RHYMAS DE HORROR
Glauco Mattoso
RHYMAS DE HORROR
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
Rhymas de horror Glauco Mattoso
© Glauco Mattoso, 2021
Revisão Lucio Medeiros
Projeto gráfico Lucio Medeiros
Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ______________________________________________________________________________
FICHA CATALOGRÁFICA
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Mattoso, Glauco
RHYMAS DE HORROR/Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 142p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1
NOTA INTRODUCTORIA Dentre os innumeros volumes thematicos que planejei sem ver concretizados em edição impressa ou virtual, havia um intitulado ARREPIO, attribuido ao heteronymo Dr. Josaphé Sylvereda. Na verdade, as lettras do titulo, sommadas às do auctor, formam anagramma quasi perfeito com Pedro José Ferreira da Sylva, meu nome civil, que ja deu ensejo a varios outros anagrammas, sendo o mais antigo delles José Sylveira da Pedra-Ferro. O que vem ao caso, nesta collectanea, é o foco sobrenatural, mais especificamente maccabro, dos poemas seleccionados. Parte delles (agora reestrophados em quattro ou mais quartettos e chamados de “dissonnettos”) ja tinha sido incluida numa anthologia de maior envergadura, A MALDICÇÃO DO MAGO MARGINAL, mas aqui o crivo phobico e supersticioso faz um recorte mais preciso. Outras abbordagens de themas mysteriosos e funebres estão nos livros INSPIRITISMO e DYSANGELHO SATANISTA. Ha tambem passagens affins nos livros CAUTOS CAUSOS e RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA.
PRIMEIRA PARTE DISSONNETTOS HORRIPILLANTES
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DISSONNETTO CADAVERIDICO [0514]
Aqui jaz um zumbi que, com veneno, espada, faca, forca ou guilhotina, a turba em furia cuida que extermina, mas volta a si e respira a pulmão pleno. À morte não serei eu que o condemno, mas dizem que elle proprio se incrimina, fingindo aguda a dor mais pequenina, tornando enorme o gozo mais pequeno. Na lapide inscreveram um poema: “Não creia no sorriso da caveira! Duvide da visão mais verdadeira! Visões phantasmagoricas não tema!” Da tumba o zumbi zomba e, mal se exgueira, de novo seu despojo a turba crema e um novo midiatico dá thema. Maior poeta vivo? Crê quem queira!
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DISSONNETTO ACCAREADO [0567]
Peor será ser cego ou invisivel? Não sabe o cego quando alguem o espia e estoutro é gatto pardo em pleno dia: ignoto, nem é lindo, nem horrivel. Ao cego, a luz é negra; o escuro, niveo. Ao ser phantasmagorico, a agonia é ver que pode entrar na cova fria e della sahir sem que um olho crive-o. Phantasmas e zumbis a mim eu sommo, mas somos todos sobrenaturaes. Por isso os invisiveis vagam como somnambulos, capazes de actos taes... De cuja culpa exima-se o mordomo: Esperam que, num flagra, algum ser mais extranho que elles mesmos, seja um gnomo ou seja um cego, os veja como eguaes.
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DISSONNETTO HORRORIZADO [0579]
À noite a rua é calma e, em cada porta, a tranca está passada. Algo se exgueira no escuro e, ‘inda que humana alguem crer queira, aquella creatura extranha é morta! O corpo é descarnado; a espinha é torta; os pés são lodo; o rosto é uma caveira! Exhala em torno o odor de podriqueira e seu roufenho arfar o ar mudo corta. Num quarto, o penitente mortifica o espirito e castigo aos céus implora: renega a vida morbida e impudica. Podia arrepender-se, mas agora... É tarde, elle presente e tudo indica. [pressente] Ouve que a porta raspa a mão por fora. Hesita, e por fim abre: o monstro estica o braço, o aggarra e os olhos lhe devora!
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DISSONNETTO PROJECTADO [0619]
Tem tudo a tela -- beijos, risos, tiros -a quem não sae de casa noite affora, mas é fatal soltarem-se, em tal hora, phantasmas, lobishomens e vampiros. Dos filmes da TV vão, como um virus, lotando o clima hostil que nos devora. Pullulam pela salla e, sem demora, até pelo porão darão seus gyros. Revendo, certa vez, um episodio de monstro num seriado, meu vizinho berrou alto. Ninguem, porem, accode-o. Teria sido algum ente damninho? Damnou-se! Foi o Demo! O bode fode-o! Paresce que o coitado, alli sozinho, foi victima de alguem que lhe tem odio mortal, mas quem será nem adivinho.
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DISSONNETTO SUGGESTIONADO [0662]
O quarto está vazio. Assim que eu abro a porta, sinto cheiro de velorio. Ao centro, ausente alguem que o tenha e chore-o, um morto no caixão, livido, glabro. Garrafa improvisada em candelabro, sem luxo, ceremonia ou palavrorio, o corpo agguarda o verme que devore-o, cavoque a cara e exponha o esgar maccabro. Um olho abre o cadaver, mas supponho ter sido impressão minha, que ando lendo historias desse genero medonho. Ja sei que aquelle morto-vivo horrendo... Virá me apparescer durante o sonho, depois que das leituras me arrependo. Passado o susto, quasi me envergonho, mas nunca, ao recordar, me surprehendo.
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DISSONNETTO BESTIFICADO [0666]
De noite o cemeterio está deserto. Ficamos escondidos, de tocaya. Queremos que, ao luar, a Coisa saia e possa ser flagrada em campo aberto. Foi vista varias vezes aqui perto, mas quem depara, quando não desmaia, em vez de registrar foge da raia e a Coisa ‘inda ninguem descreve ao certo. Não foi Tem mas
somos tão valentes, mas a apposta só documentar, sem tel-a presa. gente que de Coisas taes não gosta, sempre ter julguei a pelle illesa.
De subito, me volto e ella me arrosta! Sumiram-me os amigos! Sem defesa, nem corro della, e quando a mão me encosta accordo, o livro aberto, a luz accesa.
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DISSONNETTO REVEZADO [0669]
Verdeja a Acclimação neste “Recantho” do parque onde se lê que é “do Sacy”. Está o “do Lobishomem” logo alli. Ao sol não causa a placa tanto expanto. Cahindo a noite, eu é que sei o quanto me foi medonho o monstro que la vi! Naquelle poncto ao pé do umbroso oyty surgiu-me, e em vão pedi soccorro ao sancto! Agora tambem eu me torno fera e sei que aquelle adviso é coisa seria! No mesmo esconderijo estou à espera da chance, nesta noite tão funerea. Sou eu quem, no papel, taes tensões gera. A victima vem vindo! Attacca e fere-a por traz o lycanthropo, e recupera o porte humano assim que dilacere-a!
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DISSONNETTO DA DANSA MACCABRA [0800]
Caveiras e eskeletos dão assumpto ao morbido escriptor que, em louca historia, constroe uma atmosphera alva e phosphorea na noite appós o enterro dum defuncto. Exhuma-se o cadaver, mas quem juncto da cova está não é gente que chore-a nem quem supplique ao morto a paz na gloria, mas sim um podre e tetrico conjuncto. São outros descarnados, que ao redor da tumba veem dansar! Quem os descreve [vêm] lhes põe, das caras feias, a peor! Ninguem a alli cantar jamais se attreve! Mas esses a canção sabem A musica, em si mesma, é mas ossos castanholam no battuque sobre um nu que
de cor. lenta e leve, maior jaz na neve!
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DISSONNETTO DO BICHINHO DE PELLUCIA [0836]
Vampiro ou lobishomem? Quem prefira caninos, jugulares, cappa preta, dirá que segue o Dracula a ethiqueta e tem mais elegancia quando vira. No entanto, o lobishomem rende à lyra mais medo e mais mysterio! Ha quem se metta à noite pelo matto e ache que é peta, mas, quando o bicho o pega, logo pira! Em termos de figura, o lobo humano paresce mais fofinho, pelos pellos que tem na cara toda, egual bichano pedindo mais carinhos e mais zelos. Morcego tem mais cara de tyranno. Vampiros só provocam pesadellos no povo brazileiro pelo damno politico que causam. Custa vel-os.
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DISSONNETTO DOCUMENTAL [0868]
O pé do curupyra tem o dedo voltado para traz e o calcanhar à frente: si distancia quer ganhar, montado num porcão chega mais cedo. Commette o folklorista enganno ledo si aquelle com caypora mixturar: embora façam ambos bello par, disputam qual dos dois mette mais medo. A mim o que interessa é o tal pé torto que bello aos mais esthetas, sei, não é e deve ser calloso, ter chulé, ou outros mais signaes de descomforto. A quem não crê que exsista, sou até capaz de o pé lamber àquelle aborto, si não pelo tesão, só por desporto, e prova delle dar a um São Thomé.
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DISSONNETTO ESPIRITUAL [0974]
Phantasmas são palpaveis, ao contrario daquillo que se escuta e que se vê no radio, no cinema ou na TV e contra as theorias do vigario. Sei disso porque os toco, em certo horario nocturno, quando toda gente crê que dormem os anjinhos, do bebê ao velho, mas meu somno está precario. São feitos de osso e carne; só não fallam e fogem ao contacto do meu dedo, mas ouço-lhes as junctas quando estallam. Que extranho, né, leitor? Que triste enredo! Dos mortos o fedor elles exhalam. Aggarram-me por traz, depois que o medo aos poucos vão perdendo; então me empalam, pois sou tambem humano e logo cedo.
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DISSONNETTO EXCARNINHO [1090]
Por que “desencarnado” é um termo tão temido? “Descarnado” é o que me cheira, e os dois a um eskeleto, a uma caveira, remettem, donde o medo que nos dão. Muitissimo peor que a assombração é o susto que nos causa, sexta-feira, o putrido cadaver que se exgueira, recemdesenterrado do caixão. À noite elle nos ronda e, quando a cara lhe vemos, horripilla-nos a scena da bocca que, sorrindo, se excancara! Peor do que a boccarra duma hyena! A gente com horror nella repara! O horror está nos dentes, que à pequena cabeça dão a face que a tornara exemplo de que a vida é só terrena.
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DISSONNETTO DO CORREIO TRANSCENDENTAL [1197]
O meu computador permitte, em meio a coisas materiaes, que exsista até o sobrenatural! Quem ja não é mais vivo tambem manda-me um “emeio”! Verdade: era o recado, que releio, de alguem que ja morreu, e tenho fé que o cara era devoto de Thomé, por isso não zombei nem deletei-o. Amigos me relatam coisa egual: mensagens recebidas dalgum plano que agora chamaremos “virtual” e chamo, por meu turno, de “inhumano”. Não ousam crer no sobrenatural? Duvidem, si quizerem. Não me enganno: quem morre communica-se! É normal, portanto, que a informatica dê panno.
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DISSONNETTO DA LICÇÃO DE MORTE [1198]
O teste é muito simples. Quando eu abro mensagem de algum morto, ao retornal-a, informa o provedor que aquella mala não chega por motivo bem maccabro: O “emeio” não exsiste! O descalabro se explica, pois o espirito nos falla de formas variadas, desde a valla pichada à cor da luz num candelabro. Questão só de entendermos o recado que o morto nos transmitte: elle quer paz, mas sente-se intranquillo em seu estado ethereo, immaterial, breve e fugaz. Não fico, neste caso, tão chocado, pois creio que o melhor que a gente faz é delle nos lembrarmos só do lado feliz, deixando o triste para traz.
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DISSONNETTO DO TOQUE DE RECOLHER [1220]
A noite é quieta. A rua está deserta. Seus passos na calçada causam echo. Não ha siquer a porta dum boteco ou duma padaria ainda aberta. Alguma coisa o deixa mais allerta: sapatos rangem perto, nheco-nheco, e os passos se approximam. Veem do becco escuro logo à frente: elle, na certa! Sim, elle, o lobishomem! Ja se disse que suas botas rangem! Allarmado, se lembra o transeunte da crendice e fica ainda mais appavorado. Tal como si do nada alguem surgisse, de subito apparesce-lhe um soldado. Allivio momentaneo, até que visse que o monstro usa cothurno e está fardado!
[vêm]
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DISSONNETTO DA ASSOMBRAÇÃO CARENTE [1221]
Phantasmas apparescem quando menos se espera. Basta a gente estar a sós e ouvimos quando alguem chama por nós baixinho, sussurrando, em tons amenos. Depressa nos voltamos, e os pequenos ruidos logo cessam. Mas a voz que ha pouco nos chamava, triste e atroz, retorna e geme, em meio aos sons terrenos. Vem la do quarto, emquanto estou na salla, e, quando estou deitado, da cozinha. Alem de me chamar, nada mais falla. Depois de ouvil-a, a gente ja adivinha... Por que, de dia, aquella voz se cala. Será que, si a pessoa está sozinha, ha sempre assombrações a appavoral-a? Ou só si a solidão for como a minha?
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DISSONNETTO DAS IMPRESSÕES DE VIAGEM [1240]
Voltou da Transylvania meu amigo contando maravilhas: que hospedado esteve num castello e, bem ao lado do quarto havia um typico jazigo! Procuro disfarsar, mas não consigo conter-me, e perguntei si elle accordado ficou durante a noite: para aggrado meu, elle viu o Dracula! “Oba!”, digo. “E então? Que accontesceu?” Elle me apponcta as marcas no pescoço e faz a figa. Ahi fico ouriçado. “Não me diga que agora seu canino tem mais poncta!” Allego ser do typo que não liga pro sobrenatural, mas será tonta a bruxa que endossar, pois me admedronta que olhar-me num espelho eu não consiga.
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DISSONNETTO DA VIAGEM ABORTADA [1274]
A bordo, cento e tantos, cuja espera, naquelle hoje accanhado aeroporto que não offeresceu nenhum comforto, o attrazo toleravel ja supera. Se vê, pela janella, quando gera faisca uma turbina! Logo, torto é o curso do avião, e como aborto aquelle voo é tido, então: pudera! Exsiste alguma coisa que se faça? Uns dizem que pilota algum canhoto! Uns medo sentem; outros acham graça! Tentando retornar, faz o piloto... Manobras sobre o mar! O tempo passa... Bebês e velhos choram! Um garoto festeja as turbulencias, a fumaça, e o punk, addormescido, solta arrocto.
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DISSONNETTO DA CREATURA NOCTURNA [1279]
Agora que, debaixo da coberta, me encolho, volta o medo: sempre tive vontade de saber quem é que vive debaixo desta cama, occulto e allerta! Estando a luz accesa, ou si está aberta qualquer janella, o monstro que se exquive da forte claridade que, inclusive, cedinho dos maus sonhos me desperta! Mas quando a escuridão envolve tudo, lhe escuto os movimentos e o grunhido, presinto o corpo esqualido e pelludo! Orar a alguem do Alem então decido. Chamando um bom espirito, me escudo. Os dentes, a ranger, ja tendo ouvido, nem quero seu formato ponctiagudo sentir, para attestar que não duvido!
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DISSONNETTO DA FACHADA FECHADA [1367]
De dia, aquella casa ja me intriga, no fundo do jardim, sempre fechada. Disseram que quem vive alli se liga a coisas do outro mundo... Isso me aggrada! Fallei della a uma bruxa, minha amiga, e foi-me confirmado: essa morada, alem do solitario ser que abriga, recebe sempre alguem de madrugada. É muito extranho, mesmo, tanto affan. La não se accendem luzes, mas se escuta barulho de conversa e até de lucta e tudo fica quieto de manhan. Só sei que não será coisa christan. Talvez appenas sadomasochismo, mas, quando passo alli, commigo scismo que Sade tenha encontros com Satan.
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DISSONNETTO DA VIAGEM NOITE ADDENTRO [1372]
Passava o trem nocturno pelo matto cerrado, quando teve que parar. Olhei pela janella e, estupefacto, notei que me fictava aquelle olhar! Brilhantes como brazas, dalgum gatto selvagem suppuz serem, mas o esgar humano que faziam deu-me exacto contorno desse rosto tumular! Caveira! daquelle do cine, ja vinha
Uma caveira! Está me olhando mattagal! Como na tela ella sorriu! E justo quando se chegando até a janella...
O trem se movimenta! Essa nefasta imagem de eskeleto magricella, terrivel, lentamente, emfim se affasta do campo de visão, e excappo della!
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DISSONNETTO DAS HERMAS PARAGENS [1374]
Jamais pude evitar: a idéa vinha assim que da janella, quer dum trem, dum omnibus ou carro, eu me detinha a olhar o que uma estrada ao lado tem. Só matto! Minha mente ja adivinha o que accontescerá de mau si alguem à noite alli der uma paradinha, sahindo do vehiculo... Horror, hem? Por credulo paspalho não me tomem! Que bicho o pegará? Sabe-se la! Talvez o curupyra, o boytatá, a mula sem cabeça, o lobishomem! Alguns desses monstrengos gente comem? Não quero nessa hypothese appostar, mas durmo e vejo, em sonho, o tal logar sinistro, onde as pessoas vivas somem.
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DISSONNETTO DO CASARÃO AZARÃO [1401]
Aquillo parescia, mesmo, extranho e alguem mais fracco ja se descabella: escuta a moça, emquanto toma banho, pancadas muito leves na janella. Inquieta estava, desde que o tamanho da casa constatou: para dois, ella e o conjuge, a mansão que era seu ganho de herança ampla demais se lhes revela. Cabal explicação eu não prometto. De novo, as taes battidas! Algum galho movido pelo vento? Indicio falho foi este; a chave é o proximo quartetto: O caso ficaria, mesmo, preto. Olhava, e nada via! Mas, agora, advista na vidraça a mão la fora: são ossos! Sim, a mão dum eskeleto!
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DISSONNETTO DA GOSMA PHANTASMAGORICA [1408]
Na hora de fecharem o caixão, notaram, no defuncto, que excorria da bocca a grossa baba, porem não ligaram. Foi o corpo à cova fria. Agora andaram vendo apparição e a cara que apparesce, e que os espia emquanto estão comendo, abre o boccão e pinga o escuro cuspe, que desfia. Nem cabe, aqui, fazer signal da cruz. “Que nojo!”, pensei eu, logo me pondo dos outros no logar, e não escondo: Sim, puz-me a imaginar aquelle puz. Mas novo admanhescer nos traz a luz. Passado esse momento na memoria, exquesço totalmente a feia historia si um churro recheado me seduz.
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DISSONNETTO DA PROVA IMMATERIAL [1430]
Ninguem pode dizer que não tem medo de espectro ou de eskeleto! O scientista affirma que um não mexe nem o dedo e que outro só na idéa surja e exsista. Duvidam os incredulos. Eu cedo àquillo que o bom senso dicta: a mixta noção do que é evidente e o que é segredo. Si ha logica, ha o mysterio que a despista. Ninguem de experiencias taes se prive! À noite, o cemeterio nos comprova que o medo tem sentido: em cada cova, alem dos ossos, jaz algo que vive! Alguem quer performar o detective? Coragem ninguem tem de estar alli no escuro! E quem ja viu, como eu ja vi a Morte, está commigo onde eu estive!
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DISSONNETTO DA CASA DOS MEUS SONHOS [1472]
Casinha acconchegante, aquella! Embora sobrado seja, minima ella é: o alpendre; a janellinha que, de fora, cortinas deixa ver; a chaminé... O quadro que a salleta, oval, decora, se expreme entre as poltronas! Qual chalé tem tanto encanto? Quem será que mora alli, duma collina verde ao pé? À noite, a coisa muda, todavia: não acho a habitação tão boa assim. Dos olhos da mansarda alguem espia os vultos que se movem no jardim. Na trepadeira, aranhas teem caminho até o segundo andar! Ficou ruim! Reviro-me no leito: o castellinho se torna um pesadello para mim.
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DISSONNETTO DA ABBADIA, DE DIA [1482]
Estive na abbadia, do Big Ben bem proxima. É menor, a gente nota, que Notre Dame. Identica, porem, no poncto onde o turista perde a ropta. Passagens labyrinthicas e sem sahida: a crypta à grutta nos connota. Si por alli, sem rhumo, for alguem, verá que o subterraneo não se exgotta. Que indicios alguem nota do terror? Ao alto, alguns vitraes, bombardeados durante a guerra, foram ja trocados por vidros transparentes e sem cor. Mas algo poderemos, ja, suppor. Abbaixo dessas naves, tudo é preto. Ninguem percebe quando um eskeleto passeia, mesmo si de dia for.
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DISSONNETTO DO SONHO MEDONHO [1516]
Fallando em pesadello, um recorrente que tenho é que estou nu, longe de casa e em mim vae reparando toda a gente, emquanto meu espirito se arrasa. Depois de muito andar, eu finalmente encontro, exhausto, um poncto. Mas se attraza meu omnibus, e fico, de repente, em meio à multidão, o rosto em braza. O tempo, porra, nunca que transcorre! Procuro demonstrar que é natural estar nuzinho em pello, alli... Mas qual! Me encaram como quem cague e se borre. Não ha panno qualquer com que me forre! Mais tarde, estou num carro, dirigindo, ainda pelladão, mas nunca é findo o rapido trajecto, e o carro morre.
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DISSONNETTO DA VIDA REPRISADA [1590]
Depois que alguem accaba de morrer, é morbido querer ver delle a face ainda vivo, ouvir-lhe a voz, saber que foi gente importante ou teve classe. Revel-o em gravação tem o poder de resolver um apparente impasse: foi triste a morte, mas faz bem saber que é como si comnosco se encontrasse. Lembremos o occorrido la no Atterro. Quem morre de accidente, tão horrendo que a tampa do caixão vae-lhe escondendo a cara deformada, apponcta um erro. Mais choram, no velorio, que bezerro! Melhor é delle termos o momento em que, no carro, andava menos lento que o passo do cortejo em seu enterro.
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DISSONNETTO DO CASAL BISEXUAL [1608]
Se falla em lobishomem, mas ninguem duma lobismulher fallou ainda. Por que será? Seria porque tem o corpo tão pelludo e fede, a linda? Mas uma bella moça irá tambem ser transformada em fera e na berlinda ficar, pois surgiria algum porem accerca da belleza que se finda... A fera attaccaria outras mulheres? Teria até madeixas mais compridas? Iria pentear-se, ou com halteres a forma manteria às escondidas? Occorre-me a pergunta: e o lycanthropo? Teria elle maneiras parescidas? Attacca appenas machos, ou o escopo seria que o casal unisse as vidas?
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DISSONNETTO DO FILME DE SUSPENSE [1661]
A camera passeia pela parte dos fundos da mansão e se approxima da porta da varanda... Tem tal arte na scena o director, que cria um clima. A salla está vazia. A lente parte, então, na direcção do quarto... Em cyma da cama, uma mulher, que teve enfarte, repousa e, devagar, se reanima. Mas “Cruzes!” quem assiste, em transe, exclama. É quando ella percebe que anda alguem, ou algo, lhe rondando o quarto, e vem chegando quasi à porta, quasi à cama. À flor da pelle chega aquella trama. De susto, a mulher grita! Mas quem ouve demora para ir ver que raios houve e, quando chega, está sumida a dama.
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DISSONNETTO DO FILME DE FICÇÃO SCIENTIFICA [1664]
O cara accorda. Escuta que, la fora, augmenta o tal zumbido. Vae la ver. A luz que vem de cyma faz, agora, um circulo onde a nave vae descer. O matto em volta queima. Cada tora reduz-se a cinzas rapido. O poder daquelle foco muda a cor da flora e faz todo animal se entorpescer. O gajo quer fugir, mas não consegue: congela-se essa scena illuminada! Aquella luz, ainda que não cegue, immobiliza o passo a quem se evada! Por fim, um tripulante à terra desce: alem de ter trez mãos e um dedo em cada, é verde, e tudo em torno reverdesce, excepto a lingua rubra e bifurcada.
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DISSONNETTO DO FILME DE TERROR [1666]
Discutem dois amigos. Um, que jura ter visto se mexer um dos defunctos, jamais o outro convence. Àquella altura, é tarde para a fuga. Ficam junctos. Aberta tinha sido a sepultura e o corpo alli jazia... Quaes assumptos iriam desviar o pappo? E dura aquella noite inteira, entre os presunctos. Que porre! Não é mesmo forte inhaca? Um uivo ao longe e pulla, de repente, da mesa o tal cadaver! Um crescente grunhido solta e, arfando, aos dois se attraca! Terror de sobra! Berros altos paca! Um delles excappou, mas outro fica nas mãos do morto-vivo! Tudo indica que o filme volta ao zero, àquella estacca.
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DISSONNETTO DA ESTRADA DESERTA [1695]
Em plena rodovia, o carro para, quebrado. O motorista pulla fora, temendo uma battida, e se prepara para pedir carona... Bella hora! Occorre que annoitesce! Isso peora as coisas, pois alli se torna rara qualquer presença humana... Falta, agora, mostrar algo inhumano sua cara. Não é que accontesceu? Um lobishomem, uivando, se approxima! Teem razão aquelles que accreditam! “Não me comem tão facil!”, diz comsigo o babacão. E tranca-se no carro... Pouco appós, ao longe, no trancado casarão de campo, um fazendeiro escuta a voz de alguem que berra feio, feito um cão.
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DISSONNETTO PARA OS MONSTROS MARINHOS [1857]
Questionam os philosophos da vida no espaço ou nas espheras de outro plano, mas sabio ‘inda nenhum poz na ferida o dedo quanto à vida no oceano. Refiro-me ao mais fundo, que convida a gente a meditar sobre o mundano adspecto dos viventes... Só quem lida com loucos pesadellos saca o insano. São monstros de assustar qualquer humano (e mesmo o mais heroico se intimida) aquelles que, la embaixo, nenhum damno nos causam... Mas o cego aqui duvida. E si a um veem terá
os polvos gigantes, por enganno, desses maremotos em seguida, para a superficie? Quem tutano para detel-os na subida?
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DISSONNETTO PARA UMA NOITE TEMPESTUOSA [1869]
Relampagos coriscam, formam uma retorcida e brilhante galharia nos céus da megalopole, que a bruma da noite ja encobriu. O clima exfria. Trovões a scena à mente palavra
echoam. Caso alguem resuma num só termo, o que viria é “pesadello”, pois nenhuma exprime mais o opposto ao dia.
Escuro com terror sempre bem casa. Durante a tempestade, para cumulo, ha corte de energia: sobre o tumulo recae a mesma treva que aqui em casa. Piscou, à luz dum raio, a cova rasa. Buzinas ‘inda soam, mas, aos poucos, ja quasi não se escutam esses loucos appellos de pavor de quem se attraza.
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DISSONNETTO PARA UM PESADELLO ESTUDANTIL [1892]
Provou-se: um edificio, por inteiro, não é malassombrado, mas ser pode, nelle, um appartamento... Quem primeiro notou, pensou comsigo: “Mãe, me accode!” Não chega a ser o predio um pardieiro. Antigo, porem, é: quem se incommode com mofo ou humidade vae, ligeiro, embora do logar, sinão se fode. E tudo se encaminha a algum horror. O joven locatario, um estudante, pensou ter visto o vulto, mas durante o sonho: era um antigo professor. Temida apparição, é de suppor. Accorda, mas a sombra alli prosegue vagando... “Va pro demo que o carregue!”, grita o rapaz, mas pensa: “E si não for?”
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DISSONNETTO PARA UM HORARIO IMPROPRIO [1906]
Cansada, foi dormir. Elle queria ficar vendo tevê. Filme de horror. Daquelle que os cabellos arrepia. Mas ella preferira o cobertor. O filme, si passar durante o dia, paresce até comedia. Mas si for ao ar tarde da noite... Uma agonia que faz do masochista espectador. Que falta àquelle quadro tão completo? Em plena madrugada, ella desperta e não o vê na cama! Põe-se allerta, levanta e para a salla vae directo. Que falta, a mim, narrar num dissonnetto? Ligada ‘inda a tevê, jaz o marido prostrado no sofá, rosto transido de medo, ja espelhando um eskeleto.
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DISSONNETTO PARA UM PROVEITO INSUSPEITO [2406]
Pensei: na Transylvania, o melhor meio que encontram os vampiros é um emprego que lhes possibilite, com sossego, obter de puro sangue um coppo cheio. Num banco! Os doadores, sem receio, la chegam, e ninguem lhes falla grego si diz o funccionario: “Calma, nego, eu sei que é p’ra sangrar que você veiu!” O gajo, bem tranquillo, um litro doa, siquer sem de tontura ter um gyro, sem medo de virar, tambem, vampiro, e crendo que a piccada nem lhe doa. Extranho é que, do estoque, eu só retiro o minimo, mas noto que se excoa bastante, porque falta sempre boa porção: é que aos collegas me refiro.
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CREATURAS NOCTURNAS [3121]
Olhou pela janella. O parque, em frente, estava illuminado aqui e alli. “Um bicho se mexendo, acho que eu vi...”, pensou comsigo; “...Bicho? Ou será gente?” A esposa o chama para a cama quente, mas elle, ja scismado com sacy ou coisa ‘inda maior, quer ver por si, tirar a prova e, logo, faz-se ausente. Chegando ao parque, passa pela brecha da grade e alcança o poncto onde o tal bicho estava: é bem alli que o matto fecha. Será mesmo dum monstro o proprio nicho? Ridiculo será? Mas nem se vexa. “Si for um lobishomem, eu capricho na photo!”, pensa, mas, como uma flecha, a coisa excappa e deixa a latta, o lixo.
RHYMAS DE HORROR
SILENTES AMBIENTES [3134]
Nem só malassombrado é um casarão: tambem appartamentos podem sel-o. Amigos meus me contam que o cabello lhes fica arrepiado si alli vão. Aonde? Na avenida São João, bem juncto ao Minhocão: tem pesadello quem mora nesse apê. Desperta e, pelo barulho, é como a tampa dum caixão. Rangendo, a porta batte! Mas não ha janella aberta ou vento! Ora no quarto do lado, ora na salla... e um susto dá! Por causa disso, alguem morreu de infarcto. Nem quero questionar o que será. Sei la, nenhuma hypothese eu descharto. Si fosse o morador, me mudo ja ou digo: “Vem! Me macta, que estou farto!”
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PERIGOSOS PESADELLOS (I) [3137]
No dia em que tivermos uma aranha tão grande quanto um simples caranguejo e um simples caranguejo, de sobejo, tiver a proporção que um polvo ganha... Pelluda, uma bichana assim tamanha será tal qual aquella que eu ja vejo, que em sonhos me apparesce: malfazejo é o habito e aggressiva a sua sanha! Esconde-se em porões e se aggiganta aos poucos, só sahindo decidida a achar-me e então pullar-me na garganta! Não, nada salvaria a minha vida! Rezar resolve? À sancta a reza addeanta? Si mais alguem sonhasse, sem sahida estava a humanidade, hem, gente? Quanta neurose collectiva suggerida!
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PERIGOSOS PESADELLOS (II) [3138]
Immensos caranguejos, entre os quaes o typico “centolla”, teem-me dado ensejo a especular si foi achado algum que de tamanho augmente mais. Será que, em nossos mangues, são normaes appenas os pequenos? Expantado não fico si ha grandões no resultado de estudos scientificos cabaes. Sonhei que, appós a enchente, o bairro todo encontra-se infestado por milhares de enormes sirys! Penso: “Hoje me fodo!” Ninguem no mundo soffre taes azares! E surgem mais sirys, surgem a rodo! Luctando contra as pinças que em logares diversos me belliscam, sei que engodo é achar que os monstros vivem só nos mares.
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GIGANTES HABITANTES [3144]
No matto, a noite desce de repente e todo mundo advisa: permanesça na trilha e não demore! Da cabeça regula mal quem disso for descrente. Um besta vae sozinho, justamente à tarde! Pouco falta que annoitesça, e o cara se affastando! Numa espessa passagem, se perdeu, e medo sente. Batata: escuresceu! Não addeanta gritar: ninguem virá buscal-o, excepto... Um bicho? Um lobishomem? Ai, Mãe Sancta! Ouviu fallar no lobo, mas seu recto... Agora, sim, com coisas taes se expanta! Escuta um farfalhar, quando mais quieto está, que se approxima... e na garganta lhe pulla um peçonhento, enorme insecto!
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SCENA ACCELERADA [3186]
À noite, passear não se acconselha. Passar do cemeterio pela porta e olhar, não é visão que recomforta. A alguem, porem, tal coisa deu na telha. Um typico cagão é justo quem advista a apparição phosphorescente em forma de eskeleto, que tambem o advista e vem correndo! E agora, gente? Correu dois quarteirões, mas a caveira sahiu attraz e, pelas ruas, corre! Não ha quem de cagaço não se borre siquer sem fazer pausa na carreira! Aquella correria Na exquina, elle pegal-o a ossada mais merda pelas
fim não tem? tropeça e quasi sente viva! Então lhe vem pernas, molle e quente!
O bafo da caveira arde na orelha! Não cessa o pesadello até que a morta figura o alcance! Accorda e grita: “Corta!” A um filme o horrivel caso se assemelha.
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O PHANTASMA CAMARADA [4032]
Adviso eu a vocês! Si for preciso manter-me numa cama hospitalar, por muito ou pouco tempo, ou me operar, de appenas uma coisa eu os adviso: Não quero sentir dores! Desde o siso, que tive de extrahir, ao ocular martyrio do glaucoma, a supportar dor venho, vendo advesso o paraiso! Alguma analgesia a medicina precisa offerescer! Sobre meu hombro não joguem dor maior! Quero morphina! E então? Nenhum dos medicos opina? Não pode um velho cego ser excombro do orgasmo! Allivio exijo à aguda signa! Ou tantas dores algo as elimina, ou, morto, eu volto e juro que os assombro!
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QUESTÃO DE TEMPO [4699]
É clara a placa: “Vende-se”. Quem passa na rua advista a casa, seu jardim cuidado, recuada. Tudo, emfim, suggere que alguem boa compra faça. Ninguem sabe: os vizinhos nem de graça a querem. Um extranho dirá sim, depressa. Ao ler a placa, entrou: “Eu vim ver como está por dentro...” E o lar devassa. Vê tudo em bom estado! Nem se importa que encontre tantas cruzes, pendurada jazendo alguma attraz de cada porta. Dirão que a casa está malassombrada? No entanto, o interessado se comforta. Comprou a casa. À noite, nella, nada se escuta. Alguem jurou ter visto a morta ex-dona, qual vampira, na sacada.
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INCREDULO NO TUMULO [4937]
Magina! Que bobagem! Isso não exsiste! Ora, ter medo de caveira é coisa de maricas! É besteira! Ja disse, não exsiste assombração! Aqui, venha commigo, seu bobão! Tá certo que é fedida! A tumba cheira carniça, porra! Caso você queira perfume, va passar la no sallão! Levanta aquella tampa! A do caixão, exacto! Eu, levantal-a? De maneira nenhuma! Va você! Mais força, irmão! Você carrega caixas la na feira! Não fique ahi parado, molleirão! Que foi? Não fuja! Volte! O que se exgueira la attraz? Um eskeleto! É maldicção, só pode! Me bellisca! É brincadeira!
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COSTA LARGA [5049]
A bordo estão milhares. Pharoleiro, pilota o transatlantico um cretino. Resolve elle exhibir-se e dar um fino presente aos passageiros do cruzeiro: Passar bem rente à ilha onde um viveiro de monstros foi descripto! Um assassino adhere ao casco e o fura: pequenino não sendo, o caranguejo o rompe inteiro! Em panico, os ricaços correm para salvarem-se! O navio ja se inclina! Em breve, será a scena submarina! Os botes não dão compta: alguem se azara! O saldo é catastrophico! Termina morrendo quem só veste roupa cara, salvando-se somente aquelle cara que tudo provocara: eis sua signa!
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RELENDO GUIMARÃES PASSOS [5152]
Não sei não, mas estou desconfiado que desses menestreis a maioria compõe-se de necrophilos! Eu lia, agora mesmo, um delles, bem tarado. Sim, Passos, Guimarães, que do “Tractado de versificação” tem auctoria conjuncta com Bilac! Ora, faria sentido que um cadaver tenha amado? Pois acho que faz! Falla da “formosa” amante como “morta” e quer beijal-a, sabendo que ella gela e se necrosa, que, em breve, será forte o odor que exhala! Em verso, tal não colla, nem em prosa! Disfarsa, todavia: em vez de à valla descer, quer que ella suba, “vaporosa”, aos céus, qual uma estrella... Serio falla?
RHYMAS DE HORROR
RELENDO AUGUSTO DOS ANJOS (III) [5189]
Mas, para compensar a descripção amena que dos rios outros querem fazer, leio de Augusto este. Si derem motivo, elle destroe! Ver vocês vão! Um pantano elle achou, tão podre, tão infecto, que só larvas la preferem viver! Larvas de monstros... Não, esperem! De “superorganismos”? Isso, então! Naquellas aguas mortas, algo agguarda que alguem la se adventure e vae tragar seu corpo, suas botas, sua farda. Exsiste esse logar tão tumular? Será que só na lyra mais bastarda? Você, por que não entra em tal logar? Por que ja desconversa? Se accovarda? Tem medo de morrer? De se affogar?
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RELENDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [5217]
Foi fertil sonnettista seu pae, pelo criterio symbolista. Cede o filho à tetrica illusão de, no ladrilho do piso, se deitar... Que pesadello! Sentindo-se um cadaver, como gelo seu corpo se enrijesce... Ja me pilho, lhe lendo o verso, assim! Meus dentes rilho, tremores sinto, eriça-me o cabello! Extranha experiencia! Até suggiro que assim faça o leitor... No chão se deite, fingindo-se de morto, ou de vampiro. Suggiro que esse leve teste acceite. Então? Sacou aquillo que refiro? Tentou? Então, que achou? Da cor do leite não fica a sua pelle? Eu, quando viro vampiro, uso a cegueira como enfeite.
RHYMAS DE HORROR
RELENDO AMADEU AMARAL (III) [5218]
Amor malassombrado? Então me vem alguem associar a assombração “saudades de illusões defunctas”? Não! Terror e amor não casam muito bem! Quem anda appaixonado não quer nem saber desses phantasmas! E os que são adeptos do terror, numa paixão jamais vão basear-se! Razão teem! Portanto, este sonnetto do Amadeu pisou na bolla, errou, batteu na trave! Quiz elle original ser, mas não deu: Passou muito de leve, foi suave. Na certa Amadeu muitos outros leu. Suggiro ao sonnettista que, num grave e serio thema desses, que nem eu proceda: exhume ossadas, covas cave!
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RELENDO AUGUSTO DOS ANJOS (IV) [5219]
Quem queira no terror se basear fazendo algum sonnetto, que bem leia o Augusto dos demonios, que recheia de morbidos horrores seu azar! Accabo, por exemplo, de invulgar sonnetto ler, fallando dessa feia imagem do logar onde passeia o tetrico cadaver, ao luar! Não acha Augusto alli mera caveira mexendo-se ou qualquer magro eskeleto vagando e chacoalhando-se, sem eira nem beira, para fecho de quartetto. Fugindo à narrativa costumeira, encontra o visionario, no sonnetto que leio, a dimensão mais verdadeira do horror: um mundo escuro, um fundo preto!
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RELENDO GREGORIO DE MATTOS (III) [5226]
Famosa descripção Gregorio faz de electrica e temivel tempestade. Embora electrizado, ninguem ha de dizer que observa aquillo tudo em paz. Quer electrocutar-se alguem? Não! Mas, em ecstase, fascina-se si invade a noite esse clarão de intensidade maior que a luz do azeite ou que a do gaz. “Relampagos, trovões, raios, coriscos”: clarões ziguezagueiam e, no olhar do bardo, dão mais medo, em tempos priscos. Até do Nazareth eu fui lembrar! Sim, do RAZAMANAZ, entre meus discos! Aquelles temporaes davam logar ao panico, ao terror. Os mais ariscos rezavam; outros iam fornicar.
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RELENDO GUIMARÃES JUNIOR [5227]
Bom, este sonnettista! Muito bom! Fez, sobre um pé de moça, o mais perfeito sonnetto que encontrei. Do mesmo jeito retracta themas outros. Tem o dom! Junina festa. Todos andam, com algum receio, à noite: acham suspeito, no matto, um barulhinho. Eu, claro, acceito que exsistam bruxas... Ouçam esse som! Fogueiras crepitando? Risos? Dansa? Festejam São João, appenas? Não! Seria algum sabbath essa festança? Dedicam ao Cappeta a tal canção? Até que poncto o risco nos alcança? Exquiva-se o poeta: de paixão nos falla... Mas, de medo, não descansa ninguem na roça quando é São João.
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RELENDO JUDAS ISGOROGOTA (II) [5232]
O thema de dois tumulos que, lado a lado, são, de amantes, dum casal, tambem foi explorado com total pericia pelo Judas, e eu me aggrado. Poetas outros deram seu recado accerca da questão, mas é fatal que occorra uma lembrança: e aquella tal historia do caixão desenterrado? Eu conto. Ao exhumarem dois defunctos que em vida unidos eram, houve expanto: estavam os cadaveres, la, junctos! O tempo transcorrido? Sei la quanto! Entendam bem: num sacco, dois presunctos! Exacto: um dos caixões, vazio, emquanto rollavam ambos noutro! Taes assumptos commento com amigos, quando janto.
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RELENDO LUIZ DELPHINO (IV) [5233]
Delphino mais explicito foi nisso de um tumulo servir a dois. No fim, comtudo, suaviza. Para mim, faltou mais podridão nesse serviço. Voltando àquella historia do sumiço dum corpo do caixão, achado assim que aberta fora a cova dum affim (os dois aggarradinhos), eu me eriço. Phantasmas se transportam: não respeita barreiras um espirito... Mas como um morto sae da cova e noutra deita? Concordam que sobre isso não embromo? Não ha, nesses rumores, a receita. Commentam que o mysterio ja foi pomo de muita discordancia e que a suspeita recae sobre um coveiro... E, à mesa, eu como.
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DISSONNETTO DA CAVEIRA (RELENDO MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA) [5234] Nem olhos tem, nem lingua, tempo faz. Embora cega, enxerga o que ha de louco no mundo. Não faz, nunca, ouvido mouco a tanta intriga, a tantas linguas más. Jamais repousa o craneo no “aqui jaz”. Em tudo está presente e, daqui a pouco, seus dentes abrirá num riso rouco de excarneo, tão cruel quanto mordaz. Os bardos nos suggerem que a caveira, ao mesmo tempo, é symbolo do mudo cadaver e, sarcastico, de tudo de ephemero, que volta a ser poeira. E pode ser, tambem (no que eu adjudo a achar), o espelho critico a quem queira de casto puritano dar bandeira, posar de moralista e carrancudo.
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RELENDO RAYMUNDO CORREA [5238]
Fallando em neve e em thema sepulchral, Raymundo mais explicito foi, quando na tumba da mulher amada entrando, buscou necrophilia mesmo, e... Crau! Occorre que o cadaver ja -- Babau! -estava descarnado! Esse nefando detalhe nem perturba! Penetrando por entre os ossos, goza o pau, tal qual! Naquelle gelo? Nunca! Eu que não metto meu molle caralhinho num buraco qualquer dalgum androgyno eskeleto sem anus, sem um penis, sem um sacco! Appenas osso? Cazzo! Maledetto! Necrophilos respeito, mas... Per Bacco! Melhor, sobre o tesão, fazer sonnetto que seja mais carnal no poncto fracco!
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RELENDO URSULA GARCIA [5239]
“Passeio Logar de é praça, de morto
ao campo”? Nada! Ao cemeterio! menininha passear é parque, é shopping, e logar é cemeterio! Falla serio!
Si um gothico moleque, que prefere o maccabro quarteirão, vier fallar que brinca alli, problema delle! Azar! Menina, não! Ao senso o caso fere-o! Quiz Ursula contar (e conta bem, num optimo sonnetto) essa imprudente visita, e as consequencias que isso tem. Aquillo realmente choca a gente! Conhesço essas ciladas la do Alem! Na certa, a tal menina passou rente à cova dum vampiro, mas ninguem notou... Morreu? Virou vampa, evidente!
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EDOSA MANHOSA [5245]
Da cara della rindo, dizem: “Ora! Não seja assim tão credula!” Mas tem certeza disso a velha: advistou, bem de frente, um lobishomem! E ella chora. Mas deixam-na sozinha e vão embora. A velha tira os oculos, pois, sem as lentes, não verá ninguem mais, nem o monstro que advistou ainda agora. Tevê não tem, mas liga o radio e escuta noticia darem duma fera extranha que alli foi vista, proximo da grutta. Não é para assustar? Contra tamanha... E bruta fera alguem sozinho lucta? Assusta-se a velhinha! O terço appanha, começa a rezar, quando a porta chuta, furioso, o lycanthropo... Era só manha?
RHYMAS DE HORROR
O TEOR DO TERROR [5296]
Fallando de temores, eu receio aquillo que outros temem mas ninguem admitte: assombrações que, desde o Alem, nos venham demonstrar que o inferno é feio. De bem intencionados está cheio o inferno, diz o dicto. Mas, si vem puxar o nosso pé de noite alguem, na certa boa acção fazer não veiu. Não venham me dizer que, de vocês, nenhum seu pé puxado teve um dia, ou uma noite, ao menos uma vez, ao menos em secreta phantasia! À parte esses devotos do Marquez, caveiras, eskeletos, nem seria preciso termos visto, mas quem fez pesada digestão ja se arrepia!
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GLAUCO MATTOSO
ESQUETE QUE SE REPETE [5300]
Dum omnibus saltou, noite fechada, a velha. A pé teria que alcançar a sua casa, aquelle doce lar, tão perto e tão distante dessa estrada. De dia, esse trajecto não é nada! Pertinho nos paresce. Mas deixar que a noite caia torna tal logar sinistro, estando a rua enluarada. Caminha a velha, quando escuta, attraz, uns passos appressados. Não se vira, tem medo. Apperta o passo, tambem, mas, na exquina, alguem a alcança. De mentira... Achava ser a cara assaz voraz dum lycanthropo... Agora, um ella mira! A bruta creatura ainda faz caretas tão horriveis, que ella pira!
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QUE UM DESFILE ME HORRIPILLE! [5837]
Sobre mortos eu só tenho uma coisa a registrar: o perfeito desempenho dos zumbis, ao desfilar. Esse evento tem logar noite affora e, com ferrenho vigor, fujo. Para azar, devagar a accordar venho. Passeata de zumbi sempre passa à minha porta. Protecção me falta aqui, mas o Demo nem se importa. Nunca saio, mas ja vi zumbis varios. Não comforta que isso em sonho rolle: ri p’ra mim sua bocca torta!
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NOVO TERROR [6318]
Horror, Glauco! Um horror é o que começa agora a accontescer! Se collecciona cadaver! Sim, aquelles do corona estão, como zumbis, à solta, à bessa! Serão “coronavivos” e depressa virão taes mortos vivos dessa zona maldicta em que, na tumba, os abbandona até sua familia! Isso não cessa! Em breve, invadirão toda a cidade! Quem é que não tem medo dum zumbi que nunca alguem ja vira por aqui e, de repente, nosso lar invade? Em vez de comer cerebros, um ha de querer nossos pulmões! Glaucão, cê ri? Pois saiba que esta noite eu, sim, ja vi um delles la no parque, pela grade!
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CORONAVIVOS [6319]
Indagas-me, Glaucão, sobre essa lenda dos taes “coronavivos”, mas garanto que vejo com real e enorme expanto um facto ja bem facil que se entenda. Suppõe-se que um zumbi normal dependa de cerebros fresquinhos. Para tanto, precisa devoral-os. Padre Sancto! Não teem nossos açougues isso à venda! No caso dos coronas, do pulmão humano necessitam! Ja pensaste, Glaucão? Não ha pulmão mais que lhes baste! Os nossos fatalmente quererão! Estás contente em casa? Pois então contenta-te e te tranca! Algum desgaste soffremos, tão reclusos, mas salvaste a pelle si te tornas hermitão!
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MALDICTA VISITA [6320]
Aquelle senhorzinho num sobrado enorme está morando ja, sozinho, faz tempo. Toda noite elle, a caminho de casa, por um bosque passa, ao lado. Não é que, do escuta attraz de passos? Ao que nada viu.
portão tendo passado, extranho barulhinho voltar-se, ja adivinho Appressa-se, coitado.
Trancou-se. Está seguro? Não, jamais! Janellas vae fechando, cada porta chaveia. Nem na cama se comforta. Ouviu, vindos de baixo, roucos ais. Tem, sob o travesseiro, uma das taes garruchas em desuso. Não importa. Usada nem seria. A bocca torta sorriu-lhe, do zumbi! Dentes mortaes!
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ZUMBIZAGEM [6322]
A cara dum “coronavivo”, ou antes, caveira não de todo descarnada assusta a todos quantos vejam cada detalhe das feições agonizantes. Rasgada, a bocca abriu pelas cortantes tranqueiras invasivas na coitada. Os olhos, ja sem palpebras, que nada enxergam, nos observam, penetrantes. Nariz é cavidade ensanguentada. Bochechas são muxibas, como são os labios, as orelhas. A feição é mesmo dum zumbi: desfigurada. Mas, caso um monstro desses nos invada a casa, quererá nosso pulmão comer e compensar um ar que não lhe deu a apparelhagem entranhada.
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PSYCHOGRAPHANDO JUDAS ISGOROGOTA [6351]
De Judas um sonnetto me impressiona por causa da agonia duma pobre mulher tuberculosa. Que se dobre a tosse faz, coitada, aquella dona. Mas della, que melhoras ambiciona sem chance de curar-se, é pouco nobre o caso, pois, da terra que lhe cobre, o fetido cadaver volta à tonna! Tornou-se, sim, zumbi! Quer se vingar daquelles que não deram attenção aos ultimos trejeitos duma mão que, supplice, quiz algo segurar! Preparem-se, pois! Breve, em algum lar, à porta batterá tal mão! Então, quem venha abrir terá a garganta tão unhada que morrer irá, sem ar!
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PSYCHOGRAPHANDO MARTINS FONTES [6355]
Você ja reparou, Glauco, na luz que alguem exquesce accesa até de dia? Martins Fontes às luzes alludia, dizendo, destas, tudo o que suppuz. Que disse? (Tremedeira, até, Jesus, me dá!) Disse que a Morte nos vigia por meio dessas luzes! Que diria você? Que coisa disso ‘ocê deduz? Eu acho que não só na luz que fica accesa a Morte sempre nos expreita... Tambem nos cellulares de quem deita e deixa alli do lado... Isso se explica! Tambem computadores dão a dica si estão sempre ligados, Glaucão! Eita! Até me dá arrepio! Uma suspeita eu tenho: Satanaz se identifica!
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FUNESTA APPOSTA [6365]
Gabava-se de medo não ter, mas finou-se, Glauco! Feita foi a apposta. À noite elle, sozinho, ja se posta no gothico jazigo. O que elle traz? Só traz o cellular, com o qual faz remota connexão. A turma gosta, no bar, de commentar como elle emposta, de empafia, a voz precoce de rapaz. E ficam escutando, emquanto o cara reporta: “Aqui no tumulo, ninguem ainda assombrar veiu! Olhem, e nem virá, querem saber?” -- elle declara. De subito, um berreiro se excancara ao phone, que emmudesce! Ja não vem signal nenhum, Glaucão! Ja não se tem noticia delle! Ir la? Ninguem ousara!
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SCENA AGUDA [6366]
Os mortos-vivos cercam um sobrado que está de adolescentes bem repleto. Entrar os zumbis querem, pelo tecto, porão, saguão, por tudo quanto é lado. Os jovens entram quasi que em estado de choque. Em desespero, vão directo aos quartos e se trancam. Me connecto com elles. Um passou-me este recado: {Seu Glauco, ja pedimos uma adjuda local, estadual ou federal e estamos agguardando... Um entrou! Mal entrou, ja devorou alguem! Accuda!} {Ouviu ficou a comido E nada
a gritaria? Agora muda scena... Agora cada qual foi... Restei eu, affinal...} mais ouvi. Que scena aguda!
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ULTIMA VONTADE [6367]
“Eu quero ser cremado! Quem não crema seus mortos os quer vivos no postmortem! Depois os familiares que supportem as vindas do zumbi! Que ninguem gema!” Assim o patriarcha seu dilemma expoz. Porem, por mais que nos exhortem, nós somos é teimosos. Se comfortem aquelles que fugiram do problema. Agora o zumbi ronda, toda sexta à noite, a residencia da familia. Ninguem na vizinhança mais se pilha na rua por alli. Ninguem é besta. Appenas os rapazes da seresta ja viram o zumbi, que dentes rilha e espuma pelo labio. O olho rebrilha, sem palpebra. “Me cremem ja!”, protesta.
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ULTIMAS CONDOLENCIAS [6371]
Estava no velorio muita gente. Depois das dez, ainda havia quem chorasse por alli. Mas ja ninguem restava à meia-noite, excepto um ente... Querido, mas nem tanto. Tal parente brigou com o defuncto, lhe foi bem hostil em vida. Agora, triste, tem remorso. Quer rezar e mal se sente. De subito, Sentado no à volta do a raiva no
o cadaver se caixão, vira pescoço, até seu rosto. O
levanta. a cabeça que cresça outro se expanta.
De medo, quer fugir. Ai, Virgem Sancta! Olhae por um devoto que padesça! Mas, antes que dalli desapparesça, o morto o segurou pela garganta...
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RIGIDEZ CADAVERICA [6372]
Necrophilo, um veado conseguira emprego bom no Medico Legal. Serviço burocratico, mas, mal as costas vira alguem, a bicha pira! Depressa, dos cadaveres retira o penis maiorzão, descommunal, que encontra! Tem buccal, até rectal proveito! Só chupando ja delira! Nem sempre leva aquillo para casa. Às vezes, uma rolla nem amputa, appenas saboreia. Da conducta ninguem desconfiou e nada vaza. Flagrado, certa feita, a cara em braza ficou-lhe. Quem flagrou foi uma puta, tambem, vejam, necrophila, a biruta! Segredo com segredo, a dois, se casa.
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CRENÇA QUE COMPENSA [6374]
Ouvindo um barulhinho no porão, rezei, Glauco, rezei ao padroeiro. Mas nada addeantou. O que primeiro baixinho foi, virou um barulhão. Rezei, quando um phantasma fez clarão. Chamei Nossa Senhora. Aquelle cheiro de incenso senti. Nada mais certeiro. Agora fede enxofre a assombração. Ainda rezei quando no meu pé tocou o poltergeist endiabrado. Pedi para Jesus, mas o meu lado ninguem olhou. Perdi todinha a fé. Emfim, rezei a Lucifer. Pois é. Não vejo mais espiritos, coitado de mim. Mas peorou o resultado. Commigo o Demo mora, agora, até.
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PODERES [6375]
Seu Glauco, ja cresci! Não acho mais que, embaixo desta cama, viveria um monstro que não posso ver de dia mas que, durante a noite, dá signaes! Não! Monstro não, senhor! Monstro jamais! Mas, em compensação, minha agonia agora vem de formas que eu não via e vejo, ja: são sobrenaturaes! Espiritos, phantasmas! O senhor duvida do que digo? Não? Que bom que crê tambem! Assim não fico com meu medo só: partilho o meu temor! Disseram que visões fazem suppor que eu seja sensitivo, que meu dom se explique... Mas eu vejo, escuto o som e nada de “poderes”: só terror!
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EXPANTA-PHANTASMA [6378]
Ai, Glauco! Hontem morreu o meu vizinho por causa da covid! Elle morava sozinho! Ja puzeram uma trava na porta! Até lavaram, la, tudinho! Mas ouço, la de dentro, um extranho! Um caso, Glauco, agora à noite! E então? Si ninguem no apê... Fiquei é
barulhinho que se aggrava não estava com medinho!
Glaucão, você que é bruxo, como faz si for assombração? O morador talvez ainda seja soffredor depois de morto, o pobre do rapaz! Ah, posso fazer isso? Sou capaz, é claro! Tá, Glaucão, mas e si for alguma alma penada? Ai, que pavor! Ah, basta affugentar tocando jazz?
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REPTILIANOS [6381]
Glaucão, não é possivel que você não tenha ainda ouvido fallar nisso! Os taes reptilianos teem postiço perfil humano, cara de bebê! São hybridos! A gente nem os vê direito! São demonios e submisso um homem querem ter! Sem compromisso, um pappo ja levei com tal ET! Me disse que com elles sonha a gente! Trepamos nesse sonho! Nossa porra o Demo contamina! Quando corra vagina addentro, é magica a semente! Assim nos procreamos! Quem doente ficar, mulher ou homem, se soccorra com medicos, mas, vindos de Gomorrha, taes seres invenciveis são! Nem tente!
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MIDNIGHT HOUR [6382]
Que nem o Wilson Pickett esperar eu vou a meia-noite, Glauco! Então vampiro virarei! Minha missão é transformar um outro no meu par! Preciso de seu sangue! Jugular é o poncto onde meu dente finco, o vão por onde sugo o liquido, Glaucão! Mas outro poncto quero resaltar! Aquelle que eu morder irá tambem virar vampiro! Sangue quererá sugar, e assim por deante! Você está sacando, Glauco? Ou não me explico bem? Não, Glauco! Vocação você não tem! Caralhos quer sugar! Assim não dá p’ra ser vampiro! O semen não será tão doce! Cada coisa que lhe vem!
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GLAUCO MATTOSO
COVIDICO [6383]
Emquanto uma viuva, ao fundo, chora sozinha, à cova desce seu marido. Mas, si ella se preoccupa, faz sentido. Phantasmas são covidicos, agora. À noite, ella não dorme. Cada hora que passa, augmenta a chance de que ouvido de novo seja aquelle egual grunhido ao rhoncho dum machão. Pobre senhora! Morrera agonizante elle, sem ar, queixando-se de corno ter virado. Phleugmatica, a mulher, alli do lado da cama, sem siquer amor jurar. Agora residir naquelle lar será quasi impossivel. Ja rosnado virou o tal grunhido. O corneado na certa vae gannir, ou mesmo uivar...
RHYMAS DE HORROR
POSTURA HONROSA [6385]
Jurei, Glauco, jurei que ficaria pellado na avenida, na Paulista, si visse de verdade, com a vista que tenho, uma alma afflicta na agonia! E boa visão tenho, não de dia, appenas, mas tambem quando despista, à noite, uma figura que se vista de dama sendo puta alli na via! Mas juro que vi, Glauco! Vi de facto aquella pavorosa assombração, que tanto commentaram, no portão do parque! Ella apparesce e entra no matto! Não, puta não será! Sinão, me macto! Só pode ser phantasma! Ahi, Glaucão, paguei a apposta! Andei, sim, pelladão! Até que rebollei! Honrei o pacto!
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BEBÊS DIABOS [6386]
Espiritos satanicos, Glaucão, estão a vigiar nossa trepada! Do Demo não excappa, mesmo, nada! Vigiam nosso pau, nosso colhão! Sei disso porque, quando fellação practico num parceiro, vem salgada ou doce por demais sua golfada de porra! Taes indicios graves são! Indica, Glauco, o semen de sabor mudado que ja a porra do Cappeta à gosma mixturou-se! Quem punheta batter perceberá que muda a cor! O que isso significa? Ah, que quem for assim contaminado e na boceta pretenda ser quem, macho, o penis metta, será de Satanaz procreador!
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PERIGO NA VIA [6406]
Garanto que um enganno não commetto, pois juro que um cadaver desses vi e não é, não, o classico zumbi, mas sim o puro e simples eskeleto! Você, Glauco, que escreve dissonnetto, na certa pouco caso faz e ri, mas, sendo de mulher, de travesti ou homem, com caveira não me metto! Difficil é saber, mas a caveira que vi me paresceu ser feminina, talvez pela risada aguda, fina, que estava a dar, alli, da via à beira! Ver ossos chacoalhando ninguem queira! À noite, elles rebrilham na neblina! De moto, o corpo morto surgir vi na estrada! Accelerei... Sem brincadeira!
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DESEJO DE VINGANÇA [6408]
Não levo desafforo para casa! Soffri toda a desfeita alli na rua e, como não reajo, continua alguem me bullyingando, manda braza! Mas, Glauco, me vingar vou! Sim, e praza a Lucifer que, quando vem a lua propicia, me transformo numa nua imagem de vampiro que bem casa! De roupa nem preciso! Pelladão, irei rondar o quarto do moleque que vem me troteando! Que defeque de medo! Vou pinctar de supetão! Calcule, Glauco, como me verão os olhos do menino: meu espeque bem duro, não no peito! Onde elle peque será, bem mais embaixo, o meu tesão!
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CORPINHOS NUS [6410]
Hem, Glauco? Ja pensou? Zumbi mirim! Vampiro mirim! Nunca lhe passou tal coisa na cabeça? Pois lhe dou a dica: são communs, exsistem, sim! Creanças tambem morrem, e ruim seu genio fica quando nem rollou um mez e ja ninguem mais se lembrou de quem assim precoce teve fim! Ha casos de vingança que pavor suscitam num atheu ou num christão! Parentes, paes, mães, thios, mordidos são e sangram devagar, em estertor! São pegos de surpresa! Assim, quem for cagar ou tomar banho, pelladão, trancado, surprehende-se (E quem não?) que esteja alli, nuzinho, um mordedor!
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VAGA ROTATIVA [6424]
Notei ja, Glauco, como é que costuma rollar. Quando a pessoa mais se appega às coisas materiaes, jamais sossega depois de morta. Ao poncto sempre rhuma. Que poncto? O logar onde esteve numa casinha comfortavel, ou num brega e enorme casarão: lareira, adega, porão, sotam... Mansão de filme, em summa. Ahi, batata! Aquelle que comprar a casa em que morou essa pessoa escuta, à noite, escada accyma: echoa o passo do phantasma em cada andar! Armado, o novo dono vae olhar no sotam. Nada achou, olhou à toa. Mais tarde, é no porão. Um dia, doa a casa ao netto. Morre... e vem vagar!
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PHANTASMA TOLERANTE [6425]
Entrei num casarão desses, Glaucão! Estava à venda. Assim, pude entrar em seus quartos todos. Logico, olhei bem em cada cantho, o sotam, o porão... Na hora a gente nota a assombração! Está presente em todo poncto, sem fallar na torre, gothica tambem, assim como o restante da mansão. Não tenho grana para comprar nada tão grande. Mas fallei com quem comprar aquillo quiz. Me disse que, no andar de baixo, ouvem-se passos e risada... Na duvida fiquei, pois a ballada na casa come solta. Achar um par de extranhos alli dentro de extranhar não é, depois que finda a surubada...
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LEITURA PERTURBADA [6427]
Mamãe tinha advisado, Glauco: minha herança, aquelle sitio, não devia ficar commigo. Ouvi, mas o queria! Então, não o vendi. Quem adivinha? Estava assombradão! Sim, mamãezinha razão tinha! Bastou que moradia alli me fosse, e phantasmagoria passou a apparescer, da mais damninha! Os trasgos começaram a fazer estragos pela casa: com ruidos altissimos, à noite esses soffridos espiritos quebravam a valer! Glaucão, só mesmo o Demo tem poder sobre esse poltergeist e seus gemidos que echoam, cara, ainda em meus ouvidos! Invoco-o, ouço um trovão... e volto a ler!
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LABREGO MORCEGO [6437]
Vampiros, Glauco, gostam de mordida dar numa descuidada jugular, ja disso você sabe. Mas fallar ouviu deste vampiro ja na vida? Podolatra, accredita? Sim! Duvida? Lhe juro! O gajo chupa devagar, primeiro os dedos! Chega ao calcanhar e vae localizando uma ferida! Achando a rachadura, a suga inteira, até que sangre, Glauco! Tambem suga algum antigo callo, uma verruga, um bello olho de peixe, uma frieira... Conhesce tal vampiro? Não, nem queira saber! Você tambem, que não refuga nenhum pé, quando um sadico o subjuga, tem bocca vampiresca, ama a sujeira!
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HUMOR NEGRO (I) [6438]
Tem gente extranha, Glauco, ora si tem! Um desses, meu avô! Dum negro humor gostava! Me fallava, assustador: “Alguem attraz da porta! Tem alguem!” Elle ia ver, com medo, mas ninguem estava alli! Magina! Que pavor! Phantasma achei que fosse! Só si for! Prefiro não pensar, Glaucão! Eu, hem? Mas tenho que lembrar! Sim, Glauco, um dia morreu o velho! Um homem brincalhão! Contava taes versões de assombração que a gente, ‘inda creança, nem dormia! Attraz da porta achei que, emfim, havia alguem! Fui ver, porem de cu na mão! O velho estava alli, juro, Glaucão! Até depois de morto deu phobia!
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MALFADADA FACHADA [6440]
Horror, Glauco! Um horror! Estou chocada! Você bem sabe, Glauco, que sou bruxa! De nada tenho medo! Não! Mas, puxa, aquella apparição foi malfadada! Nós todas, que treinadas como fada ja fomos, vemos gente tão gorducha, magrella, feia, bella... Mas na bucha pergunto: ja viu cara tão fechada? Malvada, aquella fada nem collega eu quero que, na vida, minha seja! Na face tem feição tão malfazeja que, só de vel-a, a praga a gente pega! Si vista for à noite, ninguem nega, nos causa tal pavor, que quem esteja sozinho, si cagou-se, nem lhe peja contar que em propria merda se excorrega!
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BATTIDO RANGIDO [6441]
Avós meus ja moraram num apê que estava, sim, Glaucão, malassombrado! Passei a noite nelle e ter estado alli me convenceu, digo a você! Passagem para a salla de TV nos dava aquella porta! Do outro lado, a salla de visitas. Concentrado fiquei num filme extranho, bem deprê... A porta abriu sozinha, Glauco, juro! Não foi uma só vez! A porta abria, fechava, quanto mais tinha phobia a gente de ficar alli no escuro! Alguma explicação ‘inda procuro, mas acho, nem vovó, nem a tithia notaram: eram surdas! Eu diria que surdas como portas! Exconjuro!
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FRANQUEZA À MESA [6444]
Fiquei appavorado quando vi alguem apparescendo na janella! Moravamos num sitio, mas a bella paizagem muda, à noite! Você ri? Não ria, Glauco! Quasi fiz xixi nas calças! Apparencia tinha aquella imagem de caveira! Você della descrê? Mas eu, sozinho, não descri! Tranquei tudo! Tranquei-me no quartinho dos fundos! Um barulho ouvi! Não era um morto, mas papae, com a gallera! Pensei na pegadinha dum vizinho... Algum tempo depois, fiquei sozinho de novo... Descobri: não era mera pegada! Aquella cara de megera surgiu, só que no rotulo do vinho...
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INADIMPLENTE PENITENTE [6448]
Devota, aquella velha só pedia ao sancto que evitasse ser tocada por uma apparição que estava cada vez proxima mais della! Ah, que agonia! Orava, adjoelhada... Ahi, ja via, maccabra, a tal caveira! Appavorada, immovel se deixava ficar! Nada iria accontescer a quem confia! Aquelle que exhumado um dia fora, agora de eskeleto tendo cara, tentava se encostar, forçava para tocal-a, batter nella, a peccadora! Mas fortes sanctos sua adoradora não deixam na mão! Nada penetrara na bolha protectora! Só não sara do susto uma alma assim tão devedora!
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ESTRADEIRO ADVENTUREIRO [6450]
Estrada perigosa paca, aquella! Estreita, tinha pouco movimento de dia, mas à noite eu era attento aos riscos! Quem tem crença à sancta appella! Que riscos? Ora, Glauco! Cê não gela de medo dum vivente? Eu não enfrento um desses lobishomens! Que tormento si penso num que vi pela janella! O carro correr muito não podia! Sahiu do matto um monstro que, na beira da via, veiu vindo, na certeira vontade de pegar alguem que guia! Tentou pullar no carro! Sim, queria quebrar o vidro, entrar! Que tremedeira eu tive! Mas, Glaucão, sem brincadeira! Se desequilibrou! Ficou na via!
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BRUXISMO AMPLIFICADO [6453]
Tu, Glauco, tens pavor dessas visões phantasticas e sobrenaturaes, eguaes às que enxergamos nós, normaes? Então não estás cego, ora, trovões! Tambem tu desconfias dos colhões naquellas horas mortas, quando os ais ouvimos dos cadaveres que mais insistem em voltar? Que me depões? Não digas -- Ora, raios! -- que não sentes pavor desses defunctos a vagar! Não passas em vigilia, a meditar, todinha a madrugada, como os crentes? Confessa, Glauco! Os cegos são videntes! Talvez tenhas ainda mais azar que um normovisual, pois teu radar mais ouve quando rangem, alto, os dentes!
RHYMAS DE HORROR
CANINA PERCEPÇÃO [6454]
Que typo de phantasma tu tens visto? Daquelles que morreram e que nós até reconhescemos pela voz, ou seres mais extranhos? Pensas nisto? Alguns não te parescem por Mephisto uns entes enviados? Teu atroz breu torna-te possivel, quando a sós estás, notar que irmãos não são de Christo? Attestas, Glauco? Os entes que tu vês não eram teus parentes? Quem, então, seriam? Mensageiros que, do Cão, recado dão que chega a nossa vez? Cruz credo! Te exconjuro! Sou freguez de tantos maus agouros! Ja não são bastantes os espiritos que vão surgindo pelo olhar dos meus bassês?
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INCRÉU PARA DEDÉU [6455]
Sim, podes crer, Glaucão! De mim não rias! Phantasmas tenho visto! Minha thia os vê de noite! Eu vejo, ja, de dia! Seria de familia? Que dirias? Ouvi fallar de certas theorias que explicam essa absurda prophecia! Parentes mortos voltam! Eu queria saber qual delles vejo, sem phobias! Pensaste nisto? Pode ser um thio ricaço que, indeciso, quer deixar thesouros para alguem com exemplar conducta, não um gajo tão vadio! Preciso convencel-o de que brio ainda tenho, Glauco! Queres dar alguma suggestão? Como? Um altar erguer? Pagar promessa? Ah, não confio! ///
SEGUNDA PARTE SONNETTOS CYCLICOS
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SONNETTOS PARA UM IMAGINARIO MORTUARIO (I a IV) [2347/2350]
RHYMAS DE HORROR São Paulo tem logares que o povão diz serem assombrados, e nem fallo do hotel, do castellinho ou do cavallo phantasma, ja folkloricos que são. Refiro-me a alguns casos que ‘inda estão sem exclarescimento: assim, de estallo, me occorre um que até tremo ao relatal-o, tão viva me paresce a assombração. O caso é duma casa nos Jardins, fechada ha muito tempo, que teria, não-residenciaes, terceiros fins. Casino, talvez bingo ou putaria, mas nem chegou a sediar festins, pois la ninguem coragem de ir teria. Mansão colonial, fora comprada por um laboratorio reputado, mas o predio voltou a ser fechado depois dessa occorrencia hallucinada. Vingança? Trote? Crime? Fraude? Nada explica um olho, um cerebro encontrado em meio ao material analysado e, a cada noite, nova peça achada! Orelhas, dedos, dentes... vivos, quasi, ainda ensanguentados! De repente, la estão, dentro dum vidro ou duma gaze! Um funccionario conta a algum cliente e, caso uma noticia dessas vaze, não ha quem abrir clinica alli tente.
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E do Municipal? Muito se narra, mas esta me contaram que é verdade. O predio, certa noite, um punk invade, disposto a ver phantasma até na marra! Silencio. Tudo escuro. A quem por farra entrara no theatro, persuade a magica atmosphera de vaidade à qual o artista, em vida, em vão se aggarra. O punk, então, no palco vê que o Mario, o Oswaldo e os outros foram o que, agora, quer elle ser: rebelde e libertario. Mas cada modernista que alli chora a ephemera inscripção no kalendario lamenta não ser novo como outrora. Na Camara, o phantasma não seria nenhum vereador nem eleitor, e sim o escravizado cuja cor não nega a raça indigena que um dia taes terras habitou. Dalli partia o sadico e cruel desbravador chamado “bandeirante”, e é de suppor que um indio haja morrido em agonia. São desses torturados os taes vultos que levam triste fama de vagar no Paço, ora ostensivos, ora occultos. Si, para cada edil, um avatar houver alli na Camara, são cultos, e não sessões, o affan parlamentar.
RHYMAS DE HORROR
MYSTERIO INTERIORANO (I a III) [3131/3133]
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GLAUCO MATTOSO
As duas casas distam, entre si, trezentos metros. Numa, mora o pae; na outra, os filhos. Quando o velho vae revel-os, ou vão elles, o pae ri. O matto é bem cerrado e a estrada, alli, faz curvas. O rural silencio attrae, commenta-se, algo extranho. Nunca sae de casa alguem à noite, eu percebi. Querendo se alegrar, noite fechada, o pae vem ver os filhos, e confia na lua que illumina a estreita estrada. Não chega. Ouvem seus gritos de agonia e correm os rapazes, mas ja nada encontram no caminho... O que seria? O velho não estava em parte alguma! Passados poucos dias, tendo dado frustradas buscas, falla o delegado que a gente com taes coisas se accostuma: “Sumiços accontescem... Quem assuma meu cargo, vae ficando accostumado: às vezes some gente, às vezes gado...” Nervoso, outro cigarro accende e fuma. Os filhos não desistem. Não lhes passa jamais pela cabeça que alguem va sumir por compta propria, por pirraça. Seria um animal? O caso está ficando angustiante... Mas que raça de bicho? Um lobishomem? Que será?
RHYMAS DE HORROR Depois de trez semanas, fica claro que o velho ja não volta: outro sumiço occorre, mas ninguem da lei com isso se importa. Um dos rapazes teve faro: “Resolvo a coisa eu mesmo! Saio e varo a noite nessa estrada! Desperdiço a vida, a munição, mas esse enguiço resolvo! Elle que attaque, que eu disparo!” E passa algumas noites percorrendo o tragico trajecto. Em casa, o mano, a postos, emfim ouve o berro horrendo. Mais gritos. Tiros. Jaz um corpo humano por terra, mas pelludo! Os irmãos, vendo a cara do pae, choram, findo o damno.
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VULTOS INSEPULTOS (I a IV) [3577/3580]
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR Recontava (e nos fascina) minha mãe a historia vera, quando ainda era menina e advistou, de noite, a fera. Lobishomem, se imagina, pois a cara horrivel era que surgiu pela cortina da janella onde estivera. Só no quarto, ella se vira e da fresta a cara tira o tal bicho, que se evade. Nos jurou ella que a cara à dum lobo se compara, mas maior que os de verdade. Sob a escada do porão um espaço vago havia. Mas jamais àquelle vão, dia ou noite, alguem descia. Perguntei-lhes por que não e me disse a velha thia que guardou-se alli um caixão, [sic] uma urna, mas vazia. Si, na casa, ninguem desce, eu desci, mas accontesce que não vi nada na grutta. “Mas... e a tampa? (a velha disse) Si você, rangendo, a ouvisse! Toda noite a gente escuta!”
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120 Quando sente um calafrio, meu avô diz ser a Morte que passou por traz. Eu rio e algo digo que o comforte. Mas acceito o desaffio, pois me gabo de ser forte, e o velhinho, então, vigio para ver do vulto o porte. Não consigo vel-a inteira, mas advisto uma caveira revestida por um manto! Passa delle attraz! Depois, de mim! Temos prova, os dois, de que exsiste! Um susto e tanto! “Si temesse assombração, eu faria que exsistisse! Mas não temo, eu digo, e então não exsiste!”, um thio me disse. Bello pappo! La se vão varios annos, e a crendice do tithio a apparição despertou, sem que eu a visse. Uma noite, elle, do quarto, berra! Eu temo pelo infarcto e me appresso a soccorrel-o! Tithio, livido, me apponcta a janella! Foi a compta: tive o mesmo pesadello!
GLAUCO MATTOSO
TERCEIRA PARTE MOTTES GLOSADOS
122 MOTTE 0226 Eu não creio em bruxas, mas... em phantasmas... Minha nossa! Expalhar noticias más me paresce bruxaria, que a mim nunca affectaria. Eu não creio em bruxas, mas sei que muita gente em paz ja nem dorme e se alvoroça, com pavor de que alguem possa, de repente, entrar no quarto! Sim, eu fallo (e os não descharto) em phantasmas... Minha nossa!
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR MOTTE 0227 Não tem medo de caveira quem tem sancto padroeiro. Nunca, mesmo que alguem queira se gabar, eu não confio que, appesar do calafrio, não tem medo de caveira! Si imagino-lhe a maneira de estar rindo o tempo inteiro, e me olhando fundo, eu beiro a loucura, pois ninguem seu sorriso exquesce, nem quem tem sancto padroeiro! Me enterraram, mas agora consegui sahir da cova, aos pouquinhos... Isso prova que algum bruxo por mim ora... Procurando cahir fora, entre as lapides me exgueiro, de outros mortos sinto o cheiro... Só, do tumulo na beira, não tem medo de caveira quem tem sancto padroeiro...
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124 MOTTE 0231 Quem partiu nos pede a prece e esperamos que descanse. Na necropole, accontesce um maccabro caso: os ossos exhibindo aos olhos nossos, quem partiu nos pede a prece. Foi um sonho, mas paresce verdadeiro: antes que alcance o eskeleto, em agil lance, meu pescoço... Ufa! Me evado! Volta à cova o excaveirado e esperamos que descanse! Ai, que horror! Ai, si eu pudesse evitar o pesadello! Si, porem, temo revel-o, quem partiu nos pede a prece! O eskeleto me apparesce de repente e não dá chance de excappar antes que advance e se aggarre em meu pescoço! Peço a Deus não ver mais osso, e esperamos que descanse!
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR Quando o dia ja admanhesce eu visito o seu jazigo, pois é serio o que lhes digo: quem partiu nos pede a prece. Rezo muito e, si mais desse, mais rezava. Caso admanse o eskeleto, vejo chance de dormir, sinão eu danso, pois no somno acho o descanso e esperamos que descanse.
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126 MOTTE 0245 Morador de predio antigo se equipara ao duma casa. Occorreu com meu amigo. Numa casa residia e resolve ser, um dia, morador de predio antigo. Mal mudou-se, seu castigo foi achar que cova rasa seu soalho virou! Vaza dum cadaver o odor, fado que, no apê malassombrado, se equipara ao duma casa. Tal fedor investigando, elle chega à conclusão de que alguem ainda não descansou. O odor nefando começara a vazar quando um bebê morreu, e praza aos céus seja anjo sem asa! Ao saber, pensei commigo: morador de predio antigo se equipara ao duma casa.
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR MOTTE 0251 Que um espirito do bem nos proteja, crermos basta. Si addormesço, logo vem me assombrar quem choca e pasma! É mais facil ser phantasma que um espirito do bem! Quando surge, eu sonho e nem fugir posso da nefasta forma azul que não se affasta! Nem siquer, de tanto horror, que algum ente superior nos proteja, crermos basta!
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128 MOTTE 0252 De coveiro a profissão não desejo ter na vida. Um amigo diz que não quer funcção como esta minha, ou melhor, essa que eu tinha, de coveiro a profissão. Ja larguei tudo de mão, pois, à noite, a voz sahida dos caixões sempre era ouvida por mim, como a duma cella, e uma praga como aquella não desejo ter na vida.
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR MOTTE 0253 Garantiu-me o especialista: lycanthropos são crendice. Quem quer provas que desista! Caso os rastros bem despistem, lobishomens não exsistem, garantiu-me o especialista. Mas a fera ja foi vista pelo matto! Quem me disse de seu medo, caso a visse, foi dos parques o vigia. Para o padre, todavia, lycanthropos são crendice. Uma velha reza a prece costumeira e, então, revela: ja viu fera como aquella e diz onde ella apparesce! Si no matto eu estivesse sem cachorro, attraz ouvisse um barulho e me sumisse a voz... Chega! Não insista, garantiu-me o especialista, lycanthropos são crendice!
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130 MOTTE 0254 Advistar assombração é normal para o cachorro. Me pergunto aqui si o cão tem mais senso do que a gente e consegue, normalmente, advistar assombração. Os barulhos, esses são bem audiveis: quasi morro de pavor quando, no forro, ouço os rattos... si é que é ratto! Distinguir os sons, constato, é normal para o cachorro. Ao ouvir um barulhinho, me appavoro, mas meu cão nem se importa, acha que são sempre os passos do vizinho. Ja phantasmas adivinho que serão e, sem soccorro, rezo ao sancto e a Deus recorro. Ponho em duvida a questão: advistar assombração é normal para o cachorro?
GLAUCO MATTOSO
RHYMAS DE HORROR MOTTE 0255 O caixão está vazio! Para onde foi o morto? Um terrivel desaffio eu, que exhumo, enfrento quando, no episodio mais nefando, o caixão está vazio! Um cadaver duro e frio como pode ficar torto no caixão? Meu descomforto é peor si o corpo some! De Jesus, pergunto, em nome: para onde foi o morto?
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132 MOTTE 0256 Si o caixão vazio está, perambula algum zumbi! Eu, que exhumo os mortos, ja enfrentei tal desaffio. Até sinto um calafrio si o caixão vazio está! Não faltou vibração má no episodio: percebi que é melhor sahir daqui, pois, si o morto é foragido, pelas ruas, nem duvido, perambula algum zumbi!
GLAUCO MATTOSO
SUMMARIO PRIMEIRA PARTE: DISSONNETTOS HORRIPILLANTES..................9 DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO
CADAVERIDICO [0514].............................11 ACCAREADO [0567]................................12 HORRORIZADO [0579]..............................13 PROJECTADO [0619]...............................14 SUGGESTIONADO [0662]............................15 BESTIFICADO [0666]..............................16 REVEZADO [0669].................................17 DA DANSA MACCABRA [0800]........................18 DO BICHINHO DE PELLUCIA [0836]..................19 DOCUMENTAL [0868]...............................20 ESPIRITUAL [0974]...............................21 EXCARNINHO [1090]...............................22 DO CORREIO TRANSCENDENTAL [1197]................23 DA LICÇÃO DE MORTE [1198].......................24 DO TOQUE DE RECOLHER [1220].....................25 DA ASSOMBRAÇÃO CARENTE [1221]...................26 DAS IMPRESSÕES DE VIAGEM [1240].................27 DA VIAGEM ABORTADA [1274].......................28 DA CREATURA NOCTURNA [1279].....................29 DA FACHADA FECHADA [1367].......................30 DA VIAGEM NOITE ADDENTRO [1372].................31 DAS HERMAS PARAGENS [1374]......................32 DO CASARÃO AZARÃO [1401]........................33 DA GOSMA PHANTASMAGORICA [1408].................34 DA PROVA IMMATERIAL [1430]......................35 DA CASA DOS MEUS SONHOS [1472]..................36 DA ABBADIA, DE DIA [1482].......................37 DO SONHO MEDONHO [1516].........................38 DA VIDA REPRISADA [1590]........................39
DISSONNETTO DO CASAL BISEXUAL [1608]........................40 DISSONNETTO DO FILME DE SUSPENSE [1661].....................41 DISSONNETTO DO FILME DE FICÇÃO SCIENTIFICA [1664]...........42 DISSONNETTO DO FILME DE TERROR [1666].......................43 DISSONNETTO DA ESTRADA DESERTA [1695].......................44 DISSONNETTO PARA OS MONSTROS MARINHOS [1857]................45 DISSONNETTO PARA UMA NOITE TEMPESTUOSA [1869]...............46 DISSONNETTO PARA UM PESADELLO ESTUDANTIL [1892].............47 DISSONNETTO PARA UM HORARIO IMPROPRIO [1906]................48 DISSONNETTO PARA UM PROVEITO INSUSPEITO [2406]..............49 CREATURAS NOCTURNAS [3121]..................................50 SILENTES AMBIENTES [3134]...................................51 PERIGOSOS PESADELLOS (I) [3137].............................52 PERIGOSOS PESADELLOS (II) [3138]............................53 GIGANTES HABITANTES [3144]..................................54 SCENA ACCELERADA [3186].....................................55 O PHANTASMA CAMARADA [4032].................................56 QUESTÃO DE TEMPO [4699].....................................57 INCREDULO NO TUMULO [4937]..................................58 COSTA LARGA [5049]..........................................59 RELENDO GUIMARÃES PASSOS [5152].............................60 RELENDO AUGUSTO DOS ANJOS (III) [5189]......................61 RELENDO ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [5217]................62 RELENDO AMADEU AMARAL (III) [5218]..........................63 RELENDO AUGUSTO DOS ANJOS (IV) [5219].......................64 RELENDO GREGORIO DE MATTOS (III) [5226].....................65 RELENDO GUIMARÃES JUNIOR [5227].............................66 RELENDO JUDAS ISGOROGOTA (II) [5232]........................67 RELENDO LUIZ DELPHINO (IV) [5233]...........................68 DISSONNETTO DA CAVEIRA .....................................69 RELENDO RAYMUNDO CORREA [5238]..............................70 RELENDO URSULA GARCIA [5239]................................71 EDOSA MANHOSA [5245]........................................72
O TEOR DO TERROR [5296].....................................73 ESQUETE QUE SE REPETE [5300]................................74 QUE UM DESFILE ME HORRIPILLE! [5837]........................75 NOVO TERROR [6318]..........................................76 CORONAVIVOS [6319]..........................................77 MALDICTA VISITA [6320]......................................78 ZUMBIZAGEM [6322]...........................................79 PSYCHOGRAPHANDO JUDAS ISGOROGOTA [6351].....................80 PSYCHOGRAPHANDO MARTINS FONTES [6355].......................81 FUNESTA APPOSTA [6365]......................................82 SCENA AGUDA [6366]..........................................83 ULTIMA VONTADE [6367].......................................84 ULTIMAS CONDOLENCIAS [6371].................................85 RIGIDEZ CADAVERICA [6372]...................................86 CRENÇA QUE COMPENSA [6374]..................................87 PODERES [6375]..............................................88 EXPANTA-PHANTASMA [6378]....................................89 REPTILIANOS [6381]..........................................90 MIDNIGHT HOUR [6382]........................................91 COVIDICO [6383].............................................92 POSTURA HONROSA [6385]......................................93 BEBÊS DIABOS [6386].........................................94 PERIGO NA VIA [6406]........................................95 DESEJO DE VINGANÇA [6408]...................................96 CORPINHOS NUS [6410]........................................97 VAGA ROTATIVA [6424]........................................98 PHANTASMA TOLERANTE [6425]..................................99 LEITURA PERTURBADA [6427]..................................100 LABREGO MORCEGO [6437].....................................101 HUMOR NEGRO (I) [6438].....................................102 MALFADADA FACHADA [6440]...................................103 BATTIDO RANGIDO [6441].....................................104 FRANQUEZA À MESA [6444]....................................105
INADIMPLENTE PENITENTE [6448]..............................106 ESTRADEIRO ADVENTUREIRO [6450].............................107 BRUXISMO AMPLIFICADO [6453]................................108 CANINA PERCEPÇÃO [6454]....................................109 INCRÉU PARA DEDÉU [6455]...................................110 SEGUNDA PARTE: SONNETTOS CYCLICOS..........................111 SONNETTOS PARA UM IMAGINARIO MORTUARIO(I a IV).............112 MYSTERIO INTERIORANO.......................................115 VULTOS INSEPULTOS..........................................118 TERCEIRA PARTE: MOTTES GLOSADOS............................121 Eu não creio em bruxas, mas... em phantasmas... Minha nossa!..............................122 Não tem medo de caveira quem tem sancto padroeiro. ................................123 Quem partiu nos pede a prece e esperamos que descanse. .................................124 Morador de predio antigo se equipara ao duma casa. .................................126 Que um espirito do bem nos proteja, crermos basta. ...............................127 De coveiro a profissão não desejo ter na vida. ...................................128 Garantiu-me o especialista: lycanthropos são crendice. ................................129 Advistar assombração é normal para o cachorro. .................................130 O caixão está vazio! Para onde foi o morto? ....................................131
Si o caixão vazio está, perambula algum zumbi! ....................................132
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS
São Paulo Casa de Ferreiro 2021