PRANTO EM PRETO E BRANCO

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GLAUCO MATTOSO

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Pranto em preto e branco © Glauco Mattoso, 2022 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco PRANTO EM PRETO E BRANCO/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022 116p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA Ultrapassado o septimo milhar de sonnettos e dissonnettos, a partir de março/2021 dei um tempo organizando selectivamente toda a obra poetica (inclusive mottes glosados, madrigaes, limeiriques, trovas, odes, rhapsodias, infinitilhos etc.) nos vinte volumes thematicos da collecção "Estudos", alem de reunir todo esse repertorio num mesmo repositorio, que deixa de se chamar SONNETTUDO e passa a chamar-se, mais propriamente, OPERA INSOMNIA: POESIA INCOMPLETA -- donde a numeração ter seguido alem de 7240 que totalizava a sonnettistica. Entrementes, syntonizei e synchronizei minha desventura na cegueira em relação ao obscurantismo politico, ao abysmo economico e ao cataclysmo sanitario que o paiz attravessa -- um baixo astral geral que me propiciou o laboratorio para este experimental livro de poemas, nos quaes abro mão da rhyma em funcção do metro e do rhythmo, uma vez mantido o padrão decasyllabo heroico. No fundo, porem, sempre sobra espaço para o tragicomico, pois nenhum poeta satyrico que se preze desprezaria as innumeras opportunidades de ironizar tamanha desgraça. Addemais, não planejo incluir estes novos poemas em futuras collectaneas thematicas, de sorte que estará preservado o ineditismo do presente e de subsequentes volumes em termos editoriaes, quiçá commerciaes. Optimisticamente fallando, para alguma coisa serviria tanto pessimismo, ao menos creativamente.



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RANZINZAS CINZAS [8577] A quarta-feira, aquella da follia que nunca accontesceu, me pega agora de mau humor, pensando num paiz mais branco, menos negro. Mais racista, portanto, no discurso official. As trevas que previ mais negras são, por outro lado, olhando de viés. Virtude exsistirá no meio termo? Seremos mais ranzinzas, nós que estamos do lado oppositor deste negror? Mas meio termo como? Um tão cinzento, nublado como o céu sobre esta secca cidade imaginaria na alvorada? Ainda, no meu cego sonho, posso ver cores, todas ellas. Basta dellas lembrar-me, ja desperto, doradvante.

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KHORO NO CHORO [8578] Ninguem cantar consegue, assim, chorando: Ray Charles, quando canta "Eleanor Rigby", Stevie Wonder, "We can work it out", José Feliciano, em "In my life", canções que são dos Beatles, mas ninguem cantar assim consegue, como um cego. Consegue Stevie Wonder que até Jagger tambem cante chorando um "I don't know...", canção que por mim falla, sem que saibam. Agora vão vocês me dar licença, pois cego sou tambem, mas não consigo cantar, siquer compor, mas chorar vou, ouvindo o que elles cantam para mim.


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HUMANISTA RAIZ [8579] É tudo digital. "Intelligente" mas artificial, tudo remoto, sem vida, sem presença mais humana. Licção alguns tiraram desta peste. Nos falta mais convivio, mais contacto. Mais physico, local, presencial. Me torno um analogico raiz, agora consciente, aquelle ouvinte raiz, da victrolinha, do radinho de pilha, do CD com a caixinha e encharte egual à cappa original. No banco quero estar pessoalmente. Não quero um cellular que me incommode a cada minutinho que eu podia usar para regar, no vaso, um verde pezinho duma planta que nem vejo. La fora até funcciona a tão fallada vidinha digital, mas não aqui, mambembes que 'inda somos e seremos. Mas la ja se cogita de excolher, alem dalgum organico legume, algum mais analogico systema. Sim, tudo digital deshumaniza. Si somos humanistas, nós, os poucos ainda conscientes, que raiz eu seja, tambem nisso, sem usar siquer esse inhumano cellular.

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NECROLOGIO PODOLOGICO [8580] Ouvi que do Palmeiras o podologo morreu. Mais um lethal caso pandemico. Sim, cada morte compta. Casos tragicos são todos, mas algum peso symbolico tem este, pelo lado philosophico. Emquanto os jogadores, que espectaculo nos deram, sobrevivem, quem um clinico cuidado deu a tantos pés dramatico fim teve, sem siquer ter sido celebre. Espero que estes versos sejam validos, a titulo de pesames dum lyrico ceguinho que chorou ja por seus idolos na musica, nas lettras ou no magico esporte do fetiche ludopedico.


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EXCOLHI EXPORRAR [8581] Ainda adolescente, sou, é claro, normal, sou normalissimo. Portanto, não quero que engravide essa menina que eu finjo que namoro, de maneira que enrabo nella, appenas, quando não na bocca della metto. O meu problema maior é si não tenho namorada nenhuma... Na punheta me bastar não basta, mesmo vezes seis ao dia. Ainda bem que tenho um gay que acceita chupar-me sempre e quando ouriçadinho eu fico. Si quizer, ella que espere!

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DE BEM COM MEU BEM [8582] Perdi, na vida, tempo. Meu logar perdi. Perdi proveito, perdi fama. Perdi dinheiro, prazos e prazeres. Perdi, diversas vezes, hora, até. Perdi inclusive, experta, aquella rhyma, alem, claro, da perda da visão. Perdi minha razão quando offendi meu bem, durante futil discussão. A luz me lampejou nesse momento. Então pedi desculpas ao meu bem, pois elle era, affinal, unico bem e tudo o que sobrou foi seu perdão.


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DUPLA DOSE EM DUPLA [8583] Agosto lembra agouro, mas agora me lembra aquelle dia alegre, quando tomou segunda dose elle, meu bem. Segunda dose eu, antes, ja tomara, pois vivo duas decadas à frente. Com duas, sei que estamos, no momento, no mesmo fuso horario. Hoje prevejo que iremos, pelo menos, morrer junctos, ou antes, viver junctos até quando agosto der alvissaras de vida.

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ODOR INCOLOR [8584] Dizer "cheiro de corpo" do cecê não basta aos sociologos, que estão convictos da "catinga de creoula", ou seja, a das roupinhas que cheirava o branco que brochasse com a branca, mas não quando as cheirasse antes da foda. Por que só da creoula? -- aqui pergunto. Cueca de creoulo tambem tem aquelle inebriante e bom bodum, capaz de inverter toda dysfuncção erectil num senhor de seus escravos perante sua casta amante clara. Ah, fosse eu tal senhor, e me faria escravo dum escravo, cujas meias suadas mandaria que m'as desse appós por mim ter sido descalçado! Que mais posso dizer dum tão emphatico verbete etymologico, senhores?


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ZANGA DO YPIRANGA [8585] Dum septe de septembro não me lembro. Dum quinze de novembro muito menos. Taes datas só me lembram oppressão, regimes militares, jamais uma noção de qualquer civica attitude. Agora, ao invés duma acção solenne, se torna a data agenda para aquelle golpista fanfarrão mais bananeiro. Ser 'inda brazileiro me envergonha. Vergonha alheia? Sim, terceirizada, eis que é terceiro mundo o nosso chão queimado, desmattado, reseccado e fertil só nos versos deste exsilio.

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MACACOZINHO [8586] Disseram que, na China, algum macaco em vias de extincção, no captiveiro, que esteja sem cagar e 'inda não possa tomar qualquer laxante, por ser joven demais, tem tractamento singular: lambendo o seu cuzinho, o tractador consegue que elle cague, finalmente! Porem, tem que lamber por certo tempo, não vale ter no officio pressa alguma! Que emprego, minha gente, esse do gajo! Peor, só quando o cego um tracto dá do typo nalgum anus, sem siquer salario receber! Vocês não acham?


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COMICA COMMISERAÇÃO [8587] De rir tambem se chora. Agora mesmo me conta algum amigo, gargalhando: {Num filme, que eu ja vi, do Woody Allen, fallou um cara: "A vida pode ser horrivel, ou appenas miseravel. No plano horrivel fica quem é surdo, ou cego, ou alleijado. Ora, aggradesça você si for appenas miseravel." Não acha, Glauco, um sarro? O pessimista virando um optimista, alliviado!} Pensei commigo: fosse eu optimista, embora não podendo ver o filme, diria que é consolo ouvir alguem por mim se condoer com phrases taes.

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SUICIDIO ASSISTIDO [8588] Aquelle tetraplegico, no filme chamado MAR ADDENTRO, na justiça entrou para, assistido, ter direito da vida paralytica a dar cabo. Perdeu a causa. Ainda assim, mactou-se, adjuda conseguindo dos amigos. Deixou gravado um video, onde exclaresce: "Viver, sim, é um direito. Obrigação, jamais." Dialogara com um padre que disse: {Liberdade sem a vida ja não é liberdade!} Elle replica: "Mas, sem a liberdade, não é vida a vida!" Aquelle caso commoveu alguem, que me vendeu salgado o peixe. Agora que, em septembro, mais salgados estão os alimentos, me pergunto si tenho o meu direito de experneio.


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KALEIDOSCOPIO (II) [8589] Mais cor quer quem vê bem mas só com um. Com um só vou ler bem mais mas sem luz. Sem luz não vou ter nem mais um só dom. Só dom vou sem um tom ver com mais luz. Mais luz não vae dar vez nem deu meu gaz. Meu gaz quem deu foi quem me fez tão bom. Tão bom foi ter mais luz faz ja tempão. Tempão foi um só mas emfim ja deu. Ja deu para sentir que vou ver mal. Ver mal não pode ser como cegar. Cegar será peor si for de vez. De vez está meu tempo de compor. Compor sem pôr mais syllabas não dá. Não dá para advistar nada mais não. Mais não posso compor sem ser com cor. Com cor kaleidoscopica assim vi.

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FETID FLAT FEET FETISHIST [8590] Quem curte infantilismo, onde é ja tudo por siglas conhescido, sabe bem que sua preferencia, ABDL, por fraldas de bebê se especifica, embora seja adulto quem as use. Quem curte ser escravo ou dominar conhesce sua sigla, BDSM. Ainda não vi sigla ao meu fetiche mais propria. Ahi, pensei: FFFF. Mas falta algum detalhe que essas lettras não cobrem: um dedão mais curto, o grego. Então, pensei: talvez nem mesmo la, na terra dos pés chatos e fedidos, eu seja, como os outros, pertencente a alguma fraternal communidade. Pois é, temo ser unico, um exemplo daquillo que, exemplar, ninguem consegue seguir. Bem, sendo cego, que me importa?


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CATERVA SEM RESERVA [8591] Será muito ordinario um paiz onde uns tantos puxasaccos se declaram capachos com orgulho, um paiz onde capazes são os simios de escrever, ministros incapazes de entender daquillo que estão lendo, ou deputados daquillo que decidem pelo voto. Não vejo uma nação mais ordinaria nem mesmo uma assim rasa, sem sentido nem ordem, a marchar só para traz, emfim, mais sem estrella que esta nossa.

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FEMINICIDIO [8592] Admitto: commetti, sim, um brutal, covarde e impiedoso crime contra a vida da mulher que minha cama mais vezes frequentou. Mactei-a, sim. Com nojo, reconhesço: foi sangrenta a scena. Até manchou, não só do sangue da morta, mas tambem do meu, a minha parede, deste quarto onde ella, agora, parou de me chupar, a pernilonga. Cantava, ao meu ouvido, mas emfim o quarto no silencio ja mergulha e posso, sem remorsos, a dormir voltar, para sonhar, triste, com ella.


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LEFT BEHIND [8593] "Hem, Glauco? Fique experto, ouviu? Sinão você será deixado para traz!" Viviam me dizendo, os taes amigos, que eu fosse experto, ouvisse esses conselhos... Mas sempre fui passado para traz por elles mesmos, todos que editavam revistas, publicavam livros, eram lembrados, premiados, convidados. Só "visibilidade" é que importava, viviam a dizer. Eu, que enxergava ainda meu restinho, ouvi, calado. Agora, que não vejo nada, tudo ficou mais claro: fico para traz só pelo simples facto de que não conseguem acceitar que possa alguem cegar e escrever versos tidos como à frente de seu tempo, ja, perdido.

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DEXTRO SESTRO [8594] Previ que Stalin, Hitler, morreriam, alem de Pinochet, Franco ou Pol Pot. Previ, sem ter nascido, que elles todos seriam dictadores, mactariam milhares e teriam que pagar. Previ, ja no meu tempo, que Saddam, Bin Laden e Gaddafi, em companhia daquelles, seguiriam aos infernos. Prevejo que, 'inda vivos, outros vão taes coisas commettendo, seja aqui ou la, no Cu do Judas, o cu proprio. Sou cego, ja se sabe disso. Ou não? Prevejo que verei, comtudo, o damno de cada qual, ainda que depois de estar, tambem eu, morto, mas de Lucifer sentado bem ao lado, o da direita.


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NECROPOLITICA [8595] O plano de sahude me entregava em casa, por deliverry, mas sem que taes medicamentos estivesse pedindo, um kit immenso delles, contra aquillo que eu mais vinha combattendo: a vida. Havia arsenico, cicuta, curare, estrychnina, cyanureto, em gottas, comprimidos e pozinhos soluveis, que de nada addeantaram e eu vivo proseguia, mais teimoso. Agora de medinho morro, pois me contam que, esses dias, vem fazendo effeito o que, tão magico, ninguem suppunha que exsistisse. Mas agora não quero mais mactar-me. Esse governo chegou bem attrazado, ou antes, é.

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CANTO DO MEU CANTHO [8596] Sim, Wilson Pickett acha: à noite, todos os pardos são uns gattos. Tambem acho. São gattos, sim, de noite, mas tambem de dia, a qualquer hora, à luz do sol. São gattos todos: brancos, negros, indios, mestiços, mamelucos e cafuzos. Um cego jamais pode ser racista. São gattos quando os toco, si me tocam. São gattos si cachorro sou, ou são cachorros si sou gatto, pois cansei de ver, na mesma casa, cão com gatto junctinhos, dividindo o mesmo cantho, sem briga, até lambendo-se entre si. Cansei de vel-os, quando os ver podia. Agora, que não vejo, jamais canso de nelles pensar, mudo no meu canto.


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SANCTO DO MEU PRANTO [8597] Qual sancto nos attende, em oração? Das causas mais urgentes é São Judas, que em nada adjudou quando lhe implorei. Das causas impossiveis, Sancta Ritta tambem não soccorreu quando orei, não. Siquer Sancta Luzia, não, nem ella, deteve esta cegueira, ainda quando um pouco de visão me illuminava. Disseram-me: catholico não sendo, inutil é querer alguem pedir alguma graça ao sancto, nem siquer lhe sendo o padroeiro de baptismo, si foram seus devotos mesmo os paes. Que importa? Algum milagre esses sanctinhos ainda fazem caso um portador de grave enfermidade irreversivel ja tenha, antes, adjuda a Satanaz pedido, seu cu tendo, pois, beijado?

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MERA CHIMERA [8598] Sim, elle normalmente enxerga, pois ver Wanda bem consegue, em toda a sua belleza feminina, alem da classe. Sim, elle ser escravo quer, mas é da Wanda, não dalguma adunca bruxa, banguela, alem de immunda, alem de mal vestida, sem as pelles elegantes. Sim, elle, Severino, masochista deseja ser, mas facil é tal tara achar em quem communga algum fetiche. Ironico: um ceguinho que conhesço escravo ser deseja do mais feio e porco camarada, alem de mal vestido, malcheiroso, mal amado. Mas nunca satisfaço o meu desejo, que mera phantasia alguem suppõe que seja. Que ironia, amigos! Hem?


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AMORES E RUMORES [8599] "Appenas bons amigos": uma coisa é quando tal dizemos sem jamais alguem termos amado de verdade, à guisa de resposta aos fofoqueiros. Mas coisa differente é quando tal dizemos um ao outro, terminado um relacionamento duradouro. Amigos que viveram essa farsa, depois de separados, me relatam que hypocrita demais é tal sahida, que, nesses casos, nunca amigos "bons" conservam-se, sinceros e leaes. Não posso me metter nessa questão, pois tenho muito poucos bons amigos, não quero, nem perdel-os, nem siquer por elles nesta vida appaixonar-me. Amigos se conservam. Os amores não podem accabar. Vae que nem uns nem outros verdadeiros siquer sejam.

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MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL [8600] "Estou desesperada!": a voz ouvi que vinha do outro predio. Os gritos eram cortados pelo choro da mulher. Queria se jogar e foi contida. Depois fiquei sabendo: na familia morreram de covid irmãos e paes. Commigo meditei: todo o direito alguem tem de mactar-se, mas conter-se convem, si for possivel a presença de espirito, no meio da agonia. Appós perder os olhos, me contive. Deixei para jogar-me si ninguem por perto houvesse para me conter. Estive, então, sozinho quasi sempre, em annos, sem ninguem, ninguem por perto. Mas, como podem ver, não me joguei.


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POSTVERDADES (I) [8601] Verdades, por amigos quando dictas, nos fazem rir, chorar, ou só pensar. Agora me permitto raccontar aquella que contada me foi hontem. "No banho, quando passo o sabonete no rego, um cheiro sobe, mixturando fragrancias differentes, que resultam num typico fedor, que se dissipa só quando ja correu agua bastante!" Sim, cheiro de cu, como me explicaram, paresce inconfundivel. Bacalhau explica aromas typicos do pau, alem dos da boceta. Mas do cu eu nunca havia, assim, a descripção ouvido. Penso nella, ao me banhar.

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POSTVERDADES (II) [8602] Verdades, quando dictas por quem não votou em quem votamos, são mentiras? Nem sempre. Quando falla de si mesmo, até quem não votou em quem votamos sincero pode estar sendo. Um exemplo: "Glaucão, você descreve essas torturas nos minimos detalhes, mas duvido que tenha ja soffrido uma na pelle ou possa practicar alguma dellas! Nem acho que capaz foi de ver isso de perto, meu compadre! Eu, sim, fui preso e ja appanhei bastante! Sou capaz, esteja certo, dessas coisas todas!" E cita algumas, esse que fallou de si, mais que de mim, esse eleitor que pode estar mentindo só num poncto, o nome em quem votou. Appenas nisso.


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IMAGINARIO CORRELIGIONARIO [8603] Conhesço um camarada que, este sim, eu tenho que chamar de camarada. Diz elle, com todissimas as lettras: "Não, Glauco! Si esquerdista sou, que seja de extrema, mas de extrema mesmo! O meu modello de regime social, na falta dum de Stalin ou Pol Pot, seria aquelle que ergue, na Koréa, ao povo um monumento opulentissimo! Nos campos de trabalho, um dissidente a pena até morrer tem de cumprir e pode ser, por faltas quaesquer, pelo severo capataz, bem castigado, soffrer de estupro oral a açoitamento! Deleite imaginar-me é como o proprio feitor dum desses campos! Hem, Glaucão? Commigo tal triumpho você não iria com prazer compartilhar?" Não posso confirmar que compartilho, mas, para que não fosse indelicado, que sim lhe respondi, sem hesitar.

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MUDDY WATERS [8604] Lavar as mãos você quer, ja que não consegue se livrar dessa sujeira em que está mergulhado. Tem de tudo: dejecto, lixo organico, residuo de industria, de garimpo, hospitalar, domestico, um chorume inexgottavel. Mas onde irá lavar as mãos, si estão as aguas tão escuras, ja, de lama?


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NOBEL DE MEDICINA [8605] Até que emfim premiam quem achou na cellula que exquenta com pigmenta a cura de hypotheticas molestias! Alem da sensação de calor ou daquella de pressão que sobre nós o mundo sempre exerce, 'inda faltando está quem a coceira a analysar esteja. A comichão, ou o prurido, qual seja como chamem o problema, é coisa de importancia tão vital que coçam a cabeça as renomadas cabeças. Uma pulga attraz de cada orelha nos intriga. A dor tem sido bastante pesquisada. Agora chega o tempo de estudarmos a coceira! Mas rapido, sinão vou me rallar todinho usando um desses bambus, unica maneira, à japoneza, de chegar ao poncto que, nas costas, nos afflige!

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NOBEL DE PHYSICA [8606] Ganhou, tambem na physica, quem viu que está a nossa desgraça mais global no tal de "effeito extupha", "acquescimento" que só tende a augmentar, na proporção inversa à do "calor humano". Ou eu não pude entender tudo o que se estuda nas areas scientificas, acaso? Sim, vejo que quem ganha algum Nobel tem sempre convicções humanitarias. Ou é minha cegueira que distorce os factos em razão dum illusorio e ingenuo sentimento de que irão dar creditos a um cego, um bello dia?


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NOBEL DE CHYMICA [8607] Qual nova ferramenta de catalyse alguem numa molecula applicou? Será que faz sentido que um Nobel de chymica premie essas cabeças pensantes de poetas da materia? Quem é que phantasia mais? O frio e experto scientista, a quem compete um premio desse typo, ou o febril e insomne menestrel, que em paixões arde? A chymica amorosa, acho, talvez meresça algum trophéu, alem do orgasmo.

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NOBEL DE LITTERATURA [8608] Suecos não premiam, hoje em dia, appenas europeus ou esquerdistas mais typicos, direi, "convencionaes". Auctores premiados ja são negros, islamicos, mulheres de paizes terceiro-submundistas, immigrantes nos themas, cidadãos refugiados, apatridas ou pariahs, Terra affora. Seria razoavel que esses doutos e illustres academicos pensassem num cego brazileiro, outsider mesmo? "Magina!" (amigo meu logo replica) "Tirando o cavallinho va da chuva! Nem mesmo o Jaboty você ganhou no duro, um primeirão, second to none! Ganhar, você ganhava algum Lebon, o opposto do Nobel, que bom seria a alguem do seu perfil, Glauco! Não acha?" Sim, acho. Mas sonhar ninguem prohibe.


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NOBEL DA PAZ [8609] Suecos não premiam a sueca mais mala do planeta, pois seria, talvez, a marmellada mais explicita. Mas bem que esses pentelhos ecochatos tentaram empurrar goela abbaixo da gente mais um marketing dos teens. Cahiram do cavallo. Jornalistas que enfrentam dictaduras e excancaram censuras ao direito de expressão parescem-me mais dignos desse premio de cunho pacifista. Desta vez applaudo um bom Nobel, pois, sem a midia, os factos não são factos, são fofocas maldosas ou, peor, são postmentiras.

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NOBEL DE ECONOMIA [8610] Quem ganha algum Nobel de economia appenas manipula as estatisticas a fim de demonstrar que mão barata ainda barateia mais si for num braço de immigrante. Eu, ca commigo, que vivo num paiz bem informal, de estudos economicos nem faço questão de mão lançar para affirmar que, quanto mais escrava a mão que trampa, maior o desemprego dos que estão attraz das garantias duma lei. Mas disso os academicos ja são scientes, nem precisam dum Nobel nas midias a bombar. Aqui em São Paulo, as ruas estão cheias de exemplares historias que, dum minimo salario, ao largo passarão e em cada praça accampam, num verão qual num hinverno.


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EVANGELHO DE THOMÉ [8611] Aquelle que consegue entender este terreno ou interregno mundo nosso renova a descoberta dum cadaver. Aquelle que descobre esse cadaver será, pois, superior ao proprio mundo. Apocrypho, citou tal documento alguem que me passou a reflexão accyma, que não quero commentar. Só quero reflectir sobre cadaveres. Cadaveres não passam de eskeletos com faces de caveira, appenas. Nada mais grave e verdadeiro que esse craneo com olhos que enxergaram e com bocca que está a sorrir, ainda, como si, sem ver, achasse graça, ao seu redor, em tudo. Uma metaphora da vida terrena. Até daquillo que este mundo nos dava a pensar, mesmo na desgraça.

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PRECOCE EDADE [8612] Mindinho, seu vizinho, pae de todos... Os dedos não se chamam "dedo minimo" nem "medio" ou "anular" na voz do povo. O dedo "indicador" é o fura-bollo e, emfim, macta-piolho o "pollegar". Meus tempos de creança se restringem aos dedos duma mão, pois, depois disso, ja dá para notar que esta visão iria me faltar, annos affora. Mais tarde, foram cinco contra um só ou, antes, minha bimba no colchão, a compta dum orgasmo que jamais podia compensar tamanha perda. Restou essa lembrança de que infancia somente foi infancia até meus cinco, feliz, despreoccupada, sem siquer nas lettras alphabeticas achar as lettras que me illustram na cegueira.


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SYNCRETISMO [8613] Catholico si eu fosse, cultuava, alem do meu sanctinho, um orixá. Poeta sendo, um cego oracular, alem de fetichista, alem do mais, olympicos aos deuses me devoto. Mas exsistencialista sou, de mente mais mansa. Quando um pouco mais instavel, espirita me faço, um kardecista não digo, mas um crente em taes videncias. Maior interacção se impõe si digo que estou dialogando com os cães, os passaros, até com as aranhas. Não sendo um franciscano desvairado, só posso, pois, suppor que sou de pedra, mais louco que quem pedra attire em cego. Assim tão exquisito, ora, não sou.

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AMERICANNIBAL [8614] Essa anthropophagia, que proposta foi pelo Oswald, está mais evidente no rock americano que na propria cultura brazileira. Alguem ouviu attento? O cha cha cha deu hully gully, no caso dos Olympics, e 'inda deu, de quebra, "Louie Louie", que foi febre. A rumba deu "Oh Carol!" e "Diana", alem dessa battida do Bo Diddley. Um samba à mexicana foi "La Bamba", que então se transformou em "Twist and Shout". Comprova Trini Lopez o que digo. Até Carmen Miranda rendeu rock: não é "Mamãe, eu quero" mais marchinha. O rock estylizou todos os rhythmos e fez um "Papa Oom" do "Babalu". Aqui, tupynikins si somos, restam, no rock instrumental, Novos Bahianos e, sempre, Raul Seixas, que cultua, mas sem levar a serio, um som tão "gringo", ja não tão cannibal, só coprophagico.


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TUDO EM CASA [8615] Eu, como Pastor, posso ser sincero. São dez os Mandamentos, mas vocês notar podem que exsistem "sim" e "não", mas é mais "não", reparem, do que "sim". Ha, pois, algo de errado quando um credo prohibe e só prohibe. Signaliza que está contrario à nossa natureza humana. Algo tão contra, assim, confronta a propria Creação, Obra de Deus. Pastor que sou, affirmo que, em meu Templo, appenas "sim" lhes digo, meus irmãos. Vocês podem fazer o que quizerem, pois nada se interdicta aqui na Casa. Lembrar somente quero que é preciso pagarem -- Hem? -- o dizimo, ó, meus caros!

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ANTINATALIDADE [8616] Aquelle hindu processa a mãe e o pae por elle ter nascido, sem ter sido, siquer, mesmo por alto, consultado. Direito tem, eu acho, si um casal orgasma ja sabendo que quem vem irá passar a vida a soffrer, 'inda que seja bem tractado, pois viver implica soffrimento o tempo todo. Um unico minuto de sadismo às custas duma vida alheia agonica. Si fossem os meus vivos, entretanto, jamais eu quereria processal-os. Motivo não faltava, si soffrendo eu venho, na cegueira, até demais. Mas creio que nem mesmo orgasmo o velho tivera, nem mamãe, coitada della! Sadismo, pois, não houve neste caso, embora masochista à bessa seja a fama do ceguinho cantador.


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CUIDADOS PALLIATIVOS [8617] Ao medico oppuz este raciocinio: Remedios tomarei. Sempre tomei aquillo receitado que me foi. Mas nada cortarei do que bem como, bem como do que excita a minha gula. Um anno mais que eu viva, a exspectativa de vida, à brazileira, attingirei. Oitenta si eu viver, mais uma decada ainda lucrarei, si bem vivida. Portanto, comerei as guloseimas todinhas, sem dieta restrictiva, pois nada valem esses dez anninhos restantes sem assucar nem fricturas, tampouco mais um anno sem siquer das ultimas vontades desfructar. Dieta, addeus! Puddins, sejam bemvindos! Manjares, meu estomago os conclama!

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MUITO POUCO [8618] "Me exquesço de lembrar de te exquescer...", cantava George Harrison nos Beatles. Eu acho que me perco si procuro pensar em dispensar a rhyma rica mantendo o decasyllabo, outrosim. Será contradicção? Não vou dizer que seja, mas pensei nisso, não nego. Accabo convencido de que estou à toa questionando o que fazer daquillo que ja faço sem siquer errar, eis que conhesço tudo... ou quasi.


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CONNEXÕES [8619] Ser intimo demais dos immortaes até menos adjuda que inconvem, pois pode parescer camaradagem tractando-se de premio ou homenagem. Amigo não ser, nada, delles é tambem incompativel com alguma aberta porta para accolhimento. Fazer o que? Que nivel de "elevada estima", alem da amavel convivencia, teremos que ter, caso pretendamos quaesquer das honrarias dessa Casa? Appenas ser amigo dos amigos que temos aqui fora, assim eu penso, pois estes, quando forem academicos, da gente se lembrar irão, ou não, provando, outrosim, serem mesmo os taes amigos que suppunhamos um dia.

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CHUCRO NÃO VISA LUCRO [8620] Ouvi no radio: um sordido porão achado foi durante excavações. Alli se torturou na guerra fria. Mas foi tambem bordel, no qual algozes gozavam estuprando os torturados. Ingressos se cobraram dos "clientes" de fora do presidio. Ora, accontesce que novamente ingressos são cobrados daquelles que visitem o porão, eis que virou museu ja la na America. Venderam inclusive collectaneas tiradas das pornôs paredes onde carrascos inscreviam graffitagem. Agora lhes questiono: os caras sabem lucrar com qualquer coisa. Aqui, não sabem. Si fosse eu, la, tamanho sonnettista, fariam minha fama, não appenas por merito ou orgulho patriotico, mas para que se lucre com meu caso. Aqui, pois, não somente preconceito demonstram, mas burrice. Nem siquer dinheiro ganhar sabem, as toupeiras.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

SNEAKERHEAD [8621] Fanatico fetiche enrustidaço tomou compta da moda adolescente: usar tennis de griffe. Não appenas pagar caro ou mais pares ter junctado. Saber curtir, dum idolo, o modello, tal como no baskete: eis o desejo dos jovens aggruppados pelas redes. Idéas trocam sobre cada marca ou typo que collocam nos seus pés. Exhibem o solado, o material, as cores predilectas, sempre em close, assim como, sorrindo, quem encosta, no proprio ou dum amigo, o pé no rosto. Não, isso, ora, não passa de fetiche podolatra! Ahi dizem que sou eu que estou me punhetando... Não é mesmo?

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RESPOSTA DE ALGIBEIRA [8622] Dizia meu vizinho litterato: "Não creio -- si jurados dalgum premio -nos votos dos mais novos que eu, pois elles bagagem não teem, mesma que esta minha. Mais velhos tel-a podem, mas não teem meu amplo repertorio das modernas tendencias e noticias. Nem no voto dos meus contemporaneos eu confio, pois sempre concorrentes me serão. Julgar-me como podem, affinal?" Batteu à minha porta, appós saber que estava duma lista fora. Qual resposta lhe podia dar, si eu mesmo estava nessa sua condição? Então fallei: {Os premios eu os ganho, sim, todos, pois jamais concorro. Venço, portanto, justamente pela ausencia.} Calou-se elle e ficou meditabundo.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

NARCISUDO [8623] Disseram-me: "Vocês, deficientes, se tornam narcisistas quando são, nalguma praia, artistas victoriosos. Se julgam superiores até mesmo aos classicos. Emfim, são narcisistas." Appenas respondi: {Nos orgulhamos daquillo onde vencemos, mas noção guardamos das devidas proporções. Por vezes, si bancamos o Narciso, é só para causar. Somos carentes. Chamamos a attenção e... vae que em nossa supposta primazia alguem confia... Capaz é que estejamos com razão.}

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RESPONDÃO [8624] Amigo meu me conta ter ouvido da bocca dum amigo seu taes phrases: "Um cego, vencedor na vida? Ah, não! Artista de destaque? Escriptor? Como? Como ousa? Ah, não acceito! Si me vejo na frente dum ousado desses, mando que fique de joelhos, que me chupe, pois nisso, sim, devia ser artista! Faltava só mais essa! Alguem que é cego querendo ter successo como quem visão tenha perfeita! Ah, meu, sem essa!" Disse eu: {Si me dissesse elle na cara taes coisas, ouviria de mim isto: Pois chupo, sim, e tracto de chupar agora! Ahi, gostou? Quer repetir?}


PRANTO EM PRETO E BRANCO

ACCEITO PRECEITO [8625] As fontes asiaticas dão compta do cego utilizado na massagem dos pés, reflexologica aptidão, mas fontes indianas vão alem e evocam a aptidão na fellação, segundo uns antiquissimos tractados. "Acceita, que dóe menos!" é preceito. Assim, no KAMA SUTRA que eu me nutra foi, vindo de taes fontes, o conselho mais practico. Foi facil, no Occidente, virtudes diffundir duma agil mão de cego na massagem dos pés, mas tabu prosegue sendo uma chupeta de bocca cega, a menos que eu a faça, na lingua dos poetas, mais prolixa, alem de pleonastica a valer.

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O SEDENTARIO E O SEDENTO [8626] Questiono: differença alguma advulta entre isto ou aquill'outro quando o caso é jogo democratico ou tyrannico? Appenas um detalhe é differente, pois, na democracia, a gente excolhe aquelle que será nosso tyranno. Dirão alguns: mas, caso o reprovemos, podemos impedil-o de ficar. Occorre que elle sempre voltar pode. Alem do mais, um novo sempre tem mais sede de poder ao tomar posse.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

MOTTE MOTIVACIONAL [8627] "Emquanto tiver lingua, alem do dedo, (dizia aquelle velho primo meu, sorrindo com malicia) de boceta não tenho medo!" Toda a razão tinha. Ainda quando o pincto ja não suba, a nossa sacanagem nunca cessa. A lenda dum eunucho não foi lenda. Tiraram seu caralho, seus colhões, seus olhos, e fizeram que chupasse, appenas, pelo resto duma vida de escravo, mas a lingua foi poupada, a fim de que melhor executasse as basicas funcções oraes. Não é que (dizem) elle tinha gozo justo na lingua? Sim, gemia bem na hora do orgasmo do chupado, de maneira que fossem confundidos o tesão com nojo ou com engasgo. Uma licção a todos que se sentem sem estimulo.

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POUNDS FOR THE HOUNDS [8628] O George, que inglez é, tem um bassê chamado Salomão, vulgo Salô. A nós, appenas Jorge elle se diz. O Xixo, meu bassê, todo domingo passava la na casa do outro cão. Salsichas fatiava aos dois o Jorge, em forma de moedas duma libra, comidas fartamente toda a tarde. Moedas comestiveis, as comi, porem de chocolate, e sempre disse commigo que, si fossem de metal, teria que ser ouro o material. Agora, diabetico, o que eu quero é mais do que moedas devorar. Lingotes, barras solidas, almejo e invejo os salsichudos que se fartam.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

CHOCOLAX [8629] Mas para que tomar tanto laxante si soffre de intestino preso toda a gente que bem come neste mundo? Quem come mal, quem passa fome nem tem muito o que cagar. Por vezes caga até molle demais. Prisão de ventre é coisa de burguez. O bom burguez tambem é bom gastronomo. Um purgante, nem leite nem assucar deveria lembrar, mas chocolate. Não concorda? Assim questiona alguem, e concordei, ainda que, na practica, discorde.

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PROGRESSÃO DISCIPLINAR [8630] Você pegou regime tão fechado por serem hediondos os seus crimes à luz da sociedade. Mas agora aquelles crimes podem ser virtudes, pois uteis ao regime que implantamos. Lhe damos uma chance. Si você topar, não fica livre, mas progride bastante e privilegios terá muitos. Será dos nossos presos carcereiro. Não, presos communs não, como você. Serão presos politicos, aquelles que contra nós luctaram e perderam. Com elles poderá você fazer aquillo que quizer, desde que não os macte por emquanto. Sim, até que implorem pela sua merda, pelo seu mijo, de comer e de beber. Que lambam seu chulé, que chupem seu sebinho, o que quizer, desde que não liquide ninguem logo. Você topa? Belleza. Companheiros seus tambem estão topando. Logo nós teremos prisões que bom modello serão, tanto aos presos como para a nova natta de practicos agentes carcerarios.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

POÈTE DE LA CRUAUTÉ [8631] Me deram appellido merescido. Meu verso não fará appenas theatro, ainda que exaggere em certas scenas. Não, minha crueldade não é minha. Será, sim, do leitor, que é quem decide si goza da desgraça alheia, ao ver que escrevo sem poder ver, ou si tem alguma piedade de quem soffre. Ja delles indaguei qual sentimento mais vezes lhes occorre. Elles não mentem si dizem que estiveram no logar dum cego soffredor, mas por um tempo bem breve, eis que nos olhos até venda puzeram. Todavia, appós aquelle momento piedoso, confessaram que estão muito felizes por visão perfeita terem. Fallam, concluindo: "Ainda bem que estou livre e você, poeta, se fodeu!" Assim, confirmo: cruel sou, por tabella, a bem dizer.

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QUESTÃO HUMANITARIA [8632] Por que será que vemos, em qualquer indulto de Natal a liberdade daquelle que perdeu sua visão emquanto cumpre pena mais fechada? Será porque dum cego na prisão ninguem tem piedade e está subjeito dos sadicos a todos os caprichos? "Caprichos" é maneira de dizer. Chupetas caprichadas, isso sim! Sinão, nem deixarão que se medique, que coma, nem siquer que dormir possa. Ninguem toca no thema, que é tabu, mas todos com quem fallo me confirmam a practica funcção daquella bocca que nunca poderá dizer um não. Tabu maior será si confirmarem que nunca tão "na marra" foi assim. Mas isso fica aqui, só no meu verso.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

OVERDOSE DE PHYMOSE [8633] Prenderam, em Brazilia, aquelle gajo que droga trafficava, mas debaixo de enorme chapelleta, mixturada ao sebo que se juncta nessa parte. Si fosse preso o Bob, o tal Porcão, meu idolo na vida mais real, teriam de exemptal-o, pois não é nadinha mixturado o que elle juncta, mas queijo puro, queijo, unicamente, formando mais volume, por signal, que nesse pau do gajo la detido. Ahi vejo vantagem, pois Porcão traz algo que mais vale no mercado do sonho, do desejo, do fetiche.

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COPLA DA COPULA [8634] Oral si for a foda, requer rhyma e metrica. Abra a bocca. Agora mamme na glande. Lamba, cumpra meu dictame. Assim. Agora mexa, para cyma e para baixo, os labios. Ah! Ja anima meu pau a sua lingua. Não reclame do cheiro. Vou gozar. Ahi, madame! Gostou? Então farei disto obra prima.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

SEM PROCURAÇÃO [8635] São Paulo não é tumulo do samba, é tumulo da gloria litteraria. Paulista que sou, outros brazileiros (mormente cariocas) são aquelles que estão a se lembrar de mim, ja quando septenta completei e septe mil sonnettos, fora alguns outros milhares. Aqui só me boycottam, no ostracismo me jogam, não dão premio nem cadeira. Podia ser eu mesmo quem diz isto, mas falla por mim (nunca auctorizado) algum confrade, em circulo pequeno, causando uns tantos risos constrangidos.

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EXCAPPATORIA [8636] Flagrada a trahir, ella se sahiu com esta: "Ah, meu querido! Si você por causa disto deixa de me ter amor, então estamos conversados e basta abbandonar-me! Estou correcta? Agora, si você me tem amor ainda, appesar disto que flagrou, fará por mim maiores sacrificios! Estou correcta? Ahi, vou lhe pedir que lamba as botas delle, em minha propria presença! Que prefere, meu querido?" Contou-me isso um amigo, o que supponho veridico, pois muito me excitou. Que pena! Me exquesci de perguntar que excolha a fazer veiu o meu amigo!


PRANTO EM PRETO E BRANCO

MEMORIA VISUAL [8637] Assim eu tenho ouvido, ultimamente, e em verso reproduzo do meu jeito: "Aquelle que, 'inda jovem, si de esquerda não for, é coração o que não tem. Aquelle que, ja adulto, si de esquerda ainda for, é cerebro o que falta." Septenta completei e 'inda me sinto mui joven, si vocês me entendem bem. Estou não só do lado do meu velho e forte coração, firme battendo, mas posso recordar que, emquanto vi, foi sempre deste esquerdo olho, que ja não pode ver, porem boa memoria ainda tem das cores que mais vivas me foram: a das arvores, o verde, alem do meu vermelho sangue quente.

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MASOCHRISTÃO [8638] Vez toda que elle leva a bofetada, ja vira a face e está de riso prompto na cara para nova, do outro lado. Que explica? Appenas fé numa attitude humilde e estoica? Ah, gente, eu ca duvido! Um hippie me explicou melhor. O riso tem duas intenções possiveis: uma amavel, entre "irmãos" que se encontraram alli, naquelle instante, e nem ainda trocaram cumprimentos ou abbraços; mas outra será caso dirigido a alguem extranho, cuja caretice bem seja perceptivel. Neste caso, é riso desdenhoso ou de ironia. Melhor explicação, mesmo, ficou faltando, pois nem todos que estão sendo na face extapeados hippies são. É muita bofetada, por signal.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

VIGILANTE MAN [8639] Accordo uma manhan e meu paiz está pegando fogo, ou quasi está debaixo d'agua. A casa ja, dos indios, mudou de nome e chama-se, não mais Xingu nem Tocantins, mas "Pendurama". Ninguem vê mais ninguem, pois todo mundo trancou-se e, quando ousou sahir, está de mascara no rosto. Mas eu vejo, embora cego, tudo se exgarçando, o lixo se expalhando, o temporal levando de roldão tudo na lama. Appenas eu vigio, mas em sonho. Assim que despertar, vou, na real, ser cego, por zarolhos, só, cercado.

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HE SOLD HIS SOUL [8640] Algum negacionista sempre esteve, ao longo das edades, trabalhando appenas para tudo confundir. Sophistas produziam fake news. Pregavam phariseus o que jamais na vida practicavam, como os crentes. Intrigas e boatos sempre foram, em guerra, armas no jogo do factoide. Então por que, nos tempos de internet, se falla ainda delle, esse vendido que expalha da discordia a fructa podre? Offerta com procura se equilibram, dahi por que Satan ja movimenta até cryptomoeda no chartão. Raiz freguez que sou, delle eu não quiz ouvir, por telemarketing, a prosa.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

SCARLET WOMAN [8641] Vermelho, um abajur tem luz discreta por traz do cortinado, que, de noite, de fora a gente nota ao caminhar naquella rua. A casa até que está bonita na fachada. Alli ja fui diversas vezes, sendo della amigo. Não, nunca fui querendo me deitar com ella na fatal cama redonda. Aquillo que, na casa della, ainda fascina a minha nitida memoria é sua acconchegante poltroninha azul, capitonada, alem do lustre de vidros todos multicoloridos que dão kaleidoscopico reflexo na salla. Mas meu ecstase eu attinjo no poncto onde ella serve esse puddim de leite condensado, uma delicia que só putas mais velhas fazer sabem.

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HOOCHIE COOCHIE MAN [8642] Cigana, aquella velha à minha mãe dissera que teria filho bem saudavel e bonito, um garotão por todas as mulheres cobiçado. Nasci, porem, eu mesmo, que vocês aqui podem ver, feio, todo torto, sem eira nem siquer uma beirada na cama da mais baixa das rampeiras. Que foi que me restou? Tirar um sarro daquelle escriptor cego, o tal Mattoso. Assim compenso um pouco o meu azar, pois tenho uma visão, ao menos, boa, embora não escreva porra alguma.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

EMPATHIA QUE ENTEDIA [8643] Appós ter affundado um bom pedaço da rua, de roldão levando casas, debaixo dos excombros ja se escutam pedidos de soccorro, ou antes, surdos gemidos. Excavaram e eis que está ainda viva aquella cadellinha! Depois de resgatada, agora a gente escuta gemidinhos bem mais surdos. Mais fundo os homens cavam e retiram aquelle cadeirante em bom estado! Agora até bombeiros deschartaram que possa ainda haver alguem com vida, embora haja quem jure ter ouvido gemidos abbafados. Finalmente, depois de removerem esse entulho mais grosso, um cego morto foi achado, mas todos, ja de sacco cheio, nem se importam mais com factos superados.

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LAMBISGOY [8644] Humano, um "lambisgoy" de escravo serve a todo chimpanzé, num mundo novo, chamado de "planeta dos macacos". Munidos de galacticos poderes, os simios dominaram tudo. Um homem somente sobrevive si se prostra e lambe esse expalmado pé dum delles. Depois o chupará, mas da maneira mais lubrica possivel: o macaco exige ser mammado como, outrora, mammara-se elle proprio. Hoje, mais commodo é mesmo usar a bocca dum humano, o qual querem chamar de "lambisgoy".


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PLANETA FOME [8645] Morreu Elza. Viveu como Dercy, ou antes, viverá. Não morrem ellas em vida, pois jamais apposentadas sentiram-se. Estiveram na vanguarda das novas gerações. "Planeta Fome" não dista, na galactica amplidão, dum outro que é tabu: "Planeta Foda". São ambos habitados por ETs, os taes "terraplanistas", que censuram o sexo como ommittem a comida no pratto dos mais pobres, não de espirito, pois essas duas musas são elite no magico universo onde estarão appenas umas almas luminosas.

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DERCY BOCU [8646] Assim, si não me enganno, foi chamado um celebre espectaculo onde estrella foi ella, com seu typico charisma de musa fescennina. Não me vi jamais em scena assim, em palco tal. Mas penso, como Nelson Cavaquinho, que só fará sentido nossa lenda si formos, 'inda vivos, premiados com esse inegualavel e inequivoco trophéu duma fatal reputação de eternos expoentes do calão nas artes, a serviço de exsistencia total que, philosophica, aggradesça aos céus por ter a chance de exsistir.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

CONTRAPARTIDA QUE REVIDA [8647] Foi dicto por um gajo que, sincero, mandou-me este recado que guardei tal como si trophéu famoso fosse: "Bem sei, Glauco Mattoso, que você no meu pé pensa quando se masturba, alem da minha glande phymosada. Não sei onde é que estive com a minha cabeça quando ousei lhe detalhar que chatos pés e bicco de chaleira eu tenho. Mas agora será tarde, pois sei que serei thema de punheta. Não posso prohibir a phantasia erotica, aliaz, de ninguem, mas appenas lhe informar quero que nunca irá concretizar taes mentaes scenas." Perfeito! Não podia ser mais claro! Agora, tal mensagem approveito e inverto, dirigida aos demais pés que, chatos, outros tenham: "Não, não posso taes scenas conseguir realizar, mas, em compensação, você jamais consegue me impedir de declarar, na sua cara, aquillo que estou sempre fazendo na punheta: seu pé chato lambendo, fora alguma fellação."

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TUDO TEM HORA [8648] Fiquei, nucha appoiada alli na beira da cama, à mercê delle que, durante alguns longos segundos, me fodeu a bocca, a bombar como si estivesse fodendo uma boceta. Gozou rindo. Porem, no dia a dia, bom amigo que sempre foi, me tracta muito bem, adjuda-me na rua, accompanhando o cego como um guia attencioso. Só quando quer foder é que me tracta assim e "Rea, cego! Rea, cego!" repete emquanto mette, fundo, o pau. Um dia consegui lhe perguntar qual era a razão disso. O gajo disse appenas, com desdem: "Tudo tem hora!"


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OPÇÃO PELA ADOPÇÃO [8649] Fallou o Papa. Achou ser egoismo casaes não terem filhos mas crearem um fofo bassezinho, um fofo beagle. Mas, quando teem um filho e quer um cão o filho, os paes adoptam um. E quando fugiu o cão, a faixa diz, na rua, que está chorando, triste, essa creança. Mas cresce o filho. Um dia, vae-se embora. Com quem o cão ficou? Com a mamãe. Então, a mamãe pensa: Quem será meu filho verdadeiro? Quem partiu ou quem commigo fica? Ahi, quem vê a barba do vizinho, pensa: Não, melhor é não ter filho, mas ter cão, um fofo bassezinho, um fofo beagle.

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DEVOÇÃO SEM DEVOLUÇÃO [8650] Fallou o Papa. Achou que é sacrilegio casaes não desejarem ter um filho. Catholico, um casal ouviu o Papa e teve. Mas mamãe se separou, ficou com a creança, alem da casa, do carro usado, moveis e gaiolas de passaros captivos e canoros. Mas ella adora, claro, uma ballada e deixa seu nenen com a vovó daquelle malcreado que só chora. Depois de, na ballada, conhescer um novo maridinho, cae é fora! Agora, a vovó cuida do menino, que cresce e quer casar, mas sem ter filho. Prefere ter cachorro, mas o cão tambem com a vovó ficará, pois, formado, o netto mora, agora, la na Australia. Tem gaiolas, aliaz, com passaros canoros, tambem elle.


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NA BOA [8651] Odeio os tetraplegicos, que esperam adjuda até na hora de cagar! Odeio os cegos! Elles teem aquelle olhar de peixe morto, que paresce mirar a nossa testa! Sim, tambem odeio os paraplegicos, na sua cadeira de rodinhas! A peor das raças é, porem, a dos doentes mentaes, que só babando vão nos hombros dos outros, com a lingua para fora, fallando só bobagens sem sentido! Vontade de pegar um tetraplegico eu tenho, de peidar na bocca delle! Autistas tambem! Tenho uma vontade damnada de expancar! Comem a cera do ouvido, ou a catota do nariz, e todos acham isso mor normal! Na boa, porra: cheirem meu peru! As minas mal comidas ficam vendo os filmes que só mostram a paixão dum cara normal pela doentinha ou duma normal pelo doentinho, e todos bem felizes no final! Caralho, se mijar não é normal! Cagar na fralda nunca foi normal! Não, raça assim não pode ser feliz! Feliz nem eu sou, porra! Ah, vão à merda!

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ULTIMA GERAÇÃO [8652] Você no cellular apperta, por enganno, uma teclinha qualquer. Prompto! Levou mais um preju. Não, não terei, jamais, um cellular. Mas 'inda sonho que exsista technologica maneira, um dia, para a gente empregar uma tranqueira dessas tendo só prazer. Apperto uma teclinha virtual e chega à minha casa aquelle boy de moto, me trazendo uma adoravel e celere encommenda: a propria bota usada pelo gajo, que eu descalço e posso desfructar pelos sentidos do olfacto ou paladar, alem da meia, do pé suado, tudo que se espera dum desses apparelhos advançados.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

DENTES CERRADOS [8653] Um medico masoca me contou: "Pegaram-me de jeito! O tal Porcão, com um allargador de cu, me fez ficar excancarado! Não usou meu rego unicamente para pôr a rolla, a mão inteira, até legumes que la muito cylindricos nem eram... Tambem como cinzeiro fui usado!" Gozado: o mesmo medico costuma pedir aos pacientes que não fumem, que fiquem abstinentes, que supportem o duro sacrificio sem um ai... Eu acho que esse medico paresce mais sadico, porem, que masochista.

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BRAÇOS ABERTOS [8654] Um padre, que pedophilo os boatos disseram ser, contou-me em segredinho: {Jamais eu poderia trabalhar nalguma pastoral que "do menor" cuidasse, nem siquer uma "do povo de rua", pois ha muito pivetão no meio das familias desvalidas. Então fui dedicar o meu fervor christão àquellas casas de sahude que tractam das creanças e dos jovens com cancer... Affinal, todos merescem ao menos um gostinho ter na vida emquanto teem de vida algum restinho!} Achei um tanto cynico, ou até bem morbido. Não posso discordar, comtudo, dum proposito christão.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

CONTEXTO [8655] Sahiu a nota technica que todos estavam esperando. O que ella diz se pode resumir neste contexto: "Comer, para a sahude, cocô faz bem, muito bem. As fezes são producto do nosso proprio corpo, são comida que ja saboreamos e, portanto, saudaveis, nutritivas e, na falta dum osso ou duma pelle de gallinha, viavel solução na actual crise. Aquillo que faz muito mal, de facto, é nojo ter de tudo, de bacteria, de virus, de bacillo. Ora, ao invés de tanta paranoia, mão lavada, vaccina, alcohol e mascara, a questão é sermos nós immunes pelo simples, normal mithridatismo, o natural caminho para acharmos a sahida." Qualquer questionamento que se faça à nota fica "fora de contexto", segundo os responsaveis pela pasta.

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LINGUAGEM NEUTRA [8656] Amigos meus de esquerda ja propondo estão uma linguagem totalmente exempta de machismo ou preconceito de genero. Direita de "direite" estão chamando, ou chamam ja de "esquerde" o que era, antes, esquerda. A bicha fica melhor chamar de "biche". Puto ou puta é tudo simplesmente "pute", "todes" agora "mixturades". Mas que porra! Ou, mais correctamente: Mas que porre! Pensei, então: Coitados dos petistas! Não podem mais chamar de "presidenta" a Dilma, agora só de presidente!


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SOLA GASTA [8657] Um ex-paraquedista me contava, depois de ter sahido do quartel: {Marron, nosso cothurno differia do preto dos demais. Um "pequedê" elite era das tropas. Si na rua andavamos em dupla, alguem notava o orgulho no marron da nossa bota. Um dia, adjoelhamos um veado que estava a nos olhar e lhe impuzemos que, ja de quattro, um brilho com a lingua nos desse nesse couro tão selecto. Faltou à bicha appenas abbannar o rabo. Contentamo-nos a trez. Agora que só tennis uso, o fresco de compta faz que nunca me encontrou.} Pensei commigo: o mundo voltas dá. Alguem procurará na sapateira aquella bota antiga, que precisa de novo dum bom brilho. Um orgulhoso veado ja saudoso ficará dos tempos em que, em transe, engattinhou.

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TUMULTO MENTAL [8658] Por Socrates jamais foi seduzido. Deixou-se seduzir por um sophista, porem, da peor laia: aquelle experto farsante que escrevia as mais fajutas tolices para tolos desejosos de serem sabios, mesmo que cahissem na logica armadilha do sophisma mais celebre, que em verso usei bastante, tal qual no "Madrigal fundamental". Quiz esse seu discipulo compor sonnettos ao guru, mas commetteu uns metricos cochilos, caso deste, {Ninguem recebe alta desse hospicio}, tão facil de evitar si inverso fosse, {Ninguem alta recebe desse hospicio}, bastando que esta anastrophe empregasse. Agora que morreu o tal guru, ha tempo de rever e revisar.


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VISÃO EMBARALHADA [8659] Na bolla de crystal uma cigana não viu o meu futuro, mas o viu num magico baralho, cujas chartas na mesa sorteou. Ahi, me disse: "Não, moço, o senhor nunca perderá seu olho que 'inda pode ver um pouco. Com elle 'inda fará mais poesia na vida do que feito tem agora." Eu mesmo não previa assim tão bom futuro para a minha visão má. Porem quiz crer, então, naquella velha vidente, que cegueira não previra. Agora que não vejo, bem consigo prever o meu futuro: só serei o celebre poeta que ja sou depois de estar em outra dimensão. Ahi ver poderei essa cigana, la attraz, interpretando por enganno a charta, por ter vista ja ruim.

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DESCONVERTIDA DESCONVERSA [8660] Pastor desilludido, me diz elle: "Não posso mais pregar, pois ja preguei os pregos que pregaram, na cruz, Christo. Sim, quanto mais pregava, mais eu via que estava desdizendo o que Jesus dissera. Ah, mais eu era antichristão! Jesus pregava amor. Eu só pregava um odio contra aquelle que não fosse christão, mas não christão como Jesus e sim qual Antichristo. Hoje, estou fora!" Entendo por que está fora. Ficou mais rico, bem desfructa ja dos bens que, experto, foi junctando nesse tempo de templos, que elle, então, tantos erguera.


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COLLECTIVO LENITIVO [8661] Conversa a dona Deborah commigo, vizinha que, sozinha, se lamenta: "Ai, Glauco, não aguento mais ouvir no radio tanta coisa negativa! Só fallam em desgraça! Tudo quanto occorre victimiza alguem, que chora, que grita, que reclama por justiça humana, até divina, sem successo! Estou desesperada, pois me vejo egual a tanta gente desvalida que falla aos microphones, meu amigo!" Emquanto se lamenta, dona Deborah me serve de puddim uma fatia enorme, generosa, que na calda está a nadar, e escuto o seu lamento, os olhos revirando de prazer. Então digo: {Concordo plenamente! Mas este seu puddim ninguem consegue fazer egual!} Ahi, mudando o pappo, se põe ella a contar qual o segredo de tantas iguarias accessiveis a tantos que comnosco são concordes.

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DIETA RESTRICTIVA [8662] Sorrindo, uma nutrologa me diz: "Seu Pedro, o senhor, sendo um diabetico, não pode nem pensar em comer doce de leite, nem puddim, nem alfajor, nem doce de batata doce, nem sagu, nem chocolate, nem curau, figada, goyabada, marmellada, suspiro, pão de ló, maria molle, brioche, brevidade, pão de mel, nem bollo de fubá, nem de banana, nem mesmo um manjar branco com aquella espessa calda, alem da rapadura, da torta de limão! Não, nem pavê, nem uma passoquinha siquer, nem siquer um brigadeiro dos menores!" Ouvindo o que ella falla, me deprimo, mas acho que nem tudo se perdeu. Dalli sahindo, passo numa loja de doces e me entupo de pastel de Sancta Clara, alem dalguns quindins.


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ESTADO DE DESATTENÇÃO [8663] A quem do terremoto tenha medo dá Norman Greenbaum este bom conselho: manter os pés pairando um tanto ou quanto accyma do chão. Desse modo, o sismo nem cocegas fará na sola dum moleque de cabeça feita, aquelle que barba tem comprida, alem do pé descalço, nesses annos sessentistas. Aqui, como não temos terremotos maiores, nosso medo vem do vento, que muda todo o tempo, ora dum lado soprando, ora dum outro, de repente. As nuvens mais escuras para la e para ca se movem. Guardachuva nenhum aguentaria taes viradas. Nem mesmo quem levita fica a salvo de cada temporal nesta nação.

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96 GLAUCO MATTOSO

NAPOLITANA À PAULISTANA [8664] A pizza, quando chove, entregue em casa é pelo motoboy todo molhado, mas chega até quentinha, ainda bem. Ahi, fiquei pensando: o tal moleque até que merescia a lambidella mais lubrica na sola que, suada, molhou a meia dentro da galocha que, quente e impermeavel, usa às vezes. Mas disso nem me lembro mais, agora que mordo uma fatia com aquelle sabor de mozzarella derretida.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

DIREITO DE AUSENCIA [8665] Direito duma ausencia sempre eu tenho na vida, a começar pela recusa de estar numa sessão onde só querem me encher, me perguntar sobre esses themas bizarros, violentos e pornôs. É muito chato! Digo que não vou ou la nem apparesço, simplesmente! Tambem não vou aonde elles insistem naquellas questões chatas sobre como componho os meus poemas, sobre methodos. Porem frequentemente vou à casa da velha dona Deborah, a vizinha. Tambem ella me criva de perguntas chatissimas, detalhes quer saber de tudo que se passa aqui no predio. Mas é que ella me serve, no café, aquelle seu puddim de pão. Ninguem resiste. Fallo, digo o que ella queira, confirmo qualquer caso de namoro, noivado, casamento ou adulterio.

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98 GLAUCO MATTOSO

SORDIDEZ DUM EX [8666] Um corno me contou, muito frustrado: "Foi foda! Aquella bisca me tomou tudinho, casa, carro, comptas, filhos! Fiquei na dependura! Agora vou a vida refazer! Começarei do zero! O peor disso tudo, Glauco, é que elle, Ricardão dos mais fuleiros, chulé tem desgraçado, uma frieira salgada duma figa no mindinho esquerdo! Nunca tive esse chulé! Não sei o que viu ella no vagau!" Fiquei, aqui, na duvida. Será que disse elle tal coisa appenas para me ver chupando o dedo, ou é tão manso a poncto de, ensignado, ser um cão?


PRANTO EM PRETO E BRANCO

LETTRAS DO THESOURO [8667] Um grande economista me contou: "Dos numeros não gosto. Das palavras invejo quem faz uso. Os prosadores admiro, mas ainda mais admiro os habeis trovadores. Sabe, Glauco? Comparo uma palavra àquelle titulo que vale, nominal, menos ou mais que sua quotação de liquidez. Poetas que sentido figurado dão para algum vocabulo o valor augmentam. Prosadores que nem sabem usar com propriedade essa palavra conseguem seu valor depreciar. Você titulos podres, Glauco, vende e lucra com tal alta alavancagem." Nem posso discutir, pois de finanças entendo patavinas. Elogio fez elle? Me esnobou? Vocês dirão.

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100 GLAUCO MATTOSO

CENSO COMMUM [8668] De rua moradores tambem foram objecto do maior recenseamento. Assim elles acharam, finalmente, debaixo de escondido viaducto, alem da cadellinha que perdida estava, muitos bichos que sumiram nas varias connexões de tantos voos. São gattos, camundongos, chimpanzés e filhos, inclusive, de paes meio (Coitados!) distrahidos, que depois se exquescem de na rua procural-os. Pequeno zoologico os agentes do censo, um tanto pasmos, encontraram. Ainda não acharam, todavia, a aranha gigantesca que fugiu num voo da Amazonia para Porto Alegre e se embrenhou num mattagal. Não quero nem pensar! Aqui termino.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

JEITINHOSO [8669] Simploria, a senhorinha me pergunta: "Seu Glauco, ja que bruxo o senhor é, me diga: Deus castiga, não castiga? Ao quincto dos infernos manda quem peccou! Não é verdade? E quem está alli, tomando compta desse inferno? Satan, não é verdade? Então Satan de Deus está a serviço, castigando aquelle que Deus manda castigar! Então Deus é peor que Satanaz, pois elle é quem decide si você meresce ir ao Diabo que carregue a sua alma damnada às labaredas! Quem é que salva a gente, então, seu Glauco?" Pensei e respondi: -- Só Satan mesmo! Deus manda, mas Satan desobedesce, depende só da gente. Si soubermos com jeito pactuar... -- A senhorinha paresce que entendeu, pois me sorriu.

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VISÃO DE FUTURO [8670] "O povo que edifica as suas casas em areas arriscadas perde tempo, alem da propria vida, alem dos bens. Tivesse elle visão de qual futuro terá barrancos taes, evitaria nos morros morar, obvio. Ora, depois não venham reclamar do temporal, da casa soterrada, do preju!" Quem disse tal bobagem, si propheta quizesse ser, veria quantos votos perdendo vae na proxima campanha. Quem é que visão clara, aqui, não tem?


PRANTO EM PRETO E BRANCO

FOREVER [8671] Cantava Freddy: "There's no time for us!" "No time for losers!", disse elle, tambem. Queremos nós viver eternamente mas somos perdedores. Cada dia nós somos mais um pouco derroptados. Só somos vencedores si quizermos morrer, mas morrer cedo. O tempo não perdoa quem perdeu a sua chance de, joven, se mactar. E como não consegue todo mundo se lembrar da propria juventude, para sempre convive com a perda da memoria.

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EIN VOLK [8672] Um povo, uma nação, um lider. Foi assim que definiu Hitler a sua fortissima Allemanha reunida em torno do nazismo. Só faltou citar a quarta coisa nessa lista de falsas unidades: uma raça. A raça branca, loira, azul nos olhos. Premissa, aliaz, fragil, ja que loiros nem eram os nazistas mais durões. Mas povo, mesmo, unido, significa diversos gruppos ethnicos vivendo na mesma sociedade, isso se sabe. Num mesmo territorio, será lider quem venha, desses gruppos, do mais pobre, porem mais numeroso. Ora, paresce que disso não se sabe 'inda direito. Bem, nosso racial laboratorio dá sempre taes licções, mesmo que seja preciso começar, sempre, de novo.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

"AQUI NOSSOS OSSOS ESPERAM OS VOSSOS" [8673] Ouvi fallar que exsiste essa maccabra e celebre inscripção num cemeterio qualquer de Portugal. Na quarentena inverte-se esse tetrico sentido. Aqui reclusos, somos nós que estamos chamando os eskeletos que da tumba virão a nós unir-se e, em votação symbolica, acclamar na presidencia aquelle zumbi cujo nasal furo ainda traga preso um tubo usado durante seus momentos terminaes. Ahi nos junctaremos, zumbis vivos e mortos, para darmos fim bem justo àquelle que mactou mais gente nesta infinda pandemia. Seu cadaver, agora sem cabeça, pernas finas, rhachiticas, em filme exhibirá.

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USO CONTROLADO [8674] O dono da pharmacia me explicou: "Não posso lhe vender esse remedio, seu Pedro. Sem receita, não, não posso. Mas posso lhe indicar um outro. Quer? Não, este não precisa de receita e, posso garantir, mais venenoso effeito tem do que esse que pediu. Ah, macta rapidinho! Si é sem dor? Ahi não sei, seu Pedro. Não usei. Não, graças a Deus, nunca precisei. Então, vae levar este? Tem convenio? Cadastro ja comnosco o senhor fez? Por nada. Volte sempre, senhor, digo, emquanto não fizer uso da droga." Achei-o tão sympathico, que estou alli sempre comprando, pois ainda coragem não creei para testar aquelles comprimidos efficazes.


PRANTO EM PRETO E BRANCO

FOREVER YOUNG [8675] A dona do sallão me garantiu: "Raspar, como o senhor raspa a cabeça, alem da barba, adjuda a manter joven a minima apparencia. Para a pelle, porem, eu recommendo usar um creme que estou vendendo, muito baratinho. Sae ruga, sae verruga, sae até um pouco desse excesso de bigode, tambem de sobrancelha. Vae levar? Talvez, então, na proxima? Belleza!" Pensei aqui commigo: o meu bigode está ja bem branquinho, mas não quero edade disfarsar, coisa nenhuma. A minha sobrancelha até tem pello demais, mas os cofio quando fico saudoso da longinqua juventude.

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108 GLAUCO MATTOSO

OU LUCTO OU LUCTA [8676] Chorado tanta gente tem, e tanto choraram os seus mortos os que estão ainda vivos, que esse choro todo accaba convergindo para aquella immensa vibração que, collectiva, é como nuvem negra a pairar sobre o tecto do palacio da Alvorada. Em forma de energias negativas as lagrymas concentram-se. E elle rindo. Se espera, ainda, aquillo que detona a chuva: algum relampago, o trovão primeiro, dos milhões que estão a pique de sobre elle cahir. Ou seja, a praga. Mas praga, aqui, não falta. Falta appenas pararmos de chorar por um momento.


SUMMARIO RANZINZAS CINZAS [8577].............................9 KHORO NO CHORO [8578]..............................10 HUMANISTA RAIZ [8579]..............................11 NECROLOGIO PODOLOGICO [8580].......................12 EXCOLHI EXPORRAR [8581]............................13 DE BEM COM MEU BEM [8582]..........................14 DUPLA DOSE EM DUPLA [8583].........................15 ODOR INCOLOR [8584]................................16 ZANGA DO YPIRANGA [8585]...........................17 MACACOZINHO [8586].................................18 COMICA COMMISERAÇÃO [8587].........................19 SUICIDIO ASSISTIDO [8588]..........................20 KALEIDOSCOPIO (II) [8589]..........................21 FETID FLAT FEET FETISHIST [8590]...................22 CATERVA SEM RESERVA [8591].........................23 FEMINICIDIO [8592].................................24 LEFT BEHIND [8593].................................25 DEXTRO SESTRO [8594]...............................26 NECROPOLITICA [8595]...............................27 CANTO DO MEU CANTHO [8596].........................28 SANCTO DO MEU PRANTO [8597]........................29 MERA CHIMERA [8598]................................30 AMORES E RUMORES [8599]............................31 MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL [8600]....................32 POSTVERDADES (I) [8601]............................33


POSTVERDADES (II) [8602]...........................34 IMAGINARIO CORRELIGIONARIO [8603]..................35 MUDDY WATERS [8604]................................36 NOBEL DE MEDICINA [8605]...........................37 NOBEL DE PHYSICA [8606]............................38 NOBEL DE CHYMICA [8607]............................39 NOBEL DE LITTERATURA [8608]........................40 NOBEL DA PAZ [8609]................................41 NOBEL DE ECONOMIA [8610]...........................42 EVANGELHO DE THOMÉ [8611]..........................43 PRECOCE EDADE [8612]...............................44 SYNCRETISMO [8613].................................45 AMERICANNIBAL [8614]...............................46 TUDO EM CASA [8615]................................47 CUIDADOS PALLIATIVOS [8617]........................49 MUITO POUCO [8618].................................50 CONNEXÕES [8619]...................................51 CHUCRO NÃO VISA LUCRO [8620].......................52 SNEAKERHEAD [8621].................................53 RESPOSTA DE ALGIBEIRA [8622].......................54 NARCISUDO [8623]...................................55 RESPONDÃO [8624]...................................56 ACCEITO PRECEITO [8625]............................57 O SEDENTARIO E O SEDENTO [8626]....................58 MOTTE MOTIVACIONAL [8627]..........................59 POUNDS FOR THE HOUNDS [8628].......................60 CHOCOLAX [8629]....................................61 PROGRESSÃO DISCIPLINAR [8630]......................62


POÈTE DE LA CRUAUTÉ [8631].........................63 QUESTÃO HUMANITARIA [8632].........................64 OVERDOSE DE PHYMOSE [8633].........................65 COPLA DA COPULA [8634].............................66 SEM PROCURAÇÃO [8635]..............................67 EXCAPPATORIA [8636]................................68 MEMORIA VISUAL [8637]..............................69 MASOCHRISTÃO [8638]................................70 VIGILANTE MAN [8639]...............................71 HE SOLD HIS SOUL [8640]............................72 SCARLET WOMAN [8641]...............................73 HOOCHIE COOCHIE MAN [8642].........................74 EMPATHIA QUE ENTEDIA [8643]........................75 LAMBISGOY [8644]...................................76 PLANETA FOME [8645]................................77 DERCY BOCU [8646]..................................78 CONTRAPARTIDA QUE REVIDA [8647]....................79 TUDO TEM HORA [8648]...............................80 OPÇÃO PELA ADOPÇÃO [8649]..........................81 DEVOÇÃO SEM DEVOLUÇÃO [8650].......................82 NA BOA [8651]......................................83 ULTIMA GERAÇÃO [8652]..............................84 DENTES CERRADOS [8653].............................85 BRAÇOS ABERTOS [8654]..............................86 CONTEXTO [8655]....................................87 LINGUAGEM NEUTRA [8656]............................88 SOLA GASTA [8657]..................................89 TUMULTO MENTAL [8658]..............................90


VISÃO EMBARALHADA [8659]...........................91 DESCONVERTIDA DESCONVERSA [8660]...................92 COLLECTIVO LENITIVO [8661].........................93 DIETA RESTRICTIVA [8662]...........................94 ESTADO DE DESATTENÇÃO [8663].......................95 NAPOLITANA À PAULISTANA [8664].....................96 DIREITO DE AUSENCIA [8665].........................97 SORDIDEZ DUM EX [8666].............................98 LETTRAS DO THESOURO [8667].........................99 CENSO COMMUM [8668]...............................100 JEITINHOSO [8669].................................101 VISÃO DE FUTURO [8670]............................102 FOREVER [8671]....................................103 EIN VOLK [8672]...................................104 "AQUI NOSSOS OSSOS ESPERAM OS VOSSOS" [8673]......105 USO CONTROLADO [8674].............................106 FOREVER YOUNG [8675]..............................107 OU LUCTO OU LUCTA [8676]..........................108


Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO INGOVERNABILIDADE PEROLA DESVIADA O POETA PORNOSIANO BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS


São Paulo Casa de Ferreiro 2022




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