VIDA MACTADA

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VIDA MACTADA

E OUTROS POEMAS

VIDA MACTADA

São Paulo Casa de Ferreiro

GLAUCO MATTOSO

POEMAS/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022 114p., 21 x 21cm ISBN: 1.Poesia978-85-98271-28-4BrasileiraI.Autor. II. Título.

B869.1

Concepção:CapaLucioProjetoLucioRevisãoMedeirosgráficoMedeirosGlauco Mattoso Execução: Lucio Medeiros FICHA

VIDAMattoso,CATALOGRÁFICAGlaucoMACTADAEOUTROS

Vida mactada e outros poemas © Glauco Mattoso, 2022

A partir de 2021, ja encerrada a phase sonnettistica e publicados varios volumes de odes, rhapsodias, balladas, infinitilhos e outros moldes experimentaes, porem rhymados, passei a compor em formato monostrophico, no verso branco, mantendo o metro decasyllabo. O processo creativo tornouse mais pausado e, um anno depois, sahiu o primeiro volume de poemas nesse novo padrão, PRANTO EM PRETO E BRANCO, seguido de VENENOSAS FOFOCAS, BAMBOS DITHYRAMBOS e VIDA QUE CEGUE. A presente proposta esthetica, embora apparentemente livre de admarras estrophicas e rhymaticas, implica um regramento não menos rigoroso na comparação com o sonnetto, pois, alem do rhythmo heroico, ou seja, jambico-dipeonico, prioriza a synalepha em detrimento da synerese intervocabular, ou, por outras palavras, a crase em detrimento do diphthongo. Ao leitor a impressão será de versilibrismo cadenciado, mas estichologicamente se mantem o criterio technico uniforme. Outra characteristica desta actual phase é o ineditismo de cada volume, ou seja, nenhum destes poemas será reapproveitado em collectaneas thematicas, ao contrario do que occorria com os milhares de sonnettos, mottes glosados, madrigaes e demais generos que anteriormente practiquei. A veia satyrica, fescennina e tragicomica, entretanto, segue pulsante em minha lyrica, como de resto no conjuncto da obra.

NOTA INTRODUCTORIA

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VOLTE SEMPRE [9002]

Serviu-nos de licção e não de exemplo o nosso modernismo, disse Mario. Disseram que elle disse. Não me importa si disse. Importa que isso serve para vanguardas em geral, antes que estejam servindo de modello para tudo nas artes, na ficção, na poesia. Vanguardas abrem portas. Mas a porta aberta não precisa dar entrada appenas a quem sua tranca abriu. Entrar tambem que possam os que não se digam seguidores de quem abra. A porta, affinal, deve ser da casa de todos quantos tenham mente bem aberta para abrir futuras portas, ainda que dos fundos ellas sejam.

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MEHUDEZAS (I) [9003]

Escuta só, Glaucão, o que escutei nas redes sociaes, entre politicos: {Ahi, rolla mehuda! Me processa! Chamou-me deshonesto, maconheiro? Expalha que sou biltre e mentiroso? Publica de mim coisas como bicha, veado, chupador de pau e fresco?

Pois fique, então, sabendo que essa rolla mehuda, anan, eu nunca chuparei!

E então? Quer processar-me, seu banana? Nas redes qualquer ratto machão é! Tesão só tem no rabo! Vagabundo! Não vou corresponder ao seu tesão! Seu merda! Não sou desses que bajulam alguem como você, mimado, frouxo, vaidoso, prepotente, ingrato, rolla pequena, desleal, ratto, covarde! Porem, si qualquer coisa accontescer commigo, não ha duvida, ja sabem vocês como um covarde desses age!}

Que tal, Glaucão, o nivel do Congresso? Te juro que isso ouvi nas redes, Glauco, palavra por palavra! Dá poema?

Usei, durante muito tempo, um magico bordão para saudar os meus confrades nas nossas chartas: "Abracadabraço!" Millor tanto gostou que em uso poz a amavel saudação. Depois de cego, parei de empregar esse trocadilho, mas noto que tal cyclo não se fecha e muitos meus amigos 'inda agora animam-se com magicas palavras. Terei que pensar noutras, num momento tão grave. Talvez "olhoculto" seja a senha de quem tenha algum bom senso.

ABRACADABRAÇO [9004]

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Até ja accontesceu caso de tiro mortal entre educados congressistas!

Ja basta de "Eu te macto!" Um "Mactei, prompto!", emfim, queremos todos ver, Glaucão!

Por que não poderia accontescer de novo, para a nossa diversão? Estou entediado, Glauco! Muito, mas muito, realmente, entediado!

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MEHUDEZAS (II) [9005]

Mas, Glauco, quer saber? Estou frustrado com essa recorrente e gentil troca de insultos innocentes, typo "rolla mehuda", "maconheiro" ou "bananão"!

Eu quero ver é briga de verdade, neguinho se pegando na porrada, em plena sessão, dessas no plenario! Sim, gente dando chute, excoiceando, perdendo, na maior, a compostura!

INSTINCTO DE SOBREVIVENCIA [9006]

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Glaucão, estou fodido! Fodidaço! Emprego ja perdi! Meu carro usei ja como motorista, trabalhei por um applicativo, mas não deu, por causa desses caros combustiveis! Troquei por uma moto, ja virei aquelle entregador de pizza, até! Tambem não deu, Glaucão! Fiquei a pé! Agora batto perna, gasto tennis e tenho que comprar um novo, Glauco! Será que esse meu tennis lhe interessa? Está muito fedido, bem podrão, do jeito que você mais curte, Glauco! Lhe faço um preço honesto, si você depois for me indicando outros podolatras! Assim conseguirei sobreviver!

DUCHAMP THE SHAM [9007]

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Glaucão, lhe juro! Um optimo rapaz eu era! As namoradas adoravam meu jeito de romantico galan! Ahi, por uma dellas, finalmente, fiquei perdidamente enamorado! Trocavamos bilhetes carinhosos e, com dedicatoria, bellas photos! Mas, quando terminou nosso namoro, fiquei com uma photo só. Guardei-a, saudoso dos momentos mais felizes, e nunca consegui me conformar. Olhava-a todo dia, a lamentar-me! Agora me cansei! Sabe por que? Depois que me lembrei do Sam the Sham, eu simplesmente estou pinctando nella um grosso bigodão, dizendo: "Foda-se!"

É grave esse negocio, Glauco, o TOC! Transtornos obsessivos compulsivos, os tive muitos, Glauco! Me livrei, mas delles me envergonho! Vou fallar daquelle mais difficil de enfrentar... Sentado na privada, alli ficava até que forte extouro ouvisse, vindo de fora, typo um tiro ou um rojão! Podia ser relampago, tambem! Ouvisse, eu defecava! Não ouvisse, ficava la sentado, Glaucão, horas! Depois, em potes varios eu guardava a merda que cagava, até ficar a casa toda cheia desses potes! Um dia, me cansei daquillo! Sabe você como fazemos, nós, os taes "psychoticos"? Tomamos uns remedios que causam dependencia até maior que nosso transtorninho original! Mas elles tambem causam a prisão de ventre! Então, laxantes precisei tomar! O resultado? Hoje ja cago sem ter preoccupação com estampidos e extouros, Glauco! Porra, fiquei livre do TOC e dos remedios controlados! Os potes? Eu joguei-os fora, claro! Ah! Tudo se resolve, bem cagando!

COLICAS COLLATERAES [9008]

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TOXICO PARADOXO [9010]

Vocês ja repararam nesse enorme e extremo contrasenso? O caminhão de lixo que collecta recyclaveis devia ser vehiculo chamado por todos de "ecologico", não acham? Mas não! O caminhão é barulhento demais, tem suffocante excappamento e deixa no passeio uma sujeira daquellas! Mais pollue do que limpa! Será que esse detrito tem destino melhor do que tão toxica sucata?

POLYAMOR [9012]

"Ménage à trois", Glaucão, eu ja conhesço. "Suruba" acho tambem que ja conhesço. "Swing" eu tambem acho que conhesço. "Trisal" tambem paresce que conhesço. Porem "polyamor" ja é demais! Naquella putaria toda, haver "amor"? Elles estão de brincadeira! Querer que eu accredite nisso, Glauco, é muita pretensão da parte delles! Amor é coisa seria! Nunca amei ninguem, por isso sempre trepei paca! Não passa a coisa toda, aqui, de cama, trepada, sexo, coito, fodelança! Não posso concordar que exsista "amor" num caso polygamico! Nem mesmo amigos me paresce que serão, pois nunca algum amante duma minha mulher bem me tractou, somente como escravo masochista! Ah, Glauco! Bem que gosto disso, porra! Mas... "amor"?

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PLANO DE CARREIRA [9014]

-- Você está folgadão demais! Precisa de estudo, dum diploma! {Ah, para que?}

-- Porem não ficou rico! Quem está servindo-lhe de escravo ou subalterno? {Você não percebeu? Exploro um cego, que esmollas me repassa, alem de ser eximio fellador! Isso não basta?}

-- Ué, para vencer na vida! Para, depois de estar formado, trabalhar, ter uma profissão! {Mas para que?}

-- Junctar dinheiro, porra, até poder, um dia, apposentar-se! {E para que?}

-- Caralho, para a vida approveitar! Poder se expreguiçar, sem fazer nada, emquanto for servido por alguem! {Mas disso ja desfructo, pois folgado você mesmo percebe que ja sou!}

DESCONFIANDO DO DESCONFINAMENTO [9016]

Magina! A pandemia ja accabou! Ja posso sahir, Glauco! Ocê tambem! Nem mascara mais uso! Ja nem lavo com alcohol gel as minhas mãos! Magina! Me sinto tão seguro, Glauco, que eu podia até lamber um corrimão! Ocê tambem, Glaucão, lamber ja pode alguma sola suja de botina, dum tennis que pisou em muito pó! É mesmo? Ocê jamais tinha parado, durante essa arrastada quarentena, de solas lamber? Porra! Agora, então, é que essa tara sua se sacia! Caralho! Mas que pena! As superficies ocê não teme, emquanto os ares acha ainda perigosos? Entendi! Saber onde é que nosso callo soffre apperto, ora, só mesmo cada qual!

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ADVESSO DO ADVESSO [9018]

Hem, Glauco? Me responda, si puder! Contrario do contrario, o que seria? Seria algo bacchana, affirmativo? Seria alguma coisa muito feia? Palpite eu tenho, Glauco! Que tal isto? Deus cria aquelle eterno Paraiso, perfeito, uma belleza de logar! Mas cria seu opposto, um infernal planeta, ao qual chamamos Terra! Ahi, Satan, como resposta, nos accena com este seu opposto desse Inferno, um reino de prazeres e de gozo, melhor que entediantes paraisos! Não acha que entendi, Glaucão, aquillo que estava por traz dessa allegoria? Você, Glaucão, tem outra theoria? O Rio de Janeiro, comparado à Terra Sancta, à faixa, alli, de Gaza? Um dia, alli foi Terra Promettida, lembrou bem, Glauco! Poncto p'ra você!

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FRESCURAS CULTURAES [9020]

Eu nunca consegui gyrar o garfo na hora de comer o maccarrão! Por isso, Glauco, odeio os italianos, que gostam de exhibir-se quando comem! Com outras comidinhas eu implico! Tambem jamais usei a faca com a mão esquerda, Glauco! Ora, não sou canhoto, porra! Glauco, me desculpe, não quero offender sua familiar origem, mas eu mando os italianos à merda com aquelle spaghettinho! Você só come, Glauco, com colher? Então não o offendi! Retiro o meu pedido de desculpas! Que se fodam aquelles exhibidos! Que esse garfo espetem no seu proprio trazeirão!

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MICROPHALLOPHOBIA [9022]

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Não acho justo, Glauco, um homem ser, por causa do seu penis pequenino, motivo de desprezo ou preconceito! Assim como dos gordos não devemos zombar nem desdenhar, tambem naquelles que sejam mal dotados incorrecto será chamar aquillo de "mindinho", "bituca de cigarro" ou "bananinha"! Até sei de mulheres que preferem um cara assim, mehudo nos seus dotes, por causa da boceta appertadinha! Na hora de chupar, como você prefere, Glauco? Tronco ou palitinho? Deseja combinar um pé grandão com uma binba facil de engolir? Supponho que seria mais commum achar do que se pensa, pois cothurnos costumam ser de numero maior...

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Não, Glauco! Deus me livre! Sim, sou larga bastante de vagina, mas ainda assim morro de medo dum pau grande! Um dia, vi na photo um que paresce terceira coxa, alli no meio, Glauco! Fiquei appavorada! Até me deu coceira aqui por dentro, um friozinho de estomago, uns tremores de terror! Você foi penetrado, ja, por um daquelles pés de mesa, Glauco? Não? Appenas ja chupou paus desse porte? E então? Que impressão teve? Entendo... Foi o mesmo que tentar abboccanhar o bicco dum cothurno? Ora, concordo que sejam bem melhores, num regime chamado "democratico", uns pezões descalços, cujos dedos teem tamanho diverso, para aggrado de mais gente!

MACROPHALLOPHOBIA [9024]

Eu trampo, Glauco! Nunca achei dinheiro em arvore! Mas, quando joven, quiz comprar aquelle tennis que fazia successo! Todo mundo quiz ter um! Junctei a grana até poder pagar! Sahi pouco com elle, pois um dia ouvi "Perdeu, playboy!" e perdi tudo, dinheiro, cellular... até meu tennis! Senti mais foi a perda do calçado, embora aquelle mano me tivesse deixado o seu em troca! Agora ainda eu guardo o tennis velho do malandro, que, mesmo sem ter hoje nenhum cheiro, ao menos consolou-me na punheta! Ficou, Glaucão, com agua ahi na bocca?

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MEMORIA DA PERDA [9026]

AMIGA QUE INSTIGA [9028]

Glaucão, fui estuprada! Ja passou o trauma, até por isso te consigo contar como rollou! Escuta só! Sahi com as amigas e voltei sozinha... Ahi, peguei um taxi... Quando o carro bem fechado ficou, esse malandro, o motorista, que de tennis estava, mas sem meia, me dopou, alli se descalçando! Tu bem sabes que eu fico maluquinha si chulé respiro! O que me intriga fica sendo o modo como o cara adivinhou... Resumo da corrida: levei rolla na bocca, mas tambem chupei artelhos sujissimos, Glaucão! Tu não me invejas? Mentira achas que estou a te contar? Então não convenci? Mas eu queria appenas te fazer um aggradinho na mente, meu querido! Me perdoas?

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Votei naquelle estupido, Glaucão! Agora arrependido demais eu estou! A ti, somente, me disponho a tudo revelar! Pensei que, mesmo que fosse elle idiota por completo, de gente intelligente poderia, ao menos, se cercar! Pelo contrario, pasmei ao ver que estava se junctando, dum lado, com fanaticos bem mais estupidos ainda! Do outro lado, com gente expertalhona, a fim de delle tirar vantagem, para dar appoio! Mas disso tu ja sabes! Só faltou contar que me levou a dar o voto um cabo do quartel aqui do lado, que tinha chulé forte para burro! Até tu te deixavas convencer por esse irresistivel argumento!

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CABO ELEITORAL [9030]

FRESCURAS INCULTURAES [9032]

"Você come spaghetti com colher?", alguem me perguntou, appós ler um poema no qual fallo de ethiquetas inuteis para gente do meu typo. Resposta dei: {Eu como com colher aquillo que não como com a mão, ou seja, garfo ou faca, à merda mando!} Paresce que entender alguem não quiz, pois 'inda me disseram: "Mas o garfo a gente manejar deve com jeito, gyrar no maccarrão até enrollar aquella porção certa a pôr na bocca!" Mandei no cu tomar, juncto com quem a faca recommenda que se empregue somente com esquerda mão, emquanto o garfo fique sempre na direita. Tomar no cu tambem eu mando quem fallou que todo cego deve ler em braille, e por ahi besteira affora. Mas nunca vou dizer como devia foder-se cada chato que me encheu o sacco. Que se foda cada qual do jeito que quizer, sempre direi.

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REDUFLAÇÃO [9034]

Com menos comprimento o mesmo rollo do pessimo papel que limpa a bunda; com menos peso o mesmo chocolate que estava no formato duma barra; a duzia de dez ovos; as torradas a menos no pacote... Estellionato? Offerta? Promoção? Embromação? Tambem na poesia fica attento aquelle leitor probo, o cidadão padrão, consumidor mais consciente. Cuidado! Não se deixe engannar por quem faça de seis versos a septilha, com cinco uma sextilha, com só treze um falso sonnettilho, ou sem estrophes comptadas um poema assim, do typo daquillo que está lendo você neste momento! Não me venha, appós ter lido, querer devolução do tempo gasto!

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GOLPE DO SEQUESTRO [9036]

Um golpe bem manjado. Liga alguem e imita a voz dum filho ou duma filha que tenha de sequestro sido victima. Quem seja pae ou mãe às vezes cae e, em panico, obedesce sem pensar. Ja varias ligações attendi. Sempre desligo, divertindo-me com essa versatil aptidão da bandidagem, que muda a voz conforme quem attende. Akira attendeu, certa vez. A voz chorou: "Mamãe! Mamãe! Fui sequestrada!" Cahimos, sim, porem na gargalhada, pois riu, com voz mais fina, Akira disso.

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IMAGEM DUBIA [9038]

Emoji de cocô! Sabe que exsiste tambem esse recurso pelas redes, Glaucão? Você podia abusar disso, ainda si enxergasse! Hem? Não precisa? Poemas tambem servem de emotiva figura para certos recadinhos? Até concordo, Glauco! Mas é muito mais breve e mais synthetico um cocô appenas desenhado, um redondinho tolete retorcido, que se pode usar como um insulto ou como simples convite para almosso, caso o seu escravo obediente, mesmo, seja! Pensou nisso, Glaucão? Certo, um poema consegue dizer isso, com a mesma noção da ambiguidade, reconhesço! Você compoz algum, ja, desse typo?

Si nossa lei ninguem obedescer, prendemos todo mundo! Uns nós mactamos, alguns só torturamos e exsilamos!

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Si, nisso, nós ficarmos isolados das outras nações, "Fodam-se!", diremos!

Si nada addeantar e perceberem vocês que estamos, sempre, só blefando, então governaremos normalmente, ou seja, restará desgovernar! Porem, si não vencermos essa porra de livres eleições, ahi faremos as mesmas coisas, Glauco! Não teremos nenhuma alternativa mais, caralho!

Gostoso vae ser quando, Glauco, nós vencermos as vindouras eleições! Assim que nos pilharmos no poder, fechamos o Congresso, os tribunaes, e impomos a censura à toda a midia!

PROGRAMMA DE GOVERNO [9040]

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Um mez no kalendario colorido estão propondo para appoio dar ao nosso viralatta caramello, depois que elle ficou fora da scedula novinha de duzentos, pelo lobo guará, affinal, trocado. Que, pois, symbolo nos seja aquelle typico cachorro sem raça definida, neste mixto paiz! Sim, considero um orgulhoso motivo! Ora, não fosse elle excolhido, ao menos que estivesse na folhinha! Quem sabe mais carinho com os cães de rua alguem, com isso, um dia tenha... Talvez o labrador mais attrahisse do povo uma paixão, eu reconhesço. Não, para algum Terceiro Mundo Cão, o pobre viralatta não será, jamais, piada prompta, mas bandeira.

DEZEMBRO CARAMELLO [9042]

Depois de, emfim, abertos, os famosos archivos do Pentagono confirmam que exsiste, sim, alguma vida fora da Terra, a saber, como os marcianos. Assim que Biden ordem de exhibir imagens archivadas deu, a midia do mundo olhou aquillo horrorizada. Porem os quadrinhistas, cineastas, auctores da ficção mais scientifica (alem de nós, poetas, claro) olharam aquelles seres verdes, de feição não muito differente dos humanos, com certo tedio. Um bardo me indagou: {Frustrado não ficou você? Pensei que etês teriam cara appavorante, feroz, impiedosa! Ahi, notei que pena até demonstram ter da gente, assim como quem pensa: "Ah, coitadinhos! Ah, pobres coitadinhos! Tão burrinhos, tão trouxas, tão otarios, tão cuzões! Nos levam aos seus lideres, mas não depõem nenhum que seja até mais burro..."} Fiquei sem responder. Não precisou.

LEITURA FACIAL [9044]

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Gostei muito do frio, Glauco, mas eu hoje ja não gosto! Quem é rico até tem na privada acquescimento, não fica com a bunda congelada na hora de cagar ou de mijar! Porem eu não sou rica! Meu chuveiro jamais exquenta como deveria e banho nem consigo tomar, Glauco! Tambem, para que banho? Ninguem vae cheirar meu corpo, nesse tempo horrivel! Eu nunca tiraria a minha roupa, siquer para trepar! Não dá saudade daquelle calor torrido de março? Do frio, que chegou tão de repente, você tambem não gosta? Até pensei que, como lambe botas, lhe seria o clima, frio ou quente, indifferente! Mas é que me exquesci dos pés descalços daquelles que de lingua querem banho!

CYCLONE METATROPICAL [9046]

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A bordo com reporter e voando mais baixo, um helicoptero passava por cyma da favella, quando ouviram-se os tiros que partiam la de baixo. Glaucão, ouvi "Iuhu!" quando um bandido gritava aos seus comparsas: "Vae, derruba! Derruba!" Na TV passava aquillo! A balla attravessou, mactando o tal reporter! Outra balla accertou bem na cara do piloto! Só restou com vida, ainda tonto, o operador de video, que filmava a scena toda! Mas esse foi, depois da queda, logo levado na ambulancia, até que, com um ultimo gemido, fallesceu... Salvaram-se, porem, suas imagens. Ao menos isso, porra! Né, Glaucão?

MENOR DOS MALES [9048]

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Materia que, na FOLHA, abborda aquelle tabu falla dos casos masculinos de estupro ou "violencia sexual". Mas tenho uma receita para quem soffreu abusos, traumas e sevicias do typo, sem recursos para a analyse dum psychotherapeuta: a poesia. Sim, façam como faço. Desembuchem, sem pappas, as porradas, os pisões na cara, a chupetinha coagida, na sola as lambidellas ennojadas, emfim, tudo que rolla nessas scenas de bullying escholar ou de domestico incesto, mui commum nessas familias christans. Si não tiverem o talento que tenho, não importa, pois a nossa chamada "marginal litteratura" comporta, como um toque de espontaneo estylo, o verso livre postmoderno.

INTIMAS VICTIMAS [9050]

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TACCO QUE SE TOCA [9052]

Sahiu, de collectiva creação, no titulo dum livro organizado por Fabio Aristimunho Vargas, um palindromo perfeito para aquillo que estamos aguentando no paiz e ja não aguentamos mais. A phrase synthetica diz: "Roda, genocida, sadico negador!" Um livro com mais phrases desse typo certamente seria anthologia antifascista que encontra no palindromo um vehiculo tambem de engajamento, não appenas de ludico ou de eximio passatempo, ainda que elogios sempre caibam àquelle que no tacco um giz bem passa.

INFORMAÇÃO CONFIRMADA [9054]

Algumas prefeituras estão ja dizendo que será facultativo o banho para todo cidadão daquelles municipios! Juro, Glauco, sahiu ja num Diario Official daqui e dalli! Magina! Agora a gente nem pode decidir si toma banho! Precisa que isso saia, por decreto, por ordem dalgum publico poder! Então, si for assim, quando sahir que passa a ser o banho obrigatorio, eu fico, nesse exacto horario ou dia, jogado num estado de illegal e suja condição, meu caro Glauco! Magina si me lavo nesse frio! Nem mesmo no calor tenho por habito entrar para debaixo dum chuveiro! Você, que de chulé sempre foi fan, na certa appoiará minha conducta!

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FORA DA AGENDA [9056]

Glaucão, ouvi fallar dum trillionario que veiu se encontrar com o governo daqui, tendo na compra da Amazonia ja dicto que é bastante interessado! Ouvi tambem fallar que esse magnata daria appoio para aquelle golpe, nas redes sociaes das quaes é dono, em troca da cessão territorial! Será que faz sentido tal noticia? Commenta-se que, dado o golpe, tem poderes plenos, para alienar os nossos bens, aquelle que estiver sentado no poder! Resta saber si, nessa compra, tudo ficaria com elle... Mais provavel é que fiquem minerios e madeiras! As aranhas, comtudo, só comnosco ficariam, aquellas gigantescas e pelludas!

Depois de ter tomado, Glaucão, minha vaccina anticovidica, ja posso sahir a visitar amigos, para, quem sabe, descollar alguma grana! Você não disse que era taradão por cheiros fedorentos, o do pé, mormente? Então! Eu tenho um chulé forte da porra! Appenas uso um tennis bem surrado, que mais fede do que queijo mofado! Si quizer ficar com elle, você me paga, alem do programminha, um novo! Quer marcar, Glaucão? Garanto, fallando de queijinhos, que tambem irá curtir meu sebo! Porem desse eu deixo que desfructe sem cobrar nadinha a mais! É brinde! É cortezia!

RETOMADA POSTPANDEMICA [9058]

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Si nada da floresta mais sobrar, a culpa não é nossa, porra, mas daquelle que desmatte illegal fez! Paresce-lhe difficil de entender? Mais este pormenor vou lhe explicar: Não vale confundir, hem? "Desflorar" o mesmo não será que "deflorar"! Com sua bocca suja, ah, vae você trocar essas palavras facilmente!

DESFLORAMENTO [9060]

Você não me entendeu! Eu ja fallei que exsiste na Amazonia aquelle tal desmatte illegal, claro, mas tambem exsistem os desmattes legaes, porra! Entenda, Glauco: vamos "desflorar", não vamos "desmattar"! A differença está precisamente no que chamo legitima licença para abrir clareiras na floresta, à bessa, sem com isso violar alguma lei!

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DISSE ME DISSE [9062]

Si fallo como um mago da direita, não notam que eu ironico me fiz. Rockeiro, me interpretam como brega. Sambista, mais me escutam como punk. Sanctista si não fui, sou palmeirense. Espirita, me imputam peccadilhos. Ser exsistencialista não me deixam. Emfim, só quando um outro me dirige palavras, me chamando de Glaucão ou Glauco, vez por outra me expressei.

Si digo que de esquerda sou, me tomam por falso, mesmo que eu sincero seja.

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Si fallo na primeira das pessoas, nem sempre por mim fallo. Desde quando poemas comecei a fazer, meu eu lyrico (si fosse masculino) ou minha voz poetica (si eu fosse mulher), quando opinava de politica, de musica, de esportes ou de crenças, passava por mim mesmo. Ora, vocês bem sabem que poetas são personas. Mocinhos ou villões, são personagens.

PESO DOS ANNOS [9064]

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Disseram que quem colhe e planta queima bastante caloria, não teria nem como um trampo desses engordar! Disseram que trabalho braçal tem que sempre emmagrescer qualquer peão! Magina, Glauco! Um monte de empregado na terra, num commercio ou numa fabrica, daquelles que conhesço, sempre foram ballofos, barrigudos e pesados! Appenas os politicos gorduchos são mesmo vagabundos, como os magros da mesma actividade, por signal! Estou inconformado, Glauco! Ouviu você fallar alguem dum caso desses? Maior gordophobia nunca vi!

Hem, Glauco? Mano, veja que injustiça! Estou ja prompto para apposentar-me, mas negam-me esse liquido direito! Disseram que estou gordo demais para alguem que só na roça trabalhou!

DESCURTIÇÃO [9066]

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Não, Glauco! Descurti! Não curto mais! Curtido ja bastante eu tinha, quando das ultimas campanhas, mas, depois daquillo que estivemos desvivendo, nem mesmo mais vivendo no paiz, ou seja, aquillo tudo que engolimos de mandos e desmandos, de desgastes, de gastos, de excessivos casos desse descaso com a coisa, até direi que seja de descoisa, aquella publica, alem de tanta gente que desdisse aquillo que se disse de inverdade... Glaucão, eu descurti! Curtida mais nenhuma alli darei, siquer um "joia"! Meu voto? Muito menos! Desvotei!

Eu, Glauco? Bafejar naquelle treco chamado de bafometro? Magina! Ouvi meu advogado, que fallou ser contra que eu assopre todo o meu estado de ethylismo nesse trem, que pode produzir prova accusando de bebada a pessoa que lhe falla, Glaucão! Em portuguez claro, não vou, depois de encher a cara, me entregar! Que é que isto significa? Que nenhuma lei pode me exigir a baforada, caralho! Uma lei dessas basta a gente fingir que nem exsiste! Eu, quando sento no carro, fecho o vidro para, assim, sentir da cachacinha ainda aquelle aroma a reflectir-se nas narinas!

LEI SECCA [9068]

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Racista não sou, Glauco, você sabe! Agora, só por causa do que eu disse naquella gravação ao vivo, vão querer me incriminar? Magina, Glauco! Não, porra! Não fallei nada de mais! Appenas commentei que meus macacos sujaram a calçada à bessa, quando picharam tudo usando uma lattinha de tincta que exquesci de esconder delles! Não, Glauco! Não fallei de funccionario nenhum, nem de empregado, nem de escravo! Eu tenho uns chimpanzés muito sapecas, aquelles trez patetas pelludinhos! Que culpa tenho si elles approveitam qualquer occasião para appromptar? Você tocou no poncto! Ora, quem manda a gente ter macacos? Tem razão!

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INJURIA RACIAL [9070]

VIDA MACTADA 47

Com esse frio, Glauco, ouvi fallar de gente que exquentou a casa com bujão, com churrasqueira, até fogueira! Morreram muitos disso: ou num incendio, ou 'inda suffocados pelo tal monoxydo, ou carbono, ou coisa assim! Hem, Glauco? Ja pensou? Morrer dormindo, sem mesmo perceber do que morreu! Não fallo dos incendios, mas dum gaz que faça a gente entrar naquelle estado de semiconsciencia, de desmaio, até perder a vida, assim, sem dor! Soubesse eu, com certeza, que entraria sem susto nesse estagio, ja teria partido desta merda de exsistencia! Mas tenho medo, Glauco, de ligar, sem chamma no fogão, o gaz e, mesmo assim, não conseguir morrer de vez, de morte bem morrida! Que me diz você? Se imaginou morrer dum jeito egual? Não quer? Prefere ir só dormindo, siquer sem a menor das asphyxias? Mas essa morte é pura lotteria! Melhor sentirmos pena de quem quiz appenas acquescer um pouco o quarto!

IMPROVISO SEM SISO [9072]

Fiquei ja totalmente cego, como você, Glaucão! Na rua, a gente passa por coisas engraçadas! Eu estava, com oculos, bengala, paradão na beira da calçada, mas ninguem commigo se importava! Attravessar não ia conseguir, sem uma adjuda! Ahi, pensei: "Ah, nisso um jeito dou! Aggarro no primeiro que exbarrar em mim e vamos ver si essa não cruzo!" Assim fiz! Segurei no braço dum subjeito que exbarrou em mim e fomos, no meio das buzinas! Ao chegarmos no lado opposto, disse eu ao subjeito: "Brigado pela adjuda! Attravessar aqui não é brinquedo! Um cego soffre!" Mas elle respondeu: {Tambem sou cego! Achei que cê não fosse! Só cruzei porque você pegou-me pelo braço!} Calcule, Glauco, o susto que levamos!

48 GLAUCO MATTOSO

DE CEGO PARA CEGO [9074]

Eu jogo dominó commigo mesmo. Os cegos são bons nisso quando jogam em gruppo. Ja, sozinho, vou appenas mexendo, sem as regras, com as pedras. Estão os pares contra mim: o dois, o quattro, o seis. Estão a meu favor um, trez e cinco. O zero não decide. As pedras, ao acaso, vou tirando até que se combinem, par ou impar. Às vezes, duas pedras bastam: perco mais vezes do que ganho, ou seja, como na vida. Mas, emquanto não tacteio a pedra que tirei, todinha, por inteiro, uma ponctinha sempre exsiste de chance, de esperança. Quando o dedo passar por toda a pedra, aquelles ponctos formando vão o numero que minha fé mostra ser inutil. Porem, quando um impar se desenha, a compta fecha tal como num poema cujo thema se exgotta ao terminar alguma linha.

VIDA MACTADA 49

DOMINÓ QUE NÃO DOMINO [9076]

CHAOS NA FAUNA [9078]

50 GLAUCO MATTOSO

Os bichos mais selvagens estão vindo morar juncto comnosco, Glauco! Os homens só querem destruir a selva delles! Assim elles accabam transmittindo mais virus de pandemicas doenças! Mas isso não é tudo! Não são só oncinhas, jacarés ou macaquinhos que estão urbanas areas invadindo! Tambem aranhas, Glauco, das maiores, as taes caranguejeiras ou tarantulas! Ficou arrepiado? Ora, pudera! Noticias ja circulam de invasão em massa desses bichos peçonhentos! Accabo de trazer uma commigo: "Enorme escorpião foi encontrado debaixo de innocente travesseiro da filha dum politico grahudo..." Ah, Glauco! Quer que eu pare de ler? Mas nem sendo dum politico o problema? Está bem! Ja percebo que você ficou preoccupadissimo com sua caminha, alli na hora de dormir...

VIDA MACTADA 51

FESCENNINO FIDEDIGNO [9080]

As redes sociaes viralizando estão aquillo tudo que este cego ha tempos thematiza pela lyra. na crise, em desespero, muita gente que fica sem recursos qualquer coisa acceita por um pratto de comida. Uns ficam de joelhos, chupam rolla, trabalham na sujeira, se subjeitam às ordens mais absurdas e bizarras. Fiquei sabemdo deste caso, mas si em verso o divulgasse, me diriam: "Você está delirando! Não viaje!" Treinados uns peões, desempregados, toparam ser para algo um tanto obsceno. Practicam pedicure com a lingua. Sim, isso mesmo. Sempre que eu toquei no thema, de tarado me chamaram. Agora me darão razão. Espero que fique por ahi. Não quero ouvir fallarem de exterminios ou chacinas.

Aquelles tennis velhos que você comprou de mim, Glaucão, ja tão surrados, manchados, encardidos e podrões, fedendo um chulé forte do caralho, que para mil punhetas lhe serviram, lambidos e chupados que bem foram, aquelles tennis, Glauco, valem mais, mas muito, muito, muito mais dinheiro do que esse preço micho que lhe faço! Sim, Glauco! Hoje na FOLHA li que está na moda comprar tennis que simulam estarem nesse estado, mas que custam milhares e milhares de reaes! Os meus são sujos mesmo, de verdade! Daqui por deante, sua punhetinha mais cara ficará, meu caro Glauco!

52 GLAUCO MATTOSO

FODA NA MODA [9082]

Ahi, mano! Você está precisando de grana, dum emprestimo com juro baixinho, menor que esse do chartão de credito? Não, Glauco? Caso um dia precise, empresto quanto precisar! Detalhe: não consulto si você está negativado ou não na praça, si deve, si deveu, si caloteia... Não, mano! Nem exijo garantia do typo! Nada! Sabe por que? Caso alguem me caloteie, eu logo macto e prompto! Mas você, que sempre paga em dia, até boquette, nem precisa temer!Sou seu irmão, Glaucão! Nenhum ceguinho massageia a minha sola assim como você! Fique tranquillo!

SERVIÇO PROTECTOR [9084]

VIDA MACTADA 53

Os ricos são é trouxas, Glauco, otarios! Agora, só por moda, andam comprando uns tennis detonados, com adspecto de sujos, chulepentos e indigentes, pagando por aquillo um preço obsceno! Você, que pede tennis velhos para seus jovens seguidores, sabe bem que servem de fetiche, simplesmente, mas nunca de elegantes accessorios! Taes ricos exhibidos não me causam surpresa, Glauco, pelo simples facto de serem justamente eguaes àquelles que pagam, nos famosos restaurantes, carissimo por prattos que porções seriam pequeninas até para comida do menor dos passarinhos!

54 GLAUCO MATTOSO

PASSAGEIRA PASSARADA [9086]

O pobre do cachorro, coitadinho, roubava só salame na padoca, delicto tido como perdoavel!

VIDA MACTADA 55

PHEIJÃO PARA MAIS UM [9088]

Aquillo que impressiona neste caso, Glaucão, é que envenenam na maior certeza de que nada accontescer irá! Minha vizinha, aqui do lado, prenderam, accusada de chumbinho no pratto de pheijão dos filhos pôr! Mactou os trez, primeiro o mais novinho, depois foi o do meio. O primogenito, por ultimo, comeu desse pheijão mortal, Glauco! Ninguem desconfiou! Só foram perceber quando o cachorro, tambem envenenado, fallesceu, coitado! Foi ahi que se tocaram! E sabe por que, Glauco? Os filhos della no bairro tinham fama de infractores!

56 GLAUCO MATTOSO

ACTUAL CONJUNCTURA [9090]

Si sobe tão depressa assim o preço do gaz, da gazolina, ah, ninguem mais irá sobreviver neste paiz, Glaucão! Fogão a lenha até voltou a ser alternativa! A bicycleta tambem! E, mais um pouco, voltaremos ao bonde que por burros é puxado, à machina a vapor nos trens urbanos, tal como foi, em Londres, noutros tempos! Mas sabe que com isso nem me importo? Seria até legal aos oitocentos voltarmos, si tambem a poesia voltasse, em suas regras, ao Parnaso! Não acha, Glauco? Ué, pensei que fosse você commemorar! Então prefere fazer poema antigo na actual bagunça? Ah, ja saquei! Cê quer causar!

VIDA MACTADA 57

De status mudarei, Glaucão! Agora um emprehendedor vou me tornar, um individual trabalhador, porem um empresario! Me entendeu? Em vez de vender tennis velhos para podolatras que irão trocar por novos aquelles meus pisantes ja podrões, prefiro os alugar por dois, trez dias, a preço de mercado, Glauco! Sim! Depois que meu chulé valorizado ficou nas plataformas digitaes, até palmilha alugo, si estiver ja preta pela marca do meu pé! Ahi, Glaucão! Ficou interessado? Mas como não? Agora descurtiu? Achou que está bastante inflacionado o preço desses tennis alugados? Prefere 'inda comprar, bem baratinho, o tennis mais podrão ainda dum mendigo, um morador de rua? Porra, Glaucão! É covardia! Assim não posso com esses concorrer! Por mais chulé que eu tenha, longe estou desse ideal estagio de incensada perfeição!

CONCORRENCIA DESLEAL [9092]

INTERESSE SOCIAL [9094]

Agora a Crackolandia dispersou, Glaucão! Ja não está nos quarteirões aonde eu ia sempre procurar por tennis bem podrões, que esses "lagartos" vendiam aos podolatras, em troca, alem dalguma grana, dum par novo! Battidas a policia alli tem feito, que expantam usuarios, trafficantes e todos os demais interessados naquella molecada hallucinada, capaz de se deixar chupar por umas pedrinhas, ninharias, emfim, Glauco! Estou desapponctado com a nova politica nas ruas da cidade, Glaucão! São de interesse social as coisas nos limites em que estavam!

58 GLAUCO MATTOSO

TURMA DO FUNDÃO [9096]

Eu era assim, Glaucão, como você, alumno primeirão na minha classe. Sentava na primeira fila. As notas mais altas eu tirava, até que fui por certo professor chantageado. Ou eu lhe permittia que chupasse meu pau, ou perderia a boa nota. Depois que recusei, se confirmou aquella desleal perseguição. Ahi fui para a turma do fundão, famosa pelo mau comportamento. Com ella me enturmei e descobri que notas boas sempre elles podiam ter, caso o professor chupar pudesse. Então eu me toquei. O professor curtia mesmo os caras mais marrentos, que exigem e commandam as chupetas! Montei no professor, então, Glaucão! Você perguntará: "Sahir não era preciso da primeira fila, né?" Mas era, sim. Ahi me entrosei mais com esses meus collegas "maus alumnos". Sem isso, não iria nunca achar gostinho de vingança tão gostoso na bocca dum submisso professor.

VIDA MACTADA 59

ATTITUDE PHILOSOPHICA [9098]

Eu, como prostituta que se preza, jamais acceitaria alguem que exija aquelle elementar banho de lingua que davam as polacas nos clientes mais sujos e fedidos, Glauco! Não! Sou, como disse Sartre, prostituta ciosa, respeitavel, consciente! Não, Glauco! Nem siquer acceitaria chupar alguem que esteja sem asseio na pelle do prepucio! Um queijo desses nenhuma puta acceita, si for limpa! Mas, como nessa crise excolha alguma não temos, si eu encaro um penis sujo, engulo o meu orgulho, juncto com a porra, alem do sebo, pois requer a nossa profissão uma attitude bastante philosophica, querido!

60 GLAUCO MATTOSO

VIDA MACTADA 61

DUVIDA CRUEL [9100]

Você me entenderá, Glaucão! Me explico, pois consta que Jesus teria dicto: "Eu amo o peccador, não o peccado." Occorre que, em meus contos, idolatro bandidos perigosos e malvados, do mesmo jeito como você faz naquelles seus sonnettos, menestrel! Sim, fallo do chulé do bandidão, dos tennis encardidos, tal e qual! Alguns não entenderam! Me censuram, achando que enaltesço os crimes delle! Appenas comprehendo o seu papel de victima da nossa sociedade, mas isso não implica acceitar como normaes os mesmos crimes, caso sejam por ricos commettidos, ou politicos! Me entende você, Glauco? Ora, accontesce que está me censurando o proprio cara que tanto, como heroe, enaltesci, o mesmo bandidão! O que elle disse foi isto: {Porra, sancto nunca fui, nem quero ser! Gostoso sempre eu acho mactar, barbarizar e causar medo! Não curto que me incensem!} Que farei agora, Glauco? Um crime entender como virtude? Vicios como predicados?

62 GLAUCO MATTOSO

ALHEIOS ARTELHOS [9101]

Glaucão, como sou medico, não posso com isso concordar! Tenho um collega que scenas grava, até no consultorio, chupando os pacientes, enfermeiros, velhotes, molecotes, com mais dotes ou menos dotes, semen engolindo, esmegma, alem de -- Credo! -- urina, Glauco! Si mascaras usamos, camisinhas, sabão, alcohol, si somos tão asepticos, não dá para aguentar que isso se faça em pleno local onde examinamos pessoas que se queixam de doenças! Não acha que elle está attingindo nossa geral reputação, Glaucão? Não acha? Si fossem com um cego pervertido, taes scenas normalissimas seriam! Mas elle nem siquer lavou as mãos e chega a chupitar os proprios dedos! Nem fallo dos artelhos, dos alheios!

VIDA MACTADA 63

DIA DA TOALHA [9103]

Um nerd, um geek, um gore, está coberto de toda a razão quando tem orgulho da data da toalha. Não daquella que tenho usado para apparar porra a fim de não sujar o meu lençol, mas dessa dos valentes mochileiros oniricos, de estradas não terrenas. Eu, quando reconhesço que sou nerd, não é porque fan era de PERDIDOS NO ESPAÇO ou de JORNADA NAS ESTRELLAS, appenas, mas tambem porque fan sou do "grand guignol" ao "snuff", fan sou do horror ao sexo "pig", ao sexo pervertido, perverso. Lembrarei Zé do Caixão. Nem todo nerd é fan do que versejo, mas isso não importa. Aqui, pois, deixo abbraços aos andantes toalheiros!

MALFAZEJA CERVEJA [9105]

Cerveja artezanal? Eu estou fora! Ouvi fallar, Glaucão, duma mineira que estava por demais contaminada! Quem della bebeu, quando não morreu, ficou cego, Glaucão, como você! Não sei si intoxicado ja ficou você por ter tomado uma cerveja, mas risco desse typo, ora, não corro! Só bebo vinho tincto, por signal daquelle bem barato, que ja faz effeito um tanto toxico por si! Portanto, mais veneno não preciso provar para affirmar que estou no lucro!

64 GLAUCO MATTOSO

Fiquei revoltadissima, Glauquinho!

RISCO ASSUMIDO [9107]

Eu fico revoltada porque nunca dá tempo de lynchar ninguem que tenha mactado umas creanças dirigindo!

Tentou fugir, pegaram-no uns rapazes, mas, antes que lynchassem o maldicto, chegou, bem rapidinha, a policinha! Sim, nessas horas ella chega logo!

O cara attropelou cinco creanças, mactou, na hora, duas! As demais, que foram internadas em estado gravissimo, talvez não sobrevivam!

Ao menos si mactasse, hem, um ceguinho, talvez fosse essa falha desculpavel! Não leve minha falla a mal, Glauquinho, pois sabe você como os cegos são incautos e imprudentes pela rua!

O cara nem charteira tinha, Glauco, e, como não bastasse, estava bebado!

VIDA MACTADA 65

66 GLAUCO MATTOSO

DESCOMPTO NO CONFRONTO [9109]

Aquillo operação policial nem era, Glaucão! Era só chacina, si formos revelar toda a verdade! Mactaram, dizem, vinte trafficantes! Somente foi perdida aquella balla que duma senhorinha a testa accerta em varias occorrencias desse typo! Mas, mesmo os bandidões, que nem chegaram a tiros dar, tombaram mortos numa impune execução, tenho certeza! Uns manos tão bonitos, Glaucão! Mesmo que fossem criminosos, achei um enorme desperdicio fuzilal-os! Talvez, regenerados, elles dessem bellissimos michês, muito bem pagos, bastando que tivessem clientela formada por politicos grahudos!

-- É cego o velho, mano! Cê sabia?

-- Tá louco! Meu chulé ninguem aguenta!

VIDA MACTADA 67

-- Nem thio maluco tenho que nem elle!

-- Será que curte mesmo um chulezão?

-- Verdade? Esse é da porra, mano! Um doido!

-- Cê tem contacto delle? Então eu topo!

VERSÃO RETRANSMITTIDA [9111]

-- Eu acho que elle encara numa boa!

-- Depois você me conta si rollou de tudo! Si rollar grana, tou dentro!

-- Queria que elle fosse meu avô!

-- Você deixava aquelle cego dar lambidas no seu pé, mano? Deixava?

-- Até mais coisa, mano! Tá ligado?

Da roda de estudantes, me passou alguem o que commentam sobre mim.

-- Até que eu curtiria alguem assim, si fosse meu parente! Tá ligado?

-- Ei, vamos provocar o cara, mano?

-- Caralho! Mas que velho louco, né?

QUESTIONAVEL ESTIMATIVA [9112]

Hem? Sempre se fallou que dez por cento é gay! Sim, em qualquer população, Glaucão! Mas appuraram (nem sei como) que só se declarou gay um por cento! Será porque ficaram com mais medo agora do que em tempos mais difficeis? Será porque nem foram perguntados? Será porque somente responderam os crentes e catholicos, Glaucão? Você tem um palpite? Que pesquisa fajuta! Qual o methodo que empregam aquelles institutos? Você sabe? Agora comprehendo! Foi de minions o publico observado! Nesse caso, do jeito como os dados elles gostam de sempre inverter, acho que noventa e nove desses minions será gay!

68 GLAUCO MATTOSO

VIDA MACTADA 69

CASO DE TORTURA [9113]

Elle era 'schizophrenico, mas nem por isso precisava assassinado ser pelos militares desse jeito, Glaucão! Foi admarrado, foi jogado num minimo cubiculo, onde estavam os ares ja tomados pelo gaz! Morreu asphyxiado rapidinho, mas isso não retira as evidencias de intenso soffrimento nessa morte! Em summa, mais um caso de tortura! Si, em vez dum louco, fosse com um cego, ahi talvez até se desculpasse tal facto, 'ocê não acha, menestrel? Comtudo, nesse caso, os militares poriam sobre sua cara a bota! Depois, então, fariam todo o resto!

BIGGER AND BLUER [9114]

70 GLAUCO MATTOSO

Um olho azul, egual ao da mamãe, eu nunca poderia ter, castanho que sempre fui. Porem, depois de cego, embora não translucido, o meu olho ficou bem mais azul. Alem de tudo, inchado pelo tonus do glaucoma, maior tambem ficou, muito maior que todos os demais olhos que vi. Nem sempre, como vemos, ter um olho maior, nem mais azul, nos dá motivo de inutil gabolice, eis que é melhor ser vesgo, ser estrabico ou ser myope que estar, ja com inveja dos zarolhos, cegueta por completo, ou seja, aquelle perfeito babacão, azul no olhar.

VIDA MACTADA 71

CANINO PEREGRINO [9115]

Soubeste disto, Glauco? O padre Estevam estava a viajar pelas estradas do mundo, no seu fusca amarellinho e sempre em companhia do seu cão, um beagle muito fofo, o Ringo Starr... Ahi, batteu de frente com um omnibus e bottas ja, tambem! O Ringo, para a nossa animação, sobreviveu, devendo ser, em breve, devolvido à patria! Aquelle padre, sabes tu, esteve ja por todos os paizes da America, dos Andes ao Caribe, voando num ballão, de paraquedas saltando, ou pilotando um tecoteco! Agora se fodeu, e ja foi tarde! Appenas sinto pena do cachorro, forçado que se via a tambem ir! Ficaste tu tambem com dó do cão? Mas temo que, na mão do padre Eustachio, o Ringo novamente va sahir de carro por inhospitas estradas...

72 GLAUCO MATTOSO

SACERDOTE DE HOLOPHOTE [9116]

Que immenso desaffio o padre Egydio topou: sahir voando na asa delta, da Gavea até dar volta ao Pão de Assucar, Glaucão! Calcule só como me irrito! Passando pela praia de Ipanema, percorre elle tambem Copacabana, sem roupa, pelladão, nuzão da Sylva, Glaucão! Calcule só como me irrito! Mas, antes de chegar ao Pão de Assucar, o padre se extatella pela areia e morre sob applausos da gallera, Glaucão! Calcule como me divirto! Você não se diverte? Imaginemos agora tudo quanto o padre Evandro, o padre Ezechiel, o padre Erasmo e tantos outros logo quererão fazer, Glaucão! Irrita, mas diverte!

OBSTENTAÇÃO DE FOFURA [9117]

O cocker da madame era tão fofo, tão fofo, mas tão fofo, Glauco, que eu pensei commigo mesmo: "Dá vontade até de sequestrar esse cachorro! Na hora de pedir resgate, então, accabo desistindo! Um cocker tão fofucho... Ora, adoptal-o ja prefiro!" Duvido que ella desse nesse fofo mais beijos do que eu, soffrego, daria, Glaucão! Mas nem deu tempo! O cocker teve mal subito, morreu tão de repente... Que seja mau olhado não duvido, pois todos cobiçavam a fofura que pelas redes ella annunciava!

VIDA MACTADA 73

CONJUNCTO DA OBRA [9118]

Um bebado me tinha dicto, Glauco: você ja deveria ter ganhado um premio litterario, mas que fosse geral, pelo conjuncto dos seus livros, não só dado por isto ou por aquillo! Passou da hora, Glauco, mas passou faz tempo! Logo, logo, será tarde! Você terá morrido! Um premio posthumo não tem graça nenhuma, achei eu sempre! É mesmo? Você pensa que é melhor nenhum trophéu ganhar, si for signal da morte que, bem rapida, ja chega? Tahi, nem pensei nisso! Certos premios são como os necrologios que, na midia, estão ja preparados para quando alguem batter as botas! Mau agouro, concordo com você, sim, menestrel!

74 GLAUCO MATTOSO

METAVERSÃO [9119]

Emquanto Guimarães Rosa viveu, palavras differentes circulavam. Pensou-se que innovassem o vernaculo. "Estoria", por exemplo, para "conto". Nas aulas, affirmava a professora que "estoria" com "historia" não podemos, de facto, confundir, pois só ficção "estoria" ser podia, mas verdade é tudo que pensamos com "historia". Depois da postverdade, dos factoides, das fake news, virou negacionismo qualquer versão historica. Nas artes paresce estar agora a maior dose de todo o realismo ora possivel. Sim, arte imita a vida, mas jamais a vida foi tão falsa, armada, absurda, fingida, alem de inutil, como neste momento, que, si historico nem é, ficticio mais podia ser. Portanto, palavras novas nunca addeantaram.

VIDA MACTADA 75

CARA DE CAPACHO [9120]

Glaucão, na faculdade eu tive como collega alguem que posso, sim, chamar de sadico mais "puro", ou "espontaneo". Me explico. O camarada, quando não topava com alguem, chamava logo de "cara de capacho". Um dia, achou um outro, tambem franco na abbordagem. Sahiram, pois, no braço. Todos viram um delles, ja no chão, levar na cara o pé de quem estava, alli, por cyma. Às vezes, se invertia a posição, mas ambos, no final, foram pisados no rosto. Conversando com um delles, depois de longo tempo, descobri que, quando foi na bocca, pela sola do tennis do collega, pressionado, bem proximo do orgasmo se encontrou. Não acha aquillo um optimo contexto real para que "cara de capacho" algum sentido faça, affinal, Glauco?

76 GLAUCO MATTOSO

VIDA MACTADA 77

Ou seja, de vingança alguma chance exsiste, sim, senhor, na propria lei! Quem é que não queria, no Brazil, poder presenciar sentença assim soffrida por quem tenha commettido um crime mortal contra alguem da sua familia? Bem, não temos essa pena, mas temos a macumba, como chamam os ritos africanos! Eu defendo que todo familiar dalguma victima fé tenha na vingança de encommenda, que pode, por signal, tambem valer no campo da politica, Glaucão!

Na America, Glaucão, alem da pena de morte, se executa na presença dos paes ou dos parentes duma victima aquelle que, por ter mactado, foi à pena capital sentenciado!

DIREITO DE VINGANÇA [9121]

Vós mesmos, phariseus, si denegristes alguem, vossos tabus vos denegriram. Mas nunca, ao versejar, denegrirei alguem que tu, talvez, denegrirás por algo que ninguem denegrirá.

Eu, quando disso fallo, não denigro pessoas que, em teus textos, tu denigres. Meu verso, na politica, denigre appenas o que todos denegrimos. Jesus diria assim: "Vós denegris conductas que, porem, não vos denigrem." Aquillo que, em meu verso, denegri às vezes tu, commigo, denegriste. Comtudo, o que jamais se denegriu às vezes nós, poetas, denegrimos.

Poetas, nós tambem denegriremos racistas que, entre vós, denegrireis si fordes dos que não denegrirão quem tenha, pela raça, a pelle negra.

78 GLAUCO MATTOSO

DENEGRIR [9122]

O verbo "judiar" tem um sentido bastante deshumano, pois implica sadismo, ou seja, abusos practicar, moral, physicamente. Em summa, agir tal como com judeus outrem agiu. Mas, como substantivo, "judiação" implica advaliarmos algo como acção que inspire pena, compaixão, portanto reacção humana, deante daquillo que soffreu alguem, por força divina, não appenas a dos homens. Usarmos "judiar", pois, quer dizer que estamos indignados por alguem ter sido maltractado como foram, ao longo das edades, os judeus.

VIDA MACTADA 79

JUDIAR [9123]

A menos que se queira attribuir a mesma crueldade dos racistas àquelles que, na terra palestina, castigam como foram castigados.

ROMANTICAS MOCINHAS [9124]

Achei, andando pelo parque, em meio às arvores, um typico caderno de moça, que serviu como diario. Em vez de devolver ao endereço constante delle, lendo fiquei tudo que escreve quem tem bellos namorados. E, em vez de ser romantica naquelles paragraphos, a moça, pornographica, seu sadico character revelou. Fiquei extarrescido, Glauco! O que ella narrava alli demonstra como certas mocinhas mandar querem nos seus machos, fazendo com que lambam suas chotas fedidas, suas solas suarentas! Batti muita punheta, Glauco! Minha mandona namorada tambem tem diario, mas não deixa ninguem ler...

80 GLAUCO MATTOSO

VIDA MACTADA 81

DESQUALIDADE DE VIDA [9125]

Agora, quando morre de mal subito alguem, dizem os medicos: "Seria possivel evitar aquella morte, si exames se fizessem, si remedios tomasse essa pessoa, si exercicios constantes practicasse, si comesse appenas alimentos mais saudaveis..." E coisas mais do typo. Todavia, si mesmo tal regime ella seguindo à risca, fosse victima de subito collapso, um hospital a manteria soffrendo numa cama, toda cheia de tubos pelas ventas, na agonia. Pergunto: Mas não era preferivel morrer de morte subita, depois de ter approveitado bem a vida, comendo o que é gostoso, não aquillo que sempre foi ruim para cachorro? Então! Antigamente se morria assim, sem tantos pharmacos e medicos.

FIEL LEITOR [9126]

82 GLAUCO MATTOSO

Na Biblia, menestrel, ja li que escravos teem sempre seu dever, eis que precisam, portanto, obedescer aos seus senhores! Jesus chega a fallar de chibatadas no lombo de quem ordens taes descumpre! Então, por que tamanho fallatorio accerca dos escravos, hoje em dia? Por que não restaurarmos toda aquella vigente escravatura doutros tempos? Quem disse que teriam que ser negros os servos, quando brancos os senhores? Podia ser, agora, justamente o opposto, Glauco! Porra, razoavel a coisa não paresce, menestrel? Você, por ser cegueta, alem de branco, teria até funcção de fellador, de eximio massagista de pés, Glauco! Honroso lhe seria servir, como seu dono, um negro! Para mim, seria!

Não, Glauco! Não acceito! Uma mulher que macta seu marido, o decapita, alem de exquartejar o corpo, sae pimpona da prisão, appós appenas alguns poucos anninhos de sentença cumprida! Agora pode, em liberdade, sorrir abertamente de nós todos! Ainda si soltassem quem mactou um cego com requinctes mais crueis, forçando que comesse fezes antes de ser queimado vivo, ora, até posso, sem dor na consciencia, acceitar, Glauco! Você me entenderá, tenho certeza! Mas essa mulher, nunca acceitarei que seja libertada! Ah, jamais, Glauco!

VIDA MACTADA 83

LIBERDADE CONDICIONADA [9127]

84 GLAUCO MATTOSO

QUEDAS E QUEDAS [9128]

De novo, Glauco! Um forte temporal provoca allagamentos que resultam na queda de barreiras, as quaes sempre soterram varias casas, mactam gente em grande quantidade, egual formiga! Que prompta providencia toma aquelle que, em toda parte, esteja governando? Appenas sobrevoa a grande enchente! Devia, sim, cahir esse helicoptero, mactando os occupantes, affogados, entre elles, claro, o cynico politico que esteja, bem sequinho, rindo muito a bordo quando occorra a linda queda!

Aquelle presidente, Glauco, quer appenas holophotes! Elle pensa que pode ser um Charles Chaplin! Deixa seu povo com os russos luctar sem ter armas, feito bucha de canhão! Só fica a discursar, nos parlamentos do mundo, sob applausos, como si na Broadway estivesse,o babacão! Tambem é responsavel pelas mortes, sim, Glauco! Quem diz isso tem razão! Somente si ceguinhos entre tantos feridos e entre mortos estiverem, ahi não terei pena, Glauco! Mas você me comprehende, eu sei, poeta!

VIDA MACTADA 85

SINGING IN THE RAIN [9129]

Em Roma, se cagava, Glauco, nas latrinas collectivas, onde não havia papel para se limpar, appenas uma bucha que, embebida num typo de vinagre, se passava no rego! Ora, por isso Jesus teve, na cruz, a sua bocca com tal bucha molhada de vinagre: para, ainda mais, verem humilhado um homem tido por Filho de Deus! Fica, assim, bem claro aquillo que, na Biblia, não se cita, si escandalo não querem os christãos mais puros e pudicos! Mas você com isso não está nem se importando! Não é, poeta? Ah, Glauco, orra, não minta!

MYSTERIOS THEOLOGICOS (I) [9130]

86 GLAUCO MATTOSO

CURSINHO DE TORTURA [9131]

Mas, Glauco, o pessoal está pegando demais, mas demais mesmo, no meu pé! Tá certo que empreguei nesse subjeito aquillo tudo que elles me ensignaram no curso: choque electrico, cigarro, agulha, palmatoria, abuso oral, rectal, nasal, dental e genital! Si quasi que mactei o desgraçado, a culpa não foi minha! Quem mandou o cara ser tão fragil? Supportasse melhor, ora! Affinal, aquelle curso que todos frequentamos no quartel foi feito para macho, pois tambem a gente é torturada, a fim de estar sciente do que rolla com a pelle dos outros, Glauco! O cara que encarasse a barra que elle iria aguentar, porra! Mas deixe estar! Problemas eu com isso não tenho! No governo, muita gente me entende, me protege e me dá appoio! Quem sabe eu seja até recompensado!

VIDA MACTADA 87

MYSTERIOS THEOLOGICOS (II) [9132]

88 GLAUCO MATTOSO

Si Christo teve irmãos, por que, Glaucão, só elle foi chamado de Deus Filho? É muito privilegio, menestrel! Si formos ver direito, com Abel talvez a mesma coisa tenha havido! Abel deve ter sido o mais mimado, o fofo, o queridinho! Ja Caim, cansado de ver tanta protecção, perdeu a paciencia! Até commigo seria assim, Glaucão! Eu accabava mactando o meu irmão si mamãe fosse com elle 'inda mais dada que commigo! Hem, Glauco? Convenhamos! Sempre tive paixão pela mamãe! Si meu irmão com ella me trahisse, eu me enfezava! Você me entendeu bem, Glaucão! Por elle tambem perdidamente enamorado fiquei, desde menino! Meus ciumes não posso controlar! Nada de extranho, portanto, nesses biblicos casinhos...

VIDA MACTADA 89

BALLADA ACCOMPANHADA [9133]

Si está você por perto, tudo bem está. Meu pesadello, posso delle, sem medo, despertar. Mas si você por perto não está, meu pesadello ter fim nunca paresce e tenho medo de delle despertar para algo mais medonho, mais real e mais eterno, em termos de completa solidão. Você, si está por perto, não me deixa pensar que meu amor ja me deixou. Alguem por perto pode nem estar visivel, mas me soa bem, qual uma ballada accompanhada de guitarra.

Glaucão, minha mulher está querendo divorcio! O que é que eu faço, menestrel? Eu amo, sim, demais essa mulher, mas ella quer ficar com outro, um typo que espera della appenas o prazer e todas tracta à base de porrada! Não posso, menestrel, não sou capaz de numa mulher tanta surra dar! Por isso quer a vacca me deixar: porque não batto nella como os outros! Que faço, menestrel? Ah, tem certeza? Serei capaz de escravo me tornar dos dois, servil-os ambos a contento? Talvez, Glaucão, você tenha razão!

HARMONIA CONJUGAL [9134]

90 GLAUCO MATTOSO

LERO DE BOLERO [9135]

VIDA MACTADA 91

"Mulher, tu me juraste que estariamos unidos para a vida toda! Quando casamos, bem ouviste essa sentença do padre: estarmos junctos, na alegria, bem como na tristeza, até morrermos! Ouviste bem, mulher, ou não ouviste? Como ousas me pedir separação? Tu podes ir aonde tu quizeres! Irás com quem quizeres ir, até com esse vagabundo, o Ricardão! Divorcio não te posso dar, por ser peccado! Me entendeste, vagabunda? Então, por que não paras de insistir? Prometto que serei obediente às ordens que me deres, inclusive às delle, si quizer me escravizar!"

LERO DE SAMBA CANÇÃO [9136]

"Não devo confiar demais na vida, ainda menos quando o caso tem contornos passionaes! Minha mulher adora fazer coisa prohibida! Insiste em cornear-me, por exemplo, com esse vagabundo, o Ricardão! Por isso soffredores ha no mundo: peccando muita gente sempre está! Mas, desta vez, eu brigo, sim, com ella! Sim, toda a paciencia ja perdi! Farei um ultimato, ora si faço! Si insiste ella, na sua teimosia, si me desobedesce, sempre e sempre, terei de, então, eu mesmo obedescel-a, talvez até servir, aos dois, de escravo!"

92 GLAUCO MATTOSO

Filmado bem de perto, o padre espuma de raiva quando prega contra a carne em epochas momescas de verão.

Irado, o pastor prega contra a carne, tambem rangendo os dentes e espumando.

A scena corta para a bunda abrindo seu humido vão, quando o cocô desce, sem que ella, a mulher lubrica, siquer simule que parou de rebollar.

Emfim, o presidente vocifera, num pulpito, fallando mal da carne que, cada vez mais, fica liberada no meio do povão carnavalesco.

VIDA MACTADA 93

A scena corta para a mulher ja sem nada, a rebollar as gordas nadegas em close mais fechado, desta vez.

CORTES SEM CORTES [9137]

A scena corta para as gordas nadegas da bella mulatona, rebollando.

MALVERSAR [9138]

Um verbo opportunissimo occorreu à minha penna, agora que entra, a gente pensante, em nova decada do seculo. Poetas, hoje em dia, a nossa lingua mal sabem empregar. Ainda menos as regras para a lyra bem composta. Mas elles perdoaveis são, si mal versejam, comparados aos politicos que tantas verbas, tantos fundos, vão, sem pejo, desviando do orçamento. Poetas se redimem quando contra politicos versejam, em defesa de livres, democraticos valores. Politicos jamais se redimir irão, mesmo que tortas pela cara recebam, de cocô mal versejado.

94 GLAUCO MATTOSO

Mas, Glauco, veja só! Si la de cyma exemplo vem da propria auctoridade, dizendo que enaltesce quem tortura, honrando uma memoria assaz notoria que tinha aquelle infame general, por que não poderei eu, que sou guarda civil, me impor mettendo o pé na cara dum obvio delinquente que, no chão, ficou, por meus collegas, reduzido a mero verme, inerme, inerte e docil?

Você, que ja levou meu pé na cara, bem sabe que não piso com pressão tão forte, que tem sola de borracha, macia, a minha bota! Não se lembra? Então! Estão fazendo disso, Glauco, um cynico cavallo de battalha, appenas tempestade em coppo d'agua!

VIDA MACTADA 95

GOTTA D'AGUA [9139]

Vendi producto organico de monte, Glaucão! Verduras, fructas e legumes myrrhados, tudo cheio de mordida de insecto, meio podres, meio sujos! Reclama a freguezia, claro! Um bando de hipsters enjoados e luxentos, querendo se passar por gente zen, vegana, amante duma natureza idyllica, sem culpas nem venenos! Mas, como sobrevivo do commercio, passei a vender tudo bonitinho, fresquinho, bem limpinho, sem defeito, comprado de qualquer agricultor que emprega defensivos os mais toxicos! E sabe, Glauco, como reagiram aos meus novos "organicos"? Gostaram! Acharam que esses, sim, são naturaes!

96 GLAUCO MATTOSO

PROPAGANDA DA QUITANDA [9140]

VIDA MACTADA 97

Você foi, na Ballada Litteraria, Glaucão, o primeirão das edições! Estive la na Villa, vi você, chamado pelo Marcellino Freyre, de quem ganhou o lindo canecão! Ja pode, então, Glaucão, morrer tranquillo! Levou antes até do Piva, porra! Que foi? Não quer morrer? Mas é maneira, appenas, de dizer! Você não morre tão cedo! Fique calmo, menestrel! Extranho... Um dia desses, você disse que estava a fim de, em breve, morrer, Glauco! Agora resolveu mudar de idéa? Entendo... Cada dia tem a sua vidinha propria, a propria decisão... Mas, 'inda assim, passado mais um vinte e nove deste junho, talvez mude de novo de intenção! Ahi serei, Glaucão, o primeirão, alli na beira da cova, a puxar palmas da gallera!

PRIMEIRO BALLADEIRO [9141]

98 GLAUCO MATTOSO

Com hyperinflações nossos paizes, os sulamericanos, conviveram durante muito tempo. Mas, agora, aquella absurda scedula argentina paresce engraçadissima, pois nunca tivemos um milhão no nosso bolso, assim, para valer, ou "na real"! Ja desvalorizada, aquella nota comprava algum lanchinho, nada mais. Ao menos, o dinheiro brazileiro, em termos de milhão, ainda paga cachês para cantores sertanejos, coitados, que precisam duma adjuda das nossas prefeituras para, nessa tão grave crise, terem seu sustento!

Um dia, cobraremos a factura daquelles governantes, que não valem siquer a menor nota, a de trez dollares.

O PESO DOS MILHÕES [9142]

IMPUNES AGENTES [9143]

No tempo da FEBEM é que era bom! Nós tinhamos um poço no presidio, não muito fundo, para alli mantermos quem, entre esses menores, merescesse castigo! Sem poder sahir por si, passava alli, por vezes, varios dias aquelle que não tinha sido docil, e todo monitor que desejasse mijar, usava a cara delle como um alvo, pois o poço, bem estreito, não dava ao pivetão a menor chance de que se desviasse do chuveiro! Calcule só, Glaucão, que diversão a nossa, ao darmos nelle essa licção! Não, nunca fui punido, nem os meus collegas monitores! Quando ja nem tinha mais FEBEM, fui trabalhar na penitenciaria dos adultos, no mesmo municipio, mas alli não tinhamos o poço dos mijados! Bons tempos, esses annos da FEBEM!

VIDA MACTADA 99

Glaucão, vou lhe contar. Fui um menor daquelles "infractores" e passei um tempo na FEBEM. Quem não fizesse aquillo que mandavam, era posto num poço, onde não dava siquer para sentar, só para a gente estar de pé. Então, os monitores que quizessem mijar, usavam como vaso nossa cabeça, a propria cara, caso nós olhassemos de baixo para cyma. Ficavamos alli por muitas horas, até perdão pedirmos. Ja sei, Glauco, você vae perguntar o que mandavam fazer, que não faziamos direito. Sim, isso mesmo. O que elles nos mandavam fazer era chuparmos no capricho. Tarefa bem difficil para quem ja fosse escholadão na bandidagem...

100 GLAUCO MATTOSO

POÇO DOS MIJADOS [9144]

VIDA MACTADA 101

RECORDATORIO DO REFORMATORIO [9145]

FEBEM e FUNABEM ja foram siglas ironicas, nos tempos de suffoco, que, por definição, o "Bem Estar" visavam "do Menor". Estadual que foi essa primeira, a mais famosa, e sendo federal essa segunda, lembranças más deixaram em milhares de jovens infractores. Hoje ja senhores, tanto os jovens quanto os seus algozes, os chamados "monitores", preferem exquescer o que rollou. Appenas um ou outro se dispõe a dar-me, com detalhes, os relatos mais crus do tractamento que soffreu naquellas "fundações". Mas será mesmo que nunca voltaremos a taes tempos? Si tudo dependesse desses "minions", teriamos daquillo um revival.

MASOCHRISTO [9146]

102 GLAUCO MATTOSO

Glaucão, serei chamado Masochristo, daqui por deante, estou ja decidido! Si todos fundar podem uma nova egreja, ja fundei, tambem, a minha! Sei como taes clichês funccionam, Glauco! Pedir ao seguidor que exbofeteie a minha face esquerda serve como a senha para nova bofetada, agora na direita! Assim que finda o culto, fica a minha cara toda vermelha, ardendo para burro! Mas contentes os fieis ficam e vão pagando um bello dizimo, Glaucão! Ah, dessa parte irá você gostar: Em vez de ser beijado nos pés pelos fieis, sou eu que beijo os pés de todos! É pé que não accaba mais, poeta! Não sei por quanto tempo um troço desses aguento, mas é certo que de tapas e beijos estou sempre bem servido! Você, porem, prefere imaginar a scena para appenas gozar numa punheta? Tudo vale, menestrel, si nossas intenções são as mais puras!

PERIGUETTE [9147]

VIDA MACTADA 103

Me chamem, sim, de puta, si quizerem! Estou é nem ahi! Quer saber, Glauco? Não tenho namorado, nunca tive! Eu acho mais gostoso dar em cyma de todos, dos casados, dos solteiros, dos noivos, dos viuvos... de quem for! Me importa só que tenha alguma grana, que curta alguma louca adventurinha! Até você, Glaucão, si bobear, eu topo um compromisso com você! Não quer? Ah, Glauco! Posso fazer uma sceninha assim: eu caso com você, arranjo um Ricardão, transo com elle na sua frente... Então eu faço que elle abuse de você na minha frente, dum cego tire sarro, humilhe mesmo! Ahi, Glaucão? Não topa? Pô, que pena! Me indique, então, algum amigo seu que eu possa assediar! Indique, indique! Tá certo... Percebi que está gagá, que nada mais arrisca nem petisca!

104 GLAUCO MATTOSO

MODELLO [9148]

Não, Glauco, prostituta não sou, não! Prefiro ser chamada de "modello", palavra mais bonita, que suggere belleza, moda, luxo, charme e classe! A puta não inspira nem impõe respeito! Os meus clientes são pessoas famosas na politica, nas artes, na midia, nos esportes e nas telas! Me entende, menestrel? Eu não sou dessas que encaram um programma com qualquer malandro pé rapado, um proletario, um bebado, um lunatico ou um cego! Você, si me quizesse como sua mais nova accompanhante, com quem possa ser visto nos eventos sociaes, teria que ter fama, ter prestigio, que é coisa que você jamais terá! Mas isso não lhe digo como offensa, querido! Sei que irá me entender, Glauco! Por isso não acceito que me chamem de puta! Acho offensivo! Me expliquei?

VIDA MACTADA 105

Chamaram ja de nomes elegantes a minha mãe, Glaucão! Ja foi chamada de dama, de madame, de condessa, de illustre embaixatriz, de poetiza... Até foi de modello ja chamada, emquanto tinha algum corpinho menos obeso, menos molle e decadente! Só que ella sempre puta foi, Glaucão! Mas eu, que nunca trepo com freguez de zona, de palacio ou de congresso, não gosto que me chamem disso, não! Lidero o narcotraffico daqui, alem do contrabando na fronteira! Eu quero mais respeito, menestrel! Mas esses que me xingam, ah, não sabem com quem estão lidando, meu querido! Sou casca de ferida, sou é carne, Glaucão, mas de pescoço! Tá ligado?

FILHA DA PUTA [9149]

106 GLAUCO MATTOSO

Poemas, hoje em dia, não precisam de rhymas, nem de estrophes, não, Glaucão! Até você percebe isso, ja vejo! A gente tanta coisa faz nas coxas! Por que não incluir a poesia naquillo que fazemos de improviso, sem tempo, sem capricho, sem retoque? Ninguem precisa, Glauco, se estressar com arte, com amor ou com politica! Tambem tem seu valor o que é espontaneo, sem technica, automatico! Não acha? Ou acha que esta vida, ja bem curta, meresce ser vivida assim, na nossa mania de enfeitar o que é tão feio?

VIDA MACTADA [9150]

VOLTESUMMARIOSEMPRE [9002] .................................. 9 MEHUDEZAS (I) [9003] ................................ 10 ABRACADABRAÇO [9004] ................................ 11 MEHUDEZAS (II) [9005] ............................... 12 INSTINCTO DE SOBREVIVENCIA [9006] ................... 13 DUCHAMP THE SHAM [9007] ............................. 14 COLICAS COLLATERAES [9008] .......................... 15 TOXICO PARADOXO [9010] .............................. 16 POLYAMOR [9012] ..................................... 17 PLANO DE CARREIRA [9014] ............................ 18 DESCONFIANDO DO DESCONFINAMENTO [9016] .............. 19 ADVESSO DO ADVESSO [9018] ........................... 20 FRESCURAS CULTURAES [9020] .......................... 21 MICROPHALLOPHOBIA [9022] ............................ 22 MACROPHALLOPHOBIA [9024] ............................ 23 MEMORIA DA PERDA [9026] ............................. 24 AMIGA QUE INSTIGA [9028] ............................ 25 CABO ELEITORAL [9030] ............................... 26 FRESCURAS INCULTURAES [9032] ........................ 27 REDUFLAÇÃO [9034] ................................... 28 GOLPE DO SEQUESTRO [9036] ........................... 29 IMAGEM DUBIA [9038] ................................. 30 PROGRAMMA DE GOVERNO [9040] ......................... 31 DEZEMBRO CARAMELLO [9042] ........................... 32

LEITURA FACIAL [9044] ............................... 33 CYCLONE METATROPICAL [9046] ......................... 34 MENOR DOS MALES [9048] .............................. 35 INTIMAS VICTIMAS [9050] ............................. 36 TACCO QUE SE TOCA [9052] ............................ 37 INFORMAÇÃO CONFIRMADA [9054] ........................ 38 FORA DA AGENDA [9056] ............................... 39 RETOMADA POSTPANDEMICA [9058] ....................... 40 DESFLORAMENTO [9060] ................................ 41 DISSE ME DISSE [9062] ............................... 42 PESO DOS ANNOS [9064] ............................... 43 DESCURTIÇÃO [9066] .................................. 44 LEI SECCA [9068] .................................... 45 INJURIA RACIAL [9070] ............................... 46 IMPROVISO SEM SISO [9072] ........................... 47 DE CEGO PARA CEGO [9074] ............................ 48 DOMINÓ QUE NÃO DOMINO [9076] ........................ 49 CHAOS NA FAUNA [9078] ............................... 50 FESCENNINO FIDEDIGNO [9080] ......................... 51 FODA NA MODA [9082] ................................. 52 SERVIÇO PROTECTOR [9084] ............................ 53 PASSAGEIRA PASSARADA [9086] ......................... 54 PHEIJÃO PARA MAIS UM [9088] ......................... 55 ACTUAL CONJUNCTURA [9090] ........................... 56 CONCORRENCIA DESLEAL [9092] ......................... 57 INTERESSE SOCIAL [9094] ............................. 58 TURMA DO FUNDÃO [9096] .............................. 59

ATTITUDE PHILOSOPHICA [9098] ........................ 60 DUVIDA CRUEL [9100] ................................. 61 ALHEIOS ARTELHOS [9101] ............................. 62 DIA DA TOALHA [9103] ................................ 63 MALFAZEJA CERVEJA [9105] ............................ 64 RISCO ASSUMIDO [9107] ............................... 65 DESCOMPTO NO CONFRONTO [9109] ....................... 66 VERSÃO RETRANSMITTIDA [9111] ........................ 67 QUESTIONAVEL ESTIMATIVA [9112] ...................... 68 CASO DE TORTURA [9113] .............................. 69 BIGGER AND BLUER [9114] ............................. 70 CANINO PEREGRINO [9115] ............................. 71 SACERDOTE DE HOLOPHOTE [9116] ....................... 72 OBSTENTAÇÃO DE FOFURA [9117] ........................ 73 CONJUNCTO DA OBRA [9118] ............................ 74 METAVERSÃO [9119] ................................... 75 CARA DE CAPACHO [9120] .............................. 76 DIREITO DE VINGANÇA [9121] .......................... 77 DENEGRIR [9122] ..................................... 78 JUDIAR [9123] ....................................... 79 ROMANTICAS MOCINHAS [9124] .......................... 80 DESQUALIDADE DE VIDA [9125] ......................... 81 FIEL LEITOR [9126] .................................. 82 LIBERDADE CONDICIONADA [9127] ....................... 83 QUEDAS E QUEDAS [9128] .............................. 84 SINGING IN THE RAIN [9129] .......................... 85 MYSTERIOS THEOLOGICOS (I) [9130] .................... 86

CURSINHO DE TORTURA [9131] .......................... 87 MYSTERIOS THEOLOGICOS (II) [9132] ................... 88 BALLADA ACCOMPANHADA [9133] ......................... 89 HARMONIA CONJUGAL [9134] ............................ 90 LERO DE BOLERO [9135] ............................... 91 LERO DE SAMBA CANÇÃO [9136] ......................... 92 CORTES SEM CORTES [9137] ............................ 93 MALVERSAR [9138] .................................... 94 GOTTA D'AGUA [9139] ................................. 95 PROPAGANDA DA QUITANDA [9140] ....................... 96 PRIMEIRO BALLADEIRO [9141] .......................... 97 O PESO DOS MILHÕES [9142] ........................... 98 IMPUNES AGENTES [9143] .............................. 99 POÇO DOS MIJADOS [9144] ............................ 100 RECORDATORIO DO REFORMATORIO [9145] ................ 101 MASOCHRISTO [9146] ................................. 102 PERIGUETTE [9147] .................................. 103 MODELLO [9148] ..................................... 104 FILHA DA PUTA [9149] ............................... 105 VIDA MACTADA [9150] ................................ 106

Titulos publicados: A PLANTA DA DONZELLA ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS INFINITILHOS MOLYSMOPHOBIA:EXCOLHIDOSPOESIANA PANDEMIA RHAPSODIAS VICIOLIVROINDISSONNETTIZAVEISHUMANASDERECLAMAÇÕESDEOFFICIOEOUTROS DISSONNETTOS MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES GRAPHIA SADOMASOCHISMO:MUSASINSPIRITISMOHISTORIAENGARRAFADADACEGUEIRAABUSADASMODO DE USAR E ABUSAR DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO SEMANTICA NATUREBAS,DISSONNETTOSRHYMASDISSONNETTOSSONNETTARIODISSONNETTOSINCONFESSIONARIOQUANTICADESABRIDOSSANITARIODESBOCCADOSDEHORRORDESCABELLADOSECOCHATOSEOUTROS CAUSÕES A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO MANIFESTOS E PROTESTOS

LYRA AODISSONNETTOSLATRINARIADYSFUNCCIONAESCINEPHILOECLECTICOHISTORIADOROCKREESCRIPTA POR GM SCENA CANCIONEIROPUNK CARIOCA E BRAZILEIRO CANCIONEIRO CIRANDEIRO DESILLUMINISMOTHANATOPHOBIASONNETTRIP EM DISSONNETTO BREVEOPEROLAINGOVERNABILIDADEDESVIADAPOETAPORNOSIANOENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS PRANTO EM PRETO E BRANCO GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS MADRIGAES TRAGICOMICOS PANACÉA: SONNETTOS COLLATERAES TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO VENENOSAS FOFOCAS BAMBOS EVANGELHOVIDAPEDOPHOBIAGERONTOPHOBIADITHYRAMBOSQUECEGUEDEJUDAS IZRAHIAH

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