VICIO DE OFFICIO

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VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS



GlLAUCO MAT TOSOo

VICIO DE OFFICIO

E OUTROS DISSONNET TOS

São Paulo Casa de Ferreiro 2020


Vicio de officio Glauco Mattoso © Glauco Mattoso, 2020 Revisão Lucio Medeiros Projeto gráfico Lucio Medeiros Capa Concepção: Glauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros _______________________________________________________________________________________ FICHA CATALOGRÁFICA _______________________________________________________________________________________

Mattoso, Glauco

VICIO DE OFFICIO/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2020 1p., 21 x 21cm ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1


NOTA INTRODUCTORIA

Entre 1999 e 2012, sonnettizei meus themas “barrockistas”, “deshumanistas” ou “pornosianos” dentro dos limites estrophicos, metricos e rhythmicos do genero, cujo molde se characteriza essencialmente pelos quattorze versos, comquanto admitta variações rhymaticas. Encerrada aquella producção, passei a pesquisar novas estrophações em differentes moldes, como no madrigal, na ode ou na rhapsodia heroicomica. Entretanto, muitos daquelles milhares de sonnettos accabaram reestrophados em quattro quartettos, modalidade que baptizei como “dissonnetto” e colligi em varios volumes, desde aquelle intitulado DUZENTOS DISSONNETTOS ANTHOLOGICOS, mantendo a numeração original dos sonnettos. Mais recentemente, outros tantos poemas novos foram compostos em quattro quartettos, aos quaes caberia a mesma denominação. Dahi a opportunidade deste volume, que se segue ao ainda inedito CEM NOVIDADES e aos ja lançados em ebook MOLYSMOPHOBIA e LIVRO DE RECLAMAÇÕES, porem contendo poemas compostos entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. Cabe resalvar que o decasyllabo heroico segue sendo meu parametro estichologico predilecto e a thematica satyrico-fescennina minha voz favorita, marcas registradas duma lyra cegamente revoltada.



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VICIO DE OFFICIO [5640]

Sonnetto lembra amor, a musa, a lyra, que lembra alguem que toca com o dedo, que lembra quando o enfio, ou seja: fedo. Feder lembra sovaco que transpira. CecĂŞ lembra que vence (Eu que confira!) aquella compta, cada vez mais cedo, da luz, do telephone, neste enredo battido, que me lembra ziquizira. Azar lembra que treze ĂŠ sexta-feira, que lembra lobishomem, gatto preto, que lembra, num espelho, uma caveira, que lembra atrozes versos que eu commetto. Atrozes themas lembram a sujeira que nunca achei ser topico obsoleto num genero que lembra brincadeira mas pode ser bem serio: o dissonnetto.

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VICIO DE HOSPICIO [5641]

Sonnetto lembra amor, a lyra, a musa, que lembram exaggero na dor, casos que lembram finaes rapidos e prazos curtissimos, que lembram voz confusa. Tamanha confusão lembra quem blusa colloca pelo advesso, quem em rasos prattinhos toma sopa, quem em vasos de plantas faz xixi e lelé se accusa. Loucura lembra andar pellado; o nu ja lembra Adão e como ficou preto seu caso ante o Senhor, que disse: “Tu terás que trabalhar, eu te prometto!” Trabalho, no caroço, lembra angu, que lembra algum enguiço onde me metto, que lembra toda quebra de tabu, que lembra a creação dum dissonnetto.

GLAUCO MATTOSO


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INFINDO SONHO [5667]

Mactar-me? De pensar nisto desisto. Não quero mais problemas na cabeça. Ja bastam tantos outros. Quem conhesça meus versos a allusão deve ter visto. Idéa de morrer é como um kysto que fica alli, crescendo, sem que cresça alem dos sonhos. Antes que me exquesça, sonhei de novo, nisso sempre insisto. A vida todo dia me convida a pelo lado olhar menos ruim, ainda que me seja mais soffrida em tudo que soffrendo tanto vim. Passei ja muito tempo nesta vida dizendo o que dizia para mim, no verso dum Torquato suicida: que a vida terminava antes do fim.

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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [5668]

Faz como o Sylvio Sanctos. Si lhe sobra “cascalho”, o gajo, rindo, quer jogar a grana numa praça, por milhar, as scedulas novinhas e sem dobra. Pessoas chegam. Sabem: jamais obra será de charidade. Gargalhar quer elle, divertir-se, ver um mar de gente, mera massa de manobra. A cada nota que elle lança ao ar, levada pelo vento em ziguezague, o povo se engalfinha, faz que estrague a roupa, a grana a pique de rasgar. O cara, appós zoar, retorna ao lar, mas, quando comptas pedem que elle pague, responde com desdem, fazendo blague: “Dinheiro se inventou p’ra não gastar!”

GLAUCO MATTOSO


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FELLA, DÁ, PUTA! [5669]

Palavras tambem das outras, num melhor, como na que varios sons

andam na garuppa sentido que culmina falla nordestina semanticos aggruppa.

Assim, quando escutei que alguem “estrupa”, entendo que se “extripa”, si a menina sangrou naquelle estupro. Mesma signa virá quando se xinga alguem que chupa. Chamar “feladaputa”, numa só palavra, alguem que posa de cadella, suggere que esse alguem um phallo fella, alem de prostituto ser, sem dó. Xingar de “filha” dá, no caso, um nó na lingua, si for elle e não for ella o xiz da xingação, pois quem appella ao termo offende avô menos que avó.

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NOME FEIO [5670]

Mulher, que feiticeira seja, leva um nome que nos soa meio feio na lingua portugueza. Aqui nomeio Gertrudes, Hermengarda, Genoveva... Commum nesses paizes onde neva, tal nome, quando o citam, ja receio a praga, a maldicção, o manuseio de philtros e venenos, temo a treva. Mas tudo suggestão se nos paresce. O nome Geneviève, si em francez chamado, bello fica. Acham vocês que a bruxa agora até rejuvenesce? Talvez eu faça ao Demo minha prece, por isso me equivoco nos porquês. Mas sexta-feira, treze, todo mez de agosto, uma mulher me reconhesce.

GLAUCO MATTOSO


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PARANOIA DA BOIA [5671]

Pesei-me e me assustei! Si perco um kilo por dia, meu corpinho ja definha a poncto de eskeleto virar minha figura! De pensar, eu me horripillo! Ah, foi porque caguei! Fico tranquillo agora, ao constatar que muito tinha perdido, mas de troço foi todinha aquella differença! Quanto fil-o! Cocô pesa bastante, mas a gente repõe tudo, comendo de montão. Às vezes a comida nem é tão gostosa, alguma nausea a gente sente. Tomando um comprimido, ha quem aguente enjoos mais frequentes. Eu ja não me importo nem me ennojo si impressão de troço uma linguiça traz à mente.

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EGUALITARIA DESEGUALDADE [5672]

Que somos differentes, eu entendo, mas não no plano physico. Sem nós mentaes, os homens vejo, todos sós na sua solidão. Sim, condescendo. Não vendo os olhos cegos e, não vendo, os olhos mais enxergam pela voz dos outros, que me contam como nós eguaes a todos somos, vamos sendo. Ao cego, não exsiste velho, novo, magrella nem gorducho, preto ou branco. Exsiste um tom vocal que, falso ou franco, traduz o que, em commum, entende o povo. Não posso ser racista, nem promovo viés que discrimine. Quando banco o vate intolerante, topo um tranco levar e, excarmentado, me commovo.

GLAUCO MATTOSO


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NATAL EM FAMILIA [5673]

Separa, casa. Casa, ja separa de novo. Raramente se recasa. Alguem que tenha a mente menos rasa talvez reconsidere. Coisa rara. Tem filhos? Que se fodam! Estรก para creanรงas nem ahi quem dalli vaza, deixando tudo. Vida que se attraza nรฃo anda, pois ainda sae mais cara. Ciumes sรณ complicam. No limite, se joga da janella algum menino de collo, se reputa ao mau destino que nada positivo se credite. Tragedias familiares, quem as cite tentando versejar, eu imagino que perca seu latim. Ja me previno voltando aos aureos tempos do desquite.

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LIVERPOOL DESDE PEQUENO [5674]

Eu, desde adolescente, na torcida estou por quattro jovens que meu som fizeram. Esse tempo foi tão bom que nunca delle exquesço mais na vida. Agora descobri que me convida tambem o futebol a vel-o com mais livres olhos. Torço ja por John, Paul, George e Ringo em jogo que decida. Sim, quero que elles vençam, seja em casa, em terras européas, no Oriente, qualquer que seja o povo ou continente que enfrentem, nesse esporte que me abbraza! Vencer, vencer, vencer! Jamais dephasa aquelle Mersey Beat! E ninguem tente jamais me convencer de que somente no samba a gente, em ecstase, extravasa!


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PARA JUBILO DE JUPPITER [5675]

A Zeus eu rezo, um dia appós um dia, emquanto, ainda lucido, me deito (mas ja sem ver nenhuma luz) no leito e peço que me macte. É o que eu queria. Me macte ‘inda dormindo, Zeus! Podia ser desse modo magico. Meu pleito não é tão descabido: tinham feito os deuses coisa assim, sem agonia. Fallar ouço dum gajo que se deita sem nada sentir, mesmo sem ter dor nenhuma, sem ter sido portador da chaga, sem de cancer a suspeita. E morre elle, feliz! Si Zeus acceita a minha prece, eu juro: quando for, a hora de encontral-o, “Meu Senhor! (direi) Ja de Satan não sou da seita!”

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FLAGRANTE AGGRAVANTE [5676]

Paresce até comedia, mas é facto gravissimo. Uma lesbica dizia em publico não ver homophobia si um homosexual pagou o pato. Diz ella que um gay victima seria de crime commum, só: “Si em alguem batto commetto uma aggressão, seja mulato a victima, mulher, gordo...” Ironia. Não é que justamente quem duvida de tantos preconceitos expancada foi por um cafageste camarada, xingada de “sapata” na avenida? Talvez agora pense: “Quem aggrida alguem, cuja apparencia desaggrada seus brios, mais aggrava o que ja cada vez menos se tolere...”, convencida.

GLAUCO MATTOSO


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IMAGEM NEGATIVA [5677]

Jornaes noticiaram que, num “pega” (ou “racha”), aquelle joven mactou mais de dez outros anjinhos, cujos paes accusam-n’o de tudo. O joven nega. Do perfido politico um collega vazou que recebera dez mensaes parcellas de suborno, para as quaes usou as empreiteiras. Elle nega. Do proprio presidente quem navega nas redes sociaes diz que elle faz na cama aquillo tudo que, mordaz, critica nos gays. Claro que elle nega. Na cara dum sacana alguem exfrega as provas de que explora cegos nas esmollas que elles pedem. Aliaz, nem nega que escravize gente cega.

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CAFÉ DA MANHAN [5678]

-- Seu filho não fez nada, presidente? {Por que, seu babacão, você me attacca?} -- Mas elle é, mesmo, assim tão innocente? {Pergunte para a sua mãe, babaca!} -- Mas elle incommodado nem se sente? {Mais fica a sua mãe, aquella vacca!} -- Não ha quem boas provas appresente? {Você não percebeu que é chato paca?} -- Não fuja da pergunta, por favor! {Você que está fugindo, chupador!} -- Não sou entrevistado, no momento! {Não fallo com veado fedorento!} -- Mas como vae sahir dessa, senhor? {Por que não vae você no cu um pau pôr?} -- Não curto o seu assumpto, não, lamento! {Que pena! Mas paresce gay, sargento!}

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BEMDICTOS MYTHOS MALDICTOS [5679]

Emquanto ouvidos davam ao vovô eu delle duvidava, jururu. Emquanto prohibiam o pornô eu ria, a tactear meu corpo nu. Emquanto crença punham no tarot eu duvida não tinha do tabu. Emquanto davam glorias a Xangô eu ia me entendendo com Exu. Em Juppiter emquanto punham fé eu, cego, orando a Lucifer me vi. Emquanto os socialistas na ralé fé punham, eu em mim mesmo, só, cri. Emquanto de Drummond citam José eu, Pedro, sou tambem Podre e Pourri. Emquanto tantos pegam no meu pé eu pego o pé, no pullo, do sacy.

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BOB FIRMINO [5680]

Espaço dá, dedica muito dengo a midia àquelle clube, exaggerado conceito de que, pelo nosso lado de fracco futebol, só dá Flamengo. Ja como torcedor, sempre capengo e caio, suffocando cada brado de gol que foi perdido, mas vingado estou quando o Mengão se torna quengo. Perdeu do Liverpool o Mundial de Clubes! Isso basta para meu tesão estimular! Qual europeu meresce mais tamanha bacchanal? Dos Beatles elle é symbolo! Que tal? Que mais posso querer, nesse meu breu de luzes e de titulos? Perdeu o Mengo! Que delicia! Que final!

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RETRACTOS DOS MAUS TRACTOS [5681]

Mulheres expancadas, muitas são e foram, mas agora moda vira fazer imagem disso. Quem adhira não falta: cellulares teem à mão. De cara deformada, até, de tão surrada, choram, pedem a quem mira a scena que gravaram, que confira o nivel troglodyta do machão. Nariz quebrado, cortes pela testa, inchada bochechona, sem da frente os dentes, numa bocca que não mente, ao menos no que toda a scena attesta. Appenas um detalhe citar resta: O macho, mesmo visto que innocente não seja, sahirá mais sorridente ainda, se saphando de mais esta.

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NATAL MENTAL [5682]

Extranho... Um bom amigo, com quem privo ha tempos, bloqueou minha mensagem, fazer não quer contactos. Assim agem os haters, no universo vingativo. Amigos, não. Eclectico, convivo com todos, os que fallam só bobagem e muitos que manteem sua coragem de ver com um olhar mais creativo. Mas, quando um amigão meu me bloqueia, percebo que ficando ja gagá está, que ja attenção maior não dá à verve dum poema, à velha veia. Que pena! Melancholico, receia sorrir? Ferir-se teme? Que será? Não quero mais julgal-o, só que va passar bem seu Natal, ter boa ceia.

GLAUCO MATTOSO


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ENTREGA DE TROPHÉU [5683]

{Contaram-lhe, ja, Glauco, quem foi pôr a cara na chuteira do cracaço do jogo? O mais vulgar governador!} -- Verdade? De saber eu questão faço! {Sim, elle foi beijar! É de suppor que tenha até lambido! Que palhaço! Nas redes, teve muito gozador!} -- Eu quero chance assim de ser devasso! {Mas elle auctoridade tem, valor devia dar ao cargo! Muito excasso ficou o bom politico. Um horror!} -- Ao menos dum fetiche exhibiu traço... {Pois é... Mas não desdenho si quem for beijar se chame Glauco! Só desfaço no caso desse pessimo gestor!} -- Concordo. Vou ao thema dar espaço.

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END OF THE WORLD [5684]

Demis Roussos cantava que queria levar ao fim do mundo o namorado ainda muito joven, sem do lado tambem papae, mamãe, vovó, tithia. Queria appresental-o, qualquer dia, a amigos solteirões que do riscado com elle se entendiam, mas cuidado tomava, pois nem tudo se entendia. Vontade de gritar elle revela e grita, sem conter-se, assim, do nada, no meio da romantica ballada, talvez porque o moleque se rebella. Terei bem entendido sua bella canção, tão bem chorada, bem cantada? Fiz minha tal leitura. Agora cada um faça a sua, solte da goela.

GLAUCO MATTOSO


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INDULTO NATALINO [5685]

Os outros presidentes (escutei) indulto de Natal ao mais corrupto dar querem! Ao ouvir, eu fiquei puto! No meu governo, nunca! Não darei! Naquillo que permitte e manda a lei, perdão eu só darei àquelle bruto soldado, que mães muitas foi de lucto deixando, sem querer! Sim, deste eu sei! Sim, sei que é mesmo bruto, mas, coitado, mactava na melhor das intenções! Ja aquelle tal corrupto, que é veado, alem de dar o cu, roubou milhões! Não fosse veadão, talvez seu lado eu visse com mais neutras attenções! Mas, como desmunheca, que trancado bom tempo fique, em carcere e em grilhões!

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PIG DATA [5686]

Commum é, nos mercados actuaes, o technico. Um que emerge é, de mão cheia, de dados analysta, que rastreia e cruza varios indices fecaes. O gajo de cocô conhesce mais que muitos escatologos: passeia por todas as latrinas e nem feia careta faz ao cesto de jornaes. Procura appenas cestos onde não usaram hygienico papel. Saber quer o que leram, do povão, aquelles que limparam seu annel. Ha duvidas accerca da questão. Será que leu alguem algum painel de themas economicos, ou dão àquillo fim indigno dum Nobel?

GLAUCO MATTOSO


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NATALINOS LADINOS [5687]

{Ainda que ninguem se posicione, notei que é mesmo muito mais gostoso, pesando um kilo, o mesmo panettone de quattrocentos grammas! É curioso! Motivo p’ra que a marca desabbone o peso mais levinho do famoso producto, não achei! Delicioso achei esse de um kilo! Foi por phone! Por que será, Glaucão? Não faz sentido! Mais caro, o mais pesado tem elite? Um serio fabricante isso permitte? Desdenha dos mais pobres? Eu duvido!} -- Provavel é que tenha algum bandido a marca fajutado. Seu limite o preço foi, pois sempre ha quem evite gastar, mas, trouxa, tenha alli cahido.

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MILICIA DA IMMALICIA [5688]

Não foram attemptados isolados. No tragico do HEBDO, como o da PORTA DOS FUNDOS, é das victimas que importa fallar, mortaes ou não os resultados. Quem querem victimar? Os nossos brados por livre pensamento! Usam a torta noção de que, querendo gente morta, nos calem seus tyrannicos recados. Ninguem jamais impede que, rachados de rir, appreciemos uma torta na cara do politico que corta, censura, accobertando outros culpados. Si Christo ou Mahomé são exaltados, foi graças a quem cita, a quem reporta os factos livremente. Quem exhorta fanaticos nem deuses quer: quer gados.

GLAUCO MATTOSO


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MILICIA DA MALICIA [5689]

Nenhum mandão poder tem de policia que enquadre a veia audaz dum humorista, cantor, poeta, actor, qualquer artista. nós somos a Milicia da Malicia! Não falta algo de comico que attice a satyrica funcção de quem persista na critica à patrulha moralista e espete quem se gaba da sevicia. Não, contra a gargalhada não ha nada que faça quem, pretextos allegando, a graça barrar queira, mesmo quando graceja da figura mais sagrada! Mais vale, em livro, ousar poeta cada que numas sujas botas ir babando daquelle que, em seu tempo de commando, não fica. Ficará nossa risada.

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AGGRACIADO SENTENCIADO [5690]

Ao lado do doente terminal, quem cego na prisão ficasse iria direito ter à proxima amnistia vigente, o tal “indulto de Natal”. Sciente disso, um chucro marginal, cumprindo pena até distante dia, cegou-se de proposito! Queria dalli sahir bem antes do final... Soltura conseguiu, mas não será tão facil a missão do nosso amigo. Alguem ficou sabendo que um mendigo da praça foi bandido ousado, ja. Agora abusam delle. Quem lhe dá porrada acha que vale esse castigo. Dos outros o pau chupa, pois perigo exsiste de ser morto. Ô vida má!

GLAUCO MATTOSO


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ROCKEIRO NOSTALGICO [5691]

Mamãe queria tudo direitinho. À minha, não, nenhuma se compara! Me lembro della quando, olhando para mim, dava seu conselho comezinho: “Evite enveredar no mau caminho, com moça que só valha levar vara! Evite dar cuspida bem na cara do cego e cahir fora, meu bemzinho!” Não fiz o que dizia, pois com puta rampeira me envolvi. Porem não só metti vara: metti tambem, sem dó, a mão, o pé, na quenga que discuta. Não só cuspi no cego: força bruta usei, até chutei... Lhe disse eu: “Ó! Vae ter que me engolir até o gogó! Ou quer tambem lamber um pé que chuta?”

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CEGADO E EMMUDESCIDO [5692] (ao Fabio, que bem soube me tractar)

Você não vê nadinha mesmo, cara? Então va pelo cheiro! Ahi! Tá forte? Não lavo o pau, ceguinho! Que supporte você! Cego qualquer perfume encara! Regace devagar! Ahi! Deu para sentir o queijo, cego? Um roquefort com grãos de parmezão, hem? Não entorte o seu nariz, não! Cego não se enfara! Não, cego não excolhe! Com a sua babosa lingua, quero que dê banho bem dado! Tá assustado c’o tamanho? Vae ter que engolir tudo! Cego sua! Ahi! Mais fundo! Cego não recua! De novo! Mais depressa! Ah! Quando ganho chupeta assim, exporro bem! Tá fanho? Cansou? Depois a gente continua...

GLAUCO MATTOSO


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DIRECTO AO PONCTO [5693]

“Desculpe perguntar, mas... é feliz?” {Por que quer saber disso, companheiro?} “Por nada. Pouca coisa você diz.” {Ninguem me instou. Você foi o primeiro.} “Mas... é feliz? Casar, você não quiz?” {Não sou, mas é melhor ficar solteiro.} “É virgem? Ou fez tudo o que ja fiz?” {Aqui você ficou bisbilhoteiro.} “Desculpe si demais metto o nariz.” {Magina. Fui até bem putanheiro.} “Parou por que? Foi dando menos bis?” {Não. Juro-lhe que um satyro ja beiro.} “Que falta, si seus dotes são viris?” {Mulheres masochistas por inteiro.} “Entendo. Não são ellas tão servis.” {Exacto. Ser prefiro um punheteiro.}

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TARADAS ENCALHADAS [5694]

“Furor” dicto “uterino” uma mulher teria, antigamente, e se dizia que ser “nymphomaniaca” podia, si fosse dada ao sexo, uma “qualquer”. Aquella que conhesço, si puder, assume qualquer rotulo. Só “thia” não gosta que empregar queira a “vadia” que fama ter de puta tambem quer. As duas são vizinhas, mas aquella que tudo me contou diz que isso faz de facto: não trepou com Satanaz ainda, mas deseja, me revela. Rival, a “vagabunda” appenas della inveja tem, pois nunca foi capaz daquillo. Mas deduzo que são más actrizes e só ficam na janella.

GLAUCO MATTOSO


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FECHADOS CORPOS ABERTOS [5695]

{Ah, Glauco, olhe que lindo! O meu anxeio está a se realizar? Appendicite, renal calculo, cancer... Quem evite não ha! Mas ha politicos no meio! Comnosco rollaria qualquer feio prognostico do typo, mas permitte ja Juppiter que quem nos parasite tambem daquillo soffra! Ah, nelle eu creio! Politicos o corpo bem fechado tiveram sempre, emquanto nós aqui estavamos subjeitos ao que vi soffrerem meus amigos nesse estado!} -- Emfim se faz justiça, sim. Cuidado, porem, com o “day after”. Ja sorri, curado, um senador... E bisturi não temos como tem um deputado...

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IMPACIENTE IMPACIFISMO [5696]

{Irak e Iran não deixam, nunca, a scena de guerra exmorescer! Estou aqui torcendo, Glauco, para vermos si se pauta a nova pagina terrena! Eu quero ver é sangue, Glauco! Pena que pouca gente morre! Inda não vi cadaveres em penca! Ja nem ri Satan, ja ninguem tanto odio condemna! A coisa tá perdendo, Glauco, a graça! Da guerra precisamos muito, para da zica mais banal que nos azara podermos exquescer! Nada se passa!} -- Meu caro, não se illuda. A nossa raça humana não se extingue. Quem sonhara? Mas, ‘inda assim, tambem digo: Tomara que, desta vez, a bomba allarde faça...

GLAUCO MATTOSO


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MEASURE YOUR FEET [5697]

Não dei tanta attenção antes, mas eis que pés medir me vale mais affinco. Embora não exsistam disso leis exactas, às da America me linko. Medi, de brazileiro, um trinta e seis. De gringo ja medi quarenta e cinco. Mas, quando os pés medidos são de gays, tambem paus meço e até com elles brinco. Tamanho documento não é, mas um pé cincoenta e cinco me impressiona. Seu tennis, quer de couro, quer de lona, si estou perto, jamais no lixo jaz. Dezenas recolhi, muitos em más e feias condições. Nenhum desthrona aquelle de baskete que, na zona, ganhei dum cafetão que ja foi az.

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CANONYMO [5698]

Nem fama nem proveito me dá gozo, mas acham que do canone eu à beira estou. Tantos eus lyricos vaidoso me deixam, mas não fede isso, nem cheira. Fallar em heteronymos, famoso não fico por ser Pedro nem Ferreira, mas desde que excolhi Glauco Mattoso não viro Zé da Sylva alli na feira. Fui Pedra-Ferro, até Padre Feijó, Ja Pedro Ulysses de lettras deu a

Pedro, o Podre e fui xará dum Sade. Campos faculdade tudo o que me inclue.

Ganhou identidade quem foi mui satyrico ou pornographo, mas ha de surgir quem me pesquise e que se enfade dos rotulos, si generis fui sui.

GLAUCO MATTOSO


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HORRENDAS LENDAS [5699]

Eu tenho meu basset. Gatto, um amigo. Mas ha quem tenha aranha cabelluda! Mascottes que nos lambem eu consigo beijar! Caranguejeiras... Não! Accuda! Fallar ouço que exsiste quem abrigo dá para a centopéa, que lhe gruda no braço, no pescoço, mas commigo apposto que isso é peta, da grahuda! Nas redes sociaes ha quem garanta que cobras e morcegos dão mansinha e terna companhia a quem definha, doente, numa cama! Virgem Sancta! Talvez queiram dizer assim, o passamento, dum caso terminal... Fofoca venenosa? Ah,

que se addeanta, o fim da linha Senhora Minha! mas ha tanta!

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CHORO HUMORISTICO [5700]

“Não chora! Si chorar é que peora! Acceita, que dóe menos teu castigo!”, disseram ao me verem cego. Agora os chupo e “Sim, Senhor!” ainda digo. Quem disse taes verdades commemora o facto de enxergar bem e commigo poder zoar. Humilde é quem só chora calado e chupa. Aos poucos, eu consigo. Depois de certo tempo, me convenço de que tudo depende do momento. Alguns mais se divertem quando tento chorar, lacrymejar, usar o lenço. Me dizem esses, rindo, que eu immenso prazer lhes proporciono si lamento meu drama, si calado não aguento ficar, pois seu humor ganha mais senso.

GLAUCO MATTOSO


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GUSTATIVA FRUSTRAÇÃO [5701]

Diz “Abra a bocca e feche os olhos!” quem convida alguem que estima a ganhar balla ou doce que deleita. Mas se cala o cego que entendeu nisso um porem. Quem ganha de surpresa, qual nenen, aquelle pirolito que regala, idéa nem esboça do que eguala um cego ao mais ridiculo refem. Seus olhos nem precisam se fechar emquanto sua bocca aberta fica exposta, dum mandão, à dura picca que irá forçal-a a, soffrega, fellar. Ao maximo terá seu maxillar os dentes affastado. Mais se estica a lingua sob a glande que, impudica, evita addocicar o paladar.

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SELF INJURY [5702]

Punir-se é masochismo? Então estude quem queira tal phenomeno! Se sinta quem peque sujo bicho! Uma attitude mais practica é levar surra de cincta! Um cego ja maduro à juventude dos normovisuaes se humilha: trinta ainda elles nem teem! Eu mesmo pude seus pinctos engolir, caso não minta! A gente se machuca, geralmente, por simples accidente, mas ha quem provoque ferimentos que são “sem querer querendo” a si mesmo, ou que tente. São cortes, arranhões, de ferro quente profundas queimaduras... Mas eu nem cogito disso, visto que ja tem seus dramas quem, cegado, mal se sente.

GLAUCO MATTOSO


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WHEN A BLIND MAN CRIES [5703]

O cego do Deep Purple, quando chora, dá dica de ter sido abbandonado, fechado no seu quarto, mas tal fado envolve o que meu caso corrobora. Um gajo, que era amigo, foi embora, mas fez com elle coisas que me enfado, até, de repetir, tendo versado bastante sobre alguem que rememora. Tambem, no chão jogado, rastejei aos pés dalgum “amigo” gozador que fez chacota sobre minha dor, impondo, por prazer, a sua lei. Um cego não será feito de gay nem deve ser de rollas chupador appenas por ser logico suppor, mas pelo testemunho que ja dei.

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SAVE A SPIDER [5713]

Fiz versos para a aranha, mas jamais salvei-a, porra! Alguem me salve della! Tem bunda cabelluda... Tem lethaes cheliceras... Aggride e me arrepella! Inventam, nessas redes sociaes, modinhas descabidas! A sequela não temem da piccada? Quaes os paes que querem do filhinho o dedo nella? Perguntem à mamãe, ou à tithia, si deixa tal bichana passear tranquilla pela casa! Que seria da bunda do nenê naquelle lar? Deixemos de frescura! Quem iria salvar alguma aranha, si mactar pudesse essa admeaça! Ninguem cria problemas, si ja basta ter azar!

GLAUCO MATTOSO


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PEOR CEGO [5714]

Um cara, analysando para mim o sadico proverbio, foi bastante feliz, ao fallar tudo o que me encante, embora alguns contestem. Falla assim: “Um cego, para mim, si nada ver quizer, na sua teimosia, na vontade de ir assim

será ruim pois se garante constante até seu fim.”

“O cego bom será quem ser refem não queira da cegueira, quem se faça rebelde contra a sua van desgraça, sabendo que dó delle ninguem tem.” “Ahi, sim, mais gostoso o tesão vem, pois, vendo um impotente, no que passa de extrema dor, ainda mais devassa é minha picca, que elle chupa bem!”

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TERRA DE CEGO [5715]

Tambem outro dictado um gajo leu à sua firme e sadica maneira, na qual, tirando sarro da cegueira, papel faz do mais puro philisteu: “Em terra de ceguetas, se fodeu aquelle que beijar o pé não queira de quem for rei caolho, ja que inteira razão todos lhe deram!” Fallei eu: Qual é, pela visão de quem só tem um olho, o tractamento que deseja o rei daquella terra, sem que eleja o povo livremente, emfim, alguem? O gajo respondeu: “Quererá, sem pudor nenhum, punir quem não rasteja a seus pés, quem gostinho de cereja não acha no seu pau, nem diz amen!”

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NARCISICA PHTHISICA [5722]

Quem é tuberculoso que se arrase numa autocompaixão, ou tire sarro das proprias afflicções! Sim, extravase com emphase! Eia! Narre como narro: “Curei-me da doença, mas à base de muitas injecções. Tossi catarrho sangrento. Si me evoca a triste phase, a data da memoria logo varro.” Então tuberculose virou moda? Que coisa mais romantica! Foi quando? No tempo dos poetas? Mas que bando de jovens insensatos! Não é foda? A mim, porem, bastante me incommoda glaucoma ter, estar sob o commando de sadicos, ja cego, ou me tornando vaidoso da censura que me poda.

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SEGUE O REGGAE [5740]

Jamaica em qualquer cantho? Quem consegue manter tão fielmente um rhythmo, um canto? Si scena brazileira tem o reggae, não posso rallentar o canto tanto. Ainda que, na base, elle carregue o typico compasso, não garanto a mesma lentidão, pois o meu jegue admarro mais no ska, de forte encanto. “Diabo que o ska reggae!”, trocadilha a turma appaixonada pelo rhythmo dansante, mais alegre que quadrilha junina. A saltitar tambem me animo. Percebo que cahi numa armadilha, pois, cego, dum desnivel me approximo e rollo pelo solo. Como humilha ouvir risos dum sado, ou mano, ou primo!


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COLHER DE PAU, NEM A PAU! [5758]

Poemas, os componho com cuidado, medindo-lhes o verso, calculando estrophes, em tom puto ou em tom brando, até que tenham dado o seu recado. Às vezes, ao reler, me desaggrado com isto ou com aquillo que está dando recado menos claro, mas, só quando não vejo jeito, mudo o resultado. Poema não é sopa, não se faz com elle experiencias na panella, a menos que se queira ter, por ella, amor, como ao fogão, ao proprio gaz. À sopa amor eu tenho. Si fugaz é sua digestão, ella congela aquelle seu sabor, que se revela, na mente, inalterado, annos attraz.

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MOTOBOY QUE SE REMOE [5770]

Chovendo, o motoboy na vida pensa. Do Alem lhe vem e advisa a voz sensata: “Cuidado! Está molhada a pista!” {Bença, Senhor!}, elle responde em prece grata. O sobrenatural explica a crença nas vozes dos espiritos: exacta sciencia não exsiste que convença alguem de que um defuncto não nos macta. Por isso, quando um delles attropela alguem que soffre e morre em hospital de pobres condições, pensa no tal anjinho que da guarda se revela. Mas, quando um motoqueiro não appella ao proprio protector, será fatal que sonhe toda noite com o mal que fez e a Satanaz deu tanta trella.

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FORA DE MODA [5774]

A moda do skatista, antigamente, um tennis incluia, que excarrancha na prancha seu pezão e faz a gente babar, lamber querendo aquella lancha. Immenso, aquelle tennis grosso e quente produz um chulezinho que desmancha na bocca, salgadinho, docemente em ecstase, o fetiche duma fancha. Não é que, de repente, muda a moda e fica pequenino o tal pisante? Disseram do grandão que elle incommoda o pé, que mais comforto não garante... O cego sae perdendo, pois a foda lhe falta. Masturbando-se, durante o tempo todo o faro podre engoda com esses botinões... E doradvante?

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BUQUÊ DE BUKKAKE [5776]

Contado por um cego japonez, o facto me empolgou! Elle ficava aptado, de joelhos, numa trava de chordas, o “shibari”, olhem vocês! De sadicos diversos foi freguez, que nelle ejaculavam! Mais escrava tornavam sua bocca, que chupava caralho por caralho, vez por vez! Seu halito, me disse elle, fedia tal como uma privada sem descarga! Na sua lingua a baba achava amarga, mas tudo supportou, no dia-a-dia! Pensei sobre commigo o que faria um sadico nipponico! Que carga nos hombros eu teria! A sola larga e chata que, na face, eu sentiria!

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CHEIRO MANEIRO [5778]

Dos manos, é no rapper que eu almejo o pé mais dansarino e mais rueiro. Almejo descalçal-o: meu desejo é pôr na sola a lingua. Mas, primeiro... Verei como elle mexe os dedos: vejo que, livres ja do tennis, soltam cheiro fortissimo e, tal como o caranguejo na areia, vão tocar meu rosto inteiro. Arteiros, seus artelhos vão, sem pejo, dansar pelos meus labios com certeiro jeitinho de malandro, pois festejo a sua sola em solo brazileiro. Chulés assim, os acho no varejo, sem ter de encommendal-os por dinheiro. Mas, quando o mano saca que eu cortejo appenas seu pezão, fica cabreiro.

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EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786]

Lembrando do solteiro, o cego pensa: “Si ainda não casei, rolla eu chupei-a por cego ser; si estou casado, offensa maior será chupar quem me corneia.” Um caso de contar me dá licença meu critico leitor? Pois uma aldeia nas selvas amazonicas dispensa preambulos: um cego massageia. Casado, ficou cego. Seu vizinho na hora approveitou-se. Ja comida a sua mulherzinha, teve vida de escravo massagista, coitadinho. Por certo o Ricardão foi excarninho e quiz mais que massagem. Quem duvida consulte-me e direi que, bem lambida, qualquer rolla perfaz novo caminho.

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MELHORIA EM IGUARIA [5814]

Edade, si é “terceira” ou si é “melhor”, importa pouco. “Merda” acho um bom nome. Só “velho” e “thio” escuto ao meu redor. Tomar no cu vou, onde for que eu tome. E, para que a velhice do peor se farte, quem “saudavel” é não come nem carne, nem frictura... Sei de cor a missa: velho deve passar fome! Estou de sacco cheio dessa chata conversa de nos darem qualidade de vida, de nos darem mais edade, mas mandam evitar fricta batata! E eu? Fico sem comer tudo o que macta a gente de desejo? Brevidade, brioche, bollo, torta... Desaggrade seu medico! Rirá quem não se tracta!

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INTERPRETANDO A CANÇÃO [5820]

A lettra de “Cachorro viralatta” tem, pela minha analyse, um immenso valor, ja que o malandro lambe a patta do cão... Me enrollo, até, si nisso penso... Quem lambe, na verdade se constata, é o cão que, bem humilde, tem bom senso. E quanto mais um cego disso tracta, maior inveja sente, me convenço. Si os pés da malandragem todo cão lambesse quando fosse ella sambar, talvez ja nem houvesse mais logar p’ra tanta cachorrada na funcção. Prefiro me suppor só dum mandão cachorro lambedor, para cuidar melhor, sem concorrencia, de seu par fedido de chinellos. Posso, ou não?


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HILARIO OBITUARIO [5838]

{Aqui jaz quem dizia: “Ao Céu? Não eu! Não venhas com a praga do urubu! Bem vive quem ainda não morreu! Melhor, antes que eu parta, que vas tu!”} Citando esse epitaphio, quem me deu noticia, num tom secco, breve e cru, suspense fez, mas riu: “O phariseu emfim se foi! Morreu o vil guru!” Lembrei-me dos collegas que, na lyra, fizeram a caveira do fulano. Aquelle charlatão bem que pedira a todos que festejem o seu damno. Agora, no seu tumulo, uma tira collaram do chargista. Não me irmano ao sordido guru, mas quem confira a charge dirá: “Amou tanto o Caetano!”

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LEITURAS INACCESSIVEIS [5841]

{Será verdade, Glauco? Ouvi fallar que lideres do crime organizado leem livros na prisão! De seu aggrado, que livros leem Marcolla ou Beira Mar? Ahi que está! Leem elles, em logar de Dante, de Camões ou de Machado, você, Glauco Mattoso! Sim, chocado estou! Como terão um exemplar? Você sae em tiragem tão pequena que julgo difficillimo um de seus livrinhos ir parar (Ai, Sancto Deus!) na mão de quem ja tanto se condemna!} -- Tambem acho. Mas penso numa scena assim: Marcolla, ao ler alguns dos meus poemas, rei será dos philisteus. Sansão serei. Chupal-o, minha pena.

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LEUCOPROPHILOS THEOLOGOS [5845]

{Hem, Glauco? O “beijo negro” não é dicto da bocca duma bruxa alli no rabo do Demo? Ora, pensando nisso, accabo chegando a reflexões que não evito... E o cu de Deus? Ninguem beija? Accredito que delle só beijaram a mão! Brabo ficou si lhe quizeram dar no nabo um beijo que entesasse... Estraga o rito! Hem? Thema theologico, Glaucão! Você não acha authentica a proposta de nisso nós pensarmos? Não apposta que muito se discuta tal questão?} -- Apposto. Mas não vejo um bom christão querendo do Senhor provar a bosta. Talvez um peccador queira, si gosta de caro pagar, antes do perdão...

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MOLEQUES SALAMALEQUES [5851]

Senhor, por gentileza... Eu poderia pedir-lhe um favorzinho? Si não for incommodo, senhor... Eu só queria mandal-o se foder... Sim? Por favor! Perdão por insistir, senhor... Bom dia! Não quero interrompel-o, não, senhor! Desculpe-me qualquer descortezia, mas va tomar no rabo! Não, sem dor! Com toda a paciencia a gente insiste, mas noto que perdendo o tempo vou. Evito dirigir, de dedo em riste, offensas ao senhor, pois calmo sou. Mas, como o nosso pappo não consiste de formulas polidas, este show sentido ja perdeu. Ora, sem chiste: Ou vae tomar, ou eu o cu lhe dou!

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CRIVO PERMISSIVO [5854]

Sonnettos, quem estropha acha que são quattorze versos, para que os disponha em dupla de quartettos, mas nem sonha que possa dos tercettos abrir mão. Comtudo, si pensasse bem, razão não via para a cara ter tristonha no caso dum augmento. “Que vergonha!”, dirão, mas vergonhoso não é tão. Por que não dezeseis, si lindo fica um multiplo de quattro? Ora, façamos em quattro os quartettinhos! Aos reclamos com risos respondamos! Dei a dica! Depois de terminado, bem mais rica veremos essa lyra! Nossos amos não fazem a menor questão si vamos inflar, desde que inflemos sua picca!

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ORATORIO OROTURBATORIO [5863]

Fazei, Senhor, que um cego utilidade consiga triplamente exercer em quem pode, felizmente, enxergar bem! Fazei, Senhor, que eu nunca desaggrade! Fazei que minha bocca se degrade trez vezes: nos dois pés, lambendo, sem nenhum nojo, o chulé; fazei tambem que eu limpe, do cu, toda a sujidade! Por ultimo, Senhor, de mim fazei um prompto fellador! Não me deixeis de esmegma sentir asco, si quereis que eu seja cumpridor da vossa lei! Fazei que, num irmão, tudo o que sei fazer eu oralmente faça! Reis serão meus, dos sessenta aos dezeseis, os bons irmãos dum util cego gay!

GLAUCO MATTOSO


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OBSCURO PEDICURO [5864]

Quem sempre está descalço uma aspereza na sola accumulando vae que, cada vez mais, paresce lixa, allaranjada de terra, às comichões jamais illesa. Um gajo que conhesço sobre a mesa appoia seus pezões! Ah, não ha nada mais rude e desleixado! Dão risada? Pudesse eu no cascão fazer limpeza! Quizesse elle, em logar duma agua quente que enchesse, no soalho, uma bacia, usar a minha lingua, que faria papel, direi, dum creme emolliente! Os cegos servirão, seguramente, à guisa de podologos, um dia, cuidando dessas solas. Todavia, não passo dum que, em sonho, util se sente...

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AROMA NO MOMA [5867]

Será que um museologo futuro consegue preservar vivo o chulé do tennis dum teenager, o mais puro odor dos nossos tempos? Faço fé! Agora que vivendo vou no escuro, me resta recordar, com raiva até, aquelles que ficaram de pau duro gozando de quem cego foi ou é. Quem sabe, para sempre, esse museu de cheiros possa, ao menos, preservar lembranças synesthesicas que meu passado deschartou nalgum logar... Museu de cheiros! Onde é que fui eu achar essa noticia? Alguem doar irá seu tennis podre? Quem o seu cothurno, quem de meias o seu par?

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GALLERA DA CHIMERA [5873]

Amigo meu desfaz dos marginaes: “Poetas marginaes jamais o são. Ou todos os poetas o serão, ou delles nenhum é mais que os demais.” Sim, vale sophismar, pois nossos paes nas lettras, os philosophos, nos dão noção dum quixotismo fanfarrão naquelles aos quaes somos tão eguaes. Não, “livre pensador”, “independente”, “maldicto” ou “libertario” pouco diz daquillo que fazemos. Por feliz me tenho si disserem mal da gente. Si dizem que, na lyra, a gente mente, nos honram. Mais ainda si, gentis, disserem que sonhamos. Qual juiz fará maior justiça a algum demente?

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ROCKEIRO PICCADEIRO [5878]

Em vez de se mactar, quem para fora põe suas amarguras quer brincar: “Addeus, mundo cruel! Eu vou entrar pro circo! Vou virar palhaço, agora!” Palhaço? Ora, palhaço tambem chora! Mas muito mais num circo tem logar: trapezio, chorda bamba, malabar, leão que cabecinhas não devora... Que mais? Illusionismo, claro. Quem faz magicas garante seu futuro. O gajo não se macta, alli, no duro, appenas se degolla, sangue sem. Si for um bardo cego, para alem da morte, engole rolla, não por puro prazer, mas por fazer, com todo o appuro, seu comico papel, como convem.

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MEME DO JANEIRO BRANCO [5879]

Agora todo mez é colorido? Foi isso o que explicaram para mim aquelles que, todinho por tintim, um novo kalendario teem seguido. Janeiro, por exemplo, parescido com branco decidiram que ruim não era, si tivesse como fim a mente mais saudavel. Não duvido. Si quem não é maluco como branco tem rotulo, na certa como preto serei qualificado si no ghetto dos desequilibrados eu me tranco. Até vou concordar. Para ser franco, só pode ser um doido quem sonnetto faz compulsivamente. Eu, que commetto tal coisa, assumo o meme e não me manco.

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MEME DA CAFETEIRA [5880]

Me foi recommendada a cafeteira legitima, italiana. Mesmo assim, alguem viu pelas redes que ruim aquella alternativa se nos cheira. Perigo de explosão? Ah, ninguem queira testar! Um só relato, ca por mim, ja basta p’ra assustar! A saber vim que pelos ares fora a casa inteira! Talvez exaggeraram, mas si entope a porra dessa valvula, sei la, que causa a tal pressão, não ficará o damno no café que nos ensope... As machinas da moda, por mais pop que seja a propaganda, vão, ja ja, ser alvo de tamanho bafafá que só coado resta algo que eu tope.

GLAUCO MATTOSO


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MEME DO FEVEREIRO ROXO [5881]

Ouvi que fevereiro, pelo olhar da moda colorida, roxo fica por causa dos effeitos duma zica mental: Alzheimer. Vale versejar. Memoria, quem a perde, em tumular estado se colloca, verifica quem tenha algum parente cuja picca no olvido os orificios foi deixar. Senil, esclerosado, si gagá não for o termo usado, mal designa aquelle que nem lembra, na latrina, si falta algo cagar ou si fez, ja. Previne-se quem? Resta que essa má etapa tarde, então. Ha quem previna o mal com poesia: a fescennina paixão nosso neuronio ouriçará.

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ABBAIXO A POLARIZAÇÃO! [5882]

Na porta do palacio, o presidente rampeiro communica-se com uma pequena multidão e encrenca arrhuma com gente dissidente e independente. Querendo seguidores ter, somente, conclama alguns fanaticos na bruma, dos quaes quem puxasacco não assuma ser passa a pau levar da turba crente. Mambembe resultado! Si metade daquella multidão que se agglomera na porta acha machão quem a lidera, metade berra “Bicha!”, quasi invade. A midia não faz media: na verdade, pondera que elle é “bi”. Toda a gallera a accusa de “golpista”. Futil era, a nossa! Falta alguem que “Brocha!” brade.

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MEME DA CUECA SUJA [5884]

{Hem, Glauco? Ja pensou o que seria lavar cueca suja? A lavadeira encontra alli que typo de sujeira? Bom thema, Glauco! Verta a poesia!} -- Está bem. Ja pensei. Eu acharia mais facil esse thema, caso queira você fallar de meia suja. Cheira chulé, fedor que nunca me sacia. Mas cheiro de cueca ja mixtura xixi com porra, sebo com cocô, alem daquelle aroma que vovô chamava de cecê. Que essencia pura! A mancha amarellada fica dura, até, depois duns dias. Nem pornô poeta canta aquillo. Nem Rimbaud cantou. Só seu chulé, que elle dedura.

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MEME DA BUNDUDA [5885]

{Sabias, Glauco? A turma agora fez um meme bem fiel à situação presente! Dizem “Brota no bailão!” P’ra que? “P’ra desespero do seu ex!” E mostram a figura, toda vez, da typica bunduda, alli no chão das pistas, aggachada! Ah, como são vulgares! Hem, Glaucão? Como tu vês?} -- Nem vejo. Só commento. P’ra causar ciumes fazem isso? Só te digo: Si sou hetero, macho, não consigo ver isso sem sorrir. Não dei azar. Perder tal vagabunda traz um ar de lucro, de victoria. A algum amigo desejo uma melhor, pois tal castigo nem vale ao inimigo desejar.

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COLIGLAMA [5886]

Não, não é “calligramma”, mas se tracta dum novo collectivo litterario, creado com meu nome, em honorario padrão de antigo “gremio”. Menção grata! Estou gratificado, sim, mas ratta não faço si, lembrando-me do Mario, do Oswald, e sem perder o tom hilario, suggiro-lhes um jogo que se empatta. Empattam os dois lados da questão que não é coimbran, mas paulistana: Ser livre, modernista, bem bacchana paresce, mas tenhamos um padrão! Aos membros, recommendo o palavrão ao lado do cultismo, quem se uffana ao lado de quem acha que se damna, unindo o que se inverte: insano e são.

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MEME DO BORDÃO [5887]

Bordão do narrador de futebol no radio diz da vida: “colorida, gostosa...”, em conclusão, “de ser vivida”. Só falta algo fallar da luz do sol! Tá certo, Maciel! Depois dum rol de phrases animadas, quem convida o ouvinte, suggerindo que decida ver coisas positivas, lança anzol. Entenda quem quizer. Eu comprehendo o termo “colorida” da maneira mais clara: não é cego quem ver queira as cores, não um triste breu horrendo. Alegre-se quem vê, pois eu defendo seu maximo tesão. Minha cegueira só fica alegre quando uma coppeira partida pelo radio ouço, mas vendo.


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MEME DO DESODORANTE [5888]

Francezes, me disseram, teem mania de banho não tomar. Aquelle cheiro disfarsam com perfume. Mas me inteiro de casos brazileiros... Quem diria? Conhesço um cujo penis desaffia qualquer masoca amante de chiqueiro. Pentelhos, sacco, tudo um verdadeiro aroma de carniça à rolla allia. Perfume elle não usa, mas expirra naquillo um popular desodorante. “Melhora p’ra cacete!”, elle garante, zombando de quem faça alguma birra. Ja pude comprovar, amigos. Irra! Mixture peixe podre com bastante assucar quem saber quer. Não se expante si der para sentir incenso e myrrha...

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IMPOTENTE PREPOTENTE [5889]

Quem quer uma abstinencia sexual impor a toda a turma adolescente, ainda que se diga casto ou crente, ser cynico precisa, sem egual. Não pode ser polygamo nem, mal se livra da terceira mulher, rente que nem pão quente, estar perdidamente cahido pela quarta, a mais fatal. Tampouco pode, quasi nos septenta, fazer vasectomia, a fim de dar aos outros impressão dum exemplar marido, pae, machão que ja se aguenta. Qualquer um que abstinente virar tenta no minimo terá que masturbar seu penis noite e dia, caso o azar não tenha de ser brocha, alem de penta.

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MEME DO MIMIMI [5890]

{Sem essa, Glauco! Um cego não tem nada que estar se lamentando! Por aqui fiquei depois que tanto pappo ouvi de gente se dizendo desgraçada! É só saber levar! Capaz é cada ceguinho de fazer tudo o que vi fazerem, de evitar fazer xixi no dedo ou para fora da privada! Não acha, cara? A gente até se enfada com esse repetido mimimi! Conhesço um conformado, que sorri de tudo, faz comsigo uma piada!} -- Bem, quando de mim riu a molecada, não pude rir tambem. Nem chorei si mandaram-me chupar. Só consegui, calado, ouvir dos gajos a risada.

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MEME DO MOMO [5891]

De novo o Carnaval chegando vem! De novo me trancar em casa vou, mas, sendo masochista como sou, irei phantasiar-me pejo sem. N達o visto phantasia de nenen, dum indio ou dum pirata. Ja ficou, emfim, fora de moda no meu show usar escuros oculos, tambem. Aqui no meu sall達o, nem venda ponho. Appenas a ser passo o cego servo daquelle gord達o amo que conservo no rol das amizades, ou no sonho. Momesco foli達o, do meu tristonho semblante elle excarnesce. Lhe reservo prazeres oraes, posto que preservo no sceptro o seu sabor, quando me bronho.

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GLAUCUS ATLANTICUS [5892]

Fiquei sabendo disso por um serio leitor: apparesceu no litoral bahiano um animal descommunal, um “monstro”, si seguirmos o criterio. A “fera”, como ao bicho se refere o sagaz cyberamigo, mui lethal será pelo contacto, dizem, tal a acção de seu “veneno deleterio”. Chamou “Glaucus Atlanticus” quem quiz tal bicho baptizar. Pelo que noto, não passa dum fanatico devoto das lettras o biologo feliz. “Veneno deleterio” nos meus vis versinhos, sem ser monstro, sempre boto. Me disse quem tirou da “fera” a photo que tem ella, nos olhos, meu matiz.

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HYPERBOLICA PARABOLA [5893]

Dengoso, o meu basset fazia manha si juncto o não levassemos à rua. “Mais infeliz do mundo” foi a sua maneira de fazer manha tamanha. Mas, quando retornavamos, extranha mudança appresentava. Ja recua da pose de tristeza e não actua mais como quem affagos jamais ganha. Então, “o mais feliz do mundo” o cão se sente, recebendo-nos com festa, e nada mais, na practica, nos resta sinão lhe darmos beijos de paixão. Assim se extende aos bardos a licção. Si emburra, algum tal drama manifesta que vem a Terra abbaixo. Si elle encesta a bolla, céus e infernos bons serão.

GLAUCO MATTOSO


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RHAPSODIA DYLANIANA [5894]

A gente, quando joven, se devota à paz, ao amor. Trouxa, a gente apposta no vento das mudanças e, resposta achando que trará, fé nisso bota. Mais tarde, nota a gente que lorota foi tudo o que se disse e desencosta dos lideres, dos sonhos, dessa bosta. Achamos ser o vento um idiota. Accordo de manhan, não vejo nada. Accordo de manhan, só trevas vejo. Agora reduziu-se meu desejo à luz, inexsistente na alvorada. Virar vae a cegueira, vez mais cada, desgraça collectiva, no varejo. Ainda assim, não perco o meu ensejo de graça achar naquella gente errada.

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RHAPSODIA EMILIANA [5895]

{Fallar dum paulistano uffano ousou Emilio de Menezes num sonnetto bastante precioso, mas estou convicto de que seja algo obsoleto. Não creio que, Glaucão, gaffe commetto, mas digo: o bandeirante ja virou figura dephasada si o coretto de Sampa bagunçar elle tentou. Diz elle que o subjeito ja nem bota mais usa, que ficou, sem ouro ou pratta, na dura pindahyba! Fez chacota, não acha? Ah, tal menção foi bem ingrata!} -- Emilio sempre conta, a gente nota, piadas a valer. Mas si se tracta de bota, a mim me cabe ser quem bota em pauta a dicta. Alguem ha que me batta?

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MEME DA UNCÇÃO [5896]

Fallar dos “pés ungidos” dum pastor faz jus à minha lingua, assaz “ungida”, tambem, mystico thema que convida o crente à servidão, mas com amor! Quem mais predestinado será, por vontade do Senhor, para a devida lambida, a divinissima lambida no pé do mais prophano peccador? Tal lingua appenas eu, o mais punido de todos, é que tenho! Ja lambi o pé de quem peccou, de quem sorri peccando, quem jamais foi convertido! Mas lambo, porque tenho uma libido sagrada, consagrada, piriri, direi, e pororó! Ninguem aqui duvida, né? Nem eu de mim duvido!

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MEME DA DEDURADA [5897]

Fiquei com mais inveja ainda desse tal Mario, ou mais até do tal Machado! Que gloria! Ser por ogros censurado é tudo que pedi que me occorresse! Aquelles brucutus! Por elles, esse acervo litterario ser queimado podia! Até Lobato desaggrado causou! Quem quiz que disso se exquescesse? Inveja sinto, claro! Bastaria ser lido por um desses brucutus um livro meu repleto de tabus e eu entro p’ra selecta galleria! Mas é pedir demais que, qualquer dia, um delles ler consiga! Si estão nus, evitam pôr o dedo nos seus cus, com medo de gostar da sodomia!


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MEME DO SACCO [5898]

Ficara tetraplegico o subjeito. Da cama, sem adjuda, não sahia. Appenas a cabeça se mexia. Do sadico cunhado ouviu: “Bem feito!” Ninguem por perto, o sadico do leito acchega-se e lhe peida bem na via oral, lhe exfrega a rolla, até. “Não chia!”, deu ordem. Disso tira bom proveito. Mostrando um sacco plastico, promette usal-o caso peça por soccorro a victima, que pensa: “Assim eu morro! Prefiro suffocar a dar boquette!” Mas chupa, pois tem medo do pivete. Quem isso me contou viu quando o gorro de plastico o moleque num cachorro testou, mas eu que petas interprete...

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VIVA VOVÓ [5899]

Achavam que ella, a Wilma, ja gagá estava. Pois onde é que ja se viu senhora tão gentil tornar-se vil e má com seus escravos? Alguem ja? Occorre que ella mestra foi, será de sadicos, masocas, de quem riu da dor alheia, como quem, servil, serviu alguem que duras ordens dá. Pessoalmente, Wilma nem paresce cruel dominadora. Na verdade, cultiva affectos, busca na amizade a mesma devoção da pia prece. Zeloso, torço para que não cesse de ser quem tantos homens persuade a serem bons discipulos de Sade. Tão magica vovó não envelhesce.

GLAUCO MATTOSO


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BLUES DOS MEUS BREUS [5900]

Dormi. Quando accordei, esta manhan, achei extranho: triste nem fiquei. Dormi. Quando accordei, esta manhan, mais triste nem fiquei. Por que? Ja sei! Alegre estou. Nem penso nessa van carencia da visão, em ser o rei na terra dos ceguinhos, pois Satan commigo fez um pacto, uma astral lei. Si sinto muita falta da visão, tacteio o meu sapato, onde procuro a meia que está dentro. Nesse escuro, do cheiro della augmenta a proporção. Blueseiros, muito tristes todos são. Lhes falta alguma coisa? Alli, no duro, não falta, mas precisam do perjuro motivo p’ra fazer uma canção.

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MEME DA MORDIDA [5901]

Que sarro! Como pode de moral fallar alguem que visto foi na photo deitado com mulheres nas quaes boto o rotulo de “putas”, affinal? O gajo faz sermões, prega com tal fervor de puritano, que devoto pensamos ser dalgum monge remoto, dum rude inquisidor, dum ancestral... Magina! A photo mostra a sua cara roçando pelas nadegas de pelle branquella, nem ligando si revele a scena a mordidella que lascara! Morder bunda de puta não ousara siquer o actor pornô cujo pau felle tal puta! Por costumes ha quem zele com tanta transparencia? Arre! Que tara!

GLAUCO MATTOSO


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RHAPSODIA MACHADIANA [5902]

Coitado do sapato social! Está, sempre engraxado, quasi sem ter uso, e pensa: “A bota, sim, mantem mais cheiro, mais battida que é!” Que tal? Que inveja boba, né? Pois desse mal a bota tambem soffre: “Que desdem de mim tem o cothurno! Oh! Delle vem fortissimo chulé! Sim, sou banal!” Por sua vez, o sujo cothurnão inveja tem do tennis encardido que cheiro bem mais podre e mais fedido exhala: “Aquelle, sim, pisou mais chão!” O tennis se lamenta: “Muitos são contrarios ao meu cheiro! Só tem sido dum cego o meu chulé bom à libido! Pudesse eu ser sapato chique, então!”

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MEME DA GRIPPE [5903]

Não pode ver chinezes sem ficar nervosa, a senhorinha. Aliaz, não quer ver nem da Korea, do Japão, ninguem por perto. Teme se infectar. Ouviu fallar da grippe, similar àquella tal do frango, ou do leitão, direito ja nem sabe. Faz questão da mascara, ao sahir. Mas deu azar. Pegou um resfriado qualquer, feito aquelles que entupir vão o nariz, appenas. Mas, inquieta, logo quiz correr ao hospital, com dor no peito. Occupa, ja nas ultimas, um leito inutil ao doente que, feliz, pegara a verdadeira, mas se diz curado. Nem usou lenço, o subjeito!

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

MEME DO FANFARRÃO [5904]

Diz Mas que com

elle: “Vae haver logo o revide! só que não será com a facada iremos desforrar, não! Quem aggride arma branca perde de virada!”

Pergunto o que fará si elle decide nas urnas disputar. “Maldicto!”, brada o gajo. Caso a um brinde me convide, direi que ja nem bebo limonada. Insiste: “Degollar não addeanta! Nós temos que explodir essa cabeça de vibora! Facada na garganta capaz é de curar-se! Não, exquesça!” Pergunto-lhe por que cultiva tanta vingança só por causa duma advessa politica. “Magina! Até me expanta você me contestar que elle meresça!”

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MEME DO GRAMPO [5905]

{Não podem me mactar, Glaucão! Alô? Cahiu a ligação? Não? Pois lhe digo, Glaucão: Não vão fazer isso commigo! Eu sei de muita coisa! Fui pivô! Conhesço o cu da mosca do cocô do jegue do bandido! Que perigo si eu conto! Né, Glaucão? Alô? Lhe ligo depois? Posso fallar, caralho? Pô! Apposto, Glauco, que elles não terão coragem de tentar de mim dar cabo! Alô? Me escuta, Glauco? Pois accabo de copias expalhar! Todos verão!} -- Alô? Ficou ruim a ligação! Não pude escutar nada, que diabo! Me ligue, então, depois! Tomar no rabo não vou si entendi mal, não, meu irmão!

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA JORGEANA DO LIMA [5906]

O Jorge canta a lagryma que eu choro, a lagryma que diz ser velho thema. Differem do suor que, em cada poro, nos brota, seu sabor e seu dilemma. Salgada, nada nella commemoro que valha celebrar, pois com extrema tristeza a thematizo neste foro poetico, onde não falta problema. Meus olhos para ver utilidade tiveram. Hoje soffrem na cegueira que, fora o desespero que me invade, agudas dores causa a noite inteira. Um olho tão inutil servirá de salobra mina d’agua, ao menos, queira ou não seu portador. Da cavidade o traste me exorbita na caveira.

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MEME DA BANANA [5907]

Julgando-se excolhido, ou enviado, a todos dá bananas o sacana. Usando dessa mimica prophana, affasta quem não lucta do seu lado. Ignora que elle mesmo mais se damna, pois, como dá valor ao que é sagrado, papel faz de sacrilego, coitado, perante esse povinho que se irmana. Commentam pelas ruas: “Que subjeito! Ja teve trez esposas e defende valores da familia! Quem entende alguem que se embanana desse jeito?” A quem lhe perguntar, mostra despeito por esses que compraram o que vende. Ninguem mais considera que se emende um gajo que sentou no que tem feito.

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA LIMEIRIANA [5908]

O vate voejava pelos ares, do modo como vagamente explode um cego cantador que só se fode na lyra pertinaz dos lupanares. Urrou um urubu: “Si tu tomares de esquerda a direcção, te tornas bode, aquelle expiatorio, que saccode as asas, mas não foges de teus pares!” O vate voador nem deu ouvido aos urros do urubu, que da ralé se julga portavoz. Voou até cansar dessa viagem sem sentido. Pousou numa pousada do Partido, ouvindo do cacique e do pagé mais urros e, perdendo sua fé, com todos surubou, desreprimido.

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MEME DO CRAPULA [5909]

A filha do juiz casou-se e está ja quasi separada. Agora vem o genro e entrega o sogro que, ninguem duvida, p’ra prisão em breve irá. Diz este: “Eu não! O crapula que va pro carcere, eu jamais!” Quem o detem sorri, pois entendeu quanto odio tem o pae da separada ao entrar la. O “crapula” até pensa que feliz ficou porque vingou-se do sogrão. Mas, mesmo na prisão, quer o juiz tambem vingar-se, ironica questão. O publico do “crapula” se diz adepto, mas torcer todos irão pela condemnação dos dois gentis parentes, si inimigos ambos são.

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA VICENTEANA [5910]

Magina! Que esperança ter podia alguem que ficou cego de pouquinho em pouco, tão pouquinho que, mesquinho, poupava até, nas lentes, a myopia? Bobagem! A cegueira lhe viria tirar todo o resquicio, rapidinho, de inutil optimismo. Ja adivinho que fez esse infeliz o que eu faria. De tudo duvidou. Felicidade, pensou, está naquillo que nós vemos. Não tendo o que enxergar, nós -- Com os demos! -só cremos no pesar que nos invade. Quem for mais realista, fan de Sade se torna. Si está cego, nos extremos do vicio se rebaixa. Não iremos suppor que nenhum sadico o degrade.

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MEME DA SABONETEIRA [5911]

Não ouço commentarem, mas vocês notaram, certamente, que não presta a tal saboneteira que, se attesta, não prende o sabonete e feio fez. Maldosos ja disseram: portuguez algum a projectou. Quem não detesta aquella porcaria que ja, nesta cidade, não ganhou nenhum freguez? Do typo que, embutida no banheiro, affunda em azulejos, ella não tem beira alta que impeça algum sabão teimoso de cahir o tempo inteiro. Porem, é com certeza brazileiro do traste esse inventor, um veadão que gosta de pegar sempre do chão a barra, ja que leva no trazeiro.

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA FONTESIANA DO MARTINS [5912]

Qualquer Estado Islamico paresce cediรงo, prescindivel, si se tracta de viva queimar uma amante chata, cheireta, pertinaz, que intrigas tece. Martins Fontes, num metro que padesce de excesso na syllabica sonata, a morte commemora de insensata e louca salamandra, com finesse. Humanos tambem curtem uma scena de gente que, queimada viva, morre berrando, debattendo-se e, num porre tรฃo sadico, outra graรงa gozam, plena. Ao fogo mas bem aquelle a nossa

ja ninguem bruxas condemna, que queimar vivo nos occorre presidente que mais torre paciencia assaz serena.

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GLAUCO MATTOSO

MEME DO CRUZEIRO [5913]

Em pleno transatlantico, um infame boato circulou: com grippe alguem estava, a tal, gravissima. Ja sem as forças, morrerá. Clama a madame: “Aqui não fico! Quero o meu exame fazer e, liberada, que ninguem me possa aqui reter! Ah, ninguem tem direito de impedir-me que reclame!” Reclama, faz escandalo, de tal maneira que, em minutos, o navio inteiro, que está proximo do Rio, é posto em quarentena quinzenal. Hysterica, a madame passa mal, accaba se infectando. Por um fio não tem um peripaque. Eu advalio que dê marchinha -- Atchim! -- no carnaval.


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA MADRAGOANA [5914]

Fallou Antonio Lobo de Carvalho, com caustico desdem, do militar pinctado como um typo de vulgar e sordido perfil: demais bandalho. Na lyra, nem as putas do serralho mais reles se deixavam fornicar por esse soldadinho, cujo par de meias ou sapatos dá trabalho. Digamos que, em logar da noiva, faça papel obediente este ceguinho. Daquelles pés tractando com carinho, sou quem na sua sola a lingua passa. Frieiras? E dahi? Minha devassa boccarra chupará cada artelhinho! Chulé? Por isso mesmo é que escrevinho rhapsodias, ora! Ahi que mora a graça!

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MEME DO CAMBIO [5915]

{O dollar está caro? Ora, melhor assim! Não acha, Glauco? Para mim, devia augmentar mais! Quem sabe, emfim, accaba a farra, a pandega maior! Do mundo viajar vão ao redor bem menos, doradvante! Essa chinfrim domestica, a vovó do botequim, terão que fazer comptas, ja, de cor! Viajem para as praias daqui, porra! Conhesçam as bellezas do paiz! Sae muito mais barato! Olhe, eu não quiz chamar a faxineira de cachorra!} -- Magina! Quem dirá que nos occorra pensar mal de você! Mas ser juiz da vida alheia, alem desse infeliz conceito, vae fazer que rumor corra...

GLAUCO MATTOSO


VICIO DE OFFICIO

RHAPSODIA SARTREANA [5916]

De Sartre o que se sabe e tambem sei é que vae sempre alguem ser algo. Pegue o caso duma puta, que seu jegue admarra na boceta. Pegue um gay. Diz elle: “Ninguem deu tudo o que dei, por isso não sou cego que se cegue!” Tá bem! E quando o gajo não consegue ser nada nesta vida? Que direi? Direi que nenhum cego symboliza a these sartreana, a menos que... A menos que verseje e quem lhe pisa a cara seja quem pisões me dê. Em summa: não bastou ser, na pesquisa IBOPE, mais um cego que você na rua vê. Tornei-me vate e fiz a cegueira ser submissa ante quem vê.

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GLAUCO MATTOSO

MEME DA INSOMNIA [5917]

{Não paro de pensar, Glauco, durante a noite, nesse rock! Estou tambem soffrendo disso. O somno nunca vem e tento fazer coisa semelhante. Reviro o travesseiro. Quem garante que durmo? O cobertor, que culpa tem? Levanto. Tomo um banho. Vou alem e como, na cozinha, algo crocante. Voltando para a cama, não consigo pegar no somno! Um livro leve leio, que está de palavrões, como os seus, cheio. Masturbo-me. Gozei. Somno, não veiu...} -- Sossegue. Isso tambem se dá commigo. Ahi, resolvo logo: sapateio ao som dum rock experto. Só receio que, embaixo, diga alguem mais nome feio.


SUMMARIO VICIO DE OFFICIO [5640]...............................9 VICIO DE HOSPICIO [5641].............................10 INFINDO SONHO [5667].................................11 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [5668].........................12 FELLA, DÁ, PUTA! [5669]..............................13 NOME FEIO [5670].....................................14 PARANOIA DA BOIA [5671]..............................15 EGUALITARIA DESEGUALDADE [5672]......................16 NATAL EM FAMILIA [5673]..............................17 LIVERPOOL DESDE PEQUENO [5674].......................18 PARA JUBILO DE JUPPITER [5675].......................19 FLAGRANTE AGGRAVANTE [5676]..........................20 IMAGEM NEGATIVA [5677]...............................21 CAFÉ DA MANHAN [5678]................................22 BEMDICTOS MYTHOS MALDICTOS [5679]....................23 BOB FIRMINO [5680]...................................24 RETRACTOS DOS MAUS TRACTOS [5681]....................25 NATAL MENTAL [5682]..................................26 ENTREGA DE TROPHÉU [5683]............................27 END OF THE WORLD [5684]..............................28 INDULTO NATALINO [5685]..............................29 PIG DATA [5686]......................................30 NATALINOS LADINOS [5687].............................31 MILICIA DA IMMALICIA [5688]..........................32 MILICIA DA MALICIA [5689]............................33 AGGRACIADO SENTENCIADO [5690]........................34 ROCKEIRO NOSTALGICO [5691]...........................35 CEGADO E EMMUDESCIDO [5692]..........................36


DIRECTO AO PONCTO [5693].............................37 TARADAS ENCALHADAS [5694]............................38 FECHADOS CORPOS ABERTOS [5695].......................39 IMPACIENTE IMPACIFISMO [5696]........................40 MEASURE YOUR FEET [5697].............................41 CANONYMO [5698]......................................42 HORRENDAS LENDAS [5699]..............................43 CHORO HUMORISTICO [5700].............................44 GUSTATIVA FRUSTRAÇÃO [5701]..........................45 SELF INJURY [5702]...................................46 WHEN A BLIND MAN CRIES [5703]........................47 SAVE A SPIDER [5713].................................48 PEOR CEGO [5714].....................................49 TERRA DE CEGO [5715].................................50 NARCISICA PHTHISICA [5722]...........................51 SEGUE O REGGAE [5740]................................52 COLHER DE PAU, NEM A PAU! [5758].....................53 MOTOBOY QUE SE REMOE [5770]..........................54 FORA DE MODA [5774]..................................55 BUQUÊ DE BUKKAKE [5776]..............................56 CHEIRO MANEIRO [5778]................................57 EXTRACONJUGAES FUNCÇÕES ORAES [5786].................58 MELHORIA EM IGUARIA [5814]...........................59 INTERPRETANDO A CANÇÃO [5820]........................60 HILARIO OBITUARIO [5838].............................61 LEITURAS INACCESSIVEIS [5841]........................62 LEUCOPROPHILOS THEOLOGOS [5845]......................63 MOLEQUES SALAMALEQUES [5851].........................64 CRIVO PERMISSIVO [5854]..............................65 ORATORIO OROTURBATORIO [5863]........................66 OBSCURO PEDICURO [5864]..............................67


AROMA NO MOMA [5867].................................68 GALLERA DA CHIMERA [5873]............................69 ROCKEIRO PICCADEIRO [5878]...........................70 MEME DO JANEIRO BRANCO [5879]........................71 MEME DA CAFETEIRA [5880].............................72 MEME DO FEVEREIRO ROXO [5881]........................73 ABBAIXO A POLARIZAÇÃO! [5882]........................74 MEME DA CUECA SUJA [5884]............................75 MEME DA BUNDUDA [5885]...............................76 COLIGLAMA [5886].....................................77 MEME DO BORDÃO [5887]................................78 MEME DO DESODORANTE [5888]...........................79 IMPOTENTE PREPOTENTE [5889]..........................80 MEME DO MIMIMI [5890]................................81 MEME DO MOMO [5891]..................................82 GLAUCUS ATLANTICUS [5892]............................83 HYPERBOLICA PARABOLA [5893]..........................84 RHAPSODIA DYLANIANA [5894]...........................85 RHAPSODIA EMILIANA [5895]............................86 MEME DA UNCÇÃO [5896]................................87 MEME DA DEDURADA [5897]..............................88 MEME DO SACCO [5898].................................89 VIVA VOVÓ [5899].....................................90 BLUES DOS MEUS BREUS [5900]..........................91 MEME DA MORDIDA [5901]...............................92 RHAPSODIA MACHADIANA [5902]..........................93 MEME DA GRIPPE [5903]................................94 MEME DO FANFARRÃO [5904].............................95 MEME DO GRAMPO [5905]................................96 RHAPSODIA JORGEANA DO LIMA [5906]....................97 MEME DA BANANA [5907]................................98


RHAPSODIA LIMEIRIANA [5908]..........................99 MEME DO CRAPULA [5909]..............................100 RHAPSODIA VICENTEANA [5910].........................101 MEME DA SABONETEIRA [5911]..........................102 RHAPSODIA FONTESIANA DO MARTINS [5912]..............103 MEME DO CRUZEIRO [5913].............................104 RHAPSODIA MADRAGOANA [5914].........................105 MEME DO CAMBIO [5915]...............................106 RHAPSODIA SARTREANA [5916]..........................107 MEME DA INSOMNIA [5917].............................108



SĂŁo Paulo Casa de Ferreiro 2020




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