O CORNO MANSO

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O CORNO MANSO



Glauco Mattoso

O CORNO MANSO

São Paulo Casa de Ferreiro


O Corno manso © Glauco Mattoso, 2023 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ______________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ______________________________________________________ Mattoso, Glauco O CORNO MANSO/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023 82p., 14 x 21cm CDD: B896.1 - Poesia 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.


NOTA INTRODUCTORIA Ensaio que escrevi ja reunia poemas onde fallo desses homens trahidos por esposas, namoradas, amantes ou amadas, geralmente na cara, na presença delles proprios. Por serem mui diversos e frequentes os casos desse typo, os abbordei aqui, neste brevissimo volume. Irão os mais masocas entender meu lado, que se irmana ao de milhões de cornos assumidos por ahi.



PRIMEIRA PARTE SARDONICOS RICARDONICOS Ao termo “ricardonico” recorro, de forma prototypica, ao tractar dos mais adulterinos casos, mas tambem desses triangulos nos quaes um corno manso occupa seu logar de escravo do rival que, com a amada, na frente delle transa da maneira mais cynica, mais sadica, mais bruta. De emblema vem à mente facilmente o caso que, em Masoch, à Wanda dá direito de emprestar seu Severino ao grego que, empunhando uma chibata, irá disciplinal-o, ja ammarrado, ainda que este esteja aquillo contra. Na nossa poesia vejo uns casos curiosos. Por exemplo, o de Glauceste, pseudonymo de Claudio Manuel da Costa, assim narrando, num sonnetto, as suas mais frustradas pretensões: SONNETTO DE GLAUCESTE SATURNIO Não te cases com Gil, bella serrana; Que é um vil, um infame, um desastrado; Bem que elle tenha mais devesa, e gado, A minha condição é mais humana. Que mais te pode dar sua cabana, Que eu aqui te não tenha apparelhado? O leite, a fructa, o queijo, o mel dourado; Tudo aqui acharás nesta choupana: Bem que elle tange o seu rabil grosseiro, Bem que te louve assim, bem que te adore, Eu sou mais extremoso, e verdadeiro. Eu tenho mais razão, que te enamore: E si não, diga o mesmo Gil vaqueiro: Si é mais, que elle te cante, ou que eu te chore.

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Me inspira tal sonnetto os dois momentos nos quaes a situação assim reli: DISSONNETTO DA MORTE DE CLAUDIO MANOEL DA COSTA [1789] Ao passo que outro cumplice, Thomaz, seria o tal Dirceu, o pastoril Glauceste foi Saturnio, e dum rapaz teria seus ciumes, o tal Gil. Pedia à sua musa: “Não me vás casar com esse Gil!” Porem o vil rival à moça taes promessas faz que o pobre do Glauceste está febril. Emfim, reconhescendo que o rival, que é bemdotado e se acha mesmo o tal, lhe toma a musa e inflige-lhe o esculacho, Glauceste, na peor cara de tacho, se queixa e diz que chora: o outro que ria! Até paresce um Glauco, que lambia a bota de quem fosse bem mais macho, servindo-lhe de misero capacho.

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DISSONNETTO DA DECLARAÇÃO [0741] Te peço em casamento, amada minha, e espero que com outro não te cases. Bem sei que te cortejam mais rapazes e um delles a pedir-te se encaminha. Arrasto a teus pezinhos uma asinha faz tempo, mas cachorro de mim fazes. Terei de ouvir tambem risonhas phrases do masculo rival que me expezinha? Eu te amo, e accaptarei tua vontade! Ainda que o prefiras, sigo sendo teu servo, e farei tudo que te aggrade. Mas elle ja me disse: “O que pretendo é ter-te sob a sola e, sem piedade, pisar-te!” Si assim queres (Ai!), me rendo! Mal posso suppor que esse rival ha de pisar-me, si nem mesmo me defendo…

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Delphino, outro poeta que me inspira, assim descreve sua frustração e sua ardente inveja do rival em versos que reli desta maneira: A VALSA (Luiz Delphino) Move-se, treme, anxeia, empallidesce, Cae, agoniza; accaba-lhe nos braços: Resfolga, arqueja, torna, reapparesce, Solda-lhe o seio, a bocca, as mãos, os passos… Gyra, volta, circula… Os olhos lassos Teem langue, molle, voluptuosa prece: A fronte branca ao collo delle exquesce… Aptam-lhe as carnes invisiveis laços… Na salla, a um vão, inquieto a vejo… e o vejo! Soffrer?!… não sei… mas toma-me um desejo, Ao ver um só nos dois, o par enleado… Rojar-me ao chão, à terra de repente, E nas voltas daquella valsa ardente Morrer em baixo de seus pés calcado!

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DISSONNETTO RECALCADO [0515] Valsando vê Delphino a sua amada com outro, em cujo peito ella se appoia. Vestida em panno fino, ornada em joia, a dama lembra a celebre enteada. Seu par, como na historia das de fada, de principe se faz e reconstroe-a. Delphino, victimado na tramoia, appenas presencia e se degrada. Na salla ninguem nota-lhe o despeito. Consome-se o poeta e, mentalmente, se põe no meu logar e age a meu jeito: Abjecto, sob o olhar de toda a gente, aos pés do astral casal no chão me deito e o macho é quem me pisa, sorridente, tirando do meu drama seu proveito, seu salto nos meus labios, inclemente.

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RECALCADO? [9515] Não, Glauco! Que enrustido foi Delphino não tenho qualquer duvida! Sinão, vejamos: o subjeito observa a amada dansando com um outro, mas não pensa appenas que ella pode pisar sobre seu corpo, si cahir aos pés do par! Sim, sente-se pisado pelos dois! Os pés do Ricardão serão maiores, não acha, menestrel? Hem? Que enrustido!

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Ciumes duma amada, si exsistir somente platonismo, ja corroem os brios de qualquer poeta amante. Trahido ser por ella, ainda quando appenas se namoram, outra coisa será, mais dolorosa. Mas si estão casados e ella bota chifre nelle, ahi peora a coisa gravemente. Peora mais ainda si elle sabe, si tudo presencia, sem fazer nadinha, só servindo de capacho, chinello para aquelle Ricardão. Mas, quando ja perdeu a vista seu marido, o caso ganha proporções crueis. O Ricardão transar com ella, do cego na presença, ahi será demais, mesmo, da compta, mas é coisa que pode succeder perfeitamente, tal como meus sonnettos corroboram. Vejamos alguns casos, começando por este, que emblematico se fez: DISSONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440] Amigo meu, que é corno, justifica: “Melhor é dividir a doce canna do que chupar sozinho a mexerica azeda…” E assim, sorrindo, elle se damna! E quanto à tal doçura? Chupa a picca dos dois? E chupará com egual gana? Eu ca ja sou mais practico: quem fica com ella é meu rival, que é mais sacana! Assumo, alem de corno, que sou macho de menos: pangaré frente ao cavallo. Por isso que, antes della, ja me aggacho, tractando de chupal-o e preparal-o! Depois de desfructal-a, satisfeito, e vendo que fui feito de vassallo, o cara ‘inda me manda, que eu acceito, servir-lhe um cafezinho no intervallo…

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Tambem um caso destes me instigou: TRIANGULO ESCALENO [6539] Ai, Glauco, minha esposa me corneia! Você nem imagina a minha birra! Meu pincto nem mais brocha: até ja myrrha! Mas não posso culpal-a, Glauco, creia! Mal saio, um Ricardão de cara feia e enorme pau na chota della expirra a porra! Minha raiva mais se accirra! Mas não posso culpal-a, Glauco, creia! Um dia, até chegou, de bocca cheia, fallando o Ricardão na minha cara que gosta que ella chupe sua vara! Mas não posso culpal-a, Glauco, creia! Me explico: elle entendeu que me tonteia aquelle seu chulé, pois tenho tara podolatra! Assim, tudo se excancara! Emquanto o casal fode, eu cheiro a meia!

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Alguns infinitilhos fiz. Num delles respondo dessa forma a quem confessa que corno se tornou e ja frequenta um desses bares typicos da scena: BAR DOS CORNOS (1/2) [8076] (1) {Fui, Glauco, corneado! Você nem calcula a minha raiva, as minhas magoas! O gajo que ficou com minha mina às vezes me encontrava. Appenas ria da minha cara, como si dissesse: “Vem ca lamber meu tennis! Hem, que tal? Emquanto tua mina aqui me chupa, tu lambes o meu tennis!” Glauco, não supporto ser assim tão humilhado! Passei a frequentar aquelle bar aonde vão só cornos. Que tristeza no rosto dos rapazes que em bebida affogam-se, Glaucão! É deprimente! Até que, certa noite… Quem eu vejo entrando no local? O mesmo typo marrento, tambem elle corneado! Você não é capaz de calcular o riso radiante de euphoria na minha bocca, Glauco! Destoei alli de todo mundo, mas na certa alguem comprehendeu minha alegria, não acha? A vida voltas dá, Glaucão!}

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(2) -- Sem duvida. Tambem ja fui refem da fossa. Superei passadas aguas depois de muito choro. Contamina a nossa dor algum local, de dia, banal, porem à noite só de estresse lotado, só p’ra cornos um local propicio. Todo mundo se preoccupa, alli, com algum caso de paixão frustrada. Mas tambem rolla algum lado hilario. Houve commigo um similar. Um gajo muito myope, numa mesa, queixava-se com outros dessa vida malvada. Mas eu entro de repente e, vendo-me infeliz, teve desejo de rir da minha cara. Participo, portanto, dessa scena, não me evado da mesma situação. Todo logar assim nos une a todos, empathia provoca, seja macho, seja gay quem soffra a rejeição que nos apperta de dor o coração. Que bom seria ter bares taes em cada quarteirão…

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Agora alguns exemplos onde estou no posto do ceguinho corneado ou quando ouço um amigo que me conta as suas desventuras conjugaes: OTHER GUY [7027] Mais tragica, ao ceguinho, qual inhaca? Casar-se com esposa que, sapeca, com outro gajo, macho paca, pecca na sua frente e tudo o cego saca! Alem de ser chamado de babaca por elle, sente cheiro da cueca do cara, até da meia! Si defeca, tambem sente fedor da sua caca! Peor ainda! Aggrava aquella zica o cego ser chamado de boboca e, embora aquillo choque quem se choca, chupar do Ricardão a suja picca! Qual cego assim se ferra? Dou a dica: eu mesmo! Nem você, que se colloca na pelle dum fatidico masoca, supporta, Glauco, um desses! Mas se explica!

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ZIQUIZIRA [7028] Conhesce, cara, alguma ziquizira peor que ser um corno, sendo cego? Pois esta cruz fatidica carrego! Sim, minha esposa affirma que é da lyra! O gajo, sem reservas, chega, tira o tennis, tira a meia! Ja me pego sentindo o seu chulé! Mas não sossego! Abusa de mim, elle, sim! Confira: Alem de fornicar, na minha cara, com ella, põe bem alto o som mais brega, me força a amar aquillo, me pespega tabefes si reclamo que me enfara! Ainda mais, Glaucão! Elle compara um cego com um bicho! Sempre exfrega o pé na minha cara! Quem se nega a delle levar ferro mais se azara!

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AMANTE CAPTIVANTE [7029] Mais este ingrediente quero pôr no scenario que, infeliz, um cego vive. Casado ja, Glaucão, -- Verdade! -- estive e fez minha mulher de mim um corno. Peor! Si não bastasse esse transtorno, virei do gajo um servo que, inclusive, seus pés massageava! Que declive! Um clima decadente e sem retorno! Sim, antes de trepar com a putana com quem, desadvisado, me casei, o gajo me chamava até de gay, mandava descalçal-o! Que sacana! Não acha, Glauco, um drama aquella insana e extranha relação? Mas me livrei! Agora da massagem sou o rei, mas só si elle me paga alguma grana!

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NA MÃO DO RICARDÃO [7030] Ser corno, sendo cego, vate, é barra! A gente se rebaixa até demais! Alheia ao nosso azar, aos nossos ais, a puta com qualquer gajo se exbarra! Atturo um Ricardão que ja, na marra, me manda descalçar descommunaes sapatos, botas, tennis e demais calçados! Nem siquer os desammarra! Alem de descalçal-o, Glauco, tenho que meias retirar de pés suados, grudadas e fedidas! Seus cansados pés ‘inda massageio com empenho! Você diz que me inveja? Ah, não! Ferrenho seria ao castigal-o um desses sados! Melhor imaginar que são meus dados veridicos, gozar com seu engenho!

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Em outro texto desta collectanea citei mais um, o “Fado de casado”, tractando de tão typico onanismo. Eis como me imagino, si marido eu fosse de mulher que me trahisse com outro, mais saudavel, mais potente, mais macho, resumindo o que excitante se torna para muitos que conhesço. No livro PROMPTOS PONCTOS ja narrei, por outro lado, o caso duma amiga, Maria Apparescida, que trahiu seu manso maridão, um escriptor. São factos mui communs, mas poucos são em versos ou em prosa traduzidos. Aqui vou concluir, accrescentando que, em varios pornôs videos, não só gays, voyeurs se satisfazem observando esposas suas dando para aquelles folgados Ricardões. Ménage à trois com uma só mulher para dois homens frequentemente inclue esse importante adspecto masochista no machão que empresta a sua femea, desde que tambem possa ser pelo Ricardão fodido, ou seja, como si gay fosse. Não posso desfructar mais de taes scenas, excepto mentalmente, mas eu posso, alem de masturbar-me, me ver como o cego que casou com vagabunda capaz de corneal-o sem pudor nenhum, na companhia dum amante que esteja bem alli, na sua alcova. Hem? Nada mais propicio para alguma poetica adventura… Não é mesmo? Por isso “ricardonicos” eu chamo os gajos que em maridos botam chifre.

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SEGUNDA PARTE THEATRO DO OPPRIMIDO PORNOCOPIA EM CORNUCOPIA (1/3) [8507] (theatro pornographico em trez actos, sem meias palavrinhas nem tampouco escrupulos correctos ou sapatos polidos: bem real, pois não sou louco) ELENCHO DOS TREZ PRACTICOS ACTORES: VIRGINIA, que é mulher do cego e boa. OCTAVIO, que perdeu ja luz e cores. RICARDO, que não é boa pessoa. (1) PRIMEIRO ACTO, PISANDO JA NO CALLO (Octavio chega em casa a bengalar. Virginia ja trepou com Ricardão, que está no banho. O cego volta ao lar depois dum dia duro no sallão.) OCTAVIO - Ufa! Cheguei! Amor, que dia! VIRGINIA - Mundo ingrato, hem? Cê relaxa os pés de toda aquella freguezia e ganha tanto quanto quem engraxa! Mas tenho boas novas! Quem diria? Achei um bom freguez que minha taxa topou e veiu aqui p’ra therapia! OCTAVIO - Mas, amor, você não acha…? VIRGINIA - Não discuta! Não confia?

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(Ricardo entra a sorrir e se appresenta.) RICARDO - Que prazer! Ja fui lavar o pé para você! Massagem benta, a sua, disse a Gina! Bem-estar é tudo que eu desejo! Quem aguenta botina que machuca o calcanhar? (O cego extende a mão e ri tambem, fingindo uma accolhida hospitaleira. Virginia poz a mesa. Logo, sem rodeios, Ricardão della se abbeira.) OCTAVIO - Ja tomou café? Se sinta em casa! Não repare! Vamos, Gina? VIRGINIA - Tá na mesa! Até que pincta a fome, quando a gente na roptina se cansa, né? Ja quasi temos trinta! (Ricardo, só de sunga e de chinello, se serve. Seminua, a mulher passa a mão no corpo delle, não tão bello, mas bruto. O cego ignora a mão devassa. Se beijam, Dick e Gina, até farello de pão na lingua trocam, acham graça da cara do ceguinho e seu flagello.) RICARDO - Então, amigo, vamos la? Cê deve estar cansado, mas eu quero testar a sensação que um cego dá num pé que se exercita! Sou sincero, prefiro a mão dum cego porque ja sei como é! Só deleite é o que eu espero!

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(Emquanto Dick estica-se na cama do quarto, Octavio senta-se no chão. Appalpa o pé descalço e nem reclama daquella degradante posição, à qual se accostumou. Mas Gina a fama de puta não desmente e fellação practica no rapaz, que geme e chama aquillo de “gostoso”. O cego não se toca, acha que sua mão, no drama, papel tem de causar quasi tesão.) RICARDO (se exporrando) - Ah, como é bom um cego massagista assim tão bem treinado aos pés da gente! Cê tem dom de magico, amigão! Estou mais zen que nunca! Só faltou aquelle som! VIRGINIA (que engoliu tudo, ja sem a rolla na garganta) - Eu fallo com certeza: meu marido de ninguem ganhou uns cumprimentos nesse tom! OCTAVIO (com modestia) - Não, que nada! Humilde sei que tenho de ser! Meus dons quasi todo cego tem e cada marido tem mulher que nosso Deus na vida reservou, né, Gina amada? (Virginia ri, piscando para o amante. Parescem concordar os trez que aquillo é coisa do destino, si garante um extra, dependendo do sigillo.)

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RICARDO (se vestindo) - Vou marcar retorno, Octavio, certo? Se previna! De botas vou comprar um novo par, mais leves, mais macias… Sabe, Gina, razão você tem: temos que gozar! (Ricardo se despede e sae. Virginia se gaba do que nisso se factura. Octavio se convence, mas previne-a, pois tudo que vem facil pouco dura. Ainda que o que ouvira lhe incrimine a esposa, vae manter a compostura.) (2) SEGUNDO ACTO, DEPOIS DUM INTERVALLO (Octavio ja trabalha mais em casa. Recebe a clientela, massageia e Gina cobra a grana. Não attraza as comptas mais: é mestre de mão cheia. Na practica, ammestrado está: que praza aos normovisuaes quem só tacteia!) OCTAVIO (que escutou a campainha) - Ja vae! (abrindo a porta) Pode entrar! RICARDO - Com licença! Hoje eu não vinha, mas deu vontade… A Gina tá no bar? Ja volta? Vou tirar então a minha botina, relaxar… Me accommodar… OCTAVIO - Senta aqui! Quer uma aguinha? Eu tiro a bota, então, pode deixar. RICARDO - Vou lavar o pé! Tadinha da sua nappa, cego, si cheirar chulé que nem o meu! Será que tinha coragem? Cê que sabe! Quer provar? (Ricardo tem voz cynica, excarninha. Não perde chance alguma de zoar

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alguem que facilmente se expezinha.) OCTAVIO - Sei que estou no meu logar, e prompto para tudo. (elle engattinha, se adjeita no chão) Deixe eu descalçar a sua bota… Nada me apporrinha no trampo, nada tenho que extranhar. (Ricardo se accommoda, appoia o pé num pufe e põe-se o cego a descalçal-o. Octavio sente, ardido, o seu chulé mas finge não sentir. Appalpa o callo, a sola accaricia, chega até a bocca rente, como quem dum phallo será bom fellador. Ricardo, que é sarcastico, diverte-se em testal-o.) RICARDO - Assim que eu gosto, cego. Vae mexendo assim, de leve… A sensação é quasi de tesão, sabia? Ai, ai… OCTAVIO - Sim, sei disso. A gente faz aquillo que é possivel. Tem quem dorme, até. Si um reflexologo é capaz, um cego mais ainda… (Dá no enorme pé chato um beijo. Alegra-se o rapaz.) RICARDO - Que delicia! Assim! Vae! Não exsiste algo melhor! Só si um vassallo passasse a lingua, alem de usar a mão… Estou é me exbaldando nesse emballo! OCTAVIO - Si você quizer, Ricardo, eu lambo, ja lambi de algum cliente. Um cego não reclama desse fardo, ainda que um chulé bem forte aguente. Você, que tem visão, é felizardo. Inveja até que eu sinto, francamente.

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RICARDO - Bom ouvil-o dizer isso! Nem quero, mesmo, estar no seu logar! Então faça bem feito esse serviço, usando a lingua! Quero approveitar! (Octavio de saliva dá, submisso, um banho do dedão ao calcanhar.) OCTAVIO (emquanto lambe) - Logo, logo, a Gina tá chegando… Vae fazer café para você. Perdão lhe rogo, não mexo no fogão, mas seu prazer é nosso. Quer lavar-se? Depois, jogo um talco na frieira… O que vae ser? RICARDO - Vou tomar um banho. Prompto, me sinto alliviado. Quando a Gina chegar, quero o café. Sabe, meu poncto mais fracco tá na sola. Quem attina melhor isso que um cego? Nem lhe conto, meu caro, mas você bem imagina meu ecstase! Eu estou é meio tonto! (Octavio se envaidesce sendo tão coberto de elogios. Ri, sem graça. Virginia vem chegando. Ricardão entrou no banho. A meia suadaça Octavio recolheu e cheira a mão. Virginia nota. Sabe o que se passa.) (3) TERCEIRO ACTO, ONDE CANTA ALGUEM DE GALLO (Na ausencia do marido, Gina trepa com Dick e lhe cavalga o caralhão. Banal sonoplastia, não discrepa

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dos sons que nesses filmes sempre são ouvidos: só gemidos e a carepa pelluda a saccudir na batteção.) VIRGINIA - Ah! Uh! Ah! Uh! Ah! Uh! Ah! Uh! RICARDO - Se segura! Guenta! Guenta! (Depois de posição trocam. No cu Ricardo mette. A scena é violenta.) VIRGINIA - Ai, tá doendo p’ra chuchu! RICARDO - Guenta, Gina! A ferramenta ja coube em sua bocca! Então tabu não pode ser na fenda fedorenta! VIRGINIA - Mas buraco de tatu virei, ai! Que suffoco a gente enfrenta! RICARDO - Ah, vou gozar! (E o couro cru da glande ralla a galla ja sebenta.) VIRGINIA (ja fodida e jururu) - Caralho! Minha bunda ja nem senta! (Ricardo, expreguiçando-se no leito, scismou e exige della, por pirraça, massagem no pezão, como tem feito o cego, seu marido, que à desgraça eterna do negror está subjeito.) VIRGINIA - Exsiste coisa que eu não faça? (E põe-se a practicar, mas imperfeito é o methodo que emprega. Está sem graça.) VIRGINIA - Meu marido tem mais jeito p’ra coisa, né? Ninguem como elle passa a mão, a lingua até, quando eu me deito aqui. Me refestelo e a mão na massa põe elle, ja que nisso tem conceito. RICARDO - Tem razão. Aquella raça damnada dos ceguinhos nem respeito meresce, que não seja quando abbraça

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e beija o pé da gente, que defeito não temos de visão, hem? Uma taça de vinho vou beber, pois me deleito e quero que você deixe a cachaça de lado, tambem tenha esse proveito. (E brindam ambos, rindo sob effeito do vinho que servido foi por ella. Octavio vem chegando e ja suspeito ao cego não paresce que a cadella com outro faça tudo que tem peito de sobra p’ra fazer [como revela a scena repetida] foi acceito por todos da crescente clientela.) (O cego escuta alguem a mais alli.) OCTAVIO - Tudo bem, Ricardo? Oi, Gina! Estão se divertindo? Interrompi vocês? Então ja prompto p’ra roptina estou. Está descalço? (O outro sorri e Gina, gargalhando, bem combina com essa pantomima que eu aqui encerro, pois egual às mais termina.)

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TERCEIRA PARTE EM TORNO DO CORNO DISSONNETTO MASOCHISTA (2) [0060] Masoch é, travestido de Gregorio, quem tanto foi submisso à sua amada que a propria vida dá por empenhada no texto dum contracto de chartorio. Mas Wanda vae alem do que é notorio no dia em que resolve ser malvada e, em vez de lhe applicar a chibatada, delega a um outro amante o gesto inglorio. Appós ser açoitado pelo extranho, Gregorio, abbandonado pela Wanda, cansado dessa sova nada branda, conclue que a coisa está de bom tamanho. Gregorio agora é Glauco, e quem me manda é o sadico rapaz do qual appanho e, ja que seus pisões de graça ganho, lhe lambo a bota e faço propaganda.

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DISSONNETTO CONJUGAL [0247] Aqui só vae ser eu quem manda e gosta! Você, que é menos macho, accapte ou morra! A sua esposa engole a minha porra! Você bebe meu mijo e come a bosta! Ninguem mandou você perder a apposta! Agora pague o pato, acceite a zorra! Mulher p’ra mim não passa de cachorra! O macho cae de quattro ou cae de costa! Commigo não tem dó nem piedade! Aquelle que não faz o que eu exijo ou morre ou appodresce attraz da grade! Não sou da lei, mas meu regime é rijo! Amigos meus teem muita auctoridade, por isso não dou molle e não transijo! Casal é puta e corno, meu cumpade! A femea engole a galla e o macho o mijo!

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DISSONNETTO CONJUGADO [0248] Não faça isso commigo, por favor! Honrado sempre fui, mas não de briga! A minha esposa vae chupar sua viga, mas eu não sou mictorio ou cagador! Perdi porque não sou bom jogador! Não basta a sorte má que me castiga? Agora ‘inda sou victima da intriga que aquella doida faz de mim, Doutor! É pelo amor de Deus que lhe dedico meus brios, que meu rogo lhe dirijo! É pelo amor de Deus que lhe supplico! Fazer um cara honrado beber mijo, sabendo que a mulher ja paga o mico, é dose! De pensar eu ja me afflijo! Lhe imploro, não me faça de penico, pois ella lhe dará mais regozijo!

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DISSONNETTO CONJUGE [0249] Estou desesperada, mas, no fundo, aquillo ja esperava accontescer. Marido como o meu tinha que ser, um dia, lambe-cu de vagabundo. Perdeu, e me tornou mulher do mundo na mão dum parasita do poder que, agora, minha bocca vai foder e a delle encher com algo mais immundo. Quem manda gravitar a gente em torno dum typo mafioso, dum tarado? Bem feito para mim, peor pro corno. Vou ter que chupar rolla de folgado, mas meu marido soffre mais transtorno: Na bocca elle é mijado, até cagado, e ainda vae pagar um bom suborno p’ra não cahir na mão do delegado!

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DISSONNETTO REPROVADO [0585] Não ha nada peor que dor de corno ao homem cuja esposa o trae no accincte. Conhesço caso assim: como um pedinte, foi elle alem do poncto de retorno. Sabendo que ella o tracta como adorno superfluo e deschartavel, um requincte na mente do rival, que tem uns vinte a menos, ja desenha seu contorno: Na frente da mulher, o cão devoto recebe do moleque a imposição: lamber o pó da bota que anda em moto! As ordens se succedem e ja não importa de humildade si fez voto. De bruços, obedesce, e outras lhe são impostas pela amada que, na photo, paresce a mestra dando uma licção!

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DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO ESKIMÓ [1816] Pensei que era mentira, mas ja vi, até bem clara, a photo: um eskimó, ao receber visita, dá de si o maximo, e o bemvindo é seu xodó. A esposa lhe offeresce, e até diz “Tó!”, mostrando a propria bocca: “Mette aqui!” E o visitante, grato, goza e ri: fodendo até a garganta, entra sem dó! Que pena! Um eskimó não se acclimata em terras tropicaes! Seria grata, por certo, essa presença em minha casa! Veria como um gozo se extravasa! Não tenho esposa para offerescer, mas offeresço, para seu prazer, a bocca a que elle nella se compraza, pois minha gargantinha não é rasa!

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DISSONNETTO SOBRE UMA AMIZADE TROCADA [2743] “Me diga, meu amigo: o que faria você si, ao visitar-me, descobrisse que agora estou casado com a Nice, garota que ja fora sua um dia?” {Bem, para lhe ser franco, eu ja sabia que a Nice me fez essa cretinice. Mas o que ella, na certa, não lhe disse é que ser corno manso eu toparia.} “É mesmo? Quer dizer que ella me dá, me chupa, meu pé lambe, e você nem se importa? Nem com raiva você tá? Nem mesmo reclamou de mim? Eu, hem?” {Com raiva até que estou. Mas eu tambem chupava sua rolla e seu pé, ja que, sendo masochista, digo amen e nunca faço disso um bafafá.}

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DISSONNETTO SOBRE UM PIERRÔ APPORRINHADO [2827] Pierrô, si appaixonado, dá vexame a toda hora. Pela Colombina faz tudo, até se humilha, si a menina for sadica e impedir que elle reclame. A bella Colombina tem o infame capricho de exigir (Quem imagina?) que o cara experimente sua urina na lingua, como prova de que a ame! Mas, quando ja Pierrô se adjoelhara, faz ella que Harlequim seja quem mije na bocca do coitado! Mas que tara! Poema assim, como é que alguem redige? Agora fica a coisa bem mais clara! Peor é que Harlequim ainda exige que engula o mijo! O gosto se equipara a vinho com wermuth e pinga! Vige!

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DISSONNETTO SOBRE UM TOLO CONSOLO [2843] Amor! O senhor sabe la o que é isso? Por uma mulherzinha ter loucura? E sabe, meu senhor, o que é tortura? É vel-a ter com outro um compromisso! Não é porque eu sou pobre e sou mestiço que vou me conformar! Ninguem attura tal discriminação! Mas ella jura que gosta mesmo delle… E eu a cobiço! Senhor, eu sou nervoso, lhe confesso. Si aquelle desgraçado, que com ella namora, me encarar, eu nada meço! Mas temo taes extremos: quem appella accaba se damnando, e algum successo eu faço com as negas da favella. Na falta duma nega, arrombo o sesso daquelle bardo cego, um que me fella.

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DISSONNETTO SOBRE UM VEADO CORNEADO [2856] Ella se enamorou de outro rapaz. Assim que o furacão nosso destino sellou, nos affastamos. Imagino que agora esteja rindo… Tanto faz! Bebi champanhe, algum tempinho attraz, na festa de noivado delles. Fino buffê, muita comida, e eu me domino p’ra não sahir do serio. Estou em paz. Appenas apparencia, pois, no fundo, aquillo que eu queria era, na cara da vacca, dar uns tiros, iracundo. Algum macho commigo se compara? Suppuz varios disparos, num segundo, tambem na cara delle… Mas tomara que ella conhesça logo o vagabundo com quem casou, de quem ja levei vara!

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DISSONNETTO SOBRE UM MALICIOSO CIOSO [2877] Mas tem que accontescer logo commigo? Tanta mulher no mundo, e fui gostar daquella mais bonita do logar que, por signal, casou com meu amigo! Não sou Roberto Carlos, mas lhes digo: gostar duma casada é muito azar! Não quero desmanchar, delles, o lar, por isso é que me imponho este castigo. Castigo? Bem, digamos que eu acceito um facto consummado, que eu endosso. Sagrado é o casamento! Que direito eu tenho de estragal-o, si até posso dizer que, às escondidas, approveito? Castigo é não casar, mas esse troço ficou ultrapassado. E, si o subjeito chiar, por traz tambem, delle, eu accosso!

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DISSONNETTO SOBRE O CHORO DOS CHIFRADOS [2979] Covarde sei que podem me chamar por não calar no peito a minha dor e, feito um bebezão, sempre me expor chorando pela rua, ou neste bar! Primeira pedra attire quem achar que um homem deve ser um soffredor calado, que tragou seu amargor bem longe do bullicio popular! Um corno mais padesce do que um cão de rua, appedrejado por um bando! Qualquer marido corno, dos que estão bebendo aqui commigo, está passando ou vae passar por esta situação… Emquanto esteja a esposa no commando da casa do Gonçalo, o gallo não tem voz mais que a gallinha, seu Orlando!

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DISSONNETTO SOBRE A MULHER QUE SE DISPUTA [2985] Duellam dois rapazes verbalmente: -- É minha, essa mulher! Eu vi primeiro! {Mas ella me prefere! Eu sou herdeiro de gente rica! E tu? És indigente!} -- Não sejas tolo! Pensas que é somente a grana que ella quer? Tudo é dinheiro? {Mulheres são rameiras, companheiro!} -- Offendes a mulher na minha frente? {Escuta! Discussão não leva a nada!} -- Insisto que a menina seja minha! {De mim tu levarás, mas é pancada!} -- Não! Não! Podes pegar a menininha! {Pois ella não me basta! Ja me aggrada a idéa de que faças chupetinha!} -- É mesmo? Posso dar, fora a chupada, um beijo no teu pé, camaradinha?

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DISSONNETTO SOBRE A RIVALIDADE MASCULINA [2992] Por causa de mulher, perde a cabeça um homem. Elle sempre dá razão a ella, mesmo quando outros estão dizendo coisas que ella bem meresça. Por mais, porem, que alguem assim padesça, ao ver outro na mesma condição, o sadico terá satisfacção si, quando seu pau suba, o alheio desça. Meresça ou não meresça, a meretriz perturba a consciencia masculina. Um crime não occorre por um triz. Escandalos causou muita vagina. Rivaes usam recursos os mais vis. Por causa da attenção duma menina, um gajo pisa em outro, e até lhe diz que ser pisoteado é sua signa.

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DISSONNETTO SOBRE UMA MULATA CARINHOSA [2993] Vocês todas que cantem o mulato, que eu canto, felicissima, meu branco, que é rico, que tem compta la no banco, mas é, tambem no samba, bom de facto! De terno ou sem camisa, de sapato ou só de pé descalço no tamanco, meu branco enfrenta tranco e solavanco, e topa, do malandro, o desaccapto. Às vezes, precisou sahir no braço com este ou com aquelle mulatinho que queira disputar-me… O que é que eu faço? Às vezes, um negão mais excarninho bom sarro tira delle, e eu susto passo. Até ja foi pisado no focinho e feito de cachorro, mas seu traço folgado não perdeu, nem meu carinho.

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O CASO DE SOLANGE SCARPA (1/6) [3067/3072] (1) Familia como a minha não exsiste, embora sejam varios nossos ramos. Mas fodam-se os parentes, digo, e vamos àquillo que interessa e me põe triste: Meus pés não são bonitos! Dedo em riste, me apponctam como linda, e não são amos que tentam se acchegar, porem: queiramos ou não, a escravidão ‘inda persiste. Exacto: elles se humilham ante mim, aquelles machos todos, mas ninguem jamais me descalçou dum escarpim! Si querem me servir, não será sem sapatos que estarei na scena e sim usando minhas botas! Faço bem? (2) Sou rica, independente, tenho gosto e estylo ao me vestir: sempre que posso, prefiro tudo em couro, pois no nosso mundinho de clichês esse é meu rosto. Casada? Sou, mas elle está disposto a ser corno em triangulos, um troço gostoso que só vendo! Si eu almosso ou janto, os dois que rachem compta e imposto! Si imponho que me sirvam bem à mesa, na cama o meu leitor logo imagina a scena, excancarada, à luz accesa: São ambos meus cãesinhos; feminina, porem, será a postura do que empresa dirige e inaugurou minha vagina.

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(3) Nem sempre foi assim, pois, no começo, o cara era machão. Mas, muito experta que sou, flagrei-o, a porta entreaberta, provando minhas roupas! Fiz meu preço: “Agora eu que commando! Pelo advesso que vire o casamento! Ou minha offerta você topa, ou babau, e a gente accerta as comptas!” E elle, humilde: {Eu obedesço…} Naquella mesma noite, eu fiz estréa! Chamei o zelador do nosso predio, com quem eu ja privava, e dei a idéa: “Você me enraba e o corno olhando o assedio! Depois, eu fico olhando e, então, quem é a mulher? Elle, que chupa e seu cu cede-o!” (4) Zé Ciço, o zelador, ficou surpreso ao ver o “doutor” Hercules, do oitavo andar, tido no predio como bravo e serio, num papel tão indefeso: Calcinha em vez da sunga, sob o peso damnoso do vexame e com o aggravo de usar meu sutian, sacava o escravo que não ia sahir daquillo illeso. Sarrista, olhou Zé Ciço para mim, que estava toda em preto e, obvio, calçava as botas que ao tesão dão estoppim. “Que tal, Zé Ciço, eu sendo sua escrava na frente desse otario?” -- Ah, dona, eu vim aqui p’ra que? Meu fogo ninguem trava!

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(5) No couro, uma janella attraz permitte que eu seja uma cadella engattinhante emquanto o Zé me enraba e, a todo instante, me chama de “cachorra”, a meu convite. Mas Zé nem se perturba caso eu grite ao Hercules que fique em pé, durante o tempo todo, bambo, num pisante de salto, e feminino se accredite. Por traz o Zé me come feito um potro selvagem! Meu marido se equilibra, tremendo, na sandalia, attento ao outro. E eu digo: “O Zé que é macho! O Zé tem fibra!” E o Zé: -- Não sou do typo corno escroto! -Porem sei que, por dentro, Hercules vibra. (6) Notei que os dois olhavam para a bota que eu calço, mas meu pé nem meu marido eu deixo ver descalço, pois duvido que ao vel-o alguem não faça uma chacota. Calçado, elle é bem grande. Não se nota, comtudo, o seu formato contorcido. É claro que eu jamais me suicido por isso! Quem pensava era idiota! Transformo no meu trumpho o meu problema, [trunfo] pois quem sabe viver não se constrange! Em couro, qual mulher ha que algo tema? Por isso minha bota echoa e range: amantes ou escravos dão mais thema que o pé! Não me chamassem de Solange!

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O CAUTO CAUSO DA MENTIRA [4138] Pensou em qual mentira applicaria na esposa: tirar sarro da innocente mulher elle adorava. O expediente mais cedo elle encerrou naquelle dia. Chegou em casa, prompto a uma euphoria fingir por ter ganhado, elle somente, milhões na lotteria: si desmente, depois, elle sorri quando ella chia. Não é que o cara escuta alguem que sae do quarto e foge às pressas? Corneado se sente, quando a ficha, emfim, lhe cae. Flagrada, a mulher joga seu passado na cara do marido. Perdoae, Senhor, quem nesta data haja peccado! Agora à lotteria sempre vae jogar um azarado separado.

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O CAUTO CAUSO DA COMICA RECORDAÇÃO [4173] Contava-me um ladrão regenerado que, quando ‘inda assaltava, com seu bando, as casas de familia, a seu commando commum era um casal ser abusado. Tiravam muita photo e, para aggrado dos “cabras”, a melhor scena era quando ficava adjoelhada ella, chupando, emquanto elle assistia, alli do lado. Ainda me recordo do relato: “Às vezes, um capanga até mais sarro tirava, e de rir disso ‘inda me macto! Desculpe eu lhe chocar com o que narro!” A esposa que engolisse a rolla e o jacto! Do esposo, o ladrão algo mais bizarro queria: que lambesse o seu sapato coberto de poeira, alem do barro.

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PAPPO DE PERDEDOR [4785] Dois homens, frente a frente, numa mesa de bar, tiram a limpo a differença. Um delles assumira como offensa o amigo disputar sua princeza. “Você não vae fazer essa baixeza commigo, vae, parceiro? Dá licença! Sem essa, meu! Roubar quem não pertença à gente é redobrada saphadeza!” {P’ra mim, toda boceta se reparte! Quem disse que a menina lhe pertence? É muita pretensão da sua parte! Melhor pensar em coisa que compense!} “Tá certo… Cê venceu… Eu que descharte a chance… E, por signal, sou palmeirense. Você, como sanctista, tem mais arte e, em caso de paquera, mais convence.”

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MACHIAVELLICO PODER BELLICO [5240] Estupro, às vezes, arma numa guerra se torna. Emquanto o exercito entra e occupa, abbatte-se o moral e, na garuppa dos tanques, de alegria a tropa berra. Civis, mulheres, homens, dessa terra nativos, são refens. Quando se aggruppa a tropa numa casa, a mulher chupa, seu homem lambe botas e se ferra. O quadro jus faria a Satanaz. Na frente do marido, a soldadesca humilha a esposa, mette-lhe por traz, na bocca… e a scena torna-se grottesca. Lambendo sem parar, elle a um rapaz extranho está subjeito, e sua fresca memoria ao que, na esposa, um outro faz, curtindo uma alegria assaz momesca.

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DISSONNETTO DUM CORNO QUE FEZ EXTORNO [5321] Ó mulher, tu não me fazes mais carinho? Assim não quero! Só comtigo eu faço as pazes si me deres o que espero! Tu te envolves com rapazes de má fama! Sou sincero e te peço que te cases só commigo, ou te dou zero! Tua compta eu abbastesço mas, si pago esse alto preço, eu meresço mais carinho! Tu me deixas tão sozinho! Os rapazes só te fodem! Permittir que se accommodem eu não posso, em nosso ninho! Não sou corno tão mansinho!

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DISSONNETTO DUMA BOCCA PARA FORA [5379] Outra esposa em quem ninguem accredita é a do poeta. O marido, tolo, tem impressão de que é correcta. Ella sae à rua sem um tostão e cumpre a meta de voltar com um vintem para cada pé de athleta. Massagista diz ter sido e crê nisso o seu marido, mas, quem della sabe, conta que não passa duma tonta. Sua bocca vive cheia, mas, dos pés que massageia, do dedão nem chupa a poncta, pois é rolla que ella affronta.

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VEADO CORNEADO [5734] Pode um cego da visão ter saudade sem chorar? Pode um cego ao olho são de outro macho dar logar? Tanto pode, que o tesão do tal “outro”, por azar, não tem só satisfacção com a dona alli “do lar”. Conclusão: o cego é tão azarado, que chupar vae o pau do Ricardão! Mais lhe amarga o paladar… E segunda conclusão dou a quem me consultar: será corno quem visão não tem, quando tem seu par.

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EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786] Lembrando do solteiro, o cego pensa: “Si ainda não casei, rolla eu chupei-a por cego ser; si estou casado, offensa maior será chupar quem me corneia.” Um caso de contar me dá licença meu critico leitor? Pois uma aldeia nas selvas amazonicas dispensa preambulos: um cego massageia. Casado, ficou cego. Seu vizinho na hora approveitou-se. Ja comida a sua mulherzinha, teve vida de escravo massagista, coitadinho. Por certo o Ricardão foi excarninho e quiz mais que massagem. Quem duvida consulte-me e direi que, bem lambida, qualquer rolla perfaz novo caminho.

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MEME DA RISADA [6006] Viuvas, joviaes nem sempre são. Ephemera, a belleza feminina se appaga, mas o riso se illumina. Algumas, certamente, mais rirão. Ja vi chorar, em frente do caixão, aquella que maldiz a sua signa, mas, quando chega a festa, si junina, celebra com quentão e com rojão. Mulher bonita, aquella nunca fora, porem foi sempre alegre! Seu marido, por outro lado, achava peccadora aquella que ri muito… Foi trahido? Não sei, mas ja morreu, e sua dor a viuva esconde, tanto que tem rido! Não quero ter a bocca accusadora, mas riso, neste caso, faz sentido.

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FOFOCA DE MASOCA [6123] Deixaram-me na salla. Foram para o quarto os dois, o mano com a minha menina desejada, que eu não tinha ainda nem beijado, cara a cara! Notei que, no tapete, ella deixara as botas. Mas soffrida punhetinha batti sentindo o cheiro de morrinha nos tennis que o moleque descalçara! Ah, Glauco! Que chulé forte, salgado! Soffri, claro, Glaucão! Foi humilhante, eu sei, mas accontesce que, durante o gozo, os dois gemiam bem ao lado! Tambem gemi, baixinho, revoltado com essa trahição da minha amante platonica, babando no pisante do cara! Ao odial-o, me degrado!

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CEGO CORNO [6285] Vantagem sei que levo, ao menos uma, casada por ser eu com um ceguinho. Não uma. Talvez duas. Lhe apporrinho, Glaucão? Então permitta que eu resuma. Primeiro, acho perfeito que elle assuma: Jamais para a mulher dalgum vizinho olhar eu o verei. Mais excarninho será quando um amante a gente arrhuma. Ahi vejo vantagem mais bacchana. Com outro poderei trahil-o, bem na frente delle. Basta que ninguem mais alto va gemer. Acha sacana? Né, Glauco? Quem é cego não se enganna assim tão facilmente! Tesão tem, mas cala-se, provando ser, alem de corno, um masochista. Cê se irmana?

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FADO DE CASADO [6838] Flagrei minha mulher com outro, vate! De menos isso seja: de mim ella ha muito desfazia! Ah, que cadella! Mas ‘inda foi maior o disparate! Não basta que de corno ‘ocê me tracte! Terá que me tractar de escravo della e delle! Sim, palhaço sou em bella comedia! Fui, de inicio, um engraxate! Mandou ella que eu desse logo um brilho naquelles sapatões do Ricardão! Lhe juro, Glauco! O gajo quiz, então, que fosse com a lingua! Ah, si me humilho! Eu, nesses casos, fico puto, rilho os dentes, mas accabo, pelo chão, de rastos, a lamber! Hem? Você não me inveja? Pois se case, então, meu filho!

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O CEGO E SUA NAMORADA [6980] Embora cego, o gajo conseguira com uma namorada ter a sua amavel companhia pela rua. Mas logo descobriu que era mentira. Aquella maluquette era da lyra, sorria, como quem se prostitua, a todos que encontrasse e que, de lua, quizessem conferir como se vira. Do cego só queria alguma grana. Dos outros, chuparia até caralho fedido, que lhe desse mais trabalho de lingua! Ah, que putana mais sacana! Não, nunca abriu o jogo. Sua chana chupei, pois nisso julga que não falho. Sim, Glauco, sou tal cego. Não expalho, porem, que descobri que ella me enganna.

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ZICA DUPLA (1/2) [7035/7036] (1) O cego com a cega caminhava. A gangue de moleques os attacca. Não pode defendel-a, mas bem saca que tinha sido feita, ja, de escrava. Si a cega se recusa, a coisa aggrava. Então, o cego ouve: {Eia! Chupa, vacca! Ahê! Gostoso! Chupa!} Fodem paca. Emfim, elle tambem ja se deprava. Mas elle nem sabia bem chupar e teve que apprender, alli, na hora, debaixo de porrada. Chupa, agora, chorando, mas entende seu logar. Emquanto chupa, pensa: “Puta azar!” E escuta a molecada: {Cego, chora! Vae, eia, sente o gosto!} Commemora a sadica turminha, a gargalhar. (2) A cega me contou. Accostumada estava, mas o cego não sabia. Achou que excappariam, pela via, andando os dois junctinhos, mas qual nada! {É claro que eu estava appavorada! Temi mais, foi por elle, que engolia caralho sem ter nunca da follia tomado parte! Eu era callejada! Coitado delle, Glauco! Chupei picca ja muito, bem sabia abboccanhar! Mas elle nunca tinha desse azar provado! Meu temor se justifica! Batteram nelle, Glauco! O ouvi chorar! Até que elle entendeu: o cego mica na vida! Qualquer dia, sua zica chegar pode num simples caminhar!}

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DESPEITO DA DESFEITA [7064] Poeta, meu marido é um despeitado! Desculpe, intimidades si lhe fallo daquelle presumpçoso, cujo phallo nem pode ser chamado de cajado! Mas elle fica fulo si me enfado da sua gabolice! Falso gallo, assim o chamo, para não chamal-o de brocha, de impotente, de veado! Não, Glauco! Bem dotado não é, não! A minha bocetinha, sim, é festa aos olhos de quem isto não detesta! Pois elle desdenhou della, Glaucão! Precisa ver que grande e bello vão das pernas tenho, vate! Quem contesta? Os homens todos gostam, bardo, desta chochota! Até meu novo Ricardão!

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MADRIGAL NUPCIAL [7708] Mulher de amigo meu p’ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico.

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BOBBY VEE ADÃO (1/2) [8138] (1) {Responda-me, Glaucão, si esse subjeito, o Bobby Vee, seria algum veado tentando se passar por namorado frustrado de mulheres! Sempre escuto o gajo se queixando nas canções, pedindo que rivaes mais garanhões não roubem sua gatta, que, no caso de estarem saciados, tenham dó e queiram devolvel-a! Ah, Glauco, não consigo tolerar um typo tão capacho, tão… bobão dum Ricardão! Sim, Bobby de bobão tem o perfil, não acha, Glauco? Diga algo do cara!} (2) -- Não tenho o que dizer. Mas não rejeito hypotheses do typo. O que me enfado de ver é sempre egual ao mesmo dado: rockeiros cornos mansos. Fico puto com isso! Mais eu quero! Trahições explicitas! Chifrados mais cagões, chupando um Ricardão, sendo-lhe vaso, mictorio, ou engraxate, ‘inda que só de bocca, de intenção! Tenho tesão demais nesses triangulos! De cão ser feito ver eu quero o bobalhão! Comtudo, nem siquer ha no Brazil rockeiro algum que ao Bobby se compara…

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INFINITILHO DA ARMADILHA (1/2) [8149] (1) {Estava combinado, Glauco! Minha esposa me trahiu com um subjeito mais feio que eu! Só tenho uma certeza: foi para que eu divorcio peça! Assim, quem fica com as coisas todas é a puta! Glauco, o gajo ja tramava com ella! Prepararam toda a scena! Mal chego, pego os dois sem roupa, sem vergonha alguma, alli na nossa cama! Não tinha alternativa, Glauco! Como sahir dessa armadilha? Não tem jeito!} (2) -- Sim, claro! Uma mulher bem expertinha. Mas sabe o que eu alli teria feito? O gajo sendo feio, rolla tesa ainda mais terá. Que elle de mim fizesse o que quizesse! Seu chulé faria que eu cheirasse! Bocca escrava seria a minha delle! Minha pena seria rebaixar-me… Bem, ninguem casado topa a coisa. Quem reclama razão tem, claro. O cego é que esse pomo teria de engolir, a sós no leito…

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ODE TRIUMPHAL (1/6) [8156] (1) A scena foi fiel ao que relata a grande midia, quando não a dicta historia scientifica. Na data da guerra, koreano casal grita, supplica, pede para que não batta em ambos o soldado que se irrita. Debalde, si o nipponico os maltracta e os leva até detraz duma guarita. (2) Appenas a mulher iria, mas consente o japonez que seu marido va juncto. Sim, terão ambos, por traz dos muros do quartel, logo servido à tropa como escravos. Ella faz chupeta no capricho e divertido serviço faz seu homem: dum rapaz qualquer lambe o cothurno, bem lambido. (3) Destinam um quartinho à fellatriz, que attende à soldadesca no privado. Em publico, o “engraxate” seus servis deveres exercita. Si um soldado entrar para foder, outro, feliz, à porta fica. Filmam-no sentado num banco, emquanto ao velho ordena e diz que lamba, koreano desgraçado!

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(4) Ao joven japonez, o koreano maduro faz papel dum inimigo vencido a ser zoado! Desde o cano até o solado gasto, bem consigo suppor como o coitado lambe e irmano a minha lingua à delle no castigo difficil de cumprir! Paresce um panno de chão, esse linguão! Sei o que digo! (5) “Mulheres de comforto” dictas são as mães, irmans, esposas que papel farão de putas para que o tesão do raso soldadinho saiba a mel. Mas “homem de comforto” não é tão commum de se encontrar. Serve elle, ao bel prazer do folgazão, como um truão, especie de palhaço do quartel. (6) O macho deshonrado foi actor dum filme bem veridico que vi. Chupou, sua mulher, dum oppressor freguez, o sujo pau, bebeu chichi, até. Mas o marido sentiu dor maior, no seu orgulho, si o gury que accaba de fodel-a agora for fazel-o de engraxate e lhe sorri…

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RHAPSODIA CLAUDIANA (1/2) [8393] (1) {O Claudio, no triangulo, se faz de macho preterido, Glauco, observo naquelle sonnettinho que você ja tinha commentado certa vez. O tal do Gil proposta melhor fez que Claudio, o qual só pode offerescer amor, carinho, boas intenções. O facto, caro Glauco, me paresce bem claro. Foi passado para traz o nosso talentoso menestrel. Casar-se vae a moça com o Gil e Claudio ficará chupando o dedo. Não acha que isso os brios dum machão offende? Poderiam duellar, não é? Mas o poeta não tem peito!} (2) -- Me ponho no logar desse incapaz, assim como dos outros que conservo bem vivos na lembrança. Claudio vê que Gil, mesmo não sendo tão cortez, a moça ganhará, por ser burguez, ter posses. Ja que Gil tem tal poder, irá Claudio deixar de ser Camões por certo tempo, como si estivesse subjeito às intenções do outro rapaz. Ahi, fodeu! Fará, agora, papel de escravo sexual. Irá, servil, chupar o pau do Gil. Talvez segredo mantenham para a moça, talvez não. Duello nem será preciso. O par se entende. Eu entendi, tambem, direito?

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SORDIDEZ DUM EX [8666] Um corno me contou, muito frustrado: “Foi foda! Aquella bisca me tomou tudinho, casa, carro, comptas, filhos! Fiquei na dependura! Agora vou a vida refazer! Começarei do zero! O peor disso tudo, Glauco, é que elle, Ricardão dos mais fuleiros, chulé tem desgraçado, uma frieira salgada duma figa no mindinho esquerdo! Nunca tive esse chulé! Não sei o que viu ella no vagau!” Fiquei, aqui, na duvida. Será que disse elle tal coisa appenas para me ver chupando o dedo, ou é tão manso a poncto de, ensignado, ser um cão?

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LERO DE BOLERO [9135] “Mulher, tu me juraste que estariamos unidos para a vida toda! Quando casamos, bem ouviste essa sentença do padre: estarmos junctos, na alegria, bem como na tristeza, até morrermos! Ouviste bem, mulher, ou não ouviste? Como ousas me pedir separação? Tu podes ir aonde tu quizeres! Irás com quem quizeres ir, até com esse vagabundo, o Ricardão! Divorcio não te posso dar, por ser peccado! Me entendeste, vagabunda? Então, por que não paras de insistir? Prometto que serei obediente às ordens que me deres, inclusive às delle, si quizer me escravizar!”

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LERO DE SAMBA CANÇÃO [9136] “Não devo confiar demais na vida, ainda menos quando o caso tem contornos passionaes! Minha mulher adora fazer coisa prohibida! Insiste em cornear-me, por exemplo, com esse vagabundo, o Ricardão! Por isso soffredores ha no mundo: peccando muita gente sempre está! Mas, desta vez, eu brigo, sim, com ella! Sim, toda a paciencia ja perdi! Farei um ultimato, ora si faço! Si insiste ella, na sua teimosia, si me desobedesce, sempre e sempre, terei de, então, eu mesmo obedescel-a, talvez até servir, aos dois, de escravo!”

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PERIGUETTE [9147] Me chamem, sim, de puta, si quizerem! Estou é nem ahi! Quer saber, Glauco? Não tenho namorado, nunca tive! Eu acho mais gostoso dar em cyma de todos, dos casados, dos solteiros, dos noivos, dos viuvos… de quem for! Me importa só que tenha alguma grana, que curta alguma louca adventurinha! Até você, Glaucão, si bobear, eu topo um compromisso com você! Não quer? Ah, Glauco! Posso fazer uma sceninha assim: eu caso com você, arranjo um Ricardão, transo com elle na sua frente… Então eu faço que elle abuse de você na minha frente, dum cego tire sarro, humilhe mesmo! Ahi, Glaucão? Não topa? Pô, que pena! Me indique, então, algum amigo seu que eu possa assediar! Indique, indique! Tá certo… Percebi que está gagá, que nada mais arrisca nem petisca!

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PHALLOCRATICO? [9299] Discordo de ti, quando versejaste accerca das esposas dos amigos. Nem todos gostariam de ver sua mulher com outros homens a trepar! Eu mesmo sei que minha mulher tem amantes, mas não quero ver a cara de cynico dum desses Ricardões! Prefiro masturbar-me, imaginando estar alli, durante essa trepada, servindo-lhes de escravo… Só no sonho!

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CORNO ASSUMIDO? [9440] Assumo que sou corno, menestrel! Você não se excitou com uma scena na qual um Ricardão na mulher mette, alem de escravizar o maridinho? Pois esse maridinho fui eu, Glauco! Não fique excitadão, não, Glaucão, pois não tive que lamber o pé do gajo, siquer seu pau chupar! Só lhe lambi a sola da botina, nada mais!

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REPROVADO? [9585] Dos cornos a maior queixa que escuto, Glaucão, é justamente essa mania que tem um Ricardão de exigir delles que tudo presenciem, até sirvam de escravo masochista. Você ja fallou bastante disso, menestrel. É claro que, si cego for o corno, teria até que merda comer desse folgado, mas você confirmará.

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SUMMARIO [1] SARDONICOS RICARDONICOS DISSONNETTO DA MORTE DE CLAUDIO MANOEL DA COSTA [1789] ............................................................................... 10 DISSONNETTO DA DECLARAÇÃO [0741].......................... 11 DISSONNETTO RECALCADO [0515]...................................13 RECALCADO? [9515]...............................................................14 DISSONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440]................15 TRIANGULO ESCALENO [6539]...........................................16 BAR DOS CORNOS (1/2) [8076].............................................17 OTHER GUY [7027].................................................................19 ZIQUIZIRA [7028]................................................................... 20 AMANTE CAPTIVANTE [7029].............................................21 NA MÃO DO RICARDÃO [7030]........................................... 22 [2] THEATRO DO OPPRIMIDO PORNOCOPIA EM CORNUCOPIA (1/3) [8507]................. 25 [3] EM TORNO DO CORNO DISSONNETTO MASOCHISTA (2) [0060]........................... 35 DISSONNETTO CONJUGAL [0247]..................................... 36 DISSONNETTO CONJUGADO [0248]................................. 37 DISSONNETTO CONJUGE [0249]....................................... 38 DISSONNETTO REPROVADO [0585]................................. 39 DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO ESKIMÓ [1816]....... 40 DISSONNETTO SOBRE UMA AMIZADE TROCADA [2743] .....................................................................41 DISSONNETTO SOBRE UM PIERRÔ APPORRINHADO [2827]....................................................... 42 DISSONNETTO SOBRE UM TOLO CONSOLO [2843]..... 43 DISSONNETTO SOBRE UM VEADO CORNEADO [2856]................................................................. 44 DISSONNETTO SOBRE UM MALICIOSO CIOSO [2877]........................................................................... 45 DISSONNETTO SOBRE O CHORO DOS CHIFRADOS [2979] ................................................................ 46


DISSONNETTO SOBRE A MULHER QUE SE DISPUTA [2985]....................................................................... 47 DISSONNETTO SOBRE A RIVALIDADE MASCULINA [2992].. 48 DISSONNETTO SOBRE UMA MULATA CARINHOSA [2993]................................................................ 49 O CASO DE SOLANGE SCARPA (1/6) [3067/3072]............. 50 O CAUTO CAUSO DA MENTIRA [4138].............................. 53 O CAUTO CAUSO DA COMICA RECORDAÇÃO [4173]..... 54 PAPPO DE PERDEDOR [4785]............................................. 55 MACHIAVELLICO PODER BELLICO [5240]..................... 56 DISSONNETTO DUM CORNO QUE FEZ EXTORNO [5321] ................................................................... 57 DISSONNETTO DUMA BOCCA PARA FORA [5379]......... 58 VEADO CORNEADO [5734].................................................. 59 EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786]............... 60 MEME DA RISADA [6006].......................................................61 FOFOCA DE MASOCA [6123]................................................ 62 CEGO CORNO [6285]............................................................. 63 FADO DE CASADO [6838]...................................................... 64 O CEGO E SUA NAMORADA [6980]..................................... 65 ZICA DUPLA (1/2) [7035/7036].............................................. 66 DESPEITO DA DESFEITA [7064]......................................... 67 MADRIGAL NUPCIAL [7708]................................................ 68 BOBBY VEE ADÃO (1/2) [8138]............................................ 69 INFINITILHO DA ARMADILHA (1/2) [8149]..................... 70 ODE TRIUMPHAL (1/6) [8156]..............................................71 RHAPSODIA CLAUDIANA (1/2) [8393]............................... 73 SORDIDEZ DUM EX [8666].................................................. 74 LERO DE BOLERO [9135]..................................................... 75 LERO DE SAMBA CANÇÃO [9136]....................................... 76 PERIGUETTE [9147].............................................................. 77 PHALLOCRATICO? [9299].................................................... 78 CORNO ASSUMIDO? [9440].................................................. 79 REPROVADO? [9585].............................................................. 80



São Paulo Casa de Ferreiro 2023




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