SEMANTICA QUANTICA

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Glauco Mattoso

SEMANTICA QUANTICA

São Paulo Casa de Ferreiro 2021


Semantica quantica Glauco Mattoso

© Glauco Mattoso, 2021

Revisão Lucio Medeiros

Projeto gráfico Lucio Medeiros

Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ______________________________________________________________________________

FICHA CATALOGRÁFICA

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Mattoso, Glauco

SEMANTICA QUANTICA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 132p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1


NOTA INTRODUCTORIA

Na sequencia dos volumes de dissonnettos compostos em 2020, appós DESCOMPROMETTIMENTO vem esta collectanea, com cento e quattorze poemas (de 6587 a 6700) que, ainda sob o impacto da crise sanitaria, cuida entretanto de varios outros themas urgentes e cruciaes para o convivio social, sexual, politico e cultural. Muitos poemas, comtudo, partem duma perspectiva, não direi imparcial, mas impessoal ou mesmo impassivel, donde o titulo allusivo, indistinctamente, a significancias e insignificancias, extensivo aos casos de nonsense. Na forma mantenho-me fiel à nova estrophação adoptada, em quattro quartettos, desde que retomei, em 2017, a producção temporariamente interrompida no sonnetto 5555, em 2012. Tracta-se agora de publicar, ao lado das reedições reformatadas dos titulos antigos, esta nova serie de volumes em versão digital, para recuperar o tempo empattado desde a crise anterior -- resgate emfim possivel graças ao trabalho do editor virtual Lucio Medeiros à frente do sello Casa de Ferreiro.



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COISA COM COISA [6587]

As coisas, Glauco, podem ser aquellas que estás vendo, ou as coisas podem ser aquellas que estás vendo, sejam ellas as mesmas ou não tendo nada a ver! Si estás cego, vês coisas amarellas ou verdes, dependendo do poder da tua mente, Glauco! Te rebellas? Então rubras verás, ao bel prazer! Ninguem sabe explicar por que essas bellas coisinhas importancia podem dar à vida das pessoas! Não congelas algumas que no sonho teem logar? Embora ja não vejas, são sequelas daquillo que viveste! Paladar terão, sinão aroma! Não te pellas ainda por um verso lapidar?

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GLAUCO MATTOSO

TRANSITORIO MIXTIFORIO [6588]

Aquillo que tu comes, Glauco, não comias antes! Tudo que estiveres comendo, no momento, com talheres, em breve comerás só com a mão! Fodias com a rolla? Teu tesão ja deixa de ser como tu preferes! Agora, como os velhos às mulheres, appenas tua lingua fode, em vão! Votavas em partido ou candidato da tua preferencia, tua cor? Ja todo deputado ou senador que excolhes mais te rouba que outro ratto! Querias tu lamber, Glauco, o pé chato que tenho? Não permitto! Que suppor terás, só na punheta, que senhor teu sou, que ‘inda vigora algum contracto!


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CACOEPICA CUPIDEZ [6589]

Percebes, Glauco, como cada vez mais usam o cabal “duplipensar”? Appenas na politica a vulgar mentira teve tal desfaçatez! Agora, pelas redes, um “talvez” não mais “sim” quer dizer, mas dá logar ao “não”! No controverso linguajar, quem come, dá; quem deu, chupar ja fez! Hem, Glauco? Quem familia allega ter, se casa com o filho, que é marido da propria filha! A mãe desse bandido “pastora” se diz, “pura”, ao bel prazer! Assim, tambem terei o meu poder de ser contradictorio! Ja decido ser Christo, mas trepar vou, e libido terei, com Magdaleno, ou... Lucifêr!

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MEA MAXIMA CULPA [6590]

Hem, Glauco? Não fallei? Vigora, agora, a lei da “mea culpa”! Assim se diz, tambem, duma “autocritica”! Feliz daquelle que seus erros não deplora! Eu tenho os meus, tambem! Minha senhora razão teve em punir-me com seus vis castigos, os mais sadicos que quiz usar, pois mui rebelde fui, outrora! Mas ella foi cruel! Me fez, na frente dum publico offegante de tesão, dizer que sou seu bicho, sou seu cão, e tive que lamber pés dessa gente! Você se retractou, Glauco? Se sente culpado por seus actos, tambem? Não? Entendo... Foi culpado sempre! Então excusa se excusar, naturalmente!


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IF I WERE A SWINDLER [6591]

Si eu fosse jogador, perdia a apposta. Si fosse um eleitor, ficava puto. Si fosse eu o politico, corrupto não sendo, largaria aquella bosta. Si fosse o capitão, como resposta riria dos que estão, milhões, de lucto. Si fosse massagista, do meu bruto jeitão diria a velha que não gosta. Si fosse eu o rockeiro, tocaria canções bem aggressivas, um punhado daquellas que escutei, do meu aggrado. O publico, ou curtiu, ou pega a via. Si fosse menestrel, eu perderia, aos poucos, a visão e, revoltado, a braza puxaria pro meu lado, fazendo-me de victima que expia.

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POSTHUMAS POSTURAS [6592]

Tornei-me confessor, Glauco, mas não sou padre. Dum doente terminal escuto o que quizer dizer, de mal, de bem, aos familiares, do caixão. Aquillo difficil a todos o susto

que ninguem quer ouvir, tão de encarar, no funeral digo, mesmo que geral possa ser, de supetão!

Parentes não lerão a confissão dum morto que revele ser veado, ser corno, ter roubado, ter mactado... Mas para mim é tudo obrigação! Fui pago para aquillo ler, Glaucão! Precisa ver a cara dum saphado que foge do velorio, ja accusado de em tudo da mulher metter a mão!

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SEM AR NO AR [6593]

Certeza tenho, Glauco! Senti cheiro de merda! Cagou elle no debatte e logo desmaiou! De chocolate borrou-se e emporcalhou o seu trazeiro! Eu acho um tal debatte roptineiro, mas elle sente medo de que tracte alguem de provocal-o! Um xeque-macte seria seu vexame derradeiro! Temendo o cara-a-cara, logo tão o celebre programma foi ao ar, elle empallidesceu, quiz recuar, ouvindo que gritavam “É cagão!” Sentada ao lado, vi que elle ja não podia aguentar mais! Do meu logar sahi, para não ter que respirar aquillo, quando o gajo veiu ao chão!

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SERMÃO DO PERDÃO [6594]

A camera, que estava ja ligada, gravou quando o pastor exbofeteia a propria mulher, antes que, por meia horinha, aos crentes falle e persuada. Em outro video, o mesmo gajo, nada notando que gravavam, nem refreia um peido barulhento, que empesteia a salla ao seu sermão appropriada. Depois da bofetada, appós seu tão fedido peido, o riso do pastor invade toda a tela, faz suppor que sempre traz Jesus no coração. Ouvi, Glauco, o pastor dizer: “Irmão, entendo que por dentro sintas dor, entendo que te irrites, mas, si for possivel, não te exquesças do perdão!”

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CHORO E RISO [6595]

Catholicos, Glaucão, não teem tamanha paixão por Satanaz como a que teem os crentes evangelicos! Ninguem na vida delles tal carinho ganha! Só fallam de Satan! A gente extranha, até, tal obsessão! Será que vem o Demo, toda noite, fungar bem na cara dos coitados? Quanta manha! Ouvi, la na favella, a mãe daquella putinha conhescida, que chorava por ter Satan da filha feito escrava! A puta ja mostrou sua sequela! Hem, Glauco? Sabe como se revela a face de Satan? No riso! Brava em vez de ficar, esta só destrava a cara, a rir à bessa! A vida é bella!

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SEDENTO DERRAMAMENTO [6596]

Cahiu como uma bomba a nota dura do consul da Romenia, que advisou accerca do vampiro! Glauco, dou eu pouca relevancia a tal figura! Sahiu da Transylvania ja, à procura de solo mais propicio! Onde é que achou paiz para morar? Aqui seu show terá repercussão, o consul jura! Glaucão, será que Dracula consegue viver neste Brazil, tão viralatta? Duvido! Dos politicos a natta colloca no chinello o tal do jegue! É muita concorrencia, Glauco! Pegue o caso “Covidão”! Ninguem mais macta egual nesta nação! Não ha quem batta tamanho vampirismo! Ou ha quem negue?


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PHENOMENO FREQUENTE [6597]

Tiveste, Glauco, um desses “dejavus” que voltam varias vezes? Me refiro a varias impressões eguaes, um tiro certeiro que nos pega, sempre, nus! Estou sempre pellado: ja sabão no corpo todo! Nem com agua, quando sinto o ardendo fortemente, elle

me puz o tiro cu! Confiro: me induz!

Relembro, de relance, ter levado aquelle mesmo tiro dum ladrão que entrou na minha casa! Sim, Glaucão! E sempre estou no banho, ja pellado! Que dizes, Glauco? Julgas que me evado dalguma má lembrança? Tens razão! Jamais eu satisfiz esse tesão! É forte esse desejo meu, frustrado!

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PLATONISMO SEPULTADO [6598]

Você, Glaucão, que sonhos interpreta, me diga de que forma analysar iria a tal visão que, tumular, eu tive em pesadello! Diga, asceta! Exacto! Si não tiro o cu da recta, a rolla do cadaver penetrar podia até bem fundo! Por azar, eu nunca que desperto! Isso me inquieta! Comtudo, o mais extranho foi que o tal defuncto um eskeleto ja virara! Mas tinha, Glauco, um osso como vara! Um penis, sim, brancão, descommunal! Então foi isso, Glauco? Que legal! Assim fico tranquillo! Quem sonhara, um dia, de caveira ver a cara daquelle velho objecto sexual!


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ORACULO DOS CREDULOS [6599]

Sim, Você Você Você

Glauco! Hoje Tiresias é você! conhesce tudo por detraz! de ser gentil questão não faz! qualquer phenomeno prevê!

Pensei aqui commigo: tem quem dê maior respaldo ou cancha a Satanaz? Alguem melhor percebe intenções más na mente das pessoas? Você lê! Cegueira não impede, no seu caso, aquella tão clarissima leitura! Por isso lhe pergunto: eu à procura estou duma mulher! E então? Me caso? Caralho! Tem certeza? Meu attrazo só tiro com um homem, Glauco? Jura? Eu sempre suspeitei, a esta altura, que estive protelando! Me dephaso!

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ORACULO DO SECULO [6600]

Aquella tão lethal grippe hespanhola, Glaucão, foi uma praga secular? Notaste que ella veiu, por azar, tambem quando uma decada ja rolla? No caso, duas decadas! Eschola ja fez a theoria que vem dar tal prazo para a nova a se expalhar depois dessa covidica marola! Hem, Glauco? Que tu pensas? Outra dessas virá passado um seculo, somente? É mesmo? Outra viria de repente? Caralho! Uma vaccina, assim, às pressas? Mais outra? Ainda mais? Ah, não me peças que creia assim num surto tão frequente! Não basta a depressão que a gente sente ao vermos descumpridas as promessas?


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CHRISTOPHOBIA [6601]

Você repelle Christo, Glaucão? Eu não sinto por Jesus nem adversão, nem sympathia, amor, nem devoção. Lhe sou indifferente, me entendeu? Não quero sustentar que seja atheu, mas minha fé não passa pela acção de quem tenha de Deus procuração, ou seja, dum humano phariseu. Ninguem eu auctorizo que, em seu nome, affirme ser de Christo um portavoz, siquer alguem que diga ser, por nós, eleito p’ra dar pão a quem tem fome! Appenas repudio quem se tome por seu representante, seu atroz arauto apocalyptico! De algoz, ja basta quem o bolso nos consome!

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DE NOVO, AS POMBAS [6602]

Voando vae a pomba, appavorada. Mais uma, duas, voam. Todo o bando levanta voo. O panico vem quando, correndo, o bassê chega na calçada. Mas ellas são malandras. Uma cada de volta vem, depois que esse nefando cachorro baixotinho foi fuçando em tudo, sem deixar excappar nada. Assim sempre rollou. Marrenta, a pomba de longe ja advistou o bassezinho e vae fazendo graça no caminho que o cão percorrerá. Delle ella zomba. Um dia, vae voar e rir, mas tromba no muro. No chão tomba. Rapidinho, o cão, que é caçador, seu excarninho revide então perpetra. A rede bomba.


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VACCINA DA CHINA [6603]

Chinezes são damnados! Põem à venda quaesquer mercadorias, bem barato cobrando... Quando chegam, eu constato que, juncto, veiu um brinde na encommenda! Achava que seria appenas lenda, mas eis que está na caixa aquelle exacto saquinho de sementes que, de facto, foi dicto que incluiam! Eu que entenda! Pensei em semeal-as, Glaucão, mas fallaram que teriam um veneno terrivel, que seriam um acceno satanico! Somente intenções más! Emfim, não as plantei... Foi, aliaz, melhor assim, pois fallam dum pequeno bichinho que se expalha... Não condemno ninguem, mas bem conhesço Satanaz!

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INCENDIARIOS COMMENTARIOS [6604]

Queimada na Amazonia? Ah, Glaucão, não confundas! Um incendio florestal não pode ser chamado, com venal proposito, de “crime”, meu irmão! Não, mano! Uma queimada à plantação convem como recurso na rural cultura! Mas na selva não ha tal roptina! Alli factores outros são! Só podem ser maldosas essas notas que correm pelas redes sociaes! Accusam um governo que jamais da selva desleixou! Então não notas? Ah, Glauco! Só porque lamber as botas eu quero dos milicos, uns bossaes disseram que sou “gado”! Os animaes merescem mais respeito! Sem chacotas!

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EJACULAÇÃO OCULAR [6605]

Filmei no cellular, Glauco! Um bandido fugiu appós roubar uma senhora edosa, coitadinha! Ah, sem demora, pegaram-no! Foi muito divertido! Um guarda civil (bruto, não duvido) tractou de segural-o! O gajo chora, dizendo-se innocente, mas agora é tarde! Ja ficou, no chão, rendido! Ahi foi que curti! Lhe poz na cara o guarda a suja bota! Gravei tudo! Aquelle pezão largo, botinudo, pisando firme! Eu tenho nisso tara! Não, Glauco! Dum bandido que se azara não fico no logar! Eu só me illudo com essa phantasia! De velludo é minha pelle! Não, nem se compara!

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ORACULO DO VERNACULO [6606] Sabemos, ó Propheta, que “caralho” é termo bem antigo, que deriva do classico “characulus”, exquiva origem dum vocabulo que expalho... Propheta, aqui pergunto: si não falho na analyse, esse termo, de offensiva e chula tradição, terá bem viva funcção, ‘inda quebrar vae muito galho! Prevê para “caralho” um bom futuro? Cahir vae no desuso, ou vae, um dia, virar elegantissima, até pia palavra de carinho, sem tom duro? Será, Propheta? Ai, gente! Eu mal seguro o riso! Na politica, a tithia eleita vae “caralha” ter mania de impor como synonymo de “furo”?


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ORACULO DO CENACULO [6607]

Soubemos, ó Poeta, que te oppões às drasticas dietas restrictivas! Soubemos que, por nada, tu te privas daquillo que dá fome nos gluttões! Por isso, perguntamos: os causões, nutrologos, doutores, que convivas não são dos que na bocca teem salivas gulosas, vencerão com seus sermões? Um dia comeremos só verdura sem gosto, sem tempero, emfim, sem graça? Ainda a quituteira que nos faça bollinhos, empadões, pasteis... perdura? Sim? Viva! Ah, será a festa da fartura! Ninguem sem gostosuras taes mais passa! Poeta, aggradescemos-te! Que massa preferes? Gnocchi? Pizza? Ah, que loucura!

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AGOURO NO THESOURO [6608]

Poeta, adivinhaste! Elle foi la, de facto discursou sobre essa tal moeda alternativa do real! Mas sabe-se la quanto valerá! Na nota de mil mangos, Glaucão, ha effigie do famoso general que fora, na gestão dictatorial, carrasco orgulhosissimo! Será? Ninguem ainda viu a nova nota! Disseram que ella paga, não demora, appenas do operario simples hora num dia de trabalho! Parca quota! Poeta, que prevês? Ja se denota tal hyperinflação? A gente chora sentada, ja sabendo que vigora, em breve e ja de volta, a lei da bota!

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PROPRIO RABO [6609]

De mascara, qualquer elevador paresce ‘inda mais cheio, Glauco! Nem siquer imaginei que iria, sem luz, preso num ficar! Hem? Que pavor! Nós eramos em quattro... De suppor que iria demorar a força, alguem ja quasi desmaiou! Hem, Glaucão? Hem? Faltava só sentirmos um fedor! De peido? Diarrhéa? Ah, mas fedia tão forte, que rogavamos ao sancto coragem e... energia! Ah, nem sei quanto tempão alli ficamos... Todo um dia? Bem, foram duas horas! Parescia, comtudo, um longo seculo, de tanto fedor que trescalava! Meu expanto final foi que caguei eu! Quem diria?

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EXCASSEZ DE VIVERES [6610]

Na falta de comida, Glauco, um dado ja pude levantar, e prophecia segura, até, será! Quem comeria tablettes de cocô ja processado? Teremos que comer! Do meu aggrado jamais será! Que grossa porcaria! Fiquei eu ja a pensar: de quem seria a merda a ser comida? De soldado? De rico? De estudante? De quem, porra? Por outro lado, Glauco, pode estar alguem comendo minha merda, a dar meus peidos por tabella! Ah, meu, que zorra! Ah, foda-se! De nojo o gajo morra! Porem, vão disfarsar o paladar com bons sabores! Hem? Que tal mascar taes gommas? Ha pamonha que concorra?


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CADA MINUTO [6611]

Não achas, Glauco, curta por demais a vida dum cachorro? Como filho eu tracto o meu e vejo o vital brilho, fugaz, no seu olhar, lhe escuto os ais! Paresce que dizer me quer: “Tu vaes depois, muito depois!” Me maravilho com isso, mas tambem, Glaucão, me pilho chorando... Não merescem viver mais? Os deuses com bons olhos os cães vejam! Nós somos egoistas, tens razão! É curta a vida delles porque são, sim, muito soffredores! Paz almejam! Queremos que comnosco sempre estejam, porem nos exquescemos de que vão primeiro, mas, primeiro, só nos dão amor! Cada minuto nos festejam!

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NIPPONICO HEROE COMICO [6612]

Accabo de saber, Glaucão, que exsiste desenho no Japão em que um menino virou superheroe por fescennino detalhe, meio comico, mas triste... Seu superpoder, Glauco, sim, consiste em voo levantar, mas eu previno que sua propulsão... Eu, si elimino meus gazes, ao fedor ninguem resiste! Só que elle peida... fede... porem voa! Hem, Glauco? Ja pensou? Você, que vive peidando, voaria! Que se exquive dos moveis, de exbarrar noutra pessoa! Ainda bem que está sozinho! Soa até gozado: “Sabe, gente? Estive com elle, que peidou! Por Baccho! Tive que delle desviar! Voava à toa!”


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NUPCIAS DE LAMA [6613]

Ouviu fallar, Glaucão, desse nojento exemplo do cinema alternativo? Um gajo porco come merda ao vivo! E merda duma porca, cem por cento! Uma audiodescripção, Glauco, nem tento fazer, mas de contar-lhe não me privo! Casar-se quer o gajo, num festivo chiqueiro, com a porca! Que jumento! Na lama se exparrama ja com ella! Com ella tem leitões, em filharada! A porca, que tambem appaixonada está, bem ciumenta se revela! No fim, ha mortandade! Mortadella não viram os leitões, mas morre cada nas mãos do seu papae! Desesperada, a mãe morre! Elle enforca-se na tela!

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VADE RETRO, ESPECTRO! [6614]

Glaucão, notei que appenas interessa a poucos esse pappo, ja bem chato, de “polarização”! O que eu constato é gente indifferente, sim, à bessa! Ninguem quer nem saber quem é que nessa tem foro, ou tem naquella! Si, de facto, de esquerda, de direita, alguem é, ratto não sendo, ja lucramos: é promessa... Allegam que “exemptão” é quem não liga nem para taes extremos, nem siquer lhes presta attenção! Um dos dois só quer é gente ver dizendo-se inimiga! Mais temos que fazer! Quem queira, siga taes lideres! Se salve quem puder! Importa ter um garfo, uma colher, que arroz com o pheijão nunca deu briga!


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AGGRESSIVAS NARRATIVAS [6615]

Imagens de satellite não são “versões contradictorias”, Glauco, nada! Mas elles ficam nessa palhaçada, dizendo que “Queimada não ha, não!” Satellites não mentem! Né, Glaucão? Insiste esse governo na saphada fricção de “narrativas”, onde cada extremo quer na marra ter razão! Razão não se disputa assim, na marra! Razão requer exame consciente, à luz de dados serios! Essa gente paresce com creança que se excarra! Cuspindo cuspindo cuspido, dos dois

um vae daqui; vae, na algazarra, outro dalli! Ninguem se sente mas, na cara, a baba quente excorre e troca de boccarra!

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WISH I COULD HIDEAWAY [6616]

Fiquei eu sem saber onde enfiar a cara, Glauco! Sabe? Eu quiz sumir dalli, quiz me esconder! Ha de convir você que é mesmo foda tal logar! Alli todos commentam a vulgar postura dum rockeiro que, fakir não sendo, não aguenta mais fingir que está muito contente por tocar! Mandei tomar no cu! Passei vergonha na frente das senhoras, do prefeito! Mas, para mim, até que foi bem feito! Quem manda com licenças ser quem sonha? Cantei canções que fallam duma bronha gostosa, aos palavrões recorri, peito aberto! Nessa cama não me deito mais, Glauco! Fui babaca! Fui pamonha!


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PROUD MARY [6617]

Turistica, Glaucão, uma barcaça daquelle typo achei, mas um perigo tremendo representa, meu amigo! Si alguem cahir na roda... Que desgraça! Não ha rockão bonito que me faça tirar da cuca aquillo! Não consigo! O velho quiz brincar! Foi seu castigo! Damnou-se! Na cabeça a scena passa! As pás daquella roda, Glauco, são mortaes para quem caia n’agua, alli! O velho quiz fazer o seu xixi... Se desequilibrou, o babacão! Rapaz, eu nem lhe conto! Um tubarão não causa tal estrago! Sangue vi por tudo que era lado! Vou aqui parar, pois seus leitores chiar vão!

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BORN ON THE BAYOU [6618]

Nasci no Pantanal, Glaucão! Aquillo está pegando fogo! Uma tragedia! Agora é tarde, irmão! Ninguem impede a total devastação! Foi um vacillo! É culpa do governo, estou tranquillo dizendo o que fará com que se azede a imagem que terei! A classe media nem sabe si é possivel impedil-o! Mas era, até, possivel ser prevista, talvez mesmo -- Quem sabe? -- prevenida aquella situação, Glaucão! Duvida? Ganancia foi! Furor capitalista! A flora recupera-se, despista, depois, mas as oncinhas, cuja vida se perde, essas oncinhas, quem decida salval-as não ha! Nada mais se advista!


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IT CAME OUT OF THE SKY [6619]

Quem ia adivinhar? Talvez você, que é typo um guru, passa por propheta, pudesse prever tudo o que ja affecta a vida de quem, nisso, sorte dê! O gajo não passava dum michê, topava algum programma, até da recta tirava, às vezes, quando certa setta, aquella do Cupido, fez nenê! Ahi, cahiu do céu! Ninguem previa herança assim tão gorda! De repente, virou a cara para toda a gente! Deixou-lhe muita grana a velha thia! Agora, Glauco, vive na folia, torrando tudo! O que você presente! [pressente] Verdade? Empobrescer vae, nem que tente voltar a ser michê? Que prophecia!

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I PUT A SPELL ON YOU [6620]

Não, Glauco, não me entenda mal! Foi isso um leve encantamento, simplesmente, jamais, como commenta aquella gente maldosa, alguma praga, algum feitiço! Practico bruxaria, sim! Serviço prestei, ja, para alguem bem influente, mas, quando uma paixão a gente sente, precisa appellar! Nunca sou ommisso! Por ella appaixonei-me, Glauco! O caso é simples: sou tão feio que, si não puder enfeitiçal-a, Ricardão não falta! Ficarei no meu attrazo! Você, que com as lendas do Parnaso se basta, satisfaz-se com a mão! Contenta-se, depois duma micção, com essa fedentina, alli no vaso!


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I LOVE THE DEAD [6621]

Preciso confessar, Poeta: amei os mortos loucamente, como o Cooper cantava! Fui do typo que até chupa as partes dum cadaver! Confessei! Glaucão, você me entende, sendo gay! Si mesmo um symbolista nós, de lupa em punho, percebemos que se occupa dos mortos com desejo, que direi? Direi que tambem posso desejar! Direi que vejo, sim, necrophilia, até num corpo ja na cova fria, a carne ja a azular ao nosso olhar! Direi que essa libido tumular é, Glauco, mais commum do que seria a sua fetichista phantasia por pés! E os dum defuncto? Os quer cheirar!

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TUTORIAL OFFICIAL [6622]

Não, Glauco, não admitto ser “tutor”! Eu sou, do meu cachorro, mesmo o dono! “Tutor” é o cu da mãe! Me posiciono é contra a “correcção” sempre em vigor! Que sanha que essa gente tem de impor palavras mais “gentis”, que eu não abbono! Que fique claro: nunca perco o somno por isso, só questão faço de expor! Glaucão, meu cachorrinho me domina! Eu amo o meu fofissimo mascotte! Mas dono sou eu delle! Quem adopte que seja, tambem, dono, ora! Magina! Você não tem, tambem, uma menina bassê? Não? Foi o Chicho o seu filhote saudoso? Não ha dono que um enxote! Não é? Quem um cão teve é quem opina!


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FILHO DEGENERADO [6623]

Meu pae era podolatra, Glaucão! Casou, sim, e me teve...De bom filho exemplo dei... Porem, me maravilho ouvindo o papae sobre seu tesão! Tesão por pés de machos! Você não se expanta que isso occorra? Aqui me pilho pensando: Não, a tanto não me humilho! Lamber o pé dum homem? Não, irmão! Papae, que demorou para contar, contou que só lambia a sola chata do filho da vizinha, mas constata que em outros desejou o calcanhar! E doutros o dedão quiz chupitar! Ficou ja salivando, Glauco? Batta punheta! Pense em minha larga patta! De compta até farei que sou seu par!

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PHEIJOADA REVISITADA [6624]

Você, que ja morou la, não por uma pheijoada, Glauco? bem sobre tal receita, que nem é, mas pratto chique é

se pella Opina tão fina na favella?

Chegou a frequentar, la na Portella, aquella da famosa Vicentina? Paulinho da Viola acha divina a coisa, para a nossa gula appella! Entendo... No pagode do Vavá você jamais esteve... Mas terá passado por algum onde servida seria aquella celebre comida! Passou? Tive certeza! Quem duvida que esteve olhando os pés da divertida gallera de malandros, dos quaes ja sonhou com os chinellos? Hem, xará?

GLAUCO MATTOSO


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A VOLTA DA MEXERIQUEIRA [6625]

Nas redes sociaes está a Candinha agora fofocando, Glauco! O certo é que ella ja da bota do Roberto não falla, porem segue bem damninha! Pois é, Glauco! Você nem adivinha de quem a fofoqueira faz aberto retracto negativo! Chegou perto! Mais perto! Vae chegando depressinha! Sim, Glauco! De você! Cada maldade! Expalha que está cego por castigo, que ja não lambe pés nem dum amigo, que mais ninguem seu verbo persuade! Fallou que nem é digno de que Sade lhe pise no focinho! Mal consigo lembrar de tudo! O que? Você commigo concorda? Até com ella? Retro vade!

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EUPHORICO ALLEGORICO [6626]

Fiz uma allegoria da “Alegria” só para você, Glauco! Está a contento? “Andando eu vou! Caminho contra o vento sem meia, só de tennis, noite e dia!” “Conforme a direcção da expalho o meu cheirinho que batte na narina dum ceguinho menestrel, que

ventania, chulepento, attento me assedia!”

“O cego, que é podolatra, advalia meu acto como orgia tropical legitima, não só no carnaval, mas, quasi que em dezembro, uma folia!” “Por entre esses ceguinhos, que dum guia precisam, eu sou lider!” Hem? Que tal? Gostou desta parodia sensual, Glaucão? E então? Meus tennis compraria?


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PIADA MORTAL [6627]

“Piada mortal”, Glauco, para mim, um caso de emblematico sadismo foi sempre! Me punheto quando scismo com males de qualquer dia ruim! A phrase do Coringa diz assim: “Dum homem, por mais são, o conformismo accaba si cahir elle no abysmo do azar, num dia, appenas!” Mal sem fim! O gajo se transforma num cruel rebelde, vingativo, criminoso! Tambem eu fui assim, Glauco Mattoso! Tambem ja destillei todo o meu fel! Tambem eu do Coringa fiz papel! Faltou só revidar com o meu gozo na bocca dum ceguinho desdictoso! Mas isso se resolve, menestrel!

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BOOTLEG [6628]

Glaucão, minha victrola quando ligo é para ouvir piratas elepês, canções que não ouviu nenhum freguez, na forma digital, de cada artigo! Perigo não ha nisso, mas perigo exsiste num artigo que o burguez consome com frequencia: desta vez eu cito o cellular pirata, amigo! Glaucão, ja lhe contaram que explosão provoca aquelle typo de caixinha? Ja vi nego chegar ao fim da linha depois que isso encostou no cabeção! Nem queira saber, cara! A scena é tão terrivel que você nem adivinha! O cerebro se expalha! Bem, à minha victrola vou voltar! Eta som “bão”!

GLAUCO MATTOSO


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HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN? [6629]

Hem, Glauco? O tempo secco não está incommodo demais? Não chove faz semanas! Previsões seguem as más de sempre! Ninguem boas novas dá! Os meteorologistas dão é má noticia! Respiramos certo gaz bem toxico, que virus novos traz! Emfim, vae peorar, você verá! Você, que tem rhinite, não se sente mal nessa longa falta de humidade? Melhor é nem andar pela cidade à tarde, nesse tempo, que é tão quente! É mesmo! Você fica ahi, contente, na sua quarentena! Ninguem ha de negar que se isolou! Não, meu confrade! Prefiro o sol, ainda que inclemente!

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WHO’LL STOP THE RAIN [6630]

Mas pode deixar, Glauco! Quando for momento de chover, ahi ninguem irá se conformar com o que vem prevendo quem entende do sector! Enchentes nos farão, é de suppor, sentir muita saudade desta bem sequinha primavera! Alguem que tem problemas de rhinite vae ter dor! Você tem tal problema? Bicho pega si chove e si não chove? Que infeliz nariz o seu! Alem do olho, o nariz lhe causa afflicção? Nunca que sossega? Não quero de qualquer pessoa cega estar no logar, porra! Nunca quiz! Mas muita gente soffre, nos Brazis affora! A chuva chega, meu collega!

GLAUCO MATTOSO


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PROSTATICO [6631]

Não tenho mais tesão penil! Agora prostatico tesão, appenas, tenho, Glaucão! Você tambem tem desempenho abbaixo do normal na sua tora? Mas logo brochará! Ja nem mais cora a gente quando toca nesse engenho carnal que nos vexou! Eu só me venho, agora, mentalmente, em feliz hora! Me vejo, de repente, excitadão, lembrando duma gatta que comi e, em vez de me sahir algum xixi, sae porra muito liquida, Glaucão! Você, que não brochou assim, em vão rezar a Zeus irá! Direi aqui somente que estou vendo bem e vi as cores que você perdeu, irmão!

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GLORY HOLE [6632]

Estás lembrado, Glauco? Certamente que lembras! Toda sauna gay a tinha, aquella gostosissima sallinha na qual tanto tesão a gente sente! O cara adjoelhava bem na frente daquella circular aberturinha aonde ia parar, em recta linha, a rolla dum extranho sorridente! Não vias delle rosto, corpo, nada! Estavas, mesmo tendo uma visão qualquer, residual, ja cego! Não sabias quem chupavas, camarada! Si feio fosse, bocca desdentada, nariz de bruxa velha, ahi, Glaucão, chupavas loucamente! Que tesão! Masocas todos somos, um foi cada!

GLAUCO MATTOSO


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TOMBSTONE SHADOW [6633]

A sombra duma lapide tem seu sinistro symbolismo! Tu não pensas assim? Si nós tivermos certas crenças, até de dia a gente treme, meu! De noite, então, até quem seja atheu evita cemeterios! Caso venças teus medos, andarias nas extensas ladeiras do Arassá? Não andei eu! Mas ja fiquei sabendo dum collega que entrou alli, por gothica vontade de estar num ambiente que degrade e inquiete quem, à noite, não sossega! Qualquer pessoa, alli, seria cega! O gajo ouviu os mortos! Sim! Quem brade, nas trevas, por soccorro, ouve de Sade o riso condizente! És tu quem nega?

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GLAUCO MATTOSO

SINISTER PURPOSE [6634]

Estou desconfiado, Glauco, das segundas intenções do meu collega de emprego, que, de subito, me pega por traz! E extranhos gestos elle faz! Não quero só fallar de intenções más! Seus actos ja demonstram que se entrega! A firma, minha fosse, não emprega um gajo tão suspeito, um mau rapaz! Patrão não sou eu delle! Caso fosse, ah, ia ver commigo! Um bello dia, revido! Vae ver como se assedia alguem que está fazendo só cu doce! Glaucão, que cê faria? Ah, dava coice no gajo? Revidasse elle, faria o que, você? Propunha alguma orgia podolatra? Ah, a decencia, assim, ja foi-se!


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RUN THROUGH THE JUNGLE [6635]

Aquelle pesadello recorrente que tenho, de que estou sempre pellado, perdido, num local bem affastado de casa, tive nesta noite, gente! Mas, desta vez, estava totalmente nu, vejam, na Amazonia! A Zeus eu brado! Daquelle mattagal si não me evado, verei annoitescer! Sim, de repente! Ahi, meus amiguinhos, é batata! Aranhas apparescem! Mas aranha daquellas communs? Não! Uma me arranha com seus pellos de espinhos, com a patta! Fugir tento dalli! Corro na matta, tropeço... quando caio, ella me appanha de jeito! Faço figa, faço manha, mas ella, sem dó, picca-me e me macta!

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RUDE AWAKENING [6636]

Mas pensam que morri? Nada! Accordei achando que me livro dum horrendo e escuro pesadello, mas entendo, aos poucos, o que nunca superei! Embora annoitescesse e, claro, sei que noites são escuras, estou vendo tudinho nesse sonho! Vou correndo no matto, pelladão! Me sinto um gay! Sonhando, vi de dia a aranha preta, a moita verde, verdes arvoredos, o céu azul! À parte esses meus medos dos bichos, gozo, mesmo sem punheta! As cores são eroticas! Prometta você que não rirá, pois taes enredos se exvaem! São appenas arremedos! Estou cego! Não é sonho mais! Eta!

GLAUCO MATTOSO


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SOMEDAY NEVER COMES [6637]

Pequeno eu era ainda, mas commigo ja vinha mattutando o que seria ficar cego, perder a luz do dia, andar às tontas... Era meu perigo! Meu pae, que se dizia meu amigo, fallava que entender bem eu iria, um dia, meu azar, e que meu guia eu tinha, algum espirito! O que digo? Direi que esse meu dia de entender jamais chegou! Jamais eu entendi aquella tal “missão”! Quem bem vê, ri! Quem cego fica, chora! Que dizer? Direi que esse meu guia tem poder, sim, pode exclarescer o que eu aqui fazer vim, mas é cada qual por si, a vida attravessando, um desprazer...

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SWEET HITCH-HIKER [6638]

Ai, Glauco! Não, você nem accredita no que eu vou lhe contar! Caminhoneiro nenhum me recusou carona! Beiro estradas ja faz tempo! Sou bonita! Sou sexy! Ninguem diz que parasita sou desses motoristas! Dou, primeiro, signal com meu sorriso, que é brejeiro e muito seductor! Isso os excita! Ahi, ja recebida de bom grado, gostosa chupetinha nelles faço! Glaucão, cada cacete ensebadaço! Você ja ficaria hallucinado! Então, quando percebem que, do lado de ca, tenho o maior pau do pedaço, os gajos enlouquescem! Um abbraço! Cheguei, fodi, parti! Muito obrigado!

GLAUCO MATTOSO


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LOOKING FOR A REASON [6639]

Glaucão, por que razão sou desejada assim por motoristas? Hem, Glaucão? Será que quem dirige caminhão prefere travestis? Gente engraçada! Não seja, não, por isso, nem por nada! De quem me dá carona a rolla não recuso nunca! Chupo com tesão, ainda que ensebada, que exporrada! Mas acho mesmo, Glauco, que elles curtem a minha rolla, sempre bem mais grossa, à delles comparada! Caso possa medir, alguem diria até que encurtem! Você duvida, Glauco, que elles malucos de tesão? Pois surtam! Preferem ser comidos! Mas, sem não digo que a chupar-me elles

surtem, Nossa! troça, se furtem!


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GLAUCO MATTOSO

DON’T LOOK NOW [6640]

Não, Glauco! Si não fosse quem de cyma nos olha, que seria de nós, mano? Por isso, quando fallam, não me enganno: Quem tenha alguma fé não desanima! Quem é que estabelesce qual o clima que, em breve, irá punir o ser humano? Quem é que determina qual o damno que iremos soffrer? Como é que se estima? Ninguem pode prever! Talvez você, que passa por propheta, nos dirá, da proxima desgraça que virá, que effeito causaria mais auê! Não quero opinião dar! Quem quer, dê! Mas acho que deviamos da má conducta arrependermo-nos! Deus dá a chance, mas nos cobra, qual michê!


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FORTUNATE SON [6641]

Não, Glauco! Não fui nunca aquelle filho de rico, de politico ou milico, daquelles de patente! Puto fico si dizem que da sorte tenho o brilho! Qual sorte? Cofres publicos não pilho! Productos fajutados não fabrico! A cargos importantes não me indico por força de padrinho peralvilho! Não sou como um collega, que escriptor virou por protegido ser de quem a todo governante diz amen e chama todos elles de “doutor”! Eu sou como você, maldicto, Glauco! destacco: não sou attura tal azar e

que é trovador Um poncto só, porem, cego, que ninguem tanta dor!

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GLAUCO MATTOSO

DOWN ON THE CORNER [6642]

Mandei À puta Onde é Mandei

tomar no cu, Glaucão! Magina! que pariu mandei o cara! que ja se viu tamanha tara? ver si eu estou alli na exquina!

O cara achou que, sendo fescennina a lyra que componho, ligo para paqueras como as delle, que me azara a vida toda! A gente não combina! Não fico, nas exquinas, enturmado com essa gallerinha sem vergonha, fumando um cigarrinho de maconha, assaltos planejando! Tá ligado? Você talvez ficasse, sim, do lado daquelle marginal! Cê que se exponha! Terá sorte se rolla alguma bronha depois de ter chupado ou ser pisado!


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BAD MOON RISING [6643]

Verdade, Glauco? Horror maior prevês assim que, sexta-feira, cheia a lua ficar? Quem saia à noite, então, na rua perigo corre mesmo, desta vez? Que coisas occorrer podem no mez de agosto? Mesma a lenda continua? Ou achas que Satan melhor actua agora que está juncto do Marquez? Hem? Como descobriste que Satan de Sade virou socio? Ja não era normal tal sociedade, tal paquera? Um doutro ja não era, mesmo, fan? Ah, fica agora clara a tal malsan e solida alliança! A actual era propicia para a lua se supera por causa das milicias, desse clan!

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GREEN RIVER [6644]

Me lembro, onde morei, do rio, cuja cor verde se devia à densa matta das margens. Hoje tudo, se constata, mudou: a cor das aguas ficou suja! É, Glauco, natural que o povo fuja dalli, pois ja da matta ninguem tracta e está a polluição, de longa data, fedendo em grau que à merda sobrepuja! Nem, Glauco, reconhesço o rio mais! Ficou a paizagem tão deprê que até paresce, em Sampa, o Tietê, por compta dos garimpos illegaes! Si fosse só garimpo! Si meus paes me enviam uma photo, ninguem crê que foi ja tal exgotto o que você viu verde, cor que não verá jamais!

GLAUCO MATTOSO


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FEELING BLUE [6645]

Creanças são alegres, normalmente, mas eu não era assim, Glauco! Sou triste de infancia! Achei até que não exsiste ninguem mais triste! É dó que se appresente? Cheguei a me orgulhar! Alguem que sente orgulho de ser triste tu ja viste? Às vezes, infeliz, ha quem despiste e tente disfarsar... Mas eu que tente! Tentei, para ser franco, mas papel ridiculo fiz, tanto que os demais moleques me zoaram e jamais voltei a me fingir de menestrel! Mas tu, que és mesmo bardo, sempre fel destillas? Não? Entendo os sexuaes motivos que te inspiram, pois os taes moleques ja curtiram teu annel!

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GLAUCO MATTOSO

EFFIGY [6646]

Será sufficiente exsecrar, em effigie, Glauco? Um simples meme basta? Chamar um dictador de pederasta em publico nos vinga? Força tem? Bastante é por alguem sentir desdem? Não creio, Glauco! Sou iconoclasta demais e meu proposito contrasta com outras suggestões que muitos deem! Você mesmo ja disse que uma torta na cara dum politico funcciona bem contra quem poderes ambiciona às custas, affinal, de gente morta! Eu sou mais radical! Só me comforta ver delles a caveira, mas na zona concreta, sem figura da persona num Judas, si, depois, ninguem se importa!


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TRAVELLING BAND [6647]

Problema, Glauco, nunca foi tocar em publico, me expor como rockeiro que encara gente pobre e de dinheiro, daqui, dalli, de, emfim, qualquer logar! Problema mesmo, ó vate, é viajar! Detesto tal perfil que, de “estradeiro”, percorre este paiz enorme inteiro! Peor é quando temos que voar! Você ja viajou num avião pequeno, um tecoteco, Glauco? Não? Nem queira! Sempre penso nesse tão incrivel accidente, annos la vão! Morreu o Buddy Holly, um meninão chamado Ritchie Valens... Não, Glaucão! Prefiro ser anonymo ou, então, cantar em casa mesmo uma canção!

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GLAUCO MATTOSO

UP AROUND THE BEND [6648]

Ninguem nunca previu aonde vae parar, si somos nomades na vida! Não acha, Glauco? Sempre que se lida com musica, a tocar a gente sae! Jamais ouvi conselhos do papae! Bem cedo viajei, e quem decida tocar pelo paiz tem bem comprida estrada pela frente! Isso é que attrae! Mas quando o vento, Glauco, curva faz naquelle extremo poncto do caminho, confesso que me vejo tão sozinho que sinto falta, ja, doutro rapaz! Carreira solo solidão nos traz, Glaucão! Quem vae comnosco beber vinho depois duma jornada? Até definho, sabendo que as estradas são tão más!


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LOOKING OUT MY BACK DOOR [6649]

Glaucão, sempre pensei que meu quintal seguro fosse e dei mais attenção àquella grande porta do saguão! Agora descobri que julguei mal! Glaucão, jamais será pelo portal da frente que invasores entrar vão! Entrar vão pelos fundos! Casarão do typo os seduz para a bacchanal! Orgia, sim, fizeram la commigo depois que me invadiram, sim, por traz! São sadicos! De coisas é capaz um delles que você nem pensa, amigo! Foderam-me, roubaram-me, e castigo foi, sim! Quem companhias queira más, descuide do quintal! Por Satanaz! Puniram-me, mas... Inda assim, me instigo!

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RAMBLE TAMBLE [6650]

Por trilhos, vae mais rapido quem quer chegar, com certo nivel de comforto, a algum logar! O corpo todo torto tem quem chegar num omnibus quizer! O trem desaccelera si tiver que dar uma parada, mas absorpto mantenho-me, pensando nalgum porto distante, num carinho de mulher... Não sendo de navio, um camarote tambem é comfortavel quando o trem nocturno preferimos, que ninguem um omnibus pediu que nos exgotte! Cahi ja, caro Glauco, nesse trote de estar a pé, de noite, qual refem dos bichos e bandidos! Ficou sem gazosa aquella tralha! Não, velhote!

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

PAGAN BABY [6651]

Você nasce christão, Glauco, ou se torna? Eu nunca me tornei, mas meus paes são christãos. Me considero, pois, pagão. Martello bem combina com bigorna! A van theologia nos suborna, mas della desisti! Tornei-me tão atheu, que me daria Sade a mão! Aqui, porem, o caldo sempre entorna! Christãos são os mais sadicos, meu caro! Ja basta a Inquisição, o manual completo de tortura! Ao sexual principio do sadismo é que o comparo! Si para a crueldade tanto faro os frades demonstraram, nesse mal teem fé! Terão, portanto, um infernal conceito do Senhor! Fui, Glauco, claro?

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GLAUCO MATTOSO

LODI [6652]

Glaucão, ja você esteve em LINS? Eu ja! Não foi nessa cidade que você suppõe, mas numa sigla que se lê “Logar Incerto e Não Sabido”... Tá? Eu tinha a minha banda, mas foi la que tudo se desfez! Numa deprê cahi, fiquei sem grana... Você vê as voltas que esse mundo doido dá! Roubei algum e, para me esconder, sumi do mappa até que se limpasse a barra! Só mostrei a minha face de novo ja sem nada que dever! Você tá na peor, Glauco! Um prazer nem tem de viajar! Si viajasse, talvez tivesse em LINS o desenlace que tive, mas ao menos pude ver...


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IT’S JUST A THOUGHT [6653]

Agora me passou pela cabeça, Glaucão, um pensamento deprimente. Você ja cogitou si toda a gente, por causa dum guru, ficasse espessa? Que espera, nesse caso, que accontesça? Pensei aqui commigo: de repente, o lider desses bostas diz que sente, de merda, fome! Caso o motte cresça... Em pouco, todo mundo que está attraz do Bosta Mor começa a comer bosta, até que disso o mundo inteiro gosta e a merda aos “tolos”, só, não lhes appraz! Ainda que isso appraza a Satanaz, prefiro ser um “tolo”, um qu’inda apposta no velho senso critico e ‘inda arrosta os bostas do Bostão... como cê faz!

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GLOOMY [6654]

Não sentes medo, Glauco? Tu te mettes a versos fazer sobre coisas tão maccabras, tão sinistras! Do caixão irão se levantar alguns pivetes! Pensaste nisso? Caso te punhetes pensando no pezão dum molecão, um dia attrahirás, de supetão, um delles, à procura de boquettes! Taes manos morrem cedo. Um morto à balla, ainda de menor, antes de estar nas partes decomposto, si teu lar invade, essa carniça ha que chupal-a! Terás coragem, vate? Elle te falla: “Tu queres, do dedão ao calcanhar, um pé fedido? Tracta de chupar! Tá sujo, pois directo vim da valla!”


SEMANTICA QUANTICA

WALK ON THE WATER [6655]

Nas aguas caminhar é para alguem que seja milagroso... Né, Poeta? No caso dum maldicto que é propheta, ainda mais si cego, soa bem! Mas acho que preferes é ser quem caminha sobre lodo! Nada veta que seja sobre merda! Tu da recta irás tirar? Ou ‘inda assim és zen? T’ahi! Fazer podias um poema tractando desse thema! Não é bella a minha suggestão? Anda, revela a tua vocação! Qual o problema? Não temas, Glauco! Um cego que não tema dirá que ja affundou numa procella de exgotto, sem do typo ser que appella ao sancto! Não é contra que és quem rema?

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GLAUCO MATTOSO

O HOMEM QUE RI [6656]

Hem, Glauco? Si de bicha alguem te xinga, depois outro te xinga de maricas, depois te enfia a turma algumas piccas, que fazes? És do typo que se vinga? Appellas para a fé? Para a mandinga? Num delles te transformas? Cruel ficas? Performas as taes scenas que, tão ricas de excarneo, são eguaes às do Coringa? Sim, elle e exemplo fizeram... bollaste?

ja passou por muitas frias dei daquillo que comtigo Mas responde: que castigo Quaes torturas, Glauco, crias?

Com todas essas sadicas concordas? No teu verso àquelles curradores? Ja Te vingas, sim! Entendo

manias dás abrigo me ligo! que tu rias!


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ATRO THEATRO [6657]

Hem, Glauco, ja pensou? Você seria artista performatico! Um ceguinho disposto a appresentar-se ao excarninho e sadico auditorio, que riria! Alem de lamentar-se, poderia ficar immovel, mudo! Ja adivinho aquillo que fariam, com carinho, num cego que se exponha à covardia! Covardes, propriamente, nem serão do publico taes typos, mas somente pessoas que, normaes, gozam de gente anomala, abnormal! Terão tesão! Eu mesmo gozaria, sim, Glaucão, dum cego tão passivo! De repente, dou tapas, murros, cuspo, o mijo quente lhe expirro... Que performance, essa, não?

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REPETECO DO TRECO [6658]

Eu era adolescente e dezesepte anninhos tinha. Ainda não veria de perto a tal battalha da Maria Antonia, que não fora de confetti. Mas tudo, de repente, se repete. Mackenzie, CCC, são -- Quem diria? -ainda actuaes. Má democracia redunda nisso, caso nos affecte. Aquelle que não fosse indifferente aos “ismos” da politica acharia reaças, progressistas, noite e dia, de novo confrontando unha com dente. Passado meio seculo, somente ingenuos affirmam que seria a tal conspiratoria theoria appenas illusão da nossa mente.

GLAUCO MATTOSO


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OUTUBRO QUE REDESCUBRO, DEZEMBRO QUE RELEMBRO [6659]

Ainda lembrar disso me commove. Ouvindo que estudantes balleados morreram, vi que havia, sim, dois lados em lucta, ao desponctar sessenta e nove. Ouvi fallar das bombas Molotov, ainda novidade, e resultados damnosos dellas vi, si incendiados os predios ser podiam. Ha quem prove. De novo os attemptados teem logar, por compta de fanaticos sem farda, mas que se desmascarem, ah, nĂŁo tarda, num palco que ĂŠ ja quasi militar! Teremos que escutar, de novo, um par de botas a marchar? Ja se accovarda alguem que militara na vanguarda da lucta democratica... Ah, que azar!

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PRURIDO DIVERTIDO [6660]

As taes “experiencias”, na Allemanha nazista, são, sim, “medicas”, Glaucão! Serviram para alguma coisa! São remedios, é mais cura que se ganha! Concordo que houve casos de tamanha maldade que envergonham a nação... Exemplo? O da coceira, diversão duns sadicos doutores, cruel sanha! Não soube? Elles prendiam o subjeito com pulgas, muitas pulgas! Admarrado, sem ter como coçar-se, esse coitado soffria loucamente! Era bem feito! Desculpe! Eu quiz dizer que não acceito um caso desses, cujo resultado de nada addeantou e nenhum dado rendeu, excepto o sadico proveito!


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HORROROSOS ODORES [6661]

Fallavamos -- Né, Glauco? -- de zumbis e estive mencionando certa fita tractando dum zumbi que facilita a vida na floresta, com ardis. O morto adjuda um vivo que, infeliz, se perde pela matta. Reedita um Sexta-Feira, ao Robinson bemdicta e grata apparição, frisar eu quiz. Você foi mais sacana! Alem dos gazes peidados pelo morto, quer cheirar tambem o seu chulé! Pensou num ar tão fetido? Que taras contumazes! Vocês de qualquer coisa são capazes, tarados que são, Glauco! Um tumular chulé será peor do que fungar na meia, da caserna, dos rapazes?

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PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662]

Mas Glauco, precisamos dum programma de renda, alguma bolsa “cidadan”, capaz de soccorrer uma christan familia, pois Jesus a todos ama! Dinheiro falta? Ah, temos uma gamma de fontes p’ra bancar! Acho uma van e falsa discussão, pois admanhan resolve-se esse rombo! Quem reclama? Si dermos “pedalada”, allegarei: Sim, demos! E dahi? Bah! Quem não dá? Melhor é gastar logo, gastar ja! Mais tarde, é só mudar alguma lei! Então, Glaucão? Fallei? Justifiquei? Você se convenceu? Não? Tá gagá! Tá cego! Tá por fora! Venha ca: Você de nada sabe! Eu é que sei!

GLAUCO MATTOSO


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SUSPENSE NOS PERTENCES [6663]

Almosso offeresci, poeta, para que as pazes se fizessem entre gente que estava se extranhando. O pratto quente foi uma pheijoada muito rara! Sim, Glauco, só com partes (Hem, sem tara!) de bode: pau, colhão... Ah, ninguem tente dizer que não degusta a differente e rara culinaria, alem de cara! É só não se importar com esse cheiro, com hervas facilmente disfarsado! Aquelle que estiver ‘inda brigado supera a desadvença, companheiro! Bem, certo ninguem um tambem não foi vermos

não deu muito, pois inteiro pau comeu e meu guisado aggradou! O resultado mais pigmenta no salseiro!

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NEGROS NO COMMANDO [6664]

Causou bom bafafá a convocação de negros para cargos de chefia que eu fiz! Alguns acharam que seria racismo, Glauco! Porra, não é, não! E sabe por que? Em vez de ser patrão, serei escravo delles! Eu queria appenas dar um toque de magia ao sadomasochismo! Viu, Glaucão? Embora todo o auê que provoquei, os manos entenderam meu recado ciphrado pelas redes! Assustado fiquei com a procura! Ah, ja nem sei! Problema não ha quando um branco gay contracta negros para terem sado proveito, né? Será, por outro lado, um negro, si masoca, contra a lei?

GLAUCO MATTOSO


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OUTUBRO ROSA [6665]

Estou scismado, Glauco! De repente senti-me muito fragil e intranquillo, tocando ou appalpando o meu mammillo, com medo do que falla toda a gente! Pensei: cancer de mamma a gente sente? Em homem é possivel prevenil-o? Será que todo macho desse grillo padesce? E você, vate? É indifferente? Achei que só mulheres desse mal pudessem soffrer, Glauco, mas agora percebo que doença de senhora a coisa não é! Panico geral! Amigos meus, que drama sexual nem vivem, travestis nem sendo, bora olharem-se no espelho! Um até chora, temendo um descomforto vaginal!

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GLAUCO MATTOSO

KABBALISTICA MYSTICA [6666]

Faz tempo que com numeros eu brinco, tentando recordista me tornar. Gabei-me de chegar ao patamar daquelles cinco, cinco, cinco, cinco. Parar não consegui, pois, com affinco, prosigo na missão de completar seis, septe mil... Quem sabe em qual milhar irei da producção fechar o trinco? Emquanto aos septe mil não cheguei, eis que imploro pela adjuda de quem faz questão de inspirar, toxico, o meu gaz e ja se numerou seis, seis, seis, seis. Me disse Satanaz: “Sim, vós tereis no verso o meu espirito mordaz, mas só de versejar sereis capaz si fordes seguidor das minhas leis!”


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CONSAGRAÇÃO NA LACRAÇÃO [6667]

Não basta, a mim, chamar muita attenção na hora de fallar, apparescer vestido no rigor do que entender por “moda”, nem sorrir pelo sallão! Exijo que se chame “lacração” aquillo que, exhibindo com prazer, eu faço ou fallo para ter poder nas redes sociaes! Sacou, Glaucão? Sim, todos reconhescem que “lacrei” si tenho os holophotes sobre mim! Que foi, Glaucão? Por que está a rir assim? Achou que sou palhaço, né? Ja sei! Ah, foda-se! Não brilho como gay mas, pelo menos, brilho porque, emfim, consigo fazer rir! Logo que vim da rua me toquei... e gargalhei!

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GLAUCO MATTOSO

PEDAGOGIA DA AGONIA [6668]

O methodo de Milgram eu queria testar nos meus alumnos, Glauco! Ouviste fallar? Ao electrodo não resiste quem erre na licção de todo dia! Pensaste? Cada alumno admarraria eu numa cadeirinha! Dedo em riste, lhe faço uma pergunta que elle, triste, não sabe responder, nem saberia! Errou? Não respondeu? Levou um choque electrico, num nivel que incommoda, aos poucos, mais e mais! Elle se açoda, se estressa, até que, soffrego, se toque! Hem? Sou ou não bom mestre? Se colloque alguem no meu logar, e será foda deixar de desfructar! Está na moda ser sadico! Percebes meu enfoque?


SEMANTICA QUANTICA

TROTEIRA BRINCADEIRA [6669]

No relatorio Hite eu sei dum caso de facefucking, Glauco! Respondia o gajo ser a sua phantasia tirar com a mulher um puta attrazo! Mas eu sempre fiz isso! Me comprazo mettendo na garganta da vadia, causando-lhe engasguinhos! Que seria do macho sem tal bocca, sem tal vaso? Você mesmo ja disse que a cegueira o leva à phantasia de engolir caralhos ensebados, qual fakir fazendo penitencia, quer não queira! Tambem eu phantasio uma rameira, com quem estou casado! Lhe exigir garganta profundissima, fingir que estou fodendo um cego... Brincadeira!

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GLAUCO MATTOSO

FLATULENTO CORRIMENTO [6670]

Glaucão, cagar nas calças não é nada de mais! Eu mesmo cago toda vez que peido forte! E então? Você ja fez cocô quando soltava a peidorrada? Estou tão distrahido quando cada flataço quer sahir, que sou freguez da liquida cagada! Mas talvez occorra com qualquer um, camarada! É tarde quando noto: ja a cueca ficou enlameada! Só me resta jogal-a la no tanque! Isso molesta a minha mulher... Ella a lava, a secca... Eu mesmo me recuso! Com a breca! Que nojo! Né, poeta? Não detesta você tal diarrhéa? Só quem desta porqueira soffre, em sonhos, é quem pecca!


SEMANTICA QUANTICA

FEDORENTO FRAUDULENTO [6671]

Hem? Como si não fosse ja bastante tal onda de calor, está faltando sabão e sabonete! Hem? Até quando? Não acho mais até desodorante! Um unico que achei só me garante um cheiro “natural”! Estão brincando! Então pensam que somos nós um bando de trouxas? Não ha voz que se levante? Hem, Glauco? Veja só! Ja viu aroma assim? Diz “natural”, diz “corporal” o rotulo! Mas fede o que, normal, ja fedo: cecê! Então elle me embroma! Gastei para feder cecê tal somma? Estão de brincadeira! Ainda tal producto sae mais caro! Um “genital” do typo fede “cheese”! Hem? Que idioma!

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GLAUCO MATTOSO

A EDADE DO OURO [6672]

Poeta, a ver acaso tu chegaste, em L’AGE D’OR, o gesto “charidoso” que indica Buñuel, em accinctoso delirio, como comico contraste? Concordo que um nonsense ‘inda não baste de todo p’ra affirmar que teve gozo ou paga alguns tributos ao Tinhoso no tracto do ceguinho como um traste... O facto é que, no filme, o cego leva no peito uma solada caprichada a fim de que se exfolle na calçada, aos pés dum aggressor que se lhe eleva! Achaste natural que quem na treva está levar meresce, sim, de cada passante sorridente essa pernada? Razão tens: Buñuel nada releva!


SEMANTICA QUANTICA

O XIZ DA QUESTÃO DO XIZ [6673]

O premio Nobel uma poetiza ganhou, americana: “poetess” é! A turma, por aqui, não usa, até se exquesce da palavra que se visa! Insistem que é “poeta” quem reprisa a lyra da Francisca, da Zabé, da Gilka, da Chiquinha! Botam fé nas modas idiotas, sem pesquisa! Si querem “egualar”, de “presidente”, ahi, sim, chamar devem a mulher que queira governar e seu mester refere, em portuguez, correctamente! Mas quando tem a lingua differente palavra feminina, quem quizer usar a masculina causa “affair” inutil, Glauco! O motte irrita a gente!

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SOLUÇÃO DA POLLUÇÃO [6674]

Exporro na cueca, mesmo! Minha mania sempre fora ter à mão um practico recurso, do tesão depois: uma felpuda toalhinha! Porem, poeta, aquella comezinha toalha se sujava! Você não calcula como fica encardidão o panno onde se exporra! Que morrinha! Deixei de lado, Glauco, o panno usado na cama, que ficava alli na beira fedendo, pendurado! Que porqueira! Agora no calção tenho gozado! Na sunga, na cueca... Desaggrado não causa me livrar dessa sujeira vestindo roupa limpa! Ja quem queira feder e se excitar... Entendo o lado!

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

COISA SEM COISA [6675]

Eu acho que deviam accabar com essa malfadada Lavajacto, Glaucão! Tornou-se inutil, eu constato, agora que está tudo no logar! Não achas que um regime militar seria ainda menos dado a um acto banal de corrupção? Eu acho! Tracto, portanto, de taes forças appoiar! Eu, antidemocratico? Ora, dizes que estou é commettendo um mero crime appenas porque exalto tal regime? Mas Glauco! Nós seriamos felizes! Si és sadomasochista, que me pises espero, ou que eu te pise! Mais sublime scenario não ha, pois, que nos anime! Discordas? Arre! Então não te escravizes!

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GLAUCO MATTOSO

ESPAÇO PARA ABBRAÇO [6676]

Appenas abbracei meu inimigo, Glaucão! Que mal ha nisso? Um simples ar de cordialidade irá mudar as nossas rusgas? Não! Não ha perigo! Em publico, o que faço ou o que digo não passa de attitude elementar dum homem educado! Ora, abbraçar um outro significa que eu não brigo? Magina! Mal as costas viro, vou puxar qualquer tapete desse cara! Na minha ausencia, aquelle irmão declara horrores sobre mim, seguro estou! Um dia, ainda macto o bundão, ou o gajo me elimina! A nossa tara é sermos bons actores, Glauco, para podermos estrear, no palco, um show!


SEMANTICA QUANTICA

HUMOR NEGRO (II) [6677]

Eu vi pousar a mosca bem na testa daquelle insano, Glauco! Todo mundo viu, cameras flagraram! Um segundo? Não! Foram dois minutos! Uma festa! A mosca divertiu a todos nesta solenne transmissão! Não me confundo! Sim, mosca varejeira! Aquelle immundo politico uma fama tem, funesta! Disseram que é necrophilo, poeta! Será maledicencia? Alguem fumaça notou, haverá fogo! Uma desgraça seria si elle vence e nos affecta! Zumbis nomeará para a selecta equipe de governo! Que elle faça de tudo um cemeterio não lhe passa ja pela mente, Glauco? Que interpreta?

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GLAUCO MATTOSO

INEFFICACIA DA PHARMACIA [6678]

Caralho, Glauco! Como saem falsas as formulas que vendem contra gazes retidos! Não, idéa tu nem fazes daquillo que retenho sob as calças! Estão tão distendidas minhas alças (aquellas do intestino), que capazes serão de explodir, caso os contumazes accumulos persistam nessas valsas! Sim, valsas, Glauco! Os gazes dando vão voltinhas, para baixo, para cyma, e nada de sahirem! Não se anima a bufa a se soltar pelo sallão! Não é prisão de ventre, Glauco, não! Cagar, até que cago! Mas não rhyma um flato com dejecto! Que comprima as tripas não ganhei peor tampão!


SEMANTICA QUANTICA

CLICHÊ DEMODÊ [6679]

Botar surrealismo numa lyra é facil, Glauco! Observe este poema: {A gorda, ao retirar-se do cinema, encontra a pobre cega, que se vira.} {A cega pede esmolla. A gorda attira no chão a pobre e manda que não gema. Embora vae a gorda. A pobre extrema dor sente, mas levanta. Vem um tira.} {O tira tira a cega dalli, joga a pobre na sargeta. Ahi, se manda. Ahi passa a perua, propaganda fazendo dum politico de toga.} {Expirra agua na cega, que ja roga aos céus. Ahi tocando vem a banda e encerra a scena. Applaudem da varanda.} Que tal, Glauco? O nonsense esteve em voga!

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SAPIENCIA DA VIVENCIA [6680]

Poeta, appellarei ao teu saber! Preciso que me digas onde está dos homens a verdade: no gagá ou numa creancinha, até crescer! Depois de edade pouca, ja poder deseja ter alguem e tudo ja faz para se tornar um marajah, um lider, um mandão! Fiz-me entender? Um velho não almeja, ja, mais nada! Ainda nada almeja a creancinha! E então? Como commentas esta minha questão? Que conclusão é revelada? Appenas isso? Merda que, cagada nas fraldas, emporcalha? Ah, bem que eu tinha supposto o que dirias, nessa linha! És mesmo um sabio, velho camarada!


SEMANTICA QUANTICA

IMAGEM DA TIETAGEM [6681]

Irias tu gostar desse guru podolatra, Glaucão! Sim, elle, em vez de ser nos pés beijado, questão fez de ser o beijador! Que pensas tu? Virou mania! Agora, do pé nu dalgum pupillo, o mestre, mui cortez, oscula a sola! Ahi, Glaucão! Que dês tambem teu beijo não será tabu! Não queres ter discipulos, Glaucão? Sim, muitos pés terias que beijar! Só dava photo quente! Iria ao ar um monte de filmagens! Que emoção! Na photo que eu tirasse, meu dedão estavas tu beijando! O cellular iria registrar meu calcanhar nos labios do meu mestre! Boa, não?

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PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682]

Morrendo de desejo, um senhorzinho daquelles que dizemos “assanhado” chegou-se para o lado dum “sarado” rapaz que elle encontrou pelo caminho. O joven, que bebera muito vinho no coppo dum avô ja sepultado, até deu attenção, sem desaggrado, ao velho, que leval-o quiz ao ninho. Assim que percebeu as intenções eroticas do velho, o rapagão lhe disse que sentia, tesão não, mas pena, até por intimas razões. Ahi, pediu-lhe o velho: “Si tu pões teu pé nas minhas mãos, ellas serão suaves como o tennis teu no chão!” E então teve o rapaz novas licções.

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

MAIS UMA VEZ [6683]

Si eu fora algum politico, Glaucão, garanto p’ra você que eu promettia não mais engannar, como antes fazia, o povo que em mim crera! Só que não! Diria assim: “Amigos, ja sou tão vivido, callejado, que não ia dizer o que é que faço todo dia, embora alguns duvidem da intenção!” Quem sabe si eleitor algum verá qualquer sincericidio nesta minha admostra do que encaro como linha de minima conducta! Claro está? Ninguem pode accusar-me de ter má vontade, Glauco! Pode de excarninha linguagem, mas ahi vou depressinha dizendo que engannei alguem, sim, ja!

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AGGRAVANTE VENTOSIDADE [6684]

Por que será, poeta, que peidamos, às vezes, tão fedido, outra vez tão sem cheiro? Ora sahindo muitos vão de leve (Saca?), ainda que fedamos? Sim, tanto variamos! Ora damos aquella de Miguel, quando o rojão explode com um baita barulhão, causando uma enxurrada de reclamos! Mas ora vem o peido sem ruido algum, embora saia muito gaz! Poeta, me exclaresça que é que faz, nas bufas, differença! Faz sentido? Então assim se explica? Não duvido da sua sapiencia, mestre, mas repolho sempre eu como, ovo, alem das batatas! Ora atturam, ora aggrido!

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

RASTEIRO INTERESSEIRO [6685]

Por vezes o bassê, numa campestre morada, com desdem, nem liga para bichinhos outros... Outra vez dispara attraz dum animal dicto “sylvestre”... Acharam “byzantina” a questão, mestre! Comtudo, ouvi ja gente que declara ser esse cão do typo que se enfara de todo cidadão que cães addextre! Responde-me: bassês são caçadores assim, por natureza, por instincto? Convivem com gallinha, com o pincto, ou tomam do terreno suas dores? Verdade? Não confias, si tu fores ao matto com o bicho? Num recincto fechado, não, tambem? É, ja presinto que fallas só dum faro por sabores!

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GLAUCO MATTOSO

THEORIA DA ASSESSORIA [6686]

Hem, mestre? Eu coço o sacco todo dia! Mas coço de verdade! É tão gostoso! Não achas, caro mestre, mui curioso ver como tal coceira principia? Passando vou a mão, ainda fria, nos pellos escrotaes, bem preguiçoso... Aos poucos, vou coçando, vem um gozo crescente, vae virando uma agonia! Mais coço, mais os pellos o prurido provocam! Impossivel é parar! Não é como coçar o calcanhar, a testa, as costas... Passa a ser libido! Concordas? Caro mestre, não duvido que estejas a pensar: “Quem do logar a bunda não levanta quer coçar o sacco...” Mas entrei, sim, pr’um partido!


SEMANTICA QUANTICA

SUFFRAGIO DO SEXO FRAGIL [6687]

Carissimo confrade! Te imagino um gajo mui sensato no pensar! Pergunto-te si irás considerar legitimo o tal “voto feminino”! Não fallo só daquellas que um menino galante elegem pelo simples ar gentil e seductor, mas das que estar desejam no poder, eu te previno! Não, mestre! Essas mulheres, caso nós votemos nellas, podem nos impor total humilhação! Nenhum doutor irá mais levantar a sua voz! Juiz ou promotor, seja quem for, terá que desistir de seu algoz no sadomasochismo! Sua atroz senhora lhe imporia, agora, a dor!

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MÁS LINGUAS [6688]

Ouvi fallarem isto: “Si você que desse capitão está a favor, lambesse bem e desse mais valor à chota, cafungasse em seu buquê...” “Si bem chupasse as partes, no bidê, que sua mulher lava, seu sabor soubesse enaltescer em seu louvor e della appreciasse esse patê...” “Assim como do lider chupa as bollas, talvez levasse menos chifre della!” Que idéa, né, Glaucão? Isso revela um odio contra certos rapazolas! Appenas porque lambe sujas solas dum mythico cothurno, tal parcella do gado militante evita a bella imagem da mulher? Tolas cacholas!

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

CALUMNIA E DIFFAMAÇÃO [6689]

Estou, sim, processando um jornalista por damnos moraes, Glauco! Onde é que ja se viu dizer aquillo de mim? Má fé, mesmo! O fofoqueiro que desista! Magina! Até que fetidas de manos ja provado que

fallou que fui callista, frieiras duma pá lambi! Disse que está sou mero fetichista!

Farei com que esse gajo se retracte! Terá que retirar tudo o que disse! Ouviu você, Glaucão, maior tolice? Jamais passei dum simples engraxate! Passei a lingua, sim, mas arremacte foi para bem lustrar! Caso me visse alguem um pé chupar, essa sandice que só você commette, eu que me macte!

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GLAUCO MATTOSO

FADIGA QUE NOS LIGA [6690]

Cansei, poeta! Agora foi demais! Cansei dessa vidinha de proleta! Cansei do baixo astral que nos affecta! Cansei de sustentar até meus paes! Cansei de tantos uis, de tantos ais! Cansei duma azafama tão abjecta! Agora resolvi: vou ser poeta, assim como você, que é desses taes! Você não é famoso no seu meio? Você não tem amigos de egual fama? Você não compartilha a sua cama, não tem seu apezinho sempre cheio? Não mesmo? Ora, meu vate! Então alheio eu ando, pois você tambem reclama da vida, da sahude, da azafama! Que merda! Mais em nada, agora, creio!


SEMANTICA QUANTICA

MUNDANOS IMMORAES [6691]

Si fallo mal de alguem, estou é fricto! Perseguem-me! Processam-me, Glaucão! Não, nada mais commento, pois, sinão, me ferram! Uma coisa só, que eu cito: Ah, va tomar no cu, virus maldicto! Corona bicha! Virus veadão! Va à puta que pariu, covid do Cão! Sim, foda-se! Sim, foda-se, repito! Ahi, Glaucão, eu xingo mesmo, sem perigo de offender quem quer que seja que, membro dum partido ou duma egreja, allegue que diffamo o cu de alguem! É claro que xingar posso, tambem, um cego masochista que deseja soffrer! Mas humilhar quem ja não veja é facil, Glauco! Graça ja nem tem!

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GLAUCO MATTOSO

CALVARIO DOS CARECAS (I) [6692]

Tu, Glauco, que escreveste este tractado historico do trote estudantil, pensaste no detalhe triste e vil que exsiste entre algum cego e alguem vendado? Atroz coincidencia! Num estado qualquer americano, o varonil calouro perde, como no Brazil, a masculinidade de bom grado! A perde coagido, na verdade, pois ser escravo vira condição em toda “confraria”, pois, sinão, não entra alli ninguem da faculdade! O “bicho”, na Hell Week, que se degrade, que chupe, ja vendado, seu “irmão”, o sado veterano que ja não precisa mais chupar e está à vontade!


SEMANTICA QUANTICA

CALVARIO DOS CARECAS (II) [6693]

Não achas crucial esse cruel detalhe de vendado ser o bicho no trote da “fraternity”? Mais micho que um bicho, só recruta no quartel! O bicho fica prompto para, ao bel prazer do veterano, quente exguicho levar na bocca, a qual latta de lixo se torna nesse sordido papel! Na bocca do coitado o mijo deita seu sadico collega veterano que, como o calourão, em qualquer anno passado ja bebeu e se resente! O trote perpetua -- Ah, ninguem tente mudar a tradição! -- aquelle insano costume, escreves tu, mas não me enganno: Feliz como masoca ha muita gente!

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GLAUCO MATTOSO

THEMAS DE TELEPHONEMAS (I) [6694]

Alô? Sou eu de novo, cara! Achei gozados os seus versos! Achei lindo seu caso de cegueira! Gozei! (rindo) Suppuz na sua bocca que gozei! Ouvi fallar dum cego ou outro, gay ou não, que ja chupou! Me divertindo estou, de imaginar! Até ja brindo ao olho são que tenho! O que é, ja sei! É muita sorte minha, cara! Agora toquei-me! Que prazer, enxergar bem! É quasi que tesão! Só falta alguem mammar para a delicia ser da hora! Ahi, pensei: um cego, que ja chora a perda da visão, por que não vem chupar-me? (rindo) Olé! Lhe digo, sem reserva alguma: a rolla puz p’ra fora!


SEMANTICA QUANTICA

CORNOS CORONEIS [6695]

Mas esses coroneis, poeta, não se emendam! São é cornos mesmo, mas insistem em mostrar qu’inda teem gaz e querem porque querem ter tesão! Tesão que, na verdade, exhibição appenas se revela, pois quem faz papel de macho é mesmo o tal rapaz, por nome Ricardão, sempre em questão! Mulheres de politicos são ja manjadas: as “modellos”, euphemismo de puta que, por cynico modismo, se “casam” com um corno marajah! Assim a banda toca, assim será por seculos e seculos! Mas scismo commigo que, no sadomasochismo, taes donas escravizam o gagá!

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GLAUCO MATTOSO

BANDEJA QUE SE ENSEJA [6696]

Poeta, appavorado tu não ficas com essas narrativas de elevado volume, sobre carcere privado, sequestro, roubo, sempre em casas ricas? Preoccupo-me, pois ouço muitas dicas accerca dum bandido mascarado que assalta residencias! Dissuado teu faro por algumas sujas piccas? Meu medo, por ti, vate, é que tu sejas a victima do gajo, que te metta a rolla bocca addentro, si cegueta estás e facilmente ja rastejas! Ah, tinha me exquescido! Não sobejas em grana, vives quasi na sargeta! Terás que te bastar só na punheta, sonhando com bandidos de bandejas!


SEMANTICA QUANTICA

PESADELLO-MODELLO [6697]

Querido, que saudade! Estou ligada na tua condição, ahi, ceguinho, carente de cuidados, de carinho, sem sexo, sem amor, sem luz, sem nada! Até ja me imagino ouvindo cada gemido teu, qual passaro sem ninho, de facto um assum preto, coitadinho, cantando de afflicção desesperada! Não vejo, meu poeta, a feliz hora de estar comtigo nesse teu apê, cuidando de ti, desse teu bassê, que deve dar trabalho quando chora! Não chora? Nem trabalho dá? Tu fora me queres de teus braços? Nem que eu dê ahi nenhum pullinho queres? Vê si dá p’ra accreditar que irei embora!

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THEMAS DE TELEPHONEMAS (II) [6698]

Alô? Glauco Mattoso? Seu fan sou e tenho um chulé forte! Sim, frieira tambem, poeta! Caso você queira saber, tenho pé chato, sim! Gostou? Galan não sou, nem muito fortão, ou padrão de quem practica capoeira, ou artes marciaes! Mas na colleira eu levo o labrador e voltas dou! Sim, uso tennis, Glauco! O calcanhar cascudo duma lingua, até, precisa! A pelle do caralho, sim, deslisa, mas juncta bom sebinho! Quer chupar? Pergunto porque quero confirmar si é sua fama a mesma da pesquisa! Mas, como sei ser sadico, ja fiz a opção de me negar a ser seu par!

GLAUCO MATTOSO


SEMANTICA QUANTICA

VIRALATTAS TELEPATHAS [6699]

Ouvi fallar, Glaucão, que você fica ligado nessas radios que lhe dão noticia de quem morre, de quem não, de tudo que rollou lhe dão a dica! Taes radios, dentro em breve, tudo indica, só pelo cellular é que serão ouvidas, accessadas! Estação nenhuma mais ouvir irá! Que zica! Quem manda não comprar um cellular? Quem manda ter radinho só de pilha? Percebe que cahiu numa armadilha? Ninguem sem cellular vae se virar! Me enganno? Tem certeza? Vae ao ar a Radio do Cachorro sem Mattilha? Seu som é só mental? Que maravilha! Só podem telepathas escutar?

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GLAUCO MATTOSO

SALVAÇÃO DA TABUA [6700]

Poetas cegos, como os do teu porte, Glaucão, são portavozes da verdade! Quem pode contestar-te, então? Quem ha de dizer que não previste nossa sorte? Ainda que ninguem siquer se importe com cegos, mesmo quando desaggrade a tua prophecia, a sociedade, no fundo, ouviu a praga, agguarda a morte! Sim, sabem que tu sabes rollar, mas ‘inda fingem propheta, que não tens, a tabua que impor pode

o que irá que não és como Moysés, Jehovah!

Não tens tabua nenhuma? Ah, Glaucão, ah! Então não me porei mais a teus pés! Aos meus tu te porás, do chão ao rés! Agora vou vingar-me! É para ja!




SUMMARIO COISA COM COISA [6587].................................9 TRANSITORIO MIXTIFORIO [6588].........................10 CACOEPICA CUPIDEZ [6589]..............................11 MEA MAXIMA CULPA [6590]...............................12 IF I WERE A SWINDLER [6591]...........................13 POSTHUMAS POSTURAS [6592].............................14 SEM AR NO AR [6593]...................................15 SERMÃO DO PERDÃO [6594]...............................16 CHORO E RISO [6595]...................................17 SEDENTO DERRAMAMENTO [6596]...........................18 PHENOMENO FREQUENTE [6597]............................19 PLATONISMO SEPULTADO [6598]...........................20 ORACULO DOS CREDULOS [6599]...........................21 ORACULO DO SECULO [6600]..............................22 CHRISTOPHOBIA [6601]..................................23 DE NOVO, AS POMBAS [6602].............................24 VACCINA DA CHINA [6603]...............................25 INCENDIARIOS COMMENTARIOS [6604]......................26 EJACULAÇÃO OCULAR [6605]..............................27 ORACULO DO VERNACULO [6606]...........................28 ORACULO DO CENACULO [6607]............................29 AGOURO NO THESOURO [6608].............................30 PROPRIO RABO [6609]...................................31 EXCASSEZ DE VIVERES [6610]............................32 CADA MINUTO [6611]....................................33


NIPPONICO HEROE COMICO [6612].........................34 NUPCIAS DE LAMA [6613]................................35 VADE RETRO, ESPECTRO! [6614]..........................36 AGGRESSIVAS NARRATIVAS [6615].........................37 WISH I COULD HIDEAWAY [6616]..........................38 PROUD MARY [6617].....................................39 BORN ON THE BAYOU [6618]..............................40 IT CAME OUT OF THE SKY [6619].........................41 I PUT A SPELL ON YOU [6620]...........................42 I LOVE THE DEAD [6621]................................43 TUTORIAL OFFICIAL [6622]..............................44 FILHO DEGENERADO [6623]...............................45 PHEIJOADA REVISITADA [6624]...........................46 A VOLTA DA MEXERIQUEIRA [6625]........................47 EUPHORICO ALLEGORICO [6626]...........................48 PIADA MORTAL [6627]...................................49 BOOTLEG [6628]........................................50 HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN? [6629]...................51 WHO’LL STOP THE RAIN [6630]...........................52 PROSTATICO [6631].....................................53 GLORY HOLE [6632].....................................54 TOMBSTONE SHADOW [6633]...............................55 SINISTER PURPOSE [6634]...............................56 RUN THROUGH THE JUNGLE [6635].........................57 RUDE AWAKENING [6636].................................58 SOMEDAY NEVER COMES [6637]............................59 SWEET HITCH-HIKER [6638]..............................60


LOOKING FOR A REASON [6639]...........................61 DON’T LOOK NOW [6640].................................62 FORTUNATE SON [6641]..................................63 DOWN ON THE CORNER [6642].............................64 BAD MOON RISING [6643]................................65 GREEN RIVER [6644]....................................66 FEELING BLUE [6645]...................................67 EFFIGY [6646].........................................68 TRAVELLING BAND [6647]................................69 UP AROUND THE BEND [6648].............................70 LOOKING OUT MY BACK DOOR [6649].......................71 RAMBLE TAMBLE [6650]..................................72 PAGAN BABY [6651].....................................73 LODI [6652]...........................................74 IT’S JUST A THOUGHT [6653]............................75 GLOOMY [6654].........................................76 WALK ON THE WATER [6655]..............................77 O HOMEM QUE RI [6656].................................78 ATRO THEATRO [6657]...................................79 REPETECO DO TRECO [6658]..............................80 OUTUBRO QUE REDESCUBRO, DEZEMBRO QUE RELEMBRO [6659]..81 PRURIDO DIVERTIDO [6660]..............................82 HORROROSOS ODORES [6661]..............................83 PEDALADAS BEM BOLLADAS [6662].........................84 SUSPENSE NOS PERTENCES [6663].........................85 NEGROS NO COMMANDO [6664].............................86 OUTUBRO ROSA [6665]...................................87


KABBALISTICA MYSTICA [6666]...........................88 CONSAGRAÇÃO NA LACRAÇÃO [6667]........................89 PEDAGOGIA DA AGONIA [6668]............................90 TROTEIRA BRINCADEIRA [6669]...........................91 FLATULENTO CORRIMENTO [6670]..........................92 FEDORENTO FRAUDULENTO [6671]..........................93 A EDADE DO OURO [6672]................................94 O XIZ DA QUESTÃO DO XIZ [6673]........................95 SOLUÇÃO DA POLLUÇÃO [6674]............................96 COISA SEM COISA [6675]................................97 ESPAÇO PARA ABBRAÇO [6676]............................98 HUMOR NEGRO (II) [6677]...............................99 INEFFICACIA DA PHARMACIA [6678]......................100 CLICHÊ DEMODÊ [6679].................................101 SAPIENCIA DA VIVENCIA [6680].........................102 IMAGEM DA TIETAGEM [6681]............................103 PARABOLA DAS GERAÇÕES [6682].........................104 MAIS UMA VEZ [6683]..................................105 AGGRAVANTE VENTOSIDADE [6684]........................106 RASTEIRO INTERESSEIRO [6685].........................107 THEORIA DA ASSESSORIA [6686].........................108 SUFFRAGIO DO SEXO FRAGIL [6687]......................109 MÁS LINGUAS [6688]...................................110 CALUMNIA E DIFFAMAÇÃO [6689].........................111 FADIGA QUE NOS LIGA [6690]...........................112 MUNDANOS IMMORAES [6691].............................113 CALVARIO DOS CARECAS (I) [6692]......................114


CALVARIO DOS CARECAS (II) [6693].....................115 THEMAS DE TELEPHONEMAS (I) [6694]....................116 CORNOS CORONEIS [6695]...............................117 BANDEJA QUE SE ENSEJA [6696].........................118 PESADELLO-MODELLO [6697].............................119 THEMAS DE TELEPHONEMAS (II) [6698]...................120 VIRALATTAS TELEPATHAS [6699].........................121 SALVAÇÃO DA TABUA [6700].............................122


SĂŁo Paulo Casa de Ferreiro 2021




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