OITO DE JANEIRO
Glauco Mattoso
OITO DE JANEIRO E OUTROS SONNETTOS
São Paulo
Casa de Ferreiro
Oito de janeiro
© Glauco Mattoso, 2024
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
OITO DE JANEIRO E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024 112p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.
Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.
O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.
Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.
DIA MUNDIAL DO ASTROLOGO
Astrologos, de novo? Ja compuz poemas que commentam a mania daquelles que calculam o meu dia appenas na amplidão vendo uma luz!
A mero drama a coisa se reduz no caso do ceguinho que sabia faz tempo qual será sua agonia, pois todos elles levam nos seus cus!
Os cegos de nascença são nascidos nos signos mais diversos! E dahi, si todos, egualmente, estão fodidos?
Eu, como ja vi, sei que me fodi por ser de cancer, tendo os meus pedidos aos céus ja recusados de per si…
DIA DA GRATIDÃO
Tu deves te sentir a Deus mui grato, poeta! Affinal, foste sorteado e estás com a justiça do teu lado, justiça que é divina, em senso lato!
Verdade é que glaucoma tens de nato, que desde pequenino tens tomado no rabo, no sentido figurado, alem do litteral, que eu bem constato!
Verdade é que soffreste, ja, por tudo que possa accontescer de mau a alguem, mas ‘inda assim tens sorte, não me illudo!
Hem? Pensa bem! Escutas tudo, sem problema! E si tu fosses surdomudo, alem de cego? Porra, falla “Amen!”
DIA DO MENSAGEIRO
Glaucão, boas noticias tenho para você, que recebi da minha thia cigana! Fim terá sua agonia! Em breve, morrerá! Que bom, né, cara?
Certeza tenho: toda a sua tara jamais lhe compensou o que perdia em termos de visão! Era mania, appenas, que não basta a quem se azara!
Sabendo que você não tem mais chance de ser feliz, a minha thia, que é vidente, é que incumbiu-me deste lance!
Então, o recadinho della até que pode ser bemvindo! Caso danse mais cedo, ‘ocê se livra! Bote fé!
DIA DOS REIS MAGOS
Então a tradição de dar presentes ja vinha desse tempo, né, Glaucão? Papae Noel chegou depois, então? Entendo… Simples eram essas gentes!
Mas ‘inda algum gostinho tu não sentes ganhando ou dando, mesmo um só chartão, em epocha de festas? Hem? Tu não achaste que são datas condizentes?
Si foram mesmo reis, si foram trez, é coisa de somenos! O que importa é, para a minha loja, haver freguez!
Espero que tu, nesta minha porta, encontres as lembranças que talvez a alguem sejam o pouco que comforta…
DIA DA IMMUNIDADE VITALICIA
Por meio deste licito decreto, concedo eu, a mim mesmo, doradvante, total immunidade, ‘inda que deante de casos criminaes. Serei directo:
Não posso, nem siquer por desaffecto algum, ser accusado de arrogante, tyrannico ou brutal. Sou commandante, agora, desta porra por completo.
Ninguem que possa ser meu opponente entrar neste paiz mais poderá, tentando se eleger! Jamais! Nem tente!
Em caso de insistencia, claro está que fica condemnado esse insistente à pena capital! Vigore ja!
DIA DO TECHNICO ANTIPATHICO
Terão que me engolir, todos vocês, seus merdas! Vocês sabem quem sou eu?
Quem quiz desmerescer-me se fodeu! Eu sou muito mais eu, seus fedepês!
Treinei ja muito time de burguez, de elite e de povão! Nem europeu capaz foi de vencer um clube meu! Ninguem por este esporte melhor fez!
Me encher o sacco sempre vem alguem si soffro uma derropta! Mas ninguem me vem elogiar como meresço!
Quem é que mais talento tem? Hem? Quem? Vocês jogaram bolla? Ninguem tem direito de foder-me, em desappreço!
DIA DO POETA ANTIPATHICO
Terão que me engolir, todos vocês, seus merdas! Vocês sabem quem sou eu?
Quem quiz desmerescer-me se fodeu! Eu sou muito mais eu, seus fedepês!
Milhares fiz, com thema de burguez, de elite e de povão! Nem europeu poeta tem recorde como o meu!
Ninguem pelo sonnetto melhor fez!
Me encher o sacco sempre vem alguem si exijo o que me cabe! Mas ninguem me vem elogiar como meresço!
Quem é que mais talento tem? Hem? Quem? Vocês compõem sonnetto? Ninguem tem direito de envolver-me em desappreço!
DIA DA CONSCIENCIA CEGA
A negra consciencia adduz orgulho. A cega consciencia adduz trabalho. Consiste em entender onde é que eu calho melhor a quem enxerga, sem barulho.
A bocca, alem das mãos (e não empulho ninguem) nos pés eu uso. No caralho eu tenho que provar que, ao menos, valho bem como chupador, sem ter engulho.
Cegueira, desde sempre, escravizou alguem que della seja portador. Prazeres dar faz parte do meu show.
Massagens eu farei, é de suppor. Alem disso, melhor prazer eu dou a quem vê bem: sentir-se superior.
DIA DO SOFFRIMENTO INSUPPORTAVEL
Magina, Glauco! Coisas bem, mas bem peores um ceguinho padescia no tempo de Jesus! Você sabia que todos o faziam de refem?
Fallava-se que, quando fica alguem cegueta, tem que ser sua agonia a maxima possivel, pois iria pagar os seus peccados… Senso tem!
Ou foram os seus paes os que em peccado estavam, ou foi elle mesmo quem peccou! Tem que pagar, o desgraçado!
Alem da perda, aguente, sendo zen ou não, a malvadeza! Acho um boccado gostoso tortural-o! Legal, hem?
DIA DO LEITOR
Embora quem escreva appenas queira pôr para fora a sua confissão, bem sabe que ninguem será si não tiver algum leitor de cabeceira.
No caso do ceguinho, uma maneira melhor não encontrou de dar tesão a todos os que, lendo, vão na mão gozar da sua tara costumeira.
Sonnetto por sonnetto, quem o lê diverte-se com sua masochista mania de, nos pés, achar buquê.
Até que este ou aquelle, que não dista da casa do escriptor, feito um michê factura ao pisar nesse heroe sem vista.
DIA DA LIBERDADE DE CULTO
Fiel um seja a Christo, outro ao Islam, um outro ao judaismo ou ao buddhismo! Por que, então, me censuram quando scismo que sou fiel devoto de Satan?
Não posso tolerar que, si sou fan ardente dum crescente satanismo, me queiram accusar de num abysmo jogar-me, sem temer meu ammanhan!
Não ha, neste paiz, a liberdade de culto? Onde estará qualquer problema si pago pau ao Demo ou a algum Sade?
Quem seja libertario que não tema chamar por Satanaz, caso lhe aggrade seu cu beijar e disso fazer thema!
DIA DO PEIDO
Um unico problema, aliaz, vejo num culto que, satanico, me exija chupar, alem da rolla quente e rija, um anus infernal e malfazejo!
Por vezes, quer Satan fazer gracejo commigo! Sim, depois que lhe lambi, ja, as pregas todas, elle até se mija de rir, pois me peidou, curtindo o ensejo!
Aquillo desconcerta alguem que está pagando o seu tributo serio ao cu satanico! Um fedor terrivel, ah!
Mas, para Satanaz, nenhum tabu exsiste! Elle gargalha, KKK, agora na persona dum Exu!
NATIONAL PASS GAS DAY
Peidar, eu peido mesmo, menestrel! Mas gosto de peidar quando tem gente por perto, muita gente! Quem aguente não ha, mas esse é mesmo o meu papel!
Difficil é conter o riso! Ao bel prazer, expalho peidos, de repente! Depois, finjo que estou indifferente ou mesmo offendidão! Dou de Miguel!
Em casa, penso nisso: então gargalho à bessa, abertamente, p’ra caralho, lembrando dessas caras ammarradas!
Por vezes, entre amigos, eu expalho fedidas bufas! Elles o meu galho não quebram: ja levei umas porradas!
DIA DO CRITICO LITTERARIO ENTREVISTADO
Eu acho que esse livro… Sabe? Eu creio que seja talvez uma… Por assim dizer… novella. Sabe? Para mim seria, sim, novella, sem rodeio!
Mas acho que seria, sem receio de errar, um bom romance, pois ruim jamais será! Das obras que ja vim a ler, é grande! E fraccas, muitas leio!
Eu digo que é novella -- Sabe? -- pelo tamanho, mais extenso que num conto, menor que num romance… Ha que dizel-o!
Só quero resalvar -- Sabe? -- este poncto num livro tão fiel ao seu modello pornô… Bem, não gozei… Mas dou descompto.
DIA DA INTENTONA NEGACIONISTA (1)
Um anno se passou daquelle dia que muitos anarchistas acham lindo. Foi quando uns idiotas destruindo estavam a actual democracia.
Estavam? Ou pensavam que estaria alguem, ainda agora, quasi findo um seculo de golpes no malvindo historico nazista, na apathia?
Apathicos não somos, mas podia alguem mais proactivo ter cuidado com tudo que, de vidro, quebraria.
Os vidros recollocam-se. Do gado que estava alli brincando de anarchia alguns presidiotas teem sobrado.
DIA DA INTENTONA NEGACIONISTA (2)
Não eramos nós, Glauco, quem estava alli naquelle dia! Só podia ser coisa dos communas! A anarchia no povo se infiltrou! Agora, aggrava!
Aggrava ao nosso lado! Mas à fava mandamos os que dizem, hoje em dia, que é só “patriotario” quem queria descer, nos trez poderes, brava clava!
Que todos meresciam, meresciam, aquelles burguezissimos, fingidos de escravos dos peões, que nunca piam!
Mas, quando nós piamos, nesses idos dum oito de janeiro, os que mais chiam são esses que se dizem divididos!
OUTRO OITO DE JANEIRO
Si nosso golpe for bem succedido, poeta, ah, com certeza lhe prometto que iremos enforcar quem neste ghetto jogou-nos, só com pincta de bandido!
Assim que me empossar, Glaucão, decido prender esse juiz que deixou preto o nosso julgamento! Não commetto sinão o que estivera decidido!
As ordens seguirei do capitão, mas antes deixarei, alli na praça, contente toda aquella multidão!
Talvez a guilhotina tambem faça a sua parte nessa insurreição, voltada a quem nos chama de reaça!
DIA DA DICTADURA INABBALLADA
Um acto programmamos nós aqui em casa mesmo, Glauco! Só tem gente fiel ao capitão, que descontente ficou depois daquelle rififi!
Accusam-nos de muito mimimi, mas veja bem, poeta, simplesmente queremos restaurar uma decente republica, mais firme e forte, em si!
Fechamos o Congresso, que só fica as coisas discutindo o tempo todo! Fechamos o Supremo, uma titica!
À morte condemnamos quem appodo de “gado” nos puzer! Unica picca será a do capitão! Nessa me fodo!
DIA DO ANNIVERSARIO DE ELVIS
Diziam que exquescia as lettras, ora cantando uma palavra, às vezes uma ja muito differente. Mas nenhuma fofoca se comprova, ainda agora.
Só que isso pouco importa. Quem adora esse idolo do rock encontra alguma noticia que faz, como se costuma dizer, furor. E o povo commemora.
Sim, Elvis se lembrava até da data que cada bassê delle tinha para fazer anniversario! Fonte exacta!
Agora ninguem lembra duma rara lorota sobre lettras. É mais grata aquella dos bassês. Nem se compara.
DIA DO PHOTOGRAPHO
Você ja foi filmado, Glauco, quando lambia a bota suja dum extranho que, como commentavam, nem de banho gostava. Continuam commentando.
Mas, quando foi você, sob o commando dum sadico photographo, sem ganho nenhum, photographado com tamanho pau dentro da boccarra, achei nefando!
Não, Glauco! Que você chupe caralho, que lamba alguma bota, até que entendo! Mas photos não! Aquillo só dá galho!
Horrivel eu achei! Achei horrendo! Prometto que taes photos não expalho nas redes, mas ja todos estão vendo!
DIA DE ROLLAR ALGUMA ACÇÃO
Tal como numa lettra adolescente de rock, em busca duma sensação gostosa, à rua saio, mas ja não encontro uma gallera tão valente.
Calçando os “walking shoes”, eu vou em frente, sozinho pela rua. Meu tesão seria alguma mina currar. Tão difficil! Ja não vejo quem me tempte.
Voltar sem ter tirado um sarro? Nada! Mas eis que vejo um cego bengalando e parto para a acção tão desejada!
Exmurro, dou rasteira, chuto… Quando o cego se adjoelha, dou risada e faço que elle chupe, ao meu commando!
DIA DE NÃO ROLLAR ACÇÃO NENHUMA
Tal como numa lettra adolescente de rock, estou aqui, sem fazer nada, curtindo uma preguiça. Até que aggrada ficar em casa à toa, simplesmente.
Ouvindo os meus Ramones, de repente vontade me dá, louca, de ouvir cada canção do Cambio Negro, uma addoidada gallera de rapeiro delinquente.
Em vez de sahir, com meus “walking shoes”, me lembro do ceguinho que faz jus à fama de masoca. Ja currei-o.
Guardei seu telephone. Meus pés nus lamber iria. A rolla, me seduz que chupe novamente. É bom recreio.
DIA DO CYCLOVIAJANTE
Alem de pedalar por uma estrada deserta e ser chamada de palhaça, passou pela Amazonia! Ora, ha desgraça mais certa e previsivel, camarada?
É claro que seria assassinada, Glaucão! É necessario que se faça alguma appuração do que se passa na selva, mas tal thema até me enfada!
É risco calculado, equivalente ao picco do Everest entre alpinistas! Agora, que essa historia a gente aguente!
Respeito quem almeja mais conquistas, mas sempre nós devemos ter em mente que são desmiolados taes cyclistas!
DIA DA TEMPORADA DOS TEMPORAES
Prevejo que será “novo normal”, Glaucão, o calorão que nos submette a tantos temporaes, a cada septe solões abbrazadores. É fatal!
Agora mesmo, um novo temporal mais arvores abbaixo põe! Promette deixar sem luz os predios la da Glette, da Luz, da Lapa, até da Marginal!
Você, Glaucão, nem liga, pois não vê… Não é? Tá, nem pensei na geladeira, pensei foi, na verdade, na TV!
Concordo, sim, que caso você queira teclar seu sonnettinho, até que dê, o jeito é salvar dentro da caveira…
DIA DA PACIFICAÇÃO DA POLARIZAÇÃO
Prevejo que será “novo normal”, Glaucão, essa actual rivalidade de esquerda e de direita. Na verdade, a coisa sempre fora assaz real.
Alguem sempre deseja pôr o tal do “panno quente” em cyma. Mas quem ha de negar que somos sempre essa metade do povo, num periodo eleitoral?
Você, não sei, Glaucão, mas eu prefiro ficar mesmo do lado da direita, pois sempre practiquei, com gosto, o tiro…
Alem de fuzilar, a gente acceita tortura à dissidencia. Me refiro ao choque, ao pau de arara, às curras… Eita!
DIA DO ASTRONAUTA
Incrivel! Quer dizer que, mesmo appós ter dicto um astronauta communista que, alem de azul, a Terra, à nua vista, redonda era tambem, se cala a voz?
Nenhum negacionista, que entre nós pullula, achei que, estulto, não insista que é plana a Terra, mesmo que a conquista da Lua haja chocado meus avós!
Que coisa! Como tanta gente incauta se diz terraplanista, ja passado um tempo do que disse esse astronauta?
É duro discutir com esse gado bovino, menestrel, pois essa pauta paresce que virou questão de Estado!
DIA DE BRINCAR DE DEUS
Brincar de Deus é facil e gostoso, Glaucão! Eu mesmo gosto de fazer, frequente, esse exercicio de poder total, de ser potente e poderoso!
Sim, brinco com insectos! Tenho gozo mactando, torturando… Que prazer desfructo quando faço-lhes valer meu gosto de rir delles, feito um Bozo!
Baratta, pulga, mosca, até formiga eu juncto num aquario que, sem ar nem agua, vae gerando muita briga!
Se mactam elles mesmos, num logar inhospito! Né, Glauco? Não me diga que Deus não sou capaz nem de imitar!
DIA DO FICO
Hem, Glauco? Nem duvido que tu queiras e torças para aquelle gesto lindo tornar-se, emfim, real, firme e bemvindo: Abel jura que fica no Palmeiras!
Ja muitos duvidaram! As carreiras dos technicos, em euros, vão subindo, em dollares tambem, num forte e infindo processo que, da bolla, são as feiras!
Mas elle prometteu que ficaria, né, Glauco? Tem certeza? Não foi bem aquillo que elle disse certo dia!
Bem, hoje saberemos… Si ninguem dos outros times muita bruxaria fizer, elle dirá que fica! Amen!
DIA DA MESA DE TRABALHO
Hem, Glauco? Os escriptores todos são bastante bagunçados! Sua mesa ninguem me convenceu jamais que illesa ficou ao chaos total da profissão!
Poetas, então, perdem-se, de tão malucos e inbecis! A luz accesa exquescem, nunca fazem a limpeza do quarto onde trabalham, nem farão!
Magina! Aquella pobre escrivaninha está todinha cheia da maior mixtura de ideaes! Que nem a minha!
Tem sexo, tem amor, tem, ao redor dos livros de politica, a damninha licção de Satanaz, que sei de cor!
DIA DA MINHOCA
Até, Glaucão, mandei tomar no cu aquelle meu remedio que dá somno! Si for assim, taes drogas abbandono! Só sonho com minhocas! Me crês tu?
Minhoca, não! Será minhocussu, tão grande me paresce! Em meu abbono, suggerem analystas que eu sou dono dum penis diminuto, eis o tabu!
Talvez faça sentido, pois, no sonho, cavocam as minhocas um buraco enorme e la penetram! É medonho!
Hem, Glauco? Mil perdões si encho o teu sacco, mas quero te indagar: Onde é que eu ponho a rolla, ao batter bronha? Hem? Rezo a Baccho?
DIA DA CAVALLARIA MILITAR
Historia bem curiosa aquelle meu amigo mineirinho me narrou. Escravo se tornou elle (isso dou por facto verdadeiro) dum plebeu.
Plebeu esse que, experto, se metteu na farda da policia: se tornou perfeito cavalleiro! Deu seu show de como ser um sadico, oh, si deu!
Fazia meu amigo lamber sua immunda bota, a sola com cocô do seu proprio cavallo, pela rua!
Difficil uma scena mais pornô, na qual cocô de equino substitua o proprio pó do chão! É punk, hem? Pô!
DIA DO CHOCOLATE AMARGO
Ganhei um bombom, Glauco, desses com altissimo teor do bom cacau!
Provei, mas extranhei: tem sabor mau! Disseram que teria sabor bom!
Fiquei decepcionado! O tal bombom travou a minha lingua! Leva pau, agora, quem disser que nessa nau embarca com prazer, que é de bom tom!
Na proxima, ao cachorro darei essa chiquerrima versão do que seria appenas chocolate! É o que interessa!
Pagou caro quem, nessa doceria, comprou o tal bombom! Barata à bessa, é minha carolina! Que iguaria!
PECULIAR PEOPLE DAY
Você se considera differente, Glaucão? Pois eu tambem me considero! Lhe digo mesmo, para ser sincero, que julgo differente toda a gente!
Nós somos, cada qual, intelligente ou burro, joven, velho, trans, hetero, no banco tendo mil ou tendo zero, alguem inconfundivel, simplesmente!
Si fossemos robôs, um capitão qualquer nos mandaria lamber seu cothurno! Mas não lambo o delle, não!
Só lambo o do sargento que, plebeu mas sadico, me pisa, alli no chão! Só que esse, que eu excolho, me excolheu!
DIA DO PHEIJÃO
Do Rio gastronomica lembrança ainda trago: o preto pheijão. La é pratto que, diario, não está só numa pheijoada… Que festança!
Nenhuma differença na ballança fará, mas com arroz, meu camará, combina bem melhor. Egual não ha aonde minha lingua ainda alcança.
Pheijão, como os paulistas comem, não paresce temperado, da maneira melhor, ao paladar do mais gluttão.
Não, fica addocicado. Quem me queira chamar para almossar, faça pheijão pretinho com arroz. Acha na feira.
DIA DO LEITE
Glaucão, era de vidro o litro que ella, mamãe, lavava appós vazio, para trocar por litro cheio! Quem sonhara que iriamos caixinhas ver na tela?
Agora, a longa vida se revela eterna, pois ninguem quer dar a cara a tapa p’ra comprar, ‘inda mais cara, a caixa dum fresquinho que mal gela!
Coalhada se fazia quando o leite ficava azedo! Vejo só yoghurt agora: ja não ha quem não acceite!
Você ja me fallou que tambem curte yoghurt e que tambem lhe dá deleite com fructas… Vou parar, antes que surte!
DIA DA MAÇAN
Poeta, aqui commigo, pensa só! Si a Biblia fosse indigena, a banana seria prohibida, na mundana noção do que fazer no quiproquó!
Em vez duma serpente, quem, com dó da pobre Eva, offeresce essa sacana fructinha é o chimpanzé! Mas quem se damna é Adão, que não desapta aquelle nó!
Alem de ser comida, a bananinha suggere aquella anal penetração que, pelo chimpanzé, será damninha!
E então? Inda preferes tu, Glaucão, a typica maçan que descaminha, na Biblia, de connubio uma noção?
DIA DO CIGARRO PERIGOSO
Não, para você, Glauco, um baseado é muito perigoso! Os gajos ja provaram que a maconha lhe trará a perda do tesão! É serio o dado!
Mas hoje, Glauco, para seu aggrado, ouvi que, si tomada como cha ou mesmo como succo, não fará nenhum mal! Hem? Não acha que é gozado?
Si eu fosse você, Glauco, não fumava cigarro de nenhum typo, pois tudo lhe pode causar damno que se aggrava!
Prefira tudo como doce! Illudo você? Magina! Assucar nunca trava a lingua, como consta dum estudo!
DIA DE RESPINGAR O CEGO COM AGUA DA RUA
É data americana, com certeza! Os gajos, por la, curtem tirar sarro, passando na sargeta com o carro! Nenhuma senhorinha fica illesa!
Playboys tambem aqui, de rolla tesa, de carro passam, para seu bizarro tesão satisfazerem. Mas eu narro um caso em que é maior a malvadeza.
Preferem os rapazes passar rente à beira quando um cego, bengalando, parou alli na frente, esse imprudente!
Aquella agua sujissima vae, quando o cego se encharcar completamente, causar a gargalhada a todo o bando…
STEP IN A PUDDLE AND SPLASH YOUR FRIEND DAY
Chamadas “brincadeiras de mau gosto”, são sempre indesejaveis ao amigo que dellas seja victima. Commigo as fazem, ja que estou eu muito exposto.
Alguem ja jogou agua no meu rosto, dizendo ser da chuva. Até lhe digo, poeta, que me deram um castigo peor: ja me excarraram! Que desgosto!
O cumulo foi quando estava escripto assim: “Pode guspir ni mim!” no adviso collado em minhas costas! Não admitto!
Mas, sendo cego, Glauco, só preciso ser mesmo bem estoico… Como cito, até lambi saliva alli no piso…
DIA DO OBRIGADO
Um sadico opinou que cada escravo precisa aggradescer pela agonia que soffre na mão delle todo dia. Sinão, o mestre fica muito bravo.
Por mais humilhação, por mais aggravo que esteja a supportar, alguem teria que, deante dum algoz que lhe sorria, dizer seu “Obrigado!” sem um travo.
Appós ser urinado, um “Obrigado!” Appós comer a merda, novamente terá que bemdizer o seu estado.
Eu, como cego, ponho-me contente si, toda vez que lambo algum solado, não sangro minha lingua, de repente…
DIA DA CULTURA CIGANA
Teem fama de ladrões, mas eu não quero com esse preconceito me envolver. Prefiro referir-me a algum poder prophetico, que exploram num bom lero.
Não acho que um poder desses é mero boato. Uma cigana quiz me ler a palma da mão. Disse, com prazer: “Você? Enxergar de novo? Chance zero!”
Senti, nessa cigana, a mais sincera vontade de prever o meu futuro. Ninguem foi mais sincero! Ora, pudera!
Ao menos, não fallou que meu pau duro mollenga ficará! Como se espera, é tudo que me resta, aqui no escuro!
DIA DA CALLIGRAPHIA
Não, lettra manuscripta a gente não mais usa, menestrel! Mas pense bem!
Alguma utilidade ainda tem? Mais util, mesmo, só digitação!
Me lembro que, na eschola, algum borrão de tincta nos fazia de refem!
Daquillo não gostava mais ninguem! São tempos que, bem longe, la se vão!
As chartas que mamãe mandava para papae, naquelles tempos de namoro, sim, tinham linda lettra, se repara!
De nada addeantou todo o seu choro de moça recaptada, pois a tara do velho desdenhou desse decoro…
DIA DO FRANGO AO CURRY
Não sendo feito em casa, não tem graça! O curry que é vendido numa feira, aguado, sem piccancia, ninguem queira provar! Pela garganta, aqui, não passa!
Mas, quando piccadinho o frango, traça a gente com prazer, si da maneira correcta, com arroz, a costumeira cenoura, a batatinha, ha quem o faça…
O molho, ultra piccante, tem que estar cremoso, de queimar a lingua, bem ao gosto dum caseiro paladar!
Mas, quando quem cozinha mais ninguem será que meu amor, me regalar irei, tal qual na cama vou, tambem!
DIA DO FRENTISTA
Mas como? Nem fumar eu posso mais? Por causa dessa bomba, aqui do lado, isqueiro tem que estar sempre guardado? Magina! Accendo mesmo, seus bossaes!
Tá certo, reconhesço que jamais fiz isso sem ter medo… Mas me enfado de tanta ammolação, porra! Coitado daquelle que é fumante em horas taes!
Ouvi fallar, tambem, que explodiu, la p’ras bandas da peripha, aquelle posto da rede da facção… Noticia má!
Mas isso ninguem jogue no meu rosto, pois era sabotagem, claro está! Fumar, eu fumarei! Fumo com gosto!
DIA DO PIZZAIOLO E DO PASTELLEIRO
Passou o pizzaiolo pela feira e, vendo o japonez que, na barraca, vendia seus pasteis, maluco paca ficou por elle! Sim, sem brincadeira!
Deixou-lhe seu chartão… Na sexta-feira, pinctou na pizzaria, de resaca, o japa, appaixonado tambem! Saca você quem mais comeu, a noite inteira?
Naquelle casal lindo não exsiste motivo para crise de ciume, Glaucão, ja que ninguem alli resiste!
Gordissimos ficaram! O costume da mesa antes da foda muito chiste gerou, mas a razão ninguem assume…
OUTRO DIA SEM CARNE
De novo? Não se cansam os estraga prazeres de malhar o meu filé mignon accebollado! Mas quem é que paga as minhas comptas? Hem? Quem paga?
Quem limpa a minha bunda, aqui? Quem caga? Que espiritos de porco! Vão até ao poncto de dizer que, na ralé, ninguem come filé! São uma praga!
São vegetaryanos! São nazistas! Propõem a dictadura da “comida saudavel”! Nem disfarsam suas pistas!
Pudessem, me impediam de ter vida normal! Ja que não posso ler revistas pornôs, que sobre carnes eu decida!
DIA DE REMOER A INVEJA
Estou ha vinte e quattro horas sem luz, Glaucão! De inveja agora morro, quando a noite cae e eu fico ruminando meu odio! Tudo em volta me faz jus!
Ao lado, o quarteirão todo conduz a vida normalmente! Vejo um bando de gente, à luz accesa, conversando e rindo de mim, como ja suppuz!
Na geladeira, as coisas se estragando e, no serviço, tudo que é remoto parado! Que destino mais nefando!
Olhando da janella, às vezes noto que estão a gargalhar, ja commentando a serie de improvisos que eu adopto…
DIA DO SCEPTICO
Poeta, não me digas que tu crês embruxas, lobishomens e vampiros! Não digas que se macta só com tiros de pratta algum monstrengo, toda vez!
Tambem crês na sciencia? Nos bebês diabos? Crês num atomo, num virus? Nas drogas? Nas vaccinas? Nos papyros secretos? Dessas lendas és freguez?
Difficil crer que gente intelligente dê credito, tal como sempre creste, às fontes que confundem nossa mente!
Commigo, não! Só creio mesmo neste caralho que, ja molle, nem que eu tente foder-te, indicará que me fodeste!
DIA DO HELICOPTERO DESAPPARESCIDO
Teimosos, insistiram esses septe politicos. Queriam repousar no norte litoral. Mas o logar tem matta fechadissima, sem net.
Batata. Alli na matta quem se mette não chega a seu destino. Foi pousar o dono do helicoptero no mar, ou seja, affundou. Haja quem se affecte!
Nadaram só trez. Pela praia, mal puderam andar. Era muito matto. Seguiu-os um terrivel animal.
Havia lobishomens no local. Cadaveres achados, foi sensato dar vagos pormenores no jornal.
DIA DO MAFIOSO ASSASSINADO
Na frente da mulher, foi morto o cara que todos respeitavam no logar, pacato cidadão, chefe exemplar, bondoso, uma figura mesmo rara.
Mas logo se informou que elle foi para a puta que pariu por ter, no bar, brigado com um mano. Deu azar. Não é que tinha larga capivara?
Sim, era, na verdade, perigoso bandido foragido do exterior. Ninguem sabia que era mafioso…
Siquer sua mulher. Com toda a dor do mundo, fallou ella: “Ah, tanto gozo me dava! Que farei, sem meu amor?”
DIA DO MAMMODROMO
Ha bares na cidade em que se mamma caralho sem nenhuma restricção. É chupadella às cegas, pois noção não tem quem chupa de quem lança a chamma.
Sentado na poltrona, alguem com fama de enorme caralhão nem faz questão da cara de quem cae de bocca. Não importa a face, só chupar, sem drama.
Glaucão, no fim das comptas, essa gente fazer quer como um cego faz: mammar sem nem saber a cara do vidente!
Você leva vantagem, no logar daquelle que chupou, obediente, a rolla do marmanjo mais vulgar…
DIA DO BEATLEMANIACO
Não quero nem saber si Lennon era machista mas submisso, si ja tinha transado com esse Epstein ou si vinha soffrendo pela acção duma megera!
Não quero nem saber si, numa esphera politica, foi Macca da abobrinha refem, si fez a coisa mais mesquinha na banda, si bom somno, só, tivera!
Não quero nem saber si guitarrista maior que George exsiste, nem si seu pendor hindu foi para dar na vista!
Não quero nem saber si, menos que eu, foi Ringo batterista! Delles dista, abbaixo, bem abbaixo, o maior breu!
DIA DO ENFERMO
Doentes todos somos, Glauco! Não precisa ahi ficar se lamentando! Eu mesmo andei doente, precisando duns ares appraziveis de verão!
Às vezes perco o foco da visão, mas logo ponho os oculos! É quando as cores ficam nitidas e eu mando às favas essa leve irritação!
Azia? Resfriado? Só de vez em quando! Nem me queixo! Uma dorzinha, nem sempre, de cabeça, todo mez…
Lamenta-se você demais! Definha pensando na cegueira! Mas vocês, ceguinhos, vivem nessa ladainha!
DIA DA ROUPINHA DO CACHORRO
Primeiro, foi a touca para a orelha que, sendo compridissima, podia sujar-se e provocar até, por via infecta, a feridinha mais vermelha.
Depois, eis que a vizinha mais pentelha roupinhas acconselha… Covardia! Colletes, camisetas… A agonia não cessa! Até vestiram-no de abelha!
Coitado do bassê! Si não chorasse, no mundo não puzesse sua forte boquinha, até mais triste tinha a face!
Mamãe, emfim, notou que, desse porte, cachorro nenhum, tenha alguma classe ou não, não usa roupa que comforte!
DIA DO TREINADOR DE FUTEBOL
Reporteres indagam. “Eu ganhei!”, responde o treinador. Noutra partida será “Nós empattamos!” a contida resposta aos jornalistas. É de lei.
“Vocês perderam!” diz elle, eu ja sei, em caso de derropta, phrase ouvida só pelos jogadores. A sahida é coisa decidida, constatei.
Alguns ja confirmaram que elle é gay. Foi visto namorando um jogador da varzea. Promovel-o vae, notei.
Jamais da selecção será. Si for, seu craque não será, jamais, um rei, trocado, ja, sob outro treinador.
DIA DO ADULTO
O sonho dum pestinha, me foi dicto, é ter algum adulto sob o seu poder, como um Sansão ao philisteu mais joven, mais feliz e mais bonito.
As coisas que faria, agora as cito: O velho foi aquelle que lhe deu dinheiro, que serviu, como um plebeu, de escravo, do burguez ouvindo o pito.
Fazendo coisa errada, de castigo o velho ficaria, pois o joven não topa que ninguem brinque consigo.
Mas isso nem é sonho, pois ja chovem noticias desse typo: um meu amigo me conta haver mil casos que comprovem…
DIA DO CHAPÉU
Usei chapéu de feltro, que combina com terno. Um tive, inteiro, com collete, relogio que, de bolso, na corrente prendia-se. Foi moda muito fina.
Agora, mais bacchana, “made in China”, é mesmo o bonnezão, cujo macete consiste numa griffe “independente” de esporte e dos rockeiros de botina.
Ja tive de skinhead e de skatista, de rapper, de funkeiro… Mas agora prefiro boina: dá menos na vista.
É boina das de velho, mesmo… Bora usar sem ter vergonha de dar pista daquelle que, sem vista, agora chora!
DIA DO COBRADOR DE OMNIBUS
A gente entrava pela de traz, ia directo na catraca, porque cheio ficava meu busão, naquelle feio trajecto de infernal peripheria.
Pagava-se com grana. Até podia alguem passar por baixo ou, sem receio, pullar. Mas o Systema poz um freio, com grade na catraca, certo dia.
Lotava, às vezes, tanto, que do lado de fora pendurava-se a gallera. Sorrindo, o cobrador via, animado…
De terno, de valise, eu tinha mera figura de pingente, eis que o solado dos outros me exbarrava… Mas bom era!
DIA MUNDIAL DO COMPOSITOR
Foi Berry bem ironico: mandava Beethoven revirar-se em sua cova. Por causa duma formula mais nova mandou-se muita coisa boa à fava.
Os Beatles, George Martin, uma trava tiraram do rockão. Mercury prova que mesmo o classicismo se renova na forma popular. Nada se aggrava.
O progressivo rock está ahi para mostrar que, egual ao jazz, uma fusão impera. Até com Bach alguem compara.
Nem sempre partituras faz questão o bom compositor de ler. Tomara que nada se intrometta na audição…
DIA DO JOGO LIMPO
Jamais joguei dopado, Glauco! Nada de chymicas substancias na comida, tampouco na bebida! Minha vida athletica jamais ficou manchada!
Appenas, vez por outra, na salada abuso do limão… Caso decida, capricho na pigmenta, repetida em toda refeição… Pouco de cada!
Talvez na sobremesa mais occorra algum exaggerinho… No quindão, nos bollos e puddins… Pequena zorra!
Mas, Glauco, não concorda você, não, commigo? Comer doces é bom, porra! Só que elles jogam sujo! Malas são!
DIA DO REFUGIADO
Tá louco, Glauco! Não! Cada afegão que chega aqui tem sarna, tem ferida aberta, tem fedor… Puto da vida eu fico, menestrel! Não topo, não!
Aqui chegam de Angola, do Sudão, da Ukrania, Palestina… Tem comida de sobra aqui, caralho? Quem decida barral-os não se mostra? Ah, meu irmão!
Não bastam os que fogem da pobreza? Agora até das guerras elles veem! Em pouco, nada temos nós na mesa!
Teremos que expulsal-os! Si ninguem faz isso, terei eu de, com certeza, pedir asylo na Allemanha! Eu, hem?
DIA DA RELIGIÃO
Catholico? Não, Glauco! Ocê bebeu? Nem mesmo um evangelico! Magina! Espirita? Jamais! A Palestina não acho terra sancta, nada, meu!
Mesquita? Synagoga? Não! Judeu não sou, nem mussulmano! La na China, não sou nem tibetano! Se previna você, pois não direi que sou atheu!
Agora adivinhou! Sou satanista! Melhor, satanazista! Percebeu, Glaucão, a differença? Dei a pista!
Um dia, a dictadura aqui do breu, das trevas, vencerá! Meu, não insista! Quem pode soccorrel-o não sou eu!
DIA DO SATANAZISTA
Confirmo, sim, Glaucão! Lucifer tem, por vezes, apparencia dum caprino, com chifres, cascos, pellos… Mas previno: Nem sempre! Elle com roupas tambem vem!
Não! Trajes não serão de monge zen, tampouco de evangelico! Seu fino e lindo figurino ja lhe ensigno qual seja, menestrel! Escute bem!
É farda alleman, claro! Com aquella luzente bota, a swastika visivel! Nenhuma farda, Glauco, foi tão bella!
Nos dias actuaes, é bem possivel ser vista com frequencia, pois quem zela por ella, na politica, tem nivel!
DIA DO SORVETE DE MORANGO
Mamãe, ja diabetica, coitada, comprava pote inteiro, com sabor morango e chocolate. Tricolor, uns floccos incluia. Não por nada!
Tambem eu, “um pouquinho só” de cada, tomava às colheradas. O calor total justificava. Mas suppor que fosse refrescar era piada!
Morango sempre fica na lembrança da gente, por vermelho ser. A gula se impunha, mais aguda, na creança.
Agora, nem sorvete tomo… Bulla confiro dos remedios. Na ballança controlo o peso. O medico regula…
DIA DO SUCCO NATURAL
Me lembro. De laranja foi o succo primeiro que, em caixinha, por aqui pinctou. Poncta de lança, logo vi. Em pouco, consumi feito um maluco!
Mas hoje este mau gosto mais educo. Não bebo o “natural” que ja bebi de monte, em caixas, vate. E quanto a ti? Tu tomas, cara? Appenas eu encuco?
Preferes laranjada que se exprema na hora? Mas é luxo total! Quem prepara? Ah, nesse caso, honraste o thema!
Quizera desfructar, eu ca, tambem, de tanta adoração! Não que eu não tema azar maior ainda! Ah, diga amen!
DIA DA WIKIPEDIA
Glaucão, sobre você ja consultei verbetes de internet e tive immensa noção de frustração! Ninguem condensa seus dados mais recentes, é de lei!
Até que não ommittem que ser gay e sadomasochista lhe compensa a tragica cegueira… Mas quem vença não ha tal producção, eu ja notei…
Seus septe mil sonnettos serão oito ou nove em pouco tempo! Quem consiga manter-se em dia accaba mais affoito!
Mas deixe estar, poeta! A mão amiga dalgum pesquisador fará biscoito finissimo! Com numeros quem briga!
DIA DA LEI CONTRA O CYBERBULLYING
Sahiu, emfim, a nova lei! Agora ninguem vae practicar mais cyberbullying, tampouco o proprio bullying! Quem regule emfim apparesceu, em boa hora!
Ainda agora, cara, ha alguem que chora por ter sido zoado! Ocê calcule ja quantos foram, Glauco! No meu bule jamais faltou café! Quer saber? Bora!
Com minha turma, cara, practiquei, practico, ou seja, até practicarei na vida todo o bullying que eu quizer!
Alguem vae me dedar? Ja zoei gay, cegueta, alleijadinho… Não ha lei que puna nem quem batte na mulher!
DIA DO PRIMEIRO TRILLIONARIO
Bilhões, Glaucão, de dollares ja tem um monte de empresarios, pela lista da FORBES! Mas nenhum economista calcula que trilhão ja tenha alguem!
Agora apparesceu, no mundo, quem junctado tenha tanto! Uma conquista que vale celebrar, pois dá na vista alguem que ja possua tanto trem!
Sigillo mantem elle? Nada disso! Precisa se exhibir, pois, do contrario, ninguem terá com elle compromisso!
Mas esse ja famoso trillionario terá a melhor mulher, que então submisso o otario manterá! Ja achaste hilario?
DIA INGLEZ DO BEATLEMANIACO
Britannico quem era conseguia ouvir na BBC, desde sessenta e trez, aquella cover que se tenta ainda conseguir no nosso dia.
Ja a temos em CD, mas a alegria daquelles fans que, nessa nevoenta metropole, curtiam, com attenta cabeça, tanta coisa, foi sadia.
Ainda nem lançavam seu primeiro discão, mas repertorio volumoso ja tinham! Por aqui, nem mesmo o cheiro!
Somente em meia quattro foi que gozo tivemos. Mas, das covers, um inteiro volume demorou. É tenebroso…
HOT AND SPICY FOOD DAY
Glaucão, não addeanta! Nós jamais teremos no Brazil uma pigmenta bem forte, realmente forte! Exquenta alguma, appenas, certos fans locaes!
No Mexico ou nas Indias, nacionaes chardapios teem tempero que sustenta a fama da pigmenta! Quem aguenta comer sem ter arroubos lacrymaes?
Seria bom, Glaucão, si por aqui tivessemos taes habitos, um dia! Mas nunca alguem de fibra conhesci!
Nem venha me dizer que na Bahia piccantes são os prattos! Eu ja ri comendo uma moqueca alli, bem fria!
DIA DE COMMEMORAR TUDO
Tem data para tudo, Glauco, mas não gosto de esperar que, em cada dia, me seja a secular chronologia propicia a celebrar! Tu gostarás?
Portanto, decidi! Nem coisas más de fora ficarão! Minha alegria consiste em affastar qualquer phobia e, emfim, deixar as magoas para traz!
Brindemos! Celebremos! Não nos falta motivo, menestrel! Por que não brindas commigo? Nossa verve vive em alta!
Em breve, só teremos coisas lindas p’ra serem festejadas, quando a malta se estrepe e venham faces mais bemvindas!
DIA DE NÃO COMMEMORAR NADA
Tem data para tudo, Glauco, mas não gosto de esperar que, em cada dia, me seja a secular chronologia propicia a celebrar! Tu gostarás?
Portanto, decidi que coisas más não quero celebrar! Nem alegria terei com coisas boas! Quem confia na facil ephemeride, rapaz?
Qual nada! Celebrar? Mas festejar quaes factos? Os fracassos? As desgraças? A falta do tesão, do paladar?
Depois da pandemia, não me faças pensar de novo nesse tumular scenario! Nem brindemos! Leva as taças!
NATIONAL NOTHING DAY
La fora tambem rolla que ninguem mais nada commemore, menestrel! E sabe por que rolla? Ser fiel a tantas datas cansa! Veja bem!
Tem data para tudo! Sabe quem, em tantas ephemerides, papel tem feito de heroe, Glauco? Um coronel que, corno, aos Ricardões fallava amen!
Peor ainda! Hitler, Mussolini, Caligula, Jim Jones, Satanaz, até, merescem data? Ha quem opine!
Alguem, em reacção a quem só faz cagadas desse typo, se previne na data appropriada… Gasta gaz?
DIA DO CORTADOR DE CANNA
Folklore engraçadissimo, Glaucão, exsiste sobre Cuba! Alguem que falla naquillo sempre surge! Se propala que aos campos de trabalho muitos vão!
Castigo, para aquelles que não são fieis ao communismo, foi a valla commum, appós uns mezes de senzala e trampo na mais rude escravidão!
Foi nos cannaviaes que essa tal fama de escravos cortadores teve base! Ainda agora achei um que reclama!
Diz elle que excappou, mas que foi quasi vencido pela fome e pela trama dos homens de Fidel… Que triste phase!
DIA DO DRAGÃO
Em terras européas, o dragão é monstro conhescido numa lenda qualquer. Mas falta alguem que comprehenda melhor esse bichão, sem má noção…
Até São Jorge, fora algum fodão e bravo cavalleiro, uma legenda às custas delle emplaca… Foi a renda daqui, porem, chamal-o de “inflação”.
Appenas no Brazil se symboliza a perda do poder acquisitivo com essa figurinha tão precisa…
Mas, como do passado ja não vivo, prefiro no dragão achar, à guisa de exemplo, um fascistoide compulsivo.
DIA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL
Estamos na Terceira Guerra, ja, mas pouca gente nota, menestrel! Conflictos locaes, hoje, teem papel global, e consequencias globaes ha!
Ukrania, Palestina… Tudo dá noção que repercute essa cruel chacina mundial! Sendo fiel aos factos, ja na merda a Terra está!
Notou você, Glaucão, que mais ninguem declara guerra? Vão bombardeando, soltando misseis… ONU? Ora, ahi nem!
Não sente, entre as potencias, um commando quem compra alguma briga! Não se tem receio dum destino mais nefando…
DIA MUNDIAL DA CULINARIA ITALIANA
Nenhuma, no Occidente e no Oriente, exsiste, cujo nome egual se falle e escreva, alem da pizza. A fama vale, eterna, para traz e para a frente.
Talvez, nalgum paiz, alguem contente esteja com a pizza que se eguale ao coco ou à banana. Não se cale, porem, quem na Verdade seja crente!
A pizza verdadeira só será composta de tomate e mozzarella, alem das azeitonas, camará!
Na massa, a differença fará della a coisa que mais magica alguem ja creou neste mundinho mattuschella.
DIA DO JUIZO FINAL
Magina, Glauco! Um dia na folhinha crearam para a gente se lembrar de que nosso futuro tem um ar de data apocalyptica! Abobrinha!
Bobagem! Ja notei que, nessa linha das crises e catastrophes, olhar o mundo, no presente, baita azar suggere, vate! Hem? Que epocha damninha!
Precisa alguem datar tal pandemonio? Não basta que estejamos neste inferno, sem sombra, sem aguinha, sem ozonio?
Eu acho, menestrel, que nem hinverno teremos mais! Calor quer o Demonio? Ja temos! O verão paresce eterno!
DIA DO PREGADOR DE CHRISTO
Irmãos! Eu de Satan não serei fan! Satan não me seduz! Si Satanaz deixarmos que nos tempte, para traz iremos! Luz terá meu ammanhan!
Mas não a luz de Lucifer! Affan terei eu contra aquelle que só faz satanicas menções e coisas más planeja! Não serei como Satan!
Não sigam o Demonio! Não me tomem por esse diabolico senhor! Sou crente na Verdade! Sou bom homem!
Não, Lucifer nem citem! Quando for alguem delle fallar, digam que comem o pão que elle ammassou, de mau sabor!
DIA DO PROTECTOR DOS ANIMAES
Sim, Glauco! Protector sou da divina e sancta creação, da creatura sagrada que, mais candida, mais pura, na Terra a nos amar, só, se destina!
Protejo uma aranhinha pequenina que dizem ser enorme, mas não dura nadinha si, entre nós, vive quem jura mactal-a, ja que todas elimina!
Protejo um innocente escorpião, coitado, que só picca alguem que queira mactal-o ou nelle exbarre sua mão!
Protejo uma serpente que se exgueira de medo si está perto dum christão decente, em sua vida costumeira!
DIA DO TRIBUNAL DE COMPTAS
Exsistem tribunaes para attestar que todo governante bem emprega as verbas que recebe do collega de bando, ou de partido, emfim, dum par.
Taes comptas, caso venha a rejeitar, aquelle tribunal jamais sossega emquanto não divulga, não entrega à midia as podridões do titular.
Por sua vez, a midia cobra, attacca sem tregua aquelle experto cidadão que leva ao brejo nossa magra vacca.
Surtiu algum effeito? Surtiu? Não! Depois de pouco tempo, nova faca se enfia, por impostos, no povão.
DIA DA ESCRAVATURA NAS ESCRIPTURAS
A Biblia auctorizou a escravidão, affirma aquelle celebre pastor da America! Sabia, Glauco? Por escripto se confirma a these! E então?
Não resta a menor duvida! Suppor ja posso que escravizo o meu peão, que posso fazer delle até meu cão, meu servo sexual, meu fellador!
Os cegos, dependentes que são, podem escravos se tornar de qualquer um que enxergue! Taes verdades não lhe accodem?
E então, Glaucão? Encare por commum que todos os ceguinhos só se fodem por dadiva divina! Drama algum?
DIA DOS VICIOS PROPICIOS
Percebe, Glauco? Vicios todos teem! Então, me considero um viciado sem culpa! “Janquifude” ja drogado me deixa! Ainda assim, me sinto zen!
Por isso que se chama “janqui”! Bem bollado, menestrel! Por outro lado, não é qualquer sanduba, de bom grado, que eu como! Dum burgão eu sou refem!
Com cheddar, com cebolla fricta, com batatas tambem frictas, ah, me deixa maluco, cara! Achei tudo de bom!
Tambem um manjar branco, com ameixa pretinha, me seduz! Tambem bombom! Em summa, quem tem vicios não desleixa!
DIA DO ESTHETICISTA
Belleza? Que belleza? Alguma vez aquella que sahiu dalgum sallão ficou mais bella? Ah, não, claro que não! Foi só persuasão o que se fez!
Se gasta bom dinheiro, no burguez desejo de causar forte impressão de luxo, de riqueza! Faz questão a dama de estar nova, todo mez!
Seu pobre estheticista que não tente dizer-lhe que esse novo penteado jamais irá tornal-a differente!
Aquella atroz mocréa resultado espera, milagroso! Que se invente um jeito de illudir o eleitorado!
DIA MUNDIAL DO RISO
Não posso ver um cego, menestrel, que caio na risada! Ah, que risada gostosa! Ah, caro Glauco, não ha nada mais comico! Desculpe si é cruel!
Si vejo um pela rua, sem fiel parceiro que o conduza, ah, faço cada maldade que você dirá malvada demais! Mas esse é mesmo o meu papel!
Eu tenho visão boa, não preciso duns oculos de grau! Nenhum defeito na vida tive! Então, nos que teem, piso!
Gostou do meu humor? Eu approveito qualquer occasião para meu riso mostrar! Mas de mim rirem, não acceito!
DIA DOS ENLATTADOS
Na latta de sardinhas se escrevia “em oleo comestivel”! Ora, vate! Não achas um tremendo disparate? Qual oleo alguem no peixe empregaria?
Talvez de lamparina? Poderia ser oleo diesel, raios? De tomate si for o molho, sim, é bom que tracte alguem de pôr na latta da iguaria!
Tirante essa besteira, trovador, adoro de sardinhas uma latta abrir! Ao meu sanduba dá sabor!
Tambem tu gostas, Glauco? Vês que empatta teu gosto com o meu? Posso suppor que estás a fim da minha sola chata?
DIA DO PHILTRO MAGICO
Um philtro não se filtra. Não confunda ninguem essas origens. A poção que “magica” se diga tem a mão dum bruxo ou alchymista. Ahi redunda.
Difficil, hoje em dia, quem profunda noção dessas receitas tem, que são às vezes infalliveis na questão erotica, até mesmo pela bunda.
Não faço mera rhyma. Conhesci um gajo que queria abrir o cu mas tinha aquelle medo. Ouço quem ri.
Tomou dum bruxo o philtro. O tal tabu perdeu effeito. O cara até chichi aguenta receber… E faz “Uhu!”
DIA DA PIPOCA
Na porta do collegio, o pipoqueiro ficava, a nos temptar. Cada cartucho, minusculo, nos era mesmo um luxo, por causa de excassissimo dinheiro.
Collega alli, mais velho, meu parceiro tornava-se e a pipoca nosso bucho enchia. Agora adulto, sempre puxo, na mente, por um gesto costumeiro.
Meu idolo, o moleque que pagava aquella pipoquinha, me cobrava, depois, algum trabalho para nota.
Commigo mesmo, emquanto elaborava o texto (esta memoria ainda grava), estive eu a lamber a sua bota.
DIA DO THERAPEUTA OCCUPACIONAL
Ah, Glauco! Trabalhar não é doença! Não sei por que você tanto lamenta o tempo que se perde numa lenta cagada! Fazer força só compensa!
Depois de expulsar essa grande, immensa columna de cocô, você, que senta creando, sae dalli com o que inventa! Emquanto você caga, você pensa!
Portanto, não será tempo perdido o prazo demorado da cagada! Compoz novo sonnetto, não duvido!
Appenas sae dalli sem fazer nada quem nunca tenha achado algum sentido na vida de escriptor, meu camarada!
DIA DA TEMPERATURA MAXIMA
Em bagos, o suor ja me poreja da testa, logo appós tomar um banho! Não ha nada que faça que esse extranho verão mais supportavel, hoje, seja!
A gente sem camisa nem se peja, em casa, de ficar! Mas é tamanho o nivel de calor, que não me accanho e fico de cueca, appenas, veja!
Tentei, Glaucão, sorvete, limonada, gelada agua, cerveja… Não ha nada que chegue! Meu thermometro descamba!
Chinello dá chulé, sabe? Suada, a sola adhere e fede… Você brada, afflicto? Mas não deixo que me lamba!
DIA DA MASSAGEM LINGUOPEDAL
Glaucão, sei practicar aquella sua massagem podologica, da qual você tanto fallou no MANUAL! Contar vou como minha bocca actua!
A sola, no calor, mais fede e sua, num tennis ou chinello! O meu buccal contacto tem funcção bem natural: lavar, com a saliva, a pelle nua!
Mas não fica somente nisso o rito, pois tem outros effeitos a massagem, eroticos, tambem, os quaes nem cito!
Tão ageis quanto a lingua, os labios agem com technica à dos dedos egual! Pito meresce quem só veja a sacanagem!
DIA DO ROPTEIRISTA DE FILME IMPROPRIO
Menina é sequestrada. De cappuz, o seu sequestrador, que nada falla, a leva ao captiveiro p’ra cegal-a. A sadicos propositos faz jus.
E estupra todo dia, se deduz, aquella adolescente. Na “senzala” ha varios instrumentos para aptal-a e expor-lhe a bocca à foda, sem tabus.
Depois, o filme exhibe, emfim, que tira o seu cappuz aquelle que ferira a propria filha. Bella scena, a dois.
Então, ouve ella a voz do pae. Delira? Ou ouve que elle falla, sem mentira, no quarto mandamento? Honremos, pois!
DIA DO ANÃO
Amigo meu tem louca phantasia, Glaucão! Elle deseja ser fodido na bocca, a grossa porra ter sorvido dum timido baixote em quem confia!
Explico: um anãozinho, todo dia, lhe presta alguns serviços. Não duvido que tenha phantasias, mas, contido, as guarda para si e, só, se sacia…
Mas esse meu amigo não consegue dizer que o tal anão ja se revela o sadico que nelle descarregue!
Ficaram na punheta ambos! Aquella supposta rolla, typica dum jegue, ninguem ainda disse que ja fella!
DIA DO APPRESENTADOR DE TV
Senhoras e senhores! Appresento agora a vocês todos esta triste figura! Lhes garanto, não exsiste ninguem mais repugnante e mais nojento!
Sim, elle mesmo! O cego! Um excremento vae elle engolir todo, sob o chiste geral, até que mais ninguem adviste a minima lasquinha! Ah, que momento!
Estão vendo? Olhem só como rasteja no palco, como lambe esse chão sujo, em busca do cocô! Né? Que cereja!
Achou! Ja comeu tudo! Que sabujo! Hem? Palmas para elle! Quem não veja que faça assim, pappando o dicto cujo!
DIA DO CARAMELLO
Glaucão, minha avozinha, que morreu faz tempo, morreu só porque engasgou com certo caramello que entallou na sua gargantinha! Não fui eu!
Fallaram que um nettinho, um philisteu lhe deu o caramello! Mas não sou eu esse philisteu! Não! Do meu show jamais fez parte esse erro que se deu!
Estava ja ceguinha, a coitadinha! Comia aquillo tudo que lhe desse alguem, mesmo uma coisa tão damninha!
Glaucão, um caramello não nos desce tão facil si engolido! Tive minha vez, vate, e me salvei só pela prece!
DIA DO CARIOCA
Na mui leal e heroica residi por cerca de trez annos. Comecei alli, com o DOBRABIL. Mas nem sei por que voltei, pois sou ninguem aqui.
No Rio mais se vive, mais se ri e, em termos litterarios, é de lei algum valor notar, quer seja gay ou cego, num poeta, ao que senti.
Houvesse eu la ficado, certamente a vaga alcançaria, que não tenho aqui, num academico ambiente.
São Paulo, alem de tumulo do engenho sambista, não tolera que alguem tente ser sancto, mesmo sendo o que a ser venho.
DIA MUNDIAL DO FETICHE
Legal! Hem? Que ephemeride, poeta! Você vae se exbaldar si convidado for para apparescer alli, deitado no piso, sob a sola dum athleta!
Foi nesse festival, que ja completa trez annos, que eu, usado como gado equino, fui por sadicos montado, levando chibatadas, minha meta!
Da proxima vez, Glauco, lhe suggiro que coma alli, dum sadico, o cocô que esteja ainda quente! É o que eu prefiro!
Exsiste scena alguma mais pornô? Por todos os fetiches dei um gyro, mas nada assim achei, tão sujo, pô!
DIA DA CONSCIENCIA INDIGENA
Magina! Nem tupy, nem guarany eu tenho consciencia de ser, mano! Tamoyo ou aymoré, quando me uffano de ser, alguem me extranha por aqui!
Tentei ser um chavante, mas não vi ninguem que me entendesse! Si me irmano ao bugre botocudo, pelo cano eu entro, pois a turma de mim ri!
Por vezes, tento ser tupynambá! Em outras quero ser tupyniquim! Não posso ter um pé, nem ca, nem la!
Agora, yanomami para mim
alguem ja suggeriu, Glaucão! Não dá! Está muito na moda! Achei ruim!
OUTRO DIA DO FUSCA
Você ja andou de taxi quando o fusca ainda aqui rodava, vate? Então reforça a minha these, pois estão fallando que a memoria se me offusca!
Está tudo bem nitido! Quem busca lembrar-se, lhe dirá que banco não havia ao passageiro alli, sinão attraz! E era a freada sempre brusca!
Detalhes tão pequenos… A chordinha puxando, o motorista fecha a porta depois que o passageiro entrou… Sim, tinha!
Ou acha que deliro? Nem do cheiro do assento reclamava quem a minha lembrança compartilha, companheiro!
DIA DO JOVEN PARA SEMPRE
Eu, quando te vendi meu tennis ja podrão, Glaucão, até que me senti mais joven! Me lembrei muito de ti, do tempo em que enxergavas! Longe está!
Michê ja não sou mais, meu camará, mas ‘inda vejo gente por aqui olhando-me com certo phrenesi… Será que ‘inda sou bello, meu? Será?
Pezão ainda tenho, pois meu pé (ainda bem) não muda de tamanho nem fica mais mollão do que ja é!
Tu, Glauco, que meu rosto nem extranho achar podes, ao menos meu chulé dirás si ‘inda está forte e ponctos ganho…