O PRINCIPE DAS TREVAS

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O PRINCIPE

DAS TREVAS

Glauco Mattoso

O PRINCIPE DAS TREVAS

São Paulo

Casa de Ferreiro

O Principe das trevas

© Glauco Mattoso, 2024

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

O PRINCIPE DAS TREVAS / Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024 118p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Das trevas não sou principe, mas sou, nas trevas, quem mais brilha ao versejar. Duvidam? Pois observem como sou por todos esnobado, boycottado, banido dos canonicos registros, tal como Satanaz tem sido, pelos christãos, tão ommittido nos seus cultos. Ainda mais: christãos citam Satan, até com mais frequencia do que Christo, mas quasi nem citado sou por meus das lettras pares, coisa que denota o quanto que meu brilho os offuscar consegue. Eis que este ensejo, pois, me basta à guisa duma deixa para, aqui, junctar alguns poemas que Satan assumem como thema principal. Leitores satanistas sei que tenho, pois muitos delles sempre me infernizam a vida, a fim de rirem da desgraça dum cego masochista. Alem do mais, quem sabe si Satan por mim olhando está, por traz dos versos que escrevi?

DISSONNETTO DEMONOLOGICO [0175]

Alguem tem dom de pôr o crente em panico. É o Anjo Mau; é o Bode; é o Belzebuth; É o Lucifer; é o Principe; é o Exu…

Como denominar o Ente Satanico?

Diversos gestos teem poder xamanico.

Diversas liturgias são tabu.

Mas no Sabbath se beija bem no cu, que é o poncto donde sae o odor titanico.

Fazendo a algum bom senso ouvido mouco, as bruxas ao inferno vão de Dante.

Do “beijo negro” ja fallei ha pouco, um acto que envilesce o executante mas deixa quem o ganha quasi louco. A propria fellação, sempre excitante, capaz de provocar gemido rouco, não é, para Satan, tão importante…

DISSONNETTO THEOLOGICO [0176]

Si exsiste Deus, de onde é que vem o mal?

Si não exsiste, de onde vem o bem?

Resposta: exsiste o Demo, e Deus tambem, e aqui reside o poncto principal.

Divide-se o poder de egual p’ra egual e omnipotente ja não é ninguem.

Colloca-se o dilemma: orar a quem?

Quem vae nos proteger do seu rival?

O jeito é accender vela para os dois, uma p’ra cada um, sinão dá briga, e piccuinha a gente não instiga.

O resto a gente deixa p’ra depois.

Na hora do suspiro, é fazer figa, orando sem dar nome, em vão, aos bois, p’ra que o placar nos seja dois a dois e que ninguem de fora faça intriga.

CONTO PACTUADO [0480]

Um bruxo, recemvindo de Turim, me trouxe este enveloppe, que ‘inda guardo fechado, e ja me sinto um felizardo por ter Satan mandado a charta a MIM! Agora posso abril-o, porque vim a ser galardoado como bardo e o texto que preenche o papel pardo em versos dicta as regras do festim! Emfim sou o maior poeta vivo!

Si caro foi o preço, paciencia! Nos obitos famosos incentivo eu acho! Consciencia? Se dispense-a! De todos os remorsos eu me exquivo! Só falta eternizar a precedencia: Si algum novo desponcta no meu crivo, Satan fará que morra com urgencia!

DISSONNETTO

ENXOVALHADO (2) [0991]

Si má reputação intimidasse algum ladrão politico ou seu vice, talvez um simples susto ja servisse p’ra dar uma licção em quem roubasse. Mas nada attemoriza aquella classe de gente, que ‘inda ri do que se disse de seus procedimentos, na crendice do povo associados à má face. Si um pacto com o Demo é o que lhes dá certeza de que impunes ficarão, paresce que vigora ha tempo, ja. Não falha a velha crença do povão, tampouco falha a velha fada má. Alguem dedura, mas, si ladra o cão, passeia a ladroeira e segue la pro quincto dos infernos de carrão!

DISSONNETTO DO CONGRAÇAMENTO CARNAVALESCO [1227]

A nadega ballança, se saccode. Milhares de outras bundas vão no emballo, se embollam e, sem pausa ou intervallo, desfilam p’ra quem paga e p’ra quem pode. Immensa, bem maior do que um pagode, a festa enche o sambodromo. O gargalo formado na sahida deixa callo pisado e contusão que não se accode. Mordaz, vou dando tractos ao bestunto emquanto da discordia apponcto um pomo: Curioso é o samba-enredo e seu assumpto: o Papa e a fé catholica! “Mas como mixturam bunda e Christo?”, é o que pergunto. Aqui, rendem as nadegas a Momo pomposas homenagens, porem juncto a Deus vem Satanaz, aos quaes me sommo.

DISSONNETTO DO VOLUNTARIO INCENDIARIO [1238]

Segundo contam, Lucifer obstenta, em vez da imagem propria do Diabo, com pello, garra, chifre, casco e rabo, disfarses de pessoa sancta e benta. Aquelle que mais facil innocenta os malintencionados e dá cabo de todas as suspeitas é o do brabo bombeiro, que um incendio appaga e enfrenta. Porem o Demo adora a labareda queimando e se allastrando sem controle: no fundo, quer que o fogo nunca ceda! A fim de que o sinistro não se isole e a victima dalli não se excafeda, com alcohol chama a chamma, que os engole! Si alguem sobreviver, faz cara azeda Satan e, ao saltitar, faz corpo molle.

DISSONNETTO DO TRACTO INTESTINAL [1243]

Mal sento e, ao me adjeitar, rezo contrito: “Fazei que este intestino, emfim, se mova!” Pedir que, num deserto, a chuva chova mais facil é que orar pelo que cito. Viver tão constipado deixa afflicto o ventre dum christão! O meu desova sem data certa; a merda entope a cova e, quando sae, mais fina é que um palito!

Assim não dá! Será que me converto ao Demo? O cu lhe beijo e o Cão, em troca, meu rabo abre e a cagada molle verto!

Até que meu bom senso não se choca com esse excentricissimo concerto. Mas, em compensação, quando se invoca Satan, sempre perdemos nesse accerto de comptas: sae a merda, entra a piroca!

DISSONNETTO DO AVARENTO CASTIGADO [1244]

Gravura bem extranha foi aquella que lembro de ter visto num volume de textos sacros: pune-se o costume avaro do usurario na goela!

Explico: ja no Inferno, dentro della um Demo bem caprino caga o estrume em forma de azeitona, e o réu que arrhume logar no bucho! A scena expanta e appella! Deitado, elle abre a bocca. O bode humano se aggacha a certa altura e lhe defeca, pingando, as gottas pretas de seu cano! No nitido desenho, nem cueca usava o condemnado, e um ar prophano de riso obstenta o bode a quem depreca! Eguaes scenas em verso sempre explano, sabendo haver leitor que se melleca.

DISSONNETTO DA FACHADA FECHADA [1367]

De dia, aquella casa ja me intriga, no fundo do jardim, sempre fechada. Disseram que quem vive alli se liga a coisas do outro mundo… Isso me aggrada! Fallei della a uma bruxa, minha amiga, e foi-me confirmado: essa morada, alem do solitario ser que abriga, recebe sempre alguem de madrugada. É muito extranho, mesmo, tanto affan. La não se accendem luzes, mas se escuta barulho de conversa e até de lucta e tudo fica quieto de manhan. Só sei que não será coisa christan. Talvez appenas sadomasochismo, mas, quando passo alli, commigo scismo que Sade tenha encontros com Satan.

DISSONNETTO DA MANIFESTAÇÃO MALEFICA [1493]

Na sexta-feira, treze, o que se espera, à meia-noite em poncto, que accontesça é transformar-se um homem numa fera e erguer-se dum cadaver a cabeça. Embora alguns de morbida chimera taes coisas classifiquem, não se exquesça o incredulo leitor que exacta e vera é a falla do Propheta, e não travessa. Eis que circula a formula funesta!

Que diz o Mestre? “Irmãos, não duvideis daquillo que tem numero em trez seis: de muita forma o Mal se manifesta!” É clara a tal mensagem que elle attesta. Si alguem não percebeu de quem se tracta, direi que, em vez de pé, tem elle patta e exhibe dois chifrinhos sobre a testa.

DISSONNETTO DA DADIVA ADVERSA [1583]

A dupla maldicção, que annulla a van belleza e as ambições futeis embarga, transforma o joven bruxo numa ran e a virgem bruxa numa velha amarga. Por outro lado, o typico galan obstenta da burrice a crassa carga, e a bella actriz, à qual não falta fan, só tem a offerescer a chota larga. Aos factos não ha nada que resista. O surdo é genial compositor. Maneta é aquelle celebre esculptor. O cego é o mais maldicto sonnettista. Assim Satan nos deixa a sua pista: Não ha do Alleijadinho obras que provem que quiz perder a mão, nem do Beethoven o ouvido, ou do Mattoso sua vista.

DISSONNETTO DA DUPLA IDENTIDADE [1637]

Si tem poder o Demo para, em forma de Deus, ser confundido, então questiono: Não tem tambem poder, não se transforma em Demo esse Senhor, que é nosso dono? E, si um pode ser outro, qual a norma que irá dar ao theologo seu monotheismo authenticado e sem reforma capaz de obstar da fé meu abbandono? Não ha! Não ha parametro! Esse Deus não passa dum disfarse de quem meus mais feios pesadellos revisita, em sua sanha cynica e maldicta! O modo como tracta o ser humano, causando e desfructando de seu damno, comprova que é Satan quem tudo dicta e tudo appenas segue a sua escripta!

DISSONNETTO PARA UMA SAGRAÇÃO DE GRAÇA [2064]

No espelho ao se rever, de manhan cedo, o gajo diz comsigo: “Ora, a partir de agora, serei bispo! E me concedo ainda o grau de apostolo, a seguir! Não posso ser guru nem ser fakir, mas, como bom christão, não tenho medo que a lei dos homens possa me punir, si contra mim nem Deus apponcta o dedo! Chamando-me de bispo, como bispa, àquella que commigo é cama e mesa, à minha mulher, peço que se dispa sem pejo em minha frente, mesmo obesa! Sagrado será tudo que toquemos! Ao toque nem a picca fica illesa! Si grana a dividir c’o Demo temos, os dizimos compensam a despesa!”

DISSONNETTO PARA QUEM É DO RAMO [2544]

Ficou fora de moda a boa fada, aquella que fazia sempre o bem e só nas nossas vidas intervem nas horas em que a foda está empattada. Si, agora, por soccorro a gente brada, seremos soccorridos… Mas por quem? Ja sabem: pela bruxa! Ella é que tem poder de nos tirar duma enrascada!

Aquella que em soccorro ca nos vem, ou pode tudo, ou nunca pode nada! Si a bruxa é boa ou má, ninguem tá nem ahi: nos interessa é que ella é dada com Lucifer, mais forte la no Alem! Do Mal é que queremos ver livrada a vida! Com poder não ha ninguem melhor, pois, que o Demonio, em sua alçada!

DISSONNETTO SOBRE UM PEREGRINO RECOMFORTADO [2917]

Cansei! Sinceramente, ja cansado estou de padescer! Alem do Alem dispuz-me a percorrer, a ver si alguem podia me adjudar! Tudo baldado! Então, de Deus recebo este recado: “Emquanto me endereças teu amen, terás alguma adjuda! Porem nem cogites que Satan veja teu lado!” Assim quiz o Destino: de esperar cansei por um auxilio do Senhor e ao Demo lamentei-me deste azar, de tudo que me faz tão soffredor. Queixei-me deste fardo cavallar. Batata! Nem accabo de lhe expor meu drama, Satanaz vem me adjudar e, em troca, quer, dos pés, só meu fedor!

DISSONNETTO

SOBRE UMA OMNIPRESENÇA QUE NÃO SE DISPENSA [3009]

Não quero ser um desses bons atheus, caralho, mas você monopoliza a minha consciencia, ‘inda indecisa! Me deixe, por favor, pensar em Deus! Eu durmo, accordo, e penso só nos seus chifrinhos, nos seus cascos, nessa lisa bundinha, cujo furo me odoriza o beijo, e ao qual não posso dar addeus! Só vejo seu olhar nas espiraes, si fumo meu cigarro! A cada phrase, por entre um palavrão e um lemma nazi, seu nome leio, em lettras garrafaes! Nos filmes, discos, livros… não ha quasi espaço para o Christo entre os mortaes! Assim não é possivel! Ninguem mais prohibe que commigo você case!

DISSONNETTO PARA OS RESTOS DE JORGE DE SENNA [3083]

No tumulo em que o luso está sepulto quer elle que o moleque toque bronha, que o namorado de castigo ponha a moça, alli estuprada sem indulto. Que o puto chucro e que o malandro estulto alli forniquem sem siquer vergonha. Que alli se beba e fume até maconha. Que o satanista faça alli seu culto. Mais pede Senna aos vivos: que a creança vadia nessa pedra deite o mijo, zombando de quem nunca alli descansa. Eu proprio com tal satyra transijo. Vou pondo os meus fetiches na ballança e estou de pleno accordo! Assim, exijo na lapide que deixem a lembrança da marca: a sola suja e o phallo rijo!

FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]

Fugir à temptação é tentativa inutil, si o peccado nos diz sim.

Pudera! De Satan ninguem se exquiva!

Não ha mysterio nisso, para mim.

Malgrado um crucifixo, uma agua benta, Satan temptar-nos tenta, e elle consegue!

Quem tenta se exquivar, si o Demo o tempta, percebe onde ammarrou, ja tarde, o jegue!

Por mais que esteja attento ao attemptado mortal que nos expreita em todo cantho, não tarda e, da sereia, attende ao canto aquelle que exquivar-se tem tentado.

Nenhuma norma sancta se sustenta!

Um cego asceta, mesmo que renegue a tactil temptação, suja e nojenta, irá para o Diabo que o carregue!

Não ha, para quem pecca, alternativa: poupar-se de peccar é que é ruim!

Ou prova o que deprava, ou só se priva aquelle que prevê do mundo o fim.

PECCADO PEDAL [3458]

Provoquei um bafafá porque fallo do chulé, confessando que me dá mais tesão que um beijo, até. Houve gente que viu má compostura e viu má fé: que, ao Islam, offendo Allah; que, aos judeus, trahi Javeh. Menos, menos! Não trahi nem offendo, quando a nu ponho tudo! Exsiste ahi exaggero no tabu!

Ha quem goze, attentem só, num buraco de tatu, cafungando num loló e do Demo beije o cu!

PESADELLO DANTESCO [3705]

O demonio que apparesce para a gente, em sonho, é tão horroroso que uma prece nós fazemos contra o Cão! Mas si alguem, de dia, desse uma olhada nos que estão a adjudar quem enriquesce, mudaria essa impressão!

O assessor dum deputado, um banqueiro, um empreiteiro, do bandido um advogado ou um caro marketeiro são disfarses que Satan, sempre eximio trappaceiro, veste, logo de manhan, mas, à noite, é o verdadeiro!

Reconhesço que Satan offeresce à gente um pomo, mas nem sempre foi maçan: só depende do que eu como. Si eu prefiro, de manhan, degustar, gommo por gommo, uma lima, meu affan facilita o Cão, e como!

Descascada ella apparesce, como alguma que bem calha, de surpresa! Ou rezo a prece, ou, fatal, vejo a fornalha! Por maçan meu enthusiasmo não moveu nenhuma palha nem chegou a dar orgasmo. Assim sendo, o Demo falha!

TROVANDO A TROVA DO PERDÃO [3829]

Ao suppor que Deus perdoa desde a puta mais sapeca ao burguez que os pobres zoa, minha trova o caso checa: “Dá perdão Deus à pessoa que tem vicios e que pecca. Mas jamais Elle abbençoa quem ao Demo se hypotheca…”

Pelo lado satanista fiz tal trova, tendo em vista quem é contra Roma ou Mecca e em sanctinhos não crê neca.

Mas o Pedro toma o caso de quem peque pelo attrazo: “Dá perdão Deus à pessoa que tem vicios e que pecca.

Mas jamais Elle abbençoa quem exporra na cueca…”

TROVANDO A TROVA DA SOLIDÃO [3838]

Quem da farra está cansado e questão de amar não faz, um pretexto acha, coitado, ao deixar de ser rapaz.

“Antes só, diz o dictado, do que andar com Satanaz. De rezar eu não me enfado; de peccar não sou capaz.” Nem se importa, por covarde parescer, quem faz allarde da virtude contumaz ou, de espirito, da paz.

Pedro assim é que interpreta a conducta do poeta:

“Antes só, diz o dictado, do que andar com Satanaz. De rezar eu não me enfado; pois perdi, na foda, o gaz.”

CONFRATERNIZAÇÃO FAMILIAR [3887]

O antigo appartamento é um labyrintho. Ainda original é o mobiliario e, caso a um templo gothico eu compare-o, attesta seu estylo que não minto.

Attraz da bibliotheca, outro recincto se occulta: é pela porta dum armario, secreta, que se chega ao sanctuario satanico. O ambiente é bem distincto.

Paresce até que eu sempre estive la, assim como em Turim ou em Salem… Alli se reencontram, no sabbath, da casa os moradores com alguem que chega e sae incognito: la está! No centro duma roda, elle está bem disposto: nem paresce que fez ja milhões de anniversarios… Eu tambem.

DIABOLICA

(1)

PARABOLA (1/10) [3911/3920]

“God is dead!”, affirma, afflicto, no vizinho appartamento, o inquilino, abrindo o rito diabolico. Ouço, attento. Meu apê, grande e bonito, tem estylo. Só lamento não prever todo esse agito que alli rolla no momento. Pois paresce-me que adhere ao “Bebê de Rosemary” a familia inteira, alli! Mal consigo accreditar! Bem ao lado do meu lar, Satan mora, chora e ri!

(2)

No centrão, ja decadente, de São Paulo, o que eu sonhara tanto tempo, finalmente encontrei: a joia rara! Neogothico na frente, appesar de não ter clara luz na salla, o apê somente me custou o olho da cara. Mas valeu, pensei, a pena, pois não ha salla pequena nem quartinho neste predio. Suspeitar eu não podia que esse apê do lado iria me impedir de sentir tedio.

(3)

Demorei a mobilial-as, tão solennes são, mas fiz tudo para que, nas sallas, não faltasse o que mais quiz. As poltronas, fui achal-as em brechós e, com lambris, eu forrei ambas as alas do escriptorio: é o que condiz. Lustres, cheios de pingentes crystallinos, mais decentes eu achei para o sallão. No meu quarto, mandei pôr uma commoda da cor que reveste todo o chão.

(4)

Noutro quarto, achei extranho que uma porta só se abrisse para o armario, do tamanho dum saguão… Que exquisitice! Nada alli guardei: ja ganho muito espaço, a mim eu disse, no apposento onde me accanho ao dormir… Quanta crendice! Figurei malassombrado o edificio, mas seu lado luxuoso me accalmava. Eis que, agora, o ritual do vizinho é tal e qual um delirio que se aggrava!

(5)

Toda sexta-feira, escuto choradeira e cantoria noite addentro! Algo de bruto e terrivel se annuncia! Mas, no sabbado, eu imputo a mim mesmo essa phobia: tudo aquillo appenas fructo do meu sonho não seria? Ja cruzei, no elevador, com aquelle morador ou alguem que chega ou sae. São até gentis commigo: consideram-me um amigo e me tractam como um pae…

(6)

Convidou-me elle, outro dia, para um cha… Cruzes! E agora? Recusar eu não podia, pois seria bolla fora. Acceitei, né? Tarde fria, pleno hinverno… Boa hora para aquillo que eu queria: saber como elle decora. Seu apê, gemeo do meu, de mais moveis elle encheu, mas suggere egual comforto. Impressão tive, primeiro, que o local tem forte cheiro do vellorio dalgum morto…

(7)

Só depois eu me dei compta de que aquella extranha porta para o apê do lado apponcta, e tal coisa não comforta… Ao contrario: me ammedronta! Varias vezes, nessa morta, falsa camara eu, à tonta, fui testar si um vão a corta. Caso a camara maccabra dê passagem e, assim, abra um ao outro appartamento… Que accontesce? Que perigo! Si eu dormir, um inimigo entrará a qualquer momento!

(8)

Meu diario se alimenta destas notas, passo a passo… Hoje é sexta e, fora, venta, chove… Eu, lendo, as horas passo. De repente, aquella lenta cantilena escuto! Faço o trajecto até a cinzenta porta e, quando extendo o braço… Está aberta! Mas fechada ella estava! Eu, caso invada o outro lado, que haverá? Pela fresta, vejo luz e a passagem me conduz ao recincto do sabbath!

(9)

Hontem, sexta, finalmente, desvendei, de cabo a rabo, tudo quanto aquella gente pensa e espera do Diabo. Repassou na minha mente todo o filme que, hoje, accabo de rever! Quem não se sente bem, revendo? Até me gabo! Passo a passo, fiz suspense, mas não quero que alguem pense que eu pretenda ser modesto. O que, agora e aqui, confesso, não me dóe: perdão não peço si é verdade o que eu attesto.

(10)

Resumindo, eu agguardado sempre fora! Mal eu entro nessa roda, sou chamado de Satan! Fiquei no centro! Não penetro, não invado: todo o tempo estava eu dentro dessa trama! Sou culpado? Nas perguntas me concentro… Tenho alguma liderança? Meu poder será que alcança cada cantho do Universo? É o que vou adveriguar! Por emquanto, o meu logar infernal é só no verso…

PECCADO INFERNAL [3991]

O Diabo, quando espeta, no trazeiro, um peccador, do tridente é, bem na recta do cuzinho, aguda a dor!

Mas a bicha, que incorrecta ser bem sabe, quando for para o inferno, tem por meta esse garfo empalador!

Tudo é muito relativo…

Cada qual por si decida! Eu, portanto, não me privo de nenhum prazer na vida!

Si do Demo o peido fede mais que fossa na avenida, um masoca até lhe cede a bundinha dolorida…

FIM DO FESTIM [4000]

Não exsiste melhor data, si este outubro chega ao fim, do que aquella que arremacta meu festejo: o Halloween. Ja nem fallo dessa chata molecada; fallo, sim, dos bruxões, da velha natta satanista, minha affim. Harry Potter que se foda! Sua auctora tambem va! Eu commigo tenho toda a familia, no sabbath! No fundão do meu armario (Rosemary morou la) abrir novo itinerario uma falsa porta irá!

UM MAGOTE DE CAMAROTE [4027]

Demora no banheiro. Ou caga, ou toca punheta. A mãe advisa: “A Virgem tá te vendo, hem? E Jesus, hem? Olha la!” Pellado, elle se encolhe em sua toca. Demora mais um pouco. A mãe provoca: “Cuidado, hem? Satanaz tá vendo!” Dá nos nervos e elle quasi que diz {Va tomar no cu!}, mas cala-se, o boboca. Depois elle mattuta: {Porra, é todo um bando me assistindo? Que platéa! Quem é que pode nelles levar fé? Ah! Eu quero ter sossego e só me fodo! Estavam, junctos, tendo a mesma idéa? A Virgem e Satan? É porra a rodo! Então a sanctidade é puro engodo! Quem sabe si é mamãe a mais athéa!}

ORAÇÃO DO PAGÃO [4117]

Satan, que estaes no Inferno, seja o vosso prophano nome egual a zero e esteja bem longe o vosso reino desta egreja na qual rezo, desfeita, ja, em destroço!

Pão fresco, todo dia, não vos posso pedir, que não me venha, de bandeja, aquelle que ammassastes, nem cereja no bollo pedirei, Padrasto Nosso!

Tambem não vou pedir que perdoeis as dividas que temos pactuado ha seculos, por meu antepassado, tamanha a temptação que offeresceis!

Só peço, ó Satanaz, estar zerado: livrar-me de cumprir as vossas leis; trocar, por meia duzia, seis seis seis; quitar, ficando cego, o meu peccado!

MESMA MERDA [4185]

Zeus nos livre! Por um triz não zurziram o rapaz esses vandalos e vis molecões de mentes más!

Que queimal-o vivo quiz um sequaz de Satanaz me mencionam meus gentis informantes infernaes!

O neguinho nem fez nada!

Quem a culpa lhe vae pôr? Mais meresce a molecada ser surrada, si ver for!

Quem, querendo ou não querendo, sendo sempre soffredor, sempre soffre o susto horrendo é o creoulo, e culpa a cor…

DO JEITO QUE O DIABO GOSTA [4406]

Um soropositivo está casado com soropositiva. Vão à festa os dois, onde não entra quem detesta a troca de casaes. Tudo é pensado. Rolleta russa fazem, pois o estado dos outros é normal. Quem pegar esta doença, vae passando e, assim, infesta, aos poucos, todo mundo, que nem gado. Os jovens do perigo teem noção diversa. Alguem mais velho não se arrisca, mettendo-se, qual bispo, com a bisca, deliberadamente agindo, não!

As nymphas, com seus satyros, são isca e o proprio Dionysio amphitryão, mas goza, no final, somente o Cão, que vibra a lingua, emquanto um olho pisca.

CERTEIRO BOATEIRO [5243]

Chegaram a assaltar, no predio, até da cega o appartamento! Esse arrastão no radio foi noticia. A cega não teria posses, era lheguelhé. Os manos, mesmo assim, puzeram fé nalgum boato, acharam que um montão de grana a cega tinha… A frustração custou-lhe pescoção e ponctapé. Quem é que desejou, no proprio lar, soffrer duns assaltantes tanta tara? Fizeram a ceguinha rastejar, às tontas, recebendo os pés na cara! Depois, ao demo ergueram um altar. Comeram-na! Enrabaram! Quem sonhara que Sampa é Cabaceiras? “Me lascar eu quero!”, diz alguem que ella declara.

ACTIVIDADE PHYSICA [5251]

Que dia mais estupido e antipathico! Só tinha que ter sido aqui creado! Paresce que São Paulo foi o estado que a data instituiu, com fim didactico. Agora é mundial! Eu, que sou practico, de “actividade physica” me evado! Ja basta a caminhada! E caminhado eu tenho pela casa, sorumbatico! Gymnastica? Exercicio? Malhação?

Não fosse eu me chamar Glauco Mattoso! Livrae-nos, Pae Sanctissimo e Bondoso! É coisa do Demonio! Obra do Cão! Estou brincando, é claro! Fervoroso christão não sou, mas faço gozação com datas tão politicas e tão correctas, tão oppostas ao meu gozo…

EXAME DE CONSCIENCIA [5280]

Pae nosso, que no Inferno estaes, que nome vos posso dar? De sancto, não, é claro! Não venha o vosso reino a nós, meu caro Papae, si infernal fogo vos consome! Vontade, caso seja a vossa fome de sadicas vinganças, eu declaro que tenho medo della! Não é raro topal-a pela frente! E o bicho come! Aqui na terra, a gente pede pão e leva pau no rabo! Eu devo o cu e os olhos, propriamente, em termo cru, mas, quando vos imploro, choro em vão! Cahir em temptação virou tabu! Peccar não tem siquer a redempção! Que faço, então? Vos peço algum perdão? Ou mando-vos dar rabo a Belzebuth?

DISSONNETTO DUMA FÉ DE MENOS [5343]

Eu rezei, ja, certa vez, quando ainda visão tinha. Implorei, vejam vocês, pela graça da sanctinha!

De orações fiquei freguez e a fazer promessas vinha. Mas a propria vida fez que eu mudasse depressinha. O glaucoma se aggravando, em quem tantos males barra eu ainda creio, quando a cegueira, emfim, me aggarra!

Crente a gente teima em ser no que a Biblia sempre narra, mas Satan tem o poder de meu olho abrir na marra!

DISSONNETTO DUMA VOCAÇÃO EM CRISE [5374]

No convento, o Demo invade duma freira o coração. Ella tem necessidade, ja, do penis dum christão. O que importa é que ella aggrade sua vulva afflicta. Não quer saber si vem dum frade ou dum padre o membro irmão.

Que immoral concupiscencia!

Sim, fremente, sae a freira à procura de quem queira defloral-a com urgencia!

Que pathetica carencia!

Acha o abbade velho e brocha que a linguona nella attocha e a accalmar-se, emfim, convence-a.

DISSONNETTO DUM PASSAPORTE QUE COMFORTE [5375]

Vocação religiosa é difficil ser mantida. Um noviço ja não goza ha semanas, nessa lida. Preces canta. Firme, posa de abstinente, mas a vida na clausura é tediosa e é Satan quem o convida. Que convite demoniaco!

Acha, dentro dum volume de orações, uma que assume seu poder aphrodisiaco. Quem não fica, assim, maniaco? Logo, em ecstase, o noviço vê que só depende disso o prazer paradisiaco.

TREZ DESEJOS [5565]

Ouvi de meu demonio: “Tu possues direito a trez desejos!” Da primeira vez, classico pedi para ser. Crus calões poz-me Satan na penna arteira. Pedi, pela segunda vez: “Jesus, som quero nos meus versos, com inteira orchestra philharmonica!” Fiz jus ao peso dum rockeiro na pauleira. Restou-me um só pedido. Ja deduz alguem que aos céus pedi que de maneira nenhuma me cegassem. Urubus mais sorte teem, visão teem mais certeira. Castanhos os meus eram. Os suppuz azues, si cor pedido for: “Zeus queira!” Quiz Juppiter: meus olhos são azues, opalla, mas opaca, na cegueira.

PACTO INEXACTO [5637]

{Carissimo Glaucão, aqui quem falla leitor é dos seus versos! Eu defendo, na minha these, que você se eguala ao caso de John Milton, caso horrendo! Mas elle se salvou, naquella falla devota, pela acção divina! Vendo tal caso, constatei que sua valla cavou o proprio Demo, como entendo! Pretendo demonstrar que foi Satan quem pacto lhe propoz, no qual compensa as trevas com sonnettos de malsan lascivia, de poetica licença…} -- Não é sua pesquisa assim tão van, mas este pormenor não se dispensa: Satan nada propoz. Sendo meu fan, appenas concordou com essa crença.

NOME FEIO [5670]

Mulher, que feiticeira seja, leva um nome que nos soa meio feio na lingua portugueza. Aqui nomeio Gertrudes, Hermengarda, Genoveva… Commum nesses paizes onde neva, tal nome, quando o citam, ja receio a praga, a maldicção, o manuseio de philtros e venenos, temo a treva. Mas tudo suggestão se nos paresce. O nome Geneviève, si em francez chamado, bello fica. Acham vocês que a bruxa agora até rejuvenesce? Talvez eu faça ao Demo minha prece, por isso me equivoco nos porquês. Mas sexta-feira, treze, todo mez de agosto, uma mulher me reconhesce.

DEVOTAS BOTAS [5711]

Um satanico não dista de quem tenha a mente pia. Todo mundo certa pista dá daquillo que o vicia. Satisfaz o fetichista, todo dia, a phantasia. Quem perdeu, porem, a vista lambe em verso e se sacia. Não paquera nem conquista nenhum sadico, mas cria taes scenarios que, na lista entra até, de algoz, seu guia. Caso disso não desista, botas lambe, quem diria, não do punk ou do nazista, mas do crente… em poesia.

LOUCURA SEM CURA [5720]

Me tractei na acupunctura e motivo para festa não vi. Dizem que ella cura… Xingo curas que nem esta. Me espetaram e foi dura a agonia. Quem attesta os effeitos da fé pura? A tractar-me quem se presta? Recorri tambem à bruxa, que diziam ser honesta. Mas a bruxa disse: “Puxa! Todo mago te detesta!” Me fallou Satan, na bucha: “A afflicção que te molesta nem tem rhyma!” Foi a ducha d’agua fria. Que me resta?

BEIJOCA QUE SE TROCA [5729]

Jovens beijam-se, si está namorando algum casal.

Não um cego. Elle que va beijar pé de alguem normal!

Mas somente um beijo dá no merdoso cu do tal Satanaz quem, no sabbath, tudo em nome faz do Mal.

O cachorro beija dando a lambida mais molhada.

Mas de Judas o nefando beijo pesa mais que espada.

O ceguinho beija quando recebeu a bofetada. Lamberá, sob o commando dalgum sadico, pé cada.

DANSA DEMONIACA [5755]

Certos povos festa teem para a dansa do Diabo! Não é para quem for zen este baile, pois me accabo!

Sei de gente que, porem, si não dansa fica brabo. Eu cholerico ja nem fico e, velho, accalmo o rabo.

Quando danso, ja me vem sensação de ter um nabo bem no cu, mas peido sem ceremonia… Até me gabo!

Cansadissimo, tambem por qualquer coisa desabo numa cama, mas alguem surge, erecto, e então… me enrabo!

STRANGE MUSIC DISSONNET [5790]

Quando alegre está o Diabo, fede delle muito o cu. Lhe apparesce mais o rabo si o Diabo for Exu. De entender disso me gabo e declaro, curto e cru: Elle fica muito brabo si uma musica é tabu. O Diabo dansarino quiz ser sempre, envaidescido. Mas se queixa do destino das canções que tem curtido. Ellas saem, imagino, ja de moda. Meu ouvido musical, desde menino, eu treinei e não me olvido.

BEIJO ALVINEGRO [5835]

No sabbath, alguem oscula do Demonio o cu mais sujo e o coprophago tem gula venial. Disso não fujo. Por fallar no dicto cujo, esta lyra não annulla as menções que um mago ou “brujo” a Deus faça, em furia fula. Mas nem sempre quem do Demo é devoto odeia seu Pae Eterno, Deus Supremo, tão cruel, que o concebeu. É melhor, ja que eu o temo, não ser mesmo tão atheu. Mas, si contra nunca remo, a Satan dou graças eu.

LEUCOPROPHILOS THEOLOGOS [5845]

{Hem, Glauco? O “beijo negro” não é dicto da bocca duma bruxa alli no rabo do Demo? Ora, pensando nisso, accabo chegando a reflexões que não evito… E o cu de Deus? Ninguem beija? Accredito que delle só beijaram a mão! Brabo ficou si lhe quizeram dar no nabo um beijo que entesasse… Estraga o rito!

Hem? Thema theologico, Glaucão! Você não acha authentica a proposta de nisso nós pensarmos? Não apposta que muito se discuta tal questão?} -- Apposto. Mas não vejo um bom christão querendo do Senhor provar a bosta. Talvez um peccador queira, si gosta de caro pagar, antes do perdão…

BLUES DOS MEUS BREUS [5900]

Dormi. Quando accordei, esta manhan, achei extranho: triste nem fiquei. Dormi. Quando accordei, esta manhan, mais triste nem fiquei. Por que? Ja sei! Alegre estou. Nem penso nessa van carencia da visão, em ser o rei na terra dos ceguinhos, pois Satan commigo fez um pacto, uma astral lei. Si sinto muita falta da visão, tacteio o meu sapato, onde procuro a meia que está dentro. Nesse escuro, do cheiro della augmenta a proporção. Blueseiros, muito tristes todos são. Lhes falta alguma coisa? Alli, no duro, não falta, mas precisam do perjuro motivo p’ra fazer uma canção.

MISCELLANEA SUPPEDANEA [5935]

Com minha propria lingua (assim eu brado) suppuz ser puxasacco, dando um tracto debaixo duma sola de sapato usado por politico saphado.

Tambem com minha lingua (Não me evado da culpa: sou masoca, assim constato!) dei tracto, qual cachorro num pé chato, debaixo duma bota de soldado.

Com minha lingua, ainda, fiz eu cada sessão de lambeção (Não é bravata!) na sola dum artista da mammata adepto! Mas ninguem por mim dá nada! De lingua até farei a deslavada cunette num pastor que desaccapta Jesus e de Satan é diplomata, mas sei que elle prefere bruxa… ou fada.

LITORGIA [6091]

Faz tempo que não fallo com a bruxa. Agora a pego, calma, bem de jeito. Pergunto o que, commigo, ja suspeito. E a missa negra? A velha desembucha: {Ah, Glauco! Cê ja sabe disso, puxa! A gente colla a bocca alli, direito nas pregas. Passa a lingua, num effeito de lixa. Sim, de esponja. Até de bucha. Descrevo um movimento circular lingual. Algum volume está adherido às dobras. Que engolir eu nem duvido si tenho. Satan deixa sem limpar. As outras tambem querem o logar. Então eu cedo. Fico vendo. O ouvido sons capta, borbulhantes. Tá servido, Glauquinho? Faltou coisa a perguntar?}

MATTOSALEM [6094]

Disseram-me que muito viverei por ser considerado bruxo, mas ter mais longevidade não me faz nem principe dos lyricos, nem rei. Não sei si vou viver muito. Só sei que eterno compromisso o verso traz si for o nosso thema a Satanaz entregue e si seguirmos sua lei. Até que thematizo o Demo, sim, mas não com toda aquella gravidade. Por isso é que elle sempre persuade a bruxa ao “beijo negro”, não a mim. Provei, sim, seu chulé. Nem tão ruim achei, pois, affinal, sou fan de Sade. Mas, para alguem tão velho, Satan ha de convir que menos fede que um pé “teen”.

HASHTAG VAE MELHORAR [6162]

Glaucão, vae melhorar para teu lado! Fiquei sabendo -- Puxa! -- que ja alguem inventa, para os cegos, o que vem trazer-lhes visão nova! Puta achado! No cerebro collocam, implantado, um troço leve, electrico! Sim, sem usar seu olho cego, o gajo tem imagem duma lettra! Foi testado!

Não achas que esperança a coisa traz?

Não ficas optimista, meu amigo?

Ainda festejar eu vou comtigo!

Percebo que animado agora estás! No seculo vindouro, tu serás vidente novamente! Teu castigo findou! Reencarnado, sem perigo dirás que ja não temes Satanaz!

LUCIFER JUNIOR [6211]

Eu acho que és tu filho do Diabo!

Só podes ser, caralho! Um cego tão pornô, tão bocca suja, nem Adão nem Christo por modello leva a cabo!

Si sou teu sancto Pae, eu não me gabo dum filho do teu typo, Glauco, não! Dizer de mim, caralho, o que é que vão?

Na bocca do povão assim accabo!

Mas sou quem mais, no kosmo, lucifera e em ti me reconhesço, cego puto, poeta que satanico reputo!

Quem sae, caralho, aos seus não degenera! És fera tu no verso? Ora, pudera!

Orgulho-me de ti! Ja nem discuto si posso ser comtigo um tanto bruto, pois, mesmo tão fodido, sim, és fera!

IMMAGICO [6248]

Responde-me, Glaucão: por que te dizes um bruxo, um mago, um typico propheta? Appenas porque, cego, ja te affecta a perda dos momentos mais felizes? Appenas porque exaltas os deslises daquelles que na merda mais completa chafurdam e por seres quem sonnetta accerca de immundicies que tu pises? Mas, Glauco, quem mandou tu seres quem humilha a personagem dum ceguinho? Quem foi que permittiu-te esse mesquinho direito de, em “missão”, seres refem? Foi elle? Foi Satan? Quem mais, alem de Lucifer, te inspira? Ah, não allinho meu codigo comtigo! Meu caminho me leva ao céu! Te cuida, Glaucão, hem?

SERMÃO DA MONTANHA [6262]

Lembrae-vos de que o parto da montanha só deu à luz um misero rattinho! Lembrae-vos de que invertem o caminho aquelles que duvidam da façanha! Sim, para Mahomé não foi extranha a vinda da montanha até pertinho de si, ja que elle nunca foi vizinho de rocha assim tão ingreme e tamanha! Portanto, meus irmãos, não duvideis daquillo que vos digo! Não façaes de compta que desnudos não estaes perante o tridentão do Seis Seis Seis! No picco da montanha vós podeis estar, mas não estaes livres dos ais si as lavas do vulcão forem lethaes a vossos cus, por cuja dor temeis!

DYSANGELICO [6263]

Assim como “utopia” corruptela seria de “eutopia”, cujo opposto seria a “dystopia”, neste posto colloco theologica querella. Se tracta de “evangelho”, que revela tambem um “eu” corrupto, que disposto estou a perverter com meu mau gosto de sempre e que a nenhum Jesus appella. Portanto, “dysangelho” me paresce perfeita, astral antithese daquillo que indica a divindade: sem vacillo, indico Satanaz, a quem fiz prece. Talvez não um Satan que nos fizesse maleficas propostas, porem fil-o ironico, mordaz, ja que tranquillo jamais deixo um leitor que me conhesce.

MACHIAVELLICO [6265]

Tu queres cultuar a minha luz?

Mas lembra-te, ceguinho, de que eu não sou unico, mas uma legião!

Qualquer das minhas luzes te seduz? Advirto-te que um preço ja te impuz a fim de que tu possas ter visão das coisas, mesmo sendo-te illusão: terás que me beijar em muitos cus!

Estás bem preparado? Os bruxos, sim, estão e lingua longa affundam em meu anus! Tens tal lingua, cego? Vem, então, te emporcalhar dentro de mim! À toa Satanaz a ser não vim!

Eu sou machiavellico, meu bem! A lingua que me excita nojo tem?

Terá que bom achar o que é ruim!

BIQUINHO [6268]

Não sou eu contra aquelle que quer dar seu anus, seu biquinho de Asmodeu, annel de Belzebuth, seu rabo, seu “orificio rugoso infralombar”!

Não tenho preconceito! Tenho um ar blasê, desdem exhibo… Talvez meu defeito seja assim, pois eu plebeu jamais fui! Nada posso censurar!

Mas, Glauco, quem quizer dar nada tem que estar a disso obter notoriedade!

Não posso concordar que quem deu ha de querer allardear seu cu, tambem!

Hem, Glauco? Que tu pensas? Sei que bem conhesces das bichonas a vaidade! É tara satanista! Retro vade!

Meu cu só no espelhinho olhei! Eu, hem?

FACEIS FACES [6279]

Martins Fontes nomeia como mestre Satan, Mephisto, Lucifer, e chama tambem de Belzebuth esse a quem ama accyma do parametro terrestre. Sciente, eu ao Cappeta que me addextre pedi, durante as bronhas que na cama batti. Si illuminou-me sua chamma, terei que ser quem sobre elle palestre. Até Melchisedech elle será, alem de Mephistopheles. É quem quizer, pois elle reina para alem de Juppiter, de Baccho ou Jehovah. Tem cara de bebê, tem de gagá, de bruxa, de nympheta… Não é nem bellissimo, nem feio, pois eu, sem visão, nem sei que rosto teve, ja.

APOCALYPSE [6281]

Cyclone bomba… Nuvem ja se vê até de gafanhoto, Glauco! Praga assim é para a gente ver si paga peccados nunca vistos na TV!

Peccaste muito, Glauco? Caso dê, me compta aquillo tudo que desbraga!

Estava demorando um céu que traga castigos que na Biblia a gente lê!

Na data apocalyptica, verás catastrophes ineditas, Glaucão!

Nevar irá durante este verão!

Calor fará que em junho nunca faz!

Chulé não acharás mais num rapaz! Botinas te darão menos tesão!

Comptados nossos dias hoje estão!

Nos resta confiar em Satanaz!

FESCENNINA SABBATINA [6287]

Cagar na tua bocca não vou, mas é só por descomforto meu! Porem vaes tu meu cu limpar bem limpo, sem as mãos, só com a lingua, si és capaz! Accabo de cagar! Agora, faz aquillo que tu sabes! Lambe bem la dentro! Exfrega as pregas! Limpa, alem das pregas, os pellinhos! Limparás? Exforça-te e consegues, cego! Oscula, primeiro, depois sente, com a poncta da lingua, aquelle gosto que ammedronta o crente e de ninguem desperta a gula! Não temas! Caso tua glotte engula um pouco de cocô, leva na compta de infecto sacrificio, pois quem monta na tua cara adora a scena chula!

ESTELLARES ESTELLIONATARIOS [6288]

Na duvida, não sabe ninguem disto que somos nós, poetas: si seremos verdade, si mentira, ja que extremos junctamos, desde Christo até Mephisto. Assim é que, Glaucão, eu sempre insisto na tecla demoniaca, pois demos e sanctos todos somos e fazemos papeis tão differentes, que eu nem listo. Fallar de fake news, de fraude em tudo é moda, mas mal, mesmo, só si for no campo da politica. Si por poetas feita, a lenda admitte estudo. Eu, como tu, confesso, sim, que illudo o publico, que faço, sim, suppor um dubio, controverso, ambiguo auctor de enredos. Só não vale ficar mudo.

DIABRETE [6291]

Ai, Glauco, tenho um filho de proveta! Precisa ver que praga, que pestinha! Ninguem excappa! A todos apporrinha! Eu, hem? Paresce filho do Cappeta! Ainda que eu mamãe boa prometta ser, elle me excarnesce, endemoninha e surta, quer foder-me! Coitadinha da sua amiga, Glauco! Não é peta! Que faço? Ouço você? Dou uma dura? Me livro do moleque? Não será tão facil! Prometteu que contará tudinho pro papae! Sim, elle jura! Ai, Glauco! Tenho medo da tortura methodica que Junior sabe, ja, com jeito practicar! Quer que elle va ahi? Não brinque! É muita diabrura!

FÉ REQUENTADA [6296]

Tu sabes que sou bruxa! Não me evado de causas, consequencias… Não, de nada! Respondo, Glauco, quando perguntada, que é Deus, mesmo, o Diabo disfarsado! Jamais Deus exsistiu! O seu recado, suppostamente biblico, que enfada qualquer pensante cerebro, nem fada aguenta, muito menos quem é sado! Satan, porem, permitte que a figura christan do Omnipotente seja crida, emquanto da gentalha azara a vida e desce dos politicos à altura! luxuria, perversão, vicios, usura, virtudes são, satanicas! Incida alguem nalguma dellas, e valida o pacto, mas sae cara a sua jura!

DESEMPODERADO [6297]

Tardivo uma parabola assim bolla: Satan triste ficou por ver baldada de Job a temptação, depois que nada restava ao patriarcha alem de esmolla. Em merda seu trazeiro Job atola, mas, ‘inda a Deus fiel, não maldiz cada riqueza que lhe fora retirada. Fracasso de Satan, que se desola. Diego, então, suggere o que devia ter feito Satanaz, em vez de tudo de Job ter supprimido: mais grahudo lhe desse seu poder, e mais quantia. Assim envaidescido, Job um dia, com Deus rivalizando, ja raçudo, emfim praguejaria. Satan mudo ficou ante tão clara theoria.

COLLEGA DE COLLA [6309]

Alphonsus, na visão que tem de inferno, suggere que teria Satanaz mostrado num papyro o que elle traz escripto, o seu segredo mais interno. Mas, hoje em dia, methodo moderno tem elle para, aos olhos dum rapaz fanatico, occultar intenções más nos minimos rabiscos dum caderno. Satan traça signaes nas entrelinhas das nossas appostillas de estudante! Sim, Glauco! Reparei nisso durante aquellas sabbatinas comezinhas! Foi colla! Assim mais altas foram minhas as notas do collegio! Quem garante que delle não virá tua vibrante poetica? Com elle não te allinhas?

TRASGO [6310]

No collo da mamãe, a bebezinha paresce innocentissima, coitada! Mas basta que mamãe fique occupada e a docil innocente está damninha! Ja pelo chão a debil engattinha, aggarra, puxa tudo! Pega cada chordinha, cada cabo que lhe invada o campo visual ou da mãozinha! Precisa ver, Glaucão, a quebradeira! Não sobra pedra sobre pedra, nem crystal com mais crystal, pois a nenen a cacos reduz tudo que está à beira! Glaucão, cê quer saber? Isso me cheira a coisa do Cappeta! Não lhe vem à mente esse demonio que detem poderes maus e, por detraz, se exgueira?

PATERNIDADE [6311]

Si Victor Hugo cria a propria fada em forma de Esmeralda, a vê Satan e emprega, a conquistal-a, seu affan. Gonçalves Dias disso faz piada. Sim, sempre essa cigana a alguem aggrada, por isso Satanaz virou seu fan. Mas eis que elle encontrou, certa manhan, alli na cathedral, outra alma amada… Satan perdidamente enamorado ficou pelo Quasimodo! O corcunda virtudes tinha tantas, que redunda cital-as: de pensar nisso me enfado! O facto foi que, mesmo sem veado ser este, lhe comeu Satan a bunda! Parido um corcundinha, a lenda abunda em dados, mas não colla nenhum dado…

PUNHETA LISBOETA [6313]

Poetas portuguezes queixa à bessa faziam do Demonio, que teria Lisboa mergulhado na folia das bichas, situação que lhe interessa. O proprio Madragoa se confessa furioso com os gays, pois sodomia preferem à boceta. Que seria da femea sem seu macho, ora? Sem essa! Occorre que Satan sempre incentiva punhetas, ja que muita phantasia bem sadomasochista propicia a mente do onanista, a mais lasciva. E quanto ao cu, ninguem jamais se exquiva de nelle salivar, caso da via anal seja refem. A bruxaria tributa ao “beijo negro” tal saliva.

ARES CAVALLARES [6314]

Archanjos cavalgar querem, si fores dar credito ao que expoz Jorge de Lima. Eu mesma, que sou bruxa, vou em cyma daquillo que escreveram taes auctores. Porem tu me perguntas si fedores maiores teem os peidos (e se estima que tenham) do cavallo de quem prima por cheiro ter de enxofre entre os odores. Sim, Glauco! De Satan peida fedido o mystico cavallo! Porem ha odor ‘inda peor: aquella má fumaça que Satan peida, querido! Si queres saber, mesmo, te convido ao beijo que nós damos, no Sabbath, naquelle trazeirão! Ah, Glaucão! Ah! Que exsista aroma assim até duvido!

DOSIMETRIA [6315]

O peido do Diabo! Mas que thema phantastico, Glaucão! Si fazem chiste, que façam, ora! Achei que não exsiste questão mais seria que essa these extrema! Si fede enxofre, deve ser problema do grau, da gradação… Acaso ouviste fallar da bruxa Alice? Ella bem triste está! Dirás si é justo que ella gema… Punida por Satan, por ter seus gazes ousado recusar, Alice está sentindo delles muita falta, ja! Terá mais chance, idéa tu ja fazes! No proximo Sabbath, fazer as pazes Alice com o Demo poderá! Mas só si supportar aquella má fragrancia! Augmenta a dose, nessas phases!

PSYCHOGRAPHANDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [6333]

De entrar no que segreda a cova fria então a fim estás, Glauco Mattoso? “Parnaso de Alem Tumulo”, o famoso livrão do Xavier, te influencia? Reler-me ja quizeste, quando, um dia, deitei-me no chão, para de escabroso proposito fallar. Não tive gozo nenhum quando fingi que ja morria. Mas fazes phantasia si vampiro suppões que eu seja, alem de teres sido. Verdade verdadeira aqui decido contar-te, caro Glauco, ou me retiro. Depois que morri, nunca me refiro às luzes dos espiritas! Cahido estive nos infernos! Sim, fedido é o cu de Satan! Cheira, te suggiro!

PSYCHOGRAPHANDO AMADEU AMARAL [6336]

Sonnetto ja compuz -- “Malassombrado” chamei-o -- onde minh’alma comparava à casa dos phantasmas! Glauco, grava bem tudo o que te digo, desgraçado! Tu, Glauco, o criticaste! Do teu lado jamais eu ficarei! Quem só deprava seus themas ousará mandar à fava alheios versos? Quero ser vingado! Vingar-me irei! Cegado seguirás directo aos infernaes dominios, cara! Satan te cagará a titica amara na bocca, nessa bocca assaz mordaz! Sim, para compensar as tuas más analyses poeticas, prepara a fuça, Glauco! O Demo tem a vara mais podre, e mais fedido tem o gaz!

PSYCHOGRAPHANDO CRUZ E SOUZA [6344]

Sonnettos, os fiz muitos, sim, appós morrer ahi na Terra. Mas repara, Mattoso, que insisti nessa tão clara mensagem, nesta minha aberta voz! Ainda que da morte instante atroz não falte, encontrarás logo uma rara e bella dimensão, Mattoso, para livrar-te da cegueira, desses nós! A menos que prefiras retornar à Terra, aonde, cego, tu serás fiel às perversões que Satanaz te inspira! Queres sempre esse teu lar? Mas lembra-te! Terás que chafurdar no lodo onde pés sujos dum rapaz eterno ja affundaram! Ahi jaz a vida que desejas? Vaes pagar!

PSYCHOGRAPHANDO GREGORIO DE MATTOS [6349]

{Gregorio um caso raro de oração deixou em vida, Glauco! Si voltasse, depois de morto, para a sua face mostrar, diria aquillo mesmo, ou não?} -- Eu acho que depende. Seu tesão ainda terá pela bella classe dos jogos de palavras. Isso nasce bem espontaneamente e vem à mão. Mas “emprestado estado” chama a vida e deixa aqui recado para ser pensado. Quem será que tem poder de emprestimos fazer? Cê que decida! Satan si for, nem mesmo um suicida excappa de pagar. Maior prazer tem elle no castigo, pois quer ver punido quem seus debitos liquida.

PSYCHOGRAPHANDO LUIZ GUIMARÃES JUNIOR [6353]

Será que la serei bem recebido?

Será que meus amigos estarão la para me abbraçar, me dar a mão? Ou só com os extranhos eu collido?

Preoccupa-me isso, Glauco! Faz sentido que, mortos, nós sintamos solidão! Ao menos os que morrem antes vão nos dar as boas vindas? Eu duvido!

Luiz Guimarães Junior diz que sim, que somos recebidos com carinho, mas eu, que para a morte me encaminho, questiono-me: e si for outro o festim?

Si for Satan quem olha para mim com olhos sorridentes e, excarninho, ordena-me que beije seu cuzinho?

Glaucão, será que irei achar ruim?

PSYCHOGRAPHANDO RAYMUNDO CORREA [6358]

Raymundo sonnettiza ainda como em vida sonnettou, Glauco! Paresce aquelle que, de cyma, à Terra desce e nota a banda podre em cada pomo! Mas, Glauco, si me illudo, si não domo as minhas emoções (como si desse siquer para domal-as), uma prece não basta para “sapiens” ser um “homo”! Si fosse assim tão facil para nós mudarmos o destino, ora, minh’alma p’ra sempre viveria numa calma perfeita, sem os contras, só com prós! Comtudo, quando ouvimos, rouca, a voz de Lucifer, cahimos-lhe na palma da mão, para rhymar “calma” com “trauma”, “tesão” com “dor”, ou “anjo” com “algoz”…

CRENÇA QUE COMPENSA [6374]

Ouvindo um barulhinho no porão, rezei, Glauco, rezei ao padroeiro. Mas nada addeantou. O que primeiro baixinho foi, virou um barulhão. Rezei, quando um phantasma fez clarão. Chamei Nossa Senhora. Aquelle cheiro de incenso senti. Nada mais certeiro. Agora fede enxofre a assombração. Ainda rezei quando no meu pé tocou o poltergeist endiabrado. Pedi para Jesus, mas o meu lado ninguem olhou. Perdi todinha a fé. Emfim, rezei a Lucifer. Pois é. Não vejo mais espiritos, coitado de mim. Mas peorou o resultado. Commigo o Demo mora, agora, até.

BEBÊS DIABOS [6386]

Espiritos satanicos, Glaucão, estão a vigiar nossa trepada! Do Demo não excappa, mesmo, nada! Vigiam nosso pau, nosso colhão! Sei disso porque, quando fellação practico num parceiro, vem salgada ou doce por demais sua golfada de porra! Taes indicios graves são! Indica, Glauco, o semen de sabor mudado que ja a porra do Cappeta à gosma mixturou-se! Quem punheta batter perceberá que muda a cor! O que isso significa? Ah, que quem for assim contaminado e na boceta pretenda ser quem, macho, o penis metta, será de Satanaz procreador!

BRUXA LUXENTA [6394]

Glaucão, eu amo Lucifer, sabia? Sou mesmo ouriçadissima por seu sorriso de malandro, de plebeu folgado que, em tesão, nos assedia! Mas sabe, Glauco? É muita covardia que exija de nós todas, achei eu, o beijo no seu anus, que fedeu cocô recem cagado! Que mania! Eu faço o que elle queira: chupo o phallo de bode fodedor, deixo na chota, no recto me comer… Mas nessa quota oral de sacrificio não me rallo! Você talvez, Glaucão, que ja tem callo na lingua, achasse leve essa devota beijoca anilingual, mas a velhota aqui tem nojo! Creia no que eu fallo!

CANINA PERCEPÇÃO [6454]

Que typo de phantasma tu tens visto?

Daquelles que morreram e que nós até reconhescemos pela voz, ou seres mais extranhos? Pensas nisto?

Alguns não te parescem por Mephisto uns entes enviados? Teu atroz breu torna-te possivel, quando a sós estás, notar que irmãos não são de Christo?

Attestas, Glauco? Os entes que tu vês não eram teus parentes? Quem, então, seriam? Mensageiros que, do Cão, recado dão que chega a nossa vez? Cruz credo! Te exconjuro! Sou freguez de tantos maus agouros! Ja não são bastantes os espiritos que vão surgindo pelo olhar dos meus bassês?

CHORO E RISO [6595]

Catholicos, Glaucão, não teem tamanha paixão por Satanaz como a que teem os crentes evangelicos! Ninguem na vida delles tal carinho ganha! Só fallam de Satan! A gente extranha, até, tal obsessão! Será que vem o Demo, toda noite, fungar bem na cara dos coitados? Quanta manha! Ouvi, la na favella, a mãe daquella putinha conhescida, que chorava por ter Satan da filha feito escrava! A puta ja mostrou sua sequela! Hem, Glauco? Sabe como se revela a face de Satan? No riso! Brava em vez de ficar, esta só destrava a cara, a rir à bessa! A vida é bella!

PAGAN BABY [6651]

Você nasce christão, Glauco, ou se torna?

Eu nunca me tornei, mas meus paes são christãos. Me considero, pois, pagão. Martello bem combina com bigorna!

A van theologia nos suborna, mas della desisti! Tornei-me tão atheu, que me daria Sade a mão! Aqui, porem, o caldo sempre entorna! Christãos são os mais sadicos, meu caro!

Ja basta a Inquisição, o manual completo de tortura! Ao sexual principio do sadismo é que o comparo!

Si para a crueldade tanto faro os frades demonstraram, nesse mal teem fé! Terão, portanto, um infernal conceito do Senhor! Fui, Glauco, claro?

KABBALISTICA MYSTICA [6666]

Faz tempo que com numeros eu brinco, tentando recordista me tornar. Gabei-me de chegar ao patamar daquelles cinco, cinco, cinco, cinco. Parar não consegui, pois, com affinco, prosigo na missão de completar seis, septe mil… Quem sabe em qual milhar irei da producção fechar o trinco? Emquanto aos septe mil não cheguei, eis que imploro pela adjuda de quem faz questão de inspirar, toxico, o meu gaz e ja se numerou seis, seis, seis, seis. Me disse Satanaz: “Sim, vós tereis no verso o meu espirito mordaz, mas só de versejar sereis capaz si fordes seguidor das minhas leis!”

THEMAS DE TELEPHONEMAS (4) [6714]

Alô? Glauco Mattoso? Sou o Freitas! Me explica si é verdade, si é fofoca: Alem de seres cego, és tu masoca? Que quer isso dizer? Soffrer acceitas? És membro, por acaso, dessas seitas satanicas? Quem Lucifer invoca ser cego necessita? Numa toca precisa se enfurnar? Tu te subjeitas? Faz parte, então, da tua condição ouvir, por telephone, essas offensas que nós, normaes, fazemos? Que tu pensas?

Sabias que me deste bom tesão? Me deste, sim! Pensei: minha visão é boa, Glauco! Quantas differenças separam-me de ti! Nas trevas densas tu vives! Vejo cores, mas tu, não!

FOOTPRINTS IN THE TONGUE [6817]

Glaucão, eu te conhesço! Tu querias ter lingua do tamanho dum capacho, não negues! Alem disso, vate, eu acho que solas tu não queres tão macias! Entendo-te! Tambem eu, nestes dias, andei me perguntando: si sou macho de facto, por que, sempre que me aggacho, me chuta a mulher? Temos, sim, manias!

A tua, todavia, mais extranha será, pois imaginas uma sola de bota, que te marca, que te exfolla a lingua, te machuca, lesa, arranha! Si tu tivesses lingua assim tamanha, teu sonho nem serias quem controla e sim algum demonio, que em ti colla, tentando usufruir da tua sanha!

PROSA MILAGROSA [6835]

Glaucão, quem mais peccou? Dum cego os paes ou mesmo o proprio cego, caso seja adulto e bem conhesça as leis da Egreja? Quem fica cego culpa até tem mais? Está nos Evangelhos que teus ais seriam merescidos! Que não veja alguem, peccando ou não, ah, Deus deseja! Licções taes apprender, Glaucão, tu vaes? Jamais apprenderás? És bem teimoso, ceguinho miseravel! Não concordas que chupas pau e themas taes abbordas por tua propria acção, Glauco Mattoso? Nem Christo te curava, pois tens gozo fazendo o que tu fazes! É melhor das palavras de Jesus, que bem recordas, lembrar-te nos poemas ao Tinhoso!

CRENTE DEFICIENTE [6836]

Poeta, si perdesses a visão em epocha de Christo, que dirias àquelle que das trevas mais sombrias curava quem dissesse ser christão?

Dirias que em Satan não crês e não practicas as mais negras bruxarias? Dirias que consagras os teus dias restantes ao Senhor e à salvação?

Dirias que teu verso ja até crê na palavra de Jesus e de Moysés?

Dirias que sacrilego não és e nunca maldisseste tua pena?

Dirias que, tal como Magdalena, querias é lavar de Christo os pés, beijal-os e lambel-os attravés dos dedos? Mas tal coisa Deus condemna!

EFFICAZ É SATANAZ [6837]

Você tambem, Glaucão, de retenção de gazes soffre? Porra, não aguento mais este meu constante extuphamento nas alças do intestino! Que afflicção!

O peido nunca sae, poeta! Vão se enchendo de cocô os canaes! Eu tento cagar, mas entupi-me! Sem alento, até para Satan faço oração!

Demora, mas, emfim, Satan attende e eu loto uma privada de cocô mollissimo, perfeita lama, pô!

Laxante bom pharmacia alguma vende? Qual nada, Glauco! Disso quem entende é mesmo Satanaz! Elle pivô será de toda merda que, em pornô contexto, uns dissonnettos sempre rende!

ESCRIPTURAS ÀS ESCURAS [6854]

Mattheus, seis, estou lendo, Glauco! Diz, em vinte e dois e trez, que minha luz depende do meu olho! Se deduz que sejam sãos meus olhos e eu feliz! Si tenho olho normal (e eu nunca quiz defeito ter nenhum), só farei jus às luzes mais brilhantes que suppuz fazer por merescer! E eu sempre fiz! Mas tu, pelo contrario, tens doentes teus olhos de nascença! Assim, estás às trevas condemnado! Satanaz quer nelle ver os cegos todos crentes! Pois é! Nesses teus versos, não desmentes aquillo que Mattheus disse, veraz! Jamais com esses olhos tu verás nenhuma luz divina, nem com lentes!

PAZUZU [7108]

Demonio original, o Pazuzu!

Embora no cinema tenha feito carreira, sempre assume elle outro jeito no modo de exhibir-se a um olho nu! Por vezes, elle mostra só seu cu, soltando flatulencias, mas suspeito que esteja, ja, assumindo outro conceito, alem dos practicados no vodu!

Sim, elle usa até farda, Glauco! Ouviste fallar? Está mais gordo, mais mollenga, tal como decadente e velha quenga, que perde predicados, pobre e triste!

Mas ‘inda nos rompantes, dedo em riste, quer elle ter clareza… Na capenga postura, praguejando sua arenga, no numero de mortos elle insiste!

MOTTE GLOSADO [7560]

Seja umbanda ou candomblé, com Kardec a coisa affina.

Com Satan ou com Exu, com um padre ou pae-de-sancto, tanto faz, ja que faz tanto tempo que eu tomei no cu. Quem cegou-me poz a nu a missão que, fescennina, me compete: na botina pôr a lingua, e pôr no pé.

Seja umbanda ou candomblé, com Kardec a coisa affina.

MOTTE GLOSADO [7580]

O Diabo, quando dansa, é signal de diabrura.

Quando a vista perdi, som escutei de tarantella.

“Quem será que dansa aquella musiquinha alegre, com esse espirito tão bom?”

Logo eu soube: quem factura com tal dor e tal tortura é Satan, que faz festança!

O Diabo, quando dansa, é signal de diabrura.

MADRIGAL COLLEGIAL (1/3) [7801]

Si todos que soffressem bullying nas escholas se vingassem, Satanaz seu pau não deixaria nunca em paz.

(1)

Verdade é que punhetas elle batte por tudo que é tragedia, mas não ia sobrar tempo nem porra si, num chat da funda rede, cada alumno fria vingança architectasse! Elle que tracte de estar, pois, preparado para a orgia!

(2)

Agora virou moda. Quem só latte não morde, mas a victima que, um dia, currada foi por jovens do quilate daquelles que exporraram na macia boquinha deste cego, caso macte uns dez, expanto ja não causaria.

(3)

Seu tempo perde aquelle que combatte o bullying. Si nalguma academia ainda ha trote, sempre eu, como vate, do thema tractarei, mas poesia nenhuma será como o disparate de quem achou que a coisa accabaria.

MANIFESTO SATANISTA

(1)

(1/6) [7919]

“Entendo disso, Glauco! Quando alguem fez pacto com Satan, eu reconhesço! Bastante é nos seus olhos olhar bem e vejo si mui alto foi o preço!”

(2)

“Não basta que invoquemos, em Salem, Turim, Apparescida ou no endereço dum templo ou dum terreiro, o que nos vem em forma dum Exu, torpe e travesso!”

(3)

“Mas urge incorporal-o, Glauco! O Alem excolhe seus discipulos! Advesso não sendo a Satanaz, você tambem cedeu, não é? Me conte do começo!”

(4)

-- Você desconfiou? Que viu em mim? Ah, claro! Viu meu olho, que postiço não é, mas azulado pelo fim das luzes na cegueira, foi por isso!

(5)

Então sabe que Lucifer ruim jamais tem sido! Tenho um compromisso com elle, como o “bluesman”! Quando vim a versos compor, houve esse feitiço!

(6)

Agora virou vicio! Posso, emfim, dizer a quem, de facto, sou submisso! Só faço sacrificio no festim, beijando um cu que nunca foi castiço!

MANIFESTO PROSELYTISTA (1/2) [7954]

(1)

{Sou bruxa, sim, Glaucão! Sem culpa, assumo! Até vou convidar você, meu caro, a minha activa seita conhescer!

Você, que eu sei, é bruxo. Quanto a mim, fundei um movimento satanista ao qual ja muitos magos adheriram. Faremos, Glauco, junctos um tremendo furor! Agitaremos o pedaço!

Nem pedra sobre pedra deixaremos! Estude do bruxismo com carinho o methodo proposto e dê retorno, Glaucão! Aos inimigos nós iremos causar choro e ranger de dentes, hem?}

(2)

-- Lamento não seguir o mesmo rhumo que segue você, linda! Não declaro que estou em desaccordo. Com prazer festejo o movimento. Mas festim egual faço sozinho. Sem a vista, prefiro na clausura, aos que me admiram, mensagens enviar. Só recommendo cuidado com os dentes e lhe faço, tambem, a confissão: de tanto os demos ouvir, mordi da lingua um pedacinho… Agora mais insomne, tal suborno evito. Equidistante dos extremos, versejo sem razão dar a ninguem.

FESTA DE SÃO BARTHOLOMEU (1/3) [8031]

(1)

Naquella millennar mythologia hellenica, a caixinha de Pandora continha tudo quanto ruim era. A caixa não podia ser aberta, sinão os varios males fatalmente iriam se expalhar por todo o mundo. Mas foi, pois sempre pincta algum curioso. Ficou na caixa appenas a esperança, dos males o menor, que sempre resta.

(2)

Pois é: segundo alguns, a cada dia que passa, a coisa mais e mais peora e o tal Apocalypse, que chimera temida foi, agora como certa e celere esperança quer a gente que seja a salvação. Tambem segundo alguns, aquillo que era pavoroso se torna preferivel. Não se cansa a mente da crendice mais funesta.

(3)

Tambem o meu palpite eu lhes daria, pois acho que o peor não é de agora e sempre esteve a pique, em quem espera, de, emfim, fazer sentir-se. Bem allerta, portanto, sempre estive e, experiente que sou, do meu abysmo mais profundo lhes fallo. Não, não é Glauco Mattoso quem falla, mas Satan que, feliz, dansa no rhythmo saltitante desta festa.

SEGUNDA RHAPSODIA FREYREANA (1/2) [8363]

(1)

Gilberto Freyre cita americano auctor, que pesquisou a tradição da “Sola do Sapato”, como culto sagrado, devoção à Virgem Sancta. Viu Ewbank não somente quem beijasse a sola na parede branca, mas quem, soffrego, a lambesse e seu nariz rallasse em qualquer aspero solado suppondo que o calçou Nossa Senhora…

(2)

Tambem Dominus Plinius foi uffano devoto de tal practica. Foi tão alem, que a propria mãe fez, por insulto à Virgem, confundida ser com tanta crendice, que não morre e que renasce. Beijei solas, tambem, mas dum rapaz pagão, atheu, prophano, dos mais viz, pensando ser Satan quem terá dado ao joven tal condão, que um cego adora…

RHAPSODIA ORWELLIANA (1/5) [8365]

(1)

Dois classicos britannicos me dão materia prima para muita prosa e verso: Anthony Burgess e George Orwell. A scena de LARANJA em que uma sola lambida foi em publico e serviu de prova da lavagem cerebral será sempre emblematica, mas ‘inda mais tragica foi outra, quando a bota pisando um rosto humano representa aquillo que o futuro nos reserva.

(2)

Foi Winston doutrinado sobre quão total pode uma causa desastrosa ser para algum fanatico que absorve idéa auctoritaria, em que se isola do mundo mais plural, como se viu agora num Brazil eleitoral. Jamais a lucta civica se finda nos termos dum mandato, mas quem vota na bota, militar ou poeirenta, de exercito ou milicia, tem caterva.

(3)

Caterva tem quem vota em capitão mandando em general, quem vota em rosa menina e azul menino, em quem promove laranjas na mechanica gaiola de cegos assuns pretos, em quem psiu faz para Satanaz, na virtual intriga, aos bastidores, só, bemvinda. Caterva tem quem segue um idiota que os outros xinga assim, tem quem sustenta projecto que a lei magna não observa.

(4)

Tem isso quem caterva na nação colloca, pelo voto ou pela glosa das redes sociaes, prova dos nove da frivola fofoca, que só colla aos trouxas, cuja puta que os pariu accolhe quantos della fallam mal. A rede inexoravel é: quem brinda ao odio, odio terá. Quem patriota se julga mas advoga a violenta sahida, nem conserva, nem preserva.

(5)

Prefiro ter pacifica noção das coisas. A maneira mais gostosa de solas lamber, caso alguem me sove, é o gozo controlar de quem controla o nosso gozo, como descobriu um sadomasochista que em total cegueira mergulhou e aquella linda imagem colorida ja nem nota. Quem lambe, como lambo, o que nos tempta excusa vicio em fogo, jogo, ou herva.

PARABOLA INFERNAL [8559]

Satan, no Inferno, o cu dum cappetinha espeta com seu masculo tridente e falla: “Ahê, moleque! Está certinha a tua visão? Olha a Terra! Ah, gente estupida! A cambada se encaminha aos templos! Vão orar! Ha quem invente tarefa mais inutil? Me apporrinha aquella communhão de gente crente! Vae la, moleque chato, faz a minha vontade e espeta a bunda dessa ardente e casta multidão! A ladainha do povo virará ranger de dente, gemido e choradeira! Si à sanctinha rezarem, faz que nada consequente succeda! A lei de Murphy será a linha de tudo que virá daqui p’ra frente! Àquelles que duvidam da damninha funcção deste meu reino, tu somente apponcta-lhes, na charta de Caminha, a dedo o que eu ergui pelo Occidente! Verão quem sou, os trouxas, depressinha! Na volta, deixarei teu cu mais quente!”

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