VIDA MORRIDA

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VIDA MORRIDA

VIDA MORRIDA

E OUTROS POEMAS

São Paulo

Casa de Ferreiro

GLAUCO MATTOSO

Vida morrida e outros poemas

© Glauco Mattoso, 2022

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

VIDA MORRIDA E OUTROS POEMAS/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2022

116p., 21 x 21cm

ISBN: 978-85-98271-28-4

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

B869.1

NOTA INTRODUCTORIA

A partir de 2021, ja encerrada a phase sonnettistica e publicados varios volumes de odes, rhapsodias, balladas, infinitilhos e outros moldes experimentaes, porem rhymados, passei a compor em formato monostrophico, no verso branco, mantendo o metro decasyllabo. O processo creativo tornou-se mais pausado e, um anno depois, sahiu o primeiro volume de poemas nesse novo padrão, PRANTO EM PRETO E BRANCO, seguido de VENENOSAS FOFOCAS, BAMBOS DITHYRAMBOS e outros. A presente proposta esthetica, embora apparentemente livre de admarras estrophicas e rhymaticas, implica um regramento não menos rigoroso na comparação com o sonnetto, pois, alem do rhythmo heroico, ou seja, jambico-dipeonico, prioriza a synalepha em detrimento da synerese intervocabular, ou, por outras palavras, a crase em detrimento do diphthongo. Ao leitor a impressão será de versilibrismo cadenciado, mas estichologicamente se mantem um criterio technico uniforme. Outra characteristica desta actual phase é o ineditismo de cada volume, ou seja, nenhum destes poemas será reapproveitado em collectaneas thematicas, ao contrario do que occorria com os milhares de sonnettos, mottes glosados, madrigaes e demais generos que anteriormente practiquei. A veia satyrica, fescennina e tragicomica, entretanto, segue pulsante em minha lyrica, como de resto no conjuncto da obra.

ESCRAVATURAS NAS ESCRIPTURAS (I) [9151]

Que exsistam os escravos Deus deseja! Está no texto biblico, Glaucão! E então? Ja conferiu? Notou que la não fallam só de escravos dos senhores que tenham compaixão, mas inclusive dos amos mais perversos e crueis? Ou seja, não ha merito naquillo que soffre quem meresce ser punido, mas só quando um escravo soffre injusta e dura punição, pelo capricho mais sadico do dono, pois Deus acha louvavel o maior dos sacrificios!

Portanto, Deus approva que quem tenha escravos os obrigue, por prazer, aos actos mais indignos! Quando os faço chupar, beber urina, comer merda, estou louvando o nome do Senhor!

Si forem cegos, ora, nem se falla!

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ESCRAVATURAS NAS ESCRIPTURAS (II) [9152]

Você ja conferiu aquella biblica passagem que confirma a approvação divina de qualquer escravidão? Então, Glaucão! Pastor eu sou! Você alli não leu que escravos devem ser ainda mais humildes e submissos si forem os seus donos evangelicos? Não é por ser um servo meu irmão que irei poupar o gajo de lamber o pó dos meus sapatos, de chupar a porra do meu membro quando quero gozar, ou de comer o meu cocô! Calcule então as coisas que fazer eu posso com quem crente nem se diga, assim como um ceguinho tão prophano e lubrico, no caso, você mesmo!

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ARGUMENTO PREVISIVEL [9153]

Glaucão, farei um filme bem piccante, ao gosto do povão! Vae se chamar (Que nome, hem?) "A mulher que se disputa"! Não diga! Alguem usou antes tal titulo? Que pena! Ah, não importa! Depois penso num titulo melhor ainda que esse!

Você vae adorar o meu enredo, poeta! A puta casa com um cego por causa só da grana do coitado! Depois, corneia aquelle imbecil com um outro, portador tambem de grave defeito, um paralytico! Sim, claro: tambem o cadeirante tem dinheiro!

Prazer, mesmo, somente terá a puta com typos mais saudaveis, porem pobres: ladrões pés de chinello, uns pivetões!

Mas, como os dois primeiros são masocas, a puta na presença delles transa com esses malloqueiros que, folgados, ainda abusam, rindo, dos coitados! Gostou do thema, Glauco? Quer fazer papel daquelle cego? Não me diga que nesse personagem ja actuou!

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COCEIRA CEREBRAL [9154]

Ninguem, na medicina, sabe nada, poeta! Da coceira só se sabe que não é provocada por neuronios do tacto ou por neuronios da dor, Glauco!

Só fallam de confusas coisas, como hormonios, histaminas, opioides, talvez serotonina, alem do cerebro daquelle que, sem nada p'ra fazer, só fica meditando sobre como a pelle se comporta quando nella tocamos de levinho, ou simplesmente pensamos que tocada possa ser!

Por isso se dizia que comer, assim como coçar, é só questão de estarmos sem vontade de parar! Mamãe da comichão disse: "É do sangue!", pois era diabetica, poeta!

Mas eu, que diabetico não sou, pergunto: os meus pruridos não serão symptomas de loucura, menestrel?

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PREMIO DE DESCONSOLO [9155]

Você? Ganhar um premio pela sua obrinha toda, agora que está velho e quasi que battendo suas botas? Ficou maluco? Pode exquescer, Glauco!

Até me surprehende que em segundo ou quarto logar tenha ja ficado! Não! Uma poesia assim nojenta, marrenta, violenta, fedorenta, não vale nem trophéu mambembe, Glauco! Eu fallo, mano, como seu amigo! É claro que tiveram paciencia demais com um ceguinho revoltado, mas isso ja passou do razoavel! Você que se preoccupe em ter um bom final de vida, agora septentão! Está no lucro, caso soffra pouco até desencarnar! Eu, que sou eu, que escrevo livros serios e decentes, ja fico feliz sendo premiado aqui, na associação dos moradores do bairro! Ora, você que se contente com essa sua fama de maldicto!

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SABEDORIA DA TITHIA [9156]

Concordo plenamente com o teu amigo, o que fallou isso de ti! Fiquei muito chocada quando li a tua poesia, Glauco! Não esperes que premiem essa tua immensa producção de porcarias à guisa duma "obra reunida"! Aquelle teu amigo disse tudo: tu deves é tractar de ter algum proveito no que resta, a ti, de vida, agora que passaste dos septenta! Ou pensas que estarás livre dos males terriveis que, em edade tão precaria, não poupam um cegueta abbestalhado? Acceita as suggestões ca da tithia: exquesce essa bobagem de concurso, de premio, de ficção, de poesia, e cuida de passar teus poucos annos que restam, de pyjama, a curtir som!

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ADVERSIDADE NA PERVERSIDADE (I) [9157]

Glaucão, não me conformo! Sim, sou sadico e curto justamente bullyingar um cego, judiar à bessa desse inutil e indefeso otario! Mas, depois de contactar varios ceguetas, percebo que nenhum se encaixa, como seria de esperar, no meu recreio! O cego, quando sabe seu logar de invalido masoca, não é gay e, quando gay, não curte ser humilde! Assim não é possivel ser feliz! Percebo que você paresce ser o caso mais sui generis do mundo em termos de ceguinho masochista, que encara até cu sujo na lambida! É pena que 'inda nessa quarentena esteja, pois, sinão, eu me exbaldava! Mas pode esperar, Glauco! Quando tudo passar, você me paga até com juros!

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ADVERSIDADE NA PERVERSIDADE (II) [9158]

Sou sadico, Glaucão, porem não tenho successo nessa busca dum parceiro que seja cadeirante, pois tesão só sinto quando humilho um paralytico! Nenhum dos cadeirantes que encontrei se enxerga como um traste que só sirva de sacco de exporrada para alguem que tenha as duas pernas saltitantes! Aquelles que consigo contactar são timidos, covardes, ou então mimados demais, cheios de mellindres! Ah, como os quero um dia ver no chão, inermes, rastejantes, implorando que sejam meus pisões menos pesados!

Talvez, na falta desse cadeirante, eu tenha que dum cego tirar sarro!

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PAPPO VAZIO VERSUS PAPPO CHEIO [9159]

Você ja reparou no contrasenso, Glaucão? As padarias fazem pão e fazem, quasi todas, puddim... Mas nenhuma faz puddim de pão, Glaucão! São como tantas fraudes que encontramos: hamburger de piccanha sem piccanha, os succos sem as fructas, os remedios que effeito nunca fazem... Bem lembrado, Glaucão! Aquella tal pilocarpina, collyrio que baixava a pressão alta dum olho com glaucoma... Só que não! Baixasse de verdade, você não teria se fodido na cegueira! Bem feito! Quem mandou accreditarmos no pappo desses medicos que fazem campanha contra doces e puddins?

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SENSATO PENULTIMATO [9160]

Glaucão, você, que gosta de puddim mas, sendo diabetico, tem medo de excessos commetter, pense commigo: Si fossemos morrer dentro de poucas semanas, que fariamos no caso daquelle puddimzão de pão, Glaucão?

Na certa, pensariamos: "Será assim que satisfaço minha ultima vontade!" Então, nos basta que pensemos: "Será minha penultima vontade!" Assim considerando, cada vez que formos comer outro pedação, aquella será, para repetir-se, penultima vontade, eternamente!

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CASA DE INTOLERANCIA [9161]

Ah, Glauco! Cafetina sou zelosa! Aqui neste bordel eu não atturo cliente que exigente seja com as minhas funccionarias! Comprehende? Aqui nenhum freguez pode exigir chupeta assim, assado, nem mettida por traz, nem pela frente, nem de lingua um banho devagar dado no sacco, na pelle do prepucio ou no seu rego, à moda poloneza, das antigas!

Aqui só vem quem queira rastejar aos pés duma menina que lhe irá lambadas applicar duma chibata, até que saiba como lamber uma chochota molhadinha, até de sangue!

Exacto, o menstrual, o Velho Chico, que é como chamo o nosso corrimento, que tanto tesão causa à velharada! Fallando nisso, Glauco, você não queria approveitar para testar a sua lingua numa bocetinha carnuda, advermelhada? Ah, por que não? Iria adorar minhas bem treinadas garotas, que só calçam altas botas de couro bem lustroso, bem lambivel!

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VAGA PARA DEFICIENTES [9162]

Glaucão, sou cafetão especialista num gosto mais exotico, daquelles normaes physicamente, que desejam chupados ser por typos portadores de physicos defeitos, incapazes de ver, de se mover, de tactear, andar, fallar, ouvir ou se expressar! Os cegos felladores são os mais jeitosos na funcção e preferidos daquella caprichosa clientela! Talvez você, Glaucão, melhor me explique por qual cabal motivo os cegos sabem chupar como ninguem! Mas lhe pergunto: Acceita trabalhar na minha casa, promptão para attender aos meus clientes?

A sua commissão será maior, é claro, comparada à dos pernetas, manetas, alleijados em geral? Lamento que não possa, mas entendo... Quem sabe numa proxima... Até mais!

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POEMA PORNÔ [9163]

"Pornô" que meu poema se intitule ninguem pode impedir, pois, a partir dahi, qualquer palavra que eu inclua nos versos que se seguem, ou naquelles que para traz ficaram, pornographica será. Si eu disser "pedra", qualquer pedra que seja, ja serei appedrejado por tudo que implicar as pedras possam. E, caso "pau" eu diga, qualquer pau que seja, levarei pau por ter posto no bojo da madeira algum obsceno sentido, o senso occulto que se pode achar em qualquer termo deste idioma. Em summa, ainda a pedra sendo pedra e sendo o pau appenas pau, será pornô porque pornô se intitulou. Tambem pornô será "poema". Até "palavra", que incluida aqui ja foi. Comtudo, nem por isso prohibida permitto que ella possa ser, caralho!

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TERMO OBSCENO [9164]

"Caralho!" si exclamamos, não será por isso que implicar eu quero um senso pornô nessa palavra assaz usada na lingua portugueza, por acharmos alguma coisa boa, às vezes má. Tampouco quererei dizer dalgum politico que deva levar algo que pelo seu trazeiro se introduza. Mas pode ser que eu queira assumir como "caralho" todo objecto que implicado esteja quando ouvi gritarem "Chupa!" na rua, ao tropeçar ou pisar num cocô do cachorrinho mais fofinho. Sim, claro que excolher eu posso qual o senso que prefiro. Só não pode querer me censurar qualquer censor por isso ou por aquillo que excolhi.

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OBJECTO DE DIREITO [9165]

Assim como os cachorros e menores de edade, Glauco, os cegos não respondem por elles proprios. Sendo dependentes dos outros, taes invalidos e inuteis deviam ser entregues aos cuidados de gente que tirar proveito possa de suas limitadas aptidões. Não achas, menestrel? Paresce, então, que nisso poderemos concordar. Só resta convencer da lei os homens, de modo que esses cegos se destinem a varias funcções uteis. Por exemplo, chupar, com estudada habilidade, o membro dos que curtem desfructar dum typico prazer oriental. Alguns legisladores e juristas discordam, mas serão minoritarios. Ou pensas que estarei a delirar?

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SUBJEITO DE DIREITO [9166]

Discordo, menestrel, do parescer daquelle seu amigo, que queria usar os cegos como felladores, dizendo que seriam incapazes de pelos proprios actos decidir. É claro que esses cegos teem direito de excolha, de dizer si querem mesmo servir de felladores compulsorios. Opino que, si forem consultados, dirão que não desejam tal funcção. Ahi nos caberá persuadil-os, em troca de qualquer compensação, a serem felladores por vontade da sua consciencia, ja allertada daquillo que lhes cabe nesta vida. Entende, Glauco? Nada deve ser imposto, obrigatorio ou exigido, mas sim facultativo. O proprio cego irá me dar razão, tenho certeza.

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SUMIÇO NA AMAZONIA [9167]

Ah, Glauco, por favor! Alguem que some, perdido na floresta da Amazonia, só pode ser maluco! Onde é que ja se viu adventurar assim na matta sozinho, só de barco? Uma distancia immensa, alli, separa cada aldeia! Alli só dá mosquito ou venenosa aranha, sem fallar em cobra, Glauco! Ainda que estivesse em companhia de gente experiente em selvas taes, seria verdadeira maluquice! Depois ficam fallando que esses indios ja podem ter mactado o cidadão! Magina! Aquelles indios cannibaes nem são, Glaucão! Na certa foi aranha, daquellas gigantescas e pelludas!

O gajo com certeza foi piccado, morrendo, sem soccorro, la no meio da selva! Na cidade grande, eu acho, até pode morrer quem for piccado, mas morre soccorrido, pelo menos!

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CONDEMNADO POR FAKE NEWS [9168]

É foda, menestrel! Veja si não, Glaucão: o Tribunal Eleitoral cassou o meu mandato! O que elles dizem é que eu, aos seguidores, propaguei só fake news accerca das aranhas que vivem na Amazonia, trovador! Mas disse eu, com razão, que essas aranhas, chamadas de Golias, cabelludas e pretas, teem veneno, sim, lethal e mactam sob horriveis dores, bardo! Fallei mentira? Diga si fallei!

Você mesmo fallou: caranguejeiras arrancam até nacos quando mordem a gente, sem fallar na peçonhenta piccada, que nos macta rapidinho! Si fosse deputado, Glaucão, só por isso perderia seu mandato! Aquelle tribunal não dá molleza!

Só falta nos cassarem si dissermos que exsistem lobishomens e vampiros!

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NOJENTO CANCELLAMENTO [9169]

Ah, só porque eu fallei dum piccareta aquillo que ja sabe todo mundo, está me cancellando uma gallera inteira de devotos seguidores desse "influenciador" de merda, Glauco! Magina! Aquelle gajo grava videos de pessimo padrão e peor gosto! Ensigna a fazer torta de muxiba ja meio mastigada, aponevrose cuspida appós na bocca ter estado! Divulga só receitas que, segundo seu jeito, servem para approveitar as "sobras", os "restinhos" de comida, poeta! Assim não dá para aguentar! Mas, quando reclamei, recebi desse seu publico o repudio mais grosseiro! Disseram que, na crise que enfrentamos, quem não quizer comer appenas merda, por muito satisfeito se dará si sabe "recyclar" um alimento! Saber quer, menestrel? Vou é comer meu pratto de espinafre com moela e para la deixar esses babacas!

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VERIDICA LYRA [9170]

Meu, deixe eu lhe contar! Peguei um cego de jeito, Glauco! O cara nem de longe tem essa sua magica cultura do sadomasochismo omnisciente! Não é, claro, um propheta accostumado à propria submissão, como você, mas soube como deve se portar qualquer cego que esteja ao meu dispor! Fiquei bem sentadão, como narrou você naquelle emphatico sonnetto, e fiz que me chupasse, de joelhos, o cego, sem nenhuma pressa, até levar pela garganta a minha porra! E sabe que elle soube bom serviço prestar? Gozei com gosto, como quem enxerga mas debocha de quem perde, do modo que seu verso nos suggere! Agora accreditei na sua these, poeta! Melhor chupa quem não vê!

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FRIEZA [9171]

Concordas tu, Glaucão, com o que digo na minha fria analyse? Este tempo gelado, ora chamado de friaca, expõe nossa sahude fragil à friagem, mas o risco de frieira tambem se verifica, pois, sem banho, os nossos pés, em meias grossas, criam frieira, Glauco. Sabes tu, com essa surrada lingua, como tal mycose se expalha, nos artelhos, pelos vãos. Mas esse thema, a ti, será talvez um caldo requentado, reconhesço.

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MERCADORIA [9172]

Quem vende peixe entrega fresco o seu pescado. Do contrario, o peixe podre estraga a fama desse pescador. A menos que elle esteja annunciando que vende peixe podre, ja que sempre se encontra quem prefira assim a carne, ja meio "fesandê", deteriorada, fallando um portuguez bastante claro. No caso dum poema, que elle merda paresça a quem o tenha lido, não tem nada que extranhemos, caso o bardo o tenha annunciado como merda, ou seja, causar queira a reacção. Si merda quero que elle seja, para chocar o bom burguez (como diria algum antigo critico francez), estou exercitando, meramente, a menos commodista das funcções da propria poesia: provocar ruido, reflexão e controversia. O resto será appenas questão duma pechincha sobre quanto custa aquillo.

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ESTELLIONATO ELEITORAL [9173]

Mattoso, te pergunto: como faço agora? Prometti, fiz a campanha inteira promettendo dar o golpe, no caso de eu eleito não ter sido! Terei que dar, agora que perdi! Que entendes? Hem, Mattoso? O pessoal paresce nem de longe estar a fim de, pela rua, appoio me emprestar! Me deixam a fallar sozinho! Como farei, si não quizer perder tambem aquelle rebollado, que eu mantinha em forma, appós fazer tanta bravata? Suggeres que eu me torne, egual àquelle palhaço ukraniano, um humorista? Estylo de estandape? Mas, Mattoso, só tenho vocação para actor serio, ainda que ninguem me dê valor!

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JEZEBEL [9174]

Glaucão, fui baptizada assim porque mamãe, que lia a Biblia, só de birra achou que eu deveria me tornar tão puta quanto todas as mulheres alli da vizinhança. Até tithia, vovó, primas, sobrinhas, sogras, noras, putissimas seriam, na cabeça severa da mamãe. Ora, você talvez perguntará: si puritana foi ella, como pôde baptizar assim a propria filha? Acho que foi o dom da prophecia, que ella tinha, segundo me disseram. Não importa, querido. O nome é lindo, para mim.

Ah, só para lembrar: fui mãe solteira, assim como mamãe. Coisas da vida.

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OPERAÇÃO ASPHYXIA [9175]

Qualquer Operação Suffoco obtem geral acceitação pela cidade, por causa desses falsos motoboys que estão muitos assaltos commettendo! Ouvi fallar, Glaucão, que vem ahi um novo padrão nessas abbordagens de todas as policias: obrigar suspeitos a deitar no chão e pôr, alem do pé na cara, no pescoço um solido joelho, que evitar irá a respiração do vagabundo! Não acha appropriado, menestrel? Morrer pode esse cara sem ter culpa? Ja sei: você prefere pé na cara, appenas, sem maiores violencias! Nem isso? Ora, poeta, só si for ceguinho o tal suspeito? Mas os cegos nem podem pilotar motocycletas...

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QUOTAÇÃO DAS COMMODITIES [9176]

Magina! A gazolina, alem do gaz, do diesel, das commodities, de tudo, emfim, que consumimos, ou directa ou indirectamente, tudo sobe!

Por que não subiria, Glauco, o preço dum livro de poemas? Você deve cobrar mais caro pelos seus volumes à venda, no papel ou em ebook! Sim, pelo que comptei, você está rico, Glaucão! Seu patrimonio litterario, extenso, gigantesco desse jeito, mais vale do que electricas usinas, petroleo bruto ou fontes de energia do typo renovavel, menestrel!

Hem? Como? Nada cobra por seus livros? Quer ser um Rockefeller ou um Gates da vida? Ah, poesia não tem esse valor? Então eu tive prejuizo, embora com descompto, no Bocage barato que encontrei fuçando um sebo!

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SABEDORIA IMPOPULAR [9177]

Garanto-lhe, Glaucão, que exsiste fraude nas urnas electronicas, bem como em tantas outras coisas! Você ja ouviu fallar, Glaucão, do chupacabras? Nos caixas electronicos é praga capaz de lhe roubar todos os dados, alem da propria grana! Sitios falsos, emeios com fajutos linques... Onde você for conferir, exsiste fraude! Em urna tambem, porra! Accreditar que fosse inviolavel é tremenda e enorme ingenuidade, menestrel! Comprovo por mim mesmo! Quando fui votar, teclei num gajo que idolatro e vi na tela a cara dum palhaço! Até pensei que estava deante dum espelho, porra! Ahi me convenci!

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EU MIM MEU [9178]

Estou, Glaucão, na duvida si escrevo meu verso me escondendo do meu eu ou faço na segunda a confissão da mesma voz poetica. A terceira pessoa tambem pode me esconder, mas nunca appartará meu eu de mim. Eu tenho um sentimento, ou sensação terei uma, que exhibe tudo quanto não posso occultar nem dos meus artelhos: supponho que este verso não irá jamais ficar perdido no caminho e sempre estará proximo, sangrando tal como o vinho deixa-se sangrar. Não, Glauco, o meu eu lyrico siquer precisa apparescer. Não, deixe estar. Você mesmo dirá si todo bardo que falla na primeira das pessoas umbigo tem maior, ou menor voz que certos astros hoje separados ou mortos, appós decadas de estrada.

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VENCIDINHOS [9179]

Alguns supermercados, Glauco, fazem experta promoção: dão un descompto nos pessimos productos ou naquelles que estão quasi vencidos! Eu ja faço um pouco differente: bem mais caro revendo tudo quanto ultrapassado ja tenha a validade do seu prazo! Sim, quanto mais mofada, mais fedida, mais podre, emfim, está a mercadoria, mais cara ficará! Sabe que tem bastante gente entrando nesse eschema? Talvez pensem que seja a nova moda vegana, natural, das coisas sem nenhum dos conservantes costumeiros! Meu lucro está augmentando, menestrel! Hem? Tennis podre? Não, isso não tenho à venda, não. Mas fico lhe devendo...

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FÉ DEMAIS [9180]

Eu era adolescente e tinha fé catholica, Glaucão. Accreditava que, para Deus amar ou aggradar, teria que, tambem, satisfazer o padre, seu maior representante na Terra, na cidade e no collegio. Occorre que esse padre só queria chupar a molecada. Alguns deixavam, na boa, até gostavam e zoavam aquelle padre, escravo do seu vicio. Mas eu me questionava si devia aquillo permittir. Um bello dia cahiu a minha ficha, menestrel! Peguei o padre bebado, fumando maconha, alem de filmes assistindo, pornôs até dizer chega! Ah, Glaucão!

Alem de me chupar, mandei lamber meu cu, beber meu mijo! Me lembrei bastante de você, porque meu pé fedia a valer quando o fiz passar a lingua pelo meio dos artelhos! Ficou, ja, com inveja desse padre? Eu tinha fé que iria ficar, mesmo...

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OLHO POLYCLINICO [9181]

Tu, Glauco, ja fallaste de dois typos humanos: um que tinha algum orgulho do facto de vergonha ter na cara, emquanto outro vergonha tinha por orgulho sentir, fosse do que fosse. Mas vejo que não viste estes mais typicos exemplos de character: um que tem orgulho de vergonha não sentir, alem dum mais commum ainda, aquelle que nunca se envergonha de sentir orgulho, ou seja, a cara mais de pau de todas, ja que nunca se incommoda. Paresce-me que escrupulo, poeta, é coisa que, si exsiste, está ficando com cara de eleitor que nullo vota.

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BOCCAS DESCARADAS [9182]

Você dizia, Glauco, que qualquer assumpto, qualquer thema, qualquer facto, ainda que dramatico ou que tragico paresça, tem humor por explorar. Concordo que motivo nunca falta. Mas, para mim, humor não é da compta daquelles comediantes mais hilarios, nem mesmo dos palhaços de gravata, tampouco dos satyricos poetas. Humor, meu caro Glauco, para ser motivo da mais louca gargalhada, está na cara seria dum politico que, rindo-se por dentro, allude, em sua promessa, à vida triste do povão.

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POR TRAZ DO PUDOR [9183]

Fallaste ja, poeta, accerca desse oral contacto, lingua com o cu ou lingua com os labios da boceta. Fallaste ja do nojo relativo da gente em relação a cada parte do corpo. Cunnilingua, para alguns, seria menos suja lambeção que (Cruzes!) anilingua. Na verdade, em muitos outros casos ja disseste que sexo será sempre repugnante, independentemente de ser beijo, lambida, chupação ou metteção. Nem cabe repetir tuas palavras. Das duas, uma, Glauco: ou tudo quanto for sujo poderemos achar limpo, ou tudo que limpinho se fizer na cama será sujo por principio.

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A LUCTA CONTINUA [9184]

Tu luctas, menestrel, com as palavras, tal como diz Drummond? Ou és amigo de todas, inclusive das mais longas? Não gostas de "influencer"? Nem de "spoiler"? Mas, Glauco, portuguezas nem são essas! Por isso mesmo? Posso deduzir, então, que desta gostas para burro: "inconstitucionalissimamente"! Está muito na moda, por signal, nos actos do governo de plantão! Preferes as mais breves? As inglezas de quattro lettras causam mais impacto? Quaes? "Shit", ou "piss", ou "fuck", ou "cock", ou "cunt", ou "fart", ou "arse", ou "suck", ou "lick", ou "foot"? Mas quattro não são sempre, pois "toe jam" são prova, menestrel! Bah, não briguemos! É tudo verborrhéa! Haja papel!

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MIMIMI DE MENESTREL [9185]

Você fallou bastante dos poetas que gostam de chorar por um amor. Então acha você que elles bem fingem, Glaucão, como Pessoa claro deixa? Sim, logico que entendo: chora alguem appenas para, aos quattro ventos, ter a chance de expressar-se em sua lyra. A amada, seja aquella que de "ingrata" chamou o namorado, seja aquella que nunca recusou seu casto beijo, será sempre pretexto para algum poema, mas de facto o que interessa ao vate é ter leitores que, infelizes, com essas expressões se identifiquem.

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OBRAR POR OBRAR [9186]

Você ja mencionou a differença que, deste para aquelle, se constata: um excretor, aquelle que dejecta; um escriptor, aquelle que projecta a sua phantasia numa bronha emquanto narra as suas adventuras.

Ou seja, subentende-se que quem escreve merda, suja seu papel, ainda que excitante queira ser. Tambem acho, Glaucão. Nem toda merda que escrevo suja, appenas, o papel.

Por vezes, outrosim, escrevi muita ficção ou poesia bem limpinha, até comportadinha, mas que tinha um cheiro de excremento ornamental.

Em summa, vae você no poncto certo: punheta-se quem sabe ser poeta; excreta quem pensou ser escriptor.

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DOMESTICAS TRAGEDIAS [9187]

Vivendo com padrastos ou madrastas, os filhos de casaes ja separados, si forem indefesos, correm risco de serem attirados da janella, no caso de qualquer briga domestica, ou coisa semelhante, diz você.

Commigo não rollou assim, Glaucão! Tentou o meu padrasto me batter, até me exfaquear, mas me livrei das garras delle, forte que ja sou, e quasi que inverti tal situação!

Ahi, reconhesceu o desgraçado que eu era, alli, quem ordens lhe daria! Pediu, se desculpou, adjoelhou, mas tive que tomar uma attitude daquellas que você curte, Glaucão!

Mandei que elle beijasse estes pés grandes que tenho, que lambesse entre dois dedos, no poncto da mais fetida frieira!

Gostou, Glaucão, da scena? Sim, sahi de casa, pois não quero um servo desses...

VIDA MORRIDA 45

BOLLADA DISPENSADA [9188]

Poeta, ja fallou você da grana achada que, em especie, causa assombro na casa dum politico occultada. Sim, todos se perguntam: para que guardar dinheiro vivo, si podemos manter isso no banco, quando todas aquellas transferencias rastreaveis seriam? A resposta accusa alguem que sempre encontra alguma allegação. Eu tenho, Glauco, um thio que foi flagrado com dollares aos montes num sobrado! E sabe como fez quando os agentes chegaram? Ah, jogou pela janella os maços admarrados! Sorte minha que elastico nenhum arrebentou! Achei tudo no fundo do quintal e, quando revistaram o local, ja nada havia alli! Tithio foi preso, depois foi solto. Nunca lhe contei o lance. Elle pensou que esses agentes ficaram com a grana. Fui experto, não acha? Mas não diga a ninguem, Glauco!

46 GLAUCO MATTOSO

BOCCA ABERTA [9189]

Fallavas tu, poeta, sobre como alguns paizes usam o chicote no lombo de quem uma punição meresça por delictos commettidos. Na Arabia, na Bolivia, na Nigeria, se pune em praça publica. A assistencia diverte-se e se excita com aquillo. Açoite, como pena, abolição ja teve pelo mundo, mas aqui subsiste informalmente, menestrel! Sabias? Pois te conto o que, em Goyaz, fizeram com um cego que foi pego roubando moedinhas doutro cego: despido, pendurado pelos braços num alto galho dessas grandes arvores, levou mais chibatadas do que Christo, algumas applicadas por moleques, debaixo das risadas dos adultos! Gostaste da noticia? Não, não vi ninguem forçando o cara à fellação... Querias tambem isso? Mas, poeta, somente tu tens mente tão aberta!

VIDA MORRIDA 47

RABO DE FORA [9190]

De escandalos fallaste ja bastante, Glaucão, e não irei revisitar os factos que de exemplo te serviram. Tambem não vou achar escandaloso alguem que se intitula "cego puto". Appenas resalvar pretendo um poncto que sempre se exquesceu quando um escandalo qualquer foi ventilado: um inimigo a gente entrega aos lobos por fazer aquillo que fazemos, tal e qual. Si queres accusar alguem, Glaucão, te basta dizer coisas deste typo: "Só falla de torpezas, só verseja accerca de immundicies, esse insano!"

Um unico detalhe tu não podes citar na accusação: ninguem que entregas será por ti chamado de "ceguinho veado", ou de "cegueta chupador".

48 GLAUCO MATTOSO

LEPRA DOS MACACOS [9191]

Não, Glauco, não tem cura! Agora, sim, estamos mais fodidos do que nunca! Depois dessa covidica admeaça, das grippes, das variolas, começa a nova pandemia! Dos Macacos se chama a grave lepra que se expalha, bem facil, pelos ares! Desta vez não temos nem vaccina, nem siquer alguma protecção, typo uma mascara, que possa prevenir essa doença! A Letra dos Macacos macta, appós as chagas mais sangrentas, com terrivel e extremo soffrimento, menestrel! Está você com medo? Ou acha, agora, que sempre foram essas más noticias tremenda forçação de barra, amigo?

VIDA MORRIDA 49

VERACIDADE DO FLATO [9192]

Quizeste tu que, quando nossos gazes sahissem, nós soltassemos fumaça, talvez mesmo umas tantas labaredas...

Sonnettos compuzeste em torno dessa hilaria scena, caso num banquete formal isso occorresse... Né, poeta?

Gargalhas quando nesse caso pensas! Pois digo-te que, em tua poesia fé pondo, fui peidar e me inflammar tentei com um isqueiro, menestrel! Ja viste isso no circo, ora! Não viste?

Sim, pela bocca as chammas solta alguem, mas pelo cu tentar eu quiz, caralho! Queimei-me, claro! Sorte que eu em publico na hora não estava, trovador! Sinão, de mim ririam como tu estás a rir agora ahi, Glaucão!

50 GLAUCO MATTOSO

ENTREVISTAS INTIMISTAS [9193]

Odeio, Glauco, certas "entrevistas" com gente irrelevante, que só falla accerca da "carreira"! Quando opinam, os taes "compositores" e "cantores" appenas de si mesmos é que fallam, dos seus lindos umbigos, os fofinhos! Carreira? Que carreira, porra? Aqui! Tomar no cu! Será que essas attentas senhoras que entrevistam taes "artistas" e tudo que elles dizem acham "lindo" não notam que estou ja de sacco cheio?

Por que não entrevistam, de verdade, só gente interessante? Por que não o Chico, o Gil, o Milton, o Martinho?

Tomar no cu, caralho! Os meus poemas publico com immenso sacrificio!

Nem radios nem tevês me chamam para fallar do meu pé chato, que você, Glaucão, sempre elogia! Assim não dá! Preciso ter mais chance nessas midias!

VIDA MORRIDA 51

ARACHNOPHOBIA DE ARAQUE [9194]

Você fallou bastante do seu medo daquellas aranhonas cabelludas, mas acham seus leitores que você tem medo, na verdade, é de boceta!

Você ja respondeu, mas eu pergunto de novo: por que tanta paranoia? Aranhas tão lethaes não são, Glaucão! Bocetas, outrosim, são para a vida a porta de sahida, para não dizer de entrada, claro, dependendo do nosso occasional poncto de vista! Mas chotas são, alem de tudo, fonte de muito prazer, porra, não de medo! Hem? Como? São taes coisas differentes?

"Aranhas só nos piccam, mas bocetas nos comem", diz você? Pois eu retruco: Melhor morrer de gozo que de dores!

52 GLAUCO MATTOSO

ESCALA DEGRADANTE [9195]

Refere-se você, diversas vezes, àquella sexual hierarchia que exsiste entre pessoas mais bonitas e gente menos rica desses dotes estheticos. Exemplos você deu da bella que domina seu bellissimo parceiro, o qual domina varias outras mulheres não tão bellas, as quaes são, por sua vez, patroas de machões mais feios, que são cada vez mais feios conforme essa feiura feminina. Até chegar no poncto crucial no qual um cego serve sempre como escravo do subjeito mais horrendo, malvado, repellente e desprezivel. Mas acho que você exaggera, Glauco! O cego não precisa ser escravo dum typo tão malefico, pois eu, que sou até bomzinho, um cego gosto de, sadico, opprimir, sem culpa alguma!

VIDA MORRIDA 53

APPARELHO VERMELHO [9196]

Você se referiu, Glaucão, à cor vermelha varias vezes, que perdeu, com todas as demais, ao ficar cego.

Na sua casa vi, faz muito tempo, aquelle telephone 'inda de disco, que tinha, do tomate, esse vermelho berrante, "estylo puta", alguns dirão. Ainda tem você tal apparelho? Só guarda como objecto de saudosa e grande estimação? Mas se lembrar irá das ligações que eu lhe fazia!

Lembrou? Lembra de quando lhe exigi que minha visitinha ahi você commigo combinasse, promettendo lamber meus tennis sujos, antes duma gostosa chupetinha? Lembra, Glauco?

Ainda a cor vermelha nitidez mantinha, não é mesmo? Fui cruel?

Em forma ainda claro que estou, né?

54 GLAUCO MATTOSO

EMPIRICAS PICCAS [9197]

Achei engraçadissimo, Glaucão, você dizer, naquelles velhos versos, que todo cego deve ter do pau idéa vaga accerca do tamanho. Não pode comparar com o dos outros e fica sem saber si tem pequeno ou grande, fino ou grosso... Que engraçado! Você, que ja chupou, desde pequeno, de todos os tamanhos um caralho, bem sabe equiparar suas medidas. Na bocca tambem sabe quanto cabe, de thallo ou de cabeça, cada rolla. Emfim, um outro cego saberá, talvez por sua bocca, a proporção do proprio viril membro... Ou me equivoco? Morrer de rir irei sempre dos cegos, Glaucão! Dão elles optimas piadas!

VIDA MORRIDA 55

JUNHO VERMELHO [9198]

Poetas não deviam doar sangue, tampouco os cegos loucos que, excitados por forças mysteriosas, poesia passassem a fazer appós a perda da pouca luz que, então, 'inda tivessem! O sangue dum poeta, ainda mais si cego for o gajo, pode estar impuro para alguma transfusão, por causa da satanica presença! Ouviste tu fallar disto, Glaucão? Concordas com resalvas? Quaes resalvas? Somente si em vampiro se transforma o cego trovador? Mas isso, Glauco, não passa de ridicula crendice!

Vampiros não exsistem! Satan, sim!

56 GLAUCO MATTOSO

ALHOS, BUGALHOS E AGGASALHOS [9199]

Notei que você falla muito desse negocio, do global acquescimento... Besteira, Glauco! Pura asneira, meu! Magina! Acquescimento? Muito pelo contrario! O frio occupa cada vez mais tempo, ultrapassando os trez antigos e extremos mezes que eram só de hinverno! Sim, hoje exfria abbaixo do que, então, mediam os thermometros, Glaucão! Demora a passar! Mesmo no Natal faz frio nestes tropicos, meu caro! Eu acho que interesse você tem nas meias muito grossas que calçamos num tempo desses, dentro dessas botas pesadas, que chulé dão... Não é mesmo?

VIDA MORRIDA 57

KABBALAS PERDIDAS [9200]

Estás, Glauco, coberto de razão nos versos que fizeste para aquelles malucos que disparam contra, a esmo, um monte de innocentes, la na America! Que enorme, gigantesco desperdicio de sangue, munição e tempo, Glauco! Melhor, muito melhor, para quem fica irado com o mundo ou com alguem por varias injustiças responsavel, é pragas invocar, é maldicções lançar contra as pessoas em questão, não contra quem não tenha nada a ver! Não achas, menestrel? Mas... que fazer? Estão esses malucos mais perdidos que, em nome do Demonio, quem for victima das pragas infernaes que se invocassem!

58 GLAUCO MATTOSO

CHIMERA GENERICA [9201]

Glaucão, veja que coisa! A professora da minha filha, agora, affirma à classe inteira que melhor vão se sentir aquelles menininhos que quizerem cortar os seus pinctinhos fora! Pode? Não pode, Glaucão! Ora, a minha filha tem chota, como todas as meninas, e nunca me fallou que quer ter pincto! Não posso crer que todo menininho se sinta mal por macho ser, caralho! Eu mesmo, que machão me considero, jamais pensei que chota alguma possa meu pau virar um dia, menestrel! Sonhar, eu ja sonhei que em travesti seria transformado... Mas na marra!

VIDA MORRIDA 59

SEM MEIAS PALAVRAS [9202]

Você disse, Glaucão, muitas verdades accerca de dois typicos perfis da sua geração: aquelle hippie pacifico, de boa, sonhador, emquanto o punk, irado, nihilista, do contra quer na marra apparentar que seja. Mas, poeta, alguma coisa os dois teem em commum: não tomam banho! Portanto, teem chulé, seja de tennis, sandalia, borzeguim, qualquer pisante! Por isso você gosta dos dois, né? Confesse! Falle logo, menestrel! Demerito nenhum, porra, será curtir o chulezinho mais normal num clima de total contracultura!

60 GLAUCO MATTOSO

MEMORIA AFFLICTIVA [9203]

Ao punk escreves tu, Glauco, mais versos que para aquelle hippie sessentista da tua geração. Por que? Será por causa do chulé mais forte? Eu acho perfeita tal hypothese, pois noto que hippies commummente estão descalços ou usam só sandalias, mas os punks não tiram dos pés esses borzeguins surrados, essas meias ja tão podres que fedem a carniça, trovador! Sei disso porque em nossa casa ja dormiu o mano duma mina minha! Não, Glauco, não lambi chulé nenhum! Appenas o senti de longe, mas entendo que tu fiques salivando! Por isso mesmo narro-te este facto, só para ver-te nessa afflicção, Glauco!

VIDA MORRIDA 61

AFFLICTIVA SALIVA [9204]

Ao rapper você, Glauco, fez sonnettos, babando de vontade de lamber aquelle pezão masculo que, dentro do tennis, vae curtindo um chulezinho damnado de excitante... Né? Confesse! Mas nunca algum maninho desses ia deixar que tal sabor você provasse! Bem feito! Vae ficar chupando o dedo da sua propria mão! Conheço um rapper que espera conhescer você, mas é só para lhe dizer que... nananina!

62 GLAUCO MATTOSO

LINGUA RACHADA [9205]

Estou curioso, Glauco! Me exclaresça!

Difficil é, sei disso, conseguir lamber o pé dum rapper, mas é mais difficil caso seja de skinhead o masculo pezão dentro da bota que nunca algum ceguinho descalçou! E então, Glaucão? Você ja conseguiu? É mesmo? Puxa, até que faz sentido! Carecas sempre foram de LARANJA MECHANICA fans! Isso bem explica que curtam obrigar alguem a solas lamber, como na scena culminante! Então eu accredito quando diz você que sua lingua tão rachada ficou por causa disso... Só que não!

VIDA MORRIDA 63

MURO DAS LAMENTAÇÕES [9206]

Glaucão, esta velhice é verdadeiro inferno! Nem mijar consigo mais! Si em pé fico, demora a sahir, tanto que me desequilibro! Corro o risco de fora da privada mijar, como você, que, sendo cego, só se molha! Si quero me sentar para fazer xixi, demora ainda mais e sae aos poucos, em jactinhos! Eu respiro bem fundo... De repente mais um jacto sahir quer... Outra vez respiro... Um novo jactinho quer sahir... Nunca termina! Assim eu vou ficar como você, que, invalido na perda, a fedentina do mijo bem mais forte sentirá!

64 GLAUCO MATTOSO

EVIDENTE ABSTINENCIA [9207]

Bastante intuitiva sou, querido! Percebo rapidinho quando um desses politicos se queixa de que não o deixam trabalhar, que falta appoio da midia, da Justiça, da Assembléa, das casas do Congresso, do povão... Glaucão, sou escholada! Quando um cara reclama muito, berra, attira pedra, só pode ser por causa duma coisa: é falta, sim, de sexo! Sou bem clara: é falta de trepada, de exporrada! O semen, quando pouco se ejacula e fica accumulado, sem punheta, azeda, vira leite ja coalhado!

Ou falta bocetinha, Glauco, ou falta no rabo um pau bem grosso, caso desse que vive exbravejando, o palhação!

VIDA MORRIDA 65

MALVADEZA, COM CERTEZA [9208]

Ah, Glauco, tenha a sancta paciencia! Os caras, ja malvistos nessa zona de crimes violentos, vão sozinhos de barco pelos rios da floresta e querem retornar ainda sãos e salvos? Se foderam, com certeza! Agora perde tempo quem procura seus corpos pela matta! Quem mactou ja deve esses cadaveres no rio ter logo deschartado! Os peixes ja comeram tudo, Glauco! Uma maldade, aquillo que fizeram com os dois, mas elles procuraram essa sarna! Podiam ter deixado os garimpeiros, grilleiros, madeireiros, trafficantes, emfim, o povo todo trabalhar, em vez de investigar o que ninguem ignora que se passa alli na selva!

66 GLAUCO MATTOSO

PROCESSO CREATIVO [9209]

Você disse, Glaucão, que só do clima depende si prendemos ou soltamos o nosso cocozinho, ou seja, as nuvens, os ventos, o calor, o frio, tudo influe na cagada ja attrazada. Não acho, não. A gente é que se enfeza, por causa dos problemas quotidianos, e duro vae ficando o cagalhão. Resolve só rezando, como ja fallou você, mas vale meditar tambem de philosophica maneira. Não fosse essa prisão de ventre, como fariam os poetas para tantos bellissimos sonnettos terem feito?

VIDA MORRIDA 67

COM PERDÃO DA PALAVRA [9210]

De "bullying" estão ja chamando tudo aquillo que chamavam "zoação", conforme você disse varias vezes. Mas acho que zoaram você mais gostoso do que zoam hoje em dia, thio Glauco! Ja não posso zoar um ceguinho ou cadeirante como quero, sinão serei expulso do collegio! Seu tempo, sim, é que era divertido! Queria fazer parte eu dessa turma que tanto fodeu sua bocca, alem, é claro, de exfregar as solas nessa carinha de babaca! Ah, perdão, thio!

68 GLAUCO MATTOSO

ASSUMPTO CABELLUDO [9211]

Você extranhou, Glaucão, que exsista gente capaz de pegar numa dessas grandes, bundudas, cabelludas, e deixal-a andar na mão, no braço, sem ter medo... Pois digo-lhe que tambem eu ja fiz tal coisa. Até faria novamente. Mas corre-se perigo, sim. É bom que não esteja a aranha abhorrescida, de mau humor, sem sacco, ou "estressada", segundo os scientistas, pois piccado você pode ser, Glauco. Calma, amigo! Está bem, vou então mudar de thema.

VIDA MORRIDA 69

OUTROS CARNAVAES [9212]

No livro GOROROBA À PURURUCA

você falla de muitas refeições completas que, em momentos ja saudosos, sem culpa appreciou. Então lhe indago: Ainda appreciar consegue tudo aquillo, sem nenhuma restricção, sem medo de irritar algum doutor? Não xingue, Glauco! Mando tambem eu à merda as taes dietas restrictivas. Você está certo. Caso não comamos aquillo que gostamos, aos septenta, em breve nem dará mais tempo para saudades siquer termos dos bons tempos.

70 GLAUCO MATTOSO

NO ROL DO BESTEIROL [9213]

É facil, para alguem que nem chegou aos vinte, repetir aquella phrase: "Não creia nos vovôs com mais de trinta!"

Os hippies costumavam dizer isso de todas as maneiras, como ja lembrou você, Glaucão, em varios versos. Sim, nada mais ridiculo, pois quem taes coisas philosopha agora tem septenta annos, no minimo, o babaca. Sim, muita coisa aquella geração fez para alimentar as utopias, porem ella, tambem, enveredou na trilha musical do besteirol.

VIDA MORRIDA 71

THEMA DE POEMA [9214]

Lembraste bem, poeta. Aquella aranha gigante em casa cria a adolescente mais timida, mais linda, mais nympheta de certos condominios por ahi. Até minha vizinha passou por tal coisa. A filha della quiz crear aquelle escorpião, o parabutho, mas ellas se foderam. O bichano piccou-as e fugiu. Ao meu apê chegando, quiz piccar-me, mas mactei-o a tempo. Depois foram encontral-as ja mortas, a feder. Achei bem feito. Não achas que este caso dá poema?

72 GLAUCO MATTOSO

IMPRUDENTES TRANSEUNTES [9215]

Você tem razão, Glauco! Um cego nunca iria attravessar a rua sem adjuda. Quem adjuda, porem, faz questão de, commummente, tirar uma casquinha do ceguinho otario. Um dia, vi quando um gozador levou o cego da beira da calçada até chegar à beira dum boeiro. La soltou o cego, que enterrou as pernas num fedido lodo! Um outro cego foi tão fundo nessa lama, que ficou la quasi só de cara para fora! Pessoas que passavam delle riam e mesmo os molequinhos lhe chutavam a bocca, a gargalhar da raiva delle!

Por isso dou razão a você, Glauco: Melhor que nem à rua saia quem perdeu a visão neste mundo horrivel.

VIDA MORRIDA 73

SALTANDO DE BANDA [9216]

Chulé de metalleiro você ja sentiu, Glaucão? Achei que não é tão fedido quanto o cheiro que senti na meia que, dum punk, estava podre! Depende de que banda, reconhesço, fan seja cada gajo. Um metalleiro que curta AC/DC terá chulé mais forte que quem curta Nazareth... Não acha, Glauco? Ou acha que isso não é thema que se explore num poema?

74 GLAUCO MATTOSO

JOGOS MAGICOS [9217]

Rockeiros ja brincaram de magia, de bruxo, feiticeiro ou mago, mas quem pode brincar, mesmo, nunca brinca. Você, que tanto curte Sam the Sham, ja deve ter risadas muitas dado daquella brincadeira adolescente, Glaucão. Mas lhe pergunto: quem escuta um som mais satanista acaso pode crer nisso de verdade? Caso creia, talvez orgias faça com a trilha rockeira que com sadomasochismo mais tenha a ver, Glaucão! Ja pensou nisso? Pensou? Até lambeu, dum metalleiro, a sola chulepenta? Ah, fico por aqui! Nada mais posso perguntar.

VIDA MORRIDA 75

DESCHARTÃO POSTAL [9218]

Architectura à moda paulistana é coisa bem difficil de estudar, por causa de eclectismos, de improvisos, de estylos que conflictam na cidade mais feia (até bonita, a julgar por criterios informaes) deste paiz. Você mesmo, no predio Martinelli, Glaucão, ja se espelhou. Tambem concordo que sejam boa synthese edificios do typo, mas proponho que encaremos algum outro cortiço, vertical ou não, como parametro urbanistico. Que tal uma favella que, installada no centro velho, occupe, por exemplo, o Pateo do Collegio ou o Copan? Ainda viveremos para ver scenario tão utopico, Glaucão!

76 GLAUCO MATTOSO

MATTA QUE MACTA [9219]

Os parques da cidade, quando não são mattas descuidadas, que só servem aos boys para cadaveres jogar daquelles que são mortos num sequestro, são meros jardins, sujos e fedidos, no meio do concreto urbano, Glauco! Fiquei chocado quando, um dia, vi aquelles motoboys currando bella nympheta, que enterrada alli ficou, depois de exquartejada na sessão satanica, Glaucão! Prefiro um parque central, mais devassado, pois alli a gente logo nota quando um cego foi pelos molecotes assaltado e teve de engolir uma piroca na frente dumas cameras! Não acha, poeta, preferivel tal scenario?

VIDA MORRIDA 77

PONTES AOS MONTES [9220]

Fallaste tu, Mattoso, dos innumeros e immensos viaductos da cidade. Excepto os dois mais velhos e famosos, que são Sancta Ephigenia, aquelle em ferro e, em pedra, bem maior, esse do Cha, os outros são horriveis e só servem, por cyma, para carros que não param e, embaixo, para casa dos sem tecto. Estão os urbanistas divididos accerca da real utilidade das pontes sobre ruas que são rios appenas quando chove e inunda tudo. Concordo, pois, comtigo, si estás disto convicto: mais ganhavamos si, em vez de tantos viaductos, fossem parques os tetricos espaços desses monstros que passam pelas technicas cabeças e sobre toda artistica allusão.

78 GLAUCO MATTOSO

MALHA QUE SE EXPALHA [9221]

Desculpe, mas, Mattoso, não ha meio sinão por viaductos nos movermos de carro na cidade sem as largas e longas avenidas necessarias. Mas, para nós, pedestres, são os tunneis que, sob esta cidade que se expalha, o meio de, por trem, nos deslocarmos. Pensou você, Mattoso, sem metrô, no chaos do nosso transito? O que falta é, menos viaducto, mais metrô, a compta se fechar no formigueiro humano, sem o custo deshumano de tantas moradias que estão longe de tudo, no horizonte do urbanista.

VIDA MORRIDA 79

FIRME REPRISADO [9222]

Fallou você, Glaucão, do quarteirão em volta do qual ia a passear emquanto um pouco via, ainda, mas agora nem tal volta você dá. Depois da pandemia, não sae mais de casa, ahi mofando na mesmice. Voltar a caminhar você precisa, Glaucão! Hem? Quer que eu leve você, mano? Não? Olhe que meus tennis estão bem battidos, ja, de tanto caminhar! Depois duma voltinha, deixarei você me descalçar e me fazer aquella salutar massagem! Topa? Agora sim! Senti firmeza, mano!

80 GLAUCO MATTOSO

DYSSYNESTHESIA [9223]

Si cada vogal uma cor teria, segundo Rimbaud, pode ser que tenha, segundo você, Glauco, um sabor, mas eu acho que você se exquesceu dum detalhe: Que sabor tem o chulé, que tanto você curte, nessa sua philia fetichista? A vogal "é", que soa bem aberta no "chulé", no "pé" como no "olé" que deu "Mané", indica algum sabor? Agudo ou acido? Salgado, porventura? Amargo, ou mesmo azedo, si suada for a sola? Decida-se, Glaucão! Eu, no meu tennis, colloco um popular desodorante sabor de forte mentha assucarada...

VIDA MORRIDA 81

SEM COMMENTARIO [9224]

Poema não precisa de nenhuma extensa nota, Glauco, nem de breve! Quem acha necessaria a nota chama de estupido o leitor e de erudito demais o menestrel! Ora, quem lê Mattoso, ou lê Camões, tem que entender aquillo que está lendo, ou não será leitor de poesia, mas dalguma hermetica alchymia à moda antiga!

82 GLAUCO MATTOSO

ESPELHO TRAGICO [9225]

Concordo totalmente com você naquelle dissonnetto lapidar, Glaucão! Mulheres bellas ficam feias depois de velhas. Para as feias nada na cara mudará. Vale tambem aos homens applicar egual noção, mas essa coisa affecta a mulherada de modo horrorizante, menestrel! Você reflectiu certo: uma mulher feiosa, si for bruxa, achar irá normal. A presumpçosa, si for linda, somente envelhescendo olhar irá seu caso, horrorizada, num espelho.

VIDA MORRIDA 83

NOJENTO MOMENTO [9226]

O caso do politico que esteve à mesa dum banquete, no Japão, gravou o que, em missão official, tambem é repugnante informalmente e nesse poeminha você estuda com toda a natural comicidade: no pratto vomitar alguma coisa nojenta alli servida de surpresa. Eu mesmo vomitei, Glauco, na casa da minha thia, quando percebi que tinha abboccanhado uma minhoca pensando ser um thallo mais comprido de exotica verdura, à moda della...

84 GLAUCO MATTOSO

REDUNDANTE ENQUADRAMENTO [9227]

Mattoso, observas tudo com total sarcasmo, como venho percebendo. As bundas, ballançando feito bollas de parda gelatina, a toda hora são close nas imagens de follia. Na certa aquellas scenas despertar irão o sexual olhar dum publico de machos que isso curtem, menestrel. Mas fico ca pensando: o que, na bunda, provoca tal volupia masculina? As curvas? O tom pardo? O rego? O brilho das gottas de suor que excorrem della? Talvez asexuado, vate, eu seja, mas curto uma boceta, não a bunda que nunca penetrar irei, ao passo que bundas tambem lembram algum masculo trazeiro, o qual machões, por vezes, curtem.

VIDA MORRIDA 85

SOLIDARIEDADE DE CLASSE [9228]

Fizeste referencia ao colleguinha gorducho que, depois das aulas, era bem sadico comtigo, menestrel. Será que todo gordo quer um jeito de em cyma dum magrella desforrar? Pergunto porque tive tambem um collega gordo, sadico, que em cyma de mim descomptou toda a frustração. Fazia-me chupar rolla, lamber chulé, beber urina, como narras tu nesses versos superexcitantes. Eu acho que estás certo quando dizes que, quanto mais revolta alguem remoe, mais sadico será quando tiver a chance de vingar-se de si mesmo.

86 GLAUCO MATTOSO

CEDIÇAS PREMISSAS [9229]

Mattoso, defendeste tanto o verso rhymado, nas estrophes dum sonnetto regrado, mas agora tu rejeitas aquella rigorosa construcção. Que dizes? Não rejeitas? Queres só mostrar que, em poesia, ha liberdade, comtanto que entendido seja alguem das normas que seguiu e deschartou? Admitto, mas pondero que, si for assim, um dictador, que democrata ja foi, legitimado ficará.

Ou seja: alguem que sempre se pautou por leis e por direitos poderá tornar-se dictador, para allegar que teve liberdade de excolher.

VIDA MORRIDA 87

IMMORTALIDADES NO HADES [9230]

Você diz-se "exquescido", Glauco, quando se tracta de entrar para alguma dessas selectas casas, dictas "litterarias", que nunca acceitariam o seu nome mas vivem admittindo os "merdalhões" das artes, da politica, alem duns poetas e escriptores badalados. Mas quero lhe indagar: não é excusado entrar na academia alguem que seja chamado de "maldicto", ou "postmaldicto"? Melhor é, no seu caso, fazer parte dum culto satanista à moda antiga, com scenas duma missa negra bem orgiaca, na falta do chazinho das cinco numa casa de caretas!

88 GLAUCO MATTOSO

MEIAS METADES [9231]

Mentir nunca deixou de ser, no tracto politico, um recurso roptineiro. Você falla bastante, em seus poemas, tambem de mentirosos outros, como poetas, advogados, marketeiros, demais publicitarios, emfim, Glauco. Mas, ante taes mentiras, quem for pego no pullo terá duas reacções possiveis: novamente mentir, quando dirá que não mentiu jamais, ou não mentir mais e dizer que mentiu, sim, mas só porque estrategia aquillo foi. Será sincericidio mentir sempre ou, quando pego, optar pela verdade? Verdade verdadeira nunca havendo, ficamos com as meias, todas meias verdades, que jamais serão mentiras.

VIDA MORRIDA 89

CASOS IMMANICOMIAES [9232]

Fallaste ja, Mattoso, nos teus versos, bastante dos malucos. Acho os loucos varridos divertidos, sim, admitto, si forem menestreis inoffensivos, assim como tu mesmo, um humorista. Problema vejo quando o louco for do typo violento, como ja vi pela vizinhança. Aqui na rua conhesço um que, escutando vozes, berra a noite inteira, até ser castigado por todos com porrada a valer, ou cacete em alguem elle 'inda dará. O hospicio, nesses casos, é logar mais proprio. No teu caso, não, Mattoso. Não passas dum ceguinho original.

90 GLAUCO MATTOSO

INSONNETTAVEL SONNETTUDE [9233]

Você ja sonnettou, sonnettizou e dissonnettizou de todo jeito, Glaucão, mas deveria proseguir, em vez de evitar novos sonnettismos! Si eu fosse você, nunca pararia de nessa sonnettagem insistir! Não acho que seria sonnettice demais um radical sonnettamento ou resonnettamento, uma fusão geral, assonnettando os demais generos à sonnettização da propria vida? Emfim, é decisão sua... Respeito, mas peço que você consonnettize commigo que nem tudo se insonnetta, pois sempre poderá transsonnettar!

VIDA MORRIDA 91

AMOROSISSIMAMENTE [9234]

Amaste, mas amado nunca foste do jeito que querias tu, Mattoso! Amor tu confessaste para alguem que nunca amar-te iria! Todavia, amor não declaraste, em toda a vida, a quem iria amar-te de verdade! Ainda bem que tua actual phase está mais amorosa, agora sim, sem medo de que, emfim, tu te confesses amado, mais amado do que nunca!

92 GLAUCO MATTOSO

FOGUEIRA DAS VAIDADES [9235]

Fiquei sabendo, Glauco, que Bocage, que Kafka, que Giuseppe Belli, todos teriam, ao morrer, arrependidos ficado. Pô, será verdade? Então achei explicação para a tremenda e grossa sacanagem que lhe fazem! Você não renegou seus versos, Glauco! Renegue! Va, se diga arrependido de tudo que escreveu! Você vae ver: Immediatamente, toda a gente começa a procurar por sua lyra, fallar, analysar e commentar aquillo que estar possa ja perdido, rasgado, deletado, ou até mesmo queimado nas sagradas labaredas da sua conversão, Glaucão! Ahi você será lembrado como deve!

VIDA MORRIDA 93

BARATAS MAS PIRATAS [9236]

Mattoso, tu disseste que tomaste a pillula sagrada, que de nada, emfim, addeantou, ja que ficaste, aos poucos, totalmente cego. Mas me indago si tomaste esse remedio depois de examinar a procedencia authentica, legitima da pillula. A boa, a verdadeira, vem de Roma e custa até milhares e milhares de dollares, ou euros, menestrel! Pagaste pela tua aquillo tudo? Então! Talvez até tenhas tomado a pillula de Lucifer, generica, que custa dez por cento da catholica!

94 GLAUCO MATTOSO

VAZIA REBELDIA [9237]

Você se insubordina, como disse, na vida contra todos, contra tudo, mas disso tenho duvidas, Glaucão.

Talvez uma dieta até descumpra, transgrida alguma regra de grammatica, alguma lei, algum sagrado dogma... Mas, quando lhe mandei que descalçasse meus tennis, minhas meias, me cheirasse os dedos suarentos e fedidos, lambesse, entre esses vãos, umas frieiras, chupasse cada artelho, você não fallou que recusava aquillo, né?

VIDA MORRIDA 95

IRRELEVANTES COADJUVANTES [9238]

Disfarses o Demonio veste quando passeia por aqui, segundo diz você, Glaucão, em varios dos seus versos: politicos, bandidos, generaes, pastores evangelicos, bombeiros, alem, é claro, desses taes poetas maldictos, mais orgiacos e loucos. Você se enquadraria nessa turma? Será que estou fallando com o proprio Satan, com Belzebuth, com o Cappeta, com Lucifer, fingindo ser um cego? Prefiro crer, Glaucão, que estou fallando com outro diabinho subalterno, egual a mim, coitado de mim, Glauco!

96 GLAUCO MATTOSO

INABSTINENTES TEMENTES [9239]

Bichice e fé catholica combinam? Você fez gozação, Glaucão, com isso, mas acho que esse thema pode ser bem serio, sim senhor! Eu, por exemplo, catholico me julgo, practicante, e minhas preferencias sexuaes combinam sem conflicto com a fé! Appenas num adspecto não concordo com essa pregação: eu como carne às sextas, às segundas, aos domingos, aos sabbados... Qualquer que seja, Glauco, a forma de entender um orificio...

VIDA MORRIDA 97

VAMPIRISMO VULGAR [9240]

Você ja disse, Glauco, que conhesce alguem que foi mordido por vampiro, mas nunca confessou si tambem foi! Tambem nunca fallou si em lobishomem alguma vez, Glaucão, se transformou! Por isso tenho medo de ir ao seu encontro: vae que, em vez de me lamber o pé, chupar meu pau, você pretenda sugar meu sangue impuro de plebeu!

98 GLAUCO MATTOSO

VIDA IMPREGRESSA [9241]

Você se referiu a algumas phases da sua maldictissima carreira de cego masochista, alem de infame. Mas, para mim, é simples a questão. Um exsistencialista appenas pensa si está bem mais agora do que esteve em phase de ter ido tão a fundo naquillo que, na vida, abbraçou, Glauco. Eu acho que você se comparar com outros escriptores nem precisa. Ja basta a percepção de que está cada vez menos comparavel ao normal.

VIDA MORRIDA 99

SÃO PEDRO EM SÃO PAULO [9242]

Alguem que visitasse esta cidade, si fosse mundial auctoridade, um Papa, por exemplo, não iria andar pelas calçadas como quem alli diariamente passa, Glauco. No maximo, olhará duma sacada aquella multidão de exfarrappados. Portanto, o cheiro fetido do mijo nem chega a sentir. Cheiro de cocô tampouco sentirá daquella altura. Dará, de cyma, a bençam, mas sem ter nenhum nojo da praça mais nojenta.

100 GLAUCO MATTOSO

OBVIEDADE NA CARA [9243]

Não foste photogenico jamais, Mattoso, siquer quando um pouco vias! Os oculos escuros servirão, em summa, para que? Fizeste bem deixando de na cara collocal-os nas photos mais recentes, menestrel!

Um cego ja tem cara de babaca! Com oculos, ficar irá com cara ainda de babaca, peorada por causa dum appendice tão obvio!

VIDA MORRIDA 101

CREDIBILIDADE AUDITAVEL [9244]

Prodigio nenhum vejo num ceguinho que tenta superar sua cegueira fazendo poesia, caro Glauco. Comtudo, no seu caso, vejo um pouco de exforço corajoso, reconhesço. Admitto que é preciso um tanto ousado o cego ser na vida, si quizer dizer-se masochista, alem de puto por tudo que soffreu e soffrerá. Digamos que você me convenceu da sua litteraria vocação, mas quero vel-o, Glauco, comer meu cocô para crer nisso de verdade.

102 GLAUCO MATTOSO

DESHUMANOS AFRICANOS [9245]

Se falla muito, Glauco, dos presidios na America Latina, mas você lembrou bem, pois nem mesmo conseguimos suppor o que se passa numa cella dum desses africanos territorios que mudam os seus nomes de paizes a cada nova decada do seculo. Estupros masculinos, por alli, roptina são. Requinctes de sadismo são scena corriqueira. Alli só falta alguem narrar aos organs humanistas aquillo que fizeram com um cego que, injustamente preso, foi a victima perfeita para atrozes brincadeiras...

VIDA MORRIDA 103

CLARA BATTIDA [9246]

Você bem reparou, Glaucão! Os bollos vendidos em padocas são fajutos!

Lhes falta a massa, a propria cobertura, recheio, uma cereja vermelhinha por cyma... Falta tudo! Um dia desses, comprei um bello bollo, paguei caro! Coberto de glacê, de chantilly, de nozes, de cerejas e de espuma branquinha, me encantou! Cheguei em casa, provei a maravilha, mas... Que pena que tudo não passou de fake neve e, numa só mordida, derreteu...

104 GLAUCO MATTOSO

JAPÃO CONTEMPORANEO [9247]

Mulheres japonezas ja não são assim tão subjugadas por maridos machistas, como outrora, menestrel! Aquellas dos sonnettos que fizeste estão excasseando! Hoje se nota que chupam mal, que lambem o chulé do macho sem vontade, que se entregam sem animo si forem penetradas! Me inclino, pois, a crer que tens razão: Appenas uma cega masochista seria, agora, a serva japoneza perfeita... Caso um cego não prefira quem queira approveitar melhor a vida!

VIDA MORRIDA 105

ADOLESCENTES REMINISCENCIAS [9248]

Você ja confessou, Glauco, que foi forçado por um joven a lamber suor, beber xixi, mas seu algoz bebia vinho tincto de primeira depois de em sua bocca ter gozado. Os annos se passaram, menestrel. Agora nós bebemos vinho junctos e sempre suo menos, pois estou casado, tenho filhos, bom emprego, não soffro uma anxiedade egual àquella que tive numa vespera de exames na minha faculdade... Hem? Ja faz tempo!

106 GLAUCO MATTOSO

SONHADOR LEITOR [9249]

Daquelle teu sonnetto, menestrel, jamais me exquesço! Fico só pensando, emquanto uma punheta vou battendo, na magra nymphetinha que cagava pellada, sentadinha na bacia, e, quando viu a aranha ja bem proxima, fugiu appavorada, para traz deixando um rastro liquido de merda nas claras lajotinhas do banheiro! Que scena, menestrel! Ah, que tesão! Sou gordo, como sabes, e me vejo chupando uma boceta de menina magrella! Mas, no caso da nympheta medrosa, me imagino só lambendo a merda que excorreu daquella bunda!

VIDA MORRIDA 107

VIDA MORRIDA [9250]

Não morre só quem deixa de viver, por causa de velhice, de doença, por propria decisão, si tem coragem (por medo de viver) de se mactar, ou por ter sido morto (sem querer morrer) por quem não deve decidir da vida de quem viva decidido. Mais morre quem se exquesce de quem foi morrido ou foi mactado, quem se cala (conforme ja cantaram) ante tantos que morrem pela causa, assassinados por gente que de gente nada tem e morta ja devia, si justiça houvesse, desde muito tempo. Um dia, quem vê vidas passadas e futuras a regua passará nessa factura e quem mactou ainda viverá a vida que, infernal, quiz para si.

108 GLAUCO MATTOSO
SUMMARIO ESCRAVATURAS NAS ESCRIPTURAS (I) [9151]...............9 ESCRAVATURAS NAS ESCRIPTURAS (II) [9152].............10 ARGUMENTO PREVISIVEL [9153]..........................11 COCEIRA CEREBRAL [9154]..............................12 PREMIO DE DESCONSOLO [9155]..........................13 SABEDORIA DA TITHIA [9156]...........................14 ADVERSIDADE NA PERVERSIDADE (I) [9157]...............15 ADVERSIDADE NA PERVERSIDADE (II) [9158]..............16 PAPPO VAZIO VERSUS PAPPO CHEIO [9159]................17 SENSATO PENULTIMATO [9160]...........................18 CASA DE INTOLERANCIA [9161]..........................19 VAGA PARA DEFICIENTES [9162].........................20 POEMA PORNÔ [9163]...................................21 TERMO OBSCENO [9164].................................22 OBJECTO DE DIREITO [9165]............................23 SUBJEITO DE DIREITO [9166]...........................24 SUMIÇO NA AMAZONIA [9167]............................25 CONDEMNADO POR FAKE NEWS [9168]......................26 NOJENTO CANCELLAMENTO [9169].........................27 VERIDICA LYRA [9170].................................28 FRIEZA [9171]........................................29 MERCADORIA [9172]....................................30 ESTELLIONATO ELEITORAL [9173]........................31 JEZEBEL [9174].......................................32 OPERAÇÃO ASPHYXIA [9175].............................33
QUOTAÇÃO DAS COMMODITIES [9176]......................34 SABEDORIA IMPOPULAR [9177]...........................35 EU MIM MEU [9178]....................................36 VENCIDINHOS [9179]...................................37 FÉ DEMAIS [9180].....................................38 OLHO POLYCLINICO [9181]..............................39 BOCCAS DESCARADAS [9182].............................40 POR TRAZ DO PUDOR [9183].............................41 A LUCTA CONTINUA [9184]..............................42 MIMIMI DE MENESTREL [9185]...........................43 OBRAR POR OBRAR [9186]...............................44 DOMESTICAS TRAGEDIAS [9187]..........................45 BOLLADA DISPENSADA [9188]............................46 BOCCA ABERTA [9189]..................................47 RABO DE FORA [9190]..................................48 LEPRA DOS MACACOS [9191].............................49 VERACIDADE DO FLATO [9192]...........................50 ENTREVISTAS INTIMISTAS [9193]........................51 ARACHNOPHOBIA DE ARAQUE [9194].......................52 ESCALA DEGRADANTE [9195].............................53 APPARELHO VERMELHO [9196]............................54 EMPIRICAS PICCAS [9197]..............................55 JUNHO VERMELHO [9198]................................56 ALHOS, BUGALHOS E AGGASALHOS [9199]..................57 KABBALAS PERDIDAS [9200].............................58 CHIMERA GENERICA [9201]..............................59 SEM MEIAS PALAVRAS [9202]............................60
MEMORIA AFFLICTIVA [9203]............................61 AFFLICTIVA SALIVA [9204].............................62 LINGUA RACHADA [9205]................................63 MURO DAS LAMENTAÇÕES [9206]..........................64 EVIDENTE ABSTINENCIA [9207]..........................65 MALVADEZA, COM CERTEZA [9208]........................66 PROCESSO CREATIVO [9209].............................67 COM PERDÃO DA PALAVRA [9210].........................68 ASSUMPTO CABELLUDO [9211]............................69 OUTROS CARNAVAES [9212]..............................70 NO ROL DO BESTEIROL [9213]...........................71 THEMA DE POEMA [9214]................................72 IMPRUDENTES TRANSEUNTES [9215].......................73 SALTANDO DE BANDA [9216].............................74 JOGOS MAGICOS [9217].................................75 DESCHARTÃO POSTAL [9218].............................76 MATTA QUE MACTA [9219]...............................77 PONTES AOS MONTES [9220].............................78 MALHA QUE SE EXPALHA [9221]..........................79 FIRME REPRISADO [9222]...............................80 DYSSYNESTHESIA [9223]................................81 SEM COMMENTARIO [9224]...............................82 ESPELHO TRAGICO [9225]...............................83 NOJENTO MOMENTO [9226]...............................84 REDUNDANTE ENQUADRAMENTO [9227]......................85 SOLIDARIEDADE DE CLASSE [9228].......................86 CEDIÇAS PREMISSAS [9229].............................87
IMMORTALIDADES NO HADES [9230].......................88 MEIAS METADES [9231].................................89 CASOS IMMANICOMIAES [9232]...........................90 INSONNETTAVEL SONNETTUDE [9233]......................91 AMOROSISSIMAMENTE [9234].............................92 FOGUEIRA DAS VAIDADES [9235].........................93 BARATAS MAS PIRATAS [9236]...........................94 VAZIA REBELDIA [9237]................................95 IRRELEVANTES COADJUVANTES [9238].....................96 INABSTINENTES TEMENTES [9239]........................97 VAMPIRISMO VULGAR [9240].............................98 VIDA IMPREGRESSA [9241]..............................99 SÃO PEDRO EM SÃO PAULO [9242].......................100 OBVIEDADE NA CARA [9243]............................101 CREDIBILIDADE AUDITAVEL [9244]......................102 DESHUMANOS AFRICANOS [9245].........................103 CLARA BATTIDA [9246]................................104 JAPÃO CONTEMPORANEO [9247]..........................105 ADOLESCENTES REMINISCENCIAS [9248]..................106 SONHADOR LEITOR [9249]..............................107 VIDA MORRIDA [9250].................................108

Titulos publicados:

A PLANTA DA DONZELLA

ODE AO AEDO E OUTRAS BALLADAS

INFINITILHOS EXCOLHIDOS

MOLYSMOPHOBIA: POESIA NA PANDEMIA

RHAPSODIAS HUMANAS

INDISSONNETTIZAVEIS

LIVRO DE RECLAMAÇÕES

VICIO DE OFFICIO E OUTROS DISSONNETTOS

MEMORIAS SENTIMENTAES, SENSUAES, SENSORIAES E SENSACIONAES

GRAPHIA ENGARRAFADA

HISTORIA DA CEGUEIRA

INSPIRITISMO

MUSAS ABUSADAS

SADOMASOCHISMO: MODO DE USAR E ABUSAR

DESCOMPROMETTIMENTO EM DISSONNETTO DESINFANTILISMO EM DISSONNETTO

SEMANTICA QUANTICA

INCONFESSIONARIO

DISSONNETTOS DESABRIDOS

SONNETTARIO SANITARIO

DISSONNETTOS DESBOCCADOS

RHYMAS DE HORROR

DISSONNETTOS DESCABELLADOS

NATUREBAS, ECOCHATOS E OUTROS CAUSÕES

A LEI DE MURPHY SEGUNDO GLAUCO MATTOSO

MANIFESTOS E PROTESTOS

LYRA LATRINARIA

DISSONNETTOS DYSFUNCCIONAES

O CINEPHILO ECLECTICO

A HISTORIA DO ROCK REESCRIPTA POR GM

SCENA PUNK

CANCIONEIRO CARIOCA E BRAZILEIRO

CANCIONEIRO CIRANDEIRO

SONNETTRIP

THANATOPHOBIA

DESILLUMINISMO EM DISSONNETTO

INGOVERNABILIDADE PEROLA DESVIADA

O POETA PORNOSIANO

BREVE ENCYCLOPEDIA DA TORTURA CENTOPÉA: SONNETTOS NOJENTOS & QUEJANDOS

RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA

PAULYSSÉA ILHADA: SONNETTOS TOPICOS

PRANTO EM PRETO E BRANCO

GELÉA DE ROCOCÓ: SONNETTOS BARROCOS

MADRIGAES TRAGICOMICOS

PANACÉA: SONNETTOS COLLATERAES

TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO

VENENOSAS FOFOCAS

BAMBOS DITHYRAMBOS

GERONTOPHOBIA

PEDOPHOBIA

VIDA QUE CEGUE

EVANGELHO DE JUDAS IZRAHIAH

VIDA MACTADA

Paulo

São
Casa de Ferreiro 2022

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