VENENOSAS FOFOCAS
GLAUCO MATTOSO
VENENOSAS FOFOCAS
Venenosas fofocas © Glauco Mattoso, 2022 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros ________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA ________________________________________________________________________ Mattoso, Glauco VENENOSAS FOFOCAS São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022 116 p., 21 x 21cm ISBN: 85-87515-02-0 1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
B869.1
NOTA INTRODUCTORIA
Sempre sonnettizei a proposito de muita gente mexeriqueira com quem convivo, mas uma veridica e verosimil personagem roubou a scena nesse departamento. Ella apparesce no dissonnetto "Meme da sogra", inspirado no "Madrigal marital", e reapparesce no livro PRANTO EM PRETO E BRANCO (ja composto sem formato fixo nem compromisso com rhyma, só com metrica e com rhythmo): tracta-se de dona Deborah, que mette bedelho em tudo e na vida de todos, alem de ser alvo da bisbilhotice alheia, dahi seu interesse poetico, para não dizer politico, social, moral, psychologico e mesmo philosophico. Nella concentrei meus olhares e paladares mellifluos, entre fevereiro e março de 2022, e estes são os cem poemas resultantes de tão amavel convivio. Tomara que os leitores do meu circulo sympathizem com essa folklorica e allegorica figura. Suggiro, subsidiariamente, a leitura do livro GOROROBA À PURURUCA, a proposito da culinaria em geral.
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CHAMARIZ [8677] Das poucas casas que 'inda aqui resistem, reside dona Deborah naquella mais bella, ao lado, quasi, do meu predio. Tem sotam, tem porão, jardim na frente, pomar attraz e salla com poltrona marron, capitonada. Até lareira a velha accende, quando frio faz. Tem tudo, o casarão. Mas falta gente, agora que viuva ficou minha vizinha. Appresentei a vocês uma terrivel fofoqueira, mas alli não posso faltar, sendo o seu puddim um grande, irresistivel chamariz.
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CAMISETA ADMARROTADA [8678] {Você ficou sabendo, Glauco? O trouxa scismou de comer frango com farofa na rua! Totalmente emporcalhado ficou, Glauco! Um horror! Uma nojeira! Eu mesma ja comi, como o povão, e nem me engordurei! Aqui no bairro tem muita gente dessa laia, Glauco, que come frango, suja a roupa, mas arrocta peru! Pegue mais puddim!} Não faço ceremonia. Ja repito, cuidando para a calda não cahir na velha camiseta admarrotada.
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VESPEIRO [8679] {Mas esses jogadores todos teem a mesma cara! Todos usam barba! Famoso, um usa... Ahi, todos imitam! Agora, aqui na rua, até porteiro de predio quer deixar a mesma barba! Parescem macaquinhos! Não parescem? Mas faço uma resalva: macaquinhos, porem de imitação! Sinão, "racista" dirão de mim as linguas más do bairro! Não acha, Glauco? Pegue mais puddim!} Ja tracto de servir-me. Este puddim não para de piscar, digo, um "pissiu" soprar nos meus ouvidos. Macaquinhos? Melhor é nem mexer nesse vespeiro...
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CASA ALHEIA [8680] {Que eu sou mettida a chique essas más linguas ahi da vizinhança andam dizendo! Magina, Glauco! Nunca fui de elite! Não como uma banana com garfinho e faca! Como pizza com a mão! Agora convenhamos: crê você que dá para comer com a mão meu puddim de mandioca? Nem você, que tudo pega sempre com as mãos, dispensa a colherinha! Não é mesmo? Então, as fofoqueiras que se lixem!} Ouvir isso me deixa cauteloso ainda mais. Inutil prevenção, pois, mesmo com colher, me mancha a roupa a calda, alem duns molhos e migalhas das outras refeições em casa alheia.
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PROCESSADO [8681] Me serve ella manjar branco com umas ameixas pretas nessa calda classica. Emquanto o saboreio, ouço o que diz: {Você viu que racista aquelle syndico? Chamou de pau-de-arara todo mundo que está no condominio trabalhando, porteiro, faxineiro ou zelador! Disseram que elle batte na mulher! Ouvi fallar até que elle traffica uns videos de infantil pornographia! Talvez seja boato, uma desforra que fazem... Mas meresce, esse elitista! Tem menos do que eu tenho, mas se exhibe!} O predio fica ao lado do meu. Não conhesço o morador que se elegeu, mas acho que não chega ao fim do seu mandato sem ter sido processado...
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MOLECADA [8682] Ficou a dona Deborah assustada com certa fofoquinha que circula nas redes, sempre em anno de eleição: {Será verdade, Glauco? Si elle for eleito, ouço dizer, as mammadeiras terão todas formato peniano! Hem? Como obrigar fabricas a dar tal forma às mammadeiras? Impossivel! Só pode ser noticia falsa, Glauco!} À parte essa tolice, me encuquei com uma coisa: havia, algum tempinho attraz, um piccolé, Perepepé, em forma dum descalço pé, que todo moleque lamberia com prazer. Alguem se incommodou com isso? Pelo contrario! Ouriçou toda a molecada!
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CONTRAGOSTO [8683] À mesa, dona Deborah me indaga: {Você tambem tem sido, Glauco, um alvo constante de invejosos? Mau olhado o tempo todo lançam contra mim! Estou dessas commadres fofoqueiras é farta, amigo Glauco! Você não? Acceita mais puddim? Gostou da minha receita à moda antiga? Sim? Que bom!} Pensei e respondi que quem me inveja enxerga geralmente bem e não consegue conformar-se com o facto de ser grande escriptor um cego gay. Detalhe interessante: mais veneno destilla quem escreve sem talento e, embora possa, leia a contragosto.
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EUROPAS MAIS SONHADAS [8684] Sim, é de revirar os olhos esse puddim da dona Deborah, que está vaidosa dos seus dotes de doceira. Emquanto me regalo (ou arregalo), escuto o que ella falla, a lamentar-se: {Da cara ja custando os olhos tudo está, Glauco! Tem gente que nem compra mais carne, só pellanca, aponevrose ou osso, ouço fallar! Osso, querido! Agora meu puddim mais requinctado ficou! Não é verdade? Então, que diz?} Depois de engolir mais uma fatia, respondo que importante é ser amigo de tal amphitryan, mais do que ter dinheiro, que não compra coisa assim nem mesmo nas Europas mais sonhadas.
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BICYATA [8685] Contava-me, indignada, a dona Deborah: {Você ficou sabendo? Um imbecil que foi de Bicycleta appellidado e muitos seguidores tem nas redes fallou abertamente que defende a livre propaganda dum partido nazista no Brazil! Que descarado! Não basta haver fascistas no governo? Mas tenho umas amigas que não deixam barato, pois judias são e não toleram taes attaques raciaes! Você, que me diria, meu querido?} Só pude responder que esse não serve siquer p'ra accompanhar motocyata daquelles fascistoides: "bicyata" nem sei si estão fazendo os desse gado. Achou ella gozada a "bicyata".
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ESPELHO [8686] De egypcios pés, me escreve esse judeu chamado Gabriel. Elle compõe poemas kabbalisticos, hassidicos, mas muito transparentes quando fallam accerca do formato de seus pés. {Judeu de pés egypcios?}, promptamente questiona a dona Deborah, que está partindo uma fatia de puddim. {Não acha, Glauco, um grave paradoxo historico? Não era preferivel ter elle pés romanos ou pés gregos?} Lembrei-me dos judeus cujos pés ja toquei e que eram gregos. Todavia, ninguem vae amputar pela metade seu maximo dedão por causa disso. Tambem contradictorio sou e nem por isso me incommoda ter os olhos azues depois de cegos, si castanhos ja foram quando vistos ao espelho.
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COITADOS [8687] Jandyra, moradora do maior conjuncto de edificios neste bairro, quer ser agora a syndica. Mas é inhabil, insensivel e elitista. Chamou os nordestinos ja de tudo que possa se chamar de preconceito: bahiano, parahyba, pau-de-arara, cabeça-chata, pé-rapado, jegue. Ja della a dona Deborah mal falla faz tempo, mas agora ha mais motivo: {Magina, Glauco! Xinga todo mundo e pede voto desses que xingou! Desdenha, por morar no melhor bloco, daquelles que em apês menores moram! E eleita quer ser, Glauco! Que toupeira!} Emquanto de puddim me sirvo, só respondo que esse espirito de porco teem muitos na politica. Dão tiro no proprio pé, mas querem é encontrar pretexto para a pose de coitados.
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POBRE PROCEDENCIA [8688] Estava a dona Deborah commigo tomando um cafezinho com puddim e mal fallando dessa tal Jandyra: {Xingou de mongoloide, ella, sem pejo, o filho do coitado que fazia da rua a segurança! Mas foi esse moleque que empunhou do pae uma arma e contra alguns bandidos disparou! O pae nem conseguia destravar o raio da pistola, Glauco! Como alguem que nem maneja armas direito pretende trabalhar nesse sector? Não fosse esse menino retardado tomar do pae o cano... Ja pensou?} Prefiro nem siquer saber do caso. Mas quem pagou o pato foi Jandyra, mettida a chique, cuja lingua appenas reflecte sua pobre procedencia.
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TODO O MUNDO [8689] Alguem disse esta perola de espirito: "Você, caso me queira assassinar e estupro commetter sobre meu corpo, lhe peço, por favor, que me practique as duas coisas só nesta sequencia." A tanto um amigão meu retrucou: "Só peço, por favor, que não me macte!" Contei à dona Deborah a anecdota durante nosso cha com seu puddim, e disse ella com sua fina lingua: {Ah, vamos combinar: você me estupra e macta a minha amiga! Assim, eu fico calada, alem daquella linguaruda que tudo contaria a todo o mundo!}
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LEITURA LABIAL [8690] Vergonha, quando pouca, a dona Deborah jamais perdoa. Alguma amiga della chamou outra de "bocca de boceta" por causa do sorriso um tanto largo. {O nivel anda muito baixo, Glauco! A lingua dessa gente está tão suja de insultos chulos entre seus amigos?} Pensei e me lembrei dum que só falla sozinho quando xinga alguem mandando tomar no cu. Chamado, sim, tem sido de "bocca de chupeta", ja que "cu" faz bicco na leitura labial.
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RHUMO PERIGOSO [8691] Transtorno bipolar? Não. Talvez seja transtorno de tripudio compulsivo, vontade de zoar sem dó de quem não tenha a menor chance de defesa. Um cego, um alleijado, um paralytico são victimas perfeitas do subjeito que mora nesta mesma rua. Dizem que está até de botuca sobre mim. Sobre elle commentei com dona Deborah, que, emquanto me servia de puddim, pensou e disse: {Eu acho que conhesço o gajo! Um que tem cara appatetada, paresce nos olhar ja salivando de tara! Mora alli naquelle predio ao lado da Jandyra! Ah, vae saber si ja não pensou nella! Affinal, ella paresce ser mais doida que elle proprio!} Calei-me, então, sinão nossa conversa iria tomar rhumo perigoso.
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PENEIRA [8692] Fallei à dona Deborah a respeito da minha frustração como um auctor de extensa producção, bem estudado nos meios academicos mas victima de todos os boycottes pelas midias e pelos que, nos premios, dão seus votos. Torcendo o seu nariz, respondeu ella: {Maldicto que se preza não faz caso de estar num pantheão das homenagens! Exquesça disso, Glauco! Ou então faça de compta que desdenha dos trophéus! Sim, cuspa numa taça, tire photo e exhiba pelas redes seu desdem! Verá que, logo, logo, procurado será! Quem se fizer de mais difficil é quem papparicado mais será!} Não sei por que, mas acho que ella quiz dizer "cagar", mas disse "cuspir" por algum pudor egual ao dos que tapam meu merito com cynica peneira.
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DELEITE [8693] Estava amargurada, a dona Deborah: {Não, essas professoras não me engannam! Ouvi de fonte limpa: as que solteiras ficaram não são sanctas, como querem nos dar a perceber! Sei duma, Glauco, que em cyma dava até de molequinho impubere e cabaço (me desculpe usar essa palavra) tirou desses alumnos todos! Posam, ja depois de velhas, de carolas, as saphadas! Deitaram e rollaram com aquelles sedentos molecotes, Glauco! Pode?} Eu ia responder, mas o puddim estava tão gostoso, tão... orgastico, que só com a cabeça fiz que sim, os olhos revirando de deleite.
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PARA A CAMA [8694] Instado, poesia fiz accerca de "sexo", comparado com "amor": Amor exsiste quando um casal faz de compta que de sexo nem precisa fazer questão, depois de tanto tempo ao lado um doutro, mesmo que ja sejam as camas separadas, ou os quartos. No sexo, faz de compta que, em minutos comptados, uma transa dure mais que toda a posterior eternidade, ainda que, depois do orgasmo, nada nenhum dos dois se lembre de ter feito. Appós ouvir meus versos, dona Deborah fallou: {Não vejo tanta differença, sabendo-se que, quando se masturbam, solteiros e casados jamais pensam naquelles com quem foram para a cama.}
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ESTE DAQUI [8695] Quintal dos outros, nosso quintaal é, segundo bisbilhota a dona Deborah, que falla duma russa que brigou com uma meretriz ukraniana, vizinhas no conjuncto da Jandyra. {Calcule só, Glaucão! Quiz se metter a tonta da Jandyra com as duas, tentando diplomata ser! Quebrou a cara, pois as duas concordaram num poncto: dar um chega na abelhuda! Jandyra, que das duas appanhou, insiste em se fazer de pacifista, gabando-se de tel-as irmanado!} Ainda bem, pensei, que não frequento a casa de nenhuma, pois puddim melhor não ha, sinão este daqui...
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SAPATOS FEMININOS [8696] Commadres commentando sempre vão, por mais que dona Deborah as odeie. {Magina, Glauco! Só porque eu doei sapatos para victimas de enchente, estão me tesourando! Mas eu não doei só meus sapatos, nem só roupas! Disseram que quem pisa nessa lama jamais vae precisar duns saltos altos! Maldade, Glauco! Pura má vontade!} Não quero me metter nessa celeuma. Sapatos não costumo doar, mas acceito doação de tennis velho que iria para a latta, sim, de lixo. Nenhum adolescente leva a serio, porem, o meu appello: jogam fora até tennis novinhos, só porque sahiram, ja, de moda. Ah, nesse caso, seriam, com certeza, si doados, mais uteis que sapatos femininos.
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PONCTINHO DELICADO [8697] Verão: quando não chove, enchendo tudo, suamos no calor abbrazador. Afflicta, a dona Deborah a abbannar-se recebe-me, me serve seu puddim e soffre, embora a casa ventilada esteja: {Amigo, um clima assim ninguem aguenta! Alem de tudo, uma coceira damnada me inferniza! Ah, como coça! Mas não aquelle typo de coceira que estão as linguarudas fofocando que sinto, bem alli, Glauco! Desculpe tocar nesse ponctinho delicado!}
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ALLIVIO [8698] Está preoccupadissima, a coitada da dona Deborinha, com a guerra em solo ukraniano: {Ja pensou, Glauquinho? O povo todo, de repente, sahindo da cidade inteira, sem destino? Um chaos tremendo! Residencias deixadas para traz! Um exquescido puddim na geladeira desligada!} Que imagem mais extranha, aquella dum puddim que se exquesceram de comer, na pressa de excappar do bombardeio! Mas pode ser symbolica, a figura. As fugas são assim, desesperadas. Nos fazem reflectir sobre este nosso marasmo, que vivemos lamentando, mas, mesmo que monotono, um allivio.
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ESSE CASTIGO [8699] Irrita dona Deborah a tal scena do negro que ficou accorrentado emquanto todos riam delle. Estavam as mesmas commadrinhas a gozar, aquellas que fofocam cada dia: "Bem feito! Não paresce na senzala estar? É logar delle, esse creoulo! Que sua cabeçorra abbaixe, então!" A mim Deborah affirma, abhorrescida: {É crime, Glauco! Crime! Esse rapaz, que culpa tem, alem da cor da pelle? Roubou? Assassinou? Que seja preso, mas nunca accorrentado desse jeito, motivo de piada às fuxiqueiras!} Pensei commigo: Fosse esse moleque um branco, só seria assim gozado si cego ou alleijado. De mim ja fallaram: "Meresceu esse castigo!"
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TRUFFAS DO SAVOY [8700] {Nem ebony, nem ivory!}: é o que diz a dona Deborinha, a tal vizinha que em casa me recebe toda tarde. {O Macca se equivoca, Glauco! Um bello exemplo da harmonia racial do branco com o negro não está tão nitido nas teclas do piano, mas sim no manjar branco, com tamanhas ameixas pretas nessa linda calda! Não acha, meu querido?} Um pedação me serve do manjar, que eu saboreio sem ter o que dizer, de tão gostoso. Mas digo, para appenas não deixar a boa senhorinha sem resposta: -- Sem duvida! Aliaz, o proprio Harrison, si seus puddins provasse, não faria questão tanta das truffas do Savoy...
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PUDDIM DE MANDIOCA [8701] Disseram as más linguas que esta minha vizinha applica golpes pelas redes, se passa por "modello" sensual, por boa accompanhante para aquelles senhores solitarios, lhes extorque a grana, chantageia apposentados... {Magina, Glauco! Queixa até ja dei das tramas à policia! Rastrearam a minha vida toda! De quaesquer suspeitas me innocentam! O que mais offende é ser chamada de "modello"! "Modello" ou puta? Puta nunca fui!} Emquanto saboreio o seu puddim, accabo concordando. Puta alguma egual faz um puddim de mandioca?
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ONDE DORMIR [8702] Senti mui deprimida a dona Deborah. Tão logo começou a guerra, a sua risonha face está menos alegre. Ja pela voz percebo o pessimismo. {Do solo ukraniano todos vão fugindo, Glauco! Fico preoccupada não só com as pessoas, mas tambem com esses cachorrinhos que se perdem! Eu olho o meu bassê, Glauco, que morre de medo de trovão, e me pergunto si podem os bassês ukranianos um russo bombardeio supportar...} Commentam as commadres que ella tem mais pena de cachorro que de gente. Mas não a recrimino. Um bassê não quer guerra com ninguem. Só quer linguiça, biscoito, um beijo, um cantho onde dormir.
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CURTA VIDA [8703] Um dia, perguntou-me dona Deborah aquillo que ja tinha perguntado diversas vezes: {Glauco, um diabetico puddins pode comer? Você repete pedaço por pedaço... Ora, por mim você comer inteiro poderia qualquer desses que faço, pois me sinto feliz quando uma bocca addoço tanto...} Respondo sempre identica resposta: -- Mas hoje estou chutando, minha cara amiga, da barraca, mesmo, o pau... Sinão, como levar, tão curta, a vida?
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NA MESMA [8704] Naquelle condominio onde residem milhares de pessoas, é Jandyra a syndica, depois duma campanha farsante e populista. Dona Deborah odeia aquelle typo de mulher: {Não moro la, não troco minha casa por um "appertamento"! Si morasse, votava até na Barbara, a mais louca palhaça do pedaço! Na Jandyra jamais! Uma fascista, aquella vacca!} Fiquei pensando: Ukranias são assim, parescem condominios populares. Alli muitos votavam num palhaço, achando que peor não ficaria. Aqui no predio, um louco não prefiro, tampouco um dictador, pois dá na mesma.
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ELLA MESMA [8705] Estava revoltada, a minha amiga, depois que lhe chegaram aos ouvidos as ultimas fofocas sobre si: {Assim é ja demais! Estão dizendo que durmo com meus lindos bassezinhos! Sim, elles dormem, ora, aqui commigo, no quarto, ou, vez por outra, até na cama! Mas nunca no sentido que essas cobras nojentas, peçonhentas, insinuam!} Fingi que não sabia da fofoca, porem eu mesmo tinha assim ouvido... Que, sexta-feira à noite, em "bassethomem" um fofo cachorrinho se transforma e cobre dona Deborah... Maldade! Cobril-a, só si fosse de lambeijos, tal como nos bassês faz ella mesma!
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CAFAGESTE [8706] Ouvindo um babacão que, pelas midias, fez pouco da mulher ukraniana, achando que são faceis de pegar, com Deborah abbordei o delicado assumpto. Minha amiga appenas disse: {É facil para typos dessa laia depois se desculparem. Elles dizem que tudo foi "tirado do contexto". Tambem eu acho facil, si quizermos de facto nos livrarmos dessa praga, nós todos o tirarmos da politica e pormos, si não for attraz de grade, ao menos no ostracismo. Mas será que querem as mulheres todas isso?} Achei que não. Assim, só me limito a nojo sentir desse cafageste.
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PARA POUCOS [8707] Severa, dona Deborah só faz puddim com o melhor ingrediente. {Não gosto de puddim falsificado, querido, tal qual esse da padoca! Engrossam com farinha, com maizena, collocam numa calda até baunilha! Agora, appreciando o meu, você me diga si terá comparação!} Não ouso discordar. Nem comparei com factos da politica, pois facil seria as fake news dizer que são puddins de padaria. Commentei appenas que quem sabe discernir é sempre quem o della appreciou, um raro privilegio para poucos.
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REDES SOCIAES [8708] Fofoca agora "fake news" se chama, segundo dona Deborah, que lembra: {O Carlos Imperial, um cascateiro manjado, publicou na VEJA, logo que George, 'inda nos Beatles, "Inner light" gravou: elles iriam gravar, em seguida, algo do nosso Gonzagão, talvez essa "Asa branca", que paresce, no rhythmo, com aquelle lado B. Você percebeu isso, né, querido?} De facto, percebi. Mas "cascateiro" tambem equivaleu a "fofoqueiro", aquillo que Imperial, hoje, seria, na certa, pelas redes sociaes.
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OUTROS VICIOS [8709] Puddins vale comer accompanhado de chas, mas eu prefiro com café. Faz Deborah, na machina, seu mais que forte café preto. Nelle eu ponho appenas addoçante, eis que controlo meu quadro diabetico. Mas, quando na bocca seu puddim de pão colloco, exquesço tudo quanto o doutor disse. {Glauquinho, meu amor, acceita mais puddim? Sinta-se em casa, por favor! Estou ja convencida: não, nenhum assucar poderá lhe fazer mal! Ninguem pode morrer comendo doce! Morresse, morreria pela mais benefica das causas cogitaveis, não pelo fumo ou vicios mais maleficos!} Fiquei quieto. Ommitti meus outros vicios.
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NÃO EXCLUDENTES [8710] No Dia da Mulher, um presentinho levei à dona Deborah, que estava chorosa, compungida por aquellas inermes cidadans ukranianas. {Fiquei com pena, Glauco, duma scena passada na TV: de blusa aberta, a dona dum cachorro o collocara de cara para fora, accommodado de encontro, veja, ao proprio seio della! Tal como um bebezinho, Glauco! O nosso instincto maternal não falha nunca, nem mesmo numa guerra tão insana!} Alguem me descrevera a scena. Mesmo não sendo um bassezinho, commoveu-me. Assim, nem questionei si tambem essas pegaram num fuzil para attirar nos russos. São funcções não excludentes...
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RATTAZANOS [8711] Dialogo curioso occasionei: -- Sabia, Deborinha? Na Argentina um "rato" não é ratto, mas momento! {E ratto, como fallam?} -- Um "ratón"... {"Ratón" não é rattão? E como fallam rattinho, si "ratito" um momentinho dizer quer?} -- Elles dizem "ratoncito"! {Então é rattãozinho? Ora, até faz sentido, Glauco! Ouviu fallar da ladra que mora na malloca alli do lado? Pois ella rattazana affirma ser! Assim, la no Congresso, uma porção de gente eu ja rotulo: rattazanos!}
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OUTRO DIA [8712] {De mim todas as linguas fallam mal, appenas porque (Entende?) enviuvei. Mas, Glauco, de você não comprehendo, poeta sendo, lido, conhescido, por que ninguem commenta a sua lyra nos livros que, de historia litteraria, exsistem nesta lingua portugueza! Mas acho que percebo o que você devia fazer, Glauco: simplesmente sumir de scena. Finja que morreu e todos sentirão a sua falta, irão logo os seus versos pesquisar, citar nos principaes vestibulares!} Assim a dona Deborah se expressa, mas finjo que morri só de vontade daquelle seu manjar maravilhoso, que junctos devoramos outro dia.
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MISS SÃO PAULO TRAVESTIDA [8713] {Não são minhas vizinhas, só, quem tem a lingua venenosa, Glauco! O proprio John Lennon, appós RAM do Paul McCartney, mordeu-se de maneira tal de inveja que fez "How do you sleep", uma canção eivada do maior rancor, à qual o Macca respondeu com "Dear friend", que indaga do que Lennon tem tal medo. Não pense, Glauco, que eu não idolatro o Lennon... Mas que culpa tem o Macca si John não foi capaz, na phase solo, de ter sonoridade egual àquella dos Beatles, que no RAM Macca alcançou?} Ouvindo dona Deborah fallar, mais nada accrescentei. Endosso tudo. Despeito, gente, é foda, ja diria o Mario quando Oswald o rotulou de nossa Miss São Paulo travestida.
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PURO DESPEITO [8714] Na Villa as fofoqueiras não descansam. Andaram ja fallando mal do cão bassê da dona Deborah, menor que todo bassethound. "Arteziano" se chama tal bassê, mas é mui raro aqui por Sampa, donde esses fuxicos. {Que coisa, Glauco! Onde é que ja se viu chamar de viralatta meu bassê? Egual a mim elle é: tem mais estirpe! Mal fallam de mim, como si, por ser viuva, fosse eu puta! Meu bassê tambem ja menoscabam! Mas é tudo despeito! Não concorda, meu querido?} -- Sem duvida. Accrescento que puddim ninguem aqui na Villa faz egual. Portanto, concordei: puro despeito.
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COMMENTARIO [8715] Mais velho quem é dessas coisas todas se lembra: antigamente, cada ameixa, na calda do manjar branco, o caroço mantinha. Precisava que cuspissemos emquanto degustavamos aquella delicia. Disfarsar? Que nada! A gente cuspia com total exhibição de falta de ethiqueta! Dona Deborah evita, actualmente, tal vexame por parte das visitas: sua ameixa ja vem descaroçada. Ah, que mammata! {Mas hoje, Glauco, tudo bem mais commodo ficou! Nem azeitona tem caroço! Ninguem cuspir precisa mais! Appenas asneiras as commadres 'inda cospem, fallando mal da gente! Né, querido?} Pensando nos caroços, me lembrei das fructas que, maduras, facilmente os soltam. Mas calei o commentario.
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ZIPPER DA BRAGUILHA [8716] Jamais confundo Putin com puddim. Palavras parescidas podem ser normaes paronomasias ao poeta, mas nunca numa guerra de versões. Pensei nisso na tarde em que, na casa de dona Deborinha, seu puddim de leite condensado, o de furinhos, estive degustando. Ouvil-a pude: {Ah, Glauco! Que imbecil é quem poder quer ter para as palavras prohibir! Na Russia não se falla "guerra" nem se escreve que "invasão" tem com Ukrania alguma coisa proxima! Aqui mesmo, pastores censurar querem a Biblia si for palavra "fora de contexto"... Agora, papel biblia não será jamais papel hygienico, não é?} Palavras são palavras. A palavra na bocca de idiotas é que fede, concluo com meu zipper da braguilha.
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POLITICA DO CORPO [8717] Por vezes, pego Deborah alterada, com raiva da politica local: {La fora, Glauco, sabem protestar com garra, contundencia, valentia! Abbaixam todos suas calças, mostram a bunda pela rua, desaffiam as normas, pedalando pelladões, sem roupa andam na praça principal! Emfim, sem violencia, mas de forma chocante, desconcertam os costumes, conclamam manifestos contra a guerra! Melhor fazem, assim, que essas commadres maldosas, linguarudas, que só ficam nas redes tesourando-se entre si!} Polemica crear nem quiz. Só fiz questão de mencionar que, pelo menos, alguem no carnaval sem roupa sae. Portanto, uma politica do corpo.
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SENHORA DE RESPEITO [8718] Accerca dum manjar ou dum puddim nas redes pipocaram as fofocas, talvez para aggastar a dona Deborah. {Magina, Glauco! Ousaram inventar que coisas differentes são! Manjar appenas outro nome é do puddim! O resto só bobagem será sempre! Entende quem da coisa aqui, caralho? Sou eu e mais ninguem! Não é, querido?} Notei que esse "caralho" lhe excappou, pois ella não costuma assim fallar. Se tracta de senhora de respeito.
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JARGÃO DA SENHORINHA [8719] Notei que dona Deborah não era assim tão pudibunda na linguagem, emquanto conversavamos nas tardes de sabbado. Primeiro, o palavrão tentava não usar, impressão dando dum crivo de estudada polidez. Aos poucos, se soltou, estimulada por versos que encontrou em livros meus. {Estão as commadrinhas, pelas redes, fazendo piadinhas, me chamando de "curta", de "doutora do puddim"! São umas vagabundas, Glauco! Putas, piranhas, cafetinas, na verdade, pois fallam de você coisas peores!} Aqui ja concordei: são mesmo pombas, gallinhas. São cadellas, eguas, vaccas. Mas todos esses termos eu credito ao graphico jargão da senhorinha.
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NOSSO TESÃO [8720] Estava a dona Deborah abysmada com preços que subindo sem parar estão, como o dos ovos. Seu puddim de leite condensado leva trez si for mais aerado, porem seis si for do mais massudo, mais compacto. {Mas, Glauco, do puddim não abro mão, bem feito, tal qual este que comemos agora! Seja a guerra breve, seja mais longa, pagarei o que custar, mas faço o meu puddim desse jeitinho que minha fama tanto justifica!} Fallou ella dos ovos, mas é leite, tambem gaz de cozinha... a subir tudo. Somente não está subindo, claro, o nosso bom astral, com essa guerra, só para não dizer nosso tesão.
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FAZENDO BICCO [8721] {Agora as fofoqueiras estão, Glauco, fallando de você! Ja vi nas redes! Disseram de você, que não enxerga, tambem que não se enxerga, que só faz poemas de mau gosto, obscenos, sujos, sem graça, despreziveis e excrachados! Disseram, fora disso, que você frequenta a minha casa a fim de ser servido de puddins até ficar de cu fazendo bicco! Olhe que estupidas! Emfim, dizem que está (Quanto veneno!) comendo uma viuva assanhadaça!} Ouvi tranquillamente, emquanto o pratto daquelle puddimzão exvaziava, pensando ca commigo: No final percebe-se que inveja sentem ellas, inveja até dum cu fazendo bicco...
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RELAMPAGO [8722] Notei ja, desd'alguns verões attraz, que estragos vez mais cada assustadores as chuvas provocando vão: crateras, excombros de edificios desabados, as casas soterradas, automoveis e postes que, exmagados pelas arvores, o transito bloqueiam, appagões ensejam por semana, alem das mortes ja quasi comparaveis às da guerra. À guerra comparavel é tambem o som repetitivo dos trovões, que eguaes a bombardeios eu supponho. Não somos nós Ukrania, mas ja temos a nossa propria guerra natural. Fallei dessa catastrophe parelha aos damnos dum conflicto, quando fui à casa da viuva, mas fez ella um bello raciocinio na resposta: {Paresce egual, querido, mas na guerra ninguem come puddim nem batte pappo durante explosões proximas... Aqui nos damos ao capricho de, no céu, o brilho contemplarmos dum relampago!}
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TYPO GOSTOSO [8723] Não faz a dona Deborah puddins, appenas, mas tambem bollos do "typo gostoso", com recheio, cobertura e massa com mais ovos, mais manteiga. Não faz para vender: somente tem prazer offerescendo um às visitas. {Conhesce este, Glauquinho? Leva nozes, às vezes avellans! Que tal? Gostou? Más linguas commentaram que feitiço eu ponho nesses bollos, com intuito de machos conquistar! Acha possivel?} Não acho, claro, visto que nem tão machão assim me sinto. Mas desvio o thema, sem sahir do mesmo, pois curti tal expressão: "typo gostoso".
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UM BOLLO [8724] No bollo de fubá da dona Deborah estava bem guardado um segredinho das artes culinarias: uma massa tão fofa que era quasi que cremosa. {Os bollos de fubá das fofoqueiras são seccos, sem sabor! Os meus, não, Glauco! Por isso sou famosa no pedaço e tantas invejosas collecciono! Você seus inimigos collecciona?} Pensei: colleccionar, não quero, não. Ja basta aquelle enorme rol de "caros amigos" que, fingidos, me elogiam. Agora, alem de inveja sentir pelo que escrevo, um delles disse que detesta comidas de engordar, taes como um bollo...
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MUNDO OBSCURO [8725] No bollo de banana, dona Deborah capricha. Aquelle fundo fica tão mollinho, tão cremoso, que supera até mesmo um que faça a mãe do Lucio. {Não quero superar ninguem, não, Glauco! Appenas eu procuro offerescer caseiras iguarias às visitas! Ouvi fallar de certas fofoqueiras que embutem mau olhado no que fazem, a fim de enfeitiçar a freguezia, principalmente esposas bem casadas e seus bons maridinhos, ja que são as bruxas solteironas! Não sabia?} Ainda bem, pensei, que eu sou tambem um bruxo! De banana nada tenho, portanto, que temer num mundo obscuro.
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INGREDIENTES [8726] No bollo brigadeiro, o que me deixa maluco de deleite é seu sabor metade chocolate com metade no poncto do melhor doce de leite. Só mesmo dona Deborah consegue tal nivel de equilibrio. Ouvil-a pude: {Aquellas fofoqueiras me criticam, dizendo que não sigo o verdadeiro modello desse bollo brigadeiro! Mas ellas nada sabem disso, Glauco! Deviam apprender commigo como chegar ao poncto certo! Não, só querem seguir as receitinhas mais fajutas da moda! Ja provou o bollo dellas?} Jamais. Nunca provei, nem quero. O caso me lembra aquelles trouxas que disseram pornô demais ser sempre minha lyra. Melhor é ser demais que não ser nada, tal como um bollo falso que pretenda ter gosto mas não leve ingredientes.
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UM ORGASMO [8727] Um bollo de cenoura a dona Deborah jamais faria. Nisso ponho fé. Bom gosto sei que minha amiga tem. Tambem sei que ella sabe que detesto tamanha sacanagem culinaria. {Não, Glauco! Não um bollo de cenoura! Capaz não sou dum baixo nivel tal! Talvez queiram aquellas fofoqueiras fazer até tal coisa com tomate, cebolla, pigmentão ou beringela! Combina bem com essas vagabundas!} Toquei só neste thema porque esteve alguem insinuando que eu comi na casa della, pela bocca, aquillo que pelo meu trazeiro não consigo. De facto, não consigo. Solitario, não faço nada anal por um orgasmo.
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DOCEIRA [8728] Não, nunca a dona Deborah accredita que eu seja diabetico, nem acha que esteja ja dos medicos tão cheio. De quando em quando, ouvindo o que pergunta, respondo novamente este chavão: -- Não, Deborah, não deixo de comer os doces que quizer. Uns mezes antes de exames refazer, paro um pouquinho e tomo os comprimidos todos, para que esteja normal este: "hemoglobina glycada", accusador dum baita assucar no sangue, em medição retroactiva. Assim que colho o sangue e deu normal, eu volto com os doces, sim, com tudo, e chuto o pau da minha barraquinha! Hem? Vamos combinar! Bollo nenhum, si feito com carinho, mal nos faz, bastando confiarmos na doceira.
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NA MOSCA [8729] Até mesmo o Verissimo, o Vinicius, auctores que "maldictos" nunca foram, são victimas da sua maldicção: mil phrases, citações, poemas, textos com erros, distorções, mutilações... Peor: muitos apocryphos de todo. Commigo não seria differente, por isso recommendo o meu catalogo dos versos integraes: OPERA INSOMNIA. Tambem com dona Deborah, coitada, rollou assim: andaram divulgando receitas de puddins e bollos que ella jamais assumiria, tão ruins que ficam. Mas o nome da viuva está compromettido pelas redes. {Sossegue, Glauco! Ou esses internautas conseguem discernir, ou nem você, nem eu de taes leitores precisamos!} Não é que ella accertou, mesmo, na mosca?
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REGISTRO [8730] Estão as fofoqueiras assanhadas, fingindo que se indignam com o filme do tal "peor alumno". O que ellas tanto criticam é, na scena dos meninos (que foram convidados a punheta batter no professor), não ter rollado bollufas, pois ahi, sim, poderiam dizer que, emfim, pinctou pedophilia. {Hypocritas! Que cynicas!} Ficou, à mesa, revoltada a dona Deborah. {Condemnam o tal filme por aquillo que em scena nem mostrou, Glauco! Calcule aquillo que não fallam dum puddim meu que ellas nem siquer provaram, mas que pode ser, nas redes sociaes, tachado de "dulcissimo", um perigo aos casos diabeticos! Caralho, puddim come quem queira! Assistir ao filminho, quem quizer assista, porra! Ninguem foi obrigado, Glauco! Ou foi?} Com tanto palavrão, o commentario da amiga nem meresce este registro.
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ABSURDA SOCIEDADE [8731] Que coisa! As fofoqueiras appellaram! Disseram pelas redes que causando fatal dor de barriga alguns puddins e bollos estão! Justo os da viuva! Maldade pura! Aquella confeiteira capricha no preparo! Ouvil-a pude: {Não, Glauco! O furor dellas é demais! Furor, digo, uterino, sim senhor! Magina! Meu puddim dá caganeira! Que filhas duma puta! Como ousaram?} Depois fiquei sabendo o que rollou: um surto colossal de diarrhéa naquelle condominio onde residem algumas das mulheres que fuxicam. Na falta duma causa mais provavel, inventam que esse grave piriry é culpa dum puddim. Paresce quando alguem colloca a culpa no poeta por elle ser obsceno, ousar expor os podres duma absurda sociedade.
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LEVE NAS TINCTAS [8732] {Mas dar dor de barriga tudo pode, Glauquinho! Si comer demais, qualquer salgado, qualquer doce não faz bem! Até você, que engole meus puddins practicamente inteiros, pode ter algum desarranjinho! Ou não, querido?} De facto, ja caguei molle demais depois de devorar todinho um desses manjares de sabor caramellado. Mas, para não deixal-a constrangida, lhe digo que jamais eu me borrei. Tal como quem leu minha poesia e disse que peguei leve nas tinctas.
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ALEGRIA DE VIVER [8733] O bollo que, truffado, dona Deborah prepara me enlouquesce. Dá vontade, confesso, de gritar quando o degusto. Vontade de gritar, confessar devo, eu tive varias vezes nesses sabbados, comendo outras delicias da viuva, mormente seus bombons e suas truffas. Um desses bombons quero destaccar, enorme e recheado de licor, tão grande que, inteirinho, nem me cabe na bocca. Alem do classico licor, a classica cereja alli nadando não falta. Ah, que sabor! Bem que eu seria capaz de comer tantos bombons desses a poncto de, sim, bebado ficar! Contei-lhe, ja, a respeito. Ouvi resposta de cunho philosophico, optimista: {Não dizem que licores devem ser tomados sempre numa refeição? Então! Você comeu, se satisfez... Ahi, para adjudar a digestão, ja toma algum licor! Si pouco ou muito, depende da alegria de viver...}
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UMA SUSPEITA [8734] Não, nunca perguntei à dona Deborah da causa que mactou o seu marido. Mas ella mesma, às vezes, excappar deixava alguma dica. A principal, supponho, foi o facto de esse gajo de doces não gostar. Siquer queria provar os puddins della! Alguem assim amargo não teria nesta vida motivo de prazer algum. Dahi é facil deduzir que elle morreu de inveja, de despeito, de rancor, appenas observando uma delicia daquellas degustada, lentamente, na frente delle, pela senhorinha risonha... Alguem aguenta tal climão? Razão as fofoqueiras teem de estar, nas redes, levantando uma suspeita...
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AS INVEJOSAS [8735] A torta de maçan da dona Deborah só pode superada ser por outra, a torta de banana. Na primeira, põe ella rhum, mas acho, na segunda, um traço de traçado que me empolga. Paresce que flambado foi aquelle recheio formidavel e estupendo! {Bondade sua, Glauco! Os adjectivos são sempre elogiosos e me deixam bastante envaidescida, mas appenas eu sigo uma receita costumeira! Em todo caso, para as fofoqueiras você pode expalhar que minha mão é magica! Assim ellas vão morder os labios e sangrar, as invejosas!}
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ESTÁ FORA [8736] O doce de batata doce está no cerne da mais magica polemica. O doce mais gostoso deste mundo, segundo os folkloristas, outro não é que este, de batata doce. Entende assim a dona Deborah, que faz do doce exemplo maximo de como se pode superar a propria lenda. Aquillo, constatei, é sem egual na face do planeta, alem dos astros. {Ah, Glauco! Que exaggero! Um doce tão caseiro, tão commum! Fica crocante por fora, mas as typicas bollinhas por dentro são cremosas... Basta achar o poncto, Glauco, coisa que eu achei!} Espero ter achado, nos meus versos, tal poncto de excellencia, mas receio que poucos saberão acquilatar aquillo que está dentro ou está fora.
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ASTUTA ANALOGIA [8737] Os pessegos em calda, quando um creme põe nelles dona Deborah, conseguem deixar-me enlouquescido. Quasi que eu, de tanto prazer, gritos externei. Mas pude me conter e commentei o caso com a amiga confeiteira. {Apposto que isso occorre com você tambem, Glauco. Os leitores se ecstasiam mas fingem que estão só delettreando indifferentemente essas incriveis punhetas que você lhes proporciona.} Punheta, numa bocca tão discreta e sobria de senhora recaptada, me soa assaz extranha allegoria, mas vale pela astuta analogia.
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ABOBRINHAS [8738] A abobora, da Deborah na mão, transforma-se num doce excepcional. Comido com aquelle queijo fresco (o mesmo qu'accompanha a goyabada), o doce me desperta a nostalgia. Me lembro de mamãe, que m'o servia com muita parcimonia, à sobremesa, a fim de repetir a phrase: "Doce não é pheijão!" Mamãe tinha razão. E tanto tinha, que eu, hoje, mais como meus doces predilectos que pheijão. Ouvindo-me, reflecte dona Deborah: {Excolhas nós fazemos e, na vida, nós temos pouco tempo de excolher. Ainda bem que sua poesia foi, desde cedo, obscena, alem de exacta. Deu tempo de compor bastante coisa. Ja aquellas fofoqueiras vão morrer sem terem feito nada de proveito. Por isso são frustradas, Glauco, todas, e vão morrer com suas abobrinhas!}
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MIGALHAS [8739] Passoca, no Nordeste, leva carne. Na mão da viuvinha, amendoim. Ah, como ficam boas! Exfarellam na mão da gente, emquanto nós comemos! Ainda não comidas, teem formato de rolhas de garrafa. Ahi, me lembro de quando o sacarolha perfurava a rolha mas pedaços me sahiam na mão ou cahir iam, com o vinho, farellos mixturados. Lembrar disso remonta ao que escutei mamãe dizer: "Prefiro uma passoca mais durinha, pois nada, assim, se perde exfarellando!" Ja dona Deborinha reflectiu: {Si for bom mesmo o vinho, nós bebemos até com pedacinhos duma rolha. Mas dessas fofoqueiras não se salva siquer a mais mehuda das migalhas!}
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NESTE PONCTO [8740] Quem sabe bem fazer pé de moleque é dona Deborinha, a viuvinha. Mas, como nunca teve filhos, ella, curiosa, me interpella, certa tarde: {É mesmo verdadeiro que esses pés descalços de moleques teem feridas que deixam cicatrizes, sem fallar nos callos, na aspereza dessas solas?} Respondo que não passam de fofocas antigas as noticias dum pé desses. Agora todos elles usam tennis que, embora detonados, lhes protegem a pelle contra attritos. Entretanto, o odor delles se torna, assim, mais forte. Estavamos à mesa, a degustar juninas guloseimas e, por isso, o pappo se interrompe neste poncto.
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GENTE ESTULTA [8741] Da branca, da amarella, da queimada: cocadas são, na mão da dona Deborah, problema resolvido. Opiniões diversas só convergem neste poncto: consegue ella aggradar, na gula, a todos. Mas, para as fofoqueiras, desaggrada a todas, ja que della teem inveja. {Você tambem, Glauquinho, versos faz accerca dos mais varios themas serios, aggrada ao mais diverso dos leitores, mas, para as fofoqueiras, só verseja fazendo sobre sexo sua satyra. Alguem até dirá que nem siquer de coco gosta, muito menos dum docinho feito delle... São espiritos de porco, Glauco! Doce e poesia não foram feitos para gente estulta.}
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PECCADOS CAPITAES [8742] Quindins a dona Deborah só faz si for para fazer daquelles grandes. Chamado de quindão, tem tantas gemmas na base da receita, que eu deliro somente de pensar nessa delicia. Si estou na casa della, vou comendo pedaço por pedaço. Porem, quando eu para casa levo um inteirinho, não paro de comer até que finde. Inveja a dona Deborah desperta naquellas conhescidas fofoqueiras, mas estas só conseguem fallar mal daquelles que de coco gostam, como si quem odeia coco razão tenha, bem como quem condemna a gula alheia, alem dos mais peccados capitaes.
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UMAS TOUPEIRAS [8743] Contei à dona Deborah que minha mãe vinha a se pellar por bomboccado. Tambem a viuvinha faz um, desses gigantes, que teem forma até de bollo. Levei um para casa, hallucinado, e quasi que comi tudo num dia. {Não, Glauco! O bomboccado não é como um livro policial da Agatha Christie ou uma novellona do Machado, tal como O ALIENISTA, que se leem inteiros duma vez! Tambem não é nenhum ULYSSES, claro, de indigesto consumo. Talvez seja como suas poeticas historias, que requerem estomago, mas certo tesão dão...} Curti taes parallelos, tanto mais que dessas fofoqueiras tal assumpto ao largo passa, sendo umas toupeiras.
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LYRISMO [8744] No officio confeiteiro, dona Deborah acceita as encommendas quando quer. Si está desmotivada, nem questão faz disso. Quem quizer, que espere. Mas commigo differente isso tem sido. Alem de ir la no sabbado, comer puddim della à vontade e 'inda levar algumas guloseimas para casa, eu privo do seu pappo opinativo, motivo do bochicho das commadres. {Ai, Glauco! Os commentarios estão tão sacanas, tão maldosos, que eu até fiquei, na sua frente, encabulada! Fuxicam que estou dando, sem fazer cu doce, minha chota a você, Glauco! Que faço? Dou resposta? Acho gozado?} Suggiro que resposta alguma não dê para alimentar os mexericos. De minha parte, faço uns poeminhas e memes ironizo com lyrismo.
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UM POEMA [8745] Frictar, a dona Deborah, bollinhos de chuva, até que fricta. Mas é raro. Comtudo, quando os fricta, as fofoqueiras motivo teem de inveja, sim! Pudera! Crocantes são por fora, mas por dentro são leves como os sonhos coloridos que tenho, si me lembro da visão. Tambem elles me lembram os da minha infancia, aquelles frictos por mamãe. Não gosta a viuvinha que comparem bollinhos tão communs aos doces finos que exigem uma technica receita. {É como comparar, Glauco, uma trova àquelle mais barroco dos sonnettos, repleto de complexos paradoxos!} Respondo que, em momentos differentes, gostamos tanto duma quanto doutro. Não ha problema nisso, pois problema eu deixo para as taes mexeriqueiras, que nunca appreciaram um poema.
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EM PROPORÇÃO [8746] É Deborah, na torta de limão com leite condensado, uma doutora. Tem tudo uma camada alta: de massa, recheio, cobertura. Generosa é sempre sua velha mão, que soffre do peso, ja, dos annos, que nos pune. {Você não tem arthrite, Glauco? Dor nas costas? Rheumatismos? Nevralgias? Eu tenho... Mas, assim mesmo, não deixo de ver, num doce, estimulos à vida. É coisa que jamais as fofoqueiras irão comprehender, burras que são.} Não posso pensar isso dos leitores, sinão perco o tesão de versejar. Só resta achar, em meio ao azedume, assucar que me baste, em proporção.
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GRINGOS, NÃO! [8747] Curiosa, a dona Deborah me indaga: {Me explique, Glauco! Como que é possivel um cego "turismologo"? Ouvi ja fallarem as commadres que, num predio da rua, mora alguem assim! É claro que todas delle gozam! Num passeio turistico, nenhuma graça tem a vista sem visão, si é que me entende você, Glauco! Me explique, então, o caso!} Explico. Só turismo gastronomico. Mas nisso, não, vantagem eu não vejo. Melhor gastar com doces aqui mesmo. Visitas à mansão da dona Deborah, que tal? Foi brincadeira, mas a velha reage: {Zeus me livre! Gringos, não!}
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OVO DA SERPENTE [8748] A Paschoa vem chegando! Dona Deborah tambem faz ovos, claro! Os della são mais cheios de bombons, mais pesadinhos, emfim, mais chocolate e menos ar... {Boatos circularam dando compta de fraude nos meus ovos, Glauco! Pode? Hem? Logo de mim, Glauco, dizem isso! Eu ponho chocolate de verdade e fallam que meus ovos falsifico!} Tambem na poesia rolla assim. Aquelle que fajuta mais é quem mais pedras no poeta verdadeiro attira. Mas eu, vibora que sou, meus ovos só recheio com veneno. Somente quem é cobra não me cobra que seja assucarado no cacau. O meu é que é, pois, ovo da serpente.
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CARA DE QUEM GOSTA [8749] Curioso, perguntei à dona Deborah accerca do puddim inglez, tambem chamado, ouvi dizer, de "puddim preto". {Ah, Glauco! Não tem nada a ver, pois leva mascavo com fructinhas natalinas, com passas, com gengibre, mas não fica só nisso! O resultado da mixtura é escuro, pesadissimo, um horror! Mais util é, no proprio panettone, usar crystallizadas fructas, passas, emquanto, si quizermos um puddim durinho ou mais sequinho, basta darmos dentadas num de pão ou mandioca, do typo que eu costumo fazer, ora!} Achei a falla della razoavel e mesmo da Rainha tive pena, coitada, que por causa de ethiqueta accaba tendo que essa massa preta comer, fazendo cara de quem gosta.
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MANJAR FINO [8750] Puddim de mandioca, que no Rio capaz é que "d'aypim" seja chamado, mamãe fazia, às vezes, e eu comia com olhos revirados de deleite. Mas, quando dona Deborah, a pedido meu, assa aquelle mesmo puddim, eu não acho tão gostoso... O que será que pode estar havendo? -- me pergunto. Talvez seja a memoria dum menino que poucos doces desses devorava num tempo de economica carencia. Na falta dum puddim mais elitista, aquelle parescia manjar fino.
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BOCCA CHEIA [8751] Das redes sociaes a dona Deborah fregueza tão assidua nem é, mas gosta de entender o que se passa no campo da politica, tractando-se dum anno de eleições. {Hem, Glauco? Lembra de como não havia carestia com Lula no governo? Hoje mais caros ficaram os meus bollos e puddins! Seus livros eram todos publicados com cappa dura, alem de sobrecappa! Agora nem consegue publicar você mais nada, Glauco, no papel! Algumas fofoqueiras imbecis commentam que meus doces não farão nenhuma differença, nem siquer seus livros! Inda bem que ellas não votam! Estão velhas demais! Nós somos velhos, mas, como juventude não nos falta (de espirito, se entenda), votaremos! Não é, Glauco?} Ommitti meu commentario, pois tinha a bocca cheia de puddim.
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PÃO MOFADO [8752] Puddim de pão é coisa que paresce bem simples, mas não é, tal como o pão, que pode variar na qualidade. Si for o que Satan ja admassou, não dará puddim que preste. Dona Deborah bem sabe excolher esses pães que espirito divino mais reflictam que infernal. {Nem todo livro, Glauco, pão para a alma será, você bem sabe! Eu digo sempre: a Biblia, das commadres na mão, vira papel de embrulhar pão! Só pegam della noções desvirtuadas da moral!} Em anno de eleição, quero comer appenas do melhor puddim, pensei, pois vendem, hoje, muito pão mofado.
VENENOSAS FOFOCAS 85
MASOCA QUE PIPOCA [8753] Não, nada de baunilha me deleita! Não curto nem o cheiro nem o gosto! Sabendo disso, fica a dona Deborah, de prompto, ja advisada: não desejo sentir qualquer baunilha num puddim! Até me dispensei de lhe explicar, no sadomasochismo, o que é que implica dizermos ser alguem reles "baunilha". Mas foi o que bastou para as commadres nas redes expalharem que ella põe baunilha até no bollo de fubá! Em clima de eleição, quem manifesta a sua preferencia alvo se torna de todas as calumnias. Me previno, pois nunca fui masoca que pipoca.
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SÓ COM ODIO [8754] Pastel de Sancta Clara? Ah, dona Deborah um sabe fazer, desses que nos deixam malucos pela massa folhadinha, cheiinha duma gemma da mais pura! Trabalho dá, sciente estou, mas ella capricha porque sabe que, na vida, nós temos que gostar do que fazemos, sabendo que fazemos coisa boa. {Magina! Faço tudo com amor! Não sou inutil como umas commadres que ficam fofocando todo o tempo, até quando militam, só com odio!}
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POESIA EROTICA [8755] A "bomba", antigamente, era bem facil de numa padaria ser achada. Tambem de chocolate, egual "bombom", podia ter recheio variado. Agora a gente encontra a "carolina", mas nunca mais a "bomba"... Foi por que? {Ah, Glauco! Ja pensou? As fofoqueiras, si sabem que eu ainda faço "bomba", dirão que faço só, mesmo, "uma bomba"! Melhor chamar, então, de "carolina"! Tambem as padarias assim pensam!} Entendo taes razões, mas não concordo que dona Deborinha nomes mude por causa de boatos imbecis. Não vae deixar de ser "pornographia" um verso meu, por causa de quem quer chamar a poesia, ja, de "erotica".
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VARIAS MUSSES [8756] Até que bom será maracujá num doce, si com isso se faz musse. Mas, sendo dona Deborah tão boa doceira, chocolate em suas musses é coisa costumeira. Ah, como ficam sublimes essas musses! Bem, só teem as musses um defeito: são levinhas demais, mal dão pro gasto! Jamais como appenas uma só! {Não ha problema com isso, Glauco! Ou breves poeminhas você tambem não gosta de compor? Quem gosta accaba lendo varios, ora!} Agora concordei, depois de ter ja varias musses della devorado.
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EUROPEU SOU [8757] Diz Deborah, a proposito da torta que chamam "hollandeza" na padoca: {Ja, Glauco, visitei Hollambra. La explicam que essa torta nunca foi, de jeito nenhum, necas, "hollandeza". Será torta "suissa", si quizermos chamar, pois "hollandeza" mesmo só aquella de maçan que eu trouxe e fiz egual, essa que está na sua frente...} Magina! De rogado não me fiz! Que importa si não leva chocolate? Suisso ou hollandez nem posso ser, mas, como brazileiro, nunca perco a chance de pensar que europeu sou.
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PAMONHA [8758] Faz Deborah "apfelstrudel" como si vivesse em européas terras, nunca em solo brazileiro. Mas que massa! Que gosto de maçan licorizada! Aquella americana que elles chamam, coitados, "apple pie", nem chega aos pés! Mordendo-se de inveja, as fofoqueiras commentam que de torta de maçan estão é saturadas e só vale a pena comer torta de banana. {Banana, a bem dizer, eu é que dou, bem dada, para todas ellas, Glauco! Mal sabem distinguir da fructa a casca! Capaz que comam torta de capim!} Rancores seus à parte, tem razão a minha amiga accerca de quem vota em gente que curau diz que é pamonha.
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COR ADVERMELHADA [8759] Geléa de morango dona Deborah não deixa de fazer: é coisa classica. No cha, com as torradas, a apprecio emquanto o puddim 'inda não comi. A amiga não ignora que eu me lembro das cores, do vermelho no morango, do preto numa ameixa do manjar, do tom amarellado no gruyère. Mas, para as fofoqueiras, eu ignoro que Deborah tão feia seja, a poncto de terem a palavra "bruxa" sempre usado para della mal fallarem. {Não ligo, Glauco! Orgulha-se você de bruxo ser, não é? Pois eu tambem me sinto orgulhosissima, querido!} Não penso nas feições della. Só vejo um senso synesthesico que exsiste na cor advermelhada da geléa.
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UM REPERTORIO [8760] Mil folhas dona Deborah ja fez diversas vezes. Nunca chama assim tal doce, todavia. Appenas usa um nome: "sfogliatelle". É mais bacchana, concordo, mas paresce sempre waffer de luxo, um sanduiche de camadas de massa que, folhada, tem recheio que pode variar. Doce de leite é mesmo o mais commum. Eu me deleito. {É tudo uma questão de nomear, querido! Si chamassemos a sua immensa producção de "calhamaço", ficava assaz vulgar! Mas de "catalogo geral", nesses de paginas milhares, melhor será chamado um repertorio...}
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CAVEIRA NÃO TEM LINGUA [8761] Tambem um rocambole dona Deborah bem sabe fazer, claro. Goyabada, porem, ella não usa no recheio, pois acha "assaz vulgar". As fofoqueiras affirmam que ella appenas falla, mas de latta a goyabada põe, na boa. De minha parte, advisos foram dados: um unico recheio eu, só, tolero, ou seja, aquelle leite condensado cozido como doce bem cremoso. {Não fique preoccupado, Glauco! Um dia farão justiça ao lindo rocambole que faço, tanto quanto o seu poema será reconhescido pelos posteros!} Um dia? Assim não vale! Não, depois de morto, quaesquer doces não importam mais, raios! A caveira não tem lingua!
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A BARRA [8762] Usava cobertura de glacê, mas hoje chantilly prefere minha amiga confeiteira no seu bollo mais cheio de recheio, o dos meus annos. Só rolla anniversario mais à frente, em junho, mas estou ja me lambendo, pensando no famoso bollo della. {Você sabe do dicto, não é, Glauco? Da festa a melhor parte está na phase de espera, de esperança, até de espirito! Nós somos optimistas, meu amigo! Os tempos criticamos, mas no fundo queremos o melhor! O opposto somos daquellas fofoqueiras que se negam e nunca aos ideaes dão uma chance!} Eu ia dizer que ellas comem bollo mofado, sem recheio nem mais nada por cyma, mas nem quiz forçar a barra.
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NOSSA ANGUSTIA [8763] Pegou-me de surpresa a dona Deborah com uma perguntinha bem poetica: {Melhor figuração exsiste em qual vocabulo: no "sonho" ou no "suspiro"?} Pensei, pensei, e tive que dizer que exsiste mais certeza realista naquillo que esperamos que naquillo que estamos constatando no momento. Si estamos supportando um soffrimento, comemos um suspiro, suspiramos e vamos enfrentando o dia amargo. Si temos fé nalgum tempo melhor, um sonho nós comemos, reviramos os olhos e exquescemos nossa angustia.
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PARA AS COMMADRES [8764] Fallando numa festa antecipada, pensei ja no Natal, na rhabanada, tractando de indagar da dona Deborah, que, em rapida resposta, arremactou: {Aquillo oleo demais chupa, querido! Si fosse, Glauco, o leite com os ovos, somente... Mas é muito oleo! Melhor um bollo bom de nozes, panettone e figo secco, o turco. Prompto! Ja assucar nós teremos, e bastante!} Ainda bem, pensei, que, portuguez não sendo, nem questão de rhabanada farei. Para as commadres, recommendo.
VENENOSAS FOFOCAS 97
BOA CAUSA [8765] Commentam as commadres que esta minha amiga confeiteira sangue tem ruim, porque devia ser bem gorda, mas magra demais é. Será maldade? {Inveja, Glauco! Bruxas não são magras? Então! Mas, como gordas todas são, me invejam e envenenam suas linguas!} Appenas resalvei que, sendo bruxo, ainda assim creando barriguinha eu venho, ja, faz tempo. Menos mal que engordo só por uma boa causa.
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TRIBUTO [8766] Ficou, a certa altura dum mau anno, mais clara a bruxaria da doceira, alem da minha propria. As fofoqueiras talvez tenham motivo de fallar, mas ellas não fizeram o bom pacto. Tornaram-se eleitoras do peor jagunço de Satan, emquanto nós por algo proveitoso permutamos a nossa veia artistica: poeta me faço; quanto a Deborah, seus dotes de eximia confeiteira não dão margem a duvidas. Em cada poemetto e em cada puddim, ouro nós pagamos e em ouro recebemos o tributo.
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EM SONHO [8767] Por causa da canção, tentei saber da Deborah a respeito da tal "custard pie", tanto que fallar ouvi da torta. Mas Deborah fugiu do thema. Allega que inglez não tem receita alguma a dar. {Magina! Aquelle creme nem aos pés chegar pode do leite condensado na torta de limão, Glauco! Ora, deixe de lado o zeppelinico rockão!} Ainda argumentei que inglez é bom naquella tal geléa de morango, mas ella deschartou meu argumento, dizendo logo: {Faço uma melhor, muitissimo melhor, que Elizabeth capaz nem é de, em sonho, degustar!}
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MANJAR ACCOMPANHADO [8768] No Olympo, quem comeu manjar dos deuses foi elle, Dionyso, ou Baccho, mais que todos. Certamente elle dirá que nectar nem de longe se compara ao vinho. Ora, meu foco não pretendo centrar numa bebida, aqui, mas sim naquillo que, infernal, seria como melhor contrapartida da ambrosia. Ja Deborah palpite emittir quiz: {Manjar mais demoniaco, Glauquinho? Só pode ser de leite condensado, egual ao meu puddim, porem regado a vinho, um desses proprios do Diabo!} Suppuz de immediato qual seria o vinho, mas fiquei saboreando na mente esse manjar accompanhado.
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DOCEIRA FEITICEIRA [8769] Si mesmo um alfajor foi dona Deborah capaz de receitar, nem dou palpite accerca dessas duas cores, branca e mais escura, proprias dos sabores. Aquelle em chocolate mais paresce, de facto, um pão de mel sophisticado. No branco, todavia, a viuvinha um doce poz, de leite condensado, que excede qualquer louca phantasia. Nenhuma fofoqueira aqui do bairro, ainda que proceda da Argentina, capaz será, nas redes, de exaltar um outro que não seja alfajor desta doceira feiticeira aqui da Villa.
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SOBREMESA [8770] Até cannoli dona Deborinha fez para aggradar este italianissimo poeta pornographico, que "Cazzo!" gritou appós provar essa delicia. Usou doce de leite no recheio, sabendo como louco sou por isso. {Melhor que churros, acho com cannoli compor a sobremesa, Glauco, pois fricturas pesam numa digestão repleta ja de tantas iguarias! Fallando nisso, ouvi que mal commentam aquellas fofoqueiras a respeito da falta de canudos no curriculo de certos candidatos esquerdistas! Até paresce que essa atroz direita detem o monopolio do saber! Quem é que mais diplomas falsifica?} Uns casos recordei de estellionato moral ou de intellecto, mas deixei de lado taes lembranças. Mais urgente é logo consummar a sobremesa.
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VERSINHOS [8771] Mamãe um bollo "simples" comparava ao proprio pão de ló. Mas, assim mesmo, o bollo uma vantagem 'inda leva. O pão de ló, de facto, um primo pobre é sempre do mais simples bollo, tanto que nunca à dona Deborah pedi que para mim fizesse pão de ló. {Não vale nunca a pena, nem siquer fazer o bollo "simples", Glauco! Ja que estou disposta a assar algo, o recheio, alem da cobertura, aqui se impõe, provando que meu bollo só será do typo que "gostoso" defini!} Pensando no poema, tambem eu concluo que, si for para fazer sonnetto, melhor é sommar mais dois versinhos, completando o "dissonnetto".
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MESMA COISA [8772] A cuca dona Deborah nem acha que valha assim a pena fazer, pois no bollo de fubá vê mais vantagem: {O meu, sendo cremoso, dá de dez a zero numa cuca, Glauco! Só alguem que das gauchas tradições questão faça, allemão lhe sendo o sangue, prefere comer cuca! A mim, não faz nenhuma differença si comi pão doce, bollo simples ou a cuca!} Achei que pouco caso fez a minha amiga das nuances nessa praia, pois, como menestrel que sou, percebo que motte e madrigal, glosado ou não, a mesma coisa, às vezes, não será.
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CEGUEIRA AMARGURADA [8773] Folklorica aqui nesta Paulicéa, a torta viennense é "freudiana" em sua lenda, à bessa repetida. A mim o que me importa nem é tanto si Freud a preferia, mas o facto de ser de chocolate especial, no poncto mais perfeito da doçura e dessa quasi magica amargura. {Sem duvida, querido! Foi por isso que de "deboriana" a chamei, ja! Terriveis, as commadres expalharam que, experta, falsifico o chocolate até na cor marron exaggerada!} Marron exaggerado? Ora, paresce a critica que venho recebendo por ter exaggerado no poema as dores da cegueira amargurada.
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POR EMQUANTO [8774] Paresce-me que estava a dona Deborah um tanto maluquinha, nesses dias. Assucar em excesso num pavê, num bollo, num puddim, a velha poz. Notei e commentei, mas ella nem resposta me deu, meio distrahida. Depois de mattutar um pouco, obtive na mente este motivo preoccupante: de tanto ouvidos dar às fofoqueiras, passou a perturbar-se, estressadissima. Mas, como sou tambem pelos assucares doidinho, dei descompto, por emquanto.
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DOCE MUNDO [8775] Na duvida, a cabeça ainda tenho confusa sobre dona Deborinha. Será mesmo transtorno mental? Pode tambem ser algo physico, pensei. Mas ella não tocava no problema emquanto conversavamos, até que, em panico, deixou excappar isto: {Será que puz assucar demais, Glauco, na calda do puddim? Mas essa calda é feita com assucar concentrado! Não tenho como menos usar, porra!} Descompto dei à porra nessa falla, mas, como sempre meço uma glycose no sangue, na torcida fiquei para que estejam as commadres a mentir accerca da sahude duma tão dotada artezan desse doce mundo.
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NÓS FELIZES [8776] Coitada! Tambem ella, a tal viuva doceira, com quem tanto conversei nas tardes sabbadeiras, está com um quadro diabetico! Provar mal pode seus puddins, seus bollos, seus famosos brigadeiros, ou as truffas! {Assim eu desanimo, Glauco! Como manter a minha fama, si não posso saber que minha mão mantem o poncto?} Ahi foi minha vez de consolal-a: "Sossegue! Você pode comer, sim! Eu como! Meu tesão tambem não é aquella coisa dantes, mas componho, battendo punhetinhas, novos versos!" Meu chulo linguajar a convenceu e, para sempre, estamos nós felizes.
SUMMARIO CHAMARIZ [8677].....................................9 CAMISETA ADMARROTADA [8678]........................10 VESPEIRO [8679]....................................11 CASA ALHEIA [8680].................................12 PROCESSADO [8681]..................................13 MOLECADA [8682]....................................14 CONTRAGOSTO [8683].................................15 EUROPAS MAIS SONHADAS [8684].......................16 BICYATA [8685].....................................17 ESPELHO [8686].....................................18 COITADOS [8687]....................................19 POBRE PROCEDENCIA [8688]...........................20 TODO O MUNDO [8689]................................21 LEITURA LABIAL [8690]..............................22 RHUMO PERIGOSO [8691]..............................23 PENEIRA [8692].....................................24 DELEITE [8693].....................................25 PARA A CAMA [8694].................................26 ESTE DAQUI [8695]..................................27 SAPATOS FEMININOS [8696]...........................28 PONCTINHO DELICADO [8697]..........................29 ALLIVIO [8698].....................................30 ESSE CASTIGO [8699]................................31 TRUFFAS DO SAVOY [8700]............................32 PUDDIM DE MANDIOCA [8701]..........................33 ONDE DORMIR [8702].................................34 CURTA VIDA [8703]..................................35
NA MESMA [8704]....................................36 ELLA MESMA [8705]..................................37 CAFAGESTE [8706]...................................38 PARA POUCOS [8707].................................39 REDES SOCIAES [8708]...............................40 OUTROS VICIOS [8709]...............................41 NÃO EXCLUDENTES [8710].............................42 RATTAZANOS [8711]..................................43 OUTRO DIA [8712]...................................44 MISS SÃO PAULO TRAVESTIDA [8713]...................45 PURO DESPEITO [8714]...............................46 COMMENTARIO [8715].................................47 ZIPPER DA BRAGUILHA [8716].........................48 POLITICA DO CORPO [8717]...........................49 SENHORA DE RESPEITO [8718].........................50 JARGÃO DA SENHORINHA [8719]........................51 NOSSO TESÃO [8720].................................52 FAZENDO BICCO [8721]...............................53 RELAMPAGO [8722]...................................54 TYPO GOSTOSO [8723]................................55 UM BOLLO [8724]....................................56 MUNDO OBSCURO [8725]...............................57 INGREDIENTES [8726]................................58 UM ORGASMO [8727]..................................59 DOCEIRA [8728].....................................60 NA MOSCA [8729]....................................61 REGISTRO [8730]....................................62 ABSURDA SOCIEDADE [8731]...........................63 LEVE NAS TINCTAS [8732]............................64
ALEGRIA DE VIVER [8733]............................65 UMA SUSPEITA [8734]................................66 AS INVEJOSAS [8735]................................67 ESTÁ FORA [8736]...................................68 ASTUTA ANALOGIA [8737].............................69 ABOBRINHAS [8738]..................................70 MIGALHAS [8739]....................................71 NESTE PONCTO [8740]................................72 GENTE ESTULTA [8741]...............................73 PECCADOS CAPITAES [8742]...........................74 UMAS TOUPEIRAS [8743]..............................75 LYRISMO [8744].....................................76 UM POEMA [8745]....................................77 EM PROPORÇÃO [8746]................................78 GRINGOS, NÃO! [8747]...............................79 OVO DA SERPENTE [8748].............................80 CARA DE QUEM GOSTA [8749]..........................81 MANJAR FINO [8750].................................82 BOCCA CHEIA [8751].................................83 PÃO MOFADO [8752]..................................84 MASOCA QUE PIPOCA [8753]...........................85 SÓ COM ODIO [8754].................................86 POESIA EROTICA [8755]..............................87 VARIAS MUSSES [8756]...............................88 EUROPEU SOU [8757].................................89 PAMONHA [8758].....................................90 COR ADVERMELHADA [8759]............................91 UM REPERTORIO [8760]...............................92 CAVEIRA NÃO TEM LINGUA [8761]......................93
A BARRA [8762].....................................94 NOSSA ANGUSTIA [8763]..............................95 PARA AS COMMADRES [8764]...........................96 BOA CAUSA [8765]...................................97 TRIBUTO [8766].....................................98 EM SONHO [8767]....................................99 MANJAR ACCOMPANHADO [8768]........................100 DOCEIRA FEITICEIRA [8769].........................101 SOBREMESA [8770]..................................102 VERSINHOS [8771]..................................103 MESMA COISA [8772]................................104 CEGUEIRA AMARGURADA [8773]........................105 POR EMQUANTO [8774]...............................106 DOCE MUNDO [8775].................................107 NÓS FELIZES [8776]................................108
Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS EXCOLHIDOS MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA RHAPSODIAS HUMANAS INDISSONNETTIZAVEIS LIVRO DE RECLAMAÇÕES VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA ENGARRAFADA HISTORIA DA CEGUEIRA INSPIRITISMO MUSAS ABUSADAS SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA QUANTICA INCONFESSIONARIO DISSONNETTOS DESABRIDOS SONNETTARIO SANITARIO DISSONNETTOS DESBOCCADOS RHYMAS DE HORROR DISSONNETTOS DESCABELLADOS NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS LYRA LATRINARIA
DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES O CINEPHILO ECLECTICO A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM SCENA PUNK CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO SONNETTRIP THANATOPHOBIA DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO INGOVERNABILIDADE PEROLA DESVIADA O POETA PORNOSIANO BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS PRANTO EM PRETO E BRANCO GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS MADRIGAES TRAGICOMICOS PANACÉA: SONNETTOS COLLATERAES TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO
São Paulo Casa de Ferreiro 2022