. "Eu tenho aqui um refri, vae lhe tirar o gosto desse liquido que o chato jogou na sua cara..." Eis que o gaiato retira e mostra o pau, que vae ao ar! Mergulha o pau no coppo e dá a tomar aquelle guaraná ao ceguinho grato, que engole, estalla os beiços: {Eu me macto, um dia! Não supporto! É muito azar!} Quem filma, dá risada emquanto opera a camera, a distancia. O cego, agora, acceita do rapaz o que lhe dera. Tirando a bota, o gajo para fora expõe sujos artelhos, o que gera mais risos de quem rir dum cego adora!
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Dos dedos nos vãos passa elle o chiclette, depois no pau o exfrega, antes de dal-o ao cego, ja embrulhado, e esse regalo mascando vae o trouxa e mais promette! "Me contam que tem gente que commette qualquer barbaridade (e até ja fallo em grossa putaria), faz de rallo humano um pobre cego, pincta o septe..." E insiste o folgazão: "Será verdade?" Responde o cego: {Ouvi fallar, mas não passei por tanta coisa que degrade...} "E nunca chupou rolla?", o folgazão insiste. {Não! Magina! Ninguem ha de fazer isso commigo!}, acha o chorão. "Eu quero accompanhal-o!", falla o joven ao cego, que no braço lhe segura, sahindo os dois de scena. Da postura do joven, que olha e pisca, os risos chovem. Dum cego as afflicções jamais commovem ninguem: rende audiencia a sua dura roptina, mesmo quando não se appura si é farsa e taes lesões não se comprovem. Eu, quando à rua saio, escuto o riso dos jovens si, lattindo, um cão me assusta ou, deante dum degrau, paro, indeciso. Si a camera flagrar, à minha custa rirá mais gente ainda: no juizo commum, cegueira é signa, é pena justa.
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[6] CURTAS CURTIÇÕES [6.1] DISSONNETTO MASSACRADO Foi nosso o melhor "snuff", onde o alvoroço da turba que lynchava era scenario do audaz cinegraphista no lendario massacre em Matupá, no Matto Grosso. Dois miseros bandidos dão, no insosso marasmo do local, motivo hilario a adultos e moleques que, appós vario supplicio, 'inda lhes pisam no pescoço! A scena mostra a bota sobre o rosto dum delles, obrigado ao vão pedido -"Não, pelo amor de Deus! Arrependido estou!" -- sob a risada e olés de gosto! Depois atteiam fogo e entra allarido do publico, filmando o quadro exposto -"Rebolla, peão!" -- quando o descomposto par torce-se e experneia! É divertido!
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[6.2] DISSONNETTO ROBOTIZADO No espaço da TV se salva, intacta, a serie que, imperdivel, foi cinema. Perdida no universo, era seu thema a typica familia intergalacta. Nenhum seriado serio nos impacta si não tiver villão truão: "Não tema!", diz elle, "Com o Smith não ha problema!", e, perfido, de intrepido se jacta. Um bando de astronautas no quintal brincava, em meio ao matto, de planeta baldio, no suburbio sideral. Ninguem jamais achou que fosse peta... Nem lenda a tal missão espacial. Adulto, o eterno fan veste a careta dum "latta de sardinha", como o tal robot, por mais que a Robinson se metta.
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[6.3] DISSONNETTO LUBRICO Num velho pornofilme de segunda, a Linda Lovelace engole inteiro um penis bem maior que o costumeiro e mostra ter garganta assaz profunda. Mais facil que na vulva ou numa bunda, o pau entra todinho: é que, primeiro, penetra até a metade e, então, boeiro se torna a bocca, e nella a rolla affunda. Depois a gente soube que na marra a actriz tinha actuado. O que se nota na hora é a cara agonica, bizarra, carona de coitada, de idiota. Engole exguicho. Muda, nem excarra. Narinas enche o ranho. Mais que chota molhada o suor jorra. Da boccarra excorre baba... e porra, si ella arrocta.
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[6.4] DISSONNETTO DISSOLUTO No filme antigo, a cara dum fulano viril e bigodudo apparescia ao fundo, emmoldurada na bacia, por sobre a qual a tabua fecha o plano. Si alguem alli cagasse, antes que o cano levasse toda a merda, o gajo iria sentir como a materia era macia mas fetida: fedor de gaz methano. Assim que se levanta quem cagara, resurge o rosto, agora recoberto dum liquido que a molho se compara e cheiro tem terrivel, isso é certo. Rirão ainda muitos dessa cara. O rosto exprime expanto no olho aberto: não era liquefeito o que esperara. E a camera o retracta mais de perto.
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[6.5] DISSONNETTO DO FILME CASEIRO O video mostra a cara do refem levando ponctapé dum tennis branco, emquanto uma botina dá-lhe o tranco de sola. Os pés que chutam vão e veem.
[vêm]
Na bocca, o esparadrappo. A voz de alguem mais joven falla rindo: "Inda te arranco o zóio! Por emquanto só te expanco, seu trouxa!" Outro bandido ri tambem. Curioso, ao jornalista mais sabido do caso perguntei. Me disse "Vige!" O tennis, que já está meio encardido, na bocca pisa. A victima se afflige. E, em meio ao riso, escuta-se um grunhido. Fallando no resgate, a voz exige que paguem logo. E o tennis do bandido se affasta antes que alli o comparsa mije.
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[6.6] DISSONNETTO DO CINEMA BLASPHEMO A scena, no cinema, que define melhor o sacrilegio, e que me assomma à mente, é uma visão de Pasolini nos "Cento e vinte dias de Sodoma". Emquanto vi, não vi nada no cine mais sadico: ao banquete, a moça embroma na hora de comer... Você imagine aquillo que se espera que ella coma! É Sade quem tal rango corrobora. Cocô, naturalmente! "Não consigo!", diz ella, e alguem lhe dá o conselho amigo: {Supplique, tenha fé em Nossa Senhora!} A moça, appavorada, appenas ora: "Ah, Sancta Mãe, fazei com que eu consiga!", supplica a voz chorosa e, antes que diga "Amen!", um cocozão ella devora!
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[6.7] DISSONNETTO PARA ALEX Aquelle Alexandrinho teve seu momento mais famoso emquanto estava num palco: do espectaculo o apogeu é quando o filme em close a scena grava. A fim de demonstrar que se rendeu e deve obedescer, o joven lava, usando sua lingua, o que um plebeu nojento e sem escrupulos mandava: "Tá vendo essa botina? Limpe a sola!" No livro o tal solado oppressor fede e sobre sua bocca a bota colla, depois que, ja prostrado, o joven cede. Em jubilo, a platéa delle ri, pois rir dum desgraçado nada impede, emquanto Anthony Burgess faz alli que um ser humano o automato arremede.
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[6.8] DISSONNETTO PARA UMA QUADRILHA JUNINA Pedindo uma canção muito rural, melodica e dansante, Elvis achou aquella que, em seu filme, deu aval total ao pé descalço, e me marcou. Tem nome de "ballada", com o qual não posso concordar, porem dá show de exhibição podolatra: de tal maneira, a repisar no callo estou. Sacando meu sapato, tambem saco, si ponho na canção a confiança, as magoas para longe, e no meu tacco ja volto a confiar, si o pé descansa. Partindo do dedão para o mindinho, o passo meço aonde a perna alcança. Me torno mais folgado, e até expezinho meus odios e rancores nessa dansa.
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[6.9] DISSONNETTO PARA UM HORARIO IMPROPRIO Cansada, foi dormir. Elle queria ficar vendo tevê. Filme de horror. Daquelle que os cabellos arrepia. Mas ella preferira o cobertor. O filme, si passar durante o dia, paresce até comedia. Mas si for ao ar tarde da noite... Uma agonia que faz do masochista espectador. Que falta àquelle quadro tão completo? Em plena madrugada, ella desperta e não o vê na cama! Põe-se allerta, levanta e para a salla vae directo. Que falta, a mim, narrar num dissonnetto? Ligada 'inda a tevê, jaz o marido prostrado no sofá, rosto transido de medo, ja espelhando um eskeleto.
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[6.10] DIRECTOR DA PAIXÃO Si eu fosse o director dum filme sancto, talvez puxasse a braza a tal sardinha. Qual thema prolongava mais um tanto? Qual scena preferencia tinha minha? Ja dei ao que conhesço nota zero. Ninguem emphatizou, na Sancta Ceia, tão demoradamente quanto quero, o affan que "pediluvio" se nomeia. Eu, para cada apostolo, faria que Christo, appós laval-os e seccal-os, beijasse, nos seus pés, alem dos callos, os vãos onde a frieira mais se amplia. Calculem si uns detalhes exaggero! Gastava meia horinha, ou mais de meia, com close e lenta camera, não mero relance, em cada artelho, ou unha, ou veia! Um outro que prefira a cruz, o manto! Que façam muitos filmes nessa linha! Focando os pés do actor, com Christo eu janto e posso completar minha boquinha!
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[6.11] ROPTEIRO ROPTINEIRO Interior. Appartamento. Dia, noite, tanto faz que luz haja. No momento, dorme o cego, e nunca em paz. Exterior. Um forte vento ruas varre e chuva traz. Interior. Trovão. Attento, ouve o cego e immovel jaz. É geral o plano, e aberto: cae a scena como luva. mais ninguem está por perto e se escuta, fora, a chuva. Fecha o plano. O cego sonha que é pisado, tal qual uva. Offegando, em close, bronha toca e um tennis o coadjuva.
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[6.12] AUDIODESCRIPÇÃO DE FILME MUDO A festa está animada. Muita gente chegando. Os trez amigos entram nessa. Na mesa da comida, alguem começa a se servir. Os trez entram na frente. Alguem reclama. Um velho, impaciente, empurra um dos amigos. A travessa de torta outro pegou e ja arremessa na cara delle. O tempo fica quente. Respinga massa numa dama. A dama revida e attira torta noutra. Vira bagunça. Leva torta quem reclama e leva quem se fira, caso adhira. A gente, rindo, lagrymas derrama. Os trez tambem guerreiam. Um attira seu pratto contra os outros. O programma termina assim. Foi tudo de mentira.
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[6.13] BOBAGENS CONSAGRADAS Catholicos duvidam que alguem possa zombar da mãe de Deus, Nossa Senhora, a quem o peccador, em prantos, ora e muita procissão o povo engrossa. Porem o cineasta disso troça, pois vemos um actor, quando decora dialogos, sorrindo: é que, na hora do expanto, encontra escripto "Minha nossa!" Roptina nas dublagens, essa linha traduz nossa pobreza creativa. Pergunta-se: affinal, a "nossa" é "minha" appenas, ou a "minha" é collectiva... A poncto de ser "nossa" essa abobrinha? Si digo "Nossa minha!", alguem me criva de appartes e quinaus, mas não me vinha ninguem antes gastar nisso a saliva!
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[6.14] TOLETE NO BANQUETE Não ha scena mais torpe, em todo o cine, que aquella do banquete sadeano no filme que o camufla de italiano: "Salò", na direcção de Pasolini. Quem são os commensaes? Ha quem opine que está representado alli, com panno de fundo antifascista, esse mundano estrato social que o cu define. De merda elles se servem! Satanaz veria com prazer essa nojenta sequencia coprophagica e mordaz que estomago quem só tem forte enfrenta. Convem mais um porem dar, aliaz. Si alguem comer aquillo não aguenta, commenta outro conviva: "É facil! Faz pedido à Virgem Sancta! Reza e tenta!"
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[6.15] EMMA, A DIRECTORA DE CINEMA Agguarda-se, com grande exspectativa, o filme de Emma Thomas, a famosa e extranha directora, que não goza de muita sympathia collectiva. Appenas um fanatico se priva de algum outro lazer, a ver quem posa de estrella nessa fita indecorosa, que come, em scena, até baratta viva! Discipula será? Zé do Caixão desmente e mais da midia aguça a sanha. Criticam, mas o facto é que uma aranha gigante andam creando, com paixão. Ainda não se sabe si essa extranha senhora mostrará no filme, ou não, a scena atroz dum parto bem podrão: nenen não ganha a actriz, aranhas ganha!
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[6.16] CANOS DE EXCAPPAMENTO A actriz, antigamente, no cinema, fumava com total obstentação. Suppunha-se elegante usar, então, isqueiros como joias, sem problema. Me lembro duma scena: com extrema pericia, solta a actriz do narigão fumaça, feito um comico dragão, dum forno, a chaminé, que corpos crema. Quer seja elegantissimo ou plebeu, tal habito fajuto me paresce. Cigarro jamais garbo à mulher deu. Fingiam, só, que dava. "Si quizesse... Fumar, fumasse!", alguem ja concedeu. Não julgo nenhum vicio, mas não desce o odor que Hollywood, então, vendeu, de fumo perfumado... Charme? Exquesce!
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[6.17] NOITE SOB AÇOITE {Pensei commigo, Glauco: um bom tesão seria açoitar, como foi Jesus surrado, mas tambem, como suppuz, cegal-o ja durante essa sessão. No filme do Mel Gibson, elles vão battendo até que um olho perde a luz, vazado pelo relho. Sua cruz podia ser assim, não é, Glaucão? Que tal, hem? Ser cegado como Christo! Si elle sobrevivesse, poderia tornar-se escravo desses que, no dia da surra, deleitavam-se com isto!} -- De facto. Ja seus pés eu tendo visto emquanto da chibata padescia, depois de cego os paus eu chuparia. Em sonho, só, taes rollas eu enristo...
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[6.18] INIMIGO INVISIVEL É como um filme, desses de terror. Me lembro dum chamado, acho que "Enigma de Andromeda". A acção rolla toda em cyma dum microorganismo, ou o que for. O ser humano é minimo. Urdidor de engenhos scientificos, se estima accyma da bacteria, duma enzyma. Se julga aos outros bichos superior. O virus, microscopico, é maior que nós, mas invisivel. Tem coroa, pretende, sim, reinar, cada pessoa de subdito fazer, sempre em redor. Nos ronda. Nem siquer sabe de cor aquillo que nos arda, que nos doa. Sim, somos vulneraveis, mas à toa não cremos, não creamos Baccho, ou Thor.
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[6.19] HASHTAG CADÊ A GRAVAÇÃO Conversa não Eu quero ver que tudo foi alguem vel-o
tem, Glauco! Quero prova! imagem! Você diz filmado quando quiz lamber ou levar sova!
Allega que lambeu bota, que nova nem era, mas bem suja; que gentis os gajos nunca foram; que infeliz foi nisso. Pois vejamos si comprova! E então? Que lhe dizia quem filmou? O filme não tem audio? Ora, Glaucão! Puzeram no logar uma canção com lettra que incentiva quem pisou? Assim não addeanta! Tambem dou risada de você, seu bobalhão! E todos gargalhadas mais darão si virem seu papel triste no show!
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[6.20] AGONISTA Sardinhas todos puxam para o lado que querem, mas, Glaucão, exaggeraste! Sansão ja, no cinema, como um traste por Cecil B. De Mille é retractado! Ainda nos quarenta, resultado pomposo o filme teve! Que te baste não fez o director grande contraste com esse millennar texto sagrado? No filme, foi Sansão bem humilhado depois de cego, Glauco! Delle ria o povo philisteu! Que mais queria o publico? Não foi de teu aggrado? Entendo... Tu querias que, coitado, o cego rastejasse, que lambia o chão saber querias! Agonia tamanha, nem em Milton! És damnado!
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[6.21] NUPCIAS DE LAMA Ouviu fallar, Glaucão, desse nojento exemplo do cinema alternativo? Um gajo porco come merda ao vivo! E merda duma porca, cem por cento! Uma audiodescripção, Glauco, nem tento fazer, mas de contar-lhe não me privo! Casar-se quer o gajo, num festivo chiqueiro, com a porca! Que jumento! Na lama se exparrama ja com ella! Com ella tem leitões, em filharada! A porca, que tambem appaixonada está, bem ciumenta se revela! No fim, ha mortandade! Mortadella não viram os leitões, mas morre cada nas mãos do seu papae! Desesperada, a mãe morre! Elle enforca-se na tela!
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[6.22] PORNÔ PORCO Fiquei sabendo, Glauco, que ja rolla até filme pornô voltado para pessoas cegas, visto terem tara ainda insatisfeita! Te consola? Tem audiodescripção, conforme eschola testada por normaes, que se compara ao clima da chochota pela vara a fundo penetrada! Achas que colla? Entendo... Faltará nesse mercado teu gosto mais commum, mas exquisito demais aos meus padrões! Teu requisito exige masochismo refinado! Terão que produzir um filme sado que tracte quem é cego no que evito fazer comtigo, mesmo si eu imito quem zomba dum Sansão recem cegado...
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[6.23] MERCADO SADO Mas, Glauco, você está muito exigente! Um cego pornofilmes nunca tinha com audiodescripção! A calhar vinha que tenha, agora, aquillo pela frente! Porem, excolher algo differente da transa mais commum, ah, não convinha a quem vende productos nessa linha! Seu tempo perderá, Glauco! Nem tente! Magina! Quer você pornographia de sadomasochismo com actor que, cego, no papel dum inferior esteja? Quem tal filme curtiria? Pensando bem, talvez a maioria dos normovisuaes veja, si for visada com olhar consumidor, um filme em que o ceguinho se fodia...
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[6.24] BASSETHECA Os videos no youtube mostram scenas incriveis de basset, Glaucão, em tudo mettendo o narigão, um abelhudo fuçando em nossas vidas, às dezenas! Eu fui colleccionando, não appenas aquellas, mas até com filme mudo, caseiro, onde esse fofo salsichudo nos mostra as taes orelhas, não pequenas! Basset se encontra, Glauco, nesta vida, andando até de skate ou, pela praia, surfando, sem da prancha que elle caia! Fará tudo, bastando que decida! Comtudo, si fallarmos de comida, lhes mostrem a linguiça que, na raia, capaz é de correr! Não ha o que attraia melhor esse saphado! Quem duvida?
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[6.25] A EDADE DO OURO Poeta, a ver acaso tu chegaste, em L'AGE D'OR, o gesto "charidoso" que indica Buñuel, em accinctoso delirio, como comico contraste? Concordo que um nonsense 'inda não baste de todo p'ra affirmar que teve gozo ou paga alguns tributos ao Tinhoso no tracto do ceguinho como um traste... O facto é que, no filme, o cego leva no peito uma solada caprichada a fim de que se exfolle na calçada, aos pés dum aggressor que se lhe eleva! Achaste natural que quem na treva está levar meresce, sim, de cada passante sorridente essa pernada? Razão tens: Buñuel nada releva!
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[6.26] FURIA CEGA (I) Eu vou abrir o jogo, tomar no cu! Fizeram mostrar que um heroe a um outro qualquer!
Glauco! Vão filme para cego se compara Não, commigo não!
O cego usa a bengala qual bastão, accerta a bordoada bem na cara daquelles que curtiam uma tara propicia dum cegueta à zoação! Si eu fosse director daquella droga, fazia a turma toda revidar a audacia do cegueta! Ahi, azar do gajo, que perdão ja pede e roga! A turma, ahi, mantem bem a lei de quem mais pode! lamber uns tennis, antes cannellas, esse cego que
firme em voga Irá beijar, de esticar se arroga!
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[6.27] FURIA CEGA (III) Um primo meu commigo sempre via o filme FURIA CEGA, mas a gente torcia para aquelles que, na frente do cego, o bullyingavam todo dia! Achavamos que um cego jamais ia ter forças para agir, ser tão valente assim, poder vingar-se! Mais contente a gente ficaria si elle enfia! Devia, sim, Glaucão, sua bengala mettida no cuzão ser! Mas, primeiro, o cego chuparia, chupeteiro seria dos moleques, esse mala! Quem é que tal heroe, que não se eguala aos normovisuaes, como parceiro encara? Não! Jamais um justiceiro engulo si for cego! Serio falla!
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[6.28] EM SCENA SEM PENA Assim! Agora fica assim, até que eu filme, nesse piso, o teu rastejo! Rasteja mais, ceguinho, pois, sem pejo, filmar-te quero! Beija, aqui, meu pé! Teu riso para a camera, sim, é ironico o bastante! Eu, que bem vejo, irei satisfazer o meu desejo de rir dum cego, nelle dar olé! Agora vaes comer esse cocô ahi, nessa tigella à tua frente! Rasteja! Pelo cheiro um cego sente que está ja bem pertinho delle, pô! Sentiste? Então performa teu pornô papel! Ora, abbocanha! A minha lente bem capta a porca scena de teu dente mordendo o meu cocô! Come, vovô!
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[6.29] CEGUEIRA PRAZENTEIRA (I) Que tal, Glauco, uma scena do ominoso A SERBIAN FILM, hem? Nessa, a gente vê alguem que enxerga, afflicto! Está à mercê dum gajo de pau duro! Ouviu, Mattoso? Tão duro, o pau do gajo, que damnoso se torna si pressiona... Sabe o que? Os olhos do outro cara, até que dê nos nervos de quem nisso não tem gozo! Occorre que quem mette seu pau visa cegar mesmo o subjeito! O pau se enfia até que ja não veja a luz do dia um olho que se vaza! Alguem reprisa? Tesão egual não ha, pois fura, à guisa de espeto, um pau aquillo que antes via e logo não verá nada! Sacia tal scena, Glauco, ou falta alguem que pisa?
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[6.30] TORTURA JAPONEZA (II) Em outro filme, está bem admarrado o gajo que lynchado ja será! Da gangue japoneza alguem lhe dá innumeros pisões de todo lado! Precisa ver, Glaucão! Do seu aggrado seria aquelle lance em que elle está de cara ante excarninho tennis, la não muito branco, um tanto detonado! Em close, esse pisante era do cara que fora seu rival e namorara a mesma companheira! Assim, iria vingar-se e, ciumento, o cara ria! Os chutes se succedem! Na agonia, aquelle condemnado viu a fria risada do rival, de cuja tara foi victima, ao beijar a sola amara!
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[6.31] PURAS POSTURAS Divine ja comeu, em plena rua, a bosta de cachorro que eterniza o filme de John Waters, e precisa ver como come, mesmo, como actua! Mas ella foi audaz, naquella sua loucura vanguardista. Alguem, à guisa de artista performatico, reprisa aquillo que ella fez? Quem não recua? Um cego que conhesço fez aquillo, mas teve que fazer, mesmo, na marra, forçado a collectar, com a boccarra, cocôs pela calçada, sem vacillo! E sabem quem forçou? O mais tranquillo e firme defensor de quem a barra enfrenta da cegueira, como narra alguem que compartilha meu estylo.
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[6.32] O CEGO E OS CAPITÃES (I) Está LOS OLVIDADOS numa minha banal filmographia da cegueira, pois acho natural que a gangue queira visar um pobre cego, que expezinha. Tocar seu instrumento o cego vinha na praça. A molecada brincadeira fazia, perturbando a violeira performance, de resto bem fraquinha. O cego reagia: de bengala em punho, golpeava às tontas, mas a gangue era peor que Satanaz. Difficil com taes golpes affastal-a. Aquillo promettia. Si filmal-a eu fosse, esses pivetes de tão más tendencias pisariam, como faz commigo, bem no rosto, um Pedro Balla.
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[6.33] SERMÃO DO PERDÃO A camera, que estava ja ligada, gravou quando o pastor exbofeteia a propria mulher, antes que, por meia horinha, aos crentes falle e persuada. Em outro video, o mesmo gajo, nada notando que gravavam, nem refreia um peido barulhento, que empesteia a salla ao seu sermão appropriada. Depois da bofetada, appós seu tão fedido peido, o riso do pastor invade toda a tela, faz suppor que sempre traz Jesus no coração. Ouvi, Glauco, o pastor dizer: "Irmão, entendo que por dentro sintas dor, entendo que te irrites, mas, si for possivel, não te exquesças do perdão!"
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[6.34] MONACHAL BACCHANAL Bombava a sacanagem no cinema. No filme do pornographo italiano, os monges se consagram no prophano e sempre essas "virtudes" são o thema. É disso que um devoto mais se occupa. Alumna de piano, a nymphetinha seduz seu professor e o pau lhe chupa. Alli, quem, affinal, desencaminha? Flagrado, o mestre à cella commum vae. Interna-se a donzella num convento. Será "purificada" sob um bento pretexto: expiação... Pae, perdoae! Ninguem melhor que um frade, em transe, "estrupa". Sim, elles lhe penetram a boquinha, flagellam-lhe a bundinha... Em catadupa jorrou a porra... O penis ia e vinha. Quem queira dirigir assim, não tema! Exbanja o director primeiro plano e close, em sua offensa ao Vaticano. Catholico ou não, cada actor que gema!
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[6.35] O SADISMO DO OLHO (I) Estou finalizando o meu ropteiro e quero que você, Glauco, confirme si está, mesmo, de accordo com meu firme proposito de expol-o por inteiro. Ao publico, o que é falso ou verdadeiro em duvida estará, mas divertir-me pretendo: em meu poder, você servir-me irá como cobaya, ao tacto, ao cheiro. Um cego, ao ser exposto, é masochista. Eu, como director, quero que sinta a minha auctoridade e não resista. Eu quero carregar, mesmo, na tincta. Que sua carapuça, agora, vista! Curioso é ver que alguem menos de trinta tem... que outro, de sessenta, sem a vista ficou e em cumprir ordens taes consinta.
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[6.36] O SADISMO DO OLHO (II) Confirmo: estou de accordo. Ser exposto num filme, para um cego, é como estar na jaula dum zoologico, em logar do exotico animal, a contragosto. Mas, mesmo assim, concordo em pôr meu rosto na frente duma camera, em fallar aquillo que mandarem, em meu lar deixar que invadam, como foi proposto. Terei, ja sei, que usar a lingua, a mão, o corpo, em summa, como ferramenta do sadico capricho dum mandão que scenas degradantes sempre inventa. Ao publico, obviamente, é diversão. Calculo o que você, rapaz, intenta fazer commigo... As ordens me serão mais duras: sou mais velho, aos meus sessenta.
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[7] SCENAS EXTRAS [7.1] PÉ NO SACCO E PONCTO FRACCO Diego, um amigão que dicas dá de filmes onde um cego é confrontado com sua actual crise de autoestima, me conta que, em "Perfume de mulher", um typo gozador joga na cara do cara a situação com bom humor: "Talvez Deus ache mesmo que tem gente aqui que não meresce enxergar, hem?" No filme, quem ficou cego reage na base da porrada, mas eu não. Reajo, dependendo do que está em jogo, de dois jeitos. Si o folgado que disse aquillo falla mal da rhyma que emprego ou duma metrica qualquer que excolho, si vulgar ou si mais rara, a minha reacção é de rancor profundo: sobre o typo certamente tal praga jogarei que, la do Alem, tambem uma desgraça, algum ultraje egual, vae soffrer esse folgazão.
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Comtudo, si o folgado toca la no poncto meu mais fracco, me degrado inevitavelmente. Caso accyma dum cego se colloque, si quizer fallar de raras cores, só me azara os brios. Nesse caso, dou louvor ao typo. Me rebaixo, à sua frente me prostro, o pé lhe lambo, chupo sem pudor a sua rolla. Serei lage de appoio à sua sola, serei chão.
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[7.2] MADRIGAL AUCTORAL O filme sobre um cego não será real si não deixar impressão má daquillo que passou e passará. Si eu fosse director do filme, assim o titulo seria, certamente: "Não volto, não, sozinho!" Para mim, um bullying não será sufficiente. O drama dum ceguinho não tem fim, por mais empoderado que elle tente suppor que seja. A sorte é tão ruim que annulla seus intentos de ser gente. Ha casos similares, dos quaes vim a ouvir a descripção: o cego sente na pelle, não appenas no latim, o que é ser, na cegueira, adolescente. O gajo soffre mesmo! Por tintim contei, nos meus sonnettos, sobre a mente de quem o curra, como um tal Pedrim currado foi. Mas falta-lhe uma lente. Proponho que alguem filme tudo, emfim, que aqui, em peripheria tão carente, se passa. Não somente quando "Sim!" lhe diz o namorado, outro innocente.
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[7.3] OBSOLETA BOCETA (para Diego Tardivo) Amigo meu diz: "Para que boceta, si tem filmes pornôs e tem punheta?" Quem vive solitario certamente concorda, punhetando-se contente. Nem todos que concordam, todavia, appenas quererão pornographia. Não fazem mais questão de penetrar, mas querem quente imagem no logar. Se tornam voyeuristas, mas não basta aquillo que ja choca a mente casta. Precisam ver tortura, sangue, morte em scena realista, clara, forte. Alguem mais solitario em desvantagem está, pois muitos traumas o coagem. É o cego, que ja fora voyeurista mas hoje só saudades tem da vista. Si fosse masochista, que nem eu, teria qual proveito de seu breu? Suggiro-lhe: imagine-se a mercê daquelle que bem vive e que bem vê. Jamais penetrará, mas sua bocca, por sua vez, não ia ficar oca. Teria que chupar, mas não appenas chupar: engoliria a duras penas. Peor: nem poderia ver a cara, o corpo de quem nelle penetrara. Na certa, si masoca, gozará, mas 'inda, a alguem que assiste, gozo dá. Um outro voyeurista, ao ver a scena, gozou duma cegueira tão obscena. Assim, não é por falta de motivo que somos pouco castos, diz Tardivo.
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[7.4] MATTOSO VAE À GUERRA Vocês acham difficil hoje, então, haver algo na vida que emocione o publico cinephilo? Ver vão no filme esse soldado, o tal de Johnny! Tornou-se um "homem-tronco", de explosão nos membros mutilado! Condicione um homem a viver quem vê que não enxerga nem mais falla ao telephone! Pensei no caso delle, que queria exposto ser num circo, onde o povão iria divertir-se na alegria de estar bem livre dessa posição... Me vi no seu logar! Maior orgia, porem, imaginei... Todos estão pisando no cegueta! Alguem enfia o pau na minha bocca! Que tesão! Ser util eu podia, sendo, alem de cego, um alleijado! Sem a mão, massagem não farei mais em ninguem, mas posso trabalhar na fellação! Na bocca aguento foda de quem tem, sujissimo, um fedido caralhão! Contorço-me, suffoco-me, e me vem a porra bocca addentro! Que sessão!
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[7.5] MONIKA NIPPONICA {Coitada da japinha, Glauco! Alem de ser treinada para chupar, ella precisa se deixar filmar chupando caralhos ensebados! Você falla, naquelles seus poemas, do sebinho, mas tinha que ver como foi sebão aquillo que lambeu a tal japinha! Às vezes foi vendada, como cega chupou. Em outros videos, vendo tudo estava. Mas, Glaucão, eu nem lhe conto o quanto que ficou accumulado o sebo, typo coco ralladinho cobrindo toda a glande! A japa cheira, recua, mas accaba se exforçando e limpa aquillo tudo com a sua linguinha japoneza, Glauco! São diversos videos, pena que você não pode conferir... Que lhe paresce?}
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-- Paresce-me que fazem muito bem focando tantos filmes na amarella camada que esse esmegma vae formando. Mas, quanto à japoneza, de senzala jamais vae precisar, pois com carinho practica tudo quanto, no Japão, se exige da mulher. Segue essa linha sem ter, socialmente, tal entrega exposta. Bem discreta, sempre mudo é seu comportamento. Dou descompto aos videos, que exaggeram, por seu lado, na linha pornographica. Sublinho, porem, que eu, como cego, da cegueira fiz uso, ou me fizeram. Ao commando cruel obedesci. Quem prostitua a bocca me entender consegue, tão commum é ver, chupando, quem não vê. Estar no logar della... Ah, si eu pudesse!
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SUMMARIO [1] CYCLO "O CINEPHILO ECLECTICO"..........................9 [1.1] DISSONNETTO DO FILME DE SUSPENSE.....................9 [1.2] DISSONNETTO DO FILME DE ACÇÃO.......................10 [1.3] DISSONNETTO DO FILME DE COMEDIA.....................11 [1.4] DISSONNETTO DO FILME DE FICÇÃO SCIENTIFICA..........12 [1.5] DISSONNETTO DO FILME ROMANTICO......................13 [1.6] DISSONNETTO DO FILME DE TERROR......................14 [1.7] DISSONNETTO DO FILME DE ARTE........................15 [1.8] DISSONNETTO DO FILME DE ARTES MARCIAES..............16 [1.9] DISSONNETTO DO FILME HISTORICO......................17 [1.10] DISSONNETTO DO FILME MUSICAL.......................18 [1.11] DISSONNETTO DO FILME DOCUMENTARIO..................19 [1.12] DISSONNETTO DO FILME IMPRESSIONISTA................20 [1.13] DISSONNETTO DO FILME EXPRESSIONISTA................21 [1.14] DISSONNETTO DO FILME POLICIAL......................22 [1.15] DISSONNETTO DO FILME PORNÔ.........................23 [1.16] DISSONNETTO DO FILME GAY...........................24 [1.17] DISSONNETTO DO FILME MARGINAL......................25 [1.18] DISSONNETTO DO FILME MUDO..........................26 [1.19] DISSONNETTO DO FILME PUBLICITARIO..................27 [1.20] DISSONNETTO DO FILME DE ANIMAÇÃO...................28 [2] CYCLO "GEMMAS DO CINEMA"..............................29 [3] CYCLO "SUCCO BUCCOCOMESTIVEL".........................35 [4] CYCLO "BULLYINGUEIROS DA CEGUEIRA"....................42 [5] CYCLO "CEGADINHAS PEGADINHAS".........................49 [6] CURTAS CURTIÇÕES......................................55 [6.1] DISSONNETTO MASSACRADO..............................55 [6.2] DISSONNETTO ROBOTIZADO..............................56 [6.3] DISSONNETTO LUBRICO.................................57 [6.4] DISSONNETTO DISSOLUTO...............................58
[6.5] DISSONNETTO DO FILME CASEIRO........................59 [6.6] DISSONNETTO DO CINEMA BLASPHEMO.....................60 [6.7] DISSONNETTO PARA ALEX...............................61 [6.8] DISSONNETTO PARA UMA QUADRILHA JUNINA...............62 [6.9] DISSONNETTO PARA UM HORARIO IMPROPRIO...............63 [6.10] DIRECTOR DA PAIXÃO.................................64 [6.11] ROPTEIRO ROPTINEIRO................................65 [6.12] AUDIODESCRIPÇÃO DE FILME MUDO......................66 [6.13] BOBAGENS CONSAGRADAS...............................67 [6.14] TOLETE NO BANQUETE.................................68 [6.15] EMMA, A DIRECTORA DE CINEMA........................69 [6.16] CANOS DE EXCAPPAMENTO..............................70 [6.17] NOITE SOB AÇOITE...................................71 [6.18] INIMIGO INVISIVEL..................................72 [6.19] HASHTAG CADÊ A GRAVAÇÃO............................73 [6.20] AGONISTA...........................................74 [6.21] NUPCIAS DE LAMA....................................75 [6.22] PORNÔ PORCO........................................76 [6.23] MERCADO SADO.......................................77 [6.24] BASSETHECA.........................................78 [6.25] A EDADE DO OURO....................................79 [6.26] FURIA CEGA (I).....................................80 [6.27] FURIA CEGA (III)...................................81 [6.28] EM SCENA SEM PENA..................................82 [6.29] CEGUEIRA PRAZENTEIRA (I)...........................83 [6.30] TORTURA JAPONEZA (II)..............................84 [6.31] PURAS POSTURAS.....................................85 [6.32] O CEGO E OS CAPITÃES (I)...........................86 [6.33] SERMÃO DO PERDÃO...................................87 [6.34] MONACHAL BACCHANAL.................................88 [6.35] O SADISMO DO OLHO (I)..............................89 [6.36] O SADISMO DO OLHO (II).............................90 [7] SCENAS EXTRAS.........................................91
[7.1] [7.2] [7.3] [7.4] [7.5]
PÉ NO SACCO E PONCTO FRACCO.........................91 MADRIGAL AUCTORAL...................................93 OBSOLETA BOCETA.....................................94 MATTOSO VAE À GUERRA................................95 MONIKA NIPPONICA....................................96
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES
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