QUADRO DESEMMOLDURADO

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QUADRO DESEMMOLDURADO

Glauco Mattoso

QUADRO DESEMMOLDURADO

E OUTROS SONNETTOS

São Paulo

Casa de Ferreiro

Quadro desemmoldurado

© Glauco Mattoso, 2024

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

QUADRO DESEMMOLDURADO E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2024

214 p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.

Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem se torna meu patrono.

O posto que, na nossa Academia, exalta Antonio Lobo de Carvalho exige que eu me exmere em ironia.

Nem só de prazer vive meu trabalho, emfim, eis que quem antes tudo via ja nada vê. Tambem à dor eu calho.

SONNETTO DO QUADRO DESEMMOLDURADO

Repenso, ao ver-me em lapides vazias, o pulpito que os passaros comforta. Na cama quente, a vibora ja morta dos tympanos rodeia as flores frias.

Tricyclos e charrettes fugidias percorrem a afflicção da rua torta. Talvez a confusão seja o que importa nos casos de fraternas cantorias.

Na salla, sobram cinzas da terrina. Jamais transparesceu tanta amargura dos rollos de papel sem margarina.

Mas eis que, devolvendo o que rumina, o velho camponez produz a pura tinctura de morango. O show termina.

SONNETTO DO IMPOTENTE PREPOTENTE

Quem quer uma abstinencia sexual impor a toda a turma adolescente, ainda que se diga casto ou crente, ser cynico precisa, sem egual.

Não pode ser polygamo nem, mal se livra da terceira mulher, rente que nem pão quente, estar perdidamente cahido pela quarta, a mais fatal.

Tampouco pode, quasi nos septenta, fazer vasectomia, se mostrar marido, pae, machão que ja se aguenta.

Qualquer um que abstinente virar tenta terá que se bronhar, caso um azar não tenha de ser brocha, alem de penta.

SONNETTO DO MIMIMI

{Sem essa, Glauco! Um cego não tem nada que estar se lamentando! Por aqui fiquei depois que tanto pappo ouvi de gente se dizendo desgraçada!}

{É só saber levar! Capaz é cada ceguinho de fazer tudo o que vi fazerem, de evitar fazer chichi no dedo ou para fora da privada!}

{Não acha, cara? A gente até se enfada! Conhesço um conformado, que sorri de tudo, faz comsigo uma piada!}

-- Bem, quando de mim riu a molecada, não pude rir tambem. Nem chorei si, calado, ouvi dos gajos a risada.

SONNETTO DO GAY MOMO

De novo o Carnaval chegando vem! De novo me trancar em casa vou, mas, sendo masochista como sou, irei phantasiar-me pejo sem.

Não visto phantasia de nenen, dum indio ou dum pirata. Ja ficou, emfim, fora de moda no meu show usar escuros oculos, tambem.

Aqui no meu sallão, nem venda ponho. Só sirvo um gordão amo que conservo no rol das amizades, ou no sonho.

Momesco follião, do meu tristonho semblante elle excarnesce. Sou seu servo e penso no seu sceptro si me bronho.

SONNETTO DO “GLAUCUS ATLANTICUS”

Fiquei sabendo disso por um serio leitor: apparesceu no litoral bahiano um animal descommunal, um “monstro”, si seguirmos o criterio.

A “fera”, como ao bicho se refere o sagaz cyberamigo, mui lethal será pelo contacto, dizem, tal a acção de seu “veneno deleterio”.

Chamou “Glaucus Atlanticus” quem quiz tal bicho baptizar. Pelo que noto, tem lettras o biologo feliz.

“Veneno deleterio” nos meus vis versinhos, sem ser monstro, sempre boto. A fera? Ah, tem, nos olhos, meu matiz.

SONNETTO DA HYPERBOLICA PARABOLA

Dengoso, o meu basset fazia manha si juncto o não levassemos à rua. “Mais infeliz do mundo” foi a sua maneira de fazer manha tamanha.

Mas, quando retornavamos, extranha mudança appresentava. Ja recua da pose de tristeza e não actua mais como quem affagos jamais ganha.

Então, “o mais feliz do mundo” o cão se sente, recebendo-nos com festa, e nós lhe damos beijos de paixão.

Assim se extende aos bardos a licção. Si emburra, algum tal clima manifesta que vem a Terra abbaixo. Um drama? Não.

SONNETTO DYLANIANO

A gente, quando joven, se devota à paz, ao amor. Trouxa, a gente apposta no vento das mudanças e, resposta achando que trará, fé nisso bota.

Mais tarde, nota a gente que lorota foi tudo o que se disse e desencosta dos lideres, dos sonhos, dessa bosta. Achamos ser o vento um idiota.

Accordo de manhan, não vejo nada. Agora reduziu-se meu desejo à luz, inexsistente na alvorada.

Virar vae a cegueira, vez mais cada, desgraça collectiva, no varejo. Mas graça acho naquella verve errada.

SONNETTO EMILIANO

{Fallar dum paulistano uffano ousou Emilio de Menezes num sonnetto bastante precioso, mas estou convicto de que seja algo obsoleto.}

{Não creio que, Glaucão, gaffe commetto, mas digo: o bandeirante ja virou figura dephasada si o coretto de Sampa bagunçar elle tentou.}

{Diz elle que o subjeito ja nem bota mais usa, que ficou, sem ouro ou pratta, na dura pindahyba! Fez chacota!}

-- Emilio sempre bota, a gente nota, alguma lenha aqui. Mas si se tracta de bota, a mim me cabe ser quem bota.

SONNETTO DA UNCÇÃO

Fallar dos “pés ungidos” dum pastor faz jus à minha lingua, assaz “ungida”, tambem, mystico thema que convida o crente à servidão, mas com amor!

Quem mais predestinado será, por vontade do Senhor, para a devida lambida, a divinissima lambida no pé do mais prophano peccador?

Tal lingua appenas eu, o mais punido de todos, é que tenho! Ja lambi o pé de quem jamais foi convertido!

Mas lambo, porque tenho uma libido sagrada, consagrada! Quem aqui duvida? Ah, não! Nem eu de mim duvido!

SONNETTO DA CENSURA QUE PERDURA

Fiquei com mais inveja ainda desse tal Mario, ou mais até do tal Machado! Que gloria! Ser por ogros censurado é tudo que pedi que me occorresse!

Aquelles brucutus! Por elles, esse acervo litterario ser queimado podia! Até Lobato desaggrado causou! Quem quiz que disso se exquescesse?

Inveja sinto, claro! Bastaria ser lido por um desses brucutus e eu entro p’ra selecta galleria!

Mas é pedir demais que, qualquer dia, um delles ler consiga, si teem cus e medo de gostar da sodomia!

SONNETTO DO SACCO SADICO

Ficara tetraplegico o subjeito. Da cama, sem adjuda, não sahia. Appenas a cabeça se mexia. Do sadico cunhado ouviu: “Bem feito!”

Ninguem por perto, o sadico do leito acchega-se e lhe peida bem na via oral, lhe exfrega a rolla, até. “Não chia!”, deu ordem. Disso tira bom proveito.

Mostrando um sacco plastico, promette usal-o caso peça por soccorro a victima, que pensa: “Assim eu morro!”

Mas chupa, pois tem medo do pivete. Quem isso me contou viu quando o gorro de plastico poz elle num cachorro.

SONNETTO DA VIVA VOVÓ

Achavam que ella, a Wilma, ja gagá estava. Pois onde é que ja se viu senhora tão gentil tornar-se vil e má com seus escravos? Alguem ja?

Occorre que ella mestra foi, será de sadicos, masocas, de quem riu da dor alheia, como quem, servil, serviu alguem que duras ordens dá.

Pessoalmente, Wilma nem paresce cruel, pois busca affectos, amizade propõe, na devoção da pia prece.

Zeloso, torço para que não cesse de ser quem tantos homens persuade. Tão magica vovó não envelhesce.

SONNETTO

Dormi. Quando accordei, esta manhan, achei extranho: triste nem fiquei. Dormi. Quando accordei, esta manhan, mais triste nem fiquei. Por que? Ja sei!

Alegre estou. Nem penso nessa van carencia da visão, em ser o rei na terra dos ceguinhos, pois Satan commigo fez um pacto, uma astral lei.

Si sinto muita falta da visão, adspiro minha meia. Nesse escuro, do cheiro della augmenta a proporção.

Blueseiros, muito tristes todos são. Lhes falta alguma coisa? Alli, no duro, só querem é fazer uma canção.

SONNETTO DA MORDIDELLA

Que sarro! Como pode de moral fallar alguem que visto foi na photo deitado com mulheres nas quaes boto o rotulo de “putas”, affinal?

O gajo faz sermões, prega com tal fervor de puritano, que devoto pensamos ser dalgum monge remoto, dum rude inquisidor, dum ancestral…

Magina! A photo mostra a sua cara roçando pelas nadegas de pelle branquella! Que mordida alli lascara!

Morder bunda de puta não ousara siquer o actor pornô cujo pau felle tal puta! Que canalha! Arre! Que tara!

SONNETTO DA GRIPPE ASIATICA

Não pode ver chinezes sem ficar nervosa, a senhorinha. Aliaz, não quer ver nem da Korea, do Japão, ninguem por perto. Teme se infectar.

Ouviu fallar da grippe, similar àquella tal do frango, ou do leitão, direito ja nem sabe. Faz questão da mascara, ao sahir. Mas deu azar.

Pegara resfriado qualquer, feito aquelles que entupir vão o nariz. Correra ao hospital, com dor no peito.

Occupa, ja nas ultimas, um leito inutil ao judoka que, feliz, curou-se. Nem usou lenço, o subjeito!

SONNETTO DO VINGATIVO MOTIVO

Diz elle: “Vae haver logo o revide! Mas só que não será com a facada que iremos desforrar, não! Quem aggride com arma branca perde de virada!”

Pergunto o que fará si elle decide nas urnas disputar. “Maldicto!”, brada o gajo. Caso a um brinde me convide, direi que ja nem bebo limonada.

Insiste: “Degollar não addeanta! Só bomba! Não, facada na garganta capaz é de curar-se! Não, exquesça!”

Pergunto-lhe por que cultiva tanta vingança. Diz: “Magina! Até me expanta você me contestar que elle meresça!”

SONNETTO DO GRAMPO

{Não podem me mactar, Glaucão! Alô? Cahiu a ligação? Não? Pois lhe digo, Glaucão: Não vão fazer isso commigo! Eu sei de muita coisa! Fui pivô!}

{Conhesço o cu da mosca do cocô do jegue do bandido! Que perigo si eu conto! Né, Glaucão? Alô? Lhe ligo depois? Posso fallar, caralho? Pô!}

{Apposto, Glauco, que elles não terão coragem de mactar-me, pois accabo de copias expalhar! Ouviu, Glaucão?}

-- Alô? Ficou ruim a ligação! Me ligue, então, depois! Tomar no rabo não vou si entendi mal, não, meu irmão!

SONNETTO AO JORGE DE LIMA

O Jorge canta a lagryma que eu choro, a lagryma que diz ser velho thema. Differem do suor que, em cada poro, nos brota, seu sabor e seu dilemma.

Salgada, nada nella commemoro que valha celebrar, pois com extrema tristeza a thematizo neste foro poetico, onde não falta problema.

Meu olho para ver utilidade ja teve. Fora a angustia que me invade, agudas dores causa a noite inteira.

Um olho tão inutil servirá de salobra mina d’agua. A gravidade do traste me exorbita da caveira.

SONNETTO DO MILITANTE EMBANANADO

Julgando-se excolhido, ou enviado, a todos dá bananas o sacana. Usando dessa mimica prophana, affasta quem não lucta do seu lado.

Ignora que elle mesmo mais se damna, pois, como dá valor ao que é sagrado, papel faz de sacrilego, coitado, perante esse povinho que se irmana.

Commentam pelas ruas: “Que subjeito! Ja teve trez esposas e defende valores da familia! Quem entende?”

A quem lhe perguntar, mostra despeito por esses que compraram o que vende. Ninguem mais considera que se emende…

SONNETTO AO ZÉ LIMEIRA

O vate voejava pelos ares, do modo como vagamente explode um cego cantador que só se fode na lyra pertinaz dos lupanares.

Urrou um urubu: “Si tu tomares de esquerda a direcção, te tornas bode, aquelle expiatorio, que saccode as asas, mas não foges de teus pares!”

O vate voador nem deu ouvido aos urros do urubu. Voou até cansar dessa viagem sem sentido.

Pousou numa pousada do Partido, ouvindo do cacique e do pagé mais urros, e exporrou, desreprimido.

SONNETTO DO CRAPULA

A filha do juiz casou-se e está ja quasi separada. Agora vem o genro e entrega o sogro que, ninguem duvida, p’ra prisão em breve irá.

Diz este: “Eu não! O crapula que va pro carcere, eu jamais!” Quem o detem sorri, pois entendeu quanto odio tem o pae da separada ao entrar la.

O “crapula” até pensa que feliz ficou porque vingou-se do sogrão. Vingar-se, na prisão, quer o juiz.

O publico do “crapula” se diz adepto, mas torcer todos irão é contra taes parentes, tão gentis.

SONNETTO AO VICENTE DE CARVALHO

Magina! Que esperança ter podia alguem que ficou cego de pouquinho em pouco, tão pouquinho que, mesquinho, poupava até, nas lentes, a myopia?

Bobagem! A cegueira lhe viria tirar todo o resquicio, rapidinho, de inutil optimismo. Ja adivinho que fez esse infeliz o que eu faria.

De tudo duvidou. Felicidade, pensou, está naquillo que nós vemos. Não tendo o que enxergar, cremos nos demos.

Quem for mais realista, fan de Sade se torna. Si está cego, nos extremos do vicio se rebaixa, ja sabemos.

SONNETTO DA SABONETEIRA

Não ouço commentarem, mas vocês notaram, certamente, que não presta a tal saboneteira que, se attesta, não prende o sabonete e feio fez.

Maldosos ja disseram: portuguez algum a projectou. Quem não detesta aquella porcaria que ja, nesta cidade, não ganhou nenhum freguez?

Do typo que, embutida no banheiro, affunda em azulejos, ella não impede que excorregue esse sabão…

Porem, é com certeza brazileiro do traste esse inventor, que quer no chão pegar o sabonete… Veadão!

SONNETTO

AO MARTINS FONTES

Qualquer Estado Islamico paresce cediço, prescindivel, si se tracta de viva queimar uma amante chata, cheireta, pertinaz, que intrigas tece.

Martins Fontes, num metro que padesce de excesso na syllabica sonata, a morte commemora de insensata e louca salamandra, com finesse.

Humanos tambem curtem uma scena de gente que, queimada viva, morre berrando, como quem está de porre…

Ao fogo ja ninguem bruxas condemna, mas bem que queimar vivo nos occorre aquelle capitão, caso nos torre…

Em pleno transatlantico, um infame boato circulou: com grippe alguem estava, a tal, gravissima. Ja sem as forças, morrerá. Clama a madame:

“Aqui não fico! Quero o meu exame fazer e, liberada, que ninguem me possa aqui reter! Ah, ninguem tem direito de impedir-me que reclame!”

Reclama, faz escandalo, de tal maneira que, em minutos, o navio é posto em quarentena, alli no Rio.

Hysterica, a madame passa mal, accaba se infectando. Por um fio não tem um peripaque. Eu, aqui, rio.

SONNETTO DO CAMBIO

{O dollar está caro? Ora, melhor assim! Não acha, Glauco? Para mim, devia augmentar mais! Quem sabe, emfim, accaba a farra, a pandega maior!}

{Do mundo viajar vão ao redor bem menos, doradvante! Essa chinfrim domestica, a vovó do botequim, terão que fazer comptas, ja, de cor!}

{Viajem para as praias daqui, porra! Sae muito mais barato! Olhe, eu não quiz chamar a faxineira de cachorra!}

-- Magina! Quem dirá que nos occorra pensar mal de você! Mas ser juiz da vida alheia faz que rumor corra…

SONNETTO SARTREANO

De Sartre o que se sabe e tambem sei é que vae sempre alguem ser algo. Pegue o caso duma puta, que seu jegue ammarra na boceta. Pegue um gay.

Diz elle: “Ninguem deu tudo o que dei, por isso não sou cego que se cegue!” Tá bem! E quando o gajo não consegue ser nada nesta vida? Que direi?

Direi que nenhum cego symboliza a these sartreana, a menos que verseje quem na cara delle pisa.

Em summa: não bastou ser, na pesquisa IBOPE, mais um cego que você na rua vê. Ser vate elle precisa.

SONNETTO DA INSOMNIA SONORA

{Não paro de pensar, Glauco, durante a noite, nesse rock! Estou tambem soffrendo disso. O somno nunca vem e tento fazer coisa semelhante.}

{Reviro o travesseiro. Quem garante que durmo? O cobertor, que culpa tem? Levanto. Tomo um banho. Vou alem e como, na cozinha, algo crocante.}

{Voltando para a cama, não consigo pegar no somno! Um livro leve leio, que está de palavrões, como os seus, cheio.}

-- Sossegue. Isso tambem se dá commigo. Ahi, resolvo logo: sapateio ao som dum rock experto, meu recreio.

SONNETTO DESOSWALDIANO

{Dizendo que não leu e não gostou, Oswald essa piada amplia para de todo auctor rival gozar a cara. Só quando os lemos vemos quem errou!}

{Agora lhe pergunto, Glauco: Dou valor ao que elle diz? Elle compara o Mario com a miss que, numa tara traveca, transformista deu seu show!}

{Tolero, Glauco, offensa tão vulgar da parte de quem disse ser vanguarda? Não! Ponho-me do Mario no logar!}

-- Concordo plenamente. Se accovarda a claque. De “anthropophaga” quer ar. Mas Mario tem mais alto patamar.

Um typo cafageste eis que eu estudo faz tempo. Descrevel-o ora, aqui, tento. É cynico, orgulhoso. Tem nojento sorriso de desdem. Sorri de tudo.

Briguento, mas covarde, elle é mehudo e finge luctador ser, violento. Alguns o rotularam de “marrento”, mas outros o chamaram de “marrudo”.

Cruel e fanfarrão, abusa à bessa do fracco ou indefeso, que não pode, no braço, reagir, e só se fode.

O cego, que excorrega, até tropeça depois de rasteirado, emfim, p’ra mode chupar seu pau, por mais que se incommode.

SONNETTO DO ACCERTO DE TRACTAMENTO

Hem? Como cê se sente, infeliz? Hem? Responde, infeliz! Cego cê se diz? Então vae se foder só porque eu quiz! Ahi, cara! Adjoelha! Muito bem!

Assim que eu gosto! Sabe chupar sem ter nojo? Vae saber! Lambe, infeliz! Vae, passa a lingua porca no que eu fiz! Chichi tem gosto bom? Que gosto tem?

Engole, infeliz! Abre bem a sua boccona de ceguinho! Quem mandou você perder a vista? Soffre! Sua!

Assim, vae! Vou gozar! Ah! Continua! Vae, chupa! Ah! Gostou, cego? Não gostou? Azar! Bebe meu mijo! Não recua!

SONNETTO DA MOLECA SAPECA

Talvez porque tivesse ella a figura dum Dennis, o Travesso, ou Pigmentinha, eu, quando adolescente, nella tinha a minha namorada… Farsa pura!

Seria formidavel (assim jura meu ego) si Pavone fosse minha amante masculina! A garotinha commigo fez bastante travessura!

Na poncta dos pés entra no meu sonho. Fazemos um chichi la na montanha. Jogando futebol, ella só ganha.

Em verso martellarmos lhe proponho. Tentando ser amante, fui bisonho. Mas suas canções força teem tamanha!

Mulheres de politicos, Glaucão, não são umas coitadas? O subjeito mantem muitas amantes e “Bem feito!” diz disso, sem reservas, o povão!

Algumas humilhadas muito são! Um certo presidente tinha feito segredo de “impedido” ser. Sem jeito ficou a dama, alem do Ricardão!

“Meu bem, eu estou gravida! Brindemos!” -- Mas fiz vasectomia! Quem é o pae? “Não brinque, meu querido! Com os demos!”

Hem? Esses Ricardões, que nem sabemos quem são! Mas o marido, quando trae e esconde a trahição… P’ra la deixemos!

SONNETTO DA SALIVA

Descrevo-lhes extranho pedicure. A lingua serviçal, que se encarrega da sordida tarefa, lingua cega será, por mais que “exotica” ser jure.

Frieiras, callos, tudo que ella atture lamber, que inspirem nojo ninguem nega. Cliente não será nenhuma brega madame, mas chuteiras quem pendure.

De varzea, certamente, é quem cliente se torna dessa lingua, que agua quente dispensa ao descascar a grossa sola.

Confirmo o caso: digo que se sente servido o jogador e que não mente o cego que serviu tal rapazola.

SONNETTO DO DISCURSO LEGENDADO

Mas quanta baixaria ja se falla accerca dum fulano tão vulgar num cargo que precisa de exemplar conducta mas cahiu na commum valla!

O gajo quer familia, alli na salla, ouvindo o seu sermão, mas, em logar daquellas platitudes, vem fallar da foda alheia, alem da alheia “mala”!

Assim não é possivel que pretenda exemplo dar de civica virtude! Ninguem com tal conversa mais se illude!

O gajo diz: “Ja tenho uma tremenda tarefa! Por vocês topal-a pude!” Mas leia-se: “Satan! Satan! Me adjude!”

SONNETTO DA VELHA PHRASE

{Bandido bom não é bandido morto, appenas! É preciso tortural-o bem, antes de mactal-o, Glauco! Fallo sem força de expressão nem descomforto!}

{Meu poncto é bem directo, não é torto, mas sei que vou pisar, Glauco, no callo daquelles humanistas! Que regalo, na bronha, proporciona tal desporto!}

{Deleite é torturar bandidos, ja que falta não farão! Mas o melhor foi quando eu os ceguei! Barato mor!}

-- Você nunca pensou como será que podem se vingar? Olhe em redor! Por toda parte estão! Será peor!

Ninguem confessa aquillo, mas que ja fizeram, ja fizeram. Não me accanho, porem, de confessar que dou, no banho, lambidas no que duro sempre está.

Chupadas, tambem. Logico, o que dá aquellas lambidellas e o tamanho da rolla augmenta, até sahir o ranho do gozo, minha bocca não será!

O proprio sabonete se encarrega de dar da chupetinha a sensação. Molhado, liso, unctada deixa a mão…

A gente, appós passal-o, logo offega, tal como si sentisse a fellação. “Tarado!”, sei que todos dizer vão…

Ouvi ja dum racista a allegação absurda de que o negro tem beiçuda boccarra com razão, pois isso adjuda na hora de cumprir a fellação.

“Perfeita a natureza nisso, não concorda? A bocca feita foi carnuda por causa disso, Glauco! Não se illuda! Ninguem sabe chupar como o negão!”

Nem quero commentar bobagem tão barata. A negra rolla deixa muda a funda bocca desse babacão.

Nem fallo do botão desse bundão, que, estreito, dedurado, bem desnuda a mente de quem tem o cu na mão.

SONNETTO DA FLAGELLAÇÃO E DA FELLAÇÃO

{Pensei commigo, Glauco: um bom tesão seria açoitar, como foi Jesus surrado, mas tambem, como suppuz, cegal-o ja durante essa sessão.}

{No filme do Mel Gibson, elles vão battendo até que um olho perde a luz, vazado pelo relho. Sua cruz podia ser assim, não é, Glaucão?}

{Que tal, hem? Ser cegado como Christo! Hem? Si sobrevivesse, poderia tornar-se escravo delles, na agonia!}

-- De facto. Ja seus pés eu tendo visto emquanto da chibata padescia, depois de cego os paus eu chuparia.

SONNETTO DO INIMIGAVEL VESTUARIO

A roupa se rebella contra a gente! Quem curte leis da physica, confere-a: é “Lei da Teimosia da Materia”! Na duvida, vestir-se experimente!

Jamais a camiseta quer de frente ficar para você! Faz tambem seria, tenaz opposição, ou faz pilheria a meia, a sunga, a blusa renitente!

As mangas ao contrario querem, por pirraça, se enfiar pelo meu braço! O mesmo quando o pé no furo passo!

A perna se inverteu, quer se indispor! Ja sei que pelo advesso, quando for calçar a meia, passo um mau pedaço!

SONNETTO DA MYTHOMANIA

Aquelles puxa-saccos que de “mytho” chamando vivem esse de plantão em nada differentes, Glauco, são dos outros, cujos nomes eu nem cito!

Diziam “presidenta”, até bonito achavam commetter violação às normas da grammatica, Glaucão! Mas com o tal do “mytho” mais me irrito!

Chamamos de “mythomano” quem mente por vicio, ou seja, mythos são mentiras, são lendas! São eguaes às tuas lyras!

Mas és poeta! Podes, simplesmente, fingir que embarcas, caso te refiras aos mythos, na canoa! Tu deliras!

SONNETTO DO HIPPIE RAIZ

Segundo Norman Greenbaum, ser um hippie implica barbudinho ser, sujinho, supponho, no cabello ter um ninho de bichos que grillaram em equipe.

Implica que o barbudo participe dum livre movimento que caminho procura, differente do mesquinho systema financeiro do boss VIP.

Alem de detestar eschola, banho e roupa social, esse barbudo está sempre descalço… De bom, tudo!

No fundo, queer aqui sou eu, que ganho a fama de exquisito, ja que grudo nariz e bocca nesse pé desnudo…

SONNETTO DO VINHO NACIONAL

Pensemos no velhissimo bordão: “Restaure-se a total moralidade ou nos locupletemos todos!” Não podemos abrir mão dessa verdade!

Ja que ethica nenhuma nos farão seguir, façamos só o que nos aggrade! Accusam-nos? Fallemos palavrão! Será parlamentar immunidade!

Aquella que melhor nos locupleta se chama, nas más linguas, “mordomia”, ou mesmo “rachadinha”, a mais discreta.

Ninguem irá tirar o cu da recta. Nós vamos só pedir que, em poesia, um cego não nos jogue na retreta.

SONNETTO SUPPEDANEO

Com minha propria lingua (assim eu brado) suppuz ser puxasacco, dando um tracto debaixo duma sola de sapato usado por politico saphado.

Tambem com minha lingua (Não me evado da culpa: sou masoca, assim constato!) dei tracto, qual cachorro num pé chato, debaixo duma bota de soldado.

Com minha lingua, ainda, fiz eu cada sessão de lambeção (Não é bravata!) na sola dum adepto da mammata!

De lingua até farei a deslavada cunnette num pastor que desaccapta Jesus e de Satan é diplomata!

Sentou-se. Todo mundo olhou. A bella menina, da gymnastica voltando, descansa, suadaça, quando um bando de manos chega, vindo da favella.

A linda mina cruza a perna. Appella às jovens phantasias. Vae passando a mão no branco tennis. Gesto brando, que instiga quem massagem quer dar nella.

Emfim, o tennis tira. Tira a meia. Os manos fazem lingua de palhaço, os labios lambem, fingem bocca cheia.

A mina a propria sola massageia, sorrindo. Nisso, chego no pedaço e sinto o forte cheiro, que tonteia.

SONNETTO DA MENINA ENSABOADA

Coitada da nympheta! Tão bonita, até quando, no banho, se ensaboa! Não é que nesse instante é que lhe soa o caro cellular? Ella se irrita.

“De quem será a mensagem?”, pensa, afflicta, debaixo do chuveiro. Uma pessoa, appenas, lhe interessa, que tão boa lembrança lhe traz… Buça que se excita…

Pullando fora, aggarra a tal caixinha fallante, mas, na pressa, lhe excorrega da mão e cae no vaso. Que ser tinha…

Chorou com uma amiga, a qual é minha alumna. Aqui, pensei: {Gente que é cega ja teve cellular? Hem? Adivinha!}

Si for um condyloma, bem no cu se forma, mas na cara a coisa faz estrago mui maior, seja rapaz ou moça: a gente fica jururu.

Ninguem acha bonito um rubro, cru caroço pela testa, nem appraz no queixo ou no nariz um que, aliaz, paresce uma castanha de caju.

Imagem foi da bruxa mais fiel aquella nariguda, com verruga immensa, batatuda, alem da ruga.

Agora a mulherada faz papel de fada maquillada, mas sem fuga possivel: a velhice ja madruga.

SONNETTO DA MACHINA DO TEMPO

No tempo em que eu ainda via, vi Ginsberg elogiando, em oitentista registro, o SGT. PEPPER’S. Não despista o bardo sobre aquillo que ergo aqui.

“Jamais reviveremos phrenesi egual ao da cultura sessentista!”, assim diz um nostalgico, que lista as magicas conquistas. Respondi:

{Exsiste retrocesso, ou é só phase? O mundo não caminha para traz. Appenas num sentido gyros faz.}

{Por mais que recuemos, será quasi sem gaz a pregação das fadas más. A menos que espelhemos Satanaz…}

Da grippe prevenir-se ella apparenta usando certa mascara que tapa a cara, protegendo a bocca, a nappa dos bafos dessa peste virulenta.

Em these, tudo bem, mas isso exquenta, suor provoca. A dona não excappa da tosse, da saliva que lhe empappa o panno, qual calcinha fedorenta.

Fiquei sabendo, pela bocca amiga dalguma fofoqueira, que essa dona nem troca a velha mascara: a abbandona.

Sahindo à rua, alguma põe. Nem liga si está suja, fedendo mais que conna de chico, o que comprova que funcciona.

SONNETTO DA TORCIDA ENLOUQUESCIDA

Me lembro. O Marcellinho Carioca, depois dum gol, performa verdadeiro “estripetise” erotico. Primeiro, se livra da camisa. Auês provoca.

Aquella, com ninguem o craque troca, jogada ao torcedor que ja seu cheiro cafunga ao aggarral-a. Ahi, ligeiro, o septe seu calção lança ao fanzoca.

Depois do short, attira Marcellinho à turma de marmanjos a chuteira, a meia, que um feliz fan beija, cheira…

Do campo volta alegre, pelladinho. Faltou somente a sunga, com certeira e extrema ponctaria, achar quem queira…

SONNETTO DO CATASTROPHISMO (1)

É gente que não tem o que entregar. Só ficam diffundindo uma fofoca. Na rede um imbecil sempre colloca boatos velhos sobre novo azar.

Maconha ja será vendida em bar. A falsa, pois da boa nem ha coca. Poderes brigam? Falta quem convoca? Preparam outro golpe militar.

O virus cem milhões ja contamina. Pessoas pelas ruas vão cahindo, cadaveres ao sol dum dia lindo…

Qualquer resto de viveres termina. Quem não morrer de fome em sua toca na praça morrerá, sem ser masoca…

SONNETTO DO HESITANTE INSTANTE

Será que, emfim, eu desta feita morro? A grippe é minha deixa! Só não quero correr attraz da peste! Chance zero! Desejo que ella chegue em meu soccorro!

Nem vejo a hora, gente! De cachorro tem sido minha vida! Mas espero depressa compensar este severo caminho de cegueira que percorro!

A gente quer morrer, mas, no momento exacto de exspirar, aquelle instincto impõe a sobrevida! Pavor sinto…

Irei em paz! Appenas eu lamento ficar sem degustar meu vinho tincto, sem dar mais um prazer ao velho pincto…

SONNETTO DO CATASTROPHISMO (2)

Sessenta annos você tem? Ai, meu Pae!

Morrer vae do Corona Virus, cara!

Sessenta annos você tem, cara? Ah, vae morrer! Não tem soccorro que isso para!

Ainda diabetes tem? Ai, ai!

Você vae é morrer, pois não ha, para o caso, cura alguma! Quem contrae o virus, baixa! A praga ja dispara!

Você seria, acaso, um hypertenso?

Ja pode encommendar o seu caixão!

Você problema tem no coração?

Eu, como uma neurose não dispenso, no radio ouço os reporteres, que vão mais panico causando no povão…

SONNETTO DA AMMEAÇA CHINEZA

A grippe foi chamada de hespanhola, depois de koreana. Agora a gente devia de “chineza”, simplesmente, chamal-a, si enxergarmos o que rolla.

Não sou quem a bobagens vae dar bolla, taes como que na China ha quem invente um virus que causar ao concorrente irá grande preju. Tal lei não colla.

Mas, quando uma fechada dictadura occulta algum perigo que isso tem, a gente é trouxa quando não dedura!

Portanto, não tractemos com ternura os pobres chinezinhos, pois alguem la quiz mactar milhões! E não tem cura!

SONNETTO

DA RESPOSTA IMMUNOLOGICA

A mascara ganhou do seu patrão. Sahiu a cidadan toda pimpona, gabando-se de estar fora da zona de contaminação. Mas foi em vão.

Chegou em casa, nem lavou a mão. Salada mixturou com azeitona nos dedos, como mexe em sua conna. Mal limpa a bunda appós o cagalhão.

É claro que ella tinha que pegar o virus vil. Porem, mais pegou quem cagou onde ella accaba de cagar.

Foi ella asymptomatica. Que azar restou a seu patrão, rhumo ao Alem! Mas ella não será assim tão vulgar.

SONNETTO DO VIGARIO SOLITARIO

Peccado por peccado, quem mais pecca? Aquelle que peccou battendo bronha ou quem trepou com outro, sem vergonha nenhuma si na rolla alguem defeca?

Sozinho quem peccou mella a cueca, no maximo. Assim, culpa quem lhe ponha esteve exaggerando no que sonha de casto ou de manchado quando secca.

Alem do mais, quem pecca a dois se presta a alheio julgamento numa egreja. Quem pecca a sós se basta em sua festa.

Se pune elle, si culpa achar que resta punir. Não se confessa a quem esteja babando de tesão, suando a testa.

SONNETTO

DA LINGUA PENDENTE

Às vezes não se explica bem o caso. Quem lambe botas pode ser que lamba com nojo, mas nem sempre se descamba de todo na sujeira, no mais raso.

Daquelle que lambeu eu me comprazo não só quando por cyma, appenas, bamba se mostra, mas tambem quando (Caramba!) achou o que se deva achar no vaso.

Lamber um couro liso, bem lustrado, é muito differente da lambida na bosta, na poeira dum solado.

É tudo relativo. Me degrado mais quando lambo um limpo, ou encardida botina de quem viva sem peccado?

SONNETTO DO PULLO DE SUSTO

Cagava molle quando notou ella, subindo pelo vaso, uma aranhinha de porte inoffensivo, que ja vinha tocando, quasi, sua bunda bella.

Dansado uma animada tarantella a dama certamente que ja tinha. Porem o que succede (impressão minha) é que ella não sabia da sequela.

Quem conta augmenta a compta. Brincadeira não era a proporção daquella aranha, que, em vez de pequenina, porte ganha…

A merda molle excorre, molha, cheira mal mesmo. Não, a dama nem extranha aquillo: vae limpar, quando se banha…

SONNETTO DA DOSE EXACTA (1)

Eu sempre tive nojo de cocô e, desde adolescente, esse fedor deixava-me impedido de suppor que exsista, com cocô, filme pornô.

Ouvindo o que papae ou que vovô fallavam, sem comptar o que o doutor contava sobre nunca a bocca pôr siquer perto das fezes, pensei: “Pô!”

Em summa, de hygiene é que se tracta. Si exsiste alguma coisa que nos una é o asco, reacção a mais sensata.

Por isso mesmo, gozo com a grata imagem do rival que a gente puna com merda a ser comida. Dose exacta.

SONNETTO DA DOSE EXACTA (2)

Eu sempre tive medo da cegueira e, desde adolescente, esse temor deixava-me impedido de suppor que um cego pornofilmes fazer queira.

Ouvindo o cantador que vae à feira contar historias sobre sua dor, allivio senti sempre, portador que sou de vista nitida, certeira.

Em summa, de visão é que se tracta. A minha propria louvo, por ser boa, melhor, claro, que um olho que só doa.

Por isso mesmo, gozo: é dose exacta a imagem do rival de quem caçoa a gente appós cegal-o, coisa à toa.

SONNETTO DOS VALENTES VIGILANTES

Em plena quarentena, dum vigia nocturno ouço o assobio, bem no meio da muda madrugada. Até receio por elle, mas mais riscos ha de dia.

Saber que elle está alli ja me allivia um pouco. Não por elle ser esteio da lei contra ladrões do bem alheio, mas por estar bem vivo. Que alegria!

Allivio tambem sinto quando escuto pessoas nas janellas, panellaço fazendo. Tambem puto, figa faço.

Nas redes sociaes eu ja permuto meu Casa de Ferreiro, um novo espaço de livros. A torcer não dou o braço.

Na rua a cachorrada não está podendo passear. Ficam em casa, lattindo la de dentro, o que bem casa com nossa paciencia, cheia ja.

Ja muito panellaço ouvi de la de fora. Não da rua que extravasa a raiva, mas do ghetto, como em Gaza, Varsovia, confinado no sofá.

Chineza, koreana ou hespanhola, a grippe não tem raça nem paiz. Aqui, pois, nosso povo é que é juiz.

Talvez para bassês ninguem dê bolla, mas, para quem defende seus civis direitos, a ração não tem matiz.

SONNETTO DA QUARENTENA NA QUARESMA

No meu isolamento, que ja dura dois dias, trez ou quattro, uma semana (a compta perco: o tempo nos enganna) estou na… quadragesima leitura.

Appenas ler não basta. A picca dura me fica, si a leitura for sacana. E toca a punhetar-me! Quem se damna é o pobre do caralho que me attura.

Catholicos affirmam que, durante os dias de quaresma, não se pode tocar na rolla… Que ella não levante!

Mas eu aqui, não sendo practicante, performo o masochista que se fode lambendo o pó da sola dum pisante.

SONNETTO DO POST SCRIPTUM

Que vida de ironias, esta minha! Quem muita mão, por annos, me tem dado tambem se chama Glauco. Do meu lado esteve e revisou-me em cada linha.

Mas eis que quem cegueta ficou tinha que ter mais um amigo dedicado, capaz de editar livros. Esse fado cabia ao cego mago que escrevinha.

Meus livros digitaes, quem os edita Lucio se chama: accode quem é sem visão e de olho alheio necessita.

Nos tempos dessa peste, que é maldicta, em boa hora Lucio ouvir me vem e em vias virtuaes me posta a escripta.

SONNETTO

Andaram commentando que no chão da rua cae o virus e que fica nas solas dos sapatos essa zica grudada ainda -- Cruzes! -- um tempão.

Tambem acconselharam: -- Vocês não terão appenas medo da titica sujando o seu soalho! Nossa dica é para redobrar a precaução!

Não saio. Si sahisse, todavia, o tennis não deixava ao pé da porta, tal como o que o bom medico me exhorta.

De tanto lamber solas, eu teria que estar immunizado. Me comforta que em minha lingua a praga caia morta.

SONNETTO DA LITORGIA

Faz tempo que não fallo com a bruxa. Agora a pego, calma, bem de jeito. Pergunto o que, commigo, ja suspeito. E a missa negra? A velha desembucha:

{Ah, Glauco! Cê ja sabe disso, puxa! A gente colla a bocca alli, direito nas pregas. Passa a lingua, num effeito de lixa. Sim, de esponja. Até de bucha.}

{Descrevo um movimento circular lingual. Algum volume está adherido às dobras. Que engolir tenho, querido…}

{As outras tambem querem o logar. Então eu cedo. Fico vendo. O ouvido sons capta, borbulhantes. Tá servido?}

SONNETTO DA ITALIA QUE ME CALHA

Careca e Maradona o campeonato jogavam pelo Napoli e eu os via. Na placa, a propaganda a gente lia: salame e mortadella. Que barato!

Da marca Leoncini me retracto babando de vontade todo dia de jogo. Ah, si pudesse essa iguaria comprar! Não importavam! Mas que chato!

Fiquei chupando o dedo, mas agora nem posso, na TV, curtir mais nada. Sem graça, gol nenhum se commemora.

Um unico consolo resta: bora comer pizza, comer maccarronada, emquanto a pandemia não peora!

SONNETTO DA SOLIDARIEDADE

{Fulano declarou que, si estivesse de lua, quereria até compor canções mais animadas, mas de amor. Você o conhesce, Glauco. Não conhesce?}

{Sicrano prometteu que nova prece fará por nosso povo si Doutor Beltrano la no culto logo for. Você o conhesce, Glauco. Não conhesce?}

{Beltrano, por seu turno, diz que irá doar comida, roupa, algum dindim. Você está bem por dentro. Não está?}

-- Depende. Si disser elle que ja ouviu de mim fallar, direi que sim. Me cabe ser reciproco, xará.

SONNETTO DA QUARENTENA

Estão em quarentena. Até janella manteem fechada. Tanta paranoia! O filho adolescente os pés appoia na mesa, chulezão que desmazella.

Mais fede, todavia, a bufa della, a thia solteirona, que destroe a concordia quando foi servida a boia e todos se revezam na panella.

Em vez de sentir cheiro de comida caseira, a turma attura na narina aquella flatulenta fedentina…

Outrem peidou! Paresce insecticida o toxico fedor que se elimina! Assim passa a familia, na roptina…

SONNETTO DA MÃO LAVADA

Só fallam em lavar as mãos, lavar as mãos, lavar as mãos! As minhas ja estão é tão lixadas que não dá nem para mais sentir o pollegar!

Agora só mãos lavo, que, em logar do pé, priorizada a mão está! Em casa, ando descalço para la e para ca, sem, livre, ter um ar!

As solas, encardidas, vão ficando escuras, grossas, asperas! Nem posso pisar naquelle cego, servo nosso…

Não saio, nem o cego! Nem sei quando de novo no seu rosto os pés eu roço! Emquanto a mão descasca, a sola engrosso…

SONNETTO DO ELEVADOR SATURADO

Entrou no elevador lotado. Para pavor geral, tossinha secca fez soar, estrepitosa. Fui cortez e disse: “Não se expantem, isso sara…”

Que panico, meu! Quando o troço para no andar seguinte, todos duma vez disparam porta affora. Foi soez o gajo que ao doente se compara:

{Fingi bem! Não fingi? Assim consigo subir sozinho, risco menor corro! Por que cê não sahiu tambem?} Que exporro!

Respondo: “Ja não corro mais perigo. Estou contaminado. Si não morro, não fico mais em casa, qual cachorro…”

SONNETTO DO DESABBAFO DUMA ESPOSA

{Jamais imaginei qu’ia passar por isso, Glauco! O pé do meu marido fedendo o tempo todo! Si eu decido chiar, a discussão terá logar!}

{Maldicta quarentena! Antes, um par de meias se trocava! Ja a libido vae delle, inversamente ao pé fedido, michando! Tenho qu’isso supportar?}

{Você, sei que supporta chulé forte, amigo! Mas marido não se empresta! Sinão, eu emprestava… Que me resta?}

-- Amiga, não ha cheiro que eu supporte melhor do que chulé! Farei a festa suppondo, na punheta, depois desta…

SONNETTO DO DIARIO OFFICIOSO

A minha quarentena, por decreto que estou para assignar neste momento, terá quarenta dias, cem por cento cumpridos nos limites do meu tecto.

Mas, como um optimista ja nem tento ser, acho que esses dias eu completo pensando em prorogal-os. O correcto será me dar um prazo bem mais lento.

Quarenta, sim… semanas! É prudente curtir, no dia a dia, a data a cada minuto sem estar, talvez, doente.

Quarenta mezes! Numa cannetada, mais tedio… Mas passei eu, de repente, quarenta annos recluso! Não enfada?

SONNETTO DO FALSO DAY AFTER

{Mas, Glauco, ja accabou! Você não pensa em dar uma voltinha por ahi, expairescer um pouco? Nunca vi alguem com tanto medo da doença!}

-- Não! Medo, não: pavor! Ha differença! Estou traumatizado! Não sahi durante a quarentena! Ja daqui não saio mais! Você que me convença!

{A vida continua, Glauco, o mundo! Chorar não vou os mortos! Accommode as magoas! Não percamos um segundo!}

-- Bah! Pensa que nas magoas eu affundo querendo? Um cego bardo, que fez ode, fará nenia, carente e gemebundo…

SONNETTO DO “FORTISSIMO LUNGO”

{Cecê, Glauco, tem cheiro de café de machina! Não acha? Pô, você, que é cego, tem olfacto de bassê! Não vae me contestar nisso, não é?}

-- Depende do sovaco. O bom chulé tambem depende muito do que dê de estar calçando o gajo. Mas buquê senti qu’isso confirma. Ponho fé.

{Que bom que concordou! Cheiro de “espresso”, não acha? Qual o typo, Glauco? Peço que cite, que rotule para mim!}

-- “Fortissimo”, um gostoso que ja meço faz tempo, tambem “lungo”. Sim, confesso tomar, como tomei pirlimpimpim.

SONNETTO DUMA PLENA QUARENTENA

{Tá certo o dictador das Philippinas, Glaucão! Tem que attirar para mactar quem, nessa quarentena, no seu lar não fica! Tu commigo não opinas?}

{Não acho que essas ballas assassinas ser possam! Tu concordas? Não, logar a rua não será de passear, tampouco de parar pelas exquinas!}

{Senhoras, senhoritas ou meninas, ninguem excappa à balla, si tentar sahir para achar umas chloroquinas!}

-- Estás é louco! Porra, não attinas? Mactar vão teus escravos! Puta azar! Quem é que irá lamber tuas botinas?

SONNETTO DO LEITOR FEITOR

Está faltando, Glauco, mais palhaço na praça! Ando bastante entediado! Bem, vamos la, me faça rir! Me enfado si não me divertir! Seja devasso!

Humilhe-se! Performe, emquanto faço chacota de você, meu dedicado escravo! Lamba a sola do calçado que eu surro, mais immunda a cada passo!

Em casa, ando descalço! Minha sola ficou encardidissima! Lhe exfolla a lingua, si lamber, é o que eu realço!

Chutal-o me diverte! Sim, é bolla você para mim! Sabe por que rolla? É cego de verdade, não é falso!

SONNETTO ALLEGRO MA NON TROPPO

Emquanto pisco um olho, o ser humano trabalha por mim, cumpre meu intento. Accabam de inventar, neste momento difficil, mais um virus que faz damno.

Assim que eu gosto! Os gajos do mundano planeta jus me fazem! Me contento com isso! Tanto forjam o tormento ao jeito meu, que delles eu me uffano!

Ammasso-lhes o pão, mas uma vella accendem para mim, outra alguem zela a fim de que qualquer sancto os soccorra!

Ja perco o tesão, mesmo si me fella a bocca desse cego que faz bella e docil oração, antes que morra!

SONNETTO OPPOSITOR, PERO NO MUCHO

Sou contra! Não approvo! Não insista! Não vê que tomo opposta decisão aos actos do governo? Não vê não? Entenda duma vez: sou anarchista!

Mas veja bem: qualquer poncto de vista se pode rever, claro! Todos são capazes de mudar de opinião! Aos tempos não ha força que resista!

Si tempo for dinheiro, meu amigo, ahi que estou revendo o meu conceito! É claro que vender-me não acceito!

Acceito conversar si, sem perigo de nisso ser corrupto, surte effeito a somma do que eu disse, em meu proveito…

SONNETTO DO DISTANCIAMENTO SOCIAL

Estão fazendo um puta dum barulho de appartamento para appartamento, pois todo mundo em casa num momento dá nisso. Aguentarei eu até julho?

Septembro? Outubro? Sabe Zeus! Attulho meus tympanos com berros dum nojento funkeiro. Ouvir breguices não aguento mais. Falta alguma coisa nesse embrulho?

Sim! Altos batteboccas tambem são ouvidos nas paredes, chão e tecto. Me farto de estridente discussão.

Mas vou ficar tranquillo. Todos vão emfim sahir à rua… Não me affecto com esse isolamento do povão.

Ouvindo o battebocca do vizinho eu toco uma punheta que dá gosto. Me basta approximar um pouco o rosto da porta, da parede, e direitinho…

Escuto quando perde elle o carinho da filha, da mulher. Está disposto a baldes chutar. Foi ja descomposto. Agora revidar vae, excarninho.

{Cês querem dar o fora? Ja me pego sozinho! Vou ficar é bem tranquillo! Não voltem, hem? Assim é que eu sossego!}

{Vocês não fazem falta! Descarrego um peso dos meus hombros! Vou, sem grillo, foder algum vizinho, um tal que é cego!}

SONNETTO DAS VAZIAS PHANTASIAS

Insomne, escuto tudo o que, durante a noite, em quarentena, a vizinhança discute emquanto fode. Mais advança a hora, mais punhetas me garante.

Accyma, a adolescente vacillante, chupando o namorado, faz lambança, mordendo o pincto. Um berro o joven lança e chuta a nymphetinha. Ah, ri bastante!

Abbaixo, um casal briga, pois o cara metteu fundo demais na bocca. Accerta um tapa. Agora a bocca se excancara.

Divirto-me com esse show e, para chupar, dos machos sempre tenho offerta na vida conjugal de excassa tara.

SONNETTO DO TYRANNICO PANICO

A vida social accabou para nós todos, no momento. Mais ninguem sae para se junctar. Mais ninguem tem contactos pessoaes. Ninguem se encara.

Um dia, accabará, para quem para em casa, a paranoia. Ahi, ja sem estar em quarentena, vae alguem sahir, se libertar do que o trancara.

Mas, para mim, a vida social accaba mesmo. Nunca mais terei coragem de sahir. Disso bem sei.

Ja quasi não sahia, mas é tal meu medo, que nem duma dura lei dependo. Só pyjamas usarei.

SONNETTO DO INIMIGO INVISIVEL

É como um filme, desses de terror. Me lembro dum chamado, acho que “Enigma de Andromeda”. A acção rolla toda em cyma dum microorganismo, ou o que for.

O ser humano é minimo. Urdidor de engenhos scientificos, se estima accyma da bacteria, duma enzyma. Se julga aos outros bichos superior.

O virus, que coroa tem, maior que nós é. Quer reinar, cada pessoa de subdito fazer, sempre em redor.

Nos ronda. Nem siquer sabe de cor aquillo que nos arda, que nos doa. À toa não creamos Baccho, ou Thor.

SONNETTO DA MULHER AMERICANA

Fallar mal da mulher virou tabu politico, mas algo que ser dicto precisa da mania de delicto que exsiste nesse mytho do “Me too”.

Em vez de só mandar tomar no cu essas opportunistas, me limito a lhes dizer que escutem meu subscripto rock “American Woman” do Guess Who.

Um homem ja não serve para aquella mulher que tudo entende ser “abuso”? Num cabo de vassoura ache bom uso!

A dona só me accusa de mazella? Tambem eu de mazella agora a accuso! Ficamos empattados, eu deduzo.

SONNETTO DO SEXO VIRTUAL

{Não basta trepar, Glauco! Tenho, nua, que me photographar! Você sabia? Sinão, como, durante a pandemia, irei mostrar que a vida continua?}

{A gente trepa, cada qual na sua, mas meu corpão a rede ja vigia! Assim todos verão que estou sadia! Pellada só não orna andar na rua!}

{Não acha, Glauco? Sei que cegos não se importam com imagens! Todavia, você concorda, né, com tal orgia?}

-- Amiga, si me vissem, o tesão brochava! Melhor faço si na pia me lavo da punheta que vicia…

SONNETTO DA EDUCAÇÃO À DISTANCIA

Ao vivo, o molecote estuda deante da tela de seu novo cellular. Remotamente, para leccionar com emphase, se exforça alguem bastante.

O mestre, em attitude provocante, faz mimica, torcendo o maxillar, abrindo bem a bocca cavallar, a lingua a lhe espichar, egual bacchante.

Assanha-se, de facto, o molecote, mas, nessa quarentena, a prole toda se juncta alli na salla. “Que se foda!”

O joven quer mostrar, tambem, seu dote. Abbaixa as calças, tira a rolla, açoda a mão. Gozou. Quem é que se incommoda?

SONNETTO DO “HOME OFFICE”

No gruppo de trabalho, um advogado, em teleconferencia, faz de casa a sua parte. Toda a these embasa com technica. Detalha cada dado.

Estão engravatados. Só o coitado destoa, de pyjama, pois se attraza e exhibe, ‘inda, remellas, ja que em braza os olhos tem. Paresce extremunhado.

Os outros, por emquanto, fingem nem notar, mas o causidico se sente em casa. Acha alguns cravos, de repente.

Expreme saliente espinha, sem o minimo pudor. Aquella gente formal emfim se coça. Ah, clima quente!

SONNETTO DA MOLYSMOPHOBIA

Não é “misogynia”. Nada a ver terá com mulher. Pode ser tambem qualquer “rhypophobia”, que ja tem noção de sujidade e desprazer.

Direi “mysophobia” por dever do officio, mas à mente tambem vem a “molysmophobia”, que refem me faz desse pavor de immundo ser.

Estamos, na verdade, sempre em busca dum nome scientifico que embase a nossa paranoia, nesta phase.

Prefiro crer na vida breve, brusca, pois, na fragilidade, passa quasi battido que comnosco um termo case.

SONNETTO DA HORMONAL DESHARMONIA

Por causa da maldicta quarentena os animos accirram-se. Quem ria reclama ja da aguda gritaria e muito bom humor não mais enscena.

A thia do cachorro não tem pena. A sogra accusa a sanha má da thia. A filha nymphetinha se entedia. Os paes acham que a casa está pequena.

Emfim, o battebocca na roptina se installa: “Va tomar no cu, caralho!” “Não falle assim commigo, seu pirralho!”

Quem xinga é um enteado que azucrina geral. Ja demittido do trabalho, vae, como chupador, ver que eu lhe calho.

SONNETTO DA EMPATHIA COM QUEM CHIA

{Emquanto a classe media fica ahi fazendo a quarentena de motivo appenas de diario, eu, que convivo com gente da peripha, sou cricri!}

{Não, Glauco, pense bem! Quem é que ri brincando com um drama collectivo, com tanto desemprego? Não! Passivo não fico! Não é mero mimimi!}

{Tem gente sem comida! Ja não é questão só de ficar entediado! Não é como uma meia a dar chulé!}

-- Concordo. No povão pensei, até. Mas esse seu exemplo foi forçado. Da cuca alguem ficou, tambem, lelé.

SONNETTO DAS CARAS MASCARADAS

No banco, mascarado, um assaltante confunde-se com mero correntista edoso. Não dará, portanto, pista. Agguarda até que alguem sua vez cante.

Mas, antes que a vez chegue, num instante a coisa se complica. Que desista do roubo quem perdeu de vez a vista fará, pois esperou, tambem, bastante.

O cego um baita accesso tem de tosse e assusta o bandidão, que sae de perto. Na pressa, a arma derruba, ja sahindo.

Aggarram-no. Ja preso, que se coce farão outros detentos que, decerto, estão contaminados. Caso findo.

SONNETTO DO ISOLAMENTO SELECTIVO

Visitas? Nem pensar! Eu não recebo ninguem! Na minha pagina, sim, faz quem queira a visitinha, Glauco, mas que muitos não curtiram ja percebo.

Não quero saber, Glauco! Sou mancebo de poucos predicados! Sou rapaz nojento, repulsivo! Sou mordaz, sarcastico! Na rolla juncto sebo!

Sim, esta quarentena me complica! Não posso visitar algum cliente que cheiros meus, fortissimos, aguente!

Mas noto que você, cego, que fica ahi sempre trancado, mais doente não vae ser… Visital-o vou. Consente?

SONNETTO DO ISOLAMENTO VERTICAL

Os velhos que se fodam! Um que morra a menos ou a mais, ah, tanto faz! Sou joven, sou saudavel, sou rapaz athletico! Não vejo quem mais corra!

Você, não, Glauco! Foda-se, então, porra! Alem de velho, é cego! Não tem gaz nenhum! Em casa fique, porra! Mas entenda não haver quem o soccorra!

Não! Caso um gajo joven, como eu, faça alguma visitinha a um velho cego, não corre riscos! Virus eu não pego!

Sim, Glauco, ja pensou? Você, que passa ja preso tanto tempo, tem um ego de verme! Em você, tudo descarrego!

SONNETTO DO ISOLAMENTO HORIZONTAL

Que posso concluir da quarentena? Em casa todo mundo, o jeito vem a ser foder bastante, que ninguem a ser um penitente se condemna.

Familia grande, em casa tão pequena, mais soffre, confinada, ja que sem foder vão ficar. Claro, ninguem tem coragem de exhibir-se em nua scena.

Mas sempre se resolve. Põe um mano deitado o pé na cara doutro, quando, dormindo de valete, vae zoando.

Irmãos sempre se chupam, não me enganno na analyse. Desfructem, pois, si bando formaram numa cama, sem commando.

Emquanto não se pode sahir, bota na cara do menor o seu pé chato o mano que, mais velho, de insensato ja posa, ja postura adulta adopta.

Deitados de valete numa quota restricta de colchão, ninguem de facto tranquillo dormirá. Por mim, ja batto punhetas mil, pensando na patota.

Dá nisso quarentena, num pequeno espaço, de familia numerosa. Ninguem enscenará como eu ensceno.

Faltou dizer que curva não se vê no pé chato do menor, tambem. Não goza lambendo só chulé ninguem, ameno.

SONNETTO DA COCEIRA NA BOCETA

Velhota, a mulher segue, ‘inda, solteira. Morando só, dispensa até empregada chamar para a faxina. Quer em cada centimetro da casa ser ligeira.

E varre, e limpa, lava… Faxineira questão faz de virar. Jamais se enfada si escuta aquella aguda barulhada do velho adspirador, ou barulheira.

Me irrito, porque estou, no meu andar, ouvindo tudo, inclusa a cantoria da doida solteirona. Ah, vae, enfia!

Podia vibradores enfiar na chota, até cenouras, sim, podia usar a bruxa, aquella velha thia!

SONNETTO DO EXCESSO DE ESTRESSE

Scismou de consertar a casa inteira! Vizinho mala! Aqui do meu andar a gente escuta tudo! Martellar adora aquelle estupido! Toupeira!

Eu, puto, torço para que elle queira seu dedo martellar! Si elle deixar debaixo do martello o pollegar, que scena, linda, bella, prazenteira!

O cabo do martello, por que não enfia bem no rabo o desgraçado? Por que é que elle não enche seu cuzão?

A cara alli no vaso, o cagalhão ainda sem descarga, affunde! Estado bem critico, o meu! Triste condição!

SONNETTO DOS KOSMICOS PÓS

Lembrar-te deves, homem, de que és pó e ao pó retornarás! Pensando bem, tu sempre foste pó, ja que ninguem siquer deixou de sel-o! Pensa só!

Pó foi a tua mãe, a tua avó. Teus filhos pó serão, nettos tambem. Portanto, si noção ja todos teem, tractar-te doradvante vou sem dó!

Irás lamber, humilde e rastejante, uns grossos grãos de terra, no solado sulcado de xadrez do meu pisante!

Saliva vae faltar-te, pois bastante chão sujo piso! Tenho mais pisado na lama do que em pó: sou trafficante.

SONNETTO DESCHULEZADO

Não, Glauco! Não será porque estou nessa maldicta quarentena, que ficar irei tão chulepento, que meu par de meias federá na casa à bessa!

Não, Glauco! Eu hygienico sou! Peça que eu guarde meu pisante que cheirar mais forte e, sem laval-o, com tal ar lhe faça bom presente dessa peça!

Ahi você verá, digo, no cheiro noção de mim terá, ja que nem beiro o fetido padrão de punk engenho!

Mas, caso o seu olfacto, tão certeiro, desminta meu asseio, ahi, parceiro, meu tennis fedidão a dar-lhe venho!

SONNETTO DO NEGATIVISMO NEGACIONISTA

Estamos é fodidos, Glauco! Nada se pode fazer para deter isso! Só perdem tempo, prestam desserviço aquelles que toparam a parada!

Crear immunidade de manada nos resta, mas nem ella dá sumiço no virus que, mutante, ja mestiço será pelas nações, um para cada!

Aos poucos, morreremos! Quem não for agora, ammanhan vae! Si sobra alguem, terá tanta sequela, tanta dor!

Não! Pode perguntar a algum doutor! Vão todos desistir, pois são, tambem, incréus, como você, que é perdedor!

SONNETTO DO NEGACIONISMO NEGATIVISTA

Magina! Grippezinha à toa, cara! Preparo quem tiver, como o de athleta que tenho, nada sente! Nada affecta a quotação do dollar, que é ja cara!

É só resfriadinho, coisa rara, difficil de pegar, Glauco! Um poeta sagaz como você vê que incorrecta é toda a fallação que nos azara!

Não vê, Glauco? Bem, fallo da visão interna, cerebral, que todos teem! Ficar cego deseja, porra, alguem?

Mas mesmo um cego puto, um fodidão assim como você, tambem convem que estamos da desgraça bem aquem!

SONNETTO

DO FINO

CONFINAMENTO

A pelle empipocou. Nervoso passa a velha dama chique, tempo faz, trancada na mansão. Nenhum rapaz, daquelles de programma, mais a abbraça.

Allergica? Talvez. Assim de graça não pincta tanta bolha, algo que traz immenso malestar. Ja nem tem gaz, de tanto se coçar, essa devassa.

Não, antes differente foi. Pagava bem para que michês mostrassem ora carinho, ora carão com a senhora.

Depois de estar soffrendo dessa brava coceira, a baroneza appenas ora, pedindo piedade, em peor hora.

SONNETTO DO BICCO LARGO

Barulho que moedas fazem. Isso me irrita. Mais ainda a canequinha do cego. Elle a chacoalha, me apporrinha e faz com que eu me torne irritadiço.

Mas eu desforro, porra! Si me ouriço, eu chuto esse caneco! Ora, adivinha a cara do ceguinho, que ja tinha junctado tanto! Presto um desserviço?

Magina! Acho bem feito! Quem mandou o cego me irritar? Um ponctapé e voa a canequinha! Ah, bom não é?

Precisa ver! Filmaram o meu show! A bota attinge em cheio! Pega até na cara do coitado, no bonné!

SONNETTO DAS MEMORIAS DO CARCERE

Lamber o chão? Fazer alguem usar a lingua nessa sordida funcção? No Orkut era commum alguem, na mão de sadicos, passar por tal azar.

Nas redes é possivel encontrar imagens em que todo um sujo chão terá que ser lambido. Risos são ouvidos. As prisões são bom logar.

Na nossa dictadura, diz Gabeira, assim se torturou. O preso tinha que limpo deixar onde se caminha.

Às vezes algemado, de colleira em volta do pescoço, foi a minha lembrança que excitou a punhetinha.

SONNETTO AO MATTOSALEM

Disseram-me que muito viverei por ser considerado bruxo, mas ter mais longevidade não me faz nem principe dos lyricos, nem rei.

Não sei si vou viver muito. Só sei que eterno compromisso o verso traz si for o nosso thema a Satanaz entregue e si seguirmos sua lei.

Até que thematizo o Demo, sim. Por isso é que elle sempre persuade a bruxa ao “beijo negro”, não a mim.

Provei, sim, seu chulé, nem tão ruim. Mas, para alguem tão velho, Satan ha de convir que menos fede que um pé “teen”.

SONNETTO AO SATYRESIAS

Facillima se faça a prophecia na bocca do ceguinho que propheta se torna si tambem for bom poeta. Componha pessimista a poesia!

Si for hoje peor nossa agonia à de hontem comparada, se interpreta bem facil o porvir: mais nos affecta a mesma dor um dia appós um dia.

Si fosse exactamente a mesma dor, nos accostumariamos ao mal. A proxima peor é, não egual.

Sinão, não tinha graça! Assim, si for auctor dalgum oraculo fatal, você exaggere muito o mau signal!

SONNETTO PARA QUEM É DA LYRA

Si tantas as mulheres são que para si querem femininos termos, meu amigo Glauco, quero tambem eu ser uma “poetiza”, bem à clara!

Até quem “presidenta” se declara exsiste! Quem “gerenta” não temeu chamar-se? Hem? “Estudanta” ja valeu usar, tambem! De pau não falta cara!

Então! Si exsiste genero p’ra tudo, não quero ser “poeta”! Sou mulher, sou “barda”, “menestrela”! Me desnudo!

Hem? Tenho ou não razão? Sim, eu me escudo na lingua portugueza! Sim, qualquer confrade vê quem peito tem grahudo!

SONNETTO DAS CRITICAS E SUGGESTÕES

Que merda, Glauco! Sempre que critico alguem, eis a resposta que me dão: “Você me censurou, mas você não devia assim metter no caso o bicco!”

“Podia constructivo ser, mais rico de idéas, suggestivo, o seu sinão!” Mas, Glauco, si eu fizesse suggestão qualquer, iam dizer que mal me explico!

Devemos criticar, sim! Você, não, é logico, pois, cego, não vê nada, não pode indicar cada coisa errada!

Hem, Glauco? Não concorda? Bem, questão nem faço de saber si desaggrada a um cego o que fallei, porra! Me enfada!

SONNETTO DA GENUINA DISCIPLINA

Bons tempos, Glauco, quando se podia punir com castração e com cegueira alguem que, na segunda, até primeira vez, tenha demonstrado rebeldia!

Depois de cego, fica a autonomia do gajo reduzida a verdadeira prisão sem grade. Mesmo que elle queira fugir, não pode, noite sendo, ou dia.

Você bem sabe, Glauco. Um prisioneiro cegado obedescer vae, sem direito a queixa, ao carcereiro. Me deleito!

É pena que não rolle em brazileiro presidio, mas, emfim, acho bem feito. Você não vae dizer que é preconceito!

SONNETTO PARA QUEM INSPIRA CUIDADOS

Emquanto o dictador mais arrogante e sadico se interna, victimado por serio peripaque, está do lado do leito um corpo clinico constante.

Paresce inconsciente. É preoccupante seu caso. Um enfermeiro o resultado confere dos exames. Revoltado se sente mas, discreto, se garante.

Alguem que elle conhesce morto fora por ordem do tyranno. De repente, não ha mais gente juncto no ambiente.

Sem tempo perder, nota que fedor a gorducha sola solta. Passa, rente aos dedos, sua lingua, molle e quente.

SONNETTO DAS QUEIXAS E RECLAMAÇÕES

Alô! Seu Glauco? É Martha, mãe do Orpheu! Aqui tudo legal! Tudo, obrigada! Ahi tambem? Sim? Optimo! De nada! Mas sabe o que é, seu Glauco? Orpheu morreu…

Sim, ‘tava ja velhinho, sim, mas eu concordo c’o senhor. A cachorrada nos dá tanta alegria, né? Sim, cada bassê na nossa vida muita deu…

Mas elle reclamava, pois agora não dava p’ra sahir! Elle sentia, sim, falta do senhor… A gente chora…

Não chore, não, seu Glauco! Orpheu embora ja foi, mas ‘inda tenho uma alegria! Sophia, a bassê nova! Ja melhora…

SONNETTO DA PANDEMONIACA PANDEMIA

Em tudo o pandemonio ja se enfia. A vida até faz pausa, mas a penna não pode entrar em greve, em quarentena, nem pede demissão da poesia.

Peor é quando o verso nos vicia a poncto de servir como uma antenna a tudo de imprudente que condemna a norma do pudor e da asepsia.

Emquanto todos lavam bem a mão, se exquescem de lavar melhor o pé, problema que maior, claro, não é.

Appenas ao ceguinho os chulés são ainda algum tesão digno de fé. Quem sabe, na punheta, adjuda, até…

SONNETTO PARA QUEM ESTÁ FODIDO E BEM PAGO

Por que você me pede que lhe explique as causas evidentes para a gente gozar um governante incompetente? Você entendeu? Então não sacrifique!

Por que me questionou o gaz e o pique si sabe que um ceguinho puto sente tesão fazendo meme irreverente? Você entendeu? Então não sacrifique!

Si quando satyrizo dama chique, cacique nu, politico que mente, dar nomes for, leitor ha que me aguente?

Porem, si eu lhe pedir que justifique os fins por feios meios e consente você, no cu tomar va, simplesmente!

SONNETTO PARA QUEM ESTÁ FODIDO E BEM LIDO

Alguem tem que ser cego, tem alguem que ser esse fodido nesta vida. Cegueira foi desgraça decidida de cyma, pelos deuses, vem do Alem.

Alguem tem que ficar cego, mas nem por sonho serei eu. Ha quem decida cegar-se? Não, jamais! Um suicida faria bem melhor, pensando bem.

Por isso me divirto com você, no livro que estou lendo. Certa feita, sonhei que cegaria alguem que vê.

Quiz muito ter a chance, mas cadê que posso me vingar duma desfeita? Desforro no poeta… A gente o lê.

SONNETTO DA LINGUA MORDIDA

Você fallou, Glaucão, que si eu tivesse razão você lambia a minha bota! Você me poz em duvida, chacota fez, como si de tudo ja soubesse!

Mas Deus não attendeu à sua prece: cegou sua visão! Sim, quem arrocta palpite quebra a cara! Sua quota levou, se invalidou! Bem que meresce!

Agora viu você quem tem razão! Pagou por sua lingua palpiteira! Vae ter que me lamber o burzegão!

Eu vou me divertir! Comece, então! Comece salivando, mas não queira parar logo: prolongue meu tesão!

SONNETTO DA INJECÇÃO DESINFECTANTE

Mas elle fallou! Elle é presidente! Aquillo que fallou elle garante! Fallou o que é melhor: desinfectante! Nem chloroquina serve: é caso urgente!

Um medico negou? Pois esse mente! Quem sabe é o presidente! Elle é bastante sabido, não sabia? Doradvante eu acho uma injecção sufficiente!

Não sabe, dona, como fazer? Ora, qualquer desinfectante! De privada, de chão, de rallo! Vale tudo ou nada!

Porem, si não servir, minha senhora, ao menos seu cadaver será cada vez menos podre, quanto mais piccada!

SONNETTO DA VAZIA PROPHECIA

Preciso dum conselho seu, querido! Estou preoccupadissimo com essa noticia de que a Atlantida attravessa a sua maior crise! Faz sentido?

A Atlantida affundar vae? Eu duvido! Boatos ouço, Glauco, agora à bessa! Fallei com Orichalco, que promessa me fez de desmentir tal allarido!

Tambem Timeu me disse que isso é lenda! Não vamos affundar, coisa nenhuma! Confirma? Versões falsas não defenda!

O reino durará? Na minha agenda só faltam dez millennios! Se accostuma a gente? Que você me recommenda?

SONNETTO DA MANIPULAÇÃO

Que porra de remedio vão agora dizer que faz effeito, Glauco? Urina na veia? Chlorophylla? Caffeina? Cebolla? Alho? Hortelan? Nossa Senhora!

Ouvi que nicotina alguem de fora está recommendando! Se examina a possibilidade de que, fina, até certa farinha revigora!

Por mim, pode tomar o que bem queira o povo mais humilde, que se informa tão mal e porcamente dessa norma!

Não acha que tal panico ja beira um caso de nonsense? Dessa forma, melhor papel faria quem performa!

“É na sola da bota”, a gente escuta. “É na palma da mão”, diz a canção dansante e sertaneja que o sallão anima. Ahi que um sadico desfructa.

Si vale a bofetada para a puta, tambem vale ao escravo que, no chão, rasteja sob a bota do peão que um riso põe na cara, pisa e chuta.

Questão será de como se interpreta a palma, a sola, a sadica risada. Ao sadomasochista, que é que aggrada?

Aggrada mais a cara de pateta do servo ou duma puta a quem se brada “De quattro! Rastejando!” na ballada…

SONNETTO DO REGIME DISCIPLINAR DIFFERENCIADO

Até que se produza a tal vaccina, sahir da quarentena todos vão, excepto um sessentão ou septentão que, embora são, em casa se confina.

Coitados dos edosos! Determina, em nome da sciencia, a norma, tão despotica, tão drastica, que não irão sahir! Que inepta medicina!

Vaccinas levam annos para, em massa, livrarem do perigo os velhos. Antes, os jovens sahirão, achando graça.

Vovôs irão pensar: “Não ha quem faça que eu fique aqui sozinho! Nos restantes domingos, vou morrer alli na praça!”

SONNETTO PHOTONOMASTICO

Luzia foi a sancta que perdeu os olhos para a sanha do romano. Tambem posso de Lucia, sem enganno, chamal-a, mas christão nunca fui eu.

Não quero suggerir que seja atheu, nem, quanto aos céus, que a Lucifer me irmano. Appenas constatei que, si meu damno na vista me deu nome, esse rendeu.

Não sou Glauco Mattoso, pois, à toa. Mas, por coincidencia, quem me adjuda, na vida virtual, tem visão boa.

Por isso tem de Lucio tal pessoa o nome. Quem meu caso grave estuda vê: Lucio um som de luzes bem echoa.

SONNETTO DO VIRUS VINGADOR

Emquanto, Glauco, um baile funk está rollando solto, como si nenhum contagio houvesse, penso no bebum, no joven drogaddicto, nessa pa…

De dó pensa que eu morro, Glauco? Bah! Com esse povo nada, que em commum eu tenha, alguem encontra! Solto um pum, bananas dou e mando que elle va…

Se junctam? Agglomeram-se? Que bom! Assim se contaminam mais depressa! Mais rapido morrer vão elles dessa!

Comtanto que eu não fique tambem com o virus, Glauco, faço uma promessa: Bem alto, só, rirei! Vou rir à bessa!

SONNETTO DO SENSIVEL DESNIVEL

Você me criticou porque eu sorri? Tem gente, ja, a morrer que nem formiga? Que quer, meu caro Glauco, que eu lhe diga? Direi, então, appenas: E dahi?

Emquanto cago ou faço o meu chichi, eu penso: tanta gente minha amiga nem é! Não sou do typo que se liga nos outros, nos extranhos! E dahi?

Hem, Glauco? Lhe incommoda si eu sorrio? Mas, sendo um masochista, cê devia sonhar commigo nessa phantasia!

Caralho! Que foi isso? Um calafrio senti, Glauco, nas costas! Que seria? Dos mortos virá mesmo uma energia?

SONNETTO DO BANDIDO MASCARADO

Sabia? Antigamente, si eu peidasse assim que nem eu peido, tão fedido, seria até xingado de bandido, teria que fingir risonha face!

Pois é! No elevador, só quem tem classe não peida: se segura, constrangido! Mas nunca me seguro! Si decido peidar, eu peido, e prompto! Sem impasse!

Proteja quem quizer a sua fuça, fallei aqui commigo, Glauco! Nem suppuz que mais bandido seja alguem!

Não seja, não, por isso! Sei tambem tossir! Sim, sei vestir a carapuça do lobo, pois a scena ficou ruça!

SONNETTO DA MICHETAGEM SEM IMAGEM

“Um cego entre inimigos…” Ja lhe disse alguem tal phrase, Glauco? Claro, né? Por SEM OLHOS EM GAZA tambem fé meresce um Aldous Huxley na mesmice.

Hem? Pode-se esperar que alguem não risse dos medos dum cegado? Vão até rir delle caso um carro marcha à ré dê para assustar, para que se attice!

Cachorros ja attiçaram em você, Glaucão? Ja lhe jogaram pedra, meu? Alguma coisa assim quiz tambem eu!

Mas, como perspectiva não se vê da volta à normal scena, você deu é sorte! Sou michê, não philisteu!

SONNETTO DA PERSPECTIVA NEGATIVA

Ainda bem, Glaucão, que ficou cego! Em video nem precisa que eu convide você para assistir ao que a Covid provoca! De dizer-lhe me encarrego!

Peor que ebola, dengue, si isso eu pego, me inflammo, Glauco! O virus nos aggride a todos, pelos ares! Quem decide não é mosquito, ou sexo, ou sujo prego!

Qual tetano! Qual syphilis! Um ar qualquer si respirar, eu ja me fodo! O virus vae chegar ao corpo todo!

Desgraça quer maior? Quem se mactar ao menos abbrevia! Vae a rodo a gente se mactar! Sim, sem engodo!

SONNETTO DA FARINHA DO MESMO SACCO

O numero, olhe, Glauco, do sapato do Collor é quarenta e trez e meio. Bem, era, quando a ser eleito veiu. Ja pode ser maior, é o que constato.

Está mais gordo, Glauco! Si pé chato tem elle, isso não sei. Eu acho feio ficar especulando, Glauco! Odeio fallar só do pé desses com mandato!

“Aquillo roxo” tinha Collor, mas cannella Bolsonaro tem é fina! É thema quente para as linguas más…

Não acho, não, Glaucão, que tanto faz, gambitos ou colhões! Si isso combina ou não, quem vae dizer é Satanaz!

SONNETTO PARA QUEM QUER DANSAR

Estamos é fodidos! Um maldicto ja disse “E dahi?” para a freguezia que morre de montão na pandemia! Nós vamos nos foder, mesmo, bonito!

Fodamo-nos, então, Glauco! Nem cito você, que tem fallado todo dia na merda! Cito toda a allegoria sagrada, apocalyptica! Haja mytho!

Cocô somos! Cocô comamos, ora!

De merda toda a Terra, dentro em breve, será feita! De fome quem faz greve?

Sim, mijo beberemos! Mas agora, emquanto tal destino não se escreve, a gente dansar pode, a gente deve!

SONNETTO DA FOFOCA DUM MASOCA

Deixaram-me na salla. Foram para o quarto os dois, o mano com a minha menina desejada, que eu não tinha ainda nem beijado, cara a cara!

Notei que, no tapete, ella deixara as botas. Mas soffrida punhetinha batti sentindo o cheiro de morrinha nos tennis que o moleque descalçara!

Ah, Glauco! Que chulé forte, salgado! Soffri! Foi humilhante, pois, durante o gozo, os dois gemiam bem ao lado!

Tambem gemi, baixinho, revoltado, trahido, ja babando no pisante do cara! Ao odial-o, me degrado!

SONNETTO

DO TEMPO COMMUM

Você que va tomar, Glauco, no cu!

Não ha quem, na cegueira, lhe soccorra a vida, desgraçado! Caso morra, ninguem vae se importar! Fallo bem cru!

Não fosse, em quarentena, haver tabu de encontros, você feito de cachorra seria! De tão grossa, a minha porra iria mastigar que nem sagu!

Na bocca quando o grosso creme exguicho, as putas quasi engasgam na asphyxia! Tambem você, Glaucão, engasgaria!

Mas este nosso tempo muito micho está! Você tem sua poesia! Me resta, a mim, curtir sua agonia!

SONNETTO DA COBRANÇA NA DESCONFIANÇA

Você vive escrevendo, Glauco, um monte de versos para achar, na phantasia, theatros ao tesão e se sacia com isso! Mas é falsa a sua fonte!

Faltava, audaz, um gajo que confronte a sua falsidade, Glauco! Um dia eu tinha que pinctar! Alguem teria que ser quem a verdade a todos conte!

Aqui estou eu, Glaucão, para fallar que tudo não passou duma punheta! Agora achou você quem se intrometta!

Mas deixe estar! Assim que terminar a chata quarentena, de veneta, eu faço sua bocca de boceta!

SONNETTO DA EMPATHIA DUMA THIA

Não posso ver você nessa agonia!

Sou muito protectora, maternal!

Você nunca deu bolla a mim, mas qual! Não quero nem saber, Glauco! Sabia?

Quer queira, quer não queira, sou a thia, a avó, mãe, professora, a sensual amante, sou a musa que, affinal, presente está na sua poesia!

Não fuja de mim, Glauco! Não me venha dizer que em seus poemas não estão commigo o seu amor, o seu tesão!

Espere só! Depois que me entretenha aqui na quarentena, você não me excappa! Applacará minha paixão!

SONNETTO DO OBITUARIO COMMUNITARIO

Por ser Paraisopolis um mar de casas populares, sendo cada pequena para muitos, é levada ao leito de campanha a avó, sem ar.

Semanas depois, chega a se salvar do virus, sem ter sido visitada siquer pelo marido. Ja sem nada sentir, alta recebe e volta ao lar.

Nem entra no barraco. Dum vizinho escuta a má noticia, triste ja. Chorou, e vae chorar mais um tantinho.

Não tendo logar, acha algum carinho, algum abrigo. Um tumulo será por ella visitado, bem pertinho.

Não, medo de morrer não nos molesta! A gente tem é medo do momento agonico, de muito soffrimento rollar antes de, emfim, partirmos desta!

Entende, Glauco? Quando alguem faz festa, não é por estar vivo! Appenas tento dizer que não queremos esse lento tormento no tempinho que nos resta!

É simples, Glauco! Caso todo mundo certeza tenha duma morte bem suave, não a teme mais ninguem!

Morrer dormindo, Glauco? Não confundo as coisas! De euthanasia fallo, sem rodeios, si doente esteja alguem!

SONNETTO DA BOCCA QUE NÃO SE CALA

Vocês são uns reporteres de merda! Então não perceberam que enviado me faço? Como posso ser veado? Nenhum messias taes transtornos herda!

Assim sempre fofoca alguem de esquerda! Só topo quem esteja do meu lado, pastores, generaes! Não sou pautado por gente que só trama a minha perda!

Portanto, calem essa bocca suja! Ja basta aquelle cego desboccado que só com palavrões dá seu recado!

Missão que nem a minha sobrepuja a pauta dessas midias de peccado repletas! Sou quem manda aqui! Sou sado!

SONNETTO DA CORRIDA A COMBINAR

Desculpe perguntar, mas o senhor é cego de nascença? Não? Caralho! Nem posso imaginar, nesse trabalho de taxi, que sou disso um portador!

Nem oculos eu tenho! Nem suppor eu quero, porra! Ainda bem que eu calho bem para dirigir! Pego um attalho e estou, livre do transito, onde for!

Tesão por enxergar? Ah, que engraçado! Pensei foi justamente nisso! Sinto, não digo que não sinto! Olho o meu lado!

Sim, penso no senhor, que está ferrado, que diz ser chupador, sim, ja que instincto não falta! Adoro mesmo ser chupado!

SONNETTO

DA PROVA INCONCLUSIVA

Conversa não tem, Glauco! Quero prova! Eu quero ver imagem! Você diz que tudo foi filmado quando quiz alguem vel-o lamber ou levar sova!

Allega que lambeu bota, que nova nem era, mas bem suja; que gentis os gajos nunca foram; que infeliz foi nisso. Pois vejamos si comprova!

E então? Que lhe dizia quem filmou? O filme não tem audio? Ora, Glaucão! Puzeram no logar uma canção!

Assim não addeanta! Tambem dou risada de você, seu bobalhão! E todos gargalhadas mais darão!

SONNETTO DA NEGOCIAÇÃO AMIGAVEL

Onde é que ja se viu, Glauco, um cegueta querer de mim cobrar um aluguel que está attrazado? Chega aqui e papel fazer quer de mandão, causando treta!

Fodeu-se! Foi bem feito! Quem se metta commigo uns trancos leva! Meu fiel e joven enteado foi cruel com elle… Mas quem manda ser ranheta?

Eu mesmo comecei a dar porrada no velho, mas jogado foi ao chão por elle, esse moleque, tão machão!

O cego, que não pôde fazer nada, chutado foi, pisado foi, Glaucão! Você, si me cobrasse, iria, não?

É logico: o mercado financeiro

não vive só por causa de quem senta em cyma de papeis, mas elle exquenta com base em quem investe. Isso é certeiro.

Hem, Glauco? Vae valer nosso dinheiro zero mil, zerocentos e zerenta e zero? Qual mercado se sustenta sem juros, Glauco? Diga-me, parceiro!

Si forem reduzir a renda a zero, pergunto, Glauco: Para que poupar? Melhor, então, torrar alli no bar!

Dinheiro que é “de pinga” não é mero trocado, não concorda? Ah, quer tomar commigo umas, comprar meu velho par?

SONNETTO DA EMPATHIA QUE CONTAGIA

Estou é te extranhando, Glauco! Observo que, embora tu satyrico te digas, mais triste tens ficado. Dessas brigas politicas nem ris mais, e me ennervo.

Escravo não tens sido sempre e servo ja pouco tu te fazes, nem te instigas com scenas de sadismo. Que consigas deixar de rir, duvido. Me preservo.

Mas noto que tu ficas bem tristonho com essa mortandade que mais gente edosa tem colhido ultimamente…

Aquelle teu poema achei medonho, fallando da velhinha que se sente curada mas perdeu seu convivente…

SONNETTO DA VACCINA COMMUNITARIA

A coisa simples, Glauco, não paresce? Tu pegas, aos pouquinhos, o tal virus, tocando objectos varios, nesses gyros externos ou caseiros, sem estresse.

Symptomas appresentas? Não? Exquesce, então, a paranoia! Tantos tiros viraes immunizar-te irão! Prefiro os contagios nessa carga à sancta prece!

Vaccina não exsiste? Immunidade ganhemos em commum pelo contacto diario, collectivo! Simples facto!

Si fores te testar, verás que grade em casa nem precisas ter! Exacto! Serás positivado por teu flato!

SONNETTO DA QUALIDADE DE MORTE

Nós temos protocollo, Glauco! Nós partimos do seguinte pensamento: Si formos excolher, attendimento daremos à afflicção menos atroz!

Exacto! Quem chegar sem ar, appós um quadro ja gravissimo, nem tento salvar, pois morrerá num grau mais lento da dor, sedado ja. Não sou algoz!

Aquelle que nenhum respirador tiver, não vae morrer soffrendo tanto! Não, Glauco, não demonstre tal expanto!

Irá morrer dormindo! Sim, sem dor! Que foi? Se interessou por esse manto sereno? Pois descanse! Eu lh’o garanto!

SONNETTO PARA QUEM FICA EM CASA

Agora que eu não tomo, mesmo, um banho! Alem da quarentena, que incentiva a gente a ter funcção vegetativa, ainda vem o frio! Que é que eu ganho?

Lavar para que, Glauco, si de extranho não ha nada no cheiro que deriva das partes, tão egual ao da gengiva que, sem escovação, ganha tamanho?

Não, Glauco! De pyjama aqui, fedamos! Quem mais vae desejar seu nariz pôr aqui neste sovaco? Convenhamos!

Emquanto você, Glauco, faz reclamos em verso, ou louva a picca, vou suppor que estou sendo chupado! Junctos vamos!

SONNETTO DO CHURRASCO PROPOSTO

Não quero ser sarcastico, Glaucão, mas acho que enterrar, em tão extrema tragedia, não devia ser um thema corrente, pois ja falta até caixão!

Então pergunto, Glauco: Por que não cremar directo os mortos? Quem os crema evita todo typo de problema! Ja bastam esses tantos que ahi estão!

Fallando em pandemia, vou propor fazermos um churrasco! Commemora a gente estarmos vivos e sem dor!

Não acha, Glauco, massa? Ah, por favor! Por que não festejar? Quem não adora a carne tostadinha, aquella cor?

SONNETTO PARA QUEM PREFERE BANANINHA

Querido, vou fallar-te com franqueza. Mulher não sou que enrolla, tu ja viste. Mas, contra as outras todas, eu nem triste fiquei ao conhescer o Pé de Mesa.

A fama que elle tinha, com certeza fajuta se revela, pois consiste a rolla delle em thema mais de chiste que duma allegoria da macheza.

Devias ver, querido! Uma bimbinha minuscula, mais flaccida que pincto de velho ou de bebê! Mas prazer sinto!

Prefiro mesmo um pincto que definha, pois posso simular um labyrintho na minha bocetinha! Não, não minto!

SONNETTO DOS PÉS CHATISSIMOS

Não tens pé chato, Glauco? Pois eu tenho! Pé chato, mesmo! Um arco tão cahido que mais paresce tabua! Até duvido que exsista alguem no mundo com tal lenho!

Alem de chato, largo! O desempenho é falho para andar, si for comprido demais algum trajecto, ou si decido usar bota appertada, como venho!

Hem, Glauco? Quanto calças? Isso, appenas? Trez numeros a mais é meu tamanho nas justas botas! Opto por pequenas!

E mesmo si pequenas, causam scenas ridiculas! De lingua davas banho, um dia, nos meus pés? Não me condemnas?

SONNETTO PARA QUEM FALLA DE PROMPTO

Não, Glauco! Jamais faço “lacração”! Nem uso o cellular para fofoca! Não sou do typo franco, que provoca mellindres, meramente! Não sou, não!

Sou muito mais que simples “exemptão”! Eu fallo bem na latta! Si isso choca, tomar no cu ja mando! Na malloca chamaram de “barraco” o meu jeitão!

Eu digo, mas não digo, simplesmente: affirmo, reaffirmo! Ouviu, amigo? Quer ver como sou firme e contundente?

Sem nomes feios! Nada de indecente, porem! Não sou você! Nenhum perigo eu corro! Que Satan me temptar tente!

SONNETTO DA DICA QUE FICA

Paguei puta, mas Glauco, nem gozei! Fazia tempo -- Ouviu? -- que eu não sahia com essas de programma! Que seria? Você bem sabe, Glauco: não sou gay!

A moça até fingiu gozar, mas sei (bobão não sou) que esteve toda fria!

Agora descobri: pornographia foi muito melhor, sempre que exporrei!

Masturbação é tara bem mais rica, com toda a phantasia, sem problema! A boa bronha as coisas simplifica!

De novo vive dura a minha picca, ouviu? Não é que linguas más eu tema, mas nome meu não cite… Fica a dica!

SONNETTO DO ASSEDIO FEMININO

Estás a ver? Ficaste dando trella a toda a mulherada que te lia!

Agora te paquera cada thia, em vez de debruçar-se na janella!

Não digas isso, Glauco! De cadella não chamo cada qual que te assedia!

Não achas, meu querido, todavia, que para a putaria alguma appella?

Não basta teres dicto, ja, que és gay?

Que querem as mulheres? Converter-te? Recebes, pelas redes, tanto flerte!

Suppões que com ciumes estarei! Magina, Glauco! Quero só foder-te a bocca, não fazer-me de sollerte!

SONNETTO DIRECTO AO PONCTO NO CONTO

Bollei um conto assim, Glaucão. Que tal?

A victima de estupro, paciente de estresse posttraumatico, se sente tão mal que vae parar num hospital.

Mas esse nosocomio tambem, mal interna taes mulheres, na corrente e em cella as mantem presas. Muita gente irá tractal-a como um animal.

Appós ser estuprada, todo dia, por varios gajos sadicos, ja fica de perna aberta, a bocca aberta à picca.

Emfim, ja accostumada, a mulher cria coragem, nojo perde e verifica que sente indifferença a quem fornica…

SONNETTO PARA QUEM TOMA CHOCOLATE

Não, Glauco! Te conhesço! Tu preferes dar ordens! Tens character superior, mandão, auctoritario! Tua dor supera a das mais publicas mulheres!

Emquanto ver podias, teus mesteres de sadico, seria de suppor, em outros exercias, com fervor orgastico! Confirma, si quizeres!

Mas, como cego, nada que exigir tens mais! A contragosto, tu terás que em tudo subjeitar-te a algum rapaz!

Bem sabes disso, Glauco! Um elixir que tomes, ou poção, que tanto faz: Precisas é dopar-te! Hem? És capaz?

Bem sabes, Glauco, como é que eu reajo! Sou sadico, sim, caso me provoque um trouxa que, submisso, der o toque! Assim accontesceu com esse gajo!

Então quiz humilhar-se elle? Eu ultrajo o gajo, faço que elle se colloque, em publico, por baixo! Bello choque levou quando o fiz, Glauco, usar andrajo!

Vestido de mendigo, foi commigo àquelle bar aonde tambem ias! Cuspi na cara delle! É o que te digo!

Mandei que elle deixasse, por castigo, o cuspe excorrer, grosso! Tu ririas? Que tal me versejares, si te instigo?

SONNETTO PARA UMA ESTUPRADA

Lhe juro, Glauco! O bebado de mim fez tudo o que lhe veiu na cabeça! Sim, tive que chupar! E não se exquesça: caralho de mendigo… Ui, si é ruim!

Fiquei tão humilhada! Teve fim a foda só depois que elle, na advessa e rude posição, jorrou espessa golfada! A vomitar eu quasi vim!

Meu trauma? Claro, Glauco, que isso guardo! Difficil é contar! Ja meu serviço me impede de expalhar tão triste fardo!

Você, que nesses themas é bom bardo, capaz é de entender o tal mestiço! Fará bello poema ao pobre pardo…

SONNETTO PARA QUEM TENHA QUE AGUENTAR

Você não foi quem disse que eu cahi naquella temptação de ser fascista e numa dictadura achar a pista de todo o meu sadismo? Guenta ahi!

Você não foi, Glaucão, quem meu chichi fallou que beberia? Agora mixta será sua porção, pois que consista farei tambem de merda! Guenta ahi!

Você fallou tambem que eu nunca ri dum cego, só porque perdeu a vista! Rirei, sim, sem remorso! Guenta ahi!

Que mais você fallou? Ah, que gury ainda sou, Glaucão! Serei sarrista, então: meu pé lhe nego! Guenta ahi!

SONNETTO DO LADO MAU

Foi sua maldicção, cego damnado! Agora que recluso totalmente ficou pela cegueira, você sente inveja dos que estão em bom estado!

Por isso é que, Glaucão, me desaggrado com sua bruxaria! Pela frente eu vejo tudo, luzes, cores, crente na vida, no futuro, no passado!

Você, não! Por estar ja no degrau mais baixo, dependente, em casa fica! Quer ver todos tomarmos, e babau!

Quer todos affundando nessa nau comsigo! Sei que a Juppiter supplica! Tomar deve no rabo, ouviu! Foi mau!

SONNETTO DO LADO RUIM

Não era para azar egual ao seu nós todos termos, Glauco, porra! Ah, va tomar no cu! Você, que cego está, saudade tem daquillo que perdeu!

Mas eu, que me julguei ser philisteu em vez de ser Sansão, me vejo ca em casa confinado! Porra, dá mais raiva de quem vive no seu breu!

A mim, que sempre achei ser mais experto que um misero ceguinho, tão chinfrim, foi muito vergonhoso, pô! Foi, sim!

A todos que teem olho bem aberto, não era para estar a coisa assim! Sahiu bastante errado! Deu ruim!

SONNETTO PARA QUEM ASSUME

Sim, sou bolsonarista, Glauco! Quero usar arma, formar milicia! Adoro foder meus inimigos! Commemoro ao vel-os na agonia! Admiro Nero!

“A sola do gabola” considero seu maximo poema! Até decoro! Espero ver suar por cada poro, de medo, os “exemptões”! Não exaggero!

Você bem sabe, Glauco, como nós gostamos de pisar! Sim, humilhar quem nojo tem da bota militar!

Hem, Glauco? Ja pensou? Virus nos pós adhere, não adhere? Quem passar a lingua no solado vae pegar!

SONNETTO PARA QUEM NÃO PAGA LOGO

Hem, Glauco? Prometteu pagar? Agora terá, sim, que cumprir essa promessa! Tambem eu quererei receber essa parcella duma adjuda gratis, ora!

Mas isso me lembrou certa senhora putana, que a chupar nunca começa, dizendo ser preciso que ella peça ao gajo que se limpe, sem demora.

Primeiro, a puta allega que o cliente está com o pau sujo, que sebinho tem grosso, que isso é muito repellente.

Então, outras inventa. De repente, deseja, antes da foda, beber vinho… Pagou ou não pagou? -- pergunta a gente.

SONNETTO DA SALVAÇÃO EM CHRISTO

Hem, Glauco, quer dizer que tem egreja curando gay mas, quanto ao virus, nada de cura? Que engraçado! Como cada pastor uma desculpa dá, que seja?

Então um pastor desses exbraveja só contra gays, mas delles a manada ninguem será capaz de ver curada? Faltava, a elles proprios, quem proteja!

Não era Christo, Glauco, quem dizia que enxergam elles cisco no olho alheio? No proprio, nada viram! Que ironia!

Puzeram um adviso onde se lia: “Devido ao virus, hoje, com receio, nem cura programmamos.” Quem diria?

SONNETTO DA PATOTA REMOTA

Por teleconferencia, a reunião transcorre normalmente. De repente, alguem se escandaliza, mal se sente. Teria visto um gajo pelladão?

Disseram “pelladão” mesmo, mas não se explica como o gajo, que dum quente banhinho ja sahia, poz-se em frente daquelle formalissimo telão.

Demais participantes, constrangidos, fingiram nem notar que sem toalha estava aquelle impavido canalha.

Alguem cortou a tela, mas ouvidos attentos perceberam que se expalha um “Ah!” de decepção por essa falha…

SONNETTO DA FODIDA SITUAÇÃO

Tá foda pacas, meu! Sempre eu pedia um choppes, dois pastel, Glauco! Orra, meu! Sanduba na padoca tambem eu pedia! Fechou tudo, meu! Sabia?

Tá foda, Glauco! Ouvindo todo dia estou que voltará logo o lyceu a abrir, mas pelo jeito se fodeu tambem essa escholar philosophia!

Tá foda! Glauco, os grillos pinctam, bicho! Estou na maior neura, na maior deprê, na maior noia! Haja suor…

Tá foda, bicho! Juro que capricho não é, Glauco! Você sabe de cor os nomes dos transtornos, do peor…

SONNETTO DA PROXIMA ENCARNAÇÃO

Glaucão, vae melhorar para teu lado! Fiquei sabendo -- Puxa! -- que ja alguem inventa, para os cegos, o que vem trazer-lhes visão nova! Puta achado!

No cerebro collocam, implantado, um troço leve, electrico! Sim, sem usar seu olho cego, o gajo tem imagem duma lettra! Foi testado!

Não achas que esperança a coisa traz?

Não ficas optimista, meu amigo? Percebo que animado agora estás!

No seculo vindouro, tu serás vidente novamente, teu castigo! Dirás que ja não temes Satanaz?

SONNETTO DA INCLUSÃO SOCIAL

Não, todo mundo em casa, assim não vale! Só tu, Glauco, ficar deves recluso! És cego! És perdedor! Deves abuso soffrer! A ti não ha por que me eguale!

Precisas de castigo ficar, mal e mal indo ou vindo a passo! Me recuso a achar que estás ganhando, em verso luso, prestigio, ou que melhor de ti se falle!

Não, Glauco! Nós, que vemos bem, à rua queriamos sahir e não ficar ca, nesta quarentena, neste azar!

A pena não é minha, porem tua! Por que devo soffrer este exemplar castigo? Acho que até podes gozar!

SONNETTO DO VOTO FEMININO

Fiquei damnada, Glauco! Minha amiga me disse que esses machos governistas estão, a cada passo, mais machistas, dispostos a comnosco comprar briga!

Disseram que só para a gente liga quem nossos votos quer, que nós, nas listas de novas candidatas, só conquistas de cama somos, fora as da barriga!

Um monte de bobagens diz, sem nexo, dos machos o guru, Glauco! Você não vê? Surra faltava alguem que dê!

É mesmo, Glauco? O caso nem complexo seria? Basta a sadica, à mercê da qual pés lamberão? Ou dum michê?

SONNETTO DA PRAGA DO CEGO

Vivias a fallar, Glauco, que estavas no seculo dezoito ou dezenove, não só pela graphia que te move a verve em varias quadras ou oitavas…

Agora as nações todas são escravas da tua praga! Até que se comprove haver cura que a vida nos renove, mandamos o futuro para as favas!

Vivamos no passado! Ninguem mais viaja de avião! Para a doença não temos mais remedio! Resta a crença…

Avós seremos, como nossos paes! Seremos saudosistas! Ninguem pensa no novo, só no velho! Ora, compensa?

SONNETTO DA AMBIGUIDADE ROCKEIRA

Menino que tem cara de menina por causa do cabello bem comprido é caso que, em Barbarians, bem ouvido eu tinha, Glauco! O que você imagina?

Em epocha de Beatles, a ferina linguinha do povão acha a libido suspeita si com gay é parescido qualquer moleque à toa alli na exquina.

Agora ninguem liga si tem cara de fada -- até de puta -- algum pivete, pois quasi todo mundo faz boquette…

Até você, Glaucão, que se compara ao torpe em cuja bocca alguem só mette caralho com sebinho, o som reflecte…

SONNETTO DO MARCIANO CRIVEL

Salgadas e geladas são -- secunda um genio da sciencia -- as aguas em planetas como Marte. Julga alguem que a vida, mesmo assim, nelles abunda?

Mas nega a vida alli quem ja redunda nas mesmas conclusões de que ninguem habita taes planetas, que estão sem as minimas premissas! Não confunda!

Não, Glauco! Não confunda as coisas, só com monstros, desses mares mais profundos! Não vamos comparar, né? Tenha dó!

Tambem ha sal e gelo la, mas, oh! Sim, posso descrer disso si, em segundos, cahir um asteroide! Então é pó!

SONNETTO DA COMIDA A DOMICILIO

Pedi cachorro quente, Glauco, por aquelle popular applicativo.

Até na quarentena não me privo dum lindo lanche, egual ao meu doutor!

Mas sabe o que occorreu? O entregador foi visto abrindo o lacre e, sem motivo algum, cuspiu no rango! Ja não vivo pedindo o meu sanduba temptador!

Bem, Glauco, na verdade não cuspira no lanche, mas mordera! Fosse pera, viria com buraco! Sem mentira!

Entenda bem: tem gente que até pira de fome! Mas, Glaucão, não faço cera, cê sabe! Ja chupei-o! O mundo gyra!

SONNETTO DA CARETA DE CARECA

Pô, Glauco! Ja não corto o meu cabello faz tempo, pô! Você devia ver a minha cara! Devo parescer um homem das cavernas! Haja pello!

Pô, Glauco! Sei que é muito desmazello, mas… Sem barbeiro aberto, que fazer? Não fico tão hirsuto por prazer! Eu mesmo não consigo bem fazel-o!

Pô, Glauco! Dependesse só de mim, careca ficaria, sem problema! Que eu tenha de skinhead a cara affim!

Pô, Glauco! Não seria tão ruim virar um desses bugres! Ja sou thema das linguas más! Brutal ja sou assim!

SONNETTO DA TORCIDA ORGASMIZADA

Em vez de torcedores, vi bonecas inflaveis, Glauco, pela archibancada inteira! Sim, e cada qual pellada! Nem calças, nem camisas, nada, necas!

Não pecco, Glauco! Tu tampouco peccas si fores punhetar-te emquanto cada boneca apparescer, patrocinada por rotulos eroticos sapecas!

Sei, claro, que não sentes attracção por symbolos do typo! Tu me dás razão si idéas taes eu acho más?

Então estamos junctos, ja que não me excito com aquillo! Satanaz é nossa testemunha! Né, rapaz?

SONNETTO PARA QUEM ACHA MELHOR MORRER

Ouviste fallar, Glauco? Um tripulante mactou-se no navio de cruzeiro! Sentiu-se, em quarentena, prisioneiro, pois fim à reclusão ninguem garante!

Não, Glauco! Minto! Foram trez, durante semanas confinados sob o cheiro do proprio chulé, nesse captiveiro! Espero que tal facto não te expante!

Agora me inteirei de que trezentos mactaram-se, ja, Glauco! Não appenas naquelles transatlanticos ha scenas!

Peões, desempregados, sem sustentos nem chances de sahir das quarentenas, commettem suicidio! Tu os condemnas?

SONNETTO PARA QUEM SE EXFORÇA

Até para fazer cocô me fica difficil, Glauco, nesta quarentena! Só faço quantidade bem pequena e, mesmo assim, vem tarde essa titica!

E tu? Ja descreveste, em tua zica de bardo preso em casa, aquella scena da atroz prisão de ventre, que condemna a gente a fazer força? Deste a dica?

Sim! Como não lembrar? Tu, com extremos de verve e de lyrismo, foste cru nas tinctas e nos cheiros dum tabu!

Que seja! A ti me egualo! Viveremos daqui por deante em lucta com o cu que rasgos de hemorrhoidas põe a nu!

SONNETTO DO GADO

No tempo dos anões, dum orçamento tirava-se uma verba com a mão. Depois foram surgindo o mensalão, o petrolão… e estou neste momento!

No tempo dos anões, o que um jumento fallou dum coronel rendeu bordão -“Eu sou boi delle!” -- e entrou, televisão affora, pras kalendas que eu requento!

Não é que agora, Glauco, chega alguem fallando, bem na latta, que ser gado o deixa ainda mais gratificado?

Que seja sequestrado, porra! Sem direito de resgate! Ja me enfado de tanto puxasacco dum saphado!

SONNETTO DAS BANCADAS THEMATICAS

Primeiro, uma bancada foi da balla. Depois, veiu mais uma, a tal da bolla. A coisa, pelo jeito, fez eschola. Bancada até da Biblia se propala.

Talvez eu me confunda, Glauco! Falla si estou errado! Tens razão! Controla as Casas a do boi, tambem! Cartola não falta, alem da bolla, alli na salla!

Caralho, Glauco! Quattro vezes “B”! Peor que Grande Irmão, ou coisa assim! Mais ‘inda ficará a Coisa Ruim!

Mas isso é bem Brazil, né? Faz michê quem nossa Sociedade esteja a fim de, bebado, fazer de botequim!

SONNETTO DA PASSARADA URBANIZADA

Tucanos sendo vistos por aqui?

Só pode ser piada! Mas piada de gosto duvidoso, Glauco! Nada indica que proceda o que eu ouvi!

Habitam elles mattas! Do sacy, da mula sem cabeça, duma fada dos bosques são collegas! Mas que invada um bando delles justo o Morumby…

Ahi ja é demais! Não é, Glaucão?

Ja bastam bemtevis e sabiás, alem das maritacas, la no Braz!

Ja bastam os politicos! Razão tens tu! Mas convenhamos, meu rapaz: Não faz melhor figura Satanaz?

SONNETTO DA ADJUDA MUTUA

Tentei te defender, Glauco, mas fazes questão de condemnar-te no que dizes! Affirmas que argumentos infelizes usei! Como fazer comtigo as pazes?

Tu vives a fallar desses rapazes sujissimos da rua, que, em Perdizes ou em Paraisopolis, “deslises” commettem! Teus palpites não teem bases!

“Deslises” nada, Glauco! No vulgar, são crimes o que estão a commetter! Assaltam! Mactam! Gostam de estuprar!

Lambeste, do dedão ao calcanhar, o pé dum delles? Ora, nada a ver terei eu, meu! Me adjuda a te adjudar!

SONNETTO PARA QUEM TOMA

Ué, Glauco! Só toma quem quizer! Quem não quizer não toma! Não me fodo! Si formos de direita, temos todo direito de propor droga qualquer!

Tomemos! Nos curemos! Si não der, de facto, resultado, foi engodo?

Magina, Glauco! Morre gente a rodo!

A menos ou a mais, morre quem quer!

Que tome guaraná quem for communa!

Que tome tubaina, tome soda! No chiste, nem preciso de tribuna!

Não ha melhor piada que nos una! Não posso fazer nada, si incommoda meu riso! Não ha pena que me puna!

SONNETTO DO MONSTRO FESTEJADO

Ainda bem, Glaucão, que a Natureza, tão sabia, tão bondosa, tão… humana creou esse monstrengo que se irmana aos mythos que manteem a luz accesa!

Sim, Glauco! Doradvante, quem illesa achar a nossa raça vae? Bacchana achei esse tal virus, pois se damna o cego! Mas terá boa surpresa!

Glaucão, nem sou quem falla! Diz o Lula que, emfim, terão os cegos enxergado! Emfim fé botarão no grande Estado!

Tá vendo? Si a Natura ficou fula, nenhuma chloroquina resultado dará, Glauco! Você ficou chocado?

SONNETTO DO POLITICO RIDICULO

Estás sendo severo demais com o gajo, Glauco! É jeito delle, porra! Não creio que com esses chistes corra o risco de deslise no bom tom!

O que? Sincericidio? Mas batom de sobra na cueca, alem da porra, foi visto ja, por causa da cachorra que tudo delatou em alto som!

Depois de tanto escandalo, nem faz alguma differença a piadinha que diga alguem, -- Não é? -- bem excarninha…

Tu fazes umas satyras que em paz não deixam consciencias como a minha! Não achas que elle tem mais licencinha?

SONNETTO DO AUTOABBRAÇO

Não, Glauco! O cotovello tão seguro não é para fazermos cumprimento com elle, em vez da mão! Eu não! Nem tento! É o meu muito ponctudo, muito duro!

O virus bem que pode, pelo furo da manga, deslocar-se em cem por cento do braço e, mesmo sendo meio lento, chegar ao queixo, ao labio! Mestre, eu juro!

Sim, morro de pavor! Nem um abbraço eu ouso dar siquer em mim! Crês nisso? Pois é, de me pegar questão não faço!

Não! Tenho caimbras, mestre! É meu cagaço! Por isso taes symptomas não attiço! Ah, claro! O meu cacete eu arregaço!

SONNETTO DA ACCUSAÇÃO GRAVISSIMA

Não fomos nós, aqui neste terceiro mundinho, que inventamos essa peste! Ainda que elle negue e que conteste, foi elle, Glauco! Tudo por dinheiro!

Ainda que tu pau no teu trazeiro só tomes porque queiras, elle investe na tua sodomia, pois fizeste questão de não culpar um extrangeiro!

Foi elle que estuprou esta nação! Alem da nossa, a delle ja se ferra! Podendo, foderia toda a Terra!

Si tu não accreditas, Glauco, não me importo! Mas o caso não se encerra naquillo que elle em tua glotte enterra!

SONNETTO DA INGRATA PENSATA

Queremos reclamar, Glauco! Tu tens que pôr as nossas queixas em formato de verso, commentar bem cada facto que expomos, realçar nossos porens!

Mas pouco caso fazes! São desdens as tuas attitudes! Só constato que quasi nem retornas o contacto que faço! A ninharias tu te attens!

A compta ja perdi de quantos pares de tennis velhos dei-te de presente! Por que não retribues dignamente?

Tá certo que apprecio umas vulgares e sujas anecdotas, mas mais mente a tua poesia que essa gente!

SONNETTO DOS SLEEPING GIANTS

Vocês, que me chamaram de moleque, teem vinte e quattro longas horas para voltar a annunciar na minha cara columna de fofoca! Agguardo o cheque!

Tem mais: exigirei salamaleque, excusa, rogo, supplica! Com tara eu quero que rastejem! Minha vara irão chupar, comer o que eu defeque!

Ja não me patrocinam? Eu, que caro lhes cobro si na bunda dei um chute da corja? Quem taes podres mais discute?

Exijo um desaggravo! Quero o faro de cada nariz desses no meu bute, a lingua pela sola! Que eu desfructe!

SONNETTO DO CHINELLO

Bassê espoletta, aquelle, que a farello reduz a licoreira de crystal! A sua agilidade em tudo é tal que deve merescer… O que? Chinello!

Bassê, que não prefere caramello, mas mortadella! À falta, não faz mal, pois rouba qualquer doce, nacional ou importado! Pede o que? Chinello!

Bassê, que nem com vara de marmello lhe battem! Não se batte em animal, num bicho que… Meresce o que? Chinello!

Chinello, que por elle eu tanto zelo, tão fofo e comfortavel, por signal! Fazer o que? Roeu o meu chinello!

SONNETTO

DO ESTYLO BRAZILEIRO

Tu sabes! Não fui nunca quem apposta no chaos, no pandemonio, Glauco! Não! Accusam-me de usar só palavrão, mas fallo, sim, por culpa dessa bosta!

Hem, porra? Dás razão a quem não gosta do meu jeitão? Mas, Glauco, o meu jeitão é como o teu! Não dizes bosta tão egual àquella que essa gente posta?

A bosta de jornal que me critica só falla sacanagem, putaria! Tambem eu fallarei de tudo, um dia!

Teus versos fallam bosta até mais rica, mais lyrica! Tu fazes poesia! Mas é cocô qualquer democracia!

SONNETTO PROCTOLOGICO

As minhas hemorrhoidas, Glauco, são, acaso, de interesse popular? A midia quer saber dellas, mostrar ao povo como sangram, faz questão!

Mas, Glauco, como pode? Cagalhão, si grosso, faz qualquer bulbo sangrar, sabemos disso! Querem no logar metter ainda algum porrete, irmão?

Assim eu não aguento! Toda vez que sento na privada, soffro paca! A bosta fica presa, adhere, empaca!

A todos perguntei, Glauco: Vocês não ficam satisfeitos? Minha caca não basta? Que mais pede quem me attacca?

SONNETTO DA MORAL PESSOAL

Familia christan, porra! Jesus, porra! Valores moraes, porra! Religião, caralho! Deus, caralho! Você não entende que eu a nomes taes recorra?

Chamar Nossa Senhora de cachorra jamais irei! No funk é que elles vão fazer isso, caralho! O palavrão quem usa assim eu quero que elle morra!

Que bosta! Aquelle estrume de jornal fodeu minha familia! Mas não vou xingar tal como xingam, affinal!

Não sou como você, Glauco, que mal emprega a nossa lingua! Não dou show de exporro! Só você, que é sem moral!

SONNETTO

DO ESTRUME

De bosta tu não passas, Glauco, mas conhesço muita gente que de estrume não passa! Tens no verso o mau costume, mas outros, nas acções, intenções más!

Exsiste differença, sim! Dirás que não, que são synonymos! Espume de raiva quem quizer, mas ha chorume e lixo! Differença alguma faz!

De estrume chamo o gajo que me encheu o sacco, porem antes era amigo. De bosta chamo quem fodeu commigo!

Surpresa não me causas, não, pois eu sou foda, sou fodão! Glauco, te digo: De alguem me derrubar não ha perigo!

SONNETTO DOS VAGABUNDOS IRACUNDOS

Confesso: ca por mim, prendia meia centena de juizes, jornalistas, poetas e escriptores communistas! Logar de vagabundo é na cadeia!

Si falla alguem que a gente lhes cerceia a satyra, a palavra, que conquistas do povo desdenhamos, dou as pistas: Logar de vagabundo é na cadeia!

Si dizem que esta aqui sempre foi cheia cidade de ladrões, tu me contestas? Logar de vagabundo é na cadeia!

Não achas que está, Glauco, ja bem feia a minha situação? Tambem detestas meus methodos? Logar tens na cadeia!

Batter num cego muito facil é!

Fazer o que quizermos elle irá sem mesmo ser surrado, mas que dá vontade de batter, dá! Muita, até!

Batti ja num, Glaucão, só com o pé! Mandei que rastejasse, fosse la e para ca voltasse! Kakaká!

Morri de rir, meu caro! Bote fé!

Até que nem chutei muito! Pisão levou, pediu clemencia, covardia achava aquillo tudo, olhe, Glaucão!

Covarde, eu? Só sorrindo! Você não achou graça? Fodi quem rebeldia mostrava! Assim é mesmo o meu tesão!

SONNETTO DA HYDROXYCHLOROQUINA

Um grave effeito ouvi, collateral, da tal da chloroquina, Glauco! Ouviste fallar? Causa cegueira! Quer mais triste destino, quando alguem nem está mal?

Tomar por prevenção será fatal a quem nada pegou e bem resiste! De quem se recupera farão chiste por ter sahido cego do hospital!

Pensaste, Glauco? O gajo nada tinha! Siquer elle infectado fora, mas tomara a chloroquina, pouco faz…

Ficou cego! Peor que tu, que minha risada despertou ja, tão mordaz!

Terá que implorar graça a Satanaz!

SONNETTO

DO UTENSILIO TERMINAL INUTIL

De cada dez que entubam por corona no maximo trez vivos sahirão! Os leitos intensivos são, então, inuteis, Glauco! Para que essa zona?

De guerra zona fazem! Ambiciona alguem importar tralha de montão, os taes respiradores! Mas em vão um tempo ganham! Tudo vem à tonna!

Que vale ter mais vagas, si quem vae parar num hospital tem chance zero? Me sinto mal? Rezar, appenas, quero!

Melhor morrer em casa, Glauco, uai! Meu medico jamais foi tão sincero! Lavou as mãos! Foi franco, considero…

SONNETTO DA PHILANTHROPIA

O quadro “Lingua”, authentica aquarella de Dennis Azambuja, leiloado foi para angariar algum trocado e dar adjuda a quem por pão appella.

No meio de tal crise, eis que essa tela até que conseguiu bom resultado, Glaucão! Fallando franco, desaggrado me causa, mas a ti seria bella.

Irias te encantar com a figura bem nitida dum typico solado de bute, emborrachado, ja rallado…

Em close, essa linguona que procura lamber o pó da sola tem causado comparações comtigo! Bem lembrado…

SONNETTO DO COVIDÃO

Tu viste isso? Depois do mensalão, depois do petrolão, que mais podia surgir que escandalize? Eis que, no dia seguinte, ja se falla em “covidão”!

Sabiamos nós todos, de antemão, que iria dar naquella putaria o novo protocollo! O povo chia, mas crimes conhescidos todos são!

Em phase de emergencia, quanto mais flexiveis as leis ficam, mais se pode foder quem normalmente ja se fode!

“Fractura exposta”, alguem disse dos taes contrastes, mas não ha quem se incommode com pobres, Glauco! Digo-te: é pagode!

SONNETTO DA COPROLALIA

Senhoras e senhores, esse bosta, perdão, esse carissimo collega que, nesta ceremonia, a bunda arrega, desculpem, que em dialogos apposta…

Me cabe exaltar sua descomposta bundona, digo, o merito dum mega poeta, de seu livro, um troço brega da porra, do qual toda a gente gosta!

Errei quando o chamei, attraz, de filho da puta! Mil perdões! Dizer eu quiz que sua mãe nem era meretriz!

Emfim, que elle se foda, si me pilho mandando! Ui! Me corrijo desses vis cochilos! Lhe dirijo odios gentis!

SONNETTO DO RASTEIRO BANDOLEIRO

Verdade, Glauco! Um simples cadeirante tentou assaltar uma loja rica! Sem pernas, sua acção restricta fica aos braços, mas sem força ter bastante…

Armou-se dum revolver semelhante àquelle de verdade e deu a dica: “A grana! Passa a grana!” Sua zica estava assegurada nesse instante…

Chamaram a policia. Conduzido à cella, la ficou sem a cadeira de rodas. Vae rallar, nem que não queira!

Os outros se divertem! A libido da turma alguem precisa, de maneira qualquer, satisfazer… Hem? Que zoeira!

SONNETTO DO FUMANTE INCOMPASSIVO

Meu pae sempre fumou, Glauco! Tambem eu fumo! Nem grippinha siquer pego, nem elle! Na verdade, eu ja sossego faz tempo, pois me sinto muito bem!

Meu thio, pelo contrario, que tão zen se julga, que não fuma, tem mais prego na cruz que você, Glauco, que está cego, insomne e diabetico refem!

Fumante você nunca foi? De nada serviu ter evitado tanto o fumo! Sou franco: de você só dou risada!

Um cego p’ra que serve? Dar chupada na rolla dos normaes? Segue esse rhumo? Sim, zombo! Dou, sorrindo, outra tragada!

SONNETTO DO CASAMENTO

Não, Glauco! Casamento, para mim, precisa ser até que Deus decida chamar! Tem que durar até que a vida, feliz ou infeliz, tenha seu fim!

Alguem enviuvou? Bem, ahi sim! Ahi vou mesmo, quando me convida quem casa novamente! E que a devida festança seja, emfim, outro festim!

Não, Glauco! O que eu affirmo e que sustento é ser indissoluvel, permanente o vinculo! Ora, até do presidente!

Não fica bem, Glaucão, que num momento a dama a gente encare e, de repente, esteja no logar outra! Não, gente!

SONNETTO DOS AUTOPROCLAMADOS

Pensaste nisso, Glauco? Ainda bem que nunca foste um “autoproclamado” cegueta, fellador, masoca, sado, podolatra, propheta, bardo ou zen!

O Olavo, pelas redes, jamais tem la muito positivo resultado si for nas wikipedias pesquisado! Não gostam muito delle, Glaucão! Hem?

Quem de “influenciador digital” é chamado, bom curriculo não fez! No maximo, um babaca faz freguez!

Te seguem outros bardos! Tens até leitores que te zoam, uma vez que és fan do proletario ou do burguez!

São Paulo

Casa de Ferreiro

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