SONNETTARIO SANITARIO
Glauco Mattoso
SONNETTARIO SANITARIO
São Paulo Casa de Ferreiro 2021
Sonnettario sanitario Glauco Mattoso
© Glauco Mattoso, 2021
Revisão Lucio Medeiros
Projeto gráfico Lucio Medeiros
Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ______________________________________________________________________________
FICHA CATALOGRÁFICA
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Mattoso, Glauco
SONNETTARIO SANITARIO/Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2021 216p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título. B869.1
NOTA INTRODUCTORIA
Embryonariamente publicado como parte secundaria no livro MALCREADOS RECREADOS em 2009, este repositorio ganha exsistencia autonoma em face da volumosa producção mattosiana dedicada às thematicas escatologicas. Desta feita, entretanto, os sonnettos seleccionados foram reestrophados em dezeseis versos, distribuidos em quattro quartettos, formato que meresceu o rotulo de “dissonnetto”. A safra sonnettistica de Mattoso, provisoriamente encerrada em 2012, foi reiniciada em forma de dissonnetto a partir de 2017. A presente collectanea cobre um periodo que vae de 1999 até a decada de 2020. Por detraz das allusões fecaes e quetaes, innumeros outros topicos são abbordados pela lyra satyrica do poeta cego. A contrapartida, outrosim, para o que se digere e dejecta vem a ser o que se ingere e degusta, objecto de outra collectanea thematica: GOROROBA À PURURUCA, bem mais palatavel, obviamente, que a presente obra.
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COPROPROSOPOPÉA [5620]
Cocô, quem te cagou? Tem tripas finas? Alguma dama rica, joven, bella? Será talvez algum gury traquinas, um reles rapazelho magricella? Cocô, que teu formato tu definas não peço, ora cylindrico, ora aquella lodosa massa que enche essas latrinas do povo de cortiço ou de favella! Cocô, qual cu cagou-te? De meninas ou velhas? De vadias ou donzellas? Daquelles agiotas mais sovinas ou desses pobres recos sentinellas? De todas as toxinas que eliminas, aquella que, nos ares, mais mazellas nos causa, contamina das propinas mais altas às mais baixas bagatellas.
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MANIFESTO COPROPHAGICO [0006]
A merda na latrina desse bar da exquina de officina cheiro tem. De fina serpentina tem, tambem, si folga com roptina combinar. Cocô com cocaina, em tal logar, commum é tanto quanto ter alguem cagado as hemorrhoidas. Alli vem o povo do Brazil todo cagar. Cocô kosmopolita, palindromico, até kaleidoscopico e mutante, a rio polluido tresandante, se caga no latino reino momico. Vagina americana advessa, cante meu verso a merda metrica, de vomico sabor e cheiro fetido, com comico cynismo, e faça a antithese de Dante!
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DISSONNETTO FLATULENTO [0192]
O peido, gostoso, da parte emquanto
mais que o arrocto, inspira o riso desbragado, gargalhado, de quem pode ter peidado, os outros fazem mau juizo.
Com base no meu caso é que analyso, pois, mesmo estando a sós, enclausurado, gargalho appós os gazes ter soltado e adspiro meu fedor, feito um Narciso. Me ponho a imaginar de alguem affeito a do typo mais esnobe colhido de surpresa
a reacção normas de ethiqueta, e mais ranheta, ante o rojão.
Meu sonho era peidar fumaça preta na mesa dum banquete, desses tão formaes e, appós a explicita expulsão, deixar que a gargalhada me accommetta.
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DISSONNETTO EVACUADO [0613]
Cocô, materia fetida e salobra, formato entre um cylindrico e um espherico, que às vezes liquefaz-se, dysenterico, ou fere o anal canal pelo qual obra! Cahindo em terra firme, elle se dobra e n’agua elle fluctua como iberico veleiro. Num exgotto peripherico encalha, sem espaço de manobra. Marron, tonalidade do tolete: de olhar ninguem, de perto, fica a fim. Destacca-se, mais claro, o amendoim que os gommos lhe craveja e não derrete. Não nego, o troço causa nojo em mim e a casos escabrosos me remette, mas vem donde, na marra, fiz cunnette. Ainda o comerei si achar ruim!
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DISSONNETTO CAMUFLADO [0644]
A pelle, em erupções, murcha e macera. Furunculos pullulam pela cara. Ao grão de arroz um cravo se compara e, quando salta, deixa uma cratera. As rugas se entrecruzam. Só supera taes dunas o relevo do Sahara. O espelho mostra aquillo em que repara na rua o povo: a cutis que ja era! Mulheres, homens, jovens, velhos, nada importa, si os nivela o tempo e o clima. Com lupa quem se observa desanima. Illudem-nos um creme, uma pommada. A decomposição, que se approxima e cedo ou tarde chega, dá risada da gente, por mantermos maquillada a casca que a carniça tem por cyma.
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DISSONNETTO CONFLAGRADO [0658]
Na guerra fica ommissa uma questão: Soldados em combatte cagam molle? Si cagam, como fazem? Teem controle? Se sujam? Vão no matto? Usam fraldão? Da dor que attacca os homens em acção depressa acham desforra que os console: Ja ganha a guerra, o perdedor engole na marra do invasor o cagalhão. Molle na lucta, na victoria dura, a merda é tyrannia dos dois lados, egual no seu fedor, nos resultados, difficil p’ra quem come ou quem segura. Commum a prisioneiros e soldados no tragico convivio da amargura, só mesmo um sentimento que perdura: o nojo dos cocôs evacuados.
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DISSONNETTO DA CURTA METRAGEM [0746]
Puzeram menos metro no papel e cada vez o rollo está mais curto. Na mesma proporção, com dó me furto a estar com mais frequencia no miguel. No vaso, pouco movo o carretel e privo-me dos livros que mais curto. Si for mui dysenterico meu surto, terei que usar o dedo no outro annel. Lavar as Difficil de abrir Comnosco
mãos borradas é o de menos. é poupar papel na hora um dos rollinhos tão pequenos. perguntamo-nos: “E agora?”
Problemas taes não são dos mais amenos! Mal rasga-se, e metade foi-se embora, tão fino e fragil é! Sorte que dê-nos discreta caganeira, e um mez demora.
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DISSONNETTO DA IMPRESSÃO DIGITAL [0791]
A boa educação manda que o dedo jamais seja mettido onde não deve. Tirar do nariz monco nem se attreve em publico quem come e faz segredo. Politicos dedura quem tem medo de Deus só. Ja apponctar quem fura greve é facil. Mas no cu, mesmo de leve, ninguem quer a dedada: só eu cedo. O medio indica offensa quando erguido. Deitado, o indicador mostra e censura. A alliança, no anular, quasi não dura. P’ra baixo, o pollegar tem mau sentido. Mindinho levantado é só frescura. Dedão entre dois outros será tido e havido como a “figa” à qual revido. Dinheiro qualquer um delles segura.
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DISSONNETTO DOS EFFLUVIOS [0792]
De todos os sentidos, foi o olfacto subtil por excellencia: de mixtura estão varios odores, e a figura do cheiro bom ou mau é caso abstracto. Perfume ou fedentina? Desempatto appenas pelo senso, que perdura, do nojo suggerido, o qual censura um halito, a carniça, o lixo, o flato. Quem disse que uma flor exhala aroma mais “doce” ou que uma fructa a “azul” recende? Por que o chulé “tresanda” quando assomma? Quem é que taes hypotheses nos vende? Quem é que com taes mythos nos embroma? Tão só de opinião tudo depende: si fungo não é coisa que se coma, como é que ha quem meu queijo recommende?
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DISSONNETTO DE TODAS AS VONTADES [0811]
Sentada no penico, a garotinha se exforça e faz careta. Excorre o ranho do lindo narizinho. E que tamanho e odor tem o cocô que ella retinha! “Coragem, meu amor!”, diz-lhe a madrinha, “Depois cê vae tomar aquelle banho!” - Só isso? - ella sorri - Que mais eu ganho? “Um beijo!” - Ah, quero um quarto e uma cozinha! Brinquedos tem de monte, mas não faz cocô todos os dias, a coitada. Appenas faz barulho e solta gaz, sonhando com a proxima cagada. Está ja dolorida por detraz e, quando no penico não tem nada, a infanta, em vez do beijo dum rapaz, supplica um cocozão à sua fada!
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DISSONNETTO CANNIBAL [0866]
“A carne humana é doce!” -- acha, contente, o naufrago anthropophago (e o guerreiro sylvicola) que, appós o derradeiro pedaço, ‘inda palita, rindo, o dente. “A parte mais gostosa é justamente aquella...” -- complementa o carniceiro gluttão que, referindo-se ao trazeiro, vontade de trinchal-o à mesa sente. A bunda assada entrou na culinaria faz muito tempo, basta que attentemos: dourada e com batata, ha quem compare-a aos bifes succulentos mais supremos. Não é da de bebê que fallo, e varia é a forma de encaral-a, si a comemos. Alguem irá querel-a na summaria rabada, outros a comem como os demos.
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DISSONNETTO VISCERAL [0972]
Mehudos causam nojo, e quem engole taes coisas raciocina: “Dá na mesma comer minhoca, arroz, pheijão ou lesma! Então tudo não é molhado e molle?” Prefiro uma lasanha, um ravioli, mas gosto é indiscutivel! Si torresmo não come quem tem medo do tenesmo, commigo no intestino elle nem bolle! Moelas ou miolos, polvo ou lula são prattos ideaes a quem não gosta de mastigar e rapido os engula! Alguem que vomitar irei apposta? Melhor é si de thema você pulla! A mim ja basta o cheiro dessa bosta p’ra que um engulho corte toda a gula e minha pança sinta-se indisposta!
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DISSONNETTO SOCIAL [0977]
“Repercutindo” a festa de Madame, commenta o badalado columnista que tal ou qual dondoca fora vista vestindo um costureiro que bem chame. Fulano ou Fulaninho deu vexame trajando algo que entrou para uma lista dos dez deselegantes da revista de modas e fofocas mais infame. Só nisso pensa por todos como qual ratto que ao ratto e boi
o rico: ser notado alguem que bem ja nasce, jamais se mixturasse que brilhe em meio ao gado.
A merda que elle caga tem mais classe: num tom menos marron, mais azulado, não desce, gruda em tudo, mostra o lado humano e de seu dono obstenta a face.
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DISSONNETTO DIALECTICO-DIETETICO [1016]
Attraz do do becco, o lixo e, um velho,
restaurante, rente ao muro em lattões altos se accumula alli por perto, perambula a revirar cada monturo.
Emquanto alguem, la dentro, o azeite puro derrama na salada e cede à gula, na latta um fructo agguarda quem o engula e ha muito está passado de maduro. A scena, que alguns acham tão nojenta, não causa, alli, pudores indigestos. Por entre insectos move-se a cinzenta e gorda rattazana, e fartos restos... Mixturam-se, da almondega à polenta. Ninguem diz, nem nos lares mais modestos, que mal e porcamente se alimenta, malgrado os esquerdistas manifestos.
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DISSONNETTO DESPOLLUTO [1025]
“Preciso despachar no gabinete”, assim se diz na hora de cagar. Si cada coisa é feita em seu logar, o cargo dum politico é retrete. Alem dessa metaphora, o tolete reflecte a perfeição dum lapidar poema, do qual pode idéa dar egual à da limpeza um sabonete. Aquillo que direi é bom motivo à verve e em nada a logica se fere. Comparo a poesia a um digestivo processo que, affinal, pouco differe... Da forma de prover cargo electivo. Nem tudo que se come se digere e o voto consciente é o melhor crivo que ao rio uma agua limpa recupere.
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DISSONNETTO DAS NECESSIDADES [1062]
Na bocca sou mijado! Elle sentia vontade, mas não tinha ainda feito aquillo com ninguem. É meu defeito nos olhos que os instinctos lhe sacia. Seu vaso sou agora! A serventia tornou-se uma roptina, e me subjeito a novas posições, p’ra que o subjeito divirta a vista emquanto se allivia. Me aggacho, me adjoelho, a lingua espicho, cumprindo o que elle manda, e nada vejo: só sinto o gosto quente e engulo o exguicho. Que mais posso esperar, si dou ensejo? Me sinto um germe, verme, virus, lixo! Risada escuto! O mijo malfazejo me engasga! Estou grunhindo que nem bicho! Virou necessidade, e era desejo!
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DISSONNETTO LUBRICO [1078]
Num velho pornofilme de segunda, a Linda Lovelace engole inteiro um penis bem maior que o costumeiro e mostra ter garganta assaz profunda. Mais facil que na vulva ou numa bunda, o pau entra todinho: é que, primeiro, penetra até a metade e, então, boeiro se torna a bocca, e nella a rolla affunda. Depois a gente soube que na marra a actriz tinha actuado. O que se nota na hora é a cara agonica, bizarra, carona de coitada, de idiota. Engole exguicho. Muda, nem excarra. Narinas enche o ranho. Mais que chota molhada o suor jorra. Da boccarra excorre baba... e porra, si ella arrocta.
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DISSONNETTO DISSOLUTO [1082]
No filme antigo, a cara dum fulano viril e bigodudo apparescia ao fundo, emmoldurada na bacia, por sobre a qual a tabua fecha o plano. Si alguem alli cagasse, antes que o cano levasse toda a merda, o gajo iria sentir como a materia era macia mas fetida: fedor de gaz methano. Assim que se levanta quem cagara, resurge o rosto, agora recoberto dum liquido que a molho se compara e cheiro tem terrivel, isso é certo. Rirão ainda muitos dessa cara. O rosto exprime expanto no olho aberto: não era liquefeito o que esperara. E a camera o retracta mais de perto.
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DISSONNETTO DO PURGANTE ELEGANTE [1108]
Fallei ja, num sonnetto, do problema: “Em Roma se pagava p’ra cagar...”, mas nunca imaginei que ia chegar, eu proprio, a providencia tão extrema: Pois a constipação me faz que gema de dor quando me sento no logar e, agora, só consigo si pagar diaria taxação: o “imposto-enema”. Refiro-me ao remedio que ora tomo, dosagem laxativa que equivale ao preço de chardapio do que como, bastante p’ra que boccas sujas cale. Agora na pharmacia a compta sommo. Cagada chique, a minha! Ha quem a eguale à pillula do orgasmo, ao aureo pomo do amor... Mas cago, e a lingua má que falle!
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DISSONNETTO DA TARDIA REGALIA [1115]
Melhor que qualquer foda bem gozada, por traz ou pela frente, é o que no vaso fazemos, com vontade e força, caso demore muito a proxima cagada. Si a hora do intestino anda attrazada, e formula nenhuma tira o attrazo, é só dar tempo ao tempo, e me comprazo que a colica, affinal, me persuada. Alguns signaes “propheticos” dão compta da massa fecal, solida e fedida, que os canos a entupir está ja prompta. Emfim a natureza me convida! Presinto uma cagada das de monta. Me sento, me concentro, e a resequida columna de cocô do cu desponcta: estou de bem, de novo, com a vida!
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DISSONNETTO DOS DESMANDOS DA NATUREZA [1131]
Ninguem peidar consegue emquanto mija, ou viceversa. Então, por que será que, quando ao vaso vou, vontade dá que, ao mesmo tempo, urgente, tudo exija? Tambem depois que exporro, a rolla rija suggere a mijaneira, mas não ha maneira de o xixi sahir de la até que a urethra, emfim, ceda e transija. Que raio de organismo bagunçado nós temos! Não é mesmo? Si não pode fazer, por que a natura envia o brado? Por que nosso corpão não nos accode? Não ha como fugir ao resultado: Pau molle não penetra e, assim, não fode! Pau duro não urina! Triste fado! bexiga cheia, gazes, pau de bode!
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DISSONNETTO DOS BONS FLUIDOS [1141]
Hindus se cumprimentam, e um indaga: “Have you had a good bowel movement...?” -- diz quem dá bom dia ao outro e que, feliz, naquella manhan sente a tripa vaga. Responde “Yes, I had...!” um que ja caga religiosamente. Tão gentis são elles! Eu de Gandhi sempre quiz seguir o ensignamento, contra a praga! Inutil! Por aqui todo intestino é preso que nem tunnel de metrô e não podemos dar o nosso “alô” com modos, num encontro matutino. No maximo, de noite, si o cocô dignar-se a evacuar, eu mesmo nino, tal qual um pae ao filho pequenino, meu anus: “Té admanhan! Bom somno, sô!”
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DISSONNETTO DAS COISAS VERGONHOSAS [1174]
Me lembro: tirando do na photo a que o gajo
o Henry Kissinger, flagrado nariz uma catota, leva à bocca, e a gente nota delicia-se um boccado!
Tem gosto para tudo: quem chocado dirá que se sentiu vendo quem vota num sujo coronel? E um idiota acceita seu curral: “Delle eu sou gado!” Dos males, o menor: antes a gente comer o proprio monco que na cara levar uma excarrada e estar contente! Verá quem taes hypotheses compara: Das duas, qual será mais repellente? E quando ouço o eleitor que se declara um simples “boi” que serve ao presidente, mais nojo tenho que à mais suja tara!
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DISSONNETTO DA PRODUCÇÃO LITTERARIA [1178]
De minhas phrases, uma diz que a obra dos grandes escriptores se compara ao acto de cagar: logo de cara percebe-se que merda é o que ha de sobra. Aquelle que maior exforço cobra é sempre o primeirão: quem o chamara tambem de “capitão” teve uma clara visão dos militares em manobra. O resto sae mais facil, e molleza se nota ja nos ultimos da fila. Só mesmo ao chefe estava a tripa presa e fica agora a coisa mais tranquilla. Bem posso versejar essa proeza. Assim, uma obra-prima se perfila na estante como empilha-se na mesa: mais grossa. Eis como posso definil-a.
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DISSONNETTO DOS COMMODOS INCOMMODOS [1180]
Achava natural Gandhi e mui puro, a poncto tal o vaso sanitario, que até via o local como scenario da propria refeição! Duvidam? Juro! Por certo não dum fetido monturo de fezes cogitou, mas, usuario que foi do mais modesto mobiliario, pensou em tudo practico e seguro. Cocô não se faria no momento de à mesa nos sentarmos -- que eu allijo do gosto costumeiro -- nem o mijo por agua tomaria alguem sedento! Prefiro separar sallas e exijo, a titulo de egual comportamento, distancia entre o quartinho fedorento e a mesa onde um fecal texto redijo!
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DISSONNETTO DA PROPHECIA VISCERAL [1209]
Meu intestino está, como um radar, sensivel às mudanças que ha no clima: conforme para baixo ou para cyma oscillam os thermometros, vae dar. Só vae, porem, da graça dar seu ar por antecipação: si se approxima a chuva, ou quando o sol, emfim, se anima o meteorologista a annunciar. Cagar ou não cagar tão só depende dos ventos, da humidade, da pressão externa e não interna! Alguem entende? Alguem explica como os factos são? Alguma theoria fructos rende? Si solto o barro ou prendo o cagalhão prevejo olhando o céu: para que agende o dia de sentar, passa um tempão!
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DISSONNETTO DO MESMO BARCO [1224]
O gajo é muito punk: arrocta grosso e cae na gargalhada, num accesso que não accaba nunca! Seu ingresso nas rodas sociaes causa alvoroço. Tambem não tenho cara de bom moço e nunca me incommodo nem me estresso: si peido com estrepito, não peço desculpas, nem na mesa dum almosso. Gostosa é sempre a scena quando cruzo com esse punk: a gente dialoga tal como quem saltita com quem poga, num som de arrocto e peido, alto e confuso. Si alguem que se embebeda ou que se droga nos acha muito podres, eu o accuso: “Quem é você? Juiz? Achou abuso? Quem é você, me’rmão, p’ra vestir toga?”
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DISSONNETTO DA BOCCA CHEIA [1228]
Difficil é chupar balla ainda mais daquellas de bem grande e quadradão! alguma, é mais provavel
de gomma, tamanho Sempre que ganho que eu a coma!
Procuro concentrar-me: faço a somma de cada mastigada, dou um banho bem lento de saliva, e nem me accanho si a lingua expõe a balla emquanto embroma. Alguem reclama: “Fecha a bocca! Esconde depressa essa nojeira! Me preoccupa a tua grosseria! Não se chupa a balla assim! Fui claro? Anda, responde!” Si tento responder, a balla occupa o espaço aberto e, então, não tem por onde: ainda que a beiçola se arredonde, engulo, ou cuspo tudo, em catadupa!
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DISSONNETTO DO TRACTO INTESTINAL [1243]
Mal sento e, ao me adjeitar, rezo contrito: “Fazei que este intestino, emfim, se mova!” Pedir que, num deserto, a chuva chova mais facil é que orar pelo que cito. Viver tão constipado deixa afflicto o ventre dum christão! O meu desova sem data certa; a merda entope a cova e, quando sae, mais fina é que um palito! Assim não dá! Será que me converto ao Demo? O cu lhe beijo e o Cão, em troca, meu rabo abre e a cagada molle verto! Até que meu bom senso não se choca... Com esse excentricissimo concerto. Mas, em compensação, quando se invoca Satan, sempre perdemos nesse accerto de comptas: sae a merda, entra a piroca!
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DISSONNETTO DO AVARENTO CASTIGADO [1244]
Gravura bem extranha foi aquella que lembro de ter visto num volume de textos sacros: pune-se o costume avaro do usurario na goela! Explico: ja no Inferno, dentro della um Demo bem caprino caga o estrume em forma de azeitona, e o réu que arrhume logar no bucho! A scena expanta e appella! Deitado, elle abre a bocca. O bode humano se aggacha a certa altura e lhe defeca, pingando, as gottas pretas de seu cano! No nitido desenho, nem cueca... Usava o condemnado, e um ar prophano de riso obstenta o bode a quem depreca! Eguaes scenas em verso sempre explano, sabendo haver leitor que se melleca.
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DISSONNETTO DO GOSTINHO SADICO [1245]
Biographo de Sade polemiza aquillo que o leitor ja percebeu faz tempo: a fixação do auctor atheu na merda. Mas comida, é o que elle frisa. Até com estatistica a pesquisa trabalha: quantas vezes recorreu o mestre pornographico ao que é seu fetiche, mas é a compta ‘inda imprecisa. Quem vae com mathematica sciencia medir o que do nosso recto vem? A mim pouco me importa a recorrencia, pois uma vez ja basta para alguem... Comer merda na marra: é violencia! Tentei ceder a um sadico. Nem bem provei-a, e concordei com quem dispense-a: que gosto insupportavel que ella tem!
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DISSONNETTO DA PERDA DE TEMPO [1263]
Cagar ja é problema de soltura, prisão, e até logar certo e seguro. Limpar a bunda envolve novo appuro: papel, ou falta, ou rasga, ou gruda, ou fura. A mim, o que incommoda é que perdura sujeira mesmo quando ha cocô duro. E como ficar sujo não atturo, preciso tomar banho, outra tortura. Mal saio do chuveiro, vem vontade, de novo, de cagar! E tome banho! É como enxugar gelo! Retro vade! Mais tento ficar limpo, mais appanho! De tanto conviver com sujidade, às vezes me pergunto: o que é que eu ganho cuidando da hygiene? Ninguem ha de lamber-me! E eu lambo o alheio e nem extranho!
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DISSONNETTO DO ATTEMPTADO AEREO [1278]
Estava o presidente dos Estados Unidos concedendo uma entrevista ao vivo na TV, quando imprevista tragedia nos deixou impressionados: Um passaro cagou nos penteados cabellos, ja branquinhos, do estadista! Na frente do expantado jornalista, appalpa-se... e eis que os dedos vê molhados! Cocô de pombo é coisa que não dá vontade de cheirar: delle ninguem por perto quer estar, quando se tem noção de que a fragrancia disso é má! O todo-poderoso fez que nem ligava: apparentando alguem que ja tem treino, leva a chicara de cha à bocca... engasga... e o vomito lhe vem!
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DISSONNETTO DO PONCTO DE VISTA [1280]
A bunda, sobre o vaso, se exparrama. Si vista por debaixo, é como o tecto da arena, pelo olhar dum architecto maluco, que distorça o panorama. Porem, quando do rego se derrama a molle merda sobre um pobre, inquieto e afflicto rosto, o jacto de dejecto mergulha um ser humano em chula lama! Ja vi scena do typo: na gravura, a cara do inimigo apparescia, no fundo da privada, bem segura. Na certa alguem, cagando, se sacia. Depois que, sobre a tabua da bacia, sentava-se um soldado, a bosta dura formava um bollo e a bocca recobria, tal era dos toletes a grossura.
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DISSONNETTO DA POSIÇÃO DESFAVORAVEL [1286]
Na bocca introduziram-lhe um funil e lhe immobilizaram a cabeça, de modo que seu rosto permanesça voltado para cyma, em pose vil. Não fora seu algoz nada gentil nas coisas que lhe disse: “Otario, exquesça que é gente! Quero mais é que padesça comendo merda, aqui neste covil!” Accyma do funil foi posto o assento no qual se accommodou, sorrindo, o algoz, de cujo cu sae liquido excremento que tanto suffocou outros gogós. Tragando de bicho borbulha na atroz
feito um rallo, emitte voz aquella bocca, e seu lamento ao fundo, cada gole appós, sonoplastia do tormento.
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44 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO DOS SIGNAES E DOS HAIKAIS [1291]
“Alvissaras!” Assim diziam quando se dava ou recebia a boa nova. Signaes alvissareiros são a prova de que na vida estamos confiando. Commigo é differente: quando, brando ainda, me vem vindo (como a trova, a glosa ou o haikai que se desova) o allarme do intestino, vou gritando: “Alvisceras!” Me sento, e faço a festa: “Estou de bem co’a vida!” O cocô sae difficil, devagar... e nada resta! Festejo cada gommo quando cae. As rugas ja vincaram minha testa, mas meus dissonnettinhos, cujo pae celebra uma cagada tão modesta, me saem bem mais facil que um haikai!
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DISSONNETTO DO OUVIDO ENTUPIDO [1298]
Cerume é como chamam essa espessa materia amarellenta que convido vocês a procurar dentro do ouvido e ver com que é que a coisa se paresça: Às vezes dura, escura, caso cresça seu solido volume, não duvido que vire rolha e tenha até impedido alguem de ouvir dum lado da cabeça! Tem cheiro de cocô! Não porem, no amargo creme, e sim o soffrimento que por causa da phrenetica
é o que cheira, o que me intriga, me instiga, coceira!
E nem ha cottonette que consiga me dar algum allivio: só, certeira, aquella prompta, practica maneira: do dedo duma figa a adjuda amiga!
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DISSONNETTO DA ESPINHA MADURINHA [1300]
Espinhas pelas costas tenho à bessa de quando em quando, ou quando, talvez, coma torresmo em demasia: meu glaucoma não basta, ‘inda preciso aguentar essa! Ainda que ao bondoso amigo eu peça que à menorzinha dellas drene o creme, ninguem dum tal calombo o puz expreme e tenho que alcançar, eu mesmo, a peça! A poncta amarellinha se destacca no centro do vulcão advermelhado que está duma erupção approximado, ja prestes a lançar, num jacto, a caca! Prensada entre dois dedos (Ai, coitado de mim!), expalha a gosma, que da vacca paresce a grossa natta e que é, na faca, manteiga a quem olhar, desadvisado!
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DISSONNETTO DOS MEUS MAIS MAUS MODOS [1333]
Quem segue appenas regras de ethiqueta não age normalmente! Dar a mão, talheres segurar, sorrir ou não, usar no bolso o lenço ou a canneta. Será que devo achar que se intrometta quem queira appresentar-me ao seu patrão? Será correcto usar um palavrão e, em vez de “vulva”, declamar “boceta”? E o coppo? Fica à esquerda ou à direita? E quando, por acaso, eu for canhoto? Bem fica calçar tennis de garoto? Beber no canudinho a gente acceita? Commigo não tem disso! Solto arrocto si accabo de comer! Faço desfeita si expirro abertamente! E quem suspeita que o peido é meu, mactou: sou mesmo escroto!
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48 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO DO CINEMA BLASPHEMO [1365]
A scena, no cinema, que define melhor o sacrilegio, e que me assomma à mente, é uma visão de Pasolini nos “Cento e vinte dias de Sodoma”. Emquanto vi, não vi nada no cine mais sadico: ao banquete, a moça embroma na hora de comer... Você imagine aquillo que se espera que ella coma! É Sade quem tal rango corrobora. Cocô, naturalmente! “Não consigo!”, diz ella, e alguem lhe dá o conselho amigo: {Supplique, tenha fé em Nossa Senhora!} A moça, appavorada, appenas ora: “Ah, Sancta Mãe, fazei com que eu consiga!”, supplica a voz chorosa e, antes que diga “Amen!”, um cocozão ella devora!
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO DO ARCHIVAMENTO SUMMARIO [1376]
A coisa se complica! Quanto mais se tenta dar ao caso solução summaria, mais estampam os jornaes manchettes que extarrescem a nação. Agora, no Senado, fazem taes manobras para ao caso ver si dão descarga vaso abbaixo, que jamais Bocage imaginava que farão. Ja fede tal fedor por outro prisma. Em vez duma amorosa charta, usada, appós ser lida, como da cagada o methodo hygienico, é uma resma! Provando que confirma a nossa scisma, o nobre senador faz, na privada, o exame official da papellada e, findo o caso, limpa-se na mesma!
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DISSONNETTO DAS QUESTÕES PHILOSOPHICAS [1383]
Tem tudo explicação: o azul da chamma, que às vezes poderá ser amarella. Fervura, si for agua, não derrama, mas leite ja transborda da panella. Por que será que, quando estou na cama, não durmo e, na poltrona, quando nella me sento, o somno hypnotico me chama? Quem é que a razão disso me revela? Por que sempre está podre nosso naco? Por que nunca sentimos nosso cheiro e achamos que é catinga o do parceiro? Por que não é o do sacco o do sovaco? Por que não me chupei, como o macaco? Por que cerume fede e monco não? Por que não sinto cocegas na mão, si a sola sempre é nosso poncto fracco?
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO DO PRATTO PRETO [1439]
Exsistem os carnivoros, e até quem coma a propria especie: o cannibal. Tambem como “anthropophago” alguem é chamado, mais preciso, por signal. E quem só come insecto? De ralé alguns o chamariam, mas o tal subjeito é um “entomophago”! Filé de abelha ou de bezouro lhe é normal. Mas... Ah! Tambem aranhas elle come! Contornos culturaes a questão ganha! Bundudas e macias, dão seu nome ao pratto que se chama “lasaranha”! Baratta até dispensa quem proval-o! Cultura singular não vi tamanha! Ainda não provei, porem estallo a lingua ante iguaria tão extranha!
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DISSONNETTO DO PAU DE PEDRA [1532]
Estava um esculptor querendo ousar aquillo que nenhum collega ousara: immenso monumento, que, em logar bem publico, com nada se compara. Maior que um obelisco, ia chegar à altura duma torre! Alem de cara, a estatua jamais se ergueu no ar por ter symbolizado nojo e tara. Tractava-se Não ha quem com sacco e à cupula da
dum phallo, mas que phallo! na cidade não commente: tudo, cada bolla egualo egreja logo em frente.
O thallo, de diametro, calculo, devido a proporção, tão imponente que caiba numa arena, e até mais chulo é o sebo no prepucio, saliente.
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO DO QUEIJO QUE ENJOA [1544]
“Tá sujo o pau? Problema de quem chupa!” Assim diz quem sebinho juncta à bessa. Até com caspa e carie se preoccupa, mas banho dar no penis? “Corta essa!” Emquanto, em outros homens, só com lupa se pode um flocco achar, nelle depressa se nota, pelo cheiro, que se aggruppa o esmegma, como aveia, em sua peça. Quem é que em sua bocca quer ter uma? Paresce até que a glande é grande e inchada! Debaixo do prepucio, uma camada tão grossa se accumula, que a advoluma! Ninguem com tal sabor -- Hem? -- se accostuma! Coitada da boquinha que alli mamma! Ao engolir a porra, nem reclama quem antes, do sabão, provou a espuma!
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DISSONNETTO DOS POMBOS CARNICEIROS [1617]
Os pombos proliferam pela rua, infestam as calçadas! Sua bosta comprova, pelo cheiro, como sua sympathica apparencia é só supposta. Velhinhas dão-lhes pão, mas na perua do açougue ou do dogueiro está a resposta cabal sobre o que comem: carne crua, salsicha ja vencida, farta posta. Adeptos dessa putrida receita, alguns ficam tão gordos, que mal podem voar, como um lourinho ao qual se podem as asas, mas o povo nem suspeita. Tornando uma calçada mais estreita, um dia, como os passaros da fita, tantos serão que, ja ninguem evita, em volta ficarão à nossa expreita.
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO DA COMMUNHÃO NO BODUM [1657]
Perfumes só disfarsam nosso cheiro normal e natural... Naquella egreja lotada é que, na missa, alguem primeiro notou que a fedentina alli sobeja. Mulher ou homem, velho ou moço... Inteiro, aquelle ambiente fede e nos enseja a reflectir accerca do chuveiro na vida das pessoas, dicto seja. Uns gastam agua à toa e ficam horas debaixo da fatal ducha acquescida, mas outras dessas fetidas senhoras se lavam no bidê, dando em seguida... Então por que será que, alli na missa, que sempre nos paresce tão comprida, se fede por egual? Será a justiça divina entre os mortaes, fedendo em vida?
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DISSONNETTO DOS PALADARES EXOTICOS [1692]
Minhocas comestiveis? O Monteiro Lobato diz que aquella carne é como qualquer outra... Talvez... Mas vou, ligeiro, dizendo que minhoca... Ah, não! Não como! Ouvi ja commentar que, no primeiro dos mundos, fabricaram novo pomo, mixtura de coqueiro e abacateiro, com gosto de banana e dando em gommo. Quadradas, no Japão as melancias ficaram sem caroço! Mais macias, sabor teem de geléa de morango! Depois alguem reclama si eu me zango! Vocês querem saber? Sou antiquado! Não venham com taes coisas pro meu lado! Presuncto sem melão ‘inda é meu rango, alem dumas coxinhas... só de frango!
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO PARA UMA MARCHINHA [1728]
Antigas, eram boas. Mas a breca levaram e, mais tarde, ja escutamos: “Eu macto quem roubou minha cueca p’ra fazer panno de pratto!” Ora, vamos! Comtudo, analysemos si esta pecca por falta de decoro: convenhamos que um pouco de quem mija e quem defeca retem-se na cueca que citamos. Portanto, enxugar pratto com aquillo, suppondo que uns sacanas assim agem, seria, mais que equivoco ou vacillo, um acto da mais pura sacanagem. Ninguem uma cueca roubaria sabendo que tem essa suja imagem, a menos que pensasse em putaria... Na bocca pôr aquillo é ter coragem!
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DISSONNETTO PARA A ANATOMIA DA BUNDA [1793]
Quadrada no gordinho ou no bebê, na moça é redondinha. Seu tamanho, porem, varia muito, e não se vê direito, excepto quando estão no banho. No espelho, o proprio dono quer que dê para se contemplar, mas acha extranho aquillo que está vendo: é como um “T” inverso, tudo recto, feito um lanho! Os gluteos callipygios, na esculptura, teem solido parametro. Aliaz, parescem bem communs... Mas quem mensura parametros à moça ou ao rapaz? Na practica, o que importa é quando senta alguem que vae fazer o que se faz na tabua de cagar: la representa papel vero o que temos por detraz.
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO PARA AS BELDADES CONSTIPADAS [1797]
Mais feio que o Romario, só, talvez, será Pedro de Lara! Mas ha quem os ache até bonitos! Si vocês duvidam, um dictado disse bem: “Quem ama o feio...” E quem ficou freguez da phrase foi um cara que não vem ao caso nomear, e que me fez a grata confissão, que nos convem: “Banal meditação quero propor: Nós todos somos feios ou bonitos appenas a quem tenha os olhos fictos na cara em que expressamos nossa dor. Mas logo, no que vemos, muda a cor: Nas horas de alegria, todos são bellissimos! Porem, basta a feição da linda musa quando cagar for...”
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DISSONNETTO PARA A PERIPHERIA DESASSISTIDA [1854]
Si chove, aquelle corrego começa a encher e logo invade toda a villa. Exgotto a céu aberto, fede à bessa e, quando eleva o nivel, horripilla. Até cobras e rattos boiam nessa enchente de cocô! Sem prevenil-a, só chega a prefeitura quando cessa a chuva e quando o povo, ao vivo, estrilla. “Soccorro!”, implora a velha no jornal das septe, voz agonica, chorosa de dor, emquanto, fora, o temporal inunda o bairro todo e às photos posa. Na salla, as aguas cobrem o sofá. A scena, a quem assiste, é desastrosa. Num bairro rico, alguem que viu ja dá a sua opinião: “Gente teimosa!”
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO PARA UMA IDÉA LUMINOSA [1865]
A luz appaga e volta, e volta e appaga. Computador pifou, lampada pisca. Durante um appagão, o bardo caga e tenta se lembrar da rhyma arisca. Estava quasi achada aquella vaga idéa, o fugaz termo que lhe risca a folha de papel, quando a aziaga luz falta e o feliz verso lhe confisca. A merda não sae facil, e o poeta, coitado, desconcentra-se. Pudera! Accaba se exquescendo da correcta e lucida expressão que lhe viera. Voltando a luz, desiste do poema, agora que a memoria se lhe zera e, mesmo que de raiva a mão lhe trema, na bunda usa o papel: cansou da espera.
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DISSONNETTO PARA QUEM ESTÁ CAGANDO E ANDANDO [1890]
Fazer o que, si a merda ja está feita? O jeito é se limpar, e eis o transtorno! Nas calças nos desceu, e se suspeita da coisa pelo cheiro que anda em torno. Quem manda? Porcaria a gente acceita comer, em plena rua, si o suborno do preço mais em compta se approveita, em vez do que é sahido dum bom forno. Bem feito! De cagar-me eu é que morra! Agora, este suffoco! Estou cagado no meio da avenida, e me degrado: não ha nenhum banheiro nesta porra! Não ha limpo logar que me soccorra! Terei que andar até que encontre um bar em cujo sujo vaso me sentar e o resto do cocô deixar que excorra!
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO PARA UMA AGUA TIRADA DE JOELHO [2020]
A bocca, ja treinada, a abboccanhar a rolla Appós um longo jacto, por um momento, ainda
prompta fica emquanto mija. extanca a picca não tão rija.
A um novo jacto, bebe dessa bicca a bocca, que, ennojada, não se allija. Agora frente a frente, se dedica appenas a chupar como se exija. No vaso, ainda espuma a quente urina com gosto effervescente de placebo. Na glande a lingua faz uma faxina geral e, alem das gottas, limpa o sebo. Mijar assim é como um duplo gozo, accyma do que eu proprio, a sós, concebo. Alem de alliviar-se, o pau seboso me engasga ao exporrar, e tudo bebo.
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DISSONNETTO PARA UMA PENA ALTERNATIVA [2025]
Condemna-se um primario à “exsecração” que sirva de “excarmento”. Os termos veem, na practica, a calhar: a punição é que, sobre seu rosto, cague alguem. Há salla appropriada: ao rés do chão, deitado, fica o preso, a cara bem debaixo dum assento. Os homens vão sentando e defecando, com desdem. Paresce um sanitario masculino, seu typico usuario bem ao jeito: um funccionario publico, um menino, um velho, um estudante de direito. Appós um dia inteiro vendo um anus abrir-se, recebendo o seu effeito purgante e do cocô sentindo os damnos, libertam-no e commentam: “Foi bem feito!”
[vêm]
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO PARA A EXSECRAÇÃO PRIVADA [2027]
Sentença proferida, foi preciso à força conduzil-o. Agora agguarda na salla sanitaria. Rente ao piso está sua cabeça. O algoz não tarda. Entrou. Por sobre o vaso, seu sorriso encontra o olhar do preso. Abbaixa o guarda as calças e se senta. Molle e liso, desaba-lhe um tolete de cor parda. Está immobilizado. O cagalhão lhe excorre pelo rosto. O odor à rosa opposto será, claro. Os labios são borrados pela merda pegajosa. Respiração suspensa. Outro dejecto de massa putrescente e volumosa lhe cae, mais um, na cara. E, emquanto o recto se livra e o preso soffre, o guarda goza.
66 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA QUEM SE DEU ARES [2055]
Si peida, o cara aos outros importuna, mas, si não peida, o incommodo é só seu. Si os gazes se accumulam, a columna fecal lhes forma a rolha e, ahi, fodeu! No pulpito, na cathedra ou tribuna, discursa elle, dizendo-se plebeu. Rhetorica jamais se coaduna, porem, com o fedor que alli fedeu. Em Deus quem cheira aquillo perde a crença! Surpresos, os presentes fazem gesto de quem a cara abbanna, em manifesto signal, que palavrões grossos dispensa. É como uma fumaça, grossa, densa. O gajo, que dos gazes se allivia, ainda tem, por cyma, uma alegria immensa por causar tamanha offensa.
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO PARA QUEM EXHALA NA SALLA [2056]
Poder peidar é dadiva divina! Que o diga quem padesce, como eu peno, da retenção dos gazes, que culmina em colicas, si o ventre está ja pleno! A merda ja me sae durinha e fina, devido ao diverticulo! Pequeno não é meu soffrimento na latrina, e ainda à flatulencia me condemno!? Na cama, não encontro posição, insomne e attormentado! Nenhum “Ufa!” siquer deixo sahir, emquanto não excappa, finalmente, o que me extupha! Portanto, quando, em publico, me vem vontade de peidar, como quem rufa tambores, dou vazão! Foda-se quem reclama do fedor da minha bufa!
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68 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA UM EXCAPPAMENTO BARULHENTO [2077]
Peidar em pé não é, não, coisa assim tão facil: por exemplo, eu não consigo! Preciso me encolher, ou num sellim fingir que estou montado, e assim prosigo. Me aggacho, me adjoelho... Um dia, vim andando de gattinhas, e um amigo sorriu e até sentiu pena de mim: naquella posição topou commigo! Não acho, no meu corpo, qual a falha! Será que engordei tanto, minha gente? Será que esta barriga é que attrapalha? Meu peido, por acaso, é differente? Mas, em compensação, quando elle excappa, ahi, meu, sae de baixo, sae da frente! É de motocycleta! E quem a nappa não tapa, que o futum guardado aguente!
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO PARA O ALIMENTO DO DETENTO [2085]
No mesmo vasilhame em que elle caga lhe servem a comida. Assim, na cella commum da Guatemala, os crimes paga quem, sendo dissidente, se rebella. Asturias registrou, na sua saga, o barbaro costume. Mas aquella tortura alimentar ja se propaga na America Latina, com sequela. Ao ver que o preso come algum dejecto no meio do pheijão, o predilecto prazer do carcereiro é olhar-lhe a boia, sarcastico, rilhando os dentes: “Oia!” Alegre, o funccionario até approveita e bota seu tempero na receita, mijando na vasilha: o pheijão boia no liquido, visão digna dum noia.
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70 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA UM PRONUNCIAMENTO FEDORENTO [2100]
Si peida o presidente americano, o mundo repercute pela imprensa. Maior repercussão, porem, é o damno causado pela Bolsa, quando tensa. Confirma-se uma crise como panno de fundo, e algum banqueiro nos dispensa seu caro minutinho para um plano propor... com audiencia em rede, immensa. Qualquer um quer vender um bom conselho. Si um especulador falla em “cautela”, a midia ja lê “panico” e arrepella nos homens de negocio até o pentelho. Mas eu não me reflicto em tal espelho. Si fallam “Tá fedendo!”, em vez dum pum, o mundo inteiro entende que o tal “boom” da Bolsa, antes azul, ficou vermelho.
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO PARA UMA PRIVACIDADE MEDITABUNDA [2113]
Primeiro, sae um peido. Outro, que exhala fortissimo fedor, sae em seguida. A merda ia sahir, mas, grossa, entalla na entrada do orificio, endurescida. “Entrada” é expressão feia: offende usal-a. “Sahida” é bem melhor... Voltando à vida difficil de quem caga, é como a balla que, prompta a disparar, não se decida. A gente se concentra... Pensa... Reza... Será que os intestinos fazem greve? É facil de entender como se “enfeza” quem tem prisão de ventre e nada escreve. Àquelle que é poeta, logo sae com thema podre, em sendo quem se attreve, no minimo, um sonnetto... ou só haikai, si for pouco o cocô, de obrar mais breve.
72 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA A CORRECÇÃO MONETARIA [2115]
Pegaram-no os capangas. Admarrado, ouviu que as ordens dava o coronel: “Meresce uma licção! Vae ser cagado na bocca! Tractem disso!” E ri, cruel. {Não! Pelo amor de Deus!} Appavorado, implora o caloteiro do aluguel. Porem ninguem tem pena do coitado, que soffre, da cambada ao prazer bel. Mas vamos descrever tudo direito... Obrigam-no, munidos dum funil, a merda degluttir! A scena vil provoca o riso: “Engole ahi! Bem feito!” Sim, claro, para tudo dá-se um jeito... Cagavam alli mesmo, attraz do muro. Difficil foi fazer o cocô duro descer pela garganta do subjeito.
SONNETTARIO SANITARIO
73
DISSONNETTO PARA A PERICULOSIDADE DO DETENTO [2130]
“Não, moço! Espera ahi! Sou innocente! Ja vem meu advogado me soltar! Espera mais um pouco!” Mas o agente da lei colloca o preso em seu logar: Debaixo da privada, a cara rente ao chão, bocca p’ra cyma, maxillar aberto à força. Caso alguem se sente alli, num vaso humano irá cagar. E, pelo jeito, o proprio carcereiro que caga a merda alli mais fedorenta será quem vae cagar nelle primeiro: abbaixa as calças, peida, e ja se senta. A massa marron desce duma vez, depois dos maus odores que elle venta, e entope a bocca a alguem que nada fez e que nenhum perigo representa.
74 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA A PENA DO DETENTO [2132]
“Eu sinto muita pena do senhor, mas é que estou cumprindo o meu dever...” Assim o carcereiro diz, ao pôr a bunda sobre o assento p’ra fazer... Cocô! Pois é, cocô, cujo fedor presente o condemnado ao receber [pressente] na cara o farto peido! Ja o sabor da merda é mais difficil descrever. Aberta e presa, a bocca, como um rallo que sorve, emquanto um ventre se allivia, engole o troço, pois, si vomital-o, ha risco de engasgar e de asphyxia! O corpo do detento, embora aptado, se torce, se contorce, soffre, expia, saccode-se... Diz, rindo, o algoz: “Coitado!” Limpando-se, ergue a bunda da bacia.
SONNETTARIO SANITARIO
75
DISSONNETTO PARA A SONOPLASTIA DO DETENTO [2135]
Com phones nos ouvidos, um chiclette na bocca, quem addentra o cagatorio é o joven carcereiro, que repete, da musica que escuta, o palavrorio. É rap o que está ouvindo. O toalete, local de punição, é “purgatorio” dum preso “apprivadado”, a quem compete soffrer esse castigo vexatorio. O joven, bem folgado, appoia a bunda no assento e tira disso muito sarro. Sorrindo, cantarola emquanto inunda a cara do detento com seu barro. Immovel, posto a ferros, o detento que tudo ja aguentou, até catarrho, se borra, engasga, tosse... e seu lamento nem tem musica ou lettra: é um som bizarro.
76 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA UM LOGAR SOLITARIO [2144]
Outrora, ao ficar cego, meu momento poetico mais fertil foi durante a insomnia, appós o orgasmo, e ainda tento crear, caso a inquietude o somno expante. Mas, hoje, é na privada, onde me sento sem pressa, onde me encontro neste instante, que faço meus sonnettos, cento a cento, milhar appós milhar, nunca o bastante. Me lembra aquella phrase de banheiro: Aqui, neste logar de uma só vaga, valente alguem será, porem se caga; covarde alguem ja foi, porem faz força. Aquelle que se julga verdadeiro poeta aqui faz, facil, um poema, a menos que, enfezado, elle se exprema, ou que, na diarrhéa, se contorça.
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO PARA UMA CHARIDADE QUE SAE CARA [2145]
Incrivel, mas é facto. Elle consegue comer da merda em publico, por grana! Ninguem admarraria alli seu jegue, mas todos querem vel-o, acham bacchana. Divertem-se: “Isso é comico!” Ha quem negue? Lhe trazem a “linguiça”, de que emana um cheiro insupportavel. “Vamos, pegue na mão! Ponha na bocca! Mostre gana!” A turma ordena, grita: “Coma mais!” Chegou, dos cagalhões, o mais massiço. Gargalham os rapazes, para os quaes um cego deve mesmo aguentar isso. Exigem que elle ria: “Cê não gosta? Não quer nos aggradar, mostrar serviço? Então coma sorrindo! Tem mais bosta!” E alguem traz mais um pouco de “chouriço”.
78 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA UMA FOLIA RUEIRA [2152]
Dizer que carnaval um punk odeia procede, e a diffundir isso eu adjudo. Mas muda a idéa caso o cara leia alguma coisa sobre o tal do “entrudo”. Em vez dum espectaculo, era feia a scena no Brazil: valia tudo em termos de sujeira! A roupa alheia não tinha, contra as aguas, um escudo. Quaes aguas? Ora, exgotto, ou mijo puro! Só fico imaginando, minha gente! Ninguem que se vestisse com appuro às ruas sahiria impunemente! Um punk adoraria tal casquinha tirar, numa attitude irreverente, cruel, quando alvejasse o “almofadinha” na cara, com urina ainda quente!
SONNETTARIO SANITARIO
79
DISSONNETTO PARA UMA ILLUSÃO PASSAGEIRA [2155]
Ninguem o cu me lambe tão gostoso nem tão suavemente quanto a minha columna excrementicia, o volumoso cocô, si a consistencia está mollinha! A cada piscadella, o cu meu gozo excita, pois a merda, que alli tinha parado, sae de leve e, caprichoso, o musculo relaxa e faz cosquinha! Alegre sensação, então, me brota! Naquelle instante, penso estar sentado na cara do inimigo derroptado, impondo-lhe o tributo da derropta! Mas logo phantasio minha quota: Na practica, se inverte a scena activa, pois quem no cu dos outros põe saliva é o cego, que de Glauco o nome adopta.
80 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO PARA A ASEPSIA BUCCAL [2502]
Gozado! Alguns fedores, que nos dão repulsa, os acceitamos quando em nós occorrem, e fazemos delles voz de nojo quando alheios elles são! Passar de nossos dentes pelo vão aquelle barbantinho, logo appós comermos, é normal. Mas, quando a sós, cheiramos o tal fio, e é fedidão! Fedor de coisa podre, que, si alguem pedisse que cheirassemos, seria aquillo tido como porcaria, motivo de recusa e de desdem. Mas nossa podridão nos delicia e faz do nosso nojo seu refem, a poncto de querermos, si não vem ninguem, cheirar de novo a baba fria.
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO PARA UMAS UNHAS APPARADAS [2505]
Que nem Zé do Caixão não quer ninguem chegar a ter as unhas tão compridas. As minhas, ao contrario, são roidas nervosa e vorazmente. A sós, porem. Bem sei que é uma attitude pouco zen e exsistem tesourinhas bem sortidas, de facil manuseio: é que feridas não quero nas cuticulas, mas nem...! Na minha phase punk, eram deixadas ao léu, até crescerem e crearem, por baixo, encardidissimas camadas. Deixemos mais uns ponctos ca constarem: Agora, si as coceiras me piccarem a pelle, eu tinha minhas mãos aptadas, não fosse um rallador! Vejam! Reparem! Ou são minhas razões exaggeradas?
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82 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO SOBRE O BEIJO MAIS INTIMO [3008]
Vocês ja repararam? Quando alguem chupou rolla ou boceta, mesmo aquella recemlavada, um halito revela aquillo, porque cheiro forte tem. Quem é que ja não disse “Não, meu bem!”, negando-se a beijar a linda e bella boquinha que chupou e que a sequela conserva no bafejo que nos vem? Por isso o sexo oral é sempre sujo: si a bocca está em contacto com aquillo que fede, o odor a eguala ao dicto cujo, naquelle mesmo podre e porco estylo. Assim acho, sabendo-me sabujo, inutil evital-o ou prevenil-o: mais forte se perfuma, mais eu fujo do cheiro, pois sou sujo sem vacillo.
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO SOBRE O PAPEL DA LINGUA [3012]
A gente, commummente, não consegue limpar direito a bunda. Só se admassa um pouco de papel, que a gente passa no cu, sem que, ao redor, melhor se exfregue. Ninguem commenta, mas não ha quem pegue com jeito no papel, com elle faça um lenço bem dobrado e uma devassa practique, prega a prega, ao trampo entregue. O effeito não se nota, excepto quando algum mandão me obriga a dar um banho de lingua e seu cuzinho eu vou lavando, grunhindo feito um porco, num tom fanho. O gosto não é leve nem é brando. Grudado no pellinho, eu nem extranho um granulo de merda: só desando em choro si o cocô ganhar tamanho.
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84 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO SOBRE A DUPLA IDENTIDADE [3021]
Como é que pode? Moça tão formosa fazer algo tão sujo, que eu nem cito? Como é que pode? Um gajo tão bonito cagar merda tão fetida e lodosa? Os dois dão bella dupla, que bem posa nas photos, o melhor casal descripto nas notas sociaes, mas, sob o mytho, percebo que nem tudo é cor-de-rosa. Lamento ao meu leitor noticias más trazer, mas algo achei que os incrimina... Flagrei ja, na privada, o que o rapaz deixou sem dar descarga. E da menina? Tambem cheirei, no vaso, o que ella faz. Que horror! Que cagalhões! Que fedentina! Ironico, hem? São lindos, elles, mas se exquescem do que largam na latrina!
SONNETTARIO SANITARIO
DISSONNETTO SOBRE A PLASTICIDADE FECAL [3028]
Si o medico me disse, eu accredito que tenho de educar meu intestino, fazel-o funccionar: desde menino foi elle preguiçoso e assaz constricto. Mas no que me foi dicto, a sós, medito: o cara ‘inda quer ver si eu elimino “cocô bonito”... E eu, sceptico, imagino que coisa vem a ser “cocô bonito”... Será que o cagalhão esculptural, dourado, envernizado, admollescido, pequeno, grande, solido, comprido, se enquadra em typo esthetico, affinal? Olhando meu tolete, eu ca duvido que possa elle ser bello: cheira mal, tem porte indefinido, desegual, é duro, escuro, grosso e retorcido...
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86 GLAUCO MATTOSO
DISSONNETTO SOBRE O INCONSCIENTE COLLECTIVO [3059]
Ninguem se lembra disso! No momento exacto em que eu versejo, quanta gente trabalha, anda na rua, passa em frente do predio, da vitrine, ao sol, ao vento? E quanta gente (agora, que eu commento, vocês vão se lembrar) está presente sentada, onde é preciso que se sente quem caga... Quantos? Dez, quinze por cento? Difficil calcular isso. Porem, digamos que uma hypothese eu levante: Si pelo menos cinco em cada cem pessoas defecarem neste instante... Milhões estão cagando, hem? Eu tambem! Si o troço fosse um unico, gigante seria... Que tamanho? Acho que bem maior que algum Camões, Petrarcha ou Dante!
SONNETTARIO SANITARIO
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DISSONNETTO SOBRE O LIMITE QUE SE PERMITTE [3065]
A sua, todo mundo ja comeu. Ao menos, poz na bocca e seu sabor provou. Si não provou, ‘inda vae pôr na bocca, seja o nobre ou o plebeu. Melleca é salgadinha. E a cera? Seu sabor, meio amargoso. Si alguem for chupar caralho, sente que o fedor do sebo é forte, e o gosto equivaleu. A porra, até meu mijo, ja provei. Senti, sim, nojo. Fallo francamente. Nem todos são tão francos: muita gente engole urina alheia, até, que eu sei. Com merda a historia é outra: ha quem aguente o cheiro? E o gosto, então? “Aqui del rei!”, gritava alguem la attraz. Me disse um gay que come e gosta, e eu digo que elle mente.
88 GLAUCO MATTOSO
SOPA NO MEL [3126]
Alem de ser cagado em plena cara, cumprindo uma sentença que (Pudera!) por todos é chamada de “severa”, o preso com mais pena se depara. “Si duro for o troço”, elle pensara, “até que não me sujo tanto: é mera questão de me limpar, depois!” Quem dera! Com outro vil detalhe não comptara. De facto, é cagalhão grosso o que o tira desova, merda para la de dura, que desce e contra um rosto immovel mira, mas, bocca e olho fechando, o preso attura. Depois, porem, o tira mija! Agora mais nada no seu ventre elle segura. A merda ja admollesce, e só peora o lodo em que se torna essa tortura.
SONNETTARIO SANITARIO
MYSTICA GALHOFA [3139]
Attraz do bis, o tetra, o pentavô... Dos taes “estercoristas” é o costume: a merda ensalsichada se resume no horror de haver chouriços de cocô! No culto a Belphegor, quasi pornô é o acto de adorar, alem do estrume, o aroma flatulento, esse perfume do qual todo escatologo diz “Pô!” Si ao peido sacro sempre fui ommisso, Do troço o cheiro quasi não aguento. Jamais provei do mystico chouriço, mas rezo a Belphegor quando me sento... No vaso, ja que soffro assaz com isso. Do peido até o tolete fedorento, são muitas orações e, si o serviço demora, um destes faço... e o chamo “bento”!
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POETICA CAGADA [3153]
Um thema interessante, no sarau, surgiu: como defeca cada vate. Não causa, pois, surpresa que alguem tracte de assumpto tal em tão concreto grau. Francez, o mais subtil mactou a pau: compara uma cagada, no debatte, à rolha da champanhe e, nesse empatte, provoca o commentario: “Nada mau!” Primeiro, affirma o bardo, o troço é duro, resiste a todo exforço... De repente, explode, e nada mais está seguro por dentro desse tubo que ha na gente! A logica da these eu ca procuro. No caso delle proprio, é coherente a analyse, mas, preso, eu me torturo, temendo que, por dentro, me arrebente!
SONNETTARIO SANITARIO
ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA [3442]
No presidio, algum momento sempre exsiste, de ironia: perguntaram ao detento que castigo preferia. Entre um sordido e nojento e um que sangra e supplicia, o coitado pensa: “Aguento si menor for a agonia...” Comer merda elle prefere numa abjecta refeição, appostando que tolere, e um tolete encara, então. Mas vomita e, agora, aguenta, de lambuja, outra sessão de sadismo: uma sangrenta e cruel flagellação.
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SELVAGENS IMAGENS [3448]
Pendurado de cabeça para baixo, um prisioneiro não espera que accontesça nada muito prazenteiro. Não ha scena que appetesça nem que aggrade pelo cheiro num barril que a merda espessa e cremosa encheu inteiro. O cocô quasi transborda da barrica! Que regalo aos algozes! Pela chorda, vão la dentro mergulhal-o! Elle implora e se debatte no brevissimo intervallo, mas, até que a merda o macte, tosse e engasga feito um rallo!
SONNETTARIO SANITARIO
SENSUAL COMMERCIAL [3477]
Sabe, gente? Eu, appesar de charmosa e de bonita, demorava a evacuar! Sim, verdade seja dicta! Ja de dias mais de um par eu passei (Quem accredita?) sem fazer! Tão devagar, o intestino! Estive afflicta! Mas, tomando Cagarol, do qual sou, agora, fan, eu passei a ver o sol com bons olhos, de manhan! Nem preciso mais de enema! Accredite, minha irman! Hoje eu como, sem problema, a mais acida maçan!
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HYGIENICO PANICO [3521]
Outro methodo não ha de limpar certo logar. O melhor jeito será tomar banho appós cagar. Com papel, só, nunca dá para tudo eliminar ao redor do que está la nessa fenda capillar. Temos asco, temos medo! O buraco, propriamente, tanto nojo dá, que a gente mal lhe enfia o medio dedo! Nos limpamos, tarde ou cedo, mas aos pellos é que adhere a sujeira! Ha quem tolere? Ja a cheirei... Meu, como eu fedo!
SONNETTARIO SANITARIO
INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES [3597]
A bexiga com o grosso intestino sempre briga! Quer sahir primeiro o troço, mas encontra uma inimiga: Sim, a urina! Que um colosso de cocô seu curso siga, não é facil, si um endosso della falta, e impera a intriga! É de lua a coisa, creia! Si eu me sento na privada, cagar tento e não sae nada, é fatal: bexiga cheia! Passo o tempo, caso leia, mas, depois que eu solto o mijo, o intestino está tão rijo que a cagada, agora, freia!
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O ACCOCORADO E O ACCOCOZADO [3711]
Dar allivio ao intestino é um momento tão gostoso quanto a bronha dum menino que domina e, assim, tem gozo. É cagando que eu domino outro gajo que, choroso, vae comer o que elimino, seja solido ou cremoso. Me accocoro e o rego encaixo, folgazão, muito contente, bem na bocca que por baixo de mim fica, obediente. Não preciso fazer força nem peidar tão fartamente para que elle se contorça quando o gosto e o cheiro sente.
SONNETTARIO SANITARIO
COPROPHOBIA [3873]
Está claro: a maioria das pessoas nojo sente de fallar em porcaria. Hygienica, essa gente! Quem tiver dysenteria, della falla vagamente: “desarranjo” é o que seria “caganeira” em tom fluente. Euphemismos não farão que a mão suja não lavemos, que não feda um cagalhão, nem que merda não caguemos! Diarrheico ou constipado, pouco importa, com os demos! O que importa é ter cagado: termos sempre são extremos.
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VALOR SENTIMENTAL [3936]
A madame, quando a mão vae lavar, do dedo tira seu annel, mas o sabão mella a joia de mentira. Excorrega e cae (Ai! Não!) na privada o annel! Se attira a coitada, mas em vão: no cocô some a sapphira! A mulher se desespera: “Puta merda!” a dama falla. Mesmo sendo a joia mera fajutice, quer pegal-a! Se adjoelha, a mão enfia, resgatando a sua opalla, bem no fundo da bacia... Grita, afflicta: o braço entalla!
SONNETTARIO SANITARIO
PONCTO DE INTERROGAÇÃO [4009]
O tolete, alli no chão, que lhes lembra? De cabeça para baixo, me dirão que um signal até paresça. O hespanhol, quando a questão se inicia, a inverte: a espessa merda enrolla-se, e eis que não ha quem não a reconhesça. O cocô, num caracol, forma typico bombom: ergue a poncta e, sob o sol, excancara a cor marron. De mau gosto foi, de facto, quem egual preparou, com toda a calma, no formato, chocolates nesse tom.
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CASEIRA CONFEITEIRA [4110]
Conhesço uma cruel dominadora que obriga seus escravos a comer da fedida torta que ella faz suppor a melhor das iguarias: sua merda! Quer vel-os, esta sadica instructora, comendo com vagar, a bocca lerda, daquelle “cocolate”, que ja fora thesouro, em testamento, que alguem herda! Tambem de “guariná” lhes enche a taça! Será sortudo quem tal drinque ganhe! Imploram e supplicam que ella faça xixi para que alguem beba e se banhe! Chamar de “cocolate” e “guariná” jamais foi linguajar que à moça accanhe: dá tanto prazer nella quanto dá comer bombons, beber fina champanhe!
SONNETTARIO SANITARIO
VERDADE REVELADA [4118]
Cagar inspira o espirito do crente: Luthero ouviu fallar-lhe a voz divina emquanto evacuava na latrina e exemplos outros muitos veem à mente. Dom Pedro deu seu grito independente por causa duma pausa vespertina à beira do riacho, o que elimina hypothese mais nobre que eu advente. As grandes decisões da humanidade, no fundo, são tomadas na privada, em meio à corporal necessidade, a cada cagalhão, tolete a cada. Portanto, me permittam que lhes brade: de extranho, de expantoso não ha nada si faço uns dissonnettos quando, ja de pau duro, gozo appós uma cagada.
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RODIZIO DE EMBUTIDOS [4134]
A bunda occupa todo o assento e sobra dos lados: elle é gordo, mesmo, e caga, aos poucos, a linguiça! Quando vaga o recto, mais se allarga cada dobra. Debaixo da privada na qual obra, o gordo escuta a surda voz, a praga raivosa que ella solta, rouca, gaga, que o paio emmudesceu mas se recobra. Na bocca, que pragueja e que se cala a cada salsichão a mais que desça, salame entrou, tambem, para tapal-a. Augmenta a pilha, cresce, então. Que cresça! Peidando, o gordo faz sobre a cabeça do preso que, no vaso oval, se entalla, um ultimo chouriço: que padesça! Que soffra alli, sem follego, sem falla!
SONNETTARIO SANITARIO
AOS HOMENS DE BOA VONTADE [4149]
Ah, como é bom cagar! Não era à toa que Gandhi, alliviado, então sahia, a todos dando aquelle seu “Bom dia!” Sabia o Mestre o que era coisa boa! Talvez bem conhescesse o que a pessoa padesce com prisão de ventre! Um guia do povo hindu terá sabedoria maior do que a que tanto se appregoa! Diz elle: “Então, meninas? Como estão passando esta manhan? Cagaram bem?”, ao ver que todo mundo está bem zen. “Cagamos tudo, Mestre!”, ellas dirão. Ah, como eu desejava, em vez de “Amen!”, que a bençam na cagada um bom christão, sem culpa e sem temor de punição, pudesse declarar, aqui tambem!
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EMPREHENDEDORISMO CREATIVO [4405]
Que boa idéa eu tive para abrir a minha empresa! Quero fabricar sabão feito de lixo! Em cada lar terei materia-prima a conseguir! Emquanto um charlatão vende elixir rejuvenescedor e o patamar se eleva da inflação, baratear eu posso o nosso asseio, sem fingir! Verdade é que o sabão não tem odor assim tão aggradavel, mas fazer o que? Bem sei que a barra nem prazer nos causa, visual, por sua cor... Calumnia, todavia, é me dizer alguem que elle não limpa e que, si for ver bem, até mais suja! Ah! Por favor, assim ja é demais! Vão se foder!
SONNETTARIO SANITARIO
INTESTINO DE FINO TRACTO [4457]
Eu fico só pensando si adoptasse a gente a saudação feita por Gandhi: “Bom dia! Ja cagou? Fez tudo?” Grande maneira de saudar! Que amor! Que classe! Ao ver elle enfezada a nossa face, diria lamentar “que o senhor ande cagando mal”: pensar que elle nos mande à merda não é justo, embora passe. Si a irão que, pois
alguem digo “Bom dia! Cagou bem?” pensar que estou de gozação, grosso, offender quero, porem não, isso é desejar sahude a alguem!
Pudera eu responder “Caguei, irmão! Que grande sensação que ja me vem! Você nem imagina! Você nem calcula! Fiz um baita cagalhão!”
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GAZES CONTUMAZES [4490]
Meu, que cheiro! Assim ninguem mais aguenta! O elevador ja lotado e o cara vem peidar dentro? Que fedor! Mas será que elle não tem pejo, nojo, asco, o que for? Ou será que é mesmo sem dó que peida? Que suppor? Supporei por mim: eu peido de proposito, com gosto, sem remorso! Ja provei do meu fedor e é que nem ovo! Quem achar gostoso, adspire! Quem quizer que feche o rosto! Quem não gosta se retire! Soffre alguem? Nem me commovo!
SONNETTARIO SANITARIO
POMBO SEM ASA [4575]
Emfim, a maquillagem retocada está! Quanto trabalho! A bonitona senhora, em seu espelho de cafona moldura, as rugas busca. Não vê nada! Perfeito! Disfarsada está, pois, cada dobrinha, cada falha! Bem funcciona o raio do kosmetico! Ambiciona a dama, até, casar-se, emocionada. Debruça-se, animada, na janella, olhando para o azul. Naquelle instante, lhe cae na testa um liquido, que mella. Excorre pela cara. Arde bastante... E fede! Ella se exfrega: às tontas, ella estraga aquella mascara elegante que tanto preparou p’ra ficar bella, coitada, tão feliz, tão delirante...
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INCONTINENCIA URINARIA [4576]
Em pleno shopping center, bem vestido senhor olha as vitrines. De repente, se dobra, se contorce: elle se sente mal. Sabe: não devia ter sahido. Não pode segurar mais! Prevenido não era: sente aquelle mijo quente jorrando! Que papel mais indecente alguem pode fazer? Tudo embebido! As calças, os sapatos... Encharcada, a fralda da camisa, para fora, gotteja! Esse mijão apprompta cada! Mais tarde, quem aquillo rememora? Peor que tal vergonha não ha nada! Vexame enfrentou quando uma senhora passava e, ao vel-o assim, embasbacada ficou! Reconhesceu-o, claro! E agora?
SONNETTARIO SANITARIO
GAZES COMBUSTIVEIS [4581]
Eu fico imaginando aqui: si o nosso fedido peido fosse fumacento, fogoso, até... Que sarro, hem? Nosso vento soltando a labareda... Que destroço! As calças virariam trappo... Posso até ver chammuscado o meu assento depois dum peido... E quando eu arrebento a colcha, até o colchão, si o peido engrosso? Estou vendo na mente: um estampido echoa no banquete! A mesa inteira assusta-se e suspeita! A fumaceira se expalha, preta, e deixa um ar fedido! Alguem viu, por detraz, minha cadeira querendo decollar, com seu ruido de rhoncho de motor, foguete erguido do solo... Mas não voa: appenas cheira!
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DESGOSTOSA DEGUSTAÇÃO [4583]
Linguiça de legume, carne, massa... Cocô mixtura tudo. Quem o coma na certa notará como elle somma sabores, duro ou molle alguem o faça. Comer cocô não é coisa que passa por muitas cabecinhas... Mascar gomma paresce preferivel. Até toma xixi quem chupa; merda não tem graça. Occorre que, em regimes de excepção, registra-se a ingestão, como tortura, de merda pelos presos, num porão commum a qualquer nova dictadura. A scena se repete, mas a pura verdade é que quem come à força não se lembra do sabor dessa mixtura, em meio a tanta soffrega afflicção.
SONNETTARIO SANITARIO
HALITOSE EM DUPLA DOSE [4669]
Bellissima mulher! Quem imagina, de longe, que tal bafo sae, de fossa, daquella linda bocca? Minha nossa! Mau halito? Euphemismo! É fedentina! Coitada! Fede assim desde menina! Seu medico fallou: “Não ha quem possa curar esse fedor!” Ella, que esboça um timido sorriso, se admofina. Pastilhas chupa, toma comprimido de tudo quanto é typo que se invente, faz tanto gargarejo, escova o dente com pasta perfumada... Assim tem sido! Mas ella se casou, com certo rapagão, de bocca... Porra! do caso! Quem mais
recentemente, tambem fedido Agora é que eu duvido forte cheiro sente?
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ANXEIO POR ASSEIO [4728]
“Mamãe, ja fiz! Me limpa a bunda?” E vem, correndo, a mãe limpar a suja bunda do filho mimadinho! Aquella immunda bundinha a mãe exfrega, limpa bem. Crescido, o cara ainda que é nenen se julga! Mal de merda o vaso inunda, ja chama a mãe, que accorre e nem segunda chamada agguarda: nisso prazer tem. Ficou até ridiculo: o filhão levanta da privada e a mãe lhe passa, no rego cabelludo, a fina mão que de fina champanhe empunha a taça. Cuidado sempre toma, alguns dirão. Papel, usa bastante, mas tem graça aquillo: sempre sujos ficarão seus dedos, caso molle o filho faça.
SONNETTARIO SANITARIO
ANTITHETICO AUTOCLYSMO [4740]
Cagou com gosto! Estava com prisão de ventre e, finalmente, na privada deixou seu cagalhão... Agora, nada faz que este pelo cano desça! Oh, não! Descarga não resolve. Com a mão tentar desentupir é remactada burrice: bem capaz que ella entallada la fique, juncto à merda... Que afflicção! Dá voltas o tolete, retorcido: paresce um caracol tapando o vaso! Será que elle, admanhan, terá descido? Capaz é de empedrar-se, por acaso? Calculo o que o cocô terá fedido! Contaram-me e pensei commigo: caso a Sade perguntassem, não duvido mandasse alguem comer e desse um prazo.
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CASO VAZADO [4743]
Que o padre era pedophilo, na villa sabia todo mundo. O que ninguem siquer imaginava é que tambem coprophilo elle fosse! E nem vacilla! Até que descobriram que perfila seu typo de tarado o de alguem sem escrupulo nem nojo, que, nem bem a merda sae, se appressa a degluttil-a! Convida um garotinho a fazer tudo que quasi que a cueca ja lhe empappa, num pratto e não no vaso! Depois, pappa aquillo na presença do “menudo”! Segredo a todos pede, mas excappa, emfim, do padre o podre cabelludo: entrando no quartinho, um abelhudo o flagra, de marron coberta a nappa!
SONNETTARIO SANITARIO
IMAGENS FORTES [4744]
Que a camera o filmava não sabia. Tranquillo, uma melleca elle cavoca no fundo da narina. Alguem se choca olhando aquillo. E o dedo o cara enfia! Remexe, puxa, até que, feito enguia gosmenta, feito lesma, sae da toca o elastico de monco. E elle colloca aquillo em sua bocca! E se sacia! Que scena mais nojenta! Quem assiste engulhos tem, tapando vae a cara! E o dedo o cara ainda exhibe, em riste! Será que desse gosto não se enfara? Que Nem que aos
nada! Disso o gajo não desiste! tudo elle engoliu: alguem repara um naco está grudado, que resiste dentes que o repuxam... Chega! Para!
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116 GLAUCO MATTOSO
MARRON SOBRE AZUL [4807]
Quando um cego limpa a bunda, logo appós uma cagada, accredita, na segunda vez, que a limpa. Limpa nada! Quem enxerga, vê que immunda continua. Outra passada de papel. Mais uma. Affunda com o dedo... e mais dedada! Suja até seu pollegar. Sujo, ainda, o papel sae. Si está vendo, o gajo vae repetindo até cansar. Só os normaes vão se limpar. O ceguinho, não: ja lava a mão suja. Mas restava muita merda no logar.
SONNETTARIO SANITARIO
CAGADA DEMORADA [4929]
Dá tempo, no banheiro, para alguem ler livros inteirinhos. Si quem tem prisão de ventre a usar tal tempo vem, na certa dos doutores vae alem! E, alem de ler, cagando dá tambem, eu digo, para uns versos compor, sem exforço... Só accrescento eu um porem: o thema geralmente é sujo! Eu, hem? Pudera! Levar tanto tempo assim sentado neste vaso é, para mim, um sacco! Sem compor é que é ruim ficar, só ruminando o meu latim! Ao menos approveito e faço, emfim, aquillo que a fazer melhor não vim no vaso: urina, fezes! Isso sim, compensa a dor no recto e a dor no rim!
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PRAZERES DO TRAZEIRO [4991]
Cagar nos allivia, mas tambem algum prazer nos causa, bem na prega, na hora em que o cocô della excorrega, dahi tal phantasia que me vem. Lamber, humildemente, o cu de alguem provoca egual prazer! A lingua cega obriga-se a provar por que se exfrega na prega e nenhum nojo disso tem. O cego, eu imagino, é como um cão. Resente-se, revolta-se, calcula aquillo que o limita: a escuridão, por menos que a cegueira deixe fula... Qualquer pessoa nessa condição. Mas deve obedescer: mesmo que engula algum cocô, do dono é bicho tão submisso, que isso attiça a sua gula!
SONNETTARIO SANITARIO
CAVERNA DO DIABO [4992]
Quer coisa mais nojenta do que um dente de carie carcomido? O buracão exhala um fedor typico e, na mão, bafeja o cariado, a ver si o sente. Na poncta da linguinha, avidamente, sugando o garotinho vae o vão do dente exburacado. O sabor não enganna e o sangue putrido não mente. Àquella podriqueira se mixtura o resto de comida, que fermenta, grudado na gengiva: o odor dedura. Sentil-o nossa logica nos tempta. Emfim, em meio ao povo que murmura, pergunto aqui: quer coisa mais nojenta que um dente carcomido? Exsiste cura, mas... Broca de dentista, alguem aguenta?
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CONTRACÇÕES E CONTORÇÕES [5041]
Cagar é quasi um parto: sae sem osso o nosso bebezão, digo, o tolete. Deslisa, mas não como o sabonete: é secco o “quadrigemeo”, duro o troço. Exige tanto exforço, assim tão grosso, que quasi desmaiamos na retrete. Paresce que cagamos um porrete! Saltada fica a veia do pescoço! Si alguem tem hemorrhoidas, ah, coitado! Os bulbos não seguram a sangueira que deixa todo o vaso advermelhado! Ninguem pensar na suja scena queira! Faltou o pormenor mais engraçado. Cocô não chora: é nossa a choradeira. Feliz, eu choro, appós o resultado e, afflicto, emquanto agguardo a caganeira.
SONNETTARIO SANITARIO
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FEDORENTO VAZAMENTO [5244]
Vocês ja repararam? Quando a gente accaba de sentar numa cadeira daquellas de dentista, a caganeira adviso envia e o cheiro a gente sente! Nem sempre é caganeira, certamente, mas gazes que precisam sahir, queira a gente ou não... Primeiro, uma ligeira pressão, depois o peido irrompe, urgente! A gente se remexe, o corpo adjeita no assento, disfarsar tentando, mas é claro que o dentista ja suspeita! Fedor, barulho, tudo aquillo faz... Perder a compostura. Exclamar “Eita!” não colla... “Está vazando, eu acho, o gaz...” Recorro a tal desculpa: alguem acceita? Acceite ou não acceite, estou em paz!
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A ESCALADA DA PORCARIADA [5267]
Inventam moda todo dia! Agora scismaram que o sorvete ser salgado bem pode e, quando solida, do aggrado de todos é a bebida! Eu estou fora! Escuto, pelo radio, toda hora, fallar de bife cru, café gelado, refresco quente e amargo, ratto assado, espeto de minhoca... E o povo adora! Chardapio desse typo é que eu lamento, porquanto virar moda até periga! Depois, fallam que o cego é que é nojento! Não como nem siquer uma formiga... Torrada, um colhãozinho de jumento! Por causa dos meus versos, ha quem diga que eu gosto de buchada! Mas nem tento provar estrume e exsiste quem consiga!
SONNETTARIO SANITARIO
FEDORENTO E FERVOROSO [5294]
Fez força. Soltou gazes, mas daquillo que importa, mesmo, nada sahir quiz. Tentou de novo. Aos poucos, veiu o bis dos peidos. Tudo estava mais tranquillo. Mas era allarme falso. Ao seu estylo, o estupido intestino do infeliz e afflicto constipado foi juiz dos factos e negou-se a bem servil-o. Sem outra solução que lhe viesse, appenas transcendente é o que se enseja. Restou ao enfezado aquella prece rezar: “Nossa Senhora, me proteja! Me adjude! Meu cocô, porra, não desce!” Immediatamente, la da egreja, se escuta o som dos sinos... E accontesce a graça: as fezes descem! Assim seja!
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PERSEVERANTE PERFECCIONISMO [5561]
Finissimo perfume em meu cuzinho passando vou durante o banho, quando de espuma as suas pregas vão ficando cobertas, com cuidado, com carinho. Gastando sabonete, eu exquadrinho o rego e meus escrupulos expando do rabo ao sacco, em toque lento e brando, até lavar as partes direitinho. Os dedos, do mindinho ao pollegar, eu ponho a trabalhar! Não sou verdugo, de esponja não farei dildo ou sabugo que exfolle! Metto os dedos devagar! Depois que aquelle sordido logar ficou cheiroso e limpo, ja do jugo diario me livrando, então me enxugo... e sinto outra vontade de cagar!
SONNETTARIO SANITARIO
DEGRADANTE TRABALHISMO [5563]
Pois é, cagar no horario de trabalho direito é de qualquer trabalhador. Fallei ja, no DOBRABIL, e hoje expalho a phrase em outro jeito de compor. Com força de trabalho, algo só valho na pausa da cagada, si ella for tambem remunerada e si o cascalho tem do salario minimo o valor. No seculo passado, este meu galho quebrei, sem ter nenhum computador ainda, num fanzine bem bandalho, com phrases desse typo, gozador. Agora, a no thema de merda no nosso
sensação é de que eu calho mais que nunca, ja que odor tem aquillo que advaccalho trabalhismo explorador.
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126 GLAUCO MATTOSO
ODE COPROCTAL [5581]
Palindromos me excitam. Um me toca: “O cu toco! Cocô cotuco!” O odor no dedo fica. Alguem, claro, se choca. Estou é nem ahi. Sou chulo auctor. Si cego ja fiquei, que perco a cor saber me basta. Aqui na minha toca trancado, algum prazer é de suppor que eu tenha, si o leitor não for boboca. Portanto, o coco ou guloso, o me brinda
curto, quando não a coca, outro doce de sabor meu cocô mesmo, que, em troca, com seu typico fedor.
Aquelle que boboca aqui não for na certa percebeu que quem colloca o dedo no cu cheira do Senhor a Sua melhor obra, que Elle invoca.
SONNETTARIO SANITARIO
POLITICA QUANTICA [5602]
Fallei ja, no DOBRABIL, que cagar é um acto, sim, politico, um humano direito, ou de mijar. Delles me uffano, tal como deste nosso linguajar. Cagando estou, aqui neste logar que chamam “solitario”, mas me irmano a todos que cagando estão. Insano será quem pretender nos regular. Cagar, um dia sim, um dia não, não pode ser imposto por alguem que caga sempre e nunca lava a mão, que, porco, cagar regra ainda vem. Si duro me sahir o cagalhão não é porque poder sobre isso tem quem mande e sim por causa da prisão de ventre: em tal prisão cago, tambem.
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NOJENTO CORRIMENTO [5628]
Chupei, ja cego, um gajo que, de idéa, bem sadico seria, que me fez tragar um pau que tinha gonorrhéa corrente. Dessa rolla fui freguez. Houvesse me filmado, da platéa infantojuvenil hoje talvez eu fosse epico meme. Que geléa corria! Que patê! Que sordidez! Emquanto me fodia, ainda ria, mandando que engolisse esse seu puz com gosto de manteiga, de ambrosia salgada! Até doente me suppuz! Provei que, quando orgastica a agonia, um cego se degrada, se reduz a bicho com um furo onde lhe enfia a rolla alguem que ainda advista a luz.
SONNETTARIO SANITARIO
DIARRHÉA COM PLATÉA [5630]
A minha mente suja sempre indaga, emquanto escuto um jogo, como faz, sentindo caganeira, algum rapaz em campo. No calção mesmo se caga? Paresce que sim! Roga alguma praga, naquelle mau momento, xinga, mas não pode segurar o que, por traz, a marca deixa, feito um pé da zaga. Sim, fica “carimbado” o seu calção e logo sae de campo o centroadvante, a fim de se trocar, porque, sinão, será fatal que escute e o povo cante: “Cagou nas calças! Não é molle, não!” Comtudo, uma torcida delirante mal sabe como molle é um cagalhão que excorre, na corrida, tresandante...
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JURURU COM PIRIRY [5652]
Um drama que nos rende estragos é a terrivel diarrhéa, alimentar disturbio que, depois dum mau jantar, fará que nos lembremos do filé! Ah! É molle, ou quer mais? Puta diarrhéa! Em agua transformou o que cagar iriamos mais solido! Vulgar, nomeia “caganeira” a voz plebéa. Da de de si
cama, vou ao vaso. Vou do vaso volta para a cama. Ja da cama novo vou ao vaso. Me comprazo nada para fora se derrama.
Trez dias o remedio deu de prazo. Na falta do cocô, meu cu reclama. Bemvindo o peido, mesmo com attrazo, que tanto fez, em verso, minha fama!
SONNETTARIO SANITARIO
PARANOIA DA BOIA [5671]
Pesei-me e me assustei! Si perco um kilo por dia, meu corpinho ja definha a poncto de eskeleto virar minha figura! De pensar, eu me horripillo! Ah, foi porque caguei! Fico tranquillo agora, ao constatar que muito tinha perdido, mas de troço foi todinha aquella differença! Quanto fil-o! Cocô pesa bastante, mas a gente repõe tudo, comendo de montão. Às vezes a comida nem é tão gostosa, alguma nausea a gente sente. Tomando um comprimido, ha quem aguente enjoos mais frequentes. Eu ja não me importo nem me ennojo si impressão de troço uma linguiça traz à mente.
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132 GLAUCO MATTOSO
LEUCOPROPHILOS THEOLOGOS [5845]
{Hem, Glauco? O “beijo negro” não é dicto da bocca duma bruxa alli no rabo do Demo? Ora, pensando nisso, accabo chegando a reflexões que não evito... E o cu de Deus? Ninguem beija? Accredito que delle só beijaram a mão! Brabo ficou si lhe quizeram dar no nabo um beijo que entesasse... Estraga o rito! Hem? Thema theologico, Glaucão! Você não acha authentica a proposta de nisso nós pensarmos? Não apposta que muito se discuta tal questão?} -- Apposto. Mas não vejo um bom christão querendo do Senhor provar a bosta. Talvez um peccador queira, si gosta de caro pagar, antes do perdão...
SONNETTARIO SANITARIO
MEME DA CUECA SUJA [5884]
{Hem, Glauco? Ja pensou o que seria lavar cueca suja? A lavadeira encontra alli que typo de sujeira? Bom thema, Glauco! Verta a poesia!} -- Está bem. Ja pensei. Eu acharia mais facil esse thema, caso queira você fallar de meia suja. Cheira chulé, fedor que nunca me sacia. Mas cheiro de cueca ja mixtura xixi com porra, sebo com cocô, alem daquelle aroma que vovô chamava de cecê. Que essencia pura! A mancha amarellada fica dura, até, depois duns dias. Nem pornô poeta canta aquillo. Nem Rimbaud cantou. Só seu chulé, que elle dedura.
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134 GLAUCO MATTOSO
MEME DO DESODORANTE [5888]
Francezes, me disseram, teem mania de banho não tomar. Aquelle cheiro disfarsam com perfume. Mas me inteiro de casos brazileiros... Quem diria? Conhesço um cujo penis desaffia qualquer masoca amante de chiqueiro. Pentelhos, sacco, tudo um verdadeiro aroma de carniça à rolla allia. Perfume elle não usa, mas expirra naquillo um popular desodorante. “Melhora p’ra cacete!”, elle garante, zombando de quem faça alguma birra. Ja pude comprovar, amigos. Irra! Mixture peixe podre com bastante assucar quem saber quer. Não se expante si der para sentir incenso e myrrha...
SONNETTARIO SANITARIO
RESPOSTA IMMUNOLOGICA [5947]
A mascara ganhou do seu patrão. Sahiu a cidadan toda pimpona, gabando-se de estar fora da zona de contaminação. Mas foi em vão. Chegou em casa, nem lavou a mão. Salada mixturou com azeitona nos dedos, como mexe em sua conna. Mal limpa a bunda appós o cagalhão. É claro que ella tinha que pegar o virus! Disso os medicos não teem nem duvida. Porem, só pegou quem cagou onde ella accaba de cagar. Foi ella restou a Em casa, mas ella
asymptomatica. Que azar seu patrão, rhumo ao Alem! não se salva mais ninguem, não é como os demais são.
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136 GLAUCO MATTOSO
PULLO DE SUSTO [5950]
Cagava molle quando notou ella, subindo pelo vaso, uma aranhinha de porte inoffensivo, que ja vinha tocando, quasi, sua bunda bella. Dansado uma animada tarantella a dama certamente que ja tinha. Porem o que succede (impressão minha) é que ella não sabia da sequela. Quem conta augmenta a compta. Brincadeira não era a proporção daquella aranha, que, em vez de pequenina, foi tamanha a poncto de egualar caranguejeira. A merda molle excorre, molha, cheira mal mesmo. Não, a dama nem extranha aquillo que limpar, quando se banha, irá. Mas sentir dores... Ninguem queira!
SONNETTARIO SANITARIO
DOSE EXACTA (I) [5977]
Eu sempre tive nojo de cocô e, desde adolescente, esse fedor deixava-me impedido de suppor que exsista, com cocô, filme pornô. Ouvindo o que papae ou que vovô fallavam, sem comptar o que o doutor contava sobre nunca a bocca pôr siquer perto das fezes, pensei: “Pô!” Em summa, de hygiene é que se tracta. A minha propria merda me repugna. Si exsiste alguma coisa que nos una é o asco, reacção a mais sensata. Por isso mesmo, imagem do rival com merda a ser não sermos nós,
gozo com a grata que a gente puna comida. Que fortuna mas elle! Dose exacta!
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138 GLAUCO MATTOSO
MISCELLANEA COPROPHILICA [5985]
Pensei em verosimil narrativa. Que fezes ja comeu ninguem confessa, mas quem faz anilingua sabe dessa. Masoca de verdade não se priva. Nem colhe da privada. Ja a saliva excorre quando caga nova peça aquelle comilão que nunca cessa na mesa, mas postura tem lasciva. Não ha como negar: quem lambe um anus dejectos põe na bocca e seu sabor conhesce, alem do odor e de outros damnos. Quem sente esse fedor pode suppor. Suppõe-se um paladar, mas, entre humanos, são poucos os que provam, como o auctor de livros debochados e mundanos, veridicos, garante. Só si for!
SONNETTARIO SANITARIO
MISCELLANEA BUCCAL [5986]
A bocca necessita de limpeza? Palito, escovação, fio dental... Pergunto: qual o methodo ideal? Quem é que sua lingua tem illesa? Seria, ao levantarmos nós da mesa, preciso que escovemos, com total cuidado, os nossos dentes? Ou normal será certa migalha num vão presa? Tractando-se de alguem que bem conhesço, o menos hygienico nem mica os dentes, mais fraquinhos do que gesso, porem a lingua grossa, que se estica. Dobrada, quasi vira pelo advesso durante uma chupada em suja picca. Conhesço um chupador assim travesso, mas elle sem bochechos nunca fica.
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140 GLAUCO MATTOSO
MISCELLANEA CATARRHAL [5987]
É farta a verve em provas desse evento. Catarrho o mais espesso da caveira nos enche as cavidades e mal cheira. Em verso descrever um caso tento. É foda a sinusite, meu amigo! Entope tudo um muco que amarella por dentro das narinas, e não digo que seja perfumado! Tem sequela: Dorzinha de cabeça! Traz comsigo a tosse! E quem livrar-se pode della? Occorre que o catarrho na goela penetra quando excorre internamente... E causa a coceirinha... Quem se pella de medo é o narigudo, o que mais sente, conforme a poesia, toda aquella interna fedentina putrescente!
SONNETTARIO SANITARIO
MEME DO VOCABULO CABULOSO [6009]
Encontram “anilingua” na pesquisa. Lamber o cu de alguem sempre é figura commum, mas de mau gosto, o mestre jura. De breve explicação alguem precisa. Indagam, mas o mestre tem bem lisa a lingua, que excorrega, nessa altura das liberalidades, e censura o pappo. Um euphemismo suaviza. Está no diccionario, elle garante. Na practica, porem... Nunca! Jamais! Pergunto: e lamber bota? Ha quem se expante com solas sobre boccas e quetaes? “Não, botas não expantam!”, diz o amante das lettras. Ja o cu... Fique entre animaes! Alheio o pé descalço ou o pisante Prosegue dessas practicas carnaes.
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142 GLAUCO MATTOSO
MEME DA QUARENTENA [6057]
Estão em quarentena. Até janella manteem fechada. Tanta paranoia! O filho adolescente os pés appoia na mesa, chulezão que desmazella. Mais fede, todavia, a bufa della, a thia solteirona, que destroe a concordia quando foi servida a boia e todos se revezam na panella. Em vez de sentir cheiro de comida caseira, a turma attura na narina aquella flatulenta fedentina e logo o pae, estupido, revida. Tambem peidou! Paresce insecticida o toxico fedor que elle elimina! Assim toda a familia de toxina se dopa! Nem o virus se convida!
SONNETTARIO SANITARIO
BANDIDO MASCARADO [6118]
Sabia? Antigamente, si eu peidasse assim que nem eu peido, tão fedido, seria até xingado de bandido, teria que fingir risonha face! Pois é! No elevador, só quem tem classe não peida: se segura, constrangido! Mas nunca me seguro! Si decido peidar, eu peido, e prompto! Sem impasse! Proteja quem quizer a sua fuça, fallei aqui commigo, Glauco! Nem suppuz que mais bandido será quem, agora, face a face, expirre e tussa! Não seja, não, por isso! Sei tambem tossir! Sim, sei vestir a carapuça do lobo mascarado! Ficou ruça a scena, Glauco! Ouriça mais, porem!
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HASHTAG NOS EXFORCEMOS [6174]
Até para fazer cocô me fica difficil, Glauco, nesta quarentena! Só faço quantidade bem pequena e, mesmo assim, vem tarde essa titica! E tu? Ja descreveste, em tua zica de bardo preso em casa, aquella scena da atroz prisão de ventre, que condemna a gente a fazer força? Deste a dica? Sim! Como não lembrar? Tu, com extremos de verve e de lyrismo, foste cru nas tinctas e nos cheiros dum tabu que nunca, normalmente, descrevemos! Que seja! A ti me egualo! Viveremos daqui por deante em lucta com o cu que, em rasgos de hemorrhoidas, põe a nu a nossa audaz missão! Nos exforcemos!
SONNETTARIO SANITARIO
PROCTOLOGISMO [6191]
As minhas hemorrhoidas, Glauco, são, acaso, de interesse popular? A midia quer saber dellas, mostrar ao povo como sangram, faz questão! Mas, Glauco, como pode? Cagalhão, si grosso, faz qualquer bulbo sangrar, sabemos disso! Querem no logar metter ainda algum porrete, irmão? Assim eu não aguento! Toda vez que sento na privada, soffro paca! A bosta fica presa, adhere, empaca e, quando sae, machuca qual torquez! A todos perguntei, Glauco: Vocês não ficam satisfeitos? Minha caca não basta? Que mais querem? Quem me attacca tambem no cu levou pau do burguez!
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146 GLAUCO MATTOSO
CEGADO E CAGADO (I) [6251]
Bengala ainda nova, vem o cego battendo o troço deste e doutro lado. Alguem que se irritou, ja bengalado que fora, quer vingança: “Ah, ja te pego!” Glaucão, que isso diverte, meu, não nego! Um trecho da sargeta está tomado de merda! Algum exgotto vazou! Dá, do fedor, enjoo! Penso nisso, offego! Num tranco, o gajo obriga aquelle chato cegueta a mergulhar na cocozeira! Depois de chafurdar, elle está à beira da valla, procurando pelo tacto! Perdeu sua bengala! Até desapto a rir! Ninguem adjuda a quem mal cheira! Só ficam rindo! Glauco, não me queira mal, ja que de empurral-o foi meu acto!
SONNETTARIO SANITARIO
CEGADO E CAGADO (II) [6252]
Não posso ver um cego de bengala que fico ja com raiva! Aquella vara o cara vae battendo, sempre para la, para ca! Que sacco! Me resvalla! E mesmo que não pegue em mim! De olhal-a batter, ja me emputesço! Porra, cara! Meresce essa licção sahir bem cara! Lhe ensigno que a mim cego não se eguala! Ah, Glauco, ja tomei a vara dum, joguei longe e fiquei alli, curtindo a sua reacção! Achei que lindo foi disso o resultado! Foi pa, pum! Pisou bem no cocô, que é tão commum haver pela calçada! Foi bemvindo seu tombo! Se borrou! Glaucão, eu brindo à dor dum cego! Sem problema algum!
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CEGADO E CAGADO (III) [6253]
Ja devem ter descripto para ti o video. Pediu sopa, ao restaurante, o cego, mas um passaro, durante a pausa, passa e caga por alli. Cocô cae noutra sopa, mas eu vi que, rapido, o garçon ja se garante. O pratto sujo passa, astuto, addeante e serve ao cego o caldo! Ah, como eu ri! Ah, Glauco! Precisavas ver a cara de gosto do ceguinho! O desgraçado pensou que estava super temperado o liquido cocô que degustara! Um dia, satisfaço minha tara e enganno um cego assim! Mais eu me aggrado si a merda for a minha! Estou errado? Magina! Adoro quando alguem se azara!
SONNETTARIO SANITARIO
AMARGA DESCARGA [6254]
Glaucão, aos ares o virus, tem pela
fiquei sabendo que, expirrado na descarga da privada, em gotticulas, entrada nossa cara! Achas-me errado?
Verdade, Glauco! O campo não invado dos nossos scientistas! Mas é cada noticia que nos trazem! Hem? Mais nada faltava! Até cocô contaminado! Não, Glauco! Não demora para alguem dizer que do cocô vem pelo cheiro um monte de microbios! Ja me inteiro de que esse thema armou um nhenhenhem! Não, Glauco! Só observei mesmo que vem, no cheiro, sensação de verdadeiro enjoo! Sempre deixo o meu banheiro limpinho! Mesmo assim fede, porem!
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GANGORRA [6259]
Você ja se cagou, Glaucão, dormindo? Eu ja, cara! Ah, foi foda aquillo, porra! Foi foda! Merda molle, caso excorra, effeito causa forte e nada lindo! A gente só percebe quando findo foi tudo! No meu sonho, uma gangorra eu ia cavalgando, mas, na zorra total, a caganeira foi sahindo! Senti, na bunda toda, a quenturinha molhada! Meu nariz da fedentina tomou conhescimento! Uma narina não falha, muito menos esta minha! Glaucão, eu só lhe digo que damninha foi minha refeição, que não combina com hora de nanar! Assim termina meu caso! Si curtiu, você escrevinha!
SONNETTARIO SANITARIO
SALDO DO CALDO [6260]
Glaucão, ja te cagaste emquanto o somno te dava bello sonho colorido? Commigo succedeu, e te convido a vires conferir o que menciono! Cagar nos é normal quando, no throno, fazemos cocô duro ou diluido! Ja quando o creme fica admollescido demais, nem reconhesce o cu seu dono! Na cama, estrago, Do somno passei a
a merda molle faz um puta lençol molha, cobertor... despertei pelo fedor, mão... que quasi esteve enxuta!
Tirei a tempo, Glauco! Ouve, me escuta até que eu te conclua! Vaes suppor que culpa foi daquelle bom sabor do caldo de pheijão? Arrisca! Chuta!
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152 GLAUCO MATTOSO
ABSINTHO DE PINCTO [6272]
Prepare-se! Exquescer della jamais irá, quando proval-a você for: urina allaranjada, quasi cor de abobora, a formar até crystaes! Meu mijo tem assucar, Glauco! Os taes crystaes teem sabor doce, é de suppor! Sou muito diabetico! Um licor você vae degustar e pedir mais! Mas, mesmo que não peça, vou lhe dar na marra, ja que cego você está! Beber adjoelhado não será surpresa para alguem que é tão vulgar! Pudera! você ja verseja Meresce
Bocca suja cavallar demonstrou! Com lingua má sobre tudo! Né, xará? meu xixi! Serei seu bar!
SONNETTARIO SANITARIO
FESCENNINA SABBATINA [6287]
Cagar na tua bocca não vou, mas é só por descomforto meu! Porem vaes tu meu cu limpar bem limpo, sem as mãos, só com a lingua, si és capaz! Accabo de cagar! Agora, faz aquillo que tu sabes! Lambe bem la dentro! Exfrega as pregas! Limpa, alem das pregas, os pellinhos! Limparás? Exforça-te e consegues, cego! Oscula, primeiro, depois sente, com a poncta da lingua, aquelle gosto que admedronta o crente e de ninguem desperta a gula! Não temas! Caso tua glotte engula um pouco de cocô, leva na compta de infecto sacrificio, pois quem monta na tua cara adora a scena chula!
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154 GLAUCO MATTOSO
SELECTO DEJECTO [6302]
Pegaram o ladrão. Pé de chinello, se nota pelo video. Por castigo fizeram-no comer merda. Me instigo com isso. Perguntei si o gajo é bello. Disseram-me que é negro. Me revelo sympathico ao coitado, que perigo correu si não comesse, em calda, o figo. Aquella forte imagem eu congelo. Si fosse no meu clube, comeria cocô na marra alguem mais rico, um branco burguez que, mesmo quando o não expanco, engole, molle, atroz dysenteria. Voltando ao caso, contam que fazia caretas ennojadas quem, o tranco levando, põe na bocca com um franco desgosto o cagalhão da burguezia.
SONNETTARIO SANITARIO
DOSIMETRIA [6315]
O peido do Diabo! Mas que thema phantastico, Glaucão! Si fazem chiste, que façam, ora! Achei que não exsiste questão mais seria que essa these extrema! Si fede enxofre, deve ser problema do grau, da gradação... Acaso ouviste fallar da bruxa Alice? Ella bem triste está! Dirás si é justo que ella gema... Punida por Satan, por ter seus gazes ousado recusar, Alice está sentindo delles muita falta, ja! Terá mais chance, idéa tu ja fazes! No proximo Sabbath, fazer as pazes Alice com o Demo poderá! Mas só si supportar aquella má fragrancia! Augmenta a dose, nessas phases!
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156 GLAUCO MATTOSO
BRUXA LUXENTA [6394]
Glaucão, eu amo Lucifer, sabia? Sou mesmo ouriçadissima por seu sorriso de malandro, de plebeu folgado que, em tesão, nos assedia! Mas sabe, Glauco? É muita covardia que exija de nós todas, achei eu, o beijo no seu anus, que fedeu cocô recem cagado! Que mania! Eu faço o que elle queira: chupo o phallo de bode fodedor, deixo na chota, no recto me comer... Mas nessa quota oral de sacrificio não me rallo! Você talvez, Glaucão, que ja tem callo na lingua, achasse leve essa devota beijoca anilingual, mas a velhota aqui tem nojo! Creia no que eu fallo!
SONNETTARIO SANITARIO
NÃO É SOPA! [6423]
Depois de ter jantado, ousei peidar. Occorre que era sopa que eu jantara... Peidei... Borrei-me todo, tá na cara! Cocô de sopa, Glauco! Pô, que azar! Problema meu, não posso reclamar. A gente, nessas horas, mais se azara si está na rua: ha sempre quem repara. Não ha, para cagar, peor logar! Peor ainda é sopa de cocô! Ouviu fallar? Sim, Glauco, na prisão (Qual é? Guatemalteca?) a sopa dão aos presos, por maldade! Ô louco, sô! Cocô nadando em mijo, Glauco, pô! (Ah, nortekoreana?) Scenas tão coprophilas só podem dar tesão em quem quer o peor filme pornô!
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158 GLAUCO MATTOSO
MARRON DEGRADÊ [6442]
Total polluição! Della nos falla um ambientalista apocalyptico! Lamenta ter chegado o poncto critico dum “peido industrial” em larga escala! Enormes chaminés, alem da valla de exgotto, com seu halito mephitico, expalham polluentes que o politico ignora, a peidorrar em sua salla! Ninguem tá nem ahi, Glauco, com essa sujeira fabricada na atmosphera! Achamos natural, na actual era, cheirarmos e passarmos mal à bessa! Si dessa fumaceira, que não cessa, ninguem mais se protege, primavera teremos, não com flores -- Quem nos dera! -porem com tons marrons... Lindos, confessa!
SONNETTARIO SANITARIO
SELECTIVA PERSPECTIVA [6475]
Caso uma merda (ainda que tal se mostre) não leitor que és.
seja algum poema termo pouco usado será do teu aggrado, Que nenhum leitor, pois, tema.
Do teu aggrado caso certo thema poetico não seja, doutro lado, de merda o chamarás, eis que, estressado, és critico. Conhesço o teu eschema. Mas, caso seja merda alguma lyra e, mesmo assim, te seja algo que aggrade, não ha por que esconder esta verdade: és tu, mesmo, o poeta que delira. Nem todo trovador a merda admira, mas versos quem compõe por annos ha de notar que merda cria algum confrade, comquanto o termo usar ninguem prefira.
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BIZARRA GARRA [6481]
Cocô, Glauco! Cocô, dejecto, caca! Titica, bosta, fezes, excremento! Em summa, merda! Digo-te e lamento que versos ‘inda faças com inhaca! Dás voltas, Glauco, mas à fria vacca retornas, latrinario, cem por cento! Um dia chegarás a teu momento fatal! Verás que a lyra ficou fracca! Appenas uma chance te jubila: comer da merda ao vivo! Teu successo será total! Reservo o meu ingresso e, claro, vou querer primeira fila! Te ver quero, Glaucão, com gosto! Rirei desse Em sendo assim, poeta, que insistas! Quem tem
a degluttil-a teu excesso! ja te peço garra não vacilla!
SONNETTARIO SANITARIO
PUMDEMIA [6493]
Hem, Glauco, ja pensou si, de repente, descobrem a “cuvid”, outra doença, que pode transmittida ser na densa camada de fedor que a gente sente? Sim, Glauco, não seria pela frente que gazes pestilentos nos dispensa alguem, mas pelo peido! Mais que offensa, peidar expalha a praga dum doente! Nem mascara resolve! Qual cueca segura aquelle cheiro que paresce de fossa transbordada? Quem tivesse o virus se entregava! Com a breca! Banheiro onde doente tal defeca teria que fechar! Alguem conhesce privada que não feda? Minha prece é para que só peide quem não pecca!
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162 GLAUCO MATTOSO
RETENÇÃO DE GAZES (I) [6576]
Si estamos appertados pelo gaz e o peido não occorre, que será que dá para fazer? O que não dá é para aguentar tantas horas más! A gente se contorce, força faz, e nada de peidar! Eu até ja à Virgem appellei, mas ella está com outros occupada! Ah, Satanaz! Exacto, Glauco! Tive que invocar Mephisto, Mephistopheles, o Demo! De enxofre, você sabe, tem extremo poder o peidão delle, exposto ao ar! Assim que elle peidou, pude soltar, tambem, meus proprios gazes! Ja não temo reter a flatulencia, nem mais gemo de dores! Quem sentir fedor... azar!
SONNETTARIO SANITARIO
RETENÇÃO DE GAZES (II) [6577]
Peidei uma vez hoje! Peidei duas, agora neste instante! Gloria a Deus! Louvado seja Aquelle que dos seus filhinhos não se exquesce, nem das suas! As outras, por ahi, ja quasi nuas passeiam, por vaidade, por atheus peccados, mas eu tenho, casta, meus principios! Não desfilo pelas ruas! Si pela casa, amigo, ando pellada, é para facilmente peidar! Esta prisão de ventre muito me molesta! Não creio ser possivel fazer nada! Mas, Glauco, fique certo: vou, a cada peidão que me sahir, fazer a festa! Ah, quando a peidorrada desembesta, eu louvo um sancto pela graça dada!
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164 GLAUCO MATTOSO
SEM AR NO AR [6593]
Certeza tenho, Glauco! Senti cheiro de merda! Cagou elle no debatte e logo desmaiou! De chocolate borrou-se e emporcalhou o seu trazeiro! Eu acho um tal debatte roptineiro, mas elle sente medo de que tracte alguem de provocal-o! Um xeque-macte seria seu vexame derradeiro! Temendo o cara-a-cara, logo tão o celebre programma foi ao ar, elle empallidesceu, quiz recuar, ouvindo que gritavam “É cagão!” Sentada ao lado, vi que elle ja não podia aguentar mais! Do meu logar sahi, para não ter que respirar aquillo, quando o gajo veiu ao chão!
SONNETTARIO SANITARIO
PROPRIO RABO [6609]
De mascara, qualquer elevador paresce ‘inda mais cheio, Glauco! Nem siquer imaginei que iria, sem luz, preso num ficar! Hem? Que pavor! Nós eramos em quattro... De suppor que iria demorar a força, alguem ja quasi desmaiou! Hem, Glaucão? Hem? Faltava só sentirmos um fedor! De peido? Diarrhéa? Ah, mas fedia tão forte, que rogavamos ao sancto coragem e... energia! Ah, nem sei quanto tempão alli ficamos... Todo um dia? Bem, foram duas horas! Parescia, comtudo, um longo seculo, de tanto fedor que trescalava! Meu expanto final foi que caguei eu! Quem diria?
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166 GLAUCO MATTOSO
EXCASSEZ DE VIVERES [6610]
Na falta de comida, Glauco, um dado ja pude levantar, e prophecia segura, até, será! Quem comeria tablettes de cocô ja processado? Teremos que comer! Do meu aggrado jamais será! Que grossa porcaria! Fiquei eu ja a pensar: de quem seria a merda a ser comida? De soldado? De rico? De estudante? De quem, porra? Por outro lado, Glauco, pode estar alguem comendo minha merda, a dar meus peidos por tabella! Ah, meu, que zorra! Ah, foda-se! De nojo o gajo morra! Porem, vão disfarsar o paladar com bons sabores! Hem? Que tal mascar taes gommas? Ha pamonha que concorra?
SONNETTARIO SANITARIO
NIPPONICO HEROE COMICO [6612]
Accabo de saber, Glaucão, que exsiste desenho no Japão em que um menino virou superheroe por fescennino detalhe, meio comico, mas triste... Seu superpoder, Glauco, sim, consiste em voo levantar, mas eu previno que sua propulsão... Eu, si elimino meus gazes, ao fedor ninguem resiste! Só que elle peida... fede... porem voa! Hem, Glauco? Ja pensou? Você, que vive peidando, voaria! Que se exquive dos moveis, de exbarrar noutra pessoa! Ainda bem que está sozinho! Soa até gozado: “Sabe, gente? Estive com elle, que peidou! Por Baccho! Tive que delle desviar! Voava à toa!”
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168 GLAUCO MATTOSO
NUPCIAS DE LAMA [6613]
Ouviu fallar, Glaucão, desse nojento exemplo do cinema alternativo? Um gajo porco come merda ao vivo! E merda duma porca, cem por cento! Uma audiodescripção, Glauco, nem tento fazer, mas de contar-lhe não me privo! Casar-se quer o gajo, num festivo chiqueiro, com a porca! Que jumento! Na lama se exparrama ja com ella! Com ella tem leitões, em filharada! A porca, que tambem appaixonada está, bem ciumenta se revela! No fim, ha mortandade! Mortadella não viram os leitões, mas morre cada nas mãos do seu papae! Desesperada, a mãe morre! Elle enforca-se na tela!
SONNETTARIO SANITARIO
GREEN RIVER [6644]
Me lembro, onde morei, do rio, cuja cor verde se devia à densa matta das margens. Hoje tudo, se constata, mudou: a cor das aguas ficou suja! É, Glauco, natural que o povo fuja dalli, pois ja da matta ninguem tracta e está a polluição, de longa data, fedendo em grau que à merda sobrepuja! Nem, Glauco, reconhesço o rio mais! Ficou a paizagem tão deprê que até paresce, em Sampa, o Tietê, por compta dos garimpos illegaes! Si fosse só garimpo! Si meus paes me enviam uma photo, ninguem crê que foi ja tal exgotto o que você viu verde, cor que não verá jamais!
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IT’S JUST A THOUGHT [6653]
Agora me passou pela cabeça, Glaucão, um pensamento deprimente. Você ja cogitou si toda a gente, por causa dum guru, ficasse espessa? Que espera, nesse caso, que accontesça? Pensei aqui commigo: de repente, o lider desses bostas diz que sente, de merda, fome! Caso o motte cresça... Em pouco, todo mundo que está attraz do Bosta Mor começa a comer bosta, até que disso o mundo inteiro gosta e a merda aos “tolos”, só, não lhes appraz! Ainda que isso appraza prefiro ser um “tolo”, no velho senso critico os bostas do Bostão...
a Satanaz, um qu’inda apposta e ‘inda arrosta como cê faz!
SONNETTARIO SANITARIO
WALK ON THE WATER [6655]
Nas aguas caminhar é para alguem que seja milagroso... Né, Poeta? No caso dum maldicto que é propheta, ainda mais si cego, soa bem! Mas acho que preferes é ser quem caminha sobre lodo! Nada veta que seja sobre merda! Tu da recta irás tirar? Ou ‘inda assim és zen? T’ahi! Fazer podias um poema tractando desse thema! Não é bella a minha suggestão? Anda, revela a tua vocação! Qual o problema? Não temas, Glauco! Um cego que não tema dirá que ja affundou numa procella de exgotto, sem do typo ser que appella ao sancto! Não é contra que és quem rema?
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172 GLAUCO MATTOSO
FLATULENTO CORRIMENTO [6670]
Glaucão, cagar nas calças não é nada de mais! Eu mesmo cago toda vez que peido forte! E então? Você ja fez cocô quando soltava a peidorrada? Estou tão distrahido quando cada flataço quer sahir, que sou freguez da liquida cagada! Mas talvez occorra com qualquer um, camarada! É tarde quando noto: ja a cueca ficou enlameada! Só me resta jogal-a la no tanque! Isso molesta a minha mulher... Ella a lava, a secca... Eu mesmo me recuso! Com a breca! Que nojo! Né, poeta? Não detesta você tal diarrhéa? Só quem desta porqueira soffre, em sonhos, é quem pecca!
SONNETTARIO SANITARIO
FEDORENTO FRAUDULENTO [6671]
Hem? Como si não fosse ja bastante tal onda de calor, está faltando sabão e sabonete! Hem? Até quando? Não acho mais até desodorante! Um unico que achei só me garante um cheiro “natural”! Estão brincando! Então pensam que somos nós um bando de trouxas? Não ha voz que se levante? Hem, Glauco? Veja só! Ja viu aroma assim? Diz “natural”, diz “corporal” o rotulo! Mas fede o que, normal, ja fedo: cecê! Então elle me embroma! Gastei para feder cecê tal somma? Estão de brincadeira! Ainda tal producto sae mais caro! Um “genital” do typo fede “cheese”! Hem? Que idioma!
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174 GLAUCO MATTOSO
INEFFICACIA DA PHARMACIA [6678]
Caralho, Glauco! Como saem falsas as formulas que vendem contra gazes retidos! Não, idéa tu nem fazes daquillo que retenho sob as calças! Estão tão distendidas minhas alças (aquellas do intestino), que capazes serão de explodir, caso os contumazes accumulos persistam nessas valsas! Sim, valsas, Glauco! Os gazes dando vão voltinhas, para baixo, para cyma, e nada de sahirem! Não se anima a bufa a se soltar pelo sallão! Não é prisão de ventre, Glauco, não! Cagar, até que cago! Mas não rhyma um flato com dejecto! Que comprima as tripas não ganhei peor tampão!
SONNETTARIO SANITARIO
AGGRAVANTE VENTOSIDADE [6684]
Por que será, poeta, que peidamos, às vezes, tão fedido, outra vez tão sem cheiro? Ora sahindo muitos vão de leve (Saca?), ainda que fedamos? Sim, tanto variamos! Ora damos aquella de Miguel, quando o rojão explode com um baita barulhão, causando uma enxurrada de reclamos! Mas ora vem o peido sem ruido algum, embora saia muito gaz! Poeta, me exclaresça que é que faz, nas bufas, differença! Faz sentido? Então assim se explica? Não duvido da sua sapiencia, mestre, mas repolho sempre eu como, ovo, alem das batatas! Ora atturam, ora aggrido!
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DINHEIRO SUJO [6707]
Dinheiro na cueca foi motivo de escandalo! Te lembras, Glaucão? Ora, dez annos se passaram! Pois agora no proprio cu se põe dinheiro vivo! Verdade, Glauco! Disso não me exquivo e tenho que contar-te! Para fora botou um senador (Que infeliz hora!) as scedulas das quaes eu ca me privo! Hem? Trinta mil reaes, informa a fonte, estavam “entre as nadegas” do tal politico! Em estado de total nudez, que se aggachar teve! Que monte! Mal pude crer! Mas queres que eu te conte o resto? Não? Ja basta, né? Banal se torna tal funcção policial: ficar dum pelladão senhor defronte!
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IMPOSTO DE MERDA [6709]
De merda sei que imposto qualquer é! Proponho, todavia, sobre a bosta cobrar a taxação! Sei que não gosta o rico disso, ué! Nem a ralé! O rico come mais! Come filé mignon, Glaucão! O pobre, quando tosta alguma aponevrose, achou a posta divina! Até melhor de porco um pé! Quem caga mais, mais taxa pagaria! Não acha justo, Glauco? O mais gordão juiz ou senador, que do povão debocha, tem que ser quem financia! Proverbio bem lembrado! Caso, um dia, cocô seja dinheiro, o pobre, então, nascer irá sem cu! Mas pagarão os pobres, sim! Num rico quem confia?
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GLAMOUR [6731]
Glaucão, não ha Quem leva ferro Quem come cu se tirar, nota que
glamour na sodomia! sente muita dor! suja! Quando for é exgotto onde se enfia!
Glamour não ha nenhum, Glaucão! Um dia, dum gajo o cu comi! Dominador pensei ser, disciplina quiz suppor que impunha, que, bem sadico, o fodia! Pheijão tinha comido o tirei o pau de dentro, estava pelas cascas do De quebra, veiu couve!
gajo! Quando coroado virado! Estou fallando!
Lhe juro, cara! Assim, eu no commando não quero mais ficar! Me desaggrado com tanta porcaria! Só sou sado, agora, com você, cego nefando!
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FUMAÇA PARA A MASSA [6733]
Será a celebridade illusão pura? Nos seculos passados, quem ficasse famoso mal expunha a sua face a uns poucos que entendiam de cultura. Ainda assim, bem celebre perdura a fama do Marquez ou dos da classe dum Dracula, dum Socrates. Ja nasce a gloria, agora, duma só loucura: Milhões são, pelas redes sociaes, levados a saber de quem só faz, em publico, um cocô fedido, mas ignoram quem cagou, ja, muito mais. Alguns appenas deixam que seus paes, amigos e parentes saibam das cagadas que fizeram... Mas as más noticias correm rapido, banaes.
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DOIS EM UM [6735]
Ah, deixe eu lhe dizer: não é por nada, Glaucão, mas é gostoso paca quando estou minha barriga alliviando e o peido sae no meio da cagada! É muito mais gostoso, camarada, peidar assim! Os gazes, borbulhando, excappam, e não acho nada brando o cheiro que, nos bares, desaggrada! À mesa, dos amigos si me ausento, ja sabem que estou indo, no banheiro, cagar sem culpa alguma! Alguem do cheiro reclama? Abra a janella! Haja mais vento! Quem acha meu dejecto fedorento mais alto vae chiar caso, primeiro, eu peide ainda à mesa! Alvissareiro momento em que me tranco e la me sento!
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CONVERSA PRIVADA [6784]
Desculpe, Glauco! (rindo) Vou agora cagar, mas volto logo! (tempo) Prompto, voltei! Você notou que dou descompto de cinco minutinhos? Sem demora! Você, para cagar, Glaucão, tem hora marcada? Soffre muito? Fica tonto de tanto se exforçar? (rindo) Ou affronto algum pudor si indago si cê chora? Eu cago normalmente! (rindo) Mas desculpe novamente, pois preciso cagar outra vez! (tempo) Sempre biso a minha cagadinha, meu rapaz! Hem, Glauco? Ja cagou? (rindo) Cê faz tamanha força para nada? Quiz o destino que difficil seja! Adviso lhe dou: rezar! A Deus? Não! Satanaz!
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CAGADO E CEGADO [6791]
Bem sadico o Senhor, no Testamento Antigo, se revela, Glauco! Não se tracta só do caso de Sansão, mas outros de cegueira achar eu tento! Deus curte pôr à prova quem attento se mostra aos mandamentos! Fez questão de pobre tornar Job, bem como são cegados outros, vate! Eu não invento! No livro de Tobias, quem cegado foi, Glauco, na parede se encostou, cansado! Ja dormindo, lhe cagou nos olhos algum passaro damnado! Depois que ficou cego, do seu lado não teve nem parentes! Só lhe dou noção de que zombavam delle! E vou mais longe: muitos tinham gargalhado!
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HORA FESTIVA [6812]
Diz Denis Diderot e do poncto principal É quando a natureza à festa da privada,
faz allarde na nossa vida. nos convida toda tarde.
Ja Gandhi preferia nos fallar de cocô pela manhan. Ninguem duvida dum mestre que festeja a commettida cagada matinal si o cu não arde. Horario não importa, pelo visto. Importa que façamos tudo sem problema, pois tortura acha quem tem prisão de ventre e implora a Jesus Christo. Jesus não disse nada, mas insisto no poncto. Qual propheta, aquem, alem, aos céus não supplicou nem disse amen depois de ter cagado? Pensem nisto!
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DIGESTIVA PERSPECTIVA [6813]
Pedrinhas de cocô! Foi o que fiz, poeta! Bom propheta tal qual és, tu sabes que, comendo só filés macios, a missão será feliz! Comtudo, o que comi, como se diz, foi sola de sapato! Dos meus pés não, claro! Mas são nove em cada dez os bifes de primeira aos quaes dei bis! Cocô que sahir tinha muito duro, escuro, fedidão e reseccado! Por isso de insistir jamais me enfado: Quem come porcaria passa appuro! Comer bem, menestrel, até procuro, mas, com esta merreca que arrecado, consigo só muxibas que, do gado, deschartam! Bem cagar? Em breve, eu juro!
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EFFICAZ É SATANAZ [6837]
Você tambem, Glaucão, de retenção de gazes soffre? Porra, não aguento mais este meu constante extuphamento nas alças do intestino! Que afflicção! O peido nunca sae, poeta! Vão se enchendo de cocô os canaes! Eu tento cagar, mas entupi-me! Sem alento, até para Satan faço oração! Demora, mas, emfim, Satan attende e eu loto uma privada de cocô mollissimo, perfeita lama, pô! Laxante bom pharmacia alguma vende? Qual nada, Glauco! Disso quem entende é mesmo Satanaz! Elle pivô será de toda merda que, em pornô contexto, uns dissonnettos sempre rende!
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MOMENTO DE CONSTRANGIMENTO [6850]
Tomei purgante, Glauco! Tomei tanto que merda, até o cuzinho fazer bicco, soltei! Envergonhado? Nunca fico! Ficar por que, si nada causa expanto? Fallar em cagalhão molle, entretanto, admitto que incommoda! Nenhum rico burguez declararia que seu mico é calças mil borrar em todo cantho! Borrei ja muitas calças, mas não creio que seja vergonhoso fallar disso! Peor é sentir preso o meu chouriço fecal, feito um granitico recheio! Você purgantes toma, Glauco? Um meio mais practico não vejo! Ja submisso estive às orações, mas a serviço a bosta está do Demo, é o que eu receio!
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TESTE DO COCÔ [6915]
Sahi pellado, Glauco! Nada accontesceu! Tentei rasgar dinheiro... Tinha só trocado! Ninguem deu confiança! Agora, revoltado, estou comendo merda! Ah, gosto horrivel, meu! Primeiro, foi a minha, mesmo. Depois, eu com elles concordei que ganho um resultado melhor si for alguem que caga... Ah, mas coitado de mim, poeta! Agora a coisa ja fedeu! Vizinhos se divertem! Toda a rua ri do gajo que, maluco, come bosta a rodo! Glaucão, o tempo passa! Cada vez me fodo mais! Fazem-me beber até qualquer xixi! De velho, de moleque... Todos, por aqui, divertem-se commigo! Falla alguem que engodo será: “Não é maluco, nada!” Mas appodo ganhei, ja, de “guru”! Tambem me diverti!
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EXAME DE FEZES [6916]
Passei! Passei, Glaucão! Comi cocô na frente da platéa! Que vexame! Agora ja passei no meu exame de fezes! Sou maluco paca, pô! Difficil foi, sim! Filme bem pornô daria aquella scena! Até madame estava a assistir, Glauco! Não reclame quem queira ser doidão como o vovô! Ah, cara! Aquelle velho foi pirado! Eu, perto delle, viro um mero pincto! Ao menos, orgulhoso ja me sinto de estar no patamar desse cagado! Sim, elle de cabeça pendurado foi dentro da privada! Não, não minto! Um dia, cara, ainda mais requincto a scena! Numa fossa affundo, a nado!
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O REFEITORIO DO SANATORIO [6919]
Estão ficando loucos, Glauco! Ja collocam uva passa no arroz, cara, maçan na mayonnaise, fazem para a ceia assados doces, meu xará! Assim, quem é que come? Não, não dá! Talvez o hospicio tenha alguem que encara aquella culinaria que ja rara demais não é, Glaucão! Que coisa! Bah! Emquanto estive interno, cocô com passas, mijo só com gosto de maçan! Sim, o tal sabor horrivel que
só comia tomava todo dia me trava!
Ainda que tenhamos mente escrava de tantos remedinhos, eu queria ao menos variar, numa fatia salgada de pernil! Ah, bem que dava!
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COLORAÇÃO POLITICA [6929]
Ainda que este pappo meu não colle, será pela cagada que se sente aquillo que comeu cada supplente. De tudo se recheia rocambole! Politico de centro caga molle, pois come muita coisa differente, entrada, pratto frio, pratto quente... Fazendo media, até espinafre engole! Politico de esquerda, claro, caga sangrando, um bem vermelho cagalhão. Pudera! Faz exforço, sempre em vão, e nada de, nos votos, abrir vaga! Comtudo, o de direita a Satan paga tributo: faz bem duro, soffre e não perdura no poder, pois os que vão comer são elles mesmos sua praga.
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APPENDICE “ALGUEM PEIDEI!” (ENTREVISTANDO UM ESPECIALISTA EM BIOMASSA E PESQUISADOR DE PEIDOS) O entrevistado é o Prof. Frank McPherson, biologo canadense formado em Oxford (Inglaterra) e radicado no Brazil, tendo leccionado e palestrado em universidades publicas e privadas. A materia tem data de septembro/2013 mas a entrevista é anterior, transcripta sem identificação da fonte. P: Por que o senhor se especializou em peidos? R: Porque meus collegas pretendiam explicar todos os phenomenos naturaes mas tinham vergonha de peidar na salla de aula. Decidi então demonstrar que o flato é uma funcção physiologica tão normal quanto a respiração ou a propria digestão. P: O que é o flato? Do que elle é feito? R: Flato, do latim “flatus”, significa sopro e é uma composição de gazes altamente variavel, expellida pelo anus. É formado por parte do ar que engolimos, que é quasi só nitrogenio e dioxydo de carbono, pois o organismo absorve o oxygenio, e gazes resultantes
192 GLAUCO MATTOSO das reacções chymicas entre acido estomachal, fluidos intestinaes e flora bacteriana. Ou seja, dioxydo de carbono, hydrogenio e methano. P: O que faz os peidos federem? R: O odor dos peidos vem de pequenas quantidades de sulpheto de hydrogenio (gaz sulphydrico) e enxofre livre na mixtura. Quanto mais rica em enxofre for sua dieta, mais desses gazes vão ser produzidos pelas bacterias no seu intestino e mais os seus peidos vão feder. Prattos como cebolla, couveflor e ovos são notorios por produzirem peidos fedidos. Mas de maneira geral a fermentação dos vegetaes dá menos fedor que a das carnes. Pheijão, por exemplo, produz grandes quantidades de peidos não necessariamente fedidos. P: Por que pheijão faz as pessoas peidarem tanto? R: Pheijão contem assucares que seres humanos não conseguem digerir. Quando esses assucares chegam em nossos intestinos, as bacterias fazem a festa e produzem um monte de gaz. Outros productores notorios de peidos são: milho, pigmenta, repolho e leite. No caso dos lacticinios ha um detalhe interessante: algumas pessoas teem intolerancia à lactose, porque lhes falta a enzyma que vae fragmentar cada particula do leite em duas moleculas de assucar, a fim de que possam ser absorvidas pela
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corrente sanguinea. Nessas pessoas a lactose passa pelo estomago sem ser digerida e vae alimentar as bacterias da flora intestinal, razão pela qual o peido, em taes casos, fede mais que o queijo gorgonzola. Alem da lactose, os agentes peidorrentos são a fructose e os carbohydratos da batata e dos cereaes, responsaveis pela dieta ballanceada das bacterias. P: Por que peidos fazem barulho? R: Os sons são produzidos pela vibração da abertura anal. O som depende da pressão interna, da velocidade da expulsão do gaz e de quanto estreita for a abertura dos musculos do esphincter anal. Dahi as variações entre uma bufa (o peido silencioso) e um traque (o peido estrepitoso), ou entre um peido que assobia e um que lembra uma motocycleta... P: Exsiste uma classificação dos peidos? R: Ainda não se chegou a um consenso sobre a nomenclatura, mas actualmente se conhescem 89 typos de peido, segundo criterios que levam em compta a composição, o effeito odorifero, a sonoridade, a duração e a frequencia. Isso é muito complexo, porque alguns peidos podem ser considerados “hybridos” ou mixtos. É o caso, por exemplo, daquelle que começa como traque e termina
194 GLAUCO MATTOSO como bufa, ou daquelle que começa com som de moto e termina assobiando. Por outro criterio, você pode obter peidos mixtos caso coma propositalmente um chardapio de alcachofra ao molho de alho, tutu com couve à mineira, mayonnaise de ovos, salada de repolho e sobremesa de doce de batata-doce. É uma bomba. Successo garantido. P: Quanto gaz uma pessoa normal produz por dia? R: Em media, uma pessoa produz um litro de peido por dia, distribuido em cerca de 14 peidos ao longo desse periodo. Pode ser difficil para você determinar o volume dos seus peidos diarios, mas você pode estimar quantas vezes peida. Pense nisso como um pequeno experimento scientifico: annote tudo que você come e compte o numero de vezes que você peida. Você pode inclusive annotar sobre o fedor delles. Você descobrirá uma relação entre o que você come, quanto você peida e quanto seus peidos fedem. P: Quanto tempo leva até que o peido chegue ao nariz de alguem? R: Isso depende das condições atmosphericas, humidade e velocidade do vento, alem, é claro, da distancia entre as pessoas. Os peidos tambem se dispersam, e sua potencia nauseante diminue com a diluição. Condições excepcionaes exsistem quando o
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peido é liberado numa area pequena e fechada, como um elevador, um quartinho ou um carro, porque essas condições limitam a quantidade de diluente possivel (ar), e o peido vae permanescer numa concentração perceptivel por mais tempo, até que se condense nas paredes. P: É verdade que algumas pessoas nunca peidam? R: Não. Si ellas estiverem vivas, peidam. Pessoas podem peidar até mesmo algumas horas depois de mortas. P: Homens peidam mais que mulheres? R: Mulheres peidam tanto quanto homens. O caso é que os homens teem mais orgulho disso. P: Por que meninas não assumem seus peidos? R: Acho que você deveria começar dizendo que somente algumas meninas não assumem seus peidos. A razão é cultural. Ellas são ensignadas a pensar que peidar não é coisa que uma dama faça. É um grande erro pensar assim. Todas as pessoas practicam a emissão de gazes anaes, inclusive a rainha Elizabeth e suas damas, tanto quanto o Papa ou qualquer outro homem, até mesmo o Michael Jackson e o Pelé. Não exsiste nenhuma razão objectiva para accreditarmos que o peido da Madonna feda menos que o do Maradona.
196 GLAUCO MATTOSO P: Em que parte do dia um “gentleman” está mais subjeito a peidar? R: Durante a manhan, quando estiver no banheiro. Isso é conhescido como “trovoada matinal”. Si o “gentleman” conseguir uma boa resonancia, elle pode ser ouvido na casa inteira. O chato é quando o subjeito costuma peidar durante a noite. Algumas pessoas não accordam com o rhoncho das outras, mas podem accordar com o peido. P: Um peido é mesmo só um arrocto que sahiu pelo lado errado? R: Não, a phrase “arrocto é um pum maroto que subiu de elevador” é puro folklore. Arrocto vem do estomago e tem composição chymica differente de um peido. Peidos teem menos ar atmospherico e mais gazes produzidos por bacterias. P: Para onde vão os peidos quando a gente os segura? R: Quantas vezes você segurou um flato, pretendendo soltal-o na primeira opportunidade appropriada, e depois descobriu que elle tinha “desapparescido” quando você estava prompto? Elle sahiu lentamente sem a pessoa saber? Foi absorvido pela corrente sanguinea? O que accontesceu com elle? Os medicos concordam que o peido não é nem liberado nem
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absorvido. Elle simplesmente volta para os intestinos e sae depois. Isso reaffirma o facto de que os peidos não são realmente perdidos, e sim addiados. P: E quando a gente quer soltar e o peido não sae? O que accontesce? R: O peido não sae emquanto não se rompem as bolhas de espuma que reteem os gazes. Ha casos em que se recommenda um medicamento antiespumante para adjudar a extourar as bolhas e liberar os peidos. Em outros casos a passagem dos gazes pode estar sendo obstruida por alguma complicação mais grave, que só o medico vae detectar. Mas em geral a difficuldade em peidar é facilmente solucionavel com alguns exercicios para desappertar as nadegas. Passos de cancan ou de frevo, por exemplo, acto que pode ser completado com o auxilio dos dedos, desde que você não esteja sendo observado. P: É possivel mesmo “accender” peidos? R: A resposta é SIM. Normalmente os puns incluem methano e hydrogenio, e ambos são gazes inflammaveis. Entretanto, você deve estar advisado de que collocar um peido em ignição é perigoso. Não só a chamma pode subir de volta para seu colon, como as suas roupas e o que estiver ao redor podem pegar fogo. Cerca de 25% das pessoas que o fizeram queimaram as bordas e os
198 GLAUCO MATTOSO cabellinhos do cú. Peidos tendem a se traduzir em chammas azues ou amarellas. P: É possivel usar peidos como combustivel? R: É mais productivo obter industrialmente os gazes combustiveis attravés de um biodigestor, mas em principio pode-se armazenar uma quantidade de peidos sufficiente para alimentar uma chamma por determinado tempo. P: Então seria possivel enlattar um peido para uso posterior? R: Theoricamente sim, mas ha uma serie de problemas logisticos. Você pode tentar usar um sacco plastico ao invés de uma latta. Você pode empregar o seguinte methodo, como um experimento de feira de sciencias: peide em varios saccos plasticos e os vede com cuidado. Então encha outros saccos com ar normal. Espere 6 horas. Então eleja voluntarios para cheirar o contehudo dos saccos e verifique até que poncto elles conseguem dizer si o que tem alli dentro é peido ou é ar. Isso vae lhe dar a informação necessaria para acquilatar si é possivel estocar peidos. P: Que outras experiencias podem ser feitas?
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R: Si você fizer na banheira, e si reclinar de forma que seus peidos emerjam como bolhas na sua frente e não por traz, você pode recolher as bolhas numa garrafa, e assim terá peidos puros engarrafados, sem que estejam contaminados com ar atmospherico. P: Cheirar peido deixa “chapado”? R: Não se conhescem agentes intoxicantes na flatulencia. Mesmo assim, a litteratura registra um ou outro caso de dependencia, ligada a factores não propriamente chymicos. P: É extranho gostar de peidar? R: Não. Mas si a pessoa peida numa quantidade que lhe traz problemas e infelicidade, deveria consultar seu medico. São muitos os disturbios capazes de augmentar a formação de gazes, como a aerophagia, a prisão de ventre e a intolerancia alimentar (à lactose ou ao gluten, por exemplo). Os incommodos do meteorismo vão desde o simples barulhinho borbulhante na barriga (o borborygmo) até as colicas mais agudas. Tem gente que é capaz de aguentar a dor abdominal mas odeia que alguem ouça sua barriga rhonchando. Tem gente que gosta de peidar fedido e até prefere que alguem sinta. É uma especie de autoaffirmação, como a dos adolescentes que arroctam alto accinctosamente.
200 GLAUCO MATTOSO P: Por que nosso proprio peido fede “gostoso” e o dos outros nos ennoja? R: Pelo mesmo motivo que toleramos nossos defeitos e condemnamos os defeitos alheios. Tambem gostamos de cheirar e até de comer nossa cera de ouvido ou nossa melleca do nariz, ainda que jamais comessemos a melleca do nosso collega de classe, nem que elle nos offerescesse como recompensa aquella figurinha que faltava no nosso album... Mesmo assim, comer a propria melleca é menos frequente que a autoacceitação do peido. O escriptor francez Jean Genet confessa que gostava de peidar na cama e de enfiar a cabeça debaixo da coberta só para appreciar o cheiro. Tem gente que faz isso na cama do casal, mas não quer cheirar quando o peido é do conjuge, ainda que ambos tenham comido a mesma refeição e os fedores sejam practicamente eguaes. Isso se explica pela mesma autocomplacencia que nos leva a ver no olho alheio a remella que não vemos no espelho. Freud explica... P: Por fallar em visão, de que cor é o peido? R: Via de regra, incolor, porque os gazes que o constituem são incolores. Imagine que interessante seria peidar laranja, typo dioxydo de nitrogenio. Ninguem mais perguntaria de quem é o peido. P: Outras pessoas sentem mais o cheiro do peido do que o “auctor”?
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R: O peido deveria cheirar tanto para quem o fez quanto para as pessoas que delle “desfructam”. Mas quem fez leva vantagem pelo facto de que propelliu o ar para longe do seu corpo, numa direcção opposta à do seu nariz. Peidar contra o vento annulla essa vantagem. P: Exsiste algum methodo que denuncie o “auctor” no meio de um gruppo? R: Exsiste aquelle infallivel proverbio: “quem primeiro sentiu, foi dalli que sahiu”... Mas, quando ninguem se manifesta, todas as suspeitas recaem no mais gordo da turma. Essa desconfiança não corresponde à realidade, pois os magros peidam tanto quanto os gordos. P: O “peido de ovo” é facilmente identificavel, mas será que dá para identificar todos os “sabores” dos peidos? R: Um pesquisador experiente consegue distinguir diversos “sabores” mesmo sem saber o que o “auctor” comeu, mas como muitos peidos são practicamente inodoros resta-nos discernir apenas alguns “sabores” mais distinctos, como o do alho, por exemplo. P: Ha quanto tempo o peido vem sendo estudado?
202 GLAUCO MATTOSO R: Antigamente nosso conhescimento sobre a flatulencia estava envolto em mythologias. O anthropologo americano John Gregory Bourke, grande estudioso da escatologia, registra que os romanos e os egypcios crearam divindades para os excrementos, cuja funcção era proteger as latrinas e seus frequentadores. Consta que São Clemente escreveu chartas a outros sanctos lamentando a maneira como taes latrinas “sagradas” eram adoradas, particularmente no que se relaciona com o ruido e o cheiro das ventosidades. Apparentemente o effeito da fedentina equivalia ao do incenso em outras liturgias. O mesmo Bourke diz ter consultado uma bibliotheca que incluia nada menos que 130 tractados sobre a flatulencia, varios dos quaes dando noticia do culto a Belphagor e a outras figuras que personificavam o peido. Entre os egypcios o peido era representado por um menino aggachado que parescia realizar um exforço. Mas modernamente a flatulencia é mais dominio da gastroenterologia que do folklore. P: Si o peido pode ser estudado scientificamente, será que pode tambem ser materia-prima de alguma obra de arte? R: Sem duvida. O poeta brazileiro Glauco Mattoso é um exemplo typico dessa esthetica escatologica. Leia só estes sonnettos, e veja si ainda resta alguma coisa a dizer...
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O entrevistado entrega ao entrevistador uma copia xerox dos poemas mais representativos da thematica, incluidos neste volume.
SUMMARIO COPROPROSOPOPÉA [5620].........................................9 MANIFESTO COPROPHAGICO [0006].................................10 DISSONNETTO FLATULENTO [0192].................................11 DISSONNETTO EVACUADO [0613]...................................12 DISSONNETTO CAMUFLADO [0644]..................................13 DISSONNETTO CONFLAGRADO [0658]................................14 DISSONNETTO DA CURTA METRAGEM [0746]..........................15 DISSONNETTO DA IMPRESSÃO DIGITAL [0791].......................16 DISSONNETTO DOS EFFLUVIOS [0792]..............................17 DISSONNETTO DE TODAS AS VONTADES [0811].......................18 DISSONNETTO CANNIBAL [0866]...................................19 DISSONNETTO VISCERAL [0972]...................................20 DISSONNETTO SOCIAL [0977].....................................21 DISSONNETTO DIALECTICO-DIETETICO [1016].......................22 DISSONNETTO DESPOLLUTO [1025].................................23 DISSONNETTO DAS NECESSIDADES [1062]...........................24 DISSONNETTO LUBRICO [1078]....................................25 DISSONNETTO DISSOLUTO [1082]..................................26 DISSONNETTO DO PURGANTE ELEGANTE [1108].......................27 DISSONNETTO DA TARDIA REGALIA [1115]..........................28 DISSONNETTO DOS DESMANDOS DA NATUREZA [1131]..................29 DISSONNETTO DOS BONS FLUIDOS [1141]...........................30 DISSONNETTO DAS COISAS VERGONHOSAS [1174].....................31 DISSONNETTO DA PRODUCÇÃO LITTERARIA [1178]....................32 DISSONNETTO DOS COMMODOS INCOMMODOS [1180]....................33 DISSONNETTO DA PROPHECIA VISCERAL [1209]......................34 DISSONNETTO DO MESMO BARCO [1224].............................35 DISSONNETTO DA BOCCA CHEIA [1228].............................36 DISSONNETTO DO TRACTO INTESTINAL [1243].......................37 DISSONNETTO DO AVARENTO CASTIGADO [1244]......................38
DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO DISSONNETTO
DO GOSTINHO SADICO [1245].........................39 DA PERDA DE TEMPO [1263]..........................40 DO ATTEMPTADO AEREO [1278]........................41 DO PONCTO DE VISTA [1280].........................42 DA POSIÇÃO DESFAVORAVEL [1286]....................43 DOS SIGNAES E DOS HAIKAIS [1291]..................44 DO OUVIDO ENTUPIDO [1298].........................45 DA ESPINHA MADURINHA [1300].......................46 DOS MEUS MAIS MAUS MODOS [1333]...................47 DO CINEMA BLASPHEMO [1365]........................48 DO ARCHIVAMENTO SUMMARIO [1376]...................49 DAS QUESTÕES PHILOSOPHICAS [1383].................50 DO PRATTO PRETO [1439]............................51 DO PAU DE PEDRA [1532]............................52 DO QUEIJO QUE ENJOA [1544]........................53 DOS POMBOS CARNICEIROS [1617].....................54 DA COMMUNHÃO NO BODUM [1657]......................55 DOS PALADARES EXOTICOS [1692].....................56 PARA UMA MARCHINHA [1728].........................57 PARA A ANATOMIA DA BUNDA [1793]...................58 PARA AS BELDADES CONSTIPADAS [1797]...............59 PARA A PERIPHERIA DESASSISTIDA [1854].............60 PARA UMA IDÉA LUMINOSA [1865].....................61 PARA QUEM ESTÁ CAGANDO E ANDANDO [1890]...........62 PARA UMA AGUA TIRADA DE JOELHO [2020].............63 PARA UMA PENA ALTERNATIVA [2025]..................64 PARA A EXSECRAÇÃO PRIVADA [2027]..................65 PARA QUEM SE DEU ARES [2055]......................66 PARA QUEM EXHALA NA SALLA [2056]..................67 PARA UM EXCAPPAMENTO BARULHENTO [2077]............68 PARA O ALIMENTO DO DETENTO [2085].................69 PARA UM PRONUNCIAMENTO FEDORENTO [2100]...........70
DISSONNETTO PARA UMA PRIVACIDADE MEDITABUNDA [2113]...........71 DISSONNETTO PARA A CORRECÇÃO MONETARIA [2115].................72 DISSONNETTO PARA A PERICULOSIDADE DO DETENTO [2130]...........73 DISSONNETTO PARA A PENA DO DETENTO [2132].....................74 DISSONNETTO PARA A SONOPLASTIA DO DETENTO [2135]..............75 DISSONNETTO PARA UM LOGAR SOLITARIO [2144]....................76 DISSONNETTO PARA UMA CHARIDADE QUE SAE CARA [2145]............77 DISSONNETTO PARA UMA FOLIA RUEIRA [2152]......................78 DISSONNETTO PARA UMA ILLUSÃO PASSAGEIRA [2155]................79 DISSONNETTO PARA A ASEPSIA BUCCAL [2502]......................80 DISSONNETTO PARA UMAS UNHAS APPARADAS [2505]..................81 DISSONNETTO SOBRE O BEIJO MAIS INTIMO [3008]..................82 DISSONNETTO SOBRE O PAPEL DA LINGUA [3012]....................83 DISSONNETTO SOBRE A DUPLA IDENTIDADE [3021]...................84 DISSONNETTO SOBRE A PLASTICIDADE FECAL [3028].................85 DISSONNETTO SOBRE O INCONSCIENTE COLLECTIVO [3059]............86 DISSONNETTO SOBRE O LIMITE QUE SE PERMITTE [3065].............87 SOPA NO MEL [3126]............................................88 MYSTICA GALHOFA [3139]........................................89 POETICA CAGADA [3153].........................................90 ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA [3442]...........................91 SELVAGENS IMAGENS [3448]......................................92 SENSUAL COMMERCIAL [3477].....................................93 HYGIENICO PANICO [3521].......................................94 INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES [3597]......................95 O ACCOCORADO E O ACCOCOZADO [3711]............................96 COPROPHOBIA [3873]............................................97 VALOR SENTIMENTAL [3936]......................................98 PONCTO DE INTERROGAÇÃO [4009].................................99 CASEIRA CONFEITEIRA [4110]...................................100 VERDADE REVELADA [4118]......................................101 RODIZIO DE EMBUTIDOS [4134]..................................102
AOS HOMENS DE BOA VONTADE [4149].............................103 EMPREHENDEDORISMO CREATIVO [4405]............................104 INTESTINO DE FINO TRACTO [4457]..............................105 GAZES CONTUMAZES [4490]......................................106 POMBO SEM ASA [4575].........................................107 INCONTINENCIA URINARIA [4576]................................108 GAZES COMBUSTIVEIS [4581]....................................109 DESGOSTOSA DEGUSTAÇÃO [4583].................................110 HALITOSE EM DUPLA DOSE [4669]................................111 ANXEIO POR ASSEIO [4728].....................................112 ANTITHETICO AUTOCLYSMO [4740]................................113 CASO VAZADO [4743]...........................................114 IMAGENS FORTES [4744]........................................115 MARRON SOBRE AZUL [4807].....................................116 CAGADA DEMORADA [4929].......................................117 PRAZERES DO TRAZEIRO [4991]..................................118 CAVERNA DO DIABO [4992]......................................119 CONTRACÇÕES E CONTORÇÕES [5041]..............................120 FEDORENTO VAZAMENTO [5244]...................................121 A ESCALADA DA PORCARIADA [5267]..............................122 FEDORENTO E FERVOROSO [5294].................................123 PERSEVERANTE PERFECCIONISMO [5561]...........................124 DEGRADANTE TRABALHISMO [5563]................................125 ODE COPROCTAL [5581].........................................126 POLITICA QUANTICA [5602].....................................127 NOJENTO CORRIMENTO [5628]....................................128 DIARRHÉA COM PLATÉA [5630]...................................129 JURURU COM PIRIRY [5652].....................................130 PARANOIA DA BOIA [5671]......................................131 LEUCOPROPHILOS THEOLOGOS [5845]..............................132 MEME DA CUECA SUJA [5884]....................................133 MEME DO DESODORANTE [5888]...................................134
RESPOSTA IMMUNOLOGICA [5947].................................135 PULLO DE SUSTO [5950]........................................136 DOSE EXACTA (I) [5977].......................................137 MISCELLANEA COPROPHILICA [5985]..............................138 MISCELLANEA BUCCAL [5986]....................................139 MISCELLANEA CATARRHAL [5987].................................140 MEME DO VOCABULO CABULOSO [6009].............................141 MEME DA QUARENTENA [6057]....................................142 BANDIDO MASCARADO [6118].....................................143 HASHTAG NOS EXFORCEMOS [6174]................................144 PROCTOLOGISMO [6191].........................................145 CEGADO E CAGADO (I) [6251]...................................146 CEGADO E CAGADO (II) [6252]..................................147 CEGADO E CAGADO (III) [6253].................................148 AMARGA DESCARGA [6254].......................................149 GANGORRA [6259]..............................................150 SALDO DO CALDO [6260]........................................151 ABSINTHO DE PINCTO [6272]....................................152 FESCENNINA SABBATINA [6287]..................................153 SELECTO DEJECTO [6302].......................................154 DOSIMETRIA [6315]............................................155 BRUXA LUXENTA [6394].........................................156 NÃO É SOPA! [6423]...........................................157 MARRON DEGRADÊ [6442]........................................158 SELECTIVA PERSPECTIVA [6475].................................159 BIZARRA GARRA [6481].........................................160 PUMDEMIA [6493]..............................................161 RETENÇÃO DE GAZES (I) [6576].................................162 RETENÇÃO DE GAZES (II) [6577]................................163 SEM AR NO AR [6593]..........................................164 PROPRIO RABO [6609]..........................................165 EXCASSEZ DE VIVERES [6610]...................................166
NIPPONICO HEROE COMICO [6612]................................167 NUPCIAS DE LAMA [6613].......................................168 GREEN RIVER [6644]...........................................169 IT’S JUST A THOUGHT [6653]...................................170 WALK ON THE WATER [6655].....................................171 FLATULENTO CORRIMENTO [6670].................................172 FEDORENTO FRAUDULENTO [6671].................................173 INEFFICACIA DA PHARMACIA [6678]..............................174 AGGRAVANTE VENTOSIDADE [6684]................................175 DINHEIRO SUJO [6707].........................................176 IMPOSTO DE MERDA [6709]......................................177 GLAMOUR [6731]...............................................178 FUMAÇA PARA A MASSA [6733]...................................179 DOIS EM UM [6735]............................................180 CONVERSA PRIVADA [6784]......................................181 CAGADO E CEGADO [6791].......................................182 HORA FESTIVA [6812]..........................................183 DIGESTIVA PERSPECTIVA [6813].................................184 EFFICAZ É SATANAZ [6837].....................................185 MOMENTO DE CONSTRANGIMENTO [6850]............................186 TESTE DO COCÔ [6915].........................................187 EXAME DE FEZES [6916]........................................188 O REFEITORIO DO SANATORIO [6919].............................189 COLORAÇÃO POLITICA [6929]....................................190 APPENDICE: “ALGUEM PEIDEI!” (FRANK McPHERSON ENTREVISTADO)...191
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS
São Paulo Casa de Ferreiro 2021