SCENA PUNK

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GLAUCO MATTOSO

SCENA PUNK

São Paulo Casa de Ferreiro 2021


Scena Punk © Glauco Mattoso, 2021 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco SCENA PUNK/Glauco Mattoso São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 124p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA

Em outras collectaneas thematicas a figura do punk comparesce com destaque, como A ARANHA PUNK e A HISTORIA DO ROCK SEGUNDO GM, mas aqui elle occupa a scena em differentes phases da minha producção poetica em duas decadas (19992021), tal como occupou em successivas da minha vida, ja que convivi com a geração hippie (septentista), com a primeira onda punk no Brazil (oitentista) e com a postpunk (noventista), quando participei do sello phonographico Rotten Records e o tribalismo se diversificava entre adeptos do punk rock, do street punk, do hard rock, do hardcore, do ska e do psychobilly. Entretanto, a postura punk nunca deixou de ser representativa da contestação mais anarchista, quando não nihilista, donde meu interesse esthetico e comportamental, mais proximo do exsistencialismo e do sadomasochismo, com todas as contradicções inherentes a taes perspectivas philosophicas. Um pouco desse estado de espirito, creio, se reflecte nesta selecção, sem, todavia, perder o senso de humor que, por vezes, faltou a certas correntes do movimento hippie ou do punk -- analyse que excappa ao escopo desta obra e cabe a leitores e criticos.



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DISSONNETTO ROCKEIRO [0059] O rock'n'roll podolatra excancara! Um classico é, no genero, exemplar, dizendo "Você pode me jogar no chão e pisar bem na minha cara". Num outro, a vocalista ja que as botas foram feitas e qualquer dia desses vão por cyma de você todinho,

declara para andar passar cara!

Agora que estou cego, só me occupo curtindo som em meio a muita bronha, mellando o meu lençol, babando a fronha, sonhando ser o roadie de algum gruppo. Prefiro ouvindo debaixo na sola

um gruppo punk, um que me ponha, sua vaia, seu apupo, do cothurno, emquanto chupo seus excarros de maconha.

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MOTTE GLOSADO [0191] Ha productos de limpeza com cheirinho de limão. Qual narina excappa illesa si dalli se approximar? Crê você que nesse bar ha productos de limpeza? Do banheiro, com certeza, vem o odor azedo, e não do mais proximo lixão! Só narina de fakir para aquillo confundir com cheirinho de limão! Me hospedei numa espelunca onde tudo fede a mofo e mijado é o menos fofo dos colchões. Na casa nunca siquer entra a porca punka nem o sordido punkão. Eu tambem não volto, não! Alli nunca, com certeza, ha productos de limpeza com cheirinho de limão!


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DISSONNETTO AO PUNK [0203] No mundo sem futuro, você quiz levar o seu protesto até o extremo. Em termos de anarchismo foi supremo, alem dos estudantes de Paris. Ao som dos progressivos não deu bis. Não fez nenhum fingido culto ao demo. Lançou, no estylo "faça você memo", fanzines tão zoneiros quanto fiz. Qual paz! Qual amor, nada! Qual yoga! A paz dos sessentistas foi ballada, às vezes abballada pela droga. Você creou podreira mais porrada. Seu sujo visual, ainda em voga, mais rude que o dos hippies, mais me aggrada: Me faz lamber seu pé depois que poga! Chulé não tem egual na molecada!

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MOTTE GLOSADO [0325] É contrario à bomba o cara que mais peida, cospe e excarra. Bomba atomica tem sido bom motivo de protesto, mas eu, rindo, attenção presto ao jeitão do punk e lido com seus gestos no ruido cultural. Por isso a garra delle batte: faz a farra mesmo, berra, vira arara. É contrario à bomba o cara que mais peida, cospe e excarra. Sou do punk eterno adepto, pois protesta com estylo coherente com aquillo que eu tambem, commigo, veto: armas, guerras, chaos completo. Seu som grita na guitarra! Peida, e cheiram-no na marra! Cospe, e accerta alguem, tomara! É contrario à bomba o cara que mais peida, cospe e excarra.


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MOTTE GLOSADO [0336] Pé que dansa muito e cansa, de massagem necessita. Seja punk ou seja alguem mais careta mas que danse, sempre exsiste aquella chance de um momento ter bem zen. Como cego que detem fama sordida e maldicta, massageio e lambo alli, tá? Sim, bem lambo, sem lambança! Pé que dansa muito e cansa, de massagem necessita!

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MANIFESTO TRIBALISTA [0357] {Não, Glauco, não concordo que ja tudo teria que ser sempre "global"! Ora, dou muito mais valor à minha tribu, à minha subcultura! Não me venha dizer que somos todos irmãos, não! As tretas entre tribus são a prova cabal disso dahi! Sou punk e, como bom punk, odeio clubbers, que os skins tambem odeiam, Glauco! Mas odeio, por outro lado, um typico skinhead, excepto si for desses que de ska são fans, como qualquer dos rude boys! Emfim, Glaucão, não acho que sentido algum faz junctar tribus numa só cultura alternativa, ampla, geral, chamada de "irrestricta"! Cê concorda?} -- Concordo mas discordo. Meu estudo das tribus me levou a ver de fora questões tão especificas. Recibo não passo de racista nem resenha tolero com os nazis, mas irmão me faço do alleijado, o que comprova que estamos num só barco. Não me domo por essa tal cultura dos Jardins, de elite, que, excludente, do meu meio desdenha. Que os Jardins não são a sede dos ricos, ja faz tempo. Não será momento de junctarmos forças? "Nóis é nóis!" "Ói nóis aqui travêis!" Ruido nós temos que fazer, sinão sem dó seremos o quartel dum general qualquer, a poncta fracca dessa chorda...


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MOTTE GLOSADO [0376] Quando a meia está battida peço ao punk esse presente. Quem por dentro do cothurno usa meia sem lavar me garante que esse par meu será e eu, por meu turno, que em punhetas ca me enfurno, fico grato a quem consente com meu gosto. Eis que o cliente a pagal-o me convida! Quando a meia está battida peço ao punk esse presente.

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MOTTE GLOSADO [0427] Falta ainda algum museu que preserve o que mais amo. Visitei os principaes no Brazil, do mais antigo ao moderno. Ca commigo, penso e digo: quero mais! Quero aquelle que tu vaes detestar, do podre ramo punk ou gothico, que eu chamo do "sapato velho"... Ah, meu! Falta ainda algum museu que preserve o que mais amo! O melhor museu seria não aquelle que tu queres, só com botas de mulheres da mais alta burguezia ou tamancos da tithia pobretona. O que eu reclamo é o solado que meu amo usa, desses de "peneu"! Falta ainda algum museu que preserve o que mais amo! Sei que tu só te escravizas sob as solas dessas damas caprichosas que mais amas, mas, em vez de solas lisas, quero aquella com que pisas e em mim fazes exparramo, que, escutando "Lambe, vamo!", este cego ja lambeu. Falta ainda algum museu que preserve o que mais amo.


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HOW MANY FRIENDS? [0438] Ainda me podia ver no espelho, um olho ja tapado, lente escura nos oculos, outro olho pouco vendo. Sahia à rua à noite, em visual rockeiro, de jaqueta trespassada e sempre havia alguem que me notasse, alguem que, mais bonito, me dizia curtir gajos que sabem se vestir. Nem elle, nem eu, tinhamos, de facto nas nossas caras nossas attracções. O gajo só queria me chupar. Eu só queria aquelle pé lamber. Ninguem era sincero, mas a gente tentava apparentar que era na cara, na roupa que se excolhem os parceiros. Depois que fiquei cego, um rapazelho não pode mais dizer que em mim procura aquelle visual, antes horrendo, de punk ou de skinhead, em meu tribal jeitão, porem fajuto, na calada da noite, eu que não tinha a bella face. O mesmo rapazelho que, de dia, me via a bengalar, ficava a rir. De noite, me ligava, seu sapato queria descrever-me. Eu de Camões queria lhe dizer, de cor, um par de classicos sonnettos. Mas prazer tivemos em trocar, sinceramente, os nossos interesses, um na tara, nas lettras outro, os versos pelos cheiros.

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Ninguem mais vem pedir o meu conselho poetico ou rockeiro. Nem figura de velho bruxo faço, nem defendo papeis de menestrel profissional. Não resta, a permutar, hoje mais nada. Pergunto-me: affinal, como é que nasce vontade, ou amizade, ou sympathia reciprocas? Como é que, sem fingir, iremos nos querer? Accode, ingrato, à mente este dilemma: os amigões exsistem? Quantos delles eu comptar nos dedos posso? Quantos vão saber amar-nos como somos? Quem se sente comnosco solidario? Ora, tomara tenhamos inimigos verdadeiros!


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INFINITILHO ANDARILHO [0764] {Te lembras, Glauco, desse video? O gajo inglez, depois de estar horas na rua, commenta que seu tennis bem curtido ficou do bom chulé, segundo o teu criterio, obviamente! Então, que faz o perfido rapaz? Chega na salla na qual seu pae assiste a algum programma e, vindo-lhe por traz, colloca aquelle calçado chulepento no nariz do velho! Sacanagem, hem, Glaucão? Pensaste nisso? Sendo tu papae dum punk, office-boy, charteiro, moto taxista, si o moleque te faz isso? Passivo ficarias? Um exporro darias? Ou em ecstase tal acto iria te deixar? Que me commentas?} -- Jamais andei assim, roupas não trajo de trampos taes, mas penso bem na tua idéa. Nesse caso... Bem, decido levar na brincadeira, pois, plebeu que fosse tal contexto, no rapaz o riso brotaria. Não se cala um pae deante daquillo, mas reclama sem muita convicção. No tennis delle daria a cafungada, como fiz em tantos outros casos de tesão podolatra. Ah, meu caro, si me cae nas fuças um daquelles! Eu o boto de encontro ao narigão e, num ouriço tão breve, me faria de cachorro sabujo que fareja algum sapato usado de seu dono... Oh, bentas ventas!

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RESPOSTAS A UM BARDO GOLIARDO [1164/1165] Um punk accostumado ao lixo aguenta qualquer coisa insalubre que um garoto sacana e brincalhão tire do exgotto e ponha-lhe na bocca fedorenta. Por isso, mesmo quando você tenta sujar-me mais ainda, num escroto recurso pestilento, ao meu maroto instincto algo poetico accrescenta. Reajo, pois, com naturalidade a tudo quanto engulo, chupo ou lambo, até que você, vate, emfim se enfade. Prefiro ser assim, mero molambo às ordens de quem curte a mocidade e enxerga, emquanto eu, putrido, descambo! Sucateado está ja nosso mundo e tanto o devastaram, que não vejo motivo p'ra que as taras e o desejo que tenho signifiquem algo immundo. Portanto, amigo bardo, não confundo seu verso com o intento malfazejo e estou grato por ter-me dado ensejo ao lodo em que mergulho mais a fundo. A contaminação, o acquescimento global e outras mazellas tornam nosso chiqueiro pessoal menos nojento. Não guardo, assim, nenhum remorso: posso sahir deste dialogo a contento e um mano no meu porco posto emposso!


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DISSONNETTO DA BANALIDADE INESPERADA [1186] Metrô lotado é barra! O punk encosta na porta, que se fecha lentamente. Alguns executivos, logo à frente, se expremem, e daquillo ninguem gosta. Comsigo mesmo, o punk arrisca a apposta: "Só quero ver a panca dessa gente si cuspo na gravata ou bem na lente dos oculos de algum cara-de-bosta!" Quem gosta duma verde excarradella? Foi dicto e feito: a grossa cusparada respinga, 'inda espumante, na lapella do terno dum bancario! Sae porrada? Facada? Lynchamento? Nada! Aquella sahida foi banal: dando risada, o punk excappa e o trouxa os dedos mella! Depois aquillo vira até piada...

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DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204] O couro preto enruga-se e, dos pós que a bota ja batteu, ainda resta um pouco accumulado em cada fresta da sola, gasta e grossa como noz. Biqueira arredondada e aptados no cadarço dão especie de cothurno um de gala, ornando ilhoz

varios nós a esta ar de festa appós ilhoz.

Não é, porem, um reco quem a calça, aquelle que marchou como "ordinario", e sim um punk, o symbolo contrario do orgulho militar. A gala é falsa. Não marcha: pulla e chuta. De operario é a perna que elle, irado, aos ares alça; é o pé, chato e calloso, que uma valsa jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.


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DISSONNETTO DO MESMO BARCO [1224] O gajo é muito punk: arrocta grosso e cae na gargalhada, num accesso que não accaba nunca! Seu ingresso nas rodas sociaes causa alvoroço. Tambem não tenho cara de bom moço e nunca me incommodo nem me estresso: si peido com estrepito, não peço desculpas, nem na mesa dum almosso. Gostosa é sempre a scena quando cruzo com esse punk: a gente dialoga tal como quem saltita com quem poga, num som de arrocto e peido, alto e confuso. Si alguem que se embebeda ou que se droga nos acha muito podres, eu o accuso: "Quem é você? Juiz? Achou abuso? Quem é você, me'rmão, p'ra vestir toga?"

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DISSONNETTO DA VIAGEM ABORTADA [1274] A bordo, cento e tantos, cuja espera, naquelle hoje accanhado aeroporto que não offeresceu nenhum comforto, o attrazo toleravel ja supera. Se vê, pela janella, quando gera faisca uma turbina! Logo, torto é o curso do avião, e como aborto aquelle voo é tido, então: pudera! Exsiste alguma coisa que se faça? Uns dizem que pilota algum canhoto! Uns medo sentem; outros acham graça! Tentando retornar, faz o piloto... Manobras sobre o mar! O tempo passa... Bebês e velhos choram! Um garoto festeja as turbulencias, a fumaça, e o punk, addormescido, solta arrocto.


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SONNETTO DO RAPÉ REPELLENTE [1281] Barrado na Assembléa, o punk allega que quer ver discursar um deputado. Si até mendigo entrou, elle, coitado, tambem tem o direito, ninguem nega! Extranham que algo tão maçante e brega mantenha um anarchista interessado, mas elle até se acchega e, emquanto ao lado não fica da tribuna, não sossega! Paresce ao orador bastante attento e, quando este termina sua falla, o punk accorre e esboça um cumprimento! A mão dá-lhe o "doutor": sem appertal-a, o joven da jaqueta um pó nojento retira, mira, assopra... e o odor exhala!

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SONNETTO DA FESTA MANIFESTA [1284] Ja desde a madrugada a passeata se forma: juncta gente numa praça e, embora seja ainda a massa excassa, previsto é muito auê naquella data. Engrossa a multidão. Na quente e ingrata manhan chuvosa, servem-se de graça sanduba, succo, choppe, até cachaça: estimulo e incentivo a quem combatta. Pacifico, o protesto degenera em quebra-quebra quando um punk attira a pedra, o que a policia não tolera. Na imprensa, a opinião se dividira: achavam uns que todo punk é fera; os outros, que exaggera sempre o tira.


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DISSONNETTO DO DENOMINADOR COMMUM [1292] Um punk e um hippie attritam p'ra ver qual dos dois mais firme lucta e tem seu thema mais rude e radical contra o Systema que, em ambos, despertou odio mortal. O hippie, pacifista e passional, allega que em maré contraria rema quem quer, a ferro e fogo, e com extrema conducta, combatter tão vil rival. O punk é mais directo: paz e amor não vingam; "flower power" não floresce, pois faz, de facto, o jogo do oppressor. O hippie suggeriu que se fizesse... A guerra sem as armas. Só si for! Não chegam a consenso. Não exquesce nenhum dos dois, porem: diverge a cor, mas contra o mesmo Zeus se reza a prece.

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SONNETTO DO ATTEMPTADO TEMPTADOR [1313] Na cupula, as nações ricas, em gruppo, decidem como vae a economia do mundo. Muita pompa e mordomia la dentro, emquanto, fora, grito e apupo. Um punk, entre os demais, do qual me occupo, consegue penetrar, em pleno dia, na sede dos encontros! Na bacia fez elle o que na minha faço: entupo! Recolhe da privada o que soltara! Sahindo ao corredor, ja do primeiro ministro que passava attinge a cara! Cercado, ainda tem na mão, certeiro, um coppo de cocô, que a farda clara dos guardas emporcalha e enche de cheiro!


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DISSONNETTO DA PAZ E DO RANCOR [1396] Sahidas, a hippie reside o verdades

em politica, só duas: e a punk. Appenas na primeira pacifismo, o amor, as nuas e vontades... Mas Zeus queira!

As coisas, na segunda, são mais cruas e, assim como o rockão é mais pauleira, tambem as reacções são, pelas ruas, mais proprias à pedrada, que é certeira! Em termos philosophicos, no plano geral e humanitario, tenho o brio pacato, coherente, e mais me irmano aos hippies, pois em armas não confio. Mas, quando o pessoal e o passional mais alto fallam, quasi não me allio aos hippies, pois me sinto ao punk egual e adjudo a pôr na polvora o pavio.

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DISSONNETTO DA PAROCHIA DE PERIPHERIA [1411] No na ao um

bairro, a "missa joven" exaggera parte musical: o padre traz palco a banda punk! O povo espera clima alegre, mas com menos gaz.

Nem fecha o padre as phrases, e o battera ja marca: um, dois, trez, quattro... A banda faz seu numero, a velhinha recupera o follego, e então tudo volta à paz. Mais umas orações, de novo explode (Coitada da velhinha, que se estaffa!) aquelle som pauleira, que saccode paredes e vitraes, e o khoro abbafa. Termina a missa. Dados os advisos, o povo ja dalli, feliz, se sapha. O gruppo punk attacca uns improvisos e o padre mamma o vinho na garrafa.


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DISSONNETTO DA AUDIÇÃO E DA CURTIÇÃO [1415] O punk, extranhamente, se intimida e hesita em descalçar sua botina. Paresce duvidar que eu me decida ao gesto de adjudal-o... Que imagina? Talvez que eu nunca tenha, em minha vida, cheirado nada egual à fedentina daquelle sujo pé! Mas, sem sahida, cede à curiosidade que o domina. Emquanto o "punquerroque" emballa a scena, não posso me conter e me decido: retiro-lhe o pisante! Me envenena aquelle chulezão, forte, curtido! Attonito, elle vê quando lhe adspiro de cada dedo o vão, tão encardido! Mas isso só depois que, pasmo, tiro a meia! Agora eu mesmo ja duvido!

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DISSONNETTO DO TRAHIDOR DO MOVIMENTO [1438] O punk, office-boy que sempre fora, resolve procurar um novo emprego. A vaga de bancario é temptadora: por ella perde o gajo seu sossego. Cabello mohicano, que a tesoura jamais appararia, pede arrego e abbaixo vem! Cothurno, que ja extoura, se troca por sapato de pellego. A vaga? Ah, tão difficil conseguil-a! Coitado do moleque! Engravatado, começa a trabalhar... Mas, do outro lado daquelle seu guichê, se allonga a fila... A fila não está, porem, tranquilla, pois nella estão, à espera, os outros boys, de bota e de jaqueta, feito heroes chamando o companheiro, que vacilla.


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SONNETTO DA ARANHA PUNK [1455] Si caricaturada, ella teria seus pellos em estylo mohicano, formando um topetão que se arrepia da cara até o bundão, sem couro ou panno. Porem, em cada patta, calçaria seu preto cothurninho, cujo cano lhe chega até o joelho. Nada exguia de pernas, se assemelha a um gordo humano. Somente um outro punk a vê na estica daquelle visual que identifica os grandes figurões do movimento. Tachinhas, cincto, broches, alfinete. Nem nota esses detalhes quem porrete lhe desce, aos gritos: "Bicho mais nojento!"

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SONNETTO DO MIOLO MOLLE [1467] Balcão da lanchonette. Em pleno pappo, se sentam dois bancarios. Do outro lado, almossa um punk, e suja guardanappo attraz de guardanappo, lambuzado. Os dois o encaram como a quem é excappo directo da prisão: craneo raspado, na testa um encardido esparadrappo, rasgados jeans, cothurno detonado. O punk, attento aos dois, os desaffia: sorri, depois mastiga uma fatia de pão, depois "gumita" a massa branca. Appara na colher, de novo engole e torna a vomitar a massa molle, até que a dupla saia e perca a "panca".


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SONNETTO DO SUSTO SEM CUSTO [1486] De salto agulha, altissimo, a dondoca passeia na calçada, em frente à chique vitrine, se exhibindo e tendo, em troca, olhares sobre si, fora algum clique. Num punk a represalia ella provoca: o cara, que ja sente odio a butique, questão faz de mostrar que da malloca sahiu e quer que alguem sem graça fique. Advança para a moça, como quem assalta e de roubal-a intenção tem. Em panico, a coitada correr quer. Porem o salto fino se esphacela e, sem que o punk um dedo encoste nella, por terra berra, como uma qualquer.

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SONNETTO DA COLLECTIVIDADE SOBREVIVENTE [1490] Um delles pertenceu ao "collectivo" chamado "Libertario"; outro, ao chamado "Anarcho-Communista". Um bom motivo nem foi preciso: o rollo está formado. Paresce bem opposto cada lado: emquanto um tudo passa pelo crivo da esquerda, outro é espontaneo em seu recado, e cada punk assume ar vingativo. Ja prestes a brigar, os dois se tocam que a isso os inimigos os provocam: carecas, direitistas, a policia. Unidos, resistir é mais factivel, ainda que precario seja o nivel e mesmo si a alliança for ficticia.


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SONNETTO DO PUNKÃO [1504] Rasteira, a bassezinha segue a dona trotando na calçada. A dona para na loja. Alli pappeia, telephona e, assim, na cadellinha nem repara. Affasta-se a bassê. Quem se appaixona ao vel-a é um viralatta, cuja tara vae logo pondo em practica. Bobona, entrega-se a cadella àquelle cara. Bem punk, o viralatta não assume os filhos e nem mostra ter ciume da femea, ao vel-a gravida, mais tarde. A dona entrega os filhos à adopção. O cão, quando a revê frente ao portão, a chama... mas correndo entra, a covarde.

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SONNETTO DA FIDELIDADE PARTIDARIA [1530] A banda em que tocava o punk andava querendo variar no seu estylo: si for de rockabilly ella, emfim, grava, quem sabe, um disco, e pode produzil-o. Battera, o punk insiste, invoca a brava battalha: ha quanto tempo estão naquillo! Por que mudar agora? Mas à fava mandou o pessoal pelo vacillo. A banda logo arranja outro battera e tenta ver si o tempo recupera: não sae da merda, mas tambem não fede. Decidem retomar o estylo antigo, mas, quando vão chamar de novo o amigo, descobrem que tornou-se ja skinhead.


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DISSONNETTO DO CHEIRO CHULO [1551] Dos cheiros, o chulé bem mais distincto se faz, no corpo humano, que o cecê, aquelle do sovaco, ou o do pincto, com seu sebinho, ou outro acre buquê. O pé, quando calçado, tem recincto fechado: não ha coisa que mais dê ensejo ao chulezinho que ora sinto, que um tennis bem podrão, creia você! Ja comparei os typos de calçado, de estreita, de metallica biqueira, meu bute, meu cothurno detonado, meu velho sapatão... mas nenhum cheira! Aquelle par de tennis, que foi branco um dia, antes da artistica carreira de punk, é o que me dá, para ser franco, maior tesão em toda a sapateira!

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SONNETTO DO CONFRONTO [1605] Passou voando a pedra e quasi pega na cara do soldado. Foi a senha do choque entre a policia e quem carrega chartazes protestando. Desce a lenha. Um punk aqui, mais um alli (Quem nega?) no meio do povão, é quem se empenha em pedras attirar. Dessa refrega sae morto um punk. A midia até desdenha. Um punk a mais, um punk a menos, quem se importa com um cara que só tem dezoito e usa jaqueta exfarrappada? Commenta uma senhora, ao ver que o cara é gente alli do bairro: "Sahiu cara a troca, né? Foi tiro por pedrada!"


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SONNETTO DA CASCA GROSSA [1635] É facil perceber, pelo tamanho da barba e pelo cheiro nauseabundo, que o cara não costuma tomar banho, fiel a seu estylo vagabundo. "P'ra que vou me lavar? Que porra eu ganho com isso?" E justifica seu immundo estado com um dado nada extranho aos habitos normaes do Velho Mundo: "Sabia que na Europa ninguem lava o pé, nem o sovaco? Então à fava que va toda essa logica limpinha!" Que o cara é meio punk, eu ja sabia. Mas, quando nos expõe tal theoria, deixou o sol torrar-lhe a carapinha.

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DISSONNETTO PARA O QUITUTE QUE ILLUDE [1724] Indifferente às moscas que, do tecto ao piso, voejavam pelo bar, o punk acha o petisco predilecto sobrando, a lhe attiçar o paladar. Num pratto, até escondido e bem discreto, advista um grosso kibbe de agua dar na bocca! O punk encosta e vae directo ao poncto: "Aquelle kibbe! Vou pappar!" Melhor resposta não houve quem desse: {Que kibbe, amigo? Aquillo é uma coxinha!}, explica o balconista: é que se appinha por cyma tanta mosca, que paresce... Pois é, tambem com elle isso accontesce... O punk, então, desiste do pedido. Se gaba de ser podre, mas tem tido azia ultimamente... Só aggradesce.


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DISSONNETTO PARA UMA EXPOSIÇÃO VALORIZADA [1899] Depois da vernissage, a galleria com pouco movimento e às moscas anda. O punk approveitou: "Peripheria não tem disso..." E pinctou naquella banda. Os quadros são abstractos: não copia nenhum aquillo que o graffite manda ver nos muros pichados. Essa fria pinctura não faz jus à propaganda. Não é como soubera até de cor. Frustrado, o punk excarra sobre a tela exposta: respingada, a excarradella formou novo desenho, e bem melhor. Reflecte: "Mor barato! Mesmo mor!" Repete esse processo o punk: agora que a cara do negocio ja melhora, lamenta não ter publico ao redor.

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DISSONNETTO PARA UMA ESSENCIA INEBRIANTE [1900] Parou a limusine bem na porta da loja de importados. Desce a dama em busca do que mais alli se importa: perfumes e kosmeticos de fama. Um unico frasquinho não comporta mais que umas poucas gottas, porem chama attenção pelo preço que, "Si corta uns zeros, 'inda é caro!", o pobre exclama. Munida das fragrancias, volta ao carro a dama, distrahida, ja se vendo cheirosa, quando um punk o seu catarrho lhe excarra em plena cara e sae correndo. A dama, imperturbavel, usa o lenço. Ainda bem que disso não dependo! Mais tarde, cheira o panno: 'inda suspenso nos ares, o mau halito é estupendo!


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SONNETTO PARA UMA DEFESA DE THESE [1915] Ha theses de mestrado sobre um thema polemico: que cor teem nossas fezes? Marron, todos dirão. Mas o problema transcende a dimensão das meras theses. Alem das betterrabas, mayonnaises ou mesmo amendoins, é com extrema cautela que devemos ver vieses politicos na merda do Systema. Um punk até diria que, na Esquerda, é mais advermelhada a mesma merda que é preta na Direita e azul no Centro. Não creio nessa these. O que accredito é que, quanto mais acho um cu bonito, mais brilho ha no cocô que sae de dentro.

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REMONTANDO A 1983 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1983] Na imprensa collaboro, do "Pasquim" a zines e gibis e, no extrangeiro, alguns contos eroticos em mim reforçam o papel de punheteiro. Si a tornar-me academico não vim, ao menos fui patrono dum celleiro de bandas de garagem, hoje, emfim, famosas no scenario brazileiro: Foi Madame Satan chamado o bar, no qual todo poeta encontra par num gothico, num punk ou num maluco. Não tenho um companheiro de fetiche, nem quem commigo empatte no pastiche, mas sempre um callo eu piso e um cu cotuco. Fiz minhas amizades pela scena rockeira alternativa paulistana e tive minha chance de sacana ser juncto à molecada que se antenna. Fiz tudo que a moral christan condemna com elles, que aliaz fazem insana idéa da funcção que puritana jamais foi duma bocca torpe e plena. Lambi do punk o chato pé fedido, chupei o pau do gothico garoto, bebi do metalleiro o que vertido foi pela suja rolla. Desse exgotto me lembro vagamente e até duvido que tenha accontescido, ou tudo é ropto.


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REMONTANDO A 1987 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1987] O "Manual" tem tal repercussão que, alem das entrevistas no jornal mais sensacionalista, fortes são os toques na tevê, que falla mal. Não perde Hebe Camargo a occasião e abborda com desdem; noutro canal, me dá Sylvio Luiz um saphanão, chamando "vagabundo" um porco tal. Approveitando a deixa, entrei aqui: "Chiclette com Banana", este o gibi no qual uma columna porca assigno. "Banana purgativa", um zine punk: alli, sem ter censura que me trunque, deslancho meu estylo fescennino.

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REMONTANDO A 1993 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1993] A Londres viajei, ja quasi cego, e ainda na sciencia esperançoso. As ultimas imagens que carrego na mente são dum omnibus famoso. Vermelho, dois andares... Quando o pego, lhe subo à "sobreloja": alli, com gozo, contemplo a paizagem que, não nego, é semelhante a Sampa, um chaos nervoso. Os parques, 'inda verdes vel-os pude. O gothico, a que tanta gente allude, da torre do Big Ben, o vi nublado. De volta, nada mais me restaria, excepto interpellar Virgem Maria, si nella accreditasse um punk irado.


SCENA PUNK

REMONTANDO A 1994 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1994] Na falta da leitura e da graphia, voltei-me para a musica, onde, ao lado do Portuguez, que toca batteria, fundei a Rotten Records, um achado. Foi Rotten porque Podre ja seria o Pedro, mas tambem pelo passado do Johnny. O Portuguez é quem mais via nos seus Garotos Podres um recado. Lançamos varias bandas em cedê e, emquanto nada nisso a midia vê, a gente accreditava em nosso sello. Aquillo me adjudou a superar a phase em que, na falta do que olhar, se escuta, e o rock até me eriça o pello.

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DISSONNETTO PARA UMA ENCOMMENDA RECEBIDA [2149] Chegou hoje uma caixa, que o correio tardou para entregar e, quando enfurno la dentro as mãos curiosas, o que veiu percebo ser velhissimo cothurno. Mattheus é o remettente. Foi recheio daquelle burzegão o pé soturno que leguas caminhou: imaginei-o bem punk, a andar num calçadão nocturno. Ja foi novinha. Muito tempo rolla. Agora a bota está toda fodida. Por isso mesmo a beijo: e ella convida que eu lamba e que remova o pó da sola. Nas lidas da lambida sou de eschola. Me ponho, sem demora, a fazer isso, mas eis que, interrompendo-me o serviço, o labio dóe, a lingua se me exfolla.


SCENA PUNK

DISSONNETTO PARA UMA FOLIA RUEIRA [2152] Dizer que carnaval um punk odeia procede, e a diffundir isso eu adjudo. Mas muda a idéa caso o cara leia alguma coisa sobre o tal do "entrudo". Em vez dum espectaculo, era feia a scena no Brazil: valia tudo em termos de sujeira! A roupa alheia não tinha, contra as aguas, um escudo. Quaes aguas? Ora, exgotto, ou mijo puro! Só fico imaginando, minha gente! Ninguem que se vestisse com appuro às ruas sahiria impunemente! Um punk adoraria tal casquinha tirar, numa attitude irreverente, cruel, quando alvejasse o "almofadinha" na cara, com urina ainda quente!

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DISSONNETTO PARA O GRUPPO GRIEVANCE COMMITTEE [2181] A banda americana era incorrecta. Em seu vinyl, cruel prazer denota naquella canção-titulo que affecta a todos que escutaram: "Lamba a bota!" A turma chuta um cara e lhe decreta que, sendo indesejavel, pague a quota fatal de humilhação: elle projecta a lingua para fora e ouve a chacota! Seria aquelle disco o meu xodó. Na cappa, a photo em close: a lingua rubra trabalha sob a sola, até que cubra seus sulcos com saliva e limpe o pó. Me vejo performando o tal totó. Paresce dirigida, a lettra abjecta, a algum pornô podolatra: o poeta, na certa o mais pisado, alli, sem dó.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA UMA SEMANTICA DA SYSTEMANTICA [2244] De Murphy o punk é victima, podendo levar na cara aquillo que mais tema: porrada. Eu ca confesso que o defendo, si ao punk é tudo culpa do Systema. P'ra systematizar qualquer problema, não basta transformal-o em lei: dizendo que a lei ainda é falha, chore ou gema o povo, os doutos fazem-lhe um addendo. Mais logico seria rejeital-a, si a lei não presta. Mas quem disso falla? Preferem emendal-a eternamente. Não quer saber o punk a quantas anda o tramite: na musica da banda, melhor ser, do Systema, independente.

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SONNETTO PARA O GRUPPO THE MACC LADS [2380] Não curto disco ao vivo, mas a banda dos bebados pornôs foi excepção. Inglezes, Macclesfield é de onde são, cidade da qual fazem propaganda. Difficil calcular a quantas anda seu nivel de machismo, mas eu não duvido, em meio a tanto palavrão, que alli só quem for homem é que manda. Cerveja, frictas, molho, alem do sexo, é tudo quanto, em tom desaffinado, os caras cantam, dando à coisa um nexo. Rapazes uffanistas, seu recado gaiato e fanfarrão é mais complexo que mero desabbafo revoltado.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO TOY DOLLS [2386] Ter cara propria é coisa muito rara na scena musical. Mas esse trio foi bem alem da media, e eu advalio que seja esse tal Olga mesmo "o" cara. Rhachitico, franzino, mas dispara seu chiste, que da faca tem o fio, em rhythmo rapidissimo, e o fastio affasta essa vozinha de taquara. Eximio guitarrista, attinge o cume gozando o pé dum gordo, chulepento, e em disco immortaliza o tal "perfume". Nenhum typo grottesco a seu talento excappa. Quem com elle se accostume, por nada o troca, leve ou barulhento.

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SONNETTO PARA O GRUPPO NEW YORK DOLLS [2387] Quinctetto travestido, foram quem entrou na androgynia sem vacillo. Phantasma da overdose a perseguil-o, ceifava sempre a Morte nelle alguem. Imitam Rolling Stones, mas ja teem maior proximidade com aquillo que o punk allastraria como estylo: total escrotidão, vergonha sem. Até com Frankenstein ja se advaccalha, e quem procura um beijo, na verdade, quer dar ou quer chupar, coisa que o valha. Appenas dois os discos: que me aggrade, um só, mesmo, o primeiro. Marginalia authentica, que deixa até saudade.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO RAMONES [2389] Ainda mais que os Pistols, teem papel vital no movimento que resgata no rock a dimensão correcta e exacta: o punk, ao rockabilly o mais fiel. Na banda foi o Joey o menestrel, o lider, o vocal: a Morte ingrata, que hospeda os Johns e encurta-lhes a data, tambem o quiz mais cedo em seu hotel. Ficamos nós aqui, a ver navios, sem quem o substitua, pois Ramone, de facto, exsistem muitos, mas são frios. Seu rock era "cretino", mas um clone da banda não surgiu: estão vazios os palcos, si não ha quem o desthrone.

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SONNETTO PARA O GRUPPO THE 4 SKINS [2410] Não eram nazis, claro, mas humor tiveram ao fazer, com o courinho da picca, um trocadilho, pois sebinho não criam os judeus, é de suppor. De "Oitenta e quattro" a "Mundo novo", a cor dum Orwell ou dum Huxley dão certinho, e mesmo em "Chaos" e "Evil" adivinho mais critica que appoio a tal horror. O estupido skinhead os interpreta fazendo a apologia da porrada, mas elles agem como este poeta: Emquanto denunciam, dão risada; emquanto tiram sarro, são concreta solada no nariz da molecada!


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO DEMENTED ARE GO [2419] Mais rouca que a do Fenech era aquella voz typica de filme de terror, que vence um Vincent Price e faz suppor o Alem, que nossos pellos arrepella! É Mark o vocalista, e a banda appella aos mais baixos instinctos. Seu valor está na habilidade de propor mais coisas se junctando na panella: Alem da perversão, a podridão do punk e o satanismo do metal, num sempre rapidissimo somzão. Ninguem pela borracha tem egual fetiche ao desses caras: todos são maniacos por algo material.

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SONNETTO PARA O GRUPPO STRAY CATS [2420] Jamais, desde Burnette, se veria um trio assim tão classico, que faça voltar ao rockabilly a velha raça e lance desse genero a mania. Gigante o contrabaixo, a batteria bem simples, a guitarra que arregaça na mão do Brian Setzer: eis a graça do rock, o basicão com melodia. Cultuam Cochran, Vincent, e respeitam tambem as outras tribus, punk e skin, e todos que os escutam se deleitam. Vadios, cães e gattos vão, emfim, na noite se cruzar, e ja se expreitam as gangues mais rivaes da scena "teen".


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO STIFF LITTLE FINGERS [2426] Alternativa, à Irlanda, pode haver? Si houver, no punk está: se exganniçar, cantando que só querem um logar pacifico, sem odios no poder. Difficil, com certeza! Algum prazer lhes resta, à molecada prompta a dar fanatica torcida ao paladar "ulsterico", que irá permanescer. Na "côver" (é do Marley a canção), um caso bem commum aqui na rua: alguem que tomba e, morto, jaz no chão. Duma balla perdida, continua a ser a "causa mortis": dá razão à causa que esse povo perpetua.

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DISSONNETTO PARA O GRUPPO THE VIBRATORS [2428] Preciso duma escrava! De hoje à noite não passa! Saio e pego uma garota, deixando clara a minha mais marota e sadica intenção: baixar o açoite! Para que meu instincto as regras dou do jogo: e chupe meu pau, antes eu goze! Não se affobe

não se admoite, lamba a bota que na chota nem se affoite!

Assim discursa o punk, exclarescido accerca do que a scena propicia, em Londres, quando é soffrega a libido e transa a molecada sem phobia. A taes papeis eu sempre me convido. A banda, que accelera a melodia, na cama quer ver lento e divertido supplicio, num tesão que a delicia.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO MOUSE AND THE TRAPS [2440] O punk é psychodelico? Ora, meu, é claro! Nos sessenta, ja exsistia a scena alternativa, e essa fatia, na America, é filão que não morreu. O ratto é Ronnie Weiss, que mais judeu quer ser que o proprio Dylan: elle cria, de "Like a rolling stone", uma sadia parodia. Para um principe, um plebeu. "A public execution" deu-lhe fama, mas magica, de facto, foi aquella que "Maid of sugar, maid of spice" se chama. Canção tão punk assim ninguem revela, em termos sessentistas, mas na cama o Ronnie não deitou. Fica a sequela.

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SONNETTO PARA O GRUPPO SEX PISTOLS [2444] A lenda é bem sabida: aquella loja pornô que liquidava seu estoque de sadomasochismo e, de reboque, levou a banda podre, que se arroja. O resto é consequencia: quem se expoja na lama suburbana quer que evoque seu som tudo de sujo, e tenha um toque rebelde, innovador, só porque ennoja. Um Vicious, outro Rotten... e, no arrocto, no peido, no pisão, na cusparada, modellam o perfil do mau garoto. Porem, dessa anarchia, detonada seria toda a raiva que um boy ropto destilla contra a natta exfarrappada.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO THE CLASH [2445] Ficou demasiado badalada e perde aquella força irreverente. Postura algo forçada a gente sente na banda "sandinista" de fachada. Ainda "London calling" rende, a cada analyse, algum classico que, à frente de tantas novas modas, represente um referencial à molecada. Tocaram pouco punk e muito reggae para uma banda tida como marco dos tempos anarchistas: ha quem negue? Prefiro, nesse caso, os Ruts: anarcho, de facto, é qualquer gruppo que carregue o peso de tocar, sem remo, o barco.

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SONNETTO PARA O GRUPPO RUTS [2446] Confessam, sem pudor, que inveja teem dos rude boys que o "heavy ska" crearam. Aos outros gruppos podres se comparam, mas, com mais qualidade, vão alem. Da Babylonia em fogo fazem bem o typico retracto, e se declaram de Jah fieis devotos, mas pegaram pesado no Systema e em seu refem: "Você quer dar um chute na cabeça de todo mundo? Então não me reclame, depois, que a turma de você se exquesça! Quem vive appunhalando e jamais ame ninguem, accabará, caso não cresça, morrendo solitario, inculto e infame..."


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO THE EXPLOITED [2447] A vida militar é mesmo foda! Me macta de cansaço e de vergonha! E ainda elles obrigam que eu me exponha marchando em publico! Isso me incommoda! Parada é, ja, desfile? Farda é moda? Não basta essa admeaça, que é medonha, da guerra? Nem poder fumar maconha a gente pode! Odeio aquella roda! Meu circulo, selecto, está na rua, na turma do meu bairro, na pauleira da banda! O punk é forte, e continua! Jamais vamos morrer! Que essa besteira de "quarta geração" não nos destrua o ardor do movimento! É só "terceira"!

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SONNETTO PARA O GRUPPO SHAM 69 [2455] Um typico moleque botinudo notou que a scena ingleza dividida estava por demais: perdia a vida aquella juventude sem estudo. Perdiam-se por nada e até por tudo, mas sempre na porrada. Que decida, então, um Jimmy Pursey ser quem lida com elles e servir-lhes como escudo. "If the kids are united...", elle diz, ninguem os vencerá. Mas como unir na musica essas tribus tão hostis? Appenas futebol, pauleira e "beer" não bastam: é preciso ser feliz, e do outro um pisa em cyma p'ra subir.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO THE SONICS [2457] Ninguem inventa nada. Essa mania de achar tudo "doidão", tudo "maluco" no rock é bem manjada. Eu não encuco com tudo que "psychotico" seria. O Jerry foi, talvez, quem mais havia jus feito àquelle rotulo caduco de "louco". A voz é hysterica: no truco ninguem joga mais alto a gritaria. Mas basico é o rockão, trazendo à scena canções fundamentaes, antecipando do punk a tal rudeza que envenena. "Strychnine" foi bem coberta pelo bando mais "psycho", os Cramps, e vale mesmo a pena beber desse elixir, de vez em quando.

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SONNETTO PARA O GRUPPO CHRON GEN [2463] Na cappa, um mohicano tattuado indica ser o disco duma banda bem punk. E, pelo jeito, a propaganda funcciona, pois me sinto motivado. Comprei o disco em Londres, quando o brado daquella geração ja não demanda advisos de attenção e bem mais branda echoa essa admeaça de attemptado. O som me surprehende. Uma guitarra melodica, o compasso bem battido. E a voz do molecote exbanja garra. Fiquei pensando: "Extranho... É promovido um peido da Madonna, e quem excarra melhor nem foi notado. Faz sentido?"


SCENA PUNK

SONNETTO PARA O GRUPPO BAD MANNERS [2469] Fats Domino, mais Chubby Checker, são a dupla referencia da gordura na scena "roquenrollica". Segura a taça a Mama Cass, com mais razão. E as bandas? Quem será o maior gordão das decadas recentes? Me affigura ser Buster, dos Bad Manners, quem perdura no topo da parada, ha ja um tempão. Alem de rechonchudo, é botinudo e punk aquelle cara: eu imagino que numero elle calça, e não me illudo. Ainda, para cumulo, o suino dum genero dansante entra no entrudo: o ska, sua paixão desde menino.

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SONNETTO PARA O GRUPPO DEAD KENNEDYS [2477] O punk americano nunca havia, de facto, sido forte concorrente do inglez, fora os Ramones. De repente, irrompe um cara doido e uma mania. O Jello é bem politico: queria fallar de atrocidades, do emergente perigo nuclear, e deixa a gente temendo que o Camboja impere um dia. Creanças, velhos, pobres, todos cujo conceito nos suggere desamparo, inspiram-lhe o refrão: "Delles não fujo!" O som, quasi tão rapido, o comparo ao rhythmo dos Toy Dolls, porem mais sujo, mais feio, mais fedido e menos claro.


SCENA PUNK

DISSONNETTO PARA O GRUPPO DO LOU REED [2495] De Sade muita banda se diz cega devota, mas Masoch inspiraria, tambem, um verbetão na anthologia: o Velvet Underground, que ja se entrega. Na Venus que domina, o gruppo pega o thema, bem na linha que se allia à tara, à perversão. Um bello dia, no punk encontraria seu collega. Lou Reed antecipou, bem frio e secco, aquillo que na decada seguinte a gente toparia em cada becco. Agora a gente escuta sem accincte. Não quero nem saber si infrinjo ou pecco! Tortura exige technica e requincte: bom rock escuto emquanto aqui defeco, suppondo alguem que eu pise, surre e cincte.

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DISSONNETTO PARA UMAS UNHAS APPARADAS [2505] Que nem Zé do Caixão não quer ninguem chegar a ter as unhas tão compridas. As minhas, ao contrario, são roidas nervosa e vorazmente. A sós, porem. Bem sei que é uma attitude pouco zen e exsistem tesourinhas bem sortidas, de facil manuseio: é que feridas não quero nas cuticulas, mas nem...! Na minha phase punk, eram deixadas ao léu, até crescerem e crearem, por baixo, encardidissimas camadas. Deixemos mais uns ponctos ca constarem: Agora, si as coceiras me piccarem a pelle, eu tinha minhas mãos aptadas, não fosse um rallador! Vejam! Reparem! Ou são minhas razões exaggeradas?


SCENA PUNK

SONNETTO SOBRE A PERIPHERIA QUE EU QUERIA [2767] Ja Gil, quando mandou aquelle abbraço ao Meyer, a Ollaria, ao Realengo, aos morros e à torcida do Flamengo, creou, em Sampa, um pouco de embaraço. Alguns não entenderam, mas eu faço questão, mesmo si manco e si capengo, de ver que o paulistano tanto dengo tem quanto o carioca, em seu pedaço. No fundo, elle cantou todo logar que, metropolitano ou suburbano, resuma uma cultura popular. Por isso a Freguezia teve um mano cantado como punk, a nos mandar, a todos nós, que entremos pelo cano.

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DISSONNETTO SOBRE UM PUNK MOTOBOY [2816] Tambem de sapatão fiz collecção, tal qual a Ritta Lee, mas só pisante usado por quem batta o pé bastante na scena punk ou nesta, de rockão. Aqui vou reparando que quem não calçou o maior numero garante calçar quarenta e quattro e que, durante a dansa, em quem se accerca dá pisão. Então vou me chegando e ja me deixo chutar, levar uns coices com o salto e, quando caio ao chão, um pé no queixo, alem da bocca, sempre isso resalto. Detalhes mais podolatras enfeixo depois, propondo ao gajo: si mais alto não for o preço, eu compro, e nem me queixo, a bota que elle ralla pelo asphalto.


SCENA PUNK

FLAGRANTES FRAGRANCIAS [3108] Quando é que Beto, o Gordo, desconfia que aquelle seu chulé ninguem aguenta? Sentir um fedor desses pela venta não dá, nem p'ra allegar podolatria! Cheirar gaz venenoso até seria melhor, menos mortifero! A nojenta e grossa meia, aquelles tennis... Tempta o Beto um só podolatra, hoje em dia. Si fede, 'inda calçado, o seu Rainha ou Nike, então calculem o que não será quando o tirar! Quem adivinha? Só mesmo eu para dar-lhe esse tesão! Quem mais tal phantasia ainda tinha? Ja sei: vocês pensaram que o Gordão não passa de mais uma idéa minha! Erraram: dos Toy Dolls isso é canção!

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CULINARIA CARBONARIA [3129] Experto, a segurança elle despista, penetra no palacio e se prepara: pretende um pastellão jogar na cara daquelle que encabeça a suja lista. Foi punk; agora, appenas "anarchista" declara-se, e os politicos azara ainda: até o prefeito ja levara na cara a sua torta podre e mixta: Recheio de ovo choco e leite azedo virá, com cobertura gratinada, borrar quem excolhido foi a dedo. Em plena collectiva, ninguem, nada impede que um municipe sem medo nos vingue, emporcalhando outra "fachada".


SCENA PUNK

PROTOTYPO RETROGRADO [3161] Noventa e nove, ou antes: sim, nesse anno eu ja me declarei victoriano. Ouvi que agora, emfim, apparesceu um punk, appellidado "steam", que quer viver do oitocentismo no apogeu. Eu mesmo pensei nisso, nos septenta: usei gravata, terno com collete, relogio pataccão e, num macete esthetico, uma escripta archaica e attenta. Paresce que a vanguarda se inverteu e, mesmo si questão eu não fizer, o mais "avant la lettre" aqui sou eu! Só espero que esse "steam" tambem dê panno p'ra manga a um sonnettista que é decano.

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INCOMPATIBILIDADE DE GENEROS [3164] O joven professor é punk e gosta de auctores da ala suja e descomposta. Ja teve banda; agora, até trabalha vestido normalmente. Curte Sade, Genet, Apollinaire, essa gentalha. Depois de separar-se duma punka, começa a namorar uma mulher mais velha, puritana, que só quer ler textos moralistas... Pornôs, nunca! Na cama, rolla tudo e se "emporcalha" a virgem no "peccado", por vontade da carne... Mas foi só fogo de palha. Pedida em casamento, deu resposta contraria, e o Demo della desencosta.


SCENA PUNK

POR HONRA DA FIRMA [3451] Foi um punk irreverente quem me poz estas alcunhas: "Bocca Funda" e "Lingua Quente", frente a varias testemunhas. "Allusão mais procedente (respondi) tu não me punhas!" Me fez elle, com o dente, do seu pé cortar as unhas. De rogado não me fiz: descalcei-o e, mui feliz, fui mordendo as unhas sujas. Todos rindo, eu dei a dica: "Depois chupo a tua picca, certo, mano? Não me fujas!"

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COLLEGA DE REFREGA [3550] "O sapato estava sujo de poeira e tinha sola grossa e dura, mas não fujo de quem pisa e quem exfolla!" Foi assim que ella, gabola, me contou. "Não sobrepujo (respondi) quem se extrapola quando é feita de sabujo!" Ante a trella que eu lhe dava, ella disse ser escrava dum milico e até dum punk. Retruquei que invejo aquella lingua propria de cadella, mas em casa ha quem me expanque.


SCENA PUNK

A VOLTA DO MOTTE DO PORCO [3656] Dos Macc Lads o punk ouvinte, que namora uma menina comportada, acha o seguinte: "Minha escrava ella termina!" E o mais sadico requincte que ella cumpra determina, exigindo, com accincte, que, ao chupal-o, beba a urina. Mas ao punk uma surpresa se reserva e estava fora do programma: essa indefesa namorada um mijo adora! Neste motte eu me baseio e esta data o commemora: "Quem queria tanto asseio é o mais sujo porco, agora."

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DISSONNETTO PARA CLAUDIA WONDER [4015] Decennio foi aquelle bem anarcho, bem punk e marginal! Na mixta scena, foi Claudia these e antithese: era antenna de generos e genios o seu barco! Performer? Transformista? Quem foi Marco Antonio? Um travesti? Teve ella a plena imagem que se oppõe a quem condemna o "extranho", e com tal fardo eu tambem arco. No lado mais selvagem do submundo urbano Claudia andou, cuspindo o mytho poetico: o "maldicto", o "vagabundo". Foi ella Claudia Wonder e bonito... Fez ella ante um systema pudibundo. Si "gente é p'ra brilhar", eu não me ommitto, embora cego: vejo o que, segundo Caetano, Claudia expoz... Brilho infinito!


SCENA PUNK

PANORAMA PUNK [4675] Tem duas mãos a rua, mas trafegam muitos omnibus, do typo articulado. Pois que um delles encrencou?

por ella até não é A scena é bella.

É bella a quem por transito se pella, si esteja engarrafado! Agora a pé caminha o passageiro. Quem café tomando está na exquina, ao chiste appella: "Prefere ir a pé, cara? Admassar barro? E então? Prefere andar? Melhor! Assim, mais rapido cê chega, né?" Do carro, alguem faz cara feia, achou ruim. Da fila de vehiculos, um sarro tirando, aqui fiquei. Não tem mais fim a fila. Eu, da janella, a rir, excarro aquillo que tossi. Sou cruel, sim.

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BARULHEIRA DOMINGUEIRA [4765] Em plena exposição, na galleria immensa, lotadissima de gente, um quadro a contemplar, indifferente, está quem vem da vil peripheria. É o punk, aquelle mesmo que, outro dia, cuspiu numa pinctura. Pela frente tem elle um poster lubrico, indecente, que até, de pedra, a um frade coraria. A photo é da modello mais famosa chupando um pau erecto, no momento exacto em que o machão, sorrindo, goza e exporra aquelle liquido gosmento. Pinctura, filme, verso como prosa. Em arte, o nu não causa expanto. Attento, observa o punk a bocca indecorosa. Por perto, um bebê chora, barulhento.


SCENA PUNK

VIAJANDO NO DESEJO [4789] Num omnibus lotado, o punk attraz está do funccionario engravatado, no meio dos que estão em pé. Do lado direito deste está mais um rapaz. Do lado esquerdo, a gorda que está faz diversos movimentos: seu gingado instiga o punk, a poncto de, assanhado, ficar de picca rigida, sem paz! Tentando approximar-se da gorducha, o punk exbarra, erecto, no subjeito de terno que, num ecstase, extrebucha! Tambem outro desfructa, nesse estreito... Espaço, da pistola, ou da garrucha do punk, e quer, em sonho, o ter no leito... Me contam e commigo penso: Puxa! Será que isso contaram-me direito?

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SONNETTO DUMAS SURRADAS BOTINADAS [5314] Vinha o punk andando por uma typica travessa de suburbio. Foi se expor num terreno bruto à bessa. Territorio, alli, tem cor partidaria. Quem tropeça no caminho, si não for agil, reze ao sancto e peça! Metalleiros e skinheads, que usam botas e não keds, chutes amam dar num punk. Antes fosse um rockabilly, que usa tennis! Quem vacille que, chutado, o heroe não banque!


SCENA PUNK

SONNETTO DUMA MONSTRUOSA DEMONSTRAÇÃO (I) [5440] Fui cobrado, num debatte, sobre como lambo a bota poeirenta. Ha quem me tracte por mendaz! Mas que idiota! Duvidaram que este vate ralle a lingua! Acham chacota! Pois lhes provo! Alguem que batte uma photo o assumpto exgotta: Rachaduras fundas, fendas pela lingua, são horrendas evidencias das lambidas. "Queres prova? Então exfolla tua lingua numa sola, como eu fiz! Inda duvidas?"

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SONNETTO DUM TURNO DA NOITE [5442] No nenen, arde a assadura. Nas virilhas, é mycose. Quanto ao punk, a meia fura si a frieira excede a dose. Do cothurno, o que dedura que o chulé metamorphose ja soffreu, é uma fissura no dedão... Mas tem quem goze! Todo punk adora quando, tendo alguem a seu commando, lhe descalçam o cothurno. Quando lambem-lhe a frieira, pensa: "Ao menos tem quem queira esse trampo oral nocturno..."


SCENA PUNK

SONNETTO DUMA MONSTRUOSA DEMONSTRAÇÃO (II) [5443] Ja lambi chulé tão forte que a platéa até duvida. Não acceitam que eu supporte das frieiras a ferida. Minha lingua ja tem corte por lamber, caso me aggrida, uma bota cujo porte modas classicas transgrida. Quando, sceptica, a platéa me contesta, dou idéa do que faço, alli, na hora. Chamo um punk; elle dá bolla; delle lambo a suja sola e tem gente que até cora!

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QUEM CHEIRA DEIXA CHEIRAR [5617] Na certa ao carioca não é tão extranha moda aquella que mais arda nos brios dum paulista: a aberração horrenda de na pizza pôr mostarda. Tambem o paulistano papellão faria la no Rio usando farda de punk em plena praia, cothurnão na areia, branca pelle em vez de parda. É tudo relativo. O meu puddim (melhor do que o de pão) de mandioca no Rio vão chamar puddim de "aypim". Alguem por "macacheira" até ja troca. Não curto qualquer gosto. Para mim hamburger não é carne de minhoca. Mas curtam! De chulé si estou a fim, me irrita quando alguem diz que se choca.


SCENA PUNK

DEVOTAS BOTAS [5711] Um satanico não dista de quem tenha a mente pia. Todo mundo certa pista dá daquillo que o vicia. Satisfaz o fetichista, todo dia, a phantasia. Quem perdeu, porem, a vista lambe em verso e se sacia. Não paquera nem conquista nenhum sadico, mas cria taes scenarios que, na lista entra até, de algoz, seu guia. Caso disso não desista, botas lambe, quem diria, não do punk ou do nazista, mas do crente... em poesia.

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DESENCALHANDO THEMAS [5752] As solteiras eu disposto estou hoje a commentar. Os solteiros em agosto deixo para analysar. Si ella busca e, a contragosto, não achou ainda um par, ou attrae algum encosto, ou é bruxa e deu azar. Tantas coisas tenho posto num poema, que vae dar para o punk estar exposto de lambugem no bazar. Pelladão eu nem proposto que elle fique tenho: a achar tenho só si, no meu rosto, appoiar seu calcanhar.


SCENA PUNK

MEME DA MÃE DO PUNK [6014] Madura. Ja passada ficará. Accorda. Sem kosmeticos, vermelho é o olho approximando-se do espelho. Irá se preoccupar. É para ja. Bem sabe que remedio ja não ha. De sua mãe nem segue mais conselho algum. Pensa no filho, um rapazelho gaiato, gozador da avó gagá. Sem cremes nem pinctura, ella se vê mais velha e se appavora com o seu cabello arrepiado. Mas cadê aquella formosura que ja deu? Deu motte aos sonnettistas. Caso o dê ao filho, um cantor punk, ahi fodeu! Moleque, em seu estylo bem plebeu, o gajo da mamãe faz um auê.

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96 GLAUCO MATTOSO

DISSONNETTO DESCHULEZADO [6088] Não, Glauco! Não será porque estou nessa maldicta quarentena, que ficar irei tão chulepento, que meu par de meias federá na casa à bessa! Não, Glauco! Eu hygienico sou! Peça que eu guarde meu pisante que cheirar mais forte e, sem laval-o, com tal ar lhe faça bom presente dessa peça! Ahi você verá, digo, no cheiro terá certa noção de como tenho limpinhos os meus pés e que nem beiro o fetido padrão de punk engenho! Mas, caso o seu olfacto, tão certeiro, de longe desmentir o meu ferrenho empenho por asseio, ahi, parceiro, meu tennis fedidão a dar-lhe venho!


SCENA PUNK

BLACK BLOCK [6220] Você não me entendeu, Glauco! Não quero appenas protestar! Quero quebrar! Ja fui anarchopunk! Agora, azar! Eu quero o pé metter! Chega de lero! Me diga agora, Glauco, que sincero você tem sido: os homens que vetar queriam nossas mascaras logar darão aos que as permittem? É o que espero! Permittam, não permittam, tanto faz! Nós vamos promover o quebra-quebra! Assim eu me divirto! Quem celebra a nossa pauta nunca almeja a paz! Mas, Glauco, que pergunta! Sou rapaz limpinho! Tomo banho! De Genebra eu sigo a convenção! Só quando zebra meu pé tem de pigmenta aquelle gaz!

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98 GLAUCO MATTOSO

GARRAFA QUE GRAPHA [6237] Mensagens na garrafa até ja as dera o punk, aquelle naufrago na scena rockeira: gesto grande em tão pequena escala. Mais será na actual era. Do seculo gran coisa não se espera em termos de empathia, nem de plena acção humanitaria. Nos condemna o jogo do Systema à van chimera. Utopicos, ou loucos, somos nós, poetas e philosophos, que iremos, em verve engarrafada, aos mais extremos canthinhos do oceano. Estamos sós? Não creio. Por mais tragico ou atroz que seja nosso barco, sem os remos nem bussola, a garrafa nós podemos lançar, uma appós outra, appós, appós...


SCENA PUNK

DERRADEIRA SAPATEIRA [6243] Indago-te, Glaucão, mais uma vez, depois de tantos annos: colleccionas ainda aquelles pares de grandonas botinas das quaes foste tão freguez? Ainda colleccionas, dos michês de pés tamanho maximo, de lonas surradas ou de couros que nas zonas batteram, esses tennis de burguez? Ainda colleccionas, dos punkões da antiga, aquelles fetidos burzegos nos quaes tu tacteavas com teus cegos carinhos e teus humidos beições? Será que 'inda nas sujas solas pões a lingua ja rachada, qual si pregos houvessem-n'a rasgado? Ora, te entrego os meus velhos -- e de velhos -- chinellões!

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100 GLAUCO MATTOSO

LINHA POLPOTISTA [6808] Sim, Glauco! Ser de esquerda a gente entende que é justo, democratico, um direito de excolha de qualquer livre subjeito! É coisa natural que eu recommende! Mas vejo um esquerdista que defende sangrentas dictaduras, Stalin, feito fanatico, Koréa... Ah, não acceito que tal estupidez se referende! Si for para chutar, Glaucão, o pau de todas as barracas, vou tambem chutar! Vou defender um que ninguem defende! Sim, Pol Pot! Esse era mau! Sim, Glauco: o Vermelhão! Ahi, babau! Sejamos cambojanos! E não tem nenhum Jello Biafra a cantar, nem qualquer punk anarchista, nada! Tchau!


SCENA PUNK

SHEENA IS A PUNK ROCKER [6952] Cabeça mohicana, nappa adunca, aquella pistoleira, Glauco, faz furor aqui no bairro! Mas rapaz, que é bom, ella não pega, mesmo, nunca! Pudera! A vagabunda virou punka! Tá toda tattuada, até ja traz no rosto uma de rolla! Solta gaz com força, qualquer pappo fode e trunca! Não, Glauco, nem é tanto o pappo della que expanta a molecada do logar, nem esse visual tão invulgar, mas uma affamadissima mazella! A punka nunca toma banho, bella porquinha que deseja se tornar! Na chota fede tudo que, do mar, de podre exsiste e embrulha na goela!

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102 GLAUCO MATTOSO

CANÇÃO DO APPARTAMENTO [6953] Não, essa quarentena não altera a minha roptininha, não, Glaucão! Estou accostumado, fico tão sozinho o tempo todo, né? Pudera! Eu antes era amigo da gallera mais punk aqui do bairro do Capão, mas hoje me recolho, com razão, e explico: ja ninguem me considera! Você vae me entender: a molecada, alem do quanto, ouvindo os Rattos, poga, consome muita pinga, muita droga, me deixa a casa toda bagunçada! Peor é mesmo quando de mim cada pivete zoa paca, goza, joga cocô na minha bocca à força, affoga meu rosto na bacia da privada!


SCENA PUNK

PODOSMOPHILOS NA LINHA [7183] Chulé de hippie, Glauco, ja sentiste? Nem é la muito forte, porque impera um toque mais vegano. Quem nos dera de punk ou de skinhead! Hem? Quem resiste? De punk eu ja senti, Glaucão! É triste! De tennis ou cothurno, o gajo gera um cheiro salgadissimo! Pudera! Quaes outros chulezinhos quer que eu liste? Talvez de motoboy, depois dum dia inteiro de trabalho, poderá ficar tão temperado que ja dá vontade de lamber tal iguaria... Mas uma coisa affirmo: na bacia, qualquer desses cocôs egual terá seu cheiro ou seu sabor! Sim, provei, ja! Prefiro o pezão delles! Me ecstasia!

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CYCLO "O PUNK E A GORDA" SONNETTO PARA UM DESENCONTRO DE INTENÇÕES [1921] Até que o punk attrae uma garota: embora maltractado, é bem bonito. O instincto maternal que nella brota explica-se no esthetico conflicto: Cabello arrepiado, immunda bota, olhar menos cholerico que afflicto, até quando elle cospe, ou quando arrocta, provoca nessa fan quasi que um grito. Não é (Mas que ironia!) a tal menina quem vidra esse rapaz, quem o fascina, e sim uma gorducha, feia até. Mas esta, mais madura, não quer nem saber dum punk ainda joven, bem magrello, que na certa tem chulé.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA UM PLATONISMO EXQUISITO [1922] E o punk, o que viu nella? Ha como vermos? Talvez seu jeito meigo, sua voz macia, advelludada, que, aos enfermos carentes, é a da mãe de todos nós. E fica aquelle impasse: para termos melhor noticia desse drama atroz, vejamos, por exemplo, quaes os termos usados pelo punk, estando a sós. Escreve elle, coitado, em seu caderno, num tom entre o grottesco, o rude e o terno: "Leitoa! Leitoinha! Sou seu lobo!" Bilhetes, escreveu o punk alguns, mas nunca os entregou, e seus jejuns de sexo lhe dedica, feito um bobo.

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SONNETTO PARA UMA CONFUSÃO MENTAL [1923] Na frente da tevê, delira o punk ao ver o "Muppet Show": mal a Miss Piggy revira os olhos, faz com que elle arranque do peito outro suspiro e mais se ligue. Ouviu fallar da Mama Cass, um tanque de amor, jamais de guerra... Não ha guigue, porem, gravada ao vivo, que lhe estanque o choro, tanto quanto o amor lhe instigue. Costuma ouvir Ramones, cuja "Sheena" lhe traz recordações, mas a menina que a lembra agora é coisa do passado. Depois que viu a gorda, o punk exquesce as outras referencias: tudo cesse quanto cantava a Musa, o rock e o fado.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA A INSEGURANÇA JUVENIL [1924] Amor adolescente é sempre assim. Diariamente o punk encontra a amada, mas nunca se declara... Todo "teen" planeja muita coisa e não faz nada. Pensou em lhe dar flores, um puddim, bombons, em convidal-a p'ra ballada, prum show ou prum cinema... "Mister Bean" lhe occorre: elle que, então, se dissuada. Se julga um desastrado, um trouxa, um fracco. Decide desistir, mas no seu tacco confia novamente quando a vê. Precisa dum pretexto para à gorda mostrar o quanto é serio quem a abborda e que não quer ser della só o bebê.

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SONNETTO PARA UM JOGO DE SEDUCÇÃO [1925] E quanto à gorda? É socia numa loja da qual o nosso punk é mensageiro. É claro que notou que elle se arroja, fanatico, aos pés della o tempo inteiro. O joven, propriamente, não a ennoja, mas é-lhe pueril e bagunceiro. Quando, porem, das roupas o despoja na mente, ella o vê macho verdadeiro. A si mesma, ella admitte: joga charme em cyma do rapaz... "Tem de fallar-me, sinão não tiro a duvida jamais..." Aquella quente voz quasi sussurra no ouvido delle, como quem da surra gostou e pede: "Batte! Batte mais!"


SCENA PUNK

SONNETTO PARA UM PAPPO DECISIVO [1926] Emfim pincta uma chance, quando a entrega duma nova encommenda elle alli faz. A gorda, ao recebel-a, a mão lhe pega e falla olhando os olhos do rapaz: "Menino, que mão fria! Cê não nega aquelle dicto, né?" E a mão lhe traz mais para perto. Arisco, elle excorrega, mas cede, aggradescendo a Satanaz. "Que dicto?", elle pergunta. "Ora, mão fria, coração quente! Ou acha que eu não ia notar, hem, malandrinho?" E elle desmonta. "Que coração? Um punk então tem disso?", tentando defender-se, mas submisso, retruca, ja levando a fava em compta.

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SONNETTO PARA UM PROGRAMMA BURGUEZ [1927] Marcaram um cinema. Elle apparesce vestido de maneira até discreta. A gorda faz que nem o reconhesce, brincando, mas depois é bem directa: "Ah, va, sei que você não se abhorresce com minhas brincadeiras, nem se affecta si digo o que pensei, né? Cê meresce um beijo, meninão!" E alcança a meta. Vão ver o filme "Crimes de paixão", do Russell, e com ella o joven não se furta a commentar o que lhe veiu. Depois, um restaurante, quando o cara procura comportar-se, e ella repara que até palita o dente e nem faz feio.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA UM REPETECO DO CLOSE [1928] Na cama, elles reprisam uma scena na qual a falsa puta o tennis tira do cara e o pé lhe chupa. Nada amena achou ella a fragrancia que respira. Ao ver na sola a lingua, não pequena, da gorda, o punk até diz que é mentira, tamanho seu prazer: nem vale a pena pensar que seu chulé ninguem prefira. Depois, as posições do corpo são tão variadas quanto as que a sessão lhes tinha suggerido de maroto. Naquelle mar de carne, o punk está achando que encontrou seu Shangri-La, seu Eden, seu Inferno e seu Exgotto.

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112 GLAUCO MATTOSO

SONNETTO PARA UM CONFLICTO DE EXAGGERAÇÕES [1929] Começam um romance singular: o punk anda mais calmo e pouco chia; a gorda, por seu turno, quer pullar o pogo e está fallando de anarchia. Si tentam, um ao outro, bajular, verão que a barra forçam, pois um dia o joven prestará vestibular e a gorda ja cansou dessa folia. A phase vae passando e, logo logo, a gorda diz, sem follego: "Não pogo!" e o punk então responde "Que se foda!" Termina de repente, no cinema: emquanto ella quer ver o "Theorema", quer elle um "Tommy", com a chorda toda.


SCENA PUNK

SONNETTO PARA UM DESFECHO EM ABERTO [1930] Restou-lhes a amizade, é claro: ainda a gorda acha seu punk o mais pezudo e o punk 'inda acha a gorda muito linda, fofinha e appetescivel... Mas é tudo. Virou elle estudante. Ella é bemvinda no seu appartamento, mui mehudo, porem acconchegante. Assim que finda outra semana, exquesce-se do estudo. Tambem, de vez em quando, elle a visita naquella comfortavel e bonita casinha geminada alli na villa. Àquelles que perguntam quando sae casorio, ambos respondem que não vae sahir, mas nem por isso alguem se grilla.

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SUMMARIO DISSONNETTO ROCKEIRO [0059] 9 MOTTE GLOSADO [0191] 10 DISSONNETTO AO PUNK [0203] 11 MOTTE GLOSADO [0325] 12 MOTTE GLOSADO [0336] 13 MANIFESTO TRIBALISTA [0357] 14 MOTTE GLOSADO [0376] 15 MOTTE GLOSADO [0427] 16 HOW MANY FRIENDS? [0438] 17 INFINITILHO ANDARILHO [0764] 19 RESPOSTAS A UM BARDO GOLIARDO [1164/1165] 20 DISSONNETTO DA BANALIDADE INESPERADA [1186] 21 DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204] 22 DISSONNETTO DO MESMO BARCO [1224] 23 DISSONNETTO DA VIAGEM ABORTADA [1274] 24 SONNETTO DO RAPÉ REPELLENTE [1281] 25 SONNETTO DA FESTA MANIFESTA [1284] 26 DISSONNETTO DO DENOMINADOR COMMUM [1292] 27 SONNETTO DO ATTEMPTADO TEMPTADOR [1313] 28 DISSONNETTO DA PAZ E DO RANCOR [1396] 29 DISSONNETTO DA PAROCHIA DE PERIPHERIA [1411] 30 DISSONNETTO DA AUDIÇÃO E DA CURTIÇÃO [1415] 31 DISSONNETTO DO TRAHIDOR DO MOVIMENTO [1438] 32 SONNETTO DA ARANHA PUNK [1455] 33 SONNETTO DO MIOLO MOLLE [1467] 34 SONNETTO DO SUSTO SEM CUSTO [1486] 35 SONNETTO DA COLLECTIVIDADE SOBREVIVENTE [1490] 36 SONNETTO DO PUNKÃO [1504] 37 SONNETTO DA FIDELIDADE PARTIDARIA [1530] 38 DISSONNETTO DO CHEIRO CHULO [1551] 39 SONNETTO DO CONFRONTO [1605] 40 SONNETTO DA CASCA GROSSA [1635] 41 DISSONNETTO PARA O QUITUTE QUE ILLUDE [1724] 42 DISSONNETTO PARA UMA EXPOSIÇÃO VALORIZADA [1899]

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DISSONNETTO PARA UMA ESSENCIA INEBRIANTE [1900] 44 SONNETTO PARA UMA DEFESA DE THESE [1915] 45 REMONTANDO A 1983 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1983] REMONTANDO A 1987 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1987] REMONTANDO A 1993 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1993] REMONTANDO A 1994 (DAS "MEMORIAS SENTIMENTAES") [1994] DISSONNETTO PARA UMA ENCOMMENDA RECEBIDA [2149] 50 DISSONNETTO PARA UMA FOLIA RUEIRA [2152] 51 DISSONNETTO PARA O GRUPPO GRIEVANCE COMMITTEE [2181] 52 SONNETTO PARA UMA SEMANTICA DA SYSTEMANTICA [2244] 53 SONNETTO PARA O GRUPPO THE MACC LADS [2380] 54 SONNETTO PARA O GRUPPO TOY DOLLS [2386] 55 SONNETTO PARA O GRUPPO NEW YORK DOLLS [2387] 56 SONNETTO PARA O GRUPPO RAMONES [2389] 57 SONNETTO PARA O GRUPPO THE 4 SKINS [2410] 58 SONNETTO PARA O GRUPPO DEMENTED ARE GO [2419] 59 SONNETTO PARA O GRUPPO STRAY CATS [2420] 60 SONNETTO PARA O GRUPPO STIFF LITTLE FINGERS [2426] 61 DISSONNETTO PARA O GRUPPO THE VIBRATORS [2428] 62 SONNETTO PARA O GRUPPO MOUSE AND THE TRAPS [2440] 63 SONNETTO PARA O GRUPPO SEX PISTOLS [2444] 64 SONNETTO PARA O GRUPPO THE CLASH [2445] 65 SONNETTO PARA O GRUPPO RUTS [2446] 66 SONNETTO PARA O GRUPPO THE EXPLOITED [2447] 67 SONNETTO PARA O GRUPPO SHAM 69 [2455] 68 SONNETTO PARA O GRUPPO THE SONICS [2457] 69 SONNETTO PARA O GRUPPO CHRON GEN [2463] 70 SONNETTO PARA O GRUPPO BAD MANNERS [2469] 71 SONNETTO PARA O GRUPPO DEAD KENNEDYS [2477] 72 DISSONNETTO PARA O GRUPPO DO LOU REED [2495] 73 DISSONNETTO PARA UMAS UNHAS APPARADAS [2505] 74 SONNETTO SOBRE A PERIPHERIA QUE EU QUERIA [2767] 75 DISSONNETTO SOBRE UM PUNK MOTOBOY [2816] 76 FLAGRANTES FRAGRANCIAS [3108] 77 CULINARIA CARBONARIA [3129] 78 PROTOTYPO RETROGRADO [3161] 79 INCOMPATIBILIDADE DE GENEROS [3164] 80

46 47 48 49


POR HONRA DA FIRMA [3451] 81 COLLEGA DE REFREGA [3550] 82 A VOLTA DO MOTTE DO PORCO [3656] 83 DISSONNETTO PARA CLAUDIA WONDER [4015] 84 PANORAMA PUNK [4675] 85 BARULHEIRA DOMINGUEIRA [4765] 86 VIAJANDO NO DESEJO [4789] 87 SONNETTO DUMAS SURRADAS BOTINADAS [5314] 88 SONNETTO DUMA MONSTRUOSA DEMONSTRAÇÃO (I) [5440] SONNETTO DUM TURNO DA NOITE [5442] 90 SONNETTO DUMA MONSTRUOSA DEMONSTRAÇÃO (II) [5443] QUEM CHEIRA DEIXA CHEIRAR [5617] 92 DEVOTAS BOTAS [5711] 93 DESENCALHANDO THEMAS [5752] 94 MEME DA MÃE DO PUNK [6014] 95 DISSONNETTO DESCHULEZADO [6088] 96 BLACK BLOCK [6220] 97 GARRAFA QUE GRAPHA [6237] 98 DERRADEIRA SAPATEIRA [6243] 99 LINHA POLPOTISTA [6808] 100 SHEENA IS A PUNK ROCKER [6952] 101 CANÇÃO DO APPARTAMENTO [6953] 102 PODOSMOPHILOS NA LINHA [7183] 103 CYCLO "O SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO SONNETTO

PUNK PARA PARA PARA PARA PARA PARA PARA PARA PARA PARA

E A GORDA" UM DESENCONTRO DE INTENÇÕES [1921] UM PLATONISMO EXQUISITO [1922] 105 UMA CONFUSÃO MENTAL [1923] 106 A INSEGURANÇA JUVENIL [1924] 107 UM JOGO DE SEDUCÇÃO [1925] 108 UM PAPPO DECISIVO [1926] 109 UM PROGRAMMA BURGUEZ [1927] 110 UM REPETECO DO CLOSE [1928] 111 UM CONFLICTO DE EXAGGERAÇÕES [1929] UM DESFECHO EM ABERTO [1930] 113

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Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM


São Paulo Casa de Ferreiro 2021




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