PEROLA DESVIADA
GLAUCO MATTOSO
PEROLA DESVIADA
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
Perola desviada © Glauco Mattoso, 2021 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco PEROLA DESVIADA/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 228p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
B869.1
NOTA INTRODUCTORIA Minha obra poetica (à parte alguma prosa) vem sendo estudada como um caso typicamente "queer", o que implica rotulos menos convencionaes que "hetero" ou "homosexual". Comtudo, alguma poesia attende à exspectativa duma demanda rotulavel como "gay", donde a opportunidade desta collectanea, que inclue varios generos e estrophações em torno dessa thematica. O titulo remette a um dos anagrammas possiveis para meu nome civil, Pedro José Ferreira da Sylva, ja que o heteronymo Frei Sereyo Junior (na forma abbreviada Fr. Sereyo Jr.) se somma às lettras de "perola desviada" para completar o jogo de palavras, mas essa idéa inicial da auctoria occulta foi deschartada. Vale resaltar que o poema "Aval ao carnaval" foi composto à guisa de prefacio epigraphico para o livro (IN)VISIBILIDADE VIGILANTE: REPRESENTAÇÕES MIDIATICAS DA MAIOR PARADA GAY DO PLANETA, cujo auctor, Steven Butterman, foi um dos academicos que defenderam these sobre minha obra.
PRIMEIRA PARTE VARIO POEMARIO
PEROLA DESVIADA 11 ROMEU E EU (I) [1.8] (conto dialectico e, ipso facto, poema romantico) Eu quero brincar com você. Papae não deixa. O Director prohibe. A Esquerda se oppõe. Você me chama e eu morro de vontade. Papae me admeaça. O Director me intima. A Esquerda me atterroriza. Saio escondido, procuro por você, mas elles me acham. Papae me batte. O Director me põe de castigo. A Esquerda attempta contra mim. Fico esperando, você me procura, nos encontramos no escuro, nos pegam em flagrante. Papae me expulsa. O Director me interna. A Esquerda me sequestra. Excappo e sobrevivo, mas você não está livre. É filho de seu Papae. Disciplinado ao seu Director. Proselyto da sua Esquerda. Vivo solitario, você prisioneiro, e não podemos brincar. Castram nossa infancia porque você é egual a mim, sua vontade egual à minha, mas nos fazem differentes.
12 GLAUCO MATTOSO POEMAS "PORTENHOES" (DE GARCIA LOCA) [1.28] Si no hubiera mujeres, los homosexuales podrían vivir como dioses. En cambio, si no hubiera hombres, los homosexuales podrían vivir como hombres. Gracias a Dios hay hombres y mujeres y los homosexuales pueden vivir como homosexuales. (1977) Hombre en el cual hace efecto todo el tiempo la heterosexualidad, es hombre desarmado. Homosexual en el cual hace efecto de cuando en cuando la heterosexualidad, es el peor de los delincuentes, armado hasta los dientes. (1979) La homosexualidad erige un tribunal mucho más alto y temible que el de la virilidad. Sus órdenes no se satisfacen con sólo que honremos el carajo, sino que prescriben que lo honremos como al nuestro culo; no sólo que parezcamos hombres, sino que lo seamos mutuamente. Porque ella, la homosexualidad, no se funda en la estimación pública, a la que es posible engañar, sino en nuestra propia excitación, que jamás nos engaña. (1979)
PEROLA DESVIADA 13 ADOLESCENTE SADISMO [2.39] Contou-me um polonez, acculturado faz tempo em Curityba este intrigante e bello caso, e eu nunca que me enfado do thema, ao qual não vejo o que supplante. Refiro-me ao pé chato, que tarado me deixa, e à voz commum no Paraná: "polaco do pé chato". Appellidado assim tambem foi este que aqui está. Diz que dos por
elle: -- Glauco, tive um thio veado sempre nos chupava, a turma toda primos molecotes. Foi usado nós, sem termos puta que se foda.
Nós iamos, em gruppo, ao seu sobrado. Passavamos a tarde e na chupeta gozavamos. Ah, como fui chupado! Tithio tinha boquinha de boceta! Um dia, se mudou quem tinha dado prazer à molecada que, sem nada melhor para fazer, quiz que um coitado tomasse o logar delle na chupada. Por todos excolhido foi o Vlado, priminho menos bruto que fazia papel, nas gozações, de delicado. Primeiro, elle negou-se à putaria. Mas logo, de appanhar admeaçado, cedeu e se dispoz a nos chupar. Iriamos treinal-o, e o lado sado soltando, lhe mostramos seu logar.
14 GLAUCO MATTOSO Chupou-nos, cada vez mais caprichado, cumprindo nossas ordens, nosso cheiro curtindo do sebinho accumulado nos puberes prepucios sem chuveiro. Que sarro nós tiravamos! "Damnado de forte, esse fedor, né? Cheira! Cheira! Agora passa a lingua!" Desaggrado mostrando, o Vlado ouvia a brincadeira. Até que suggeri que meu calçado tirasse e meu chulé Vlado sentisse. "É para accostumar!", fallei. Gozado acharam, rindo dessa creancice. Por isso reparei que era acchatado egual ao meu, o pé de todos nós. Aquillo me ficou, como si um dado genetico exsistisse nessa voz: "Polaco do pé chato"... Triste fado não é ter pé de pato, hem, Glauco? Falla verdade! Quem é cego é que é azarado! Nenhum outro problema ao seu se eguala! Eu ia discordar? Fiquei calado. Inveja confessei do Vlado, pois lambeu taes pés polacos addoidado! Masturbo-me, de ouvir isso depois. Si "para accostumar" foi engraçado aos jovens polaquinhos, para mim é motte aphrodisiaco, que eu brado tal como si meu fosse... e chego ao fim.
PEROLA DESVIADA 15 FLAGRANTE SUBJECTIVISMO [2.57] -- Eu sei que você sabe que eu não sei de nada que commentem sobre a gente, mas falla a todo mundo que eu fallei aquillo que nem disse esse indecente povinho que accusou! Tudo eu neguei! {Como é que você sabe? Quem desmente a minha allegação? Fora da lei está quem desmentiu! Na minha frente ninguem affirma nada! Jurarei de novo, si preciso, certamente!} -- Não finja que não finge! Sempre o rei você foi da mentira! Caso tente fazer-se de Miguel, tambem serei forçado a me fazer! Quem quer que invente taes coisas, negarei que a gente é gay! EXCLUDENTE PLURALISMO [2.88] Disseram da parada que "inclusiva" seria: alem dos sexos, que tambem quem tem "deficiencia" à comitiva podia pertencer e, si está sem direitos, os teria! Só saliva cuspida, voz ao vento, pois ninguem foi, cego, convidado! Quem se exquiva da culpa? Cadeirantes, surdos, teem logar... Mas entre os cegos não ha diva, nem astro, nem estrella alguma, nem ninguem que os represente? Sou, com Piva, alguem na poesia... Mas, alem de mim, quem está cego? Voz activa teremos com noventa e nove... ou cem?
16 GLAUCO MATTOSO TROVAS NAS TREVAS [2.93] Quem tiver um olho, em terra de ceguinhos, será rei. Um bom subdito não berra: mamma, mesmo sem ser gay. A mulher levou na bunda quando o macho optar queria. Mas garganta acha profunda num ceguinho, onde elle enfia. Um protesto não nos basta. Os homophobos estão opprimindo o "pederasta", sempre estão... mas com tesão.
PEROLA DESVIADA 17 A ROSA AZUL E A ROSA ROSA [0020] Das cores a memoria mais amada é nitida ao ceguinho que perdeu aos poucos a visão, mas soffro, a cada manhan, quando desperto em pleno breu. Eu sonho colorido, sim! No sonho tem trajes polychromicos a fada madrinha que me assiste e mais medonho é o sonho quando accordo sem ver nada. Num desses pesadellos, quem me aggrada é minha namorada que, na phase hetero, presenteia-me, coitada, com uma rosa azul, perfeita, quasi. Em outro assustador sonho, quem traz a rosa azul ja minha namorada não é, mas sim um timido rapaz, coitado, de maneira desastrada. Aquella rosa azul, do Alem me brada alguem, é muito rara! Ao accordar do sonho, a tactear na mais cerrada e triste escuridão, falta-me um par. Então, eis que a fadinha, emfim, me attende e o cego companhia tem na estrada. No meio do caminho, o par, alem de guiar-me, dá-me a rosa à beira achada. Primeiro, eu cheiro a flor, que perfumada paresce-me. Depois, dedos lhe apponcto, Appalpo suas petalas. Me enfada saber da cor. Que importa? É minha, e prompto!
18 GLAUCO MATTOSO OCULOS COR DE ROSA [0021] Mais vão se encarniçando aquellas taes mulheres "feministas" contra o dicto "machista", hostilizando mais e mais os homens em geral... e aquelle mytho de "eguaes direitos" cumpre-se jamais! Eu fico imaginando si, bonito ou feio, magro ou gordo, ainda hetero eu fosse e a mulherada tal attrito creasse pro meu lado... Chance zero teriam! Chance zero, lhes repito! Em breve, outros heteros, eu espero, tambem repudial-as todas vão e, assim, accabaria o lero-lero das guerras conjugaes! Ja sem Adão nem Eva, um paraiso até tolero! Sem homens, ellas mesmas se unirão em lesbicos arranjos! Os casaes de machos crescerão! Mais união! Si, graças à sciencia, mães e paes não faltam, tudo finda bem, então!
PEROLA DESVIADA 19 ANAES ANNAES [0027] Unindo os ponctos: Paulo Augusto estava vendendo seu livrinho FALO alli no bairro onde morei, Sancta Thereza. Sentou-se à minha mesa, appresentado. Fallou de Leila Miccolis, casada que estava com Marcello Liberalli: "Precisa conhescel-os, Glauco! Os dois muitissimo antennados são! Precisa!" Por Leila conhesci poetas. Por Marcello conhesci foi Trevisan, que estava articulando o gruppo gay ao qual o nome SOMOS eu propuz, mais tarde, quando a Sampa de regresso mudei-me, ja assumindo affirmação... A cara a tapa demos, lucta brava. Ao caso do michê, do travesti, voz demos. Paus puzemos sobre a mesa do bar ou do Congresso. O deputado mais crente e phariseu, sua bancada inteira, nos temeu. Quiz que se cale o nosso grito desde então. Depois de quattro duras decadas, pesquisa agora a academia, algum doutor defende these sobre nós, e fan a nova geração é nossa. Andei compondo, como Paulo, uns versos. Luz perdi dos olhos, quando a Zeus só peço memoria sempre lucida, sinão...
20 GLAUCO MATTOSO Maldicto me assumi, mandei à fava politicas correctas e perdi pudor de ser masoca. Com franqueza abri das abjecções o jogo. O fado expuz do cego puto. Agora, nada impede que eu de tantos podres falle. Será? Sempre é bom darmos nome aos bois. Sabemos como a historia se reprisa. Um dia, quando algum curioso for rever nossa conquista cidadan, verá que não foi facil uma lei capaz de proteger os nossos cus. Mas, sempre prevenindo um retrocesso, futuros gays unindo os ponctos vão...
PEROLA DESVIADA 21 LOGAR DE FALLA [0031] Estava accostumada a meretriz ao coito vaginal. Acha prudente jamais levar no rabo. Ai, que infeliz vivencia teve um dia! Algum cliente mais rico a convenceu. Ella então quiz saber si isso doia realmente. Foi como penetrar, ella assim diz, alguem por traz com grosso ferro quente! Agora nem fallar quer desses vis freguezes! Orificios, só os da frente! O macho garanhão, que mui cortez nem era mas ganhava todas, mente accerca de seu caso, pois ja fez alguma concessão ao repellente peccado sodomita. Acham vocês que está traumatizado? Nada! Aguente alguem o que enrabou seu cu! Talvez por isso mais gostou: enormemente dotado foi o activo! Taes porquês segredos são. Ninguem sabel-os tente! A bicha ja levou no cu, mas faz questão de só chupar, pois prazer sente "mental" e seu desejo satisfaz, conforme diz a todos francamente. Chamada ao thema em pauta, que ja gaz consome tanto à toa, disse: "Gente, só tem auctoridade nisso e paz propor pode a um assumpto tão urgente um homosexual, pois nossa assaz cabal vivencia anal é convincente!"
22 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL NUPCIAL [0041] Mulher de amigo meu p'ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico. MADRIGAL QUINCTESSENCIAL [0042] Orgasmo mais intenso eu só desfructo si a rolla me chupar um macho puto. Ja tive fellatrizes que meu pau fizeram exporrar com bom deleite, mas quero tal prazer em maior grau. Prefiro, agora, alguem que se subjeite na marra, ou por dinheiro, a um pau de mau character que, amargoso, exguiche o leite.
PEROLA DESVIADA 23 MADRIGAL PLURAL [0048] A sigla augmenta as lettras todo dia, mas bem que ser synthetica podia. "Geeleesse" fora, mas agora nem "Elegebetê" ser mais lhe basta. Ser "Elegebetequemais" melhora a lista de incluidos nessa casta? Não, claro! O que proponho não é fora deixar, do sodomita ao pederasta... Proponho um simples "G" que, "gay" embora, tambem designa "genero" e tem vasta idéa de plural. Mais corrobora, talvez, si for "Gemais", que não se affasta siquer do fetichista, alguem que adora nariz, dedão, pentelho ou trança rasta... MADRIGAL SENSUAL [0077-A] À noite, os pescadores de aguas turvas procuram nas sereias lindas curvas. Nocturnos navegantes, elles querem no corpo das mulheres a mais pura belleza natural. Elles que esperem! Achar, algo acharão, mas a frescura androgyna se inverte e, si elles derem molleza, levarão é picca dura!
24 GLAUCO MATTOSO MADRIGAL EXTRACONJUGAL [0077-B] Estando sem assucar um casal, accaba que um cunhado, bem ou mal, azeda tudo ou... bota mais um sal. Contou-me um rapaz hetero, casado, sem ser do masochismo practicante, enchendo-me de inveja, que o cunhado seu fracco farejou e, insinuante, fallou que exigiria ser chupado si a irman lhe revelasse que bastante viril não é na cama. Confrontado, o esposo vacillou, o algoz perante. Bem sadico, o cunhado, triumphante, o fez adjoelhar e o resultado foi scena a mais pornô, rollando, advante e attraz, garganta addentro, um pau mijado, fedendo a sebo e porra que, durante uns dias, ficou sujo. "Glauco, o lado masoca me afflorou!" Ninguem garante veridico que seja, mas eu brado: "Me conte mais!" Diz elle que o saphado chulé tinha, terrivel! "Mas amante não sou desse fetiche, Glauco!" O sado saber nem quiz: mandou que a degradante sessão se consummasse e o pé suado lambido fosse pelo esposo arfante! Inveja confessei e não me evado: no mundo não ha nada que me expante.
PEROLA DESVIADA 25 ODE FIDEDIGNA [0095] Conhesço muito cara que é casado, tem filho, que é bom pae, que é bom marido, emprego bom tem, optimo "ordenado" (foi esse do salario um appellido), que posa de machão, jamais um lado androgyno obstentou, tendo investido na bolsa só lucrou, que num sobrado reside e que o quitou tempo faz, ido, mestrado fez e até tem doutorado, que vota mas exquesce em qual partido, que nunca achou ninguem siquer culpado, que é culto e que bons livros, só, tem lido, que tudo practicou de esporte a nado e bolla batte em time muito unido, frequenta alguma egreja e sem peccado se julga, que é saudavel na libido e nunca precisou ter confessado ao padre, ao analysta, ao mais querido amigo, nem siquer ao delegado, que nunca na suruba foi comido, que nunca no seu cu tenha tomado... Mas pelo menos uma vez -- "Decido fallar disso a você, Glauco! Cuidado, não conte p'ra ninguem, hem?" -- sem ruido, escandalo ou boato, foi chupado por homem, ou chupou, sem coagido ser, tendo loucamente se exporrado. Daquelles que negaram eu duvido.
26 GLAUCO MATTOSO ODE NEGATIVISTA [0109] Que sou discriminado, disso sei bastante, mas notei ser, nesta vida, mais mesmo como cego do que gay. Me negam, como cego, a merescida cadeira numa casa em que, aos quarenta collegas, incommoda que eu resida. Me nega, como cego, o que me assenta, nos canones de historia litteraria, a critica academica, avarenta. Me negam, como cego ou como pariah, a minima passagem na calçada tomada pela claque partidaria. Me negam, como cego que mais nada espera dos amigos, um convite siquer para a animada churrascada. Me negam, como cego, que eu me irrite si meu logar na fila alguem occupa ou quando me degrada alguem de elite. Me negam, como cego, na garuppa até dos litterarios festivaes, espaço, si não leio nem com lupa. Me negam, como cego, que meus ais escute quem prepara anthologia poetica de meros marginaes. Me nega, como cego, o que eu queria comer, salgado ou doce, esse doutor que mede minha altinha glycemia.
PEROLA DESVIADA 27 Me nega, como cego, um só favor que eu peça, aquelle joven que chulé tem forte e nariz nelle quero pôr. Me nega, à minha cega bocca, até quem minhas cervas bebe e mija à bessa, seu proprio mijo... e timido nem é! Nos noves fora, appenas interessa que soropositivo não serei. Pudera! Me faltava só mais essa!
28 GLAUCO MATTOSO ODE CLASSISTA [0110] Qualquer trabalhador da construcção em frente ao edificio onde morei ficava, nos domingos, sentadinho na porta do tapume, vendo a rua, sem nada que fazer. Eu, certa vez, voltando do passeio, o olho batti nos dedos de seu pé, numa sandalia daquellas havaianas, ja bem gasta. Fiquei maravilhado! Seu dedão, alem de ter um largo vão, notei que curto era demais, quasi ao mindinho egual em comprimento, emquanto sua bem chata sola punha-me freguez daquelle esculptural lanchão, alli no meio da calçada, que me calha no porte e do meu olho não se affasta! Em casa, masturbei-me e meu tesão se inflamma. Ja assumindo que sou gay, à rua desço. Usando de jeitinho, explico ao operario que elle actua na pelle de quem manda no burguez e obriga que eu lhe lamba, qual gury currado pela gangue mais bandalha, seu grego pé, funcção dum pederasta. Authentico michê de occasião, um bicco aqui lhe arranjo e lhe paguei não só pelo pezão: pelo sebinho da rolla que chupei. Como elle sua na sola! Como fede! E como fez beber, as ordens dando, o seu xixi, aquelle rapazelho que "gentalha" será si, ao Chaves, Kiko oppõe-lhe a casta!
PEROLA DESVIADA 29 MADRIGAL PROVIDENCIAL [0112] Si está faltando assumpto, na novella, no templo, na campanha, a quem se appella? Ao gay, que em tudo expalha seu aroma! Um padre, ou um pastor, com elle sonha. Seu beijo, na tevê, mais ponctos somma. Por elle os candidatos battem bronha. Tem fama, seja em Roma ou em Sodoma, tamanha, que o Demonio se envergonha...
30 GLAUCO MATTOSO ODE PASTORAL [0199] Pastor eu sou! Pedir vou a Jesus que extenda seu amor e seu perdão, que a todos os irmãos conceda a luz! Jesus é piedoso! O coração tem grande e nelle cabe o pobre, o rico, os limpos e os que limpos não estão! Por isso com Jesus me identifico! Tambem sou tolerante com quem faça excolhas que reprovo ou que critico! Tolero até o politico que abbraça corruptos e ladrões! Só não tolero os gays, essa tão torpe e suja raça! Expalham peste e vicio! Como Nero não chego a ser! Porem que devam acho soffrer castigo celere e severo! Proponho que, perante o populacho, se enterre o gay, expondo só a cabeça ao nivel do terreno, aos pés dum macho! Será pisoteado! Que padesça bem, antes de morrer! Appedrejado tambem será, sim, antes que me exquesça! Irmãos, vocês verão! O resultado será sensacional! Jamais seus cus darão os que me chamam de veado!
PEROLA DESVIADA 31 MANIFESTO NATURISTA [0218] "Na frente de qualquer outra visita, eu logo vou dizendo: Não repare! Mas sendo você cego, Glauco, vou tentar ser bem didactico. Virei nudista, Glauco! Agora ando pellado em casa! Convenci minha vizinha aqui do lado... Logo ella adheriu! Um dia quero andar assim na rua! Então, Glaucão, você quer conferir? Appalpe, va passando a mão... Assim... Ei, calma! Não precisa abbaixar tanto! Cuidado! O penis deve estar bem molle, sinão parescer pode sacanagem! Por isso, não exbarre muito ahi! Ja chega! Precisava adjoelhar? Agora accreditou? Tirou a prova?" -- Tirei. Só me desculpe si lhe excita que mexam no seu pincto. Mas encare os factos. Você fica dando show no espelho? P'ra vizinha? Quer que um gay assista da janella? Resultado bem piffio, o seu, não acha? Mas a minha mão boba percebeu que preferiu você ficar calçado. Continua usando o seu sapato por que? Rir não quero, mas terá medo de mim? Aqui de nós nenhum nunca foi sancto. Qualquer um que quizer, o cego engole um pincto sem problema. Muitos agem assim commigo. Claro, me trahi, mas vamos combinar: P'ra que calçar sapato, si na lingua a gente escova?
32 GLAUCO MATTOSO "Ó, DÁ-ME, GLAUCO, O CU, ALGEMADO!" [0280] Às vezes é preciso que eu mais um pé metta, achando o decasyllabo até pequenino, ainda que este rhythmo manque qual perneta. Por isso usando estou o verso alexandrino. Occorre que um palindromo, dos de proveta, causou-me especie. É o thema, claro, fescennino: "Até cubanos mettem só na buceta." Mas nelle comptei onze syllabas, previno. Importa pouco aqui tal metrica faceta, porem, pois quero atter-me ao caso feminino e ao coito vaginal, que chamo de careta, si formos comparar àquelle que imagino. É neste justo poncto que um rapaz cappeta chegou e no palindromo mostrou ferino tesão, pois me brindou com um bordão porreta, daquelles que me calham por fatal destino. Masoca que sou, cego servo da punheta, na mente projectei caralho nada fino na marra me enrabando appós ter na chupeta me feito fellador do sadico menino.
PEROLA DESVIADA 33 MANIFESTO SEXORALISTA [0303] {Sei por experiencia propria, cego: um pau os travestis chupam melhor que muita mulher! Numa festa ja flertei com um bonito -- ou mais bonita que muitas putas, Glauco! Sussurrei em seu ouvido: "E então? Quer me chupar com essa bocca linda que me excita?" Nós fomos ao banheiro. Ahi tirei p'ra fora a rolla. Aquella gatta fez na vida a chupetinha mais gostosa que tive! Percebi, cego: uma puta não chupa assim tão bem, tão delicada nos labios e na lingua! Se empenhava bastante na cabeça, até que, emfim, na hora de gozar, me punhetou de leve com a bocca. Ah! Que deleite! A porra foi todinha para dentro daquella gargantinha! Arrancou minhas golfadas sem perder nenhuma gotta! Assim é que se faz! Não como as putas, que não se especializam em tirar a porra dum caralho numa bronha buccal tão bem battida, cego! Ou não? Você não sente inveja dum traveco? Queria no logar della ficar? Que gloria para um cego chupador, não acha? Performar com sua bocca aquillo que faria com a mão alguem que se punheta, não é facto?}
34 GLAUCO MATTOSO -- Razão, caro Diego, não lhe nego, pois desses argumentos sei de cor. Esposas, namoradas, não está ninguem de fora nessa. A favorita chupeta, quem faz mesmo, alem do gay, é a mais transexual, essa exemplar mulher que ja foi homem. Quem imita, usando a propria bocca, como usei, aquillo que sentiu alguma vez no pau, quando chupado, melhor dosa os toques labiaes, linguaes -- labuta que puta alguma nunca fará, nada egual, jamais, ainda que de escrava se faça. Nada novo, para mim. Ao cego, ja faz parte de seu show mostrar-se efficiente. Que approveite quem delle se servir! Eu me concentro e faço meu melhor, não nestas linhas, appenas, mas tambem na mais escrota das practicas buccaes, sob ordens brutas, bebendo mijo, ouvindo o mais vulgar e chulo commentario, sem vergonha nenhuma, adjoelhado pelo chão. Inveja sinto, claro, mas eu secco, tal como o travesti, meu paladar curtindo, o doce semen de sabor salgado, amargo, ou acre. Jamais oca a bocca dum ceguinho fica, tão fatal a vocação que tem ao acto.
PEROLA DESVIADA 35 PUPPY REPLAY [0312] Durante a dictadura na Argentina, collegas de prisão dum tal de Chango narraram a desdicta. Ser judeu valeu-lhe mais cruel perseguição por parte dos agentes carcerarios. Tiravam-no da cella. Ja no pateo, um guarda {le hacía mover} justo {la cola, que ladrara como un perro, las botas le chupara.} Foi chocante {lo bien que lo hacía}, si {imitaba al perro}, sim, {igual que si lo fuera!} {Si no satisfacía al guardia} a gosto, o algoz só {le seguía}, assim, {pegando}... Ouvindo os companheiros seus lattidos, suppunham ser, de facto, algum cachorro, tal era do rapaz fiel a voz ao tymbre que exigia seu algoz. No seculo passado, foi roptina dos presos ser cachorro. Não me zango si fazem de mim isso, pois o meu tesão é masochista. Mas eu não queria ser judeu na mão de varios algozes argentinos. Que me tracte o leitor dessa maneira, nem me assusto, pois quando um cego soffre não tem erro. Comtudo, differente foi, durante os annos de Videla, a scena braba. Agora, puppy players fazem cera, cu doce, dengo, manha. Si indisposto, o cão nem obedesce a algum commando mais firme de seu dono. Os divertidos brinquedos dos gays nunca meu exporro suscitam, mas o cego tem um "boss" cruel em cada mente, e mais feroz.
36 GLAUCO MATTOSO MANIFESTO CONSTITUCIONALISTA [0327] {Que coisa, Glauco! Onde é que a gente vae parar com essa clausula que dizem ser "petrea"? Não se pode mexer nisso? Magina! Como assim? Então si alguem puzer na Charta Magna que "veado" só pode ser chamado de "pessoa de livre orientação que optou por ter tendencia homoerotica", ninguem mais pode designal-o como "bicha"? Si assim for, eu prefiro que essa tal de "clausula" consagre que tem pena de morte no Brazil! E ja que querem chamar de "petrea", que essa morte seja por appedrejamento, Glauco, porra!} -- Espere ahi, que assim você se trae! Va la que sempre eu peço que me pisem, mas nunca vou prestar um desserviço dizendo que ninguem agora tem direito de exigir-se respeitado! Ainda que um careta a mais se doa, nós temos que incluir nosso prazer em termos de direito, mesmo sem babacas euphemismos. Nessa ficha cahida não está qualquer penal nem maxima sentença, nem condemna ninguem nenhum "peccado". Si puzerem aquillo que deseja alguma egreja, logar nenhum se chama mais Gomorrha...
PEROLA DESVIADA 37 TOLO CONSOLO [0372] (para Gabriel Limão Macchabeu) Um homem dando o cu para a mulher? Pois é, minha mulher apparesceu em casa com a cincta que tem um cacete de borracha. Me comer queria! Navegando nessas redes estão nossas esposas... Fazer querem comnosco o que fazemos nós com ellas! Comi socando forte? Quer vingança? Brincando está? Seus olhos brilham quando no thema toca. "Deixa disso!", digo. Eu, dar o meu cuzinho virgem? Nada! Sou macho! Tenho pregas! Não, sem essa! Sabendo que não faço o que ella quer, um video deu-me e disse que esse seu desejo virou moda bem commum! Até que ver machão, dando, um prazer tambem me dá, pois entre taes paredes eu proprio os comeria si me derem... Mas dar o meu, jamais! Nessas mazellas me ligo quando os vejo com a pança p'ra baixo, as mulheronas penetrando com gosto, caprichando no castigo... Mas deve dar dorzinha bem damnada, alem de degradante ser à bessa...
38 GLAUCO MATTOSO Então ella provoca: "Quem disser que dóe, tá com frescura! Me comeu você e me segurei! Do seu bumbum agora tá com dó? Si não ceder, direi que tá com medo!" Vós, que vedes tal coisa, perdoae, Senhor! Esperem ahi! Para evitar novas querellas, cedi, mostrei ser macho. "Ella se cansa depressa!", até pensei. Fui arregando o rego. Me fodi! Prum inimigo não quero o que senti! Dor que me invada assim, ah, nunca mais! "Tira depressa!" Não topo nem do medico um clyster, magina si aguentei! Eu não! Não eu! Aquillo é muito duro, até meu pum bloqueia! Alem do mais, nenhum poder tem ella de sentir as minhas sedes! Nem sabe quando chega! Ah, como ferem as pregas taes consolos! As sequelas são como as de hemorrhoidas! Não! Quem dansa de novo não serei! Mas e si um bando de cornos nós ja formos? Eu me intrigo com isso... e vou topando outra trepada do typo... Mas menor comprei a peça.
PEROLA DESVIADA 39 RHAPSODIA BILAQUIANA [0390] Diziam que era adepto desse coito anal que ja chamaram "sodomita", mas, sobre isso, não quero ser affoito. Lamento só que a chronica se ommitta. Não sei si elle molhava seu biscoito no alheio cu, si dava o seu. Não cita ninguem esse detalhe; de dezoito maiores, si os prefere, si os evita. Ommitte, em "Penetralia", até quaesquer dos nomes dos "amores": é sigillo aquillo que Bilac, então, mais quer. Não quero contestar, nem denegril-o. Emilio de Menezes de mulher não falla, mas diz "anus" ser aquillo que o bardo tem por intimo mester curtir, discretamente, a seu estylo. Más linguas affirmavam que o poeta gostava de chupar e ser chupado, mas posso duvidar de quem tal setta desfere, desdenhoso ou despeitado. Prefiro accreditar que elle da recta tirou o seu e nunca a nenhum lado cedeu. Sim, punheteiro! É o que interpreta a forte intuição dum cego ousado.
40 GLAUCO MATTOSO HOW MANY FRIENDS? [0438] Ainda me podia ver no espelho, um olho ja tapado, lente escura nos oculos, outro olho pouco vendo. Sahia à rua à noite, em visual rockeiro, de jaqueta trespassada e sempre havia alguem que me notasse, alguem que, mais bonito, me dizia curtir gajos que sabem se vestir. Nem elle, nem eu, tinhamos, de facto nas nossas caras nossas attracções. O gajo só queria me chupar. Eu só queria aquelle pé lamber. Ninguem era sincero, mas a gente tentava apparentar que era na cara, na roupa que se excolhem os parceiros. Depois que fiquei cego, um rapazelho não pode mais dizer que em mim procura aquelle visual, antes horrendo, de punk ou de skinhead, em meu tribal jeitão, porem fajuto, na calada da noite, eu que não tinha a bella face. O mesmo rapazelho que, de dia, me via a bengalar, ficava a rir. De noite, me ligava, seu sapato queria descrever-me. Eu de Camões queria lhe dizer, de cor, um par de classicos sonnettos. Mas prazer tivemos em trocar, sinceramente, os nossos interesses, um na tara, nas lettras outro, os versos pelos cheiros.
PEROLA DESVIADA 41 Ninguem mais vem pedir o meu conselho poetico ou rockeiro. Nem figura de velho bruxo faço, nem defendo papeis de menestrel profissional. Não resta, a permutar, hoje mais nada. Pergunto-me: affinal, como é que nasce vontade, ou amizade, ou sympathia reciprocas? Como é que, sem fingir, iremos nos querer? Accode, ingrato, à mente este dilemma: os amigões exsistem? Quantos delles eu comptar nos dedos posso? Quantos vão saber amar-nos como somos? Quem se sente comnosco solidario? Ora, tomara tenhamos inimigos verdadeiros!
42 GLAUCO MATTOSO DESFRUCTE NÃO SE DISCUTE [0495] {Explica-me este poncto, si és capaz, meu caro Glauco, sobre coito anal. Quem come, de cocô suja seu pincto, concordas? Fica todo malcheiroso, borrado, quando o pau dalli retira, concordas? E quem dá, dores supporta, às vezes nem supporta, tão agudas que são! Tu não concordas? Poderá, talvez, até sangrar! E se mixtura o sangue ao excremento sobre a pelle do penis, Glauco! Puta que pariu! Por que diabos, Glauco, tem quem goste de tal penetração? Ninguem desfructa total, desse prazer de gosto tão, digamos, duvidoso! Que me explicas?} -- Nem sempre o sexo anal, de Satanaz o coito predilecto, faz de tal maneira a porcaria. Não te minto si digo que evitado tenho o gozo anal, talvez por causa duma lyra oral que poetizo. Mas a torta visão que tens do rabo, não te illudas, em nada altera a graça p'ra quem dá, tampouco p'ra quem come, si tortura faz parte do tesão, caso alguem felle a rolla suja, appós o que sentiu no proprio cu, fodido por um poste. É sadomasochismo! Não discuta ninguem a dor alheia, a compulsão alheia, por trazeiros ou por piccas!
PEROLA DESVIADA 43 CULTO ECUMENICO [0522] Os dois espadachins olham-se com um odio mudo, usando a saudação de praxe, porem avidos de sangue. Começa a lucta. Advança aquelle, seu rival encurralando, que desvia dum golpe certeirissimo, o qual corta a vela pelo meio. Sobre a mesa enorme sobem ambos. Continua a lucta, alli por cyma mesmo. Pulla um delles para o solo novamente. Tambem desce o rival. Eis sinão quando aquelle perde sua leve espada. Ja prestes a morrer, elle se exquiva e pega pelo braço um opponente surpreso. Tambem deste voa longe a branca arminha. Prompto. Vão na mão. Agora muda a scena. De bom tom não ha mais nenhum golpe, só chutão, pernada, parescendo bangue-bangue sem tiro. Um dos parceiros ja perdeu dois dentes. Outro berra, na agonia dum olho ja vazado. Pela porta affora, rollam elles. Indefesa, a moça sae correndo pela rua. Mas pede por soccorro. Quem ulula de gosto é a garotada. Juncta gente, torcendo para alguem ir se ferrando. Exhaustos, mutilados, ja sem nada podendo fazer, elles dão um viva à rude multidão. Sob o sol quente, abbraçam-se, se beijam. Um é monge buddhista. Seu amante é bom christão.
44 GLAUCO MATTOSO TRABALHADORES DO SEXO [0553] {Agora, Glauco, um soropositivo não mais transmitte a peste! Cê sabia? Fiquei sabendo: os medicos agora suggerem uma pillula que evita do virus transmissão pralgum parceiro. Disseram que é melhor a camisinha, mas sabe-se que poucos utilizam. Por isso, você, Glauco, que é sozinho, ja pode contractar o seu michê, que, como toda puta, todo trans, trabalha mais seguro. Ja pensou? Você não se enthusiasma, não celebra?} -- Nem tanto. Tão sozinho ja não vivo nem tenho, sem visão, tanta phobia. Entendo por que tanto commemora a classe prostituta que cê cita. Mas nunca recorri, não, por dinheiro, a algum garoto, desses que, na linha villan, fazem programma. Não me pisam do jeito que eu queria. Nem me allinho à pillula, pois, como bem você conhesce, pés eu lambo. São, pois, vans p'ra mim taes discussões. Não, não estou ligando. O galho a gente sempre quebra.
PEROLA DESVIADA 45 INFINITILHO DO PECCADILHO [0581] {Jesus fallou, Glaucão: nós não devemos uns ciscos apponctar em olho alheio si temos, bem no nosso, um pedregulho. Não disse exactamente nesses termos, mas quiz dizer: macaco que não olha o proprio rabo nunca poderá fallar dos outros. Nisso por fallar, meu rabo eu ando dando, Glauco! Sabe? Eu nunca tinha dado, só chupava! Agora descobri que dar o cu é muito dolorido! Si você se julga masochista, saber vae daquillo que lhe digo com franqueza! Então pergunto: como um peccador serei, si ja pagando pela dor estou? Quer me dizer, Glauco? Me diga!} -- Ouvidos ando dando mais aos demos que aos anjos, mas em Christo tambem creio, pois disse muita coisa que barulho fará quanto mais della nos valermos. Que cada qual seu ganso, livre, molha é poncto claro. O mesmo, pois, se dá com nosso lindo rabo. Quem quer dar que dê. Você bem sabe quanto cabe de rolla dentro delle. Quem, escrava, a cara abra ao caralho, tal tabu nem teme, pois pinctinho de nenê não é bem o que leva quando cae de bocca num thalludo pé de mesa. Por isso não censuro quem quer pôr no rabo o piccolé dum fodedor. Sossegue, que com Christo não ha briga.
46 GLAUCO MATTOSO PRIMEIRA RHAPSODIA AUGUSTIANA [0705] {Você bem commentou, Glauco, o poema do Augusto, que desfaz do sybarita. Ficou aquella scena sepulchral da dupla de caveiras, cara a cara, por elle suggerida, mas no fundo o bardo menospreza a puta, a bicha, se faz de moralista. Não combina, comtudo, o moralismo com alguem por todos tido como um transgressor! Não acha, Glauco? O Augusto não se trae fallando da amizade e dos amores?} -- Não vejo só no Augusto tal problema. Por traz do scepticismo, uma proscripta noção de tudo quanto bacchanal suggira: nisso o bardo se compara ao bom Nelson Rodrigues, que de immundo chamou o penis quando porra exguicha e quando introduzido na vagina. Si coitos tão "normaes" elles ja teem chamado de immoraes, o que suppor dum acto no qual toda bicha cae de bocca? Ainda assim, são bons auctores...
PEROLA DESVIADA 47 BOBBY VEE ADÃO [0781] {Responda-me, Glaucão, si esse subjeito, o Bobby Vee, seria algum veado tentando se passar por namorado frustrado de mulheres! Sempre escuto o gajo se queixando nas canções, pedindo que rivaes mais garanhões não roubem sua gatta, que, no caso de estarem saciados, tenham dó e queiram devolvel-a! Ah, Glauco, não consigo tolerar um typo tão capacho, tão... bobão dum Ricardão! Sim, Bobby de bobão tem o perfil, não acha, Glauco? Diga algo do cara!} -- Não tenho o que dizer. Mas não rejeito hypotheses do typo. O que me enfado de ver é sempre egual ao mesmo dado: rockeiros cornos mansos. Fico puto com isso! Mais eu quero! Trahições explicitas! Chifrados mais cagões, chupando um Ricardão, sendo-lhe vaso, mictorio, ou engraxate, 'inda que só de bocca, de intenção! Tenho tesão demais nesses triangulos! De cão ser feito ver eu quero o bobalhão! Comtudo, nem siquer ha no Brazil rockeiro algum que ao Bobby se compara...
48 GLAUCO MATTOSO RHAPSODIA CLAUDIANA [0952] {O Claudio, no triangulo, se faz de macho preterido, Glauco, observo naquelle sonnettinho que você ja tinha commentado certa vez. O tal do Gil proposta melhor fez que Claudio, o qual só pode offerescer amor, carinho, boas intenções. O facto, caro Glauco, me paresce bem claro. Foi passado para traz o nosso talentoso menestrel. Casar-se vae a moça com o Gil e Claudio ficará chupando o dedo. Não acha que isso os brios dum machão offende? Poderiam duellar, não é? Mas o poeta não tem peito!} -- Me ponho no logar desse incapaz, assim como dos outros que conservo bem vivos na lembrança. Claudio vê que Gil, mesmo não sendo tão cortez, a moça ganhará, por ser burguez, ter posses. Ja que Gil tem tal poder, irá Claudio deixar de ser Camões por certo tempo, como si estivesse subjeito às intenções do outro rapaz. Ahi, fodeu! Fará, agora, papel de escravo sexual. Irá, servil, chupar o pau do Gil. Talvez segredo mantenham para a moça, talvez não. Duello nem será preciso. O par se entende. Eu entendi, tambem, direito?
PEROLA DESVIADA 49 RHAPSODIA ANDRADEANA DO MARIO [0955] {Né, Glauco? Foi-se o tempo em que ninguem dizia abertamente que elle gay seria. Agora sabe-se, sem crise. Mas acho que bem menos gente sabe que Mario sonnettou. E justamente foi sobre um pelladão adolescente seu celebre sonnetto. O rapazola, talvez occasional numa noitada, ficou, claro, em total anonymato. Bastou, porem, fallar daquella perna "assim jogada" para me excitar. Que pensa disso tudo, Glauco? Diga!} -- Guardei, aqui commigo, um poncto bem supposto, sem ter sido o que pensei, mas sendo: si é na perna que se vise olhar, tambem no pé creio que accabe cahindo o mesmo olhar. Na minha mente aquelle meninão tem, certamente, um typico pezão, de chata sola, artelhos expalhados, grande em cada a unha, até cortante no formato. Tomara que do Mario a bocca terna alli tenha beijado, o calcanhar, o dorso, o tornozello... Oh, si me instiga!
SEGUNDA PARTE MOTTES GLOSADOS
PEROLA DESVIADA 53 MOTTE 0070 Eu gosto tanto de pé que chupo até sapatão. Em pappos não bote fé! Fallam que sou fetichista e, appós ter perdido a vista, eu gosto tanto de pé que topo "trava" ou "mulé"... Mentira, pois meu tesão não faz qualquer concessão: ao pé macho, só, me rendo! Então, não saia dizendo que chupo até sapatão! MOTTE 0091 Cagava eu num riachinho e entrou-me um peixe no cu! Deu-me apperto no caminho e, antes que chegasse em casa, fui alli onde a agua é rasa: cagava eu num riachinho. Mal no corrego me anninho e despejo meu tutu, alguem, vendo que estou nu, vem por traz e mette o ferro! Eu, sem jeito, dou um berro: "Entrou-me um peixe no cu!"
54 GLAUCO MATTOSO MOTTE 0092 O cego chupando rolla faz melhor que puta ou bicha. A questão paresce tola, mas erra você si infere que a quenga ou que o gay supere o cego chupando rolla. Basta alguem na bocca pol-a e sem queixa elle capricha até ver que a porra exguicha! -- Sou sensivel! -- elle explica e, ao sentir gosto de picca, faz melhor que puta ou bicha! MOTTE 0102 Quem nunca comeu mellado, quando come se lambuza. A cegueira, num veado, faz que cada coisa engula cujo gosto nem calcula quem nunca comeu mellado. Elle nem fica ennojado em situação tão confusa e nenhum pincto recusa: desde que um macho lhe excorra bocca addentro o sebo e a porra, quando come se lambuza.
PEROLA DESVIADA 55 MOTTE 0228 Não entendo de cozinha. Sei que é coisa de veado. Um machão que me expezinha diz que odeia culinaria e desculpa dá, primaria: "Não entendo de cozinha!" Eu tambem não, mas a minha falha deixa-me frustrado. Quem me dera fosse o lado quituteiro minha prenda! Quando invejo quem entenda, sei que é coisa de veado. MOTTE 0229 Não entendo de costura. Isso é coisa de veado. Vivo ouvindo que é frescura ter meu proprio figurino, mas eu disso me vaccino: não entendo de costura. Quando um bofe me procura só deseja ser chupado. Desse officio não me enfado, mas, si é metrosexual esse bofe, e acha que é o tal, isso é coisa de veado.
56 GLAUCO MATTOSO MOTTE 0230 Não entendo de theatro. Isso é vicio de veado. Si um azar finjo, bem atro, sou poeta pessoano, não actor, e ja me uffano: não entendo de theatro. Si um machão me põe de quattro e meu cu deixa arrombado, dor senti, mas, feliz, brado. Quem é sadomasochista deixa em tudo a mesma pista: isso é vicio de veado.
PEROLA DESVIADA 57 MOTTE 0248 Propondo a "cura gay", o crente quer o maximo milagre jamais visto. Nem Christo achou possivel tal mester, mas acha um evangelico que pode trocar um furo pelo qual se fode! Propondo a "cura gay", o crente quer que, em vez dum homem, passe a ser mulher o gosto do freguez! Mas por que Christo alem de curar cegos (e eu desisto de nisso crer) nem cuida de tal "cura"? Só o credulo ou o crapula procura o maximo milagre jamais visto! Que tanto um evangelico precisa do gay p'ra ter assumpto e ser notado? Seria mais um dizimo a seu gado? Ou medo de que a carne, essa indecisa, convença o proprio crente, que só visa a chota, a pela rolla ter um mixto gostinho? A carne é fracca, e sabe disto quem goza no cuzinho da mulher! Propondo a "cura gay", o crente quer o maximo milagre jamais visto!
58 GLAUCO MATTOSO MOTTE 0249 É mais practico ser bicha que ser homem "convertido". O machão, que mal capricha na macheza, até cochila. O enrustido nem vacilla. É mais practico ser bicha! Quem disfarsa usa barbicha, coça o sacco, de bandido posa, finge ter libido por mulher... Eu ja tentei! Foi melhor me assumir gay que ser homem "convertido". MOTTE 0250 Na novella só se vê veadagem e bichice. Bailarino, actor, michê... Falta cada vez mais macho na tevê! Seria excracho? Na novella só se vê tudo aquillo que você vê na vida, ja se disse. Si o machão não exsistisse muita falta nos faria, pois tambem elle apprecia veadagem e bichice.
PEROLA DESVIADA 59 MOTTE 0399 Metta a rolla! Metta o braço! O problema e o cu são meus! Sou amigo da bichona mais tarada, que me disse: "Glauco, escrupulo é tolice!" Me diz ella que funcciona assim: "Glauco, isso detona qualquer rabo! Salve Zeus, inteirinhos, meus atheus intestinos! Figa faço! Metta a rolla! Metta o braço! O problema e o cu são meus!" MOTTE 0406 Hermitão que sou, recluso permanesço em meu apê. Dos leitores e da imprensa me livrei, pois sossegado nem vizinho tenho, ao lado, barulhento. Mas quem pensa que o ceguinho aqui dispensa todo mundo, só não vê que recebo algum michê, de quem soffro o pago abuso. Hermitão que sou, recluso permanesço em meu apê.
TERCEIRA PARTE SONNETTOS, SONNETTILHOS E DISSONNETTOS
PEROLA DESVIADA 63 ROMEU E EU (II) [0004] Eu quero com você brincar. Papae não deixa. O director prohibe. A esquerda se oppõe. Não vou aonde você vae. Em casa preso, eu choro a sua perda. Si alguma vez eu saio, quem não sae, tambem admeaçado, é você. Merda! Commigo si estiver, você se trae! Deshonre seu papae, e elle o desherda! Sahimos disfarsados. Desse jeito, somente, nos veremos e, si vem alguem, nos escondemos. Caso alguem nos ache, apponctará nosso defeito. Si excappo, eu sobrevivo. Mas refem será você da esquerda, sem proveito nenhum. Por outro lado, está subjeito às ordens dum patrão que é meu, tambem. DISSONNETTO VICTORIANO [0054] Em epochas de Wilde a Gran-Bretanha vivia numa grande caretice. Bordeis eram discretos, mas quem disse que o vicio reprimia sua sanha? Chicote era uma coisa nada extranha e clubes de sadismo, uma mesmice. Mas sempre tinha quem se divertisse usando um gay que gosta quando appanha. Os jovens estaffetas se alugavam p'ra quem seus pés quizesse appreciar, curtir do chulezinho um gosto, um ar, e caro os cavalheiros lhes pagavam. Um cego que nem eu, nesse logar de exoticos tesões que não se travam seria, como Wilde, dos que "lavam" chulé de office-boy num lupanar.
64 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SOCRATICO [0057] Os gregos cultivavam sapiencia: Um joven tinha em seu educador alguem que dava o maximo valor aos fetidos signaes da adolescencia. Chupava o professor com paciencia o phallo do moleque, até suppor que é porra mel, urina até licor e esmegma o puro nectar da appetencia. Como era philosophico ser grego, com esses meninões poder brincar! Alli por certo houvera algum logar onde eu, embora cego, achasse emprego... Ja sei, minha funcção era sugar, sem nunca do dever pedir arrego, o que sobrou do joven no seu rego e seu chulé saber saborear. SONNETTO DESBOTTADO [0210] No Rio é morto Botto, e hoje exquescido. Mas foi em vida lido e elogiado, não só por se assumir como veado, mas pelo grau de genio, merescido. Não tem elle o charisma do bandido. Estheta, se confessa entediado. Mas resta especular um outro lado, do sadico e machista resentido: "Sei appenas que nunca sei mentir e que sinto a excaldar nas minhas veias o desejo sangrento de aggredir!" São versos delle e, sem maiores peias, a um joven diz que a esposa va zurzir e a traga aos pés, no relho e nas correias!
PEROLA DESVIADA 65 SONNETTO A SAPPHO [0269] Poeta, poetiza, actor, actriz. Em Lesbos, Parahyba masculina, verbera do amor grego a voz divina na musa, semideusa, irman, matriz. Depois de mares, seculos, brazis, Paraguassu, Bartyra, Leopoldina, a Xica, a dona Bêja, a nordestina, Florbella Espanca, ca como em Paris. As que não desejaram, desejadas, scientes ou então à revellia, se tornam fadas, dadas, camaradas. Na terra da ancestral philosophia rarissimas poetas são sapphadas. Milhares de mulheres, hoje em dia. SONNETTO PHALLOCRATICO [0299] Amigo meu quer ver a propria esposa transando com rivaes mais masculinos, mesma curiosidade dos meninos: um quer transar com outro, mas não ousa. O mesmo amigo usava pôr na lousa da classe e no banheiro uns fescenninos poemas e desenhos de pepinos, cenouras, mandiocas, tanta cousa! Perguntam-me quem era o tal amigo. São tantos! Não vou dar nome dum boi no meio da boiada... Então, não digo. O tempo de menino ja se foi, mas duvidas eguaes trago commigo: Por que moleques andam sempre a dois?
66 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PUNHETEIRO [0307] Si "circle jerk" é roda de punheta, ja fica desde logo demonstrado: brinquedo de gury não é quadrado. A mente dum adulto é que é careta. Pensando nos peitinhos, na boceta, mas vendo os colleguinhas lado a lado, menino com libido é complicado: bedelho mette em tudo, esse cheireta! Pentelho 'inda não tem, e ja maneja direito o prepucinho o tal pivete. Demonstra habilidade em seu cacete, expondo a cabecinha de cereja. Lembrar do pirolito e do sorvete é quasi que automatico. Que esteja promptinha a turma, ha duvida? Fraqueja um delles, e nos outros faz boquette. DISSONNETTO TRAVESTI [0313] Chamar de "transformista" não explica. Chamar de "drag queen" nunca falla exacto. A explicação se encontra alli, bem no acto, pois no logar da conna está uma picca. Hormonios, silicone, tudo indica a feminilidade no seu tracto. Talvez algo maior seja o sapato, mas no conjuncto pouco modifica. À noite pesa a barra do traveco que faz a viração pela calçada à cata dum bandido, um tira, um reco. Encontra amor ou odio sempre em cada cantada, pappo rispido ou chaveco, na fria solidão da madrugada. Às vezes o prazer vae ter seu echo: Um grito. Um corpo. Um tiro. Uma facada.
PEROLA DESVIADA 67 DISSONNETTO GAUCHO [0336] Estado muito proprio em seu costume, o mais meridional obstenta as botas, churrasco, chimarrão, e tu, que arroctas machismo, tens razão: temos ciume. A chique distincção tudo resume: gauchos de bombachas são janotas. Desaggravando a fama de Pellotas, não ha neste paiz quem mais se apprume. Si minha amada fosse minha prenda, eu prenderia a china como gado: fingindo-me de macho debochado, comprava, approveitava e punha a venda. Mas sou sozinho, cego, hallucinado. Quem sabe por masoca alguem me entenda: do Pampa, bem pimpão numa fazenda me vejo, e por vaqueiros sou montado. SONNETTO NIVELADO [0361] Uns são Napoleões, outros são Momos. Ninguem excolhe si é plebeu ou rei, ou de onde vem, ou pronde vae. Voltei do Rio appós colher amargos pomos. Nem sempre intimamente nos expomos. A contribuição, si é que uma dei, ao foro nacional da causa gay foi ter proposto um nome ao gruppo Somos. Primeiros activistas da libido, luctei, com elles, pela identidade, mantendo o masochismo reprimido. Deixei de lado, um pouco, o culto a Sade. Amei o egualitario sem ter sido. Fui gay no platonismo e na amizade.
68 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA NYMPHETA [0374] Dedico-te esta dadiva, ó Dolores, musa divina, diva doidivanas! Recebe de presente estes sacanas bichinhos de pellucia chupadores! Serão teus companheiros quando fores brincar de bestialismo. Sem as chanas de tuas amiguinhas ou das manas, te sentes tão sozinha e tens tremores! Coitada da Dolô! Quem dera fosse dotada duma mansa passarinha! Quem dera não sahisse ella da linha! Mas não! É uma nymphomana precoce! Ja desde pequenina se entretinha em jogos de poder, potencia, posse na copula. Ao invés da balla doce, chupava e era chupada na tetinha. DISSONNETTO MULHERENGO [0382] A virgem deflorei quando moleque. A puta frequentei adolescente. Adulto, foram muitas. De repente, me caso, e ella me pede que não peque. Prometto. Mas estava de pileque e a chance de trahir é persistente, mammão e não maçan. Haja serpente! Agora o casamento vive em xeque. Desejo ser fiel, mas não consigo. Nem sei si estou erecto ou si estou bambo. As timidas alcunham-me de Rambo; pantheras, de Bambam, mas eu não ligo. Não pensem que sou Baccho em dithyrambo! Não pensem que aos maridos sou perigo! De facto accontesceu, mas não commigo: é um gajo que me conta, emquanto o lambo.
PEROLA DESVIADA 69 SONNETTO A NÉSTOR PERLONGHER [0434] Na frente esteve e está, depois ou antes. Poeta ja portento de portenho, em Néstor o barroco ganha engenho e os verbos reverberam mais brilhantes. Da Frente mythico entre os militantes, aqui tem maior campo seu empenho. Da causa negra um dado a depor tenho: tractou mais que os tractados dos tractantes. Aos putos imputou novo valor. Da lingua tinha humor sempre na poncta. Das classes, lucta e amor, é professor. Mediu o que a estatistica não compta. Territorializou do corpo a cor. Deu tom de sancta a tanta tincta tonta! DISSONNETTO DOMESTICO [0436] Estava o cachorrão sozinho e triste, trancado na casinha, come-e-dorme. Seu unico brinquedo, aquelle enorme, surrado pé de tennis, que resiste. Ja victima das linguas e do chiste, a edade faz que quasi se conforme. Seus donos usam botas e uniforme. De fuga não ha ropta que os despiste. Até que um lindo e timido gattinho, em busca de refugio, certa feita, se acchega ao cachorrão e alli se deita. Naquelle apperto, pisa-lhe o focinho. O cão accorda, extranha, mas acceita. Resiste à temptação de ser mesquinho e, em vez de defender, divide o ninho. Agora a dupla vive satisfeita.
70 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO MICHETADO [0505] Mais serve ao cavalheiro do que à dama. Mais joven apparenta que o cliente. Mais masculo se diz do que se sente. Quer ser mais que um garoto de programma. Nem tudo que combina faz na cama. Si dá não quer. Si come não é quente. Si chupa não engole. Si o diz, mente. No par sempre é mammado. No bar, mamma. Seu penis é mais canto que instrumento. Seu tennis é maior do que seu pé. Seu riso é menos gozo que lamento. Seus olhos timidez fingem, até. Aluga o que não tem e o que não é. Mas cobra a phantasia e, ciumento, "Amor!" espera ouvir, quando o café lhe paga algum cliente do momento. SONNETTO DO ROPTO E DO EXFARRAPPADO [0663] O penis preguiçoso e porco invade a bocca caprichosa dum veado e, quanto mais estupido e abusado, mais acha nesta a docil humildade. A lingua estabelesce intimidade total com o prepucio phymosado e, até que o folgazão tenha gozado, a bocca topa tudo que lhe aggrade. Depois do gozo, a bocca cospe fora a gosma que o sebento lhe exguichara. Pergunta o pau: "Que nojo é esse, agora?" A bocca enjeita: "Fiz por pura tara, mas quero algum asseio!" O pau se arvora: "Mais sujo é quem chupou! Nem se compara!"
PEROLA DESVIADA 71 SONNETTO AUGURADO [0712] Paradas, passeatas, carnavaes das cores, como os gays promovem, são capazes de junctar mais de um milhão nas ruas das maiores capitaes. Evento que transcorre em sancta paz, sem panico, furor, depredação, da midia mal meresce uma menção ligeira, desdenhosa e suspicaz. Si fosse futebol, comicio ou show, com menos gente e muito mais encrenca, dão trella e cobrem tudo que rollou! Abutre, o jornalista "allerta" em penca quer mortos e feridos, mas não dou aval aos maus agouros que elle elencha. DISSONNETTO DESSEDENTADO [0738] O moço entregador da adega traz naquella bicycleta um peso immenso. Nalgum appartamento agguarda, tenso, alguem que encommendou agua com gaz. Gazosa é só pretexto. Do rapaz o velho quer aquillo em que ora penso: seu cheiro, seu suor que, em vez de lenço ou banho, duma lingua esponja faz. O tennis detonado que pedala defuma-se por dentro e não resecca jamais a larga sola. Da cueca que attrita no sellim, um ar trescala. Appós gratificado, na caneca o beiço do moleque um gole estalla e, imaginando o odor daquella "mala", alli bebendo o velho se lambeca.
72 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA AUTO-ESTIMA [0742] Dois homens fazem magica na cama. Até que se penetrem por completo, no inverso peristaltico do recto, inventam arte oral, que instiga e inflamma. Na glande circumcisa a bocca mamma e, quando phymosada, o mais secreto dos cremes secretados faz-se objecto de olfacto e paladar, de gloria e fama. À parte todo o charme e todo o excracho, importa que não haja algum vacillo. A cada zona erogena do macho, a sola, a coxa, a nadega, o mammillo, a bolsa dos testiculos, o racho, um toque corresponde, a fim de abril-o a achar no par o extranho espelho onde acho meu proprio typo e thema, a estima, o estylo. SONNETTO DA NOVA INQUISIÇÃO [0752] O papa e Bush, unidos, cagam regra banindo o casamento gay da lista das leis "normaes": agora esta conquista é um "risco" e a sociedade "desintegra". De novo a cantilena: o gay desregra a vida, e quem num vicio tal persista só pode ser doente ou anarchista, um vandalo que a Lucifer alegra. São elles, governantes, não os gays os grandes responsaveis pelo mal, reaes e verdadeiros seis-seis-seis! Catholicos de merda e o capital levaram todo o mundo a falsas leis, mas sempre o amor de eguaes quasi é casal.
PEROLA DESVIADA 73 SONNETTO DOS CANTOS DE FODAS [0767] Não ha na poesia um parallelo, em termos de amor gay, com outro nome de mais antiguidade e que se tome de explicitos ardores pelo bello. É elle Abu Nowás, que num castello, o das Mil e Uma Noites, se consome aos pés de adolescentes, cuja fome de sexo satisfaz, como eu os fello. Sorve o "mel natural" duma saliva de impubere mancebo e, louco, canta a cor do seu calção, que é verde-oliva. Do pé chupa o dedão e sob a planta deslisa a lingua languida e captiva que faz maior num arabe a garganta. SONNETTO DAS AMIZADES DESCOLORIDAS [0775] Amigos gays, os tenho certamente, embora alguns até sejam peores que aquelle frei que, quando diz "Não chores!" por dentro "Chora!" diz, como a serpente. Dos heteros conhesço bem mais gente e tenho, entre amizades, as melhores, à parte os que "Meu pé quero que adores!" me ordenam si adjoelho-lhes na frente. Negocios separando, o amigo certo, presente em hora incerta e mais soffrida, é raro e poucos teem algum por perto. Conservo uns dois ou trez por toda a vida. O resto me fugiu quando os allerto que cego estou: são luz, e é colorida.
74 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA PARADA ESTRATEGICA [0807] Eleita (tambem) pelo voto gay, a dama, ja prefeita, exquesce o tracto que officializaria um par, de facto, unido, 'inda agguardando OK da lei. Si no particular ja lhe notei a falha, no geral é mais ingrato ainda seu conceito, pois o matto nas praças cresce e ha lixo onde eu andei. Buracos no orçamento e pelo asphalto tapados são com taxas excorchantes e por um predial sempre mais alto. Si quer ser reeleita, que aos amantes eguaes refaça o lobby no Planalto, ja que esta urbe jamais será a de dantes! SONNETTO DA FECHAÇÃO [0825] "Só não vale dansar homem com homem...", cantava o Tim. Mas perde bom dinheiro quem é commerciante e for cabreiro de abrir o espaço aos gays, para que o tomem. Poder acquisitivo, os que consomem musica ou moda propria ao "panelleiro" de sobra teem: viajam num cruzeiro e exigem boa mesa aos que bem comem. Porem quem menos nota o quanto paga um gay são os politicos, que ainda hesitam em abrir-lhe a justa vaga. No dia em que a presença for bemvinda dum homo no poder, não ha quem traga melhor astral, ou... tunica mais linda!
PEROLA DESVIADA 75 SONNETTO DESEGUAL [0888] Emquanto a puta nobre tem mammata, prestigio e mordomia, uma rampeira battalha na calçada a vida inteira e nem de faxineira alguem contracta. "Modello" nunca a chamam e na latta a tractam de "piranha" e "pistoleira". Emquanto estoutra mora na Vieira (que é Souto), a quenga velha latta cata. Vieira exsistem muitas: a Carvalho dos gays é passarella paulistana. Alli tambem tem classes o trabalho. Ao travesti de carro sobra grana. A pé, a bicha micha tem caralho postiço, peito frouxo e falsa chana. DISSONNETTO DO BATTEBOCCA NA CALÇADA [1166] Dois bebados discutem e eu escuto, passando perto. Um delles admeaça com violencia: "Accabo co'a tua raça! Um chute na tua bocca! Fresco! Puto!" {Vem ca! Tô te esperando!}, resoluto responde o companheiro. Achando graça, aquelle volta à carga: "Quer que eu faça você calar a bocca num minuto?" {Não calo! Quero ver você calar a minha bocca!} "Calo com a picca! Você me chupa e fica sem fallar!" {Seu filha duma puta! Até de Chica te chamam! Não conhesce teu logar?} "Conhesço: em cyma! Embaixo você fica!" Não pude esse desfecho accompanhar, mas acho que foi foda. Tudo indica.
76 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO PECCADO NATURAL [1216] Achei muito engraçado quando o Papa condemna o casamento entre dois gays e affirma que um aborto é contra as leis divinas, que ao Senhor ninguem excappa. Discursos desse typo são um tapa na cara de seu proprio e bom freguez: o povo mais catholico, que, em vez de "sancto", com peneira o sol não tapa. Si insiste elle, ferrenho, nessa linha, devoto não verá que se confesse. Punheta, camisinha, chupetinha, nenhuma dessas coisas reconhesce o Papa, alheio à Egreja que definha. O crente, mesmo, em casa faz a prece, emquanto chupa rolla, e diz: "Ó minha Senhora, deixae duro o que admollesce!" DISSONNETTO DA ORGIA NA LITURGIA [1239] As bichas charismaticas defendem, na vida do catholico, um regime de fé com bom humor: que "missa" rhyme com "piça"... e a São Francisco graças rendem. Que ao Leonardo "Bofe" se encommendem pedidos p'ra que a Egreja se approxime dos homos: assim ella se redime de tanto perseguir os que a transcendem. Com tantas tradições ja carcomidas, mais coisas adventar eu nem arrisco... As hostias como pizza são comidas e a choreographia, ao som de "disco", dos cultos tira scenas divertidas! De freira a phantasia é mesmo o risco maior, mas outro sonho em suas vidas é achar, de anjo vestido, um macho arisco.
PEROLA DESVIADA 77 DISSONNETTO DA MEMORIA CURTA [1322] Ha casos, na maior parada gay, até banaes, como este: para dar seu prestimo, a policia militar reforça a segurança e impõe a lei. Em ordem tudo corre (isso eu ja sei) na rua, no metrô, no hotel, no bar. A bicha encara um guarda e vem fallar: "Lembrou de mim? Foi p'ra você que eu dei!" O guarda, muito serio, desconversa: {Você me confundiu!} A bicha insiste: "Meu bem, foi você mesmo!" E não dispersa. Sem chance de que o "bofe" reconquiste, à bicha a situação se torna adversa. Mas outro guarda diz: {Olá! Tá triste?} Mais tarde, está de novo triste, immersa em sonhos, pois dum macho não desiste. DISSONNETTO DO CALÇADO DELICADO [1330] Sapato, si o modello é feminino, costuma ser de numero pequeno: quarenta é ja pezão! Nem o imagino maior, mas, si exsistir, não o condemno. Mais alto o salto, mais o bicco é fino. Na sola, poucas marcas do terreno pisado, opposto ao tennis dum menino, que passa por desgaste nada ameno. Nas cores, o sapato tem berrantes, sanguineos tons de burro fugitivo: machões jamais calçaram taes pisantes! Si formos passar todos pelo crivo da moda, poucos mostram-se elegantes. Porem o travesti me dá motivo e motte para tudo que foi antes cantado não soar tão taxativo.
78 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DA CHORDA E DA CAÇAMBA [1382] A minha namorada vem tambem. A minha esposa vae porque eu obrigo. A minha companheira tambem vem. A minha mina sempre vae commigo. Não passam esses falsos machos sem fallar das suas femeas, mas não ligo nem credito lhes dou, pois meu harem é para todas ellas um abrigo. Que fallem! Que se gabem! Estou certo que a cama desses caras é um deserto por onde às vezes passa um beduino. Na minha cama, não: sempre tem gente, ainda que me seja indifferente si o sexo é cem por cento feminino. DISSONNETTO DO CONTINHO CONTINUADO [1436] Gattinho e cachorrão formaram par unido e inseparavel: outro cão na certa brigaria e, no logar do gatto, outro ja armava discussão. Em vez de arranca-rabo, ambos vão dar exemplo de convivio. A explicação? Talvez, alem do facto de um só lar ter duas camas, com que edade estão. Maduro está o cachorro, emquanto o gatto, menor e com feição de garotinho, podia ser seu filho. Mais pacato, o cão modera o rhythmo do gattinho. Mas, em compensação, mais agitado, tal como um affilhado a seu padrinho, o gatto excita o cão que, lado a lado, encontra adjuda e amor, força e carinho.
PEROLA DESVIADA 79 DISSONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440] Amigo meu, que é corno, justifica: "Melhor é dividir a doce canna do que chupar sozinho a mexerica azeda..." E assim, sorrindo, elle se damna! E quanto à tal doçura? Chupa a picca dos dois? E chupará com egual gana? Eu ca ja sou mais practico: quem fica com ella é meu rival, que é mais sacana! Assumo, alem de corno, que sou macho de menos: pangaré frente ao cavallo. Por isso que, antes della, ja me aggacho, tractando de chupal-o e preparal-o! Depois de desfructal-a, satisfeito, e vendo que fui feito de vassallo, o cara 'inda me manda, que eu acceito, servir-lhe um cafezinho no intervallo... SONNETTO DA SERPENTE IMPOTENTE [1441] Cantava o Raul Seixas: "Minha cobra está a fim de comer a sua aranha..." ou coisa parescida. Quem me cobra que coma sua aranha é que me extranha. Não vê que é meu machismo que se dobra perante outros mais machos, e que a manha que fazem as mulheres é manobra inutil? Qualquer homem de mim ganha! Em vez de perder tempo dando em cyma de mim, por que não canta alguem que exprima em verso seu orgulho masculino? No maximo, esta cobra se contenta sabendo que as aranhas affugenta e que, ao cantar de gallo, eu desaffino.
80 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464] Accorda, minha amada, que te espero debaixo da janella! Mas ruido não faças, que teu mano é mui severo e, caso me descubra, estou fodido! Tambem, meu bem, a outra fui sincero e estive-lhe à janella... Mas bandido é seu troncudo irmão, e aqui nem quero lembrar quando pegou-me, alli, despido. Ao ver-me assim exposto, o marmanjão, na sua adolescente e verde edade, me fez logo chupar e, como não bastasse, me enrabou sem piedade! Por isso, meu amor, toma cuidado, pois corre grande risco quem se evade e, si teu mano pega-me pellado, Deus sabe la o que eu faça que lhe aggrade! DISSONNETTO DO CORPO DISCENTE [1513] Aquelle professor não dá bandeira, mas gosta de meninos. Mal na salla entrou, vê que se senta, na charteira da frente, um molecote cuja mala maior é que a de adulto! De maneira discreta, põe-se o mestre a contemplal-a. Ninguem evita, mesmo que não queira, olhar como advoluma-se e se entalla. Nas calças do garoto, o grande porte daquella adolescente e viva vara paresce até que augmenta! Firme e forte, aguenta o professor, que se sentara. Procura, entre as alumnas, qual attrae os olhos do moleque e sua tara, mas dellas foge o foco e, então, lhe cae a ficha: é o proprio mestre que elle encara!
PEROLA DESVIADA 81 DISSONNETTO DO CORPO DOCENTE [1514] Difficil situação! A classe inteira agguarda repetir-se aquella falla monotona do mestre. A brincadeira cessou: a turma toda ja se cala. Tentando desviar, o olhar se exgueira à mala do moleque, e se arregala. "Quem leu o que passei na sexta-feira?" Si veiu alli dar aula, o jeito é dal-a. {Eu li!}, diz o membrudo. {Entendi tudo!} Por pose mais formal que alguem fizesse, o mestre se perturba, mas o escudo é sua posição: "Então comece!" O alumno se levanta. Agora, sim! Si ainda tinha escrupulos... Exquesce! O penis salienta-se! {Ja vim sabendo o que o senhor quiz que eu fizesse...} SONNETTO DO GENERAL DEGENERADO [1607] Reside o general, com a mulher, num calmo condominio militar. Casado ha pouco tempo, diz qualquer pessoa que o casal seja exemplar. Descobre-se, porem, que, si puzer vestido em vez da farda, elle vae dar bellissima (accredite quem quizer) garota, que com outra forma um par. O facto accontesceu em Portugal. Si alguem quer duvidar, algum jornal da epocha consulte, pois não minto! O escandalo as levou ao tribunal e todos se perguntam si o casal tem vida conjugal, ou falta um pincto.
82 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DOS BICHANOS FANCHONOS [1644] O Lobo, em seus sonnettos, não perdoa naquelles cortezãos a veadagem. Ao ar palaciano de Lisboa critica os fricoteiros que assim agem. Se queixa de que ja não se appregoa o corpo feminino e que a linhagem dos grandes fodedores mais se doa ao ver desmunhecar do padre ao pagem. Até em cachorro e gatto, se lamenta o bardo pornographico, a nojenta e podre fanchonice augmenta e grassa. Somente pau e cu se valoriza, alem da mão, é claro, pois à guisa de bronha é que os poetas acham graça. DISSONNETTO DO FILME GAY [1676] Ou narra-se uma historia commovente de alguem que, solitario, perde o amigo mais proximo e, ja velho e até doente, nos faz chorar o nosso desabrigo, ou se caricatura o inconsequente mundinho das balladas que, comsigo, traz só futilidade e appenas mente accerca da bichice e do perigo. Exsiste, nessas artes, uma lei. São poucos que combinam bom humor com drama ou com denuncia: seu auctor precisa ter vivido o que é ser gay. Maiores restricções eu não farei. Si, alem das scenas homos, se pretenda mostrar que as exclusões não são só lenda, consultem-me, pois, cego, eu é que sei.
PEROLA DESVIADA 83 SONNETTO DA MÃE POSSESSIVA [1684] "Tá vendo? Quem mandou? Não advisei? Bem feito! Sua alma, sua palma!" Foi essa a reacção da mãe dum gay ao vel-o abbandonado. E perde a calma: "Cuidar do meu filhinho, só eu sei!" Percebe o que o agguarda, e ja se allarma o timido rapaz: à nova lei qualquer gesto contrario ella desarma. "Você volta a morar commigo, e ja!" Inutil resistir. De novo la foi, com seus pertences, o "exquisito". Agora, da janella, o moço accena ao filho da vizinha, mas si a scena flagrar, a mãe lhe passa o maior pito! SONNETTO DA PARENTELA INTERESSEIRA [1686] Darcy não foi um unico, e seria appenas mais um caso de gays sem nenhuma protecção: a parceria a nada equivalente a ser lhes vem. Nem paes, irmãos, sobrinhos, nem a thia, em vida ao gay appoio dão, ninguem. Mas basta que elle morra, e ha correria de todos quanto a quem direito tem. Coitado do parceiro, si convive a vida inteira e encontra quem o prive daquillo que junctaram, elles dois. Abutres, os parentes gritam para negar ao companheiro a photo rara que exquesce e que virá buscar depois.
84 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO DA TITHIA QUE TITILLA [1689] A thia solteirona causa intriga no seio da familia: dá palpite em tudo, attiça a raiva, inveja instiga... Paresce que ninguem lhe impõe limite! Agora ella se mette si a mãe grite mais alto com a filha, sua amiga. Extranha, essa amizade! E não admitte que alguem as accompanhe la na Liga. As duas só la vão quando as senhoras se ausentam, mas não vão fazer crochê, tricô, nada! Trancadas, passam horas jogando sabe la Deus Pae o que! Catholicas, as velhas nem suspeitam de nada. Mas você... Tambem não crê que as duas, nos divans, rollam e deitam, brincando de quem coma e de quem dê? DISSONNETTO PARA UM BAIÃO [1737] Chamar de "mulher macho" a Parahyba na voz do Gonzagão, foi bello achado. Difficil, nessas lettras, um escriba que synthetize o orgulho delicado. Delicadeza, diga-se, é o que em riba dum thema mellindroso está versado, e não qualquer frescura à qual se inhiba alguem de referir-se com cuidado. Si as lesbicas tambem são parahybas, suppondo-se que sejam patriotas, podiam ser brazilias, curitybas, campinas, salvadoras ou pellotas. Talvez as nordestinas sejam mais locaes, universaes, por quaesquer quotas. Heroicas quando lesbicas, jamais usaram sapatões... appenas botas.
PEROLA DESVIADA 85 SONNETTO PARA A TRADIÇÃO ESKIMÓ [1816] Pensei que era mentira, mas ja vi até photographia: um eskimó, ao receber visita, dá de si o maximo, e o bemvindo é seu xodó. A esposa lhe offeresce, e até diz "Tó!", mostrando a propria bocca: "Mette aqui!" E o visitante, grato, goza e ri: fodendo até a garganta, entra sem dó! Que pena! Um eskimó não se acclimata em terras tropicaes! Seria grata, por certo, essa presença em minha casa! Não tenho esposa para offerescer, mas offeresço, com maior prazer, a bocca a que elle nella se compraza! DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO GREGA [1826] Havia a differença: sodomita é quem toma no rabo. O pederasta appenas chupa rolla. Hoje se cita qualquer desses dois termos, e ja basta. O que seria a practica maldicta, ou seja, o coito anal, à baixa casta dos putos se reserva, e o rabo evita quem ao adolescente uma asa arrasta. Faz parte da ancestral litteratura: Dos jovens não queria o professor o cu foder, nem ser fodido: a dor de tal penetração ninguem attura! A coisa não ficou, comtudo, obscura, pois a bocca no penis do rapaz foi tão obrigatoria, que ja faz até parte, nos vasos, da gravura.
86 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA O PAR PERFEITO [1844] Convite recebi que me fez bem feliz: faz tempo não me sinto assim! Vibrei com a noticia, que ja vem em boa hora, e a fazer votos vim. Ja sei que, quando as palmas puxa alguem, algum engraçadinho, para mim olhando com malicia, sae tambem cantando "Até que emfim! Até que emfim!". Mas faço que nem é commigo, pois agora quem se casa são os dois amigos que, na festa, felicito. Que estão todos alegres, ja foi dicto. Que formam bello par, ninguem duvida, mas vel-o quero assim por toda a vida, que seja carinhoso até no attrito e, quanto à discussão, não haja grito. SONNETTO PARA UMA PAQUERA PACHYDERMICA [1879] No Clube das Gordinhas ella fora amigos procurar. No baile, dansa de forma desenvolta e animadora: olhares sobre a moça alguem ja lança. Ganhou, não um, mas uma admiradora que, embora tendo, em mesmo porte, a pança, da mesma sympathia detentora não é... E de dar-lhe em cyma não se cansa. Hesita a nossa gorda entre um gordinho e a lesbica que a tinha, num canthinho, cantado abertamente e sem rodeio. Decide, emfim, que o gordo é com quem fica. Raivosa, a sapatona identifica o cara: um enrustido, burro e feio.
PEROLA DESVIADA 87 DISSONNETTO PARA UMA FELLAÇÃO PEDERASTICA [1891] A bocca, para a frente e para traz, se move, calmamente, dando o banho de labios e de lingua. Dum rapaz bem novo é o penis, regular tamanho. O joven movimentos lentos faz, bombando e penetrando, e aquelle extranho e sadico invasor cotuca assaz profundo... Do nariz excorre o ranho. A lingua, sob a glande, vae e vem. O pau querer entrar paresce, inteiro. Dos floccos de sebinho, então, ja nem importa mais o gosto, nem o cheiro. A porra exguicha, grossa, copiosa, qual pela mangueirinha do chuveiro. Sorri, cynico e lubrico, quem goza. Engole e engasga quem foi chupeteiro. DISSONNETTO PARA UM MANNEQUIM ADVANTAJADO [1919] Comprar roupa de gordo é fogo, gente! Medidas inexsistem: si a cinctura é justa quando a gorda experimente a calça, o comprimento desmesura. "Customizar" é o jeito: só na frente de espelho e fita metrica assegura a gorda a roupa certa, que desmente a lenda de que um gordo não se appura. Chiquerrima, charmosa, ella na festa irrompe de repente e, até modesta, até com um pouquinho de desdem, responde aos que "Arrasou!" gritar lhe veem... "Bondade de vocês!", rindo, ella exclama. "A gente arrasa, mesmo, só na cama, logar onde ninguem se veste bem nem fama de exhibir-se ninguem tem..."
[vêm]
88 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA A MAIS ALTA COSTURA [1920] Achou um costureiro de talento a gorda, que elogios não lhe poupa: "Incrivel! Elle accerta cem por cento na hora de fazer a minha roupa!" Mas logo elle resalva: {Só lamento que digam "costureiro"... La na Europa me chamam de "estylista"...} Alguem exempto dirá que elle é "modista". Elle não topa. Chamada a dar palpite, a gorda opina que nem "figurinista" é o que defina um gajo tão prendado e competente, capaz de costurar tão lindamente. "P'ra mim, elle é uma fada! Só uma fada faria esta roupinha tão transada, bem vista pelas costas ou de frente, que usei quando arrasei no baile, gente!" DISSONNETTO PARA UMA LISTA ESPECIALISTA [1941] Das profissões, aquella que mais for reserva de mercado para os gays, me digam, me comprovem, por favor! Comptei, só por emquanto, dezeseis... Figurinista, actor, decorador, cabelleireiro, professor de inglez, commissario de bordo, estivador, pae-de-sancto, enfermeiro, heroe cortez, architecto, pastor, padre, analysta... Nem sei, nessa politica incorrecta, qual outra profissão pôr nessa lista! Talvez meu proprio officio, o de poeta! Excluo o jogador de futebol, ainda mais aquelle que se affecta, pois, quando metto um craque nesse rol, o gajo me processa e o juiz veta.
PEROLA DESVIADA 89 SONNETTO PARA O PASSATEMPO DE UM JOVEN [2024] Será que, ao me teclar novo recado, seu pau não cresce dentro do calção? Si alguem mais velho e cego, revoltado, o endeusa e inveja, não lhe dá tesão? Então tire proveito: de veado me chame! Em minha cara o bofetão e a grossa cusparada que tem dado são tudo que meresço, rapagão! Si Deus é justo, não é bom nem mau! Você, que enxerga e é joven, mette o pau e goza em minha bocca, sem remorso! Normal é, pois, que fique de pau duro emquanto a mim escreve, si, no escuro, eu só me sacrifico e só me exforço! DISSONNETTO PARA UM PADRE NOTORIO [2026] Saphado, aquelle padre! Ou um rabbino, um pae-de-sancto, algum pastor! Que sacco! É, quando não gravata, algum menino no matto, um trombadão, bofe e velhaco! Em canna, um hebiatra seu destino sellou porque filmou-se no seu fracco: chupar adolescentes. Que divino pretexto tem um padre, intacto, opaco? Si é bicha, que excancarem seu segredo! Por que com elle estão cheios de dedo? Procurem no seu cu, que alli está a prova, ou elle a levará comsigo à cova! É livre, quem quizer, para ser puto! O caso que questiono e que discuto é quando a Egreja nelle a fé renova e nunca seus maus methodos reprova!
90 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA A MENINADA DESAMPARADA [2036] -- Eu sou um padre! Tenho que ter fé nas boas intenções! Fui extorquido por esse meninão, a quem até agora só adjudei! Mas é um bandido! Não guardo magoa, a offensa não revido! O que elle affirma? Claro que não é verdade! Esses meninos com quem lido precisam de carinho! Entende, né? Levei um tempo até denuncial-o, mas nada consegui nesse intervallo. Não houve jeito! Agora não me calo e quero que a chantagem, emfim, cesse! "Que nada! O padre é bicha! Me chupava faz tempo! Sempre teve mente escrava! Eu provo! Tenho a fita: a gente grava tudinho, desde quando a rolla cresce!" DISSONNETTO PARA QUEM FICA CHUPANDO O DEDO [2088] O joven se approveita da cegueira do velho e della zomba. Nem duvida que o cego se subjeita ao que elle queira e accapta qualquer coisa que decida. Mandou chamar, então, uma rameira e, emquanto a fode, o cego nem convida. Só resta, a quem não vê, ficar na beira da cama, ouvindo a puta ser fodida. Alli, se remoendo no seu breu, o sacco do rapaz o cego escuta battendo, em plena copula, na puta, que ja chupou-lhe o pau e os pés lambeu. A puta, bem bombada, se fodeu. Depois que a vagabunda foi embora, o joven chama o cego e diz: "Agora é sua vez!" E quem chupa sou eu.
PEROLA DESVIADA 91 SONNETTO PARA UMA PLATÉA MACHISTA [2146] O valetudo come solto. A cada assalto, mais o publico se assanha. Os caras se engalfinham na porrada, no chute e no pisão. O "honesto" appanha. Erguendo a tabuleta, uma piranha, pellada, quasi, finge que alli nada escuta ou vê, mas saca, e de quem ganha ou perde leva o rotulo e a cantada: "Gostosa! Vacca! Chupa aqui, vagaba!" Quem grita, frente às cameras, se gaba e aggarra o proprio pau por sobre o "short". Ja pode elle, à vontade, de pau duro ficar, vendo os marmanjos, que são puro tesão, alli se expondo quase à morte. DISSONNETTO PARA A CASA DE LOTH [2303] Cajados segurando, como quem segura o proprio pau, um peregrino e seu fiel parceiro, à noite, veem [vêm] pedir abrigo a Loth: era o destino. A porta elle lhes abre, ainda sem saber que um tal casal, tão masculino, seria um par de anjinhos que, do Alem, só vinham practicar seu dom divino. Não tarda p'ra que, em furia, a turba accorra. La fora, a multidão ja clama a Loth: "Queremos os calouros! Desse trote ninguem foge, em Sodoma nem Gomorrha!" Não ha quem tal casal, alli, soccorra. "Nos sejam (urra o povo de Sodoma) entregues, p'ra que a gente o cu lhes coma e a bocca lhes enchamos nós de porra!"
92 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UMA MIJADA ARRISCADA [2307] Estava eu a mijar, noite passada, no escuro becco, alli na lateral da gothica e gigante cathedral da Sé, quando recebo uma porrada. Ao guarda que me aggarra não aggrada que, logo entre uma egreja e um tribunal, meu pau mostre o que penso da moral. Me dá mais socos, antes que eu me evada. Sahir dalli bem rapido decido. Mal ponho o pau p'ra dentro emquanto corro, e o guarda vem attraz, exbaforido, chamando-me: "Não fuja, seu cachorro!" Emquanto toda a praça ja percorro, ainda escuto "Venha ca, bandido!", mas ja sem intenção de dar exporro: "Ei, vamos tomar uma? Eu que convido!" SONNETTO PARA UMA COLHER DE PAU [2504] Dum lado, a colherona tem a clara e grande utilidade de mexer no quente caldeirão, sem acquescer o cabo: a de metal nem se compara. Alem da queimadura que não sara, evita a tal colher o desprazer do peso que o metal costuma ter emquanto é leve de madeira a vara. O cabo, por seu lado, utilidade extranha pode ter ao que a cozinha requer dum colherão que em caldo nade. As bichas utilizam a varinha como uma alternativa que as invade com menos aggressão que uma abobrinha.
PEROLA DESVIADA 93 DISSONNETTO PARA A ANATOMIA DA VULVA [2512] Amigo meu de infancia sempre tinha alguma perguntinha de algibeira. Exemplo: si a mulher, de Adão herdeira, tem penis, tem um homem bocetinha? {Ei, como assim?}, a gente logo vinha p'ra cyma. Elle explicava: "ora, quem queira saber, veja na puta mais rampeira o grelo advantajado: é uma rollinha!" Si exsiste um pau la dentro da vagina, cadê, no macho, a chota equivalente? Ao menos algum traço se imagina! Bobagem de creança. Mas a gente no sacco a procurava e, na bolina, não era aquella fenda tão ausente. Creança até nem muito pequenina suspeito que julgar-se femea tente. DISSONNETTO PARA UMA CONCENTRAÇÃO MASCULINA [2562] Que foi? Tá me extranhando? Eu, não! Não acho nenhum homem bonito! Eu acho feio aquelle caralhão duro no meio das pernas! Molle, então, é um esculacho! Tou fora! Não supporto esse relaxo de quem não toma banho! Quero asseio, perfume, perna lisa, seio cheio! Boceta, emfim! Qual é? Sou cabra macho! Cecê? Braço pelludo? Eu, hem? Que nada! Bigode? Barba dura? Basta a minha! Ver pela frente, só mulher pellada! E, mesmo assim, precisa ser gattinha! Fallando da fatal rapaziada, aqui no vestiario, essa morrinha damnada de marmanjo me faz cada vez mais carente duma bocetinha!
94 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UMA ARAPUCA PARA O JUCA [2633] "Vou dar uma bimbada bem bombada na bocca da mulher que é minha escrava!" Sem freios de moral, assim fallava o Juca, que na Mooca tem morada. Do Braz era esse Juca, mas, si cada vez vae mais para longe de onde estava, é que seu caso clinico se aggrava juncto à communidade favellada. "Malfeito que é bemfeito": assim se explica o mal de que foi victima o fodaz, de tanto foder boccas sua picca. Armaram-lhe um flagrante: por detraz da fama de machão, o Juca fica chupando, no escurinho, outro rapaz. Depois vem reclamar da sua zica na vida, que ninguem o deixa em paz... DISSONNETTO PARA UMA ABBORDAGEM REPELLIDA [2640] "Pirata" elle cantava ser, "da perna de pau", olho de vidro e aquella cara de macho garanhão. Mui firme e clara postura, mas versão ha, mais moderna. O velho capitão, que da caverna tirou seu segredinho, tinha tara por homem, mas jamais a confessara, e a coisa circulava em roda interna. Queria plantar pistas no radar, temendo o que viessem a suppor: "Não tente outro pirata me abbordar! Só tenho, aqui, mulheres a compor, da nau, a guarnição lançada ao mar!" Foi tudo phantasia que, ao sabor das ondas, se rasgou: agora, a dar o cu para um corsario, aguenta a dor.
PEROLA DESVIADA 95 DISSONNETTO PARA UM LOUCO AMOR [2643] Na musica, Roberto se confessa desesperadamente appaixonado pela namoradinha do estimado amigo. E agora? Como sahir dessa? Peor é quando um joven attravessa aquella phase em que descobre o lado erotico do macho que, egualado a si, veja a barreira que os impeça. Assim se deu commigo: o que eu queria não era namorar a namorada do amigo, era o garoto da gurya, paixão que foi platonica, frustrada. E fica mais completa a theoria: A amiga, que de boba não tem nada, do seu namoradinho desconfia, mas finge nem saber si é cobiçada. DISSONNETTO PARA UM BOM EXEMPLO [2665] Cadê seu cabacinho? Estava aqui ainda agora! É mesmo? Foi o ratto quem, rapido, roeu? Cadê esse ingrato? O gatto é que o comeu? Ah, ja entendi! Você não tem vergonha? Inda sorri, sabendo ter soffrido um desaccapto tamanho? Si é commigo, até me macto! Só de pensar, ja tenho um piriry! Tá bom. Mas faz de compta que eu não sei. Na bocca dos vizinhos vae cahindo você, si continua assim, sem lei, achando o caso todo muito lindo. Eu sempre de você desconfiei. Às quattro da matina é que vem vindo você la da gandaia? Eu, que sou gay, não varo a noite! Poupo-me, me blindo!
96 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA UM LEÃO QUE NÃO SOSSEGA O RABO [2686] Vestiu uma camisa toda, bem... "listada". Ou é "listrada"? Tanto faz, ja que tirou do dedo, o tal rapaz, o annel, que é de doutor, e peso tem. Sahiu, no carnaval, feito um nenen, dizendo, pela rua, ser capaz de dar o cu, mammar, tomar por traz, de ser sodomizado por alguem. Bem sabe performar o seu mester de modo convincente e caprichado: Pegou, no guardaroupa da mulher, calcinha e sutian. Phantasiado assim, foi ver si alguem seu rabo quer. Odeia que o confundam com veado, pois acha que, si sobrio elle estiver, jamais parescerá desmunhecado. SONNETTO SOBRE DOIS PASSARINHOS [2769] O ticotico tá... Tá outra vez aqui! Tá devorando o meu fubá! Si quer se alimentar, elle que va fazer um outro otario de freguez! Que va catar coquinho, ora! Vocês me tirem esse bicho daqui, ja! Por que não vae comer minhocas la no meio do pomar, como ja fez? Eu ja tentei de tudo! Puz alpiste, um gatto, uma armadilha, um expantalho... Qual nada! O passarinho não desiste! Peor é aquella bicha, que o caralho da gente nunca larga! Nem com fiste fuçando se contenta! E eu nunca falho!
PEROLA DESVIADA 97 SONNETTO SOBRE A CADENCIA SEM DECENCIA [2777] Puxar chordão é coisa para macho! Quem vae na frente aguenta um empurrão, um tranco, uma encoxada, a exfregação, sem mostras de que acceita esse esculacho. Mas finge, appenas, elle, pois eu acho que gosta, e de puxar só faz questão por causa dos que attraz chegam e vão mostrando que não teem cara de tacho. De pau é a cara delles! Tarantella é só mais um pretexto aos taes casaes, dos quaes nem sei quem vae ser elle ou ella. Appenas a cadencia é que jamais decae, pois quem mais macho se revela é quem melhor rebolla e brinca mais. SONNETTO SOBRE O BICHO E A BICHA [2782] Cantando alegremente, quem la vinha? O pato! E quem pedira, sorridente, no samba para entrar? Sim, minha gente: o proprio, elle, o marreco! Que turminha! Tambem o ganso, é claro, se advizinha e pede uma boquinha! Eu sou doente por um bichinho assim, obediente, que deixa até que eu faça chupetinha! Com todos os michês assim eu tracto: si forem maus commigo, sou bem manso; si não, não pago o pato, nada, neca! Dum cara que tiver um pé de pato eu chupo, p'ra que affogue, em mim, o ganso. E pago, si for reco, uma merreca!
98 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SOBRE A PROMISCUIDADE DELLA [2799] Eu juro! Nunca mais tive alegria depois que te deixei, minha querida! És mesmo o grande amor da minha vida! Sem ti não sou feliz siquer um dia! Nem posso accreditar que quem fodia commigo, toda noite, ja convida amigos meus para essa concorrida suruba, cuja fama só se amplia! Estou aqui, sozinho, e tu te mettes com todos esses gajos, que nem banho diario teem tomado, esses pivetes! Não achas isso um troço muito extranho? Mas, antes que peor tu me interpretes, ao menos poderias (não me accanho, confesso) permittir que alguns boquettes pudesse eu, num, fazer, do meu tamanho! DISSONNETTO SOBRE A VIDA DE SOLTEIRO [2804] A vida de casado é boa, mas solteiro é bem melhor! Quem é solteiro não dá satisfacções o tempo inteiro. Prefiro a boa vida de rapaz. Casado, em tudo quanto quer ou faz, consulta a mulherzinha. E, cavalheiro, permitte que decida ella primeiro. Accaba, toda vez, voltando attraz. Si sae, leva a mulher. E tem, si fica, que sempre perguntar o que ella quer. Solteiro volta tarde e nem se explica, ainda que elle tenha algum affair. Commigo bem assim se verifica. Até porque, si eu fosse p'ra mulher contar que, às vezes, saio a fim de picca, seria o tal "se salve quem puder"!
PEROLA DESVIADA 99 DISSONNETTO SOBRE UM ZÉ MARIA DA CONCEIÇÃO [2812] Me lembro muito bem: você vivia sonhando, la no morro, com um monte de coisas que não tinha. Nem me conte que foi que andou fazendo! Eu ja sabia! Desceu e foi parar em plena via mais publica da zona! E, sob a ponte andou, que eu sei, dormindo. Minha fonte garante, e nella a gente bem confia. Desceu para subir, disse você. Ninguem pode dizer que não subiu, mas, por aqui, de novo faz michê. Não venha cochichar-me esse seu "Psiu!" Vender quem quizer venda, dar que dê! Quem, p'ra sobreviver, dá seu chibiu, seu cu, sua boquinha, ja se vê, na rua accabará, meu caro! Ouviu? DISSONNETTO SOBRE DOIS PERDIDOS NUMA "BOITE" SUJA [2832] Estou triste, na triste noite fria, pois ella ja não volta para mim. Fatal é, neste triste botequim, saudade transformar-se em agonia. Amigo, quer fazer-me companhia? Não tenha accanhamento: eu aqui vim chorar, e ver você chorando assim nos torna companheiros, nos allia. Não devo nem pensar em ser feliz! Me sinto derroptado, e é meu destino tomar mais alguns tragos deste aniz. Por isso outros tambem nem recrimino: Estamos sempre promptos a dar bis. Então? Beba commigo! Então, menino? Ja tem onde dormir? Por que não quiz dormir commigo? Eu sirvo, não domino.
100 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SOBRE A ANDROGYNIA E A PHANTASIA [2842] Mandinga, candomblé, lá na Pavuna não falta. Cangerê tambem. Por la, abunda umbanda, alem do samba, e ja disseram que só dá gente turuna. Macumba e battucada, como alumna, tem toda a creançada, sem babá nem fada, que alli nasce. O "pessoá" é duro, e com machão se coaduna. Boatos circularam, de que alli jamais nasceu menina, só menino. Magina! A mulherada disso ri! O samba alli jamais foi clandestino nem disse que mulher não faz xixi! Até quiz, por capricho, o meu destino que eu fosse hermaphrodita e travesti! Por isso é que com tudo, la, combino. DISSONNETTO SOBRE UM RELACIONAMENTO COMPROMETTEDOR [2844] Meu nome em seu caderno ainda está? Pois risque, appague ja! Tambem delete do seu computador! Caso me affecte alguma consequencia, eu nego ja! Você tá sujo, cara, porque la no morro qualquer macho, até pivete, conhesce o seu passado! O seu boquette famoso já ficou! Que fama má! Si alguém me perguntar, eu nem conhesço você! Rasgue os bilhetes que trocamos e queime aquellas photos do começo! Não somos, nem escravos, nem os amos! Não temos, por Satan, nenhum appreço! Você tá percebendo? Então façamos accordo assim: perdi seu endereço, e todos pensarão que nós brigamos.
PEROLA DESVIADA 101 DISSONNETTO SOBRE UMA DOCE VINGANÇA [2845] Por que tu bebes tanto assim, rapaz? Ja chega, ja passaste tu da compta! Por causa de mulher? Então me apponcta a dama que tamanho mal te faz! Então é aquella la? Pois tu me dás, agora, uma razão mesmo de monta! Aquella fulaninha é futil, tonta, não vale que tu percas tua paz! Não xingues, não praguejes, em mandinga nem penses! Não rebaixes teu valor! Melhor parar agora com a pinga! Nenhuma dellas sabe dar amor! Aquella muito menos! Vae! Te vinga! Suggiro que commigo vás te expor na frente da cadella: a gente ginga, rebolla, e ella que as coisas va suppor. DISSONNETTO SOBRE UM VEADO CORNEADO [2856] Ella se enamorou de outro rapaz. Assim que o furacão nosso destino sellou, nos affastamos. Imagino que agora esteja rindo... Tanto faz! Bebi champanhe, algum tempinho attraz, na festa de noivado delles. Fino buffê, muita comida, e eu me domino p'ra não sahir do serio. Estou em paz. Appenas apparencia, pois, no fundo, aquillo que eu queria era, na cara da vacca, dar uns tiros, iracundo. Algum macho commigo se compara? Suppuz varios disparos, num segundo, tambem na cara delle... Mas tomara que ella conhesça logo o vagabundo com quem casou, de quem ja levei vara!
102 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SOBRE UMA PHASE PHRENETICA [2888] Oitenta é, p'ra mim, hontem, e septenta antehontem. Do Renato e do Cazuza memoria ainda viva tenho, e accusa momentos mais agudos, e os augmenta. Foi epocha de rock, a barulhenta e fertil decadinha, de profusa procura por prazer, mas ja sem musa, sem noite de luar, negra, cinzenta. "Ainda é cedo, cedo, cedo, cedo...", cantava a Legião, mas a doença castrou à juventude seu folguedo. "Felizes são as mães!", foi a sentença marcante dessa vida sem segredo, mas tragica, do filho que em si pensa. Lembrar de tudo aquillo dá até medo: a compta dos que foram fez-se immensa. SONNETTO SOBRE UMA CRISE DE IDENTIDADE [2889] Ninguem me telephona, nem visita, ninguem! Por que, meu Deus, não sou amada nem tenho, mais, amigos? Hoje, cada minuto é eternidade... Estou é fricta! Ah, vou me produzir, ficar bonita, sahir, dar um rollê... Pela calçada apposto que eu encontro alguem que invada meu corpo e minha vida, essa maldicta! Vidinha como a minha é solidão total, aqui trancada e deprimida! As horas vão passando, os dias vão... Não quero me mactar! Eu quero a vida! Preciso me assumir: sou sapatão! Sou feia, mas com isso a gente lida!
PEROLA DESVIADA 103 DISSONNETTO SOBRE UM CORPO-A-CORPO BALLANCEADO [2900] Eu quero ir para a cama com você! E toda vez, por mim, que você passa, fingindo não me ver, se despedaça meu pobre coração, no ballancê. Você, sempre fingindo que não vê. Eu, sempre planejando algo que o faça achar em mim um charme, alguma graça, ainda que eu só coma e que não dê. No fim, tudo se arranja: ainda pego você desprevenido, e o cu lhe ganho! Emquanto eu não comel-o, não sossego! Mais penso nesse rabo, mais me assanho! Não, nada me enduresce mais o prego! Tá certo que eu não sou do seu tamanho, nem lucto karatê, mas não sou cego que nem você, e de cego eu não appanho! DISSONNETTO SOBRE UM CASAL DESENTENDIDO [2907] Mas como? Foi você pinctar a cara de novo? Você sabe que eu não gosto! Esse rostinho lindo, que eu apposto, si houver algum egual, é coisa rara! A gente chega em casa e se depara com isso? Você tinha, ja, se exposto assim, mas não estou eu mais disposto a tudo tolerar, que tolerara! Va, tracte de limpar a maquillagem, sinão não sae commigo! Que vergonha, sahirmos, desse jeito, de viagem! Não tira? Ah, é? Prefere que eu lhe ponha um chifre? Meu marido faz bobagem e tenho de atturar? Você que sonha! Não sei por que tamanha veadagem num cara com a cara tão medonha!
104 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO SOBRE UM ABRIGO AMIGO [2920] Ah, si você quizer, venha morar commigo, la na roça, na palhoça que tenho, juncto ao corrego! Sem troça! Lhe juro que é verdade! Quer pensar? Então, não vem? Você nem tem um lar! Só fica se queixando que se coça que nem um cão sarnento! Caso eu possa fazer alguma coisa p'ra adjudar... Você se decidiu? Até que emfim! Nós vamos dormir junctos, nesta cama. Magina! É só prazer que dá p'ra mim! Aqui, com jeito, a gente se exparrama. Até que não será la tão ruim. Com todos fiz assim. Ninguem reclama. Dormimos de valete. Estando a fim, me pise bem na cara! Eu levo fama. DISSONNETTO SOBRE UM INUTIL DISFARSE [2937] Mentir não leva a nada. Eu não me illudo. Você quer me engannar, mas nem precisa tentar, pois o que diz não suaviza a dor de ser chifrado e ser chifrudo. P'ra que fallar mentira? Eu sei de tudo! Conhesço aquelle gajo, sei que pisa bastante no seu rosto e quer a lisa botina bem lustrada... E fico mudo. Não dou palpite algum, pois ser trahido por typo assim tão sadico me deixa perplexo. Ja de nada mais duvido. Sei que elle instinctos multiplos enfeixa. Só pode ser, no minimo, um bandido! Você, com seu ar timido, se queixa que eu nunca quiz pisar, mas convencido estou de que serei, breve, uma gueixa.
PEROLA DESVIADA 105 DISSONNETTO SOBRE UM PARDO FELIZARDO [2995] É muito desejado, esse rapaz mulato e bonitão, que não hesita em se prostituir, si necessita manter-se no que quer e no que faz. Sambista de primeira, elle é capaz, na roda, de compor o que recita na hora. Mas mulher, mesmo bonita, inutilmente delle corre attraz. A turma não se cala ante o desdem: "Mas, cara, a mulherada de colher está se offerescendo, e você nem..." Desdem ser bem paresce seu mester e, quando perguntar lhe vem alguem, responde o cara: {Eu gosto de mulher, mas ellas querem tudo, e o céu tambem...} E explica: {Nada tem quem tudo quer!} DISSONNETTO SOBRE UM SANDUICHE DE PÉ [3001] Bollar um sanduiche de pé quiz eu, quando namorava o companheiro. Cês querem a receita? Então, primeiro se sentem, frente a frente, vis à vis. Na mesa, a refeição. E, emquanto um diz que gosta da comida, o pé certeiro do amigo appoia a sola, sorratteiro, no peito do seu pé, tal como eu fiz. Ainda que surpreso, o joven sente prazer ao ser pisado, e retribue pousando seu pé livre no da gente. O meu virou recheio, e fica, mui contente, entre os dois delle! Ha quem invente melhor pão que o pezão que o substitue? Tão bom quanto um cachorro ou mixto quente, é desse que ficando fan eu fui.
106 GLAUCO MATTOSO TRANCOS FRANCOS [3100] Amigo meu, de esquerda, com rigor patrulha-me: {Não, Glauco, você diz que alguem é "communista", mas feliz não foi, si socialista o cara for!} Respondo: -- Socialista? Ah, por favor! Uma opportunidade eu ca não quiz perder de, numa lettra, dar um bis, graphando "communista", meu amor! {Amor? De "companheiro" cê me chame, mas não de "camarada", que não pega la muito bem! Sinão, vae dar vexame!} -- Meu lindo (digo então), nem de "collega" lhe chamo! Nem que, puto, cê reclame, chamar vou de "commadre" eu, bicha e cega! REPENTINAS BOLINAS MASCULINAS [3198] Costuma accontescer mui commummente: Rapazes curtem selva, mar, piscina, e a turma na pousada se confina, curtindo um ambiente differente. Aquillo muita coisa justifica... Dois delles, China e Rapha, um só colchão dividem, de valete, e Rapha fica temptado a chupitar do outro o pezão. Fingindo que dormia, o China deixa. Manhan seguinte, chama o Rapha às fallas e indaga si elle as solas quer chupal-as de novo, p'ra valer, feito uma gueixa. Vexado, Rapha topa, mas a dica será dada, pois elle allega não ser gay, mesmo que dura tenha a picca. E o China só confirma: "Eu sou machão!" Foi tudo oral, porem conveniente. Amigos são ainda, mas o China só quer que seu pé chupe a sua mina e Rapha ja saudades delle sente...
PEROLA DESVIADA 107 AMOR COM AMOR [3392] Ha sempre pela praça algum reaça. É contra o casamento gay e attacca com criticas grosseiras o panaca, adepto da moral e da mordaça. As tacticas são sempre das mais vis. Declara-se "pastor" e os gays compara a morbidos zoophilos, pois diz casar cada animal conforme a tara. Mas elle não comptava, pela frente, com dois gays mais "sarados" que "tarados", que advançam, reagindo em altos brados, e arrombam-lhe a boccarra inconsequente. Achou o que pedia, porque quiz. A menos varios dentes, excancara o estupido "pastor" seu infeliz focinho ensanguentado e quebra a cara. Convem que alguem, às vezes, isso faça. Revide justo ao murro dado em faca, foi esse dum "casal" que é macho paca. Tomara que outros gays saiam à caça!
108 GLAUCO MATTOSO BICHINHA QUE ENGATTINHA [3482] "Eu não transo com veado, mas estou sem namorada, no momento, e ser chupado é melhor, mesmo, que nada. Mas que nem bicho ensignado você tem que ser e, cada vez que eu mande, de bom grado, vae mammar minha exporrada!" Condição mais humilhante não exsiste, mas, durante poucos mezes, fui escravo. É difficil um subjeito espontaneo desse jeito: quando surge, eu me depravo! LATENTE VALENTE [3530] Na telinha, a scena rolla em que lyncham uma bicha. O machão, que assiste, a sola no sofá, gostoso, espicha. A bichinha, ao chão, rebolla sob os chutes! Sangue exguicha pela bocca! É um rapazola quem commanda toda a rixa. A sorrir, mexe o machão seus artelhos, de tesão, e imagina-se na fita. Quer tambem seu ponctapé desferir, chutando até que assassine essa maldicta!
PEROLA DESVIADA 109 CHULEZINHO BASICO (I a V) [3534/3538] Deixa a meia no sapato e o sapato sob a cama. Mal entrei, ja meu olfacto para aquillo attenção chama. Imagino-lhe o pé chato e, na sola, muita escama. Mas, na practica, eu constato que o chulé faz jus à fama. Quando o primo uns dias passa aqui em casa, faz pirraça com meu nojo, que lhe é falso. De proposito, o gibi lê na cama e de mim ri si eu farejo um pé descalço. Esse primo sacaneia todo mundo, mas commigo é que a coisa fica feia, pois no cheiro é que eu me instigo. Elle tira e deixa a meia chulepenta (Que perigo!) no sapato! Me tonteia, mas eu finjo que nem ligo. Sae do quarto e de tocaya fica, até que eu, bobo, caia de nariz e bocca nella! De repente, elle regressa e sorri quando eu, depressa, me levanto e nem dou trella.
110 GLAUCO MATTOSO Chega a hora em que eu me traio e me pega elle no pullo, pois flagrou-me com o raio do sapato! Em secco engulo. "Quer dizer que quando eu saio tu faz isso?" Um termo chulo me occorreu, mas não desmaio: abro o jogo e me encabulo. Se diverte o primo e ordena, quer que eu entre logo em scena: "Vae, na minha frente, cheira!" Em seguida, a lancha espicha e commanda: "Chupa, bicha!" Mudo, eu topo a brincadeira. Pé de adulto elle ja tem, largo, chato, sola grossa. Um impulso audaz me vem e meu beiço nella roça. Duvidava elle que alguem desse cheiro gostar possa, mas lhe mostro e lambo bem entre os dedos, onde coça. "Tá gostoso! Continua!" Minha lingua lava a sua sola fetida e grudenta. Elle geme e tira sarro: "Isso! É nisso que eu me admarro! Quiz provar? Agora aguenta!"
PEROLA DESVIADA 111 Elle achava que o chulé intragavel me seria. Expantou-se que eu até nas frieiras o lambia. "Meu, que porco que tu é!", disse e, desde aquelle dia, fui escravo do seu pé e elle, rindo, se sacia. Outra coisa tambem quiz: que na bocca e no nariz eu provasse, e não sublimo. Nem precisa, e eu nem destacco onde fode e em qual buraco goza aquelle experto primo. COMMUNIDADE DE ULTIMA GERAÇÃO [3551] Ao moleque, só interessa contemplar, para a punheta, o que a praia exhibe à bessa: madurões de sunga preta. Com a camera, attravessa toda a areia, a ver, cheireta, os senhores que essa peça vestem, ja sem camiseta. Photographa os mais grisalhos, do mais integro ao mais punga, e os carecas, seus caralhos gorduchinhos sob a sunga. No seu quarto, elle os desfructa: perde o follego, cafunga ante as photos e as permuta com quem desse olhar communga.
112 GLAUCO MATTOSO A VOLTA DO MOTTE DO PUTO [3627] Um michê que eu contractara se gabava de seu pau sempre duro e duma cara bonitinha, mas de mau. Quando eu disse só ter tara por chulés, em alto grau, esticou seu pezão para mim, e urrei de gozo: "Uau!" O rapaz fica perplexo, mesmo sendo o mais devasso, si, ao pagar caro por sexo, só lhe lambo o pé descalço. Este motte eu não refuto e repito a cada passo: "Seja puta ou seja puto, seu tesão é sempre falso." A VOLTA DO MOTTE DO GOSTO [3634] Por galans sempre cercada, a bellissima escriptora com nenhum delles quer nada, qual si lesbica ella fora. Longe disso! É que ella, em cada rapaz lindo, experta, agoura uma bicha indisfarsada e, insensivel, os tesoura. Eis que o quadro se completa, caso seja bem pinctado: do mais sordido poeta a beldade é vista ao lado. Neste motte eu me baseio e das linguas não me evado: "Mulher gosta de homem feio, sujo, estupido e malvado."
PEROLA DESVIADA 113 A VOLTA DO MOTTE DO REGO [3653] Dois moleques vão ao matto practicar um troca-troca. O primeiro, que é cordato, no cu leva uma piroca. Na reciproca do tracto, elle exhibe algo que choca: uma picca enorme! O pato vae pagar o mais boboca? Nada disso! Se accocora o garoto accovardado e, ao chupar do amigo a tora, chega ao mesmo resultado. Este motte aqui se applica e nos deixa bom recado: "Quando é muito grossa a picca, qualquer rego está appertado." A RACCONTADA FABULA DO URSO E DO GATTINHO [3690] Não se achando tão bemvindo entre os gattos, um pelludo urso pensa: "Não sou lindo! Sou grisalho e barrigudo!" Mas no poncto está dormindo, pois seu typo, mais que tudo, é o desejo que curtindo vem algum gattinho, mudo. Nos padrões do pederasta, ao qual tudo é natural, a paixão dos dois contrasta quasi nada, por signal. Não se enganna a Natureza: chances acha cada qual. Sempre exsiste alguma presa esperando outro animal.
114 GLAUCO MATTOSO UMA NO CRAVO... [3720] Um sapato, quando apperta, callos faz, unhas encrava. Eis a facil descoberta a que chega aquella "trava". Foi Roberto, mas Roberta passa a ser: de dia, estava no escriptorio, mas, na certa, vae virar, à noite, escrava. Si o freguez for mais mandão, ella chupa e dá. Si não, ella inverte toda a scena. Basta um macho dar bandeira de que ceda e levar queira, ella o pau lhe põe, sem pena! PESADO MASOCHISMO (I e II) [3813/3814] Na cueca, elle tem mancha das mijadas. Mija em pé, mas se senta e se excarrancha si é chupado. Elle quem é? Um gordão, que, quando engancha seu pau sujo (E que filé!) na boquinha duma fancha, se deleita, baba, até! A bichinha, que é masoca, faz boquette na piroca com total dedicação. Mas mal cabe a rolla grossa no orificio! Oxalá possa conseguir penetração!
PEROLA DESVIADA 115 O tal gordo, que traz mancha na cueca, e que da bicha fode a bocca, tem tal prancha que seus tennis não são ficha! A bichinha se desmancha e elogios à salsicha do gordão faz, mas tem cancha, para o cego, o pé que espicha. O ceguinho, outro masoca, ouve a bicha e se colloca ao dispor do amo gabola. Este, agora, tem quem lamba seu pezão e diz: "Caramba! Um na rolla, outro na sola!" HOMOPHOBIA [3875] Ja fallei que quem mal falla dos veados é suspeito: dum collega elle olha a "mala", a sonhar com o subjeito. Quem é macho e não se eguala ao gay, deste bom conceito faz, pois sobra, alli na salla, mais mulher em seu proveito. Quem mais odio dum gay sente, caso um caso não arrhume, será aquelle, justamente, que quer tel-o e não se assume. Si são obvias phrases taes e cortante teem o gume, repetir não é demais, pois oral corre o costume.
116 GLAUCO MATTOSO QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (I e II) [3997/3998] Na politica, o que estraga é o bandido que a povoa. Quanto às artes, só teem vaga para gente fina e boa. O evangelico é uma praga que a politica abbençoa. Quanto ao gay, o pato paga por ser optima pessoa. Que uma Camara a bancada evangelica encha e invada, da politica diz muito. Que gay quasi todo artista seja, diz das artes: dista o infernal do bom circuito. Mais ironico é que quem se diz "crente" os gays accusa de jamais serem do bem e a moral terem confusa. Justamente o opposto: nem o gay é quem mais abusa da moral, nem tem alguem, por ser "crente", a gloria inclusa. O que um "crente" mais temia era a lei da homophobia, que ao gay desse o desaggravo. Si uma offensa se indemniza, fica a rica egreja lisa, sem, do dizimo, um centavo.
PEROLA DESVIADA 117 ENQUETE PARA BOQUETTE [4007] Melhor quem me chupou não foi Julieta. Na rolla fui mammado pela Ro, mais funda que a garganta mais pornô, que tudo engole! Aquillo é que é chupeta! Deleito-me, pois, antes que ella metta na bocca a picca, a lingua faz tricô por toda a chapelleta! Nem cocô fedido é que nem essa oral sargeta! Sebinho saboreia feito um queijo ricotta em cannellone! Ella lambeu a glande como alguem roubando um beijo! Mulher ou travesti, ja nem sei eu! Preenche esse buraco o meu desejo! Seu halito um mictorio vence! Em seu gogó meu sacco cabe e eu só festejo! Ninguem melhor me chupa que Ro, meu! INTOLERANTES PISANTES [4012] Collegas estudantes, da ballada voltando, na calçada da avenida exbarram num rapaz de colorida plumagem, que lhes passa uma cantada. Aos jovens, que de machos não teem nada sozinhos, mas em bando levam vida bandida, não ha gesto que decida sinão logo partir para a porrada. São varios contra um só, mas é preciso mostrarem-se uns aos outros: do contrario, terão cedido os cus por um sorriso. A surra, à turma, tem sabor hilario. Ninguem ter necessita, alli, juizo. O tennis dum moleque, ha quem compare-o aos labios que se beijam, de tão liso, mas chuta, pisa e macta: é réu primario.
118 GLAUCO MATTOSO DISSONNETTO PARA CLAUDIA WONDER [4015] Decennio foi aquelle bem anarcho, bem punk e marginal! Na mixta scena, foi Claudia these e antithese: era antenna de generos e genios o seu barco! Performer? Transformista? Quem foi Marco Antonio? Um travesti? Teve ella a plena imagem que se oppõe a quem condemna o "extranho", e com tal fardo eu tambem arco. No lado mais selvagem do submundo urbano Claudia andou, cuspindo o mytho poetico: o "maldicto", o "vagabundo". Foi ella Claudia Wonder e bonito fez ella ante um systema pudibundo. Si "gente é p'ra brilhar", eu não me ommitto, embora cego: vejo o que, segundo Caetano, Claudia expoz... Brilho infinito! O CAUTO CAUSO DO VELHO GAITEIRO [4145] O velho, de aggasalho Adidas justo demais, sae pelo shopping à procura das moças. Quer olhal-as, só, por pura, platonica paixão... Mas causa susto. Sim, susto: ellas se assustam, pois a custo tão grande rolla cabe alli, sem dura estar e, si enduresce, quasi fura a calça, quando o velho admira um busto. Curioso fica aquillo, dia cada, mas nada que se saiba, todavia. Ninguem pode impedil-o: não fez nada de errado. Mas commentam... Quem seria o cara? Aquillo intriga a mulherada. E gasta bem, nas compras, elle! Um dia, alguem o vê sahir, descendo a escada rollante, dum rapaz na companhia.
PEROLA DESVIADA 119 O CAUTO CAUSO DO QUARTETTO DE CHORDAS (I a X) [4231/4240] Paciencia a dona Ignez tem de sobra com o seu maridão. Elle ja fez seus cincoenta e addoesceu. A pharmacia, todo mez, mais remedios lhe vendeu. Muito amavel e cortez, diz-lhe o dono, um phariseu: "Como está, professor Penna? Melhorou? Não? Mas que pena! O doutor deu mais receita?" Para casa o Penna traz outro frasco, que la jaz, juncto à cama onde se deita. No creado mudo, são tantos frascos! Falta espaço... Penna queixa-se: {O pulmão tá doendo! Que é que eu faço?} Dona Ignez tem sido tão paciente! Que é devasso seu marido, o quarteirão de saber sente cansaço. Ella finge que não sabe. Caso algum remedio accabe, é a primeira que repara: "Meu bemzinho, o comprimido nem effeito tem surtido e custou olhos da cara!"
120 GLAUCO MATTOSO Penna finge que está mal. Finge Ignez que nisso crê. Qual a origem, affinal, disso? (indaga-me você) Quando o Penna ao hospital foi, faz tempo, na deprê, a enfermeira sensual lhe deu bolla, é o que elle vê. Desde então, elle a procura, simulando que sem cura tem doenças e que as tracta. Se commenta que ella é puta e só grana quer, astuta. A versão não era exacta. Na verdade, a Dahlia tem é attracção por um maduro cachorrão e mais ninguem do que o Penna tem pau duro. Elle, em casa, anda ja sem erecção, coitado, e appuro passa a Ignez, sem ter alguem que, na cama, não dê furo. Que fazer? Agora fica dividida aquella picca: molle para a dona Ignez. Para a Dahlia ella enduresce. Fica nisso, sobe e desce. Mas serão appenas trez?
PEROLA DESVIADA 121 Accontesce que trabalha na pharmacia um japonez, balconista, e sempre calha de encontral-o a dona Ignez. É um gattinho, e nunca falha seu pinctinho, que ja fez muitas moças como a Dahlia mais felizes e, talvez... Não deu outra! Ignez acceita a cantada e, sem receita, o Katsuro em casa attende. Ja são quattro neste caso. Todo mundo tira o attrazo. Mais remedio, assim, se vende. Ja que o Penna é um cachorrão e um gattinho o tal Katsuro, cadellinha é Dahlia, então. Quem é Ignez eu ja deduro: cachorrona, é claro! Não se comporta, eu asseguro, mal na cama, e seu jeitão deixa o japa de pau duro. O gattinho, por sua vez, tanto fode a dona Ignez quanto um homem, si puder. Tem tambem elle seu lado de machinho ou de veado e mais velha mulher quer.
122 GLAUCO MATTOSO A comedia que tem feito Penna accaba um dia, quando chega em casa e vê, sem jeito, o Katsuro alli chegando. Os dois olham-se. {Subjeito bonitinho!}, está pensando o marido, e impõe respeito de quem deve ter commando. Dona Ignez ficou sem graça, pois a coisa toda passa por entrega de remedio. Mas o Penna, que se intriga, com o japa não quer briga: quer é nelle dar assedio! Sim, o Penna descobrira, la no fundo, ter um fracco por rapazes e que admira japonezes, o velhaco! E Katsuro, que não tira olho delle, no seu tacco bota fé. Não foi mentira o que disse ao velho Baccho: "O senhor nem precisava de remedio! Duma escrava, talvez, possa precisar..." Penna encara o japonez: {Uma escrava a minha Ignez não seria! Eu tenho um lar!}
PEROLA DESVIADA 123 E accrescenta: {Mas talvez dum escravo eu precisasse...} O gattinho seu freguez conquistou: algo ja nasce. Indo e vindo, dona Ignez percebeu que, face a face, faz de compta a gente. Fez tambem ella, teve classe. Passa um tempo, e ninguem tapa com peneira o sol: o japa se appaixona pelo Penna! Dona Ignez divorcio pede. O marido lhe concede promptamente e sae de scena. Um gattinho e um cachorrão vivem junctos. O casal vae morar bem longe. São mais felizes, por signal. Dona Ignez não ficou tão infeliz, nem se deu mal. Tem a casa, tem um cão, e ella gosta de animal. Seu bassê, que uma salsicha mais paresce, até lhe espicha a pattinha curta e torta! Ella o beija, faz carinho nas orelhas, no focinho. e o cão sempre a agguarda, à porta!
124 GLAUCO MATTOSO QUEM DESPERTA FICA ALLERTA [4271] Trez decadas attraz, quem haveria de achar que os gays teriam uma lei, unanime, a favor? Eu, que fundei com elles o primeiro gruppo, ria! Não é que chega, emfim, aquelle dia utopico em que pode um casal gay gozar de egual direito ao que invejei nos heteros? Valeu crer na utopia! A data deste cinco, em mez de maio, symbolica se torna, mas ninguem se illuda sobre a proxima que vem, si tarda e nem eu proprio em contos caio. Homophobos a gente sempre tem notado que não dormem! Ora ao Pae o devoto de Satan e, quando um raio cae duas vezes, vemos quem é quem! O CAUTO CAUSO DA TRAVESSURA INCONVENIENTE [4449] Garotos a brincar estão na beira do lago represado. A placa é clara: nadar é prohibido. Está na cara, vae desobedescel-a a turma inteira. Nem todos nadar sabem. Caso um queira ficar em logar raso, com a vara calcula seu limite. Mas tomara que o fundo aguente firme a brincadeira! Aguenta nada! Um delles sumiu, ja, tragado pelo lodo, ou affogado! Mais tarde, acha-se o corpo... Mas será...? Menina! Era menina! Esse seu lado tão masculo a mactou! Que alguem nos va contar que abusou della foi pensado! Depois do caso, sempre que por la se brinque, lembra alguem dalgum veado.
PEROLA DESVIADA 125 INFECTO AFFECTO (I a X) [4471/4480] Um distincto cavalheiro cujo nome foi Oscar tem teor do qual me inteiro neste affan particular: Theatrologo maneiro, conseguiu elle aggradar o burguez mais costumeiro e o povinho mais vulgar. Para gregos e troianos elle tinha sempre planos que rendiam mais successo. Frequentando as altas rodas, e trajando novas modas teve um poncto em que me meço. Pormenor interessante foi de Oscar o seu tesão por um pé, por um pisante masculino, eis a questão. Que um famoso auctor se encante por sapato ou pé ja não causa expanto, porem ante sujas botas, virou cão: Deleitava-se ao lambel-as, dar-lhes brilho: via estrellas, lingua ardendo, mas gozava! Procurava, então, rapazes operarios que, qual nazis, querem forra em lingua escrava.
126 GLAUCO MATTOSO Aos mais sordidos peões dava Oscar bom pagamento e, ao babar em seus pezões botinudos, foi sedento. Entendendo-lhe as razões, eu mal delle não commento. Outras foram as questões pertinentes que eu lamento: Quiz Oscar manter sigillo, pois achava que attingil-o a má fama poderia. E lustrou cada botina poeirenta na surdina. Foi assim, até que, um dia... Sem escrupulos achou nosso Oscar um, certa vez. Encontrou-o appós um show, na sahida, e offerta fez: "Quer que eu limpe a bota? Dou boa grana! Sou freguez bom de lingua! Que tal? Vou lhe pagar por todo um mez!" Viu a chance o tal rapaz de tirar proveito e más intenções foi planejando. Para Alfredo, não bastava desfructar de bocca escrava nem ter breve voz de mando.
PEROLA DESVIADA 127 Pretendia ter Alfredo mais polpudo resultado. Foi lambido, mas, sem medo, quiz Oscar chantageado: {Ou me paga, ou este dedo eu apponcto pro teu lado!} Diz Oscar: "Não! Eu não cedo! Caia fora, seu folgado!" Alfredinho, que não era de blefar, chance tivera de roubar-lhe uns documentos. Eram provas de sujeira bem maior do que a poeira de sapatos poeirentos. Feito o escandalo, eis Oscar diffamado e, na justiça, encrencado: vae parar na cadeia e o caso enguiça. A prisão disciplinar não permitte que preguiça ninguem tenha. Trabalhar deve o preso, e o guarda attiça: {Mais depressa! Vamos, metta mãos à obra! A piccareta tá pesada? Azar o seu!} Soffre Oscar, que sempre fora delicado: em que oppressora carceragem se metteu!
128 GLAUCO MATTOSO Num paiz que a gente queira "de direito", um prisioneiro nunca enfrenta uma pedreira muito tempo e o tempo inteiro. Sahirá, dessa maneira, livre Oscar? Porem, primeiro, vae lamber, tambem, poeira no que calça um carcereiro. O engraçado é que o rapaz reconhesce Oscar e faz mais questão de expezinhal-o: {Vae, veado! Limpa a minha bota! Vamos! Engattinha! Tá lembrado do meu callo?} Oscar olha e reconhesce o rapaz, cujo descalço pé lambera! Ah, si tivesse evitado um passo em falso! Tem agora (e nem a prece vae salval-o) que no encalço ir da bota. A lingua cresce bocca affora e leva o calço: É pisada sob a sola grossa, asperrima, que exfolla e provoca sangramento. Lambe Oscar o que no chão se accumula: a podridão do solado mais nojento.
PEROLA DESVIADA 129 Muita coisa contamina no chão sujo, o que se gruda numa sola de botina e a sciencia nem estuda. E, em prisão de disciplina, nem ha medico que accuda, nem antidoto ou vaccina contra febre assim aguda. Logo, Oscar arde e definha numa cella, e se adivinha que final isto terá. Ninguem nada diagnostica e mais outro preso estica as cannellas, claro está! Oscar teve merescido fim, allega a lingua má do povão, mas eu duvido que tal caso findo é ja. De outros homens a libido mais bizarra accabará por fazer dum encardido bute ou tennis bafafá. Minha lingua se resente das lambidas que, imprudente, ando dando em sola suja... Mas não ponho, não, de molho minha barba, nem me encolho: do que tempta tem quem fuja?
130 GLAUCO MATTOSO PARAPHRASE DE SONNETTO SOBRE UM CONTO DE THIAGO BARBALHO [4531] Os velhos não teem tempo, mas nós temos. Teem medo, mas de skate, em turma, andamos bem rapido e não temos. Nós fallamos em giria e, tattuados, somos demos. Na bronha elles, frustrados, em extremos comnosco se imaginam: somos amos; escravos elles, nossos, e mandamos que chupem, no cu delles nem mettemos. Meu tennis mais gastei que um andarilho. Só temos dezesepte, elles septenta. No escuro, os olhos delles teem um brilho de cego que nos chupa e nos sustenta. Maldades commettemos: não me humilho, mas elle sim, na sola poeirenta do tennis, como um pae lambe o do filho. É nossa geração a mais marrenta. ENREDO SEM SEGREDO [4586] Pegaram o subjeito. Não explica jornal nenhum si disse elle o motivo do crime. Mas pegaram-no: elle, vivo, talvez confesse, passe alguma dica. Os corpos, sem o sacco, sem a picca, ja foram encontrados. Pelo crivo geral, elle não era gay passivo, michê tampouco. A duvida, então, fica. Qualquer explicação eu não acceito, ainda que os jornaes achem banal. Tem cara, pela photo, de subjeito normal. Tem namorada, por signal. Que falla a moça? Nada diz direito. Mas disse alguma coisa: que elle mal se sente, tendo um membro anão. No leito, fallavam disso... Explica-se, affinal.
PEROLA DESVIADA 131 PARCERIA NA LAVANDERIA [4590] Dois velhos se lamentam. O primeiro, casado com mulher mais moça, chora: "Eu morro de ciume! Ella me adora, mas sempre eu desconfio... Sou cabreiro..." O amigo acha o contrario: {Até do cheiro da minha roupa está minha senhora pensando mal! Ciumes tem, agora, até do meu chapéu, do meu isqueiro!} Um diz: "Quanta canseira! Que diacho!" Diz outro: {Vae ficando complicado...} Estão de accordo: "Sabe o que é que eu acho? Melhor é nós tomarmos mais cuidado! As duas andam junctas... Falta um macho..." {Tambem acho! Só fico preoccupado que saibam, affinal, do nosso cacho... Nos falta mais mulher do nosso lado...} PATTOLA JA FEZ ESCHOLA [4682] Um dia, ja foi moda. Caso emplaque um gol, o jogador, ante a torcida, appalpa o proprio pau. Isso convida os outros a appalpar o pau do craque. Alguns chegam por traz: são seus, de attaque, collegas. A mão mettem na fornida e dura rolla. Aggarram-na. Valida tal gesto o torcedor, applaude a claque. Se chama "pattolagem" esse estylo de commemoração. Vale tambem dar uma encoxadinha, sem vacillo. Agora, me paresce que ninguem practica mais aquillo. Ao permittil-o, é claro que o juiz orgasmos tem! Não fazem da questão nenhum sigillo mas fingem que não lembram muito bem...
132 GLAUCO MATTOSO TARA CARA [4802] Um "teenager" arrogante se lamenta: está sem grana. Tem dinheiro, e tem bastante, um masoca, que lhe explana: "Si deixar, no seu pisante, que eu a lingua passe, affana o que tenho!" O joven, ante tal offerta, ja se uffana: {Então lamba! Limpe a sola! Folgo, até, si alguem exfolla sua lingua em meu sapato!} Lambe, então, e se colloca por debaixo: ser masoca não sahiu muito barato. VENENOSA E PERIGOSA [4829] Amigão como você não achei, na vida, ainda. Eu lhe adviso, então: não dê attenção à tal de Linda! Falsidade não se vê como a della, que não finda! Quem "imeios" della lê não a chama de bemvinda! Preferivel, meu amigo, é você sahir commigo, que caminhos bons palmilho! Com a Linda, você corre risco até, si está de porre, de fodel-a e fazer filho!
PEROLA DESVIADA 133 ACTIVO RELATIVO [4837] O machão de quattro bota sua gatta e o cu lhe come. Pouco mette na chochota: por trazeiros tem mais fome. Sua tara tem um nome: sodomia. Mas adopta, só, tal nome caso tome de alguem masculo essa quota. Com pomada, até com baba, si comer o cu dum homem, tal como outros homens comem, elle admitte, então, que "enraba". Si for ella a tal vagaba e for della o tal cuzinho, mesmo sendo sem carinho, da "comida" elle se gaba. NABO NO RABO (I) [4889] Propaganda me faz rir, como aquella que me quer empurrar um elixir que remoça! Só si der! Ouço agora que vae vir, accredite si quizer, o que os gays vão consumir: um xarope de colher! "Si você não quer um nabo com formato de banana ou pepino no seu rabo, tome o tonico Fontana! Este é um optimo laxante! Quem se enfeza não se enganna! O estylista é quem garante, que de astral bumbum se uffana!"
134 GLAUCO MATTOSO PEOR A EMENDA DO QUE A AGENDA [4901] Janeiro me motiva a trepar mais. Me brocha, em fevereiro, o carnaval. Em março, não gozei, mas, affinal, abril lembra martyrio e eu solto uns ais. Em maio ensaio copulas anaes. Em junho, não consigo e me dou mal. Em julho, faz-me um macho de animal. Agosto é duro. Odeio dores taes! Septembro é mez de foda, e estou fodido. Outubro tambem é, pois me ferrei. Novembro mal começa e sou comido. Dezembro me transforma, emfim, num gay. Me sobram quattro versos. Não revido, porem, o que no rabo ja tomei. Appenas chupo rolla, convencido daquillo que, por cego ser, eu sei. PESADELLO PAREMIOLOGICO [4912] Dormir com menininhos, um dictado ensigna, é perigoso. Quem o faz, accorda immerso em mijo! É bem capaz de ver-se em meio à merda, esse coitado! Tomar é bom, porem, bem mais cuidado com certos meninões, pois por detraz o gajo que dormir com um rapaz talvez seja borrado... ou exporrado! Dictados serão sempre irreverentes. Alguns são bem gozados. Certamente alludem a creanças innocentes e não a marmanjões, mas, de repente... Si alguem te perguntar "O que tu sentes?" na hora de dormir, tu, sorridente, dirás: {Jorros de porra, jorros quentes!} Mas sempre em tom ironico, obviamente.
PEROLA DESVIADA 135 FESTA DO PEÃO [4914] Um tapa! E me voou da mão o coppo! Aquillo foi offensa! Foi offensa! Não posso supportar! Quem elle pensa que chega a ser? Offensas eu não topo! Peor! Si o coppo excappa, eu que me ensopo! Você toleraria? Dá licença! Um gesto assim não passa duma immensa doideira! E ainda dizem que eu me dopo! Dopado estava o gajo! Elle é que estava! Magina! Eu, segurando um coppo cheio e o gajo dando um tapa? Ah! Plantar fava! Si fosse um gostosão! Mas era feio! Horrivel! Chapadão! Doideira brava! Tem macho mais charmoso no rodeio! P'ra cyma de mim, não! Ninguem deprava assim a minha fama nesse meio! MACHO INVOCADO [4928] Azia? Mal estar? Indigestão? Um sal de fructas pode, geralmente, allivio dar, e o gajo ja se sente capaz de exaggerar no maccarrão. Mas fica, si pensarmos, a questão: De fructas? Mas quaes fructas? Que se invente um nome, mas que seja consistente! Salgada é qual? Maçan? Melão? Mammão? Um termo tal me soa até gozado! Si é para divagar, à mente vem o grito de "Meus saes!", desesperado, de alguem que, a desmaiar, vertigens tem. "Que saes são esses, porra? O resultado é mesmo positivo? Eu nunca, sem sentidos, precisei! Não sou veado! Não solto taes gritinhos, não! Eu, hem?"
136 GLAUCO MATTOSO CHICA, A VIZINHA QUE FUXICA [4967] Querida! Ha quanto tempo! Como vae você? Bem? Eu tambem! Mas a cunhada nem tanto... Não sabia? Separada está! Causou vergonha no papae! Casado? Meu sobrinho? Ah, ninguem cae num conto desses! Sabe o que lhe aggrada? Veados! Sae com bichas! A coitada da esposa é quem se azara si elle sae! Não acha? É vergonhoso! A gente fica passada! Mamãe chora de desgosto! E disso faz fofoca a dona Chica! Não lembra? A fofoqueira! Ella tem posto mais lenha na fogueira! Quem fabrica fofoca mais que a Chica? Eu cubro o rosto! REIS DO CANGAÇO [5007] O Diddley ja mandava a mulherada formar fila: affirmava que as comia. O Berry até transava com gurya menor, e eu não duvido disso nada. O Little Richard dava nome a cada canção, só de garotas, e fazia de compta que as mulheres amaria: Lucille, Sally, Daisy... Até me enfada! Si fosse no Brazil, algum juiz diria que invadir privacidade do Richard é negar-lhe os dons viris. Ninguem quer inventar, ninguem invade a vida dos machões. A gente diz appenas a verdade. Caso aggrade... Alguem sei que não fica tão feliz, mas outros ficarão bem à vontade.
PEROLA DESVIADA 137 TACTICA AQUATICA [5101] Ao vel-o sentadinho, tendo, ao lado, da eschola o material, a mulherada apponcta, pois a todas elle aggrada: "Que lindo! Que menino comportado!" Paresce bom menino. É bem damnado, porem, e nadador! Ah, como nada bem, esse garotinho! Não ha nada no mundo tão bom como estar a nado! Ah, quando esse menino vê piscina, não pode se conter e doido fica, se assanha! Ao pullar n'agua, elle salpicca quem perto esteja, exhibe-se, fascina! Na sunga, se advoluma a sua picca, talvez por advistar uma menina nadando... Ou vendo as bichas, imagina a bicha fofoqueira, que fuxica. AVAL AO CARNAVAL [5246] Escreve Steven Butterman, e eu leio: dum lado, anno appós anno, esta parada do orgulho gay, na midia, retractada é como, ja, "a maior". Nisso até creio. Por outro lado, sabe-se no meio que, mesmo estando a compta exaggerada, a visibilidade importa cada vez mais: visto de cyma, o espaço é cheio. O thema, a gente sabe, sempre irrita quaesquer que nu detestem ver o rei. Quer Butterman propor que alguem reflicta si alguma coisa muda para o gay que brinca um dia, emquanto a imprensa o cita. O auctor como enthusiasta della, eu sei, se mostra, mas conhesce o officio: evita achar que só parada altera a lei.
138 GLAUCO MATTOSO CUECA ARRIADA [5264] Cahiu a ficha. Aquelle bilhetinho no bolso do marido, que a mulher achou, os olhos della abriu. Qualquer desculpa do vinagre não faz vinho. Agora ella ja sabe: em mau caminho seu homem tem andado. Mas não quer botar tudo a perder. Si assim fizer, perdido está o futuro do Juninho. Mas isso não tem, mesmo, um calmo fim. Com pena do filhão, mantem-se muda. Um dia, surprehende o proprio "teen" chupando seu papae, que se desnuda. Então ella decide: acha ruim, mas juncta-se com outra, mais polpuda de grana e de cadeira. Antes assim, pensou, que dedicar-se, em casa, a Buddha. CANASTRINHO VERSATIL [5277] Magina! Eu não sou bicha! Ja fallei milhões de vezes! Ganho o meu e faço papel de gay, de macho, de devasso ou sancto, seja um subdito ou o rei! Novella é mesmo assim! Só porque um gay eu faço, agora o povo acha que eu caço machões pelas boates, que um admasso procuro nos banheiros, eu ja sei! Não, minha gente! É muita baixaria! Sou puro, minha gente, eu asseguro! Expalham que flagraram quando eu ia chupar um marombeiro attraz do muro... Mas isso é só fofoca de coxia! Jamais me pegarão! Si estava escuro, como é que vão dizer que, à luz do dia, fui visto a chupar rolla? Nunca! Eu juro!
PEROLA DESVIADA 139 SCENAS TROPICAES (I a III) [5286/5288] Na praia, o coqueiral ondula ao vento. Turistas vão e voltam, sempre em bando, sahindo dalgum omnibus, filmando, battendo photos. Passa um barco, lento. Olhando tudo, sempre muito attento, expanta-se um senhor ao ver que, quando mais gente se approxima, vae trepando, em cada coqueirão, um "elemento". Com cara de malandro, um delles tira os cocos, se exhibindo. Uma turista começa a tirar photos e se admira. Mostrando habilidade, elle conquista olhares com seus gestos de mentira, e sua saphadeza não despista. Um classico malandro brazileiro, posando para as photos, cocos traz. Visagens ensaiadas elle faz e trepa, nheco, nheco, no coqueiro. As photos são eroticas! Ligeiro aos olhos da photographa, o rapaz simula estar trepando mesmo, mas é "com", não "no" coqueiro, o tempo inteiro! Aquillo não é proprio de quem quer somente tirar cocos! Se offeresce, sorrindo, o rapagão a quem lhe der... Comida? Grana? Appenas aggradesce, pagando-lhe uns trocados, a mulher. Mas, perto, está um senhor, cujo pau cresce.
140 GLAUCO MATTOSO O moço, morenão de praia, vae e volta, sobe e desce. Sorri com aquella saphadeza que, no bom e claro portuguez, tesão attrae. Discreto, um senhor olha. Até ser pae podia do moleque, cujo dom resume-se a trepar, posar e, em tom saphado, pedir grana. Alguem mais cae? Notando que o senhor não photographa, o joven lhe dirige seu sorriso mais timido, que uns males desabbafa. Lhe paga lauto almosso o senhor. Liso, se farta o joven, pede uma garrafa de vinho... Custa caro o paraiso! PERNOSTICOS DIAGNOSTICOS [5295] Problema chromosomico? Que é isso? Defeito de hypothalamo? Não acho! Razões procuram para quando um macho accaba não o sendo e causa enguiço. Somente se suppõe que encontradiço por cento em dez é um homo em populacho. O resto é theoria, que eu excracho, e contra a qual os animos attiço. Os homosexuaes são como os gemeos, os genios, os canhotos e os daltonicos, alem de personagens mais iconicos, sortudos ganhadores de altos premios? Talvez. Mas quem curar os quer com tonicos e philtros milagrosos, porque teme-os, não só quer proteger-se dos mais "femeos": tem medo é dos seus proprios males chronicos.
PEROLA DESVIADA 141 TESUDOS NARIGUDOS [5297] Narizes feios, creio, são questão de gosto. Sei de alguem que gosta dum adunco e rechonchudo. Esse incommum desejo é mais commum do que acharão. Conhesço um gay que adora narigão vermelho, como aquelle dum bebum. Um outro quer narizes sem nenhum detalhe, excepto um unico sinão: Verruga! Sim! Egual à duma bruxa! Si advista um nariz desses, o subjeito disfarsa, abre a braguilha e o pau ja puxa! Com esse thema agora me deleito, ao ver que de agua fria não é ducha! Portanto, quem achou ser um defeito a sua verrugona, tão gorducha, relaxe, goze e faça bom proveito! DISSONNETTO DUMA DATA DEMOCRATA [5315] Por fallar de urbano heroe, esta data commemora a funcção do office-boy, que logar não tem, nem hora. Elle está prompto e não roe nunca a chorda, dentro ou fora do escriptorio. Só se dóe seu patrão si elle demora. Seu pezão, dentro da bota que o chulé faz augmentar, formou callo, mas nem nota quem só nelle quer mandar. Quem notou foi seu freguez, o veado que seu par descalçou e que lhe fez um carinho oral-plantar.
142 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUMA ACCUSAÇÃO SEM SUSTENTAÇÃO [5323] Seu doutor, eu não fiz nada! Me prender foi muito injusto! Toda aquella mulherada se engannou! Só dei um susto! Confundiu-se, doutor, cada uma dellas! Eu a custo fico erecto! Si estuprada foi alguma, erga-me um busto! Eu até que gostaria de estupral-as! Todavia, meu tesão, doutor, não dá. Meu negocio é só rapaz! De mulher nem corro attraz! Fiquei brocha e estou gagá. SONNETTO DUMAS VERDADES ATTRAZ DE GRADES [5354] Ninguem pode, num estudo academico, ter tino? Si quizerem, eu adjudo a apponctar o Virgulino! Gay foi elle, sim, eis tudo! Tambem Senna um faro fino desmascara! Ninguem mudo pode estar, é o que eu opino! Si Dumont alguem ja disse que foi homo, da bichice não excappa um cangaceiro! No futuro, bom conceito terá, logico, o subjeito que disser isso primeiro!
PEROLA DESVIADA 143 SONNETTO DUNS SAPHADOS BIOGRAPHADOS [5355] Mysterioso é tambem Rosa. Diadorim ja deu a pista. Para alguns, Guimarães posa de machão, mas dá na vista. Litteraria fama goza, como o Mario, mas a lista, seja em verso, seja em prosa, dos veados é bemquista. Não precisa alguem ter medo que revelem o segredo desses genios brazileiros! Nenhum merito elles vão perder, caso em discussão estiverem seus trazeiros! SONNETTO DUNS COLLEGAS DE REFREGAS [5356] Moralismo litterario é bobagem. Si veado foi o Rosa ou foi o Mario, não se altera seu legado. No Brazil, é farto e vario o registro analysado: Piva, Abreu, do Rio... o pareo será duro e eu não me evado. Tambem entro nessa lista e convido o moralista a reler o que escrevemos! Si reler, depois convido o careta empedernido a transar com nossos demos!
144 GLAUCO MATTOSO SONNETTO DUMA VIDA RESOLVIDA [5357] Em debatte, entra na roda um assumpto divertido: questionar si está na moda ser veado ou gay ter sido. Quando vivo o auctor, é foda! De bichona e de invertido é chamado. Elle incommoda menos, caso fallescido. Si deixou obra famosa, boa fama tambem goza, mesmo tendo dado o rabo. Mas, em vida, fazem pouco de quem fama tem de louco, de confrade do Diabo. TRAZEIRO PRAZENTEIRO (I a VI) [5401/5406] Uma bunda que se preza (narra um padre) é como a minha: ella vale quanto pesa, tem dobrinha, tem covinha... Tem cofrinho e não despreza donativo: o coroinha, logo appós a minha reza, a appalpal-a se encaminha. A massagem que esta bunda de ganhar mais faz questão eu a ganho quando affunda nella a mão dum garotão. Como as nadegas são largas e bojudas tambem são, bem supportam essas cargas, esse ardor, essa pressão.
PEROLA DESVIADA 145 Bunda grande é mesmo assim: apparesce, occupa espaço. Mas trabalha para mim um garoto bem devasso. Elle nunca acha ruim si de bruços deito e faço que me applique, desde o rim às virilhas, o seu braço. Coroinha musculoso, faz que a gente se contorça. Elle até me causa gozo quando apperta com mais força. Disfarsar até que eu tento, um gritinho segurando. Mas, si o golpe é violento, ja berrei, de vez em quando. Quando eu rezo a "missa joven", assanhado sei que fica o rebanho. Logo chovem commentarios: dão-me a dica. Eu desejo que me sovem, que na bunda mettam picca, mas controlo-me: que approvem minha missa é o que edifica. Só que, emquanto é celebrado meu officio e, em oração, todos cantam, para o lado delles viro o trazeirão. Os meninos ja se ouriçam ante a magica visão: sob a calça seus paus içam a cabeça, de tesão.
146 GLAUCO MATTOSO Eu não posso dar bandeira: rezo a minha missa, e prompto! A parochia quasi inteira nada sabe, e eu nada conto. Mas, mais tarde, quem se exgueira ao meu quarto, sempre a poncto de exporrar, é quem certeira mão tem: manda, e me admedronto. Elle ordena: "Padre, deita!" Eu nem faço cara feia: viro a bunda, que perfeita lhe paresce, e a massageia. Goza só por appalpal-a (quem quizer que nisso creia) e eu, olhando aquella mala, tambem tenho a minha cheia. Meu temor é que o menino mais se anime e que mais queira. Si se anima, eu imagino onde accaba a brincadeira. Vae querer ouvir um hymno em louvor à Padroeira? Quererá ser do Divino Sacramento a voz obreira? Nada disso! No fica a coisa só Elle acceita o e, feliz, nada
começo, na cama. que offeresço reclama.
Com o tempo, ja não basta dar-lhe "uns putos", como chama qualquer grana, porque gasta com garotas de programma.
PEROLA DESVIADA 147 Pedirá que quer levar ao cinema. na questão
eu compre um carro: a namorada Então exbarro mais delicada.
Da parochia (emquanto narro, vou pedir: não digam nada a ninguem) eu pego e aggarro toda a grana arrecadada. Si o garoto é quem, mais tarde, com chantagem vem, mandão, me accusar, serei covarde. Direi: elle é que é ladrão! Nisso penso e, emquanto rezo, aos moleques do povão, minha missa, os contras peso e o trazeiro escondo... em vão. VERGONHA ALHEIA [5567] Me lembro: "gay" appenas, certa vez, calhou com mais leveza ao que "veado" e "bicha" tinham sido, em portuguez mettido a linguajar globalizado. Depois, "geeleesse", que se fez ouvir, foi "boa" sigla. Não do aggrado meu, farto que fiquei de, todo mez, mudarem as palavras de algo "errado". Mas "elegebetê" pensam vocês que basta aos imbecis? Não! Ja me enfado de tanta lettra nova! Alguem talvez tem "elegebetequemais" usado? Então vou suggerir, sem mais porquês, signaes de egual, arroba, sublinhado, cerquilha, porcentagem... Qual nudez terá a diversidade conquistado?
148 GLAUCO MATTOSO "SAPATA AMA A TAPAS" [5576] E tu, quando umas lesbicas mencionas, chamal-as quererás de sapatonas? Si p'ra diversidade os olhos tapas, por certo não são ellas tuas chapas. Amigas minhas duas são e connas teem ambas. Entre si, não são mandonas. Porem, os que na lingua não teem pappas as chamam de sapatas. Não excappas. Aquella imagem dura de amazonas nem todas teem, nem todas valentonas são, como no palindromo. Más nappas mau cheiro tambem sentem nas priapas. Nem mesmo certas putas, pelas zonas, imagem teem da nympha que ambicionas. Portanto, um ideal que nem nos mappas está, tão facilmente tu não pappas. ODE À BOCCA PEQUENA [5585] Dizendo "Roda, cu de educador!" Alguem fez um palindromo que nua porá a reputação do professor que em meio a seus alumnos se insinua. Será verdade? Pode alguem suppor um mestre tão discreto, que vem sua materia leccionando com louvor, o cu vulgarizando pela rua? Duvido. Talvez seja só rumor. Algum alumno senta-lhe tal pua, quem sabe, reprovado... Mas a dor desforra quem os outros prostitua? Não posso prejulgar. Vae que, si for olhar bem direitinho, o cara actua tal como eu proprio actuo: chupador sou, mas dou sim, tambem, si estou de lua.
PEROLA DESVIADA 149 TROCA-TROCA [5608] Amigo meu, machão, me diz que evoca seus tempos, ja distantes, de creança e, rindo, um desaffio serio lança: -- Quem é que não brincou de troca-troca? Assumpto mellindroso! Aquillo choca collegas de trabalho. Um segurança da firma de citar jamais se cansa a phrase do patrão que não se toca: -- O cara até confessa que mais deu o cu do que comeu! Como que pode? Subjeito de respeito não se fode assim! Vergonha alheia vou ter eu? Mas, graça achando, o macho faz que seu rival mais ciumento se incommode, pois sabem quem fez barba, fez bigode, cabello quem fez. Sabem quem cedeu. ENTREGA CEGA [5633] {Faz tempo que, sarrista, não domino alguem que a mim, de quattro, dê e, vendado, se deixe castigar. Mas um menino achei que se subjeita de bom grado. Alheio olho cegar, do meu aggrado, é practica frequente: eu determino que, sem me conhescer, algum veado masoca a venda ponha. Ahi, lhe brado: "De quattro! De joelho!" Olho o fulano sem follego, offegante, ja fodido na bocca, a se engasgar. Então decido si exporro ou si lhe mijo. Que tal, mano?} -- Cegueira temporaria, pelo panno da venda, dá tesão, mas mais soffrido meu caso será: a perda do sentido eterna torna a graça do meu damno.
150 GLAUCO MATTOSO FLAGRANTE AGGRAVANTE [5676] Paresce até comedia, mas é facto gravissimo. Uma lesbica dizia em publico não ver homophobia si um homosexual pagou o pato. Diz ella que um gay victima seria de crime commum, só: "Si em alguem batto commetto uma aggressão, seja mulato a victima, mulher, gordo..." Ironia. Não é que justamente quem duvida de tantos preconceitos expancada foi por um cafageste camarada, xingada de "sapata" na avenida? Talvez agora pense: "Quem aggrida alguem, cuja apparencia desaggrada seus brios, mais aggrava o que ja cada vez menos se tolere...", convencida. END OF THE WORLD [5684] Demis Roussos cantava que queria levar ao fim do mundo o namorado ainda muito joven, sem do lado tambem papae, mamãe, vovó, tithia. Queria appresental-o, qualquer dia, a amigos solteirões que do riscado com elle se entendiam, mas cuidado tomava, pois nem tudo se entendia. Vontade de gritar elle revela e grita, sem conter-se, assim, do nada, no meio da romantica ballada, talvez porque o moleque se rebella. Terei bem entendido sua bella canção, tão bem chorada, bem cantada? Fiz minha tal leitura. Agora cada um faça a sua, solte da goela.
PEROLA DESVIADA 151 WHEN A BLIND MAN CRIES [5703] O cego do Deep Purple, quando chora, dá dica de ter sido abbandonado, fechado no seu quarto, mas tal fado envolve o que meu caso corrobora. Um gajo, que era amigo, foi embora, mas fez com elle coisas que me enfado, até, de repetir, tendo versado bastante sobre alguem que rememora. Tambem, no chão jogado, rastejei aos pés dalgum "amigo" gozador que fez chacota sobre minha dor, impondo, por prazer, a sua lei. Um cego não será feito de gay nem deve ser de rollas chupador appenas por ser logico suppor, mas pelo testemunho que ja dei. PRECARIA BINARIA [5704] "Não binario" que sou crendo, assumir-me resolvi. Percebi que não entendo porra alguma disso aqui. Mas fingir está valendo? É mulher um travesti? Sobre o caso estava lendo eu e, louca, me vesti. Puz peruca, quasi offendo meu espelho, fiz xixi sentadinha, mas horrendo na calçada me senti. Papellão fiz. Me arrependo. A ninguem engannei! Xi! Mas cricri sou, que só vendo! Finjo cego ser... Quem ri?
152 GLAUCO MATTOSO CENSO SEM CONSENSO [5749] Dez por cento de qualquer gruppo, dizem-me, são gays. Si for homem ou mulher, foi provado, appenas seis. O restante, quem quizer que baptize. "Drag-reis"? Transformistas? Até "bear" e "she-man" entram, vereis! Hoje em dia, "trans" e "cis" ja pullulam pela scena. Desse jeito, os mais viris faltarão na minha arena... De caceta bem pequena ou prepucio no nariz, ha de tudo, mas é pena que mal cheguem a dar bis... SCENARIO RODOVIARIO [5805] Do global acquescimento quem dirige caminhão ja bem sabe, no momento da coceira no colhão. O calor augmenta, o vento mal soprou e a comichão faz no sacco um soffrimento. Larga ou não a direcção? Me contou o travesti que chupou o conductor dum pesado, bem alli onde é torrido o calor. O ceguinho fica, aqui, a suppor quanto suor não brotou como o xixi si chulé virando for.
PEROLA DESVIADA 153 FISTING DISSONNET [5829] Puta merda! Com o punho ser fodido é mesmo foda! Não darei meu testemunho pois não entro nessa roda! Mesmo assim, jamais alcunho de tarado quem à moda adheriu e não rascunho versos contra a alheia coda. Aguentar la dentro um braço o ceguinho não festeja. Sacrificio tal não faço, pois não rezo nessa egreja. Masochista sou, mas traço meus limites. Quem deseja me foder, ja bem devasso, só na bocca me gotteja. RHAPSODIA OSWALDIANA [5918] {Dizendo que não leu e não gostou, Oswald essa piada amplia para de todo auctor rival gozar a cara. Só quando os lemos vemos quem errou! Agora lhe pergunto, Glauco: Dou valor ao que elle diz? Elle compara o Mario com a miss que, numa tara traveca, transformista deu seu show! Tolero, Glauco, offensa tão vulgar da parte de quem disse ser vanguarda? Não! Ponho-me do Mario no logar e mais admiro o bardo de cor parda!} -- Concordo plenamente. Se accovarda a claque, de "anthropophaga" quer ar satyrico obstentar. Mas ja não tarda que em Mario vejam alto o patamar.
154 GLAUCO MATTOSO MOLECA SAPECA [5922] Talvez porque tivesse ella a figura dum Dennis, o Travesso, ou Pigmentinha, eu, quando adolescente, nella tinha a minha namorada... Farsa pura! Seria formidavel (assim jura meu ego) si Pavone fosse minha amante masculina! A garotinha commigo fez bastante travessura! Na poncta dos pés entra no meu sonho. Fazemos um xixi la na montanha. Jogando futebol, ella só ganha. Em verso martellarmos lhe proponho. Tentando ser amante, fui bisonho, mas suas canções 'inda teem tamanha presença na lembrança, que me banha o cego olho uma lagryma, tristonho. PHALLICO ACTO FALHO [5929] Ouvi ja dum racista a allegação absurda de que o negro tem beiçuda boccarra com razão, pois isso adjuda na hora de cumprir a fellação. "Perfeita a natureza nisso, não concorda? A bocca feita foi carnuda por causa disso, Glauco! Não se illuda! Ninguem sabe chupar como o negão!" Nem quero commentar bobagem tão sem nexo, do contrario o que me escuda é a longa rolla, quando deixa muda a funda bocca desse babacão. Nem fallo do botão desse cuzão, que, estreito, suas pregas só desgruda si for bem enrabado, o que desnuda a mente de quem tem o cu na mão.
PEROLA DESVIADA 155 MEME DO ADULTERIO [5981] Casaes costumam cedo separar os corpos, pois idéas más consomem. Depois, será difficil que retomem a vida conjugal, a fé no lar. Eu cito um argumento lapidar: Mulher de amigo meu p'ra mim é homem, ou seja, quero que ambos no cu tomem. Bobeiem, e tambem farei chupar! Casou-se minha ex-noiva com o meu amigo, mas sentido eu ca não fico. Comi-lhes, sim, o cu, sei que doeu o delle mais que o della, que de chico estava. Me vinguei, pois elle deu na marra, e me livrei daquelle mico. Meresce elle! Quem manda ser atheu? Alem de ser christão, sou bem mais rico! MISCELLANEA FELLACIONAL [5982] Boquette é a quinctessencia do prazer. Orgasmo mais intenso eu só desfructo si a rolla me chupar um macho puto. Poder eu gosto sempre de exercer. Por isso quero sempre meu poder testar sobre um rival com quem discuto politica, pois desses eu escuto offensas que preciso devolver. Ja tive fellatrizes que meu pau fizeram exporrar com bom deleite, mas quero tal prazer em maior grau. Prefiro, agora, alguem que se subjeite na marra, ou por dinheiro, a um pau de mau character que, amargoso, exguiche o leite. O meu, que causa gritos dum "Uau!" de expanto, nunca appenas é de enfeite.
156 GLAUCO MATTOSO MISCELLANEA VENEREA [6047] Quem tem mãe no puteiro, degenera. Tem filho "fididinho", como diz o povo, a respeitavel meretriz. Qualquer coincidencia não é mera. A puta se perfuma, se produz, mas mãe é do mais sordido rapaz, um typo revoltado que, nos cus das bichas, vae à forra: foi capaz, depois de enrabar uma, tendo puz no pau, de entrar na bocca qual por traz. O docil masochista que, attravés dos labios, se infectou, teve de, appós chupar puz com cocô, do chão ao rés prostrar-se e, sob as ordens duma voz chapada, lamber tudo que, nos pés fedidos, não lavou seu rude algoz. MEME DA BICHA MACONHEIRA [6048] Qualquer coincidencia não é mera. Si está faltando assumpto, na novella, no templo, na campanha, a quem se appella? Aos homosexuaes! Tambem, pudera! Quem é que a propaganda mais paquera? Quem é que deixa a bunda na janella? Quem é que, em Portugal, usa a panella? Quem é que, travesti, vira panthera? É o gay, que em tudo expalha seu aroma! Um padre, ou um pastor, com elle sonha. Seu beijo, na tevê, mais ponctos somma. Por elle os candidatos battem bronha. Tem fama, seja em Roma ou em Sodoma, tamanha, que o Demonio se envergonha. Alguem deseja até que o cu lhe coma a bicha mais adepta da maconha.
PEROLA DESVIADA 157 VAZIAS PHANTASIAS [6070] Insomne, escuto tudo o que, durante a noite, em quarentena, a vizinhança discute emquanto fode. Mais advança a hora, mais punhetas me garante. Accyma, a adolescente vacillante, chupando o namorado, faz lambança, mordendo o pincto. Um berro o joven lança e chuta a nymphetinha. Ah, ri bastante! Abbaixo, um casal briga, pois o cara metteu fundo demais na bocca aberta de menos. Elle em cyma della accerta um tapa. Agora a bocca se excancara. Divirto-me com esse show e, para gozar, dos machos sempre tenho offerta de rollas chupar quando a coisa apperta na vida conjugal de excassa tara. EDUCAÇÃO À DISTANCIA [6075] Ao vivo, o molecote estuda deante da tela de seu novo cellular. Remotamente, para leccionar com emphase, se exforça alguem bastante. O mestre, em attitude provocante, faz mimica, torcendo o maxillar, abrindo bem a bocca cavallar, a lingua a lhe espichar, egual bacchante. Assanha-se, de facto, o molecote, mas, nessa quarentena, a prole toda se juncta alli na salla. "Que se foda!", decide-se em commum. Alguem que note! O joven quer mostrar, tambem, seu dote. Abbaixa as calças, tira a rolla, açoda a mão battendo bronha. Se incommoda a mãe. Ninguem notou o seu decote.
158 GLAUCO MATTOSO HASHTAG EU ADVISEI [6145] Estás a ver? Ficaste dando trella a toda a mulherada que te lia! Agora te paquera cada thia, em vez de debruçar-se na janella! Não digas isso, Glauco! De cadella não chamo cada qual que te assedia! Não achas, meu querido, todavia, que para a putaria alguma appella? Não basta teres dicto, ja, que és gay? Que querem as mulheres? Converter-te? Recebes, pelas redes, algum flerte, ao menos um por dia, que eu bem sei! Suppões que com ciumes estarei! Magina, Glauco! Quero só foder-te a bocca, não fazer-me de sollerte! Sim, só por amizade eu advisei! HASHTAG CHRISTO SALVA [6159] Hem, Glauco, quer dizer que tem egreja curando gay mas, quanto ao virus, nada de cura? Que engraçado! Como cada pastor uma desculpa dá, que seja? Então um pastor desses exbraveja só contra gays, mas delles a manada ninguem será capaz de ver curada? Faltava, a elles proprios, quem proteja! Não era Christo, Glauco, quem dizia que enxergam elles cisco no olho alheio e fingem que não viram, bem no meio do proprio, um travessão? Hem? Que ironia! Puzeram um adviso onde se lia: "Devido ao virus, hoje, com receio de encosto, não teremos templo cheio nem cura programmada." Quem diria?
PEROLA DESVIADA 159 YOU LOOK LIKE A GIRL [6168] Menino que tem cara de menina por causa do cabello bem comprido é caso que, em Barbarians, bem ouvido eu tinha, Glauco! O que você imagina? Em epocha de Beatles, a ferina linguinha do povão acha a libido suspeita si com gay é parescido qualquer moleque à toa alli na exquina. Agora ninguem liga si tem cara de fada -- até de puta -- algum pivete, pois quasi todo mundo faz boquette por gosto, ou quando a vida fica cara. Até você, Glaucão, que se compara ao torpe em cuja bocca alguem só mette caralho com sebinho, se remette a musicas mais sadicas na tara! MEME DA TORCIDA ORGASMIZADA [6172] Em vez de torcedores, vi bonecas inflaveis, Glauco, pela archibancada inteira! Sim, e cada qual pellada! Nem calças, nem camisas, nada, necas! Não pecco, Glauco! Tu tampouco peccas si fores punhetar-te emquanto cada boneca apparescer, patrocinada por rotulos eroticos sapecas! Sei, claro, que não sentes attracção por symbolos do typo! Mas me dás razão quando te digo que são más idéas como aquella promoção? Então estamos junctos, ja que não me excito com aquillo! Satanaz é nossa testemunha! Né, rapaz? Em campo vi quem pode dar tesão!
160 GLAUCO MATTOSO BIQUINHO [6268] Não sou eu contra aquelle que quer dar seu anus, seu biquinho de Asmodeu, annel de Belzebuth, seu rabo, seu "orificio rugoso infralombar"! Não tenho preconceito! Tenho um ar blasê, desdem exhibo... Talvez meu defeito seja assim, pois eu plebeu jamais fui! Nada posso censurar! Mas, Glauco, quem quizer dar nada tem que estar a disso obter notoriedade! Não posso concordar que quem deu ha de querer allardear seu cu, tambem! Hem, Glauco? Que tu pensas? Sei que bem conhesces das bichonas a vaidade! É tara satanista! Retro vade! Meu cu só no espelhinho olhei! Eu, hem? SEM VASELINA [6274] Glaucão, o conde Dracula fascina tambem quando o real delle se falla! Sim, por predilecção é que elle empala seus varios desaffectos! É roptina! Glaucão, empalação é mesmo fina e linda tradição! Vale exaltal-a! Em vez de ter logar só numa salla fechada, arma na praça a grande gala! A lança que enrabou o prisioneiro no solo desse espaço bem fincada está, para que o povo dê risada das suas contorções o tempo inteiro! Até que o gajo morra, vae, primeiro, sangrar devagarinho, como cada veado que se enrabe, caso nada viscoso lubrifique seu trazeiro!
PEROLA DESVIADA 161 PAUSA PARA A CAUSA [6278] Mulheres estupradas na prisão o foram com maior frequencia, vejo, com homens confrontadas. O desejo de posse e o de tortura primos são. Concordas tu commigo, não, Glaucão? Reparo, todavia, que sem pejo alguns torturadores esse ensejo desfructam sobre machos mais à mão. Fiquei sabendo, Glauco, por um tira agora apposentado, que deleite immenso se tem, caso não acceite chupar, nem dar a bunda alguem prefira. O preso se debatte, se revira, mas urra, penetrado sem azeite! Si topa a fellação, ora, approveite (fallou o tira) a deixa: à "causa" adhira! PASSEIO PUBLICO [6300] Usar mascara, Glauco? Não! Sem essa! É coisa de veado! Use você, Glaucão, que é pederasta! Talvez dê até p'ra melhorar-lhe a cara à bessa! Você, que alem de bambi é cego, peça que façam qualquer uma que se vê nas ruas, multicor, onde se lê "Sou mesmo!" Na calçada ande sem pressa! A mascara as bichonas bem retracta! Um dia, appliquei puta pegadinha: dei uma a alguem que mascara não tinha, escripta assim: "Masoca sou! Me batta!" Talvez nem gay o cego fosse! Chata ficou-lhe a situação! Levou tapinha, tapão, chute, empurrão... Até da minha mão, claro, ou do meu pé! Gaiata data!
162 GLAUCO MATTOSO GENETIANO [6301] Meu pae me ensignou! Elle, que me fez dormir, ja, de cothurno, prompto para a guerra, fez tambem, na minha cara, vergonha que eu tivesse, essa altivez! Mas, em compensação, vejam vocês, ganhei um chulezão que se compara ao cheiro dum gambá! Só quem tem tara podolatra se torna meu freguez! A vida me ensignou a ser michê, na falta dum emprego mais decente. Mas sempre encontro, soffrego, um cliente disposto a pagar caro o meu buquê. Um cego masochista, que não vê faz tempo, tão sozinho ja se sente que minha visitinha mais frequente lhe faço. O cheiro lembra-lhe Genet. DESNUDEZ [6308] Fizeste meia nove? Que tu fazes na cama agora, Glauco? Ousaras tu, segundo o que supponho, do tabu zombar, mas taes luxurias são fugazes! Sei como performavas, com rapazes sacanas, posições nas quaes o cu, seguindo os KAMA SUTRA, solta angu mais molle em plena bocca, affora os gazes! Mil poses acrobaticas pudeste com elles practicar! Agora, não! Estás, Glaucão, ja quasi septentão! Ainda te contorces, inconteste? Contesto-te! Nenhum cabra da peste consegue, septentão, ter o condão da foda contorcida! Nem anão tem fama assim! Desiste, meu! Te veste!
PEROLA DESVIADA 163 PATERNIDADE [6311] Si Victor Hugo cria a propria fada em forma de Esmeralda, a vê Satan e emprega, a conquistal-a, seu affan. Gonçalves Dias disso faz piada. Sim, sempre essa cigana a alguem aggrada, por isso Satanaz virou seu fan. Mas eis que elle encontrou, certa manhan, alli na cathedral, outra alma amada... Satan perdidamente enamorado ficou pelo Quasimodo! O corcunda virtudes tinha tantas, que redunda cital-as: de pensar nisso me enfado! O facto foi que, mesmo sem veado ser este, lhe comeu Satan a bunda! Parido um corcundinha, a lenda abunda em dados, mas não colla nenhum dado... PUNHETA LISBOETA [6313] Poetas portuguezes queixa à bessa faziam do Demonio, que teria Lisboa mergulhado na follia das bichas, situação que lhe interessa. O proprio Madragoa se confessa furioso com os gays, pois sodomia preferem à boceta. Que seria da femea sem seu macho, ora? Sem essa! Occorre que Satan sempre incentiva punhetas, ja que muita phantasia bem sadomasochista propicia a mente do onanista, a mais lasciva. E quanto ao cu, ninguem jamais se exquiva de nelle salivar, caso da via anal seja refem. A bruxaria tributa ao "beijo negro" tal saliva.
164 GLAUCO MATTOSO PAPPO POLIDO [6317] Estão sentados frente a frente, mas é timida a conversa. Appoio ao pé buscando um delles, pisa à toa, até pisar no longo pé do outro rapaz. Então este retira seu assaz comprido pé, mostrando que não é podolatra. Mas é. Por isso ré mal chega a dar. Hesita, à frente, attraz. Ahi fica a criterio do primeiro de novo procurar onde é que pisa. Conversa vae, conversa vem, à guisa de emballo, outro pisão se faz certeiro. Se rende, emfim, aquelle que parceiro quer ser mas é discreto. Suaviza seu peso, mas tambem pisa. Precisa ainda de conversa, cavalheiro? TROCA-TROCA DE MASOCA [6364] Seu Glauco, sou menino ja grandinho! Não posso ser chamado de creança! Mas, como o desaffio o senhor lança, confesso, sim, ter sido um coitadinho! A gente, nessa edade, em descaminho se mette e em fodelanças faz lambança! Topando o troca-troca, não se cansa de estar por baixo, às ordens dum vizinho! Me lembro dum vizinho que o senhor iria adorar! Era tão magrella, mas era tão mandão! Qualquer um fella alguem que se propõe dominador! Mas veja la! Não tente nem suppor que sou masoca agora! Da janella ao ver uma menina, na goela eu sonho o pau lhe pôr! Sou fodedor!
PEROLA DESVIADA 165 RIGIDEZ CADAVERICA [6372] Necrophilo, um veado conseguira emprego bom no Medico Legal. Serviço burocratico, mas, mal as costas vira alguem, a bicha pira! Depressa, dos cadaveres retira o penis maiorzão, descommunal, que encontra! Tem buccal, até rectal proveito! Só chupando ja delira! Nem sempre leva aquillo para casa. Às vezes, uma rolla nem amputa, appenas saboreia. Da conducta ninguem desconfiou e nada vaza. Flagrado, certa feita, a cara em braza ficou-lhe. Quem flagrou foi uma puta, tambem, vejam, necrophila, a biruta! Segredo com segredo, a dois, se casa. QUEDA NOS INDICES [6379] Não quero um macho ser noventa e nove e meio! Sou é cem por cento macho! Mulher eu faço mesmo de capacho! Que venha a que quizer que eu lhe comprove! E ja que no molhado sou quem chove, direi que sou um macho e meio! Eu acho que bichas levar devem esculacho, precisam é de alguem que as surre e sove! Eu ouço o Wilson Pickett, tá pensando o que, Glaucão? O soul é som de gente ligada na quebrada! Antigamente o povo obedescia ao meu commando! Mas hoje quem mais julga aqui no bando são ellas, as mulheres! Ninguem tente barral-as! Ellas mandam! Quem se sente menor sou eu: brochei, de vez em quando...
166 GLAUCO MATTOSO JOGO PUERIL [6387] Sem ter o que fazer que mais aggrade na tarde de domingo, vão brincar, no quarto de dormir da faculdade, aquelles estudantes, de pisar. Pisar, sim! Vendam olhos. No logar que fora do tapete, um à vontade ficou. É feminino o calcanhar que está sobre seu queixo, ou não? Será de... De macho, não! Fingindo que rejeita beijar um pé de macho, o meninão acceita quando sente que o dedão na bocca tem a forma mais perfeita. Pensando de menina ser, acceita lamber, até! Retira a venda. Então percebe ser do gajo mais bundão e faz que se offendeu com a desfeita. PATINHA BELLA [6398] Ah, cego, ja fiz tanta cirurgia que nem sei mais qual é, mesmo, meu sexo! Me encaro, nu, no espelho: si perplexo eu fico, ou si perplexa, alguem diria? Bigode e barba tenho, mas, macia e fina, minha voz faz desconnexo conjuncto com o resto! Que complexo corpinho que eu ganhei, cego! Não ria! Chochota tenho. Pincto tenho. Seio tambem, mas sou pelludo! Cincturinha pensei de tanajura, até, que tinha! Nem acho o que metter aqui no meio! Por ultimo, ceguinho, reservei o pezão. Si for calçar uma botinha, será quarenta e septe! Ja adivinha você si de podolatra ando cheio!
PEROLA DESVIADA 167 QUESTÃO DE GENERO [6400] Nem sei si sou androgyno ou gynandro, Glaucão! Você daria algum palpite? Quem olha a minha cara se permitte chamar-me, quer de Sandra, quer de Sandro! Pensei ja: si me vissem de escaphandro, sereio me diriam, no limite dum Hercules que, gemeo da Aphrodite, tem cara de vedette e de malandro! Mas veja bem: só transo com mulher! Às vezes, uma lesbica assedia a gente, farejando putaria, mas nunca satisfaço o que ella quer! Você tambem, Glaucão! Si me vier com essa de indagar como seria meu pé, pode exquescer! Talvez um dia eu diga que é maior que o dum choffer! FESTIVO TRAVESTISMO [6402] Que gloria, Glauco! Orgulho-me de estar amando um bolsominion! Um só, não! Muitissimos! Agora meu tesão é bolsosexual! Sou superstar! Sou homem, sou mulher, conforme o par formado com um fan do capitão! Ai, Glauco! Lambo botas, lambo o chão, dou, como, occupo -- Oh, céus! -- qualquer logar! As travas bolsophobicas não querem siquer ser das "bolsonicas", que só cobiçam o seu minion mas teem dó de rabos arrombar! Sonhar preferem! Eu não, Glaucão! Si os minions me quizerem, eu chupo um peru crente, eu lambo o pó dum mythico cothurno, no gogó aguento até pisão! Que elles me esperem!
168 GLAUCO MATTOSO VISIBILIDADE LESBICA [6404] Qual visibilidade poderá a lesbica ter, Glauco? Você não dirá que é simplesmente sapatão, aquelle estereotypo, dirá? Sim, sadica sou, Glauco, fama má ganhei como carrasca de machão! Mas gosto duma "lady", dessas tão gentis e femininas, digo ja! Até cheguei a achar que a maioria das lesbicas fugindo do padrão "choffer de caminhão" na rede estão! Teem menos de João que de Maria! Mas posso perceber! O que seria dos machos si soubessem que paixão teem ellas, não por elles, mas questão mais fazem doutra chana, sem phobia? FILÉ MINION [6428] Eu era mulherissima, meu caro amigo Glauco! Um homem me tornei! Não faço distincção de quem é gay ou hetero, deixando ou não bem claro! Sou como o sosia desse Bozonaro, sim, elle, o tal Carlucho, que não sei si cara tem de macho, ou si direi que disso só se saiba pelo faro! O facto é que namoro, agora, um typo mais classico de minion: bem durão, mas, quando nelle piso, pelo chão rasteja... Ah, como disso participo! Na scena, não me monto nem me equipo, appenas me produzo: sou mandão e sadico! Os taes minions todos são masocas, Glauco! Os cus delles eu ripo!
PEROLA DESVIADA 169 MASTURBATORIOS SUPPOSITORIOS [6447] Glaucão, eu, quando batto uma punheta, da practica cenoura faço um uso prosaico: no meu recto eu introduzo aquella raiz! Calma, não é peta! Perigo não ha! Basta que se metta a dicta com cuidado! Um parafuso não causa tal effeito, mas, confuso, cheguei a usal-o! Usei até proveta! Provetas são quebraveis! Quem tiver cu muito appertadinho, não é bom usar! O parafuso tem o dom de ser menor, maior, conforme der! Emquanto fui casado, uma mulher legal eu tive! Entrava fundo com um dildo, que sahia tão marron que, em breve, ella trocou por um clyster! PAPPO DE PESCADOR [6458] Não sou que nem você, Glauco Mattoso! Você gosta de pés, mas tá recluso! Não pode sahir! Fica ahi, confuso, no verso sublimando todo o gozo! Eu, não! Eu vou à lucta! Acho gostoso correr riscos! Nenhum typo recuso! À noite, dirigindo vou, reduzo, circulo o Trianon, busco um cheiroso! Aquelle que tiver mais encardido o tennis, eu convido, para casa o levo! Quero que elle se compraza pisando-me, calçado ou ja despido! No seu caso, meu chapa, até duvido que tenha, alguma vez, puxado braza qualquer para a sardinha! Não lhe attraza o lado só na lyra achar libido?
170 GLAUCO MATTOSO PINK SUEDE SHOES [6465] Você pode fazer o que quizer commigo! Provocar-me! Eu nem reajo! De corno me xingar! Eu nem me ultrajo! Tractar-me com mais turra que à mulher! A mim se dirigir como ao choffer, ao boy, ao faxineiro, qualquer gajo mendigo, pobretão, que vista andrajo, que engula toda offensa que vier! Você pode fallar que de mim goza, até pode empurrar-me e, ja no chão me vendo, me prensar com um pisão na cara, com sorriso de quem posa! Na rua diffamar-me, todo prosa, chamando-me de verme e de seu cão! Só não pode pisar no meu lindão sapato de camurça cor de rosa! CARO MASOCHISMO [6466] Eu acho que esse "cat" é, sim, michê! Faz tudo que quizer, mas, affinal, está sendo bem pago para tal! Quaes dicas a canção mais quer que dê? O cara abusar pode, você vê: até pode roubar carro, total preju causar à casa do bossal que se deixa pisar, como você! Sim, Glauco, o gajo joga alguem no chão, lhe pisa bem na cara, abusa à bessa, mas note que elle appenas está nessa jogada "for the money", amigão! Assim é mais legal, hem? Não é não? Achei mais humilhante que lhe peça alguem p'ra ser pisado! O que interessa é para tal ser pago um dinheirão!
PEROLA DESVIADA 171 DESABBONADORES RUMORES [6467] Glaucão, perdidamente appaixonada fiquei eu por aquelle gajo, o Plinio! Glaucão, elle é tão macho! O raciocinio está correcto, ou faço idéa errada? Tem cara de durão e não tem nada de bicha! Ai, é tão masculo! Define-o você como? Não diga! Bolsominio? Ah, deve maltractar a mulherada! Assim que eu gosto, Glauco! Sou masoca, bem sabe você! Macho desse porte é tudo que eu queria? Acha que sorte terei si lhe disser que sou fanzoca? Não? Ora, mas por que? Serei, em troca, escrava delle! Então não é tão forte nem firme? É só fachada? Por esporte a rosca queima? Ah, deve ser fofoca! INJUSTO CUSTO [6482] Glaucão, veja que hilario! Fallar ouço dum padre masochista morto por um sadico! No quarto, o chupador de rolla fez o proprio calabouço! Bebia mijo! Tanto no pescoço pisado foi, que seu torturador mactou-o suffocado! Ver si for, até que o dicto mestre era bom moço! O padre desviava toda a grana obtida na parochia para dar àquelles cujo firme calcanhar calcava seu pescoço! Que sacana! Então? Não foi bem feito? Mas se damna, coitado, o mactador desse vulgar masoca, Glaucão! Era de esperar que fosse innocentado, não em canna!
172 GLAUCO MATTOSO CLIENTE INCONSEQUENTE [6501] Transmitta, Glauco, minha despedida a todos no Brazil. Fui condemnado à morte, pois aqui nem advogado nos livra. Vou pagar com minha vida... Aqui será maluco quem decida mactar alguem somente por chamado ter sido, pelo gajo, de veado. Por isso me fodi, Glauco... Duvida? Estou no corredor da morte e espero que, em breve, me executem duma vez! Cuidado recommendo que vocês, ahi no Brazil, tenham! Sou sincero! Não, para ca não venham! É severo o codigo daqui! Qualquer burguez que macte qualquer bicha, si freguez foi della, de excappar tem chance zero! FILHO DEGENERADO [6623] Meu pae era podolatra, Glaucão! Casou, sim, e me teve...De bom filho exemplo dei... Porem, me maravilho ouvindo o papae sobre seu tesão! Tesão por pés de machos! Você não se expanta que isso occorra? Aqui me pilho pensando: Não, a tanto não me humilho! Lamber o pé dum homem? Não, irmão! Papae, que demorou para contar, contou que só lambia a sola chata do filho da vizinha, mas constata que em outros desejou o calcanhar e doutros o dedão quiz chupitar! Ficou ja salivando, Glauco? Batta punheta! Pense em minha larga patta! De compta até farei que sou seu par!
PEROLA DESVIADA 173 GLORY HOLE [6632] Estás lembrado, Glauco? Certamente que lembras! Toda sauna gay a tinha, aquella gostosissima sallinha na qual tanto tesão a gente sente! O cara adjoelhava bem na frente daquella circular aberturinha aonde ia parar, em recta linha, a rolla dum extranho sorridente! Não vias delle rosto, corpo, nada! Estavas, mesmo tendo uma visão qualquer, residual, ja cego! Não sabias quem chupavas, camarada! Si feio fosse, bocca desdentada, nariz de bruxa velha, ahi, Glaucão, chupavas loucamente! Que tesão! Masocas todos somos, um foi cada! SINISTER PURPOSE [6634] Estou desconfiado, Glauco, das segundas intenções do meu collega de emprego, que, de subito, me pega por traz! E extranhos gestos elle faz! Não quero só fallar de intenções más! Seus actos ja demonstram que se entrega! A firma, minha fosse, não emprega um gajo tão suspeito, um mau rapaz! Patrão não sou eu delle! Caso fosse, ah, ia ver commigo! Um bello dia, revido! Vae ver como se assedia alguem que está fazendo só cu doce! Glaucão, que cê faria? Ah, dava coice no gajo? Revidasse elle, faria o que, você? Propunha alguma orgia podolatra? Ah, a decencia, assim, ja foi-se!
174 GLAUCO MATTOSO SWEET HITCH-HIKER [6638] Ai, Glauco! Não, você nem accredita no que eu vou lhe contar! Caminhoneiro nenhum me recusou carona! Beiro estradas ja faz tempo! Sou bonita! Sou sexy! Ninguem diz que parasita sou desses motoristas! Dou, primeiro, signal com meu sorriso, que é brejeiro e muito seductor! Isso os excita! Ahi, ja recebida de bom grado, gostosa chupetinha nelles faço! Glaucão, cada cacete ensebadaço! Você ja ficaria hallucinado! Então, quando percebem que, do lado de ca, tenho o maior pau do pedaço, os gajos enlouquescem! Um abbraço! Cheguei, fodi, parti! Muito obrigado! LOOKING FOR A REASON [6639] Glaucão, por que razão sou desejada assim por motoristas? Hem, Glaucão? Será que quem dirige caminhão prefere travestis? Gente engraçada! Não seja, não, por isso, nem por nada! De quem me dá carona a rolla não recuso nunca! Chupo com tesão, ainda que ensebada, que exporrada! Mas acho mesmo, Glauco, que elles curtem a minha rolla, sempre bem mais grossa, à delles comparada! Caso possa medir, alguem diria até que encurtem! Você duvida, Glauco, que elles surtem, malucos de tesão? Pois surtam! Nossa! Preferem ser comidos! Mas, sem troça, não digo que a chupar-me elles se furtem!
PEROLA DESVIADA 175 DOWN ON THE CORNER [6642] Mandei tomar no cu, Glaucão! Magina! À puta que pariu mandei o cara! Onde é que ja se viu tamanha tara? Mandei ver si eu estou alli na exquina! O cara achou que, sendo fescennina a lyra que componho, ligo para paqueras como as delle, que me azara a vida toda! A gente não combina! Não fico, nas exquinas, enturmado com essa gallerinha sem vergonha, fumando um cigarrinho de maconha, assaltos planejando! Tá ligado? Você talvez ficasse, sim, do lado daquelle marginal! Cê que se exponha! Terá sorte se rolla alguma bronha depois de ter chupado ou ser pisado! UP AROUND THE BEND [6648] Ninguem nunca previu aonde vae parar, si somos nomades na vida! Não acha, Glauco? Sempre que se lida com musica, a tocar a gente sae! Jamais ouvi conselhos do papae! Bem cedo viajei, e quem decida tocar pelo paiz tem bem comprida estrada pela frente! Isso é que attrae! Mas quando o vento, Glauco, curva faz naquelle extremo poncto do caminho, confesso que me vejo tão sozinho que sinto falta, ja, doutro rapaz! Carreira solo solidão nos traz, Glaucão! Quem vae comnosco beber vinho depois duma jornada? Até definho, sabendo que as estradas são tão más!
176 GLAUCO MATTOSO O HOMEM QUE RI [6656] Hem, Glauco? Si de bicha alguem te xinga, depois outro te xinga de maricas, depois te enfia a turma algumas piccas, que fazes? És do typo que se vinga? Appellas para a fé? Para a mandinga? Num delles te transformas? Cruel ficas? Performas as taes scenas que, tão ricas de excarneo, são eguaes às do Coringa? Sim, elle ja passou por muitas frias e exemplo dei daquillo que comtigo fizeram... Mas responde: que castigo bollaste? Quaes torturas, Glauco, crias? Com todas essas sadicas manias concordas? No teu verso dás abrigo àquelles curradores? Ja me ligo! Te vingas, sim! Entendo que tu rias! NEGROS NO COMMANDO [6664] Causou bom bafafá a convocação de negros para cargos de chefia que eu fiz! Alguns acharam que seria racismo, Glauco! Porra, não é, não! E sabe por que? Em vez de ser patrão, serei escravo delles! Eu queria appenas dar um toque de magia ao sadomasochismo! Viu, Glaucão? Embora todo o auê que provoquei, os manos entenderam meu recado ciphrado pelas redes! Assustado fiquei com a procura! Ah, ja nem sei! Problema não ha quando um branco gay contracta negros para terem sado proveito, né? Será, por outro lado, um negro, si masoca, contra a lei?
PEROLA DESVIADA 177 OUTUBRO ROSA [6665] Estou scismado, Glauco! De repente senti-me muito fragil e intranquillo, tocando ou appalpando o meu mammillo, com medo do que falla toda a gente! Pensei: cancer de mamma a gente sente? Em homem é possivel prevenil-o? Será que todo macho desse grillo padesce? E você, vate? É indifferente? Achei que só mulheres desse mal pudessem soffrer, Glauco, mas agora percebo que doença de senhora a coisa não é! Panico geral! Amigos meus, que drama sexual nem vivem, travestis nem sendo, bora olharem-se no espelho! Um até chora, temendo um descomforto vaginal! PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682] Morrendo de desejo, um senhorzinho daquelles que dizemos "assanhado" chegou-se para o lado dum "sarado" rapaz que elle encontrou pelo caminho. O joven, que bebera muito vinho no coppo dum avô ja sepultado, até deu attenção, sem desaggrado, ao velho, que leval-o quiz ao ninho. Assim que percebeu as intenções eroticas do velho, o rapagão lhe disse que sentia, tesão não, mas pena, até por intimas razões. Ahi, pediu-lhe o velho: "Si tu pões teu pé nas minhas mãos, ellas serão suaves como o tennis teu no chão!" E então teve o rapaz novas licções.
178 GLAUCO MATTOSO GLAMOUR [6731] Glaucão, não ha glamour na sodomia! Quem leva ferro sente muita dor! Quem come cu se suja! Quando for tirar, nota que é exgotto onde se enfia! Glamour não ha nenhum, Glaucão! Um dia, dum gajo o cu comi! Dominador pensei ser, disciplina quiz suppor que impunha, que, bem sadico, o fodia! Pheijão tinha comido o gajo! Quando tirei o pau de dentro, coroado estava pelas cascas do virado! De quebra, veiu couve! Estou fallando! Lhe juro, cara! Assim, eu no commando não quero mais ficar! Me desaggrado com tanta porcaria! Só sou sado, agora, com você, cego nefando! GIMME THREE STEPS [6756] Trez passos! Era tudo que eu, naquella noitada, precisava, Glauco, para cahir fora! A menina amei dum cara armado, que à procura estava della! O gajo me enquadrou e disse "Fellow, ahi, para morrer tu te prepara! Na minha mulher ias metter vara? Então eu tenho chifre? Ella é cadella?" Morri de medo! Disse que era enganno, mas elle explicitou seu ultimato: Morrer si eu não quizesse, ser de facto um corno quiz o gajo! Serio, mano! Deixei que elle chupasse meu pau, panno p'ra manga dei... Lambeu o meu sapato! Depois que gozei, elle foi cordato: livrou-me! De ser macho ja me uffano!
PEROLA DESVIADA 179 GAZOSA COR DE ROSA [6758] Quem toma guaraná, Glauco, si for rosado o popular refrigerante, na hora vira bicha! Quem garante é o proprio presidente! E quiz se expor! Tomou, e foi em publico! O sabor talvez seja gostoso: tem bastante assucar, Glauco! O poncto que, importante, pegou foi da bebida aquella cor! Então qual deveria ser, de macho, a cor da beberagem? Hem, Glaucão? Azul, como o licor? Vermelho, não! Nos lembra communismo! Outra não acho! Você suggere verde? Espere! Excracho não fica aos militares? Só limão à mente vem... Sim, vinho! Mas, então, um macho o cu dar pode: está borracho! MEMPHIS [6766] Alô? Telephonista, por favor! Estou de informação necessitado! Fugiu-me um de menor e estou, coitado de mim, sem meu michê dominador! Na lista telephonica si for olhar, procure expertos: um soldado, um mano office-boy, um com solado bem gasto na botina, a se dispor! Achando um que a pisar se dispuzer, favor me dar seu numero do phone, da bota, até do tennis que detone de tanto caminhar a fim de affair! Desculpe, senhorita, mas mulher não serve! Tem que ser quem posicione um cego no logar e de Cambronne prefira a palavrinha no mester!
180 GLAUCO MATTOSO PAIZ DE MARICAS [6794] Não, vate, este paiz não tem mais jeito! Um bando de maricas faz barulho por nada! Só quem sente muito orgulho da terra ainda mostra que tem peito! Em tudo põem as bichas um defeito! Eu, que não sou veado, não vasculho uns pellos pelos ovos, não patrulho os actos dum governo que eu respeito! Pensando bem, poeta, acho que exsiste, sim, pello que, nos ovos, é do macho a marca registrada, mas eu acho que disso uma bichona não desiste! Hem, Glauco? Bicha alguma ha que despiste seu gosto por machões? Cara de tacho tem essa bicharada! Que esculacho! Veado que não trepa fica triste! REMINISCENCIA DA PUBESCENCIA [6818] Sim, vate, estou lembrado. Foi assim: Meu primo era mais forte. Eu, que dormia às vezes la na casa da tithia, maricas e podolatra a ser vim. Aquillo para mim não foi ruim, mas eu que ruim fosse bem fingia. Seu pé na minha cara poz um dia, durante nossa lucta, ja no fim. Rendido, fui ao chão e, então, senti aquella sola chata sobre minha boquinha de menino mariquinha. O resto ja se sabe. Você ri? Pois elle, tambem rindo, fez alli de mim seu escravinho. Não, não tinha escrupulo nenhum. Fiz, sim, carinha de nojo, mas até bebi xixi...
PEROLA DESVIADA 181 INFERIOR COM LOUVOR [6824] Si um bello gajo chupa alguem que é feio exsiste masochismo? Ouço você dizer que sim... e quando quem não vê é o bello, maior victima a ser veiu. Porem mais humilhante, Glauco, creio ser quando um feio cego, caso dê chupada num bellissimo michê, escuta, a gargalhar, o gozo alheio. Na duvida não fica você, vate? Quem é mais humilhado? O cego bello chupando um sado feio, ou eu, que fello um bello, sendo o feio? Ou vale empatte? Si feio sou e chupo quem me tracte por traste, embora veja, me revelo masoca, não é? Pense! No chinello quem fica mais, ou não, é disparate! DESAGGRAVO DE ESCRAVO [6832] "Da minha dor sorris, mas eu te quero ainda! Até farei o que quizeres, pois tens a malvadeza das mulheres, embora sendo o macho que venero!" Assim fallei à quelle que, sincero, me disse: {Enamorado si estiveres, reciproca qualquer tu não esperes de mim, ja que machão me considero!} Porem não foi por isso que fiquei tão puto! Foi por causa das besteiras que disse do meu pappo: {Tu não queiras serestas plagiar, pois dellas sei!} Serestas? Quaes serestas! Eu sou gay masoca, Glauco! O gajo com asneiras vem para censurar minhas maneiras? No cu que va tomar! Ah, me cansei!
182 GLAUCO MATTOSO LUIZ LUIZ [6833] Luiz, Luiz, eu tenho que ir-me ja! Achei um garotinho jamaicano de chatos pés e torto pincto! O mano me espera, la na terra delle está! Luiz, Luiz, você não irá la seguir-me, não é mesmo? Ou eu me enganno? Rockeiros aos montões, a todo panno, me seguem, me imitar querem! Não dá! Ja tive esse cubano, o Babalu, que todos cobiçaram e virou um Papa Oom Mow Mow! Em todo show faz delle qualquer gruppo o seu guru! Agora não divido mais! Tabu será fallarem desse! Luiz, vou embora, agora! Até mais ver! Estou de sacco cheio! Va tomar no cu! BANDA DA BUNDA [6855] Sahi, sim, pelladão! Paguei a apposta! Na nadega direita, sim, pinctei que, embora direitista, sim, sou gay! Mas era mentirinha, viu? Que bosta! Ah, fico puto quando alguem me encosta o dedo, ou ja me enfia! Sim, eu sei que macho sou, que nunca, jamais dei, mas muita fofoquinha a turma posta! Ja tive que pagar apposta para um bando de esquerdistas, Glauco! Um sacco! Puzeram o dedão no meu buraco! Na nadega alludi, dos gays, à tara! Esquerda, sim, a nadega! Appostara que macho sou! Perdi, porem destacco que pego na suruba fui, a Baccho ligada, por intriga do outro cara!
PEROLA DESVIADA 183 BOZO BRIOSO [6856] Peor, Glaucão, foi tudo o que fizera aquelle deputado! O gajo tinha directa ligação com a turminha dos ultradireitistas, durão era! Fallava mal das bichas, da paquera nocturna, das balladas! Mas gallinha agora se revela, Glauco! Vinha de casos com michês, uma gallera! Flagraram, em suruba, que elle deu a varios pelladões, numa boate! Agora não ha jeito que desapte o nó no qual, coitado, se metteu! Não quero nem saber! Só sei é que eu não caio na armadilha, caro vate! Si saio pelladão, é porque batte tesão, mas tenho uns brios de europeu! DEZEMBRO VERMELHO [6859] De tanto se fallar em pandemia, accabam se exquescendo da AIDS! É claro que duas pestes dessas não comparo, mas muita gente, Glauco, ja morria! Me lembro do Cazuza! Que agonia foi vel-o definhar! Agora raro é vermos eskeletico um tão caro artista, que rockeiro foi um dia! Mas, com Renato Russo, outro rockeiro famoso, pela peste victimado, fiquei mais commovido, pois seu lado de martyr entendi, que quasi beiro! Tambem sou bi, Glaucão, e mais cabreiro estou na pandemia! Nem veado, nem puta foder posso, aqui trancado! Você, na bronha, ao menos se sacia!
184 GLAUCO MATTOSO REPALINDROMIZANDO [6871] Mais este bom palindromo se somma a alguns que de mim deram testemunho, agora pelo Fabio Aristimunho: "Amo cu! Alguem ama meu glaucoma?" Não digo que desejo que me coma alguem por via anal, nem com o punho penetre-me, mas nunca me accabrunho com certas allusões neste idioma. {Gustavo, um joven sadico, varia e allude a mim: "Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado", provando que sabia: Alem de definir-me e expor-me a nu... O bom palindromista a poesia achou, por traz me pondo seu peru!} Assim sonnetizei eu, certo dia... De novo o cu quebrar vem um tabu! QUEM NÃO FOR PRECOCE QUE SE COCE! [6887] Precoce tractamento, Glauco! Basta tomarmos chloroquina, aquella pura, barata solução, e menos dura seria a damnação que nos devasta! Achando sempre estou que pederasta é quem fica a culpar a dictadura por tudo que (elles dizem) não tem cura! Bastava a sociedade ser mais casta! Apposto, Glauco, que essa grippezinha virou um pandemonio porque tem neguinho por demais trepando, sem moral e sem costumes! Sempre tinha! É muita fodelança grossa! Ah, minha Mãe Sancta! Se salvar não vae ninguem, a menos que em mim creia, Glauco! Quem advisa amigo é! Macho não definha!
PEROLA DESVIADA 185 TONTOS PELAS TANTAS [6917] Eu sei que você sabe que não sei de nada, mas não fico, jamais, mudo e sempre fallarei que sei de tudo accerca do que sempre, ja, neguei! Assim direi, Glaucão, si pela lei eu tenha que dizer que me desnudo em publico e que todos o meu cu do advesso viram! Dizem que sou gay! Mentira! Não dei nunca! Não, jamais! Só fico pelladão para causar! Appenas, vez por outra, dou azar e pegam-me com esses marginaes! Mas elles tambem, Glauco, não teem paes que fiquem vigiando o calcanhar de cada marmanjão que queira andar pellado pela rua, às horas taes! RECUANDO NO COMMANDO [6920] Michê? Sim, fui michê, Glauco! Sim, é verdade: dos clientes que attendi, alguns beber quizeram meu xixi, mas todos, sim, lamberam o meu pé! Quarenta e trez eu calço... Chega até a ser quarenta e quattro, pois aqui e alli varia a bota que insisti a fim de que lambesse, essa ralé! Sim, tenho o pé bem chato! Um gringo disse que é "fallen arch" o typico defeito, mas isso nem importa, pois suspeito que instigue nos freguezes a sandice! Você, sim, lamberia, caso o visse, meu pé! Lambia as unhas, todo o peito, a sola grossa... Ahi, Glaucão, acceito que lamba meu chinello na velhice!
186 GLAUCO MATTOSO JAPONEZ CORTEZ [6931] Barraca de pastel costuma, sei bem disso, ser dum joven japonez que herdou tudo dos paes, por sua vez famosos pastelleiros. Um amei. Contou-me o nipponjinho que freguez maduro não faltava, sendo gay o dono da barraca. Perguntei então si esta cantada alguem lhe fez: "Hem, posso lhe lamber, suado, o pé?" {Sim, claro!}, respondeu o nipponjinho. {Usei, no trampo, um tennis bem velhinho, que dava um chulezão da porra, até!} Tambem eu quiz lamber esse chulé, mas elle ja lavava com carinho a sua sola, agora... Eis que escrevinho taes versos no que disse pondo fé. EM CARCERE, E PRIVADO [6955] Saber quer, Glauco? Obrigo uma bichinha, que escrava se declara, a me ser bem submissa de verdade: que estar em um carcere privado tem! Tadinha? Tadinha nada! Nella applico minha total auctoridade: limpa, sem perdão, com sua lingua de refem, qualquer que seja a minha sujeirinha! As solas que, no piso, junctam pó; a rolla, accumulando o meu sebinho; meu mijo, que melhor é do que vinho; cocô, que comerá todo, sem dó! Appanha! No cu leva, Glauco, só que venda tem nos olhos! Mais damninho seria meu tesão si num ceguinho, vendado ao natural, faço o forró!
PEROLA DESVIADA 187 OTHER GUY [7027] Mais tragica, ao ceguinho, qual inhaca? Casar-se com esposa que, sapeca, com outro gajo, macho paca, pecca na sua frente e tudo o cego saca! Alem de ser chamado de babaca por elle, sente cheiro da cueca do cara, até da meia! Si defeca, tambem sente fedor da sua caca! Peor ainda! Aggrava aquella zica o cego ser chamado de boboca e, embora aquillo choque quem se choca, chupar do Ricardão a suja picca! Qual cego assim se ferra? Dou a dica: eu mesmo! Nem você, que se colloca na pelle dum fatidico masoca, supporta, Glauco, um desses! Mas se explica! AMANTE CAPTIVANTE [7029] Mais este ingrediente quero pôr no scenario que, infeliz, um cego vive. Casado ja, Glaucão, -- Verdade! -- estive e fez minha mulher de mim um corno. Peor! Si não bastasse esse transtorno, virei do gajo um servo que, inclusive, seus pés massageava! Que declive! Um clima decadente e sem retorno! Sim, antes de trepar com a putana com quem, desadvisado, me casei, o gajo me chamava até de gay, mandava descalçal-o! Que sacana! Não acha, Glauco, um drama aquella insana e extranha relação? Mas me livrei! Agora da massagem sou o rei, mas só si elle me paga alguma grana!
188 GLAUCO MATTOSO GERONTOPHILIA [7087] Entendo quem, Glaucão, jovens procura, um mytho cultivando da beldade, da porra adolescente! Não, quem ha de tal gosto questionar, a esta altura? Mas velhos eu prefiro! Na madura edade, não! Gagás! Com mais edade que o tal Mathusalem! Sim! Que me aggrade, só velhos bem caducos! Tara pura! Não posso fazer nada si prefiro rheumaticos, banguelas, carequinhas, pés todos deformados... São as minhas manias, Glauco! Fico louco! Piro! Por vezes, dá seu ultimo suspiro o velho si transamos, mas tu tinhas que ver as piccas molles que, justinhas, na minha bocca cabem! Eu deliro! NABO NO RABO (II) [7181] Ah, toda propaganda me faz rir, tal como aquella boba, que me quer às claras empurrar um elixir que entesa, que remoça! Só si der! Estou ouvindo agora que vae vir, você nisso accredite si quizer, aquillo que alguns gays vão consumir: um magico xarope, de colher! "Querido, si você não quer um nabo com conico formato de banana ou torto pepininho no seu rabo, se cuide, tome o tonico Fontana! Garanto que este é um optimo laxante! Aquelle que se enfeza não se enganna! Tambem um estylista me garante que tem astral bumbum, do qual se uffana!"
QUARTA PARTE CYCLOS PODORASTICOS PORNOSIANOS
PEROLA DESVIADA 191 CYCLO "DIEGO E O CEGO" Diego, em frente à tela, se accommoda: está quasi deitado no sofá. Seus pés quarenta e dois manteem à roda a lingua e as mãos de quem no chão está: Um cego, cuja bocca leva a foda que o penis do Diego quererá depois... Mas, por emquanto, não se açoda o joven litterato, e as ordens dá. Si gravida está agora a namorada, um cego perdedor, que se degrada, lhe serve de punheta e massagista. Comedia é o que a tevê no horario passa, mas claro que o Diego acha mais graça naquelle que hoje chupa e teve a vista. Rimbaud elle se julga, e me destracta, não litterariamente, mas na vida real, na qual lhe peço que me batta na cara, e o pé lhe peço que me aggrida! Sou seu Verlaine, mas que não revida, e minha bocca suja só lhe accapta as ordens de chupar uma fedida chulapa, que se gaba da bravata! Assume, vagabundo, a identidade de quem consentirei que me degrade só por ser genial e genioso. Na bocca quer mijar-me, e lhe serei mictorio, pois Diego é como um rei, um superior, e eu só Glauco Mattoso.
192 GLAUCO MATTOSO No devido logar elle me poz, em versos onde a lingua immaculada me cospe o linguajar dos gigolôs, sorrindo, emquanto insultos sujos brada. Me abbaixo, mudo, e massageio cada artelho de seus pés. Si seus cocôs mandasse-me comer, e si lhe aggrada, eu obedesceria o que me impoz. O penis de Rimbaud Verlaine fella, e eu levo do Diego, na goela, o mesmo penis que a mulher lhe chupa. Nos versos ou no pappo, é luminoso seu genio, e cego está Glauco Mattoso, sorvendo o que elle verte em catadupa. Boceta que se abriu, ou foi aberta: assim, para Rimbaud, será Verlaine. Não passo disso, em phrase franca e experta daquelle a quem me curvo e chupo o pene. Por isso é que lhe peço: me condemne a ser o que ja sou! Mostre-me a certa e justa posição de seu infrene caralho ao penetrar-me, sempre allerta! Me diga então, Diego, o que commigo fará caso transforme meu castigo de ser seu fellador em privilegio! Me cuspa em plena cara o que um cegueta meresce: ser mijado! E, si boceta tornei-me, seu pau manda que eu inveje-o.
PEROLA DESVIADA 193 Diego em minha bocca mette e affunda até quasi os colhões seu pau divino de joven que bem vê! Chama de immunda a bocca que se presta a seu destino. Em versos, o Rimbaud dá-me uma tunda daquellas! Seu caralho de menino folgado e vagabundo não me inunda de porra, appenas: "Bebe o que te urino!" Supporto o movimento: seus quadris advançam e recuam... Por um triz não chega a suffocar-me um tal engasgo! A rolla do poeta me viola brincando e, de lambugem, sua sola meu rosto exbofeteia e o labio eu rasgo! Chupal-o! Ser boceta do Diego a minha bocca sonha! A namorada do joven menestrel conhesce o emprego que deve ter a bocca bem treinada! Da sola de seus pés até seu rego, a lingua obediente lambe cada centimetro, limpando tudo! Eu chego a ser papel hygienico e privada! Bastante é que me ordene e, numa rhyma ou mero commentario, ponha em cyma dum cego seu pezão de gigolô. Subjeito-me a ser delle um divertido brinquedo, simplesmente por ter tido a chance de achar nelle outro Rimbaud.
194 GLAUCO MATTOSO Você seria mesmo tão capaz, Diego, de dizer na minha cara que nunca mais verei o céu, que faz questão de não ter dó, com voz bem clara? Capaz de introduzir a sua vara na bocca deste cego, pois lhe appraz que eu use minha lingua suja para limpar na rolla o mijo dum rapaz? Será capaz, Diego, emfim, de até cagar para que eu coma, pois não é motivo de remorso si me humilho? Fará mesmo commigo o que verseja? Rirá quando ordenar que eu só lhe seja o "invalido animal" num estribilho? Não sei si a namorada o chupa assim, mas elle quer que eu chupe no suffoco. Depois manda que eu seja seu sellim: na bocca senta, como um pato choco. Um ovo de cocô despeja em mim, e a lingua é uma colher raspando um coco. Diego quer mais gozo em seu festim: meu cu será seu tunnel, docil, oco. Pretende me "fistar", mas antes fode e adora que me doa o mais que pode causar, me enraba a rir, quer que eu me afflija. Me picca com agulhas, me fustiga com tapas e adzorrague, até que eu diga que sinto muita sede... Então, me mija!
PEROLA DESVIADA 195 Diego se approveita da cegueira que minha força tolhe. O pezão usa em mim como quem brinca: uma rasteira bastou para que a bicho me reduza! Começa a me chutar. Torna confusa qualquer noção que eu tenha do que queira: appenas divertir-se, ou sua musa fazer de mim, ou bolla na chuteira? Seu pé me accerta a cara, a bunda, as costas. Me batte com o dorso, a sola: "Gostas?", pergunta, rindo. E chuta, vae chutando. Na bocca sinto, em cheio, o ponctapé! Gargalha a cada chute, e zomba: "Olé!", mostrando que está sempre no commando. "Não sabem o que estão perdendo!", diz Diego, referindo-se aos que não enxergam, e aggradesce a Deus, feliz, por joven ser e ter boa visão. A praia, o céu azul, os juvenis folguedos desfructando, seu tesão augmenta ao ver que o cego sempre quiz ver tudo que elle vê, mas quer em vão. Peor, porem, Diego, é quando o cego bem sabe o que perdeu! Eu, que carrego tal cruz, assim me sinto! E como o invejo! Que resta, então, ao cego? Sob a sola de alguem como você servir de bolla e achar que ser pisado é privilegio.
196 GLAUCO MATTOSO CYCLO "DEUS E O CEGO" Aquelle que desfaz dum cego, e zomba de minhas afflicções por ter perdido um dom que teem os outros, não é pomba da paz, mas enviado e obedescido. Diz elle: "Si Deus quiz, então decido que vou tirar proveito!" Como bomba taes versos repercutem-me no ouvido. "Humilhe-se!" E meu corpo a seus pés tomba. Terei que engolir tudo o que elle diz e ouvir que elle se sente mais feliz, não só por enxergar: por me foder! Terei que dizer "Sim!" si elle diz "Eia!" Serei quem, mudo, o chupa e massageia, pois sei que vem de cyma o seu poder. O joven que me fode a bocca indaga: "Não tens vergonha, cego, nessa edade, chupando o pau de alguem que tua chaga cotuca e faz doer por crueldade?" Calado, escuto e chupo. Duma praga divina sou a victima, e me invade a inveja de quem vê. "Ceguinho, paga boquette aqui!" E farei como lhe aggrade. Si Deus é justo, e o ama mais que a mim, mostrando está que ao mundo appenas vim para servir a um joven que me foda! Vontade superior é que o rapaz de minha bocca abuse: elle me faz chupar bem fundo, e mette a rolla toda!
PEROLA DESVIADA 197 Você, rapaz, bem sabe, ou imagina como é delicioso ter, submisso, alguem lambendo o cu! Mais que a vagina, um anus é sensivel, gosta disso. Supponha então um cego cuja signa é ver-se castigado! Que serviço melhor para essa lingua? Uma faxina nas pregas! Essa idéa é meu feitiço! Você deitado, lendo, perna aberta, e o cego lambe fundo: a descoberta da merda, 'inda grudada, é gosto novo! Eu, cego, saboreio meu destino e, solto si estiver seu intestino, recebo, bocca addentro, um bafo... e um ovo! Será que, ao me teclar novo recado, seu pau não cresce dentro do calção? Si alguem mais velho e cego, revoltado, o endeusa e inveja, não lhe dá tesão? Então tire proveito: de veado me chame! Em minha cara o bofetão e a grossa cusparada que tem dado são tudo que meresço, rapagão! Si Deus é justo, não é bom nem mau! Você, que enxerga e é joven, mette o pau e goza em minha bocca, sem remorso! Normal é, pois, que fique de pau duro emquanto a mim escreve, si, no escuro, eu só me sacrifico e só me exforço!
198 GLAUCO MATTOSO Tentei argumentar sobre um retoque cabivel em seus versos, mas o joven poeta me ordenou que me colloque em meu logar de cego. Os chutes chovem: "Quem manda aqui sou eu! Si quer que eu troque meus termos, azar seu! Não me demovem seus choros, cego! Foda-se! Se toque!" Não poupa golpes duros que me sovem. Me toco e me desculpo. Quem sou eu, cobaya do Senhor, presa do breu, fodido, para um joven contestar? Farei o que quizer! Baixo a cabeça! O joven manda e o cego que obedesça! Debaixo de seus pés é meu logar! Com fama de maluco: assim me pincta o joven aos amigos. Eu, que sinto saudades da visão agora extincta, motivo sou de riso e baixo instincto. Rastejo, dos infernos ja no quincto, perante esses rapazes, aos quaes trinta anninhos são velhice. O labyrintho dum cego é diversão que se requincta! Commentam: "Cego otario!" E dão razão ao joven que se gaba do tesão que sente ao ser meu mestre e meu juiz. Foi Deus quem deu ao joven a chibata, dizendo: "É todo seu! Abuse, batta sem dó, pois ficou cego porque Eu quiz!"
PEROLA DESVIADA 199 Ordena que ella chupe. Ella obedesce e, emquanto lambe, escuta o que lhe conta: "O cego é mesmo hilario! Sua prece dirige a mim, o Deus que nelle monta!" A moça chupa, muda. A rolla cresce na bocca em movimento. Toda a poncta mergulha na garganta. "Si estivesse aqui, dois me chupavam, sua tonta!" Ouvindo, a namorada, que um cegueta mais velho implora ao joven que lhe metta a rolla bocca addentro, não resiste: Engasga em gargalhada. Então a porra exguicha e ella se cala até que excorra por dentro o mel que falta ao cego triste. Motivo sou do riso collectivo que o joven, ao gabar-se, ja provoca entre a rapaziada. Elle, Tardivo, me exhibe como um bicho em negra toca. Exposto ante a gallera, não me exquivo dos chutes e pisões. No escuro, em troca do excarneo, sou palhaço, e meu passivo buraco buccal bronha nelles toca. De Deus Diego herdou pleno direito de impor-me tudo e expor-me: eu me subjeito ao joven e lhe engulo a porra, o excarro. Verseja, insuperavel, o rapaz, rhymando ou não, fazendo o que lhe appraz commigo, que sou delle orgasmo e sarro.
200 GLAUCO MATTOSO "As trevas, em teus olhos, são perennes! Me alegra que meresças taes galés!" Assim me diz o joven, cujo penis penetra-me dos labios attravés. "É justo e a Deus aggrada que tu penes! A mim diverte o cego que tu és, e minhas gargalhadas são infrenes si choras e adjoelhas aos meus pés!" Ter olhos sãos o joven bem meresce. Por isso, a Deus orando, elle aggradesce ao ver-se differente do que sou. Favor me faz si deixa-me chupal-o, pois, ao sentir o gosto do seu phallo, sou grato ao paladar que me restou. O joven conseguiu o que queria: tornar-me seu refem. Aqui se exgotta meu choro, e elle triumpha de alegria, emquanto em minha bocca a rolla bota. Irá manipular minha agonia conforme lhe approuver: ou numa nota em prosa, ou na implacavel poesia que, sadica, a humilhar-me se devota. Sabendo que por Deus fui castigado e que, inferiorizado, acceito o fado, minh'alma elle detona com seu gozo. Coage-me à punheta, mas quem goza é elle: a namorada prestimosa mais util é que a lingua do Mattoso.
PEROLA DESVIADA 201 CYCLO "O JOVEN RICO E O CEGO" Diego é pobretão; Victorio, rico. Mas ambos accreditam no poeta que são -- e o são, de facto. Ja me explico: a rhyma é rica, a metrica correcta. Aos dois me humilho e, cego, lhes dedico sonnettos com que um joven se punheta gozando-me a cegueira como um mico que pago e, a quem enxerga, em nada affecta. Vintões os dois, embora em posições oppostas ante o mundo, teem visões identicas: desprezam-no em tom cru. De seus contemporaneos bem accyma estão: irmãos serão, em metro e rhyma, si ao outro um não mandar tomar no cu. Victorio foi sincero, tendo dicto que alguem precisa ser o perdedor, o cego, o que só chupa e lembra, afflicto, que um dia ja enxergou a luz e a cor. É duro de acceitar, mas nem cogito negar o que ao Victorio tem sabor alegre, de deleite: sem conflicto me humilho e lhe melhoro o bom humor. Si a rolla eu lhe chupasse, a lingua iria dizer, muda e mexendo-se: sorria, emquanto o cego chora e o jogo entrega! O gosto que eu sentisse, por si só, seria o de que vale, mais que dó, no mundo a crueldade, que é mais cega.
202 GLAUCO MATTOSO Deliro com a idéa de que, emquanto me fodo na cegueira, elle, Victorio, deleita-se sabendo disso, e tanto que a scena tem poder masturbatorio. A idéa delle é logica: levanto seu pau porque, no mundo, ao purgatorio do cego elle excappou, nem sendo sancto, e meu destino que eu o purgue e chore-o! Portanto, é natural que elle supponha que estou adjoelhado, e sua bronha accabe em minha bocca, ao que me exponho. Serei, emquanto chupo, consciente dum facto: entre dois homens, eu somente chorei; elle estará, logo, risonho. Entendo e reconhesço o que você, Victorio, em senso espirita, me diz. Você, rico e bonito, tudo vê, podendo desfructar e ser feliz. A mim é superior, pois o que fiz em outra encarnação, desde bebê condemna-me à cegueira e aos mais febris delirios: você justo é no que crê! Me goze, pois, em sua juventude sortuda! Goze tudo que não pude gozar! Na bocca imponha-me o sabor! Acceito humildemente a crueldade dos factos, pois, fazendo o que lhe aggrade, serei, desta missão, bom cumpridor.
PEROLA DESVIADA 203 Fazer-me de putinha é o que elle quer. Forçoso é, pois, na bocca receber seu penis e lhe ouvir, quando elle as der, as ordens de chupar ou de lamber. As coisas que na bocca da mulher não quiz, por piedade, commetter, na minha o joven acha, de colher, a chance de me impor, como um dever. Assim me vê Victorio: um cego exposto à sua diversão, e dar-lhe o gosto da superioridade é-me a missão. Estamos, neste mundo, por castigo ou premio. O que Victorio faz commigo é dar-me o que meresço: uma licção. Victorio nem me admarra: não precisa. Sem vel-o, dansarei sob o chicote que, contra minha pelle, branca e lisa, estalla, até que o sangue, rubro, brote. Em minha bocca a picca antes que bote, prefere divertir-se, e diz que visa peccados meus punir, pois, como motte, invoca o Alem, de penitencia à guisa. Appós levar a surra, me contento em ser, para seus pés, o mais attento e humilde massagista, por emquanto. Seu pau sei que enduresce, quando o açoite me lanha, pois debatto-me na noite dos cegos, e elle vê: goza, portanto.
204 GLAUCO MATTOSO Pensei que fosse tennis o que usasse você, tennis de griffe, ja que é rico, pisante cuja sola, em minha face, tem marca que, na lingua, identifico. Porem na bota é proletaria a classe que calça o seu pé joven: de milico, pesado cothurnão faz com que eu passe momentos de agonia e pague um mico. Si, cego, estou purgando algum peccado, mais duro, no relevo do solado, será, sobre meu rosto, o seu pisão. Mas tenho de acceitar, Victorio, o peso, pois sei quanto lhe aggrada um indefeso ceguinho a lhe servir de piso e chão. Victorio, que prestou vestibular agora, por momentos de anxiedade passou e, até que saiba qual logar pegou na feliz lista, a angustia o invade. Mas logo irá, voltando a se alegrar, notar que é vencedor e que não ha de passar pelo que eu passo, a lamentar a perda da visão, na eternidade. Deleite puro, o delle: ver-me cego, sabendo que este fardo que carrego jamais carregará, pois foi eleito. Seu pau até enduresce quando falla commigo, ja que, emquanto chupa balla, eu chupo o que meresço... E diz: "Bem feito!"
PEROLA DESVIADA 205 Cegueira, diz Victorio, representa a imagem dum boquette. Assim me acceito: a bocca penetrada, numa lenta sessão de fellação, em seu proveito. Appós massagear seus pés quarenta e quattro -- o calcanhar, a sola, o peito, o vão entre os artelhos -- à opulenta cabeça do seu penis me subjeito. De leve, eu a abboccanho, e me concentro, até que elle me exporre bocca addentro, na chance que o Destino me consente. Ao joven dei o gosto da desforra. Meu gosto foi saber que quem me exporra na bocca, mais que um cego, está contente. Assim se encara um cego: o parasita, o inutil, cuja bocca só consome, na apposentadoria a que limita seu ganho, ou numa esmolla, e excappa à fome. A nada productivo se habilita o invalido, e só presta caso tome sciencia de ser util quando excita alguem que o discipline, explore e dome. É justo, pois, que soffra em sua treva e ainda que trabalhe, quando leva na bocca a rolla grossa a ser chupada! Capriche! Engula tudo! Utilidade demonstre! Como um homem se degrade, pois isso é o que, ao Victorio, mais aggrada!
206 GLAUCO MATTOSO Victorio aos povos barbaros allude e accerta em cheio: um cego só meresce comer, sobreviver, caso se mude de ser humano em bicho que obedesce. De servo chupador, eis a attitude mais propria a quem o mundo só escuresce: não vê, mas sua bocca é, como pude provar, um instrumento oral de prece. Chupando, o cego "reza" emquanto serve de orgasmo ao joven macho, cuja verve poetica lhe excorre bocca addentro. Por isso é que aggradesço quando escuto Victorio me chamando, alem de puto, de escravo, e nesse officio me concentro. "Ficou cego? Meresce! Eu ca desfructo!" -- Você desfructa? É justo... É joven, rico... "Pois é: soffra você, cada minuto!" -- Meresço, eu sei... Por isso pago o mico. "Por que ter dó dum cego? Eu piso, eu chuto!" -- E aos seus pezões meus versos eu dedico. "Você pode ser util como um puto..." -- Sim, com um fellador me identifico. "Agora eu brindarei! Chupe, supporte!" -- E eu brindo ao meu azar, à sua sorte! "Então engula a porra! Eu bebo o vinho!" -- Serei seu novo escravo, si quizer. "Eu tenho é preferencia por mulher, mas dá prazer a bocca dum ceguinho..."
PEROLA DESVIADA 207 CYCLO "UM DISCIPULO QUE É MESTRE" Quer luxo, ser servido, o joven. Diz saber que assim meresce de nascença. Eu, cego e perdedor, delle me fiz escravo, do que gosta e do que pensa. Cercado, na mansão, dos mais servis vassallos, o philosopho os dispensa na hora em que meu livro lê, feliz por, entre nós, ver tanta differença. Saudavel elle, invalido eu. Do luxo desfructa; eu no seu penis chupo e puxo, dos bagos, seu exguicho prazenteiro. Seus pés eu massageio. Elle, risonho, propõe um brinde e bebe. Eu só proponho ser delle o bardo, o bobo, o boquetteiro. De lado reclinado, como um rico romano ou grego, o joven se deleita com minha poesia. Eu me dedico, de minha parte, à fellação bem feita. Seus tennis descalcei, pagando o mico fatal que, na cegueira, assume e acceita meu intimo character. E supplico appenas que me allargue a bocca estreita. Me deixe ser seu cego massagista! Nos dedos e nos labios, quem a vista perdeu pode ser util a quem vê! Philosopho e poeta, você intue aquillo que, nas outras vidas, fui: o eterno cego, o opposto de você!
208 GLAUCO MATTOSO É facil, para um joven hedonista, manipular, conforme seu capricho, o verso de quem ja perdeu a vista e a elle se escraviza, feito um bicho. Si o joven diz "Não fuja! Não resista!", o cego lhe rasteja aos pés, seu nicho; si diz elle "Me chupe!", o cego enrista seu phallo com a bocca e engole o exguicho. O cego é, ja, o brinquedo do rapaz que, rico e intelligente, faz, desfaz, tirando ou pondo a rolla quando queira. Risonho, seu sadismo apperfeiçoa. Philosopho, do modo que mais doa, no cego pisará, por brincadeira. Seu luxo material, epicureu, o joven glorifica: diz que sabios são mesmo os ricos como elle, que deu valor aos vinhos caros e a quem sabe-os. Seus dotes de satyrico, ha quem gabe-os como elle proprio os gaba: sim, sou eu. A rolla elle introduz entre os meus labios, depois que duas taças ja bebeu. E ordena: "Cego, quero ter o gozo que entendo merescer!" No trabalhoso boquette me concentro. Ouço-lhe a prosa. Na taça beberica, reclinado. Me fode emquanto falla. Eu me degrado, feliz por lhe ser util. Elle goza.
PEROLA DESVIADA 209 Um brinde bem "romano" está propondo o joven ao ceguinho cincoentão: emquanto o rapaz bebe e bem redondo lhe desce o vinho fino, ao cego não. O cego engole a porra, pois lhe pondo a rolla bocca addentro, com tesão, está, sorrindo, o joven. De hediondo, ha só o astral do cego: a escuridão. Do lado do rapaz, é boa a vida, tal como numa orgia: som, bebida, alguem a lhe chupar, sem vel-a, a rolla. O cego, de seu lado, pensa em como faz falta uma visão. Come do pomo amargo: até a garganta o deixa pol-a. Em vez de "homens de bem", "homens de bens": eis a definição que identifica quem realmente manda. Dois vintens mais valem que dois olhos e uma picca. Um joven bardo, de familia rica, descobre um velho cego entre os refens do azar e, desde então, o cego fica refem de seus pezões e seus desdens. O cego, outro poeta, se escraviza ao joven. Reconhesce ser precisa a lei universal vista por Sade: Quem pode, vê. Quem vê, desfructa e brinda. Quem perde, ao poderoso louva a linda feição, curva-se à superioridade.
210 GLAUCO MATTOSO Sem ser retribuido: eis o serviço que o cego presta ao joven, cujo pé exige ser lambido. Certo disso, se exforça o cego, se reduz, até. Reduz-se a marionette, a quebradiço e fragil mechanismo. Na ralé não ha ser mais humilde, mais submisso, que fella, faz massagem, cafuné. Em noite de calor, o joven sua em biccas. Faz o cego lamber sua molhada sola, a coxa, o escroto, o phallo. Na taça de bom vinho, o joven sorve o bacchico prazer, sem que lhe extorve o orgasmo ver que um cego vae chupal-o. Lamber, não só nos pés, o que poreja do joven: um suor acre, abundante, cheiroso e pegajoso. Nada almeja o cego mais na vida, doradvante. O joven manda, e o cego ja rasteja até seus pés descalços e, perante as solas suarentas, nem que esteja exhausto, cumpre o prestimo humilhante. Dá banho de saliva, prova o gosto da farta sudorese e, ja disposto a liquidos sorver, mais lambe, e mais. "Agora va subindo...", ordena o joven e, à espera das lambidas que lhe escovem o sacco, um vinho prova e um brinde faz.
PEROLA DESVIADA 211 Me chama de "grammatico" o rapaz de quem digo "sorver" avidamente palavras nas quaes elle pouco faz do meu soffrer de cego penitente. Si sorvo o seu sadismo e o tom mordaz com que commenta o amargo mel que sente na lingua um cego bardo, às suas más e chulas intenções serei silente. Me amarga o mel a bocca que sorveu vocabulos, pois, mudo, terei eu que um phallo abboccanhar, como elle manda. Alem de lhe escutar a zombeteira offensa, engolirei, caso elle queira, a porra, offensa identica e quejanda. Não temos um contracto: a escravidão ao outro é natural, pois eu, enfermo, submetto-me a um rapaz que é rico e são, de quem sou "massagista" além do termo. Tambem de "fellador" o nome dão a um cego, si elle chupa: ha de caber-m'o, pois faço com a bocca uma porção de coisas si meu rosto alguem foder-m'o. Declaro-me dum joven, por não ver, emquanto elle bem vê, "servo". O dever dum servo é trabalhar para servil-o. E chupo. E massageio. E seus pés lambo. E, emquanto elle me inspira um dithyrambo, desfructa, degustando um "Tempranillo".
212 GLAUCO MATTOSO Não posso ser bacchante, pois, na minha pathetica cegueira, nem a isso me presto. Mas exige-me um serviço o joven: que eu o louve em cada linha. Me prostro ante um ephebo e, como a vinha é fonte inspiradora de seu viço (ou vicio), ao proprio Baccho este enfermiço cegueta um dithyrambo ora escrevinha. Sahudo seu prazer, si a vida vive do jeito que deseja, pois você jamais terá de estar onde eu estive! Bebamos! Você, vinho; quem não vê, lhe sorve, humilde, o semen e, inclusive, a urina que (Evohé!) você me dê! Mulheres se recusam, admehude, a abboccanhar e, quando alguma acceita, não faz uma tarefa tão bem feita, pois acha engolir porra um onus rude. Eu, desde que estou cego, nunca pude dizer que recusava: a bocca, affeita ao penis do rapaz que se deleita, engole tudo, em docil attitude. Ao joven sei que devo me humilhar durante a fellação: 'inda me obrigo a dar-lhe um prazer-bonus ao olhar. A scena elle contempla: mal consigo sorver sem engasgar, e meu esgar soffrido mostra o quanto amo o castigo.
PEROLA DESVIADA 213 Durante curta queda na pressão, o joven não vê nada e, quando tenta abrir os olhos, logo se attormenta, pois sabe que abertissimos estão! Se lembra, então, do cego que no chão se joga, sob a sola chulepenta que irá pisar-lhe a bocca: esta, com lenta lambida, uma appós outra, imita o cão. Ja bem recuperado, o joven brinda, com vinho, à sua incolume sahude, emquanto o cego segue cego, ainda. E, emquanto lambe a sola até que grude saliva na saliva, jamais finda seu acto, embora o joven de pé mude. Allega ter soffrido, o joven rico, na infancia, por razões que desconhesço. E deve ter razão, pois, no começo, a gente sempre soffre, eu certifico. Mas, ja que elle não nega, como o Kiko, ter sadico prazer, que o fez travesso, no azar desta "gentalha", eu me offeresço e a ser-lhe o fellador me promptifico. Masoca e cego, eu chupo, emquanto escuto a sua gozação: para a desforra lhe sirvo, ao cumprir, mudo, o que executo. Só quando elle me manda, e algo lhe torra o sacco, é que eu lhe conto por que puto estou... E elle na bocca, a rir, me exporra.
Victorio Verdan, joven menestrel, ao cego só reserva o que for fel. Dedica-lhe sonnettos, nos quaes prova seu gozo da saudavel juventude, cabendo ao cego, alem do azar, a sova: "Vem, ceguinho, que eu sou a tua hyena; lava-me com teu sangue esta chibata veloz, que ora em teu lombo se arrebatta e fere, uma vez não, uma centena!" Demonstra ter prazer a cada nova offensa que me jogue e eu ache rude, pois elle enxerga e eu cego irei à cova. Verseja que eu nasci para, a seu bel prazer, ver como, a alguns, tudo é cruel. Ao joven menestrel, victoria é tudo poder ver e, por isso, é tão sortudo. O cego, para elle, é um perdedor de cujo azar desfructa quem enxerga; quem soffre que se appegue à sua dor: "Um cego assim, figura turva e obscena, que com prazer extranho se maltracta, excita-me, sim: anxia escravocrata do carrasco feroz, que não tem pena." Com estro se revela, como auctor de versos tão sinceros, quem enverga o latego mais justo e accusador. Assim me açoita o bardo e eu me desnudo perante um adzorrague de velludo.
[SUMMARIO] PRIMEIRA PARTE: VARIO POEMARIO ROMEU E EU (I) [1.8]............................................. POEMAS "PORTENHOES" (DE GARCIA LOCA) [1.28]...................... ADOLESCENTE SADISMO [2.39]....................................... FLAGRANTE SUBJECTIVISMO [2.57]................................... EXCLUDENTE PLURALISMO [2.88]..................................... TROVAS NAS TREVAS [2.93]......................................... A ROSA AZUL E A ROSA ROSA [0020]................................. OCULOS COR DE ROSA [0021]........................................ ANAES ANNAES [0027].............................................. LOGAR DE FALLA [0031]............................................ MADRIGAL NUPCIAL [0041].......................................... MADRIGAL QUINCTESSENCIAL [0042].................................. MADRIGAL PLURAL [0048]........................................... MADRIGAL SENSUAL [0077-A]........................................ MADRIGAL EXTRACONJUGAL [0077-B].................................. ODE FIDEDIGNA [0095]............................................. ODE NEGATIVISTA [0109]........................................... ODE CLASSISTA [0110]............................................. MADRIGAL PROVIDENCIAL [0112]..................................... ODE PASTORAL [0199].............................................. MANIFESTO NATURISTA [0218]....................................... "Ó, DÁ-ME, GLAUCO, O CU, ALGEMADO!" [0280]....................... MANIFESTO SEXORALISTA [0303]..................................... PUPPY REPLAY [0312].............................................. MANIFESTO CONSTITUCIONALISTA [0327].............................. TOLO CONSOLO [0372].............................................. RHAPSODIA BILAQUIANA [0390]...................................... HOW MANY FRIENDS? [0438]......................................... DESFRUCTE NÃO SE DISCUTE [0495].................................. CULTO ECUMENICO [0522]........................................... TRABALHADORES DO SEXO [0553]..................................... INFINITILHO DO PECCADILHO [0581]................................. PRIMEIRA RHAPSODIA AUGUSTIANA [0705]............................. BOBBY VEE ADÃO [0781]............................................ RHAPSODIA CLAUDIANA [0952]....................................... RHAPSODIA ANDRADEANA DO MARIO [0955].............................
11 12 13 15 15 16 17 18 19 21 22 22 23 23 24 25 26 28 29 30 31 32 33 35 36 37 39 40 42 43 44 45 46 47 48 49
SEGUNDA PARTE: MOTTES GLOSADOS Eu gosto tanto de pé que chupo até sapatão. [0070]............... 53 Cagava eu num riachinho e entrou-me um peixe no cu! [0091]....... 53 O cego chupando rolla faz melhor que puta ou bicha. [0092]....... 54 Quem nunca comeu mellado, quando come se lambuza. [0102]......... 54 Não entendo de cozinha. Sei que é coisa de veado. [0228]......... 55 Não entendo de costura. Isso é coisa de veado. [0229]............ 55 Não entendo de theatro. Isso é vicio de veado. [0230]............ 56 Propondo a "cura gay", o crente quer o maximo milagre... [0248].. 57 É mais practico ser bicha que ser homem "convertido". [0249]..... 58 Na novella só se vê veadagem e bichice. [0250]................... 58 Metta a rolla! Metta o braço! O problema e o cu são meus! [0399].59 Hermitão que sou, recluso permanesço em meu apê. [0406].......... 59 TERCEIRA PARTE: SONNETTOS, SONNETTILHOS E DISSONNETTOS ROMEU E EU (II) [0004]........................................... DISSONNETTO VICTORIANO [0054].................................... DISSONNETTO SOCRATICO [0057]..................................... SONNETTO DESBOTTADO [0210]....................................... SONNETTO A SAPPHO [0269]......................................... SONNETTO PHALLOCRATICO [0299].................................... DISSONNETTO PUNHETEIRO [0307].................................... DISSONNETTO TRAVESTI [0313]...................................... DISSONNETTO GAUCHO [0336]........................................ SONNETTO NIVELADO [0361]......................................... DISSONNETTO DA NYMPHETA [0374]................................... DISSONNETTO MULHERENGO [0382].................................... SONNETTO A NÉSTOR PERLONGHER [0434].............................. DISSONNETTO DOMESTICO [0436]..................................... DISSONNETTO MICHETADO [0505]..................................... SONNETTO DO ROPTO E DO EXFARRAPPADO [0663]....................... SONNETTO AUGURADO [0712]......................................... DISSONNETTO DESSEDENTADO [0738].................................. DISSONNETTO DA AUTO-ESTIMA [0742]................................ SONNETTO DA NOVA INQUISIÇÃO [0752]............................... SONNETTO DOS CANTOS DE FODAS [0767].............................. SONNETTO DAS AMIZADES DESCOLORIDAS [0775]........................ SONNETTO DA PARADA ESTRATEGICA [0807]............................ SONNETTO DA FECHAÇÃO [0825]......................................
63 63 64 64 65 65 66 66 67 67 68 68 69 69 70 70 71 71 72 72 73 73 74 74
SONNETTO DESEGUAL [0888]......................................... DISSONNETTO DO BATTEBOCCA NA CALÇADA [1166]...................... DISSONNETTO DO PECCADO NATURAL [1216]............................ DISSONNETTO DA ORGIA NA LITURGIA [1239].......................... DISSONNETTO DA MEMORIA CURTA [1322].............................. DISSONNETTO DO CALÇADO DELICADO [1330]........................... SONNETTO DA CHORDA E DA CAÇAMBA [1382]........................... DISSONNETTO DO CONTINHO CONTINUADO [1436]........................ DISSONNETTO DO CORNO ASSUMIDO [1440]............................. SONNETTO DA SERPENTE IMPOTENTE [1441]............................ DISSONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464]........................ DISSONNETTO DO CORPO DISCENTE [1513]............................. DISSONNETTO DO CORPO DOCENTE [1514].............................. SONNETTO DO GENERAL DEGENERADO [1607]............................ SONNETTO DOS BICHANOS FANCHONOS [1644]........................... DISSONNETTO DO FILME GAY [1676].................................. SONNETTO DA MÃE POSSESSIVA [1684]................................ SONNETTO DA PARENTELA INTERESSEIRA [1686]........................ DISSONNETTO DA TITHIA QUE TITILLA [1689]......................... DISSONNETTO PARA UM BAIÃO [1737]................................. SONNETTO PARA A TRADIÇÃO ESKIMÓ [1816]........................... DISSONNETTO PARA A TRADIÇÃO GREGA [1826]......................... DISSONNETTO PARA O PAR PERFEITO [1844]........................... SONNETTO PARA UMA PAQUERA PACHYDERMICA [1879].................... DISSONNETTO PARA UMA FELLAÇÃO PEDERASTICA [1891]................. DISSONNETTO PARA UM MANNEQUIM ADVANTAJADO [1919]................. DISSONNETTO PARA A MAIS ALTA COSTURA [1920]...................... DISSONNETTO PARA UMA LISTA ESPECIALISTA [1941]................... SONNETTO PARA O PASSATEMPO DE UM JOVEN [2024].................... DISSONNETTO PARA UM PADRE NOTORIO [2026]......................... DISSONNETTO PARA A MENINADA DESAMPARADA [2036]................... DISSONNETTO PARA QUEM FICA CHUPANDO O DEDO [2088]................ SONNETTO PARA UMA PLATÉA MACHISTA [2146]......................... DISSONNETTO PARA A CASA DE LOTH [2303]........................... DISSONNETTO PARA UMA MIJADA ARRISCADA [2307]..................... SONNETTO PARA UMA COLHER DE PAU [2504]........................... DISSONNETTO PARA A ANATOMIA DA VULVA [2512]...................... DISSONNETTO PARA UMA CONCENTRAÇÃO MASCULINA [2562]............... DISSONNETTO PARA UMA ARAPUCA PARA O JUCA [2633]..................
75 75 76 76 77 77 78 78 79 79 80 80 81 81 82 82 83 83 84 84 85 85 86 86 87 87 88 88 89 89 90 90 91 91 92 92 93 93 94
DISSONNETTO PARA UMA ABBORDAGEM REPELLIDA [2640]................. 94 DISSONNETTO PARA UM LOUCO AMOR [2643]............................ 95 DISSONNETTO PARA UM BOM EXEMPLO [2665]........................... 95 DISSONNETTO PARA UM LEÃO QUE NÃO SOSSEGA O RABO [2686]........... 96 SONNETTO SOBRE DOIS PASSARINHOS [2769]........................... 96 SONNETTO SOBRE A CADENCIA SEM DECENCIA [2777].................... 97 SONNETTO SOBRE O BICHO E A BICHA [2782].......................... 97 DISSONNETTO SOBRE A VIDA DE SOLTEIRO [2804]...................... 98 DISSONNETTO SOBRE UM ZÉ MARIA DA CONCEIÇÃO [2812]................ 99 DISSONNETTO SOBRE DOIS PERDIDOS NUMA "BOITE" SUJA [2832]......... 99 DISSONNETTO SOBRE A ANDROGYNIA E A PHANTASIA [2842]............. 100 DISSONNETTO SOBRE UM RELACIONAMENTO COMPROMETTEDOR [2844]....... 100 DISSONNETTO SOBRE UMA DOCE VINGANÇA [2845]...................... 101 DISSONNETTO SOBRE UM VEADO CORNEADO [2856]...................... 101 DISSONNETTO SOBRE UMA PHASE PHRENETICA [2888]................... 102 SONNETTO SOBRE UMA CRISE DE IDENTIDADE [2889]................... 102 DISSONNETTO SOBRE UM CORPO-A-CORPO BALLANCEADO [2900]........... 103 DISSONNETTO SOBRE UM CASAL DESENTENDIDO [2907].................. 103 DISSONNETTO SOBRE UM ABRIGO AMIGO [2920]........................ 104 DISSONNETTO SOBRE UM INUTIL DISFARSE [2937]..................... 104 DISSONNETTO SOBRE UM PARDO FELIZARDO [2995]..................... 105 DISSONNETTO SOBRE UM SANDUICHE DE PÉ [3001]..................... 105 TRANCOS FRANCOS [3100].......................................... 106 REPENTINAS BOLINAS MASCULINAS [3198]............................ 106 AMOR COM AMOR [3392]............................................ 107 BICHINHA QUE ENGATTINHA [3482].................................. 108 LATENTE VALENTE [3530].......................................... 108 CHULEZINHO BASICO (I a V) [3534/3538]........................... 109 COMMUNIDADE DE ULTIMA GERAÇÃO [3551]............................ 111 A VOLTA DO MOTTE DO PUTO [3627]................................. 112 A VOLTA DO MOTTE DO GOSTO [3634]................................ 112 A VOLTA DO MOTTE DO REGO [3653]................................. 113 A RACCONTADA FABULA DO URSO E DO GATTINHO [3690]................ 113 UMA NO CRAVO... [3720].......................................... 114 PESADO MASOCHISMO (I e II) [3813/3814].......................... 114 HOMOPHOBIA [3875]............................................... 115 QUEM É QUEM, DO MAL AO BEM (I e II) [3997/3998]................. 116 ENQUETE PARA BOQUETTE [4007].................................... 117 INTOLERANTES PISANTES [4012].................................... 117
DISSONNETTO PARA CLAUDIA WONDER [4015].......................... 118 O CAUTO CAUSO DO VELHO GAITEIRO [4145].......................... 118 O CAUTO CAUSO DO QUARTETTO DE CHORDAS (I a X) [4231/4240]....... 119 QUEM DESPERTA FICA ALLERTA [4271]............................... 124 O CAUTO CAUSO DA TRAVESSURA INCONVENIENTE [4449]................ 124 INFECTO AFFECTO (I a X) [4471/4480]............................. 125 PARAPHRASE DE SONNETTO SOBRE UM CONTO DE THIAGO BARBALHO [4531].130 ENREDO SEM SEGREDO [4586]....................................... 130 PARCERIA NA LAVANDERIA [4590]................................... 131 PATTOLA JA FEZ ESCHOLA [4682]................................... 131 TARA CARA [4802]................................................ 132 VENENOSA E PERIGOSA [4829]...................................... 132 ACTIVO RELATIVO [4837].......................................... 133 NABO NO RABO (I) [4889]......................................... 133 PEOR A EMENDA DO QUE A AGENDA [4901]............................ 134 PESADELLO PAREMIOLOGICO [4912].................................. 134 FESTA DO PEÃO [4914]............................................ 135 MACHO INVOCADO [4928]........................................... 135 CHICA, A VIZINHA QUE FUXICA [4967].............................. 136 REIS DO CANGAÇO [5007].......................................... 136 TACTICA AQUATICA [5101]......................................... 137 AVAL AO CARNAVAL [5246]......................................... 137 CUECA ARRIADA [5264]............................................ 138 CANASTRINHO VERSATIL [5277]..................................... 138 SCENAS TROPICAES (I a III) [5286/5288].......................... 139 PERNOSTICOS DIAGNOSTICOS [5295]................................. 140 TESUDOS NARIGUDOS [5297]........................................ 141 DISSONNETTO DUMA DATA DEMOCRATA [5315].......................... 141 SONNETTO DUMA ACCUSAÇÃO SEM SUSTENTAÇÃO [5323].................. 142 SONNETTO DUMAS VERDADES ATTRAZ DE GRADES [5354]................. 142 SONNETTO DUNS SAPHADOS BIOGRAPHADOS [5355]...................... 143 SONNETTO DUNS COLLEGAS DE REFREGAS [5356]....................... 143 SONNETTO DUMA VIDA RESOLVIDA [5357]............................. 144 TRAZEIRO PRAZENTEIRO (I a VI) [5401/5406]....................... 144 VERGONHA ALHEIA [5567].......................................... 147 "SAPATA AMA A TAPAS" [5576]..................................... 148 ODE À BOCCA PEQUENA [5585]...................................... 148 TROCA-TROCA [5608].............................................. 149 ENTREGA CEGA [5633]............................................. 149
FLAGRANTE AGGRAVANTE [5676]..................................... END OF THE WORLD [5684]......................................... WHEN A BLIND MAN CRIES [5703]................................... PRECARIA BINARIA [5704]......................................... CENSO SEM CONSENSO [5749]....................................... SCENARIO RODOVIARIO [5805]...................................... FISTING DISSONNET [5829]........................................ RHAPSODIA OSWALDIANA [5918]..................................... MOLECA SAPECA [5922]............................................ PHALLICO ACTO FALHO [5929]...................................... MEME DO ADULTERIO [5981]........................................ MISCELLANEA FELLACIONAL [5982].................................. MISCELLANEA VENEREA [6047]...................................... MEME DA BICHA MACONHEIRA [6048]................................. VAZIAS PHANTASIAS [6070]........................................ EDUCAÇÃO À DISTANCIA [6075]..................................... HASHTAG EU ADVISEI [6145]....................................... HASHTAG CHRISTO SALVA [6159].................................... YOU LOOK LIKE A GIRL [6168]..................................... MEME DA TORCIDA ORGASMIZADA [6172].............................. BIQUINHO [6268]................................................. SEM VASELINA [6274]............................................. PAUSA PARA A CAUSA [6278]....................................... PASSEIO PUBLICO [6300].......................................... GENETIANO [6301]................................................ DESNUDEZ [6308]................................................. PATERNIDADE [6311].............................................. PUNHETA LISBOETA [6313]......................................... PAPPO POLIDO [6317]............................................. TROCA-TROCA DE MASOCA [6364].................................... RIGIDEZ CADAVERICA [6372]....................................... QUEDA NOS INDICES [6379]........................................ JOGO PUERIL [6387].............................................. PATINHA BELLA [6398]............................................ QUESTÃO DE GENERO [6400]........................................ FESTIVO TRAVESTISMO [6402]...................................... VISIBILIDADE LESBICA [6404]..................................... FILÉ MINION [6428].............................................. MASTURBATORIOS SUPPOSITORIOS [6447].............................
150 150 151 151 152 152 153 153 154 154 155 155 156 156 157 157 158 158 159 159 160 160 161 161 162 162 163 163 164 164 165 165 166 166 167 167 168 168 169
PAPPO DE PESCADOR [6458]........................................ PINK SUEDE SHOES [6465]......................................... CARO MASOCHISMO [6466].......................................... DESABBONADORES RUMORES [6467]................................... INJUSTO CUSTO [6482]............................................ CLIENTE INCONSEQUENTE [6501].................................... FILHO DEGENERADO [6623]......................................... GLORY HOLE [6632]............................................... SINISTER PURPOSE [6634]......................................... SWEET HITCH-HIKER [6638]........................................ LOOKING FOR A REASON [6639]..................................... DOWN ON THE CORNER [6642]....................................... UP AROUND THE BEND [6648]....................................... O HOMEM QUE RI [6656]........................................... NEGROS NO COMMANDO [6664]....................................... OUTUBRO ROSA [6665]............................................. PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682].................................... GLAMOUR [6731].................................................. GIMME THREE STEPS [6756]........................................ GAZOSA COR DE ROSA [6758]....................................... MEMPHIS [6766].................................................. PAIZ DE MARICAS [6794].......................................... REMINISCENCIA DA PUBESCENCIA [6818]............................. INFERIOR COM LOUVOR [6824]...................................... DESAGGRAVO DE ESCRAVO [6832].................................... LUIZ LUIZ [6833]................................................ BANDA DA BUNDA [6855]........................................... BOZO BRIOSO [6856].............................................. DEZEMBRO VERMELHO [6859]........................................ REPALINDROMIZANDO [6871]........................................ QUEM NÃO FOR PRECOCE QUE SE COCE! [6887]........................ TONTOS PELAS TANTAS [6917]...................................... RECUANDO NO COMMANDO [6920]..................................... JAPONEZ CORTEZ [6931]........................................... EM CARCERE, E PRIVADO [6955].................................... OTHER GUY [7027]................................................ AMANTE CAPTIVANTE [7029]........................................ GERONTOPHILIA [7087]............................................ NABO NO RABO (II) [7181]........................................
169 170 170 171 171 172 172 173 173 174 174 175 175 176 176 177 177 178 178 179 179 180 180 181 181 182 182 183 183 184 184 185 185 186 186 187 187 188 188
QUARTA PARTE: CYCLOS PODORASTICOS PORNOSIANOS CYCLO "DIEGO E O CEGO".......................................... CYCLO "DEUS E O CEGO"........................................... CYCLO "O JOVEN RICO E O CEGO"................................... CYCLO "UM DISCIPULO QUE É MESTRE"...............................
191 196 201 207
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO INGOVERNABILIDADE
São Paulo Casa de Ferreiro 2021